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Raizes Portuguesas Do Vale Do Acarau - Parte 1

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Raizes Portuguesas Do Vale Do Acarau - Parte 1Cônego Francisco Sadoc de Araújo

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1 1 1 1 m i l I I/2000. 32091

B ib lioteca C entral - U V A

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Monsenhor Francisco

Sadoc de Araujo, sobre ser

sacerdote de grande prestigio no

clero brasileiro em decorrencia da

sua excelente formacdo, em materia

quanta em espirito, e intelectual de

nomeada nacional, merce da sua

obra diversificada, em 15 livros que

escreveu, e· de sua atuaciio emnumerosos eventos para os quais e

chamado aparticipar.

Raizes Portuguesas do Vale do

Acarau, editado em tiragem

reduzida em 1991, e um componen-

te desse seu acervo que, pelo

alcance didatico deseus conceitos e

infer enci as, necessitava de

reediciio, aproveitando-se desta

momentosa quadra em que a

Universidade Estadual Vale do

Acarau - UVA assinala os 500 anos

depresenca lusa noBrasil.

o relancamento desse titulo, alem

de suprir a absoluta inexistencia da

obra nas livrarias e bibliotecas, se

presta, liminarmente, a munir de

informacoes preciosas os que tem 0

ensejo de participar do Seminario

500 Anos: Encontros e

Desencontros de Culturas, que a

nossa Instituicdo realiza, com a

par ticip aciio de intelectuais

brasileiros e portugueses e

contando com assistencia de

pessoas de todo 0Brasil.

Ii mais uma publicaciio de absolutaqualidade do nosso Programa

Editorial, no esforco ingente de

revitalizar no nosso meio a cultura e

a ciencia nos mais variudos

aspectos.

CONEGO F . SADOC DE ARAUJO

Ralzes Portuguesas

do Vale do Acarau

29 edicao

Sobral, maio de 2000 SOBRAL-CEARA

2000ose Teodoro Soares

Rei tor da UVA

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! II

CONEGO F. SADOC DE ARAUJO

RAIZES PORTUGUESAS

DO VALE DO ACARAU

29 edicao

·SOBRAL-CEARA

2000

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Autor: Con. F . Sadoc de Araujo .

Membro da Academia Cearense de tetras, s6cio do lnstituto do

Ceara, do Instituto Geneal6gico Brasileiro e do Coleqio Brasileiro de

Genealogia.

Obras do autor:

- Cronologia Sobralense - 5 volumes - 1974 - 1990

- A Ciencia Criadora - 1976- Hist6ria da Cultura Sobralense - 1978

- Estudos Ibiapabanos - 1979

- Hist6ria Religiosa da Meruoca - 1979

- Ceara: Homens e Livros - 1981

- Traces Biograficos de Dom Jose Tupinamba da.Frota -1982

- Cordeiro deAndrade - Jornalista Perdido na Ficyao - 1986

- Dicionario biografico de Sacerdotes Sobralenses - 1985

- Hist6ria Religiosa de Guaraciaba do Norte - 1988. ,

- Padre lbiapina, peregrino da caridade - Fortaleza, grafica Tribuna do Ceara,

Fortaleza, 1995.

A658r Araujo, F . Sadoc de, Con. Raizes portuguesas

do Vale do Acarau/ Con. Francisco Sadoc de. -

2" ed. - Sobral : Edicoes

UVA.2.000

222 p.

1 - ESTUDOS HISTORICOS - CEARA

2 - GENEALOGIA

1 - TITULO

CDD 981.31

CDU 929.31

SUMARIO

INTRODUCAO

EPONIMIA SOBRALENSE

Caicara

Sobral

Januaria

PIONEIRISMO DO PRIMEIRO CURA

Dados BioqraficosRepresentayoes a EIRei

Autos de Justificacao ,

o ADAo DO VALE DO ACARAU

Nascimento e Batismo

Casa do Fortelo

Matriz de Meixomil

Concelho de Paces de Ferreira

Casamento.dos Pais

Avos Paternos

Av6s Maternos

Familia de Oito lrrnaos

A vinda para 0BrasilFazenda Tucunduba

A prole legitima

o Testamento

Imensa arvore geneal6gica

MENDES E VASCONCELOS

A Terra do Berco

Emiqracao e Casamento

Fazenda Curralinho

Os Sete Filhos

,0$ LINHARES

oporama

Dionisio Alves Linharesocal de Destino

omingos da Cunha Linhares

C samento e filhcis

Antonio Alves Linhares

Manuel da Cunha Linhares

rancisco da Cunha Araujo

OSFROTAS

I aniche

,

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III

Rego Monteiro

Casamento dos Pais de Vitoriano

Casamento de Vitoriano

Felipe Gomes da Frota

A enorme Decadencia

RODRIGUES LIMA

Casamento dos Pais

Batismo de Domingos

Hesidencia no Recife e Fortaleza

Fazendeiro em Caraubas

lIustre descendencia

FAMILIA ARAUJO COSTA

Paisagens nativas

Informes Historicos

o Casamento original

Jose de Araujo Costa

lnventario do Capitao

Pedro de Araujo Costa

Manuel de Araujo e Sa

Familia Costa Araujo

LOPES FREIRE

Ascendencia Proxima da FamiliaVila do Conde

Azurara

Lagos

Dados Bioqraficos

Casamento e Filhos

OFUNDADORDESOBRAL

PRINCIPAlS POVOADORES PORTUGUESES

APENDICE

INTRODUC;;AO

Este livro e fruto de longa e paciente pesquisa empreendida nos arquivos

e Portugal e das curias diocesanas de Sobral e Fortaleza.

A quase totalidade dos dados aqui apresentados provern de documenta-

9:tO prtrnaria , manuscrita e inedita, pelo que na o cabe aqui indicar bibliogra-

II de obras ja impresas, que muito pouco ou quase nada informam sobre 0

sunto. Quando me vali delas, informo no proprio local do texto sua refe-

nola

Tarnbern as fontes primarias estao indicadas logo apos 0f inal dos docu-

m ntos transcritos.

Nesta pesquisa, busquei apenas saber, ate onde me foipossivel, por

onde corria 0sangue da populacao atual do Vale do Acarau nos seculos que

nos antecederam e deram infcio a colonizacao portuguesa desta reqiao

cearense. Foi em meio aos acontecimentos do dia-a-dia dos primitives colo-

nos, que se foi tecendo vagarosamente 0 f io condutor de nossa historia. Ela

nao se explica somente pelo estudo de documentos oficiais, oriundos da

burocracia administrativa dos governantes, mas principal mente pela exiqen-.

cia humanados que iniciaram 0povoamento desta ribeira.

A urdidura da nistoria. como qualquer disciplina prestante, "nao se apren-

de senhor na fantasia/sonhando, imaginando ou estudando/senao vendo,

tratando e pelejando". (Lusladas, X, 153).

Ja disse Luis da Camara Cascudo que "a histor ia das fami lias-tronco

sera a unica forma de escrever a historia do povoamento do Norte brasileiro,

mas os historiadores preferem fazer a monotonia das sucessoes de gover-

nos e das medidas administrativas" (d. Pretacio ao livro "Os Linhares" de

M rio Linhares, Ed. Pongett i, Rio, 1954).

A chave da explicacao social e religiosa do nosso povo esta, no entanto,n xperiencia vivida por essas famflias pioneiras, cuja alma 'escondida ins-

I I rou e ainda inspira 0 mais int imo dos nossos gestos, plasmando 0 rosto

lndtcaoor de nossa identidade cultural. Descobrir-Ihes os costumes, as pra-

II as religiosas, as formas de superar as dif iculdades, 0 trato da terra e do

do, os afazeres domesticos de nossas primeiras maes, a lenta estruturacao

f miliar e buscar as raizes mais profundas de nossa civi lizacao. A histor ia

dos nossos sertoes, diz mais 0 inolvidavel mestre Cascudo, e a memoria

I s antigas famil ias provoadoras.

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Foi nesta l inha de pensamento que escrevi 0 presente trabalho. Na sua

lenta elaboracao, procurei seguir 0 metodo por amostragem, escolhendo sete

famflias-tronco como base para uma analise das caracterfst icas represen-

tantes das demais. A historia de cada uma serve de espelho para retratar a

t radicao que alicerca a est rutura social de nossa v ida de hoje.

Quanto a genealogia, procurei encarar seu estudo noconceito moderno

da ciencia auxil iar da Historia, venda sua irnportancia para a plena compre-

ensao do povoamento desta reqiao sertaneja, cuja formacao social, polft ica

e rel ig iosa tanto depende de sua int luencia. Em seu estudo devem ser bus-

cados, principalmente, os traces comuns famil iares que criam e expandem

os sentimentos sol idar iedade, resistencias e reacoes que explicam o pro-

cesso de povoamento e da estrutura social de nossos atuais aglomerados

urbanos.

Assim, procurei fugir do costume tradicional de estudar genealogia com'

a vaidosa intencao de encontrar traces de nobreza nos antepassados, visao

distorcida que leve a veleidade da vanqloria em detr imento da verdade da

historia. Na realidade, a ribeira do Acarau foi povoada por humildes lavrado-

res, vaqueiros e pescadores oriundos em sua grande maior ia, de v ilarejos

rurais e povoas marftimas do antigo Reino de Por tugal. Se algum deles

enobreceu ou enriqueceu foi aqui, pelo estorco diuturno de suas rnaos cale-

jadas no amanho da terra, no arranjo do gado ou na conquista do mar

costeiro.

Nao tem qualquer sentido histcrico, iniciar 0 estudo de nossas famflias-

tronco pela descricao de brasoes nobiliarquicos de sobrenomes hornonirnos

portugueses, que apenas muito remota ou nenhuma ligac;ao possuem com

os nossos primitivos povoadores. Os brasoes famil iares portugueses, como

constam dos respectivos Livros de Linhagens e indices Nobil iarquicos, da-

tam geralmente dos seculos XI I, XI II e XIV, portanto quase quatrocentos

anos antes da chegada de nossos primeiros povoados que, na ribeira do

Acarau, so comecam a aparecer a partir do infcio do seculo XVII. Neste

longo intervalo de tempo, mesmo se alguma nobreza houvera, ja se teria

total mente dilufda no arnalqarna sucessivo de tantas gerac;oes.

No aspecto rel ig ioso, ja que se trata de estudar rafzes, Itmi tei-me a des-

crever a celebracao da primeira missa nas praias da ribeira do Acarau e 0

trabalho arduo e pioneiro do primeiro cura residente nestas paragens. 0 per-

manente clima de tensao emocional, em que ele v iveu durante os sete anos

que por aqui morejou, demonstra as pesadas dif iculdades que enfrentou no

estorco inicial de const ruir os alicerces da estruturacao da Igreja nestes

8

sertoes, entao ermos e totalmente infensos a ocupacao do homem. 0 traba-

Iho posterior so foi possfvel por causa de sua acao corajosa incipiente. Frei

Manuel da Piedade nos trouxe 0 primeiro anuncio do Evangelho, em 1614,

com a primeira eucaristia participada por alguns indfgenas, e 0Pe. Matinhos

nos trouxe a orqanizacao da Igreja, em 1716, no estorco posit ivo de criar 0

primeiro curato.

Dois capftulos sao dedicados especial mente aos prim6rdios da historia

de Sobral que, desde 0povoamento aglomerado inicial, liderou os destinos

da reqiao. Na eponfmia, faz-se uma analise diacronica dos toponirnos que 0

local recebeu atraves do tempo. Neste assunto, parti dos primeiros sesmeiros,

cronologicamente os mais ant igos feitos i rmanados em documento, pelo

que tal assunto ocupa logo 0segundo capftulo. Mais adiante, discute-se 0

problema sobre quem e 0 verdadeiro fundador de Sobral, t itulo que defendo

pertencer, indubitavelmente ao Pe. Lino Gomes Correia.

Finalmente, no capitulo conclusivo, apresento uma relacao de 122 portu-

gueses, que se estabeleceram no terri torio r ibei ra do Acarau, cujo l imi te na

extensao litoranea, ada foz do rio Mundau ate a barra do r io Timonha e, no

sertao acima, das pancadas do mar ate as raias alcancadas pela penetra-

cao. Nao foi tacil organizar esta relacao, pois exigiu minuciosa e demorada

consulta a cada folha dos velhos livros de assentos de batismo, casamento

e obi to, registrados desde 1725, com a coleta dos detalhes de cada termo

em particular. Esta lista, que traz a naturalidade lusa de cada personagem,

servira de roteiro segura a quem necessite de buscar nos arquivos portugue-

ses os dados referentes aos nossos mais ant igos ascendentes. 0 estudo,

neste campo, continua inteiramente aberto a quantos desejarern avancar

em tao fascinante pesquisa.

A enorme documentacao relativa aos registros paroquiais, feita por deter-

rninacao do Concfl io de Trento (1545-63), abrange todas as freguesias de

cada concelho portuques e encontra-se disponfvel ao publico nos Arquivos

Distritais sediados nas capitals do respective Distrito a que pertence 0con-

celho desejado. Com 0 auxfl io das intorrnacoes contidas na relacao, torna-

se mais tacil localizar onde se encontra 0 l ivre correspondente que possa

conter os dados procurados.

Como limitei-me a identif icar rafzes portuguesas, neste trabalho nao se

encontram reterencias aos povoadores que vieram diretamente de

Pernambuco, Parafba ou Rio Grande do Norte, como e 0 caso de Manuel

Vaz Carrasco, natural de Ipoju'ca-PE, pai das chamadas "Sete i rrnas", que

deixaram enorme descendencia entre nos. Ou deJose de Xerez Furna Uchoa

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de Goiana-PE; de Joao Carneiro da Costa, de Jaboatao-Pl.: de Cosme Frazao

de Figueiroa, da Paraiba; de Antonio Rodrigues Maqalhaes, natural de Natal-

RN e proprietario da primitiva fazenda Caicara, berco de Sobral, e de tantos

outros.

Entrego os dados contidos neste livro ao trabalho complementar e indis-

pensavel dos especialistas em sociologia, etnologia, antropologia cultural e

ciencias afins, cuja contribuicao interpretat iva faz-se necessaria ao conhe-

cimento aprofundado da hist6ria social do sertao cearense, infel izmente ain-

da nao escr ita. Nao me cabe a mim penetrar em seara a lheia , embora sejatarefa fasci nante.

o certo e que a Hist6ria do Ceara nao estara escri ta, enquanto escri ta

nao estiver a hist6ria particular de cada um dos seus municipios. Ha ainda

um longo caminho a percorrer na busca da cornpreensao cientl fica da alma

de nosso povo e dos costumes de nossa gente.

Para a obra desta imprescindivel construcao, quis apenas participar com

o meu pequeno tijolo e a minha humilde pa de cal.

PRIMEIRA MISSA

I

NAS PRAIAS DO ACARAUon. Francisco Sadoc de Aguiar

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I I 1 I I I I

No dia 5de outubro de 1614, a esquadra de Jeronimo de Albuquerque

ancora nas praias do Acarau, onde e celebrada solene missa de acao

de qracas,

12

Am ndo do Governador Geral de Pernambuco, Gaspar de Sousa, 0ca-

11'10 Jeronimo de Albuquerque parte do Recife, a 1 de junho de 1613, em

II primeira viagem ao Maranhao, com 0 fim de expulsar os tranceses que

I) i vl m se apoderado da Ilha de Sao Luis. Ap6s pouco mais de um mes,

111ulndo a demora no Forte do Amparo na barra do rio Ceara onde apanhou

I companheiro a Martim Soares Moreno, a esquadra aportou na ponta de

II r l oacoara (Buraco das tartarugas) e ai foi levantado umpequeno forte de

f u-s-pique, a que foi dado 0nome de Fortim de Nossa Senhora do Rosario.

