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Temas e Problemas Psico-Sócio-Antropológicos (Palestra para Discussão nas Tertúlias de Guimarães) do C.E.H.C. e no C.E.H.C./América Latina
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Temas e Problemas
Psico-Sócio-Antropológicos
Manuel Reis
Portugal & América Latina, 2013.
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(Temas e Problemas Psico-Sócio-Antropológicos)
(Palestra para Discussão nas Tertúlias de Guimarães
do C.E.H.C. e no C.E.H.C./América Latina)
ENTRE A RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL
E A RESPONSABILIDADE COLECTIVA:
‘TERTIUM NON DATUR’!...
1. ─ Que é a Lei (esse Instrumento, na base do qual são concebidas e organi-
zadas as Sociedades humanas, para poderem assegurar uma ordem justa e racional)?!...
A melhor definição tradicional de Lei, que a Filosofia jurídica nos poderá facul-
tar, é ainda a de Tomás de Aquino (na ‘Summa Theologiae’: citamos de memória):
‘Ordinatio rationis ab eo qui curam communitatis habet promulgata’.
Entraram 3 elementos na definição: a) a comunidade/sociedade, que é a desti-
natária do ordenamento jurídico e da legislação levada a efeito; b) o ordenamento jurí-
dico, que tem de ser racional, dado que se destina a seres humanos, dotados de razão e
de consciência; só atinge o seu carácter de lei, mediante a promulgação de quem preside
à comunidade-sociedade. Já se adivinhou que, numa Sociedade democrática, a melhor
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metodologia para que os desígnios da Legislação se possam cumprir e para que a Lei e
a Ordem possam ser efectivamente asseguradas e defendidas, é o Esquema tripartido,
estrutural/estruturante, de Montesquieu: Poder legislativo, Poder executivo e Poder judi-
cial.
No C.E.H.C., sabemos que os Poderes (mesmo estes de que estamos a falar…)
são um só, em última análise ou instância (societária). Por quê? Porque não há uma Di-
vindade ou Autoridade divina exterior a caucionar ou a sancionar o exercício dos Pode-
res. E, por outro lado, uma vez que o Divino faz parte dessa realidade triangular, que é a
Consciência humana de cada Indivíduo-Pessoa/Cidadão, a Liberdade de cada cidadão/
/pessoa é, por definição estrutural, uma Liberdade Responsável. A Liberdade tout
court redunda sempre em libertinagem, no horizonte da Cultura do Poder-Dominação
d’abord.
No C.E.H.C., definimos a Lei (societária) como segue. Ela é ‘o lugar de encon-
tro das pessoas’, ─ nada mais e nada menos. Demasiado vago ou genérico? Não. Esta
noção está em perfeita consonância com a gnóseo-epistemologia que arquitecta os Indi-
víduos-Pessoas/Cidadãos, enquanto Sujeitos humanos, dotados de Liberdade Res-
ponsável. Estamos, por este caminho, apenas a respeitar a gramática do ‘Homo Sa-
piens//Sapiens’, que suplantou (na história da Psico-Sócio-Antropogénese) a cartilha do
‘Homo Sapiens tout court’ (enquadrado no horizonte do Dualismo metafísico-ontoló-
gico de Platão e Paulo).
Lobrigando mais a fundo, a nossa noção de Lei completou, criticamente, a defi-
nição tradicional (na Cultura do Ocidente) do ‘Dr. Angélico’ (1225-1274). Não a elimi-
nou… completou-a, por forma a dissipar o leque contextual dos equívocos. Ao abrigo
da definição de Lei do aquinense, tanto poderíamos ver essa noção aplicada à ‘Lei véte-
ro-testamentária’ (do olho por olho, dente por dente…), como à chamada ‘Lei neo-
-testamentária’ (designada, tradicionalmente, de modo paradoxal, como ‘Lex Amoris’).
Em suma, o nosso discurso não saiu da galáxia do sacrossanto Objectivo-Objectua-
lismo (que ─ sabemos hoje ─ funciona como uma vera religião laica, omni-toto-abran-
gente).
Quanto à tripartição dos Poderes, segundo a gramática moderna de Montesquieu,
convém advertir e salientar que a sua tese assume uma índole metodológica e prope-
dêutica, em função da diversidade dos indivíduos e grupos humanos e, daí, igualmente
em função da complexidade e democraticidade, na organização sócio-jurídica e política
das Sociedades humanas. Numa análise crítica aprofundada, é fácil reconhecer que a
nossa Tese (no CEHC) de que o Poder é um só em última análise ou instância não
colide nem se acha em contradição com a cartilha tripartida de Montesquieu.
Por não estar detentor desta mundividência crítica aprofundada, Alexis de Toc-
queville (e os modernos pensadores e politólogos, na sua peugada), ao distinguir e ca-
racterizar (com brio e orgulho…), em contraponto, o ‘Ancien Régime’ e o ‘Nouveau Ré-
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gime’ incorreu nos mesmos vícios e falácias dos teólogos e filósofos cristãos tradicio-
nais, bem como dos Poderes Estabelecidos nas cristandades, quando contrapunham a
‘Lei neo-testamentária’ à ‘Lei vétero-testamentária’. Uns e outros só sabiam funcionar
segundo o catecismo da religião laica do Objectivo-Objectualismo. E, neste horizonte,
os Sujeitos Humanos livres e responsáveis, dotados de Consciência reflexiva e crítica,
são totalmente eclipsados (‘in ipso facto actus exercitii’).
2º ─ Que é a Responsabilidade?! É a outra face gémea do Fenómeno ontológico
(passe o oxímoro aparente) da Liberdade, própria e específica do Indivíduo-Pessoa/
/Cidadão. Cantar e enaltecer a Liberdade, sem mais, tem sido o moderno canto da se-
reia do Pensamento político da Burguesia ascendente e dos Liberalismos e Neolibe-
ralismos de todos os matizes. Freedom//Freiheit//Liberté… É sempre a mesma salmódia
das modernas classes sociais burguesas que, na Civilização/Cultura do Ocidente, fize-
ram a revolução, para superar, definitivamente, os antigos Regimes das hierarquias rí-
gidas, das escravaturas e das servidões. A saga da Burguesia (ascendente e, depois, ins-
talada, até hoje) resultou parcialmente em vão: (e, em última instância, errada, visto que
‘bonum ─ como a saúde ─ ex integra causa, malum ex quocumque defectu’):
A) Porque as hierarquias societárias, substantivas, mantiveram-se… mudaram,
tão-só, o nome às ancestrais hierarquias substantivas: v.g., o Trabalho assalariado nas
sociedades modernas, que funciona apenas como apêndice do Capital e dos seus deten-
tores, que tudo programam e decidem, ─ não é isso uma nova forma de servidão, que o
discurso e a linguagem demagógicos procuraram ocultar?!...
B) Porque, no horizonte político, as religiões institucionalizadas, com a sua no-
ção incontornável de Potestas sacra (a implicar, filosoficamente, o Dualismo metafí-
sico-ontológico de Platão e Paulo) não foram discutidas criticamente, no processus da
Psico-Sócio-Antropogénese; e, por essa via, o ideário moderno e contemporâneo da
Democracia ficou só a meio-caminho: democracia indirecta, liberal e representativa.
Não pode haver outro Regime democrático!... Thomas Hobbes, na sua ‘Grande Sepa-
ração’, constituiu a primeira fonte moderna desta mundividência, própria do ‘Homo Sa-
piens tout court’, não do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ que nos é ditado pela Evolução Bio-
-Antropogenética.
Eis por que ─ manda o Discurso e a Linguagem sérios e honestos ─ a fórmula a
utilizar, segundo a gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, não pode ser a simples e
pronta ode à Liberdade; é absolutamente imperioso que seja a Ode à Liberdade Res-
ponsável. Mais: a Liberdade Responsável só se encontra e realiza plenamente numa
Sociedade autenticamente democrática, onde os cidadãos se podem reconhecer uns
aos outros, em-pé-de-igualdade sócio-jurídica.
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3. ─ Que é a Responsabilidade Individual?! É a que se encontra e polariza no
Indivíduo-Pessoa/Cidadão, dotado de Consciência reflexiva e crítica. Quando falamos
de Responsabilidade, temos de saber e reconhecer que ela dimana do Indivíduo-Pes-
soa/Cidadão, em termos primaciais e primordiais. Por isso, é certo e adequado falar da
e estabelecer a Responsabilidade Individual, em primeiríssimo lugar.
É que não pode haver Responsabilidade individual, (ético-moral, primeiro e,
depois, jurídica), sem a sua fons et origo na Consciência do Indivíduo-Pessoa/Cidadão.
O movimento primacial e primordial, que gera a humanitas, é o que procede da Interio-
ridade para a Exterioridade, do Esotérico para o Exotérico, (como nos ensinaram os
Gnósticos judeo-cristãos primevos, na esteira do Socratismo e do Jesuanismo), não o
que procede do Vértice para a Base, na pirâmide societária. (Esta 2ª via é a que ocorre
nas Culturas onde prevalece a Potestas-Dominação d’abord).
É certo que a Espécie Sapiens//Sapiens se baliza e define, em medida igual, co-
mo Animal Racional e como Animal Social. E a função essencial e o destino da Cons-
ciência (do Indivíduo-Pessoa/Cidadão) consistem, justamente, em proceder à articula-
ção e união dos Indivíduos e da Sociedade, por um Caminho vectorial de hominização/
/humanização, que leva à superação do estádio da Natureza pela edificação de um está-
dio (relativamente) autónomo da Cultura. Atraída, a um só tempo, pela tríade (espírito/
/coração/razão), a Humanidade evolui e eleva-se da animalidade e materialidade da
vida para o mundo da Espiritualidade e da Sabedoria.
O processus da humanização/socialização requere muita sensibilidade e delica-
deza, muita empatia e atenção aos outros, nossos semelhantes da mesma Espécie. Mais:
inteligência e espírito e capacidade de Diálogo, para discussões honestas e fecundas. A
Consciência individual-pessoal vai ao timão da Nau. A tal ponto estes Dispositivos são
importantes e decisivos que Fernando Pessoa acabou por enganar-se, ao estabelecer o
prolóquio: ‘a memória é a consciência diferida no tempo’. É que, na verdade, não pode
haver consciência diferida no tempo, pela simples razão de que ela só existe ‘in actu
exercito’… ela não subsiste ‘in actu signato’, para, em consequência disso, poder ser
objectivo-objectualizada!...
Eis por que, tanto no decurso da História, como na odisseia da Vida quotidiana,
é tão fácil e corrente obstruir, eclipsar e aniquilar as Consciências dos Indivíduos-Pes-
soas/Cidadãos, como, de resto, não sobra, igualmente, espaço sócio-cultural, para a co-
municação real e fecunda das Experiências da Vida deles. As rotinas mecanicísticas/
/materialísticas, nas Sociedades humanas, o que nos demonstram e impõem, infeliz-
mente, é uma condição humana convertida em Rebanho de animais societários. Bestas
de carga dos Poderes Estabelecidos!...
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4º ─ Que é a Responsabilidade Colectiva?!
Na base, uma fracção: no denominador a soma integral das consciências de to-
dos os indivíduos; no numerador o potencial resultante da soma, endereçado a um de-
terminado objectivo ou programa, assumido, em nome de todos os elementos do Grupo,
por um Leader eleito para a sua concretização. Nunca a matemática foi tão rigorosa e
exacta.
Como já dissémos antes, não há uma vera e autêntica Responsabilidade Colec-
tiva, se, na génese do Fenómeno, não houver Responsabilidade Individual de todas as
pessoas envolvidas no Processo (em maior ou menor grau, consoante os seus conheci-
mentos). Para tanto, requere-se abertura dos Indivíduos à Problemática da Sociedade;
diálogo sistémico e discussão frequente, próprios de uma sociedade civil substantiva.
