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O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade A Pesquisa Operacional na Solução de Problemas da Força Aérea O Avião e o Poder Aéreo Revista do Comando-Geral do Ar Nº 03 - Março 2001
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O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas
Sistemas de Auxílio à Decisão:Uma Necessidade, Uma Realidade
A Pesquisa Operacional na Solução deProblemas da Força Aérea
O Avião e o Poder Aéreo
Revista do Comando-Geral do Ar Nº 03 - Março 2001
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Spectrum
ÍndiceExpediente
Comandante-Geral do ArTen.-Brig.-do Ar Henrique Marini e Souza
Conselho Editorial e RevisãoTen.-Cel.-Av. Narcelio Ramos RibeiroMaj.-Av. Ari Robinson TomaziniMaj.-Av. Fábio Durante Pereira AlvesCap.-Av. Davi Rogério da Silva CastroCap.-Av. Carlos Alberto FernandesCap.-Av. Edson Fernando da Costa Guimarães
ColaboradoresSr. Carlos Lorch (Action Editora)Centro de Comunicação Social da Aeronáutica(CECOMSAER)Adriana Beal (Vydia Tecnologia)
Projeto Gráfico e FotolitosTachion Editora e Gráfica Ltda.Rua Santa Clara, 552 - Vila AdyannaTel/Fax: (12) 321-0121 / 322-4048 / 322-3374CEP 12243-630 - São José dos Campos-SPe-mail: [email protected]
ImpressãoGráfica ItamaratiSIG/Sul - Quadra 02 - lote 400Tel: 61-343-1833 - Fax: 61-343-1099CEP 70610-400 - Brasília-DF
Distribuição interna. Tiragem: 2.000 exemplares.
Os conceitos emitidos nas colunas assinadas são deexclusiva responsabilidade de seus autores. Estão au-torizadas transcrições integrais ou parciais das matéri-as publicadas, desde que mencionados o autor e a fontee remetido um exemplar para o COMGAR.
[email protected] (Internet)
Objetivos e Diretrizes para Publicação ...................... 4
O Avião e o Poder Aéreo ........................................... 5
O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas ............. 11
A Otimização do Planejamento da
Atividade Aérea ....................................................... 15
O Emprego da Aviação de Transporte em
Cenário de Guerra Eletrônica (GE) ........................... 21
Bomba Guiada a Laser: Os Dois Lados da Moeda .... 25
Sistemas de Auxílio à Decisão:
Uma Necessidade, Uma Realidade .......................... 27
Seminário de Emprego de Mísseis “All Aspect” ........ 32
Pronta Resposta – A Força Aérea Pré-Programada .... 34
A Pesquisa Operacional na Solução de
Problemas da Força Aérea ........................................ 37
O Uso de Data Mining nas Forças Armadas ............. 41
3
Spectrum
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U ma revista profissional como
“Spectrum” deve refletir necessa-
riamente o grau de domínio de uma
comunidade sobre os objetos fundamentais de
sua existência e de sua cultura. Já não basta o
velho e tradicional saber, puro, capaz e idô-
neo. É cada vez mais, essencial que se chegue
ao domínio, à sabedoria pela dilatação do co-
nhecimento e pela reflexão em torno dos ob-
jetos e de suas substâncias – sob todos os pon-
tos de vista, acima, abaixo, por todos os lados,
na luz e na sombra, na calma ou na turbulên-
cia, no corpo e na alma.
As publicações profissionais revelam
o estado e o ânimo intelectual das suas
comunidades, seus graus de sabedoria ou
de indigência mental, os níveis de sensa-
tez ou de imprudência, potenciais e debi-
lidades, sonhos legítimos e alucinações ex-
travagantes.
Em nossa Força Aérea, o Comando-Ge-
ral do Ar, responsável por “Spectrum”, re-
presenta o produto final de um gigantesco
esforço com o objetivo de permitir à na-
ção dispor de uma capacidade mínima e
digna de reagir com meios aéreos diante
de agressões, ou convencer potenciais
agressores a optar por outros caminhos que
não o da força bruta.
Aquele que vive a Força Aérea como um
compromisso, ou seja, devotando-se a ela,
permanecendo com ela, não importa o que
aconteça, encontra no Comando-Geral do Ar
seu universo de realização espiritual, um uni-
verso em que ele(a) abstrai, ou deveria abs-
trair, todas as coisas mesquinhas da vida em
nome de preservar esta pátria com as asas e
as armas da sabedoria, da liberdade e da fé.
É verdade que, nossos dias têm sido de
apreensão. Como profissionais, patriotas, ho-
nestos e democratas, a visão de uma Força
Aérea despreparada material e intelectual-
mente projeta-se para além de um simples
pesadelo. Contudo, o imen-
so esforço aplicado pela sa-
bedoria dos homens da For-
ça Aérea parece começar a
produzir frutos e, provavel-
mente, estamos ingressando
em uma nova época de pen-
samento, ação e reflexão.
Justamente aqui, uma re-
vista profissional pode repre-
sentar a caixa de expansão
para o desenvolvimento do
domínio, lançando-se bem à
frente do simples conhecer,
apesar de quaisquer dificul-
dades.
Gostaria de transmitir à
minha gente profissional do
combate uma velha noção
ninja sobre a técnica de reagir a agressões
múltiplas. Se você for atacado por cinco ou
dez pessoas ao mesmo tempo, não se con-
centre em uma delas, pois será rapidamente
aniquilado pelas outras.
Reaja apenas aos golpes, venham de
onde vierem, e não aos atacantes. Se você
conseguir mudar rapidamente sua postura,
de golpe para golpe, terá a sensação de es-
tar enfrentando apenas um adversário, e não
cinco ou dez.
Nosso maior desejo é que “Spectrum”
vá em frente, mergulhe no domínio do com-
bate, não se intimide com dificuldades múl-
tiplas, aproveite as turbulências e as crises
para expandir a sabedoria coletiva. Que
aproveite a água revolta para identificar seu
conteúdo, que aproveite o ataque múltiplo
para aprimorar sua agilidade, e que em suas
páginas, um sonho, uma idéia ou um
questionamento possam se transformar em
doutrina, norma ou princípio. Então, terá
valido a pena enfrentar mil ataques, morrer
e renascer mil vezes.
Maj.-Brig.-do-Ar José Carlos Pereira
Editorial
Maj.-Brig.-do-Ar
José Carlos Pereira
Comandante do
Comando de Defesa
Aeroespacial Brasileiro
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Spectrum
ARevista Spectrum tem como finalida-
de contribuir para a divulgação de tra-
balhos voltados exclusivamente para
o preparo e emprego da Força. Pretende-se in-
centivar a apresentação de temas que venham
a despertar debates, motivar o início de estu-
dos que possam ser aproveitados, hoje ou no
futuro, com o objetivo de conferir o devido
realce ao aguerrido espírito operacional da
Força Aérea Brasileira.
Não se estabelece preferência de aborda-
gens: diferentes perspectivas teóricas e
metodológicas no tratamento de temas são
aceitáveis, desde que consistentes e significa-
tivas para o desenvolvimento da área
operacional.
O público alvo é constituído dos profissi-
onais civis e militares das três Forças Armadas
e do Ministério da Defesa, Institutos de Pes-
quisa, Universidades e de outras Organizações
Públicas e Privadas interessadas nos assuntos
operacionais da Força Aérea.
Forma de apresentação dos artigosOs textos devem ser encaminhados de
acordo com os seguintes critérios e carac-
terísticas técnicas:
1) Formatação: papel A4 (29,7x21cm);
margens: superior = 2,5cm, inferior=
2,5cm, esquerda= 2,5cm e direita= 2cm;
editor de texto: Word for Windows 6.0 ou
posterior, utilizando caracteres Arial, tama-
nho 12pt e espaçamento 1,5 linhas. O ar-
tigo não deverá exceder 5 páginas, inclu-
indo quadros, tabelas, gráficos, ilustrações,
notas e referências bibliográficas. Deve-se
observar a ortografia oficial e conter, na
primeira lauda do original, o título do tra-
balho e o(s) nome(s) completo(s) do(s)
autor(es).
2) Apresentar em uma página separa-
da: título do trabalho, nome(s) completo(s)
do(s) autor(es) acompanhado(s) de breve
Revista “SPECTRUM”Objetivos e Diretrizes para Publicação
curriculum vitae em que se mencione
titulação acadêmica, experiência profissi-
onal e/ou acadêmica, instituição(ões) de
vinculação, cargo ou função, endereços,
e-mail, telefones e fax. Se mais de um au-
tor, ordenar de acordo com a contribuição
de cada um ao trabalho.
3) Enviar resumo do texto, entre dez e
quinze linhas, em que constem objetivo,
método, resultado e conclusões, bem como
de três a cinco palavras-chaves.
4) As referências bibliográficas com-
pletas do(s) autor(es) citados deverão ser
apresentadas em ordem alfabética no final
do texto, de acordo com as normas da
ABNT (NBR 6023) . As re ferências a
autor(es) devem ser citadas no corpo do
texto com indicação numérica na lista de
bibliografia.
5) Notas referentes ao corpo do texto
devem ser indicadas com um número
sequencial, imediatamente depois da fra-
se a que diz respeito. As notas deverão vir
no rodapé do texto.
6) O artigo deverá ser enviado em
disquete de 3,5”, acompanhado de duas
vias impressas e foto(s) do(s) autor(es) - bus-
to, frontal, sem data.
Enviar artigos para:Revista “Spectrum”
Centro de Guerra Eletrônica do COMGAR
Esplanada dos Ministérios,
Bloco “M” - anexo - 2º andar
CEP 70045-900 - Brasília-DF
Tel.: (61) 313-2528
Fax.: (61) 224-1840
e-mail: [email protected] (Internet)
Cronograma para a próxima edição:até 30 jun 2001: recebimento de artigos
jul 2001: revisão e editoração eletrônica
ago 2001: impressão e distribuição
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Uma rápida observação da história da
Aviação no Brasil nos leva a crer que
a Força Aérea Brasileira, na acepção
da palavra, só “nasceu” nos anos 70, quando
foi criado o sistema de defesa aérea e o Pri-
meiro Grupo de Defesa Aérea. Até aquela épo-
ca permanecíamos como uma força comple-
mentar das co-irmãs que atuam na superfície.
Éramos apenas uma Força Aerotática. Ainda
não tínhamos adquirido personalidade própria
para seguirmos os desígnios antevistos por
Seversky e outros pensadores concernentes ao
Poder Aéreo.
O Primeiro Grupo de Caça, que foi cons-
tituído no alvorecer do Ministério da Aeronáu-
tica para ir à Guerra, ainda que tenha recebi-
do instrução completa de caça nos Estados
Unidos, não cumpriu mais do que missões de
cunho aerotático, uma vez que no Teatro de
Operações onde atuou a superioridade aérea
já estava assegurada.
Nos primeiros anos desse período, os ho-
mens que decidiam o futuro da jovem Força
ainda estavam sob o efeito dos traumas gera-
dos na Marinha e no Exército, relativos à per-
da da aviação para o Ministério da Aeronáuti-
ca. E, eles mesmos estavam envolvidos nessa
polêmica.
De fato, a abstração necessária para uma
real compreensão do Poder Aéreo como o ima-
ginavam Douhet e Seversky ainda não era uma
prática no Brasil. É como se hoje falássemos
sobre a criação de uma Força Espacial – soa
como um devaneio para nós (ainda que já seja
tema de debate nas Academias dos Estados
Unidos). Mas a Marinha e o Exército sabiam
exatamente para que queriam o avião e não
aceitaram com facilidade a perda desse com-
ponente indispensável. A reação foi tão gran-
de que, na Marinha, os aviadores navais que
optaram passar para o novo Ministério eram
considerados “traidores”. Talvez ela sentisse
mais a perda da sua aviação por ter, quem sabe,
maior compreensão do enorme potencial em
que se constituía o avião. De fato, quem opera
num ambiente em que as ame-
aças podem vir de baixo (sub-
marino), da superfície (navios)
e do ar (os aviões) e não tem
como se defender da mais rá-
pida e difícil delas, deve pas-
sar por uma sensação de inse-
gurança muito forte. Quem
possuísse aviões embarcados
tinha uma grande vantagem
sobre a esquadra inimiga, pois
não havia, naquela época, a
possibilidade de aviões base-
ados em terra alcançarem uma
força naval em alto mar. Por-
tanto, o avião embarcado era
um elemento indispensável à
manutenção da integridade dessa força, para
que ela pudesse cumprir o seu papel. Por iro-
nia, na mesma época em que a Marinha per-
dia os seus aviões, as grandes batalhas
aeronavais do Pacífico, entre os japoneses e
os americanos, demonstraram, na prática, a
importância de uma aviação exclusivamente
naval, e este fato exasperava ainda mais os
Almirantes que tinham a US Navy como um
paradigma.
Por outro lado, para o Exército, o avião
não se constituía mais do que um posto de ob-
servação elevado, capaz de facilitar a orienta-
ção dos tiros da Artilharia, ou a movimenta-
ção das tropas inimigas - tanto que o Observa-
dor Aéreo era mais importante que o próprio
aviador.
O Ministério da Aeronáutica, recém-for-
mado, nascia, então, com três enormes desafi-
os: acolher todos os recursos aeronáuticos
dispersos pelo país, atender a todas as neces-
sidades de apoio aéreo da Marinha e do Exér-
cito e, ainda, buscar os caminhos para tornar-
se uma Força Aérea na acepção da palavra.
Brig.-do-Ar Delano Teixeira Menezes
O Avião e o Poder Aéreo
Brigadeiro-do-ArDelano Teixeira Menezes
Comandante da SegundaForça Aérea
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Quanto ao apoio às forças de superfície, atua-
va com um especial zelo, como que para vali-
dar a sua existência. Foram ativados o Coman-
do Aerotático Terrestre (CATTER) e o Coman-
do Aerotático Naval (CATNAV) quando ainda
nem se falava num Comando de Defesa Aé-
rea. A noção do grande papel da Aeronáutica
(Força Aérea) como um componente militar
independente, com função definida na defesa
do país, era atenuada pelas acaloradas discus-
sões sobre a posse dos meios aéreos, incluin-
do a partilha de todos os outros “bens” ligados
à aviação.
O primeiro desafio tinha correlação, par-
ticularmente, com a participação do militar na
sociedade, onde representava o papel de um
elemento catalisador para a consolidação da
presença do Estado nos mais afastados rincões
do território nacional. O avião era um instru-
mento valioso para a integração de um país
continente com poucas estradas, e o estado
precisava direcionar o desenvolvimento da avi-
ação de acordo com as grandes estratégias na-
cionais. Na verdade, não havia ainda uma re-
ferência internacional consolidada, e nem uma
vocação empresarial que indicasse o caminho
pelo qual deveria ser orientado aquele novo
meio de transporte que rapidamente se desen-
volvia. Foi pensado, talvez, em usar o senso
de organização dos militares para criar uma
estrutura ordenada e, porque não, nacionalis-
ta, da aviação como um todo, no seu
nascedouro.
A grande reação das Forças que perde-
ram a aviação e o próprio desconhecimento,
ou desinteresse do estamento político do país
pelas questões estratégico-militares, aliadas à
necessidade política de integrar o país que so-
fria pressões externas decorrentes da Segunda
Guerra Mundial, podem ter forçado a concep-
ção de um ministério que açambarcasse todas
as funções aeronáuticas, adiando a polêmica
da criação de uma verdadeira força aérea para
outra época. Isto é, usou-se um rol de utilida-
de para a aviação com o sentido de abafar uma
polêmica que a cultura do momento não ti-
nha condições de resolver, ou a
nação não possuía os recursos
para dar os meios necessários
à constituição e manutenção
de uma Força Aérea na
acepção da palavra. E aí co-
meçou a se fortalecer um con-
ceito do “poder aéreo uno e
indivisível”.
Um conceito de “poder aé-
reo único e indivisível” equivocado permeou,
então, o pensamento dos militares do Ministé-
rio da Aeronáutica e passou a ser o argumento
mais forte para justificar uma série de posturas
que os afastavam cada vez mais do que deve-
ria ser uma Força Aérea. A partir desse concei-
to mal interpretado, tudo o que voava deveria
ser da Força Aérea - se militar, ou controlado
pelo Ministério da Aeronáutica - se civil. Esse
“guarda-chuva” passou a ser, sistematicamen-
te, o argumento para justificar o desmonte de
qualquer pretensão, de quem quer que fosse,
em possuir aviões para emprego militar. Dava
o monopólio do avião, no âmbito estatal, ao
novo Ministério.
