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1
SÃO PAULO ENTRE IDENTIDADES E SIGNOS:
O cordel e outras representações em territórios culturais
Elis Regina Barbosa Angelo1
“Quando termina a Praça da Sé e começa a Rua Direita com a 15 de Novembro, n as noites de sábado e
domingo, sanfonas, pandeiros, bumbo dão suas afinadas finais, para começar um grande forró. Na
maioria das vezes são dois ou três grupos a pequenas distâncias e, em volta, começando a chegar, já
caindo num envolvimento de bailado, cadência, balançar, são eles e elas, “parecendo que são do
Nordeste”, uma aparência de que a semana foi dura, de que a saudade foi pura, de que este forró venha
a prolongar esta pureza, que não está lá, porque São Paulo, é grande, é preciso ficar, porque l á há
dureza de ganhar o pão, há falta deste, eu duramente tem que ficar nesta grandeza de cidade.” Marcos
Magno da Gama – escritor
Introdução
As representações culturais do povo nordestino formam uma alegoria de
símbolos e sentidos dados ao longo do tempo por inúmeras questões de “invenção”,
como menciona Albuquerque Júnior: “Falar e ver a nação ou a região não é, a rigor,
espelhar estas realidades, mas criá-las. 2
Em outros territórios, nos quais as referências caminham com os processos
migratórios e novamente se inventam como São Paulo, percebem-se referências e
representações da cultura popular e sentidos, significados produzidos sobre esses grupos
que ora se diferenciam por meio das peculiaridades por cidade/estado, ora se juntam por
meio da “imagem” produzida do nordestino3alegoricamente4 representado em conceitos
e preconceitos sobre essa imagem.
Nessa formação do conceito pela imagem projetada, pode-se dizer que, os
mecanismos de criação e representação do espaço, condensado na idéia de identificação,
vão corroborando para o entendimento do que é o território cultural e a noção de
1 Doutora em História. Professora do Departamento de Administração e Turismo- DAT/IM e Professora
do Programa de Pós Graduação em Patrimônio Cultura e Sociedade/IM- UFRRJ. Pesquisadora do LEER-
Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação – USP. Linha 1: Núcleo de estudos
populacionais- Linha de Pesquisa Etnicidade e Pesquisadora do grupo NUPAM- Núcleo de Patrimônio,
Arquitetura e Memória Fluminense. Linha: e do PPGPACS: Linha 1: Patrimônio Cultural: Identidades e
Sociedade. 2 ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes. pp. 25 e 26. 3 Na obra de Durval Muniz de Albuquerque Junior, A invenção do Nordeste e outras artes, tem-se uma 4 Nesse caso, a alegoria diz respeito ao que se pretende conceber como representação do lugar
imageticamente e conceitualmente, corroborando com a leitura da produção artística e cultural realizada
sobre o Nordeste ao longo do século XX, na concepção de Durval Muniz de Albuquerque Junior em A
Invenção do “Nordeste”.
2
concepção de identidade, especialmente permeada pela idéia de região5. Esse território,
comprometendo-se com a imagem coletiva mantenedora de “identidades do povo
nordestino”, onde se recria a comida, por meio da gastronomia, - tipicamente
nordestina-, a zelar pelos sabores, as cores e os sentidos de criação dos pratos, das
lembranças olfativas e dos sentidos da memória.
Nesse compasso, os sujeitos que produzem sentidos corroboram com a imagem
formada de nordestino, onde há diferenças de sonoridades, sensações, cores e sabores,
além das pessoas e suas identificações. Essa é uma das críticas de Albuquerque Junior
em “Invenção do Nordeste” e toda sua colaboração na cristalização de “referências
imagéticas”. Traz também a ideia de lugar, produzindo ou recriando a ambientação do
“ser” e “estar” no nordeste, a fim de criar laços de pertencimento nesse novo lugar, a
cidade, que inclui também a arte popular, o artesanato, a música, a dança, os cheios e
mesmo a moda.
Neste contexto de multiplicação da história e memória do “ser nordestino” fora
do seu espaço de criação do lugar, a cidade de São Paulo, exponencialmente uma das
maiores em números de nordestinos fora do nordeste, acaba com a idéia de
pertencimento dos migrantes que saíram de sua terra em busca de novas oportunidades
na cidade.
Pode-se dizer que, como se transformou numa das maiores concentrações de
migrantes, seja na formação de espaços e territórios como o bairro de Santo Amaro na
atualidade, em especial o Lago Treze de Maio, pela concentração de lojas e comércio de
produtos nordestinos, seja por incentivos à cultura, como a formação e fundação cultural
da biblioteca Belmonte, ao buscarem de certa forma, retratar a literatura, os objetos e
saberes do povo, fornecem elementos de análise sobre as representações e a própria
idéia de manutenção das referências como “cordel”, “arte popular”, entre outros.
Em especial as relações do povo nordestino em territórios distintos, seja pelo
apego ao folclore, por ser um elo que intenta integrar o povo dentro do processo de
5 “A região é produto de uma batalha, é uma segmentação surgida no espaço dos litigantes. As regiões são
aproveitamentos estratégicos diferenciados do espaço. Na luta pela posse do espaço ele se fraciona, se
divide em quinhões diferentes para os diversos vencedores e vencidos; assim, a região é o botim de uma
guerra.” ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz de. A invenção do Nordeste e outras artes, pp. 25 e
26.
3
“invenção” regional. No discurso tradicionalista nordestino, o folclore tinha função
disciplinar, com uso dos hábitos e costumes, por meio de códigos sociais. Essa relação
do folclore, percebida em obras relevantes como Gilberto Freyre e de Ariano Suassuna
postulavam essa idéia.
Assim, pode-se dizer que, nessa investigação, concentram-se esforços na leitura
da formação dos territórios nordestinos do cordel, compreendidos na cidade de São
Paulo e reconhecidos pela população paulistana na formação da múltipla e integradora
metrópole. Dessas relações, especialmente focalizando a Biblioteca Belmonte e o
Centro de Tradições Nordestinas, além da idéia de criação de espaços volantes, como a
República do Cordel, que conta com a itinerante relação dos cordelistas na Praça da
República,6 vão somando-se novas formas de interação e afinamento com a literatura de
cordel enquanto instrumento de ação e de reivindicação, com a população nordestina e
seus descendentes que anseiam pela representação de si no território escolhido para
viverem.
