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  Página 1 SÓCRATES Sócrates (470-399 a.C.) era filho de Sofronisco, um escultor, e de Fenareta, uma parteira. Nasceu em Atenas, onde passou toda a sua vida. Certo dia, seu amigo Querofonte testemunha a afirmação, proveniente do oráculo de Delfos, de que Sócrates era “o mais sábio dos homens”. Inicialmente intrigado, Sócrates procura o sentido de tal afirmação. Sendo um homem sem nenhum conhecimento especializado, deduz que sua sabedoria só poderia ser resultado da percepção que tinha da própria ignorância e, seguindo a indicação do deus Apolo (deus da música, da poesia e da profecia), passa a questionar todo aquele que se considerasse dotado de sabedoria. Oráculo (do latim “oraculu”, a partir do grego “oras”, que significa “ver”) seria um pronunciamento dos deuses sobre o destino dos homens que os consultavam. Essa fala divina sempre era revelada às pessoas por intermédio de um sacerdote, de uma sacerdotisa ou de um adivinho. A palavra designava também o local onde essas profecias eram formuladas. O oráculo de Delfos, localizado na Grécia, era o principal templo do deus Apolo, que se manifestava por meio de sua sacerdotisa “pítia” ou “sibilia”. Suas revelações eram feitas na forma de enigmas e de frases misteriosas. O instrumento adotado por Sócrates para o exercício de sua atividade filosófica foi o diálogo, dividido em duas etapas sucessivas. Na primeira fase, a que se chamou de ironia”, o filósofo insistindo em que nada conhece, leva o inte rlocutor a apresentar suas opiniões para, em seguida, envolvê-lo na estrutura confusa de suas próprias afirmações, terminando por trazer à tona toda a ignorância desse interlocutor a respeito daquilo que até então acreditava ser verdade. A “ironia”, no sentido empregado pelo filósofo, era uma dissimulação: Sócrates desconhece o assunto tratado no diálogo e fazia perguntas ao interlocutor, supostamente desejando compreender o tema. A cada resposta, o filósofo encontrava uma falha no raciocínio da pessoa e formulava outras questões, até o interlocutor chegar a uma contradição e demonstrar a sua ignorância. Consequentemente elabora a célebre frase “ Eu só sei que nada sei ”. Na segunda fase do diálogo socrático, denominada “ maiêutica ou “parto” das ideias -, o interlocutor era levado a tentar elaborar as próprias ideias, ir ao encontro da própria alma e adquirir, a partir de então, uma existência autêntica e verdadeiramente original. Sócrates era democrático, pois transmitia seus conteúdos a qualquer homem, tivesse ele um interesse especial pelo debate filosófico ou não. Ele aplicava o método do “parto das ideias” num sentido amplo, que não se restringia a sua doutrina específica. Sua popularidade em Atenas era decorrente de sua atitude em relação à filosofia: Sócrates percorria a cidade com frequência, dialogando com jovens e adultos nos espaços públicos. Essa atividade, aliás, era condizente com a cultura ateniense da época; afinal, a democracia se fundamentava justamente nos debates públicos. Sua popularidade também o levou a uma consequência funesta. Alguns cidadãos de Atenas, enfurecidos pela ironia que Sócrates não tinha medo de usar, acusaram-no oficialmente de impiedade (por desrespeito aos deuses, à religião) e de induzir os  jovens a se comportar de maneira imprópr ia. Como resultado, em 399 a.C. Sócrates foi

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SÓCRATES Sócrates (470-399 a.C.) era filho de Sofronisco, um escultor, e de Fenareta, uma

parteira. Nasceu em Atenas, onde passou toda a sua vida. Certo dia, seu amigoQuerofonte testemunha a afirmação, proveniente do oráculo de Delfos, de queSócrates era “o mais sábio dos homens”. Inicialmente intrigado, Sócrates procura o

sentido de tal afirmação. Sendo um homem sem nenhum conhecimento especializado,deduz que sua sabedoria só poderia ser resultado da percepção que tinha da própriaignorância e, seguindo a indicação do deus Apolo (deus da música, da poesia e daprofecia), passa a questionar todo aquele que se considerasse dotado de sabedoria.