Por exemplo, até bem pouco tempo, as
argumentações que vinham sendo usadas para
sustentar a necessidade da Força Aérea pos-
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suir aeronaves de patrulha invadiam constan-
temente o campo do Poder Naval. Elas eram
colhidas na área de atuação da Marinha. Os
interlocutores da matéria ainda têm dificulda-
de de inserir a patrulha marítima dentro do
conceito do poder aéreo. O mesmo não ocor-
re quando nos referimos à necessidade de pos-
suirmos aeronaves para atuarem dentro de um
TO terrestre. Talvez porque nestes os alvos são
quase todos fixos e mais fáceis de serem en-
contrados, além da existência natural de
obstáculos que brindam o piloto com o ele-
mento surpresa quase que até a hora do ata-
que, ao passo que sobre o mar não existem
referências e os alvos, em sua maioria, são
móveis e têm a capacidade de captar o avião
a maior distância, por isso são menos atrativos
na avaliação de um aviador.
Nos dias atuais, o conceito do “poder aé-
reo uno”, como era imaginado, vai perdendo
consistência, à medida que as instituições e
suas atribuições vão se tornando mais
abrangentes e complexas. Já há uma percep-
ção de que a sua existência não implica ne-
cessariamente o controle direto dos meios aé-
reos, ou não se admitiria que a Polícia Fede-
ral, por exemplo, possuísse aviões e helicóp-
teros, ou as Polícias Militares. Se isso já é um
fato e, nem por isso o poder aéreo está abala-
do, por que não admitir que a Marinha e o
Exército também possuam os meios aéreos
necessários para as suas atividades adminis-
trativas e de ligação?
No ramo civil do novo Ministério se justi-
ficava a ingerência na incipiente atividade ae-
ronáutica civil do país como forma de regulá-
la. Mas também, dentro da mesma interpreta-
ção ambígua do Poder Aéreo, pensava-se que
manter a Aviação Civil sob o controle militar
seria melhor para usá-la com mais facilidade
no caso de uma necessidade militar em que os
meios da Aeronáutica não fossem suficientes.
Quando, na verdade, em uma nação em guer-
ra é lícito mobilizar-se todos os meios, de qual-
quer ordem, para defendê-la, não dependen-
do de que estejam inseridos nesse ou naquele
Ministério.
No lado militar, a ausência de uma Políti-
ca Nacional consistente para o setor fazia, e
faz ainda, com que cada Força Armada for-
mulasse a sua própria estratégia e estabeleces-
se o seu modo de atuação. Esta falta de coor-
denação faz com que haja superposição de
funções e concepções, muitas vezes
desencontradas, para uma mesma ação. Num
país com recursos sempre limitados para a
defesa, trata-se de um luxo inaceitável. Mais
grave que as concepções conflitantes é a
incomunicabilidade entre as três Forças. Exis-
te mais um sentimento de competição do que
de interação. Parece que cada uma quer mos-
trar ser mais especial do que a outra, quando,
na verdade, nenhuma delas teria a capacida-
de de sobreexistir sem a integração com as
demais, ou com parcelas das funções de cada
uma. O Exército teria pouca agilidade no ter-
reno e estaria muito vulnerável se não pudes-
se contar com aeronaves e barcos. A Marinha
seria incompleta se não pudesse contar com
aviões embarcados para proteger-se. Nesse
contexto, excepcionalmente, a Força Aérea é
a única capaz de atuar com
o seu componente estraté-
gico e decidir um conflito
sem precisar de nenhuma
outra plataforma que não o
avião, ainda que isso tenha
gerado acalorados debates.
Mas se cada força detives-
se sob seu comando todos
os meios de que necessita
para cumprir sua função, os recursos para a
defesa seriam exorbitantes. No caso do nosso
país, a função principal de cada Força poderia
ser penalizada porque as despesas com defe-
sa, mesmo num cenário otimista, tendem a se
“Nos dias atuais, o con-ceito do “poder aéreo uno”,como era imaginado, va iperdendo cons i s tência , àmedida que as instituições esuas atribuições vão se tor-nando mais abrangentes ecomplexas.”
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manter inalteradas. Na verdade, hoje já existe
um forum adequado para esse tipo de debate,
que é o Ministério da Defesa, a quem caberá
ordenar essas questões. E, de fato, não cabe à
Força Aérea arrogar a si a exclusividade de
opinar sobre tema tão importante quanto po-
lêmico. Mesmo porque o próprio monopólio
estatal que o Ministério da Aeronáutica detin-
ha, quanto ao uso do avião, e que sustentava a
teoria do “Poder Aéreo único e indivisível”, já
foi quebrado há muito tempo, ainda que este-
ja cada vez mais revigorado o conceito do seu
emprego de forma unificada.
No fundo, a questão gira em torno do uso
do avião, vetor indispensável para a operação
de cada Força Armada. Nenhuma Força que
atua na superfície terá liberdade de ação se a
superioridade aérea não estiver assegurada. A
busca dessa superioridade aérea é por nature-
za conflitante com os desejos dos comandan-
tes das forças de superfície, porque, com
frequência, eles confundem proximidade com
segurança. Quer dizer, eles tendem a querer o
avião próximo de si para ter a certeza de não
serem ameaçados pelo ar, e com isso trazem o
avião para o campo tático, quando a aviação
é, por essência, uma arma estratégica. Um Co-
mandante de Força Aérea visualiza a guerra
de uma forma abrangente, ele a imagina na
sua totalidade, o seu pensamento é diferente
dos comandantes das forças que atuam na su-
perfície, que a vêem de uma maneira
sequencial e restrita a um espaço físico e tem-
poral. E, por isso, a soberania do espaço aéreo
é função da Força Aérea onde for necessário.
Nesse aspecto, o conflito com a Marinha per-
manece, o que não acontece com o Exército,
uma vez que onde ele estiver a Força Aérea
deverá ser capaz de assegurar a superioridade
aérea. No caso da Marinha, em situações em
que a Esquadra esteja fora da cobertura radar
do SISDABRA, a Força Aérea poderá não ter
capacidade de prover essa superioridade sem
meios aerotransportados de detecção. Ainda
que essa impossibilidade esteja ligada mais ao
tempo de reação, no caso de um ataque aéreo
à Esquadra em alto mar, do que à possibilida-
de de alcançar a área de operação.
Nos estritos limites do campo tático, nos
combates que tipificam as ações independen-
tes de cada Força, é justificado que ela dete-
nha sob o seu controle operacional e logístico
os meios de que necessita, porque a
agilidade necessária em uma ba-
talha depende de um contro-
le efetivo de todos os meios
que possam ser aplicados.
Além disso, existe toda uma
cultura, uma compreensão
do ambiente de atuação que
molda o comportamento dos
homens da cada Força.
O comandante de uma força
terrestre sempre estará procurando
conquistar o ponto mais elevado do ter-
reno na busca do domínio das iniciativas
por ser capaz de vislumbrar os movimentos
do inimigo. Esse princípio foi, ao longo dos
tempos, se tornando cada vez mais difícil de
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Spectrum
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ser conseguido, pela amplitude das frentes de
combate e pela grande mobilidade que os exér-
citos modernos têm alcançado. Dessa manei-
ra, mesmo que a Força Aérea possa dar liber-
dade de ação ao Exército, garantindo-lhe a
segurança nos céus, ainda assim ele vai preci-
sar de uma plataforma que eleve os olhos do
comandante para, no mínimo, orientar a sua
artilharia. Essa plataforma deverá estar real-
mente junto ao comandante e sob a obediên-
cia das suas ordens. Por sua vez, ele estará li-
mitando as ações das aeronaves a uma deter-
minada cena cujo desenrolar deve atender aos
interesses da manobra da força terrestre na
batalha que disputa.
Já no campo operacional, um pouco mais
além do tático, há uma função bem definida
para a Força Aérea. São as missões que costu-
mamos chamar de aerotáticas, ou de interdi-
ção do Teatro de Operações. São as ações que
a Força Aérea é capaz de realizar isoladamen-
te e que contribuem para o sucesso da campa-
nha da força de superfície. Num sentido mais
limitado pode-se dizer que, ainda assim, a For-
ça Aérea está atuando com a sua característi-
ca estratégica, porque, tirando as missões de
apoio aéreo aproximado, todas as outras terão
um sentido estratégico para a força de superfí-
cie. Isso tanto é válido no âmbito terrestre como
no marítimo. Respeitando o volume de atua-
ção da cada força em uma batalha, vale dizer
que tudo aquilo que o avião for capaz de re-
solver sozinho é função da Força Aérea. Por
isso, em cada segmento do Teatro de Opera-
ções existirá uma FATOT ou FATOM, as quais,
mesmo atendendo às estratégias dos respecti-
vos comandantes de TO, estarão cumprindo
funções de Força Aérea. Mesmo que possa ser
concebível, a Força Aérea sozinha não pode
acalentar a pretensão de pensar que poderá
anular todas as ameaças em um TO, ou deci-
dir um conflito sozinha, ainda que hoje isso
possa ser possível.
O mais importante para os pensadores do
emprego do Poder Aéreo de nosso país, e para
todos os demais que queiram debater aberta-
mente e sem paixões o uso do avião para fins
militares, é que tenham em mente que tudo
aquilo que o avião for capaz de realizar sozi-
nho, sem o recorrente apoio ou
complementação de qualquer das forças de
superfície, é função de Força Aérea. E quanto
mais precisos vão se tornando os armamentos
aéreos, mais realce assume esse conceito e
mais estratégico se torna o emprego do Poder
Aéreo no sentido amplo da palavra, somado a
um profundo poder político. Entretanto, o de-
bate quanto ao uso de aviões por todas as For-
ças Armadas persistirá enquanto a percepção
do emprego do poder militar estiver constrito
a concepções estratégicas ultrapassadas e uni-
laterais.
Sem uma concepção atualizada, muitos
são levados a pensar, por exemplo, que o avião
de patrulha marítima não precisaria, necessa-
riamente, ser da Força Aérea, porque estaria
cumprindo missões somente em proveito do
Comandante do Teatro de Operações Maríti-
mas. Contidos no mesmo raciocínio, podería-
mos deduzir
que os aviões
de ataque ou de
reconhecimen-
to que com-
põem uma
FATOT deveri-
am pertencer ao
Exército. Talvez a analogia mais correta seja a
de que a função “estratégica” que a aviação
de caça-bombardeio realiza no Teatro de Ope-
rações Terrestre interditando uma determina-
da área ao inimigo ou cortando-lhe as linhas
de suprimento, corresponde ao que um avião
anti-submarino realiza num Teatro de Opera-
ções Marítimo, provendo segurança à saída dos
navios de um porto ou interditando uma de-
“...o debate quanto ao uso de avi-ões por todas as Forças Armadas persis-tirá enquanto a percepção do empregodo poder militar estiver constrito a con-cepções estratégicas ultrapassadas e uni-laterais.”
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○10
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terminada área à presença de submarinos ini-
migos, para que a Esquadra amiga tenha mai-
or liberdade. Hoje uma aeronave com capaci-
dade anti-submarino é capaz de, sozinha,
localizá-lo, cercá-lo e destruí-lo. A importân-
cia da presença da Força Aérea dentro de cada
Teatro de Operações deve ser vista da mesma
maneira.
Cada vez mais, a idéia da destruição to-
tal de um estado inimigo vai sendo atenuada.
Desde o término da Segunda Guerra nenhum
conflito foi consumado com essa intenção. O
fim da Guerra Fria, com o desmonte do po-
derio militar soviético, consolidou mais ain-
da essa nova doutrina. O Poder Militar dei-
xou de ser usado como um instrumento de
conquista para os estados modernos e pas-
sou a ser um anteparo de posições políti-
cas. Mesmo os Estados Unidos, que fa-
zem do uso da força um instrumento da
sua política externa, já não a aplicam
com interesses de conquista. Dessa
forma, a mobilização de nações
inteiras para a guerra é coisa
do passado. Elas estarão
sendo travadas em espa-
ços físico, temporal e
político cada vez
mais limitados, com
objetivos específicos
que tendem a estabe-
lecer uma correlação
entre o poder da força
a ser empregada e a impor-
tância dos objetivos a serem atingidos, visan-
do enfraquecer a vontade do adversário sem
esmagá-lo. Mas se considerarmos como ex-
ceção o caso do Iraque, podemos dizer que
Saddam Hussein estava preparado e lutou
uma guerra ultrapassada, contra uma coalisão
de nações que, ensaiando uma guerra do fu-
turo, materializaram a visão do italiano
Douhet: pela primeira vez uma guerra é ga-
nha somente com a arma aérea. Claramente
pode-se constatar que, para atuar com preci-
são num espaço limitado, somente a Força
Aérea é capaz de infligir os danos exatos ao
inimigo com os menores efeitos colaterais.
A situação vigente no mundo de hoje está
mais para a teoria de Lidell Hart de que “a
perfeição da estratégia constituiria em provo-
car uma decisão sem combate sério”, do que
para o princípio da “guerra absoluta” de
Clausewitz na sua busca obstinada da bata-
lha - dos choques de massa.
Atualmente, quem
possuir a maior capaci-
dade estratégica terá as
melhores condições de
não ser envolvido num
conflito sério. E esta es-
tratégia inclui grande
mobilidade e capacidade
de reação rápida, sendo
a Força Aérea a que me-
lhor associa estas caracte-
rísticas. Entretanto, a todo
conflito antecede uma crise,
e, nesse caso, os movimentos
de uma Armada com relativo
poder podem contribuir para que
uma crise não passe disso. Mas o
fator que se torna cada vez mais de-
cisivo é a interoperabilidade das três
Forças Armadas - a capacidade de ope-
rarem juntas num Teatro cada vez mais
limitado, de maneiras que os seus vetores
atuem coordenadamente em prol dos obje-
tivos maiores que estiverem em jogo. Mes-
mo assim, o avião, operado por qualquer
das forças, só representará o Poder Aéreo
da Nação se empregado de maneira
unificada e estiver cumprindo a sua função
estratégica de ser decisivo para o desfecho
de uma guerra.
© ActionEditora
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Spectrum
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“A RESISTÊNCIA DO INIMIGO NA GUER-RA É PRODUTO DE DOIS FATORES: A EX-TENSÃO DOS MEIOS DE QUE DISPÕE E AFIRMEZA DE SUA VONTADE”[1].
“A chave de toda guerra é um fator amorfo e
amplamente não-quantificável conhecido
como “vontade nacional”. que ocupa o lugar
central no esquema, porque é o aspecto mais
crucial no país em guerra. No seu sentido mais
básico, a guerra é psicológica. Assim, no sen-
tido mais amplo, a vontade nacional é sempre
o Centro de Gravidade fundamental (quando
“o país” decide que perdeu a guerra, então, e
só então, a guerra está verdadeiramente perdi-
da)” [2]. O desafio óbvio para os estrategistas é
determinar como despedaçar ou, pelo menos,
fraturar essa vontade coletiva.
O Poder Aéreo, por atuar na terceira
dimensão, pode ser empregado para afe-
tar todo e qualquer tipo de centro de gra-
vidade. No entanto, a vontade de lutar de
um inimigo é um agregado de fatores di-
ferentes, e não tem forma física. A ques-
tão portanto é: como, onde, quando e
contra quais alvos empregar a arma aé-
rea, para diminuir ou fragmentar a vonta-
de de lutar do oponente.
Nesse sentido, as operações psicoló-
gicas, enquanto ciência ou atividade, con-
correm decisivamente para a compreen-
são, exploração e a seleção de alvos que
afetam a vontade de lutar de um grupo ou
nação.
Este artigo se propõe analisar sucin-
tamente a utilização das operações psico-
lógicas, para aumentar a eficiência da
arma aérea. Iniciará fazendo considera-
ções sobre a natureza dos centros de gra-
vidade, em seguida, abordará a vocação
estratégica do poder aéreo, e, por últi-
mo, fará um sumário sobre a importância
da utilização das operações psicológicas
O Poder Aéreo e as Operações Psicológicas
Narcelio Ramos Ribeiro, Ten.-Cel.-Av. - COMGAR
nessa dimensão da guerra.
Toda essa abordagem, para ser efeti-
va, necessita, inicialmente, do entendi-
mento mais amplo do conceito de centro
de gravidade.
A Natureza dos Centros deGravidades
“A estratégia de guerra
é impor ao inimigo nossa
própria vontade, destruindo
sua vontade ou sua capaci-
dade de resistir” [3].
Dificilmente a vonta-
de de lutar de um grupo ou
nação pode ser atingida di-
retamente por armamentos.
A estratégia, portanto, con-
siste em atacar alvos que
degradem mais rapidamen-
te essa determinação do
oponente.
Esses alvos são consi-
derados centros de gravida-
de e variam de um conflito
para outro e ao longo da
duração de um mesmo con-
flito. Eles podem ser de na-
tureza econômica, social,
política ou militar e sua im-
portância depende de fato-
res como geografia, nacionalismo, reli-
gião, cultura, nível de dependência das
tecnologias e da infra-estrutura, tipo de li-
derança, ideologia ou outros fatores
motivacionais e de união do grupo ou na-
ção.