Os visitantes desses territórios culturais7, lugares e espaços, entre turistas e
moradores das cidades e regiões, ao entenderem sua aproximação com a memória
efetivada nos recantos criados, possuem de certa forma, uma ligação com a história de
seus antepassados, parentes e amigos, além da sua representação de lugar.
Dessa forma, demonstram apreço e identificação com as referências da memória
nordestina observada nos sabores, imagens, símbolos, sentidos e saberes à relação dos
espaços e, em especial às fronteiras da vida cotidiana, corroborando muitas vezes com o
sentido de pertencer a uma terra, uma gente e uma sintonia que somente os “seus”
poderiam entender.
Essa perspectiva de reconhecimento dos sentidos que os objetos e instrumentos
de memória possuem para a história, fundamenta-se na relação estritamente concebida
pelos objetos de memória, pois, nesse discurso, faz parte da formação dos sujeitos na
história, buscando perceber os sujeitos inscritos nesse novo espaço/território e sua
interação com as questões da memória, do passado, presente e futuro das representações
identitárias.
6 Foi criada a República do Cordel em 2017 com o intuito de agrupar os cordelistas nas praças e devolver
um pouco do glamour de suas histórias e expressões tipicamente nordestinas. 7 Discussão do conceito de territórios culturais do Nordeste fora dele. ANGELO & BARROS (2017).
4
No bairro do Limão, em São Paulo, o CTN – Centro de Tradições Nordestinas
similarmente se alinha à formação de território cultural com a apropriação de temas,
cores, sabores e sonoridades que corroboram para a identificação com o Nordeste. A
relação do espaço criado com a finalidade de “pertencer” modela os sujeitos e suas
práticas e criam representações da cultura popular. Assim, recriam-se ambientes e
semelhanças que por meio do entretenimento forjam relações com os lugares de
memória dos nordestinos da cidade grande, seja por meio da musicalidade, das
sonoridades, da ambientação ou do “show”, as representações de alegria e de seleção de
objetos de memória, estão presentes.
Na perspectiva de Pierre Nora, os lugares se formam tanto da intenção em
manter viva a imagem quanto da seleção de uma organização voluntária, intencional e
seletiva. A memória só vive por meio dos objetos que a referencia (NORA, 1993). Os
lugares de memória nascem de um sentido formado a partir do conceito de que não há
memória espontânea, considerando a necessidade que se têm em acumular vestígios,
testemunhos, documentos sobre o passado, entre muitos outros elementos capazes de
formar provas e registros do passado.
Esses lugares de memória, passam a ter a ideia de reivindicação do direito de
“cultivar” suas memórias (RIOS; RAMOS, 2010), e, a necessidade de mostrar aos
“seus”, quem “é” ou quem “são” os símbolos, imagens, pessoas e lugares que
identificam a cultura nordestina. No caso dos outros territórios, as cidades e os
territórios construídos com o intuito cultural, mantém um elo de pertencimento e
identificação com as cidades que fazem parte do universo simbólico nordestino, ou seja,
de onde vieram, pois, “(...) para além dos objetos em si, com vistas a inseri-los no
mundo que os cercam, reconhecendo sua historicidade, suas relações com contextos
sociais específicos” (JULIÃO, 2006, p.95).
Essa escolha dos lugares e territórios de memória e suas contextualizações e
experiências, referem-se de certa forma, ao universo de símbolos agregados ao ser, que
passa pela discriminação, distinção e mesmo orgulho, dependendo da forma com que é
feita a leitura.
Na atual conjuntura, os objetos/pessoas/memórias e lugares passam a ter uma
valorização diferente, passam a ser parte de um movimento de identificação e recriação
5
de territórios culturais, pois, a formação do patrimônio vislumbrado na relação de
criação e aceitação, passam a obter o que realmente faz sentido: o sujeito e sua
identificação. Assim, a literatura de cordel e seus territórios vão sendo compreendidas
como identidades populares onde sujeitos, objetos e memórias condensam-se em
patrimônios do povo. Como mencionado por Bourdieu (1998), a simbologia depende de
quem lhe atribui o valor.
1 São Paulo e seus territórios: Da “Nordestinidade” às expressões do povo no
Centro de Tradições Nordestinas, nas ruas e na Biblioteca Belmonte
“Os migrantes eram colocados na boléia dos caminhões onde se
sentavam em bancos de madeira. Para se apoiar, seguravam-se em
tábuas (como se fossem barras) colocadas à frente de cada banco. Daí
utilizar-se o termo “pau-de-arara” em analogia à maneira como essa
ave se apoia para dormir. Durante o dia, sob sol ou sob chuva, à
noite, cobertos por uma lona, os nordestinos viajavam durante muitos
dias para chegar à cidade grande e “ganhar a vida”8
A chegada do nordestino na cidade de São Paulo não necessariamente foi
articulada num lugar específico, como a maior concentração em São Cristóvão no Rio
de Janeiro. Os motivos maiores de atração e repulsão são tidos como formas de trazer
novos sujeitos que comporão os diversos espaços e formarão territórios de grupos e de
sentidos.
O Nordeste do país tem um histórico de repulsão9 calçado pela pobreza, seca e
outras motivações que o transformou num dos pólos de maior repulsão do país, haja
vista seus inúmeros quantitativos de saídas. Na contrapartida, os maiores pólos de
atração diziam respeito às maiores cidades na décadas de 1930 a 1980, período em que
as indústrias e o crescimento eram algo importantes para a economia do Brasil. São
Paulo tinha um slogan”a cidade que mais cresce no mundo”, isso favorecia os
8 ANDRIGUETTI, Nordeste: Mito ou Realidade, pg. 111. 9 “Sobrando mão-de-obra no Nordeste e faltando em outras regiões onde as necessidades do capital
determinam a demanda de mão-de-obra, o nordestino partia, não por uma opção livre e consciente e nem
por uma escolha deliberada, mas sim, para sobreviver. Porém, foram “dirigidos” e orientados, por força
de arranjos institucionais. A força de atração constituía em traição, isto é, já partiam traídos como mão-
de-obra barata nas ardiduras do capitalismo.”GALHARDO, Soledad. Os conterrâneos nordestinos na
metrópole de São Paulo: seus símbolos, sua memória e seus mitos. Anais do Trabalho apresentado no
III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, realizado entre os dias 23 a 25
de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBa, Salvador-Bahia-Brasil. p.03.
