57
Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA) 1 Observações: este material não substitui as publicações na plataforma. Não contem anexos. Sumário .................................................................................................................................................................... 1 Introdução ................................................................................................................................................... 2 Modalidades da língua ................................................................................................................................ 5 Qualidade da linguagem ............................................................................................................................. 8 Introdução ................................................................................................................................................. 11 Introdução ................................................................................................................................................. 13 A falácia como um mecanismo argumentativo ......................................................................................... 16 Tipos de produção textual ......................................................................................................................... 19 A narração no texto jurídico ...................................................................................................................... 22 A dissertação no texto jurídico .................................................................................................................. 25 O aspecto ético na linguagem jurídica ...................................................................................................... 28 Figuras de linguagem e de construção no texto jurídico ........................................................................... 30 Estruturação do parágrafo do texto jurídico ............................................................................................. 32 Vocabulário específico .............................................................................................................................. 34 A linguagem dos requerimentos ............................................................................................................... 37 Linguagem contratual ............................................................................................................................... 39 Linguagem contratual ............................................................................................................................... 42 Linguagem nos assuntos notariais............................................................................................................. 45 Linguagem na petição inicial ..................................................................................................................... 47 A linguagem da sentença .......................................................................................................................... 50 A linguagem do parecer ............................................................................................................................ 53 A linguagem do texto normativo ............................................................................................................... 55

Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

  • Upload
    vuthu

  • View
    215

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

1

Observações: este material não substitui as publicações na plataforma. Não contem anexos.

Sumário

.................................................................................................................................................................... 1

Introdução ................................................................................................................................................... 2

Modalidades da língua ................................................................................................................................ 5

Qualidade da linguagem ............................................................................................................................. 8

Introdução ................................................................................................................................................. 11

Introdução ................................................................................................................................................. 13

A falácia como um mecanismo argumentativo ......................................................................................... 16

Tipos de produção textual ......................................................................................................................... 19

A narração no texto jurídico ...................................................................................................................... 22

A dissertação no texto jurídico .................................................................................................................. 25

O aspecto ético na linguagem jurídica ...................................................................................................... 28

Figuras de linguagem e de construção no texto jurídico ........................................................................... 30

Estruturação do parágrafo do texto jurídico ............................................................................................. 32

Vocabulário específico .............................................................................................................................. 34

A linguagem dos requerimentos ............................................................................................................... 37

Linguagem contratual ............................................................................................................................... 39

Linguagem contratual ............................................................................................................................... 42

Linguagem nos assuntos notariais............................................................................................................. 45

Linguagem na petição inicial ..................................................................................................................... 47

A linguagem da sentença .......................................................................................................................... 50

A linguagem do parecer ............................................................................................................................ 53

A linguagem do texto normativo ............................................................................................................... 55

Page 2: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

2

Introdução

Veremos, nesta aula, que língua e linguagem são aspectos diversos do fenômeno social chamado

comunicação, que depende de uma série de elementos, sem os quais, a comunicação como troca de

informação não se realiza. Aliás, veremos, também, que para a comunicação ser eficiente,

carregada de alguma intenção, é preciso não apenas considerar o perfil do interlocutor, mas

também considerar a função denotativa ou apelativa da linguagem bem como o uso que queremos

dar à ela, se diretiva, operacional ou descritiva.

Conceitos essenciais

A primeira questão que devemos deixar clara é que não podemos confundir língua e

linguagem. Enquanto a língua é um conjunto de sinais sonoros que identificam os membros de

uma determinada comunidade, a linguagem é o seu instrumento, isto é, o mecanismo usado para

que os membros de uma determinada comunidade possam interagir entre si.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, veja o slideshow abaixo. Este

slideshow faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

SLIDESHOW

Nossa disciplina trata da linguagem e da argumentação jurídica, portanto, relacionando os

elementos da linguagem: a) transmissor; b) receptor; c) mensagem; d) referente, e) código

e f) canal temos como transmissor e receptor uma multiplicidade de sujeitos que tratam das

questões jurídicas, como é o caso de advogados, juízes, legisladores etc.

A mensagem, enquanto conteúdo da interação comunicacional, consiste na troca de

informações jurídicas e o seu referente, isto é, o contexto, em que transmissor e receptor se

encontram é aquele da situação estampada na mensagem. O Código, enquanto conjunto de

signos usados, é a língua portuguesa e o canal, poderá ser variado, vez que a linguagem pode ser

escrita ou gestual, sonora ou imagética, isto é, feita por meio de imagens, como no caso de uma

exposição de fotografia. O cinema e a televisão, por exemplo, empregam uma linguagem que

combina elementos gráficos e sonoros e elementos de imagem

No nosso caso, a linguagem que empregamos, quase sempre é escrita, embora algumas

vezes, façamos uso da forma sonora, como numa conferência, numa reunião com clientes, nas

audiências, sustentações orais nos Tribunais ou nos debates das comissões legislativas, em que

queremos transmitir uma informação jurídica.

Se língua e linguagem compõem a comunicação e a comunicação outra coisa não é, senão,

a interação entre as pessoas, com a transmissão de informação, então, é fácil concluir que a

comunicação está presente em todas as atividades humanas e como essas atividades são tão

Page 3: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

3

variadas, a linguagem, por sua vez, também, é variada, porque ela – a linguagem – reflete essa

variação por meio do estilo, do tema e da construção da informação.

Comunicação e seus interlocutores

Toda comunicação é intencional, isto é, sempre tem uma intenção, um fim a alcançar e,

como tal, ela é endereçada a alguém, o receptor, que podemos chamar de interlocutor. Por isso,

aquele que comunica, ou seja, o emissor precisa, para estabelecer uma ação comunicacional

efetiva, considerar o perfil do seu interlocutor, pois, se não o fizer, a mensagem não pode ser

decodificada, ou seja, não pode ser compreendida e a finalidade do emissor não é alcançada.

Existem dois tipos de interlocutores, o particular e o universal. Essa classificação é

importante porque ela ajuda a construir a linguagem e o discurso a ser adotado pelo emissor, sem

isso a mensagem pode não ser compreendida pelo interlocutor.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, veja o slideshow abaixo. Este

slideshow faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

SLIDESHOW

No que tange à linguagem jurídica, também pode haver, como de fato há, interlocutores

particulares e interlocutores universais. Basta que você considere a quem se dirige a mensagem

jurídica. Pense na linguagem empregada pelo legislador e na linguagem empregada pelo

advogado nas peças processuais. Quem são os respectivos interlocutores, ou seja, os destinatários

dessas mensagens? Considere os perfis desses interlocutores e você começará a perceber uma

distinção fundamental no uso da linguagem.

O legislador se dirige, com seu discurso normativo, a um grande número de pessoas, as

quais, como você sabe, não são necessariamente integrantes da comunidade jurídica, por isso, a

linguagem deve ser sempre clara, precisa e objetiva a fim de tornar o conteúdo da mensagem

operacional, isto é, de fácil alcance.

Por outro lado, há a linguagem empregada pelo advogadonuma petição recursal dirigida ao

Tribunal. Os desembargadores que vão examinar o recurso compartilham um conjunto de

conhecimento e de saberes muito específicos com o advogado, razão pela qual a linguagem,

nesse caso, deve ser específica e construída no sentido do convencimento do Tribunal.

Usos ou funções da linguagem

Toda comunicação é intencional e essa intencionalidade está representada no uso que se

faz da linguagem. Assim, a fim de alcançar aquilo que deseja, o emissor da mensagem, falada ou

escrita, empregará uma das seguintes funções, que você verá a seguir: A função

referencial ou denotiva; A função apelativa ou conotativa.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, assista a animação abaixo. Esta

animação faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

ANIMAÇÃO

Perceba a diferença, pois quando a linguagem é usada de modo descritivo, a preocupação

daquele que fala ou escreve é apenas com o seu conteúdo, que pode ser falso ou verdadeiro, mas

Page 4: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

4

quando a linguagem é usada para expressar algum sentimento ou despertar alguma reação, o

emissor está preocupado é com o receptor.

Ainda considerando a função denotativa ou referencial, o emissor pode pretender apenas

estabelecer alguma diretiva, ou seja, formas de comportamento a ser adotado pelo receptor. É o

caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem

empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios.

Aliás, esses despachos recebem o nome de ordinatórios, porque contêm uma ordem, uma

determinação. É talvez a função mais preponderante da linguagem jurídica no seu uso

operacional, que consiste no emprego da linguagem escrita para concretizar o que acha descrito

na norma jurídica. É o caso, por exemplo, do testador que escreve seu testamento, seguindo os

comandos ditados pelo Direito das Sucessões ou do advogado que redige um contrato,

observando que determina o Direito das Obrigações.

Compreendidas essas questões, faça os exercícios propostos e na próxima aula trataremos

da argumentação jurídica.

Referências

ABURRE, Maria Luiza M. e ABURRE, Maria Bernadete M. Produção de texto: interlocução

e gênero. São Paulo: Moderna, 2008. pp. 2-36

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 5: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

5

Modalidades da língua

Nesta aula, retomaremos, de forma sintética, os elementos da comunicação e veremos que existem

diversas modalidades de língua e de linguagem, diferenças cuja compreensão é importante na

medida em que saber usar a linguagem formal ou informal, em seus vários níveis, garante um ato

comunicacional eficaz. Veremos, ainda, a questão da linguagem jurídica e seu enquadramento nas

classificações discutidas. Discutiremos os diversos níveis da linguagem jurídica, segundo a sua

função criadora, aplicadora ou operacional do direito e começaremos a discutir a função

argumentativa na linguagem jurídica.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

Pois bem, para se comunicar, e, portanto, para expressarem seus pensamentos, as pessoas

ora usam a língua culta ora usam a língua popular. A língua culta ou língua-padrão é aquela que

é ensinada nas escolas, por meio da gramática e sua função é a de manter a unidade sócio-

cultural de uma comunidade. É também aquela usada nos textos acadêmicos, científicos,

literários, jurídicos, nos jornais e revistas.

Ao lado da língua culta, existe outra modalidade funcional da língua. Trata-se da chamada

língua popular ou linguagem cotidiana. Mais dinâmica e espontânea, ela não se sujeita às regras

gramaticais impostas pela gramática.

A língua coloquial ou comum pode se manifestar pela linguagem popular, tem na gíria sua

expressão maior e como se sabe, é usada para expressar pensamentos dentro de uma comunidade

menor ou pela linguagem familiar, isto é, aquela usada entre os integrantes de uma família, de

que o uso do diminutivo ou de apelidos carinhosos são os exemplos mais significativos.

Existe, ainda, ao lado da língua culta e da língua coloquial, outra modalidade denominada

língua grupal, usada por grupos específicos. É o caso da linguagem empregada por comunidades

afastadas dos grandes centros urbanos; das gírias empregadas por certas comunidades e da

linguagem técnica empregada por profissionais do Direito, da Medicina, da informática, do

futebol.

Vale observar que essas modalidades funcionais da língua são intercambiáveis entre si e

seu uso depende do contexto e do ambiente em que as pessoas se encontram. É certo que um

advogado não emprega a linguagem jurídica o tempo todo em que se comunica. No recesso do

seu lar, conversando com seus familiares, a linguagem haverá de ser coloquial, poderá não

empregar gírias, mas não se comunicará da mesma forma com que se comunica com um juiz ou

um promotor.

Até agora tratamos da língua e da linguagem, de suas modalidades e níveis, sem precisar o

meio pela qual ela se manifesta, isto é, se escrita ou falada. A comunicação pode, pois, ser escrita

ou falada e em certa medida podemos intuir que há diferenças bem acentuadas entre a língua

escrita e a língua falada. Pense nas diferenças que há entre um texto escrito e uma mensagem

falada. Você consegue identificar esses traços distintivos?

Pois é, a língua escrita não é mera transcrição daquilo que se fala e requer mais atenção e

cuidado de quem a usa, visto que ao produzir uma comunicação escrita, emissor e receptor não

Page 6: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

6

estão no mesmo contexto, por isso a linguagem escrita tende a ser mais descritiva. O uso do

vocabulário precisa ser mais cuidado para que o interlocutor compreenda, assim, a linguagem

escrita depende de planejamento e em certa medida está distanciada do interlocutor. A língua

falada, de outro lado, é minimamente planejada e, porque envolve o interlocutor, sofre alterações

constantes no curso.

A linguagem jurídica

E a linguagem jurídica? Onde, nesse emaranhado de classificações, é possível enquadrar a

linguagem de um grupo específico de pessoas, denominadas de operadores do Direito.

Já sabemos que o uso da linguagem depende do contexto que os interlocutores se

encontram, por isso, vamos concentrar a nossa discussão no uso da linguagem jurídica no

contexto da prática do Direito, mas precisamos fazer uma distinção entre a linguagem jurídica e

a linguagem judiciária. A linguagem jurídica é aquela empregada pelo Direito, enquanto norma e

a linguagem judiciária é aquela emprega pelos serventuários da Justiça.

Desde logo podemos dizer que a linguagem jurídica pode ser escrita ou falada. A

linguagem escrita é aquela manifestada nos pareceres, petições, requerimentos, projetos de lei,

resoluções, portarias, decretos, circulares. É por isso, formal e culta.

A linguagem jurídica falada é, de outro lado, aquela que se vê nas audiências e

sustentações orais nos Tribunais. É também, formal e culta, e, tanto quanto a linguagem escrita, é

marcada por um vocabulário muito específico e próprio que compõe um verdadeiro repertório,

estampado nos dicionários jurídicos.

Vimos, pois, que a linguagem jurídica representa um modo de expressão de um grupo, isto

é, o grupo de profissionais que editam o direito (legislador), que aplicam e dizem o direito

(juízes) e que operam o direito (advogados) e, de um modo mais abrangente, de toda uma classe

de pessoas que de alguma forma praticam o direito.

É nesse sentido que temos, então, vários níveis de linguagem jurídica. A linguagem do

legislador estampado nos códigos, a linguagem dos juízes e Tribunais, que se vê nas sentenças,

despachos e decisões, a linguagem contratual, usada pelos advogados nos contratos, a linguagem

dos registradores públicos, no vários documentos que produzem destinados a registrar e dar

publicidade a certos atos jurídicos.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, assista a animação abaixo. Esta

animação faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

ANIMAÇÃO

A questão argumentativa da linguagem jurídica

De todas as perspectivas que vimos até agora a respeito da linguagem jurídica, uma não

pode passar despercebida – a função argumentativa do Direito. Falamos na função criadora, da

função realizadora e até mesmo da função operacional do direito, mas todas elas passam de

alguma forma pela função argumentativa.

De fato, a argumentação está presente na linguagem jurídica empregada na fase de

elaboração da norma, seja ela pré-legislativa seja ela legislativa, nas discussões que ocorrem no

Page 7: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

7

interior das Comissões Parlamentares que examinam o conteúdo do projeto de lei proposto.

Pense nas discussões que vêem travando acerca da descriminalização do aborto ou da maioridade

penal.

A argumentação está presente, ainda, na fase de dicção do direito, ou melhor, na sua fase

de aplicação pelos juízes ou pelos órgãos da Administração Pública que têm poder decisório.

Falamos aqui dos processos administrativos. A argumentação empregada pelos juízes e órgãos

de decisão ora passam pelo problema referente aos fatos apresentados, ora passam pelo problema

relativo à norma a ser aplicada.

O que interessa quanto à função argumentativa da aplicação do direito é a razão

justificadora da aplicação de uma determinada norma jurídica em detrimento da outra, que

resulta de um ato de interpretação da norma a ser eleita como aplicável a determinado caso

concreto.

É por isso que quando a questão é de operacionalização do direito nos Tribunais, não são

poucas as vezes que se associa a imagem de um bom advogado àquele que é habilidoso no uso

da linguagem jurídica, àquele que é capaz de argumentar, seja construindo argumentos seja

manipulando-os, isto é, usando-os de acordo com as situações jurídicas que lhe são submetidas

na busca de uma decisão favorável ou menos danosa.

Referências

PETRI, Maria José Constantino. Manual de Linguagem Jurídica. São Paulo: Saraiva, 2009.

pp. 1-37

Avalie este tópico:

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 8: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

8

Qualidade da linguagem

Nesta aula, veremos quais são as qualidades necessárias para que a linguagem, de um modo geral e

em especial a linguagem jurídica, seja eficaz, isto é, produza o efeito necessário e desejado por

quem deseja transmitir uma mensagem, com correção gramatical, coerência, clareza e precisão.

