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i
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENERGIA
PPGE USP (EP/FEA/IEE/IF)
Razes Socioeconmicas da Integrao Energtica na Amrica do Sul: anlise dos projetos Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes
Volume I
Victorio Enrique Oxilia Dvalos
So Paulo
2009
ii
VICTORIO ENRIQUE OXILIA DVALOS
Razes Socioeconmicas da Integrao Energtica na Amrica do Sul: anlise dos projetos Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes
Tese apresentada ao Programa de Ps Graduao em Energia (Escola Politcnica, Faculdade de Economia e Administrao, Instituto de Eletrotcnica e Energia e Instituto de Fsica) da Universidade de So Paulo, para a obteno do ttulo de Doutor em Energia.
Orientao: Prof. Dr. Ildo Lus Sauer
So Paulo
2009
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AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRFICA
Oxilia Dvalos, Victorio Enrique
Razes Socioeconmicas da Integrao Energtica na
Amrica do Sul: anlise dos projetos Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes/ Victorio Enrique Oxilia Dvalos; orientador Ildo Lus Sauer. So Paulo, 2009. 567 f.: il.; 30 cm.
Tese de Doutorado (Programa de Ps Graduao em Energia) EP, FEA, IEE e IF da Universidade de So Paulo.
1. Integrao energtica 2. Amrica do Sul - Energia 3. Itaipu 4. Gasbol 5. Gasandes . I. Ttulo
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Dedicatria
Ao meu pai, in memoriam
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Agradecimentos Ao Prof. Ildo Sauer, pelo estmulo, confiana e orientao para a mudana do referencial conceitual. Aos professores do PPGE-USP, pela amizade, apoio e ensinamentos, em particular aos professores Fag, Edmilson, Bermann, Miguel e Burani. Aos funcionrios do PPGE e do IEE da USP, pelo apoio constante e a gentileza no trato, seja na administrao, na secretaria, na sala de reprodues, na Biblioteca, na portaria, no apoio informtico ou nos servios gerais e limpeza. Aos meus colegas e amigos do PPGE, pelo apoio, amizade e tantas discusses realizadas em conjunto. Foram muitos, mas gostaria de destacar alguns nomes: Fbio, Fernando (in memoriam), Nilton, Tatiana, Julieta, Cidar, Mrio, Hirdan, Andr, Luciano e Mrcio. Aos amigos Sonnia e Francisco, quem colaboraram com valiosas informaes. Aos meus queridos amigos de So Paulo, em particular, Rubens e Sal, irmos, pelo apoio durante momentos difceis e pela amizade que transcende fronteiras e o tempo. querida Tania, por essa fora, alento, carinho e cuidadosa reviso deste trabalho. Kenny, pelo valioso apoio nesta fase final. minha me e irmos e famlias, pelo apoio desde Assuno. Aos amigos e amigas que me acompanharam neste longo trabalho em Assuno, So Paulo e em Quito, em particular, aos colegas da OLADE. E aos amigos de um pouco mais longe, Wolfgang e Michel; obrigado pela fora. Finalmente, aos programas de bolsas da LASPAU Organizao dos Estados Americanos e da CAPES, pelo apoio financeiro.
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RESUMO
OXILIA DVALOS, V.E. Razes Socioeconmicas da Integrao Energtica na Amrica do Sul: anlise dos projetos Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes. 2009. 563 f. Tese de Doutorado - Programa de Ps-graduao em Energia. Universidade de So Paulo, So Paulo. Este trabalho trata da anlise de projetos de integrao energtica na Amrica do Sul, em particular da rea do MERCOSUL e dos pases associados Bolvia e Chile. Com este trabalho busca-se identificar quais foram as motivaes socioeconmicas que impulsionaram trs projetos relevantes nessa regio, a saber: Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes. A pesquisa tem o fito de mostrar a tese de que esses projetos foram realizados em diversos contextos histricos, mas que em todos os casos tiveram como referencia a acumulao capitalista. Para tanto, se escolhe um mtodo que contextualiza os projetos na histria e identificam-se, por meio da anlise histrica, quais foram os setores da sociedade que receberam os maiores benefcios econmicos e qual foi a participao dos Estados em cada caso. O estudo mostra que nos projetos analisados, ainda tendo diferentes graus de participao dos Estados, a reproduo do capital constitui a motivao principal destes projetos, pois foram os capitais nacionais e internacionais os que tiveram seus lucros garantidos, em detrimento de empresas estatais ou pblicas, ou bem em detrimento da populao. As formas para garantir a acumulao privada foram diferentes e dependeram do contexto histrico em que cada projeto foi desenvolvido. No projeto Itaipu, as empresas foram beneficiadas com contratos de elevado valor e com tarifas abaixo do custo do servio de eletricidade (isto particularmente para os grandes consumidores). Ademais, o manejo financeiro da dvida permitiu grandes transferncias para o sistema financeiro. Nos casos de Gasbol e de Gasandes o modelo de organizao dos projetos permitiu benefcios para as empresas em detrimento da Petrobras, no primeiro caso, e em detrimento diretamente da populao, no segundo caso. Palavras-chave: Integrao energtica; Amrica do Sul - Energia; Itaipu; Gasbol; Gasandes .
viii
ABSTRACT OXILIA DVALOS, V.E. The Social and the Economic Roots of the Energy Integration in the South America: analysis of the Itaipu. 2009. 564 f. D.Sc. Thesis (Postgraduate Program on Energy. University of So Paulo, So Paulo).
This work deals with the analysis of energy integration projects in the South America, in particular, in South American Common Market and its associated countries Bolivia and Chile. The thesis aims to identify the social and the economic motivations that stimulated the following three prominent projects in the region: Itaipu Binacional, Gasbol and Gasandes.
The research thesis was that those projects were carried out taking as reference the capitalist accumulation, despite they were developed in diverse historical contexts. To carry out the research was chosen a methodological approach which puts the projects into an historical context and identifies, by means of the analysis, which were the sectors of the society that received the main economic benefits and which was the participation of the States in each case.
The study concluded that in the projects analyzed, even having different levels of participation of the States, the reproduction of the capital was the main motivation of the projects. So, the international and national capitals had their profits guaranteed, but the risks and the financial losses were transferred to the state-owned or public companies or to the population. The forms to guarantee the private accumulation were different and depend on the historical context of each project. In the Itaipu project, for instance, the companies were benefited with high value contracts and with low tariffs of electricity (for huge consumers). Besides, the financial management of the debt permitted huge transferences from Itaipu to the financial system. In the cases of Gasbol and Gasandes the model of organization of the projects permitted benefits to the companies. The risks or financial losses were assumed by Petrobras, in the first case, and by the population, in the second case. Key-words: Energy Integration; South America Energy; Itaipu; Gasbol; Gasbol
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LISTA DE TABELAS
Volume I
Tabela 1.1 Consumo mundial de carvo mineral, hidrocarbonetos e hidreletricidade na primeira metade do sculo XX.............................. 10
Tabela 1.2 Valores e distribuio das exportaes de mercadorias no comrcio mundial................................................................................... 19
Tabela 1.3 Reservas provadas e potencial hidreltrico na Amrica do Sul (ano 2007)............................................................................................... 33
Tabela 1.4 Relao (quociente) entre a renda dos 20% da populao mais rica sobre a renda dos 20% da populao mais pobre em alguns pases da Amrica do Sul e Mxico................................................................... 38
Tabela 1.5 Total dos bnus emitidos em Londres, para financiar pases da Amrica Latina, entre 1822 e 1825 (valores em libras esterlinas).......... 53
Tabela 1.6 Investimentos ingleses em pases da Amrica do Sul e valores totais na Amrica Latina (em milhes de Libras Esterlinas), entre 1865 e 1913......................................................................................................... 58
Tabela 1.7 Capitais estrangeiros investidos em diversos setores na Argentina (1910)....................................................................................................... 60
Tabela 1.8 Amrica Latina: ndices do comrcio exterior (em variao % com relao ao perodo 1925 - 1929)..................................................... 66
Tabela 1.9 Exportaes como % do PIB em pases da Amrica Latina.................... 67
Tabela 1.10 Evoluo dos coeficientes de importao em pases selecionados (% do PIB em sries a preos de 1960)................................................... 73
Tabela 1.11 Evoluo dos coeficientes de industrializao em pases selecionados (% do PIB em sries a preos de 1960)................................................... 74
Tabela 1.12 Participao dos setores Agricultura e Indstria no Produto Interno Bruto de pases da Amrica Latina (em % do PIB).................... 75
Tabela 1.13 Evoluo da produo de ao em alguns pases da Amrica Latina (valores em 1000 toneladas)......................................................... 76
Tabela 1.14 Produo e montagem de veculos automotores na Amrica Latina (valores em unidades)................................................................... 77
Tabela 1.15 Evoluo da produo de petrleo em alguns pases da Amrica Latina (valores em 1000 m3).................................................................... 78
Tabela 1.16 Evoluo da produo de eletricidade em alguns pases da Amrica Latina (valores em milhes de kWh)........................................ 79
Tabela 1.17 Amrica Latina: balanos parciais (1970-1980), em milhes US$.......... 84
x
Tabela 2.1 Projetos aprovados pela Comisso Mista Brasil - Estados Unidos da Amrica (1951-1953)........................................................................ 98
Tabela 2.2 Variao porcentual anual do Produto Interno Bruto - Brasil................ 99
Tabela 2.3 Produo de eletricidade no Brasil durante a dcada de 1950................ 100
Tabela 2.4 Evoluo da Capacidade instalada e do Consumo de eletricidade no Brasil............................................................................... 101
Tabela 2.5 Rendimentos de capital de Itaipu Binacional.......................................... 162
Tabela 2.6 Potncia contratada da Itaipu Binacional pelas empresas do Brasil e do Paraguai (em valores mensais mdios).................................. 164
Tabela 2.7 Distribuio prevista de custos do projeto Itaipu em 1973 e 1974.............................................................................................. 170
Tabela 2.8 Valores mdios anuais da Prime Rate...................................................... 171
Tabela 2.9 Evoluo dos custos do projeto Itaipu Binacional.................................... 172
Tabela 2.10 Crescimento econmico nos pases industrializados (taxas percentuais de crescimento anual do PIB ou do PNB)................... 174
