Revista Estudos Hegelianos Nº 9-Vários Artigos Sobre a 'Fenomenologia' [2008]

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    REHRevista Eletrônica Estudos Hegelianos

    (Revista Semestral da Sociedade Hegel Brasileira - SHB)

     Ano 5nº 9 , Dezembro - 2008

    ISSN 1980-8372

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      REVISTA ESTUDOS HEGELIANOS, Ano 5, Nº 9, DEZ -2008

    ExpedienteRevista Eletrônica Estudos Hegelianos - ISSN 1980-8372

    Sociedade Hegel Brasileira - SHB

    Sede: Av. Acad. Hélio Ramos, s/n - 15º andar - Cidade UniversitáriaCEP 50740-530 RECIFE - PE (Depto. Filosoa-UFPE)

    Redação: Rua Salvatore Renna - Padre Salvador, 875 - Santa Cruz(antiga Rua Presidente Zacarias de Góes)CEP 85015-430 - GUARAPUAVA/PR - Brasil (Depto. Filosoa-UNICENTRO)

    Editor: Manuel Moreira da Silva (UNICENTRO-PR)

    Conselho editorial

    Alfredo de Oliveira Moraes (UFPE), Agemir Bavaresco (PUCRS), Denis Lerrer Roseneld (UFRGS),Draiton Gonzaga de Souza (PUCRS), Marcos Lutz Müller (UNICAMP), Manuel Moreira da Silva(UNICENTRO-PR), Marly Carvalho Soares (UECE), Paulo Gaspar Meneses (UNICAP), KonradChristoph Utz (UFC)

    Conselho cientíco

    Diogo Falcão Ferrer (Universidade de Coimbra), Edmundo Balsemão Pires (Universidade deCoimbra), Jean-Claude Bourdin (Université de Poitiers), Jean-Louis Vieillard-Baron (Universitéde Poitiers), José Pinheiro Pertille (UFRGS), Hans-Christian Klotz (UFG), Leonardo Alves Vieira(UFMG), Manfredo Araújo de Oliveira (UFC), Marco Aurélio Werle (USP), Silvio Rosa (UNIFESP),Miguel Giusti (PUC-Peru), Marcelo Fernandes de Aquino (UNISINOS), Jean-François Kervégan

    (Université Patheon-Sorbonne - Paris I )

    Secretário de edição/Diagramação: Matheus Barreto Pazos de Oliveira (RDT)

    Editor de web: Danilo Vaz Curado (Grupo Hegel/Neal-PE)

    Revisão: André Luís Tavares (RDT); Márcia Isse; Jeferson da Costa Valadares; Clemilson PereiraTeodoro.

    Revisão geral: Manuel Moreira da Silva (UNICENTRO-PR)

    Indexação:QUALIS, Capes, Brasil;LATINDEX, México;SUMÁRIOS, Funpec-RP, Brasil;DIALNET, Espanha.

    Materiais assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, assim como as idéias econceitos expressos nos mesmos ou as guras e imagens aí utilizadas.

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    SUMÁRIO

    Editorial

    Da atualidade da Filosoa da Natureza de HegelManuel Moreira da Silva ................................................................................5

    REH. Nota sobre o número 9Manuel Moreira da Silva ...............................................................................17

     Artigos

    Circolo e spirale. Il cuneo del contingente della losoa sistematicaRossella Bonito Oliva ...................................................................................19

    Entendimento e força: Sobre um aspecto fundamental da losoada natureza na Fenomenologia do Espírito de Hegel Wolfgang Neuser ............................................................................................37

    Força e Entendimento: Um argumento contra o sicismo

    Konrad Utz .........................................................................................................49

    O movimento dialético: a dor e o sofrimento na Fenomenologiado EspíritoSônia Maria Schio ..........................................................................................59

    A liberdade absoluta entre a crítica à representação e o terrorMarcos Lutz Müller ....................................................................................75

    A crítica de Hegel ao conceito de lei em KantPedro Aparecido Novelli ..........................................................................101

    Normas de submissão (Versão resumida)..........................................117

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    Da atualidade da Filosoa da Natureza de Hegel

      Manuel Moreira da SilvaDEFIL – UNICENTRO/PR

      Embora controversa sob diversos pontos de vista, inclusive no âm-bito de posições internas ao hegelianismo, a Filosoa da Natureza de Hegeltem se mostrado tão ou mais atual que outras ciências do chamado sistemahegeliano. Apesar dessa atualidade não se apresentar como algo eviden-te, não podendo pois constituir-se enquanto objeto de uma demonstraçãoexaustiva, ela pode ser constatada, por exemplo, nas antecipações de Hegelno que respeita a importantes teses que só muito recentemente se impõem

    como dignas de consideração por parte dos físicos e cosmólogos hodiernos;situação já observada por R. G. Collingwood, ainda em 1933, em um con- junto de artigos que mais tarde, postumamente, em 1945, seria coligidoem sua famosa The Idea of Nature1. O que, em maior ou menor medida,a despeito de objeções quanto à consistência empírico-formal do legadolosóco-natural de Hegel, tem sido desde então como que sempre mais emais posto em evidência.

      Não obstante as muitas objeções dirigidas à elaboração hegeliana da

    Filosoa da Natureza, é justamente em função das controvérsias as quaisessa elaboração suscitara que a mesma fora conquistando pouco a poucoum lugar na História da Filosoa da Natureza em geral e na história dasinterpretações do chamado Sistema de Hegel em particular. Apesar disso,o que também permite justicar em boa medida certas objeções e contro-vérsias, não se pode esquecer que a Filosoa da Natureza de Hegel é aindahoje, por diversos motivos, mas sobretudo pela ignorância quanto ao seulugar e função no Sistema, a ciência quase nunca levada a sério e que, porisso, não desperta a atenção dos estudiosos, tornando-se a menos estudadae a mais incompreendida de tal Sistema. Elemento essencial dessa incom-

    preensão mostra-se imediatamente já na indisponibilidade, na insuciênciaou na incapacidade do pensamento cientíco dos últimos séculos em as-sumir ou preencher os requisitos exigidos para a sua elevação aos pontos devista mediante os quais Hegel apresenta certos temas e problemas relativosàs ciências naturais de seu tempo e à Filosoa especulativa da Naturezaenquanto tal. Estado de coisas que, ao permanecer o mesmo desde a épocade Hegel, não contribuíra senão para o recrudescimento daquelas objeçõese controvérsias.

    1. Ver, R. G. COLLINGWOOD, The Idea of Nature. Oxford: Clarendon Press, 1945, p. 121-132, passim. Edição eletrônica disponível em: .Versão portuguesa: A Idéia da Natureza. Trad. Frederico Montenegro. Lisboa: Presença, s/d, p.176-192, passim.

    Editorial Revista Eletrônica Estudos HegelianosAno 5, nº9, Dezembro-2008: 5-16

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      Tais pontos de vista se justicam em razão de cumprirem funçõesdistintas e precisamente determinadas no concerto da concepção hegelianada Natureza e, de modo mais especíco, da Filosoa da Natureza  comosua apresentação sistemática. Exemplo disso mostra-se no fato mesmo de,desde os primeiros escritos losóco-naturais de Hegel até a concepçãomadura de sua Filosoa da Natureza, esta se apresentar como uma forma

    de mediação entre: (1) a concepção teleológica da Natureza (sobretudo ados antigos, como Platão e Aristóteles) e a mecanicista (característica daciência moderna); (2) a concepção losóco-especulativa da Natureza e aresultante das ciências naturais (empíricas ou formais); enm, (3) a concep-ção losóco-natural de Schelling e a cientíco-natural de Goethe. Os doisprimeiros momentos parecem estar em jogo já a partir de 1801, quando dapublicação da Dissertatio Philosophica de Orbitis Planetarum2, nesta obra,contudo, o que se apresenta de imediato à consideração é justamente o im-passe entre as teses antigas e as modernas, assim como as físico-empíricase as físico-especulativas; o que não impede certa mediação das mesmas,precisamente quando da tentativa hegeliana de uma determinação das ór-bitas dos planetas de um ponto de vista nem meramente a priori , nem sim-plesmente a posteriori , mas em grande medida já especulativo. Tal é o quese depreende da estrutura tripartite da obra, sendo a primeira parte umacrítica losóca da mecânica newtoniana, vale dizer, de seus fundamentosmatemático-formais3,a segunda a tentativa de uma construção losóca (detipo schellinguiano) do sistema solar4 e a terceira a tentativa de uma demon-stração matemático-ideal, ou pitagórica, dos intervalos entre os planetas5.Por sua vez, embora já como que se apresente na Fenomenologia do Espírito

    de 1807, o terceiro momento só se mostrará de modo mais ou menos consis-tente nos adendos orais de Hegel, colhidos pelos seus discípulos e acrescidosà Enciclopédia das ciências losócas em compêndio de 1830, conformandoassim a segunda parte dessa obra, então dedicada à Filosoa da Natureza,nos quadros da primeira edição da Vollständige Ausgabe (1832-1845), emseu volume VII, primeira seção, publicada em 1842, agora no volume IXda Theorie Werkausgabe6. Assim, esse terceiro momento somente poderá2. Veja-se, G. W. F. HEGEL, Dissertatio Philosophica de Orbitis Planetarum = PhilosophischeErörterung über die Planetenbahnen. Übersetzt, eingeleitet und kommentiert von Wolfgang

    Neuser. Weinheim: Acta humaniora, 1986. Nas citações a seguir, usar-se-á a paginação dooriginal em latim.3. Veja-se, G. W. F. HEGEL, De Orbitis Planetarum, op. cit., p. 4-22.4. Veja-se, G. W. F. HEGEL, De Orbitis Planetarum, op. cit., p. 22-31.5. Veja-se, G. W. F. HEGEL, De Orbitis Planetarum, op. cit., p. 31-32.6. G. W. F. HEGEL, Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse. ZweiterTeil. Die Naturphilosophie. Mit den mündlichen Zusätzen. Auf der Grundlage der Werke von1832-1845 neu edierte Ausgabe. Redaktion Eva Moldenhauer und Karl Markus Michel. Frankfurtam Main: Suhrkamp, 1970 [TWA 9]. Versão brasileira: Enciclopédia das Ciências Filosócas emCompêndio (1830). II. A Filosoa da Natureza. Trad. Paulo Meneses e Pe. José Machado, SãoPaulo: Loyola, 1995. Texto citado, de ora avante e sempre que possível, pela inicial ‘E’, seguidade ‘1830’, para o ano de sua publicação, ‘II’ para a indicação do presente volume, ‘§’ para os

    parágrafos correspondentes e, quando for o caso, de ‘A.’, para as Anotações de Hegel, e de ‘Ad.’,para os Adendos orais recolhidos por seus discípulos; quando necessário, indicar-se-á a pagina-ção das edições acima referidas, na ordem aqui apresentadas. Este procedimento também seráseguido para as duas outras partes da Enciclopédia (I. A Ciência da Lógica, III. A Filosoa doEspírito). No que tange às passagens citadas, seguiremos nossa própria tradução – isso com adevida marcação [Trad. mmdsilva], em nota, sempre que este for o caso.

