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EDP desiste do grupo reversível e de produzir energia na segunda barragem A EDP acaba de propor alterações ao estudo prévio da construção da barragem de Fridão, há dias apre- sentado à Câmara de Amarante e às juntas de freguesia – desiste do gru- po reversível no escalão principal e da produção de energia no escalão de juzante. A empresa quer produzir energia já no fim de 2016 e propõe-se construir uma pista de águas bravas junto à ci- dade, entre outros melhoramentos. A consulta pública da avaliação de impacte ambiental deverá decorrer em Janeiro e Fevereiro. p.16 TÚNEL DO MARÃO Tribunal manteve decisão, obras paradas há um mês NORDESTE Festas dos Rapazes e do Bacalhau resistem no tempo VILA REAL Autarca trabalha a ouvir música clássica GASTRONOMIA Freamunde eleva o capão a um manjar Nº 1227 | Quinzenário | 1€ | Ano 25 | Director: Jorge Sousa | Director-Adjunto: Alexandre Panda | Subdirector: António Orlando | Edição:Tâmegapress | Redacção: Marco de Canaveses | 910 536 928 p.2-4 repór ter do marão do Tâmega e Sousa ao Nordeste 08 Dez a 28 Dez’09 Violência doméstica bate recordes Escalão principal em Fridão, Amarante

Repórter do Marão

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jornal regional dos distritos Porto, Vila Real e Bragança - maior jornal regional do país: 30 mil exemplares

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Page 1: Repórter do Marão

EDP desiste do grupo reversível e de produzir energia na segunda barragemA EDP acaba de propor alterações ao estudo prévio da construção da barragem de Fridão, há dias apre-sentado à Câmara de Amarante e às juntas de freguesia – desiste do gru-po reversível no escalão principal e da produção de energia no escalão de juzante. A empresa quer produzir energia já no fim de 2016 e propõe-se construir uma pista de águas bravas junto à ci-dade, entre outros melhoramentos.A consulta pública da avaliação de impacte ambiental deverá decorrer em Janeiro e Fevereiro. p.16

TÚNEL DO MARÃO

Tribunal mantevedecisão, obrasparadas há um mêsNORDESTE

Festas dos Rapazese do Bacalhauresistem no tempoVILA REAL

Autarca trabalha a ouvir música clássicaGASTRONOMIA

Freamunde elevao capão a um manjarNº

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repórterdomarãodo Tâmega e Sousa ao Nordeste

08 Dez a 28 Dez’09

Violência doméstica bate recordes

Escalão principal em Fridão, Amarante

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I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I vidas

Se antes, resguardadas pela intimidade do lar, ficavam remetidas ao silêncio, agora, as víti-mas de violência doméstica deixam o medo

e a vergonha de lado e denunciam. Às vezes, até mais do que uma vez. Por isso, não é de estranhar que nos distritos de Vila Real e Bragança, o núme-ro de casos relacionados com esse crime aumente de ano para ano.

Durante 2008, o Gabinete de Apoio à Vítima de Vila Real registou 332 processos em todo o distrito, tendo nos 11 meses deste ano contabilizado 447. Tal aumento explica-se pelo “maior número de pessoas da esfera social da vítima – familiares, amigos, vizinhos, colegas de trabalho e até entidades patronais –, que procura a APAV para pedir apoio”, adianta a gesto-ra do Gabinete, Elisa Brites. Também crimes como os maus tratos (físicos e psíquicos), as ameaças/coação e os crimes sexuais no âmbito das relações de intimida-de tiveram um acréscimo face ao ano passado.

O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violên-cia Doméstica do distrito de Bragança recebeu, no último ano, 126 vítimas, das quais 22 pertenciam ao sexo masculino. Até ao início do mês de Novembro, tinham sido atendidas 165 vítimas, sendo 20 do sexo masculino. Segundo a psicóloga do Núcleo, Teresa Fernandes, o acréscimo justifica-se com o facto de “as pessoas estarem mais informadas sobre como, onde e quando denunciar”.

À mediatização do problema da violência domés-tica juntou-se uma maior divulgação de informações

a nível local, nomeadamen-te sobre “os efeitos psicos-

sociais negativos que provoca nas vítimas, as vítimas vica-

riantes (por exposição à violência) como é o caso dos menores, as diver-

sas formas de denunciar a violência do-méstica e os tipos de apoio que podem ser pres-

tados pelas várias instituições”, sublinha.Além das campanhas de sensibilização, o facto

de a Lei considerar, desde 2000, a violência domés-tica como crime público também contribuiu para que o problema tenha adquirido outra visibilidade.

Dados estatísticos da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) revelam que o número de crimes de Violência Doméstica no primeiro semes-tre deste ano subiu nove por cento face a igual pe-ríodo do ano passado. Se no primeiro semestre de 2008 houve um total de 7.788 crimes, no 1º semes-tre deste ano esse número subiu para 8.496. Refira-se ainda que entre tentativas de homicídio e homi-cídios consumados, de 2008 para 2009 (também no 1º semestre), estes cresceram de 4 para 18 casos.

Até Novembro, foram apresentadas 150 quei-xas no comando territorial da GNR de Bragança, mais 6 do que em igual período do ano passado. Por seu turno, o comando distrital da PSP de Bragan-ça registou 123 ocorrências só em 2008 e até ao final de Outubro deste ano, contabilizou 116 ocorrências.

| Maioria dos casos no âmbito do casal | A população vítima de violência domés-tica inclui mulheres e homens adultos, menores, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência. O maior número de casos de violência doméstica está relacionado com agressões dentro do casal, onde a maioria das vítimas continua a ser a mu-lher. Contudo, o número de denúncias sobe tam-

bém do outro lado. A confirmá-lo estão os núme-ros do comando territorial da GNR de Bragança: 14 casos em 2008 e 16 até Novembro de 2009. Tam-bém o comando distrital da PSP de Bragança re-cebeu 22 queixas em 2008 e 23 até ao final do mês de Outubro deste ano. As vítimas do sexo masculi-no abrangem menores de 16 e maiores de 65 anos, sejam filhos, pais, irmãos ou cunhados, cônjuges ou ex-cônjuges.

A actuação das autoridades em matéria de violên-cia doméstica tem permitido perceber uma nova reali-dade. Verifica-se uma tendência crescente de violência contra idosos, designadamente de filhos para pais. O consumo abusivo de álcool e de estupefacientes fazem com que “os filhos agridam os pais para que estes lhe dêem o dinheiro das reformas”, explica Cláudia Gran-jo, do Núcleo de Investigação e Apoio a Vítimas Espe-cíficas (NIAVE) da GNR de Bragança.

| Agressão física é a queixa prin-cipal | Ofensa à integridade física simples é a queixa dominante nos casos de violência domésti-ca em ambos os distritos.

No ano transacto, ofensa à integridade simples e violação da obrigação de alimentos foram as quei-xas mais apresentadas no comando distrital da PSP de Bragança, com 12 e 4 registos, respectivamen-te. Em 2009, mantém-se essa tendência: 8 casos nos dois tipos de queixas.

O comando distrital da PSP de Vila Real tem em mãos 32 processos na área urbana de Vila Real e 28 em Chaves, sendo a ofensa à integridade sim-ples a queixa recorrente. “Nesses 32 casos, 10% são as mesmas pessoas, isto é, a mesma pessoa é vítima várias vezes e apresenta várias vezes queixa”, frisa o subintendente Manuel Grilo.

Quando quatro paredes já não são suficientes para ocultar um drama, são as vítimas com idades

Violência doméstica é realidade cada vez menos escondidaDenúncias têm vindo a crescer nos distritos de Vila Real e Bragança

Patrícia Posse | [email protected] | Fotos APAV e Arquivo

STOPÀ VIOLÊNCIACONTRA A MULHER

Page 3: Repórter do Marão

repórterdomarão0308 Dez a 28 Dez’09

A maioria das vítimas de violência doméstica que apre-sentou queixa às forças de se-gurança no primeiro semes-tre deste ano já tinha sofrido maus tratos anteriores, segun-do um relatório da Direcção-Geral da Administração Inter-na (DGAI).

O documento, que faz uma análise das ocorrências partici-padas às forças de segurança no primeiro semestre do ano, contempla pela primeira vez dados extraídos da descrição da ocorrência.

Os dados indicam que em 91 por cento dos casos denun-ciados nos primeiros seis me-ses do ano existiram situações anteriores de violência, não sendo a primeira vez que a víti-

ma sofre este tipo de agressão.O documento do organis-

mo do Ministério da Adminis-tração Interna revela, igual-mente, que quase 85 por cento das ocorrências sucederam na casa onde a vítima reside e 10 por cento na via pública.

Em mais de dois terços das situações, as forças de segu-rança deslocaram-se ao local onde ocorreu a agressão, após a denúncia.

O relatório diz também que a violência física esteve presente em 74 por cento das situações, a psicológica em 54 por cento e a sexual em 1,1 por cento.

Os três principais “facto-res precipitantes” das ocor-rências estiveram relaciona-

dos com um estado alterado do agressor devido ao consumo de álcool ou drogas (32 por cen-to), com questões relacionadas com dinheiro, bens e desempre-go (16 por cento) e com respos-tas do agressor a uma situação de ameaça de abandono (15 por cento), adianta o documento.

O relatório salienta, tam-bém, que em mais de 75 por cento dos casos a violência fí-sica referia-se à utilização de “força física”, em quase seis por cento dos casos o agressor ameaçou usar ou usou arma branca, em 4,2 por cento a ví-tima foi agredida com objectos de mobiliário ou utensílios de cozinha e em 2,6 por cento foi usada ou houve ameaça de ar-mas de fogo.

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

compreendidas entre os 40 e os 50 anos que mais participações fazem, logo seguidas da faixa dos 18-30 anos. Em último, estão as vítimas dos 50 aos 60 anos, porque “haverá uma maior inibição, já são ca-samentos muito antigos”, justifica o subintendente.

No âmbito do Programa Integrado de Policia-mento de Proximidade (PIPP), a PSP tem, no ter-reno, equipas especializadas para lidar com pesso-as que sofrem violência doméstica. Após a queixa ter sido formalizada, os agentes acompanham as vítimas e regressam ao terreno para averiguar se as agres-sões terminaram.

| Lares provisórios | Sob a alçada da APAV, existe uma rede nacional de Casas de Abri-go para Mulheres e Crianças Vítimas de Violência. Em cada uma, as vítimas são acolhidas temporaria-mente, permitindo a ruptura com as circunstâncias de vitimação e promovendo a criação de um pro-jecto de vida sem violência. O distrito de Vila Real tem uma Casa de Abrigo, que pertence à APAV. Em Bragança, existe outra, no caso, uma valência da Santa Casa da Misericórdia daquela cidade.

| Portos de abrigo no Nordeste | No âmbito da GNR, existem 8 gabinetes de apoio à vítima no distrito, localizados nos postos territo-riais de Macedo de Cavaleiros, Vinhais, Carrazeda de Ansiães, Mogadouro, Mirandela, Vimioso, Mi-randa do Douro e Izeda.

O Núcleo de Atendimento a Vítimas de Violência Doméstica em Bragança engloba um conjunto de ins-tituições que uniram esforços e recursos para respon-der às necessidades das vítimas na construção de um novo projecto de vida afastado da violência.

O Gabinete de Apoio à Vítima de Vila Real fun-ciona há 13 anos (desde Novembro de 1996) e pres-ta apoio jurídico, emocional e psicológico a quem bate à porta.

Maioria dasvítimas já sofreu maus tratosanteriores

FLAGELO NACIONALMais de 80 queixas por dia

As queixas de violência doméstica apresentadas nas forças de segurança aumentaram 12 por cento no primeiro semestre deste ano face a igual período de 2008, revela um relatório da Direcção-Geral da Administração Interna.O documento, que analisa as ocorrências participadas às forças de segurança no primeiro semestre do ano, indica que a PSP e GNR receberam 14 600 queixas, mais 1570 casos que no mesmo período de 2008.Nos primeiros seis meses, as forças de segurança re-ceberam, em média, cerca de 81 queixas por dia de violên-cia doméstica, adianta o relatório, referindo também que a PSP registou 9206 ocorrências (mais 9,8 por cento que em 2008) e a GNR 5394 (mais 12 por cento).Geralmente, as situações de violência doméstica ocor-rem ao fim-de-semana, especialmente ao domingo, e pas-sam-se durante a noite e madrugada.As denúncias às forças de segurança foram maiorita-riamente (89 por cento) feitas pelas próprias vítimas, que na maioria são mulheres, estão casadas ou em união de facto e tem uma média de 39 anos.

Page 4: Repórter do Marão

A violência doméstica continua a ser o tema bem actual que enche as páginas dos jornais e os ecrãs das televisões. Para além de saber que de-

terminado adulto maltratou uma criança ou mulher ou marido, importa saber quais são os motivos que levam alguém a usar da violência do seio de uma família. Saber também quais são as repercussões numa vítima e ten-tar perceber se existem tratamentos psicológicos que po-dem ajudar famílias a ultrapassar este problema. Para responder a todas essas perguntas o RM falou com Jor-ge Quintas, um professor do Instituto Superior de Ciên-cias da Saúde – Norte (ISCS-N) na CESPU, em Gandra, Paredes. O especialista também é docente convidado da Escola de Criminologia da Faculdade de Direito da Uni-versidade do Porto e doutorado em Criminologia e licen-ciado e mestre em Psicologia pela Universidade do Porto.

RM: O que é a violência doméstica? Como é que ela se traduz num casal ou numa relação entre fa-miliares?

JQ: A expressão violência doméstica usa-se habitual-mente para designar situações de violência entre parcei-ros íntimos, sendo que estas situações podem também ser designadas como violência conjugal ou violência no casal. Contudo, outras situações de violência ocorridas na esfera familiar como o abuso de crianças ou de pessoas idosas po-dem também ser consideradas violência doméstica.

Do ponto de vista legal a violência doméstica é, em Portugal, na actualidade, considerada um tipo legal de crime que inclui maus-tratos físicos ou psíquicos de côn-juges, ex-cônjuges e progenitores. Existe ainda um ou-tro tipo de crime designado “Maus-tratos” relativa a pes-soas menores ou particularmente indefesas que estejam sob guarda.

Existem vários tipos de violência doméstica?

Há diversas tipologias relativas à violência domés-tica. Habitualmente distingue-se as situações de violên-cia física, sexual e psicológica. Este último subtipo pode incluir violência verbal, ameaças e atentados diversos à dignidade e liberdade da vítima. É comum a sobreposi-ção dos vários tipos de violência doméstica, isto é as pes-soas serem alvo, simultaneamente ou em momentos su-cessivos, dos vários tipos de violência.

Existe um ciclo da violência doméstica. Qual é esse ciclo?

A partir dos trabalhos de um autor muito relevante nesta área, Walker, identificou-se um padrão nas situa-ções de violência, especialmente, conjugal. Haverá uma fase de acumulação de tensão e segue-se uma de explo-são violenta onde se concretizam de forma mais explícita as agressões. Posteriormente, haverá uma terceira fase designada por “lua-de-mel” em que poderão acontecer reconciliações, desculpas e perdão. Segue-se uma fase em que se reinicia o ciclo. Este ciclo da violência será res-ponsável pela manutenção, intensificação e pelo prolon-gamento da violência.

O que leva um familiar a agredir outro? Quais são as características ou estado de espírito que pode levar alguém a molestar fisicamente ou psicologica-mente um familiar?

Mais do que apontar um factor único para explicar a agressão no âmbito familiar, é consensual que as ex-plicações terão de ser de natureza multifactorial. As ca-racterísticas individuais do agressor, a dinâmica familiar e relacional, os factores contextuais, a própria organiza-ção social e os níveis de tolerância à agressão devem ser sempre considerados como factores determinantes da violência doméstica.

Quais são as repercussões psicológicas num ser humano que é vítima de violência doméstica?

As repercussões psicológicas da violência doméstica são muito relevantes. Uma extensa literatura mostra que a violência doméstica está associada com diversos tipos de sintomas físicos, psicológicos e sociais na vítima direc-ta e também nas restantes pessoas do agregado familiar expostas à violência, particularmente as crianças. Há in-clusivamente indicações que mostram a proximidade das vítimas das perturbações de stress pós-traumático e o au-tor já citado, Walker, fala mesmo de um Síndroma da Mu-lher Batida.