Tabela 2.11 Inflao dos pases industrializados.......................................................... 174
Tabela 2.12 Investimentos anuais da IB, ajustados pela variao dos ndices Consumer Prices e Industrial Goods dos EUA............................ 176
Tabela 2.13 Estrutura de participao das entidades financeiras, no financiamento da Itaipu Binacional entre 1975 e 1991.............................. 177
Tabela 2.14 Estrutura de financiamento do setor de energia eltrica no Brasil (em %)............................................................................................. 178
Tabela 2.15 Dispndio de investimentos das principais empresas estatais (Cr$ Bilhes de 1980)................................................................................. 179
Tabela 2.16 Saldo final de exerccio de emprstimos e financiamentos da Itaipu Binacional..................................................................................... 180
Tabela 2.17 Receita da Itaipu Binacional (1985-2006)................................................... 182
Tabela 2.18 Tarifas de energia eltrica no Brasil (mdias anuais).................................. 184
Tabela 2.19 Estimao de distribuio de contratos durante a construo...................... 187
Tabela 2.20 Benefcios previstos no Anexo C para o Brasil e o Paraguai....................... 192
Tabela 2.21 Distribuio dos benefcios da Itaipu Binacional (Anexo C e modificaes) no Brasil, segundo Decreto 1 de 11 de janeiro de 1991......................................................................................................... 193
Tabela 3.1 Consumo de Energia Primria para a produo de eletricidade
nos EUA........................................................................................................ 213
xi
Tabela 3.2 Produo de gs natural por Estado e Regio do Brasil (em mil m3/dia), em anos selecionados...................................................... 235
Tabela 3.3 Oferta e demanda de gs natural no Brasil (1991-2006), em milhes de metros cbicos.................................................................... 248
Tabela 3.4 Riscos anuais de dficit dos subsistemas eltricos (em %)......................... 255
Tabela 3.5 Estimativa de Ampliao de Gereo e Transmisso de Energia para o Perodo 2002/04.................................................................. 258
Tabela 3.6 Desenho inicial da estrutura societria das empresas transportadoras de gs e participao das empresas promotoras................ 274
Tabela 3.7 Estrutura societria da TBG em 2007.......................................................... 278
Tabela 3.8 Estrutura societria da GTB em 2007.......................................................... 279
Tabela 3.9 Estrutura de financiamento do lado boliviano proposta pela CSFB............ 282
Tabela 3.10 Estrutura inicial de financiamento do trecho brasileiro do gasoduto........... 284
Tabela 3.11 Estrutura final do financiamento do gasoduto trecho brasileiro ............... 285
Tabela 3.12 Quantidade diria contratada em milhes (MM) de metros cbicos por dia (MCPD), conforme GSA (1993)......................................... 287
Tabela 3.13 Relao das quantidades dirias do contrato de suprimento de gs (em milhes de MCPD)..................................................................... 288
Tabela 3.14 Volumes da TCQ (conforme contrato assinado em 1996)............................. 290
Tabela 3.15 Capacidade contratada na modalidade TCX.................................................. 294
Tabela 3.16 Contratos de transporte e volumes transportados at 2007 (valores em 106 MCPD)................................................................................ 296
Tabela 3.17 Participaes da Petrobrs em plantas de co-gerao (estrutura societria inicialmente prevista) no ano de 1999........................... 301
Tabela 3.18 Preos semanais do MAE por sub-mercado (em R$/MWh)......................... 306
Tabela 3.19 Perdas da Petrobras relacionadas com os negcios de energia eltrica......... 309
Tabela 3.20 Situao das UTEs nas quais a Petrobras possui participao acionria (em 2007)....................................................................................... 312
Tabela 3.21 Empresas operadoras das principais reas de explorao e produo de hidrocarbonetos na Bolvia (em 2005)..................................... 319
Tabela 3.22 Distribuio das reservas de gs natural da Bolvia (em 1012 ps cbicos).................................................................................... 320
Tabela 3.23 Comparativo das participaes do Estado boliviano na produo de hidrocarbonetos, segundo os regimes das legislaes de 1996 e de 2005 e o Decreto Supremo da nacionalizao de 2006 em milhes US$)........................................................................................... 326
xii
Volume II Tabela 4.1 Taxa anual mdia de variao do PIB, da Populao e do PIB per
capita da Argentina por perodos (desde 1900 a 1995)............................. 343
Tabela 4.2 Empresas estrangeiras de servio pblico nacionalizadas entre 1945 e 1948............................................................................................... 347
Tabela 4.3 Tarifas de venda de gs domiciliar em Buenos Aires.............................. 349
Tabela 4.4 Rede de principais gasodutos na Argentina at fins da dcada de 1980.......................................................................................... 351
Tabela 4.5 Projetos industriais apresentados ao governo argentino, entre 1959 e 1969 (distribuio por segmentos industriais)............................... 353
Tabela 4.6 Principais investimentos estrangeiros na Argentina, distribudos por pas de origem, no perodo 1 de maro de 1977 a 31 de dezembro de 1983 (em milhes US$)....................................................... 355
Tabela 4.7 Investimento direto acumulado dos Estados Unidos da Amrica por segmento de atividade econmica, entre 1976 e 1983 (em milhes US$)...................................................................................... 356
Tabela 4.8 Reservas provadas de gs natural na Argentina (1970-1988).................... 356
Tabela 4.9 Participao percentual do petrleo e do gs natural no consumo total de energia primria da Argentina (1980-1993)................................. 358
Tabela 4.10 Desemprego, variao do ndice de preos ao consumidor e variao do PIB durante a gesto de Carlos Saul Menem (1989 a 1999)............................................................................................. 362
Tabela 4.11 Produo de petrleo por tipo de contrato e de YPF S.A. (1000 m3)........ 368
Tabela 4.12 Investimentos diretos dos Estados Unidos da Amrica (1897-1914), em milhes US$ no fim do ano e em alguns dos principais pases (em termos de volumes de investimentos)................................................. 381
Tabela 4.13 Nmero de empresas com participao estatal e controladas pela CORFO (antes de 1970 e o nmero de empresas que passaram pelo processo de estatizao durante o governo de S. Allende (1970-1973)................................................................................................ 390
Tabela 4.14 Indicadores macroeconmicos do Chile nas dcadas de 1970 e 1980...... 392
Tabela 4.15 Variao anual do PIB do Chile (em % de variao anual)........................ 393
Tabela 4.16 A propriedade da empresa Endesa no processo de privatizao (at 1995). ............................................................................................... 397
Tabela 4.17 Evoluo do PIB chileno (em % inter-anual).............................................. 399
Tabela 4.18 Consumo de petrleo, gs natural e eletricidade no Chile (1980-1993)....................................................................................... 400
Tabela 4.19 Estrutura do Consumo de Energia Primria em 1996 e estimao para o ano 2005............................................................................................ 401
xiii
Tabela 4.20 Participao da energia primria na gerao eltrica do Chile................. 401
Tabela 4.21 Produo de petrleo da ENAP (no Chile) e de Sipetrol (no exterior)................................................................................. 405
Tabela 4.22 Estrutura dos consrcios de empresas vinculados ao projeto Gasandes na poca de lanamento do projeto (ano 1995)......................... 408
Tabela 4.23 Participao das principais empresas nos trs projetos vinculados a GasAndes.............................................................................. 409
Tabela 4.24 Estrutura dos consrcios de empresas vinculados ao projeto Gasandes no ano 2007 ............................................................................... 430
Tabela 4.25 Estrutura societria dos projetos Transandino ou TransGas e Gas de Chile em 1994........................................................................................ 432
Tabela 4.26 Listagem das autorizaes do governo argentino para a exportao de gs natural (somente as autorizaes referentes bacia de Neuqun e para o Chile)............................................................................. 437
Tabela 4.27 Tarifas dos contratos com a TGN e as empresas Gasan.............................. 449
Tabela 4.28 Produo e consumo de gs natural e eletricidade no Chile (1994-2006)................................................................................................ 451
Tabela 4.29 Algumas das principais variveis socioeconmicas (ou variao das variveis) da Argentina (1998-2006).............................. 454
Tabela 4.30 Preos e tarifas da energia eltrica e do gs natural na Argentina (comparao com os valores no Reino Unido).......................... 457
Tabela 4.31 Relao reservas provadas/produo de gs natural na Argentina................................................................................................ 459
xiv
LISTA DE QUADROS
Volume I
Quadro 2.1 - Principais associadas da International Electrical Association,
em 1936........................................................................................................ 118
Quadro 2.2 - Ordem das prioridades do governo em 1976, para empresrios
e ministros..................................................................................................... 188
Quadro 3.1 - Distribuio das tarefas/responsabilidades entre as empresas
promotoras do projeto................................................................................... 275
Quadro 3.2 - Contratos de Servio de Transporte Firme da TBG...................................... 296
Volume II
Quadro 4.1 - Resultados da privatizao de Gas del Estado dividida em
companhias de transporte e de distribuio.................................................. 373
xv
LISTA DE GRFICOS
Volume I
Grfico 2.1 - Comparao entre evoluo de custos da IB e a Prime Rate...................... 173
Grfico 2.2 - Consumo final de eletricidade no Brasil..................................................... 184
Grfico 3.1 - Relao entre capacidade de transporte e volume mdio transportado
pela TBG...................................................................................................... 297
Grfico 3.2 - Histrico das taxas de cmbio R$/US$ entre junho de 2001 e junho
de 2003........................................................................................................ 307
Volume II
