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Prezado leitor, Seja muito bem vindo ao blog da Revista Camisa 13. Aqui você poderá acompanhar, além da revista mensal e eletrônica, postagens da nossa equipe, que incluem podcasts, colunas e tabelas. São mais de 15 pessoas trabalhando para trazer o melhor do futebol nacional e internacional, sem que você precise sair de sua casa e ir às bancas. Ao longo dessas páginas, o leitor terá acesso a reportagens, matérias e artigos opinativos dos nossos membros, em sua maioria jovens jornalistas ou estudantes do curso, fanáticos por futebol, diga-se de passagem. A Revista está disponível em três formatos: texto, .pdf e em flash, que você tem a possibilidade de folhear como se estivesse manuseando uma revista impressa convencional. O design interno foi ini- cialmente projetado visando não ser visualmente poluído, desagradável para a leitura. Leitura essa que tentamos deixar mais suave até para quem não é profundo conhecedor do esporte. Instruções no uso do arquivo em flash: Se o navegador exigir a execução de um plugin, aceite. A versão folheável é apenas acessível se o computador tiver o Shockwave player. O download não dura muito, caso ainda não possua em sua máquina. Você pode usar a barra de rolagem para subir, descer ou ir para os lados da página, ajustando da ma- neira que julgar conveniente para a sua leitura. Com um clique nos cantos externos de cada uma das folhas é possível arrastar a imagem, que simula uma revista impressa. Caso esteja com dificuldades de enxergar, clique com o botão direito do mouse e escolha a opção “Mostrar tudo”, para ampliar o conteúdo sem perder de forma considerável a resolução das fotos e do texto inseridos. Apertando para baixo com as setas direcionais, o arquivo irá passar para a próxima página automaticamente, sem a necessidade do clique. A seta para cima volta para a folha anterior. Para a frente e para trás há o mesmo efeito. Você pode ter acesso aos textos, em ordem, na página do blog, da mesma forma que o .pdf. Nós da Camisa 13 te desejamos uma boa leitura. Faça bom proveito da publicação. Lembre-se que todo dia 13 faremos o lançamento da edição. Visite-nos e acompanhe os processos. Equipe Revista Camisa 13 www.revistacamisa13.blogspot.com Entrevista com André Kfouri, dos canais ESPN Camisa 13 Ano 1 - Edição 2 - novembro 2010 A saga de Belluzzo, Patricia Amorim e Luis Álvaro O que faltou a cada um? Foi-se a Era Dunga: E agora, Mano? O melhor dos Campeonatos nacionais e internacionais Hey, conheço essa camisa! Nem em filmes do Van Damme Conheça três grandes caneleiros do futebol inglês Vida longa ao rei Eles mandam nos seus clubes, mas quem é que ousa tirar a coroa de um craque?

Revista Camisa 13 Novembro

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Edição de novembro da Revista Camisa 13,

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Page 1: Revista Camisa 13 Novembro

Prezado leitor,

Seja muito bem vindo ao blog da Revista Camisa 13. Aqui você poderá acompanhar, além da revista mensal e eletrônica, postagens da nossa equipe, que incluem podcasts, colunas e tabelas. São mais de 15 pessoas trabalhando para trazer o melhor do futebol nacional e internacional, sem que você precise sair de sua casa e ir às bancas.

Ao longo dessas páginas, o leitor terá acesso a reportagens, matérias e artigos opinativos dos nossos membros, em sua maioria jovens jornalistas ou estudantes do curso, fanáticos por futebol, diga-se de passagem.

A Revista está disponível em três formatos: texto, .pdf e em flash, que você tem a possibilidade de folhear como se estivesse manuseando uma revista impressa convencional. O design interno foi ini-cialmente projetado visando não ser visualmente poluído, desagradável para a leitura. Leitura essa que tentamos deixar mais suave até para quem não é profundo conhecedor do esporte.

Instruções no uso do arquivo em flash:

Se o navegador exigir a execução de um plugin, aceite. A versão folheável é apenas acessível se o computador tiver o Shockwave player. O download não dura muito, caso ainda não possua em sua máquina.

Você pode usar a barra de rolagem para subir, descer ou ir para os lados da página, ajustando da ma-neira que julgar conveniente para a sua leitura. Com um clique nos cantos externos de cada uma das folhas é possível arrastar a imagem, que simula uma revista impressa.

Caso esteja com dificuldades de enxergar, clique com o botão direito do mouse e escolha a opção “Mostrar tudo”, para ampliar o conteúdo sem perder de forma considerável a resolução das fotos e do texto inseridos. Apertando para baixo com as setas direcionais, o arquivo irá passar para a próxima página automaticamente, sem a necessidade do clique. A seta para cima volta para a folha anterior. Para a frente e para trás há o mesmo efeito.

Você pode ter acesso aos textos, em ordem, na página do blog, da mesma forma que o .pdf. Nós da Camisa 13 te desejamos uma boa leitura. Faça bom proveito da publicação.

Lembre-se que todo dia 13 faremos o lançamento da edição. Visite-nos e acompanhe os processos.

Equipe Revista Camisa 13

www.revistacamisa13.blogspot.com

Entrevista com André Kfouri, dos canais ESPN

Camisa 13Ano 1 - Edição 2 - novembro 2010

A saga de Belluzzo, PatriciaAmorim e Luis Álvaro

O que faltou a cada um?

Foi-se a Era Dunga: E agora, Mano?

O melhor dos Campeonatos nacionais e internacionais

Hey, conheço essa camisa!

Nem em filmes do Van Damme

Conheça três grandes caneleiros

do futebol inglês

Vida longa ao reiEles mandam nos

seus clubes, mas quem é que ousa tirar a coroa de

um craque?

Page 2: Revista Camisa 13 Novembro

Revista Camisa 13

Revista

Camisa 13Edição número 1 - Novembro 2010

Publicação mensal

Data de fechamento: 19/11

Equipe:

Redação Geral: Felipe Portes, Rodolfo Zavati,Rodrigo Gutuzo, William Paolieri

Futebol Internacional: Felipe Portes,Guilherme Taniguchi,

Caio Dellagiustina, Renato Zanata, Victor Hugo Torres e Kallil Dib

Futebol Nacional: Rodrigo Gutuzo, Dimayma Belloni,

Ary Machado e William Paolieri

Reportagens: Felipe Portes, Victor Hugo Torres,Rodolfo Zavati, William Paolieri e

Felipe Modesto

Design e Arte: Felipe Portes, Diego Carvalho,Danilo Giroto,

Caio Dellagiustina e Renato Piovan

Revisão: Pedro Paulo Vaz, Mégrivi Araújo,Rodolfo Zavati, Felipe Portes, Felipe Modesto

Nestário Luiz e Natália Vilaça

Jornalista Responsável:Elson Miguel

Agradecimentos especiais: Victor Martins, André Kfouri, Eliane Galvão,

Alcioni Galdino, Vitorino Neto, Álvaro Loureiro e Alex Caligaris

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Da Redação

Mais um grande passoCaro leitor,

Para esta edição de novembro, nossa segunda revista, prepara-mos algumas reportagens interessantes, como a cirúrgica aval-iação de Felipe Modesto sobre Luiz Gonzaga Belluzzo, Patrícia Amorim e Luiz Álvaro de Oliveira, presidentes de Palmeiras, Flamengo e Santos, respectivamente. Um dos novos membros da equipe analisou as gestões, acertos e erros de cada um dos “manda-chuvas” de três dos maiores clubes brasileiros. Além deste material, Modesto nos traz uma outra reportagem que intercala o basquete com o futebol, citando similaridades e tantos clubes que possuem equipes nos dois esportes.

Com muito orgulho também integramos ao time o analista tático e historiador Renato Zanata, referência sobre futebol argentino no país. Renato já havia nos cedido uma grande entrevista na primeira edição. Prestativo, aceitou de pronto o convite para ter uma presença regular na Camisa 13, sempre falando sobre o plano tático e várias histórias sobre o futebol dos nossos “hermanos”.

Além das novidades, temos as nossas costumeiras colunas e crônicas, além das editorias de campeonatos nacionais e inter-nacionais. Todos os países que foram lembrados na primeira, estarão nesta segunda edição, com a adição do Campeonato da Sérvia, que será veiculado em novembro, após enquete no nosso blog. Você que não pode dar o seu voto, fique tranqüilo, mais quatro opções aparecerão aqui no nosso espaço, para que você escolha o que quer ver de diferente nas nossas páginas. A seção “O mito sobre” traz Alexi Lalas, zagueirão norte-amer-icano que marcou época com seus longos e ruivos cabelos, sem falar na espessa barba. Embarcando no tema “jogadores clás-sicos”, Caio Dellagiustina contará um pouco sobre a carreira de Zbigniew Boniek, um dos maiores atletas poloneses no fute-bol, na editoria “Grandes hits da bola”.

Por último e não menos importante, Rodolfo Zavati traz as maiores diferenças entre a seleção brasileira comandada por Mano Menezes, em relação a “Era Dunga”. Imperdível. A ent-revista deste mês será com André Kfouri, repórter e apresenta-dor dos canais ESPN, feita por Guilherme Taniguchi. Confira o nosso trabalho deste mês, e tenha uma ótima leitura.

Felipe Portes

Gerd Müller

Revista Camisa 13

Revista Camisa 13Edição de novembro

pitacos da equipe 3

Crônicas 5

Colunas 7 Campeonato Brasileiro 9

Campeonato Argentino 13

Campeonato Inglês 15

Campeonato alemão 19

Campeonato Holandês 23

Campeonato Português 25

Campeonato Russo 27

Campeonato Espanhol 29

Campeonato Francês 31

Índice

2

Campeonato Sérvio 33

Campeonato Italiano 35

Entrevista com André Kfouri 38

Sem Messias 39

SeleMano 43

Hey, conheço essa camisa 47

Vida longa ao Rei 51

Nem em filmes do Van Damme 57

Amor ao futebol em 61tempos de guerra O mito sobre 63

Grandes hits da bola 64Zbigniew Boniek

433938

51 57 61

Page 3: Revista Camisa 13 Novembro

Revista Camisa 13

Pitacos da Equipe

Pitacos da equipe

Revista Camisa 13

Pitacos da Equipe

“Pelo menos o Dunga não perdia pra Argentina...” (Rodrigo Gutuzo,@rodrigogutuzo, sobre a primeira derrota do Brasil sob o comando de

Mano Menezes, logo para quem...? )

“O único esquema que o Roger conhece é o esquema de cores dos azulejos de uma sala de fisioterapia.” (Rodolfo Zavati, @rodolfozavati, comentando a declaração infeliz do cruzeirense, que alegou ter existido

um “complô” no último título nacional do Corinthians, em 2005)

“Com os setenta gols marcados pelo mito Inzaghi em competições européias, ele entra para a história, comprovando que é muito mais que um caneleiro sortudo”. (Victor Hugo, que continua sem twitter e

observou o faro de gol de Filippo Inzaghi, do Milan)

“Falta um Camisa 9 autêntico hoje em dia, como Van Basten, Ba-tistuta, até o próprio Ronaldo.” (Jorge Maximiliano, @Maximilion87, sentindo falta de um grande jogador no ofício)

“Patrícia Amorim não entra em campo e nem escala o time, mas que contrata mal, disso tenho certeza”. (Pedro Smith, @Smith_88 pro-

vavelmente tendo encontrado o problema capital do Flamengo em 2010)

Vale lembrar que os nomes em vermelho fazem parte da equipe, e os em azul são convida-dos ou leitores da Revista Camisa 13. Participe você também, mandando no twitter o seu “cutucão” com a hashtag #pitacosdacamisa13 e tenha sua frase veiculada em dezembro!

3 Revista Camisa 13

Pitacos da Equipe

Pitacos da equipe

Revista Camisa 13

Pitacos da Equipe

Um belo dia a equipe resolveu fazer uma página especial só para manifestar o palpite de cada um. O tema, desde que dentro do futebol, é livre. Vale falar sobre uniforme, esposa de boleiro, urucubaca, comemora-ções esquisitas e tudo mais. Aqui só não vale dançar homem com homem e mulher com mulher. Valendo!

“Fred é o Crocs do futebol brasileiro. Aquele que não é chinelinho, mas tem alvará para ser”. (Felipe Portes, @donfillippo, sobre o atacante tricolor, que pouco atuou em 2010)

“Os Seattle Seahawks têm grandes chances de ir aos playoffs”. (Bruno Ruppini, @BrunoRupp, sobre as chances do Seattle na...epa, peraí)

“Se Mano Menezes vai conquistar títulos não sabemos, mas a torcida ele já ganhou: Convocou R. Gaúcho e mandou o Douglas tomar no c*!”

(Dimayma Belloni, @DimaymaBelloni, apoiando a atitude enérgica do novo técnico da Seleção brasileira)

“Já que estão reclamando tanto da escassez de bons laterais direitos no futebol brasileiro, tenho a solução: joguem em campos redondos”. (Marcio Aparecido, @MaRcinH0, com uma idéia que nunca ninguém tinha pensado)

“Adriano no Corinthians? Para mim é balela. Se for contratado mesmo será uma bola fora do clube”. (William Paolieri, @WilliamPaolieri, não depositando muita fé na chegada do Imperador no Parque São Jorge)

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Revista Camisa 13

Crônicas

Por que DinamarcaPor Victor Martins*

A primeira pergunta que fazem quando sabem da minha torcida chega a ser meio bizarra e auto-explicativa ao ver minha fisionomia de cabelos e olhos castanhos escuros. Não há nenhuma ascendência mesmo nunca tendo procurado saber. Talvez alguma regressão revelasse que em alguma das vidas eu fui algum vi-king desbravador ou um defensor bravio do país nas duas grandes guerras. E ai-nda que houvesse, talvez seria um mero atestado formal.

A primeira grande lembrança data de 1992. Aos 11 anos, eu estava do outro lado da rua com os moleques da vizinhan-ça e já comemorava o surpreendente 2 a 0 da final daquela Eurocopa contra a Ale-manha, a Eurocopa que não era para ter ido porque a vaga era da Iugoslávia que vivia a osmose interna e beligerante da separação das regiões do Leste Europeu com a queda do socialismo. A vaga para a Copa de 1994 não veio na última rodada, e sem internet ou qualquer coisa possível para acompanhar em tempo real, restou aguardar o relato da TV para saber se o esquema ridículo para não tomar gol da Espanha daria certo.

O técnico da época, algum Jensen, Poulsen ou Olsen da vida, resolveu ado-tar o 9-1 naquele jogo em Sevilha, acho. Resumidamente, era ficar na defesa e dar bicanca quando a furiazinha ata-casse. Aos 39 do segundo tempo, veio o 1 a 0. A Irlanda ganhou dos arquirrivais, fez a pontuação necessária (e superior a nossa) e a Copa já era. Havia um colega de escola, o Renato, cujo sobrenome era repetido, descendente de espanhóis, que passou a ser meu grande inimigo.

Aí vieram as Eliminatórias para a Euro 1996. Lá estava a Espanha em nosso gru-

po. Tomamos 3 lá, empatamos em casa. De novo os ibéricos nos tiravam de uma competição. De lá pra cá, houve uns três ou quatro confrontos. Nunca vencemos. A Espanha não me desce. Nunca desceu.

Em 1998 caímos no grupo da França e passamos em segundo à fase de mata-mata. Nas oitavas, a Nigeria vinha toda posuda, o jogo seria uma dureza só. Mas uma maldita e obrigatória festa junina no último ano do colegial me afastou da TV. “Foi 4 a 1”, um amigo disse, e eu já lamentava a piaba quando me contou que seríamos nós os adversários do Bra-sil. Aquela passagem às quartas rendeu alguns galões de tinta vermelha e bran-ca, e a bandeira e o símbolo da CBF local, certamente sem seus meandros escusos, foram desenhados cuidadosamente na parede do quarto.

Veio, então, a explosão no minuto 2’ de jogo quando Jorgensen surpreendeu a defesa brasileira com uma falta batida rapidamente. O grito na sacada de casa encontrava eco na rua vazia e igualmente surpresa com aquele time que passava longe do favoritismo. A virada foi con-struída, mas Roberto Carlos, sem arru-mar as meias e dando bicicleta no vácuo, tratou de deixar Brian Laudrup, irmão do grande Michael, livre para o empate já no segundo tempo. Só que Schmeichel, cer-tamente o melhor goleiro surgido desde a invenção britânica do esporte com pés, não chegou no chute milimétrico e ras-teiro de Rivaldo no canto esquerdo. O 3 a 2 era o adeus, e a tristeza me fez sentir pelo resto da competição uma indife-rença tamanha que eu dormi assistindo àquela famigerada final.

A desgraça pouca sempre nos foi bo-bagem, e em 2002 lá estávamos nós

no grupo dos então campeões, tam-bém embalados pela conquista da Euro 2000. A Copa era na madrugada, o que só diminuiu poucos decibéis os gritos pela vitória sobre o Uruguai e, principal-mente, sobre a França que eliminamos sem deixá-los marcar um gol sequer. O 2 a 0 comandado por Rommedahl e To-masson nos dava o primeiro lugar e o confronto com a Inglaterra. A piaba de 3 a 0 num sábado, numa apresentação digna destes primeiros jogos que temos visto, impediu a revanche contra o Bra-sil — que, decerto, varreria tal seleção, e Galvão e a RGT estariam hoje torcendo fervorosamente para alcançar o penta.

Voltamos meio desacreditados para a Copa de 2010, e um jogo foi responsável por isso: o 3 a 2 lá em Portugal, no início da campanha, depois de estarmos per-dendo por 2 a 0 até os 35 do segundo tempo. Só fomos perder no grupo que também tinha a Suécia, a qual ajudamos a eliminar, bem feito, na partida final, para os fracos húngaros, quando já es-távamos garantidos. Mas cair no grupo com a Holanda só não é pior do que hou-vesse ido para o grupo da Espanha.

A bandeira balançou durante o Mundial. A bandeira e o símbolo continuavam in-tactos. As duas camisetas, branca e ver-melha, estavam fáceis no guarda-roupa para serem vestidas. O chapéu viking es-tava sem pó. Mas tudo durou três parcos jogos neste ano. A apatia contra a Hol-anda, a sorte contra Camarões, o nada contra o Japão, o mau time que à casa tornou, a dureza de ver a tal da Espanha campeã e a bola que se tocou pra frente.

Confesso que ser “outrista” no futebol não é nada fácil. Fazer o quê. Torcer e ser Dinamarca sempre fez parte da vida.

Explicação plausível para a fervorosa torcida de Victor Martins: as belas dinamarquesas

5 Revista Camisa 13

Crônicas

A “Síndrome de underground” Por Felipe Portes

Pegando carona no ótimo texto de Vic-tor Martins sobre sua torcida para a Dinamarca, achei legal falar um pouco sobre uma síndrome que atinge uma ínfima parcela de amantes do futebol: a “Síndrome de underground”.

Eis a minha história, um grande admi-rador do futebol russo, sérvio, dinamar-quês. Desde 2006 não tenho a Seleção brasileira como alvo de minhas boas vibrações, principalmente em Copas do Mundo. Comecei apoiando a Itália, terra de minha amada Roma, paixão futebo-lesca desde que eu tinha apenas onze anos.

Sempre achei muito fácil ser torcedor do Barça, Real, Manchester United, Mi-lan e Inter. Seleção Inglesa, francesa, alemã então, nem se fala. Minha pátria de chuteiras é a Itália, muito por meu fanatismo pela Roma, como citado no parágrafo acima. No entanto, quando se abriram os horizontes e novas perspec-tivas neste mundo maravilhoso que é o futebol, me vi com outras opções. Não tão competitivas, mas com histórias e personagens tão fascinantes quanto.

Era véspera de Copa do Mundo, na África. Como fã da Rússia, República Tcheca, Croácia, não tinha outra nação a apoiar na competição, além da Itália. Eis que me voltei com carinho para aquele povo sofrido, de uma bela bandeira e um belo brasão. Um país que já teve tantos nomes diferentes e teve craques incríveis: a Sérvia. Desde os tempos de Iugoslávia eu tinha muito apreço por aquele pessoalzinho humilde. Já foram Mijatovic, Mihajlovic, Stojkovic e cente-

nas de outros craqueovic.

De um dia pro outro eu estava mergulha-do em pesquisas sobre a história do país, origens e causas de tanto separativismo estes anos todos. Naturalmente enxer-guei em Josip Tito um ícone, na mesma proporção que tive desgosto em ter de-talhadas as atrocidades de Slobodan Mi-losevic. Como se fosse coisa do destino, enquanto eu zapeava canais numa noite qualquer, um canal à cabo me mostrou um belo documentário sobre a nação iugoslava, sérvia, montenegrina, bósnia, eslovena e todas as outras federações que herdaram um pouco desta cultura. Me vi obrigado a comprar uma camisa dos meus colegas da Sérvia, que chega-vam à Copa como líderes de sua chave nas eliminatórias. Enquanto todos pas-seavam pelas ruas de camisas amarelas, azuis, laranjas, albicelestes, só eu osten-tava aquele manto vermelho com uma enorme cruz do lado esquerdo. Muitos me chamaram de suíço, dinamarquês, mas não abaixei a cabeça.

Não preciso dizer o quanto sofri com a eliminação na primeira fase, mesmo que após arrancar uns pontinhos da temida Alemanha. Minha paixão pela Sérvia continuou e o próximo passo seria con-hecer melhor o campeonato local. Que mal faria escolher um time por lá, tam-bém? Olhando bem para Estrela Ver-melha, Partizan, Vojvodina e OFK, decidi me juntar aos “Grobari”, os alvinegros do Partizan. O Estrela Vermelha continua sendo o mais glorioso dos clubes servo-iugoslavos-milhões-de-outros-países-afiliados, inclusive o único a ter vencido uma Liga dos Campeões. Mas de tão afe-

tado pela “síndrome de underground”, até no próprio underground optei pelo caminho mais difícil. Continuaram as confusões.

Recentemente também adquiri uma camisa do Partizan, de forma que fosse guardar comigo um pedaço desse lugar que um dia certamente irei visitar. Fre-quentemente sou confundido com santistas, atleticanos, juventinos. Mas ficava contente em explicar um pouco desse “amor biruta” que aprendi a nutrir. Falo sempre da história do estádio, que serviu por muitos anos de palanque para discursos e eventos liderados por Tito, conto também que o nome do clube é uma clara alusão ao exército iugoslavo na primeira guerra, os “Partisans”, que a estrela vermelha no emblema de fato é uma referência socialista.

