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UFU TEXTOS DE POLITICA EXTERNA BRASILEIRA 2014

Resumo 1 Prova Peb

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UFU

TEXTOS DE POLITICA

EXTERNA BRASILEIRA

2014

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TEXTO 1 – Aspiração Internacional e Politica Externa – Maria Regina Soares de Lima

Continuidade da política externa brasileira. 3 Momentos de ruptura: pós64 e instalação do governo militar; o

pragmatismo responsável do governo Geisel; e o governo Collor com a abertura comercial. Governo Geisel e Collor:

mudança de política sem mudança de regime; e Sarney: mudança de regime sem mudança de política. Continuidade

devido a institucionalização da PEX através do Itamaraty (poder burocrático relativamente autônomo caracterizado

como agência especializada). MRE: influência decisiva na agenda externa.

Dois tipos de política externa: bem coletivo e interesses da comunidade e política externa distributiva. Bem coletivo:

integridade territorial e política da nação, proteção da sociedade contra o mercado, Estado desenvolvimentista ou

política externa com objetivo de aumentar a renda nacional. Baseado no nesses dois tipos de política externa e

considerando os regimes políticos, considera-se 3 periodos da PEB:

1) Momento de construção do Estado (1889-1930): compreende o império e a republica velha. Processo de

demarcação territorial, inserção da economia mundial como país agroexportador e um regime político de tipo

oligárquico.Barão do RB: emblemático da continuidade da PEB, tanto na definição da agenda externa, na

configuração do espaço nacional e na contribuição para institucionalização dos serviços diplomáticos. Pex é assunto

de Estado e voltada para defender interesses nacionais, sendo formulada e implementada pela burocracia, movida

pelo interesse publico.

2) Período da industrialização protegida (1946-64): início e consolidação do sistema de subst. de importações (pex

voltada pra este sistema). Contexto de Gfria que proporcionou: no plano multilateral, a “agenda do

desenvolvimento” graças as instituições internacionais (ex: Aliança para o Progresso - Internacionalização da

política doméstica latinoamericana) que deram metapoder aos maiores países do terceiro mundo; no plano regional,

EUA consolidou sua dominação econômica na Am. Latina. Criação da UNCTAD e indulgência dos EUA na agenda

do desenvolvimento do terceiro mundo. Antes da detente, questões de pex dividiam a sociedade brasileira (ex:

expulsão de cuba da OEA e reatamento com a URSS). De 1964-67, ruptura com a pex, abandono da pex

independente e retorno do realinhamento automático. Em 1967, retoma a posição defensiva das teses econômicas do

terceiro mundo, liderando o G77. 2 consequências: desvinculou a pex da política domestica e garantiu relativa

autonomia ao MRE vis-à-vis as forças políticas e sociais internas, renovando o padrão de insulamento burocrático.

Posição negociadora visando proteger a indústria e tratamento diferencial para liberalização para os

subdesenvolvidos. Os ganhos obtidos nas negociações multilaterais eram bens coletivos de modo que os setores

empresariais e sindicais não participaram, dando relativa autonomia a diplomacia que representavam o interesse

coletivo pelo desenvolvimento industrial.

3) Fase de integração competitiva (Rep. Constitucional de 1988): fim da Gfria, Globalização financeira, maiores

restrições no contexto negociador multilateral e pressão estadunidense por harmonização internacional de políticas

internas. Impossibilidade do Brasil continuar bloqueando a agenda dos países desenvolvidos, capitaneados pelos EUA.

Esse retorno da ordem democrática, da crise do Estado e do modelo de industrialização protegida e da abertura

econômica, vai gerar uma importância renovadora da política doméstica no processo de formação da pex, com duas

implicações: diminuição da autonomia decisória do MRE na condução da pex e a politização da pex. Dificuldades entre

Brasil-Argentina refletem no âmbito do MERCOSUL a politização da agenda externa em ambos países. A principal

consequência da liberalização política e econômica foi ter modificado a natureza da pex que representa não só

interesses coletivos no plano mundial, mas interesses setoriais. Tendendo a caber ao executivo também a ratificação.

TEXTO 2 – O Brasil e a ideia de “AL” em perspectiva histórica - Leslie Bethell

O conceito “América Latina” (AL) é de origem francesa. A expressão “Amérique latine” era utilizada pelos

intelectuais franceses para justificar o imperialismo francês no México sob domínio de Napoleão III. Os franceses

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argumentavam que existia uma afinidade cultural e linguística, uma unidade entre os povos “latinos”, e que a França

seria sua inspiração e líder natural (e seu defensor contra a influência e dominação anglo-saxã, principalmente a

norte-americana).

Apesar da fragmentação da América Espanhola em várias repúblicas no momento de sua independência, os políticos,

intelectuais e escritores, nos anos 1850 e 1860, mantinham a ideia de que existe uma consciência e identidade

hispano-americana/latino-americana comum que supera os “nacionalismos” locais e regionais. E, tal como Michel

Chevalier, eles argumentavam que a “AL” era fundamentalmente distinta dos EUA, a “outra” América. Acima de

tudo, também acreditavam que os EUA eram seu inimigo.

Nos anos 1860, a França e a Espanha se juntaram aos EUA como inimigas da “AL” devido à intervenção francesa

no México em 1861; à anexação de Santo Domingo à Espanha, em 1861-5, dentre outros conflitos. Foi por isso que

alguns preferiam se considerar parte da América Española, Hispanoamérica, ou simplesmente América del Sur,

mais do que “AL”: para eles, “latinidad” representava o conservadorismo, antiliberalismo, antirrepublicanismo,

catolicismo e, não menos importante, ligações com a Europa Latina, que inclui a França e a Espanha.

Na história da ideia de uma identidade hispano-americana ou latino-americana comum, em meados do século XIX a

Argentina aparece como um interessante caso à parte. A geração pós-independência de escritores, pensadores

políticos e intelectuais liberais, a chama da “Geração de 37” considerava a Argentina, e principalmente Buenos

Aires, a manifestação da civilização europeia num ambiente hispano-americano predominantemente bárbaro. Eram

influenciados pelas ideias dos ingleses, franceses e norte-americanos e acreditavam que a Argentina teria o potencial

de se tornar o equivalente dos EUA na América do Sul.

O importante é que nenhum dos políticos, intelectuais e escritores hispano-americanos que primeiro utilizaram a

expressão “AL”, e nem seus equivalentes franceses e espanhóis, incluíam nela o Brasil. “AL” era simplesmente

outro nome para América Española.

Por parte dos escritores e intelectuais brasileiros, apesar de reconhecerem a herança ibérica e católica que o Brasil e

a América Espanhola têm em comum, também estavam cientes das diferenças que os separavam: a geografia, a

história (a luta de Portugal para se manter independente da Espanha e as formas distintas de colonização da América

Portuguesa e da América Espanhola), a economia e sociedade brasileiras baseadas na agricultura e escravatura e,

acima de tudo, a língua, a cultura e as instituições políticas. Diferentemente da América Espanhola, a Independência

do Brasil ocorreu de forma pacífica e o país se manteve unido sob a coroa. Após a instabilidade dos anos 1830, o

Brasil se encontrava politicamente estável e “civilizado”, ao contrário das repúblicas hispano-americanas, que os

brasileiros consideravam violentas, extremamente instáveis e “bárbaras”. Quando os escritores e intelectuais

brasileiros se referiam ao mundo fora do Brasil, não pensavam na América Espanhola – de fato, não se

consideravam parte da “AL” –, e sim na Europa, principalmente na França ou, em casos mais raros, na América

como um todo, incluindo os EUA.

II

No início do século XIX, políticos norte-americanos, e mais especificamente o presidente Thomas Jefferson,

elaboraram a ideia do “Hemisfério Ocidental”, republicano e independente da Europa. O presidente James Monroe,

em dezembro de 1823, na Doutrina Monroe, proclamou que os EUA não tolerariam qualquer extensão do sistema

político europeu, nem qualquer intervenção por nenhuma potência europeia “em parte alguma deste hemisfério”.

Foi, bem conhecidamente, uma declaração retórica: era a marinha britânica, e não os EUA, que nessa época

guardava o hemisfério ocidental das forças reacionárias europeias. Todavia, George Canning, o secretário das

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relações exteriores britânicas, expressou preocupação acerca da “pretensão convicta dos EUA em colocar-se à frente

de uma confederação que engloba todas as Américas e direcionar essa confederação contra a Europa (incluindo a

Grã-Bretanha)”. O secretário de Estado (1817-25) e presidente (1825-9) John Quincy Adams, mesmo com

partilhando com Jefferson a oposição à influência europeia nas Américas, não tinha nenhum interesse num “sistema

americano” que englobasse as antigas colônias espanholas e portuguesas, as quais, além de serem ibéricas e, com

isso, católicas, eram inerentemente instáveis e degeneradas, em parte devido ao clima tropical! “Quanto ao sistema

americano”, Adams escreve, “temo-lo; somos o todo”. Ele tinha “pouca expectativa de que qualquer benefício a este

país [os EUA] resultasse da ligação com eles [os recém-independentes países hispanófonos e o lusófono], seja

política ou comercial”, e nos 60 anos seguintes nenhum presidente norte-americano demonstrou interesse no

conceito de hemisfério ocidental, ou até mesmo em qualquer parte do hemisfério ao sul do Panamá.

No momento da independência, os políticos e generais hispano-americanos, notavelmente o próprio Simon Bolívar

(em sua Carta da Jamaica, escrita em 1815), idealizavam uma confederação de repúblicas hispano-americanas que

formaria uma “única nação” que seguiria a mesma política contra o inimigo europeu. Em dezembro de 1824,

Bolívar convidou representantes de todos os povos e governos da América, com exceção dos EUA, Brasil e Haiti,

ao Congresso do Panamá, com a presença da Grã-Bretanha como observadora. Nota-se que o Brasil inicialmente

não foi convidado ao Panamá. Bolívar acreditava que não apenas sua língua, história e cultura eram completamente

diferentes, mas também sua economia e sociedade tinham base no tráfico negreiro e no escravismo, que eram

repudiados e/ou abolidos na maioria das repúblicas hispano-americanas. Sobretudo, o Brasil permanecia parte do

sistema europeu que ele detestava e temia, devido à manutenção do sistema monárquico de governo. Pior ainda, o

Brasil se considerava um Império e tinha ambições imperialistas em relação ao Rio da Prata.

O Congresso do Panamá, realizado de junho a julho de 1826 (e transferido para Tacubaya, México, em 1827-8), foi

um fracasso. Houve várias tentativas de se criar uma confederação americana: nas conferências de Lima em 1847-8,

de Santiago do Chile em 1856, de Washington em 1856, de Lima em 1864-5 e de Caracas em 1883. Todas

fracassadas. A principal motivação por trás dessas conferências era a necessidade de a América Espanhola se unir

para resistir à expansão territorial dos EUA. As repúblicas hispano-americanas desconfiavam do Brasil imperial, o

imenso vizinho lusófono que ocupava metade da América do Sul. Nas raras ocasiões em que se contemplava

convidar o Brasil para suas conferências internacionais, eram convites informais, indiferentes e ambivalentes.

Nenhum foi aceito.

Os governos brasileiros do Segundo Reinado (1840-89) não se identificavam com a América Española,

Hispanoamérica ou “AL”, e nem com os inúmeros projetos dos países vizinhos de união interamericana. O Brasil,

com sua costa Atlântica imensa, pertencia ao mundo atlântico, e suas principais ligações políticas e econômicas

eram com a Grã-Bretanha, enquanto suas ligações culturais eram com a França e, em menor proporção, com

Portugal. Portanto, diferentemente da maioria das repúblicas hispano-americanas, o Brasil não se sentia ameaçado

pelos EUA, e menos ainda pela França e pela Espanha. As relações entre o Brasil e seus vizinhos hispano-

americanos, os quais, de acordo com os diplomatas brasileiros, faziam parte da “América Meridional” ou

simplesmente “América do Sul”, eram muito limitadas nesse período – com uma grande exceção: o Rio da Prata,

onde o Brasil tinha interesse estratégico e onde travou três guerras.

O Manifesto Republicano de 1870 começa com as seguintes notórias palavras: “Somos da América e queremos ser

americanos”. Para os republicanos, o Brasil era “um país isolado”, infelizmente separado das repúblicas hispano-

americanas não só pela geografia, história, língua e cultura, mas também pelo seu ponto de vista

imperial/monárquico da forma de governo. Esse fato também separava o Brasil dos EUA. Com a Proclamação da

República em 1889, o Brasil começaria a desenvolver relações mais próximas com alguns vizinhos hispano-

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americanos, principalmente a Argentina e o Chile. Ao mesmo tempo, no entanto, o Brasil se tornou mais próximo

ainda dos EUA e se tornou árduo defensor do pan-americanismo.

III

No fim do século XIX e início do século XX, a história das Américas começa a contar com o surgimento dos EUA

como potência naval e militar e com o crescimento do investimento e do comércio norte-americanos.

Paralelamente, os Estado Unidos, através do pan-americanismo, tentavam de forma pacífica estabelecer sua

liderança no hemisfério ocidental. O objetivo era promover o comércio e o investimento estadunidense na região,

criar estruturas políticas mais ordenadas e previsíveis nos países ao sul e deter quaisquer ambições imperialistas

europeias. Depois do cancelamento de uma conferência planejada para 1882, a primeira Conferência Internacional

de Estados Americanos (mais conhecida como as Conferências Pan-Americanas) foi realizada em Washington de

outubro de 1889 a abril de 1890. As conferências seguintes foram realizadas no México (1901-2), Rio de Janeiro

(1906) e Buenos Aires (1910) antes da Primeira Guerra Mundial, mais duas em Santiago do Chile (1923) e Havana

(1928) antes da Depressão, e mais duas em Montevidéu (1933) e Lima (1938) nos anos 1930 – além do número

crescente de reuniões dos ministros de relações exteriores americanos, na medida em que a guerra na Europa se

tornava cada vez mais provável.

Os governos hispano-americanos, em geral, reagiam com suspeita e desconfiança em relação a esse novo interesse

dos EUA no hemisfério. Eles condenavam fortemente a guerra com a Espanha e o estabelecimento do protetorado

estadunidense em Cuba. Temiam, com razão, que o pan-americanismo fosse uma ferramenta utilizada para ratificar

a hegemonia política e econômica dos EUA e assegurar a futura exploração da região. A Argentina, o país mais

importante da América do Sul na época, desafiava a hegemonia dos EUA e o próprio conceito de pan-americanismo.

Os governos brasileiros da Primeira República (1889-1930), como na época do Império, não demonstravam

qualquer interesse pelos “povos da língua espanhola” e pelas “nações latino-americanas”, com exceção das disputas

fronteiriças (geralmente vitoriosas) com seus vizinhos sul-americanos. O Brasil preferia estreitar as relações com a

Europa, mais especificamente a Grã-Bretanha e, de certo modo, com a Alemanha, e cada vez mais com os EUA. Na

visão dos brasileiros, existiam dois gigantes no hemisfério ocidental, sem dúvida desiguais: os EUA e o Brasil.