Grfico 4.1 - Produo e reservas de petrleo entre 1980 e 1989 (Argentina)................. 359
Grfico 4.2 - Consumo de gs natural na Argentina por setor (1993, 2004 e 2006)........ 378
Grfico 4.3 - Reservas de petrleo e gs natural (Chile 1980-1993)................................ 384
Grfico 4.4 - Exportao de gs natural da Argentina ao Chile........................................ 453
Grfico 4.5 - Produo, consumo e exportao de lquidos de petrleo e lquidos de Gs natural na Argentina............................................................................. 455
Grfico 4.6 - Reservas provadas de petrleo.................................................................... 456
Grfico 4.7 - Produo e consumo de gs natural na Argentina (1980-2006).................. 457
Grfico 4.8 - Consumo mdio dirio de gs natural na Argentina ................................... 459
Grfico 4.9 - Preos mdios de eletricidade em Alto Jahuel (Santiago)............................ 462
Grfico 4.10 - Gs natural transportado por Gasandes (junho 1997 a setembro 2007)........ 463
Grfico 4.11 - Preos mdios de gs natural (consumo de 19,3 m3/ms)........................... 464
xvi
LISTA DE MAPAS
Volume I
Mapa 2.1 - Aproveitamentos hidreltricos nas Bacias Tiet, Rio Grande e Paran............ 103
Mapa 2.2 - Esquema do aproveitamento de Sete Quedas em solo exclusivamente
Brasileiro............................................................................................................ 124
Mapa 2.3 - A regio do Salto de Sete Quedas com a indicao da rea litigiosa................ 126
Mapa 2.4 - Detalhe do limite entre o Brasil e o Paraguai, na regio da
Serra do Maracaju e Saltos do Guair.............................................................. 131
Volume II
Mapa 4.1 - Esquema do projeto Gasandes........................................................................... 410
Mapa 4.2- Esquema do projeto TransGas ou Transandino................................................. 433
xvii
SUMRIO
Volume I
APRESENTAO........................................................................................................... 1
CAPTULO 1 O CONTEXTO DA PESQUISA: CARACTERIZAO
DO PROBLEMA, MARCO TERICO E ANTECEDENTES
HISTRICOS......................................................................................... 5
1.1 A caracterizao do problema..................................................................................... 5
1.1.1 Sobre o conceito de energia................................................................................ 13
1.1.2 Sobre o conceito de integrao........................................................................... 15
1.2 O referencial analtico da pesquisa.............................................................................. 16
1.2.1 Antecedentes ...................................................................................................... 17
1.2.1.1 A integrao regional no marco do liberalismo econmico.................... 17
1.2.1.2 A integrao regional e energtica tendo como referncia a
a geopoltica............................................................................................ 26
1.2.2 A preciso de conceitos no referencial analtico................................................ 34
1.3 A implantao da hegemonia da explorao na Amrica Latina................................. 47
1.3.1 A questo da periodizao histrica.................................................................... 47
1.3.2 A insero da Amrica Latina durante a expanso do capital: submisso e dependncia ....................................................................... 52
1.3.3 A expanso dos servios energticos................................................................... 62
1.3.4 As transformaes na fora de trabalho............................................................... 63
1.3.5 A crise de 1929 e suas implicaes...................................................................... 65
1.3.5.1 Os efeitos da crise na Amrica Latina..................................................... 66
1.3.6 A transformao da crise em oportunidade com a participao do Estado............................................................................................................. 68
1.3.6.1 A sada da crise e o amadurecimento da crise estrutural na Amrica Latina........................................................................................ 71
1.3.6.2 A industrializao e o desenvolvimento energtico
entre 1940 e 1970.................................................................................... 76
1.4. Resenha sobre a crise de 1970 e suas consequncias .................................................. 81
CAPTULO 2 O PROJETO ITAIPU BINACIONAL...................................................... 91
2.1 A apresentao do projeto binacional........................................................................... 91
xviii
2.2 O contexto histrico do projeto Itaipu Binacional........................................................ 93
2.2.1 O processo de industrializao e a evoluo do setor eltrico brasileiro................................................................................................. 93
2.2.2 Resenha sobre o desenvolvimento socioeconmico e do setor eltrico no Paraguai entre as dcadas de 1930 e 1970........................................ 110
2.2.3 O projeto hidreltrico no Salto de Guara: uma boa oportunidade para os negcios, mas com complicaes........................................................................ 116
2.2.3.1 O projeto hidreltrico no Salto de Guara ou Sete Quedas...................... 120
2.2.3.2 O negcio que estava na mira se complica por questes
de poltica exterior................................................................................... 125
2.3 O cenrio internacional regional na Bacia do Prata: marco das relaes entre o Brasil e o Paraguai............................................................................................ 128
2.3.1 O fundamento do problema de limites entre o Brasil e o Paraguai..................... 129
2.3.2 O cenrio internacional na Bacia do Prata........................................................... 134
2.3.2.1 A manifestao dos conflitos sobre os recursos hdricos na Bacia do Prata...................................................................................... 139
2.4 O Tratado de Itaipu........................................................................................................ 144
2.4.1 O consenso com base na instituio do carter binacional da entidade Itaipu................................................................................................. 148
2.4.2 As determinaes do Tratado de Itaipu: os aspectos de organizao e de prestao do servio............................................................. 154
2.4.2.1 A estrutura jurdica dos acordos............................................................... 154
2.4.2.2 O Estatuto da Itaipu: a organizao e o capital social da entidade binacional.................................................................... 156
2.4.2.3 A integrao do capital da Itaipu Binacional.......................................... 160
2.4.2.4 O suprimento de energia: as condies emanadas dos acordos internacionais e a produo e entrega de energia.................................... 162
2.4.2.5 O custo do servio de eletricidade........................................................... 165
2.5 A oportunidade tornou-se realidade: a participao das empresas nacionais e internacionais na maior hidreltrica do mundo.......................................................... 168
2.5.1. Resenha sobre o financiamento e os custos do projeto....................................... 169
2.5.2 A entidades financiadoras do projeto................................................................... 177
2.5.3 A participao das empresas nos contratos.......................................................... 186
2.6 Os benefcios previstos no Anexo C do Tratado........................................................... 192
2.7 As criticas em torno do Tratado de Itaipu e do projeto................................................. 195
2.7.1 As crticas surgidas na dcada de 1970................................................................ 196
xix
2.7.2 As crticas mais recentes: a soberania hidreltrica............................................... 201
2.8 Concluses sobre o projeto Itaipu.................................................................................. 206
CAPTULO 3 O PROJETO DO GASODUTO BOLVIA-BRASIL
3.1. O crescimento do gs natural no consumo de energia.................................................. 209
3.2. Antecedentes do desenvolvimento da indstria dos hidrocarbonetos no Brasil e na Bolvia................................................................................................... 215
3.2.1 A indstria do petrleo no Brasil........................................................................ 215
3.2.1.1 A luta pelo domnio do petrleo brasileiro.............................................. 218
3.2.1.2 A campanha O Petrleo nosso e a criao da Petrobras................... 223
3.2.1.3 O desenvolvimento da indstria do petrleo: do petrleo nosso internacionalizao da Petrobras......................................................... 228
3.2.1.3.1 Descobrindo o petrleo nosso.............................................. 228
3.2.1.3.2 Uma resenha prvia sobre o Gs Natural................................. 232
3.2.1.3.3 Compartilhando o petrleo nosso: as reformas liberais e seu impacto na indstria do petrleo.................................... . 236
3.2.2. A indstria dos hidrocarbonetos na Bolvia....................................................... 238
3.3 A motivao para a realizao do gasoduto internacional............................................. 245
3.3.1 O interesse das grandes empresas internacionais no gs natural, na Bolvia e no mercado para o gs no Brasil........................................................................ 245
3.3.2 O impulso da gerao termoeltrica no Brasil...................................................... 247
3.3.2.1 A termoeletricidade no marco das reformas neoliberais do setor eltrico brasileiro.............................................................................. 251
3.4 A estruturao do marco jurdico que permitiu o desenvolvimento de negcios.......... 259
3.4.1 Antecedentes/bases das negociaes entre o Brasil e a Bolvia: diferentes momentos............................................................................................. 260
3.4.2 O marco geral dos acordos internacionais do gasoduto........................................ 266
3.4.2.1 As bases da estrutura contratual do projeto Gasbol................................. 269
3.4.2.2 A estrutura societria das empresas transportadoras de gs natural....................................................................................................... 273
3.4.2.3 A estrutura contratual que viabilizou o financiamento do Gasoduto Bolvia-Brasil....................................................................... 280
3.4.2.4 Resenha sobre o financiamento da empresa Gas Transboliviano S.A. (GTB)................................................................................................ 281
