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1 ação . pernambuco . brazil . 2011 Pernambuco . Brasil . 2011 OPERAÇÃO RECONSTRUÇÃO Resgate da memória com o olhar no futuro

Revista Ação

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Resgate da memória da Operação Reconstrução

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OPERAÇÃO RECONSTRUÇÃO

Resgate da memória com o olhar no futuro

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Sobre as entidades parceiras e apoiadoras

Para saber mais

Sumário

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Esta publicação foi construída com base nos materiais do Seminário Operação Reconstrução

– resgate do passado com o olhar no futuro e materiais dos meios de comunicação de Pernambuco.

O encontro foi realizado nos dias 14 e 15 de dezembro de 2010, no Auditório do Museu do Homem do

Nordeste, no Recife, capital de Pernambuco. Cerca de 150 participantes dos 42 municípios incluídos

nos decretos estaduais sobre situação de emergência ou calamidade – gestores do Gabinete de Crise

[estado] e escritórios de crise [municípios], gestores municipais da assistência social, população

atingida, equipes de apoio, entidades sociais e empresas parceiras na Operação Reconstrução.

A iniciativa se deve à parceria entre o Centro de Reciclagem e Capacitação de Profissionais, o

Instituto Brasileiro Pró-Cidadania, o Instituto de Apoio Técnico Especializado à Cidadania – Organizações

da Sociedade Civil de Interesse Público –, a Sophia Soluções e o Serviço de Cooperação e Ação

Cultural da França no Recife.

Epígrafe

Mudanças climáticas

Uma história de destruição, solidariedade e esperança em Maraial

O fato – as águas de junho de 2010 em Pernambuco

A Defesa Civil em ação

Da destruição à Operação Reconstrução

A assistência social na reconstrução das vidas

Panorama do atendimento à população

O cuidado aos cuidadores

Ação voluntária e Solidariedade

No caminho às novas casas

A estrutura para enfrentar o futuro - uma contribuição das entidades parceiras

Nossa opinião

O papel da mídia na Operação Reconstruçãopor Sylvia Siqueira Campos

por Pierre Fernandez

O cuidado à saúde mental da população em situações de desastre e emergênciapor Ronara Veloso

por Leandro Regis Nascimento

Operação Reconstrução e Relações Internacionais: cooperação para o desenvolvimento local

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Depoimento de Andreza da Silva Nascimento, 16 anos, filha de Maria José e José Manuel,

moradora de Maraial, município atingido pelas chuvas de junho de 2010 em Pernambuco

Choveu forte durante três dias inteiros. As pessoas daqui estavam muito preocupadas porque o nível

do rio não parava de subir. Daí comecei a avisar ao povo que podia

vir uma cheia e ajudei os vizinhos a se organizarem para enfrentar o que estava por vir. Horas depois, lá da estribaria, ouvíamos as quedas.

Eram nossas casas, eram nossas vidas desmoronando.

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Desde o fim dos anos 60, a humanidade tomou consciência de que ela vivia num mundo fechado [“a nau espacial terra”] com recursos limitados. Após os gritos de alarme de alguns raros visionários, a revelação da catástrofe de Minimata no Japão (intoxicação mortal dada à concentração marinha

de mercúrio) e as primeiras marés negras, tornaram-se concretos os riscos que a revolução industrial, iniciada cento e cinquenta anos antes, trazia para a nossa saúde e o nosso meio ambiente. A primeira conferência internacional sobre o meio ambiente realizada em Estocolmo, em 1972 aparece como um símbolo desta tomada de consciência.

Um ano mais tarde, o primeiro choque petroleiro ilustrava outro problema sintetizado no primeiro relatório do Clube de Roma . O documento avaliou, aliás, de maneira pessimista, o esgotamento dos recursos. Essa problemática tratava do aprovisionamento ligado às considerações geopolíticas.

Considerando o esgotamento dos recursos naturais e os riscos ligados a uma demografia incontrolada, sobretudo nos países mais pobres, o homem deve por em execução uma política de gestão global do planeta e do seus ecossistemas. Apesar dos altos e baixos das vontades políticas e, sobretudo, das variações ambientais de um país para outro, a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU, no relatório “Relatório Bruntland – Nosso futuro comum”, publicado em 1988, propôs que as nações adotassem oficialmente a seguinte definição de desenvolvimento sustentável: “desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento social, econômico e politico, que atende as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras a satisfazer o seu próprio desenvolvimento”.

Essa noção mostra a necessidade de uma dupla solidariedade, completamente nova na sua afirmação internacional oficial: solidariedade entre todos os povos do planeta e solidariedade entre as gerações. Cada ator de cada setor da vida econômica se encontra, então, confrontado com a responsabilidade que lhe incumbe na gestão global dos recursos e do meio ambiente.

Mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável por Pierre Fernandez

No entanto, essa atitude nova na gestão do meio ambiente e dos ecossistemas se tornou ainda mais necessária do que se imaginava, devido às numerosas catástrofes naturais ligadas às mudanças climáticas geradas, em parte, por décadas de comportamentos irresponsáveis. Entre essas catástrofes, as inundação se configuram como as mais devastadoras. Segundo um relatório de Estratégia Internacional de Prevenção das Catástrofes (ISDR), publicado em janeiro de 2008, foi no ano 2007 que houve um aumento significativo do número de inundações no mundo. Dentre 197 milhões de pessoas atingidas por catástrofes, mais de 164 milhões foram vítimas de inundações.

As pessoas mais pobres são, geralmente, as mais vulneráveis. Isso se deve à fragilidade da estrutura econômica e social na qual estão inseridas, cujos meios de existência dependem, na maior parte, de recursos que são ligados ao clima. Esse é notadamente o caso de diversas regiões afetadas na América Latina, como o estado de Pernambuco, no Nordeste do Brasil, onde as fortes chuvas de junho de 2010 causaram a ruptura de três barragens e provocaram inundações devastadores. As operações que se seguiram foram realizadas no âmbito de uma mobilização sem precedente.

A Operação Reconstrução de Pernambuco levou desde os primeiros socorros às vítimas das inundações ao restabelecimento das condições mínimas de exercício da cidadania através de parcerias entre o governo estadual, empresas privadas e organizações da sociedade civil organizada. Após seis meses de trabalho intenso, tornou-se necessário realizar o resgate da memórias das ações, o que se deu através do seminário “Operação Reconstrução – resgate da memória com o olhar no futuro”.

O Serviço de Cooperação do Consulado Geral da França para o Nordeste, sensibilizado por este acontecimento e pela energia desdobrada, associou-se na organização do seminário mencionado, contribuindo com a participação de peritos franceses. Essa contribuição se traduziu, principalmente, em testemunhos sobre a experiência de Toulouse, cidade ao Sul da França, quanto à cultura de prevenção de riscos. Um verdadeiro trabalho de cooperação se estabeleceu nessa ocasião e uma convenção foi realizada entre o Instituto de Apoio Técnico Especializado à Cidadania (IATEC), a Association de Coopération entre Acteurs du Développement (ACAD) e o Serviço de Cooperação do Consulado (SCAC).¬, ampliando o diálogo entre Brasil e França para a promoção do desenvolvimento local sustentável.

Pierre Fernandez é adido Cultural e Científico do Consulado da França para o Nordeste

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Em 18 de junho de 2010, às 15h, a população da Rua da Areia, em Maraial [Zona da Mata Sul de Pernambuco], começou a ver seus sonhos indo por água a baixo. O Rio Pirangi, que passa em diversos pontos do município, não resistiu aos três dias de

chuva intensa e transbordou, atingindo muitas casas ribeirinhas, entre elas a de Andreza da Silva Nascimento [16 anos]. As águas chegaram com força em outras partes do município levando, parcial ou totalmente, outros imóveis nas barreiras, na zona rural e na área de concentração do comércio. Esse fato deixou Maraial em estado de calamidade [decreto estadual nº 35.191, de 21 de junho de 2010].

Caçula entre as mulheres numa família humilde de nove filhos, de coração grande e persistente, Andreza descobriu o dom de ajudar as pessoas em junho de 2010. Ela se envolveu intensamente no apoio à população de Maraial atingida pela enchente. “A gente não sabia bem o que ia acontecer, mas já tinha visto pela televisão que pessoas morrem e a chuva leva tudo”, conta Andreza. A vontade de ajudar era tanta que a sua casa se tornou um porto seguro para várias pessoas, animais e objetos. “Por volta das `16h da tarde, começou o meu desespero porque eu ajudei todas as pessoas, mas a minha casa já estava com água. Eu me perguntava o que seria da minha família, e preocupação maior era com minha mãe que, tem crises de depressão que a paralisa”.

Contam os(as) moradores(as) que as horas seguintes pareciam eternizar o momento de terror. Andreza, sua família e outras pessoas da Rua da Areia passaram a noite na estribaria que fica numa parte alta do município. Com a fala suave, dona Maria Aparecida, mãe de Andreza, relata sua atuação: “eu sou uma pessoa doente, mas na hora do ataque eu não esmoreci, eu agi. Quando a gente viu que a água tinha chegado na casa da frente, começamos a juntar os documentos, lençóis, comida, água mineral, fósforo e vela, porque sempre que dá cheia, corta a energia. Na estribaria tinham muitas mulheres grávidas, crianças e pessoas idosas. Comecei a dar comida às crianças, e elas ficaram quietas. Depois falei com uma mulher que morava numa casinha perto da estribaria. Ela não tinha nada em casa para comer, mas tinha gás. A energia foi embora enquanto a gente cozinhava. Fizemos leite, quarenta e café para todos, porque era mais rápido. Mas a minha família quase não comeu pois não sentia fome com tanto aperreio. Ainda que nunca tenha passado por situação semelhante, a família de Andreza parecia estar preparada para enfrentar as dificuldades.

Uma história dedestruição,

solidariedade eesperança em

A placa na entrada avisa: “Sinta-se em casa. Você está em Maraial.” É verdade.

Maraial

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Em situação normal, nem todas as redes de telefonia funcionam bem em Maraial. José Anderson da Silva Nascimento [irmão mais novo de Andreza] diz que naquele dia os celulares receberam sinal até às 20h. Uma hora depois, ele desceu em meio à chuva para pegar algumas roupas que ficaram na casa. “Estava tudo escuro, o que me ajudou muito foi a lanterna do celular. O barulho das casas caindo era horrível. É um baque abafado. O que eu via era uma cidade fantasma. Objetos das pessoas, árvores e pedaços de casas, tudo dentro da água passando por mim,” conta o jovem. Emocionado ele ainda acrescenta: “a cada casa que caia a gente chorava, e as lágrimas se misturavam à água da chuva”.

As pessoas só deixaram a estribaria no dia seguinte, quando a água começou a deixar a Rua da Areia. Muita destruição e lama. Famílias estavam sem moradia. Algumas pessoas ficaram alojadas na casa de Andreza. Outras perderam nas águas os instrumentos de trabalho. Mas todas tinham o mesmo sentimento: a solidariedade. “Uma das melhores coisas de ter vivido nesse momento foi a união das pessoas. Não tinha idade nem deficiência física que impedisse. Parecia uma única família, um por todos e todos por um”, diz José Anderson com entusiasmo e um sorriso discreto.

A população dedicou vários semanas na limpeza e organização. Muitos, diz Andreza, perderam a noção do tempo porque sempre tinham muito a fazer e o medo de uma nova enchente era presente. Segundo ela, passou um rapaz de moto dizendo que a barragem em São Benedito do Sul [município vizinho] tinha estourado. “Isso deixou as pessoas enlouquecidas. Elas subiram para a estribaria de novo. Mas foi mentira”, relata Andreza.

A ajuda chegou a Maraial por muitos lados, como usina local de cana-de-açúcar, prefeitura, governo estadual, igrejas e empresas de confecção de roupas em Caruaru. Maraial recebeu muito apoio, mas, ainda assim, as pessoas parecia ser pouco diante do estrago deixado pelas águas. “A defesa civil chegou dois dias depois. e a equipe da Operação Reconstrução veio em seguida e ajudou muito na assistência às pessoas na parte de alimentação e limpeza. Não faltou comida nem produtos de higiene pessoal. Também houve atendimento médico, por exemplo para tomar vacinas, às pessoas que não podiam andar. Depois a gente começou a receber a verba do governo, se não fosse isso a gente não sabia o que fazer. Muita gente que perdeu sua casa, hoje está pagando aluguel. No nosso caso, como a casa não caiu, aproveitamos o dinheiro para reforma geral e quando o dinheiro atrasou num mês, ele veio junto com o do mês seguinte, explica dona Maria, que fez parte da frente de trabalho da Operação Reconstrução na área de limpeza. A continuidade das chuvas em julho deixou mais de 800 pessoas abrigadas ou alojadas em Maraial.

A timidez de Andreza até os quinze anos foi vencida pela paixão pela fotografia e pelo prazer de estar com as pessoas. Andreza é hoje muito conhecida em Maraial e possui dezenas de fotos da ´época. Ela conta que a grande maioria dos seus vizinhos souberam do que houve nas

outras cidades, no mesmo período, pelos telejornais de São Paulo pois existe dificuldade de sinal para canais locais. “Para Maraial os estragos pareciam ser muitos por ser uma cidade pequeninha e ninguém tinha passado por uma situação dessas, e jamais ninguém vai esquecer. Mas as imagens nos diziam que o ocorrido aqui em Maraial foi quase nada, se comparado a outros municípios de Pernambuco. Meu namorado, estudava na escola agrícola de Barreiros e ele disse que a cidade ficou arrasada. As pessoas estava sendo resgatadas por helicóptero”, relata Andreza.

Onze meses após a primeira cheia em Maraial, Andreza tem pesadelos em dias de chuva, acorda assustada, chorando e preocupada com as pessoas. Ela diz que são apenas pesadelos, e nada interferem no seu jeito de ser. “Ajudar as pessoas é uma coisa boa. A gente sente medo, eu fiquei com muito medo quando vi o rio enchendo, mas é aquela coisa, eu tinha o desejo de ajudar, de estar com as pessoas. Não sei explicar. E faria tudo de novo com certeza. Gostar de estar com o povo é uma coisa que está dentro de mim”, afirma com alegria.

Dona Maria, orgulhosa da filha, diz que ela está brilhando muito em Maraial. Mas quando indagada pelos vizinhos sobre o destino da filha ela diz com sabedoria: “é de pequeno que se faz o grande. Não é mesmo?”

Família Silva Nascimento:Andreza e seu irmão, José Anderson

e abaixo os pais Maria José e José Manoel

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Pernambuco vivencia temporadas de chuva cada vez mais intensas e prolongadas. Com esse novo panorama, a população nordestina tem se preocupado mais com as enchentes do que com as secas. Em meados de junho de 2010, o Laboratório de Meteorologia de Pernambuco

identificou três situações climáticas que poderiam gerar um estado de calamidade publica no estado: aquecimento de um grau acima do esperado da massa do Oceano Atlântico, ventos fortes do oceano para o interior do estado e grande concentração de nuvens nas cabeceiras dos rios. Era o fenômeno Onda Leste que se formava.

Entre os dias 17, 18 e 19 de junho, a Onda Leste provocou fortes chuvas que atingiram 67 municípios pernambucanos, principalmente da Zona da Mata e Agreste do Estado. Elas deixaram um largo rastro de destruição. Ao invés de enchentes, em que, geralmente, o nível do rio se eleva de maneira contínua, ocorreu uma chuva torrencial, fazendo com que o nível pluviométrico esperado para todo o mês ocorresse em poucas horas, destruindo casas, comércios, prédios públicos etc. Essa foi considerada a temporada de chuvas mais fortes da década em Pernambuco.

O impacto das chuvas foi sentido com mais força no interior. As águas atingiram o comércio e a área rural. Levaram abaixo hospitais, fóruns, prefeituras, escolas e vários equipamentos da assistência social. Em 24 horas choveu 170 milímetros, na Zona da Mata, o equivalente à metade da média histórica para todo o mês de junho. Entre os municípios atingidos, 42 foram classificados em estado de calamidade ou emergência. Todos com necessidades urgentes relativas à moradia, alimentação, vestuário, acessibilidade nas vias públicas, meio ambiente e empreendimentos para geração de renda familiar.

O fato

O Governo de Pernambuco montou uma gigantesca ação emergencial envolvendo todo o secretariado para dar apoio à população e organizar os trabalhos de reconstrução nos municípios. Essa ação teve a colaboração direta e indireta do governo federal, de organizações sociais, pessoas e empresas. O ponto central dessa ajuda foi o Palácio das Princesas. Verbas foram destinadas para os municípios começar a reconstrução. A população recebeu donativos de diversos tipos (calçado, roupa, lençol, tolha, comida, produtos de higiene, brinquedo) e teve atenção direta do estado nas áreas da assistência social e da saúde Além disso, as famílias receberam uma bolsa-auxílio que variou de R$ 150 a R$ 510, repassada diretamente pela Caixa Econômica através do cartão de benefícios do governo federal que também é usado em outros programas, como o Bolsa Família.

Com o fim das chuvas, o maior desejo de muitas famílias é receber sua casa, o de outras é reestabelecer seu negócio para geração de renda e o de todas é evitar desastres como esse. Assistimos, no segundo semestre de 2010, inúmeras ações estratégicas para dar respostas à emergência do presente. Mas a nossa indagação deve estar também no futuro para reduzir danos, ou mesmo evita-los. O olhar dessa publicação é resgatar a memória da Operação Reconstrução para fazer mais e melhor numa provável catástrofe natural.

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30.00010.000

1266

9,20m

28

30.00036 7.00025

8915.00016

80% da cidade do Recife

Total de mortos

Total dedesabrigados

Total deresidências atingidas

Total deresidências danificadas

Total deresidências destruídas

Total de cidadesatingidas Nível dos rios

As últimas enchentes em Pernambuco

O Rio Capibaribe subiu 9,20 metros. Mais de 10 mil casas foram destruídas e outras 30 mil sofreram danos. Morreram 175 pessoas e mais de 10 mil ficaram desabrigadas.

Foram duas enchentes em julho. As águas atingiram a Zona da Mata Sul e o Agreste do Estado, devido ao transbordamento dos rios Una, Ipojuca, Formoso, Tapacurá, Pirapama, Gurjaú, Amaraji e outros. 500 mil pessoas foram atingidas e 150 morreram; 1.266 casas foram destruídas em 28 cidades.

Considerada a maior enchente do século no Brasil. Panorama da destruição em Recife: 80% da cidade ficou alagada, 107 pessoas morreram, 350 mil pessoas desabrigadas, 70% da rede elétrica foi cortada, muitos hospitais ficaram debaixo d’água, a cidade ficou isolada do resto do país por dois dias, 31 bairros ficaram submersos, pontes danificadas.

Em 1º de maio, outra enchente do Rio Capibaribe

deixa 16 bairros do Recife embaixo d’água. Mais de

15 mil pessoas ficaram desabrigadas e só não foram

registradas mortes porque a população das áreas

ribeirinhas foram retiradas 24 horas antes.

Em 30 de julho e 1º de agosto, fortes chuvas castigaram o Pernambuco, incluindo o Grande Recife, deixando um total de 22 mortos, 100 feridos e mais de 60 mil pessoas desabrigadas. 33 cidades foram parcialmente destruídas. No Recife, foram registrados 102 deslizamentos de barreiras.

Fortes chuvas de 8/1 – 2/2 de 2004 castigam todas as regiões do Estado, deixando 36 mortos e cerca de 20 mil pessoas desabrigadas. 13 cidades ficaram em estado de calamidade pública e 76 em estado de emergência. Segundo, governo estadual, os prejuízos no Estado alcançaram R$ 54 milhões.

De 30 de maio a 02 de junho, fortes chuvas provocaram enchentes em 25 cidades do Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucanos, deixando 36 mortos e mais de 30 mil pessoas desabrigadas. Cerca de 7 mil casas destruídas; 40 pontes danificadas; 11 rodovias estaduais atingidas. Pouco mais de 30 mil estudantes da rede estadual de ensino ficaram vários dias sem aulas, porque em todas as cidades atingidas 93 escolas foram danificadas e outras 11 foram transformadas em abrigos.

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A defesa civil em ação

Para o atendimento emergencial, foi montada uma força-tarefa composta por 19 embarcações, 09 helicópteros, 39 carros de resgate, 15 equipes do SAMU, 51 carros-pipa, 11 ambulâncias, 15 retroescavadeiras, inúmeros tratores e outras máquinas pesadas

Resgatadas, apenas por via aérea, mais de 1.100 pessoas.

Foram realizadas 1.230 ações de resgate aéreo e 980 ações de resgate marítimo à população.

Resgate e socorro às vítimas

Abrigamento – 26.966 pessoas inicialmente foram abrigadas em escolas públicas, igrejas, em locais que na tenham sido afetados e que tenham mínimas condições de abrigar pessoas

Assistência Humanitária – considerando a necessidade de atendimento básico assistencial, como água e alimento, cobertores, remédios etc.

Área de Saúde – vacinação para evitar doenças, atendimentos de pronto socorro e emergenciais; distribuição de medicamentos

Limpeza das cidades – remoção de toneladas de escombros, lixo e sujeira

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A Coordenadoria da Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) colocou toda a sua equipe em alerta quando da previsão da dimensão das chuvas fortes em junho de 2010. A Codecipe recebeu

a missão de alertar os municípios sobre a possibilidade de chuvas. Enquanto isso, o Recife e outras localidades já haviam sido atingidas pelas chuvas, dificultando o trabalho, sobretudo porque em muitos municípios as inundações ocorreram à noite.

Os trabalhos de resgate e socorro às vítimas foram feitos inicialmente por botes salva-vida. Segundo dados da Codecipe, aquela situação culminou com o registro do maior salvamento aéreo já realizado em Pernambuco: cerca de 1.100 pessoas foram resgatadas por helicópteros de regiões atingidas pelas chuvas. Ainda com tantos esforços a tragédia fez 20 vítimas fatais.

A tragédia em números 67municípios atingidos

12municípios em estado de

calamidade pública

14.136casas destruídas/danificadas

4.478Km estradas

destruídas / danificadas

142pontes destruídas / danificadas

20mortes

26.966pessoas desabrigadas

55.643pessoas desalojadas

19municípios com

acesso prejudicado

6hospitais destruídos / danificados

85postos de saúde

destruídos / danificados

403escolas destruídas / danificadas

10delegacias, cadeias e presídios

destruídos / danificados

8Academias das Cidadesdestruídas / danificadas

44municípios sem água

16municípios semenergia elétrica

Fonte: Governo de Pernambuco, Diário de Pernambuco, 18 de julho de 2010.

Para tornar

as ações mais

eficazes, a

Codecipe

desenvolveu

ações em

conjunto com

o corpo de

bombeiros,

especificamente

com pessoas

que tinham

experiência

ou vivência

com situações

semelhantes. As

primeiras ações

tiveram cinco

direções:

1. Todos os municípios tiveram seus acessos restabelecidos em 26/06, através de intervenções emergenciais de recuperação de pontes, passagens molhadas e rodovias;

2. Dezesseis municípios apresentaram interrupção total ou parcial no fornecimento da energia elétrica durante as inundações;

3. Uma semana após o desastre, 94% da energia estava restabelecida

4. Foram substituídos 589 postes, 8.500 medidores, 41 transformadores, 183 refletores e 132 quilômetros de cabos

5. Foram identificados danos em 44 sistemas de abastecimento de água nos municípios atingidos.

6. Governo do estado empregou mais de 300 máquinas e 1.600 pessoas para realização de serviços de limpeza nos municípios

7. Apenas barreiros e palmares levaram mais tempo para ter a limpeza finalizada.

8. Em todos os municípios atingidos foram realizadas ações junto as companhias de telefonia móvel e fixa e o serviço está restabelecido.