Ambos de proporções continentais; ambos com recursos naturais abundantes e alto potencial econômico; ambos

“democracias” estáveis; e ambos, acima de tudo, distintos da América Espanhola ou Latina. O Brasil também

reconhecia as grandes mudanças – geopolíticas, econômicas e culturais – que estavam acontecendo no mundo na

véspera do século XX. Era inevitável que a hegemonia global norte-americana substituísse a britânica e europeia.

Era interesse do Brasil fortalecer os laços entre as duas nações.

A americanização da política externa brasileira deve-se ao Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores

durante dez anos (1902-1912), e a Joaquim Nabuco, o primeiro embaixador brasileiro em Washington (1905-10). O

governo brasileiro, ao contrário da maioria dos governos hispano-americanos, não havia criticado a guerra dos EUA

contra a Espanha, aprovava o corolário de Roosevelt à Doutrina Monroe, e fez vista grossa às inúmeras intervenções

no México, na América Central e no Caribe. Os EUA eram vistos não só como a melhor defesa contra o

imperialismo europeu (que, para o Brasil, era uma ameaça maior do que o imperialismo estadunidense), mas

também como responsáveis por estabelecer ordem, paz e estabilidade na América Espanhola. E desde o início o

Brasil era mais favorável à ideia do pan-americanismo do que às repúblicas hispano-americanas, e deu apoio total

aos EUA nas Conferências Pan-Americanas. Paralelamente, o Brasil tinha mais ambição do que as repúblicas

hispano-americanas em desempenhar um papel internacional além do hemisfério e, em prol disso, buscou e

assegurou o apoio norte-americano.

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Na Primeira Guerra Mundial, entre as repúblicas hispano-americanas mais importantes, só o Brasil seguiu os EUA e

declarou guerra contra a Alemanha em 1917. Depois da saída da Liga em 1926 (por não ter conseguido assegurar

uma cadeira permanente no Conselho), o Brasil se concentrou ainda mais em estreitar os laços com os EUA, que

nesse momento já haviam substituído a Grã-Bretanha como principal parceiro comercial do Brasil.

Ao longo dos anos 1930, apesar do interesse na nova Alemanha, a relação com os EUA continuava sendo o

principal foco da política externa do Brasil. Depois de Pearl Harbor, as repúblicas hispano-americanas se juntaram

ao Brasil e fizeram uma declaração de solidariedade aos EUA na III Conferência de Ministros de Relações

Exteriores Americanos, realizada no Rio de Janeiro em 1942, mas o Brasil foi o primeiro a cerrar relações

diplomáticas com o Eixo e, em agosto de 1942, foi o primeiro a declarar guerra. Duran te a Segunda Guerra

Mundial, o Brasil foi de longe o mais importante parceiro estratégico dos EUA na América do Sul.

IV

Os intelectuais hispano-americanos, dos anos 1880 até a Segunda Guerra Mundial, eram bastante hostis aos EUA,

ao imperialismo norte-americano, à cultura norte-americana – e ao pan-americanismo. Os catalisadores foram, sem

dúvida, Cuba e a Guerra Hispano-Americana de 1898. O conceito das duas Américas – de um lado, os EUA, e do

outro, a América Espanhola, Hispanoamérica, AL, na época mais frequentemente chamada “Nuestra América”.

Para alguns dos intelectuais hispano-americanos dessa geração, tornou-se mais comum, a partir da abolição da

escravatura no Brasil em 1888 e do fim do Império em 1889, apontar as similaridades entre o Brasil e a América

Espanhola em relação à cultura, à religião, à estrutura política, ao direito e à miscigenação. O termo “Iberoamérica”

passou a ser mais utilizado para se referir a ambas as Américas, Espanhola e Portuguesa. Porém, como fizeram os

intelectuais dos anos 1850 e 1860, poucos mostraram real interesse pelo Brasil. A grande maioria continuava a

excluir o Brasil do que idealizava como “Nuestra América” ou “AL”.

O argentino Manuel Baldomero Ugarte (1875-1951) é provavelmente o primeiro intelectual a defender a inclusão do

Brasil na “AL”, “la nación latinoamericana”, “la parte superior del continente”, unida em oposição ao imperialismo

norte-americano.

Não houve grandes mudanças nas atitudes da maio ria dos políticos e intelectuais hispano-americanos em relação ao

Brasil nos anos 1920 e 1930. Seja a expressão preferida Indo América, América Indo-Ibérica ou AL, o Brasil

permanecia na maioria das vezes excluído.

Existem as recorrentes exceções, como no caso de José Vasconcelos (México, 1882-1959), que em seu ensaio El

problema del Brasil (1921) defende a integração dessa futura grande nação com as outras repúblicas do hemisfério.

Dizia “México para los mexicanos, Hispanoamérica para los hispanoamerianos” e expressava seu medo de que o

Brasil não estivesse ao lado da América espanhola contra os EUA e mantivesse suas próprias ambições

imperialistas/expansionistas sobre as quais os países da América espanhola deveriam estar preocupados.

José Vasconcelos teve grande influência sobre outro grande intelectual mexicano, Alfonso Reyes, que foi nomeado

embaixador no Brasil em 1930. Reyes, no entanto, é mais uma exceção. Os escritores, críticos literários e

intelectuais hispano-americanos em geral continuavam a mostrar pouco interesse pelo Brasil. Focavam em suas

próprias identidades e culturas nacionais. Além disso, se preocupavam com a cultura hispânica ou latina, isto é, a

cultura hispano-americana, separada e diferente da dos EUA – e do Brasil.

Durante a Primeira República, os principais intelectuais brasileiros – entre eles, Eduardo Prado, Manuel de Oliveira

Lima, Joaquim Nabuco, Euclides da Cunha, Manoel Bomfim – tinham ideias bastante diferentes em relação aos

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EUA e ao pan-americanismo. E os que eram mais hostis viam vantagens em se solidarizar e colaborar com os

vizinhos hispano-americanos. Porém, apesar da maior interação com os equivalentes hispano-americanos e da maior

consciência do progresso econômico e político conquistado por algumas das repúblicas hispano-americanas, com

destaque para Argentina, Uruguai e Chile, a maioria tinha uma visão bastante negativa da América Espanhola. A AL,

Nuestra América, América Ibérica, Indoamérica – toda essa discussão teve pouca ressonância no Brasil.

Eduardo Prado (1860-1901) condena a conquista territorial e a exploração econômica da América Espanhola pelos

EUA, sua diplomacia arrogante e seu uso de força militar. Quanto ao pan-americanismo, “a fraternidade americana

é uma mentira”. Prado foi um dos primeiros expoentes da ideia de que o Brasil seria “uma imensa ilha”, um

continente. Disse que ouvira de um geólogo que o Rio da Prata e o Rio Amazonas já haviam sido conectados. De

qualquer jeito, o Brasil estava separado das repúblicas hispano-americanas pela “diversidade da origem e da língua”,

e “nem o Brasil físico, nem o Brasil moral formam um sistema com aquelas nações”.

É bastante evidente, em suas obras e nas palestras dadas em universidades norte-americanas enquanto era

embaixador em Washington, que Joaquim Nabuco (1849-1910) era um grande admirador dos EUA e apoiador

entusiasmado do pan-americanismo. De acordo com Nabuco, o livro de Eduardo Prado, A ilusão americana, é “um

livrinho que nos faz muito mal, entretém no espírito público a desconfiança contra este país [os EUA], nosso único

aliado possível”. Nabuco considerava “natural” a ascendência dos EUA no continente americano. Tinha pouco

entusiasmo com relação à América Espanhola que, com exceção da Argentina e do Chile, na visão dele, era uma

região ainda caracteriza da pela anarquia, guerra civil e caudilhismo. “Na América (quando não fosse por outra

causa, pela exceção da língua, que nos isola do resto da Ibero-América, como separa Portugal da Espanha)”,

escreveu, “não pode mos hesitar entre os EUA e a América Espanhola”, apesar de que, para o pan-americanismo, era

essencial a aproximação entre o Brasil e a América Espanhola.

Euclides da Cunha (1866-1909), o autor de Os sertões (1902), também acreditava que a hegemonia norte-americana

nas Américas era inevitável. Ele era favorável a “uma vasta confederação das repúblicas americanas” liderada pelos

Estados Uni dos – e pelo Brasil. Porém, como mostra seu ensaio Solidariedade sul-americana, em Contrastes e

confrontos (1907), era mais um intelectual brasileiro pessimista quanto à relação do Brasil com seus vizinhos e

quanto à possibilidade de união com a América Espanhola.

Em 1909 o Itamaraty criou, e durante uma década (até 1919) financiou, a Revista Americana, cujo objetivo era

aumentar o intercâmbio político e cultural entre o Brasil, a América Espanhola e os EUA. Publicava artigos em

espanhol e português, incluindo artigos de hispano-americanos críticos em relação à política externa brasileira,

principalmente à proximidade entre o Brasil e os EUA e o pan-americanismo. Porém, a maioria dos artigos era de

brasileiros defensores de ambas as ideias.

Depois da Primeira Guerra Mundial, houve certamente um maior interesse na literatura e cultura hispano-americana

entre os intelectuais e escritores brasileiros, e mais intercâmbio cultural. Os intelectuais brasileiros do período entre-

guerras, assim como os hispano-americanos, estavam mais interessados na formação de sua própria identidade

nacional. O conceito de Brasil, as raízes do Brasil (os povos indígenas, os portugueses, os africanos), a

miscigenação racial, social e cultural, eram as principais questões. O governo de Getúlio Vargas (1930-45),

principalmente durante o Estado Novo (1937-45) utilizou-se do Estado e de intelectuais ligados ao Estado – como

Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, Heitor Villa-Lobos, Oscar Niemeyer – para promover uma

identidade nacional brasileira. A América Espanhola, “AL”, ainda era vista como “a outra América”.

Ao mesmo tempo, durante a Segunda Guerra Mundial, houve também ênfase na identidade americana do Brasil

(“brasilidade americanista”). A partir de agosto de 1941 (até fevereiro de 1948) o jornal oficial do Estado Novo, A

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Manhã, publicou uma seção de domingo intitulada Pensamento da América, que promovia o interesse nos

acontecimentos culturais, literários e intelectuais contemporâneos em “todas as Américas”, incluindo a América

Espanhola e os EUA, no “espírito pan-americano”.

V

Quando foi que o Brasil finalmente começou a fazer parte da “AL”? Quando a “AL” se tornou “Latin America”, isto

é, quando os Esta dos Uni dos, e por extensão a Europa e o restante do mundo, passaram a considerar o Brasil parte

integrante de uma região chamada Latin America, começando nos anos 1920 e 1930, mas principalmente durante a

Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria. E quando, ao mesmo tempo, os governos e intelectuais hispano-

americanos passaram a incluir o Brasil no seu conceito de “AL”, e alguns (poucos) brasileiros começaram a se

identificar com a AL.

Desde os anos 90 do século XIX, a expressão “Latin America” pode ser encontrada em documentos oficiais norte-

americanos que se referem aos tratados recíprocos de comércio com os países ao sul do Rio Grande, incluindo o

Brasil.

Em 1918 houve um debate interessante sobre a nomeação da primeira revista acadêmica estadunidense dedicada à

história dos países ao sul dos EUA. “Latin America” não foi aprovado porque naquela época significava América

Espanhola. Ibero-América foi também rejeitado porque Ibéria (do grego) incluía partes da França. Por fim, decidiu-

se chamar a revista de Hispanic American Historical Review, já que, argumentava-se, Hispanic (do nome romano

Hispania) se referia à península e, portanto, à Espanha e a Portugal e, por extensão, à América Espanhola e ao Brasil.

Só em 1940 aparece o primeiro artigo com “Latin America” no título.

A primeira história geral da AL desde a Conquista foi escrita por William Spence Robertson, The History of the

Latin-American Nations (Nova York, 1922). Robertson era professor de história na Universidade de Illinois, onde

lecionava história da AL desde 1909. O objetivo desse novo livro, escreve, era “traçar os principais acontecimentos

na história da AL ou, como também é chamada, a América Hispânica” – a história de todas as “nações que surgiram

das colônias da Espanha e de Portugal”, ou seja, a AL ou América Hispânica, incluindo o Brasil.

Foi no final dos anos 1920, após a desastrosa Conferência Pan-Americana em Havana (1928), que demonstrou o

péssimo estado das relações entre os EUA e seus vizinhos, incluindo agora os vizinhos da América do Sul, onde o

comércio e investimento norte-americanos cresceram consideravelmente desde a Primeira Guerra Mundial, que a

oficialidade em Washington e a política externa norte-americana começaram a focar mais seriamente na AL. Isso

significava as 20 repúblicas ao sul do Rio Grande (18 hispano-americanas, o Haiti e o Brasil). Nos anos 1930, com

os interesses não só econômicos mas também geopolíticos dos EUA na AL ameaçados pelas potências fascistas

europeias, a administração de Franklin D. Roosevelt respondeu com a política da Boa Vizinhança. Com o

agravamento do quadro na Europa, se tornou cada vez mais importante a solidariedade pan-americana ou

interamericana, a unidade do hemisfério, e os EUA e a AL unidos na luta mundial pela democracia, contra o

fascismo.

Em agosto de 1940, o Office for the Coordination of Commerce and Cultural Relations between the American

Republics foi criado sob a direção de Nelson Rockefeller, e em 1941 se tornou o Office of the Coordinator of Inter-

American Affairs (OCIAA). Durante a Segunda Guerra Mundial, o OCIAA formulou e lançou um programa para

seduzir o público latino-americano através de cinema, rádio, música – e da palavra impressa.

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O surgimento dos EUA como potência mundial durante e depois da Segunda Guerra Mundial levou à necessidade

de mais especialização no planejamento estratégico militar e político. Durante a guerra, criou-se o chamado

Ethnogeographic Board, que reunia especialistas do National Research Council, do American Council of Learned

Societies, do Social Science Research Council e da Smithsonian Institution, e que teve como finalidade criar uma

estrutura em torno da qual se organizariam as políticas e através da qual se desenvolveriam ensino e pesquisa. O

Board começou por separar o mundo em continentes — com uma exceção: em vez de hemisfério ocidental, ou as

Américas, ou América do Norte e América do Sul, criaram-se os EUA e a AL. Em seguida, ao separar o mundo em

regiões com um grau de homogeneidade geográfica, geopolítica e cultural, a AL era apresentada como uma das

regiões mais coesas em termos de religião, língua, cultura, história e estruturas políticas, sociais e econômicas. As

diferenças entre a América Espanhola e o Brasil em relação a esses quesitos e a grande disparidade do tamanho e da

população do Brasil em relação aos outros países da região (com exceção do México) foram simplesmente

ignoradas.