6
deslocamentos oriundos da necessidade de mão de obra, tanto nacional quanto
internacional, movimento que atraia migrantes e imigrantes à cidade.
A organização espacial teve êxito em Santo Amaro, especialmente pelo
comércio de produtos nordestinos no Largo Treze de maio, onde, nas proximidades do
terminal rodoviário, conservou uma organização com característicos do Nordeste em
São Paulo.10
Todavia, não elegeram um bairro para viver como outros grupos de migrantes e
imigrantes, estão pela cidade toda, onde tiveram êxito pessoal e particular no âmbito da
grande metrópole. Numerosos foram os contingentes migratórios para a metrópole e
para cidades do Estado entre os nos de 1930 a 1980, com continuidades posteriores e
também com retornos atualmente percebidos nos deslocamentos pelo país.
Atualmente se percebe um numeroso quantitativo de nordestinos e seus
descendente na cidade, localizados em sua diversidade espacial, com territórios
específicos como o Centro de Tradições Nordestinas, considerado um dos pontos de
encontro do entretenimento e do lazer na cidade e o Largo Treze de maio em Santo
Amaro, um dos pontos de vendas de produtos nordestinos.
Imagem 1: Distribuição percentual da população de 30 a 60 anos de idade, residente
na Região Metropolitana de São Paulo, por naturalidade
Fonte: PNAD 2009/IBGE (Elaboração Ipea)
10 “Santo Amaro chegou a ser o maior polo industrial de São Paulo, hoje é o segundo, até não ter mais
para onde crescer. Com isso, toda a região e seu entorno viraram um grande atrativo para o mercado de
trabalho, constituído principalmente de migrantes nordestinos a partir da década de 50, que também
intensificaram o comércio no bairro. Atualmente é o mais importante centro da região sul e abriga um dos
maiores pontos de comércio popular, o Largo 13 de Maio.” ESTADÃO, Santo Amaro, a cidade que
virou bairro industrial de São Paulo. O Estado de S. Paulo. 11 Dezembro 2014. 10h19. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,santo-amaro-a-cidade-que-virou-bairro-industrial-de-sao-
paulo,1603903 >. Acesso em 10/02/2017.
7
Pelas pesquisas desenvolvidas pelo IPEA em 201111, cerca de 45% da população
paulistana se compõe de nordestinos e seus descendentes. Em Santo Amaro, o comércio
popularizado merece atenção, pois, traz elementos que demandam um território do
nordestino, seja nas cores, nos sabores e nos sentidos dados a esses objetos. No entorno
do terminal Santo Amaro se concentram lojas em diversidade de produtos oriundos dos
nove estados, tendo o Ceará como um dos mais procurados pelo gosto do consumidor
local. Além dessas lojas estão os restaurantes na região, procurados pelo sentido que
tem com os estados nordestinos.
Além desse reconhecido território, encontram-se movimentos culturais
populares, que se atem à cultura popular nordestina:
Em 2003 foi inaugurado o Núcleo de Cultura Popular e Repente de
Viola, na Biblioteca Belmonte. Este núcleo foi organizado pela
comunidade formada por artistas da cultura popular nordestina,
poetas cordelistas, repentistas, compositores, apreciadores da cultura
popular, além da importantíssima participação da coordenadora da
biblioteca que incentivou a criação do núcleo, cedendo espaço e
organizando recursos humanos e estrutura para o projeto.12
As atividades como biblioteca temática em cultura popular realizam diversas
atividades que abraçam os âmbitos entre o popular, a tradição a devoção e a diversão, a
comida, a feira e muitos outros atrativos que demandam não somente os signos do
nordestino, mas as representações do povo.
O acervo possui uma diversidade de objetos, cordéis, quadros, livros, periódicos,
jornais, arte popular em cerâmica, artesanato popular, entre muitas representações
populares dos nove estados que compõe o Nordeste brasileiro.
11 IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Perfil dos migrantes em São Paulo. Comunicado do
IPEA. São Paulo: Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 06 de outubro de
2011. 12 Texto sobre o projeto da biblioteca e das atividades sobre cultura popular. “Participaram deste
movimento os escritores Jorge Mello,César Obeid, Moreira de Acopiara,os repentistas Adão Fernandes e
João Doto, Luzivam Matias e Sebastião Marinho, o Mestre em bonecos de Mamulengo Valdeck de
Garanhuns,dentre outros. Além de produzirem oficinas de xilogravura, cantoria pé de parede, oficinas de
cordel, desafios de repente, emboladas, os integrantes do Núcleo iniciaram, por meio de doações a
formação do acervo especializado em cordel e cultura popular. Realizaram também o Concurso de
Literatura de Cordel, que contou com participantes de norte a sul do país.” Jomar J. Santos –
Coordenador. Texto enviado em 19/05/2017 por email.
8
Imagem 2: Biblioteca Belmonte
Fonte: Acervo da Biblioteca, 2017.
O bairro já faz parte do imaginário dos nordestinos da cidade, reduto de
comercio de Santo Amaro, fazendo parte da história de mobilidade e de transformação
dos espaços pelos migrantes. Dos territórios culturais compostos pelos nordestinos em
São Paulo tanto o CTN quanto a biblioteca Belmonte se sobressaem pela quantidade de
atrações, pelo público alcançado e pela diversidade de elos com a terra natal.