Em estudos que estamos a desenvolver na Unidade de Investigação Psicologia e Saúde (UniPSa) do Institu-to Superior de Ciências da Saúde – Norte (ISCS-N) da CESPU, em Gandra, Paredes, eu e a minha colega Ale-xandra Serra e um grupo de estudantes do Mestrado em Psicologia Forense e da Transgressão, temos vindo a en-contrar níveis muito relevantes de perturbação emocio-nal e de sintomatologia psicopatológica nas mulheres ví-timas de violência e nos seus filhos.

Em casos prolongados, será que a vítima pode mesmo sentir uma culpa qualquer e por isso nunca denunciar a situação. Será que uma vítima pode até desculpar o agressor?

A ambivalência de sentimentos das vítimas e a pró-pria manipulação emocional por parte dos agressores é comum e serve para explicar a manutenção e o prolon-gamento de situações de violência durante períodos que chegam a ser de muitos anos.

De um ponto de vista psicológico, o agressor pode ser considerado um doente? Existem tratamentos? Se sim, de que tipo?

O agressor não é necessariamente um doente no sentido médico do termo. No âmbito da aplicação da justiça podem ser propostas intervenções terapêuticas e educativas que visam diminuir o risco de reincidên-cia criminal.

Os programas de intervenção com agressores em si-multâneo, com intervenções de suporte e protecção das vítimas são considerados, na actualidade, prioritários in-ternacionalmente. Não sendo panaceia, o trabalho com agressores em temas como a regulação emocional, os pensamentos, as atitudes face ao crime e às vítimas e a estabilização de consumos de substâncias, particular-mente de álcool são avaliados como um contributo im-portante para este problema.

Em Portugal, o Ministério da Justiça, através parti-cularmente da Direcção Geral de Reinserção Social está a desenvolver já intervenções especializadas nesta área. No ISCS-N estamos a trabalhar precisamente na avalia-ção destas intervenções, através de protocolo específico de colaboração.

O facto de ter sido vítima de violência doméstica durante a infância significa que depois de ter chega-do à idade adulta essa pessoa irá reproduzir com os seus filhos a mesma violência?

Não. Poderá funcionar como um factor de risco acrescido, isto é, será um pouco mais provável a conduta. Possivelmente isto acontece porque os factores de risco associados à violência doméstica são relativamente está-veis nos mesmos contextos familiares e culturais.

No caso da violência para com os filhos, há sem-pre aquela ideia popular de que um estalo é apenas dar educação. “Bater” num filho pode ser considerado vio-lência doméstica? Qual é o limite ou a fronteira entre dar educação e ser um agressor?

Condutas violentas são contrárias à educação. Po-dem atemorizar mas não educam ninguém. As puni-ções e os reforços são formas de educar que devem ser sempre usadas sem violência. Deter e conter bir-ras e más condutas das crianças são necessários para a sua educação mas para o efeito não é necessário ser violento. É aos adultos que compete gerir firmemente situações passíveis de gerar uma escalada de violência largamente perturbadoras.

“A manipulação [das vítimas] por parte dos agressores é comum e serve para explicar o prolongamento de situações de violência”

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Irepórterdomarão04 08 Dez a 28 Dez’09

Alexandre Panda | [email protected]

vidas04

Violência doméstica à luz da psicologia e da criminologia

Jorge Quintas, professor do

Instituto Superior de Ciências da Saúde –

Norte, na CESPU

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Ao contrário do que acontecia há algumas décadas, a ementa de Natal é hoje menos diferenciada nas várias regiões do país. Os hábitos de consumo fo-ram-se generalizando e as diferenças vincadas entre regiões foram-se dissi-pando. O hábito nortenho de comer bacalhau na consoada foi sendo adoptado por quase todo o país. A ceia de Natal com bacalhau cozido com batatas, ce-nouras e couve penca, regados com muito e bom azeite e vinagre, faz parte da cul- tura gastronómica do Norte. Tal como a “rou-

pa velha”, prato que é servido

ao almoço ou jantar do dia 25 e que é feita num refo-gado farto

em azeite, cebola e alhos picados a que se

juntam os restos de batata, ba-calhau e couve, sem espinhas e cortados fi-

ninhos, que sobraram da véspera.Também o hábito de comer polvo na consoada foi-se massificando em muitas

zonas do Norte e em particular em Trás-os-Montes.No almoço do dia de Natal, no Minho, Tâmega e Douro os assados são pre-

sença obrigatória: cabrito, anho ou peru assados no forno ou ainda capão à Frea-munde (prato tradicional na zona de Paços de Ferreira).

No que respeita à doçaria, nas mesas portuguesas, por altura do Natal, não falta o bolo-rei (agora sem fava e brinde, mas com ou sem chila, ou gila), o pão-de-ló, leite-creme, bolinhos de cenoura, sonhos, e as famosas rabanadas, fritos de pão-cacete passado por leite ou vinho e ovos, também conhecidos como fatias douradas, fatias paridas ou de parideira.

Os mexidos de Natal, típicos da região minhota, do Tâmega e Douro, vão ao lume com miolo de pão, nozes, passas, pinhões, mel e vinho do Porto. São servidos em travessas ou em pequenos pratinhos polvilhados com canela.

Destas regiões são também os conhecidos bolinhos de jerimu, feitos com um puré de abóbora (de polpa cor-de-laranja) a que se junta farinha, fermen-to, açúcar e claras em castelo, e que nalgumas zonas também são chamados de sonhos.

A aletria, feita com água ou leite, é tradicional no Minho, Tâmega e Dou-ro, e mantém o nome em todo o território nacional. O mesmo não acontece com a filhós, um dos mais famosos doces natalícios, que além do nome tam-bém vê variar a forma consoante a região.

As filhós são velhozes nalgumas zonas e noutras em vez da massa ser es-tendida para fritar é frita em forma de bola (Alto Alentejo), de chapéu (Outei-ro de Gatos/Meda) ou mesmo cortada às tiras e enrolada num garfo enquan-

to passa na fritadeira, para ganhar a forma espiral.Com as necessárias adaptações, acrescentando o sumo de laranja e a aguar-

dente e fritando a massa em tirinhas dobradas em forma de livro, o Baixo Alen-tejo chama-lhes judias.

Chamados rabanadas ou fatias, sonhos ou bolinhos de jerimu há um ingre-diente comum a todos: o açúcar. Muito açúcar (branco ou amarelo). Porque o Na-tal quer-se doce.

E, como diz o ditado, não se engorda entre o Natal e o Ano Novo, mas entre o Ano Novo e o Natal. O seguinte, claro. “Perdoa-se o mal que faz pelo bem que sabe”, diz a sabedoria popular, que bem pode servir de argu-mento aos que não resistem a tantas iguarias.

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Tradição do bacalhau na consoadaalargou-se a várias regiõesDoces ganham formas e nomes diferentes entre o Minho e o Algarve

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natal 2009 repórterdomarãoI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

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Patrícia Posse | [email protected]

A inda os estômagos estão aconchegados com as iguarias natalícias quando se impõe o cumprimento de uma outra tradição. Em S.

Pedro de Sarracenos, freguesia do concelho de Bra-gança, o dia 26 de Dezembro está reservado para a festa do bacalhau à Santo Estêvão. Trata-se de um ritual herdado desde tempos imemoriais, garantem os habitantes. “Já ninguém sabe de quando vem esta tradição.”

A rua central da aldeia torna-se a casa de todos os que querem participar no almoço, onde a emen-ta apresenta o bacalhau como escolha inequívoca. “É uma forma de juntar as diferentes famílias, mes-mo que seja logo a seguir ao Natal”, conta Luís Vila, membro da organização.

|Postas de 300 a 400 gr | Com esta sugestão gastronómica, os homens ficam in-cumbidos de cortar o bacalhau “em postas iguais”, cujo peso pode variar de 300 a 400 gramas, e de “ir mudando as águas” durante dois ou três dias. A 26 de Dezembro, os mordomos fazem a fogueira e res-ponsabilizam-se pela preparação da mesa. Enquan-to isso, o bacalhau é colocado em caldeiras, onde fica algum tempo até estar devidamente cozido. Há quem afiance que “em cada caldeira cabem 50 qui-los de bacalhau”. “Os homens cozem o bacalhau e as mulheres descascam as batatas antes de serem ser-

vidas”, conta a organização.Finda a celebração eucarística que antecede o

banquete, o pároco procede à bênção e o Santo Es-têvão é colocado “na cabeça da mesa”, de onde só ar-reda pé quando a refeição termina.

Além do apetite, os comensais têm que levar pra-to e talheres, porque para a mesa já vai tudo “pron-tinho a comer”. “É uma posta que enche completa-mente o prato, bem regadinha com azeite da terra e vinho à discrição”, refere Luís Vila.

A organização do repasto é da responsabilidade da mordomia de Santo Estêvão, que se encarrega de, atempadamente, percorrer a aldeia para “saber quem se quer inscrever e quantas postas vão que-rer”. “As pessoas podem convidar amigos, como já tem acontecido, que vêm de Bragança, do Porto ou de Lisboa, e assim já compramos a contar com quem vem de fora. Embora se compre sempre um pouco mais”, justifica a organização. É apenas cobrado um valor pecuniário para “cobrir os gastos”.

Esta refeição comunitária acontece sempre na rua, a menos que as condições climatéricas não o permitam. No ano passado, a festa do bacalhau reu-niu mais de uma centena de convivas. “Tivemos uma grande mesa, por acaso. Costuma vir muita gente de Bragança, precisamente pelo convívio”, recorda-se.

| Sabor genuíno | Talvez por “ser co-zido na caldeira”, o “fiel amigo” faz as delícias dos miúdos e dos graúdos. Quem prova, não consegue resgatar à memória um atributo que não seja a ge-nuinidade. “Dá a impressão que o facto de ser cozi-do na caldeira, ao ar livre e com lenha, faz com que tenha outro paladar, um sabor mais antigo”, afiança um comensal de S. Pedro de Sarracenos.

Há também quem sustente que o “sabor espe-cial” se fique a dever, em exclusivo, “à tradição”.

A 26 de Dezembro, as postas bem aviadas e co-zidas prometem pôr à prova as capacidades gustati-vas de quem marcar presença em mais uma edição da festa do bacalhau à Santo Estêvão.

Aldeia de S. Pedro de Sarracenos, Bragança, reúne uma centena de comensais de S. Estêvão a 26 de Dezembro

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Sarracenos mantém tradiçãode comer o bacalhau na rua

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‘Festa dos Rapazes’no Nordeste TransmontanoO Natal é a “Festa dos Rapazes” no Nordeste Transmontano com o

colorido e as picardias dos “caretos” a envolver toda a comunidade numa celebração ancestral em qque convivem o sagrado e o profa-

no da quadra.Já lhe chamaram em livro “O Inverno Mágico” protagonizado por diabóli-

cas figuras escondidas atrás das máscaras, sem as quais não há Natal em al-deias como Varge, no concelho de Bragança.

Depois da noite de consoada passada em família, os rapazes mascarados to-mam conta da aldeia durante dois dias, a 25 e 26 de Dezembro.

Os mais idosos já não conseguem acompanhar os rapazes nas tropelias, mas ainda têm presente a magia destes rituais, que conseguem trazer para a rua no pico do gelado Inverno todo a comunidade e cada vez mais forasteiros.

| Máscaras e chocalhadas | As máscaras continuam a ser o principal adereço dos rapazes disfarçados ainda por baixo de farfalhudos fatos feitos de cobertas estragadas ou de sacos de lona e enfeitados com farrapos.

Fazem-se acompanhar de utensílios agrícolas e à cinta carregam ruidosos cintos de chocalhos que tem como alvo predilecto as raparigas.

Durante muito tempo elas tiveram apenas direito às chocalhadas nesta fes-ta onde começaram mais tarde a ser convidadas para comer e dançar.

A vitela e o bacalhau confortam o estômago dos rapazes entre as muitas pi-cardias.

A tradição está diferente. Agora pagam a um cozinheiro para fazer o tra-balho e o dinheiro compra tudo que antigamente era feito exclusivamente pe-los rapazes.

Desde a apanha da lenha no monte, que era transportada num carro de bois, para fazer arder a fogueira em torno da qual se reúne o povo.

Eram também eles que ajustavam e preparavam a vitela e à mesa tinham lugar conforme o estatuto.

“Iam subindo de galão de ano para ano”, conta um dos residentes, lembran-do um dos conceitos desta festa dos rapazes que marca a passagem dos jovens mancebos para a idade adulta.

| A rir se castiga os costumes | As tropelias começam de-pois da missa de Natal com as comédias ou “loas” em que os “caretos” passam em revista o quotidiano da aldeia, denunciado deslizes dos conterrâneos.

A crítica social é enfatizada com encenações em que os rapazes “vestem” a pele dos protagonistas, seja mulher, velho ou mesmo animal, e faz o delírio da assistência, que aplaude e ri, mesmo com o ressentimento dos visados, porque aqui impera a velha máxima: “ridendocastigat mores” (a rir se castiga os cos-tumes).

Segue-se a ronda de Boas-Festas ao som da gaita-de-foles, dos gritos e da chocalhada dos “caretos”, depois da qual resta uma vara (pau) com vários ra-mos carregada de fumeiro, pão, frutos secos e outros produtos da terra.

Esta recolha é o contributo para a ceia dos rapazes ou arrematada para an-gariar dinheiro para pagar a festa.

Mas também os rapazes não se livram de rigorosas punições, caso não cum-pram o que manda a tradição e a mais penosa é para aqueles que falhem a al-vorada.

Os que não comparecerem à segunda ronda são retirados da cama para a rua e atirados ao rio ou obrigados a dar umas voltas pela geada, descalços e des-pidos, não se vislumbrando pior castigo, no rigoroso Inverno transmontano.

Os mais velhos dizem que os rapazes de agora são menos disciplinados, tal-vez também porque são em menor número que antigamente, mas todos concor-dam que o importante é manter a tradição e, para que assim seja, até aceitam alguns desvios ao rigor de outros tempos.

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natal 2009 I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

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repórterdomarão12 08 Dez a 28 Dez’09

Animação de Natalna cidade do Marco

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I natal 2009

Para promover as compras nas lojas do comércio local, a Associação Empresarial (AE) do Marco de Cana-veses organiza, entre os dias 17 e 23, animação de rua com as figuras habi-tualmente presentes na época natalí-cia e um atelier de postais alusivos ao Natal.

A AE deixa um convite às crianças para comparecerem na inauguração do atelier, dia 17, no centro da cidade, junto ao BPI. Nesse espaço vão estar pessoas responsáveis pelas actividades e os pais poderão deixar os filhos en-quanto fazem compras nas lojas.

Até ao dia 13 a AE Marco tem a de-correr o concurso de montras de Na-tal, em que participam associados do concelho. As montras vencedoras vão receber publicidade gratuita no jornal da AE Marco e na imprensa local.

Por seu turno, a Câmara Munici-pal anunciou que a iluminação e a so-norização das ruas da cidade prolon-gar-se-ão até 10 de Janeiro, data em que se realizará mais uma edição dos Cantares de Janeiras do Marco de Canaveses.

É português, é Dj e destacou-se nas pistas de dança deste Verão ao som de “Selfish Love”.

Pedro Cazanova, nome artístico do jovem produtor Pedro Rafael Pene-do, deu os primeiros passos na músi-ca há 14 anos, tendo sido o tema oficial da Lisboa Parade 2007 a sua primeira produção, quando misturou o House com a guitarra portuguesa.

A partir daí participou em várias festas por todo o país dividindo as hos-tes com Dj’s internacionais bem conhe-cidos como Eric Morillo, Dj Gregory, Justin Harris, entre outros. No panora-ma do house português tocou ao lado do Dj Vibe, Carlos Manaça e XL Garcia.

Os álbuns de dance music nacionais “Sasha Summer Sessions 2009” e “Portugal Night 2009 – First Time” contaram com a participação des-te promissor português, Pedro Cazanova, que juntamente com outros dois Dj’s nacionais mis-turou os sons mais ba-dalados deste Verão.

