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Ministério da Justiça Comissão Nacional de Política Indigenista 14ª Reunião Ordinária - Síntese Brasília, 25 a 27 de agosto de 2010 Síntese da 14ª Reunião Ordinária da CNPI A 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, realizada entre os dias 25 e 27 de agosto de 2010, no Centro de Formação em Política Indigenista da Funai, localizado em Sobradinho, teve como pauta os seguintes pontos: Pauta - Dia 25 de agosto Inauguração do Centro de Formação em Política Indigenista - Dia 26 de agosto Apresentação e esclarecimentos de dúvidas sobre o Regimento Interno da Funai - Dia 27 de agosto Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas – PNGATI ___________________________________________________ 1

Síntese da 14ª Reunião Ordinária da CNPI - funai.gov.br · seguidas por todos os órgãos, uma vez que há regras sobre como se deve montar o regimento de um ... desdobramentos

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Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista

14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010

Síntese da 14ª Reunião Ordinária da CNPI

A 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política Indigenista, realizada entre os

dias 25 e 27 de agosto de 2010, no Centro de Formação em Política Indigenista da Funai,

localizado em Sobradinho, teve como pauta os seguintes pontos:

Pauta

- Dia 25 de agosto

Inauguração do Centro de Formação em Política Indigenista

- Dia 26 de agosto

Apresentação e esclarecimentos de dúvidas sobre o Regimento Interno da Funai

- Dia 27 de agosto

Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas – PNGATI

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14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010

Dia 25 de agosto

Abertura simbólica da 14ª Reunião Ordinária, com a presença do Sr. Ministro da Justiça

Dando início aos trabalhos da 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de Política

IndigenistaIndigenista, realizada no recém-inaugurado Centro de Formação em Política Indigenista, localizado em

Sobradinho, Brasília – DF, a secretária executiva da CNPI, Teresinha Maglia, deu boas-vindas e

cumprimentou a todos os presentes, especialmente o presidente da CNPI e da Funai, Márcio Meira, e o

ministro de Estado da Justiça, Sr. Luis Paulo Telles Barreto, a seguir convidando o presidente da CNPI

para assumir a coordenação da reunião.

O presidente Márcio Meira iniciou afirmando que pela primeira vez está sendo realizada

reunião da CNPI num espaço próprio da Funai, o que vai representar economia, e é mais positivo ainda

tendo em vista que este é um espaço digno para isso, até porque as subcomissões vão poder se reunir

nesse mesmo local, ao invés de terem de utilizar espaços de outros órgãos, como vinha acontecendo.

Em seguida, o presidente ressaltou que a reunião da CNPI neste dia é um ato simbólico de abertura, em

virtude da presença do ministro da Justiça, que os honra com sua presença nesse ato, ao que convidou o

ministro para proferir algumas palavras.

O ministro da Justiça, Luis Paulo Barreto, deixou um abraço para todos os presentes,

explicando que não poderá ficar durante a reunião, mas não poderia deixar de destacar a importância

dos trabalhos da Comissão Nacional de Política Indigenista. Apresentando um breve histórico dos

trabalhos da Comissão, afirmou que já foram realizadas 13 reuniões ordinárias em Brasília, 6

extraordinárias, 13 seminários, sendo 1 seminário nacional e 10 regionais sobre o Estatuto dos Povos

Indígenas, bem como 3 seminários regionais sobre empreendimentos em terras indígenas. Ou seja, vem

sendo realizado todo um trabalho, que acarretou avanços para os povos indígenas.

Entre esses avanços, o ministro destacou aqueles na área da saúde, em que foi criada a

Secretaria de Atendimento à Saúde Indígena, declarando ser do conhecimento de todos o quanto o Sr.

Antonio Alves [que será o secretário], é respeitado em todo o país. Lembrando que o presidente da

República se recorda de que a saúde foi o assunto mais mencionado na última reunião da Comissão da

qual participou. Na educação, destacou a criação dos Territórios etnoeducacionais; mencionando ainda

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a inauguração de 30 pontos de cultura; o projeto de criação do Conselho Nacional de Política Indigenista

e a nova proposta de texto para o Estatuto dos Povos Indígenas, que foram enviados ao Congresso

Nacional, sendo que este último passará por discussão e poderá sofrer emendas.

A respeito da Funai, o ministro afirmou que é funcionário do Estado há mais tempo, e os

próprios índios procuravam o Ministério da Justiça pedindo uma nova Funai, o que foi trazido para a

pauta pelo presidente Márcio, com medidas que incluem o concurso público, melhores salários, uma

nova estrutura administrativa, um novo estatuto, a nova secretaria de saúde. Fecham 2010 com uma

pauta intensa, que está em andamento, sem esquecer que ainda há o que avançar, como no que

concerne à demarcação das terras indígenas, sua proteção, auto-sustentabilidade para todos que lá

vivem; capacitação para os servidores, para que se possa colocar em prática as políticas discutidas na

CNPI. Tudo isso foi feito junto com os índios, pois foi discutido pela CNPI, após anos se ressaltando a

necessidade dessas medidas. Portanto, acabam 2010 com muitas conquistas e ainda muito a fazer.

Para enfrentar o quadro de preconceito enfrentado pelos povos indígenas, que advém

do desconhecimento, precisam estar unidos, juntos. A Funai e o Ministério da Justiça poderão avançar

muito juntos, ainda que acertando e errando, mas devem continuar juntos tentando avançar. Pela

primeira vez o regimento interno da Funai foi discutido com as lideranças indígenas, apesar de ser uma

norma muito interna dos órgãos. Da mesma forma, houve o processo de consulta sobre o Plano

Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas - PNGATI, destacando que as terras

indígenas são as áreas mais protegidas no país.

O ministro concluiu afirmando que vê a importância dos temas apresentados à CNPI, e

que a discussão dos mesmos certamente vai representar avanço. O Ministério da Justiça tem orgulho da

CNPI e vai continuar prestigiando e participando dos esforços para que se transforme em conselho,

concluindo com congratulações ao presidente Márcio por tudo o que está sendo feito.

A seguir fez uso da palavra o representante indígena Ak’Jaboro Kayapó, o qual afirmou

que há tempos os indígenas pedem “para a Funai levantar”, e agora, com o presidente Lula, estão

conseguindo fazer isso, pelo que agradece a todos os que estão na CNPI. Foi aprovada a criação da

Secretaria de Saúde Indígena, e agora gostariam que fosse criado o Conselho Nacional de Política

Indigenista, que está no Congresso junto com o Estatuto. Pede a ajuda do ministro e do presidente para

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que a reestruturação da Funai aconteça e dê certo na base, lembrando que os povos indígenas querem

que a Funai seja mudada para melhor, todos querem que ela melhore.

Concluídas essas falas, o presidente Márcio deu por encerrado o primeiro dia desta 14ª

Reunião Ordinária da CNPI, que como já mencionado tinha caráter simbólico, destinando-se a ouvir as

palavras do Sr. ministro da Justiça. Assim, destacou que a pauta da reunião será tratada no dia seguinte,

para o que conta com a presença de todos.

Dia 26 de agosto – manhã

Regimento Interno da Funai

O presidente Substituto e diretor da Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento

Sustentável da Funai, Aloysio Guapindaia desejou bom dia a todos e informou que estaria presidindo a

reunião no período da manhã e o presidente Márcio Meira à tarde.

A seguir explicou que foi elaborada uma apresentação do regimento interno da Funai,

que foi feita da maneira mais dinâmica possível, na forma de organogramas, com as competências

gerais, a partir do que seria apresentada toda a proposta do regimento, passando-se a seguir à

discussão. Isso posto, consultou a plenária quanto à concordância em relação à metodologia proposta,

explicando que durante a apresentação os que desejassem deveriam tomar nota das dúvidas e

questionamentos. Não tendo havido ressalvas, foi iniciada apresentação sobre o regimento interno da

Funai.

O presidente substituto explicou que o organograma da Funai foi elaborado de acordo

com o que consta no Estatuto, instituído pelo decreto 7056/09, em que são previstos na estrutura

órgãos colegiados – que são os Comitês Regionais, a Diretoria Colegiada e o Conselho Fiscal; órgãos de

assistência direta e imediata – o Gabinete da Presidência; órgãos seccionais – Auditoria Interna,

Procuradoria, a Corregedoria, a Ouvidoria e a Diretoria de Administração e Gestão; órgãos específicos e

singulares – que são a Diretoria de Proteção Territorial e a Diretoria de Promoção ao Desenvolvimento

Sustentável; órgãos descentralizados – que são as Coordenações Regionais; e o órgão científico e

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cultural, o Museu do Índio. De modo geral esta é a estrutura da Funai, estabelecida no novo Estatuto da

Funai. O regimento interno tem o objetivo de, a partir das definições constantes do Estatuto,

estabelecer competências para cada órgão apresentado no organograma.

É importante que se diga, prosseguiu Aloysio Guapindaia, que a minuta que está sendo

submetida à discussão não está totalmente pronta, até porque tem que passar pela CNPI, mas ainda há

detalhamentos que precisam ser elaborados. No entanto o texto já está adequado tecnicamente e

segue estrutura que é regulada por portarias do Ministério do Planejamento, cujas normas devem ser

seguidas por todos os órgãos, uma vez que há regras sobre como se deve montar o regimento de um

órgão público. Lembrando que não se pode fugir do que está estabelecido no Estatuto, uma vez que o

regimento nada mais é que um desdobramento das competências já colocadas no Estatuto.

Dando prosseguimento, foi iniciada a apresentação das competências de cada setor da

Funai, iniciando pela presidência (vide transcrição completa), destacando que o presidente coordena

todas as competências políticas e administrativas do órgão. Quanto aos comitês regionais, é um órgão

colegiado, mas suas competências são tratadas em conjunto com as das coordenações regionais.

Prosseguindo, o presidente substituto afirmou que a Diretoria Colegiada é uma novidade que aparece

no estatuto, e a Funai passa a ser organizada a partir dessa diretoria (competências descritas na

transcrição completa). Frisando que essas competências estão presentes no estatuto e se repetem no

regimento e esclarecendo que sua principal atribuição é a gestão estratégica, não se sobrepondo às

atribuições do presidente.

Foram apresentadas a seguir as competências do Gabinete da Presidência; Conselho

Fiscal; Auditoria Interna; Procuradoria Federal Especializada; Corregedoria, frisando que esta é uma

novidade que é apresentada na estrutura da Funai, a qual já está implantada e atuante; Ouvidoria,

também uma novidade e já está atuante. Prosseguindo na apresentação, passou-se à Diretoria de

Administração e Gestão, antes explicando que a maior parte das competências que foram apresentadas

constam do Estatuto da Funai, embora ainda devam ser feitos ainda maiores desdobramentos, como no

caso da Ouvidoria.

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Com relação à Diretoria de Administração e Gestão, foi explicado que já foram feitos os

desdobramentos das coordenações e mesmo dos serviços, entretanto na presente apresentação, por

uma questão de tempo, não seria feito o detalhamento em termos das atribuições das Coordenações, e

sim apenas das Coordenações Gerais. Lembrando que em caso de dúvidas poderá ser feita consulta à

minuta do regimento entregue a todos.

Assim passou-se à apresentação da estrutura da Diretoria de Administração e Gestão,

iniciando pela Coordenação Geral de Gestão Estratégica – CGGE, composta por 3 coordenações: a

Coordenação de Desenvolvimento e Avaliação Institucional, Coordenação de Tecnologia da Informação

e Coordenação de Gestão do Conhecimento. Esclarecendo que ainda está em discussão a permanência

da Coordenação de Tecnologia da Informação nesta Coordenação Geral.

A próxima, Coordenação Geral de Orçamento, Contabilidade e Finanças – CGOF,

composta pelas seguintes coordenações: Coordenação de Orçamento e Finanças, Coordenação de

Contabilidade e Coordenação de Execução Orçamentária e Financeira; Coordenação Geral de Recursos

Logísticos – CGRL, composta pela Coordenação de Material e Patrimônio e Coordenação de Serviços

Gerais; Coordenação Geral de Gestão de Pessoas – CGGP, da qual fazem parte a Coordenação de

Administração de Pessoal, Coordenação de Legislação de Pessoal e o Centro de Formação em Política

Indigenista.

A propósito, foi destacado que todas as coordenações foram criadas para dar conta da

atribuição principal, que é de responsabilidade da Coordenação Geral, desdobrando-se as suas

competências. E, ainda, que várias dessas coordenações são novidade, como é o caso da CGGE, CGRL e

CGGP, coordenação à qual está ligado o Centro de Formação em Política Indigenista, que não aparece

no regimento, pois está na estrutura da Coordenação de Formação e Desenvolvimento, cuja equipe vai

trabalhar no próprio centro, onde serão desenvolvidas as políticas de capacitação do órgão. Concluindo

a exposição sobre a Diretoria de Administração com explicação no sentido de que houve uma mudança

importante, relativa à transferência para a DAGES da gestão da Renda Indígena, que antes era feita pela

CGPIMA (Coordenação Geral de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente, atualmente Coordenação Geral

de Gestão Ambiental).

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Dando continuidade, passou-se à exposição sobre a Diretoria de Promoção ao

Desenvolvimento Sustentável – DPDS, iniciando pela descrição das competências da diretoria, que

constam no decreto e serão utilizadas no regimento. As coordenações que compõem essa diretoria são:

Coordenação Geral de Gestão Ambiental – CGGAM, da qual fazem parte a Coordenação de

Acompanhamento de Licenciamento Ambiental, a Coordenação de Projetos Ambientais e a

Coordenação de Monitoramento e Avaliação; Coordenação Geral de Educação – CGE, composta pela

Coordenação de Políticas Educacionais, Coordenação de Articulação e Projetos Educacionais e

Coordenação de Avaliação e Monitoramento; Coordenação Geral de Promoção ao

Etnodesenvolvimento – CGETNO, da qual fazem parte a Coordenação de Monitoria e Avaliação,

Coordenação de Projetos e Coordenação de Articulação Intersetorial, e, finalmente, pela Coordenação

Geral de Promoção dos Direitos Sociais – CGPDS, explicando que no âmbito desta coordenação há uma

novidade importante, que se trata de uma coordenação que trata de infra-estrutura em terras

indígenas.

No que se refere à Diretoria de Proteção Territorial – DPT, após a descrição das

competências da diretoria foi apresentada a sua estrutura, sendo ela: Coordenação Geral de Assuntos

Fundiários – CGAF, composta pela Coordenação de Análise e Levantamento Fundiário, Coordenação de

Registros Fundiários e Coordenação de Desocupação de Terras Indígenas; Coordenação Geral de

Geoprocessamento – CGGEO, composta pela Coordenação de Demarcação, Coordenação de Cartografia

e Coordenação de Informação Geográfica; Coordenação Geral de Identificação e Delimitação – CGID,

da qual fazem parte a Coordenação de Planejamento da Identificação e Delimitação, Coordenação de

Antropologia, Coordenação de Delimitação e Análise; Coordenação Geral de Monitoramento Territorial

– CGMT, composta pela Coordenação de Informação Territorial, Coordenação de Prevenção de Ilícitos e

Coordenação de Fiscalização; e finalmente Coordenação Geral de Índios Isolados e de Recente Contato

– CGIIRC, que tem em sua estrutura a Coordenação de Índios Isolados, a Coordenação de Índios Recém-

Contatados e as Frentes de Proteção Etnoambiental, que são 12. Destacando que essa coordenação

geral fazia parte da Diretoria de Assistência e agora passa a integrar a Diretoria de Proteção Territorial.

A seguir foi apresentada a estrutura das Coordenações Regionais, compostas pelos

seguintes setores: Divisão Técnica, Serviço Administrativo, Serviço de Planejamento e Orçamento e

Serviço de Monitoramento Ambiental e Territorial, frisando que a esta estrutura estão também ligados

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os Comitês Regionais e as Coordenações Técnicas Locais. Assim como feito quanto à sede, foi

apresentada a descrição das competências das Coordenações Regionais e dos setores que fazem parte

de sua estrutura.

Prosseguindo, foi feita a leitura das competências das Coordenações Técnicas Locais e dos

Comitês Regionais, a respeito do que foi explicado que há uma proposta de inclusão de texto no artigo

7º do Decreto do seguinte texto: “O Comitê Regional terá o número máximo de 30 e mínimo de 10

membros votantes, sendo a metade de representantes indígenas locais e metade de servidores da

FUNAI, devendo o Regimento Interno prever os critérios de participação” e ainda “A representação

indígena no Comitê Regional não poderá ser exercida por servidor público”; e “A convocação de

reuniões extraordinárias do Comitê Regional dependerá, obrigatoriamente, de disponibilidade

orçamentária para esse fim na Coordenação Regional”. Sendo a proposta que o texto seja incluído no

decreto e repetido no regimento interno. Finalmente se passando à apresentação quanto às

competências do Museu do Índio.

Concluído a apresentação sobre a proposta de regimento interno da Funai, o presidente

substituto abriu a palavra para a plenária a fim de que fossem apresentados comentários e

questionamentos. O primeiro a falar foi o representante indígena do Nordeste e Leste, Caboquinho

Potiguara o qual afirmou que, observando atentamente a apresentação, preocupou-se inicialmente com

o desconhecimento quanto ao regimento anterior, que também não deve ser do conhecimento dos

demais, e que seria útil para fazerem comparação. Precisariam ter maior embasamento jurídico para

que possam de fato ter condições de aprovar o regimento, sugerindo que a bancada indígena tivesse

acesso ao regimento anterior a fim de fazerem discussão mais objetiva.

Brasílio Priprá cumprimentou a todos e parabenizou Rondon pelos 100 anos de

proteção aos povos indígenas, parabenizando a Funai pela nova sede. Expressou também preocupação

por não terem conhecimento do regimento anterior, sem o que considera difícil aprovarem o atual,

diante do que demanda que possam ir para as bases mais informadas para orientá-los sobre o que está

sendo feito. Solicitou ainda que disponham de mais tempo para fazerem essa comparação, e que esse

processo seja feito sempre em conjunto com os povos e organizações indígenas.

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Sansão Ticuna afirmou que, primeiramente, gostaria de dizer que estão iniciando uma

nova atividade na Funai, com a reestruturação; que entendem que um regimento é importante em

qualquer instituição, e sua preocupação relaciona-se mais ao tempo em que estão discutindo, pois

embora haja todo o tempo pela frente, o que está acontecendo é que, quando se fala na reestruturação

da Funai, já está feita, formatada, foi realizado concurso público e agora é que estão começando a ter

um momento para conhecer o regimento que vai servir daqui para o futuro.

