Questões Colocadas Pela Ampliação Da Jornada Escolar No Brasil - Lúcia Maurício

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  • QUESTES COLOCADAS pela AMPLIAO da JORNADA ESCOLAR no BRASIL

    Lcia Velloso Mauricio

    Luciavelloso.com.br; [email protected]

    Introduo

    Este artigo se prope a indicar questes que se colocam a partir do crescimento recente

    de matrculas em jornada escolar ampliada no Brasil. Entre outros fatores, o FUNDEB

    (BRASIL, 2007) destaca-se como mecanismo que impulsionou de maneira expressiva a

    expanso destas matrculas, ao atribuir acrscimo de 25% de recursos a matrculas em turno

    maior que 7 horas dirias. A forma como esta expanso se deu bastante diversa, com

    experincias prprias de polticas municipais, operacionalizaes variadas do projeto federal

    Mais Educao, alm de polticas estaduais. Para ilustrar esta diferenciao, trao o panorama

    atual da ampliao da jornada escolar no Brasil atravs do resultado de trs pesquisas de

    mbito nacional, realizadas entre 2008 e 2010. As duas primeiras foram financiadas pelo

    MEC/SECAD (2009; 2010) e a ltima pela Fundao Ita Cultural/CENPEC (2011). No

    segundo momento, levanto questes recorrentes nas trs pesquisas que demandam solues

    para que a poltica de ampliao da jornada possa atingir os objetivos a que se prope no

    Brasil.

    S o fato de estas pesquisas terem sido realizadas j mostra a importncia que a

    ampliao da jornada escolar vem adquirindo nos anos recentes. E mais, a sequncia de anos

    das trs pesquisas comeou no ano seguinte promulgao do FUNDEB. Alm disso, o

    INEP, a partir de 2009, passou a publicar, nos resultados do Censo Escolar, o nmero de

    matrculas em jornada de 7 horas ou mais. A partir de 2010, passou a discriminar entre estas

    matrculas, aquelas que eram de tempo integral e as que completavam as 7 horas atravs de

    atividades complementares (INEP, 2011). Na Cmara dos Deputados, tramita a Proposta de

    Emenda Constituio (PEC 134/2007) que d nova redao ao pargrafo 1. do Artigo 211,

    prevendo o atendimento em tempo integral nas escolas pblicas1. A emenda j est aprovada

    na comisso, aguardando para entrar em pauta no plenrio. Neste contexto, natural que a

    Conferncia Nacional de Educao (CONAE), incorporasse a demanda pelo tempo integral

    escolar (CONAE, 2010). Esta incluso fez com que a meta no. 6 do Projeto de Lei para

    aprovao do Plano Nacional de Educao (PL 8035/2010)2 propusesse que at 2020, 50%

    1(http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/ fichadetramitacao?idProposicao=362982) 2 In http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=532296, acesso 6/4/12.

  • das escolas pblicas de Educao Bsica ofeream tempo integral, abarcando 25% das

    matrculas da educao bsica. O projeto de lei j foi aprovado na Cmara dos Deputados,

    mas ainda est em tramitao no Senado.

    As duas primeiras pesquisas, que foram realizadas pela UNIRIO, UFMG, UFPR e

    UNB, tiveram como objetivo mapear o desenvolvimento da ampliao da jornada escolar no

    mbito dos municpios brasileiros. A fase quantitativa da pesquisa coletou dados em 2008; em

    2009, foi realizada a segunda etapa, de carter qualitativo, com visita a 21 municpios de

    todas as regies do Brasil. Em sequncia, foi desenvolvida uma pesquisa qualitativa pela

    Fundao Ita Social, que investigou 16 experincias brasileiras de ampliao de turno,

    pblicas municipais ou estaduais ou particulares. Essas pesquisas fornecem um panorama

    de informaes as mais recentes sobre a ampliao da jornada escolar no Brasil. Abaixo,

    tabela com dados atualizados sobre as matrculas em tempo integral no Brasil, baseada no

    Censo Escolar de 2009 a 2012, ilustra o crescimento da abrangncia do turno completo.

    Quadro 1: BRASIL - matrculas em Tempo Integral no Ensino Fundamental por segmento

    ANOS INICIAIS ANOS FINAIS ENSINO FUND. COMPLETO

    TOTAL HI % TOTAL HI % TOTAL HI %

    2009 14.946.313 599.710 4,01 % 12.665.753 345.334 2,73 % 27.612.066 945.044 3,4 %

    2010 14.258.634 777.427 5,45 % 12.416.686 426.478 3,43 % 26.675.320 1.203.905 4,51 %

    2011 13.730.813 1.043.276 7,6% 12.083.566 582.594 4,82% 25.814.379 1.625.870 6,3%

    2012 13.271.322 1.177.109 8,87% 11.742.119 701.192 5,97% 25.013.441 1.878.301 7,51%

    Fonte: INEP, Censo Escolar 2009, 2010, 2011 e 2012.