Selfish Love, tema que lhe garantiu o re-

conhecimento público de trabalho de anos e que se encontra nos álbuns an-teriormente referidos, teve a partici-pação especial da cantora Andrea, mas já se ouve nas rádios o novo sucesso do produtor – My First luv, mais um hit agora com a voz de Filipa Baptista.

Com uma agenda muito preenchida até ao fim do ano e já com datas para 2010, Pedro Cazanova confessou ao RM que o tempo para a família é escasso e em época natalícia os preparativos para a ceia de Natal ficam mais difíceis. No entanto, salienta adorar o Natal: “Vi-bro muito com o Natal. Se pudesse ti-nha a casa decorada com a árvore de

Natal o ano todo”.Quan-to às prendas, o produ-tor confessa que prefere “preparar a ceia de Na-tal com tudo o que é ca-racterístico da época e proporcionar uma noite agradável em família”.

Como sugestão de Natal, para além de muita música, Pedro Cazanova sugere como prenda para os amigos o último best-seller de José Rodrigues do San-tos “Fúria Divina”. I.S.

Dj Pedro Cazanova sugere ‘Fúria Divina’

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natal 2009 I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

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Comboio turísticoe balão em Amarante

A animação de Natal em Amarante regis-ta este ano novidades, das quais as mais signifi-cativas serão o regresso do comboio turístico e também a chegada do Pai Natal num balão de ar quente, o que acontecerá sobre o largo de S. Gonçalo, numa grande operação mediática pro-tagonizada pela modelo Carla Matadinho.

Por iniciativa da Associação Empresarial de Amarante (AEA), a animação começa a 16 e vai acontecer em vários pontos da cidade, o que demonstra uma aposta significativa na cam-panha “neste Natal o comércio tradicional de Amarante tem um presente para si”.

Ateliers temáticos (pintura facial, postais de Natal), um parque de diversões insuflável, que vai ser instalado no Largo de S. Gonçalo, e uma chegada diferente do Pai e da Mãe Na-tal, com a participação da modelo, estão já con-firmados.

A AEA tem também assegurada a vinda do comboio turístico de Natal, o que não acon-tecia desde 2006. O comboio, que tem três car-

ruagens e capacidade para cerca de 90 passa-geiros, efectuará viagens entre os dias 16 e 23, estando ainda prevista a passagem pelo Largo do Arquinho, que tem estado encerrado devi-do às obras de requalificação daquela área da cidade.

O percurso vai abranger outras zonas da cidade, com paragem “em três ou quatro pon-tos-chave”, procurando incluir os sócios da AEA que aderirem à campanha.

O acesso às viagens vai fazer-se através de senhas que os comerciantes oferecem aos clien-tes. A quantidade de senhas oferecidas depen-derá do valor de compras feito.

Segundo a AEA, os comerciantes que ade-rirem à campanha terão também acesso a um conjunto de brindes para distribuir pelos seus clientes através de um sistema de raspadinha.

A criação de um catálogo de descontos em lojas aderentes, cuja intenção é chegar aos 150 comerciantes, pretende funcionar como “balão de ensaio” para iniciativas futuras da AEA.

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I natal 2009

A Casa da Calçada, unidade hoteleira de projecção internacional locali-zada no centro histórico de Amarante, prepara com afinco a noite da Conso-ada, uma iniciativa que começou a ter clientes específicos já na quadra na-talícia anterior.

Aguiar Branco, director do hotel de charme de quatro estrelas, que in-tegra a associação, de origem francesa, Relais & Châteaux, explica que em parte esse novo hábito está relacionado com as mudanças na estrutura das famílias.

“Há pais que são divorciados e precisam de um espaço. Não quer dizer que jantem com as outras pessoas, mas pelo menos estão num espaço em que há mais gente, que lhes dá mais conforto do que estarem sozinhos em casa”, explicou.

A opção por um espaço diferente e com todo o conforto parece assim ser decisiva para famílias monoparentais ou recompostas com capacidade financeira.

Por outro lado, acrescenta o director da Casa da Calçada, “há famílias que cresceram para as condições que têm nas suas próprias casas e procu-ram nos hotéis um local para se poderem reunir todos”.

Ter hóspedes na ceia de Consoada passou a ser uma situação corrente, tendo-se verificado um aumento da procura.

“Nós apostámos [nessa oferta] o ano passado e este ano já temos qua-se tudo tomado para a noite. Também porque começámos a divulgar com maior antecedência”, apostando “junto dos operadores e agentes de viagens no sentido de eles poderem oferecer a Casa da Calçada a esse mercado”.

A estalagem sempre esteve aberta nesta época, mas sobretudo para pessoas que tinham familiares aqui na região. No dia 25, já existia o hábito mais enraizado de as pessoas saírem para o almoço de Natal.

“As pessoas ficavam o dia 24 em casa e no dia seguinte procuravam sair. Normalmente compete às mulheres fazerem as refeições e como na noite anterior tinham tido muito que fazer, já procuravam os hotéis para terem a folga nesse dia”, conta o responsável pela gestão da Casa da Calçada.

A decoração exterior e interior da Casa da Calçada é alusiva à quadra e a ementa apresenta o que é habitual fazer-se: o tradicional bacalhau e tam-bém um ou outro prato assado em alternativa, para as pessoas que não são adeptas do bacalhau. A doçaria de Natal passa obrigatoriamente pela ale-tria, bolo-rei e formigos.

Consoada no hotel

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repórterdomarão1508 Dez a 28 Dez’09

A quadra natalalícia é propícia a manifestações de cultura e de música, razão que levou o RM a recolher para o leitor algumas sugestões disponíveis até meados de Janeiro na região do Tâmega e Sousa e também no Nordeste.

A Orquestra do Norte vai actuar em Amaran-te, em mais um concerto de Natal, no domingo, 13, às 22:00, na Igreja de São Gonçalo. No concerto partici-pam os solistas José Manuel Araújo (tenor), Tiago Ma-tos (barítono) e o Coro da Lapa sob a direcção do ma-estro Jorge Matta.

A Orquestra do Norte vai interpretar Capricho Sinfónico, Crisantimmi e Missa Di Gloria, obras do compositor italiano Giacomo Puccini.

Ainda em Amarante, será apresentado o quarto número da revista “Nova Águia”. A sessão terá lugar a 12 de Dezembro, pelas 15:30, na Biblioteca Municipal Albano Sardoeira.

A câmara de Felgueiras organiza o primeiro con-curso de presépios de Natal, em que participam insti-tuições públicas e privadas sem fins lucrativos. Os pre-sépios concorrentes vão estar expostos a partir do dia 18 em espaços públicos (largos, praças, jardins e rotun-das) do concelho de Felgueiras.

Todos os participantes no concurso recebem um prémio de 100 euros e vão ser atribuídos três prémios finais no valor de 250, 200 e 150 euros, respectivamen-te. A entrega dos prémios vai ser feita durante o En-contro de Cantadores de Reis, marcado para 16 de Ja-neiro, nos Paços do Concelho.

Os grupos interessados em participar nos Encon-tros de Janeiras, que vão ter lugar nos dias 17 e 24 de

Janeiro, no Pavilhão de Feiras e Exposições de Pena-fiel, devem inscrever-se no Pelouro da Cultura da câ-mara de Penafiel até ao dia 18. As inscrições podem ser feita através dos contactos 255 711 806 ou 255 723 676 (fax).

A festa de Natal dos idosos que vivem no concelho de Baião, está marcada para os dias 13 e 20, no Pavi-lhão Multiusos. O programa da festa inclui missa, às 11:00, seguida de almoço. Às 15:00 começa o baile, com folclore e música tradicional.

No Marco de Canaveses, até 08 de Janeiro, vai ter lugar uma exposição de Pintura de Teresa Freitas, que pode ser vista no Espaço Arte – Museu Municipal Car-men Miranda. A artista é natural de Moçambique, re-sidiu em São Paulo (Brasil) durante dezoito anos, onde teve os primeiros contactos com a arte. Reside em Por-tugal desde 1990, na cidade do Porto.

A Academia de Música de Resende vai apresentar o seu primeiro concerto de Natal a 22 de Dezembro, às 21:30, no Auditório Municipal. Os 58 alunos desta Aca-demia vão actuar no espectáculo.

A Old Blind Mole Orkestra dá um espectáculo no dia 12, às 22h00, no pequeno auditório do Teatro de Vila Real.

Oriunda da França, a Old Blind Mole Orkestra “é capaz de transmitir grande entusiasmo, mesmo nas situações mais adversas, é impossível resistir às suas canções com instrumentais divertidos e à voz cativan-te de Stelele”, divulgou o Teatro de Vila Real. Para ca-racterizar a Old Blind Mole Orkestra “há quem fale em jazz e swing, em pop boémio, em folk e gipsy ou músi-ca dos Balcãs — e há quem se lembre de Tom Waits”.

Na mesma cidade, o cinema teatro vila real apre-senta ‘historias de cabaret’, realização de Abel Ferrara. O filme tem lugar a 21 de Dezembro, no Pequeno Au-ditório (22:00). No Café-Concerto, a 26, terá lugar o Ja-zzy Christmas.

Em Macedo de Cavaleiros, no Centro Cultural, está patente até dia 27 uma exposição de escultura do artista plástico David de Almeida. Natural de S. Pedro do Sul, David de Almeida, 64 anos, expõe desde 1970, tendo participado regularmente em Feiras de Arte e em Bienais Internacionais.

Em Miranda do Douro, vai ter lugar o GEADA 2009 - II Festibal de Cultura Tradecional de tierras de Miranda, que decorrerá de 26 a 28 de Dezembro.

A organização é da Associação Recreativa da Ju-ventude Mirandesa e dos Pauliteiros da Cidade de Mi-randa do Douro.

Iniciativas culturais do Tâmega ao Nordeste

natal 2009 I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

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economia / ambienteI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I Irepórterdomarão16 08 Dez a 28 Dez’09

Consulta pública da barragem de Fridãoem Janeiro e Fevereiro

Jorge Sousa | [email protected]

A EDP desistiu de instalar um grupo reversí-vel na barragem de Fridão – contrariando a intenção manifestada no primeiro trimestre

de 2009 – e também de produzir energia no escalão de jusante, uma segunda barragem de 30 metros de altu-ra, quatro quilómetros a jusante da principal, apurou o Repórter do Marão. Foi ainda fixada a cota máxima de armazenamento em 160, o que se traduzirá numa barragem em abóbada com a altura de 97 metros.

Numa reunião recente na Câmara Municipal de Amarante os responsáveis da EDP propuseram di-versas alterações ao estudo prévio da construção da barragem de Fridão, documento que foi apresentado ao presidente da autarquia e às juntas de freguesia.

A concessionária da barragem desiste da insta-lação do grupo reversível no escalão principal – que proporcionaria a reutilização da água turbinada du-rante o dia, através da utilização de energia eólica produzida durante a noite – bem como da produção de energia no escalão de jusante, adiantou ao RM o presidente da Câmara, Armindo Abreu.

Um grupo reversível, como existem vários insta-lados em barragens portuguesas, é aquele que fun-ciona como turbina durante as horas em que há maior solicitação no consumo de energia e pode funcionar como bomba nos períodos de horas de vazio ou de ex-cedentes de energia na rede.

| Produção de energia em 2016 | Desconhece-se a razão desta opção por parte da

EDP, mas é sabido que o arranque em bomba de gru-pos com elevada potência, como é o caso de Fridão, en-volve dificuldades especiais de funcionamento da pró-pria estrutura, segundo revelam vários estudos.

A empresa quer iniciar a produção de energia em Fridão até ao final de 2015 e antevendo dificuldades na

aceitação do empreendimento por parte da população local e sobretudo dos ambientalistas veio já propor à Câmara Municipal de Amarante e às juntas de fregue-sia da área envolvida um conjunto de “Medidas de Mi-nimização ou Compensação”.

A EDP acena, entre outras medidas, com a cons-trução de duas novas travessias sobre o rio Tâme-ga, aproveitando o coroamento das barragens, situa-das a quatro e a oito quilómetros da cidade. Fridão, por exemplo, ficará ligado a Codessosso e à região de Bas-to, através da construção de uma nova via entre a Es-trada Municipal (EM) 1208 e a Estrada Nacional (EN) 210, a via antiga entre Amarante e Celorico de Basto.

O mesmo se passará entre as duas margens no lo-cal da barragem de jusante, 500 metros a montante da ponte do Borralheiro e da foz do rio Olo e que vai apenas servir para “modular” os caudais turbinados a montante. Será executada uma nova via entre a EN 312 (do lado de Fridão), e a EM 1206, na margem direi-ta do Tâmega, em Gatão.

Além dos novos acessos, a EDP propõe-se cons-truir uma pista de águas bravas junto à cidade, no Pe-nedo do Açúcar, com a extensão de 350 metros e “de pa-drões internacionais”.

Chega a ser proposta a construção de uma bancada e zona de público, mas esta solução não agrada à autar-quia por a sua localização coincidir com a área do antigo parque de campismo.

Armindo Abreu disse ao RM que as propostas da EDP terão de ser concertadas com as conclusões de um estudo que a CCDR Norte está a desenvolver para todas as zonas de albufeiras, destinado a aferir do “po-tencial de desenvolvimento” dessas áreas.

Saliente-se que a EDP também propõe a “estrutu-ração de área de piscina natural para uso recreativo” no Tâmega, junto à cidade, bem como o “arranjo urbanís-

tico e recuperação da Ilha dos Amores para sua protec-ção contra a erosão e utilização lúdica”.

Entretanto, a consulta pública da avaliação de im-pacte ambiental deverá arrancar entre o final deste ano e o início de Janeiro, sendo aguardado a qualquer ins-tante o parecer da Comissão de Avaliação e o despacho de abertura do prazo da Agência Portuguesa do Am-biente, entidade tutelada pelo Ministério do Ambiente.

O prazo de consulta pública do EIA (Estudo de Im-pacte Ambiental) é de dois meses.

| Mil postos de trabalho | Se tudo cor-rer como planeado pela EDP, o projecto das barragens será executado até ao fim de 2010, sendo apontado o mês de Julho de 2011 para a assinatura dos contratos e a adjudicação das obras.

A entrada em exploração da barragem de Fridão, segundo o calendário da eléctrica nacional, continua a ser Dezembro de 2015.

No estudo prévio agora conhecido, são elencados os impactes positivos, dos quais se destaca sobretudo a criação de emprego directo e indirecto, sendo anun-ciado um pico de mil postos de trabalho no ano de 2014. O emprego indirecto, segundo a EDP, é estimado em duas a três vezes aquele número.

Em termos de exploração, são apontados como po-sitivos a reserva de água, mormente para o combate a incêndios e rega, a regularização de caudais no Tâme-ga e o desenvolvimento de actividades de lazer no rio.

Como impactes negativos são referidos a modifica-ção da paisagem e os estaleiros, bem como a destrui-ção da pista de canoagem de Fridão, de duas pontes de arame e de uma área de lazer, além de seis habitações.

A inundação das albufeiras criadas na barragem de Fridão e na barragem de jusante afectará seis hecta-res de área agrícola.

EDP prevê produzir energia no final de 2015

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I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I sociedade

A possibilidade de abrir mais um espaço comercial do género Hiper Ásia nas antigas instalações do supermercado Ponto Fresco, no Marco de Canaveses, com uma área en-tre 1300 a 1500 metros quadrados, é motivo de “preocupação”, considera Cláudio Ferrei-ra, secretário-geral da Associação Empresa-rial do Marco de Canaveses (AE Marco).

“Isso preocupa-me e devia preocupar não só a mim, não só a AE Marco mas também a Câmara Municipal, porque ao deixar abrir estes espaços poderá estar a contribuir para o encerramento de outros dez ou 20 ditos pe-quenos empresários. Isto deve ser motivo de preocupação. E mais: não sei se essas lojas empregam pessoas do concelho ou se as tra-zem de fora, onde é que pagam os seus im-postos? Se não são marcuenses vêm aqui es-tragar o comércio que existe. Vamos fazer contas”, sugere, lembrando que está em cau-sa o “total desequilíbrio”, já que se trata de “mais um espaço médio de chineses. Podiam ser chineses ou polacos… então e o tal equilí-brio?”, questiona.