A paixão só aumentou quando tive a oportunidade de escrever sobre o campeonato local para a revista deste mês. Foi uma dura pesquisa, mas que me satisfez de uma forma que nem posso de-screver. Antes da partida jogada, admiro muito a história que envolve cada time, cada seleção e é isso que talvez enobreça o apoio que é dado. Como disse anterior-mente, é muito fácil escolher algum time que esteja sempre no topo ou em evi-dência. Difícil é gritar e torcer por algum time que certamente é desconhecido para muitos. Se meu colega Victor Mar-tins acha que a vida de “dinamarquês” é difícil, só tenho que comentar que ser “ideologicamente sérvio” é mais ainda. Para piorar, o Partizan é lanterninha do seu grupo na Liga dos Campeões. Que dureza, amigos, que dureza.

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Revista Camisa 13

Colunas

Ó, fortuna!Por Mégrivi Araújo

Em janeiro de 2008 o Botafogo apareceu em 6° lugar numa lista-gem que apontava os 13 clubes mais azarados do mundo, também, pudera, existem coisas que defini-tivamente só acontecem com o alvinegro carioca. Mas não vou en-trar nesse mérito, pelo menos não diretamente. Por hora, traduzo apenas uma experiência própria, que sempre me acomete quando assisto aos jogos do Botafogo: a partida começa e o clube carioca sai na frente; de repente o time ad-versário começa a reagir; daí pra frente, ou a outra equipe vence, ou empata, ou, mesmo quando o al-vinegro ganha, fico até o apito final esperando acontecer alguma des-graça, se não acontece nada, sinto um enorme alívio.

Esclareço logo que não sou bota-foguense, mas, como o jogo é sem-pre tão tenso, só consigo relaxar depois que o resultado está de fato definido.

Atualmente o Botafogo vem em-balado por uma boa fase: está no G4, mantendo uma distância de apenas 4 pontos do líder do Campeonato Brasileiro, e culti-vando o sonho da Libertadores e até (por quê, não?) da conquista do título nacional.

Uma música que pode falar mais sobre o Botafogo do que eu é aquela em Latim, pertencente aos Carmina Burana, “O Fortu-na”, que em Português pode ser entendida com o significado de ‘sorte’. No caso do clube cario-ca, caberia também o “falta de” antes do termo traduzido. Se o leitor não está se lembrando de a qual música faço referência, bas-ta pensar em uma trilha sonora de fim de mundo. A primeira que lhe vier à cabeça será ela.

A Fortuna é mutável, aumenta e diminui sempre, e assim foi com o Botafogo em 2010: alguns mo-

mentos de crise e outros de tran-quilidade, como o atual, em que os torcedores têm demonstrado bastante confiança no time para a reta final do Brasileirão.

O que eu me pergunto, e pro-vavelmente você também deve se questionar, caro leitor, é se a Fortuna que espera pelo alvinegro carioca é aquela com o significado de ‘riqueza’ ou aquela que apenas lança o futuro nas mãos trêmulas e oscilantes da ‘sorte’. Nos jogos das próximas rodadas é certo que a ‘fortuna’ irá de en-contro ao Botafogo, e ele, por sua vez, colocará meu coração na gar-ganta até o apito final, do jogo fi-nal, do Campeonato Brasileiro.

Resta-me desejar ao 6° clube mais azarado do mundo que esqueça de vez a ‘urucubaca’, que escreva uma nova história a partir de 2010 e que tenha uma “Boa Sorte”.

7 Revista Camisa 13

Colunas

Três títulos nacionais e 83 anos de história credenciam a Roma como um dos grandes clubes da Itália. Os “gial-lorossi” entraram definitivamente para o hall de vencedores no país, após a década de 1980, quando montaram um grande esquadrão, treinado por Nils Liedholm, com Franco Tancredi, Sebastiano Nela, Aldo Maldera, Ubaldo Righetti, Falcão, Bruno Conti, Agostino di Bartolomei, Francesco Graziani, Roberto Pruzzo, en-tre outros. A grande glória poderia ter sido na Taça dos Campeões Europeus, na temporada 1983/84, contra o Liverpool, em pleno Olímpico de Roma. A derrota nos pênaltis foi a única chance clara de título europeu para os romanistas, que até hoje lembram com tristeza do dia 30 de maio de 1984. Tão triste que, ex-atamente dez anos depois, o capitão da equipe na oportunidade, Di Bartolomei, se suicidou.

Passaram-se alguns anos e os torce-dores puderam festejar mais uma vez. Na temporada 2000/01, o grande time liderado por Francesco Totti, tinha out-ros craques, como Vincenzo Montella, Gabriel Batistuta, Cafú, Aldair, Emerson, Abel Balbo, Vincent Candela, Damiano Tommasi, para não citar todo o elenco, que marcou época. Neste ano, a equipe da capital venceu mais uma vez o Scu-detto, último título de grande expressão.

A Roma foi se desmontando conforme o tempo passava e talvez o ponto de maior decadência tenha sido entre 2004 e 2006, com um elenco fraquíssimo, sem perspectivas de lutar por nada, seja na

Itália ou fora dela. Cogitou-se até uma chance de rebaixamento, que coincidiu com a quase falência do clube. Muitos treinadores diferentes passaram pelo banco neste período, como Cesare Pran-delli, Rudi Völler e Luigi Del Neri, até a chegada de Luciano Spalletti, que vinha de boa campanha na Udinese. A classi-ficação para a LC veio imediatamente, mas os tifosi mal sabiam o que viria.

Nas oitavas de final da edição de 2006/07, a Roma bateu o Lyon e avan-çou para enfrentar o temido Manches-ter United de Cristiano Ronaldo, Carli-tos Tévez e Wayne Rooney. No primeiro jogo, em Roma, vitória dos italianos: 2 a 1. Na volta, o maior pesadelo da história recente tomava cores. Um inacreditável 7 a 1 em Old Trafford enterrou as espe-ranças de uma boa campanha, da pior forma possível. Ainda sim, “La Maggica” conseguiu o vice-campeonato italiano (primeiro de muitos), perdendo para a Inter. Começava aí uma irregularidade nunca antes vista por um clube consid-erado de grande porte no cenário euro-peu.

Mais uma campanha fraca, com der-rota para o mesmo Manchester United. Novamente, o vice-campeonato, por apenas um ponto, para a Inter. As coi-sas só não se repetiram no ano seguinte, quando, logo nas oitavas, os “gial-lorossi” perderam para o Arsenal, na LC. Entretanto, um sexto lugar na Série A 2008/09 só levou o clube à Liga Europa do ano seguinte. Luciano Spalletti deu lugar a Claudio Ranieri, treinador de mui-

A “montanha rossa” de RanieriPor Felipe Portes

tos clubes e nenhum troféu. A maior per-da, entretanto, ocorreu fora das quatro linhas. O presidente Franco Sensi, no cargo por 15 anos, faleceu na metade de 2008, desestabilizando o elenco.

O horrível começo na temporada 2009/10 fez a torcida e alguns jogadores perderem a paciência. A Roma foi elimi-nada nas oitavas de final da Liga Europa, pelo Panathinaikos, em casa e por 3 a 1. Aparentemente, só este baque já serviu de lição e, no Italiano, o clube ressurgiu e liderou a competição por grande parte, até perder para a Sampdoria a cinco ro-dadas do fim. Como sempre, a Inter tri-unfou e o gostinho de “quase” permane-ceu no paladar e até mesmo na memória dos tifosi, sinestesicamente falando.

Com as chegadas de Adriano, Marco Borriello e Fábio Simplício, Ranieri tinha mais variedade na montagem de seus esquemas. No entanto, as coisas não correram como esperado. Adriano vive se contundindo, Borriello demor-ou a emplacar e Simplício teve poucas chances. Não é preciso acrescentar que os primeiros jogos desta estação foram desastrosos: derrotas para times rela-tivamente inferiores e até uma goleada sofrida para a Cagliari. Na LC, o grupo que tem Bayern, Basel e Cluj acabou tendo mais pedras no caminho do que uma rua de paralelepípedo para Totti e seus apóstolos. Com muito esforço, o time conseguiu duas vitórias, sobre os suíços e sobre os “draculescos” do Cluj, mas perdeu outras duas. A boa fase só retornou de vez com a vitória no dérbi romano, diante da Lazio, por 2 a 0, no último dia 7.

Agora, se a boa fase volta de vez, não é certo. A certeza que o torcedor pode ter é que esta temporada terá muitas emoções, como sempre. Se nos últimos anos a situação giallorossa foi irregular, Ranieri pode ser culpado pelos dois úl-timos inícios tumultuados. Mais do que um treinador, o técnico é adepto de uma montanha russa. E você, leitor romani-sta, gosta da “montanha rossa”?

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Revista Camisa 13

Campeonato Brasileiro

No fundo do poçoPor Dimayma Belloni

Em uma tabela de classificação qualquer eles seriam apenas os quatro últimos colocados, mas neste caso são quatro clubes e suas histórias que a partir do ano que vem deixarão de figurar en-tre os nobres do futebol nacio-nal. Estes quatro: Avaí, Guarani, Goiás e Grêmio Prudente ocupam a posição mais indesejada por qualquer time de futebol, eles são os quatro últimos na lista de classificação do Campeonato Brasileiro Série A e por isso, ano que vem, serão punidos com o re-baixamento e terão que disputar a Série B do Brasileirão.

Mas como isso foi acontecer? Essa com certeza é a pergunta que to-dos se fazem. Será que existe uma “fórmula do rebaixamento”? Quais foram os erros em comum que os levaram da Série A para a Série B?

Comecemos com o time do teni-sta Gustavo Kuerten, o Avaí. O clube de Santa Catarina se man-teve afastado da zona do rebaixa-mento durante 20 partidas dis-putadas, encerrando a 20ª rodada na 13º colocação.

A partir daí o grupo catarinense flertou constantemente com o rebaixamento até que 15 jogos depois passou a ocupar a 17º co-locação.

Coincidência ou não, na 18º ro-dada do campeonato Antônio Lopes deixou o cargo de técnico do clube. Verdade que com um aproveitamento de apenas 37%, mas ainda se mantinha distante da zona de perigo.

O interino Edson Santos ficou no comando do time por um tempo, mas logo depois deu lugar a Vag-ner Benazzi.

Treinadores a parte, o aproveita-mento do time caiu para os at-uais 35,2% que deixam a torcida avaiana angustiada, mas cheia de esperança de que o clube escape de voltar à Série B, dois anos após conquistar o acesso à elite do futebol nacional.

Logo atrás do Avaí, ocupando a 18ª e 19ª colocações, vem dois clubes que compartilham não só o verde e branco em suas cores, mas também a tristeza do re-baixamento: Guarani e Goiás.

O time de Campinas tem história, tem títulos, tem ídolos, mas o Guarani que um dia foi Campeão Brasileiro, hoje briga para se man-ter entre os grandes do futebol.

Recentemente, em 2007, amar-gurou uma queda para a 3ª divisão do Nacional. Em 2008 e 2009 tril-hou o caminho de volta para a no-breza, mas hoje vive novamente um momento difícil: a volta para a Série B.

A campanha do Guarani repetiu a rotina de troca de técnicos, Vadão deixou a vaga para Mancini que tinha em mãos um elenco fraco e que atingiu os mesmos 35,2% de aproveitamento do time se Santa Catarina.

É claro que a dança das cadeiras entre treinadores não foi uma exclusividade dos quatro últimos colocados. Aliás, qual time não trocou de técnico neste ano? Está aí uma boa pauta para próxima matéria talvez.

O Goiás seguiu o roteiro e por lá passaram Jorginho, Leão e agora Artur Neto, mas nenhum dos téc-nicos conseguiu tirar o time da zona de perigo. Mesmo contando com nomes como Júnior, Rafael Moura e até Fernandão (que de-pois se transferiu para o São Pau-lo), o clube goiano passeia desde 14ª rodada entre os rebaixados.

O último lugar da tabela é ocu-pado pelo Grêmio Prudente, que já foi Barueri, e o time já não tem

Patric comemora gol contra o Internacional: até os momentos felizes do time ganham contorno dramático

9 Revista Camisa 13

Campeonato Brasileiro

mais chances de escapar da Série B. A própria diretoria prudentina publicou na semana de 15 de no-vembro, uma carta aberta aos torcedores lamentando o descen-so.

Em Prudente a troca de técnicos se repetiu, é claro. Mas foram as mudanças extra campo que chamaram a atenção. Com prob-lemas em Barueri o clube se trans-feriu para presidente Prudente e mudou de nome e de estádio.

Os mais supersticiosos diriam que a péssima campanha do time se-ria “urucubaca” da torcida de Ba-rueri. Talvez isso explicasse como Marcos Assunção que hoje é um dos grandes destaques no time do Palmeiras, pouco pode fazer pelo grupo quando esteve em Presi-dente Prudente.

O clube encerra sua participa-ção na série A do Campeonato Brasileiro com apenas 7 vitórias em 35 jogos.

Se olharmos a tabela com aten-ção, as informações de jogos, vitórias, empates, derrotas e gols pró e contra os números de Avaí, Guarani, Goiás e Grêmio Prudente são praticamente iguais, a dife-rença de um clube para o outro é muito pequena.

Os quatro rebaixados tem cam-panhas muito semelhantes, mas talvez o que realmente os esteja unindo não sejam as estatísticas e sim o dia a dia desses clubes. As dificuldades que enfrentam todos os anos e que os obrigam a ser pequenos.

Desde clubes como Guarani, que já figurou entre os grandes, até times como Grêmio Prudente, que ainda busca sua identidade, todos eles sofrem com a desvalorização dos campeonatos regionais e com o fato de não terem competições o ano todo onde possam montar um grupo aos poucos, fazer um planejamento para uma com-petição maior, treinar o elenco,

jogar.

Os pequenos clubes que se esp-alham pelo país, se restringem a caçar revelações que não defend-erão seus escudos, já que para manter as contas, eles serão ven-didos para os grandes nomes do futebol. Categorias de base? Não, não. Esses clubes tem se trans-formado “asilos”, onde jogadores que ainda não admitem o final da carreira se enfiam aos montes.

Mais que um elenco talentoso, um bom técnico, o que separa es-ses times da ponta da tabela é sua situação financeira.

Ano que vem Coritiba, Bahia, Figueirense e América-MG es-tarão na série A ocupando o lugar de Avaí, Guarani, Goiás e Grêmio Prudente, mas por quanto tempo eles vão conseguir se manter en-tre os 20 melhores clubes do Bra-sil é a questão que realmente vale a pena ser feita.

Rafael Moura, o “He-man”, e o seu Goiás: péssima campanha no Brasileiro, inexplicável avanço até a semifinal da Copa Sulamericana, contra o Palmeiras

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Revista Camisa 13

Campeonato Brasileiro

A acirrada disputaPor Ary Machado

Fluminense, Corinthians e Cru-zeiro vão fazendo um campe-onato espetacular. Rodada a ro-dada, cada pronto é mais do que precioso.

A começar pelo Fluminense, o qual citamos aqui na edição do mês passado. O Tricolor Carioca liderou o campeonato em 20 roda-das. Um número mais do que con-siderável para um time que não ganha um Brasileiro há 26 anos e que, ano passado, lutou para não ser rebaixado. Até o fechamento desta edição, o Flu tinha 62 pon-tos ganhos em 35 rodadas, com um aproveitamento de 59%; a melhor defesa do campeonato, com apenas 34 gols sofridos e o quarto melhor ataque, atrás de Corinthians, Grêmio e Santos. Muricy Ramalho vem fazendo a diferença nas últimas rodadas.

Como também adiantamos em outubro, o panorama no Flu seria esse: Muricy reinventando o time e descobrindo peças essenciais que nunca imaginávamos que seriam titulares, como Ricardo Berna e Tartá. Fernando Henrique machucou a mão e só volta em 2011. Rafael não passou seguran-ça aos torcedores.

Na frente, com Fred e Emerson machucados e Washington sem marcar há 13 jogos, a solução en-contrada pelo treinador foi dar chance à cria de Xerém. Berna, de 31 anos, antes terceira opção, já figura entre os titulares e vem fechando a meta. Já Tartá, que es-tava emprestado ao Atlético Pa-ranaense, desempenha funções no mínimo curiosas em campo, a marcação e o poder de decisão. Foi assim contra o Inter, no Beira-Rio, quando anulou Kleber e não deixou o lateral-esquerdo jogar, e no clássico contra o Vasco, blo-

queando Fagner e Eder Luis, mar-cando ainda o gol da vitória.

O Corinthians, vice-líder, também quer o caneco. Ainda mais por ser o ano do seu centenário. O Al-vinegro paulista também já liderou o campeonato. Até a 35ª rodada, o Timão obtinha 63 pontos, na liderança da competição, com o melhor ataque (61 gols marcados). O alto des-empenho em casa impres-siona. São 18 jogos em seus domínios, com 16 vitórias e dois em-pates. Nenhu-ma derrota. A equipe pau-lista somou 44 pontos dentro do Pacaembu. Já está com o terceiro técnico na competição (antes de Tite, Mano Menezes e Adilson Batista comandaram) e conta com grandes estrelas, como Ron-aldo, Roberto Carlos, Dentinho e Chicão.

A revelação corintiana parece ter sido mesmo Bruno César. Depois de um excepcional Campeonato Paulista pelo Santo André, o me-ia-atacante deixou o ABC Paulista rumo ao Parque São Jorge. E não decepcionou. Já são 13 gols, atrás apenas de Jonas, do Grêmio, com 21, e ao lado de Neymar.

Ainda na região sudeste, o Cru-zeiro vem fazendo um bom trab-alho até aqui. O aproveitamento de 57,1% lhe rende o terceiro lugar com 60 pontos, com a vaga na Copa Libertadores praticamente garantida e, como sonho maior, a

luta pelo título.

A Raposa tem o melhor desem-penho fora de casa: 28 pontos foram conquistados longe de Minas. Com Cuca no comando desde a parada para a Copa do Mundo, a celeste embalou e conseguiu pontos importantes que chegaram a levá-la ao topo da tabela. Porém, duas derrotas seguidas devolveram a ponta ao Fluminense. O grande destaque do time, o meia argentino Walter Montillo, chegou depois do Mun-dial à Toca da Raposa 2 e disputa o título de melhor da competição com dois jogadores da mesma nacionalidade: Dario Conca, do adversário direto Fluminense, e Andrés D’Alessandro, do Interna-cional.

A briga continuará nas rodadas fi-nais. Imperdível!

Darío Conca

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Revista Camisa 13

Campeonato Argentino

A escolinha do Professor sabella

Por Felipe Portes e Renato Zanata

Um ano depois do título na Lib-ertadores da América, o Estudi-antes agora ruma a mais um título na Argentina. O último triunfo do-méstico foi em 2006, no Apertura. Perdendo alguns jogadores para o futebol europeu, o treinador Alejandro Sabella, consagrado no clube como atleta, manteve o bom nível e desde o início do Apertura 2010 está na briga pelo caneco, em bela e acirrada dispu-ta com o Vélez.

Liderados dentro de campo por Juán Sebastián Verón, “La Bru-jita”, os “pincharatas” duelam jogo a jogo contra o Vélez, numa grande batalha que promete du-rar até a última rodada. No último dia 22 de outubro, aconteceu o jogo entre os dois, um empate pí-fio para quem está nas primeiras posições.

Como dito no primeiro pará-grafo, é um ótimo trabalho real-

izado sem muitas peças da base campeã continental em 2009, como Marcos Angeleri, vendido para o Sunderland, Christian Cel-lay e Clemente Rodríguez, que foram para o Boca e Mauro Bo-selli, para o Wigan. Já as chega-das, não chamam tanta atenção, mas fizeram a diferença nesta caminhada, como Rodrigo López, ex-Vélez, Facundo Roncaglia, do Espanyol, Gabriel Mercado, do Racing e Juan Pablo Pereyra, do Atletico Tucumán.

Em 14 jogos, os pincharatas con-seguiram 9 vitórias, 3 empates e duas derrotas, no jogo contra o All Boys, na sétima rodada e a última que custou a liderança, para o Tigre, por 2 a 1. O ataque vai bem, com 23 gols, a defesa so-freu apenas 8. O 3-4-3 (escalado pela última vez até o fechamento desta edição contra o Tigre) de Sabella conta com Taborda, Mer-cado, Fernández, Ré, Rojo, Hoyos,

Verón, Braña, Benítez, Ramón Fernández e Pérez.

Restando cinco confrontos, o Es-tudiantes tem uma tabela até que favorável pela frente, visto que mais da metade dos adversários não são concorrentes ao título e/ou estão no pelotão intermediário da classificação. Veja os sete últi-mos passos dos pinchas no Aper-tura 2010. Será que Verón e seus Bluecaps aguentam a pressão e levam o caneco?

Huracán (C), Independiente, (F), Argentinos Jrs. (C), River Plate (F) e Arsenal (C).

O comentarista de futebol argen-tino e novo integrante da Revista Camisa 13, Renato Zanata Ar-nos, faz a sua análise tática dos pincharatas, acompanhe:

O atual Estudiantes de La Plata de Alejandro Javier Sabella – sem a contundência ofensiva que pos-

Alejandro Sabella, que pode chegar ao seu

segundo título de ex-pressão em dois anos, com muitas variações

no sistema tático, como apontado no diagrama montado

por Renato Zanata, na próxima página

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Campeonato Argentino

suía com a presença em campo de Mauro Boselli e a qualidade téc-nica e criatividade diferenciada de José Sosa – têm apresentado variações no seu esquema tático. Ao perder a verticalização das jogadas ofensivas por dentro da cancha, entre as proximidades da meia-lua e a meta adversária com a saída dos citados, Boselli e Sosa, Sabella passou a priorizar os esquemas: 3-4-1-2 e principal-mente, o 3-4-2-1.

Podendo contar com todo elenco em perfeitas condições físicas – o que têm sido muito difícil devido às inúmeras contusões de joga-dores importantes – e devido ao bom momento técnico de jovens crias da base, como Marcos Rojo e Federico Fernandez, Sabella terá condições de escalar o seu melhor 3-4-2-1, com os jogadores, que cito abaixo, dentro do diagrama tático ilustrativo.

O ‘novo Estudiantes’, passou a ter boa presença pelos lados do cam-po na intermediária ofensiva, com as entradas no time, de Gabriel Mercado e Marcos Rojo. Enzo Pérez tem atuado mais como en-ganche, por dentro do campo, mas com liberdade para explorar os flancos, como fazia com maior freqüência, dentro do 4-1-3-2, bastante utilizado em 2009 e 1º semestre deste ano.