3.4.2.5 Resenha sobre o financiamento da empresa Transportadora Brasileira Gasoduto Bolvia-Brasil TBG............................................... 283
xx
3.4.3 Os Contratos de suprimento de gs e de transporte............................................... 285
3.4.3.1 O Contrato de Suprimento de Gs - Gas Supply Agreement (GSA)..................................................................................................... 287
3.4.3.2 Os contratos de transporte........................................................................ 290
3.4.3.2.1 Acordo de Transporte do gs, trecho boliviano (contrato TCQ)...................................................................... 290
3.4.3.2.2 Acordo de Transporte no Brasil (contrato TCQ)...................... 292
3.4.3.2.3 Contratos adicionais de transporte: TCO e TCX...................... 293
3.4.4. O transporte de gs pelo gasoduto....................................................................... 295
3.5 As consequncias do projeto......................................................................................... 298
3.5.1 Consequncias no Brasil....................................................................................... 298
3.5.2 Consequncias do projeto na Bolvia.................................................................... 313
3.5.2.1 A participao da Enron na Bolvia: a contradio entre a imagem corporativa e a realidade............................................................ 315
3.5.2.2 O crescimento das reservas de gs natural............................................... 318
3.5.2.3 A percepo dos benefcios na Bolvia.................................................... 320
3.6 Concluses do projeto Gasbol ..................................................................................... 329
Volume II
CAPTULO 4 - O PROJETO GASANDES........................................................................ 338
4.1 O desenvolvimento do gs natural na Argentina e no Chile......................................... 338
4.1.1 O desenvolvimento dos hidrocarbonetos na histria da Argentina...................... 338
4.1.1.1 Os primrdios do desenvolvimento dos hidrocarbonetos na Argentina no marco da expanso capitalista............................................. 340
4.1.1.1.1 O gs natural para iluminao ................................................... 340
4.1.1.2 A participao do Estado na indstria dos hidrocarbonetos: a criao de Yacimentos Petrolferos Fiscales (YPF) e de Gas del Estado (GdE)................................................................................ 344
4.1.1.2.1 A criao da YPF e da empresa Gas del Estado......................... 344
4.1.1.2.2 A nacionalizao dos servios pblicos ..................................... 346
4.1.1.2.3 A criao da empresa Gas del Estado ........................................ 348
4.1.1.2.4 O preldio da volta do liberalismo econmico .......................... 352
4.1.1.2.5 O retorno do governo democrtico e as presses crescentes das empresas privadas ............................................... 358
4.1.1.3 As reformas neoliberais do governo de Menem e as conseqncias no setor hidrocarbonetos............................................................................. 361
xxi
4.1.1.3.1 O processo de entrega das reservas de hidrocarbonetos e a venda das empresas YPF e GdE ....................................... 366
4.1.1.3.2 O interesse pelo gs natural argentino .................................... 374
4.1.2 O contexto histrico em que se desenvolveram os os gasodutos internacionais no Chile.................................................................. 377
4.1.2.1 Resenha sobre o desenvolvimento da explorao de recursos
minerais aps a independncia da Espanha................................................. 379
4.1.2.1.1 A criao da Empresa Nacional de Petrleo (ENAP) do Chile........................................................................................ 383
4.1.2.2 A via pacfica do socialismo chileno e a violenta reao das classes dominantes............................................................................... 385
4.1.2.3 O golpe de Estado contra Allende e o retorno das polticas neoliberais.................................................................................................... 390
4.1.2.4 As reformas no setor energtico chileno....................................................... 394
4.1.2.4.1 O setor eltrico................................................................................ 394
4.1.2.4.2 O gs natural: a soluo para a expanso do setor eltrico Chileno............................................................................................ 399
4.1.2.4.3 A crise do modelo do setor eltrico chileno.................................... 403
4.1.2.4.4 O processo de internacionalizao da ENAP.................................. 405
4.2 O desenho de um projeto de gasoduto com base em critrios de mercado...................... 406
4.2.1 O enfoque do projeto Gasandes.............................................................................. 406
4.2.2 Os acordos que deram o suporte jurdico ao projeto Gasandes............................. 411
4.2.2.1 Levantamento de restries no Protocolo de 1995: a caminho da viabilizao do projeto Gasandes...................................... 415
4.2.2.2 O tratamento de preos de compra-venda e do transporte e o acesso livre......................................................................................... 416
4.2.2.3 O alerta sobre o abastecimento interno da Argentina.............................. 417 4.2.2.4 Tratamento tributrio............................................................................... 417 4.2.2.5 Novos assuntos definidos no Protocolo de 1995..................................... 417
4.2.3 As empresas envolvidas no projeto Gasandes: resenha sobre a estratgia de participao no projeto.................................................................... 419
4.2.3.1 NOVA Gas Internacional......................................................................... 419
4.2.3.2 Compaa de Consumidores de Gas de Santiago S.A. (Gasco).............. 422
4.2.3.3 Gener S.A................................................................................................. 426
4.2.3.4 Compaa General de Combustibles (CGC)............................................ 428
4.2.3.5 Techint Compaa Tcnica Internacional SACI...................................... 429
4.2.3.6. O resultados das mudanas na estrutura societria do do projeto Gasandes, nas empresas scias.............................................. 429
4.2.4 A disputa pelo mercado chileno: resenha sobre a histria e o desfecho................ 431
xxii
4.2.4.1 Os consrcios de empresas com projetos de transporte de gs natural e de gerao eltrica............................................................. 431
4.2.4.2 As condies e a caracterizao dos projetos concorrentes..................... 436
4.2.4.2.1 O papel dos Estados no marco da concorrncia entre consrcios................................................................................................. 439
4.2.4.2.2 Os interesses dos grupos econmicos ........................................ 443
4.2.4.2.3 A questo do desenvolvimento regional no Chile...................... 445
4.2.4.3 O desfecho da concorrncia dos gasodutos: os contratos de transporte.... 449
4.2.5 Os resultados do projeto no marco da crise do gs natural argentino.................... 450
4.2.5.1 Os primeiros anos de operao.................................................................. 450
4.2.5.2 A crise do modelo neoliberal na Argentina: impacto no setor hidrocarbonetos............................................................................. 453
4.2.5.2.1 A reao do governo argentino frente crise do modelo de desenvolvimento do gs natural e as repercusses no Chile........ 458
4.2.5.2.2 O impacto da crise do gs no projeto Gasandes........................... 463
4.3 Concluses sobre o Projeto Gasandes............................................................................. 465
CAPTULO 5 CONSIDERAES FINAIS...................................................................... 470
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................................... 482
LISTA DE PESSOAS ENTREVISTADAS.......................................................................... 503
APNDICES
1.1 A conquista e colonizao da Amrica pelos Reinos da Espanha e Portugal: o perodo do domnio formal do capital..................................................... 505
2.1- A questo dos rios internacionais na Bacia do Prata..................................................... 516
2.2 - Notas Reversais (NR) ou Notas Diplomticas assinadas conjuntamente com o Tratado de Itaipu (26 de abril de 1973)........................... 521
2.3 Dados tcnicos do projeto Itaipu Binacional................................................................... 523
2.4 As tarifas de Itaipu Binacional...................................................................................... 524
3.1 O contrato turnkey com a Bolvia ................................................................................ 525
3.2 Alguns dados sobre os emprstimos obtidos para o trecho Brasileiro do Gasbol .................................................................................................. 527 3.3 Detalhes sobre os contratos de suprimento e transporte de gs ................................... 528
3.4 Tarifas de transporte de Gasbol ................................................................................... 535
xxiii
4.1 O gs natural na gerao termeltrica de Reino Unido ................................................ 536
4.2 Resenha sobre as relaes bilaterais entre a Argentina e o Chile ................................ 537
4.3 A privatizao da Transportadora de Gas del Norte e o projeto Gasandes .................542
xxiv
LISTA DE ABREVIAES MAIS USADAS ACE Acordo de Complementao Econmica na ALADI
AEI Ashmore Energy International
AIE (ou IEA) Agncia Internacional de Energia
ALADI Associao Latino-americana de Integrao
ALALC Associao Latino-americana de Livre Comrcio
ANDE Administracin Nacional de Electricidad Paraguai
ANEEL Agncia Nacional de Energia Eltrica
ANP Agncia Nacional de Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis Brasil
BEN Balano Energtico Nacional
BG British Gas
BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
BP British Petroleum
CEPAL Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe Naes Unidas
CIBPU - Comisso Interestadual da Bacia dos rios Paran e Uruguai
CMBEU Comisso Mista Brasil Estados Unidos da Amrica
CNE Comisso Nacional de Energia Chile
CNP Conselho Nacional do Petrleo Brasil
CORFO Corporacin de Fomento Chile
DOE Department of Energy - EUA
DS Decreto Supremo
ECC- Energy Conversion Contract
Eletrobrs Centrais Eltricas Brasileiras
ENARGAS Ente Nacional Regulador del Gas - Argentina
ENP Empresa Nacional de Petrleo Chile
ENRE Ente Nacional Regulador de Electricidad - Argentina
EPE Empresa de Pesquisa Energtica - Brasil
EUA Estados Unidos da Amrica
FMI Fundo Monetrio Internacional
GATT Acordo Geral de Comrcio e Tarifas (siglas em ingls)
Gasbol Gasoduto Bolvia - Brasil
GdE Gas del Estado Argentina
xxv
GLP Gs Licuado de Petrleo
GNL Gs Natural Liquefeito
Goni Gonzalo Snchez de Lozada
GSA Gas Supply Agreement
GTB Gas Transboliviano S.A.
