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Teoria Geral do Direito Penal – Prof. Ivan Carlos de Araújo 1 Código Penal Nesse semestre, será abordado até o Art. 28. Preceito Primário / PRECEITO Ex: matar alguém Tipo Penal Preceito Secundário / SANÇÃO Ex: reclusão de 06 a 20 anos O Legislador se serve do tipo penal para realizar a tutela jurídica. O tipo penal do Art. 120 CP protege a vida, por exemplo. DIREITO PENAL é o conjunto de normas jurídicas impostas coativamente pelo Estado mediante as quais se proíbe determinadas ações ou omissões sob a ameaça da característica sanção penal. O Direito Penal é regido pelo: Código Penal (C.P) Legislação Penal Extravagante (L.P.e) Integram, também, esse ramo do Direito: os Princípios Gerais , as Condições e Pressupostos para aplicação da pena e da medida de segurança. A aplicação da pena é para os imputáveis e a medida de segurança para os inimputáveis. Art. 96 CP (são tratamentos aplicados em vez da pena) O que impera no Direito Penal é o Princípio da Legalidade ou seja, o que está na Lei. (o que não é proibido é permitido). Não se usa a analogia . (ex: matar E.T. não tem no código, então “pode”. Não podemos associar a matar pessoa, nem animais) Alguns conceitos: DIREITO PENAL OBJETIVO é o direito positivado. A legislação penal em vigor. O Código Penal. Art.1º Art.120 Art.361 Parte Geral Parte Especial (+ de 90% é composta por tipos penais) Art 120 CP proteção

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Teoria Geral do Direito Penal – Prof. Ivan Carlos de Araújo

1

Código Penal

Nesse semestre, será abordado até o Art. 28.

Preceito Primário / PRECEITO � Ex: matar alguém

Tipo Penal

Preceito Secundário / SANÇÃO � Ex: reclusão de 06 a 20 anos

O Legislador se serve do tipo penal para realizar a tutela jurídica. O tipo penal do Art. 120 CP protege

a vida, por exemplo.

DIREITO PENAL é o conjunto de normas jurídicas impostas coativamente pelo Estado mediante as

quais se proíbe determinadas ações ou omissões sob a ameaça da característica sanção penal.

O Direito Penal é regido pelo: Código Penal (C.P)

Legislação Penal Extravagante (L.P.e)

� Integram, também, esse ramo do Direito: os Princípios Gerais, as Condições e Pressupostos para

aplicação da pena e da medida de segurança.

A aplicação da pena é para os imputáveis e a medida de segurança para os inimputáveis .

Art. 96 CP (são tratamentos aplicados em vez da pena)

O que impera no Direito Penal é o Princípio da Legalidade � ou seja, o que está na Lei. (o que não é

proibido é permitido).

Não se usa a analogia. (ex: matar E.T. � não tem no código, então “pode”. Não podemos associar a

matar pessoa, nem animais)

Alguns conceitos:

DIREITO PENAL OBJETIVO � é o direito positivado. A legislação penal em vigor. O Código Penal.

Art.1º

Art.120

Art.361Parte Geral Parte Especial

(+ de 90% é composta por tipos penais)

Art 120 CP

proteção

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DIREITO PENAL SUBJETIVO � é o direito de punir que o Estado tem em face ao desrespeito ao Dir.

Penal Objetivo. (ex: se a pessoa não seguir / desrespeitar o Código Penal).

DIREITO PENAL COMUM � é aquele dirigido a todos os cidadãos, indistintamente.

DIREITO PENAL ESPECIAL � é aquele dirigido a um grupo especial de pessoas levando em

consideração condições / qualidades especiais definidas no código. Ex: código penal militar.

DIREITO PENAL MATERIAL � é o direito penal pronto. É o que é.

DIREITO PENAL FORMAL � é o direito processual penal. Traz as regras e procedimentos para

apurar se houve o crime e se o sujeito é passível de sanções. É como provar o que é.

HISTÓRIA DO DIREITO PENAL

CONSUETUDINÁRIO � baseado nos costumes

2 Sistemas de Direito (existente na Inglaterra)

LEGALIDADE � baseado nas Leis

1446 a 1500 � em 1500 vigoravam em Portugal as Ordenações do Rei (ordenações afonsinas).

Quando o Brasil foi descoberto passou a vigorar aqui essas ordenações. (eram as Leis na época).

1500 a 1521 � vigoravam as ordenações manuelinas.

1603 � ordenações filipinas (de D. Filipe, rei de Portugal e Espanha)

Alguns tipos de penas:

Pena de Morte Natural para Sempre � quando enforcavam e deixavam o corpo lá pendurado

até apodrecer.

Pena de Morte Natural Cruelmente � executada pelos carrascos, com objetivo de causar

muita dor no executado, até a morte.

Com a independência do Brasil em 1822, D. Pedro deu continuidade à Legislação em vigor até a

elaboração da Constituição Federal em 1824.

1830 � Código Criminal do Império � entrada em vigor do ordenamento mais importante após a

Constituição. Durando basicamente 60 anos.

Em 1889 ocorre a Proclamação da República.

Estão Interligados

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1890 � 1º Código Penal da República � entrou em vigor, recebendo muitas críticas, diferentemente

do Código Criminal do Império. Pois, foi elaborado muito às pressas e considerado ultrapassado. � o

que o levou a uma quantidade imensa de modificações.

1932 � CLP � publicação da Consolidação das Leis Penais.

1940 � Decreto-Lei Nº 2848 � entrada em vigor do 1º e atual CÓDIGO PENAL .

1969 � elaborado um novo código penal, com vacatio legis de 1 ano (assim, entraria em vigor em

1970). Esse vacatio legis foi estendido ano após ano, até 1978 quando foi revogado, não chegando a

entrar em vigor.

Assim, atualmente, temos o código penal de 1940,

mas com a Parte Geral modificada em 1984.

PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

É uma garantia Constitucional (Art. 5º, XXXIX, CF).

No Brasil, foi adotado em todos os códigos Penais.

Art. 1º CP � Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal

Princípios que compõem o princípio da Legalidade:

• Lex Previa � esse princípio afasta a retroatividade da norma penal.

A norma penal não retroage . É irretroativa.

Princípio da Anterioridade � a norma penal tem que ser anterior ao fato. Entra em vigor para

disciplinar fatos futuros.

• Lex Scripta � não há crime sem lei escrita. Esse princípio afasta os costumes. Não se admite

os costumes como fonte da norma penal incriminadora.

A norma penal é imposta coativamente pelo Estado.

02 tipos de fontes do Direito:

� Fonte Material de Direito (substantiva) � é uma fonte criadora. São os órgãos encarregados da

elaboração das normas. Ex: Congresso Nacional.

� Fonte Formal de Direito (de cognição / conhecimento) � a Lei Federal em sentido estrito é a única

fonte de conhecimento da norma penal incriminadora.

(*) os costumes podem servir de inspiração

para as fontes materiais. Mas de maneira alguma é uma fonte formal.

Parte Geral Parte Especial

Modificada pela LEI 7.209/84

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Art. 62, §1º, I, b, CF � é vedada Medida Provisória que imponha pena e estabeleça o que seja crime.

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

I - relativa a: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001) b) direito penal, processual penal e processual civil; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 32, de 2001)

Somente Lei Ordinária Federal pode fazer isso (devendo ser aprovada pelo Congresso Nacional)

A Assembléia Legislativa, a câmara dos vereadores, não são fontes de produção do Direito.

• Lex Stricta � afasta a analogia. (analogia funciona como norma integradora, na ausência de

lacunas na lei).

O Direito admite analogia. Mas, em relação à disciplina Penal não se admite analogia como fonte da

norma penal incriminadora.

Observamos esse princípio no Art. 1º CP – não há crime sem lei anterior que o defina.

O Direito Penal é fragmentário � significa que a proteção penal não é homogênea. Caráter

fragmentário quer dizer que o Direito Penal só deve intervir quando houver ofensa a bens

fundamentais para a subsistência da sociedade. Sempre foi tradição no Brasil. Recentemente, no

entanto, o DP brasileiro tem apresentado uma característica bem mais intervencionista, objetivando

aplacar a sensação coletiva de insegurança decorrente da escalada da criminalidade e proporcionar

uma maior garantia de tranqüilidade social. É o chamado Movimento da Lei e da Ordem

Direito Penal é a última “ratio” � última alternativa. Serve para ser utilizado como último recurso.

Quando as situações em que a proteção oferecida por outros ramos do Direito (Comercial, Civil, etc.)

não seja suficiente para inibir sua violação, ou em que a exposição a perigo do bem jurídico tutelado

apresente certa gravidade.

Analogia “in Bonam Partem” � ex: vítima de atentado violento ao pudor que fica grávida pode realizar

aborto, como no caso de estupro. Mas, isso já mudou, pois estupro e atentado violento ao pudor

passaram a integrar o mesmo artigo do CP, recentemente.

• Lex Certa � a lei tem que ser clara, objetiva e didática, uma vez que ela é dirigida a todos.

Todos, ao tomarem acesso à Lei têm que ter plena interpretação da mesma.

LEI PENAL NO TEMPO � entra em vigor no período estabelecido pela Vacatio Legis e se extingue

quando for revogada por nova lei (*).

(*) com algumas exceções que não precisam de outras leis que a revoguem:

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Leis Temporárias � trazem em seu corpo a sua validade. Têm o que chamamos de auto-

revogação.

Leis Excepcionais � têm a sua vigência associada à permanência da causa anormal que a

originou. Ex: enquanto permanecer determinada epidemia a pena por fazer determinado ato prevalece.

Se extinguindo assim que acabar a epidemia. Ex: gripe suína: epidemia

espirrar na cara de outra pessoa: ato

prisão de 01 ano: pena

A revogação pode ser: Total (ab-rogação)

Parcial (derrogação

E pode ser também: Expressa

Tácita (quando necessita interpretação)

pode se dar por 2 maneiras:

EXTRATIVIDADE ULTRATIVIDADE

(da norma penal) RETROATIVIDADE BENÉFICA

Quando aplico uma lei que está em vigor, dizemos que ela está em sua função normal. Quando perde

sua vigência e a aplicamos, ela está em sua função extra. (daí falarmos em extratividade)

No esquema acima temos o exemplo de um processo que se inicia quando a 1ª Lei está em vigor.

Logo após uma 2ª Lei passa a vigorar, revogando a 1ª Lei. No entanto, essa 2ª Lei não é benéfica ao

réu. Na data de julgamento, julgo pela 1ª Lei, pois o processo já havia começado quando vigorava a

1ª. Isso é um exemplo de Ultratividade da Norma Penal . (vide Art.3º CP)

Em regra, a lei penal é irretroativa. Exceto quando for benéfica ao réu .

Retroatividade Benéfica � está prevista no Art. 2º CP e no Art. 5º, XL, da CF.

Temos 02 modalidades de retroatividade benéfica:

1- “ABOLITIO CRIMINIS ” � descriminização do fato (caput do Art. 2º CP).

Quando o fato deixar de ser crime, não existe mais punição. Ex: Adultério que deixou de ser crime

(Art.240 CP).

1ª Lei Processo Julgamento2ª Lei

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� se já tenho um inquérito policial em andamento e o fato deixa de ser crime, não vai para frente �

extinção da punibilidade.

� se transitou em julgado (quando não cabe mais recurso) a sentença condenatória e o fato deixar de

ser crime, aplica-se o “Abolitio Criminis” e solta o indivíduo.

IMP: Nada vai contra o “abolitio criminis” / Nada suporta o “abolitio criminis”

2- “LEX MITIOR” � Expresso no P.único Art.2º CP

� qualquer favorecimento ao agente desde que o fato continue a ser crime, pois senão seria

enquadrado no caput do Art.2º CP.

Ex: Redução da pena.

Art. 54 CP sofreu uma derrogação tácita em função do Art. 44, I do CP.

Lei n.9714 de 98 revogou parcial e

tacitamente a Lei n.7209 de 84 (do Art. 54 CP), no que diz respeito às penas restritivas de direito em

substituição à pena privativa de liberdade.

É mais benéfica ao réu, portanto

retroage. Podendo ser aplicada aos fatos anteriores à sua vigência (Lex Mitior – retroatividade

benéfica)

Função ultrativa da lei � a lei produz efeitos sob todos os fatos ocorridos / originados durante a sua

vigência. Mesmo que ela não esteja + em vigor na data do julgamento.

Norma Penal em Branco � exige complemento normativo. É aquela que, quando você lê o texto,

necessita de um complemento normativo para entender o que será punido.

1ª Lei Fato Julgamento2ª Lei

fatos

3ª Leibenéfica

A 2ª Lei tem retroatividade em face da 1ª e ultratividade em face da 3ª

pior

Aplicação da 3ª Lei aos fatos ocorridos após sua entrada em vigor

Pela extratividade da Lei, em sua forma ultrativa , julgo o fato pela 2ªLei, a mais benéfica em seu favor

Chamada de Lex Intermedia (lei intermediária)

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A Norma Penal Temporária e a Excepcional tem força ultrativa. No entanto, não tem retroatividade

benéfica, pois não tem uma lei posterior que possa retroagir. Ex: Lei Temporária, com vigência do dia

01 ao 31 de determinado mês:

IMP: A lei retroage sempre que for benéfica ao réu, de acordo com o Art.5º, XL, da CF. A

Constituição prevalece sobre o que é estabelecido n o Código Penal

MOMENTO DO CRIME

� Teoria da Atividade � considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão.