    Pesquisa MEC/SECAD - quantitativa

    A Secretaria da Diversidade (SECAD) do Ministrio de Educao (MEC), responsvel

    pela implementao do Programa Mais Educao na poca, ao financiar a pesquisa Educao

    Integral / Educao Integrada e(m) Tempo Integral: Concepes e Prticas na Educao

    Brasileira (MEC/SECAD, 2009), entendeu como ampliao da jornada escolar qualquer

    extenso alm de 4 horas dirias. A pesquisa, que conseguiu contato com 38% dos 5.564

    municpios brasileiros, contabilizou 503 municpios desenvolvendo propostas de jornada

    escolar ampliada entre os que responderam ao questionrio, menos de 10% da totalidade.

    Apesar de se saber que h municpios com experincias de ampliao do turno que no

    responderam ao questionrio, a tabela acima tanto mostra que o nmero de matrculas dessas

    experincias ainda restrito, como tambm a tendncia crescente de expanso da jornada

  • escolar em tempo completo. Dois desafios se colocam: o aumento do nmero de matrculas,

    particularmente dos anos finais do Ensino Fundamental, j que a maior parte delas se

    concentra nos anos iniciais; e desenvolver estratgias que diminuam a desigualdade de

    distribuio das experincias municipais pelas regies brasileiras, j que apresenta grande

    contraste: 45% delas estavam localizadas no Sudeste; pouco mais de 23%, no Nordeste e no

    Sul, ficando o Norte e o Centro-oeste juntos restritos a menos de 8,5%%.

    A variedade destas experincias, que se reflete na lista de nomeaes, aparece na carga

    horria que vai de 4,5 h/dia a mais de 8h/dia; na proposta de atividades com eixos do esporte

    ao reforo escolar, passando por atividades artsticas; no tempo de implantao, de menos de

    um ano a mais de 10 anos. Esta diversidade aponta a inexistncia de um modelo nico de

    organizao embora possa haver algumas tendncias predominantes. Mais de 55% das

    experincias arroladas na pesquisa desenvolvem-se em 7 horas ou mais de atividades dirias,

    critrio adotado tanto pelo Programa Mais Educao como pelo FUNDEB para o repasse de

    recursos. Alm disso, endossando o impacto destas polticas no resultado da pesquisa, temos

    que 39% das experincias foram implantadas em 2008 e 55% delas em 2007, tempo relativo

    vigncia das polticas mencionadas, adotadas em 2007. Entre as experincias, 24,1%

    destacaram o FUNDEB como fonte de recursos para desenvolvimento da ampliao de

    jornada, apesar da falta de preciso entre o que recurso prprio e o que recurso do

    FUNDEB.

    Segundo a pesquisa, entre as experincias de ampliao da jornada escolar, pode-se

    reconhecer um grupo com atividades mais estritamente escolares, voltadas para

    complementar o trabalho realizado nas aulas, como reforo ou acompanhamento s tarefas

    de casa. Outro conjunto privilegia atividades envolvendo esportes, msica, dana, teatro,

    artesanato, artes. A nfase em um ou em outro tipo de atividade pode estar associada a

    diferentes objetivos para ampliao da jornada e a diferentes concepes de educao

    integral; o segundo conjunto sugere um maior espectro de atuao da escola, assumindo

    dimenses que contemplem tambm manifestaes culturais, esportivas, intelectuais, ligadas

    comunidade ou capazes de enriquec-la. Aqui se registram atividades desenvolvidas por

    outras instituies como o Segundo Tempo, do Banco do Brasil, ou a Escola Ativa do MEC.

    Nesse sentido, o desenvolvimento de polticas pblicas numa perspectiva intersetorial pode

    ser uma importante estratgia.

  • A ampliao da jornada demanda a maximizao do aproveitamento dos espaos

    escolares e tem levado, tambm, utilizao de espaos pblicos da cidade, vinculando a

    escola ao seu entorno. Articular espaos escolares a no escolares uma estratgia importante

    para equacionar essa questo. Entretanto a perspectiva pode ser apenas suprir carncias de

    espao e no de estabelecer parcerias que potencializem a relao escola-comunidade, em

    uma concepo de territrio educativo. Outro aspecto evidenciado que 80,1 % das

    experincias desenvolvem as atividades de jornada ampliada no turno contrrio ao regular.

    Este formato atualmente predominante poderia estar associado utilizao dos espaos do

    entorno escolar. Mas no o que foi constatado: em sua maioria, as atividades ocorrem em

    sala de aula, indicando uma concepo de escola ou denunciando a precariedade das

    alternativas para alm do espao escolar.

    Um desafio que se apresenta para as experincias em que as atividades de jornada

    ampliada acontecem no contraturno o de assegurar a integrao efetiva com o turno,

    evitando que se constituam duas escolas diferentes, uma para os alunos regulares e outra

    para os alunos do projeto. Em geral, cabe ao projeto poltico-pedaggico dar organicidade a

    todas as aes que se realizam na escola; notou-se a recorrncia, nas experincias de jornada

    escolar ampliada, de um professor (concursado ou contratado) responsvel pela execuo das

    atividades, cuja presena facilita a integrao de turno e contraturno; o diretor da escola

    costuma ser o coordenador local e a secretaria municipal de educao assume a coordenao

    geral. Esse formato predominante sinaliza, por um lado, a centralidade da escola, por outro, a

    importncia das secretarias municipais de educao como promotoras e gestoras dos projetos.