Per temer ataques de corsarios, Jeronimo guarneceu 0 fortim com al-

ju n soldados, sob seu comando, e enviou Mar tim Soares Moreno ate 0

M r I 'i lhaocom a rnissao detrazer not fcias seguras sobre a situacao da Ilha

!II sao Lu is . Por causa dos ventos contraries , Martim nao pede retornar a

J ( rlcoacoara e foi arr ibar nas Anti lhas, I Ihade Sao Domingos, onde seguiu

r ra Espanha, sendo atacado porfibusteiros que 0 levaram preso para Fran-

S l. Percebendo Jeronimo de Albuquerque que Moreno nao retornava a

Jcrlcoacoara, desconhecendo seu destino, resolveu desistir da continuacao

(I viaqem ao Maranhao e retornou ao Recife, aonde chegou a 26 de maio de

1614.

A 26 de julho, 0Governador Gaspar de Sousa recebeu ordem de Madri

r fazer Jeronimo de Albuquerque empreender nova viagem de conquista

Maranhao, tendo em vista 0 malogro da primeira. Este, porern, ja haviardo, por terra, no dia 22 de junho, com 0 fim de formar um contingente de

11 1 uo s da Paraiba. 0Governador preparou uma esquadra sob 0comando de

I 1 0 0Campos Moreno, tio de Martim, tendo a bordo doispadres franciscanbs:

rol Manuel da Piedade e Frei Cosme deSao Damiao. Parti ram do Recife no

dl 23 de agosto, pelas sete horas da manna. Tres dias depois , apor tam no

I orte dos.Reis Magos, Rio Grande do Norte, onde se juntam com Jeronimo

1 Albuquerque, que ali ja se encontrava, e prosseguem viagem para 0

M ranhao.

A 5 de outubro de 1614, um domingo dentro da festa de Nossa Senhora

Rosario, a esquadra abica a praia de Jericoacoara e ali e celebrada missa

~o de qracas, ao lado do Fortim, por estar no tempo l iturqico da festa\J padroeira.

lzern velhas cronicas da epoca que Frei Manuel da Piedade presidiu a

r19 celebracao eucaristicae pronunciou comovente serrnao, intercalado

, 11 1r chos em portuques e tupi, sendo ampliado por Frei Cosme que dirigiu

I) nticos, acompanhados ao som de orqao e flautas. Foi a prirneira missa

I I\ n s praias do Acarau, marco hist6rico dos prim6rdios da evanqellzacao

13

I I II II I

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nessa parte do litoral cearense.

A cer imonia foi soleniss ima e partic ipada ativamente por mais de qui-

nhentas pessoas que oraram, com dsvocao, e cantaram sntusiatica loas aSenhora do Rosario.

Segundo informa F. A. Pereira da Costa, em "Anais Pernambucanos",

vol. 2, p. 330, "a esquadra era composta de cinco caraveloes, dois patachos

e uma caravela, com cerca de trezentos homens, tanto maritirnos como

soldados arcabuzeiros, e com mantimento de seis mil alqueires de farinha,

cem arrobas de peixe, vinte canastras de sardinha, vinte quintais de p6lvo-

ra, tres pecas de ferro fundido, duzentas balas de ferro e grande c6pia de

arcabuzes e mosquetes, chumbo e marrao."

Alern dos t rezentos marftimos e soldados, intorrna ainda 0 historiador

pernambucano, havia mais de duas centenas de indios: "A frota devia esca-

lar no Rio Grande do Norte para receber os indios que Jeronimo de

Albuquerque escolhera das aldeias da Paraiba, cujo numero atingia a mais

de duzentos."

Esta segunda viagem de Jeronimo de Albuquerque ao Maranhao foi cha-

madade" jornada milagrosa", pois segundo diz Candido Mendes de Almeida,

em "Mem6ria para 0 ext into Estado do Maranhao", p. 172 aos dois fradesfranciscanos "nao se deu coisa alguma da fazenda de Sua Majestade, an-

tes eles de esmolas se aviaram de calices, ornamentos e tudo 0 mais do

culto div ino necessano e da comida, com que fizeram infini tas caridades a

todos os da jornada a que puseram nome "a milagrosa".

Igual info rme nos fornece, quase com as mesmas palavras, 0 citado

trecho do livro de Pereira da Costa: "Acompanharam a sxpedicao dois

franciscanos do convento de Olinda, Frei Cosme de Sao Darniao, que havia

sido quardiao do convento da Paraiba, e Frei Manuel da Piedade,

pernambucano, de preclara famil ia, teoloqo e perieito conhecedor da lingua

tupi. A estes religiosos nada se deu para a viagem, mas eles de tudo se

supri ram por meio de donat ivos particulares e assim, alern das suas abun-dantes provisoes, levaram paramentos e altaias para a ~elebrayao dos atos

religiosos."

As peripecias desta viagem constam da "Breve Helacao da Jornada da

Conquista do Maranhao", escrita pelo capitao de forasteiros Manoel de Sousa

Eca que havia partido de Pernambuco, na expedicao de 27de maio, e esta-

va entao no presidio do Buraco das Tartarugas, de onde seguiu para 0

14

M I r 1 "I h9 .0 incorporado aquelas torcas expedicionarias. Desta mesma fonte

I ernos mais "que os caraveloes e a caravela eram precedidos pelos dois

II r t chos, em um dos quais tremulava, no mastareu dejoanete no mastrode

r , um estandarte branco em que estava pintada uma effgie de Sao Tiago,

I fro ira da jornada. Os capitaes das caravelas eram Joao Goncalves

I r icho, Manoel Vaz de Oliveira, LUIsde Andrade e Luis Machado. A mu-

II I r dosoldado Joao Neto servia de enfermeira. " A viagem total durou de23

I gosto, quando a esquadra partiu do Recife, a 28 deoutubro de 1614, dia

f 11\que chegou a Sao LUIsdo Maranhao.

o dois rel ig iosos f ranciscanos, que celebraram a primeira missanas

1 1 I I e de Jericoacoara, tornaram-se personagens integrantes dos prirnordios

d 1109sahist6ria, pelo que damos a conhece alguns dados de suas biogra-

r I W, P ra nosso reconhecimento e nossa adrniracao,

Frsi Manuel da Piedade nasceu em Olinda em 1581, sendo f ilho de Joao

r varss e Constance Dias. Seu pai foi 0 primeiro governador da Paraiba

(1585-1588) e 0comandante de sua reconquista. Sua mae, informa Domin-

O S Loreto Couto em sua obra "Desagravos do Brasil e GI6rias de

rnambuco", p. 301, era "descendente de nobre prosapia".

A 13 de marco de 1598, professou na ordem franciscana, no convento de

Qllnda, tendo ai lecionado filosofia ate 1614, quando se integrou volutariamente

11 xcursao deJeronimo deAlbuquerque nasegunda viagem ao Maranhao.

[111l'egressou em 1616 ao mesmo convento de Olinda, onde esteve ate fins

I 1617, quando segui para Ipojuca na qualidade de quardiao do convento

I o 1 . Em 1620, retornou a Olinda com a missao de ensinar, sendo eleito, em

I 27 , guardiao do convento, cargo que exerceu ate a invasao dos holande-

m 1630. Quando esse convento foi abandonado, passou-se para 0 da

r fba.A 11de dezembro de 1631, quando atendia a moribundos no Forte

tI ( C bedelo, foi ferido mortalmente pelos holandeses, vindo a falecer no dia

IBrio mesmo riles.

I crete Couto, na obra supracitada, 0 coloca em primeiro lugar ent re "os

If II 1 0 os naturais de Pernambuco que narel iq iao seraf ica f loresceram emv h t u I doutrina" e,ap6s fazer-Ihe um longo elogio sobre 0profundo conhe-

n III nto que possuia da lingua indlgena e sobre suas virtudes, descreve

11111talhes sua morte: "Empenhado Sisgismundo Vanscoph, generalho-

I tl ltl 6 na conquista da provincia da Paraiba, para onde se tinham reti rado

t I In r doresdas pracas conquistadas, preparou uma poderosa armada, e

11110do Recife e arr ibando a ela, dei tou gente, art ilharia e municoes em

If II' I com todas as dernonstracoes de sitiar a fortaleza do Cabedelo. Era

15

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I I 1 1 I I I I

I

capitao-rnor da cidade 0Governador da Capitania Antonio de Albuquerque, a

quem 0 primeiro rebate pos na campanha, com todos os moradores que a

brevidade do tempo e 0 repente do assal to Ihe deixou conduzir. Eram os

com bates a medida dos dias e, em todos, ass istia 0 servo de Deus Frei

Manoel da Piedade com desprezo da propria vida metendo-se intrepidamen-

te por entre nuvens de balas, exercitando a obriqacao de confessor e 0

oficio de soldado. Ao tempo em que fur iosamente em um desses encontros

se combatiam os nossos com os holandeses, com manifesto perigose meteu

pelo meio dos esquadroes para acudir com remedies da alma aos mais que

lutavam com a morte do que com 0 inimigo, quando querendo a fortuna

vender aos pernambucanos por lao custoso preco a vito ria deste dia, ou

sendo chegado 0 tempo de se remunerarem os seus heroicos padecimen-

tos, foi 0 servo atravessado pelo peito com uma bala, que Ihe tirou a vida

transitoria para cornecar a eterna".

Segundo Frei Jaboatao informa no "Orbe Serafico", I ,1, p. 185, erada

principal nobreza do Brasil, grande teoloqo e excelente Ifngua, por falar cor-

retamente 0 tupi.

Tinha um irrnao mais velho, Frei Bernardino das Neves (al ib i, de Santa

Mar ia), que missionou entre os potiguaras do Rio Grande do Nor te e foi ( ;

primeiro sacerdote franciscano brasileiro, de quem trata Frei venancio Willeke

em "Missoes Franciscanas no Brasil", p. 53 , tendo professado em 1588 e

falecido em 1608.

Quanto a Frei Cosme de Sao Darniao, companheiro de Frei Manuel da

Piedade na jornadado Maranhao, sabemos que e portuques, natural da fre-

guesia de Sao Joao de Guilhufe, concelho de Penafiel , onde nasceu a 18de

novembro de 1574. Dele t rata profusamente Frei Basfl io Rower, em "A Or-

dem Franciscana no Brasil", p. 166/122.

Loreto Couto (obra citada, p.354) diz que "foi f ilho de Goncalo Manoel e

de sua mulher Comba Luiz". Professou no insti tuto seraf ico de Olinda, a 20

de janeiro de 1598 e, por ordem de seus superiores, acompanhou Jeronimo

de Albuquerque, "quando no ana de 1614 foi a conquista do Maranhao e

nesta agreste e dilatada vinha semeou a palavra divina corn tanto fruto, que

parecia se anirnavarn as suas vozes com 0 esptrrto dos primeiros

promulgadores do evanqelho. Entregue a oracao e exerclcios de penitencia

multo riqorosos, recebeu de Deus singularfssimas merces, Teve 0 dom da

profecia e a qraca de tazermilaqres."

16

regresso do Maranhao, continuou a trabalharno convento deOlinda,

I nne eleito custodio no ana de 1633.

i- leceu no convento da Bahia a 1 de novembro de 1659, "com aclama-

~1 de santo e manifestou 0 Senhor as virtudes her6 icas deste seu fie l

I I 'V Ocoma voz de mi lagres depois de sua morte."

A 26 de abri I de 1500, domingo da pascoela, foi celebrada a primeira

1111, no Brasil pelo franciscano Frei Henrique de Coimbra. Coube tarnbern

I urntranciscanc, Frei Manuel da Piedade, celebrar a primeira missa nas

p r \1 s de Jericoacoara, a 5de outubro de 1614, dia em que comscou a raiar

t I lIZdo Evangelho nesta reqiao do Vale do Acarau.

N sta oportunidade, e oportuno sugerir ao paroco local e ao prefeito do

munlcloto de Cruz, a cuja jurisd icao pertencem a capela e 0 distrito de

,I rlcoacoara, que tacam justica a memoria do piedoso franc iscano e do

II tavel evento historico, fazendo erguer um monumento comemorat ivo ao

ntecimento e tornando Frei Manuel da Piedade eponimo de uma rua ou

ea da sede dessa vi la, tao cheia de possibil idades de desenvolver seu

ioso potencial turfstico.

17

1 1 1 ' 1 1 1 1 1

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I

EPONIMIA SOBRALENSE

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CONCELHO DE 081005

Limite do concelho

Limite de freguesias

No centro do mapa do concelho de Obidos, esta a freguesia de Sobral da .

I ;190a,que deu nome a cidade de Sobral - Ceara.

20

A 14de outubro de 1702, 0portuques Antonio da Costa Peixoto, vereador

I In Aquiras, conseguiu sesmaria as margens do rio Acarau, medindo uma

II III e meia de comprimento com meia legua de largo, indo da margem

I ,qu rda do rio ao sope da serra da Meruoca. Parte dessa sesmaria, exata-

II\( n t onde hoje esta localizado 0perimetro urbano da cidade de Sobral, fOI

III I ' I da pela fi lha Apolonia da Costa, mulher do sargento-mor Antonio Mar-

III S Leitao, residente no Siupe Por sua ver, deste casal a propriedade

III OU para filha Ouiteria Marques de Jesus, como dote de seu casamento

I I 1110 capitao Antonio Rodrigues Maqathaes. Este ultimo casal fundou ai a

1 1 1 1 nda Caicara, assim chamada porque logo foi protegida com uma cerca

III vares. Foi 0 nome de batismo da herdade que, apos poucos anos, se

II III forrnou em florescente povoacao de igual denorninacao.

IA ENDA CA IC ;ARA

Cair;:ara e palavra tupi que signi fica "cerca fei ta de mato" e, por exten-

;tapume, trincheira, arraial, como se Ie no conhecido "Dicionario da Lin-

Jl l Tupi" de Goncalves Dias.

A etimologia e torrnada de caarmato + yea (cerca, estaca) +ara (desinencia

nlficando "0que tern ou 0de que se taz").

eodoro Sampaio em "0 Tupi na Geografia Nacional", volume 308 da

I(ll 9 NO Brasiliana, p. 153, nota 195, afirma que "atraves do vocabulario dos

II uutas sabemos hoje que havia diversas cercas para protecao das aidelas

V i Yl' - a estacada unida; ybyrapokanqa - a de troncos rnais espacados;

y l lYI' patagui - a estacada de rede; e kaiuca ou kaica -acerca de ramagem.

I ' u ltimo termo transforrnou-se ao depois em kaicara." Todos estes tipos

! f e rcados serviam para pro teger a propria casa, a criacao de gada e os

() cos , e deram nome a muitas localidades pelo sertao do Nordeste aden-

III), No casoda eponimia sobralense, 0 toponirno permaneceu ate a eleva-

\( povoacao a categoria devila e consequents sede de municipio.

1 \ Vi la Distinta e Real de Sobral , com sede naantiqapovoacao da Caica-

I I, lu i criada por ordem do Governador e Comandante Geral de Pernambuco,

nnu I da Cunha Menezes, com data de 14 de novembro de 1772. Sua

III Inl 98,0 oficial, porern, bem como a eleicao e posse daprimeira Camara

!II V I' adores, foram realizadas no dia 5 de julho ,de 1773, numa segunda-

1 1 1 1 \ , om a presence do 109 Ouvidor do Ceara , Joao da Costa Carneiro e

\ qu estevea frente do Poder Judiciario da capitania do Ceara de 1770 a

I II , quando foi transferido para a Helacao da Bahia.

21

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Tal solenidade, festa magna da historia do municipio, estabelecia legit i-

mamente a independencia politica municipal e a maturidade c ivil de sua

populacao.

Nessa epoca, reinava em Portugal e suas colonias 0voluvel Dom Jose I

que governou, de 1750 a 1777, com 0 concurso reformador do irrequieto

ministro Marques de Pombal. A Capitania do Ceara, por sua parte, entao

dependente do Governador de Pernambuco, estava sob a adrninlstracao do

capitao-rnor Antonio Jose Vi toriano Borges da Fonseca (1765-1781), que

passou a historia mais como autor da valiosa obra qenealoqica "Nobiliarquia

Pernambucana", ainda hoje fonte segura de pesquisa sobre as mais distin-tas famil ias que povoaram 0 nordeste brasileiro.