Nenhum humano é uma Ilha, muito embora os arcanos da Consciência Individual
nunca possam nem devam ser eclipsados ou apagados. As tentativas, que vão no sentido
da ‘Tabula rasa’ dos Indivíduos, são próprias das Ditaduras societárias dogmáticas,
integristas, fundamentalistas. É o totalitarismo em marcha.
Depois do Anschluss com a Áustria, foi a invasão da Polónia, por parte da Ale-
manha de Hitler. Um dos homens que conheceram vítimas dessas atrocidades tremendas
dos campos de concentração e da morte, o processo do Holocausto/Genocídio de ju-
deus, ciganos e povos periféricos (considerados ‘não arianos’), Bronislaw Misztal (em-
baixador da Polónia em Portugal) fala-nos da IIª Guerra Mundial como ele próprio a
conheceu (cf. ‘Expresso’/Atual, 2.2.2013, pp.34-35).
“Aqueles que sobreviveram ─ diz ele (ibi, p.34) ─ contribuíram para preservar a
memória histórica da nação polaca, uma memória que hoje nos permite a nós, polacos,
definir a nossa identidade”. “O século XX foi para a Polónia, em grande medida, um
período de desvalorização da dignidade humana. A guerra provocou um indescritível
trauma a toda a nação multicultural, sujeita a uma aniquilação sistemática. A violência e
a morte marcaram presença nas cidades polacas e nas ruas das pequenas aldeias. Os
campos de concentração nazis e o extermínio de mais de seis milhões de pessoas, bem
como as purgas étnicas levadas a cabo por vizinhos ou mercenários, criaram uma espé-
cie de realidade impossível de descrever através do mecanismo conceptual até então dis-
ponível” (idem, ibidem).
Os dois parágrafos (que citamos a seguir) dão-nos a medida exacta dos padrões
vigentes (então e hoje) da sensibilidade crítica perante morticínios e hecatombes deste
quilate. “Somente muito mais tarde surgiram duas noções ─ Holocausto e genocídio ─
que ajudaram a aferir, na consciência humana, o que se passou durante aqueles terríveis
anos. Hannah Arendt, anos mais tarde, [no seu Relatório crítico sobre o julgamento e
condenação à morte do criminoso nazi Adolf Eichmann, em Jerusalém/1962: ‘Eich-
mann in Jerusalem: a Report of the Banality of Evil’/1963], cunhou esse período da
história com a expressão ‘responsabilidade colectiva’, e portanto de ninguém, apontan-
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do para o facto de que o aparelho de morte criado limitava o contacto entre aqueles que
matavam e aqueles que eram vítimas de genocídio. Segundo o almanaque corrente: ‘O
que não se vê ou viu não existe…’.
“O processo de extermínio das minorias étnicas era industrializado, rápido,
cheio de crueldade e desprovido de qualquer elemento moral. A história do padre Mak-
symilian Kolbe, que voluntariamente se ofereceu para morrer, em vez de outro pri-
sioneiro arbitrariamente condenado, mostra que a actuação dos criminosos nazis se
orientava sem excepção para a eliminação da vida humana. A remoção dos corpos e a
sua cremação ficavam a cargo dos prisioneiros, que seguidamente eram alvo de exter-
mínio” (idem, ibidem).
Constitui um Erro grosseiro admitir a equivalência entre a ‘Banalidade do Mal’ e
a Responsabilidade Colectiva de ninguém’. Esta equivalência, aceite por H.A., exprime
e demonstra que, no seu universo mental criticista, ela ainda não saiu do odre da sem-
piterna Cultura do Poder-Dominação d’abord. De facto, em ‘As Origens do Totali-
tarismo’, ela vê, sem mais, a origem do Totalitarismo moderno associada ao anti-semi-
tismo e ao imperialismo dos sécs. XIX/XX: uma tendência desencadeada pela desa-
gregação da Nação/Estado tradicional. Ora, as origens do Totalitarismo e das ditaduras
de todos os tempos estão na própria Cultura do Poder-Condomínio e sua cartilha de
actuação e exercício.
5º ─ Três problemas/factos muito sérios, e já desumanos, em termos do para-
digma da Psico-Sócio-Humanidade, ressumbram nesses dois parágrafos referenciados:
A) Foi assumido, e pressuposto (tanto no discurso do Embaixador polaco como
nos textos conhecidos de H.A., embora menos aqui…), ao abrigo da cartilha tradicional
no Ocidente, que a categoria mental/discursiva ‘responsabilidade colectiva’ é semanti-
camente equivalente àquele lóguion de Gil Vicente: ‘Todo o mundo e ninguém’!... Ora
esta posição gnóseo-epistemológica é própria e específica ─ há que dizê-lo sem equí-
vocos ─ da Cultura do Poder Dominação d’abord e do catecismo do ‘Homo Sapiens
tout court’.
Recordam-se que, no título/tema deste Artigo, excluímos, em termos psico-só-
cio-antropológicos, uma terceira via entre os dois tipos fundamentais de Responsa-
bilidade, e, por analogia e em consequência disso (embora, em patamar diferenciado), a
‘terceira via’ entre capitalismo e ‘socialismo convencional’ (também dito vulgarmente
‘comunismo’). ‘Tertium non datur’ entre a Responsabilidade individual e a Respon-
sabilidade colectiva. Esta nossa Tese tem a sua origem e fundamentação na gramática
do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ e na Cultura da Liberdade Responsável primacial e
primordial.
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B) Nos dois parágrafos citados, foi revelado e expresso que havia um abismo de
desinformação e ignorância entre os chefes e os verdugos, dum lado, e do outro, as
vítimas do genocídio: o extermínio das minorias étnicas processou-se à escala da indus-
trialização da morte. É o catecismo de actuação das tiranias e ditaduras de todos os
matizes. O que fez a ‘Inquisição’ da I.C.R.?... O que fizeram as Cruzadas?... O que tem
feito o Fundamentalismo islâmico, ao longo da sua história de milénio e meio?...
Em contraste com esse horizonte de morticínio e hecatombe, próprio das
Ditaduras e dos Regimes Autoritários/Totalitários, deve saber-se que a ‘Liberdade de
Expressão’ (‘Free Speech’) constitui a pré-condição de qualquer Regime Democrático
digno do nome.
C) Na narrativa supra, o episódio heróico do padre Kolbe ainda tentou expressar
um ‘sinal de Alarme’, no âmbito e na atmosfera de vício e desnorte dos Poderes Esta-
belecidos… Tudo em vão!... Porque Poderes Estabelecidos e Sociedade em geral (sub-
missa e disciplinada) já só funcionavam na órbita da religião laica do Objectivo-Objec-
tualismo. Os Sujeitos humanos, qua tais, os Indivíduos-Pessoas/Cidadãos, dotados
de Consciência reflexiva e crítica, já não contaram para nada!... Os nazis foram gente
que perdeu toda a dignidade moral!... Mas atenção: a queda nesta tentação é frequentís-
sima em quase todos os detentores de Poder…
Veio o Crash e a Great Depression de 1929-32, que (na história atribulada e
predatória do Sistema capitalista) constituiu, à distância de 7 anos, o principal Factor
causal da IIª Guerra Mundial. Veio a Grande Depressão despoletada em 2007 e que
ainda prossegue em 2013 (financeira/económica, a partir da especulação com os ‘deri-
vados’ financeiros, na base do pressuposto que o dinheiro era o motor absoluto da Eco-
nomia, deixando, assim, de cumprir a sua 1ª missão essencial, enquanto meio de troca
de bens e mercadorias reais…). Que se aprendeu, com essas duas Grandes Depressões,
na história do Capitalismo moderno, embasado (paradoxal e contraditoriamente) em So-
ciedades de Democracia Representativa, i.e., estruturadas em regime democrático-libe-
ral?!
Nada, mesmo nada, no horizonte dos Sujeitos humanos enquanto tais: evo-
quem-se as desigualdades sociais, os níveis nacionais de Desemprego e Trabalho precá-
rio nunca vistos; as predações, as explorações/opressões de todo o tipo, desencadeadas
pelo Neoliberalismo capitalista global das últimas 3 décadas, sobre as populações em
geral e, especialmente, sobre as massas trabalhadoras. Mas tudo, e sempre, balizado e
orientado pela religião laica do Objectivo-Objectualismo.
Esta Reflexão objurgatória, caros amigos e leitores, podem Vocês encontrá-la
fundada, por exemplo, na última novidade que a Imprensa escrita vos trouxe à mesa de
trabalho: ‘EU revoluciona conhecimento do cérebro’: Num Projecto do Cérebro Hu-
mano (que vai envolver 80 instituições científicas), pretende-se simular o cérebro hu-
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mano num supercomputador (um projecto que irá custar €1.190 milhões). (Cf. ‘Ex-
presso’, 2.2.2013, p.23).
No horizonte dos Sujeitos Humanos e na Organização justa e verdadeira (na
órbita do Saber… não do Poder) das Sociedades Humanas parece que ainda não saímos
da cartilha das duas Idades (pré-históricas…) da Pedra (lascada e polida!...). Nem se-
quer, em nome da Dualidade Epistémica (a realidade mais óbvia do Mundo, sempre
postergada e anatematizada pelos Poderes Estabelecidos), estabelecemos um hemisfério
próprio e específico para as chamadas ciências psico-sociais e/ou humanas (CEHC di-
xit). O Monismo Epistémico e o Objectivo-Objectualismo como religião pan-envol-
vente dão sempre mais jeito aos Poderes societariamente Institucionalizados!...
Depois, queixam-se e verberam os analistas políticos e os media de que, por
exemplo, o ataque recente de aviões israelenses a território da Síria está na prática, a fa-
zer o jogo de Assad… A oposição, na guerra civil da Síria, está a conquistar o norte do
país, o que levou os russos a tirar o apoio a Assad. Ao combater os rebeldes, o Hez-
bollah já não é visto, no mundo árabe, como ‘a voz dos oprimidos’, visto que se tornou
apoiante incondicional de Assad.
Entretanto, no Egipto, o presidente M. Morsi, com uma nova Constituição onde
pontificou a ‘Fraternidade islâmica’, pretendeu instaurar uma República homogenea-
mente islâmica… Tem, agora, pela frente a Contra-Revolução dos intelectuais livres e
das massas populares, que o equiparam ao velho ditador Mubarack, instando levar o
presidente a Tribunal. (Cf. ‘Expresso’, cit., p.28). Assim vai o Mundo… marchando
sempre sob o estandarte da Potestas-Dominação d’abord.
6. ─ Ora, é justamente em tal horizonte, que, diante dos fenómenos complexos
da Responsabilidade (social, em concreto) assomam sempre as tentações, em que (qua-
se) toda a gente cai: esquadriar uma terceira via, entre o campo da Responsabilidade
Individual e o campo da Responsabilidade Colectiva. É claro que toda a ‘negociata’
(demagógica) em torno desta Problemática, com uma Solução tripartida, tem uma base
(mistificadora) sobre a qual assenta e estabelece os seus pressupostos (condicionadores
de toda a Ladaínha subsequente…): a admissão (religiosa/institucionalizada) de uma Di-
vindade transcendente e extrínseca ao Universo, criadora do mesmo, omnipotente e
fon-te de todos os Poderes. É a partir dessa Entidade que é forjada a cartilha da
sempiterna Cultura do Poder-Dominação d'abord’.