(momento da atividade, da conduta);

� Teoria do Resultado � considerado praticado o crime no momento do resultado. (Ex: sujeito

leva um tiro e depois de 1 semana morre. O crime é considerado no momento da morte);

� Teoria Mista � considera-se o crime nos 2 instantes. Tanto no momento da conduta, como

no do resultado.

Art.4º CP � adotamos a Teoria da Atividade , ou seja, no momento da conduta. No momento da ação

ou omissão. Sujeito dá o tiro quando tem 17 anos, 11 meses e 29 dias (portanto, penalmente

inimputável). A pessoa morre depois que esse sujeito completa 18 anos. Ele será julgado pela idade

que tinha na época / momento da ação (portanto, pelo ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente).

LEI PENAL NO ESPAÇO

� Teoria da Atividade � considera-se o crime no local onde ocorreu a conduta (ação ou

omissão);

� Teoria do Resultado � considera-se o crime no local onde ocorreu o resultado;

� Teoria Mista / Teoria da Ubiquidade � considera-se o crime tanto no local onde ocorreu a

conduta, como no local onde ocorreu o resultado.

Art.6º CP � adotamos a Teoria da Ubiquidade . Com o objetivo de evitar um conflito negativo de

jurisdição, ou seja, para evitar se ter um crime / um morto sem apuração.

Ex: Sujeito praticou uma conduta no Paraguai (dá um tiro do lado da fronteira do Paraguai) e o

resultado ocorre no Brasil (o tiro acerta e mata alguém que está do lado do Brasil da fronteira com o

Paraguai). Imagine-se que o Brasil adote a teoria da atividade (portanto o crime seria julgado no

1ª 30 31dia Fato ocorrendo dia 30,

pela força ultrativa da lei vou aplicá-la após sua vigência

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Paraguai) e o Paraguai a teoria do resultado (portanto seria julgado no Brasil). Nesse cenário haveria

um conflito negativo de jurisdição.

Quanto à pena aplicada � Art.8º CP. O sujeito pode cumprir pena no Paraguai e indo para o Brasil

pode estar sujeito a cumprir pena também, caso as sanções sejam distintas.

Princípios que regem a aplicação da Lei no Espaço : (em linhas gerais)

� Princípio da Territorialidade � aplica-se a Lei do território onde o crime ocorreu. Não importa a

nacionalidade do agente, assim como da vítima. Ex: se um alemão matar um russo, aqui no Brasil,

levam-se em conta as leis do Brasil.

� Princípio da Personalidade (Ativa) / Nacionalidade (Ativa) � aplica-se a Lei ao agente nacional que

tenha praticado crime no exterior. Ex: brasileiro comete um crime na Argentina. Pelo princípio da

personalidade será aplicada a Lei brasileira. Por esse princípio o agente deve fidelidade ao

ordenamento jurídico de seu país.

� Princípio da Defesa / Defesa Real / Proteção � aplica-se a Lei do país do bem jurídico atingido

pelo crime. Leva em consideração a nacionalidade do bem jurídico atingido pelo crime. Ex: cidadão

brasileiro, mais precisamente o presidente é morto fora do Brasil.

� Princípio da Justiça Universal / Universalidade / Cosmopolita � aplica-se aos crimes considerados

tão graves, que incomodam a todos os países de maneira que por tratados e convenções os países se

obrigam a reprimir. Ex: terrorismo, genocídio.

� Princípio da Representação � Art.7º, II, c. Ex: alemão mata um russo durante um vôo da TAM (Cia

brasileira) enquanto o avião sobrevoava espaço aéreo argentino. Esse princípio surgiu recentemente,

para preencher uma lacuna na lei, pois não se podia aplicar o princípio da territorialidade (pois não

sobrevoava o Brasil), nem da personalidade (pois o agente não era brasileiro), nem da defesa (pois a

vítima não era brasileira).

Obs: Se a cia aérea não for brasileira, não se aplica as leis brasileiras.

Princípio da Territorialidade � Art. 5º CP

Território é o local onde o país exerce a sua soberania.

� é a superfície terrestre limitada por suas fronteiras. Nas fronteiras, temos pontes, rios � existem

acordos entre os países fronteiriços para determinar o “meio”.

Mar territorial: atualmente é de 12 milhas

Espaço territorial aéreo: vai até a coluna de ar atmosférico

Todas essas definições dizem respeito ao território físico, real.

Temos também o território por ficção � embaixadas estrangeiras. Para entrar lá precisa de

autorização. Portanto, há uma soberania estrangeira aqui no Brasil.

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(*) No entanto, os penalistas não concordam com essa teoria de território por ficção. Para

efeitos penais, a embaixada é território brasileiro. Assim, se um mordomo inglês matar alguém lá na

embaixada americana serão aplicadas as leis brasileiras.

� País Acreditante = quem manda o embaixador para representação em outro país

� País Acreditado = quem recebe o embaixador

Existe uma convenção de que o Brasil não aplica suas leis aos representantes com status de

diplomata de outros países. (Imunidade Diplomática)

� Se um embaixador praticar um crime aqui no Brasil, não vamos aplicar nenhuma sanção a ele �

prepara-se um inquérito e manda para o seu país aplicar o ordenamento do país dele.

Não se restringe ao solo e dependências da embaixada,

mas sim à pessoa do diplomata e de seus parentes íntimos (cônjuge, filhos) desde que estrangeiros

(não brasileiros).

No Brasil, adotamos o princípio da territorialidade abrandada, pois obedecemos tratados e convenções

de direito internacional aplicado no país, como no caso acima exposto (de diplomatas, embaixadores).

Logo, não aplicamos o princípio puro.

Território é onde o país exerce sua soberania

Território por extensão

• Toda embarcação ou aeronave pública (marinha, FAB) são consideradas territórios brasileiros

em qualquer lugar do mundo;

• Toda embarcação ou aeronave privada brasileira a serviço do governo brasileiro, fora do Brasil

(se não for brasileira, não é considerado território brasileiro, mesmo que esteja a serviço do governo

brasileiro � Art.5º, §1º do CP);

• Embarcação ou aeronave privada brasileira (que não estejam a serviço do governo brasileiro) em

alto mar é considerada território brasileiro. (alto mar não é território de ninguém, por isso, nesse caso,

vale a bandeira do país da embarcação / aeronave).

Art.5º, §2º do CP � o legislador oferece a reciprocidade no território por extensão às embarcações ou

aeronaves estrangeiras aqui no Brasil. (ex: Navio da Microsoft – portanto privado americano –

ancorado no porto de Santos: é considerado território brasileiro. Já, o avião do presidente dos EUA

aqui no Brasil é território americano).

� A regra é aplicar as leis brasileiras a crimes praticados no Brasil (princípio da territorialidade).

Quando aplicamos a lei brasileira a crimes cometidos fora do Brasil, praticamos um abrandamento do

princípio da territorialidade. É outra forma de abrandamento, juntamente com a obediência a tratados e

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convenções de direito internacional aplicada no país, como no caso já exposto de diplomatas,

embaixadores.

Art.7º do CP � Extraterritorialidade � Incondicionada – Inciso I, a, b, c, d � a aplicação da lei

brasileira independe de qualquer condição (a regra para a

incondicionalidade está no §1º)

� Condicionada – Inciso II, a, b, c, §3º � as condições para a

extraterritorialidade estão no §2º

Incondicionada � I, a: contra a vida ou a liberdade do Presidente da República (princípio da defesa

real ou proteção). Obs: se for contra a honra, não é aplicada a lei brasileira. Ex: xingamentos,

agressão verbal.

Ex: Navio da marinha brasileira, ancorado no porto dos EUA. Um russo, dentro desse navio, atira um

arpão e mata o presidente da república. Aplica-se o princípio da territorialidade por extensão � Art.6º

CP, combinado com o §1º do Art.5º do CP. (ou simplesmente o Art.7º, I, a)

Incondicionada � I, b: crimes contra o patrimônio (Art.155 a 183 CP) ou a fé pública (ex: falsificar

moeda – Art.289 CP). Nestes dois casos utilizo o princípio da defesa real ou proteção � o bem jurídico

atingido é a fé pública ou o patrimônio.

Incondicionada � I, c: contra a administração pública (ex: desvio de dinheiro, corrupção) ou por quem

esteja a seu serviço (Art. 312 a 327 CP). Aplica-se o princípio da defesa real ou proteção em razão do

bem jurídico tutelado.

Incondicionada � I, d: genocídio � conduta de agente que visa destruir, desaparecer com

determinado grupo étnico. Aplica-se o princípio da justiça universal.

Se o cidadão brasileiro praticar genocídio no estrangeiro (independente de qual for o grupo) tem

aplicação da lei brasileira.

Ex: Se um argentino, residente no Brasil, comete um genocídio nos EUA, ele também estará sujeito à

aplicação da lei brasileira (pois ele é domiciliado no Brasil)

Extraterritorialidade CONDICIONADA (Art.7º, II, CP) : A condição para que a situação jurídica seja

enquadrada em alguma dessas alíneas a seguir, é que sejam respeitadas TODAS (sem exceção) as

condições trazidas no §2º desse artigo.

Condicionada � II, a: crimes que os países se obrigam a reprimir com tratados e convenções. Aplica-

se o princípio da justiça universal

Aplicação da Lei Brasileira

a crimes praticados fora do

Brasil

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Teoria Geral do Direito Penal – Prof. Ivan Carlos de Araújo

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Condicionada � II, b: crimes praticados por brasileiros. Aplica-se o princípio da personalidade.

Ex: casal brasileiro vai morar nos EUA e leva uma empregada também brasileira para trabalhar lá na

casa deles. Esse casal pratica alguns atos que encaixam como crime de servidão contra essa

empregada. Se, apenas a mulher volta para o Brasil e o marido continuar nos EUA trabalhando, a

condição “A”, do §2º (entrar o agente em território nacional) é respeitada apenas para a mulher, pois o

agente do crime entra no Brasil, estando, apenas ela sujeita à lei brasileira.

Condicionada � II, c: a aplicação dessa alínea será quando o agente e a vítima não forem brasileiros.

E quando a embarcação ou aeronave for privada brasileira e no local do crime não houver lei a ser

aplicada. Aplica-se o princípio da representação.

Art. 7º §3º � o agente tem que ser estrangeiro e a vítima brasileira. Desde que sejam respeitadas as

condições trazidas no parágrafo anterior, aplica-se a lei brasileira com base no princípio da defesa real

ou proteção.

Art. 7º §2º, B � “ser o fato punível também no país que foi praticado” � o cara vai para o estrangeiro

e casa com 4 mulheres. Sendo nesse país permitido. Ao voltar para o Brasil, não será aplicada lei

contra o crime de bigamia

Outro exemplo: Aborto . Na Holanda é uma prática permitida. Se, a brasileira for para lá, fizer o aborto

e depois retornar ao Brasil, não será punida pela lei brasileira.

Art. 7º §2º, C � “estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição”

� Ex: em caso de crime político, a lei brasileira não admite extradição. Então, se um brasileiro

cometer crime político no exterior e depois voltar para o Brasil, “não pega nada”. Não será extraditado.

As condições de extradição estão no Estatuto do Estrangeiro – Art.77.

� Também não se concede extradição se a apena for igual ou inferior a 1 ano (IV, Art. 77 do

Estatuto). No caso de lesão corporal (Art.129 do CP) a pena é de 3 meses a 1 ano, portanto, não

admite extradição.

Art. 7º §2º, D � “não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena” � A

aplicação da lei brasileira ao fato depende de que o agente tenha sido condenado no estrangeiro, mas

não tenha cumprido a pena lá. Essa é a condição .

(*) Se faltar uma das condições (Art. 7º, §2º, a, b, c, d, e) não se aplica a lei brasileira

(*) Pergunta do professor: Existe alguma possibilidade de se aplicar o Art.8º CP em caso de

extraterritorialidade condicionada? Sim, se o agente tiver cumprido parcialmente a pena no

estrangeiro. Essa é uma situação em que, excepcionalmente, aplico o Art.8º CP em caso de

extraterritorialidade condicionada.

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Teoria Geral do Direito Penal – Prof. Ivan Carlos de Araújo

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� Cumprir parte da pena, não extingue a punibilidade.

� O Art.8º CP é aplicado nos Art.6º e 7º, I do CP, sem caráter de excepcionalidade.

Art. 7º §2º, E � “não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta

a punibilidade, segundo a lei mais favorável”.

Caso de perdão no CP � §5º do Art.121, quando a pena criminal não se fizer necessária, pois a

ação infracionária resultar em graves conseqüências para o agente.

Caso de extinção de punibilidade CP � Art.107, traz as condições para a extinção. (Ex: inciso IV:

e, casos de perepção, decadência ou prescrição)

Perepção � inércia do querelante no curso do processo penal. Se não cumprir os

prazos, o processo se extingue.

Decadência � perda do direito de propor queixa crime ou propor ação penal, em

função do prazo.

Ação Penal Pública (Incondicionada, que é a regra) � Denúncia

Ação Penal Pública (Condicionada) � Representação (Art. 147, P.único. Ex: crime de

ameaça depende de representação para instaurar processo crime – prazo de 6 meses para

não entrar em decadência)

Ação Penal Privada � Queixa (peça vestibular da ação penal privada). A autoridade não

põe a mão sem que o ofendido se manifeste

Prescrição � é a perda do direito de ação, em processos já em curso. Art. 109 CP

traz algum tipos de prescrições. Ex:

PPP (Prescrição de Pretensão Punitiva) � ocorre antes do trânsito em julgado

PPE (Prescrição de Pretensão Executória) � ocorre depois do trânsito em julgado

Se der prescrição ou decadência ou perepção, exting ue-se a punibilidade e quebra a condição

E

Art. 7º §3º � crimes praticados por estrangeiro, contra brasileiro, fora do Brasil. Traz o último caso de

Extraterritorialidade Condicionada .