“Penso que o nosso concelho está dema-siado concentrado nestas médias superfícies claramente em prejuízo do dito pequeno co-mércio, e o tal equilíbrio não existe. Eu não tenho nada contra essas médias superfícies. Por um lado até é bom, primeiro porque tra-zem concorrência e o comércio de rua, tradi-cional, também tem que se modernizar”, afir-ma o dirigente da AE Marco.

“Os comerciantes também têm de “ser mais inovadores, terem formação. Os tem-pos são outros. A própria AE teve que se mo-dernizar, mudar os seus métodos de trabalho,

alargar os seus serviços senão hoje corria o risco de fechar. Temos todos que evoluir”, considera.

Para Cláudio Ferreira, espaços do tipo Hiper Ásia (que abriu há dois meses em Tu-ías), “não trazem nada de bom, de positivo, mais-valias para o concelho”.

“Defendo que se faça uma análise cuida-da destes espaços. Seja no Ministério da Eco-nomia, que emite as licenças, seja na câmara municipal”, referiu ao RM.

A avaliação do impacte do espaço comer-cial de Tuías ainda não foi feita, diz Cláudio Ferreira porque “ainda é cedo e há questões que têm de ser avaliadas”.

Este ano, cessaram actividade 33 associa-dos da AE Marco (a maior parte lojas de co-mércio a retalho) e entraram 50 novos. Des-tes novos associados, 50 por cento são do sector do comércio e restauração. Este “sal-do positivo”, afirma o secretário-geral, é o re-sultado dos “benefícios” resultantes dos pro-tocolos com entidades e empresas nas áreas das comunicações, combustíveis, seguros e banca “para que os associados consigam re-duzir os custos fixos da sua empresa”.

A AE Marco tem cerca de 800 associados, sobretudo pequenas e médias empresas dos sectores do comércio, serviços e indústria.

Entretanto, fonte da AE Marco adiantou ao RM que ainda não foi tomada nenhuma posição oficial sobre o eventual alargamento dos dias da actual feira do Marco (quinzenal) – de dois para três –, um assunto que tam-bém está em estudo por parte da câmara mu-nicipal.

Paula Costa com J.S.

Lojas asiáticas geram apreensão entre comerciantes do Marco“Estes espaços não trazem mais-valias para o concelho”, adverte a Associação Empresarial

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gastronomiarepórterdomarão20 08 Dez a 28 Dez’09

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Paula Costa | [email protected]

Freamunde eleva o capãoa “manjar dos deuses”Associação de Criadores de Capão de Freamunde tem em fase de conclusão o processo de certificação

T odos os anos, no mês do Natal, Freamunde vive essa condição única no país de ser a “ter-ra dos capões”. Dezembro é o tempo da feira

onde se vende o galináceo cujo destino é traçado por mão humana, num incisivo golpe que o capa impedin-do-lhe a prática de “vícios”: cantar, arrastar a asa e galar as fêmeas da capoeira. O capão nasce pinto e é quando tem entre três meses a três meses e meio que é castrado. Através de um golpe são-lhe retira-dos os órgãos sexuais e cortada a crista. Sem capaci-dade para pôr em prática os “vícios” que os humanos lhe atribuem, o capão limita-se a crescer e engordar. Transforma-se numa “bola de carne”. Com dez me-ses ou um ano um capão chega a pesar seis a sete qui-los, depois de limpo.

Porque o capão foi adquirindo importância, tor-nando-se numa atracção, Dezembro é também o mês da Feira dos Capões e da Semana Gastronómica do Capão à Freamunde. Uma iguaria que faz chegar a Freamunde muitos visitantes, gente que vem em ex-cursões de autocarro ou em grupo para provar o ca-pão nos oito restaurantes que participam na IV Se-mana Gastronómica que termina a 13, dia da Feira dos Capões. A “espécie real”, adjectivo que pare-ce ter origem no rifão popular “capão de oito meses para a mesa do rei”, é exibida aos olhos dos visitantes e compradores, no largo junto ao coreto. No final, é eleito o melhor capão vivo presente da feira.

Instituída por provisão do Rei D. João V, a 3 de Outubro de 1719, há no entanto registos de que a Fei-ra dos Capões já se realizava no século XV, no terreno e devesas da Confraria de Santo António, que retira-va daí grandes benefícios.

A feira coincide com a data em que a liturgia ca-tólica venera Santa Luzia, a protectora da visão e dos olhos, devoção que atrai muita gente de fora a Frea-munde e faz encher a capela de Santo António, onde está a imagem de Santa Luzia.

Tanto a feira dos capões como a semana gastronó-mica têm como consequência “uma bola de neve” de efeitos positivos, conta ao Repórter do Marão o pre-sidente da Junta de Freguesia de Freamunde, José Maria Taipa.

“Contamos que este ano não fuja à regra”, re-feriu o autarca, acrescentando que é notório o vai e vem constante de forasteiros com reflexos positivos na economia local. As edições anteriores ultrapassa-ram as previsões dos quatro parceiros que organizam a semana gastronómica: a câmara de Paços de Fer-reira, a junta de Freamunde, Associação Juvenil ao Futuro e a Associação de Criadores de Capão de Fre-amunde, que tem em fase de conclusão o processo de certificação do capão com a designação IGP – Indica-ção Geográfica Protegida.

No ano passado, o número de capões vendidos pelos sete restaurantes que participaram na sema-

na gastronómica andou “próximo dos dois mil”. Mas este ano, entre os proprietários de restaurantes, há quem receie, devido à crise, uma diminuição do nú-mero de visitantes que se deslocam propositadamen-te para uma refeição de Capão à Freamunde, um prato que não é “muito acessível”. Com o respecti-vo acompanhamento (batata assada ou grelos salte-ados], um Capão à Freamunde custa 120 euros, dan-do para seis a sete pessoas. As bebidas são à parte.

O incisivo golpe que o capa impede-lhe a prática de “vícios”:

cantar, arrastar a asa e galar as fêmeas da

capoeira.

O capão limita-se a crescer e engordar.

Transforma-se numa “bola de carne”. Com

dez meses ou um ano um capão chega a pesar seis

a sete quilos, depois de limpo.

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A forma de cozinhar o capão à Freamunde tem algumas orientações gerais, mas há também varia-ções que dependem da experiência e gosto pessoal do cozinheiro.

Depois de morto (há quem antes o embriague com vinho do Porto) e de se retirarem os miúdos, o capão é posto a marinar em água, muito sal e li-mão cortado aos pedaços, conta ao Repórter do Ma-rão António Sousa, proprietário do Restaurante Da Presa, que além de ter criação própria também com-pra na época de maior saída do capão, em que o res-taurante serve várias dezenas de aves por semana.

Passado um dia escorre-se bem a faz-se uma vi-nha de alhos com vinho maduro branco, cerveja, vi-nho do Porto, aguardente, duas folhas de louro, duas laranjas cortadas aos pedaços, colorau, azeite, alho e cebola.

| Assado exige cuidados | Coloca-se o capão num tabuleiro sob uma cama farta de ce-bola às rodelas e com a vinha de alhos. O recheio do capão consiste num picado com os miúdos, carne de

vaca e um bocadinho de presunto ou salpicão. Rega-se o capão só uma vez com azeite e vinho do Porto e vai ao forno bem quente (a 250 graus) durante duas horas.

Além de demorado, o processo exige alguns cui-dados: passada meia-hora retira-se o capão do forno e pica-se com um garfo, vira-se ao contrário, volta a ser regado com vinho do Porto e regressa ao forno. Até estar assado volta-se a picar e a regar com vinho do Porto. Há um pormenor importante: na parte fi-nal, convém cobrir o capão com papel prata para evi-tar que a pele fique queimada. Ao fim de uma hora no forno põe-se a batata cortada aos cubos.

| Maduro tinto ou espumante | Diz quem já provou que só pela batata “vale a pena comer… é uma delícia”. A acompanhar, é habitual servirem-se grelos salteados.

Um bom vinho maduro tinto ou um espumante verde são tidos como escolhas acertadas para o Ca-pão à Freamunde.

Em Freamunde, há também quem cozinhe capão

à bordalesa – o gerente do restaurante Da Presa é um dos que gosta de variar a confecção da ave –, mas nessa outra forma de preparar o capão a vinha de alhos é feita com vinho tinto e muito alho. O sangue do capão é acrescentado durante o estufado que leva também algumas colheres de farinha Maizena para engrossar o cozinhado. O capão à bordalesa é servi-do com tostas.

| Gato por lebre | Ao comprar o capão vivo é preciso ter atenção para não comprar “gato por lebre”, ou, neste caso, rinchão por capão. O rin-chão é uma mistura. Não é galo nem capão e resulta de um processo de castração mal feito por quem não domina a técnica.

Na véspera da feira, há vendedores de fora, gen-te com “menos escrúpulos”, que cortam a crista ao galináceo e tentam vendê-lo por capão, diz o presi-dente da Junta de Freamunde. Para evitar enganos, há na feira um espaço próprio, identificado, da As-sociação de Criadores de Capão, onde se assegura a venda do verdadeiro capão. P.C.

Assado no forno ou à bordalesa?

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Bolinhos de Amor de Casais Novoslutam contra as imitaçõesS ão anunciados em feiras e romarias, e muitos aca-

bam consumidos como sendo os originais Bolinhos de Amor, mas não é a mesma coisa. O Repórter do Ma-

rão foi conhecer melhor este doce tradicional a São Martinho de Recesinhos.

Cândida Santana é sobrinha da herdeira da receita origi-nal dos Bolinhos de Amor, com quem partilha um dos segre-dos mais bem guardados da gastronomia local, e responsável pela sua produção e comercialização.

Estes doces típicos são uma marca registada e só estão à venda em São Martinho de Recesinhos, no Restaurante e Residencial Bolinhos de Amor (outrora Hospedaria da Ma-laposta), e numa área de serviço daquela freguesia penafide-lense. Exclusivamente.

Dona Cândida faz questão de vincar a ideia e explica esta quase obsessão com as inúmeras vezes em que lhe são apre-sentadas queixas, a maioria de indisposições, após ingestão dos doces comprados como sendo os originais.

| Cuidado com as imitações | “Sabe, as pes-soas querem vender e, às vezes, são capazes de tudo. Dizem que são os Bolinhos de Amor de Casais Novos, e, por serem mui-to idênticos – branquinhos, pequeninos e tudo o mais... – alguns compram ‘gato por lebre’”, explicou. Dona Cândida garante, no entanto, que, “quem os conhecer, não compra, pois sabe perfei-tamente que não se vende para as feiras”.

Na mesma casa onde tudo começou – instalações recupe-radas de um edifício com mais de 300 anos –, Cândida Santana exibe com orgulho a cozinha, já lavada e arrumada, onde se-manalmente produz os afamados bolinhos. E também o pão-de-ló e o Pão Teixeira feito na casa. Tinha saído uma fornada horas antes, apesar de ser coisa sem dia certo. “Não é todos os dias. Quando acabam uns, fazemos outros”, confirmou.

| Segredo bem guardado | É na cozinha que passa a maior parte do tempo, de volta dos ovos, da farinha e do açúcar – deixámos intencionalmente escapar à espera de uma resposta que não se fez demorar. “É assim, tem a farinha,

o açúcar e o ovo, a gema de ovo – é só a gema de ovo. O resto é caseirinho, são ingredientes nossos, mas ficamos por aqui...”

O tom sério quase nos tirou o apetite de saber mais, mas insistimos. Sem grande sucesso.

“O que dá mais trabalho, se fazer o bolo ou cobri-lo? Bem, é preciso bater, preparar a massa, cobrir… Tudo tem o seu trabalho”, afirmou, deixando escapar um sorriso vitorioso, dando como certa a vitória na partida.

E, se dúvidas existiam, Dona Cândida apressou-se a des-fazê-las: “Já tive quem me oferecesse muito dinheiro, pode acreditar, só para dizer uma pequenina coisa, mas mandei-os abaixo de Braga num instante. Isto morre comigo”.

| Doce para dias especiais | De volta à re-cepção, ao lado do café amavelmente servido ao balcão, Dona Cândida juntou alguns bolinhos, num acompanhamento com muito melhor paladar do que as “aparentadas” cavacas. As-sim também pensam os clientes, hoje em menor número. “Isto teve uma quebra muito grande”, queixou-se, resumin-do a procura a “quem já conhece o bolinho” ou a “quem quer dar uma coisa especial”.

O Natal e a Páscoa são duas épocas altas, mas os doces são também muito procurados para casamentos. Sem esque-cer o Dia dos Namorados, acrescentou Dona Cândida, “gra-ta” à “generosa encomenda” que a autarquia penafidelense, entre outras entidades, faz por ocasião do dia de S. Valentim.

Há mais clientes a justificar referência. “Também há pes-soas que chegam e dizem: ó minha senhora, ia a passar na auto-estrada, lembrei-me que antigamente vinha cá com os meus pais, e passei por aqui... Ainda há esses (clientes), mas, a partir daí, o que há é uma coisa m uito pequenina”.

Os Bolinhos de Amor são vendidos em cartuchos de qui-lo, meio ou de um quarto de quilo e custam 16, oito ou quatro euros, respectivamente, um preço que Cândida Santana diz ser acessível, tendo em conta o trabalho que dão a confeccio-nar e a sua qualidade.

Carlos Alexandre | [email protected]

Um pouco de história. O Res-taurante e Residencial Bolinhos de Amor, localizado no lugar de Casais Novos, em São Martinho de Recezi-nhos, foi recuperado em 1996, a par-tir de um edifício antigo (construção do século XVI) e usado como estala-gem há 110 anos. Entre os seus fre-quentadores mais conhecidos con-tam-se Zé do Telhado, um cliente das merendas, e o poeta e escritor An-tónio Nobre, que ali se instalava nas inúmeras viagens que realizava para a região, considerando de “excepcio-nal beleza” toda a área envolvente. A antiga estalagem mereceu-lhe mes-mo uma referência no poema ‘Via-gens na Minha Terra’, incluído no li-vro ‘Só’.

“Depois cançados da viagem repoizavam na estalagem (que era em Cazaes mesmo ao dobrar) vinha a Sr. Anna das Dores «Que hão-de querer os meus senhores?» há pão e carne para assar”...

(Poema em “Viagens na Minha Terra”)

Com a passagem dos anos, o ne-gócio começou a entrar em crise, e pior ficou com a abertura da linha de comboio, motivando as herdeiras a apostar num doce. Eram quatro as di-tas senhoras, filhas da proprietária, e o nome do dito, após muitas voltas, acabou por surgir. Soou-lhes bem Bolinhos de Amor, e assim ficou bap-tizado o conhecido e afamado doce.

O fabrico e comercialização des-te doce tradicional da região, que se veio a tornar no referencial de me-mória colectiva de toda a proprieda-de, passou a ser feito em novas insta-lações, numa casa igualmente antiga em frente do edifício principal.

O segredo do doce foi passan-do de geração em geração – das se-nhoras para o seu afilhado e herdei-ro, um tal de “senhor Assis”, que elas criaram, e deste para Maria da Glória, que o partilhou com a sobrinha, Cân-dida Santana. Os dois filhos assegu-ram a continuidade da iguaria.

“Era novita e andava aqui. Olhe que vinha muita, mas mesmo muita, gente. Ao fim-de-semana, então, pa-recia uma romaria. Era carro de um lado, carro do outro...”, recordou ao RM Dona Cândida.

Fonte: Cândida Santana e

página oficial da casa dos Bolinhos de Amor

22Doce

centenáriode Penafiel

“Já tive quem me oferecesse

muito dinheiro, pode acreditar, só

para dizer uma pequenina coisa,

mas mandei-os abaixo de Braga

num instante. Isto morre comigo”.

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repórterdomarão I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I desporto24 08 Dez a 28 Dez’09

D urante 12 anos Jorge Pinto foi verea-dor da Câmara de Amarante. Desde 3 de Julho último é o presidente da

Direcção do Amarante Futebol Clube (AFC). “São coisas completamente diferentes”, expli-ca Jorge Pinto em conversa com o Repórter do Marão (RM). Condição primeira para dirigir um clube de uma cidade do interior: “é preciso gostar-se muito de futebol”. Acrescenta: “Para se ser dirigente associativo é preciso ter-se uma grande paixão pelo futebol. Venho cá [ao estádio municipal] de segunda a domingo. Se não gostasse de futebol não podia estar aqui”.