Quando estiver plenamente re-cuperado fisicamente, o atacante Hernán Rodrigo López, poderá gerar a contundência ofensiva que o Estudiantes perdeu desde a saída do seu último autêntico ‘camisa 9’, Mauro Boselli.

Obs: Os meias, Leandro Benítez e Gabriel Peñalba, também são boas opções para atuarem no ‘doble enganche’, ao lado de Enzo Pérez.

Tabela do Estudiantes:

Estudiantes x HuracánIndependiente x Estudiantes Estudiantes x Argentinos Jrs.River Plate x EstudiantesEstudiantes x Arsenal

Tabela do Vélez:

Gimnasia La Plata x VélezVélez x TigreGodoy Cruz x VélezVélez x HuracánRacing x Vélez

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Revista Camisa 13 15

Campeonato Inglês

Sob nova direçãoPor Victor Hugo Torres

Como é sabido por quase todos, o Liverpool, um dos mais tradicio-nais clubes ingleses, foi vendido em outubro deste ano. Após algu-ma relutância dos antigos donos, Tom Hicks e George Gillett, o gru-po New England Sports Ventures ( de John W. Henry, foto acima que também é dono do time de beise-bol Boston Red Sox) finalizou a aquisição dos Reds. No entanto, o fato de empresários cheios de grana oriundos de diversas partes do mundo comprarem times de futebol é algo comum na Inglat-erra. Sendo assim, façamos uma breve recapitulação de grandes vendas “clubísticas” na terra da Rainha.

Manchester UnitedO clube, que chegou a ser cotado na bolsa de Londres em 1991, foi comprado pelo empresário americano Malcolm Glazer (dono, também, do Tampa Bay, time da liga nacional de futebol ameri-cano, a NFL) em 2005. A compra completa do clube totalizou 800

milhões de euros. Porém, essa aquisição nunca foi bem vista pelos torcedores dos Red Devils, principalmente depois da venda do astro português Cristiano Ron-aldo. Desde então vários protes-tos foram feitos e diversos grupos de torcedores foram criados com a intenção de tomar conta do clube e, com isso, ver Glazer fora do United.

Birmingham CityEm outubro de 2009, o bilionário de Hong Kong Carson Yeung, que já detinha 30% das ações no clube das Midlands, comprou oficial-mente o Birmingham City. Yeung chegou dando total apoio ao téc-nico Alex McLeish e prometendo reforçar o elenco dos Blues, que na primeira temporada sob sua posse conseguiu uma excelente nona colocação na Premier League. Na temporada seguinte, como prometido, chegaram bons reforços, como Alyaksandar Hleb, Ben Foster, Nikola Zigic, Jean

Beausejour, Martin Jiránek e Matt Derbyshire. Com eles e com a boa base que foi mantida, o Birming-ham tem grande possibilidade de terminar novamente na metade de cima da tabela.

Portsmouth Após conquistar a Copa da Ingla-terra na temporada 2007/2008, o Porstmouth se encontra atual-mente às portas do inferno, ocu-pando a modesta 13ª colocação na segunda divisão inglesa. Isso ocorreu devido a inúmeras dívidas que o clube acumulou. O “Pom-pey” conseguiu a proeza de ter quatro donos em apenas um ano: o russo Alexandre Gaydamak, os árabes Sulaiman Al-Fahim e Ali Al-Faraj e o homem de negócios de Hong-Kong Balram Chainrai.

O clube chegou a entrar em con-cordata e ser administrado ju-dicialmente no início deste ano, além de perder nove pontos na classificação da Premier League,

Revista Camisa 13 16

Campeonato Inglês

terminando a competição na últi-ma colocação. Todavia, no fim do último mês de outubro, foi vendi-do ao antigo proprietário, Alexan-dre Gaydamak, escapando, assim, do risco de falência. É um cenário triste se pensarmos que há pou-co tempo o Portsmouth contava em seu elenco com jogadores da qualidade de Peter Crouch, Jer-main Defoe, Glen Johnson, Lassa-na Diarra, Niko Kranjčar, Sylvain Distin e Sulley Ali Muntari.

ChelseaÉ certo que, de todos os casos de aquisições milionárias, essa foi a que mais mudou o status do clube vendido. De time mediano em quase cem anos de vida, Chelsea alçou ao posto dos grandes clubes da Inglaterra e formou o chamado “Big Four”, ao lado dos gigantes Manchester United, Liverpool e Arsenal.

O grande responsável por essa transformação foi o bilionário russo do ramo do petróleo Roman Abramovich. O ricaço comprou os Blues em 2003 por 60 milhões

de libras e assumiu uma dívida, já paga, de 80 milhões de libras.Já foram gastos cerca de 700 milhões de euros em reforços, como Petr Cech, Didier Drogba e Frank Lampard. Com eles, foram dez títulos conquistados, todos nacionais. Por isso, a grande ob-sessão de Abramovich é a con-quista da Liga dos Campeões. O máximo que o clube conseguiu foi o vice-campeonato na temporada 2007/2008, quando caiu nos pên-altis diante do rival Manchester United.

Manchester City É o time do momento, o novo rico do futebol mundial. O clube que sempre ficou à margem de seu grande rival, o Manchester United, atualmente joga de igual para igual com qualquer equipe da terra da Rainha.

Toda essa mudança começou em 2007, quando o clube que estava à beira da falência e ensaiando um retorno para a Segundona foi comprado pelo ex-primeiro minis-tro tailandês Thaksin Shinawatra.

Porém, após desempenho abaixo do esperado na Premier League, o milionário decidiu vender o clube ao sheik árabe Sulaiman Al-Fahim, apenas um ano depois de tê-lo comprado. No entanto, Al-Fahim se desligou do Manchester City para comprar o Porstmouth. Desse modo, quem assumiu o controle foi seu compatriota Khaldoon Al-Mubarak – ambos pertencem ao mesmo grupo de investimento, o Abu Dhabi United Group.

O novo dono dos Citizens não tem medido esforços para reforçar a equipe e torná-la uma potência futebolística. Para que isso ocor-ra, já foram gastos 447 milhões de euros em reforços. Entre eles de-stacam-se: Carlitos Tevez, David Silva, James Milner, Adam John-son, Emmanuel Adebayor, Gareth Barry, Mario Balotelli e os irmãos Kolo e Yaya Touré. A sonhada vaga na Champions League ainda não foi conquistada. Elenco o City tem, só faltam os resultados. E que eles venham logo, porque um dia a conta chega.

O presidente do City, Gary Cook, com o manda-chuva Khaldoon Al-Mubarak (esq.) e Roman Abramovich (dir.), dono do Chelsea: Será que o dinheiro compra títulos? Os blues de Londres já levaram três títulos nacionais. Quando chegará a vez dos citizens?

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Revista Camisa 13 Revista Camisa 13 17 18

Campeonato Inglês Campeonato Inglês

Get back to where you once belonged

Por Felipe Portes

Aquele time do Liverpool que ocu-pava as últimas posições da Pre-mier League, sob o comando de Tom Hicks e George Gillett, nem de longe lembra o mesmo elenco que apenas mudou para as mãos da New England Sports Ventures, de John W. Henry e Tom Werner. A tendência de comprar clubes britânicos – como é apontado na matéria de Victor Hugo Torres – é cada vez maior e apenas o Arsenal ainda não se rendeu. Os gunners são uma “empresa” e têm suas ações divididas entre um grupo de diretores. Mas não estamos aqui para falar de vendas e lucros. O pé da letra é a recuperação dos reds.

A virada veio cerca de quinze dias após a conclusão da venda. A má administração de Hicks e Gillett havia deixado buracos na receita do clube, que já tinha seus prob-lemas extracampo refletindo na performance dos atletas. Eis que

no dia 27 de outubro o Pool ven-ceu o Blackburn por 2 a 1. Mais uma vitória contra o Bolton, 1 a 0, e a grande virada sobre o Napoli por 3 a 1, pela Liga Europa. Toda-via, o grande milagre do renasci-mento ainda estava por vir. No úl-timo dia 7, Fernando Torres e sua turma do barulho bateram o líder Chelsea por 2 a 0.

Com o salto, os meninos vermel-hos da terra dos Beatles agora estão na nona posição da Premier League e os grandes nomes do elenco voltaram a fazer a diferen-ça como outrora. A recuperação não seria possível se o treinador Roy Hodgson não tivesse peças como Pepe Reina, Jamie Carra-gher, Lucas, Raul Meireles, Maxi Rodriguez, Steven Gerrard, Ryan Babel e Fernando Torres. As últi-mas atuações desses jogadores têm sido fundamentais para que o Liverpool volte ao seu devido

lugar: brigando por títulos. Aliás, desde os tempos de Let it be os titãs do futebol tentam extrair uma lição de elementos externos ao gramado. Desta vez os reds entoaram a última canção do lado B do último vinil dos Beatles, “Get back, get back/get back to where you once belonged” (Volte para o lugar de onde você veio).

O Chelsea, apesar do novo revés, segue na ponta da tabela, com dois pontos a mais do que o Man-chester United, que segue em uma inconstância enorme. De-pois do United vem o Arsenal, que também não conseguiu encaixar uma sequência no campeonato, seguido por City e Newcastle, que se reergueu do começo terrível após o acesso da Championship.

Na parte debaixo da tabela, na zona da degola, temos o fantásti-co trio do W: Wigan, Wolverhamp-

ton e West Ham duelam rodada a rodada por uma vaga na segun-dona. Os “hammers” só têm sete pontos e podem sofrer outra que-da, fato comum nos anos 2000.

Ingleses Na Liga dos CampeõesA campanha mais surpreendente dos britânicos na LC talvez seja a do Tottenham. Com um time mui-to equilibrado, Harry Redknapp por pouco não teve sua vaga con-quistada pelo Young Boys na fase de playoffs. Uma goleada em Lon-dres garantiu o acesso ao Grupo A, ao lado da campeã Internazio-nale, Werder Bremen e Twente.

Os “spurs” seguem firmes na lider-ança, com sete pontos, mesmo número da nerazzurri. Se podem-os destacar um nome do time na primeira fase, sem esforço e por unanimidade, este seria o de Ga-reth Bale, que destroçou as later-ais interistas nos dois jogos real-izados entre os líderes do grupo. No Grupo C, o Manchester United tem utilizado um elenco misto – pelo menos é o que pôde ser notado na estreia, contra o Rang-ers, e no último confronto, con-tra o Bursaspor. Mesmo assim os “Red devils” vão bem na LC, com

dez pontos, num grupo que ainda conta com o Valencia.

O Chelsea está no Grupo F, com 100% de aproveitamento e 12 pontos em quatro jogos. Além disso, pesam os 12 gols feitos e apenas dois sofridos. Os seus adversários são o pobre e mala-

Falou em LC e Tottenham, falou em Gareth Bale

cabado Zilina, o Spartak Moscou e o Olympique Marseille. Os blues integram o seleto grupo de favori-tos ao título.

Para fechar, o Arsenal está no Grupo H, ao lado de Shakhtar, Partizan e Braga. Os “gunners” mandaram ver 15 gols em quatro jogos, enfatizando a imagem de time que joga um futebol solto, ofensivo e vistoso, que tam-bém pode ser notado na Premier League. Fato é que os 4 a 0 se tornaram placar absolutamente comum pelos lados do Emirates Stadium.

Já na Liga Europa...O Manchester City e o Liverpool são as equipes inglesas na Liga Europa e, diga-se de passagem, estão passando por maus boca-dos para garantir a classificação

para a fase de mata-mata, tendo em vista seus elencos e orçamen-tos.

No Grupo A, os “Sky blues” fizer-am a proeza de serem ultrapassa-dos pelo Lech Poznan num grupo que ainda tem em terceiro lugar a Juventus e por último o Red Bull Salzburg. Inacreditavelmente, os poloneses estão liderando o grupo de forma conjunta com os celestes de Manchester, com sete pontos, seguidos pela Juve, com quatro, e os touros vermelhos. com dois.

No Grupo K, o Liverpool pegou uma baba. Steaua Bucareste, Na-poli e Utrecht formam um gru-pinho mequetrefe e que nunca deveria causar transtornos aos garotos da terra dos Beatles. Tan-to não deveria quanto não cau-sou: os reds somam oito pontos, com duas vitórias e dois empates, seguidos pelos romenos, napoli-tanos e holandeses, respectiva-mente. Destaque para a última vitória do Pool no grupo: 3 a 1 de virada contra o Napoli, numa atu-ação histórica do capitão Steven Gerrard.

Emmanuel Adebayor: City em apu-ros no Grupo A da Liga Europa

Marouane Chamakh, do Arsenal: os gunners estão com a corda toda

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Campeonato Alemão

Os novos mineirosPor Felipe Portes

Não, não estou fazendo uma paródia dos Novos Baianos. Nem comparando aos mineiros do Atlético. Os mineiros em questão são do vale do Ruhr, na Alemanha, o outrora temido Schalke 04, dono da maior torcida no país, jun-tamente com Bayern e Borussia Dort-mund.

Na história do clube de Gelsenkirschen, grande parte dos seus jogadores trabal-hava em obras de mineração, ganhando força nas massas operárias e nos povos menos favorecidos financeiramente. Os “mineiros”, como são conhecidos em território germânico, já foram sete vezes campeões nacionais, embora acumulem um grande jejum de títulos da Bundes-liga desde o ano de 1958. O último tí-tulo da equipe foi em 2005, na Copa da Liga Alemã. Aparentemente, este jejum na liga doméstica irá continuar por este ano, levando em conta a crise que os “azuis reais” vivem.

Tudo ia muito bem, obrigado. Vieram reforços de competência considerável, como Klaas-Jan Huntelaar, Christoph Metzelder, Raúl, entre outros jogadores de menor expressão. O técnico é Fe-lix Magath, bi-campeão alemão com

o Bayern de Munique nas temporadas 2004/05 e 2005/06, além do título de 2008/09 com o Wolfsburg. Vinha de um trabalho satisfatório no último ano, onde o clube brigou pela taça até as últimas rodadas com o Munique. Foi o segundo “quase” do Schalke em três anos, já que na temporada 2007/08 os azuis de Ruhr perderam o título na penúltima rodada para o Stuttgart.

A pré-temporada foi normal. O time se mostrava bem entrosado nos amistosos. A estréia na temporada regular foi uma derrota na Super Copa alemã, para o Bayern. Fato até normal, já que os báva-ros têm amplo domínio no país. Iniciou-se a Bundesliga e num jogo excelente, veio a derrota para o Hamburgo. Mais três resultados negativos vieram na se-quência, para o Hannover, Hoffenheim e Dortmund, no clássico do Vale do Ruhr.

A primeira vitória veio somente con-tra o Freiburg, na quinta jornada. Mais quatro jogos sem vitória deixam o clube de Gelsenkirschen na 16ª posição, com 6 pontos, apenas um à frente do Colônia, lanterninha, até o início da 10ª rodada. De antemão, é importante que se co-mente, mesmo com uma possível recu-

peração do Schalke nos próximos dias, o péssimo começo, digno de times recém-promovidos à Primeira Divisão.

A questão é que os ventos sopraram de forma bizonha pelos campos ger-mânicos nesta temporada. Clubes tradi-cionais como o Wolfsburg, Borussia Monchengladbach, Stuttgart e Colônia estão sofrendo para sair do “fundão” da tabela, nas seis últimas colocações. Num campeonato onde o Mainz liderou até a oitava rodada e o Hannover está no G-4 dos clubes que se credenciam para a Liga dos Campeões 2011/12, não há como ter parâmetros para nenhum tipo de com-paração.

Para quem não é familiarizado com a competição, o fato destes “gigantes” estarem na ponta de baixo da tabela não causa surpresa. Agora, ver que a possibi-lidade de ao menos três grandes lutarem contra o descenso este ano, apavora os amantes do futebol na terra do chucrute.

Tentemos explicar então o porque de o Schalke estar nessa dificuldade. Primeiro item que devemos abranger é o coman-do técnico. Há tempos Magath é conhe-cido como disciplinador, doutrinador e

A rapazeada do Schalke 04

treina forte, conduzida sob

o chicote de “Herr Magath”:

rotina de quartel no Vale

do Ruhr

Revista Camisa 13 20

Campeonato Alemão

até excessivamente rígido nas rotinas de treinamento e tática do clube. O modo “durão” do técnico deu certo no Bayern, com um bom elenco e recentemente no Wolfsburg, que possuía um grupo unido e com boas peças. Mas desta vez é diferente. É claro que o Schalke tem um grande selecionado titular. Porém, quando se fala em peças de reposição, apenas jovens talentos não têm a ex-periência necessária num momento de grande pressão como este. Como se não bastasse, parte do elenco se mostra muito insatisfeita com a conduta do seu treinador.

Na segunda-feira, dia 25 de outubro, às vésperas do duelo contra o Frankfurt na Taça da Alemanha, Felix se deparou com uma situação conhecida no Brasil. Dois de seus jogadores, Manuel Neuer e Klaas-Jan Huntelaar se separaram da concentração e voltaram ao hotel quase na manhã do dia seguinte. Irritadíssimo, como sempre, Magath disparou: “Que ninguém me venha falar em cansaço, pois eu não aceitarei desculpas. Espero uma boa exibição da minha equipe e um bom resultado, caso contrário vão haver sanções”. O episódio demonstra a de-

sunião dos jogadores, que já sofreram uma ruptura quando Bordon, Kuranyi e Rafinha deixaram o clube na janela de agosto de 2010. O próprio lateral, Rafinha, declarou ao chegar na Genoa que não concordava com os métodos de “Quälix”, uma mistura de “tortura-dor” (em alemão) com Felix, apelido que circula nas rodas de conversa pela Ale-manha. “Para um brasileiro é duro trab-alhar com Felix. Depois de ter treinado com ele, posso virar general no exército brasileiro”, afirmou Rafinha ao diário alemão Sport Bild em meados de setem-bro. Ainda mantendo a linha de severas críticas, o lateral ex-Coritiba ainda co-mentou que Magath se irrita com o “jeito de ser” dos atletas brasileiros.

Foi ainda evidenciado após o primeiro jogo na Bundesliga, contra o Hamburgo, um protesto da torcida contra o treina-dor. Tudo começou com uma declaração infeliz de Quälix, que ao ser indagado por jornalistas sobre a aprovação de seu trabalho no clube, comentou que apenas um “pequeno grupo” estava descon-tente. A vingança veio no jogo supra-citado, quando após o apito final do ár-bitro, jogadores como o capitão Neuer,

além de Ivan Rakitic e Christian Moritz vestiram camisetas confeccionadas por este “pequeno grupo”. A camiseta tinha um desenho de um torcedor e os dizeres: “Nörd Kurve:Kleine gruppe”, que signifi-cam o nome da torcida e uma clara ironia ao “pequeno grupo” citado por Magath.

Além da idéia pouco convencional e o ataque cirúrgico ao “tirano”, cerca de três mil torcedores deixaram de usar o manto azul-real e foram à Arena Auf-schalke trajando as camisetas. Bela sacada de demonstrar desgosto com a regência técnica, sem precisar apelar para a violência ou o desrespeito. Isso se tratando de uma torcida organizada...

Tudo isso só mostra como problemas es-truturais podem levar um clube grande à queda ou a algum lugar muito próximo disso. A situação do Schalke deve ser to-mada como exemplo em todos os itens. Seja na falta de organização, conduta ditatorial e até protestos de torcedores. Se os azuis reais sairão dessa, só o tem-po e as rodadas irão dizer. Mas o que já é certo é que 2010 definitivamente não é o ano dos mineiros...

O “ditador” Felix Magath, do Schalke:Capitão linha-dura e disciplinador, que até agora não conseguiu boa sequência nos azuis-reais

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Revista Camisa 13 Revista Camisa 13 21 22

Campeonato Alemão Campeonato Alemão

Liga dos CampeõesO Werder, na chave A, segura a lanterninha para Tottenham, In-ternazionale e Twente. A cam-panha soma dois pontos, dois em-pates e duas derrotas. Mais feio do que isso são os três gols feitos e nove sofridos.

Já o Schalke 04, no B, vai encamin-hando sua classificação para a segunda fase, mantendo a se-gunda posição com sete pontos, com duas vitórias, um empate e uma derrota. São cinco gols fei-

tos e dois sofridos. Nada mal para quem vinha agonizando no início da Bundesliga. Os azuis-reais têm Lyon, Benfica e Hapoel Tel-Aviv na chave.

Fechando na Champions, o Bay-ern lidera um agrupamento que conta com Roma, Basel e Cluj, sem problema algum para avan-çar ao mata-mata. Quatro vitórias em quatro jogos demonstram a superioridade bávara. O saldo é de oito, sendo 11 gols feitos e ap-enas três sofridos.

Liga EuropaO Bayern Leverkusen bateu de frente com o Atlético de Madrid, atual campeão e está na ponta do Grupo B. São oito pontos, com duas vitórias e dois empates. Ai-nda tem Aris e Rosenborg como adversários.

O Stuttgart também vai bem na LE, ao contrário da campanha na Bundesliga. Com 12 pontos, o time do brasileiro Cacau venceu todas as suas partidas, com di-reito a nove gols feitos e apenas um sofrido. O grupo ainda tem Young Boys, Odense Boldklub (OB) e Getafe.

Sufoco mesmo só passa o Dort-mund, líder do Campeonato Alemão. Para completar a ironia, os amarelos somaram apenas cin-co pontos, com uma vitória, dois empates e uma derrota. O saldo é neutro, já que o time do Ruhr fez e sofreu cinco gols. A chave tem Sevilla, Paris Saint-Germain e Karpaty.

Nem chegou e já quer sentar na janelinha

Por Kallil Dib

Não vamos confundir Mainz 05 com algum nome de medica-mento ou produto de limpeza. A equipe de Rhineland é a surpresa da temporada européia, afinal, foram 105 anos de vida sem a menor expressão no cenário mun-dial. Incrível é o fato do clube até a dois anos atrás estar apenas lutan-do para ser promovido à primeira divisão do campeonato nacional.

Se olharmos para a parte de cima da tabela, não vamos ver o habitu-al das ultimas edições da Bundes-liga. Não há Bayern de Munique, Stuttgart ou Werder Bremen. Este ano a ponta é ocupada pelo Borussia Dortmund, seguido do protagonista desta matéria, que briga ponto a ponto com o Bayer Leverkusen. Os “Die Nullfünfe” (ou Os número cinco) já apronta-ram muito nessas primeiras roda-das, ofuscando até mesmo o ex-celente começo dos amarelos do Dortmund na competição.