Na galáxia da Cultura do Poder-Dominação d’abord (que é, infelizmente, ain-
da a nossa contemporânea), a geometria do exercício do Poder (dos Poderes, no seu le-
que societário mais variado…) reduz-se a duas configurações, que nem são diame-
tralmente opostas: A) a dos Totalitarismos (em monarquia ou república); B) a das De-
mocracias Representativas Indirectas (onde os cidadãos só são ouvidos, estatistica-
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mente, nas urnas). Haveria, sem dúvida, uma terceira configuração (só em teoria…),
mas essa é sistemicamente excluída com o anátema da sua condenação, porque às ideo-
logias do Establishment e dos Poderes Estabelecidos em geral, ela ostenta uma semân-
tica de anarquia: falamos da Democracia Directa ou Participativa.
Uma evocação da mais antiga tentativa icónica de Democracia directa, na His-
tória moderna do Ocidente. Falamos do Movimento dos Levelers que, na história da In-
glaterra, surgiu durante a Revolução Puritana. Os dois leaders mais conhecidos foram:
John Lilburne e Richard Overton. O Movimento emergiu no meio das fileiras do Exér-
cito, naquele preciso momento em que, uma vez desmanteladas as forças do Rei (1646)
e afirmada a sua independência face ao Parlamento (1647), os soldados gozavam de
uma indiscutível supremacia, muito embora receando que as suas esperanças de Refor-
ma pudessem resultar frustradas.
A ideologia do Movimento assumia as teses seguintes: a soberania reside no po-
vo, ou seja, o governo recebe os seus poderes a partir do consentimento dos governados;
o Estado existe para proteger os direitos inatos e inalienáveis dos indivíduos; a aceitação
ou a rejeição das instituições políticas é um acto que deve ser levado a cabo por cada
homem, por si mesmo.
A partir destes pressupostos, o Movimento fez derivar um programa positivo de
reformas, que foi posto em marcha através do Doc. ‘The Agreement of People’ (1648).
O programa exigia o sufrágio universal de todos os cidadãos, a redistribuição dos luga-
res no Parlamento segundo a população, sessões parlamentares frequentes, o controlo
parlamentar dos ministros, uma explícita limitação dos poderes do Parlamento e de ou-
tros sectores da governação. Oliver Cromwell (o ditador) acabou por esmagar os Level-
ers em 1649.
Entretanto, com as guerras civis internas, os Britânicos aprenderam o suficiente,
para, em 1688, realizarem a Glorious Revolution, ─ uma revolução sem meios violen-
tos, que levou ao trono Guilherme III e alterou, substancialmente, o sistema político
inglês, no horizonte da Democracia e da Monarquia constitucional (que já havia sido
inspirada em João Sem Terra e na sua Magna Carta de 1215).
Ora, justamente porque essa 3ª Solução é constituída por Doutrina sempre recu-
sada e excluída, nessa galáxia vamos topar com axiomas que exprimem, perfeitamente,
o mundo ideológico, amoral, em que vivemos. Exemplos: ‘judex supra legem’ (o que
implica a existência estrutural de duas classes societárias distintas: a dos dirigentes e a
dos dirigidos, a docens e a discens; e a existência de dois tipos de Justiça: a dos deten-
tores dos Poderes e a dos súbditos); ‘a culpa morreu solteira’ (o que significa que os
tubarões, responsáveis por desvios ou processos fraudulentos, nunca são julgados e
condenados em Tribunal: o peixe grande come o miúdo, segundo a ‘struggle for life’
darwiniana). A cartilha da organização e (dis)funcionamento das Sociedades, nessa ga-
láxia, mistura a saúde e a doença, a normalidade e a insanidade; mistura-se o bem e o
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mal; ao lado do considerado são e normal, o que alastra e acaba por prevalecer é a ‘cor-
ruptionis lex amoralis’.
A filosofia ideológica da Cultura do Poder-Condomínio parte do pressuposto
(errado, falacioso e embusteiro) de que os Poderes (constituídos…) podem fazer tudo,
converter a virtude em vício e vice-versa; e que o Saber só existe em função do Poder e
da Dominação (sobre os outros e sobre o Planeta). Neste horizonte, engendraram a ideo-
logia (teológica) de um Universo infinito, que, por paralaxe, gerou também um universo
humano sem limites.
Ora, a endoutrinação dogmática do ‘Deus creator omnium rerum’ constitui a
quint’essência da religião laica do Objectivo-Objectualismo: é o seu fecho de abóba-
da!... O que os Gnósticos judeo-cristãos recusaram, com imensa sensatez, foi precisa-
mente essa Divindade criadora (típica das três religiões d’‘O Livro’). A essa Divindade
davam eles o nome eufemístico e sarcástico de Demiurgo, que, supostamente, exercia as
funções da omnipotência e da omnisciência, bem como a do controlo sobre o cosmos. O
deus, que para os Gnósticos contava, era o pai de Jesus, dito ‘o Cristo’, que é, igual-
mente, o pai geral dos Humanos, qua tais, e que, afinal, integra o 3º pilar dessa rea-
lidade trinitária que é a Consciência Individual-Pessoal.
Com efeito (e para além de todas as ilusões e equívocos), no universo humano,
tudo tem os seus limites, a própria vida. Nos anos ’60 do séc. XX (as conclusões são de
1968), o célebre ‘Clube de Roma’, ao discutir as duas problemáticas do confronto entre
Crescimento e Desenvolvimento, (na Economia política), já se dava conta e argumen-
tava, fundadamente, que o próprio crescimento económico tem os seus limites, visto que
os recursos da Terra não são infinitos. A miséria e a pobreza (em lugar de diminuir…)
continuam a grassar no Mundo, de modo assustador e trágico, porque a Economia polí-
tica é balizada e (des)orientada pelo catecismo do Objectivo-Objectualismo; não é
concebida e estruturada em função dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos. É o Sistema capi-
talista, em toda a sua selvajaria predatória.
7. ─ A formação de uma vera e autêntica Responsabilidade Colectiva (v.g. de
uma Economia nacional, de um Estado-nação) é, sistemicamente, obstruída e aniquilada
pelo catecismo, em curso, da religião laica do Objectivo-Objectualismo. Enquanto for
este o estado das coisas, na organização e (dis)funcionamento das Sociedades humanas
e no Mundo, o sonho da Democracia directa e participativa ficará sempre adiado para
as calendas gregas. Ao mesmo tempo, a gramática do Psico-Sócio-Ânthropos não pode-
rá cumprir-se, de acordo com a especiação biológica, na história da Antropogénese, que
fez emergir, definitivamente, o ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Somos, em suma, uma Espé-
cie adiada, enquanto não tivermos a coragem de rumar em direcção à Democracia di-
recta e participativa.
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Não se venha argumentar, nesta pendência da Democracia directa versus De-
mocracia indirecta, no sentido de justificar a segunda e repudiar a primeira, com o re-
frão tradicional: ‘Ninguém é juiz em causa própria’. Para uma Consciência bem forma-
da, séria e honesta, o juízo numa causa em que o próprio é interveniente ou parte
interessada, é sempre de ter em conta num julgamento global. O provérbio em causa ─
não esquecer ─ é formulado e brandido, precisamente, pelas classes dominantes e, as-
sim, pregado às classes dominadas, que por essa via devem ser mantidas na or-
dem…Enunciado muito diferente é o que sentencia: ‘Não deves fazer justiça pelas
próprias mãos; a questão tem de transitar em julgado’.
No jesuânico ‘Sermão da Montanha’, pode ler-se sobre o juízo e o julgamento:
“Nolite judicare, et non judicabimini; nolite condemnare, et non condemnabimini. Di-
mittite, et dimittemini’ (Lc. 6,37). “O Pai deu-lhe o poder de fazer o Juízo, porque é Fi-
lho do Homem” (Jo. 5,27). Não julgueis e não sereis julgados!... Julgar, efectivamente,
os outros é reduzi-los a objectos e coisas; ora eles são sujeitos criadores e pessoas, tão
responsáveis como nós!
As novas Tecnologias da Informação e da Comunicação, quando, um dia, forem
bem aplicadas, e de modo societariamente adequado às funções que podem cumprir, po-
derão facilitar e abrir caminho às práticas expeditas e fecundas de uma necessária e
indispensável Democracia directa, até como complemento indispensável para as omis-
sões e enviesamentos, negligências e roturas do regime de Democracia indirecta.
Estruturadas sobre o Método do Mecanicismo cartesiano e norteadas pela carti-
lha do Objectivo-Objectualismo, a Cultura e a Ciência (Tecnociência) da Modernidade
ocidental arquitectaram todo um Mundo e uma Sociedade ‘en miettes’, aos quadra-
dinhos, fragmentada em áreas objectivo-objectuais de investigação e pesquisa e em es-
pecialidades profissionais estanquizadas… A tal ponto que Raymond Aron desabafou,
um dia, oximoricamente, que a democracia era um regime político de gente especiali-
zada, dirigido e governado por não-especialistas!...
A formação de uma vera e autêntica Responsabilidade Colectiva tem de ser
preparada na Família (com uma sensibilidade adequada para o efeito); tem de ser, de-
pois, ensinada e aprendida nas Escolas, enquadradas num Sistema Educativo digno do
nome: ou seja, orientado pela gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, e não pela cartilha
do ‘Homo Sapiens tout court’.
Não esquecer que os Obstáculos e Impedimentos maiores à formação da Res-
ponsabilidade Colectiva e à (aí implicada) articulação da praxis corrente da Democra-
cia indirecta e das práticas inovadoras da Democracia directa procedem, estrutural-
mente, do catecismo inveterado do Objectivo-Objectualismo, o qual, como é sabido,
teve historicamente o seu livre curso no Sistema capitalista smitheano, e prossegue,
hoje, a sua odisseia predatória no chamado Neoliberalismo capitalista global.
13
Na Cultura do Poder-Dominação d’abord, as instituições societárias, aí cons-
tituídas (v.g., Bancos, Empresas), têm uma cartilha de funcionamento e de responsa-
bilidade individual/colectiva muito próprios e específicos: as infracções morais e jurí-
dicas só são identificadas e levadas a julgamento (disciplinar ou em tribunal), nos esca-
lões mais baixos da hierarquia societária e, no máximo, nos escalões intermédios. No
topo, vigora o axioma do Direito Romano: ‘judex supra legem’. Desta sorte, as veras
culpas morrem sempre solteiras. Para os escalões de topo, não há responsabilidade co-
lectiva… Eles que, enquanto Chefes e líderes das Instituições em causa, deveriam ser os
primeiros a assumirem as culpas, no caso de infracções graves ou Fraude nas respecti-
vas Instituições.
A Regra geral predominante é a seguinte: Dentro dos espaços/tempos (aprisio-
nados) da Cultura do Poder-Condomínio, uma vez que não há Formação e Educação
para a própria Liberdade Responsável, a Responsabilidade social-colectiva, na pirâmide
societária, vai rareando e vai-se dissipando ao longo das hierarquias: da base ao topo. É
por isso que, quando os Bancos ou as Empresas são arruinados por Fraudes ou abrem
Falência, quem mais sofre são os funcionários de libré ou os trabalhadores manga-de-al-
paca, não o Grupo cimeiro dos Gestores ou Administradores, os quais acabam por tran-
sitar pelo ciclone incólumes e sem perderem os seus haveres.
Objectivo-Objectualismo inveterado e impenitente. A que vai este catecismo
conduzir, no limite, v.g., no sector das novas Tecnologias (ditas ‘progressistas’…) da
Reprodução Artificial (dos Humanos)?!... À eliminação e aniquilamento total do pró-
prio Sentido mais básico e elementar da Vida. Esta encerra duas características funda-
mentais, que exprimem a sua essência: a Vida (é de seres individuais que se trata) tem
fim; a Vida envolve acasos (os quais constituem a fons et origo da nossa Liberdade
Responsável). Ora, à força de contar apenas com a Liberdade, eclipsando a Responsa-
bilidade, o Processo psico-sócio-histórico deixou os humanos entregues à cadeia mais
horrenda e fatalista dos determinismos da Tecnociência e à consequente auto-destruição
da Espécie.