IAP Instituto Argentino del Petrleo
IB Entidade Itaipu Binacional
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IDH Imposto Direto sobre os Hidrocarbonetos - Bolvia
IUEE Imposto nico de Energia Eltrica
MAE Mercado Atacadista de Energia Brasil
MCPD metros cbicos de gs natural por dia (em condies de 15 C e 1013 HPa)
MERCOSUL Mercado Comum do Sul
MME Ministrio de Minas e Energia - Brasil
MRE Ministrio das Relaes Exteriores ou Itamaraty - Brasil
OECD Organizao para a Cooperao Econmica e o Desenvolvimento
OLADE Organizao Latino-americana de Energia
OMC Organizao Mundial de Comrcio
ONS Operador Nacional do Sistema Brasil
ONU Organizao das Naes Unidas
Petrobras Petrleo Brasileiro S.A.
PIB Produto Interno Bruto
PIE Produtor Independente de Energia
PPA Power Purchase Agreement
PPT Programa Prioritrio de Termeletricidade
PSI Programa de Substituio de Importaes
QDC Quantidade Diria Contratual
SoP Ship or Pay
TBG Transportadora Brasileira Gasoduto Bolvia Brasil S.A.
TCO Transportation Contract Option
TCQ Transportation Contract Quantity
TCX Contrato de Transporte Adicional
TGN Tesoro General de la Nacin Bolvia
TGN Transportadora de Gas del Norte - Argentina
xxvi
TGS Transportadora de Gas del Sur
ToP Take or Pay
US$ - Dlares dos Estados Unidos da Amrica
UTE(s) Usina(s) Termeltrica(s)
YPF Yacimientos Petrolferos Fiscales Argentina
YPFB Yacimientos Petrolferos Fiscales Bolivianos - Bolvia
ALGUMAS UNIDADES bbl barril ou barris (1 bbl = 158,987 l)
bep barris equivalentes de petrleo (1000 bep = 1,39 Tcal)
BTU ou Btu British Thermal Unit (1 BTU = 1055,05585 J)
MMBtu Milho de BTU
tep toneladas equivalentes de petrleo (1 tep = 7,205 bep)
1
APRESENTAO
O trabalho trata da integrao energtica regional na Amrica do Sul. um tema que
tem a ver com a histria pessoal e profissional do autor da tese. Que se origina em seus anos
de estudante de graduao num pas para ele, no incio estrangeiro (o Brasil), no marco de
programas de cooperao do Brasil criados durante a dcada de 1970 - com base nas
relaes bilaterais vinculadas j como um projeto de integrao energtica: a Itaipu
Binacional. Mas a reflexo sobre o significado desse tipo de empreendimento veio depois, na
dcada de 1990, quando o autor participou, como delegado de seu pas natal (Paraguai), dos
primeiros trabalhos para criao de um grupo que tratava da energia no mbito do
MERCOSUL. Foi nesse percurso que se criaram os sonhos sobre a cooperao regional,
apresentaram-se as armadilhas das correntes ideolgicas hegemnicas durante aquela passada
dcada e, posteriormente, surgiu a necessidade de entendimento da realidade, de descobrir, j
com um mergulho analtico, de qu se tratava a integrao energtica.
O desafio foi grande, pois no incio existiam muitas dvidas sobre os objetivos, a
delimitao do problema a ser pesquisado e sobre o mtodo. Mas a motivao de
compreenso foi maior que a dvida. Assim, as anlises e discusses realizadas durante as
aulas e fora delas com professores e colegas deste Programa de Ps-graduao levaram o
autor a refletir sobre a integrao energtica como parte de um processo mais abrangente e
sobretudo - como parte de um processo social e histrico. Este enfoque, por sua vez,
descortinou possibilidades tericas de abordar a questo da integrao energtica de um ponto
de vista que ajudasse a compreend-la melhor, a identificar suas razes socioeconmicas. O
processo de integrao energtica dentro desta perspectiva passou a fazer mais sentido.
Dentro do tema escolhido para a pesquisa, e tendo em vista as perspectivas de anlise
expostas, se definiu o objetivo deste trabalho: a identificao das motivaes
socioeconmicas mais relevantes que sustentaram alguns dos projetos mais significativos da
regio, buscando assim identificar e analisar como se inseriram no processo de expanso do
capitalismo em pases da Amrica do Sul. Para isto, a maneira como foram desenhadas as
2
entidades o empresas, de como foi levado adiante o financiamento e as consequncias
relevantes do projeto, desde o ponto de vista socioeconmico, dentro de um contexto
histrico, fornecem subsdios para a anlise proposta.
A mirada se orientou para o passado, para os projetos que foram desenvolvidos nas
ltimas dcadas na rea do MERCOSUL mais Bolvia e mais Chile1. Tendo a rea delimitada
por um bloco regional e os dois pases vizinhos com maior relao de cunho econmico
(foram os dois primeiros pases a assinar um acordo com o MERCOSUL), a questo foi a
escolha dos projetos especficos. O escopo devia considerar projetos emblemticos,
representativos nas ltimas dcadas. As discusses com os professores do programa
orientaram para a escolha de trs projetos: Itaipu Binacional, Gasbol e Gasandes.
O critrio principal foi a de analisar pelo menos um projeto desenhado na poca da
aplicao das polticas keynesianas e estruturalistas cepalina e pelo menos um projeto
desenvolvido no auge das reformas neoliberais das dcadas de 1980 e 1990. No primeiro
caso, Itaipu Binacional foi uma opo vivel e de certa maneira relacionada com trabalhos
profissionais anteriores do autor. No segundo caso, o projeto Gasandes, desenvolvido
exclusivamente pelo capital privado em dois pases que abraaram as receitas neoliberais,
apresentava-se de grande interesse para o estudo, pois foi um cone de desenvolvimento de
projetos e de concorrncia entre empresas, em sua poca (dcada de 1990). O caso de Gasbol
foi escolhido posteriormente, como um projeto intermdio entre a participao do Estado e de
agentes privados, mas dentro de um contexto jurdico e de contratos totalmente orientado
pelas novas polticas. Determinou-se, ento, realizar a anlise destes trs projetos, tendo como
objetivo o que foi exposto acima.
Mas a questo verdadeiramente mais difcil foi a escolha de um mtodo para a anlise
e de subsdios conceituais para o referencial analtico. Uma grande parte dos estudos sobre
este assunto apresenta a integrao energtica com um enfoque centrado na operao
comercial de um recurso, com ganhos econmicos imediatos, ou bem tem um marcado
enfoque geopoltico da questo. Contudo, o objetivo que se havia proposto para a pesquisa ia
alm deste enfoque no tocante a identificar os beneficirios reais dos projetos, as motivaes.
A proposta era perguntar-se sobre o contexto histrico em que se haviam desenvolvido os
projetos e para qu haviam sido realizados estes projetos de integrao?
Com base na proposta realizada se decidiu aplicar o mtodo de anlise histrica dos
projetos no bojo da expanso do capitalismo na regio. Para a aplicao deste mtodo, tomou-
1 Se escolheu esta regio por ser a que apresenta os maiores projetos de integrao energtica na Amrica do Sul.
3
se tambm um referencial analtico que ser apresentado no Captulo 1 desta tese, com base
numa breve anlise prvia sobre a delimitao do problema a estudar. Neste mesmo Captulo,
tambm so apresentados antecedentes da histria da Amrica Latina que se entendem
relevantes para o entendimento das condies socioeconmicas em perodos posteriores,
quando da realizao dos projetos estudados.
Uma vez discutido e definido o referencial do trabalho, se realizam a apresentao e
anlise cada projeto: Itaipu, Gasbol e Gasandes, nos Captulos 2, 3 e 4, respectivamente. A
sucesso dos Captulos segue uma ordem decrescente de participao direta dos Estados
nesses projetos. Esta ordem no estritamente cronolgica, pois o projeto Gasandes comeou
como desenho um pouco depois do projeto Gasbol, pero iniciou a operao alguns anos antes.
Na verdade, esses dois projetos fazem parte de um mesmo contexto histrico no que tange s
polticas econmicas: o neoliberalismo.
Cada um desses Captulos que analisam os projetos segue uma ordem de apresentao
semelhante. Em primeiro lugar, se apresenta o contexto histrico do setor energia nos pases
envolvidos, at o perodo de realizao de cada projeto. Neste contexto busca-se identificar as
formas que tomou a expanso de um modo de produo capitalista nos pases e
particularmente no setor energia e como se vincula o projeto com este contexto; as
motivaes aparecem relacionadas com esta vinculao. Em segundo lugar, apresentam-se os
instrumentos jurdicos ou contratuais que buscam a sustentao do projeto; o caminho para
que as motivaes oriundas de um contexto histrico se realizem de uma maneira concreta
com um projeto determinado. Em terceiro lugar, como continuao ou vinculada parte
anterior, se apresenta a estrutura societria ou natureza de constituio da entidade ou
empresa (ou empresas) encarregada do projeto, bem como os grupos econmicos com
relaes contratuais no marco de realizao do projeto. Nesta fase aparecem os grupos
econmicos determinados, com interesses particulares em cada projeto. Posteriormente, como
quarta fase da anlise, so colocadas as caractersticas sobre o financiamento e sobre as
particularidades de operao e remunerao de cada projeto. A quinta fase da anlise se refere
ao perodo de operao dos projetos, sobre as consequncias e impactos, buscando nessa
anlise identificar os grupos mais beneficiados desde o ponto de vista socioeconmico. Todo
Captulo de anlise termina com algumas concluses.