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    Manuel Moreira da Silva

    impor-se quando, em função do estabelecimento do conceito da Filosoa daNatureza ou do desdobramento de suas determinações, Hegel tiver de con-statar as insuciências ou mesmo refutar a concepção schellinguiana destaciência7, mas defendendo ou buscando desenvolver, em oposição à concep-ção de Newton, a Ciência da Natureza de Goethe8.

      Ainda que a concepção hegeliana do Sistema da Ciência em geral edo Sistema da Filosoa da Natureza em particular tenha passado por modi-cações profundas entre 1801 e 1830, não se pode negar que o caráterespeculativo da forma de mediação acima indicada não só tenha se aprofun-dado, mas também assumido e mantido, bem como desenvolvido, certos el-ementos que se apresentam primeiramente em 1801. Tal é o caso da críticalosóca aí em ação, a qual, segundo a formulação apresentada em 1802, justamente no artigo sobre a essência da crítica losóca9, não se voltapois para nenhum fenômeno singular nem para a particularidade do sujeito,mas tão somente para a Coisa mesma em sua “forma originária” (Urbild ); oque já é o caso em 1801, permanecendo pois em sua intrinsecidade, comoque se confundindo com o desenvolvimento da Coisa mesma próprio do El-emento especulativo. Embora equivocada no tangente ao conteúdo empíricoou material, razão pela qual Hegel termine por se distanciar de sua Disser-tatio e do formalismo da construção losóca que a informa, bem como poraproximar-se mais e mais da chamada Física empírica, chegando mesmo atomá-la como pressuposto de sua Filosoa da Natureza, o conteúdo idealda Dissertatio não só se mostrara verdadeiro e consistente, mas também acada vez mais e mais efetivo. Esse o resultado positivo das inuências de

    Platão, Kepler e Schelling, mas também, e acima de tudo, das de Goethe eFranz Baader10, dos quais Hegel irá reter em especial as noções goethianasda polaridade, da gradação e da metamorfose, perfeitamente identicáveisem sua Filosoa da Natureza, bem como as teses baaderianas da explicaçãodas coisas pelo homem e não do homem pelas coisas e da correspondênciaentre o sistema da Natureza e o sistema do Espírito.

      Infelizmente, a forma de mediação acima aludida, bem como seusmomentos constituintes, parece não ter sido ainda investigada de maneira

    satisfatória, não se apresentando pois como algo constitutivo da economiada Filosoa da Natureza  de Hegel e, assim, deixando na obscuridade osavanços decisivos desta ciência no tocante aos problemas então postos àFilosoa da Natureza cienticamente considerada; o que, não obstante agrande variedade dos estudos em torno da elaboração hegeliana da Filoso-

    7. Veja-se, especialmente, E., 1830, II, Einleitung, Ad., p. 9-10 (ed. bras., Introdução, p. 11-12).8. E., 1830, II, § 246, Ad., p. 21ss (ed. bras., p. 23ss); § 249, p. 31-34 (ed. bras., p. 33-36);§§ 319-320, p. 239-269 (ed. bras., p., 251-281); § 345, p. 380-394 (ed. bras., p. 398-411).9. G. W. F. HEGEL, Über das Wesen der philosophischen Kritik überhaupt und ihr Verhältniss

    zum gegenwärtigen Zustand der Philosophie insbesondere. In: G. W. F. HEGEL, Jenaer Schriften(1801-1807). Auf der Grundlage der Werke von 1832-1845 neu edierte Ausgabe. Redaktion EvaMoldenhauer und Karl Markus Michel. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1970 [TWA 2], p. 171.10. Sobre estes “precursores desconhecidos”, veja-se, F. de GANDT, Introduction [a Les orbitesdes Planètes]. In: G. W. F. HEGEL, Les orbites des Planètes. Traduction, introduction et notes deF. De Gandt, avec préface de D. Dubarle. Paris: Vrin, 1979, p. 32-38.

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     Editorial

    a da Natureza, em especial a partir dos anos de 1970, ainda permaneceuma tarefa a ser realizada. Os dois lugares-chave em que a referida formade mediação se desenvolve são a Fenomenologia do Espírito de 180711 e aFilosoa da Natureza da Enciclopédia das ciências losócas em compêndio,de modo mais preciso, as preleções de Hegel em torno da ciência aí tem-atizada, cujos apontamentos, então anotados pelos seus ouvintes, foram

    incluídos nas edições póstumas da Enciclopédia de 1830. No que tange aosprocedimentos em jogo nestes lugares, a primeira obra desenvolve-se nosquadros de um projeto de sistema delineado nos limites de uma concep-ção fenomenológica, na qual as determinações fundamentais, por denição,ainda se circunscrevem ao ponto de vista da consciência como tal; a se-gunda obra, ao contrário, se desdobra no âmbito de uma concepção que sequer puramente especulativa. Em ambos os casos, porém, como Hegel nãochegara à completude de seu projeto original, suas teses concernentes àNatureza em geral e à Filosoa da Natureza em particular resultaram seria-mente prejudicadas.

      No primeiro caso isso ocorre em função de o lugar próprio das deter-minações referentes à Natureza e à Filosoa da Natureza não ser propria-mente a Fenomenologia do Espírito, fato reconhecido explicitamente pelopróprio Hegel. Isso, em 1830, na Anotação ao § 25 da Enciclopédia, quandoarma que, naquela obra, devido ao fato de o desenvolvimento do conteúdoperfeito (Gehalt ) dever avançar por detrás da consciência e na medida emque o conteúdo imperfeito (Inhalt ) se relaciona à consciência como o Em-si ,a apresentação torna-se mais complicada e o que pertence às partes concre-

    tas já recai parcialmente nessa introdução que é a Fenomenologia12. Emboranesta Anotação Hegel não se rera de modo explícito aos temas próprios daFilosoa da Natureza que então comparecem nos quadros da Fenomenolo-gia do Espírito de 1807, e ainda que, na elaboração fenomenológica, essestemas pertençam às guras formais ou abstratas da consciência, a observa-ção em tela vale igualmente para eles, tal como para os que respeitam àsguras concretas da consciência. Isso porque tanto os problemas relativosàs determinações-de-pensamento como Força, Fenômeno, Atração, Efetivi-dade exterior, Orgânico, Inorgânico, etc., quanto os que tangem à Moral,

    à Ética, à Arte e à Religião, pertenceriam às partes propriamente ditas daCiência losóca, de modo respectivo, à Filosoa da Natureza e à Filosoado Espírito, e não à sua Introdução. Não obstante, as considerações hege-lianas acerca dos conceitos losóco-naturais na Fenomenologia do Espírito,apesar de valerem para eles o mesmo diagnóstico geral que supostamente

    11. G. W. F. HEGEL, Phänomenologie des Geistes (1807), neu hrsg. von Hans-Friedrich Wesselsu. Heirinch Clairmont. Hamburg: Meiner, 1988 [edição brasileira: Fenomenologia do Espírito,trad. Paulo Meneses, – 2. Ed. –, São Paulo: Loyola, 2003]. Texto citado de ora avante pelasiniciais ‘PhG’, seguidas de ‘§’ e do número dos respectivos parágrafos (na versão Meneses), e(entre parêntesis) do número da página correspondente na edição original utilizada.

    12. Ver, G. W. F. HEGEL, Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse. Er-ster Teil. Die Wissenschaft der Logik. Mit den mündlichen Zusätzen. Auf der Grundlage derWerke von 1832-1845 neu edierte Ausgabe. Redaktion Eva Moldenhauer und Karl Markus Mi-chel. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1970 [TWA 8], p. 92; versão brasileira: Enciclopédia dasCiências Filosócas em Compêndio (1830). I. A Ciência da Lógica. Trad. Paulo Meneses e Pe.José Machado, São Paulo: Loyola, 1995, p. 88 (= E., 1830, I, § 25).

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    Manuel Moreira da Silva

    valeria para os conceitos da Filosoa da Natureza da Enciclopédia, por sereferirem à experiência da consciência e se dirigirem mais a certas inter-pretações de contemporâneos de Hegel que aos contornos fundamentaispróprios das ciências naturais e à elaboração propriamente conceitual dosresultados destas, a apresentação fenomenológica goza de certo privilégio ecerta condescendência que jamais fora o caso no que respeita à concepção

    enciclopédica. No que concerne a esta, os juízos em torno do legado hege-liano via de regra raramente foram favoráveis.

