90
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM CIRURGIA PLÁSTICA CARLOS VINICIUS PRIESS Itajaí (SC), junho de 2008.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

  • Upload
    others

  • View
    2

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM CIRURGIA PLÁSTICA

CARLOS VINICIUS PRIESS

Itajaí (SC), junho de 2008.

Page 2: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM CIRURGIA PLÁSTICA

CARLOS VINICIUS PRIESS

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como

requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor MSc. Jefferson Custódio Próspero

Itajaí (SC), junho de 2008.

Page 3: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

AGRADECIMENTO

Primeiramente a Deus, por ter sido amigo fiel em

todas as horas;

A minha mãe Rosane, pelo incentivo nesta

trajetória de minha vida;

A minha irmã Caroline, pela compreensão;

Ao meu pai, pela colaboração nos momentos

mais necessários;

A minha namorada Carolina, pelo carinho, amor e

dedicação e por se uma pessoa tão formidável;

Ao meu orientador Prof. Jefferson Custódio

Próspero, que me acolheu com paciência e

dedicação;

Aos valiosos amigos que encontrei nestes cinco

anos de Universidade;

E, especialmente, aos meus preciosos e queridos

avós;

Pessoas importantes da minha vida que eu

guardo dentro do meu coração, para sempre...

Page 4: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

DEDICATÓRIA

À uma pessoa, lutadora, guerreira e determinada!

Pessoa esta que acorda todos os dias com a vontade e a

responsabilidade de vencer!

Pessoa esta que procuro me espelhar, pois sua força de

vontade me motiva!

Deu-me a vida com sua excelência e amor, carinho e

dedicação;

Mulher esta que esbanja esforço e compreensão!

Pessoa por quem serei eternamente grato, e que ainda que

eu nasça outras 100 mil vezes, e me dedique exclusivamente à ela, jamais

conseguiria retribuir todo esse amor, carinho e dedicação!

Por quem peço a DEUS que, por naturalidade, alivie o seu

sofrimento, aqueça-lhe o coração, fortaleça-lhe o corpo e lhe agracie com eterna

saúde;

Dedico este trabalho, reflexo de muito esforço, à VOCÊ

MÃE.

TE AMO!

Page 5: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

4

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Itajaí (SC), junho de 2008.

Carlos Vinicius Priess Graduando

Page 6: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

5

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Carlos Vinicius Priess, sob o título

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

CIRURGIA PLÁSTICA, foi submetida em 10 de junho de 2008 à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: MSc. Jefferson Custódio

Próspero (Orientador e Presidente da Banca), Eduardo Erivelton Campos

(Membro) aprovada com a nota [10] (dez).

Itajaí (SC), 10 de junho de 2008

Prof. MSc Jefferson Custódio Próspero Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

Page 7: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

6

ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AP Apelação

AP.C Apelação Cível

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CP Código Penal

CF/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

RESP Recurso Especial

REXT Recurso Extraordinário

STF Supremo Tribunal de Justiça

STJ Superior Tribunal de Justiça

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí

Page 8: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

7

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais.

Ato ilícito

Ato praticado em desacordo com a ordem jurídica pré-estabelecida. (SILVA,

2000,p. 97).

Ato lícito:

Ato praticado sob o amparo da lei, ou seja, toda ação permitida pelas normas

jurídicas que não atente contra interesses alheios ou contra a segurança coletiva,

ou quando, os viole, encontre apoio na razão de ter sido praticado por se tornar

absolutamente necessário para a remoção do perigo. (SILVA, 2000, p. 97).

Culpa

É o vínculo de caráter interno a demonstrar a imputabilidade do resultado ao

agente, gerando o dever de restabelecer a situação anterior ao prejuízo.

(MATIELO, 2001, p. 15).

Dano

É o prejuízo causado ao bem alheio, patrimonial ou extra-patrimonial. Se o dano

foi causado ao desabrigo de qualquer das excludentes prevista na legislação,

sujeita-se ao correspondente ressarcimento, mas nenhum direito lhe assistirá,

exatamente porque obrou em dissonância ao que determina a lei. (MATIELO,

2001, p. 12).

Imperícia

Do latim imperitia (de imperitus), designa o inábil ou falto de aptidão técnica,

teórica ou prática, no desempenho de uma atividade profissional. Consiste,

portanto, a imperícia na falta de cabedal normalmente indispensável ao exercício

de uma profissão ou arte. (CROCE, Delton e CROCE JUNIOR, Delton. Erro

médico e o direito, p. 18.)

Page 9: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

8

Imprudência

Do latim imprudentia, é a falta de atenção, o descuido ou a imprevidência no

exercício de uma ação perigosa, caracterizando-se, necessariamente, por uma

ação comissiva. (CROCE, Delton e CROCE JUNIOR, Delton. Erro médico e o

direito, p. 19.)

Negligência

Do latim negligentia (de neglegera), é inação, inércia non facere, indolência,

preguiça psíquica, ausência de reflexão necessária, falta de precaucão, falta de

interesse, não ter o devido cuidado, descuido, desleixo, desatenção, desprezar,

desatender, torpidez. (CROCE, Delton e CROCE JUNIOR, Delton. Erro médico e

o direito, p. 17)

Responsabilidade civil

É a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou

patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por

pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples

imposição legal. (DINIZ, 2006, p. 40).

Responsabilidade civil subjetiva

É decorrente de dano causado em função de ato doloso ou culposo. Esta culpa,

por ter natureza civil, se caracterizará quando o agente causador do dano atuar

com negligência ou imprudência. (GAGLIANO, 2006. p. 13).

Responsabilidade civil objetiva

É a responsabilidade que, basta, à evidência, a mera ocorrência da lesão e a

constatação de que teve origem em dado comportamento positivo ou negativo,

inexigível a imputação subjetiva ao autor. (MATIELO, 2001. p.20).

Responsabilidade Contratual

Obrigação de indenizar ou de ressarcir os danos causados pela inexecução de

cláusula contratual ou pela má execução de obrigação, nela estipulada. (SILVA,

2000, p. 714).

Page 10: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

9

Responsabilidade extracontratual

Responsabilizar alguém pela violação de um dever jurídico pré-existente.

(GIOSTRI, 1998, p.120).

Page 11: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

SUMÁRIO

RESUMO .......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ....................................................................................... 4

RESPONSABILIDADE CIVIL ............................................................. 4 1.1 CONCEITO ...................................................................................................... 4 1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL...................................... 6 1.2.1 AÇÃO OU OMISSÃO DO AGENTE ........................................................................ 6 1.2.2 CULPA DO AGENTE .......................................................................................... 8 1.2.3 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ........................................................................... 10 1.2.4 DANO ............................................................................................................ 12 1.2.5 CULPA E RISCO ............................................................................................. 14 1.3 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL ............... 15 1.4 TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................. 20 1.4.1 RESPONSABILIDADE SUBJETIVA ...................................................................... 20 1.4.2 RESPONSABILIDADE OBJETIVA ....................................................................... 23

CAPÍTULO 2 ..................................................................................... 26

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO ...................................... 26 2.1 HISTÓRICO ................................................................................................... 26 2.2 RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE ................................................................ 31 2.2.1 NOÇÕES GERAIS ............................................................................................ 31 2.2.2 CONTRATO MÉDICO ....................................................................................... 37 2.2.3 DIREITOS E DEVERES DO PACIENTE................................................................. 39 2.3 CULPA MÉDICA ............................................................................................ 41 2.4 RESPONSABILIDADE MÉDICA ................................................................... 44 2.4.1 NOÇÕES GERAIS ............................................................................................ 44 2.4.2 OBRIGAÇÃO DE MEIO E DE RESULTADO ........................................................... 46 2.4.3 RESPONSABILIDADE MÉDICA E O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR ............ 49 2.5 AVALIAÇÃO DA RESPONSABILIDADE MÉDICA ....................................... 51 2.6 CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO . 52 2.7 SEGUROS MÉDICOS .................................................................................... 54

CAPÍTULO 3 ..................................................................................... 56

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CIRURGIÕES PLASTICOS ...... 56 3.1 CIRURGIA PURAMENTE ESTÉTICA X CIRURGIA ESTÉTICA REPARADORA .................................................................................................... 56

Page 12: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

xi

3.2 DANO ESTÉTICO .......................................................................................... 60 3.3 DANO MORAL ............................................................................................... 61 3.4 O DANO ESTÉTICO COMETIDO POR CIRURGIÕES PLÁSTICOS ............ 63 3.5 AVALIAÇÃO DO DANO ESTÉTICO: SUA INDENIZAÇÃO .......................... 64 3.6 DANO ÉSTETICO – CARÁTER ATENTATÓRIO À PERSONALIDADE ...... 68 3.7 CUMULAÇÃO DE DANO ESTÉTICO COM DANO MORAL ......................... 70 3.8 JURISPRUDÊNCIA ........................................................................................ 72

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 74

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 76

Page 13: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

RESUMO

A presente monografia tem como objetivo fazer um estudo da Teoria da

Responsabilidade Civil, analisando seus pressupostos e objetivos. A partir daí,

examina-se a relação médico/paciente, questionando o fato gerador da

responsabilidade médica, bem como as causas excludentes. Um ponto de suma

importância é a divergência encontrada pela doutrina quanto à obrigação do

médico ser caracterizada como de meio ou de fim (resultado). Desta o presente

trabalho faz um estudo do dano estético causado pela cirurgia plástica, bem

como, a dificuldade de avaliação e a possível cumulação do dano estético com o

dano moral. Para finalizar a fixação do quantum relativo ao dano estético e dano

moral.

Page 14: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto de estudo,

demonstrar “a responsabilidade civil do médico por dano estético em cirurgia

plástica” e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia para obtenção

do grau de bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI;

geral, pesquisar, à luz da doutrina pátria e do reiterado entendimento

Jurisprudencial, a Responsabilidade Civil do Médico por dano estético em cirurgia

plástica; especifico, demonstrar um tema que tem suscitado muitos

questionamentos e controvérsias, tomando um corpo maior em sua discussão

atual, uma vez que houve maior conscientização dos cidadãos para a

reivindicação de seus direitos.

Enquanto profissão, a medicina visa a prevenir os males e a

melhorar os padrões de saúde e de vida da sociedade. Saúde, pois, não apenas

como ausência de enfermidades, mas sim, o estado de completo bem estar físico

e mental da pessoa.

Hoje, mais do que nunca, os direitos do cidadão encontram-

se terrivelmente ameaçado, não só pelo progresso tecnológico, mas,

principalmente, pela falta de solidariedade e respeito dentro da sociedade

moderna, caracterizada por todos os tipos de violência.

Haja vista, que existe a necessidade de tutela aos direitos

humanos, entre eles estão os direitos da personalidade. Uma das dimensões da

personalidade humana é a aparência externa de cada um, isto é, o modo como

cada qual surge perante seus semelhantes fazendo com que se torne único.

Portanto, sendo uma das dimensões da pessoa humana, é

nela que podemos fundamentar a necessidade de reparação do dano estético.

Apesar de que a forma estética sempre ter sido uma das maiores preocupações

da humanidade.

Page 15: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

2

Hoje em dia, por causa dos meios de comunicação e de

propaganda, que se apresenta de forma mais numerosa. Tornando-se quase uma

obrigação à boa aparência, sendo o primeiro passo para o entrosamento da

pessoa no meio social.

Sob tal influência, o número de pessoas que procuram

médicos cirurgiões estéticos para melhorar a aparência, tem aumentado

vertiginosamente. Como conseqüência, tornou-se cada vez maior o numero de

pacientes que, insatisfeitos com os resultados obtidos com a intervenção

cirúrgica, procuram alguma maneira de reparar o dano gerado.

Passa-se, então questionar acerca da responsabilidade civil

médica no tocante ao erro médico cometido nas cirurgias plásticas, em face ao

crescente volume de demandas judiciais em que se busca a reparação do dano

sofrido.

Portanto, a escolha do tema deu-se pelo grande número de

casos existentes e relatados pela imprensa, que denotam a falta de tutela dos

profissionais com seus pacientes.

Para tanto, principiar–se-á, no Capítulo primeiro, tratando de

responsabilidade Civil e apresenta a seguinte estrutura: conceito do instituto;

pressupostos (ação ou omissão do agente, culpa do agente, relação de

causalidade, dano, culpa e risco); responsabilidade contratual e extracontratual;

responsabilidade subjetiva e objetiva.

No Capítulo segundo, abordar-se-á a relação médico e

paciente, com enfoque nas noções gerais, contrato médico e direito e deveres do

paciente.

No terceiro e ultimo capítulo analisar-se-á a

Responsabilidade Civil do Médico fazendo breve abordagem acerca do histórico;

após se faz breves considerações sobre a culpa médica; em seguida, é abordado

um estudo a respeito da responsabilidade médica; passando pela avaliação da

responsabilidade médica; causas excludentes da responsabilidade civil do

Page 16: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

3

médico; seguros médicos; por fim, será analisada a responsabilidade civil dos

cirurgiões plásticos.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das reflexões

sobre responsabilidade civil do médico no dano estético em cirurgia plástica.

Para a presente monografia foram levantadas as seguintes

hipóteses:

ü Na cirurgia plástica estética, a responsabilidade civil do cirurgião

é objetiva, pois independe da culpa.

ü A obrigação do médico para com seu paciente é contratual,

pois, mesmo que tacitamente, há entre eles, um acordo

bilateral de vontade.

ü O contrato é de resultado e não de meio, porque, na cirurgia

estética, há compromisso do médico com o resultado

almejado, ao contrário da cirurgia reparadora.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na Fase

de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, na Fase de Tratamento de Dados

o Método Cartesiano, e, o Relatório dos Resultados expresso na presente

Monografia é composto na base lógica Indutiva.

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas, do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional e da Pesquisa

Bibliográfica.

Page 17: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

CAPÍTULO 1

RESPONSABILIDADE CIVIL

1.1 CONCEITO

Todo indivíduo tem a liberdade de agir conforme sua

consciência, de forma que querendo poderá praticar atos em desconformidade

com as leis jurídicas. O que não pode deixar de ser observado é que, agindo

desta forma, mesmo que não exista normalização pré-estabelecida, poderá ser

responsabilizado por seus atos na vida civil, isto porque certos atos praticados

pelo individuo podem causar prejuízos às pessoas de forma direta ou indireta,

diante disso necessário qualificar o prejuízo experimentado pela vítima,

analisando se o mesmo deve ou não ser reparado por quem o causou.

O termo responsabilidade, pode ser utilizado para definir

varias situações no campo jurídico. A responsabilidade, em sentido amplo,

encerra a noção em virtude da qual se atribui a um sujeito o dever de assumir as

conseqüências de um evento ou de uma ação1.

Na realidade, o que se avalia em matéria de

responsabilidade segundo Sílvio de Salvo Venosa “(...) é uma conduta do agente,

qual seja, um encadeamento ou série de atos ou fatos, o que não impede que um

único ato gere por si o dever de indenizar”2.

Em analise ao entendimento de Silvio de Salvo Venosa

podemos dizer que o termo responsabilidade, tem um amplo sentido na qual

atribui deveres e conseqüências as ações de um sujeito, podendo esse, ser

responsabilizado a indenizar.

1 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p.12. 2 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil, p.13.

Page 18: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

5

De fato, a responsabilidade civil foi definida por René

Savatier citado por Silvio Rodrigues 3 “como a obrigação que pode incumbir uma

pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou por fato de

pessoas ou coisas que dela dependam”.

Em outras palavras, a responsabilidade civil gera obrigações

para o causador do dano, sendo o mesmo responsável a reparar o prejuízo

causado.

Maria Helena Diniz4, diz que responsabilidade civil:

(...) é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar

dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato

por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por

alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal.

A obrigação de reparar o prejuízo resume-se no

ressarcimento, de modo a ver preenchida a lacuna patrimonial ou extrapatrimonial

criada pelo dano.

Sobre a matéria entende Pablo Stolze Gagliano5:

(...) que a noção jurídica de responsabilidade civil pressupõe a

atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente,

viola uma norma jurídica preexistente (legal ou contratual),

subordinando-se, dessa forma, às conseqüências do seu ato

(obrigação de reparar).

Então, como definição da responsabilidade civil poderíamos

dizer que é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar o dano

moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma

praticado, ou por pessoa quem ela responda por algo que à pertence ou, ainda, a

partir de simples imposição legal. 3 SAVATIER, Traité de la responsabilité civile. Paris, 1939, v.I, n.1, citado por RODRIGUES, Silvio. Responsabilidade Civil, São Paulo: Saraiva, 2002. p.6.

4 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 20. ed. v 7. São Paulo: Saraiva, 2006 p.40.

5 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil. 4. ed. ver., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2006 p.9.

Page 19: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

6

A teoria da responsabilidade civil esta prevista no art. 186 do

Código Civil. Ai se diz:

Art. 186 - aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência

ou imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem, ainda

que exclusivamente moral, comete ato ilícito.6

A regra do referido artigo define os pressupostos da

Responsabilidade Civil, que serão apontados e objeto de estudo no sub-capitulo

seguinte.

1.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Para que seja aplicada a teoria da responsabilidade civil,

faz-se necessário a existência de pressupostos de validade apontados pela

doutrina, quais sejam, a ação ou omissão do agente, a culpa do agente, a relação

de causalidade entre o fato e o dano ocorrido e ainda a possibilidade de aplicação

da teoria do risco.

1.2.1 Ação ou Omissão do Agente

A responsabilidade do agente pode defluir de ato próprio

(fato próprio) como a calúnia e a injúria; de ato de terceiro que esteja sob a

responsabilidade do agente (fato de terceiro), e ainda de danos causados por

coisas que estejam sob a guarde deste (fato de coisa), como animais ou simples

imposição legal (Responsabilidade Objetiva)7.

No entendimento de Silvio Rodrigues8: “O ato do agente

causador do dano impõe-lhe o dever de reparar o dano não só quando há de sua

parte, infringência a um dever legal, portanto ato praticado contra lei como

também quando seu ato, embora sem infringir a lei, foge da finalidade social a

que ela se destina.

6 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal./ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p.278.

7 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.15. 8 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.15.

Page 20: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

7

Existem atos que não colidem diretamente com a norma

jurídica, mas sim, com o fim social por ela almejado. São atos praticados com

abuso de direto, e, se o comportamento abusivo do agente causa dano a outrem,

a obrigação de reparar, imposta àquele, apresenta-se inescusável.