A Tecnociência de Aparelho hodierna, estigmatizada pela ideologia predatória
do Neoliberalismo capitalista global, está a tentar abater e destruir, definitivamente, o
plano horizontal (essencialíssimo) de edificação das Sociedades humanas: as possibi-
lidades e as capacidades de dialogar e interagir, em regime de cooperação e solida-
riedade, uns com os outros; a construção, em suma, de um Mundo solidário, com pro-
gramas discutidos e elaborados em conjunto, onde todas as comunidades (locais, re-
gionais, nacionais, internacionais e planetárias) sejam realmente ouvidas nos seus dese-
jos e exigências. Sob a bandeira, tão cara aos anarquistas verdadeiros: ‘Ni Dieu ni Maî-
tre’! Sobre esta problemática, estude-se, v.g., com cuidado e lucidez, o livro de René
Passet: ‘A Ilusão Neoliberal’ (O Homem é Joguete ou Actor da História?), (Terramar,
Lisboa, 2002).
14
8. ─ Nas Culturas societárias contemporâneas, as Religiões institucionalizadas,
enquanto tais, estão a mais: elas constituem a alienação real das populações e o impedi-
mento estrutural para o acesso aos patamares adequados da Responsabilidade Colec-
tiva (sempre ancorada numa Responsabilidade Individual crítica), à escala de uma
Comunidade nacional, à escala da Comunidade humana internacional/planetária. Este
fenómeno criticista começa a desenhar-se e a tomar corpo na vanguardista Civiliza-
ção/Cultura do Ocidente. (Assistimos, pela televisão, a indícios do fenómeno na Mani-
festação (heterogénea: jovens e gente de idade) de 6.2.2013, em Madrid). As religiões
institucionalizadas e o neoliberalismo capitalista global são duas realidades que se
apoiam e amparam reciprocamente.
Thomas Hobbes, no seu ‘Leviathan’ enganou-se ou pregou-nos uma cilada: Só
fez de conta, para refundar o Poder de Estado moderno, que o mundo da Religião se
poderia dispensar. Procedeu como depois ocorreu com A. Smith, que converteu as
virtudes em vícios e vice-versa. Esteve muito longe da sua mente um vero processo de
Desconstrução das religiões institucionalizadas (v.g. à Jacques Derrida). Nesse hori-
zonte de confusão, se a Religião institucionalizada operava em regime de ditadura, o
Poder instaurado no Estado tinha de seguir o mesmo catecismo; mais, tinha de vestir
segundo o guarda-roupa do Poder absoluto, uma vez que, na Modernidade, não havia
outro Poder além do seu.
Neste contexto, o ‘novo regime’ da Democracia (configurado por J.-J. Rousseau
e celebrado por A. de Tocqueville), institucionalizado em mancebia com o Sistema ca-
pitalista smitheano, mesmo nas situações nacionais em que se opôs à Monarquia (ab-
soluta ou constitucional) e se pretendeu republicano, acabou por resultar num fracasso
redondo. Afinal, nem é para nos surpreendermos perante o resultado, visto que o que
predomina, sistemicamente, no funcionamento das Sociedades modernas e na Cultura, é
o catecismo do Objectivo-Objectualismo, alavancado pelo Monismo Epistémico e pe-
la Potestas-Dominação d’abord.
Desta sorte, os regimes de Democracia Representativa Liberal (mesmo nas si-
tuações nacionais em que há um leque plural e alargado de Partidos políticos que, não
raro, ultrapassam a meia dúzia ou a dezena…) acabam (quase) sempre por funcionar se-
gundo a pauta do chamado ‘centrão’: o exercício efectivo do Poder é repartido, ordina-
riamente, entre os dois Partidos maioritários sufragados em eleições periódicas: o do
Centro-Direita, o do Centro-Esquerda (grosso modo).
O ‘centrão’, tão típico e próprio dos regimes de Democracia Representativa
Liberal encontraram a sua réplica (pasme-se) no regime dito comunista soviético, ainda
em tempo de Lénine, com aquilo que foi, então, registado doutrinalmente (no Leninis-
mo-Estalinismo-Maoismo) com o nome (peregrino…) de ‘Centralismo democrático’.
Este ‘comboio’ encontrou, desde logo, os seus carris de marcha com a simples inversão
dos ‘menschói’ pelos ‘bolschói’, que significou abrir o buraco para plantar a árvore de
15
um Regime centralista ditatorial. Por outro lado, o que foi construído, então, na
U.R.S.S., até à Perestroika de Gorby, não foi socialismo; foi capitalismo monopolista
de Estado. (J.K.G. dixit). Eis por que o ideário da Democracia é sempre elidido e ilu-
dido, nas Sociedades balizadas e regidas pelo Sistema capitalista selvagem!...
Outra questão correlata com o afirmado no parágrafo supra: a prática habitual da
‘Disciplina de Voto’ dos diferentes Partidos no Parlamento. É uma prática comum a to-
dos os Partidos (o que os estigmatiza como aparelhos pertencentes à Cultura da Potes-
tas d’abord). Ora, a disciplina de voto, no Parlamento, constitui uma aberração, pela
negativa e pela positiva. O seu significado estrutural é óbvio: submissão e subserviência
ao Chefe do grupo parlamentar, por parte dos seus iguais. Desta sorte, o actuante res-
ponsável pela Consciência pessoal de cada Deputado, passa a segundo plano, em nome
da Cultura do Poder-Dominação d’abord. Nesta situação, nem sequer se adopta o
método do consenso, para obter a votação comum e unânime do grupo parlamentar em
causa.
Num esquema destes, é muito difícil (se não, impossível) acontecerem mudanças
efectivas reais nas Sociedades. ‘Tudo como dantes… Quartel-General de Abrantes’. Os
Grupos que detêm os Poderes Estabelecidos e o timão da política têm, sistemática-
mente, assegurada a sua continuidade trans-eleitoral. (Atente-se, como exemplo, nessa
Fraude financeira monumental, que foi, desde 2008 a 2013, o BPN, em Portugal: tudo
Gente ligada aos dois Partidos do ‘centrão’. Em consequência disso, o Banco foi nacio-
nalizado e o Estado continuou a investir no ‘Buraco’ milhões de Euros dos contri-
buintes… Até ao presente, ninguém foi julgado em Tribunal… o próprio ‘maestro da
orquestra’, Dr. Oliveira e Costa, foi tratado como um ‘inocente’ sem culpa propriamente
formada!... É a Justiça à portuguesa ─ diz o Povo ─, que já não acredita nos Tribunais.
Neste contexto (que é da ‘Grande Tradição’ lusa) tentar alterar, substantiva-
mente, os rumos da Sociedade portuguesa e rever criticamente a própria historiografia
nacional, tornou-se assunto utópico, um projecto de loucos, logo censurados e reprimi-
dos/negligenciados, por parte das Autoridades constituídas. Foi o que se passou com o
caso do Dr. Alfredo Pinheiro Marques, Director do CEMAR, e colaborador com o
C.E.H.C.. Alterou e renovou, de fond en comble, a historiografia dos Descobrimentos
Marítimos Portugueses, porque é um Bom Historiador, que sabe praticar a chamada
‘História ao 3º Grau’ (como já foi revelado e demonstrado num livro em sua homena-
gem: ‘Mito-História & Épica’, Edicon, São Paulo, 2005).
Saiu, recentemente, (in ‘A Voz da Figueira’, 6.2.2013) um artigo seu em tom
melancólico, marcado por uma justa revolta de uma indizível Indignação. O Autor sabe
que ainda não saímos do odre da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord.
Nesse horizonte, sentenciou com sabedoria: “a História é feita de Memória e de Es-
quecimento, de Desejo e de Morte. A História é feita de silêncio. O historiador é o
que ouve o silêncio da História” (ibi, 15).
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Depois, citando uma carta sua ao Presidente da República, lavrou a recomenda-
ção dos historiadores sérios e honestos: “A tarefa para os historiadores do presente e
do futuro é: despolitizar os ‘Descobrimentos’; recusar as ilegítimas pressões e censu-
ras políticas, a que esta área científica tem estado sujeita; resgatar a figura silencia-
da do Infante D. Pedro. Isto implica a demolição radical das lendas infantis e dos mi-
tos inaceitáveis que têm sido, e continuam a ser, avolumados em torno da figura do
Infante D. Henrique ─ para fazer esquecer a do Infante D. Pedro e, sobretudo, para
fazer esquecer o ‘Príncipe Perfeito’, o Rei D. João II, que foi o verdadeiro respon-
sável pelos Descobrimentos e pela prematura (e, infelizmente, frustrada) moderniza-
ção de Portugal”.
9. ─ A díade, que é ostentada pelo título desta palestra, é de uma extrema impor-
tância e decisiva, em si mesma; e é-o, igualmente, no que tange o seu postulado: real-
mente, se a díade for respeitada e cumprida, não haverá ‘Tertium datur’: não haverá ne-
cessidade de constituir e fomentar soluções híbridas, que, em matéria de Psico-Sócio-
Cultura, só enfraquecem e anulam as veras e autênticas soluções/posições (adequadas).
Já foi revelado e demonstrado que a díade em causa (se e quando honestamente
cumprida e praticada) atirará para o caixote do Lixo da Psico-Sócio-História todas as
soluções decorrentes ou emparentadas com o Regime da Democracia Representativa Li-
beral, erigido em modelo hegemónico e único, na organização das Sociedades humanas.
Agora, o que é mister pôr em xeque é essa distinção corrente falaciosa entre o público e
o privado.
O primeiro vocábulo (na distinção) está mal aplicado (em termos linguístico-se-
mânticos) e é trapaceiro. A expressão que aí deveria figurar é outra: o comum. Até K.
Marx nos ensinou isto mesmo (nos ‘Grundrisse’), quando estabeleceu que a melhor tó-
pica para a individuação/individualização do indivíduo (humano) era, justamente, a do
espaço comum ou da comunidade.
Neste horizonte, as famigeradas (e sempre detestáveis) P.P.P.s (Parcerias públi-
co-privadas) devem ser, sistemicamente, exorcizadas e banidas, visto que incorrem
num duplo erro: a) enganaram-se no léxico e deixaram todo o Sistema armadilhado; b)
juntaram, na fórmula, o que é realmente incompatível e, por isso, tem de manter-se
separado. O chamado ‘espaço público’ envolve um serviço comum, prestado à Comuni-
dade nacional, em nome do Estado. Aí não pode funcionar a lei do Lucro sans am-
bages; estará, no limite, sempre condicionada pela simples manutenção das estruturas
institucionalizadas do Sistema público (= comum). É muito diferente a situação nos
espaços do Privado, onde a lei do Lucro poderá funcionar ─ claro ─ dentro das pautas
da Moral e do Direito.
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Eis por que as PPPs, enquanto soluções providenciadas, para a política econó-
mica, por parte do Estado, constituem um Erro grave. Estão condenadas à partida, uma
vez que induzem e representam a promiscuidade e a selvajaria institucionalizadas. A
simples presença do mais forte, em conluio com o mais fraco, leva, sistemicamente, em
regime capitalista, o segundo à vigarice e o primeiro à corrupção e ao cambalacho.
Entre o Público e o Privado há, de facto, diferenciações qualitativas e estru-
turais, que não é legítimo eclipsar ou apagar. O espaço público (= comum) tem, como
função e missão, servir a Sociedade, em nome do Estado, que enquadra e orienta a pri-
meira, objectivamente. Por seu turno, o espaço privado acha-se, por definição, aberto
aos interesses individuais, ligado, portanto, ao lucro (legítimo) e ao mercado, própria-
mente dito.