      Com efeito, enquanto na Fenomenologia do Espírito considera-se aNatureza de um ponto de vista meramente externo, i.é, não a Naturezaem sua estrutura propriamente conceitual mas os modos igualmente exter-nos de sua observação, na Filosoa da Natureza está em jogo o elementointrínseco das determinações losóco-naturais, vale dizer, seu caráter dedeterminações-de-conceito. Tal caráter implica em que, ao contrário dasdeterminações da Fenomenologia, que apreendem a Natureza tão só noslimites de uma efetividade exterior, fenomênica, observável, circunscrita aoseu aparecer à consciência que a observa de fora, as determinações que seapresentam na Filosoa da Natureza não só tem que apreender a Naturezaem seu conceito próprio ou em si, mas também em sua realidade, segundoo movimento dialético de tal conceito, por conseguinte, enquanto posta; oque signica, ao m e ao cabo, que a Natureza mesma também tenha que,neste movimento, retornar dentro-de-si. Isso, contudo, de modo que, emtal retorno, ela se apresente não mais apenas em-si ou posta mas absolu-tamente dentro-de-si; caso em que, à diferença do dentro-de-si puramente

    lógico (que, enquanto o Conceito em seu começo absoluto, se determinacomo o imediato indeterminado ou o sem-qualidade e que portanto nãoé já aí, nem em-si )13, este dentro-de-si agora em jogo na Filosoa da Na-tureza se constitui como o resultando nal ou último de todo o movimentodo Conceito, em cujo retorno dentro-de-si este mesmo Conceito tambémse faz, por seu turno, absolutamente para si ou, de modo mais preciso,em si e para si 14, perfazendo pois, em seu círculo, o movimento que nãoé senão seu próprio automovimento. Essas determinações, no entanto, aonão se mostrarem evidentes a um olhar mais afeito aos progressos quanti-

    tativos de uma consideração meramente fenomênica ou fenomenológica daNatureza, aí apreendida tão só enquanto posta, não poderão de modo algumserem compatíveis com os desenvolvimentos históricos das ciências naturaisusuais; acrescente-se a isso o fato de Hegel não desenvolver o primeiro e oterceiro momentos acima indicados e nem mesmo o segundo de forma plenae acabada. Esta situação, no entanto, se justica em função de que, emborasua concepção do Sistema da Ciência apresentar-se sob a forma de uma

    13. E., 1830, I, §§ 86-90. Ver também, G. W. F. HEGEL, Wissenschaft der Logik . Erster Teil: Dieobjektive Logik. Erster Band: Die Lehre vom Sein (1832), herausgegeben von Friedrich Hoge-mann und Walter Jaeschke. Hamburg: Felix Meiner, 1985 [GW 21], p. 68ss; p. 97ss.

    14. Ver, G. W. F. HEGEL, Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften im Grundrisse. Drit-ter Teil. Die Philosophie des Geistes. Mit den mündlichen Zusätzen. Auf der Grundlage der Wer-ke von 1832-1845 neu edierte Ausgabe. Redaktion Eva Moldenhauer und Karl Markus Michel.Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1970 [TWA 10]; versão brasileira: Enciclopédia das CiênciasFilosócas em Compêndio (1830). III. A Filosoa do Espírito. Trad. Paulo Meneses e Pe. JoséMachado, São Paulo: Loyola, 1995 (= E., 1830, III, § 574, § 577).

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     Editorial

    Enciclopédia, nesta, conforme Hegel mesmo o reconhece, “a ciência nãoé apresentada no desenvolvimento pormenorizado de sua particularização,mas antes é limitada aos elementos iniciais e aos conceitos fundamentaisdas ciências particulares” 15.

      Mas isso, a rigor, do ponto de vista da Filosoa da Natureza de Hegel,

    não se apresenta como um óbice à compatibilidade desta e das ciênciasempíricas da Natureza entre si. Não obstante, a esfera na qual uma e outraspodem efetuar um verdadeiro diálogo é bastante exígua; essa a esfera emque a Natureza apresenta-se como posta e, mais precisamente, na medidaem que é apreendida segundo a forma ou a marcha da evolução16 – conceitoque, embora se mostrasse ainda um tanto quanto indeterminado na épocade Hegel, já fora determinado por este segundo a estrutura e o alcance queo mesmo só adquiriria muito posteriormente. Enm, é sobretudo em funçãode tal esfera que ganha sentido a exigência de acordo com a qual, nas pa-lavras de Hegel, “não apenas tem a Filosoa de estar em concordância coma experiência da natureza, como também o surgir  e a formação da Ciêncialosóca tem a Física empírica como pressuposto e condição” 17 – signican-do isso, da mesma forma, ainda nos quadros de tal exigência, que a Físicaempírica tenha que se abrir a uma colaboração efetiva com a Filosoa daNatureza:

    A Filosoa da Natureza acolhe o material que a Física lhe preparou, a partirda experiência, no ponto até onde a Física o trouxe e o remodela nova-mente sem por no fundamento a experiência como a prova última; a Físicatem assim de trabalhar de mãos dadas com a Filosoa, de modo que esta

    traduza para o conceito o universal de entendimento a ela transmitido;nisto ela mostra de que modo este [universal] brota do conceito como umtodo dentro de si mesmo necessário.18

      Disso se depreende que a tarefa da Filosoa da Natureza, tal comoHegel a compreende, não é necessariamente algo como certo estabeleci-mento a priori das chamadas condições de possibilidade da experiência oudo conhecimento efetivo da natureza sensível, ou ainda de uma fundamen-tação transcendental ou reexiva das ciências naturais em geral (tal como se

    apresentam nos dias de hoje) e, conforme o exemplo de Hegel, da Física emespecial. Ao contrário, a Filosoa da Natureza pressupõe o trabalho anterior,fundado na experiência e levado a cabo pela Física e outras ciências empí -ricas ou, mais precisamente, experimentais, como preparatório ao seu pró-prio trabalho; estas, portanto, ao acederem ao “universal de entendimento”,à representação inteligível dos fenômenos ou às leis que os regem, dão porencerrada a sua tarefa de uma apresentação da ordem lógica do mundo,isso, pelo menos na medida em que as mesmas concebem a este apenascomo o mundo dos fenômenos ou o mundo empírico como tal. O que, a rigor,

    nos quadros de uma distinção entre por exemplo o sensível e o inteligível15. E, 1830, I, § 16. [Trad., mmdsilva].16. E., 1830, II, § 249, Ad., p. 32-33 (ed. bras., p. 35).17. E., 1830, II, § 246, A., p. 15 (ed. bras, p. 17). [Trad., mmdsilva].18. E., 1830, II, § 246, Ad., p. 20 (ed. bras., p. 22). [Trad., mmdsilva].

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    ou entre o fenômeno e a essência, ou ainda entre o empírico e o transcen-dental, tem contribuído para que se arme a tese de uma losoa da natu-reza como ciência puramente transcendental, que teria por função especícatão só a fundamentação daquelas ciências e mesmo a justicação de umaesfera dos fenômenos em oposição a uma esfera da consciência e a umaesfera propriamente ideal ou absoluta. Ora, essa não parece uma tarefa da

    Filosoa da Natureza tal como concebida por Hegel, em sentido rigoroso, emsua concepção sistemático-especulativa e, por isso, nos quadros do Idealis-mo absoluto ou, o que é o mesmo, segundo o ponto de vista do Conceito;razão pela qual a tarefa própria daquela ciência não ser senão traduzir parao conceito o “universal de entendimento” produzido e a ela transmitido pelaciência empírica, além de mostrar como este universal “brota do conceitocomo um todo dentro de si mesmo necessário” 19. Desse modo, ao invés deuma relação de subordinação, justamente por operarem em esferas distin-tas, Física e Filosoa da Natureza devem manter uma relação de colabora-ção; na qual está em jogo não meramente uma determinação epistemológicaou transcendental de uma pela outra e sim o devir da Coisa mesma que, naesfera da Natureza posta, de sua posição segundo a “marcha da evolução”,se exterioriza como Natureza e nesta retorna dentro de si como Espírito20.

      Essa colaboração, não obstante, apresenta-se prejudicada pelos limi-tes metodológicos que a própria ciência empírica impõe a si mesma. De umlado, enquanto se limita à forma ou à marcha da evolução, ela começa doimperfeito ou do sem-forma e, por meio de explicações e tentativas de de-terminação fundamentalmente quantitativas ou empírico-formais, tem por

    meta atingir a forma ou a lei universal-formal abstrata (posta a título dehipótese a ser conrmada empiricamente) mediante a qual os fenômenosdas mais diversas ordens podem ser apreendidos, classicados e então hie-rarquizados; mas isso tão somente nos quadros de uma xação de tal formaou lei segundo a representação que da mesma é possível ao sujeito cognos-cente formar21. De outro lado, a referida colaboração vê-se prejudicada pelofato de a maneira mediante a qual a ciência empírica procede não satisfazero Conceito, limitando-se pois, como já referido acima, a uma pura e sim-ples quanticação dos fenômenos e à forma exterior unicamente pela qual

    os resultados desta quanticação se apresentam ao sujeito cognoscente; asaber, em última instância, a forma da atribuição de predicados ou proprie-dades a um substrato determinado como tal própria da representação, estaque se limita à determinidade isolada e que subsiste de modo indiferente eexterior, deixando de lado pois o Conceito mesmo como algo interior, não seatendo enm ao “laço espiritual” (segundo Goethe, citado por Hegel) ou ao “íntimo do interior” que seria, tanto para um como para outro, a unidade douniversal e do particular, do interior e do exterior, etc22. Assim, mesmo queo procedimento metodológico e a “marcha da evolução” mediante os quaisa ciência empírica determina seu universal tenham se tornado na época ho-

    dierna a forma de racionalidade quase homogênea, extrapolando portanto19. E., 1830, II,§ 246, Ad., p. 20 (ed bras., p. 22).20. E., 1830, II, § 247 Ad.21. E., 1830, II, § 249, Ad., p. 33 (ed. bras., p. 35).22. E., 1830, II, § 246, Ad., p. 21ss (ed. bras., p. 23ss); § 248.

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    inclusive seus limites epistêmicos23, isto não signica que esta seja efetiva-mente necessária e suciente ou, do ponto de vista propriamente losóco,a mais adequada e, por conseguinte, a forma de racionalidade preferível emrelação às demais, a começar pelo próprio tratamento da Natureza.