Oráculo (do latim “oraculu”, a partir do grego “oras”, que significa “ver”) seria um

pronunciamento dos deuses sobre o destino dos homens que os consultavam. Essafala divina sempre era revelada às pessoas por intermédio de um sacerdote, de umasacerdotisa ou de um adivinho. A palavra designava também o local onde essasprofecias eram formuladas. O oráculo de Delfos, localizado na Grécia, era o principaltemplo do deus Apolo, que se manifestava por meio de sua sacerdotisa “pítia” ou

“sibilia”. Suas revelações eram feitas na forma de enigmas e de frases misteriosas.O instrumento adotado por Sócrates para o exercício de sua atividade filosófica foi

o diálogo, dividido em duas etapas sucessivas. Na primeira fase, a que se chamou de“ironia”, o filósofo insistindo em que nada conhece, leva o interlocutor a apresentarsuas opiniões para, em seguida, envolvê-lo na estrutura confusa de suas próprias

afirmações, terminando por trazer à tona toda a ignorância desse interlocutor arespeito daquilo que até então acreditava ser verdade. A “ironia”, no sentidoempregado pelo filósofo, era uma dissimulação: Sócrates desconhece o assuntotratado no diálogo e fazia perguntas ao interlocutor, supostamente desejandocompreender o tema. A cada resposta, o filósofo encontrava uma falha no raciocínioda pessoa e formulava outras questões, até o interlocutor chegar a uma contradição edemonstrar a sua ignorância. Consequentemente elabora a célebre frase “Eu só sei 

que nada sei ”. Na segunda fase do diálogo socrático, denominada “maiêutica” – ou “parto” das

ideias -, o interlocutor era levado a tentar elaborar as próprias ideias, ir ao encontro daprópria alma e adquirir, a partir de então, uma existência autêntica e verdadeiramenteoriginal.

Sócrates era democrático, pois transmitia seus conteúdos a qualquer homem,tivesse ele um interesse especial pelo debate filosófico ou não. Ele aplicava o métododo “parto das ideias” num sentido amplo, que não se restringia a sua doutrina

específica. Sua popularidade em Atenas era decorrente de sua atitude em relação àfilosofia: Sócrates percorria a cidade com frequência, dialogando com jovens e adultosnos espaços públicos. Essa atividade, aliás, era condizente com a cultura ateniense daépoca; afinal, a democracia se fundamentava justamente nos debates públicos.

Sua popularidade também o levou a uma consequência funesta. Alguns cidadãosde Atenas, enfurecidos pela ironia que Sócrates não tinha medo de usar, acusaram-nooficialmente de impiedade (por desrespeito aos deuses, à religião) e de induzir os

 jovens a se comportar de maneira imprópria. Como resultado, em 399 a.C. Sócrates foi

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levado a julgamento. Diante dos juízes, rebateu os argumentos de seus acusadores e,apesar de se declarar inocente, foi condenado à morte por envenenamento. Foiconcedida a chance de escapar da pena se renegasse suas ideias diante do tribunal, aomesmo tempo em que alguns amigos arquitetavam um plano para que ele fugisse deAtenas. Sócrates, entretanto, não aceitou nenhuma das alternativas, ambas

desonrosas do seu ponto de vista ético e moral, e foi morto por meio da ingestão de“cicuta” um veneno letal extraído de uma planta de mesmo nome. 

Qual é a diferença fundamental entre moral, ética e política? Moral é o conjuntode normas ou regras que regulam as relações dos indivíduos de um determinado gruposocial, em um determinado contexto, isto é, seus costumes, seus padrões decomportamento. O costume é resultado dos comportamentos individuais e,simultaneamente, causa deles, pois é fator determinante das condutas dos indivíduos.Pode-se dizer que a moral é prática. Ética é a investigação dos fundamentos, dosprincípios e critérios que determinam a nossa ação moral, portanto, diz respeito ànossa forma de pensar as ações, em suma, ela é pessoal e individual. Ela busca uma

 justificativa racional das ideias e das normas adotadas. Ela, na verdade, procurafundamentar a razão de determinados costumes para uma dada coletividade depessoas. Pode-se dizer que a ética é teórica.

A diferença entre ética e política, é que a primeira é individual e pessoal, e asegunda é coletiva. Quando estamos somente com nossa consciência, estamos naesfera ética, porém, quando relacionamos com as pessoas estamos na esfera dapolítica. Por exemplo: se você estiver sozinho em uma ilha deserta, em sua casa, ououtro lugar qualquer você não precisa de regras morais, pois estas acontecem quandohá presença do outro junto a nós. Porém, se alguém chegar nessa ilha deserta ou nasua casa, por exemplo, provavelmente existirão regras morais e a política se instalará

neste momento. A presença do outro já cria, automaticamente, regras morais epolíticas.