Eclesiasticamente, a povoacao da Caicara foi sede da freguesia de Nos-

sa Senhora da Conceicao 30 de agosto de 1757 por provisao de Dom Fran-

cisco Xavier Aranha, Bispo de Pernambuco (1754-1771). Ja no tempoda

instalacao da vila, 0 bispado de Olinda estava vacante, administrado pelo

Cabido Diocesano, eo viqario da Caicara era 0 Pe. Luis Soares de Sousa,

que exercia interinamente a tuncao, em subst ituicao ao t itu lar Pe. Joao Ri-

beiro Pessoa. Este, que foi paroco de 1762 a 1787, entao encontrava-se

ausente por ter viajado ao Recife para tratar da renuncia ao cargo de viqario

da freguesia do Corpo Santo, ou de Sao Frei Pedro Goncalves, para 0qual

fora escolhido. Pe. Pessoa preferiu permanecer na Caicara e, quandoretornou, ja a encontrou transformada em vila.

A freguesia era periodicamente visi tada pelos chamados Visitadores

Gerais, representantes do Bispo de Pernambuco, que inspecionaVam as

atividades paroquiais e, de volta, apresentavam relatorio ao poder eclesias-

tico e c ivil sobre a s ituacao da req iao. Assim, 0 governo ficava informado

dos acontecimentos locais.

A partir do ana de 1755, houve no Brasil um acelerado empenho governa-

mental na criacao de vilas em obediencia ao Alvara reqio de 7 de junho

daquele ano, com a expressa determinacao de abolir a adrninistracao tem-

poral dos missionaries nas aldeias indigenas. Estas, quando habitadas pormais de cento e cinquenta casais, passariam a ser elevadas a v ilas, gover-

nadas pelos respectivos juizes ordinaries eleitos. :

Tres anos depois, 0Alvara Regio de 17 de agosto de 1758 confi rmou 0

Diret6rio dos Indios, que se dever ia observar nas povoacoes do Para e

Maranhao, regido por noventa e cinco detalhados provimentos sobre 0modo

de proceder na orqanizacao dos povoados e v ilas. Em setembro do mesmo

22

1 1 1 0 , outra Carta Regia estendia a validade do Diret6rio a todo 0 territorio do

I If I II .

I Is instrumentos legais eram preparacao antecipada, planejada, sorra-

1 1 1 m nte pelo Marques de Pombal, com 0fim de possibilitar, sem maiores

rtll III los, a expulsao dos jesuitas que dirigiam as missoes no Brasil. De

Illn, 0 inacianos foram expulsos no ana de 1759.

A riacao de vilas de brancos, por sua vez, foi regulamentada por Ordem

lit II I de 22 de julho de 1766, para a qual a exiqencia fundamental era a

I I I nola de c inquenta fogos, no minimo, na sede de povoacao ser trans-1 1 1 1 1 1 1 Ida em municipio. Chamavam-se fogos as casas habitadas, ou lares,

II qu is houvesse fogo para a preparacaode alimento, nao se levando em

I I Illl I, portanto, as.casas desabitadas.

A povoacao.da Caicara, que se formara em torno da pequena matriz

1IIII1l1 da construir pelovisitador Pe. Lino Gomes Correia em 1742, atingira

I I I ( , I fr de fogos no inicio da decada de 70.

1 \ Corte de Lisboa incentivou a orqanizacao dessas novas vilas, tarnbern

Jill rim de "reunir e vigiar os vadios e facinoras que viviarn a vagabundar

II' I I apitanias", pois assim suas acoes criminosas seriam mais facilmen-

I ) 1 1 ) 1 as e punidas. 0ate de criacao era da cornpetencia do Governador e,III t I \I ld nte Geral, enquanto a instalacao ficaria a cargo dos Ouvidores das

1 1 1 1 1 1 it' ,QS , como legitimos representantes do poder judicial.

C II nto ao nome a ser dado as novas vilas, diz ia textual mente a Carta

lill III ( I 14 de setembro de 1758: "As quais denominareis com os nomes

I t I III ares e vilas destes reinos que bem vos parecer, sem atencao aos

I Il l! I II barbaros que tern atualmente." Mais precisa foi a Carta do Governa-

I It II II rnambuco dirigida aos Ouvidores de cada capitania com data de 29

Ii 1 1 ) 1 1 1 de 1761: "A todas as vi las e lugares que erigir , denorninara Vossa

M t If s o m os nomes das de Portugal que Ihes parecer mais conformes aos

1 1 1 1 1 IYlque se acharem ou as formar, procurando nao fiquem com aqueles

III hi II tem dado a outras novamente criadas neste continente como se1 I 1 I I II I (I relacao do numero treze e solicitando constitui-Ias naquelas par-

It III lU logrem todas as vantagens competentes a f loresceram, como

I M I'ce nao deixa de reconhecer e por este motive e ocioso 0 repeti-

I I I t que desejar obter conhecimento mais aprofundado destes docu-

III IIIIJ P O era encontra- los, na integra, no 1" volume da colecao "Docu-

23

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II

mentos Hist6ricos Municipais" publicados pelo Centro de Hist6ria Municipal

do Recife, FlAM 1985, int itulado "Livro da Criacao da Vi la de Cimbres".

Em face das deterrninacoes acima transcritas, qualquer nova povoacao

que passasse a vila nao poderia conservar 0 primitivo nome indfgena, pelo

que a nossa povoacao da Caicara deveria tomar novo nome.

SOBRAL

Por que motivo foi dado 0 nome de Sobral e por que foi chamadas "Vi la

Real e Distinta"? E esta a indaqacao que tentarei responder.

Em geral , os que ja escreveram sobre hist6ria sobralense repetem uma

versao: 0toponimo seria uma homenagem a terra natal do Ouvidor Dr. Joao

da Costa Carneiro e Sa, portuques presumivelmente natural de localidade

lusa com 0 nome identico. Esta hip6tese e simplista e nunca foi comprova-

da comqualquer documento ou argumento convincente. Como exemplo de

um dos auto res que sugere esta opiniao, transcrevo 0 que afirma 0 ilustre

historiador Raimundo Girao no livro "Os Municipios Cearense e seus Distri-

tos", Fortaleza, 1983, p. 206: "0 nome que substituiu 0 de Caicara foi 0 de

Sobral - Vila Distinta e Real de Sobral, dado pelo Ouvidor do Ceara, Carneiro

e Sa que, conforme se pensa, era natural do Distrito de Sobral, Freguesia ou

Municipio de Vizeu, ao Norte de Portugal". Nestas poucas l inhas ha muitasimprecis6es. Primeiramente, 0 vago "conforme se pensa". Depois, a

anf ibologia dos termos. Em Portugal nunca houve qualquer distr ito com 0

nome de Sobral. Distr ito, ali , corresponde a Estado, no Brasil . Viseu, este

sim, e sede de Distr ito e de Concelho, mas este concelho visiense tarnbern

nao ha local idade com 0 nome de Sobral. No terr it6rio de seu Distr ito, sim,

ha duas localidades com tal nome: Sobral de Papizios, no concelho de

Carregal do Sal, e Sobral, no concelho de Montaqua.

Mas, mesmo que 0 Ouvidor tivesse nascido em local idade .chamada

Sobral, seria autolatria inaceitavel aproveitar-se ele da oportunidade para

desobedecer a lei e homenagear-se a s i mesmo em atitude prepotente e

presuncosa de abuso de poder.

Esta hip6tese nao passa de fruto da fantasia, poisnao ha docurnentacao

que a sustente. E ademais , alern de manifestar cabotinismo por par te do

magistrado, fer ir ia f rontal mente a deterrninacao legal contida na Carta do

Governador Geral , de 29 de abril de 1761, que Ihe ordenava peremptoria-

mente: "A todas as vilas que erigir, denorninara Vossa Merce com os nomes

das de Portugal que Iheparecer mais conformes aos sit ios em que se acha-

24

1 1 1 1 1 1 " , " I' que a terra natal do Ouvidor, pessoa estranha ao lugar, seria mais

I III tlllI'lli eo local?

qu sabemos, de certo com base em docurnentacao, sobre 0Ouvidor

I II \1 1 1 ' 0 e Sa e que a Carta Regia, de 6 de abril de 1769, que 0 nomeou para

Ouvidor Geral do Ceara, vem datada da vila de Salvater ra de

M il II) I de de concelho do distrito de Santarern, no Ribatejo, e que tomou

1t" I ( 1 1 ' 1 Fortaleza a 1 dejaneiro de 1770, como informa 0Barao de Studart

1~III"lJ( 1 1 ' 2 1 Colonia - Datas e Factos para a Hist6ria do Cear", p.324.

I II) 11'105 mais que foi substitu ido , a 14 de marco de 1777, por Jose daI11 II III de Barros, nomeado por Carta Regia de 24 de setembro do ana

III!tllllll.

fGridopara a Bahia, ali tomou posse das tuncoes de Desembargador

o a 9 de maio de 1778, conforme lemos nas "Cartas de Vilhena",

Oficial da Bahia, 1922, vol. 2Q,p. 326. No mais, a docurnentacao

ulr, apresento uma outra hip6tese, f irme em documentos originais,

1 11 11 I I' 8 0 por que a povoacao da Caicara foi elevadas a vi la com 0 nome

"VIIII)I tlnta e Real de Sobral".

" II I I ivra Sobral, como substantivo comum, significa "mata de sobros".

III ,f oral, plantacao desobros, como laranjal, pomar de laranjei ras. 0

II I 1111) irvore dicotiledonea, da famil ia das cupulf feras (Quercus suber),

,l il lll ll lntfssima em Portugal e de cujo tronco ext rai-se a cortica. A grande

1111111( I nola de sobrais,espalhados por todo 0territ6rio portuques, fez com

'III 11(llJ Ie Pais muitas povoacoes tomassem tal nome botanico. Confor-

1 1 1 1 1 I I no "Novo Dicionario Coroqrafico de Portugal" de Amaral Frazao,

I Illllll I IDomingos Barreira, Porto, 1981, ali existem exatamente sessenta

I 1 1 1 1 1 I C I idades com tal d e n o r n i n a c a o . Qual delas foi e p o n i r n o de nossa

Illilllli t. l'anse de Sobral?

opiniao f irmada de que foi a povoacao de Sobralda Lagoa, f re-JI I concelho de Obidos, donde dis ta 4 km. Trata-se de sirnpatica

l,nVI II" 0, com casario construfdo no topo de um monte, a 129 metros aci-

I IIiI t) IIv Ido mar, tendo como centro a pequena matr iz, cujo orago e Sao

IIII II .0vale circunvizinho, ao sope do monte, e conhecido pelo nome

II II I JiliOtl , onde ha uma estacao de estrada de fer ro. A reqiao e ter til,

I lhll ll 111II1 trlgais, onde ainda se veern poeticos moinhos de vento. Visitei-

I I 1 1 1 1 1 1 r n o 0, no dia 4 de agosto de 1986, durante uma das minhas ulti-

25

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mas viagens a Portugal, a reqiao e cortada pela est rada asfaltada que l iga

Obidos a Peniche, terra oriqinar ia dos Frota, que hoje povoam 0 Vale do

Acarau.

Esta Sobral da lagoa e a terra natal do sargento-mor Antonio Marques

l.ei tao, pai de Oui teria Marque de Jesus que foi mulher do capitao Antonio

Rodrigues Maqalhaes, casal proprietario da fazenda Caicara, berco de nos-

sa Sobral cearense, 0 termo de batismo do sargento-mor encontra-se nos

livros de registros ec lesiasticos da freguesia de Santa Maria de Obidos,

guardados no Arquivo Distrital de Leiria, conforme copia que recolhi, pesso-

almente, e que passo a transcrever:

"Aos cinco dias do mes de fevereiro de mil seiscentos e cinquenta e

nove annos eu, Hieronimo de Matos, cura de Santa Maria, baptisei a Anto-

nio, f ilho de Sirnao l .eitao e sua molher Maria Diniz moradores da Dagorda.

Foram padrinhos Manoel Luis e Maria Leitoa do mesmo lugar Daqorda.

Hieronimo de Matos". (Livro Misto de Santa Maria deObidos, anos de 1643

a 1665, f l. 26).

Na epoca deste bat ismo, todaa regiao de Dagorda, onde se encontra a

vila de Sobral da Lagoa, hoje paroquia, pertencia a velhafreguesia de Santa

Maria de Obidos.

o portuques sobralense sargento-mor Antonio Marque Leitao emigrou

para 0 Ceara, no f im do seculo XVII , instalando-se na praia do Siupe, junto

ao porto do Pecern, onde construiu sua casa de morada e uma capela em

honra de Nossa Senhora da Soledade. Conseguiu algumas sesmarias, entre

elas uma na ribeira do Acarau, recebida por dota de seu casamento com

Apolonia da Costa, situada exatamente onde hoje esta a cidade de Sobral ,

como veremosmais adiante. Sentou praca de soldado, distinguindo-se por

sua coragem e sertanista. Eo que consta doseguinte documento, que en-

contrei no Arquivo Historico Ultramarino deLisboa, caixa nQ3, e que passo.

a transcrever:

"Carta Patente de Sargento-mor dos Reformados do distr ito da Vi la deFortaleza, passada a 22 de fevereiro de 1731 pelo Capitao-rnor da Capitania

do Ceara Grande, Leonel de Abreu Lima. Em substituicao a Jose Pereira

Barros, e concedida a merce a Antonio Marques Lei tao, pelo bem que tem

servidoa Vossa Magestade nesta Capitania, em praca de soldado, e na do

Piaui, indo duas vezes em duas tropas que sairiam a dar guerra ao gentio

bravo, em que foi por cabo delas Miguel Pinheiro de Carvalho, onde houve

bastantes mortes e se prisionaram quarenta e tantos, e nesta guerra ao dito

26

, sta r sustentando todos os anos a sua custa as tropas que pass a-

las suas fazendas, fazendo-Ihes nelas consideraveis destruicoes

dos e bestas, havendo-se sempre com louvavel procedimento, muito

zelo do Real service, e ser um homem nobre e dos mais afazendados

capitania, com tres fazendas, e ser capaz de por vinte armas em

11111nha so com os tamulos de sua casa, 0 que tudo me consta por certi -

III I que me apresentou, e por esperar que daqui em diante se havera da

Itll 111 maneira, muito como de conforme a confianya que taco de sua

I H I , hei por bem de 0 eleger e nomear, como pela presente elejo e no-

11111 1 1 1 0 posto de Sargento-mor dos Reformados do distrito da vil la de Forta-

" 1,L one Ide Abreu Lima."

argento-mor faleceu, no Suipe, a 7 de margo de 1758, com 99 anos

e.

o primeiro possuidor das terras, em que foi implantada a fazenda Caica-

I I, r io ex-vereador de Aquiras, Antonio da Costa Peixoto, sogro do sargen-

1 1 1me r Antonio Marques L e i t a o , que as recebeu por data de sesmaria conce-

IlliI' 14de outubro de 1702 pelo capitao-rnor do Ceara, Francisco Gil Ribei-

In, (Cf r . "Datas e Sesmarias", vol, 2, nQ117, p. 101).

I osteriormente, Antonio Marques e Apolonia dividi ram estas terras em

II J lctes para ser ent regues, respectivamente, a t res dos seus sete f ilhos,1 1 1 1 I vieram residir apos seus casamentos. Foram eles: Antonio da Costa

I flit 0, casado com Maria Barbosa dos Santos (Fazenda Cruz do Padre);

,II Marques da Costa, casado com Ana Maria Josefa de Barros (Fazenda

M i rrecas) e Oui terta Marques de Jesus, casada com Antonio Rodrigues

M \ alhaes (Fazenda Caicara). Esta ultima foi exatamente onde hoje esta

lIlrloada a cidade de Sobral. (Cfr. "Cronologia Sobralense", vol, 1Q,paqs.

I~I~,4ge 189).