Em relação ao fato de terceiro exemplifica Silvio Rodrigues: 9

(...) ”o pai responde pelos atos dos filhos menores que estiverem em seu poder ou

em sua companhia, bem como, o patrão responde pelos atos de seus

empregados”.

Sendo assim, podemos perceber que a responsabilidade do

agente, pode advir de ato próprio ou ato de terceiro. Mas pode, igualmente, ser

ele obrigado a reparar o dano causado por coisa ou animal que estava sob sua

guarda, ou por dano de coisas que tombem de sua moradia.

Sobre a forma positiva (ação) entende Maria Helena Diniz10:

A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o

ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou licito, voluntário e

objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o

fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem,

gerando o dever de satisfazer os direito do lesado.

Em referencia a forma negativa (omissiva) dispõem o Pablo

Stolze Gagliano11:

Trata-se de atuação omissiva ou negativa, geradora de dano. Se,

no plano físico, a omissão pode ser interpretada como um “nada”,

um “não fazer”, uma “simples abstenção”, no plano jurídico, este

tipo de comportamento pode gerar dano atribuível ao omitente,

que será responsabilizado pelo mesmo.

Observando o artigo 186 do Código Civil veremos que impõe

a obrigação de indenizar aquele que (...) “por ação ou omissão voluntária” causar

9 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.15. 10 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p.43. 11 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: Responsabilidade civil, p.9.

Page 21: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

8

prejuízo a outrem. Entretanto, devemos destacar que também na ação omissiva a

voluntariedade da conduta se faz presente. Isso porque, se faltar este requisito,

haverá ausência de conduta na omissão, inviabilizando, por conseguinte, o

reconhecimento da responsabilidade civil.

1.2.2 Culpa do Agente

O segundo pressuposto para caracterizar a responsabilidade

pela reparação do dano é a culpa ou o dolo do agente que causou o prejuízo. A

lei declara que, se alguém causou prejuízo a outrem por meio da ação ou

omissão voluntária, negligência ou imprudência, fica obrigado a reparar. De modo

que nos termos da lei para que a responsabilidade se caracterize, mister se faz a

prova de que o comportamento do agente causador do dano tenha sido doloso ou

ao menos culposo12.

O dolo ou resultado danoso, afinal alcançado, foi

deliberadamente procurado pelo agente. Ele desejava causar dano e seu

comportamento realmente o causou. Em caso de culpa, por outro lado, o gesto do

agente não visava causar prejuízo a vítima, mas de sua atitude negligente, de sua

imprudência oi imperícia resultou um dano para ela.

Segundo entendimento de Silvio Rodrigues13 na idéia de

negligência se inclui a de imprudência, bem como a de imperícia, senão vejamos:

Aquele que age com imprudência, negligência em tomar as

medidas de precaução aconselhadas para situação em foco,

como, também, a pessoa que se propõe a realizar uma tarefa que

requer conhecimentos especializados ou alguma habilitação e a

executa sem ter aqueles ou esta, portanto, negligenciou em

obedecer às regras da profissão.

Ainda sobre o tema escreve Silvio Rodrigues:

Já vimos que a regra básica da responsabilidade civil, consagrada

em nosso Código Civil, implica a existência do elemento culpa

12 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.15. 13 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.16.

Page 22: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

9

para que o mister de reparar possa surgir. Todavia,

excepcionalmente, e em hipóteses especificas, nosso direito

positivo admite alguns casos de responsabilidade sem culpa, ou

irrefragavelmente presumida, sem culpa baseada na idéia do

risco.

Sobre o tema, ensina Maria Helena Diniz14 que “(...) a culpa

é a violação de um dever jurídico, imputável a alguém, em decorrência de fato

intencional ou de omissão de diligência ou cautela”.

Enfatiza Maria Helena Diniz15, que:

(...) a imperícia é a falta de habilidade ou inaptidão para praticar

certo ato; a negligência é a inobservância de normas que nos

ordenam agir com atenção, capacidade, solicitude e

discernimento; e a imprudência é a precipitação ou ato de

proceder sem cautela.

Segundo Silvio Rodrigues16:

A distinção entre Dolo e Culpa, bem como entre os graus de

Culpa, de um certo modo perde sua oportunidade. Isto porque,

quer haja Dolo, quer haja Culpa grave, leve ou levíssima, o dever

de reparar se manifesta com igual veemência, pois o legislador

parece ter adotado a norma romana segundo o qual in Lex Áquila

et levíssima Culpa venit. Ou seja, dentro da responsabilidade

aquiliana, ainda que seja levíssima a Culpa do agente causador

do dano, cumpre-lhe indenizar a vítima. Ora, como a indenização

deve ser a mais possível completa, posto que indenizar significa

tornar indene a vítima, o agente causador do dano, em tese, tem a

obrigação de repara-lo integralmente, quer tenha agido com Dolo,

quer com Culpa levíssima.

Portanto, pode-se classificar a Culpa em seus diversos

graus, bem como, a distinção entre a conduta culposa e dolosa, sendo que,

subsiste a obrigação de indenizar, em que se pese tenha o agente ocasionado à

ofensa por um comportamento doloso ou culposo. Na culpa independe se foi de 14 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.46. 15 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.46. 16 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.16.

Page 23: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

10

forma grave, leve ou levíssima, basta apenas que tenha havido, para a incidência

da responsabilidade.

1.2.3 Relação de Causalidade

O nexo causal refere-se à relação direta entre a ação do

agente e o dano causado. É uma relação que une a conduta do agente ao

resultado que conduzem à responsabilidade, quer objetiva, quer subjetiva.

Portanto, tem-se que o vinculo de causalidade é elemento

indispensável para a caracterização da responsabilidade, seja baseada na culpa

ou no risco.

Destaque-se que, não basta que a condição ou fato tenha

sido fator determinante do dano, é essencial que o fato seja uma causa adequada

à produção daquele resultado.

Henry e Tunc Mazeaud; citado por Miguel Kfouri Neto17 “(...)

não é suficiente, para que seja exigível a responsabilidade civil, que o

demandante haja sofrido um prejuízo nem que o demandado tenha agido com

culpa”. Deve reunir-se um terceiro e ultimo requisito, a existência de um vinculo

de causa e efeito entre a culpa e o dano, é necessário que o dano sofrido seja

conseqüência da culpa cometida.

Segundo entendimento de Silvio Rodrigues18 seria nesse

passo o estudo das excludentes da responsabilidade “Se o acidente ocorreu não

por culpa do agente causador do dano, mas por culpa da vítima, é manifesto que

faltou o liame de causalidade entre o ato daquele e o dano por este

experimentado”.

A existência da relação de Causalidade é fator indispensável

para o devido cumprimento da obrigação reclamada, sendo que a relação de

Causalidade cria condições para que a responsabilidade seja imputada ao seu

17 KFOURI, Miguel Neto. In. Responsabilidade civil do médico. 6 ed. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2007. p.63.

18 RODRIGUES, Silvio. Direito civil p.09.

Page 24: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

11

verdadeiro causador, resguardando assim o direito da pessoa que porventura

viesse a ser confundida.

Para Maria Helena Diniz19:

O vinculo entre o prejuízo e a ação designa-se “nexo causal”, de

modo que o fato lesivo deverá ser oriundo da ação, diretamente

ou como sua conseqüência previsível. Tal nexo representa,

portanto, uma relação necessária entre o evento danoso e a ação

que o produziu, de tal sorte que o dano resulte apenas

imediatamente do fato que o produziu.

Miguel Maria Serpa Lopes20 traz o seguinte trecho em sua

obra:

Uma das condições essenciais à responsabilidade civil é a

presença de um nexo causal entre o fato ilícito e o dano por ele

produzido. É uma noção aparentemente fácil e limpa de

dificuldade. Mas se trata de mera aparência, porquanto a noção

de causa é uma noção que se reveste de um aspecto

profundamente filosófico, além das dificuldades de ordem pratica,

quando os elementos causais, os fatores de produção de um

prejuízo, se multiplicam no tempo e no espaço.

Assim como no Direito Penal, a investigação deste nexo que

liga o resultado danoso ao agente infrator é indispensável para que se possa

concluir a responsabilidade civil.

Por obvio, somente se poderá responsabilizar alguém cujo

comportamento houvesse dado causa ao prejuízo.

Contudo, essa discussão é de especial importância para a

responsabilidade médica, tendo em vista que nessa área existem ocorrências

diversas, em variadas atividades, que por si só são capazes de causar certo

dano, independentemente do atuar do médico, são chamadas intercorrências

médicas.

19 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.110. 20 LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil / Fontes Contratuais das Obrigações e

Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001 p. 218.

Page 25: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

12

1.2.4 Dano

Somente haverá possibilidade de indenização se o ato ilícito

ocasionar dano. O dano ou interesse deve ser atual e certo, não sendo

indenizáveis, a principio, danos hipotéticos. Sem dano ou sem interesse violado,

patrimonial ou moral, na se corporifica a indenização. Sílvio de Salvo Venosa21

dispõe que (...) “A materialização do dano ocorre com a definição do efetivo

prejuízo suportando pela vítima”.

Caio Mário da Silva Pereira22 Observa:

(...) É claro, então, que, se a ação se fundar em mero dano

hipotético, não cabe reparação, Mas esta será devida se

considerar, dentro na idéia de perda de uma oportunidade e puder

situar-se na certeza do dano.

No entendimento de Maria Helena Diniz23:

(...) O dano é um dos pressupostos da responsabilidade civil,

contratual ou extracontratual, visto que não poderá haver ação de

indenização sem a existência de um prejuízo. Só haverá a

responsabilidade civil se houver um dano a reparar. Isto é assim

porque a responsabilidade resulta em obrigações de ressarcir,

que, logicamente não poderá concretizar-se onde nada há que

reparar.

Ainda Maria Helena Diz24;

(...) Não pode haver responsabilidade civil sem a existência de um

dano a um bem jurídico, sendo imprescindível à prova real e

concreta dessa lesão. Deveras, para que haja pagamento da

indenização pleiteada é necessário comprovar a ocorrência de um

dano patrimonial ou moral, fundados não na índole dos direitos

subjetivos afetado, mas nos efeitos da lesão jurídica.

21 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil, p.12. 22 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Responsabilidade Civil. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994. p.28.

23 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.65. 24 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.66.

Page 26: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

13

Sendo o dano um pressuposto da responsabilidade civil, não

pode se falar em obrigação de indenizar sem que haja comprovação de que o ato

do agente causou dano á vítima, sendo que, só haverá responsabilidade civil se

houver um dano.

Carlos Roberto Gonçalves25 explana sobre o tema que:

Sem prova do dano, ninguém pode ser responsabilizado

civilmente. O dano pode ser material ou simplesmente moral, ou

seja, sem repercussão na órbita financeira do ofendido. O Código

Civil consigna um capitulo sobre liquidação do dano, ou seja,

sobre o modo de se apurarem os prejuízos e a indenização

cabível.

Com absoluta propriedade, Sérgio Cavalieri Filho26, em sua

excelente obra Programa da Responsabilidade Civil, salienta a inafastabilidade do

dano nos seguintes termos:

O dano é, sem duvida, o grande vilão da responsabilidade civil.

Não haveria que se falar em indenização, nem em ressarcimento,

se não houvesse o dano. Pode haver responsabilidade sem culpa,

mas não pode haver responsabilidade sem dano. Na

responsabilidade objetiva, qualquer que seja a modalidade do

risco lhe sirva de fundamento – risco profissional, risco proveito,

risco criado etc -, o dano constitui o seu elemento preponderante,

Tanto é assim que, sem dano, não haverá o que reparar, ainda

que a conduta tenha sido culposa ou até dolosa.

Nesses termos, poderíamos conceituar o dano ou prejuízo

com sendo a lesão a um interesse jurídico tutelado – patrimonial ou não -,

causado por ação ou omissão do sujeito infrator, fato este que da azo ao dever de

indenizar e permito o exercício do direito subjetivo de ação.

25 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 6 ed, São Paulo: Saraiva, 2000, p.27. 26 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.70.

Page 27: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

14

1.2.5 Culpa e Risco

A Idéia da culpa sempre foi a idéia informadora da

responsabilidade civil, isso porque há um fundamento no princípio geral de direito,

segundo o qual aquele que causa dano à outrem deve repará-lo, mas só deve se

infringiu uma regra de conduta legal, social ou moral.

Portanto, a Teoria da Responsabilidade27 foi criada baseada

no tradicional conceito de culpa, mas, com a evolução da sociedade e o aumento

dos acidentes de diversas naturezas, essa idéia de culpa, apresentava-se talvez

inadequada para atender aquele anseio de ressarcimento que começou a brotar

na sociedade. Isso porque, importa a vítima, como pressuposto para ser

ressarcida, o encargo de demonstrar não só o liame de causalidade, como por

igual comportamento culposo do agente causador do dano, equivalia a deixá-la

irressarcida28.

Sendo assim a Teoria do Risco29 se inspira na idéia de que o

elemento culpa é desnecessário para caracterizar a responsabilidade. A

obrigação de indenizar não se apóia em qualquer elemento subjetivo, de

indagação sobre o comportamento do agente causador do dano, mas se fixa no

elemento meramente objetivo, da indagação sobre o comportamento do agente

causador do dano, ma se fixa no elemento meramente objetivo, representado pela

relação de causalidade entre o ato causador do dano e este.

Dessa forma, ficando comprovada a existência de dano,

entre o fato gerador e o prejuízo, o agente agido culposamente, o mesmo terá a

obrigação de reparar.

Sendo assim, aquele que, no seu interesse, cria um risco e

causar dano a outrem, terá que repará-lo se este dano sobrevier. A

27 Teoria da responsabilidade: é a divisão de duas teorias, ou seja, responsabilidade objetiva (teoria do risco) e responsabilidade subjetiva (teoria da culpa).

28 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p.156. 29 Teoria do risco: é a justificativa para a responsabilidade objetiva.

Page 28: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

15

responsabilidade deixa de resultar da culpabilidade, para derivar exclusivamente

de causalidade material. Responsável, portanto, seria aquele que causou o dano.

1.3 RESPONSABILIDADE CONTRATUAL E EXTRACONTRATUAL

Demonstrados os pressupostos genéricos da

responsabilidade civil, não há a menor duvida de que, abstraídas as hipóteses de

responsabilidade subjetiva com presunção da culpa, ou de responsabilidade

objetiva, existe uma grande dificuldade na demonstração da culpa do agente ou

da antijuricidade de sua conduta para ensejar a sua responsabilidade civil.

Carlos Roberto Gonçalves30, apud REMÉDIO; FREITAS E

LOZANO JÚNIOR, traça as diferenças básicas entre as duas espécies de

responsabilidade, que podem ser assim resumidas:

a) ônus da prova: na responsabilidade contratual, o credor

apenas tem a obrigação de provar que a prestação foi

descumprida, independente da culpa, tendo o devedor que

demonstrar a ocorrência de alguma das excludentes legais para

se eximir da obrigação de indenizar. Na extracontratual, a vítima

deverá demonstrar que o fato se deu por culpa do agente, já que

não existe a presunção de culpa ocorrente na relação contratual;

b) fonte: a responsabilidade contratual deriva da convenção

entre as partes, enquanto a extracontratual decorre da obrigação

legal de não causar dano a ninguém (art. 389 do CC);

c) capacidade do agente: na responsabilidade contratual, a

capacidade é mais limitada que na extracontratual. O contrato

exige sempre a capacidade do contratante ao tempo da sua

celebração, sob pena de não ter validade e não produzir efeitos

indeniza-tórios. Já no caso da obrigação decorrente de um delito,

o ato do incapaz pode gerar a obrigação de indenizar do seu

guardião;

d) gradação da culpa: na responsabilidade contratual, a culpa é

escalonada, variando de intensidade de acordo com as diferentes

30 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p 5.

Page 29: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

16

hipóteses em que ela ocorre, enquanto na delitual ela é mais

rigorosa, alcançando até a falta ligeiríssima.

Essa dificuldade é minorada quando a conduta ensejadora

do dano é resultante do descumprimento de um dever contratual, pois, nessa

hipótese, presumir-se-ia a culpa, uma vez que a própria parte se obrigou,

diretamente, à obrigação, ora descumprida.

A depender, portanto, da natureza da norma jurídica violada

pelo agente causador do dano, uma subdivisão, muito mais didática e legislativa

do que propriamente cientifica, pode ser feita, sub tipificando-se a

responsabilidade civil em: contratual e extracontratual ou aquilina31.

Questão de grande relevância é a distinção entre

responsabilidade contratual32 e extracontratual33, pois uma pessoa pode causar

prejuízo à outra tanto por descumprir uma obrigação contratual como por praticar

outra espécie de ato ilícito.

Enquanto o artigo 189 do Código Civil disciplina,

genericamente, as conseqüências derivadas da responsabilidade aquiliana, o

artigo 389 do referido Codex cuida dos efeitos resultantes da responsabilidade

contratual.

Senão vejamos, o artigo 389 do Código Civil34·: Não

cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e

atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e

honorários de advogado.

31 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.9. 32 Responsabilidade contratual: obrigação de indenizar ou de ressarcir os danos causados pela inexecução de cláusula contratual ou pela má execução de obrigação, nela estipulada.

33 Responsabilidade extracontratual: responsabilizar alguém pela violação de um dever jurídico pré-existente.

34 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p.298.

Page 30: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

17

No caso da responsabilidade contratual, antes da obrigação

de indenizar emergir, existe, entre o inadimplente e seu co-contratante, um

vinculo jurídico derivado da convenção; na hipótese da responsabilidade

aquiliana, nenhum liame jurídico existe entre o agente causador do dano e a

vítima ate que o ato daquele ponha em ação os princípios geradores de sua

obrigação de indenizar.

Para Silvio Rodrigues, poderíamos entender que as duas

responsabilidades são de igual natureza, não havendo por que disciplina-las

separadamente, pois, tanto na configuração da responsabilidade contratual como

na aquiliana vários pressupostos são comuns. Nunca e noutra necessária se faz a

existência do dano, a culpa do agente e a relação causalidade entre o

comportamento do agente e o dano experimentado pela vítima ou pelo outro

contratante. A fim de exemplificar, o autor35 diz que:

Alguém atropela um homem que, no desastre, perde um braço. O

agente causador desse dano fica obrigado a repará-lo, e sua

responsabilidade e extracontratual. A indenização consistira no

pagamento correspondente às despesas de tratamento da vítima,

lucros cessantes até o fim da convalescença, e ainda, no dever de

fornecer uma pensão correspondente à diminuição de sua

capacidade laborativa. Note-se que essa indenização não é a

devolução do braço perdido; apenas substitui, por cifra em

dinheiro, aquilo que aproximadamente se calcula tenha sido o

prejuízo da vítima do ato ilícito.