Cabe destacar que nem todos os Captulos seguem a mesma ordem. A definio das
fases acima mencionadas uma orientao de leitura, pois cada projeto possui
particularidades que evidentemente so consideras na anlise, cuja apresentao neste
trabalho certamente diferente dos outros projetos.
4
No que se refere ao material pesquisado, merece ser mencionado que nem todos os
casos estudados possuem o mesmo nvel de divulgao de dados e informaes. Por esta
razo, buscou-se complementar o levantamento de dados e informaes com entrevistas que
foram realizadas em dois perodos: as primeiras, realizadas em agosto de 2005, na Bolvia,
entrevistas relacionadas com o projeto Gasbol; as demais entrevistas foram realizadas entre os
meses de setembro de 2007 e fevereiro de 2008, na Argentina, Brasil, Chile e Paraguai, e
estiveram relacionadas com os trs projetos. Uma lista das pessoas entrevistadas encontra-se
depois da apresentao das referncias bibliogrficas. Cabe destacar, contudo, que essas
entrevistas tiveram o intuito de dar uma melhor compreenso dos projetos, no teve um fim
analtico especfico que merecesse um tratamento especial dessa informao.
Finalmente, no Captulo 5 se apresentam algumas consideraes finais com o intuito
de refletir sobre os casos estudados, tentando resgatar um fio condutor de anlise, e apresentar
algumas ideias finais a guisa de recomendaes para posteriores estudos.
5
CAPTULO 1 O CONTEXTO DA PESQUISA: CARACTERIZAO DO
PROBLEMA, MARCO TERICO E ANTECEDENTES HISTRICOS
1.1. A caracterizao do problema
O fato iniludvel de que a distribuio geogrfica da disponibilidade, em longo prazo,
de fontes primrias de energia no coincide com a distribuio geogrfica do consumo de
energia no mundo aparece, pelo menos prima facie, como causa material, seja das transaes
comerciais ou da busca de diferentes nveis de cooperao, coordenao e integrao2 entre
regies, pases e grupos de pases.
Em princpio, esse tipo de relao entre pases ou regies, em se tratando de fontes e
formas de energia, tem como objetivo o suprimento seguro e confivel para satisfazer os
diferentes usos num determinado territrio que no auto-suficiente. Este suprimento pode
ser entendido como o acesso, para atender todas as necessidades no tempo presente e num
tempo futuro considerado razovel, s fontes e formas de energia que determinados grupos
sociais precisam para desenvolver seu modo de vida. Questo esta que essencial e
determinante no somente para a subsistncia do ser humano em seu entorno e a construo e
manuteno do que corresponde sua cultura material seno para as relaes de produo que
determinam o modo de vida de grupos por meio do aproveitamento das foras produtivas.
O mencionado descasamento geogrfico no tocante aos recursos e demanda destes
no um assunto trivial; tem relao e se encontra imerso no decorrer histrico dos povos.
Em virtude disso, certos grupos sociais ou mesmo povos escravizaram a outros; exploraram
os recursos disponveis em seus territrios e, em certas ocasies, buscaram o controle sobre os
que se encontravam em territrios de outrem. Inclusive foram deflagradas guerras entre povos
2 Conforme ser apresentado mais adiante, existem diversos nveis de relao entre os Estados em busca de um benefcio comum; a integrao o processo de relao mais elevado (o que se denomina unio econmica e poltica, processo no qual se encontra a Unio Europia que seria o patamar mais elevado de integrao numa regio determinada).
6
e produziram-se diversas formas de explorao, no sentido apresentado por Gonzlez
Casanova (1971)3, como elemento constitutivo das relaes humanas.
Num marco mais geral, a procura de recursos e produtos e a possibilidade de
transport-los de um lugar a outro com o concurso de uma intermediao conformam
elementos originrios de uma das atividades econmicas mais antigas do homem: o comrcio.
No plano das transaes comerciais dos diversos produtos da natureza coletados ou
transformados pelo trabalho humano convertidos em mercadorias (inclusive algumas to
vitais para a vida humana, como os alimentos, que finalmente tambm so fonte de energia)
condio necessria mobilidade/transporte de produtos de uma regio a outra. Assim,
possvel satisfazer os gostos ou necessidades de um grupo social que muitas vezes mora num
lugar totalmente diferente do lugar de origem do produto transformado em mercadoria.
Como aqui no se tem o intuito de aprofundar a caracterizao da atividade comercial
sim apresentar o problema que se estuda no se considera necessrio exprimir a
complexidade desta atividade econmica. Porm, cabe destacar a importncia que possui esta
atividade para o processo de circulao do capital.
Para explicar o comrcio internacional existem teorias que o consideram desde o ponto
de vista da eficincia econmica. Tem-se, por exemplo, o caso da teoria das vantagens
comparativas de David Ricardo, segundo a qual uma regio ou um pas deve especializar-se
na produo de certa mercadoria na qual seja mais eficiente (em comparao com outros) em
termos de custos (como valor de trabalho incorporado), e produzir excedentes exportveis
para comercializ-los com outras regies onde no existam essas vantagens. Esta explicao,
apresentada de maneira bastante simplificada aqui e que no a nica no marco dos estudos
de economia internacional, foi uma das primeiras expresses dos pensadores clssicos com o
fito de descobrir a racionalidade no comrcio internacional.
No era por acaso a preocupao dos primeiros economistas dos sculos XVIII e XIX
sobre o comrcio internacional. Com efeito, as transaes comerciais entre pases ou regies
so to antigas como a apario das primeiras manufaturas nas civilizaes da antiguidade na
Europa, sia e frica, mas tomaram uma escala mundial (no mundo ocidental) durante a
Idade Mdia, coincidindo com as Cruzadas. O contato da Europa com a sia permitiu um
comrcio notvel e crescente no mar Mediterrneo, incluindo posteriormente as regies
asiticas mais afastadas da Europa (TAMANES, 1982).
3 Vide o ponto 1.2.3 desta tese.
7
Durante a poca da expanso do mundo ocidental europeu, com a invaso e conquista
de terras na Amrica e dos territrios no oceano Pacfico, o comrcio internacional teve um
crescimento nunca antes visto na histria, das mos das primeiras empresas transnacionais
criadas em ocidente: a Companhia das ndias da Holanda e a Companhia de Moscou, criadas
no sculo XVII. (TAMANES, 1982, p. 23 e 302). Na poca, a energia oriunda do vento e do
ser humano foi aproveitada por grandes comerciantes para impulsionar o comrcio em escala
planetria.
No se trata aqui de descrever a evoluo do comrcio, mas sim de vincular esta
atividade com os processos de integrao regional. Nos dias de hoje, esta atividade econmica
central nas relaes entre naes e se vincula com o acesso e s vezes o controle sobre
recursos e produtos necessrios para o desenvolvimento da vida moderna, segundo o modo de
produo e o modo de vida dos grupos sociais, num determinado territrio. A arena na qual se
dirimem assuntos desta ndole se encontra altamente regulada no seio da Organizao
Mundial do Comrcio (OMC).
As relaes entre o desenvolvimento do comrcio e a energia sempre existiram e se
deram num contexto social e histrico determinado. Em primeiro lugar, sem o transporte
dos resultados do trabalho humano sobre o mundo natural convertidos em mercadorias
impensvel o comrcio, menos ainda uma atividade desenvolvida em longas distncias. E o
transporte e a mobilidade de pessoas uma atividade consumidora de energia. Tanto as
distncias percorridas como a rapidez em percorr-las se relacionam estreitamente com o uso
da energia. At a Revoluo Industrial iniciada no sculo XVIII, no Reino Unido, o transporte
dependia essencialmente de limitadas fontes de energia (principalmente a trao animal,
humana ou a energia do vento). Pouco tempo depois das inovaes na produo txtil inglesa,
a inveno, produo e fabricao comercial da mquina de vapor de Joseph Black e James
Watt (entre 1769 e 1774)4, desenvolvida a partir de inovaes nas mquinas de Savery e de
Newcomem, representaram um grande impulso produo industrial, substituindo fora de
trabalho humano, e posteriormente ao transporte. Trata-se, na verdade, da aplicao de
inovaes tecnolgicas para o uso da energia para impulsionar o desenvolvimento do
capitalismo.
4 James Watt desenvolveu as inovaes tecnolgicas com base nas experincias de Joseph Black.
8
A mquina de vapor conseguiu ir alm do aproveitamento do calor direto, que tinha
limitados usos industriais e domsticos, por meio da transferncia de energia gua5 e a sua
converso em energia mecnica. O domnio do fogo parecia completar-se com esta
possibilidade de converso energtica, tendo como fonte principal o carvo mineral, que
tambm estava sendo amplamente utilizado como redutor dos minerais de ferro para a
produo do ao. De fato, o ao e o carvo mineral foram os pilares do desenvolvimento
industrial e energtico desde o sculo XVIII at, pelo menos, meados do sculo XX. O carvo
somente foi desbancado como principal fonte de energia primria na segunda metade do
sculo XX, quando as transformaes produtivas, socioeconmicas e de infraestrutura
vinculadas com os avanos tecnolgicos dos motores de combusto interna resultaram na
expanso, em escala planetria, da indstria automobilstica e do transporte areo e martimo.