Nos primeiros anos do pós-guerra e no início da Guerra Fria, a visão oficial dos EUA de que as 20 repúblicas ao sul

do Rio Grande, incluindo o Brasil, formavam a AL influenciou outros governos, instituições multilaterais (a

Comissão Econômica para a AL das Nações Unidas, ECLA/CEPAL, fundada em 1948, foi a primeira organização

internacional responsável pela “AL”), ONGs, fundações e universidades nos EUA e na Europa, onde os “Latin

American Studies” cresciam cada vez mais, e aceleraram depois da Revolução Cubana. A AL como um todo era

vista não só como diferente dos EUA, mas também como uma região problemática, e fazia parte do então chamado

“Terceiro Mundo” – econômica, social e culturalmente atrasado, politicamente violento e instável.

Para o governo norte-americano, no período imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial a AL era

importante por motivos econômicos (comércio e investimento) e geopolíticos (segurança), e também por ser o maior

bloco de votos na Assembleia Geral da ONU. Os EUA deram atenção considerável à AL a partir da Conferência

Interamericana sobre Problemas de Guerra e Paz, realizada na Cidade do México em janeiro e fevereiro de 1945; da

Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Segurança no Continente, realizada no Rio de Janeiro

em agosto de 1947, onde foi assinado o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca; e da IX Conferência

Internacional Americana, realizada em Bogotá em março e abril de 1948, onde foi estabelecida a Organização dos

Estados Americanos (OEA) para dar moldura institucional às relações interamericanas no pós-guerra.

Porém, para os EUA, logo após a Doutrina Truman o começo da Guerra Fria, cada vez mais as questões

hemisféricas davam lugar às questões globais. A Europa, o Oriente Médio e a Ásia se tornaram mais importantes do

que a AL, onde se acreditava que os interesses econômicos, geopolíticos e ideológicos norte-americanos estavam

seguros. Havia certo receio inicial de que as aberturas democráticas na AL ao fim da guerra, que haviam sido

incentivadas pelos Estados Uni dos, pudessem dar margem à influência soviética na região. Mas os fechamentos

políticos do período inicial da Guerra Fria em detrimento da esquerda comunista, os sindicatos e a democracia em si

asseguravam que a AL fosse uma região do mundo onde a URSS não representasse uma ameaça significante à

hegemonia norte-americana. Os EUA se encontravam em posição confortável para negligenciar a AL.

A reação popular à visita do vice-presidente Nixon à região em 1958 serviu como alerta aos EUA da intensidade do

sentimento antiamericano que corria na AL, pelo menos na América Espanhola. A Revolução Cubana, em 1959,

resultou diretamente na proposta do presidente Kennedy, em 1961, de uma Aliança para o Progresso com a AL, para

impulsionar o desenvolvimento econômico e social da região. Porém, assim que a Crise dos Mísseis de Cuba foi

resolvida pacificamente e a ameaça externa imediata foi diminuída, os EUA puderam novamente, de forma relativa,

deixar a AL de lado, ainda que se prontificassem a intervir para lidar com qualquer ameaça interna e salvar a AL do

“comunismo”.

Page 10: Resumo 1 Prova Peb

Em vista da relação especial, da aliança não escrita que o Brasil desfrutara com os EUA desde o início do século, e

do apoio dado na Segunda Guerra Mundial, o Brasil se mostrou decepcionado com o tratamento dado no pós-guerra

pelos EUA, que não o diferenciavam do restante da AL. O Brasil não recebeu nenhum papel especial na ordem

global do pós-guerra (nenhuma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU) e tampouco recebeu

assistência especial de desenvolvimento econômico. Embora, em última análise, o Brasil estivesse sempre ao lado

dos EUA e do “Ocidente” na Guerra Fria, uma política externa mais independente surgiu, primeiro com o presidente

Vargas, que em 1951 rejeitou o pedido dos EUA para enviar tropas brasileiras à Coreia como parte de uma força

interamericana, e depois, mais vigorosamente, com os presidentes Quadros e Goulart (1961-4). A política externa

independente incluía a restauração das relações com a URSS (encerradas em 1947) e o estreitamento das relações

com a Cuba revolucionária e também com a China e com o restante do “Terceiro Mundo” subdesenvolvido,

incluindo os países da África e da Ásia em sua luta contra o colonialismo, mas ainda sem contemplar os países da

AL.

Mesmo com a ditadura militar de 21 anos que se seguiu ao golpe de Estado apoiado pelos EUA em 1964, houve

vários pequenos conflitos com os EUA e, apesar de nunca ter se juntado ao Movimento dos Não Alinhados (tinha

status apenas de observador), o Brasil buscava ter políticas “terceiro-mundistas” independentes e muitas vezes

contrárias aos interesses e políticas norte-americanos. No entanto, na América La ti na, onde já se tornara o país

dominante – a população subiu de 35 milhões em 1930 para 170 milhões em 1980, a economia crescia com a taxa

anual de 7% entre 1940 e 1980, uma das taxas de crescimento econômico mais elevadas do mundo –, o Brasil não

tinha nem a vocação nem os recursos para ser líder, e certamente não teria capacidade de ser o “xerife” regional,

papel este que o Departamento de Estado norte-americano visava para o Brasil. Na verdade, a relação do Brasil com

sua arquirrival e vizinha mais próxima, a Argentina, chegou ao ponto mais baixo nos anos 1970 por conta dos

programas incipientes de armas nucleares e da usina hidrelétrica de Itaipu no rio Paraná. Ao mesmo tempo, o Brasil

se juntou à Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) em 1980, e as relações com a Argentina

melhoraram drasticamente após a democratização dos dois países em meados dos anos 1980, uma reaproximação

que resultou no Tratado de Assunção (1991) e na criação do bloco econômico MERCOSUL. Apesar disso tudo,

mais de 40 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e do início da Guerra Fria, quando o Brasil passou a ser

considerado pelos EUA e o restante do mundo como parte integrante da AL, pode-se dizer que o Brasil não tinha

forte engajamento com o restante da região.

VI

Nos anos após a Segunda Guerra Mundial houve muito mais intercâmbio entre os intelectuais, escritores, artistas,

críticos e acadêmicos da América Espanhola e do Brasil. Os hispano-americanos mais em sintonia com a América

Lati na estavam mais preparados para incorporar as ideias, a literatura e a cultura brasileira aos seus trabalhos, mas

na maio ria das vezes de forma marginal e sem grandes convicções ou entusiasmo.

No Brasil havia intelectuais que davam muito mais atenção à cultura hispano-americana do que anteriormente. Não

era só uma questão de afinidade ideológica e solidariedade com seus colegas hispano-americanos durante a Guerra

Fria. Era na maior parte das vezes consequência de anos de exílio no Uruguai, Chile, México e Venezuela durante a

ditadura militar brasileira.

A maioria dos intelectuais brasileiros, no entanto, como a maioria dos brasileiros, continuava a considerar que “AL”

era sinônimo de América Espanhola, que o Brasil não pertencia à “AL” e que os brasileiros não eram

essencialmente “latino-americanos”.

VII

Page 11: Resumo 1 Prova Peb

Existe mais uma reviravolta nesta história da relação do Brasil com a “AL”. Ao fim da Guerra Fria, ocorreram

grandes mudanças no cenário político global, uma aceleração do processo de globalização e, além disso, mudanças

fundamentais na política e na economia brasileiras; e nos governos dos presidentes FHC e Lula a presença e a

influência brasileira no mundo cresceram de forma significante. O Brasil desempenha um papel cada vez mais

importante na articulação das relações Norte-Sul e Sul-Sul. O país tem sido líder nas discussões sobre uma gama de

questões globais importantes, como o papel da OMC; a reforma democrática da ONU, do FMI e do Banco Mundial;

a redução da pobreza; energia alternativa; e, acima de tudo, devido à floresta amazônica, o aquecimento global. O

Brasil é considerado pela comunidade global, junto à China e à Índia, uma das “potências globais emergentes” na

primeira metade do século XXI.

Paralelamente, enquanto faz parte das várias reuniões da Cúpula das Américas, o Brasil tem resistido à agenda

norte-americana para a integração das Américas, e principalmente à proposta da Área de Livre Comércio das

Américas (ALCA) que englobaria os 34 países do hemisfério ocidental. E pela primeira vez na história o Brasil

busca de forma ativa uma política de engajamento econômico e político com seus vizinhos. Mas, na prática, são

considerados vizinhos na América do Sul e não na América La tina. Essa foi uma decisão tomada conscientemente,

e reforçada devido à junção, em 1994, do México à “América do Norte”, com os EUA e o Canadá, e ao fato de os

EUA incentivarem o Brasil a assumir o papel de líder na América do Sul. FHC foi anfitrião da primeira cúpula dos

presidentes sul-americanos em Brasília no ano 2000. Na terceira cúpula, realizada em Cuzco em dezembro de 2004,

com o governo de Lula, foi formada a Comunidade Sul-Americana de Nações. Dela fazem parte 12 nações,

incluindo Guiana e Suriname, e todos os países, com exceção de Chile e Equador, fazem fronteira com o território

brasileiro. A Comunidade se tornou a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) na cúpula realizada em Brasília

em maio de 2008.

A melhora das relações com os vizinhos sul-americanos e, mais ainda, a integração política e econômica efetiva da

América do Sul foi o foco principal da política externa brasileira durante o governo Lula. E, talvez pela primeira vez,

com grande hesitação, incerteza e ambivalência, o Brasil começou a se considerar uma potência regional – não só

por seus interesses econômicos e estratégicos de longo prazo, mas também de acordo com os argumentos de alguns

políticos e diplomatas brasileiros de que é necessário ser uma potência regional para se tornar uma potência global.

E, novamente a região é a América do Sul, e não a AL.

É chegada a hora de o mundo parar de considerar o Brasil como parte daquilo que, na segunda metade do século XX,

foi chamado de AL, um conceito que seguramente perdeu a utilidade que talvez tenha tido alguma vez.

TEXTO 3 – CERVO, Amado e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. Brasília: Ed. UnB,

2002. Cap. 7

Rio Branco: Prestígio, soberania e definição do território (1902-1912)

A busca de uma supremacia compartilhada na área sul-americana, a restauração do prestígio internacional do país,

a defesa da agroexportação e, sobretudo, a resolução de problemas lindeiros foram as grandes linhas de política

externa de Rio Branco.

Ele desenvolveu uma política que tinha como um dos seus principais componentes a íntima aproximação com os

EUA. Foi um movimento decisivo de um processo que, mais tarde, levaria o Brasil a integrar-se no subsistema

liderado pelos EUA. Esse estreitamento das relações com os EUA atendia aos interesses das oligarquias dominantes

do sistema político brasileiro. A amizade do Brasil convinha aos EUA pela sua posição estratégica, já que a

Argentina mantinha estreitos vínculos com a Grã-Bretanha e repelia a aproximação norte-americana, pelo potencial

Page 12: Resumo 1 Prova Peb

de seu mercado e possibilidades de investimentos.

A condução da política exterior brasileira deve ser atribuída quase que unicamente à ação do barão de Rio Branco,

que, desde a sua posse, desfrutou de um lugar à parte no Poder Executivo, a continuidade da política externa

independeu das mudanças presidenciais.

Rio Branco e o corolário Roosevelt

Rio Branco via a Doutrina Monroe (DM) como elemento da defesa territorial do continente: “A DM e o respeito

misturado de temor, que pelos seus processos novos os EUA inspiram à grandes potências da Europa, têm servido

para impedir, desde há muitos anos, que elas pensem em violências e conquistas no nosso continente”.

O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Drago, dirigiu nota ao Departamento de Estado Norte-

Americano afirmando o princípio de que a dívida pública não podia ser cobrada com o uso da força. Entretanto, o

governo dos EUA não acolheu os termos da nota, evitando comprometer-se com a não intervenção. Manteve-se

neutro e a questão foi encaminhada para a Corte Internacional de Haia.

Rio Branco teve conduta distinta da Argentina. Além de aceitar a posição norte americana, não acompanhou o

ministro Drago, no seu protesto contra a cobrança coercitiva de dívidas, por entender que não estava em causa a DM.

A DM não podia “instituir em favor dos povos americanos o privilégio de faltar impunemente a compromissos de

honra e ainda zombando dos credores.”

Concebida originalmente como proteção e não ingerência, a DM foi transformada em justificativa para sancionar

intervenções em países latino americanos abrangidos pela ampliação da área de segurança norte americana, assim,

Roosevelt colocou unilateralmente a América Latina (AL) nos subsistema internacional de poder liderado pelos

EUA.

Os EUA tinham a tarefa de zelar pela ordem e pela paz na América por meio de uma ação de polícia internacional.

O conceito de proteção do hemisfério contra agressões extracontinentais, cerne da DM, foi retrabalhado pelo então

presidente norte americano, de forma que desse justificativa à política de coerção contra os Estados latino-

americanos. Rio Branco não questionou os termos da mensagem de Roosevelt. Reafirmou sua visão a respeito da

nova ordem mundial e constatou a formação de um novo centro de poder.

Desde que esteve em missão especial junto ao governo da Suíça para defender a causa brasileira no litígio contra

a França pela posse do Amapá, Rio Branco receava a agressividade europeia. Tal receio levava-o a valorizar o

caráter defensivo da DM e a entende-la como aplicável às questões de limites entre as nações latino-americanas e as

potencias europeias que ainda conservavam colônias no continente americano. Além disso, Rio Branco aceitava a

presença militar estrangeira em outro país em nome da defesa de interesses ameaçados.

Rio Branco não desaprovou os termos em que Theodore Roosevelt se auto-ortogou o poder de “polícia

internacional” e num certo sentido, o ministro brasileiro falava a linguagem do presidente norte-americano. Em

mais de uma oportunidade, recebeu o adjetivo de imperialista, mormente na América espanhola. Sua posição em

relação à mensagem de Roosevelt tinha respaldo de parte da opinião nacional. Embora houvesse quem interpretasse

o corolário Roosevelt como a serviço do imperialismo norte-americano, boa parte da imprensa o apoiava.

O Brasil e o subsistema norte-americano de poder

Tanto Rio Branco quanto Joaquim Nabuco, embora cada um a seu modo e expressando-se por meio de linguagens

diferentes, reconheciam os EUA como o centro de um subsistema internacional de poder. Para o Brasil, a amizade

norte-americana não só assumia um caráter defensivo-preventivo, como lhe permitia jogar com mais desembaraço

com seus vizinhos. Ademais, Rio Branco não via a possibilidade de se formar no continente nenhum bloco de poder

capaz de opor-se aos EUA, em razão da fraqueza e da falta de coesão dos países hispânicos. Joaquim Nabuco era,

entre os brasileiros, quem mais insistia e reconhecia a existência daquele sistema. As repúblicas americanas

integravam “um só sistema político”, o continente da paz.