Além dessas qualidades, é preciso, também, considerar, na hora de escrever, não só as técnicas

básicas de redação, mas também, o destinatário da mensagem.

Letramento digital e ensino: algumas considerações

Já vimos, em outro momento, que a linguagem é o meio de transmitir por palavras escritas

ou faladas uma unidade de pensamento, isto é, uma mensagem, que tanto será mais facilmente

compreendida quanto mais claro e preciso for o pensamento. Assim, linguagem e pensamento

estão numa relação direta e necessária.

Vimos, nas aulas anteriores, que a eficácia da comunicação depende do contexto em que

ela é produzida e do perfil daquele a quem a mensagem é endereçada. Por isso, preocupado com

a operacionalização do direito, Miguel Reale afirma que uma das mais importantes

características do Código Civil, em vigor desde 2002, é a apropriação de uma linguagem clara

que possa ser compreendida mais facilmente pelo homem comum.

Contudo, não basta, clareza e precisão. Outras qualidades ainda são exigidas da

linguagem, especialmente a jurídica, tais como correção gramatical e coerência. Assim, são

qualidades que devem estar presentes no ato de comunicação jurídica: correção gramática,

coerência, clareza e precisão.

Não se esqueça de consultar com o professor da disciplina sobre a entrega de todo o

material produzido e como será a finalização da disciplina.

Correção gramatical

A correção gramatical exige domínio das regras da língua padrão, isto é, das regras de

gramática. É preciso saber manejar as regras de: a) acentuação; b) crase; c) emprego de pronome

pessoal oblíquo, pronomes de tratamento, pronomes demonstrativos e pronomes relativos; d)

regência verbo-nominal; e) concordância, seja verbal seja nominal e f) pontuação.

Não basta, contudo, que o texto, isto é, a unidade de pensamento enunciada esteja

gramaticalmente correta. É preciso, ainda, que ele se apresente claro, preciso e coerente, pois é

de pouca ou nenhuma serventia um texto em perfeitas condições gramaticais, sem que possa ser

compreendido em razão das deficiências na estruturação da frase e na concatenação das idéias a

serem transmitidas.

Coerência

A coerência de um texto diz respeito à organização das idéias e das relações lógicas e

cronológicas que entre elas se estabelece. Um texto é coerente quando, da idéia principal,

Page 9: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

9

decorrem outras idéias numa sucessão natural do ponto de vista lógico e cronológico. A ausência

de coerência leva à falta de clareza e, portanto, leva a um texto obscuro e de difícil compreensão.

A técnica para se obter a coerência é estabelecer qual a idéia principal, isto é, o tema em

torno do qual o texto haverá de ser construído, o que pode ser obtido com a colocação do tema

logo no início do parágrafo.

Para a obtenção da coerência é preciso que a idéia principal fique explícita no parágrafo,

isto é, clara, sendo recomendável que a idéia principal seja declarada desde o início do parágrafo

para que, a partir dela, as chamadas idéias secundárias se desdobrem numa relação lógica e

cronológica.

Um parágrafo será ainda coerente quando são evitados detalhes que nada acrescentam à

idéia principal são mera repetição ou dela. Um parágrafo prolixo, ou seja, com detalhes em

abundância, dificultam a sua compreensão e comprometem a sua clareza a tal ponto de o quem o

lê não poder saber exatamente do que se trata. Um parágrafo só deve conter informações que

possam ajudar a compreender a idéia principal.

Se, eventualmente, uma idéia for por demais complexa, porque envolve muitos aspectos

ou se forem duas ou mais idéias que precisam ser apresentadas, porque são consideradas

relevantes, o melhor a fazer é distribuí-las em outros parágrafos e não num mesmo período,

dentro do mesmo parágrafo.

Na linguagem jurídica, o desenvolvimento de uma mesma idéia em muitos parágrafos

subseqüentes demonstra falta de organização e de planejamento.

A coerência textual é tão importante na linguagem jurídica que, por exemplo, o Código de

Processo Civil, no artigo 295, parágrafo único, determina que uma petição inicial é inepta, isto é,

não é hábil a instaurar o processo, quando o pedido formulado pelo autor não for uma

decorrência lógica do que foi dito na causa de pedir. Em outras palavras, é preciso que o pedido

seja coerente com os fatos descritos.

E não é só. O Código Civil, por sua vez, exige coerência do texto na linguagem contratual,

sobretudo na aposição dos elementos acidentais do negócio jurídico, ao tratar das condições

perplexas, determinando a nulidade da condição quando ela for perplexa.

Clareza

Essa qualidade do texto resulta da correção gramatical e da coerência. Pode ser

conseguida, também, com a observância de algumas regras fundamentais tais como o uso de

frases curtas, isso porque frases longas e prolixas, carregadas de adjetivos comprometem essa

qualidade.

A ordem direta dos elementos da frase (sujeito, verbo, objeto e complemento) é condição

necessária para que se obtenha clareza, por isso evite a ordem indireta, tão usada na linguagem

Page 10: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

10

jurídica e tome cuidado com a pontuação. A ausência de clareza leva ao problema da

ambigüidade ou da obscuridade.

A clareza dos textos é uma qualidade tão importante na linguagem jurídica, que o Código

de Processo Civil, ao tratar dos recursos como medidas judiciais de impugnação às decisões

judiciais, apresenta um recurso denominadoEmbargos de Declaração que tem por objetivo

sanar as contradições, omissões e obscuridades dos textos contidos nas decisões judiciais.

A maneira como se redige um texto jurídico deve ser cuidadosamente pensada, não em

razão de uma necessidade formal, relacionada ao uso da língua padrão, isto é, consoante à

gramática ou segundo técnicas de redação, mas por uma imperiosa necessidade de comunicação

e, portanto, de ordem prática.

Precisão

A finalidade da comunicação é a transmissão da mensagem e seu principal veículo é a

palavra, escrita ou falada, por isso, a palavra requer um cuidado muito grande, sobretudo quanto

a sua escolha, a sua significação e colocação dentro de uma composição textual. O uso adequado

do vocabulário próprio do direito, o chamado vocabulário jurídico, que consiste num repertório

muito particular de expressões com significados próprios, sejam aqueles estampados na própria

lei ou em um bom dicionário jurídico é o recurso que permite a obtenção da clareza e da

precisão.

O uso de palavras fáceis simplifica o entendimento e contribui para a clareza do texto, por

isso neologismos e preciosismos devem ser evitados, pois, além de comprometer a clareza do

texto, podem prejudicar o significado da mensagem a ser transmitida.

Referências

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 13a ed. Rio de Janeiro: FGV Editora,

1986. p. 253-287.

Avalie este tópico:

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 11: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

11

Introdução

Nesta aula veremos quais os elementos que compõem a linguagem argumentativa de um texto

jurídico. Você aprenderá como estruturar adequadamente um texto argumentativo, conhecerá as

características dessa estrutura e saberá identificá-las e usá-las em seu dia-a-dia profissional.

A linguagem jurídica adotada pelo legislador nos textos normativos é prescritiva, na

medida em que ordena comportamentos e descreve situações, permanentes ou sujeitas a

alterações e para alcançar essa finalidade, o legislador se vale de uma linguagem vaga e

imprecisa, visto que se apropria da linguagem comum, o que torna a linguagem do legislador

passível de interpretação.

A linguagem jurídica adotada pelo advogado em suas peças processuais, pelo juiz em suas

decisões e pelo promotor de público é, sobretudo, argumentativa, isto é, a linguagem tende a

convencer alguém, a demonstrar a validade de uma tese ou a defender um ponto de vista.

A função da linguagem empregada é persuasiva e o uso de argumentos será preponderante,

pois a intenção é influenciar o interlocutor e conseguir a sua adesão no sentido de aceitar a ideia,

de agir de uma determinada maneira ou de acreditar em algo.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

A linguagem argumentativa

A linguagem argumentativa, para sua eficácia, depende não só da observância das regras

de lógica, mas também da consistência dos argumentos desenvolvidos e das evidências das

provas que dão sustentação ao argumento. O texto argumentativo é composto de: tese,

argumentos, estratégias argumentativas e conclusão.

Tese

A tese de um texto argumentativo é a proposição que se busca defender, que geralmente

vem marcada por uma certa polêmica, isso porque os argumentos implicam necessariamente

divergência de opinião, porquanto o objetivo do texto argumentativo é convencer e persuadir

alguém.

Assim, verdades universais e temas sobre os quais há um consenso não podem ser tomados

como tese.

Imagine a situação em que um dos cônjuges atribua ao outro um comportamento

desonroso capaz de autorizar a separação judicial, como determina a lei civil.

Evidentemente que o outro cônjuge negará a imputação dessa conduta, dizendo-se

inocente. O juiz precisará ser convencido. Portanto, estabelecida a divergência, cada um dos

advogados buscará convencer o juiz da sua tese – culpa ou inocência pela separação.

A tese, como se vê, é uma ideia que será defendida com os argumentos.

A identificação dos argumentos

Page 12: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

12

Para identificar os argumentos, basta que se formule mentalmente a pergunta: Por quê?

Assim, se o advogado de A afirma que B é culpado pela separação judicial, a pergunta deve ser:

“Por quê?”. A essa resposta dá-se o nome de argumento.

A argumentação é a demonstração do ponto de vista do emissor da mensagem que vem

amparada nas relações de causa e efeito, em comparações entre situações, épocas e lugares

diferentes. A argumentação também se apoia em depoimentos ou citações de pessoas

especializadas no assunto abordado, em dados estatísticos, pesquisas.

Para uma boa construção dos argumentos é preciso conhecer bem a tese, ter informações e

documentos necessários que lhe dão suporte. Depois, é preciso selecionar os argumentos e

encadeá-los de forma lógica e racional, considerando o que é de fato relevante para a eficácia do

texto, ou seja, convencer, persuadir e obter a adesão do leitor.

Estratégias argumentativas

As estratégias argumentativas dizem respeito à articulação e ao desenvolvimento do

discurso e representam o verdadeiro mecanismo pelo qual o leitor será persuadido.

A eficácia do texto argumentativo, em certa medida, para além das provas apresentadas na

argumentação, depende do estabelecimento de relações lógicas entre as palavras, as frases, os

períodos e os parágrafos, o que já vimos nas aulas anteriores.

A eficácia do texto depende da correta estruturação das frases, do uso correto e adequado

das frases de transição, com relação às regras de concordância verbo-nominal, ao uso adequado

de pronomes e à utilização de uma variada gama de vocabulário.

Daí a importância de conhecer bem orepertório jurídicoou o chamadovocabulário

jurídicosobre o qual já falamos em outra aula.

Para resumir, as estratégias argumentativas dizem respeito à fluência do texto, à

sua clareza, coerência ecoesão.

Conclusão

A parte final do texto não é um resumo dos argumentos nem uma síntese do que foi

escrito, mas o apontamento das conclusões decorrentes dos argumentos apresentados e a

comprovação da tese. A conclusão deve ser uma decorrência natural dos argumentos.

Material Complementar

Referências

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 13. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986, p.

253-287.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 13: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

13

Introdução

Nesta aula veremos a argumentação de autoridade, por analogia, ad hominem e suas modalidades,

o argumento a fortiori, como sendo os tipos de argumentação mais comuns nos textos jurídicos.

Iremos rever, ainda, as fases de produção do texto argumentativo, desde a reflexão e pesquisa do

tema e da tese até a conclusão.

Vimos na aula passada que o texto argumentativo precisa ser planejado. O plano do texto

argumentativo, como qualquer produção textual, de modo geral passa, primeiramente, pela

reflexão, pela escolha criteriosa e reflexiva do tema do texto.

A segunda etapa consiste na seleção das fontes de informação para a coleta de argumentos

e na própria coleta de dados. A terceira etapa, na redação do texto e a quarta na sua revisão.

Tipos de argumentação

Já sabemos que argumentar consiste em apresentar razões justificadoras de uma

proposição, de uma ideia que se pretende demonstrar verdadeira ou válida.

Lembre-se do exemplo do advogado que pretende ajuizar ação de separação com

fundamento na conduta desonrosa do outro cônjuge. Pois bem, nosso colega advogado quer

demonstrar que uma pessoa casada não deve apresentar-se como solteira perante a sociedade,

especialmente, nas comunidades virtuais como o orkut, pois essa conduta é atentatória contra a

dignidade do outro cônjuge, autorizando o pedido de separação judicial.

Vejam que nós, juntamente ao nosso colega advogado, cumprimos a primeira etapa do

processo de argumentação.

Percebam que a argumentação é um processo, no qual precisamos cumprir uma série de

etapas. Passamos pela primeira, conforme o quadro anterior, refletimos com o nosso colega

advogado acerca do tema, que foi extraído de sua conversa com o cliente – o cônjuge que se

sentiu desprestigiado com o comportamento da esposa, que se dizia solteira na sua página

pessoal doorkut.

Nesta segunda etapa, vamos, acompanhando nosso colega advogado, começar a construir

os argumentos, isto é, vamos apresentar as razões que justificam a tese de que é conduta

desonrosa, uma pessoa casada apresentar-se como solteira e para essa etapa da argumentação,

precisamos conhecer os vários tipos de argumento que existem.

Page 14: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

14

Argumento de autoridade

Comecemos pelo argumento de autoridade, que consiste em trazer em abono da

proposição inicial a opinião de especialistas e doutores no tema sobre o qual vamos argumentar.

São as citações de doutrina, de artigos especializados e orientações sumuladas pelos Tribunais

Superiores.

Cuidado ao usar o argumento de autoridade. Não se esqueça de transcrever fielmente o

trecho que dá sustentação à tese e de inseri-lo entre aspas, colocando o trecho em fonte diferente,

em negrito ou em itálico ou numa paragrafação diversa, ou seja, em recuo.

Jamais alterem o conteúdo da citação e nem mesmo promova eventuais correções no texto

original, se acaso o texto encontrado e eleito como argumento de autoridade estiver escrito em

português que não se usa mais, por conta das reformas ortográficas ocorridas na língua

portuguesa. E não se esqueçam, finalmente, de transcrever as referências bibliográficas que foi

extraída a citação. O método costuma ser o da ABNT.

Para o nosso exemplo, precisaríamos encontrar um texto doutrinário ou uma decisão

judicial emanada de um Tribunal Superior que tratasse dessa questão para que a elegêssemos

como nosso argumento de autoridade.

Argumento por analogia

É o argumento segundo se os fatos são semelhantes, a decisão devem ser a mesma. É, na

verdade, aplicação do princípio de que as situações iguais devem ser tratadas igualmente. O

argumento por analogia se constrói a partir da citação de jurisprudência. Assim, o recurso a esse

tipo de argumento depende da localização de uma decisão de algum Tribunal que tenha

examinado uma tese semelhante àquela que se pretende demonstrar.

No argumento por analogia também é preciso tomar uma série de cuidados com a

transcrição de trechos de acórdãos e para isso remetemos vocês à leitura do tópico anterior.

É importante observar, ainda, que não basta apenas citar o trecho do acórdão que justifica

a tese. É preciso mostrar, na argumentação, como o trecho selecionado se aplica à tese a ser

defendida.

É preciso, portanto, mostrar a relação que se estabelece entre a situação decidida e a

situação a se decidir. Aliás, existe um tipo de recurso na sistemática processual em vigor, que se

constrói basicamente com o argumento por analogia.

Trata-se do Recurso Especial na hipótese de divergência jurisprudencial, em que o

advogado deve cotejar analiticamente dois acórdãos que retratam situações assemelhadas, mas

que deram solução divergente para o caso.

Esses são os dois tipos de argumentação mais usados no texto jurídico, mas existem outros

que recorrentemente podemos perceber. Vejamos mais alguns.

Argumento ad hominem

Esse tipo de argumento é direcionado contra a pessoa. Trata-se de uma falácia, isto é, de

um erro de raciocínio, pois ao invés de dar sustentação à tese, o argumentante acaba por atacar a

pessoa, colocando em dúvida a sua credibilidade.

A argumentação ad hominem costuma ser muito comum nos debates políticos à época de

pleitos eleitorais. Basta assistir a um debate político pela televisão para que se possa perceber o

argumento ad hominem sendo usado.

Page 15: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

15

O argumento ad hominem pode ser abusivo ou circunstancial.

É abusivo o argumento quando ele ataca o caráter da pessoa. Nos debates políticos, as

argumentações em torno dos programas de governo cedem seu lugar para críticas aos adversários

por suas alianças políticas.