Consolidou-se nos ltimos 50 anos a era do petrleo.
Quando a mquina de vapor passou a ser usada em locomotivas e em barcos, nas
primeiras dcadas do sculo XIX (BARCEL, 1976; e SIMON, 1975), se produziu o
primeiro grande salto em direo ao transporte em grande escala, em terra, mar e cursos
fluviais, por longas distncias e com maior rapidez. Para compreender melhor este salto, pode
considerar-se a comparao que realiza Barcel (1976): Napoleo, no incio do sculo XIX,
quando se retirava da Rssia, conseguiu com seu exrcito uma velocidade mdia de 8 km/h, o
dobro da velocidade de um viajante por terra na poca, mas era praticamente a mesma
velocidade mdia obtida por Jlio Csar e seu exrcito quase dos mil anos atrs. Pouco tempo
depois, em 1825, a locomotiva melhorada por George Stevenson, na Inglaterra, conseguia
alcanar uma velocidade de 72 km/h, com velocidades mdias na faixa de 40 a 50 km/h. Em
poucas dcadas a passagem do uso do calor direto para o uso de vapor permitiu, entre outros
efeitos, um grande salto na velocidade e na capacidade do transporte. As motivaes e
implicaes da inovao tecnolgica tambm se relacionam com a expanso do modo de
produo capitalista, em escala cada vez maior.
As transformaes produtivas socioeconmicas e de infraestrutura que foram
desenvolvidas desde o sculo XVIII, mas principalmente nos dois sculos que se seguiram,
tiveram consequncia no somente no transporte seno em todos os aspectos da vida humana
decorrentes de determinado modo de produo. No tocante energia, o impacto foi notvel: o
consumo por habitante passou de 27.000 kilocalorias, caracterstico de grupos sociais com
5 A gua uma substncia abundante e facilmente conversvel ao estado gasoso, cujas caractersticas de variao de presso e volume, com base na energia cintica interna das molculas, so fundamentais para a produo de trabalho.
9
atividade agrcola avanada, ordem de 70.000 kilocalorias, para um homem de uma cidade
inglesa, no final do sculo XIX (cf. SIMON, 1975, p. 3). No mesmo sentido, Bernal (1970, p.
21) aponta que a produo de carvo mineral incrementou-se 15 vezes entre 1780 e 1880 (de
10 a 150 milhes t) e o ao 110 vezes (de 68.000 a 7,75 milhes t), no mesmo perodo. O uso
de diferentes fontes e formas de energia, e por tanto todas as relaes no interior desta
indstria, se vincula de maneira estreita e est imerso no bojo de transformaes ainda mais
profundas nas relaes de produo capitalista e no modo de vida dos grupos sociais
correspondente.
Em segundo lugar, as relaes entre a energia e as transaes comerciais se
relacionam com a considerao das fontes e formas de energia como objeto de intercmbio
nas transaes entre agentes, como mercadoria. Isto , a energia no somente teme efeitos no
desenvolvimento e transformao do processo de produo e circulao do capital seno que
faz parte constitutiva desse processo. Ou melhor, ela poder ser considerada tambm
mercadoria no processo de reproduo e circulao do capital.
Ao considerar a energia no processo de acumulao capitalista podem surgir diferentes
aspectos da anlise, em particular no que se refere ao seu tratamento como mercadoria, o que
se poderia ver como uma apresentao da energia como fenmeno, no sentido hegeliano do
termo, ocultando o carter de produto do trabalho social que da a razo de ser energia. Por
exemplo, a maneira de participao da energia nas relaes de troca pode depender do tipo de
fonte ou forma de energia que analisada. Assim, as transaes de petrleo, bem como as de
carvo mineral e possivelmente as do gs natural liquefeito (GNL), por exemplo, no
apresentam diferenas substanciais com relao a outras mercadorias do comrcio
internacional. Porm, quando se trata de eletricidade e gs natural, como objeto de uma
relao de troca entre dois pases (ou mais pases, como o caso dos mercados integrados de
eletricidade e de gs natural na Unio Europia), as relaes que se referem ao fluxo de
energia envolvem maior nvel de compromisso, plasmando-se em acordos internacionais que
buscam dar estabilidade s transaes comerciais.
O nvel de compromisso pode parecer razovel desde o ponto de vista do processo de
acumulao capitalista, pois os projetos de infraestrutura para a produo, transporte ou
distribuio da exigem altos nveis de alocao de capital fixo. As fontes de energia como o
carvo, o petrleo e o GNL precisam de grandes obras de infraestrutura para o transporte. Mas
a grande diferena entre estas fontes de energia e o gs natural e a eletricidade sem
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considerar o GNL6 a restrio geogrfica para o aproveitamento destes ltimos casos, seja
por razes econmicas ou por razes tcnicas. Neste sentido, o caso da eletricidade ainda
mais claro: o seu transporte como corrente de eltrons apresenta perdas crescentes e
proporcionais distncia das linhas de transporte. Poder-se-ia pensar, em tese, em
transportar energia eltrica armazenada por meio de um vetor energtico (hidrognio), mas
o transporte por longas distncias do hidrognio, e em grande escala, no est ainda resolvido;
ademais o processo de obteno do hidrognio por meio de tecnologias de menor impacto
negativo no meio ambiente continua tendo limitaes.
Por sua vez, os meios convencionais (sem mudanas de estado fsico ou processos
complexos de converso de energia) de transporte de gs natural e de energia eltrica com o
uso de infraestrutura fsica se consolidaram na primeira metade do sculo XX.
Tabela 1.1 - Consumo mundial de carvo mineral, hidrocarbonetos e
hidroeletricidade na primeira metade do sculo XX
1900 1932 1950 1959 Em milhes de bep
3898,93 5659,26 9109,28 12640,01 Carvo mineral Crescimento em relao
ao ano 1900 1,0 1,5 2,3 3,2
Em milhes de bep
21 181 523 977 Petrleo Crescimento em relao
com o ano 1900 1,0 8,6 24,9 46,5
Em milhes de bep 4 49 207 385 Gs Natural Crescimento em relao
com o ano 1900 1,0 12,3 51,8 96,3
Em milhes de bep
40 140 288 615 Eletricidade de hidroenergia Crescimento em relao
com o ano 1900 1,0 3,5 7,2 15,4
Nota: So tomadas as equivalncias entre unidades fsicas e energticas utilizadas pela Organizao Latino-americana de Energia (1 t de carvo mineral = 5,0439 bep; 1 t de petrleo = 7,205649 bep; 1000 metros cbicos de gs natural = 5,9806 bep; 10 MWh = 6,196 bep).
Fonte: elaborao prpria com base nos dados de Simon (1975, p.5).
Com o intuito de apresentar uma referncia dessa notvel expanso da eletricidade
cabe citar dois exemplos: o primeiro grande gasoduto o construdo nos Estados Unidos da
Amrica, nas dcadas de 1920 e 1930, entre o Panhandle do Texas cidade de Chicago (de
cumprimento aproximado de 1600 km), conforme apresentado por Barnes et al. (2006); no
caso do transporte de energia eltrica, o desenvolvimento de Nikola Tesla (1888) para o 6 A tecnologia de liquefazer o gs natural j era conhecida no comeo do sculo XX (as primeiras fbricas comearam a funcionar nos EUA no final da Primeira Guerra Mundial, mas a expanso desta fonte de energia somente se deu a partir da dcada de 1960. Como implica maiores investimentos que no caso do transporte de gs natural por dutos o custo do GNL, em termos de US$/MMBtu mais elevado que o gs natural transportado por dutos.
11
transporte de energia eltrica em corrente alterna, adquirido por George Westinghouse
(fundador da empresa homnima), e a inveno de isolantes eficazes por tcnicos das
empresas Niagara Falls Power Corp. e General Electric, em 1907, fizeram tecnicamente
possvel a transmisso de eletricidade por longas distncias. A primeira linha de transmisso
foi inaugurada na Alemanha, em 1912.
A participao de grandes empresas, tendo o domnio sobre o desenvolvimento
tecnolgico, nas diversas cadeias de valor da indstria da energia, teve relevncia na rpida
expanso do gs natural e da eletricidade (tambm no caso do petrleo)7 . Conforme pode ser
observado na Tabela 1.1, o consumo de gs natural e da hidroeletricidade teve incrementos
notveis durante a primeira metade do sculo XX frente ao carvo mineral. Inclusive, no caso
da eletricidade, os incrementos foram maiores considerando que a hidroenergia no a nica
fonte de energia primria para produzir a eletricidade (nem a principal). Ademais, a
eletricidade, em termos de energia til, tem uma participao maior na matriz energtica8.