Deve-se considerar que as sociedades
comportam-se como organismos vivos que
reagem sistemicamente a qualquer estímu-
lo. Dessa forma, ataques a alvos físicos,
adequadamente escolhidos, podem cau-
sar efeitos psicológicos negativos e abre-
O Tenente Coronel Narcelio
Ramos Ribeiro é piloto de pa-
trulha, concluiu o CFOAv em
1980 e exerce atualmente a
função de chefe do Centro de
Guerra Eletrônica do
COMGAR. Possui curso de
Guerra Eletrônica na Inglater-
ra (“Electronic Warfare
Directors”) e pós-graduação
em Planejamento Estratégico
e Qualidade Total pela
AEUDF (Brasília). O Ten.- Cel.
Narcelio tem trabalhos publi-
cados nas revistas da UNIFA
e O Patrulheiro.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○12
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viar a desistência do oponente. Isso sig-
nifica atuar no campo de batalha para
modificar o estado de homeostase do opo-
nente, levando-o a uma entropia total.
Há, ainda, que considerar que ataques
a centros de gravidade podem ter efeitos
em ambos participantes e em grupos ou
estados-nações não-participantes e que o
ataque a alvos inadequados pode causar
efeitos psicológicos adversos.
Na guerra contra o Afeganistão, os so-
viéticos empregaram a estratégia da “ter-
ra arrasada”. Destruíram praticamente to-
das as cidades, mas não conseguiram
fragmentar a vontade de lutar do povo
daquele país, não obtiveram vitória nem
sucesso naquele confronto.
Portanto o problema é complexo e
exige conhecimentos de várias disciplinas
(antropologia, sociologia, psicologia, his-
tória, etc.) e, principalmente, do perfeito
entendimento da aplicação estratégica do
poder aéreo.
A Vocação Estratégica do Poder AéreoDizem que determinadas habilidades
vocacionais vêm de berço. Se é assim,
pode-se afirmar que a vocação estratégi-
ca do poder aéreo é inata. Esse tem sido o
entendimento dos teóricos e pragmáticos
da arma aérea: o General Giulio Douhet,
e Alexandre P. Seversky, influeciados pelo
nascimento da arma aérea e pela matan-
ça durante a Primeira Guerra Mun-
dial, teorizaram a aplica-
ção do poder aéreo
diretamente contra
a população,
como forma de di-
lacerar a vontade
de lutar do opo-
nente (a Força Aé-
rea Alemã aplicou
esse conceito durante a Batalha da Ingla-
terra com resultado adverso); Sir Hugh
Trinchard e Gen. Billy Mitchell desenvol-
veram idéias que orientavam a arma aé-
rea contra a infra-estrutura industrial (vi-
viam o apogeu da revolução industrial e
os países envolvidos eram muito depen-
dentes dessa nova forma de produção) e
aplicaram-na com sucesso na Segunda
Guerra Mundial; John Warden, em 1986,
emitiu o conceito dos cinco anéis, apli-
cado na Guerra do Golfo, que comprovou
a força estratégica do poder aéreo.
As guerras têm provado que a arma
aérea, quando aplicada estrategicamente,
é capaz de atuar contra qualquer tipo de
alvo (político, econômico, industrial, so-
cial, etc.) e obter efeitos devastadores e
mais imediatos na vontade de lutar do
oponente. Essa capacidade de afetar a
vontade de lutar inimiga também pode ser
obtida pela arma naval e terrestre, porém
com certas restrições e num tempo mais
longo.
A maneira clássica de aplicar o poder
naval para afetar a vontade de lutar de
um grupo ou nação é realizando o blo-
queio marítimo (negação do mar ao ini-
migo). Essa ação é conduzida contra al-
vos de natureza econômica e, sozinha,
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Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
pode não ser suficiente para fragmentar a
vontade de lutar do oponente.
Tradicionalmente, os exércitos têm
sido utilizados contra alvos de natureza
militar e para ocupação do terreno. Isso
pode representar restrições para empregar
a arma terrestre em determinadas situa-
ções ou geografia para degradar a vonta-
de de lutar do inimigo.
A arma aérea é fundamentalmente di-
ferente tanto da terrestre quanto da marí-
tima. Ela pode ser empregada contra vári-
os tipos de alvos, em ambientes geográfi-
cos diferentes e afetar, quase que direta-
mente, a vontade de lutar do oponente.
Mesmo em cenários como o amazônico,
contra uma força paramilitar ou conven-
cional, em operações clássicas ou de
resitência é possível utilizar estrategica-
mente o poder aéreo, sem, contudo, ne-
gligenciar o apoio às forças de superfície.
Esse enfoque estratégico do poder aé-
reo às vezes é colocado em segundo pla-
no. Isso acontece com mais freqüência em
duas situações: quando os aeronautas co-
locam a superioridade aérea como um fim
em si mesmo (ela é um estado desejável e
não um dogma impregnado de autofagia);
e quando a arma aérea é empregada ex-
clusivamente para apoio às armas de su-
perfície. Em ambos os casos, os efeitos
obtidos com a aplicação dessa dimensão
da guerra ficam aquém do que ela pode
causar.
Há que se considerar que o eficiente
emprego estratégico da arma aérea depen-
de de processos extremamente complexos
como a escolha de centros de gravidade
e a manipulação de comportamentos para
assegurar apoio à campanha e abreviar a
fragmentação da vontade d e lutar do opo-
nente. Esses desafios tornam-se mais fá-
ce i s , quando a es t ra tég ia aé rea é
conduzida com o apoio das operações psi-
cológicas.
As Operações Psicológicas na EstratégiaAérea
“A destruição de conjuntos de alvos
não é automaticamente equivalente à vi-
tória. Fatores intangíveis como cultura, re-
ligião e nacionalismo, entre outros, são
muito importantes, pois só eles estabele-
cem a efetiva conexão entre alvos e vitó-
ria”[4].
A condução das atividades de opera-
ções psicológicas é fundamentada em es-
tudo de caso dos fatores culturais, antro-
pológicos, históricos, geográficos, socio-
lóg icos , re l ig iosos e
motivacionais (nacionalis-
mo, ideologia, dinheiro,
etc) da nação ou grupo ob-
jeto do trabalho. Esses es-
tudos podem fornecer a co-
nexão necessária para asso-
ciar centros de gravidade à
vitória.
Dessa forma, pode-se
deduzir que, para aumentar
a probabilidade de sucesso
do emprego estratégico do
poder aéreo, as operações psicológicas
contribuem de duas maneiras:
a)fornecem o conhecimento e a fun-
damentação sobre os fatores intangíveis
de que o estrategista precisa para seleci-
onar e priorizar alvos que fragmentem
mais rapidamente a vontade de lutar do
oponente; e
b)“influenciam as emoções, motivações,
razões e até mesmo comportamentos de go-
vernos, organizações, grupos e indivíduos, com
o propósito de induzir ou reforçar atitudes e
comportamentos, de modo a contribuir para a
vitória e o sucesso da Força e, em especial, da
“A destruição de con-juntos de alvos não é auto-maticamente equivalente àvitória. Fatores intangíveiscomo cultura, religião e na-cionalismo, entre outros,são muito importantes, poissó eles estabelecem a efe-tiva conexão entre alvos evitória”
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execução das operações aeroestratégica” [5].
Nota-se, dessa forma, que o emprego da
arma aérea, para atingir centros de gravidade
que degradem mais rapidamente a vontade de
lutar do oponente, requer a concorrência das
operações psicológicas.
Os exércitos, por serem forças de ocupa-
ção, utilizam também as operações psicológi-
cas para minimizar a rejeição pela população
do terreno ocupado.
É importante considerar que o conceito de
emprego estratégico do poder aéreo utilizado
neste artigo corresponde à visão contemporâ-
nea dessa dimensão da guerra e pode ser apli-
cado em qualquer tipo de conflito.
Este artigo procurou mostrar a importância
das operações psicológicas para o emprego es-
tratégico do poder aéreo. Com esse enfoque,
foi realizada uma breve análise sobre a nature-
za e a complexidade dos processos de seleção
e escolha de centros de gravidade. Em seguida,
foram feitas considerações a respeito da voca-
ção estratégica da arma aérea e, por último, de-
duziu-se a importância das operações psicoló-
gicas para essa dimensão da guerra.
Conclui-se, portanto, que o emprego es-
tratégico do poder aéreo, apoiado pelas opera-
ções psicológicas, é uma maneira eficiente de
aumentar a probabilidade de vitória e sucesso
na guerra.
Referências[1] CLAUSEWITZ, Carl Von. “Da Guerra”. P.
11, 2Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
[2] MEILINGER, Phillip S.. “Estratégia Aérea”.
Airpower Journal,Edição Brasileira,
Segundo Trimestre 2000.
[3] Ibid
[4] KEEGAN, John. “The History of Warfare”.
New York: Knopf, 1993.
[5] BRASIL, Ministério da Aeronaútica,
Comando-Geral do Ar. “Comando e
Contrle na Guerra”. Brasília: 17 mar. 2000.
(MMA 500-3)
© CAER
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Odespertar deste terceiro milênio en
controu um cenário de grandes
transformações em vários setores
de nossa sociedade. De fato, é necessário ape-
nas um pequeno exercício de observação para
que possamos constatar que o Brasil em geral
e a Aeronáutica em particular passam por um
período de radicais mudanças em diversos as-
pectos. Nesse panorama, vem-se tornando
cada vez mais evidente no âmbito do Coman-
do da Aeronáutica a preocupação por uma
melhor compreensão e adequação dos proces-
sos organizacionais aos níveis orçamentários
cada vez mais reduzidos, mercê das grandes
despesas públicas internas e externas do país.
Não menos relevante está o compromisso com
a aplicação dos recursos humanos neste con-
texto de restrições de toda ordem.
Uma das consequências diretas desse
direcionamento foi a constatação da necessi-
dade de otimização de nossos processos de
planejamento e controle. Mais especificamen-
te, vemos que existe uma carência de ferra-
mentas computacionais e de adequação dos
procedimentos voltados para esses processos.
Uma das áreas onde esta lacuna se faz mais
sentida é no planejamento global da atividade
aérea na FAB.
Segundo a DMA 14-5 – Política da Aero-
náutica – o primeiro objetivo do Comando da
Aeronáutica é o “Fortalecimento e aprimora-
mento da capacidade operacional da Força
Aérea Brasileira para o cumprimento de sua
missão”. Para atingir essa meta, devemos ser
capazes de, primeiramente, identificar os pro-
cessos e estabelecer os parâmetros que
mensurem o grau de sucesso atingido ou, em
outras palavras, a efetividade na tarefa de for-
talecer e aprimorar a capacidade operacional
da Força. Na frieza do papel, os adjetivos aci-
ma apenas agregam subjetividade ao proble-
ma. Afinal, como saber o quão forte e aprimo-
rada está a Força? Uma ferramenta sistêmica
voltada para este fim deve ter, como um dos
critérios críticos, a redução dos níveis de sub-
jetividade e de imprecisão na obtenção de tais
indicadores.
Em contrapartida a esses
óbices, os avanços
tecnológicos em ferramentas
voltadas para o gerenciamento
e tratamento da incerteza, ao
apoio à decisão e aos
algoritmos de fusão de dados,
somados à excelência de nos-
so setor científico, são aliados
vitais na incessante busca pela
melhoria do desempenho
organizacional. Mais à frente,
apresentaremos algumas das
possibilidades dessas ferra-
mentas no contexto do plane-
jamento da atividade aérea.
Decidir e planejarCom uma certa constân-
cia, somos confrontados com
conceitos aparentemente tão
óbvios, que acabamos por não
abstrair tudo que poderíamos
deles. Um desses conceitos é
o processo decisório com múl-
tiplos critérios ou, em outras palavras, o exer-
cício de comparar coisas distintas e tomar de-
cisões com base nesta comparação.
Decisões deste tipo são baseadas na im-
portância que atribuímos a cada fator consi-
derado, tendo em vista uma escala de valores
normalmente pré-determinada. Num exemplo
do cotidiano, ao optarmos por cancelar os gas-
tos com as aulas de natação do filho em prol
do um curso de inglês para a esposa, o faze-
mos por julgar que esta opção é a melhor em
função dos nossos objetivos familiares.
Conscientemente ou não, um bom
planejador doméstico irá procurar manter a
A Otimização do Planejamento da Atividade AéreaAntônio Carlos Cruz Assumpção, Cel.-Av. - EMAERTomaz Gustavo Maciel de Lima, Maj.-Int. - EMAERPaulo Cesar Guerreiro da Costa, Maj.-Av. - EMAER
O Coronel Aviador Antônio CarlosCruz Assumpção é piloto detransporte aeroterrestre, logístico ereabastecimento em vôo, concluiuo CFOAv em 1978 e serveatualmente na 3ª Subchefia doEMAER. Possui cursos de Inspetorde Vôo e Padronização deInstrutores de Vôo.
O Major Paulo Cesar Guerreiro daCosta é piloto de caça, concluiu oCFOAv em 1986 e serve atualmentena 3ª Subchefia do EMAER. Possuicursos de Guerra Eletrônica noBrasil e na Inglaterra, mestrado emEngenharia de Sistemas eespecialização em C3I pela GeorgeMason University (EUA).
O Major Tomaz Gustavo Maciel deLima concluiu o CFOInt em 1981 eserve atualmente na 3ª Subchefia doEMAER. Possui cursos de Pós-Graduação em Informática naUniversidade Católica de Brasília eProjeto de Sistemas de Informaçãopelo Royal Military College ofScience (ING).
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consistência com estes objetivos em futuras
decisões, evitando, dentre outros males, op-
ções que sejam incoerentes com a linha de
raciocínio previamente estabelecida (e.g. evi-
tar o erro do tipo “dois pesos, duas medidas”).
Em suma, o processo decisório, mesmo em
níveis mais simples, consiste no estabelecimen-
to de objetivos a serem atingidos, na valoração
das opções disponíveis de acordo com estes
objetivos e, finalmente, na escolha da opção
que agrega mais valor à meta de cumprir os
objetivos traçados.
Em busca de capacitar operacionalmente
a Força Aérea Brasileira, a atividade aérea é
indiscutivelmente o veículo principal que nos
levará ao sucesso, sendo o seu planejamento
uma das ferramentas essenciais na condução
desse veículo. Planejar, dentre outras coisas, é
decidir sobre o futuro. Analisando os concei-
tos aparentemente óbvios citados acima, ve-
mos que sua correta aplicação é a melhor for-
ma de se atingir os objetivos propostos, sendo
essa uma das ambições contidas na proposi-
ção do Sistema de Gerenciamento de Padrões
Operacionais (SISGPO).
O Planejamento da Atividade AéreaO SISGPO procura aplicar os avanços
tecnológicos já citados a uma estrutura
sistêmica capaz de, através de indicadores
consistentes da atividade aérea, produzir pa-
drões duradouros de excelência que sirvam
como parâmetros básicos ao planejamento e
controle dessa atividade. O fluxo de dados de
tal ferramenta está ilustrado na figura 1.
O primeiro passo é a coleta dos indica-
dores da atividade aérea executada nos vários
Esquadrões da FAB, formando um banco de
dados da área operacional. Estes indicadores,
ainda em estado “bruto”, ou seja, ainda des-
providos de um significado claro o suficiente
para uma análise mais acurada, passam por
uma modelagem matemática que os transfor-
ma em parâmetros representativos da realida-
de de uma determinada UAe. Finalmente, es-
ses dados tratados passam por um processo de
fusão, que nos permite verificar o comporta-
mento dinâmico da estrutura como um todo,
ou seja, podemos inferir como pequenas alte-
rações em uma parte (e.g. uma UAe) alteram a
capacitação da FAB como um todo. Esse pro-
cesso foi utilizado na confecção de um protó-
tipo da ferramenta, cujo detalhamento mos-
tramos a seguir.
Modelagem matemáticaO modelamento matemático tem como
principal função transformar os dados brutos
provenientes das Unidades Aéreas em indica-
dores que definam a capacitação operacional
das mesmas e o seu respectivo custo agrega-
do. Nessa fase, deve-se ter em mente um com-
promisso entre o grau de precisão a ser atingi-
do e a (desejável) simplificação do sistema. Um
número excessivo de variáveis pode resultar
Figura 1 - Concepção do Sistema
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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
num modelo preciso porém pesado ao ponto
de ser computacionalmente inviável, ao passo
que poucas variáveis podem tornar o modelo
impreciso ao ponto de não corresponder às
funções que dele se esperam.
Neste protótipo inicial, modelamos a ati-
vidade aérea no 1º/16º GAv, onde o termo
capacitação operacional foi entendido como
a conjugação de três parâmetros: capacitação
das equipagens, capacitação dos equipamen-
tos e adequação das equipagens.
O primeiro refere-se à quantidade de trei-
namento especializado oferecido às
equipagens de uma UAe para o cumprimento
de sua missão. Em outras palavras, esse
parâmetro reflete o quão treinados estão os tri-
pulantes daquele Esquadrão.
O segundo indicador, capacitação dos
equipamentos, refere-se ao grau de adequa-
ção dos recursos de cada UAe para o cumpri-
mento de sua respectiva missão, em termos de
quantidade de aeronaves. A título de exem-
plo, esse indicador permite verificar se o nú-
mero de aeronaves do 1o/16o GAv é suficiente
para o cumprimento da missão atribuída àque-
le Esquadrão e, ainda, o grau de adequação
das aeronaves e de seu respectivo armamento
associado.