A política externa brasileira, ao tempo de Rio Branco e Nabuco, contribuiu para a consolidação do bloco de poder

Page 13: Resumo 1 Prova Peb

internacional liderado pelos EUA, mas também procurou tirar proveito da nova situação mundial que então se

delineava. Segundo ele, em tais condições, a nossa diplomacia deveria ser principalmente feita em Washington.

Uma política assim valeria o maior dos exércitos, a maior das marinhas, o que nunca poderíamos ter.

A principal obra de RB foi a solução de pendências lindeiras. Contando com a amizade norte-americana, não só

evitava dificuldades que poderiam surgir em Washington – capital que era o principal foco de intrigas contra o

Brasil – como podia eventualmente utilizá-la a seu favor. A aproximação entre os dois países dava-lhe mais

liberdade para negociar com as nações sul-americanas na busca de solução para os ainda pendentes problemas

lindeiros.

A questão do Acre

A região do Acre foi ocupada sobretudo por nordestinos e em 1899 tornou-se conflagrada quando autoridades da

Bolívia, querendo impor sua soberania, estabeleceram uma aduana em Puerto Alonso. O governo boliviano, todavia,

não conseguindo fazer valer sua autoridades, em 11 de julho de 1901 arrendou, por 30 anos, a região a um consórcio

de capitalistas, que pretendia explorar as riquezas naturais daquela área. Tal consórcio denominado Bolivian

Syndicate, contava com figuras de expressão da Wall Street. O governo boliviano concedeu a nova empresa poderes

que normalmente pertencem ao Estado, fato que a igualava com as companhias privilegiadas que atuavam na África

e Ásia.

A diplomacia brasileira procurou impedir o estabelecimento de uma companhia daquela natureza em região

limítrofe do país, porque abrir-se-ia perigoso precedente que envolvia riscos, uma vez que o território arrendado só

tinha acesso ao Atlântico pelos rios da Amazônia. Para evitar eventuais embaraços, o governo retirou do congresso o

tratado de comércio e navegação firmado com a Bolívia em 1896. Todavia, indagava-se sobre a possibilidade de o

Brasil suportar eventual pressão diplomática de potências estrangeiras na hipótese de fechamento de rios.

Em 1899, liderados por José de Carvalho, os brasileiros do Acre rebelaram-se e conseguiram a retirada do

delegado da Bolívia do território. Logo depois, Luiz Galvez de Arias fundou o Estado Independente do Acre. O

Brasil apoiou a Bolívia contra Galvez, que assinou o armistício em 1900. Entretanto, manteve-se o estado de revolta

no Acre, cujos habitantes contestavam o direito de posse boliviano. A opinião do secretário de estado Hay evoluíra

da promessa de abstenção para a de eventual apoio aos cidadãos, caso seus interesses viessem a ser prejudicados.

Temia-se que os EUA acabassem por dar cobertura ao empreendimento contra o Brasil, que detinha o controle dos

rios amazônicos.

Rio Branco, ao assumir o MRE deu outro rumo à questão e colocou o /executivo em sintonia com a opinião

pública. Interpretou de outra forma o art. 2º do tratado de 1867 e, em consequência, transferiu a linha divisória do

território em questão no sentido leste-oeste para outro paralelo, assim a área tornou-se oficialmente litigiosa. RB

recebera de Assis Brasil a sugestão de afastar o Syndicate por meio de indenização, a fim de não se reforçar ainda

mais a influência norte-americana. RB entendeu da mesma forma, pois, ao encaminhar a questão, tratou de primeiro

isolar o sindicato, por meio de indenização.

Segundo os críticos do acordo, ao indenizar o sindicato, comprou-se na verdade, uma concessão praticamente

caduca e inviável. A indenização por ser vista como uma extorsão, pois indenizou um grupo de capitalistas

estrangeiros para desistir de um cotrato firmado com um terceiro país. Mas a Bolívia não dispunha de recursos

financeiros para arcar com a despesa do distrato e RB queria evitar complicações e encurtar o caminho para o

entendimento direto. Isolado o sindicato, RB passou a negociar com a Bolívia depois de afastado o risco de

confronto e cessado os movimentos de tropas de ambos os lados em direção com a área conflagrada.

A incorporação do Acre foi de fato uma compra e os EUA mantiveram-se neutros.

O contexto sul-americano

A amizade do Brasil com os EUA despertava receio em outros países da área, pois temia-se o imperialismo norte-

americano. Segundo o diário argentino “La Nación”, a imprensa da Europa, em especial a inglesa, em face da

reorganização naval brasileira e da aproximação Brasil-EUA previa o início de uma diplomacia imperialista, uma

Page 14: Resumo 1 Prova Peb

hegemonia a ser partilhada entre o Brasil e a Norte América, prestando-se o primeiro a ser agente do segundo em

suas ambições de domínio continental. A ideia que o Brasil iria desempenhas o papel de co-garante da DM foi

expressa também em jornais norte-americanos, embora formulada com outras motivações. O projeto de

rearmamento naval brasileiro, aprovado em 1904 e modificado em 1906, despertou viva rivalidade na Argentina, em

um setor da opinião identificado com o rearmamento do seu país.

RB não só procurava a simpatia das nações do Prata, Paraguai e Uruguai, como também aproximar-se do Chile, a

fim de conter a Argentina e sua eventual capacidade de influenciar aqueles países que mantinham pendências com o

Brasil. A aproximação Brasil-Argentina-Chile, nos termos em que RB concebia não significava criar um contrapeso

à influência norte-americana. O ABC seria para atuar de acordo com o governo de Washington, numa espécie de

condomínio oligárquico de nações.

Os tratados de limites

A principal obra de RB foi a definição do território de seu país. Convém registrar que nenhuma das questões de

limites por ele solucionada o foi com argumento de força. A difícil questão do Acre foi solucionada por Rio Branco

mediante negociações diretas com a Bolívia.

TEXTO 4 – CARDIM, Carlos Henrique. A raiz das coisas Rui Barbosa: O Brasil no mundo. io de Janeiro:

Civilização Brasileira, 2007.

Rui, política externa e política internacional

O sentido principal da diplomacia brasileira, nas primeiras décadas da República, delineia-se em 1907, com

a missão de Rui Barbosa na Segunda Conferência da Paz de Haia. A agenda política externa brasileira estava

gravemente desatualizada e em forte descompasso com as possibilidades do país no cenário internacional, também

destaca a necessidade de o Brasil superar a estreita perspectiva de um regionalismo dominado por pendências

arcaicas de origem luso-espanhola e abrir-se para um relacionamento mundial.

Quando Rui assume a chefia da Delegação nacional em Haia em 1907, o Brasil estava com sua agenda

externa atrasada. Rio Branco tinha plena consciência desse descompasso. Na visão dele, o Brasil por algum tempo

interveio no Prata, entrou naquelas terras para dirimir pelas armas e pela diplomacia desavenças sanguinárias no

período difícil de gestação dos Estados, foi agente da paz e da liberdade. Quando acabou a sua missão no Prata, o

Brasil deixou as nações ali organizadas. Assim, nesse novo momento, o Brasil desinteressa-se das rivalidades

estéreis dos países sul-americanos, entretanto com esses estados uma cordial simpatia, o Brasil entrou resolutamente

na esfera das grandes amizades internacionais, a que tem direito pela aspiração de sua cultura, pelo prestígio de sua

grandeza territorial e pela força de sua população. Ainda disse sobre o futuro das relações Brasil-Argentina, que

nada separaria o Brasil desse país, que são ligados abstratamente por um destino comum de civilização e cultura, de

que são os maiores representantes na AL, cultivemos tranquilamente as nossas relações de vizinhança, troquemos

com toda liberdade, sem pactos forçados, os produtos do nosso trabalho e da nossa inteligência.

A nova perspectiva adotada por RB (Rio Branco) foi implementada pela primeira vez com a participação de

Rui Barbosa na Segunda Conferência da Paz de Haia. É nesse conclave que o Brasil entra de fato na política

internacional como um ator consciente e não como objeto de decisões externas. A atuação conjunta de RB e Rui B

inaugura uma nova etapa da diplomacia brasileira e marca o início da construção de novos paradigmas na inserção

internacional do país, notadamente o paradigma da igualdade entre as nações e o da perspectiva universalista. Rui B

critica, em Haia em 1907, o então vigente sistema internacional, mas de forma construtiva, e declara que o Brasil

assume responsabilidades em sua reforma. É uma crítica de quem se reconhece como um igual, um membro pleno

da comunidade maior, e não pode se omitir.

Rui B foi um pioneiro da diplomacia multilateral. Tendo participado de uma das Conferências de Haia, ele

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defendeu, num reunião em que se discutiam questões relativas à navegação, o princípio da igualdade jurídica dos

Estados de maneira muito forte. Ele impediu que um mal fosse feito, que era criar, naquela época, uma espécie de

diretório, um mini Conselho de Segurança para discutir essas questões. Ele defendia que tudo fosse discutido de

maneira democrática por todos os interessados.

O Itamaraty, no sentido hoje entendido, de entidade emblemática no Estado brasileiro, voltada para a

compreensão da política internacional, a formulação de propostas de política externa ao Presidente da República, o

recrutamento e a formação regular de funcionários diplomáticos, e a execução diplomática das políticas decididas

pelo Presidente da República, é uma criação republicada que tem em Rio Branco se construtor maior. É com RB na

República (1902-1912) que surge o MRE com forte personalidade própria, que veio a gerar até uma denominação

específica “o Itamaraty”, símbolo e expressão da diplomacia brasileira.

Para escolher o primeiro delegado na representação do Brasil na Conferencia da Paz de Haia, RB indica

Nabuco, mas pressões da impressa fazem a escolha ser por Rui Barbosa. No primeiro momento ele recusa,

justificando-se pela complexidade da matéria da conferencia, o que motivou a insistência de RB, Rui solicitou um

tempo para pensar sobre o assunto e 42 dias depois aceitou o convite.

Nabuco e RB, por grandes personalidades que fossem, haviam se limitado: o primeiro pela sedução

intelectual e o segundo pelo saber histórico-geográfico, e pela enorme capacidade de trabalhar. Esses encantos do

galã intelectual, ou do atlético pesquisador de gabinete, não tinham maiores incidências sobre os assuntos

extracontinentais. Na voz de Rui B, em Haia, foram suscitados os problemas gerais da guerra e da paz, da igualdade

entre os Estados, dos direitos de expressão dos mais fracos, enfim, assuntos que, de então até hoje, vem-se tornando

cada vez mais presente à atenção da comunidade das nações, e para os quais o perfil de Rui como político e

intelectual se encaixavam melhor do que os de Nabuco e de Rio Branco.

RB sempre teve por Rui uma elevada consideração, apesar de grava divergência, ocorrida em 1903, na difícil

negociação do Acre com a Bolívia, na qual Rui B julgou dever solicitar dispensa da comissão brasileira que

negociava o Acre porque repugnava-lhe compartir a responsabilidade de conclusão de um acordo em que as

concessões do Brasil à Bolívia se lhe afiguravam extremamente onerosas. Mas nas próprias palavras de RB: “a

nossa divergência de 1903 pertence ao passado, e durante ela, respeitando sempre as convicções alheias, procurei

proceder de modo a não perder a estima e a amizade que tanto prezo”.

Sobre RB, sempre procurou cercar-se de homens não só inteligentes, cultos e políticos, como altos, belos e

eugênicos, mas que também fossem completados por esposas famosas, elegantes e bem vestidas, assim dariam aos

estrangeiros a ideia de ser o Brasil um país de gente são e bem conformada. Entretanto, sua indicação para Haia,

Joaquim Nabuco, tinha um grave defeito físico, era surdo, que assim era impedido de modo absoluto a ouvir o que

se passava na sala. Se esse defeito não o torna incompatível com a carreira diplomática, é visível que o

incompatibiliza como os trabalhos de um Congresso, em que todas as nações do mundo fazem timbre em ser

representadas pelo escol dos seus homens de intelectualidade ativa e eficiente.

Vários intelectuais e a própria impressa pressionavam o governo para que escolhessem Rui Barbosa como

Oliveira Lima em seu livro Pan-Americanismo (1907) e o jornal “O correio da manhã” de 14 de janeiro de 1907.

Para demonstrar que Nabuco não ficara ofendido com a escolha de Rui, ele viajou à Europa par preparar o

ambiente para a chegada e atuação de Rui B, explicou ao seus amigos europeus e americanos o valor, a significação

da personalidade do delegado brasileiro, interessando-se pela missão do companheiro como se fosse sua. RB

preparou todo o material utilizado por Rui, assim, verifica-se que entre os três surge um raro momento de

colaboração entre grandes nomes na vida política nacional. Joaquim Nabuco já havia feito elogios a Rui, como “Rui

B, hoje a mais poderosa máquina cerebral do nosso país, que pelo número de rotações e força de vibração faz

lembrar os maquinismos que impelem através das ondas os grandes transatlânticos, levou vinte anos a tirar do

minério do sue talento, a endurecer e temperar, o aço admirável que é agora o seu estilo.

A Segunda Conferencia da Paz de Haia, que, pelos resultados obtidos e pelo número de países nela

representados, figura como marcado destaque entre as que mais contribuíram para o progresso do Direito

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Internacional contemporâneo.

Na primeira, o Brasil fora o único país, conjuntamente com o México, latino americano convidado, mas não

participou pela situação precária das forças armadas devido à crises do período. A Primeira Conferência da Paz de

Haia teve por principal objetivo, controlar, e mesmo evitar, por um determinado período, o crescimento dos efetivos

das forças armadas e dos orçamentos militares. Além disso, discutiu normas jurídicas internacionais para

regulamentar os conflitos bélicos, meios de preveni-los pelo emprego dos recursos da arbitragem, bons ofícios e

mediação. Alguns dos temas que seriam tratados por Rui B em 1907, já figuravam nas deliberações da 1º

Conferencia, fato que levou o delegado brasileiro e RB a estudarem minuciosamente sua documentação. O tema dos

direitos e deveres dos neutros, do qual Rui se ocuparia em importante conferencia em 1916, já integrava, com

destaque a agenda internacional da época. A Ata final da 2ª Conferencia continha um forte conteúdo de matérias

especializadas do Direito de Guerra.

Rui Barbosa desempenhou-se bem em vários pronunciamentos sobre temas técnicos e complicados, sem se

descuidar do conteúdo especializado destes, e também enfocou a questão político-ideológico de fundo, qual seja, a

visão e ação discriminatória das grandes potencias contra os países mais débeis e menores. Rui era sumido, modesto,

calado, dava a impressão de um homem cuja timidez o fazia retraído e apagado, assim de todo inadequado para

aquela função cujo êxito dependia, principalmente, da vivacidade e ousadia. Nossa tradição brasileira diplomática

nos colocaram a certos respeitos, numa grande altura, lado a lado com os governos que haviam exercido a

magistratura arbitral em grande litígios entre as maiores potências do globo. Nossa fraqueza militar nos punha a

uma distancia muito longa dessas potestades armadas.

