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Quatro + Um Drogas e Poesias

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Guido Campos

2009

Quatro + UmDrogas e Poesias

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Catalogado na Fundação Biblioteca Nacional EDA.FBN.

Printed in BrazilFoi feito o deposito legal

Direitos reservados a Guido Campos

Direitos reservados a Guido Campos

Capa/desenho: Camila Murano

Arte final: Silas Gauzelia

Ilustração: Michele Lima de Sousa

Prefacio: Isabel de Castro Silva

Revisão: Isabel de Castro Silva

Diagramação: Silas Gauzelia

Empresário cultural: Armando Simonetti

Copy right 2009 Guido Camposc

Campos, GuidoQuatro + Um - drogas e Poesias: Auto-ajuda / GuidoCampos Taubaté: São Paulo, 2008

ISBN 432.497

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Agradeço as pessoas que sempre me apoiaram eacreditaram em mim tais como: Mãe Alzira, Tia Elza, irmão

Cassiano, agradeço as pessoas envolvidas diretamente comeste trabalho, Armando Simonetti (DJ Cabelo) pelo apoio

dado de sua agencia cultural outro mundo, Camila Muranopela arte da capa e dos capítulos, Michele pela arte gráfica da

capa muito obrigada, agradeço ao Silas Gauzelia (UNITAU)pela diagramação e a Sandra da Biblioteca (UNITAU), a Isabel

Castro pela energia passada no prefacio, a direção e aosmestres assim como os alunos do terceiro e quarto ano deTeologia Bacharelado da universidade Dehoniana, agradeço

ao Saulo Alacastre pelas ajudas em questões gramaticaisassim como nosso sempre bom papo filosófico, agradeço

aos internautas que sempre me visitaram no site recanto dasletras sempre me abençoando com criticas e elogios, as

clinicas nas quais tive honra de ficar um tempo e assim servirde currículo humano para minha pessoa, “Ágape” e “Razão

de viver” que o Deus de minha compreensão abençoe atodos vocês ricamente e obrigado por acreditarem na

transformação do ser humano.

Guido Campos

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Dedicatória

O DEUS ser supremo que me dotou de inteligência esabedoria para confessar que esta obra é fruto de sua graça,

e que através desta graça posso ver o mundo de uma novamaneira e com outros olhos, a minha mãe Dona Alzira, meu

irmão Cassiano, minha filha Yasmin, minha tia de criação TiaElza, obrigado pela paciência e pelo amor ágape e filial que

tanto me aqueceu nestes anos de vida.As pessoas que sempre confiaram em mim, ao meu parceirono rap por sete anos mano Richard “tamo junto” e misturado

por todas as nossas vivencias juntas e aprendizados quecompartilhamos DEUS abençoe sua caminhada, aos

companheiros da irmandade paralela por me ensinar o queseria o amor incondicional e pelas amizades verdadeiras queali encontrei. A todas as casas de recuperação destaco aqui

as casas Ágape, Razão de Viver e Ebenezer, centros que meacolheram sempre com amor, as pessoas que tiveram

ligações diretas e indiretas neste projeto, Isabel de castrosilva minha parceira literária, muito obrigada pela força e porvocê existi na minha vida, Dona Quiquita, Adriana AparecidaPereira da silva, Dona Inês, ao Tenente Henrique e TenenteOrlando que Deus abençoe cadê vez mais seus trabalhos

obrigado por me mostra o que seria amor incondicionalA todos meus mestres da Universidade Dehoniana e direção

aos meus amigos do terceiro e quarto ano, a Dona Regina daBiblioteca, ao meu amigo escritor e pensador Saulo

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alacastre, bob outro mundo, cabelo Simonette, poetas AndreBianc, Claudio pena, ao broder de Guará Oliveira, ao grupoConvocados e todos do “Ponto X” valeu pelas idéias trocadas,as Igrejas, Católicas, Metodista Wesleyana, Pastor Joel, irmão

Otto, Rafael entre outros, aos meus amigos virtuais osorkuteiros e os do MSN paz e serenidade e muita virtualidade,enfim a você leitor que adquiriu este livro que DEUS sopre os

ventos mais suaves que ele poder soprar em tua vida e que eleilumine teus caminhos que esta obra possa abrir novos

universos em sua vida e nunca se esqueça você não adquiriuum livro, e sim, varias vidas, obrigado a todos que me

ensinaram neste grande processo chamado vida.

Guido Campos

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Prefácio

Quando li os poemas de Guido Campos, Fiqueiencantada com o uso que ele fazia das palavras naqueles poemase, imediatamente, entrei em contato com o autor. Conversamosbastante e o poeta mandou-me o material de seu primeiro livro:"Quatro+um: Drogas e poesias". Fiz a primeira leitura avidamente,sem intervalo de tempo e fui tomada por um encantamento maiorainda e por surpresas difíceis de explicar racionalmente.

Quando Guido Campos convidou-me para fazer o prefáciode seu livro.

Penso que prefaciar qualquer livro requer, sobretudo,sinceridade.Sou totalmente sincera ao revelar que aceitei fazer o prefácio dolivro quando percebi que a leitura do mesmo me havia transportadopara um mundo mágico que só a boa literatura pode nos levar.

O livro "Quatro + um - Droga e poesias" trás além de umaleitura prazerosa, uma lição de vida, capaz de mudar os pré-conceitos que temos em relação ao assunto que para a sociedade,ainda hoje, em pleno século XXI, é tabu: o uso de drogas e asconseqüências nefastas que isto pode trazer, tanto para quemdela faz uso quanto para quem convive com os adictos.

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Além dos poemas, de excelente qualidade literária, temosentremeadas nas páginas do livro, textos e pensamentos do autor,que nos leva a entender as situações pelas quais ele passava nomomento da concepção de sua obra. Ao ler os poemas de Guido, o leitor vai sentir-se tomado devários sentimentos, que podem parecer contraditórios, mas nofundo fazem parte de todo ser humano: emoção, raiva,encantamento, ternura, amor, indignação, esperança e váriosoutros. Sua poesia é uma mistura de arcadismo, romantismo,modernismo e contemporaneidade: "O jardim de Juliane" nostransporta a paisagens bucólicas, fazendo uso da sinestesia,podemos sentir o cheiro das flores, o farfalhado das folhas, o ventosoprando em nosso rosto, os pingos da chuva e tantos outrossentires. Ao ler "Rua 15 de novembro", um retrato de contemporaneidadese descortina diante de nossos olhos com seu grande monstrode ferro, concreto, asfalto e gente e, principalmente, a indiferençaque toma conta do homem moderno, preocupado apenas consigomesmo. Poesia concreta pura, lembrando o estilo de Arnaldo Antunes,vemos em "Paisagens urbanas”. Em "Canto dos flagelados", a indignação pela total falta decompreensão do mundo face aos problemas dos marginalizadosmisturada à perfeição e simplicidade de uma criança. Poderia discorrer sobre todos os poemas de Guido, pois cadaum deles tem sua peculiaridade, mas escolhi esses, que trazem

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uma deliciosa mistura e trazem a certeza que Taubaté mais umavez nos presenteia com um grande escritor. Em seu primeiro livro, Guido Campos nos faz refletir sobrenosso real papel no mundo e traz de forma marcante a questãofilosófica do Bem e do Mal, com rimas, metáforas e versos livres,como livre é seu pensamento. E, mais que isso, traz de volta oconceito que a literatura é um retrato da História e do tempo emque vive o escritor. O livro de Guido tem exatamente esta qualidade: fala o tempotodo da crua realidade e dos sonhos que cada um de nós trazdentro de si por um mundo melhor. Tenho certeza que o leitor há de concordar comigo, que não éexagero atribuir à linguagem escolhida pelo autor, típica desituações coloquiais, pautadas pela informalidade nas relaçõesentre os interlocutores, o mérito de cativar o leitor. Nos textos emprosa, Guido prefere "conversar" sobre o tema do que dissertarde forma acadêmica. E é exatamente em função do objetivo maiordo texto, que é compartilhar com o leitor todo o significado daexperiência de vida, que mostra sua opção por uma linguagemque busca, e consegue manter o tom pessoal do relato de umaexperiência realmente vivida e sentida. Usa um vocabulário popular,sem grandes preocupações com a norma culta, que próxima oleitor do criador de forma eficaz. Ao terminar de ler o livro de Guido, uma emoção indescritíveltomou conta de mim: um desejo de fazer mais por meussemelhantes marginalizados junto ao desejo irresistível de resgataros laços familiares e com Deus, pois o poeta fala dele de forma

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natural, sem ser piegas. Este livro traz inserido em suas páginas qualidadesimprescindíveis à boa leitura: o prazer de ler aliado à informação eserá de grande utilidade, não só para os apaixonados pela boaliteratura, mas também aos professores, familiares e entidadesque trabalham com usuários de drogas. E traz, para todos nós,aquilo que muitas vezes tem faltado ao homem moderno:esperança por um mundo melhor.

Isabel de Castro SilvaBrasília-DF

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Sumário

Introdução - 15

I- O amor é a pura essência de DEUS-DEUS é forma e ato - 19

II- Poeta revoltado, Sociedade sofisma - 33

III- Toda mente é um labirinto -49

IV- Pensamentos e filosofias - 63

V- Os pensamentos são como os ventos - 85

VI- A droga é uma lepra na sociedade - 113

Ultimas considerações - 121

Comentários - 125

Bibliografia geral - 131

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Introdução

Sempre gostei das palavras, da arte do falar. Achoque, na verdade, nasci sofista por natureza. Lembro - me bemde que, quando pequeno, sonhava muito acordado. E como édifícil sonhar sem alguém para compartilhar com você seussonhos... Acho que na verdade nasci carente por natureza.

No meu mundo (psíquico), ou melhor, na minha mente, asolidão era imensa. Mesmo tendo várias pessoas do meu lado,mesmo estando entre a multidão, eu sempre me sentia só.Talvez por isso eu criasse vários personagens em minha mente.Não sei se o leitor me entende, mas calma; vou explicar porintermédio de exemplos:Exemplo I – O burguês

Uma hora, eu era o filho de um empresário muito rico,que me amava muito. Então, em meus sonhos, acordado, eutinha carro e uma namorada linda, cuja família me adorava.

Tinha tudo que um herdeiro de uma pessoa bem sucedidateria em nossos tempos modernos: viagens de férias, com afamília, nas praias mais badaladas do país, um passeio em

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INTRODUÇÃO

Fernando de Noronha ou em Bora-Bora. Esse era o meu mundo,um mundo imaginário.Exemplo II – O super- cantor famoso

Em outro instante, eu era um cantor famoso, em cima deum palco, aclamado pelas multidões, indo de país em país,vendendo milhões de discos e shows. Mas esse livro não tem como objetivo trazer à tona asbrincadeiras, como vender trilhões de cópias do meu últimodisco, é claro! O sonho era meu, ora... Então, eu tinha quecaprichar nos detalhes.

O mais interessante é que, para estas fantasias, eu nuncagastei um centavo. Realizar meus sonhos artificiais ficava fácil,na verdade nem precisava sair do lugar onde estava: bastavaeu começar a viagem na minha mente, e pronto, tudo iniciava.

Mal sabia que um dia, esta imaginação me levaria aescrever um livro. Mas, antes do livro, ela me levaria para lugaresque nunca pensei estar.

Você sabe o poder que sua mente tem?Eu transformava vassouras em potentes motos, minha

casa de um cômodo em uma mansão com piscinas, comjardins, com coqueiros e um tigre branco de estimação.

Lembra? Se você chegou a brincar disso: cobrir o corpocom cobertas e ali, naquele momento, já não eram maiscobertas e nem uma cama, e sim uma cabana de destemidos

1.Do Lat. Addictu; escravo, dependente. A adicção não tem cura, mais pode serestacionada

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INTRODUÇÃO

exploradores e caçadores de tesouros. Sim, éramos nósmesmos, os próprios “Indiana Jones”. Mas meu objetivo não éabordar a imaginação humana, porque não tenho capacidade enem me atrevo a falar de algo que não sei como funciona, masalgo sei, e é disso que vou falar: onde a imaginação nos levaquando se acredita que com ela podemos mudar o rumo denossas histórias. E acredite caro leitor, ela pode mudar o rumoda sua história, porque mudou a minha.

Fui viciado em Crack por quase seis anos, e é sobre issoque vou discorrer e me deter, mas de forma diferente. Lembre-se de que você não está lendo um livro técnico e nem científico,é só uma partilha recheada de poesias. Não vou relatar aqui amiséria da ¹adicção, mas sim a magia da recuperação.

No decorrer de três anos, tentando parar de usar drogaou ²estacionar a doença, redescobri um dom que há muitosanos havia perdido: o de escrever poesias, agora feitas emmomentos de felicidade, esperança, frustrações, depressões.

Mas sempre tive a certeza de que DEUS me daria a vitóriaperante a guerra que enfrentava. Cabe a você ler e imaginar asituação pela qual eu passava no momento em que escrevi apoesia lida, pois não é um livro cronológico e sim inspirador.

Este livro é isso: somente relatos e poesias que voucontrastando com meus depoimentos e momentos que vivi emrecuperação. O intuito é deixar para os ³adictos que aindasofrem e para os que estão em recuperação, para os co-dependentes e toda sociedade no geral, que a imaginação étambém uma arma contra essa doença. Seu dom abandonado

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ou roubado pela droga, em alguma parte do tempo de sua vida,é, não só uma ferramenta, mas também a sua força pararetomar novamente a vida.

Vou mesclar meus depoimentos e algumas fases vividascom as poesias, que iam surgindo ao longo deste processo.

Peço aos familiares de dependentes químicos que, aolerem este livro, saibam que o seu “problema” no canto do quartovazio e escuro tem solução. Falo daquele “problema” que fica,às vezes, dias sem tomar banho, por ficar fora de casa. Sim,falo daquele que todos dizem não ter mais jeito, “o pau tortoque nunca se endireita”.Este tem um talento que, talvez, você, família, não saiba e nuncase interessou em saber, e muitas vezes você o deixou sonharsozinho, e não compartilhou de seus sonhos. Saiba que podeser esse talento escondido em meio aos destroços da adicção,a salvação de seu filho ou parente.

Como em toda reunião de irmandades paralelas, eu tenhoum tempo: o meu é esse de 4+1, ou seja, quatro minutos eapós o sino mais um minuto para finalizar minha partilha.

Por isso, meu caro, o nome do livro é uma forma dehomenagear estas irmandades, sem fins lucrativos, não só porminha vida, mas por todas as almas que elas têm livrado doinferno das drogas; pelo seu papel de cidadã, mesmo sendode uma forma camuflada e anônima.

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O amor é a pura essência de DEUSDEUS é forma e ato.

“Infelizmente tem seres humanos que vão morrer, sem ver além

do que os seus dois olhos enxergam”.

CAPÍTULO I

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O Jardim de Juliane (parte um)

Caminhava eu pelos meus pensamentosBuscando alaúdes, incensos de carmimMera reflexão para exalar o que dentro de meu altocrepúsculo gritava.

Passeava-se pelos calabouços de minha interiorizaçãoSem êxodo em meu trajeto, parei a pensar no que me faziafeliz.

Lembrei-me de você...

Mulher de toques sutis, pérola perdida em um oceano,Dona de meus versos e senhora do meu coração...Princesa de meus contos, personagem de minhas miragens,Sorriso de meus lábios, condutora dos meus braços.

A felicidade me convidou para um banquete.O jardim de Juliane abrigava as raras orquídeas,Delongava o seu perfume celestial... em curtos passosadentrei seu palácio,Degustei dos deliciosos beijos que a imperatriz me servia.

Libido insaciável, que me serve de pulsões de vida,Cauda de sereia que me seduz ao fundo do mar.Prisão de sentimentos que atormenta meu existencial,Jardim de Juliane, que magnetismo tem que prende.Emplastro meu coração para não adoecer desse feitiçoconjugal, pois o calor de teu jardim me queimou com tuafebre.A grama molhada de teu corpo me faz suspirar.Teu sopro suave são sonetos aos meus ouvidos,Teus cabelos graciosos são cachoeiras cristalinas.

O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

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CAPÍTULO I

Que faço então agora, que estou preso em tua terra?

Anátema esta fantasia que assombra meus pensamentos.Resta-me orvalho como companheiro, pois você me deixousó...Restam as orquídeas silvestres como piastra, pois teu trocofoi muito poucoMas mesmo assim, ó Juliane, ainda que ilusão fosse,Perder-me-ia outras vezes em teu jardim.

Ipês formosos me cercavam,Galhos robustos, folhagens orgulhosas.Sentei-me na grama e observei, somente observei.

Perdido no jardim de JulianePercebi que a perdição tinha a finalidade de lição.Como o homem é parecido com as árvores!Ventos que não vemos, nos sacodem,Às vezes, os tempos são de brisas, em outros trazemtempestades.

E como é preciso estar com as raízes firmadas,Pois numa tempestade onde não há raizOs galhos são perdidos, as folhas caemE a vida se vai...

Cheirei um lírio do campo e senti o perfume de Juliane,O mais próximo em que meu eu chegou a ela...Aquele perfume da manhã me trouxe cores novas,Cantei com as rosas, dancei com as garças,Brinquei com o vento, e já não me sentia perdido.

Mas a mancha do céu se partia,A dona da noite viria a me trazer saudade.

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O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

Onde estou? Por que me perco neste misterioso jardim,Onde tudo me fascina e ao mesmo tempo me datemeridade?

Que palavras tolas despacho aos ventos?Busco-a onde não há.A pneuma do gozo se vai.Sou réprobo sem causa,Perdido pelos meus desejos...Desvairado, ponho-me a correr.

Cruzo árvores,Rasgo riscos d’águas desenhados ao solo.Cadê você, que me fez perdido neste jardim?Onde estás, Juliane?

Por que meio tem-me aqui perdido (não entendi)????Teimas em não me amar, e me abandonas no seu mundo,Deixando-me com teu adeus,Deixando-me somente o verde de tua alma...Como dói teu calar.

Serei sopito por tua ausência?Serei nu de teus carinhos?Serei este que penumbra em teu pomar?Até quando irás me ignorar, negando-me teus beijos?

