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RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS E A INTERVENÇÃO JUDICIAL 1 Ana Carolina Dauve RESUMO O presente trabalho versa sobre a responsabilidade do Estado no atendimento à saúde da pessoa humana, em especial quanto ao fornecimento de medicamentos e a intervenção judicial na garantia da efetivação do direito fundamental à saúde. Para tanto, será abordada a questão relativa aos direitos fundamentais e à dignidade humana para compreender o contexto da obrigação de prestação de atendimento à saúde por parte do Estado aos administrados. Em um segundo momento, será feita uma investigação histórica para compreender como se procedeu a garantia do atendimento gratuito à saúde no Brasil até a promulgação da Constituição Federal de 1988, que instituiu o Sistema Único de Saúde e, conseqüentemente, a assistência farmacêutica. Por fim, compara-se a realidade na prestação de saúde pelo Estado com o previsto pelo legislador na Lei Fundamental de 1988, analisando a questão da legitimidade intervenção do Poder Judiciário nessa prestação, demonstrando a necessidade de criação de políticas públicas que visem à efetivação do direito fundamental à saúde, com particular atenção ao acesso a medicamentos. Palavras-chave: Direitos fundamentais. Efetividade. Direito à saúde. Assistência Farmacêutica. Sistema Único de Saúde. Intervenção. Poder Judiciário. INTRODUÇÃO 1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovação com grau máximo pela banca examinadora, composta pelo orientador, Prof Dilso Domingos Pereira, Profª. Adélia Green Koff e Prof. Álvaro V. Paranhos Severo, em 12 de junho de 2009.

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

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Page 1: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS E A

INTERVENÇÃO JUDICIAL1

Ana Carolina Dauve

RESUMO

O presente trabalho versa sobre a responsabilidade do Estado no atendimento à saúde

da pessoa humana, em especial quanto ao fornecimento de medicamentos e a

intervenção judicial na garantia da efetivação do direito fundamental à saúde. Para

tanto, será abordada a questão relativa aos direitos fundamentais e à dignidade

humana para compreender o contexto da obrigação de prestação de atendimento à

saúde por parte do Estado aos administrados. Em um segundo momento, será feita

uma investigação histórica para compreender como se procedeu a garantia do

atendimento gratuito à saúde no Brasil até a promulgação da Constituição Federal de

1988, que instituiu o Sistema Único de Saúde e, conseqüentemente, a assistência

farmacêutica. Por fim, compara-se a realidade na prestação de saúde pelo Estado com

o previsto pelo legislador na Lei Fundamental de 1988, analisando a questão da

legitimidade intervenção do Poder Judiciário nessa prestação, demonstrando a

necessidade de criação de políticas públicas que visem à efetivação do direito

fundamental à saúde, com particular atenção ao acesso a medicamentos.

Palavras-chave: Direitos fundamentais. Efetividade. Direito à saúde. Assistência

Farmacêutica. Sistema Único de Saúde. Intervenção. Poder Judiciário.

INTRODUÇÃO

1 Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Aprovação com grau máximo pela banca examinadora, composta pelo orientador, Prof Dilso Domingos Pereira, Profª. Adélia Green Koff e Prof. Álvaro V. Paranhos Severo, em 12 de junho de 2009.

Page 2: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

No primeiro capítulo do presente trabalho, aborda-se o contexto da saúde no

âmbito dos direitos fundamentais e do princípio da dignidade humana. Visa-se com

essa abordagem, demonstrar a relevância do direito à saúde para a manutenção do

bem primordial que é a vida, bem como a necessidade de sua efetivação pelos Poderes

Públicos.

A fim de compreender a construção da priorização do direito à saúde no Brasil, é

importante analisar a perspectiva histórica do direito à saúde nas Constituições deste

País até a criação da presente Lei Fundamental. O estudo visa perceber a evolução em

relação ao direito sanitário e a implantação de políticas públicas para garantir o direito à

saúde e, nesse contexto, o Sistema Único de Saúde

Na realização da pesquisa, dedica-se um capítulo individual à intervenção

Judiciária no âmbito das prestações de atendimento à saúde pelo Estado, em especial

à Assistência Farmacêutica. O acréscimo de demandas judiciais objetivando o

fornecimento de medicamentos por parte dos Entes Federados demonstra a ineficiência

do Poder Executivo na implementação de políticas de saúde pública, havendo flagrante

desrespeito à aplicação do artigo 196 da Constituição Federal. Defende-se que o Poder

Judiciário é legítimo para intervir nas questões relativas à efetivação dos direitos

fundamentais, em especial o direito à saúde, bem como a irrevogabilidade do dever do

Estado em prestar a Assistência Farmacêutica aos indivíduos que dela necessitem.

O presente trabalho visa, portanto, apresentar algumas das principais

justificativas para o fornecimento de assistência farmacêutica por parte do Estado aos

cidadãos, bem como demonstrar a relevância do direito à saúde como componente do

direito à vida e à subsistência da pessoa humana em condições de dignidade, bem

como a sua prestação pela Administração Pública.

1 A SAÚDE NO CONTEXTO DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Para adentrar na questão da teoria dos direitos fundamentais, deve-se fazer a

distinção entre os direitos humanos e os direitos fundamentais, a fim de diferenciá-los.

Page 3: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Sarlet2 assim os distingue:

[...] os direitos fundamentais, de certa forma, são também sempre direitos humanos, no sentido de que seu titular sempre será o ser humano, ainda que representado por entes coletivos (grupos, povos, nações, Estado). [...] a distinção é de que o termo direitos fundamentais se aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão direitos humanos guardaria relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal [...].

Bonavides3 refere que os direitos fundamentais são, na essência, direitos do

homem livre e isolado e que esse possui em face do Estado.

Os direitos fundamentais são direitos que o homem obtém pelo fato de ter

nascido, são inatos a ele e possuem extensão universal.4 Sem os direitos fundamentais

o ser humano não seria capaz de participar plenamente da vida.

Trata-se de um conjunto institucionalizado de direitos e garantias com o

propósito de respeitar a dignidade dos homens sujeitos à proteção e domínio do

Estado.5

Por serem direitos da pessoa reconhecidos e positivados por determinado

Estado, os direitos fundamentais adquirem sua plenitude quando assegurados em texto

constitucional.

O lema revolucionário do século XVIII, esculpido pelo gênio político francês,

exprime três princípios de conteúdo possível de direitos fundamentais: liberdade,

igualdade e fraternidade. A nova universalidade dos direitos fundamentais fez

manifestar-se os mesmos em três gerações sucessivas.

Os direitos de primeira geração são os direitos da liberdade. A Declaração de

Direitos de 1789 afirmava em seu artigo 4º, que “a liberdade consiste em poder fazer

tudo aquilo que não prejudique a outrem”.6

2 PILAU SOBRINHO, Liton Lanes. Os direitos fundamentais e a sua efetividade. Revista Justiça do Direito, Passo

Fundo, v. 1, n. 16, p. 299-318, 2002, p. 300. 3 BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 16. ed. atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 561.

4 PILAU SOBRINHO, op. cit., p. 300. 5 MORAES apud Idem, p. 303.

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Têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como

faculdades ou atributos da pessoa e são direitos de resistência ou de oposição perante

o Estado.7

Os direitos de segunda geração são os direitos sociais, culturais e econômicos,

bem como os direitos de coletividade, oriundos das distintas formas de Estado social,

obra da ideologia e reflexão antiliberal do século XX.