Cabe ressaltar que, apesar da ênfase no
número de aeronaves (parâmetro quantitativo),
a qualidade das aeronaves está implicitamen-
te modelada, uma vez que um maior grau de
adequação de um determinado tipo de aero-
nave para o cumprimento da missão de uma
UAe implicaria uma menor quantidade destas
para satisfazer os parâmetros de eficiência exi-
gidos para aquela UAe.
Finalmente, o terceiro indicador, adequa-
ção das equipagens, refere-se primariamente
ao número de equipagens de cada UAe reque-
rido para o cumprimento de sua respectiva mis-
são. No exemplo, este indicador permite veri-
ficar se o número de equipagens do 1o/16o GAv
é adequado para o cumprimento da missão
atribuída àquele Esquadrão.
Neste estudo, dados brutos são conside-
rados como as variáveis que definem o “esta-
do do sistema” em relação à atividade aérea
para cada UAe. O conjunto dessas variáveis
constitui informação necessária e suficiente
para, através de um modelamento matemáti-
co, definir a capacitação atual de uma Unida-
de. Como exemplo de dados brutos podería-
mos citar o número de aeronaves, o quantita-
tivo de horas de vôo alocadas, o custo da hora
de vôo, etc. A Figura 2 ilustra a correlação entre
estes conceitos.
Uma vez definidos estes três parâmetros
iniciais, passamos então a definir quais são as
variáveis necessárias para se mensurar cada
parâmetro em particular. Na realidade, o mai-
or desafio desta fase é a definição das funções
matemáticas que traduzirão a correlação en-
tre os dados brutos (variáveis) e os indicadores
de cada um dos parâmetros levantados.
Em geral, estas funções serão comuns à
maioria dos modelos (i.e. à maioria das Uni-
dades), porém certamente haverá casos onde
determinada função pode não se aplicar a al-
gumas Unidades. Num exemplo trivial, dentre
Figura 2 - Conceituação inicial
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○18
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as funções que modelam a capacitação dos
equipamentos do 1o/16o GAv, existe uma que
considera a quantidade de armamento dispo-
nível, algo que não seria pertinente num even-
tual modelo da atividade aérea no GTE (Gru-
po de Transporte Especial), uma vez que a mis-
são típica daquele Grupo não prevê o empre-
go de armamento.
Considerando-se o modelo como sendo
uma “caixa preta”, iremos perceber que ele
estará recebendo dados relativos ao treinamen-
to das equipagens (e.g. horas de vôo alocadas,
tipos de missão, fases, etc.) e, em sua saída,
deveremos obter uma variável indicativa da
capacitação das equipagens e o respectivo cus-
to agregado.
Seguindo a metodologia acima preconi-
zada, a modelagem do 1o/16o GAv efetuada
no protótipo relacionou as variáveis de entra-
da pertinentes à pergunta-chave: “Quão trei-
nados estão os pilotos deste Esquadrão?”.
Como peculiariadade da aviação de caça, po-
demos considerar equipagens como sendo ape-
nas os pilotos.
Nesse contexto, optamos por definir a
capacitação dos pilotos como uma função
cartesiana, onde o eixo das abcissas seria com-
posto por uma variável única representativa do
progresso na atividade aérea, ao passo que no
eixo das ordenadas estaria projetada a imagem
da capacitação das equipagens em função des-
sa variável única.
A escolha da variável única recaiu sobre
o quantitativo de horas voadas por cada pilo-
to, uma vez que esse parâmetro é comum a
todas as aviações reflete de forma satisfatória
o andamento da atividade aérea e seus respec-
tivos fatores agregados (e.g. custo, adequação,
etc). É importante frisar que essa variável não
é independente, uma vez que contém implíci-
tos diversos outros parâmetros que norteiam o
desenvolvimento da atividade aérea.
Em outras palavras, quando dizemos que
um piloto de A-1 voa “x” horas em um ano,
estamos considerando apenas as horas voadas
no estrito cumprimento das missões do Pro-
grama de Instrução e Manutenção Operacional
(PIMO) da respectiva Unidade, às quais estão
agregados diversos fatores relevantes como:
gastos com combustível, manutenção, arma-
mento, suprimento, etc.
Desta feita, o modelo não apenas permi-
te que seja feita a correlação da variável única
com a capacitação através de uma função, mas
também permite que a saída dessa função pos-
sa ser correlacionada com os parâmetros im-
plícitos à variável única.
Como exemplo do exposto acima, caso
“x” horas de A-1 correspondessem a um índi-
ce de capacitação de .45 (45%), as premissas
do modelamento acima citadas nos permitiri-
am afirmar que este mesmo índice (.45) signi-
ficaria x reais em combustível, y missões de
emprego, z bombas lançadas e assim por di-
ante.
É interessante notar, ainda, que para atin-
girmos esse grau de interdependência entre os
parâmetros relacionados com a variável úni-
ca, fazem-se necessárias definições quanto ao
PIMO ideal de cada Unidade bem como um
pacote mínimo de missões para cada fase da-
quele programa. Sugere-se que essas definições
sejam ditadas pelo órgão na FAB responsável
pelo treinamento das equipagens, o Coman-
do-Geral do Ar (COMGAR).
Uma vez computados os parâmetros para
a variável única, o próximo passo é a defini-
ção da função que a transforma em um índice
de Capacitação das Equipagens. Essa variável
única é notadamente de natureza contínua e
possui outros parâmetros agregados, ao passo
que a saída da função pode ser tanto mantida
contínua como sofrer uma discretização, man-
tendo a correlação com os parâmetros agrega-
dos à variável principal. Assim sendo, pode-se
inferir que a função de modelamento é prefe-
19
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
rencialmente contínua.
Sob o enfoque desse estudo, um modelo
é entendido como uma abstração matemática
da realidade de uma atividade, cujo objetivo
é proporcionar um melhor entendimento do
comportamento dessa atividade em função das
variações dos parâmetros de entrada. Desta
feita, ao considerarmos o objeto de estudo a
ser modelado (a atividade aérea em cumpri-
mento a um PIMO), veremos que ele é o fruto
do conjunto de diversas missões com caracte-
rísticas diferentes.
Ao procurarmos na literatura científica
uma função que modele atividades comple-
xas, encontraremos a Curva do Aprendizado,
também conhecida como “S curve”, Curva
Sigmóide ou, ainda, Curva de Logística. A Fi-
gura 3 traz a fórmula e um exemplo desta cur-
va.
Um maior aprofundamento filosófico
mostrará que esta função reflete a distribuição
probabilística cumulativa do aprendizado de
uma população estatística (como os pilotos de
uma UAe) em uma atividade complexa (como
uma missão aérea); ao passo que a variável
única do modelo proposto deve refletir esta
distribuição em um conjunto de diversas ativi-
dades complexas.
Face ao dilema acima, devemos retornar
aos conceitos de estatística e probalidade e
relembrar o Teorema do Limite Central, o qual
prova que a soma de várias distribuições
probabilísticas, similares ou não, tende rapi-
damente a uma única distribuição, que conhe-
cemos como curva de Gauss ou distribuição
normal. Nesse caso, quanto maior for o nú-
mero de distribuições somadas, maior a simi-
laridade da distribuição resultante com a dis-
tribuição normal. De fato, para a maioria das
aplicações, o resultado da soma de 30 ou mais
distribuições é considerado como praticamente
igual à Normal.
Podemos, então, inferir ser filosófica e
matematicamente correto considerarmos a
Função Cumulativa da distribuição Normal
como sendo o resultado da soma de diversas
atividades complexas ou, em outras palavras,
como a função que reflete o aprendizado na
atividade aérea como um todo. É pertinente
considerar-se que, para cada tipo de piloto (em
formação ou em manutenção operacional) te-
ríamos uma distribuição probabilística refle-
tindo esta capacitação.
Desvendada a forma de modelar-se ma-
tematicamente o nível de capacitação dos pi-
lotos do 1º/16º GAv., passaríamos a fazer o
mesmo para os demais parâmetros, quando,
então usaríamos algoritmos de fusão de dados
para definir como estes parâmetros interagem
de forma a estabelecer a capacitação da Uni-
dade Aérea como um todo. Após efetuados
esses passos, teremos um modelo matemático
com a habilidade de estimar dados como o
reflexo na capacitação do Esquadrão Adelphi
se, por exemplo, alocarmos mais R$ 35.000,00
de combustível àquela Unidade ou, ainda, o
que aconteceria se tirássemos 3 pilotos do vôo,
e assim por diante.
Fusão de Dados e OtimizaçãoUma vez repetido esse processo para
cada UAe, teríamos um conjunto de modelos
que já se apresenta como um avanço conside-
Figura 3 - “S” Curve
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○20
Spectrum
rável no sentido de um planejamento mais con-
sistente, uma vez que teríamos como averiguar
o efeito de nossas ações num contexto isolado
(i.e. em cada UAe isoladamente). Todavia, a
força das ferramentas modernas de Inteligên-
cia Computacional está justamente na capaci-
dade de utilizar-se dos algoritmos de Fusão de
Dados probabilísticos para agregar modelos
distintos. Assim sendo, temos ainda a possibi-
lidade de através de ferramentas como uma
rede Bayesiana, fundir os dados dos modelos
matemáticos de cada Unidade em uma variá-
vel que representaria, por exemplo, o compor-
tamento de cada Aviação em particular e, agre-
gando-se as Aviações, o comportamento da
Força em geral.
Seguindo um processo semelhante ao
modelo matemático supracitado, teríamos
uma representação que nos permite averi-
guar os e fe i tos de mudanças nos
parâmetros das diversas unidades em um
contexto geral. Temos agora um objetivo
rigidamente definido (a capacitação da
Força Aérea Brasileira) e um processo ca-
paz de valorar nossas opções em função
daquele objetivo (i.e. quanto o investimen-
to em cada Unidade irá afetar o cumpri-
mento do objetivo principal).
Entretanto, para fecharmos o ciclo do
processo decisório comentado no início
deste artigo, falta-nos escolher entre as op-
ções disponíveis, quando então encontra-
mos o óbice da quantidade de opções. Afi-
nal, quantas combinações são possíveis na
alocação de determinada quantia entre os
diversos Esquadrões da FAB? Qual delas irá
obter um melhor retorno? Isso apenas para
citar um parâmetro isolado. Felizmente, te-
mos algoritmos que nos permitem relegar
ao computador essa tarefa árdua de testar
opção por opção até encontrar a que nos
forneça um maior retorno a um menor cus-
to, at ividade essa que denominamos
otimização.
Intrínsecas à concepção do sistema, re-
sidem algumas características altamente de-
sejáveis à melhoria do atual processo de pla-
nejamento e controle da atividade aérea.
Como exemplo, um grande bônus será a
unicidade e consistência de dados, em con-
traste com os conflitos decorrentes das di-
versas formas de entradas de dados atuais
(quantas vezes as estatísticas do Setor de
Operações coincidem com as do Setor de
Material ao final do mês?). Com base em
dados consistentes, uma rede distribuída e
protegida por criptografia permitiria a rápi-
da atualização dos dados da atividade aé-
rea e sua fusão com os provenientes dos de-
mais grandes sistemas da Força, habilitan-
do, assim, um sistema de C2 a beneficiar
desde o nível tático até o estratégico.
Uma vez implementada, essa ferra-
menta traria não apenas as vantagens de
prever o comportamento de um Esquadrão,
de uma Aviação ou da Força como um
todo, mas também possibilitaria um apro-
veitamento otimizado dos recursos dispo-
níveis. Na realidade, uma das maiores van-
tagens desse processo res ide na
obrigatoriedade de estabelecermos padrões
operacionais sólidos, que estabeleçam cla-
ramente onde queremos chegar em termos
de capacitação, ao invés de apenas apon-
tar para onde podemos chegar face às li-
mitações conjunturais. Finalizando, são
notórias as dificuldades em se desenvol-
ver uma ferramenta computacional de
apoio à decisão dessa natureza, mormente
no que tange ao estabelecimento dos pa-
drões operacionais, porém o futuro apon-
ta com nitidez para uma necessidade cada
vez maior deste tipo de auxílio. Temos à
nossa frente uma chance de recobrar a van-
guarda tecnológica à qual a Força Aérea
sempre esteve acostumada.
21
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Relembrando a história, é possível no-
tar a importância do Transporte Aéreo
nas guerras que abalaram o mundo.
Os conflitos modernos têm deixado evi-
dente a importância do desenvolvimento
tecnológico para o campo militar. Por sua vez,
vêm atuando como catalizadores para novos
desenvolvimentos espetaculares, colocando à
disposição dos estrategistas, variadas formas
de aplicação para os sistemas eletrônicos de
comunicação, detecção, alarme, interferência,
ataque, navegação e outros.
Essa evolução tecnológica deve ser acom-
panhada, sob pena de uma Força Aérea ficar
com sua capacidade operacional cada vez
mais reduzida.
A moderna guerra aérea exige que todos
os aviões da Força, não só os tidos como de
combate mas também os de transporte, sejam
dotados de uma boa capacidade de penetra-
ção e sobrevivência em espaço aéreo eletro-
magneticamente hostil.
Cabe à Aviação de Transporte (Av Trnp),
em situação de emprego real , além da missão
de Transporte Aéreo Logístico, a participação
em Operações Aeroterrestres (Op Aet) em con-
junto com as Forças de Superfície. Estas Uni-
dades Pára-quedistas são consideradas pelos
seus Exércitos como Forças Estratégicas de
Pronta-Resposta e Ação Rápida. Portanto, para
cumprir essa nobre missão, a Av Trnp deve es-
tar apta à lançá-las, a qualquer hora e em qual-
quer lugar.
Diante do desenvolvimento tecnológico,
das reais ameaças no campo da eletrônica e
do grau de vulnerabilidade das aeronaves de
transporte, uma nova concepção de Op Aet
precisa ser pensada. Isto sugere a busca por
uma atualização de procedimentos, moderni-
zação da frota em termos de equipamentos e
alteração da doutrina, capazes de multiplicar
a capacidade operacional dessa Aviação.
A capacidade de emprego da Av Trnp em
cenário de guerra eletrônica deve ser a meta a
ser conquistada.
Na atualidade, a Av Trnp deve ter sua im-
portância avaliada em relação
à capacidade que possui de
levar o combate ao inimigo,
principalmente na realização
de Op Aet. Não deve ser
julgada apenas quanto ao vo-
lume ou quantidade de apoio
logístico que pode oferecer.
A compreensão dessa
análise é fundamental, pois dá
à Av Trnp um sentido de For-
ça, fugindo aos conceitos an-
teriores de complementação
ou substituição dos demais
meios de transporte.
Apesar das limitações,
suas características
operacionais, quando bem
exploradas, podem garantir-
lhe uma excelente participa-
ção.
É de acordo com essa
concepção filosófica que a Av Trnp deve ser
empregada.
Principais ÓbicesDois problemas básicos impedem que
uma Av Trnp possa vir a ser empregada em um
cenário de Guerra Eletrônica.
O primeiro é a sua dependência da supe-
rioridade aérea total, que está ligada a uma
doutrina desatualizada.
O segundo é a sua limitada capacidade
de penetração e sobrevivência em ambientes
eletromagnéticos hostis, em função da falta de
equipamentos eletrônicos de auto defesa em
suas aeronaves.
Desprovida dessas proteções nas Op Aet,
torna-se necessário que a Av Trnp busque al-
ternativas para sobreviver, criando novas táti-
O Emprego da Aviação de Transporte em Cenário de Guerra Eletrônica (GE)
Nelson Augusto Bacellar Gonçalves, Ten.-Cel.-Av. - GABAER
O Ten.-Cel.-Av. Nelson
Augusto Bacellar Gonçalves
concluiu o CFOAV em 1979
e exerce atualmente a função
de Adjunto de Assessor no
GABAER. Comandou o 1o/15o
GAV e possui 16 anos da car-
reira dedicados à Aviação de
Transporte, dos quais 6 em C-
95B Bandeirante e 10 em C/
KC-130 Hércules. Cursou o
“Eletronic Combat Specialist
Course” na Inglaterra.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○22
Spectrum
cas para a entrega e resgate do pessoal e ma-
terial no campo de batalha.
SoluçãoPara solucionar os problemas apresen-
tados, a proposta é: empregar as missões
da tarefa de Guerra Eletrônica (GE) em
apoio às operações; adotar novas táticas
de Navegação; e equipar a frota de aero-
naves de transporte com modernos siste-
mas de auxílio à navegação e de auto pro-
teção.
A idéia básica da solução está em apro-
veitar todos os recursos de GE em apoio às
Op Aet.
Apoio de GEDesta forma, todas as fases da Op Aet
estarão calcadas em um Plano de GE, e o
apoio se fará de diversas maneiras, em fun-
ção do cenário e dos meios de GE,
amigos e inimigos.