É circunstancial o argumento ad hominem, quando o argumentante se vale de uma

especial situação em que o outro se encontra ou se encontrou em algum momento para atacá-lo.

Na verdade o que ocorre é a demonstração da incompatibilidade entre a ação e o discurso do

adversário.

Argumento a fortiori ou argumento com maior razão

É também um argumento jurídico e, via de regra, é usado para buscar a supressão de

omissões da lei e, com isso, tornar o seu sentido mais abrangente. Trata-se de autorizar quem

pode fazer o mais, fazer o menos.

VALE A PENA CONFERIR

Deixamos para esta parte final da nossa aula a indicação de um acórdão que representa um texto

argumentativo de uma tese bastante atual e interessante. Procurem identificar na leitura as fases

de elaboração do texto argumentativo, bem como as estratégias argumentativas e os tipos de

argumento. Boa leitura! . Disponível em: tex.pro.br.Acesso em 29 abr. 13.

Referências

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 13. ed. Rio de Janeiro: FGV, 1986, p.

253-287.

Avalie este tópico:

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 16: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

16

A falácia como um mecanismo argumentativo

Nesta aula, você aprenderá o que é uma falácia como um mecanismo argumentativo, que tem por

finalidade levar o adversário ao erro. Veremos que não é uma prática recomendável, na medida em

que, se propositada, demonstra ou pode demonstrar desonestidade e má-fé de quem a utiliza. Além

disso, você aprenderá quais são as modalidades ou os tipos de falácias e como combatê-las.

Na aula passada, depois de examinarmos os passos para a produção de um texto

argumentativo, vimos os vários tipos de argumentos, isto é, as várias formas pelas quais

podemos apresentar as razões de acolhimento da tese que demonstramos.

Já sabemos que argumentar consiste em expor as razões que dão sustentação a uma tese e

que a argumentação, em última análise, tem por finalidade convencer e persuadir o juiz, o

promotor, o delegado e, até mesmo, o outro advogado. Isso quando não buscamos convencer a

parte contrária a entabular um acordo, por exemplo, com vistas a alcançar o fim de um conflito

ou de uma negociação.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

Vamos ver a seguir alguns tipos de falácias, indicando como elas são construídas, a

fim de que você nos seus arrazoados as evite e ao percebê-las possa rebatê-las:

Falácia por generalização

A falácia por generalização consiste em apontar as propriedades da parte para justificar a

propriedade do todo. Tome como exemplo as constantes afirmações que ouvimos de que "todas

as mulheres são emotivas".

Falácia por falsa analogia

É ainda um exemplo de falácia por indução, aquele argumento construído pela falsa

analogia. Já aprendemos que analogia, como método de supressão de lacuna da lei, consiste em

comparar duas situações de fato assemelhadas nos seus aspectos particulares dando a elas a

mesma solução.

Pois bem, tratando-se de falácia por indução, esse raciocínio é imperfeito porque ao

considerar apenas aspectos particulares conclui-se por uma tese geral.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

Falácia por erro de acidente

Também é um modo de argumentar por indução. Esse argumento toma um elemento

circunstancial ou acidental um elemento necessário.

Page 17: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

17

Para compreender esse tipo de falácia, você precisa ter em mente o significado das

expressões acidental e necessário.

Você já ouviu uma falácia por erro de acidente muitas vezes. É, por exemplo, o que se

afirma de políticos. Todos os políticos são desonestos. Essa afirmação, possivelmente, decorre

ou decorreu do fato de um certo e determinado político ter se envolvido em algum escândalo

financeiro.

Pensemos em outra: Todo jogador de futebol vem das camadas sociais mais desprovidas

de recursos. Esse argumento decorre do fato de algum jogador ou alguns jogadores de futebol

bem conhecidos, de fato, terem saído das camadas sociais menos privilegiadas.

Falácia por ataque pessoal

Já discutimos essa figura em aula anterior quando discutimos o argumento ad

hominem em suas duas classificações. Naquela oportunidade, dissemos que uma delas não era

propriamente um argumento, mas uma falácia.

A falácia por ataque pessoal ocorre no momento em que se empregam ofensas ao

adversário.

Em recente debate político, um dos candidatos, esquivando-se de responder às perguntas

que lhe foram endereçadas, voltou-se para o adversário referindo-se às relações pessoais dele

com outros políticos.

É preciso tomar cuidado com esse tipo de falácia, na medida em que ela pode não ser uma

falácia, mas sim um argumento, como ocorre, por exemplo, quando a pessoa é notoriamente

conhecida por seu passado.

É o caso de alguém que já foi processado várias vezes por crime de perjúrio e foi

condenado em todos eles. A probabilidade dessa pessoa mentir em juízo novamente, caso seja

arrolada como testemunha, permite que sua condição pessoal seja usada como argumento. Aqui

não se trata de falácia ou de argumento ad hominem ofensivo ou abusivo.

Falácia da misericórdia

É o argumento que se volta para a emoção, para piedade e misericórdia. A sua finalidade é

obter adesão à tese, não pelas razões alinhavadas e pelos argumentos construídos, mas pelo

despertar de sentimentos piedosos.

Temos como exemplo de falácia da misericórdia, o discurso daquele aluno que é sempre

vítima das circunstâncias. Para justificar que não estudou convenientemente para a prova, passa a

dizer que mora muito longe, que gasta várias horas no transporte, que trabalha durante todo o

dia, que não pode ser reprovado, porque já tem outras reprovações anteriores, buscando com isso

despertar piedade do professor.

Page 18: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

18

Outro exemplo? O advogado de defesa que, não podendo deixar de se curvar às provas de

que o cliente é culpado pelo crime que cometeu, invoca a piedade do juiz dizendo que o réu é

pobre, que perderá o emprego se for para a cadeia, que os muitos filhos menores ficarão à

míngua, a fim de que seu cliente obtenha uma pena menor.

Com a falácia de misericórdia, não se convence, se comove!

Falácia da petição de princípio

É o desenvolvimento de raciocínio circular, em que o argumento e a conclusão se

confundem, ou seja, a conclusão é o próprio argumento.

É o que acontece quando alguém diz que o vidro está quebrado porque alguém o quebrou.

Dizer que alguém quebrou o vidro para explicar que ele está quebrado é inútil.

Esse tipo de falácia também é denominado de tautologia porque consiste em repetir a

mesma ideia de forma diferente, querendo emprestar a ela a natureza de explicação ou de falácia

da petição de princípio, em que se toma por demonstrado o que ainda precisa de prova, ou seja,

toma-se a conclusão como prova dela mesma.

Referências

RODRIGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: Técnicas de persuasão e lógica

informal. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 237- 254.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 1996, p. 307-314.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

________________________________________________________________

Page 19: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

19

Tipos de produção textual

Nesta aula, iremos rever os tipos de produção textual: narração, descrição e dissertação, seus

elementos estruturantes e a finalidade a ser alcançada com a produção desses textos.

Na aula anterior, em continuação ao estudo dos tipos de argumento, vimos as falácias, isto

é, os erros propositadamente causados com a finalidade de levar alguém a erro.

Nesta aula, vamos examinar os tipos de produção textual e a linguagem que neles se

emprega e onde com frequência encontramos os argumentos e as falácias já estudadas.

Vale relembrar, neste momento, nossa primeira aula sobre os elementos da comunicação.

O texto é uma mensagem e como tal ela é produzida por alguém que denominados de emissor e

destinada a outrem, que chamamos de receptor ou interlocutor.

E mais, precisamos ainda considerar o conteúdo do texto, isto é, a mensagem, o assunto

que queremos comunicar, sua estrutura, ou seja, a organização das ideias, o que demonstra a

coerência e a fluidez do texto.

Precisamos considerar também os níveis de linguagem manifestados pelo vocabulário que

vamos empregar. Lembre-se que a seleção do vocabulário depende do nosso interlocutor, ou

seja, daquele a quem nossa mensagem é destinada e, por fim, a questão gramatical, com o uso

adequado da norma culta.

Vejamos agora os tipos de texto que podemos elaborar para transmitir uma mensagem

eficaz. Vamos tratar dos tipos redacionais ou da tipologia textual.

Descrição

Descrever é expressar por meio de palavras objetos, pessoas e lugares e, segundo Othon

Moacir Garcia, até mesmo um sentimento pode ser descrito. Quem não se lembra da professora

do ensino fundamental pedindo no primeiro dia de aula, que descrevêssemos nossas férias?

Pois é, descrever significa, então, singularizar, isto é, indicar os aspectos e as

características mais relevantes de um objeto, de uma pessoa, de um lugar ou de um sentimento,

tornando-os distintos de qualquer outro.

A qualidade da descrição está diretamente relacionada ao nível de observação daquele que

descreve, isso porque uma descrição não se faz com a simples enumeração das características do

objeto, da pessoa, do lugar e do sentimento.

Uma descrição será eficaz se o interlocutor tiver a impressão de estar diante do objeto, da

pessoa, do lugar descrito. Não falamos aqui apenas da descrição literária, como José de Alencar

a faz ao descrever a entrada de Aurélia, protagonista do romance Senhora, em um dos salões de

baile do Império, mas também da descrição técnica.

A narração técnica, por sua vez, é aquela que trata de assuntos técnicos ou científicos e

como qualquer outro tipo de produção textual há de ser marcada pela clareza, coerência,

correção, objetividade e exatidão que já vimos em aulas anteriores.

Page 20: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

20

Uma descrição deve conter, minimamente, um tópico frasal, isto é, uma frase que

apresente o objeto da descrição, seguida do desenvolvimento, que consiste na apresentação de

detalhes, numa estrutura dedutiva, ou seja, na narração. Os detalhes vão sendo apresentados do

geral para o particular e, por fim, o encerramento da narração com uma síntese.

Narração

Esse tipo de texto, diferentemente da descrição, tem por objeto um fato, ou seja, um

acontecimento que tenha sido causado pelo homem com sua atuação ou pela força da natureza,

por isso a toda narração depende da presença de todos ou pelo menos de alguns dos seguintes

elementos: o fato, as pessoas envolvidas no fato, como o fato se desenrolou, quando ele ocorreu,

em que circunstâncias, qual a razão de ele ter ocorrido e qual a consequência decorrente desse

fato.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, veja o slideshow abaixo. Este

slideshow faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

SLIDESHOW

Os elementos da narração podem ser apresentados na seguinte ordem: a introdução com a

apresentação do fato a ser narrado; o desenvolvimento com apresentação dos demais elementos,

o fato central e o desfecho. Se pararmos para pensar essa é a estrutura de um romance e de uma

novela.

Dissertação

Esse tipo de texto consiste na exposição de ideias a respeito de um assunto. Não se trata de

simplesmente apresentar um tema, mas discuti-lo, analisando-o, mediante a apresentação de

ideias com indicação de provas que possam justificar o ponto de vista apresentado.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

Vamos nos deter mais no texto dissertativo, já que a maior parte das produções textuais

tem essa natureza. Por isso, veremos aqui como elaborar um texto dissertativo que pode ser

apenas expositivo ou apenas argumentativo ou ainda expositivo-argumentativo.

A redação do texto dissertativo, em qualquer de suas modalidades, deve ser feito na

primeira pessoa do singular.

Não use afirmações vagas, imprecisas e nem manifeste juízos de valor ou conceitos que

impliquem em julgamento, já que essas expressões não se revestem de qualquer informação.

Cuide para não ser redundante, isto é, repetitivo. Observe se não há repetição de ideias, se

há obscuridade, ou seja, falta de clareza bem como se há frases desconexas, sem sentido, que

podem ser decorrentes do uso inadequado de conjunções.

Uma última observação precisa ser feita. Nenhum desses tipos textuais é puro, ou seja,

uma narração poderá conter aspectos de descrição e da dissertação. Da mesma forma que um

texto descritivo pode apresentar elementos de uma narração e de uma dissertação. Na realidade,

essa tipologia de texto só é identificada a partir da finalidade a ser alcançada pelo seu autor.

Page 21: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

21

Referências

RODRIGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: Técnicas de persuasão e lógica

informal. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 237- 254.

GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. Rio de Janeiro: Fundação

Getúlio Vargas, 1996, p. 360-392.

PETRI, Maria José Constantino. Manual de linguagem jurídica. Saraiva, 2009, p. 51-55.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 22: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

22

A narração no texto jurídico

Nesta aula, retomaremos aspectos da produção textual narrativa vendo-a da perspectiva jurídica,

isto é, como os advogados, juízes, promotores de justiça, oficiais do registro público, delegados de

polícia se apropriam da estrutura narrativa em seus textos jurídicos.

Na aula anterior, vimos os tipos textuais mais comuns. Nesta aula, veremos a narração no

texto jurídico. No discurso jurídico, encontramos dois tipos de textos narrativos: aquele que

contém uma narrativa simples e outro que contém a narrativa valorada.

Alguns textos produzidos por advogados, juízes, promotores, delegados de polícia e por

oficiais do registro público apresentam uma narrativa.

Isso acontece numa petição inicial, na contestação, nos recursos ou contra razões de

recurso, produzidas por um advogado; na sentença proferida pelo juiz; numa manifestação, na

denúncia, nas razões de recurso feitas por um promotor de justiça; no relatório do inquérito

policial feito por um delegado de polícia e nas escrituras públicas feitas pelos registradores.

Na petição inicial, peça primordial de um processo judicial, a narração é uma parte

fundamental do texto jurídico e nela o advogado, por força do que determina o artigo 282, do

Código de Processo Civil, deve em primeiro lugar, qualificar as partes, narrar os fatos

importantes do caso concreto, tendo em vista que o reconhecimento de um direito passa pela

análise do fato gerador do conflito.

A construção da narrativa do texto jurídico deve seguir, como vimos na aula anterior, os

seguintes elementos:

a) O que aconteceu;

b) Quem são as pessoas envolvidas no acontecimento;

c) Como ocorreu o fato;

d) Quando ocorreu o fato;

e) Onde ocorreu o fato;

f) Por que ocorreu o fato e

g) Qual ou quais as consequências do fato.

Aqui, diferentemente, da narrativa literária, nem todos os fatos merecem ser narrados. É

preciso saber selecionar o fato a ser narrado, isso porque ao lado do fato jurídico existem outros

fatos que não são relevantes para o reconhecimento do direito e acabam, quando narrados,

comprometendo a principal qualidade do texto narrativo, qual seja, a clareza e a lógica da

narrativa.

Aliás, quando constatado algum defeito na narrativa que comprometa a compreensão do

texto, o juiz poderá mandar o advogado reescrevê-la, aditando-a para esclarecer pontos obscuros

ou de difícil compreensão. Quando, apesar de emendada a petição inicial, o advogado não

conseguir fazer com que o juiz compreenda os fatos, o juiz poderá indeferir a petição inicial, o

que significa dizer que a petição não pode ser admitida em juízo.

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Page 23: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

23

Na sentença de um juiz, a narração está estampada numa parte denominada de relatório, na

qual o juiz faz uma sucinta descrição do que foi narrado pelo autor na petição inicial e do que foi

narrado pelo réu na contestação. É certo que uma sentença pode padecer do mesmo problema

que a petição inicial, qual seja, a falta de clareza e precisão e, para isso, com vistas a sanar esse

defeito redacional da sentença, poderá o advogado interpor um recurso denominado de

Embargos de Declaração, cuja finalidade é aclarar pontos obscuros, contraditórios ou omissos da

sentença.

Na denúncia de um promotor de justiça, a narração está na parte em que o promotor

descreve o crime praticado, indicando quem o praticou, as circunstâncias em que o praticou, o

lugar do crime, as razões do crime bem como as consequências do crime. Lembre-se que o crime

é um fato, por isso, a narração é o veículo apropriado.

A clareza deve ser a preocupação maior e deve estar sempre presente em qualquer ato

comunicacional jurídico, praticado pelo advogado, pelo juiz, pelo promotor, pelo oficial do

registro público ou pelo legislador na produção da norma.

A clareza da narração é uma decorrência, repetimos aqui outras aulas, da correção

gramatical, da coerência, isto é, da relação lógica e encadeada das ideias e das palavras e da

precisão vocabular, pois o texto jurídico é um texto técnico e direcionado, como vimos nas

primeiras aulas, a um grupo específico de pessoas.

No caso da petição inicial, o discurso é endereçado primeiramente ao juiz e depois ao réu,

que em razão do princípio constitucional do contraditório, deverá ter ciência do conteúdo da

petição inicial para com base nela poder, se quiser, produzir sua defesa, por meio da contestação.