    Registrou-se que o principal financiador da jornada ampliada o prprio setor pblico,

    mantendo-se, em todo o pas, pequena a participao do setor privado; este dado permite

    compreender as experincias de jornada escolar ampliada como sendo, em boa parte, polticas

    pblicas educacionais. O financiamento atravs de parcerias com fundaes e ONGs

    apresenta, tambm, um ndice baixo. Cabe destacar a pequena participao das universidades.

    Apesar desta configurao de poltica pblica, a maioria dos projetos no tem nenhum tipo de

    normatizao, deixando-os ao sabor de eventuais mudanas na administrao municipal.

    Finalmente, outro desafio que se impe o acompanhamento das experincias em

    andamento, possibilitando que se desenvolvam outros critrios e indicadores relacionados ao

    tempo integral, abarcando, alm do IDEB e de outros ndices gerais, tambm aspectos

    qualitativos; o acompanhamento tambm possibilita orientar assistncia tcnica/pedaggica

  • que contribua para a equalizao das dificuldades encontradas e para o aprimoramento da

    experincia, no sentido da consecuo dos objetivos de uma educao integral. O panorama

    retratado pela pesquisa quantitativa revela a necessidade de polticas e aes que subsidiem os

    projetos de tempo integral escolar em andamento e estimulem novas experincias,

    contribuindo para reduzir as desigualdades educacionais e sociais, tendo em vista a garantia

    do direito educao numa perspectiva integral.

    Pesquisa MEC/SECAD - qualitativa

    A parte qualitativa da pesquisa, sob a coordenao da UNIRIO, desenvolveu-se com

    visita a 21 municpios selecionados, tendo em vista a abrangncia do nmero de matrculas

    em jornada ampliada, a durao da implantao e a diversidade de propostas desenvolvidas.

    Procurou-se contemplar a representatividade de todas as regies brasileiras, a

    proporcionalidade entre os municpios selecionados e o nmero de experincias, o perfil

    urbano ou rural, capital ou interior, o tamanho dos municpios, seu IDEB, a extenso diria da

    jornada ampliada e sua forma de organizao. Aplicados estes critrios, no Sudeste e no

    Nordeste foram visitados sete municpios em cada regio. O Nordeste, apesar de ter

    apresentado o mesmo nmero de municpios que o Sul, a regio com maior crescimento

    quantitativo recente de experincias de horrio ampliado, segundo dados desta pesquisa. O

    Centroeste e Sul participaram com trs municpios cada e a Regio Norte com apenas um. A

    pesquisa qualitativa manteve os cinco eixos bsicos da fase quantitativa: tempo, espao,

    atividades, sujeitos e gesto.

    Os municpios investigados guardam pouco em comum. Distantes, com caractersticas

    particulares, se encontram na proposio de ampliao da jornada escolar diria, com grande

    variedade de formatos. No Brasil, recentemente, muitas propostas expandiram a noo de

    tempo escolar, aproximando-a dos tempos de aprendizagem vivenciados fora da escola e das

    idades de formao. Essas concepes esto presentes em algumas das experincias

    investigadas, indicando que se pode aprender em todo tempo de vida. Esta compreenso pode

    ser exemplificada em recentes alteraes da nossa legislao educacional, seja a incluso da

    idade de seis anos no Ensino Fundamental, seja a extenso da faixa de obrigatoriedade escolar

    para 4 a 17 anos de idade.

    Grande parte das experincias organiza suas atividades no contraturno, por dois

    motivos: por um lado, se a abrangncia dos alunos no a totalidade da turma ou srie, isto

    implica na adoo de atividades no turno contrrio ao regular. Por outro lado, se as atividades

  • se desenvolvem em espaos fora da escola, este fato tambm leva adoo do contraturno,

    para que se disponha de tempo para deslocamentos. As experincias que adotam as atividades

    curriculares e de ampliao mescladas ao longo do dia se caracterizam por terem feito opo

    por este formato. Nestes casos, fica clara a relao obrigatria entre organizao temporal e

    espacial. Entretanto, o espao utilizado, por excelncia, para ampliao da jornada, mesmo no

    modelo contraturno, a sala de aula.