      Neste sentido, outra forma de apreensão da Natureza que então se

    apresenta à consideração é justamente a “forma da emanação”, a qual, acada dia, sobretudo em função dos limites, dos impasses e dos desacertosda “forma da evolução”, tem se mostrado como alternativa não só possívelmas também plenamente realizável. Assim, tão plausível como a “formada evolução” – esta na qual a ciência empírica baseia seus procedimentosmetodológicos e sua concepção da Natureza enquanto  posta –, mas tam-bém tão insuciente e mesmo unilateral quanto ela, a “forma da emanação”apresenta-se preferível à mesma precisamente porque, de acordo com He-gel, nela “se tem diante de si então o tipo do organismo consumado; e éesta imagem que tem de ser-aí diante da representação para se entenderemas organizações rudimentares” 24. Ao invés da representação ou do universalabstrato que nela e por ela tem lugar nos quadros da “forma da evolução”,na “forma da emanação” está em jogo o próprio ser-aí das determinações-de-conceito, que então se apresentam como os diversos degraus em cujamarcha a emanação ou a tipicação do organismo consumado se congura;o que permite uma compreensão mais adequada do imperfeito e do sem-forma, sobretudo em função de seu lugar nos quadros de tal conguraçãolimitar-se à esfera das organizações rudimentares; isso porque, segundoHegel, no que tange a estas, “o que nelas aparece como subalterno, por

    exemplo órgãos sem nenhuma função, só se torna então claro por meio dasorganizações superiores, nas quais se reconhece que lugar isso ocupa” 25.Ora, mesmo que própria do Oriente ou ainda originária de concepções re-ligiosas e losócas em grande medida tributárias de concepções propria-mente orientais, incluindo-se o modelo da Physis grega, a “forma da ema-nação” apresenta-se com tanto rigor quanto ou mais rigor que a “forma daevolução”, como por exemplo no caso, aproximado, da Teoria da Autopoiésis e da Teoria da Deriva desenvolvidas por Humberto Maturana e Francisco Va-rela26. O que, não obstante, talvez justamente por esse rigor, faz com que a

     “forma da emanação” e a “forma da evolução” sejam confundidas, apresen-tando-se pois numa forma sincrética ou híbrida, como ocorre, por exemplo,na chamada Teoria de Sistemas, mais precisamente, na Teoria sistêmica da Auto-organização27.

    23. Sobre este ponto, veja-se, V. HÖSLE, Sobre a impossibilidade de uma fundamentação natu-ralista da ética. In: STEIN, E.; DE BONI L. A. (Org.). Dialética e Liberdade. Petrópolis: Vozes;Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 1993, p. 588-609, passim.24. E., 1830, II, § 249, Ad., p. 33 (ed. bras., p. 35). [Trad., mmdsilva].25. E., 1830, II, § 249, Ad., p. 33 (ed. bras., p. 35). [Trad., mmdsilva].

    26. Ver, H. MATURANA, A Ontologia da realidade. Organização de Cristina Magro, Miriam Gra-ciano e Nelson Vaz. Belo Horizonte: UFMG, 1997, passim, sobretudo, p. 31ss., p. 133ss. Eainda: H. MATURANA, F. VARELA, A árvore do conhecimento, trad. Jonas Pereira dos Santos.Campinas: Psy, 1995, passim.27. Veja-se, a respeito, C. CIRNE-LIMA; L. ROHDEN (Org.), Dialética e auto-organização. SãoLeopoldo: UNISINOS, 2003, passim.

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      No primeiro caso, ainda que os autores referidos aí não tenham ounão pareçam ter lido expressamente Hegel ou a tradição na qual a “formada emanação” se encerra, pode-se dizer que neles a “forma da evolução” foireduzida à ou abarcada pela “forma da emanação”, concebida como derivanatural ; e isso no sentido preciso em que o lósofo de Berlim considera talemanação, vale dizer, como resultando na “abstenção de toda forma” ou, o

    que é o mesmo, segundo Maturana e Varela, como prescindindo de “direcio-nalidade externa” ou desígnio28. No segundo caso, ao contrário, a “forma daemanação” se apresenta subordinada à “forma da evolução”, algo recorrentena história das ciências modernas, sobretudo nos quadros da Teoria da Evo-lução (temporal) pós-darwiniana em geral; desse modo, embora os sistemasauto-organizados concebidos mediante a Teoria de Sistemas apresentem osmesmos elementos essenciais que as teorias fundadas mais estritamentena “forma da emanação”, sua subordinação à “forma da evolução” implicaem que, em três desses elementos essenciais, prevaleçam as característicasdesta última. Esses elementos são, na verdade, justamente aqueles em que,de certo modo, tal subordinação termina por anular a emanação ou a deriva,a saber: (1) a seletividade, que implica em formatividade e direcionalidade;(2) a replicação e a reprodução, cuja função é a capacidade do indivíduofazer cópias de si mesmo, em vista da manutenção da espécie, em face daseleção natural, essa que, como tal, aqui direciona o processo; (3) o en-gendramento de novas formas de organização, especialmente em “sistemasdinâmicos dissipativos fora de seu ponto de equilíbrio”, os quais então po-deriam se dissipar e desaparecer ou “como que ‘escolher’ e engendrar umanova forma de auto-organização” 29. Enm, enquanto no primeiro caso, tal

    como em Aristóteles, Goethe e Hegel, a Matemática cede lugar à Biologia,no segundo é esta que termina por sucumbir àquela.

      Assim, embora questionável pelas concepções que se fundam es-tritamente na “forma da evolução” (moderna ou contemporânea), a “for-ma da emanação” mantém-se não só em sua atualidade mas também emsua efetividade; o mesmo ocorrendo com a Filosoa da Natureza de Hegel,seja estando na origem das teorias que de algum modo retomam a “formada emanação”, embora em alguns casos subordinada à “forma da evolu-

    ção”, seja se conformando como um elo dos desenvolvimentos que resultamnessa retomada. Como já referido no início deste trabalho, o primeiro areconhecer isso, ainda que em outro registro, foi justamente o historiadorR. G. Collingwood, em cuja Idéia da Natureza mostrara em que medida aconcepção hegeliana se constitui como a transição ou o ponto de passa-gem da concepção moderna – meramente mecanicista – à contemporânea,fundamentalmente orgânica, da Natureza30. Vale dizer, de uma concepçãofundada basicamente na Física empírica moderna, que então já se apresen-tava um tanto quanto degenerada nos ns do século XVIII e nos inícios do

    28. Confronte-se E., 1830, II, § 249 Ad., p. 33 (ed. bras., p. 35); H. MATURANA, F. VARELA, Aárvore do conhecimento, op. cit., p. 148-149.29. Veja-se, a respeito, C. CIRNE-LIMA, Causalidade e auto-organização. In: C. CIRNE-LIMA; L.ROHDEN (Org.), Dialética e auto-organização., op. cit., p. 31-35.30. Ver, R. G. COLLINGWOOD, The Idea of Nature , op. cit., p. 121-132ss (ed. port., p. 176-192ss).

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    século XIX, a uma concepção fundada inicialmente na Biologia (como umaespécie de retomada empírica e temporalmente determinada do conceitogrego de Physis) e, posteriormente, de modo mais preciso, na Cosmologia– tal como esta se dá a conhecer nos dias de hoje, em especial no que tangeao caráter próprio de uma ciência empírica do Universo físico ou do Cosmosenquanto tal. Isso também, ao m e ao cabo, por mais improvável que

    possa parecer à primeira vista, como que pode ser considerado a partir dosquadros da crítica hegeliana às unilateralidades e insuciências das formasda emanação e da evolução (sobretudo em razão de ambas põem tão só umm indeterminado) nos limites da Natureza  posta, em que pese o carátersuperior da primeira sobre a segunda no que tange ao aspecto qualitativo eo desta sobre aquela no concernente ao aspecto quantitativo, e a tentativade uma mediação especulativa das mesmas segundo o desenvolvimento dasdeterminações-de-conceito próprias da Filosoa especulativa da Natureza. Oque, não obstante, implica numa distinção radical entre o intento hegeliano– que tem por objetivo a recondução da Natureza dentro de si , primeiramen-te como Vida ou Vivente e enm como Espírito ou como a verdadeira efeti-vidade da Idéia – e o intento das outras formas de pensamento, cientícase losócas ou não, que, sobretudo nos dias atuais, se limita a considerar aNatureza tão só enquanto posta ou no máximo como em si .

      Isto signica que as determinações fundamentais da Natureza, porconseguinte, a serem desenvolvidas pela Filosoa especulativa da Natureza,são as do ser-posto (Gesetztsein), do ser-em-si ( Ansichsein) e do ser-den-tro-de-si (Insichsein). Contudo, na forma presente da Filosoa da Natureza 

    de Hegel, a qual, na economia do Sistema da Ciência, se põe como o se-gundo momento do primeiro silogismo da Filosoa (que tem a forma L-N-E)31, apenas a primeira determinação é considerada de modo explícito; porconseguinte, mostrando-se “como a Idéia na forma do ser-outro”, no caso,a Idéia “como o negativo dela mesma ou exterior a si ” 32. De acordo comHegel, nesse primeiro silogismo, a Natureza não é exterior apenas relati-vamente ante a Idéia e ante a existência subjetiva da mesma, o Espírito,mas a exterioridade constitui a determinação na qual ela está posta comoNatureza ou, mais propriamente, como Natureza posta; com isso, a Natu-

    reza não se apresenta primeiramente senão como um resultado, vale dizer,o  primeiro resultado do “pôr fora de si” pela Idéia desta outra coisa que, nointerior da primeira, dela mesma e nela mesma se diferencia, mas que, damesma forma, agora se apresentando como termo-médio, tem de ser porela mesma reassumida dentro de si para que tal Idéia seja então subjetivi-dade e Espírito33. Neste sentido, partindo desse primeiro resultado que é aNatureza posta, assim como procedendo a este caminho de retorno da Idéiaa si mesma, suprassumindo pois a separação entre Natureza e Espírito ca-racterística do primeiro silogismo da Filosoa, mas permanecendo aqui naesfera da Filosoa da Natureza, pode-se então aceder ao que Hegel designa

    a Natureza em si , essa que se constitui propriamente como Vida e Vivente,

    31. E., 1830, III, § 575. 32. E., 1830, II, § 247, Caput, p. 24 (ed. bras., p. 26).33. E., 1830, II, § 247, Ad, p. 24 (ed. bras., p. 26).