Na responsabilidade contratual a indenização, em muitos

casos, se não em todos, é, por igual, um substitutivo da prestação contratada. A

indenização nesse caso abrangerá o prejuízo efetivo, bem como, o lucro

cessante, mas, a cifra arbitrada em dinheiro, não será a prestação permitida, mas

apenas um sucedâneo dela36.

Em matéria de prova, na responsabilidade contratual,

demonstrado pelo credor que a prestação foi descumprida, o ônus probandi se

transfere para o devedor inadimplente, que terá que evidenciar a existência de

35 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.9. 36 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.10.

Page 31: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

18

culpa de sua parte, ou a presença de força maior, outra excludente da

responsabilidade capaz de eximi-lo do dever de indenizar, enquanto, se for

aquiliana a responsabilidade, caberá à vítima o encargo de demonstrar a culpa do

agente causador do dano.

Sobre a matéria entende Pablo Stolze Gagliano37:

Assim, se o prejuízo decorrente diretamente da violação de um

mandamento legal, por força da atuação ilícita do agente infrator

(caso do sujeito que bate em um carro), estamos diante da

responsabilidade extracontratual, Por outro lado, se, entre as

partes envolvidas, já existia norma jurídica contratual que as

vinculava, e o dano decorre justamente do descumprimento de

obrigação fixada neste contrato, estaremos diante de uma

situação de responsabilidade contratual.

Ainda sobre a matéria, demonstra Pablo Stolze Gagliano 38 o

seguinte quadro esquemático:

Responsabilidade Civil:

1. Contratual → inadimplemento da obrigação prevista no

contrato (violação de norma contratual anteriormente fixada pelas partes);

2. Extracontratual ou Aquiliana → violação direta de uma

norma legal.

Note-se, que o elemento subjetivo representado pelo

conceito amplo de culpa nem sempre será indispensável, uma vez que poderá

haver responsabilidade civil independentemente da sua aferição, em hipóteses

especiais previstas na forma expressa da lei, ou quando a sua atividade

normalmente desenvolvida pelo causador do dano importa em risco para os

direitos de outrem39.

37 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: Responsabilidade Civil, p.16. 38 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: Responsabilidade Civil, p.17. 39 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: Responsabilidade Civil, p.17.

Page 32: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

19

Maria Helena Diniz40 preconiza o tema separadamente,

demonstrando a priori que responsabilidade contratual:

(...) oriunda de inexecução de negócio jurídico bilateral ou

unilateral. Resulta, portanto de ilícito contratual, ou seja, de falta

de adimplemento ou da mora do cumprimento de qualquer

obrigação. É uma infração a um dever especial estabelecido pela

vontade dos contratantes, por isso decorre de relação obrigacional

preexistente e pressupõe capacidade para contratar.

Destarte, uma vez feito entre os contratantes o pacto, a

regra geral, é que não há como se libertar unilateralmente do avençado,

passando o contrato a ter força de lei entre aqueles que o firmaram41.

(...) O ônus da prova, na responsabilidade contratual,

competira ao devedor, que deverá provar, ante o inadimplemento, a inexistência

de sua culpa ou a presença de qualquer excludente do dever de indenizar. O

devedor, para ilidir a obrigação de indenizar, deverá evidenciar que o

descumprimento contratual foi devido a caso fortuito ou força maior.

Assim sendo, o inadimplemento contratual gera para o outro

pactuante uma frustração de expectativa, ocasionando para o mesmo um dano,

seja na esfera patrimonial, seja de ordem moral.

(...) se atribui descumprimento ou má prestação de uma atividade

à qual alguém estava obrigado em virtude de liame contratual e se

esse inadimplemento visava, diretamente, a satisfazer um

interesse extrapatrimonial do credor, o dano será também

diretamente não – econômico. É o que acontece com os danos

oriundos da atividade médica, quando o médico responderá

contratualmente pela mala práxis ( ou má pratica da medicina). P.

ex: Se o médico, imprudentemente, provocar lesões no paciente,

ter-se-á dano patrimonial indireto, consistente em gastos com o

tratamento e um lucro cessante pelo que o doente deixou de

auferir durante sua convalescença.

40 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.136. 41 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.136.

Page 33: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

20

Em suma, a responsabilidade contratual nasce da

inexecução do estipulado em um contrato, pressupondo acordo de vontades e

sendo restrita pelo acordo entre as partes.

Ainda referente ao tema Maria Helena Diniz42 conceitua

responsabilidade extracontratual:

A responsabilidade extracontratual, delitual ou aquiliana decorre

de violação legal, ou seja, de lesão a um direito subjetivo ou da

pratica de um ato ilícito, sem que haja nenhum vinculo contratual

entre lesante e lesado. Resulta, portanto, da inobservância da

norma jurídica ou de infração ao dever jurídico geral de abstenção

atinente aos direitos reais ou de personalidade, ou melhor, de

violação à obrigação negativa de não prejudicar ninguém.

Como foi demonstrado, podemos enquadrar a natureza da

obrigação do médico com de origem contratual, a desrespeito de estar contida

junto à responsabilidade extracontratual na sistemática do nosso Código. E assim

sendo, pode ser resultante de um contrato de meios, em geral, o que não ocorre

no caso do cirurgião plástico, na cirurgia plástica estética, quando a obrigação é

de resultados.

1.4 TEORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil divide-se em duas teorias, ou seja,

responsabilidade objetiva e responsabilidade subjetiva. Para melhor entendimento

analisaremos independentemente cada teoria.

1.4.1 Responsabilidade Subjetiva

A Responsabilidade Subjetiva é fundamentada na culpa,

podendo derivar na inobservância de um dever disposto, implícita ou

explicitamente, no ordenamento jurídico ou no contrato, onde o lesado deverá

provar o dano (pessoal, moral ou patrimonial); ação ou omissão e nexo causal.

Nas lições de Pablo Stolze Gagliano43:

42 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.533.

Page 34: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

21

A responsabilidade civil subjetiva é a decorrente de dano causado

em função de ato doloso ou culposo. Esta culpa, por ter natureza

civil, se caracterizará quando o agente causador do dano atuar

com negligência ou imprudência, conforme cediço

doutrinariamente, através da interpretação da primeira parte do

art. 159 do Código Civil de 1916 (“Art. 159. Aquele que, por ação

ou omissão voluntária negligenciar, ou imprudência, violar direito,

ou causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano”),

regra geral mantida, com aperfeiçoamentos, pelo art. 186 do

Código Civil de 2002 “ (Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligencia ou imprudência, violar direito e causar dano

a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”)

Portanto, para que seja configurada a teoria subjetiva,

deverá existir um elemento de cunho subjetivo, que poderá decorrer do dolo, ou

seja, da ação ou omissão voluntária do agente causador ou decorrer da culpa,

negligência, imprudência ou imperícia do agente.

Segundo a teoria subjetiva, deverá existir uma ligação

psíquica do agente com o resultado danoso, podendo o resultado ser almejado

pelo causador ou aceitável como viável ou passível de ocorrer diante da conduta

exercida.

Existem duas espécies de dolo, quais sejam, dolo direito e

dolo eventual.

De acordo com a primeira espécie, o dolo direto, ação ou

omissão do agente é consciente e direcionada ao alcance do resultado, existe,

portanto, uma vontade deliberada de infringir um dever legal. Já na segunda

espécie de dolo, o eventual, o agente tem consciência da conduta praticada

poderá causar um dano, mesmo assim, ignora o risco e prossegue rumo ao que

deseja44.

43 GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume III: responsabilidade civil, p.13. 44 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil, p.533.

Page 35: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

22

Se o dano for causado por culpa, ou seja, imprudência45,

negligência46 ou imperícia47, constata-se que no agente não existe a pretensão de

causar o prejuízo, que será ocasionado justamente pelo comportamento ilícito.

Sérgio Cavalieri Filho, apud na obra de Antonio Couto Filho

e Alex Pereira Souza48, faz a seguinte distinção:

Diferente do dolo, a culpa não é vontade de praticar determinado

ato ilícito. É, antes, a vontade de praticar ato licito, mas o agente

por não adotar a conduta adequada, acaba por praticar ato ilícito.

Vê-se, então que há na culpa uma conduta mal dirigida a um fim

licito; uma conduta inadequada aos padrões sociais, ato ou fato

que uma pessoa prudente e cautelosa não teria praticado. É

imprevisão do previsível por falta de cautela do agente. Já na

culpa, em ultima instância um erro de conduta.

Portanto, para a teoria da responsabilidade subjetiva, a

prova da culpa do agente causador do dano é indispensável para que surja o

dever de indenizar. A responsabilidade é subjetiva porque dependerá do

comportamento do sujeito49.

Caio Mario da Silva Pereira50 assim demonstra seu

entendimento sobre o assunto:

Na tese da presunção de culpa subsiste o conceito genérico de

culpa como fundamento da responsabilidade civil. Onde se

distancia da concepção subjetiva tradicional é no que concerne ao

ônus da prova. Dentro da teoria clássica da culpa, a vítima tem de

demonstrar a existência dos elementos fundamentais de sua

pretensão, sobressaindo o comportamento culposo do

demandado. Ao se encaminhar para a especialização da culpa

45 Imprudência: é a falta de cuidados básicos ou cautela que deveriam ser tomados em determinado caso.

46 Negligência: é a falta de diligência, atenção no momento necessário. 47 Imperícia: é a conduta produzida à margem de conhecimentos suficientes, deficiência na formação do profissional ou incompetência na prática profissional por falta de estrutura técnica.

48 COUTO FILHO, Antonio Ferreira; Souza, Alex Pereira. A improcedência no suposto erro médico. Editora Lúmen Júris, 1999, p. 13.

49 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.11. 50 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Responsabilidade Civil, p.265-266.

Page 36: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

23

presumida, ocorre uma inversão do ônus probandi. Em certas

circunstâncias, presume-se o comportamento culposo do

causador do dano, cabendo-lhe demonstrar a ausência de culpa,

para se eximir do dever de indenizar. Foi um modo de afirmar a

responsabilidade civil, sem a necessidade de provar o lesado a

conduta culposa do agente, mas sem repelir o pressuposto

subjetivo da doutrina tradicional. Em determinadas circunstâncias

é a lei que enuncia a presunção. Em outras, e a elaboração

jurisprudencial que, partindo de uma idéia tipicamente assentada

na culpa, inverte a situação impondo o dever ressarcitório, a não

ser que o acusado demonstre que o dano foi causado pelo

comportamento da própria vítima.

Entretanto, hipóteses há em que não é necessário sequer

ser caracterizada a culpa. Nesses casos, estaremos diante do que se

convencionou chamar de responsabilidade objetiva.

1.4.2 Responsabilidade Objetiva

Na responsabilidade objetiva não há necessidade de se

comprovar a culpa por parte do agente, para que esteja caracterizada a obrigação

de reparar o dano, desde que exista o nexo causal entre o dano causado a vítima

e o ato do agente.

Sobre o tema, é importante a lição de Silvio Rodrigues:

Na responsabilidade objetiva a atitude culposa ou dolosa do

agente causador do dano é de menor relevância, pois, desde que

exista relação de causalidade entre o dano experimentado pela

vítima e o ato do agente, surge o dever de indenizar, quer tenha

este agido ou não culposamente51.

Carlos Roberto Gonçalves52 trata sobre a teoria do risco

como justificativa para a responsabilidade objetiva, dizendo que:

Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria

um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo,

ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade

51 RODRIGUES, Silvio. Direito civil, p.11. 52 GONÇALVES, Carlos Roberto, Responsabilidade civil, p.18.

Page 37: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

24

civil desloca-se da noção de culpa para a idéia de risco, ora

encarada como “risco-proveito”, que se funda no principio

segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em

conseqüência de uma atividade realizada em beneficio do

responsável (...).

Portanto, a teoria do risco é a da responsabilidade objetiva.

Segundo essa teoria, aquele que, através de sua atividade, cria um risco de dano

para terceiros deve ser obrigado a repará-lo, ainda que sua atividade e o seu

comportamento sejam isentos de culpa, para tanto, examina-se a situação, e, se

for verificada, objetivamente, a relação causa e efeito entre o comportamento do

agente e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser indenizada por

aquele.

Caio Mário da Silva Pereira53 assim demonstra seu

entendimento sobre o assunto.

Cada um deve sofrer o risco de seus atos, sem cogitação da idéia

de culpa, e, portanto, o fundamento da responsabilidade civil

desloca-se da noção de culpa, porem deve viver ao seu lado. (...)

a teoria do risco ou da responsabilidade objetiva na atualidade

encontra resistência na doutrina, no tocante à sua aplicação

ampla com que se defendeu o seu préstimo. Isso não obstante,

conquistou aceitação na doutrina e na jurisprudência e penetrou

no principio constitucional do art. 5.º, ns. V e X, da Carta de 1988.

O legislador brasileiro adotou tanto a responsabilidade

subjetiva (teoria da culpa) quanto á teoria da responsabilidade objetiva (teoria do

risco) em seu ordenamento jurídico.

O Código Civil de 1916 particularmente, adotou a teoria

subjetiva, disposta em seu artigo 159, exigindo a comprovação do dolo e da culpa

como fundamento para caracterizar a reparação do dano.

Entretanto, o Código de Defesa do Consumidor (Lei nº

8.078, de 11/09/1990), como exemplo, adota a teoria objetiva, para resguardar os

direitos do consumidor.

53 PEREIRA, Caio Mário da Silva, Responsabilidade Civil, p.271.

Page 38: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

25

Ainda referente ao tema Maria Helena Diniz54 conceitua

responsabilidade objetiva:

A responsabilidade objetiva, fundada na teoria do risco, decorre

no direito brasileiro de acidentes de trabalho; acidentes

resultantes do exercício de atividades perigosas; furto de valores

praticado por empregados de hotéis contra hóspedes; queda de

coisas de uma casa ou seu lançamento de lugar indevido;

pagamento de cheque falsificado por banco; comportamentos

administrativos comissivos prejudiciais a direito de particular e

atos praticados no exercício de certos direitos, e diversas outras.

Ainda, no tocante a comprovação da conduta culposa, como

requisito essencial para caracterizar a responsabilidade civil subjetiva, traz-se os

seguintes julgados, exemplificativamente:

Não se há de imputar responsabilidade indenizatória ao médico,

em face do insucesso de intervenção cirúrgica, se não restar

evidenciada sua conduta culposa, uma vez que o compromisso

assumido constitui obrigação de meio não de resultado. TA-MG,

Ap. Cív. 170.1851, 6a Câmara Cível, Rel. Juiz Salatiel Resende, j.

28/04/94) (LEAL; SAMPAIO, 1999, p. 65).

Ou ainda:

Responsabilidade civil - Cirurgia - Culpa - Nexo Causal -

Obrigação de Meio. Constituindo a prestação de serviços médicos

em obrigação de meio e não de resultado, não se pode atribuir

responsabilidade indenizatória ao médico por lesão decorrente de

intervenção cirúrgica, sem a prova da conduta culposa do

profissional, bem como do nexo de causalidade entre a cirurgia e

o resultado lesivo. (TA-MG, Ap. Cív. 189.139-8, 7a Câmara Cível,

Rel. Juiz Antônio Carlos Cruvinel) (LEAL; SAMPAIO, 1999, p. 65).

No entanto, a distinção da culpa se objetiva ou subjetiva é,

na prática, de difícil estabelecimento. Com estas considerações sobre a

responsabilidade civil, encerra-se este capitulo, para se iniciar o segundo,

destinado a tratar da relação médico – paciente.

54 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil, p.59

Page 39: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

26

CAPÍTULO 2

RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO

2.1 HISTÓRICO

As doenças e as dores nasceram juntamente com o homem.

Por isso, desde seu primeiro momento de racionalidade, tratou, ele de predispor

os meios necessários para combater ambos os males55.

No dizer de Genival Veloso de França56: “(...) a Medicina é

tão antiga quanto à dor e seu humanismo tão velho quanto à piedade humana”.

Os primeiro estudos eram direcionados à cura das doenças

e não propriamente à análise das patologias. No intuito de amenizar a dor,

curandeiros receitavam determinadas ervas, era o chamado empirismo57.

Desde os primórdios, caso não ocorresse à cura, a culpa

recaia sobre o feiticeiro (médicos), acompanhada da acusação de imperícia ou de

incapacidade. Muitas vezes, porém o que se considerava culpa dos médicos era

apenas o resultado da insuficiência dos conhecimentos da arte de curar. Quanto

mais a medicina se transformava em ciência, maior foi se tornando o rigor

científico na avaliação dos erros profissionais58.

Miguel Kfouri Neto explana acerca dos Primórdios da

Responsabilidade Civil do Médico:59:

O primeiro documento histórico que trata do erro médico é o

Código de Hammurabi (1790 – 1770 a.C), que impunha ao

55 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.47. 56 FRANÇA, Genival Veloso de, Direito Médico, p.28. 57 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.47. 58 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.47. 59 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.48.

Page 40: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

27

cirurgião a máxima atenção e perícia no exercício da profissão;

em caso contrario, desencadeava-se severas penas que iam até a

amputação da mão do medico imperito (ou desafortunado). Tais

sanções eram aplicadas quando ocorria morte ou lesão ao

paciente, por imperícia ou má pratica, sendo previsto o

ressarcimento do dano quando fosse mal curado um escravo ou

animal.

Hildegard Taggesell Giostri60 demonstra em seu registro

que:

O Código de Hammurabi previa penas rigorosas ao médico que

de alguma maneira contribuísse para a morte de um paciente ou o

deixasse cego ainda que se esse paciente fosse um awilum61,

seria-lhe cortada a mão, porém, se o morto fosse um escravo,

deveria substituí-lo por outro.