No entanto, há seis meses, ser presidente do AFC era “uma situação anormal e impen-sável”, recorda Jorge Pinto, que já tinha sido um dos vice-presidentes e na última época co-ordenou o futebol juvenil do clube. Aos 51 anos, a situação de aposentado deu-lhe “liberdade de movimentos”. E impôs-se a si próprio uma condição: “onde quer que eu estivesse não ga-nharia mais um cêntimo. Dou a minha disponi-bilidade de pensamento e de acção a algumas colectividades”.

Além do AFC também dirige o Infantá-rio-Creche O Miúdo. Mas, ressalva, “os meus descontos para a Caixa Geral de Aposentações continuam a ser feitos até aos 61 anos. O único privilégio que eu tenho é a ausência de um tra-balho com um horário pré-definido”.

|Não é preciso ser rico para se ser presidente | No fu-tebol, sempre entendeu “que para se ser presi-dente é preciso uma certa almofada financeira que eu, pessoalmente, não tenho”. Foram ten-tadas várias soluções “com pessoas que even-tualmente poderiam reunir esses requisitos”, mas “ninguém quis assumir o primeiro lugar”. Foi manifestada “disponibilidade para continu-arem a apoiar”. Houve “empresários que dis-seram que podíamos contar com o apoio deles. Tivemos que encontrar uma solução para Di-recção. E foi assim que aparecemos aqui”, re-corda Jorge Pinto, salientando que “todos sem excepção, são pessoas que gostam de futebol, que jogaram futebol aqui em Amarante, ou-tros têm cá os filhos como atletas. Aquilo que une todos é a paixão pelo futebol”.

Gerir o AFC é “claramente um gran-de desafio” que exige “a noção muito rigo-rosa do dinheiro que se tem como certo. De-pois, saber quais são as expectativas e onde é

que se pode ir aumentar a receita. Mas partir com muito rigor”, sublinha.

Sem “megalomanias” ou “excessos de con-fiança” e “com o sentido prudente dos tempos em que vivemos”, afirma.

É também importante que as pessoas que dirigem “tenham uma boa aceitação social no meio em que vivem. Não precisam de ser ricos ou ter muito dinheiro”, clarifica.

O AFC “teve a sorte de desde 2006 até 2009 ter à frente dos seus destinos pessoas com sentido de responsabilidade e que deixa-ram o clube numa situação estável em termos financeiros”, salienta o presidente.

| Orçamento de 250 mil euros | Com um orçamento anual que ron-da os 250 mil euros, a Direcção acordou com 80 por cento dos atletas a atribuição de um pré-mio, na condição de o clube ficar nos seis pri-meiros lugares, os que garantem a permanên-cia. Não existem prémios de jogos individuais e todo “o dinheiro que entrar no AFC tem que ser devidamente contabilizado e a sua saída da mesma forma”, assegura Jorge Pinto.

O AFC está nos primeiros lugares da Ter-ceira Divisão e tem, segundo o presidente, “to-das as condições para sedimentar muito forte-mente a presença na Terceira Divisão, sempre numa perspectiva de poder chegar à Segun-da”. Que é esse “o lugar que o clube, a cida-de e o concelho mereciam no panorama do fu-tebol nacional”.

As funções de dirigente desportivo obri-garam Jorge Pinto a alterar alguns hábitos: “a única coisa que deixei de fazer foi ir ao cine-ma. Os fins-de-semana são todos para o fute-bol”. Passa duas a três horas por dia a ler (li-vros e jornais, sobretudo na internet). Quando tem tempo livre, entretêm-se “em casa a tratar dos cães e das galinhas. Gosto de pegar numa enxada, ou numa moto-serra e desbastar uns pinheiros, sou meio agricultor”, diz.

A paixão pelo futebol transparece também quando recorda, emocionado, “a primeira vez” que se sentou no banco, como director de uma equipa de iniciados. “As lágrimas correram-me porque me lembrei do meu filho [hoje com 19 anos] que foi obrigado a deixar de jogar fute-bol” quando, já inscrito como jogador de juve-nis do Amarante, lhe foi detectado um proble-ma cardíaco grave que o impede de qualquer prática desportiva.

Amarante FC tem gestão “equilibrada e rigorosa”Jorge Pinto, ex-vereador e antigo responsável pelo futebol juvenil, diz que clube “não entrará em loucuras”

Paula Costa | [email protected]

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desporto I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão2508 Dez a 28 Dez’09

400 jovens emformação

Actualmente com cerca de 2000 sócios, o AFC tem futebol sénior e juvenil. O presi-dente diz que o clube tem “cerca de 300 atletas, entre inscritos e não inscritos”. No futebol juvenil há cinco escalões de formação em competição e dez equipas. A que se junta a pré-formação, com Os Gonçalinhos. São cerca de 60 crianças “que pagam uma pequena con-tribuição para obterem essa formação desportiva” dois dias por semana.

O plantel sénior tem 21 atletas, um treinador principal e dois adjuntos. No gabinete médico trabalham um técnico superior de saúde e três massagistas.

“Tudo isto é uma máquina extremamente pesada. A equipa sénior custa por mês cer-ca de 15 mil euros. Temos mais 5 mil para a formação juvenil, mais cerca de 4 mil com os quatro funcionários e depois temos uma despesa muito considerável com inscrições e as deslocações”, o que totaliza despesas mensais na ordem dos 22 mil euros. “Os únicos que trabalham graciosamente são os dirigentes. De resto, treinadores, massagistas, todos re-cebem uma compensação para as despesas que têm”.

Jorge Pinto considera “de grande relevância o trabalho que é feito quer pelos treina-dores quer pelos directores das camadas jovens porque cria-se uma relação de empatia, e respeito mútuo que é muito salutar. Para o desenvolvimento sócio-afectivo e para a forma-ção dos jovens, nada melhor do que uma colectividade desportiva, mas uma colectividade bem organizada, com normas, em que cada um sabe o que pode e o que não pode fazer”.

Para contornar as dificuldades, este ano cada atleta teve que dar uma pequena con-tribuição para poder ser inscrito, desde os Gonçalinhos até à equipa sénior. Pela primeira vez todos os atletas seniores e técnicos foram obrigados a serem associados do AFC. “To-dos os que aqui jogam são sócios do Amarante. Pagam uma contribuição mensal de cinco euros e os atletas das camadas de formação tiveram que dar uma jóia inicial de inscrição para ajudar a pagar a inscrição (que é extremamente cara), na Associação de Futebol do Porto e para terem os exames médicos condizentes com o rigor da actividade física a que estão sujeitos. Foi um contributo que os pais aceitaram muito bem, perceberam isso. Ape-sar de tudo, ainda somos das colectividades aqui à volta que pede menos”.

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I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I entrevistarepórterdomarão26 08 Dez a 28 Dez’09

J osé Eduardo Lima Pinto da Costa, ou Professor Pinto da Costa como é mais conhecido dado o seu vasto currículo

e extenso conhecimento, tem 75 anos, 56 dos quais ligados à medicina. Ainda que seja uma fi-gura carismática do Porto, a cidade onde sem-pre se manteve pelo saudosismo, tradição e mar, já conhece os cinco continentes. Da Aus-trália trouxe o cheiro progresso e de liberdade máxima. A sua imagem de marca – longas bar-bas brancas que mantém há 40 anos - tornam-no inconfundível e ainda que se considere uma pessoa cinzenta, porque “a normalidade não é preta nem branca”, todo o seu discurso é mar-cado pela cor, pela vida e pelo trabalho que, ga-rante, nunca irá largar. Em entrevista ao Re-pórter do Marão lembrou estórias de passado e presente e de como já aos cinco anos dava injec-ções em ursos de peluche.

“Eu sou uma pessoa vulgar. Procuro sê-lo nas minhas vivências e relacionamentos com to-dos indiscriminadamente”, começa por dizer o professor Pinto da Costa, agora professor ca-tedrático jubilado no Instituto de Ciências Bio-médicas Abel Salazar e um dos mais destaca-dos especialistas em medicina-legal do País. A paixão e o gosto pela medicina já não sabe bem como surgiram. “Terá sido a influência de um tio-avô que era médico e professor catedrático e era uma daquelas pessoas referenciadas como importante na família”, recordou. Aliás, “não se perspectivou” ser outra profissão que não a de médico, ou teria sido “talvez jornalista pela abrangência e possibilidades”.

Assim que terminou a licenciatura em me-dicina, no Porto, em 1961, logo foi convidado para ser assistente na faculdade e por lá ficou a descobrir as “potencialidades da medicina-le-gal”. Anos mais tarde, em 1974, foi convidado para professor auxiliar, passando a professor associado em 1979 e a professor catedrático, da Faculdade de Medicina do Porto, em 1996. En-tre 1975 e 2001 dirigiu o Instituto de Medicina Legal do Porto e em 2003 criou o Centro Médi-co-Legal que leva o seu nome. O seu percurso profissional foi sempre assim, preenchido e em crescendo. Pinto da Costa participou em cente-nas de congressos, publicou mais de quinhentos trabalhos científicos, fundou várias publicações médico-legais, é membro de 32 sociedades cien-tíficas nacionais e internacionais, entre tantas outras actividades que o tornam, como o pró-

prio admite, um “escravo da agenda”.

Tempo livre é, por isso mesmo, algo que José Eduardo Pinto da Costa não tem. “Cos-tumo dizer que vou descansar no cemitério”, graceja, lembrando uma expressão que garan-te sempre usar: “Goza a vida o mais que pude-res porque para estar parado tens a eternida-de”. É desse gozo dos dias, desse vivenciar cada hora e minuto que faz o seu lema, esquecendo a idade que vai contando e o facto de ter “me-nos percurso existencial que o que tinha aos 20 anos”. Ainda que não tenha tempos livres, con-sidera nunca ter trabalhado por nunca ter fei-to nada que não gostasse. As férias? As que faz “são por obrigação familiar” e sem nunca largar o computador ou a Internet para não se desli-gar do mundo.

José Eduardo Pinto da Costa gosta de toda a música “desde o Jamiroquai até Beethoven” e lê, muito, “não há dia nenhum em que não leia ou escreva”, confessa. No Porto, onde aprecia o mar e o rio e gosta de ir à Foz ou a Leça para passear, já abdicou “da privacidade”. Agora, e frequentemente, é interpelado em qualquer sí-tio e até mesmo no supermercado.

Parar não faz parte dos seus verbos. “Isso só acontecerá se tiver uma hemorragia cere-bral”, garante. Sobre o futuro, conta que “foi ontem”. “Quero é todos os dias mexer os dedos das mãos e dos pés. Isso é a minha filosofia”.

Prof. Pinto da Costa,uma ‘pessoa vulgar’

Liliana Leandro | lleandro [email protected]

Especialista em Medicina Legal vive cada dia com “o máximo de prazer possível”

José Eduardo Pinto da Costa foi o primeiro português a ser eleito

vice-presidente da Academia Internacional de Medicina Legal e de Medicina Social. Um cargo que

desempenhou entre 1985 e 1991.

Fundou, em 1981, a Sociedade Médico-Legal de Portugal,

primeira sociedade científica daquele âmbito, à qual preside e na qual tem sido um exemplo de

pedagogia médico-legal.

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P into da Costa é professor. A carreira de do-cência acompanha-o há longos anos porque gosta de comunicar e tem facilidade nisso,

não fosse um grande orador. O Repórter do Marão foi espreitar uma das suas palestras no Externato Ri-badouro, no Porto, e viu como os muitos alunos que o ouviam não se deixaram intimidar pela sua figura e se divertiam com a forma simples, directa e quase “naif” com que ia explicando complexos fenómenos da química e biologia. O professor tem o dom da pa-lavra e as pessoas em absorver o que diz. Talvez por isso mesmo tenha sido eleito, por outros alunos, o me-lhor professor do sexto ano de medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

Actualmente lecciona em várias universidades, sendo um reconhecido especialista em medicina-le-gal. Mas o que é a medicina legal? “É a aplicação de conhecimentos médico-psico-biológicos a questões de direito”, referiu Pinto da Costa. Simplificando, ou não soubesse o professor da sua “facilidade em simplifi-car o extraordinariamente complicado”, diz-nos que é a medicina-legal que faz “a ponte entre a medicina e o direito” para “aferir a normalidade” e a razão peran-te a lei. Em Portugal considera que a medicina-legal se “ocupa muito dos vivos” enquanto “no estrangeiro

isso está entregue aos serviços de saúde”.

Pinto da Costa garante que “não há autópsias in-conclusivas”, sendo que “uma autópsia não é apenas cortar um cadáver. Isso faz-se nos talhos”. Actual-mente, explicou, a autópsia médico-legal é constituída por quatro partes. Começa-se pela informação dispo-nibilizada, visita-se depois o local do crime, em tercei-ro lugar examina-se o cadáver e por fim realizam-se exames complementares. Se são inconclusivas é por-que não estão completas, sublinha. A autópsia é, po-rém, o trabalho que menos realiza no seu centro mé-dico. “Fazemos exames de vivos ao nível da avaliação para o trabalho, avaliação criminal e pareceres de toda a índole”.

De todo o seu percurso não destaca grandes fei-tos. Prefere “o dia-a-dia, a casualidade”. Recorda, contudo, o episódio em que impediu um suicídio por telefone. Confessa-se “cinzento” e, por isso, capaz de compreender “as virtualidades e os defeitos que as pessoas têm, procurando sempre olhá-las pelo lado melhor e ajudá-las a abrir novas perspectivas de vida para que tenham mais prazer existencial”. Mas é esse “sentir melhor” que lhe dá todas as cores nas pala-vras que diz. L.L.

“Não há autópsias inconclusivas”José Eduardo Pinto da Costa considera que em Portugal a Medicina Legal se ocupa muito dos vivos

Diplomado pelo Curso Superior de Medicina Desportiva em 1967,

pertenceu ao corpo clínico do Futebol Clube do Porto e foi médico da Federação Portuguesa de Boxe.

Em 1971 foi eleito Presidente do Congresso da Federação

Portuguesa de Hóquei, cargo que mantém.

Parar não faz parte dos seus verbos. “Isso só acontecerá se

tiver uma hemorragia cerebral”, garante. Sobre o futuro, conta que “foi ontem”. “Quero é todos os dias

mexer os dedos das mãos e dos pés. Isso é a minha filosofia”.

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repórterdomarão28 08 Dez a 28 Dez’09

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I tâmega e sousa

A Cooperativa Dolmen vai avançar com a cria-ção de um Centro de Estudos do Mundo Ru-ral ainda em 2010, projecto que foi aprova-

do e que deverá estar a funcionar em pleno dentro de dois anos, anunciou ao Repórter do Marão o presi-dente da cooperativa, José Luís Carneiro.

A criação do Centro de Estudos do Mundo Rural (que conta com uma verba já aprovada de 60 mil eu-ros), foi também anunciada durante o encontro anu-al de parceiros da Dolmen, que decorreu na Casa do Lavrador, em Santa Cruz do Douro, Baião.

O Centro de Estudos do Mundo Rural “visa criar conhecimento, fazer recolha e sistematização de in-formação sobre o território e a partir daí produzir conhecimento para que a Dolmen possa ser uma prestadora de serviços às entidades da região que queiram apresentar projectos de desenvolvimento”, explicou ao RM o presidente da Direcção da Dolmen, José Luís Carneiro, adiantando que já estão “defini-dos os recursos académicos [necessários]”.

Considerada como “bastante importante”, a con-cretização do Centro de Estudos é vista como uma estrutura que no futuro “pode criar efeitos de sus-tentabilidade financeira”, permitindo à Dolmen “en-contrar vida própria para além dos fundos comunitá-rios”, afirmou José Luís Carneiro.

Partindo “dos próprios recursos endógenos fazer perdurar mais no tempo o trabalho que tem vindo a ser feito pela Dolmen”, tendo presente que “o desen-

volvimento não é nada que nos caia do regaço”, defen-deu o presidente da Direcção da Dolmen no encontro de parceiros.