O ambiente diplomático da Conferência de Haia, no qual deveria mover Rui B, estava igualmente

contaminado pela rigidez das posições das grandes potencias que tornavam impossível se obter um acordo para a

questão do desarmamento: as delegações constataram que os casos particulares são muito diferentes para poderem

ser regulados por uma fórmula geral, seria impossível a adesão dos governos à ideia de uma arbitragem obrigatória.

Assim sendo, a conferência se limitou a fazer um esforço para humanizar a guerra, ela estabeleceu um conjunto de

regras destinadas a proteger o direito dos neutros, dos não combatentes e dos prisioneiros. Rui Barbosa tinha a seu

favor, nesse majestoso e rígido ambiente da Conferência de Haia de 1907, a sua ampla experiência de mais de duas

décadas nas tribunas da Câmara e do Senado.

Rui foi um político e intelectual representativo de sua época, que valorizava a erudição cultural e o rigor da

forma. Foi também, e fundamentalmente, um doutrinador mais do que um jurista clássico, era um polemista mais

que um expositor. Esgrimia em todos seus pronunciamentos uma vasta argumentação e cercava o assunto por todos

os lados para deixar o adversário sem qualquer resposta razoável.

TEXTO 5 – A política Exterior da República (Cap 8 – Cervo e Bueno)

Reações no Exterior ao novo regime

As nações americanas acolheram com aplauso e solidariedade o novo regime. Os norte-americanos

decidiram por manter relações diplomáticas com o Brasil. Havia boa vontade por parte do governo do s EUA,

desejoso de não baixar o nível em que então se encontravam as cordiais relações de amizade entre os dois países.

O reconhecimento formal da República pelos EUA foi relativamente rápido e antecipado aos da potências

europeias. Este fato demonstra o interesse da potência do Note em, no embalo da mudança de instituições, estreitar

as relações com o Brasil. Com efeito, uma das mudanças mais significativas imposta pelo novo regime às relações

internacionais do país foi o direcionamento destas para o EUA.

A Grã-Bretanha continuou mantendo relações oficiosas. O Foreign Office aceitou a República como fato

consumado, mas protelou o reconhecimento formal a fim de evitar cometer ato precipitado. Por isso preferiu

aguardar a estabilização do quadro político interno.

A França retardou seu reconhecimento em razão de escrúpulos políticos, em razão do decreto brasileiro de

Page 17: Resumo 1 Prova Peb

naturalização ainda não suficientemente esclarecido e porque tentou resolver de maneira rápida a questão de limites

da Guiana com Brasil. Em junho de 1890m a França reconheceu o governo provisório, após este ter-lhe assegurado

que retomaria as negociações sobre a referida questão de limites.

Embora a maior parte dos países da Europa tenham aguardado a realização de eleições, no geral a República

não teve problemas para ser reconhecida pelas nações do Velho Mundo. A Rússia foi exceção, pois só reconheceu

em 1892, após morte de dom Pedro II.

A imagem externa

Nas comunicações oficiais, o transcurso de um regime para outro ocorreu de modo tranquilo. Uma

observação acurada, todavia, revela que em outras esferas houve alguns sobressaltos. Quatro dias após a

proclamação da república, o ministro do Brasil em Londres informou a Quintino Bocaiúva que, à vista de rumores

de eventual intervenção de outras potências nas questões internas do Brasil, havia procurado despertas apreensões

do Foreign Office, valendo-se do argumento de que o Brasil estava ligado à Inglaterra por interesses comerciais e

financeiros.

A legação do Brasil em Londres informou que a confiança na manutenção dos créditos do Brasil achava-se

restabelecida depois que o Brasil se fizeram publicar notícias tranquilizadoras nos mais importantes jornais

londrinos. Tal providência era necessária porque estava havendo especulações na Bolsa com a finalidade de

desvalorizar os títulos do Brasil. A legação deu conta, ainda, de que a opinião pública, em geral, confiava no futuro

do Brasil sob as novas instituições.

Os interesses britânicos no Brasil eram de tal monta que requeriam o reconhecimento sem delongas, como

fizeram os hábeis norte-americanos. O retardar não seria benéfico aos empreendimentos ingleses.

As apresentações favoráveis sobe a república, decorrentes da maneira pacífica com que ela se instalou,

desapareceram. As severas observações sobre a situação geral do país e as críticas à administração pública,

sobretudo após a reforma de rui barbosa, não cessariam e prolongaram-se até o advento do governo de Campos

Sales.

No início do regime republicano, em que ainda não estavam consolidadas as novas instituições, uma das

principais tarefas da legação brasileira em Londres constitui em procurar desfazer a imagem negativa que o país ia

adquirindo, pois esta redundaria em prejuízo para as finanças e para a economia nacionais.

A par da crise financeira estava a crise política dos governos militares subsequentes à Proclamação da

República a contribuir para formar uma imagem negativa do país. Ambas apareciam enlaçadas, formando na mente

dos observadores uma única e generalizada crise. A grande preocupação era, na verdade, com os interesses

financeiros em jogo. Instabilidade política, inevitavelmente, prejuízo de ordem econômica.

Havia estreita correspondência entre o teor das análises feitas sobre o brasil e sua real situação interna. As

lutas políticas e a quebra da legalidade tinham péssima repercussão nas principais praças europeias e, como

decorrência, provocaram efeitos danosos à cotação dos títulos brasileiros em Londres. assim, uma das principais

tarefas da diplomacia brasileira, no início da república, consistiu em procurar minimizar no exterior os efeitos

negativos das convulsões internas. Esse esforço era desenvolvido não só pela legação brasileira em Londres, mas

também por outras situadas em capitais de países com os quais mantínhamos expressivas relações comerciais.

A “republicanização” da diplomacia e o Legislativo

Logo após o advento da República, os ministros que ocuparam a pasta das relações exteriores não

eram ligados à diplomacia ou eram pouco afeitos às questões de natureza internacional. Isto contribuiu para que o

Legislativo, ao receber proposta orçamentária, passasse a suprimir, criar, manter legações e consulados, obedecendo

a mais de um critério.

Na discussão do primeiro orçamento republicano pelo legislativo, em 1891, percebe-se que, às vezes, o

motivo para a supressão de legações no exterior não era apenas por razão de economia nos gastos públicos, mas

também pela tentativa de deslocar parte dos diplomatas vindos do Império, sobretudo porque alguns deles, dizia-se,

Page 18: Resumo 1 Prova Peb

manifestavam-se abertamente monarquistas. Não se pode, pois, descartar a possibilidade de que a extinção de

legações, justificada pela economia de recursos, visasse atingir determinado ministro extraordinário.

Os argumentos geralmente invocados para a permanência ou criação de legações na América do Sul eram, ao

lado de razões ditadas pelo romantismo e das ligadas aos interesses comerciais, as questões de limites pendentes e

eventuais. No referente aos consulados, além da óbvia indicação da existência de corrente comercial ou migratória,

percebia-se a intenção de se incentivar o comércio internacional com determinada área.

Na linguagem dos parlamentares, “republicanizar” as relações internacionais no brasil equivalia a privilegiar

o contexto americano.

A leitura dos discursos parlamentares leva à conclusão de que o Ministério das relações exteriores não

gozava de prestífio no Legislativo Federal. Além de se lhe destinar pequena dotação orçamentária, pedia-se o

fechamento de algumas legações e a unificação de outras. Além disso, observava-se por parte dos recém-chegados

ao poder a tendência de aproximação do Brasil com países situados no espaço americano, notadamente os EUA, e

de retraimento das relações com a europa.

Reorientação da política externa

A primeira impressão que se tem sobre a política exterior republicana, ou, mais precisamente, da

inauguração do novo regime ao início da gestão rio Branco, isto é, de 1889 a 1902, é a de que faltou uma diretriz.

Aconteceram inúmeras alterações ministeriais, mesmo assim podem-se detectar certas constantes. Não há

dúvida de que a República provocou ruptura na política exterior que vinha sendo posta em prático pelo Império.

Imediatamente após sua instalação, procurou ser pan-americanista ao buscar a aproximação das nações hispano-

americanas e nomeadamente dos Estados Unidos.

A república, nessa primeira fase, querendo inovar, rompeu em boa parte com a tradição diplomática imperial.

O convênio aduaneiro addinado entre EUA e Brasil em 1891 foi a primeira ruptura, pois a diplomacia do Império já

se havia negado à assinatura do tratado de reciprocidade proposto. Em 1894, por ocasião da revolta armada, os

norte-americanos praticaram intervenções a favor de Floriano Peixoto. O acordo aduaneiro e a intervenção armada

concorrem para a aceitação da preponderância norte-americana em nossos negócios exteriores.

1- A “americanização”

O americanismo marcou a República nascente como que por antinomia ao europeísmo com o qual se

identificava a monarquia. Se as instituições monárquicas prendiam o Brasil à Europa, as republicanas deveriam

intengrá-lo ao sistema continental.

A americanização não se dava apenas no aspecto de organização das instituições, mas também no

concernente à política exterior. Reagia-se à preeminência inglesa e aproximava-se dos Estados Unidos, o seu

paradigma. A Abolição da escravatura e a adoção do regime presidencialista diminuíam a diferença entre os dois

países, que tinham também em comum prevenções contra o imperialismo europeu.

Um aspecto a ressalvar dessa “americanização” é que ela nem sempre se confundia com “norte-

americanização”. O país também voltou sua atenção para o contexto sul-americano, inaugurando uma política de

fraternidade americana, “muito especial” segundo seus críticos, que teve no Tratado das Missões, firmado com a

Argentina no alvorecer do novo regime, o exemplo mais eloquente.

2- As relações com a Argentina

A questão de Palmas (ou Missões) com a argentina que tinha a situação pré-república definida na qual

aconteceria o arbitramento do presidente norte-americano, no início da República houve a tentativa de resolução por

acordo direto. Todavia, devido ao fato do Brasil considerar o território brasileiro e, logo, não haveria porque ceder

uma parte á Argentina, a opinião brasileira foi contra Quintino Bocaiúva que tentou antecipar e conceder parte do

território em vez de esperar o laudo arbitral.

Uma vez passado o período de euforia republicana, as duas nações voltaram a se observar com espírito de

rivalidade, embora não houvesse qualquer problema grave e concreto a embaraçar-lhes as relações após a solução

Page 19: Resumo 1 Prova Peb

do litígio de Palmas, arbitrado pelo presidente dos EUA.

Durante o período de 1889 a 1902, as comunicações entre o Ministério das relações Exteriores e a legação

em Buenos Aires centraram-se, basicamente, em três assuntos: relações comerciais, preocupação com o

rearmamento naval da Argentina e eventual hegemonia desta na região platina.

A preeminência da força terrestre no cenário nacional logo após o advento do novo regime, as dificuldades

financeiras, as crises políticas e, principalmente, a Revolta Armada reduziram sensivelmente o poder naval do país.

Isto explica a preocupação brasileira em acompanhar o que se passava na Argentina em termos de projetos de

reorganização naval.

O Brasil adotou uma atitude de acompanhamento a respeito das relações da Argentina com os vizinhos

territorialmente menores do Prata e com o chile. O idealismo do início da república em relação às nações

americanas foi substituído por uma atitude realista, preocupada com o aumento do quadro de atração da Argentina

no contexto da bacia do Prata e atenta ao equilíbrio de forças no cone Sul.

Afora isso, entre os dois maiores países da América do Sul existiam as dificuldades advindas das leis

alfandegárias. Do lado do brasil havia o óbvio interesse em aumentar a presença de seus produtos no mercado

argentino, que por seu turno lutava pela manutenção de suas exportações.

Junto com as questões tarifárias havia conflito de natureza sanitária, uma verdadeira “guerra e quarentenas”,

que irritava profundamente as autoridades brasileiras.

3- Estados Unidos

Proclamada a República, o Brasil ingressou numa fase de aproximação íntima com os países da América,

especialmente com os EUA mudando, dessa forma, a atitude do Império, que era de retic~encia, cautela e não

envolvimento.

Para os norte-americanos essa maior aproximação afigurou-se o ensejo de aumentar sua influencia sobre o

Brasil, até então ligado ao concerto europeu, mais exatamente à Grã-Bretanha, em razão dos interesses financeiros e

comerciais. Do lado brasileiro, além da natural atração que a república do Norte exercia sobre os recém chegados ao

poder, havia preocupação com as exportações e com a manutenção das novas instituições.

As trocas entre os dois países evoluíram, seguindo um curso inexorável. Os EUA, a partir de 1898,

exercitavam-se na política mundial, procuravam dar corpo ao seu subsistema internacional de poder e, ao mesmo

tempo, buscavam ampliar sua presença comercial na américa Latina. A hegemonia britânica sobre esta passou a ser

desafiada pelos norte-americanos, que ainda concorreram com o emergente imperialismo alemão.

A intervenção estranfeira na Revolta da Armada (1893-1894)

A crise política do Brasil nos primeiros anos do novo regime, o militarismo e o agravamento da rivalidade

entre a Marinha e o Exército formaram o quadro para a eclosão da revolta da força naval contra o governo legal.

A revolta foi de péssimo efeito no exterior. para o observador europeu, a crise política levaria o Brasil a

engrossar o rol das republiquetas sul-americanas, marcadas pelos “pronunciamentos”. Não apenas se punha em

dúvida a capacidade do brasil se autogovernar, mas, também, de a República manter a unidade nacional.

No momento em que rebentou o movimento armado, os comandantes das forças navais de potências estrangeiras –

EUA, Grã-Bretanha, frança e Portgual – ancoradas na baía de Guanabara, em nome dos “interesses superiores da

humanidade”, intermediaram, em conjunto, um convênio pelo qual se estabeleceram as regras de combate e se

declarou o RJ cidade aberta, com o objetivo de resguardar alvos civis e o funcionamento do porto. A intervenção,

não obstante ferisse a soberania nacional, foi bem aceita pelas autoridades legais, uma vez que, afastada a

possibilidade de bloqueio e resguardada a capital de bombardeio, retirava o principal trunfo dos revoltosos.

Assim que Saldanha da Gama assumiu o comando das operações, a luta tomou outro rumo com o bloqueio

que impôs ao funcionamento da alfândega. No momento em que a vitória de Floriano parecia difícil e a diplomacia

europeia inclinava-se a reconhecer o estado de beligerância aos revoltosos, foi sugerido ao EUA a ruptura do

bloqueio. Os EUA vinha dando apoio a Floriano, e uma vez rompido o bloqueio à força, a Saldanha da Gama (líder

Page 20: Resumo 1 Prova Peb

dos revoltosos) só restou estender aos navios de outras nacionalidades a autorização para embarque e desembarque

de mercadorias. A revolta estava, militar e moralmente, derrotada.

