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PAVIMENTO URBANO: ADEQUAÇÃO AO USO Reflexões a Propósito do Espaço Público no Contexto do Centro Histórico de Lisboa JOANA GONÇALVES PIMENTA Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em ARQUITECTURA Júri Presidente: Professora Doutora Ana Cristina dos Santos Tostões Orientador: Professor Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão Vogal: Professora Ana Paula Patrícia Teixeira Ferreira Pinto Franca de Santana Setembro 2008

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PAVIMENTO URBANO: ADEQUAÇÃO AO USO

Reflexões a Propósito do Espaço Público no Contexto do

Centro Histórico de Lisboa

JOANA GONÇALVES PIMENTA

Dissertação para obtenção de Grau de Mestre em

ARQUITECTURA

Júri

Presidente: Professora Doutora Ana Cristina dos Santos Tostões

Orientador: Professor Doutor Pedro Filipe Pinheiro de Serpa Brandão

Vogal: Professora Ana Paula Patrícia Teixeira Ferreira Pinto Franca de Santana

Setembro 2008

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i

PAVIMENTO URBANO: ADEQUAÇÃO AO USO

Reflexões a propósito do espaço público no contexto do centro histórico de Lisboa

RESUMO ANALÍTICO

O objectivo central desta dissertação é a necessidade de entender o papel que o pavimento

desempenha no espaço público da cidade, enquanto chão de muitas e variadas actividades

urbanas.

Para tal, o desenvolvimento do trabalho divide-se em três capítulos. No primeiro procede-se à

definição e enquadramento dos conceitos de espaço público e pavimento de forma a poder

delimitar o contexto em que se insere o tema. O segundo capítulo consiste na sistematização das

diferentes actividades, pedonais e viárias, e das tipologias de pavimento mais comuns nos

espaços públicos, permitindo ainda neste capítulo concluir sobre a adequação do pavimento ao

uso a que se destina. O terceiro e último capítulo do desenvolvimento corresponde à aplicação da

teoria a três casos de estudo integrados no Centro Histórico de Lisboa, em que é realizado um

breve enquadramento da zona de estudo seguido de uma análise baseada numa ficha de

avaliação que integra os diversos pontos descritos nas duas partes anteriores. No final desta parte

é ainda esboçada uma pequena proposta que visa definir premissas de intervenção tendo em

conta as diferentes características dos espaços analisados e o carácter que se quer evidenciar.

O leque de soluções de pavimento urbano estende-se muito além do que foi abordado ao longo do

desenvolvimento deste estudo, no entanto os exemplos analisados são suficientes para perceber

a forma como diferentes necessidades exigem diferentes respostas e portanto surgem diferentes

materiais e soluções.

PALAVRAS-CHAVE

Espaço Público, Pavimento, Actividades Urbanas e Adequação.

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CITY’S PAVEMENT: ADEQUACY TO ITS USE

Thoughts regarding public space in the context of Lisbon’s Historical Centre

ABSTRACT

The main purpose of this study is the need to understand the importance of pavement in the city’s

public space, since it’s the floor of so many and so different urban activities.

To reach this goal, the development of the present essay is divided in three chapters. The first one

is about defining and framing the concepts of public space and pavement in a way that turns clear

the context of the subject. The second chapter consists in a systematization of the different

activities, pedestrian and vehicular, and the types of pavement more common in public spaces,

thus allowing inferring about the adequacy of the pavement to its corresponding use. The third and

last chapter refers to the application of the theory developed to three case studies belonging to

Lisbon’s Historical Centre, in which there is a short framing of the area followed by an analysis

based on an evaluation plan that gathers all the different topics explained earlier in the text. To

conclude this practical part of the study it’s presented a small proposal that defines guide lines for

an intervention regarding the pavement of the same three case studies, in which its different

characteristics are analysed and its potential characters are determined.

In conclusion, the list of paving solutions is way wider than the one studied in this essay, although

these examples were enough to understand how different needs require different reactions thus

resulting in different materials and solutions.

KEYWORDS

Public Space, Pavement, Urban Activities e Adequacy.