Nas sete primeiras partidas do certame o Mainz ganhou todas,

estrando bem, com uma vitória sobre o Stuttgart por dois a zero no seu modesto estádio. No se-gundo jogo da temporada o time conseguiu uma surpreendente vitória fora de casa frente ao Wolfsburg, quatro a três. A partir daí os vermelhos ganharam confi-ança e não parou de surpreender os críticos, e para provar que não era apenas “sorte de principiante” a equipe emplacou uma série de dar inveja a qualquer gigante do futebol alemão. O Werder sentiu na pele que o Mainz não veio para brincar, sendo derrotado em seus domínios por 2 a 0.

Já se passavam cinco rodadas do campeonato, o próximo confron-to seria contra o atual campeão e temido Bayern de Munique, co-mentaristas e críticos de futebol davam por encerrada a série sur-preendente de vitórias dos meni-nos da terra de Gutenberg, se en-ganaram.

A modesta equipe não tomou conhecimento dos poderosos de

Munique e em plena Allianz Are-na ganharam o jogo. Os respon-sáveis pelo feito foram os ata-cantes Sami Allagui e Adam Szalai que selaram a vitória por dois a um. Depois do inesperado triunfo sobre a equipe do Bayern, o Mainz não se contentou em apenas bat-er o Hoffenheim, também empla-cou uma belo placar de 4 a 2.

Somente na sétima rodada, a se-rie invicta e inédita foi interrom-pida. Jogando como mandante, a equipe do Hamburgo não quis sa-ber de surpresas e saiu vencedora pelo placar mínimo. “Os números cinco” não se abateram com a derrota, e quem pagou o pato foi o Leverkusen, derrotado em casa na jornada seguinte, por 1 a 0 pelo Mainz.

Depois de acabar com os “gran-dalhões” da Alemanha, os nossos vermelhinhos ficaram três par-tidas sem vencer, o que resultou em deixar a equipe no terceiro lugar no campeonato, empatado em número de pontos com o ru-

bronegro Leverkusen.

Mas qual o enigma do Mainz, a que veio essa pequena equipe de uma cidade com apenas 197 mil habitantes? O treinador Thomas Tuchel não consegue explicar o sucesso obtido nessas primeiras rodadas e cita a expressão “sur-realismo” nas constantes ent-revistas coletivas, para explicar o grande rendimento do time no campeonato germânico. Real-mente é surreal o que o pequeno clube esta aprontando, a terceira colocação na Bundeslliga é algo

inexplicável, o time não tem ne-nhum jogador conhecido e tem apostado nos jovens talentos para fazer história no cenário europeu.Os incríveis 66.7 % de aproveita-mento nas 12 primeiras rodadas fez com que os fiéis torcedores falassem até em vaga na Liga dos Campeões, e os mais otimistas e sonhadores pensem até em título alemão, o que parece um pouco exagerado para a ocasião. Manter a regularidade até o fim da com-petição é o desafio dos atletas e da comissão técnica, já disputar uma LC seria algo completamente

incrível para a humilde estrutura da agremiação.

O time alemão consegue contrar-iar os críticos e surpreender até os próprios torcedores. Fica a ex-pectativa para as próximas vinte e duas rodadas, a vontade dos joga-dores pode falar mais alto do que a técnica. O mundo do futebol tem mais uma história pra contar, apareceu uma zebra vermelha e branca, que fala alemão e não se intimida com os titãs germânicos. A zebra não só chegou, como já se acomodou ao lado da janelinha.

Os alemães nas competiçõesinternacionais

Andre Schuerrle e Adam Szalaicomemoram gol na sétima vitória consecutiva doMainz: o frágil elenco sucumbiu na rodada seguinte

Klaas-JanHuntelaar, do

Schalke 04, que luta pela

vaga no Grupo B da Liga dos

Campeões

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Revista Camisa 13 23

Campeonato Holandês

Por Caio Dellagiustina

Em um clássico, sempre se espe-ra um placar apertado, com uma diferença pequena de gols. Não só por se tratar de um jogo mais brigado, mas pelo fato de normal-mente serem dois times grandes se enfrentando. Os torcedores de PSV e Feyenoord também es-peravam isso, mas a realidade foi outra. Uma sonora goleada que será inesquecível a todos.

Para os torcedores do PSV, um jogo para sacanear torcedores do Feyenoord por um bom tempo. Para os torcedores do Feyenoord é melhor nem falarmos nada.

Os 10 a 0, isso mesmo, 10 a 0, cau-saram espanto a quem assistiu ao jogo ou só ficou sabendo do resul-tado. O curioso é que a partida foi

para o intervalo com o PSV gan-hando apenas por 2 a 0.

O brasileiro Jonathan Reis foi um dos destaques do jogo, marcando três gols. Mario Been, técnico do Feyenoord, chegou a entregar o cargo com vergonha da atuação de sua equipe, mas os dirigentes decidiram manter o treinador, que não faz boa campanha no Campe-onato Holandês: o time de Roter-dã, até a 12ª rodada, ocupava a 15ª colocação, bem próximo da zona de rebaixamento. Segundo Been, um dos motivos da acacha-pante derrota foi a expulsão do zagueiro Leerdam (sem nenhum trocadilho), ainda no primeiro tempo.

Na rodada seguinte tudo parece ter voltado à normalidade na

competição. O PSV jogou mal e perdeu para o Twente, derrota que custou a primeira posição do campeonato. O Feyenoord, por sua vez, perdeu novamente, só que dessa vez de uma forma me-nos humilhante: 2 a 1 para o AZ Alkmaar.

Antes desse clássico contra o PSV, a maior derrota que o Feyenoord havia sofrido foi contra o Ajax, outro rival: 8 a 2, em 18 de setem-bro de 1983.

Já o PSV coloca esse resulta-do como uma de suas maiores vitórias, ao lado de outros dois 10 a 0 (o primeiro contra o Go Ahead Eagles, na temporada 1973/74, e o segundo contra o Volendam, em 1997/98).

Ola Toivonen em um dos dez gols na incrível sacolada do PSV no Feyenoord: o treinador dos derrotados con-tinuou no cargo

Um, dois, três...dez!

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Campeonato Holandês

Holandeses nas competiçõesinternacionais

Liga dos CampeõesNo grupo A, quem manda é o Tot-tenham, que tem feito grandes partidas. Mas mesmo assim, a esperança do Twente em avan-çar ao mata-mata da Champions, permanece viva. A missão é difícil e a Inter, atual campeã, não irá fa-cilitar. Os vermelhos de Enschede somam apenas cinco pontos, com uma vitória, dois empates e uma derrota. Com apenas dois pontos atrás dos líderes, o sonho conti-nua.

O Ajax retornou à Liga dos Campeões após muitos anos de ausência. Desde a temporada 2005/06 os “Godenzonen” não participam da maior competição européia de clubes. Tanta espera

devia ter sido compensada com uma boa performance. No en-tanto, o time foi “premiado” com uma vaga no grupo da morte, com Milan, Real Madrid e Aux-erre. Em quatro jogos, os meni-nos de Amsterdã somam apenas quatro pontos, com uma vitória, um empate e duas derrotas, na terceira posição do grupo G. Vai ser difícil...

Liga EuropaO PSV, que vive numa montanha russa entre o marasmo e a glória absoluta, lidera o grupo I da Liga Europa, com 10 pontos. Foram três vitórias e um empate. Nada mal para quem tem o Metalist, Sampdoria e Debrecen como ad-versários na peleja.

E o Utrecht? Minha nossa! Quan-do muitos se espantam em ver o nome do time em alguma com-petição internacional, os atletas não fazem por merecer a vaga e seguram a gloriosa lanterninha para Liverpool, Steaua e Napoli. Três empates e uma derrota. Aí não, né?

Fernando Torres tenta sair do desarme de Edouard Duplan, do Utrecht

Luis Suárez ganha a bola de Stephane Grichting, do Auxerre

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Revista Camisa 13 25

Campeonato Português

Panteras negras em extinção

Por Caio Dellagiustina

Quais são os campeões de toda a história do Campeonato Portu-guês? De pronto, os nomes que vêm à mente das pessoas são os do “trio de ferro”, Benfica, Sport-ing e Porto. E não estão erradas. Fora eles, apenas o Belenenses, na temporada 1945/1946, e o Boavista, em 2000/2001, con-seguiram o feito histórico.

Curiosamente, essas duas equi-pes não vivem bons momentos. O Belenenses foi rebaixado na temporada passada após muitos problemas extracampo, como casos de jogadores irregulares e dívidas.

O Boavista caiu na temporada 2007/2008 após o Comitê de Disci-plina da Liga Portuguesa de Fute-bol Profissional punir, além dos “axadrezados”, Porto e União Lei-

ria devido ao escândalo chamado “Apito Dourado”.

Dirigentes desses clubes coag-iam árbitros para favorecimento a suas equipes. Com isso, o Porto foi punido com a perda de seis pontos mais uma multa branda para os padrões do clube. O Leiria perdeu três pontos e uma multa pequena, mas que já não fazia tanta diferen-ça, pois o clube estava matemati-camente rebaixado. O Boavista, por sua vez, foi quem sofreu a pior pena: o rebaixamento automático para a Série B, além de uma multa de 180 mil euros. Seu presidente, João Lourenço, foi suspenso por quatro anos.

Começa aí a agonia do clube de Bessa. O único time que con-seguiu desbancar o trio de ferro neste século vai para a segunda

divisão num dos piores momen-tos de sua história. Os “panteras negras” vêm caindo vertiginosa-mente, agora dentro de campo. Sem condições financeiras e atolado em dívidas, o clube alvine-gro ficou apenas uma temporada na segunda divisão. Mas, ao con-trário do que seus torcedores es-peravam, não veio o acesso. Pelo contrário: a queda para a terceira divisão. E mesmo na terceirona o tradicional clube não consegue se recuperar.

No primeiro ano na terceira di-visão, o Boavista não chegou nem perto do acesso. Na atual tempo-rada, o clube axadrezado vai mal das pernas e pena entre o meio e o fim da tabela. Se a primeira divisão em Portugal já não é das mais profissionais, quem dirá a terceira...

Imagem de um dos últimos jogos do Boavista na Primeira Divisão contra o Benfica: time caiu em 2007

Boavista Futebol Clube

Fundação: 1º de agosto de 1903

Estádio do Bessa Século XXI

30.000 lugares

Cidade: Porto

Títulos: Campeonato Português

(2000/2001),

Taça de Portugal (1974/75,

1975/76, 1978/79, 1991/92 e

1996/97), Supertaça de Portugal

(1978/79, 1991/92 e 1996/97)

Revista Camisa 13 26

Campeonato Português

Portugueses nas competições internacionais

Liga dos CampeõesOs “Encarnados” do Benfica en-cararam uma pedreira e estão no terceiro lugar no Grupo A: Lyon, Schalke e o misterioso Hapoel Tel Aviv. Com duas vitórias e duas derrotas, pode-se dizer que a bri-ga será pela segunda vaga, visto que o Lyon pode assegurar a pas-sagem já na próxima rodada. Os alemães oferecem uma forte re-sistência e prometem atrapalhar a caminhada dos benfiquistas.

No H, o Braga vem com a sua “co-letânea” de jogadores brasileiros esquecidos no mundo. Com mais de 17 nomes estrangeiros no elen-co, os vermelhos já somam seis pontos e podem fazer mais um milagre, além do de ter eliminado o Sevilla na fase de playoffs. Para mais esta façanha, os “Guerreiros do Minho” terão de ultrapassar o Shakhtar e torcer para o Partizan não fazer uma reação histórica.

A campanha do Braga é exata-mente igual a do Benfica, com duas vitórias e duas derrotas.

Liga Europa Os “Leões de Lisboa” fazem óti-ma participação até agora na Liga Europa. Com nove pontos, três vitórias e uma derrota, o Sporting lidera o Grupo C, à frente de Lille, Gent e Levski Sofia. Detalhe para o saldo de oito gols positivos, com 13 feitos e cinco sofridos.

O Porto poderia estar passando por um dos seus tempos mais in-sossos após a conquista da Europa em 2003/04. Somente disputando a segunda competição européia, os portistas estariam prevendo uma temporada “mucha”. Mas eis que no dia 7 de novembro, no clás-sico com o Benfica, que as coisas mudaram. 5 a 0 nos “Águias” para dar um gostinho especial na briga pelo campeonato. Na Liga Europa

o Porto vai bem, são 10 pontos, com três vitórias e um empate, no grupo L, que conta com Besiktas, Rapid Viena e CSKA Sofia.

João Moutinho e seu Porto, líder do Grupo L da Liga Europa

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Revista Camisa 13 27

Campeonato Russo

Com as mãos na taçavskiPor Felipe Portes

Eliminado nos playoffs da Liga dos Campeões 2010/11, o Zenit direciona suas forças para a Liga Europa, além, é claro, do Russão 2010. Comandados por Luciano Spalletti, bom treinador que es-teve na Roma até a antepenúltima temporada, os “stalinets” (apelido dado ao time na década de 1930, por ter integrado vários jogadores metalúrgicos de Leningrado) botaram a mão na taça com três rodadas de antecedência, à frente de Rubin Kazan e CSKA.

Mais reforçados do que em anos anteriores, quando até foram campeões da extinta Copa Uefa, os stalinets contam com três por-tugueses de nível internacional (Fernando Meira, Bruno Alves e Danny), sem falar em outros joga-dores como Danko Lazovic, Alek-sandr Lukovic, Aleksandr Ker-zhakov, Sergei Semak, Aleksandr Anyukov, Konstantin Zyrianov, Vladimir Bystrov, Roman Shiro-kov, Vyacheslav Malafeev, Nicolas

Lombaerts, Igor Denisov, Tomas Hubocan, Szabolcs Huszti e Ivica Krizanac, que integram ou inte-graram suas seleções nacionais. Quase o time inteiro titular do Ze-nit é internacionalizado.

Os reforços desta temporada acu-mularam o valor de 57 milhões de euros. Chegaram desde janeiro Kerzhakov (Dínamo Moscou – 6 milhões de euros), Zhevnov (FC Moscou – 1 milhão), Lazovic (PSV – 5 milhões), Bukharov (Rubin Ka-zan – 12 milhões), Lukovic (Udi-nese – 7 milhões), Bruno Alves (Porto – 22 milhões) e Semak (Ru-bin Kazan – 2 milhões), o que tor-nou o Zenit o time mais ‘galáctico’ da Rússia, guardadas as devidas proporções. Aí você pensa que já acabaram os fatos impression-antes a respeito dos stalinets. En-gana-se. Até o 28º jogo dos azuis no Russão, a marca é de incríveis 20 vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, uma por 1 a 0 para o Spartak, no dia 27 de setembro,

e outra por 3 a 1 para o CSKA, no dia 10 de novembro, num jogo adiado pela 18ª rodada.

Mais assombroso do que isso, foram apenas 19 gols sofridos. O time montado por Spalletti é uma máquina. São 59 gols marcados, média que gira em torno de dois por jogo. No ataque e na defesa, os onze escalados pelo careca lembram robôs, pelo menos no Campeonato Russo. Lazovic e Kerzhakov têm dado conta do recado.

Com três rodadas de antecedên-cia, o Zenit se sagrou tricampeão russo, com uma vitória esmaga-dora sobre o Rostov por 5 a 0. Já na Liga Europa, em quatro jogos, quatro vitórias. Kerzhakov fez ap-enas um jogo e deixou o seu hat-trick. Com a classificação prati-camente assegurada, os azuis esperam a definição num grupo que ainda tem Anderlecht, AEK e Hajduk Split.

Revista Camisa 13 28

Campeonato Russo

Os russos nas competições internacionais

O Rubin Kazan e o Spartak Moscou disputam a Liga dos Campeões nesta temporada. Os “rubis” en-traram num grupo relativamente fácil, encarando Barcelona, Pan-athinaikos e Copenhagen. No en-tanto, passam por um grande ap-erto para repetir a boa campanha do último ano. Com três derrotas e um empate, a situação pode ser sacramentada na próxima jor-nada, na qual os tártaros enfren-tam o Copenhagen, que já soma sete pontos. Uma derrota elimina a equipe do brasuca Carlos Edu-ardo.

No Grupo F, o Spartak, sim, pe-gou uma pedreira: a equipe está ao lado de Chelsea, Olympique Marseille e Zilina. Não é preciso dizer que os londrinos dispararam na liderança, com quatro vitórias e 12 pontos. Fato é que a briga

pela segunda vaga ficará entre os moscovitas e os albicelestes do Marseille, também na próxima ro-dada. Os dois adversários somam seis pontos. Só o Zilina ainda não pontuou.

Também temos o CSKA e o Sibir na Liga Europa desta temporada. O clube de Moscou, liderado por Keisuke Honda e Vágner Love, está com 100% de aproveitamen-to, assim como o Zenit, e é um forte candidato ao título. Num grupo com Sparta Praga, Palermo e Lausanne, garantir a classifica-ção entre tantas zebras já regis-tradas é um feito e tanto para o clube.

O Sibir, novato na primeira di-visão russa, ficou nos playoffs e foi eliminado antes de alcançar algum grupo, perdendo para o

PSV por 5 a 1 no agregado dos dois jogos. Foi goleado pelos hol-andeses de Eindhoven por 5 a 0, fora de casa, na “segunda perna” do duelo. Convenhamos que seria muito para o caçulinha do Russão encarar uma fase de grupos em competições europeias logo de cara...

Ramires e Ibson disputam bola no terceiro jogo do Grupo F da Liga dos Campeões (Chelsea x Spartak)

Keisuke Honda, do CSKA Moscou

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Revista Camisa 13 29

Campeonato Espanhol

Criando novos temposPor Felipe Portes

Há algum tempo sem brigar por títulos, seja na Espanha ou fora dela, o Valencia teve de se recon-struir após as vendas de Carlos Marchena, David Silva e David Villa, três pilares e melhores joga-dores do elenco já há alguns anos. Marchena foi para o Villarreal, Silva foi negociado com o Man-chester City e Villa se mudou para o Barcelona, por um bom mon-tante. Evidente que os três difi-cilmente seriam substituídos por alguém, já que são talentos que foram fundamentais na conquista do título mundial pela seleção es-panhola, coisa que no país nunca acontecera, só para estabelecer-mos uma noção de importância destes atletas.

Após as saídas, o torcedor espe-rava que a alta grana que entrou nos cofres trouxesse algumas es-trelas para os lados de “Los Che”, o que nem de longe aconteceu. O clube até trouxe um bom número de jogadores, mas preferiu apos-tar em promessas ou figurinhas já carimbadas, como o zagueiro Ricardo Costa (Lille) e o atacante Roberto Soldado (Getafe). Além destes, chegaram: Mehmet Topal (Galatasaray), Sofiane Feghouli (Grenoble), Tino Costa (Montpelli-er), Aritz Aduriz (Mallorca) e Mar-ius Stankevicius, por empréstimo, da Sampdoria.

O primeiro pensamento da tor-cida e de parte da imprensa deve ter sido algo como: “Isso deve ser alguma piada”, afinal, depois de vender um grande jogador em cada posição, o Valencia não substituiu com nomes fortes, que serviriam para amenizar a situa-ção. Ricardo Costa por Marchena,

Soldado por Villa e Topal por Sil-va, parece evidente que os valen-cianos saíram perdendo, e muito. Todavia, o início dos ibéricos no Campeonato Espanhol e na Liga dos Campeões de certa forma confortou parte das críticas feitas.

Pelo menos nas sete primeiras rodadas da Liga, o Valencia es-teve entre os quatro primeiros, batalhando com Real, Barça e Vil-larreal. Mas a série de jogos sem vencer chegou. Derrotas para o Barça, Mallorca e Sevilla, soma-das com dois empates, cravaram a decadência da equipe comandada por Unai Emery. Até a décima ro-dada, Los Che estavam na quinta posição, com 17 pontos, somando cinco vitórias, dois empates e três derrotas.

Na própria LC, os laranjas estão no grupo do Manchester United, na segunda posição, com sete pon-tos. Três a menos do que os ingle-

ses. Algumas caras antigas, como Miguel, David Albelda, Joaquín e Vicente permanecem, não com o mesmo destaque de antes. Dos novos integrantes, Soldado tem impressionado com seus gols e boas partidas, formando boa du-pla com Aduriz e alternando com as jogadas de Juan Mata, camisa 10, Tino Costa e Pablo Hernández.

Para retomar os tempos de glória, ou ao menos os de briga pelos campeonatos que disputa, é ne-cessário que se invista e reforce o plantel principal, para que hajam peças de reposição em uma fu-tura e possível situação de classi-ficação para a fase de mata-mata na competição européia. O trei-nador Unai Emery pode encontrar problemas ao escalar o time prin-cipal ao se deparar com algum desfalque. Apesar de que, sofrer as três perdas no ínício da tempo-rada já pode ter complicado bas-tante a vida dos valencianos.

Juan Mata: um dos poucos grandes nomes que restaram no elenco

Revista Camisa 13 30

Campeonato Espanhol

Espanhóis nas competiçõesinternacionais

Liga dos CampeõesO Valencia se encontra na se-gunda posição do grupo C, que ainda tem Manchester, Rangers e Bursaspor. Os ibéricos somaram sete pontos, com duas vitórias, um empate e uma derrota. Foram oito gols feitos e apenas dois so-fridos.

O interminável Barcelona lidera a chave D, com oito pontos. Foram duas vitórias e dois empates, fa-zendo nove gols e sofrendo três. Evidente que todos esperavam mais dos “blaugranas”, que en-caram Copenhagen, Rubin Kazan e Panathinaikos.

No G, o Real Madrid anotou dez pontos, com três vitórias e um empate. Marcou sete gols e so-freu dois, no chamado “grupo da morte” que tem Milan, Ajax e Aux-erre.

Liga Europa O atual campeão Atlético de Ma-drid pegou um grupo aparente-mente fácil, esta temporada. O que não quer dizer que eles não tenham enfrentado dificuldades. Com apenas sete pontos, os “colchoneros” estão na segun-da posição do grupo B, atrás do Leverkusen. A chave ainda tem o Aris e o Rosenborg. Foram duas vitórias, um empate e uma der-rota dos espanhóis, fazendo seis e sofrendo três, ao total.

No D, o Villarreal está numa situa-ção delicada, também. Na terceira posição, somando seis pontos, fez apenas três gols e sofreu quatro. Foram duas vitórias e duas der-rotas, fazendo com que o “sub-

marino amarelo” ficasse atrás dos fracos Dinamo de Zagreb e PAOK. O lanterninha da galera é o Club Brugge.

O Getafe, enfraquecido com per-das no elenco, como Roberto Sol-dado, Pedro León, entre outros, só conseguiu uma vitória e perdeu outras três partidas, ficando na lanterninha do grupo H. Os outros

três clubes são o Stuttgart, Young Boys e OB.