A intervenção norte-americana foi decisiva para a vitória de Floriano, pois deu-se no preciso momento em

que a diplomacia das potências na Europa ensaiava retirar seu apoio ao governo legal. Os EUA, assim, contribuíram

para a “Consolidação” levada a efeito por Floriano Peixoto e, ao mesmo tempo, consolidaram a sua influência sobre

o governo brasileiro.

É preciso, todavia, advertir que a cartada decisiva do governo norte-americano a favor de Floriano não foi

contestada pela diplomacia europeia, a Grã-Bretanha em particular. Os interesses dos EUA e dos países europeus

não eram, no caso, colidentes.

TEXTO 6 – A candidatura do Brasil a um assento permanente no Conselho da Liga das Nações (Eugênio Vargas

Garcia)

O Brasil teve uma participação relativamente ativa nas atividades da organização até a sua retirada em 1926,

pouco depois do polêmico veto brasileiro ao ingresso da Alemanha na Liga. As motivações para essa conduta do

governo brasileiro estão relacionadas com a tentativa frustrada de tornar o Brasil um membro permanente do

Conselho da Liga das Nações.

A posição beligerante contra a Alemanha na Grande Guerra ocasionou com que o Brasil enviasse Epitácio

Pessoa para as negociações de paz em Paris. O Brasil assumiu certa liderança entre as potências menores,

defendendo seus interesses concretos em jogo e adotando uma estratégia de troca com os EUA para a resolução

favorável das questões do café do Estado de SP e dos navios ex-alemães apreendidos em portos brasileiros.

O Brasil aderiu à recém-criada Liga das Nações e teve como recompensa ser designado um dos quatro

membros temporários do Conselho. A admissão do Brasil, conseguida graças à indicação dos EUA, foi interpretada

pelo governo como sendo uma grande vitória, sinal de que o país era reconhecido como um parceiro das grandes

potências no gerenciamento da nova ordem mundial.

O Brasil não acompanhou a saída dos Estados Unidos o que demonstrou um gesto de autonomia, que negou

o caráter meramente “automático” da política de alinhamento.

A intenção de obter um assento permanente no conselho só começou depois da iniciativa do delegado do

Chile que sugeriu o aumento do quadro permanente do Conselho para a inclusão da Espanha e do Brasil, o que

acabou sendo defendido pelo Brasil. Segundo Cunha, representante brasileiro, não se poderia excluir a

representação permanente de dezoito nações americanas, que, do ponto de vista econômico, não estavam em

posição inferior à do continente europeu.

O delegado britânico combateu esta proposta e, em contrapartida, propôs a promoção apenas da Espanha.

Cunha, por instrução da República, vetou a promoção da Espanha por entender que isso acarretava a exclusão da

América.

Em 1922, quando parecia que o Brasil não conseguiria ser reeleito em seu assento temporário devido a

intensa competição, começou-se a se esboçar a ideia de lançar de fato a candidatura brasileira.

A prioridade da PEB passou a ser a obtenção de um posto honorífico da Liga, o qual elevaria

simbolicamente o status internacional do país a um patamar superior – equivalente ao das grandes potências, não

obstante as debilidades de poder do país, os graves problemas internos e as previsíveis resistências externas a uma

pretensão desse tipo.

As estratégias de campanha do governo Bernardes

A diplomacia brasileira estava à vontade para atuar com plena liberdade de ação no âmbito da Liga, pois não

possuía ali interesses vitais em jogo e os EUA, seu principal aliado político e parceiro comercial, tampouco

pertenciam àquela organização.

Page 21: Resumo 1 Prova Peb

A tese central utilizada pelo país era a da representação continental: na ausência dos EUA, o Brasil seria o

candidato da América L melhor qualificado, dadas as dimensões de sua população e de seu território, o voluma de

sua contribuição financeira à Liga e sua política de filiação aos ideais da organização.

Aventou-se a fórmula Brasil-Espanha para o Conselho mas os dois países ficariam na verdade ocupando

provisoriamente os lugares reservados, respectivamente, aos EUA e à Alemanha.

Pode-se aventar a hipótese de que, sendo pouco provável naquele momento o retorno norte-americano à Liga,

o Brasil visse na interinidade a garantia de uma presença duradoura no Conselho, talvez por tempo suficiente para

tornar a sua permanência ali um fato consumado.

Havia a expectativa no Itamarati de que a lealdade, os serviços prestados e o devotamento à obra da Liga

fossem premiados com a cessão do posto permanente. Enquanto isso não ocorria, o fardo dos compromissos e das

obrigações contraídas junto à Liga era compensado pela satisfação de assentar-se no Conselho ao lado das grandes

potências na cidade de Genebra.

Os demais países latino-americanos não se sentiam, de modo algum, representados pelo Brasil no conselho,

o que certamente não inspirava bos presságios para o futuro da candidatura brasileira a um assento permanente em

nome da América.

O Brasil somente conseguiu a renovação de seu mandato de membro temporário nos anos posteriores. Com

isso, ficou claro para alguns que a pretensão do Brasil não teria sucesso senão mediante trabalho antecipado,

metódico e enérgico junto às chancelarias, admitindo que sem lugar no Conselho não valia a pena o sacrifício da

presença na Liga.

Fiasco em Genebra: a crise de março de 1926

A posição da Grã-Bretanha era o principal motivo para a falta de êxito nas estratégias do Brasil. Esta fechada

questão em não admitir a concessão de um assento permanente no conselho a um país que não fosse considerado

uma grande potência segundo os critérios da época, pois poderia abrir um perigoso precedente.

Em 1925, os principais países (sem o Brasil) reuniram-se e aprovaram diversos tratados que, em seu

conjunto, representavam o triunfo da distensão política na Europa. O “espírito Locano”, como passou a ser chamado,

simbolizava a possibilidade de fortalecimento do sistema da Liga das Nações, uma vez que a vigência dos acordos

foi textualmente condicionada ao depósito de suas ratificações em Genebra e à entrada da Alemanha na Liga. O

Brasil passou a achar que estes acordos de Locano poderiam talvez oferecer o ensejo de jogar a “cartada definitiva”

na questão do assento permanente.

Em 1926 a Polônia anunciou que também se apresentava como candidata a tornar-se membro permanente do

Conselho, entrando simultaneamente com a Alemanha. Havia razão para se acreditar que a França manobrava para

colocar no Conselho um aliado fiel como contrapeso à presença do Reich. A Grã-Bretanha e Alemanha criticaram a

atitude da Polônia, o que levou a imprensa europeia mergulhar em um caloroso debate.

Brasil e Espanha renovaram as antigas reinvindicações a um posto permanente; China e Bélgica fizeram

saber que se algum outro país, que não a Alemanha, fosse concedido um assento, elas também seriam candidatas. E

a Suécia foi contra qualquer outro candidato além da Alemanha.

Artur Bernardes comunicou a Melo Franco a sua decisão sobre a conduta que o Brasil deveriaseguir em

Genebra: votar contra qualquer aumento do número de membros permanentes, caso o Brasil e a Espanha não fossem

contemplados. Para Bernardes, o Brasil não tinha sido ouvido sobre os tratados de Locarno nem sobre os

compromissos deles oriundos, e por isso estava livre para votar comolhe parecesse. Nas suas próprias palavras, em

suma, a questão para o Brasilcifrava-se em “vencer ou não perder”.

Havia um grande dissenso internamente no Brasil em relação à política do governo brasileiro na Liga das

Nações. Os veementes apelos patrióticos do governo, definitivamente, não foram suficientes para unir os países em

torno da causa, pois uma expressiva parcela da opinião pública era mesmo contra o engajamento do Brasil naquela

organização.

Page 22: Resumo 1 Prova Peb

Nesse confronto com os interesses europeus, restava ao Brasil contar com a solidariedade da América, já que

a sua pretensão se baseava na tese da representação continental. Mas o grupo latino-americano negou explicitamente

o seu apoio ao Brasil, o que acabou sendo o golpe mortal na candidatura brasileira.

O Brasil, ao exercer uma prerrogativa que lhe era facultada pelo Pacto, usou do direito de veto como um

instrumento de retaliação contra as potências europeias e a própria Liga, por não terem aceito os termos categóricos

da reivindicação brasileira. Uma vez decidido a conduzir o assunto como um jogo de soma zero, Artur Bernardes

privou-se da alternativa de uma solução negociada ou de um recuo estratégico.

A retirada do Brasil da Liga das Nações

O Brasil foi defensor dos direitos das potências menores, na comissão criada encarregada de estudar a

composição do Conselho, indo contra a ideia de que somente as grandes potências deveriam ser membros

permanentes no Conselho.

Em 1926 foi aprovado o projeto britânico que regulamentava a questão dos membros temporários do

conselho. O projeto instituía que o número de membros não permanentes seria elevado a nove, cujos mandatários

seriam eleitos o mais cedo possível durante a próxima Assembléia a fim de que assumissem suas funções

imediatamente após a eleição. Isso permitiria removero Brasil do Conselho, se necessário, a tempo de garantir a

unanimidade para a entrada da Alemanha em setembro. Além disso, não mais do que trêsdos membros temporários

poderiam ser indefinidamente reeleitos ao final do mandato, desde que obtivessem dois terços dos votos da

Assembléia.Acenava-se, assim, com a criação de uma categoria intermediária de membrossemipermanentes

destinada a satisfazer as aspirações da Espanha, da Polônia e do Brasil.

Ao governo brasileiro restavam as opções pouco atraentes de negociar algum tipo de compromisso, o que

significava negar a atitude peremptória assumida na crise de março, ou persistir na mesma linha de confrontação,

correndo o risco de ver-se forçado a sair do Conselho e sofrer uma grande humilhação na Assembléia de setembro.

Diante disso, a permanência do Brasil na Liga tornou-se insustentável. Como a conquista do assento permanente

tinha-se tornado politicamente inviável, selando o insucesso da aventura genebrina do Brasil, a hipótese sempre

presente de retirada da Liga converteu-se na consequência presumível.

Na reunião do Conselho de 10/06 de 1926, Melo Franco comunicou oficialmente e renúncia do Brasil ao seu

lugar naquele órgão. A justificativa oficial para a retirada baseava-se na ideia de que a Liga tinha-se desviado de sua

função universal para ser o instrumento subordinado de um grupo regional de países.

A retirada brasileira da Liga pode ser interpretada de outro modo, além da tendência comum na

historiografia de atribuí-la tão somente ao autoritarismo e à necessidade deapoio interno do governo Bernardes, ou

seja, que ela se inscrevia também naperspectiva de uma maior aproximação com o governo de Washington,

dissociando-se dos assuntos europeus.

O desligamento brasileiro da Liga, portanto, representou uma opção pelo pan-americanismo isolacionista,

liderado pelos Estados Unidos no pós-guerra, em detrimento da participação no multilateralismo universal, que

tinha na época seu núcleo na Europa. Em outras palavras, frustrado no objetivo que se propôs a alcançar na Liga,

isto é, conquistar o assento permanente no Conselho, o Brasil viu-se na alternativa confortável de simplesmente

seguir o exemplo norte-americano de não-envolvimento na política européia.

Pode-se dizer que o governo Bernardes, para o qual a crise de março de 1926 foi providencial, fez uma

aposta que na verdade atenderia aos seus interesses, qualquer que fosse o resultado: ou se obtinha uma vitória

espetacular na Liga (política de prestígio na Europa) ou, caso contrário, o Brasil a abandonaria para retornarà esfera

pan-americana (política de aproximação com os Estados Unidos).

Todavia, essa derradeira aposta da diplomacia brasileira foi uma frustração na candidatura ao assento

permanente. Em função do empenho quase obsessivo na meta do assento permanente, como foi possível comprovar

na investigação da correspondência diplomática do período, a política externa do governo Bernardes terminou-se

revelando monotemática e messiânica, totalmente ocupada com uma distração bonapartista que refletia,em última

análise, o caráter ornamental das relações exteriores do Estado oligárquico da década de 1920. Em Genebra, a

Page 23: Resumo 1 Prova Peb

diplomacia de prestígio prevaleceu sobre a diplomacia do desenvolvimento.

TEXTO 7 – CORSI

Industrializar o Brasil com apoio político e financiamento norte-americanos sem perder a soberania nacional. Esse

paradoxo caracterizou o projeto nacional do Estado Novo, entre 1937 e 1945. Para piorar, o presidente Getúlio

Vargas, oscilante entre o desenvolvimento autônomo ou integrado ao capital estrangeiro, também se movia como

um pêndulo entre a simpatia aos regimes autoritários da Itália e da Alemanha e a prosperidade econômica anunciada

pelos empréstimos que provinham dos EUA.

Ao cruzar dados oriundos da Economia, da História e da Sociologia, Francisco Luiz Corsi, realiza, em Estado Novo:

política externa e projeto nacional, justamente uma análise das contradições de Vargas, no período entre 1930 e

1945.

A principal idéia defendida pelo livro é que a política externa do Estado Novo era pautada por um projeto de

desenvolvimento nacional. No entanto, Vargas nunca teria conseguido formatar princípios coerentes de ação ou um

plano acabado, com metas, mecanismos de financiamento, órgãos de controle e coordenação de programas

formalmente definidos. Pelo contrário, o projeto de Vargas para o Brasil compreendia uma série de programas que

iam sendo formulados à medida que os problemas surgiam. Havia, portanto, um processo em constante redefinição,

que levava em conta fatores políticos, sociais e econômicos, internos e externos.

AUTONOMIA Os pontos em comum desse esforço seriam, para Corsi, o estímulo ao mercado interno e à

indústria nacional. Versão modificada e resumida da tese de doutorado do pesquisador, defendida, em 1997, na

Unicamp, o livro mostra como, entre 1937 e 1939, Vargas vislumbrou, de fato, a possibilidade de um

desenvolvimento autônomo.

Nesse período, houve a priorização da questão siderúrgica, a criação de vários organismos que alargavam a ação

estatal na economia, como o Conselho Nacional de Petróleo, e a criação de leis e regulamentos visando criar bases

mais sólidas para o financiamento da produção e do gasto público.

Paralelamente, ocorreu o aprofundamento do comércio bilateral com a Alemanha, com o objetivo de diversificar

mercados para as exportações brasileiras e criar condições para a ampliação de importações de máquinas e

equipamentos. A Segunda Guerra, porém, fechou a possibilidade de uma maior aproximação com a Alemanha.

O Brasil perdeu, a partir de 1939, boa parte dos mercados europeus e ficou vulnerável às pressões norte-americanas.

Em 1940, ao realizar um célebre discurso pró-nazista no encouraçado Minas Gerais, Vargas fez um jogo ambíguo:

por um lado, pressionava os norte-americanos, interessados em se aproximar do Brasil pelo seu tamanho continental,

a financiar a siderurgia brasileira; por outro, garantia um bom relacionamento com a Alemanha, para o caso de ela

sair-se vitoriosa na Guerra.