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1

ÍNDICE

Resumo Analítico........................................................................................................... i

Abstract ........................................................................................................................ ii

ÍNDICE .........................................................................................................................1

ÍNDICE DE FIGURAS ...................................................................................................4

ÍNDICE DE TABELAS...................................................................................................6

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................7

CAPÍTULO I. CONCEITOS BASE E EVOLUÇÃO HISTÓRICA ....................................... 11

1. O ESPAÇO PÚBLICO ....................................................................................................... 11

1.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO ...................................................................................... 11

Carácter do Espaço Público ........................................................................................ 12

1.2. ENQUADRAMENTO DO TEMA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO ...................... 14

Cidade Tradicional ...................................................................................................... 14

Cidade Contemporânea .............................................................................................. 14

Sustentabilidade ......................................................................................................... 17

1.3. DEFINIÇÃO DE TIPOLOGIAS DO ESPAÇO PÚBLICO EM FUNÇÃO DO SEU USO . 18

Espaços Lineares ....................................................................................................... 19

Espaços Não Lineares ................................................................................................ 21

Outras Tipologias........................................................................................................ 23

Espaços Emergentes .................................................................................................. 25

2. O PAVIMENTO ................................................................................................................. 25

2.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO ...................................................................................... 25

Carácter do Pavimento ............................................................................................... 27

2.2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO .............................................................................. 32

2.3. A CALÇADA PORTUGUESA...................................................................................... 35

CAPÍTULO II. ADEQUAÇÃO DO TIPO DE PAVIMENTO AO TIPO DE UTILIZAÇÃO ...... 39

1. TIPOS DE UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO .............................................................. 39

1.1. ACTIVIDADES PEDONAIS ........................................................................................ 39

Sistematização ........................................................................................................... 39

Actividades de participação passiva ............................................................................ 41

Actividades de Participação Activa .............................................................................. 44

1.2. ACTIVIDADES VIÁRIAS – O Automóvel ..................................................................... 49

Circulação .................................................................................................................. 50

Paragem e Estacionamento ........................................................................................ 51

1.3. O PEÃO E O AUTOMÓVEL ....................................................................................... 53

Poluição ..................................................................................................................... 53

Velocidade.................................................................................................................. 54

Interacção Física ........................................................................................................ 55

Síntese ....................................................................................................................... 58

2. TIPOS DE PAVIMENTAÇÃO............................................................................................. 62

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2

2.1. SISTEMATIZAÇÃO .................................................................................................... 62

2.2. CARACTERIZAÇÃO .................................................................................................. 65

Saibro ......................................................................................................................... 66

Prado/Relva ................................................................................................................ 66

Casca de Pinheiro ...................................................................................................... 67

Gravilha ...................................................................................................................... 68

Seixos ........................................................................................................................ 69

Calçada ...................................................................................................................... 70

Lajedo ........................................................................................................................ 73

Tabuado ..................................................................................................................... 74

Pavimentos Cerâmicos ............................................................................................... 75

Lajetas de Betão Pré-fabricadas ................................................................................. 76

Placas alveolares ....................................................................................................... 76

Betuminosos ............................................................................................................... 77

Pavimentos amortecedores de Borracha..................................................................... 78

Lajes de Betão In Situ ................................................................................................. 79

3. TIPOLOGIAS DE ELEMENTOS URBANOS ...................................................................... 81

3.1. ELEMENTOS DE ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO PAVIMENTADO .......................... 81

Passeio ...................................................................................................................... 81

Lancil .......................................................................................................................... 82

Desníveis ................................................................................................................... 82

Rampas de Acesso para veículos e peões .................................................................. 83

Passadeiras ................................................................................................................ 84

3.2. ELEMENTOS DE SEPARAÇÃO ................................................................................. 85

Frades ........................................................................................................................ 85

Pilaretes ..................................................................................................................... 86

Barreiras ..................................................................................................................... 86

3.3. ELEMENTOS INTEGRADOS NO PAVIMENTO.......................................................... 87

Canais de Drenagem .................................................................................................. 87

Sumidouros ................................................................................................................ 88

Tampas de Registo ..................................................................................................... 89

Caldeiras de Árvores .................................................................................................. 89

4. RESUMO E QUADRO CONCLUSIVO ............................................................................... 94

CAPÍTULO III. EXEMPLO DE APLICAÇÃO: Centro Histórico de Lisboa ........................ 99

1. CONTEXTUALIZAÇÃO ..................................................................................................... 99

1.1. SITUAÇÃO ACTUAL DA BAIXA-CHIADO .................................................................. 99

1.2. PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO ........................................... 100

2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO ..................................... 101