O incremento na relevncia do gs natural e da eletricidade no mundo est
estreitamente vinculado com o crescimento da infraestrutura necessria. Em algumas
ocasies, as infraestruturas podem vincular dois ou mais pases. Notavelmente, a regio do
MERCOSUL ampliado9, apresenta um nmero relativamente elevado de projetos energticos
dessa natureza. Se forem consideradas as quantidades envolvidas de energia nesses projetos, a
importncia desses projetos adquire um nvel mundial. Em meados da presente dcada, o
fluxo de eletricidade alcanava, nessa regio, a ordem de 60.000 GWh por ano e 55 milhes
de metros cbicos de gs natural. Argentina, Bolvia e Paraguai se apresentavam como os
7 Dorival Gonalves Jr (2006) realizou, em sua tese de doutoramento, uma interessante anlise sobre o surgimento e a vinculao das grandes empresas da indstria eltrica com a expanso da eletricidade. No deve ser deixado de lado o caso do petrleo: menos de duas dcadas depois do incio de sua explorao comercial nos EUA foi criada a Standard Oil da famlia Rockefeller, um dos casos de enriquecimento familiar com base na explorao de recursos que alcanou escala planetria em pouco tempo. 8 Quando so citados os consumos de fontes ou formas de energia se trata de consumos finais (quantidades que efetivamente se consomem em processos de usos finais de energia). Por sua vez, a energia til considera a eficincia envolvida no processo de uso final de energia. Por exemplo, no caso do Brasil, segundo dados apresentados por Joo Moreira Patusco, do Ministrio de Minas e Energia (em palestra ministrada no dia 20 de fevereiro de 2009, curso Balances de Energia til como herramienta de Planificacin da Organizao Latino-americana de Energia), a eficincia mdia do consumo de eletricidade era, no ano 2004, de 69%, bem maior eficincia mdia do consumo de leo diesel, que alcanou a ordem de 44%. 9 O MERCOSUL est constitudo pelos quatro pases que assinaram o Tratado de Assuno, em 1991: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Neste trabalho, o MERCOSUL ampliado considerado como sendo a regio que inclui os pases desse Tratado internacional e dois outros pases vizinhos: Bolvia e Chile, por ser os dois primeiros pases da regio que tiveram acordos de complementao econmica com o bloco do Sul. Cabe destacar, no entanto, que na atualidade (2009), a configurao de acordos na Amrica do Sul bem complexa, apontando a uma consolidao de relaes de toda a regio, incluindo pases de origem anglosaxona (Suriname e Guiana).
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grandes exportadores de gs natural e eletricidade (os dois primeiros de gs natural e a
Argentina o Paraguai de energia eltrica).
O presente estudo trata da anlise de trs dos principais projetos de energia cujas
caractersticas de desenho, construo e operao, para citar os aspectos mais evidentes,
afetam, segundo cada caso, dois pases vizinhos do MERCOSUL ampliado. A anlise que
ser empreendida neste trabalho pretende descobrir as motivaes de cunho socioeconmico
que embasaram esses projetos dentro de um contexto histrico determinado. Os trs projetos
escolhidos para a anlise so: Itaipu Binacional (usina hidreltrica construda no rio Paran,
no trecho da divisa internacional entre o Brasil e o Paraguai); Gasoduto Bolvia-Brasil ou
Gasbol (gasoduto que transporta gs natural boliviano para satisfazer a demanda de diversos
setores de consumo no Brasil); e Gasandes (gasoduto que cruza a cordilheira dos Andes
permitindo o transporte de gs natural argentino para abastecer principalmente a rea
metropolitana de Santiago do Chile).
Os projetos denominados de integrao energtica na regio do MERCOSUL
ampliado so bastante recentes se comparados com a histria da energia na regio. Eles foram
o resultado de um complexo processo entre diversos agentes dos pases envolvidos e grandes
empresas internacionais, com diferentes graus e modalidades de participao dos Estados. No
desenvolvimento desta pesquisa se buscar mostrar que esta participao e o modelo de
execuo destes projetos se inseriram no contexto do desenvolvimento energtico dos pases
envolvidos.
Realizar o estudo desses projetos como se fossem realidades isoladas, esvaziadas de
um contexto histrico, no somente empobreceria as discusses limitando-as quase que s
caractersticas tcnicas dos projetos, seno que seria uma tarefa quase impossvel encontrar
um fio condutor que ajudasse na interpretao deles, no marco do que representa o setor
energtico ou melhor, a energia para os Estados envolvidos.
A virtude explicativa que possui o enfoque histrico dedicado a entender como
funciona um sistema social determinado (ou bem, para compreender os elementos envolvidos
no desenvolvimento de projetos como os que so analisados neste estudo), para pensadores
como Eric J. Hobsbawm um dos maiores historiadores vivos , ajuda a entender como os
diversos elementos de uma sociedade se combinam entre si criando uma dinmica histrica
(HOBSBAWM, 2004, p.19-20), que passvel por tanto de uma compreenso analtica.
Os trs projetos energticos escolhidos se desenvolveram em trs contextos histricos
diferentes: Itaipu Binacional se desenvolveu na fase final da aplicao das polticas
keynesianas (no perodo 1974-1991), com forte interveno dos Estados; Gasbol se levou
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adiante num contexto de mudana de poltica econmica, orientando o projeto em linha com
os preceitos neoliberais que se implementaram na regio a partir da dcada de 1980; e o
projeto Gasandes um projeto consolidado como projeto consolidado nos moldes neoliberais.
Neste sentido, cabe destacar que os projetos de gasoduto so praticamente contemporneos.
Porm, uma diferena crucial o fato que o Gasbol se desenvolveu entre dois pases em
processo de transformao institucional, enquanto que o projeto Gasandes um projeto
desenvolvido entre dois pases onde as polticas neoliberais estavam comparativamente mais
avanadas. Conforme ser visto no decorrer da apresentao dos dados, o Gasbol teve ainda
uma participao dos Estados, por meio das empresas pblicas de petrleo, em particular, a
Petrobras.
No presente trabalho, a tese que se deseja comprovar que esses projetos de
integrao energtica se inserem num contexto histrico de expanso do processo de
acumulao capitalista na Amrica do Sul e, em particular, nos pases envolvidos nesses
projetos, vinculando as elites locais e os grandes capitais internacionais. Considera-se este
aspecto relevante no estudo da integrao energtica regional, pois colabora no entendimento
sobre as motivaes dos projetos, alm do discurso corrente (no exclusivo) de cooperao
entre os povos, comum quando se trata de projetos desta natureza.
Para o desenvolvimento da anlise, considera-se necessrio o desenvolvimento de um
marco terico que defina o percurso de pensamento a seguir no momento de defrontar os
dados empricos que se apresentem para os projetos escolhidos. Neste sentido, cabe definir
previamente dois conceitos que sero bsicos para a anlise: o conceito de energia e o de
integrao. No se pretende esgotar a discusso sobre estes conceitos que so bem complexos,
nem de operacionalizar, mas sim coloc-los com o intudo de balizar uma perspectiva de
anlise.
1.1.1 Sobre o conceito de energia
Se bem o termo energia tem definies bastante precisas no campo de conhecimento
das cincias fsicas, qumicas e biolgicas, o conceito de energia, para o presente trabalho, vai
alm da definio que permite operacionalizar as transformaes da energia para o seu uso
nos diversos usos finais. A energia, na verdade, considerada em seu contexto social e
histrico, como realidade que se vincula com as relaes sociais que permitem sua produo,
transporte, comercializao e uso. Trata-se de um conceito humanizado de energia, no
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sentido que traz tona que ela o produto do trabalho humano para a extrao,
aproveitamento e transformao da energia. No se restringe ao trabalho individual, seno ao
trabalho que se realiza dentro de uma sociedade determinada, para a sustentao do modo de
vida dos grupos que a integram.
Nos projetos escolhidos, este enfoque sobre a energia bem evidente. Com efeito, o
acesso a uma fonte ou forma de energia na atualidade to fundamental para a vida fsica do
ser humano e para a sua produo material, que aparentemente a razo de ser de um projeto
energtico complexo, com o envolvimento de dois pases. Assim, o acesso energia, em seu
sentido fsico, torna-se um aspecto quase-natural para o homem, no sentido que se percebe
como incorporada naturalmente vida humana. Ningum se preocupa, no quotidiano a
no ser que se produza um apago (ou qualquer outro problema de abastecimento ou de
incremento de custos) - com a origem da energia utilizada na casa, no comrcio ou na
indstria. Normalmente ningum pensa na energia da Itaipu (ou no gs natural boliviano
que utilizado nas usinas termeltricas brasileiras) quando se liga um interruptor de luz na
casa ou quando se acende um equipamento eltrico na indstria. Porm, em se tratando das
questes levantadas em torno do projeto sejam elas polticas, financeiras, sociais, histricas
ou ambientais se percebem com uma corporalidade melhor definida do que as
manifestaes fsicas da energia que mais impressionam aos sentidos humanos, sejam elas
referidas aos resultados dos seus usos finais ou bem aos processos de converso das e entre as
diversas formas de energia.
Assim, quando se trata de energia fora do laboratrio dos cientistas naturais ou da
teoria sobre a sua natureza fsica, quando se traz a energia10 vida humana, no marco das
relaes sociais, ela adquire determinaes bem diferentes: mais abrangentes e envolvidas
com a vida social, nas qual as aes e pensamentos se desenvolvem conscientemente no
tempo, e tem por tanto uma histria. Neste sentido, autores como Ildo Sauer (2004) trazem ao
plano da realidade social o conceito de energia, que no pode ser considerada como
entidade divorciada dessa realidade. Por conseguinte, somente pode-se pensar na energia no
bojo do contexto histrico e social no qual ela faz sentido, como um resultado de um modo de
produo determinado. Dorival Gonalves Jr. (2007, p. 123), em linha com este pensamento
expressa o seguinte: