48
1 A Comunicação e Expressão na Sala de Aula O professor Transformador Artes na Escola Secundária do Monte Mostra de Video em contexto educavo Lira Delirante As Nações de Uppsala Uma pequena reflexão em roda livre Leitura Criativa Almada um Olhar sobre a Ponte O passado apontando o futuro Arte na Rua Projeto fronteiras urbanas Educação, Arte e Cidadania O diálogo entre as artes Levar o Tempo ao Desespero Sobre o livro de poemas de Francisco Alunos com Perturbação de autismo Parlhar modos de Ver, Ser e Senr Quase-Fábula Uma pequena reflexão em roda livre Monumento à Multiculturalidade Centro Cívico da Caparica Mundos em Diálogo mundos.em.diálogo@ Remake de Obras de Arte O Design Gráfico na Escola Secundária de Cacilhas Os Planaltos dos Pássaros e do Salalé A Ficção de Jorge Arrimar ImaginArte Almada O passado apontando o ALMADA FORMA a revista do centro de formação de escolas do concelho de almada nº1 | maio 2013 ARTE EDUCAÇÃO CIDADANIA Trajes Dáquem e Dálem projeto com uma turma de Edu- II Ciclo Conferências dos Capuchos Convento dos Capuchos Formacão em Literatura-Mundo Comparastas, UNESCO, ESEN Educação, Arte e Cidadania Parlhar modos de Ver, Ser e Senr A Educação Estética e artística em contexto escolar

Revista AlmadaForma 1

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A revista do Centro de Formação de Professores do Concelho de Almada.

Citation preview

Page 1: Revista AlmadaForma 1

1

A Comunicação e Expressão na Sala de AulaO professor Transformador

Artes na EscolaSecundária do Monte

de Caparica

1ª Mostra de Videoem contexto educativo Lira Delirante

Concurso Pessoas em Pessoas

As Nações de UppsalaUma pequena reflexão

em roda livre

Leitura CriativaAgrupamento de Escolas D. Dinis

Almada um Olhar sobre a PonteO passado apontando o futuro

Arte na RuaProjeto fronteiras urbanas

e educação comunitária

Educação, Arte e CidadaniaO diálogo entre as artes

Levar o Tempo ao DesesperoSobre o livro de poemas de Francisco Niebro ARS VIVENDI ARS MORIENDI

Alunos com Perturbação de autismoPartilhar modos de Ver, Ser e Sentir

Quase-FábulaUma pequena reflexão

em roda livre

Monumento à MulticulturalidadeCentro Cívico da CaparicaMundos em Diálogo

mundos.em.diá[email protected]

Remake de Obras de ArteO Design Gráfico na Escola

Secundária de Cacilhas

Os Planaltos dos Pássaros e do SalaléA Ficção de Jorge ArrimarImaginArte Almada

O passado apontando o futuro

ALMADAFORMAa revista do centro de formação de escolas do concelho de almada nº1 | maio 2013

ARTEEDUCAÇÃOCIDADANIA

Trajes Dáquem e Dálemprojeto com uma turma de Edu-

cação e Formação de Adultos

II Ciclo Conferências dos CapuchosConvento dos Capuchos Formacão em Literatura-Mundo

Comparatistas, UNESCO, ESENEducação, Arte e CidadaniaPartilhar modos de Ver, Ser e

Sentir

A Educação Estética e artísticaem contexto escolar

Page 2: Revista AlmadaForma 1

2

Índice

Editorial 3A Educação Estética e Artística 4Educação, arte e cidadania 9Mundos em Diálogo 11ImaginArte Almada 13Arte na Rua 16Artes na Escola 18Remake de Obras de Arte 21Educação, Arte e Cidadania 23Trajes Dáquem e Dálem 24Alunos com Perturbação do Autismo 26Leitura Criativa 28A Comunicação e Expressão na Sala de Aula 30Quase-fábula 33As Nações de Uppsala 35Lira Delirante 37Levar o tempo ao desespero 38Os Planaltos dos pássaros e do Salalé 41Monumento à Multiculturalidade 42Formacão em Literatura-Mundo 43Almada um Olhar sobre a Ponte 441ª Mostra de Video 45II Ciclo de Conferências dos Capuchos 46

Ficha Técnica

Directora: Maria Adelaide Paredes Silva

Colaboradores: Alfredo Cameirão, Ana Ávila Silva, Ana Gonçalves, António Candeias, António Sales, Carla Belo, Domingos Rasteiro, Domitila Cardoso, Elisa Marques, Elsa Pinheiro, Fátima Vaz, João Moreira, José Guimarães, Leonor Mendinhos, Libânia Nazareth, Ludgero Leote, Madalena Mendes, Maria Adelaide Silva, Maria Lourenço, Mónica Mesquita, Múcio Goes, Nuno Albuquerque, Paula Penha, Rui Baltazar, Rui Silvares, Ruth Navas, Thomas Fahrenholz

Coordenação, paginação e arranjo gráfico: Domitila Cardoso, Maria da Luz Vieira

Page 3: Revista AlmadaForma 1

3

A revista AlmadaForma online inaugura-se sob o signo da 2ª edição do Ciclo das Conferências no Convento dos Capuchos, integrando a sua matriz fundadora - Educação, Arte, Cidadania. Pretende ser um projeto de comunicação contínua, pro-movido pelo centro de formação de escolas do concelho de Almada, um espaço de divulgação e reflexão sobre temáticas atuais e pertinentes de Educação e Formação, de modo a fidelizar o público-alvo das escolas associadas e da comu-nidade educativa do concelho de Almada, em particular.

A ideia é contribuir para a exigente missão da es-cola, numa lógica de intervenção aberta e cons-trutiva, focada na preparação para o mundo e renovação da sociedade. A partir da tomada de consciência do valor da pessoa do aluno, do edu-cador e do professor, nos seus contextos e re-des de relações e responsabilidades partilhadas, ganha significado pensar na qualificação e edu-cação dos nossos alunos. Privilegiamos, assim, abordagens relevantes sobre a formação dos professores e dos diversos agentes educativos, com particular atenção aos contextos e à valori-zação do seu potencial. Parece-nos fundamental estabelecer redes e interações com outras rea-lidades e dinâmicas nacionais e internacionais, por via da rede de parcerias e de projetos eu-ropeus das escolas e do centro de formação. Procuramos reconhecer a qualidade dos proje-tos educativos das escolas e colaborar na refle-xão e construção de sentidos de mudança, pela partilha de dimensões inovadoras e mobilizado-ras de conhecimento e de sabedoria. Pensar e questionar a educação de forma colaborativa e abrangente.

Com este objetivo apelamos à participação dos intervenientes implicados no processo educativo em diferentes níveis e funções nas escolas, uni-versidades, autarquias, ministério da educação e

ciência, instituições e associações, comunidade em geral.

Os contributos provenientes da experiência, do estudo especializado e do terreno da investiga-ção-ação são fundamentais para acrescentar valor e qualidade a esta revista que se regozija em poder apresentar, nesta publicação, um con-junto de comunicações muito interessantes e valiosas, em torno de reflexões sobre a arte na escola, como área de conhecimento a par das áreas científicas e tecnológicas. As experiências e projetos apresentados reclamam o desenvol-vimento da educação estética e artística, abrin-do espaço a outros saberes, outras maneiras de estar e de abordar os problemas da vida e da sociedade.

Como contributo para uma escola com futuro valorizamos a parceria estabelecida no âmbito do Programa Educação Estética e Artística em contexto escolar (PEEA), apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e a decorrer desde 2010, sob a coordenação da Drª Elisa Marques, MEC – DGE. O referido programa tem permitido asse-gurar a formação contínua de educadores e pro-fessores do 1º ciclo, contemplando um número significativo de docentes de seis agrupamentos de escolas, no domínio das diferentes formas de arte: Expressão Plástica, Educação e Expressão Musical, Dança e Movimento e Drama/Teatro e no desenvolvimento de parcerias entre as instiuições escolares e as instituições culturais, como museus, teatros, academias, entre outros. Este programa tem procurado, enfatizar a arte como uma área do conhecimento.

Saudamos e agradecemos a participação de todos os nossos colaboradores, celebrando em conjunto a vida da Revista AlmadaForma.

Maria Adelaide Paredes da SilvaDiretora do AlmadaForma

Editorial

Page 4: Revista AlmadaForma 1

4

Elisa Marques Coordenadora da Equipa do PEEA

A Equipa de Educação Artística, abreviadamente designada por EEA, da Direção Geral de Educa-ção do Ministério da Educação e Ciência, exerce a sua atividade no âmbito do desenvolvimento curricular da arte na educação pré-escolar e no ensino básico e secundário, assegurando, em particular cinco linhas de orientação, designa-damente:

- A promoção de um plano de intervenção no domínio das diferentes formas de arte em contexto escolar, de modo a formalizar nas práticas educativas os princípios teóricos as-sumidos, neste âmbito, pela Lei de Bases do Sistema Educativo e pelas linhas de orienta-ção definidas pelo Ministério da Educação e Ciência;- A coordenação, o acompanhamen-to, o desenvolvimento de estudos e a propos-ta de orientações, em termos pedagógicos e didáticos, para a educação artística genérica;

- A promoção de dinâmicas de trabalho sis-temático entre as instituições de cultura e as instituições escolares, facilitando o acesso por parte da escola aos seus diferentes pro-gramas, através da articulação interministe-rial;

- O desenvolvimento de modelos alternativos de formação estética e artística dos profissio-nais de educação em contexto de trabalho, concebendo referentes básicos para a forma-ção inicial, contínua e especializada.

- A identificação das necessidades de recur-sos pedagógicos específicos requeridos para uma melhor aprendizagem na área artística da educação pré-escolar e do ensino básico e secundário.

Neste contexto, a EEA têm-se centrado de modo mais sistemátio na formação de docentes e no desenvolvimento de estratégias que promovam e efetivem a relação entre as instiuições escola-res e as instituições culturais. Estas duas linhas de ação, desenvolvidas em simultaneo, estão consubstantivadas no o Programa Educação Estética e Artística em contexto escolar (PEEA), apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Ao longo de três anos, o PEEA tem vindo a de-senvolver, a nível nacional, as seguintes ações:

Plano de formação no domínio das diferen-• tes formas de arte: Expressão Plástica, Edu-cação e Expressão Musical , Dança e Movi-mento e Drama/Teatro;

Parcerias com museus, teatros, academias, • entre outras instituições;

Através deste plano de ação, o PEEA, pretende atingir, de uma maneira gradual, os seguintes objetivos:

Incentivar a dimensão estética da educação • através da apropriação da linguagem das vá-rias formas de arte, recorrendo aos saberes específicos de cada uma delas, para que de um modo progressivo, se implementem es-tratégias educativas, cujas ações assegurem a articulação curricular, integrando diferen-tes linguagens; fomentando, deste modo, a transversalidade de conhecimentos.

EDUCAÇÃOA Educação Estética e Artística

em contexto escolar

Page 5: Revista AlmadaForma 1

5

Desenvolver ações conjuntas entre as insti-• tuições escolares e as Instituições de cultura, antecipando a cultura como uma necessida-de no processo educativo.

Sensibilizar os docentes e as famílias para • o papel da arte na formação das crianças e para a sua relação com outras áreas do sa-ber.

Estimular o conhecimento do património • cultural e artístico como processo de afirma-ção da cidadania e um meio de desenvolver a literacia cultural.

Na operacionalização do PEEA, tem-se assenta-do num modelo aberto e flexível, não se preten-dendo que este constitua uma «receita» para os docentes, mas no qual se privilegia, de um modo efetivo, os conhecimentos essenciais que cada um deve mobilizar no desenvolvimento curricu-lar das áreas estética-artísticas.

Deste modo, fixaram-se os seguintes pressupos-tos:

Abranger, em primeiro lugar, a Educação • Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico e, progressivamente, outros ciclos de Ensino.

Ser uma ação faseada no tempo e nos con-• textos, abrangendo progressivamente o ter-ritório nacional.

Fomentar um trabalho sistemático entre os • estabelecimentos de ensino e as várias insti-tuições culturais.

Formar, em contexto de trabalho, os profis-• sionais de educação para a aquisição de sa-beres relativos às diferentes áreas artísticas.

Acompanhar os docentes ao longo de um • ano letivo, através de reuniões de acompa-nhamento, nas quais se partilhe o trabalho desenvolvido com as crianças, no sentido deste constituir uma reflexão sobre as práti-cas desenvolvidas.

Avaliar as práticas desenvolvidas pelos do-• centes e inventariar linhas de investigação que sejam relevantes para o aperfeiçoamen-to das práticas na área das artes em contex-to escolar.

Em síntese, apresentam-se no quadro abaixo os eixos de intervenção e áreas de atividade, que, embora apareçam separadamente, são desen-volvidos simultaneamente:

EIXOS INTERVENÇÃO ÁREAS DE ACTIVIDADE

Formalização de parcerias Elaboração de Protocolos

Programa de dinamização de oficinas em contexto cultural e escolar

Elaboração de subprogramas específicos

Formação em contexto de trabalho Oficinas de formação com base no desenvolvimento das práticas com as crianças

InvestigaçãoLinhas de investigação com a participação activa dos diferentes agentes educativos

Materiais pedagógicos Produção de materiais em suportes físico e digital

Metas Curriculares - Educação Artística

Utilização em contexto escolar

Avaliação externa Processo de avaliação por uma equipa de investigadores externos

Page 6: Revista AlmadaForma 1

6

Subprogramas

A Equipa de Educação Artística desenvolve subprogramas em parceria com diversas instituições culturais, acolhe e divulga outros projetos relevantes da sociedade civil, com o objetivo de promover as artes e a cultura no universo escolar. A título de exemplo, enumeram-se alguns subprogramas, cujo desenvolvimento

teve um caráter mais sistemático, a saber:

- Big-Bang: Festival Europeu de Música para Crianças

Este festival é desenvolvido em parceria com a Fábrica das Artes do Centro Cultural de Belém há três anos. Enquadra-se num projeto internacional que envolveu, nesta 3ª edição,

sete países (Bélgica, Portugal, Noruega, França, Hungria, Alemanha e Grécia) e integra vários projetos de artistas nacionais e internacionais na área da Música, com «espetáculos interativos, instalações, oficinas, música de rua, exposição de instrumentos, nas áreas do jazz, contemporânea, experimental, eletrónica, improvisada. Apesar de, o objetivo central ser a música, integra também outras áreas artísticas.