Bem mesmo está o Sevilla, com dez pontos, três vitórias e apenas um empate. Com oponentes difí-ceis, a rapazeada da Andaluzía fez seis gols e sofreu apenas um. O Grupo J tem também Paris Saint-Germain, Borussia Dortmund e Karpaty.

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Revista Camisa 13 31

Campeonato Francês

Dez estrelas cadentesPor Caio Dellagiustina

Difícil entender como um time pode ter um retrocesso enorme. Mais difícil ai-nda é entender como o maior campeão francês pôde cair no ostracismo e figurar hoje como mero coadjuvante na primei-ra divisão francesa. Essa é a dura realidade do Saint Étienne. O único clube que tem a honra de ter a estrela (prêmio a equipe que conquista dez campeonatos) bordada acima do escudo.

De 1957 até 1981, o clube verde mandou no campeonato francês, conquistando seus dez títulos. De quebra ainda fatur-ou seis Copas da França e foi finalista da Copa dos Campeões da Europa em 1976 perdendo a decisão para o Bayern de Munique.

Porém a partir de 1982, o mundo desa-bou em “Le Chaudron”. O presidente do clube na época, Roger Rocher, foi preso, acusado de estar envolvido em um es-cândalo de irregularidades financeiras

e seu grande craque, Michel Platini, se transfere para a Juventus de Turim. O resultado de todos esse problemas, foi a queda para a segunda divisão. Um baque para uma torcida que estava se acos-tumando a ser a “dona” do país.

O clube amargou 17 anos alternando entre primeira e segunda divisão. Nesse período foram cinco passagens pela se-gundona (1984/85, 1985/86, 1996/97, 1997/98 e 1998/99). Em 1999, com a presença dos brasileiros Aloísio Chulapa e Alex Dias (ambos com passagem pelo São Paulo), o time retornou à primeira divisão. Mas em 2001, o próprio Alex Dias e o goleiro ucraniano Levytsky foram suspensos por utilizarem passaportes falsos. Porém a punição chegou também ao clube que perdeu sete pontos. Com isso, o time que já não vinha bem, aca-bou retornando para a segunda divisão, da qual só saiu 2004.

A ascensãoPouco antes de retornar a primeira di-visão em 2004, o clube teve 52% de

suas ações vendidas para um grupo de dirigentes. Entre eles estava Bernard Caiazzo, que meses depois, tornou-se presidente do clube verde. Com ele, o Saint Étienne conseguiu à duras penas se segurar na elite e hoje tenta voltar seus dias de glória.

Na atual temporada, a equipe coman-dada por Christophe Gaultier já liderou o campeonato e atualmente está na se-gunda colocação da competição. Mas os bons resultados animam os torcedores que aguardam desde a temporada 80/81 para comemorar um título.

A rivalidadeLocalizada a cerca de 60 quilômetros da cidade de Lyon, o clube verde tem o Olympique Lyon como arquirrival. Por isso, além de amargar uma seca de títu-los, os torcedores do Saint Etienne ainda tiveram que ver a série histórica de sete títulos consecutivos do rival, chegando até a ameaçar a glória do clube por ser o maior vencedor de títulos do campe-onato francês

O Saint-Etienne na década de 1970: glórias e craques que agora só fazem parte do passado

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Campeonato Francês

O craque de hoje:

Florent Dimitri PayetNasceu em Saint Pierre-FRAData de nascimento: 29 de março de 1987Altura / Peso: 1,74 / 70 kgClubes: Nantes (2005 – 2007) Jogos pela seleção: 2 (2010)

O eterno ídolo:

Michel François PlatiniNasceu em Joeuf-FRAData de nascimento: 21 de junho de 1955Altura / Peso: 1,78 / 73 kgClubes: Nancy (1972 – 1979), Saint Étienne (1979 – 1982) e Juventus-ITA (1982 – 1987)Jogos pela seleção: 72 (1976 – 1987) com 41 gols marcados

O ESTÁDIO

O estádio Geoffroy Guichard tem capacidade de 35.616 es-pectadores. É conhecido como Le Chaudron (O caldeirão) ou L’enfert vert (O inferno verde) em referência as cores do clube.

O Lyon, outrora dominante em território francês, faz boa campanha na primeira fase, exatamente no Grupo B da Champions. Com nove pon-tos, somando três vitórias e uma derrota, a equipe de Mi-chel Bastos está na liderança da chave, à frente de Schal-ke, Benfica e Hapoel Tel Aviv.

No fecho G, o Auxerre en-frenta uma baita missão es-pinhosa contra Milan, Real Madrid e Ajax. Com apenas três pontos, seguram a lan-terninha com uma vitória e três derrotas.

A briga pela segunda vaga no Grupo F definitivamente será entre Olympique e Spartak Moscou, visto que o Chelsea já marcou seus 12 pontos, com quatro vitórias. Fato é que a albiceleste de Marseille briga ponto a ponto com os moscovitas, somando seis pontinhos, com duas vitórias e duas derrotas.

O Lille, do brasileiro Tulio de Melo e do talentoso meia bel-ga Eden Hazard, segue firme atrás do Sporting na tenta-tiva da vaga para a próxima fase. Com cinco pontos, uma vitória, dois empates e uma derrota, “Les dogues” po-dem não encontrar tantas dificuldades pela frente, á que além dos Leões, o grupo conta com Gent e Levski.

Já o Paris Saint-Germain, que caiu no ostracismo após um belo período brigando pela “coroa” francesa, se encontrou e briga de igual para igual com o Sevilla, num grupo dificílimo. São oito pontos, duas vitórias e dois empates. E pode até deixar o líder do Campeonato Alemão no caminho...

Eden Hazard (Lille)

Liga EuropaLiga dos Campeões

Confira o desempenho dos franceses nas

competições européias

Andre-Pierre Gignac (Olympique Marseille)

Ludovic Giuly (PSG)

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Revista Camisa 13 33

Campeonato Sérvio

Manchado pela violênciaPor Felipe Portes

O brasileiro Cléo, atacante do Partizan: fanatismo gerou parte dos protestos violentos dos “ultras” sérvios

Marcado pelos recentes episódios de vi-olência nas torcidas, o Campeonato Sér-vio tenta seguir normalmente com a sua rotina nesta temporada. Os clubes nada tem a ver com o fato lamentável ocorrido em Genova na partida entre Itália e Sér-via, que, diga-se de passagem, pode até tomar uma suspensão severa da UEFA.

A “Jelen Super Liga” da temporada 2010/11 tem 16 clubes: Partizan, Estrela Vermelha, Rad, Vojvodina Novi Sad, OFK, Sloboda Point Sevojno, Spartak Zlatibor Voda, Jagodina, Smederevo, Borac, BSK, Indija, Javor, Hajduk, Meta-lac e Cukaricki Stankom.

Após vários processos separatistas, começados lá no início da década de 1990, com a Iugoslávia, a Sérvia teve sua competição própria a partir de 2006. A Primeira Divisão Iugoslava foi formada em 1923, sendo dissolvida por completo em 2003, quando se difundiu em Sérvia e Montenegro. Ao todo, no país, temos a SuperLiga e a Primeira Divisão, como níveis profissionais. A Copa Sérvia é a outra competição doméstica. O maior vencedor da SuperLiga, agregando os anos de Federação Iugoslava, é o Es-trela Vermelha (Crvena Zvezda) com 25 títulos. O último campeão nacional foi o Partizan, que inclusive credenciou-se a

disputar a Liga dos Campeões 2010/11. Apenas o primeiro colocado tem o direito a uma vaga na segunda fase de playoffs para a Liga dos Campeões. O segundo e o terceiro classificam também para a se-gunda fase, mas da Liga Europa.

Até o início da 10ª rodada, está na frente o Partizan, rumo ao bi-campeonato e mais uma participação no mais impor-tante torneio continental. Com chances de vagas em competições européias es-tão o Estrela Vermelha, em segundo e o Rad, em terceiro. Brigando para evitar o descenso se encontram o Metalac e o Cukaricki Stankom. A reportagem deve comentar que a quantidade de fontes para pesquisa é escassa e raramente tra-duzida para a língua inglesa. O próprio site da Federação Sérvia está somente no dialeto local, sem versão internacio-nal. Nele, consta inicialmente um comu-nicado sobre as providências à respeito da segurança nos estádios, em clara alusão ao incidente em Genova, no dia 12 de outubro. Após longo e árduo pro-cesso de pesquisa, conheça um pouco dos quatro maiores clubes no país:

Partizan: Campeão por 22 vezes, o clube ficou em evidência após o incidente em Genova, por ter sido uma das razões que levaram o torcedor Ivan Bogdanov, da

organizada do Estrela Vermelha a des-encadear toda a confusão. Além de um protesto contra a Federação Sérvia, Bog-danov atribuiu a ação como represália ao goleiro Vladimir Stojkovic -atualmente no Partizan e goleiro titular de sua seleção- causou furor no país ao ter de-sembarcado no segundo clube da capi-tal sérvia, ato considerado inadmissível pelos “ultras”, fanáticos pelo esporte. O mesmo aconteceu com o atacante Cléo, ex-Internacional, que fez pior. Mudou di-reto de um time para o outro.

Mas nem tudo é brigas e pancadarias por estes lados. O alvinegro tem sua história ligada ao governo do saudoso Josip Broz, o “Tito”, grande comandante iugoslavo. O estádio do clube, o “Estádio do Exér-cito do Povo” serviu muitas vezes de palanque e cenário para as festividades tradicionais no país, como o “Dia da Ju-ventude”, comemorado todo dia 25 de Maio no local, por mais de 40 anos. Já na torcida, temos os “Grobari”, algo como coveiros, numa tradução livre, apelido dado pelos rivais do Estrela Vermelha. Além das 22 conquistas do “Servião”, evidentemente desde a época da antiga Iugoslávia, a maior glória dos “Parni val-jak”, ou rolos compressores, foi o vice-campeonato na Copa dos Campeões da Europa, em 66, perdendo para o Real

Revista Camisa 13 34

Campeonato Sérvio

Madrid por 2 a 1.

A origem do nome Partizan vem do exército comunista formado na II Guerra Mundial.

Estrela Vermelha: O Crvena Zvezda é o único clube do país a ter vencido uma competição europeia. O triunfo foi na temporada 1990/91, em cima do Milan. O Campeonato Intercontinental veio contra o Colo-Colo, do Chile. Com 25 títulos domésticos, o Estrela Vermelha é o time mais vencedor entre todos os países que formavam a Federação iugo-slava, acima do rival Partizan e de outros clubes croatas e bósnios que disputavam o mesmo campeonato até o ano de 1993. Os “Delije”, ou “Heróis” tem o grande clássico com o Partizan, chamado de “Večiti derbi”, ou eterno dérbi. En-tretanto, não são só estes conflitos que marcam a história dos fãs. Em 1990, esta mesma torcida se envolveu em um mas-sivo confronto com a torcida do Dinamo Zagreb, à época ainda integrante da nação iugoslava, que ficou conhecido como “O motim de Dinamo Zagreb-Estrela Vermelha de Belgrado”.

Na oportunidade, cerca de 3.000 torcedores do Estrela viajaram à Zagreb para a partida, válida pela Primeira Divisão Iugoslava. Líderes de facções ultra-nacionalistas sérvios já ha-viam protagonizado brigas nas ruas croatas, antes da peleja enfim começar no Estádio Maksimir.

Os torcedores do Dinamo, os “Bad Blue Boys” atira-vam pedras em direção à torcida sérvia, que iniciou uma depredação do es-tádio e avançaram nas arquibancadas visando o encontro com os croatas. O in-cidente ficou marcado por anteceder as eleições que definiriam a independência da Croácia dos demais países. Aconteceu que ao invés de um jogo de futebol, o espetáculo deu lugar a uma briga étnica generalizada. De acordo com estudos, a torcida do Estrela é superior à 50% da população sérvia.

O estádio do Estrela Vermelha é o “Crve-na Zvezda Stadion”, mais conhecido

como “Marakana”, inaugurado em 1963, e in-spirado tanto no nome quanto na arquitetura do estádio carioca.

Os “heróis” tem como grandes ídolos a ge-ração vencedora de 1991, que tinha craques como Miodrag Belodedici, Vladimir Jugovic, Sinisa Mihajlovic, Dejan Savicevic, Robert Prosinecki e Darko Pancev.

Vojvodina: Fundado no ano de 1914, no auge da I Guerra Mundial, o clube da cidade de Novi Sad, assim como a Juventus de Turim é conhecido como “Stara dama”, ou “A velha”, muito por ter sido o segundo clube de toda a Sérvia a ser formado, apenas atrás do FK Javor. Outro apelido comum é “Lale”, ou “Tu-lipa”.

Ao todo, a Vojvodina venceu duas vezes o Campeonato nacional, em 1965/66 e 1988/89. A melhor campanha continental do clube foi em 1967, quando o “Vosa” alcançou as quartas de final da Copa dos Campeões Europeus, perdendo para o Celtic, que se sa-graria campeão, mais tarde, contra o Benfica.

O estádio do clube é o Karadorde Stadium, com cerca de 15.200 lugares, o maior da ci-dade de Novi Sad. A torcida, conhecida como “Firma”, difunde um diferente conceito de torcedor e de cidadão. Assim como a torcida corintiana, recentemente os “Firmasi” ini-ciaram uma campanha de doação de sangue para os hospitais sérvios, numa bela ação hu-manitária.

Classificado como um dos cinco grupos mais fortes de torcedores no país, o grupo dos

Vosa não se envolve em confusões com o restante, sendo fanáticos pelo clube de uma forma que não use da violência e muito menos do desrespeito, ao contrário dos dois gigantes de Belgrado.

OFK: Penta campeão nacional, na época da Federação Iugoslava, o OFK também é conhecido como “Romanticari”, ou “românticos”, em função de seu estilo leve e solto de jogo nas categorias de base e nas décadas de 1950 e 60. O nome OFK é a terceira alcunha que o time ganha em 99 anos de história. Já foi BSK e Metalac, o último mudou no ano de 1957. OFK significa Omladin-ski Fudbalski Klub. Os Romanticari jogam no Omladinski Stadium, que comporta 20.000 pessoas.Saudoso de glórias dos velhos tem-pos, a terceira força de Belgrado teve como grande trunfo interna-cional uma campanha na Recopa Europeia, que foi interrompida nas

semifinais pelo Tottenham, na temporada 1692/63.

Suas categorias de base são famosas em toda a Sér-via, por revelarem grandes atletas para clubes inter-nacionais. São centenas de técnicos capacitados que comandam cerca de 170 garotos.

Já a torcida, a “Plava Uni-ja”, ou União Azul, pode ser considerada uma das mais fiéis e dedicadas no país. Engajada socialmente, fa-zia protestos em forma de cartazes contra o regime que assolava o país na década de 1990. Um fato inusitado foi a iniciativa do

grupo em convocar populares para os jogos, se passando por torce-dores do OFK. Por anos o hábito prevaleceu, até o público aumentar, de fato.

A “União azul” tem firmada uma parceria interessante com a torcida do Dinamo Moscou, que envolve visitas periódicas entre os grupos durantes os jogos, uma relação fra-ternal entre dois clubes com história similar.

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Revista Camisa 13 35

Campeonato Italiano

Pelas barbas de “Il Profeta”!Por Guilherme Taniguchi

Hernanes, que desde a chegada na Laziotem surpreendido todos com ótimas atuações no meio-campo albiceleste.

Depois de uma campanha discre-ta na temporada 2009/2010, que culminou com o décimo segundo lugar, a Lazio faz um belo início de campeonato na atual tempo-rada. A equipe romana vem brig-ando pela ponta da tabela com os tradicionais clubes de maior investimento. A temporada ainda nem está na metade, mas este é o melhor início da Lazio o campe-onato 1999/2000, ano da última conquista da Serie A pela equipe celeste.

Apontado pela revista britânica Times, em 2009, como a princi-pal promessa do futebol mundial da temporada anterior, Hernanes vem confirmando a aposta da Lazio. Em seu primeiro ano pela equipe da capital da “bota”, o jogador já é um dos principais de-staques do campeonato, sendo comparado por alguns especialis-tas da Itália com o argentino Juan Sebastian Verón e até ao brasileiro

Falcão, dois meio-campistas que levaram suas equipes - Lazio e Roma respectivamente - à con-quista do Scudetto.

“Il Profeta”, como é conhecido pelos cantos de Roma, chegou como a principal contratação da equipe, e custou 12,5 milhões de euros. O “ex-volante” está na lista das 30 principais transações do ano e até o momento não decep-cionou a esperança depositada por Claudio Lotito, presidente al-biceleste.

Jogando como ponta de lança, posição diferente da que atuava no Brasil, ele tem sido o maestro da equipe, nas nove primeiras partidas oficiais do time, ele mar-cou dois gols e deu quase o triplo de assistências.

Apesar de ser um dos principais

jogadores do campeonato, e uma das gratas surpresas no velho con-tinente, Hernanes tem ficado fora da lista de Mano Menezes para os amistosos da Seleção, como no caso da peleja contra a Argentina. O técnico brasileiro diz que, no momento, há meias melhores que o jogador da Lazio, e que prefere o atleta atuando como volante.

Mesmo tendo uma queda no ren-dimento no São Paulo após o tí-tulo brasileiro de 2007, e parecer fadado ao futebol doméstico, Her-nanes está provando que pode ser um jogador de nível internacional. O sucesso no truncado campe-onato italiano é o primeiro indício.

Será que “Il Profeta” irá desban-car atletas como Ronaldinho, Ibrahimovic, Robinho, Pato, Pirlo, Krasic, Del Piero e Totti para ser o craque desta edição do “Calcio”? Se depender das frases polidas e mensagens pacíficas, pode crer que sim.

Revista Camisa 13 36

Campeonato Italiano

A longeva união entre a Família Maldini e o Milan

Para um clube massifique sua presença no meio esportivo e au-mente sua receita com vendas de ingressos e produtos licenciados, direitos de imagens e contratos publicitários é necessário partici-par das principais competições e conquistar títulos. Mas não é ap-enas isso, o marketing esportivo já tem uma grande representa-tividade no lucro dos clubes, e para que os se atinja este objetivo com seus jogadores há dois tipos de caminho a seguir: ter em seu elenco jogadores símbolos, ído-los da equipe, que representem a agremiação (Marcos e Rogério Ceni, jogadores do Palmeiras e São Paulo respectivamente são exemplos); ou craques midiáti-cos, sem uma identificação com o clube, mas que movimentam milhões de dólares por onde pas-sam (Ronaldo Fenômeno, por ex-emplo).

O esporte de um modo geral virou um grande negócio. E é cada vez mais difícil ver uma relação estre-ita entre um jogador e sua equipe. Existem interesses maiores que permeiam o ambiente. Se é difícil vermos uma relação destas entre um jogador e um clube, imagine uma família de craques com um time como acontece com a famí-lia Maldini e o Milan.

Passado, presente e futuroEsta relação se iniciou com Ce-sare Maldini (defensor), que teve três passagens pela equipe rosso-nera: de 1954 a 1966 (347 partidas e cinco conquistas) como jogador, e nas temporadas 1973-74 e 2001 como treinador, tendo ainda hoje relações com o Milan, atuando nas categorias de base da equipe. Jogador de uma técnica refinada para época, atuava como lat-eral direito, anos depois foi atuar como líbero, conduzindo a equipe para uma conquista da Liga dos Campeões na temporada 1961-62

(considerado pelo próprio a maior conquista de sua carreira. Como treinador, Cesare também dirigiu as seleções italiana e paraguaia nas copas de 1998 e 2002 respec-tivamente.

Paolo Maldini, considerado o maior jogador da história do Mi-lan, iniciou sua história nas cate-gorias de base do time, chegando ao time profissional aos 16 anos em 1984 e realizando sua primei-ra partida em janeiro de 1985, e se aposentando na temporada 2008-09 aos 41 anos, e tendo o número que o acompanhou durante toda a sua carreira (#3) aposentan-do também. Ao total, foram novecentos e duas partidas dis-putadas, 26 conquistas e 26 anos de serviços prestados. O líder da equipe, desde o início da car-reira, assumiu a tarja de capitão 1997-98, após a aposentadoria do zagueiro Franco Baresi.

Um dos maiores defensores do mundo foi eleito em 1995 o se-gundo melhor jogador do mun-do pela FIFA, perdendo apenas

para seu companheiro de equipe George Weah, “Il Capitano” tem uma história irretocável pela equi-pe de Milão, e os tifosi serão eter-namente gratos à história dele com a camisa milanista.

A “vestimenta” de número três só poderá ser usada novamente se alguém da família atuar pela equi-pe principal, e isto pode acontecer o mais breve que imaginávamos. Christian Maldini, filho de Paolo, faz parte da equipe sub- 14 do Milan. Atuando também como zagueiro, a jovem promessa tem tudo para manter a linda história e relação de ambos. E vamos torc-er para que ele consiga atuar na equipe rubro-negra e escrever seu nome, assim como seu pai e avô.

Ironia do destinoQuando decidiu seguir os camin-hos de jogador de futebol, Paolo Maldini, até então, torcedor da Juventus, queria jogar pela equipe que torcia. Mas, por insistência, do pai, que já tinha uma excelente relação com a diretoria do Milan, foi atuar pela equipe rossonera.

Por Guilherme Taniguchi

Paolo e Cesare Maldini, pilares da gloriosa história milanista no futebol

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Entrevista com André KfouriPor Guilherme Taniguchi

De segunda a sexta-feira, na hora do almoço, o telespectador dos canais ESPN acompanha as principais notícias do mundo esportivo, com o Sportscenter, apresentado por André Kfouri e Arnaldo Ribeiro.

Referência para muitos iniciantes no meio jor-nalísticos (como nós da Revista Camisa 13), André exerce a profissão desde 2003 e está na ESPN desde 1995.

Foi do apresentador e repórter de campo de importantes competições nacionais e interna-cionais, como Copas do Mundo e Olimpíadas, que a nossa equipe conseguiu trocar algumas palavrinhas.

Veja na íntegra a entrevista com André Kfouri:

O seu pai, Juca Kfouri, é um dos maiores jor-nalistas esportivos do Brasil. Qual a influên-cia dele para você seguir a mesma carreira? E quais são seus grandes ídolos na área?Meu pai teve influência indireta na minha escolha profissional. Ele, assim como minha mãe, que também fez carreira no jornalismo, sempre me deixou à vontade. Mas a rotina e o estilo de vida deles acabaram me influ-enciando desde cedo. Eu sempre frequentei redações, tive contato com esse ambiente de trabalho desde que tinha uns 11, 12 anos. O jornalismo entrou na minha vida sem que eu percebesse. Na época do vestibular, eu tive vontade de fazer Direito, por entender que é um curso mais rico, mais completo. Mas nunca quis ser advogado, sempre quis ser repórter esportivo de televisão. Cursei Jornalismo por causa da obrigatoriedade do diploma. Admiro muitos jornalistas, mas meu ídolo na profissão é meu pai.