Sou motim sem causa, por não ouvir tua voz.Pássaro sem sombra,Peixe sem água,Pavão sem plumagem,Somente sou o preto e o branco.

Ao pé de uma nascente pus-me a me refrescar

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CAPÍTULO I

A água límpida que descia sobre meu corpo...Era semelhante aos teus lábios úmidosO frescor que me tomava naquele instante. Era tua almaposta a minha.

A mancha do céu novamente se punha ao fim do cenáriojardinouEncontrei com as faladeiras orquídeas:Falaram-me que você acabara de passar por lá...Onde estás, Juliane?Meus berros sumiram no teu jardim infinito, Pousou um azulão de penas roxas do meu lado.Teu cantar era fúnebre, ali percebi que jaz minha mortalidade,Que habitaria naquele mundo pela eternidade à procura de ti.Meu cantar de veneta.Mais um dia se vai, e eu a cá estou.Preso, mas livre.Triste, mas alegre.Pois, a masmorra de teu jardim me traz algofilia.

”O caminho que a humanidade tomou só o homem podeintervir”

Dando a luz a um sentimento

Sentimentos nascem:Por palavras,GestosPor atitudes, por virtudes,Pelas mentiras e pelas verdades ...Assim um sentimento nasce.

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O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

Por um beijo ou um sorriso,Por uma lagrima ou uma gargalhada,Um olhar ou por um abraço...

Sentimentos nascem, quando vemos o céu,Apreciamos a lua, ou nos perguntamos:O que sinto por ela?

O sentimento nasce, quando damos chance,Quando saímos do nosso egocentrismo, e praticamos acaridade o amor incondicionalO sentimento nasce, quando nos doamos à causa alheia,quando vemos as coisas por outro ângulo.Nasce o sentimento quando usamos palavras simples, masde tal importância, que muitas esquecemos de pronunciar,como:Um obrigado,Ou, por favor,Um com licençaPor gentileza, ou somenteEu te amo!Pois Amar é:Entender quando ninguém entende,É estar perto quando não há ninguém,É escutar o que os outros não querem ouvir,É chorar junto, mas também é sorrir,É pensar no que ela ou ele faz, quando estamos longe,É pensar antes de dormir, no último beijo...Amar é se preocupar, quando não se há com que sepreocupar,É ver as qualidades e não os defeitos.Amar é sofrer... Pois o amor, tudo pode, tudo sente, tudo crê.Amar é viver.

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CAPÍTULO I

Facilitando as coisas

A vida se torna fácil,Quando aprendemos com os erros,Amamos sem olhar a quem,julgamos menos,vemos com o coração,beijamos com a alma.

A vida se torna fácil.

Quando choramos sem motivo,Sorrimos sem motivo,Escutamos mais músicas,Lemos mais poesias,Aprendemos com os outros,Deslocamos de lugar sem sair do lugar.

A vida se torna fácil.

Quando refletimos nossos objetivos,Lutamos sem pisar em ninguém,Assistimos a mais peças de teatro,Comemos pipoca no parque.

A vida se torna fácil:

Quando meu braço encontra o seu,Meus lábios, a tua boca,Meus olhos, o teu brilho...Quando meu coração se amarra ao teu.

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O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

Gabriela

Procurei em todo canto:Procurei nas ruas, nas boates,Procurei nos classificados, nos mínimos detalhes...

Procurei no fundo do mar,Nos céu, nas estrelas,Nas esquinas nas gavetas,No bar e nas igrejas.

Procurei e não parei.Fui além do arco-íris,Montanhas escalei.Mais foi na internetQue a encontrei.

Meiga e carinhosa,Pura, generosa...Retornei ao primeiro amor,Pois só com tuas palavras me apaixonei.

Procuro agora,Um jeito de te encontrar,Para nos teus lábios eu me saciarDeste amor que pouco a pouco, veio me dominar...

Ó minha linda flor!Minha razão!Minha metade...Nos teus braços quero sentir a tão sonhada liberdade.

Logo irei te ver.Como em contos, príncipe eu quero ser...Por ti, querida donzela,Por ti, querida Gabriela.

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CAPÍTULO I

“Para se construir uma nação ou ganhar uma batalha,épreciso morrer uma nação ou ganhar uma batalha, primeirointerna.”

Flor de inverno

Ó linda menina, me embriago com tua voz,Com tua pele e com teus sorrisos.Tua beleza transpassa como lâmina meu ser,E penso em ti, no meu deitar, no meu levantar, no meucaminhar.

Eu te traria, flores mas é inverno...Poucas são as margaridas que restaram no campo,Ó linda mulher, que habita em minhas miragens,Perfeito oásis que me convida a saciar minha sede...

Corpo perfeito, monumento de deuses.Se pudesse eu te traria flores , mas é inverno.

Nem toda filosofia,Nem toda ciência humanaExplica a sabedoria desta existênciaA grandeza de tua beleza...

Eu te traria flores, mas é inverno.

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O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

Eterna paixão

Teus olhos me fazem ver um mundo melhor, como nuncapoderei sentir ou tocar. Ele é branco como a neve, suave comoas matas virgens e plenas como o céu.Teu sorriso inocente me faz acreditar na paz, pois não consigover a guerra e sua injustiça com sua pureza.No teu corpo, pude ver a magnitude do êxtase do amor. Já não consigo ver as coisas com meus olhos, mas sinto commeu espírito,pois nos teus carinhos aprendi a sabedoria de viver .És o sol que irradia minha alma iluminando todo meu ser,me transformando num mitológico deus do amor.Por ti percorreria todo universo, para te dar a estrela mais rarae te fazer feliz, falaria com DEUS e pediria que o inverno fossemais longo,para nos teus braços me aquecer por mais tempo.Subiria nas nuvens, para escrever seu nome entre elase toda a Terra saberia como meu amor por ti é grande.Morreremos como Romeu e Julieta,viveremos como se fosse o último dia de nossas vidas...Para sempre terei você tatuada em meu coração.Amor perfeito!Por ti, faço esta poesia...Para que saibas que minha imaginação flui,quando você habita nos meus pensamentos.

Nasceu um amor

Plantei no meu coração teu sorriso,Reguei com minhas lágrimas...E assim nasceu o amor!

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CAPÍTULO I

Busquei no fundo de teus olhos o brilho dele,Iluminei meus sentimentos...E assim nasceu o amor!

Desfrutei o sabor dos teus lábios,Cultivei como um puro mel, que adoçou minha alma...E assim nasceu o amor!

No terreno de teu corpo,Desabrocho minha paixão,Cultivada com teus carrinhos...E assim nasceu o amor!

Nasceu o amor,Amadureceu o amor,Envelheceu o amor,Morreu o amor.

Reencontro

Hoje eu te liguei, para saber se tu vens...Estou ansioso para te encontrar.Já faz tempo que a gente não se vê.Quanto tempo! Como deves estar?Será que o sentimento se quebrou com a distância?E aquela magia será que se acabou?Quando tu vieres, meu coração irá balançarEntão saberás que nunca deixei de te amar...Tanto tempo demorei para descobrirQue há muito tempo sinto falta de ti...Então me pergunto:Por que será que te deixei ir?Sinto muita falta de ti...

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O AMOR É A PURA ESSÊNCIA DE DEUSDEUS É FORMA E ATO

Tempo, fala para o ventoQue é somente tormento,Sem a razão do meu sentimento!Ao te ver meus desejos se tornam reais,Não me mostro ansioso,Mas meu olhar é de um homem amoroso...Sentamos ,nos olhamos, conversamos.E descobrimos que a distância une,Mesmo sendo difícil ,retomar de onde paramos,Mas já não há o que retomar , e sim se transformar...O vento já não geme ,ele canta!E agora, perto de ti,Vejo que sempre persegui a felicidade,Sem saber que era preciso criá-la,Minha eterna amada !Dizem que o tempo é algo que não volta,Mas o amor tem o poder de retroceder no tempoPara trazer a felicidade, levada pelo vento.

Marrom veneno

Ó morena, da cor de ouro,Que fazes comigo?Perco-me nos teus lábios,Laçado por teus braços,Entregue a seus amaros (amaros ou amores??)

Ó linda morena,Com seus choros e com suas gargalhadas...Já não sei como assistir televisão sem você, dançar semmeu par,Pois era acostumado com sua presençaMais ela levou você de mim.

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Eu berrei, chorei, pedi, implorei, mas de nada adiantou, poisera a hora.Acho-me injusto por achar injusto,Me acho egoísta por agir como egoísta...Mas estava acostumado com você.No seu ultimo suspiro, abaixei minha cabeça...Você lutava para as últimas palavras em meu coraçãoregistrar.Ouvi bem baixo, uma voz rouca e cansada, serena e tranqüilaPronta para me falar.O seu último suspiro ouvi soar, sem hesitar:”Você vai ter que se acostumar!”

Agora, o leitor pode se perguntar: “Como alguém, que viveentre bocas de fumo e matagais, pode ter inspiração paracompor textos assim?!

Calma, irei explicar: primeiro, não nasci viciado emdrogas, e lembre-se, sempre fui uma pessoa com aimaginação fértil.

Estas poesias surgiram em meados do ano 2000, eestava apaixonado. Uma paixão que durou apenas um ano, masfoi o suficiente para eu me perder.

Com o término deste amor, é que começa minha vida nomundo das drogas. Não culpo a pessoa pelas minhas escolhas.Ficaria muito fácil responsabilizar o outro por todo meu martírio,mas não é justo.

A realidade foi esta: estava no lugar errado, na hora erradae sempre tinha “amigos”, se é que posso chamar de “amigos”,que me convidavam para fumar crack e eu sempre recusei.Nesta época, o crack não era essa lepra no meio da sociedade,não sabia o poder dele em termos de dependência, e falo comsinceridade, se soubesse acho que a historia não seria outra,o palco estava armado e os personagens dispostos a atuar.

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Eu tinha acabado de ser rejeitado pela pessoa que amava.Minha vida estava um caos emocional, então me convidaram enão pensei duas vezes, aceitei o que dali em diante seria meunovo amor: a droga. E que amor, heim?

Avassalador!

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CAPÍTULO II

Poeta revoltadoSociedade sofisma

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Canto dos flagelados

Meus sonhos começam a partir do momento que começoamar.O dia não é mais o mesmo, sempre vejo o sorriso dos seresserem borrados pela desigualdade, mas tento não ver estecontraste desumano que rodeia minha existência. Vejo aÁfrica como palco do espetáculo do esquecimento, meusirmãos vão morrendo pela falta de amor de seus vizinhos.E assim, esta nação canta o seu hino do horror...Corte-me em milhões de partes e mande às naçõesconfusas com a fome, vestidas de vermelho sangue(???)Brindem meu corpo sobre os corvos e festejem com osurubus...Dancem a música do flagelo, nos dias de trevas, onde ainjustiça seduz o menino com um fuzil HK.Mandem-me rosas pretas para enfeitar o cortiço de um metrohabitado pelos filhos da África...Nossos rituais já não têm mais cor, foram silenciados pelopríncipe do mal.Não chorem povos distantes, pois sua realidade não faz parteda nossa mesmo, Morando em um mesmo mundo...Estados Unidos da América, “querido” Tio Sam, mandemuma bomba aqui,Pois com os corpos do dia seguinte pode nos alimentar,Aproveitem seu desejo de guerra, e nos alimente com osangue de nossos irmãos.Já não somos mais Nação, somos só pessoas esquecidos àprópria sorte,Moldando um livro para uma faculdadeOu um manual de sobrevivência que os ingleses nunca vãoprecisar usar...Rainha, venha um dia desses passar suas fériasCaçando menininhos magros pela mata

POETA REVOLTADOSOCIEDADE SOFISMA

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CAPÍTULO II

Ou, quem sabe, só venha aqui para tirar marfins de nossoselefantesOu um documentário ecológico que mostre toda nossa faunaanimal...Mas, não faça como os outros, esquecendo de mostrar quevivemos também como animais.O sol se põe sobre o continente ao som tribal,Entre panelas vazias e uma batucada,Que sincroniza com o barulho do estomago vazio,Num desenho arqueológico de um menininho desnutrido,abatido, faminto, falido... Pela incompreensão dos nossosvizinhos,Continuamos nossa sobrevivência,Enquanto o mundo faz guerra a mãe áfrica pede socorro!

ASSIM É O GUETO

Bate na panela vaziaFazendo o carnaval.

No outro dia, a mão no bolsoVê que não tem um real.

Festeje e dê risada e deixeO vento para outras bandas,Esta carregar...A fertilidade do nosso paísVai escorrendo pelos rins.

A fome daqui,É a do Haiti...Sonho que se perde, mas nunca se esqueceA cor do orgulho;

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O orgulho da pele.

Felicidade é um pote de arco-íris...Passe e deixe três palpites,Pasta de amendoimUm pacote de alpiste.

Kit! Desfile chique!Assustando o estrangeiroQue se pergunta:__ Como um povo pobre assim,Transforma tanto um gueto?

Rua 15 de novembro

Com calça jeans rasgada à meia altura do joelho, olhosgrandes e azuis como um céu limpo, um coturno preto àaltura da canela, simbolizando pertencer a um exército comideologias, uma camisa, da cor do coturno, com um símboloda anarquia, vai o estudante pela Rua 15 de novembro,despertando olhares, elogios e críticas, certo de si, empassos longos e rápidos, olhando em linha reta, num destinoque muitos desconhecem, ao encontro de pessoas com amesma ideologia e pensamentos.Logo atrás, observo da sacada do prédio, do décimo quintoandar: no final da Rua 15 de novembro,vejo um, que de longebrilha seus brincos e sua corrente, num andargingado,movimentando sincronicamente às pernas e osbraços, com um tênis alto, desses de jogadores debasquete,uma calça extremamente larga, e camisa de igualtamanho...vem, este de mochila nas costas, nem notando aspessoas que desviam dele, atravessando a rua, somenteolha com um olhar lateral e continua sua jornada ,balançando

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CAPÍTULO II

a cabeça ,creio eu que segue o ritmo que toca em seu mp3,este já caminha lentamente pela rua 15 de novembro.Vem cantarolando duas meninas de saias indianas ,cantandoreggae, rumo a um açaí, que, neste momento, toca BobMarley...Assim segue ,assim vai o dia pela rua 15 de novembro,pessoas de todos os estilos, todas as raças pregando suaprópria personalidade.Pessoas de ternos, outras de chinelo ; uns descalços, outrosde carro...pelo asfalto quente do verão,transitam bicicletas ecarrinhos das pessoas que pegam papelão, do mesmo modoque vejo Mercedes Benz e BMW...Vejo que, por mais que a rua 15 de novembro tenha um fluxomuito grande de pessoas ,observo que são pessoassolitárias, não se comunicam, não se cumprimentam, a nãoser em caso de fazer um olhar de repressão, ou indiferença,assim segue a vida pela rua 15 de novembro, a passarelados humanos e dos desumanos, uma passarela onde você éo estilista, estilizando todo um quadro urbano .Passa pela rua 15 de novembroJovens ,velhos,Pobres, nobres,Negros ,brancos,Índios, amarelos...Passa pela rua 15 de novembroSábios ,ignorantesMoradores, viajantes,Nordestinos, imigrantes,Passa a paz e passa a guerra,O amor e o ódio,A humildade e o descaso,Passa a fome, passa a comida.Pela rua 15 de novembro passa a vida.

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CAMINHOS

Eu observo o horizonteE me vejo correndo,Me vejo seguindo,Deixando passar o tempo...

Vejo um menino no seu braço,seu filho como joão–de-barro que constrói seu ninho...Vejo um menino que me conta o seu sonho:Só queria jogar bola, freqüentar uma escola...Conheci uma menina chamada Maria,que esperava uma filha da qual não viu a vida

Caminhos vou seguir, eu não posso nesta estrada parar edesistir...Caminhos vou percorrer, porque sei que até os sábios vãomorrer sem saber.

A chuva cai, vêm os pensamentos,chega carta do detento, retratando o sofrimento”__ Meu filho lá dentro, sofrendo ao relento...””__ Mãe eu só queria te fazer feliz mas no dia de visita não tefiz.”

Caminhos vou seguir, eu não posso nesta estrada parar edesistir...Caminhos vou percorrer, porque sei que até os sábios vãomorrer sem saber.

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CAPÍTULO II

Derrubando o gigante

Calmamente, observei, estudando com meus olhos, fuifitando seu trajeto...Via-me como gigante, até tentei me esconder, mas não dava,então deixei-a. Percebi que a olhava.Como é guerreira, esta que minha brincadeira inspira,poderosa, ao mesmo tempo frágil e lenta.Meus passos agora são como terremotos... Ela me notou,ficou apavorada, corre com seu alimento nas costas ,seucoração bate mais forte.Estou admirado! Como ela acredita que possa escapar?Estou dando chance, deixando-a ir, para ver até onde suaesperança alcança...Dirimente, um espírito assassino me domina. Não ocontrolam, são instintos: num só passo mato a guerreiraformiga!

Somos formigas,EsmagadasPelo gigante da desigualdade.

Fatos

Olhos vermelhos não olham pro lado...Abertos vermelhos, relatam loucura.Ali, na esquina, perdido na rua...Mesmo abertos se sentes às escuras,Numa fissura sem estrutura...Vida bandida, que só tortura.Sua mente, no vento, flutua.Se não for fiel o guerreiro só se afunda.E quem se julga na merda profunda.

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Se sente sempre como um Zé-Bunda...Num corredor, pesa o SENHOR:O seu amor e não sua cor,O que oprimia é afogado na pia,Enquanto a tia sob o morroSuor e sufoco, latinha dá trocoNão é muito como o ouroMas vem honesto e não tortoPlanta tesouro ,colhe desgostoMulher meretriz na terra de porcoMadame com jóias de Audi A3Lá na esquina se torna freguêsFaz faculdade de direito e se droga no meio tempoPra se manter precisa, enganarCinco por noite já dá pra terEspecial cartão de creditoNo Paraná seu pai é medicoManda dinheiro pra ajudarMal sabe ele que sua filha gasta bem mais do que ele dáArrisca pegar doença porque as notas são sua única crençaCom os dedos amarelosViolas e cacosPassados marcadosFatos são fatosNeblinas e fracassosRegistros falsosFatos são fatos.