Prosseguindo, Sansão Ticuna afirmou que considera importante esse processo, porém

precisam de mais tempo, para estudar, discutir bastante o texto do regimento, no entanto, receberam a

minuta durante a reunião da bancada indígena e se preocuparam com o pouco tempo para analisarem a

proposta. Estão tentando fundamentar um documento que vai servir para o bom funcionamento da

instituição, e para isso precisam ter o conhecimento adequado; já sabem como vai funcionar cada

departamento e coordenação, e sua maior preocupação é que mude bastante principalmente o perfil

dos servidores que vão assumir as Coordenações Regionais e as Coordenações Técnicas Locais.

Dilson Ingaricó, do estado de Roraima, afirmou que o papel de coordenação regional

não ficou muito claro, enquanto que o das coordenações técnicas está melhor trabalhado, portanto

sentiu falta de entender o que a sede central pode fazer para a coordenação regional. Acredita que a

estrutura toda está bem desenhada, mas reforça a palavra de Caboquinho e Sansão, pois para que

possam dar ok para o regimento precisam ter acesso ao anterior, não para regredir a discussão, mas a

fim de que possam assumir com segurança a responsabilidade de tomar essa decisão.

Crizanto Xavante falou a seguir, ressaltando que foi dito que esse é um texto em

discussão, o que possibilita que sejam feitas sugestões. Prosseguindo, levantou questionamentos com

relação à renda indígena, afirmando que estão lutando pela autonomia indígena, em que a Funai tenha

mais o papel de assistente técnico e não de forma paternalista, ao que pede que possam aprofundar a

discussão do texto. Comentou ainda sobre a presidência dos Comitês Regionais, afirmando que na saúde

está sendo feita mudança no sentido de que não só mais a instituição presida os conselhos de saúde.

Portanto, já que a gestão é compartilhada, pede que se considere isso também nos casos dos comitês

regionais. Sobre a composição, acredita que cada comitê vai decidir, de acordo com sua realidade.

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Dodô Reginaldo parabenizou por estarem discutindo, pois o regimento vai influir no

futuro das crianças indígenas, devem estar sempre preocupados com a população que representam,

pois na base também há idéias boas para que possam dar sua opinião e de que maneira pode ser feito.

Quanto aos Comitês Regionais, questionou o fato de que a CNPI pode opinar, porém sem direito a voto.

Deoclides Kaingang cumprimentou a todos e afirmou que gostaria de deixar claro que,

quando solicitaram ao presidente Márcio para discutir o regimento, sempre se dizia que havia ajustes a

fazer, sendo que receberam o material apenas 2 dias atrás, e, se o órgão demorou tanto para fazer e o

texto ainda não está consensuado, fica muito difícil para a bancada indígena decidir. Acredita que

precisam de mais tempo para discutir esse regimento com as bases e com suas organizações, até porque

acredita que elas ainda não tiveram acesso ao documento.

Aloysio Guapindaia comentou a seguir sobre as intervenções, afirmando que há

preocupação corrente nas falas com relação ao tempo, tendo em vista que o material foi entregue 2 dias

atrás e não foi possível que se aprofundassem no que foi proposto, nem que discutissem o texto nas

bases ou junto às organizações indígenas. Isso é fato e devem considerar que elaborar um regimento

interno é complexo, assim como é complexo fazer a discussão sobre ele. Os servidores estão

trabalhando no regimento durante o ano de 2010, a instituição continua empenhada e trabalhando, e

isso está exigindo de todos uma grande atividade, pois a Funai não se dedica só a isso, não podem parar

as outras atividades. Esse esforço está exigindo dos técnicos, diretores, do presidente da Funai, pois

estão se dedicando enormemente a isso, e de fato o tempo para o debate na CNPI foi curto,

reconhecem que não há como superar essa discussão num único dia de debate.

Por outro lado, do ponto de vista da Funai, o regimento não está terminado, serão

necessárias outras discussões e reformulação. Devem levar isso em conta e tirar encaminhamentos

para, ao final do debate, resolver essa questão. O desafio é ter o regimento implantado até antes do

final do ano, portanto trabalham com um cronograma que prevê que esteja em vigor até o mês de

outubro, quando o governo entra em transição, trazendo outras obrigações para a Funai em termos de

transição de governo. Portanto o calendário eleitoral impõe algumas coisas a essa discussão.

No que concerne ao questionamento quanto ao regimento anterior, foi explicado em

outras ocasiões que esse texto não foi trazido à discussão porque de fato não existe regimento interno

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anterior. Lembrando que houve duas reestruturações na Funai no governo Lula, e embora houvesse um

prazo, não foi feito um novo regimento interno – o regimento de 2003 perdeu a validade em face da

nova estrutura, e o órgão ficou sem regimento até que viesse a segunda reestruturação, e ele não foi

feito. Essa é a terceira reestruturação, e no momento se está trabalhando numa proposta de regimento,

sendo importante que compreendam que essa situação não pode continuar, pois a instituição funciona

há 7 anos sem regimento, as pessoas trabalham sem saber quais são as suas competências e atribuições.

Como o decreto modificou significativamente a estrutura do órgão, caso não venha a ser

aprovado um novo regimento os servidores vão continuar atuando com as atribuições e competências

que cada um atribuiu a si, recriando competências que tomam por base o regimento anterior a 2003, ou

outras que não estão escritas em lugar nenhum. O regimento é o passo seguinte, necessário para que a

reestruturação aconteça, lembrando que está em curso a organização dos seminários regionais sobre a

reestruturação, onde serão discutidos os comitês regionais e uma agenda de trabalho regional, que são

o passo seguinte para a implantação da nova estrutura. Portanto, no que se refere ao tempo, devem

trabalhar com esse olhar, de forma que o regimento esteja valendo até outubro, antes de entrarem no

período de transição.

Quanto ao questionamento concernente às competências da sede central e unidades

regionais, esclareceu que a observação vem da conclusão de que na coordenação regional se diz que

deve se reportar à sede central, ao mesmo tempo em que aparece que esta tem o papel de dar as

coordenadas da política e fazer com que as ações que forem realizadas nas regiões sejam

acompanhadas na sede central. A coordenação regional tem obrigações para com a sede, mas esta

também tem para com as coordenações regionais.

Isso está claro ao se colocar as competências, pois tudo o que está colocado na sede

como competência se realiza não só na sede, mas na ponta também, uma vez que a Funai é um sistema

descentralizado, que se alimenta de forma permanente, pois não se realiza política sem trabalhar

informações, o que é feito pela ponta, que enxerga realidades, situações, propõe soluções e isso deve

ser passado para a sede central. Por isso foi criada uma Coordenação Geral de Gestão Estratégica, de

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Gestão da Informação, que vão atuar também na solução das problemáticas regionais. Foi pensado um

sistema em que todos têm atribuição específica, mas que atuam na elaboração das políticas regionais.

A coordenação política nas regiões é atribuição das Coordenações Regionais, e isso está

muito claro, sendo que a consonância com a sede central é necessária, pois ela organiza tudo isso e

permite que as ações sejam realizadas de forma qualificada. Mas hoje isso não acontece porque a

instituição não tem capacidade ainda – e isso está sendo providenciado – de produzir e qualificar

informações. A sede deve estar posicionada com esse olhar regional, mas hoje muitas vezes olha para si

mesma enquanto órgão central e não consegue ter olhar regional. E com a nova estrutura querem

mudar essa realidade.

Com relação ao questionamento quanto aos comitês serem presididos pelo

Coordenador Regional, isso consta no Estatuto e teria de ser seguido no regimento, a não ser que se

mude no Estatuto. O comitê regional é ligado à instituição, Funai – Coordenação Regional. Os conselhos

são regulados por lei, lembrando que há diferenças entre conselhos e comitês, portanto, teriam de

verificar se há impedimento para que seja estabelecida uma presidência rotativa. De toda forma, isso

exigiria alteração no decreto, que é muito claro quanto ao fato de que a presidência será exercida pelo

coordenador regional, que por sua vez representa o presidente na região.

Sobre a CNPI só ter direito a voz, todas as organizações convidadas têm apenas direito a

voz, sejam elas governamentais ou não governamentais, representantes estaduais e municipais – estes

podem ser convidados para discutir assuntos de interesse do comitê, e após os esclarecimentos e

participação necessária é o comitê quem delibera, ele toma a decisão final. O comitê é paritário, e foi

pensado como a instância que toma as decisões, trazendo as discussões para dentro dele e atuando na

articulação e desenvolvimento das ações dentro da região. As decisões devem ser tomadas pelo comitê,

lembrando que as pactuações são de fato necessárias, mas seria inadequado desequilibrar a capacidade

do comitê de tomar decisões.

Com relação à Renda Indígena, explicou que foi formada no tempo do SPI, é o

patrimônio indígena que gerou renda, sendo que no tempo do SPI isso acontecia, por exemplo, por meio

da criação e comercialização de gado, pelo arrendamento de terras, retirada de madeira, exploração de

garimpo, entre outros. O SPI administrava essa renda e a Funai, ao ser criada, recebeu essa “herança”,

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sendo que, quando veio a Constituição de 1988, muitas das atividades da Funai exercidas junto com as

comunidades indígenas ficaram proibidas, o que restou foi a compra e venda de artesanato.

O fato é que hoje a Funai tem bens que não pertence a ela – prédios, carros,

computadores e outros – que pertencem ao patrimônio indígena, assim como tem depositado em suas

contas recursos que são oriundos da compra e venda de artesanato e outras rendas que não se faz mais.

Muitas a Funai usou em projetos em benefícios dessas mesmas comunidades. Outra coisa que a Funai

usa como patrimônio são os programas de mitigação e compensação ambientais – como os convênios

celebrados com o DNIT, que repassou recursos para o programa da Funai no PPA e este por sua vez é

repassado para a Renda Indígena, que é extra-orçamentária.

Prosseguindo, Aloysio Guapindaia informou que hoje são mais de 60 contas, de recursos

não orçamentários, que são criadas pelo Tesouro Nacional e administradas pela Funai. No Estatuto não

dava para a Funai por fim nisso, portanto continua administrando o patrimônio, e o faz por autorização

de determinada comunidade, enquanto que antes, no estatuto anterior, se dizia que a Funai fazia e

pronto. Hoje foi feita essa mudança, de forma que a Funai só administra a referida renda a pedido de

determinada comunidade, caso contrário a própria comunidade administra. O Estatuto vinha

basicamente sendo repetido ano após ano, e apenas agora estão sendo adotadas medidas efetivas para

mudar isso, tendo se elaborado um Estatuto que se alinhou com os fundamentos da Constituição

Federal de 1988. Portanto, há essa herança, sendo que esse patrimônio não pertence à Funai, que

apenas o administra, há bens e recursos financeiros e é preciso avançar na discussão sobre as novas

orientações que o órgão deveria adotar para proceder de forma mais clara e transparente nessa área.

Foi esclarecido, ainda, que até então o patrimônio era administrado pela CGPIMA,

Coordenação Geral do Patrimônio Indígena e Meio Ambiente na estrutura anterior, setor que recebeu

essa “herança” e vinha fazendo a gestão do patrimônio indígena e dos projetos de impactos ambientais,

que eram depositados no patrimônio. O novo estatuto separa os bens desses projetos, e atribui à

Diretoria de Administração e Gestão a competência de gerir esses recursos, já que é essa diretoria que

administra os bens e recursos da Funai em geral, com o que se mudou a realidade segundo a qual os

técnicos que são de uma área fim precisavam atuar na área meio. O que cabe à área fim é o

desenvolvimento dos projetos e programas da renda indígena, que os coordena, cabendo à DAGES a

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gestão do que se refere à área meio. Isso permite um melhor controle desses recursos, que de fato são

de terceiros.

Luiz Titiah questionou a forma como a cópia do regimento chegou aos representantes

indígenas, afirmando que precisam levá-lo ao conhecimento das bases e que os representantes

indígenas não têm culpa de que não havia regimento. Além disso, querem participar dos comitês, não só

ouvir e opinar; vêm apanhando muito com as mudanças que estão sendo feitas na estrutura da Funai e

ficou triste ao saber que o regimento não será discutido nos seminários sobre a reestruturação. A renda

que querem hoje é ter suas terras de volta, por meio do que podem ter a sua autonomia. Concluindo,

Luiz Titiah afirmou que, se não for ampliada a participação indígena nos comitês, a autonomia indígena

ficará prejudicada, destacando finalmente que haviam sido escolhidos representantes indígenas para

participar da discussão do regimento interno, mas isso não aconteceu.

Antonio Caboquinho afirmou a seguir que, uma vez que serão realizadas 10 oficinas

regionais, deveria se aprovar a proposta de se fazer uma oficina extraordinária para discutir e tirar

proposta a respeito dos seminários regionais. Com o modelo da nova Funai, ao falar das competências,

principalmente das coordenações e comitês, preocupa-se com relação à necessidade de se ter

consonância com a direção da Funai, o que a seu ver não vai funcionar se não houver consonância com

as comunidades. No que se refere ao voto da CNPI, foi dito que a diretoria é que vota, mas estão

trabalhando na CNPI por uma política participativa, e sem direito ao voto está sendo limitada a

participação efetiva da Comissão, que é pelo que estão trabalhando.

Dando prosseguimento às falas, Ak’Jaboro Kayapó teceu uma série de comentários

sobre a presença da Força Nacional na Funai. Sansão Ticuna pergunta sobre a participação de lideranças

indígenas nos Comitês Regionais, afirmando que há muitos indígenas que hoje são servidores públicos e

assumem cargos, e portanto não se justificaria a restrição quanto à participação nos comitês, solicitando

maiores esclarecimentos sobre esse item. Com relação à Renda Indígena, afirmou que o povo Ticuna é

agricultor, sobrevive disso, questionando se esse povo já teria de alguma forma sido beneficiado com

recursos também.

Crizanto Xavante declarou que o objetivo das mudanças deve ser buscar melhorias para

os povos indígenas; que os indígenas precisam se unir com relação aos Comitês, discutir essa questão.

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Anastácio Peralta afirmou que o regimento precisa existir, comentando a importância de que entendam

o que é e para que serve um regimento, afirmando que ele mesmo, por exemplo, não sabe o que é um

regimento interno. Brasílio Priprá comentou a respeito do artigo que determina que não poderão fazer

parte do comitê indígenas que sejam servidores, opinando no sentido de que, se forem escolhidos por

sua base para representá-la, e se o fazem no sentido de ajudar, não está correta essa restrição.

Destacando que esse ponto será questionado pelas comunidades indígenas.

André Araújo/MDA, sugeriu que esse artigo não seja excluído, mas sim melhor

especificado, definindo que tipo de servidor não pode participar, pois em sua opinião de fato, se o

indígena é servidor da Funai, não faz sentido que esteja na bancada indígena.

A propósito dessa última questão, e, de forma mais ampla, tratando do Comitê

Regional, Aloysio Guapindaia afirmou que ele foi pensado dentro de uma estrutura e seguindo as

diretrizes da CNPI. Ou seja, regionalmente estruturam um comitê, que seria uma espécie de comissão

regional paritária, como a CNPI – metade indígena, metade de governo, que no caso seria a Funai, e não

o governo estadual ou municipal, por ser um comitê que tem o principal objetivo de discutir um plano

regional de atuação da Funai, a princípio, mas também de outros órgãos de governo. A exemplo da

educação, saúde e outros órgãos que realizam ações junto aos povos indígenas. Chama-se comitê

regional, mas na verdade é um comitê gestor da política regional e é evidente que deve se basear nas

diretrizes das políticas definidas pela CNPI ou pelo próprio conselho quando for criado. Isso para que

tenha um olhar nacional, ao mesmo tempo em que permite que a CNPI tenha olhar regional – e deve

haver uma ponte entre os dois.

O presidente destacou ainda que o comitê regional não é conselho pela mesma razão

que a CNPI não é conselho, ou seja, pelo fato de que um conselho precisa ser criado por lei. Assim,

optou-se pela criação dos comitês em razão do fato de que essa é uma decisão que pode ser adotada no

âmbito do Executivo; é paritário por ser espaço de pactuação política regional entre o governo e a

sociedade, para que paute sua atuação política de forma pactuada. Ao falar do plano regional, a

necessidade de estabelecer plano anual, regulamento regional, cabe lembrar que será executado pela

Coordenação Regional e terá orçamento. O regulamento estabelecerá o nível de pactuação, os acordos

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necessários, é uma espécie de regulamento das pactuações, sendo importantíssima a definição desse

regulamento.

Estando ligado a um órgão público, que é a Funai, entra-se na questão da representação

do servidor público – lembrando que um órgão público precisa ter autonomia, sendo neste caso um

órgão executivo; assim como as organizações indígenas precisam ter suas autonomias preservadas. E

essa discussão sobre como manter essas autonomias deve ser feita de forma permanente. O presidente

é o gestor máximo do órgão e responde legalmente por isso; assim como a Funai não pode entrar na

autonomia das comunidades indígenas e suas organizações. Para respeitar essas autonomias se pensou

na criação de um espaço para que se possa discutir essas pactuações, e nesse ponto entra a

representação do servidor, pois eles fazem parte de um determinado órgão.

O servidor que representa a sociedade civil dentro de um conselho acaba incorrendo em

uma incoerência, portanto, não é adequado que a representação da bancada seja feita por servidores.

Lembrando que todos os comitês e conselhos são pautados nesse princípio, e embora esse assunto

esteja em discussão, a seu ver pode-se incorrer em prejuízo à autonomia. O ideal seria ter os conselhos

regionais criados por lei, porém foi feito o que foi possível; é preciso respeitar a paridade, caso contrário

não se trata de pactuação e sim de imposição política.

Respondendo a Ak’Jaboro, Aloysio Guapindaia explicou que quando se entra em

qualquer órgão é necessário se identificar, estas são regras de qualquer órgão público – ninguém pode

ser impedido de entrar, pois todo cidadão deve ter acesso aos serviços que os órgãos de governo

prestam, entretanto deve haver regras para a entrada de visitantes. Caso não exista isso, fica-se à mercê

da ação de pessoas estranhas, inclusive ocorrem casos de roubos e outros problemas e se faz necessário

garantir a segurança por meio da definição de regras e normas de acesso. O controle é necessário e

estão procurando melhorar a forma como é feito, o que não representa limitação ao acesso, apenas o

mínimo de controle. Ninguém entra em um órgão público para passear e por isso ao procurar um órgão

é preciso que a pessoa informe aonde vai, o que vai fazer, daí se entra em contato com o setor

competente para informar que está indo determinada pessoa lá; o servidor público deve ter segurança

para trabalhar e embora a maioria das pessoas aja de boa-fé há aqueles casos que não são assim.