Novas chuvas afetaram vários municípios ainda no início da operação limpeza, iniciada no final de junho, intensificando os trabalhos nos locais afetados. Máquinas pesadas como escavadeiras, tratores foram utilizados nesta operação. Todo o trabalho ocorreu com ajuda da própria população e de voluntários(as) de outras áreas não atingidas. O espírito de solidariedade reinava sobre todos nesse momento.

A Codecipe registrou que:

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O HISTÓRICO BRASILEIRO de tragédias por enchentes passa, sobretudo, pelo crescimento desordenado de populações inteiras em áreas de risco e/ou com solos impróprios para construção de moradias. No entendimento da defesa civil nacional, “a ocorrência e a intensidade dos desastres depende muito do grau de vulnerabilidade dos cenários de desastres e das comunidades afetadas do que pela magnitude dos eventos adversos” .

As populações vitimadas por chuvas catastróficas obedecem a peculiaridades que culminam na diferenciação da forma como cada localidade sofre com um desastre natural. Os danos materiais, humanos e ambientais, por resumir, serão mais ou menos intensos em determinados lugares, e estará diretamente ligado ao grau de vulnerabilidade das comunidades.

Um grande passo, portanto, é apontar quais são os índices de vulnerabilidade que permeiam as localidade, e adotar medidas preventivas que certamente minimizarão os efeitos catastróficos causados pelas chuvas. A Defesa Civil do Brasil faz um apontamento positivo no tocante à essa identificações para prevenção, entendendo que

1. Disponível em: http://www.defesacivil.gov.br/historico/index.asp 2. http://www.defesacivil.gov.br/desastres/index.asp 3. Para pontuar, considera-se a vulnerabilidade em todos os seus seguimentos: político, social, econômico, ambiental, etc.4. http://www.defesacivil.gov.br/desastres/index.asp

Da destruiçãoà Operação Reconstrução

A partir do alerta da Dra. Francis Lacerda, coordenadora do

Laboratório de Meteorologia de Pernambuco, o Governador Eduardo Campos convocou órgãos estaduais e municipais para instaurar o escritório do Gabinete de Crise no Palácio do Campo das Princesas. Essa reunião também definiu as quatro fases principais da Operação: o momento do alerta aos municípios que seriam afetados; a atuação da Coordenadoria da Defesa Civil de Pernambuco, a constituição do Gabinete de Crise [estadual] e dos Escritórios de Crise [municipais] e as possibilidades de reconstrução dos municípios que poderiam ser afetados. Mas o drama começou mesmo dois dias depois como mostra as notícias ao lado.

Fonte: Diario de Pernambuco, 19 de junho de 2010

A Defesa Civil no mundo: primeiras ações foram desenvolvidas por países que estavam envolvidos na segunda guerra mundial. Entre 1940 e 1941, a Inglaterra instaurou o Civil Defense (Defesa Civil), em decorrência do lançamento de bombas sobre a

cidade. Ao serem lançadas, essas bombas, além de causarem morte de muitas pessoas, provocavam destruição também em termos de matéria, o que gerava, por assim dizer, quantidades enormes de entulhos que prejudicavam a qualidade de vida da população. Ao

longo dos anos, o sistema de defesa civil foi sendo ampliado, contando com a participação de governos, municípios e populações locais, em termos de ações de prevenção e ação em situações de desastre1.

CURIOSIDADE

Onde tiver uma barragem reguladora, obra de controle de enchentes, interligação de bacias, projeto e planos de emergência comunitária, zoneamento urbano, sistema de monitoramento, alerta e alarme, entre outras ações, a vulnerabilidade ao desastre será menor e a sua ocorrência irá resultar em danos e prejuízos menores .

A afirmação acima mostra que é possível se minimizar efeitos de desastres, sendo necessário, além da atuação dos estados e municípios, um trabalho na mudança cultural em relação ao senso de percepção de risco.

Quando da ocorrência de situações catastróficas, o ser humano, instintivamente, tende a adotar comportamentos motivados pela conjuntura de crise, exigindo respostas imediatas ao problema em questão. As respostas são necessárias não apenas como reflexo de ações imediatistas, mas ações continuadas baseadas em visão de futuro.

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A partir do dia 21 de junho, a atuação do Gabinete de crise e dos escritórios de crise [nos municípios] se tornou ainda mais intensa. “Plano de Ação de Reconstrução”, tendo como meta promover a recuperação dos municípios atingidos pelas cheias no Estado, sob a responsabilidade do Governador Eduardo Campos. Os eixos definidos no Plano de Ação de Reconstrução foram:

Monitoramento climático

Estruturação de Gabinete de Crise

Ações de salvamento e resgate

Implantação da Operação Assistência

Estruturação do apoio da sociedade civil

Implantação da Operação Limpeza

Estruturação da Assistência Social

Implantação da Operação Reconstrução

Estruturação das ações legais

Implantação da Operação Saúde

Transparência e divulgação de informações

A equipe foi formada pelo Gabinete de Crise e todos os órgãos do governo, envolvendo 15 secretarias para atuar de forma integrada no processo de reconstrução dividindo por etapas as ações a serem desempenhadas por cada Secretaria, abrangendo a:

Implantação da Operação Limpeza

Estruturação da Assistência Social

Reconstrução de Habitações

Reconstrução da Infraestrutura Rodoviária

Reconstrução de Obras de Artes especiais

Reconstrução da Área Urbana

Reconstrução de acessos Vicinais

Reconstrução de Recursos Hídricos

Reconstrução de Equipamentos públicos

Reconstrução da Atividade Econômica

Em vinte dois dos municípios mais atingidos foi instalado um escritório de crise. A equipe era formada e articulada por representantes do estado no município, defesa civil e representantes da assistência social. Além do governo, a Operação Reconstrução teve apoio direto de vários segmentos da sociedade, como empresas, entidades sociais, voluntários(as) e de agência de cooperação internacional dos Estados Unidos e da Inglaterra – principalmente com a doação de tendas para os acampamentos.

Em 15 de julho de 2010, é lançado o decreto estadual nº 35.314, que estabeleceu procedimentos para realização de aquisições e contratação de obras e serviços com recursos repassados pela Secretaria Nacional de Defesa Civil e dá outras providências sobre a aplicação dos recursos.

Nesse contexto, foram realizadas parcerias entre o governo e as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público [Centro Brasileiro de Reciclagem e Capacitação Profissional, Instituto Brasileiro Pró-Cidadania, Instituto de Apoio Técnico Especializado à Cidadania] e a empresa de tecnologia social Sophia Soluções. Essas instituições mobilizaram cerca de 400 pessoas para serem capacitadas e enviadas a campo além de organizar toda a logística com cerca de 42 carros com tração nas quatro rodas, computadores, celulares, modems, fardamento, máquinas fotográficas, luvas, botas, máscaras e bonés. Vale destacar que por ser uma atuação inédita no estado, o conhecimento técnico foi aprimorado ao longo da ação.

A experiência foi conquistada durante o processo. Assistentes sociais, psicólogos, pedagogos, educadores sociais foram selecionados, convocados, capacitados e enviados a campo ainda no mês de junho após as capacitações que ocorriam no Gabinete da Crise, tendo como eixo principal orientar os profissionais sobre o panorama geral do desastre e a maneira como deveria proceder a atuação. Diante disso, algumas recomendações foram dadas para que o trabalho fosse iniciado. As orientações básicas eram três: ao chegar ao município o técnico representante da assistência social do Estado deveria se apresentar ao coordenador da defesa civil municipal, aos prefeitos se colocando a disposição e procurar local para se alojar já que em muitos lugares pousadas e hotéis haviam sido atingidos.

Uma ferramenta importante nesse processo foram os recursos de comunicação virtual. Além do logo tipo da Operação, foi criado um blog (http://operacaoreconstrucao.blogspot.com), pela Secretaria de Planejamento e Gestão, um sistema de monitoramento do atendimento socioassistencial e o sistema de cadastramento, construído pela empresa Sophia Soluções, que recebiam dados diretamente de quem estava no campo, através dos equipamentos tecnológicos, facilitando o trabalho em conjunto e atualizando, a cada momento, as informações.

Parcerias com a sociedade civil de interesse público

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A articulação entre o governo estadual e federal se deu pela atuação direta do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2002-2010), que visitou o estado no período da catástrofe, acompanhado de ministros, do Presidente do tribunal de Contas, representantes do Ministério Público, e outras autoridades. Tais articulações estabeleceram parcerias a fim de desburocratizar ações e adotar medidas imediatas quanto ao uso dos recursos destinados à Operação Reconstrução, verificar a dimensão dos danos e quantificar a ajuda necessária. De forma imediata, foram liberados 275 milhões de

reais para o enfrentamento à emergência e ajuda aos municípios.

Articulaçãoentregovernos

Fonte: Governo de Pernambuco, Diário de Pernambuco, 18 de julho de 2010.

Fonte: Governo de Pernambuco, Diário de Pernambuco, 18 de julho de 2010.

R$ 50 milhões para a construção de novas moradias no estado

R$ 1 bilhão para recuperação do comércio em municípios atingidos em Pernambuco e Alagoas

Dois hospitais de campanha instalados

400 barracas-abrigo do Rotary destinadas a Barreiros, Palmares e Água Preta

13 habitações do Minha Casa Minha Vida entregues em Vitória de Santo Antão e mais 12 mil incluídas no programa para os desabrigados no estado

Liberação do FGTS para os(as) trabalhadores(as) das cidades atingidas

Repasse de R$ 110,5 milhões do governo federa para a reforma e reconstrução de 355 escolas

Liberação de duas parcelas adicionais do Seguro Desemprego para os(as) moradores(as) dos municípios atingidos em Pernambuco e Alagoas totalizando R$ 8,6 milhões em benefícios

Antecipação do 13º salario e dos benefícios dos servidores do estado nas cidades atingidas

Liberação de R$ 275 milhões do Governo Federal

2.304 pessoas mobilizadas

201 abrigos instalados

12 cidades com energia elétrica

86.678 vacinas distribuídas

27.780 cestas básicas

42.809 colchões12.870 cobertores

6.788 mosqueteiros15.042 cestas de alimentos para pronto consumo

34.292 pessoas vacinadas

804,20 hectares de áreas desapropriadas

9.629 pessoas abrigadas

22 cidades com a limpeza concluída

253 máquinas pesadas operando

36 cidades com abastecimento de água normatizado

72,8 toneladas de medicamentos distribuídos

PANORAMA APÓS 30 DIAS

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O Decreto n.7.257 de 04 de agosto de 2010 regulamenta a Medida Provisória n.494 de 02 de julho de 2010, assegurando o apoio do Poder executivo Federal aos Estados e Municípios vítimas de calamidades e situações emergenciais. Em definições, ela considera que:

Defesa civil: conjunto de ações preventivas, de socorro, assistenciais e recuperativas destinadas a evitar desastres e minimizar seus impactos para a população e restabelecer a normalidade social;

Desastre: resultado de eventos adversos, naturais ou provocado pelo homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais;

Situação de emergência: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido;

Estado de calamidade pública: situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que impliquem o comprometimento substancial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido;

Em suas disposições gerais, o Decreto traz ainda as atribuições referentes ao SINDEC, bem como os

Leis e Decretos que surgiram no contexto da Operação Reconstrução

Estados e municípios atingidos por calamidades tem aparato legal para solicitação de recursos no Estado Federal, devendo obedecer aos requisitos que caracterizam uma situação de calamidade Pública. Ao longo de 2010, ano em que ocorreram as chuvas em Pernambuco, alguns decretos surgiram mediante a necessidade de desburocratizar processos em virtude da situação emergencial, e regulamentar as formas de aplicabilidade da lei.

critérios para reconhecimento de Estado de Emergência e Estado de Calamidade Pública. Dentre suas providências, traz ainda os procedimentos sobre as transferências de recursos, prestação de contas, assistência às vítimas e restabelecimento das cidades. Uma situação de emergência “é caracterizada quando os prejuízos econômicos e sociais constatados em uma determinada área ultrapassam o equivalente a 10% do seu PIB, e permite ao estado agir com mais rapidez na prestação de atendimento às vítimas”(Diario de Pernambuco, 2010)5.