Ao conduzir esse jogo, Vargas retardou ao máximo sua aliança com os EUA, só a fazendo após conseguir selar

acordos para a obtenção de armamentos, créditos e tecnologia.

SERVIÇO Estado Novo: política externa e projeto nacional, de Francisco Luiz Corsi. Editora UNESP e Fapesp;

304 páginas; R$ 23,00. 25% de desconto para a comunidade unespiana.

O capital estrangeiro era bem-vindo e considerado vital, desde que se submetesse às leis brasileiras e contribuísse

para o desenvolvimento, ou seja, para a industrialização, vista por Vargas como garantia de soberania nacional.

O mandatário brasileiro esperava que, com o fim da guerra, o apoio brasileiro aos EUA gerasse um substancial fluxo

de capitais norte-americanos, capaz de financiar o progresso nacional dentro dos objetivos desejados pela política

brasileira de manutenção da autonomia política e da soberania econômica.

No entanto, o presidente Roosevelt pensava no Brasil apenas como um país subordinado aos EUA, com uma

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Page 24: Resumo 1 Prova Peb

economia meramente complementar. Pelo seu caráter ditatorial, o Estado Novo caiu, em 1945, derrubado pelo

movimento de redemocratização de Dutra, mas, em termos econômicos, seria inviável mantê-lo, pois acreditava no

uso de financiamentos internacionais para atender a interesses internos. Isso, como bem mostra o estudo denso e

multidisciplinar de Corsi, seria impossível no pós-1945, justamente no momento em que os EUA passavam a dar as

cartas da economia internacional

TEXTO 8 – MOURA

O Brasil tentou realizar a política de neutralidade o maior tempo possível como meio de conseguir benefícios

econômicos e políticos. O país sabia que jamais conseguiria não atender as exigencias estadunidenses,

principalmente, após o bloqueio do Reino Unido à Alemanha (diminuiu o comércio Brasil e Alemanha e aumentou

entre Brasil e Reino Unido, uma vez que este deveria suprír aquele).

Mas, com a política de neutralidade, o Brasil conseguiu benefícios tanto da Alemanha quanto dos EUA. Exemplo

disso é que, em 1935, o Brasil acordou a redução de tarifas comerciais alfandegárias com os EUA para produtos de

ambos. Já em 1936, assinou com a Alemanha um ajuste de compensação comercial para a exportação de algodão,

café, laranja e outros.

Em 1937, a atualização dos equipamentos militares e a necessidade de investimentos, principalmente, para a

construção de uma siderúrgica, eram problemas para o governo brasileiro. Esse foram resolvidos, também, através

da política de neutralidade e de barganha. Barganha porque a região nordestina era área estratégica para os EUA,

caso a Grã-Bretanha fosse vencida pela Alemanha no norte da África. A ocupação da região nordestina pelos

militares estadunidenses foi concedida, assim, quando do fornecimentos dos equipamentos para as forças armadas.

A política do governo Roosevelt trouxe os países latinoamericanos para mais perto dos EUA e afastou-os dos do

Eixo. A Conferência do Rio de Janeiro, última de uma série de conferências interamericanas, marcou essa

proximidade. Nesta, o Brasil rompeu relações com os países do Eixo e assinou acordos político-militares com os

EUA.

As consequências dessa conferência e da aproximação com a nova hegemonia estadunidense, atraiu a hostilidade do

Eixo de tal forma que navios brasileiros foram afundados por submarinos alemães. Nesses dias críticos, todos os

ministros concordaram em tomar medidas drásticas contra o Eixo. Mas a declaração de guerra ainda era questionada.

O sentimento popular contra as hostilidade alemães, entretanto, eram tão grandes que o Brasil declarou guerra à

Alemanha e à Itália em agosto.

Dessa forma, a neutralidade brasileira durante 1939-41 foi beneficiada , segundo Moura, em três fatores: “Primeiro,

a neutralidade dos EUA, que definiram para si próprios e para todos do continente a disposição de ficar de fora das

guerra europeias. Segundo, a convicção das lideranças militares brasileiras de que o país não se enontrava preparado

para enfrentas as consequencias de uma guerra moderna. Terceiro, a divisão politica entre o Estado e a sociedade em

relação à melhor aliança externa para o país”.

Conclui-se, então, que a partir da política de neutralidade, o Brasil conseguiu resolver seus dois problema:

reequipamentar as forçar armadas e instalar a siderúrgica. Isso, graças aos acordos com os EUA.

TEXTO 9 – HIRST

A Política Externa do II Governo Vargas - Hirst

Eleito em 1950, o retorno de Vargas à presidência marcou o retorno do Desenvolvimentismo no

Brasil. No que tange à sua política externa, dois panoramas básicos guiariam tal política: tanto a

busca pelo desenvolvimento econômico do Brasil, e nesse sentido este projeto econômico se daria a

partir da cooperação econômica internacional, especialmente a partir do financiamento externo,

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associada ao empreendedorismo estatal, ainda que com crescente atução do setor privado nacional.

Ou seja, se colocava o desenvolvimentismo associado ao K estrangeiro. O discurso nacionalista

servia para legitimar e de certa maneira, garantir a autonomia do país; vide os órgãos (Assessoria

Eco. da Presidencia) cuja função seria garantir o diálogo dessa política administrativa com relação

ao planejamento estatal; ou seja, o dialogo entre esse projeto economico nacionalista e o

desenvolvimentismo. Outra característica desse governo Vargas seria o alinhamento político aos

EUA; nesse sentido, o alinhamento político para com os EUA ( em termos político- militares),

alimentado por concepções ideológicas - que confundiriam o inimigo externo e interno- não

representa um paradoxo com o nacionalismo presente nessa política já que esse alinhamento

contribuía nessa política de desenvolvimento econômico - ou seja, "neutralizaria-a".

O que ruiu essa gestão de Vargas foi uma radicalização de seu discurso no quesito autonomia, ainda

que voltada aos interesses economicos do Brasil, pelo que foi mal-compreendido. Trata-se da

receita de demandas por um desenvolvimento econômico de bases mais autônomas, aliadas às

pressões de ordem democrática (admitamos que Vargas não era exatamente um governista

democrático, talvez não soubesse lidar com isso), vinculadas à conjuntura externa bastante instável.

Tanto que a autora aponta um relacionamento internacional que extrapolava a ação de Vargas; e

nesse sentido, houve uma movimentação interna de mobilização que até poderia ser controlada pelo

aparelho estatal, no entanto passou a difundir demandas de cunho nacional, saindo do controle de

Vargas.

A autora aponta para questões centrais desse cenário: O alinhamento para com os EUA, questões

diplomáticas para com ARG, a questão petrolífera, e o peso dos fatores externos no desfecho de

agosto de 1954.

A Relação Brasil/Estados Unidos:

Esse tema tem bastante espaço na discussão que a autora propõe no texto. Inicialmente ela coloca

que o retorno de Vargas implicou em uma reorganização das relações externas brasileiras

direcionadas aos EUA ( basta lembrarmos do Governo Dutra 1946-1950). Essa reorganização teria

como base: 1- a busca por uma ação internacional que contemplasse os interesses nacionais e 2- o

esforço brasileiro pelo retorno de uma maior cooperação economica; Vargas buscava, nesse sentido,

a histórica parceria que detinham, fazendo uso de uma "solidariedade ocidental", entendendo esse

histórico como um "direito"; O Brasil, detinha então, um direito de ser melhor reconhecido pelos

EUA (pensar num carater economico), tendo em vista os compromissos que estabeleceu e vinha

estabelecendo - e cumprindo. Essa maior cooperação de daria seja a partir de uma agenda bilateral,

seja a partir da nossa atuação junto a espaços multilaterais. Ou seja, não seria um "alinhamento

automatico"; Vargas buscava reaver uma política de barganha que havia conquistado no Estado

Novo, ao fim da IIWW. A questão maior é que a conjuntura internacional era outra.

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Page 26: Resumo 1 Prova Peb

O desenvolvimento das negociações bilaterais se deu ainda em 1951, na ocasião da IV Reunião de

Consulta; havia uma grande expectativa do Brasil, que logo expôs suas demandas, em troca dessa

política de apoio com relação às posições americanas (que detinham carater especialmente político-

militar/ militar-estratégico - tendo em vista a guerra fria). Como esperar concessões, partindo do

pressuposto de uma importância muito grande no cenário internacional - especialmente no que

tange à AL (o Brasil se acreditvaa essencial em nossa região e portanto mais merecedor da atenção

norte-americana aqui), vindos de um hegemon (talvez reine aí a visão liberal de cooperação no SI,

e não o entendimento da manutenção dessa hegemonia)...Especialmente diante do cenário da

Guerra Fria, em que os EUA direcionavam sua atenção - e financiamentos - à reconstrução da

europa. As demandas expostas pelo ministro de Vargas João Neves da Fontoura, que esperava

extrair mais vantagens que Oswaldo Aranha (Acordos de Washington de 1942) se baseavam em: 1-

mais crédito para a implantação de indústrias básicas e obras públicas; 2- maior incentivo de

Truman ao investimento privado norte-americano no Br; 3- suspensão das restrições americanas ao

nosso café. 4 (e muito importante) - fundação de uma Comissão Mista Brasil-Estados Unidos, que

seria a instituição que garantiria toda essa relação; um órgao de apoio do governo americano ao

desenvolvimento industrial brasileiro. 5- maior suprimento bélico. Em troca o Br ofereceu maior

volume de exportação de materiais estratégicos, como exemplo o manganês (Pedia ainda

financiamentos p industrialização desses produtos); estudou-se até mesmo a ampliação das

concessões brasileiras no campo bélico, como o envio de tropas à Guerra da Coréia.

O resultado dessa conferencia foi animador p Brasil; garantiu-se um crédito de 300 milhões p essa

Comissão Mista. A articulação entre uma cooperação político-militar-econômica parecia de fato

vantajosa. Até que surge, partindo de Washington, a proposta de um Acordo Militar em 1952, aos

moldes das demandas que haviam ainda em 1942, que relacionariam o interesse americano em

bases no Nordeste brasileiro, somados a um suprimento de materiais estratégicos, além do

rompimento do br com o eixo (demanda da época); aliados, ainda, a participação do brasil na guerra

da coreia e a um alinhamento incondicional à política contencionista americana.

Essa proposta era muito interessante aos EUA, já que a participação do br na Guerra das coréias

implicaria num comprometimento latino-americano como um todo na contenção do comunismo na

Ásia, ou em qualquer outra região que merecesse o esforço, mesmo a nossa. Tinha o apoio da

opinião pública americana, nesse sentido. Entretanto, não era vantajosa ao Br, e Vargas tinha que

conciliar muitos interesses antes que o Acordo fosse de fato assinado; seriam eles o governo

americano, os militares brasileiros - que representavam uma força de apoio muito grande em seu

governo, sua base-política-partidária (congresso), além da opinião pública brasileira, que não via

com bons olhos o ingresso na guerra. Em 1952 as pressões aumentam por conta das dificuldades

enfrentadas na guerra, oq exigia com urgência um fim rápido do litígio; e nesse sentido, Truman

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demandas para a poloitca de barganha
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Page 27: Resumo 1 Prova Peb

aumentou mais a pressão, dificultando a cooperação econômica. Em 1951, Truman propôe a

assinatura de um acordo secreto nos mesmos moldes daquele de 1942, a tentativa era isolar as

questões militares das concessões econômicas. Algo que contemplaria apenas os EUA,

representando uma derrota ao Br. Vargas procurou ganhar tempo, a partir do suprimento de mais

material estratégico e a partir da assinatura de um Acordo Atômico Br-EUA, mas já havia um claro

desgaste na política que tentava estabelecer.

Além de não conseguir colocar o interesse brasileiro diante das propostas dos EUA, os setores

militares nacionalistas passam a desaprovar a pollitica externa de Vargas. E ainda que os

nacionalistas tenham se afastado do Ministério da Guerra, nao houve uma reorientação militar pro-

americana no governo, ou seja, acarretou apenas perdas políticas (de apoio). Isso fomentou o iniciio

de uma mobilização oposicionista a Vargas - tornando-o vulnerável e permitindo instabilidade. A

desaprovação do Congresso tornou a tramitação do acordo militar de 1952 morosa, e trouxe a

polarização, ainda que antes não houvesse, do debate Nacionalismo versus Alinhamento. Esse

debate envolveu várioooos setores, desde os militares, aos intelectuais, aos empresários, a camada

popular...e nesse antro de mobilizações, ainda surge a questão petrolífera. No Congresso, a UDN

que defenderia os interesses americanos levanta a bandeira anti-Vargas, argumentando que o

executivo estrapolava o legislativo. Torna-se um importante ator político decisivo na aprovação do

Acordo no Congresso, tanto que Eduardo Gomes passou a ser presidente da Comissão Mista Br-

EUA. Inaugurou-se o primeiro episódio de polarização e debate em torno da PE desempenhada por

Vargas. O cena´rio se configurava ao seu desfavor.

No que se refere à Comissão Mista, a autora aponta para a sua importância econômica junto ao

Brasil. P os EUA, servia apenas como plataforma política p aproximação dos dois países. As

negociações junto à Comissão se deram de 1951 a 1953, ainda que enfrentassem bastante

dificuldade: 1- devido aos reduzidos orçamentos que os EUA ofereciam aos projetos economicos;

2- por conta da política interna de Truman, e o embate que havia entre o Departamento de Estado,

que enxergava a importancia do K norte-americano na AL como complementar e não substutivo ao

K privado e entre os organismos financeiros que eram contrários às políticas que comprometiam o

K americano ao desenvolvimento economico na AL. O que de fato minou a Comissao foi que os

interesses americanos de 42 para 52 se modificaram; de fato havia uma preocupação na contenção

do comunismo - e daí a importancia dos financiamentos vinculados a um apoio político- no entanto

não havia a intenção da promoção de projetos que dessem espaço a um desenvolvimento economico

auto-sustentado, que era a intenção de vargas; ou seja, a intenção era perpetuar o dependentismo

economico na AL, algo que o desenvolvimentismo procurava tornar mais brando.

O projeto desenvolvimentista economico de Vargas previa a atenuação dessa dependencia a partir

da cooperação internacional, do aumento da autonomia do executivo e via criação de mecanismos

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Page 28: Resumo 1 Prova Peb

que facilitassem o ingresso do K externo no país. A função do Estado seria então gerenciar e

canalisar os recursos obtidos; e nesse sentido Vargas propoe a fundação do BNDE, que captaria

além dos investimentos americanos, transferiria a esse fim aprte das receitas do Estado e de recursos

privados internos. Ampliava-se a ação econômica estatal, mediando a atuação do Estado, meio

privado nacional e os orgaos internacionais de crédito.