Neste ano, participaram no Festival 50 docentes dos Agrupamentos de Escolas Miradouro Alfazina, Monte de Caparica e Belém – Restelo que frequentaram a formação BIG BANG, à qual foi objeto de avaliação por parte dos docentes tendo, posteriormente, assistido com os seus alunos (500) aos espetáculos realizados no dia 28 de setembro. Ao longo do ano letivo será feito o acompanhamento destes docentes (3 reuniões) por parte da Fábrica das Artes/CCB e do Ministério da Educação e Ciência (DGE), cuja intenção é perceber o modo como os docentes integram a formação na sua prática educativa.

- TIC …Toque na Escola do Futuro

Inscreve-se no PEEA no âmbito da Educação e Expressão Plástica, tendo por base a ligação a arte às tecnologias, utilizando o CDROM 31 Alerta Imagens à Descoberta da DGE /Ministério da Educação e Ciência.

O 31’ Alerta – Imagens à descoberta, assume-se

O PEEA em números…

Ao longo destes três anos, foram envolvidos 45 Agrupamentos de Escolas em Portugal Continental, a Escola Portuguesa de Moçambique, 2.796 docentes, 47.000 crianças, 15 Centros de Formação de Associação de Escolas, 2 Instituição do Ensino Superior, 47 Instituições Culturais e desenvolvidos 15 subprogramas, conforme o seguinte quadro – síntese:

Quadro – síntese

Agrupa-mentos de

Escolas

Docentes Alunos Centros formação

Instituições Ensino

Superior

Instituições culturais

Autarquias Sub pro-gramas

45 + Escola Portuguesa de Moçam-

bique

2.796 47.000 15 2 47 15 15

Page 7: Revista AlmadaForma 1

7

como um recurso educativo ao nível da Expressão e Educação Plástica, manifestando ainda um carácter transversal ao nível das competências gerais estabelecidas para o 1º Ciclo do Ensino Básico.

- InShadow – Festival Internacional de Vídeo, Perfomance e Tecnologias

A segunda edição deste subprograma resulta da parceria com VoArte - Associação cultural para a produção e divulgação das artes, formação e intercâmbio no âmbito do Festival InShadow – Festival Internacional de Vídeo, Perfomance e Tecnologias, o qual pretende «propor imagéticas alternativas suportadas na relação criativa de géneros e práticas artísticas, capazes de suscitar a imaginação e desenvolver precocemente reflexão crítica em torno de temas como a consciência do corpo, leitura de imagens em movimento e do papel da arte na construção de noções estéticas»

- Espetáculos de música: Orquestra Gulbenkian

Vinda de 250 crianças (Pré-escolar, 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico) do Agrupamento de Escolas da Benedita (Alcobaça) para assistir a um ensaio geral da Orquestra Gulbenkian. Do programa do referido ensaio constaram os quatro andamentos (Allegro com brio, Andante, Poco Allegretto e Allegro) da Sinfonia nº 3, Opus 90, de Johannes Brahms.

Algumas pistas de reflexão

No desenvolvimento do PEEA ao longo destes três anos, tem sido possível refletir sobre alguns fatores, que poderão permitir um conhecimento mais aprofundado da realidade das artes na educação e a consequente necessidade da continuidade e aprofundamento da implementação do PEEA. O conjunto de fatores identificados permitem traçar uma leitura das práticas do contexto educativo através das seguintes dimensões, separadas, apenas, por motivos de ordem metodológica:

Dimensão Educativa

• Avaliação – Existe uma subvalorização das

diferentes formas de arte por “não contarem para a «avaliação». Também é praticamente nulo o conhecimento sobre a avaliação em artes. Normalmente, a avaliação é feita em termos de produto final, não se valorizando os processos de aprendizagem ao longo do tempo, nem a sistematicidade de um trabalho assente em rotinas pedagógicas. Deste modo, há necessidade de criar sistemas de avaliação válidos e fiáveis que permitam obter resultados sobre as aprendizagens dos alunos, bem como, aferir da adequação de objetivos, conteúdos, metodologias e estratégias das áreas artísticas.

• Tempo – A identificação da falta de tempo muitas vezes não é uma razão real, visto, por vezes, haver muito investimento de tempo na preparação de festas e comemoração de efemérides, sem que isso possa reverter no desenvolvimento de uma educação estética para as crianças e jovens.

• Idade e contexto familiar – Muitas vezes, estas duas variáveis são abordados numa perspetiva de “determinismo social e pedagógico”, pressupondo-se, à partida, que as crianças de níveis etários mais baixos e de meios socioeconómicos mais carenciados não conseguem aceder ao conhecimento artístico. A investigação científica atual não permite aferir esta conclusão, havendo estudos que apontam em sentido contrário. Também os dados obtidos com a implementação deste Programa indicam que estas duas variáveis não são impedimento ao processo de ensino-aprendizagem no domínio artístico.

• Transversalidade e articulação curricular – A inter-relação entre as diferentes formas de arte não têm intencionalidade, havendo pouca consciencialização dos saberes das diferentes linguagens, gerando-se, assim, uma amálgama de atividades sem significado educativo, servindo as artes como meras ilustrações. Daí, a implementação deste Programa de Educação Estética e Artística seja determinante.

Page 8: Revista AlmadaForma 1

8

• Representações sobre os conceitos – Arte, criatividade, espontaneidade e expressividade. Existe uma grande confusão concetual acerca destes conceitos, fomentando-se abordagens simplistas sobre a arte, tendo como consequência uma prática educativa completamente desfasada dos conhecimentos teórico-práticos nos campos da arte e da pedagogia.

• Instrumentos pedagógicos – As metas a atingir são um fator determinante para o desenvolvimento da formação, por se considerarem claras e ajustadas ao desenvolvimento dos processos integrados: Fruição-Contemplação; Interpretação/Reflexão e Criação/Experimentação, filosofia em que assenta o PEEA.

• Modelo de formação – Este modelo tem vindo a constituir uma vantagem para a prática educativa, por ser claro nos objetivos e nos conceitos que aborda, e por permitir que cada docente trace o seu projeto de trabalho.

Dimensão Orgazionacional

• Liderança – Nos Agrupamentos de Escolas onde existe uma forte liderança e definição de regras claras, por parte dos diretores, o Programa é assumido como uma mais-valia educativa, revertendo em práticas significativas para as crianças e jovens e para a mudança a nível organizacional, por exemplo, uma maior articulação entre ciclos.

• Parceria com as Instituições Culturais – A relação entre as várias Instituições Culturais e os Agrupamentos de Escolas revela-se muito importante para os docentes e para as crianças, pela possibilidade de contactar com os diferentes universos culturais/artísticos e, também, pela oportunidade de estreitar as relações de convivialidade. Nota-se que, muitos dos docentes mantêm uma certa fidelização a determinadas Instituições.

Em Jeito de Conclusão

O desenvolvimento do PEEA tem procurado, em conjunto com todos os docentes, e restantes membros da comunidade educativa, enfatizar a arte como uma área do conhecimento, que alarga as potencialidades do ser humano para a indagação num processo dinâmico de busca. Apesar de, todos poderem ter acesso ao mundo da indagação, torna-se necessário «treinar» a capacidade de procura, através das múltiplas perguntas que se colocam à realidade das «coisas», acreditando que «só se pode ver o invisível se estivermos à procura dele». Este jogo de (in) visibilidades requer conhecimentos prévios, convivência com múltiplas realidades e um trabalho desenvolvido em continuidade.

Coordenação da Equipa - Elisa Marques

Área de Expressão e Educação Musical

António Rocha

Área de Expressão e Educação Plástica

Elisa Marques

Área de Movimento e Drama/ Teatro

Jaime Soares

Área da Dança

Maria Benedita Leão

Page 9: Revista AlmadaForma 1

9

Domingos RasteiroCâmara Municipal de Almada

Na minha qualidade de diretor municipal com responsabilidades nas áreas da educação e da cultura e em representação do município e do Sr. Vereador da Cultura e da Educação é com muito gosto que neste momento de abertura destas conferências que aqui vão acontecer nos próxi-mos três sábados vos dirijo algumas palavras de saudação e de congratulações pelo evento que aqui nos reúne.

Começo por cumprimentar todos os presentes que aceitaram o convite para estar aqui. Cum-primentar os meus colegas desta mesa de aber-tura e na pessoa da Professora Manuela Dâmaso congratular todos os professores, os alunos da escola secundárias do monte de Caparica e de outras escolas do concelho que puseram de pé este evento.

Uma primeira palavra vai para a organização destas conferências em especial para o Centro de Formação da associação de escolas do Conce-

lho de Almada mais especificamente para a sua diretora Dr.ª Maria Adelaide Paredes. Aproveito este momento público para em nome da comu-nidade e do Município de Almada agradecer o trabalho que a Dr.ª Maria Adelaide e o Centro de Formação das escolas de Almada tem desenvol-vido no sentido de contribuir para uma dinâmica em que a comunidade é vista como um espaço vital de vida social onde se configuram múltiplas e complexas relações e interações sociais.

A escola, os professores, os projetos, as associa-ções, os saberes, são elementos fundamentais para o enriquecimento de uma comunidade humana que interage num dado território. Obri-gado pela sua entrega, pelo seu empenho, pelo seu saber fazer, pela condição de cruzar pesso-as, ideias e projetos. É uma tecedeira incansável desta rede, desta malha que marca o nosso terri-tório humano e institucional. Bem-haja por isso.

Dirijo uma segunda palavra para todos aqueles que se dispuseram a vir trazer as suas ideias, reflexões, conhecimentos e experiências a este conjunto de conferências, fazendo deste espaço um lugar de partilha, de construção de um co-

EDUCAÇÃOEducação, arte e cidadaniaO diálogo entre as artes

Page 10: Revista AlmadaForma 1

10

nhecimento novo multidisciplinar ou até trans-disciplinar por aquilo que se pode construir, de novo, pelo diálogo das várias artes, dos vários artistas e especialistas. Uma referência parti-cular a presença do escultor Francisco Simões, também professor, e ligado por nascimento ao nosso concelho, 1º Vereador da Cultura da Câ-mara de Almada depois do 25 de abril e patrono de uma das nossas escolas. Muito bem-vindo.

A este propósito arrisco a dizer alguma coisa no cruzamento da Educação, da Arte e da Cidada-nia. A educação e a arte são indissociáveis no processo formativo numa aceção ampla em que a educação está muito para além do que é aca-démico e ganha uma dinâmica de sociabilidade como mediação do individuo com o mundo que o rodeia. Um mundo cada vez mais complexo, mais diverso, mais global em que o sentido de interpretação e perceção da realidade são es-senciais para uma participação ativa e esclare-cida no mundo social. A educação tem neste contexto uma importância central no sentido de aprendermos a viver juntos, ganhando uma di-mensão de cidadania primordial nas sociedades pós modernas.

A arte e a cultura são parte desse processo, de educação permanente, que procura pelas vi-vências, pelo acesso, pela fruição, pelo contacto com a arte, pela contemplação, pelo sentido de observação, pela educação estética valorizar um processo de desenvolvimento humano que fa-voreça a capacidade de comunicação, o sentido critico, a criatividade, a participação critica.

É por isso muito importante que os agentes da educação, os pais, os professores, as famílias, os artistas, as autoridades locais se envolvam, se interessem por este tema, por esta problemáti-ca. Pela nossa parte, município de Almada, estas preocupações estão muito presentes nos pro-gramas dos nossos equipamentos cultuais, nas atividades dos nossos serviços educativos pois as galerias, as salas de exposições, os ateliers, os museus são espaços para essa aprendizagem, para a construção desses cidadãos livres, escla-recidos, com cultura e com vontade de intervir

no mundo que os rodeia. Razão última que justi-fica, e muito, a tão criticada intervenção do esta-do nas artes e na cultura.

Obrigado a todos vós por abrirem este espaço público de debate de aprendizagem coletiva. Ficamos a aguardar com expectativa as conclu-sões que de certeza nos vão ajudar a melhorar o nosso trabalho pedagógico, educativo e social.

Finalmente não poderia deixar de dedicar uma última palavra aos professores que aqui estão em grande número. Para lhes deixar uma pa-lavra de apreço, de ânimo e de agradecimento pelo trabalho quotidiano que desenvolvem nas escolas, em particular nas escolas do nosso con-celho.

Com escrevia num artigo, muito recente, um amigo e um grande especialista das ciências da educação, o prof. João Ruivo, e cito “os profes-sores portugueses não vivem momentos facilita-dores do desabrochar da ilusão, da fantasia cria-dora e da utopia que leva à vontade de vencer”, ou então na expressão tão adequada de Francis Fuller “curva ou estádio do desencanto”. Nestes tempos difíceis para todos não podemos esque-cer ou menosprezar este grupo profissional tão decisivo do presente e do futuro das sociedades humanas. Esquecer isso pode ser um erro fatal.

Sabemos, temos mesmo a certeza, que o traba-lho do professor é incontornável é insubstituível. A qualidade do seu trabalho é um bem social e de progresso do qual depende qualquer socie-dade avançada. Esse é um capital único do qual não vamos abrir mão.