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Milena, da Casa Civil, em referência à informação de que há necessidade de elaboração

de um plano de ação da coordenação regional, pergunta como estão pensando a questão da

responsabilização pela prestação de contas a ser feita pelo comitê. Respondendo, o presidente

substituto afirmou que o trabalho dos comitês será alimentado pelas Coordenações Técnicas Locais, que

por sua vez são um grupo técnico que vai identificar as problemáticas, elaborar projetos, principalmente

em prol do desenvolvimento sustentável. O que vier a ser produzido pelas CTLs será encaminhado para

as Coordenações Regionais, que vão sistematizar esse trabalho, utilizando formulários próprios para

isso, e o resultado será remetido aos comitês, para deliberação e análise. O comitê vai tomar as decisões

com base na informação que vai ser repassada pelas Coordenações Regionais, tendo como parâmetro o

que consta de orçamento definido no PPA, ressaltando que cada região vai ter seu orçamento.

A partir daí é elaborado o plano de trabalho, que só vai ser analisado pela Diretoria

Colegiada depois de passar pelo comitê; durante a execução da atividade, o comitê, as CTLs e

representações indígenas acompanham. No final do ano se analisa o que foi feito, bem como a

prestação de contas, que deverá ser enviada a Brasília; não é uma prestação somente contábil e

financeira, mas diz respeito a saber se as metas foram alcançadas, se modificou uma realidade a ser

abordada. Não é, portanto, uma análise meramente orçamentária, mas dos objetivos, metas, com olhar

estratégico de atuação da região.

Milena pergunta quem assina a prestação de contas, ao que o presidente respondeu

que será o coordenador regional, que é servidor da Funai, até porque todos os procedimento

administrativos são de responsabilidade dos servidores do órgão.

Neste ponto foram encerradas as atividades do período da manhã, ficando as inscrições

para intervenções e questionamentos já feitas previstas para serem atendidas à tarde.

Dia 26 de agosto – Tarde

Regimento Interno da Funai (continuação do debate)

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Dando prosseguimento à discussão iniciada no período da manhã, sobre o regimento

interno da Funai, o presidente Márcio Meira convidou para fazer uso da palavra o próximo inscrito, que

no caso era o representante da sociedade civil, Gilberto Azanha. Este afirmou que, conforme explicado

anteriormente, comitê

teria estrutura semelhante à CNPI, sendo que, na contestação feita pelas lideranças indígenas, havia

ficado claro que o comitê, num primeiro momento, teria caráter mais de diálogo entre Funai e índios no

que concerne à gestão. Enquanto que figuras importantes, como SEDUC etc., inclusive a CNPI, seriam

apenas convidados para dizer o que estão fazendo. O comitê, assim como a CNPI, foram criados por

decreto e os participantes estão participando por terem alguma participação na política indigenista,

portanto, acha estranho que sejam convidados apenas para dizerem o que estão fazendo e não sejam

cobrados. Saúde e educação tratam de assuntos importantes e se é só para informar não vão sequer

aparecer, portanto acredita que deveriam compor o comitê, pelo menos num primeiro momento, até

que se convertam em conselhos. Pergunta, finalmente, por que o comitê será restrito à Funai em sua

composição.

Luis Titiah afirmou que gostaria de voltar à discussão da manhã, feita por Ak’Jaboro

Kayapó, afirmando que concordam em ser identificados ao entrar na Funai, pois ao participar da

capacitação sobre os seminários a respeito da reestruturação a todo o momento em que saiam

precisavam se identificar; se há roubos ou similares na Funai não podem ser confundidos com essas

pessoas, se há índios envolvidos nisso devem responder, mas deve haver respeito, pois quando se

apresentam para entrar é feita ligação ao setor para onde estão se dirigindo e se dizem que não vão

atender não são autorizados a subir.

Daniela Alarcon, da Secretaria de Políticas para Mulheres, convidada permanente,

apresentou sugestão a respeito do regimento, no sentido de que fosse recuperada solicitação da

subcomissão de Gênero, Infância e Juventude quanto à reestruturação ser uma oportunidade para se

garantir a representação das mulheres. Portanto propõe que os comitês contemplem a representação

em termos de gênero, sendo que no texto atual o regimento apenas indica o número mínimo e máximo

de participantes, sugerindo que se contemple isso ou pelo menos saia recomendação de Brasília para as

Coordenações Regionais para que seja contemplada a diversidade. Especialmente considerando que não

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é em todas as regiões que as mulheres estão mobilizadas para conquistar seu espaço, e cabe ao Estado

criar condições para se garantir essa participação. Em termos de redação, sugere que seja incluída a

frase “contemplando a diversidade de gênero”.

Crizanto Xavante expressou sua preocupação com a presença da Força Nacional na

Funai, afirmando que são sabedores de que deve existir segurança e preservar a vida dos servidores, no

entanto, já há segurança responsável pela Funai; a presença da Força Nacional está fazendo com que os

indígenas se sintam lesados em seus direitos.

Dilson Ingaricó afirmou que, ao se reunir, a bancada indígena pautou alguns pontos

preocupantes relacionados à estrutura da Funai, como por exemplo quanto à CGE, da qual teria sido

retirada a responsabilidade apoiar a educação indígena em termos financeiros e políticos. Na referida

reunião tratou-se, entre outras questões, da Carta resultante do 7º Acampamento Terra Livre, realizado

em Mato Grosso do Sul, entre os dias 16 e 19 de agosto, e na qual são reunidas as principais questões

discutidas no encontro, passando-se a seguir à leitura do referido documento (vide degravação).

Dando prosseguimento à discussão sobre o regimento interno, Gersem Baniwa fez a

seguir algumas considerações a propósito da apresentação feita no período da manhã, pelo presidente

substituto. Primeiramente afirmou que é interessante o fato de que está contemplada a qualificação da

representação indígena e governamental nas instâncias colegiadas de governo – como é uma

experiência nova no governo devem buscar dar ênfase a isso, deixar claros os diferentes níveis de

participação, como o fato de que não se deve permitir a participação de servidores na bancada indígena.

Destacando que em sua região sempre se pautaram pela premissa de que os representantes indígenas

não devem ao mesmo tempo ocupar cargos de direção em órgãos de governo, abrindo espaço para

participantes indígenas que não mantêm vínculos com o governo. Com isso dão bom exemplo visando a

garantir a legitimidade e ao mesmo tempo a autonomia que foi mencionada pela manhã, “até porque o

contrário disso representa imoralidade”. Estão tratando dos comitês regionais, e gostaria que isso fosse

pensado no nível da CNPI, e que isso valha não só para o Ministério da Justiça, mas para várias

instâncias.

No regimento se está tratando das regiões, prosseguiu Gersem Baniwa, mas pergunta se

não seria o caso de garantir um comitê regional que reúna essas regionais, para dar conta da política no

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nível nacional, “quem sabe no futuro se possa avançar nisso”. Como conectar e articular os diferentes

espaços e territorialidades da Funai. E há outro detalhe, que expressa pela segunda vez: a forma de ter

comitês regionais e um comitê nacional é para dar conta da política indigenista no âmbito da Funai, o

que deveria desonerar a CNPI, que a cada vez está se tornando a comissão indigenista da Funai, quando

não se deveria priorizar somente o que diz respeito ao órgão indigenista, pois há muitos outros temas

que precisam ser tratados com igual importância. A CNPI se desafogaria para tratar de agenda mais

ampla, quando hoje o que acontece é se tratar de assuntos ligados à Funai.

Em terceiro lugar, é importante esta discussão, mas em muitas regiões é importante

agilizar, acelerar a retomada da normalidade, é preciso dar maior normalidade às ações e funções da

Funai – há muitas unidades em que se criaram lacunas, vazios, dificuldades de funcionalidade no dia-a-

dia da Funai, por exemplo não se sabe quem vai ser o novo coordenador e se cria toda uma dificuldade

de trabalho prático. Há parceria Funai – MEC e estão sentido essa dificuldade. Como sugestão, propõe

que seja criada uma força-tarefa para retomar a normalidade da Funai.

Outra questão – está na bancada do governo e muitas vezes não acompanha, mas

pergunta se de fato há necessidade da urgência em termos do tempo político para apressar a aprovação

do regimento, propondo estabelecer um espaço de tranqüilidade para se discutir com a devida

profundidade a estrutura da Funai e assim deixar um legado mais qualificado para o futuro, deixando

uma nova proposta de regimento realmente bem elaborada. Que equipes técnicas da CNPI possam se

aprofundar, discutir e realmente fazer um bom trabalho quanto ao regimento da Funai.

Marcos Apurinã, coordenador da COIAB, afirmou que é importante registrar sua

primeira participação na CNPI, referindo-se inicialmente ao documento lido por Dilson, cujo teor reitera,

e chamando atenção para um outro documento, que afirma ter sido feito por um coordenador da Funai

de Altamira, no qual Marcos seria citado, e que a seu ver reflete a situação pela qual estão passando na

região. O que ao em sua opinião prova que ainda devem enfrentar preconceito dos próprios servidores

da Funai. Esse funcionário precisa ser humanizado, educado, afirmou Marcos Apurinã, e esse centro vai

servir para isso; estiveram em Altamira fazendo movimento de esclarecimento das comunidades

indígenas sobre a reestruturação, que não foram consultadas, e foi tomada essa atitude, sobre a qual

solicitam providências para que isso não se repita mais.

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O presidente Márcio Meira respondeu aos questionamentos, solicitando a Marcos

Apurinã que apresente à Ouvidoria documento formal informando sobre o fato mencionado em sua

fala, de forma a caracterizar que houve eventual desrespeito aos direitos indígenas, para que possa

avaliar que medidas tomar, inclusive se seria o caso de encaminhar a questão à Corregedoria. De

antemão pede desculpas pelo que porventura tenha ocorrido, pois, embora o órgão tenha muitos

servidores, nada justifica esse tipo de atitude.

Prosseguindo, o presidente afirmou que se faz necessário dividir os assuntos que foram

tratados – regimento, segurança da Funai e o documento do Acampamento Terra Livre, lido por Dilson.

Começando por este último, afirmou que o documento tem legitimidade, como todos os outros que o

movimento indígena tem apresentado, com os quais em muitos pontos há concordância, e em outros há

divergência. A presidência da CNPI vai acolher e submeter as questões a análise para que se possa dar

andamento. Mas já adiantando dois pontos, no que concerne à educação – quanto à Funai ter tirado

apoio técnico à área de educação –, é preciso deixar claro o que já disse em outra reunião:

institucionalmente falando, não existe retirada da Funai, retirada de apoio, pelo contrário, está sendo

celebrado convênio com o MEC, e não há nenhuma mudança, inclusive na área da educação superior. O

que está acontecendo é adequar o atendimento ao que está previsto nos convênios, que às vezes

precisam ser renovados, revistos, e basta um problema eventual em algum convênio para que se

espalhe notícia de que a Funai não estaria mais repassando apoio à educação. Não existe isso, e sim o

que há é a continuidade e o aperfeiçoamento da atuação da Funai.

Outro ponto mencionado no documento é com relação à prisão de Glicéria

[Tupinambá], que é membro suplente da CNPI, e que na última reunião, ao retornar para casa, foi presa.

Um ato que foi imediatamente repudiado pela Funai, que tomou providências imediatas, tendo sido a

ação de habeas corpus da Funai que soltou não só Glicéria como seus dois irmãos. E devido a isso foram

vitoriosos, tendo se obtido a soltura dos três. Portanto, de forma alguma houve qualquer desleixo por

parte da Funai.

No que concerne à questão Cinta Larga, a Funai tem tomado todas as medidas possíveis

com relação a essa situação, inclusive se procedeu ao fechamento do garimpo e estão até mesmo

desenvolvendo atividades econômicas alternativas na região. Lembrando que Marcos Apurinã atuou

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como parceiro na tentativa da resolução do problema; não que tudo tenha sido resolvido, mas o Estado

tem atuado no sentido de solucionar os problemas, verificados inclusive dentro do Estado, que, diga-se

de passagem, não é homogêneo.

Com relação à demarcação do território Guarany Kaiowá, Anastácio é testemunha dos

esforços da Funai para dar prosseguimento aos procedimentos visando à demarcação, estão tomando

todas as medidas possíveis para enfrentar as dificuldades. Semana passada houve vitória importante,

que foi a decisão da Justiça que permitiu a entrada da Funai nas fazendas para dar prosseguimento aos

estudos; a direção da Funai foi contatada pelo presidente Lula, que solicitou a celeridade do órgão na

resolução dessa situação.

A propósito da presença da Força Nacional de Segurança na Funai, já esclareceu e volta

a repetir que ela não está controlando ou impedindo a entrada de ninguém no órgão, o procedimento

de controle que está sendo feito é aquele que existe em qualquer órgão de governo, com a finalidade de

garantir a segurança no local. A razão da presença da Força Nacional é devido ao fato de que vários

membros da direção estão sofrendo ameaças anônimas, e por recomendação do Ministério da Justiça se

manteve a presença da Força Nacional. Diante das colocações que foram feitas, acredita que a bancada

indígena pode formalizar as preocupações que foram apresentadas para que possam até mesmo

reavaliar junto ao Ministério da Justiça a questão da presença dessa força. Lembrando que não se trata

somente da segurança da instituição, mas das pessoas que integram a direção, pois têm sofrido

ameaças contra a sua integridade física. A situação poderá ser reavaliada a partir da análise que vier a

ser feita levando em conta as considerações presentes no documento da bancada indígena. Esse seria o

encaminhamento para se reavaliar a questão da segurança.

Quanto ao regimento da Funai, e respondendo a pergunta de Gersem, o presidente

destacou inicialmente a questão de que a representação indígena no comitê regional não tenha vínculo

com o governo - esclarecendo que a proposta de regimento é justamente que a bancada indígena não

seja composta por indígenas que têm cargos no governo. O que visa a garantir a autonomia e a

legitimidade da bancada. A propósito, lembrando aos membros da bancada indígena e da sociedade civil

que em uma oportunidade anterior solicitou que reflitam sobre a participação de representantes

indígenas na CNPI que são membros de órgãos do governo, pois está previsto no regimento da Comissão

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que isso não pode acontecer. Inclusive consta no decreto a previsão de que sejam realizadas

assembléias para que se proceda à escolha de membros que venham a substituir aqueles que sejam

servidores. E, muito embora não se possa deixar de ressaltar que esses membros têm contribuído muito

na Comissão, faz a solicitação para que se corrija rapidamente essa situação.

No que tange à sugestão de que se crie um fórum nacional que reúna os comitês

regionais, confessa que não pensaram nessa proposta ao trabalhar no regimento, por acreditar que a

CNPI e os comitês poderiam cumprir esse papel. De fato poderia ser criado um conselho no âmbito

exclusivo da Funai para que se possa discutir os assuntos que dizem respeito exclusivamente ao órgão;

ao se tratar dos comitês regionais no âmbito do regimento poderiam criar uma espécie de fórum

nacional para tratar dessas questões.

Com relação ao papel da CNPI e dos comitês, está claro – já respondendo a Gilberto –

que ambos têm papel de discussão da política indigenista na região, sendo que o artigo 10º do decreto –

parágrafo 5º trata justamente da participação de outros órgãos governamentais. Este seria um caminho

para aperfeiçoamento, mas o aperfeiçoamento dos comitês se dará por portaria e num primeiro

momento a portaria de nomeação dos membros incluirá a nomeação dos outros órgãos que se julgar

importante participar do comitê, portaria esta que será assinada pelo presidente da Funai. A idéia era

que não tivessem direito a voto, mas podem trabalhar, como aperfeiçoamento, que possam também ter

direito a voto, sendo que através da portaria se poderá formalizar a participação desses órgãos nos

comitês.

O decreto prevê a participação dos membros da CNPI nos comitês, mas sem direito a

voto, no entanto acredita que este é um ponto que poderá ser discutido, poderão considerar essa

possibilidade. A idéia era que o comitê fosse uma instância regional, composta pelos representantes da

região; a CNPI poderia participar, porém sem direito a voto, porque os membros da Comissão já têm

direito ao voto na CNPI, onde se decide a política em âmbito nacional, cabendo aos representantes

regionais o voto nas questões que dizem respeito a sua região.

Quanto ao funcionamento das unidades regionais, mencionada por Gersem Baniwa, o

presidente afirmou que estão funcionando, embora exista uma minoria que ainda não tem seus

coordenadores regionais nomeados e estrutura para o funcionamento. Devem considerar, no que

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concerne à dificuldade de funcionamento, a questão do boicote, pois há alguns servidores que fazem

corpo mole ou de alguma forma geram dificuldades que impedem o pleno funcionamento da unidade.

Estão apostando que os novos servidores que serão nomeados vão contribuir para que se possa mudar

essa prática e estão fazendo todo o esforço para que a mudança se dê o quanto antes. A maioria dos

coordenadores regionais estão nomeados e o desafio maior agora diz respeito à nomeação dos

coordenadores regionais.

Sobre a sugestão feita por Daniela, acha interessante e de fato não pensaram nela;

talvez pudessem estabelecer algum tipo de critério de percentual, perguntando se isso já foi definido

pela Secretaria ou se há alguma recomendação nesse sentido que possa servir de base para que esse

tema seja tratado no regimento. Daniela afirmou que em geral se trabalha com um percentual de 30%,

que é o número usado nas eleições, mas que o ideal seria trabalhar inicialmente com uma

recomendação. O presidente concordou que se inclua no regimento uma recomendação no sentido de

garantir uma participação maior de mulheres indígenas nos comitês, e inclusive na CNPI, onde também

a maioria é de homens.

Com relação aos comitês, vão tratar de assuntos que dizem respeito não só à Funai, que

tem assento porque está no âmbito de sua competência a coordenação da política indigenista brasileira,

mas sempre ficou claro que deveria haver a participação de representantes de todas as esferas de

governo e de outras entidades da sociedade civil. O voto paritário incluirá ou não essa questão; no

regimento interno, acredita que a portaria do presidente da Funai por meio da qual serão nomeados os

membros já deverá incluir não só os representantes indígenas, mas também de outros órgãos, o que

seria mais um ponto a ser considerado para o aperfeiçoamento do decreto presidencial.

Quanto ao prazo, a preocupação maior é que se chegue ao final do ano sem que a Funai

tenha um regimento interno, lembrando que o órgão está sem regimento desde 2003. Destacando que

é verdade que a Funai se comprometeu a apresentar a proposta antes dessa plenária, no entanto isso

foi muito mais difícil do que imaginava. Considera que deve ter sido colocado por Aloysio Guapindaia

sobre a importância de chegarem ao final do ano com o regimento aprovado, precisam de um tempo

para fechar, fazer os ajustes, e no máximo em novembro precisam publicar esse regimento.

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Anastácio Peralta afirmou que o Estado tem ações, sendo que no Mato Grosso do Sul a

maioria dos municípios trabalham com educação ou agricultura, e é difícil que participem sem ter direito

a voto; com voz e voto vão participar mais efetivamente do comitê, destacando que por meio de sua

participação vão poder acompanhar melhor o que esses órgãos estão fazendo. Lembrando que também

há organizações não governamentais que desenvolvem ações junto aos povos indígenas. Portanto, caso

essa participação seja melhor definida, vão poder cobrar melhor.