Ex: brasileiro viajando pela Europa é vítima de furto, roubo. Se o agente (quem praticou o crime)

também for brasileiro, vamos aplicar o dispositivo no Art.7º, II, b (crime praticado por brasileiro). Agora,

se o agente for estrangeiro, a aplicação da lei brasileira depende do concurso de todas as condições

apresentadas no §2º mais as condições estabelecidas no próprio Art.7º, §3º, a, b.

Se preenchidas as

condições do §2º, não for pedida a extradição ou se pedida, for negada pelo Brasil, será aplicada a lei

brasileira.

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Contudo, essa aplicação depende da requisição do Ministro da Justiça para a aplicação da Lei

Penal. Essa condição, presente na alínea b, do Art.7º, §3º encerra na mão do Executivo (do

Presidente da República) a capacidade de decidir se será aplicada ou não a lei brasileira. O que é

muito ruim.

Art. 9º CP � Eficácia de Sentença Estrangeira

Só homologam-se sentenças estrangeiras para serem executadas aqui no Brasil em casos

excepcionais: para reparação de danos, restituições e outros efeitos civis (inciso I); e em casos de

medida de segurança (inciso II).

Os requisitos para se homologar sentença estrangeira nas duas situações trazidas pelos dois incisos

acima é que a sentença estrangeira produza na espécie as mesmas conseqüências do que as

produzidas pela aplicação da lei brasileira e que haja um requerimento da parte interessada (Art.9º,

p.único, a).

Ex: Sujeito comete crime no estrangeiro e tem patrimônio no Brasil � produzindo as mesmas

conseqüências na aplicação da lei estrangeira ou brasileira, pode-se homologar a sentença para

reparação de danos, desde que seja requerida pela parte interessada na reparação.

(*) A sentença condenatória criminal faz coisa julgada no civil . Ex: caso de reparação de danos:

se a pessoa for condenada no crime, o sujeito é condenado à indenização (esfera civil). Não precisa

entrar nas duas esferas, a condenação no âmbito penal, faz isso automaticamente.

Art. 9º, II – Medida de Segurança � aplicada ao inimputável e ao semi-inimputável (Art.26, P.único,

CP)

Não é pena. É tratamento. Por isso, se for imposta no estrangeiro e a pessoa

se encontra no Brasil, atualmente, produzindo na espécie as mesmas conseqüências que teria a lei

brasileira, mais a existência de tratado de extradição com o país de onde emanou a sentença ou na

falta de tratado, suprida pela requisição do Ministro da Justiça, pode-se homologar a sentença

estrangeira. (Art. 9º, p.único, b).

Obs: MANDADO � ordem (Oficial de justiça cumpre uma ordem, um mandado)

MANDATO � procuração (políticos cumprem mandatos. São nossos procuradores,

para nos representarem).

Art. 10 CP � Contagem de Prazo

O Prazo Penal é importante para a contagem do período da pena.

Esse artigo traz as regras para contagem do prazo: Computa-se o dia do começo e a pena termina

sempre na véspera. Ex: Pena de 01 ano � início em 14/09/09, término em 13/09/10 às 24h (véspera);

Pena de 15 dias � início em 14/09/09 e término em 28/09/09 às 24h.

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A pena é expressa em anos, meses ou dias (nessa ordem). Ex: 24 meses, o correto é falarmos 2

anos; 90 dias, o correto é falarmos 3 meses.

Art. 11 CP � Frações não computáveis da pena

As frações do dia (horas) e de moeda (centavos; em caso de multa) são desprezadas.

aqui não falamos em

arredondar, mas sim desconsiderar.

Ex: Pena de 15 dias � tendo abrandamento da pena pela metade: 7 dias e 12 horas.

Levando em conta que as frações do dia são desprezadas, o sujeito irá cumprir pena de 7 dias.

No caso de multa: R$536,99 � o sujeito vai pagar R$536,00 (não se arredonda, despreza )

CONCURSO (Conflito) APARENTE DE NORMAS � a palavra concurso está sempre ligada à

pluralidade.

Ex: Concurso de pessoas: quando temos + de 1 agente;

Concurso de crimes: quando o sujeito pratica + de 1 crime;

Concurso formal (Art.70 CP): quando o sujeito, mediante 1 só ação/conduta pratica + de um

crime;

Concurso material (Art.69 CP): quando o sujeito pratica + de um crime mediante condutas

distintas (ex: atira em algum colega na sala de aula, depois ao descer as escadas estupra uma aluna,

e na lanchonete assalta a caixa registradora).

Concurso aparente de normas

quando o concurso não é verdadeiro, não é real. Para resolvermos esse problema,

temos alguns princípios:

� Princípio da Especialidade

� Princípio da Subsidiariedade

� Princípio da Consunção

� Princípio da Alternatividade

O único princípio previsto na Parte Geral do CP é o da Especialidade (Art.12 CP).

Art. 12 CP � Legislação Especial

Toda vez que tiver conflito entre uma lei especial e uma geral, aplica-se a lei especial.

A norma especial (N.E) tem todos os elementos trazidos pela geral (N.G) + alguns outros que as

tornam especiais. A aplicação da N.E afasta a N.G

Ex: Art. 121 CP � matar alguém � Norma Geral (homicídio)

Art. 123 CP � matar alguém (*) � Norma Especial (infanticídio)

(*) mas com uma condição/situação especial: matar o próprio filho sob estado puerperal.

Essa variedade de princípios decorre,

sobretudo, da vaidade dos operadores do

Direito

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Princípio da Subsidiariedade Expressa (quando consta na própria norma que ela é subsidiária. Ex:

Art.132 CP)

Tácita

Há um conflito entre norma subsidiária e norma primária

Contém todos elementos da norma subsidiária e pune

de maneira + gravosa / com + rigor.

Ex: Art.132 CP � expor alguém a perigo iminente � se atirar uma flecha em alguém com a intenção

de acertar o boné dela, respondo pelo Art. 132 do CP (norma subsidiária expressa, pois no próprio

corpo da lei, na parte final, diz que esse artigo será aplicado desde que o fato não constitua crime mais

grave). No caso desse exemplo, se além de acertar o boné, acertar a cabeça da pessoa e por

conseqüência chegar a matá-la, o agente responderá pelo Art. 121. Esse é o crime mais grave. Dessa

forma, vemos a norma principal afastando a subsidiária.

(*) A norma subsidiária define pena menos grave.

Crime complexo (Art. 101 CP) � se resolve com o Princípio da Subsidiariedade

Art. 146 (constrangimento ilegal) e Art. 155 são normas subsidiárias tácitas em relação ao Art. 157.

normas menos graves norma + grave / principal

Ao confrontarmos o Art. 146 (constrangimento ilegal mediante violência ou grave ameaça) com o Art.

147 (ameaça): o 146 é norma primária e o 147 subsidiária (pois define fato menos grave). A ameaça

está inserida no Art. 146.

É um caso de subsidiariedade tácita, pois o Art. 147 não faz referência que em caso de crime + grave

se aplica outra norma (vide Art. 132).

Os Art. 146 e 155 também não trazem expressamente a subsidiariedade da norma

Princípio da Consunção � estabelece uma relação de crime meio e crime fim.

O crime meio será consumido pelo crime fim, quando ele for fase normal ou obrigatória de

preparação ou execução do crime fim.

Ex: não há maneira de matar alguém sem produzir lesão corporal, no sentido da Legislação Penal

(Art.129 CP � lesão corporal: ofender a integridade ou a saúde de outrem. [Saúde, no caso, engloba a

saúde psíquica]).

Sem atingir a saúde da pessoa, a pessoa não morre. Por isso, o crime fim depende do crime meio.

Consumirá o crime meio.

Crime Fim � homicídio e Crime Meio � Lesões Corporais

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Outro exemplo: Crime de invasão a domicílio é consumido pelo crime de furto. A pessoa é indiciada

por crime fim (furto) e não pelo crime meio (invasão de domicílio).

Expansão do Princípio da Consunção � Antefatos e Pós-fatos impuníveis

Antefatos Impuníveis � Ex: cidadão, já casado, quer se casar com outra mulher (sem ter que se

separar). Para isso, falsifica a certidão de nascimento (Art. 297 e 299 CP) para praticar o crime de

bigamia (Art. 235 CP).

Art. 235 � é o crime fim. Não posso casar sem falsificar a certidão de nascim ento.

Art. 297 e 299 � são antefatos impuníveis pelo princípio da consunção. Toda vez que tenho um

crime fim que não pode ser realizado / praticado sem a realização de alguns crimes meios, estes são

consumidos pelo crime fim.

Contudo, existem alguns crimes meios que são puníveis com + rigor que o crime fim. Ex: bandido

quer praticar um roubo a Banco. Para isso, seqüestra o gerente do Banco, o mata e pega a sua

identidade de acesso ao cofre. (Art. 121, §2º, V).

Crime Fim � roubo e Crime Meio � homicídio

mais grave

Não posso casar sem falsificar, mas posso roubar sem ter que matar

Pós-fatos Impuníveis � quando for mero exaurimento do crime anterior. (não confundir � consunção

# exaurimento)

Ex: colocar em circulação um dinheiro que eu mesmo falsifiquei � é um aproveitamento da prática de

falsificação. Respondo apenas pela falsificação e não por colocar em circulação.

Indivíduo rouba um televisor (Art. 155) e depois o vende para terceiro (Art. 171, §2º, I). O referido Art.

171, é um exaurimento / um aproveitamento pela realização do furto. É um pós-fato impunível.

Isso é um conflito aparente de normas que a doutrina traz / trata com a possibilidade de

expansão do princípio da consunção. Na prática, o promotor pode e vai enquadrar o sujeito pelos

2 artigos o crime praticado.

Princípio da Alternatividade � é quando respondo por um só crime (por um só dos verbos).

Ex: Lei n.11.343 de 2006, Art. 33 � traz diversas condutas / verbos que são punidos pelo mesmo tipo

penal. Não aplico pena para cada conduta individualmente caso o sujeito incorra em mais de uma.

O Art. 289, §1º também serve de exemplo ao trazer várias condutas puníveis pelo mesmo crime.

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TEORIA DO CRIME

Crime = Delito (no Brasil, são sinônimos)

Crime / Delito X Contravenção Penal (infração penal menos grave)

Essencialmente não há diferença. Diferem-se na gravidade da infração

Infração Penal Crime

(gênero) Contravenção Penal

Cominação x Aplicação x Execução da pena

Cominação � ameaça dirigida a toda coletividade (encontrada nos tipos penais � abstratos; ex: se

matar alguém pena de 06 a 20 anos; ameaça; não determina especificamente a pena);

Aplicação � quando o juiz, em sentença penal condenatória, determina a pena a ser aplicada

Execução � quando a sentença penal condenatória transitar em julgado.

Art.1º, Decreto Lei 3.914, de 1941 � traz a caracterização do que é crime de acordo com a infração

penal.

Quando o preceito secundário do tipo penal (ou seja, a sanção) contiver Reclusão ou

Detenção, sabemos que se trata de Crime .

Ex: Reclusão de 01 a 04 anos e multa � trata-se de crime, com penas cominadas

cumulativamente (E).

Reclusão de 01 a 04 anos ou multa � trata-se de crime, com penas cominadas

alternativamente (OU).

Reclusão de 01 a 04 anos � trata-se de crime, com pena cominada isoladamente .

Quando o preceito secundário do tipo penal (ou seja, a sanção) contiver Multa, ou seja, a

cominação apenas de multa, trata-se de uma contravenção penal cominada isoladamente.

IMP: aqui há de se prestar atenção para não confundir cominação de multa, com aplicação de multa.

A aplicação de multa não quer dizer que se trata de contravenção, uma vez que, no caso de detenção

/ reclusão com pena cominada alternativamente com multa, o juiz pode optar pela pena de multa e se

trata de um crime (detenção / reclusão = crime )

Quando o preceito secundário do tipo penal (ou seja, a sanção) contiver Prisão Simples,

sabemos que se trata de Contravenção Penal . Sendo que a pena pode ser cominada

cumulativamente, alternativamente ou isoladamente com a Multa, a exemplo do que já foi

exemplificado para a Reclusão / Detenção (Crime).

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Conceito Formal � é o que o termo crime designa. O significado do termo: “crime é toda ação ou

omissão, proibida por lei, sob ameaça da característica sanção penal”.

Conceito Material � é o que é, essencialmente. Ou seja, crime é um desvalor da vida social.

Essencialmente, crime é uma ofensa ao bem juridicamente tutelado.

(*) Nota-se que: proibida por lei e juridicamente (em destaque acima) mostram se tratar de um critério

do Legislador.

O não pagamento de uma dívida, não é crime. É um ilícito civil. Ex: pego um empréstimo

no banco, de R$1 milhão para investir na empresa, vem a crise e não consigo honrar com

meus compromissos de pagamento desse empréstimo. Diferentemente de passar cheque sem

fundos, pois leva em conta a intenção / a conduta de se realizar a infração.

Crime Material � é quando o tipo penal exige o resultado do crime. A maior parte do nosso código é

constituída por crimes materiais.

Art.14 – Crime Consumado � Art.121 – Matar alguém � para consumar o crime, tem que matar a

pessoa.