A Modernidade ocidental, sob o pálio (que perdura…) do Dualismo metafísico-
-ontológico, tornou-nos incapazes de pensar a Evolução da Humanidade e das Socie-
dades humanas, uma vez alcançado o 2º patamar da Antropogénese (o do ‘Homo Sa-
piens//Sapiens’), de prosseguir a Evolução cósmica, agora no horizonte da Cultura (ho-
rizontalmente), sem o recurso aos ‘eternos retornos’ do costume. A pretensão da Tec-
nociência vai na esteira dos determinismos (e das hierarquias…) hegemónicos e absolu-
tos. E não tomamos consciência de que a Liberdade Responsável não existiria sem a
concomitante esfera dos Acasos e Oportunidades, que juncam e preenchem a odisseia
grandiosa da Vida (e da Morte…).
Num romance ecléctico e enorme (são 1023 pp.), de uma densidade esmagadora
e inteligência penetrante, Thomas Pynchon (‘Arco-Íris da Gravidade’, Bertrand Editora,
Lisboa, 2012) tem cinco pp. deslumbrantes (723-727), de que vamos pinçar alguns res-
pigos, para ilustrar esta nossa problemática. Começou por evocar Teilhard de Chardin
contra as teorias tradicionais do Retorno.
“Aqui para dizer que a massa crítica não pode ser ignorada. Logo que os meios
técnicos de controlo tenham atingido uma certa dimensão, um certo grau de estarem
ligados uns aos outros, as hipóteses de liberdade acabaram para sempre. A palavra dei-
xou de ter significado” (p.723).
O Autor alude, a seguir, à ‘Missa Crítica’, na atmosfera ideológica de 1945,
quando surdia uma sorte de Bomba Cósmica a estremecer na sua alvorada, ainda em
diálogos restritos de gente muito bem informada para gente bem informada “ ‘Penso
que há agora uma terrível possibilidade, no Mundo. Não podemos fingir que há-de pas-
sar, temos de enfrentá-la. É possível que Eles não venham a morrer. Que esteja agora ao
alcance do estado da arte d’Eles persistir para sempre ─ embora nós, claro, continuemos
a morrer como sempre o fizemos. A morte foi a fonte do Poder d’Eles. Foi-nos bastante
fácil ver isso. Se aqui estamos por uma vez, somente por uma vez, enquanto é claro que
estamos aqui para colher o que conseguirmos enquanto pudermos. Se Eles tomaram tan-
to a mais, e o tomaram não apenas da Terra mas também de nós ─ bom, porquê invejá-
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-los, se Eles estão tão condenados a morrer quanto nós? Todos no mesmo barco, todos
debaixo da mesma sombra… sim… sim. Mas será isso efectivamente verdade? Ou será
a melhor, e mais cuidadosamente propagada, de todas as mentiras d’Eles, conhecidas e
desconhecidas?’ (p.724).
‘Teremos [então] de passar a considerar a possibilidade de que apenas morrere-
mos por Eles quererem que o façamos: por Eles precisarem do nosso terror para a sua
sobrevivência. Somos as suas colheitas…
‘Isso deve alterar radicalmente a natureza da nossa fé. Pedir que mantenhamos a
fé na mortalidade d’Eles, a fé em que também Eles choram, e têm medo, e sentem dor, a
fé em que eles estão somente fingindo ser a Morte sua serva ─ a fé na Morte enquanto
regente de todos nós ─ é pedir uma ordem de coragem que eu sei estar para além da
minha própria humanidade, embora não possa falar pelos demais… mas em vez de
procedermos a esse salto de fé, talvez venhamos a optar por fazer frente, por combater:
por exigir, àqueles por quem morremos, a nossa própria imortalidade. Eles poderão já
não morrer na cama, mas talvez possam morrer ainda de violência. Se não, pelo menos
podemos aprender a negar-lhes o nosso medo da Morte. Para todo o tipo de vampiro, há
um tipo de cruz. E pelo menos as coisas físicas que Eles tomaram, da Terra e de nós,
poderão ser desmanteladas, demolidas ─ retornadas ao sítio de onde todas elas vieram’
(p.724).
‘Acreditar que cada um d’Eles morrerá pessoalmente é acreditar também que o
sistema d’Eles morrerá ─ que alguma possibilidade de renovação, alguma dialéctica,
continua a operar na História. Afirmar a mortalidade d’Eles é afirmar o Retorno. Tenho
vindo a indicar certos obstáculos ao modo de afirmar o Retorno…’. ‘Soa como uma re-
núncia, e o padre parece assustado’ ” (p.725).
“ ‘De momento estou envolvido no exercício da ‘Natureza da Liberdade’ sabe,
pensando se alguma acção minha será verdadeiramente minha, ou se eu apenas faço
sempre aquilo que Eles querem que eu faça… independentemente daquilo em que eu
acreditar, está a ver… Deram-me o velho problema do Controlo-Rápido-Implantado-na-
-Cabeça-ao-Nascer para eu matutar nisso ─ como uma espécie de koan, suponho’ ”
(p.727).
O Autor do Romance melodramático debate-se, desesperadamente, numa luta
imaginária/real, semelhante à luta entre Jacob e o Anjo; exaspera-se, pateticamente, na
exploração mais aprofundada desse círculo quadrado, desse feixe de contradições es-
truturais, que é a Cultura do Poder-Dominação d’abord. Mas não se lembra que é
absolutamente necessário e indispensável romper o odre da sempiterna Cultura do Po-
der-Condomínio, ─ condição sine qua non, para podermos aceder à Cultura da Liber-
dade Responsável primacial e primordial. De contrário, nunca sairemos da ‘Prisão’
que é ─ como dizia K. Marx ─ a Sociedade das duas classes sociais antagónicas:
opressores//oprimidos; docentes//discentes; exploradores//explorados.
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10. ─ A Economia política (à escala de um Estado/Nação, ou à escala de uma
‘Confederação’, que deveria ser a U.E.) é um processo dinâmico, não estático, como é
pressuposto nos programas protocolados pela Troika, para os países em risco de falên-
cia. Nesta situação, os programas de Austeridade (sem crescimento e sem desenvolvi-
mento: apenas a recessão em espiral) convertem-se num processo de austericídio, a cur-
to, médio e longo prazos. Para levar a cabo um vero ‘saneamento financeiro’, os Gover-
nos dos Estados em causa carecem de Disciplina e uma boa gramática de Regras para
configurar um ‘O.G.E.’ adequado; e adoptar atitudes exemplares e actuações democráti-
cas, perante os seus concidadãos.
É preciso e urgente desmitificar todas essas políticas puramente contabilísticas
da Austeridade, que, segundo a mais elementar gramática da Economia, redunda numa
falácia e um logro. A percepção estática da Austeridade (o seu vero nome é Disci-
plina… o contrário da atmosfera ideológica engendrada pelo Sistema de Democracia
representativa liberal, conluiado com o Capitalismo), que tem sido adoptada pela Chan-
celer alemã e pela Troika, para os países com ‘dívida soberana’, constitui um Erro fatal,
para os ditos países: evita e impede os processos de crescimento e de desenvolvimento
desses países; e deixa as respectivas populações frustradas e humilhadas.
E as atitudes pessoais de ordem psico-social também fazem parte da gramática
elementar da Economia política. Este fenómeno é tanto mais agravado e fortalecido, ne-
gativamente, quanto cresce a indignação e a consciência dos trabalhadores e das popula-
ções, que se dão conta de que os referidos programas de Austeridade são, básica e
supremamente, planos ideológicos, que vão no sentido de uniformizar a marcha das
Economias nacionais, segundo a cartilha do Neoliberalismo capitalista global, inexo-
ravelmente imperialista.
Não se pode esquecer que o programa ‘menos Estado = melhor Estado’ (como
foi adoptado pelo Gov. português, fiel mandatário da Troika e, até, mais papista que o
papa), o que pretende, realmente, é recuperar o Estado Autoritário e tirano, reduzindo
incrivelmente o chamado ‘Estado Social’ (previsto e configurado na Constituição da
República Portuguesa). Dentro deste quadro, os países com ‘programa de assistência fi-
nanceira’ são convertidos em protectorados dos ‘Grandes’, segundo a pauta do Impe-
rialismo, à rebelia do que está estabelecido na ‘Carta das Nações Unidas’ (de 24 de Out.
de 1945), e, muito especificamente, no estatuto do ‘Fundo Monetário Internacional’ (In-
ternational Monetary Fund, enquanto Agência Especializada).
11. ─ No presente, a situação económico-política de Portugal é contraditória e
absurda, sem fim à vista a não ser o afundamento crescente da Nau. As promessas de
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que, após dois ou três anos de Austeridade suicida, virá a bonança do crescimento
económico, não passa, no fim de contas, de uma falácia e um embuste. A Constituição
da R.P. (de 25 de Abril de 1976) deliberou e edificou um Estado social razoável. Ago-
ra, o que o Governo da Nação pretende é o seu desmantelamento: externamente, por
imposição imperialista da Troika; internamente, por acção e conivência dos dois Parti-
dos rotativos do ‘Centrão’ (PSD e PS), ─ cujas soluções vão no sentido de manter o
situacionismo, sob a bandeira do Neoliberalismo capitalista global, e prosseguir na ló-
gica da construção do Império, à escala mundial, através dos chamados ‘mercados de
capitais’ que, por definição, são ditaduras (como deveria saber Angela Merkel e tutti
quanti).
A situação lusa é tão dura e complexa, que, há ca. de 2 semanas, assistimos a um
PS (na Oposição) dividido, internamente, em duas facções: a de António José Seguro
(secretário-geral eleito no último Congresso) e a de António Costa (presidente da C.M.
de Lisboa). Ora, quando o País precisa, absolutamente, da união dos três Partidos da Es-
querda (PS, BE, PCP e Verdes), A.J.S. procura assegurar, também ele, a operação ‘re-
gresso aos mercados’, mediante a garantia declarada de que, uma vez governo, manteria
o curso estabelecido pelos credores. Eis por que Francisco Louçã está certo, na sua
perspectiva criticista (in ‘Expresso’, 2.2.2013, p.33): “O situacionismo tornou-se, assim,
panache, o que adensa o nevoeiro cínico em Portugal: muitos dos que sabem que esta
política arruína o país, clamam pela sua prossecução a todo o vapor. Há uma oposição
cuja estratégia é camaleónica”.
O doutor em Economia política (e ex-dirigente do BE) sabe que, na defesa do
Estado Social, consagrado na C.R.P., há uma linha vermelha, da qual não se pode abdi-
car, transgredindo-a. Essa linha mexe directamente com os Indivíduos-Pessoas/Ci-
dadãos, que não podem ser presas e vítimas do Objectivo-Objectualismo da Contabili-
dade pública. Por isso, na situação presente, a recusa do memorando e a reestruturação
da dívida portuguesa constituem um mandato indeclinável.
Eis por que está na linha certa F.L., ao asseverar (ibidem): “a questão política
maior, que vai definir a Esquerda nos próximos anos, é sempre esta: a defesa do Estado
social na saúde e na educação, na reforma consistente da segurança social e na pro-
tecção dos salários e da equidade fiscal, tem como linha vermelha a recusa do memo-
rando e da estratégia de falência social que ele promove.
“É do lado de cá dessa linha que se têm de fazer corajosas alianças para um go-
verno de esquerda: sem cortar na despesa dos juros não haverá ‘regresso às pessoas’, e
por isso a reestruturação da dívida é a chave da solução de governo para Portugal”.
Passando por todas as revoluções socialistas frustradas (desde 1848), hoje em
dia (na história do Ocidente), é mais do que tempo de começar a construir o Socialismo
verdadeiro, como defendem as 3 correntes políticas do BE, que agora se acham em
processo de união, com vista à preparação do Congresso Democrático das Alterna-
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tivas (CDA), previsto para Maio próximo, sob o signo: ‘Vencer a Crise com o Estado
Social’. (Cf. ‘Exp.’ cit., p.12).