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CAPÍTULO II

"Na cidade dos santos, os justos são apedrejados".

Janelas da vida

Vi a tristeza na ruaVi a angustia no farolO medo em uma esquinaUsando o corpo de uma meninaCom o rosto marcado pela vidaPés rachados pela corridaEntregue ao jogo brutoNa selva chamado mundoOlhos fundos entristecido, o menino se sente vencido;Faminto, enfraquecido, com sede, e sem abrigoSuspiros de DEUS são ventos, são palavras no silencioSuas lágrimas são chuva, estátua e molduras e um quadropintado às escurasFelicidade já não é dinheiroPobreza não é doençaCondomínio não é escudoMas as crianças ainda vêem os adultos como surdosNa multidão se sentem sós;Rezando por um dia melhorQue se torna em miragemMais não culpe a janela por esta ser a paisagem

Mansão verdadeira

Casa periféricaOpaca sem corEm destaque o pretoÀs vezes o marrom

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De paredes rachadasTelhado furadoSem fotografiasSem quadrosSem passadoJanelas pequenasPortas abertasRecebem com um sorrisoO visitante amigoCafé de pobreNo copo que é poteNum sofá improvisadoFeito de caixoteHospitalidade que enobreceA eterna pobrezaMas daqui não leveO tetoA paredeO esgoto abertoOs ratos.Leve o sorrisoO carinhoE o puro abraço

Nossos bosques

Vejo o futuro nas ruas descalço de pé no chão.Vejo futuro com frio no inverno.Vejo o futuro assustado com o mundo moderno, com seusonho de um real, ou da educação, morando na mansão feitade papelão, debaixo de um arco-íris de concreto, um via tudo,numa prisão sem muro, vou chorar nada posso mudar a nãoser escrever me desabafar; frustração, venha me pegar, o

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CAPÍTULO II

que vai mudar, se a chuva você não vai tomar, o frio você nãovai passar. Que sou eu pra te convencer? Jesus na cruzcomoveu você? Nas três vezes que ele chorou, sua vida oque mudou? Não! não!Passa de carro importado, sua mudança, seu trocado,consciência de ter feito a boa ação, faça realmente acompaixão, com os pés no chão, estas crianças nãoprecisam de esmola, precisam de caderno, amor saúde,escola.Deitado eternamente em berço esplêndido, ao céu da luasem teto na rua...Iluminado pelo céu do novo mundo.Abandonado está ali nosso futuro, devorado pelos carrosimportados, gigantes pela própria natureza, no reflexo dovidro ele vê sua grandeza rodeado pelo ódio pela pobreza,em meio ao lixo em meio à nobreza descobre o crime adroga esquece do futebol, que assim seja o futuro setransforma em banho de sol, futuro virar o seqüestrador quejudia de seu filho, futuro virou cobra e nós é que montamosseu ninho.Ó povo heróico brado retumbante, o futuro está dasociedade distante.Nesse penhor da igualdade, futuro se sente sem dignidade,seu sonho acordar longe da realidade, longe da necessidade,em revista futuro ganha destaque, num farol comovevendendo chocolate, futuro sem futuro, trancafiado pelasmisérias do mundo, sem lucro, imundo, jogados semtrocado, vários no mundo coberto de papelão se aquecendocom a esperança, catando chepa no lixão, sua vida uma liçãoou só uma chamada de atenção.Mas ergues da justiça clava forte,futuro se sente num meninosem sorte,Do que a terra mais garrida,menina adolescente se tornamulher da vida...

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Nossos bosques tem mais vida? Grande mentira!!!Com o cachimbo na mão, destruição, o maior castelo então,risonho lindos campos têm mais flores e desamores dosfilhos, desse solo és mãe gentil, que devora suas crias...Pátria amada, idolatrada salve! Salve! Brasil!

Paisagens urbanas

Numa rua de terra, paisagens urbanas, desumana, aqui suaalma é conforme sua grana, espanta saber que adesigualdade é uma fotografia em preto e branco.Numa faculdade, aluno vê como arte tic! tac!, seis datarde,caminhando vou pela rua de terra. Mochila amarela omenino quer ser alguém, difícil ser nos país de ninguém,trocadilhos nada complicados estou falando de etnia,capitalismo só fatos.Pinta o artista plástico seu quadro de terror, se faz culturacom a desgraça do meu povo,tudo de novo, pede voto faznegócio, cesta básica a quem tem fome, dinheiro pro bichohomem, que faz tudo dar lucro, droga, arma, até defunto.No fim da rua de terra tem uma assembléia, o pastor pregaamor, vejo muitos passar tampar o ouvido coração ferido,ainda libertam o bandidoMudar, mudança, são os gritos dos caras pintadas, mas jánão saem mais pra rua, é um grito interior pois tem medo dese expor, conforme for me deixe aqui na sombra sem precisapensar, pois se penso eu vejo, o filho do vizinho viciado, souignorante o suficiente para pensar que nunca vai acontecercomigo ridículo o egocentrismo, classificados vamos!Não há vaga para o filho do pobre, não tem curso superior,inferior, não tem nada, não tem nome, pela rua de terra o solsome.Lá vai a peregrino, sem comida, sem banho, só boa historias

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CAPÍTULO II

e um olhar triste, dentro de mim algo acontece, me faz a eleperguntar sobre “woodstock”, “diretas já”, Getulio Vargas, suaface fica dura expressiva, e bem viva, me responde diretosem rodeios, tempos bom levados pelo vento.Falamos de esperança como se fosse um objeto difícil de seralcançado, lançada em um penhasco, trocada por trocado,minha esperança consegui recuperar olhando aqueles traços,sofrido, delicado, pelas pancadas da vida marcado rua deterra o dia se faz nublado.

Silencioso protesto

Meu silêncio falaNão se cala, escalaNa multidão de vozesComo acordesPercorre, decorreToda minha almaMeu silêncio falaMaltrata, devassaA cada pingo de águaComo um som profundoTrazendo-me as dores do mundoContudo o mudo também falaCom gestos, acenos sorrisosNo trincar internoTristeza de um mundo modernoMeu silêncio fala em meio ao protestoEntre caras pintadasBandeiras acenadasNum discurso que retalhaEspasmódico entre códigosMeu silêncio fala

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Entre maquiagensOu fases, entre frasesNum eterno debateInterno, consternoNuma obra de tintasPintando os rostos angustiadosMoldados, frustradosManchados por lágrimasMeu silêncio fala.

Olhos

Olhos refletem sofrimento, refletem talento, esbanjamconhecimento,brilham e expelem luz e magia, angústia se vê nos olhos daesquina.Olhos ingênuos nos faróis da vida.Olhos furiosos assaltam em meio à neblina.Máquinas, o medo, às vezes o amor,Matam quando giram o tambor.Olhos famintos no domingo de feira.Olhos no silêncio, condenam a cegueira,Os olhos do Brasil são os olhos da decadênciaOlhos da inocência que sofrem com a violência,Sua alma é sua beleza, que reflete a cada piscada os purosolhos da molecada, que aprende tudo e nada sabe.Olhos que ganharam experiência conforme a jornada.Olhos de máquina, que conduz à guerra,Máquina de olhos fazem as cédulas.Olhos de terno transitam pela terra.Olhos de havaianas caminham pela viela.Olhos dos condomínios, isolados pela cerca.Olhos dos nordestinos vão morrendo pela seca.

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Olhos dos cortiços são levados pela chuva.Olhos dos índios, que nas ervas acham cura.Olhos vermelhos refletem loucura.Olhos que exercitam a paz,Os olhos do poeta não morrem jamais.

"A maneira como vivemos é determinada pelos nossosalvos.

Os alvos que escolhemos são determinados pelasnossas prioridades.

E para alcançar os alvos devemos seguir umplanejamento."

Todo jovem, em um determinado tempo de suaadolescência, vai achar que pode mudar o mundo. Eu costumodizer que temos esse sentimento em duas fases da vida: umaquando adolescentes e outra quando entramos para a faculdade,inspirados por Karl Marx, Kant, Charles Darwin, FriedrichWilhem Nietzsche, Guevara, Martin Luther King, Martin Luteroe tantos outros. No meu caso não foi diferente. Mesmo estando na ativa(usando droga), achava que o mundo estava torto e cabia amim mudar aquela situação. Mal sabia que teria que aprenderque, para mudar o mundo, primeiro teria que mudar algo maiscomplexo e complicado, o meu “eu”. Então, já que a sociedade não me dava crédito, pois eramais um na fila de uma boca (dialeto para denominar um pontode droga), esperando para pegar mais uma dose, resolvi fazerda forma que conhecia: usando a imaginação, ou seja,escrevendo.

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CAPÍTULO III

Toda mente é um labirinto

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TODA MENTE É UM LABIRINTO

“Uma coisa é atravessar o deserto,Outra é viver o deserto”

A droga neste ponto da minha vida já era um caosformado. Precisava de ajuda e tinha que admitir minhaimpotência perante essa doença.

Foi quando conheci uma irmandade paralela e suaprogramação de doze passos. Posso falar sem medo de errar:minha vida nunca mais foi a mesma...

Consegui ficar três meses sem usar droga. Você sabe oque é isso, para uma pessoa que usava todo dia? É um milagre!Mas logo este milagre desabou e voltei a usar... Porém, já nãoera mais a mesma coisa, pois eu havia experimentado o gostode como era saborear, novamente, uma vida sem droga. Agorao leitor pode estar se perguntando: por que a recaída?Eu respondo: esta resposta pode ter várias explicações... sequero iludir, acharei subsídios para me apoiar, como porexemplo: “bebi um pouco e perdi o controle”, mas tenho queser realista pois a realidade é o que me mantém em pé hoje.

Recaí porque não dei valor à minha recuperação. Ou seja,falta de temor a DEUS. ¹Como cão que volta ao vômito, assimé o tolo que reitera a sua estultícia.

Achei que, mesmo que usasse, o final deste filme seriaoutro. Menti para mim mesmo e teria que, novamente, pagarpor este erro. E o preço agora seria mais alto, pois a recaída éterrível tanto para o adicto quanto para a família.

Para o adicto, a recaída vai despertar sentimentos comofrustração que é perigosa, pois esta gera a depressão. Tambémnasce o sentimento de impotência e falta de auto-estima. Énesta hora que a família é importante, pois neste momento oadicto precisa de palavras que o levantem, e não que derrubemmais. Porém para a família nasce a raiva, porque para ela o

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CAPÍTULO III

doente acha que o filme dramático vai começar novamente eoutra vez a paz do lar será roubada pelo traficante da esquina.Volta a desconfiança e a família, mesmo não usando, acabaindo à boca buscar droga e a ficar acordada como o adicto.Mesmo não saindo de casa (a preocupação faz isso), mãesacordadas ficam andando pela casa à espera de seu filho. Istoé a co-dependência, que faz a família usar sem usar.

Mas eu estava determinado a parar de usar, então, ainternação para meu caso, foi fundamental. Lembro-me que naentrada da clinica olhei para minha mãe e disse que, quandosaísse da clinica, iria fazer uma universidade. Eu estava nasétima serie e já tinha vinte e dois anos. Ela não entendeunada e, talvez até tenha pensado: “Ele não tem nem maisroupas, porque vendeu tudo para usar droga, está indo paraum lugar de viciados, como pode disser isso, que irá fazer algoque pessoas normais fazem?”

Mesmo que ela nunca tenha me abandonado, pode terpensado isso... Mas ela não conhecia este meu mundo paraleloindependente, que jamais se tornou dependente da droga.

Em minha mente, sempre teve a frase de Descartes quediz: “penso, logo, existo”.

Nesta clínica, conheci meu DEUS e não o ³DEUS da leique oprimia e mandava exterminar todo um povo. Conheci umDEUS amoroso, bondoso e cuidadoso, que me aceitaria daforma que eu era... E lhe digo, caro leitor, me senti preenchidopor dentro. Fiquei cerca de quatro meses nesta clínica.

Quando saí, estudei um ano, concluí o ensino médio, fizalguns cursinhos por fora, tive boa pontuação no ENEM e meinscrevi no PRÓ-UNI... Sim, caro leitor, é isso mesmo que vocêimaginou: agora eu era um universitário.

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Árvore da esperança

Perdi meus sentimentosEm um lugar onde não se plantam jardins de orquídeas.Mas, mesmo com tantas perdas,Sobraram-me fagulhas,Em um bolso de uma calça rasgada...Migalhas e sobras.Mesmo elas estando foraDe um plano certo,De objetos ou matérias,Ainda assim me restaram...Eram apenas restos de sementes,No fundo de um bolso,De uma calça de camurça velha,Jogada de lado, não mais usada,Abandonada...Em meu caminhar mendigo,Lento,Solto pelos trilhos percorridos,Migalhas que restaram naquele bolso sujo,Fui soltando pela trilha.E, no fim de meu caminho,Vi que uma árvore,No fim da estrada havia se formado:Uma árvore chamada esperança.

Nossos sonhos

O sonho não se acaba,Não se esfarela.Não! Ele se refaz como o solQue se põe toda manhã.

TODA MENTE É UM LABIRINTO

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CAPÍTULO III

Ele se transformaComo a poça de água,Que se torna em vapor,E logo cai como chuva,Vivificando a semente do amor.O sonho não se acaba...Antes, ele tem que ser como o vento:Passa, volta, circula e refrigera.Meus sonhos e teus sonhos não podem se acabar,Não podem morrer.Antes têm que nascer,Como as margaridas na primavera,Como o orvalho da madrugada...O sonho não se acaba.

"Dói saber que tudo depende de nós. Dói porque, namaioria das vezes, erramos".

Anjos

Anjos, quem os conheceu?Cheios de brilhos, cheios de histórias :Anjos que voam, anjos que andam,Anjos que amam, anjos que choram,Anjos que cantam,anjos que falam,Calam-se ao assunto ,anjos mudos,Anjos que giram o mundo,Anjos que protegem, anjos que perseguem,Anjos que matam, anjos que abraçam,Anjos que vivem, anjos que morrem,Anjos de pose, anjos sem nome,Anjos que sorriem,anjos que sofrem,

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Há anjos que trabalham, há anjos que atrapalham,Anjos bem vestidos, anjos em tralhas,Anjos animais, anjos espirituais,Anjo masculino,anjo feminino,Anjo menina, anjo menino,Anjos só anjos...Anjos que magoam, anjos que beijam,Anjos que negam, anjos deixam,Anjos cantores, anjos pintores,Anjos de cores, anjos de sabores,Anjos engravatados, anjos marginalizados,Anjos livres, anjos condenados...O anjo que diz essa, é simples, anjo sem muita pressa...Anjos só de palavras, é o anjo poeta.

Refúgio eterno

Ainda que eu fosse como o rei Davi,Sábio como Salomão,Fiel e obediente como Noé...Ainda que eu fosse santo como João,Convertido como Saulo,

Sem tua presença de nada valeria...

Sem tua presença,Sou um vaso sem azeite,Filho sem pai,Corpo sem alma...

Pois, só o Senhor me basta,Fortaleza maior,Monte completo.Sua presença, meu mistério.

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CAPÍTULO III

Grande supremacia

No vale de orquídeas,Ali senti teu perfume.Suave e puro era teu cheiro,Como tua presença,Como as gotas de chuva,Os ventos da primavera...As folhas do invernoSão teus exércitos.Estou eu sob teus comandos...Em verdes campos correrei,O orvalho na manha,Os pássaros no céuLouvam a tua supremacia...O dançar dos amores,A vibração do lago,A corrida da cachoeira,Te louvam SENHOR...Pois, só o SENHOR seráA grande supremacia.Louvado seja, JEOVÁ.

Montes altos

No intimo, no profundo,Eu te clamei!Nas madrugadas recebeu a minhas lágrimas...Só tive força para te clamar!Pedi misericórdia, e mudança na minha vida...Era grande minha dor, maior é o teu amor.Mas, minha alma foi quem clamou...Então, eu vi tua face

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No sol, na lua...Ouvi tua vozNos ventos, nas chuvas,No céu, no campo...Nos montes mais altos eu te clamei.

Quem são esses?

Que rio que é esse, que passa por mim?Sem deixar rastro, sem começo, nem meio, apenas fim...Deixando distantes os meus olhos o seguindo-o assim:Num som calmo, no barulho das árvores, em pleno balé...Que rio é este, que por mim passa e deixa suas marcas?Frases em minha mente gravada, alguns chorinhos algumasrisadas...Ó, belo pássaro, que mergulha e toma seu banho,Com seu almoço na ponta do bico, se sente assim livre evivo,E, num segundo, tudo que é belo se torna poluído.O homem acaba com meu sonhoE com seu próprio ninho.Pois no rio lixo, toxinas são agora diluídas...Que rio que é este que fede toxinas?Onde os peixes bóiam de barriga para cima,Que passa e deixa sua marca,O cheiro de uma podre carniça.Já não há mananciais e sim abertas latrinas...Que rio que é este , que rio que foi este ?

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CAPÍTULO III

Palhaço triste

Solitário entre a multidão, andava sem destino.Procurando no vazio de minha mente, algo para me fazersorrir...Cambaleando em passos curtos, rumo ao meu violentomundo,Vi minha felicidade passando do meu lado,Não me olhou, nem acenou...Somente passou e nem me notou.Agora, em passos largos, estou mudo a perseguir,Ela que se esquiva e foge de mim...Já não consigo alcançá-la,Pois corre como uma presa, que foge do seu predador...Como um palhaço que teme a arquibancada vazia e suaeterna dor,Queria eu, hoje, poder ver o sol e sorrir para ele,Mas, me sobra a saudade e sua tempestade,Um picadeiro sem magia, sofrendo a agonia,Pois, o espetáculo já não é visto...Eles preferem a TV e o seu artifício,Abandonam-me os aplausos e seu encanto.Palhaço triste, já não ri, fica só em qualquer canto.