I Ixemos agora nosso olhar para 0casal que ocupou a fazenda Caicara,

PllI 't r sido 0 berco de Sobral. Apos casarem na capela do Siupe a 5 de

I 1 I r 0 de 1738, Antonio Rodrigues Maqalhaes e Ouiteria Marques de Jesus

V Ir m fixar residencia em sua fazenda. Ai permaneceram enquanto v ive-I 1111,le faleceu a 3 de junho de 1757 e ela , a 31 de agosto de 1759.

/I.~l lhamais nova do casal, Barbara Maria de Jesus, foi ai batizada no dia

III J neiro de 1755 e serviu-Ihe de padrinho de bat ismo 0portuques Jose

Iii) 11'lguesLeitao, tarnbern natural de Sobral da Lagoa de Obidos, primo legi-

11111e Ouiteria, mae de Barbara.

27

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Muito antes de a povcacao da Caicara passar a vi la, nos l ivros deassen-

tos batismais da freguesia local ja aprecia 0 nome de Sobral, quando havia

reterencia a naturalidade do citado Jose Rodrigues l.eitao, entao residente

na fazenda Capim, ribeira do Groairas.

Como exemplo, eis um destes termos transcritos na integra:

"Aos treze dias do rnes de julho de mil setecentos e sessenta e dois na

capel la de Nossa Senhora do Rosario desta frequesia de licenca minha 0

Rdo. Pe. Jose Machado Freire bautizou e Pos os santos oleos a Ursula'

nascida aos tres dias do mesmo rnes, f ilha de Jose Rodrigues Leitao e sua

mulher Joana da Rosa, naturais desta freguesia. Nepta pela parte paterna de

Jose Rodrigues l.eitao, natural de Sabral da Lagaa, f reguesia de Obidos e

de sua mulher Luzia Machado Freire, natural do Para freguesia do Coreayu,

nepta materna de Joao Goncalves Rosa, natural da Ilha Graciosa, e de sua

mulher Florencia Furtado natural de Aracaty. Foram padrinhos Manoel Pinto

de Mesquita sol teiro e Maria Goncalves do Espiri to Santo, mulher de Fel ix

Ferreira Torres, f regueses deste curato, de que fiz este assento emque me

assigno. Ignacio Goncalves da Silva, vice-cure do Acaracu." (Livro de Ba-

tismo do Curato do Acarau, Anos de 1761 a 1764, fl. 42 v.) .

Conforme consta do inventario do capitao Antonio Rodrigues Maqalhaes,

cujo original encontra-se no arquivo da biblioteca da Universidade EstadualVale do Acarau, a fazenda Caicara foi herdada pela citada filha Barbara

Mar ia, que casou, a 9 de setembro de 1766, com 0 alagoano Antonio Jose

Marinho, f ilho de Joao Macedo do Rego e Maria Francisca, naturais de Porto

Calvo.

Quando a povoacao da Caicara passou a vi la, suas terras pertenciam,

portanto, a citada dona Barbara, neta materna do sargento-mor Antonio Mar-

ques l .eitao e afi lhada de bat ismo de Jose Rodrigues Lei tao, ambos portu-

gueses e parentes, naturais da freguesia de Sobral da Lagoa, concelho de

Obidos, Portugal.

Nada mais justo, portanto, que 0 nome desta povoacao portuguesa fosseescolhido para batizar a nova vi la, quando se tratou da preparacao de sua

instalacao.

Diga"se mais que 0portuques sobralense Jose Rodrigues l.eitao: padri-

nho de dona Barbara e Sa mesma familia de seus mais pr6ximos ances-

trais, falecera a 8 de abril de 1773 e fora sepultado na matriz da Caicara,

como consta do termo de 6bito, apenas tres meses antes da criacao da vila

28

II I I ( 11 ) 1' I , quando sua mem6ria ainda estava viva na l e r n b r a n c a e no luto de

Ii Itil U' ntes. Se era obriqacao de lei dar nomes de localidades portugue-

I I 1 1 vas v ilas brasi le iras, nada mais plausivel que fosse escolhido 0

1 1 1 1 1 1 1 1 II \ t rra onde nasceram os mais pr6ximos ascendentes Iusos da en-

I IIIIlIlllll'l taria da povoacao.

linin xposto, mantenho a opiniao de que a cidade cearense de Sobral

II I I III II, au nome da airosa freguesia portuguesa de Sobral de Lagoa de

1 1 1 1 1 i 1 ,

1 \ II[JV vila, como sabemos, recebeu oficialmente 0 pomposo nome deVllnl)l tlnta e Real deSobral". Por que Distinta e por que Real?

I I till! I porque nao tivera origem indigena, ou barbara, como se dizia

1 1 1 1 1 1 , N m fora sede de rrussoes jesuit icas ou de outras conqreqacoes

I II li t I I ,Desde seus prim6rdios, fora colonizada por portugueses, ou seus

lit 1 I Iulcntes diretos, e catequizada por padres seculares ou da Ordem de

Ii I II( r /I 'O,como eram entao chamados. .

t \ poca, 0 Marques de Pombal, prepotente mandatario do Rei Dom

III II I, (I I t llava 6dio contra a Companhia de Jesus e outros missionaries. e

1 1 1 1 1 It n m nosprezava 0 trabalho evangelizador realizado nas povoacoes

1 / ' 1 l iul lo ,As v ilas, quando criadas dessas aldeias de rnissoes, recebiamIIIII,IIII( ntc discriminatorio, como se tossern de segunda categoria e onde 0" I til II (I veria ser destru ido para possibili tar a irnplantacao da nova men-

1 1 1 1 1 1 " II P mbalina secularizada.

1 ' 1 1 1 (U I do, e foi 0 caso de Sobral, as nascidas de colonizacao total-

IIIi II I III nea eram consideradas com ares de nobreza e, portanto, como

iii 1 1 1 1 1 1 , .

I I If II Ilue Real? Porque criada por ordem direta do Rei e com a senha de

I ( 1 ) 1 1 1 ) 1 0 e simpatia.

VIII I II de aldeiasindigenas nao recebia qualquer adjet ivacao. Era1 11 1 1 11 I I I I I lte vi la ou vi la nova, com 0 acrescimo do nome local. Vila mista,

It 1 \ 1 1 1 1 1 1 1 1 Ii habitantes simultaneamente brancos e indios, era real, mas nao

II 1 1 1 1 1 I V I I torrnada de habitantes estritamente de origem portuguesa era

til 1 /1 1 11 1 I ' I. Foi 0 caso de Sobral, exemplo unico no Ceara.

29

II I

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JANUARIA

Para completar 0 estudo diacronico da topon ir nia da terr a sobr alense,

resta lernbrar que a vila foi elevada a categoria honorifica de cidade, com a

tautosa denorninacao de " fidel iss ima Cidade Januaria do Acarau", a 12 de

Janeiro de 1841, pelo entao presidente da Provincia, 0 Padre Jose Martiniano

de Alencar.

POr que Fidelissima e por que Januar ia? Par a responder esta interr oga-

cao, vamos aos fatos.

Nos anos de 1839 e 1840, irrompeu a chamada "r ebeliao dos balaios",

que cornecara no Maranhao, chegara ao Piaui e ameacava penetrar no Ce-

ara. Nascidade disputas politicas entre os partidos Conservador e Liberal,

transformar a-se em movimento separatista liderado pelos conservadores,

chefiados no Maranhao pelo ir requieto Manuel Fr ancisco dos Anjos Ferr eir a,

por alcunha "Balaio".

A rebeliao foi dominada em julho de 1840. Com a queda dos balaios, no

Ceara 0governo foi ent regue ao senador l iberal Pe. Jose Mar tin iano de Alencar

que, a 20 de outubro desse ano, pela segunda vez assumia a presidencia da

Provincia.

Apesar de vencidos,os oposicionistas conser vador es continuavam com

os animos agitados e tentavam fomentar revoltas em varies pontos do Cea-

ra, sendo a mais grave a chamada "sediacao de Sobral", encabecada pelo

cor onel Francisco Xavier Torr es. Em dezembro de 1840, 0presidente Alencar,

acompanhado de pequena tropa, resolveu pessoalmen te dirigir-se a Sobr al,

com 0 tim de sufocar a rebe liao local. Foi hospede do capitao- rnor Francisco

de Paula Pessoa, chefe do Partido Liberal na reqiao. A presence do Presi-

dente na cidade excitou ainda mais seus adve rsaries do Par tido Conserva-

dor que, na noite de 14 para 15 de dezembro, resolver am ataca-lo em rnovi-

mento armado, com 0 intento de prende- lo, derr uba-lo do poder e proclar nar

Presidente Provisorio da Provincia 0 conservador Dr. Miguel Fernandes Vieira.

A luta perdurou durante dez horascorn ataques a bala de ambos os lados,saindo vencedor 0 Presidente Alencar.

Dominada a sedicao, Alencar tratou de retornar a Capital, sentindo-se

encorajado, uma vez que sua vitoria em Sobral serviria de exemplo a outras

localidades cearenses, que tambern tentavam sublevar -se.

o nome da via publica, em que estava a residencia do Senador Paula,

pas sou a ser Rua da Viloria, hoje Avenida Dom Jose. A casa, em que 0

30

t 1111111)1I no r montou sua guarda, eo atual predio onde funciona 0Cole-

1111',11111'I) •

I I III () rim de manifestar sua oratidao aos habitantes de Sobral que 0

III !III vltor!a, 0 Presidente Alencar resolveu elevar a vila a categoria de

It 11111 ( I u- l he 0 nome de f idel lssima Cidade Januaria do Acarau, median-

111 I I 1 1 9 - 0 da Lei nQ 229, de 12 de janeiro de 1841. Qualificou-a

11111111111, pe r ter se manifestado tao denodadamente fiel ao seu governo.

I 1111\ (II onel tecou e honrou 0 povo sobr alense. Mas, na o foi feliz com a

111111111\( I nome, ret irando Sobral e 0subst ituindo por Januaria. Tal altera-

I II!II II \ I' dou a populacao.

1I111111r l9ao do toponirno pretendia ser uma homenagem a familia do

11111'1IIlnl Dom Pedro II, na pessoa de uma de suas irmas legitimas, a

11111II \ II n Januaria, entao com 19 anos (1822-1901), conhecida posteri -

IIIIIIIIIII! I 10 nome de Condessad'Aquila, porter casado com 0 principe

1111· (I II r on-Sici lias, Conde Aqula.

I)(lOtt, eonferir 0 titulo de cidade nao acrescentava nada, sob 0 ponto

tin vi II I rnlnistrativo e politico, as prerrogativas de vila. Era mero titulo

I tll111111111Em Por tugal, ainda hoje, ha importantes e populosas aglomera-

I lu 1111 111 ,que conservam a denornmacao de vilas e sao maiores do que

11111111II I, madas cidades. 0povo sobralense, por isso, aceitou a honra

II t III f II I III ,mas rejeitou a rnudanca de nome. E cornecou a protestar e a

I Iljll '1111I tornasse a anterior denominacao de Sobr al.

I 111111I u o Alsncar permaneceu no poder, ate 6 de abril de 1841, a reivin-

1111I, III ()I uler nem sequer foi levada em consideracao, A 9 de maio, assu-

111111lill , 1(1ncia da Provincia 0brigadeiro Jose Joaquim Coelho, a quem a

I II 1 I I Mll ll ic ipal d ir ig iu varies ofi cios soli ci tando 0 retorno do nome Sobral.

II III I I I II eferir 0 pleito dos vereadores locais, uma vez que 0 governo

1IIIIVllii III t ml desgostar a familia de Dom Pedro II, com a rejeicao do

11111111111ua l rma como eponirno da nova cidade.

IltG, depois de muitas marchas e contramarchas, a exiqencia do

"IVII Ii II II 11 I a. Pela Lei nQ244, de 25 de outubro de 1842, assinada pelo

Ilit 11111111o Joaquim Coelho, a cidade voltou a denominar-se Sobral,

III" III qlll It hOje identifica a prospera e heraldica capital do norte do Esta-

I It I 1111111J 1IL19.I 'i apermaneceu oficialmente durante um ano, nove meses

II I III, m so povo nunca 0 aceitou.

III 11111! III .n 0 era justo que aqui se resguar dasse a memor ia da pr ince-

hlllll III I, fl ur Iheia a historia local, em detrimento da homenagem a

31

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terra natal dos ancestrais portugueses daqueles que vieram construir a fa-

zenda Caicara, berco da atual cidade.

Caicara, Vila Distinta e Real de Sobral, F idelissima Cidade Januaria do

Acarau e simplesmente Sobral sao quatro toporumos que, por si sos, reve-

lam e resumem os principais marcos, que div idem e assinalam a evolucao

politica e social da qlonosa.historia sobralense.

Passo agora a transcrever 0 texto integral das duas leis referentes aelevacao de Sobral a categoria de cidade e ao retorno do primitivo nome:

"LeinQ229

Joze Mart in iano d'Alencar, Presidente da Provincia do Ceara. Faco sa-

ber a todos os seus habitantes, que a Assemblea Legislativa Provinc ial

Decretou e eu Sanccionei 0 seguinte:

Art. 1Q- Fica elevada a cathegor ia de Cidade a Villa do Sobral com 0

t itulode Fidelissima Cidade Januaria do Acaracu.

Art. 2Q- Ficam derrogadas toda as disposicoes em contrario.

Mando portanto a todas as Authoridades a quem 0conhecimento e exe-

cucao do refer ido Decreto pertencer, que 0 cumpram e facarn cumprir taointeiramente como nel le se contern. 0 Secretario desta Provincia 0 Iaca

imprimir, publicar e correr. Palacio dogoverno do Ceara em 12de janeiro de

1841, vigesimo da Independencia e do Imperio. Joze Martiniano d'alencar.

Nesta Secretaria do Governo do Ceara foi sellado e publicado 0presente

Decreto em 12 de janeiro de 1841. Francisco Esteves d'Almeida.

Registrado a fl. 17 do L.Q2Qde Leis Provinciaes. Secretaria do Governo

do Ceara em 19dejaneiro de 1841. Lourenco Joaquim de Miranda."

"Lei nQ244

Jose Joaquim Coelho, Presidente da Provincia do Ceara. Face saber a

todos os seus Habitantes, que a Assemblea l.eqislat ivaProvincial Decretou

e eu sanccionei a Hesolucao seguinte:

Artigo 1Q- Ficam elevadas a cathegoria de Cidades as Vil las do Aracaty

e leo, que terao a mesma denorrunacao.

32

1 \1 1 1 1 1 Q - A Cidade Januaria se denominara d'ora em diante - Cidade de

1 1 1 1 1 II

III In ' W • Ficam revogadas todas as disposicoes em contrario.

Mlllilin ortanto a todas as Authoridades, a quem 0conhecimento e exe-

1 Iii 1 1 1 1 1 r f rida ResoluC;;aopertencer, que a cumpram e fayam cumprir tao

Iliit Iltlllllllt , como nella se contem. 0 Secretar io desta Provinc ia a Iaca

II 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1I I ubl icar e correr. Palacio do Governo do Ceara, em 25 de outubro

II 1 1 1 1 1 ' 1 , v ia sirno primeiro da lndependencia e do Imperio. Jose Joaquim

1 1 1 1 1 1 1 1

cretaria do Governo do Ceara, foi sellada e publicada a presente

II I l m 25 deoutubro de 1842. Francisco Esteves d'Almeida. Regis-

I , I t ! I fl, ~ll do L.Q2Qde Leis Provinciaes. Secretaria do Governo do Ceara,

'III I II utubro de 1842. Jose Antonio de Vasconcelos Tucum."

33

II 1"1

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IONEIRISMO DO PRIMEIRO

CURA

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Vis ta de u ma velh a ru a de A lfam a, L is boa, terra natal do Pe. Joao de

M atos M o nte iro , prim eiro cu ra .