Foi, entretanto, preparado, por dirigentes políticos do BE, um Documento crítico
e orientador, que dá pelo nome Plataforma Política Socialismo, com o intuito de abrir
caminho aos militantes para o CDA de Maio próximo. Pretendem os dirigentes do BE
construir uma Alternativa ao actual Governo, convertendo o BE num ‘partido de mas-
sas’ e dotado de consistência a longo prazo.
“A actual crise separou águas, mostrou ‘a falência do mercado’ e ameaçou o es-
tado social. Em Portugal, ‘a troika mudou todos os referenciais do debate político’ e
separou definitivamente as águas. ‘No contexto dos memorandos, a política já não per-
mite a presunção de meios caminhos’, diz o manifesto. O objectivo é formar um gover-
no antitroika, de matriz ideológica à esquerda e capaz de captar a onda de indignados
que se levantou no país” (Rosa Pedroso Lima, ibidem).
Entretanto, convirá advertir nas inércias da praxis societária corrente, no que
tange a necessária articulação entre as Manifestações e a crítica da governação, por elas
desencadeada, dum lado, e do outro, as formações partidárias da Oposição ao actual Go-
verno, e a sua possibilidade real, não só de aumentar o score eleitoral (em próximas
eleições), mas também de entenderem-se reciprocamente, num adequado programa de
Governo conjunto. Nesta óptica, não seria despicienda a ideia de se promover, previa-
mente, uma sorte de ‘Estados-Gerais’ dos Partidos de Esquerda; e, no concernente ao
CDA de Maio próximo, abrir a possibilidade à participação dos outros Partidos de Es-
querda.
Como pauta orientadora, nunca se poderá esquecer, hodiernamente, que o vero e
autêntico Socialismo se edifica com e a partir dos Sujeitos humanos livres e respon-
sáveis; e não segundo a cartilha tradicional da religião laica do Objectivo-Objectua-
lismo.
Curiosamente, esta principiologia já estava indiciada (no século XV) na famosa
carta do Infante D. Pedro a el-Rei D. Duarte, seu irmão, expedida a partir de Bruges,
onde o 1º recomendava ao 2º que era errado e de mau conselho ‘trocar boa capa por
mau capêlo’, ─ afinal, a mesma denúncia que, no séc. XX, fez António Sérgio: o povo
(luso) do comércio e dos entrepostos, que negligenciou e abandonou as suas próprias
raízes. Deve, portanto, saber-se que o 1º princípio de toda a boa Economia política é o
de contar, na base ou na fonte, com as suas próprias forças ou recursos.
12. ─ Há três Erros/Categoria, na organização e no funcionamento das Econo-
mias políticas nacionais, hodiernamente, os quais levaram ao paroxismo e à hecatombe
os processos e as instituições que marcharam sob a bandeira do Neoliberalismo global:
22
A) Cada Estado/Nação foi impedido de actuar, segundo o Princípio d’ouro (na
gramática da Economia política): contar, antes de tudo, com a sua própria Identidade,
com as suas próprias forças e recursos. Uma situação viciosa desta dimensão conduz os
países mais fracos e menos desenvolvidos a submeterem-se às Regras e Decisões dos
países mais fortes e mais desenvolvidos. O resultado do Processus é óbvio: o que se
constrói no horizonte da Economia política, é Império e Imperialismo ao serviço dos
Grandes e das Hiper-potências!...
B) A ideologia do Dinheiro como mercadoria, ─ mais, como a supermercadoria
substantiva, Alavanca de Arquimedes de todas as restantes mercadorias. Ora, essa ‘mer-
cadoria especial’, na tradição cultural/crítica do Ocidente, não é mercadoria em última
instância: é, outrossim, meio de troca geral, para todo o mundo das mercadorias trocá-
veis. E, aqui, o Sistema capitalista não faz outra coisa senão reforçar e encarniçar o Er-
ro-Categoria. Marx avisou. De resto, toda a sua obra crítica da Economia política capi-
talista/tradicional ainda hoje é válida e fecunda.
C) A religião laica do Objectivo-Objectualismo que, ao reduzir os Sujeitos hu-
manos (livres e responsáveis) a puros Objectos e Mercadorias, acaba por moldar e
arquitectar uma Economia política, centrada sobre a objectividade da Tecnociênca de
Aparelho, a tal ponto que os Sujeitos humanos, qua tais, são postergados e irradiados
do caminho das Economias políticas nacionais. Por isso, se fala, aqui, de crescimento
económico, medido em números estatísticos na área da Finança. Pouco ou nada se diz
sobre Desenvolvimento, visto que esta noção tem a sua referência, necessária e indis-
pensável, no campo operativo dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos, qua tais.
O Sistema capitalista hegemónico (ele é-o, por definição, na fase do Neolibe-
ralismo global) não sabe operar com os diferentes países em-pé-de-igualdade moral e
jurídica, como, por exemplo, no Grupo do Euro, dentro do quadro da U.E.. Há só um
modelo a seguir: a construção do Império e a ideologia imperialista: os países peque-
nos submetem-se aos Grandes, num esquema hierárquico e verticalizado. Em termos
jurídicos, significa esta tendência inercial que a gramática da Confederação da U.E.
(em lugar da simples Federação) não tem possibilidades de vingar e fazer caminho, ─ o
que, mais cedo ou mais tarde, irá conduzir ao esboroamento da própria U.E..
Surpreendeu-nos (pela positiva) o discurso crítico de António Costa (presidente
da C.M. de Lisboa), no programa ‘quadratura do círculo’ (de 3.2.2013): “[…] A situa-
ção a que chegámos não foi obra do acaso. A União Europeia financiou durante muitos
anos Portugal, para este deixar de produzir. Não foi só nas pescas, não foi só na agri-
cultura; foi também na indústria, por ex., na têxtil. Nós fomos financiados para des-
mantelar a têxtil, porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a
Alemanha), queriam todos os grandes que nós abríssemos os nossos mercados aos têx-
teis chineses, basicamente porque, ao abrir os mercados à têxtil chinesa, eles exporta-
23
vam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil, que nós deixávamos
de produzir”.
Acrescente-se que até a P.A.C. (de longa tradição) sofreu rudemente, com esta
viragem no sentido da ideologia do Império (o vezo neocolonialista não desapareceu no
Ocidente europeu…): Asseguradas as patentes das invenções tecnológicas e o know-
-how da Tecnociência de Aparelho, a fabricação das mercadorias poderia ser entregue
a países de mão-de-obra barata, como a China. É, de resto, a aplicação do princípio
geral da Divisão social do Trabalho, agora operacionalizada pelos Grandes, à escala
mun-dial. Como é sabido, o Capitalismo é esperto e sagaz!...
Continua A.C. (ibi): “Nós orientámos os nossos investimentos públicos e priva-
dos, em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em
função dos subsídios que foram dados, e em função do crédito que foi proporcionado. E,
portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos, em função de
uma política induzida pela União Europeia. Assim, podemos todos concluir, e acho que
devemos concluir, que errámos, mas eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral
dos portugueses. Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia, e a U.E. fez essa
opção porque a U.E. entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser
simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!”. No fundo desta pro-
blemática, assoma o postulado: a U.E. deveria constituir-se como Confederação de Es-
tados e orientada para o vero Socialismo. Os problemas específicos emergentes encon-
trariam, assim, a sua solução adequada.
A.C. pôs o dedo certeiro nas feridas graves, desestruturadoras da Economia na-
cional lusa. Precisamente nas que tiveram a sua origem fora do país. Ao mesmo tempo,
ele não esqueceu as doenças endógenas, ao afirmar (ibidem):
“A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a vi-
ver acima das suas possibilidades, é um embuste enorme. Esta mentira só é ultrapas-
sada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um
castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Fraudes colossais. Nem os portu-
gueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável.
“Quem viveu muito acima das suas possibilidades, nas últimas décadas, foi a
classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é o Orça-
mento do Estado. A administração central e local enxameou-se de milhares de ‘boys’,
criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A
este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção”.
A.C. conclui o seu Depoimento crítico como segue (ibidem): “Enquanto isto, os
portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas
possibilidades. Não devemos, pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas
públicas. Devemos, antes, exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que
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renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir or-
ganismos… Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penali-
zar os cidadãos”. ─ Um discurso penetrante; em todo o caso, ‘moderato ma non troppo’,
nas suas intencionalidade e estratégia.
O discurso político e a linguagem corrente de hoje são ominosos, sem nervuras,
uma vez perdida a coluna vertebral dos anos ’60 e ’70 do séc. XX. Com o seu instinto
de vendedor da banha da cobra (com uma ideia da política polarizada na relação Capo//
//Popolo), o recidivo Berlusconi, que fez da televisão e dos media o seu barco de salva-
mento, decidiu enfrentar, nas próximas eleições italianas de fins de Fevereiro/2013, o
seu adversário maior da união das esquerdas, Pier-Luigi Bersani. As sondagens do
‘Corriere della Sera’, de 1 de Fev. passado, atribuíam-lhe a percentagem de 27%, contra
32,8% para P.-L.B..
Estamos longe de viver em Democracia a sério, nesta velha Europa. As ‘ditadu-
ras’ de hoje já não são políticas, mas mediáticas… uma sorte de ‘3ª via’ entre a Demo-
cracia e a Ditadura!... Com dilúvios de demagogia no Refeitório!...
Evocando as crónicas de Umberto Eco (entre 2000 e 2005), em torno do ‘regi-
me’ de Berlusconi, Luciana Leiderfarb escreveu, acertadamente (in ‘Expresso’/Atual, de
9.2.2013, p.35): “ ‘Cada época tem os seus mitos. A época em que nasci tinha como mi-
to o Homem de Estado, a dos que nascem hoje tem como mito o Homem da Televisão’,
escreveu Umberto Eco em 2004, explicando que ‘as ditaduras do nosso tempo, a existi-
rem, têm de ser ditaduras mediáticas, e não políticas’. O consenso assegurado pela TV
(e não pelos jornais) não se alcança por via da censura; necessita da crítica e da oposi-
ção. Qualquer discurso vive da forma como está organizado, e, no caso das notícias
televisivas, basta escolher o que se coloca em primeiro e em último lugar. ‘Quando se
discute uma lei, a televisão enuncia-a e dá de imediato a palavra à oposição […]. De-
pois, volta a transmitir o ponto de vista dos defensores do Governo, que objectam contra
as objecções da oposição. O resultado persuasivo é invariavelmente o mesmo: o último
a falar tem sempre razão’, analisa o medievalista. Na verdade, ao regime ─ Eco utiliza a
expressão ‘regime de facto’ sempre que fala de Berlusconi ─ basta-lhe que a oposição
ocupe um certo lugar retórico, não que desapareça”.
Num horizonte crítico (a contrastar com esta atmosfera ideológica insonsa, sem
rumo nem norte), sob a bandeira do Pensamento Não Convencional, Joseph Stiglitz
tece um discurso de sensatez crítica sobre a terrível Complacência (que chega à Cum-
plicidade…) vis-à-vis de um Mundo sem Líderes (cf. ‘Exp.’ cit., Cad. Ec., p.32).
Quando, na própria cimeira anual de Davos (para a Economia mundial), os diri-
gentes responsáveis presentes (em 2013) se queixam de que não há liderança mundial,
o que nos resta é que se cumpra mesmo o irónico prolóquio do Evangelho: ‘Medice, cu-
ra te ipsum’!... Também esses ‘responsáveis’ se dão conta do actual ‘Zeitgeist’ ou ‘L’es-
prit du temps’.