Rígida e inflexível, a legislação de Hammurabi62 recepciona

primeiramente uma noção de vingança delimitada pelo Estado, para só depois

apresentar idéias pertinentes às modernas indenizações, como hoje são

conhecidas por toda nossa sociedade. Não havia, no momento de efetivar a

responsabilidade, uma distinção formal entre ilícito civil e criminal, na forma em

que os regramentos atuais procuram classificar. 63

Percebe-se assim, que não havia ainda o conceito de culpa,

num sentimento jurídico moderno, enquanto vigorava a responsabilidade objetiva

coincidente com a noção atual, qual seja, se o paciente morreu em seguida à

intervenção cirúrgica, o médico o matou e, portanto deverá ser punido64.

60 GIOSTRI, Hildegard Taggesell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.26. 61 Awilum: é o termo usado para designar o homem livre, com todos os direitos de cidadão. 62 Hammurabi: nascido supostamente por volta de 1810 a.C. e falecido em 1750 a.C., foi o sexto rei da primeira dinastia babilônica. Conseguiu, durante o seu reinado, conquistar a Suméria e Acádia, tornando-se o primeiro rei do Império babilônico. Tornou-se famoso por ter mandado compilar o mais antigo código de leis escritas, conhecido como Código de Hamurabi no qual consolidou uma legislação pré-existente, transcrevendo-a numa estela de diorito em três alfabetos distintos.

63 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.48 64 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.48

Page 41: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

28

A medicina em Roma era praticada por sacerdotes que

utilizavam à prática curativa. Nessa época existiam muitas superstições o que

fazia com que o povo temesse a novidade que representava a ciência médica65.

No Direito Romano, previa-se punição para a imperícia

médica. Durante a Idade Média eram rigorosamente punidos os médicos que, por

inabilidade, ocasionavam a morte do paciente. A princípio era utilizada a vingança

privada, mais tarde com o advento da Lei Aquília (25 a.C), iniciou-se a

generalização da responsabilidade civil. O ato ilícito, implicava na obrigação de

indenizar a parte lesada e a condenação a uma pena pecuniária. 66

Mas é com a Lex Aquilia de dammo, do século III a.C, que

se formulou um conceito de culpa, bem como fixaram-se algumas espécie de

delitos que os médicos poderiam cometer, como erros derivados da imperícia e

das experiências perigosas67.

Como conseqüência, estabelece-se a obrigação de reparar o

dano, limitando-o ao prejuízo econômico, sem considerar o chamado dano

moral68.

É na Lex Aquilia que se encontram os primeiros rudimentos

de responsabilidade médica, prevendo a pena de morte ou deportação do médico

culpado de falta profissional. Já naquela época havia uma grande quantidade de

reclamações de impunidade médica69.

O modo de exercer a profissão em Roma, não se

distanciava muito do que é hoje, os médicos recebiam os clientes no seus

consultório visitavam, davam conselhos, prescreviam medicamentos, praticavam

intervenções cirúrgicas com auxilio de assistentes70.

65 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.50. 66 GIOSTRI, Hildegard Taggesell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.26. 67 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.49. 68 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.49. 69 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.49. 70 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.49

Page 42: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

29

No Egito, os médicos, possuíam elevada posição social,

desde que respeitassem as regras, mesmo que o paciente viesse a morrer, não

eram punidos. Seguindo à risca o livro de regras, livravam-se de toda e qualquer

interpelação judicial. Caso contrário eram punidos com a morte, qualquer que

fosse o desfecho da doença. Para eles problema de saúde era considerado não

um fato privado do cidadão, mais objeto de interesse publico e social, ainda que

de forma limitada71.

Portanto, seriam responsabilizados os médicos que não

tivessem seguindo o ordenamento da época.

Entretanto, o primeiro verdadeiro estudo no campo da

medicina surgiu na Grécia antiga. Trata-se do Corpus Hippocraticum, de

construção filosófica aristotélica que contem noções de uma Medicina não apenas

empírica, mas permeada de elementos racionais e científicos72.

Assim, vai-se lentamente firmando o principio de que a culpa

do medico não se presume somente pelo fato de não ter ele obtido êxito no

tratamento, e sim deve ser analisada com base na conduta exercida pelo

profissional.

O progresso da ciência aliado ao desenvolvimento das

especulações filosóficas, fez com que os médicos não se limitassem a aprofundar

seus estudos no campo da anatomia e dos fenômenos patológicos, embasando

de forma mais adequada a racional a atividade de diagnosticar a cura. 73

Na Grécia, onde encontramos os primeiro estudos

rudimentares no campo da medicina, no Século V a.C (Corpus Hippocraticum),

tínhamos a responsabilidade médica com fundamentos encontrados na regra

egípcias74.

71 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.51. 72 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.51. 73 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.51. 74 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.51.

Page 43: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

30

Já no começo do Século XIX, quase desapareceu a

responsabilidade jurídica, com a decisão da Academia de Medicina de Paris, em

1829, que proclamou a exclusiva responsabilidade moral dos profissionais da arte

de curar75.

Atualmente é plena a reparabilidade do dano médico, entre

os povos civilizados, não sendo diferente no ordenamento jurídico pátrio, onde a

responsabilidade do médico é baseada na sua culpa latu sensu (inclui a culpa em

sentido estreito – negligência, imprudência e imperícia – e o dolo), conhecida

como teoria subjetiva da responsabilidade civil, uma vez que, como bem adverte

Miguel Kfori Neto76:

Dar cobertura a todo risco de doença ou morte, em atividade

médica, corresponderia a obrigar o médico a dar a saúde ao

doente, a prolongar a vida, ultrapassando as potencialidades do

médico enquanto homem, para transformá-lo num Deus.

Na idade Moderna (séc. XV até a Revolução Francesa, em

1.789)< foram poucos os progressos ocorridos, em matéria de responsabilização

pelo dano causado a terceiro. Quer dizer, prevaleceram ainda as concepções do

Direito Romano, baseadas na dicotomia consistente na responsabilidade

contratual, em virtude de inadimplemento, ou no dano causado a outrem, pela

pratica de um ilícito77.

Porem, na Idade Contemporânea (a partir da Revolução

Francesa), o advento do Código Civil Francês (1.804), denominado Código de

Napoleão, serviu de marco histórico, acerca do principio da responsabilidade civil

fundada na culpa influenciando a legislação dos paises civilizados, de maneira

geral.

Este pequeno histórico alem da evolução pela qual

passaram os conceitos morais da Medicina, nos dá conta do por que dessa

75 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.52. 76 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.52. 77 GIOSTRI, Hildegard Taggesell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada. P.28

Page 44: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

31

profissão ter sido e ainda hoje permanece sendo considerada um profissão

“Magnânima”78.

2.2 RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE

A compreensão da relação existente entre o médico e o seu

paciente é necessária para a conclusão deste trabalho, mormente pelo fato de

que embora em muitos casos, o contrato tácito é de cura ou melhoria na condição

de saúde do cliente médico e, nem sempre, a vista das circunstâncias (gravidade

e estado geral) isso é possível.

Diante deste fato, é que o estudo envereda por esta seara

tão delicada que é a relação contratual entre eles existente.

2.2.1 Noções Gerais

A respeito da natureza contratual da relação médico –

paciente, diz Fabrício Zamprogna Matielo79 em sua obra Responsabilidade civil do

médico:

Durante longo período houve intensa discussão em torno da

natureza jurídica da relação médico/paciente. Isso ocorreu porque

o legislador inseriu o erro médico entre os atos que ensejariam

indenização tendo em vista a sua ilicitude, e não como derivação

da simples inobservância ou descumprimento de obrigação

previamente assumida.

Porém tal entendimento, não segue a linha de René

Savatier80 que diz:81

Entre o médico e o paciente estabelece-se um contrato. Do

conteúdo desse contrato, depende a responsabilidade de um

frente ao outro; se apresenta, portanto como uma 78 Esta percepção decorre em muito do pressuposto: salvar vidas ou lidar com a vida humana, muito comum de ser atribuído aos profissionais médicos no sentido místico da profissão.

79 MATIELO, Fabrício Zamprogna. Responsabilidade civil do médico. 2 ed. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2001 p.44

80 SAVATIER, René, p 375-376. 81 SAVATIER, René, p 375-376.

Page 45: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

32

responsabilidade contratual. Após muito tempo decidindo o

contrario, a Corte de cassação reconheceu esse principio. E os

tribunais e cortes de apelação são também unânimes em

confirmá-lo82.

Como também afirma Miguel Kfouri Neto83: "Apesar de o

Código Civil Brasileiro colocar a responsabilidade médica entre os atos ilícitos,

não mais acende controvérsias caracterizar-se a responsabilidade médica como

ex contractu".

Já em 1991, dizia o mesmo Reynaldo Andrade da Silveira84:

Primeiramente, impõe-se situar a responsabilidade civil do

médico, como do tipo de responsabilidade contratual. Muito já se

discutiu na doutrina, com reflexos na jurisprudência dos tribunais,

sobre a responsabilidade do profissional da medicina seria

contratual ou extracontratual. Hoje já não mais paira duvidas a

respeito dessa responsabilidade.

Resta saber que tipo de contrato. É Miguel kfouri Neto85

quem afirma não haver doutrinariamente consenso quanto ao tipo de contrato que

se estabelece entre medico e paciente, já que as mais destacadas tendências

preconizam ser similar esse contrato a um mandato, contrato de empreitada, de

locação de serviços, contrato inominado ou um contrato multiforme.

Encontram-se nesse contrato, características como: ser

intuito personae, bilateral, oneroso ou gratuito, comutativo, aleatório e de caráter

civil. Evidencia-se como um contrato principal, tendo na sua constituição contratos

acessórios.

82Entre le médecin et le malade, intervient un contrat. Du contenu de ce contrat, dépend la responsabilité de l'un envers l'autre; il s'agit donc d'une responsabilité contractuelle. Après avoir paru longtemps décider le contraire, la Cour de cassation a reconnu ce principe. Et les tribunaux et cours d'appel sont maintenant unanimes à l'affirmer.

83 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.71. 84 SILVEIRA, Reynaldo Andrade da. Responsabilidade Civil do Médico. RT, São Paulo. dez.1991, p.60.

85 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.71.

Page 46: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

33

A reflexão de Fabrício Zamprogna Matielo86 traz significativa

contribuição ao entendimento dessa relação contratual:

Essa espécie de contratação não encontra espaço particular na

legislação nacional ou como previsão consagrada pela autonomia,

sendo, então figura atípica, inominada, mas nem por isso com

menor tutela jurídica. Para vigorar não necessita de forma

especial, nem de definição exata quanto ao objeto em suas

minúcias, tampouco preço e condições de pagamento. A forma,

como visto, é absolutamente livre, sendo suficiente que se prove a

existência do liame das partes entre si, o que gerará os direitos e

as obrigações pertinentes. Por objeto do contrato não se deve

entender uma cirurgia, ou a ministração deste ou daquele

medicamento, mas a atividade médica globalmente considerada,

isto é, a aplicação zelosa de todos os meios que se fizerem

necessários e estiverem razoavelmente disponíveis.

Para melhor entendimento, Hildegard Taggeselli Giostri87 em

seu livro “Erro Médico À Luz da Jurisprudência Comentada” reporta à

classificação das obrigações proposta nos anos vinte, pelo jurista francês René

Demongue que, considerando o objeto e o conteúdo dessas obrigações,

classificou-se em duas categorias: Obrigação de meios e obrigação de resultado.

Na primeira, o contratante se obriga a utilizar os meios

adequados para alcançar um resultado – o comportamento do profissional,

tecnicamente falando, o agir propriamente dito, é que é englobado na relação

jurídica – cumprindo com a obrigação àquele que se obrigou se, na relação

profissional que se processou, comportou-se de maneira adequada, compatível

com o que foi contratado. 88

Na segunda, o compromisso é de realizar um determinado

ato médico para obter um resultado preciso. Nessa relação, dentro da relação

86 MATIELO, Fabrício Zamprogna. Responsabilidade civil do médico, p.49. 87 GIOSTRI, Hildegard Taggesell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.79-81. 88 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.72.

Page 47: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

34

jurídica, se encontra o resultado, sendo esse devido pelo obrigado ao que o

contratou, podendo esse resultado ser uma coisa ou não. 89

O medico no referido contrato, assume uma obrigação de

meio e não obrigação de resultado, ou seja, o médico não se obriga a curar, mas

atuar em conformidade com as regras e os métodos da profissão. Deve, por

conseguinte, envidar todos os esforços para alcançar a cura, mesmo que não a

consiga. Uma prova de erro diagnostica não pressupõe culpa no agir do médico

ao atender o paciente. É a sua própria atuação o objeto do contrato, como bem

descreve Marcos Fridolin Sommer Santos90:

A não obtenção do diagnóstico correto, apenas demonstra que o

resultado esperado não foi alcançado. Mas se o profissional. Na

busca do diagnostico utilizou-se corretamente de todos os meios

que o estado da técnica e as condições de trabalho lhe

proporcionam, não há que se falar em culpa profissional. O objeto

da obrigação, que é a prestação de serviços médicos, não se

confunde com a sua finalidade. O fim é a obtenção de um

resultado correto. A não obtenção do resultado esperado não se

confunde com a violação da obrigação

Já na obrigação de resultado, o profissional médico, fica

obrigado a alcançar o objetivo certo – fim especifico – a que se propôs e, ai, o que

importa é o resultado de sua atuação, pois não o alcançando não terá adimplido a

sua obrigação.

Com a afirmação que, em geral, a obrigação contratual do

médico não é de resultado comunga José de Aguiar Dias91:

O que se torna preciso observar é que o objeto do contrato

médico não é a cura, obrigação de resultado, mas a prestação de

cuidados conscienciosos, atentos, e, salvo de circunstâncias

excepcionais, de acordo com as aquisições da ciência, na formula

da Corte Suprema de França.

89 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.72. 90 SANTOS, Marco Fridolin Sommer. A AIDS sob a perspectiva da responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 1999, p.83.

91 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade civil, p.255.

Page 48: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

35

Em geral, nas especialidades que tenham por finalidade a

cura direta do paciente, como, além de outras, em Medicina Intensiva,

Gastroenterologia, Geriatria, Cirurgia Geral, Cardiologia, o especialista

compromete-se com uma obrigação de meios. Por conseguinte, sua

responsabilidade restringe-se à execução do ato médico, obrando diligentemente,

sempre dentro do estado atual de desenvolvimento da Ciência Médica92.

Por outro lado, há uma série de especialidades cujo objetivo

definido é serem usadas para auxiliarem a alcançar a cura direta do enfermo. No

momento, há juristas com argumentos para se considerar que os médicos

especializados nesta áreas, como, exemplificando, Bioquímica, Análises Clínicas

e Radiologia, se comprometem com uma obrigação de resultado. Por si próprio o

exame por eles realizados não leva à cura93.

Cabe mencionar no que se refere à atividade do médico

cirurgião plástico, é predominante, na doutrina e jurisprudência, o entendimento

de que esse ao executar cirurgias plásticas estéticas - embelezadoras, está

assumindo uma obrigação de resultado. Como ilustra a ementa abaixo

transcrita94:

RESPONSABILIDADE CIVIL. MÉDICO. RESPONSABILIDADE

CONTRATUAL. CIRURGIA PLÁSTICA. ERRO MÉDICO.

OBRIGAÇÃO DE RESULTADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS

MATERIAL E MORAL. COBRANÇA DO SALDO DOS

HONORÁRIOS. PRESCRIÇÃO. PROCEDÊNCIA, EM PARTE, DA

AÇÃO E IMPROCEDÊNCIA DA RECONVENÇÃO. A

responsabilidade civil do médico, como sabido, é contratual,

sendo a obrigação , em princípio de meio e não de resultado.

Todavia, em se tratando de cirurgia plástica, a obrigação é de

resultado, assumindo o cirurgião a obrigação de indenizar pelo

não cumprimento da mesma obrigação. Demonstrado o

inadimplemento, inverte-se o ônus da prova, cabendo ao médico a

obrigação de demonstrar que não houve culpa ou que ocorreu

caso fortuito ou força maior. Indenização pelos danos de ordem

92 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.75. 93 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.75. 94 TJRS – Processo n° 597183383 – 3ª Câmara Cível – Rel. Tael João Selistre – 05/03/98.

Page 49: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

36

material e moral. Procedência, em parte, da ação, por ter sido

excluído o pedido de dote. Prescreve em um ano a ação para a

cobrança de honorários médicos, contado o prazo a partir da data

do último serviço prestado. Tendo isso ocorrido em maio de 1993

e a reconvenção protocolada em outubro de 1994, caracterizada

está a prescrição. Sentença mantida. Apelação não provida".

(TJRS – Processo n°597183383 – 3ª Câmara Cível – Rel. Tael

João Selistre – 05/03/98).

Indiscutivelmente, na cirurgia plástica estética (e não na

cirurgia plástica reparadora), verifica-se uma aceitação generalizada de, pela não-

efetivação do resultado, presumir-se a culpa do médico. É diferente da cirurgia

geral, na qual, é pacífico o entendimento de que a obrigação seja de meios.

Predomina, também, na doutrina e na jurisprudência95, o

entendimento de que em caso de execução defeituosa numa cirurgia estética

(frustração do resultado), isso corresponderá juridicamente a uma inexecução

total da obrigação de fazer, por parte do cirurgião plástico.

É considerado, o erro médico, um inadimplemento, bem

definido, do contrato. Contratualmente falando, trata-se de uma conduta bem

caracterizada de falha na prestação de serviços médicos, enquadrando-se na

abrangência do campo da responsabilidade contratual quando acompanhada de

culpa, gerando uma obrigação de indenizar o lesado (aquele paciente que teve o

seu direito violado).

Relevantes para o seu regime jurídico são ainda as

seguintes qualificações:

ü é um contrato civil (nunca é um acto de comércio);

ü é um contrato celebrado intuitu personae;

ü é um contrato de consumo e portanto merecedor da aplicação

das adequadas regras de proteção dos consumidores".

Fica bem nítido o enquadramento no âmbito da

responsabilidade contratual. O erro médico caracteriza-se, pois, via de regra,

95 Doutrinadores: Tereza Ancona Lopez Magalhães, Miguel Kfouri Neto, Fabrício Z.Matielo.

Page 50: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

37

como uma quebra do contrato de serviço. Para melhor entendimento, no próximo

subtítulo analisaremos o contrato médico.

2.2.2 Contrato Médico

A natureza jurídica da relação médico - paciente é objeto de

análise da maioria dos doutrinadores que dissertam sobre o instituto jurídico da

responsabilidade civil e, em especial dos que detém da responsabilidade médica.