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    conformando-se portanto, agora ao nível do segundo silogismo da Filosoa(que tem a forma N-E-L), como o segundo resultado do “pôr fora de si” daIdéia que, aqui, não é senão o Conceito exposto (der ausgelegte Begriff )34.Essa a razão pela qual, na perspectiva hegeliana e na medida em que “oconceito quer romper a casca da exterioridade e devir para si” 35, o grau daNatureza em si  ser propriamente o primeiro momento do ir para dentro de

    si da Natureza:A Natureza é em si  um todo vivo; o movimento pela marcha dos seus de-graus é precisamente isto: que a Idéia se ponha como aquilo que ela emsi é, ou, o que é o mesmo, que, de sua imediatez e exterioridade, que éa morte, ela vá dentro de si , para primeiro ser como Vivente; mas, alémdisso, suprassuma também esta determinidade na qual ela é somente Vidae se desenvolva à existência do Espírito, que é a verdade, a nalidade daNatureza e a verdadeira efetividade da Idéia.36

      Embora esta passagem possa ser interpretada nos limites estritos do

    primeiro silogismo da Filosoa (em cuja forma, L-N-E, a Natureza se apre-senta como o segundo momento), o que de fato tem sido a regra desde asprimeiras redações da Filosoa da Natureza37  , há que se dizer que essa in-terpretação, mesmo correta nos limites a que se propõe, não alcança o queestá em jogo na determinação da Natureza em si , sendo essa pois a causadas mais diversas confusões e injustiças às quais a Filosoa da Natureza deHegel permanece exposta até aos dias de hoje. Para além de sua interpre-tação meramente linear, na qual, a rigor, a Vida apareceria apenas como oterceiro momento da Natureza  posta, ou como esta em geral  enquanto o

    segundo momento do Sistema da Ciência em seu ser-aí, a passagem aci-ma citada exige ser compreendida na totalidade de suas signicações, nosquadros da qual a Natureza em si tem de ser determinada como um todovivo; portanto, não apenas como o momento da vida ou como um todo vivo in abstracto, mas como a atividade mesma do próprio Conceito em seu de-vir para si, vale dizer, em sua exposição concreta não mais nos limites dofenômeno e da experiência meramente sensível próprios à Natureza posta,mas no âmbito de seu desenvolvimento efetivo, para dentro de si, de seucaráter em si , o que só pode ser o caso nos quadros do segundo silogismoda Filosoa, o silogismo da Reexão, em cuja forma, N-E-L, a Natureza seapresenta como o primeiro momento38. O que implica no fato da determina-ção da Natureza como dentro de si também não poder limitar-se ao existirda Natureza como o que subjaz no interior da existência do Espírito emgeral ou na existência do Espírito como Natureza ou, ainda, como segundaNatureza em particular, pelo menos do modo como, por exemplo, as últi-mas se apresentam na Eticidade, respectiva e expressamente, no § 513 daFilosoa do Espírito da Enciclopédia de 183039 e nos §§ 4 e 151 da Filosoa

    34. E., 1830, II, § 251, Ad, p. 37 (ed. bras., p. 39).

    35. E., 1830, II, § 251, Ad, p. 37 (ed. bras., p. 39). [Trad., mmdsilva].36. E., 1830, II, § 251, Caput, p. 36 (ed. bras., p. 38). [Trad., mmdsilva].37. No caso, a de 1808 (e anos seguintes), contida na Enciclopédia da Propedêutica losóca, ea 1817, contida na primeira edição da Enciclopédia das ciências losócas em compêndio.38. E., 1830, III, § 576.39. E., 1830, III, § 513.

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    do Direito40. Aqui, considerando a forma presente do Sistema da Ciênciasegundo suas realizações literárias mais conformes ao intento de Hegel,tal como este Sistema se apresenta portanto nas versões enciclopédicas de1817 e 1830, por conseguinte reduzido à forma linear do primeiro silogismoda Filosoa, a determinação da Natureza dentro de si  só pode se mostrarsubordinada; quando, ao contrário, o que está em jogo para ela é sobretudo

    sua liberação absoluta, algo possível e efetivamente realizável tão somentenos quadros do terceiro silogismo da Filosoa, o silogismo da Necessidade,em cuja forma, E-L-N, a Natureza se apresenta como o terceiro momento41.Isto signica, por m, que o programa hegeliano de uma Filosoa especula-tiva da Natureza não se reduz à exposição meramente formal da Naturezacomo exterioridade ou enquanto  posta, nem muito menos na tentativa deuma mediação dessa exposição com o ponto de vista da Física empírica desua época, mas no conjunto mesmo de suas determinações.

      Assim, ao m e ao cabo, a Filosoa da Natureza de Hegel, na me-dida em que considera a Natureza enquanto posta, pretende sim fazer amediação e ir além das ciências empíricas de seu tempo, mas deixando aestas o seu lugar próprio no concerto das ciências da Natureza; o que nãosignica um envelhecimento da Filosoa hegeliana da Natureza e sim emseu amadurecimento, pois implica numa abertura crescente da mesma paracom os progressos das ciências empíricas e, de modo evidente, em seu des-prendimento em relação ao caráter contingente destas. Do mesmo modo, adeterminação da Natureza em si , de certo modo já antecipada na chamada “forma da emanação” exige o reconhecimento e a retomada não só de uma

    concepção orgânica da Natureza, ou da Natureza como capaz de auto-orga-nização, no que tange à determinação empírica dos organismos nela presen-tes, mas sobretudo de sua totalidade mesma como Vivente; o que, a rigor,pelo menos no concernente às suas linhas gerais, consiste fundamentalmen-te na retomada e no desenvolvimento da concepção platônica do Kósmose da concepção aristotélica da Physis – isso, não apenas a título de diálogoe de mediação com a concepção moderna, mas em função da consecuçãode um programa rigorosamente especulativo ou segundo o ponto de vistado Conceito. Do que resulta, por conseguinte, a determinação da Natureza

    dentro de si , que então deveria se mostrar como o resultado último da Fi-losoa da Natureza nos quadros de uma tríplice determinação da Naturezaenquanto momento essencial do devir para si do Conceito.

    40. G. W. F. HEGEL, Grundlinien der Philosophie des Rechts oder Naturrechts und Staatswis-senschaft im Grundrisse, mit Hegels eigenhändigen Notizen und den mündlichen Zusätzen. Aufder Grundlage der Werke von 1832-1845 neu edierte Ausgabe. Redaktion Eva Moldenhauer undKarl Markus Michel. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1970 [TWA 7], p. 46, p. 301.41. E., 1830, III, § 577.

     Editorial

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    REH, NOTA SOBRE O NÚMERO 9

    Manuel Moreira da SilvaEditor REH

      Neste número 9 da Revista Eletrônica Estudos Hegelianos – REH –publicam-se seis artigos de estudiosos nacionais e estrangeiros em tornode aspectos centrais do pensamento de Hegel, especialmente da Filosoado Direito e da Fenomenologia do Espírito. O primeiro artigo, de RossellaBonito Oliva (Università degli Studi di Napoli “L’Orientale” – Itália), discuteo problema da vontade na Filosoa do Direito; já os dois seguintes, um deWolfgang Neuser (Universität Kaiserslautern) e outro de Konrad Utz (UFC),discutem aspectos fundamentais da Filosoa da Natureza na Fenomenologiado Espírito. O quarto e o quinto artigos, respectivamente de Sônia Maria

    Schio (UCS) e de Marcos Lutz Müller (UNICAMP), discutem por seu turnodois temas essenciais da Fenomenologia do Espírito, a saber: a dor e o so-frimento e a liberdade absoluta entre a crítica à representação e o terror.O último artigo, de Pedro Novelli (UNESP/Botucatu), retornando à Filosoado Direito, discute a crítica de Hegel ao conceito de lei em Kant. Enm, naabertura, discute-se a atualidade da Filosoa da Natureza de Hegel.

      Em seu artigo, tomando como chave de leitura o § 7 da Filosoa doDireito, Rossella Bonito explicita os principais aspectos da vontade, então

    apresentada como o conceito central na efetivação do mundo do espíritocomo o mundo da liberdade realizada. No que tange a essa efetivação, aautora busca determinar justamente o contingente e o nito como o espaçono qual a consciência se move na relação ao âmbito objetivo do Direito, i.é,como o espaço a partir do qual, em meio à contingência, a comunidade éticase efetiva na forma do Estado. Neste mesmo sentido, mas em outro regis-tro, no artigo que fecha esse número da REH, Pedro Novelli tenta mostrara centralidade da gura do sujeito enquanto aquilo que reúne Kant e Hegelno que diz respeito à determinação da realidade, precisando no entanto oponto em que estes se separam, vale dizer: “na medida em que o sujeito

    kantiano reconhece o objeto e, diferentemente de Hegel, não se reconheceaí”. O que, para o autor, não se aplica apenas à questão da liberdade, mastambém se estende à lei; caso em que, mais do que uma referência formal,a lei se apresenta enquanto determinação histórica e, assim, permite que aliberdade atinja o status necessário de realidade entre os homens.