As atitudes de Sócrates revelam o principal aspecto de sua filosofia: a busca pelobem na vida em sociedade. A doutrina socrática chama a atenção por ter um notávelconteúdo moral. A procura pela verdade implicava, para Sócrates, conseguir umaconvivência honesta e digna entre os homens.

Para o filósofo, conhecer a verdade teria como consequência inevitável “agir bem”;

quanto aos maus atos, só seriam cometidos por ignorância. O “bem” e a “verdade”

estariam intimamente ligados, seriam inseparáveis: “conhecer” seria igual a “conhecer

o bem”. Agir conforme o bem seria decorrência do conhecimento. Pelo mesmo

raciocínio, uma ação danosa a si ou a outros seria decorrência do desconhecimento.Para Sócrates, então, quando agimos para o bem significa que conhecemos o bem,porém, quando agimos para o mal é porque não conhecemos o bem.

De acordo com o pensamento desse homem admirável, a finalidade da vida é afelicidade, que estaria na capacidade do ser humano de estabelecer para si mesmo,por meio do saber, suas próprias leis e regras de conduta. Não seria essa a condiçãofundamental do homem verdadeiramente livre?

Bibliografia:CHALITA. Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ática, 2005.

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Sócrates – O Primeiro dos Grandes Filósofos Gregos

 Atenas (470-399 a.C.)

Como devo viver na cidade?

Com o desenvolvimento das cidades (polis) gregas, a vida em sociedade passa a ser uma questão importante.Sócrates vive em Atenas, que é uma cidade de grande importância, nesse período de expansão urbana da Grécia,por isso, a sua preocupação central é com a seguinte questão: como devo viver?

Diálogos críticos

Toda a sua filosofia é exposta em diálogos críticos com seus interlocutores.O conteúdo dos diálogos chegou até nós por meio de seus discípulos, especialmente Platão, já que não deixou

nada escrito.

Conhece-te a ti mesmo: este é o início de toda sabedoria.

Para viver bem (de acordo com a virtude) é preciso ser sábio.Como atingir a sabedoria?Para Sócrates a sabedoria é fruto de muita investigação que começa pelo conhecimento de si mesmo.

Segundo ele, deve-se seguir a inscrição do templo de Apolo: conhece-te a ti mesmo.À medida que o homem se conhece bem, ele chega à conclusão de que não sabe nada. Para ser sábio, é

preciso confessar, com humildade, a própria ignorância. Só sei que nada sei, repetia sempre Sócrates.

Ironia: Confissão da própria ignorância.

Por meio da ironia, levando o interlocutor a cair em contradição, Sócrates o conduzia a confessar a própriaignorância.

Uma vez confessada a ignorância, o interlocutor estaria disposto a percorrer o caminho da verdade.

Maiêutica: A arte de dar à luz as ideias.

Entra em cena a segunda etapa do método: a maiêutica (arte de dar à luz as ideias).Para Sócrates, uma mente submetida a um interrogatório adequado seria capaz de explicitar conhecimentos

que já estavam latentes na alma. Afinal, tanto para Sócrates quanto para Platão, a alma, antes de se unir ao corpo,contemplara as ideias na sua essência, no mundo das Ideias. Bastava, portanto, fazer um esforço para recordar.Conhecer é recordar.

O objetivo mais importante do diálogo é encontrar o conceito. Ele pergunta, por exemplo, o que é justiça? E,aos poucos, eliminando definições imperfeitas, ele vai chegando a um conceito mais puro, mais correto.

Aquele que questiona, provoca e atrai inimigos.

A maior arte de Sócrates era a investigação, feita com o auxílio de seus interlocutores. Aquele que investiga,

questiona. Aquele que questiona, perturba a ordem estabelecida. Isso faz surgir muitos inimigos de Sócrates.

Acusações contra Sócrates: corromper a juventude e desprezar os deuses de Atenas. Condenado à

morte.

Sócrates é acusado de corromper a juventude e de desprezar os deuses da cidade. Com base nessas acusaçõesele é condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome). Segundo testemunho de Platãoem Apologia de Sócrates, ele ficou imperturbável durante o julgamento e, no final, ao se despedir de seusdiscípulos, ele diz:

Já é hora de irmos; eu para a morte, vós para viverdes. Quanto a quem vai para um lugar melhor, só deus sabe.