São os direitos da igualdade. Visam à instituição de política construída como um

conjunto de cidadãos de uma única pátria que busca a universalização dos direitos e

que assegura a igualdade dos homens por força de seus direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais de terceira geração têm por destinatário o gênero

humano, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos

de existencialidade concreta. São resultados das grandes transformações ocorridas no

Estado social. São direitos de solidariedade, que asseguram a todos os seres humanos

o resguardo dos seus direitos perante injustiças sociais e iguala os homens no que se

refere à efetivação da justiça, tanto individual quanto coletiva.8

Segundo Sarlet, os direitos fundamentais integram, portanto, ao lado de definição

da forma de Estado, do sistema de governo e da organização do poder, a essência do

Estado constitucional, representando, neste sentido, não apenas parte da Constituição

formal, mas também elemento nuclear da Constituição material.9

O princípio da dignidade humana está previsto na Constituição Federal de 1988,

especialmente no artigo 1º, inciso III, que assim dispõe:

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)

III - a dignidade da pessoa humana.

6 PILAU SOBRINHO, 2002, p. 305. 7 BONAVIDES, 2005, p. 564. 8 PILAU SOBRINHO, op. cit., p. 308. 9 SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. 4. ed. rev. atual. e ampl., Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 67-68.

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A dignidade humana possui dois princípios teóricos: o de origem filosófica

estóica, que compreende a dignidade como qualidade inerente ao ser humano, capaz

de distingui-lo das demais criaturas; e o de origem cristã, em que o homem, por ser

criado à imagem e semelhança de Deus, é dotado de valor próprio e intrínseco,

impedindo de ser tomado como objeto.10

Na modernidade, há quebra da lógica derivada da divindade, considerando o

homem como centro do Universo – antropocentrismo.

Com a universalização dos Direito Humanos na Declaração Universal de Direitos

Humanos da ONU em 1948, consagrou-se a dignidade como valor fundamental da

ordem jurídica.

Sarlet11 expõe que a dignidade da pessoa humana possui três funções

precípuas, atua como limite dos poderes estatais, numa dimensão defensiva; consiste

em tarefa dos poderes estatais de caráter prestacional e assistencial e, permite o

reconhecimento recíproco do outro no que diz com sua especificidade e suas

peculiaridades como indivíduo.

Completa, ainda12:

Temos por dignidade humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.

Desse modo, a dignidade da pessoa humana é valor-guia da ordem jurídica,

constitucional e infraconstitucional.13 Enquanto valor intrínseco da pessoa humana,

jamais poderá ser sacrificada, vez que insubstituível. É princípio base da saúde.

Citando Novais, Figueiredo14 sustenta que:

10 FIGUEIREDO, Mariana Filchtiner. Direito Fundamental à saúde: parâmetros para sua eficácia e efetividade. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 48.

11 Ibid., p. 53 12 SARLET apud FIGUEIREDO, 2007, p. 56. 13 FIGUEIREDO, 2007, p. 57.

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[...] a dignidade da pessoa humana pode impor o fornecimento de prestações materiais pelo Estado, que permitam uma existência autodeterminada, “sem o que a pessoa, obrigada a viver em condições de penúria extrema, se veria involuntariamente transformada em ‘mero objecto do acontecer’ estatal e, logo, com igual violação do princípio [...].

A noção de que saúde constitui um direito humano, passível de proteção pelo

Estado, é resultado de uma longa evolução na concepção do direito e da idéia do que

seja saúde.15

No século XX a proteção sanitária seria finalmente tratada como saber social e

política de governo. A criação do Organização das Nações Unidas – ONU – e a

promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, incentivaram a criação de

órgãos estatais dedicados à garantia de alguns direitos humanos essenciais.

A saúde é um dos maiores bens sociais e individuais, seu conceito abrange a

noção de ausência de doença, bem-estar físico, mental, social, bem como a defesa da

vida, como bem classifica a Organização Mundial de Saúde.

Schwartz, para efeitos de aplicação do artigo 196 da Constituição Federal16,

assim conceitua a saúde:

Um processo sistêmico que objetiva a prevenção e cura de doenças, ao mesmo tempo que visa a melhor qualidade de vida possível, tendo como instrumento a aferição a realidade de cada indivíduo e pressuposto de efetivação a possibilidade de esse mesmo indivíduo ter acesso aos meios indispensáveis ao seu particular estado de bem-estar.17

Evidente a ligação entre a dignidade humana e os direitos fundamentais, bem

como a compreensão da saúde dentre esses.

Feitas essas breves, porém importantes considerações, passa-se à análise dos

pontos seguintes, que abordaram a temática da saúde relacionada à dignidade humana

e a efetividade do direito à saúde. 14 Ibid., p. 61. 15 Ibid., p. 77. 16 Assim dispõe o artigo 196 da Constituição Federal: “A saúde é direito de todos e dever do Estado,

garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”.

17 SCHWARTZ, Germano André Doederlein. Direito a saúde: efetividade em uma perspectiva sistêmica. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001, p. 43.

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1.2 SAÚDE E DIGNIDADE HUMANA

Conforme Sarlet, a dignidade da pessoa humana é elemento integrante e

irrenunciável de sua natureza, é algo que se reconhece, respeita e protege.18 Todos os

seres humanos são iguais em dignidade, como disposto no artigo 1º da Declaração

Universal da ONU (1948).

Dallari defende que a vida é o bem principal de qualquer pessoa, seu primeiro

valor moral.19 Juntamente com a vida nasce a dignidade e, no que tange à saúde, é

invocada a fim de salvaguardá-la.

Nalani define vida como:

direito básico, essencial, pressuposto de todos os outros, tanto que os demais sonham ser chamados bens da vida. A vida deve ser vivida em plenitude. Com saúde, em plena higidez física e mental, significando ausência de qualquer moléstia.20

A saúde é um dos principais componentes da vida, seja como pressuposto

indisponível para sua existência, seja como elemento agregado a sua qualidade.21

Assim, verifica-se íntima ligação entre o princípio da dignidade humana e o princípio da

vida, que são nucleares para o segmento da saúde. O direito à vida e a saúde

aparecem como conseqüência da dignidade da pessoa humana.

O Estado, na sociedade organizada, tem o poder de sistematizar a forma como

devem ser observados os princípios a fim de garantir direitos. Toda a atividade estatal

está vinculada ao princípio da dignidade humana, impondo-lhe, desse modo, dever de

abstenção e de condutas positivas tendentes a efetivar e proteger a dignidade do

indivíduo.

O Estado está juridicamente obrigado a exercer as ações e serviços de saúde

visando à construção de uma ordem social com objetivos de bem-estar e justiça social,

18 SARLET, 2004, p. 114. 19 DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998, p. 21. 20 NALANI, citado por DEON, Caroline Vieira Bonilla. O direito à saúde: algumas considerações práticas.

Dissertação (Mestrado). Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2003. 179 f., p. 49.

21 SCHWARTZ, 2001, p. 52.

Page 8: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

pois a Constituição lhe dirige essas tarefas, força no artigo 196 da Constituição

Federal.22

Por ser o direito fundamental do homem, a saúde é um direito auto-aplicável,

conforme o artigo 5º, §1º, da Constituição Federal.23 Acerca da efetividade, analisa-se

os seguintes pontos.

1.3 A EFETIVIDADE DO DIREITO À SAÚDE

Primeiramente, é conveniente observar os conceitos de efetividade e eficácia.

Segundo Leib Soibelman, por eficácia compreende-se a força ou poder que possa ter

um ato ou um fato para produzir os desejados efeitos. Efetividade, por sua vez, indica a

qualidade ou o caráter de tudo que se mostra efetivo ou está em atividade. Que está

realizando os seus próprios efeitos.24

Segundo Schwartz25:

O corolário de princípios, regras, normas e leis referentes ao sistema sanitário brasileiro corroboram a idéia de que a saúde é direito fundamental do homem, tornando a norma do art. 196 da CF/88 auto-aplicável e de eficácia imediata. Que as políticas públicas de saúde são o meio primeiro de efetivação deste direito (conforme a locução do texto constitucional expressa em seu artigo 196).

A atribuição da efetividade pode ser conferida pela força do poder estatal. A

problemática da efetividade dos direitos fundamentais, no contexto da nova República

brasileira, apresenta-se como uma obrigação para o Estado em satisfazer demandas

sociais.