O Decreto nº 7.257, de 4 de agosto de 2010, regulamenta a Medida Provisória n. 494 de 2 de julho de 2010. Ele ainda trará sobre:

1. Procedimento para solicitar apoio do poder executivo federal.

2. Solicitação de recursos e assistência humanitária.

3. Capacitação sobre agir em situações de calamidade. Ainda no contexto legislativo, foi em 1º de dezembro foi sancionada a Lei n. 12.340, que dispõe sobre as transferências de recursos para ação de socorro, assistência e restabelecimento de cidades em situação de desastres.

5. Diário de Pernambuco de 19 de junho de 2010: Cidades tomadas pelas águas.

Decretos sobre as situações de emergência e calamidade pública em PE

Decreto estadual nº 35.191, de 21 de junho de 2010

Decreto estadual nº 35.192, de 21 de junho de 2010

Decreto estadual nº 35.231, de 27 de junho de 2010

Decreto estadual nº 35.312, de 15 de julho de 2010

Decreto estadual nº 35.354, de 23 de julho de 2010

Decreto estadual nº 35.579, de 15 de setembro de 2010

Decreto estadual nº 36.071, de 30 de dezembro de 2010

Decreto estadual nº 36.493, de 06 de maio de 2011

Decreto estadual nº 36.494, de 06 de maio de 2011

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A assistência social na reconstrução das vidas

Nada disso teria sido possível, o enfrentamento a essa problemática, se nós não tivéssemos tido desde o primeiro instante a participação integral da sociedade civil organizada, na pessoa jurídica das três organizações sociais da sociedade civil o Cercap, o Iatec e o pró-Cidadania, como também a expertise no cadastramento e na gestão da logística da Sophia Soluções. Então, seja através do segundo setor, seja através do terceiro setor, o 1º setor, o estado, teve a possibilidade de se articular ativamente para que a rede de proteção social pernambucana, brasileira em geral pudesse oferecer algum conforto, mínimo de conforto aquelas pessoas que foram vitimadas pelas chuvas.

Acácio de Carvalho - Sec. Executivo da Assistência Social, durante o seminário “Operação Reconstrução – resgate do passado com o olhar no futuro.

Apesar da Operação Reconstrução ter sido uma ação emergencial integrada de diversas secretarias de estado, esta seção tem o olhar mais detalhado sob a assistência social, que por sua vez atuou em diversos momentos em sintonia com as demais áreas, com sociedades civis organizadas, empresas privadas e sociedade em geral.

A Resolução do Conselho Nacional de Assistência Social nº 109, de 11 de outubro de 2009 foi um dos principais instrumentos orientadores na formulação do conjunto de intervenções da assistência social.

A situação deixada pela chuva em 42 municípios da Zona da Mata e Agreste, levou o Governo de Pernambuco a intervir nos municípios, através do escritórios de crise locais, para ter uma

resposta mais direta na proteção às vítimas das chuvas. Equipes de Apoio aos Municípios [sob a coordenação das Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público contratadas] também foram enviadas para apoiar a reconstrução através de garantir a proteção social e o fundamental para o restabelecimento da dignidade humana às pessoas atingidas. Elas aturam em quatro eixos principais: 1) apoio à gestão de abrigos e acampamentos; 2) cadastramento dos equipamentos da assistência social e o cadastramento das famílias atingidas pelas chuvas, 3) voluntariado, 4) coordenação das frentes de revitalização e 5) desmobilização.

Os desafios foram muitos, pois o estado não tinha experiência institucional suficiente para lidar com essa tragédia. A maioria dos(as) profissionais da área não tinha vivenciado uma demanda como a que se apresentava. A quantidade de municípios atingidos era elevada e muitos não tinham equipe municipal capacitada para lidar com situações de catástrofes. A maioria não disponibilizava equipe de defesa civil. Era época de eleição. O estado não tinha todos os recursos financeiros necessários. A população atingida já tinha um perfil de vulnerabilidade social que foi agravo pelo evento. Então, tudo isso, além de outros aspectos econômicos, políticos e culturais poderiam dificultar as ações. Tais fatores se constituíram como aspectos dificultadores foram superados a cada passo.

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PlanejamentoAntes de iniciar as intervenções da assistência

social, foi realizado um planejamento para que, em 45 dias, o governo pudesse realizar o cadastramento dos abrigos, dos equipamentos socioassistenciais, diagnosticar minimamente a situação de cada município, sobretudo daqueles que foram atingidos. Essa etapa também incluiu o papel da comunicação. O desafio era como fazer uma comunicação eficiente e rápida colocando as informações precisas para a população, principalmente porque era uma ação de governo que iria ocorrer em período eleitoral. Portanto, havia restrições do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) a serem respeitadas. Todo tipo de comunicação tinha que ser analisada e autorizada para posteriormente ser divulgada nos municípios. A logomarca do Governo de Pernambuco não podia ser utilizada. Em todas as peças de comunicação estava o brasão do estado. Muitas dúvidas acompanharam o planejamento, como a localização das pessoas que tiveram suas casas gravemente atingidas. O conhecimento e a gestão da ação foram sendo aprimorados no decorrer do processo.

Formação de 42 Equipes de Apoio aos Municípios

O desafio da mobilização e a seleção de profissionais da assistência social foram rapidamente superados com o apoio das três Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público [Cercap, Iatec e Pró-Cidadania] – e da empresa Sophia Soluções.

Cada uma das três OSCIPs trabalharam em 12 municípios. Elas montaram 12 equipes com cerca de 7 profissionais da área social [esse número variou devido à necessidade de atendimento no município atingido], além de motorista, veículos com tração nas quatro rodas, computadores, celulares, modems, fardamento, máquinas fotográficas, luvas, botas, máscaras e bonés.. Enquanto isso, a empresa Sophia Soluções, junto com a Compesa e a Celpe, atuou na gestão das informações do cadastramento.

Além disso, o governo estadual, através da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, lançou uma convocatória às/aos assistentes sociais e outros profissionais com formação e experiência na área social, em gestão de abrigos, atendimento a famílias em vulnerabilidade e risco social e gestão de crises. O chamado ocorreu através de emissoras de televisão, rádios, jornais e e-mails.

Os(as) interessados(as) compareceram ao Palácio das Princesas, a partir do dia 26 de junho para uma rápida capacitação sobre a dimensão e as necessidades provocadas pelo desastre. Em cinco dias mais de 300 profissionais foram capacitados, vacinados e encaminhados a campo, e muitos outros no decorrer do processo. Eram profissionais do Recife e de outros municípios do interior do estado.

Apoio à gestão dos abrigos e acampamentos

As Equipes de Apoio ao Municípios enviadas pelo Gabinete de Crise tiveram o apoio à gestão de abrigos e acampamentos como o primeiro objetivo. O intuito era garantir que todas as pessoas desabrigadas recebessem a assistência básica.

O cuidado às pessoas e aos grupos mais vulneráveis [crianças, idosos, gestantes, deficientes físicos e mentais] foi presença constante no trabalho das equipes, ainda que de forma simples. As equipes foram também orientadas a, diariamente, verificar as necessidades das famílias abrigadas. Elas observavam: documentação de identificação pessoal, pessoas que podiam ser inseridas em benefícios sociais, casos de violação aos direitos humanos dentro dos locais de abrigamento, dentre outras demandas que pudessem ser encaminhadas para as redes de apoio do município. As equipes de apoio buscaram também a participação dos(as) abrigados(as) nas atividades diárias. Isso facilitou o trabalho, reduziu a ociosidade e a tensão.

As Equipes de Apoio se uniram aos(às) gestores(as) municipais e ao escritório de crise no município. Algumas atividades realizadas, de maneira geral, foram:

1. Reuniões diárias com o grupo coordenador do abrigo ou do acampamento para criar estratégias para atendimento às demandas e divisão de tarefas;

2. Reuniões com as secretaria de Assistência Social;

3. Distribuição de cestas básicas, material de limpeza, kits de higiene pessoal, colchões;

4. Monitoramento do uso dos banheiros e chuveiros;

5. Acompanhamento particular às pessoas, gerando, principalmente, encaminhamentos à rede de saúde e à rede socioassistencial;6. Formação de grupos de convivência para minimizar conflitos interpessoais;

7. Atividades de recreação com crianças e adolescentes;

8. Identificação das pessoas aceitas ou não nos cadastramentos da Operação Reconstrução.

9. Verificação dos beneficiários que tinham ou não o NIS, e encaminhamento junto à secretaria de Assistência Social, para inclusão no CADÚNICO.

I. Planejamento da operação e capacitação (27.06 a 01.07)

II. Cadastramento dos abrigos e equipamentos sociais (02.07 a 14.07)

III. Diagnóstico dos domicílios atingidos pela chuva (07.07 a 21.07)

IV. Comunicação do início do cadastramento das famílias (26.07)

V. Funcionamento dos postos (27.07)

VI. Cadastramento familiar (28.07 a 01.08)

VII. Cadastramento de segurança dos desabrigados (02.08 a 03.08)

VIII. Análise e resultado do cadastramento das famílias (04.08 a 09.08)

Panorama geral da intervenção socioassistencial

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Cadastramento dos abrigos e dos equipamentos socioassistenciais

Essa atividade identificou 188 abrigos com 7.259 pessoas desabrigadas, distribuídos nos 39 municípios assistidos pela Operação Reconstrução. Dias depois esse número é elevado devido a segunda forte chuva, atingindo de maneira brusca, mais três municípios: Caetés, Jurema e Cachoeirinha. Em dezembro havia apenas 17 abrigos com 250 famílias constituídas por aproximadamente mil pessoas.

Vários equipamentos socioassistenciais como, CRAS (Centros de Referência da Assistência Social) e CREAS (Centro Especializado da Assistência Social), foram completa ou parcialmente destruídos. Isso dificultou ainda mais a atuação dos(as) gestores(as) municipais. Portanto, era urgente a identificação e o registro da situação para que pudessem ser reconstruídos.

Para a realização do cadastramento as Equipes de Apoio aos Municípios foram capacitadas pela Empresa Sophia Soluções, no Recife (capital da Pernambuco), quem esteve à disposição dia e noite para apoiar e fortalecer o trabalho de campo. Além dessas capacitações, as equipes recebiam orientações específicas pelas entidades sociais às quais estavam vinculadas. Essa orientação também foi importante já que cada município tinha sua realidade e as atividades tinham que ser direcionadas para gerar melhor impacto. Cada instituição esteve responsável por 14 municípios, ou seja, tinham de 14 equipes de apoio.

Diagnóstico dos domicílios atingidos pelas chuvas e cadastramento familiar

Com a definição do governo estadual sobre quem receberia novas casas [apenas as pessoas que tiveram suas casas completamente destruídas ou danificadas, sem condições de uso], a equipe da Sophia Soluções foi a campo, juntamente com a equipe da Compesa, (Companhia de Abastecimento de Água do Estado de Pernambuco), para verificar, diagnosticar e registrar os domicílios atingidos.

O mapeamento feito pela Compesa com os endereço das casas nas áreas atingidas foi o ponto de partida para o pré-cadastro das pessoas. Contribuíram também a Companhia de Eletricidade de Pernambuco (Celpe) e outra empresa de abastecimento de água que atua em 7 ou 8 municípios – locais onde a Compesa não está. Só através de um cadastramento prévio como este poderia se garantir maior segurança e fidedignidade ao processo.

Esse trabalho teve algumas interferências que prejudicaram a eficácia e a qualidade do pré-cadastramento. Em algumas cidades ocorreram mudanças nos nome das ruas, então a família tinha um comprovante de residência com um nome, mas no registro havia outro. Isso dificultava a comprovação e, consequentemente, impossibilitava o cadastramento dessa família. A inclusão de casas não danificadas, ainda que nas áreas atingidas, também fizeram parte dos erros. Essas distorções começaram a ser corrigidas, semanas após o primeiro cadastramento, com a ida de equipes da Compesa e da Sophia a todos os locais e nos cadastramentos posteriores.