Melancolias de um ser só

Melancolias de um ser só

Olhando minhas coisas antigas, elas me lembraram de ti...Como éramos felizes e não sabíamos!Como pude deixar escapar...Como era importante nossa troca de olhares,

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Como era quente nosso abraçar...Tua presença que me sufocava, agora me faz falta.Sinto tanto te perder, que não sei mais o que é viver.Como o sol perde o céu, assim me torno viúvo,Pondo a tristeza como véu...Eu errei ao deixar-te ir.Eu erro por querer existir.Mas meu erro se torna tão grande, quando penso em tiVá, mulher, que roubou meu coração,Fez de mim escravo da solidão e,No mercado negro, deixou minha emoção...Martirizo-me para sorrir, e retomar o que perdi,Ilusão de um ser confuso, que não sabe resistir.Se já perdi, tenho que achar...Mas, como achar se não sei onde procurar?Foi- se embora todo meu querer, para sempre vim a perder,Melancolias que moram em meu coração...Angústia que deleita sobre minha paixão.Triste, hoje meu desabafo,Tudo isso por olhar um retrato.

O adeus

Chora Gabriela por Arthur que partiu.Partiu do ponto de partida,Descendo entre a neblina,Deixando a saudade,Dobrando a esquina...Sangra, ó coração!E se faz em lágrima,Sentimento exposto,Tornando- se doloroso...Chora Gabriela, na porta da favela.

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CAPÍTULO III

Sonha com a volta de Arthur,Vê na pintura natural, o horizonte...Esperança, se torna longe.Sol, que vem nascendo,Aqueça o leito só de Gabriela,Que ansiosa continua,Todo dia, mesma hora,Na porta da favela,Espera o que não vem,Sofre pelo que não mais tem.Foi embora Arthur,Sem destino,Em um trem.

Carta de saudades

Longe de você, neste instante, me sinto sem chão.Minha vida não tem sentido, sou uma estrela sem céu...Nossos sonhos e planos agora são torturas, pois lembrarausente de ti me faz mal.Eu te amo, e, nem que não mais te veja, tu deixaste marcasdentro de mim que não cicatrizam.Dos meus olhos escorrem lágrimas, pois nas noitessolitárias a lembrança me martiriza...Quem dera eu estar novamente entre teus braços, em nossoninho de amor, onde o fogo de nossa paixão se consumia.Estar sem ti, é como ter espada transpassada em meu peito.A angústia me cercou e quer me lançar no buraco dacarência por isso te escrevo, meu cheiro.Perdoe-me se minha caneta decorre versos tristes...É que hoje vi o caminho das aves e me perguntei:Onde está minha outra asa?Pois só quando estou com minha outra metade consigo voar.

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Casa velha

Meu pequeno refúgio, que abriga minhas histórias...Quantas vezes você foi formadora de parábolas,Celeiro de tantas lágrimas, estábulo de risadas?Tantas você recebeu, as mesmas que despediu...Perde-se agora, em cinzas, no fogo de abril.Mãe de alguns sonhos, aconchego de namoradas,Levada agora ao vento, a uma estranha jornada.Foi tema de muitas palavras, e palco de diversas piadas,Mas, agora se pinta o drama, queimando toda lembrança,Consome tudo que pode, mas deixa-nos a esperançaQue cresce, passo a passo, como o andar de uma criança.Poderemos reconstruir-lhe, mas nunca será mais assim...Leva consigo o Snoop, o Tairone, amigos do homem, leva omeu nome,Os cristais, os duendes, leva minha gente...Resgataram o armário, a cama, mas para ti, levou a MarianaVejo o chão preto e uma cinza fumaça...Acabou-se tudo, este foi seu fimCasa velha para sempre a terei dentro de mim

(Incêndio em casa em abril de 2001)

Brincadeira de criança

Lá esta o malabarista,Novamente fazendo seu show,Equilibrando bolinhasTodo feliz da vida.

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Veja seu talento,Realmente um espetáculo...Agora, ela faz mágica,Em um minuto, virou mágico.

Ele convida o primeiro carro a participar,Este é já o segundo ato...Nem hesita, fecha o vidro,E nem olha para o lado.

Com um sorriso, sincero menino,Estende a mão num gesto fugaz:Sinal verde, vai- se o carro,E o artista fica pra trás.

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CAPÍTULO IV

Pensamentos e filosofia

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O homem, quando se vê em uma situação difícil, sempreconsegue cabular a adversidade e buscar a vitória. Mesmoquando todos o dão por vencido, ele cria uma forçatranscendente, que possibilita a conquista do seu objetivo. Emmomentos de caos, me lembrava disto, tornando a situaçãoem cosmos.

Um exemplo, foi um caso que eu vi um dia desses, natelevisão: uma mãe vendo seu filho se afogar, mesmo nãosabendo nadar, pulou no rio para salvar seu filho. Acredito quenão foi só um instinto materno que a impulsionou, porém umaforça maior que transcendeu dela, possibilitando assim suavitória perante aquele episódio.

Todos os dias acontecem histórias assim, quando o serconsegue tirar da adversidade a força. Por isso, eu gosto decrer, que todo este momento caótico que vivi, não é um castigoou coisa parecida e sim, uma oportunidade que tive detranscender rumo à vitória.

Somos racionais, mas muitas vezes esquecemos que aadversidade é uma força que nos faz transcender.

Terreno fértil

Terreno fértil

Dores...Quem tem o termômetro que a pode medir?Assim como a felicidade...Qual o grau que é suficientemente necessário para se viverbem?Amor...Quando realmente amamos alguém, a ponto de doarmoscompletamente nossa vida?Sabemos sim, sabemos que nascemos para amar.

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Sabemos sim, sabemos que nascemos para sentir dor.E tentamos incansavelmente ser felizes.Felicidade, um estado de espírito, é quando,Mesmo nos momentos ruins, conseguimos dar um sorrisosincero.É quando nos sentimos leves, por ter feito a coisa certa,É abraçar o indesejável, amar o mal amado, é visitar umente querido,É respirar num ambiente poluído, trazendo para o pulmãotoda aquela poluição,E, soltando, agradecendo a DEUS por ainda estar vivo,É dar um bom dia, querendo dizer um bom dia, e não só paracumprir protocolo.É sonhar em ser alguém, mesmo que outros falem que vocênão vai ser ninguém... Crescemos com o que aprendemos..Já a dor é um caminho para o amor, e amor é a porta dafelicidade,Que se encontra dentro de nós e se chama mundo pessoal.Felicidade, dor, amor, não têm casa, não têm carro, não têmcor,Pois os três são uma máquina e uma depende da outra.Então, viveremos e ousaremos sentir,Desfrutaremos dos bons e dos ruins...E assim cresceremos, no terreno da maturidade.

Desapegando do apegado

As cores do céu resplandecem em teu olhar...As vozes do silêncio são assustadoras.Por onde andas, menino de rua,Que não tem cor, não tem sorriso?Montados nos cavalos da desigualdade,Maquiados pelo retrato da humanidade,

CAPÍTULO IV

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Sem sonho, sem esperança...A lua se firma como rainha da noite,Tornando reais as muralhas do enigmático,Vivendo um lenocínio...Até quando iremos ver isso?E achar que não são nossos...Pois o sol se põe e nada fazemos?Pois a lua se fine...Ah!Ainda achamos que não somos também a pintura destequadro...Nos deslocamos da realidade com um trem bala,Desviamos de assuntos,Pois temos medo de que a responsabilidade recaia sobrenós...Somos covardes!E eu sou covarde por achar que com esse texto tudo muda.

Complicações

Foram vários caminhos traçados, espaços conquistados, o quepassei, as trilhas que atravessei, algemas eu quebrei, sei quevocê também...Hoje, o que o poeta falou eu fisguei, o tempo é rei, tudo bem,estou pronto para a batalha, serei um gladiador nesta jornada,consciência terei do resultado, esquecido ou talvez lembrado,reconhecido, aplaudido, pelas galerias, vitórias e gloria é o quequero para a periferia.Periferia, experiência de vida, em cada rua, estrada, barraco,um choro, uma risada, a vida é uma eterna aula...Ontem choveu, lágrimas de Deus pelo irmão fracassado, quenão teve chance para se levantar do buraco, rasteira do destino,o destino é bandido nasceu preto ou branco, pobre... Então, vai

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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ser aquilo, mas o quadro pintado também pode sermudado,como o oprimido se torna opressor, como o aluno quese torna professor.Tragadas no cigarro, deixam os pensamentos claros, às vezesme sinto como você, escravizado, acorrentado, pois o sistemae a real te deixam algemado, disseram que pobre já nascecondenado, mas se for isso que pensa, coloca na mesa, qualserá o real valor, o mundo é de cão?Talvez não, pois, quando o vento vem do lado leste, muita coisaacontece, ele traz reflexão, reflito sobre o morro, a comunidade,o sofrimento, arrependimento, em busca do talento oconstrangimento, o lamento, o veneno é cruel, se abater com odesprezo e na realidade estar presa, à procura da cura, ocinismo a loucura, a lua que vai brilhar, o sol que vem praesquentar, vento, a chuva implacável, fria,mas sei que você écapaz, pois é interna a nossa paz.Seis horas da tarde, o dia vai indo, o sol descendo, a lua subindo,no morro, cada rosto um traço, cada traço uma historia, e vitóriae fracasso, alguns correram, mas não foi do seu jeito, poisvivemos no mundo imperfeito, não existe crime perfeito,o índiofalou que nasceu e cresceu no gueto ,miséria não tem cor,branco ou preto.Vejo o terno lá embaixo passar trazendo a solução berrando egritando:__ Jesus te ama irmão!Carro importado versus o moleque girando o tambor, gerandoo terror, esse não teve sorte de nascer filho de doutor, mascada um, cada um com seu valor, está calor, é preciso respirar,pensar analisar, comparar, tempo ruim chegou, mas vai passar,a tia chorou, a sobrinha ganhou, o pivete que agora é louco,soldado do morro, me flagro frustrado, lunático, no porão meusonho foi trancafiado.Vejo um menino me olhando cabisbaixo, o que será que estápensando talvez no fracasso?

CAPÍTULO IV

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Dormir ,acordar, estudar, trabalhar, casar, roubar dinheiro, ouaquele beijo, a vida segue nesse patamar, um mergulho no marou na serra da Mantiqueira respirar um bom ar.___ Ei! Pare de chorar, eu venho deste mesmo lugar,vamosnessa, seremos como elos de corrente,guie seus passos paraa vitória,saia para o abraço dispensa o aço, fuja do “bum!” ,abrace o do norte, como abraça o do sul, “estamos juntos”palavra forte, pronto para a vida, pronto para morte, cante comemoção e simplesmente viva de verdade a razão, pois ninguémé tão pobre que não possa vencer, complicações existem nospartos, mas é preciso nascer ou talvez renascer.

“O louco que se entrega à loucuraÉ mais do que louco”.

Loucos geniais

Muitos me chamam de louco, por escrever meus sonhos edesejos...Muitos me chamam de louco, por querer mudar o mundoatravés da escrita...Muitos me chamam de louco. por amar o que nunca vi...Me chamam de louco,Censuram meus pensamentos,Limitam meus desejos,Me chamam de louco.Mas as maiores loucuras, de pensamento genial,Se transformaram nas maiores invenções do mundo...Pois, quem teve a idéia, se não um louco genial,Ao ver a maçã caindo de uma árvore e descobriu a lei dagravidade?Pois quem teve a idéia, se não um louco genial

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Ao descobrir que se pode manter uma luz num vidro echamar de luz,Luz que iluminou a mente de todos esses, que a sociedadechamava de loucos?Loucos geniais.

O nosso tempo

Da minha janela vi o novo ano se aproximar,Cheio de esperança, de uma vida melhor.Veio com gana de conquistar nossos corações,Então, eu, homem simples, de poucos sonhos,Tive medo, pois não sei, quando olho para minha filha, o queserá o amanhã...Mas, se eu soubesse também não haveria graça.Tive medo, pois o ano novo chegou cheio de promessas,Foi quando me lembrei dos políticosLiguei a televisão e quem estava dentro daquela caixinhamágica?O presidente...Fiquei apavorado, comecei a suar parecia um sonho, masera real como nossa moeda.Peguei o telefone e queria ligar para alguém,Foi quando me lembrei do telefone que minha mãe me deuquando criança,Era do Papai Noel.Liguei, e ele sem me deixar falar,Já perguntou se eu tinha sido uma boa criança;Desliguei rapidamente,Tive medo de ficar sem meu presente do ano que seiniciava...Não tinha a quem recorrer,Não escutavam meus berros de clemência.

CAPÍTULO IV

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Foi quando caí em mim, e percebi que o futuro,O futuro é o presente, e que não vão fazer nada por mim...O ano novo,O papai Noel,O Presidente da República...Ninguém,Se eu mesmo não o fizer.

Criatura

Não tenho tudo que cobiçam os meus olhos,Mas tenho tudo que meu corpo precisa.Não tenho o sonho que um dia sonhei,Mas sou feliz por estar vivo.Não falo tudo que penso,Mas agradeço por não ter tormentos.Não amo o tanto que poderia amar,Mas amo tudo com o que venho a me relacionar.Não sou perfeito como seu ídolo,Mas me esforço para melhorar.Sou tão errante quanto teus vícios,Sou tão pequeno quanto a formiga,Às vezes forte como a tempestade,Mas na maior parte, fraco como a neblina...Sou tão antigo quanto a moldura,E obsoleto como a pintura.Tão confuso quanto a mistura,Pois sou apenas uma criatura.

Exílio de sentimentos

Dificuldades sempre partem de vários lados,Um ser humano à procura de algo mágico.

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Se a felicidade está nas coisas simples ,Me explique porque fica difícil, às vezes, sorrir para você?Às vezes, eu me perco nos meus pensamentos,E por vários momentos,Reflito o momento,Que passou e não parou,Naquele segundo,Imagem não congelou.A entrega do “sopão”, o sorriso do mendigo, a visita no asilo,somos bicho grilo.Exilo meus sentimentos com raciocínios rápidos,Confusos, que vêm de dentro...Tento fugir do sombrio, estando entre amigos,Desvio meu olhar do meu próprio umbigo...Mas, me mostre, quem acredita que vale mais uma grandeesperança do que uma mísera conquista?Que a beleza do rosto é frágil, a beleza da flor é de poucaduração,Mas a beleza da alma é infinita, e é notada em uma multidão?A nossa luta se parece cansativa e insegura,Cheia de culpa, por roubar o brilho dos olhos de alguém,Se olhando num espelho e não vendo ninguém,Caçando, procurando na gaveta um saquinho de ânimo...A coragem foge entre os vãos de nossos dedos.Não espere o perdão, perdoe a si mesmo,Raros e simples nossos momentos.Paisagens e árvores me trazem momentos,Caminhadas, me mexem por dentro, valem mais do quequilômetros rodados, Retratos, fatos me fazem sentirresponsável, por saber que pessoas ambientes me deixamvulnerável.Tento fugir, às vezes, falho,Tentando sentir o sol, a brisa, o vento, o cheiro do orvalho.Com a mente aberta, escuto, não discuto, concluo,

CAPÍTULO IV

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Não posso ter medo do passado, fazer o presente, pois ofuturo é incerto.A vida é cheia de parábolas, quando os problemas estão aolado, quer dizer que está reto.Desejo a você todo amor, toda sabedoria, imortalize seuspensamentos,Busque a vida,Não conte a verdade só porque não dá mais para sustentar amentira,Não ame só porque não tem mais nada para odiar.Sei que é difícil sorrir, pois não tem mais lágrimas para cair,Já me senti assim, corredor sem luz, estrada sem fim,Pegadas sem marcas, rimas sem levada, sei que é difícilfalhar,Mais triste é não tentar.Raros esses nossos momentos...Só estou falando de sentimentos.

Natureza versus natureza

Um dia a natureza se voltara contra a natureza...Será um grande dia, pois a natureza matará a natureza,e será de verdade a tal falada morte natural.Será causado pelo próprio natural.Ou você, homem, acha que já não faz mais parte danatureza?O homem produz seu próprio inseticida, e a natureza só estáaguardando para o dia do combate, e já aconteceram aspreliminares, o tsunami é só uma mostra do poder de guerra.Será que o bicho homem poderá vencer esta?Será o dia em que a justiça será feita,O homem pagará por seu genocídio e, este processo sócresce,

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Veremos os relatórios:Natureza contra natureza, processo de numero 2007, ano daplenitude.Homem é acusado de exterminar com milhões de baleias,Homem é acusado da extinção de várias formas de vida,Homem é acusado por milhões de campos verdesdesmatados,Homem acusado pela poluição do ar,Homem é acusado pela poluição no mar,Homem é acusado de criar bombas nucleares e fazer seustestes em áreas que não é dele,Homem condenado à extinção.Você acha injusta esta sentença?Se JESUS foi condenado à morte por pregar o amor...E tantos outros, que nem daria para escrever,Tantos homens que foram mortos pela crueldade do homem,Por ferir seus valores ou seus interesses...Mas, a mãe Natureza se encheu desta soberba de seu filho,E agora declara guerra...Quem vencerá, a Natureza ou o natural?

Intimidação

Às vezes, os olhos dizem mais que palavras... No seuvocabulário próprio, com sua magia única, fazem -me terdesejos inexplicáveis, pois me conduzem ao mundo surreal,onde só minha mente trabalha, com as situações maisimprováveis, vejo esta janela do corpo como algo fantástico,que me traz algo, que na realidade não há. Vejo a poesia dosolhos e suas cores falam no intimo de minha alma, mecalando numa sala sem palavras a me expressar, talvez poresse encanto às vezes canto, ou somente tenhoperturbações como esta que descrevo, já minha paranóia é

CAPÍTULO IV

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tão exata como o céu e no terreno de meu interior, poucosconseguem invadir como os olhos do mistério, expressãomaior de sua beleza, estes que, arregalados, me põem aintentar frases tão incertas como estas, me penetra noprofundo e perco todo o sentido da conversa... Que olhar éeste, que me intimida e provoca curiosidade em saber ondeeles podem alcançar? Talvez somente bobagem descrita porum poeta urbano, que tem a pretensão de desvendarmistérios tão escondidos como este, selado no espaço nãoexistente da perfeição.Olhos mitológicos, que me fazem entrar em um campo deespírito, onde o acaso não existe e sim a sincronia decorpos, pois estamos aqui para o encontro de olhos e, assim,um tentar desvendar os mistérios dos outros, caminho emvão pois você mesmo diz:Quem poderá andar nos terrenos do coração do outro?