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“Com a política dos EUA paralisada pelas infantis birras políticas dos republi-
canos, e a Europa focada em garantir a sobrevivência do mal concebido projecto do
euro, a falta de liderança global foi uma das queixas principais em Davos. Nos últimos
25 anos, movemo-nos de um mundo dominado por duas superpotências para outro do-
minado por uma só, e agora para um mundo multipolar e sem líderes. Embora possamos
falar sobre o G7, o G8, ou o G20, a descrição mais correcta é GO. Teremos que apren-
der a viver, e a prosperar, neste novo mundo” (idem, ibi).
Se todos os Estados/Nações fizessem ‘a coisa certa’, todos os povos poderiam
partilhar os benefícios sócio-culturais e económicos do processus de Globalização e da
Revolução Tecnológica em curso.
Evocando um especialista, independente e crítico, em matéria de Desenvolvi-
mento dos povos, Stiglitz escreve (ibidem): “ ‘O Ocidente nunca teve qualquer autori-
dade moral’. O colonialismo, a escravatura, a fragmentação de África em pequenos paí-
ses, e uma longa história de exploração de recursos podem ser assuntos de um passado
distante para os agressores, mas não tanto para aqueles que sofreram com isso”.
O ‘Premio Nobel em Economia’ não se esqueceu de enfatizar, para um adequado
Desenvolvimento económico, a importância da negociação colectiva e dos salários
mínimos como instrumentos de um Processo eficiente e fecundo, no sentido de reduzir
as desigualdades económico-sociais (ibidem).
“Mesmo na China e noutras partes do mundo com sectores industriais crescen-
tes, as melhorias na produtividade ─ muitas vezes relacionadas com uma automati-
zação de processos, destruidora de postos de trabalho ─ são responsáveis por grande
parte do crescimento da produção. Os que mais sofrem são os mais jovens, cujas pers-
pectivas de vida serão gravemente afectadas pelos períodos prolongados de desemprego
que hoje enfrentam” (idem, ibidem).
Nas últimas três décadas, sob a bandeira do Neoliberalismo capitalista global, o
que vigorou, hegemonicamente, foi o capitalismo selvagem. As novas tecnologias da
Informação e da Comunicação foram atiradas para o Mercado, em cascata e multitu-
dinariamente, em busca de Lucro fácil e imediato. Em suma, de modo desadequado.
Esta problemática foi por nós desenvolvida no nosso Livro ‘Em torno das Novas Tec-
nologias e da Nova Economia’ (Edicon, São Paulo, 2000).
Referindo-se ainda ao Forum de Davos, J.S. registou as preocupações da maior
parte dos presentes em torno da sobrevivência do euro, nos seguintes termos: “A nota
dominante foi de complacência ─ ou mesmo de optimismo. A ‘jogada de Draghi’ ─ a
noção de que o Banco Central Europeu, com a sua disponibilidade financeira, poderia
fazer e faria o que fosse necessário para salvar o euro e cada um dos países em crise ─
parece ter funcionado, pelo menos por uns tempos. A calma temporária forneceu algum
26
apoio aos que afirmavam que o que era necessário, acima de tudo, era uma restauração
da confiança. A esperança era de que as promessas de Draghi fossem um modo sem
custos de fornecer essa confiança, porque nunca teriam de ser cumpridas” (ibidem).
Por outro lado, “os críticos salientaram repetidamente que as contradições fun-
damentais não tinham sido resolvidas, e que se era suposto que o euro sobrevivesse no
longo prazo, deveria ser criada uma união fiscal e bancária, o que obrigaria a um nível
de unificação política superior ao que a maioria dos europeus está disposta a aceitar.
Mas muito do que foi dito durante e entre as reuniões reflectiu uma profunda falta de
solidariedade. Um funcionário governamental de muito alto nível de um país do norte
da Europa nem sequer pousou o seu garfo, quando um companheiro de refeição salien-
tou que muitos espanhóis procuram hoje comida nos caixotes de lixo. Deveriam ter feito
reformas mais cedo, replicou, enquanto continuou a comer o seu bife” (idem, ibidem).
Mais uma vez, convirá sublinhar que, tanto a união fiscal e bancária, como a uni-
ficação política superior, só se poderão efectuar segundo a gramática prescrita pelo mo-
delo da Confederação da U.E., e não pelo modelo vigente da Federação. Este diapasão
pode ver-se induzido e confirmado na tese de Guilherme D’Oliveira Martins (in ‘JL’, 6-
19.2.2013, p.36): “A União Europeia não é um Estado, é uma realidade múltipla, assen-
te em Estados livres e soberanos. O federalismo não pode, assim, confundir-se com cen-
tralismo e tem de basear-se na participação dos cidadãos a todos os níveis”.
13. ─ O Sistema capitalista (sobremaneira nas últimas três décadas de Neoli-
beralismo capitalista global) moldou e modelou os Chefes e os cidadãos/súbditos de
uma forma tão paroxística, que os problemas ecológicos (à escala planetária) e os pro-
blemas do meio-ambiente mais próximo das pessoas não são encarados e resolvidos,
numa palavra, deixaram de figurar na agenda.
O Protocolo de Quioto (que era de índole temporária), assinado em 1997, no âm-
bito da Convenção da ONU para as Alterações Climáticas, chegou ao seu termo em
31.12.2012. A Atmosfera ideológica, hodiernamente reinante, tem um nome: a Lógica
da Avestruz, que decorre dessa religião laica que é o Objectivo-Objectualismo. Esta re-
ligião acompanha a cartilha do ‘Homo Sapiens tout court’ e a mundividência (dualista)
das Religiões (reveladas/positivas) institucionalizadas. É sempre o mesmo Problema
sistémico. Vê-se o texto, mas não o contexto; lobriga-se a árvore, mas não a floresta!...
No seu notável artigo sobre ‘O fim do Protocolo de Quioto: Rumo à grande rup-
tura’ (in ‘JL’, cit., p.37), o filósofo ecologista Viriato Soromenho Marques configu-
rou-nos um painel de Alerta crítico, em torno das Alterações Climáticas em curso, de
tal modo bem enquadrado, que ele bem pode funcionar como um solene toque de gong,
dirigido a todos os responsáveis políticos e administrativos, em todas as escalas: do que
se trata, no eixo da argumentação, é de unificar as duas coisas, a físico-climática e a só-
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cio-política. É que prossegue, sem resposta adequada, (desde 1848), o imperativo cate-
górico da Transformação das Sociedades humanas: o imperativo da Revolução social.
Escreveu (ibi) V.S.M.: “Os dados científicos, que se vão reunindo no caminho
da preparação para o Quinto Relatório do Painel intergovernamental para as Alterações
Climáticas (IPCC, na sigla inglesa), mostram a crescente gravidade da situação. Por este
caminho, corremos o risco de chegar ao final do século com um aumento médio da tem-
peratura que poderá ir até 4º C, ou mesmo mais”.
Constitui um imperativo categórico, de ordem ético-moral, prestar a devida
Atenção a este Alerta. “Há um filão de literatura recente, que explora o tema do colapso
das civilizações, e em particular antecipa o que poderia ser o regresso a uma nova Idade
Média, ainda mais escura e trágica do que a que ocorreu após a queda do Império Ro-
mano, se não formos capazes de conduzir a nossa civilização, global e tecnocientífica,
para patamares de sustentabilidade e sobrevivência”.
Forcejando, justamente, pela unificação das ‘duas crises’ (a físico-climática e a
sócio-política), V.S.M. anda bem avisado, ao escrever (ibidem): “A razão profunda para
esta eventual catástrofe reside no facto de que, hoje, o combate às alterações climáticas
constitui o verdadeiro (e ignorado) fulcro da reconstrução pacífica do sistema interna-
cional, numa perspectiva de equidade e na base do respeito pelo multilateralismo. Infe-
lizmente, os círculos diplomáticos dominantes continuam a viver num mundo de fadas e
monstros de fantasia. Por ex., a famosa ‘guerra do terrorismo’, uma das maiores impos-
turas intelectuais contemporâneas, não passa de um jogo pueril, quando colocada em
confronto com a seriedade do combate às alterações climáticas”.
Na sua argumentação esclarecida e justa, V.S.M. chega a fazer a pergunta ad ho-
minem: “Que condições existirão, sem um acordo climático global, para o fortaleci-
mento do comércio mundial?” (ibidem). A resposta vem no parágrafo seguinte: “Sem
um novo regime climático, correremos o risco de uma vaga geral de proteccionismo,
que aumentará a pobreza e o sofrimento em todo o mundo, particularmente nos países
mais pobres” (ibidem). Claro, continuando em vigor o Sistema capitalista…
Não retiramos um erg à argumentação crítica do Autor, balizando e orientando o
caminho para um Futuro digno da Espécie humana. Mas, para recusarmos de vez a ideo-
logia do Objectivo-Objectualismo (que é, precisamente, a cartilha dissimuladora e ga-
rante, em última instância, do Sistema capitalista), cumpre-nos, igualmente, mudar de
órbita, na concepção científica da Economia política: em vez de esta se dirigir à produ-
ção de objectos/mercadorias e instrumentos de trabalho, ela terá de adoptar outra bús-
sola (primacial e primordial): a satisfação das necessidades vitais e dos desejos legíti-
mos dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos. Conditio sine qua non, para começar a abando-
nar a cartilha do Objectivo-Objectualismo.
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14. ─ Analisámos e esquadriámos, sumariamente, os dois tipos estruturais/es-
truturantes de Responsabilidade (individual e colectiva), que procedem do Psico-Só-
cio-Ânthropos, configurado e estabelecido pela gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’.
E estabelecemos logo, na epígrafe deste estudo, o postulado: Tertium non datur. Não há,
pois, uma sorte de ‘3ª via’ entre os dois tipos de Responsabilidade. Admiti-lo seria
pressupor que as duas Responsabilidades são simétricas. Ora, elas são, em todo o rigor,
assimétricas, ─ o que significa e implica que actuam em patamares ou esferas distintas.
As duas noções/realidades são formadas e estruturadas em esferas diferenciadas, a tal
ponto que não é legítimo (nem ética, nem juridicamente) misturar e confundir as duas
noções, por forma a engendrar uma hipotética ‘3ª via’.
E as SARL (Sociedades anónimas de responsabilidade limitada)?... Não consti-
tuem nenhuma 3ª via entre os dois tipos fundamentais de Responsabilidade. Essas so-
ciedades, via de regra, são instituições criadas no universo das actividades económico-
-comerciais, e a sigla em causa funciona como o invólucro jurídico, que lhes confere o
estatuto de ‘pessoa moral’, em termos jurídicos. Também as Sociedades nacionais e o
Estado, que as envolve jurídico-politicamente, não detêm uma soberania ilimitada.
Como tem sido explicado e argumentado nos trabalhos do CEHC, a Consciên-
cia, no ‘Homo Sapiens//Sapiens’, é uma realidade ternária: Sujeito cognoscente//Objec-
to conhecido//o Divino que assiste e confirma (ou não). É na Cultura (não na Natureza)
que os Humanos acabam por definir-se e formatar-se. A Cultura configura-se no oceano
da Linguagem (a humana terá começado há ca. de 65.000 anos), mediante o Diálogo
dos Indivíduos uns com os outros, e através do Discurso, 1º, in actu exercito, 2º, in actu
signato. É deste painel que procede o conhecido axioma tradicional: ‘Ninguém é juiz
em causa própria’!... Ora, na órbita da Consciência de cada Indivíduo, o 1º e último
julgador legítimo é ele mesmo. Todavia, uma vez que os Humanos vivem em Sociedade
(esta dimensão faz parte integrante da sua natureza e essência/existência), o referido
axioma ganha legitimidade e verdade… mais: ele incita e incrementa o Diálogo e a
Discussão, mesmo em Tribunal, onde é preciso haver ‘contraditório’, para que a decisão
do juiz seja justa e verdadeira.