Cadastro dos abrigos e equipamentos sociais

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Após essa etapa, e a capacitação das equipes para atuar no cadastramento familiar, o processo foi atrasado devido à necessidade de produzir e distribuir o material de divulgação necessário para orientar a população sobre o cadastramento familiar, que necessitava da aprovação Tribunal Regional Eleitoral. A visão do TRE foi proteger a população de manipulações já que era período eleitoral.

A população foi orientada para o cadastramento por rádios comunitárias, carro de som, folders, faixas, e da visita das Equipes de Apoio e dos(as) gestores(as) municípais feitas diretamente a algumas residências. Apesar dos esforços em alcançar toda população atingida, a comunicação se apresentou frágil, principalmente em áreas rurais, onde o acesso era mais difícil. Uma das falhas apontadas pelas própria população residiu em homogeneizar a informação, não considerando a demanda populacional atingida de cada município e as áreas de difícil acesso. Algumas questões pontuais podem ser destacadas:

1. O atraso em colocar os materiais nas ruas.

2. As mídias destinadas aos municípios foram insuficientes e não consideraram a demanda populacional atingida pela área rural.

3. A mensagem padrão do carro de som causou confusão e retardou a ida das pessoas aos postos de cadastramento. Ela não incluía, por exemplo, as informações sobre os locais.

Prédios públicos, privados e até igrejas foram utilizadas como postos de cadastramento. Era necessário que apenas um representante da família, geralmente a mulher, comparecesse ao local. No posto,, a pessoa deveria apresentar um documento próprio com foto, comprovante de residência e número do NIS (Número de Inscrição Social), o mesmo do Programa Bolsa Família. O pagamento foi feito pela mesma conta desse benefício. O objetivo era que as famílias vitimadas pelas chuvas pudessem receber um auxílio moradia, no valor de R$ 150,00 e o reconstrução no valor de R$ 360,00, totalizando R$ 510,00. Este último receberam todas as famílias [um membro por família] assinaram um termo se disponibilizando a ser voluntário(a) nas ações de frente de revitalização das cidades.

Leiaute do posto de cadastramentoAo chegar ao local o(a) possível beneficiário (a) passava por uma fase de triagem para verificar se seu nome e endereço constava na pré-lista, caso estivesse e a pessoa apresentasse todos os documentos necessários, recebia uma ficha verde e era encaminhada para o cadastramento.

O fluxo do cadastramento está demonstrado no gráfico a seguir

Caso a pessoa não tivesse todos os documentos exigidos e/ou não tivesse a nome e endereço na lista, ela recebia uma ficha amarela e era encaminhada para a sala da ouvidoria. Lá seu caso era registrado e, posteriormente, submetido a uma avaliação da Sophia Soluções e da Compesa. Muitos casos foram ajustados ao longo desse trabalho. O primeiro cadastramento familiar ocorreu

Como inúmeras pessoas perderam seus documentos nas enchentes, a grande maioria não pode ser cadastrada inicialmente e foi encaminhada para a ouvidoria. Por isso, o número de casos de ouvidoria na primeira fase foi superior ao número de pessoas cadastradas.

Panorama do primeiro cadastramento

na última semana de julho; e vários outros momentos surgiram depois para ajustar as distorções.

As visitas dos técnicos da Secretaria das Cidades começou meses depois. O intuito foi deixar ainda correto o panorama das pessoas que serão beneficiadas com a casa. Esse trabalho também incluiu aquelas que previamente foram consideradas inaptas.

1.062 foram cadastrados pelo ouvidoria, mas não se encaixam em nenhum dos quadros acima

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Dos 25.346 domicílios analisados:

1. 11.363 foram considerados aptos por preencherem os requisitos exigidos pelo governo. Dos 11.363, 6.446 (57%) tiveram seus cadastros realizados no momento e 4.917 (43%) ficaram pendentes, pelo fato dessas pessoas não terem se dirigido ao local, por não ter documentos de identificação ou não conseguirem comprovar o endereço.

2. 13.983 foram considerados inaptos, desses 8.332 foram danificados, mas com condições de uso, 5.522 não foram atingidos e 129 estavam em análise. Na ouvidoria foram registrados 13.599 para serem analisados.

A primeira folha de pagamento dos benefícios foi liberada 53 dias após da catástrofe. Em 9 de agosto cerca de 6 mil famílias já estavam recebendo os auxílios. Em dezembro havia cerca de 17 mil. Esse fato representou uma importante conquista para o governo e para a população atingida, pois nesse curto tempo foi feita verificação dos domicílios em campo, cadastramento das famílias, digitação dos cadastros, validação das informações e envio da folha para a Caixa Econômica Federal – instituição financeira responsável pelo pagamento dos benefícios. Vale destacar que a LOAS prevê a criação de benefícios eventuais decorrentes de situações de catástrofes.

SEÇÃO II - Dos Benefícios Eventuais, Art. 22., § 2º Poderão ser estabelecidos outros benefícios eventuais para atender necessidades advindas de situações de vulnerabilidade temporária, com prioridade para a criança, a família, o idoso, a pessoa portadora de deficiência, a gestante, a nutriz e nos casos de calamidade pública (LOAS – 1993).

No final do primeiro cadastramento, as equipes passaram em todos os abrigos e acampamentos para verificar se alguma família abrigada não havia sido cadastrada.

Foi criada a Ouvidoria Ativa como mais um instrumento para facilitar os registros dos casos.. Através desse serviço gratuito, a população pode relatar sua situação, caso não tenha sido atendida no primeiro cadastro. Foram registrados 2.187 casos, destes 508 foram considerados aptos, ou seja, 23,22% do total.

Além da Ouvidoria Ativa, alguns casos não detectados pela vistoria de campo puderam ser enviados pelas prefeituras via ofício para a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco. Dessa forma 1.303 casos foram encaminhados pelas prefeituras, dos quais 643 pessoas (49%) foram consideradas aptas ao cadastro.

Em agosto houve o segundo cadastramento. O objetivo foi ajustar as distorções e incluir as famílias de Cachoeirinha, Caetés e Jaqueira. O município Vitória de Santo Antão já não fazia mais parte da ação neste momento.

2º cadastramento

1 - Total de 14.385, que corresponde às 13.599 pessoas que se cadastraram na ouvidoria no 1º cadastramento, mais 786 pessoas nos municípios de Jurema, cachoeirinha e caetés (onde não houve o 1º cadastramento)

2 – Os domicílios que estão em recuperação referem-se a 20 municípios sem acesso e a 919 que não foram localizados. Estas famílias , desde que o imóvel tenha sido localizado e comprovado a situação de inabitável, estavam aptas a realizar o cadastro

3 – Em análise dos 13.599 cadastrados na ouvidoria, verificou-se que 455 tratavam do mesmo imóveis. Por esse motivo, não foram visitados

1 - Total de 9.264, que corresponde às 8.758 pessoas que estavam aptas a fazer o cadastramento, mais 506 que estavam em recuperação e foram consideradas aptas

2. O total de 560 de cadastros a realizar refere-se a diferença entre os 8.758 que estavam aptos a realizar o cadastro e os 8.198 que realizaram o cadastro

Durante as avaliações de campo, verificou-se que dos 13.599, 455 se tratavam dos mesmos imóveis. Esse é um aspecto relevante. A duplicidade de nomes ou endereços dificultou o recebimento dos auxílios. Por medida de segurança, o sistema acusava que mais de uma pessoa da mesma família cadastrada e bloqueava até o caso ser resolvido.

Dos 13.930, apenas 8.758 foram considerados aptos, 4.233 inaptos, 455 era o mesmo imóvel e 939 foram casas não localizadas ou em fase de reconstrução feita pela própria família o que dificultou a análise de se a casa tinha sido atingida ou não pelas chuvas de junho. De julho a agosto foram investidos R$ 4.051.470,00 em benefícios.

O cadastramento familiar foi uma das ações mais positivas da Operação Reconstrução, pois possibilitou o renascer da autonomia, da dignidade às pessoas que perderam o pouco que tinham.

Pagamento dos primeiros auxílios

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Após o segundo cadastramento, que juntamente com o primeiro, alcançou grande parte das famílias atingidas, continuou disponível a Ouvidoria Ativa, Encaminhamento de casos via ofício pelas prefeituras.

Em dezembro houve o terceiro cadastramento, resultantes da Ouvidoria Ativa, em que mais 1.061 pessoas foram cadastradas. Ao todo durante a ação 19.995 famílias foram beneficiadas, desses 13.549 foram casos de ouvidoria. Isso significa num investimento de mais de 18 milhões em benefícios. Em seguida, a Ouvidoria Ativa foi desativada mas as pessoas poderiam ainda ligar para a ouvidoria da própria Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco.

3º cadastramento

Frentes de revitalização

A população atingida participou ativamente da reconstrução nos seus municípios. Um membro de cada família beneficiada com o auxílio reconstrução atuou nas frentes de revitalização, realizando serviços de lavagem, caiação, varrição, jardinagem e capinagem. As atividades foram realizadas de outubro a dezembro.

Um grande número de pessoas demonstraram seu compromisso com a Reconstrução assinando um Termo de Adesão. As desistências ocorreram por motivos de trabalho ou de saúde. Ao formalizar o cadastro de adesão, as pessoas foram orientadas sobre os dias de trabalho, horários e locais. As pessoas receberam kits individuais (equipamentos de proteção individual) e os demais materiais e equipamentos foram fornecidos pela empresa Sophia Soluções, que coordenou a logística, enquanto as OSCIPs [Cercap, Iatec e Pró-Cidadania) se encarregaram de orientar os trabalhos de revitalização, junto com gestores(as) locais.

Lavagem de praça pública em Cortês

Adesão às frentes de revitalização em Barreiros

A Desmobilização

No sentido de encaminhar as famílias desabrigadas para uma moradia adequada, e considerando que elas passaram a receber os benefícios [R$ 160,00 ou R$ 510,00], as Equipes de Apoio realizaram a atividade batizada como “desmobilização de abrigos e acampamentos”. Esse trabalho foi muito importante também porque devolveu a função social de alguns pontos como escolas.

Para facilitar o processo, foram realizadas: 1. mesas de articulação entre os diversos atores institucionais envolvidos na busca de melhores soluções aos entraves do processo de desmobilização das famílias abrigadas e acampadas; 2. busca de apoio à resolução de inconsistência cadastrais das famílias acampadas junto à empresa Sophia Soluções, para normalizar o recebimento do auxílio moradia e; 3. acompanhamento da situação de cada família acampada ou abrigada e encaminhamento à rede socioassistencial local.

Esse foi um trabalho árduo, pois diversos fatores interviram na desmobilização, provocando uma permanência mais longa do que a devida. Alguns desses fatores foram:

1. Mercado imobiliário do município não comportar o número de famílias abrigadas;

2. Insegurança da população em deixar os abrigos/acampamentos por falta de informações suficientes sobre auxílio moradia, recebimento das casas, de cestas básicas e do acompanhamento socioassistencial do município;

3. Discrepância entre o valor do auxílio moradia e a inflação no valor das casas;

4. Precárias condições financeiras dessas famílias;

5. Influência política.

Em 21 de dezembro de 2010, haviam cerca de 2.200 pessoas abrigadas, distribuídas em 7 municípios. O processo de desmobilização finalizou em março de 2011, deixando ainda algumas dezenas de famílias abrigadas em Água Preta, Belém de Maria, Catende, Gameleira, Palmares e Primavera, que passaram a ser assistidas diretamente pelo município, até o recebimento das casas.

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Os(as) profissionais foram treinados(as) para lidar corretamente com o sofrimento causado pela exposição a situações que podem desencadear o surgimento de um transtorno mental. Os encontros ocorreram uma vez por mês e contou com o apoio do Governo do Estado e sociedade civil organizada.

Essa atuação, apesar de breve, abre portas para novas possibilidades de atuação quanto ao cuidado às vitimas e aos profissionais da área de desastre e emergência em Pernambuco. Além da preocupação em garantir o acesso aos direitos básicos da assistência social, é tão fundamental quanto, garantir o direito do cuidado a saúde mental. Além da distribuição de alimentos, roupas, produtos de higiene, que é fundamental, é preciso oferecer espaços de escuta e de empoderamento dessas comunidades.