Crime Formal � o Legislador descreve a conduta, mencionando / indicando o resultado, mas não

exige o resultado para aplicação da pena.

Art.159 – Extorsão mediante sequestro � tem que ter finalidade / intenção de sequestrar para obter

vantagem (resultado do sequestro). O legislador não exige a obtenção da vantagem para a

consumação do crime, de forma que só a intenção já basta. Se consuma com a conduta. Se,

sequestrou, mas não foi pago o resgate, o sequestrador responde pelo crime consumado.

Art.171, §2º, V – Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro � sujeito corta a mão

para obter valor de seguro. Não chega a obter o valor do seguro, pois o golpe é descoberto e o sujeito

é preso. Esse sujeito vai responder pelo crime consumado, de lesar o próprio corpo com o intuito de

obter vantagem, mesmo que não tenha obtido essa vantagem.

Crime de Mera Conduta � também é um crime de consumação antecipada, ou seja, também se

consuma com a conduta.

Conceito Formal

Conceito Material

Conceito Analítico

de crime X Crime Formal

Crime Material

Crime Mera Conduta

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Crime de Mera Conduta x Crime formal � Alguns autores não o distinguem do crime formal. No

entanto, o que o distingue do crime formal é o fato do legislador não fazer referência a qualquer

resultado, como ocorre no crime formal. O legislador apenas descreve a conduta, ex. Art. 150 do CP –

Invasão de domicílio.

Conceito Analítico de Crime

Evolução Histórica do conceito de crime:

Carmignani Força Física – Elemento Objetivo – CONDUTA

Força Moral – Elemento Subjetivo – CULPABILIDADE

A conduta há de ser voluntária. Quando o sujeito tem controle do seu movimento. Ex: pessoa

é levada, à força, a puxar o gatilho, contra a sua vontade. Não há conduta para efeito penal nesse

caso.

Conduta típica (Art. 121 CP) é a que encontramos nos tipos penais. Nota-se que ela pode

não ser antijurídica, ex: legítima defesa (Art.23 CP) � exclusão de ilicitude � não há crime.

(Conduta típica nem sempre é crime).

Para que se tenha crime, exige-se que a conduta sej a típica, antijurídica e culpável.

Pressupostos da Culpabilidade :

a) Culpa em sentido estrito � Art.18, II do CP � conduta culposa;

b) Imputabilidade � é um pressuposto da culpabilidade. Art.26 do CP define o agente

inimputável. Tudo que não for classificado como inimputável, é imputável. “Consiste na capacidade

absoluta de entender a ilicitude do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento, ao

tempo da ação ou omissão”. (típica e antijurídica). São causas de inimputabilidade: doença mental,

ser menor de 18 anos, embriaguez (Art. 28, II, §1º).

c) Dolo � é o querer, é a vontade, com potencial consciência da ilicitude. Chamado: Dolo

Normativo. Ex: mulher, do Cazaquistão vem passear no Brasil, descobre que está grávida e pergunta

a um funcionário do hotel onde está hospedada se é crime praticar o aborto no Brasil, uma vez que

no país dela, não é. O funcionário lhe diz que com dinheiro, aqui tudo é permitido. Com isso, ela

realiza o aborto. Ela teve a vontade, teve o querer, mas, de acordo com essa classificação de

culpabilidade, não constitui em Dolo a sua conduta, pois não tinha conhecimento da ilicitude do ato

praticado.

d) Exigibilidade de conduta conforme o Direito � toda vez que não for exigível a conduta,

conforme o direito, não há culpabilidade. Ex: pessoa coagida não responde pelo crime – é o caso do

sujeito que tem uma arma na cabeça e é coagido a atirar em outra pessoa.

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Mais tarde, um alemão, WELZEL, redefine o conceito de culpabilidade: na parte do Dolo, ele

tirou o “querer” da culpabilidade (classificando esse “querer” como Dolo Natural); e sacou dos

pressupostos a culpa em sentido estrito.

Para ele, a culpabilidade ficou assim: Imputabilidade

Potencial consciência da Ilicitude

Exigibilidade da conduta conforme o Direito

Para Welzel, o dolo que estava na culpabilidade é transferido para a conduta. Para ele, toda

a conduta já é dolosa ou culposa.

Mais tarde, dolo e culpa se enquadram em Fato Típico.

A conduta há de ser dolosa ou culposa. Não basta apenas querer.

A conduta dolosa tem que ser classificada de acordo com tipo doloso, enquanto que a

culposa de acordo com tipo culposo. A conduta dolosa não se enquadra no tipo culposo, e vice-

versa.

Art. 18, I, CP � Dolo Natural – crime doloso. Os tipos penais punem, em regra , crime doloso,

pois não há menção à culpa.

Art. 18, II, CP � crime culposo. Art. 121, §3º do CP � quando mato alguém, sem querer.

Menciona o tipo culposo do homicídio.

**A teoria do crime começa no CP no Art. 13**

Art. 13, CP � no caput desse artigo, adotamos a Teoria da Equivalência dos Antecedentes

Causais , também conhecida como “Conditio sine qua non”.

Análise do caput desse artigo:

- descrição de crime material

- exigência de um resultado Materialístico

Jurídico

Todo crime produz resultado jurídico, mas nem todos produzem resultado materialístico (ou seja,

aquele que produz alguma mudança no mundo). Ex: crime de injúria.

Todo crime que produz resultado material, produz resultado jurídico.

- causa é toda ação que contribuiu para o resultado. Ex: sujeito atira e mata outra pessoa �

Nexo Causal � ação (tiro) produz o resultado (morte).

- O sujeito que vende a arma para quem atirou: há uma relação de Nexo Causal com o resultado.

- A empresa/sujeito que fabricou a arma: há uma relação de Nexo Causal com o resultado.

- Quem coletou o minério de ferro para a empresa fabricar a arma: há uma relação de Nexo Causal

com o resultado

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Método / processo hipotético de eliminação � consiste em identificar os antecedentes causais.

Para isso, elimina-se a ação para ver se o resultado permanece ou não. Ex: não ter comprado a arma:

não daria o tiro e não mataria. Portanto, a venda da arma, para esse crime, é antecedente causal.

Pela Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais: todos antecedentes se equivalem (assim, a

venda da arma se equivale ao ato de atirar) � essa é a teoria pura . Mas, o que ocorre na realidade é

um abrandamento dessa teoria.

Para que se tenha crime, precisa de uma conduta (ou seja, de uma vontade). Conduta que pode ser

dolosa ou culposa (Art. 18, I e II CP).

Quando não se faz menção alguma do tipo de culpa, pune-se a conduta dolosa (Art.18, P.único). Ex:

Art. 163 CP (destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia): se, sem querer, apóio a mão no vidro da

janela da sala de aula e o vidro se quebra, não serei punido com base nesse artigo, pois não tive a

intenção (conduta dolosa) e nem agi com negligência ou imprudência (conduta culposa).

Conduta culposa é aquela em que há imprudência,

negligência � o sujeito responde por crime culposo quando o mesmo poderia ser evitado, caso não

fosse imprudente, negligente. Ex: atropelamento de trânsito.

supondo que o atropelamento tenha sido provocado por

uma falha mecânica do veículo, ou seja, acionei o freio, mas ao invés de frear o veículo acelerou.

Logo, o sujeito não teve como evitar o acidente � nesse caso, o sujeito não atuou com dolo, nem

culpa.

O dolo ou culpa , garantem limitação ao antecedente causal, com isso limitam a aplicação do caput

do Art.13 do CP

O §1º do Art.13 , também atua como limitante do caput do Art.13 do CP. Ex: Tício dá um tiro em Paulo,

mira na cabeça (portanto tinha intenção de matar), mas acaba acertando-o no pé, não sendo o

suficiente, portanto, para levá-lo à morte. Paulo, ao ser socorrido é colocado em uma ambulância. A

caminho do hospital essa ambulância bate de frente com um caminhão, resultando na morte de Paulo

� Neste caso, Tício não responde pelo resultado (morte de Paulo) � Há uma superveniência de

causa relativamente independente

Relativa, pois o sujeito (Paulo) só morreu

porque estava na ambulância em razão do tiro que levou de Tício.

Usando o método hipotético de eliminação : sem o tiro no pé, Paulo não tinha morrido, pois não

estaria na ambulância no momento da batida. Portanto, há um nexo causal entre o tiro e a morte em

função da batida. Contudo, o §1º do Art.13 limita a aplicação do caput do mesmo artigo ao estabelecer

situações de relativa independência. � O resultado (morte) não será atribuído ao Tício, em função da

limitação à Teoria da Equivalência dos Antecedentes Causais , estabelecida pelo §1º do Art.13.

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Tício só responderá pelos atos anteriores ao resultado: tentativa de homicídio . Se víssemos apenas

o caput do Art.13 do CP, ele responderia pela morte.

Outro exemplo: sujeito leva um tiro e é levado ao hospital. É operado e depois, durante a recuperação,

o hospital pega fogo e o mesmo morre, queimado. � quem atirou não responde pelo resultado morte,

mas sim pela tentativa de homicídio. A superveniência de causa relativamente independente rompe o

Nexo Causal.

Outra situação: quando o tratamento do ferimento levar à morte, como por exemplo, no caso de

infecção hospitalar (sujeito leva um tiro, é operado, mas durante a recuperação sofre uma infecção

generalizada em função da ferida provocada pelo disparo) � a doutrina trabalha com o

Desdobramento do Curso Causal � nesse caso, não se aplica o §1º do Art.13, de forma que o

agente (autor do disparo) responde por homicídio doloso consumado.

Por si só: vítima leva um tiro no pé. Perde o equilíbrio e é atropelada por um automóvel. Com a soma

de todos os ferimentos, acaba morrendo. � o resultado é atribuído ao agente, autor do disparo. (não

se aplica o §1º do Art.13)

Outro exemplo: cozinheiro, ao saber que um inimigo mortal seu está em seu restaurante, aguardando

sua refeição, coloca veneno na comida (realiza, portanto, uma conduta para matar – dolosa). O cliente

ingere a comida. Neste mesmo momento, uma viga de concreto cai bem na sua cabeça, provocando a

morte imediata da vítima � O cozinheiro não responde pela morte. Contudo, a base legal não é o §1º

do Art.13, uma vez que a queda da viga é absolutamente independente. Não há qualquer relação de

causalidade, entre o envenenamento da comida e queda da viga.

Base legal a ser aplicada neste caso: ter colocado veneno na comida não é antecedente

causal do resultado morte. É pelo não enquadramento do caput do Art.13 do CP � Método Hipotético

de Eliminação � ou seja, se não tivesse colocado veneno, o sujeito morreria de qualquer jeito.

CONDUTA TIPO CRIME

1- COMISSIVA COMISSIVO COMISSIVO

2- OMISSIVA OMISSIVO OMISSIVO PURO

3- OMISSIVA COMISSIVO OMISSIVO IMPRÓPRIO / Impuro /

Promíscuo / Comissivo por Omissão

4- COMISSIVA OMISSIVO COMISSIVO IMPRÓPRIO / Impuro

1- Conduta Comissiva é aquela conduta Positiva , onde há uma Ação.

Terminologia

utilizada em

concursos

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Tipo Comissivo traz uma descrição de Fazer (ex: Art. 121 CP – Matar Alguém). A maior parte dos

tipos da parte especial é composta por tipos comissivos.

2- Conduta Omissiva é a conduta Negativa , onde há uma Omissão .

Tipo Omissivo traz uma descrição de Não Fazer (ex. Art. 135 CP – Deixar de prestar auxílio).

Ex. de conduta omissiva: ver que alguém está se afogando e não fazer nada. Deixar a pessoa se

afogar mesmo podendo fazer algo.

3- Existe a possibilidade de matar alguém por meio de uma conduta omissiva?

� §2º do Art.13 traz as situações em que isso ocorre nas alíneas a, b e c.

Para responder por um tipo comissivo, praticando uma conduta omissiva, necessita de uma Norma de

Ligação

§2º do Art.13, a � Ex: se um bombeiro passa na rua e vê alguém acidentado, sangrando,

necessitando de ajuda. Se ele não prestar socorro e a pessoa morrer, responderá por homicídio, uma

vez que ele tem obrigação por lei , de socorrer. (caracteriza-se numa conduta omissiva normativa)

Se, em vez de bombeiro, for um cidadão comum que apresentar uma conduta omissiva,

caracteriza-se um crime omissivo puro.

§2º do Art.13, b � “assumir a obrigação onerosamente ou gratuitamente”. Ex. de Maneira Onerosa:

uma enfermeira contratada para cuidar de um paciente na residência do mesmo. Distrai-se e esquece-

se de dar o remédio. O paciente morre. A enfermeira, nessa situação, omitiu o cuidado , logo

responderá pelo evento morte (responde pelo Art. 121 CP).

Ex. de Maneira Gratuita: sujeito está na praia. Uma mulher com uma criança pequena pede para que

ele dê uma olhada na criança enquanto ela vai ao banheiro. Por um descuido essa criança corre em

direção ao mar, se afoga e morre. O sujeito assumiu a obrigação de cuidar da criança gratuitamente,

no momento em que concordou em olhar a criança. Dessa forma, responderá pelo evento morte (Art.

121, §3º CP) � Conduta Omissiva e Tipo Comissivo.

