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Entendo o caso
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Praça Barão do Rio Branco, 93 – Belém-PA, CEP: 66.015-060 Fone: 4006-8600 Fax: 4006-8603 Home Page: www.oabpa.org.br
PROCESSO ADMINISTRATIVO Nº 016/2014
REQUERENTE: Paulo Ricardo de Oliveira Sousa, OAB/PA nº 19.969
RELATOR: Vice-Presidente da OAB/PA, Dr. Alberto Campos
OBJETO: Pedido de providências em relação aos atos cometidos pelo Exmo. Sr. Dr. João
Ronaldo Correa Mártires, Juiz de Direito da 6ª Vara Criminal de Santarém-PA.
I – RELATÓRIO:
Trata-se de Procedimento Administrativo que tem por finalidade analisar pedido de
providências feito pelo advogado Paulo Ricardo Oliveira de Sousa, anexo ao ofício nº
032/2014-Subseção de Santarém, expediente subscrito por seu Presidente, Dr. Ubirajara
Bentes de Souza Filho, em razão de atos cometidos pelo Exmo. Sr. Dr. João Ronaldo Correa
Mártires, Juiz de Direito da 6ª Vara Criminal de Santarém-PA.
Pois bem. Passemos a um breve relato dos fatos.
Na data de 21 de janeiro do presente ano, por volta de 09h:30min, o advogado Paulo
Ricardo Oliveira de Sousa, ora Requerente, dirigiu-se a sala de audiências da 6ª Vara
Criminal da Comarca de Santarém com o objetivo de obter conhecimentos práticos acerca do
ato processual, de forma a congregar subsídios para pautar sua atuação profissional.
Ocorre que, ao adentrar na sala de audiências do referido juízo, a maçaneta caiu no
chão, visto que estava com defeito, momento em que o Requerente a colocou no lugar e se
acomodou em um dos assentos. Nessa ocasião, segundo relato do advogado, o Magistrado que
presidia a audiência, Dr. João Ronaldo Correa Mártires, passou a constrangê-lo, num tom de
voz agressivo e na presença das pessoas envolvidas na audiência, passando a proferir as
seguintes palavras:
“Como é que você entra, assim, na sala de audiência sem dar bom dia
e vai logo sentando nessas cadeiras aí, essas cadeiras são destinadas
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as testemunhas, as da plateia estão ali, você está pensando que aqui é
o quê?” (fls. 04 do P.A).
Ato contínuo, o ora Requerente aduz que, face as palavras a ele proferidas, preferiu se
retirar da sala de audiências, não contestando a conduta do Magistrado. Igualmente, tal
postura se justificou pela recente inscrição nos quadros de Advogados desta Seccional (menos
de 45 dias na época dos fatos) e por não ter praticado nenhum ato privativo de advogado,
motivos pelos quais não se sentiu seguro o suficiente para agir em favor de suas prerrogativas
profissionais.
Em atenção ao Despacho do Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos e
Prerrogativas da OAB/PA (fls. 32), o Sr. Dr. João Ronaldo Correa Mártires fora instado a se
manifestar acerca do pedido de providências, por meio do Ofício nº 017/14 – CDDP/OAB/PA
(cópia – fls. 33), tendo respondido por intermédio do Ofício nº 007/14-GJ a esta Seccional nos
seguintes termos:
“Inobstante guardar o mais elevado respeito pela Ordem dos
Advogados do Brasil OAB, e todas suas Seccionais e Subseccionais (a
exceção da Subseccional de Santarém, a qual, no meu entender,
está sob o julgo de dirigente cujo desiderato principal é intimidar
e achacar as autoridades constituídas para tentar atingir suas
ambições políticas e beneficiar-se a si e a seus aliados [...])” (fls.
34) (Grifos meus).
Ainda, o Magistrado, sem prestar as informações que lhe foram solicitadas, alega, de
forma pouco cortês, o seguinte:
“[...] hei por bem deixar de prestar as informações solicitadas, na
medida em que a denúncia reveste-se de elevada gravidade, devendo
ser objeto de representação em Órgão Correicional do Tribunal de
Justiça do Pará ou no Conselho Nacional de Justiça, com direito a
ampla defesa, pois em restando provada sua inveracidade,
proporcionará a este Julgador a adoção das medidas legais cabíveis
contra a infâmia” (fls. 34).
Além disso, no mesmo ofício, o juiz assevera que:
“Não posso, contudo, me furtar a referenciar que a estória contida no
pedido de providências está narrada de forma deturpada, tratando-se,
a meu ver, de uma ‘armação’ engendrada pelo presidente da OAB
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local, em conluio com o requerente, com o único objetivo de
denegrir a imagem deste Julgador perante a advocacia e alcançar os
objetivos escusos acima identificados [...] Regozijo-me, por fim, de
Vossa Senhoria ter tido a acuidade, o cuidado de me ouvir antes de
tomar qualquer decisão precipitada sobre o assunto (de forma
indelicada, é verdade, pois me impôs o prazo impreterível de 5
(cinco) dias para resposta, como se eu estivesse submetido
hierarquicamente a OAB) [...] (fls. 34 e 35) (Grifos meus).
Esta é a síntese dos fatos. Passemos à análise.
Compulsando detidamente os autos em epígrafe, verifica-se que a conduta do juiz é,
notadamente, incompatível com os deveres dos Magistrados, consubstanciados na Lei
Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN – Lei Complementar nº 35, de 14 de março de
1979), a qual disciplina a atividade judicante.