    Entre os obstculos mais citados para a ampliao da jornada escolar est a falta de

    espao e de infraestrutura, tanto para a concretizao das experincias quanto para a formao

    continuada dos profissionais. A utilizao de espaos externos escola no pode ser

    entendida como soluo para a precariedade de algumas escolas. O que as experincias

    evidenciam que a ampliao da jornada escolar requer que os espaos educativos, como

    espaos pblicos, sejam recuperados e revitalizados. Nos casos em que a externalidade da

    escola uma questo relevante, o ato de sair da escola entendido como momento

    significativo de ampliao do repertrio cultural e social das crianas e ocorre de forma

    sistematizada. O sentimento de pertencimento cidade, entendida como um espao educativo,

    a marca dessas experincias e traduz uma concepo de territrio. Para estas, a

    territorializao da experincia coloca como exigncia o envolvimento de organizaes da

    sociedade civil, como ONGs, associaes comunitrias, museus, igrejas, cooperativas,

    fundaes culturais e universidades. Algumas parcerias tm, em geral, carter colaborativo,

    mas sem formao de comunidades educativas. Estas articulaes revelam as diferenas

    socioeconmicas entre as regies brasileiras. Por exemplo, h predominncia do uso de sala

    de aula e ptio, que existem em todas as escolas, nas regies mais carentes, como se v no

    Nordeste, e maior diversidade de oportunidades, como museus, clubes e acesso a informtica

    nas regies de maior poder econmico, como se v no Sudeste (CAVALIERE; MAURICIO,

    2012).

    preciso destacar que, em quase todas as anlises das famlias, gestores, professores e

    educadores sobre a ampliao da jornada, percebe-se a tendncia de valorizao das

    experincias pelo fato de retirarem a criana da rua. Este argumento traz uma conotao

    assistencialista proposta. Nestes casos, de se considerar o potencial das experincias que

    tm o territrio como eixo constitutivo em recuperar o direito rua como espao de

    socializao, espao educativo, espao pblico.

  • Um ponto em que as diferenas so mais significativas do que as semelhanas envolve

    os sujeitos que trabalham nas experincias. Podem ser professores - concursados ou

    contratados -, monitores, estagirios, agentes comunitrios, voluntrios ou ainda

    funcionrios/colaboradores de ONGs contratadas para desenvolver projetos especficos. Em

    termos gerais, no h relao direta entre a maneira de organizar as atividades no tempo ou

    espao e a opo pelo tipo de contrato de trabalho. A opo por professores tanto pode revelar

    uma preocupao com a continuidade da proposta, como a carncia de outros profissionais.

    Outras formas de contrato podem mostrar preocupao com a integrao da comunidade; ou

    particularidade de operacionalizao como escolas de difcil acesso; ou insuficincia de

    recursos para pagar professores. Em ambas as opes, a disponibilidade de profissionais

    fator fundamental para o desenvolvimento e continuidade dos projetos. As formas de contrato

    precrio tm o inconveniente da rotatividade de profissionais, mesmo nos casos em que se

    observa o alto engajamento dos profissionais com a proposta. Quando a experincia inclui

    professores e sujeitos no docentes, verificou-se que a relao entre esses novos profissionais

    e os docentes das redes de ensino pode ser difcil.

    Esta tenso, alm da dimenso das relaes de trabalho, indica a necessidade de

    integrao entre o tempo ampliado e o tempo regular; houve exemplos de relaes que se

    modificaram. Uma alternativa que se mostrou facilitadora da integrao dos diferentes

    profissionais foi a presena do professor comunitrio ou coordenador local. So professores,

    que cumprem a funo de coordenar o trabalho e traar estratgias de aproximao entre os

    tempos e entre os sujeitos. Assim, entre os desafios, destaca-se a formao de novos

    profissionais como tarefa constante. O desafio da jornada de tempo integral na docncia, na

    mesma escola, ainda est por se construir, o que pode ser favorecido pela implementao da

    lei federal n. 11.738/2008, que instituiu o piso salarial profissional do magistrio pblico da

    educao bsica para um padro de 40 horas, podendo ser cumprido em uma mesma escola.

    No Nordeste, por exemplo, em Russas, a adoo da lei do piso foi utilizada em benefcio da

    ampliao da jornada, utilizando as horas alm da docncia em turma para atividades de

    reforo ou outras. Em algumas experincias, pode-se constatar que a entrada de monitores ou

    agentes comunitrios nas escolas, atendendo a critrios especficos como formao de ensino

    mdio ou graduando, insero na comunidade, domnio de linguagens especficas comea a

    delinear um novo perfil profissional.

  • Uma recorrncia reveladora que determina a possibilidade de sucesso de incorporao

    de objetivos da ampliao da jornada escolar incide no compromisso assumido com a

    proposta. Se os objetivos so claros e compartilhados e se as prioridades so discutidas pelas

    equipes escolares, consolida-se a possibilidade de que cada segmento incorpore como seu os

    objetivos propostos, sejam polticas municipais, como em Russas (CE) ou projetos

    pedaggicos de experincias especficas, como na Pedagogia da Alternncia e na Pedagogia

    Waldorf.