§2º do Art.13, c � ”quando um comportamento anterior criar risco da ocorrência de um resultado”. Ex:

sujeito estimula o outro a entrar no mar agitado, falando que se ele não o fizesse iria virar alvo de

chacota por parte da turma. O “outro” morre afogado. Nesse caso, o sujeito responderá pelo evento

morte. Conduta Omissiva e Tipo Comissivo.

A Ação é causa física do resultado.

X

A Omissão é normativa do resultado � somente posso responder por um tipo comissivo tendo

realizado um comportamento omissivo se me enquadrar em alguma das situações trazidas pelas

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alíneas a, b ou c, do §2º do Art.13 (o que contraria o caput do Art.13*, pois se a omissão fosse causa

do resultado não precisaria das alíneas do §2º)

(*) caput do Art.13 � “o resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem

lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido”.

A maior parte da doutrina entende que a omissão não é causal , não é naturalística (não provoca

mudança no mundo exterior). Entende que a omissão é normativa . Portanto, se tiver andando à beira

de um lago, junto com um amigo e tiver uma criança se afogando e não fazer nada para ajudar,

respondo por omissão de socorro (conduta omissiva – Art.135 CP). Se, o meu amigo, for, por acaso o

pai da criança afogada, responderá pelo tipo comissivo – Matar Alguém, Art. 121 CP.

4- Conduta Comissiva e Tipo Omissivo � é uma incorporação que vem da doutrina italiana.

Ex: pessoa sofre uma parada cardíaca, durante o expediente, no meio da repartição onde trabalha.

Seus colegas vão de imediato ao seu socorro, no entanto são impedidos por ordens do chefe. Se a

mulher morre, o chefe responde por crime comissivo impróprio / impuro, mediante uma conduta

comissiva (ação de proibir o socorro) e tipo omissivo (não socorrer).

Antes de mais nada, para saber o que é crime, temos que saber o que é dolo e o que é culpa, por isso

vamos dar um salto na sequência dos artigos do Código Penal, para o Art.18 do CP.

Art.18 do CP

DOLO CULPA (em sentido estrito – Art.18, II, CP)

1- requisito exigido por ambos: PREVISIBILIDADE

2- PREVISTO

1- PREVISIBILIDADE � O fato tem que ser previsível. Previsível não é o resultado possível. É

previsível todo resultado que se pode prever mesmo atuando com todo cuidado. Ex: pego o meu carro

e vou “costurando” na estrada, a toda velocidade. O evento (acidente) é previsível. Pois, se não

tivesse correndo, o resultado seria evitado ou pelo menos as possibilidades seriam muito reduzidas.

Outro exemplo: Carro zero Km. Falha o freio e atropelo e mato uma pessoa. Neste caso, o resultado

não era previsível, portanto não há dolo nem culpa.

2- O Dolo é + exigível que a Culpa. Não há dolo sem que o agente tenha PREVISTO o resultado.

Teoria da Representação � basta que o agente tenha previsto o resultado para agir

dolosamente. Há dolo desde que o agente tenha antevisto o resultado causado. É a teoria defendida

pelas emissoras de TV. No entanto, no Brasil não adotamos essa teoria em nosso ordenamento.

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Teoria da Vontade � não basta prever, mas tem que querer. Neste caso, temos o chamado

Dolo Direto. (Vide Art. 18, I, CP)

Teoria do Assentimento � além do Dolo Direto (ou seja, do querer) é composto pelo Dolo

Eventual, ou seja, quando o agente assume o risco de produzir o resultado. É a teoria que adotamos

no Brasil .

Desmistificando a Morte por Acidente de Trânsito, classificada como conduta dolosa pelas emissoras

de TV aqui do Brasil � não há previsão do resultado, portanto não há dolo � o homicídio é culposo,

ocorrendo por negligência, imprudência do motorista.

Quando o motorista está bêbado � comete o dolo de dirigir alcoolizado, mas não há dolo de matar

num eventual acidente.

Para ter dolo, o resultado precisa ser previsto, qu erido ou assumido o risco (Teoria do

Assentimento)

Homicídio doloso na direção só ocorre em uma situação: quando o sujeito atropela intencionalmente

ou acelera para bater propositalmente. Mas, para isso é preciso de perícia, provas.

Alternativo (quando o agente realiza uma conduta e tanto faz o resultado.

Dolo Indireto Ex: dá um tiro e tanto faz ferir ou matar)

Eventual (quando o agente assume o risco de produzir o resultado.

DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE

Para ser Dolo não basta que o agente tenha previsto o resultado, embora

seja uma característica presente no Dolo. O Dolo Eventual ocorre quando além de prever, o agente

admite o resultado. (Ex: se morrer morreu. Tanto faz para o agente o risco de matar)

É uma modalidade

excepcional de culpa. Não é a regra (a regra é que o agente não prevê o que era previsível). Se o

agente sinceramente acreditar que o resultado não vai acontecer (em razões de suas habilidades

pessoais) de maneira alguma mesmo o tendo previsto, trata-se de culpa consciente. Ex: sujeito

caçando dá um tiro para acertar o animal. Antes de dar o tiro ele vê que tem uma pessoa atrás do

animal, mas como acredita em suas habilidades de nunca ter errado um tiro antes, atira. Contudo

acaba acertando a cabeça da pessoa � Culpa Consciente.

Todo crime culposo é obrigatoriamente crime material. Exige-se o resultado. Tem que dar causa ao

resultado (Art.18, II, CP). Conduta sem querer e vítima fica gravemente ferida: Lesão Corporal

Culposa.

Modalidades de Culpa:

A imprudência é modalidade de culpa e não de dolo; se dá por uma ação descuidada.

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A negligência se dá por uma omissão descuidada. Ex: mecânico descuidado esquece-se de

verificar os freios do veículo.

A imperícia se dá quando a agente não tem habilidade técnica para realizar a conduta. Ex:

médico fazendo uma cirurgia e erra; motorista de ônibus não consegue fazer uma manobra e provoca

atropelamento.

P.único Art.18 CP � para punir crime culposo tem que estar especificad o no código. Ex: §3º

Art.121 CP .

Crime Preter doloso � preter = além � crime que vai além do dolo. Tem-se, portanto, um misto de

Dolo e Culpa. � Dolo no Antecedente e Culpa no Consequente.

É quando o agente realiza uma conduta dolosa, mas o resultado provocado vai além do que ele queria

embora as tenha previsto.

É quando o agente não queria nem assumiu o resultado.

Ex: sujeito quer quebrar todos os dentes do outro. Dá um murro na boca do outro. Esse outro cai e

bate a cabeça na guia da calçada e morre. O agente teve o dolo de lesionar, mas causou a morte.

Possui culpa em relação ao evento morte. Responderá por Lesão Corporal Seguida de Morte – Art.

129, §3º CP. Nesse dispositivo, o legislador fez uma composição entre uma conduta dolosa e o

resultado culposo.

O agente não quis, nem assumiu o risco de produzir o resultado, queria apenas quebrar os dentes do

outro, lesionar o outro. É um caso de Crime Preterdoloso .

Ex: Mulher grávida do 6º filho. Marido sempre batia nela quando ela não concordava com ele. Em uma

dessas discordâncias, dá um soco nela. Acabam perdendo a criança.

Agente: dolo em lesionar e culpa em produzir o aborto. Responde pelo Art. 129, §2º, V do CP - Crime

Preterdoloso.

Crime qualificado pelo resultado � se o agente tiver a intenção de agredir a mulher para produzir o

abortamento, uma vez que sabe que o filho não é seu, vai responder pelos Art. 129 (lesionar a mulher)

e Art. 125 do CP (dolo de produzir o aborto). Uma vez que tem um tipo penal específico no código no

caso de produzir aborto quando praticado dolosamente. Trata-se de um Concurso Formal Imperfeito.

No caso de jogar ácido na mulher com dolo de provocar deformidade, vai responder pelo Art. 129, §1º,

III do CP. Tanto faz se for por dolo ou culpa, pois não tem um tipo penal que defina deformidade

permanente a título de culpa (em sentido estrito) como existe para o caso do aborto (no Art.125).

Ex: Cidadão põe a mão no fogo pela mulher. Fez vasectomia. Num belo dia sua mulher enche o saco

dele, levando-o a lhe dar um soco. No hospital, descobre que ela estava grávida e em função do soco

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havia perdido o bebê. Trata-se de um resultado não previsto, pois não sabia que ela estava grávida.

Não contava com isso, pois tinha feito vasectomia e confiava na fidelidade dela.

De acordo com o Art.19 do CP não há agravamento pelo resultado, pois não houve dolo nem culpa

em produzir o aborto uma vez que não sabia da gravidez. Neste exemplo, o sujeito responderá apenas

pelo caput do Art.129, respondendo pela lesão corporal provocada na mulher e não pelo evento

aborto. Mas, se a mulher ficar afastada de suas atividades por mais de 30 dias, responderá pelo Art.

129, §1º, I do CP.

ERRO

TIPO � Art.121 CP: Matar Alguém. Matar é elemento do tipo.

O tipo é composto por:

• Elementos Objetivos: descritivos. Ex: meios de execução, lugar de execução, etc.

• Elementos Normativos: exigem uma valoração jurídica.

• Elementos Subjetivos: o elemento subjetivo + comum é o dolo (vontade livre e consciente

de realizar a conduta descrita no tipo)

Elemento subjetivo do tipo: dolo, vontade, querer

(*)Todos os elementos do tipo são elementos constitutivos

Art.20 CP � erro quanto ao elemento constitutivo do tipo exclui o dolo .

Erro de Tipo Essencial Inevitável: ocorrem em eventos imprevisíveis, onde não é possível afastar o

erro. Logo, não há dolo nem culpa. De tal maneira que o agente não responde por nada.

ERRO

de TIPO

de PROIBIÇÃO

ERRO de TIPO

Essencial

Acidental

Inevitável (Invencível / Escusável)

Evitável (Vencível / Inescusável)

Objeto

Pessoa

Na execução

Resultado diverso do pretendido

qualidade

quantidade

Pode ser quanto:

mas o que é TIPO?

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Ex: Autorizada a matança de lobos para restaurar um desequilíbrio na cadeia alimentar de uma região.

Tem um infeliz fantasiado de lobo no meio de um monte de lobos. Se o caçador matar o sujeito

fantasiado pensando que ele fosse um lobo, não caracteriza dolo.

Ex: Enfermeira aplica um remédio num paciente. Devido a uma possível falha na fabricação do

remédio, o paciente morre. Não há dolo.

Erro de Tipo Essencial Evitável

Ex: Enfermeira, por descuido, pega o remédio, mecanicamente, do lugar onde sempre esteve e

deveria estar. No entanto, a faxineira quando limpou a prateleira dos remédios os trocou de ordem na

hora de guardá-los. A enfermeira aplica o remédio errado no paciente, que acaba vindo a morrer. Não

há dolo, contudo, se tivesse tido cuidado e conferido o remédio antes de aplicá-lo, poderia ter evitado o

erro. Logo, é inescusável, ou seja, não tem desculpa. Responde pelo Art. 121, §3º do CP (homicídio

culposo). Houve negligência, trata-se de uma conduta culposa.

Ex: Professor pega o código de um aluno para explicar determinado assunto. Ao final da aula se

esquece e acaba colocando o código em sua maleta pensando que era seu. Não há dolo. Trata-se de

um erro essencial evitável. No entanto, não responde por crime culposo, pois em nosso ordenamento

não existe furto culposo. Art. 155 � não contém culposo no tipo (como ocorre no Art. 121, §3º do CP).

De acordo com o Art. 20 do CP só se responde por crime culposo se tiver expresso em lei. Tem que

ser tipificada a conduta culposa.

Erro de Tipo Acidental quanto ao Objeto: pode ser tanto quanto à qualidade como à quantidade da

coisa subtraída. Ex: sujeito rouba uma bolsa contendo o que acreditava ser ouro. No entanto, tinha

uísque. Tanto o ouro como a bebida são coisas alheias móveis. Há, portanto, um erro quanto ao tipo

da coisa subtraída / furtada.

o erro acidental quanto ao objeto NÃO exclui o dolo

Erro de Tipo Acidental quanto à Pessoa: aplicação do Art. 20, §3º do CP.

Ex: Filho quer matar o pai, para ficar com a herança. Prepara uma emboscada. Sabendo que o pai

passa todo dia numa rua sempre no mesmo horário, espera o pai e no momento que a pessoa que

acreditava ser seu pai dobra a esquina dá um tiro e a mata, no entanto não era seu pai, mas sim um

desconhecido. Confunde a vítima. No erro de tipo acidental quanto à pessoa tem-se que levar em

consideração as qualidades da vítima pretendida. O filho responderá como se matado o pai (que

continua vivo). Responde por homicídio doloso, com agravante por ser ascendente, e por motivo torpe.

No erro quanto à pessoa há um erro de representação . Ex: irmãos gêmeos. Penso que é um, mas na

verdade é outro.

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Ex: Pai atira na nuca de uma pessoa, a uma distância significante, que estava pulando o muro de sua

casa, pensando ser o estuprador de sua filha. No entanto, era seu filho que estava perseguindo o

estuprador de sua filha que havia pulado o muro um pouco antes. O pai matou o filho por engano.

Queria, na verdade, matar o estuprador de sua filha. Neste caso, responderá por homicídio doloso

privilegiado como se tivesse matado o estuprador. No entanto tem diminuição da pena aplicada, pois

estava sob o domínio de violenta emoção (Art. 121, §1º do CP).

Erro de Tipo Acidental na Execução: aplicação do Art. 73 CP.