Termino de novo com a ajuda de João Ruivo “ a vós devemos uma boa parte do que somos e do que ainda queremos vir a ser”. Sabemos, temos mesmo a certeza, que o trabalho do professor é incontornável é insubstituível. A qualidade do seu trabalho é um bem social e de progresso do qual depende qualquer sociedade avançada. Esse é um capital único do qual não vamos abrir mão.

Comunicação apresentada nas Conferências do Convento dos Capuchos a 4 de Maio 2013

Page 11: Revista AlmadaForma 1

11

Madalena MendesAgrupamento de Escolas Romeu Correia

O projeto Mundos em Diálogo é dinamizado por uma equipa que integra o Agrupamento de Escolas de Romeu Correia em estreita articulação com a Câmara Municipal de Almada - Divisão de Bibliotecas, Casa da Cerca e Solar dos Zagallos - e o Instituto de Conservação da Natureza - Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica e Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos.

O projeto procura pôr em diálogo diferentes domínios do saber, quebrar fronteiras e barrei-ras entre visões tradicionalistas de olhar a di-versidade cultural e a biodiversidade ambiental, juntar mundos diversos e diferentes e cruzá-los num processo de aprendizagem e de enriqueci-mento recíprocos com vista à assunção de ações de co-responsabilização, de participação e de cidadania ativa.

O projeto tem como objetivo central desenvolv-er processos de intervenção e conscientização crítica, na esteira da reflexão-ação, em torno do reconhecimento da importância da relação intrínseca entre biodiversidade e diversidade cultural, entendidos na sua totalidade. Busca-se desenvolver processos de participação ativa na construção de um mundo naturcultural mais sustentável e inclusivo através do envolvimento dos alunos e dos atores educativos em trabalhos de articulação e construção coletiva do conheci-mento e de intervenção nas suas comunidades.

A aposta educativa na construção de uma abor-dagem integrada e holística dos elementos patri-

moniais - naturais e culturais - acontece no con-texto privilegiado da cidade de Almada, cidade educadora e do conhecimento.

A leitura e interpretação dos (con)textos faz-se a partir da sensibilização e valorização do património ambiental - Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica e a sua Reserva Botânica da Mata dos Medos (ICNB) - e da diver-sidade cultural pluri-identitária e patrimonial da cidade de Almada e das suas gentes, em diálogo com outros contextos nacionais e globais.

O projeto enquadra-se no espírito dos principais documentos orientadores de política local (Esco-las e Agrupamentos - PAA, PEE, PCT-; Município - Carta Educativa, PAC, Agenda Local 21), e in-ternacional, - ONU - ODM, Agenda 21; Conselho da Europa - Educação para a Cidadania Global; UNESCO - Património), promotores da valoriza-ção da qualidade do ensino, da educação e do conhecimento, da biodiversidade e da diversi-dade cultural, do património cultural, e da cida-dania global.

Inscreve-se, igualmente, nas celebrações do Ano Internacional das Florestas 2011 e do Ano Internacional do Morcego 2011-2012 e da Década da Biodiversidade (2011-2020).

O projeto pretende criar na Escola e na comunidade educativa espaços e tempos de diálogo e intervenção, através do envolvimento dos aluno(as)s na concepção e realização de trabalhos e atividades, permitindo-lhes articular saberes de diversas áreas disciplinares e desenvolver competências de forma integrada e contextualizada a partir da sensibilização e aprofundamento do mundo naturcultural (Haraway) em que são atores.

COMUNIDADEMundos em Diálogomundos.em.diá[email protected]

Page 12: Revista AlmadaForma 1

12

Visitas Estudo Percursos Interpretativos • Mata Nacional dos Medos

Visitas de Estudo Casa da Cerca•

Percursos Interpretativos (Comunidade • Educativa)

Conferências, Colóquios, Encontros•

Cursos, Oficinas, Ateliers, Teatro•

Declamação de poesia, leitura de textos/• imagens, dança, música

Exposições, Concursos, Construção de • Mural de Azulejo

Construção de Painel de Azulejos, Desenhos • e Pinturas na Casa da Cerca

Construção de herbário •

Construção de materiais em Braille e de • recursos educativos táteis para alunos cegos e de baixa visão

Construção de folhetos de divulgação do • património ambiental e cultural

Construção de jogos matemáticos•

Construção de uma peça musical em Rap•

Construção de Peças musicais em Rap sobre • os morcegos e a temática do amor e da amizade

Execução do Jardim dos Leitores na Casa da • Cerca

Execução de um Jardim na Escola Se-• cundária de Romeu Correia com espécies da Mata dos Medos

Exploração do ano Internacional do • Morcego

Sobre a Mata dos Medos•

Sessões filosofia para crianças a partir da • animação “A maior flor do Mundo” de José Saramago

Trabalho de Investigação sociológica sobre a • Moda e os 3 Rs

Sessão Pessoa ao Cubo•

Atividades Desenvolvidas

Page 13: Revista AlmadaForma 1

13

COMUNIDADEImaginArte AlmadaNovembro - Mês da Fotografia

José L. GuimarãesAutor do Projeto

ENTIDADES PROMOTORAS: AlmadaForma / CFAECA - Centro de Formação da Associação de Escolas do Concelho de AlmadaF4 - Associação de Imagem e Cultura

O projeto tem vindo a desenvolver, há mais de uma década, uma ação centrada na inovação tecnológica do processo de criação fotográfico, em paralelo com outras artes visuais (a pintura, a escultura, a cerâmica, o cartoon, a caricatura e, mais recentemente, num desafio contemporâneo, à instalação, performance, vídeo) e a literatura.

Os objetivos iniciais permanecem pela sua vital importância: preservar, conservar o património concelhio e sensibilizar o público de Almada, em particular os jovens em idade escolar apoiados por professores, a contrastar os modos do fazer artístico, pelo fazer próprio, complementando-o por palestras, performances e, assim, apurando o sentido crítico na observação do que é depois exposto e publicado em diferentes suportes.

Toda a ação das anteriores Bienais de Fotografia I, II, III, IV e os eventos que se concretizaram no Mês da Fotografia (Novembro) apenas foram possíveis, devido ao empenho e apoio de autarcas das Juntas de Freguesia e Câmara Municipal e das parcerias, entretanto criadas. No momento difícil de redução orçamental que vivemos, aqui deixamos a homenagem a todos os que acreditam neste legado de identidade comunitária.

In “Relatório de Atividades novembro Mês da Fotografia ImaginArte Almada“ -

Conceição Arsénio

Concurso de Fotografia e Vídeo em parceria com os SMAS de Almada

Exposições integradas no Mês da Fotografia ImaginArte Almada, realizadas na Galeria Municipal de Arte de Almada (nov 2011 e 2012)

Page 14: Revista AlmadaForma 1

14

ImaginArte AlmadaBienais em 2001,

2003/4, 2006/7 e 2009

Galeria Municipal de Arte de Almada 2010

Álbum de Acenos (2001)

FotoGrafias (2003)

FotoLeituras (2006)

(Re) fluxos (2009)

Auditório da Casa da Cerca Arthur Meyerson 22out2010

Alguns destaques de exposições integradas no ImaginArte Almada e realizadas na Galeria Municipal de Arte de Almada

2001 2003 2006 2009

Page 15: Revista AlmadaForma 1

15

O Projeto ImaginArte Almada mantém as finalidades iniciais, já suficientemente validadas pela experiência anterior:

Promover o gosto pela fotografia;•

Sensibilizar para modos de ver na criação • fotográfica;

Apoiar a reflexão e a crítica no sentido • estético;

Fomentar a fusão de leituras entre a • fotografia e outros atos criativos;

Valorizar novos percursos de conceção • e realização de materiais com recurso às novas tecnologias de informação e comunicação;

Contribuir para a preservação do • património;

Incrementar a produção e preservação de • espólios fotográficos;

Assegurar o reconhecimento do direito de • autor dos fotógrafos.

Origens do Projeto

Na sequência do trabalho realizado, a partir da década de oitenta, junto da Comunidade em Almada, dinamizando e apoiando ações em diversos locais e especialmente nos estabelecimentos de ensino deste Concelho, (através de Colóquios, Exposições, Workshops, Concursos, Intercâmbios de Experiências e Ações de Formação).

Esta atuação tornou também evidente a necessidade de preservar e conservar a identidade deste Concelho através de registos fotográficos, ação alicerçada na experiência e no saber consolidado do técnico José Pessoa e da Instituição onde exercia a sua atividade profissional, a Divisão de Documentação Fotográfica do Instituto Português de Museus.

80 e 90 - Ação Preliminar

Eventos (colóquios, exposições, workshops, concursos, visitas guiadas, intercâmbios de experiências e ações de formação) promovidos e/ou dinamizados pelo autor do projeto, José L. Guimarães, com José Pessoa com as seguintes entidades e personalidades:

Faculdade de Ciências e Tecnologia da • Universidade de Nova de Lisboa (Monte de Caparica)

Câmara Municipal de Almada •

Escola Secundária Fernão Mendes Pinto•

Externato Frei Luís de Sousa•

Divisão de Documentação Fotográfica do • Instituto Português de Museus – Galeria Municipal de Almada

Workshops e diversos Colóquios, (Fritz • Meisnitzer e Prof. Rogério Ribeiro).

2000 a 2010 - entidades apoiantes e promotoras

Câmara Municipal de Almada•

Juntas de Freguesia do Concelho de • Almada

F 4 – Associação de Imagem e Cultura•

Page 16: Revista AlmadaForma 1

16

COMUNIDADEArte na Rua

Projeto fronteiras urbanas e educação comunitária

João MoreiraMônica Mesquita

O Projeto Fronteiras Urbanas, subsidiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e apoiado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, é fruto do Movimento Fronteiras Urbanas – movimento comunitário que nasce da união de cidadãos voluntários, moradores ou não da Costa de Caparica, que têm em comum o raio de desejo e ação em duas comunidades centrais desta freguesia: Comunidade Piscatória e Comunidade Bairro. O mesmo tem como objetivo formal central a sistematização da educação comunitária inserida nestas comunidades, numa metodologia etnográfica crítica, e abarca três tarefas essenciais solicitadas por membros das mesmas, sendo elas: Alfabetização Crítica, Cartografia Múltipla e Histórias de Vida. Porém, salienta-se que o verdadeiro objetivo assenta na emergente tarefa de dar voz e visibilidade aos pescadores locais, bem como desbravar caminhos para que o Direito à Água seja exercido no bairro (afinal, mais de 100 famílias urbanas ali vivem sem água nem saneamento básico).

A Comunidade Académica inseriu a Mediação Comunitária com uma ação transversal neste projecto e destaca-se pelas parcerias desenvolvidas intra e entre diversas comunidades. A aprendizagem na sua pluralidade e diversidade tem-se mostrado a principal ferramenta de integração, expansão, consolidação e amor do projeto ao longo destes anos.

Na realização de todas as tarefas dentro do projeto, a arte tem sido o mote organizador e impulsionador – mostrando-se e firmando-se como transcultural. Buscamos nas diferentes

formas de arte, e na diversidade inserida nesta formas, conhecimentos tácitos para explorarmos novos conhecimentos do eu, dos outros, bem como do entorno histórico-sócio-

político-ambiental-cultural. Nestes exercícios destacamos uma experiência que tem sido fomentada pelo artista João Moreira, uma vez por semana, num atelier móvel e a céu aberto, na Comunidade Bairro.

Nesta proposta de estar com, fazer com e aprender com, João Moreira destaca-se pela simplicidade, originalidade, eficiência, carinho e empenho com que tem desenvolvido este atelier que, desde o tempo que era Educador no Projecto D.A.R. à Costa – Tr@ansFormArte (lugar que forneceu os primeiros contactos com os atores, ou melhor, artistas, desta comunidade), sempre foi um objetivo da sua vida.

O atelier móvel quando entra na Comunidade Bairro, nas tardes de terça-feira, revela todo o destaque acima descrito, com a chegada dos artistas – em sua maioria crianças que se encontram sem creche, com um sorriso

no rosto e abraço apertado no amigo João.

Page 17: Revista AlmadaForma 1

17

Pensado para atuar com crianças, hoje em dia o atelier do João é um espaço de encontro de todos para todos, um espaço de esperança, de amor e, especialmente, de reconhecimento.

O espaço desenvolvi-do pelo artista João Moreira é um exemplo de voluntariado que modifica as caracterís-ticas do ato de volun-tariar, transformando este ato em bilateral, mostrando que o vo-

luntariado transcende preconceitos revelando-se como um ato de ser e estar neste novo milênio.

O voluntariado, neste caso, pode ser entendido como o resgate de valores e ética do ser humano, da aproximação dos seres, do convívio do todo.

Assim, ficamos com as palavras do João Moreira:

Não me sinto muito confortável com a palavra voluntário para falar dos momentos que passo na Comunidade Bairro, não sei quem ajuda quem. Digamos que troca amorosa seria mais apropriado para descrever o meu voluntariado.

Fui para o bairro em Setembro de 2011, depois de uma pausa do trabalho desenvolvido no projeto D.A.R. à Costa, projeto esse no âmbito do Programa Escolhas. Tinha já, há muito tempo, a noção que o trabalho comunitário devia ser realizado na e com a comunidade. Não foi difícil começar a trabalhar: tinha os meios, a vontade e a convicção que para as crianças (e não só) seria positivo do ponto de vista da estimulação cognitiva , afetiva e da auto-estima.

Os momentos são preenchidos de várias formas: pintando, lendo ou “simplesmente” conversando. No entanto, o essencial deste trabalho

comunitário, ou melhor deste ato, é a atenção: o ato de estar atento aos nossos semelhantes.

E esta tem sido a nossa Arte na Rua!

A Ameaça| 2012João Moreira

O PalhaçoGonçalo | 6 anos

Umar | 4 anos

Page 18: Revista AlmadaForma 1

18

ESCOLAArtes na Escola

Secundária do Monte de Caparica

Maria LourençoDocente de Desenho|História da Cultura e das Artes

A escola é um lugar de encontros, um ponto de partida para inúmeras descobertas.