Crizanto Xavante foi o próximo a fazer uso da palavra, destacando que em geral

participa dos trabalhos da subcomissão de saúde, mas nesta reunião participou da subcomissão de

Educação, e lendo as atas preocuparam-se com o fato de que, de acordo com parecer da Procuradoria

Jurídica da Funai, cabe ao órgão somente “acompanhar” as ações nessa área, embora o presidente

tenha dito que não muda nada. Assim, pergunta como fica o apoio aos indígenas que estão cursando o

nível superior, afirmando que não consegue compreender como o órgão pode atuar de forma efetiva se

for somente acompanhar as ações.

Luis Titiah retomou a questão da prisão de Glicéria Tupinambá, ressaltando que esteve

presente no momento em que ela foi detida, tendo recebido informação de que ela não foi presa antes

da reunião da CNPI para evitar repercussão na reunião com o presidente Lula. Destacou que a situação

não está resolvida, pois, segundo Informações que estão circulando, os fazendeiros estão se

mobilizando para que o cacique Babau seja morto, inclusive oferecendo prêmio pela sua cabeça, ao que

convidou Patrícia Pataxó para fazer algumas considerações. Patrícia afirmou que apesar de admirar e

respeitar o trabalho da Procuradoria e do procurador o fato é que a Funai “não tem pernas” para

acompanhar o que acontece no Brasil, afirmando que é sua convicção que Glicéria foi presa devido às

palavras que proferiu na última reunião da CNPI, durante a qual se posicionou com relação à atuação da

Polícia Federal em sua região.

Prosseguindo, afirmou que a Funai não tem condições de acompanhar os casos que

envolvem indígenas, relatando que durante 7 dias o órgão não tinha conhecimento do paradeiro do

cacique, tendo o representante do CIMI percorrido vários órgãos prisionais antes de ter conhecimento

sobre o seu paradeiro. Destacou que o cacique não foi solto devido à ação da Funai e sim devido a uma

articulação da Secretaria Especial de Direitos Humanos, que recorreu à Corregedoria do Judiciário, no

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entanto está claro que as investigações vão continuar. Sugere que o órgão tome posição, que a

Ouvidoria visite o território Tupinambá, pois será uma vergonha que seja feita visita pela Secretaria

antes da Funai; declarando ainda que não está sendo feita a distribuição dos habeas corpus pelo

Tribunal da Bahia. Concluindo, pergunta o que pode ser feito para acompanhar melhor a criminalização

dos povos indígenas no Brasil, especialmente na região dos Tupinambá.

O Procurador Geral da Funai, Antonio Salmeirão, afirmou que concorda com o que foi

dito no sentido de que a Procuradoria não tem pernas, destacando que não tem pernas suficientes, pois

vem agindo sim, na medida em que lhe é possível. Há um procurador que foi designado para levantar

quais e quantos são os inquéritos, e isso foi feito, sabem exatamente quantos são, e não são poucos. E

ele vai fazer o acompanhamento. De fato não foi apenas devido à ação da Funai que o cacique foi solto,

houve a participação da Secretaria de Direitos Humanos; concorda que houve dificuldades com o

procurador de Boirarema.

O procurador informou ainda que no dia seguinte a procuradora do Conselho de

Direitos Humanos poderá esclarecer sobre o grupo que está se formando para ir à região falar com

diversas autoridades. Informando ainda que o cacique esteve em Brasília e já foi acertado

anteriormente que é preciso manter entendimentos com vários órgãos para tratar sobre o fato de que

muitos órgãos se negam a prestar atendimento a indígenas, e também sobre a questão do preconceito.

Esclarecendo ainda que, se forem retirados, os pequenos fazendeiros serão reassentados, sendo que, a

partir dessa visita, poderá haver vários desdobramentos.

Concorda que da primeira vez que Babau foi preso o habeas corpus da Funai foi julgado

e ele foi solto, mas em seguida foi preso novamente; de fato parece que por alguns dias não se soube de

seu paradeiro, mas isso também foi resolvido. A situação das dificuldades que estão sendo vividas na

região foram apresentadas na CDH, vão voltar a ela, e a comissão que está indo na semana que vem

pretende falar com os delegados, e estes serão responsabilizados, o inquérito sobre a tortura de 5

indígenas na ação da polícia feita na Serra do Padeiro será reaberto. Concluindo, o procurador afirmou

que estão muito atentos a essa situação de violência que está ocorrendo na Serra do Padeiro, que fica

difícil se deslocarem a todo o momento para lá, mas há um procurador que está acompanhando essa

situação.

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Paulo Pankararu se manifestou a seguir, afirmando que Gersem Baniwa ressaltou que

tem aberto mão de ser membro de conselhos para que possa ocupar cargos, e também tem feito isso

pessoalmente. Na qualidade de representante de governo, sugere que usem o espaço da CNPI para

discutir assuntos que não dizem respeito somente ao seu próprio povo, mas que digam respeito às

problemáticas que afetam os povos indígenas como um todo, citando como exemplo o caso do

território do povo Pataxó que se arrasta há anos na justiça. Tem acompanhado de perto o caso do

cacique Babau, e pode dizer que o processo de demarcação pode ser considerado como medida

estruturante, inclusive o CDH trabalha a proteção da pessoa de duas formas – a demarcação do

território e em segundo lugar a proteção do indivíduo. Com relação ao caso de Babau e seus irmãos,

como está na alçada da justiça, tem sido feito o acompanhamento em conjunto com a Procuradoria

Jurídica.

Ressaltou que é importante que possam contar com o apoio dos advogados indígenas,

que é o que se está buscando com resultado do convênio com o Cinep. Considera que não se deve tratar

o desfecho do caso do cacique Babau como o êxito de uma área específica, mas sim de um esforço

conjunto do Estado visto de forma mais ampla. Sendo que alguns casos devem ser resolvidos no âmbito

da Justiça, e não compete às outras esferas agir em áreas que vão além da sua competência.

Destacando que mesmo com as limitações enfrentadas pelo órgão indigenista tem se buscado dar

respostas consistentes na medida do possível.

Retomando a palavra, o presidente Márcio Meira destacou que deve ficar claro que têm

sido feitos esforços para dar o encaminhamento necessário para as questões, lembrando que nos

últimos 3 anos e meio conseguiram duplicar o número de procuradores federais atuando na Funai, mas

mesmo assim isso ainda não é suficiente, pois a demanda é muito grande. Destacando a importância de

que se atue de fato na defesa daqueles que estão tendo os seus direitos violados.

Saulo Feitosa destacou que tem havido atuação na questão da criminalização e que o

mais importante é atuar na fonte dos conflitos, que é a questão da terra, tendo sido mantidas conversas

com a Diretoria de Proteção Territorial no sentido de que sejam agilizadas cada vez mais as indenizações

e com isso se diminua a ocorrência de conflitos. Esteve visitando Glicéria e os dois irmãos que estavam

presos, relatando que ela sofreu muito na prisão, inicialmente ficou presa com 8 detentas, que eram

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usuárias de crack e cocaína, ela sofre de asma e tinha dificuldades para dormir, e durante o período que

esteve presa teve ainda que fazer uma cirurgia no seio. Cabe destacar que, como membro da

subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania, tem agora até mais condições de atuar na CNPI, em face

de toda a experiência pela qual passou, pois embora algumas pessoas sofram muito com a depressão

pós-período de prisão ela sai fortalecida, ainda que abalada.

Saulo Feitosa relatou que de fato houve um período em que não se sabia do paradeiro

de Babau, narrando os fatos ocorridos durante o período que o cacique esteve preso até que viesse a

ser libertado, inclusive destacando que inicialmente não havia um mandado de prisão e ele ficou um

período como “hóspede”, o que demonstra a arbitrariedade que caracterizou toda essa situação,

destacando inclusive o fato de que a CNPI não agiu como deveria com vistas a acompanhar o caso. O

mais complicado é que a Funai e a Polícia Federal estão no mesmo ministério, o que mostra que o

ministro deve atuar nesse caso, até porque não se trata de uma situação isolada. O empenho agora

deve ser o de viabilizar as distensões possíveis, ressaltando que a comunidade da Serra do Padeiro é um

exemplo em termos de capacidade de produção e é preciso buscar alternativas para que se solucione

essa situação que tanto tem prejudicado a comunidade.

Fazendo referência ao caso de Glicéria, Sansão Ticuna afirmou que o bebê esteve preso

apesar de tão novo, com o que gostaria de destacar a importância de se considerar o tema direitos das

crianças, lembrando que será realizada conferência sobre esse assunto, e que ele deve ser abordado na

Comissão. Afirmando ainda que esse assunto é tratado pela OIT, que foca o trabalho infantil, e isso

também afeta as crianças indígenas, portanto deve ser tratado. Outra questão diz respeito à

preocupação com relação à participação de servidores na Comissão, afirmando que a maioria dos

indígenas que teve condições de se escolarizar são servidores públicos, e, se forem generalizar a maior

parte dos indígenas vai ter que sair de conselhos e comissões, pois há muitos professores indígenas e

outros profissionais que atuam nesses fóruns.

Anastácio Peralta deu informe sobre os dois professores que desapareceram no

município de Paranhos, um tendo sido encontrado morto e outro estando ainda desaparecido, sobre o

que informou que uma comissão retornou na tentativa de encontrar o corpo. Destacando que é um

lugar perigoso, e informando que teve conhecimento de que está faltando comida para alimentar a

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equipe que está fazendo esse trabalho, ao que pede que se tome alguma medida para resolver esse

problema.

Paulo Pankararu afirmou que, considerando a importância do tema relacionado à

criminalização de indígenas, poderia se pensar como proposta que em locais como o sul da Bahia, Mato

Grosso do Sul e Maranhão, seria importante terem coordenações temáticas que pudesse fazer o

trabalho que a Ouvidoria faz em Brasília, acompanhando essas áreas de conflito.

O indígena Tseresaró Xavante, da aldeia de Sangradouro, e que convidado pelo CTI para

participar da reunião, falou a seguir afirmando que é muito importante o trabalho da Funai tendo em

vista que os estados e municípios não atuam da mesma forma que esse órgão; destacou a importância

de que a Funai continue a atuar na educação indígena, que haja uma maior integração da CNPI com as

organizações indígenas, coordenações regionais, CTLs, que os membros da Comissão passem para as

unidades da Funai o resultado das discussões, que seja aberto o espaço para a participação dos jovens, e

que a discussão na CNPI seja aberta, de forma que quando vierem para Brasília possam participar e

acompanhar o que está sendo tratado.

Prosseguindo, relatou uma situação em que um indígena Xavante foi preso de forma

arbitrária, a juíza utilizou de subterfúgios, e a comunidade reagiu e tomou as medidas que julgou

adequadas à situação. Pede que sejam chamados os mais velhos, que se leve a discussão para as bases,

caso contrário é uma perda de tempo e essa discussão toda não leva a nada. Sendo que, trabalhando

em conjunto, podem mudar a situação; em alguns estados sofrem ameaças claras de fazendeiros, não

têm segurança. O decreto determina que a Funai faça a intermediação desses casos, que monitore e

demonstre que está de olho nessas áreas, pedindo enfim que os caciques que são membros da CNPI

apareçam e aos poucos possam ir somando forças.

Marcos Tupã cumprimentou a todos, destacando duas preocupações, relacionadas à

reestruturação da Funai e os seminários que vão acontecer. Alguns representantes indígenas estão em

Brasília desde o dia 18, quando participaram de treinamento sobre a metodologia e discussão dos

seminários. Preocupa-se, ao pensar nos seminários, que sejam meramente de esclarecimentos e

informação, pois na base vai haver demandas de interesses, e afirmando que chamou sua atenção e o

preocupa que, quando houver demandas e proposições da região, esses assuntos não serão discutidos e

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sim encaminhados à diretoria colegiada, para decisão. Quando falam no regimento interno, que deve

ser mais claro e se tome decisão encaminhada nos seminários, preocupam-se também com o número

de servidores que vão participar, devendo se pensar de forma que os indígenas tenham um maior

número de participantes, pois são apenas 25 de sua região, enquanto que são 50 servidores ou mais.

Como encaminhamento, Marcos solicita que os seminários não sejam somente de

informação e esclarecimento, pois na região vai haver demandas de encaminhamentos sobre as aldeias,

políticas e representação. Portanto, demanda que se dê encaminhamento mais direto, inclusive sobre o

regimento, para que se tenha maior qualidade em termos de definições.

Prosseguindo, Marcos Tupã tratou sobre situação envolvendo a regularização fundiária

de terra localizada em Manguetá (Santa Catarina), ao que leu documento denunciando o ministro da

Justiça pela assinatura da portaria 2747, de 20 de agosto 2010, que revoga a declaração de posse

permanente do grupo Guarany Mbiá sobre o referido território. O que atribui ao objetivo de atender a

interesses econômicos e de candidatos a governo do estado, que pretendem levar adiante

empreendimentos na referida área. Solicita que a Funai interceda a fim de reverter a assinatura do

documento e continue atuando na defesa dos direitos indígenas.

A propósito, o procurador geral da Funai esclareceu que o que foi lido refere-se a duas

ações judiciais impetradas em Joinville, informando que já foram adotadas 2 medidas judiciais e mais

uma está em andamento e de fato o ministro cumpriu a decisão da justiça. No entanto, a Funai está

agindo e acredita que em breve terão notícias positivas com respeito a esse caso.

Ak’Jaboro Kayapó destacou que é importante ver que os jovens querem participar, e é

bom que eles vejam que os membros da CNPI estão trabalhando pela defesa dos direitos indígenas, é

bom que veio e pode observar que estão sofrendo, deixam suas famílias e vêm para Brasília para

defender os direitos de todos os povos indígenas. Afirmou que está feliz com a reestruturação, estão

lutando e estão ganhando. Sobre a segurança da Funai, disse que concorda que é preciso ter segurança,

isso os mais novos entendem, só que os seguranças fazem várias perguntas e além disso os mais velhos

muitas vezes nem têm documentos para apresentar e não os deixam entrar sem que apresentem esses

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documentos. Comentou ainda sobre a fala de Gersem Baniwa, de que servidores públicos não devem

ser parte de conselho, quando na verdade eles assumem esses cargos justamente para levar

informações para a base, esclarecer, trazer as informações da cidade para os que estão na base. [Como

Gersem não se encontrava mais na reunião, Ak’Jaboro destacou que vai conversar com ele

pessoalmente].

O presidente Márcio afirmou, inicialmente, sobre a questão da educação, que segundo

consta inclusive do Estatuto da Funai e do regimento interno que está em discussão, está colocado logo

no início a competência do órgão, que inclui não só acompanhar mas também executar, acompanhar as

ações nessa área. O texto do regimento é muito claro quanto ao que está proposto e este artigo está

baseado no Estatuto da Funai, que deve ser entendido como um todo, desde o inciso II, onde estão

descritas as finalidades do órgão, sendo que o termo “acompanhar” deve ser entendido dentro de um

contexto. Ocorre que muitas pessoas ainda têm dúvidas, questionando se a Funai vai cumprir suas

atribuições. Lembrando que existe a lei, e esta determina, dá atribuições também para o MEC, com o

qual está sendo celebrado convênio, e também com outros órgãos.

Tranqüiliza a todos no sentido de que a Funai continuará dando o apoio técnico à

educação em suas várias áreas. Concorda com os encaminhamentos propostos por Saulo, que as

indenizações sejam pagas o mais rápido possível na região do sul da Bahia, de Mato Grosso do Sul,

Maranhão; orgulha-se de ter sido o presidente que assinou a autorização para os estudos da terra dos

Tupinambá, inclusive esteve em audiência pública com os fazendeiros, quando enfrentou a tropa de

choque da região. Destacando também que no dia anterior houve vitória importante no Tribunal

Regional Federal em Brasília com relação ao território Maraiwatsede, a favor da demarcação, situação

que envolveu todos os procuradores e servidores empenhados na questão.

Com relação à questão do jovem indígena, frisou que existe uma subcomissão de

Gênero, Infância e Juventude, e este é um tema importante na reestruturação, tanto é que inclusive foi

criada a Coordenação de Gênero e Geracional, onde atuam duas mulheres indígenas; vem sendo

discutida a questão da adoção e outros pontos em que tem sido feito o enfrentamento, como é o caso

do infanticídio, que vem sendo discutido no Congresso Nacional.

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No que se refere aos membros da Comissão que são servidores públicos, devem ter

claro que a CNPI tem um regulamento e se não for cumprido à risca ficam fragilizados, pois os membros

que estejam nessa situação podem ser acusados de estar sendo manipulados, coagidos ou outros tipos

de posturas semelhantes. Para a própria CNPI seria importante garantir que os membros sejam pessoas

das organizações indígenas, para não fragilizar a Comissão; isso não quer dizer que não vão poder

continuar contribuindo para a discussão e implementação das políticas públicas, pois são pessoas que

estão contribuindo com a política de outra perspectiva.

Respondendo às perguntas sobre a metodologia dos seminários, seria importante ficar

claro que os seminários são de informação e esclarecimento porque não há como discutir mérito sem

que primeiro todos saibam o que é a reestruturação da Funai. Os seminários não são o fim e sim o início

de um processo de discussão, e por isso eles têm dois objetivos – que as pessoas saibam de fato o que é

uma coordenação regional, a gestão participativa etc., depois vão estabelecer agenda de como vão

trabalhar, com os comitês sendo um espaço importante de intervenção e protagonismo. É natural e

sabem que vão aos seminários e as comunidades vão demandar, mas este não é o objetivo; a partir dos

seminários vão criar os espaços para o atendimento das demandas.

O presidente prosseguiu afirmando ainda que é preciso ter claro que os seminários são

um ponto de partida e não de chegada. Sobre o número de participantes, são 100 indígenas e 50

servidores da Funai, portanto a maioria dos participantes é composta de representantes indígenas; a

participação dos servidores é decisão visando a incluir os servidores e responde a uma reivindicação do

próprio movimento indígena, para que acompanhem de fato o processo. A experiência de se incluir os

servidores só reforça a importância de que se faça isso.

Antonio Caboquinho afirmou que, no caso dos Potiguara, ocorre que não há servidores

suficientes para ocupar o número de vagas da região, e além disso ocorre que há 30 caciques, então

solicitaram diminuir o número de servidores e aumentar o de indígenas. O presidente comentou que

nesses casos é óbvio que deve prevalecer o bom senso, pois há unidades da Funai em que o número de

servidores é pequeno, a coordenação regional é nova e ainda vai receber novos servidores, e portanto o

mais coerente é que se faça isso.