Ex: Aponto a arma para uma pessoa, dou um tiro. Erro a pessoa pretendida e acerto outra que está ao

lado. Caso não existisse o Art. 73 responderia por tentativa de homicídio a uma pessoa (vítima

pretendida) e homicídio culposo com relação à outra. O Art. 73 CP aduz que respondo por homicídio

como se tivesse atingido a vítima pretendida, no caso de erro na execução. Respondo por um só

crime.

Obs: a diferença com relação ao erro quanto à pessoa ocorre pelo fato da pessoa estar presente no

momento do fato, da conduta.

Ex: Se, no mesmo exemplo acima, o projétil acertar as 2 pessoas, o Art. 73 CP em sua parte final,

manda aplicar o Art. 70 do CP – Concurso Formal. O agente vai responder pelos 2 crimes, nos termos

do Art. 70 do CP.

Art. 74 CP – Resultado Adverso do Pretendido � também é modalidade de erro acidental na

execução.

Ex: Quero praticar um crime. Erro e acabo praticando outro crime. Sujeito quer quebrar a vidraça da

escola. Joga uma pedra. Erra e acerta a cabeça de uma pessoa que estava passando pela rua. Há

uma tentativa de dano (Art. 163 CP), mas acabou praticando uma lesão corporal culposa (Art. 129, §2º

CP).

O Art.74 CP afasta a concurso formal, de maneira que o sujeito responderá apenas pelo Art. 129, §2º

O Art. 74 CP diz:

Se ocorrer, também, o resultado pretendido (jogo a pedra, acerta na cabeça da pessoa e em

seguida na vidraça, quebrando-a), aí sim aplica o Art.70 CP: concurso formal do crime de dano

consumado (quebrei a vidraça) e lesão corporal culposa.

� Só responderá pelos 2 crimes se ocorrerem os 2 resultados.

� Se houver apenas o resultado pretendido (quebra da vidraça e não acertar a pessoa na rua), não

haverá erro.

� Se houver resultado diferente do pretendido, responde culposamente pelo crime, desde que seja

previsto em lei.

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Art. 20, §2º CP – Erro Determinado por Terceiro � Ex: 3 amigos. Tício, sabendo que José havia

dormido com sua esposa, decide manipular o Caio para dar um susto em José. Entrega uma arma a

Caio (carregada) e diz que estava descarregada e pede para que ele desse um “susto” em José. Na

hora de dar o susto, pensando que arma estivesse descarregada, Caio atira e acaba matando José.

Tício, quem provoca o erro, responderá pelo Crime.

Caio comete um erro de tipo essencial. Poderia evitar, ao conferir se a arma estava mesmo

descarregada. Não teve dolo de matar, nem assumiu o risco de produzir o resultado. Ele foi levado ao

erro de tipo essencial evitável. Responderá apenas por homicídio culposo, nos termos do caput do

Art.20 CP.

Autoria Mediata � quando levo alguém ao erro do tipo essencial. Não há concurso de pessoas entre

esses 2 agentes. Cada um comete um tipo de crime. No exemplo acima, Tício é o autor mediato. Não

há liame subjetivo entre os agentes quando um age com dolo e outro com culpa.

Ex de erro de tipo essencial inevitável: Médico pede para que a enfermeira aplique determinada

medicação em um paciente. A enfermeira não age com dolo nem tem consciência e competência para

saber se a medicação é correta ou não. Caso resulte na morte do paciente, em função da medicação

aplicada, o médico é o autor mediato e responde por homicídio doloso. Se o paciente não morrer

responde por tentativa de homicídio. Aplicação do Art. 20, §2º CP.

Art. 20, §1º CP – Des criminantes Putativas

Relembrando o que foi visto acerca de uma discussão doutrinária:

- Crime é a conduta típica, antijurídica e culpável.

- Na doutrina, a culpabilidade é um pressuposto para aplicação da pena, portanto crime é um fato

típico e antijurídico.

Art. 23, 24 e 25 CP � trabalham com situações que afastam a ilicitude da conduta. Afastam a

antijuridicidade da conduta. Não há crime, pois a conduta é típica, mas não é antijurídica.

Ex: Estado de Real Necessidade: para salvar seu direito à vida, acaba tirando o direito à vida de outro.

Não há crime. Art. 23, I e Art.24 CP

Art. 23, III – Estrito cumprimento do dever legal � Ex: Busca e apreensão: oficial de justiça que entra

na residência de um cidadão sem a sua autorização e apreende algum bem. Cumpre ordens maiores

do Estado. Está em cumprimento do seu dever.

Art. 23, III – Exercício regular de direito � Ex: impedir à força que alguém invada seu terreno, como

por exemplo, um sem terra invadindo um terreno particular.

Ex: educar o filho – bater na criança para educá-la, corrigindo-a, não é crime.

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Art. 20, §1º CP – Descriminantes Putativas � quando supõe que esteja em legítima defesa, em

estado de necessidade, em estrito cumprimento do dever legal ou no pleno exercício regular de direito,

mas NÃO ESTÁ.

Ex: Sujeito fazendo um cruzeiro no mar gelado. Ouve um aviso que o navio está afundando. Corre

atrás de uma prancha de madeira, para que não morra de frio no mar. Outro sujeito chega junto para

disputar a mesma prancha. Na briga, mata o sujeito, pois precisava da prancha para sobreviver

(acreditava estar em estado de necessidade). Logo depois, soa um novo aviso dizendo que houvera

um engano e o navio não estava afundando. A pessoa não estava em real necessidade, pois para que

isso seja caracterizado, é indispensável a existência de perigo atual.

Ao pensar em estar em estado de necessidade: estado de necessidade putativo . Não pode

ser aplicado o Art.24 CP, pois o perigo não era atual.

Nesse exemplo, vai responder pelo §1º do Art.20 CP � não responderá pelo crime. Será

absolvido.

Ex: Sujeito já havia matado 5 pessoas. Vira e diz que vai matar sua mulher e o Ricardão com quem ela

o estava traindo. A mulher é assassinada. O Ricardão fica sabendo disso, e que ele era o próximo a

ser morto. Ricardão está num bar e avista o sujeito entrando. Na hora que o sujeito coloca a mão no

bolso da jaqueta, o Ricardão não pensa duas vezes e mata atira uma faca no pescoço do sujeito,

levando-o à morte. Depois, quando chega a polícia descobre-se que o sujeito não portava uma arma,

mas sim estava segurando uma carta endereçada ao Ricardão com um pedido de desculpas por ter

pensando em matá-lo.

Neste caso não há legítima defesa (Art.25 CP). Há sim uma legítima defesa putativa ,

descriminante da conduta com base no §1º do Art.20 CP, uma vez que o sujeito não podia esperar

para ver se seria assassinado ou não. Foi levado ao erro, mas na dúvida era melhor não se arriscar.

Ex: Estrito cumprimento do dever legal putativo � Oficial de Justiça entra na casa de alguém para

realizar uma busca e apreensão de uma TV. Como o sujeito nunca se encontrava em casa, foi

chamado um chaveiro para ele entrar na casa. Só que há um erro, pois na mesma rua tinha 2 pessoas

com o mesmo nome e acaba entrando na casa errada, portanto, levando a TV da pessoa errada. §1º

do Art.20 CP

Ex: Exercício regular do direito putativo � Erro médico: sujeito é levado para um centro cirúrgico

errado. Cidadão tinha semelhança física com o outro e o médico realiza uma cirurgia que não era para

ser feita naquele paciente. §1º do Art.20 CP

Culpa Imprópria � Ex: invadem sua residência de madrugada, depois de você ter sido assaltado 5

vezes em sua própria residência. Houve o telefone tocar antes da invasão, mas achou que podia ser o

bandido averiguando se havia alguém em casa para cometer novo roubo, por isso não atendeu. Na

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hora em que a pessoa entra pela porta, com todas as luzes escuras, dá um tiro e mata a pessoa.

Quando vai ver o bandido, descobre que não era um bandido, mas sim um vizinho que vinha trazendo

em suas mãos um bilhete de que sua mãe havia falecido. Tentara ligar, mas como ninguém tinha

atendido ao telefone, resolveu pular o muro e entregar o comunicado pessoalmente. O autor não

responderá por homicídio doloso, mas sim culposo. Tinha a intenção de se proteger do bandido

(Legítima Defesa), no entanto falhou ao não esperar para ver quem era; quem tinha invadido sua casa.

É um caso de Culpa Imprópria , pois atirou querendo acertar o bandido (logo, conduta

dolosa), mas vai responder pelo crime culposo. Pensa estar agindo em Legítima Defesa, mas não

está.

A Culpa Imprópria se diferencia do erro acidental quanto à pessoa. Responde pela parte final

do §1º do Art.20 CP. (Crime culposo e não doloso)

OBS: Na 1ª parte do §1º do Art.20 CP, o erro é plenamente justificável, portanto não responde por

crime algum.

Natureza Jurídica das Descriminantes Putativas � consiste em saber o que vem a ser

descriminantes putativas do ponto de vista jurídico.

Descriminante � Causa de Exclusão da Ilicitude

Putativo � vem do latim e significa: imaginário, fantasioso

Descriminante Putativa = Causa de Exclusão da Ilici tude Imaginária

Existe uma discussão doutrinária acerca de sua natureza jurídica. Para alguns, trata-se de

erro de tipo. Outros dizem que é erro de proibição.

Paulo José da Costa Jr, diz que há uma 3ª modalidade de erro. Uma mistura de erro de tipo

com erro de proibição. (é a posição compartilhada pelo professor).

Erro de Tipo x Erro de Proibição

É o exemplo, já visto, da mulher que chega do

Cazaquistão e acreditou ser lícito fazer o abortamento aqui no Brasil, uma vez que no país dela era.

Art. 20, §1º CP

Não há dolo

O sujeito não tem vontade, nem

consciência da conduta.

O agente não tem tipicidade ou se

tiver, é culposa

Art.21 CP (tb chamado Erro sobre Ilicitude do Fato)

Há dolo

Mas o agente é isento de culpa, pois acredita que o

que está fazendo é certo. Realiza uma conduta com

consciência e vontade, mas acredita que sua conduta

seja lícita / permitida.

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Art.124 CP (consentir o abortamento) � há vontade de realizar o abortamento. Age, portanto, com

dolo. Mas, não tinha consciência da ilicitude do fato.

Mas, tinha possibilidade de tomar consciência da ilicitude? Na situação exemplificada, em

função da dificuldade na comunicação com as pessoas aqui no Brasil, não tinha.

O erro de proibição é causa de exclusão da culpabilidade em função da ausência de PCI

(potencial consciência da ilicitude). Art. 21 CP � excludente da culpabilidade – portanto, Isento de

Pena.

É o senso de reprovação social que recai sobre o autor

do fato típico e antijurídico. Ex: sujeito tem 3 filhos: um de 12, 8 e outro de 3 anos. Contrata um pintor

para pintar o muro do quintal. Mostra aos seus 3 filhos que não é para sujar o muro que acaba de ser

pintado. Os filhos resolvem jogar bola no quintal e sujam o muro inteiro novamente. Aplica um

“corretivo” nos pentelhos com uma proporção distinta: no mais velho desce a lenha, no do meio bate,

mas com moderação e no de 3 anos pega no colo e diz que o que fizera era errado. O pai age

conforme a capacidade de entendimento das crianças do que o que haviam feito era errado. Quanto

maior a capacidade de entender, maior a censura.

Art. 21 CP � Erro de Proibição: toda vez que se supõe estar atuando licitamente, mas é ilícito. �

Excludente de Culpabilidade � Conseqüência: Isenção da Pena.

A 1ª parte do §1º do Art.20 CP (erro de tipo) traz uma linguagem própria do Erro de Proibição,

uma vez que o legislador também faz uso da expressão: isenção de pena. Em função disso, alguns

doutrinadores consideram as descriminantes putativas como sendo erro de proibição e não de tipo.

No entanto, a 2ª parte do referido artigo traz uma linguagem própria de erro de tipo.

O legislador mistura os 2 tipos de erros nesse artigo. Na 1ª parte a conseqüência é do erro de

proibição e na 2ª do de tipo.

Nessa discussão doutrinária, Paulo José da Costa Jr, defende a existência de uma 3ª

modalidade de erro – uma mistura de erro de tipo, com erro de proibição.

Art. 23 CP � Tipos Penais Permissivos: o legislador permite que se mate alguém, e que essa conduta

não seja crime.

De acordo com o Art.20 CP o sujeito pensa que atua de acordo com um tipo penal

permissivo. Supõe, por erro.

O Art. 23 CP traz os Excludentes da Antijuridicidade, ou seja, Excludentes da Ilicitude � NÃO

há CRIME � para que seja crime, a conduta tem que ser típica e antijurídica.

contrária ao ordenamento jurídico

Existem situações que excluem essa antijuridicidade de uma conduta típica. Quando o

Estado permite matar alguém, por exemplo, (em legítima defesa, em estado de perigo).

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A tipicidade da conduta é indício da antijuridicidade, ou seja, de que é crime. Uma vez que, o

fato da conduta estar tipificada em nosso ordenamento tudo indica que, ao ser realizada, sofrerá

alguma sanção.

Mas, posso ter uma conduta antijurídica sem que ela seja típica? Sim, embora num

pensamento linear não pensássemos ser possível contrariar o ordenamento jurídico se a conduta não

está tipificada. Ex: matar a si próprio – suicídio – Não é Crime. É uma conduta que não está tipificada

em nosso ordenamento. No entanto, é uma conduta antijurídica, porque, caso fosse lícita, auxiliar a

prática do suicídio não seria crime (Art.122 CP). A participação no suicídio (auxílio) está tipificada, mas

a conduta em si não está tipificada no código.