Respostas

Estou indo para onde meus pés me levam,Procurando achar a paz de espírito que nunca tive,Entrando por ruas escuras,Buscando, no silêncio, respostas para minha existência...Numa metrópole de aço, entre árvores de concreto,Vejo o céu cinzento desta cidade, cidade sem cor, opaca,sem vida,Muitas almas passam por mim e nem me notam,Não vêem nos meus olhos o brilho ofuscado por elas...Paredes com grafite, pinturas urbanas,Algumas me demonstram nos seus desenhos, outras ointerior do seu artista, Escuto o barulho do metrô, e merecordoQuantas vezes eu andei nesta centopéia de aço.

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Vou para onde meus instintos me levam,Passando por pessoas morando embaixo de pontes,Se enrolando com papelões, para se aquecer do frio da noite,Em volta de fogueiras, sempre tem uma história, uma vidaignorada pelos seus... Qual o real sentido da existência?Perguntas que o silêncio me evita responder,O pastor da igreja diz que a resposta esta ali,O padre discorda e fala que o papa tem a resposta,O macumbeiro fala: “Acenda duas velas pretas e mate umagalinha que você sonhara com a resposta.’Em tantos lugares temos a resposta do homem.Talvez, digo só talvez,Será que a resposta não estaria dentro de nós?Pois, vejo muitos templos, mais não vejo Deus.Talvez, digo só talvez,Será que Deus não se cansou de templo, e hoje mora dentrode nós?E, se nós dermos a chance,Ele se manifestará dentro de nós,Nos trazendo todas as respostas,Todas as dúvidas, questões dos nossos corações?Paro de andar e, em frente a uma árvore, observo suaperfeição, seus galhosE me comparo a um deles...Sou ligado à raiz de qualquer forma,Mesmo eu sendo o ultimo galho, sou ligado a raizE ali percebo que já não é mais talvezE sim, Deus ainda é a raiz de toda a resposta.Então eu pergunto: “Deus, o senhor sendo rico em amor, sendo rico emmisericórdia, porque há tanta fome na terra ?”E ele me diz:”Filho meu, nem só de pão vive o homem!””Deus, pai meu, por que há tanta desigualdade ,poucos têm

CAPÍTULO IV

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muito e muitos têm pouco?”E ele me diz:”Filho meu, mais fácil passar um camelo no vão de umaagulha, que um rico entrar no reino dos céus.””Deus, então me responde!: o que tenho que fazer paraentrar no teu reino?”E, como uma multidão de trovões, ele me disse:”Filho, esta resposta eu não tenho,pois eu a guardo dentro deti.”Foi quando fiquei em silêncio, e descobri que a fome, asdoenças, a violênciaNão são permissão de Deus, mas sim, do homemE que tudo tem um propósito, uma razão,E que tudo tem resposta, e esta resposta, está dentro denós,Basta nós darmos lugar ao poder superior para que eledesperte em nós uma consciência espiritual.Consegui uma paz de espírito, que nunca tive, no momentoque eu deixei esta consciência agir em meu interior.Você tem as respostas para tudo, mas nem tudo será para tirevelado, pois somos fracos e temos um corpo sujo...Mas, um dia, veremos nossos corpos transparecerem comoluz...Então, todo o mistério de nossa existência nos será revelado.Amém!

(Que Deus Pai e Deus Filho sejam sempre contemplados.)

Real sentimento

Meus sonhos se encontram com sua realidade, no instanteque teu sorriso se depara com meus olhos.Tudo se tornaclaro ao ouvir tua voz...Minha loucura se encontra com tua

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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sabedoria. Quanto me disponho a expressar meuspensamentos, já nenhuma solidão é solitária, e nenhum vazioé oco, pois a matéria é limitada mas a crença é infinita. Meusaber se faz ignorante, quando a humildade percorre meuinterior, fazendo-me vomitar o orgulho para fora de mim, e metornando num ser pequeno, do tamanho real que ele é, e nãoilusório como sempre se atreve ficarMeu amor é puro, somente quando me abaixo para ajudaruma pessoa me fazendo ficar do tamanho dela, ou quandoempresto meus ouvidos à causa alheia, ou meu ombro alágrima não minhaE fica real minha existência, quando aprecio o sol como seeu nunca o tivesse visto antes, e sinto o ar puro como sefosse a primeira fez, vejo o dançar das árvores e seu eternobalé, e suas folhas de outono caindo, uma morte que trazvida, uma vida que produz vida interna.Posso contemplar a vida, e deixá-la me observar como umser raro e único,e normal ao mesmo tempo como todos osseresEntão tento ver onde minha visão alcança, e descubro quecom meus olhos não consigo ir muito longe, e como fica fácilpercorrer mais milhas e milhas somente com a mente.O sincronismo do o mar me faz bem, o balançar das ondasrefresca minha alma e me faz sentir vivo.Então no fim desta minha loucura racional, descubro comosomos importantes uns para com os outros, e comoesquecemos disto quando deixamos de transpor nosso amorum para com o outro, e abandonamos nossos sentimentosnum canto escuro,e nos fazemos cegos diante a aflição dopróximoFaçamos o improvável, vivamos a compaixão, nos dando unsaos outros, como nunca fizemos, salvo os amantes da boaação, nos medíocres de espírito. Busquemos no profundo donosso eu a generosidade que deixamos na caixinha da

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isolação, e vivamos o verdadeiro amor.

Descobrindo-se

Às vezes, nos ligamos a pessoas através de palavras,olhares ou sorrisos,e nos atrevemos a conhecer o outro ser,por seus gestos. E julgamos erradamente, julgamos suasatitudes, seus modos e até seus pensamentosE descobrimos que quando os nossos olhos se corrompem,ele adoece nosso interior,e ficamos com a doença dojulgamento e de auto-engano, pois não sabemos de ondevem o outro, não conhecemos sua história seus sentimentos,sua visão e perspectiva sobre a vida... Então, já nãopodemos julgar, mas julgamos.Erroneamente pensamos ser os donos de nossa razão, eque podemos alimentar nosso ego com as palavras dealguém... Talvez a vida nos pregue certas peças para quepossamos aprender a conviver com nossas diferenças, poisno campo da cumplicidade, a verdade é o terreno firme ondepodemos pisar... Mas, talvez com uma mente fechada, nuncaentraremos nesse plano cósmico e espiritual, pois nosescondemos atrás de nossa própria vaidade, e muitas vezespessoas cruzam nossos caminhos para que possamos abriros olhos e ver que, muitas vezes, esperamos coisas que nãoalcançaremos e teremos que conviver com isso ,mesmosendo difíceis... Poucas pessoas têm coragem de falar o quepensam, mas muitas se escondem atrás de personagemmoldados pela sua personalidade e esquecem que a verdadeé o caminho mais fácil para perfeição ...Perfeição que nuncaveremos nos seres ,mas nossos ¨nós pobres¨, acham queas diferenças são sinônimas de risco ou ameaça e nãoenxergam como oportunidade de uma nova chance deaprender, pois as adversidades expostas a nós, para muitos

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são obstáculos e não experiência.Num dia normal, pude ver minha soberba cair por terra ,meuego sendo despedaçado em partículas, quando me senti umser pequenino, e não foi nenhum intelectual que me fez vercomo sou um ser mesquinho e indiferente sobre váriosaspectos; em palavras de uma menina ,em olhares damesma, enxerguei quem realmente sou e o que tenho quebuscar... Talvez se eu não aceitasse as palavras a mimdirigidas, nunca escreveria este pensamento, mas pude vercom outros olhos, olhos internos o que realmente significavatodo aquele momento... Me senti aliviado, por ter a chance dereceber o recado e gravar na tábua do meu coração. Poucostêm a mesma oportunidade , talvez eu sempre esperei o queeu esperava, e nunca contei com o improviso, ou a sutilezade não ser tudo como eu programei... Quis passar estesentimento em pensamentos, pois o que se recebe de graçase dá de graça .Então para que possamos ver as coisas, não com nosso egoe nossa infantilidade, mas que possamos ver o valor real dascoisas pelos seus valores internos ,e que todos, eu digotodos, possam aprender com a diferença e respeitá-la, pois acoisa não consiste em que estado vemos, e sim em queestado a recebemos... Aprenderemos com os homossexuais,com os deficientes, índios, negros, brancos, pardos,amarelos, arianos ou não arianos, punks, rappers, emos,pops, etc. E descobriremos que o preconceito ou ojulgamento de causas não compreendidas, nada mais é quenossa ignorância interior, adoecida por nossos olhoscorruptíveis .De modo que saberemos viver o respeito, secando nossasguerras internas que muitas vezes fazemos tornar-seexternas, e o julgamento não mais existirá, pois saberemos,enfim, o significado da palavra amor...

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Somos iguais

Somos iguaisQuando sorrimos,Quando choramos,Quando nossos olhares se cruzam,Quando abraçamos quem realmente gostamosQuando amamos,E quando morremos.Já não somos tão diferentes,Pois Deus nos iguala nestas coisasPara que possamos ver que,Para Ele não existem fronteiras, barreiras, pátria ou idiomas.Somos iguais, quando nascemos e quando morremos,Já toda a nossa diferença se desfazE podemos olhar com os mesmos olhos o horizonte.

“Os nossos olhos se tornam membros neutrosquando ousamos olhar com nossos outros sentidos”

Cansei.

Estamos cansados de ver nossos filhos mortos pelos cantos.Estamos cansados.De ver o povo enfatizando mais um reality show, do que amiséria do nosso país.Da corrupção no congresso nacional.De impostos absurdos.Da seca no nordeste e da degradação do meio ambiente.Das queimadas na floresta Amazônica.

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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Da exploração infantil.Do trafico de drogas em nossas ruas.Do tráfico de pessoas.Estamos cansados.Do presidente se preocupar mais com outros países do que onosso.Tentando resolver a fome do Haiti ,mas esquecendo da fomede seu povo.De termos uma policia corrupta.De termos a terceira maior cidade do planeta controlada pelocrime.Estamos cansados de ouvir os mesmos discursos.De reforma agrária.De segurança.De fome zero.De plano de desenvolvimento.Estamos cansados do salário mínimo de misériaEnquanto os políticos tentam aumentar o patrimônio deles.O Brasil cansa.Eu estou cansado.Você deve estar cansado.De ver o presidente americano matar ocidentais.De ver o povo americano se achando os melhores do mundo.Estou cansado de ver Deus tão longe dos coraçõeshumanos.Estou cansado da guerra não declarada do Rio de Janeiro.Da pobreza nas ruas de São Paulo.Dos presídios super lotados.Estou cansado deste sistema capitalista.Estou cansado desta vida injusta, onde um menino de seisanos é morto por bandidos.Onde os policias espancam pessoas nas ruas.Onde a natureza berra por clemência.Onde Deus chora.

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Onde Deus chora.Por ter feito um ser tão ambicioso, a ponto de não ligar para opróximo, a ponto de matar milhares por seu interesse, aponto de matar mãe e pai por dinheiro.O que somos?Pra que nascemos?Estou cansado de tentar entender o homem.Estou cansado, cansado, muito cansado.

Humanos urbanos fulanos

No mundo, temos várias formas de vida: vida animal, vidavegetal, vida humana.Classifico vida humana diferente das demais, já quepodemos nos organizar, analisar, deduzir, raciocinar, ealcançar nossos objetivos quase sempre que colocamos issoem prática, mas não é nisto que quero me deter.Vida humana.Assustador como somos todos iguais e ao mesmo tempodiferentes; vemos nesta raça um ser extremamenteambicioso, egoísta, perverso quando seus interesses estãoem jogo, ao mesmo tempo vemos nesta raça, agenerosidade de pessoas que raras vezes, mas acontece,abrem mão de fortuna, luxo, fama, status para se dedicar àcausa alheia. Agora vejamos: somos feitos de ódio e deamor.Temos pessoas que querem o sol todo para elas, e outrasque se contentam apenas com os raios dele, outras queremo mar, outras somente uma onda, e neste jogo de ideologiasvemos que somos frutos de nossa personalidade.Uns tem personalidade forte e é cheio de idéias, projetos, ricoem virtude, nasceram em berços de ouro, mas não fazemnada, outros, não têm uma personalidade forte, é feito de

PENSAMENTOS E FILOSOFIA

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poucas idéias, não sonha muito pois nasceu no berço debambu, mas estes transformam o mundo com seu jeitosimples de encarar a vida, mudam pessoas, pensamentos:ditam regrasDescobri em uma auto-analise, que não preciso ser rico parafazer algo, e minha pobreza nunca vai impedir de mudaralguma coisa, somos uma raça diferente pois nossasadversidades nos transformam, partimos de um planoignorante para um ser intelectual sempre que nos damoschance.Somos humanos e muitas vezes agimos como animais, estána hora de tomarmos uma atitude a respeito de nós mesmos,nos analisar e vermos o que somos se nascemos para ser adiferença ou ser a indiferença?Ninguém é tão rico que não necessite de uma mão, ninguémé tão pobre que não possa ajudar, ninguém é tão deficienteque não possa interagir, ninguém é tão humano como nós.

Surreality

Decorre o lápis como o rio NiloAo contrario de meus pensamentosIndo contra uma tempestade de ventosMorrendo sem sentido, sendo por uma força maior impedidoDecorre versos tristes de uma canção inexploradacantada por rouxinóis, cinzas pelo invernoMinha mão já sem força assina a ultima rubricaAlegando a solidão em meio a multidão.Já meus olhos brancos não vêem o que se vêPois toda imortalidade foi deixada à beira da fonteAo piscar de vaga-lumes surge uma ousada e sarcásticarisadaDo sapo pintado em cima de uma pedra no jardim de minhaamada

CAPÍTULO IV

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Lua luminosa, abajur da rode (?) estradaMarcada por pegadas grandes, do pequeno viajanteSem sentido, decorre o lápisTentando harmonizar, entra o poeta e a cartilhaO muro e a vizinhaSonhe, ó sonhador, gládie, ó gladiador,Morrendo um querido ferido, por um não corrompidoEm meio aos gemidos do Haiti e seus famintosIsolados pelos que podem, como minha mente entregue àpura morte.

Diários de um insano sanam

Sobre o mistério da noite em dias confusos, faço estanarração...Sem lógica, ou sentido vou exprimindo meus extintossentidos,Num fato fictício num ato sem artifício.O dia é ignorado, pois não se marca o que não é para serlembrado,Motivo inexistente, somente uma filosofia sobre algunsparênteses.Eu, homem comum,Com pretensão de desvendar razões as quais meu coraçãoteima em se questionar, Caminhava então, por uma ruaescura, vindo de mais um dia acadêmico,Sem muita pressa, pois esta opera contra os pensamentos,Vou me perguntando por que a injustiça lutaPara entrar na residência de nossos corações e assimquerendo morar?Por que o pecado é como cola em nosso ser?Perguntas que ficam na calçada rachada, junto a grama rala,Não tenho tais respostas e nem sei onde buscar.

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Já não há estrelas perfeitas que me fazem sonhar,Nem o puro sol na primeira manhã,Nem a lua e seu cantar,Minha esperança é fúnebre como o menino que vejo no farol:Pobre opaco vazio, como sua noite de natal.Porque não se vê o que os olhos alcançam,Por que tanta desigualdade,Se Deus é o mesmo, por que não opera nesta entidade,Um corpo uma estatística, sem nome, sem porquê,Por que teima coração em me fazer isto entender?Descobre-se o que foi encoberto, e tenta novamente reviveros momentos bons, Pois os bons estão morrendo, semchance de ser,Os ricos sobrevivem a custo de seu sangue,Os pensadores pensam, mas nada conseguem resolver,Os fieis oram, sem resposta do céu, pois Deus deu o dom,mas também a obrigação.Do alto, penso eu,Deus olha, vê tudo e diz aos anjos:“Quero ver agora o homem resolver este problema que elemesmo criou,Na sua arrogância de criador, criou bomba, criou fome, fezfronteiras,Explorou, num estupro imoral, a natureza,Se apossando do que não era seu por direito,Adora mais a si mesmo, do que aos deuses... Idiota! Insano!Louco!Fez o que sua natureza lhe mandou, destruiu o que eracósmico,Retrocedendo para o caos...”Agora, como não sermos extintos?Como voltaremos atrás, se a chagas da impiedadeEstá alojada em nossos corações?Nós criamos nossos próprios inseticidas.

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CAPÍTULO V

Os pensamentos são como osventos

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“Nadie te regala nada.Tú tienes que tomario”

Recuperação é assim, ninguém vai fazê-la por você. Istoé algo que vai ter que nascer de dentro. Muitos conseguemeste nascimento por sozinhos,, outros vão ter que sofrer a dorde parto.

Quanto tempo se perde em um erro?Eu perdi seis anos. E, como é difícil ter que encarar o

espelho todo dia com essa realidade... Mas, esta é a mesmarealidade que me mantém em pé. Hoje, tenho que olhar para opassado, refletir no presente, e tentar não errar novamente nofuturo.

Não dava mais para ter as velhas amizades, pois elasnão compartilhavam do mesmo sonho do que eu, ficar limpo.

Sei que é complicado construir um novo universo, umavez que você esta acostumado com mundo no qual viveu. Mas,quando este mundo proporciona mais tempestades do queprimaveras, você terá que escolher: ou fica no frio da chuva ouvai colher margaridas. Eu optei por margaridas, não só pelasua beleza, mas porque seu perfume era mais agradável que ocheiro dos bueiros entupidos.

Estava cansado de querer minha vida de volta. Queriauma nova vida, e para isso teria que aprender com a escola davida, que todo começo depende de um fim.

Como disse no começo, sempre fui um solitário... Eupensava que, estando limpo (sem drogas) teria amigos.Mas,com o tempo, descobri que a recuperação não era um mar derosas.

Existem coisas que são complicadas e complexas paramudar e uma delas é o estado de espírito. Minha solidão eraum estado de espírito particular, um mundo meu.