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Sobre as portarias relativa aos Guarany Mbiá, o presidente declarou que a Funai vai

atuar firmemente para a revogação das liminares, assim que tomou conhecimento determinou que a

Procuradoria tomasse medidas firmes com relação a este caso; essas portarias foram assinadas na

gestão do presidente Márcio, pelo ministro Tarso Genro, e têm todo o interesse em que se vá até o fim.

Finalmente, foi definido encaminhamento quanto à realização de reunião entre o

Ministério da Justiça, Funai e Polícia Federal a fim de discutir a questão da criminalização de

indígenas, o que deverá ser intermediado pela secretária executiva da CNPI. Ao que foram encerrados

os trabalhos deste dia, iniciando-se na manhã do dia seguinte com a discussão sobre a Política Nacional

de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas – PNGATI.

Dia 27 de agosto – manhã

Informes

Iniciando a reunião, foram lidas as cartas de Mauro Noleto, que representou o

Ministério da Justiça, e de Sandro Tuxá, tratando as duas de informar que os mesmos não mais estariam

participando da CNPI, o primeiro devido ao fato de ter se afastado do Ministério da Justiça e o segundo

por ter se candidatado a deputado no estado da Bahia.

Dando prosseguimento, Antonio Caboquinho afirmou que a bancada indígena se reuniu

para discutir a questão dos membros que são representantes na Comissão, ocasião em que aprovaram

encaminhamento no sentido de que seja informado para as organizações que solicitaram a renovação

das representações que os representantes indígenas solicitam à Funai que defina datas e arque com os

custos das reuniões para definir os novos representantes. Sobre o regimento, disse que na primeira

semana que estiveram em Brasília acreditavam que os seminários seriam para aprovar o regimento, mas

querem que sirvam para preenchimento de lacunas no regimento. Solicita que seja feito um seminário

maior, como foi feito com o Estatuto do Índio, com a participação da CNPI, a fim de discutir o regimento

interno.

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Em referência aos assuntos tratados, o presidente Márcio Meira afirmou, inicialmente,

que a CNPI deve verificar as datas em que estão marcadas as assembléias para escolha dos novos

membros, e que será verificada a possibilidade de colaboração eventual da Funai no que for viável.

Quanto ao regimento, lembrou que no dia anterior ficou definido que receberiam contribuições para o

regimento até o final dos seminários, previsto para o final de outubro, pois precisam do mês de

novembro para adotar os encaminhamentos necessários e enviar a proposta para o Ministério da

Justiça. O entendimento da Presidência foi que até o final dos seminários estariam abertos para receber

sugestões, após o que deverá apresentar o texto ao Ministério da Justiça.

A seguir se passou à aprovação da ata da 6ª Reunião Extraordinária da CNPI, realizada

na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, não tendo havido ressalvas a não ser a inclusão do nome de

Daniela Alarcon, da Secretaria Especial de Políticas de Mulheres, tendo a referida ata sido aprovada sem

outros destaques. Em seguida passou-se à deliberação quanto à ata da 13ª Reunião Ordinária da CNPI,

ao que foi explicado que a degravação não contém o trecho relativo à reunião com o presidente Lula,

uma vez que a equipe de filmagem foi retirada da sala. Ficou aprovado como encaminhamento que será

utilizado o registro feito pela relatora na referida reunião, acrescentando a apresentação do Ministério

de Minas e Energia. O presidente comprometeu-se, ainda, de tentar recuperar o áudio da referida

reunião que tenha sido feito pela Presidência e que voltarão a tratar da ata da 13ª Reunião Ordinária na

próxima reunião.

Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas - PNGATI

Passando ao tema da pauta do dia, foram convidadas para fazer uso da palavra a

coordenadora da Coordenação Geral de Gestão Ambiental da Funai, Marcela Menezes, e a

Coordenadora da Carteira Indígena, do Ministério de Meio Ambiente, Lylia Galetti.

Antes, o presidente fez uma breve apresentação sobre o assunto, afirmando que a

PNGATI se trata de uma política reivindicada pelo movimento indígena até mesmo antes de ter sido

criada a CNPI, no sentido de que fosse instituída política de gestão ambiental e territorial. Antes dessa

política, foi estabelecida parceria entre Funai e MMA para tratar do GEF Indígena, que é o precursor

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desse processo; destacando que quando chegou à Funai já havia negociação nesse sentido, ainda que o

assunto estivesse meio parado. Conseguiram recurso no Banco Mundial e agora o projeto está em fase

de implementação, sendo uma importante conquista do governo nessa direção.

Já criada a CNPI, na reunião realizada em junho de 2008, reuniram-se pela primeira vez

com o presidente Lula, quando foi assinada portaria ministerial entre o ministro da Justiça, Tarso Genro,

e o ministro de Meio Ambiente, criando um Grupo Interministerial para produção de proposta de uma

política nacional de gestão ambiental em terras indígenas. O GT é composto por membros do governo e

representantes indígenas, também da CNPI, que foram indicados para participar dos processos de

consulta, e no último ano a CNPI realizou, juntamente com o Ministério do Meio Ambiente, em conjunto

com as organizações indígenas e com a participação da CNPI, as consultas sobre essa política. Seria

importante registrar na ata a memória desse processo de conquista e avanço, sendo que agora se chega

ao momento em que o grupo interministerial vai apresentar o resultado do seu trabalho, o que não

significa que foi concluído, mas o trabalho vai resultar no decreto do presidente da República.

Toya Manchinery, membro do GTI e da CNPI, foi convidado a contribuir na apresentação

ao que explicou que não participou da reunião no dia anterior porque estava na reunião do Grupo de

Trabalho Interministerial. Essa política é um processo bastante interessante para as comunidades

indígenas, mas é preciso lembrar de projetos importantes que desencadearam esse processo – o PPTAL,

que atuou na proteção e gestão de terras indígenas na Amazônia; o PDPI; o GEF Indígena, tendo o

movimento indígena definido que seria importante expandir essa iniciativa para todos os povos

indígenas. As consultas foram um processo muito participativo, do qual fizeram parte mais de 1500

indígenas, e que foi organizado em conjunto com as organizações indígenas. Nessas consultas, puderam

opinar sobre a gestão do seu território e buscaram discutir formas de garantir uma gestão que gere

recursos e aumente a economia familiar. A proposta de decreto, ao ser assinada pelo presidente, vai ser

muito interessante para os povos indígenas, pois será orientação de como gerir os recursos ambientais;

não cria direitos, mas define como o Estado deve atuar.

A Coordenadora de Gestão Ambiental da Funai, Marcela Menezes, cumprimentou a

todos e explicou que faz parte da coordenação do GT, juntamente com Lylia Galetti e a APIB, passando a

seguir à apresentação do vídeo produzido na Consulta de Mato Grosso do Sul.

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Ao final da apresentação, a coordenadora da CGGAM fez apresentação (vide

degravação) em Power Point na qual inicialmente se informou sobre o GTI – composição,

funcionamento, finalidade; marcos legais; o porquê de se criar uma Política Nacional de Gestão

Territorial e Ambiental de Terras Indígenas; reuniões realizadas pelo GTI para elaborar o documento

base que foi levado às consultas, bem como para definição da metodologia; sobre as consultas já

realizadas e reuniões posteriores às consultas, visando à sistematização das contribuições de todas as

consultas. Foi informado ainda sobre a metodologia utilizada nas consultas para a elaboração da minuta

e para a sistematização dos resultados; sobre o processo consultivo – desde o seminário nacional,

realizado em 2009, às reuniões de sistematização, em 2010; sobre o objetivo das consultas, que foi o de

apresentar e colher propostas e sugestões dos povos indígenas sobre o tema. Destacando que além das

consultas foram realizadas pequenas prévias – em Boa Vista, Cuiabá, somente com os povos do Mato

Grosso, Xingu, Amazônia; tratando ainda sobre participação social e protagonismo indígena, número de

participantes indígenas e, finalmente, passando à apresentação do documento base com as

contribuições obtidas nas consultas e que será analisado pela CNPI.

Com relação à minuta do decreto, foi explicado que contém as seguintes partes:

Capítulo I – Disposições preliminares, no qual são apresentados conceitos, como o de Gestão Territorial

e Ambiental de Terras Indígenas, faixa de segurança etnoambiental, terras indígenas; Capítulo II – Das

Diretrizes, que são 13 e em resumo buscam reconhecer os direitos dos povos indígenas, valorizar suas

culturas e organizações sociais, garantir do protagonismo e autonomia indígena, valorizar a contribuição

das mulheres indígenas, e das terras indígenas para a preservação dos biomas brasileiros por meio da

proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais imprescindíveis à reprodução física e

cultural das presentes e futuras gerações, entre outras.

O Capítulo III contém os objetivos da Política, estando o objetivo principal contido no

artigo 4º, qual seja: “[…] garantir e promover a proteção, a recuperação, a conservação e o uso

sustentável dos recursos naturais das terras e territórios indígenas, assegurando a integridade do

patrimônio indígena, a melhoria da qualidade de vida e as condições plenas de reprodução física e

cultural das atuais e futuras gerações dos povos indígenas, respeitando sua autonomia e formas

próprias de gestão territorial e ambiental”.

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Alguns dos temas contemplados nos objetivos específicos são a proteção das terras e

recursos naturais; governança e participação indígena; entorno e etnozoneamento; terras indígenas,

áreas protegidas, unidades de conservação; povos indígenas em isolamento voluntário e povos de

fronteira; preservação e recuperação de danos ambientais; licenciamento ambiental de obras e

atividades potencialmente poluidoras dentro e no entorno das terras indígenas; uso sustentável dos

recursos e apoio a iniciativas produtivas indígenas; propriedade intelectual e patrimônio genético;

capacitação e formação para implementação da PNGATI; recuperação de áreas degradadas, ATER,

reversão e multas por ilícitos ambientais, ICMS ecológico, intercâmbios, entre outros.

O Capítulo IV trata das Instâncias de Gestão e Monitoramento da Política, no qual se

define como órgãos de gestão da PNGATI: I) a CNPI; II) a Conferência Nacional da PNGATI; III) o Comitê

deliberativo Nacional da PNGATI; IV) os Comitês Regionais da PNGATI; V) os Comitês Locais da PNGATI.

Constando deste capítulo a descrição das competências de cada uma das instâncias.

No Capítulo V estão descritos os Instrumentos e Mecanismos Financeiros da Política,

instituindo-se o Programa Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas – PROGATI e

definindo a origem dos recursos para o seu funcionamento. Finalmente, o Capítulo VI contém as

Disposições Transitórias e o Capítulo VII as Disposições Finais. Sendo finalmente apresentado o

montante total de investimento nas consultas, no valor de R$ 2.000.082,11.

Lylia Galetti, integrante da bancada indígena enquanto representante do Ministério do

Meio Ambiente, parabenizou a Funai pelo novo centro de treinamento, que é um espaço bonito e

adequado para se reunirem. Sobre a PNGATI, destacou que tiveram uma secretaria executiva, que

trabalhou muito para dar conta desse processo, inicialmente exercida por Isabela, e depois foi assumida

por Hilda Araújo, da Funai. Destacando ainda que o trabalho da equipe logística e administrativa, cuja

coordenação foi feito por Hilda, foi muito importante; assim como foi muito importante a atuação das

organizações indígenas que foram parcerias, as quais mobilizaram a sociedade local para acompanhar o

evento, chamaram convidados, e isso deu maior consistência às consultas. Algo que precisa ser

destacado, prosseguiu Lylia Galetti, é que se buscou nesse processo ir além da consulta, mas incentivar

o protagonismo indígena. E a parceria de governo não só com as organizações, mas com a articulação de

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organizações indígenas, que a partir de Brasília fez um grande trabalho, tanto nas regiões como

enquanto articuladora nacional.

Cabe informar ainda que os recursos da PNGATI saíram em grande parte do MDS,

entendendo que os recursos para desenvolvimento e fomento teriam relação direta com a gestão

ambiental; ministério este que vem colocando a questão da relação direta da segurança alimentar e o

bom estado das terras indígenas para a sustentabilidade indígena. E diante disso foi um parceiro

fundamental na discussão da política e certamente será também na implementação, já no novo escopo

da gestão ambiental e territorial.

O presidente Márcio reiterou os parabéns à equipe que desenvolveu todo o processo de

consulta, colocando a seguir a palavra à disposição da plenária.

Gersem Baniwa parabenizou o GTI pelo trabalho, em particular Funai e Ministério do

Meio Ambiente, afirmando que o processo de consulta tem um resultado muito qualificado, um dos

melhores ao qual já teve acesso. Fez porém algumas considerações, destacando a necessidade de se

reconhecer a importância da gestão ambiental e territorial para os índios urbanos, o que considera uma

decisão muito sábia. Uma segunda questão é que em dois momentos o texto menciona consulta aos

povos indígenas e, como se trata de proposta de lei – o presidente interrompeu explicando que estão

discutindo a proposta de um decreto do presidente da República, não se trata de uma lei, mas de um

decreto – ao que Gersem retomou falando que, como se trata de uma política tão importante, sentem

às vezes dificuldade de saber o que é consulta prévia. Pergunta se não poderiam avançar definindo

melhor o que é a consulta prévia, saindo do conceito geral do que é consulta, pois se ficar muito

genérico pode-se considerar qualquer reunião como consulta.

Colocou ainda questão sobre o artigo 26, comentando que as licenças ambientais são

um tema muito importante, afirmando que além da participação deveria se prever o consentimento com

relação àquele licenciamento no caso específico; sobre os objetivos específicos para capacitação, sugere

que se utilize o termo “capacitar” e não “instrumentalizar”. Todos os itens tratam da recuperação e

restauração de áreas, mas também a preservação e conservação, pois isso dá a idéia de que primeiro se

deixa deteriorar para depois recuperar determinada área. Trata-se não só de recuperar mas também de

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fazer manejo para que a preservação tenha continuidade. Finalmente, a política a seu ver é muito boa e

vai ter sucesso.

Simone Karipuna fez destaque sobre o item 34, que trata sobre a propriedade

intelectual e patrimônio genético, solicitando que se verifique o fato de que, na discussão sobre o

Estatuto, foi definido que o controle do patrimônio genético deve ficar com os indígenas e o órgão

indigenista, no entanto mencionam o patrimônio sobre o controle de outros ministérios.

Dilson Ingaricó agradeceu o esforço dos técnicos e dos servidores da Funai e MMA que

se envolveram no processo; em todos os discursos se fala em gestão, em várias áreas, mas muitas vezes

não se compreende o papel de cada setor ou instituição, sendo que uma palavra mal interpretada pode

prejudicar todo o conjunto. Toda a comunidade deve participar da construção de seu espaço político, de

gerenciar o que é seu, e isso nem sempre acontece. A lei existe para ser respeitada e podem ser feitas

novas leis de acordo com as mudanças na realidade e o desejo das populações.

O presidente Márcio comentou a seguir que, em primeiro lugar, do ponto de vista da

Funai, é muito importante a definição de uma política nacional de gestão ambiental, pois este é o maior

desafio que o Brasil tem com relação às terras indígenas – a Constituição Federal faz o reconhecimento

do direito dos povos indígenas sobre seus territórios, vieram outras legislações e foi feito todo o esforço

da nação brasileira no sentido de ter terras indígenas demarcadas como de usufruto exclusivo dos povos

indígenas, sendo que a maior parte dessas terras fica na Amazônia, mas também estão localizadas no

cerrado e em outros biomas.

O grande desafio do Brasil agora é a sustentabilidade dessas terras, a proteção das

florestas, cerrado, dos biomas nas quais estão, mas também de garantir a sustentabilidade econômica,

pois a partir de ter sua terra demarcada agora os povos indígenas precisam ter suas atividades

produtivas preservadas. Todas as mudanças operadas pelo Estado brasileiro em termos de gestão que

estão se expressando por meio da reestruturação, contratação de novos servidores, a inauguração do

centro, que vai formar novos profissionais, mudanças na área da saúde. Tudo isso tem relação muito

forte com essa política. A política de saneamento das terras indígenas, relacionada à saúde, tem relação

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direta com isso, quem vai nas aldeias vê como é importante a questão do lixo, tratamento da água, que

têm relação direta com a gestão ambiental.

Portanto o Estado está fortalecendo a sua presença para garantir a gestão das terras

indígenas como o controle da sua sustentabilidade, com a participação indígena; os comitês regionais

prevêem essa participação, assim como outros conselhos e comitês existentes em outros órgãos. Essa

política só vem reforçar essa caminhada da presença do Estado brasileiro no território, que é a questão

principal em sua relação com os povos indígenas, inclusive para garantir a soberania do Estado nas

terras indígenas.

A política foi muito bem elaborada, pode haver pontos a melhorar, mas representa um

grande avanço para o país, dará a ele um papel ainda mais importante, inclusive quanto às matas de

desmatamento nos próximos anos. Sabe-se que as terras indígenas têm uma participação importante

nesse processo, apesar de já serem as áreas com menor desmatamento.

Essa política vai iniciar novo momento histórico no país quanto à sua presença no

território, fortalecendo o papel dos povos indígenas nessa proteção. Em termos de gestão, estão

construindo programa de gestão e proteção que é coordenado pelo Ministério da Justiça, com ações de

vários ministérios, e considera que essa política também deve ser uma ação específica dentro do

programa de proteção dos povos, pois com isso o programa ganha cada vez mais força em termos das

ações que deve desenvolver no âmbito da política brasileira.

Do ponto de vista da Funai, essa política é estratégica para o pais, para a nação, para o

futuro – os próximos 20 ou 30 anos serão de desafio e essa política terá um papel fundamental. E por

isso investiram nesse centro, uma escola do Estado brasileiro para formar técnicos capacitados para

promover a gestão territorial e ambiental e outras questões. Portanto é um passo decisivo para a

política indigenista, que completa 100 anos, em que se inicia uma nova relação com os povos indígenas,

de gestão compartilhada.

O Coronel Cecchi, do Ministério da Defesa, afirmou que tiveram acesso a esse material

na segunda-feira e apesar de ter participado como membro convidado, tendo participado da consulta

realizada em Curitiba, pergunta qual seria o procedimento para aprovação da política por parte da CNPI,

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em que parte vão aprofundar a discussão do texto e quando poderá ser aprovado. Como dito por

Marcela, o texto foi baseado no Estatuto que ainda não foi aprovado, perguntando se existe priorização

dessa política em relação ao Estatuto, a respeito do que pede que seja feito esclarecimento.

O procurador da Funai, Antonio Salmeirão, cumprimentou a todos e parabenizou a

equipe pelo brilhante resultado, afirmando que o mérito da proposta principal é a compatibilização das

políticas públicas – há diversas legislações, mas há a necessidade de compatibilizar a execução das

políticas públicas na área ambiental, que as vezes entra em conflito. Em termos de análise jurídica, não

estão criando nada, mas usando os instrumentos já existentes, regulamentando a legislação e

compatibilizando diversas leis. No que tange à relação com o Estatuto, em menção à pergunta do

Coronel Cecchi, o que foi aventado é que o Estatuto foi adotado como parâmetro para que depois não

houvesse conflito com os princípios nele estabelecidos, mas a base legal são as atuais leis em vigor.