36

I j 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' 1 )a ce rd ote a a ss u m ir 0e nc a rg o d e o rg an iz ar h ie ra rq u ic ar ne nh t e

I I I II lI t 1 11 1II) ira do A carau fo i 0 P e. J oao de M a tos M onte iro , conh ec ido

I 1 11 11 ,tlII IIII pe lo nom e h ipocoris tico de P adre M a tinh os . C hegou a es ta

I I I1 1I I II 1 /1 6 e nela perm aneceu du rante o ito anos . A e le deve-s e 0t raba-II I 1 11 11 11 11 11I (I c on stru i r a n as ce nte c iv i liz ac ao , e dific ar a s p rim eira s c ap e-

II • 1 1 1 1 1 1 1 1I t S p rim itiv as fa milia s, firm ar o s b on s c os tu m es , e sta be le ce r

I" 1 1 111 1 11 1 1 a tiv id ad e a gr ic ola e p re st ar a ss is te nc ia r elig io s a a popula-

1 1 1 1 1 1 1 1(I I p ers a, q ue c orn ec av a a d om ic ilia r-s e p elo s s erto es a in da er-

I II " 1 1 11 10 pas tora l, apesar de m ulto tum ultu ada, im plantou ra izes fu n-

It IIti 1 11 111 .1 n cia d os p rim eiro s h ab ita nte s d o V ale d o A c arau . In fe liz me n-

II 1 1 1 1 1 1 1 1urn hom em esqu ec ido, c u ja m em oria exige a ju stica qu e se ja

II I 1 1 1 1 11 1 1 1 1 1

1 1 I1 l1 1 ,,"" nts , a Ju nta das M is s aes do B is pado de O linda ja havia se

1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1I1 i a cateq ues e dos ind igenas natives , entao m aioria da popu -

I Ill' ""II I m o o s acerdotes para a ldea-los e ins tru i-los na fe cris ta . N aloti I "rl ll ,l I I) iba es tiveram os jes uitas de 1656 a 1759, c om algu mas in ter-

I I I IH 11 1 '1 11s ua vez, no antigo d is trito do A carau ja h av iam s ido criadas

I 1 1 1 II I M i s soes , entregu es a padres s ec ulares e lo ca liza da s n as

Iii 1 11 11 t l t l tres princ ipa is rios da reqiao: 1 - M is s ao d os A c on gu ay us ,

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1t II I t lxo Coreau o u C a m oc im (1703); s ob a direcao do Pe. A nton io de

I " 1111 I I : i • M is s ao d os T re rn ernb es d e A lm of ala, e ntre gu e ao s c uid ad os

It] 1 '1 ,II j I (I B orges N ovaes , rib eira do ba ixo A racatim irim ; 3 - M is sao

II I Iii 1 1 1 1 rill ira do m edic A carau , a ldeados na serra da M eru oca, s ob a

1 11 I II ilil I . J os e T eixe ira d e M ira nd a (1712). E stes tres s ac erdotes , po-

1 11 11 11 1 11 11 11on ario s d e a ld eia s in dige na s, s em ju ris dic ao te rrito ria l d a

1 1 1 1 1 1 1I ) 1 1 1 ra rq u ic a d a I gr eja .

II I I I H I ( Ie C u ra to , c om f re gu es ia te rrito ria l e v iq ario p ro prio , d ev eu -s e

I 1 11 11 1)(1 0 P e. Joao de M atos M onte iro , q u e fo i 0 p rim eiro titu la r d o

N. r a. d a Conceicao da R ibe ira do A carau , criado a 28 de m arco

37

I ' 1 1 1 1 1 1 1 1

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II .

DADOS BIOGRAFICOS

Pouco sabemos da vida do Pe. Mat inhos, a mingua de docurnentacao

coeva, mas este pouco e muito r ico em merecimentos e acoes decididas.

Os documentos que sobre ele possuimos referem-se ao perfodo em que

esteve no Curato.

E incontestavel que nasceu em Lisboa e veio para 0 Brasil na primeira

decada do seculo XVIII, quando esteve pela Bahia. Ja em 1712, ten tara

retornar a Portugal, frustrando-se seu intento porque, como informa 0Barao

de Studart , naquele ana "indo da Bahia para Lisboa, donde era fi lho, numaernbarcacao de aviso mandada pelo governador, foi preso pelos franceses

mesmo a barra da cidade." ("Dados e Factos para a Hist6ria do Ceara -

Ceara Colonia", 1§Ed., p. 143). Sua natural idade l isboeta e atestada tam-

bern por alguns documentos particulares, como 0 testamento do capitao

Domingos da Cunha Linhares, que muito 0conheceu, onde se le: "Declare

que devo ao capitao (sic) Joao de Matos Monteiro, padre, ou seus herdeiros,

cura que foi nesta f reguesia do Acaracu, e como se foi para Lisboa,donde

era natural , me deixou por seu procurador para as suas cobrancas e cobrei

oitenta mil reis, escrevi-Ihe para disposicao delas, nunca tive resposta e por

isso e preciso satisfazer 0que de direito, tao logo." ("Cronologia Sobralense",

I, p . 245).

Logo que conseguiu escapar das rnaos dos fl ibusteiros franceses, dir i-

giu-se a Pernambuco com a intencao de viajar para 0Ceara, onde ja residia

seu tio materna Pe.Joao de Matos Serra, entao viqario geral da Capitania e

paroco da freguesia do Forte, com sede controvertida, localizada as vezes

ali e as vezes no Aquiras, Na ocas iao, encontrou-se no Recife com 0 tio,

que coinc identemente la estava em viagem de service. Em fevereiro de

1716, ambos embarcaram para 0Ceara, quando 0 tio, tarnbern lisbonense,

reassumiu suas tuncoes paroquiais. Pe. Joao de Matos Serra dirigiu a Igreja

do Ceara de 1698 a 1726 e viera para 0Brasil no infcio da decada de 1690,

tendo residido inicialmente no engenho Inhamuns, a margem direi ta do rio

Ipojuca, distante duas lequas do Recife. Tal engenho pertencia a urn tio,

conforme consta de uma Carta do Bispo de Pernambuco ao Rei , cujo origi -nal encontra-se na Caixa 1,referente ao Ceara, Docurnento nQ53, guardada

no Arquivo His torico Ultramarino de Lisboa, 0 qual ali pessoalmente

compulsei.

Pe. Matinhos era homem bastante culto, formado em Canones pela Uni-

versidade de Coimbra, mul to habil na arte de redigir , conforme se veri fica

pela leitura de alguns papeis que deixou, escritos em linguagem tersa e com

38

1 1 1 1 1 1 1 1 ( t llgrafia. Mui tas vezes seu nome aparece com 0 titulo de "Iicencia-

" 1 1 " , II I I de sua formacao coimbra.

All ( .1 Ggarao Ceara em 1716, Pe. Mat inhos fbi logo designado, por seu

I I I , II " \ Ir a r ibei ra do Acarau desobrigar os tieis do preceito quaresmal e 0

I t 1 1 1 1 tanto zelo, que os f ieis 0 pediram para permanecer entre eles. 0

II I l l t ' t prometeu atender ao desejo dos seus f regueses, mas sob a con-

II I IIIi eer criado oficialmente umCurato, compreendendo todas as ver-

I III( I tres rios, territorio corresponde ao interior cearense limitado ao

I I I . 't II III vai da foz do rio Coteau a do Mundau, servindo de fronteira, a

I III f l sui , as terras do Piau!.

t rri t6rio, no entendimento do Pe. Matinhos, estariam inclufdas as

t M I Oes Indfgenas dos padres seculares e a Missao da Ibiapaba dos

I 1 1 1 1 1 I S quais passariam a depender de suajurisdicao. Ao saber de tal

1 '1 It II •os rel ig iosos da Companhia de Jesus, sediados em Vicosa, rea-

l i l t IIIiI r [ It mente contra 0 projeto, nascendo daf series desentendimentos

1 1 1 1 I luas partes. 0 caso foi levado ao Bispado de Olinda, por denuncia

ill I IUII(t s, eo Pe. Nico lau Paes Sarmento , viqarioqeral da Diocese de

I t 1IIIIil1l1 woo,enviou urn mandato rnonitorio ao Pe. Matinhos, com data de 7

!Ill ,,"ll1l r de 1718, proibindo-o de intrometer-se na vida dos missionaries

, I . , 1 1 1 1 1 1 \ C I . sob pena de excornunhao.

M III ssirn, a populacao da ribeira do Acarau, por suqestao do proprio

p, M ll1nll08, resolveu levar a ideia em frente, tendo dirigido uma peticao ao

, , . tI l t I r I do Ceara, Pe. Joao de Matos Serra, em que solicitava, em

,.Illlll II t lxo-assinado, a criacao do Curato e a norneacao do primeiro viqa-

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 os do sobrinho.

I II 1 1 ( nh oendo 0mandado rnonitorio que tinha chegado diretamente por

1 1 I1 1 1 1 li ! I I dos jesuftas, Pe. Serra assinou Provisao, com data de 28 de

1 1 1 1 1 1 (I ( II 1 72 2, pela qual 0 l icenciado Pe. Joao de Matos Monteiro foi nome-

.tlil II s u r Ida Freguesia de Nossa Senhora da Conceicao da Ribeira do

1 1 1 1 1 1 1 II". IE tava criado 0Curato e, consequenternente, orqanizada hierar-

' 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 lit Igreja na reqiao.

II 1 1 1 I ( rno dia e outra Provisao autorizando 0 novo cura "a exhumar e

I 1 4 1 1 J 1 ' t u r em sagrado aos cadaveres enterrados pe lo campo em sua

II (II i I , , " Como e de obriqacao eclesiast ica, tais Provisoes deveriam ser

I II Ht! I1I1I is pelo Bispado de Olinda e temia-se, na ribeira do Acarau, que

II II I I 1 1 1 1 oonfi rmadas. Tal porern nao aconteceu, pois a 16 de setembro

IIIIII III no, 0Cabido de Olinda, entao sede vacante, homologou as

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duas Provisoes do viqario geral do Ceara e, nodia 18, ernitiu nova Provisao

nomeando 0 Pe. Matinhos para 0 cargo de "Viqar io da Vara da Ribeira do

Acarau", por tres anos, ti tu lo que Ihe dava jur isdicao sobre a acao pastoral

de todos os sacerdotes dentro daquele vasto territ6rio. Eo que significava,

na epoca, a tuncao de "Viqario da Vara", hoje chamado viqar io foraneo.

Enquanto a trarnitacao protocolar da preparacao destas Provisoes decor-

ria tranquilarnente na Curia Episcopal de Pernambuco, os animos andavam

acirrados na serra da Ibiapaba e na ribeira do Acarau. A crise chegou ao

galarim durante 0novenario de preparacao para a festade N.Sra. da Assun-

cao, padroeira da Missao de Vicosa, de 6 a 15 de agosto desse mesmo ano .de 1722.

Na ribeira do Acarau corria 0 boato de que 0 Pe. Joao Guedes, visitador

dos jesuftas, havia chegado do Reino, trazendo ordem expressa de prender

o cura Pe. Matinhos. Na Ibiapaba, por sua vez, corria a not .cia de que o-Pe.

Matinhos estava organizando uma tropa montada e com muita arma de fogo,

para i r a Serra no dia 15, festa da padroeira, com 0 f ito de a torca expulsar

dali os jesuftas. A boataria chegara ate ao Piauf, de onde viriam fndios arma-

dos, sob 0coman do do viqario Pe. Manuel Alvares da Fonseca, para defen-

deros religiosos. Dizia-se mais que 0 cura encarregara a Berto Lobo e Henrique

da Rocha a tarefa de percorrer 0curato convidando a populacao a ir a Serra

defender 0cura ameacado de prisao. Henrique, perturbado pela participacaodos tumultos, ter-se-ia suicidadocom um tiro. Tarnbern 0coronel Sebastiao

de Sa, potentado da reqiao, decidira-se a ir defender os jesuftas pelas ar-

mas. 0 clima tornar-se muito tenso e havia muito desassossego pelos ser-

toes e pela serra.

Como sempre acontece nesses ocasioos de v iolencia, a lmaqtnacao e

geralmente mais viva do que a realidade dos fatos. 0 certo e que nada disso

aconteceu, mas as atoardas fer iram de cheio a honra dos litigantes, e 0

caso foi parar na Justica, civil e eclesiastica, em processos bastante tumul-

tuados que envolveram quase toda a populacao, que se dividiu. Osjesu ftas

processaramo Pe. Matinhos no foro ecles iastico e 0 cura processou os

inac ianos no foro c ivil, como adiante se vera. Pe. Matinhos foi obrigado aabandonar 0 Curato um ana e meio antes de terminar 9 mandato com que

fora nomeado e, ap6s tenaz res is tencia, teve de retornar a Lisboa, onde

faleceu em 1730.

Nao foi somente na ribei ra do Acarau que aconteceram casos de desen-

tendimentos entre curas do clero secular e rel ig iosos da Companhia de Je-

sus. Em Belern do Para, por exemplo, houve um fato semelhante, como

40

'II III (I uma Carta do Pe. Antonio Vieira ao Pe. Geral Gosvfnio Nickel,

1 1 I 1 I 1 1 1 r io Maranhao a l ' 1 de fevereiro de 1660, quando 0 viqario local Pe.

I' dill Vlrl I vivia em desavencas com os jesuftas, "pretendendo que os

1 1 1 1 I I I) dres das aldeias fossem seus suditos, emquanto a cura das al-

III I I IIpcndo-lhes preceitos sobre esta materia com penas de excomunhao.

(I II , Serafim Lei te, SJ, "Novas Cartas Jesuft icas", Col. Brasil iana, Vol .

I I I rnp. Ed. Nacional, 1940, p. 279).

11 I1~r dos larnentaveis incidentes contenciosos, durante os oito anos

1 1 1 1 1 1 1 1 I .Matinhos permaneceu na ribeira do A c a r a u , desenvolveu ele um

II 1 1 1 1 1 1 1 t) idrniravel de implantacao das bases da orqanizacao s6cio-religiosaII 1 1 1 1 !l nte civilizacao local.

I JII I I I d o aqu' chegou em 1716, encontrou series problemas a resolver,

I I tillllll II Iemesmo narra em uma justiticacao, que adiante sera transcrita,

III 1nvolveu ingente estorco para tudo remediar.

I III r urno, com base nos documentos originais disponfveis, destaca-

1 1 1 1 1 Ii [ I I " I S de seus t rabalhos pastorais, pelos quais poderemos avaliar 0

1IIIlIlin d sua acao pioneira.

! J I I oca, ainda havia muitos indfgenas a domesticar e, certa vez, foi

1111",1111) pe r eles no sft io Pacuja, a ribanceira do riacho Taipu, nascente' ' 1 1 1 t i l) 1'10Coteau e da Ibiapaba, dos quais milagrosamente escapou com

II h i I siao, estava em companhia de Bento Pereira Lemos, Joao Neto

hI ! 1 1 1 [ ( . ) ereira, irrnao de Cosme Gama, portugueses que testemunharam

II II 1 1 t 1 1 1 0 e 0 ajudaram a fugir.

till f ta de secas no perfodo, mas de muitas enchentes de rios, que

l~ jV p 1 11 l1 1 ~ 5 vezes de atravessar a nado, com os ornamentos l iturqicos, s6

1 1 1 1 1 I I Iii n r aos fregueses na adrninistracao dos sacramentos, com distan-

II ( 1 1 1 1 1 1 II'CO, dez e vinte lequas. la perdendo a vida, diz ele, nos rios Groafras

IM 1 1 I I I ' I rs, bem como estivera quase afogado no rio Acarau, para atender

" " 1 1 1 1 ( ( Ito pascal ao freques Joao Fernandes Perei ra, mor.ador no POyO

1IIIIIn

li t I ~( rrl torio do Curato, encontrou edi ficadas apenas duas capelas de

'1 1 It Il l1dlgena a da serra da Ibiapaba e a pequena e l itoranea ermida dos

I I I III 1 1 1 1 1 1 ,em Almofala, muito distantes uma da outra. Por isso, redobrou

I II i l l ( P ra levantar mais duas: a do sft io Sao Jose (Mutuca), do instituidor

I II' II I lx de Cunha Linhares (1718) e a de N.Sra. do L ivramento do Para

IIrll; 1 1 1 1 1 0 ) , do instituidor Cap. Domingos Machado Freire (1719), ambas ja

41

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conclufdas e em pleno funcionamento. Obteve l icenca para levantar rnais

duas, que deixou em construcao: a de Santo Antonio de lbuacu, cujo instituidor

era 0 cornissar io Pedro da Rocha Franco, e a de Santo Antonio do Olho

d'Aqua (Coreau), do Cap. Rodrigo da Costa Araujo e sua mulher Juliana

Ferreira de Barros. Em 1723, andava angariando esmolas para iniciar a cons-

trucao da futura matriz, cujo localja escolhera no Riacho Guirnaraes (Groafras),

com 0orago de Santa Maria, para cujas obras ja obtivera a soma de quase

quatrocentos mil reis.