      Considerando o aspecto fenomenológico da autoconsciência, nosquadros de uma sociedade que valoriza o prazer, o conforto, a diversão,Sônia Maria Schio enfatiza o estranhamento da armação de que há uma

    concepção na qual o espírito precisa realizar um esforço doloroso para su-perar a negatividade que o envolve. A autora investiga o processo dialéticoda dor e do desejo no âmbito da superação das contradições com as quaisa consciência se depara em seu périplo ao Saber absoluto, i.é, no âmbito daexperiência de um empenho “sofrido” ou “desejante” que, não obstante, lhe

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    permite prosseguir rumo ao Espírito Absoluto. Ainda considerando o aspectofenomenológico da autoconsciência, mas agora precisamente nos limites dagura do espírito intitulada “A Liberdade Absoluta e o Terror”, Marcos LutzMüller discute a determinação fenomenológica da liberdade absoluta, talcomo exposta no capítulo que leva esse título na Fenomenologia do Espíritode Hegel. O autor apresenta a origem losóca da Revolução Francesa no

    pensamento da Aufklärung e as condições de emergência da liberdade abso-luta, tematizando ainda o “mal-entendido” jacobino da “volonté générale” e aautoconsciência da liberdade absoluta como crítica a toda representação po-lítica, bem como a resolução hegeliana da contradição da liberdade absolutae o duplo registro da sua suspensão. Vale dizer: o registro fenomenológicoda superação do processo revolucionário numa reorganização institucional epolítica do mundo pós-revolucionário no quadro do Estado constitucional e oregistro da gênese lógico-fenomenológica de um novo patamar do espírito, “o espírito certo de si mesmo”.

      Nos textos relativos à Filosoa da Natureza, Wolfgang Neuser e Kon-rad Utz discutem o terceiro capítulo da Fenomenologia do Espírito, intitulado “Força e Entendimento”: o primeiro, a concepção de matéria aí em jogo; osegundo, o argumento hegeliano contra o sicismo. Em seu artigo, Neuserdescreve as linhas gerais da concepção kantiana e da concepção schellin-guiana da matéria enquanto pressupostos da concepção hegeliana, quandoentão desenvolve algumas observações sobre a estrutura do capítulo acimacitado; por seu turno, Konrad Utz tenciona identicar um argumento contraa pretensão segundo a qual tudo que existe ou acontece pode ser completa-

    mente descrito pelo vocabulário da física. O autor propõe-se mostrar que ovocabulário da física não é internamente explicável, que ele não se constituide termos basais e de combinações desses, mas contém termos não-basais,que não podem ser, neste vocabulário, reduzidos a termos basais; o quesignica, ao m e ao cabo, que o vocabulário da física é explanatoriamenteinsuciente, não-autônomo. Em outro registro, enm, já na abertura destenúmero 9, mostra-se que, embora controversa sob diversos pontos de vista,a Filosoa da Natureza de Hegel apresenta-se não apenas atual, mas tam-bém compatível com as ciências naturais.

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    Artigos

    Circolo e spirale. Il cuneo del contingente dellalosoa sistematica

    Rossella Bonito Oliva1

    RESUMO: O artigo discute o problema da vontade na Filosoa do Direito de Hegel. Tomandocomo chave de leitura justamente o § 7 das Grundlinien der Philosophie des Rechts, a autoraexplicita os principais aspectos da vontade, que então se apresenta como o conceito central naefetivação do mundo do espírito ou novo mundo como o mundo da liberdade realizada. Trata-semais especicamente de uma determinação do contingente e do nito como o espaço no quala consciência – e sobretudo a consciência moral – se move na relação ao âmbito objetivo doDireito; em outros termos, como o espaço a partir do qual, em meio ao arbítrio, à acidentali-dade e ao erro, a comunidade ética se efetiva na forma do Estado. Daí as metáforas do círculoe da espiral enquanto formas de expressão mais adequada da articulação entre as esferas dohumano e do divino aí em jogo.

    Palavras-chave: Hegel, Vontade, Liberdade, Razão, Direito, Estado

    ABSTRACT: The article discusses the problem of will in the Philosophy of Law  of Hegel. Takingas key to reading just the § 7 of Grundlinien der Philosophie des Rechts, the author explains themain aspects of will, then presents itself as the central concept in effectuation of the world ofspirit or new world as the world of freedom held. It provides a more specically of a determi-nation of the contingent and the nite as space in which the consciousness – and especially theconscience – moves in the relationship to objective framework of the law, in other terms, suchas space from which, in the midst of free will, accidentality and the error, the community policyis effective as of the state. Thence the metaphors outside of the circle and spiral as forms ofexpression the most proper to articulation between the human and the divine at stake.

    Keywords: Hegel, Will, Freedom, Reason, Law, State

    I. Gravità e libertà. Un problema di transiti

      Nel paragrafo 7 dei Lineamenti di losoa del diritto Hegel affermache “la libertà (...) costituisce la gravità della volontà, come la gravità cos-tituisce la sostanzialità del corpo”. In questa affermazione è racchiusa laconsapevolezza hegeliana dell’eccedenza dell’uomo rispetto ad ogni altro

    vivente, teso tra due forze, l’una corporea, l’altra ideale che lo lasciano percosì dire continuamente sbilanciato n quando non si dischiude quel non-più-naturale che fa del corpo umano il medio dell’oggettivazione della libertàcome forza gravitazionale della volontà. Due gravità nel passaggio del puntodi applicazione del vettore della forza che attira e determina il movimentodi due totalità non coincidenti, in cui la gravità come sostanzialità del corponella determinazione della volontà viene investito dall’elemento costituti-vo della libertà. L’itinerario dell’identicazione dell’umano è dunque giocatonella complessità di questo movimento, che non è una puricazione o una

    sublimazione, ma nel suo dipanarsi manifesta la complessità e la dinamicitàdella realtà spirituale: totalità di momenti diversamente dislocati e altrimen-

    1. Professora/pesquisadora vinculada a Università degli Studi di Napoli “L’Orientale” – Itália,membro da Hegels-Vereinigung desde 1999. Texto submetido em outubro de 2008 e aprovadopara publicação em janeiro de 2009.

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    ti funzionanti in congurazioni diversicate. E’ evidente che la gravità dellavolontà è volontà di gravità, di peso specico come consistenza e materia diuna libertà che nel suo formalismo lascerebbe la complessità interiore nellasua opacità e l’apertura della relazione priva di orizzonte.

      E’ questo l’inveramento dell’umano nello spirito soggettivo, in cui la

    negazione agisce dall’interno come liberazione dalla gravità della corporeitàe di tutto quanto resiste al pieno dispiegamento della potenza dello spiritodall’anima, alla coscienza, alla realtà spirituale. Se le gure sono destinatea trapassare l’una nell’altra e i momenti a combinarsi diversamente nelleprospettive diversicate dei procedimenti scientici, i modi della conoscenzamodulano forme di determinazione in cui il soggettivo si fa realtà effettu-ale. Quanto compare, perciò, articolato nell’antropologia, fenomenologia epsicologia è l’unitaria realtà spirituale considerata nella sua processualità, apartire dalla considerazione dell’uomo nella sua costituzione psicosica, nelsuo aprirsi al mondo come coscienza no al suo darsi realtà come spiritopensante e volente. L’inconscio non si traduce del tutto nella coscienza ela coscienza non si risolve senza residui nell’Io che è Noi della realtà spiri-tuale. L’anima è già realtà spirituale, lo spirito conserva zone d’inconscio, inuna circolarità in cui la ripetizione è sempre un differenziarsi dei momentinell’unico movimento della manifestazione e della autoconoscenza della re-altà spirituale. Da questo punto di vista la losoa dello spirito soggettivodisegna una storia dell’autocoscienza pensata nel suo movimento di inve-ramento immanente alla oggettivazione dello spirito, una storia di eventiinterpretata da prospettive diverse, ma sempre carica di tutti i momenti: né

    una successione, né tanto meno un’idealizzazione.

      In denitiva se la losoa ricongura i propri contenuti ripensando leformulazioni delle scienze considerate nella loro complementarietà e genesi,ne valuta anche la capacità di determinazione, il potere che quel sapere hasul determinarsi del poter essere tutto del mondo spirituale. La losoa èla verità come “vita che non passa”, principio di stabilizzazione dell’innitaricchezza e tensione dello spirituale, che nella sua vitalità immediata, comeogni vivente, cerca la stasi e la quiete, ma è permeato da pulsioni prive di

    uno specico oggetto di investimento. La losoa allora inverte il telos dellavita, ma lo assume in una strategia che sposta continuamente il conne trainterno e esterno no a giungere alla verità come sapere delle oggettivazio-ni, ad un mondo come mondo dello spirito pensato concettualmente. Questomovimento si produce solo nel pieno dispiegamento e nella dialettica ricon-gurazione dell’intero nell’immanente gioco dialettico tra i momenti: sog-gettivazione, in cui il dato è fatto proprio, il particolare riconciliato nella suauniversalità, l’ideale concretizzato nella sua manifestazione. L’oggettivazionedel soggettivo, il rovesciarsi di ogni determinazione prodotta dalla ries-sione - dalla scienza ancora imbrigliata nella opposizione di soggettivo e

    oggettivo - nella determinazione riettente come momento destinato a tra-passare nel concetto attraverso il movimento compiuto della negazione, incui il nuovo equilibrio si è prodotto nel bilanciamento delle determinazio-ni che dà luogo a nuove realtà. In questa processualità la soggettivazione

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    è l’autodeterminazione della soggettività, in un movimento di liberazionedalla ssità di ogni relazione, in cui il soggettivo introduce continuamentel’intervallo e lo scarto anche lì dove appare la consonanza tra Io e noi, tral’opera di tutti e di ciascuno. La soggettivazione è, dunque, un movimentocircolare, in cui libertà soggettiva e libertà oggettiva si riversano e procedo-no l’una nell’altra, senza per questo sovrapporsi l’una all’altra.

      Soggettivo e oggettivo, interno ed esterno allora non sono dati, marisultato dell’esperienza, in cui a giocare è l’articolarsi della relazione piut-tosto che la posizione reciproca dei momenti. Ogni soggettivazione è ancheassoggettamneto ad un comune interiorizzato, in cui il corpo si fa strumen-to dell’anima all’interno di un universo simbolico - seconda natura – percui l’espressione compiuta del corpo umano è insieme esteriorizzazione diun’interiorizzazione. Il determinarsi a realtà effettiva dell’anima sul doppioregistro della memoria inconscia e della ricettività acquista la sua propria

    determinazione e manifestazione soltanto a partire dalla relazione che lacoscienza istituisce con la sua interiorità, illuminando e facendosi centrodi questa opaca e pulsante ricchezza interiore. D’altra parte il Bewust-sein è intrinsecamente carico di questa interiorità che giunge ad espressionenell’esperienza della realtà esterna, lì dove si costituisce come relazione ne-gativa individuandosi attraverso i contenuti della propria determinazione.