O embate jurídico gira em torno de a caracterização ser

contratual ou extracontratual. Grande parcela dos doutrinadores firma

posicionamento de que, em todas as ocasiões, o vinculo médico – paciente é

negocial, repelindo a idéia de que possa tratar-se de uma responsabilidade civil

em sentido estrito (Extracontratual).

Alguns juristas, após se defrontarem com o tema, sustentam

ser o debate meramente acadêmico, vez que, independente de ser contratual ou

extracontratual, o dispositivo aplicável à especial sempre será o artigo 951 do

Código Civil Brasileiro96:

Art.951. O disposto nos arts. 948,949 e 950 aplica-se ainda no

caso de indenização devida por aquele que, no exercício de

atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia,

causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

Esta regra vincula a condenação do médico à ocorrência de

uma conduta culposa, em qualquer de suas modalidades: negligência,

imprudência ou imperícia, lembrando que a responsabilização do médico também

ocorrerá em caso de ato doloso.

Silvio Rodrigues97 se filia à corrente que entende que esta

relação jurídica não mais merece discussão, por ser nitidamente negocial: “ A

96 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes, p.353.

97 RODRIGUES Silvio, Direito Civil, p.268.

Page 51: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

38

responsabilidade de tais profissionais98 é contratual, e hoje tal concepção parece

estreme de duvida”.

No mesmo entendimento Carlos Roberto Gonçalves citado

por Sílvio Rodrigues afirma que99:

Não se pode negar a formação de um autêntico contrato entre o

cliente e o medico, quando este o atende. Embora muito já se

tenha discutido a esse respeito, hoje não pairam mais dúvidas a

respeito da natureza contratual da responsabilidade médica.

Wanderby Lacerda Panasco100 um dos primeiros juristas a

escrever obra unicamente destinada às repercussões jurídicas da atividade

medica, amparado na lição de Orlando Gomes, entende, assim como os mestres

anteriores, ser contratual, pois:

(...) o médico que atende, em seu consultório particular, um

paciente ou o faça mesmo através de chamado telefônico,

informando-o dos cuidados a tomar, e prescreve produtos

farmacológicos, permite a elaboração de um vinculo contratual.

Estabelece-se consequentemente, um contrato bilateral entre

medico e enfermo, contrato, na realidade, intuitu personae.

Em outra linha de pensamento Jerônimo Romanelo Neto101

discorda sobre a importância da natureza do contrato:

(...) não há duvidas sobre a natureza jurídica da responsabilidade

médica, pouco importa a natureza do contrato que vincula o

profissional a seu cliente, de qualquer modo, em se tratando de

uma obrigação de meio, ao prejudicado cabe o ônus da prova de

infringência dessas obrigações.

Portanto, não se encontra na literatura jurídica moderna

consultada para a realização deste trabalho, quem sustente ser a relação médico

98 O autor está se referindo aos médicos, cirurgiões e aos farmacêuticos. 99 GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil, p 255 e 256. 100 PANASCO, Wanderby Lacerda, A responsabilidade civil, penal e ética dos médicos, p.48. 101 ROMANELO NETO, Jerônimo. Responsabilidade Civil dos Médicos. 5 ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, p.56.

Page 52: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

39

- paciente somente de origem aquiliana ou extracontratual. Todavia, há os que

afirmam que o vinculo em apreço é contratual apenas em regra, existindo

situações incongruentes com a teoria contratualista; não restando outra opção,

senão admitir-se, nestes casos, a responsabilidade civil médica extracontratual.

Independentemente de se situarem na corrente contratual do

liame médico – paciente, ou de aceitarem a possibilidade de responsabilidade

aquiliana para tais casos, a questão torna-se sem proveito prático, pois ambos os

posicionamentos impõe ao lesado o ônus de comprovar a culpa102.

Para melhor entendimento deves pontuar os direitos e

deveres do Paciente, conforme disposto no próximo subtítulo.

2.2.3 Direitos e Deveres do Paciente

Além do direito de recorrer ao judiciário para pleitear a

reparação de quaisquer danos que lhe tenham sido culposamente infringidos por

obra do médico, o paciente dispões de outras prerrogativas.

Miguel Kfouri Neto apud E. Christian Gauderer diz103:

Dentre outros, destaca-se o referido autor o direito de o paciente

obter todas as informações sobre seu caso, em letra legível, e

cópias de sua documentação médica: prontuários, exames

laboratoriais, raios X, anotações de enfermagem, laudos diversos,

avaliações psicológicas etc. Em caso de recusa do médico ao

fornecimento desses dados, o hábeas data é remédio jurídico

eficaz para compelir o profissional a conceder tais informações.

Ainda Miguel Kfouri Neto completa que: “O paciente, cônjuge

e filhos, tem o direito de gravar ou filmar os atos médicos que sobre ele recaiam”.

E. Christian Gauderer104 acrescenta que:

102 Culpa em sentido lato, compreendendo neste conceito o dolo. 103 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.31. 104 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.31.

Page 53: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

40

Temos o direito de solicitar que os profissionais se reúnam para

discutir nossa doença. O médico seguro de sua competência não

fará objeções. Temos direito a uma morte digna, escolhendo onde

e como morrer, e de recusar tratamentos, internações,

intervenções cirúrgicas.

O paciente tem o dever de remunerar o médico, direta ou

indiretamente105, seguir os conselhos profissionais e realizar rigorosamente as

prescrições. Não fazendo ocorrerá, ocorrerá a resilição do contrato, podendo o

médico abster-se de continuar a lhe prestar assistência106.

Os deveres dos médicos, segundo Miguel Kfouri Neto107,

nascidos dessa relação de natureza contratual que se estabelece entre ele e o

paciente, se situam-se em três momento: antes do inicio do tratamento, durante e

depois do tratamento.

Ainda Miguel Kfouri Neto108 citando Jorge Mosset Iturraspe

diz:

O profissional deve ouvir o paciente, interrogá-lo e averiguar a

etiologia da moléstia: ao paciente incumbe fornecer ao médico

todos os dados que interessem a esse fim, úteis para a formação

do histórico clinico do enfermo. Depois, incumbe-lhe aplicar todos

os seus esforços, utilizando os meios que dispõe, para obter a

cura valendo-se da prudência e dedicação exigíveis.

No caso da cirurgia plástica é fundamental que o cirurgião

médico especializado neste seguimento da medicina, exponha com a maior

amplitude possível ao paciente todos os riscos inerentes a este tipo de cirurgia,

inclusive fazer uma análise profunda de todas as condições físicas e psíquicas do

paciente.

105 Dever de remunerar indiretamente: quando associado a plano de saúde ou beneficiário da Previdência.

106 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.31. 107 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.31. 108 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.31.

Page 54: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

41

Não menos importante é fazer com que o paciente ao aceitar

os riscos faça de forma expressa e com testemunhas. Cabendo ao médico ainda

sopesar109 se o beneficio da cirurgia é insignificante em relação ao risco que o

paciente iria enfrentar. Se a analise for que os riscos a ser enfrentados torna-se

muito grande em relação ao beneficio o mesmo não deve executar a cirurgia,

ainda que o paciente assim queira.

2.3 CULPA MÉDICA

Para que seja caracterizada a culpa basta que a conduta

seja voluntária, não sendo necessária a intenção. Para João de Matos Antunes

Varela110, “(...) culpa é no fundo, a imputação ético-jurídica do fato a uma pessoa,

mas imputação no sentido de transcendente da reprovabilidade ou

censurabilidade”.

Diferente do dolo, na culpa o agente não visa causar o

prejuízo à vítima, mas de sua atitude negligente, imprudente ou imperita, resulta

dano a outrem.

O direito civil brasileiro adotou a culpa na teoria da

responsabilidade médica. A vítima, ao provar a imprudência, negligência e

imperícia do profissional deve ser ressarcida.

Miguel Kfouri Neto111, a respeito da culpa dos profissionais

da saúde (art. 1.545, do C/C1916 atual art. 951 do C/C2002), oportuna a

transcrição de comentários de Clóvis Beviláqua:

A responsabilidade das pessoas indicadas neste artigo, por atos

profissionais, que produzem morte, inabilitação para o trabalho, ou ferimento, funda-se na

culpa; e a disposição tem por fim afastar a escusa, que poderiam pretender invocar, de

ser o dano um acidente no exercício de sua profissão. O direito exige que esses

109 Sopesar: Suspender (qualquer coisa) com as mãos para avaliar-lhe o peso. / Equilibrar pesos com as mãos; contrapesar. / Distribuir parcimoniosamente. / V.pr. Ficar em equilíbrio; equilibrar-se.

110 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. Coimbra: Almedina, 1982, p.485 111 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.78..

Page 55: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

42

profissionais exerçam a sua arte segundo os preceitos que ela estabelece, e com as

cautelas e precauções necessárias ao resguardo da vida e da saúde dos clientes e

fregueses, bens inestimáveis, que lhe confiam, no pressuposto de que os zelem. E esse

deve de possuir a sua arte e aplicá-la, honesta e cuidadosamente, tão imperioso que a lei

repressiva lhe pune as infrações.

Miguel Kfouri Neto112 para caracterizar a culpa médica,

demonstra que os julgadores em geral são muito rigorosos como, por exemplo:

A culpabilidade somente pode ser presumida na hipótese de erro

grosseiro, de imprudência ou imperícia, devidamente

demonstrados. Se os profissionais se utilizaram de sua vasta

experiência e dos meios técnicos indicados, com os habituais

cuidados pré e pós-operatórios, somente uma prova irretorquível

poderá levar à indenização pleiteada. Não tendo sido

demonstrado o nexo causal entre a cirurgia e o evento morte,

correta esteve a sentença dando pelo improvimento da ação.

(RJTJRGS 146/340.)113.

Sendo assim, para que seja caracterizada a negligência

médica, devera haver um ato omissivo, como o abandono do doente, a omissão

de um tratamento e ainda, sempre que o profissional deixar de observar um dever

que a situação do paciente indicar como indispensável para o tratamento.

Haverá imprudência medica sempre que o profissional tomar

atitudes não justificadas, ou seja, atitudes precipitadas, agindo com desprezo às

cautelas necessárias.

Finalmente, tratar-se de imperícia médica, quando houver

incapacidade para o exercício da profissão, seja por falta de habilidade ou por

ausência dos conhecimentos necessários à pratica da função.

Para Hildegard Taggassell. Giostri114,”imperícia é a falta de

habilidade para praticar determinados atos que exigem conhecimento”.

112 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.78-79. 113 RJTJRGS 146/340 114 GIOSTRI, Hildegard Taggasell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.44.

Page 56: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

43

Portanto, caracterizada a culpa, não se deve exigir do

julgador profundas discussões cientificas. Para Miguel Kfouri Neto115 “qualquer

juiz medianamente culto e imparcial poderá responsabilizar o medico”.

A prova pericial, embora revestida de caráter técnico e

cientifico, poderá apresentar defeitos, razão pela qual o juiz poderá decidir pelo

não acatamento do laudo, de acordo com o principio da livre convicção.

Alguns princípios gerais para avaliação da culpa médica são

sugeridos por Teresa Ancona Lopez116:

1. quando se tratar de lesão que teve origem em diagnóstico

errado, só será imputada responsabilidade ao médico que tiver

cometido erro grosseiro;

2. o clinico geral deve ser tratado com maior benevolência que o

especialista;

3. a questão do consentimento do paciente em cirurgia que se

recusou terminantemente ao permitir que fosse amputada sua

perna esmagada em acidente, sobrevindo-lhe a morte em

conseqüência de gangrena gasosa. Os médicos que propuseram

a operação não poderiam ter agido de outro modo, dada a

comprovada lucidez do paciente ao rejeitar a intervenção

cirúrgica;

4. o mesmo assentimento se exige no caso de tratamento que

deixe seqüelas, como na radioterapia. E age com culpa grave o

médico que submete o cliente a tratamento perigoso, sem antes

certificar-se da imperiosidade de seu uso;

5. dever-se-á observar se o médico não praticou cirurgia

desnecessária.

6. não se deve olvidar que o médico pode até mesmo mutilar o

paciente, se um bem superior, como a própria vida do enfermo,

exigir;

115 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.80. 116 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez. Responsabilidade Civil dos Médicos, p.308.

Page 57: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

44

7. outro dado importante é que o médico sempre trabalha com

uma margem de risco, inerente ao seu oficio, circunstância que

deverá ser preliminarmente avaliada e levada em consideração;

8. nas intervenções médicas sem finalidade terapêutica ou

curativa imediata, cirurgia plástica estética propriamente dita, a

responsabilidade por dano devera ser avaliada com muito mais

rigor.

Apesar de cada caso de culpa médica ser singular, esses

princípios gerais são plenamente observáveis. Não é preciso que a culpa do

médico seja grave: basta que seja certa. A gravidade da culpa, agora, repercutirá

na quantificação da indenização.

2.4 RESPONSABILIDADE MÉDICA

2.4.1 Noções Gerais

A medicina é considerada a ciência mais importante para a

sociedade, pois está relacionada diretamente com a vida, saúde e bem estar,

cabendo ao médico em determinadas situações, o poder sobre a vida do

paciente117.

Sendo assim, a este poder corresponde uma

responsabilidade, sujeitando-o a responder sobre seus atos, tanto na esfera cível

como na criminal e ética.

Para Hildegard Taggassell Giostri,118 “a responsabilidade

médica surge da mesma forma que a responsabilidade civil de qualquer

profissional ou de quem quer que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou

imprudência, violar direito ou causar prejuízo a outrem”.

Assim, o medico deverá agir com diligência, seguindo as

regras dispostas no Código de Ética Médica.

117 MATIELO, Fabrício Zamprogna. Responsabilidade civil do médico. p.41. 118 GIOSTRI, Hildegard Taggasell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.38.

Page 58: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

45

Para Jose de Aguar Dias119, “existem algumas obrigações

cabíveis ao médico em qualquer relação com o paciente, quais sejam: conselhos,

esclarecendo sobre a doença; os riscos; cuidados especiais e abstenção de

abuso ou desvio de poder”.

E ainda segundo o entendimento de João Batista Gomes

Moreira120, “o esclarecimento é o melhor meio de defesa para o médico,

informando-o dos riscos do tratamento”.

No caso de cirurgia, principalmente a estética, a informação

deve ser completa e exaustiva, a ponto de não mais existirem duvidas no

paciente. Assim como, em toda intervenção médica, o profissional deve ter o

consentimento do paciente ou de seu responsável, salvo, nos casos de

atendimento de emergência, havendo risco de vida ou de dano físico irreparável.

Como já visto, a responsabilidade civil dos profissionais da

saúde esta disposta no artigo 951 do Código Civil Brasileiro121.

Art.951. O disposto nos arts. 948,949 e 950 aplica-se ainda no

caso de indenização devida por aquele que, no exercício de

atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia,

causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.

O preceito legal prevê, portanto, que para a caracterização

da responsabilidade civil do profissional será necessária a prova da culpa.

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor122, esta

questão veio a se consolidar. O artigo 6º do referido código, dispõe que alem da

verificação da culpa é necessário o ônus da prova em determinados casos, para

que o consumidor defenda seus direitos.

119 DIAS, Jose de Aguiar. Responsabilidade Civil, p.22. 120 MOREIRA, João Batista Gomes, Responsabilidade civil por erro médico. Revista da OAB Goiás, Caderno de Temas Jurídicos. Abril e julho de 2005, p.27.

121 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2007. p.353.

122 Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990.

Page 59: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

46

Possível perceber que os usuários dos serviços médicos,

nos dias que atuais, principiam a ter uma idéia mais clara de seus direitos,

enquanto pacientes. Não há propriamente, uma mudança no comportamento das

pessoas em relação aos médicos, que continuam sendo respeitados, acatados e

vistos como benfeitores pela sociedade. O que vem mudando ao longo do tempo,

e a clara percepção do erro inescusável, da imperícia inadmissível, da negligencia

criminosa que impele as pessoas à busca da reparação.

2.4.2 Obrigação de Meio e de Resultado

A obrigação assumida pelo médico para com seu paciente

poderá ser de meio ou de resultado, ou seja, obrigação de meio é aquela em que

o devedor deverá empregar determinados meios sem ter em vista o resultado,

enquanto obrigação de resultado é aquela na qual o médico se obriga a alcançar

um resultado exato, tendo que suportar as conseqüências caso ocorra o contrário.

Ensina Jose Aguiar Dias123 que:

Muitos admitem que o contato de assistência médica seja uma

locação de serviços. Outros, que a forma correta é considerá-lo

um contrato sui generis, em virtude da especificidade e da

delicadeza mais singular entre o profissional e o seu paciente.

Dentro do conteúdo das obrigações positivas, onde se exige

do devedor um comportamento ativo de dar ou de fazer alguma coisa, são

reconhecidas duas modalidades de obrigações: a de meios e a de resultado.

No entendimento de Miguel Kfouri Neto124;

Há obrigação de meios, segundo Demogue, o formulador da teoria

quando a própria prestação nada mais exige do devedor do que

pura e simplesmente o emprego de determinado meio sem olhar o

resultado. É o caso do medico, que se obriga a envidar seus

melhores esforços e usar de todos os meios indispensáveis à

obtenção da cura do doente, mas sem jamais assegurar o

resultado, ou seja a própria cura.

123 DIAS, José Aguiar. Da responsabilidade civil, p.27.. 124 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.80.

Page 60: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

47

Portanto, na primeira, existe o compromisso da utilização de

todos os recursos disponíveis para se ter um resultado, sem, no entanto, a

obrigação de alcançar esse êxito tão legítimo. Busca-se, é claro, um resultado,

mas em não se cumprindo e inexistindo a culpa do devedor, não há o que cobrar.

Na obrigação de resultado a prestação do serviço tem um

fim definido. Se não houver o resultado esperado, há inadimplência e o devedor

assume o ônus por não satisfazer a obrigação que prometeu.

Assim entendo, que existe na responsabilidade contratual

civil do médico uma obrigação de meios ou de diligências, onde o próprio

emprenho do profissional é o objeto do contrato, sem compromisso de resultado.

Cabe-lhe, todavia, dedicar-se da melhor maneira e usar todos os recursos

necessários disponíveis. Isso também não quer dizer que ele esteja imune à

culpa.