Uma vez, convidei uma menina para sair. Descobri, numaauto-avaliação, que não a estava chamando não porque queriaficar com ela e sim porque não tinha com quem sair, eu não

OS PENSAMENTOS SÃO COMO OS VENTOS

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tinha amigos. Isso, de certa forma, me fazia ter inveja dostraficantes que moravam perto de minha casa: eles estavamsempre cheios de pessoas ao seu lado.

Novamente, a vida me mostrava numa outra lição:enquanto houver a grana na esquina rolando, você terá amigos,mas quando for preso, eles nunca te escreverão cartas. Então, minha maior felicidade era chegar numa destasirmandades paralelas, porque me sentia acolhido a cada abraço,me sentia notado sabe? Muita vezes me sentia melhor do queem uma igreja. Na verdade, pude notar uma falha em algumasigrejas cristãs. Às vezes, há pessoas que estão sofrendo narua e vão buscar ajuda nestas igrejas. E, falo isso porque já fuium filho pródigo também. Muitas pessoas perderam tudo e sólhe sobraram roupas velhas, rasgadas e, quando chegam à umaigreja, existem fieis que medem a pessoa da cabeça aos pés,a pessoa nunca mais volta, ou pior, acontece o que eu senti napele. Você chega e sai da igreja e ninguém nota sua presença,um fantasma, nenhum abraço, nenhuma palavra de força, esabe por que acontece isso? As igrejas de hoje esqueceram ofoco principal: “Jesus não veio para os sãos e sim para osdoentes”. Assim, elas se fecham, não estão preparadas e nãoquerem se adaptar para receber pessoas com problemas comdroga.

“Na cidade dos santos, os pecadores são apedrejados”.Nossa! Quantas noites eu acordei assustado, porque tinha

sonhado que estava usando drogas... Uma vez, acordei com ogosto do crack na boca. Você sabe o que é isso? A pessoa estásem usar droga e, mesmo assim, acorda com o gosto da leprana boca. Só quem passou por isso entende o que estou falando.

Existem pessoas que julgam os viciados, chamando-asde “sem vergonha”, “safados”, “ladrões”. Não quero justificarnossos erros, mas lhe pergunto: Qual é o termômetro que medea dor? Como posso eu falar de algo que não vivi, nãosenti na pele?

A dor é algo egoísta e individual, você pode me afirmar

CAPÍTULO V

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que aquele homem, que perdeu duas pernas na guerra, sentiumais dor que a filha da madame que perdeu sua Barbie nasacada do triplex?

Quem garante que o homem soube que a vida é feita deamor e dores, e aceitou a perda, agradecendo não ter perdidocoisa mais valiosa, como, por exemplo, sua vida? Viu todasua tragédia como lição e assim se conformou, conseguiusuperar a fase de dor, ao contrario da menina que mais tardeobteve vários distúrbios por nunca ter aceitado a perda, sofrede depressão, mal humorada e acha injustiçada sobre tudo,nunca se recuperou?

É difícil falar, caro leitor, mas a verdade é: a vida é mágica,você escolhe, ou vive a emoção de assistir ao show ou secontenta com o estraga prazer do Mister “M”.

"Que a fé, a qual corre no nosso sangue, seja suficientepara pulsar o nosso coração espiritual"

Obra de arte

Cultura dada,Cultua nada,Numa melancólica risadaExplora toda forma,Embora transforme,Cultura cultivada.

A fome transformada em cultura, numa foto em preto ebranco.Já os corpos da guerra não chocam, pois são artes,O sorriso colorido do menino, que pede pão em frente a umapadaria, no ângulo certo, ganha prêmios internacionais.

OS PENSAMENTOS SÃO COMO OS VENTOS

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Minha revolta se torna arte, quando me disponho a escrevertornando-a literatura, Mas, minha alma chora, sente dor departo, pois somente são relatos e nada faço, E depois virãoalguns elogios, me envaidecendo,Que momentos são esses, ò Deus?Faço-me refém de meus paradigmas,Centrado no engano de meus pensamentos,Pensando ter dado à civilização algo cultural,Me esquecendo que faço parte desta arte de horror,Circo macabro do cotidiano humano, que simplesmente vejocomo obra de arte. Será que o autor deste quadro estava tãoinspirado,A ponto de pôr o bem e o mal em paradoxo mútuo?Fazendo viver a injustiça e a justiça de braços dados?Com uma impetuosa timidezDeixo-me envolver pelo que não me causa medo,E, falo com rancor sobre o criador...Que autonomia é esta que me faz igualar ao mesmo,Achando que criei tanto, que já não sou mais criatura,Portanto, tenho o mesmo poder de criar e destruir?São só obras de artes,Toda esta miséria,Esta guerra injusta...Este governo corrupto, entrará para história e se tornarácultura,Todo aquele discurso do presidente inculto,Será cultuado como o quadro que o homem pintou do seupróprio “eu”.Mas, pergunto agora para você, leitor:Você vê tudo isso como um artista global, que não passafome,Que tem seguranças e mora numa área onde bala perdida sópassa na televisão? Você vê como ele, uma linda e poéticaobra de arte?

CAPÍTULO V

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Monólogo de loucuras

Minhas lembranças mais sábias são as que não ficaram,Estas me colocam onde não gosto muito de estar...No escuro do meu eu, onde nem eu mesmo me atrevo apermanecer,Nem ao menos as pronunciar.Mas, mesmo no dia em que não haja sol,Consigo ver o brilho entre as entrelinhas do apogeu,Moradias de vadios, logrados pelo hoje,Que contorce os olhares dos falecidos vivos.Em meio a esta barbárie de estados de espírito, encontra-seminha mente,Sem reflexos, ou conotações do ontem,Somente tentando condizer com o futuro num espelhoparadoxal e fugaz.Nem belas palavras, nem moedas ou cartazes...De que vale o estado pleno,Se não se vêem as corajosas andorinhasSobre a mente tenebrosa de um insano pensador?Decorrem os versos, estilizam os parágrafos,Mas de nada vale se não tem essência,Não se tem fotografias sem passado.Num jardim de tulipas, onde os ventos são acaso,Nasce sempre um amor em algum texto de poeta...Mas me pergunto:Por que tal amor não pode nascer no meio da guerra doIraque?Amor este, entre um norte-americano e uma palestina,Por que sempre tem que ter cenário,Sempre uma música de fundo...Por que não uma trilha sonora de mísseis e berros dosoprimidos?Minha mente se perde neste labirinto improvável,Onde o medo controla a coragem,

OS PENSAMENTOS SÃO COMO OS VENTOS

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E os fortes são os que contêm o poder,E não as palavras,Vidas que se perdem em meio ao furacão humano,Que traga como fogo.Mas sabe, amigo diário, o que faço não importa...São somente palavras,Ou talvez loucuras,Loucuras ofuscadas pelas risadas sarcásticas do Tio Sam,Enquanto Saddam se retorcia,Os menininhos o tal “Sonho Americano” puxavam suaspernas para baixo,Para que logo o grande pequeno Saddam parta desta parauma pior.E assim, segue o globo do flagelo,Entre injustiças e mentes insanas,Conturbadas por esse sistema expansível de mediocridade,Onde então, querido diário, posso escrever minha grandeobra,Nos jardins do Éden ou sheol (?)terrestre?

Últimos pingos

Os muros da razão não me deixam ver,Que os sentimentos aprisionadosSão como os ventos tentando dizer.E, num surto momentâneo,Meus passos curtos se tornam longos traços...A minha mente trava-se ao caso contado.Sinto-me às vezes como um saco de pano, sujo e rasgado.E, quando ouço pingos de água sobre o teto,É que minha vida faz sentido...Por mais que os surdos internos não queiram me ouvir,E toda patola(?) ou pétala de rosa se sequem no verão,E, as vozes do que dizem, fiquem ao lembrar,Tudo fará sentido, quando o pingo d água você escutar...

CAPÍTULO V

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Decorre a minha vida como um diário fotográfico,Onde o cinza tende a se destacar e, mesmo que a fumaçame faça pensar,Travo e me volto, no fim, em teu olhar.Pelo pêndulo da razão me descubro um ser sem razão...Já a prisão do inevitável, é a fonte do colapso,Entre os homenzinhos de blusa de lã na rodoviária e asacadêmicas e suas risadas...Nada faz sentido, mas fará aos últimos pingos.

Pensamentos

Eu vi uma vespa de pata quebrada andando de um lado parao outro, tonta, não sabendo ao certo para onde ia estava semrumo e confusa.Fiquei triste e frustrado, pois, tudo isso aconteceu em umtemplo onde eu e outros homens adoravam a Deus. Fiqueipensativo, ouvindo o que o pregador falava.Descobri que nosso Deus é curioso e misterioso, porquecerto seria que aquela vespa estava com seus dias contados,e que, certamente, morreria pisada pelo pé de alguém que,pulando de alegria pela adoração, a esmagaria. Então meusolhos se abriram e notas foram dadas à minha canção.Como pode criatura matar? Criatura somos... Entãodevemos ser irmãos das outras criaturas,. Mas não, somosem potência prepotentes, achamos que nós, um pozinho denada, somos a obra perfeita de Deus.Digo porém, que em verdade, somos um erro! Poisdestruímos o nosso lar e produzimos nosso próprio inseticidae, como é difícil para um “crente” aceitar isso... Ele vai dizerque é monoteísta como eu, mesmo de mim mesmo sou, masem verdade vai adorar dois “deuses”, um no qual eu por mimmesmo creio que fez o céu a terra e tudo que há, uma forçamaior o ato puro, e o outro quando se olha no espelho e faz a

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leitura errônea da sagrada escritura que diz que Deus deuautoridade para que o homem domine sobre tudo (GN 2-26),tradução errônea capitalista e ocidental... Deus fez o homemum jardineiro para cuidar de seus bens mas o homem, emsua arrogância, criou algumas coisas pequenas perto dasupremacia da criação do Criador e se achou um criadortambém.O mais incrível desta minha experiência, é que foi umavespa, que se não foi esmagada por um pé humano, setornaria comida de algum predador e morreria com as honrasnaturais, e foi ela quem me abriu os olhos.Se digo a verdade não sei, o que sei, apenas exponho, nãoimponho...Então, que pessoas de mentes abertas leiam, e, tentem irpara onde minha mente foi, mesmo eu sabendo que isso édifícil, pois eu mesmo por mim mesmo sei, que isso é umlabirinto em que muitas vezes eu mesmo me perco nele.

Reflexão

Às vezes, as coisas se transformam num piscar de olhos.Meu “eu” clama por socorro, num corredor escuro do meupróprio interior.Sem cor, as paredes se mostram, um vazio me aprisiona nocaos de minha mente.Não! Por mais que haja claridade, a mesma foge de meusolhos como um coelho foge do lobo.Sobras pela casa me lembram você e toda sua bagunça,Entre soluços momentâneos, minha voz rouca e lágrimaslargadas no chão,Sinto falta de nossas conversas...E todas aquelas baboseiras ditas no jantar,Fotos coloridas se tornam em preto e branco, sobre a visãotriste da solidão.

CAPÍTULO V

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Muitas vezes sinto vontade de desisti,rPois o caminho se torna cruel para meus pés:Fui acostumado a andar ao seu lado.Quando pego minhas roupas no guarda- roupa,Sinto sua presença perto de mim,Nos momentos que você as pegava e passava para mim.Mãe, por mais que a morte entre para nossa históriaE, em um momento quando mais não exista,A queria por perto,Vejo que a senhora me criou com toda sabedoria herdada nocampo,Talvez por isso, hoje a dor não tenha remédio, Pois o remédiosempre foi seu conselho.Marcas que carregarei pelo resto de meu plano terrestre...Hoje deixei de ser o menino chorão, que amava um colo demãe e suas carícias. Dona Alzira deixou um homem sobre aterra que, em palavras, dDescobre sua falta e falha e, tamanha importância, quemuitas vezes não conseguiu demonstrarQuantas vezes eu fui egocêntrico, e não aceitei seus toques?Quantas vezes eu troquei uma boa conversa pelas minhasidéias?Nossa! Se eu pudesse voltar no tempo, se o tempo fossealgoManipulável,palpável,Com certeza coisas novas eu faria.Traria-lhe rosa de manhã, lhe abraçaria todos os dias e diria:eu te amo!E, mesmo quando meu dia fosse tremendamente ruim,Ao lhe encontrar doaria um sorriso sincero...Ah! Se o tempo pudesse voltar...

Não deixe de fazer o que realmente é importante, pois otempo não pára...E, há pessoas que, muitas vezes,colocamos muito distantes

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de nósE, quando elas partem, descobrimos que o vazio habita nonosso interior,Pois o que completava tal vazio partiu.Diga a quem você ama todos os dias, que ama.Abrace sempre como se fosse a última vez...Nós não sabemos quando será o último,Seja ágape e nunca se esqueça, se você conseguir ser umanjo de uma asa só, Quando der um abraço a quem vocêama, poderá voar,Pois as asas serão unidas com o amor...Ame todas as coisas, faça o bem não somente a quem ama,Mas a quem necessita de amor.A pior doença é o desamor, não se segure nas coisasmateriais,Saiba que a única coisa de concreto que você deixa na terra,é seu exemplo.Enfim, espero que todos leiam e saibam que, ainda não perdiminha mãe e talvez isso seja o que sentirei com a perda...Ei! Não espere perder o tesouro para depois tentar encontrá-lo, com um mapa,Isto não te levará de volta a ele.

Mostre que a pessoa ao seu lado tem importância para você,e você só conseguirá mostrar com suas atitudes.Paz, amor e serenidade!

Às vezes penso muito...

Daí fluem meus pensamentos,Que são passados para o computador,Conforme minha alma quer e deseja,Que assim seja.Não controlo a minha mente,

CAPÍTULO V

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Somente penso e escrevo e como penso...(Chego a criar histórias, que muitas vezes batem com o queé real)

Monólogo do riquinho.

”Ontem foi cruel quando eu vi um mendigo deitado no chão,num frio que até tremo de pensar. Neste momento, estavaprestes a reclamar do meu apartamento, do meu pai que nãome deixa andar na sua BMW. Estava muito mal ontem, pois amenininha da minha escola particular não quer transarcomigo, diz que é virgem e toda aquela baboseira de casarvirgem, e, logo quando subo no vigésimo andar do meuprédio de luxo, vejo minha mãe, meu pai e meu irmão meesperando para jantar, como sempre... Quando acabamos denos saciar com nosso banquete diário, queria só 200 reaispara sair... Meu pai reclamou, mas me deu, sempre dá, masse nega a me deixar sair com a BMW. Então, fui com meucarro velho mesmo, um Golf 2006, que estou louco paratrocar. Peguei uma balada com meus amigões, que sempredizem que eu sou o melhor tipo elite. Quando estava indoembora, sabe lá, minha visão ficou embaçada, limpei meusolhos e vi aquele mendigo lendo uma bíblia, deitado no chão,todo sujo, imundo... Não tive pena, tive nojo... Como podedeitar num chão daqueles? Que horror! Eu, graças à minhafamília, sempre comi do melhor, morei nos melhores lugaresda minha cidade, já viajei para fora do país, eu sou umriquinho, um riquinho.”

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Monólogo do mendigo.

”Na noite anterior, passou por mim, um Golf novinho, comum branquinho que julgo ter uma vida boa, sem manchas,pele lisa como de um pêssego colhido há pouco... Me olhoude um forma, que consigo imaginar seus sentimentos, poismuitos como ele já me deram um olhar daquela forma: olharde nojo, de desprezo. Mal sabe ele, que já conheci o mundotodo, já comi do melhor, tive as mulheres que quis, o carroque desejava... No entanto, cá estou abandonado pelosmeus “amigos”, família não sei o que é desde a época emque o dinheiro se tornou meu forte, tive e perdi tudo, quandodeixei a soberba invadir meu coração e acreditar mais nodinheiro do que em minha família e esqueci o amor pelopróximo. Agora, leio a bíblia todo santo dia, numa buscafrustrada pelo perdão, somente o perdão de Deus, pois deixeide fazer o bem quando tive oportunidade... Adorei mais omundo que a Ele. Hoje, não quero minha vida de luxo devolta, somente o perdão, pois acredito que nem toda fortunado mundo pode comprar a salvação eterna.”

(Moral da história)Mateus 6.21

”Porque onde estiver o vosso tesouro, ai estará tambémvosso coração.”

Onde está seu coração? Na matéria, onde a ferrugem corróiou tem feito o mínimo para servir a Deus? Lembro que, paraservi-lo, não basta estar na igreja ajoelhado, rezando ouorando...Seja como for, ame e fazça o amor acontecer naprática, faça o bem sem olhar a quem, não olhe para seuirmão com pedras na mão, pois quem se faz juiz não é dignodo juízo... Ou seja, condenado já está. Tudo passa, só oamor fica, só ele dá fruto, só ele é eterno. Pratique o

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verdadeiro amor e não se importe se você mora numapartamento ou num barraco. Espero que essa mensagementre tanto na mansão como no cortiço, pois ninguém é tãorico que não precise de ajuda e ninguém é tão pobre que nãopossa ajudar. Faça a diferença no seu prédio, na suacomunidade.....pratique o amor Cristão, seja como for.Às vezes penso e penso muito....

Filosofando

Somos como um canal de águas fluviais,Guiado pelas correntesDe fontes de outros pensamentos.Só quando expomos os nossos pensamentosÉ que nós nos tornamos rios.

Como transformar?

Como se transformar?

Às vezes penso que a vida, na verdade é uma janela suja,misteriosa, que não nos mostra o que realmente é.

Por que andas homens?Por que falas?No silêncio mais profundo tua alma ainda fala.Já de passos curtos, caminha para o além.Como sabes o que te espera?

Por que choras homens?Por que sorris?Se em grande felicidade, ainda assim, suas fontes se abrem.Num repentino desânimo, mostra ainda teus dentes.

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Como sabes o que é bom?