Outro exemplo: Art. 240 CP – Adultério – é uma conduta ilícita, antijurídica. Mas, não é mais

uma conduta típica, uma vez que foi revogada, deixando de ser crime.

Excludentes de Ilicitude

(Art.23 CP)

Estado de Necessidade (EN) Legítima Defesa (LD)

(Art.24 CP) (Art.25 CP)

Caracteriza-se pela expressão: Caracteriza-se pela expressão:

“situação de perigo atual ” “situação de agressão injusta”

Neste caso, a situação de perigo traz um Estado de Necessidade para os dois sujeitos. A agressão é

lícita. E quem sobreviver não será punido.

No entanto é preciso esperar o perigo se materializar / virar atual para não sacrificar o direito de um

inocente injustamente. O legislador não permite a antecipação da ação como o faz a Legítima Defesa.

X Agressão que pode ser:

Atual ou Iminente

Atual: agressão presente / que já se

desenrola. Ex: sujeito está disparando a

arma.

Iminente: agressão que está próxima da

atualidade. Ex: sujeito que coloca a mão na

arma dentro do casaco para matar.

Se alguém vai me agredir injustamente,

posso agir antes impedindo essa agressão

iminente

Mas, exige-se que o perigo seja atual? Ele

pode ser iminente?

Sim exige. Não engloba perigo iminente.

Tem-se vários direitos, de diversos titulares

em perigo. No EN, para preservar o meu

direito, acabo prejudicando os direitos dos

outros que também teriam direito de preservar

os seus direitos.

Ex: Navio afundando no mar gelado. Na

disputa pela prancha, qualquer dos sujeitos

que ganhar a disputa, não cometerá uma

agressão injusta uma vez que lutavam para

preservar seus direitos (direito de viver). Para

isso, tiveram que “engolir” os direitos do outro

– perdedor da disputa.

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Outras Caracterizações ( Requisitos ) do Estado de Necessidade ( EN):

� A situação de perigo não pode ter sido cometida pelo autor dolosamente.

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Ex: cidadão afunda o navio de propósito e depois vai brigar pela prancha para se salvar. Neste caso

não preenche os requisitos do EN.

Se gerar a conduta de perigo, imprudentemente � Modalidade de Culpa � não tinha

vontade, portanto preenche os requisitos do EN.

Não confundir: voluntária x vontade

A conduta há de ser voluntária. Para comportamentos involuntários não se tem conduta. Ex do

sujeito que vai ao neurologista, que lhe aplica uma martelada no joelho para verificar seus reflexos.

Se no momento que o fizer tiver passando alguém na frente, e essa pessoa levar um chute. Pelo

movimento do chute ter sido involuntário, não há conduta, não há crime.

A conduta (voluntária) pode ser culposa ou dolosa (quando há vontade, intenção). Vontade é

característica de dolo.

� Inevitabilidade do dano

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Diante de uma situação de perigo para minha vida, só vou cometer / produzir um dano a um

bem ou direito alheio se não houver outra maneira de me afastar do perigo. Ex: Estou num parque e

noto a presença de um pitbull. O cão avança em minha direção. Estou armado, mas se der um passo

para trás fecho o portão do parque e escapo do cachorro. Se, em vez disso, atirar e matar o cão, não

será caracterizado o EN uma vez que existia a alternativa clara de sair de lá, ileso, sem matar o cão

que é um bem de outra pessoa.

Posso atuar em EN para proteção de direito próprio ou alheio. Ex: se vejo o cachorro avançar

numa criança dentro do parque, poderia atirar no cachorro.

� Exigência de elemento subjetivo

No tipo penal o elemento subjetivo é o dolo (vontade e consciência). Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Neste artigo, o elemento subjetivo é o “para salvar” � ou seja, tem que ter consciência de

que atua para poder se salvar, ou salvar um direito próprio ou alheio. Ex: sujeito mata outro com um

arpão. Logo em seguida, ouve um comunicado de que o navio estava afundando. Não vai escapar

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de punição alegando EN, pois não cometeu a conduta para se salvar. Foi anterior ao anúncio do

perigo. Situação totalmente independente.

� Irrazoabilidade do sacrifício do bem preservado

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.

O legislador, no código de 1969, no que se refere ao EN, adotou uma Teoria Diferenciadora

� o EN figurava em 2 Artigos diferentes e em Capítulos diferentes. Em um dos Artigos era

Excludente de Ilicitude e no outro era Excludente de Culpabilidade.

Pensava-se em Bem Preservado (BP) x Bem Sacrificado (BS).

Se, BP > valor que BS, o EN seria Excludente de Ilicitude / Antijuridicidade. Ex: preservo minha vida,

mas para isso sacrifico o patrimônio de alguém (mato o cachorro de alguém, por exemplo).

Se, BP < ou = valor que BS, o EN seria Excludente de Culpabilidade. Ex: para salvar a minha perna,

sacrifico a vida de alguém. Conduta típica, antijurídica mas não é culpável.

Na legislação atual, o legislador considerou EN apenas sobre Excludente de Antijuridicidade.

Adota-se a Teoria Unitária, na qual o EN é exclusão de ilicitude (Art.23, I e Art.24 do CP).

É razoável que deixe meu cachorro morrer para prese rvar a vida de outra pessoa? SIM. Se não

sacrificar a vida do meu cachorro, em uma situação de perigo atual, e outro morrer, não preencho os

requisitos para se configurar EN, logo responderei pela morte do cidadão.

Se isso acontecer, será enquadrado no § 2º, do Art.24 – “Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do

direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.” – redução da censura (da

culpabilidade).

Visão do Professor : Por não adotar a Teoria Diferenciada, que é a correta, o legislador

tem problemas. Teve que misturar situações relacionadas à culpabilidade com exclusão de

ilicitude (Art.24 CP). Esse artigo deveria ter sido dividido como no código de 69.

Aplicação do § 1º, do Art.24 – “Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de

enfrentar o perigo.” – Ex: Bombeiro participa de um resgate em alto-mar. Se joga ao mar e segura a

vítima de um naufrágio. O navio de resgate desaparece no mar gelado e agitado. Quando o

bombeiro pula na água e pega a vítima é que ele se dá conta de que a prancha não agüenta os dois

ao mesmo tempo para fora d’água. Nessa situação, se o bombeiro deixar a vítima na água,

preservando a sua (do bombeiro) vida ele não poderá alegar EN, pois tinha o dever legar de

enfrentar o perigo.

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Caracterizações ( Requisitos ) da Legítima Defesa ( LD):

� A agressão tem que ser injusta e humana. Ex: um pitbull vem correndo em minha direção. Ele

salta em direção a minha garganta. Dou um tiro nele e ele morre. Estou sendo agredido? Sim, estou.

Contudo, não atuei em legítima defesa , uma vez que só a agressão humana é justa ou injusta . A

de um animal não pode ser classificada.

Quando me defendo do ataque de um animal, atuo em Estado de Necessidade

Mas, existe alguma possibilidade diante do ataque d e um animal, de atuar como Legítima

Defesa? Sim. Se o animal for utilizado como arma de ataque por alguma pessoa, ex: dono do pitbull

com ele na coleira o utilizando como arma. Nessa situação, posso atuar em Legítima Defesa, pois não

se trata de agressão do animal, mas sim do dono do animal � agressão humana injusta.

Apenas nessa situação atuo em LD � animal: objeto / meio de ataque.

É possível Legítima Defesa contra Estado de Necessi dade? Não. Porque quem atua em EN age

licitamente, legitimamente em Estado de Perigo que atinge mais de um bem – ambos atuam em EN –

ambos têm permissão de fazê-lo, logo a agressão não é injusta. Não é Legítima Defesa.

Ex: no caso da prancha: o que está em cima da prancha vê outro se aproximar para pegar a prancha

dele e sair do mar gelado. Na hora em que esse outro chegar para disputar a prancha, os dois se

encontram em EN. Se o sujeito que já estava na prancha der um tiro e matar o outro não é Legítima

Defesa.

� A agressão tem que ser injusta, humana, atual ou iminente � iminente é aquela próxima de

ser atual. Na LD podemos nos antecipar e impedir o início da agressão. Ex: caso do cidadão que me

jurou de morte vem em minha direção e coloca a mão dentro do bolso do casaco. A agressão é

iminente, então se agir para repelir, atuo em LD.

� Repelir com moderação os meios necessários � tem-se que analisar a situação da agressão

para ver os meios que utilizo para repeli-la.

Dependem dos meios que disponho e da situação da agressão.

Meio menos gravoso possível para repelir o ataque (a agressão). Menos gravoso possível

para o agressor. Ex: sujeito vem me agredir injustamente. Tenho ao meu alcance um porrete e um

revólver. Vou me utilizar do meio menos gravoso para impedir a agressão. Se o sujeito não tiver com

arma de fogo, posso me utilizar do revólver para dar um tiro no chão – meio menos gravoso, não

praticarei nenhuma lesão no meu agressor.

Obs : Se a agressão cessar e continuar repelindo-a dando tiro, dando porrada no meu

agressor, responderei pelo excesso doloso (Art.23, p.único CP) praticado na Legítima Defesa. Se o

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meu agressor morrer em função do excesso cometido pela vítima, respondo pela morte. Se não

morrer, responderei pelas lesões provocadas pelo excesso doloso cometido, uma vez que não estava

mais atuando em Legítima Defesa, pois a agressão já tinha cessado (não era atual nem iminente).

Ex: Sujeito estupra a filha de um cidadão. Quando o cidadão vê, o estupro tinha acabado de acontecer

(portanto a agressão já tinha ocorrido). O cidadão pega a sua arma e dá um tiro na nuca do

estuprador. Não é possível alegar Legítima Defesa, pois a agressão já havia cessado. O cidadão

responderá por homicídio doloso, pois está se vingando. Não atua para repelir a agressão.

Legítima Defesa Sucessiva � ocorre quando o agressor inicial vai se defender do excesso daquele

que estava atuando inicialmente em Legítima Defesa. Ex: sujeito está me agredindo. Atuo e cesso a

agressão. Imobilizo o meu agressor. Depois resolvo ir à forra com meu agressor e passo a agredi-lo,

começo a cortá-lo com uma faca. Neste momento, de agredido passo a agressor. Logo, se o sujeito

der um golpe em mim, para repelir minha agressão, atuará em Legítima Defesa. Se o sujeito, ao repelir

essa minha agressão me matar, responderá por tentativa de homicídio referente à primeira agressão e

não responderá pela morte, pois neste 2º momento atuava em Legítima Defesa.

� Exigibilidade de elemento subjetivo � enquanto no Estado de Necessidade existe o elemento

subjetivo (para salvar), na Legítima Defesa há uma divergência entre os autores. Para alguns autores,

exige-se o elemento subjetivo na LD , que consiste na consciência de que se atua para repelir a

injusta agressão atual ou iminente. Ex: se não sabia que a agressão era atual ou iminente não há LD.

Para outros autores, no Art.25 do CP não há elemento subjetivo expresso. Logo, se não está

expresso, não posso exigir a presença desse elemento para caracterizar a LD.

Posição do professor: não tem sentido se caracterizar legítima defesa ao matar uma pessoa

e só depois descobrir que ela tinha intenção em me matar. Não há atuação para repelir uma agressão

atual ou iminente (pois não sabia da intenção do outro – matou por que quis, sem saber).

Diferentemente do EN e da LD, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício

regular de direito não exigem requisitos.

Exercício regular de direito � Ex: Luta Livre: se respeitadas as regras do jogo, o lutador que

provocar lesões graves ou até mesmo morte decorrente das agressões físicas durante a luta, não

responde por nada. É uma agressão permitida.

Ex: o médico para realizar cirurgias de mudança de sexo. Trata-se de uma lesão corporal permitida na

legislação. Ele pode também tirar o rim saudável de um filho para colocar no pai, etc.

CULPABILIDADE e suas Cláusulas de Exclusão

Culpabilidade: senso de reprovação social que recai sobre o autor de fato típico e antijurídico.

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Relembrando: temos 2 conceitos de crime:

1- Conceito Bipartido � crime é fato típico e antijurídico.

2- Conceito Tripartido � crime é conduta típica, antijurídica e culpável.

Nos dois casos se a conduta não for culpável haverá absolvição. Portanto, não há diferença.

Requisitos para se ter Culpabilidade (não pode faltar nenhum deles):

1- Imputabilidade

2- Potencial Consciência da Ilicitude

3- Exigibilidade de Conduta conforme o Direito

Se tiver uma situação que exclui qualquer um desses requisitos terei a exclusão da

culpabilidade.

1- Imputabilidade � não é especificada no código. O legislador apresenta o que é inimputável.

Portanto, chego à definição do que é imputável por uma interpretação ao contrário.

Art. 26 CP � doença mental; desenvolvimento mental incompleto (surdos-mudos que não

desenvolveram linguagem dos sinais ainda) ou retardado (são os indivíduos oligofrênicos, ou seja: os

idiotas [idade mental: 3 anos de diferença da idade biológica]; imbecis [idade mental: 4 a 7 anos de

diferença]; débeis mentais [idade mental: acima de 7 anos de diferença]).

Art. 27 CP � < de 18 anos

Art. 28 CP � embriaguez acidental ou voluntária

A inimputabilidade é caracterizada / analisada se a pessoa realizar uma conduta típica e

antijurídica e no momento da conduta (ação ou omissão) o sujeito era absolutamente incapaz de

entender o caráter ilícito do fato. Se o sujeito comete uma conduta típica e antijurídica e depois ficar

“lelé”, ou seja, depois da conduta, não será inimputável.