A dimensão da eficácia das normas constitucionais referentes à saúde consiste

na vinculação do legislador à elaboração de leis, que devem observar os princípios

elencados na Constituição Federal, na regulamentação da matéria.26

22 TOJAL citado por SCHWARTZ, 2001, p. 51. 23 Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.

24 SOIBELMAN apud PILAU SOBRINHO, 2002, p. 311. 25 SCHWARTZ, 2001, p. 57.

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Nesse sentido, Lippel27 afirma que:

O direito à saúde deve ser empregado como critério norteador de um juízo de ponderação de bens e interesses para se aferir a constitucionalidade e legalidade da restrição de outros preceitos constitucionais ou infraconstitucionais [...].

Segundo Sarlet e Figueiredo, o direito à saúde pode ser conduzido na

classificação dos direitos fundamentais, tanto como direito de defesa quanto direito a

prestação. Na condição de direito de defesa, o direito à saúde assume a condição de

um direito à proteção da saúde. Como direito à prestação, pressupõe a realização de

atividades que asseguram a fruição do direito, abrangendo medidas para salvaguarda

do direito e da própria saúde dos indivíduos, fornecimento de serviços e bens materiais

ao titular desse direito fundamental (atendimento médico e hospitalar, entrega de

medicamentos, realização de exames, prestação de tratamentos).28

O direito à saúde, dependendo de sua função, pode ser reconduzido a ambas as

categorias. Constitui, assim, simultaneamente direito de defesa, “no sentido de impedir

ingerências indevidas por parte do Estado e terceiros na saúde do particular”29, e de

imposição à realização “de políticas públicas que busquem a efetivação”30 do direito à

saúde para a população.

Segundo Bigolin31, o direito em questão encontra-se afetado pela reserva do

possível em suas diversas manifestações, seja pela disponibilidade de recursos

existentes, seja pela capacidade jurídica de deles se dispor. A elevação do nível da sua

26 LIPPEL, Alexandre Gonçalves. O direito à saúde na Constituição Federal de 1988: caracterização e

efetividade. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 1, jun. 2004. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao001/ alexandre_lippel.htm>. Acesso em: 10 out. 2008.

27 LIPPEL, acesso em: 10 out. 2008. 28 SARLET, I. W; FIGUEIREDO, M. F. Reserva do possível, mínimo existencial e direito à saúde: algumas

aproximações. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 24, jul. 2008. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao024/ingo_mariana.html>. Acesso em: 01 set. 2008.

29 SARLET, Ingo Wolfgang. Algumas considerações em torno do conteúdo, eficácia e efetividade do direito à saúde na Constituição de 1988. Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ – Centro de Atualização Jurídica, n. 10, jan. 2002. Disponível em: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 23 abr. 2009.

30 Ibid. 31 BIGOLIN, Giovani. A reserva do possível como limite à eficácia e efetividade dos direitos sociais.

Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 1, jun. 2004. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/artigos/edicao001/giovani_ bigolin.htm>. Acesso em: 10 out. 2008.

Page 10: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

realização está sempre condicionada ao volume de recursos suscetíveis de serem

mobilizados para esse efeito.

Segundo Canotilho32, o postulado da aplicabilidade imediata dos direitos sociais

prestacionais não pode resolver-se de acordo com a dimensão de tudo ou nada, razão

pela qual o seu alcance dependerá do exame da hipótese em concreto, isto é, da

norma de direito fundamental em pauta.

Em matéria de tutela do mínimo existencial, há que se reconhecer um direito

subjetivo a prestações e uma cogente tutela defensiva. Desse modo, as razões

vinculadas à reserva do possível, em regra, não devem prevalecer como argumento a

afastar a satisfação do direito e exigência do cumprimento dos deveres.33

Relativamente à efetivação do direito à saúde, Schwartz34 explica que “[...] não

tem como solução final a interpretação de direito público subjetivo e fundamental, tendo

que se levar em consideração para tal todos os outros sistemas sociais e fatores que

com ela interagem”.

E refere, ainda:

Mesmo assim, a saúde como direito público subjetivo e fundamental é um resguardo, um seguro que o cidadão possui de acessar os meios judiciais e administrativos em caso da indevida não-ação estatal na prestação sanitária, fazendo com que se obedeça ao caráter dirigente de nossa Constituição, bem como sejam respeitados os ideais do Estado Democrático de Direito por ela estabelecidos.35

Desse modo, pode-se concluir que o importante é que a saúde seja efetivada,

independentemente do procedimento ou expediente técnico, pois é meio de

preservação e de qualidade da vida, é o bem máximo da humanidade. Não pode o

Estado eximir-se da prestação de atendimento à saúde, uma vez que a mesma é

assegurada pela própria Lei Fundamental, que lhe impõe aplicação imediata, prevista

no artigo 5º, §1º, da Constituição Federal, o qual deve ser interpretado sempre na

busca da maior otimização possível desse direito.

32 BIGOLIN, acesso em: 10 out. 2008. 33 SARLET; FIGUEIREDO, acesso em: 24 jul. 2008. 34 SCHWARTZ, 2001, p. 86-87. 35 Ibid.

Page 11: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

A saúde é direito público subjetivo oponível contra o Estado, observado o

requisito do risco da preservação da vida e do respeito à dignidade humana.36

No capítulo seguinte, será analisada a trajetória da implantação do direito relativo

à saúde no Brasil, fazendo uma breve retrospectiva histórica, até a atualidade, com a

criação do Sistema Único de Saúde. Na organização do SUS, será abordada a questão

relativa ao acesso a medicamentos por parte do cidadão.

2 PRESTAÇÃO DE ATENDIMENTO À SAÚDE NO BRASIL

2.1 HISTÓRICO

A Constituição Imperial de 1824 foi uma Carta com inovações no aspecto social,

sinalizava para os direitos humanos do século XX, embora ainda com forte conteúdo

liberal. Entretanto, em momento algum o texto constitucional do Império regulamentou o

direito à saúde. Não cabia ao Estado interferir nessa questão, tendo em vista a

característica liberal do mesmo.

A Constituição Republicana de 1891 representou um retrocesso em relação aos

direitos sociais, nada dispondo acerca do direito à saúde no texto constitucional.

A Constituição de 1934 representa a pretensa inauguração de um Estado Social

brasileiro. Privilegiou a assistência médica e sanitária, tão-somente ao trabalhador e à

gestante. Neste período, a saúde passou a ter condição de direito subjetivo do

trabalhador no âmbito do Seguro Social fomentado pelos Institutos de Aposentadorias e

Pensões.37

Conferiu competência concorrente à União e aos Estados em relação à saúde e

adotou medidas para restringir a mortalidade e a morbidade infantis e de higiene que

impedissem a propagação de doenças. Assim, percebe-se que no primeiro Diploma

Fundamental Republicano a proteção social possuía a figura de mero socorro

concedido ao cidadão pelo Estado.

36 SCHWARTZ, 2001, p. 86. 37 MARTINS, Wal. Direito à saúde: compêndio. Belo Horizonte: Fórum, 2008, p. 42.

Page 12: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Na Constituição de 1937, conforme salienta Ana Paula Oriola Raeffray38, há uma

lacuna acerca dos benefícios sociais, tampouco dispôs sobre a contribuição da União.

A Constituição de 1946 estabelece competência da União para legislar sobre

normas gerais de defesa e proteção da saúde. A assistência permanece exclusiva ao

trabalhador, entretanto, a fim de ampliar a proteção à saúde, houve a criação do

Ministério da Saúde em 1950.

A respeito das políticas, Martins, citando Raeffray, assim entende:

Desde o início do século passado até o final dos anos sessenta, o sistema de saúde brasileiro se preocupava, fundamentalmente, com o combate em massa de doenças e para viabilizar esse objetivo se utilizava de campanhas de saúde pública.39

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 10 de dezembro de 1948,

elenca a saúde como elemento da cidadania. Mesmo o Brasil sendo um dos países

signatários da Declaração Universal dos Direitos do Homem, na Constituição de 1967, a

única referência ao direito da saúde se encontra na delegação à União da competência

de estabelecer planos nacionais de educação e saúde. Inexistiu avanço no campo da

proteção sanitária.

