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debora-vasconcellos
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Resumo dos Capítulos 10,11 e 12 do livro Introdução à leitura de Lacan de Joël Dor
Capítulo 10: O sintoma como processo metafórico
Lacan utiliza um caso de uma paciente vista em um capítulo anterior que possui um
problema com o seu marido durante a viagem de núpcias. O autor coloca o efeito de surpresa
gerado pela falha do marido como um mecanismo de defesa que irá tomar uma série de
significados que causam a sensação de angústia relatada pela paciente.
O problema na relação causada por essa falha do marido, em seguida com a relação
maternal da esposa com o marido, é formado um sintoma na escrita dessa mulher, acarretando
depois em uma incapacidade de utilizar o braço para escrever.
O sintoma, segundo o autor, construiu-se como uma metáfora, como uma substituição
significante de um significante antigo recalcado por um novo. O significante novo mantém uma
ligação de similaridade com o significante recalcado, este último precisa ser então descoberto
durante as sessões de análise. A partir das sessões o autor encontrou vários fatores da vida da
paciente que formaram um conjunto de significantes que se transformaram no sintoma da
paciente.
Sendo assim, para Lacan o sintoma resolve-se inteiramente numa análise de linguagem,
porque ele próprio está estruturado como uma linguagem, porque é linguagem cuja palavra deve
ser liberada. Isso faz parte do trabalho inconsciente de utilizar os diversos materiais de origem
diferente numa combinação tal que a expressão do desejo recalcado torne-se irreconhecível.
“O sintoma é um retorno da verdade. Ele não se interpreta a não ser na ordem do
significante, que só tem sentido em sua relação com outro significante”.
SEGUNDA PARTE: A METÁFORA PATERNA COMO “ENCRUZILHADA
ESTRUTURAL” DA SUBJETIVIDADE
Capítulo 11: A prevalência do falo
Segundo o autor para que o processo da metáfora paterna possa ser tomado como a
justificativa mais completa do inconsciente estruturado como uma linguagem é preciso
primeiramente compreender o objeto fálico.
O autor utiliza como ilustração dessa verdadeira compreensão do objeto fálico, um
exemplo de má interpretação do falo, para ele atestar que a referência ao falo é diferente de uma
castração do pênis, ela tem a ver com a referência ao pai, aquele que é mediador da relação
“mãe-criança”. Sendo assim ao reconhecer que há um papel essencial de só um órgão genital
em um certo momento da evolução sexual infantil implica que este situa-se fora da realidade
anatômica, ou seja a falta do órgão é suscetível a uma representação subjetiva. A falta de pênis é
concebida como o resultado de uma castração e a criança se vê no papel de defrontar-se com a
castração de sua própria pessoa. Com o primado do falo fica compreendido que o órgão genital
feminino só é diferente do órgão genital masculino porque lhe falta alguma coisa. Esta
concepção de alguma coisa que falta leva a uma suposição do que falta, formando assim o
registro imaginário.
A partir desses conceitos o autor coloca que a primazia do falo enquanto objeto
imaginário irá desempenhar um papel fundamentalmente estruturante na dialética edipiana, na
medida em que a própria dinâmica fálica promove uma operação simbólica inaugural que
encontra uma resolução com o advento da metáfora do Nome-do-Pai.
Capítulo 12: O estádio do espelho e o Édipo
Lacan procura relacionar o complexo de Édipo em torno do processo da metáfora do
Nome-do-Pai através da função fálica e por sua vez pelo complexo de castração. Segundo
Lacan, a função fundamental do Édipo aparece como coextensiva à função paterna. Essa função
é distinta da questão da presença paterna, essa função é tomada pelo autor como procedente da
determinação de um lugar, ao mesmo tempo em que esse espaço é simbólico, por essa função
simbólica pode-se prestar uma função metafórica.
O autor coloca o surgimento do complexo de Édipo na maturação da criança em um
estado de sua vida psíquica contemporânea ao estádio do espelho, onde se esboça para a criança
certo tipo de identificação tendo uma certa relação de alienação específica com a mãe.
O estádio de espelho é ordenado através de uma experiência de identificação
fundamental, onde a criança conquista a imagem do seu próprio corpo. Essa identificação irá
propiciar a criança uma estruturação do “Eu”, essa vivência psíquica é denominada por Lacan
de “fantasma do corpo esfacelado”. Antes do estádio de espelho a criança não experimenta o
seu corpo como uma totalidade unificada, mas como algo disperso, esta experiência
fantasmagórica do corpo esfacelado favorece a unidade do corpo próprio. A fase espelho da
criança pode ser organizada em torno de três tempos fundamentais, que orientam a conquista da
imagem do corpo. O primeiro passo dessa fase é o encontro da criança com o seu corpo, em
seguida a criança descobre que aquilo que ela vê no espelho é uma imagem, após isso no
terceiro momento se dialetiza as duas etapas anteriores, além da criança está segura de que o
reflexo do espelho é uma imagem, ela adquire a convicção de que não é nada mais que uma
imagem, e que é a sua imagem. Reconhecendo-se na imagem, a criança recupera a dispersão do
corpo esfacelado, representando assim o corpo próprio. A imagem do corpo é estruturante para
a identidade do sujeito, que através dela realiza a sua identificação primordial.
O autor em seguida coloca a questão do primeiro momento do Édipo onde o desejo da
criança está radicalmente assujeitado ao desejo da sua mãe. Então no segundo momento a
criança é introduzida a castração pela intrusão da dimensão paterna. Nesse tempo a criança tenta
se defender da castração submetida a ela. A partir disso a figura paterna entra na relação mãe-
criança-falo sob a forma da privação.
Durante esse processo o pai adquire a simbologia de interditor, frustador, privador,
castrador. Nessa lógica a falta do objeto acarreta algumas reações: a frustração é uma
reinvindicação onde não há nenhuma possibilidade de satisfação, a falta é um dano imaginário,
por sua vez nessa situação, o objeto é real. No caso da privação a falta que é algo real, contudo,
o objeto da privação é um objeto simbólico. Enquanto na castração a falta é simbólica, mas o
objeto é radicalmente imaginário, nesse caso o objeto é o falo. A partir desse processo de
castração é no segundo momento do complexo de Édipo que há a simbolização da lei através do
pai que se torna o representante da lei como o depositário do falo. Por sua vez a função paterna
só é representativa da lei porque o valor estruturante desta simbolização reside na determinação
do lugar exato do desejo da mãe. A confrontação da criança com a relação fálica modifica-se de
maneira decisiva, no momento em que ela deixa a problemática do ser para aceitar negociar a
problemática do ter. Isso só acontece a partir do momento que o pai não mais lhe aparece como
um falo rival dela junto à mãe. Na medida em que há o falo, o pai não é mais aquele que priva a
mãe do objeto do seu desejo. Pelo pai ser o suposto detentor do falo, ele reinstaura no único
lugar onde pode ser desejado pela mãe. A criança como a mãe, encontram-se inscritos na
dialética do ter, a mãe não tem o falo mas pode desejá-lo naquele que o detém e a criança
poderá também cobiça-lo.
A dialética do ter convoca o jogo das identificações gerando por fim o terceiro
momento onde há um declínio no complexo de Édipo. A reposição do falo no seu lugar é
estruturante para a criança de qualquer sexo, pois atesta a passagem do ser ao ter, é a prova da
instalação do processo da metáfora paterna e do mecanismo intrapsíquico que lhe é correlativo:
o recalque originário.