Para se caracterizar a inimputabilidade temos que observar pelo menos uma dessas 2

condições:

- Indivíduo não tem capacidade de entender o que es tá fazendo � essa incapacidade tem que ser

absoluta. Se for relativa, não é inimputável, mas haverá redução de pena (Art.26, P.único, CP)

ou

- Indivíduo tem que apresentar absoluta incapacidad e de determinação � é aquele cidadão que

tem compulsão e não consegue se deter / se conter em determinadas situações mesmo sabendo o

caráter ilícito do fato. Ex: maníaco do parque: compulsão por fazer sexo com os defuntos de suas

vítimas. Mostra uma doença.

Já, a imputabilidade exige a observância de duas condições: capacidade (mesmo que

relativa) de entender a ilicitude da conduta e absoluta capacidade de determinar-se.

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Conseqüências da Inimputabilidade do Art. 26 CP � Isenção de pena (não é culpável nos termos

do Art.26 do CP) – Absolvição chamada Imprópria, pois temos como modalidades de sanções penais:

Penas e Medidas de Segurança. O juiz determinará sanção penal para o inimputável: medida de

segurança (imposta àquele que é absolvido com base no referido artigo).

Ex. de questão interessante � sujeito sofre uma agressão. Reage para se defender. Na defesa,

esfaqueia seu agressor. No momento da conduta, descobre-se que o sujeito (que se defendeu)

era doente mental. Primeiramente, deve-se analisar que a conduta dele não é antijurídica, uma

vez que atuou em Legítima Defesa. Logo, não há que se analisar a culpabilidade .

Portanto, se o juiz o enquadrar no Art.26 do CP, impondo medida de segurança, o juiz errará.

Uma vez que ele só poderia fazer isso se a conduta fosse típica e antijurídica .

Medidas de Segurança (Art.96 CP) � a internação é a regra. Mas, o juiz poderá determinar

tratamento ambulatorial se a pena for de detenção. (Art.97 CP).

Pena de Reclusão � pena + grave (em casos de homicídio, furto)

Pena de Detenção � pena – grave (em casos de ameaça)

Reclusão � necessariamente (obrigatoriamente) é internação

Inimputabilidade Semi-imputabilidade

(Art.26, caput, CP) (Art.26, P.único, CP)

1ª Caracteriza-se por uma doença mental fala em perturbação da saúde mental

(necessidade de ser uma patologia) (e não doença – pode ser momentânea)

==============================================================================

==============================================================================

A internação se aplica nos 2

casos. Mas, há a

possibilidade do Juiz optar

por tratamento ambulatorial

nos casos de Detenção

X 2ª Absoluta incapacidade de entender o

caráter ilícito do fato, ou de determinar-se.

O agente tem capacidade parcial, seja de

entender ou de determinar-se. Não tem plena

capacidade, mas tem um pouco de capacidade.

3ª quanto às consequências:

Isenção de Pena – Agente absolvido e

aplicação de Medida de Segurança (O juiz vai

ter que analisar a pena cominada ao tipo penal

infringido / cometido para ver se é reclusão ou

detenção, para determinar a forma de Medida

de Segurança: ou tratamento ambulatorial ou

internação.

Semi-imputabilidade é causa de redução da

pena. O Juiz condena / réu será condenado. A

pena base é fixada e será reduzida de 1 a 2/3

(de acordo com o Art.68 CP). Critério para

redução: quanto > a capacidade de entender <

a redução. Quanto + próximo da imputabilidade,

+ culpável, portanto < a diminuição da pena.

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Obs : De acordo com o Art.98 CP , no caso de pena privativa de liberdade para o semi-imputável, o juiz

poderá substituir a pena por medida de segurança caso seja necessário.

Discussão Doutrinária:

Pelo Código de 40, quando entrou em vigor, havia um Sistema do Duplo Binário , que permitia a

imposição cumulativamente ao agente de Pena + Medida de Segurança, de tal maneira que ele

cumpria a pena e depois prosseguia cumprindo a medida de segurança, em função de sua

periculosidade.

Esse sistema foi amplamente atacado pela doutrina.

Hoje, adotamos o Sistema Vicariante , que permite as seguintes aplicações:

- ao imputável � imposição exclusiva de Pena;

- ao inimputável � imposição exclusiva de Medida de Segurança;

- ao semi-imputável � possibilidade de escolha entre Pena ou Medida de Segurança. (nunca

cumulativamente).

Art.27 CP � apresenta a menoridade penal como exclusão da culpabilidade � os < de 18 anos são

penalmente inimputáveis.

Crítica a esse dispositivo: O legislador, por presunção legal absoluta , assume que os < de 18 anos

têm absoluta incapacidade de entender o caráter ilícito do fato.

Não cabendo prova em contrário.

Não importa perícia, exame de QI, etc. Só se analisa o período cronológico do agente.

Consequência � a Legislação aplicada é o ECA. O menor infrator não pratica crime, mas sim ato

infracional, respondendo apenas por ato infracional. Receberá uma medida sócio-educativa. Não

recebe pena. Ex: latrocínio, se o menor matar 1 ou 1000, responderá apenas por ato infracional, e será

condenado à internação de no máximo 3 anos.

Obs : O Código de 1969 que acabou não entrando em vigor trazia a inimputabilidade até os 16 anos.

Art.28 CP � Não excluem a imputabilidade penal:

Art.28, I, CP � a emoção ou a paixão � são modalidades de estado de sentimento / estado anímico.

A diferença entre elas é que a emoção é o estado anímico forte e passageiro, enquanto a paixão é

duradoura e fraca.

Traçando um comparativo com as doenças: emoção se equivale ao ataque fulminante do coração,

enquanto que a paixão a uma doença crônica, um câncer, que vai matando aos poucos.

Ambas não excluem a imputabilidade, contudo a emoção serve para privilegiar o homicídio. Ex:

Art.121 CP, contribuindo para redução de pena.

No Art.65 CP a emoção também age como atenuante.

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Art.28, II, CP � também não excluem a imputabilidade a embriaguez voluntária ou culposa.

Embriaguez: intoxicação aguda pelo álcool ou substâncias análogas.

Modalidades de Embriaguez:

a) Culposa � ex. do cara que entra no boteco, começa a conversar com um amigo e “enche a lata”

sem perceber. Experimenta todas as marcas de bebida do boteco. Quando levanta para ir ao banheiro

é que percebe que estava mal, pois tudo estava rodando. É um caso de embriaguez culposa �

começa a beber por beber, não para ficar embriagado. Faltou prudência para parar na hora certa,

antes de ficar embriagado. Não exclui a culpabilidade, a imputabilidade.

b) Voluntária � ex. do cara que passa um dia de cão: é despedido do trabalho, a namorada termina o

namoro com ele, descobre que ficou de DP na faculdade. Na hora de ir pra casa, resolve parar num

bar para encher a cara. Vai com essa finalidade. Deixa um cheque com o gerente do bar para que lhe

fosse servido bebidas até completar o valor do cheque. É um caso de embriaguez voluntária � há a

intenção de se embriagar. Logo, responderá pelos atos posteriores.

Teoria da “Actio Libera in Causa” � é o sistema que utilizamos no Brasil. A absoluta capacidade de

entendimento ou de determinação quanto a ilicitude do fato é considerada quando o cidadão ainda não

se embriagou, sendo nesse momento que se avalia a imputabilidade do agente. Se começou a beber,

mas não tinha intenção de ficar embriagado, foi imprudente. Deveria parar e não continuar ingerindo

álcool. É antes de entrar em embriaguez que se avalia a capacidade de entendimento ou

determinação do agente.

O cidadão completamente embriagado possui uma total incapacidade de entendimento ou

determinação quanto a ilegalidade do fato.

Cuidado � No entanto, se a teoria for aplicada cegamente, ou seja, sem analisar o contexto, pode

levar à punição alguém que não tenha atuado com dolo, nem culpa. Ex: sujeito chega a sua casa,

tarde da noite e se embriaga de propósito (embriaguez voluntária ). Morava sozinho. Não era

previsível que nesse momento (após ficar embriagado) um vizinho resolve bater à sua porta para

discutir sobre o barulho que seu cachorro havia feito durante o dia. O sujeito, embriagado, agride seu

vizinho. Está absolutamente incapaz de entender a ilegalidade do fato. Nesse contexto, dada a

imprevisibilidade de ser incomodado tarde da noite em sua casa, o agressor não atua com dolo, nem

culpa com relação às lesões corporais provocadas no vizinho.

Se fosse aplicada a teoria da Actio Libera In Causa, o sujeito responderia pelas lesões corporais, pois

antes de se embriagar, tinha capacidade de entendimento.

c) Pré-ordenada � é quando o agente se embriaga com o propósito de delinquir. Ou o sujeito não

tem coragem de delinquir a frio (precisa, portanto, de uma animação) ou porque acredita que, com a

embriaguez, escapará do direito penal.

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É pré-ordenada, pois se embriaga com o propósito de delinquir (essa é a diferença da

embriaguez voluntária). Não só responde pelo crime, como tem a pena agravada de acordo com o

Art.61, II, L, CP.

d) Patológica � é aquela embriaguez reincidente, em que é prolongado o uso do álcool. O cidadão

desenvolve uma doença mental (uma patologia mental).

Se a embriaguez progredir para uma doença mental � receberá o tratamento do Art.26 e não mais

do Art.28 CP. Será inimputável nos termos do caput do Art.26 CP se houver completa incapacidade de

entender ou determinar-se; e semi-imputável nos termos do P.único do Art.26 se a doença apenas

reduzir a capacidade de entendimento e determinação quanto à ilicitude do fato.

e) Acidental Fortuita (é a inesperada; portanto, imprevisível)

Força Maior (é inevitável; embora tivesse como prever, não pode evitar)

Embriaguez Acidental Fortuita � ex: jovem sai a noite pela 1ª vez. Vai a uma balada. Pode uma coca

light. O garçom diz que não tem. Só tem coca zero. O jovem, que nunca havia tomado coca zero,

resolve experimentar. Na hora de deixar as bebidas na mesa, o garçom se confunde e deixa para o

jovem uma cuba livre. O rapaz, que nunca havia bebido nem coca zero e nem cuba livre, não sabia

distinguir o gosto de uma e de outra. O jovem, que nunca havia bebido nada alcoólico, era

hipersensível ao álcool. Gostou da cuba livre e, achando que se tratava de coca zero, pediu mais

outras vezes para o garçom. O jovem perde completamente a noção de entendimento e determinação.

Vai para cima de uma moça na pista de dança e acaba por passar a mão nela. A conduta praticada

pelo jovem se enquadra como estupro (prática de ato libidinoso com alguém. A lei de estupro não se

restringe mais apenas à conjunção carnal).

O rapaz ficou completamente embriagado � total incapacidade de determinação � Nesse caso é

inimputável, de acordo com o §1º, Art.28, CP, sendo isento de pena.

Obs: Na resposta da prova, tem que colocar a explicação completa: A absoluta incapacidade de

entendimento e determinação quanto à ilicitude do fato é causa de exclusão da culpabilidade no caso

de embriaguez acidental fortuita, uma vez que era imprevisível. Logo, haverá a isenção de pena, de

acordo com o §1º do Art.28 do CP, afastando a culpabilidade, afastando a censura.

Embriaguez Acidental por Força Maior � é previsível, porém inevitável. Ex: cidadão trabalha numa

fábrica que tem grande quantidade de álcool canalizado. Uma tubulação rompe, ocasionando um

grande vazamento de gás. O cidadão sabe que até chegar a saída, vai inalar uma grande quantidade

de gás / álcool. Não tem como evitar. Até sair da fábrica, ficará embriagado. Neste caso, o cidadão é

inimputável. Há a exclusão de culpabilidade. Exclusão da censura. Será isento de pena, com base no

§1º, Art.28, CP.

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§2º, Art.28, CP � prevê a embriaguez acidental fortuita ou por força maior, que geram uma redução

na capacidade de entender ou determinar-se. Há a redução da culpabilidade e não exclusão dela.

Consequência: redução da pena.

2- Potencial Consciência da Ilicitude (PCI) � o que exclui a PCI? O Erro de Proibição (erro

sobre a ilicitude do fato, se inevitável) � Art.21 CP, caput.

Se o agente não tinha como adquirir consciência sobre a ilicitude do fato, é inevitável. Há dolo ,

pois age acreditando que atua de acordo com a lei, mas não há culpabilidade � Isenção de pena.

O erro de proibição pode ser evitável (Art.21, P.único, CP)� há de se fazer todo o possível para

adquirir a consciência sobre a ilicitude do fato. Não pode ficar preso aos “achismos”, suposições. Caso

não seja possível adquiri-la, é inevitável.

3- Exigibilidade de Conduta conforme o Direito � exclui a exigibilidade: Art.22 CP – Coação

Moral Irresistível.

Obs: A conduta não é excluída, na hipótese de coação moral. É excluída apenas na coação física �

ação involuntária (não há conduta).

A coação moral irresistível exclui a culpabilidade, pela exclusão da exigibilidade de conduta

conforme o Direito, de acordo com o Art. 22 CP.

A coação física irresistível exclui a conduta por ausência de voluntariedade, de acordo com o

caput do Art.13 do CP. Por não haver conduta, não se considera causa para efeito do Art.13 CP, por

ausência de voluntariedade.