Nesse compasso, seja a petição inicial, seja a contestação ou recursos, como modalidades

de textos jurídicos ser marcado pela ficção, pelo fantasioso, pelo imaginário, mas antes e,

sobretudo, deve estar marcado pela veracidade da informação, razão pela qual a narrativa

distorcida dos fatos é uma prática condenável, punida com a litigância de má-fé. Lembrem-se

aqui das falácias.

Como já vimos na aula anterior, nenhum tipo de produção textual é inteiramente puro, ou

seja, havemos de encontrar narração com aspectos descritivos ou dissertações com aspectos

narrativos e até mesmo descritivos. Podemos encontrar, então, um texto com diversos aspectos, o

que vai depender da finalidade a ser alcançada com o texto, como já dissemos.

A questão se resolve com a seleção do vocabulário, pois a partir da escolha do

vocabulário, o narrador, no nosso caso, o advogado do autor na petição inicial ou o advogado do

réu na contestação pode narrar os fatos de uma determinada perspectiva que leve o juiz, ao

examinar o caso concreto, a se convencer da veracidade do fato alegado.

Lembre-se de que um texto argumentativo é aquele em que se busca convencer e persuadir

o interlocutor, no caso o juiz que aplicará a sentença, da veracidade dos fatos e da tese alegada.

Page 24: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

24

É certo que essa argumentação não é ostensiva, feita claramente, mas sugerida, indicada,

por exemplo, com a indicação do texto normativo a ser aplicado pelo juiz.

A argumentação, o texto argumentativo, propriamente dito, ocorre noutro momento do

discurso jurídico, visto que nessa etapa da dialética processual, o que se busca é apenas

apresentar ao juiz o fato sobre o qual autor e réu se controvertem, ou seja, o pomo da discórdia, o

fato que deu origem ao conflito de interesses entre autor e réu.

E não é só pela seleção do vocabulário que o advogado pode desde logo persuadir o juiz da

verdade do que narra na petição inicial, mas também pela seleção dos fatos que vai narrar.

A função argumentativa da narração pode decorrer, também, do emprego da descrição. Na

aula passada falamos sobre a descrição, como o tipo de texto que se quer singularizar, isto é,

indicar os aspectos e características mais relevantes de um objeto, de uma pessoa, de um lugar ou

de um sentimento, tornando-os distintos de qualquer outro.

A narração assume aspectos de descrição quando o advogado do autor na petição inicial ou

o advogado do réu, na contestação, que é a via defensiva do réu, por excelência, agrega adjetivos

para se referir aos fatos ou aos personagens da cena judiciária, valorando a narrativa.

Não serão poucas as vezes que veremos na petição inicial um advogado se referindo ao

marido, réu em ação de separação judicial ou ação de alimentos, como uma pessoa mesquinha,

cruel, violenta.

É preciso apenas tomar cuidado com os exageros que podem decorrer do uso abusivo

desse tom descritivo para não transformar uma peça textual técnica em folhetim ou página

policial de algum jornal diário.

Essa técnica é bastante comum nas ações de separação judicial, divórcio, guarda e visita de

filhos, alimentos e nas cenas do Tribunal do Júri em que a descrição do comportamento dos

atores judiciais, autor e réu podem ter alguma repercussão e podem, até mesmo, impressionar o

juiz.

Referências

RODRIGUEZ, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: Técnicas de persuasão e lógica

informal. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 89-106 e 215-235.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 25: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

25

A dissertação no texto jurídico

Dando continuidade ao estudo das tipologias textuais no discurso jurídico, vimos na aula passada a

narração propriamente dita e como ela pode apresentar aspectos de dissertação e de descrição.

Nesta aula, vamos nos concentrar na dissertação que é o principal tipo de texto produzido pela

comunidade jurídica.

Não se pode perder de vista que o texto dissertativo é aquele em que se busca expor uma

ideia, podendo ser expositivo ou argumentativo ou ainda expositivo-argumentativo, como ocorre

com a maioria das produções textuais jurídicas, de que servem de exemplo os recursos, as

sentenças e acórdãos.

Uma preocupação deve estar sempre presente no texto dissertativo. Ele representa uma

tomada de posição diante de um dado tema ou problema. Assim é o que ocorre com o advogado

do autor ao sustentar a violação do direito do cliente para o que pretende uma sentença favorável

como o que acontece com o advogado do réu, ao sustentar a adequação do comportamento do

seu cliente ao ordenamento jurídico ou à regra do contrato, por exemplo, para pedir por uma

sentença desfavorável à parte contrária.

Ao juiz, na sentença, considerada a sua função de aplicador do direito, cabe tomar uma

posição diante do conflito que lhe foi submetido, estampando na sentença a sua decisão, que a

partir dos fundamentos que invocar convencerá ou não um dos demandantes, que não satisfeitos

com a decisão, hão de recorrer e no Tribunal irão buscar o convencimento do colegiado acerca

do acerto ou desacerto da decisão de primeiro grau.

O texto dissertativo seja expositivo, seja argumentativo está presente na petição inicial

com a fundamentação do pedido. Veja que o advogado do autor, por determinação do artigo 282,

do Código de Processo Civil, além de declinar a causa de pedir, isto é, narrar os fatos jurídicos

relevantes para a demanda, como vimos na aula anterior, deve apontar as consequências desses

fatos e, depois, a violação do direito do cliente.

Perceba-se que não se trata de mera descrição ou de uma narração, mas de verdadeira

fundamentação do segue logo abaixo, que é o pedido. Os pedidos formuladosao juiz devem ser

justificados, devem apresentar-se numa relação de causa e efeito. O estabelecimento dessa

correlação necessária entre os fatos – causa de pedir – e o pedido consiste na parte dissertativa

expositiva quando se tratar de questões jurídicas mais simples, para o que bastará a invocação do

texto normativo.

Nem sempre, contudo, as questões levadas ao Poder Judiciário são simples. Então, nas

causas mais complexas, que imponham outros desdobramentos, o texto dissertativo não poderá

ser simplesmente expositivo, mas sim argumentativo para que uma tese, por meio dos

argumentos jurídicos, seja defendida.

Vimos falando do advogado do autor, mas o advogado do réu, na contestação, não se

limita a descrever quaisquer fatos. De acordo com o artigo 333, II, do Código de Processo Civil,

o advogado do réu, na contestação, que é a peça processual de defesa mais importante no

processo civil, deve descrever três tipos de fatos.

Page 26: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

26

Os fatos que devem ser descritos pelo advogado na contestação são aqueles que de alguma

forma impeçam o exercício do direito alegado pelo autor. São os chamados fatos impeditivos.

Pode, também, o advogado descrever fatos que modifiquem esse mesmo direito do autor. São os

chamados fatos modificativos. E por fim, pode o advogado descrever fatos extingam esse direito.

São os chamados fatos extintivos do direito.A contestação é ou pode não ser apenas um texto

narrativo ou descritivo, impondo-se que ele adote uma estrutura dissertativa argumentativa.

Lembre-se que o réu sempre quer uma sentença que seja desfavorável ao autor e por isso haverá

de invocar argumentos contrários àqueles levantados pelo autor na petição inicial ou no recurso.

Aliás, a petição recursal é o veículo, por excelência de texto dissertativo argumentativo, na

medida em que aquele a quem for dada uma sentença desfavorável, ao valer-se do segundo grau

de jurisdição, poderá recorrer ao Tribunal para que, apontando o desacerto da decisão ou da

sentença e buscando convencer e persuadir o colegiado, logre êxito na modificação da decisão ou

da sentença.

Em qualquer desses tipos de textos jurídicos, o advogado deve valer-se não apenas da

demonstração conceitual da tese que defende, mas também da demonstração factual, isto é, das

provas que vai produzir ao longo do processo e na fase probatória, o que significa dizer que a

produção argumentativa do advogado não se dá em certos e determinados momentos, mas ao

longo de todo o processo judicial que se desenvolve numa estrutura dialética.

Perceba-se, portanto, que a lógica da argumentação jurídica não está fundada na busca de

uma verdade absoluta, mas na persuasão e no convencimento a respeito da versão dos fatos e das

teses debatidas e demonstradas.

A par do estatuto ético que rege a atuação do advogado dentro e fora do juízo, o principal

comprometimento desses operadores do direito é a proteção da ordem jurídica violada com o

conflito. Por isso, a atuação do advogado se volta para a demanda e os textos produzidos por

advogados são parciais, na medida em que representam os interesses das partes que são os

sujeitos parciais do processo.

O juiz está equidistante dos interesses contrapostos na demanda e, como garantia

institucional, deve ser imparcial, produzir um texto jurídico menos subjetivo do que aquele

produzido pelos advogados.

Diz-se menos subjetivo, porquanto para a aplicação da norma jurídica será preciso

interpretá-la e a interpretação como ato de vontade e um ato de inteligência não se reveste de

neutralidade axiológica. Isto é, o juiz ao interpretar a norma e fazê-la incidir sobre o caso

concreto para solucionar o conflito não o faz ao arrepio de seus valores morais, religiosos,

políticos ou ideológicos.

É importante ter em mente que o juiz não tem conhecimento do fato real, senão por meio

das versões apresentada pelos advogados nos seus escritos processuais, por isso a importância da

boa construção da peça processual, por isso determina o artigo 458, do Código de Processo Civil,

que logo após o relatório, que vimos na aula anterior apresentar uma estrutura narrativa, segue a

fundamentação.

A fundamentação é a alma da sentença, pois é nela que o juiz vai examinar os fatos e os

fundamentos apresentados pelos advogados em suas produções textuais ao longo do processo.

Page 27: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

27

É na fundamentação que o juiz desenvolve um texto argumentativo, traçando de forma

lógica e coerente a solução que vai apresentar na parte final da sentença, chamada de dispositivo.

E tanto uma parte quanto outra devem ser claras, coerentes, coesas e fácil compreensão.

Perceba que a argumentação da sentença está endereçada à parte que perdeu a demanda.

Para uma síntese dessa primeira metade do nosso curso de Linguagem e Argumentação

Jurídica e de tudo quanto vimos até agora, não perca de vista que a construção de um texto

jurídico segue, ao menos em tese, a mesma estrutura dos textos não jurídicos.

Assim, um advogado, um juiz, um promotor, um delegado poderá produzir uma narração,

uma descrição ou uma dissertação.

A particularidade do texto jurídico reside no tema tratado e na finalidade da comunicação

escrita.

Como qualquer outro texto, o jurídico deve ser claro, preciso, coeso, coerente, fluente, o

que se consegue com o planejamento, com a organização de ideias, com seu encadeamento

lógico e natural, com a escolha do estilo e do vocabulário.

Seja qual for o texto jurídico que você vá produzir, uma petição inicial, uma contestação

ou razão de algum recurso, além de você ter de seguir e de se preocupar com o aspecto formal do

texto, que será objeto de estudo numa disciplina própria chamada de Prática Jurídica, você não

pode se esquecer da estrutura básica do texto, qual seja, introdução, o desenvolvimento e a

conclusão.

Você já sabe que na introdução você deve estabelecer o assunto de que vai tratar,

apontando para o interlocutor o tema.

No desenvolvimento, você não deve apenas fundamentar suas ideias, deve explicar as

razões do raciocínio, deve expor os argumentos de forma a convencer e persuadir o interlocutor

da tese que você apontou na introdução, e para tanto é importante que você conheça os

operadores argumentativos ou sinalizadores de argumentação, que são palavras que indicam a

introdução de argumentos.

Por fim, na conclusão, depois de apresentar uma síntese das principais ideias discutidas.

Referências

Petri, Maria José Constantino. Linguagem jurídica. 7. ed. São Paulo: Plêiade, 2004.

Rodriguez, Victor Gabriel. Argumentação jurídica: Técnicas de persuasão e lógica informal.

São Paulo: Saraiva, 2003.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 28: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

28

O aspecto ético na linguagem jurídica

Na aula passada, encerramos o estudo sobre os tipos textuais e fizemos um apanhado geral das

nossas aulas anteriores. Antes de seguirmos com o estudo mais específico da linguagem jurídica,

vamos nos dedicar nesta aula a refletir sobre o aspecto ético que deve estar presente na linguagem

escrita e até mesmo falada.

Para conhecer um pouco mais sobre essas atividades, ouça o áudio abaixo. Este áudio faz

parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a aprendizagem.

Vamos estudar essa importante regra de comportamento do advogado e começaremos pela

expressão lhaneza, significa candura, doçura, cordialidade, sinceridade.

Recomenda o Código de Ética que o advogado seja um profissional polido, cordial, afável,

isto é, não grosseiro, não indelicado, que saiba tratar educadamente todas as pessoas com que

convive, desde humildes serventuários até a mais alta autoridade.

Perceba que ao recomendar cordialidade no comportamento, o Código de Ética faz

repercutir necessariamente essa qualidade do advogado no seu modo de escrever e de falar.

Quem se comporta com lhaneza, isto é, com cordialidade escreve e fala de forma correta e

educada. Não emprega palavras grosseiras e nem profere ofensas.

Importa dizer que, desde logo, o uso de expressões ofensivas nos textos escritos por

advogados configura infração ética. Veja o que se colhe do ementário do Tribunal de Ética da

Ordem dos Advogados do Brasil tratando do caso de uso inadequado de linguagem pelo

advogado.

E mais. O artigo 15 do Código de Processo Civil também cuida do dever de urbanidade

proibindo as partes – autor, réu e advogados – de empregar expressões injuriosas, isto é,

ofensivas, nos escritos apresentados no processo, cabendo ao juiz, de ofício ou a requerimento do

ofendido, mandar riscá-las".

O parágrafo único do mesmo artigo 15, do Código de Processo Civil estabelece que em

caso de expressões injuriosas proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as

use, sob pena de lhe ser cassada a palavra. Lembre-se que palavras injuriosas são as que aviltam,

ofendem o decoro, a honra, a boa fama, o nome. São os insultos.

O uso da linguagem escrita e oral de forma polida, cordata objetiva preservar a dignidade e

o decoro de todos aqueles que estão envolvidos no conflito judicial e de mais a mais, as palavras,

escritas ou orais devem se compatíveis com o estilo formal e solene do Tribunal.

Em outras palavras, podemos afirmar que o uso inadequado da linguagem escrita e oral

nos Tribunais representa verdadeiro ato atentatório à dignidade da Justiça.

Podemos conferir a seguir algumas decisões do Tribunal de Ética da Ordem dos

Advogados do Brasil, Secção de São Paulo retratando o problema da linguagem empregada pelo

advogado em seus escritos judiciais.

Leia aqui os artigos:

Page 29: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

29

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Não pense que deve o advogado temer expressar seus argumentos e que deve sempre ser

submisso ou subserviente. Não há hierarquia entre os elementos integrantes da administração da

Justiça, isto é, não há relação de subordinação entre juiz, promotor e advogado, mas há respeito

mútuo e consideração recíproca que não podem ser desprezados por apego à demanda.

A imunidade de que goza o advogado em seus arrazoados não é absoluta como vimos

acima com a transcrição da ementa do Tribunal de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados

do Brasil, por sua Secção de São Paulo.

A imunidade que o Estatuto confere ao ter por objetivo assegurar a independência

necessária para redigir os arrazoados e para discutir os fatos e argumentos da causa e encontra

limites na dignidade da pessoa humana e no decoro, razão pela qual pode o advogado que

cometer excessos ser punido criminalmente, se o fato for tipificado como crime.

Pode, ainda, comprovado o excesso, ser o advogado demandado por reparação de danos

morais por quem se sentiu ofendido com a linguagem escrita ou falada – juiz, promotor,

delegado, parte contrária e até mesmo o advogado adverso. Jurisprudência do Superior Tribunal

de Justiça tem decidido que a parte que contrata o advogado não pode ser responsabilizada pelos

danos causados pelos excessos praticados pelo advogado."Não responde a parte pelos eventuais

excessos de linguagem cometidos pelo advogado na condução da causa" (HC nº 4.090/ RO, DJ.

13/03/95).

Isso porque "advogado, assim como qualquer outro profissional, é responsável pelos danos

que causam no exercício de sua profissão. Caso contrário, jamais seria ele punido por seus

excessos, ficando a responsabilidade sempre para a parte que representa, o que não tem respaldo

em nosso ordenamento jurídico, inclusive no próprio Estatuto da Ordem" (Resp nº 163221/ES, j.

em 28/06/2001).

