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Resumo dos Capítulos 10,11 e 12 do livro Introdução à leitura de Lacan de Joël Dor Capítulo 10: O sintoma como processo metafórico Lacan utiliza um caso de uma paciente vista em um capítulo anterior que possui um problema com o seu marido durante a viagem de núpcias. O autor coloca o efeito de surpresa gerado pela falha do marido como um mecanismo de defesa que irá tomar uma série de significados que causam a sensação de angústia relatada pela paciente. O problema na relação causada por essa falha do marido, em seguida com a relação maternal da esposa com o marido, é formado um sintoma na escrita dessa mulher, acarretando depois em uma incapacidade de utilizar o braço para escrever. O sintoma, segundo o autor, construiu-se como uma metáfora, como uma substituição significante de um significante antigo recalcado por um novo. O significante novo mantém uma ligação de similaridade com o significante recalcado, este último precisa ser então descoberto durante as sessões de análise. A partir das sessões o autor encontrou vários fatores da vida da paciente que formaram um conjunto de significantes que se transformaram no sintoma da paciente. Sendo assim, para Lacan o sintoma resolve-se inteiramente numa análise de linguagem, porque ele próprio está estruturado como uma linguagem, porque é linguagem cuja palavra deve ser liberada. Isso faz parte do trabalho inconsciente de utilizar os diversos materiais de origem diferente numa combinação tal que a expressão do desejo recalcado torne-se irreconhecível. “O sintoma é um retorno da verdade. Ele não se interpreta a não ser na ordem do significante, que só tem sentido em sua relação com outro significante”.

Resumo PET - Joel Dor

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Resumo dos Capítulos 10,11 e 12 do livro Introdução à leitura de Lacan de Joël Dor

Capítulo 10: O sintoma como processo metafórico

Lacan utiliza um caso de uma paciente vista em um capítulo anterior que possui um

problema com o seu marido durante a viagem de núpcias. O autor coloca o efeito de surpresa

gerado pela falha do marido como um mecanismo de defesa que irá tomar uma série de

significados que causam a sensação de angústia relatada pela paciente.

O problema na relação causada por essa falha do marido, em seguida com a relação

maternal da esposa com o marido, é formado um sintoma na escrita dessa mulher, acarretando

depois em uma incapacidade de utilizar o braço para escrever.

O sintoma, segundo o autor, construiu-se como uma metáfora, como uma substituição

significante de um significante antigo recalcado por um novo. O significante novo mantém uma

ligação de similaridade com o significante recalcado, este último precisa ser então descoberto

durante as sessões de análise. A partir das sessões o autor encontrou vários fatores da vida da

paciente que formaram um conjunto de significantes que se transformaram no sintoma da

paciente.

Sendo assim, para Lacan o sintoma resolve-se inteiramente numa análise de linguagem,

porque ele próprio está estruturado como uma linguagem, porque é linguagem cuja palavra deve

ser liberada. Isso faz parte do trabalho inconsciente de utilizar os diversos materiais de origem

diferente numa combinação tal que a expressão do desejo recalcado torne-se irreconhecível.

“O sintoma é um retorno da verdade. Ele não se interpreta a não ser na ordem do

significante, que só tem sentido em sua relação com outro significante”.

SEGUNDA PARTE: A METÁFORA PATERNA COMO “ENCRUZILHADA

ESTRUTURAL” DA SUBJETIVIDADE

Capítulo 11: A prevalência do falo

Segundo o autor para que o processo da metáfora paterna possa ser tomado como a

justificativa mais completa do inconsciente estruturado como uma linguagem é preciso

primeiramente compreender o objeto fálico.

O autor utiliza como ilustração dessa verdadeira compreensão do objeto fálico, um

exemplo de má interpretação do falo, para ele atestar que a referência ao falo é diferente de uma

castração do pênis, ela tem a ver com a referência ao pai, aquele que é mediador da relação

“mãe-criança”. Sendo assim ao reconhecer que há um papel essencial de só um órgão genital

em um certo momento da evolução sexual infantil implica que este situa-se fora da realidade

anatômica, ou seja a falta do órgão é suscetível a uma representação subjetiva. A falta de pênis é

concebida como o resultado de uma castração e a criança se vê no papel de defrontar-se com a

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castração de sua própria pessoa. Com o primado do falo fica compreendido que o órgão genital

feminino só é diferente do órgão genital masculino porque lhe falta alguma coisa. Esta

concepção de alguma coisa que falta leva a uma suposição do que falta, formando assim o

registro imaginário.