Além da atuação dos psiquiatras, o cuidado à saúde mental se fez presente também através dos diversos psicólogos que constituíram as equipes de apoio socioassistencial nos 42 municípios. Apesar de não ter havido um plano de ação especifico de cuidado a saúde mental na Operação Reconstrução cada profissional da área pôde proporcionar espaços favoráveis ao equilíbrio emocional para os milhares de atingidos.

Durante os meses de outubro e novembro, psiquiatras das Sociedades Brasileira e Pernambucana de Psiquiatria estiveram em alguns dos municípios afetados com o objetivo de proporcionar um ambiente de cuidado para a equipe profissional, e consequentemente para a população assistida pela Operação Reconstrução Pernambuco.

O cuidado aos cuidadores na Operação Reconstrução

Além da população atingida, é preciso também cuidar dos profissionais que a assistem. Lidar com situações de destruição em ampla proporção e com o sofrimento coletivo tão

forte não é fácil para qualquer pessoa, seja profissional ou população atingida. Os profissionais que estão na ponta recebem toda a carga emocional das vitimas o que pode fazer com que o sofrimento do outro se torne seu, chegando em alguns casos, a provocar adoecimentos psíquicos, como estresse, depressão, entre outros transtornos mentais e comportamentais. Profissionais que atuam em situações de catástrofes e de emergência necessitam estar constantemente se reciclando, se atualizando e cuidando da saúde física e mental.

Durante os meses de outubro e novembro, equipes formadas por psiquiatras das Sociedades Brasileira e Pernambucana de Psiquiatria estiveram em alguns dos municípios afetados (Barreiros, Primavera, São Joaquim do Monte e demais de seus entornos) com o objetivo de proporcionar um ambiente de cuidado para a equipe profissional, e consequentemente da população assistida pela Operação Reconstrução Pernambuco. Cuidar dos(as) cuidadores(as) é, por sua vez, levar os cuidados aos que foram afetados diretamente.

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A promoção da solidariedade foi ponto forte na Operação Reconstrução. A atividade foi desenvolvida no âmbito da assistência social do Gabinete de Crise, em parceria com o Instituto

Brasileiro Pró-cidadania, e o apoio do Cercap e Iatec. No geral, as ações fortaleceram os princípios da solidariedade através de ações de arrecadação de donativos, atividades culturais e recreativas e apoio a pessoas com necessidades especiais.

Definida como Pernambuco Voluntário, as ações de voluntariado foram realizadas entre julho e dezembro. Foram alcançados quase 3 mil pessoas inscritas à ação voluntária. O cadastro foi realizado no sigas.pe.gov.br e as convocações para orientação foram dadas no Palácio Campo das Princesas, Salão das Bandeiras. Era um momento para recebessem informação sobre os municípios. cartilhas do Ministério da Saúde, assinar termo de adesão ao voluntariado e ser vacinado(a) para prevenção do Tétano e Hepatite B. As reuniões se

Ação voluntária e Solidariedade

realizaram de segunda a sexta-feira, às 15 horas. Em caráter especial, realizou-se uma reunião na quinta-feira para ação específica, no Centro da Juventude de Santo Amaro.

Em julho, 944 pessoas, convocadas pelo call center, receberam orientação e vacinação, estando aptas para visitar os municípios. Após a capacitação de 944 (novecentos e quarenta e quatro) voluntários distribuídos em 17 dias de treinamento, alcançamos o número de 739 (setecentos e trinta e nove) voluntários em campo, sem contarmos as visitas repetidas dos mesmos. Considerando as repetições dos(as) voluntários(as), onde aos quais não é permitido viajar mais de duas vezes por semana (iniciando no domingo e terminando no sábado), alcançamos 1.356 (um mil e trezentos e cinquenta e seis) voluntários(as) em campo, distribuídos em 10 (dez) municípios. Dentre os voluntários existem mais de 50 áreas de formação/atuação, cada qual contribuindo com suas virtudes em favor das vítimas das enchentes.

Vale ressaltar que Pernambuco recebeu iniciativas de voluntariado de todos as formas e de todos os lados, não apenas através do Gabinete de Crise. Muitas pessoas foram ajudar em determinado município porque possuía uma pessoa querida no local. “Sempre que é chamado, povo de Pernambucano mostra sua solidariedade. E a importância dessa ação não é apenas suprir as necessidade materiais das famílias atingidas pelas enchentes, mas o ato de doar é uma forma educativa de demonstrarmos respeito pelo outro e viver em sociedade”, declara Anacleto Julião, presidente do IATEC.

METODOLOGIA – Em recente estudo realizado na Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, definiu-se o voluntário como ator social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando seu tempo e conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de caráter religioso, cultural, filosófico, político, emocional.

Quando nos referimos a pessoa voluntária contemporâneo, engajada, participante e consciente, diferenciamos também o seu grau de comprometimento: ações mais permanentes, que implicam em maiores compromissos, requerem um determinado tipo de voluntário, e podem levá-lo inclusive a uma “profissionalização voluntária”; existem também ações pontuais, esporádicas, que mobilizam outro perfil de indivíduos.

Fundamental

Fundamental em curso ou incompleto

Médio / Técnico

Médio / Técnico em curso ou incompleto

Superior 1

Superior em curso ou incompleto

Pós-Graduado / Mestrado / Doutorado

Não Informado

Grau de Instrução Total

16

4

292

48

61

159

31

28

Áreas de atuação

Administração Ambiental Arqueologia Arquitetura Biblioteconomia Biologia Biomedicina Comunicação Social Contabilidade Design Direito Economia Educação Física Elétrica Eletrônica Eletrotécnica Enfermagem Engenharia Farmácia Física Fisioterapia Fonoaudiologia Gastronomia Geografia Gestão História

Batizada como Pernambuco Voluntário, as ações de voluntariado foram realizadas entre julho e dezembro. Foram alcançados quase 3 mil pessoas inscritas à ação voluntária.

InformáticaJornalismoLetrasMarketingMatemáticaMedicinaModaNutriçãoPedagogiaPsicologiaPublicidadeRadiologiaRecursos HumanosRelações InternacionaisRelações PúblicasSecretariadoSegurança do TrabalhoServiço SocialSociologiaSocorristaTécnico em LaboratórioTelecomunicaçõesTeologiaTurismoVeterináriaZootecnia

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Ao analisar os motivos que mobilizam em direção à ação voluntária, descobrem-se dois componentes fundamentais: o de cunho pessoal, a doação de tempo, e esforço como resposta a uma inquietação interior que é levada à prática, e o social, a tomada de consciência dos problemas ao se enfrentar com a realidade, o que leva à luta por um ideal ou ao comprometimento com uma causa.

Altruísmo e solidariedade são valores morais socialmente constituídos vistos como virtude do indivíduo. Do ponto de vista religioso acredita-se que a prática do bem salva a alma; numa perspectiva social e política, pressupõe-se que a prática de tais valores zelará pela manutenção da ordem social e pelo progresso do homem. A caridade (forte herança cultural e religiosa), reforçada pelo ideal, as crenças, os sistemas de valores, e o compromisso com determinadas causas são componentes vitais do engajamento. Não se deve esquecer, contudo, o potencial transformador que essas atitudes representam para o crescimento interior do próprio indivíduo.

Como explicitado acima, a ação voluntária não se limita a esfera pública ou privada, ela perpassa as fronteiras dessas esferas, sendo guiadas no sentido do bem comum, portanto os voluntários apresentam uma grande variedade de perfis, podendo variar em relação à idade, classe social, escolaridade, sexo, renda entre outros, desse modo a sistematização dessa ação deverá observar essas características em relação às demandas e atividades propostas para esses agentes sociais.

Identificação do perfil dos voluntários;

Seleção das atividades;

Capacitação/Nivelamento das habilidades;

Definição das atividades

Programação das ações.

Para a atuação eficaz da força voluntária alguns requisitos são fundamentais:

“Sempre que é chamado, povo de Pernambucano mostra sua solidariedade. E a importância dessa ação não é apenas suprir as necessidade materiais das famílias atingidas pelas enchentes, mas o ato de doar é uma forma educativa de demonstrarmos respeito pelo outro e viver em sociedade”

Anacleto Julião presidente do IATEC.

Dois dias antes de a enchente que devastou a Zona da Mata de Pernambuco completar um ano, o governo entregou as primeiras casas às famílias que ficaram desabrigadas na enchente de 18 de 2010. Barreiros e Palmares, os dois municípios mais atingidos, foram as primeiras cidades a receber as chaves, 55 e 84 imóveis

respectivamente. Esse número representa 3% do total prometido às duas cidades em 2010.Segundo o governo do estado, três mil moradias estarão concluídas em 2011. outras três

mil, ficarão prontas ao longo do primeiro semestre de 2012 e mais seis mil serão entregues até o fim de 2012. Ao todo, serão 12 mil novas casas para a população que perdeu suas casas nas cidades atingidas pelas enchentes. As unidades em construção estão sendo realizadas através do Programa Minha Casa, Minha Vida.

A parceria entre o governo estadual e federa está investindo R$ 700 milhões para construir as novas unidades habitacionais. Os novos conjuntos habitacionais fazem parte do projeto de retirada de moradias da calha do Rio Una para evitar novas tragédias.

No caminho às novas casas

O fato acima é produto, principalmente, do trabalho da Secretária das Cidades, através da

Companhia Estadual de Habitação e Obras (Cehab).

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Síntese das ações

_Avaliação de danos em imóveis;

_Avaliação das áreas de risco;

_Identificação de terrenos para reconstrução das habitações e equipamentos públicos atingidos;

_Levantamento das Poligonais, Memoriais Descritivos e Estudos Planialtimétricos dos terrenos identificados;

_Execução de Avaliações, Negociações e Desapropriações de terrenos;

_Elaboração de Estudos de Parcelamento Urbano;

DEMANDA DE CASAS A SEREM CONSTRUÍDAS EM 41 MUNICÍPIOS

16.862

_Recepção e pré-análise dos projetos apresentados e apresentação dos projetos aptos para análise do Comitê de Análise de projetos;

_Aquisição de terrenos

_Contratação de Obras de Habitação e Infraestrutura

_Contratação de Obras de Terraplenagem

_Elaboração de 27.434 Laudos de Avaliação Técnica em UH’s atingidas.

Fonte: Secretaria das Cidades de Pernambuco, 14 de dezembro de 2010

As ações para construção das habitações estão formalizadas por meio das seguintes normas:

Portaria do Ministério das Cidades n.º 368/2010 – que flexibiliza a documentação para admissão de imóveis e fixa em R$ 41.000,00 (quarenta e um mil reais), o valor máximo de aquisição das unidades habitacionais;

Decreto Estadual n.º 35.313, de 15/07/2010 – que estabelece procedimentos para contratação da construção de habitações e equipamentos públicos comunitários nos municípios afetados e cria o comitê de análise de projetos composto pela CEHAB, CAIXA, CELPE, COMPESA, CPRH e Municípios;

Decreto Estadual n.º 35.355, de 23/07/2010, que estabelece critérios e diretrizes para o licenciamento ambiental simplificado.

Fluxograma de Recepção eAnálise de Projetos

Situação de aprovação / Contratação dos projetos

Fonte: Secretaria das Cidades de Pernambuco, 14 de dezembro de 2010

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Ao percorrer a memória da Operação Reconstrução é fácil perceber o quanto o Governo de Pernambuco, as entidades sociais, empresas e pessoas, individualmente,

se envolveram no restabelecimento da condições dos municípios atingidos pelas fortes chuvas caídas no estado em junho de 2010. O saldo da ação emergencial parece ser positivo, mas o trabalho só deve terminar quando atender às necessidades, revertendo a situação de catástrofe criada pelas inundações.