A Educação Artística como caminho de diálogo entre alunos e professores, amplia o conheci-mento do mundo pela constatação de realida-des e aplicação de conceitos suscetíveis de de-senvolverem a sensibilidade e a criatividade.

Os indivíduos capazes de inovar são fundamen-tais para progredirmos como seres humanos, num mundo de questões por resolver. As solu-ções criativas são evidências de sensibilidades, com capacidade de resposta.

Como mais valia na formação do indivíduo, a Educação Artística é um meio privilegiado de atuação que deve influenciar atitudes e respei-tar valores. Subestimar a função da Educação Artística no ensino é desvalorizar o papel do in-dividuo na sociedade e diminuir o seu potencial humano de relação com os outros.

“A escuela puede y debe cumplir basi-camente três funciones: socializadora, instructiva y educadora.”

“Arte para todos, Miradas para enseñar y aprender el

património”

Merillas, O. Fontal

Narrar experiências no terreno é olhar para trás e pensar, nos programas que temos de respeitar, nos princípios que nos movem, ou nos ritmos que nos assistem.

Os objetivos são peças fundamentais de um per-curso que se pretende evolutivo. Sem eles não existia sentido e organização.

Dentro do curriculum de Artes Visuais do ensi-no secundário, disciplinas como o Desenho ou a História da Cultura e das Artes são essenciais para desenvolver competências nas áreas artís-ticas e ampliar saberes tendo como perspetiva o ingresso no ensino superior ou em cursos de caráter profissional. Modos de execução ultra-passados devem ser repensados sobretudo nos primeiros ciclos, onde se deve privilegiar a ex-pressão artística liberta de estereótipos.

Ensinar é um ato de prazer se o professor conse-gue sentir empenho por parte dos alunos, o que é possível através de aprendizagens motivadoras e atividades que promovam e valorizem os tra-balhos produzidos durante o ano letivo.

Enaltecer o desempenho dos alunos é aumentar níveis de confiança e de propensão para fazer mais e melhor.

A interdisciplinaridade e a pesquisa são desen-volvidas a partir do desenho, porque a observa-ção permite descobrir e atingir novos saberes, além das aprendizagens inerentes à disciplina, originando novas formas de olhar e representar.

Para além dos objetivos específicos, enunciados nos programas das disciplinas, elaborados pelo ministério da educação e que se relacionam com os conteúdos a lecionar, realço objetivos gerais que, de caráter mais abrangente se enquadram no Projeto Educativo de Escola (PEE) e no Plano Anual de Atividades (PAA).

Desenvolver competências nas áreas artísti-• casSensibilizar para o património• Ampliar o gosto pela pesquisa• Formar cidadãos conscientes e interventivos• Desenvolver relações com a comunidade• Criar públicos culturais. •

Page 19: Revista AlmadaForma 1

19

A nossa atuação, com base nestes princípios, adequa os programas de modo a facilitar ativi-dades que envolvam os alunos e encarregados de educação, porque através de uns podemos chegar aos outros.

“A imaginação, a criatividade e a ino-vação estão presentes em todos os se-res humanos e podem ser alimentadas e aplicadas.”

“Roteiro para a Educação Artística” Comissão Nacional da Unesco

A relação com os encarregados de educação não deve perder de vista o carater pedagógico, pois muitos pais apresentam por vezes uma visão dis-torcida e ultrapassada de práticas, nas quais não foram iniciados e que consideram poder avaliar tal como o professor.

É importante explicar e fazer sentir a necessi-dade de acompanhar o aluno através de uma presença empenhada e em diálogo com o pro-fessor de modo a contribuir para a progressão das aprendizagens. Um aluno com dificuldades, se acompanhado com estratégias concertadas entre professor e encarregado de educação tem mais possibilidades de êxito.

Não é na escola que se criam obras de arte nem é essa a intenção, no entanto é ai que se apreen-dem os processos que levam a realizações cujo poder criativo é desenvolvido mesmo naqueles que não apresentam a priori talento para certas atividades.

Não devemos pretender criar artistas, mas am-bicionar educar e instruir cidadãos conscientes, com valores humanos, juízo critico e capacida-des de decisão e intervenção.

Os órgãos dirigentes das escolas, devem apoiar atividades, que facilitem as aprendizagens num clima de confiança e boa disposição.

O conceito de escola não se deve resumir ao espaço murado, mas estender-se para além dele, aos locais onde se possa observar o que se

aprende nos livros.

“O ambiente educativo tem de ser alargado para fora da sala de aula. A criatividade também tem de ser con-textualizada”

“Roteiro para a Educação Artística”Comissão Nacional da Unesco

Durante o ano letivo o grupo de Artes Visuais di-namiza atividades que, baseadas nos conteúdos a lecionar envolvem os alunos, encarregados de educação e comunidade em geral, contribuindo assim para o enriquecimento cultural e artístico de quem participa.

A escola está inserida num meio sócio económi-co muito heterogéneo, onde o multiculturalismo a carateriza e enriquece. Os alunos provenientes de estratos sociais diferenciados sociabilizam sem preconceitos.

Sensibilizar os educandos para as atividades culturais e artísticas e convidar os encarregados de educação a participar, é induzir hábitos que muitos não têm, por questões económicas ou por dificuldades de horário, pois o mundo do trabalho não permite, cada vez mais, “espaços” essenciais à descompressão.

Com o apoio de museus, empresas, câmaras municipais e outras instituições os professores organizam e divulgam atividades, conscientes desta ser uma estratégia para manter o curso Científico Humanístico de Artes Visuais na es-cola, pois em determinado momento esteve em risco de acabar.

Os projetos organizados durante o ano letivo concorrem para marcar a diferença entre esta-belecimentos de ensino e justificam as práticas, complementando saberes e atuações.

A preocupação com o ensino das artes e o seu contributo para fazermos mais e melhor é um princípio orientador a que, desde sempre nos propusemos.

A imaginação e a criatividade são fontes inesgo-táveis, que nos permitem ambicionar a diferen-ça.

Page 20: Revista AlmadaForma 1

20

Conferências do Convento dos Capuchos

“Educação, Arte e Cidadania, o diálogo social”

O centro de formação de professores Almadaforma residente na nossa escola é um importante par-ceiro para a realização de eventos culturais. O gosto pela participação conjunta, levou a que de uma conversa informal a partir de um livro “Arte e Delinquência”, lançado pela Gulbenkian, e de outro “Arte e cidadania” do Dr. Laborinho Lúcio, e de um espaço disponível, Convento dos Capuchos, organiza-se-mos as conferências.

Os espaços são sítios de memórias, repletos de significado, despertam emoções e sentimentos. Lu-gares de magia, com os quais a comunidade se identifica, porque fazem parte da sua história… são uma referência, uma reflexão sobre o passado, uma provocação ao pre-sente.

Sem movimento são mundos desa-parecidos, que estáticos no tempo não nos deixam de desafiar. Mas os lugares, que permanecem para além de nós, devem voltar a ter vida. De-vem pertencer à comunidade, serem palco para o confronto de ideias, para estimular diálogos e discussões.

Conceber atividades onde a comuni-dade se reveja, tem sido uma das sa-ídas possíveis para a revitalização de espaços que sem ocupação transfor-mam – se em locais vazios e em vias de degradação.

As atividades culturais são um meio integrador de toda uma sociedade, rica em diferenças que desperta fe-nómenos de aculturação, pela mescla de conhecimentos que integra.

O fenómeno artístico é sem dúvida, integrador e um desafio para que as pessoas, ampliem horizon-tes, desenvolvam sensibilidades e desfrutem de momentos bem passados.

A arte e educação foram o pretexto para o encontro de personalidades cujas afinidades e interesses se manifestam, através das obras que criam.

O comunicar através da palavra e da imagem, o desfrutar de objetos, onde se comparam perspetivas e se debate o amanhã.

Num momento em que a sociedade se interroga decidimos debater a educação artística no sistema educativo e o seu papel fundamental na formação dos cidadãos.

Page 21: Revista AlmadaForma 1

21

ESCOLARemake de Obras de ArteDesign Gráfico na Escola Secundária de Cacilhas-Tejo

Paula PenhaEscola Secundária de Cacilhas-Tejo

A educação artística estimula a construção da identidade pessoal e permite o desenvolvimento das capacidades intelectuais, sociais e culturais do indivíduo. Através da análise e interpretação da obra de arte é possível o desenvolvimento de várias competências de comunicação como a resolução de problemas de modo criativo, o pensamento crítico, a formulação de opiniões e juízos de valor.

O recurso à obra de arte na edução artística apresenta variadíssimas possibilidades de explo-ração, em diversos campos de ação. Tendo como ponto de partida a reinterpretações de obras de arte através da fotografia, o projeto “Remake de Obras de Arte” foi desenvolvido por alunos do Curso Profissional Técnico de Design Gráfico da Escola Secundária de Cacilhas-Tejo, no âmbi-to da disciplina de Oficina Gráfica – Módulo de Fotografia. Os remakes de obras de arte através de fotografia foram já explorados por diversos artistas contemporâneos como Cindy Sherman, Yasumasa Morimura, Thomas Couture, Eleanor Antin ou Vic Muniz.

A ideia inicial do projeto de fotografia surgiu como consequência das dificuldades técnicas e à falta de equipamento adequado, como uma

máquina fotográfica manual. Na impossibilidade de explorar características técnicas da fotografia, tais como profundidade de campo e velocidade, optou-se por apostar na encenação de uma ses-são fotográfica onde os alunos teriam que coor-denar o guarda-roupa, cenários e iluminação de modo recriar o ambiente de uma obra de arte.

A realização da primeira edição do projeto (2009), desenvolveu-se sobre o pretexto da cria-ção de uma campanha publicitária de uma mar-ca de sumos. A turma de 14 alunos foi dividida em 5 grupos (com 2 a 3 elementos); cada equi-pa foi responsável pela conceção da campanha, produção fotográfica e tratamento de imagem. Este trabalho envolveu a colaboração de toda a turma, uma vez que cada aluno para além de ser responsável pelo produto final da sua equipa, participou nas sessões fotográficas dos restantes grupos (como modelo).

A seleção das obras foi da responsabilidade de cada equipa que, baseando-se nos conhecimen-tos adquiridos na disciplina de História da Cul-tura e das Artes, escolheu a obra mais adequa-da ao seu conceito. As obras escolhidas foram: “Adão e Eva” (1533) de Lucas Cranach, o velho, “Almoço na Relva” (1863) de Édouard Manet, “A Leiteira” (1658) de Johannes Vermeer, “A Liber-dade Guiando o Povo” (1830) de Eugène Dela-croix e “A Última Ceia” (1495-1498) de Leonardo da Vinci.

Figura 1 – Trabalho baseado na obra “Almoço na Relva” (1863) de Édouard Manet

Figura 2 – Trabalho baseado na obra “A Última Ceia” (1495-1498) de Leonardo da Vinci.

Page 22: Revista AlmadaForma 1

22

Em 2012 foi realizada uma nova versão do pro-jeto, com uma nova turma, desta vez incidindo na reinterpretação da obra de arte e na sua re-lação com os dias de hoje e a nossa sociedade. Neste caso, para além de ser possível utilizar equipamento adequado e explorar as caracte-rísticas técnicas da fotografia, o projeto contou com o apoio da disciplina de História da Cultura e das Artes na análise das obras de arte. Assim, a turma de 12 alunos, formou 4 equipas de 3

elementos, tendo sido selecionadas as seguintes obras: “A lição de anatomia do Dr. Tulp” (1632) de Rembrandt, “As meninas” (1656) de Veláz-quez, “A jangada de Medusa” (1818) de Théodo-re Géricault e “Uma tarde de domingo na ilha de Grande Jatte” (1884) de Georges Seurat. A par da edição anterior, cada equipa foi responsável pela concetualização da imagem, produção fo-tográfica e tratamento de imagem.

A realização deste projeto permitiu lançar um novo olhar sobre a obra de arte, fomentando o traba-lho de equipa que exigiu, na maioria das vezes, a colaboração e coordenação de toda a turma. Foi um trabalho que requereu uma grande dose de concetualização e planeamento, incluindo, em ambas as edições, a realização de algumas sessões fotográficas no exterior da escola e fora do horário escolar. Foi ainda necessária uma elevada atenção ao pormenor para que todos os requisitos fossem cumpri-dos, tais como o enquadramento, os cenários, os adereços e a iluminação.

Figura 3 – Trabalho baseado na obra “A jangada de Medusa” (1818) de Théodore Géricault

Figura 4 – Trabalho baseado na obra “Uma tarde de domingo na ilha de Grande Jatte” (1884) de Georges Seurat

Page 23: Revista AlmadaForma 1

23

Elsa PinheiroAgrupamento de Escolas Romeu Correia

Os jovens devem ter acesso ao património cultural não só como espetadores, mas usufruindo da experiência estética e artística que contribuirá para apurar a sua sensibilidade e formá-los como indivíduos nas vertentes cognitiva, afetiva e social. Deste modo, a dimensão estética deve ser introduzida na educação como componente integradora do conhecimento, procurando proporcionar experiências de aprendizagem variadas, em diferentes contextos. Deste modo, poder-se-ão desenvolver e potenciar essas capacidades, através dos diálogos sugeridos pelas obras de arte, visitas de estudo, concursos e a realização de oficinas artísticas, tendo sempre como principal referência o desenvolvimento de capacidades, de interpretação e o proporcionar de múltiplas leituras da realidade que apelem à criatividade e ao carácter lúdico das suas experiências.

A dinâmica criada pelas diversas atividades, centradas na competência expressiva, ajudam a estimular e a desenvolver a capacidade de relacionar e sintetizar, ou seja, a capacidade de pensar.