Em uma entrevista coletiva que foi ocorreu na Copa do Mundo da África do Sul, houve uma situação inusitada, em que Kaká se aproveitou do espaço de uma pergunta que você fez para rebater algumas informações dadas pelo seu pai. Como você encarou esse fato? Já houve algum outro caso semel-hante na sua carreira?Encarei com total tranquilidade. Eu sabia de onde vinha a informação (de que ele estava jogando com dores), sabia que era 100% cor-reta (como se comprovou depois) e tinha a obrigação profissional de perguntar. É meu papel. Estou acostumado com referências fei-tas a algo que meu pai escreveu ou disse, acho que é normal. Mas é preciso entender que nós

somos duas pessoas diferentes.

Você já participou de coberturas de Copa do Mundo, Olimpíadas, finais de Libertadores, Liga dos Campeões da Europa, Super Bowl, Jogo das Estrelas da NBA, entre outros. Qual foi o even-to mais gratificante da sua carreira?Impossível responder. A grande curtição proporcionada pela minha profissão é estar presente a eventos esportivos. Eu vivo da sensação de estar ali, sendo que eu pagaria para estar. Quando não me sentir mais assim, será hora de mudar. Não dá para escolher um evento. Mas claro que Copa do Mundo e Olimpíada estão num plano diferente, pelo que rep-resentam.

Você já viajou pelo mundo realizando coberturas esportivas. Qual a grande lição de vida que você tem de suas diversas viagens? E qual o momento mais triste e feliz de suas aventuras?Em coberturas internacionais, se trabal-ha demais. Praticamente não há tempo livre, e mesmo quando o fuso-horário ajuda, os dias são longos e cansativos. O importante é descobrir uma forma de aproveitar o fato de estar em lugar-es diferentes. Essas experiências são sempre importantes. Momentos felizes acontecem quando as coisas dão certo, quando se consegue um êxito profission-al, quando se testemunha a história es-portiva acontecendo. Momentos tristes estão quase sempre ligados a problemas no trabalho e, claro, saudade da família.

Você trabalha há aproximadamente 16 anos na ESPN, e sua história se con-funde com esse canal. Qual a importân-cia desse veículo de comunicação para sua carreira e sua vida pessoal?A ESPN é a empresa que me deu a opor-tunidade de realizar meus sonhos profis-sionais. Não tenho uma forma melhor para defini-la.

Você trabalha atualmente como repórter, apresentador e comentarista de esportes americanos para a ESPN, tem uma coluna e um blog pelo Lance! e já escreveu alguns livros. Quais são seus planos para o futuro? Focar em uma dessas atividades ou manter to-das as funções que já vem praticando?

Se eu puder continuar fazendo essas coi-sas todas, será ótimo.

Qual o esporte que você mais se en-volve, mais gosta de acompanhar?Eu gosto muito de muitos esportes. Mas se tivesse de escolher um, seria o fute-bol.

Como você vê o fato de o Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpía-das de 2016? Você acredita que o país será capaz de produzir esses eventos com sua devida grandeza, sem man-chas na preparação e durante as dispu-tas, ou seja, que os eventos tragam o tão falado "legado"?Se a África do Sul pôde fazer uma Copa do Mundo, o Brasil também pode. Se Atenas e Pequim puderam fazer uma Olimpíada, o Rio de Janeiro também pode. A questão, em relação aos dois eventos, é se devemos fazê-los. E eu acho que temos coisas mais urgentes a resolver no nosso país. Quanto à or-ganização em si, não acho que haverá problemas mais graves do que os que vimos nas cidades da África do Sul e nas últimas sedes olímpicas.

Você acredita que os clubes brasileiros de futebol e sua confederação ainda conseguirão ter uma gestão parecida com as das ligas profissionais america-nas? Qual a distância para eles?Não acredito que veremos esse dia chegar. A distância é de anos-luz.

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Entrevista com André Kfouri

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TEXTO TEXTO TEXTOCampeonato ItalianoCampeonato Italiano

Liga dos Campeões

A campeã Inter já não é mais a mesma. Sob o comando de José Mourinho, o futebol apresentado pelos nerazzurri era invejável. O que se vê na era Rafa Benítez é uma desorganização e falta de regularidade. O elenco é pratica-mente o mesmo, com algumas chegadas interessantes, como Phillipe Coutinho. Esta tempo-rada os interistas encararam um adversário à altura no Grupo A: Gareth Bale. O lateral galês do Tottenham que joga por um time todo. Uma vitória e uma derrota nos duelos com os ingleses de-ixaram a Inter na segunda posição, com sete pontos. Logo atrás vem o Twente e o Werder, sem muitas chances.

A Roma, pela segunda vez con-secutiva tem grandes problemas no início da temporada. Com imenso esforço os giallorossi conseguiram uma boa sequência para recuperar o tempo e pontos perdidos. Com seis míseros pon-tinhos o time de Ranieri segue de longe o Bayern, que tem 100% de aproveitamento. Ainda enfrenta Basel e Cluj afim de garantir a vaga no Grupo E.

O Milan tem encarado com natu-ralidade o fato de ter caído no “Grupo da Morte”, com Real Ma-drid, Ajax e Auxerre. Tudo bem que são só cinco pontos até ag-ora, mas o segundo posto está de bom tamanho frente ao Real, quase imbatível. Uma vitória, dois empates e uma derrota dos mila-

nistas, que ainda terão os holan-deses e franceses pela frente.

Liga Europa

A Juventus mais uma vez sofre em seu caminho secundário de glória continental. Num grupo em que a disputa normalmente seria entre os italianos e os ingleses do City, o acaso mostrou que na chave A, camisa não pesa. Tanto é que o Lech Poznan está na liderança, seguido pelo City e pela própria Juve. Logo depois vem o Red Bull Salzburg, que ainda vai ser a pedra no sapato alvinegro. Det-alhe para a campanha bianconeri: quatro empates.

O Palermo tanto brigou na última temporada e está fazendo um

papelão no Grupo F. Apenas uma vitória e três derrotas complicam o time da Sicília na Liga Europa, que segue atrás de CSKA e Sparta Praga. O Lausanne só figura no fundo do pelotão.

A Sampdoria é outra que amea-çou entrar na Liga dos Campeões, mas foi eliminada pelo Werder nos playoffs. Com uma vitória, dois empates e uma derrota, os geno-veses estão na terceira posição na chave I, com PSV, Metalist e Deb-recen.

O Napoli também vai mal das per-nas, com três empates e uma der-rota, marcando apenas três pon-tos na chave K. Os adversários são Liverpool, Steaua e Utrecht.

Os italianos nas competiçõesinternacionais

Ricardo Carvalho em lance contra Pato, no segundo jogo entre Real e Milan pela Liga dos Campeões 2010/11

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Sem Messias

Em três atos, da ascensão à vala-comum, a trajetória de cartolas alternativos do futebol brasileiro

Por Felipe Modesto

Revista Camisa 13 40

Sem Messias

Ao derrotar Roberto Frizzo por 22 votos de diferença, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo não só venceu as eleições presidenciais no Palmeiras em janeiro de 2009, mas também ventilou sopros de renovação ao tão viciado mundo dos cartolas do futebol brasileiro.

Com um currículo acadêmico bril-hante e carreira política de de-staque, principalmente em gov-ernos peemedebistas, Belluzzo assumiu a cadeira de presidente sob láureas da opinião de espe-cialistas, que enxergaram no can-didato eleito, a esperança de uma administração mais racional, com conceitos de gestão modernos e sem entrevistas coletivas rega-das a fumaça de charuto, uísque e tons coronelísticos comuns no “nosso mundo da bola”.

O primeiro desafio de quem sem-pre lidou com números era sanar, ou ao menos diminuir, as dívidas do Verdão, tarefa comum a to-dos os dirigentes em um país de grandes camisas e pequenos lu-cros. A promessa do novo presi-dente era de enxugar a folha sa-larial, aperfeiçoar os gastos e minimizar despesas de multas e ações trabalhistas.

No âmbito desportivo, a par-ceria com a Traffic deu tons de modernidade para uma nova or-dem que poderia estar surgindo no futebol brasileiro: terceirizar contratações e colher troféus. A cereja do bolo foi a permanência de Wanderlei Luxemburgo com o tão decantado projeto de um time que ganhara o estadual em 2008, mas carecia de mais altos vôos em

2009.

Bastou aparecer a primeira crise, em junho do ano passado, e a serenidade/ racionalidade da gestão foram colocadas em xeque. O presidente alviverde entrou em rota de colisão com Luxemburgo que protestara contra as atitudes do badalado Keirrison, que fecha-ra sua transferência para o futebol europeu. Atestando quebra de hi-erarquia, Belluzzo cuspiu marim-bondos e abriu a porta dos fundos para Luxa que passou o boné para Muricy Ramalho.

A ambição sadia pelo título brasileiro fez com que o man-da chuva do Parque Antarctica mostrasse indícios de ser “dife-renciado”. Beluzzo fechou as es-cotilhas para evitar o escoamento da espinha dorsal Pierre-Cleiton Xavier-Diego Souza. Contudo, o mês de novembro de 2009 jogou na vala comum o possível exem-plo de gestão palmeirense.

O presidente do Palmeiras foi vis-to em uma festa da Mancha Verde cantando músicas com ofensas aos torcedores do São Paulo. Saía o gestor em terno e gravata, en-trava o tifosi palestrino gritando “Vamos matar os bambi” (sic). No mesmo mês, a queda de ren-dimento do time no Brasileirão culminou na briga entre Maurício e Obina, após o revés contra o Grêmio, na capital gaúcha. Bel-luzzo expulsou sumariamente os brigões. Um zagueiro e um cen-troavante a menos para o res-tante do certame. Uma injeção de instabilidade no elenco que viria a amargar a quinta colocação no campeonato nacional.

Agora afastado para cuidar de sua saúde, Luiz Gonzaga Belluzzo não é mais exemplo, não é mais esperança, sequer é certeza de uma volta ao comando, agora nas mãos de Salvador Hugo Palaia, cartola de conduta não muito dis-tante do “clã Eurico”.

Ato I – O catedrático e a massa

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Revista Camisa 13 41

Sem Messias

Ato II - O chefe e o meninoEnquanto 2009 terminava como um ano frustrante para o Palmei-ras, o Santos passava a ser a nova “Meca” do exemplo administra-tivo. O questionado Marcelo Teix-eira dava lugar a Luiz Álvaro de Oliveira Ribeiro, empresário com experiência em gestão pública, que obteve 62% dos votos nas conturbadas eleições santistas em dezembro.

Transparência, limpeza, ética, resgate de valores dentre outras bandeiras, comuns ao palmei-rense Belluzzo, foram levantadas pelo presidente eleito do peixe. A primeira medida foi demitir Lux-emburgo, a segunda foi apostar na garotada que começava a de-spontar na “Vila Famosa”.

O ano de 2010 começou excelente para Luiz Álvaro. Neymar, Ganso e Wesley comendo a bola, mais a ousada contratação do sele-cionável Robinho fez com que o Santos fosse o melhor time do primeiro semestre.

Tudo parecia ser um exemplo de gestão, ainda mais após os títu-los do estadual e da Copa do Bra-sil, até a bomba chamada Ney-mar estourar, infelizmente para os santistas, de modo negativo. Dorival Júnior mandou, o projeto de craque não quis obedecer, fez beicinho, bateu boca, Marcel ba-teu o penalty, Neymar jogou um copo d’agua no auxiliar técnico e o caldo do peixe entornou.

O que se esperava da diretoria era o equilíbrio e a sensatez dignos de gestores “diferenciados”, como muita gente esperava que seria a

gestão de Luiz Álvaro, defendida inclusive por Juca Kfouri, no programa Juca Entrevista, da ESPN.

Contudo, o presidente não aceitou que Dorival punisse Neymar de modo mais rígido, interferiu no tra-balho do técnico tal qual um sheik árabe, talvez por medo de perder sua prima donna para os petrodólares do Chelsea.

De todo modo, o treinador perdeu o emprego, o garoto ganhou status de vilão, o Santos se arrasta no Brasileirão e lá se foi a toda a es-perança de uma administração serena, sem turbulências e com ma-n u t e n ç ã o de ténicos. Vala co-mum para o mandatário santista.

Neymar e Luiz Álvaro:

ninguém sabe quem é que

manda mais pe-los lados da

Vila Famosa.

Revista Camisa 13 42

Sem Messias

ATO III - A Rainha e o Rei deposto

O Brasileirão parecia perdido para o Flamengo, mas a incrível ar-rancada do time de Pet, Adriano e sob a batuta de Andrade fez com que os rubro-negros levantassem o caneco de 2009. Festa no Rio de Janeiro, festa na maior torcida do Brasil, glórias para o sérvio vet-erano e a para a ressurreição do imperador.

Porém, não há quem diga que a situação política da Gávea era tranqüila. Muito pelo contrário, o Flamengo sempre teve como marca os bastidores entrinchei-rados e dezenas de opiniões di-vergindo no vai-e-vem dos corre-dores. Uma filha do clube, porém, pare-cia ser a solução dos problemas do Flamengo. Patrícia Amorim, crescida dentro da sede social, ex-atleta que honrou a touca de natação flamenguista por anos, inclusive em Jogos Olímpicos, conseguiu se eleger presidente do Flamengo. Pra não cair no círculo vicioso de demissão de técnicos, Patrícia ficou frente a frente com Andrade, aumentou o salário do técnico, mas teve pulso firme para não aceitar o alto pedido fei-to pelo treinador.

Não havia fazer nada errado em um clube que acabara de vencer o campeonato nacional com uma epopéia digna das mais belas histórias do futebol, certo? Erra-do. Não conquistar o campeonato carioca não foi problema, mas se classificar na bacia das almas para a segunda fase da Libertadores causou irritação na torcida. Tal panorama somado aos episódios

de Vagner Love na favela, Adriano na praia e não no treino, e brigas de Pet por não aceitar o banco de reservas começaram a causar tur-bulências no vôo do urubu.

O primeiro passo da presidente rumo a vala-comum dos dirigen-tes do futebol brasileiro foi não suportar a pressão da torcida e demitir Andrade, mesmo com o time classificado para as oitavas da Libertadores. Marcos Braz, vice de futebol também saiu. Para piorar a situação, o Flamengo tinha que passar pelo time de mel-hor campanha na primeira fase do certame, o Corinthians. Rogério Lourenço assumiu interinamente a equipe, e só teve paz com o tri-unfo diante do rival.

A queda na competição sulamer-icana diante da Universidad de Chile, e a má campanha no Brasileirão abriram fizeram Lou-renço cair. Depois dele, caiu Si-las e veio Luxemburgo. Dança das cadeiras comum em todos os clubes do Brasil, mas que não

era o imaginado por todos, já que Patrícia Amorim era o símbolo da dirigente alheia aos vícios do car-tolas.

A moral da presidente ruiu de vez quando Zico, diretor de futebol convidado por Amorim, pediu demissão após quatro meses de clube. Pior ficou quando o maior ídolo da história do Fla culpou Patrícia por não deixá-lo tirar sat-isfações com o presidente do con-selho fiscal, Capitão Léo, a respei-to de acusações contra o “galinho de Quintino”.

EpílogoTrês grandes clubes brasileiros apostaram em uma renovação do tão viciado mundo dos cartolas. Dirigentes com visões de gestão diferenciadas, que até colocaram em prática alguns pontos pro-metidos e esperados. Belluzzo deu uma conteve o ímpeto de êx-odo de seus principais jogadores, assim como Luiz Álvaro; Patrícia Amorim acabou com a farra de empresários no Flamengo.

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“SeleMano”

Como Mano Menezes pretende reformular a seleção brasileiradepois do fiasco na Copa do Mundo?

Por Rodolfo ZavatiRevista Camisa 13 44

“SeleMano”

Renovação. Para o dicionário, ap-enas o "ato ou efeito de renovar"; para a Confederação Brasileira de Futebol, a palavra de ordem a cada Copa do Mundo perdida pela Seleção Brasileira.

Como já era esperarado, a decep-cionante performance do Brasil nos gramados da África do Sul custou o emprego do contestado técnico Dunga. O opaco futebol apresentado, às controversas convicções do antigo treinador e sua falta de tato com a mídia sug-eriam mais que uma simples troca de comando, mas uma mudança de mentalidade. Mano Menezes, unânime para gremistas e corin-tianos, foi o escolhido para con-duzir a missão.

O processo não é novidade para a CBF. Em 1990, após a pífia cam-panha da seleção no Mundial da Itália, Sebastião Lazaroni foi ex-ecrado pela imprensa e alguns atletas daquele time, como o próprio Dunga, ficaram marcados como símbolos de uma geração

Mano, na partida contra os Estados Unidos: muito se espera do novo comandante da Seleção Canarinho

derrotada. Paulo Roberto Falcão assumiu e jogadores consagrados na Europa foram deixados de lado, enquanto jovens de destaque no futebol brasileiro ganharam es-paço. Entretando, os resultados decepcionaram e Falcão não dur-ou muito. E se Cafu, Mauro Silva, Márcio Santos, Leonardo e Raí se firmaram até a Copa seguinte, dezenas de nomes como Odair (lateral do Novorizontino/SP), Paulão (zagueiro do Cruzeiro), Valdir Benedito (volante do Atlé-tico Paranaense), Careca Bian-chezi (centroavante do Palmeiras) e Mazinho (atacante do Bragan-tino) tiveram suas carreiras com a amarelinha tão breves quanto a passagem do técnico que os ban-cou. Carlos Alberto Parreira assu-miu e, aos poucos, remanescen-tes de 90 foram reintegrados para formar a base vitoriosa do tetra.

Já em 1998, a humilhante derrota para a França serviu para aposen-tar Zagallo e seus métodos serem considerados "ultrapassados". "A Seleção precisa de moderni-

dade", bradava a opinião públi-ca, personificando seu desejo em Vanderlei Luxemburgo, que, além de vitorioso, era o que havia de mais moderno nos bancos de reservas brasileiros. Seus ternos Armani, treinos táticos e linguajar rebuscado emanavam vanguarda, contrastando com os agasalhos e discursos motivacionais do "Velho Lobo". O "professor" começou bem, vencendo a Copa América de forma convincente. Entretan-to, sucumbiu aos seus problemas pessoais, conflitos de egos e ao fracasso retumbante nas Olimpía-das de Sydney. No período até a Copa seguinte, ainda sobraria tempo para Emerson Leão tam-bém queimar o seu filme, até Fe-lipão segurar o rojão e classificar a equipe para o Mundial do Japão/Coréia do Sul, trazendo mais uma leva de nomes ainda não testados até então, como Gilberto Silva e Anderson Polga.

O roteiro pós-Copa 2006 ainda está fresco na memória do torce-dor. O clima de festa nos treinos

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Revista Camisa 13 45

“SeleMano”

foi considerado o principal re-sponsável pelo insucesso. Desta vez, o consenso geral clamava por seriedade, e Ricardo Teixeira viu em Dunga a personificação de um general fiel, ignorando o fato do ex-volante jamais ter estado no comando de um time de futebol.

Ao promover a caça às bruxas que todos cobram, a CBF busca, sim, mudanças. Entretanto, também "joga para a torcida" e se exime de suas responsabilidades nas derro-tas. Se problemas sobre a premia-ção "racharam" o grupo em 1990, a entidade certamente estava ciente; se os métodos de Zagallo eram tão antiquados para o fute-bol moderno, não havia interfer-ência; se a preparação para 2006 foi uma bagunça, a confederação foi a responsável pelo planeja-mento falho.Em campo

Entrando em campo, a seleção começa a tomar a cara de Mano Menezes. No gol, o gremista Vic-tor é o preferido, embora Mano já tenha sinalizado que as portas estão abertas para o retorno de Júlio César. Neto, jovem que faz ótimo Brasileirão pelo Atlético Paranaense, está sendo observa-do para as Olimpíadas de 2012. A convocação do botafoguense Jef-ferson é a mais controversa entre os arqueiros. Para alguns, o cru-zeirense Fábio, capitão e ídolo do time celeste, seria um nome com mais méritos.

Daniel Alves e André Santos são os donos das laterais. O baiano do Barcelona, que fez Copa dis-creta jogando no meio, já se firma como um dos principais destaques da nova Seleção, inclu-sive sendo um de seus artilheiros. Maicon, um dos poucos a escapar do vexame na África do Sul, ainda

segue como um dos melhores do mundo na posição e é possível imaginá-lo em condições físicas e técnias intactas até 2014, quando terá 33 anos. Porém, o destaque de Dani Alves pode custar sua titularidade; resta saber se o joga-dor da Internazionale reagirá bem a um possível banco.

Na esquerda, o ofensivo André Santos conta com a confiança do técnico gaúcho. Foi sob a batuta

de Mano Menezes que o futebol de André desabrochou no Corin-thians, após anos no Figueirense e passagens fracas por Flamengo e Atlético Mineiro. Sua sombra é o versátil Adriano Correia, regu-laríssimo por anos no Sevilla e recém-chegado ao Barcelona. Marcelo, em ótima fase no Real Madrid e novo queridinho de José Mourinho, vem sendo ignorado. Talvez a comissão técnica não tenha digerido bem seu pedido

Neymar, Pato e Ganso: presença quase que garantida nas convoca-ções pós “Era Dunga”

David Luiz, uma das novas caras nas listas de Mano Menezes

Revista Camisa 13 46

“SeleMano”

de dispensa por contusão, após uma das primeiras convocações de Mano.

Na defesa, as prováveis despe-didas de Lúcio e Juan foram su-pridas sem traumas pela dupla Thiago Silva/David Luiz, técnica e segura. Alex, zagueiro-artilheiro do Chelsea, recuperou espaço, mas terá de enfrentar seus prob-lemas físicos se quiser chegar em 2014. Réver é a novidade e pode aproveitar as lesões do ex-ídolo santista para 2010, mas são zagueiros de nível suficiente para serem considerados "sele-cionáveis".