Durante o seminário Operação Reconstrução – resgate do passado com o olhar no futuro, membros do Gabinete de Crise reconheceram que, apesar do conhecimento técnico existente, houve muito aprendizado ao longo da ação emergencial. E continuará havendo pois as obras de infraestrutura [vias públicas, pontes e casas] e restabelecimento do comércio se apresentam como dois grandes desafios, cuja solução exigirá muita articulação entre governos (municipal, estadual e federal) e diversas instituições que possam facilitar acesso a créditos, capacitações e (re)inserção no mercado.

Um dos objetivos ao realizar o seminário mencionado foi trazer a importância da aprendizagem durante a emergência, da necessidade de uma gestão

pública voltada ao desenvolvimento sustentável e da construção de uma cultura de prevenção em Pernambuco. Nessa perspectiva, a organização francesa Association de Coopération entre Acteurs du Développement – ACAD – (Associação de Cooperação entre Atores do Desenvolvimento) apresentou a experiência de Toulouse (cidade ao sul da França) em situações de catástrofe natural, partindo da identificação das necessidades da urgência, passando pela gestão de recursos, indenizações e participação da população culminando com a aprendizagem no processo e a construção de um plano de prevenção de catástrofes por inundação.

Os pilares de um plano de prevenção:1) conhecimento – conhecer os fenômenos a partir

de estudos e aprendizagem em experiências anteriores, bem como sobre a cultura do risco;

2) regulamentação – assegurar que as pessoas não estejam no raio de exposição do risco;

3) proteção – redução do risco e da vulnerabilidade; 4) Monitoramento e alerta: desenvolver sistemas de

alerta e ações programadas para desenvolver a segurança das pessoas e dos bens.

CASAS ACESSÍVEIS

41,3m²SALA2 QUARTOSCOZINHABANHEIROÁREA DE SERVIÇO

POSSIBILIDADE DE AMPLIAÇÃO PARA MAIS 1 QUARTO E TERRAÇO

A estruturapara enfrentaro futurouma contribuição das entidades parceiras

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10 considerações

1. O Estado deve estabelecer um mapeamento dos riscos de inundações, implementar e gerenciar o sistema de alerta de inundação requerer dos municípios a implementação de um plano de urbanização prevenção dos riscos de inundações nas áreas mais sensíveis (ribeirinhas e barreiras).

2. A prefeitura é responsável pela informação preventiva para cada cidadão e cidadã do desenvolvimento do plano municipal, fazendo com que sejam cumpridas as restrições do planejamento urbano.

3. Cidadãos e cidadãs devem respeitar a determinação do planejamento urbano, não construindo suas moradias em áreas de risco e estar sempre alerta às informações de prevenção divulgadas pela prefeitura.

4. A construção de um plano de prevenção de inundação também inclui avaliação e qualificação das áreas de riscos. Isso possibilitará a identificação de um conjunto de ferramentas simples para informar a população e fazer recomendações sobre a não ocupação redução de barreiras e locais onde o fluxo de água é muito próximo.

5. A partir do mapa de risco desenvolvido, o(a) prefeito(a) estabelece um conjunto de requisitos para ocupação do solo – e monitora seu cumprimento.

6. A população tem que estar sempre informada sobre as determinações de ocupação de solo. Essa ação deve se dar através das prefeituras, através dos meios mais diversos e adequados às particularidades locais.

7. Todo o trabalho deve ser direcionado a reduzir o risco de ocupação dos solos inadequados. Eles devem ser adaptadas aos desafios e à manutenção sustentável. O trabalho de monitoramento e serviço de alerta para previsão de inundações é contínuo.

8. As equipes da defesa civil nos municípios devem ser capacitadas e melhor estruturadas.

9. Informar e orientar a população sobre o sistema de alarme e sobre como se proteger e para onde se dirigir em caso de desastres.

10. O Governo do Estado deverá orientar corretamente o município sobre a maneira como serão entregue as casas, quem serão os responsáveis e sobre a demolição de escombros ou de casas em áreas de risco. Vale destacar que a abordagem às famílias deve ser realizada levando em consideração a vulnerabilidade e o nível de informação das mesmas.

O papel da mídia na Operação Reconstruçãopor Sylvia Siqueira Campos

A comunicação é um direito humano que deve ser tratado no mesmo nível e grau de importância que os demais direitos humanos. O direito humano à comunicação incorpora a inalienável e fundamental liberdade de expressão e o direito à informação, ao acesso pleno e às condições de sua produção, e avança para compreender a garantia de diversidade e pluralidade de meios e conteúdos, a garantia de acesso equitativo às tecnologias da informação e da comunicação, a socialização do conhecimento a partir de um regime equilibrado que expresse a diversidade cultural, racial e sexual; além da participação da sociedade na definição de políticas públicas, tais como conselhos de comunicação, conferências nacionais, regionais e locais. A importância do direito humano à comunicação está ligada ao papel da comunicação na construção das identidades, das subjetividades e do imaginário popular, bem como nas relações de poder.

Carta de Brasília, 2005Encontro Nacional sobre Direitos Humanos

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O ato comunicacional é um fenômeno inerente à pessoa humana. Ele é fundamental na construção das identidades, uma vez que incorpora e desenvolve elementos simbólicos

que facilitam a relação entre as pessoas e todo que está a sua volta. Esta relação (re)produz e a herança cultural. Mas essa permanente (re)invenção social não é tarefa fácil. Ela se dá em campos de interesse nos quais a hegemonia se constrói na articulação entre todas as partes envolvidas. Logo, a comunicação é concebida como uma atividade política, contextualizada na econômica, social, culturalmente. É nessa perspectiva que o presente e breve artigo vem dialogar: o papel dos meios de comunicação em situações de emergência pública.

A comunicação é um direito libertário que deve respeitar a pessoa em sua diversidade, incentivando a construção da democracia e promovendo o diálogo. O função social dos meios de comunicação tem sido motivo de muitos debates no cenário nacional, em universidades e centros de estudo no Brasil e no mundo. A última década apresenta com mais clareza o importante papel da sociedade civil organizada nessa luta. Muito já se conquistou, principalmente em termos de reconhecimento da comunicação como um direito humano. E outras batalhas continuam, especialmente aquelas relativas ao exercício desse direito.

É nesse espírito que destacamos o atuação da mídia diante da destruição deixada pelas fortes chuvas de 2010 em Pernambuco. A situação exigiu dos veículos de comunicação do estado [e continua exigindo] um olhar permanente sobre o fato, suas causas e consequências. Desde junho de 2010, assistimos a uma cobertura intensa que tentou não apenas informar à população, mas também mobilizá-la a exercer sua solidariedade e monitorar a atuação do Governo de Pernambuco no atendimento às necessidades provocadas pela catástrofe. Em algumas ocasiões, a própria população acionou a mídia [nos seus mais diversos formatos], municipal ou estadual, como um recurso para o desabafo público e para cobrar agilidade do governo. Em outros momentos, o próprio governo lançou as suas informações.

O acervo jornalístico sobre a Operação Reconstrução mostra como a responsabilidade social do(a) comunicador(a) se fez presente, e uma imensa preocupação pelas pessoas e pela veracidade dos fatos. A pesquisa também foi um recurso muito utilizado. E o olhar internacional comparativo com outras regiões do mundo ilustrou ainda mais a necessidade de pensarmos na necessidade de por em prática uma gestão pública voltada à inclusão social, a erradicação da pobreza, a geração de renda, o respeito ao meio ambiente, num projeto de desenvolvimento sustentável que tenha como fundamento à dignidade, liberdade e igualdade de cada cidadã e cidadã.

Sylvia Siqueira Campos é jornalista, especialista em diretos humanos e presidenta do Movimento Infato-Juvenil de Reivindicação

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Apesar de os desastres naturais terem acompanhado o homem durante toda sua história evolutiva, atualmente tem se configurado como um dos principais focos de análises e

discussões em todo o mundo. O modo como o fenômeno é compreendido, define a maneira de intervir sobre ele. Por isso a importância de se realizar estudos e reflexões sobre a temática e suas consequências.

Situações como essas provocam diversas perdas, sejam físicas ou simbólicas. Pessoas, famílias e comunidades têm sua dinâmica alterada de maneira inesperada, trazendo como consequência, dor, angústia, ansiedade e medo, chegando a causar adoecimento individual e coletivo. O sofrimento psíquico é decorrente de ameaças reais de morte e destruição e não apenas de fantasias geradas pelo imaginário humano.

Diante das catástrofes, a sociedade fica exposta a todos os grandes temores humanos simultaneamente. E, nessas circunstâncias, indivíduos e/ou comunidades saudáveis assolados por tal violência disruptiva enfrentam um tipo de estresse emocional que pode evoluir para um quadro de desajuste psíquico e adoecimento (THOMÉ; BENYAKAR; TARRALLI, 2009, p. 28).

Segundo Bruck (2007), o ser humano necessita de um ambiente razoavelmente estável em que o nível de estresse esteja de acordo com suas possibilidades de adaptação e elaboração psíquica. Para a OMS, saúde não é apenas ausência de doença, mas “um estado dinâmico

...há determinantes da ordem da natureza, como o furacão e o terremoto, determinantes sociais, socioeconômicos e culturais que fazem com que esse evento natural se transforme num desastre humano[...] Dessa perspectiva, qualificar de naturais os desastres enfatiza o evento e encobre a violência humana direta ou indireta. Para entender os chamados desastres naturais, preveni-los e recupera-se deles, é preciso desprender-se de uma série de interpretações errôneas e incluir linhas de pensamento na ordem do social (Seminário Nacional de Psicologia das Emergência e dos Desastres: Contribuições para a Construção de Comunidades mais Seguras, 2006).

de completo bem-estar físico, mental, espiritual e social”. A saúde mental está alicerçada na harmonia entre os quatro aspectos citados. Porém, às vezes, o sujeito e, até mesmo, populações inteiras se deparam com situações que afetam um ou todos esses fatores, ocasionando um desequilíbrio emocional e psíquico. Com isso o índice de adoecimento individual ou coletivo se eleva, podendo se tornar uma questão de saúde pública.

Ao se falar em desastres naturais é preciso que alguns aspectos importantes sejam desmistificados como a ideia de que desastres naturais e suas consequências tem origem apenas na natureza. É preciso ampliar o olhar para outros fatores implícitos e explícitos que dão força ao evento, como questões sociais, econômicas, políticas e culturais de uma determinada comunidade, região ou pais.

Segundo Arturo Marinero Heredia...

O CUIDADO À SAÚDE MENTAL DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÕES DE DESASTRE E EMERGÊNCIApor Ronara Veloso

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Há autores que relacionam a intensidade da tragédia à estrutura política, social, econômica e cultural de cada localidade atingida, ou seja, quanto mais vulnerável for a comunidade maior a intensidade do evento e a duração do impacto emocional na população após o sinistro. Se em uma comunidade grande parte das famílias mora em área de risco, dispõe de precários serviços públicos e é menos capacitada para lidar de alguma forma com ocorridos dessa magnitude, mais força terá, maior sofrimento e desestabilidade emocional o fenômeno provocará sobre elas.

Os desastres apresentam três fases: pré-impacto, impacto e pós-impacto. Respostas psicológicas se dão de maneiras diferentes a cada uma dessas fases que se formam após o desastre gerando a Síndrome dos Desastres: na primeira fase os atingidos vivenciam um estado de choque, de estupor, de apatia, de confusão mental e de insensibilidade com o ocorrido; na segunda há uma dualidade, os atendidos apresentam-se mais dóceis pela atenção recebida do que os não atendidos que apresentam angústia pela falta de amparo; na terceira fase há pessoas que se sentem eufóricas por terem sobrevivido, a solidariedade se expressa de maneira mais forte, porém há outras que cometem atos de delito, desenvolvem depressão etc. Por isso as diversas equipes como as da defesa civil, corpo de bombeiros, polícia civil e militar, assistência social, mas principalmente as de saúde mental, que atuam em momentos como esses devem estar capacitadas o suficiente para lidar com a variedade de resposta emocionais e comportamentais que a população possa apresentar.