A biblioteca conta com acervo e atividades diversificadas para o público em
geral e foi criada:
(...) com a idéia de disseminar a cultura popular no bairro, este
coletivo criou em 2003, o Núcleo de Cultura Popular da Biblioteca
Belmonte. Participaram deste movimento os escritores Jorge
Mello,César Obeid, Moreira de Acopiara,os repentistas Adão
Fernandes e João Doto, Luzivam Matias e Sebastião Marinho, o
Mestre em bonecos de Mamulengo Valdeck de Garanhuns,dentre
outros. Além de produzirem oficinas de xilogravura, cantoria pé de
parede, oficinas de cordel, desafios de repente, emboladas, os
integrantes do Núcleo iniciaram, por meio de doações a formação do
acervo especializado em cordel e cultura popular. Realizaram
também o Concurso de Literatura de Cordel, que contou com
participantes de norte a sul do país. Em 2005, por conta de um
projeto do Sistema Municipal de Biblioteca de Criação de bibliotecas
temáticas, e respeitando a vocação natural do bairro e o destaque da
Biblioteca Belmonte, haja vista o sucesso do trabalho do Núcleo, a
mesma foi escolhida para ser temática em cultura popular. Em 4 de
agosto de 2007 foi inaugurada a Sala temática de Cultura popular, a
9
Biblioteca Belmonte tornara-se a partir daí, a segunda biblioteca
temática da cidade. A primeira biblioteca temática em Cultura
popular do país.13
Na biblioteca além da concepção e organização do acervo, conta com
participantes do entorno, a fim de disseminar e manter a cultura popular como pano de
fundo, promovendo oficinas, concursos, cursos, atividades de sociabilidade e interação
com a comunidade de coparticipantes e de produtores de saberes da cultura nordestina,
como repentistas, cordelistas, mestre de bonecos mamulengos entre outros. Das ruas
comerciais e pontos de encontro dos nordestinos estão:
No largo da Concórdia, na cidade de São Paulo, concentram-se
muitas lojas de discos de músicas nordestinas, ponto de
encontro de produtores de canções e literatura de cordel;
armazéns de comidas e ingredientes vindos de todas as regiões
do Nordeste como carne de sol, manteiga de garrafa,
condimentos, pinga, pimenta, feijão de corda, rapadura, que se
misturam às selas, às sandálias de couro, ao gibão, às ervas, aos
remédios da terra, e outros signos nordestinos, expostos à
poluição da cidade. Nos últimos anos, muitas casas
“nordestinas”, tais como a Patativa, Danado de Bom, Remelexo
e Centro de Tradições Nordestinas, este coligado à Rádio Atual,
foram instaladas em São Paulo, lugares de lazer, e
entretenimento e culinária. 14
Tanto o Largo da Concórdia quanto o largo Treze de Maio encontram-se
símbolos e comércio dos produtos oriundos do Nordeste, acabam sendo transformados
em “lugares” dos sabores, saberes e sentidos na cidade.
Outro símbolo do nordestino na cidade é o CTN- Centro de Tradições
Nordestinas, que vem trazer uma relação singular enquanto território do lazer, cultura e
entretenimento para os nordestinos e seus descendentes além de ser um dos atrativos da
cidade.
O Centro de Tradições Nordestinas
13 Proposta do projeto enviada pelo senhor Jomar . Dados referem-se à concepção e aos espaços criados
na biblioteca. 14 GALHARDO, Soledad. Os conterrâneos nordestinos na metrópole de São Paulo: seus símbolos, sua
memória e seus mitos. Anais do III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura,
realizado entre os dias 23 a 25 de maio de 2007, na Faculdade de Comunicação/UFBA, Salvador, Bahia.
Salvador, Bahia: UFBA, 2007, pp. 1-16.
10
segue em frente,
É um pedaço do Nordeste
Que acolhe muita gente,
Na cidade de São Paulo
Capital tão imponente.15
A história do Centro faz parte da concepção de um empresário paulistano, José
de Abreu, que fundou em 1990 a primeira rádio, a Rádio Atual (AM1370 KHZ), a trazer
música nordestina para a cidade. A ideia era trazer músicas regionais e “ser a voz dos
nordestinos na capital e na grande São Paulo”. ABREU (2016).
Em maio de 1991 foi inaugurado o Centro de Tradições Nordestinas, CTN tendo
como princípio a mesma direção da rádio, ou seja, “reconhecer a cultura nordestina e
homenagear esse povo tão sofrido e discriminado que ajudou a construir São Paulo,
hoje a sétima maior cidade do mundo em população”, segundo Abreu (2006, p.18)
Com o intuito de trazer um pouco do Nordeste à cidade, algumas instituições
foram ao longo dos anos sendo expressões que garantiram elos com o popular e as
expressões vivas do sujeito histórico concebido como partícipe desse âmbito
geograficamente constituído no país. Com a relação de identidade e ao mesmo tempo
com a contrapartida de “inferiorização” apregoada na identificação desses
sujeitos/grupos na cidade, vão desenhando aspectos relevantes de suas marcas e
expressões, a fim de garantir o seu “lugar” na sociedade de acolhimento.
Imagens 3 e 4: Centro de Tradições Nordestinas em São Paulo
15 Um cordel para o CTN. p.10.
11
Fonte: Foto de Elis Regina Barbosa Angelo, 2017.
Das propostas desse reconhecimento dos nordestinos na cidade, o CTN compôs-
se em princípio como lazer, a fim de trazer um pouco da cultura popular, da música, da
dança, da comida e da religiosidade simbolizada na imagem de padre Cícero Romão
Batista e de Frei Damião, como ícones do povo nordestino. Essas imagens de
religiosidade na imagem do padre Cícero e Frei Damião, fazem parte da relação de fé e
simbolismo religioso popular dos visitantes do centro. Os símbolos e as idéias referentes
ao Nordeste vão compondo os espaços de produção de sentidos que o território
reconstrói para atender às expectativas do público.
12
O território, nesse caso compõe-se de memórias, de reinvenções de memórias e
mesmo de produção de uma memória imagética, contextualizada num passado
imaginário e de experiências familiares, passadas ou recriadas pelos sujeitos que visitam
e que almejam na visita ter um acolhimento de memórias passadas e de lugares que
contém essa possibilidade. Assim, tanto as imagens religiosas como o padre Cícero
quanto os objetos de memória do passado, como seu carro, documentos e ornamentos
pessoais, vão compondo o que se chama de “lugar de memória”. (NORA, 1993)
O padre Cícero e o Frei Damião formam laços com os conterrâneos, com os
visitantes, curiosos e mesmo com pessoas que tem na fé os santos emocionalmente
constituídos, haja vista ainda estar em processo a canonização de Cícero Romão Batista.