Até a Constituição de 1988, nenhuma outra Constituição havia referido de forma

expressa a saúde como parte integrante do interesse público. Nas Cartas anteriores a

saúde era assegurada exclusivamente aos indivíduos que possuíam a condição de

trabalhador. A partir da presente Constituição Federal (CF), a prestação do serviço

público de saúde passou a ser direito de todos os brasileiros, indepentemente de

vínculo empregatício.

Essa Carta dispõe que o dever do Estado em relação à saúde deve ser garantido

mediante políticas sociais e econômicas. Estabelece como objetivos a redução do risco

de doenças e outros agravos, bem como, o acesso universal igualitário às ações e

serviços.

A Carta Magna de 1988 atribuiu competência concorrente entre a União, Estados

e Municípios para legislar sobre proteção e defesa da saúde. Pelo artigo 24 da CF, 38 RAEFFRAY, citada por Idem, p. 42-43. 39 RAEFFRAY apud MARTINS, 2008, p. 44.

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depreende-se que à União cabe o estabelecimento de normas gerais; aos Estados,

suplementar a legislação federal; e aos Municípios, legislar sobre os assuntos de

interesse local. Do mesmo modo, há possibilidade de os três entes federativos

formularem e executarem políticas públicas de saúde, com força no artigo 23 da CF.40

A proteção à saúde torna-se função institucional do Ministério Público, por força

do artigo 19741 da Constituição federal que define as ações e serviços de saúde como

assuntos de relevância pública.

O artigo 198 da Constituição Federal de 1988 assevera que as ações e serviços

públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada, constituindo-se em

um sistema único.

Schwartz42 esclarece que:

Em outras palavras, o art. 198 da CF/88 diz que: há a rede pública de saúde e a rede privada (por contratação ou convênio). Ambas as redes formam uma rede regional (para que sejam respeitadas as particularidades locais) e hierárquica, que devem estrita observância aos princípios do SUS (integralidade, igualdade e participação da comunidade). Daí surge um Sistema Único de Saúde.

Estabelece-se, pois, o SUS – Sistema Único de Saúde, ponto abordado no

próximo título.

2.2 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O Sistema Único de Saúde – SUS - é resultado da reforma sanitária defendida

por movimentos sociais durante a Assembléia Nacional Constituinte de 1986/198743,

ocasionadas em virtude da inadequação do sistema de saúde vigente à época. O

Sistema Nacional de Saúde mostrava sinais de inoperância e ineficiência, o que

motivou a busca por melhores serviços de saúde e gerenciamento organizado.

40 BARROSO, Luís Roberto. Da falta de efetividade à Judicialização Excessiva: direito à saúde,

fornecimento gratuito de medicamentos e parâmetros para a Atuação Judicial. Revista Jurídica UNIJUS, v. 15, p. 13-38, 2008, p. 14-15.

41 Assim dispõe o artigo 197 da Constituição Federal: “São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado”. 42 SCHWARTZ, 2001, p. 102. 43 FIGUEIREDO, 2007, p. 96.

Page 14: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

A criação do SUS representa uma grande evolução entre as políticas sociais

instituídas pela Constituição Federal de 1988. Encontra-se regulado

infraconstitucionalmente pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei nº

8.142, de 28 de dezembro e 1990.

Citando Carvalho, Figueiredo observa que a conformação em “sistema” impõe

que o SUS subsista como “um conjunto de unidades, serviços e ações que interagem

para um fim comum”, em que o adjetivo “único” determina que as diretrizes e princípios

estabelecidos constitucionalmente devam ser seguidos de forma unívoca nos três

níveis da Federação.44

Conforme determinado pelo artigo 198 da Constituição Federal de 1988, as

ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e

constituem um sistema único, organizado de maneira descentralizada, com direção

única em cada esfera de governo; de modo que seja propiciado o atendimento integral,

com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais

e que haja a participação da comunidade.45

Dentre as atribuições do SUS, a par da vigilância sanitária e epidemiológica,

situa-se também a preservação da saúde do trabalhador e a prestação de assistência

terapêutica integral, inclusive farmacêutica, força do artigo 6°, inciso I, alínea “d”, da Lei

nº 8.080/1990.46

Dispostos no artigo 7º da Lei Orgânica de Saúde (Lei nº8.080/90), os princípios

basilares do Sistema Único de Saúde são: universalização, eqüidade, participação

popular, regionalização e hierarquização, descentralização e comando único.

Pelo princípio da universalização, pode-se compreender que a saúde passa a ser

um direito de cidadania de todas as pessoas e cabe ao Estado assegurar este direito.

Nesse sentido:

[...] o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou outras características

44 FIGUEIREDO, 2007, p. 96-97. 45 BARROS, Wellington Pacheco. Elementos de direito da saúde. Porto Alegre: Tribunal de Justiça do

Rio Grande do Sul, Departamento de Artes Gráficas, 2006, p. 9. 46 OLIVEIRA, Euclides Benedito de. Responsabilidade do Estado pelo atendimento integral à saúde

da pessoa humana. Disponível em: <http://www.justitia.com.br/ artigos/06c275.pdf> Acesso em: 20 nov. 2008.

Page 15: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

sociais ou pessoais. O SUS foi implantado com a responsabilidade de tornar realidade este princípio.47

Objetiva-se com o princípio da eqüidade reduzir as desigualdades. Tal princípio

busca tratar desigualmente os desiguais, respeitando suas individualidades e investindo

mais onde a carência é maior.

O princípio da integralidade considera a pessoa como um todo. Integra as ações,

incluindo a promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação.

Pressupõe “a articulação da saúde com outras políticas públicas, como forma de

assegurar uma atuação intersetorial entre as diferentes áreas que tenham repercussão

na saúde e qualidade de vida dos indivíduos”.48

A organização de forma regionalizada deve ser feita a fim de tratar o sistema de

saúde de acordo com as peculiaridades de cada região. Assim a responsabilidade

sobre a saúde é dividida entre todas as esferas do governo.49

A hierarquização, segundo Lenir Santos50:

É a referência e a contra-referência: o paciente tem acesso aos serviços de saúde através de um serviço de menor complexidade, devendo ser referenciado para serviços de maior complexidade na medida de suas necessidades individuais (excetuadas as situações de emergências).

O princípio da descentralização está ligado à municipalização das ações e

serviços de saúde. A municipalização “é uma forma de aproximar o cidadão das

decisões do setor e significa a responsabilização do município pela saúde de seus

cidadãos”.51 É um meio de racionalizar a busca da efetivação do direito à saúde, pois

procura detalhar, a partir da realidade local, o sistema e conceito de saúde.52

A participação popular deve estar presente no dia-a-dia do sistema. É feita

basicamente, através dos Conselhos e das Conferências de Saúde.

47 CUNHA, J. P. P; CUNHA, R. E. Sistema Único de Saúde: princípios. In: CAMPOS, F. E; TONON, L. M;

OLIVEIRA JÚNIOR, M. (Orgs.). Caderno Planejamento e Gestão em Saúde. Belo Horizonte: Coopmed (Caderno de Saúde, 2), p. 301.