Missões espe-
cíficas da Tarefa de
GE poderão ser
planejadas como
suporte às diversas
etapas da Op Aet:
- Missões de
Apoio Eletrônico: a
detecção, localização e
identificação de emisso-
res eletrônicos visará não só a alocação de
alvos para as missões de Supressão de De-
fesa Aérea e Antiaérea, mas também será
mais um fator de segurança para a escolha
da melhor rota para as aeronaves de trans-
porte;
- Missões de Supressão de Defesa Aé-
rea e Antiaérea: estas missões aliviarão a
rota e a Zona de Lançamento das ameaças
capazes de se contrapor às aeronaves de
transporte; e
- Missões de Escolta Eletrônica: além
da capacidade de intervirem nos sensores
inimigos provocando bloqueios ou
despistamentos, interferindo de forma com-
pleta ou parcial, abrindo corredores que
facilitarão a penetração por um determi-
nado setor, a escolta será capaz de detec-
tar qualquer tipo de ameaça eletrônica para
os aviões de transporte, através dos seus
sistemas de auto proteção ou de CME.
Praticando esse tipo de apoio ainda em
tempos de paz, será possível estender as
possibilidades da Aviação muito além da-
quilo que acredita-se poder ser realizado.
Is to serv i rá para uma melhor
visualização do que possa vir a ser uma
Op Aet em um cenário eletromagnético
hostil.
Como fruto desse esforço e de um trei-
namento específico para cada cenário de
GE, surgirá uma doutrina pró-
pria, atualizada e voltada
para os prováveis opo-
nentes.
Mas o apoio de
GE, por si só, não
bastará para o su-
cesso. A própria Av
Trnp precisa parti-
cipar, e adotar uma
tática de navegação mais
segura.
Navegação Tipo “Low Contour”A capacidade de penetração e sobre-
vivência das aeronaves em ambiente ele-
t romagné t ico hos t i l , como pôde ser
depreendido dos ensinamentos anteriores,
será multiplicada se, além de contar com
a participação de missões de apoio eletrô-
nico, a Av Trnp adotar uma forma especial
de navegação à baixa altura (NBA).
Essa navegação vem sendo emprega-
23
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
da pelas melhores Forças Aéreas, inclusi-
ve nos últimos conflitos de que participa-
ram.
Já foram obtidos excelentes resultados
no exercício de avaliação da técnica de
NBA do tipo “Low Contour”, de onde ex-
traem-se as seguintes vantagens de seu em-
prego:
- dificulta a detecção pelo inimigo;
- torna o planejamento e a execução
mais flexíveis, ao permitir modificações de
rota a qualquer instante;
- permite uma evasiva mais eficiente;
- permite uma melhor seleção dos pon-
tos de controle; e,
- aumenta a segurança e a
autoconfiança da tripulação.
No entanto, para que seja obtido o
maior aproveitamento que a técnica ofe-
rece, a total habilidade da tripulação tor-
na-se ainda insuficiente. A perfeita execu-
ção em tota l segurança só pode ser
conseguida com a ajuda de sistemas ele-
trônicos de navegação autônoma e de auto
proteção. O equipamento da frota comple-
ta a proposta.
Equipamentos das AeronavesA idéia consiste na obtenção de um
maior poder de penetração e sobrevivên-
cia para as aeronaves de transporte, equi-
pando-as com sistemas de navegação in-
dependentes e, ainda, com sistemas defen-
sivos de auto proteção.
Sistema de Navegação InercialÉ um sistema cuja principal caracte-
rística é independer de qualquer estação
transmissora no terreno, estando, dessa for-
ma, livre de qualquer interferência eletrô-
nica. Dentre os equipamentos de apoio à
navegação hoje em operação no mundo, é
o sistema que apresenta a maior seguran-
ça.
Fornece à tripulação, informações va-
liosas de direção e intensidade do vento e
posição no terreno, capazes de auxiliar no
desvio de ameaças inopinadas, nos cálcu-
los e posicionamento final da aeronave
para o lançamento de pessoal e material.
Pelas características e vantagens apre-
sentadas, tornou-se o equipamento mais
confiável para o emprego militar.
Além de facilitar a navegação, auxilia
na realização de órbitas de reabastecimen-
to em vôo, na execução de padrões de bus-
ca e nos cálculos para lançamento aéreo.
Sistema Defensivo de Auto ProteçãoUm Sistema Defensivo de Auto Prote-
ção é normalmente composto de um “Ra-
dar Warning Receiver” (RWR), de um
“Miss i le Approach Warning Sys tem”
(MAWS) e de um “Countermeasures
Dispensing System” (CMDS), ou seja, con-
siste de receptores que alarmam a tripula-
ção de que sua aeronave está sendo ilumi-
nada por sinais de radar ou mísseis, sendo
capaz de acionar dispersores de Chaff ou
Flare para defendê-la.
A proposta consiste em equipar as ae-
ronaves de transporte com um sistema ain-
da mais simples e econômico, composto
apenas do MAWS e do CMDS, sendo ca-
paz de detectar mísseis infravermelhos e
lançar cartuchos de Flare para despistá-los.
Tal configuração já é adotada pelas ae-
ronaves da USAF e tem caráter obrigatório
para as aeronaves de países pertencentes
à OTAN.
VantagensAtravés de uma visão prospectiva, po-
demos apontar alguns dos benefícios de-
correntes da proposta apresentada:
- evolução para uma doutrina própria
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○24
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de planejamento e emprego em cenários
atuais de GE;
- aprimoramento dos conhecimentos
dos Oficiais de Estado-Maior quando exe-
cutando o planejamento de uma Op Aet
para cenários de GE;
- capacitação para o cumprimento de
missões i soladas ou de um Assal to
Aeroterrestre com uma superioridade aé-
rea relativa;
- aumento significativo da capacida-
de de penetração e sobrevivência das ae-
ronaves e tripulações em cenários eletro-
magnéticos hostis;
- habilitação da Av Trnp ao cumprimen-
to de missões em cenários modernos de GE;
- maior garantia do cumprimento das
missões, diante do acréscimo de precisão nas
navegações e nos lançamentos de pessoal e
material;
- absorção de tecnologia na área de GE;
- aumento do poder de dissuasão;
- obtenção de todas as vantagens já ex-
perimentadas por outras Forças quando em-
pregaram a navegação do tipo “Low Contour”
em recentes conflitos; e
- a multiplicação da capacidade
operacional da Av Trnp e sua habilitação para
realizar ações em cenários de GE.
“A vitória sorri para aqueles que anteci-pam as mudanças de caráter da guerra, e nãopara os que esperam para adaptarem-se apósocorrerem as mudanças”.
- Giulio Douhet
Bibliografia(1) BRASIL. Ministério da Aeronáutica.
Doutrina básica da FAB. Brasília,
1997.(DMA 1-1).
(2) BRASIL. Ministério da Aeronáutica. V
Força Aérea. Manual de emprego do
transporte aéreo e aeroterrestre. Rio de
Janeiro,1997.(MMA 55-20).
(3) ESTADOS UNIDOS. Air Force. Defensive
system.(TO 1C-130B-1).
(4) INGLATERRA. Eletronic warfare. Totnes:
GEC - Marconi,1995.
(5) UNIVERSIDADE DA FORÇA AÉREA.
Escola de Comando e Estado-Maior da
Aeronáutica. Monografia. Rio de Janeiro,
1997. (Apostila 4103MO01).
25
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Recentemente, tive a oportunidade de
ler um interessante artigo publicado
na edição de agosto da revista
SPECTRUM com o título “BOMBA GUIADA A
LASER: TER OU NÃO TER, EIS A QUESTÃO”.
O artigo é de autoria do Ten.- Av. Steven Meier,
hoje servindo no CATRE.
Achei o artigo muitíssimo interessante,
primeiro por ter sido seu autor um brilhante
aluno do Curso de Planejamento e Emprego
do Armamento Aéreo e, principalmente, por
sua coragem em afirmar que a aquisição de
novas tecnologias não garante um ganho
operacional proporcional a seus elevados cus-
tos.
Em síntese, o artigo questiona a validade
de investirem-se elevadas quantias para adqui-
rir este tipo de armamento, citando como
exemplo a opção israelense de usar somente
bombas “burras” no famoso ataque à usina
nuclear iraquiana de Osirak.
Na verdade, concordo em parte com o
teor do referido artigo, mas há vários outros
fatores operacionais que precisam ser analisa-
dos.
Em 1998, escrevi um trabalho para a Re-
vista Zoom, do 1º/4º GAv, a respeito de bom-
bas guiadas a laser, com o objetivo de
desmistificar tal tipo de arma, mostrando, prin-
cipalmente, seus pontos fracos e algumas ca-
racterísticas de sua operação. Fui motivado a
redigir aquele artigo pelos exageros dos comen-
tários que ouvia a respeito da extrema eficácia
destas bombas, como se fossem a solução de
todos os nossos problemas no tocante a ata-
ques a alvos de superfície. Ainda era o efeito
da Guerra do Golfo!
Hoje, o meu objetivo é voltar a equilibrar
a balança, pois tornaram-se comuns as mani-
festações de descrença nesta arma e na nossa
capacidade de bem utilizá-la. É o efeito da
guerra no Kosovo!
Citei a Guerra do Golfo e o conflito no
Bomba Guiada a Laser: Os Dois Lados da Moeda
Kosovo, pois foram dois opostos. No primeiro
conflito, as BGL’s (Bombas Guiadas a Laser),
deixando de lado os exageros mostrados pela
mídia americana, reinaram so-
beranas, e o índice de falhas
(ataques abortados ou bombas
que não atingiram o alvo) foi
considerado baixo, cerca de
20%. Já no Kosovo, o índice
de falhas ultrapassou os 50%,
e várias bombas atingiram al-
vos errados, incluindo escolas
e hospitais. Mas por quê?
Para responder a esta per-
gunta, primeiro temos que en-
tender que o grau de eficácia
no uso de BGL’s está direta-
mente relacionado a fatores
operacionais e fatores climáti-
cos. Dentre os fatores
operacionais, destacam-se o
grau de adestramento das
equipagens e equipes de ma-
nutenção e o grau de supre-
macia aérea obtida durante o
conflito.
Adestramento e supremacia aérea estão
também bastante relacionados entre si. A falta
da supremacia obrigará o ataque com incur-
sões à baixa altura e lançamentos tipo arre-
messo (stand-off). Este tipo de emprego, com
BGL’s, é extremamente difícil e exige um grau
ainda maior de adestramento das equipagens.
Consequentemente, o índice de falhas será
maior.
Quanto ao fator clima, é primordial que
entendamos que o emprego de BGL’s exige que
não haja nenhum tipo de nebulosidade entre
o designador e o alvo. Se uma pequena nu-
vem se interpuser entre os dois, para a bomba,
aquela passará a ser o alvo, e ao atravessá-la,
a bomba colidirá com qualquer obstáculo só-
lido abaixo da nuvem, vindo a explodir fora
Ricardo César Mangrich, Maj. - Av. - 1º/10º GAv
O Major Ricardo Cesar
Mangrich é piloto de caça,
concluiu o CFOAv em 1984 e
exerce atualmente a função de
Oficial de Operações do 1º/
10º GAv. É instrutor e coorde-
nador do Curso de Planeja-
mento e Emprego de Arma-
mento Aéreo ministrado no
GITE. Possui vários artigos pu-
blicados sobre emprego
operacional de sistemas béli-
cos em revistas especializadas
no âmbito civil e militar.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○26
Spectrum
da posição prevista. Por isso, vários alvos no
Kosovo foram destruídos indevidamente.
Temos agora condições de analisar os an-
teriormente citados efeitos da Guerra do Gol-
fo e do conflito no Kosovo. No primeiro caso,
o ambiente era climaticamente perfeito para
as BGL’s. Quem já não ouviu falar das “Noites
da Arábia”, sempre estreladas e sem uma nu-
vem sequer? Durante todo o conflito, as con-
dições de teto e visibilidade estiveram favo-
ráveis. Também o terreno contribuía muito para
que os designadores facilmente localizassem
os alvos, pois qualquer equipamento militar
ou civil facilmente se destacava contra um ter-
reno arenoso e monótono. A supremacia aé-
rea era total, e voar acima de 20.000ft, altura
ideal de lançamento e designação das BGL’s,
era totalmente seguro. Somando-se a isso a
divulgação feita pela mídia america-
na daquelas famosas imagens
que com certeza você can-
sou de assistir, de bombas voando certeiras
contra seus alvos, passaram a nós e ao mundo
a sensação de que esta maravilha tecnológica
seria a solução de todos os nossos problemas.
Já no Kosovo... Bem, no Kosovo a situação
foi diametralmente oposta. As condições
meteorológicas foram desfavoráveis durante todo
o conflito. Em mais de 80% do período havia
cobertura total de nuvens. O terreno era extre-
mamente acidentado e coberto por florestas de
coníferas. Os alvos, mesmo os urbanos, foram
muito bem camuflados. Inicialmente, a OTAN
esperava que seus caças pudessem voar imunes
a médias e grandes altitudes, mas não foi bem
assim. Mesmo o F-117 teve sua reputação abala-
da quando um foi derrubado por um arcaico SA-
6. A maior parte das missões com BGL’s aborta-
va, pois os designadores não conseguiam conta-
to visual com o solo. Várias bombas caíram em
alvos errados, pois durante o vôo da bomba, a
designação era interrompida por aquela
“nuvenzinha” que citamos anteriormente.
Resumindo, vimos que após a Guerra do
Golfo, as BGL’s estavam em alta. No período de
90/95, foram vendidas mais bombas do que nos
vinte anos anteriores. Esta euforia também nos
atingiu.
Após o conflito no Kosovo, as coisas se in-
verteram, e passamos a culpar as bombas pelos
fracassos amplamente divulgados pela mídia.
Na verdade, o que temos que analisar é a
nossa realidade. A América do Sul possui uma
climatologia considerada boa para o uso destas
armas. Apesar do índice pluviométrico ser mui-
to maior do que no deserto, na maior parte do
ano, o céu apresenta pouca cobertura. Este é um
fator a favor das BGL’s.
O segundo aspecto, e o mais importan-
te, é que, por possuirmos uma Força Aérea
pequena, temos que torná-la eficaz. Pode-
ria listar uma série de alvos de extrema im-
portância num conflito moderno, onde ne-
cessitaríamos várias levas de ataque para
obtermos uma razoável probabilidade de suces-
so em sua destruição e, com certeza, não iremos
dispor de tantas aeronaves assim. Neste caso, um
único ataque, com BGL’s, poderia resolver a ques-
tão.
Sabemos que as BGL’s não são infalíveis, e
possuem até várias e indesejáveis restrições,
mas, sem dúvida alguma, ainda são extrema-
mente necessárias nos arsenais de Forças Aére-
as que pretendem ser pequenas, porém efica-
zes. E, finalmente, gostaria de encerrar este ar-
tigo com a mesma frase de fecho que utilizei na
revista Zoom em 1998: “A bomba em si, é ex-
tremamente burra. Inteligentes são os que se
preparam e treinam exaustivamente para utilizá-
la corretamente”.
27
Spectrum
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Introdução
Acontínua evolução tecnológica vivi-
da neste século tem exigido constan-
tes mudanças no conceito da guerra.
Em particular na última década, presenciou-
se o apogeu da “Era da Informação” [1], onde a
velocidade dos acontecimentos é o limite para
a velocidade da informação.
Nesse cenário de extrema competição,
pressão e incerteza, ocorre o exercício das fun-
ções de comando e controle (C2) que, em sua
dimensão metodológica, são balizadas pelo
ciclo OODA [2], mostrado esquematicamente
na Fig. 1.
Fig. 1 – Ciclo OODA, utilizado como metodologia para oexercício das funções de C2.
No campo de batalha moderno, a veloci-
dade dos eventos requer a realização desse
ciclo cada vez mais rapidamente. Nesse con-
texto, identifica-se a importância do processo
decisório e a necessidade da utilização de fer-
ramentas de auxílio à decisão. Essas ferramen-
tas permitem antecipar as mudanças do ambi-
ente externo através de simulações e jogos,
facilitando o gerenciamento e a pronta respos-
ta.
Assim, em um ambiente de guerra, é pon-
to crítico administrar riscos, mapear conseqü-
ências, antecipar-se aos fatos e visualizar opor-
tunidades. Além disso, a diminuição dos re-
cursos disponíveis determina mudanças drás-
ticas nos processos gerenciais e doutrinários,
Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma Necessidade, Uma Realidade
sob pena de não sobrevivência da Instituição.
Sistemas de auxílio à decisão podem for-
necer oportunidades para o gerenciamento da
guerra em todos os seus níveis,
contribuindo para um enten-
dimento global de todos os
seus aspectos relevantes.
Metodologia paraDesenvolvimento de SAD no
Comando da AeronáuticaDevido à complexidade
dos problemas, existe uma
grande dificuldade técnica em
definir as necessidades do Co-
mando da Aeronáutica em ter-
mos de sistemas de auxílio à
decisão. Sabe-se de sua impor-
tância, do valor de sua contri-
buição, porém não se têm dis-
poníveis os elementos a serem
modelados. Em outras pala-
vras, há dificuldades para de-
finir os requisitos do sistema de
interesse e seu nível de atua-
ção.