Segundo o entendimento de Fabrício Zamprogna Matielo125 :

Obrigação de meios é a que vincula o profissional à aplicação

diligente de todos os recursos disponíveis para a melhor condução

possível do caso clinico que será alvo dos seus préstimos. O

médico não fica adstrito a um resultado final, mais tem de envidar

todos os esforços e utilizar-se dos aparatos técnicos que

estiverem razoavelmente ao seu alcance.

A existência de obrigação de meios seria a justificativa da

liberdade de atuação do profissional da área médica, haja vista, o fato de que

muitas doenças são ainda incuráveis e todo esforço contra elas despendido nada

mais do que uma tentativa de minimizar sofrimento.

Assim, enquanto a obrigação de meios desaparece ao

serem utilizados os recursos e os mecanismos apropriados para o quadro clínico,

a obrigação de resultado somente promove a desvinculação do dever mediante a

verificação total do objetivo fixado.

Para Teresa Ancona Lopez126: 125 MATIOLO, Fabrício Zamprogna. Responsabilidade civil do médico, p.53.

Page 61: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

48

A questão da presunção da culpa e conseqüente inversão do ônus

probandi não se liga a divisão entre a culpa contratual aquiliana,

mas sim ao fato de a doutrina e a jurisprudência, mais

recentemente, interpretarem as obrigações contratuais como

obrigações de meio e obrigações de resultado, pois neste último

caso haverá inversão do ônus da prova e a vítima da lesão ficar=a

em posição mais cômoda. Ora, obrigação de meios o que se exige

do devedor é pura e simplesmente emprego de determinados

meios sem ter em vista o resultado. É a própria atividade do

devedor que está sendo objeto do contrato. Esse tipo de

obrigação é o que aparece em todos os contratos de prestação de

serviços, como o de advogado, médicos, publicitários, etc. desta

forma, a atividade médica tem de ser desempenhada da melhor

maneira possível com a diligência necessária e normal dessa

profissão para melhor resultado, mesmo que este não seja

conseguido. O médico deve esforçar-se, usar de todos os meios

necessários para alcançar a cura do doente, apesar de nem

sempre alcançá-la.

Portanto, na obrigação de meios a finalidade é a própria

atividade do devedor e na obrigação de resultado, o resultado desta atividade.

Sendo assim, podemos perceber que a obrigação do médico pode ser de meios,

como geralmente é, mas também de resultado, no caso da cirurgia plástica

estética.

A obrigação de resultado, onde se exige o devedor ativo de

dar ou fazer alguma coisa, parece à cobrança contratual dos prestadores de

serviços de coisas materiais, ao não cumprirem a promessa quantitativa ou

qualitativa de uma empreitada.

Mesmo assim, qualquer que seja a forma de obrigação de

meios ou de resultado, diante do dano, o que se vai apurar é a responsabilidade,

levando em conta principalmente o grau da culpa, o nexo de causalidade e a

dimensão do dano, ainda mais diante das ações de indenizações por perdas e

danos.

126 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez. Responsabilidade Civil dos Médicos, p.113.

Page 62: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

49

No ato médico, a discutida questão entre a culpa contratual

e a culpa aquiliana, e, em conseqüência a existência de uma obrigação do meio

ou obrigação de resultado, parece-nos apenas um detalhe. Na pratica, o que vai

prevalecer mesmo é a relação entre a culpa e o dano, pois até mesmo a

exigência do ônus probandi hoje já tem remédio para a inversão da prova,

qualquer que seja a modalidade de contrato.

2.4.3 Responsabilidade Médica e o Código de Defesa do Consumidor

O artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor127 dispõe

sobre a responsabilidade por danos causados aos consumidores por serviço

prestado de forma defeituosa e consagra a responsabilidade objetiva, in verbis:

O fornecedor de serviço responde independentemente da

existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem

como por informações insuficientes e inadequadas sobre a sua

fruição e riscos.

O parágrafo 4º do referido dispositivo, mantém em relação

aos profissionais liberais a verificação da culpa como pressuposto da

responsabilidade.

Comentando tais preceitos, Zelmo Denari128 assinala:

(...) os médicos são contratados com base na confiança que

inspiram aos pacientes. Assim sendo, somente serão

responsabilizados por danos quando ficar demonstrada a

ocorrência da culpa subjetiva, em quaisquer das suas

modalidades, negligência, imprudência ou imperícia.

Para Miguel Kfouri Neto, apud Antonio Herman de

Vasconcelos Beijamin129:

127 Lei 8.078 de 11.09.1990 – Artigo 14 128 DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado por autores do

ante projeto, p.95. 129 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.199.

Page 63: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

50

Em todo seu sistema, prevê uma única exceção ao principio da

responsabilização objetiva para os acidentes de consumo seriam

os serviços prestados por profissionais liberais, dentre eles os

médicos, para os quais se manteve o sistema baseado na culpa.

Necessário salientar que a exceção não atinge as pessoas

jurídicas, se o médico trabalhar par um hospital, responderá ele apenas por culpa,

enquanto a responsabilidade civil do hospital será apurada objetivamente.

Comentando tais preceitos, Miguel Kfouri Neto130 assinala

que:

Em suma, existindo vinculo empregatício entre o médico e a casa

hospitalar, a vítima demandaria a reparação em face do

estabelecimento, apenas provada a efetiva ocorrência do dano –

incumbindo ao hospital provar as excludentes do art. 14, como

único modo de se exonerar do encargo.

E ainda quanto à problemática da caracterização da

responsabilidade objetiva ou subjetiva Miguel Kfouri Neto131, concluiu da seguinte

forma:

O dano médico deve ser apreciado a partir da analise do elemento

subjetivo, da culpa, quer seja o profissional vinculado a

estabelecimento hospitalar ou não. Objetarão os estudiosos das

relações de consumo que a conclusão contraria o sistema do

Código, inteiramente voltado a responsabilidade objetiva. Dirão,

mais, que em havendo culpa do médico, o hospital poderá voltar-

se, por direito de regresso, contra seu empregado. Acrescentarão,

por fim, que ao consumidor/vítima interessa pleitear o

ressarcimento da pessoa jurídica, economicamente mais

poderosa.

Com relação à responsabilidade do médico face ao Código

de Defesa do Consumidor, não há unanimidade na doutrina e jurisprudência, haja

vista a divergência quanto o parágrafo 4º do artigo 14, que isenta a

responsabilidade objetiva dos profissionais liberais, prevalecendo então, a

130 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.199. 131 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.200.

Page 64: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

51

responsabilidade subjetiva, sendo fundamental a comprovação do elemento culpa

por parte do agente.

2.5 AVALIAÇÃO DA RESPONSABILIDADE MÉDICA

Avaliar não é algo que se realize de forma simples,

principalmente quando tratamos de dano e, especialmente quando se trata de

dano estético, que atinge o ser humano de forma bastante contundente.

Isso torna ainda mais difícil determinar o grau de

responsabilidade de um médico quando da ocorrência de algum dano em seu

paciente, aliás, como ensina Teresa Ancora Lopez132:

Deverão ser apreciadas certas circunstâncias para caracterização

da responsabilidade médica. Se houver infração contratual, isto é,

descumprimento de deveres estabelecidos contratualmente,

deverá ser analisado se a obrigação contratada era de meio ou de

resultado.

Caso haja infração a dever extracontratual, ou seja, lesão a

direito subjetivos absolutos, como saúde, integridade física e vida, neste caso

teremos o concurso de duas responsabilidades, a contratual e a extracontratual

também conhecida como aquiliana.

De qualquer forma, deverão ser analisadas as circunstâncias

objetivas do dano, local, espécie e extensão da lesão. A medida do dano será

proporcional à indenização.

E ainda, para caracterização da responsabilidade civil do

médico, deverá ser realizado um exame das circunstâncias subjetivas da vítima e

do ofensor não só da saúde anterior, como da parte psicológica do paciente.

Ressalta Teresa Ancona Lopez Magalhães:133

132 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez. O dano estético, p.87. 133 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez. O dano estético, p.87.

Page 65: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

52

Devemos lembrar que o médico sempre trabalha com uma zona

de risco a seu favor, pois cada pessoa é uma e as reações dos

indivíduos ao mesmo tratamento podem varias, sendo impossível

prever o resultado.

E ainda, na avaliação da culpa médica, deverão ser levados

em conta alguns princípios e regra gerais, como por exemplo: 1) Dever de

informação, regra básica de qualquer tratamento ou intervenção, presente

também durante todo tempo de tratamento. 2) Consentimento do paciente, ou de

sua família, seja expresso ou tácito, principalmente quando se coloca a risco de

vida, mutilação ou seqüelas (informação-consentimento). 3) Tipos de pratica

médica. O erro de diagnóstico somente leva a condenação quando for por total e

grave imperícia, imprudência e negligência.

Diante de todo exposto, mostraremos a seguir, em outro

subtítulo, algumas causas excludentes da responsabilidade civil do médico.

2.6 CAUSAS EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO

As causas que excluem a responsabilidade civil são

também, aquelas que excluem a ilicitude penal, ou seja, são fatos atípicos ou de

exclusão da antijuridicidade, conforme preconiza o Código Penal134:

Art. 25: entende-se legítima defesa quem, usando

moderadamente dos meios necessários repele injusta agressão,

atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.

Legitima defesa, age em legitima defesa quem, com o uso

moderado dos meios, repele injusta agressão, atual e iminente, a direito seu ou a

outrem. Vale lembrar que haverá responsabilidade se terceiro for atingido, embora

cabível ação regressiva contra o agressor.

Art. 24: Considera-se em estado de necessidade quem pratica o

fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua

vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio,

cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

134 DELMANTO, Celso et al. Código Penal Comentado. 5 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p 45.

Page 66: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

53

§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever

legal de enfrentar o perigo.

§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito

ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.

Estado de necessidade consiste na ofensa de direito alheio

para remover perigo iminente, quando as circunstâncias o tornam absolutamente

indispensável e quando não exceder o limite necessário para a remoção do

perigo. Como por exemplo, tem-se o médico que sacrifica a vida de um feto para

salvar a vida da mãe. O artigo 23 do Código Penal explicita:

Art. 23 - Não há crime quando o Agente pratica o fato:

I - em estado de necessidade;

II - em legítima defesa;

III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular

de direito.

Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste

artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.

Exercício regular de direito e cumprimento de dever legal –

O dever legal é decorrente de qualquer tipo de norma legal, seja ela, penal, civil

ou administrativa. Para restar caracterizada deve ter sido conduzida em estrita

obediência aos limites do dever, caso contrario pode configurar abuso de direito.

Fato exclusivo de terceiro – Figura ao lado do caso fortuito

ou força maior135 como expressão de “causa estranha”. Para a doutrina em

135 Caso fortuito ou força maior – Caso fortuito é o fato imprevisível provindo da natureza sem qualquer intervenção humana. Na força maio o agente não tinha possibilidade de evitar o resultado danoso ainda que previsível. Na pratica são figuras que se equivalem. Consistem no fato necessário, cujos efeitos eram impossíveis de evitar ou impedir. Não basta que tenha sido um mero imprevisto para o médico, devem ser excepcionais para ele e pra as outra pessoas que se colocadas em seu lugar também não poderiam prevê-lo ou evita-lo.

Page 67: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

54

geral, somente exonera a responsabilidade quando afasta totalmente o nexo de

causalidade136.

Fato da vítima exclusivo ou concorrente – A culpa da vítima,

quando exclusiva, elide a causalidade entre o dano e o fato. A culpa concorrente

gera uma responsabilidade bipartida, fazendo com que cada um responda

proporcionalmente a sua parcela de culpa, conforme disciplina o art. 21 do Código

Penal.

Art. 21 : O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a

ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá

diminuí-la de um sexto a um terço.

Parágrafo único - Considera-se evitável o erro se o agente atua ou

se omite sem a consciência da ilicitude do fato, quando lhe era

possível, nas circunstâncias, ter ou atingir essa consciência.

Erro de ignorância – O erro configura-se como a falsa

representação da verdade e quando inevitável isenta de pena. A ignorância

pressupõe total desconhecimento a respeito de determinada matéria.

Dessa forma, percebe-se que as causas que excluem a

responsabilidade civil são resumidas e o ônus probatório caberá ao médico.

2.7 SEGUROS MÉDICOS

O seguro nada mais é que a transferência da

responsabilidade civil, de uma pessoa física ou pessoa ou jurídica, para uma

instituição, a qual dispõe maiores recursos econômicos para prestar o pronto

atendimento das indenizações pleiteadas. Desta forma, o seguro passa ao publico

a idéia de segurança. Lembra-se que este tipo de seguro é denominado seguro

mal práxis.

136 Ausência de nexo de causalidade - Não existe nexo causal entre o dano e o fato não há o que se falar em responsabilidade Civil.

Page 68: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

55

Assim, melhor se faz em adotar os órgãos de defesa do

consumidor, para mostrar as condições do médico no mercado de trabalho, suas

dificuldades e as situações em que são expostos os médicos.

Jerônimo Romanelo Neto137 entende ser:

Necessária a criação de um seguro para médicos e hospitais que

venha, efetivamente, cobrir os danos e prejuízos causados a

pacientes por erros decorrentes de tratamentos, intervenções

cirúrgicas, diagnósticos, aparelhos médicos, etc. É a forma mais

pratica de pode o médico prosseguir o seu trabalho com maior

tranqüilidade; e poder o paciente, em caso de sofrer dano ou

prejuízo, ser real e efetivamente ressarcido. Entretanto,

ressalvamos que a lei para esse tipo de seguro deverá conter

disposições mais especificas e mais rígidas do que as destinadas

aos seguros existentes atualmente em nosso pais, pois, do

contrario, poderiam as companhias seguradoras eximir-se de sua

obrigação de pagar o sinistro ou questioná-las.

Diz ainda, Miguel Kfouri Neto138 que:

Tais seguros excluem os danos estéticos, atos e intervenções

proibidos por lei, favorecimento ou convivência com o terceiro

reclamante, quebra de sigilo profissional, tratamento radiológico e

similares (salvo convenção em contrário), difamação ou calúnia e

uso de técnicas experimentais com medicamentos ainda não

aprovados pelo órgão competentes.

A classe médica diverge muito em relação ao contrato de

seguro médico, pois uma parte da classe considera o prévio reconhecimento da

incapacidade e incompetência do profissional, enquanto outros membros da

categoria consideram tão somente um meio de prevenção, achando que se deva

fazer um seguro de responsabilidade civil por dano a terceiros, para que não

venham a sofre um aniquilamento no seu patrimônio quando eventualmente

ocorrer dano a um paciente. Com esse seguro ficaria garantido o exercício de sua

atividade, bem como a indenização ao lesado.

137 ROMANELO NETO, Jerônimo. Responsabilidade civil dos médicos, p.178-179. 138 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.28.

Page 69: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

56

CAPÍTULO 3

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS CIRURGIÕES PLASTICOS

3.1 CIRURGIA PURAMENTE ESTÉTICA X CIRURGIA ESTÉTICA

REPARADORA

De acordo com estudos históricos a cirurgia plástica surgiu

como especialidade a partir de 1914, diante da necessidade de readaptar os

soldados que retornavam da guerra. Já no fim do século XIX, os estudiosos da

medicina, a partir das primeiras próteses nasais, começaram a descobrir a

cirurgia plástica dando origem ao que hoje se chama rinoplastia139.

Inicialmente convêm demonstrar que a cirurgia estética se

subdivide em duas modalidades: a) cirurgia de caráter estritamente estético

(cirurgia puramente estética) e b) cirurgia estética lato sensu (cirurgia estética

reparadora).

Segundo Miguel Kfouri Neto140, cirurgia de caráter

estritamente estético é:

(...) na qual o paciente visa a tornar seu nariz, por exemplo – que

de modo algum destoa da harmonia de suas feições - , ainda mais

formoso, considerando, por vezes, um modelo ideal de beleza

estética. Neste caso, onde se expõe o paciente a riscos de certa

gravidade, o médico se obriga a um resultado determinado e se

submete à presunção de culpa correspondente e ao ônus da

prova para eximir-se da responsabilidade pelo dano

eventualmente decorrente da intervenção (a jurisprudência

alienígena registra caso de cirurgião que, no propósito de corrigir

a linha do nariz, terminou por amputar parte de órgão).

139 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.56. 140 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.182.

Page 70: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

57

Portanto, é notório que a cirurgia plástica de caráter

estritamente estético, como bem diz o titulo, seja única e exclusivamente voltada

ao modelo ideal de beleza estética. Cirurgia esta que faz gerar uma obrigação de

resultado por parte do medico, aonde o mesmo, deverá apreciar com imenso rigor

os detalhes, pois, quando uma pessoa procura um cirurgião plástico no intuito de

melhorar seu aspecto externo, deseja exatamente o resultado almejado e para

que este seja alcançado faz-se necessária a aplicação de maior diligência e

conhecimento cientifico do profissional.

Para Rui Stoco141:

(...) esse maior rigor vem sendo enfatizado com relação a cirurgia

meramente estética, pois a chamada plástica reparadora é

considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção

cirúrgica, pois tem a mesma finalidade terapêutica que as demais.

Na obrigação de resultado o dever, ao contrario, obriga-se a

chegar a determinado fim sem o qual não terá cumprido sua

obrigação. Ou consegue o resultado avençado ou deverá arcar

com as conseqüências.

Como bem definido por Rui Stoco, na cirurgia de caráter

estritamente estético o médico se obriga chegar a um resultado exitoso, caso

contrario, terá cumprido sua obrigação imperfeitamente. Logicamente o contrato

será inexitoso, restando para o mesmo, conseqüências de descumprimento de

contrato.

Teresa Ancona Lopez Magalhães 142 enfatiza que:

Ramo da medicina bem desenvolvido hoje e o que diz respeito as

operações que visam melhorar a aparência externa de alguém.

Isto é, que objetivam o embelezamento da pessoa. São operações

plásticas estéticas ou cosmetológicas. Tais intervenções foram

muito combatidas no passado e, atualmente, apesar de aceitas e

até em moda, a responsabilidade pelos danos produzidos por elas

é vista com muito maior rigor que as operações necessárias a

saúde e vida do doente.

141 STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua interpretação jurisprudencial, p.199. 142 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez. O dano estético, p.90-91.

Page 71: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

58

Todavia, somente a plástica estética propriamente dita

recebe esse tratamento, porque a plástica reparadora é considera tão necessária

quanto qualquer outra operação, tendo da mesma forma finalidades terapêuticas

como nos casos, por exemplo, de queimaduras deformantes.