    Percebeu-se que os municpios iniciaram as experincias com o que possuam de

    estrutura fsica ou humana e aprimoraram o projeto ao longo do tempo. E tambm que a

    continuidade das propostas e seu aprimoramento deveram-se, em grande medida,

    organizao e ao compromisso das escolas, da comunidade e de instituies parceiras na

    efetivao dos projetos. A ampliao da participao dos setores envolvidos que possuem

    potencial educativo est se desenvolvendo, mas no na amplitude que poderia. Deste modo,

    pode-se afirmar que a intersetorialidade tem se colocado como desafio para muitas

    experincias que se constituem a partir de uma perspectiva de gesto do territrio. Belo

    Horizonte/MG pode ser uma exceo, pois a Escola Integrada surgiu a partir de experincias

    anteriores que estabeleciam integrao entre setores governamentais distintos. Assim a

    experincia produz novas possibilidades no campo da intersetorialidade, como a

    transformao das cantinas em unidades de alimentao escolar, junto com a Secretaria de

    Abastecimento.

    Nas experincias que sinalizaram os gastos com a proposta, observaram-se posies

    diversas: uma pequena diminuio do investimento na experincia; um aumento do

    investimento acima do mnimo referido no pacto federativo: de 25% da arrecadao para 30 a

    30,5%. Esse incremento conta, em alguns casos, com o repasse de recursos do governo

    federal proveniente de programas como o Mais Educao e de Fundos, como o FUNDEB e o

    PDDE. Identificou-se tambm que o redimensionamento dos gastos pode implicar

    economia. o caso dos custos de transporte escolar versus merenda para a ampliao da

    jornada. Do ponto de vista contbil, a inverso resultou em economia; do ponto de vista

    poltico-pedaggico, resultou em aprendizagem, como relata a prefeitura de Palmas/TO.

    Resumindo, a sustentabilidade financeira das experincias est em processo, pois os

    investimentos iniciais so altos e a precariedade existente precisa ser superada.

  • incipiente a preocupao, na maioria das propostas, em saber que resultados as

    atividades de ampliao da jornada trouxeram escola e aos alunos. Assim, impe-se a

    necessidade de, ao se implementarem as experincias, sistematizar os resultados alcanados,

    para analisar os impactos positivos que a educao integral em jornada ampliada pode

    ocasionar na educao como um todo. A maioria dos municpios citou o IDEB como

    abalizador dos seus resultados. Entretanto, como a maioria das experincias de ampliao da

    jornada no abrange a totalidade dos alunos da escola, no h como assegurar a relao entre

    a ampliao do tempo e o resultado no IDEB. H caso de municpio que introduziu sistema de

    avaliao prprio nos mesmos moldes do IDEB.

    A variedade em relao aos objetivos tambm uma marca. Aparecem, desde o

    respeito diversidade tnico-cultural do municpio at uma perspectiva centrada no reforo

    escolar, com vistas melhoria dos indicadores nacionais de qualidade da educao. So

    recorrentes tambm as dimenses de proteo infncia e adolescncia e de integrao maior

    entre polticas pblicas e experincias desenvolvidas no mbito da sociedade civil. Nos casos

    das experincias em que se ampliam as perspectivas de formao para alm da escolarizao,

    as conquistas referem-se a bom nvel de socializao e cooperao entre estudantes;

    oportunidades de participar de atividades diferenciadas e a construo de vnculos produtivos

    entre estudantes; incluso de alunos at ento desacreditados pelo sistema; integrao das

    famlias na escola, para aprendizagem de atividades que geram outra fonte de renda.

    Em todas as experincias, independentemente do formato, a vinculao entre as

    atividades curriculares flexveis instauradas com a ampliao da jornada e seu vnculo com o

    projeto pedaggico da escola um desafio. A dissociao entre tempos chamados de

    regncia e os tempos de flexibilidade curricular pode comprometer a adeso dos estudantes e

    de suas famlias proposta, pois o contraturno visto, por vezes, como tempo de brincadeira,

    desprovido de importncia e os estudantes tendem a no retornar, particularmente quando o

    projeto no garante a refeio. H formas de gesto que propiciam encontros, s vezes

    regulares, entre os tempos que a princpio pareciam estanques.

    Apesar de sinalizarem muitas vantagens das experincias, sobretudo a participao em

    atividades diferenciadas e sair da rua, h queixas de estudantes, famlias e docentes em

    relao ao cansao. Sobretudo os menores reclamam da quantidade de horas que permanecem

    na escola e enfatizam que gostariam de tempo para brincar e para conviver com familiares.

    Nas experincias em que no h opo, todos os estudantes esto submetidos ampliao da

  • jornada, ou so selecionados em funo do baixo rendimento escolar, o descontentamento

    maior que a produtividade. Finalizando, pode-se dizer que um desafio ainda presente o

    estabelecimento de diferenas entre o aluno da escola regular e o aluno da jornada

    ampliada/integral, uma vez que a maioria das experincias no acontece para todos os alunos.

    As experincias nos ensinaram que o mais oportuno a existncia de modelos variados.