Em função dessa dificul-
dade, propõe-se neste artigo
uma metodologia de desen-
volvimento que possa auxiliar
na definição dos requisitos de
sistemas de auxílio à decisão
que satisfaçam os interesses do
Comando da Aeronáutica, es-
pecificamente nos sistemas
que necessitam modelar um
teatro de operações (TO) nos
vários níveis de decisão. O
grande trabalho reside em
identificar as variáveis a serem modeladas.
De forma a se conseguir um sistema que
incorpore o modelo complexo de um teatro
de operações, considerando que muitas variá-
Francisco de Assis Corrêa, Maj. - Eng. - IEAvFábio Durante Pereira Alves, Maj. - Av. - COMGAR
O Major Francisco de Assis Corrêaé Oficial Engenheiro da turma de1981 e Mestre em Ciências peloInstituto Tecnológico de Aeronáu-tica. Exerce a função de Pesquisa-dor do Instituto de Estudos Avan-çados, no Centro TécnicoAeroespacial, atuando na área deAuxílio à Decisão. O Major Corrêafoi integrante da equipe de de-senvolvimento e gerente do pro-jeto AEROGRAF.
O Major Fábio Durante PereiraAlves é piloto de helicóptero es-pecializado em resgate, concluiuo CFOAv em 1986 e exerce atu-almente a função de adjunto aoCentro de Guerra Eletrônica doComando-Geral (CGEGAR). OMajor Durante é Engenheiro Ele-trônico e Mestre em Ciências peloInstituto Tecnológico de Aeronáu-tica.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○28
Spectrum
veis não são conhecidas ou totalmente domina-
das, um sistema deve ser concebido numa abor-
dagem evolutiva. Por isso, um modelo simplifica-
do deve ser inicialmente produzido, testado e deve
permitir que novas variáveis sejam incorporadas
à medida que passem a ser dominadas. Esse pro-
cesso está representado na Fig. 2. Com ele, as áre-
as operacional e de pesquisa e desenvolvimento
podem iniciar projetos, aprender e melhorar os
seus desempenhos durante todo o ciclo de vida.
Pontos de Atuação dos Sistemas de Auxílio àDecisão (SAD) e Jogos
Para apoiar a tomada de decisão, existem
SAD e jogos. Enquanto os primeiros auxiliam
os profissionais diretamente nas suas decisões,
os jogos permitem treinar executivos em to-
mada de decisão.
Em um aspecto geral, os jogos são consi-
derados SAD e atuam em cinco pontos funda-
mentais [3]:
·Sincronismo de tempo nas decisões
Nesse caso, é dada a oportunidade para
que as decisões sejam tomadas baseadas em
critérios bem definidos, considerando o obje-
tivo a longo prazo com as restrições da con-
juntura atual. A cultura de “apagar incêndios”
e a preocupação com resultados a curto prazo
deixam de ser os grandes consumidores de tem-
po nos processos gerenciais.
·Superação da barreira do medo de errar
Processos gerenciais, no contexto deste
trabalho, exigem uma constante quebra de
paradigma. É imperativo, portanto, um prepa-
ro adequado, pois o medo de errar e as rea-
ções a mudanças podem inviabilizar decisões
e bloquear o processo criativo. Com jogos,
pode-se treinar, aprendendo com os erros e
com as reações adversas, aprimorando a ca-
pacidade de inovação.
·Desenvolvimento de visão global da guerra
O trato de assuntos de guerra exige pro-
fissionais com uma visão do todo, não somen-
te especialistas em funções específicas. Perce-
ber os fatores relevantes para o sucesso ou o
fracasso de um empreendimento requer conhe-
cer os objetivos globais e estar atento às mu-
danças do ambiente. Para isso, é preciso mui-
to treino.
·Reflexão crítica com “feedback” imediato
O impacto e o resultado de uma tomada
de decisão em situação real, com uma análise
completa dos erros e acertos, podem demorar
anos ou, devido ao ambiente dinâmico e in-
certo, podem nunca ocorrer. Em sistemas de
auxílio à decisão, usando jogos e simulações,
o “feedback” pode ser imediato, permitindo
realizar uma análise crítica e direcionar os ris-
cos e premissas adotadas, otimizando o resul-
tado de tais decisões.
·Aprimoramento do trabalho em equipe
Normalmente, em gerência de guerra ou
mesmo de organizações, a tomada de decisão
requer a participação de especialistas voltados
a um objetivo comum, que devem obter o con-
senso, sob grande pressão e em curto espaço
de tempo. Direcionar os esforços de uma equi-
pe requer um trabalho de liderança, em con-
sonância com o comportamento dos profissi-
onais das diversas áreas envolvidas. Permitir
exercícios conjuntos, envolvendo logística,
inteligência e demais setores afetos a uma guer-
ra, é de suma importância para o sucesso da
equipe. Talvez seja esta a principal contribui-
ção dos jogos.
Fig. 2 - Processo evolutivo de desenvolvimento desistemas de auxílio à decisão.
29
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
A concepção de um modelo evolutivo, por
fases, permitirá obter as necessidades de
logística, de informações de operacionalidade
de cada esquadrão, de inteligência, de comu-
nicação e de sistemas de defesa. Desta forma,
poder-se-á chegar gradativamente à tomada
segura de decisão nesta área, através da expe-
riência obtida com a simulação e com os da-
dos recebidos de manobras, utilizando o mo-
delo proposto. Isto é de suma importância para
quem não tem experiência real.
Modelagem de Missões em um Teatro de OperaçõesModelar missões significa estudar e repre-
sentar os elementos envolvidos em embates do
tipo “muitos contra muitos” entre uma força
aérea de ataque e um sistema de defesa aérea
em um teatro de operações, mostrado
esquematicamente na Fig. 3 [4]. Nesse cenário,
devem ser considerados ainda o apoio logístico
e a inteligência.
A Força Aérea atacante planeja e executa
missões para atingir objetivos específicos. Es-
tas missões geralmente envolvem mais do que
um meio. O sistema de defesa aérea se opõe à
missão com processos de detecção, controle e
engajamento que podem ser distribuídos en-
tre vários elementos. O combate toma lugar
num ambiente tático que influencia a
efetividade de ambos, atacante e defensor. A
estimativa dos efeitos de uma missão específi-
ca é o que deve ser determinado. Tal resultado
mostra, para uma dada configuração de forças
de ataque, defesa e TO, qual o vencedor e a
que custo.
Uma guerra é composta de campanhas.
Uma campanha pode ser definida como uma
ação militar em grande escala que se realiza
dentro de uma área geográfica particular, num
determinado período de tempo, com uma dada
estrutura de força.
Do ponto de vista do poderio aéreo, pode-
se dizer que uma campanha consiste de dife-
rentes tipos de missões executadas por aero-
naves pilotadas, mísseis de cruzeiro ou mís-
seis balísticos. Estas missões são executadas
seqüencialmente, numa taxa controlada pela
quantidade e qualidade da força atacante.
Numa abordagem inicial, o teatro de
operações será definido por missões de
ataque aéreo, de defesa aérea, de logística
e de inteligência.
·Missões de ataque aéreo
Uma missão de ataque consiste de três
fases: ingresso na área terminal (área do
objetivo), lançamento de armamento e
egresso. Os mísseis balísticos e de cruzei-
ro não têm a fase de egresso.
·Missões de defesa aérea
A força defensiva presumivelmente
conhece a localização e o valor dos
pontos sensíveis que poderão ser ata-
cados. Ela tem um número finito de ele-
mentos de sistema de defesa aérea e
deve decidir onde e como empregá-los
para a maior vantagem. Em geral, ele-
mentos defensivos são empregados para
algum balanço de cobertura de área e
defesa de pontos.
Fig.3 - Situação genérica em um teatro de operações.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○30
Spectrum
·Missões de logística
As missões de logística têm por obje-
tivo prover armamento, combustível, pe-
ças de reposição e demais materiais ne-
cessários para manter ativos os sistemas
de ataque e de defesa aérea.
·Missões de inteligência
As missões de inteligência têm por ob-
jetivo obter informações sobre o poderio
inimigo. É importante que se saiba sobre
a efetividade das missões de ataque reali-
zadas e sobre a entrada em operação de
novos componentes do sistema de defesa
aérea inimigo.
Os resultados de cada tipo de missão
de ataque e de defesa aérea podem ser es-
timados e, considerando o suporte a es-
sas missões (logística e inteligência), a es-
trutura da força versus tempo durante a
campanha pode ser predita, o que leva à
identificação de vencedor e perdedor.
Cabem ao perdedor as seguintes ques-
tões:
·Como atacante: que poderio deveria
ter minha força aérea para que saísse ven-
cedora?
·Como defensor: que sistema defensi-
vo deveria possuir para que fosse capaz
de conter o ataque adversário, preservan-
do meus pontos sensíveis?
A proposta desta modelagem é permi-
tir simulações, de forma a definir a me-
lhor força de ataque para uma dada defe-
sa aérea e vice-versa.
Atividade de Auxílio à DecisãoA concepção e implementação de sis-
temas de auxílio à decisão envolve altos
níveis de conhecimento em áreas como:
inteligência artificial, teoria dos jogos, si-
mulação e pesquisa operacional. O cará-
ter multidisciplinar, juntamente com o
desejo de se atingir o estado da arte, exi-
ge ambientes adequados de trabalho onde
exista grande diversidade de capacitação.
O Grupo de Auxílio à Decisão do Ins-
tituto de Estudos Avançados (IEAv) do Cen-
tro Técnico Aeroespacial (CTA) atende a
estes requisitos. Além disso, através da
execução de outros projetos, tais como o
AEROGRAF, e de parcerias com os demais
Institutos daquele Centro, o Grupo adqui-
riu experiência para identificar, juntamen-
te com os setores operacionais, as variá-
veis dos níveis tático e operacional, ne-
cessá r ia s para modela r um TO
aeroespacial. Por tudo isto, essa ativida-
de foi formalizada como parte da estrutu-
ra do IEAv, estando o Instituto preparado
para realizar pesquisas e desenvolvimen-
tos nesses níveis e para iniciar a busca do
conhecimento para apoiar necessidades
de nível estratégico.
O atendimento aos requisitos desse
tipo de sistema deve, necessariamente, ser
resultado de pesquisas e de desenvolvi-
mentos de setores como o IEAv, pois não
existe disponível nos mercados nacional
e internacional um ambiente de jogos,
completo e integrado, que atenda a requi-
sitos do Comando da Aeronáutica, possa
ser facilmente adaptável à nossa realida-
de e compense o esforço de aquisição e
adaptação [6].
ConclusãoA implementação de modelos e sua
composição em SAD permite realizar atra-
vés de jogos e simulações a predição de
resultados de decisões e ações em um TO,
agilizando e aprimorando o processo real
de tomada de decisão. Os SAD certamen-
te contribuem para a redução do tempo
do ciclo OODA de C2, aumentando as
chances de sucesso no campo de batalha.
31
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Apesar de todas as vantagens, esses
sistemas só serão viáveis se forem obti-
dos como resultado da atividade de pes-
quisa e desenvolvimento na área de auxí-
lio à decisão. A factibilidade de um SAD
para atender ao Comando da Aeronáutica
depende diretamente dos esforços conjun-
tos entre áreas operacional e de ciência e
tecnologia, atuando num campo onde a
maioria das variáveis envolvidas não são
divulgadas, por estarem diretamente rela-
cionadas à segurança de quem as domi-
na.
Referências Bibliográficas[1] GUIMARÃES, Edson F. “Network
Centric Warfare (NCW) – Uma
Revolução no Campo de Batalha” ,
Spectrum (COMGAR), agosto de
2000.
[2] BRASIL. Ministério da Aeronáutica.
“MCA 500-3, Comando e Controle na
Guerra”, [sl:sn], novembro de 1999.
[3] OLIVEIRA, Maurício H. “Jogos
treinam executivos em decisões sob
incertezas”. Treinamento e
Desenvolvimento, edição 54, pág. 44-
45, junho 1997.
[4] MACFADZEAN, Robert H.M. “Sur-
face-Based Air Defense System Analy-
sis”. New York: Artech House, 1992.
[5] CORRÊA, Francisco A. “A atividade
de auxílio à decisão no MAer, o papel
do C.T.A.”, São José dos Campos, Centro
Técnico Aeroespacial, 1997. (Monografia
do Curso de Gerência de Projetos).
[6] PRATI, Airton & SANTOS, Carmen L. R.
“I Simpósio de informatização de jogos
estratégicos - Relatório de participação”.
IEAv, julho 1997.
©CAER
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○32
Spectrum
Foi realizado, nos dias 25, 26 e 27 de
outubro de 2000, em Fortaleza, CE, o
seminário para emprego de mísseis do
tipo “all aspect”, promovido pela III FAE.
Os trabalhos enfocaram o desenvolvi-
mento de táticas e técnicas adequadas às pos-
sibilidades dos mísseis de
guiamento infravermelho de
terceira geração, como o
PYTHON 3, incorporados ao
acervo da FAB.
Durante o seminá-
rio, foram proferidas palestras
sobre fundamentos da radia-
ção e sistemas eletroópticos,
pelo Cap. Av. Guimarães do
COMGAR (CGEGAR);
guiamento de mísseis e siste-
mas de defesa, pelo Maj. Av.
Feldens do CATRE; navegação
de mísseis e míssil MAA-1,
pelo Eng. Roberto da
MECTRON e mísseis de 4ª ge-
ração, pelo Ten.-Cel. Almeida
do CGEGAR. Com as palestras procurou-se
nivelar e adequar os conhecimentos entre os
participantes a fim de permitir o início dos de-
bates.
Posteriormente, os grupos de trabalho ini-
ciaram as discussões com o intuito de revisar
conceitos. As técnicas em uso para
engajamentos ar-ar pouco mudaram desde os
anos 70 e permaneciam voltadas para os mís-
seis de guiamento infravermelho de 1ª gera-
ção, já fora de uso, como o Sidewinder AIM-
9B e o MATRA 530.
Contra mísseis de 1ª geração, as aerona-
ves executavam, como manobras defensivas,
mudanças súbitas de direção (alta “carga G”),
no momento correto, e eram capazes de evi-
tar a destruição. Atualmente, tais manobras
tornaram-se inócuas e podem até facilitar o tra-
balho dos modernos mísseis.
A evolução dos mísseis deu-se pelo au-
mento da capacidade e mobilidade dos
sensores eletroópticos, ganhos na
manobrabilidade e maior agilidade de seus
processadores internos. Tornou-se desnecessá-
rio “encaudar” o oponente ou seja, manobrar
a aeronave atacante de modo a visualizar o
setor traseiro da aeronave inimiga.
Mísseis modernos são capazes de atingir
alvos em engajamentos frontais ou quase fron-
tais, e possuem grande capacidade de acerto.
A carga explosiva, denominada cabeça de
guerra, teve sua capacidade aumentada e hou-
ve também uma sofisticação na espoleta de
proximidade, responsável pela detonação do
engenho quando este se aproxima do alvo, em
condições de atingi-lo com a explosão. As es-
poletas mais modernas passaram a empregar
tecnologia laser, ao invés de dispositivos na
faixa de micro-ondas.
Finalmente, os mísseis de 3ª e 4ª gerações
são capazes de, em uso integrado com o radar
de bordo ou não, “olhar” para baixo e ser dis-
parados nesta condição, distinguindo o alvo
de outros sinais provenientes da superfície que
desorientavam os mísseis de concepção mais
antiga. Essa capacidade foi obtida pela discri-
minação de uma estreita faixa de freqüência a
ser perseguida, destacando as emissões da
aeronave de outras.
Essa seletividade também auxiliou os
mísseis a tornarem-se imunes a dispositivos
desenvolvidos com o intuito de iludir seus
sensores infravermelhos, como os flare. Adici-
onalmente, os circuitos internos do míssil fa-
zem uma rápida análise lógica das informa-
ções das trajetórias e os dispositivos de flare,
por sofrerem uma rápida desaceleração após
o lançamento, são eliminados.
Além disso, os mísseis tiveram suas dis-
tâncias mínimas de ação diminuídas, aumen-
tando as chances de utilização em todas as si-
tuações e seus motores-foguete produzem mais
Seminário de Emprego de Mísseis “All Aspect”.
Werner Wilhelm Bonnet, Maj.-Av. - III FAe
O Major Werner Wilhelm
Bonnet é piloto de caça, con-
cluiu o CFOAv em 1984 e
exerce atualmente a função de
chefe da Seção de Guerra Ele-
trônica da III FAE. Possui o
curso de Planejamento de
Guerra Eletrônica do
COMGAR.
33
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
empuxo com menos emissão de fumaça, o que
dificulta ainda mais a detecção visual.