Concluindo, parabenizou a todos os envolvidos – à Presidência que levou adiante essa iniciativa, órgãos

envolvidos e aos povos indígenas.

Luana Lazzerini, do Ministério do Desenvolvimento Social, também parabenizou a todos

pelo trabalho, após o que recuperou um dado presente no relatório de segurança alimentar

encomendado pela Funasa, segundo o qual a área onde há maior índice de desnutrição entre as

mulheres indígenas é na região Norte, o que chama atenção, pois é onde está a maioria das terras

indígenas. Ressaltando que falar de preservação ambiental é falar também na soberania e segurança

alimentar. Mencionando o item 34, perguntou sobre o ecoturismo em terras indígenas, perguntando

como foi a discussão e como é a legislação a este respeito. Finalmente, Luana deu informe sobre o

decreto assinado pelo presidente da República a respeito da Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional.

Sansão Ticuna falou a seguir, destacando que gostaria de reforçar conversas que já

tiveram a este respeito, quanto ao fato de 29% do seu estado (Amazonas) é composto de terras

indígenas, no entanto faltam planos voltados para a gestão ambiental e territorial. Outra preocupação

seria com relação a iniciativas que já acabaram, como é o caso do PPTAL e PDPI, que o seu povo não

chegou a conhecer, e agora esperam que a PNGATI gere efeitos sobre seu território. Enquanto que

Anastácio Peralta comentou que é estranho pensar que estejam tentando ensinar o índio como fazer a

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gestão do meio ambiente, quando na verdade os povos indígenas é quem realmente sabem como

preservar a natureza e respeitá-la como deve ser.

Carlos Nogueira, do Ministério de Minas e Energia, afirmou que gestão territorial e

ambiental é essencial não só em terras indígenas, lembrando que municípios com população acima de

20 mil habitantes devem ter um plano de gestão, portanto é algo necessário para indígenas e não

indígenas. Ressaltando que o estudo em si é fundamental inclusive para minimizar e equacionar

eventuais conflitos com relação ao território. Prosseguindo, questionou a apresentação no seguinte

sentido: o presidente colocou que em 2008 a CNPI entendeu que seria importante fazer esse estudo, e

posteriormente surgiu a portaria, no entanto na abertura da apresentação não foi citada a CNPI, sendo

que a Comissão é que irá encaminhar o documento. Mais grave é que isso não é citado na portaria

interministerial, pois em sua opinião deveria ter sido mencionado que existe uma Comissão Nacional de

Política Indigenista, que tem a perspectiva de se tornar um conselho, e que deve ser citada nos

considerandos, o que fortaleceria o trabalho que estão fazendo.

Afirmou ainda que “gestão ambiental” tem a ver com o conhecimento e o estudo

profundo sobre o território – ao falar de gestão ambiental é preciso conhecer todos os aspectos do que

diz respeito a esse conhecimento, realizar estudos para de fato conhecer o território. Até porque há

muitos problemas que são gerados pelo fato de que, por exemplo, constroem-se estradas em locais que

não se deveria. Enfim, a gestão ambiental implica um conhecimento que vai além do que foi previsto,

pois se trata de conhecer de fato um determinado território, havendo vários elementos que devem ser

considerados. Sugere que se inclua uma frase no artigo 6º onde se menciona a que a gestão será feita

pela CNPI, incluindo “ou pelo órgão que o suceder”.

Lylia Galetti passou às respostas e comentários sobre as questões levantadas pela

plenária, iniciando pela fala de Gersem Baniwa, reconhecendo que de fato devem incorporar a

necessidade de se preservar o que não está degradado, o que já está contemplado, mas seria o caso de

reforçar com algo específico; houve recomendações nesse sentido especialmente na região Sul e

Sudeste; acatando, ainda, a sugestão de substituir, na parte que trata dos recursos financeiros, o termo

“instrumentalizar” por “capacitar”. Esclarecendo que ainda será feita revisão em termos jurídicos,

quando serão detectados outros problemas que não ainda não tenham sido considerados.

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Quanto ao que destacou Simone Karipuna, Lylia Galetti esclareceu que no trecho em

comento estão se referindo à proteção inclusive do patrimônio genético que está sobre a propriedade

de instituições diversas, vide o caso do patrimônio sob a guarda de instituições como o Embrapa, e que

não por isso deixa de estar sobre a guarda dos povos indígenas. Comentou ainda a sugestão do Coronel

Cecchi, afirmando que o tempo político está reduzido e estão tentando que o presidente Lula assine o

decreto o quanto antes; passaram o texto para a CNPI no dia 20, o que reconhece que foi pouco tempo,

ressaltando que a CNPI está bem representada no GTI, mas de fato alguns membros do governo foram

substituídos e não houve tempo de o GTI propor a substituição. Da mesma forma que houve alguns

problemas de comunicação interna que impossibilitou que fossem feitos os convites diretamente aos

membros da CNPI para que participassem das consultas.

Esclareceu como o Estatuto foi utilizado como parâmetro para as consultas e portanto

não há qualquer dependência entre a política e o Estatuto; quanto ao comentário feito por Anástacio

Peralta, esclareceu que o texto não quer dizer que é a política que vai ensinar ao índio como cuidar do

seu meio ambiente, pelo contrario, trata de reconhecer esse saber. Ressaltando que houve clareza da

representação indígena de reconhecer que houve um contato forte com a sociedade não indígena e que

esse contato trouxe problemas sérios, como aqueles relacionados ao lixo e outros problemas com os

quais os povos indígenas também têm dificuldade de lidar.

Quanto ao que destacou Carlos Nogueira, Lylia Galetti esclareceu que a apresentação foi

aberta indicando quais as instituições que estavam apresentando a política; houve de fato discussões da

PNGATI na CNPI, a subcomissão de Etnodesenvolvimento cobrou maiores informações, a criação do GTI

foi assinada dentro da CNPI, mas na verdade não houve um momento em que a Comissão se reuniu e

definiu que a criação da política seria importante. A iniciativa foi da Funai e do MMA, reconhecendo que

o Estado cuidou muito mais de demarcar do que de preservar as terras indígenas; no entanto seria o

caso de analisar a inclusão da menção sobre a existência da CNPI nos considerandos. A sugestão a

respeito do capitulo 4 é muito bem vinda e será incluída já ao enviarem para a Procuradoria Jurídica.

Sobre a questão da participação do Ministério da Defesa, houve interesse do Estado

Maior de acompanhar as consultas, tendo a solicitação sido aprovada por unanimidade na CNPI, e

mesmo a representação da CNPI não tendo participado houve participação local dos membros de Forças

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Armadas, com contribuições muito importantes em aspectos sobre a implementação da política em

áreas de fronteiras e outras. E com a política acredita que vão poder trabalhar muito mais na articulação

e trabalho em conjunto com esses órgãos.

Menezes/CGGAM/Funai, informou sobre o rito de aprovação do decreto - vai transitar

pelas procuradorias jurídicas dos dois órgãos (Funai, MMA); a aprovação será encaminhada pelos órgãos

via Ministério da Justiça e será encaminhado à Presidência. Podem definir um prazo de

aproximadamente 15 dias para que possam dar suas contribuições, caso não tenham tido tempo de

analisar até este momento. Prosseguindo, afirmou que as considerações de Carlos Nogueira são

pertinentes, e vão corrigir, fazendo as referências que foram sugeridas. Sobre o etnoturismo e

ecoturismo, informou que foi previsto como ponto fundamental que apenas serão feitos quanto houver

o consentimento das populações envolvidas.

Aloysio Azanha esclareceu que esse tema apresentou diversidade de abordagem nas

diversas consultas – sobre o usufruto exclusivo foi aprovado que apóiam iniciativas vindo das

comunidades indígenas, que os estudos de impacto socioambiental sejam feitos previamente à

exploração. O GTI vem trabalhando um “pacote institucional” pós-decreto, para que seja implementado

na prática, correndo paralelamente à implementação pelos meios devidos por meio de atos que não

dependem de decreto.

Assim, em razão do adiantado da hora, foram encerradas as atividades da manhã,

devendo se retomar as inscrições e o debate após a pausa para o almoço.

27 de agosto – Tarde

Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial em Terras Indígenas (continuação)

Dando início aos trabalhos da tarde, procedeu-se à entrega, ao presidente Márcio

Meira, de documento produzido no Acampamento Terra Livre realizado em Mato Grosso do Sul. A

seguir a palavra foi passada para Deoclides Kaingang, que retomou a discussão da manhã, afirmando

que a região Sul é problemática em termos de preservação ambiental. Diante do que solicita que,

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quando houver projetos nessa área, não sejam esquecidos, pois geralmente são contempladas terras da

região Norte, sendo que precisam de recursos para amenizar os problemas ambientais na região Sul,

onde há problemas graves como o arrendamento de terras e não se encontram áreas de florestas

preservadas.

Antonio Caboquinho comentou que deste momento em diante vão ter maior

embasamento para lidar com a questão dos empreendimentos feitos por indígenas em terras indígenas,

que espera não terem mais problemas com o Ibama, uma vez que a produção de camarão caiu pela

metade e a região está sendo recuperada. Quanto ao plano territorial, afirmou que já têm todo um

trabalho sendo feito, e vão encaminhar para Lylia e Marcela, para que tomem conhecimento.

Levantando finalmente questionamentos com relação às terras que foram degradadas pelo plantio de

cana-de-açúcar.

Saulo Feitosa/CIMI, destacou a importância do plano territorial, entendendo que cabe a

cada povo a autonomia na gestão de seu território; apresenta-se política voltada para assegurar

potencialidades e o controle sobre o território, estando em questão a capacidade dos povos indígenas

de gerir o seu território, ressaltando que as críticas recentes sobre os riscos que as terras indígenas

representam se mostram cada vez mais distantes da realidade. Além da questão do tensionamento que

ainda existe em muitas áreas, entre comunidades e alguns órgãos públicos, e acredita que essa política

vai ajudar a evitar esse conflito. Cabe menciona que, na Política, permanecem questões sem solução,

como o caso da sobreposição das unidades de conservação – havendo proposta de permanecer as que

já existem e também a previsão de que possam vir a ser criadas novas unidades. Porém, caso se levasse

em consideração a tradicionalidade na ocupação desse território, não haveria sobreposição. E, no

momento em que se decide que a comunidade tem autonomia de construir o plano territorial, o inciso

que discute as unidades a serem criadas passa a não fazer sentido, pois todo o tempo se reafirma que as

terras indígenas já se constituem nessas unidades. Seria importante positivar as conquistas traduzindo

agora na realidade prática a compreensão dessa amplitude, tanto dentro das terras indígenas quanto

levando em conta a interação com o MMA.

Marcos Apurinã, da COIAB, agradeceu a todos os que contribuíram para esse trabalho

árduo; acreditam que os povos indígenas vêm trabalhando milenarmente a gestão do território, e com

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isso se reconhece que têm valorizado os recursos nas terras indígenas, e o documento só valoriza o que

os índios fazem há muitos anos. Precisam de um mecanismo novo e mais do que nunca o país pode

entender o que há muitos anos não entendeu. Concluindo, expressou o desejo de que o presidente da

República de fato assine o documento e institua a Política.

Tratando a respeito do Estatuto dos Povos Indígenas, Marcos Apurinã declarou que a

expectativa é que no ano que vem seja trabalhado, visando à sensibilidade sobre e o entendimento das

populações indígenas, ressaltando que o documento tirado do Acampamento Terra Livre traz questões

importantes. Ontem, em uma das falas, parabenizou-se o presidente Lula, no entanto nesse mesmo dia

foi assinada a concessão de Belo Monte, e gostaria de expressar sua revolta publicamente na CNPI,

afirmando que indignação é muito grande – esteve em Altamira e vai inclusive entregar documento dos

servidores da Funai, que causou problemas – que Funai precisa melhorar, e os índios precisam ser

melhor entendidos. As empresas estão dando cestas básicas na região e gostaria de expressar sua

revolta, afirmando que vão continuar brigando para que sejam ouvidos. Estiveram com os Guarany

Kaiowá, o presidente disse que vai comprar terras para esse povo, mas querem sua terra tradicional.

Marcos Apurinã mencionou ainda a questão do povo Cinta Larga, afirmando que se

preocupa muito com a situação, pois não sabem desenvolver atividades como o plantio de roça, coleta

de castanha e outros, e deve se buscar alternativas de sustentabilidade para esse povo. Não vão nunca

desistir da luta, a agenda com o governo é importante.

Daniela Alarcon, da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, destacou a

importância de que as mulheres indígenas tenham participado ativamente da consulta, pois têm

contribuição muito grande a oferecer, colocando-se à disposição para incluir as especificidades de

gênero, bem como para desenvolver projetos em conjunto com os órgãos que se fazem presentes, ao

que o presidente destacou que de fato a PNGATI já considerou a questão de gênero, até porque foi

coordenada por várias mulheres.

Brasílio Priprá ressaltou a importância de que se leve a discussão sobre a Política para as

bases, pois se trata de um assunto muito relevante. A representante da Casa Civil afirmou que está

impressionada com o trabalho que foi realizado, a importância da discussão do tema, destacando que

seria interessante explicar o caminho que vai seguir a proposta até que venha a ser aprovada pelo

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presidente da República. Assim, explicou que os ministérios assinarão exposição de motivos, deverão ter

a aprovação de suas respectivas áreas jurídicas e a proposta será então enviada à Casa Civil, que fará

análise de mérito e oportunidade, ressaltando que uma matéria pode ser vetada integralmente ou

parcialmente. Outro ponto importante a destacar é que, se a Casa Civil achar conveniente consultar

outros órgãos, isso poderá acontecer, portanto no processo de análise poderão ser ouvidos do ponto de

vista jurídico e técnico. Há procedimentos e prazos para serem respeitados e a palavra final é a do

presidente da República, e é muito importante que todos os ministérios se coloquem, antes mesmo de

se fazer a exposição de motivos.

Marcela Menezes respondeu aos comentário de Deoclides Kaingang, explicando que a

política tem várias propostas no sentido de que seja feita a implementação de maneira igualitária,

considerando as necessidades de todas as regiões; quanto à sobreposição das unidades de conservação,

foi prevista a elaboração de planos de gestão em conjunto se assim os povos decidirem, assim, portanto,

respeitando a sua autonomia. Quanto à consulta livre prévia e informada, procuraram abarcar a

complexidade da temática, assim como levaram em consideração o que constava na proposta de

Estatuto dos Povos Indígenas produzida pela CNPI.

Lylia Galetti/MMA, afirmou que, em referência tanto à fala de Caboquinho como de

Deoclides, cabe ressaltar que a riqueza da participação indígena foi muito grande – no Sul se discutiu

muito claramente a questão do arrendamento, plantio de soja transgênica, que o Estado deve dar

soluções factíveis, pois parte das comunidades indígenas vive de atividades que trazem problemas

ambientais. Não se fugiu de nenhuma discussão em nenhuma região do país, as contribuições foram

incorporadas e se sistematizou as propostas de forma a chegar a um denominador comum. Com relação

às mulheres, houve uma participação muito qualificada, inclusive houve prévia somente de mulheres

indígenas em algumas regiões, e foi incluída diretriz que trata sobre essa questão da especificidade de

gênero. Agradeceu a Milena, da Casa Civil, pelos esclarecimentos, e está claro o papel deste órgão e que

a palavra final é do presidente da República, tendo havido uma série de discussões visando a possibilitar

que o decreto seja de fato aprovado ainda nessa gestão.

Lylia Galetti esclareceu ainda que em todas as consultas e nas prévias houve propostas

sobre a questão das unidades de conservação, que foram sistematizadas. Do ponto de vista da área

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ambiental, acreditam que deve permanecer a previsão de que ainda venham a ser criadas áreas de

conservação, até porque a Política se trata de um instrumento que serve a todo o país; assim como vai

haver prazo de discussão e aporte de contribuições, haverá discussão em nível de dirigentes sobre os

aspectos que afetam mais diretamente o ICMBIO, o que foi colocado para o GTI, e poderão ser

apresentados ajustes sobre esses itens. A idéia é que, no processo que vai acontecer no período para

contribuição, estas sejam apresentadas por meio de seus dirigentes.

Encaminhamento

O presidente retomou a palavra afirmando que, considerando todos os esclarecimentos

que foram dados pelos membros do GTI, todas as questões de ordem de procedimentos burocráticos

para que o decreto seja assinado, conforme colocado pela Casa Civil, o entendimento da CNPI é de que

o mérito do Plano de Gestão Territorial foi aprovado, pois todos se manifestaram no sentido de

contribuir; considerando também que esse trabalho do GTI deve continuar ainda, deve-se se definir um

prazo, que seria de cerca de 20 dias, durante o qual a CNPI poderia se apropriar das sugestões a serem

incorporadas na minuta. Considerando que será feita exposição de motivos para encaminhar a minuta

de decreto à Casa Civil, após todas as análises jurídicas e técnicas. Tudo isso deve caminhar junto, o GTI

estará recebendo as sugestões dos órgãos e representantes indígenas nesse prazo, para que se possa

adotar todas as medidas a tempo de ser assinado pelo presidente da República.

Assim, não havendo consideração em contrário, fica aprovado o encaminhamento

quanto à aprovação da proposta de Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras

Indígenas e ficam esperando que no devido tempo cheguem a mais um resultado muito importante

para os povos indígenas. No que tange à plenária da CNPI, esse seria o momento final, devendo as

eventuais sugestões serem encaminhadas diretamente para o GTI, no prazo já definido. Ao que

agradeceu a todos os que contribuíram e participaram do processo de construção dessa política,

ressaltando o brilhante trabalho que foi feito por todos que de alguma forma contribuíram nesse

processo.

Lylia Galetti deu informe no sentido de que a Carteira Indígena lançou edital que poderá

ser acessado no site do MDS e MMA, vão ter algumas oficinas, nos estados onde têm parceria efetiva,

colocando-se à disposição para maiores informações.

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Relatos das subcomissões

Subcomissão de Justiça, Segurança e Cidadania e subcomissão de Etnodesenvolvimento

O relato disse respeito ao trabalho desenvolvido com relação aos Cinta Larga, tendo se

proposto 3 encaminhamentos:

1) Que seja solicitada para a próxima reunião da CNPI a presença das lideranças Cinta-Larga que

estiveram na reunião da CNPI em Rio Branco, do Procurador Reginaldo Trindade, e do Grupo

Operacional, Sr. Mauro Spósito.