48 Ibid. 49 SCHWARTZ, p. 103. 50 Ibid., p. 108. 51 CUNHA; CUNHA, op. cit., p. 302. 52 SCHWARTZ, op. cit., p. 104.

Page 16: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Os Conselhos de Saúde são órgãos deliberativos, de caráter permanente,

compostos com a representatividade da sociedade. Formulam estratégias e atuam no

controle da execução da política de saúde, conforme o artigo 1º, §2º, da Lei nº

8.142/90.53

As Conferências de Saúde “são fóruns com representação de vários segmentos

sociais que se reúnem para propor diretrizes, avaliar a situação da saúde e ajudar na

definição da política de saúde”.54

Tendo em vista a descentralização dos serviços prestados pelo Sistema Único

de Saúde (SUS), bem como o disposto no artigo 198, §1º, da Constituição Federal (O

sistema único de saúde será financiado, nos termos do artigo 195, com recursos do

orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios, além de outras fontes), pode-se concluir que o direito à saúde é de

responsabilidade comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,

devendo ser assegurado de forma solidária pelos entes federativos.

Nesse sentido, a Lei Orgânica de Saúde define o que cabe a cada um dos entes

federativos:

À direção nacional do SUS, atribuiu a competência de “prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional” (art. 16, XIII), devendo “promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios, dos serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal” (art. 16, XV). À direção estadual do SUS, a Lei nº 8.080/90, em seu art. 17, atribuiu as competências de promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde, de lhes prestar apoio técnico e financeiro, e de executar supletivamente ações e serviços de saúde. Por fim, à direção municipal do SUS, incumbiu de planejar, organizar, controlar, gerir e executar os serviços públicos de saúde (art. 18, I e III).55

53 Assim dispõe o referido artigo da Lei 8.142 de 28 de dezembro de 1990: Art. 1° O Sistema Único de

Saúde (SUS), de que trata a Lei n° 8.080, de 19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes instâncias colegiadas: § 2° O Conselho de Saúde, em caráter permanente e deliberativo, órgão colegiado composto por representantes do governo, prestadores de serviço, profissionais de saúde e usuários, atua na formulação de estratégias e no controle da execução da política de saúde na instância correspondente, inclusive nos aspectos econômicos e financeiros, cujas decisões serão homologadas pelo chefe do poder legalmente constituído em cada esfera do governo.

54 CUNHA; CUNHA, (Caderno de Saúde, 2), p. 303. 55 BARROSO, 2008, p. 16.

Page 17: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Desse modo, o Poder Público Municipal assume o papel de gestor do sistema de

saúde de sua cidade. À esfera estadual cabe criar condições para que o município

possa exercer a gestão nos seus limites territoriais, e à esfera federal cabe, além de

incentivar a implementação dos SUS estaduais e municipais, normatizar e coordenar o

sistema nacional.

O financiamento do SUS é compartilhado pelas três instâncias federativas, que

devem alocar os recursos orçamentários destinados à saúde em contas específicas

denominadas Fundos de Saúde.56

Citando Mendes, Acurcio adita que as principais fontes de financiamento dos

recursos federais são a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social

(COFINS), os recursos ordinários e a contribuição sobre o lucro das pessoas jurídicas.

As transferências de recursos devem ocorrer fundo a fundo, ou seja, recursos

federais são transferidos do Fundo Nacional aos Fundos Estaduais e Municipais de

saúde.

Para o desenvolvimento do presente trabalho, entretanto, será interessante

deter-se especificamente na prestação consistente no fornecimento de medicamentos

como medida necessária e indispensável para preservação ou restabelecimento da

saúde, tema abordado no título que segue.

2.3 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA

Segundo Figueiredo57, existe um dever estatal, decorrente da obrigação de

assistência à saúde ao indivíduo, que lhe garante o direito de prorrogar o período de

vida com melhor qualidade, competindo ao Estado, em respeito aos direitos à vida e à

saúde, “o indeclinável dever de lhe proporcionar tais bens jurídicos”.

Segundo Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o Sistema Único de

Saúde visa à integralidade da assistência à saúde, devendo atender aos que dela

56 ACURCIO, Francisco de Assis. Política de medicamentos e assistência farmacêutica no Sistema Único

de Saúde. In: ACURCIO, Francisco de Assis (Org.) Medicamentos e Assistência Farmacêutica. Belo Horizonte: COOPMED, 2003, p. 46.

57 FIGUEIREDO, 2007, p. 211.

Page 18: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

necessitem em qualquer grau de complexidade, alcançando medicamentos ao indivíduo

que deles necessite.58

Não há como o Estado cumprir seu dever de garantir aos seus cidadãos o direito

fundamental à saúde sem lhes alcançar medicamentos, tal prestação é necessária até

mesmo para a preservação da própria vida.59 O acesso a fármacos é um direito social,

tendo o Estado o dever de fornecer todo e qualquer medicamento necessário ou

recomendado para preservação e melhora da qualidade de vida e/ou da saúde, bem

como para sua reabilitação. Esse acesso deve ser assegurado para a consecução do

bem-estar, a fim de que o beneficiário possa ser um dos operadores do

desenvolvimento social, tendo por base a igualdade de tratamento e de condições.

A Assistência Farmacêutica teve início em 1971 com a instituição da Central de

Medicamentos (CEME). Esta tinha por objetivo o fornecimento de medicamentos à

população sem condições econômicas para adquiri-los e era caracterizado por uma

política centralizada de aquisição e distribuição de medicamentos.60

A Lei nº 8.080/90 estabelece que está incluída no campo de atuação do SUS a

formulação da política de medicamentos, que é instituída, em 30 de outubro de 1998,

pela Portaria nº 3.916 do Ministério da Saúde. Pela Política Nacional de Medicamentos,

a Assistência Farmacêutica é definida como:

Grupo de atividades relacionadas com o medicamento destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e o controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e a avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos.61

As ações de Assistência Farmacêutica devem estar fundamentadas nos

princípios constitucionais e legais estabelecidos no artigo 198 da CF e no artigo 7º da

58 Superior Tribunal de Justiça - AgRg no Ag 1044354/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 14/10/2008, DJe 03/11/2008. 59 ZANDONA, Fernando. Política nacional ou judicial de medicamentos? Revista de Doutrina da 4ª

Região, Porto Alegre, n.23, abr. 2008. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/ artigos/edicao023/Fernando_Zandona.htm>. Acesso em: 10 out. 2008.

60 BRASIL. Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Assistência Farmacêutica no SUS/Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Brasília: CONASS, 2007, p. 15.

61 BRASIL. 2007, p.16.

Page 19: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Lei nº 8.080/90. Os Entes da União deverão unir esforços para alcançar os fins

previstos pelas diretrizes da Política Nacional de Medicamentos.

Os medicamentos essenciais são definidos pela Organização Mundial de Saúde

como aqueles que satisfazem às necessidades de saúde prioritárias da população, os

quais devem estar acessíveis em todos os momentos, na dose apropriada, a todos os

segmentos da sociedade, além de serem selecionados segundo critérios de relevância

em saúde pública, evidências de eficácia e segurança, bem como estudos

comparativos de custo efetividade. Esses medicamentos mais estão organizados em

uma Relação Nacional de Medicamentos (RENAME).

Segundo Barroso62 cabe aos municípios definir a relação municipal de

medicamentos essenciais, com base na RENAME, e executar a assistência

farmacêutica. O propósito prioritário da atuação municipal é assegurar o suprimento de

medicamentos destinados à atenção básica em saúde, além de outros medicamentos

essenciais que estejam definidos no Plano Municipal de Saúde. A União em parceria

com os Estados e o Distrito Federal ocupa-se da aquisição e distribuição dos

medicamentos de caráter excepcional.

Tendo em vista a solidariedade existente entre os Entes Federativos, o

fornecimento de medicamentos para as situações de exceção, deve ser coordenada

entre as três esferas políticas: União, Estado e Município, não sendo permitido, dado o

texto constitucional, imputar-se a responsabilidade a apenas um dos operadores. Não

poderá qualquer ente da Federação eximir-se da responsabilidade de assegurar às

pessoas desprovidas de recursos financeiros o acesso à medicação necessária à cura,

alegando ser a responsabilidade de outro ente federado, ou ainda, de que este

atendimento está vinculado à previsão orçamentária.