      La realizzazione della potenza più alta dello spirito, perciò, non azzerala natura, in quanto essenziale allo spirito, né arresta il movimento del nega-tivo come radice della sua emancipazione dall’esteriore ordine del naturale.Nel reiterarsi della relazione si alimenta il divenire, la sua intima storicità cheha nella coscienza individuale, all’interno delle potenze di un mondo, il puntotragicamente ineludibile. Che questa sia solo l’apparenza in cui si dispiegal’essenza più propria dello spirituale non toglie che la plasticità e l’elasticitàdello spirito lascino aperto un intervallo, decisivo per il movimento della so-ggettivazione che si costituisce nella relazione. E’ il luogo della resistenza edell’oscurità in cui agiscono ad un tempo l’intrinseco dinamismo e la tramatransindividuale per cui ogni esistenza si individua attraverso l’esperienzadella frattura di ogni continuità lineare.

      Permane nel sistema hegeliano una spina kantiana, che Hegel ri-conosce in quanto Kant si è spinto a concepire “lo spirito come coscienza,no alla fenomenologia, non intuendone il necessario sbocco nella losoadello spirito” 2. Perciò il momento fenomenologico, il manifestarsi dello spiritonella scissione e nella relazione delle gure di coscienza e autocoscienza,permane anche nel sistema enciclopedico, là dove Hegel insiste sulla sog-gettivazione a partire dall’articolazione idea-natura-spirito, in cui il momentodell’apparenza o dell’apparire in altro non è solo passaggio ininuente. Il

    momento successivo, la psicologia ha a proprio contenuto quanto la scienzadell’esperienza della coscienza, il sapere di sé, ha prodotto in termini di co-

    2. G. W. F. HEGEL, Encyklopädie der philosophischen Wissenschaften, in Werke 20 voll. A cura diE. Moldenhauer e K. M. Michel, Surkamp Frankfurt a.M. 1971, Bd.IX- X, § 415 (D’ora in avanticit. con Enc . seguito dal numero del paragrafo).

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    noscenza, da cui scaturisce la peculiare oggettivazione della realtà plurale edinamica dello spirito vivente.

      Prima come Bewust-sein  e poi come Gewissen, la coscienza peròmantiene una posizione strategica nell’articolazione di soggettivo e ogget-tivo, scaturigine della ragione autoconsapevole e oggettivata nelle gure di

    un mondo. Snodo della manifestazione in cui si dischiude l’”essenza dellospirito” in quanto libertà: la potenza del negativo è poter astrarre da ognicosa, sopportare il “dolore innito” mantenendosi “affermativo in questa ne-gatività” 3.

      Il soggettivo stesso è il terreno più proprio, il venire alla presenzadello spirito, a partire dalla scissione che istituisce la modalità specica dellarelazione nello spirito: non solo negativo della natura - non-più-naturale- ma in primo luogo messa a distanza del portato dell’esperienza, ostina-to ripiegarsi su di sé, reiterata affermazione del Sé come centro, lì dovein senso proprio è superata ogni immediatezza soggettiva (la datità psico-sica) e oggettiva (i contenuti dell’esperienza). La scissione si risolve nellavoro e nel riconoscimento reciproco, in cui emerge la stabile autoreferen-zialità dell’autocoscienza, un Io che è Noi, non più ostinatamente esclusivoed escludente, ma concretamente universale nell’articolazione di un mon-do spirituale come terreno dialettico di identità e differenza. Quest’operaresull’immediatezza dal lato soggettivo e dal lato oggettivo, infatti, produce ilpassaggio dall’identità astratta al concreto, in quanto l’astratto è il non an-cora riconosciuto e compiuto dal movimento della coscienza nell’esperienza.

    Si tratta dei passaggi in cui all’ostinata riproposizione del Sé si oppone ilmovimento della vita come desiderio di appagamento che riporta alla lucenon più la molteplicità esterna, quanto la plurivocità interna. E’ lo stessomovimento della riessione che disvela un’interiorità complessa e uida.Nel riemergere della natura vivente come natura propria la mediazione nonrisulterà da una rimozione, ma da un riposizionamento delle parti o megliodall’individuazione di un dispositivo che scioglie nella relazione l’opposizionereciproca tra Sé e Io, tra Io e mondo, aprendo un nuovo fronte nel movi-mento dell’esperienza. L’immediato darsi di un soggettivo in relazione a un

    oggettivo ha il suo terreno e la sua condizione di possibilità nell’unità delSelbst , gestito e sostenuto da un Sein determinatosi nella trama continua diquesta ricchezza. La ragione è “l’autocoscienza, ossia la certezza che le suedeterminazioni sono tanto oggettive - determinazioni dell’essenza delle cose- quanto suoi propri pensieri”, ossia la verità come sapere. In tale contesto laragione è la verità del contrasto - la trama sotterranea - che può venire allaluce attraverso il cammino della coscienza verso il sapere. E’ lì che la ragioneconquista il suo elemento, il nous “questo elemento privo di contrasto”, làdove “il pensiero è quest’uno e medesimo centro, nel quale, come nella loroverità, tornano i contrasti” 4.

      La prima congurazione fenomenologica della ragione denisce,

    3. Enc . § 382.4. Ibidem, § 467.

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    nella loro distinzione, totalità che in maniera ancora astratta anticipanoquanto alla ne trova il centro da cui partono e tornano le opposizioni, da cuiprende corpo quell’uno e medesimo centro, che non rimane punto indiffe-rente e statico, in quanto risultato di successivi spostamenti e riconversionidella relazione dell’Io al mondo interno ed esterno. Se però l’apparire stessoimplica il porsi della scissione e la sua risoluzione nel sapere apparente della

    coscienza, questo momento è necessario perchè il centro sia attivo comesoggetto di questo movimento di negazione, il cui esito è da un lato la sog-gettivazione e dall’altro il mondo della libertà realizzata, la seconda naturacome mondo spirituale5. All’inizio dello spirito soggettivo si dà l’astratto poteressere tutto dello spirito - l’anima - come pregurazione della scena in cuila coscienza si muoverà, in primo luogo nel senso dell’ostinatezza reiteratanel suo riferimento a un oggettivo, poi nella relazione attraverso la qualequella originaria sfera indeterminata, perchè ancora inarticolata, si riempiee si manifesta nelle sue espressioni. Per approdare inne nel rassicurante efamiliare prolo della totalità, della coerenza della sfera dello spirituale, ter-reno ad un tempo dell’esperienza e della legittimazione della soggettività. Inquesto nodo emerge concretamente lo spirito soggettivo teoretico e pratico,in cui “la volontà è un modo particolare di esser del pensiero: il pensiero inquanto si traduce in esistenza, in quanto impulso a darsi esistenza” 6. In talsenso teoretico e pratico si saldano nella volontà che è l’impulso del pen-siero a darsi esistenza, non una quieta oggettivazione, nella misura in cuil’impulso riceve soddisfazione e appagamento - la concreta esistenza dellospirito - attraverso un medio plastico e elastico, ma carico della complessitàdialettica della soggettivazione.

    II. Le ragioni della volontà

      Il mondo spirituale come nuovo mondo è l’oggetto della losoa deldiritto hegeliana, trattazione scientica - il mondo della libertà realizzata -oltre una considerazione storica delle oggettivazioni dello spirito, ma ancheal di qua dell’articolazione logica, di cui contenuto è la struttura, il prolo,l’ombra più che la realtà nel suo snodarsi storico. Questo processo di deter-minazione sarà necessariamente dialettico, là dove la speculazione coglie

    nella realtà concreta il movimento in cui dall’essenza si dischiude il concettodello spirito, in cui centrale è la volontà come impulso a darsi esistenza inquanto scaturigine della realtà spirituale.

      Se, dice Hegel, il processo dialettico nell’essere è “passare in altro”,nella sfera dell’essenza esso è “l’apparire in altro”, mentre il movimento delconcetto è “sviluppo” 7. Tra l’apparire in altro e il movimento dello svilupposi dà l’inverarsi della libertà nella necessità e della necessità nella libertà,nella misura in cui l’altro del passare e dell’apparire è risolto nell’unitariomovimento dello sviluppo: momento, in cui la volontà esperisce lo scarto tra

    5. Cfr. R. BONITO OLIVA, La “seconda natura” in Hegel in Diritto naturale e loso classica te-desca, a cura di L Fonnesu e B. Henry, Pacini Editore 2000, p. 135-154.6. G. W. F. HEGEL, Grundlinien der Philosophie des Rechts, in Werke., cit. Bd. VII, § 4 Z (d’orain avanti cit. con G. Ph. R., seguito dal numero del paragrafo)7. Enc . § 161 Z

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    l’impulso e la sua soddisfazione, tra il soggettivo e l’esperienza dell’oggettivo.La prima esperienza dell’essere “soggetti alla necessità” si presenta comecosa dura e triste, n quando la libertà rimane un anelito interiore che spe-rimenta la resistenza della necessità come esteriore. Diventano momentidi un unico tutto nella relazione, nel togliersi della necessità nella libertà làdove l’uomo sia giunto alla piena conoscenza del tutto, della connessione

    nella quale ogni esistenza si dà. Questo il risultato di ciò che Hegel chiama “un giuoco del concetto” in cui l’altro che viene “posto mediante questomovimento in effetti non è un altro” 8, in senso assoluto, piuttosto il medioin cui l’essere l’uno l’altro esteriore si determina come sviluppo. Tuttaviail trapasso conserva un “aspetto duro”, resistente. Il riunicarsi di questomovimento complesso nello sviluppo non si risolve nella nullicazione deltrapasso e dell’altro resistente, piuttosto nella relazione, in cui l’opposizione- non i singoli momenti - si toglie nel superamento della scissione in cuiricade sempre il nito, quando rimanga nel suo ostinato isolamento, fermoall’universo della rappresentazione.