Para se responder às necessidades da educação/formação, devem ser asseguradas competências e áreas disciplinares que permitam uma gama mais diversificada de oportunidades

de aprendizagem que, consequentemente, conduzam e assegurem o equilíbrio entre as dimensões pessoal, cultural e cívica. Desta forma, a educação pela Arte e para a Cidadania serão fundamentais para a consecução de tais princípios. Neste contexto, é importante salientar os cursos de Educação Formação que englobam na sua estrutura curricular essas áreas disciplinares e uma Componente de Formação Técnica com uma forte carga horária (1026 horas), permitindo a concretização de vários projetos. Refiro-me, nomeadamente, ao Curso de Pintura de Azulejo – CEF, que tenho vindo a lecionar estes últimos anos.

A educação artística entendida como prática duma ação educativa global, constitui a base duma metodologia capaz de conduzir à libertação, à estruturação e inserção do indivíduo, facilitando, ao mesmo tempo, a conquista do seu equilíbrio físico, intelectual, moral e social. Como estratégia, procura-se um desenvolvimento transversal onde o carácter interdisciplinar estará sempre presente, como realidade que potencia o trabalho desenvolvido dentro de cada área disciplinar.

Importa ainda referir que as atividades se realizam ”de dentro para fora”, começando no próprio aluno, depois alargando-se à Escola e, por fim, ultrapassando os limites físicos do recinto escolar, fazendo chegar a mensagem à comunidade.

ESCOLAEducação, Arte e CidadaniaPartilhar modos de Ver, Ser e Sentir

Page 24: Revista AlmadaForma 1

24

ESCOLATrajes Dáquem e Dálem

projeto com uma turma de Educação e Formação de Adultos

Domitila CardosoEscola Secundária Cailhas-Tejo

No ano lectivo de 2009/2010 a turma B do Curso de Educação e Formação de Adultos (EFA) B2 (6º ano) de tipo escolar participou no projeto “Tra-jes daquém e dalém” promovido pelo Serviço Educativo do Museu do Oriente.

Este projeto visava promover a reflexão sobre uma matéria de caráter universal – o traje – fo-mentando a troca de experiências e ideias na sala de aula. Pretendia-se também estimular a criati-vidade, contribuindo para o desenvolvimento de um espírito crítico e recetivo ao outro.

Esses objetivos estavam de acordo com as metas do Plano Anual de Atividades da ESCT, concreta-mente nas seguintes atividades: (i)Organização de atividades de enriquecimento cultural e cívico e (ii)Representação da escola em (…) iniciativas externas. Também o Tema de Vida “Multicultu-ralidade” trabalhado pela turma B se adequava à integração do projecto Trajes daquém e dalém.

Foram realizadas algumas atividades de motiva-ção/pesquisa, devidamente integradas na pla-nificação do Tema de Vida da referida turma, a saber:

• Visita guiada ao Museu do Oriente;

• Visita guiada à Exposição Japão Contem-porâneo, Fórum Municipal Romeu Correia – Almada, com imagens de aspetos signifi-cativos da cultura e identidade nipónicas;

• Visualização do Filme Memórias de uma Gueixa, baseado no livro do americano Ar-thur Golden, sobre a cultura japonesa;

• Pesquisa na Internet.

Dessa pesquisa resultou a elaboração de postais sobre trajes de várias regiões de Portugal e do

mundo (um por cada aluno) e a construção da imagem de uma Gueixa (trabalho realizado em grupo).

Na elaboração de postais foi usado o processa-dor de texto. Depois foram impressos em cartão colorido e aplicados tecidos e outros materiais sobre as imagens.

Na construção da imagem da Gueixa foi usada a técnica de gesso sobre arame e houve um es-pecial cuidado na pesquisa e elaboração do qui-mono.

“O quimono, semelhante a um longo roupão, é uma indumentária tradicional japonesa utilizada por mulheres, homens e crianças. O Quimono da Gueixa é feito de seda bor-dada, com uma faixa ou cinto (obi), termina com um nó nas costas. A palavra Quimono é um neologismo Português para a palavra Ja-ponesa. Kimono - ki -significa (usar) e mono significa (coisa).”

A divulgação dos produtos foi realizada na “Mostra de Escola” e posteriormente na exposição rea lizada no espaço do Serviço Educativo do Museu do Oriente.

Neste âmbito, a turma dinamizou também um atelier “Trajes do Oriente – Construção de uma gueixa…” com atividades de dobragens em pa-

Page 25: Revista AlmadaForma 1

25

pel (origami), que decorreu durante a Mostra de Ensino Secundário e Superior de Almada (maio de 2010).

Uma das caraterísticas dos de Educação e For-mação de Adultos é a grande heterogeneidade das turmas e as incipientes competências de lei-tura, de escrita e do domínio das TIC. Verifican-do-se também, por parte dos adultos, uma baixa auto-estima, muitas desistências, assiduidade irregular,…

Com estas atividades tentámos contrariar esses pressupostos e acreditamos ter contribuído para

o desenvolvimento de uma cidadania responsá-vel e crítica dos formandos e para o conhecimen-to de diferentes realidades e outras culturas.

A turma B envolveu-se, sempre, com entusias-mo em todos os desafios que os seus formado-res lhes lançaram.

A equipa pedagógica que acompanhou o per-curso formativo da turma era composta pelos formadores António Cardoso, Domitila Cardoso, Laura Mascarenhas, Maria Neves Gonçalves e Sónia Mendes.

Page 26: Revista AlmadaForma 1

26

ESCOLAAlunos com Perturbação do Autismo

Unidade de Ensino Estruturado

Fátima VazAgrupamento de Escolas António Gedeão

No ano letivo de 2012/2013 foi criada a Unidade de Ensino Estruturado para Alunos com Pertur-bação do Espetro do Autismo (PEA) – 2º Ciclo.

Esta resposta educativa específica tem por ob-

jetivo melhorar a qualidade de vida da criança/jovem com PEA, aumentando o seu nível de au-tonomia e de participação na escola, junto dos seus pares, sempre que possível, fomentando a sua inclusão na sociedade.

As PEA são disfunções graves e precoces do neu-ro desenvolvimento que persistem ao longo da vida, podendo coexistir com outras patologias.

Apesar da existência de uma grande variação, as PEA caraterizam-se, tipicamente, por uma tríade clínica, segundo Wing (1996) de perturbações que afetam as áreas da comunicação, da intera-ção social e do comportamento.

As respostas pedagógicas e funcionais, da res-ponsabilidade das docentes de educação Espe-cial (Fátima Rocha Vaz e Paula Torrado), com a colaboração de dois assistentes operacionais (Cristina Carvão e Carlos Lopes), dadas a estes alunos, consistem:

Page 27: Revista AlmadaForma 1

27

Áreas curriculares:

Português: Comunicação Oral/Comunicação • Escrita;

Oficina da Língua;•

Área de Integração Sócio Cultural;•

Matemática para a Vida;•

Áreas de Enriquecimento:

Oficina Temática;•

Oficina de Movimento e Dança;•

Oficina de “Artes e Tecidos”;•

Oficina de Jogos;•

Oficina dos Sabores (Confeção de doces, sala-• da de frutas, bolos variados);

Projeto “Conhecer Melhor Almada ”(Visitas •

de estudo ao Museu da Cidade, Museu Na-val, Museu da Música Filarmónica, Biblioteca Municipal de Almada e do Feijó);

Projeto “À Descoberta da Ciência”(Pavilhão • do Conhecimento – Lisboa);

Projeto Virtual “Compartilhando • Saberes”(TIC);

Projeto “Hortofloricultura”(Germinação do • feijão, batata doce, semear salsa, coentros, alfaces, hortelã, …);

Saídas Funcionais (Ida à Farmácia, Mercado, Pa-pelaria, Pastelaria, Restaurante, Bombeiros, Cor-reios, Florista, Supermercado, Carpintaria …);

Atividades Funcionais (Tirar roupa da máquina de lavar, estender roupa, passar a ferro, lavar loiça, secar a loiça, arrumar a loiça, empacotar talheres, varrer, …);

Os alunos têm ainda:

Oficina de Expressão Lúdico-Motora (res-• ponsável a professora de E.F., Anabela Go-dinho);

Oficina da Música (responsável a professora • de Educação Musical, Joana Saraiva);

Natação Adaptada (responsáveis os professo-• res de E.F., Anabela Godinho e Carlos Leal);

Área de Reeducação – Terapia da Fala

Terapeuta da Fala: Alexandra Costa.

Page 28: Revista AlmadaForma 1

28

Ana GonçalvesProfessor de CEF e contadora de histórias

António Candeias Professor bibliotecárioLeonor Mendinhos Professora de Música

Setembro de 2013, Agrupamento de Escolas D. Dinis - Escola E.B. 2,3 dos Pombais. Somos co-locadas nesta escola pela primeira vez, não nos conhecemos. Como parte integrante da nossa componente não-letiva temos um tempo na BE/CRE. É aqui que a história começa!

No dia 16 de janeiro o escritor José Fanha, pa-droeiro da biblioteca veio à escola para uma sessão sobre Leitura. Este foi o mote para o nosso trabalho. Uma, professora dos cursos de

CEF e contadora de histórias e outra, professo-ra de música, este ano, do 3º ciclo. O professor bibliotecário, também novo na escola, resolveu apresentar-nos e logo ali nasceram ideias para a referida sessão.

Contar uma história ou ler um poema de forma criativa! Como poderíamos juntar as nossas ar-tes? Primeiro desafio: o tema – As palavras; se-gundo desafio: escolher a história e/ou o poema; terceiro desafio: juntar a música/sons ao poema escolhido. Fomos então dar asas à nossa criativi-dade! Poema escolhido para a atividade: As Pa-lavras de Eugénio de Andrade. Selecionados os sons que ilustravam o início do poema e a mú-sica que o iria acompanhar, escolheu-se a turma que iria participar (8ºC) e começou o trabalho. A escolha dos sons e dos instrumentos a utili-zar é bastante importante neste trabalho, uma vez que são eles que vão ilustrar sonoramente a história ou poema. Aqui tentou-se utilizar os instrumentos da sala de aula, instrumentos não convencionais, como copos e taças e instrumen-tos que duas alunas já tinham tocado: o violino. Fez-se também um arranjo da Gymnopedie nº1 de Satie para os alunos interpretarem no instru-mental Orff.

Problemas de compatibilidade de horários para nos encontrarmos foram superados com grava-

ESCOLALeitura Criativa

Agrupamento de Escolas D. Dinis

Page 29: Revista AlmadaForma 1

29

ções feitas em casa, um ensaio com a turma, um ensaio geral antes do evento e já está!

Depois deste encontro, o bichinho de voltarmos a trabalhar em conjunto ficou e falou-se logo na Semana da Leitura, em Maio que tinha como tema central, o Mar.

Num processo parecido, escolhemos desta vez, ilustrar sonoramente, um conto de Mia Couto. Para a ocasião, a turma escolhida foi o 8ºB e pu-semos mãos à obra! A música interpretada foi um arranjo da música Brinquedos de António Pinho Vargas, que abria e fechava o conto e, foi tocada por um ensemble de flautas de bisel (so-prano, contralto e tenor). Neste caso, todos os restantes instrumentos eram os da sala de aula que foram tocados de forma diferente consoan-te o que tinham de sonorizar.

Nunca nos conseguimos encontrar para nos juntarmos todos mas mesmo assim não desis-timos.

Os nossos alunos chegaram tensos. Alguns re-laxados, como se a proposta não fosse mais do que uma aula diferente. Um ensaio apenas, en-quanto não chegavam as crianças.

Fizemos duas sessões para os alunos das duas escolas do 1º ciclo do agrupamento. No fim, to-dos terminaram exaustos… mas surpreendidos

com a beleza do trabalho.

Depois deste encantamento, não havia como ficar por aqui. Agora, aguardamos notícias da Biblioteca Municipal, para que as duas turmas possam repetir a experiência, mas para toda a comunidade.

Numa análise informal desta atividade destaca-mos pela positiva: o envolvimento de alunos e professores; a disponibilidade dos professores das escolas do 1º Ciclo do Agrupamento, que se deslocaram à BE/CRE, com os seus alunos; a interdisciplinaridade criada; o trabalho realizado

no sentido da promoção da leitura.

O sucesso da atividade resulta de vários fatores:

O local - a biblioteca é, sem dúvida, um espaço privilegiado de aprendizagem;

O acaso, que juntou duas pessoas que partilham da mesma linguagem;

A escola, que valoriza as artes, nomeadamente a Música (tem um protocolo com o Conservatório D. Dinis e tem a disciplina de Música como Ofer-ta de Escola, no 3º Ciclo).

Esperamos que esta sessão tenha contribuído para a educação estética dos alunos, quer da-queles que participaram, quer dos que assisti-ram.

Page 30: Revista AlmadaForma 1

30

Libânia NazarethDoutoranda na Universidade de Huelva

A multi-referencialidade paradigmática na qual se baseia a pós-modernidade educativa relativa à formação de professores, exige uma atenção centrada na pessoa do professor. Cada professor tem a sua idiossincrasia, a tal personalidade que Sousa (2000) afirma não poder ser deixada ao abandono, porque acima de tudo o professor é uma pessoa. Hoje o sujeito da pós-modernidade tem ao seu alcance, paradigmaticamente falando, a possibilidade de deixar de ser um sujeito-agente, submetido a um sistema, para ser um sujeito-actor, ou mesmo almejar chegar ao sujeito-autor, criador da sua mundividência e por consequência do mundo.