Surgem as questões. Que manobras de-
verão ser empregadas antes e após os
engajamentos? No momento em que parece
mais importante “apontar” sua aeronave em
direção ao inimigo, é necessário continuar trei-
nando táticas de “encaudamento” ?
O que deverá ser alterado? Basta adaptar
técnicas e táticas ou haverá a necessidade de
mudanças mais profundas na doutrina ?
Talvez deva-se, inicialmente, diferenciar
simples técnicas de “concepções de emprego”.
Novos equipamentos exigem novas técnicas
mas a principal questão talvez seja: quais as
alterações exigidas nas concepções ou méto-
dos de aplicação da Força. Um exemplo mais
claro seria o da introdução de mísseis de mé-
dio alcance na FAB que, certamente, causaria
uma imediata necessidade de revisão na
“metodologia” de emprego de nossos aviões,
em uma série de situações.
Existe, do mesmo modo, a preocupação
de implantar-se, paralelamente, as técnicas de
emprego de equipamentos de auto-defesa, im-
prescindíveis ao desenvolvimento de manobras
táticas mais eficientes e ao aumento da capa-
cidade de sobrevivência na arena. Entre estes,
RWR (Radar Warning Receiver), MAWS
(Missile Approach Warning Systems) e
lançadores de Chaff e Flare são os mais impor-
tantes.
Simultaneamente, surge a necessidade de
se introduzir na Força novos conceitos, capa-
zes de aprimorar e validar o adestramento das
equipagens. O uso de sistemas conhecidos
como “Instrumentação para o Treinamento de
Combate Aéreo” ou “Air Combat ManeuveringInstrumentation System” (ACMI), torna-se im-
prescindível, a fim de reconstituir, de modo fiel,
a nova e complexa arena de combate. Trata-se
de um conjunto de pods instalados nas asas
das aeronaves e uma instrumentação
rastreadora no solo, exibindo, em diversos
telões, diferentes apresentações do que está
ocorrendo “em combate”. A FAB passaria a ser
capaz de acompanhar e gravar treinamentos
de todos os tipos, inclusive simulando o lan-
çamento de mísseis, com um importante
ganho de operacionalidade.
Numa era em que o piloto de combate
passa a ser também um operador de sistemas,
o termo capacitação adquire real e amplo sig-
nificado e transcende a pura e simples habili-
dade na operação dos equipamentos.
Para desenvolver recursos humanos des-
te nível, deveremos incrementar o número de
cursos e intercâmbios operacionais. Nossas
Unidades Aéreas deverão participar de mais
operações com forças aéreas de países mais
bem equipados.
Internamente, talvez pudéssemos utilizar
os conhecimentos adquiridos pela Divisão de
Sistemas Bélicos do CTA, com o desenvolvi-
mento do MAA-1. Este “know-how” sobre o
desempenho de mísseis poderia ser aglutinado
em forma de cursos ou programas de simula-
ção.
Há muito a ser feito, e o esforço que o
COMGAR vem desenvolvendo, no sentido de
qualificar pilotos na área operacional, deverá
ser mantido e ampliado.
Somente desse modo, e com muito entu-
siasmo, seremos capazes de galgar o degrau
tecnológico que se formou entre a realidade
de hoje e a verdadeira operacionalidade que
buscamos para a FAB de amanhã.
Referências Bibliográficas[1] LORAL, Aeronutronic, “Sidewinder
Family of Missiles”, 32-22-4
[2] MATRA, “Magic 2” DMM nº 103,
Setembro 1985.
[3] RAFAEL, Armament Development Author-
ity, 30-83-024
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○34
Spectrum
Por muitos anos, a tomada de decisão
foi considerada uma arte pura, um ta
lento adquirido e devido unicamente
à experiência. No entanto, tomar decisões, hoje
em dia, é mais difícil por vários motivos, prin-
cipalmente porque devem ser tomadas rapi-
damente.[1]
A baixa periodicidade em
que nos vemos forçados a to-
mar decisões tão importantes
e tão urgentes é outro fato que
merece ser lembrado. Ao de-
legarmos o treinamento dos
tomadores de decisão à expe-
riência e ao estilo pessoal
estamos nos colocando numa
situação de dependência da
ocorrência de muitas situações
deste nível. Isto poderia funci-
onar em países acostumados a
guerras e conflitos, como Isra-
el e Estados Unidos (o que não
acontece), mas dificilmente
será o melhor modelo para o
Brasil. É necessário estar em
constante planejamento e trei-
namento em Comando e Con-
trole (C2) sobre cenários e situações ora reais,
ora simulados.[2]
Este planejamento continuado, decorren-
te das formulações de Hipóteses de Emprego,
levaria a um repensamento do modusoperandi. Estas concepções estariam em cons-
tante evolução e aquelas que se mostrassem
adequadas ganhariam força, vindo a compor
os planos.[3]
A estrutura de veiculação das informações
pode ser listada como mais um fator impor-
tante. Não se trata da infra-estrutura de redes
ou comunicações apenas, mas dos processos
envolvidos neste trâmite, políticas de seguran-
ça efetivamente implantadas e ativas, e tam-
bém a habilidade e motivação das pessoas em
Pronta Resposta – A Força Aérea Pré-Programada
Fernando Nogueira Ventura - Cap. Av. - Mestrando no INPE
utilizar corretamente esta estrutura. [4]
Por fim, aquela estrutura necessita que
haja um adequado tratamento aos dados, não
apenas para a Guerra Eletrônica, mas para to-
dos os processos gerenciais em todos os níveis
da corporação.[5]
Como vemos, idéias interessantes e, po-
demos concordar, indispensáveis para uma
Força Aérea no cenário de tendências em que
nos encontramos, não nos faltam. A conver-
gência destes conceitos, tendo como foco e
direcionamento o Comando e Controle e a
necessidade de pronta resposta a eventos de
crise, nos leva diretamente à Força Aérea pré-
progamada.
Figura 1 – Convergência de conceitos.
Força Aérea pré-programadaSistemas desenvolvidos recentemente,
como o DÉDALO, o AEROGRAF e a rede
TELESAT, nos permitem uma pequena visão das
possibilidades e, assim, podemos dizer que
estamos mais perto de realizar isto.
Estratificando o funcionamento desta nova
Força nos níveis de decisão, podemos identifi-
car, em cada um, alguns produtos que servi-
rão como padronização aos processos do ní-
vel imediatamente inferior e outros, como fa-
tores de planejamento do nível imediatamen-
te superior. A concepção formulada em deter-
minado nível pode ser vista como resultado
O Capitão Fernando NogueiraVentura é piloto de patrulha, con-cluiu o CFOAv em 1987 e encon-tra-se atualmente adido ao Cen-tro Técnico Aeroespacial. Possuicursos de guerra eletrônica noBrasil, na Inglaterra e na França,pós-graduação em análise e pro-jeto de sistemas (UNEB - Brasília)e está cursando mestrado emSensoriamento Remoto no Insti-tuto Nacional de Pesquisas Espa-ciais.
35
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
de uma soma da alimentação dos planejamen-
tos existentes às padronizações recebidas. A
análise do que foi formulado, através das fer-
ramentas adequadas a cada nível [6] leva a uma
validação. Esta, somada aos fatores de plane-
jamento recebidos, gera um novo planejamen-
to para o nível, sob a forma adequada confor-
me a tabela 1.
Tabela 1 – Níveis de Decisão e Produtos
ValidaçãoPor exemplo, a Diretriz formulada no ní-
vel político trará as padronizações de ação para
que, no nível estratégico, se possa formular
Hipóteses de Emprego, avaliados os planos de
emprego e cenários futuros existentes. Estas
Hipóteses balizarão a padronização de Cená-
rios Operacionais completos que, em cascata,
propiciará a formulação de Concepções de
Empregos.
Num fluxo inverso, exercícios simulados
e reais, realizados por Avaliação Operacional,
possibilitarão a validação de Modelos de Sis-
temas e Missões Pré-Planejadas, as quais for-
marão a base para o treinamento tático-
operacional. A conjunção destas missões em
uma ordem e em determinadas condições (va-
lidação) dos cenários comporá uma Campa-
nha Pré-Planejada e assim por diante, até que
tudo se resuma em opções de emprego da For-
ça em termos de Parâmetros Políticos de De-
cisão.
Quebra de ParadigmasSabemos que não há nada mais difícil de
se conseguir, mais perigoso de conduzir, ou
de êxito mais incerto do que liderar a introdu-
ção de uma nova ordem de coi-
sas. Com certeza, a implantação
deste novo jeito de conduzir as
atividades trará consigo a que-
bra de vários paradigmas exis-
tentes, em diversas áreas.
No planejamento, teremos
a mudança mais profunda e a
mais importante, da qual todas
as demais serão originadas. O
planejamento se fará a priori.Assim, dentro do ciclo de Co-
mando e Controle, conforme vis-
to na Figura 2, a decisão pode-
rá, ser tomada imediatamente,
uma vez que já se realizou a observação e a
orientação continuadamente. Sistemas como
o DÉDALO e o AEROGRAF passarão a ser fer-
ramentas do dia-a-dia. O emprego de simula-
ção e sistemas utilizando Técnicas de Cons-
trução de Cenários Futuros (TCCF) para auxí-
lio à decisão e à avaliação da doutrina e do
planejamento propiciará reduzir o tempo ne-
cessário à conclusão do ciclo de Comando e
Controle num ambiente de crise.
A formação acadêmica será direcionada
para um funcionamento moderno e integrado,
preparando o homem a trabalhar em um am-
biente de tecnologias e informações já desde
o início.
O treinamento operacional seguirá um
planejamento direcionado a missões e cam-
panhas pré-analisadas e aprovadas, atenden-
do especificamente às diretrizes políticas e hi-
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○36
Spectrum
póteses de emprego formuladas. Haverá utili-
zação extensa de jogos e simuladores. O trei-
namento baseado em um banco de missões e
campanhas planejadas e testadas previamente
garantirá a agilização do ciclo de Comando e
Controle, visando um nível satisfatório de exe-
cução, nas condições reais.
Na administração, haverá maior controle
dos parâmetros envolvidos na Guerra, previ-
sões mais realistas, sistemas de auxílio à deci-
são, alimentados com dados reais e
atualizados.
Na área de Ciência e Tecnologia, uso prá-
tico e otimizado da tecnologia, com foco na
eficiência em ambientes cada vez mais com-
plexos.
Em suma, a integração das funções cita-
das será o dia-a-dia. Pronta Resposta será o
dia-a-dia.
ConclusãoO desenvolvimento de ferramentas para
o planejamento e auxílio à decisão deve ser
concebido numa abordagem evolutiva [7]. As
necessidades quanto a parâmetros de entrada
e dados de saída destes sistemas poderão ser
melhor identificadas se for considerado o re-
lacionamento entre os níveis de decisão. Esse
relacionamento, dado a sua importância, me-
rece um estudo científico e aprofundado, a fim
de que um modelo possa ser estabelecido.
O preparo prévio, o emprego do conhe-
cimento de forma rápida e oportuna através
da moderna tecnologia da informação, e a su-
perioridade no Comando e Controle garantem
uma vantagem estratégica nos conflitos mo-
dernos, e possibilitam a verdadeira Pronta Res-
posta.
Referências
[1] Comando da Aeronáutica, “MCA 500-3 –
Comando e Controle na Guerra”, 17 de
março de 2000.
[2] Menezes, Delano T., “Planejando a
Guerra”, Revista Spectrum, agosto 2000.
[3] Ribeiro, Narcelio R., “O Impacto das
Concepções e Tecnologias no Preparo e
Emprego da Força Aérea Brasileira”,
Revista Spectrum, agosto 2000.
[4] Guimarães, Edson F. C., “Network Centric
Wafare (NCW) – Uma Revolução no
Campo de Batalha”, Revista Spectrum,
agosto 2000.
[5] Ventura, Fernando N., “Banco de dados
Corporativo – Base para a Guerra
Eletrônica”, Revista Spectrum, janeiro
2000.
[6] Corrêa, Francisco A. “A atividade de
auxílio à decisão no MAer, o papel do
C.T.A.”, São José dos Campos, Centro
Técnico Aeroespacial, 1997. (Monografia
do Curso de Gerência de Projetos).
[7] Corrêa, Francisco A.; Alves, Fábio D. P.,
“Sistemas de Auxílio à Decisão: Uma
Necessidade, Uma Realidade”, Revista
Spectrum, janeiro 2001.
Figura 2 – Ciclo de Comando e Controle
37
Spectrum
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
O Conceito de Pesquisa Operacional
APesquisa Operacional é uma ciência
aplicada voltada para a resolução de
problemas reais. Tendo como foco a
tomada de decisões, aplica conceitos e méto-
dos de outras áreas científicas para concep-
ção, planejamento ou operação de sistemas
para atingir seus objetivos.
Através de desenvolvimentos de base
quantitativa, a Pesquisa Operacional visa tam-
bém introduzir elementos de objetividade e
racionalidade nos processos de tomada de
decisão, sem descuidar no entanto dos elemen-
tos subjetivos e de enquadramento
organizacional que caracterizam os problemas.
A Pesquisa Operacional surgiu durante a
Segunda Guerra Mundial, quando os Aliados
se viram confrontados com problemas (de na-
tureza logística, tática e de estratégia militar)
de grande dimensão e complexidade. Para
apoiar os comandos operacionais na resolu-
ção desses problemas, foram então criados gru-
pos multidisciplinares de matemáticos, físicos,
engenheiros e cientistas sociais. Esses cientis-
tas não fizeram mais do que aplicar o método
científico, que tão bem conheciam, aos pro-
blemas que lhes foram sendo colocados. De-
senvolveram então a idéia de criar modelos
matemáticos, apoiados em dados e fatos, que
lhes permitissem perceber os problemas em
estudo e simular e avaliar o resultado hipotéti-
co de estratégias ou decisões alternativas.
O sucesso e credibilidade ganhos duran-
te a guerra foram tão grandes que, terminado
o conflito, esses grupos de cientistas e a sua
nova metodologia de abordagem dos proble-
mas se transferiram para as empresas que, com
o “boom” econômico que se seguiu, se viram
também confrontadas com problemas de de-
cisão de grande complexidade.
Seguiram-se então grandes desenvolvi-
A Pesquisa Operacional na Solução de Problemas da Força Aérea
mentos técnicos e metodológicos que hoje,
com o apoio de meios computacionais de cres-
cente capacidade e disseminação, nos permi-
tem trabalhar enormes volu-
mes de dados sobre as ativi-
dades das empresas e, através
de adequados modelos de
base quantitativa, simular e
avaliar linhas de ação alterna-
tivas e encontrar as soluções
que melhor servem aos obje-
tivos dos indivíduos ou orga-
nizações.
Face ao seu caráter
multidisciplinar, a Pesquisa
Operacional (PO) é uma dis-
ciplina científica de caracterís-
ticas horizontais com suas
contribuições estendendo-se
por praticamente todos os do-
mínios da atividade humana,
da Engenharia à Medicina, passando pela Eco-
nomia, pela Gestão Empresarial e pelas Ciên-
cias Militares.
Modelos MatemáticosO grande enfoque da PO é sem dúvida a
modelagem matemática de problemas reais. Os
modelos matemáticos são aproximações dos
processos encontrados na vida prática. A ver-
dade é que não existem modelos perfeitos, mas
sim uma tentativa de representarmos a reali-
dade de uma forma matematicamente tratável,
que nos permita tirar conclusões.
Nem sempre a complexidade de um mo-
delo é sinônimo de eficiência. Imagine se qui-
séssemos modelar fisicamente o lançamento
de um dado, a fim de prever o resultado. Po-
deríamos tomar a altura e o ângulo de lança-
mento, o momento de inércia, o coeficiente
de atrito, a resistência do ar, enfim, podería-
mos considerar uma série de fatores e obtería-
mos um modelo tão complexo que sua utili-
Davi Almeida Alcoforado, Cap.-Av. - Mestrando na UFRJ
O Cap. Davi Almeida Alcoforadoé piloto de caça, concluiu oCFOAv em 1989. Possui o cursode Guerra Eletrônica doCOMGAR e Simulação de Guer-ra Eletrônica na França (1993). Éespecialista em Telecomunica-ções pela Universidade Gama Fi-lho, e Mestrando em Engenhariade Produção, área de PesquisaOperacional (COPPE-UFRJ).
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Spectrum
zação seria inviável. Neste caso, um modelo
probabilístico seria muito mais simples e ade-
quado, produzindo bons resultados após um
certo número de lançamentos.
Porém, o objetivo de modelarmos proble-
mas em pesquisa operacional não se limita
apenas ao entendimento ou previsão de fenô-
menos, mas sim a acharmos a melhor solução
ou a chamada solução ótima de um proble-
ma, principalmente quando os recursos são
escassos. Para tornar mais claro o que vem a
ser uma modelagem, tomemos um exemplo
simplificado e hipotético a seguir:
Suponha que durante uma guerra um cer-
to comando aéreo necessita planejar missões
de ataque a alvos agrupados em três áreas dis-
tintas. As regiões onde encontram-se os alvos
foram caracterizadas por sua importância es-
tratégica e receberam uma pontuação que se
aplica ao contexto analisado. A tabela abaixo
mostra a pontuação, o consumo de combustí-
vel médio por missão até os alvos, bem como
o número de alvos contidos nessas três regi-
ões:
Suponha ainda que o comando só dispo-
nha de 1000 unidades de combustível para
empregar nesta campanha e que cada missão
seja alocada a um único alvo. Como deve ser
o planejamento das missões para que a pontu-
ação atingida seja a máxima?