A predileção do treinador por três

atacantes e as características de Neymar e Robinho sugerem o uso do 4-3-3. Com o meio descon-gestionado e laterais ofensivos, a posição de volante merece aten-ção especial. Lucas (outro velho conhecido de Mano) está sendo utilizado de forma mais defensiva que suas características sugerem; Sandro, este sim, um autêntico protetor da zaga, ainda não en-controu espaço no Tottenham Hotspur para dar sequência à grande fase que vivia no Interna-cional. Jucilei e Elias, regulares há tempos no Corinthians, terão o desafio de mostrar que não são "jogadores de clube". Ramires, ai-nda abaixo da crítica no Chelsea, segue prestigiado. Hernanes, bril-

hando na Lazio, foi inexplicavel-mente deixado de lado.

A lesão de Paulo Henrique Ganso se tornou uma pedra no sapato do ex-técnico do Corinthians, que não encontrou outro armador com características semelhantes às do santista. Carlos Eduardo e Coutinho, acostumados com os lados do campo, foram tes-tados na posição, mas a volta de Ronaldinho Gaúcho e a primeira convocação do gremista Doug-las sugerem que a camisa 10 sem Ganso ainda é uma interrogação na cabeça do gaúcho.

O ataque se desenha com Alex-andre Pato confortável em sua condição de matador, com Ney-mar e Robinho abertos pelos la-dos. Nilmar, bem na Espanha, e o jovem André, ainda discreto na Ucrânia, estão na órbita da comissão técnica. Jonas, artilhei-ro do Brasileirão e em fase ilumi-nada pelo Grêmio, poderá ter sua chance em breve.

Podemos dizer que a base de Mano está formada, mas o Bra-sil tem uma capacidade incrível de relevar novos jogadores. Em 2007, Neymar e Ganso sequer ex-istiam para o futebol, mas pode-riam perfeitamente terem estado na Copa de 2010. Sendo assim, é provável que nos próximos três anos surjam outros nomes, então projeções ainda são meros pal-pites. Além disso, os garotos pre-cisarão conviver com uma pressão ainda maior que a natural; em 2014, qualquer resultado que não seja o título será considerado um histórico fracasso. Se o hexa es-capar, resta saber quais serão as bruxas da vez.

Robinho foi até nomeado capitão desta nova fase com Mano

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Hey!conheçoessa camisa!

Por FelipeModesto

Revista Camisa 13 48

Hey! Conheço essa camisa

Quando o ferrolho defensivo de José Mourinho segurou o Barcelo-na em pelo Camp Nou, na semifi-nal da Liga dos Campeões, parecia que as chances catalãs de serem campeões europeus tinham es-capado por entre os dedos. Pelas mãos de outro atleta blaugrana, porém, não fugiram tais chances. Os 21 pontos de Juan Carlos Na-varro contra o Olimpiakos fizeram a equipe espanhola levantar pela segunda vez a taça de campeã da Euroliga de basquete.

A conquista alcançada no primei-ro semestre de 2010 premiou um trabalho que tem algumas semel-hanças com o futebol do Barça. Assim como Pep Guardiola, Xavi Pascoal, comandante do bas-quete catalão, é um técnico jo-vem que teve a sua disposição um elenco talentoso. O jornalista Fábio Balassiano, do blog Bala na Cesta, diz que os campeões da Europa tiveram como trunfo “um time jovem, com uma boa pitada de experiência com Pete Mickeal e Juan Carlos Navarro (foto capa), e possui uma força física invejável”. A mescla de jovens e jogadores já rodados também é uma marca do futebol dos culés.

Ainda na Espanha, o maior rival do time da Catalunha também possui uma equipe de basquete, e assim como os adversários, tem semelhanças entre seus esquad-rões do futebol e da “bola laranja”.

O primeiro fator em comum entre o Real Madrid das quadras e dos campos vem do presidente do clube. Famoso por seus exageros financeiros da época dos Galácti-cos madridistas, Florentino Perez investiu pesado no basquete na última temporada. A sina de ga-

Ettore Messina, o técnico dos “blanquillos” nas quadras. O Real do bas-quete também é adepto da “filosofia galáctica”

star e não levar títulos continuou pairando sobre os merengues. Balassiano conta que o orçamen-to do time da capital espanhola acabou estourando e causou um rombo de US$ 30 milhões, mes-mo assim o time não conquistou o campeonato espanhol e nem se classificou para o Final Four da Eu-roliga.

Se no banco de reservas do time de futebol o Real Madrid tem José Mourinho, considerado o melhor técnico do mundo, o basquete conta, desde a última temporada, com Ettore Messina, badalado treinador italiano. Mourinho vem conseguindo bons resultados, já Messina não teve o sucesso espe-rado. “O Messina é o melhor téc-nico europeu há anos, mas nunca conseguiu construir times em pouco tempo. Ele gosta de trabal-hos de médio para longo prazo – vide o CSKA e o Treviso, da Itália. Quando foi exigido no tiro curto,

como foi na seleção italiana, ele falhou. Se derem tempo pro cara, ele vai brilhar”, opina Balassiano.

Para ter tempo, Messina depende também da paciência da torcida, que segundo o jornalista ainda ex-iste. “Quando morei na Espanha, notei que a torcida do basquete do Madrid é tão fanática quanto a do futebol, mas ainda mais exi-gente por ser menor – e conhecer mais o jogo. Sei que o Palácio Val-verde, onde o time manda alguns de seus jogos, fica sempre cheio, e invariavelmente os técnicos são vaiados. Mas, tal qual acontece com o Mourinho, o Messina pa-rece gozar de prestígio com a tor-cida – ainda”, conta o responsável pelo blog Bala na Cesta.

Cá como láAdriano, Petkovic e sua corja con-quistaram o Brasileirão de 2009 depois de uma bela recuperação no certame. Já nas quadras, tam-

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Revista Camisa 13 49

Hey! Conheço essa camisa

bém em 2009, Marcelinho Mach-ado comandou os rubro-negros ao título da primeira edição do Novo Basquete Brasil sem muitos sustos.

Contudo, os técnicos das duas equipes passaram por momentos muito parecidos nas duas dispu-tas.

Andrade assumiu o Flamengo sob olhares de desconfiança. Muitos duvidavam do ex-meio campo por seu jeito simplório e por o considerarem com um currículo deficitário para assumir o futebol

flamenguista.

No basquete, Paulo Chupeta sempre foi um treinador de valor questionável. O meio do basquete nunca foi unânime em dizer que o técnico, há anos dentro do clube, fosse a melhor escolha para um time ganhar títulos.

Os críticos dos “professores” ti-veram que se calar e assistir a turma da Gávea comemorar títu-los no campo e na quadra. Ainda sim, houve quem dissesse que as conquistas vieram por conta dos

craques que os times possuíam e não pelo dos especialistas em tática. Certos ou não, a verdade é que Adriano foi o artilheiro do Brasileirão com 19 gols, e Mar-celinho Machado acertou a mão no nacional de basquete com 1020 pontos, terminando como cestinha da competição.

2010 tem sido diferente para as duas modalidades do clube cario-ca. O basquete ainda figura entre os principais times do Brasil, ain-da sob a batuta de Paulo Chupeta. Já o futebol. . .

Marcelinho Machado, força na seleção nacional e no Flamengo: 1020 pontos no último NBB, cestinha da competição

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Vida longa ao rei

Por Felipe Portes

Revista Camisa 13 52

Vida longa ao Rei

O Brasil sempre foi conhecido in-ternacionalmente no futebol não somente por seu talento inigual-ável, títulos e estilo de jogo, mas por ter a estrutura política frágil ou até mesmo confusa. Na mes-ma mão desses problemas inter-nos, caminham os craques que acabam ganhando poder exager-ado dentro do clube. A partir dos anos 1980, podemos citar nomes como Renato Gaúcho, Sócrates (grande responsável pela era da Democracia Corintiana) e Zico. Ricardo Gomes e Branco, no Flu-minense, também eram nomes fortes.

A inversão de valores não acon-tecia só no Brasil. Na Europa já tínhamos exemplos como Franz Beckenbauer (Bayern de Muni-que e Hamburgo), Johann Cruyff (Ajax e Feyenoord), Michel Platini (Saint Etienne e Juventus), Fal-cão (Internacional e Roma), Glenn Hoddle (Tottenham), Bryan Rob-son (Manchester United), Lothar Matthaus (Bayern de Munique) e Kenny Dalglish (Liverpool). O sucesso desses times no cenário internacional era diretamente in-fluenciado pelos craques citados. Dalglish, diga-se de passagem, ao fim dos anos 1980, acumulou as funções de jogador e treinador dos vermelhos de Merseyside. Nessa altura, a época de glórias e títulos europeus do Pool já estava no fim.

Seguindo a linha evolutiva, o Bra-sil viu na década de 1990 os man-dos e desmandos de Romário, no Flamengo, Marcelinho Carioca, no Corinthians, e Edmundo, no Vasco. Todos esses, referências em marra. Não tão “enjoadin-hos”, mas ainda sim poderosos, podemos citar Raí e Rogério Ceni, no São Paulo, e Marcos, no

Palmeiras. Ao mesmo tempo, surgiam como “barões” no velho continente nomes como Hristo Stoichkov, Luís Enrique e Rivaldo, no Barcelona, Fernando Hierro, no Real Madrid, Alessandro Del Piero, na Juventus, Paolo Maldini, no Milan, e Eric Cantona, no Man-chester United.

A questão não é meramente o fato de todos estes atletas serem referências, mas sim exercerem um controle exagerado dentro das dependências de cada clube. A maioria dos jogadores que ob-têm esse comando foi formada na base ou revelada para o mundo em determinados times.

Por volta do ano de 2006, uma grande fornecedora de material esportivo fez uma propaganda fantasiosa (e por que não fantásti-ca) sobre dois garotos de uma vila pobre que escolhiam seus com-panheiros em uma simples “pe-lada de rua”.

Eis que o famigerado José começa a escolher algumas estrelas como Zinedine Zidane, Beckenbauer, Michel Platini, Frank Lampard. Diante de uma montagem magní-fica e bem elaborada, o comercial se desenrola com a partida entre talentos de diferentes épocas se enfrentando num campinho com-pletamente humilde, incluindo

Kenny Dalglish, queridinho do Liverpool por mais de vinte anos

Page 28: Revista Camisa 13 Novembro

os dois garotos. Pois é, imagine que você pode ser sempre titular do time, não importa o que acon-teça. O comercial, famoso pela chamada “José +10”, é talvez uma das pinturas mais claras sobre o assunto discutido nesta reporta-gem. Ter o poder de fazer de um campo o seu quintal e escolher quem serão seus colegas.

Ser conhecido como o maior as-tro dentro de uma constelação não é para qualquer um, de fato. Não são raros os casos em que o “queridinho” da torcida e da dire-toria demonstra desafeto por al-gum companheiro ou até mesmo pelo treinador. Caso recente foi o de Francesco Totti, da Roma, que declarou publicamente seu desagrado com as táticas prega-das por Cláudio Ranieri, treinador giallorossi. A temporada 2010/11 começou desastrosa para a equi-pe da capital italiana, que estag-nou na parte de baixo da tabela e somou resultados decepciona-ntes na Liga dos Campeões. Ante uma das várias derrotas, Totti re-provou a atitude do técnico e, ao ser perguntado, não fez questão de esconder a insatisfação com o trabalho de Ranieri.

O maior exemplo de “prata da casa” que acaba mandando de-mais é Raúl, ex-Real Madrid e atual atacante do Schalke 04. O madrilenho fazia “panelinhas” no elenco, ao lado de Guti e outros espanhóis da base. Sempre que sentia sua vaga como titular no Real ameaçada, dava um jeito de desbancar o rival. Raros atacantes internacionais conseguiam deixá-lo no banco por muito tempo. Em agosto de 2010, finalmente a era da panela teve fim no Real. Guti se transferiu para o Besiktas e Raúl foi tentar a sorte na Alemanha.

Revista Camisa 13 53

Vida longa ao Rei

Revista Camisa 13 54

Vida longa ao Rei

No Brasil, temos dois grandes exemplos: Romário e Renato Gaúcho. Conheça um pouco da história deles.

Peixe na água salgadaDe volta para o Brasil, o “sultão” mais aclamado sem dúvida é Romário. Depois de forçar sua saída do Barcelona em 1994, o baixinho retornou para o Rio de Janeiro, onde subiu na barca cen-tenária do time da Gávea. Meses depois de ter sido coroado como destaque brasileiro na campanha do tetracampeonato, o mítico 11 preferiu abandonar o “Dream Team” blaugrana montado no iní-cio dos anos 1990, com Stoichkov, Michael Laudrup, Ronald Koe-man, entre outros, para fazer uma megacampanha de promoção não só do Campeonato Brasileiro, como de algumas marcas que aux-

iliaram na sua contratação. Logo na chegada, peitou Zico, grande ídolo flamenguista. Os dois ainda teriam uma rusga às vésperas da Copa de 98, na inauguração do bar de Romário, o “Café do Gol”, que expôs caricaturas do “galin-ho”, Zagallo e Edmundo.

Com um Campeonato Carioca desastroso e um Brasileirão pior ainda, Romário “deu no pé” e voltou para a Espanha, dessa vez no Valencia. Tentando montar mais uma vez um conchavo en-tre colegas, não se deu bem na equipe ibérica e retornou ao Bra-sil, novamente ao Flamengo, por empréstimo. A temporada até foi proveitosa, mas novamente sem títulos.

Em nova empreitada, o 11 resolve

Se existe uma figura que pode resumir o Real Madrid na década de 1990, esta figura é Raúl.

seguir para o Vasco da Gama. Formaria nova dupla com Edmundo, no Campeonato Mun-dial da Fifa, em 2000, vencido pelo Corin-thians, em cima do próprio Vasco. Meses depois, inexplicavel-mente, o baixinho ata-ca o companheiro, de-clarando publicamente que “na corte vascaína, Eurico Miranda é o rei, eu sou o príncipe e o Edmundo é o bobo”. A frase instaura uma crise no time da Cruz de Malta, mas a corda rompe para o lado do “Animal”, que é em-prestado ao Santos, seguindo depois para o Napoli.

No ano de 2002, Romário foi para o Fluminense. Com uma boa apre-sentação, ganhou fácil a simpatia da torcida tricolor. Quem não gos-tou das regalias dele foram outros ídolos no Flu. Romário não partic-ipava regularmente dos treinos, tinha um fisioterapeuta próprio e era escalado fora de forma, desprestigiando outros atletas que brigavam pela posição. Roni e Magno Alves, no time desde a época do rebaixamento em mea-dos da década de 1990, deixaram o clube por não concordar com a preferência pelo baixinho. Até o técnico, Renato Gaúcho, se cur-vou às vontades do tetracam-peão, deixando de escalar Beto, optando pelo famoso 11.

Num dos capítulos mais famosos da carreira de Romário, o treina-dor Alexandre Gama criticou sev-eramente os privilégios do ata-cante. Sem treinar, com força dos

patrocinadores e aos 37 anos, o baixinho foi escalado por escolha dos dirigentes e lançou a célebre frase ao comandante: “O cara mal chegou no ônibus e já quer sentar na janelinha?”.

Anos depois, em 2005, de volta ao Vasco, iniciou-se o projeto “Romário 1.000 gols”, no qual foi providenciada uma série de am-istosos para que ele alcançasse a meta. Fato é que o baixinho só foi alcançar a marca de Pelé no ano de 2007, contra o Sport, no Está-dio de São Januário. Terminou a carreira em 2009, após um jogo pelo América do Rio, realizando um desejo de seu falecido pai, fer-voroso torcedor do clube.

O carro dele não conta quilô-metros, conta voltas olímpicasÉ o que diz o hilário perfil fake no Twitter (@renato_gaucho) de Renato Portaluppi, o eterno Re-nato Gaúcho. Conhecido por ser tremendamente mulherengo e

baladeiro desde os seus tempos de Grê-mio, Renato jogou por vários outros clubes brasileiros, além da Roma. No italiano, diga-se de passagem, os dirigentes não de-ram sopa para a vida boêmia do atacante, que na época teve companheiros como Giuseppe Giannini, Carlo Ancelotti, entre outros grandes nomes da seleção azzurri.

Campeão mundial em 1983 pelo tricolor gaúcho, Renato era um dos principais atle-tas do Campeonato

Brasileiro e foi convocado para a Copa de 1986, no México, pelo treinador Telê Santana. Porém, seu companheiro de farra, o lat-eral Leandro, abusou nas festas e, de acordo com o próprio Telê, foi cortado por indisciplina. Re-nato pediu dispensa do Mundial, em solidariedade ao amigo. Ai-nda hoje circulam versões não provadas de que tanto Leandro quanto Renato fugiram da con-centração pelo muro. A parte mais bizarra desse boato é que o lateral flamenguista estava embriagado e teria atrapalhado Renato na fuga, sendo flagrado por inte-grantes da comissão. E fez-se um burburinho que impediu os dois de disputarem a Copa. O elenco tinha jogadores como Zico, Éder, Oscar e Careca.

Posteriormente, Renato acabou disputando a Copa na Itália, em 1990, mas não teve participação efetiva, entrando apenas em uma partida, contra a Argentina. Ao longo de sua carreira, Portaluppi

Page 29: Revista Camisa 13 Novembro

A próxima matéria é

especialmente oferecida por

Desde 1987, referência em jogos de pancadaria

e semelhantes...

Revista Camisa 13 55

Vida longa ao Rei

não economizou frases polêmicas e pérolas que denunciavam seu caráter ácido e o jeito “malandro” de ser. Com uma vida paralela en-tre os campos e as badalações, sempre teve ótimas atuações por onde passou – exceto na Roma, como citado anteriormente –, e quase nunca era contestado, o que deixava clara a sua influência nos bastidores. Em uma recente entrevista, Renato afirmou que saía, sim, mas no dia seguinte era sempre o primeiro a chegar aos treinos, antes mesmo de seus treinadores.

Uma polêmica enorme foi gera-da no início da década de 1990, quando o atacante estava jo-gando no Botafogo. Na final do Campeonato Brasileiro de 1992, o Flamengo teria como adversário o alvinegro de General Severia-no, de Renato. A primeira par-tida foi uma surra flamenguista: 3 a 0. Um ato infeliz e que para a imprensa pareceu irresponsável foi a aparição do até então bota-foguense num churrasco que era celebrado na casa de Gaúcho, ata-cante do Fla, à época. O episódio rendeu o afastamento de Renato do elenco botafoguense, que foi derrotado na ocasião. Seguiu para o Cruzeiro em 1993.

Não eram raras as matérias fei-tas com o craque, retratando o “garotão” que sempre estava acompanhado de mulheres, car-ros luxuosos e jovialidade. Como treinador, o nativo de Guaporé (RS) talvez ainda não tenha con-seguido se impor tanto quanto na sua época dentro das quatro linhas, tendo até experimentado o outro lado da moeda quando treinou o Fluminense em 2002, se desentendendo com Romário (episódio relatado no item ante-

rior). O único título de Portaluppi como técnico foi a Copa do Brasil de 2007, com o Fluminense, que o possibilitou de disputar a Taça Libertadores do ano seguinte, em que foi derrotado na final pela LDU (EQU) nos pênaltis.

Tudo isso está relacionado à rendição dos clubes ao talento de certos atletas. Evidente que ex-istem jogadores que não podem ser substituídos, mas isso não sig-nifica que as entidades devam se curvar às vontades dos craques, fazendo o possível e o impossível para que eles não desejem deixar o lar. Nisso tudo se incluem as re-galias de treinamento, aumentos exagerados de salário, folgas e, obviamente, a preferência do trei-nador. Alguns até têm mais poder do que o próprio técnico.

Quanto maior a expectativa que se cria em torno de certo atleta, maior é a sensação de que ele tudo pode dentro do centro de treinamento, do estádio. Por fa-lar em promessa, o fã do futebol brasileiro teve recentemente o caso Neymar, que se desentendeu

e desautorizou o técnico Dorival Júnior, no Santos. Dorival puniu o santista com afastamento por tempo indeterminado. O primeiro desses jogos seria contra o Corin-thians, um clássico na Vila Belmiro. Por pressão da diretoria, o treina-dor foi demitido do comando téc-nico praiano, deixando claro que patrocinadores e o próprio Ney-mar tinham “culpa no cartório” no incidente. O camisa 11 alvinegro agora é conhecido como mandão e birrento por grande parte da mí-dia e da torcida.

Nas oportunidades em que o joga-dor surge nas categorias de base e se destaca, a quantidade de em-presários interessados em lucrar em cima desse talento é imensa. Hoje vemos garotos de 15 anos sendo blindados nas camadas de formação e já tendo a vida toda custeada pelos clubes. Quanto maior a cobiça pelo jovem, maior o salário e os privilégios, visando que ele não seja seduzido por pro-postas do exterior tão cedo, como Alexandre Pato e Phillippe Coutin-ho, que aos 18 anos já jogam por grandes clubes europeus, o Milan e a Internazionale.

A tendência no meio dos boleiros é essa. Cada vez mais os juvenis vão exercendo seu poder sobre seus times. As opções são compli-cadas: ou se rende ou deixa o ga-roto ir e não recebe um tostão por isso, após despesas e investimen-tos na formação dele. Podemos viver num universo onde quem dita as regras é a criança, não o di-rigente. A discussão gira em torno da influência dos empresários. Desde a Lei Pelé isso tem sido uma prática abusivamente explo-rada pelos homens de preto. Será que esse problema tem solução?Renato “escoltado” de duas ital-

ianinhas no seu tempo de Roma

Page 30: Revista Camisa 13 Novembro

Revista Camisa 13 57

Especial

Nem em filmes do Van Damme

Por Felipe Portes

Em todos os cantos, por ligas e

clubes do mundo todo, sempre

haverá um atleta que é adepto de

um estilo mais “ríspido” de jogo.

Nos países em que os árbitros

têm o costume de deixar o jogo

correr, a chance de encontrar um

“açougueiro” é ainda maior.

Numa tentativa de citar joga-

dores lembrados por causar con-

tusões, nossa reportagem viu

logo de cara, somente em terras

britânicas, quatro ícones do fute-

bol na modalidade ‘arte marcial’:

Nigel De Jong, volante do Man-

chester City, Roy Keane e Eric

Cantona, ex-Manchester United

e Martin Taylor, ex-Birmingham,

lembrado por sua histórica tesou-

ra em Eduardo da Silva, até então

do Arsenal.

Pois bem, para muitos torcedores,

sendo grande parte deles sádicos

de plantão (como eu), o joga-

dor que inflige muitas lesões ou

dá muitas entradas violentas ao

longo da carreira, acaba virando

folclore, lenda da pancadaria. Ca-

sos como o de Paolo Montero, ex-

Juventus, ficarão na memória dos

amantes do futebol. Os brasileiros

devem se lembrar também de

Sandro Goiano, que em sua época

no Grêmio cansou de trocar suas

chuteiras por botinas.