Depreende-se que o dever político-constitucional consagrado no artigo 196 da

CF, impõe ao Poder Público, independentemente de sua dimensão institucional, que

este atue na efetivação do direito à saúde acerca do fornecimento de medicamentos. O

Estado, o Distrito Federal e o Município são partes legítimas para figurar no pólo

62 BARROSO, 2008, p. 17-18

Page 20: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

passivo de demanda cuja pretensão seja o fornecimento de medicamentos, podendo tal

ação ser proposta em face de quaisquer dos entes.63

Desse modo, quando não fornecidos de forma espontânea pelo Estado, em

sentido genérico, o acesso a medicamentos pode ser pleiteado por meio do Poder

Judiciário, conforme será demonstrado no capítulo seguinte.

3 INTERVENÇÃO JUDICIÁRIA

3.1 LEGITIMIDADE DO PODER JUDICIÁRIO DE INTERVENÇÃO NO ÂMBITO DA

SAÚDE, ESPECIALMENTE QUANTO AO FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS

Embora expresso constitucionalmente, com um intuito formidável, o direito à

saúde não se realiza na prática. Por não ser efetivamente assegurada pelo Poder

Executivo, transfere-se ao Poder Judiciário a incumbência de determinar a sua

satisfação em casos concretos levados a sua apreciação.

Lippel explica que a competência para desenvolver as políticas públicas

necessárias para a garantia desse direito cabe ao Poder Legislativo, por elaboração de

leis, inclusive orçamentárias, e ao Poder Executivo, através da definição de prioridades

e escolha dos meios para sua realização.64

E conclui:

No entanto, as questões ligadas ao cumprimento das tarefas sociais, no Estado Social de Direito, não estão relegadas somente ao governo e à administração, mas têm seu fundamento nas próprias normas constitucionais sobre direitos sociais; a sua observação pelos outros Poderes pode e deve ser controlada pelo Judiciário. Onde o processo político (Legislativo, Executivo) falha ou se omite na implementação de políticas públicas e dos objetivos sociais nela implicados, ou onde direitos sociais são negligenciados por incompetência administrativa, cabe ao Poder Judiciário tomar uma atitude ativa na realização desses fins sociais através da correição da prestação dos serviços sociais básicos.65

63 Superior Tribunal de Justiça - AgRg no Ag 1044354/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA,

julgado em 14/10/2008, DJe 03/11/2008. 64 LIPPEL, acesso em: 10 out. 2008. 65 LIPPEL, acesso em: 10 out. 2008.

Page 21: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

O Judiciário surge como fiscalizador e exige do Poder Executivo a

implementação de políticas públicas para que a regra prevista no artigo 196 da

Constituição Federal converta-se em mera promessa institucional, sob pena de o Poder

Público substituir o cumprimento de seu impostergável dever, fraudando as

expectativas nele depositadas, infielmente ao que determina a sua Lei Fundamental.66

A intervenção do Poder Judiciário, determinando à Administração Pública o

fornecimento gratuito de medicamentos, visa à realização da promessa constitucional

de prestação universalizada do serviço de saúde. Cabe, portanto, ao Poder Judiciário a

função de corrigir as eventuais desigualdades ocorridas, com base na garantia do

direito à saúde e à vida, cabendo ao julgador proteger a inviolabilidade desses direitos.

Schwartz entende que há vínculo jurídico gerador de obrigações entre o Estado-

devedor e o cidadão-credor no que concerne ao direito à saúde e que tanto o titular do

direito público subjetivo da saúde como as instituições competentes, no zelo da questão

sanitária, podem reclamar em juízo ou via administrativa a efetivação/tutela deste

direito. Entretanto, não se pode olvidar que os direitos sociais dependem de uma ação

concreta estatal e não simplesmente de uma possibilidade de agir em juízo.

A atuação judicial, todavia, deve-se dar em momento posterior ao da constatação

de que as ações positivas estatais não garantiram o direito à saúde. Deve ser uma

atuação secundária em relação ao dever dos Poderes Públicos. Assim, não há falar que

o Poder Judiciário age de forma ditatorial, pois os demais Poderes possuem

oportunidades para cumprirem com seu papel.

Deve o Judiciário encontrar soluções dentro do próprio direito para a efetivação

do direito à saúde. Lenio Streck67 afirma que “é possível utilizar o Judiciário para o

desenvolvimento de políticas públicas, [...] exigir das autoridades que cumpram seus

deveres, que tomem atitudes”.

A garantia de efetivação da saúde pelo Poder Judiciário é prisma da implantação

da cidadania, priorizando os direitos do homem que possuam íntima conexão com a

saúde. Porém, a intervenção do Judiciário na esfera da efetivação do direito à saúde,

relacionado ao fornecimento de medicamentos, gera inúmeras discussões acerca de

66 SCHWARTZ, 2001, p. 158. 67 STRECK apud SCHWARTZ, 2004, p. 164.

Page 22: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

sua limitação, as conseqüências dessa intervenção e quanto às causas do desrespeito

a esse tipo de obrigação.

3.2 CAUSAS DO DESRESPEITO AO ATENDIMENTO À SAÚDE RELACIONADO AO

FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS E AS CONSEQÜÊNCIAS DA

INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO

Devido à insuficiência de políticas públicas para a melhoria da realidade sanitária

do País, cabe ao Judiciário corrigir eventuais desigualdades ocorridas nessa seara.

Segundo Wacheleski68:

[...] o agigantamento do Poder Judiciário não é resultado somente da facilidade de acesso ao sistema, mas representa também a incompetência do sistema político para dar resposta aos problemas atuais da sociedade. O Poder Judiciário é colocado como substituto do Estado diante da necessidade de igualdade e da ineficiência das instituições políticas em prover essa carência.

Não há como o Estado cumprir o dever de garantia do direito à saúde sem

alcançar medicamentos aos seus cidadãos. Tal prestação é necessária para a

preservação da vida, como bem explicitado anteriormente. O Estado tem o dever de

fornecer todo e qualquer medicamento necessário ou recomendado para preservação

da vida e saúde, decorrente da assistência à saúde do indivíduo.69

O direito à saúde esbarra em sistemas jurídicos, burocráticos, econômicos,

políticos, entre outros, que perturbam sua efetivação. Sobre as causas de desrespeito,

compreende-se alguns dos fatos que serão analisados a seguir.

Segundo Schwartz (2001), os recursos destinados à saúde, no Brasil, são

insuficientes para atender à demanda da população. Optam, os governos, pelo ajuste

das contas públicas em detrimento dos gastos sociais. O Brasil figura entre os países

que possuem a mais reduzida participação no PIB das verbas destinadas à saúde. 70

68

WACHELESKI, Marcelo Paulo. Jurisdição e políticas públicas: a eficácia dos direitos fundamentais e a politicidade do Poder Público. Revista de Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 16, fev. 2007. Disponível em: <http://www.revistadoutrina.trf4.jus.br/ artigos/ edicao016/ Marcelo_ Wacheleski.htm>. Acesso em: 10 out. 2008.

69 ZANDONA, acesso em: 10 out. 2008. 70 SCHWARTZ, 2001, p.148.

Page 23: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

A maior parte da população é dependente do Sistema Único de Saúde. Os

serviços prestados chegam a 75% da população. Todavia, os valores pagos pelo

governo federal pelos serviços prestados através do SUS, figuram entre os piores do

mundo. A contaminação do meio ambiente nos centros urbanos, também compõe o rol

de agravantes à efetivação do direito à saúde.

Deficitário, também, o sistema educacional com base em campanhas de

esclarecimento e prevenção sanitária à população, vez que um indivíduo com

conhecimentos, escolarizado e esclarecido concerne os perigos que rondam sua

saúde.71

O mínimo estrato populacional que possui condições de compra de

medicamentos, também faz parte dos problemas de efetivação que abrangem o direito

sanitário no Brasil.

Os pontos arrolados servem como meros exemplos para as causas de

desrespeito à saúde. São fatores negativos que expõem a razão de o Brasil figurar

entre os piores no ranking de atendimento à saúde.