Como os nordestinos já evocaram-no enquanto santo, indiferente da religião católica e
da aprovação da Igreja, o sentido e os sentimentos vão se atrelando à imagem recriadas
nesse território.
Das atividades mais significativas para o âmbito social encontram-se celebrações
de casamentos coletivos; o projeto “Vila Social”, que desde 2013 oferece atividades,
reforço escolar e recreação para mais de 60 crianças entre 4 a 12 anos das comunidades
do entorno do CTN, zona norte de São Paulo; cursos profissionalizantes, CTN cidadão,
uma iniciativa que oferece bimestralmente profissionais para prevenção de doenças
como diabetes, pressão arterial, avaliação oftalmológica e odontológica, além de
serviços que buscam promover o bem estar de moradores das comunidades, como corte
de cabelo, e estética. Também bimestralmente promovem orientação jurídica e emissão
de documentos para cidadãos do entorno. Outras atividades realizadas pelo centro estão
doações de alimentos, leite, promoção de cursos profissionalizantes e demais atividades
de recreação e lazer.
Comemoram no dia 08 de outubro o dia do nordestino, com o intuito de celebrar
as raízes e tradições culturais, além de ser o dia de homenagens centenário do poeta
popular cearense, um dos mais representativos cordelistas, Antônio Gonçalves da Silva,
mais conhecido como Patativa do Assaré, foi um poeta popular, compositor, cantor e
improvisador brasileiro, que ao representar o cordel, dedicou sua vida e obra à produção
de cultura popular, especialmente entoando a história e saga do povo marginalizado e
oprimido do sertão nordestino.
13
Das suas produções, da linguagem simples, poética e singular, obteve êxito
como compositor, improvisador e poeta, ao produzir por meio da literatura de cordel,
uma significativa memória literária sobre os nordestinos. Apesar da idéia de migrações
culturais, como abordado por Bhaba (1998, p.241) como forma de circulação de
símbolos e signos acerca de locais e contextos em sistema de valorização específicas,
como esses territórios e símbolos como o cordel, o arcabouço da tradição oral dessa
forma literária acaba por transmutar-se na contemporaneidade para a imagética, na qual
a estética se condensa na televisão e no cinema. (NEMER, 2007)
Comemorando seu aniversário em 08 de março, mês também de atividades
recreativas e homenagens de todo tipo ao cordel, diferenciadas atividades rememoram o
sentido da produção do cordel e a memória dos nordestinos em todo país, além das
demais atividades recreativas que seguem o calendário de eventos da cidade de São
Paulo.
2 Projetos de Interação: A República do Cordel e a “Nordestinidade paulista”
A relação de construção da tradição oral medieval no Brasil tem sua construção
com os primeiros colonizadores portugueses e, e foi introduzida na região do Nordeste
pela similaridade de sua concepção geográfica, assim, a oralidade disseminada pela
literatura de cordel em forma de rima e por meio de poemas passou geracionalmente
pela região sendo uma das mais significativas características populares.
Como rima, poema e informação, o cordel foi sendo uma forma de divulgação
das informações em meios ermos, traduzindo-se em forma de relação social e pessoal,
que tem expoente singular na figura do cordelista cearense Patativa do Assaré,
reconhecidamente musicado por Luiz Gonzaga, na leitura das relações difíceis da
população com o lugar.
Em A triste partida (1966), ao traduzir o sofrimento e a saída do povo em busca
de melhores condições durante a seca do Nordeste, representa os sentidos da migração
ao sudeste e outras relações coma s cidades e territórios onde se instalaram e
produziram novos sentidos sobre os mais variados estados e cidades que compõe essa
região do país.
14
Essa representação da cultura oral é uma forma de resguardar a memória popular
nordestina de rimar temas do cotidiano, da história e das mazelas do povo promovidas
por feiras, ruas e lugares populares em forma de folhetos de cordel.16
Imagem 5: A Triste Partida de Patativa de Assaré
Fonte: Acervo da Associação Cultural Patativa de Assaré17
A triste partida
(...) Nós vamos a São Paulo
Que a coisa tá feia
Por terras alheia
Nós vamos vagar
Meu Deus, meu Deus
Se o nosso destino
Não for tão mesquinho
Cá e pro mesmo cantinho
Nós torna a voltar
Ai, ai, ai, ai(...)
16 “A memória do cordel é um importante instrumento da identidade cultural nordestina que eleva a
estima popular como parte da constituição de uma identidade nacional brasileira.” BRASILEIRO,
Osmando Jr. SILVEIRA, Regina da Costa da. Literatura e oralidade no cordel: identidade e Memória
cultural nordestina. Nau Literária: crítica e teoria de literaturas. Dossiê Voz e Interculturalidade Vol.
09, n. 01. jan/jun. de 2013. pp. 3-11. Porto Alegre: PPG-LET-UFRGS, 2013. p.02. 17 ASSOCIAÇÃO CULTURAL PATATIVA DO ASSARÉ. patativadoassare.com. A Triste Partida,
Patativa do Assaré. Disponível em: < http://patativadoassare.com/4884/>. Acesso em: 12/02/2017.
15
(...) Chegaro em São Paulo – sem cobre, quebrado.
O pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, da mais feia gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.(...) 18
A literatura de cordel “disponibiliza o oral e o escrito como modalidades de
apresentação, sendo o romance, o conto, a cantiga, entre outros, como tipicamente orais
e o cordel, escrito”19, e, tendo sua história fundamentada nos meios populares, seja
porque o folheto de cordel era distribuído principalmente por aqueles que não sabiam
ler e escrever, e tendo na oralidade a possibilidade de compreensão, foi sendo um meio
de informação para as camadas mais pobres. Em a Triste Partida, a saga do migrante
arrebatada pelo imaginário de conseguir melhores condições de sobrevivência assola os
discursos produzidos durante o processo.