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 30: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

30

Figuras de linguagem e de construção no texto jurídico

Nesta aula estudaremos algumas figuras de linguagem e de construção usadas em textos jurídicos.

Além disso, iremos diferenciar os recursos estilísticos mais utilizados no ambiente da redação

jurídica por meio de explicações e exemplos.

Quando falamos em estilo do texto jurídico, falamos em um estilo específico dentro dos

estilos de um modo geral, para as redações de todas as naturezas. Basta que lembremos de que

todos os escritores possuem um estilo próprio ao escrever.

Particularizando esse assunto para a área jurídica, o que vemos é que o texto de

características jurídicas, por conta da especialidade dessa área técnica que é a do direito, possui

algumas especificidades próprias, vista a natureza legalmente sistemática do assunto.

É comum observar, nos textos jurídicos, o uso das figuras de linguagem. A lembrança dos

nomes dessas figuras de linguagem mostra-se secundária aqui em nossa aula.

É importante, todavia, que você entenda cada uma delas, ao encontrá-las num texto

jurídico, identificando quando houver numa frase ou expressão uma figura estilística, cuja

finalidade, em princípio, é a de dar maior beleza e ênfase ao assunto que está sendo tratado.

As palavras, nesse contexto, poderão apresentar-se no sentido figurado ou no denotativo.

Entendemos por figurado o sentido de certa palavra quando ela é utilizada dentro de uma figura

de linguagem.

Entendemos, por outro lado, como denotativo o sentido de certa palavra quando ela é

utilizada segundo as significações colocadas pelos dicionários.

Tratemos, agora, de algumas figuras de linguagem usuais no ambiente jurídico.

Sinédoque (ou metonímia) é um recurso linguístico que se vale do uso da parte pelo todo,

do singular pelo plural, do gênero pela espécie e vice-versa.

Assim, por exemplo, podemos dizer que quem pede a condenação de determinado

criminoso seja o Ministério Público, muito embora quem esteja se manifestando seja unicamente

certo membro na pessoa do Promotor Público fulano de tal. Podemos visualizar outro exemplo

de sinédoque quando, ao referirmo-nos a nossa cabeça, em verdade estamos nos referindo ao

nosso pensamento.

Saiba mais sobre metáfora:

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Valendo-nos dos sentidos da visão, da audição, do olfato e do tato, podemos construir a

figura de linguagem denominada sinestesia, quando os associamos cada um desses sentidos para

reforçar uma ideia central. Por exemplo: doce alegria, amarga derrota, surda alegação, defesa

cega, amor suave.

Page 31: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

31

A finalidade de usar a sinestesia é a de estabelecer espontaneamente uma percepção a

partir do uso de um outro sentido diferente, ou seja, um perfume que lembra uma cor, um som

que produzuma imagem etc.

Além das figuras de linguagem, podemos nos valer, para redigir textos jurídicos, de

figuras de construção, que são recursos expressivos utilizados na construção da frase por meio da

"repetição" e da "omissão".

Valendo-nos do recurso da repetição, podemos afirmar: "José matou Maria, Maria que era

sua própria filha" ou "A liberdade é o maior dos bens humanos, porque a ninguém é possível ver-

se como homem se privado de liberdade".

Já o recurso da omissão é aquele em que usamos a supressão de certas palavras, fazendo-

as desaparecer, mas mantendo sua presença no sentido da frase, como, por exemplo: "Matou a

mãe sem remorso". Ora, quem matou a mãe? Resposta: ele ou ela. Tendo sido desnecessário

apontar quem tenha sido, visto que em outro momento anterior da narrativa já foi possível ver

que alguém a teria matado.

Outro exemplo de omissão ou supressão pode dar-se em cima do verbo, que desaparecerá

da frase, mas que, em verdade, lá está, mesmo que escondido: "Atire, se necessário".

Veja-se. Sem a figura de linguagem a frase seria: "Atire, se for necessário". O verbo ir,

nesse exemplo, fica embutido na frase.

Por último, gostaríamos de tratar do valor estilístico da pontuação.

Sabemos que um texto é bem escrito quando se observa as regras de pontuação.

Todavia, a pontuação, além de mostrar as qualidades técnicas de um bom redator em vista

de conhecer as referidas regras e aplicá-las com sabedoria, pode imprimir ao texto escrito maior

ênfase a certas frases.

Pontuar, nesse contexto, não significa simplesmente usar sinais gramaticais para separar

orações, mas, também, para, além de separá-las, engrandecê-las em suas significações.

Por exemplo: "algumas pessoas vêem; outras pensam ver". Nesse exemplo, o ponto e

vírgula que separa as duas frases tem o papel de fazer o leitor respirar mais longamente,

estabelecendo o tempo necessário para que ele entenda que há uma grande diferença entre ver e

pensar ter visto.

A utilização das reticências (três pontinhos) ao final de uma frase tem, também, bastante

relevante nos textos escritos, pretendem que o leitor suspenda seu pensamento na medida em que

lê, fazendo-o considerar melhor aquilo que está escrito. Por exemplo: "Meu Deus... Quem

poderia supor tamanha intriga?

Veja-se. Foi estabelecida uma pausa, por meio das reticências, a fim de que o leitor reflita

sobre a pergunta feita.

Todos os sinais gramaticais têm um papel importantíssimo na redação dos textos de um

modo geral e, principalmente, nos textos entendidos como jurídicos.

Referências

Barreto, C. A. Linguagem Forense: Estilo e Técnica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1988.

Page 32: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

32

Estruturação do parágrafo do texto jurídico Nesta aula estudaremos a estrutura do parágrafo em textos jurídicos e suas especificidades.

Veremos ainda os principais pontos que devem ser observados durante sua elaboração.

Conceitos Essenciais

De início, podemos imaginar o seguinte: quando juntamos e combinamos as palavras

(símbolos), compomos as frases, as quais, por sua vez, quando seguidas umas de outras, formam

o parágrafo. Portanto, o parágrafo nada mais é do que uma sucessão de frases, que, por sua vez,

são feitas da união das palavras.

É importante, todavia, que nesse processo tenhamos o cuidado de, ao compor as frases,

usar as palavras cujo sentido e alcance sirvam da melhor forma possível a atender nosso interesse

no sentido daquilo que pretendemos comunicar e que possam ser decodificadas pelo interlocutor.

Precisamos escrever de modo que o destinatário do nosso escrito possa compreender a

mensagem que queremos transmitir.

A finalidade da redação de frases e parágrafos é fazer com que o leitor do texto que

escrevemos entenda tudo aquilo sobre o que falamos, numa ordem lógica e coerente, de modo a

tirar suas conclusões de acordo com as ideias por nós expostas no papel.

Desse modo, não se pode falar que uma frase ou um parágrafo tenha um tamanho ou uma

medida exata. Não importa a extensão do parágrafo, o que interessa é que nele estejam contidas

todas as informações necessárias para aquilo que pretendemos dizer, de modo que se torne fácil

para o leitor compreender o que desejamos com aquele escrito.

O que podemos afirmar, aqui, é que a extensão de um parágrafo pode ser de apenas

algumas linhas ou mesmo de uma página, mas que, a bem da verdade, o que se procura evitar ao

redigi-lo é que, sendo muito extenso, torne-se incompreensível para o leitor.

Por isso que a melhor redação jurídica é aquela feita por meio de parágrafos de tamanho

médio, com aproximadamente de 6 (seis) a 8 (oito) linhas.

Se o parágrafo é descritivo, o que nele se deverá encontrar são impressões sensoriais,

detalhamentos de algum objeto percebido pelos sentidos da visão, audição, olfato ou tato, bem

como conterá as impressões causadas em quem observa esse objeto.

Descrever, como já vimos anteriormente, significa que alguém, por meio do uso das

palavras, tenta transmitir ao leitor todos os elementos compositores de alguma coisa, como, por

exemplo, uma bicicleta, uma cadeira, uma ponte etc.

Se o parágrafo presta-se ao fim de narrar uma situação, o centro de interesse do escritor é

transmitir ao leitor um acontecimento real ou fictício.

Um fato real é aquele que se consumou no mundo concreto, efetivamente aconteceu algo

que merece sobre o qual existe a necessidade de mencionar, como, por exemplo, um acidente de

automóvel, a queda de uma parte de um guindaste, a ruína de uma casa em razão de uma

enchente.

Já os acontecimentos fictícios também podem ser narrados e geralmente o são dentro de

um gênero literário denominado romance, em que o escritor fala acerca de um fato que aconteceu

em sintonia com a história que ele está contando, como, por exemplo, na grande obra literária

Page 33: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

33

Crime e Castigo, na qual o autor Dostoiévsky narra o crime cometido por Raskólnikov,

personagem central do romance, que assassina duas mulheres a golpes de machado, numa cena

sangrenta e fria.

Por último, o parágrafo dissertativo é aquele que consiste na colocação de um ou vários

juízos ou argumentos científicos, porque predominantemente visa expressar pensamentos diante

de determinados assuntos técnicos das várias ciências, como, por exemplo, as ideias relacionadas

às cláusulas abusivas interiores a um contrato ou, noutro campo do direito, as consequências

legais dos crimes contra o patrimônio público.

O que se mostra importante, na aula de hoje, também, são três aspectos que devem estar

contidos em quaisquer parágrafos: a) a unidade; b) a coerência e c) a ênfase.

Por unidade, devemos entender a necessidade de o escritor do texto enfeixar as ideias em

volta de um núcleo ou tópico frasal. Ou seja, o redator deve ter uma noção de todos os aspectos

que merecem ser abordados, porque relacionados, a determinado assunto, visa atingir um fim

para o qual se encaminham todas as frases que compõem o parágrafo.

Não podemos perder de vista que o aspecto "unidade" dos parágrafos tem o papel de juntar

em volta do núcleo temático todos os elementos que facilitem a sua compreensão.

Um exemplo que podemos considerar é o seguinte: se em um determinado parágrafo

desejamos tratar sobre os efeitos nocivos do álcool ingerido por crianças, não podemos, no

mesmo parágrafo, falar da produção de álcool para uso como combustível em automóveis.

O que se mostra importante, na aula de hoje, também, são três aspectos que devem estar

contidos em quaisquer parágrafos: a) a unidade; b) a coerência e c) a ênfase.

Leia a respeito de coerência.

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Por último, devemos tratar do aspecto "ênfase", ou seja, o aspecto cuja finalidade é

ressaltar, tornar mais expressivo ou colorir determinado ponto dentro do parágrafo.

A ideia núcleo de um parágrafo, quando usada a ênfase, faz com que o leitor preste maior

atenção a ela, de modo que assegure a apreensão de uma determinação informação.

Por exemplo, a ênfase pode consistir na repetição intencional de certa palavra dentro de

um parágrafo, mas sem exageros. Desse modo, poderíamos dizer: "a mim me parece - e minha

compreensão sobre o fato é pessoal – é que vítima do crime colaborou para que isso

acontecesse".

Veja, a ênfase recaiu sobre a primeira pessoa do singular "eu", o narrador, que fala de si

mesmo ou da sua impressão sobre o fato, utilizando três vezes dentro de uma mesma frase: "a

mim", "me", "minha".

Referências

Damião, Regina Toledo; Henriques, Antônio. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas,

2008.

Page 34: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

34

Vocabulário específico

Nesta aula conheceremos os principais verbos utilizados no universo

jurídico, apontando o alcance e o sentido deles. Além disso, serão

apresentadas algumas expressões latinas de uso corriqueiro no ambiente

do direito, observando sua melhor significação.

Conceitos Essenciais

Muito bem. Damos, agora, início a um aspecto da vida jurídica bastante importante.

Vamos tratar do vocabulário jurídico, tanto da perspectiva da língua portuguesa, bem como de

algumas expressões latinas e gregas. Iniciamos pelos principais verbos utilizados no ambiente

jurídico.

Como exemplo, podemos mencionar o verbo "arrazoar". Esse verbo entra nos textos

jurídicos com o sentido de "argumentar", "apresentar razões", ou seja, ele é usado no momento

em que se quer explicar ao leitor os pensamentos mais importantes da sustentação feita.

O verbo "acordar", por sua vez, no ambiente jurídico não está relacionado à ideia de

levantar-se da cama. Tem o sentido de "concordar", "resolver de comum acordo", "ajustar".

Nos contratos ou negócios jurídicos é bastante comum encontrar esse verbo ou seus

sinônimos, e quem o usa pretende dizer que as partes contratuais se compuseram, que elas

chegaram a um denominador comum relativamente aos assuntos tratados naquele contrato.

Podemos mencionar, também, o verbo "autuar", visto no ambiente processual, com a ideia

de organizar os documentos judiciais numa ordem lógica, sequencial e cronológica. E nesse

sentido, dizemos que a inicial e os documentos já foram "autuados", ou seja, já foram

encadernados e aos quais as demais manifestações escritas serão juntadas.

Noutro sentido, o verbo autuar está como providência administrativa que documenta a

prática de uma infração.

É nesse sentido que dizemos que "a empresa prestadora de serviços foi autuada em razão

do não recolhimento correto de impostos", ou seja, contra a empresa foi providenciado um "auto

de infração" dando conta da infração legal praticada por ela.

O verbo "quitar" é também muito utilizado no ambiente jurídico, em vários lugares

diferentes, e comumente com o sentido de "pagar", ou seja, quitar importa na ideia de que um

devedor honrou com seu compromisso contratual. O fato é que quitar desobriga o devedor,

porque ele a tornou quite, satisfez quem o cobrava.

Outros dois verbos que costumam causar alguma confusão são "ratificar" e "retificar",

visto que aparecem, na maioria das vezes, no ambiente notarial, ou seja, em escrituração feita

pelos cartórios.

Vamos lá: "ratificar", então, tem o sentido de comprovar, corroborar, ou seja, que o

documento emitido é válido e autenticado no sentido de sua legitimidade.

Page 35: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

35

Já o verbo "retificar" importa em dizer que o documento foi alinhado, corrigido ou

emendado, ou seja, que antes estava errado, mas que depois de retificado, agora se apresenta

correto, certo, retificado no sentido daquilo que estava errado.

Às vezes, em alguma escritura de compra e venda imobiliária, encontramos esses dois

verbos sendo conjugados no mesmo documento, isso significa que o documento daquela

escritura foi consertado e confirmado pelo órgão auxiliar da justiça que é o cartório.

Conheça as diferenças entre "empenhar" e "penhorar".

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Outro verbo que costuma levantar alguns questionamentos no que diz respeito a sua

significação é "arguir".

Devido ao fato de esse verbo ter diversas significações, segundo qualquer dicionário de

língua portuguesa, pode acontecer às vezes de o sentido dado a ele em determinada colocação

nada tenha a ver com o sentido que se quis ou desejou imprimir àquela conversa.

SAIBA MAIS

Muito cuidado é necessário na utilização desse verbo. Podemos ressaltar os seus sentidos mais

usuais como, por exemplo, "argumentar", ou seja, quem arguiu, argumentou.

Argumentar, nesse caso, tem o sentido de levantar pontos em defesa de algum interesse por meio

da fala ou da escrita.

Outro sentido bastante comum para o verbo arguir é o de questionar, ou seja, alguém pode

ser perguntado sobre algum fato, por exemplo: "João foi arguido pela autoridade policial sobre o

crime que assistiu".

Nesse sentido, João não levantou nenhuma matéria de defesa de direitos de ninguém, nem

dele e nem de terceiras pessoas, apenas fez por responder ao interrogatório feito pela tal

autoridade policial. Tendo sido arguido, apresentou as respostas possíveis.

Muito bem. Vamos partir, agora, para outra abordagem da linguagem jurídica. Vamos

tratar de alguns "brocardos jurídicos" utilizados em nosso ambiente da justiça.

Por exemplo: Nemo iudex in causa propria, ou seja, ninguém pode ser juiz da própria

causa, porque isso, obviamente, implicaria em ausência de imparcialidade.

Outra expressão: nullum crimen sine lege, isto é, não se pode falar da existência de um

crime sem que a lei o tenha previsto anteriormente.

Essa expressão latina visa afastar a possibilidade de que as pessoas, com seus juízos e

convicções, inventem situação que considerem criminosas à revelia da lei. Portanto, somente a

lei, segundo esse brocardo, é quem tem a faculdade de dizer quais são os tipos penais.