    Pesquisa Fundao Ita Social / CENPEC

    H particularidades nesta pesquisa: a primeira que incluiu experincias pblicas e

    particulares. Vou deter-me somente nas de mbito pblico; a segunda que, diferentemente

    da pesquisa anterior, na seleo das experincias no se colocava o fator representatividade,

    no sentido de atender diversidade de municpios grandes ou pequenos, rurais ou urbanos,

    com maior ou menor tempo de implantao. Como as referncias de positividade das

    experincias de tempo integral escolar predominaram, a seleo das instituies pblicas

    redundou em projetos de vulto maior, como secretarias estaduais ou municpios com

    abrangncia de alunos envolvidos consolidada. H municpios que foram investigados nas

    duas pesquisas: Apucarana (PR), Belo Horizonte (MG), Cuiab (MT) e Palmas (TO), cada um

    de uma regio.

    A pesquisa Perspectivas da Educao Integral teve por finalidade conhecer

    experincias de educao integral em curso no Brasil. Para isto foram intencionalmente

    selecionadas 16 experincias dirigidas formao ampla e efetiva de crianas e adolescentes,

    desenvolvidas no perodo escolar ampliado e/ou em turno oposto, com oferta de atividades em

    diversos campos do conhecimento, realizadas de forma a integrar-se com o currculo escolar

    bsico. A seleo buscou abrangncia nacional e diversidade de caractersticas das

    experincias em curso. Dez iniciativas so pblicas.

    O documento entende que uma poltica efetiva de educao integral no se traduz,

    apenas, em aumentar o tempo de escolarizao, mas requer mudar a prpria concepo e o

    tipo de formao oferecido aos futuros cidados; que a proposta impe mediaes e

    compartilhamento entre diversos atores, instituies e territrios de vida; e que a vida em

    famlia e a vida escolar sejam irrigadas por relaes com as comunidades, os territrios, a

    cidade. Segundo a pesquisa, a poltica pblica de educao integral apresenta-se como

    tendncia em todas as esferas governamentais e nas diferentes regies do pas. Apesar de

    sinalizar experincias anteriores, indica que as iniciativas pblicas de educao integral so

    recentes, com incio, entre 2005 e 2009. O Programa Mais Educao, de 2007, estimulou o

  • avano do atendimento de educao integral na agenda pblica. A pesquisa tem preocupao

    com promover equidade e incluso social por meio da educao, aumentar sua qualidade e

    melhorar o desempenho escolar dos estudantes brasileiros na educao bsica.

    De acordo com o documento, as escolas de iniciativas pblicas atendem a critrios

    especficos como localizao (geralmente em periferia das cidades), IDH e IDEB baixos e

    registro de dificuldades de aprendizagem. As escolas tm liberdade para aderir aos programas,

    mas nem sempre tm capacidade para atender a todos os seus matriculados. Assim, o aluno

    que integra as atividades selecionado a partir de critrios como apresentar dificuldade de

    aprendizagem; ser beneficirio do Bolsa Famlia; estar em territrios com vulnerabilidade; ter

    sido retido no ltimo ano do ciclo escolar. Na maioria das iniciativas, as diretrizes gerais

    partem da Secretaria de Educao municipal ou estadual, mas escolas e comunidades

    gerenciam os programas a partir de suas necessidades e condies objetivas.

    A pesquisa registra que h duas formas de atendimento. Nas escolas de tempo

    integral, h uma clara opo pela interveno na organizao do tempo escolar, do currculo e

    do trabalho docente. As atividades so dirias, acontecem no interior da prpria escola em

    perodos que se estendem por oito ou 10 horas; a jornada ampliada a modalidade mais

    ofertada pelo poder pblico. As atividades podem ser dirias, mas o comum que sejam

    ofertadas duas ou trs vezes por semana, em turno oposto ao escolar regular durante 3 a 4 ou

    5 horas. Nesses dias, os alunos permanecem de 8 a 10 horas sob a responsabilidade das

    escolas, recebendo cuidados e alimentao ao longo desse perodo. As escolas que oferecem

    jornada ampliada tendem a utilizar espaos alternativos, com atividades ofertadas tanto por

    escolas como por ONGs. Este aspecto no apareceu na pesquisa do MEC, que registra

    pequena participao de ONGs e predomnio na utilizao do espao escolar.

    Segundo a pesquisa, as atividades oferecidas contemplam grande diversidade, que se

    concentram basicamente em quatro campos, presentes de modo comum nas 16 experincias:

    Arte e Cultura (38%); Cultura Digital (24%); Esporte/Educao do Movimento (24%) e

    Acompanhamento Pedaggico (14%). Chamo ateno aqui para o fato de que este resultado

    diz respeito a todas as experincias e no apenas as pblicas, porque a pesquisa anterior, que

    reunia s experincias pblicas de diversos portes, indicou ndice bem menor de cultura

    digital e bem maior de acompanhamento pedaggico.

    O documento registra que, nas iniciativas pblicas, a perspectiva intersetorial e a

    integrao de mltiplas parcerias aos programas so reconhecidas como formas de otimizar

  • recursos. Entretanto, os programas investigados mostram que os recursos financeiros

    advindos de repasses federais, recursos prprios de estados e municpios, FUNDEB, alm de

    programas federais como o Mais Educao e o Dinheiro Direto na Escola PDDE so

    insuficientes para implementar, de fato, polticas pblicas com capacidade de universalizar a

    educao integral no pas. Registra o oramento de Palmas de 2005 a 2010 e a universalizao

    da educao em tempo integral em Apucarana para exemplificar as dificuldades apontadas e

    no para evidenciar o desafio vencido.