Segundo Dallari72:

Não basta a existência de serviços destinados à promoção, proteção e recuperação sanitária adequados e em número suficiente, nem a existência de normas legais prevendo todas as hipóteses de agravo à saúde pública, se o Estado não tiver atingido um nível tal de desenvolvimento sócio-econômico e cultural que lhe permita dispor de todos os recursos técnicos existentes, atender a todas as necessidades de infra-estrutura e possuir uma população educada para a saúde. Assim o Estado subdesenvolvido que não possui todos os recursos técnicos conhecidos para o tratamento de certas patologias, que não dispõe de meios econômicos para promover o saneamento ambiental ou que não educou sua população para a saúde, não pode atingir o mesmo nível sanitário daqueles desenvolvido que já emprega tais recursos sócio-econômicos e culturais.

Assim, conclui-se que mesmo com os avanços no sentido da busca da máxima

efetivação de direitos fundamentais – saúde – se está muito distante de ter solucionado

os problemas e desafios que a matéria suscita. Germano Schwartz sustenta, ainda, que

“Dentro do caráter sistêmico da saúde, a procura pela sua efetivação/solução não é

71 Ibid., p. 152. 72 DALLARI apud Idem, p. 154.

Page 24: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

problema apenas do Judiciário ou de um único estamento social, mas de todos os

componentes do Poder e da sociedade [...]”.73

Complementa que “Um dos fatores de maior importância da problemática

efetivacional sanitária reside em seu aspecto político, na vontade de os Poderes

implantarem políticas condizentes com o problema da saúde”.74

Salienta que caso as políticas instituídas pelo Estado fossem suficientes para

efetivar a saúde, desnecessárias seriam outras atividades com função reparadora da

inércia estatal e que as políticas públicas são o instrumento principal para a realização

do disposto no artigo 196 da CF.

Assim, é certo que o Executivo exerce papel fundamental na efetivação do direito

à saúde, especialmente por ser controlador e gerenciador das verbas públicas. Verifica-

se que a saúde é deixada em segundo plano, em detrimento de outras opções que a

vontade política julgue premente.75

Relativamente às conseqüências da intervenção do Poder Judiciário no

fornecimento de medicamentos, passa-se à análise dos principais argumentos

encontrados nas pesquisas de produção textual para a elaboração do presente

trabalho.

Figueiredo alega que para resguardar a ampla efetividade ao direito à saúde, há

desconsideração da premissa de que os direitos não são absolutos, ainda que sejam

fundamentais. O direito de um paciente não poderia, a priori, ser preferente ao direito

de outro cidadão, igualmente tutelado.

Sustenta que:

[...] o Estado deve atender a uma série de outras demandas, inclusive decorrentes da concretização de outros direitos fundamentais e, mesmo no caso do direito à saúde, sempre haverá a escolha quanto ao tratamento disponibilizado, pois o dever de proteção a esse direito é coletivamente prestado.76

73 SCHWARTZ, 2001, p. 156. 74 Ibid. 75 Ibid., p. 158. 76 FIGUEIREDO, 2007, p. 212.

Page 25: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

A autora ainda expõe que a dispensa de licitação, coloca de lado princípios

norteadores da Administração Pública, em favor de interesses econômicos de

empresas produtoras e comercializadoras de medicamentos, o que, por vezes, deixa de

considerar testes de eficiência e segurança realizados por órgão sanitários.

Barroso77 alega que o Judiciário não domina o conhecimento necessário para

instituir políticas de saúde, não possui condições de avaliar se determinado

medicamento é efetivamente necessário para se promover a saúde e a vida.

Opostamente aos entendimentos mencionados, o Estado não pode desincumbir-

se das suas obrigações relativas à efetivação dos direitos fundamentais, em especial o

fornecimento de medicamentos visando à conservação do direito à saúde, sob o

argumento de que há escassez de recursos, prejuízo à garantia dos demais serviços

em virtude do fornecimento de medicamentos excepcionais, estar o conteúdo do direito

à saúde vinculado ao bem de todos os membros da comunidade, e, não apenas do

indivíduo isolado, prescrição de medicamentos em razão de corrupção dos profissionais

especializados aos laboratórios farmacêuticos e falta de conhecimentos técnicos dos

juízes em relação à utilização de fármacos.

Visando evitar o prejuízo dos demais serviços públicos, o Estado deve

reorganizar a destinação de suas verbas, dando prioridade aos serviços de atendimento

populacional (educação, saúde, entre outros), ao invés de priorizar meros caprichos dos

administradores. Não há que se falar em inexistência de previsão orçamentária, vez que

está obrigado a primar o direito à vida, que é o bem de maior valor entre todos os bens,

devendo ser sempre preponderante aos demais direitos assegurados na Constituição

Federal.

Para efetivar a prevalência do direito à vida, o Poder Judiciário poderá, inclusive,

determinar o bloqueio de valores nas contas públicas e aplicação de multa em caso de

descumprimento, visando assegurar o resultado prático da ordem judicial, conforme

previsão do artigo 461, §5º, do CPC. Tal medida possui o caráter coercitivo, compelindo

o Ente devedor ao cumprimento da obrigação, custeando o tratamento médico e/ou

medicamentos indispensável à vida.

77 BARROSO, 2008, p. 27.

Page 26: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento acerca da licitude do

bloqueio de verbas públicas:

PROCESSO CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. SUS. CUSTEIO DE TRATAMENTO MÉDICO. MOLÉSTIA GRAVE. DIREITO À VIDA E À SAÚDE. BLOQUEIO DE VALORES EM CONTAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE. ART. 461 DO CPC. [...] II - É lícito ao magistrado determinar o bloqueio de valores em contas públicas para garantir o custeio de tratamento médico indispensável, como meio de concretizar o princípio da dignidade da pessoa humana e do direito à vida e à saúde. Nessas situações, a norma contida no art. 461, § 5º, do Código de Processo Civil deve ser interpretada de acordo com esses princípios e normas constitucionais, sendo permitido, inclusive, a mitigação da impenhorabilidade dos bens públicos. III - Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido.78

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MENOR SAÚDE. DIREITO INDIVIDUAL INDISPONÍVEL. ART. 227 DA CF/88. LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET. ART. 127 DA CF/88. ARTS. 7.º, 200, e 201 DO DA LEI N.º 8.069/90. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. DESCUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. BLOQUEIO DE VERBAS PÚBLICAS. MEDIDA EXECUTIVA. POSSIBILIDADE, IN CASU. PEQUENO VALOR. ART. 461, § 5.º, DO CPC. ROL EXEMPLIFICATIVO DE MEDIDAS. PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL À SAÚDE, À VIDA E À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PRIMAZIA SOBRE PRINCÍPIOS DE DIREITO FINANCEIRO E ADMINISTRATIVO. NOVEL ENTENDIMENTO DA E. PRIMEIRA TURMA.

[...] 10. O art. 461, §5.º do CPC, faz pressupor que o legislador, ao possibilitar ao juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas assecuratórias como a "imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de força policial", não o fez de forma taxativa, mas sim exemplificativa, pelo que, in casu, o seqüestro ou bloqueio da verba necessária à aquisição de medicamento objeto da tutela deferida, providência excepcional adotada em face da urgência e imprescindibilidade da prestação dos mesmos, revela-se medida legítima, válida e razoável. 11. Recurso especial que encerra questão referente à possibilidade de o julgador determinar, em ação que tenha por objeto o fornecimento de medicamento necessário a menor portador de cardiopatia congênita, medidas executivas assecuratórias ao cumprimento de decisão judicial antecipatória dos efeitos da tutela proferida em desfavor de ente estatal, que resultem no bloqueio ou seqüestro de verbas deste depositadas em conta corrente.