Ex facto oritur ius tem o seguinte sentido: "do fato é que nasce o direito". Pois bem. Essa

expressão latina foi convertida em um princípio de direito civil, ou seja, são os fatos jurídicos

que fazem com que nasça o direito, como, por exemplo, o fato natural denominado

"nascimento", que com que quem nasça adquira imediatamente direitos da personalidade como,

por exemplo, o direito de ser alimentado, protegido etc.

VALE A PENA CONFERIR

Page 36: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

36

Faça o download de um ebook sobre vocabulário jurídico. Disponível

em:http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co

_obra=61688. Acesso em: 8 abr. 2009

Referências

Petri, Maria José Constantino. Manual de linguagem jurídica. São Paulo: Saraiva, 2009.

Nascimento, Edmundo Dantes.Linguagem forense. São Paulo: Saraiva, 2007.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 37: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

37

A linguagem dos requerimentos

Nesta aula traçaremos a distinção entre requerimentos simples e complexos, apontando neles o que

há de mais importante a ser observado nessa diferenciação. Iremos também levantar os pontos mais

relevantes em um requerimento, bem como a ordem da linguagem que deverá ser adotada, a fim de

tornar esse documento o mais legível possível.

Conceitos essenciais

Requerimento é substantivo do verbo requerer, o qual, por sua vez, significa solicitar,

pedir, rogar.

Por meio dos requerimentos o que se faz é estabelecer uma relação impessoal entre as

partes, dado o excesso de formalismo que o caracteriza.

O requerimento deve ser escrito sem o uso de palavras gentis ou de agradecimentos, visto

que seu papel é o de formalizar um pedido de deferimento a uma solicitação feita pelo

requerente.

São partes do requerimento: vale dizer, no cabeçalho, a autoridade à qual o requerimento

se dirige, jamais a nomeando, mas, sim, indicando-a em razão do cargo que ocupa; nomear e

qualificar o requerente, de modo que ele possa ser facilmente identificado; narrar sobre os fatos e

dizer qual seja o pedido que se quer ver deferido; solicitar se quer ver deferido; solicitar o

deferimento (atendimento) do pedido; mencionar o lugar onde o requerimento está sendo

confeccionado e datá-lo; assinar o documento.

Muito bem. Distinguimos requerimento simples e complexo a partir da observação das

matérias neles tratadas. Em termos estruturais, contudo, eles são idênticos.

Quando não houver a necessidade de grandes aprofundamentos legais, esse requerimento

pode ser confeccionado na forma simples, por meio de apenas um parágrafo, objetivamente,

dando conta o texto da miúda questão de direito ali tratada.

Quando houver a necessidade de serem abordados vários pontos de direito por meio da

conjugação lógica de ideias que se sucedem, esse requerimento é entendido por complexo.

No requerimento complexo deverão ser observadas as seguintes regras: (a) o requerente

precisa fazer a narração temporal dos fatos, mencionando-os de trás para frente, por meio de uma

sucessão cronológica, de modo que deixe clara a lógica e co-relação existente entre eles; (b) na

estrutura estética do texto, poderá o requerente usar de um espaço maior entre os parágrafos, o

que possibilita para o leitor do requerimento uma melhor distribuição das ideias, tornando-as de

mais fácil compreensão; (c) talvez seja o caso de numerar os parágrafos, em clara demonstração

de que, cada um, trata de um aspecto fático diferente na sucessão temporal dos acontecimentos e

(d) o pedido que será feito ao final do requerimento, se for possível, deve ser acompanhado dos

respectivos documentos que comprovem, um a um, os fatos narrados pelo requerente e, de

preferência, numerados um a um segundo essa ordem de ideias.

Page 38: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

38

Na prática, é de se ressaltar que, ao final de toda a exposição de ideias dentro de um

requerimento, deve-se, sempre, escrever: "Nesses termos, pede e espera deferimento", ou, se

forem mais de uma pessoa: "Nesses termos, pedem e esperam deferimento".

Com essa providência, aquele que lê o requerimento saberá que toda aquela narrativa e

consequente fundamentação de direito têm uma razão de ser, ou seja, que a autoridade que a está

apreciando manifeste-se ao final da leitura, seja para atender a solicitação formulada pelo

requerente, seja para não atender, mas que, de qualquer maneira, manifeste-se quanto ao pedido

posto.

Em continuidade, devemos sempre nos lembrar de que os requerimentos podem ser

Judiciais ou Extrajudiciais.

Denominaremos de Judiciais os requerimentos endereçados a juízes ou a tribunais e dentro

de um processo, de uma ação.

Assim, é possível que um requerimento verse sobre um pedido de juntada de documentos;

um pedido de modificação de endereço; um pedido de manifestação de perito etc.

O que é de crucial importância nesse sentido é que, quando uma solicitação é feita por

meio de um requerimento, é indispensável que o texto e os fundamentos do que se pede sejam

claros e objetivos.

Extrajudiciais, portanto, serão todos os outros requerimentos que forem feitos fora do

ambiente de um processo, ou seja, pode-se dirigir requerimento para chefes de departamento em

uma universidade; para um diretor de empresa (pública ou privada); para algum escrivão de

cartório; para alguma autoridade seja do Judiciário, do Legislativo ou do Executivo.

Referências

Germano, Alexandre Moreira. Técnica de redação forense. Disponível

em:http://www.tj.sp.gov.br/museu/redacao/redacao.aspx. Acesso em: 8 abr. 2009.

Damião,Regina Toledo. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas, 2008.

Acquaviva, Marcus Cláudio. Redação forense e petições iniciais. São Paulo: Ícone, 1991.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 39: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

39

Linguagem contratual

Nesta aula conheceremos as características especiais da linguagem contratual e as mais

importantes expressões linguísticas utilizadas nesse documento denominado contrato, bem como a

razão de assim o ser.

Pois bem. A finalidade da presente aula é percorrer o caminho contratual, a fim de

identificar por meio de quais expressões as partes contratantes estabelecem seus direitos e

obrigações.

Veremos, ainda, no transcurso desta trilha, quais as principais preocupações de quem

redige um contrato tendo em vista o que estabelece a lei como minimamente necessário a fazer

com que esse documento cumpra seu papel de regulador de interesses.

Sabemos que o universo dos contratos é muito grande e que há inúmeras espécies de

contrato estabelecidas pela legislação civil em vigor, no Brasil.

Sabemos, ainda, que o legislador civilista preocupou-se, antes, em criar uma série de

regras gerais cuja finalidade é a de estabelecer um denominador mínimo necessário a todos os

contratos.

Desse modo, a finalidade da presente aula é a de alguns desses pontos que se mostram e se

apresentam como os mais importantes a serem colocados em quaisquer que sejam os contratos

em estudo.

Inicialmente, ao redigir-se um contrato, será necessário que o redator escolha, entre as

opções da lei, aquela modalidade contratual que mais se identifique com a situação concreta que

ele deseja regular.

A finalidade dessa providência é a de adequar os interesses regulados pelos contratos à lei,

de modo a favorecer que sua compreensão seja facilitada, bem como que os efeitos gerados por

esse contrato dêem-se de acordo com a legislação.

Em seguida, é imperioso que no cabeçalho do contrato sejam adequadamente qualificadas

as partes contratantes, informando-se quais são seus nomes completos, endereços, quais os

números de documentos particulares etc. Feito isso, parte-se para a redação do contrato

propriamente dito.

É preciso observar que há três pontos que, necessariamente, precisam estar contidos em

um contrato: a descrição ou definição de seu objeto ou objetivo; o preço ou o valor atribuído a

esse objeto e a data ou prazo para pagamento. Entendem os doutrinadores de direito material

civil que esses aspectos são cruciais para qualquer contrato. Vamos a eles.

Uma das cláusulas ou algumas das cláusulas contratuais deverão versar sobre o objeto ou

objetivo do contrato.

Se o contrato, por exemplo, é de locação, é indispensável que nele sejam mencionadas a

localização do imóvel etc. Se, contudo, o contrato é de compra e venda, a coisa vendida deve ser

minuciosamente descrita e individuada no corpo do contrato.

Page 40: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

40

Desse modo e respectivamente, tratando-se de locação, o valor que se pagará pela

disponibilidade da coisa alugada, bem como, se for compra e venda, quanto se pagará pela

aquisição da coisa.

Por fim, no que toca ao prazo para pagamento, se o contrato for de locação, é necessário

destacar o número de meses que esse negócio jurídico permanecerá vigente, bem como, se for de

compra e venda, se se paga à vista ou a prazo (e em quantas prestações).

Portanto, a linguagem relativa a esses aspectos é aquela mesma da lei, ou seja, as cláusulas

contratuais devem ser redigidas nunca ferindo o que a legislação estabelece.

Algo de muita importância para mencionar é a questão da técnica de redação contratual.

Veja. Como sabemos, as regras legais são colocadas para serem obedecidas, não podendo

modificá-las nem mesmo por meio dos contratos.

Quando o legislador faz as leis, se ele admite que as regras que criou sejam modificadas,

ele dirá no próprio corpo da lei, por meio das expressões: "salvo disposição contratual em

contrário" ou "exceto disposição contratual em contrário". Somente diante dessa autorização é

que se pode mudar a regra legal.

Assim, por ocasião da redação de um contrato, é altamente importante a análise profunda

da lei que diz respeito aos aspectos que queremos tratar em um contrato.

Por exemplo: o art. 490 do Código Civil estabelece: "salvo cláusula em contrário, ficarão

as despesas de escritura e registro a cargo do comprador (...)".

Pois bem. É possível ver no dispositivo acima a regra e a possibilidade de exceção, por

meio de cláusula contratual.

Assim, tomando esse artigo como base de nosso raciocínio, toda vez que em compra e

venda imobiliária quiserem as partes contratuais que as despesas relativas à escrituração e

registro da compra sejam suportadas pelo vendedor, isso deverá constar expressamente do

contrato. Do contrário, quem as suportará será, pela regra, o próprio comprador.

Podemos, então, pensar o seguinte: a melhor redação contratual é aquela que é apoiada na

lei, a fim de que sejam evitados erros grosseiros, uma vez que não se pode clausular

contratualmente aquilo que a lei não permite.

Em seguida, considerando que um contrato visa estabelecer uma série de direitos e

obrigações, sua linguagem sempre estará atrelada aos verbos obrigar, facultar e proibir,

exatamente do mesmo modo como acontece na redação legal.

Então, tendo em vista que o contrato, segundo um princípio milenar, "faz lei entre as

partes", ou seja, se o que está convencionado nele estiver em perfeita sintonia com a lei, valerá

como se lei fosse, apesar de ser negócio jurídico.

Para concluir, gostaríamos de acrescentar o seguinte: dependendo da espécie de contrato

que se queira redigir, poderemos usar, em seu corpo redacional, para melhor identificar as partes

contratantes e tornar claras suas obrigações e direitos, a seguinte linguagem: para contrato de

locação, locador/locatário; para contrato de comodato, comodante/comodatário; para

compromisso de compra e venda, compromissário vendedor/compromissário comprador; para

contrato de seguro, segurador/segurado; para contrato de mútuo, mutuante/mutuário; para

contrato de doação, doador/donatário; para contrato de depósito, depositante/depositário.

Page 41: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

41

Referências

Claret, Jacques. A idéia e a forma: Problemática e dinâmica da linguagem. Rio de Janeiro:

Zahar, 1980.

Nunes, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1965.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 42: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

42

Linguagem contratual

Nesta aula conheceremos as características especiais da linguagem contratual e as mais

importantes expressões linguísticas utilizadas nesse documento denominado contrato, bem como a

razão de assim o ser.

Pois bem. A finalidade da presente aula é percorrer o caminho contratual, a fim de

identificar por meio de quais expressões as partes contratantes estabelecem seus direitos e

obrigações.

Veremos, ainda, no transcurso desta trilha, quais as principais preocupações de quem

redige um contrato tendo em vista o que estabelece a lei como minimamente necessário a fazer

com que esse documento cumpra seu papel de regulador de interesses.

Sabemos que o universo dos contratos é muito grande e que há inúmeras espécies de

contrato estabelecidas pela legislação civil em vigor, no Brasil.

Sabemos, ainda, que o legislador civilista preocupou-se, antes, em criar uma série de

regras gerais cuja finalidade é a de estabelecer um denominador mínimo necessário a todos os

contratos.

Desse modo, a finalidade da presente aula é a de alguns desses pontos que se mostram e se

apresentam como os mais importantes a serem colocados em quaisquer que sejam os contratos

em estudo.

Inicialmente, ao redigir-se um contrato, será necessário que o redator escolha, entre as

opções da lei, aquela modalidade contratual que mais se identifique com a situação concreta que

ele deseja regular.

A finalidade dessa providência é a de adequar os interesses regulados pelos contratos à lei,

de modo a favorecer que sua compreensão seja facilitada, bem como que os efeitos gerados por

esse contrato dêem-se de acordo com a legislação.

Em seguida, é imperioso que no cabeçalho do contrato sejam adequadamente qualificadas

as partes contratantes, informando-se quais são seus nomes completos, endereços, quais os

números de documentos particulares etc. Feito isso, parte-se para a redação do contrato

propriamente dito.

É preciso observar que há três pontos que, necessariamente, precisam estar contidos em

um contrato: a descrição ou definição de seu objeto ou objetivo; o preço ou o valor atribuído a

esse objeto e a data ou prazo para pagamento. Entendem os doutrinadores de direito material

civil que esses aspectos são cruciais para qualquer contrato. Vamos a eles.

Uma das cláusulas ou algumas das cláusulas contratuais deverão versar sobre o objeto ou

objetivo do contrato.

Se o contrato, por exemplo, é de locação, é indispensável que nele sejam mencionadas a

localização do imóvel etc. Se, contudo, o contrato é de compra e venda, a coisa vendida deve ser

minuciosamente descrita e individuada no corpo do contrato.

Page 43: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

43

Desse modo e respectivamente, tratando-se de locação, o valor que se pagará pela

disponibilidade da coisa alugada, bem como, se for compra e venda, quanto se pagará pela

aquisição da coisa.

Por fim, no que toca ao prazo para pagamento, se o contrato for de locação, é necessário

destacar o número de meses que esse negócio jurídico permanecerá vigente, bem como, se for de

compra e venda, se se paga à vista ou a prazo (e em quantas prestações).

Portanto, a linguagem relativa a esses aspectos é aquela mesma da lei, ou seja, as cláusulas

contratuais devem ser redigidas nunca ferindo o que a legislação estabelece.

Algo de muita importância para mencionar é a questão da técnica de redação contratual.

Veja. Como sabemos, as regras legais são colocadas para serem obedecidas, não podendo

modificá-las nem mesmo por meio dos contratos.

Quando o legislador faz as leis, se ele admite que as regras que criou sejam modificadas,

ele dirá no próprio corpo da lei, por meio das expressões: "salvo disposição contratual em

contrário" ou "exceto disposição contratual em contrário". Somente diante dessa autorização é

que se pode mudar a regra legal.

Assim, por ocasião da redação de um contrato, é altamente importante a análise profunda

da lei que diz respeito aos aspectos que queremos tratar em um contrato.

Por exemplo: o art. 490 do Código Civil estabelece: "salvo cláusula em contrário, ficarão

as despesas de escritura e registro a cargo do comprador (...)".

Pois bem. É possível ver no dispositivo acima a regra e a possibilidade de exceção, por

meio de cláusula contratual.

Assim, tomando esse artigo como base de nosso raciocínio, toda vez que em compra e

venda imobiliária quiserem as partes contratuais que as despesas relativas à escrituração e

registro da compra sejam suportadas pelo vendedor, isso deverá constar expressamente do

contrato. Do contrário, quem as suportará será, pela regra, o próprio comprador.

Podemos, então, pensar o seguinte: a melhor redação contratual é aquela que é apoiada na

lei, a fim de que sejam evitados erros grosseiros, uma vez que não se pode clausular

contratualmente aquilo que a lei não permite.

Em seguida, considerando que um contrato visa estabelecer uma série de direitos e

obrigações, sua linguagem sempre estará atrelada aos verbos obrigar, facultar e proibir,

exatamente do mesmo modo como acontece na redação legal.

Então, tendo em vista que o contrato, segundo um princípio milenar, "faz lei entre as

partes", ou seja, se o que está convencionado nele estiver em perfeita sintonia com a lei, valerá

como se lei fosse, apesar de ser negócio jurídico.

