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SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho – uma teoria da comunicação linear e em rede.
Petrópolis: Vozes, 2001.
Idéia central: Reflete sobre as relações entre cultura e comunicação. Lança um olhar sobre os
novos arranjos socioculturais na sociedade global como um todo, a partir do fenômeno que o
autor classifica como “midiatização”. A formulação mais importante e reproduzida do livro é a
do “bios midiático”, abordando o papel da educação na formulação de uma nova moral e ética
mercadológicas.
Muniz Sodré de Araújo Cabral, pensador contemporâneo da comunicação nacional,
através de suas ideias nos ajuda a compreender sobre a dinâmica da informação no mundo
globalizado, que está potencializado pelo que ele classifica de “turbocapitalismo”.
Ao analisar o equívoco recorrente sobre a expressão “Revolução da Informação” ele nos
aponta caminhos para a análise crítica deste conceito deturpado, que, segundo Sodré (2001), está
distante do verdadeiro momento de rupturas que é uma revolução. Também nos aponta saídas,
sem alçar sua reflexão sobre uma possível sociedade alienada pelo espetáculo midiático, mas sim
analisando as mediações e as concretas relações das forças de poder em jogo.
A mídia para o autor é parte constituinte de uma nova forma de vida social, partindo do
conceito de bios, re-apropriando de Aristóteles a classificação dos bios na esfera social. Desta
forma o autor brasileiro pretende analisar o campo comunicacional através do prisma da
veiculação, vinculação e cognição. Onde a veiculação constitui o campo onde a idéia é
veiculada, a vinculação é a possibilidade de fuga da hegemonia e a cognição onde o sujeito vê o
sentido das mensagens.
O autor situa sua fala a partir da virada do século XX para o século XXI, identificando
esta sociedade como pós-midiática, atravessada pelo processo de globalização levado adiante por
uma versão atualizada do liberalismo econômico de Adam Smith. Globalização que se constitui
por uma “teledistribuição” em escala planetária de pessoas e coisas.
A potência desta “distribuição” é auferida pelo aspecto da velocidade de deslocamento.
Concomitantemente, antigas formas discursivas se hibridizam abrindo espaço para o surgimento
do que se tem nomeado de hipertecto ou hipermídia. Assim, observa-se que existem novas
nuances da economia capitalista, que favorecem um “ordenamento mercadológico do mundo,
para além de qualquer designo humano.” (p.13)
O encurtamento do espaço via tecnologia e a informação que passa a ser o combustível
da cena contemporânea são pontos chave para entender o atual regime de visibilidade, que
instrumentalizada a informação, de forma hegemonica, tornando a mídia horizontalizada, ao
sustentar um movimento de autopropaganda do pensamento único. Essa tecnização da
informação vai ser apropriada pelas grandes organizações, acompanhadas pela dinâmica do
capital financeiro mundial, apresentando formas de passar a informação e não formas de se
elaborar. Desta maneira, a informação é mais um produto na política mundial.
Retomando a discussão sobre a dita “Revolução da Informação”, segundo Muniz Sodré
(2001), o uso do termo revolução é equivocado, assim como, também é equivocado a comum
comparação à Revolução Industrial, quando, na verdade, por mais que haja um encurtamento das
distâncias, estocagem de grande número de dados e fluidez na distribuição ordenada da
economia, não existem rupturas claras, mas o que se apresenta são mutações tecnológicas
potencializadas pelo “Turbocapitalismo”.
Destarte, a informação é reduzida a modos operativos de transmissão de sinais que são
apropriados pelas grandes organizações do capital econômico mundial para despolitizar o sujeito
contemporâneo. Fazendo da comunicação ferramenta de integração dos planos do poder.
Muniz Sodré (2001) vai apontar então para a constituição de um novo indivíduo, um
indivíduo infocontrolado, que, através da data vigilância, onde o que está em jogo hoje é uma
nova vida, uma nova forma de contabilizar o real. Real que não mais se constitui pela
apresentação, mas por uma representação apresentativa, constituindo uma cultura da simulação,
onde saber e sentir estão num outro sentido. Sem deixar de levar em conta que o regime da
visibilidade vai desembocar na vigilância dos indivíduos.
Influenciado principalmente por Kant, ele vai se apropriar do pensamento sobre a moral,
buscando entender a ação dos indivíduos a partir da moralidade, estudando como se estruturam
os princípios que são apreendidos pelo sujeito.
O autor, por outro lado, disserta que o discurso do acesso universal à informação é falso,
de forma que poucos são os favorecidos, mesmo que se diga que a informação é para todos.
Assim, a sociedade contemporânea seria regida pelo que ele chama de midiatização, composta
pela mídia de massa e a espetacularização da vida. Igualmente, a mídia acaba embutindo novos
valores e estes novos valores estão modificando o lugar de força das instituições clássicas. Há,
desta forma, uma midiatização do ethos.
O Ethos está ligado ao local de pertencimento de um indivíduo, onde ele comunga
valores e hábitos com seu grupo. Hábitos e costumes transmitidos sistematicamente, não
significando apenas “casa”, mas costumes, ensinamentos, passados de geração para geração.
Há, assim, um enfraquecimento, criado pelo mercado, da mediação e uma
potencialização da mediatização, contaminando várias entidades estruturadas, como a política, a
economia e a sociedade. Onde políticos perdem sua função representativa ocorre do ethos ser
estetizado e a educação virar mercadoria.
Ao identificar em sua obra uma saída para este domínio técnico e instrumentalizado da
informação, Sodré (2001), diz que a héxis é que possibilita a instalação da diferença na
imposição estaticamente identitária do ethos. Ou seja, a héxis afeta na cognição dos indivíduos,
pois leva a pensar.
O que vai restabelecer a conformidade do indivíduo com a moral da comunidade é a
héxis e a escola é o local propício para o desenvolvimento da mesma e alcance da transformação
social concreta. Assim, torna possível emergir o novo e abre espaço para eclodir as mudanças. A
partir deste ponto, identifica como a classe hegemônica se apropria da educação para inserir uma
lógica de exclusão e competitividade entre os indivíduos, apontando para a necessidade de se
desfazer a linha que separa o ensino qualificativo para as elites e o ensino “utilitário”
(socialmente desqualificado) para os mais pobres.