    Embora as iniciativas de educao integral destaquem a importncia de uma avaliao

    ampla e participativa, estas, em geral, no ultrapassaram os limites da avaliao escolar. O

    monitoramento e avaliao dos processos e resultados da educao integral exigem a

    introduo de outros indicadores que vo alm do IDEB. Seu uso exclusivo e mesmo de

    indicadores que tratam da situao socioeconmica de comunidades e estudantes tm

    limitaes pelo fato de no abarcarem a totalidade das dimenses contidas na educao

    integral, que alm de capacidades cognitivas, inclui desenvolvimento de valores, atitudes e

    outras habilidades dos planos fsico, mental, moral e social de estudantes. So dimenses que

    ainda carecem de clareza sobre os sinais que permitiriam verificar se as iniciativas

    caminham de acordo com o objetivo proposto. Segundo a pesquisa, no caso da educao

    integral, um passo importante seria identificar e dar legitimidade s formas como diretores de

    escolas, professores, educadores sociais, oficineiros, estudantes e seus familiares constroem

    referncias e parmetros sobre a aprendizagem e trajetria educativa dos estudantes. Para

    avaliar as dimenses da educao integral, preciso criar novos indicadores.

    Questes colocadas pela ampliao da jornada escolar

    Tanto as pesquisas do MEC como a do Ita Social/Cenpec indicam os mesmos pontos

    de ateno, quais sejam: o espao e a infraestrutura; a formao de profissionais e sua jornada

    de trabalho; a integrao das atividades no projeto pedaggico; critrios de prioridade para

    escolas e alunos; a intersetorialidade; a formulao de indicadores para avaliao do projeto; e

    os recursos para sua implementao. Cada um destes aspectos pode inviabilizar a ampliao

    da jornada, de forma imediata ou em curto ou mdio prazo. Portanto, podemos concluir que

    encontrar alternativas para cada um dos pontos destacados implica na implantao paulatina

    dos projetos, seja por limitao de oramento, espao ou pessoal. Pode-se priorizar um

    aspecto, mas no h como adiar solues para os outros em prazo determinado.

  • O oramento pode comprometer imediatamente um projeto de ampliao de jornada.

    Segundo a pesquisa Fundao Ita / CENPEC, os recursos pblicos so insuficientes para

    universalizar esta proposta. Entretanto temos experincias pblicas de universalizao do

    projeto, como o caso de Apucarana, no Paran, e Olmpia em So Paulo. Se a Emenda

    Constitucional 234 for aprovada, que prev a universalizao do tempo integral na educao

    bsica pblica, ou o novo PNE, que prope alcanar 50% das escolas e 25% das matrculas

    em tempo integral na rede pblica at 2020, os recursos tero que ser previstos. Isto implica

    em etapas, o que supe estabelecer prioridades, outro dos aspectos colocados como um

    desafio para a ampliao da jornada escolar.

    H uma tendncia geral em priorizar os municpios, escolas e alunos com maior

    vulnerabilidade social, da a utilizao de IDH, beneficirio de bolsa famlia entre outros

    critrios. A correlao direta entre pobreza e baixo desempenho escolar faz do IDEB um

    indicador muito utilizado para priorizar municpios e escolas. A lgica evidente: quando

    temos a desigualdade do porte da brasileira, necessrio atender em primeiro plano os mais

    carentes. Entretanto esta lgica pode estigmatizar alunos e escolas. Um exemplo conhecido

    foi o que ocorreu com muitos CIEPs, no Estado do Rio de Janeiro, na dcada de 80. Havia

    CIEPs em que o nmero de alunas do sexo feminino era muito abaixo do masculino, porque

    as mes to pobres quanto as outras consideravam que a escola poderia oferecer um

    ambiente que no era adequado para suas filhas. Em outros casos, o CIEP funcionava como

    ameaa se no passar de ano, voc vai estudar no CIEP, sinnimo de escola para marginais.

    Destaque-se a soluo de Russas, no Cear, que adotou o tempo integral para a faixa etria

    que est cursando o ciclo de alfabetizao, de forma que a iniciao no Ensino Fundamental

    dos alunos seja consistente bastante para que os anos subsequentes sejam um desdobramento

    deste ciclo inicial. Russas no tinha recursos para implantar esta proposta em todas as suas

    escolas. Mas o projeto estava crescendo em abrangncia. Para todas as outras escolas de

    Ensino Fundamental, o municpio oferecia ampliao da jornada escolar, com atividades

    diversificadas.