Até 2013, a Dolmen, Cooperativa sem fins lucra-tivos fundada em Janeiro de 1993, tem a expectativa de que venham a ser apoiados “cerca de 100 projec-tos no âmbito do PRODER [Programa de Desenvol-vimento Rural]”, adiantou Rolando Pimenta, coorde-nador executivo da Cooperativa Dolmen e gestor do programa a nível local. “Para os investidores é uma situação mais favorável, mas que irá penalizar ter-ceiros”. Os projectos aprovados vão receber “entre 40 a 60 por cento de apoio a fundo perdido”. Aspecto “menos positivo”, afirmou Rolando Pimenta, é que “a taxa de comparticipação subiu em 10 por cento. Ire-mos apoiar menos projectos porque o montante de despesas elegíveis subiu de 200 para 300 mil euros. Para um bolo igual vamos dar fatias maiores”.

O director executivo da Dolmen referiu ainda que a cooperativa “vai ser das entidades contempla-das com atribuição de reserva de eficiência, o que nos dará uma dotação orçamental que passará dos 18 para 25 milhões de euros de investimento”.

Durante o encontro na Casa do Lavrador foi apresentado o Plano de Aquisição de Competências e Animação, um instrumento previsto no PRODER e que se destina a promover a animação e divulgação dos territórios rurais. Entre outras iniciativas, este Plano prevê a realização, no próximo ano, do primei-

ro congresso regional Douro Verde, a dinamização de uma rede regional de itinerários naturais e culturais, em parceria com várias entidades, o apoio à realiza-ção de um festival de música de grande projecção e o retomar dos “Serões na Aldeia”.“Para concretizar-mos este plano vamos precisar da colaboração de to-dos” disse Rolando Pimenta aos parceiros presentes. “Temos vivido de costas voltadas. Estamos na cauda da região Norte. O território tem uma imagem difu-sa e temos que valorizá-lo no seu conjunto”, afirmou. No entanto, apesar desses constrangimentos, existe “um enorme potencial”. Por isso, é fundamental “sa-ber congregar esforços”, concluiu Rolando Pimenta.

Durante a Assembleia Geral da Dolmen, em que participaram cooperadores públicos e privados (au-tarquias, associações, empresas), o presidente da Di-recção explicou que foram apresentadas candida-turas “no valor de 45 milhões de euros”, e que há projectos que “se não forem aprovados nesta primei-ra fase, poderão ser” noutras fases que vão decorrer em 2010.

O processo que está a decorrer deverá ser “trans-parente, criterioso” de modo a que “todo o território se sinta olhado num plano de igualdade” ”, disse José Luís Carneiro, acrescentando que a “sustentabilida-de económico-financeira dos projectos” foi considera-da como “muito importante”. P.C./J.S.

Centro de Estudos do Mundo Ruralgarantirá o futuro da Dolmen

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pub repórterdomarãoI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

2908 Dez a 28 Dez’09

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As Termas de Caldas de Aregos, Resende, passaram a estar abertas todo o ano, após a aquisição e a beneficia-ção feitas pela câmara local, anunciou fonte da autarquia.

De acordo com a fonte, a Câmara de Resende inves-tiu “cerca de 400 mil euros” nas termas, que há um ano estavam encerradas e hoje dão emprego a 46 pessoas.

“Foram realizados investimentos em novos vesti-ários, numa nova piscina termal e num novo ginásio, representando novas ofertas e a criação de mais em-prego a partir da exploração do recurso termal”, sa-lientou a fonte.

Além dos tratamentos termais, “passam a estar dis-poníveis mais serviços ligados ao bem-estar, à reabilita-ção e ao rendimento atlético”.

As Termas de Caldas de Aregos passaram a desig-nar-se Balneário Rainha D. Mafalda, que foi quem fun-dou no local a primeira gafaria (hospital de leprosos), no século XII.

O balneário “tem nascentes naturais de águas sulfu-rosas a 62 graus, com reconhecido valor terapêutico para a prevenção e recuperação de problemas musculares e esqueléticos, dermatológicos e das vias respiratórias, reumatismo, artrites, sinusites, acne juvenil, dermatites e recuperação de fracturas”, realçou a fonte.

Após a aquisição das termas em Abril pela autarquia, a Companhia das Águas de Caldas de Aregos foi trans-formada em empresa municipal e emprega hoje 46 fun-cionários.

“De Dezembro a Fevereiro do próximo ano todos os naturais ou residentes em Resende, com mais de 65 anos, terão acesso gratuito aos tratamentos com duração de uma semana”, anunciou a fonte.

As termas situam-se junto ao Rio Douro, a cinco qui-lómetros da sede do concelho, “numa posição privilegia-da junto à fluvina e ao cais de embarque recentemente inaugurados”.

repórterdomarão30 08 Dez a 28 Dez’09

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I outras terras

As mudanças no processo de atribuição de lugares na feira do Marco de Canaveses motivaram alguma exaltação entre os feirantes e levou cerca de três dezenas à Câmara do Marco. Um grupo de feirantes detentores de lugares este-ve reunido na semana passada durante mais de duas horas com o vice-presidente da Câmara e vereador do pelouro das Actividades Económicas, José Mota. O direito de ocupação da feira é provisório e tem que ser validado de dois em dois anos. A última arrematação fez-se em Dezembro de 2007 e termina no final deste mês.

Na última feira houve alguma confusão e ânimos mais exaltados quando os funcionários da Câmara do Marco de Canaveses distribuíram aos feirantes os formulários para se inscreverem no novo processo de arrematação de lugares.

Durante a reunião na câmara do Marco foi explicado aos feirantes que terminou a arrematação de lugares em hasta pública, através de leilão. “A nova lei vem dizer que esse pro-cesso de licitação, que de certa forma privilegia quem tem maior capacidade financeira, não pode ser continuado”, dis-se ao Repórter do Marão José Mota. A nova legislação de-termina que no caso de haver mais que um interessado num lugar, o desempate faz-se por sorteio. O vereador diz compre-ender a preocupação das pessoas e acredita que a reacção dos feirantes se deve à mudança de procedimentos, que motiva

receios e algumas incertezas. “É uma lei nova, há interpreta-ções diferentes. Vamos procurar contactar outras câmaras” da região para esclarecer alguns aspectos. No entanto, salien-ta, a câmara não terá “uma atitude contrária à lei”.

A feira do Marco faz-se mensalmente nos dias 3 e 15. Nos vários sectores (alimentar, de vestuário, calçado, ma-lhas e miudezas, entre outros) vendem 305 feirantes. O facto de se tratar de uma “feira apetecível”, levou a que recente-mente tenha sido referida a possibilidade de vir a realizar-se mais um dia por mês. A câmara vai “amadurecer” essa ideia e José Mota garante que não é por se tratar de uma feira apetecível que a câmara vai aproveitar-se e aumentar as taxas. “O nosso entendimento não é esse”, afirmou. O va-lor único que vai ser proposto aos feirantes vai incluir o “va-lor da arrematação e do terrado” (pagos até agora separa-damente), “reflectindo todas as despesas e encargos que a Câmara tem” com a realização da feira.

O vice-presidente da câmara do Marco confirma que em termos financeiros a feira é importante para a autar-quia. Nos últimos dois anos, resultado da arrematação de 2007, a câmara recebeu cerca de 68 mil euros. Mas não só por essa razão. “Sempre se fez uma feira no Marco. É im-portante para quem compra e para quem vende”, acrescen-ta, mas também pelas suas raízes históricas. Paula Costa

Feirantes do Marco receosos com asnovas regras na arrematação dos terrados

O Papa Bento XVI realiza entre 11 e 14 de Maio uma visita oficial e episcopal a Portugal, onde visita-rá as cidades de Lisboa, Fátima e Porto.

O também coordenador da visita do Papa a ní-vel eclesial anunciou que esta deslocação de quatro dias de Bento XVI a Portugal terá três pontos altos: a “santa missa” na cidade de Lisboa, num local que ainda não está definido, as cerimónias religiosas em Fátima e uma outra missa na cidade do Porto.

Esta visita está a ser articulada com a Presidên-cia da República, estando prevista a presença do chefe de Estado, Aníbal Cavaco Silva, em todas as cerimónias.

Bento XVI terá também um encontro com o pri-meiro-ministro, José Sócrates, no dia 12.

A visita “privilegiará três sectores da acção ecle-siástica”, nomeadamente a cultura, os padres e a or-ganização da pastoral social.

A visita de Bento XVI, que terá 83 anos quando visitar Portugal, acontecerá no décimo aniversário da beatificação de Jacinta e Francisco, pastorinhos de Fátima, quando se assinala o quinto aniversário da morte da irmã Lúcia e ainda o centésimo aniver-sário do nascimento de Jacinta.

A visita ainda não tem um tema definido, mas D. Carlos Azevedo adiantou que “andará próximo do anúncio da boa nova, valores e missão”.

Em Lisboa, o Terreiro do Paço é uma hipótese de espaço para acolher a missa do dia 11 de Maio, enquanto no Porto será a Avenida dos Aliados a re-ceber o Papa.

Acompanhará Bento XVI uma comitiva de 25 pessoas, bem como 60 jornalistas.

Papa fecha no Porto visita a Portugal

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ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO RIO OVELHA

VÁRZEA DE OVELHA E ALIVIADA

MARCO DE CANA VESES

CONVOCA TÓRIA

O Presidente da Mesa da Assembleia desta associação, ao abrigo do artigo n° 16 dos estatu-tos desta colectividade, convoca todos os asso-ciados, para uma assembleia geral ordinária a re-alizar no dia 12 Dezembro, ás 17 horas, na sua sede social em Várzea de Ovelha e Aliviada, com a seguinte Ordem de Trabalhos:

• 1º Leitura da acta da reunião anterior. • • 2º Apresentação do plano de actividades do

ano em curso e a sua aprovação. • 3º Outros assuntos de interesse para a co-

lectividade.

NOTA: Se à hora marcada não estiverem pre-sentes mais de 50% dos associados, a assem-bleia, em segunda convocatória, terá inicio meia hora depois com os associados presentes.

Várzea de Ovelha e Aliviada, 28 Novembro de 2009

O Presidente de Assembleia Geral

(António Soares Ribeiro)

Aregos com termas todo o ano

Page 31: Repórter do Marão

Do projecto à realidade.O Hospital da Terra Quente

já está em construção.Conclusão prevista no 1º Trimestre de 2011

Page 32: Repórter do Marão

Longe vão os tempos em que Vila Real come-çava na Vila Velha, acabava no Pioledo e em que se entrava na cidade por “quelhos”. Ma-

nuel Martins diz-se orgulhoso por ter contribuído para o crescimento da sua terra e arrisca-se a ficar na história como o presidente de Câmara que mais tempo ocupou o cargo. Todos conhecem o autarca, mas o homem gosta de preservar a sua vida pesso-al e apenas revela que é portista ferrenho, que não dorme sem ler e gosta de música erudita.

Manuel Martins nasceu no seio de uma família modesta de comerciantes em 1942, no centro da ci-dade de Vila Real, numa altura em que a cidade se limitava entre a Vila Velha e a actual zona do Pio-ledo. Passar para lá do rio Corgo já era uma aven-tura e a entrada na cidade era feita por “quelhos”.

Sessenta e sete anos depois, Vila Real mudou, cresceu, desenvolveu-se e aspira ser a cidade ca-pital da região Norte. O professor que nunca quis ser presidente habilita-se agora a ficar na história como o autarca que mais tempo ocupou a cadei-ra da presidência. Manuel Martins tomou posse para o seu quinto e último mandato à frente do mu-nicípio de Vila Real. No total serão 20 anos à fren-te da autarquia, mais uns quantos como vice-pre-sidente.

No concelho todos conhecem o au-tarca. Já o homem gosta de ser reser-vado. Ao Repórter do Marão contou algumas das histórias da sua vida e falou da “estrelinha da sorte” que muitas vezes o ajudou.

| Cartografia de Cabo Verde | Depois de ter concluído a licenciatura em Ciências Geológi-cas, no Porto, Manuel Martins deu aulas como professor provisório no antigo liceu, a actual Esco-la Camilo Castelo Branco. Em 1966 e em plena guerra colo-nial, foi chamado para cum-prir o serviço militar, mas, em vez de ir parar a um palco de guerra foi para Cabo Ver-de, fazer a cartografia daque-le país. “Tenho a honra e o or-gulho de poder dizer que a carta que hoje Cabo Verde tem, feita a uma escala de 1/25 mil também tem

lá o meu dedo”, referiu.Martins chegou ao arquipélago africano a 07 de

Abril de 1968, no mesmo dia que nasceu o seu filho, tendo regressado a Vila Real dois anos depois, pre-cisamente no mesmo dia, no mesmo barco e no mes-mo camarote.

De regresso à cidade Natal, sem emprego, foi mais uma vez bafejado pela sorte. Um professor do liceu adoeceu e o então reitor chamou-o para dar aulas e ali ficou por mais de 20 anos.

| Professor entra na política | En-tretanto desempenhou

funções na acção social, como director de ci-

clo e, em 1979, a pedido dos cole-gas, candidatou-se a presidente do conselho exe-cutivo. “Sempre tive este mau há-bito de assumir as responsabili-dades das coisas

e querer

fazer tudo bem feito”, referiu.Foi mais ou menos por essa altura que Manuel

Martins se envolveu na política. Foi também a pe-dido insistente de colegas e, mais tarde, da própria mulher, que chegou à câmara onde ocupou o cargo de vice-presidente, com um interregno pelo meio.

“Quando me perguntam que profissão tenho, eu respondo professor do ensino secundário. Ser pre-sidente de câmara é um acidente na minha vida, não é a minha profissão”, referiu.

| Primeiro mandato sem maioria | O primeiro mandato não foi fácil. O PSD de Manuel Martins ganhou com três mandatos, os mesmos do PS, enquanto que o CDS conquistou um. Foi com este partido que o PSD teve que governar, mas a partir daí Martins reforçou o número de votos.

O presidente garante que está com força para o presente mandato, até como se este fosse o primei-ro. “Quando se está nas coisas deve-se estar de cor-po inteiro, com sentimento de quem tem um dever a cumprir. Eu acho que se fez muita coisa, mas tam-bém acho que há muita coisa para fazer”, salientou.

Ainda faltam quatro anos, mas Martins também já pensou no que vai fazer quando sair da câmara. A primeira coisa será arrumar os papéis. “São mon-tanhas de coisas que vou metendo em pastas e que

nunca organizei”, frisou.

| Escrever as memórias | De-pois diz que era capaz de gostar de escrever um livro sobre a sua vida.

“Hoje o que me faz correr é a história, são os meus quatro netos e os meus filhos. Gostava de lhes deixar pelo menos o or-gulho de terem tido um avô que foi o úl-timo presidente de Câmara de Vila Real do século passado e o primeiro deste sé-culo”, salientou.

nordesteI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

08 Dez a 28 Dez’09

repórterdomarão32

O professor adepto ferrenho do FC Porto que trabalha a ouvir música clássicaManuel Martins foi eleito para o quinto mandato à frente da Câmara de Vila Real

Paula Lima | [email protected] | Texto e Fotos

“Ser presidente de câmara é um acidente

na minha vida, não é a minha

profissão”

Page 33: Repórter do Marão

Manuel Martins assumiu um compromis-so de honra para este quinto e último mandato, onde incluiu 40 projectos. “Se fizer o que está neste compromisso eleitoral, que eu quero fa-zer, vou embora satisfeito”, frisou.

Importante para o autarca é acabar o parque escolar para deixar às crianças de Vila Real “es-colas do século XXI” e resolver a área desportiva, com a conclusão das obras do pavilhão desporti-vo, a piscina do Calvário e o Monte da Forca. De-pois há que “andar ligeiro” para concretizar os projectos Articular e Douro Alliance e não per-der os fundos comunitários já aprovados.

A estratégia passa ainda pela internaciona-lização do circuito automóvel de Vila Real, com a construção de novas boxes, e a criação do Mu-seu do Vinho Mateus Rosé, através de uma par-ceria com a Sogrape. Para promover o empre-go, Martins quer criar um fundo de capital de risco para apoio financeiro à criação de novos negócios, uma plataforma de apoio empresarial e implementar um programa de estágios para jovens residentes no concelho.