Na concepção dos signos e símbolos do Nordeste, encontra-se uma fortuita
discussão, do que é “nordestinidade”. Nessa composição de elementos simbólicos do
“nordestino” enquanto sujeito único, está a leitura de composições e recomposições dos
discursos produzidos ao “ser nordestino”, ou seja, ao pobre, ao humilde na saga por uma
vida melhor, representando, portanto a ficção e a cultura inculcada pela relativização
dos sentidos sobre o migrante e o que ele representa. Dessa forma, se percebe ainda que,
a representação do Nordeste é uma referência geograficamente construída de
estereotipadas imagens acerca de nordestinos como afirma Albuquerque Junior (2006).
Muitas críticas e tentativas teóricas de reversão dessa imagem vêm sendo
pensadas em políticas culturais reivindicatórias que possa repensar essa estereotipação
dos sujeitos e o que representam, e dessa forma revisando o conceito que seria essa
“nordestinidade” como menciona Albuquerque Júnior, “reforçando e reafirmando
mitologias em torno do espaço nordestino e de seus habitantes” e, ao mesmo tempo,
18 “A triste partida em cordel, toada de Patativa do Assaré. Gravada por Luiz Gonzaga em 30/11/1964, no
LP homônimo, lançado pela RCA Victor. “A triste partida” tem 19 estrofes, 152 versos e duração de oito
minutos e 53 segundos. Regravação: LP “O Homem da Terra”, RCA, 1980, com participação especial de
Gonzaguinha.“A triste partida” foi lançada originalmente em folheto de cordel com o título “Pau de arara
do Norte”, anos 1950. O folheto grafou na época Assaré como Açaré.” ASSOCIAÇÃO CULTURAL
PATATIVA DO ASSARÉ. patativadoassare.com. A Triste Partida, Patativa do Assaré. Disponível em:
< http://patativadoassare.com/4884/>. Acesso em: 12/02/2017. 19 ALBUQUERQUE, M. E. B. C. de. Literatura popular de cordel: dos ciclos temáticos à classificação
bibliográfica.Tese de Doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2011.p.23.
16
propõe-se repensar essa “repetição regular de determinados enunciados que são tidos
como definidores do caráter da região e de seu povo, que falam de sua verdade mais
interior” (2006, p.24)
Muitos discursos contrários a esse estereótipo negativo têm demonstrado a
preocupação em desmontar o caráter simplificador, homogeneizante, cristalizador e
voraz de determinismos sobre o Nordeste e suas representações.
Apesar dessa relação, outras pesquisas revelam afirmativamente a
nordestinidade enquanto uma forma de identidade do povo enquanto enaltecimento, mas
esse relativizado pelo discurso interno não tem representatividade em todos os
ambientes e sociedades.
Outro autor que trata dessa relativização, em seu trabalho Estado, mídia e
identidade: políticas de cultura no Nordeste contemporâneo, Alexandre Barbalho (2004),
afirma que os signos entoados a essa região que, compartilhados por outro grupo acaba
criando sensação e sentimento de unicidade e declarando-lhe uma identidade.
Tanto para Albuquerque quanto para Barbalho, as relações de pertencimento ao
território e à região do Nordeste, e de sua representação do que é ‘ser’ nordestino, parte de
uma “invenção”, criada em meados de 1910, na qual a polarização de Norte e Sul se
constituída no país nesse momento. A crítica perpassa a concepção da uma narrativa
identitária que foi criada pelas produções culturais e artísticas no cinema, música, poesia,
jornal, televisão e mesmo no teatro que legitima um conceito de “nordestinidade” calcado
num regionalismo, produzindo um discurso que coloca-os num lugar de existência e
separação, intitulando e rotulando como uno. Nessa afirmação concebida de identidade
nordestina, percebe-se uma criação discursiva de unidade que se transforma, se renova, mas
é perpetuada no tempo, ou seja, uma forma de diferenciar os sujeitos e seus lugares.
Albuquerque Júnior (2001) ao produzir a crítica ao conceito e a concepção dessa
referência, reforça que, a concepção ideal de região é a formação da multiplicidade “que se
dá numa luta de forças que domina outros espaços regionais” (2001, p. 26), sendo maleável
e dinâmica.
Nessa esfera, a identidade passa a ser uma construção mental, na qual o território é
imagético e suas representações múltiplas e diversificadas. Os territórios no Nordeste são,
em sua essência, multifacetados, e desenraizados, como “uma condição de nossa época, a
expressão de um outro território” (ORTIZ, 1999, p. 69).
17
Na contramão dessa crítica encontra-se uma preocupação latente dos discursos do
patrimônio, de representação e conservação do passado, e de afirmação identitária, que
corrobora com a memória e a ideia de revitalização, muitas vezes polarizada na dimensão
dos usos e abusos da patrimonialização como forma de mercantilizar esse passado.
No entanto, algumas ações e políticas vêm de encontro com essa tentativa de
manutenção cultural pelos discursos de identidade.
No Brasil, a tradição oral se apresenta de várias formas, contudo, a
literatura de cordel é a que mais tem resistido e é a maior detentora de
um cabedal de informações passadas na forma de expressões rimadas,
com características específicas, que instigam os cantadores a
memorizarem seus longos poemas. Essa tradição tem como um dos
seus mais importantes expoentes o cordelista cearense Patativa do
Assaré, autor do conhecido poema musicado por Luiz Gonzaga, A
triste partida (1966), em que conta as agruras do sofrimento causado
por conta da seca nordestina.20
Para compreender o uso e a tradição do cordel faz-se necessário percebe que seu
espaço de atuação é constitutivamente próprio, com seus próprios símbolos, e
concepções temporais, com características próprias, elaborando formas de interação
únicas em que o popular conversa de forma compreensível e acessível, pois, é
compreendida enquanto “a formação de um grande nicho de diversidade, tornando-a
mais complexa, o que não se pode dizer o mesmo da cultura de elite.”21
Na sua história, as praças e os lugares mais simples visitados e utilizados pela
população mais pobre, era circulado o cordel, sempre comercializado em bancas
verticais, onde a escolha do povo era a sua demanda por novos temas, foi ao longo dos
anos repercutindo e se afirmando em outros territórios, mesmo que, de forma incipiente,
mas sobreviveu às mudanças da sociedade contemporânea.