Movendo pelas linhas do algo,Parte assim o mistérioQue habita entre confusões múltiplas,Se identificando a cada uma.Dia agora vira noite,E pelas trevas corre o astuto grilo falante, de poseexuberante,Dono de si, sem mesmo ter a si.Como transformar o que já foi transformado?Assim, cada ser procura reposta pelos sentidos que não têmsentido,Pela vida, que muitas vezes em vida esta morta,Já a realidade é tão abstrata como o texto,Inimiga da contradição, amiga da evolução.Em cores opacas, se mostra meu ser,“Eu”, quem sou?De onde vim?Para onde vou?Apegar-me a algo que julgo maior do que “eu” e fará melhor?Parar de beber e fumar maconha transformara minha vida?Em minha própria razão existe meu abismo,Por questionar Deus, não me descubro.Hoje, são somente palavras, que muitas vezes você fez avocê mesmoMas ainda te deixo uma pergunta:Como se transformar?

O fruto de uma árvore cai a teus pés. Come destepêssego, deguste esta dádiva, aos contos dos farrapos, imprimominha imaginação, que na sua suma é podre, pobre, vazia.

Sabe, viajante, o dia está diminuindo, o sol já não estásoberano, as nuvens são apenas algodões doces e o momento,

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orgulhosos segundos, se no encanto das músicas regionaispudesse ver as brisas do interior, e não os latifúndios dossertanejos, talvez, digo somente talvez, tivesse fé na vidasimples.

Sabem urbanos, os prédios andam para cima, asfumaças de suas fábricas caem no meu quintal, sobram-meloucuras, como esta que poucos a compreenderam, mas noespaço vazio de minha mente ainda existe uma sala de jogos,onde passo toda tarde a brincar como eu era nos temposantigos, e ainda assim, te deixo um pouco de mim, pouco destacasca pastosa, pouco deste algo a ser.

Como transformar o que já foi transformado?Poeta louco e sonhador.

Filosofia barata e blábláblá...

Filosofia barata e blábláblá...O ultimo corpo foi alvejado na batalha...Quem ganha uma guerra onde vidas se perdem?

Meu coração hoje é caco, é farrapo.É intriga, é fadiga.Abrem-se como fontes, e,Descorando minhas pupilas ofuscadas pela fumaça daguerra,Sem cores, sem sabores, só o cinza que contrai,Com o vermelho sangue, em trilhas nas milhas, sem vida...E, que vida se dá pelo que se perde?

Num surreal e eufórico código de leõesApertam as explosões,Contraem as emoções,E as mortes pela corte é nobre para o homem,Coroas,

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Medalhas,Uísques,Gargalhadas,Piadas dos corvos entre os cadáveres...

Quem ganha uma guerra onde vidas se perdem?

Menina de cachos brincam no parque,Sorriem e pulam com a inocência,Tudo é mágico e todos são bons para ela,Não julga, não culpa nem apontam falhas,Faz graça, quer graça, maldade não tem,Pois bem, então como as tem?Não sei, só sei que os pequeninos têm,E, quando começam a ter?Talvez quando o mágico agora é trágico,E o palhaço agora usa terno, ela volta, ela escolhe, tambémse vende.

E Deus, para elas, agora é mito,Somente um grito, planeia( planeja?)Mas seus ídolos, seus hinos, gemidos contorcidos ao pé doouvidoE conta-giros no multarão(mutirão?)Vira mulher, foi-se tudo e há pouca fé...

Quem ganha uma guerra onde vidas são perdidas?

(Um texto sem pé nem cabeça, porque as cabeças rolaramna guerra interior do homem, e os pés não caminham noscaminhos certos, então quem sou eu para falar de guerra setenho também batalhas pequenas dentro de mim que nãoconsigo vencer?)

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Somos escravos da cultura?

Em uma caverna havia pinturas abstratas. Comunicaçãosem gestos, sem fala.

O homem, desde tempos remotos, tem a necessidadede expressar o que sente, expor seu mundo interior para oexterior, num intuito de compor um novo cenário, onde ele é ocentro da terra.

O homem começou a fazer sua história ao mesmo quedesenvolveu a escrita, pois o sujeito da historia é o própriohomem. Ao longo de sua seqüência evolutiva, para superar suasdeficiências físicas e se adaptar ao ambiente complexo em quese encontrava, considerou útil garantir e ampliar suas condiçõesde sobrevivência para facilitar sua vida.

Uma voz de sabedoria natural ressoava dentro de si,levando-o a uma nova forma de linguagem: cultura pela qualcriou regras e, quem não atuasse dentro dessas regras sócio-culturais, seria banido deste mundo artificial, ilusório e limitado,para um mundo, no qual somos robotizados, por um sistemaalienado criado pelos nossos antepassados. Herdamos umacultura carregada de preconceitos, onde o traço mais linear é aexclusão, o que, em essência, é o desenvolvimento do conceitode fronteiras e de posse.

As sociedades primitivas ou pré-históricas, neste aspecto,são vistas de forma negativa, a partir do critério da falta ouausência.l Isto é, sociedade sem estado, sem escrita, universosem história, com carência de tecnologia, de economia desubsistência, sem produção de excedentes. Sociedade semmercado.

Mas a questão em que quero me deter, caro leitor, é deixar-lhe uma interrogação reflexiva, para que, no íntimo de suainteriorização, se questione: até que ponto nós, hominídeos deuma sociedade pós-contemporâneos podemos ver a culturacomo ferramenta de ajuda, para expor, por meio de símbolos,

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nossos próprios conflitos internos? Essa cultura desenfreada,repleta de regras, tornou-nos adictos, nos fazendo ser tão (oumais) ignorantes como os paleolíticos e os neolíticos, a pontode excluir os que não se adaptam ao quadro de “cultos”, viramosescravos de nossa cultura?

Será que temos a necessidade de criar para fazer partedeste mundo?

Emergindo um novo “eu” de nosso “eu”

O ser humano é algo sublime, único, dotado de riqueza eideologia, um potencial que a grande massa não consegue, oué impedida de explorar. Se a maioria começar a refletir sobretudo que lhe é imposto por esse sistema, imperialista ecapitalista, ele começa a se tornar um problema “democrático”,pois o projeto de vida independente, ameaça a padronizaçãoque favorecia os poderosos.

Precisamos viver uma subjetividade consciente. Paralutarmos pelo que realmente é necessário e importante,devemos enxergar o mundo de formas diferentes, sabendo quesomos centros evolutivos desta maquina global, pois não somosutensílios descartáveis. Devemos criar uma mentalidade criticasobre estes fatores, e não nos conformarmos com a situaçãodegradante que vivemos hoje, onde se acha normal ver criançasnos faróis fazendo malabarismo para ganhar seu sustento, oumendigos morando em casas de papelões. Vivemos em ummundo que se moderniza a cada segundo, ”hoje você serve,amanha já não serve mais.”. Resgatar a dignidade humana épapel de todos nós, porque todo ser humano é valor primacialno mundo, ninguém tem direito de cancelar o valor do outroser.

Esta ideologia é interessante, quando falamos em“navegar em águas profundas”. Este navegar, na verdade, éum sentido filosófico que ele coloca para indicar que temos que

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ter olhar refletivo, pensar internamente as causas que nostrouxeram a esse ponto.

Hoje nós nos degradamos, não nos respeitamos mais.Mergulhar em águas profundas significa nos enxergar como“OLOS”, e é isso que faz o novo paradigma holístico.

Nestes últimos 20 anos, o movimento holístico tempenetrado, progressivamente, no âmbito da filosofia, da teologia,da educação, da ecologia, da economia e demais domínios doconhecimento humano. Ele representa, na realidade, todo ummovimento de mudança de sentido, não somente da ciência,mais ainda de todo conhecimento humano. Uma nova visão,chamada visão holística do real tem surgido sob influência dasdescobertas da Física Quântica e da Psicologia Trans-pessoal. O movimento holístico consiste em passar da realidade relativado mundo concreto à realidade absoluta do mundo de luz e deintegrar os dois mundos, de tal modo, que o programa do “todo”se encontre em todas as partes. O movimento holísticotranscende toda fragmentação disciplinar e integra nele o novoparadigma trans-disciplinar. Ter uma consciência holística é desuma importância nos dias de hoje, pois podemos ver o mundoe o ser humano como um todo, e não reduzi-lo a bactérias.

Sabemos que somos dotados de raciocínio suficiente paranos reeducar e entendermos quem somos como “ser”. Nossopensar e nosso agir têm que andar juntos, em uma únicaharmonia, pois quando não agimos assim somos sujeitos ao“trágico-otimismo”, é aquele que sabemos até mesmo comoresolver, mas contamos com o processo natural. O otimismomais prático é aquele que age.

Somos convocados, portanto, a pensar para solucionarnossos próprios conflitos internos e externos.

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"Se a autoridade não dá o exemplo, o povo anda semdireção".

O Suicídio

Depressão invade meu ser, fazendo meus ossosenfraquecerem, impedindo meus passos rumo a uma novaaurora .A luz dos meus olhos ofuscam tudo, fazendo-mecambalear e nascendo dentro de mim uma vontade de não maisexistir.

Já meu quarto e o silêncio são meus melhores amigos,me cedendo uma atenção muda ,fazendo-me sentir num serinvisível,meu conto de fadas se tornou macabro ,onde o príncipeesquarteja a donzela ,e o lobo devora todos.

Meu interior hoje está morto ,pois, quando eu olho noespelho, não vejo um vencedor, somente alguém que anda efala,somente um ser que não é notado e, como vários, anseiauma atenção alheia.

Vivo meu mundo intocável, são noites tempestuosas comraios e trovões escurecendo meu interior, fazendo este quedescreve num sombrio ser, precisando de ajuda ou somenteuma palavra... Mas já não me ouvem, pois nunca me notaram,sofrendo de uma doença chamada depressão, ignorado pelopróximo irrelevante para a multidão

Meus fantasmas vêm me visitar à meia noite, já não como,já não falo, só choro, lágrimas que correm pelo travesseiro,lágrimas de sangue, testemunhas de meus cortes no pulso...Sim, fui um fraco e não resisti à sessão de tormento da solidão.Talvez tenha feito isso por não receber ajuda ,ou ninguém notarminhas olheiras de insônia,mas hoje no meu velório, tenho oque sempre quis: atenção... Todos estão em volta de um corpo,falam bem de mim, me elogiam, e me pergunto: por que foipreciso haver uma tragédia para eu ser notado, já que sempreestive ali e nunca recebi um abraço?

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Minha carência me trouxe aqui, e em toda minha vida mesenti um ser abandonado, me tornando desprezível, até o diaque cometi meu suicídio .

Diário pessoal

Abri meus olhos e comecei a ver tudo diferente. Tudoparecia novo, um mundo a ser descoberto .

Andando pela rua, eu me deslumbrava com as coisas quesempre estiveram ali, só que agora era diferente, eu conseguiaenxergar.

Tudo estava mudado. Os sabores eram novos, eutambém degustava tudo com tanta gula, que às vezes atépassava mal. Frutas que eu havia comido antes, agorapareciam ser mais saborosas.

Comecei a fazer longas caminhadas para redescobrir estenovo mundo, que a mim era proposto. Consegui uma façanha:nascer em vida, ter duas vidas em uma só...Isto é raro,principalmente nos dias de hoje. Agora o verde era mais verde,o amarelo mais amarelo, as cores tinham uma nova energia eestava com mais vida, pois eu novamente voltava a enxergar. Conheci uma mulher, e ela reparou que eu a estavaenxergando, me deu atenção, conversamos, e, dali surgiu umgrande amor. Voltei a ser um adolescente, meu coração batiaforte como nunca tinha batido antes. Quando nos beijamosentão, fui à lua. Fui embora logo, pois já estava escurecendo, etenho medo de perder minha visão à noite.

Peguei meu caderno e comecei a escrever uma carta deamor como um menino que se apaixona pela primeira vez.Lembrei-me de antigamente, bem antigamente, e comecei achorar, mas era um choro de felicidade, estava feliz por voltar aver, por estar vivo

E agora, a cada dia vou me descobrindo, me achandoem um sorriso, um abraço, um cumprimento, uma conversa,

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pois eu não tinha isto. Era visto como uma pessoa anti-social eminha família rezava por mim e acreditou que um dia eu voltariaa enxergar. Eu também acreditei.

Hoje faz um ano, três meses e alguns dias ,que não bebomais álcool, mas ainda assim, hoje é o dia mais importantepara mim, pois é mais um dia que estou enxergando.

Só por hoje funciona.

”Nem sempre o cego é aquele que não vê”Dedicado a todos os companheiros do NA e AA ) – 1999

Herói de guerra

Erguendo a bandeira da vitória , sobe o soldado a grandemontanha gelada.Exausto,quase morto consegue fincar o mastro no solo.Ele olha para baixo e dá um sorriso sincero, logo depois caiem prantos.Ajoelhado em suas lágrimas, faz homenagem aoscompanheiros que na batalha deram baixas.Em silêncio, por alguns minutos, observa o sol nascer epercebe que lutou pelo que não acreditava, pois sua mãesempre lhe dizia que a arte da guerra consiste no acreditarnela e não no ganhar.Ele olha novamente para baixo, pela segunda vez, e concluique vidas foram sacrificadas por um ego alheio, mesmosabendo que seu nome entrou para história de seu país. Seupaís o receberá como um herói, ”o grande soldado”, mas jánão se vê naquele rosto, o rosto de um vencedor, vê-seapenas um covarde, que traiu sua crença e seus valores poruma vitória alheia.Descendo a montanha , ele se depara com o corpo de umsoldado inimigo que ele matara. Ele fuça seu bolso, agoniado,procurando saber o nome deste. Abre sua carteira e vê uma

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foto. Era aquele soldado que já não era mais soldado,somente um defunto... Viu na foto uma grande mesa, muitaspessoas, todas sorrindo e aquele soldado segurando umacriança no colo .Aquela foto em preto e branco ,lhe mostrava mais cores queum arco íris, pois já não o olhava como inimigo e sim um paide família,morto também por um ego, um ego que exigiadisciplina .Então em meio aquele cenário morto, de chão avermelhado,testemunha da falta de ego, ele descobriu que nenhumaguerra, nenhuma ideologia, nenhuma crença ou um simplesego, vale uma vida.

Mosca falante

Ó mundo caos

Desprezado pelas cores, ofuscado de surpresa,Fazendo ver as mazelas da inocência,Desfiguradas pelo caos,Usurpado pelo mal.

Já nos murais do perdão, não habita o entendimento.Os anjos do sol partiram em descontentamentoE nas sombras do urbano ruge a felina soberba.

Ó, mundo caos!

Que fazes com teus filhos,Mortos entre esquinas e bares,Soterrados pela indisciplina,

Clamando teu perdão, errôneo em exatidão,Fugitivo do momento, prisma da escuridão?

OS PENSAMENTOS SÃO COMO OS VENTOS

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Agora sem socorro vive entre os cavernosos,Sem veracidade cultiva em teu seio a pura maldade...Mas olhe para dentro de si e veja se ,entre os marginais, nãohá luz.

Luz, que há muito tempo é apagada,Ferida provocada por você.

Ó, mundo caos!

Porque abandoaram seus filhos, na hora que eles maisprecisavam? Nunca em um instante sequer sua presença foitão importante, acabaram-se as orquídeas, os campos osbosques de margarida, dando espaço aos monstruososprédios às vadias sacadas, às relaxadas avenidas, soberbasfaculdades, nosso solo não mais é fértil mesmo regado achuva ácida.

Ó, mundo caos!

Por que não reagistes quando foi atacado? Mesmo tu,sendo tão meigo e nobre, queria ver-te dar erupções a cadafábrica construída, tempestades a cada árvore derrubada,furacões a cada teste de bomba nuclear em sua fonte. Mas,não sofrestes calado e agora morre, morre sem ser mártir,pois se acovardou e não lutou pela sua causa: a causa davida. E eu, pequena mosca que habito entre humanos, peçoque lutes pelos seus filhos, mesmo eu sendo teu filho omenor dos menores, desprezado tanto pelos nossospredadores comuns (homens), quanto pelos meus irmãos(reino animal), servindo apenas para os asquerosos sapos,venho lhe pedir por todos.

Que a batalha comece... Muitos de nós morreremos nesta

CAPÍTULO V

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busca pela vida. Lembre-se bem o quanto os pandas lutarame, mesmo assim, acabaram extintos, os leões marinhos, osursos polares, o tamanduá bandeira, e os micos leõesdourados, hoje são somente lembrança. Então, mundo caos,lutes para novamente ser cosmos, saia de tua depressão,acorde do comodismo alargado em tuas craterasemocionais, revivas a arte do cultivo e não deixe que aprodução acabe com nossos sonhos.

Sonhos. Lembro-me bem que sentimento é este, lembra quando tueras sem forma e vazia? Então o Eterno, num sopro de seuventre, suas entranhas, nos fez, e também os homens, numcasamento por igual. O trato era para habitarmos emigualdade, mas Ele, num gesto mais afetuoso, dotou oshomens de inteligência. Estes eram, segundo sua imagem enós, sem nos dar conta, fomos nos tornando escravos delesEntão o que era sonho se tornou pesadelo... Roubaramnossas casas, mataram nossas famílias extinguiram nossosamigo. Então, rompemos com o “Criador”, e ,só temos vocêcomo guardião. Então clamamos! Mundo, lute contra os homens maus, que estão matandonosso mundo e criando o mundo deles ... Preserve realmente a vida!

Dialogo Filosófico (depressão em questão)

(Homem)

- Mulher como posso eu me mostrar a ti como um sol, semeu interior está em trevas?Não consigo achar motivos se me perguntares, só que achama que fluía dentro de mim foi se ofuscando conforme a

OS PENSAMENTOS SÃO COMO OS VENTOS

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vida foi se dando.Que pensas? Se o brilho dos meus olhos já não traz nada,nada posso levar deste nada. Os poucos rastros que estáamarga vida trilhou no meu coração me deixaram muitasfagulhas de frustrações, e ,poucas fotos em preto e branconas paredes que nem ao piores roubam um sorrisomomentâneo

(Mulher)

- Se não sou a causadora de tua dor, se não trago comigonem a doença nem a cura, como posso eu te ajudar?Se meu chá já não te acalma, nem minhas piadas mudamteu semblante, ando contigo por teus abismos sem culpa.