Nessa perspectiva, consoante preconiza o artigo 35 da LOMAN, são deveres do
Magistrado.
Art. 35.Omissis.
[...] Omissis.
I – cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e
exatidão, as disposições legais e os atos de ofício;
[...] Omissis.
IV – tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério
Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxiliares
da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer momento,
quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução de
urgência (BRASIL. LOMAN – Lei Complementar nº 35, de 14 de
março de 1979) (Grifos meus).
Resta evidente que o Magistrado não observou o dever de urbanidade inerente ao
exercício da atividade judicante, afrontando as prerrogativas profissionais do advogado, além
de se portar de maneira deselegante e desrespeitosa ao formular resposta a esta Seccional, por
meio do ofício nº 007/2014-GJ, destoando dos preceitos éticos que norteiam a magistratura,
função esta que exige comportamento compatível com a dignidade, honra e decoro de suas
atribuições.
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Corroborando esse entendimento, o próprio Código de Ética da Magistratura
Nacional1 assevera os deveres dos juízes, em especial o dever de cortesia em relação aos
colegas, membros do Ministério Público, advogados, partes, enfim, todos os envolvidos no
âmbito da Administração da Justiça, consagrando, dessa forma, uma atuação harmônica,
necessária ao andamento e aplicação da justiça. Diante do exposto, é oportuno trazer a lume
alguns dispositivos do Código de Ética, os quais fazem referência a conduta e postura dos
magistrados.
Art. 1º. O exercício da magistratura exige conduta compatível com os
preceitos deste Código e do Estatuto da Magistratura, norteando-se
pelos princípios da independência, da imparcialidade, do
conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo
profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e
pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.
Art. 13. O magistrado deve evitar comportamentos que impliquem a
busca injustificada e desmesurada por reconhecimento social,
mormente a autopromoção em publicação de qualquer natureza.
Art. 22. O magistrado tem o dever de cortesia para com os
colegas, os membros do Ministério Público, os advogados, os
servidores, as partes, as testemunhas e todos quantos se
relacionem com a administração da Justiça. Parágrafo Único. Impõe-se ao magistrado a utilização de
linguagem escorreita, polida, respeitosa e compreensível.
Art. 39. É atentatório à dignidade do cargo qualquer ato ou
comportamento do magistrado, no exercício profissional, que
implique discriminação injusta ou arbitrária de qualquer pessoa ou
instituição (CÓDIGO DE ÉTICA DA MAGISTRATURA
NACIONAL) (Grifos meus).
Com efeito, vislumbra-se no Parágrafo único do artigo 22 do mencionado Código de
Ética que, cabe ao magistrado utilizar uma linguagem compatível com o exercício de sua
atividade. Dessa forma, não é admissível que o juiz se utilize de linguagem agressiva e
irônica, semelhante a utilizada no ofício nº 007/2014-GJ.
A situação se agrava sobremaneira com a atitude do referido magistrado ao ter afixado
cópias do expediente (ofício nº 007/2014-GJ) nas portas das dependências da 4ª e 6ª Varas
1 Aprovado na 68ª Sessão Ordinária do Conselho Nacional de Justiça, do dia 06 de agosto de 2008,
nos autos do Processo nº 200820000007337.
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Criminais da Comarca de Santarém (fls. 48 a 50), assim como pelo teor do email
encaminhado pelo juiz a todos os servidores do Fórum (cópia –fls. 51), com ofensas
direcionadas ao Diretor do Fórum e ao Presidente da Subseção de Santarém, Dr. Ubirajara
Bentes de Souza Filho.
Tal fato se assemelha a conduta praticada pelo magistrado da comarca de Redenção,
Exmo. Sr. Dr. Haroldo Silva da Fonseca, que ao ter atitudes arbitrárias, agiu com abuso de
poder, o que motivou iniciativa desta Seccional perante a Corregedoria do Interior2 e
Ministério Público do Estado do Pará, no sentido de coibir práticas atentatórias as
prerrogativas dos advogados, em obediência as determinações constitucionais que consagram
a advocacia enquanto função essencial à justiça (art. 133, CFRB/88).
As atitudes do magistrado da 6ª Vara Criminal da Comarca de Santarém demonstram
total desrespeito em relação ao seu dever de urbanidade, prudência e ética, diretrizes que
devem ser observadas por todos os envolvidos na Administração da Justiça.
É válido asseverar que não se pode olvidar que é pleno direito do advogado circular
livremente nas dependências dos fóruns, cartórios, secretarias, salas de audiência e demais
locais onde deva exercer a advocacia, nos padrões consagrados pela legislação aplicável a
matéria. Por esse motivo, aliado ao dever de urbanidade e cortesia que o magistrado precisa
ter em relação a advogados, membros do Ministério Público, serventuários, etc., este direito
não pode ser violado e o desrespeito a mencionada norma constitui atentado ao livre exercício
de atividade profissional.
II – CONCLUSÃO/VOTO
Em face do exposto, opinamos pela realização de Desagravo Presencial no
Município de Santarém-PA, sem prejuízo de Representação Disciplinar perante a
Corregedoria de Justiça do TJPA, em virtude das palavras proferidas pelo Magistrado
no Ofício nº 007/2014-GJ, em desacordo com os preceitos da LOMAN e do Código de
Ética da Magistratura Nacional.
É o voto.
Belém, 24 de março de 2014.
2 Representação em trâmite perante a Corregedoria do Interior, sob o nº 2013.7.003123-4.
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ALBERTO CAMPOS
Vice-Presidente do Conselho Seccional OAB/PA