Em 1952, ascende Eisenhower na Casa Branca. E a postura americana muda: nega-se o

compromisso de financiar os projetos empreendidos pela Comissão Mista. Por fim, em 1953, a

Comissão Mista é até desativada, e há um desgaste nas relações EUA-Br. A ascenção dos

republicanos é um retrocesso na pol´tiica de cooperação economica junto ao Br. Passa-se a se exigir

o pagamento dos atrasados comerciais, somado à inflexibilidade do governo americano junto a

fixação dos preços do cafe brasileiro. A relação passa a ser completamente assimétrica, tendo o Br

pouco espaço p negociar. Ao mesmo tempo, as políticas nacionalistas de Vargas passam a ser muito

criticadas pelo governo americano; de fato, a atuação forte do Estado, o surgimento da iniciativa

privada brasileira, a criação do BNDE e Petrobras apenas indicam um florescimento do

industrialismo aqui, e não indicariam com plena certeza um projeto nacional autonomo, podendo vir

a assumir um carater misto.

Diversificação da Agenda externa:

A agenda externa permanecia mais diversificada com Vargas que outrora, mas permanecia dicotômica, uma vez que havia

críticas na questão econômica embora não houvesse discordancia quanto à questão política. Os EUA teciam sua PE na AL de

maneira mais bilateral, e multilareal a partir da OEA e CEPAL. A CEPAL representava o ultimo suspiro do desenvolvimentismo

economico, na tentativa de coordenar projetos nesse ambito e influenciou muitos economistas da epoca. A AL nao tinha grande

espaço na agenda internacional muito por conta da reconstrução europeia e bipolaridade da GF; e o proprio senso comum da

elite brasileira a afastava da AL, a partir da negação da identidade latino-americana.

TEXTO 10 – Desenvolvimento e Multilateralismo: Um Estudo Sobre a Operação Pan-Americana no

Contexto da Politica Externa de JK - Alexandra de Mello e Silva

EUA e América Latina Sob a Guerra Fria: a ideia de um hemisfério fechado num mundo aberto. Critica de países

latino americano aos EUA devido ao fato de o Estado norte americano ter apoiado as ditaduras da América latina.

Nos primeiros 2 anos de governo de JK (1956-1961), a PE não possuia nada de especial. A politica norte americana

para a América latina passa a ser questionada Esses questionamentos podem ser divididos em 3 níveis Inter-

relacionados.

1. Evolução da conjuntura internacional: 1955-acensão Kruschev na URSS traz mudanças para a América latina.

“Coexistência pacifica”(intensificação na competição econômica e tecnológica) em 1956-57 + assistência

econômica e técnica aos países subdesenvolvidos, mediante acordos bilaterais.

2. Evolução da conjuntura politica e econômica latino americana: redemocratização de países latinos, que ocasionou o

desgaste da imagem da administração Einsenhower junto à opinião pública. Exportações latino americanas em

queda. EUA impõe quotas e restrições à vários produtos latino americanos.

3. Divergências dentro da administração Eisenhower, em relação à politica econômica ortodoxa para a América latina

e a ênfase dada ao investimento privado e nos recursos domésticos: Alguns defendiam necessidade estabelecer um

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compromisso maior dos eua para com o desenvolvimento econômico e social latino americano (kennedy era um

deles), que ficaram mais evidentes com a visita de nixon que teve um repercussão negativa.

Nesse contexto brasil foi o principal protagonista no processo de retomar as reivindicações latino-americanas, que

se concentravam na questão da cooperação econômica.

"Permita-me Vossa Excelência que lhe adiante (...) que a hora soou de revermos fundamentalmente a política

de entendimento deste hemisfério e procedermos a um exame do que se está fazendo em favor dos ideais

pan-americanos em todas as suas implicações.” Jk para Eisenhower.

"como Vossa Excelência não adiantou um programa especifico para fortalecer a compreensão pan-americana,

parece-me que nossos governos devam entrar em entendimentos, no mais breve prazo possível, no tocante ás

consultas a serem dirigidas aos demais membros da comunidade pan-americana". Eisenhower para jk.

A OPA surge como a reafirmação da solidariedade aos EUA. Em momento algum vai contra os EUA, observa-se

então um alinhamento. Uma característica importante foi que a Operação não passou pelos canais diplomáticos

ordinários, foi assim uma proposta do presidente JK diretamente ao presidente Einsenhower. Apesar de confrontos

com MRE, por motivos óbvios, JK não passou a proposta pelo MRE, havia setores da diplomacia engajados na

formulação da OPA.

A operação possuía 3 aspectos básicos:

o Anseio de dar ao Brasil uma postura mais atuante e autônoma na politica internacional. Essa autonomia seria

expressa na relações com os EUA, no reconhecimento de que o brasil pudesse expressar livremente seus pontos de

vista e eventuais desacordos.

o Combate ao subdesenvolvimento, sendo a questão da pobreza do continente uma questão de segurança. Um país

pobre está suscetível a ameaça comunista segundo JK. Assim propunha uma associação entre o desenvolvimento

econômico e segurança.

o OPA iniciativa de caráter e objetivos multilaterais, Brasil apenas um colaborador , para um entendimento geral e

efetivo entre os países “irmãos” do continente

Busca autonomia, mas não é politica independente, pois não rompe com os grandes centros.

OPA:

representou uma ampliação da agenda econômica externa brasileira. Tendo a atuação brasileira assumindo duas

dimensões: 1. Politica, que buscava reforçar o contudo politico da proposta através da associação segurança,

democracia e desenvolvimento econômico.2. Técnica e econômica que se ajustava fortemente as necessidades e

objetivos da politica econômica interna e externa.

Multilateralismo característica marcante da OPA, pois as tentativas anteriores de politica externa que negociava o

alinhamento politico em troca de auxilio econômico, tinham se dado em bases bilaterais. (criação comitê dos 21)

o O multilateralismo da OPA introduziu duas novas direções para a PEB:

Um instrumento em si de condução diplomática.

Uma experiência de cooperação politica regional sem precedentes.

Incorporou pressupostos americanistas e neutralistas. A OPA possuía caráter contraditório, ao mesmo tempo que

participava de conferencias sobre a descolonização da África, matinha relações especiais com Portugal; buscava

implementar reatamento com a URSS; e ainda tinha a questão cubana. Porem, o americanismo prevaleceu sobre o

neutralismo, nos momentos de alinhamento aos EUA.

Solidariedade aos EUA e uma complementaridade de interesses políticos e econômicos entre os dois países.

(americanista)

Busca por autonomia na atuação internacional; aproximação américa latina; ênfase subdesenvolvimento. (neutralista)

O aspecto que mais se diluiu devido ao americanismo foi da autonomia tendo como causa a rigidez das relações de

poder em nível regional.

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Com a ascensão de Kennedy ao poder americano, uma preocupação maior com a América latina foi colocado em

questão, e isso se torna mais forte depois da revolução cubana.

TEXTO 11 – O nacionalismo desenvolvimentista e a política externa independente (1951-64) - VIZENTINI

A PE desse período apresente características novas que a diferenciava das anteriores. Possuem acentuados

traços em comum e apresentam uma continuidade. Vargas em 30-45 já havia procurado transformar a PE num

instrumento de apoio ao desenvolvimento econômico. Não mais essencialmente a busca de uma aproximação

privilegiada com os EUA como antes.

Contexto

Fora Rio Branco (aliança não escrita), o restante da República Velha (1912-1930) e o mandato do presidente

Dutra (46-51) caracterizam-se, em oposição, por uma dependência relativamente passiva frente aos EUA. Entratanto,

o período de 30-45 pautou-se por uma tentativa consciente de tirar proveito da conjuntura internacional e da

redefinição da economia brasileira, através da utilização da PE como instrumento estratégico para lograr a

industrialização do país. A diplomacia pendular do Brasil, entre Washington e Berlim, buscava, em essência,

reativar a velha “aliança privilegiada” com os EUA, inovando-a com outras formas de cooperação econômica. A

partir do segundo governo Vargas persiste a ilusão de que o Brasil poderia, através da barganha nacionalista, voltar a

lograr estabelecer vínculos privilegiados com os EUA; isto até o final do governo JK.

Mas a situação nos anos 50 era diferente. O desenvolvimento econômico e a progressiva afirmação de um

novo perfil sócio-político da sociedade brasileira impunham novas demandas à política exterior. Na lógica da

substituição de importações, incrementando a indústria de base, a obtenção de capitais e tecnologia só poderia então

ser lograda por meio da potência então hegemônica capitalista, os EUA. No quadro da Guerra Fria, entretanto, o

espaço de manobra era muito limitado para atrair a atenção americana.

É nesse quadro que Vargas procura implementar uma barganha nacionalista, apoiando os EUA no plano

político estratégico da Guerra Fria, em troca de ajuda ao desenvolvimento econômico brasileiro. Obtém resultados

fracos que pioram com o governo de Einsenhower, não dispondo de suficientes alternativas internacionais. “A

barganha nacionalista havia se tornado uma política incômoda para o status quo internacional hegemonizado pelos

EUA”.

O período entre 54-58, começando com Café Filho, representou um sério retrocesso, com o retorno do

alinhamento automático (tal como no governo Dutra), um autêntico hiato com relação às tendências marcantes do

período, configurando-se um liberalismo econômico extremado (concepção da Escola Superior de Guerra).

JK (56-60) prossegue o alinhamento automático com a diplomacia hemisférica, a abertura completa da

economia ao capital internacional; mas retorna o projeto de industrialização, calcado no setor de bens e consumo

duráveis para as classes de média e elevada renda, aproveitando se das alternativas comerciais e financeiras (Europa

Ocidental) sem confrontação com Washington. Após 58, a crise dos milagrosos 50 anos em 5 e a criação da

Comunidade Econômica Europeia, levam o governo a retomar uma ativa barganha nacionalista através da Operação

Pan-Americana (OPA), objetivando atrair a atenção dos EUA para AL e obter maiores créditos nos marcos do

sistema interamericano, comprometendo a Casa Branca num programa multilateral de desenvolvimento econômico

de largo alcance.

Nesse contexto se inicia a PE Independente, com cinco princípios oficiais (61-64). 1- A ampliação do

mercado externo dos produtos primários e dos manufaturados brasileiros. 2 – A formulação autônoma dos planos de

desenvolvimento econômico. 3 – Enfatiza a necessidade de manutenção da paz (desarmamento). 4 – Defendia a

noção de não-intervenção nos assuntos internos de outros países (autodeterminação dos povos) – evitar ingerência

em Cuba para não dar precedente. 5- Emancipação completa dos territórios não-autônomos. Para Jânio, o Brasil

possuía as condições para ocupara posição de intermediário entre o Primeiro e o Terceiro Mundo, sendo uma

“potência média”.

Três abordagens: diplomáticas: a) resposta às aceleradas modificações internacionais, b) uma estratégia

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consciente para questionar o status quo mundial e c) negociar uma nova forma de inserção internacional do país -

“renegociar o perfil da dependência”-, uma reação nacionalista ao hegemonismo norte-americano. Econômicas: a)

uma deterioração dos termos do comércio exterior – daí a busca de novos mercados -, b) instrumento diplomático

do interesse nacional, c) uma típica política de país capitalista dependente que já esboça traços de sub-imperialismo.

Socióloga: resultado das transformações internas da sociedade brasileira.

É um projeto coerente, articulado e sistemático visando transformar a atuação internacional do Brasil. Desde

50, a PE procura tornar-se um instrumento indispensável para a realização de projetos nacionais, no caso a

industrialização e o desenvolvimento do capitalismo – esse constitui o elemento dinâmico da PEI, dentro do qual os

demais fatores devem ser entendidos. Relação existente entre a PE executada pelo Brasil e as necessidades

estratégicas de seu projeto de desenvolvimento industrial substitutivo de importações.

A adaptação da PE brasileira às transformações do sistema internacional em fins dos anos 50 foi importante,

transitando do sistema regional para o âmbito mundial: recuperação econômica da Europa Ocidental e Japão

(alternativas comerciais e de financiamento), a descolonização da África, consolidação da URSS como potência

mundial (elemento de barganha); o surgimento dos Países Não-Alinhados, a Revolução Cubana (cujo impacto na

AL redefiniu a estratégia americana).

Ao pretender-se multilateral e mundializada, a PE brasileira, passa a atuar fora do contexto hemisférico,

ganhando considerável autonomia frente aos EUA. Reatamento com a URSS, apoio a lenta descolonização da

África Portuguesa, aproximou-se dos grandes países latino-americanos (Argentina via Tradado de Uruguaiana) e

nega a expulsão de Cuba da OEA demandada por Washington, limitação das remessas de lucros. 63 – volta do

presidencialismo e o Brasil como “caso perdido”. Os EUA apoiam governadores pró-americanos, ferindo

abertamente o monopólio da União sobre as relações exteriores e articulam com a direita brasileira o golpe militar,

processo intensificado com o assassinato de Kennedy., com a infiltração de agentes, o afluxo de recursos aos

golpistas e aos pressões diplomático-financeiras contra o Brasil.

Pressionado pelo movimento popular que obriga-o a adotar um discurso fortemente reformista e frustrado na

tentativa de conciliação com Washington, Jango fica sem alternativas. Quanto a PE, sem consenso interno, passa a

ser influenciada pelas teses do Chanceler Araújo Castro, sofrendo um nítido refluxo. “A PEI mostrou-se muito mais

precoce do que equivocada, pois muitos de seus postuladores foram posteriormente retomados pela diplomacia dos

militares (70) no chamado Pragmatismo Responsável”.

TEXTO 12 – archer

TEXTO 13 – DESARMAMENTO, DESCOLONIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Detalhe que no governo de JK existia a questão de se ter uma ´politica externa mais autônoma, mas, no entanto,

devido a rigidez do sistema de poder regional isso não foi possível.

O discurso 1963, pós crise dos misseis pré golpe militar. Brasil assume posicionamentos nunca antes assumidos.

Brasil defende que os países em desenvolvimento deveriam ter papel central na gestão da ordem internacional, não

podendo ser reduzidos a atores secundários na contenda entre os Estados Unidos e a União Soviética. Araujo Castro

lançou um desafio à ONU: que, ao invés de se deixar paralisar pela rigidez da bipolaridade, se dedicasse a realizar

progressos reais em três temas fundamentais – desarmamento, desenvolvimento econômico e descolonização.

Exemplo de PEI quando fala do desarmamento, ponto que vai de encontro com os interesses das ditas potencias

centrais.

Castro defendeu que as atividades das nações unidas deveriam atender, no campo do desenvolvimento, a ter áreas

prioritárias: a industrialização, a mobilização de capital para o desenvolvimento e o comercio internacional.

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A indústria seria o setor mais dinâmico da economia dos países subdesenvolvidos e o mais suscetível de assegurar a

emancipação econômica desses países no curto prazo.

Castro condenava a DIT, pois era assentada na condenação de países periféricos à condição de fornecedores de

produtos primários.

Quanto ao comercio internacional, criticava a deterioração das relações de troca, esperando com otimismo, que a

Unctad pudesse modificar as tendências desfavoráveis aos países subdesenvolvidos.