Os afetos em expressão

Criamos a nossa realidade a partir da nossa imagem (…) Somos co-criadores; criador e criatura que se unem na co-responsabilidade da criação, como autores e actores da nossa própria história, no aqui e no agora. Freire (2000:36-37)

O leit-motif inspirador desta ação de formação, denominada “ Comunicação e Expressão na sala de aula - professor transformador…”, tem sido o conto “a bela adormecida”. Alguns formandos empenharam-se em descobrir nas peripécias do conto, analogias e simbologias com o atual momento do ensino e da aprendizagem. Todos os tempos são tempos de despertar do grande sono, para uma consciência mais alargada e por isso mais feliz. A hora chega em qualquer tempo e espaço, às vezes sem aviso prévio. Uma formanda sentia a emergência desse despertar deste modo:

A bela adormecida simboliza o professor, quando inicia a sua atividade profissional, pisando o seu espaço palaciano – a aula, cheio de vida, ideias novas, enérgico e não corrompido pelo sistema, no qual se depositam esperanças…

Mesmo que inconscientemente, a certa altura, o professor “desiste”, entrega-se acomoda-se e é aí que se pica simbolicamente no fuso, o que o leva ao sono profundo, ou seja à ativação de um “piloto automático” que o tolhe, o inibe e o torna incapaz de se recriar ou de se reprogramar e sair do vazio”. Essa sonolência contagia todos os que o rodeiam e criam-se barreiras (florestas de espinhos), praticamente intransponíveis, que o impedem de chegar ao que procurava – o prazer, o amor, o retorno, a comunicação, etc.

REFLEXÃOA Comunicação e Expressão na Sala de Aula

O Professor Transformador

Page 31: Revista AlmadaForma 1

31

Entretanto é o vazio e só o amor e coragem (representados na figura do príncipe) que lhe permitem reconquistar o seu espaço palaciano – a aula – e os seus alunos. Depois de consciencializada a necessidade de mudança, o professor recupera a felicidade e prazer de ser o que é, tornando-se no professor transformador. É preciso acordar e resgatar o ensino, através do amor e da coragem de enfrentar o sistema.”

Recorde-se a etimologia da palavra “escola” que remonta ao prazer de ensinar e aprender e a palavra “aula”, cuja origem remonta a realidades semânticas ligadas a palácio. Originalmente estar em aula, era estar num local palaciano, no interior de um palácio. Em que palácio nos sentamos hoje nas escolas?

O primeiro passo na formação parte de um ato volitivo do próprio formando. A vontade genuína de se abrir à possibilidade de transformar algo em si, numa atitude mais amorosa e empática para consigo mesmo, livre de auto-julgamentos. Como se fosse o príncipe que chega, desperta e resgata através da afetividade. A transformação não se faz sem a componente afetiva, primeiro dirigida a si, depois ao outro e finalmente ampliando-se ao mundo. Esta é uma das vertentes da abordagem humanista na formação de professores, no sentido em que a formação se desenha a partir da pessoa, e não a partir de um projecto sócio-político, sendo a sua finalidade fundamental a atualização da pessoa, com a qual se desenvolve a competência de “ self-actualization”, possibilitando estabelecer objectivos para si próprio, em profunda ressonância com o “auto-conhecimento emocional”, segundo Carvalho (2007:158). É através do aperfeiçoamento desta competência que a pessoa se torna mais autêntica, mais próxima de si mesma, partindo de necessidades ao nível fisiológico, comprometida com o desenvolvimento das suas capacidades, num processo de “crescimento, motivação e necessidade de ser”.

O docente, protagonista essencial nos processos

de mudança, tem de se sentir bem na sua pele, para ser um agente eficaz de transformação.

Quando o professor chega à sessão de formação esgotado e desgastado pela semana de trabalho, mês ou ano, não tem condições físicas para se doar ao processo alquímico da transformação. Como poderá ser transformador, se não vivenciar a transformação no seu interior? A comunicação consigo mesmo, a auscultação e compreensão das suas vozes internas, vai-lhe permitir ser um melhor comunicador com o universo que o rodeia. Se o docente aguarda eternamente diretrizes políticas que sejam portadoras de mudança, acaba por demitir-se das suas potencialidades co-criadoras.

A ação que propomos olha e cuida da pessoa do professor, no sentido de o ajudar a aprimorar os seus sentidos profissionais. Nesta formação, a área eleita para a transformação é a comunicação e expressão na sala de aula. É, indubitavelmente,

Mediador de expressão

Page 32: Revista AlmadaForma 1

32

uma das áreas que traz consigo as sementes que predispõem ao sucesso educativo. A sua mais valia radica no facto de escolher a corporeidade como dimensão unificadora, integradora, que permite inteirar, inter-relacionar, interiorizar. Um dos fatores coadjuvantes neste processo, por exemplo, são as técnicas de relaxamento e de meditação que levam a uma “atenção consciente”, ferramenta fundamental nos processos de transformação.

Esta proposta de formação tem a intenção de trazer à escola a dimensão da investigação em ação, devolver ao professor o seu papel permanente de investigador, corporificando-o, actuando em contexto e em conformidade, com uma proposta poética e expressiva de sala de aula.

São privilegiados como referências essenciais desta proposta de formação, os seguintes elementos estruturantes no desenvolvimento de competências:

• Reforçar do papel do professor como investigador de si próprio e dos seus contextos.

• Promover o conhecimento de si – identificação de crenças inibidoras do processo de comunicação e expressão na sala de aula.

• Impulsionar o conhecimento do outro – numa lógica de diversidade. Observação de comportamentos verbais e não verbais. Auscultação de necessidades comunicativas.

• Fomentar as metodologias vivenciais – aplicação de estratégias expressivas na sala de aula.

• Desenvolver a capacidade de dramatização e desdramatização na tomada de decisões ao nível da comunicação.

• Promover transformações ergonómicas na sala de aula, enriquecendo os recursos existentes e promovendo os ecofatores positivos.

• Ampliar a criatividade e o poder de inovação do docente.

Visa, a partir das problemáticas comunicativas reais de sala de aula, a criação de palcos e cenários capazes de encontrar caminhos e respostas adequadas ao exercício da profissionalidade docente, com mais qualidade e por consequência com maior grau de satisfação. Todas as problemáticas são levadas à cena, criando-se tempos e espaços dramáticos onde se recriam propostas de soluções a serem experimentadas na sala de aula.

A metodologia que suporta eficazmente a transformação é vivencial. Só quando a pessoa se implica totalmente, nas suas dimensões bio-psico-sócio-motoras é que a transformação se revela, no seu potencial. A sala de formação é um verdadeiro espaço vivencial, onde se respira, transpira, onde se expressa a autenticidade do ser e se pulsa de vida, para que a sala de aula seja também um espaço vital, afetivo, criativo e transcendente.

Se tomarmos a sala de aula for uma possível metáfora da humanidade, estaremos a tempo de a despertar e de a resgatar na sua dimensão criadora, digna do potencial humano?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CARVALHO, J. (2007): Negociação para (in)competentes relacionais. Lisboa, Ed. Sílabo.

FREIRE, C. (2000): O corpo reflete o seu drama. S. Paulo, Agora

Recriar o Mundo

Page 33: Revista AlmadaForma 1

33

REFLEXÃOQuase-fábulaUma pequena reflexão em roda livre

Rui SilvaresProfessor na Escola Secundária Anselmo de Andrade

A Arte ajuda-nos a olhar o mundo em que vi-vemos sob uma perspetiva diferente. Tentar compreender o conceito de Beleza ou relacionar princípios estéticos com a forma como a socie-dade se organiza são exercícios de reflexão exi-gíveis ao mais simples dos cidadãos, seja ele um varredor de ruas ou assessor de ministro, seja uma criança em idade escolar ou um adulto a tentar compreender o seu lugar neste mundo.

Respostas objetivas para questões deste género não serão a finalidade principal de uma educa-ção pela Arte. O processo de reflexão, a formula-ção de perguntas, a busca paciente de respostas que nos possam aproximar um pouco mais da essência das coisas, a capacidade de dialogar e discutir argumentos consistentes, o desenvolvi-mento de um espírito crítico e observador, são os grandes objetivos a perseguir. Mais impor-tante do que encontrar um ponto de chegada é percorrer um caminho que se vai descobrindo à medida que avançamos.

Insistir na ideia de que as Ciências Exatas são a medula do sistema educativo é reduzir o estu-dante a uma bidimensionalidade patética, apro-ximando-o de algo semelhante a um robô capaz de executar apenas as tarefas para as quais é programado. Saber Matemática e desconhecer os Mitos é correr um sério risco de estupidifica-ção do indivíduo; dominar a Técnica e ignorar a Estética equivale a criar gerações de seres hu-manos incompletos.

Um sistema educativo que não busque uma ver-

dadeira formação Humanista dos indivíduos não faz justiça à nossa herança cultural. Um sistema educativo que não equilibre as Ciências Exatas com as Ciências Sociais está a desviar-nos da nossa tradição civilizacional.

Os programas curriculares de disciplinas como Educação Visual ou História da Cultura e das Artes também não ajudam a elevar a fasquia da qualidade da educação pela Arte. São progra-mas preguiçosos, sem objetivos definidos, lon-gas listas de temas que tudo pretendem abarcar e acabam por impedir os professores de ensinar e os alunos de aprender. Andamos sempre a cor-rer atrás do tempo que nunca sobra, com a única preocupação de cumprir os programas e, chega-dos ao fim, constatamos com frequência que os resultados alcançados são dececionantes. São programas “de carregar pela boca” que deixam pouco ou nenhum espaço para o diálogo aberto e a reflexão criativa.

Se pretendemos criar cidadãos críticos que par-ticipem ativamente na construção da coisa pú-blica teremos de lhes oferecer uma educação variada que inclua uma perspetiva artística do mundo que os rodeia. Isto parece tão evidente que soa a logro e traição a forma como a edu-cação pela Arte vai sendo tratada pelos poderes que têm governado o nosso país.

A sensação que fica é que a Escola não tem como objetivo dotar os indivíduos de instrumen-tos que lhes permitam encontrar o seu lugar na sociedade e contribuir com o seu esforço criati-vo para a melhorar. E se os que realmente nos governam tivessem o secreto objetivo de criar seres acríticos, indivíduos que vão deixando de ser cidadãos para passarem a ser meros con-

Page 34: Revista AlmadaForma 1

34

sumidores, um imenso rebanho de seres cuja docilidade apenas rivaliza com a sua proverbial estupidez?

Uma proposta de conclusão

“A Fonte” de Marcel Duchamp é considerado o objeto artístico mais importante e significativo de todo o século XX. Trata-se, na verdade, de urinol, um objeto tão vulgar como aqueles que o utilizam.

Esta escolha desconcerta muita gente. No entan-to, após uma pequena reflexão sobre a extraor-dinária formulação de Duchamp, podemos con-cluir que o espetador/fruidor do objeto de arte contemporâneo ganha uma grande responsabi-lidade na conclusão do processo comunicacional sempre que visita um museu ou passeia o corpo e o olhar numa exposição.

Observando o urinol titulado como “A Fonte”, a primeira reação interpretativa, a mais óbvia, é ver no urinol nada mais que o objeto sugerido pelo título. Mas, numa segunda passagem de olhos sobre o conceito associado ao objeto, eis que desponta uma dúvida, uma outra possibili-dade de interpretação é formulada.

E se “A Fonte” não for o urinol mas o próprio ob-servador?

Como!? O observador é “A Fonte” de Du-champ???

Sim, exatamente, é isso mesmo que estou a pro-por: “A Fonte” é o observador.

Uma das consequências da perspetiva dadaísta sobre a produção artística é que o observador/fruidor não pode, nem tem o direito, de manter uma atitude passiva perante o objeto que obser-va. A “elevação” de um objeto (seja um urinol ou a Capela Sisitina) à categoria de obra de arte depende muito da capacidade (ou da vontade) do observador para o considerar como tal.

É o observador que funciona como fonte da qual brota a arte, generosa e límpida. É no ob-servador que reside, em potência, toda a força reveladora da dimensão artística. Só precisará de produzir um pequeno esforço derramando a sua sensibilidade sobre o objeto que este logo lha devolverá transformada em revelação artísti-ca. O observador/fruidor é verdadeiramente “A Fonte”, o urinol serve apenas de veículo à sensi-bilidade artística do indivíduo.

Dando crédito à reflexão atrás exposta, pode-remos, em última análise, concluir que a Escola funciona para o indivíduo como o urinol de Du-champ funciona para o observador/fruidor nes-ta pequena quase-fábula.

Só por si, a instituição escolar tem um valor mui-to limitado. O verdadeiro potencial da Escola, a mais-valia do processo educativo, reside, em po-tência, naqueles que a constituem: estudantes, professores, encarregados de educação, pessoal auxiliar e administrativo, demais cidadãos, a co-munidade escolar, em suma.

Para podermos explorar toda esta potencialida-de precisamos de ser criativos. E isso aprende-se.

A Fonte | 1917Marcel Duchamp

Page 35: Revista AlmadaForma 1

35

Thomas FahrenholzEstudante sueco | Gotlands Nation

Na cidade universitária de Uppsala, um pouco mais ao norte da capital sueca Estocolmo, quase todos os estudantes são organizados em ”na-ções”. As nações são organizações lideradas por estudantes, e constituem o núcleo social da vida estudantil.

Há também a mesma tradição em Lund, uma cidade universitária no sul do país. Foram funda-das por volta de 1600, quando alguns estudan-tes da Suécia que tinham visitado universidades europeias regressaram, e informaram os amigos que os estudantes na Europa se organizavam em grupos chamados ”nações”. O nome nação é ex-plicado pelo sistema de se organizar segundo a propria província de origem. Na Suécia moder-na conserva-se este velho sistema, que hoje se encontra em fase de desaparecimento do con-tinente.