A situacao mora l da populacao branca era deploravel, pois quase nao

encontrou homens casados na freguesia. Uniu sacramental mente muitos."homens brancos filhos de Portugal com as fndias, com quem viviam de

portas a dentro", e separou alguns, mesmo constrangidos. Em um s6 dia,

na fazenda Almas de Antonio Te ixeira de Carvalho, ribeira do Jaibara,

matr imoniou doze casais. Com isso reformou moralmente a freguesia e f i-

xou a populacao por este sertao, propiciando 0 cultivo da agricultura, quando

antes os moradores viviam vadios e nao tinham residencia certa. Esta pro-

videncia favoreceu tarnbern a fazenda real, que passou a ter rendimentos,

pelo que "nao s6 tem fei to service a Deus mas tarnbern a Sua Magestade".

Este estorco de moralizacao trouxe-Ihe muitos vexames, especialmente

por parte do potentado coronel Sebastiao de Sa, rico proprietario de muitas

terras, que v ivia em concubinato com a fndia Madalena Saraiva, com quem.ja t ivera dois f ilhos e nao queria casar religiosamente.

o coronel Sebastiao de Sa cedeu as pressoes do cura e dos fieis , mas

de uma inimizade rancorosa que guardou contra 0sacerdote, tendo casado

com Cosma Ribeiro Franca. 0coronel nunca perdoou a int ransiqsncia do

cura e, por isso, associou-se aos jesuftas e tudo fez para conseguir a remo-

cao do sacerdote. A populacao t inha medo das represalias do atrabil iario

coronel, pois contra ele ja havia algumas suspeitas de crimes de assassina-

to. 0caso foi parar na Corte, 0coronel foi preso e remetido para a cadeia da

Helacao da Bahia e 0Pe. Matinhos foi substitufdo pelo Pe. Pedro da Cunha

de Andrade, coadjutor da freguesia da Fortaleza do Ceara desde 1717, que,

nomeado pelo Cabido de Olinda, veio para a ribeira do Acarau, mas pelapopulacao foi impedido de tomar posse. varies abaixo-assinados foram diri-

gidos ao Rei contra 0comportamento moral de Sebastiao de Sa, como vere-

mos adiante.

Pe. Matinhos teve 0 consolo de receber sol idar iedade da maioria dos

habitantes e de varies colegas sacerdotes, dentre estes destaco a certidao

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tI , I' I Ilx Machado Freire, v iqar io da matr iz do Corpo Santo do Recife e

I" Irl! IVI I tador dos sertoes do Norte:

"t III II I do Felix Machado Freire, confessor e pregador actual no Bis-

I ' " I", Ii llcclte, Certifico que achando-me nafreguezia do Acarau, em tern-

1 ' ' ' . 1 1 I III II 0 Rdo. Pe. Antonio de Andrade Araujo visi tou a dita f reguesia por

I I111111II 10muito Reverendo Cabido, ouvi e era fama publica que Sebasti-

. . l i t I, notoriamente inimigo e perseguidor do Rdo. Pe. Cura Joao de

Iii, M l m t iro, andava solicitando testemunhas para culpar 0dito Rdo. Pe.

I 1111 1 " r It1te0 Rdo. Visitador Antonio de Andrade em uma justificacao que

1,,11 I I bredi to Pe. Cura ti rava, por sua vez que na Visi ta 0 nao culpavaII 'I I lwma, como consta do Livro da Visi ta, na qual [usti ficacao jurou

It t II tl e Sa, curibocas e mulatos, todos da sua taccao e perjures ja

1111 I I I II s emjuizo, e asim mais certif ico que 0 escrivao da Visita Manoel

I t till ICansado, cleriqo in minoribus, me disse que conhecia pelo jurar

" I I II munhas a falsidade delas, porquanto havia t res para quatro annos

III' ~ jlt tll1 ll ido aquela freguezia do Acarau e sobre certos i tens que eles

I H I H 1 1 1 1 ! ' I ! h ouvido a Sebastiao de Sa muito contrario, e assim mais a

Itlill II II I as; e por assim passar na verdade e me ser pedida esta, a

1 " q J I p t I' mlnha let ra e signal e 0 jurarei, se necessario for, in sacris. Recife

',I III IIllt ueo, 20 de agosto de 1725. Felix Machado Freire." (Documento

1 1 1 1 1 1 " " Ii 1 1 Arquivo Hist6rico Ultramarino de Lisboa, que pessoalmente copiei

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ) ,

I 1 1 1 1 II \ I Pe. Sera fim Leite, em sua "His t6r ia da Companhia de Jesus

"" III I I I " , V I. 3, p. 68-69, da sua versao sobre 0 caso e diz que 0 Pe.

1 1 1 1 1 1 1 1 nvlou um requerimento ao Rei, pedindo merce dos ~eus services

IIt III li t I: "0 Conselho Ultramarino, em 1726, examinou-o e declarouj i l l " I, II ) 1'6\ digno de rnerce", mas antes de "exemplar castigo, com 0

I r 1 1 1 1 1 1 1 1 IV 1 ' 6 0 e revoltoso". E achando-se ele entao nacorte, foi-Ihe proibi-

t'l 1 1 1 1 0 in rasil, sob pena de se dar por desnaturalizado". 0 processo,

I' I III, ill I rrsu no Bras il, isentou Pe. Matinhos detoda e qualquer culpa,

II I 1 1 1 1 lilt

43

I I 1 1 1 1 1 1 I 1 1 1 1

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REPRESENTAC;OES AD REI

Como, muitas vezes, a melhor defesa e 0 previo ataque, os moradores

do sertao da ribeira do acarau, com 0fim de defender 0seu cura Pe. Matinhos,

anteciparam-se no enviar representacoes ao Rei contra seus principais

desafe tos os jesuitas da ib iapaba e 0 coronel Sebasriao de Sa. Somente

depois, estes contra-atacaram pela mesma via.

Esses documentos encontram-se no Arquivo Hist6rico Ult ramarino de

Lisboa, guardados na Caixa n9 2 referente ao Ceara. Alguns conservam

linguagem comedida, enquanto outros descem a ataques pessoais contra ahonra e a vida moral dos lit igantes. Por amostragem, transcrevo abaixo tres

destes papeis, cujas copias possuo em microfi lmes. A leitura atenta des co-

bre neles preciosas intormacoes, muito uteis para a recornposicao da histo-

ria dos prirnordios da colonizacao do Vale do Acarau.

1 - Com data de 25 de janeiro de 1724, os moradores do "sertao da

Ibiapaba" (sic) enviaram ao rei Dom Joao V a seguinte representacao contra

as aldeias dos jesuitas:

"Representamos a V. Magestade os abaixo-assinados atestando e certi-

ficando 0 quae pouco util e ao service de V. Magestade e ao de Deus N.

Senhor a situacao da Aldeia que os Padres da Companhia conservam naSerra da Ibiapaba e as razoes deste inconveniente sao os seguintes:

As aldeias dos Indios se conservam para os mansos sefazer guerra aos

brabos e assim se devem arraiar naquele lugar mais vizinho ao gentio brabo

e aonde faz maior invasao e nao na dita ser ra, que para a parte do sui ate ao

Rio Grande, que tarao duzentas lequas, e todos estes sertces que entre a

dita distancia estao muito desabitados e limpos do gentio brabo, onde nao enecessario detensao mais que ados habitadores; e para a parte do norte Ihe

f icam os settees dos Alongases, Piaui e Parnahiba, sertoes mui dilatados e

muito invadidos do gentio brabo da parte do Maranhao, e como a Aldeia da

Ibiapaba Ihe fica distante, mais de um rnes de viagem, e sobretudo isenta do

governo do Maranhao, e mais conveniente que V. Magestade a suje ite ao

dito governo, mudando-a para mais perto, para se fazer guerra ao gentio queinfesta aqueles sertoes e nao conservar-se naserra da]biapaba, onde quan-

do se hao de mister e necessario um mes para um aviso e do is para sua

marcha, e desta sorte nunca chegam a tempo que possam valer aos

habitadores daqueles sertoes, por cuja causa sucede muito est rago e rnor-

tandades, e nao taca a V.Magestade duvida 0 parecer que os sertoes do sui

f icam desamparados, porque 0 Ceara, que fica no centro deles, se acha

com cinco aldeias de Indios, que sao os a quem se deve desinfestar esta

44

~---------.----

" 1 1 1 1 1 1 II do gentio e nao aos da serra, a quem V.Magestade deu 0 prernio

I III il merec ido por intormacao falsa dos Padres da Companhia que os

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 ' tr m, e ja que levaram 0 prernio antes da vistoria de justica e 0 nao

1 1 1 1 1 1 Ii r no lugar onde 0 deviam conseguir ; e f ieV Magestade da nossa

"II Iiii 1 1 ,Ia e amor de vassalos, que e esta a realidade e Ihe asseguramos

It II 11()de juramento dos Sanctos Evangelhos.

1IIIIn causa eficiente e instrumental da dita aldeia, se nao mudar para

1 1 1 1 1 1 1 l 'l tl l e conveniente, sao os Padres da Companhia pela conveniencia

lilt IIlI m na dita serra e esta servindo so de abuso de of ensas de Deus e

! t 1 l 1 ' 1 1 1 II 5es com os moradores c ircunviz inhos e os mesmos Padres pelo1 1 1 1 1 1 1 1 I' andale que nela causam, muito alheios da regra de Santo Ignacio.

~ Id lill razil, clima onde os homens criam uma segunda natureza, e como

II II\I unvenientes a V.Magestade representamos."

',t II I m-se dezenas de assinaturas, na maior parte i leglveis. Em outre

1I'Ilitl Iii XO , ha graves acusacoes contra 0 Pe. Ascenso Gago e Pe. Fran-

I I II (I Llra, ambos ex-superiores da Missao da Ibiapaba.

I 1 \ de janeiro de 1725, quando Pe. Matinhos ja tinha se retirado do

III 1 i 1 1 , 0 Pe. Joao Guedes, SJ, v isitador das Casas da Companhia, reme-

·11 III 11eias seguintes "queixas contra 0 Pe. Joao de Matos Montei ro,

11 I llinte secular e cura que foi da freguez ia do Acaracu, na Capitania doI 1 1 , \ ( I' rides":

UII inco no ana de 1713 houve nos sertoes do Brazil aquela grande

1 1 1 1 1 tV I ° do gentio que pas em mani festo r isco as capitanias do Ceara e

1 , 1 1 ' 1 1 1 1 1 ( 1 me mandou 0 governador de Pernambuco, Felix Jose Machado, a1 1 ' 1 1 1 1 1 1 1 1 do Ceara a f im deque tivesse mao nos indios da l ingua geral, para

'III I t l A o agissem com os tapuias levantados, e porque nesta dil iqencia

III I It Ilv pouco menos de um ano, tive ocasiao e tempo de observar 0que

II II III eva e com grande maqoa do meu coracao reparei na excessiva

' 1 1 1 1 1 1 I m que viviam os moradores, sendo mui raro aquele que nao tivesse

11 1 "II C sa alguma india tirada das aldeias, usando dela para ofensa de

II' Ihegando depois a Pernambuco, dei.parte ao Bispo, 0qual loqo pas-'II I I I 1 I 1 Pastoral em que pronunciou excomunhao contra todos aqueles

I 1 1 1 "lido em casa alguma india ti rada das aldeias, notermo de tres dias a

1 1 'Ihll jnsse e repusesse nasua aldeia. Esta Pastoral se publicou emtodas

I i t i l II U S, e com proveito, porque alguns, com medo da excornunhao, lar-

III 1 1 1 1 I Indias que tinham em suas casas, e muitos outros de fazer 0

o nao fora a errada doutrina do Pe. Joao de Matos Monteiro, 0qual

U a proferir palavras mui indecorosas contra a dita Pastoral, e a

45

II"

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nao l igava e que eram bem que os homens, porfalta de mulheres, se cornu-

nicassem com equas, como consta da justi ficacao que disto fez 0 Visitador

Mandado pelo Cabido de Pernambuco, sede vacante. Este escandalo, 0

falar do dito cleriqo, chegou aos ouvidos do viqario geral de Pernambuco, 0

qual Ihe estranhou muito e Ihe ordenou que se desdissesse do que tinha

dito, alias que 0 castigaria severamente e daria parte a Sua Magestade,

porern 0 cleriqo, contumaz no seu erro, nao somente se nao desdisse do

que t inha dito, mas antes 0 defendeu muitas vezes presence de outros cle-

r igos que Ihe impugnavam, e daqui nasceu se deformasse cada vez mais

aos seus freguezes indo eles a cada passo a Aldeia da Serra da Ibiapaba atirar indias, e a estes confessava e desobrigava 0 Pe. Joao de Matos Monteiro

sem fazer caso da excornunhao que Ihes l igava, e os absolvia quando nao

os poderia absolver por ser reservada aos missionarios".

"Visi tando eu noana de 1722 a dita aldeia da Serra da Ibiapaba, suspei-

tou 0mesmo Pe. Joao de Matos Monteiro que eu tinha ordem para 0 pren-

der, sem outro fundamento do que ditava sua propria conscienc ia, que 0

rernordia de certa culpa, cujo conhecimento pertence ao seu offcio, e sem

duvida tinha alguma notic ia ou suspeita de que fora denunciado dela no

tempo em que em Pernambuco fazia otlcio decornissario do dito Tribunal , e

parecendo-Ihe que essa ordem, no caso que a houvesse, poderia ficar bal-

dada, se me lancasse fora da aldeia e da freguesia convocou logo aos seusfreguezes, e com grande nurnero deles armados, com total reso lucao de

expulsar dela nao somente a mim, mas tarnbern aos dois religiosos seus

missionaries, dizendo que nos obrigaria a sair da aldeia com nossos breviaries

nas rnaos, e e sem duvida que 0 far ia assim, se nao estivesse na aldeia 0

coronel daquelas r ibei ras, Sebastiao de Sa, 0 qual sendo convidado a ser

cabeca do motim, nao somente nao aceitou 0 convite, mas antes resoluta-

mente Ihe disse que com suas armas nos defenderia contra esta insolencia

que se intentasse. E esta resolucao de nos quererem expulsar a aldeiafoi

tao notoria que a noticia dela chegou aos moradores da Paranaiba, os quais

prevendo os grandes prejuizos que dahi resultariam a eles todos, quizeram

vir a defender-nos, mas dissent iu-os disto seu cura dizendo que ele so che-

garia, com toda pressa a aldeia aver0

quese passava, e do que achasseos avisaria, e com efeito chegou a aldeia com viagem detres dias, e porque

a conspiracao ja se tinha desvanecido teve por excuse charna-os."

"Vendo 0cleriqo que nao conseguira a nossa expulsao se valeu de vari-

os meios em ordem a destrui r a aldeia, dizendo muitas vezes que nao havia

de descansar a te nao botar os padres fora da aldeia e da sua freguezia, ou

espalhar os indios dela de sorte que sejam excusados da aldeia dos Padres.