Em São Paulo, além dos lugares mais comuns onde se vive ainda o cordel, como
o CTN, a Biblioteca Belmonte e bares, restaurantes, lojas e demais espaço de
comercialização de produtos nordestinos como o Largo Treze de maio em Santo Amaro
20 BRASILEIRO, Osmando Jr. SILVEIRA, Regina da Costa da. Literatura e oralidade no cordel:
identidade e Memória cultural nordestina. Nau Literária: crítica e teoria de literaturas. Dossiê Voz e
Interculturalidade Vol. 09, n. 01. jan/jun. de 2013. pp. 3-11. Porto Alegre: PPG-LET-UFRGS, 2013.
p.01. 21 ALBUQUERQUE, M. E. B. C. de. Literatura popular de cordel: dos ciclos temáticos à classificação
bibliográfica. 2011. Tese de Doutorado em Letras pela Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa,
2011.p.19.
18
e no próprio centro de São Paulo, a literatura ainda representa a história e a memória
dos nordestinos e sua inserção nessa nova realidade, que, apesar de já cristalizada, ainda
merece atenção, seja sobre a firmação do povo, seja para minimizar os impactos sociais
do preconceito tão rebuscado entre muitos indivíduos na sociedade.
Percebendo essa relação de apego à literatura de cordel e encontrando nesse
grupo a perspectiva de manter a memória viva, algumas entidades, instituições e
sujeitos começaram a pensar sobre os lugares de memória da literatura na cidade.
Nessa perspectiva, foi criado em 2017 um projeto de representação da literatura
de cordel nas praças, a começar pela “República do Cordel”. Sobre esse projeto, que ora
já se tornou realidade, o jornalista Marcelo Fraga, um dos seus protagonistas e
mentores, menciona:
A República do cordel é um movimento que nasceu em São Paulo
com a chegada do Marcelo Fraga (risos) com o cordel em São Paulo
onde a gente viu a necessidade de trazê-los de volta às praças, porque
os paulistas têm uma característica muito, né, de ficar sozinho,
isolado, aquela história, e depois como o cordel saiu de todo Brasil,
praticamente, pelo menos aqui no Sudeste, na época da ditadura das
praças, o que nós fizemos, nós voltamos, nós voltamos às praças,
agora nós já estamos em duas feiras, oficialmente já de artesanato, da
Praça da República e do Ibirapuera, e já com convite até da própria
prefeitura, pra que a gente tome conta das outras praças. Por
exemplo, também, e de outros espaços, como a avenida Paulista aos
domingos, né, onde existe a promoção. Então, são cordelistas, eu, os
cordelistas daqui é que estão fazendo esse movimento. E agora nós
estamos inclusive num grupo, né, fizemos um grupo, a República do
Cordel, e já estamos contatando cordelistas de outros estados pra
criar essa rede. Inclusive tem cordelistas chamando pra que esse
movimento se torne um movimento nacional: República Nacional do
Cordel, que seria o Brasil, entendeu? (FRAGA, 2018)
Essas redes vão sendo formas de interação e de renovação das identificações
com a memória do grupo. “Marcado pela oralidade, o patrimônio poético nordestino
tem suas marcas na escrita reveladas por formas que abrangem tanto a forma do cordel
escrito como suas apresentações orais.”22
Enquanto fonte de trabalho, oferecida pelos cordelistas, traz informações e
cultura, pois, relaciona-se com “(...) protesto, resistência, informação e lazer, são textos
22 Id. Ibid. p. 05
19
que conferem vida às feiras nordestinas, seja animando-as com as cantorias dos
cordelistas, seja garantindo-lhes o ganha-pão.23
Imagens 6 e 7: República do Cordel
23 Id. Ibid. p. 07.
20
Fonte: Foto de Elis Regina Barbosa Angelo, 2017.
Nessa proposta, os cordelistas da cidade tem o intuito de agruparem seus
trabalhos e promover a literatura. Desde a comercialização até o saber-fazer vão sendo
tratados e renovados na proposta de voltar à praça de onde começaram as idéias. Esse
retorno simboliza a rua, o popular e a acessibilidade a todos os grupos da sociedade,
especialmente os desprivilegiados.
O acesso e o reconhecimento da literatura de cordel na praça referenciam uma
retomada da cultura popular, ansiando por novos desafios da comunidade partícipe
desse processo, ou seja, dos próprios cordelistas e suas vozes numa cidade com o São
Paulo. Outros territórios existem no país e corroboram com essa manutenção da
memória, como é o caso da Academia Brasileira de Cordel, 24 presidida pelo Senhor
Gonçalo Ferreira, e mantida na cidade do Rio de Janeiro em Santa Teresa.
24 “Surgida no Nordeste, a literatura brasileira de cordel é repleta de características bem particulares,
que dialogam diretamente com os costumes juninos. Essencialmente popular, o estilo ficou marcado por
narrar histórias do cotidiano do nordestino e muitos autores importantes foram esquecidos pela falta de
registro de suas obras. Alguns deles, no entanto, conseguiram perpetuar suas obras e hoje são
considerados mestre do gênero. Conheça alguns deles: Apolônio Alves dos Santos. Autor do folheto
“Maria Cara de Pau e O Príncipe Gregoriano”, lançado em 1949, foi pedreiro e participou da
construção de Brasília antes de viver de sua poesia. Natural de Guarabira (PB), escreveu cerca de 120
folhetos, incluindo o célebre “Discussão do Carioca com o Pau-de-Arara”. Cego Aderaldo
O poeta popular, nascido em Crato, no Ceará, era inspiradíssimo pela vida no sertão nordestino. Ao
perder a visão em um acidente, descobriu que tinha talento para rimar, tornou-se cantor conhecido na
21
No campo da educação, muitas são as ações que corroboram com a permanência
dessa cultura popular, pois, projetos de educação patrimonial e inclusiva, tendem a
trazer à sala de aula conteúdos ludicamente oferecidos pela rima.