Na Suécia daquele tempo, havia poucos estudantes. Quase sempre vinham de famílias ricas e privilegiadas e entre si falavam latim. Na aldeia ou na pequena cidade de origem do estudante falava-se um dialeto que estudantes de outras regiões nem sempre percebiam, já que

ainda não existia um sueco falado estandarde. Na universidade a instrução conduzia-se em latim, e os estudantes tinham que recorrer ao latim para poder falar sobre matérias académicas com colegas do curso. As nações, então, reuniam estudantes que podiam conversar com mais facilidade o dialeto nativo. Ofereciam o espaço social necessário para os estudantes se sentirem mais cómodos.

No começo, os estudantes reuniam-se nas ta-bernas (os bares daquele tempo), bebiam, fala-vam, e muitas vezes tinham dificuldades com o representante da lei, depois de noites de festa tresloucada… O conselho da universidade ob-servou o fenómeno, e tentou proibir a existência das associações chamadas nações. O facto de os estudantes beberem demais, e dedicarem me-nos tempo que o desejado aos estudos, não era a única preocupação da administração. Uma or-ganização de estudantes, para estudantes? Im-possível! Assim os estudantes poderiam come-çar a falar mal do Estado e da Igreja, tornando-se adversários do poder. Estes grupos subversivos provavelmente constituiam um fenómeno tem-porário, mas para evitar complicações, era mais seguro proibí-los.

Era mais fácil dizer do que fazer. A proibição provavelmente aumentou a vontade de violar as regras, e os estudantes continuavam a encon-trar-se para discussões e festas. Assim a admi-nistração repensou. As nações eram aceites, sob uma condição: que tivessem um professor para as inspecionar. Os professores eram membros leais da administração, quase sempre casados, com casa própria. Assim os estudantes podiam encontrar-se sob a supervisão de um adulto que pudesse controlar as quantidades de álcool con-sumido, e que dirigisse o conteúdo de certas dis-cussões num sentido apropriado…

As nações começaram a exigir um preço de en-trada (hoje paga-se 30 euros cada semestre), e

REFLEXÃOAs Nações de UppsalaUm caso sueco de antiga tradição estudantil

Page 36: Revista AlmadaForma 1

36

com o dinheiro acumulado começaram a cons-truir casas. Ter casas próprias era naturalmente um passo vital para a emancipacão dos estudan-tes, para eles poderem agir mais livremente. As nações ainda têm um professor universitário (hoje representa uma honra para o professor eleito) como inspetor. O papel do inspetor da nação confere muita responsabilidade adminis-trativa além do trabalho didático na universida-de, a obrigação de ser membro dos comités e conselhos e fazer discursos inaugurais nas gran-des festas.

Hoje em dia as nações de Uppsala oferecem festas temáticas que têm lugar no mesmo perí-odo de cada ano. Além das casas de estudantes oferecidas pelo município e pelo setor privado, as nações têm soluções próprias. Há reuniões democráticas onde se elegem estudantes para liderar as atividades durante um semestre ou um ano inteiro. Poucas das pessoas eleitas têm

um salário, e assim a pluralidade de atividades realmente depende da participação voluntária dos membros de cada nação. As nações gerem pubes, e organizam teatros, coros, grupos para combater problemas de ambiente e ler livros juntos ou ver filmes. A maior parte dos estudan-tes ainda são vinculados à nação da província nativa sueca, mas permite-se também a escolha livre.

Para o futuro é vital os estudantes reconhecerem a importância da democracia e autogoverno. As nações são lugares de encontro entre estudantes de muitas faixas sociais, e oferecem um vasto número de atividades, mas também dependem de os estudantes quererem continuar a ser membros, participarem nas reuniões democráticas e trabalharem para continuar a tradição antiga.

Thomas Fahrenholz, para o qual Uppsala é a alma mater.

Page 37: Revista AlmadaForma 1

37

ATUALIDADELira DeliranteConcurso Pessoas em Pessoa

Múcio de Lima Góes

Escrita Criativa 1º Prémio

vejo passos pelas ruas, ouço pessoas passando, seus passos largos, suas pressas, suas preces, e impressões. um assombro pop: po-pu-la-cio-nal.

um minuto de silêncio & gozo como ode à morte do tempo!

de manhattan a bagdá, de cubatão a mada-gascar, a pressa é a prece que apetece, se não é praga, é o que parece.

cadê a poesia? pergunta o vazio!

eu respondo: então me toque um rip-rock: rest in peace FERNANDO e suas pessoas. FERNANDO verbo no gerúndio, gerânios & gardênias in the Garden, e pelos campos alvos ÁLVARO corre e discorre versos e GUARDA em REBANHOS nos-sos medonhos medos de papel.

LISBOA, na boa, à tarde, à toa, sem lei nem loa, lendo PESSOA a poesia ressoa no ar. rever-bera beirando o Tejo indo para lá de além, “dalémar”, e cai no mar doce mar, repetindo CABRAL, caravelas ao vento, páginas ao mar, e já nem lembro QUANDO FUI OUTRO.

POESIA: ame-a e não a deixe!

enquanto isso caem do céu estrelas tardias, silentes ciganas no mar doce mar, MAR POR-TUGUES, mar ALBERTO, maracatu & eu. eu caio, CAIEIRO cai no estrondo cult, caldeirão cultural, recifeolindacarnaval, os tambores com seus valores, poesia instrumental.

pegue a sua alfaia e não fuja da raia!

em terra de cego RICARDO É REIS. i wanna holding your hand num galope rasante à beira-mar: avohai.

pergunto ao poço o quanto posso, PESSOA pôde o que eu não pude, when i feel god, i feel good.

e que soe a poesia de PESSOA em qualquer pes-soa, seja na ÍNDIA, seja em LISBOA, do nepal a noa-noa, do mar até a lagoa, e meu olhar alagado de tanto ler ressoa: PESSOA.

Múcio Góes, poeta pernambucano, natural de Palmares, na zona da mata sul. Atualmente mora em Recife, e acabou de lançar seu livro em parce-ria com a poeta paulista Sandra Regina: haicaos. [ed. Limiar]. Contemporâneo, é um minimalista nato, sempre buscando a síntese poética, apre-senta aqui um texto mais longo com pretensão de participar do Concurso Pessoas em Pessoa.

Proposta: tentar mesclar a poesia de Pessoa com a efervescência cultural brasileira, especifi-camente com os ícones mais fortes de nosso fol-clore: maracatu e frevo. Um texto simples para ser declamado em alto som.

Page 38: Revista AlmadaForma 1

38

ATUALIDADELevar o tempo ao desespero

Sobre o livro de poemas de Fracisco Niebro ARS VIVENDI ARS MORIENDI

Alfredo Cameirão (2012)

Ars vivendi ars moriendi, arte de viver, arte de morrer, dístico latino que Fracisco Niebro es-colheu para titular o seu conjunto de poemas publicados em edição bilingue, em duas línguas - dambas a dues - filhas do latim: a portuguesa, filha di-leta, última flor do Lácio que refloresce nos quatro conti-nentes, e a mirandesa, a qual sabemos haver sido o supor-te matricial poético, bastarda durante séculos esquecida, a gata borralheira a quem Fra-cisco Niebro (não diremos que pelo toque de fada ma-drinha, mas sim pela alquimia da palavra) gata borralheira a quem Fracisco Niebro calça sapatos de cristal e leva, mais uma vez aqui, a brilhar em requintados salões, qual Cin-derela refulgente que a todos seduz de tão donairosa.

Ousemos então, com o atrevimento que a igno-rância sempre usa conceder-nos, visitar o uni-verso poético de Ars vivendi, ars moriendi, arte de viver, arte de morrer, a dualidade, diriamos, implacável que subjaz a todo o conjunto poético e inexoravelmente nos condena a ir morrendo enquanto vivemos, o fatalismo que nos enfor-ma a existência “la muorte ye ua prenheç que bai medrando debagarosa e sola” - ”an todos ls sfergantes te muorres i an todos rucecitas”. Lembramos a “petite mort” francesa, expressão,

à primeira vista paradoxal, que designa o mo-mento do orgasmo, ato genesíaco e gerador de vida por excelência. Esse começar a morrer ao nascer e ir morrendo ao viver, como nos expli-ca Fracisco Niebro: “nun paramos de mos cortar pelo i unhas, i assi mos bamos botando fuora als cachicos: la muorte nada mais será que cortar l redadeiro cachico;”

Trata-se então de saber ilu-dir o tempo e adiar o último corte, ciência que podemos aprender com as oliveiras “culas oulibeiras daprénda-mos a fazer caçuada de l tiem-po,” embora essa seja” ua li-cion mui custosa de saber”, ou aprender com os mestres da arte da enxertia: “l percipal na arte de l anxertie ye lhebar l tiempo al zaspero”. É um sa-ber que nos é ainda ensinado pelo velho dos poemas de Niebro, ele que se renova de cada vez que planta a horta de novo “ l ampeço de la hu-orta an que te ampeças outra beç”, o velho que, qual Shera-

zade, vai ludibriando e encerrando o tempo num círculo de eterno retorno e adiando a morte até depois da horta ter frutificado.

Estamos perante uma poesia dura e por vezes crua, sem artificialismos eufemísticos, onde po-demos encontrar, por exemplo, meninas/mulhe-res que anseiam por umas jeiras de trabalho sob o “rechino” do sol de Julho “cul pinganielho a ar-der te piernas abaixo i l febre a chubir te cuorpo arriba”; como duro adivinhamos o mundo que

Page 39: Revista AlmadaForma 1

39

Niebro consigo transporta e quer plasmar, em-bora nos advirta que não somos somente aquilo que recordamos: “tamien somos aqueilho que de que nun mos lhembramos, tamien esses na-das sien amportança mos fazírun”; poesia difícil e complexa, mas que se nos revela com a humil-dade das coisas essenciais aprendidas com os mestres.

Assinalar também a presença bem impressiva de um “tu” alocutário em muitos dos poemas, o qual sabemos não coincidir com a figura do leitor e que nos impõe não estarmos sós na presença do eu-lírico. Recordamos que Fracisco Niebro traz consigo os seus, não só os vivos mas também os mortos ”stan bibos ls mius muortos, que nunca ls deixarei morrir anquanto biba”, até mesmo porque por muito mundo que trote será sempre a eles que torna para respirar i “para falar la lhéngua que me diç anteiro”. Temos en-tão um ato de culto, diríamos, gentílico, acom-panhado de um quase panteísmo telúrico, num convite a olhar a terra com outros olhos, outro respeito, com um ar de família, para que nos não

sintamos tão sós.

Deparamos ainda com a convocação para relem-brarmos alguns dos clássicos, seus mitos, heróis e autores (e sabemos que Fracisco Niebro tem na forja traduções de Horácio e Catulo para pu-blicação breve), revisitamos festas de aniversá-rios (ou a ausência delas) de Álvaro de Campos e encontramos ainda um convite para passe-armos o nosso ocidental sentimento, de braço dado com Cesário, pela Lisboa “indiferente” que “nun te recibe cun uolhos atrás de ls postigos”. Falando de clássicos, talvez que, em Ars Vivendi, Ars Moriendi, Niebro nos diga “sobolos rios que vão” da sua “Jerusalém mirandesa”, aquela re-miniscente que ele sempre acarreia consigo.

Já divagamos, não somos mestres na arte de enxertar, e arriscamos levar ao desespero, não o tempo, mas vós todos que ouvis.

Agora acabamos: Em 25 de fevereiro de 1257 don Afonso Mendes de Bornes quis ser imortali-zado e doou os seus bens para ser enterrado no mosteiro de Moreiruola; pôs a sua fé na dureza

Page 40: Revista AlmadaForma 1

40

da pedra e na majestade de um mosteiro. Hoje, em dezembro de 2012, a sua memória já só exis-te num delicado e delido pergaminho. Não sabia don Afonso Mendes de Bornes que o verdadeiro poder criador não está nos deuses que são con-templados, mas sim nos contadores que tudo criam com a sua história. Fracisco Niebro não põe a sua fé na dureza da pedra nem na majesta-de de mosteiros, mas empresta-nos, em especial a nós mirandeses, o poder da sua criação poéti-ca e da nossa língua, recriando-nos neste entre todos mais humano ato, faz-nos renascer a alma e aprender o tempo que nos fez história. Bien-háiades Fracisco Niebro por nos atardes com estes rosários de palavras; sabemos que o poeta fintará o tempo e este vosso pergaminho para sempre ficará gravado a ouro na memória colec-tiva do Planalto e exemplarmente saberá dizer-nos no porvir. No tempo em que não festejavam os seus anos, Fracisco Niebro, diz-se sereno e em gratidão, não por ter tido aquele tempo, mas sobretudo por ter tido aquela gente. Possamos nós hoje aqui festejar e confessar-nos serenos e em imensa gratidão por podermos partilhar do tempo e podermos partilhar também da Ars Vi-vendi, Ars Moriendi de gente com a grandeza e o saber de Fracisco Niebro.

Muito mais haveria que dizer, mas não arrisque-mos que a penúria do arrazoado possa obliterar o prazer da posterior leitura que, estou certo, todos fruireis. Permiti tao só, e lembrando que se trata hoje também aqui de homenagear outro grande poeta português, permiti que possamos terminar com palavras de Manuel António Pina num poema que insistentemente nos acudia en-quanto preparávamos o bosquejo que apresen-tamos e o qual cremos - o qual, poema - cremos não destoar junto dos trabalhos deste Ars Viven-di, Ars Moriendi. Chama-se: Algumas Coisas - in “Aquele que Quer Morrer”, 1978

A morte e a vida morrem

e sob a sua eternidade fica

só a memória do esquecimento de tudo;

também o silêncio de aquele que fala se calará.

Quem fala de estas

coisas e de falar de elas

foge para o puro esquecimento

fora da cabeça e de si.

O que existe falta

sob a eternidade;

saber é esquecer, e

esta é a sabedoria e o esquecimento.