Anarchy in the U.K

Cerca de 90% dos jogadores que

distribuem safanões campos afo-

ra, são do setor defensivo. As ex-

ceções estão guardadas para os

homens de frente que possuem

um perfil mais problemático,

como Eric Cantona, ex-atacante

do Manchester United, que pode-

ria ter sido muito maior do que

foi se tivesse evitado desavenças

com colegas e até mesmo com

torcedores. No dia 25 de Janeiro

de 1995, o francês foi expulso da

partida contra o Crystal Palace,

pela Premier League inglesa e ao

sair acertou uma voadora em um

torcedor na arquibancada. Não

satisfeito, ainda desferiu uma

porção de socos no coitado. Se-

manas depois foi descoberto que

o agredido não era tão coitado as-

sim e já tinha uma extensa ficha

policial.

Por falar em ficha policial, Can-

tona foi obrigado a prestar 120

horas de serviços comunitários.

A cena foi registrada por fotógra-

fos e pode ser vista em vídeo. É

só procurar por “Cantona Kung-

fu”, divirta-se. Ironicamente, o

atacante hoje pode ser visto nas

telonas do cinema. Virou ator e

exerce a profissão desde 1998. O

mais famoso filme que atuou foi

“Looking for Eric”, dirigido por

Ken Loach.

A lendária voadora de Eric Cantona

Revista Camisa 13 58

Especial

O temido lenhador

Martin Taylor era só mais um

beque do Birmingham, grandão

e com pinta de lenhador. Ten-

do histórico de passagem pelo

Blackburn e Darlington. Tudo an-

dava na mais absoluta paz, com

alguns hematomas aqui, um

edema ali, até que, fazendo jus

a alcunha de lenhador, no dia 23

de fevereiro de 2008, Martin fez

a perna esquerda do brasileiro/

croata Eduardo da Silva parec-

er um simples graveto (foto ao

lado).

O atacante quebrou a fíbula e so-

freu deslocamento do tornozelo,

ficando quase um ano inteiro fora

de combate. Marcado para o res-

to de sua carreira e com imagens

mostradas para o mundo todo,

Taylor joga pelo Watford, tendo

alcançado o fundo do poço aos 30

anos de idade.

Nigel De Jong: Traulitadas em

três atos

Ato I

Um brucutu com nível de Copa

do Mundo é o holandês Nigel De

Jong. Robusto, o volante era um

dos destaques do Ajax e do Ham-

burgo até ir para o Manchester

City. Sabe-se lá como, aprendeu

a baixar o sarrafo em seus opo-

nentes. Num amistoso, eu disse

amistoso, no dia 30 de março de

2010, nosso herói quebrou a per-

na de Stuart Holden, no Bolton,

à época. Por sorte, o americano

só ficou seis semanas fora e con-

seguiu se recuperar em tempo

para disputar a Copa do Mundo.

Mal sabia o amante do futebol o

que De Jong ainda iria aprontar.

Sua Holanda percorreu todo o

caminho do Mundial, até a final.

Ato II

Era dia 11 de julho, Espanha x

Holanda definiriam quem seria o

mais novo campeão do mundo de

forma inédita. Nigel esperou al-

guns minutos para expor sua im-

prudência para todo o universo.

Até os habitantes de outros plan-

etas puderam ver que ele é fã das

peripécias de Bruce Lee.

Acertou uma solada no peito de

Xabi Alonso, (foto acima) falta

essa que não foi nem marcada e

muito menos punida. O futebol

dos laranjas, que era considerado

Page 31: Revista Camisa 13 Novembro

Revista Camisa 13 59

Especial

exemplar até as semifinais, foi

por água abaixo. Ou abaixo do

pescoço.

Ato III

O terceiro ato da peça acontece

quando Manchester City e New-

castle se enfrentam pelo Campe-

onato Inglês, em outubro. Dia

3, nem três meses após ter feito

sua fama como porradeiro in-

ternacional, De Jong acerta um

carrinho horrendo em Hatem

Ben Arfa e, como consequência,

causa fratura dupla na tíbia e na

fíbula do meia dos “magpies”. O

Olympique de Marseille, detentor

dos direitos de Ben Arfa, amea-

çou processar o volante holandês

pelo prejuízo causado. Após o “in-

cidente”, o doce Nigel resolveu

pedir dispensa de sua seleção na-

cional por tempo indeterminado.

Só faltou dizer que “foi sem que-

rer querendo”. Até o fechamento

desta edição, nenhuma outra per-

na foi quebrada ou danificada por

De Jong.

Espírito de hooligan

Roy Keane será sempre lem-

brado pelos lados brasileiros

(principalmente palmeirenses)

como o capitão daquele time do

Manchester United que venceu

o Mundial Interclubes em 1999.

Com porte de jogador de rugby

e atitude de skinhead dentro das

quatro linhas, o ex-volante (tinha

que ser) foi o terror no Old Traf-

ford por mais de uma década.

Foram centenas de expulsões por

discussões e jogadas perigosas.

Um lance que estigmatiza o ir-

landês é a saga de confrontos

com o norueguês Alf-Inge Haland.

Haland já jogou por Leeds e Man-

chester City, mas o atenuante

de toda a sua carreira foi a sua

rixa com Keane. Em 1997, numa

partida entre Leeds e United, Alf

entrou numa dividida com Roy,

que se contundiu seriamente no

lance. (foto abaixo)

Para piorar o que já estava ruim,

o beque do Leeds deu uma dura

bronca no rival, alegando que

ele estava fingindo a lesão para

escapar de punições por sua en-

trada desleal. O volante do Man-

chester perdeu todo o restante

da temporada 1997/98 em que

seu time liderava o campeonato

local. Coincidentemente o Arse-

nal conquistou a Premier League

neste ano.

Já em 2001, Haland se transferiu

para o Manchester City. Não é ne-

cessário comentar que é o grande

rival dos “red devils”. Novamente

Keane e “Alfie” se encontravam

nos gramados. Tudo corria bem,

até os minutos finais do dérbi

de Manchester. Com uma fúria

quase impossível de ser igualada

no futebol, Keane veio como uma

locomotiva da lateral direita do

campo e ergueu os pés na altura

do joelho de seu adversário. Por

azar, Haland estava tentando

dominar a bola no alto, sofrendo

o duro golpe e quase dando um

“mortal”.

A cena ficou conhecida como uma

das mais duras entradas de toda a

Revista Camisa 13 60

Especial

história do futebol.

O norueguês teve de encerrar sua

carreira após o “incidente” (foto

acima).

Mas o capitão do United não era

só pancadas e encrencas. Por

mais que esta reportagem só cite

as cacetadas de jogadores mundo

afora, é importante salientar que

Roy foi fundamental para uma das

eras mais gloriosas de seu clube.

Titular absoluto, era referência

para muitos jogadores jovens que

surgiram na base, como Darren

Fletcher, Jonny Evans, Chris Ea-

gles, entre outros.

No entanto, a sua saída do Old

Trafford foi marcada por desaven-

ças com seus colegas e com o trei-

nador Alex Ferguson. Keane con-

stantemente dava declarações

desagradáveis e politicamente

incorretas para o ambiente como

um todo. Outro episódio fatídi-

co ocorreu na concentração da

seleção irlandesa para a Copa de

2002. Roy não concordou com os

métodos utilizados pelo técnico

Mick McCarthy.

Após declarações de desgosto

em jornais de seu país, o volante

do Manchester United criou uma

situação insustentável com Mc-

Carthy, que tratou de utilizar de

seu espaço para réplica para retri-

buir as críticas feitas pelo jogador.

Feito o estrago, Keane tratou de

devolver o ato de seu treinador

com frases extremamente rudes

e impublicáveis, culpando Mc-

Carthy por um possível fracasso

no Mundial da Coréia e Japão.

Foi “expulso” da delegação e não

disputou a competição. Hoje, Roy

é treinador do Ipswich Town, fa-

moso nos anos 1970/80 por seu

grande treinador Bobby Robson.

A lição que se tira de todos esses

casos é que nem sempre a vio-

lência dentro das quatro linhas é

punida com a devida rigidez. A

impunidade ainda impera, visto

que o máximo que o atleta pega

de gancho, por uma entrada des-

leal, gira em torno de dez parti-

das, geralmente.

Fato é que muitas das jogadas

e divididas que vemos na tele-

visão, na internet, não são vistas

nem nos longa-metragens de

pancadaria. Quem dera Jean-

Claude Van Damme aplicar uma

voadora tão bem dada quanto

a de De Jong em plena final de

Copa do Mundo. Nem nos sonhos

mais loucos do ator belga.

Page 32: Revista Camisa 13 Novembro

Revista Camisa 13 61

Especial

Amor ao futebol em tempos de guerra

Por Caio Dellagiustina

Um time que hoje não assusta muita gente, mas que na déca-da de 1940 era a grande equipe da Europa: Dínamo de Kiev, um time da antiga União Soviética – hoje na Ucrânia, formado por funcionários de uma padaria, que ousou derrotar o exército alemão em uma partida e que, por amor a pátria e ao futebol, preferiu a tor-tura, e até a morte, a não estar no último jogo das suas vidas.

Tudo começa em 1941, quando o exército alemão invade o ter-ritório soviético (atual área ucra-niana) e passa a dominar a popu-lação, fazendo-os prisioneiros, ou esquecidos pela cidade, tendo que suportar a fome e o forte frio. Nikolai Trusevich, um dos mel-hores goleiros da Europa naquele momento, é encontrado pelas ruas, como tantos outros, doente e sem comer há dias, por Josef Kordik, um padeiro alemão, veter-ano da primeira guerra e fanático pelo Dínamo, a quem os nazistas

não perseguiam por sua origem. Josef resolve acolher Trusevich, dando-lhe um emprego em sua padaria e o ajudando a encontrar o restante dos jogadores. Em uma conversa surge a idéia de contin-uar a jogar futebol remontando o time do Dínamo. Aliás, o futebol era a única lembrança viva ante-rior à guerra, já que todo o resto fora destruído após a invasão. Os jogadores estavam empregados na padaria de Kordik e treina-vam apenas quando o exército dava tréguas. Um novo time, e a prática de um esporte, seria bom para distrair da população. Assim estava formado o FC Start (que tem como significado literal “iní-cio”, mas que para eles teria o sig-nificado de ‘o início de uma nova fase’). Um time que era a base do Dínamo, e com alguns jogadores do Lokomotiv e de outros times russos, estava pronto para entrar em ação. Com alguns contatos de Kordik, conseguiram participar de amistosos contra equipes forma-

das por soldados.

O primeiro jogo do FC Start acon-teceu em sete de Junho de 1942, contra o Rukh, uma equipe de Georgi Shvetsov, aliado do exér-cito alemão. Sem as mínimas condições para jogar, entraram em campo com camisas vermel-has encontradas por Trusevich nas ruínas da cidade. O vermelho para Trusevich seria a cor da vitória contra os nazistas. Venceram por 7 a 2, o que fez com que Shvetsov proibisse o Start de atuar no Está-dio Ucraniano. Isso fez com que o time comandado por Kordik se mudasse para o estádio do Ze-nit, onde estrearam no dia 21 de Junho, com uma goleada de 6 a 2 contra uma equipe da guarnição húngara. Três dias depois derrota-ram a guarnição romena por 11 a 0. Até o dia 17 de julho ainda não eram muitos os que conheciam o Start. Porém uma vitória por 6 a 0 sobre o PGS, uma equipe do exército alemão, mudou o rumo

Revista Camisa 13 62

Especial

do time.

As forças nazistas, então, troux-eram o MGS Wal da Hungria para derrotar a equipe de Kiev. Mas não adiantou muito, pois, no dia 19 de Julho, a equipe do Start ven-ceu por 5 a 1, voltando a vencê-los também uma semana mais tarde pelo placar de 3 a 2, a menor dife-rença de gols em um jogo de toda sua história.

Esse foi o limite para os alemães, e ganhar do FC Start já havia se tornado questão de honra. No dia 6 de agosto estava marcado o jogo entre o FC Start e o Falkwelf, melhor time do exército alemão. Mas, nem eles, conseguiam parar o Start e acabaram derrotados por 5 a 1, resultado humilhante para os nazistas. Mesmo com or-dens para matá-los, os alemães queriam vingança e marcaram a revanche para o dia 9.

Cansados, desnutridos e feridos, os jogadores do Start foram para o jogo. No vestiário receberam a visita do árbitro da partida pedin-do-lhes para fazer a saudação nazista ao cumprimentarem o adversário. Mas ao invés de grita-rem “Heil Hitler”, levaram a mão ao peito e gritaram “Fizculthura”,

saudação de incentivo ao esporte.

Durante o jogo, e com grande aju-da do árbitro, os alemães saíram na frente. Mesmo recebendo pontapés, os jogadores do Start conseguiram virar o jogo antes do intervalo. Minutos antes de começar o segundo tempo, eles foram ameaçados de morte, pelo mesmo árbitro que os visitou an-tes da partida, caso o FC Start con-seguisse a vitória. Mas mesmo as-sim resolveram voltar, voltar para ganhar e mostrar quem eram os melhores. Ao final do jogo, o Start vence por 5 a 3. E os jogadores já sabiam seu destino...

Ainda assim voltaram a campo mais uma vez para derrotar nova-mente o Rukh, dessa vez por 8 a 0. Mas esse jogo serviria apenas para marcar a última vez que es-ses grandes jogadores entrariam em campo para mostrar o verda-deiro futebol. O primeiro a morrer foi Kordik, logo após invadirem sua padaria, torturaram-no frente a todos os jogadores. O restante foi mandado para um campo de concentração de Siretz, onde quatro deles morreram com tiros na nuca, entre eles Trusevich, que morreu com a camisa vermelha do FC Start. Os outros foram tor-

turados até a morte, com exceção de Goncharenko e Sviridovsky, que não estavam na padaria no dia da invasão. Até hoje eles são lembrados como ídolos na Ucrâ-nia e receberam um monumento sobre a façanha que conseguiram, no portão de entrada do estádio do Zenit, com uma placa con-tendo os seguintes dizeres: “Aos jogadores que morreram com cabeça levantada ante ao invasor nazista”.

Até hoje quem possui os ingressos do segundo jogo contra o Falkelf, tem direito a um lugar no estádio do Dínamo.

Nikolai Trusevich e o FC Start: seguiram até a morte com seus ideais

Todos os jogos do FC Start:21 de junho - FC Start 6x2 Guarnição húngara 05 de julho - FC Start 11x0 Guarnição romena 12 de julho - FC Start 9x1 Milita-res do batalhão ferroviário17 de julho - FC Start 6x0 Exér-cito da Wehrmacht19 de julho - FC Start 5x1 MSG (Exército Húngaro de Ocupação)21 de julho - FC Start 3x2 MSG06 de agosto - FC Start 5x1 Flakelf (Exército Alemão, até então invicto)09 de agosto - FC Start 5x3 Flakelf 16 de agosto - FC Start 8x0 Rukh

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Revista Camisa 13 63

O mito sobre: Alexi Lalas

O mito sobre: Alexi LalasPor Felipe Portes

Panayotis Alexander Lalas, ou Alexi Lalas, foi um grande beque americano dos anos 1990. Com seus longos cachos e barba ruiva, ficou conhecido como “A grande esperança vermelha” pelos norte-americanos que admiravam o “soccer”.

Astro da equipe de 1994, que foi derrotada em casa para o Brasil na Copa do Mundo, Lalas não era só mais um rostinho bonito na cabeça de zaga yankee. Mesmo porque sua aparência era a de um bode tingido. Após o Mundial dos EUA, Lalas foi contratado pela Pa-dova, que à época disputava a Sé-rie A italiana. Suas boas atuações e gols de falta chamaram a aten-ção de clubes de seu país natal.

A Major League Soccer, MLS, es-tava começando a franquia, mui-tos anos depois de ter contado com Pelé, Franz Beckenbauer, Johann Cruyff, Carlos Alberto Tor-res, entre outros. A velha North American Soccer League (NASL) estava à beira da falência. Novos times estavam sendo montados. A imagem de Lalas é intrinseca-mente ligada à reestruturação do futebol americano. É justo dizer

que ainda hoje a liga não é tão forte quanto o dinheiro injetado supunha que seria, mas craques de nível internacional têm de-sembarcado na terra do Tio Sam para abrilhantar os jogos. David Beckham, Thierry Henry e Fredrik Ljungberg são grandes exemplos.

Alexi jogou nos juvenis do Arse-nal, antes de ter sido negociado com a Padova.

Voltando aos EUA, envergou as camisas de New England Revolu-tion, New York MetroStars (hoje Red Bulls), Kansas City Wizards e Los Angeles Galaxy. No último, ganhou tanta importância que já foi presidente do clube onde Da-vid Beckham e Landon Donovan “desfilam”. Foi demitido do cargo em 2008 por não concordar com a gestão de um grupo empresarial que controlava o L.A.

Como homem multimídia, o ex-barbudo ainda foi guitarrista e vocalista da banda Gypsies, sem mencionar seus projetos solo. O estilo musical da banda, mais ób-vio ainda, era Rock’n Roll. Por fim, foi apresentador de programas esportivos e atualmente é co-mentarista da MLS, pela ESPN e

ABC. A parte engraçada de todos esses anos é que Lalas foi de bode a galã com o corte de suas made-ixas. Quem acompanha as trans-missões em que ele está presente não crê quando o GC mostra seu nome.

Ícone nas Copas de 1994 e 1998, o grandão foi imortalizado na ed-ição especial do game da Copa do Mundo de 2010, na África. A EA Sports, produtora, montou duas seleções com craques dos mun-diais. Ao lado de Zico, Zbiegniew Boniek, Georghe Hagi, Marius Tresòr, Giacinto Facchetti e mui-tos outros, estará aquela figura emblemática: um cara que lembra muito o jeito hippie de ser, mas que com algum senso de moda ou de amor próprio virou outra pes-soa com apenas algumas tesoura-das.

O próprio Lalas observou sobre seu personagem, durante a festa do lançamento do jogo nos EUA, que “o retrato foi fiel, mas não deixou de ser assustador”. Alexi Lalas, o mito, que, acima de tudo, tinha em vista o quanto era bizar-ro, organizou em si mesmo uma versão caseira do programa “Ex-treme Makeover”.

Revista Camisa 13 64

Grandes hits da bola: Zbigniew Boniek

Grandes hits da bola:Zbigniew Boniek

Por Caio Dellagiustina

Tentar lembrar de um grande craque polonês é um pouco com-plicado. Talvez o primeiro nome em que vem a mente é o de Gz-regorz Lato, artilheiro da Copa de 1974. Mas para quem não sabe, outro grande destaque do selecio-nado polonês é Zbigniew Boniek.

Boniek, ou Zibi, como ficou con-hecido, nasceu em Bydgoszcz em 3 de março de 1956. Iniciou sua carreira no Widzew Łódź em 1975. Após sete anos jogando na sua terra natal, chegou a hora de se mudar para um grande time. E a oportunidade veio após seu de-staque na Copa de 1982, com a Ju-ventus o comprando por cerca de 2 milhões de dólares. Consagran-do no ano da Copa na Espanha, foi indicado a Bola de Ouro da France Football, mas ficou em terceiro lugar, atrás de Paolo Rossi e de Alain Giresse.

Após três anos em Turim, com quatro títulos, veio a hora de se mudar para a capital italiana. Ele chegou à Roma logo após a saída de Falcão. Os três anos na capital

e um título fizeram com que Bon-iek fosse, junto com o papa João Paulo II, (pontífice falecido em 2005)“os dois poloneses que man-davam em Roma”. Pela seleção polonesa foram oito anos, oitenta jogos e 24 gols. Três participações em Copas do Mun-do. Em 1978, 1982 e 1986, sendo que nessa última, chegou a en-frentar a seleção brasileira.

Após encerrar a carreira em 1988, rumou, assim como tantos outros para o cargo de treinador. Em 1990 comandou o Lecce, que terminou o campeonato na 15ª colocação, ocasionando o rebaixamento da equipe. No ano seguinte, assumiu o Bari e assim como no Lecce, aca-bou em 15º, sendo novamente re-baixado. As fracas campanhas em times da série A, fizeram com que Boniek fosse comandar o Sam-benedettese, da série C1, equiva-lente à terceira divisão e nada de

mais conseguiu fazer, acabando o campeonato na 10ª colocação. Um ano afastado do cargo de trei-nador fez com que o Avellino o fiz-esse um convite para ser o treina-dor da equipe na série C1. Dessa vez, uma boa campanha, resultou no acesso da equipe e pela primei-ra vez, Boniek ficou mais de um ano no mesmo clube como trei-nador. No ano seguinte, na série B, outra péssima campanha que derrubou o Avellino de volta para a série C1.

Seis anos parado e após a Copa de 2002, a seleção polonesa lhe ofer-eceu o cargo de treinador. Seria a oportunidade de voltar as grandes glórias com a Polônia. Mas foram apenas seis meses no cargo e em dezembro do mesmo ano, Bon-iek praticamente encerrou sua carreira como treinador. Porém, ninguém jamais esquecerá os gols que ele fez, tanto na Itália quanto pela seleção.

Zbigniew Boniek Nascimento: 3 março de 1956Bydgoszcz, Polônia1,81m - Atacante/ponta

Carreira como jogador:Jogos/golsWidzew Łódź (1975-82) 172 (50)Juventus (1982/85) 11 (20), Roma (1985/88) 47 (10), Polônia (1976/88) 80 (24)Total: 310 jogos (104 gols)

Como treinador: Lecce - 1990/91, Bari -1991/92, Sambenedetesse - 1992/93, Avellino - 1994-96, Seleção polonesa - 2002.

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A equipe da Revista Camisa 13 se esforçou ao longo deste mês para trazer um conteúdo diferente, evolu-indo a cada edição, com o intuito de ser a nova opção para os amantes do futebol.

Tenha certeza de que em cada página existe um pou-co de “suor” do nosso staff, que teve a determinaçãonecessária para executar um trabalho tão difícil quan-to este. Esperamos que você tenha gostado e que volte sempre, acompanhando as novidades que saem no blog e nas redes sociais.

É com um sorriso no rosto que lhe entregamos este material para que faça bom proveito e que acima de tudo se sinta à vontade na “nossa casa”.

Comente no blog e interaja com a nossa equipe! Você pode colaborar de várias formas, desde as sugestões até escolhendo pautas e assuntos que serão publica-dos.

É isso aí, voltamos em Dezembro.Um grande abraço!