As ações que buscam salvaguardar a memória do cordel vãs sendo ações de
garantia da produção, comercialização e história desse povo que encontrou nessa forma
de concepção literária, a sua manutenção cultural.
Na contramão estão as ações depredatórias de mercantilização e
patrimonialização de objetos, histórias e memórias, que, grosso modo vão diluindo as
relações humanas e suas histórias na esfera do consumo, que, ora barbarizadas pela
sociedade de consumo não são criadas pela necessidade de manter a tradição oral, mas a
conduta da diferenciação pelo valor a ela atribuído.
Da concepção de nordestinidade fica a preocupação em manter as identidades de
forma singular, como luta pela essência, pelos saberes e sua importância, não de
diferenciar pela unificação de sujeitos e territórios sobrepujados em discursos da
diferença.
Algumas Considerações
Os migrantes e a migração fazem parte do olhar sobre as cidades, das cidades
em si, na sua essência e em sua transformação ao longo dos anos. Do início, até o
período abordado, sobre a formação da Feira de São Cristóvão, e do Cento de Tradições
Nordestinas, muitos são as interpretações e os estudos sobre os contextos de formação
do território.
Esse território, formado a partir das relações sociais vividas entremeia os
sentidos e significados do que é “ser nordestino” tanto na cidade de São Paulo quanto
no Rio de Janeiro. Essa relação se estabelece em meio a preconceitos e estereótipos
região e ganhou até um monumento em sua homenagem, localizado em Quixadá, cidade cearense.
Firmino Teixeira do Amaral, Célebre poeta piauense, Amaral foi um dos principais autores da Editora
Guajarina e um dos criadores de um estilo peculiar da literatura de cordel, o trava-língua. Foi autor de
“Peleja de Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum”, letra que mais tarde foi gravada por Nara Leão
e João do Vale. João Martins de Athayde, foi o principal editor da literatura brasileira de cordel.
Nascido em 1880, em Cachoeira da Cebola, Paraíba, Athayde foi mascate e pai de 25 filhos e escreveu
suas próprias obras, como “Serrador e Carneiro”.”ADORO PAPEL. Conheça os mestres da literatura
de cordel. Arte e Cultura, Educação. Fonte: ABLC- Academia Brasileira de Literatura de Cordel.
26/06/2013. Disponível em: <http://adoropapel.com.br/2013/06/conheca-os-mestres-da-literatura-de-
cordel/>. Acesso em 21/09/2017.
22
formados pela elitização de lugares, especulação imobiliária, favelização e outros meios
de separação pessoas pela classe, gênero e lugar.
Como ponto de partida, o conceito de cidade de Sodré (2002), amalgamando os
sujeitos e tudo que produzem como sensibilidades e formas de criar identificações,
orientam sobre a definição e conceituação dos territórios como reorganizações da vida
cotidiana com sentidos e sentimentos do passado. A feira e o centro apesar de
formações em estados distintos possuem elos e representações que coexistem nos dois
territórios. Estes, por sinal, muito tem a dizer sobre os seus visitantes, sobre os feirantes
e, especialmente, sobre os nordestinos que vivenciam, freqüentam e apreciam o que
esses representam em suas vidas cotidianas.
As mudanças e as permanências se configuram a partir dos sentidos dados nesse
novo lugar, onde se concentram as relações dinamizadas pela formação deste território,
local onde se mantém de certa forma uma relação mais estreita com a terra natal, com o
Nordeste dos antepassados, configurando uma imagem criada pela mídia, pelas
narrativas do passado ou, ainda, pelos anseios relacionados ao passado.
A referência de “ser nordestino” em cidades metropolitanas como Rio de Janeiro
e São Paulo vão delineando novos sujeitos que divergem e convergem em momentos
distintos para a conformação das identidades, muitas vezes forjadas pela necessidade de
afirmação do passado e negada pelas relações do presente. Apesar de serem distintas as
relações de criação e pertencimento, os territórios mantêm similaridades que definem a
apreciação ao “lugar” criado para si enquanto sujeito social carregados de estigmas e
referências culturais. Esses territórios vão configurando novas relações com as cidades.
O nordestino se (re)configura nesses territórios, muitos são os contrastes, mas as
vozes tentam definir o passado como ponto de partida de si, de seus anseios e de suas
angustias. O que parece certo é a direção de manter viva a memória dos sujeitos que
trouxeram para a cidade e para o bairro esse ar de “diferente” de “singular” e de
“plural”.
Os sujeitos e os lugares transformados em memórias carregam as identificações
da terra natal, do imaginário das pessoas e mesmo dos que vieram em busca de uma
nova vida. Os estereótipos existem, cabe a cada um redesenhar os conceitos de si e do
lugar para que este seja efetivamente um lugar de saudade, de identificação e de relação,
23
onde cada indivíduo colabora para a formação e desmistificação da memória, de forma
coletiva.
Nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará a literatura
tem seu mais exponencial, onde era vendida em mercados e feiras pelos próprios
autores, mas com as migrações, outros Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e
São Paulo foram trazendo elementos populares singulares como referências do modo de
vida e de informação.
Como resultados, pode-se dizer que, além do cordel na perspectiva de
manutenção das identidades, acolhem-se outras expressões que demonstram os lugares
de onde vieram os nordestinos. A literatura de cordel dos estados trazem diferenças
significativas no entrave das discussões sobre os elementos formadores de memórias
acerca das imagens sagradas e consagradas pela perspectiva do patrimônio cultural.
Especialmente como estes lugares se fundamentam na missão de agregar e
manter as identidades, estão às singularidades do povo, que não expressam apenas uma
“nordestinidade”, mas múltiplos nordestes de signos e símbolos diferentes e múltiplos.
São Paulo tem, em projetos como a República do Cordel, a Biblioteca Belmonte
e o próprio CTN, uma (re)invenção, buscando não somente ressignificar o cordel, mas,
trazê-lo para o ambiente das praças e dos sujeitos que buscam manter viva essa
expressão do povo brasileiro.
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