...nos anos posteriores às catástrofes, as informações estatísticas sobre o aumento de ocorrências ligadas ao alcoolismo, ao uso de drogas, à violência doméstica e urbana, aos suicídios e outros sintomas de transtornos emocinais/psíquicos passaram a fazer parte da realidade de todas as populações que vivem nas regiões afetadas por esses acontecimentos adversos. (THOMÉ; BENYAKAR; TARRALLI, 2009, p. 34).

José Thomé afirma que...

Lidar com situações como essas requer uma nova forma de pensar e atuar em saúde mental. O olhar precisa estar ampliado sobre questões como prevenção, promoção e reabilitação nesta área. Esse tem sido um dos maiores desafios atuais para o campo da saúde mental, especificamente da psicologia e psiquiatria da emergência e desastres.

Avanços teóricos e metodológicos são detectados pela presença de profissionais da área de saúde mental como psicólogos e psiquiatras atuando durante as fases de pré-impacto, impacto e pós-impacto. Por se tratar de situações complexas o modo de intervir deve ser interdisciplinar. As diversas equipes que atuam nessas situações precisam estar bem articuladas para que o processo como um todo tenha uma lógica mais efetiva. É preciso articular setores governamentais e redes de apoio a saúde mental, além de capacitar, previamente, equipes de profissionais e comunidades para lidarem melhor com essas circunstâncias.

Os profissionais de saúde mental devem apoiar tudo que tenha a ver com a comunicação, a coordenação, planejamento, articulação entre os diversos setores e atores envolvidos além de fortalecer a participação popular. Trabalhos de prevenção, de promoção e de reabilitação necessitam ser, apoiados estimulados e realizados, com a população e com equipes de profissionais, visando a diminuição do possível impacto emocional a ser enfrentado. Comunidades mais preparadas são menos traumatizadas. Os profissionais de saúde mental devem atuar na prevenção, contribuindo com políticas públicas saudáveis, na promoção, promovendo educação e espaços de empoderamento popular e articulação intersetoriais do governo e como também na reabilitação da saúde psíquica no momento do pós-impacto. Uma rede de apoio complexa deve se formar para dar suporte a um problema tão complexo quanto. Ronara Veloso é psicóloga especialista em

saúde mental e Vice-secretária do Iatec

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As enchentes de junho de 2010 causaram grande comoção nacional e despertaram a solidariedade e colaboração de amplitude internacional. Os municípios pernambucanos

atingidos pela tragédia contaram com a colaboração de países que também vivenciaram, em momentos distintos, desastres naturais de grandes proporções. A cooperação internacional no contexto da Operação Reconstrução foi possibilitada, dentre outros fatores, devido à configuração atual presente nas relações internacionais genericamente definidas como “relações que se dão entre os países ultrapassando os limites fronteiriços de um Estado.” Na contemporaneidade, a forma como se estabelecem estas relações obedece, sobretudo, à conjuntura que permeia o

OPERAÇÃO

RECONSTRUÇÃO

E RELAÇÕES

INTERNACIONAIS:

COOPERAÇÃO PARA O

DESENVOLVIMENTO

LOCAL por Leandro Regis Nascimento da SilvaLeandro Regis Nascimento da Silva é internacionalista, membro do Movimento Infanto-Juvenil de Reivindicação e colaborador do Iatec

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Houve também a participação da instituição francesa ACAD (Associação de Cooperação entre Atores do Desenvolvimento), no Seminário “Operação Reconstrução” ocorrido entre os dias 14 e 15 de dezembro, no Recife. Ela compartilhou da experiência do país frente à situação de emergência, apresentando o método francês para prevenção de catástrofes por inundação. Esse encontro possibilitou um intercâmbio de experiências, ressaltando a importância da implantação do programa na França, bem como o destaque dado pelos participantes estrangeiros frente à dinâmica entre as pessoas que trabalharam na Operação, inclusive frente à necessidade de se organizar a logística frente a demanda de pessoas a serem ajudadas e ao recebimento diário de toneladas de donativos.

Ainda no seminário, houve a participação de uma delegação composta por representantes de países latino-americanos (Peru, Chile, Panamá, El Salvador, Republica Dominicana e Guatemala) que também deram suas contribuições e fizeram visitas de campo nas áreas atingidas, se sensibilizando com a situação caracterizada

pela tragédia. A participação foi articulada pelo Movimento Infanto-Juvenil de Reivindicação, organização brasileira não-governamental que possui grande atuação no campo das relações internacionais.

Esses exemplos nos dão um breve panorama da importância da cooperação internacional frente à necessidade de reconstruir as cidades, e percebemos que, cada vez mais, a integração internacional se consolida também no apoio ao desenvolvimento local. A grande diferença entre outras formas de integração presentes nas relações internacionais é o fato de ter havido o interesse despertado, sobretudo pela solidariedade estrangeira e vontade de ajudar pessoas que tiveram suas casas e vidas arrasadas por um fenômeno natural suscetível de ocorrer em qualquer lugar do mundo.

Os municípios pernambucanos atingidos pela tragédia contaram com a colaboração de países que também vivenciaram, em momentos distintos, desastres naturais de grandes proporções. A cooperação internacional no contexto da Operação Reconstrução foi possibilitada, dentre outros fatores, devido à configuração atual presente nas relações internacionais genericamente definidas como “relações que se dão entre os países ultrapassando os limites fronteiriços de um Estado.”

sistema internacional, inclusive considerando a visibilidade política do Brasil nos últimos anos.

Considerando o advento tecnológico nos últimos anos, destacamos o caráter revolucionário frente à forma como se dá a comunicação entre as pessoas e entre os países. O que acontece ao redor do mundo, nos pontos mais remotos entre nações, pode ser conhecido por um número cada vez maior de pessoas, que tem acesso às informações transmitidas pelos meios de comunicação muitas vezes em tempo real, ou quase real. Esse fenômeno social, entendido como a internacionalização das comunicações, é possibilitado, sobretudo, pelas constantes evoluções nas ferramentas tecnológicas que surgem a todo o momento.

A maneira como as relações entre os países se estabelece, portanto, leva em conta o conceito político da Teoria da Interdependência sobre a atuação das nações na esfera global. Tal Teoria lança o paradigma de que nem o Estado é o único ator, conforme ditava a teoria do Realismo, nem há mais relação de dependência entre

elas, conforme defendia a Teoria da Dependência. A característica principal, agora, é o fato de que todos os fatores que norteiam essas relações estão interligados e são interdependentes. Essa interdependência explica a importância do desenvolvimento de ações integradas ao desenvolvimento doméstico, bem como possibilitou a ampliação do campo de articulação entre os atores das relações internacionais que foram somados às atuações locais no contexto da Operação Reconstrução.

No ambiente caracterizado pela catástrofe, em Pernambuco, ajudas externas chegavam às cidades atingidas pelas chuvas, contribuindo junto às ações que ate então vinham sendo realizadas por toda a equipe atuante na Operação. Barreiros e Palmares, cidades mais devastadas pelas enchentes, receberam desde a doação das chamadas Barracas Rotary Club, cedidas pela “Rotary International”, que serviram de abrigamento emergencial às vitimas, quanto a presença de voluntários de outros países prestar solidariedade e verificar possíveis parcerias de financiamentos a projetos sociais.

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Para saber maisSOBRE AS ENTIDADES PARCEIRAS

O Centro Brasileiro de Reciclagem e Capacitação Profissional é uma OSCIP com a finalidade de elaborar, implantar e desenvolver projetos e atividades ligadas à cultura, assistência social, turismo e esporte, bem como, pesquisa, extensão e inovação no campo da tecnologia social e da informação. www.cercap.org.br O Instituto Brasileiro Pró-Cidadania é uma OSCIP que tem como missão contribuir para uma sociedade melhor com ações que levem à diminuição das desigualdades sociais e, consequentemente, com a construção de uma sociedade mais justa. www.procidadania.org.br

O Instituto de Apoio Técnico Especializado à Cidadania (2000) é uma OSCIP dedicada a promover o desenvolvimento humano e social sustentável por meio da realização de serviços técnicos especializados voltados ao exercício da cidadania e ao rompimento dos ciclos de geração de pobreza.www.iatec.org.br

A Sophia Soluções é uma empresa pernambucana, Microsoft Certified Partner, foi criada em 2006 para atender demandas específicas do mercado. A SOPHIA se diferencia por oferecer ao mercado soluções nas áreas de Tecnologia Social e Mídia Social, a partir daí à plataformas de software configuráveis e escalonáveis e serviços de gestão de tecnologia da informação. www.sophiasolucoes.com.br

Consulado Geral da França para o Nordeste Realizar ações de cooperação cultural, científica, tecnológica e institucionalrecife.ambafrance-br.org

O Movimento Infanto-Juvenil de Reivindicação (1990): tem a missão de luta para que sejam efetivados os direitos humanos com foco na infância, adolescência e juventude, a fim de combater as desigualdades, estimular a participação cidadã e radicalizar a democracia. www.mirimbrasil.org.br

Association de Coopération entre Acteurs du Développement • ACAD ¬ (1997) visa promover a cooperação entre aqueles cujo campo de intervenção é a complexidade do espaço urbano dos países de desenvolvimento.

Casa Militar de PernambucoPalácio Campo das Princesas | Praça da República, s/nSanto Antônio | Recife | PE | 50010-04081 3181.2100www.camil.pe.gov.br Secretaria de Planejamento e Gestão de PernambucoRua da Aurora, 1377Santo Amaro | Recife | PE | 50040-09081 3182.3800www.seplag.pe.gov.br Coordenadoria da Defesa Civil de PernambucoAvenida Cruz Cabugá, 1211Santo Amaro | Recife | PE | 50040-00081 3181.2138www.defesacivil.pe.gov.br www.defesacivil.gov.br/sindec/estados/index.asp Secretaria das Cidades de PernambucoRua Montevidéu, 145Boa Vista | Recife | PE81 3181.7050www.cidades.pe.gov.br Companhia de Habitação e Obras de PernambucoRua Odorico Mendes, 700Campo Grande | Recife | PE | 52031-08081 3182.7500www.cehab.pe.gov.br Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos HumanosAvenida Cruz Cabugá, 665Santo Amaro | Recife | PE | 50040-000 81 3183.3000www.sedsdh.pe.gov.br Agência Pernambucana de Água e ClimaAvenida Cruz Cabugá, 1111Santo Amaro | Recife | PE | 50040-000www.apac.pe.gov.br

Ouvidoria Geral do Estado – 0800 281 2900Rua Gervásio Pires, 399Boa Vista | Recife | PE | 50050-070 81 3181.3308 | 3181.3323 | [email protected] www2.ouvidoria.pe.gov.br/web/ouvidoria

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ExpedienteUma publicação do

Instituto de Apoio Técnico Especializado à Cidadania

ParceriasCentro Brasileiro de Reciclagem e Capacitação Profissional

Instituto Brasileiro Pró-cidadaniaSophia Soluções

Serviço de Cooperação e Ação Cultural da França no Recife

ApoioAssociation de Coopération entre Acteurs

du Développement • ACAD, França

Movimento Infanto-Juvenil deReivindicação • MIRIM, Brasil

Pesquisa, reportagem e ediçãoLeandro Regis Nascimento da Silva

Ronara Veloso Bonifácio da SilvaSylvia Siqueira Campos

ColaboradoresAdolpho Ximenes

Ana Izabel AmorimAmélia Azevedo

João AgripinoMarco Aurélio

Marcos XimenesPetrônio TavaresPierre Fernandez

Roberta GomesWaldemir Farias

Palestrantes do Seminário(14 e 15 de dezembro de 2010)

Acácio de CarvalhoTen-Cel Ivan Ramos

Ana SuassunaJosé Fernando da Silva

Rizete CostaRaquel Tavares

Coordenação e Revisão técnicaAnacleto Julião de Paula Crêspo

Sylvia Siqueira Campos

Projeto Gráfico e diagramaçãoicono design

ImagensAcervo fotográfico do Iatec, Pró-cidadania e Clarissa Rodrigues

EditoraçãoGráfica e Editora Brascolor

Distribuição dirigida. São permitidas reproduções desta publicação desde que citada a fonte.