46

I 11111onselhou a um maioral da aldeia que, por velho e ja caduco,

111111111I capaz de seus enganos, que pedisse ao Capitao-rnor do Ceara

II II Ir Ise poder afastar da aldeia com toda sua gente, que consta de

1II1I tantos casais, e ele t rouxe um letrado, que mandou vir de cinco

" ,!lor nome Antonio Leitao, fez ao indio a peticao alegando nela mui-

I ,I Itil S e calunias contra os padres, e se bem nao conseguiu seu

rque 0 Capitao-rnor nao quis deferir a pet icao do indio, nem por

IIE \ esperanca de poder conseguir por outros meios."

I II muitas outras insclencias me obrigaram f inalmente a fazer queixa

IIIIc i Ide Pernambuco, 0quallhe mandou ordem que entregasse 0curato1111111I r lgo sob pena de excornunhao se nao obedecesse, porque ele

1111"11II ta ordem, despachou 0Cabido uma Pastoral com ordem de que

I 1 rn todas as igrejas do Ceara, como se leu, em que 0 declarou

1 1 1 1 I omungado vitando e 0 posde participante. Feita esta declaracao,

1111I IIOVOcura tomar posse do curato, mas 0 dito Pe. Joao de Matos

I " I " 1 1 1 1 1 1 , mandou ao caminho vinte e dois cavaleiros, os quais com arne-

1 I I) iluvras descompostas obrigaram 0 novo cura a voltar atraz, eo Pe.

1,1II lit Matos Monteiro, desprezando a excomunhao, disse missa e admi-

I II 111111 sacramentos, como se em tal excornunhao nao incorporasse.

1111111111tc, para ele verif icar 0 que tinha dito, explicando-se com palavras

1""ll II I I t1 ser referidas e postas em papel , cornecou a fazer assinados

, I I' I Infamatorios contra os religiosos da Companhia, e a estes assina-I" I '" II rrera um rel ig ioso tercei ro de S. Francisco, digo concorreram os

I I I ;1110de sua freguezia, todos inimigos declarados dos padres, sem

II II I II I Isto outro motivo de que nao Ihes consentirem os padres na sua

1111hI iuuelas liberdades que sem rernedio Ihes hao de consentir os rnissi-

"II II t, 10Ceara nas negligencias de que resul tam intoleraveis ofensas a

It III II

"I constar melhor que cleriqo e 0 Pe. Joao de Matos Monteiro, e

iii I II I II liz r que ele esta culpado de uma morte na devassa que dela t irou

, ilil ( I' lnario da Vila do Ceara e,porque ele desejasse que esta devassa

III I do cartorio da Villa, ofertou ao Ouvidor Jose Mendes Machado

IIIf 1111111e ouro, que se pesou na casa do Capitao-mor, 0 qual soube quef I I I ste fim, e com isso alcancou do Ouvidor a tirasse, por mais que 0

Iu v I repugnasse de entreqa-la. Mas tirando 0 viqario geral do Ceara

1111i l' vassa, saiu culpado nesta."

li M II 0 mesmo cleriqo foi difamado de haver intentado outra morte, e foi

I I II 'Ill uma mulher honrada teve notfcia de que 0 Pe. Joao de Matos

111111I ) quer ia matar seu marido, por causa de uma tapuia, sua escrava,

47

com a qual 0 cler iqo andava mal encaminhado, e estando ela um dia na II III srna sorte, e saindo culpado em todas nao tem tido pena alguma,

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missa, e presente mui ta gente, ao levantar 0 Senhor, se levantou tarnbern

ela, tomando 0Senhor por testemunha de que 0 Pe. Joao de Matos Monteiro

queria matar ao seu marido, fa lando em volz alta, para que todos a ouvis-

sem, edisto fez 0 viqario geral do Ceara um surnario e 0 remeteu ao Cabido

de Pernambuco, como tarnbern a nova devassa que tinha t irado da morte, e

assim e digno de estranhar que, tendo 0viqario geral de Pernambuco noticia

disto, contudo Ihe passa folha corrida."

"De tudo is to se colige que 0 Pe. Joao de Matos Monteiro e um cleriqo

revoltoso, amotinador dos povos, desobediente aos seus prelados,desprezador das censuras eclesiasticas, escandaloso e pernicioso as al-

mas pela rna doutrina que Ihes da, acerrirno perseguidor dos indios da Ibiapaba

e dos seus missionaries, indigno e incapaz de ser cura de almas e merece-

dor de um exemplar castigo, sem 0 qual nem 0 Hospicio.do Ceara, nem a

aldeia da Serra da Ibiapaba se podera conservar. 9 dejaneiro de 1725. Fim.

Pe. Joao Guedes, SJ."

Para desfazer acusacces tao graves, Pe. Matinhos recorreu a Ouvidoria

Geral do Ceara com uma justiticacao, acompanhada do depoimento de quin-

ze testemunhas juramentadas, que refutavam uma a uma as denuncias do

Pe. Joao Guedes. A sentence final pronunciada pelo Ouvidor Jose Mendes

Machado Ihe foi tavoravel. Toda esta documentacao encontra-se tarnbernno Arquivo Hist6rico Ult ramarino de Lisboa. As queixas do Pe. Guedes mo-

tivaram ainda um processo de crime de ditarnacao impetrado pelo cura, que

correu tambern na Justica do Ceara.

3 - Sabendo os moradores da ribei ra doAcarau que fora 0 coronel Sebas-

tiao de Sa 0 responsavel pelas intorrnacoes contidas nas queixas do Pe.

Joao Guedes, dir ig iram ao Rei , a 16de marco de 1725, as seguintes denun-

cias contra 0 coronel:

"Dos moradores do Acaracu, Capitania do Ceara Grande, aoRei.

Se pela lei se deve castigar todo homem revoltciso e perturbador do sos-

sego de um povo, com razao nos queixamos os abaixo assignados, mora-

dores da freguezia de N. Sra. da Conceicao do Acarau, Capitania do Ceara

Grande, do procedimento de Sebastiao de Sa, morador nesta mesma fre-

guesia, e e 0seguinte:

a) E por natureza soberbo, homicida culpado em sete mortes, das quais

o e de uma filha sua que matou tiranamente, sem causa alguma, e as mais

48

1'1111111omo 0 dito suborna as testemunhas, de sorte que sempre da boa

, 11111tada e no livramento desta deu quatrocentos mil reis ao Ouvidor da

It,ll J l r b a , Manoel da Fonseca Silva, pelo aliviar nasentenca por nao ter outra

I' ca , alern de ser a devassa nula, assim par nao ter 0numero das teste-

111111111que manda a lei, como pelo dito Ouvidor a nao ir tirar no lugar do

"!lIllO, senao do Ceara sessenta lequas, com testemunhas do mesmo lugar.

h) E perjurio em jurar e induzir testemunhas que jurem falso, publicando

'1111 faz de barro e ascompra por quatro patacas, 0que tudo constara dos

11111)que se acham no cart6rio da Ouvidoria, onde tudo Ihe esta provadoI' III parocho desta f reguezia, em um l ibelo que deu contra ele.

I~E aleivoso e testemunhador de falsos testemunhos conta qualquer

1 " , O E t , na honra e na opiniao de cada um, como se viu contra 0cura desta

1111II sia Joao de Matos Monteiro, a quem por 0 fazer casar com uma cabo-

I lit, oernquem andava amancebado, ou a largasse, publicou que 0 tal padre

111I()I'tawaulheres na contissao e induziu alguns 0publicassem, 0que tudo

1'llllIoot:ldizendo que Iheprovou 0mesmo padre perante0Ouvidor da Comarca.

tI ) IE homem pouco temente a Deus, nao se 0ve ouvir missa, nem pegar

III IIJOmtas, nem com outras acoes de bom cristao. Sendo de nascimento

1lI lI ll llde, como ser f ilho de uma cabocla casada e pai alheio de matrimonio,I till I r sortido de bens se faz soberbo, comete insultos do que os homens

" II tomam satistacao e nem a Justica 0 castiga, esta talvez por depend en-

h i I queles por temerem a lei de Deus e a de V. Magestade e quererem 0

" esseqo. E como semelhantes sao prejudiciais aos povos e nesta parte

1"111"castigados, e temidos pela traicao e acao voluntaria de matadores,

",, luais ninquern esta seguro, e com uma dernonstracao de castigo pode

II IVI I 'reforrna para exemplo e 0 tal Sebastiao de Sa inquieta esta freguesia

III1I revolucoes e enredos e arneaca logo e executa por mao alheia sua

Itl ll l( 0.

I ) Pedimos a V . Magestade que, dignando-se de se intorrnar do referido,

IIId'll que estes e semelhantes homens sejam exterminados para fora doII I lilt onde morarem para que, comeste exemplo, haja emenda e fiquem os

111111dores com mais quietacao. Esperamos receber merce."

"I omingos da Cunha Linhares, Francisco Pinheiro do Lago, Belchior Correa

IIuvalho, Manoel Goncalves Ferreira, Estevam Chaves, Jose Lobo de

1II IVIl r , Francisco da Cunha de Araujo, Joao Viei ra Passos, Manoel Pas-

II,M noel de Santiago, Anton io Guedes dos Reis, Franc isco Dias das

49

Chagas, Jose Bandeira de Melo, Manoel Teixeira de Carvalho, Damiao Go- DE JUSTIFICA9AO

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mes da Silva, Lourenco Leandro de Passos, Manoel da Cunha Freire, Anto-

nio Alvares Coelho, Joao Feliz de Carvalho, Domingos Correa Passos, Nicolao

Gomes de Brito, Domingos Alvares Ribeiro, Manoel Rodrigues dos Reis,

Antonio Lopes Carvalho, Ambrosio da Costa, Manoel Nogueira, Antonio de

Farias, Bento Pereira Lemos, Lazaro Luis Fiesco, Pedro de Miranda Cabral,

Manoel da Costa Silva, Custodio da Costa Araujo, Manoel da Costa Silva,

Pedro Pereira Medeiros."

No documento ha outras assinaturas ilegfveis. Procurei atualizar a orto-

grafia, para fac ilita r, ao leitor nao habituado a conviver com estes textos

antigos, a decitracao da escrita.

Este papel passou pelo cart6rio de Aquiras, onde foram reconhecidas as

firmas dos siqnatarios. Eis como esta escrito 0 final do documento: "0capi-

tao Manoel Dias Netto, tabeliao publico do Judic ial e Notas desta Villa de

Sao Jose do Ribamar, Capitania do Ceara Grande, por Sua Magestade que

Deos guarde. Certifico e atesto por minha fe em como as letras sao dos

assignados, todos moradores da Ribeira do Acarau, pelos conhecer etc.

Aos 16dias de Marco de 1725 annos. 0 tabeliao Manoel Dias Netto." E mais

abaixo: "Reconheyo a fi rma de Manoel Dias Net to pelo conhecerJoao Gon-

calves da Silva, tabel lae publico, aos 26 dias de marco de 1725 annos."

A t ranscr icao textual , e na fntegra, destes tres documentos, apesar da

monotonia, serve para proporcionar aosinteressados a oportunidade de

aprofundar 0estudo das condicoes s6cio-religiosas, em que viveram os pri-

meiros habitantes brancos da ribeira do Acarau, Se excepctuarmos os tex-

tos das concessoes das sesmarias, alguns assentos paroquiais de batis-

mos e casamentos e alguns poucos inventarios, sao estes os documentos

mais antigos que possufmos sobre a primit iva hist6ria do Vale do Acarau.

Nisto consiste seu maior valor, dai a razao da longa transcricao.

50

I \ lI tO 0 cura Pe. Joao de Matos Monteiro, como 0jesufta Pe. Joao Guedes

I IIIII r m a Justica com pedido de Justiticacao, com 0 f im de se defender

, " I l i l I S denuncias de que foram vft imas, um do outro, no rumoroso caso

' 1 " 1 I nvolveu a vida rel ig iosa e social no inicio da orqanizacao do Curato da

1 1 1 1 1 1 1 I 0 Acarau. Os autos encontram-se guardados no acervo do Arquivo

III 1 1 1 1 1 0 Ultramarino de Lisboa, cuja c6pia possuo em microfi lmes.

A Em janeiro de 1724, 0 Ouvidor Geral do Ceara, Dr . Jose Mendes

III uneo, encontrava-se em correicao em Almofala, aldeia da Missao dosII III rnbes. Para la dirigiu-se 0 Pe. Matinhos e, no dia 29 do mesmo mes,

I' l Imente entregou 0 pedido de justificacao, tendo servido de escrivao

I t l I ~j Almeida.

I processo visa a defender 0 Cura das acusacoes que Ihe foram

I I I I as pelo Pe. Guedes e pelo coronel Sebastiao de Sa. 0conteudo

1 ,1 tI nuncias ja f icou relatado atras, pelo que nao ha mister seja repetido.

Ih l m l l qui registrar algumas particularidades do processo.

I ', , Matinhos solicita que sejam destrufdas as acusacoes, mediante 0

, 1 ' 1 1 1 1 1 1 nsnto de quinze testemunhas que respondem a onze itens referente a

II I , ,(lt lduta moral e ao seu zelo em atenderseus fieis naadrninistracao dos1 1 I lin ntos. Todas as testemunhas arroladas dizem praticamente a mes-

IIII 11(11 e confirmam por unan imidade as afirmacoes do justificante . A

1 1 1 ' 1 1 1 1 1 1 nia das mesmas respostas dispensa mais de um depoimento, pelo

'II' 1 1 0 vejo necessidade de transcrever 0 texto original, longo e rnuito

h'lililll, A ident ificacao, porern, de cada testemunha tem sua uti lidade, por

I II It I .rde pessoas inf luentes no infcio do povoamento destes sertoes,

I I relacao nominal das 15 testemunhas:

I CapiHio Joao da Costa de Oliveira, homem casado, 27 anos, mora-

1 "1 I I I I Aracatirnirim, sit io Patos. Diz que deu dez mil reis para a construcao

II IIIIIV

matriz e que0

cura Pe. Matinhos nao tinha cobica pordinheiro, poisIt I I I I It quatro anos nao cobrou as conhecencas a que tinha direito,

, Capitao-mor Jose de Moura Neqrao, homem casado, 40 anos, rno-

I II i II" Lagoa dos Patos. Diz que assinou a pet icao solicitando a perma-

II I" I I 10cura na ribei ra.

51

Sabemos que casou duas vezes. A 1~, com Ana de Jesus, falecida em lei quefaleceu a 9 de dezembro de 1755, com 74 anos, e foi sepu ltado

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1721, a 2~com Joana Gomes.

3 - Tenente Manoel Nogueira Cardoso, 50 anos, morador na ribei ra do

Acarau. Sabemos que era casado com Francisca Ferreira Diniz e foi verea-

dor da Camara de Aquiras no ana de 1701.

4 -Capltao Domingos Machado Freire, solteiro, morador no Para, (hole

Parazinho). Af irma que sabe do empenho do cura para conseguir licenca

para construir a capela de Nossa Senhora do Livramento, daqual eo instituidor.

Sabemos que faleceu solteiro a 15 de margo de 1754, mas deixou des-

.··cendencia. Riquissimo proprietario na rsqiao do Parazinho.

5 - Capitao-rnor Joao Felix Carvalho, homem casado, 48 anos, mora-

dor no Parazinho. Afirma que 0 justificante nao era escandaloso e nem falta-

va aos sacramentos. Sabemos quea mulher de Joao Felix chamava-se

Apolonia Ferreira Diniz.

6 - Capltao Francisco da Cunha Linhares, solteiro, 35 anos, morador

na ribeira do Acarau, sitio Sao Jose. Diz que foi um dos primeiros a dar

esmola para a matriz ser construfda.

Sabemos que era irrnao de Felix da Cunha Linhares e se casou com

: Francisca de Andrade. Faleceu a 1 de novembro de 1775, com 86 anos e fOI

sepultado na Matriz de Sobral.

7 - Joao Fernandes Pereira, branco, solteiro, 48 anos, morador no sit io

Poco Danta, r ibei ra do Acarau. Diz que "nunca vira que 0 justificante tivesse

bulhas com fregueses, exceto com algum reprobo em nao praticar e por

andar em concubinato".