À escala global de um Grupo ou de uma Sociedade nacional, onde emerge o
fenómeno da Responsabilidade Colectiva, o relacionamento é, por definição, dualista:
Há, dum lado, os Líderes ou Chefes, e do outro, os Indivíduos-Pessoas/Cidadãos.
Na situação da Responsabilidade Individual, uma vez que a Consciência do
Indivíduo é de índole ternária, o axioma supra enunciado pode e deve funcionar. Na si-
tuação da Responsabilidade Colectiva, o axioma referido não tem lugar, porque a es-
trutura societária é dual, e, ordinariamente, nem tem, aí, aplicação aquele lóguion evan-
gélico: ‘medice cura te ipsum’. O que, por conseguinte, tem de concluir-se neste quadro,
é que os Líderes e os Chefes serão avaliados, ou pelo outros elementos do Grupo, ou pe-
los cidadãos, em sufrágio directo e secreto, nas próximas eleições, constitucionalmente
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institucionalizadas. Não pode, entretanto, olvidar-se um postulado essencial e decisivo,
para o bom funcionamento da Responsabilidade Colectiva e seus agentes/actores: os
Líderes ou Chefes devem ser seleccionados entre os melhores de toda a Colectividade;
e, por outro lado, eles devem saber actuar com honestidade e seriedade, com inteli-
gência e boa percepção dos factos e dos processos e das instituições.
Um axioma psico-sócio-antropológico a reter: Quanto mais evolui, sócio-histori-
camente, a Cultura de uma Nação, mais se desenvolve a Autonomia das pessoas e dos
cidadãos. Duas consequências do axioma são: A) A democracia representativa indi-
recta tem de ser corrigida e aumentada pela Democracia directa e participativa; B)
A Responsabilidade individual e a Responsabilidade colectiva não podem mistu-
rar-se e confundir-se, mas terão de ser entrosadas e adquirir uma promoção arti-
culada.
A fons et origo de toda a Responsabilidade é o Indivíduo-Pessoa e sua Cons-
ciência. Não há outra fonte e origem para os que, democraticamente, são chamados a
exercer funções de Autoridade e Mando. Assim, para obter o saneamento moral e jurí-
dico das Sociedades humanas e da Economia política, que nelas disfunciona, é abso-
lutamente necessário assumir e aplicar quatro princípios axiomáticos, a saber:
A) A Democracia representativa/indirecta terá de ser corrigida e aumentada
pela Democracia participativa e directa.
B) Na Economia política, o primado (absoluto) tem de ser atribuído às pessoas/
/cidadãos, como seus destinatários, ─ não aos objectos e mercadorias a produzir e a
consumir, interminamente.
C) Para resolver, definitivamente, os problemas da fome e da miséria, da pobre-
za e da exclusão, não há outra via a seguir senão a formulada em B). Com efeito, os Su-
jeitos humanos/Pessoas não podem ser administrados e governados como se fossem
coisas e mercadorias.
D) Como uma tara (a eliminar progressivamente), a religião laica do Objectivo-
Objectualismo prossegue, infelizmente, a infectar e a corromper a nossa maneira de ver
corrente (e tradicional), em todas as áreas da Vida humana; e, com as consequências
mais trágicas, nos campos da Política e da Economia. A tal ponto que, no universo da
Ciência (volvida em Tecnociência para ser aproveitada pela Economia, alterando os
processos de produção com os novos inventos tecnológicos), sempre se tem atribuído
mais importância e peso aos processos determinísticos (que levam a um Mundo uni-
forme e concentracionário), do que às actuações livres e responsáveis dos Indivíduos-
-Pessoas/Cidadãos, ancoradas na sua Experiência e na sua Consciência.
“Those who sacrifice liberty for security deserve neither”. “Free minds of Amer-
ica and Europe, you have always disappointed us”. “The Libyan people are more im-
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portant”. Estes são slogans encontrados pelo jornalista Robert Draper, inscritos em pos-
ters, nas ruas de Benghazi (Líbia), nas oitavas da revolução, que depôs a ditadura de
Qaddafi, junto da galeria de Mustafá Gargoun (61 anos), o qual mantém a esperança de
que a revolução há-de triunfar, com vista à edificação de uma Líbia Nova. (Cf. ‘Na-
tional Geographic’, Fev. de 2013, pp.58-59).
No encalço da ‘War on Terror’ (de George W. Bush), as tecnologias mais so-
fisticadas, desencadeadas pelo Pentágono e pela indústria bélica, ─ não se pode esque-
cer que elas vão no sentido diametralmente oposto ao 1º slogan do poster citado, o qual
constitui a expressão do bom senso crítico. A ‘guerra contra o terrorismo’ é o facto mais
ignominioso, selvagem e contraditório, que se pode imaginar… Constitui, mesmo, o clí-
max paroxístico da Cultura do Poder-Dominação d’abord: A cartilha que pressupõe é
o ‘come e cala’; ‘obedece e não discutas’!...
Com efeito, a sua cartilha estabelece o primado da guerra sobre a paz; adopta os
meios violentos, para impedir e cortar o caminho que, através da prática do Direito, leva
os Humanos a praticar a Justiça inter pares.
Ora, enquanto a religião laica do Objectivo-Objectualismo pretender balizar e
controlar tudo e mais umas botas (mediante a vídeovigilância e a mais encarniçada so-
fisticação tecnológica), a Humanidade do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ não poderá emanci-
par-se e libertar-se.
Se, na verdade, atribuirmos mais importância e peso aos Determinismos, em
confronto com a Liberdade dos Indivíduos-Pessoas, a Liberdade Responsável nunca
emergirá no horizonte (psico-sócio-humano); e o nosso Mundo (dito, por engano ou de-
magogia, humano) nunca encontrará salvamento e salvação.
15. ─ ‘Nemo dat quod non habet’. Esta é a axiomática espúrea da Tradição cul-
tural do Ocidente. Como se explica ela, em última análise? Porque, na Cultura do Oci-
dente, o que tem vigorado, hegemonicamente, é a Potestas-Dominação d’abord.
Ora, em boa verdade, dá-se justamente o que não se tem. A Economia do Dom é
a mais fundamental e apropriada à Espécie humana segundo a gramática do ‘Homo
Sapiens//Sapiens’. Dá-se o que não se tem, porque se deu o que se é! O Socialismo vero
e autêntico (edificado a partir dos Sujeitos) conjuga o verbo Ser em vez do verbo Ter.
Aí, o primado é do comum, não do privado. Com efeito, o Indivíduo é no meio da Co-
munidade que ele se individualiza. (Como já admitira K. Marx).
Por que se dá, justamente, o que não se tem? Porque para dar é preciso ser; não
é preciso ter!... É preciso ser = Fazer valer o seu Princípio de Identidade pessoal, se-
gundo o provérbio feliz da Escolástica medieval: ‘Bonum diffusivum sui’.
31
Ter e Ser. (Vd. o livro precioso de Erich Fromm: ‘Ter ou Ser?’, Edit. Presença,
Lisboa, 1999). Ter é o verbo conjugado, sistemicamente, pelo Capitalismo. Ser é o
verbo conjugado pelo vero e autêntico Socialismo.
Segundo o Sistema capitalista, as Sociedades produzem, distribuem e consomem
objectos/coisas/mercadorias, a tal ponto… que as Pessoas/Sujeitos são convertidas em
coisas e objectos. De acordo com o vero e autêntico Socialismo, os Sujeitos/Pessoas or-
ganizam-se em Sociedade, para satisfazerem (o melhor possível) as suas necessidades e
exigências vitais e culturais. Aqui, as Pessoas não são convertidas em coisas. Os Su-
jeitos não são transformados em objectos. Há justiça e verdade interpessoais e sociais.
Há pleno emprego, para os Sujeitos (activos) que podem laborar. Não há pobreza nem
miséria. A solidariedade ajudará a eliminar (logo que assomam) as possíveis ‘exclu-
sões’ emergentes.
‘To be or not to be?’ (do Hamlet de W. Shakespeare).
‘To have or to be?’ (a partir do livro citado de E. Fromm).
O 1º dilema é mais extensivo e menos compreensivo.
O 2º dilema é mais compreensivo e menos extensivo.
O 1º pode abarcar as duas gramáticas: a do ‘Homo Sapiens tout court’ e a do
‘Homo Sapiens//Sapiens’.
O 2º dilema só é bem resolvido (mediante a opção pelo Ser), na órbita da gra-
mática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’.
16. ─ Em jeito de Post-Scriptum: Sobre EDUCAÇÃO e INSTRUÇÃO e
Sistemas Educativos nacionais.
● Nas últimas três décadas, deixou-se, generalizadamente, por esse mundo fora,
de assumir e promover a Educação, tanto nas Escolas como nas próprias Famílias. A
própria Instrução é, mecanicisticamente, balizada e orientada para os Artefactos, para
os Objectos e as Mercadorias: para o seu modo de produção, distribuição/comerciali-
zação e consumo (muito menos, no último elo da cadeia… não obstante, o Poder Esta-
belecido e os Mercados fazem recair toda a Responsabilidade final no términus da ca-
deia, o consumidor).
Ora, é preciso e urgente, em contraste com todo esse Processus civilizatório lou-
co e demencial, refundar e implementar os Sistemas Educativos nacionais, nas suas
duas vertentes distintas: Educatio e Instructio: 50% na primeira, e 50% na segunda,
tendo em conta a composição global do currículo. Dispensam-se, perfeitamente, as dis-
ciplinas de Moral e Religião ou de Civismo (se, e enquanto, forem ministradas nos mol-
des tradicionais da Cultura do Poder-Dominação d’abord).
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Do que as Sociedades humanas carecem (primacial e primordialmente), é de to-
do um plano estratégico de salvamento/salvação da própria Espécie Humana ‘Sapiens//
//Sapiens’. Ora, o ‘Homo Sapiens//Sapiens’ é substantivamente configurado e erguido
no horizonte crítico da Cultura, em contraste com a simples Natureza (mas sem exter-
minar a segunda…).
Se não se preencherem, adequadamente, esses 50% de Educatio, no currículo
dos estudantes, para um pleno desabrochar e um eficaz desenvolvimento (auto-cen-
trado) do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (em contraste com o ‘Homo Sapiens tout court’), a
Espécie humana e as suas Sociedades serão tragicamente sabotadas e aniquiladas e cai-
rão em ruínas apocalípticas. Os sinais dos Tempos, em que sobrevivemos, já nos dizem,
claramente, que nos encontramos na Encruzilhada da odisseia psico-sócio-humana.
Torna-se imperioso, por conseguinte, romper esse odre da sempiterna Cultura
do Poder-Dominação d’abord e do ‘Homo Sapiens tout court’, com vista a podermos
aceder à Cultura da Liberdade Responsável primacial e primordial e à sua gramá-
tica própria e específica, que é a do ‘Homo Sapiens//Sapiens’.
Os Partidos políticos tradicionais (que actuam nos Parlamentos ou Assembleias
nacionais) encontram-se em estado patológico: Todos eles (à direita, ao centro, ou à es-
querda do hemiciclo) operam segundo o catecismo do Objectivo-Objectualismo (que
os degenera e torna enfermos). Enquanto não mudarem de bússola e agulha, rumo à
gramática da Espécie Sapiens//Sapiens, as Sociedades políticas ditas (falaciosamente)
humanas não terão conserto.
N.B.: Em homenagem aos tertulianos de Portugal e Brasil e outros Países, no
Mundo, que se têm empenhado em erguer e difundir o CEHC.
Guimarães, 14 de Fevereiro de 2013.
Manuel Reis (presidente do C.E.H.C.)
Lillian Reis (secretária do C.E.H.C.)