Está ainda prevista a construção de uma nova zona empresarial, com capacidade para a instalação de 140 empresas e a criação de dois mil postos de emprego, perto do aeródromo de

Vila Real, que vai sofrer obras de remodelação e ampliação da pista.

“É tão importante como uma auto-estrada. Este ano já chegaram imensos jactos de nove, dez lugares, que tinham como destino o Douro. Temos mesmo que andar muito depressa nis-to”, frisou.

Alargar a rede de transportes públicos e le-var mini-bus aos bairros da cidade, a constru-ção de três parques de estacionamento no cen-tro da cidade e requalificar e modernizar o aeródromo, foram outros dos projectos anun-ciados pelo autarca.

Em 16 anos à frente da autarquia, Martins salientou que se deparou com processos e obras complicadas. “Não é só estalar os dedos. Há di-ficuldades pelo meio que às vezes queremos ul-trapassar e não conseguimos”, salientou.

A obra que diz que mais custou a concreti-zar foi o teatro municipal, cujo projecto chegou mesmo a ser chumbado pelo Tribunal Consti-tucional. Depois os transportes públicos urba-nos, que, só para definir as linhas ou o caderno de encargos, demorou três anos. Outro dossier complicado foi o dos terrenos da Quinta do Sei-xo, onde finalmente se está a construir o termi-nal rodoviário. P.L.

Partir satisfeito depois de executar compromisso | Com muita

vontade de viajar pelo país |

Da sua vida pessoal, Martins pouco revela. Apenas diz que gosta de ouvir música, princi-palmente música erudita, e até é habitual estar a trabalhar ao som da Antena 2. Gosta tam-bém de ler, aliás, não dorme sem ler, e tem sempre três ou quatro livros na mesa-de-ca-beceira. Para além disso, é um adepto de futebol e do Futebol Clube do Porto. A sua angústia é, segundo re-feriu, não conhecer bem o país. É, aliás, uma coisa que o deixa incomodado e por isso garan-te que, quando tiver mais tem-po, é aquilo que vai fazer: partir à descoberta de Portugal.

Page 34: Repórter do Marão

O composto orgânico - substrato - produzido na unidade industrial de produção de cogu-melos situada no concelho transmontano de

Vila Flor é a causa dos maus cheiros que estão a ator-mentar os moradores de duas aldeias, problema que a empresa prometeu corrigir em breve.

Habitantes e autarcas de duas localidades do concelho – Benlhevai e Santa Comba da Vilariça – garantem que os maus cheiros lançados pela fábri-ca de cogumelos Sousacamp prolongam-se há anos e que a empresa sempre tem prometido resolver o problema.

Artur de Sousa, administrador da Sousacamp, afirma que a empresa vai “instalar um sistema de bombagem de ar que irá melhorar a situação”, ga-rantindo que “dentro de cinco meses, o problema de-verá estar resolvido”.

| 400 postos de trabalho em cin-co fábricas | A Sousacamp é responsável por 400 postos de trabalho, 180 dos quais na unidade de Vila Flor, e recebeu o apoio financeiro do Governo para os 27,5 milhões de euros de investimento que está a realizar para aumentar a produção.

Parte do investimento destina-se a aumentar de seis para 28 os túneis de produção de substrato com a “melhoria do qualidade da matéria e do ar”, garan-tiu o empresário.

A Sousacamp é das maiores produtoras nacio-nais de cogumelos em estufa com cinco unidades es-

palhadas pelo Norte de Portugal (Benlhevai, Paredes e Vila Real) e Espanha.

Segundo explicou o proprietário, Artur de Sou-sa, na unidade de Benlhevai é produzido o substrato para todas a unidades do grupo.

Este composto orgânico é a origem dos “maus cheiros” de que se queixam também os habitantes de Santa Comba da Vilariça.

“Às vezes no Calvário é mesmo um calvário”, dis-se José Fernando Teixeira, referindo-se a um dos bairros mais afectados da aldeia pela sua localização mais elevada.

Mas todos cheiram, assegura Duarte Braz, expli-cando que “a pestilência” só ocorre em determinados períodos, quando é mexido o composto.

Segundo José Fernandes “mesmo na estrada sente-se”, referindo-se à nacional 102, que liga Bra-gança a Torre de Moncorvo e ponto de passagem do trânsito que ruma a sul do país.

Quem vive na zona, dizem, sobretudo no Verão, “não tem outro remédio senão fechar tudo” e “nem nas esplanadas do café se consegue estar”.

Ressalvam que “o que vale é não ser contínuo” e a intensidade varia consoante o vento.

| Zona da Vilariça é a mais afec-tada | Às queixas dos habitantes juntam-se os autarcas como Fernando Brás, presidente da fregue-sia de Santa Comba da Vilariça, que está “disponí-vel para apoiar as iniciativas que as pessoas enten-

derem”.O colega de Benlhevai, Álvaro Correia, que há

16 anos preside à junta de freguesia eleito pelo mo-vimento “Pelo Povo de Benlhavai”, contou à Lusa que logo no primeiro mandato fez diligências sem sucesso sobre este problema.

“Há dias e horas em que o cheiro é insuportável e a nível ambiental começa a ser também insuportá-vel”, corrobora.

|Complacência devido à falta de emprego | O autarca reconhece que tem havi-do “alguma complacência porque no Nordeste Trans-montano não há fábricas” e este é dos maiores inves-timentos locais com 20 anos de actividade.

O empresário Artur de Sousa confirmou a exis-tência do cheiro oriundo das grandes quantidades de substrato que ali se produz.

Entende que “é um contra e típico” desta que é considerada uma “actividade agrícola como uma va-caria, aviários ou outro tipo de estufas”.

“Aqui é uma coisa ligeira, cheiro forte é o da Por-tucel que arrasa com tudo” considerou, atribuindo as queixas “a alguns ex-funcionários descontentes que não têm a melhor relação com a empresa”.

O primeiro-ministro esteve em Maio na unidade e o empresário garante que José Sócrates “achou o cheiro normal”, enquanto que os queixosos estran-ham que “nesse dia não tenha cheirado”.

Maus cheiros de fábrica de cogumelosatormentam duas aldeias de Vila Flor

Redacção com LUSA | [email protected]

Administração da Sousacamp promete corrigir o problema dentro de meses

Page 35: Repórter do Marão

actualidade I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I repórterdomarão

3508 Dez a 28 Dez’09

A s obras de construção do Túnel do Marão, obra integrada no troço de auto-estrada Amarante/Vila Real, vão continuar para-

das por tempo indeterminado, por decisão do Tri-bunal Administrativo e Fiscal de Penafiel, apurou o Repórter do Marão junto de várias fontes.

A obra do Túnel do Marão está suspensa há um mês (desde 10 de Novembro), por decisão do juiz do Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel de-vido a uma providência cautelar interposta no início de Novembro pela empresa Água do Marão, que alega que a perfuração do túnel vai prejudicar a ex-ploração da água.

A concessionária Auto-Estrada do Marão e o consórcio construtor (Infratúnel) recorreram da providência cautelar, mas um mês depois o tribunal manteve a decisão de parar o túnel.

Fonte da empresa Água do Marão confirmou a notificação do despacho que mantém suspensa a obra, proferido pelo juiz do tribunal de Penafiel na semana passada, mas declinou adiantar quaisquer outros pormenores, nomeadamente do teor do des-pacho judicial.

Do lado da Somague, a fonte também confir-mou que se mantém a paragem das obras, acres-centando que apenas na próxima semana a empre-sa vai reagir ao despacho do juiz, que está ainda a ser analisado pelos serviços jurídicos da construto-ra.

A fonte admitiu que o concessionário da auto-estrada e o consórcio responsável pela construção do túnel poderão apelar ao Governo para usar a fi-gura do interesse público do empreendimento para inverter o resultado da providência cautelar.

Recorde-se que o Governo já em várias situ-ações invocou o interesse público através de um instrumento jurídico designado de “resolução fundamentada”, de modo a ultrapassar outras pro-vidências cautelares ditadas pelos tribunais.

| Auto-estrada Amarante/Vila Real poderá parar | A paragem das obras do túnel do Marão – por enquanto apenas nas duas frentes do túnel, Ansiães e Campeã – es-tará a causar prejuízos diários de “muitos milhares de euros”, considera fonte da Somague.

No último mês, a suspensão do túnel ainda não afectou as restantes frentes da obra – o alargamen-to do IP4 para perfil de auto-estrada entre o ter-mo da A4, em Geraldes e Gondar, a frente do lado de Vila Real e a construção dos diversos viadutos do troço –, mas a decisão judicial poderá arrastar a suspensão da construção da auto-estrada.

A fonte da Somague contactada pelo Repórter do Marão salientou que esta auto-estrada era a úni-ca, das várias concessões rodoviárias, que não tinha sido chumbada pelo Tribunal de Contas, o que tor-na esta situação ainda mais insustentável.

Recorde-se que tanto a concessionária da obra, a Auto-Estrada do Marão, como o consórcio cons-trutor, a Infratúnel, apresentaram as suas justifi-cações ao Tribunal Administrativo, algumas das quais baseadas nos estudos que permitiram avan-çar com a construção do Túnel do Marão.

O Relatório de Conformidade Ambiental do Projecto de Execução (RECAPE) da Auto-Es-trada do Marão possui um anexo específico sobre a “Avaliação Detalhada das Implicações do Túnel do Marão nas Captações das Água do Marão” que concluiu que, da realização da obra, “não se prevê-em impactes na qualidade da Água do Marão”.

Contudo, pode ler-se no documento que “pode-rão ocorrer influências quantitativas, pouco signifi-cativas”, a partir de um determinado troço que po-derá afectar a “zona de contribuição das Águas do Marão”.

Para conciliar a obra e a continuação da opera-ção das Águas do Marão, de acordo com o RECA-PE, será necessário “pôr em marcha um sistema de monitorização incluindo registo sistemático de níveis e caudais nas captações das águas”.

A Somague, porém, argumenta que a empresa da Água do Marão a impediu de instalar o sistema de monitorização.

Na altura da paragem das obras, há um mês, o Ministério das Obras Públicas garantira que está a ser cumprida a DIA emitida em 2007, estando tam-bém a ser devidamente monitorizada a obra e o seu impacto nas águas do Marão.

| Especialistas têm dúvidas | Entretanto, a professora e hidrogeóloga da Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Rosário Costa, disse recentemente à Lusa que ne-nhum cientista pode afirmar se a construção do tú-nel influencia ou não as captações da Água do Ma-rão, porque a serra do Marão, do ponto de vista geológico, é uma zona muito complexa.

“O túnel vai passar a 500 ou 600 metros [ape-nas 123 metros, no ponto mais próximo, segundo a empresa das águas] abaixo da cota a que estão as captações da Água do Marão, e não é linear saber-mos o que é que está a acontecer a essa profundi-dade num ambiente geológico tão complexo como é este”, salientou.

A especialista defende que é “muito importan-te ir acompanhando a obra, ir controlando o que vai aparecendo e ir interpretando a geologia de pro-fundidade”. “Só assim se pode ter a certeza de al-guma influência ou não”, referiu.

A fonte da Somague salienta que os estudos referem que apenas a quantidade de água poderá ser afectada, mas ressalva que se isso acontecer – o que só pode ser atestado através da monitoriza-ção – a empresa terá direito a ser “compensada nos termos da lei”.

Túnel do Marão continua suspensoObras pararam há um mês e Tribunal Administrativo dePenafiel manteve decisão a favor da empresa Águas do Marão

Jorge Sousa | [email protected]

Page 36: Repórter do Marão

repórterdomarão36 08 Dez a 28 Dez’09

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I opinião

A idade não é a que temos mas a que sentimosO envelhecimento à escala mundial modificou os ter-

mos da revolução demográfica, alterando a chama-da pirâmide etária com imensas crianças e jovens

e um minúsculo vértice de sexagenários a longevos na casa dos 100 anos. A mudança de concepções chegou à maneira de ver os seniores: no passado, eram encarados como seres altamente dependentes, mais umas bocas a comer o que os outros produziam, uns incapazes que agravavam os gastos em saúde. Na actualidade, há um enorme consenso quan-to ao chamado envelhecimento activo e ao primado da au-tonomia do sénior: quanto maior prevenção houver, muito maior será a sua qualidade de vida e o retardamento dos fe-nómenos ligados ao envelhecimento; quanto mais se difun-dir a educação para a saúde, mais o sénior viverá com satis-fação e na chamada solidariedade inter-geracional, podendo contribuir para manter viva a sua curiosidade e cooperar com os outros.

“Ame as suas rugas II, pois há muito por viver!”, é um belo contributo para a responsabilidade de pré-seniores e seniores estarem atentos às conquistas da geriatria e geron-tologia, e aproveitarem as potencialidades do envelhecimen-to activo para dar mais vida aos anos (por Rosane Magaly Martins e Suleica Iara Hagen, Coisas de Ler, 2009). As au-toras pretendem desmistificar os estigmas e preconceitos associados ainda hoje à velhice. Devemos repudiar o despo-jamento social, viver com projectos e consolidar uma cultura positiva da velhice. Como? Lutar com todas as forças para nos mantermos incluídos: manter um regime alimentar adequado às nossas possibilidades (às naturais dificuldades dos sentidos, aos problemas de dentição, à menor capacida-de digestiva...); prevenir os problemas de visão (o glaucoma, mácula...); promover estilos de vida saudáveis (actividade fí-sica, exercitar a memória, cultivar a leitura, intensificar a vida de relação, ter cuidados com a aparência física...). Este

livro não é uma enciclopédia, mas aler-ta-nos para dossiês importantíssimos na idade sénior, como se exemplifica.

Primeiro, o calçado. É indiscutível que na velhice surgem várias dificuldades associadas à locomoção. Como a activida-de física é indispensável, nada melhor que usar um calçado que nos assegure o bem-estar. Escreve-se no livro que “O sa-pato ideal é aquele que, além de ser leve e confortável não excede 350 gr conseguin-do um justo equilíbrio entre a flexibilida-de e estabilidade. A estabilidade do sapa-to que confere capacidades de absorção de choques, para que não haja torções no pé, é conseguida através de reforços late-rais com maleabilidade vertical. Desta forma, o pé quando assenta no solo, fá-lo de uma forma segura, estável e cómo-da. Todo o calçado destinado ao idoso deverá: facilitar o cal-çar, sem necessitar do auxílio de outras pessoas; o pé deverá movimentar-se livremente dentro do sapato, sem causar le-sões; deverá ser anti-alérgico e deverá deixar respirar o pé; o salto deverá ser estável, não excedendo os 4 cm de altura. Os materiais de calçado aconselhados são: pele, lycra, velcro ou fecho de correr.

Segundo, ponha-se a mexer, o movimento é vida. Os mo-vimentos são de grande importância biológica, psicológica, social, cultural e evolutiva. Sabe-se que na idade sénior ocor-re um certo declínio do sistema muscular, associado à re-dução da flexibilidade e da mobilidade articular: o sénior é atreito a quedas, tem mais problemas nas articulações (caso da osteoartrite). Mexa-se com calçado adequado, evite per-manecer de pé por longos períodos, mantenha os objectos de uso constante ao alcance das mãos, defenda-se do exces-

so de peso, procure manter uma prática de regular de actividade física.

Terceiro, emboneque-se. Já lá vai o tempo em que a beleza estava intima-mente associada à juventude e os velhos eram obrigatoriamente feios. Sendo ain-da verdade que os media tiranizam o con-ceito de beleza associando uma juventude prolongada (para promover cosméticos, cirurgia plástica, tintas para o cabelo, múltiplas formas de tratamento do cor-po...) a beleza tem vindo gradualmente a relacionar-se com os sentimentos de feli-cidade, tranquilidade e o sentir-se bem. A beleza passou a ser uma busca, usar os cuidados de beleza tornou-se, na idade sé-

nior, uma das mais eloquentes provas de respeito e do sen-tido da dignidade.