A partir desses conceitos o autor coloca que a primazia do falo enquanto objeto

imaginário irá desempenhar um papel fundamentalmente estruturante na dialética edipiana, na

medida em que a própria dinâmica fálica promove uma operação simbólica inaugural que

encontra uma resolução com o advento da metáfora do Nome-do-Pai.

Capítulo 12: O estádio do espelho e o Édipo

Lacan procura relacionar o complexo de Édipo em torno do processo da metáfora do

Nome-do-Pai através da função fálica e por sua vez pelo complexo de castração. Segundo

Lacan, a função fundamental do Édipo aparece como coextensiva à função paterna. Essa função

é distinta da questão da presença paterna, essa função é tomada pelo autor como procedente da

determinação de um lugar, ao mesmo tempo em que esse espaço é simbólico, por essa função

simbólica pode-se prestar uma função metafórica.

O autor coloca o surgimento do complexo de Édipo na maturação da criança em um

estado de sua vida psíquica contemporânea ao estádio do espelho, onde se esboça para a criança

certo tipo de identificação tendo uma certa relação de alienação específica com a mãe.

O estádio de espelho é ordenado através de uma experiência de identificação

fundamental, onde a criança conquista a imagem do seu próprio corpo. Essa identificação irá

propiciar a criança uma estruturação do “Eu”, essa vivência psíquica é denominada por Lacan

de “fantasma do corpo esfacelado”. Antes do estádio de espelho a criança não experimenta o

seu corpo como uma totalidade unificada, mas como algo disperso, esta experiência

fantasmagórica do corpo esfacelado favorece a unidade do corpo próprio. A fase espelho da

criança pode ser organizada em torno de três tempos fundamentais, que orientam a conquista da

imagem do corpo. O primeiro passo dessa fase é o encontro da criança com o seu corpo, em

seguida a criança descobre que aquilo que ela vê no espelho é uma imagem, após isso no

terceiro momento se dialetiza as duas etapas anteriores, além da criança está segura de que o

reflexo do espelho é uma imagem, ela adquire a convicção de que não é nada mais que uma

imagem, e que é a sua imagem. Reconhecendo-se na imagem, a criança recupera a dispersão do

corpo esfacelado, representando assim o corpo próprio. A imagem do corpo é estruturante para

a identidade do sujeito, que através dela realiza a sua identificação primordial.

O autor em seguida coloca a questão do primeiro momento do Édipo onde o desejo da

criança está radicalmente assujeitado ao desejo da sua mãe. Então no segundo momento a

criança é introduzida a castração pela intrusão da dimensão paterna. Nesse tempo a criança tenta

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se defender da castração submetida a ela. A partir disso a figura paterna entra na relação mãe-

criança-falo sob a forma da privação.

Durante esse processo o pai adquire a simbologia de interditor, frustador, privador,

castrador. Nessa lógica a falta do objeto acarreta algumas reações: a frustração é uma

reinvindicação onde não há nenhuma possibilidade de satisfação, a falta é um dano imaginário,

por sua vez nessa situação, o objeto é real. No caso da privação a falta que é algo real, contudo,

o objeto da privação é um objeto simbólico. Enquanto na castração a falta é simbólica, mas o

objeto é radicalmente imaginário, nesse caso o objeto é o falo. A partir desse processo de

castração é no segundo momento do complexo de Édipo que há a simbolização da lei através do

pai que se torna o representante da lei como o depositário do falo. Por sua vez a função paterna

só é representativa da lei porque o valor estruturante desta simbolização reside na determinação

do lugar exato do desejo da mãe. A confrontação da criança com a relação fálica modifica-se de

maneira decisiva, no momento em que ela deixa a problemática do ser para aceitar negociar a

problemática do ter. Isso só acontece a partir do momento que o pai não mais lhe aparece como

um falo rival dela junto à mãe. Na medida em que há o falo, o pai não é mais aquele que priva a

mãe do objeto do seu desejo. Pelo pai ser o suposto detentor do falo, ele reinstaura no único

lugar onde pode ser desejado pela mãe. A criança como a mãe, encontram-se inscritos na

dialética do ter, a mãe não tem o falo mas pode desejá-lo naquele que o detém e a criança

poderá também cobiça-lo.

A dialética do ter convoca o jogo das identificações gerando por fim o terceiro

momento onde há um declínio no complexo de Édipo. A reposição do falo no seu lugar é

estruturante para a criança de qualquer sexo, pois atesta a passagem do ser ao ter, é a prova da

instalação do processo da metáfora paterna e do mecanismo intrapsíquico que lhe é correlativo:

o recalque originário.