De imediato percebemos que não se dis-
põe de combustível para atacar todos os al-
vos, e portanto é necessário determinarmos a
quantidade de alvos a serem atacados em cada
região, de forma que a pontuação final seja a
maior possível.
A modelagem matemática deste proble-
ma seria da seguinte forma:
1) variáveis de decisão: X1, X2, X3: re-
presentam a quantidade de alvos a serem
atacados em cada região, supondo o suces-
so da missão.
2) Função objetivo: maximizar 10X1 +
7X2 + 5X3, ou seja, o total de pontos obti-
dos deve ser o máximo possível.
3) Restrições: 85X1 + 60X2 + 40X3 <=
1000, ou seja, o total de combustível não
pode ultrapassar as 1000 unidades disponí-
veis.
- As variáveis de decisão não podem
ultrapassar a quantidade de alvos disponí-
veis em cada região: X1<=15; X2<=20 e
X3<=12;
- As variáveis de decisão não podem
ser negativas e devem ser números inteiros
(0, 1, 2 ...), ou seja, devem pertencer ao con-
junto dos números inteiros positivos (Z+),
pois não poderíamos atacar 4,337 ou 2,44
alvos, por exemplo.
Com esses passos conseguimos expri-
mir matematicamente o nosso problema:
Max W = 10X1 + 7X2 + 5X3
Sujeito a:
85X1 + 60X2 + 40X3 <= 1000
X1<=15; X2<=20 ;X3<=12;
X1, X2, X3 ∈ Z+
Este problema pode ser resolvido com
técnicas de programação inteira e a solu-
ção seria através de algoritmos de corte
(Gomory) ou de busca em árvore, conheci-
do como “branch and bound”, disponível
em softwares especializados em otimização,
como o CPLEX ou LINDO, por exemplo. A
solução ótima do problema acima é a se-
guinte:
4 alvos na região 1, 3 alvos na região 2
e 12 alvos na região 3 , ou seja, X1 = 4; X2
= 3 e X3 = 12, o que somaria um total de
121 pontos (W = 121).
Podemos observar que a nossa intuição
Região Nº Alvos Consumo Pontuação
disponíveis
1 15 85 unidades 10
2 20 60 unidades 7
3 12 40 unidades 5
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para resolver um problema simples como
este poderia nos levar a soluções possíveis,
porém não necessariamente ótimas. Este
fato, quando levado para problemas reais
de grande porte pode nos levar a tomar de-
cisões muito aquém da melhor solução pos-
sível. É justamente através dessas diferen-
ças que ocorrem grandes economias, ou um
considerável incremento na eficiência de
um processo. O problema das soluções
empíricas é que não se tem noção de quan-
to uma atividade poderia ser melhorada.
A fim de tornar o modelo acima mais
real, poderíamos incluir a probabilidade
do alvo ser atacado com sucesso, a
probabilidade do atacante ser in-
terceptado, probabilidade de
abortar, enfim, cada mo-
delo deve ser desen-
volvido de acor-
do com as neces-
sidades impostas
por um determi-
nado cenár io,
seja numa guer-
ra, seja num am-
biente de negó-
cios.
Embora a capacidade
computacional hoje disponível
seja absurdamente grande, se comparada
com a existente há 20 anos atrás, muitos
problemas reais não possuem soluções óti-
mas exatas, mas sim sub-ótimas, justamen-
te por restrições computacionais. Estas so-
luções quase ótimas são obtidas através das
chamadas heurísticas, que podem ser con-
sideradas “algoritmos aproximados”, pois os
algoritmos exatos utilizados para a obten-
ção da solução ótima levariam séculos para
resolver certos problemas com a capacida-
de computacional hoje disponível.
AplicaçõesA Força Aérea, por sua natureza extre-
mamente complexa, constitui-se em um vasto
campo para o emprego das técnicas de pes-
quisa operacional, com inúmeras possibilida-
des, onde a visualização do emprego vai de-
pender da experiência operacional vivida por
aqueles que entrarem em contato com a área
de PO. Este tópico destina-se a dar uma idéia
dessas possibilidades.
1) Avaliação operacional de sistemas: utilizado
para o levantamento da capacidade
operacional de sistemas adquiridos pela
Força, constituindo-se em uma ferramenta
importante para se conhecer a fundo as
capacidades, deficiências e planejar a
substituição desses sistemas.
2) Avaliação e desenvolvimento de táticas: o
conhecimento profundo dos sistemas,
como descrito acima, leva ao
desenvolvimento da melhor tática para
utilizá-lo. As técnicas de PO também
possibilitam que as táticas sejam validadas
com base científica.
©Embraer
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○40
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3) Emprego da Força: alocação ótima dos
meios disponíveis; avaliação da eficiência
de pilotos; análise de danos; análise de
estratégias; problemas de caminho mínimo
para o esclarecimento de contatos;
planejamento de missões; problemas de
roteamento ótimo para aumentar a
sobrevivência e outros.
4) Logística: otimização de problemas de
transporte; problemas de localização de
depósitos de suprimento e parques de
manutenção, problemas de alocação de
máquinas a tarefas; problemas de corte em
chapas, de modo a minimizar o desperdício;
modelos de estoque.
Os diversos tipos de problemas que en-
volvem a pesquisa operacional são resolvi-
dos, de acordo com a necessidade, por uma
vasta base teórica, como por exemplo: pro-
gramação linear, programação inteira, simu-
lação, teoria de filas, grafos, processos
estocásticos e modelagem estatística, dentre
outras. Estas disciplinas são estudadas a fun-
do em cursos de pós-graduação com enfoque
em pesquisa operacional, muitas vezes in-
seridos em programas de engenharia de sis-
temas, engenharia de produção, economia
ou administração. Porém, para resolver os
problemas acima mencionados, é necessá-
rio, além da base teórica, a formação de uma
grande equipe, a fim de consolidar a experi-
ência necessária para lidar com modelos
complexos, envolvendo não só profissionais
de pesquisa operacional, como também es-
pecialistas nas áreas a serem estudadas.
ConclusãoToda organização pode conduzir o seu
processo decisório com bases quantitativas.
Isto não significa que o decisor deva acatar
as soluções propostas por modelos matemá-
ticos, mas permitirá dar ciência do custo que
a sua decisão estará impondo a um determi-
nado processo. Muitas vezes a solução óti-
ma sugere o fechamento de fábricas, agên-
cias bancárias, bases de apoio, e o custo so-
cial de decisões como estas é muito grande.
Cabe portanto ao gerente examinar as variá-
veis subjetivas, não menos importantes, mas
difíceis de serem avaliadas num modelo ma-
temático, para tomar a decisão final.
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No atual cenário mundial, para que
uma estrutura militar possa manter-
se numa situação vantajosa no am-
biente em que opera, é fundamental que aten-
da a requisitos como capacidade de aprimo-
ramento contínuo, adaptação e inovação, bem
como confiabilidade e rapidez de resposta.
Estratégias militares bem sucedidas depen-
dem cada vez mais da informação e dos pro-
cessos de obter a informação certa, colocá-la
num formato adequado, e fazê-la chegar onde
ela é necessária de forma tempestiva.
Durante o curso de uma operação militar -
seja ela de vigilância, guerra eletrônica, combate
aéreo etc. - o ciclo de Comando e Controle (ob-
servar, orientar, decidir e agir) ocorre continua-
mente. A tomada de decisão consciente e basea-
da em informações e conhecimentos precisos,
completos e relevantes é um requisito importante
para o sucesso de todas essas operações.
O volume de informações disponíveis para
servir de fundamento para funções de planeja-
mento, direção, coordenação e controle no âm-
bito das Forças Armadas tende a crescer consi-
deravelmente, em conseqüência principalmen-
te da evolução tecnológica nas áreas de teleco-
municações e informática, que surge acompa-
nhada de uma significativa redução no custo de
obtenção, armazenamento e disponibilização de
dados, informações e conhecimentos.
Nesse contexto, o adequado gerenciamento
da informação - de forma a tornar eficiente o seu
uso, processamento e aplicação - assume um
papel fundamental na preparação da Força Aé-
rea Brasileira para atuar nos cenários de guerra,
conflito ou crise contemporâneos.
Um requisito fundamental para que ocor-
ra o uso eficiente da informação pelos
tomadores de decisão é, obviamente, a exis-
tência de uma base de dados válida e não cor-
rompida. A qualidade dos dados disponíveis
afeta diretamente a validade das conclusões
obtidas da sua análise, e uma tecnologia
O Uso de Data Mining nas Forças Armadas
Adriana Beal, Engenheira Eletrônica - Vydia TecnologiaEdson Fernando da Costa Guimarães, Cap.-Av. - COMGAR
emergente que tem assumido o papel de com-
ponente-chave na obtenção de uma base de da-
dos íntegra e confiável é o data warehousing.
Esse tipo de sistema, que tem
sido influenciado significativa-
mente pelos constantes avanços
na tecnologia de hardware e
software, viabiliza o processo de
extração e transformação de
dados operacionais em informa-
ções estruturadas, armazenadas
em um repositório central de da-
dos, ou warehouse.
Mas apenas armazenar in-
formações em um datawarehouse, mesmo que de for-
ma bastante organizada e con-
sistente, não representa um
avanço muito significativo. Re-
tirar a informação contida no
data warehouse é o que permi-
te às organizações obter benefí-
cios palpáveis [1], e a tecnologia
de data mining é atualmente
uma das melhores formas de se
extrair tendências e padrões
existentes em um volume extre-
mamente grande de dados.
Embora o data miningainda esteja dando os seus pri-
meiros passos, empresas de
várias áreas - incluindo o va-
rejo, finanças, medicina, in-
dústria e aeronáutica - já utili-
zam ferramentas e técnicas de
data mining para beneficiar-se
dos conhecimentos escondi-
dos nos dados históricos arma-
zenados internamente ou adquiridos de outras
organizações. [2] Usando tecnologias de reco-
nhecimento de padrões e técnicas matemáti-
cas e estatísticas para garimpar dados no datawarehouse, o data mining auxilia analistas a re-
O Capitão Edson Fernando da Cos-ta Guimarães é piloto de transporte,concluiu o CFOAv em 1990 e exer-ce atualmente a função de adjuntoà Seção de Desenvolvimento deRecursos Humanos do Centro deGuerra Eletrônica do COMGAR(CGEGAR). Possui cursos de Guer-ra Eletrônica no Brasil e na França,pós-graduação em análise e projetode sistemas (GFI/UNB - Brasília) emestrado em Engenharia de Siste-mas de Guerra Eletrônica na NavalPostgraduate School (EUA).
Adriana Beal é graduada em Enge-nharia Elétrica pela Universidade deBrasília, e especialista em auditoriade Tecnologia da Informação. É au-tora do livro “Manual de Tecnologiada Informação para Gerentes” eexerce atualmente a função de con-sultora nas áreas de gestão estraté-gica da T.I. e segurança da informa-ção na Vydia Tecnologia.
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○42
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conhecer fatos, relacionamentos, tendências,
padrões, exceções e anomalias significativas, que
de outra forma poderiam passar despercebidos.
No que tange à infraestrutura tecnológica
exigida, são encontradas no mercado soluções
de data mining para sistemas baseados nas mais
diversas plataformas, como mainframe, clien-
te/servidor e PC, sendo que seu tamanho, ca-
pacidade de processamento, e, conseqüente-
mente preço, estão diretamente relacionados
à dimensão da base de dados a ser pesquisada,
e à quantidade e complexidade das consultas
a serem realizadas.
As possibilidades de emprego militar das
técnicas de data mining são inúmeras, desde a
detecção de intrusos em sistemas
informatizados nas formas defensivas de
Information Warfare, até a solução de ambi-
güidades em grandes bancos de dados de si-
nais eletrônicos, capturados por plataformas
multisensoriais realizando missões de SIGINT
(Inteligência de Sinais) e COMINT (Inteligên-
cia de Comunicações).
Sistemas informatizados baseados em re-
des têm sido cada vez mais utilizados pelas
Forças Armadas, tornando-se alvos da ativida-
de de intrusos. Para proteger grandes redes,
podem ser utilizados Sistemas de Detecção de
Intrusos (IDS), baseados em grandes arquivos
de auditoria que registram todas as operações
realizadas no sistema. Com o uso de datamining, é possível detectar padrões de com-
portamento de intrusos e diferenciá-los das ati-
vidades consideradas normais. A idéia é utili-
zar técnicas de data mining para extrair carac-
terísticas que descrevem cada conexão da rede,
e aplicar programas de mineração de dados
para se determinar regras que possam identifi-
car a ação de intrusos. [3]
Uma aplicação importante das técnicas de
data mining na área militar consiste na geração de
conhecimento útil às Forças Armadas, extraído de
gigantescas bases de dados, ou data warehouses.
Com a entrada em operação de plataformas equi-
padas com sensores em diversas faixas do espectro
eletromagnético, com capacidade de coleta de si-
nais desde as faixas de comunicações estratégicas
(HF - High Frequency - de 3 a 30 MHz), passando
pelos sinais de radares (microondas, já na faixa de
gigahertz), até a faixa próxima ao visível dos sensores
termais (infravermelho); torna-se imprescindível a
sistematização do tratamento da enorme quanti-
dade de dados coletados. Para se extrair uma infor-
mação de interesse militar, “escondida” no meio
de terabytes de dados, é de extrema importância a
utilização de eficientes técnicas de data mining, de
forma a abreviar o tempo entre a observação e a
orientação no ciclo de comando e controle.
Como visto, a aplicação de técnicas de datamining pode oferecer benefícios tangíveis às orga-
nizações militares, e o uso de tecnologias e ferra-
mentas voltadas para o tratamento e garimpagem
dos significativos volumes de dados encontrados
nas mais variadas fontes internas e externas, em
busca do conhecimento útil para cada situação es-
pecífica, pode representar a diferença entre o su-
cesso e o fracasso de uma operação militar, qual-
quer que seja a sua natureza. As técnicas de datamining atualmente disponíveis oferecem oportu-
nidades sem precedentes para que os dirigentes das
Forças Armadas tenham à sua disposição informa-
ções e conhecimentos precisos, completos e rele-
vantes para fundamentar a tomada de decisão e
garantir o êxito de suas operações.
Bibliografia:[1] Davenport, Tom; “From Data to Knowl-
edge”; CIO Magazine; Abril 1999
[2] _______;“Discovering hidden value inyour data warehouse”; Pilot Software;
White Papers; http://www.pilotsw.com/
news/data_white.htm
[3] Lee, Wenke et al; “A Data Mining Frame-work for Building Intrusion DetectionModels”; IEEE proceedings; S&P; 1999
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Geral
O EL/M-2106NG é um radar de defesa deponto de quarta geração, incorporandocaracterísticas avançadas baseadas em trintaanos de experiência da ELTA em radaresmilitares, capaz de detectar qualquerpotencial ameaça aérea, mesmo helicópterosem vôo pairado, provendo vigilância aéreaconfiável.
Este radar é capaz de diferenciar aeronaves deasa fixa de helicópteros, e ainda classificarhelicópteros de acordo com a reflexão de seusrotores principais.
O EL/M-2106NG é um radar móvel compacto,desenhado para apoiar o gerenciamento desistemas de armas superfície-ar, tantodiretamente como através de um centro deComando e Controle, fornecendo designaçõesprecisas de alvos e podendo, também,participar na alocação de alvos para váriossistemas de armas, incluindo soldados commísseis de ombro.
EL/M-2106NGAir Defense Search Radar (ADSR)
Características
• Detecção automática de alvos aéreos• Modo TWS (Track-While-Scan) para até 60 alvos• Operação 24 horas por dia sob quaisquer
condições meteorológicas• Discriminação e classificação de ameaças• Interoperabilidade com sistemas de armas
superfície-ar• “Built-in-tests” abrangentes, alta “MTBF”
e baixa “MTTR”• Unidades de Controle e “diplays” de fácil
operação, baseados em PC• Uso de fontes de energia padronizadas• Emprego fácil e rápido• Interfaces flexíveis padronizadas
Aplicações
• Defesa Aérea de ponto para unidadesmilitares móveis
• Proteção de áreas sensíveis• Complementação de cobertura em
sistemas de defesa aérea• Apoio a sistemas de armas superfície-ar
Consult – Aero – Serviços de Consultoria S/C Ltda.Rua da Assembléia, 10 Gr 3408
20119-900 Rio de Janeiro RJ BrasilTel (0xx21) 531 1155 Fax (0xx21) 531 1515
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