2) Deverá haver um espaço para o Ministério da Justiça prestar esclarecimentos quanto aos

avanços e problemas mais recentes da atuação de seus órgãos, Funai e Polícia Federal, com a

finalidade de atender os acordos pactuados nas reuniões junto aos Cinta Larga, principalmente

aqueles relativos ao Projeto Lajes.

3) Recomendar o agendamento de uma reunião do Grupo Operacional, no qual seja pautado o

relatório da CNPI, a necessidade de atuação de combate ao garimpo em outras áreas indígenas

do país; e previsão e estratégia para o fim da operação Roosevelt. A ata e informe dessa reunião

devem ser remetidas à CNPI antes da próxima reunião (sendo que no âmbito da subcomissão

não houve concordância quanto a este ponto pelos representantes governamentais Coronel

Eustáquio Soares e Carlos Cota, diante do que se passou à votação em plenária, aprovando-se a

proposta da subcomissão).

Luana informou que os dois membros da subcomissão que representavam o MDS não estão mais na

instituição, sendo necessário solicitar a sua substituição.

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Informe do CGDPH

Interrompendo os relatos das subcomissões, passou-se a seguir ao informe da

coordenadora geral do CGDPH, conselho ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República, a qual esclareceu que se encontrava presente para trazer informes sobre a ducentésima

reunião ordinária do Conselho, que também têm um grupo de trabalho sobre os Cinta Larga. Porém,

aproveitando a oportunidade, explicou que esteve com o Dr. Augusto Trindade, Piovesan e Dalmo

Dalari, e a expectativa é elaborar o “Diálogo Cinta Larga”; o grupo foi criado em 2007 para acompanhar

os projetos desenvolvidos esse ano, e por volta de 4 de setembro querem fazer diálogo com Funai, MDS,

Polícia Federal, para avaliar como o assunto tem sido tratado visto pelo atores.

O informe que veio dar é sobre os Tupinambá, no sentido de que o Conselho foi

provocado para acompanhar o caso dos Tupinambá de Olivença, dado o episódio com agentes da Polícia

Federal. Diante do que decidiram formar grupo com representantes do Ministério Público Federal, o

Ouvidor de Direitos Humanos, o Ouvidor Agrário nacional, do Conselho de Direitos Humanos, Conselho

de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, Procuradoria da Funai e outros órgãos, com os quais

pretendem seguir para o estado, visando a ter acesso a inquéritos policiais, processos judiciais

envolvendo a comunidade e com isso facilitar a solução pacífica do conflito entre índios e não índios.

Visita essa que provavelmente ocorrerá entre o dia 20 e 21 de setembro. Esteve na região, colhendo

depoimentos, assim como esteve com o cacique Babau antes de ser preso e querem estar presentes

para facilitar um diálogo mais respeitoso entre a comunidade e a Polícia Federal. Lembrando que não

têm esse papel institucionalmente mas estão se colocando nesse papel de facilitar o diálogo.

A Dra. Débora Duprat, procuradora da 6ª Câmara do Ministério Público Federal,

solicitou a palavra a fim de também fazer um informe, no sentido de que o MPF firmou ajuste com a 2ª

Câmara do MPF para que fosse formado GT com vistas a exercer controle externo da atividade policial

em relação às comunidades indígenas, a partir do que aconteceu com os Tupinambá. Vão aproveitar

visita à Bahia para verificar que formato pode ser dado a esse trabalho, bem como vão colocar em

campo imediatamente esse grupo para fazer o acompanhamento da atuação da polícia junto aos povos

indígenas.

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Saulo Feitosa reforçou que a proposta da subcomissão é que na próxima reunião seja

garantida a participação de Reginaldo Trindade e do Dr. Mário Spósio, e repassadas informações sobre o

grupo de trabalho do qual fez informe a Dra. Deborah Duprat, oportunidade na qual também

submeteriam o relatório da subcomissão concluído e aprovado pela subcomissão. Assim, foram

aprovados os encaminhamentos propostos pela subcomissão.

Subcomissão de Acompanhamento de Empreendimentos com Impactos em Terras Indígenas e

Subcomissão de Terras Indígenas

Gilberto Azanha informou que não houve quorum para a realização da reunião das 2

subcomissões, solicitando que seja disponibilizada a ata da reunião do último seminário de

empreendimentos e também que seja reiterada a solicitação para que um dos representantes do

Ministério de Minas e Energia seja substituído por um servidor da área de recursos hídricos.

O representante do Ministério da Defesa solicita que passe o órgão a fazer parte da

Subcomissão de Terras Indígenas como membro permanente, com o que será possível acompanhar

melhor os trabalhos.

Subcomissão de Comunicação e Cultura

O relato da subcomissão disse respeito aos pontos tratados durante a reunião realizada

no dia 24 de agosto, com a presença de Antonio Pessoa Gomes, Caboquinho Potiguara, Marcos Tupã,

José Carlos Levinho, Diretor do Museu do Índio e Renata Curcio Valente, chefe do Serviço de Estudos e

Pesquisas. Na reunião foi discutida a indefinição em relação ao futuro dos pontos de cultura indígena,

em face do contingenciamento de recursos informado em reunião anterior, sendo que em evento

ocorrido em agosto no Museu do Índio a representante do Ministério da Cultura anunciou o lançamento

de um Edital para 90 pontos de cultura, no entanto nenhum representante desse ministério se fez

presente à reunião da subcomissão para informar sobre o que foi definido sobre essa questão.

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Diante disso, foi ressaltada a importância de que o Ministério da Cultura nomeie um

representante para a Subcomissão de Cultura, propondo-se que seja feita mais uma moção solicitando

esclarecimento da política cultural do MINC para os povos indígenas. Outra preocupação expressada

pelos representantes indígenas disse respeito ao Prêmio de Culturas Indígenas do MINC, indagando-se

sobre a previsão de criação de acervos para os resultados dos projetos.

De acordo com a ata da reunião da subcomissão, José Carlos Levinho sugeriu que a

moção a ser feita, solicitando esclarecimento acerca da política cultural, seja encaminhada para os

vários órgãos ou setores do MINC que tenham envolvimento com as políticas culturais para povos

indígenas, como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), o IBRAM (Instituto

Brasileiro de Museus), a SID (Secretaria de Identidade e Diversidade), o Museu do Folclore, entre outros.

Desta forma, seria possível dar visibilidade e transparência às diversas medidas e políticas que vêm

sendo adotadas simultaneamente pelos diferentes órgãos.

Quanto à proposta de moção, foi sugerido que se faça um encontro dos representantes

dos diversos órgãos, para que os mesmos possam dialogar diretamente e apresentar claramente suas

ações e políticas. Ao que se propôs a realização de um encontro ou seminário sobre as políticas culturais

para os povos indígenas, a propósito do que o diretor do Museu do Índio colocou à disposição o espaço

e os serviços do Museu para sua realização, tendo a proposta sido aprovada, com indicação de

aprovação da moção e que nela seja solicitada a realização do encontro.

Após a leitura da ata pelo relator da subcomissão foram feitas várias considerações,

tendo a Dra. Débora comentado a respeito dos conhecimentos tradicionais, no sentido de que há um

decreto recente do presidente Lula que muda toda a concepção do acesso a conhecimentos tradicionais,

mostrando que ele não pode ser dissociado da terra e da cultura, então isso muda completamente a

concepção de partição de benefícios, visão meramente econômica. Se olharem o decreto muitas das

questões de terra e conhecimento de cultura podem ser mudadas – inclusive há uma medida provisória

que não trata de nada disso, mas não sabe bem onde esse assunto pode ser colocado e sugere que haja

reflexão sobre isso.

O presidente deu encaminhamento às propostas da subcomissão no sentido de que seja

solicitada a indicação de um novo representante do Ministério da Cultura, aprovando-se ainda a

proposta de que seja realizado o encontro proposto pela subcomissão.

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Subcomissão de Gênero Infância e Juventude

A relatora Leia Bezerra apresentou as questões discutidas pela subcomissão e a seguir

listou os encaminhamentos propostos:

1) Que seja realizado o Encontro Nacional sobre a Lei Maria da Penha e que seja garantida a participação

de todos os membros da bancada indígena da CNPI;

2) Que a Subcomissão de Assuntos Legislativos participe do Encontro Nacional sobre a Lei Maria da

Penha e em conjunto com a Subcomissão de Gênero, Infância e Juventude analise o produto dos

Seminários e elabore uma proposta de emenda para o Estatuto dos Povos Indígenas que defenda os

direitos das mulheres indígenas;

3) Que a FUNAI articule com as organizações indígenas, para o ano de 2011, a realização de Seminários

sobre a Lei Maria da Penha com os homens, conforme solicitado pelas mulheres;

4) Que a CNPI garanta a participação dos Membros da Subcomissão nas Oficinas Regionais sobre

Direitos e Políticas para Crianças e Adolescentes Indígenas que estão sendo realizadas pelo CINEP, DDH

e CONANDA;

5) Que o produto dessas Oficinas seja apresentado posteriormente para a Subcomissão;

6) Que a representante indígena Simone Karipuna passe a integrar a Subcomissão de Gênero, Infância e

Juventude;

7) Que a Procuradoria da FUNAI encaminhe para a Subcomissão de Gênero, Infância e juventude as

informações do acompanhamento das questões relacionadas ao Estatuto da Criança e do Adolescente;

8) Que seja cedida a palavra ao representante da sociedade civil, Saulo Feitosa, a fim de apresentar

informes sobre o trabalho relacionado ao infanticídio.

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Subcomissão de Saúde

Procedeu-se à leitura do relatório da reunião da subcomissão, na qual foram

discutidos e demandados os seguintes pontos:

1. Recomposição da Subcomissão da Saúde;

2. Que o Estado brasileiro garanta a participação da Subcomissão da Saúde nas reuniões do Fórum de

CONDISI, na condição de convidada, bem como a participação dos membros do CNPI, nas reuniões

ordinárias e extraordinárias;

3. Recomendação para que a FUNASA mantenha as ações até a transição para a Secretaria de Atenção a

Saúde Indígena / SESAI;

4. Que a Funai dê continuidade no acompanhamento que envolvendo instâncias competentes como:

Ouvidoria da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da Republica, a morte de uma

indígena, Jaira Xavante, na Casa de Saúde Indígena de Brasília – DF, apurando todo o processo. Solicitam

tambem retratação por ter havido um julgamento prematuro por parte de pessoas e instituições, antes

da conclusão do julgamento, caracterizando posições discriminatórias e preconceituosas. E que os

responsáveis por tais matérias sejam responsabilizados.

Subcomissão de Educação

De acordo com a ata da reunião de subcomissão de Educação Escolar Indígena, realizada

no Centro de Formação em Política Indigenista, no dia 24 de agosto, estiveram presentes apenas os

indígenas Dilson Domente Ingaricó e Crizanto Xavante, e embora não tenha havido ainda assim os

representantes indígenas discutiram e encaminharam assuntos muito preocupantes, fazendo os

seguintes encaminhamentos: em relação à Coordenação Geral de Educação/CGE/Funai, conforme

informações contidas na ata da subcomissão de Educação de 31 de maio de 2010, demanda-se que a

Funai, junto com o MEC, garanta apoio técnico financeiro aos programas de ensino superior e

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manutenção e permanência de estudantes indígenas no ensino superior e outras ações referentes à

educação escolar indígena. Sendo que o Decreto n°. 7.056/2009, quando trata da educação, define que

a CGE terá papel de acompanhar as ações de educação indígena, o que significaria que a CGE não terá

papel de apoiar técnica e financeiramente essas ações.

Assim, a Funai estaria consolidando, com a sua reestruturação, o esvaziamento do seu

apoio técnico e financeiro na área de educação escolar Indígena, o que empobreceria o papel

institucional da Funai. Por isso subcomissão de educação da CNPI entende por bem que seja

readequado o Decreto, substituindo o verbo ACOMPANHAR pela frase: “A CGE terá papel de formular,

planejar, coordenar, implementar e acompanhar em parceria com MEC e os Povos Indígenas as ações e

políticas de educação indígena”.

E por fim afirmar no regimento interno da Funai, por entender que isso é uma

reivindicação do movimento indígena e bancada indígena da CNPI, em relação ao processo de

implementação dos territórios etnoeducacionais, que o assunto ainda não está claro, por isso está difícil

de implementar nas comunidades indígenas. Nesse sentido é importante que se crie uma comissão

mista composta por representantes da CNPI, professores indígenas lideranças e o MEC, para se

apropriarem das informações sobre os processos de implementações. Estas poderão ser responsáveis

nas suas bases pela discussão nas pontas.

Com relação ao Sistema Próprio de Educação Escolar Indígena, Crisanto e Dilson

disseram que subcomissão da Educação da CNPI deve aprofundar melhor a discussão sobre o que seria

esse sistema, demonstrando como seria a estrutura política de funcionamento desta questão. Sugerem

que poderia se criar uma Secretaria de Educação Escolar Indígena e consecutivamente criar o Conselho

Nacional de Educação Escolar Indígena e que todo o processo de fundação tenha efetiva participação

dos povos indígenas.

Os representantes indígenas relatam que trataram muito sobre educação escolar

indígena específica e diferenciada, mas que se continua utilizando o mesmo sistema educacional

convencional. Além disso, expressaram sua indignação quanto ao esvaziamento e falta de respeito da

Subcomissão de Educação por parte da bancada de governo e principalmente a representante da Funai,

que se fez presente e em seguida se retirou sob a alegação da ausência das representantes titulares da

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bancada indígena, destacando que se encontrava presentes como suplentes para desenvolver trabalho

na subcomissão de Educação e, assim, seguiram com os trabalhos.

Proposta de resolução sobre os seminários de reestruturação

Concluídos os relatos das subcomissões, a bancada indígena solicitou a palavra para

apresentar proposta de moção relativa aos seminários de informação e esclarecimento sobre a

reestruturação da Funai, e também com respeito à presença da Força Nacional na Funai, tendo as

propostas de resolução sido lidas pela indígena Simone Karipuna e transcritas a seguir:

Resolução n° , de 2010

A Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, no exercício de suas competências previstas nos inciso III e IV art. 2° do Decreto de 22 de março de 2006, do Presidente da República, que a instituiu no âmbito do Ministério da Justiça.

Considerando a realização de Oficinas Regionais sobre a reestruturação da Funai, decorrente do disposto no Decreto n° 7.056, de 28 de dezembro de 2009;

RESOLVE

Art. 1° Será respeitado e assegurado aos participantes indígenas das Oficinas Regionais destinadas a esclarecer aspectos relacionados à reestruturação da Funai, decorrente da aprovação de seu novo Estatuto pelo Decreto n° 7.056/2009, bem como do Quadro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e das Funções Gratificadas da Funai, as informações necessárias e a apresentação de sugestões e propostas, de acordo com a seguinte dinâmica dos trabalhos:

I – Na manhã do 1° dia – esclarecimentos sobre as razões e o conteúdo da reestruturação da Funai, envolvendo o novo Estatuto e a proposta de novo Regimento Interno da Funai;

II – tarde do 1º e 2º dia – discussões e esclarecimentos específicos em Grupos de Trabalhos, constituídos pelos participantes indígenas, nos quais seja possível apresentar sugestões e propostas relacionadas ao Estatuto e ao novo Regimento Interno da Funai;

III – 3º dia – plenário destinado a apresentação das conclusões, sugestões e propostas aprovadas pelos Grupos de Trabalho, com deliberação de eventuais destaques de proposta ou sugestão apresentada por algum Grupo de Trabalho.

Art. 2º Aos funcionários e servidores da Funai será garantido a possibilidade de se reunirem em grupos de trabalho específicos na tarde do 1º dia e durante o 2º dia, paralela e concomitantemente ao desenvolvimento das atividades dos Grupos de Trabalho previstos no artigo anterior.

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Parágrafo único – Fica assegurada a possibilidade dos Grupos de Trabalho constituídos pelos funcionários e servidores da Funai apresentarem, de forma unificada e condensada, suas conclusões e sugestões no plenário previsto para o 3º e último dia de cada oficina.

Art. 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua aprovação. [...]

Resolução n° , de 2010

A Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, no exercício de suas competências previstas nos inciso III e IV art. 2° do Decreto de 22 de março de 2006, do Presidente da República, que a instituiu no âmbito do Ministério da Justiça.

Considerando sucessivos registros de constrangimentos que membros de comunidades e organizações indígenas vêm sofrendo na sede da Fundação Nacional do Índio, em razão da presença ostensiva e o policiamento em curso por agentes da Força Nacional.

RESOLVE

Recomendar a retirada da Força Nacional das dependências e das imediações da Fundação Nacional do Índio. Brasília, 27 de agosto de 2010.

Ao final da leitura, a palavra foi passada para Saulo Feitora/CIMI, o qual afirmou que os

encaminhamentos que foram dados pela Funai com relação aos seminários não estão coerentes com o

que foi discutido e deliberado em outras reuniões da CNPI, em especial o que foi decidido na 12ª

Reunião Ordinária da CNPI, realizada no dia 5 de março, passando à leitura de um trecho da síntese da

reunião em referência, conforme transcrito a seguir:

[...]

Reestruturação da Funai (continuação da discussão iniciada no dia anterior)

A seguir, foi dada continuidade à discussão sobre a reestruturação da Funai, concluindo as falas dos inscritos que não tiveram tempo de se manifestar no dia anterior. Em resposta a perguntas, o presidente afirmou que de fato é muito importante que sejam feitas as oficinas propostas em diversas falas, e que se possa estabelecer junto à subcomissão de Assuntos Legislativos, ou uma subcomissão mais focada no tema, que estabeleçam o calendário, locais das oficinas, inclusive considerando especificidades como a do povo Xavante. Reafirmou o compromisso de que a Funai apresente a proposta de Regimento Interno até mesmo antes da próxima reunião da CNPI, a fim de que possa discutir já na próxima reunião da Comissão. Sobre material informativo, está de pleno acordo que se prepare material para orientar a realização das oficinas, para ajudar no processo pedagógico de construção desse modelo de gestão, ressaltando que este material será preparado. Afirmou que esperam sim a participação indígena no regimento interno e também na regulamentação de cada comitê regional, também no âmbito da CNPI,

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sendo que cada comitê deverá discutir o seu regimento, levando em conta as especificidades de cada região.

Tarde do dia 5 de março

Encaminhamentos sobre a reestruturação da Funai

Após reunião em separado da delegação indígena da CNPI, foram apresentadas as seguintes propostas:

1) Que o governo, prioritariamente a Funai e o Ministério da Justiça, adote postura de acolhida às críticas, ajustando o decreto nos casos em que houve falhas na percepção das realidades peculiares de cada povo ou região étnica, sem necessariamente mexer com o propósito fundamental da reestruturação: a adequação da Funai para o cumprimento de seu papel institucional na perspectiva de uma nova política indigenista, longe do indigenismo tutelar, autoritário, assistencialista e paternalista.