      In questo orizzonte l’eticità è l’inveramento del punto di vista morale,a sua volta determinazione della sfera astratta del diritto. Se il diritto astrat-to passa in altro, nella moralità, la moralità si invera smascherando il nonessere altro di quell’altro in cui appare. Nella complementarietà tra puntodi vista morale e mondo etico si delineano due movimenti in cui il prolodella totalità è una volta costruito sull’articolazione soggettiva del puntodi vista morale, un’altra sulla preponderanza oggettiva del mondo etico. Ilmondo etico perciò si origina nel determinarsi del soggetto a partire da una

    rottura, dalla scissione prodotta nel giudizio morale che rompe l’astrazionedel diritto e si invera nell’etico superando l’astrazione della legge giuridi-ca nell’ esigenza soggettiva del volere: più che bisogno, più che domanda,Forderung, pretesa. In questo termine vi è tutta l’ambiguità della forza edell’esigenza: il non poterne fare a meno come testimonianza di un Io cheaccampa diritti.

      Si tratta del processo dialettico introdotto nel mondo dello spiritodalla libertà soggettiva, in quanto carattere universale dell’uomo. Da questo

    punto di vista l’universo etico procede e risolve l’opposizione nella comunitàregolata di individui plurali, senza per questo poter cristallizzare lo sviluppodi cui è risultato. Esso rimane sottoposto a due tribunali, quello della libertàsoggettiva e quello della necessità oggettiva, il tribunale della coscienza eil tribunale del mondo, motori della dialettica del reale effettivo, non giudiciformali e assoluti, ma interpreti dell’esistente ineludibilmente segnato dallatrasformazione. Se il tribunale della coscienza è condizione di possibilità dellatensione al dover essere che scioglie la statica congurazione di un mondoretto da una legge posta, ma non condivisa, in cui si gioca la pienezza dellatotalità etica, il tribunale del mondo rimette in gioco il diritto del contingente

    su tutto quanto è prodotto del movimento dello spirito.

      In questo senso il rinvio allo spirito soggettivo, ovvero alla soggetti-

    8. ivi , § 161 Z

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    vazione nella libertà soggettiva delinea la sfera del mondo etico come scenadi soggetti liberi, mentalmente educati e non semplicemente subordinatiall’universalità del pensiero9, portatori di esigenze e di diritti. L’emergere delBewust-sein è il punto di svolta in cui la vita prende forma umana nella dia-lettica tra desiderio, coscienza e ragione, in cui il punto di vista della mora-lità fa da cerniera e ponte di passaggio tra il diritto astratto e il mondo etico.

    Questa la prospettiva della coscienza tesa tra la possibilità astratta della vitaspirituale e la sua attualità come logos, focus di una realtà articolata che sidetermina nell’esperienza concreta.

      Tra il il Sè e l’Io che è Noi linguistico-culturale, come già la coscienzatra il non-più-naturale e il non-ancora-spirituale, tra la vita come appetitoe la coscienza desiderante, la coscienza morale introduce e rende possibileil passaggio tra persona e cittadino, tra il positivo delle forme giuridiche eil determinarsi di un mondo della libertà realizzata. Se l’individuo rimane ilpunto di vista invalicabile della comunità moderna, solo la coscienza moraledis-potivizza l’esteriorità della legge giuridica nell’interiorizzazione del no-mos come proprio, regola dell’esigenza morale: non limitazione, ma condi-zione di possibilità di una comunità singolare e plurale insieme. Non si trattadi una sottrazione al vincolo della legge, piuttosto di un’interiorizzazione chetoglie alla legge la sua esteriorità formale.

      La sfera giuridica nella sanzione della legge perciò circoscrive nel di-vieto il poter essere tutto della natura umana - né animale, né divina - maciò che essa può fare non rimane connato all’ambito giuridico, giacché la

    forza della legge produce solo un’esteriore limitazione della forza espansi-va della vita e non toglie il valore e la contingenza della libertà soggettiva.In altri termini la legge non ssa la vita, né tanto meno può imbrigliare lalibertà soggettiva: senza vita non si dà libertà e senza libertà non si dà vita,lo spazio politico è caratterizzato da questa complessità che non può essereazzerata in nessuna forma di astrazione.

      Alla compattezza del mondo del diritto astratto positivo, perciò, lacoscienza morale contrappone un movimento di negazione, un giudizio: in

    essa agisce “la soggettività della libertà”, che si dà nell’antitesi immediatatra volontà individuale e volontà universale. La frattura, perciò, si riaprenella misura in cui soltanto la relazione istituita tra la volontà e l’ordine delmondo comune consente l’oggettivazione di una realtà spirituale, che noncomporta adeguamento o coincidenza dell’una nell’altra.

      Il punto di vista morale è il punto di vista dell’esistenza, che nell’eserciziodel diritto della persona capace di determinarsi non solo nella subordinazio-ne alla legge, ma a partire dalla consapevolezza dei limiti posti nel diritto,procede all’autodeterminazione come articolazione (Ur-teilung) di quanto si

    dà semplicemente: il mondo oggettivo del diritto è messo alla prova nellacapacità di sopportare le ragioni del soggetto nel suo risolversi all’azione,da cui procede il bene come il male nei tempi e negli spazi della coscienza,

    9. Ibidem, § 20

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       R   E   V   I   S   T   A

       E   S   T   U   D   O   S   H   E   G   E   L   I   A

       N   O   S ,   A   n   o

       5 ,   N   º   9 ,   D

       E   Z  -   2   0   0   8

    Circolo e spirale. Il cuneo del contingente della flosofa...

    secondo il “punto di vista della differenza, nità e fenomenicità del dovere” 10.E’ questo il punto di svolta in cui il soggetto fa esperienza di un poter esserealtrimenti che non si risolve nella formale obbedienza all’ordine giuridico as-tratto, in cui pure si dà una legislazione non-più-naturale, ma si pone comeautonomia. Il punto di vista morale, perciò, non mette in questione il dirittoastratto nei suoi contenuti, porta allo scoperto piuttosto l’esperienza della

    divaricazione tra legge e determinazione della volontà. Nel superamento diquesta divaricazione si gioca l’autonomia della volontà che non è eccedenza,ma interiorizzazione e riconoscimento della legge come propria. Tra il valoredell’individuo e il bene, il superamento della polarizzazione e della distanzatra esistenza e dover essere consente l’autodeterminazione della soggetti-vità, in quanto intrinseca tensione al bene, sia pure nella contingenza “inquanto riessa in sé e identica a sé , (che) è l’innta contingenza che è in sédella volontà: la sua soggettività” 11.

    III. Le ragioni del limite e la potenza della volontà  Contingente e nito è lo spazio in cui la coscienza si muove nella rela-zione all’ambito oggettivo del diritto, per cui anche là dove si adegua alla le-gge riconoscendola solo come una limitazione esteriore, accede al “poter es-sere altrimenti” 12. La volontà, invece, nella sua manifestazione pretende unvalore assoluto, cosicché la relazione all’altro non è determinata dal divietogiuridico13, là dove il compimento del ne esige la consonanza della volontàpropria e di altri, secondo una relazione positiva14. La realizzazione del nenell’azione mantiene ad un tempo il valore di essere un che di particolare - il

    proprio - che in sé ha però l’oggettività del concetto, di essere cioè determi-nazione della volontà e non più dell’arbitrio, sia pure in maniera formale: laspinta all’azione si muove sulla base della consapevolezza dell’appartenenzaa un mondo comune in una forma ancora non del tutto articolata.

      La volontà nella sua autodeterminazione non astrae dalla sfera delsoggettivo, includendo in sé come totalità l’intero psichico, in cui passioni,desideri, intenzioni, ragione e arbitrio ricevono la loro ragione e il loro equili-brio. La profondità e la notte del pozzo in cui ha mosso i suoi primi passi ten-

    tennanti l’individualità non è più l’inquietante e sfuggente datità interiore,ma riserva capace di assumere quell’innita ricchezza, pur nella complessitàdi parti non del tutto elaborate, producendo nuova energia creativa. Se èvero che la coscienza morale può ricadere sempre nell’astrazione, di questeestreme astrazioni “nessuna sta ferma, ma si perde nell’altra e la produ-ce. E’ lo scambio della coscienza infelice con sé, scambio che tuttavia peressa stessa procede dal di dentro di sé, e che è consapevole di essere quelconcetto della ragione che la coscienza infelice è solo in sé” 15. La coscienzamorale è l’aprirsi stesso dello scambio che non perde la traccia del Sé, è il

    10. ivi  § 108 Z.11. ivi  § 104.12. ARISTOTELE, Etica Nicomachea VI Z 1 1139a.13. G. Ph. R. , § 38.14. Ibidem, § 112.15. G. W. F. HEGEL, Phänomenologie des Geistes, in Werke., cit. Bd. VIII p. 483.

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     R  E  VI   S T  A

     E  S T 

     U D O S H E  G E  L I   A N O S 

     , A n o

     5 , Nº  9  , D E  Z -  2 00 8 

    Rossella Bonito Oliva

    dischiudersi del concetto della ragione, come unità che “mette in rapporto gliestremi” e si sa in quanto tale.

      L’autodeterminazione del soggettivo e la determinazione della volon-tà universale nella relazione posta dalla coscienza morale però riaprono lacontraddizione nel mondo oggettivo. Nella relazione posta in realtà il punto

    di vista morale reintroduce la scissione, riaprendo la trascendenza al doveressere, relativizzando contraddizioni e risoluzioni. In tal modo l’ineludibilecontingenza della prospettiva conserva l’impulso come esigenza, orientan-do continuamente la soddisfazione dell’impulso sul dover essere. La risolu-zione di quest