    A infraestrutura e o espao para ampliao da jornada escolar so os aspectos mais

    evidentes e mais apontados por professores e diretores como obstculo implantao do

    projeto. As solues tanto de adaptao como de ampliao de espao so diversas: construir

    salas de aula, anexos ou puxadinhos; alugar espaos no muito distantes; instalar tendas ou

    salas de aula em containers; utilizar espaos externos em clubes, igrejas, praas, centros

  • culturais, bibliotecas etc. As diversas alternativas revelam uma representao do que seja

    espao escolar. Por mais que muitos projetos tenham a perspectiva de que os diferentes

    espaos da cidade so educadores, entre eles o Mais Educao, a concepo de territrio

    educativo no tem se mostrado frutfera na cultura brasileira, como indicam as pesquisas

    citadas, ao revelarem a predominncia absoluta do atendimento em sala de aula. No temos a

    tradio europeia de cidade, alm de outros problemas que caracterizam as cidades brasileiras,

    como segurana e transporte. Estes projetos terminam procurando solues que no

    caracterizam uma comunidade educativa, uma parceria de fato e sim uma cesso, formal ou

    no, para uso do espao. A segunda pesquisa do MEC apresentou diversos exemplos. Nossa

    infraestrutura, que tem como natural a noo de turno, na qual uma mesma sala de aula

    usada, no mnimo, por duas turmas, diferentemente da Europa, est bastante distante da que

    seria adequada para a generalizao da ampliao da jornada. uma dvida que pagamos

    nossa histria, j que no passado, no lugar de construir salas de aula, institumos turnos.

    Dispor de uma sala para cada turma, independente da extenso do turno, atribui sala de aula

    uma funo de acolhimento, para alunos e professores, para suas produes, para seus

    materiais, promovendo identificao com o ambiente.

    Quem vai trabalhar para que a jornada escolar seja ampliada? Professores ou

    monitores ou agentes comunitrios, ou estagirios, ou outras opes? Esta deciso implica na

    possibilidade maior ou menor de integrao das atividades de ampliao ao currculo regular.

    A opo por professor facilita a integrao, mas pode no caber no oramento. Outras opes

    podem caber no oramento, mas podem implicar em grande rotatividade, o que prejudica o

    projeto. Por outro lado, h muitos municpios que no tm disponibilidade de profissionais,

    como graduandos em diversas reas, da a opo por professor. Este um tema da maior

    complexidade, no apenas de optar por determinada forma, mas definir qual o regime de

    trabalho, a carga horria, a remunerao etc. As pesquisas mencionadas indicam que a

    presena de um professor coordenador indispensvel para a integrao das atividades ao

    projeto pedaggico da escola, como tambm encontros de formao e de planejamento

    regulares para todos os profissionais da escola. Dayrell, Carvalho e Geber (2012) consideram

    que a incluso de jovens educadores aponta que projetos como o da ampliao da jornada

    escolar podem funcionar como um incentivo continuidade dos estudos, como constatou a

    pesquisa do MEC. Os autores se perguntam se a escola de tempo integral no poderia se

    constituir como uma poltica pblica de primeiro emprego para a juventude.

  • Finalmente quero abordar o monitoramento das experincias. As trs pesquisas

    indicaram que no h ateno especfica para este aspecto. E como bem aponta a ltima

    pesquisa, necessria a criao de indicadores que reflitam os objetivos da ampliao da

    jornada escolar, que no se restringe ao desenvolvimento acadmico. Neste sentido, o IDEB e

    indicadores semelhantes como o SPAECE, no Cear, ou SAERJ no Estado do Rio de Janeiro,

    no do conta do que necessrio. Mesmo assim constatou-se que as experincias de

    ampliao da jornada ainda no comparam resultados de IDEB entre alunos que participam

    do projeto com os que no participam. Neste sentido, o critrio de Russas, por exemplo,

    facilita a comparao, tendo em vista que nas escolas que tm tempo integral, todos os alunos

    da turma esto envolvidos. Mas faltam todos os outros sinais que dizem respeito aos

    objetivos que levaram implantao da jornada ampliada. A maior parte das experincias

    controla apenas a frequncia, porque ela indispensvel para os 25% a mais de recurso pelo

    FUNDEB.

    Para concluir, interessante observar as experincias dos municpios que foram

    investigados por ambas as pesquisas porque podem dar pistas de alternativas adequadas para

    situaes diversas: Apucarana, com mais de 10 anos de implementao, j universalizou o

    tempo integral escolar para os anos iniciais do ensino fundamental, comprometendo seu

    oramento alm dos 25% obrigatrios; Belo Horizonte, com abrangncia j consolidada e

    que, por experincias anteriores, j conta com intersetorialidade consistente para implantar o

    projeto na perspectiva da Cidade Educadora; Palmas, que j atinge 50% das matrculas

    municipais em alguma das suas cinco formas de atendimento integral, como uma nova capital

    projetou as escolas para esta finalidade, com a proposta de currculo integrado desde seu

    incio; e Cuiab que, apesar de implantao recente, j conta com quase 50% de suas escolas

    envolvidas no projeto que tem, entre outros objetivos, a erradicao do trabalho infantil.

    Enfim, o processo de desnaturalizao da escola de turnos est em andamento e as solues

    para ampliao da jornada escolar sero to diversas quanto nossa prpria diversidade.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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