Quarto, saber-se olhar ao espelho. Porque nos olhamos diariamente ao espelho, não sentimos diferenças significa-tivas mas sentimos que o tempo, mais ou menos percepti-velmente, deixa as suas marcas. Também ouvimos o nosso organismo e sentimos que há mudanças. Ou seja, vemos ru-gas, sentimos problemas de flexibilidade e resistência físi-ca, verificamos a flacidez da pele, o aumento continuado do comprimento do nariz, a redução da altura, os problemas das articulações, a redução da visão, entre outras manifes-tações. Devemos saber responder ao que vemos no espelho. Como dizem as autoras, é preciso que haja uma preocupa-ção extrema na qualidade do envelhecer, procurando gerir o próprio corpo com as suas limitações e harmonizá-lo com o ambiente circundante, fazendo da velhice o que ela de fac-to representa: mais uma etapa da vida a ser vivida e um pre-sente recebido pelo próprio mérito de estar vivo.

Beja Santos Assessor Inst. Consumidor

Page 37: Repórter do Marão

repórterdomarão

Um artigo de opinião que escrevi nesta coluna, há duas edições, provocou azedas reacções. No referido artigo procurei deixar algumas notas sobre a inicia-tiva de cariz cultural realizada pela Câmara Munici-pal de Penafiel denominada Escritaria e que teve na edição deste ano a presença de José Saramago. Pe-rante as polémicas declarações proferidas nessa cir-cunstância pelo escritor, quis apenas dar nota pública das motivações da organização. Sobretudo para es-clarecer que o pensamento do escritor sobre a Bíblia é bem diferente da opinião da organização do evento. E não é que alguns dos factos que sublinhei, e que são do domínio público, deram azo a reacções de profun-da irritação. Que José Saramago é comunista é de to-dos sabido, pelo menos desde o tempo em que o escri-tor foi director do DN e dos saneamentos que aí levou a cabo. Que o comunismo provocou mais de cem mi-lhões de mortos em vários continentes, raças e cultu-ras, é um facto do conhecimento público, pelo menos desde 9 de Novembro de 1989 e da queda do muro de Berlim. Quanto a estes factos o Dr. Cristiano Ribei-ro nada diz. Ao invés prefere o insulto fácil. De res-to, uma atitude típica da ortodoxia comunista, de que o Dr. Cristiano Ribeiro é um dos mais ilustres repre-sentantes no Vale do Sousa. Para o Dr. Cristiano Ri-

beiro é mais fácil insultar que argumentar. Boçal, bá-sico e grosseiro. Foram apenas alguns dos epítetos com que me mimou. Seja, Dr. Cristiano Ribeiro. An-tes isso que cego pelo fundamentalismo que o impe-de a si de ver e reconhecer as atrocidades cometidas

por regimes san-guinários que ma-tam em nome de uma ideologia. O comunismo fabri-cou três dos maio-res carniceiros da espécie humana – Lenine, Estaline e Mao Tse-Tung. Durante a ditadu-ra de Fidel Cas-tro 2,2 milhões de pessoas tiveram que fugir de Cuba e do regime comu-nista. Os números

do comunismo são conhecidos: China - 65 milhões de mortos; União Soviética - 20 milhões de mortos; Co-reia do Norte - 2 milhões de mortos; Camboja - 2 mi-

lhões de mortos; África - 1,7 milhões, distribuídos en-tre Etiópia, Angola e Moçambique; Afeganistão - 1,5 milhões; Leste da Europa - 1 milhão; América Latina - 150 mil entre Cuba, Nicarágua e Peru (cf. Stépha-ne Courtois, Le livre noire du communisme, Robert Laffont, 1998, pag. 14). A defesa obcecada com que o Dr. Cristiano Ribeiro defende a ideologia subjacente a estes regimes sanguinários retira-lhe idoneidade e autoridade moral para julgar quem pensa diferente de si. Mesmo que aos seus iluminados olhos não pas-se de um boçal.

Em Penafiel as actividades culturais não se re-gem por questões ideológicas ou de credo. Na Câma-ra Municipal de Penafiel a produção cultural tem por base a qualidade, a diversidade e os diferentes públi-cos. Por isso, o Escritaria teve por convidados dois escritores que também são comunistas. Aos Cristia-nos Ribeiros deste mundo isso deve fazer uma gran-de confusão.

Para terminar, deixaria apenas uma triste curio-sidade. Todas as grandes tiranias do século XX - (fas-cismo, nazismo e comunismo) - foram e são visceral-mente ateias.

[email protected]

Escritaria, Saramagoe o dr. Cristiano Ribeiro

Antonino de SousaVereador da Câmara Municipal de Penafiel

opinião37

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08 Dez a 28 Dez’09

Sair da criseO país está mergulhado numa crise econó-

mica e financeira sem precedentes nos tempos mais próximos e que provocou

sérias repercussões sociais. Uma crise de caracterís-ticas únicas e que, pela primeira vez, se fez sentir a uma escala global.

Portugal, com uma economia débil e muito depen-dente do exterior, não podia deixar de sentir os re-flexos da crise. As previsões mais recentes apontam para um défice superior a 8% do PIB no final do cor-rente ano, resultado que está longe de ser o pior en-tre os países da União Europeia. Em cima da mesa está já o compromisso de reduzir o défice para 3% do PIB até 2013, meta que José Sócrates considera “re-alista”.

Teremos assim um período de quatro anos para colocar em ordem as contas públicas, um exercício particularmente difícil atendendo às condições de partida. Portugal registou uma taxa de desemprego de 10,2% no final de Outubro, acima da média euro-peia de 9,3%, mas muito longe dos 19,3% da nossa vi-zinha Espanha.

O agravamento das condições económicas obri-gou o Governo a alargar as prestações sociais. No fi-nal de Setembro havia cerca de 351 mil pessoas a re-ceber subsídio de desemprego, correspondendo a um aumento superior a 36% face ao mês homólogo de

2008. Em Setembro, foram processadas 5,8 milhões (!) de prestações sociais – um crescimento de 6,6% no número de prestações e de 11% na despesa corren-te associada.

Entretanto, o Banco Central Europeu prepa-ra o fim gradual dos apoios à ban-ca, o que provo-cará tensões nos mercados de cré-dito, com reflexos nas condições em que a banca nacio-nal, primeiro, as empresas e os par-ticulares, depois, têm acesso ao cré-dito.

Perante este quadro de dificul-dades, mas já com sinais ténues de recuperação, acredito que o Gover-no de José Sócrates saberá encontrar o rumo certo para Portugal acompanhar os seus parceiros euro-peus na saída da crise. Não têm faltado as medidas concretas de apoio à criação de emprego e a pesso-as desempregadas, assim como as acções com vista a assegurar a sustentabilidade da segurança social. O

Governo tem-se distinguido igualmente no apoio às empresas com capacidade exportadora, fazendo da conquista de novos mercados um elemento distinti-vo da sua actuação.

A tendência negativa que se faz sentir no merca-do de trabalho só poderá ser invertida com a retoma económica e, por isso, tudo o que puder ajudar a essa recuperação será bem-vindo. Creio que as contas pú-blicas exigem uma forte contenção ao nível da despe-sa e que o aumento de impostos deve ser a última al-ternativa a ter em conta.

A situação que se vive exige uma actuação rigo-rosa do Governo, mas também responsabilidade da oposição. Os exemplos mais recentes não foram feli-zes. O Governo, que foi viabilizado pelo parlamento, não pode ser surpreendido com medidas aprovadas pela coligação ”negativa” das oposições que implicam perdas de receita superiores a 1.100 milhões de eu-ros.

Quem governa é o Governo e não o parlamento. Com o aumento da despesa em apoios sociais e a que-bra das receitas fiscais, a oposição parece querer em-purrar o Governo para o aumento de impostos, pro-curando tirar partido desse facto. Sócrates não se deixará encostar à parede e estou certo que saberá dar a resposta adequada.

José Carlos PereiraGestor

Page 38: Repórter do Marão

A antiga ministra da Cultura, Isa-bel Pires de Lima, vai regulamentar um prémio de mérito cultural com o nome de Eça de Queiroz, que terá o objectivo

de distinguir “diversas expressões cul-turais”, anunciou ao RM o presidente da Câmara de Baião.

José Luís Carneiro, que é também membro do Conselho de Administra-ção da Fundação Eça de Queiroz (FEQ), que tem sede em Tormes, Santa Cruz do Douro, no concelho de Baião, adian-tou que o prémio será de âmbito nacio-nal, terá periodicidade anual e começará a ser atribuído em 2011.

“Já era tempo de uma figura ímpar, como Eça de Queiroz, ter um prémio com o seu nome, por tudo o que repre-senta na nossa cultura e literatura. É também uma forma de evidenciar o re-levo desta instituição que trabalha todos os dias para manter viva a obra queiro-siana”, disse José Luís Carneiro.

O autarca acrescentou que Isabel Pires de Lima, que integra o Conselho Cultural da FEQ e é considerada uma especialista na obra queirosiana, deve-rá apresentar o regulamento do prémio no próximo ano, sendo intenção da or-ganização convidar entidades privadas e públicas.

Para o financiamento do prémio, que ainda não tem valor pecuniário definido, “mas deverá ser atractivo”, o autarca salienta que deverá reunir contributos de câmaras municipais, empresas públi-cas, co-fundadores e parceiros da FEQ, mas também de empresas privadas.

“É nossa intenção que o prémio não se limite à literatura, mas que abranja também a fotografia, a pintura e outras expressões culturais”, referiu o autarca de Baião.

Em Tormes, decorreu no início fo mês um colóquio internacional sobre a obra de Eça de Queiroz - “Os Estu-dos Queirosianos - Desafios Actuais” - que reuniu dezenas de investigadores e curiosos da obra do romancista.

Quando, aí pelos anos 80 do século passado, um cantor dito popular chamado Emanuel se saiu com uma cantiga qualquer de que apenas recordo uma espécie de leit-motiv — “nós pimba! nós pimba!” — poucos julgariam que seria possível ir mais longe em matéria de fu-tilidade brejeira combinada com machismo fundamentalista. Mas a verdade é que se avan-çou, e muito, nesse caminho escabroso, quando surgiu na cena discográfica portuguesa um artista que dá pelo nome de Quim Barreiros. Este refinou na brejeirice, entrou mesmo pelos caminhos dúbios da ob-scenidade mascarada de inocên-cia, gato escondido com rabo de fora, e levou o machismo mu-sical português a pontos que, agora sim, serão difíceis de ul-trapassar. Só mesmo dizendo as coisas por claro… E quem pode adiantar que isso nunca será possível, numa sociedade cada vez mais permissiva?

É à música desse senhor que eu, recorrendo a um trocadilho barato, chamo ‘música quimba’. O leitor está a ver: ‘quim’ de Quim mais ‘ba’ de Barreiros. A música quimba é hoje uma dis-ciplina musical de créditos fir-mados entre nós, como a chan-sonette o é para os franceses. O papa dessa religião continua a ser o Sr. Barreiros, mas an-dam por aí outras aves canoras a arremedá-lo, valha a verdade que sem o êxito do protótipo. A certa altura apareceu mesmo uma criança, de seu nome Saul, muito festejada pelas suas can-tigas quimba. A gente ouvia-o e apetecia dizer: “Que criancinha tão prendada! Tão novinha e já só canta ordinarices.” Contudo — provavelmente com a mu-dança da voz — este Saul parece ter emudecido. Gorou-se assim uma promissora carreira dentro da mais lídima música quimba. Felizmente, digo eu.

Desafio o Leitor a apontar uma cantiga do Sr. Barreiros — uma só que seja — em cuja letra não espreite um macho latino a porejar cio, sempre pronto a comer este mundo e o outro, tudo cozinhado segundo as receitas mais variadas e mais exóticas. É o machismo mais despudorado que se exprime naquelas canti-gas. Era pois de imaginar que as mulheres — se efectivamente tivessem dois palmos de testa e ou dez gramas de vergonha —

seriam as primeiras a repudiar tal música. Pois não senhor: nas festas universitárias, mal a cria-tura rompe a cantar o Mestre de culinária são as jovens as primeiras a saltar para a pista de dança. Não se lhas dá que o senhor insulte o sexo dito fraco e cante a mulher como simples objecto de deboche masculino. O Sr. Barreiros canta e elas dançam, lembrando, respectiva-mente, o flautista de Hamelin e os ratos que o seguiam cega-mente quando ele tocava — sem ofensa para os ratos nem para o flautista, naturalmente.

No fim-de-semana passado, fomos com um grupo de amigos passar dois dias a um centro de férias do INATEL. Como é de tradição nesses centros de férias, uma noite houve aquilo a que chamam animação — um simples rancho folclórico que de folclórico já tem muito pouco, porque entretanto se apetre-chou não para preservar a pure-za das danças e cantares tradi-cionais, mas para encher o olho a um público maioritariamente urbano e ignorante dessas coi-sas, que se extasia com o que lhe impingem desde que tenha um cheirinho a vira e mesmo que seja o mais descarado gato por lebre. Mas enfim, daí não vem grande mal ao mundo. No final, porém, terminadas as danças, foi anunciado que se iria rema-tar o espectáculo com algumas cantigas. E aparece um dos su-jeitos da tocata a tocar viola e outro a cantar. A cantar o quê? Canções tradicionais? Canções de trabalho? Canções de arro-lar meninos? Canções de sen-tido genuinamente etnográfico? Nada disso. O sujeito rompeu a cantar uma coisa que tinha por refrão: “Eu gosto de mamar nas tetas da cabritinha”. Nem mais. Claro que algumas senhoras presentes abandonaram então a sala. Mas o grosso do público, masculino e feminino, aplaudiu e engrossou o coro. Pelos vistos, toda aquela gente gostava de mamar nas tetas da cabritinha. E era, vos juro, ao mesmo tem-po confrangedor e grotesco ver algumas das madamas a canta-rem, em báquico transporte, as tetas da cabritinha.

Se Nosso Senhor não nos acode, não sei onde iremos parar.

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Música QuimbaA.M.PIRES CABRAL

repórterdomarão38 08 Dez a 28 Dez’09

I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I crónica|diversos

Prémio Eça de Queiroz começa a ser atribuído em 2011

O prémio “Douro Ensaio”, com um valor de 5000 euros, é entregue pela pri-meira vez a 14 de Dezembro, no Peso da Régua, no dia em que se assinala o oita-vo aniversário da elevação do Douro a Património Mundial da Humanidade.

Instituído pela Direcção Regional da Cultura do Norte (DRCN) e pela Fun-dação EDP, o prémio é entregue pela primeira vez este ano e visa distinguir o melhor ensaio sobre obras do patri-mónio literário relacionado com a região duriense ou sobre os seus escritores.

Segundo fonte da DRCN, o “Dou-ro Ensaio” será atribuído bienalmente e terá um valor pecuniário de 5000 euros, havendo a possibilidade de serem consi-deradas duas menções honrosas.

O objectivo da iniciativa é, de acor-do com a Cultura do Norte, “estimular a publicação de estudos, sob a forma de dissertações académicas ou outros tra-balhos de investigação no género de en-saio literário, que permitam aprofundar o conhecimento sobre a vida e a obra de escritores naturais da região do Douro ou que com ela se relacionaram”.

Pretende ainda “destacar a impor-

tância do património literário, da região alto duriense, como um elemento deci-sivo na valorização e divulgação des-se património colectivo enquanto factor de representação, de conhecimento e de identidade desta região vinhateira”.

A entrega do prémio ocorre precisa-mente a 14 de Dezembro, dia em que se assinala o oitavo aniversário da eleva-ção do Douro a Património Mundial da UNESCO.

A cerimónia tem como palco o Mu-seu do Douro, que abriu as portas há um ano na cidade de Peso da Régua, e se junta às comemorações do Patrimó-nio Mundial com um programa que in-clui um momento musical especialmente concebido para o momento, protagoni-zado pelo guitarrista Paulo Vaz de Car-valho.

Acompanhado de três músicos, Pau-lo Vaz de Carvalho apresentará uma composição inédita baseada em poemas do autor duriense António Cabral

O programa termina com a mesa re-donda “Conversas Vintage” que reunirá diversos protagonistas do sector do vi-nho do Porto.

Prémio ‘Douro Ensaio’ no dia doaniversário do Património Mundial

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cartoon | nós repórterdomarãoI I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I I

3908 Dez a 28 Dez’09

Cartoons de Santiagu[Pseudónimo de António Santos]

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Presidente da Coreia do Norte - KING JONG IL 2009

Apresentado a concurso no:

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