BI

Nome: Amadeu José Ferreira

Nascimento: 29 de Julho de 1950

Naturalidade: Sendim, Miranda do Douro

Escolaridade: Seminário de Vinhais

Primeiros trabalhos: Servente de construção cvil e escriturário na Adega Cooperativa de Sendim

Estudos superiores: Licenciatura e mestrado em Direito já aos 40 anos de idade

Situação atual:Vice presidente da Comissão de Mercado da Valores Mobiliários

Professor convidado da UNL

Criador e presidente da Associação de Língua Mirandesa.

Page 41: Revista AlmadaForma 1

41

ATUALIDADEOs Planaltos dos Pássaros e do SalaléA Ficção de Jorge Arrimar

Quem ousou seguir viagem e alcançar o Planalto dos Pás-saros, por certo ouviu o canto infinito dos pássaros - otchi-ila – e-ila- hila-huíla - na lín-gua daquele Lugar. A magia desse (en)canto perpetuar-se-á no Planalto do Salalé.

Um livro de ficção que tem como lastro as es-tórias que a História deixou de lado. O Planalto do Salalé fala-nos de tempos antigos e de gente perdida das nossas memórias e dos nossos li-vros, como nos diz o autor.

Mensagem significativa e portadora de sentidos de (re) invenção da narrativa infindável dos ho-mens, viajantes intrépidos, resilientes obreiros das teias que o império tece (u). Exploradores do sertão, homens ligados à terra, conhecedores naturais porque a terra habitam, nela vivem, tra-balham e constroem as suas esperanças.

“Passámos serões intermináveis a conversar, como se ambos soubéssemos que tínhamos que fazer perdurar as inúmeras estórias que preenchiam as nossas vidas.”

O leitor é convidado a ser parte das estórias, a integrar a comitiva e a fazer-se à viagem na com-panhia de amigos, companheiros e familiares de Luís Pilarte. Sob a frescura das acácias rubras do quintalão de Garcia passaram muitas tardes juntos em amena cavaqueira, falando das suas viagens e aventuras.

O leitor caminhará os trilhos para a vida ou para a morte, conhecerá o medo, a guerra, o prazer de viver as estórias tão reais da vida dos homens que seguiram o caminho sem rumo do esque-cimento.

O tempo é distante (Século XIX, 1842), o espaço

é vasto - África, Angola, do planalto central até ao litoral de Benguela – percurso a desenredar-se como fios de novelo. A saga constrói-se pelo poder criativo das palavras, enredadas em en-volvente humanismo que emerge das relações, encontros e desencontros, das fraquezas e for-ças, solidariedades, momentos de dor, coragem, vontades. Poesia e nostalgia.

“Semicerrei os olhos e entrei na minha libata do Bhié, aproximei-me das roseiras e cheirei as suas rosas, cumprimentei os quiçongos e vi Angústia, minha mulher, aproximar-se, com um riso de felicidade no rosto.”

A demanda de sabedoria, o dever de (re) conhe-cimento dos homens perdidos na memória dos feitos da História.

O Planalto do Salalé devagarinho deixa-nos ir com as recordações, ape-lando à memória contra o esquecimento da gente pio-neira do sertão, viajantes fundadores, atentos e expe-rientes, escreventes que pas-saram a limpo o que tinham escrito/ vivido, com aquela luz fraca das lamparinas ou das tochas, na indiferença do reino e de sua majestade o rei D. Luiz.

É tempo de engrandecer a viagem e os viajantes / a vida. Os pensamentos a dissolverem-se na tinta, alquimia de um sujeito da escrita que bus-ca a magia de um Lugar onde milhares de pássa-ros elevam o seu canto, cantando nos corações dos homens e mulheres. Celebrando os sonhos da humanidade.

Os pássaros e o salalé permanecem e habitam o nosso imaginário.

Maria Adelaide Paredes da SilvaAbril 2013

Page 42: Revista AlmadaForma 1

42

NOTÍCIAMonumento à Multiculturalidade

Centro Cívico de Caparica

Na freguesia da Caparica, no Parque Urbano do Fróis, teve lugar a inauguração do Monumento à Multiculturalidade, no dia 27 de maio de 2013.

Esta obra de arte pública de grande significado comunitário, resulta de um projeto educativo de coesão social e partilha em ambiente escolar.

Concebido e desenvolvido por uma equipa transdisciplinar de referência, coordenada pelo

escultor Sérgio Vicente, integra três elementos escultóricos instalados em diferentes espaços do Centro Cívico de Caparica. Símbolo do diálogo entre artes plásticas, antropologia, sociologia, história da arte, arquitetura, educação pela arte, recria um espaço que convida à vida.

Adelaide Paredes Silva

Page 43: Revista AlmadaForma 1

43

NOTÍCIAFormacão em Literatura-MundoComparatistas, UNESCO, ESEN

O Centro de Estudos Comparatistas da Fac-uldade de Letras da Universidade de Lisboa, através do Clube UNESCO Literatura-Mundo e com a colaboração do Centro UNESCO Ciência, Arte e Engenho, sediado no espaço da Biblioteca Escolar da Escola Secundária Emídio Navarro em Almada, realizou de Novembro 2012 a Fevereiro 2013 uma Oficina de Formação destinada a Pro-fessores do Grupo 300.

Porque a fundamentação científica da com-ponente literária dos programas de Português assenta na revisão do próprio conceito de lit-eratura nacional, abrindo os currículos ao diál-ogo com outras literaturas, de acordo com uma tendência que se tem afirmado nos últimos anos e que implica objectivos e competências ao mesmo tempo específicos e transversais, torna-se necessário traçar o quadro conceptual das mudanças em curso e lançar, junto dos profes-sores da disciplina, as bases de novas práticas de leitura que contribuam para a formação de leitores cada vez mais capazes de, relacionando textos, aproximar mundos.

A Oficina de Formação procurou dar resposta a essa necessidade e visou:

a) promover uma alteração dos paradigmas da leitura literária a partir do debate sobre a su-pranacionalidade do literário e em função de conceitos como o de literatura europeia, o de literatura em português e o de Literatura-

Mundo;

b) abrir caminhos que conduzam do manual es-colar à antologia, propondo a reflexão sobre critérios de selecção, organização e uso de recursos didácticos e estimulando uma nova forma de trabalhar os textos do manual, uns em relação com outros e todos em articula-ção com textos complementares, encarados numa perspectiva multimodal.

Para tanto, foi pensado um programa com os seguintes conteúdos:

A Literatura-Mundo face ao currículo; con-1. textos e instrumentos metodológicos.Revisão e actualização de conceitos e para-2. digmas de referência: literatura nacional e supranacionalidade; globalização, tradu-tibilidade e Literatura-Mundo.Literatura-Mundo e direito aos clássicos: 3. cânone e currículo, no quadro de um ensi-no de base comparada; modos de ler/mo-dos de ser: implicação e leitura crítica.Tradução e memória literária; previsibili-4. dade/imprevisibilidade dos processos de representação canónica; tematologia e gesto antológico, com o manual escolar e para além dele.Circulação dos textos, comparatismo e 5. prática pedagógica.

Com base neste modelo de formação, a cargo de Helena Carvalhão Buescu, Maria Graciete Silva, Cristina Almeida Ribeiro e Ruth Navas, está a ser preparada a candidatura para uma nova edição destinada a outros públicos da comunidade edu-cativa.

Ruth NavasAbril de 2013

Page 44: Revista AlmadaForma 1

44

NOTÍCIAAlmada um Olhar sobre a Ponte

O lançamento do livro decorreu no passado dia 9 de Março de 2013, no Fórum Romeu Correia, na Sala Pablo Neruda em Almada.

Do painel de apresentação do livro, fizeram parte as seguintes entidades:

Dra. Paula Sousa, Diretora do • Departamento da Educação e da Juventude da Câmara Municipal de Almada;

Arquiteto - Urbanista Luís Vassalo Rosa;•

Professor José Soudo, Docente do Curso • Superior de Fotografia do Instituto Politécnico de Tomar;

Nuno de Albuquerque Gaspar, Licenciado • em Fotografia pelo Instituto Politécnico de Tomar e aluno do 2º ano no Mestrado em Fotografia Aplicada, na mesma instituição.

Sinopse

ALMADA UM OLHAR SOBRE A PONTE, nasceu da minha primeira experiência com a fotografia, nas “Férias Jovens de Verão” em 2005, na Cidade de Almada.

Na sequência desta experiência, e com os conhecimentos adquiridos na Licenciatura em Fotografia e no Mestrado em Fotografia Aplicada, no Instituto Politécnico de Tomar, fui recolhendo ao longo de 8 anos, fotografias da Ponte sobre o Tejo, de vários miradouros e zonas ribeirinhas da Cidade de Almada, entre 2005 e 2013.

Este é um projeto que não está dado como terminado e será desenvolvido ao longo de vários anos, de modo a acompanhar as mutações que venham a decorrer na Cidade.

“...Das janelas que se abrem para o horizonte e para a liberdade, vêem-se homens de hoje que já não são homens de outros tempos, mas permanece o sol que ilumina os portais, o rio que diverte as crianças, as paisagens que emudecem os corações e ao longe, a Ponte: Ponte de Partida, Ponte de Passagem, Ponte de Chegada, Ponte com Alma, Ponte de Almada....”

Nuno de Albuquerque Gaspar Janeiro de 2013

Page 45: Revista AlmadaForma 1

45

NOTÍCIA1ª Mostra de Videoem contexto educativo

Entre os dias 14 e 18 de maio de 2013, irá realizar-se na Oficina da Cultura de Almada a 1ª Mostra de Vídeo em Contexto Educa-tivo de Almada.

Esta iniciativa é promovida pela Equipa do Pro-jeto Europeu Five, da Escola Secundária Emídio Navarro, integrado nas iniciativas do Centro UNESCO Ciência, Arte e Engenho e da Biblioteca Escolar - Centro de Recursos Educativos daquela Escola.

A iniciativa conta com a colaboração da Câmara

Municipal de Almada e do Centro de Formação AlmadaForma (instituições parceiras do Centro UNESCO).

A Mostra de Vídeo em Contexto Escolar permi-te a exibição de trabalhos produzidos nas várias áreas e níveis de ensino. Além disso, a Mostra abre espaço para o debate, sessões com os rea-lizadores e oficinas de animação.

A Mostra está aberta ao público escolar e à comunidade educativa que podem assistir às produções sobre as mais variadas temáticas.

Ana Avila Silva, António Sales, Carla Belo, Ludgero Leote, Ruth Navas e Rui Baltazar

Page 46: Revista AlmadaForma 1

46

NOTÍCIAII Ciclo de Conferências dos Capuchos

Educação, Arte e Cidadania

A Escola Secundária de Monte de Caparica e o Centro de Formação de Escolas do Concelho de Almada estão integrados numa comunidade envolvente que revela, para além dos múltiplos problemas característicos da sub - urbanidade, enormes potencialidades pela sua diversidade cultural e os mais estimulantes desafios para os agentes educativos que neles atuam.

Fascinados por essa realidade e pelo seu po-tencial de atuação que os envolve mas de igual modo preocupados com uma intervenção sobre ela articulada que só a reflexão, o olhar crítico e a (re)descoberta de caminhos de atuação po-dem proporcionar decidiu, realizar As Conferên-cias no Convento dos Capuchos (CCC) intitulado “A perfeição do número três”.

Com o seu desenvolvimento pretende-se atra-vés de três ciclos de Conferências analisar a re-alidade social do Monte de Caparica caracteri-zada pela sua diversidade e multiculturalidade, questionar as respostas educativas que nunca hão-de ser desfasadas das respostas sociais sob pena do esvaziamento das funções da escola como propulsora da modificação social e cultu-

ral dos espaços por si servidos e encontrar na Arte, de uma forma global, caminhos para uma inclusão, formação e edificação de espaços de cidadania construídos por cidadãos conscientes e atuantes.

O primeiro Ciclo de Conferências teve lugar no Convento dos Capuchos em 14, 21 e 28 de abril de 2012, subordinado ao tema “ Educação, Arte e Cidadania – O Diálogo Social” tendo decorri-do em três painéis (Ver, Sentir e Ser; Comunicar, Criar e Mudar e Questionar, Compreender e Agir) constituídos, cada um, por conferencistas de grande renome e uma audiência ávida de pistas de reflexão, lógicas de ação e sentidos de cidadania.

O segundo Ciclo de Conferência tem lugar no Convento dos Capuchos a 4, 11 e 18 de maio de 2013, subordinado ao tema “Educação, Arte e Cidadania – O diálogo entre as Artes” a decorrer em três painéis (Arte, Diálogo, Identidade; Edu-cação artística, Metodologias e Práticas; Arte, Comunicação e Sociedade).

Convidamos à participação de todos.

Page 47: Revista AlmadaForma 1

47

POR UMA EDUCAÇÃO COM ALMA

Um Centro - corpo de infinitas potencialidades…

Aberto e sujeito. Plural

Humano em querer poder SER

Encontro, espaço, semente, abraço, atenção,

Trilho, aprendizagem, cultura, vivência, ciência

arte de apelar e escutar dentro, por dentro

a pessoa, a escola, o sistema, o contexto, a comunidade, a pertença, a pertinência, o todo que

somos, em cada um, com o outro, na dimensão do sentir, do fazer, do pensar, do cuidar

Do desejar sonhar

Criar na essência da diversidade

Em diálogo

Em reflexibilidade

Em inovação

Em colaboração

Em processo de auto - formação e conhecimento

Com intencionalidade

Por vontade

Agarrar este tempo significativo que reclama de nós a alma

a memória, a visão, a missão – um presente com futuro

a oportunidade dos caminhos a mobilizar

Busca incessante, transformadora, agregadora, comunicante, aprendente

Portadora de sentidos de mudança

Um corpo - Centro em devir, em transFormação

Procurando e encontrando Alma (da) Forma

Por uma Educação com alma

Page 48: Revista AlmadaForma 1

48