Para concluir, gostaríamos de acrescentar o seguinte: dependendo da espécie de contrato

que se queira redigir, poderemos usar, em seu corpo redacional, para melhor identificar as partes

contratantes e tornar claras suas obrigações e direitos, a seguinte linguagem: para contrato de

locação, locador/locatário; para contrato de comodato, comodante/comodatário; para

compromisso de compra e venda, compromissário vendedor/compromissário comprador; para

contrato de seguro, segurador/segurado; para contrato de mútuo, mutuante/mutuário; para

contrato de doação, doador/donatário; para contrato de depósito, depositante/depositário.

Page 44: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

44

Referências

Claret, Jacques. A idéia e a forma: Problemática e dinâmica da linguagem. Rio de Janeiro:

Zahar, 1980.

Nunes, Pedro. Dicionário de tecnologia jurídica. 6. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1965.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 45: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

45

Linguagem nos assuntos notariais Veremos nesta aula que a linguagem nos assuntos notariais é bastante descritiva e que há diversos

termos ou expressões bastante peculiares a esse ambiente. Conheceremos também a etimologia e o

significado de algumas das mais correntes expressões utilizadas no ambiente notarial, segundo

critérios fixados não só pela Lei dos Registros Públicos, bem como pela praxe desse tipo de

atividade.

Nossa finalidade nesta aula é esclarecer quais os principais elementos da linguagem

notarial utilizada pelos cartórios de registros públicos, de uma forma em geral.

SAIBA MAIS

A Lei 6.015/73 ocupou-se de dizer quais são as mais importantes funções exercidas pelos

Cartórios de registro civil de pessoas naturais, de registro civil de pessoas jurídicas, de registro

de títulos e documentos e de registro de imóveis.

Embora, essas atribuições sejam diversas, a linguagem que se observa nessas atividades é

bastante comum. Antes de qualquer coisa, devemos observar que a linguagem utilizada nos

textos impressos pelos cartórios mencionados é basicamente descritiva.

Os notários e registradores têm uma participação muito intensa nisso porque a linguagem

que emitem está acima de qualquer contestação ou discussão.

Isso quer dizer que, se estiver assentado no registro civil que determinada pessoa morreu,

de nada adiantará a própria pessoa aparecer no cartório para esclarecer a questão, uma vez que

não haverá modificação do registro em razão da força da linguagem criada pelo registro.

Não há, então, pelo que entendemos, outro meio de modificar essas realidades, a não ser

por intermédio dela mesma, ou seja, por meio da própria realidade linguística nela contida. Isso

se aplica a todas as especialidades de cartórios e à realidade de outros setores.

Devemos entender que a linguagem é constitutiva da realidade em todos os setores. Assim,

a linguagem social é mais solta, mais ágil, mais concessiva e admite muitas formas.

Já a linguagem ordinária, ou seja, aquela que usamos no dia-a-dia, é por sua vez muito

plástica. E o exemplo que podemos dar é, mesmo sem emitir palavras, com um simples gesto,

posso dizer que está tudo bem, ou dizer o oposto. Desse modo, cada linguagem tem suas

particularidades.

O Direito tem uma linguagem que pretende ser mais rígida no campo do Direito público e

menos rígida no campo do Direito privado.

A palavra "ato", por exemplo, tem origem na palavra latina actu(m), forma nominal

proveniente do verbo agere (ago, agis, egi, actum, agere), que significa, entre inúmeras outras

acepções: agir, atuar, exercer atividade, fazer. Daí o sentido etimológico (estudo da história das

palavras) de "ato": aquilo que se fez, que foi feito e, por extensão, o que se faz, o que se está

fazendo ou se poderá fazer.

Há, ainda, a ideia de que o termo "ato" signifique ação, procedimento, cerimônia,

solenidade, declaração, manifestação da vontade humana, vontade do agente para aquisição,

alteração ou perda de direitos; documento redigido segundo determinada fórmula e suscetível de

produzir consequências jurídicas; decisão, deliberação ou determinação do poder público;

documento público em que se exprime decisão de uma autoridade etc.

Page 46: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

46

Por sua vez, o termo "auto" tem a mesma origem, só que se apresenta com variante gráfica

popularizada no idioma português antigo, adquirindo a acepção jurídica de narrativa escrita,

circunstanciada e autenticada de qualquer atividade ou diligência judiciária, administrativa ou

notarial, a exemplo de auto de penhora, auto de infração e auto de aprovação de testamento

cerrado, e cujo plural autos veio depois a significar o conjunto ordenado das peças de um

processo.

"Documento" é palavra que, empregada em um sentido amplo, significa o meio exterior de

perpetuar a existência de um fato ou de uma coisa. Nessa acepção, diz-se documento histórico,

por exemplo.

A palavra, no entanto, é muito comumente empregada em sentido estrito, ou seja, no

sentido jurídico, para indicar o meio exterior de perpetuar a existência de um fato jurídico, de um

ato jurídico ou, especificamente, um negócio jurídico.

Os documentos podem ser classificados em particulares e públicos. Quando falamos

"documento privado", queremos dizer que ele foi formalizado sem a intervenção do agente

estatal.

Já quando dizemos "documento público", afirmamos que esse documento foi formalizado

e expedido pelo agente do Estado.

O documento escrito, no âmbito jurídico, é chamado tecnicamente de "instrumento". Nesse

sentido, diz o art. 1.288, do Código Civil que "a procuração é o instrumento do mandato".

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Podemos mencionar como exemplo a expressão "ata de comparecimento", que é aquela

cuja finalidade é comprovar um fato do interesse de quem está presente no cartório, em face da

ausência de outro alguém.

A "ata de presença", por sua vez, é aquela que se destina a declarar que o escrivão do

cartório esteve presente em algum lugar, seja para a finalidade de presenciar, por exemplo, a

abertura de um cofre, ou ainda se alguma pessoa encontra-se em algum lugar específico.

É preciso que você observe que o tabelião formaliza um documento narrando fielmente

tudo aquilo que verifica com seus sentidos sem emissão de opinião, juízo de valor ou conclusão,

narra e materializa os acontecimentos em sua essência, ou seja, pré-constitui prova, de modo que

a veracidade somente poderia ser retirada por meio de sentença transitada em julgado. O tabelião

deve redigir de forma imparcial, clara, concisa e coerente.

Referências

Ceneviva, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada. São Paulo: Saraiva, 1996.

Santos, Gélson Clemente dos. Comunicação e expressão: Introdução ao curso de redação. Rio de

Janeiro: Forense, 1983.

Silva, Luciano Correia da. Manual de Linguagem Forense. São Paulo: Edipro, 1991.

Page 47: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

47

Linguagem na petição inicial

Nesta aula você conhecerá a estrutura da petição inicial e seus elementos

estruturantes, ou seja, seus elementos essenciais enumerados no artigo

282, do Código de Processo Civil. Além disso, compreenderá o nível de

linguagem empregada nesse tipo de redação.

É por meio da petição inicial, e disso já tratamos em outro momento de nossas aulas, que o

Poder Judiciário toma conhecimento dos fatos que desencadearam algum conflito de interesses

que não pode ser resolvido por meio de algum tipo de transação, isto é de acordo extrajudicial,

por isso a petição inicial é de extremada importância.

Desde logo, precisamos dizer que a redação da petição inicial não é livre, mas, sim,

engessada pelo artigo 282, do Código de Processo Civil que elenca os requisitos indispensáveis

da petição inicial.

Ao redigir uma petição inicial pode o advogado dar o seu toque pessoal. Impregná-la de

um estilo pessoal, no entanto, sem transformá-la numa peça literária ou jornalística. Na petição

inicial, o advogado deve mostrar-se discreto, elegante, coeso, claro, preciso e conhecedor do

vernáculo e da linguagem técnica.

Uma petição inicial só deve ser feita depois da busca da literatura técnica atualizada que

trate do assunto a ser discutido na petição inicial, bem como depois da pesquisa de acórdãos, isto

é, decisões recentes dos tribunais, acerca do tema.

Essa pesquisa prévia e necessária ajuda na construção do raciocínio lógico-jurídico

necessário para a redação da petição inicial, que deverá retratar o fato, descrevendo-o

circunstancialmente, numa sequência lógico-temporal que marca o texto narrativo, como já

vimos em aula anterior ao discutir essa modalidade redacional.

A pesquisa preparatória e anterior à petição inicial é importante, principalmente porque

ajuda a preparar os argumentos necessários para a parte dissertativa da petição inicial, em que o

advogado deverá mostrar, de forma indutiva ou dedutiva, o direito a ser aplicado aos fatos,

apontando a solução que deseja ver estampado na sentença. Vale ressaltar que a petição inicial é

o espelho da sentença.

De acordo com os termos do artigo 282, do Código de Processo Civil, a petição inicial

deve conter a indicação do juízo competente, segundo as regras de fixação de competência

descritas nos artigos 88 a 100, do Código de Processo Civil, bem como a qualificação completa

das partes, isto é, a indicação de todos os dados necessários para a exata identificação daqueles

que vão demandar, ou seja, autor e réu. Essa qualificação consiste, nos termos da lei, na

indicação do nome completo, no apelido, na nacionalidade, na profissão, no domicílio, na

residência, no estado civil.

Embora a lei não exija, a prática forense e o costume profissional fazem com que as

petições iniciais tragam o nome da ação que está se propondo. Após a qualificação das partes e

talvez da indicação do nome da ação, a critério do advogado, a petição inicial segue com a

narração dos fatos que deram origem ao conflito de interesse e, ainda, dos fatos violadores do

Page 48: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

48

direito do autor. Numa relação lógica, o advogado deve indicar os fatos e as suas consequências

jurídicas.

Nessa parte da petição inicial, deve o advogado tomar o cuidado de não cometer erros de

ortografia, pontuação e, especialmente, apresentar uma linguagem coesa, escorreita, inteligível e,

ao mesmo tempo, rica, isto é, sofisticada, mas sem excessos e rebuscamentos que comprometem

uma leitura fácil, tanto pelo juiz quanto pela parte contrária.

Depois de narrados os fatos e as consequências decorrentes do fato jurídico eleito como

relevante, o advogado dá início à parte dissertativa-argumentativa da petição inicial. Em outras

palavras, depois de apresentar os fatos, deve o advogado apontar qual a solução que entender ser

a mais adequada para o que foi apresentado.

Aqui os argumentos de autoridade, que vimos em aulas anteriores, serão usados,

representados pela transcrição de trechos de doutrinas, acórdãos, súmulas e artigos de lei, que

embora não sejam obrigatórios, enriquecem o texto. Só não se pode esquecer da estrutura do

texto dissertativo-argumentativo.

A parte conclusiva dessa parte dissertativa-argumentativa da petição inicial é ou são os

pedidos que o advogado deve formular ao juiz. O pedido deve ser preciso, extremado de dúvida,

por isso determina a lei que o autor deve formular o pedido com todas as suas especificidades, ou

seja, com detalhes, sob pena de não poder ser atendido pelo juiz na sentença.

Na parte final da petição inicial, deve o advogado formular os requerimentos, cuja

estrutura vimos em outra aula e aqui estão inseridos os requerimentos de citação do réu, de

produção de provas em todas as suas modalidades, previstas no artigo 212, do Código Civil,

benefício da justiça gratuita, de condenação da parte contrária na sucumbência.

Estruturalmente, a petição vem na forma de articulado, isto é, depois da indicação do juízo

competente com o uso adequado do pronome de tratamento correto e sempre por extenso e da

indicação das partes, o texto narrativo e dissertativo-argumentativo vem antecedido de números

ou de rubricas.

Assim, o advogado poderá numerar cada parágrafo da petição inicial, que se recomenda

não ter mais do que de seis a oito linhas ou encimar cada parágrafo com as seguintes rubricas:

Dos Fatos, Dos Fundamentos, Do Pedido, Dos Requerimentos.

A petição inicial, como qualquer peça técnica, deve sempre ser escrita em terceira pessoa.

Não se usa, portanto, a primeira pessoa do plural, nem mesmo o plural majestático.

Evite os latinismos, isto é, o uso de expressões em latim, ainda que tenham seu uso

consagrado pelos brocardos jurídicos, eles não podem ser inseridos a esmo nas petições iniciais,

na medida em que mais do que demonstrar erudição, essas expressões tornam difícil a leitura das

peças técnicas.

Não se quer aqui negar ou proibir o uso do latim, mormente porque essa foi a língua em

que todo o direito ocidental foi escrito. Recomenda-se, isso sim, que seu emprego seja feito

apenas quando se conhecer o sentido e o contexto em que a expressão for usada.

A petição inicial e o tribunal não são existem para a prática de exibicionismos linguísticos

e erudição desnecessária. É preciso evitar o uso de uma linguagem hermética, isto é, fechada em

si mesmo e impenetrável, que, geralmente, só é agradável a quem escreve e não a quem lê. O

Page 49: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

49

preciosismo e o rebuscamento da linguagem jurídica se tornaram, no mundo contemporâneo,

vício de linguagem.

Evite, portanto, na petição inicial o emprego de uma linguagem artificial e postiça, porque

mais do que causar uma boa impressão, sacrifica a ideia a ser transmitida e muito possivelmente

o direito do cliente.

Causa melhor impressão quem escreve com simplicidade, humildade e clareza do que

aquele que pernosticamente se expressa de forma a não se compreendido.

Referências

Acquaviva,Marcus. Cláudio redação forense e petições iniciais. São Paulo: Ícone, 1991.

Blikstein, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita. São Paulo: Ática, 1985.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

v__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 50: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

50

A linguagem da sentença

Veremos nesta aula que as sentenças têm uma linguagem muito própria e possuem seus

componentes estruturais. Observaremos que a sentença está dividida em três partes: o relatório, a

fundamentação e o dispositivo, cumprindo cada uma dessas partes um importantíssimo papel na

composição desse documento que põe fim a um processo.

Conceitos essenciais

Entre os atos mais importantes praticados por um juiz está a sentença. A sentença é o ato

que põe fim a um processo, em primeiro grau de jurisdição.

Podemos definir jurisdição como o poder de dizer o direito aplicável a determinado caso

concreto, a fim de esclarecer um conflito de interesses. A palavra jurisdição deriva do latim juris

(direito) dictionis (ação de dizer). Jurisdição significa exatamente isso: dizer o direito.

Quando, portanto, afirmamos que um juiz ao dar uma sentença pratica um ato de

jurisdição, estamos confirmando sua função.

Alguns autores do direito entendem que a sentença se realiza sobre um tripé: a lei (como

elemento maior), o fato jurídico (como elemento menor) e a decisão (como Conclusão).

Embora tenhamos conhecimento de que os outros atos praticados pelo juiz no transcorrer

de um processo sejam relevantes, nesse momento nos dedicaremos a estudar alguns aspectos da

linguagem contida nas decisões, levantando e dando destaque aos pontos que mais se sobressaem

dentro dessa peça denominada sentença.

Podemos observar que, na parte inicial da sentença, encontramos a expressão "vistos", ou

seja, isso significa que aquele que está dando a decisão – o juiz – informa-nos que os autos do

processo foram vistos, lidos, submetidos ao sentido da visão.

Tudo o que está contido no processo (petições, documentos, fotografias, laudos etc.) foi

devidamente visto.

Não podemos, entretanto, esquecer de que o pensamento de um juiz não se forma

exclusivamente a partir do sentido da visão. Ele usa todos os outros sentidos durante o processo

(audição, tato, olfato), levando-nos a concluir que, mesmo que o julgador use a expressão

"vistos", esse vocábulo engloba os outros sentidos posteriormente mencionados.

Quando o magistrado, em seguida e agora sim na primeira parte da sentença, usa a

expressão "relatório", o uso dessa palavra nos informa que se encontram registradas todas as

principais ocorrências acontecidas no andar do processo, e que são ressaltados os mais relevantes

pontos processuais desde o seu início até o momento em que a sentença está sendo redigida.

O "relatório" é feito de forma concisa e objetiva, limitando-se a fornecer somente

informações dos referidos marcos processuais, sem que haja por parte do julgador qualquer

menção à decisão que irá dar.

Page 51: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

51

Mesmo que no "relatório" a linguagem da sentença seja exclusivamente narrativa, o juiz

vale-se de recursos linguísticos próprios dessa modalidade textual, evitando ambiguidade e

vaguidão.

Por ambiguidade podemos compreender quaisquer distanciamentos sequenciais da

narrativa, envolvendo os advérbios "quem", "quando", "o quê", "como" e outros, o que nos

levaria a confundir pessoas, fatos, situações e, consequentemente, as próprias ocorrências

processuais.