[...]. 79

78 Superior Tribunal de Justiça. REsp 656838/RS, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA,

SEGUNDA TURMA, julgado em 17/05/2005, DJ 20/06/2005 p. 219 79 Superior Tribunal de Justiça. REsp 869843/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado

em 18/09/2007, DJ 15/10/2007 p. 243

Page 27: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

O bloqueio de valores e a aplicação da multa em caso de descumprimento de

ordem judicial garantem que os medicamentos serão alcançados em tempo hábil ao

requerente. Entretanto, tais medidas apenas deverão ser tomadas excepcionalmente,

restringindo-se aos casos em que há urgência no fornecimento de medicamentos, sob

risco de perecimento da vida do postulante.

A fim de evitar a simples negativa de fornecimento de medicamentos pelo Estado

sob a alegação de que o remédio em questão não possui liberação pelos órgãos

sanitários, o Estado deve fundamentar sua negativa, explicitando os motivos pelos

quais aquele medicamento não possui liberação pelos órgãos pertinentes, indicando,

inclusive, vias de tratamento alternativas para sanar a patologia do indivíduo. A

ausência do cumprimento de formalidade burocrática não pode obstaculizar o

fornecimento da medicação indispensável à cura.

No que tange à alegação de possível corrupção dos profissionais especialistas

em face de laboratórios farmacêuticos, o Estado também não pode se isentar do seu

dever de assistência farmacêutica, sob tal alegação. É dever do próprio organismo

político administrativo regular e fiscalizar a atuação desses profissionais, estejam eles

vinculados ao SUS ou particulares, a fim de evitar que tais agentes de saúde

prescrevam determinados medicamentos em troca de vantagens pessoais oferecidas

pelos laboratórios, deixando de considerar a eficiência, qualidade, valor econômico e

adaptação do paciente a tal imposição farmacológica.

Caso prescrito pelo profissional especialista medicamento ao qual o Sistema

Único de Saúde já forneça similar genérico, igual ou mais benéfico à saúde, o Poder

Judiciário deverá ponderar no sentido de priorizar que seja alcançado ao indivíduo

aquele que for menos dispendioso ao Poder Público, observados os parâmetros

clínicos e procedendo ao uso racional e seguro destes produtos.

Nesse sentido, a jurisprudência tem se manifestado no sentido de que deve-se

proceder a uma perícia médica, a ser realizada em primeiro grau, informando sobre

protocolos clínicos e terapêuticos do Ministério da Saúde, inclusive demonstrando a

ausência de interesse pelo subscritor da prescrição. Ausente esse exame de caráter

técnico, a parte requerente deverá valer-se dos medicamentos fornecidos pelo SUS.

Page 28: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Entretanto, caso seja comprovada a necessidade de uso daquele medicamento

especial, o Estado não poderá obstaculizar o fornecimento desse.

Quanto à alegação de que os magistrados que deferem, ou não, a concessão do

fornecimento de medicamentos, não possuem conhecimentos técnicos suficientes

concernentes à prescrição de medicamentos, tal fato não absolve a incumbência estatal ao

alcance dos mesmos, cabendo ao Estado apresentar laudos médicos, pareceres e todo o

tipo de meio de prova que considere pertinente. Nesse caso, o juiz ainda pode solicitar que

os médicos compareçam em juízo, para que o mesmo possa sanar dúvidas, através do

conhecimento daqueles, e esclarecer pontos obscuros da questão sub judice.

Conclui-se, portanto, que o problema da efetividade sanitária reside no aspecto

político, na vontade de os Poderes implantarem políticas condizentes com o problema

da saúde.

A política pública deve visar o cuidado, defesa, proteção e promoção do direito à

saúde, pois é instrumento de realização do artigo 196 da Constituição Federal.

Caso as políticas instituídas pelo Estado fossem suficientes, desnecessárias

seriam as atividades de outros organismos com função reparadora da atuação/inércia

estatal.

A efetivação da saúde está no desejo do Estado cumprir a Constituição.

Segundo Schwartz80:

Os Poderes Públicos devem estar cientes de que foram organizados e concretizados pela Constituição tão-somente para melhor executarem os desejos do poder constituinte originário: o povo. Assim, quando não cumprem tal desiderato são ilegítimos, ao mesmo tempo que fazem da Carta Magna uma Constituição “aparente”.

Assim, denota-se que caso existisse uma real vontade política, a Constituição

seria efetivamente implementada, a problemática sanitária teria maior efetivação da

saúde como processo sistêmico que objetiva a prevenção e cura de doenças, ao

mesmo tempo em que visa à melhor qualidade de vida.81

CONCLUSÕES 80 SCHWARTZ, 2001, p. 158. 81 SCHWARTZ, 2001, p. 161.

Page 29: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

Os direitos fundamentais são os direitos do ser humano, reconhecidos e

positivados na esfera do direito constitucional de um Estado, são direitos que o homem

possui em face do Estado e que lhe são inatos. Esse conjunto institucionalizado de

direitos e garantias adquirem sua plenitude quando assegurados em texto

constitucional e têm o objetivo de respeitar a dignidade dos homens sujeitos à proteção

do Estado.

Por meio da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948, a dignidade

consagrou-se como valor fundamental da ordem jurídica. O princípio da dignidade

humana é fundamento do Estado Democrático de Direito, previsto no artigo 1º, III, da

Constituição Federal.

A proteção, manutenção e recuperação da saúde invocam-se para salvaguardar

a dignidade da pessoa humana, vez que estão agregados à qualidade de vida do

indivíduo. O Estado está juridicamente obrigado a exercer ações e serviços de saúde,

pois toda a atividade estatal está vinculada ao princípio da dignidade humana.

Por ser um direito fundamental, a saúde é auto-aplicável e de eficácia imediata.

A efetividade dos direitos fundamentais apresenta-se como designação para o Estado

em satisfazer as demandas sociais. O direito à saúde não pode ser reconhecido apenas

pela via do fornecimento de medicamentos, pois compreende políticas de maior

abrangência, em especial as de prevenção e de promoção à saúde.

As razões vinculadas à reserva do possível não devem prevalecer como

argumento a afastar a satisfação do direito e exigência do cumprimento dos deveres. A

saúde deve ser efetivada, independentemente do procedimento adotado. O Estado não

pode eximir-se da prestação de atendimento à saúde.

Por meio do artigo 196 da Constituição, foi instituído o Sistema Único de Saúde,

que equivale à ações e serviços públicos de saúde, de forma regionalizada,

hierarquizada e organizada de maneira descentralizada.

Para assegurar esse fornecimento de medicamentos os Entes Federados

deverão unir esforços para alcançar os fins previstos pelas diretrizes da política

Nacional de Medicamentos. Os Entes são solidários em relação à prestação de saúde,

não podendo, portanto, imputar-se a responsabilidade a apenas um dos operadores,

Page 30: RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO FORNECIMENTO DE

seja o alcance de medicamentos inclusos na lista de prestação básica, RENAME, ou de

caráter excepcional.

Para efetivar a prevalência do direito à vida, o Poder Judiciário poderá valer-se

de qualquer meio de direito para exigir o fornecimento de medicamentos por parte dos

Entes Federativos, inclusive bloquear verbas das contas públicas. A intervenção do

Judiciário é resultado da incompetência do sistema político para dar respostas aos

problemas atuais da sociedade.

As políticas públicas são o principal meio para a realização do disposto no artigo

196 da Constituição, contudo, falta vontade política para a implantação de ações

condizentes com a promoção da saúde. O Estado não pode eximir-se das suas

obrigações relativas aos fornecimentos de medicamentos. Deve, pois, reorganizar a

destinação das verbas públicas, priorizando sua aplicação em áreas que favoreçam o

direito à vida.

Destarte, os Poderes, em especial o Executivo, estão obrigados a trabalhar de

forma racionalizada, propondo-se à concretização da eficácia dos direitos

fundamentais, sob pena de tornar as expectativas da Lei Fundamental meros sonhos

do constituinte, não desempenhando as funções para as quais foram incumbidos pelo

povo.

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