Com relação a cirurgia estética lato sensu (cirurgia estética

reparadora), diz Miguel Kfouri143 Neto:

(...) que não encerra risco relevante ao paciente e se destina a

corrigir pequena imperfeição da natureza, que ocasiona mal-estar

psíquico à pessoa. Tem-se, aqui, o caso da paciente, jovem, de

belo rosto, no qual sobressai nariz aquiliano e de linhas

irregulares, em absoluta desarmonia estética. Ao corrigir a

distorção, deverá o medico atentar ao dever de prudência

normalmente exigido – e não está adstrito a uma obrigação de

resultado. O resultado estético é subjetivamente apreciado pelo

paciente.

Para tanto, a cirurgia estética lato sensu, tem como objetivo

a correção de pequenas imperfeições da natureza, que ocasiona mal-estar

psíquico ao paciente. Exemplo o aluno que tem orelhas grandes, que é torturado

psiquicamente pelos colegas de turma, sendo apelidado de orelhudo, dumbo144,

telefone orelhão etc. Paciente este que se submete a uma cirurgia reparadora

procurando amenizar seu sofrimento.

No mesmo sentindo a distinção formulada por Hildegard

Taggsell Giostri145: “As cirurgias plásticas do tipo reparadora se destinam a

corrigir defeitos congênitos ou adquiridos”.

Nos casos da cirurgia estética reparadora prevalece a regra

geral da obrigação de meio, e não de resultado. Quando a cirurgia meramente

estética há uma forte corrente de doutrinadores que entende que a obrigação

143 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.183. 144 Dumbo: Personagem da Walt Disney que tinha orelhas grandes e voava com as mesmas. 145 GIOSTRI, Hildegard Taggasell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada, p.42.

Page 72: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

59

assumida pelo cirurgião é de resultado, ocorrendo culpa presumida quando o

resultado esperado não é atingido146.

No caso de cirurgia reparadora, se o resultado não foi obtido

e não foi agravado o estado do paciente, ao médico caberá restituir-lhe aquilo que

pagou pelo serviço.

Porém, no caso de cirurgia puramente estética, se o

procedimento não alcançar o resultado pretendido e agravar a situação do

paciente, a jurisprudência pátria tem entendido que caberá ao médico restituir o

que recebeu ou deixar de receber o valor contratado, e ainda, submeter o

paciente a nova cirurgia.

Caso o defeito não seja corrigível, o medico responsável

devera devolver tudo o que recebeu e, além disso, deverá indenizar o paciente

pelo dano estético criado, na proporção do dano e sues efeitos.

Neste sentido ementa do Egrégio Tribunal de Justiça de São

Paulo:

Indenização – Responsabilidade Civil – Ato ilícito – Dano estético

– Deformidade causada por erro medico em cirurgia plástica –

Condenação do réu no custeio de outra cirurgia reparadora –

escolha do medico e do hospital a critério da autora – verba fixada

na fase de liquidação, que será por artigos – Sentença

confirmada. (TJSP – 6ªC – Apelação – Relator Melo Junior,

julgamento em 19/12/91 TJSP 137/182).

No caso das cirurgias plásticas mal conduzidas e mal

executadas, os tribunais tem entendido que naquela que resultem deformação

física no paciente, causando-lhe depressão psíquica, terá direito inclusive aos

lucros cessantes.

Tratando em deformidade deve-se verificar afinco o que é

dano estético e como é configurado. No subtítulo a seguir estará demonstrado

todo seu conceito e características.

146 STJ – 3ª Turma – Resp 10.536 RJ - Rel. Min. Dias Trindade- AC 21/06/91 – RSTJ33/55

Page 73: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

60

3.2 DANO ESTÉTICO

Para que seja configurado o dano estético, deve haver uma

modificação na aparência da pessoa, em relação a aparência que mantinha antes

do fato que ensejou o dano.

Para Miguel Kfouri Neto147:

(...) caracteriza o dano estético a lesão à beleza física, à harmonia

das formas externas de alguém. Sendo assim, o dano estético

pode ser definido com qualquer modificação duradoura ou

permanente na aparência externa de uma pessoa, modificação

esta que acarreta um “enfeitamento” e lhe cause humilhações e

desgosto, dando origem, portanto a um dano moral (...)

Portanto, todo procedimento que resulta em uma lesão na

qual modifique as formas do paciente, caracteriza o dano estético. Essa

modificação pode resultar em uma humilhação na qual acarreta no dano moral.

Na lição de Wilson Melo da Silva148:

(...) o dano estético, na esfera civil do Direito Civil, não seria

apenas o aleijão. Abrangeria também as deformidades ou

deformações ouras, as marcas e o defeitos, ainda que mínimos e

que pudessem implicar, sob qualquer aspecto, um “afeitamento”

da vítima.

Para a responsabilidade civil, ao contrario da penal, basta a

pessoa ter sofrido uma transformação, deixando de ter a aparência que tinha,

sem a necessidade de deformação ser grave, apenas comprovando a

modificação com relação à aparência anterior.

Ressalta Teresa Ancona Lopez Magalhães149 que:

147 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.104. 148 SILVA, Wilson de Melo, apud KFOURI NETO, p.104. 149 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.101.

Page 74: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

61

(...) A modificação deverá ser exterior, no entanto não é

necessário que seja visível, basta que ela exista no corpo da

pessoa. Ainda, que o defeito seja notado através dos movimentos

do corpo, também pode ser considerando dano estético.

Conforme o texto acima, mister se faz ressaltar que não é

necessário que o dano estético seja visível, basta que o mesmo exista no corpo

da pessoa.

3.3 DANO MORAL

Etimologicamente, dano vem de derame, que significa tirar,

apoucar, diminuir150.

No entendimento de Miguel Kfouri Neto151:

Nos dias que correm, nenhuma duvida há quanto à plena

possibilidade de se compensar o dano moral, ou seja, o dano

decorrente de “privação ou diminuição daqueles bens que têm um

valor precípuo na vida do homem e que são a paz, a tranqüilidade

de espírito, a liberdade individual, a integridade física, a honra e is

demais sagrados afetos (...) dano que afeta a parte afetiva do

patrimônio moral (dor, tristeza saudade etc); e dano moral que

provoca direta ou indiretamente dano patrimonial (cicatriz

deformante etc), e dano moral puro (dor, tristeza etc). O art. 186

do novo CC brasileiro consagrou, agora também no âmbito

infraconstitucional, a plena reparabilidade do dano, ainda que

exclusivamente moral. Também esses danos não-patrimoniais

podem originar-se ato culposo do médico, acarretando o dever de

compensação.

Portanto, a idéia de dano surge das modificações do estado

de bem-estar da pessoa, que vem em seguida à diminuição ou perda de qualquer

dos seus bens originários ou derivados, extrapatrimoniais ou patrimoniais. O dano

portanto é um diminuição no patrimônio, tanto material como moral.

150 FERNANDES, Francisco. Dicionário brasileiro Globo. 32 ed. São Paulo: Globo, 1993. p.421. 151 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico, p.106.

Page 75: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

62

O dano moral poderia ser definido como o dano que traz

prejuízos a bens ou valores que não possuem cunho econômico.

Segundo Teresa Ancona Lopez Magalhães152:

(...) o dano moral se divide em três espécies, quais sejam, dano

moral objetivo, dano moral subjetivo e dano moral à imagem

social.(I) O dano moral objetivo seria aquele que ofende os

direitos da pessoa tanto no aspecto privado, quanto no aspecto

publico, com direito à vida, liberdade. (II) O dano moral subjetivo,

seria a ofensa aos valores íntimos da pessoa, nas suas afeições.

Como sofrimento dos pais pela perda do filho amado. Este tipo

integra e é absorvido pelos danos morais à pessoa, mas podem

constituir em dano autônomo, quando somente a dor esta sendo

objeto de reparação. (III) A terceira espécie seria o dano moral a

imagem social, a constituição federal não se refere ao aspecto

físico da pessoa, mas a sua dimensão ética perante a

coletividade, implicando necessariamente um dano moral. É a

imagem social que se diferencia do direito à própria imagem, que

alguns autores correlacionam ao direito à intimidade e outros ao

direito à honra; é, portanto, o direito de não ver produzida nem

desrespeitada a sua imagem física, qualquer representação da

pessoa, não autorizada.

Portanto o dano moral objetivo seria aquele que ofende os

direitos da pessoa (aspecto privado e publico). O dano moral subjetivo seria a

ofensa aos valores íntimos da pessoa. E por fim o dano moral a imagem social é

o direito de não ver produzida nem desrespeitada a imagem física da pessoa.

Sobre o tema dispõe Yussef Said Cahali153:

(...) Se inclui na integridade corporal a integridade de aparência,

da imagem, principalmente os tipos da face e os movimentos

habituais de uma pessoa e haverá atentado a existência física não

somente em caso de ferimento, mas também quando o gravame é

feito à aparência física (...) cada individuo poderá ser julgado pela

sua aparência, e esta aparência pode favorecer ou prejudicar o

desenvolvimento de sua personalidade.

152 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.101. 153 CAHALI, Yussef Said: Dano moral. São Paulo: RT, 2005, p.70.

Page 76: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

63

Portanto, o dano moral existe porque o sofrimento existe não

só por causa dos aleijões, das desfigurações e doenças, mas também porque no

meio social sua imagem mudou, levando a uma dupla desgraça.

No exercício da medicina danos estético podem acontecer

em qualquer de seus campos, tanto em tratamentos de pele, aplicações de

radioterapia, operações curativas, e também, pela cirurgia estética, da qual

trataremos no próximo item.

3.4 O DANO ESTÉTICO COMETIDO POR CIRURGIÕES PLÁSTICOS

No ramo da cirurgia estética, cabe ao médico agir de

maneira mais cautelosa possível, e por ser uma cirurgia realizada em pessoa sã,

deverá agir com mais cuidados do que aquele que vai operar pessoa doente, para

o qual muitas vezes não resta nenhuma alternativa.

Dessa forma, cabe ao cirurgião informar o paciente

claramente dos riscos pelos quais vais passar – dever de informar

expressamente. Se os perigos forem maiores que as vantagens, deve negar-se a

operar154.

Alem disso, deverá analisar o estado psicológico do

paciente, verificando se o momento é propicio para uma mudança do aspecto

externo da pessoa.

Nesse assunto, algumas considerações devem ser feitas,

tendo em vista a existência das duas correntes doutrinarias a respeito da natureza

da obrigação ser de meio ou de resultado.

Segundo Teresa Ancona Lopez Magalhães 155:

(...) A corrente que considera a culpa estética como obrigação de

meio afirma que esta intervenção tem a álea de qualquer outra.

Dentre seus defensores temos os juristas Luis O. Adorno e Ruy

154 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.91. 155 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.93.

Page 77: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

64

Rosado Aguiar Junior. De outro lado, a corrente que defende a

obrigação de resultado vê a cirurgia plástica como a obrigação de

cumprir-se o que se prometeu, caso contrário, estará o devedor

inadimplente.

Ainda Teresa Ancona Lopez Magalhães,156 diz que o

problema pode ser equacionado da seguinte forma:

Quanto ao ato cirúrgico propriamente dito e suas complicações,

considera-se a área de toda a intervenção. Sendo assim,

estaremos diante de uma obrigação de meio. Sobre a mudança

estética prometida, que constitui o fim e a causa da operação, não

há como considerar obrigação de resultado. Ou seja, foi feito um

croqui, um desenho do que se pretende. O resultado final tem de

ser alcançado e, conforme o modelo, o desenho. É considerada

uma escultura que tem que dar certo. Mas pode ser que, além de

não cumprir o prometido no contrato, o médico plástico cause

dano a pessoa operada. Daí estaremos diante da

responsabilidade extracontratual, que poderá ser cumulada com a

contratual até a vítima seja totalmente ressarcida em seus danos

estéticos, morais e materiais.

Portanto, mesmo que se considere a cirurgia plástica

obrigação de meios, o médico que não cumpriu o que estava no contrato foi

inadimplente e deverá pagar por isso, posto que ninguém são vai se sujeitar a

passar por uma operação se não for para ficar melhor.

3.5 AVALIAÇÃO DO DANO ESTÉTICO: SUA INDENIZAÇÃO

A reparação do dano estético apresenta grandes

dificuldades, da mesma forma que enfrentam todos aqueles que tentam ver

ressarcida uma lesão a um direito não patrimonial.

Miguel Kfouri Neto157 diz que:

A avaliação do dano estético deve ser feita por ocasião do

julgamento, o mais tarde possível. A cicatriz, a deformidade, pode

156 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.93. 157 KFOURI, Miguel Neto. Responsabilidade civil do médico,104.

Page 78: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

65

atenuar-se. (...) Assim, quando se trata de dano moral ou estético,

apropriado seria falar em compensação, como forma de

restabelecer uma situação que se havia modificado, em função de

prejuízo ou dano causado. Verifica-se , entretanto, larga aplicação

do vocábulo reparação, especificamente em relação ao dano

moral, insuscetível de valoração monetária absoluta.

O que se pretende, com a reparação do dano estético é dar

a pessoa lesada o que lhe é devido. Isto é, o ressarcimento pelo mal sofrido

injustamente. Portanto, haja a dificuldade que houver, o respeito à pessoa e aos

seus direitos devem ser mantidos.

A primeira dificuldade quando se trava de dano

extrapatrimonial era a alegação de que seria imoral compensar a dor sofrida com

dinheiro.

Segundo Tereza Ancona Lopez Magalhães158: hoje essas

objeções estão totalmente superadas. Afirma que, a reparação do dano moral foi

elevada a norma constitucional com apoio irrestrito da doutrina e da jurisprudência

pátrias.

De acordo com a doutrina, o problema mais difícil de solução

na indenização do dano estético é o que se refere a avaliação. A dificuldade

estimada dos sofrimentos de ordem moral, para posterior fixação do quantum

devido pela ofensa, é a grande discussão da doutrina quanto a reparação dos

danos sofridos.

Importante destacar, que a avaliação do dano estético e sua

reparação, não se trata de colocar um preço na dor e, sim, encontrar um meio de

compensar com dinheiro aquele que sofreu injustamente uma lesão a um direito

seu.

158 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.93.

Page 79: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

66

Como parâmetro para a questão temos o artigo 949 do

Código Civil159 que diz:

Art. 949: No caso de lesão ou outra ofensa à saúde, o ofensor

indenizará o ofendido das despesas do tratamento e dos lucros

cessantes até ao fim da convalescença, além de algum outro

prejuízo que o ofendido prove haver sofrido.

E ainda, o artigo 950 do referido Código Civil160,

complementa:

Art. 950: Se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido não

possa exercer o seu ofício ou profissão, ou se lhe diminua a

capacidade de trabalho, a indenização, além das despesas do

tratamento e lucros cessantes até ao fim da convalescença,

incluirá pensão correspondente à importância do trabalho para

que se inabilitou, ou da depreciação que ele sofreu.

Parágrafo único: O prejudicado, se preferir, poderá exigir que a

indenização seja arbitrada e paga de uma só vez.

Sendo assim, de acordo com o Código de Processo Civil, no

caso de lesão ou outra ofensa a saúde, o ofensor terá que indenizar ofendido das

despesas de tratamento, bem como lucro cessante até o fim da convalescença.

Optando o prejudicado pelo recebimento de indenização arbitrada pelo juiz e

sendo paga de uma só vez.

Na opinião de Teresa Ancona Lopez Magalhães161:

A jurisprudência brasileira poderia seguir diretrizes para chegar,

futuramente, a um padrão básico de conduta diante do caso

concreto, observando as diferenças individuais de cada situação.

159 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes, p.353.

160 BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes, p.524.

161 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.101.

Page 80: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

67

Para isso, elaborou critérios, quais sejam, a análise da gravidade

objetiva do dano e as circunstâncias particulares do ofendido.

Para a análise da gravidade do dano, seria levado em conta

a extensão material do prejuízo no caso particular. Tratando-se de lesão

permanente, como a do dano estético propriamente dito, deverá ser observado e

avaliado que tipo de deformidade abatera mais a pessoa lesionada, pois, uma

deformação no rosto poderá ser mais grave que no resto do corpo, da mesma

forma que, a perda de um braço e muito pior que uma cicatriz no rosto.

Quanto às circunstâncias particulares do ofendido, teremos

que ter em conta, a idade, o sexo, as condições sociais e até a beleza da vitima,

pois, o atentado a estética poderá ser mais grave quanto maior for a beleza da

vitima.

Tereza Ancona Lopez Magalhães162, por fim faz uma

ressalva: Ao considerar as condições pessoais da vítima não deve o juiz colocá-la

acima da gravidade do próprio dano. É a extensão deste que vai dar a medida da

indenização.

Essa lição deverá ser considerada, sob pena de ocorrer

grandes injustiças como negar indenização a pessoas humildes ou operários

braçais.

Sendo o dano estético um tipo de dano moral, em certos

casos, poderá ser considerado também dano patrimonial. Neste sentido, Jose de

Aguiar Dias, apud por Yussef Said Cahali163, aduz:

A alteração do aspecto estético, se acarreta maior

dificuldade no granjeio da subsistência, se torna mais difíceis para a vitima as

condições de trabalho, se diminui suas possibilidades de colocação ou de

exercício da atividade a que se dedica, constitui sem dúvida um dano patrimonial.

Não se pode objetar contra a sua reparação, nem quanto, erradamente, se

162 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.101. 163 CAHALI, Yussef Said: Dano moral, p.88.

Page 81: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

68

considere dano moral, porque nem apresenta dificuldade para avaliação. Deve

ser indenizado, pois, como dano patrimonial, o resultado prejudicial da ofensa ao

aspecto estético, sempre que se traduza em repercussão de ordem material,

porque a lesão sentimento ou a dor psíquica, com repercussões patrimoniais,

traduz dano patrimonial. É dessa natureza o dano estético que deforme

desagradavelmente as feições, de modo que cause repugnância ou ridículo e

portanto, dificuldades à atividade da vítima.

Danos morais são aqueles danos não patrimoniais, ou seja,

quando não há possibilidade de demonstrar o seu valor, como da honra, dor,

sofrimento, saudade, vergonha, humilhação, entre outras causas. Esses danos,

portanto, pode ter origem em ato culposo ou doloso do ofensor, no caso vertente,

o médico, acarretando-lhe por óbvio a obrigação de compensá-los.’