Por vaguidão podemos entender a falta de encadeamento das ideias, deixando abertas

determinadas brechas que acabariam tornando incompreensível a narrativa como um todo.

Já na segunda parte da sentença encontramos a expressão "fundamentos", ou seja, trata-se

do momento argumentativo em que o juiz analisará as questões fáticas e de direito,

possibilitando ao leitor, a partir daí, visualizar quais foram os caminhos percorridos até a final

decisão.

Essa parte da sentença é verdadeiramente retórica, exatamente porque nesse momento é

que a linguagem do magistrado ganha grande expressividade, visto que ele usa todo seu talento

para raciocínios lógicos, a fim de alcançar a máxima coerência na exposição das conclusões a

que chegou.

A terceira parte da sentença é a denominada de "dispositivo", porque é nesse momento que

o magistrado "dispõe", do verbo "dispor". Aqui a questão do uso dessa expressão é bastante

interessante.

Entre as opções oferecidas no dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, a significação

mais adequada para esse vocábulo é aquela que aponta para a ideia de "harmonizar", "resolver

em caráter definitivo", "decidir-se".

Muito embora saibamos que todas as decisões de primeiro grau possam ser modificadas

pelo Tribunal Superior competente, a ideia de "resolver em caráter definitivo" somente faz

sentido se pensarmos que, para o juiz de primeiro grau que redigiu a decisão, a questão está

completamente resolvida e fechada.

Decidindo, o juiz manifesta-se pela "procedência" ou "improcedência" do pedido, tendo

sempre por base e referencial o autor da demanda.

Se o magistrado se decide no sentido de atender ao pedido formulado pelo autor da ação,

ele julga a ação procedente; se ele entende que o melhor direito está demonstrado pelo réu, ele a

julga improcedente.

Há casos em que o juiz pode, dependendo do tipo de questão que tem sob seus cuidados,

orientar-se pela "procedência parcial" do pedido, o que significa concluir que ele admitiu e

reconheceu uma parcela de direito ao autor e outra parcela ao réu.

Page 52: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

52

A sentença é uma peça do processo altamente técnica. Os juízes têm o dever de

mostrarem-se peritos nessa linguagem e respectiva redação, de modo a assegurar, o quanto

possível, seja completa a mensagem que quer comunicar sendo de fácil compreensão para os

leitores.

Para, entretanto, encerrar esse estudo é importante mencionar que nas sentenças de um

modo geral e no âmbito material civil das ações, o juiz poderá trabalhar com três verbos:

declarar, constituir e condenar.

Dizemos que a sentença é declaratória quando ela se manifesta sobre a certeza da

existência de uma relação jurídica. Será também declaratória quando referir-se sobre a certeza

quanto à autenticidade ou falsidade de um documento. Já as sentenças constitutivas têm a

finalidade de criar, modificar ou extinguir uma relação jurídica, satisfazendo por si mesmas as

pretensões processuais, criando novos estados jurídicos.

Por meio das sentenças condenatórias o juiz impõe uma sanção àquela parte processual

que se recusar a cumprir suas determinações. Estabelecendo uma penalidade por meio da

sentença, a ideia é a de que ela funcione como um título executivo. Embora aqui nesse estudo

tenhamos procurado distinguir as três principais modalidades de sentenças, o que vemos na vida

prática é que essas às vezes se misturam dentro de uma só decisão.

Referências

DAMIÃO, Regina Toledo. Curso de português jurídico. São Paulo: Atlas, 2008.

CRUZ E TUCCI, José Rogério. A motivação da sentença no processo civil. São Paulo:

Saraiva: 1987

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Page 53: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

53

A linguagem do parecer Nesta aula, veremos que no nosso ambiente de atuação, entre profissionais do Direito, há uma

atividade bastante solicitada, a de parecerista. Aqui conheceremos a finalidade de um parecer

jurídico e as principais características de sua linguagem.

Conceitos essenciais

Antes de tratarmos dos aspectos contidos na linguagem de um parecer, devemos fixar

algumas ideias iniciais que servirão para melhor esclarecer a matéria que virá a seguir.

Expressões como "parecerista", "parecer", "a mim me parece" são usadas todas as vezes

que determinado profissional, de determinada habilidade, dá sua opinião técnica/profissional

sobre certo tema.

No mercado de trabalho, podemos encontrar profissionais altamente capacitados a dar

pareceres na área do Direito, da Medicina, da Engenharia e, certamente, em todas as áreas

técnicas nas diversas ciências existentes.

Chamamos de "parecerista" aquela pessoa que, devido ao seu profundo conhecimento

técnico, é contratada para manifestar-se sobre o tema de sua especialização, por escrito.

"Parecer", por sua vez, é exatamente o documento redigido pelo "parecerista" e que

contém todas as informações necessárias para a solução de determinado problema, segundo sua

experiência teórica e prática.

Na área jurídica, portanto, o parecerista será alguém que, no mínimo, seja graduado na

ciência do Direito, não importando se é ou foi advogado, juiz, promotor, delegado ou possua

qualquer outra profissão relacionada à área.

O que, geralmente, podemos observar entre os pareceristas é que eles costumam

aperfeiçoar-se por meio de pós-graduações, obtendo os títulos de especialista, mestre, doutor ou

mesmo livre-docente. Cursar uma pós-graduação significa aprofundar-se numa matéria ou

disciplina ao ponto de conhecê-la em todos os detalhes.

Também, costumam ser os pareceristas professores de faculdades e, por conta de mais essa

atividade de trabalho, acabam tornando-se conhecidos em seu meio, seja pela grande capacidade

intelectual demonstrada nas obras que escrevem e publicam, seja por conta de, com isso,

tornarem-se altamente respeitados por seus colegas e alunos.

Quando a reputação de um desses professores vai além dos limites do lugar onde leciona

ou advoga, tendo em vista que seus livros ou artigos são lidos por diversos outros profissionais e

quando são mencionados e comentados pela qualidade de seu conteúdo, passamos a denominar

esse parecerista de doutrinador.

Outro ponto de grande importância nessa temática refere-se às situações pelas quais o

parecerista é chamado a dar sua opinião.

Muitas vezes, quem contrata o parecer é um cliente. Quando um fato jurídico acontece a

uma pessoa e torna-se necessária a aplicação da lei a essa hipótese, esse cliente procura um

parecerista para manifestar-se sobre aquele acontecimento.

Page 54: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

54

Assim, toda vez que se solicita um parecer, esse pedido é formulado, por escrito e

endereçado ao parecerista que, por sua vez, irá analisar o caso concreto e enquadrá-lo de acordo

com a lei, emitirá a sua opinião, também por escrito, respondendo ao pedido a ele formulado.

A linguagem de um parecer é bastante formal e, além disso, exige um tratamento muito

cordial entre as pessoas envolvidas nessa atividade de trabalho.

A reverência, o respeito e a cortesia são elementos indispensáveis no tratamento entre as

pessoas, não há dúvida. Entretanto, quando um cliente ou um advogado solicita a emissão de um

parecer a um parecerista, é importante que faça isso observando tanto a boa narrativa do fato que

se quer solucionar quanto o uso de pronomes de tratamento mais indicados para esse tipo de

comunicação, como "Doutor professor", "Mestre" e "Vossa Senhoria".

Este Texto Complementar faz parte da sequência desta aula e, portanto, é essencial para a

aprendizagem.

COMPLEMENTAR

Seja como for, o que vale nesse expediente é a autoridade do profissional parecerista e que

suas colocações sejam conclusivas no que diz respeito ao tema tratado.

O que podemos entender por conclusões está ligado à ideia da utilização de determinadas

ferramentas, ou seja, o parecer pode ser "legal", "doutrinário", "jurisprudencial" etc., ou é

possível que se utilize o parecerista de todas essas fontes do Direito conjuntamente.

Um parecer legal é aquele que, para concluir sobre a solução do caso concreto, usa a lei ou

as leis aplicáveis. Assim, toda a fundamentação do referido parecer se realizará sob o agasalho

da norma legal, por meio da combinação de artigos, parágrafos e incisos.

No parecer doutrinário, o que se visa é relacionar várias opiniões semelhantes a do

parecerista. Ou seja, ele poderá contar com a colaboração indireta de outros pensadores da

mesma disciplina e mencionará no parecer quem são esses outros profissionais e quais são as

suas respectivas opiniões.

Fará isso por meio de citações, isto é, de livros que consultar, recortará os trechos da obra

cuja redação lhe interesse, copiando-as para o conteúdo de seu parecer.

Já no parecer jurisprudencial, as conclusões tiradas pelo parecerista surgem a partir da

pesquisa que faz acerca de como os tribunais têm entendido a matéria que está sob seus

cuidados.

Desse modo, o parecerista serve-se de várias decisões no mesmo sentido do tema que

necessita elucidar. Ele consulta as listas de jurisprudências, identifica a matéria, faz análises e

conclui seu trabalho apresentando ao solicitante do parecer julgamentos de casos semelhantes,

oferecendo uma alternativa de solução com base no que já foi sentenciado.

Compreendidas essas questões, faça os exercícios propostos e, na próxima aula, trataremos

da linguagem do texto normativo.

Referências

SILVA, Luciano Correia da Silva. Manual de linguagem forense. São Paulo: Edipro, 1991.

SANTOS, Gélson Clemente dos. Comunicação e expressão: Introdução ao curso de redação.

Rio de Janeiro: Forense, 1983.

Page 55: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

55

A linguagem do texto normativo

Veremos nesta aula quais os principais verbos utilizados no texto legislativo e também

analisaremos o significado de cada um deles, a fim de facilitar o entendimento e a interpretação das

leis. Além disso, conheceremos os mecanismos linguísticos de regras e exceções constantes dos

textos legais.

Conceitos essenciais

Ao tratarmos sobre a linguagem do texto normativo, é importante ressaltar que, em meio a

um grande universo de possibilidades de redação para as leis, o legislador quase sempre utiliza

os verbos: obrigar, permitir e proibir.

Quando lemos um artigo de lei, podemos não identificar imediatamente o uso de algum

desses verbos, pela simples razão de que o legislador pode ter usado um verbo sinônimo.

Para dar a ideia de permissão, ele poderá substituir o verbo permitir pelos

verbos facultar ou autorizar; para a ideia de proibição, pode substituir o

verbo proibir por vetar ou vedar e para a ideia de obrigação, pode substituir o

verboobrigar pelos verbos impor ou exigir, exemplificativamente.

Ainda existem, entretanto, outros verbos sinônimos que podem ser utilizados pelo

legislador, sendo imperativo que o intérprete da norma procure localizá-lo para melhor entender

o sentido que ele quis dar àquela regra.

Sempre que estivermos diante da necessidade de compreender o texto normativo,

deveremos procurar, primeiro, por algum desses verbos, afim de que possamos identificar qual é

o comando que o legislador quis dar àquele dispositivo legal.

Às vezes, também, dependendo do modo como foi redigido o artigo de lei, esses verbos

podem ficar invisíveis, não importando, com isso, que esses ou os seus sinônimos não estejam lá

dentro da letra da lei; porque estão sim.

Sabemos, por exemplo, que o livro dos fatos jurídicos, no título do negócio jurídico,

código civil, é matéria na qual achamos uma grande variedade de obrigações e direitos

estabelecidos para os sujeitos de direito.

Como ilustração, podemos mencionar o artigo 104, que diz: "A validade do negócio

jurídico requer (exige, portanto é obrigatório): I – agente capaz; II objeto lícito, possível,

determinado ou determinável e III – forma prescrita e não defesa em lei.".

Quando o legislador estabelece uma obrigatoriedade é para ela ser cumprida. No caso do

exemplo acima, o legislador somente considerará válido o contrato se nele estiverem contidos os

requisitos por ele mencionado, o que nos faz concluir que, para tanto, torna-se obrigatória a

presença dos mencionados requisitos.

Outro exemplo que podemos mencionar é o relativo ao verbo facultar, como na redação

do art. 316 da Parte Especial do Código Civil, que estabelece: "É lícito convencionar o aumento

progressivo de prestações sucessivas.". Veja, se é lícito, isso significa que também é possível, ou

seja, que é permitido, nesse contexto.

Page 56: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

56

É importante ressaltar o seguinte: quando o legislador, na letra da lei, faculta ou autoriza,

isso significa que ele está dando total liberdade para o intérprete da norma no sentido de que esse

faça, sozinho, a melhor aplicação legal daquele dispositivo, já que o Estado, sobre essa matéria

do artigo, não se mostra interessado em regulá-la de forma cogente, ou seja, segundo seus

critérios.

Já sobre o verbo proibir, podemos citar alguns dos artigos do Código Penal, na Parte

Especial, em que o legislador tipifica as várias modalidades criminosas, ou seja, cria ou descreve

ações que serão consideradas ilícitas penalmente.

Podemos, então, nesse contexto, citar o art. 121, que estabelece: "Matar alguém: pena de

seis a vinte anos de reclusão".

Veja. Nesse exemplo fica claro que o legislador não está usando o verbo proibir

diretamente, ele não disse proibirnada, mas vemos que o verbo proibir está presente mesmo

assim, uma vez que, na hipótese de uma pessoa ser morta, deverá suportar, quem a matou, a pena

de reclusão, o que nos faz concluir que matar alguém está vetado (proibido) enquanto conduta

social.

Outro aspecto bastante interessante da matéria relativa à linguagem do texto normativo

mora no fato de o legislador sempre trabalhar com regras e exceções.

Muito cuidado, entretanto, é preciso tomar aqui. Isso não significa que "para cada regra

exista uma exceção". Nada disso. Poucas regras podem ser excepcionadas.

Muito embora tenha sido construída, no mundo concreto da vida cotidiana, a ideia de que

"toda regra comporta uma exceção", essa afirmação nada tem de verdade no aspecto jurídico, no

ambiente do Direito.

Se para cada regra existisse uma exceção, acreditamos que, então, desnecessárias seriam as

regras, uma vez que, embora existentes, elas seriam passíveis de ser modificadas a qualquer

momento, por qualquer pessoa.

Para ficar mais clara a questão, consideremos o seguinte: uma "exceção" refere-se àquilo

que é raro, incomum, extraordinário. Tanto que, às vezes, afirmamos que determinada obra

literária ou determinada obra de arte é "excepcional", ou seja, que nada se iguala a ela.

A ideia de excepcionalidade, portanto, está ligada ao que há de diferente do que é comum.

Também assim acontece com relação aos artigos da lei.

As leis são conhecidas como "um conjunto de regras". Pois bem. Em cada conjunto de

muitas regras é possível encontrar apenas algumas exceções. Quando as exceções aparecem, isso

significa que o legislador aceita que a regra estabelecida por ele seja excepcionada, ou seja,

alterada segundo as conveniências peculiares àquele caso.

Assim, somente o legislador é quem tem a competência para autorizar-nos a mudar uma

regra. Se assim é, somente podemos mudar uma regra quando estivermos diante da referida

autorização legal.

E como essas autorizações são dadas? Muito fácil perceber. Vejamos o exemplo a seguir:

O artigo 117, do Código Civil, prescreve: "Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável

o negócio jurídico que o representante tenha, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar

consigo mesmo."

Page 57: Sumário - uni9direito9b.files.wordpress.com · caso da linguagem falada ou escrita que estampam ordens ou comandos. É a linguagem empregada pelos juízes nos seus despachos ordinatórios

Material da Plataforma AVA – reprodução e distribuição vedadas. Este material não substitui as publicações na plataforma. Aqui não contem anexos e arquivos de áudio/visuais transcritos (somente no AVA)

57

Vejamos. Quando o legislador fala "salvo", como no exemplo acima, ele está querendo

dizer "exceto", ou seja, admitindo a possibilidade de a regra que ele estabelece, na sequência,

seja alterada.

No caso do exemplo que acabamos de ver, a regra é de que "todo negócio jurídico que o

representante tenha celebrado consigo para vantagem sua ou de terceiro" é anulável.

Quando, todavia, observamos a existência de exceção para essa regra, podemos

compreender, contudo, que se o próprio representante, que deu poderes ao representado, aceita

que ele celebre contrato obtendo as possíveis vantagens para ele próprio, não será o legislador

quem decidirá coisa diferente.

Referências

BLIKSTEIN, Izidoro. Técnicas de comunicação escrita. São Paulo: Ática, 1985.

ANOTAÇÕES COMPLEMENTARES

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________