2) Considerando que não vigora o regime tutelar orfanológico sobre os índios e suas coletividades, sendo portanto titulares de cidadania, com direito de participar ativamente da vida política da Nação, bem como exercer direitos individuais e coletivos de seus interesses próprios, reivindicam participação plena em todo o processo de implementação da reestruturação da Funai, em articulação com as organizações indígenas regionais, e considerando os ajustes que deverão ser feitos ao Decreto, a discussão do Regimento, a composição de condições de funcionamento dos Comitês Regionais, a nomeação de coordenadores regionais e a participação na gestão, desde a instância máxima às coordenações regionais e locais.

3) Visando a manter o processo de diálogo da CNPI, o processo de consolidação da reestruturação da Funai e assegurar a participação indígena na elaboração do Regimento Interno, solicitam que seja constituída no âmbito da CNPI uma comissão especial composta por um representante de cada uma das 5 grandes regiões, um representante de cada uma das organizações indígenas regionais um representante das organizações indigenistas e da Funai. Aprovada a comissão, recomendam que seja definido o cronograma de trabalho, dispondo com antecedência da minuta de Regimento trabalhada pela Funai, antes da Reunião Extraordinária da CNPI, que se realizará em abril.

4) Solicitam ainda que seja definido com urgência o cronograma e realização de oficinas nas distintas regiões com recursos financeiros da Funai para fazer os devidos e suficientes esclarecimentos sobre o conteúdo do Decreto e para recolher ainda as demandas específicas das comunidades voltadas para aprimorar a reestruturação da Funai.

5) Enquanto as oficinas regionais não forem realizadas, solicitam da diretoria da Funai esclarecimentos sobre qual é a estratégia pensada para a formação e implementação das coordenações e comitês regionais.

6) Exortam ainda o governo a estudar possibilidades para contemplar a participação indígena no concurso, considerando que muitas vezes os não indígenas têm sérias dificuldades em lidar com as diferenças e especificidades socioculturais desses povos.

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7) Finalmente, solicitam ao plenário da CNPI que aprove resolução a ser encaminhada aos ministérios envolvidos com políticas públicas voltadas aos povos indígenas para que reconsiderem decisões que visam a reduzir ou extinguir instâncias e ações que tratam especificamente dos interesses e demandas dos povos e organizações indígenas.

O presidente consultou o plenário e não havendo ressalvas considerou aprovadas as propostas de encaminhamento apresentadas pela representação indígena, cabendo definir a constituição da subcomissão e dar os encaminhamentos necessários para o seu funcionamento, ressaltando que muitos dos pontos propostos já haviam inclusive sido adiantados como sendo entendimento da direção da Funai. Quanto aos nomes para acompanhar o regimento, sugere que sejam apresentados à secretária executiva.

O presidente sugeriu também que a comissão criada para acompanhar o regimento possa também apresentar uma proposta de agenda das oficinas, datas, locais etc., a ser remetida para a Secretaria Executiva da CNPI. No entanto, em consulta ao plenário e não havendo manifestação em contrário, foi aprovado encaminhamento no sentido de que, constituída a subcomissão a Funai apresentará um cronograma de oficinas para que seja ratificada pela subcomissão. [...]

No que se refere às propostas de resolução, o presidente substituto da CNPI, Aloysio

Guapindaia, afirmou que, antes de abrir o debate, seria preciso esclarecer os seguintes pontos:

- Sobre os seminários: não estava presente na discussão do regimento interno, que é

quando deveriam ter sido levantados os questionamentos feitos neste momento. É importante dizer

que a Funai não está fazendo nada diferente do que foi discutido e encaminhado no dia 5 de março, a

metodologia dos seminários foi discutida com representantes da CNPI e APIB, inclusive participaram de

capacitação na semana passada e em nenhum momento foi questionada a metodologia. Relendo os

tópicos ressaltados por Saulo, não sabe quais os pontos de divergência, a Funai ficou de apresentar

calendários, datas, e hoje há todo um cronograma estabelecido, começando em Eunápolis e Palmas dia

8 de setembro. Não vê desajuste do que foi acertado.

A resolução apresentada pede alteração da metodologia, que foi pactuada num

processo de discussão, e se forem reabrir essa questão isso exigirá muita discussão e poderá inclusive

implicar na modificação de calendários e datas.

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Crizanto Xavante fez considerações a seguir dizendo que parece haver duas

presidências, um dia o presidente decide uma coisa – que vão fazer as melhorias no decreto etc., - e no

outro diz outra coisa diferente e com isso seu povo está ficando como “barata tonta”.

Paulo Guimarães afirmou que na reunião da bancada indígena a preocupação

recorrente foi no sentido de que o seminário terá 3 dias de duração, o primeiro somente com os

servidores, o segundo de informação e no terceiro acaba, o que é muito pouco tempo. Respeitando os 3

dias, sugerem portanto uma dinâmica simples - que no primeiro dia apresente o decreto, regimento e se

abra espaço para perguntas; que na tarde do 1º e do 2º dia se dividam em grupos, divididos por temas,

paralelos, para um dia e meio de discussão em grupo, durante os quais poderiam expressar suas idéias,

refletindo a diversidade de opiniões, forma esta que é adotada em vários trabalhos com os povos

indígenas.

Com isso se garantiria a tranqüilidade de que os índios poderiam de fato falar e

apresentar o que quiserem ao invés de ter um funcionário controlando tudo o que dizem. Até porque

ficaram preocupados com a notícia de que cada seminário teria um moderador, que seriam servidores

da Funai que estariam presentes para controlar tudo o que seria dito, cerceando a palavra dos índios,

vigiando e dizendo o que se poderia ou não dizer no evento.

Deborah Duprat questiona porque está prevista a participação dos funcionários no

mesmo espaço que os indígenas, sendo que a relação hierárquica é totalmente diferente e não é assim

que funciona uma consulta. Paulo Guimarães comentou que é muito oportuna a questão, pois o espaço

dos funcionários tem que ser totalmente diferenciado dos indígenas e da forma como está proposto se

estaria gastando recursos do erário com os povos indígenas sendo que 1/3 do tempo seria destinado aos

servidores da Funai. O que querem é que se dê o direito de discutirem, mas sem ocupar o espaço dos

índios, pois com isso se está invadindo o espaço alheio.

A seguir foi convidado para dar esclarecimentos o servidor Francisco Paes, que se

apresentou e afirmou que fica totalmente consternado por se estar dizendo que o espaço dos indígenas

estará sendo usurpado pelos servidores, pois estes também vêm sendo alijados da discussão, sendo que

eles é que vão implementar a nova estrutura, ressaltando ainda que muitos servidores são indígenas.

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Prosseguindo, Francisco afirmou que na última reunião da CNPI foi apresentada a

programação dos seminários, que no primeiro dia prevê trabalho com os servidores e os outros dois dias

com servidores e indígenas; quanto à segurança e tranqüilidade para participação, a programação prevê

vários momentos para participação e debate tanto dos servidores como dos indígenas. Sendo que em

todo o processo de mudança ajustes devem ser feitos, e a direção já sinalizou que devem e podem ser

feitos, sendo o objetivo do seminário justamente preparar o espaço para que esses ajustes sejam feitos.

O primeiro objetivo seria esclarecer e informar sobre a reestruturação, e o segundo que se defina uma

agenda de trabalho, que será o espaço para se discutir esses ajustes.

Francisco afirmou ainda que o decreto tenta justamente lidar com esse ponto, que é

foco de crítica, a respeito do histórico da instituição de fazer mudanças de uma hora para a outra sem a

participação indígena, sendo os comitês regionais o espaço para discutir e para definir ajustes. Este deve

ser um espaço dos quais os indígenas devem se apropriar e tentar fazer com que funcione antes de

abandoná-lo; o objetivo é que se instrumentalize os representantes para que possam levar as discussões

para as suas comunidades e a partir daí se possa dar prosseguimento aos encaminhamentos visando aos

ajustes nos comitês regionais.

A seguir Francisco Paes apresentou a metodologia de trabalho proposta para os

seminários, inicialmente com os servidores, que visa a reforçar aspectos que são importantes para a sua

atuação na nova estrutura; o segundo dia, dedicado a discutir o processo de reestruturação e a

distribuição e funcionamento das unidades regionais da Funai; e o terceiro dia, no qual deverá se

discutir o conceito de gestão compartilhada, os comitês regionais, bem como definir uma agenda de

trabalho regional. Esclareceu que a equipe vem trabalhando há mais de dois meses nesse processo, em

diálogo com a CNPI, e obviamente poderão ser feitos ajustes, mas as mudanças que estão sendo

propostas, caso aprovadas, significariam um adiamento de pelo menos mais dois meses na agenda.

Finalmente, Francisco Paes apresentou a programação e explicou em maiores detalhes

como está estruturado o trabalho no segundo e terceiro dia, em especial os trabalhos em grupos,

ressaltando como está pensada a metodologia visando à efetiva participação indígena.

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O presidente Aloysio Guapindaia esclareceu a seguir que a estrutura dos trabalhos foi

toda pensada a fim de promover o diálogo entre servidores e indígenas, pautada na nova estrutura, com

visão crítica, com vistas a se formar os comitês, nos quais estão apostando muitas fichas na nova

estrutura da Funai, e que se não funcionarem vai significar que a estrutura não está sendo implantada

como proposto.

Aloysio Guapindaia destacou ainda que é preciso que fiquem atentos para os objetivos

dos seminários, pois de fato em 3 dias não é possível esgotar o entendimento e resolver todos os

problemas que existem – a idéia é informar e permitir que se compreendam os conceitos básicos,

discutindo em grupos os desafios para a implantação da nova estrutura e tirando agenda de trabalho

regional. Naturalmente ela vai apontar para direções até mesmo da necessidade da reformulação da

estrutura se for o caso – e, no que couber, a alteração do decreto, pois estão conscientes de que deverá

ser alterado. Já existe uma proposta de alteração, mas estão aguardando o resultado dos seminários

para que seja publicado, e em seguida o regimento, o que querem fazer até dezembro.

A proposta da bancada indígena implica a necessidade de um aporte de pessoal maior;

ressaltando que a metodologia proposta pela Funai, com a presença de moderadores, não implica de

forma alguma o cerceamento da participação indígena. Se for acatada a proposta da bancada indígena,

isso implica uma estrutura diferente, indígenas e servidores trabalhariam separados e os próprios

indígenas ficariam responsáveis pela facilitação dos grupos de trabalho, o que é possível, mas

comprometeria a promoção do diálogo. Sendo que o trabalho na região está previsto para ser integrado,

até porque isso é um problema histórico, e é preciso mudar essa forma de trabalho.

Deborah Duprat afirmou que o Ministério enfrentou várias ações no sentido de se

revogar o decreto 7056/09 e conseguiram segurar essas ações devido à perspectiva de que a consulta

seria feita posteriormente, e a presença dos servidores faz com que o caráter dessa consulta seja outro.

O espaço reservado para os índios não pode jamais ser equivalente ou estar permeado pela participação

dos servidores, não é assim que se faz consulta.

Dilson Ingaricó afirmou que a pergunta principal é a seguinte: se as reivindicações das

comunidades indígenas serão consideradas, em termos de revisão do decreto. Comentou que os

esclarecimentos precisam ser feitos de forma muito clara, os moderadores devem estar bastante

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tranqüilos, pois caso reajam de forma agressiva, será pior quando se estiver lidando com as

comunidades indígenas, que estão muito bravas. As comunidades indígenas se sentem excluídas do

processo de reestruturação da Funai, e se os moderadores chegarem dizendo que o seminário de

informar e esclarecer não haverá clima sequer para continuar os trabalhos; sugere que não dêem essa

informação logo no início e sim que se diga que estão presentes para construir juntos o processo.

Saulo Feitosa afirmou que gostaria de esclarecer como foi a discussão no dia anterior,

em que o presidente Márcio Meira afirmou que os seminários seriam meramente informativos e foi lido

documento do Acampamento Terra Livre no qual se apresentou um novo formato para os seminários,

que foi lido na resolução, e também sugere que seja retirada a Força Nacional da Funai, ao que o

presidente Márcio sugeriu que as propostas fossem apresentadas em forma de resolução. Gostaria que

ficasse claro que a sugestão de que fossem feitas resoluções foi do presidente.

Fica impressionado com a fala de Francisco, prosseguiu Saulo, que demonstra que

pessoas dedicadas estão participando desse trabalho, ao que parabeniza tanto Francisco como Karla por

sua aprovação no concurso, destacando que é legítimo que os servidores tenham seu espaço de

discussão. Na reunião de março foram levantadas todas as insatisfações com o processo autoritário por

meio do qual se aprovou o regimento, sendo que na origem da proposta de realizar os seminários, em

março, a proposta é que fosse feito com a participação indígena, tendo inclusive se aprovado a criação

de uma comissão de indígenas para participar da discussão do regimento e dos seminários. Lembrando

que foi dito por Francisco que os servidores da Funai se reuniram por dois meses para discutir a

metodologia, e após isso os índios foram convidados para serem “instrumentalizados” para sua

aplicação, destacando que quer acreditar que esta palavra foi usada no sentido de capacitados e não de

manipulados.

Portanto houve uma inversão e provavelmente aconteceu de que a Funai não leu as

atas em que foram tomadas as decisões, pois o próprio Saulo fazia parte da comissão que foi escolhida

mas nunca foi convidado para nenhuma reunião. Quando estão levantando a discussão sobre a

metodologia não é para se colocar como oposição, mas sim para colocar em pauta as contradições, o

exercício é para que a CNPI seja melhorada a cada dia, inclusive na perspectiva de que se transforme em

conselho.

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Luis Titiah observou que o governo teve dois mandatos e se tivesse feito logo no

primeiro as mudanças que estão sendo feitas agora talvez elas já estivessem em prática; os seminários

certamente vão gerar problemas, até porque houve um servidor da Funai que foi à região e assumiu

compromissos que não foram cumpridos, e isso é muito preocupante. Ouviu na capacitação que nos

seminários todos vão ser iguais, mas gostaria de deixar claro que não vai ser igual, sua participação nos

seminários vai ser como indígena e vai acompanhar as decisões do seu povo. Preocupa-se em saber

quais os interesses que existem pelo fato de alguns servidores não estarem querendo encarar a questão

do regimento, referindo-se a pessoas que vão coordenar os trabalhos – por não saberem a realidade de

cada povo. Ao que recomenda que tenham paciência, e se forem enviadas pessoas que não souberem

ouvir os caciques isso vai gerar problemas. Solicita à Dra. Deborah que os procuradores do MPF nas

regiões estejam presentes em todos os seminários.

Luis Titiah levantou ainda a questão do tempo, que considera pouco para ouvir as

comunidades e para que façam suas colocações, afirmando que não estão sendo contra, mas querem

que sejam respeitados seus direitos.

Sansão Ticuna fez vários comentários sobre a questão da consulta, como deve ser feita,

o que consta na Convenção 169/OIT; deixando ainda recado para o servidor Francisco, no sentido de

que é preciso ter cuidado na hora de se dirigir às lideranças, pois caso se coloque de forma muito forte

pode sofrer as conseqüências, já que o pessoal não está contente nas bases.

Crizanto Xavante afirmou que não está excluindo os funcionários, mas que sua

intervenção teria sido no sentido de que não se deve misturar as coisas, e para que houvesse uma

participação maior dos indígenas – se há programas específicos para capacitar os funcionários por que

não fazer em um momento separado. Consideram que a conquista de um espaço para fazer uma

reunião dessa dimensão sobre esse assunto é uma conquista única. Gostariam de chegar a um

denominador comum sobre a reestruturação, e o seu povo tem dúvidas sobre isso.

Dirigindo-se ao presidente, afirmou que Aloysio tem se alternado com o presidente

Márcio na plenária nesses dias e que foi discutido na capacitação que um indígena participaria de

reunião em outra região, pois como é de fora isso possibilitaria tratar de certas questões de uma forma

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diferente. Solicitando ainda que a programação seja enviada com antecedência e lembrando que em sua

região o clima é mais tenso devido à dificuldade de compreensão da reestruturação.

Francisco Paes informou que, caso seja mantida a programação, não há problema algum

em enviar com antecedência, explicando que está sendo preparado um material de apoio com vários

documentos sobre a reestruturação. Explicou ainda que parte dos recursos que estão sendo usados para

custear os seminários vêm da capacitação dos servidores.

Aloysio Guapindaia destacou que, pelo que entendeu das intervenções, em nenhum

momento os indígenas foram contra a presença dos servidores, apenas querem que tenham atividades

separadas. Infelizmente não pode colocar as resoluções em votação porque não há quorum [uma vez

tendo a bancada governamental se retirado, à exceção de André Araújo], conforme definido no

regimento interno da CNPI, e essa decisão deverá ser tomada pela Diretoria Colegiada da Funai. Quanto

aos seminários, destacou que na proposta apresentada pela bancada indígena os participantes não

recebem informações e já vão para o grupo de trabalho, enquanto que as atividades com os servidores

também precisam de ajustes, pois não poderiam participar desse primeiro momento informativo – seria

mais adequado fazer uma mesma apresentação para os dois públicos.

Saulo afirmou que, se forem considerar a questão do quorum, há várias votações que

foram feitas sem que se tivesse quorum; em sua opinião essa matéria já teria sido votada na reunião de

março. Aloysio afirmou que o encaminhamento não se trata de metodologia, que é o assunto neste

momento.

Quanto à questão da Força Nacional, que segundo os indígenas estaria impedindo-os de

entrar na sede da Funai, e questionando onde estão indo e com quem querem falar, o presidente

esclareceu que a Força Nacional não aborda ninguém, quem faz o controle da entrada e saída de

pessoas é a segurança contratada para esse fim. A Força Nacional está fazendo a segurança da direção,

que já sofreu ameaças, inclusive sua sala foi invadida e não aceita trabalhar nessa situação de

insegurança; mesmo com a Força saindo, os seguranças e as normas vão permanecer, pois se trata de

algo que é necessário para a instituição.

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Ministério da JustiçaComissão Nacional de Política Indigenista

14ª Reunião Ordinária - SínteseBrasília, 25 a 27 de agosto de 2010

O presidente deu os encaminhamentos finais, afirmando que vão voltar a esse assunto

futuramente, esclarecendo que a Funai rescindiu o contrato com a empresa de segurança patrimonial

anterior e a substituiu pela que está atuando atualmente exatamente devido a problemas como esse.

Sendo que este é um serviço que a Funai tenta aperfeiçoar, assim como muitos outros órgãos.

Neste ponto, considerou-se encerrada a 14ª Reunião Ordinária da Comissão Nacional de

Política Indigenista, da qual foi feita a presente síntese, que deverá ser complementada pela degravação

completa da reunião e aprovada pelo plenário da CNPI.

Brasília, 27 de agosto de 2010.

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