8 - Francisco Furtado de Mendonca, branco e casado com Josefa Paes,

42 anos, morador no Mundau. Af irma, ent re outras coisas, que foi testemu-

nha de que 0 cura, em um so dia, na fazenda de Antonio Teixeira Carvalho

(rio Jaibaras) casara doze casais amancebados.

9 - Tenente Manoel Carvalho da Cunha, branco, 40 anos, morador no

sitio Canoez. Af irma que soubera, ate mesmo, que 0 cura tinha sido morto

pelos indios.

52

IH I Matriz de Sobral. Deixou viuva Domingas Freire.

10 -Ajudante Antonio de Sousa, homem branco, 40 anos, morador na

11111.Casado com Serafina da Silva, (al ib i, de Sa).

I ~ . Tenente-coronel Joao de Almeida Costa, branco, casado, 42 anos,

1II II Indor na rrbeira do Acarau. Deu dez mil reis para fazer a matrrz. Afirm

1111)ntes de 0cura chegar, nao havia homens casados na freguesia.

I t3 • Cornissao-qeral Pedro da Rocha Franco, 45 anos, morador n ~1;

1Il ll lgal"amiranga (lbuacu). Como instrutorda capela de Santo Antonio, c -:: :

111111'1empenho do cura em conseguir l icenca para levantar as capelas. [j.".,

. . . . .I . Coronel Domingos Ferreira Veras, sol teiro, 45 anos, morador n :e1 1 1 1 t I I' da Ubatuba, fazenda da Salina. Apenas confirma todos os itens d ....,

I'tlll~ 0 do justificante. \.,t

Ibemos que era casado com vitor ia Rodrigues da Camara e faleceu --

'I l it [ulho de 1754, em Aquiras. Deixou muitas terras no atual municipio e;

111,11111.

1,1• Bento Pereira de Lemos, solteiro, 55 anos, morador na ribeiraIIII \1'1,Afirma que estava com 0 Pe. Matinhos no riacho Taipu, quando

IlIdl ll os cercaram procurando mata-los.

I $argento-mor Joao Neto, solteiro, 26 anos, morador da ribeira 0

I I IIHIII'I, Iazenda Juazeiro. Tambern estava com Pe. Matinhos no riacho Tai

I II I 1111srras na reqiao de Frecheirinhas e Acarape.

I II processo de Justiticacao foi concluido a 22 de maio de 1724, quase

1'111111111es apos seu inicio. A sentence foi profer ida no s itio Sao Jose

II 1111I In ) , na mesma correicaoque 0 Ouvidor Jose Mendes Machado esta-

I I II I 11lio na ribeira. 0Juiz deu por justificados todos os provaras.

I tlH mos que 0 referido Ouvidor, pouco tempo depois, acusado de mui-

Illl illl m c o s e arbitrariedades, fugiu do Ceara a 20 de outubro do mesmo

1 1 1 1 1 Ifill! 1 0 sido deportado para Lisboa, indo parar na prisao do Limoeiro.

II I I I' su a vez, 0 processo de Justi ficacao do Pe. Joao Guedes correu

hll 111 1 siastico. perante 0 l icenciado Pe. Antonio de Andrade de Ara-

'Villi lor Geral das igrejas e capelas da Capitania do Piaui e Sert6es

53

I 1 I I I I I 1 I

da parte do Norte ate 0 r io Mundau, estando em visi ta nesta f reguesia de N. - Cornissarlo-qeral Pedro da Rocha Franca, casado, 42 anos,mora-

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Sra. da Conceicao do Acaracu, capitania do Ceara Grande". Teve infcio no

d ia 3 de novembro de 1724, servindo de escr ivao 0cleriqo "in minoribus"

Manoel Seabra Cansado, que acompanhou 0 visitador na presente visita

pastoral.

Esta deve ter sido a primeira visi ta canonica feita ao Curato, anter ior as

que estao registradas no 1Q Livro delas, que corneca em maio de 1736 e foi

realizada pelo Pe. Felix Machado Freire. Houve uma outra, feita em dezem-

bro de 1731 pelo Pe. Sebast iao Vogado de Souto Maior, como consta do 1

Livro de Assentos de Batismo e Casamentos do Curato, guardado no arqui-vo da Curia Diocesana de Sobra!.

Na inicial da Justificacao, Pe. Joao Guedes e identif icado como "religio-

so da Companhia de Jesus, superior do Hospfcio do Ceara Grande, visitador

das Missoes da Serra da Ibiapaba e procurador geral dos fndios". Expoe a

peticao em doze itens, em que relata 0 seguinte: Pe. Joao de Matos Monteiro

nao obedecia as Pastorais do Bispado de Pernambuco, especialmente a de

1713 do Bispo Dom Manoel Alvares da Costa. que proibia aos homens bran-

cos terem fndias em suas casas para f ins l ib idinosos; pretendia expulsar os

jesultas da Ibiapaba e coloca-los para alern do rio Mundau, l imite da fregue-

sia; proibia aos fregueses levar carne a Serra, porque sem ela os fndios

abandonariam a Missao e viriam residir no sertao a busca deste indispensa-.. ,vel alimento; aconselhara a seus f ieis que safssem logo da igreja todas as

vezes em que algum rel ig ioso cornecasse a ler algum papel , ou se Iheopu-

sessem em voz alta; contratara um rabula, de nome Antonio Lei tao, vindo

de distancia de cinco leguas, para redigir um requerimento que foi assinado

pelo chefe indfgena Salvador Saraiva, ja velho e caduco, pedindo ao Capi-

tao-mer do Ceara que 0 permitisse se retirar da Missao com toda a sua

gente; escrevinhara papeis injuriosos contra os padres da Missao, induzindo

os fregueses a assina-los em duas vias, sendo que Ihes lia uma que nada

continha de substancia, quando a outra estava cheia de calunias e falsida-

des; f inal mente, com tudo isto "queria emporcalhar e sevandijar quanto pu-

desse os religiosos, apelidando-os com nomes indecorosos".

No processo estao arroladas sete testemunhas que, ,unanimemente, con-

firmaram todos os provaras "pelo ver ou pelo ouvir dizer":e foram identificadas

como se segue:

1 - Coronel Sebastiao de Sa, casado, 47 anos, morador na sua fazenda

Olho D'Agua. Diz que se opos a expulsao dos jesuftas e tem litfgios com 0

Cura na Justica. Do costume disse que era compadre e Ireques do Pe.

Matinhos.

54

dill na sua fazenda Ubuacu. Confi rmou todos os itens contidos na pet icao

dll lustificante

- Rdo. Pe. Felix de Azevedo Faria, sacerdote do habito de Sao Pedro,

'I nos, missionario da Missao da Aldeia dos Trernernbes (Almofala), do

1\ 1 tcatirnirtrn. Disse que nos papeis do Cura hav ia "coisas falsfssimas e nao

umsentiu que nenhum parente seu ou de sua obriqacao assinasse tais inta-

1 1 1 1 1 . Disse mais que 0 Cura chamara a Pastoral do Bispo de "pastoral de

ilt ll 'ra" e que ela nao valia, porque sua execucao fora entregue aos jesuitas

jill' so eles poderem absolver da sxcomunhao.

Sabernos que Pe. Felix ja fora miss ionario da Aldeia da Caucaia e que

I n I I ceu a 17 de maio de 1759, no Siupe, em cuja capela foi sepultado.

~,. Sargento-mor Joao Fernandes Netto, casado, 33 anos, vive de

II isfazendas de gada no Aracatiacu, Era casado com Maria Fiesca. Ape-

II I oonfirmou as aleqacoes do justificante.

. Sargento-mor Manoel da Silva Cesar, casado, 43 anos, vive de

I Illr gados, morador na fazenda Jaibaras. Afirma que Pe. Matinhos nao

' 1 1 1 1 ria perrnitir que os indios pescassem e nem a seus fieis levar para aIl'ra carnes a fim de trocar por far inha .

. Francisco da Silva Cabral, sol teiro, 65 anos, morador na Jaibara de

I 1 1 1 1 I vive de seus gados. Confi rma os i tens da pet icao.

I . Capitao Joao da Costa Oliveira, casado, 28 anos, vive de seus

l i l i t l s no Aracatimirim. Confirma os itens da peticao.

curioso observar que 0Cornissario Pedro da Rocha Franco e 0capitao

III da Costa de Oliveira foram testemunhas em ambos os processos e,

IIl ll lr d itoriamente, foram a favordos dois l itigantes. Ainda bem que os pro-

O S correram em Justica diferentes, uma noforo civi l e outra, no eclesi-

, 1 1 1 , 0 . . . .

processo fo i conc lu fdo no dia 8 de novembro de 1724, apenas cinco

0 1 " 1 apos seu in fcio, e recebeu sentence tavoravel assinada pelo Juiz

VI II I ' \dor, que assim termina: "Acaracu, em Visita, 8 de 9bro de 1724. Dou

1 " 1 1 [ustificada a peticao. Pe. Antonio de Andrade de Araujo. E eu, Pe. Manoel

I I I J r Cansado, escrivao da Visita, 0 escrevi."

55

Os autos de ambos os processos foram remetidos, ap6s passar por Re- t 1 ,\ I I' 1 ., as animosidades entre aborigenes e portugueses tinham che-

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cife, para Lisboa, onde estao arquivados com 0 seguinte despacho tardio:

"Visto. Guarde-se. l.isboa. 30 de agosto de 1745". Seguem-se duas assina-

turas ilegiveis.

Nesse tempo, os tres principais protagonistas da contenda ja eram fale-

cidos. Pe. Matinhos morreu, em Lisboa, em 1730. Coronel Sebastiao de Sa

terminou seus dias nacadeia da Relacao da Bahia, em outubro de 1741. Pe.

Joao Guedes (Jan Ginzel) faleceu, com 83 anos, a 11 de fevereiro de 1743,

no Real Hospicio do Ceara (Aquiras), casa que ele fundara em 1727. Era

natural de Komotau, Boernia, hoje Checoslovaquia,

Assim passa a gl6ria do mundo . ..

Como vimos, 0 infcio da orqanizacao da Igreja na ribei ra do Acarau foi

diHcil e tormentoso. Quando em 17160 Pe. Joao de Matos Monteiro chegou

a essa reqiao, ainda estavam acesas as labaredas da chamada "Rebeliao

de 1713", que levou os indios a se levantar ferozmente contra a invasao dos

brancos em seus redutos. A revolta alastrou-se por todo 0 territorio da Capi-

tania do Ceara, como epilogo sangrento da diuturna reacao dos nativos con-

tra "os repetidos abusos e vexacoes de que haviam side as infaliveis viti-

mas, durante qeracoes sem conta." Esta observacao do historiador Carlos

Studart Filho encontra-se no artigo "A rebel iao de 1713", que publicou naRevista do Instituto do Ceara, 1963, tome 77, p.9-24.

Com relacao a parte que nos interessa, continua 0 citado autor: "Tam-

bern na bacia do Acarau agiam grupos rebeldes, cujas correrias hostis as

gentes alienigenas vinham, de ha muito, pondo em sobressalto a reqiao.

Para esmagar os recalcitrantes, mudou Barros Braga 0capitao de seu reqi-

mento, Pascoal Correia Lima que, prosseguindo a obra de expuncao iniciada

no Jaguaribe pelo seu comandante, "matou grande nurnero de inimigos e

aprisionou cento e vinte cabecas?". ( lb., p. 19).

A resistencia dos nat ives neste f inal da "guerra dos barbaros", embora

batidos e dizimados, perdurou ate 0 ana de 1715, pouco antes, portanto, dachegada do Pe. Matinhos. Em toda a ribei ra, 0 climaqeral, entre indios 0

brancos, era ainda de violencia e ressentimentos mal reprimidos. Nao fol

tacil ao primeiro cura 0desempenho de sua espinhosa missao. Sentimentos

coletivos e rebel i6es de massa nao se apagam em pouco tempo. A conf an-

ca reciproca custa a ser recuperada nocoracao dos homens.

56

I! I III plcs e por isso e compreensivel que pervadissem 0 animo de

III " rt x 5 lamentaveis entre 0 primeiro cura da ribei ra do Acarau, res-

t "I IVIII dlr to pela formacao religiosa dos brancos, e os Padres da Missao

I 1111il III I defensores dos direitos dos indios, devem ser interpretados

IIIIIII1 t contexto geral de violencia entao vigente. Cada Iit igante era, ao

1 1 1 1 1 II I1lPO, ator e vit ima do ambiente carregado.

I "II 10 e. Matinhos 0 merito de ser 0 pioneiro e desbravador desses

1 1 1 1 I II I f 5 e inicial do seu povoamento. Para si logrou mais sofrimento

I 'l l IVI I t o , na ardua tarefa de implantar os alicerces da Igreja. Os oitoti l II atribulada permanenc ia entre nos foram uma epopeia de

I 1 1 1 1 1 I venturas e peripecias empreendidos em nome da fe. Foi este 0

"'"11lililin Ihorque nos legou.

57

1 1 1 1 1 1 1 1 1

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AoAo DO VALE DO ACA.RAU

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Parte exterior e inter ior da Matr iz de Meixomil, Pa90s de Ferreira ,

onde Manuel Ferrei ra Fonteles foi bat izado a 10de marco de 1687.

Ao fundo, va-se a pia bat ismal.

60

I) I 'mtugues Manoel Ferreira Fonteles foi 0antigo povoador mais prolffi-

111111 III ira do Acarau No ana de 1987 transcor reu 0 tricentenario de seu

, , I 1111to, motive suficiente para que seu nome seja lembrado pelos mi-

II I 1 " do descendentes, entre os quais estou incluido, e a oportunidade

I 1til l se aprofundem os estudos sobre as origens hist6ricas da formacao

' I PImsiras famll ias que se estabeleceram nesta parte do Ceara, que tem

h i , 1 1 1 1 nte a cidade de Sobral como polo de desenvolvimento. Sua primeira

I 11 II n reqiao e a enorme descsndencia de que e origem 0 caracterizam

111111) verdadeiro Adao do Vale do Acarau.

I II II cente viagem deestudo que acabode realizar a Portugal, descobri

, II 1IIIIIlIltos preciosos sobre suas raizes geneal6gicas que vern esclarecer

I li t lilt gray30 fami liar com os ascendentes portugueses da laboriosa

I 1 1 1 1 1 1 " hoje habita a terra e esta const ruindo a civi lizacao nos umidos

,I I I zlrias, bem como nas aridas planfcies e chapadas, que comp6em

, I' U'ollo do rnedio e baixo Acarau e seus afluentes .

.(MENTO E BATISMO

MillHJolFerreira Fonteles nasceu, a 7 de marco de 1687, no lugar Fontelo,

" 1 1 '1 1' I \ de Meixomil, reqiao de Entre Douro e Minho.

1\ I I I l 'l ri z de Meixomi l tem par orago 0 Divino Salvador. E sede de uma

, l i t I seis freguesias que comp6em 0 concelho de Pacos de Ferreira,

IIIII It ( Ii ta dois qui l6metros. A vi la de Paces de Ferreira, sede do conce-

I li t 1 1 1 1 I nome, dista 3 0 Km da cidade do Porto, que e a capital do Distr i-

' 1 1 1 1 1 1 sa pequena matriz que Manoel foi batizado, com apenas tres dias" 1 1 0 1 Ido, conforme deduz-se do seguinte assento de batismo: "Manoel,

I li t I )omingos Velho e de sua mulher Maria Ferreira, do lugar de Fontello,

I 1 11 1 In sete de marco e foi ba tizado aos dez do d ito rnes de 1687 anos

III t d n , Pe. Luiz Ferreira desta Freguesia de Meixomil, ao qual eu Domin-

I 1 11 1 1 ( tr o Pinto, cura desta mesma fregues ia assis ti e fui padrinho, e

It IItill fo i Catharina, moca da Casa do mesmo lugar de Fontello, fi lha de

61