(Homem)

- Os abismos que trilho, nem eu mesmo os defino, sãoapenas anagramas que não reconheço, apenas vivo; entãocomo podes andar comigo pelo mesmo caminho quepercorro, quando nem eu mesmo sei onde meus passos melevam? Não! Estúpidas palavras me deram teus lábios nestesegundo, escurecendo ainda mais minha razão, pois a culpaa qual te martiriza pesas sobre o meu eu neste minuto.Este riacho que secou, onde não é mais usado como habitatde vida, está sem rumo buscando o que foi perdido, o sentidoque talvez nunca houvesse calado no silêncio e que, muitasvezes, foi entorpecido pelo ópio da solidão...

(Bruscamente a mulher interrompe o homem)

- Homem tolo este que vim amar! Que solidão é esta queexprimes, se teus filhos e netos sempre, frente a tua faceestiveram, se toda tua vida obtevestes o que quis, comes ebebes bem, e teus servos estão sempre apostos a te

CAPÍTULO V

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auxiliar?Como podes estar só? Se todos os que te amam sempreestão ao teu redor, te enriquecendo de bajulações e mimos.Que barco é este que não encontra cais, se o cais sempre àespera está para que possa atracar?__ Pássaro selvagem!Não foi o ninho que te abandonou, tu que nesta horaresolveste fazer vôos distantes...(Homem)

__ Que culpa tenho se perdi o controle de minhas asas e asmesmas me levaram a conviver em uma caverna escura,onde morcegos calados não me reconhecem?O medo da claridade me retrai ao sombrio, agora minha visãose queima frente à luz e não enxerga o que ela me traz.

(Mulher)

__ Doente estás, não sei bem do que padece, mas se tumesmo não buscares as respostas para suas interrogações,quem o fará?

Ao Grande EL SHADAI

Adonai,

Vento suave sobre correntes de vozes, nos traga esperança!Ao orvalho lúcido dos campos componha a pura poesia...

E que o ruah soprado a nós, nos faça construir um ambientemelhor.Que nossa ânsia por dinheiro diminua,Que o calor da fraternidade aqueça nosso interior.

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Para que, no fim dos dias, possamos olhar para o sol edefinir sua cor.Que o ópio não anestesie a realidade.Homens exteriorizem sua interioridade trazendo o “bem”contraído para o quintal chamado mundo.

Shalom

Aos frutos andantes que percorrem os metros da vida,buscando um terminal que lhes traga sentido interno.

Aos missionários doados aos alheios, retratando a verdadeiraimagem e semelhança cristológica.

Rafá,ou RafaAos doentes de espíritoE que a máquina moderna não destrua a dignidade humana.Aos mortos pela ignorância da naturalidade.

Ó grande Javé,

Que nossa vida seja alimentada por tua sabedoria,E que no terreno de nosso coração possa brotar seu puroamor.Que nossa renúncia ao mal chegue a tua narina como umincenso suave de rosas brancas.Enfim, que teu azeite ilumine sempre nossa alma, para queem verdade e espírito nossa adoração encontre descanso nolugar perfeito.Amém.

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CAPÍTULO VI

A droga é uma lepra nasociedade

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“Em todas as coisas, somos mais do que vencedores” (Rm 8.37)

Homenagem à cidade Taubaté

Cidade pequena,Urbana e caipiraDos olhos de DeusUma jóia menina.

Paisagens rurais,De longe alguns prédios,Cidadela agora é mãe,Seus asfaltos são férteis.

Quem vem, se apaixona,Não quer ir embora...Figueiras dão luz a sua obra.Ó, papai, me deixe aqui morrer,Mas deixe o mundo antes conhecer,Que lugar maravilhoso é Taubaté para se viver!

Tupiniquins, Guaranis, habitaram um dia aqui,Deixando assim sua tradição e seu nome em doação.

Terra de Hebe Camargo, Cid Moreira e outros tantos,Mas foi o mestre Monteiro Lobato que nos deixou seuencanto.

Por isso hoje cantoCirandas de mãos dadas, com Emilia e tio Visconde...És um tesouro, Taubaté, que o Brasil muitas vezes esconde

A DROGA É UMA LEPRA NA SOCIEDADE

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Tivemos Condes, Baronesas e Barões do café.Capital do passadoRegistros na historia, deixou marcado,Tempos coloniais que não voltam jamais.

São José, Caçapava, são nossas irmãs,Filhas do Vale do Paraíba,Rio que, mesmo poluído,É renda de muitas vidas...

De trabalhadores rurais,Pescadores, gente que vive do rio,Anônimos neste mundão...Mas, o poeta há de ter sempreEste povo no seu coração.

Família Camargo, Taumaturgo, Saad,Gratidão a todos que ajudaram construir minha cidadeQueridos Barbosa, Felix Guisard, que,Como artistas fizeram desta terra sua arte.

Nosso grande cineasta, caipira ator,Jeca Tatu, grande Mazzaropi,Para nossos filhos fica seu talento, sua vida seu nome.

Pois foi em tuas ruas, Taubaté,Que aprendi a viver:Perdi tudo aqui,Ganhei vida com você.

Ó querida, que acolheMineiros, paulistanos,Nordestinos, goianos,Cariocas, pernambucanos,Gaúchos e baianos.

CAPÍTULO VI

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Deixo para ti um humilde poema,Perto de sua nobreza,Aos meus olhos, sempre seráMinha única morena.

Os coqueiros, o mar, os ventos a brisa da manhã, o orvalhoda noite, são coisas que me trazem sensações de liberdade,de vida, assim como o beijo na minha filha, o abraço de minhamãe.

O estranho é que sempre tive isto, mas foi perdendo quepude dar valor a estas coisas. E é nisto que vejo a magnitudede Deus, “a criança chora quando seu doce é roubado”.

Acredito no ser humano e na sua capacidade de serecompor, ninguém é um caso perdido, e todos temos o direitoda recuperação, direito de sentir esperança, e talvez seja porisso que não morri usando droga, pois ela roubou tudo o quetinha menos a esperança.

O sofrimento é conseqüência de opções erradas na vida,mas, me fale, caro leitor, quantas opções erradas você fez navida? Talvez fôssemos ingênuos ao errar em algo que écomplicado para se consertar, mas, mesmo assim, todosadictos ou não, erramos na vida, o importante não é quantasvezes se erra, e sim, quantas se levanta.

Este livro não é mais do que isto, somente recuperação,milagres, e todo dia acontece um. Necessário é estar com osolhos abertos para ver, porque se não, as atas do julgamentonos cega. O triste é saber que tem mais gente usando drogado que se recuperando. Acho que o governo é culpado porisso, pois a meu ver se gasta milhões em armas, carros depolícia e outras coisas inúteis, mas não há investimento emclinicas de tratamentos. Mostra-se uma política cega, nãopercebendo que é preciso recuperar as pessoas usuárias dedrogas, pois é o viciado que hoje financia tudo no mundo docrime. Se diminuíssem os casos de dependentes químicos,seria uma arma mais eficiente contra o trafico e quem ganhará

A DROGA É UMA LEPRA NA SOCIEDADE

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com isso é a sociedade.Mas a pergunta é: há interesse para o governo em acabar

com o tráfico?Passamos a vida toda tentando descobrir o sentido da

vida, e, muitas vezes, um simples abraço é a resposta.Hoje, peço a Deus estrutura sólida e firme para um dia

poder trabalhar diretamente com dependentes químicos. Nãoposso cometer o erro de tentar ajudar antes da hora, porque émais fácil o abismo cobrir a luz que ela iluminá-lo... Penso quea gratidão é a essência com a qual devemos alimentar nossocoração, pois ela fala.

A vida em si é repleta de surpresas e enigmas e o maisprofundo destes enigmas, é a doação ao alheio: sentir a dor dopróximo é algo divino e nobre. Pergunte-se agora, quantas vezesvocê chorou pela dor alheia? Falo daquele choro que você nãocontrola, algo que sai da alma, mexe seu interior e que faz tãomal quanto se fosse você a passar aquela dor. Parece que não,mas muitos são assim, sensíveis às derrotas alheias, podefazer mal isso? Não sei, falo por mim, apenas por mim. Nomeu caso, me faz bem, me faz dar valor à minha recuperaçãoe me traz dons, dons de contemplação e dedicação e o maiordeles que é o amor.

Não sou doutor e me acho até ousado em escrever. Nãosou poeta e me acho até arrogante em fazer. Sou apenas umpensador com pouca idade, que passou por muitas coisas navida.

Tenho consciência que foi opção pessoal e errônea, e tiveque pagar um alto preço para sair do cativeiro.

Portanto, caro leitor, quando esta obra entrar em sua casa,reflita cada poema, cada palavra, porque você não adquiriuapenas um livro: o que está em suas mãos é milagre.

É tudo o que a sociedade julgava impossível, é ahumilhação do traficante perante minha vida, são as lágrimasda minha mãe, de noites em claro, é o choro do meu irmão pornão entender porque eu vendia tudo o que tinha por uma dose,

CAPÍTULO VI

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são caixões de vários que não tiveram esta chance que tenho,e, mortos foram por policiais ou por traficantes, são velórios demães sem seu filho único, ou viúvas sem maridos, são presídioslotados de crianças que fizeram a mesma escolha que eu umdia fiz, e, não tiveram a mesma sorte que tive, de ter uma famíliado seu lado, de ter uma irmandade paralela ou uma igrejafraterna a recebê-lo, dispostos a ajudá-lo.

É caro leitor, o que colocou em sua prateleira de livrossão apenas 0,01% de toda esta miséria que a droga é, porqueminha vida, meu testemunho são apenas uma pequenaporcentagem de tudo que está acontecendo com nossasociedade.

É apenas mais uma historia com um final feliz, mas,quanta história ainda vamos ver,com finais tristes... É só você,neste momento, ligar sua televisão, em algum canal vai estar anotícia de um menino morto covardemente. Ele tinha umadoença. Mas talvez você, ou mesmo eu, o acuse de vagabundoou coisas deste tipo, portanto é de nossa responsabilidade cadamorte, porque quando somos omissos da podridão dasociedade, na verdade somos cúmplices.

Enfim, espero que esta obra tenha falado com você, leitor,e que possamos tomar como sentido de vida ajudar quem sofre.

Só por hoje, quero ser o melhor pai, o melhor filho, omelhor irmão.

Só por hoje, não quero usar mais drogas, quero trabalharmeus defeitos de caráter e ser uma ferramenta de ajuda parasociedade.

Só por hoje, vou amar, vou me doar à miséria alheia, vouentender o que outros não entendem, ou se fazem omissos darealidade.

Só por hoje, o dia vai nascer calmo, pois o Deus da minhavida me fez felizardo: obtive duas vidas em uma só.

Só por hoje, funciona.

A DROGA É UMA LEPRA NA SOCIEDADE

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Últimas considerações

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“Ás vezes só consigo pegar coisas no vazio, às vezesme encontro somente no escuro.

E por mais que tente ser o que me propus a ser para osoutros, só consigo ser eu mesmo, e se um dia eu tentar

ser hipócrita, saiba, que é só um personagem, que no fimsou um menino chorão que se comove com os flagelos

dos outros, portanto fica aqui minha essência, meu dom,meu carisma, minha alma, um amor incondicional para

esse bicho que chamamos de ser humano”

Em fim, Cante suas dores da mesma forma que poetisa seusamores;Ande pela sombra, mas não esqueça que ao seu lado o solbrilha.Você pode chorar quando lhe der vontade, mais não sorriapor diplomacia.Abrace sem distinções da mesma forma, ame.Converse com as arvores quando os homens não ti derematenção, caminhe com seu cão, quando sentir que não háninguém do seu lado, mas lembre-se sempre haverá alguémque confesse seus sonhos.Pode o amor ter um fim?Creio que não, mais se um dia você acordar sem vontade denão mais amar, fique tranqüilo isso logo passara.Plante luz em sua alma para que nela não brote trevas;Feche seus olhos por alguns segundos, respire fundo, e sintaa vida que corre em você.Não trabalhe tanto para enriquecer, mas aprenda ser gratopelo que tem, e viva em harmonia com isso.Olhe sempre nos olhos das pessoas com quem você serelaciona e lembre-se: tem mais de você no outro que vocêimagina, pois a arte do crescimento está no relacionamento.Não penses ser sábio demais, pois, ninguém é, descubra que

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ideologias por mais elogiável que seja é sempre ramificaçãode outra, e que por mais que sua tese seja original, ela nascede outras reflexões.Por fim, só o amor basta, pois ele é portador da humildadeem plenitude, ele é a verdade que sub-existe a cima denossas falhas e verdades, acima de nossas arrogâncias eimperfeições e só ele traz algo que sempre falta em nós.Cante sempre que poder traga para fora o que ti faz feliz e oque lhe rouba os sonhos, pois o verdadeiro canto é aqueleonde a alma expressa o que temos por dentro.E se um dia acabar seu fôlego e sua voz não ser mais forte obastante para cantar, ainda assim estará tudo bem, pois:Seus olhos cantamTeu corpo canta;Teus gestos cantam;Teu Espírito sempre á de cantar.

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“Ao terminar a última página do livro " Quatro + Um-Drogas e poesias", de Guido Campos, os primeiros sentimentosque me encheram o coração foram um misto de ternura,esperança e, contraditoriamente a esses dois, indignação.

Amei a doçura contida em poemas como "O Jardim deJuliane"," Flor de inverno" e tantos outros, indignei-me com osistema capitalista , do qual fazemos parte e que não temsequer um programa de reabilitação para salvar tantos jovensperdidos no mundo das drogas, tantos talentos desperdiçados.Mas, acima de tudo, senti soprar em meu rosto, um vento docede esperança. Sim, como professora de alunos que vivem em área de riscode envolvimento com drogas,na cidade do Itapuã, em plenaCapital do Brasil, achei que poderia manifestar meu protesto,solidarizar-me com o autor e reforçar a esperança por diasmelhores.

Poderia aqui externar meu repúdio à cumplicidade cega esilenciosa da sociedade que fecha os olhos e a boca, o cinismoe à hipocrisia dos políticos deste nosso país.

Poderia muita coisa, mas prefiro deixar aqui umamensagem de esperança para os jovens de nosso país. Elestêm herdado o caos de nosso desinteresse e da negligênciacriminosa do estado para com nossa cidadania.

Tenho a esperança que, lendo este livro eles vejam o queos espera, se ingressarem neste mundo quase sem volta, eque comecem a lutar para mudar essa triste e humilhanterealidade.

É certo que o que temos aqui é apenas um livro, e queeste, por si só, não tem a capacidade de desencadear umarevolução, mas de qualquer forma pode ajudar no despertar.

As verdades expressas neste livro são de um mundomaior, superior ao que é meramente visível com os olhos dever. É um livro para ser lido e visto com a alma desnuda dequalquer preconceito.

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Guido Campos faz de sua poesia sua própria história devida e vice-versa, deu-lhe a estrutura de mensagem do cotidiano,da dor, do lirismo e da esperança, e a adotou como arma, vestidade força interior, criativa e Magnífica. Assim sua poesiaapresenta-se como uma tomada de posição ideológica, não faznenhum segredo dos intentos e propósitos e assume o papelde combatente, sem perder a doçura, até que o sonho venhatransformar-se em realidade.

Os poemas de Guido abrangem de forma irrefutável, oconceito de poesia, segundo Geir Campos: "poesia é a arte deexcitar a alma com uma visão do mundo através das melhorespalavras, em sua melhor ordem, CAMPOS, Geir, - In "Prólogo",de ANDARES, antologia poética de Hermann Hesse. Rio,Fronteira, 1982).

O que Guido Campos nos mostra em seus poemas etextos, tem a marca da individualidade inerente a cada serhumano, tem a musicalidade, a metáfora, o lirismo e o protestode quem não se conforma em ser apenas expectador da cruarealidade em que vivemos.

“Quatro + Um, Drogas e poesias" é um livro incomum deum autor incomum, e deve merecer do leitor a consideração eatenção de quem está diante de uma obra que exala vida, quefoi escrito com sangue, suor e lágrimas. E, acima de tudo, nostraz esperança de que dias melhores

Isabel de Castro Silva(Professora da rede publica de Brasília-DF)

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O autor relata em seu livro com clareza e seriedade, umassunto atual que afeta sobremaneira nossas famílias e asociedade num todo.

Ele soube transmitir com maestria e sinceridade, comouma pessoa consegue, com esforço, vontade e perseverança,superar o processo do vicio e sua recuperação, transformandoseu livro não só um relato de sofrimento, mas também umalição de vida, recheando essa experiência em poesias quetocam que as lê.

O autor sem medo de se desnudar perante todos mostracom sua obra que é possível a passagem da destruição para aconstrução, usa em seu livro uma linguagem simples e de fácilentendimento, clara, objetiva e sobre tudo realista.

Rosa Maria Quiquita(Critica literária)

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Este livro trata-se, a meu ver, de uma autobiografia escritade um modo muito peculiar, no qual o autor discorrepoeticamente sobre variados temas que retratam uma realidadebem mais próxima do que imaginamos. De forma a atrelar dadospessoais com questões da atualidade e problemáticas oriundasde uma sociedade que adoece sem se dar conta.

Revela ainda que a dependência química, a exclusão e adesigualdade social, existentes na sociedade contemporânea,são assuntos de grande impactos e de difíceis soluções, maso autor de maneira simples, nos faz refletir que: os esforços dehoje, resultarão em conquistas no amanhã.

Desejo a este livro o sucesso que merece, pois sabe serimportante de maneira concisa.

Adriana Aparecida Pereira da Silva(Assistente Social do CAPS A.D - de Taubaté/SP)

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Referências

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BIBLIOGRAFIA GERAL

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CHOPRA, Deepak. As Sete leis espirituais do sucesso. 54. ed. Rio deJaneiro: Bestseller, 2008.

CURY, Augusto. Superando o cárcere da emoção. São Paulo: Planetado Brasil, 2006.

GARDER, Jostien. O mundo de Sofia: romance da história da Filosofia.São Paulo: Companhia da Letras, 1995.

GODOI, Abilio Marcondes de. O Bem, o mal e a poesia. São Paulo:Com-arte, 2004.

MACHADO NETO, Antonio Luis; MACHADO NETO, Zahide.Sociologia básica. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1975.

ROTERDÃ, Erasmo. Elogio a loucura. Sl: Novo Horizonte, 1999.

SCHUTZ, Will. Profunda simplicidade. São Paulo: Àgora, 1989.