3.6 DANO ÉSTETICO – CARÁTER ATENTATÓRIO À PERSONALIDADE

Direitos da personalidade são aqueles direitos da pessoa

sobre ela mesma, direitos esses insuscetíveis de serem avaliados em dinheiro.

São as faculdades jurídicas cujo objeto é os diversos aspectos da própria pessoa

do sujeito, bem como suas emanações e prolongamentos. 164

São ainda, as prerrogativas do sujeito em relação as

diversas dimensões de sua própria pessoa. Assim, na sua dimensão física o

homem exerce os direitos sobre sua própria vida, seu próprio corpo. Dentro desta

integridade física, faz parte a saúde e a aparência estética, por isso, a doutrina

afirma ser o dano estético, como o sano moral, uma ofensa a um direito de

personalidade.

Sobre os direitos de personalidade, Carlos Alberto Bittar165,

apud a Limongi França, ensina que:

Com efeito, a ordem jurídica reconhece às pessoas direitos

denominado de personalidade, descritos por Limongi França, os

164 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopez, O dano estético, p.45. 165 BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais, p.58.

Page 82: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

69

quais incidem sobre elementos materiais e imateriais que

compõem a respectiva estrutura, a fim de possibilitar-lhes a

individualização e a identificação no meio social, permitindo-lhes o

conseqüente alcance das metas visadas. Através desses direitos

é, pois que as pessoas se apresentam, se movimentam e se

afirma no convívio social, perseguindo os objetos eleitos na

realização de sua missão órbita terrestre.

Teresa Ancona Lopez Magalhães classifica os direitos da

personalidade, de acordo com a natureza dos bens jurídicos envolvidos, em

direitos sobre a integridade física, direitos a integridade moral e direitos sobre a

integridade intelectual166.

Os primeiros compreenderiam os direitos a saúde física e a

aparência estética. Os direitos a integridade intelectual abrangeria os direitos das

pessoas sobre suas próprias criações artísticas, literais e científicas, assim como

o direito de manifestar opiniões. Dentre os direitos à integridade moral estaria o

direito a liberdade, a honra, ao segredo, ao recato ao nome, e a própria

imagem.167

Sobre o tema Teresa Ancona Lopez Magalhães168 conclui:

Em resumo, diríamos que o dano estético é a lesão a um direito

da personalidade – o direito a integridade física, especialmente na

sua aparência externa. Como todo direito da personalidade,

qualquer dano que o seu titular possa sofrer vai ter conseqüências

materiais e, principalmente, morais. Portanto não podemos

conceber prejuízo estético que não seja também prejuízo moral,

pois a pessoa a partir do momento da lesão esta menos feliz do

que era antes.

A Constituição Federal de 1988, consagrou os direitos de

personalidade no seu artigo 5º e incisos, assegurando o direito a indenização pelo

dano material ou moral decorrente de sua violação, sendo o dano estético uma

ofensa a um direito de personalidade – o direito à integridade física, o responsável

166 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes, O dano estético, p.46. 167 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes, O dano estético, p.46. 168 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes, O dano estético, p.47-48.

Page 83: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

70

pelo dano ficará desde logo, obrigado à reparar os prejuízos, morais e materiais,

causados a vítima.

3.7 CUMULAÇÃO DE DANO ESTÉTICO COM DANO MORAL

Existe grande discussão na doutrina, quanto a possibilidade

de cumulação de dano estético com dano moral. Para a Teresa Ancona Lopez

Magalhães169 não há duvidas de que o dano estético é uma espécie do dano

moral, pois se trata de ofensas a bens inestimáveis, sendo um dano à pessoa.

Entretanto, afirma Teresa Ancona Lopez Magalhães170, que

o dano deformante à integridade física não pode ser considerado igual a qualquer

outro tipo de dano moral, é sem dúvida, a mais grave e mais violenta das lesões à

pessoa, pois, além de gerar sofrimento pela transformação física, o chamado

dano moral objetivo, gera um outro dano moral, que é o dano moral à imagem

social.

Percebe-se então, que ao sofrer um dano estético, a pessoa

deformada sofre uma óbvia e cruel dificuldade para se inserir socialmente, não só

por estar complexada ou triste, mas também porque a sociedade passará a tratá-

la de forma diferente, dificultando ainda mais a condução do problema.

A jurisprudência pátria tem admitido algumas vezes a

cumulação do dano estético com o dano moral, o que, poderá parecer um bis in

idem171, haja vista que o entendimento de que o dano estético é uma espécie de

dano moral, porém, as indenizações serão determinadas sobre fatos distintos, ou

seja, uma pelo dano estético, com grave deformação física, e outra pelas tristezas

e sofrimentos interiores que acompanharão sua vitima para sempre.

Teresa Ancona Lopez Magalhães, soluciona o problema da

seguinte forma:

169 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes, O dano estético, p.46. 170 MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes, O dano estético, p.125. 171 Bis in idem: Duas vezes sobre o mesmo; repetição.

Page 84: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

71

Pensamos que essa celeuma pretoriana poderá ser resolvida de

uma outra forma, sempre no intuito de melhor proteger a vítima do

dano e continuando a admitir a cumulação dos dois tipos de dano

moral, mas sobre outro fundamento. Dessa forma, a base legal

para a admissão da cumulação do dano moral e do dano estético

é o art. 5º, V, da nossa Carta Magna, pois a referida norma

constitucional admite reparação para três tipos de danos: o

material, o moral e o dano à imagem. (...) não se trata do direito à

própria imagem no sentido estrito (que proíbe reproduções não

autorizadas das pessoas), mas da imagem no valor ético, que

inclui o respeito e a aceitação social.

A referida autora, conclui, portanto, que não só é possível,

como justa a cumulação do dano estético com o dano moral, por serem dois tipos

diferentes de danos morais à pessoa, ou seja, atingem bens jurídicos diferentes.

Neste linha de entendimento segue a Jurisprudência do

Egrégio Tribunal de Justiça de Santa Catarina172:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - RESPONSABILIDADE MÉDICA -

PERDA DA VISÃO E EVISCERAÇÃO DO GLOBO OCULAR -

DANO MORAL CONFIGURADO - INDENIZAÇÃO QUE ATENDE

AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE, RESPEITANDO A

QUESTÃO DA CULPA CONCORRENTE - MAJORAÇÃO

INDEVIDA - DANO ESTÉTICO - CUMULAÇÃO -

POSSIBILIDADE. É possível a cumulação de dano moral e

dano estético, mesmo decorrentes do mesmo fato, quando

forem passíveis de apuração em separado. A perda da visão do

olho lesionado é motivo justificante para a ocorrência de dano

moral; já a extração do globo ocular constitui causa autônoma

para indenização do dano estético. CULPA DO FACULTATIVO

DEMONSTRADA - NEGLIGÊNCIA E IMPRUDÊNCIA NO PÓS-

OPERATÓRIO - ALTA HOSPITALAR PREMATURA E DESCASO

COM OS SINTOMAS DE AGRAVAMENTO DA INFECÇÃO -

OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR INAFASTÁVEL - SUCUMBÊNCIA

RECÍRPOCA NÃO VERIFICADA. Em se tratando de medicina

curativa, o profissional assume uma obrigação de meios, na qual

não se compromete a obter um certo resultado, mas, sim, a

prestar um serviço com o cuidado e a diligência exigidos pelas

172 TJSC - Acórdão: Apelação Cível 2000.006745-8 Relator: José Mazoni Ferreira Data da Decisão: 31/10/2002

Page 85: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

72

circunstâncias, fazendo uso dos recursos disponíveis para tentar

atingir a cura. O fato de não alcançá-la, uma vez empregados

todos os esforços para tanto, não acarretará a culpa do

profissional da saúde. Ao revés, verificada a omissão ou o

descaso para com o paciente, deixando o facultativo de envidar

todos os meios ao seu alcance para impedir o agravamento da

lesão, caracterizada está sua culpa nas modalidades de

negligência e imprudência, restando patente seu dever de

indenizar a vítima. (TJSC - Acórdão: Apelação Cível 2000.006745-

8 Relator: José Mazoni Ferreira Data da Decisão: 31/10/2002).

Hoje, concluindo, conforme demonstrado, a polêmica em

torno da possibilidade ou não de cumulação de danos estéticos com os morais

(principalmente em face de fato único) vem se arrefecendo mais, de maneira que,

do mesmo modo como no passado se deu a pacificação dos entendimentos

quanto à possibilidade de indenização por danos morais, deve ocorrer quanto à

cumulação de reparação por danos morais estéticos, sendo esta, aliás, a corrente

que mais se aproxima de um juízo mais equânime e atento à realidade dos fatos.

3.8 JURISPRUDÊNCIA

Só para ilustrar, colecionamos alguns julgados:

O dano médico resultante de cirurgia plástica deve ser indenizado

pelo médico em razão de inadimplemento contratual, já que

assume ele obrigação de resultado. Não há que falar em decisão

extra petita pelo reconhecimento da responsabilidade contratual

se a inicial, apesar de não distinguir claramente a opção do autor

pela indenização contratual ou delitual, erige aquela em causa de

pedir (Ap. Cív. 102.063-1, 1a Câmara Cível TJSP, Res. Des.

Roque Komatsu, j. 25/10/1988)

E ainda, julgados no sentido de demonstrar o

posicionamento dos tribunais quanto à obrigação de meio e de resultado nas

cirurgias estéticas:

RESPONSABILIDADE CIVIL - Cirurgia plástica - Erro profissional

- Deformação - Indenização - Hospital responsável. Há

responsabilidade civil de estabelecimento hospitalar por erro

profissional de sua equipe médica quando ocorre culpa in

Page 86: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

73

eligendo. Na cirurgia estética existe responsabilidade do médico

quando há resultado diverso do pretendido pelo paciente. (RT

566/919 e 192)

DIREITO CIVIL - Responsabilidade civil por erro médico - Cirurgia

plástica de natureza estética - Obrigação médica de resultado. A

cirurgia plástica de natureza meramente estética embelezadora.

Em tal hipótese, o contrato médico-paciente é de resultado, não

de meio. A prestação do serviço médico há que corresponder ao

resultado buscado pelo paciente e assumido pelo profissional da

medicina. Em sendo negativo esse resultado, ocorre presunção de

culpa pelo profissional. Presunção só afastada se fizer ele prova

inequívoca de que tenha agido observando estritamente os

parâmetros científicos exigidos, decorrendo, o dano, de caso

fortuito ou força maior, ou outra causa exonerativa o tenha

causado, mesmo desvinculada possa ser a própria cirurgia ou

posterior tratamento. Forma de indenização correta. Dano moral.

Sua correta mensuração (180 salários mínimos). Ação julgada

procedente, em parte, em primeiro grau de jurisdição. Provimento,

em parte, do apelo da autora, no que diz com a mensuração do

dano moral, e não conhecimento por intempestivo, do apelo do

réu (TJRS – Ap. Cív. N.º 595068842 – 6.ª Câm. Cív. – j. 10.10.95

– Rel. Des. Osvaldo Stefanello – in RJTJRS 175/572) (KFOURI

NETO, 1998, p. 272).

CIRURGIA PLÁSTICA - OBRIGAÇÃO DE RESULTADO -

INDENIZAÇÃO -DANO MATERIAL E MORAL. Contratada a

realização de cirurgia estética embelezadora, o cirurgião assume

obrigação de resultado, sendo obrigado a indenizar pelo não-

cumprimento da mesma obrigação, tanto pelo dano material

quanto pelo dano moral, decorrente de deformidade estética,

salvo prova de força maior ou caso fortuito.(STJ, in Ver. Jur.

170/145)

CIRURGIA ESTÉTICA – Obrigação de meio. O profissional que se

propõe a realizar cirurgia, visando melhorar a aparência física do

paciente, assume o compromisso de que, no mínimo, não lhe

resultarão danos estéticos, cabendo ao cirurgião a avaliação dos

riscos. Responderá ele por tais danos, salvo culpa do paciente ou

a intervenção de fator imprevisível, o que lhe cabe provar.(Agravo

Reg. No Ag. 37.060-9 – RS. Rel. Min. Eduardo Ribeiro),

Page 87: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

74

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, à luz da

legislação, da doutrina e da jurisprudência nacional, a responsabilidade civil do

médico no dano estético em cirurgia plástica.

O interesse pelo tema abordado deu-se em razão de sua

atualidade e pela diversidade de modo que o tema vem sendo abordado no

contexto nacional.

A responsabilidade civil do médico é uma questão que tem

suscitado muitos questionamentos e controvérsias, tomando um corpo maior em

sua discussão atual, uma vez que houve maior conscientização dos cidadãos

para a reivindicação de seus direitos.

Para seu desenvolvimento lógico o trabalho foi dividido em

três capítulos.

O primeiro, tratou da responsabilidade civil, no ordenamento

jurídico brasileiro, através do entendimento de diversos doutrinadores.

Dito isto, se percebeu que conforme previsto no art. 186 do

Código Civil, a responsabilidade civil, consiste na obrigação de reparar o prejuízo

causado a outrem, por ato próprio ou de pessoa ou coisa que deste dependa,

sendo caracterizada pelos seguintes pressupostos: ação ou omissão, culpa ou

dolo do agente, dano e relação de causalidades.

Conforme disposto naquele capítulo, a responsabilidade civil

pode ser: subjetiva, quando depende da comprovação do elemento culpa;

objetiva, quando independe da comprovação de culpa por parte do agente;

contratual, quando decorre da violação de um contrato previamente acordado

entre as partes; extracontratual, quando decorre da violação de um dever jurídico

pré-existente.

Page 88: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

75

O segundo capítulo foi destinado a tratar especificamente da

responsabilidade civil do médico, observando que a responsabilidade do médico é

na maioria das vezes, contratual, sendo sua obrigação de meio.

Entretanto, na Obrigação de Resultado, por sua vez, o

médico se compromete a empregar todos os meios disponíveis e apropriados

para obtenção de um determinado resultado, sem, contudo, se vincular a obtê-lo.

Na obrigação de resultados, por sua vez, o médico se obriga

a um resultado fixo, pré-determinado, do qual ele não pode afastar-se, sob pena

de ser considerada inadimplida sua obrigação.

No terceiro e último capítulo, estudou-se a responsabilidade

civil do cirurgião plástico, demonstrando a diferença entre cirurgia puramente

estética e cirurgia estética reparadora, sendo que a primeira o médico tem a

obrigação de resultado e a segunda o médico tem obrigação de meio.

Outro possível aspecto é a cumulação do dano estético com

o dano moral, por serem dois tipos diferentes de danos morais à pessoa, ou seja,

atingem bens jurídicos diferentes.

Por fim, retoma-se as três hipóteses básicas da pesquisa:

1ª) na cirurgia estética, a responsabilidade civil do cirurgião é objetiva, pois

independe da culpa; 2ª) a obrigação do médico para com seu paciente é

contratual, pois, mesmo que tacitamente, há entre eles, um acordo bilateral de

vontade; 3ª) o contrato é de resultado e não de meio, porque, na cirurgia estética,

há compromisso do médico com o resultado almejado, ao contrário da cirurgia

reparadora, para registrar que todas foram integralmente confirmadas.

Page 89: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS

ALMEIDA, Carlos Ferreira de. Os Contratos de Prestação de Serviço Médico no Direito Civil Português. Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 16, p. 5-21, out/dez, 1995.

ALVIM, Agostinho: Da execução das obrigações e suas conseqüências. 4. Ed. São Paulo: Saraiva, 1972

BRASIL, Código Civil; Comercial; Processo Civil; Constituição Federal/ obra coletiva da autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Antonio Luiz de Toledo Pinto, Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Lívia Céspedes. 3 ed. São Paulo: Saraiva. 2007.

CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 2 ed. São Paulo: Malheiros, 2000. COUTO FILHO, Antônio Ferreira, SOUZA, Alex Pereira. A improcedência no suposto erro médico. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 1999.

DENARI, Zelmo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado por autores do anteprojeto, p.95

DIAS, José Aguiar. Da responsabilidade civil. 10 ed. Rio de Janeiro: Forense 1997.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: Responsabilidade Civil. 20. ed. v 7. São Paulo: Saraiva, 2006.

FRANÇA, Genival Veloso de. Direito médico. 6 ed. São Paulo: Fundação BYK, 1994.

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, Responsabilidade Civil. 4. ed. Rev., atual. e reform. São Paulo: Saraiva, 2006.

GIOSTRI, Hildegard Taggsell. Erro médico à luz da jurisprudência comentada. Curitiba Juruá Editora. 1998.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade Civil. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

LOPES, Miguel Maria Serpa. Curso de Direito Civil / Fontes Contratuais das Obrigações e Responsabilidade Civil. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001.

KFOURI NETO, Miguel. Responsabilidade Civil do Médico. 6 ed. São

Page 90: RESPONSABILIDADE CIVIL DO MÉDICO POR DANO ESTÉTICO EM

77

Paulo: RT, 2007. MAGALHÃES, Teresa Ancona Lopes. Responsabilidade Civil dos Médicos. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.

MATIELO, Fabrício Zamprogna. Responsabilidade civil do médico. 2 ed. Porto Alegre: Sagra Luzzato, 2001.

MOREIRA, João Batista Gomes, Responsabilidade civil por erro médico. Revista da OAB Goiás, Caderno de Temas Jurídicos. Abril e julho de 2005.

PENASCO, Wanderby Lacerda. A responsabilidade civil, penal e ética dos médicos. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1984

PEREIRA, Caio Mário da Silva, Responsabilidade Civil. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994.

RODRIGUES, Silvio. Direito civil. São Paulo: Saraiva, 2002. ROMANELO NETO, Jerônimo. Responsabilidade Civil dos Médicos. 5 ed. São Paulo: Jurídica Brasileira, 1998.

SANTOS, Marco Fridolin Sommer. A AIDS sob a perspectiva da responsabilidade Civil. São Paulo: Saraiva, 1999.

SILVA, De Plácido. Vocabulário jurídico. 17. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2000.

SILVEIRA, Reynaldo Andrade da. Responsabilidade Civil do Médico. RT, São Paulo .p 60. dez.1991. STOCO, Rui. Responsabilidade Civil e sua interpretação jurirsprudêncial. 3ª ed. rev. Ampl. São Paulo Revista dos Tribunais, 1997 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral. Coimbra: Almedina, 1982.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003.