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ........................................................... 102

Zona 1: Colina do Castelo......................................................................................... 102

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3

Zona 2: Baixa Pombalina .......................................................................................... 103

2.2. ENQUADRAMENTO DOS CASOS DE ESTUDO ..................................................... 104

2.3. AVALIAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO – METODOLOGIA DESENVOLVIDA ........ 105

1º Caso de Estudo – Rua da Vitória .......................................................................... 106

2º Caso de Estudo – Largo Adelino Amaro da Costa................................................. 113

3º Caso de Estudo – Calçada do Marquês de Tancos ............................................... 120

3. REFLEXÃO SOBRE UMA PROPOSTA DE REPAVIMENTAÇÃO.................................... 127

3.1. RUA DA VITÓRIA .................................................................................................... 127

Tipos de Utilização a Potenciar ................................................................................. 127

Proposta de Pavimento ............................................................................................. 127

3.2. LARGO ADELINO AMARO DA COSTA .................................................................... 129

Tipos de Utilização a Potenciar ................................................................................. 129

Proposta de Pavimento ............................................................................................. 129

3.3. CALÇADA DO MARQUÊS DE TANCOS .................................................................. 130

Tipos de Utilização a Potenciar ................................................................................. 130

Proposta de Pavimento ............................................................................................. 131

CAPÍTULO IV. CONCLUSÕES FINAIS............................................................................ 133

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 135

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4

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura I.1 – Espaço Social ..................................................................................................... 11

Figura I.2 – Vida Urbana ....................................................................................................... 12

Figura I.3 – Rede de Espaços Públicos – Estrutura Contínua ................................................ 13

Figura I.4 – Abertura e Acessibilidade, Relações de Espaços Públicos .................................. 14

Figura I.5 – Veneza, «Cidade Tradicional» ............................................................................ 14

Figura I.6 – Conflitos de Uso no Espaço Público ................................................................... 15

Figura I.7 – Novas Formas de Comunicação Secundarizam Proximidade Física ................... 16

Figura I.8 – Relações de Largura e Comprimento de um Espaço Público .............................. 19

Figura I.9 – Espaços Lineares: Subcategorias ....................................................................... 20

Figura I.10 – Espaços Não-Lineares: Subcategorias ............................................................. 22

Figura I.11 – Espaços Públicos Verdes: Subcategorias ......................................................... 22

Figura I.12 – Espaços de Contemplação ............................................................................... 23

Figura I.13 – Espaços de Saudade ........................................................................................ 23

Figura I.14 – Espaços-Deslocação: Subcategorias ................................................................ 24

Figura I.15 – O Pavimento como Suporte de Diferentes Actividades ...................................... 27

Figura I.16 – O Pavimento como Elemento Estético .............................................................. 28

Figura I.17 – O Pavimento como Meio de Comunicação ........................................................ 28

Figura I.18 – Pavimento como Símbolo/Ícone ........................................................................ 29

Figura I.19 – Pavimento como Orientador do Uso do Espaço ................................................ 30

Figura I.20 – Pavimento Operacional..................................................................................... 31

Figura I.21 – Pavimento Organizativo .................................................................................... 32

Figura I.22 - Proliferação da Calçada em Lisboa ................................................................... 33

Figura I.23 – Separação de Trânsitos .................................................................................... 34

Figura I.24 – Descaracterização do Espaço Urbano .............................................................. 34

Figura I.25 – Exemplos de Calçada Portuguesa no Estrangeiro ............................................. 36

Figura I.26 – Calçada Portuguesa no Parque das Nações ..................................................... 37

Figura II.1 – Necessidade e Opção ....................................................................................... 40

Figura II.2 - Isolamento e Interacção ..................................................................................... 41

Figura II.3 - Participar e Observar .......................................................................................... 42

Figura II.4 – Observar, o efeito de periferia ............................................................................ 43

Figura II.5 – Efeito de Periferia .............................................................................................. 42

Figura II.6 – O Ruído Gerador de Desconforto ...................................................................... 44

Figura II.7 – Conversar com o Outro...................................................................................... 45

Figura II.8 – Percorrer o Espaço Público ............................................................................... 46

Figura II.9 – Parar em Pé ou Encostar ................................................................................... 47

Figura II.10 – Criar Possibilidade de Sentar ........................................................................... 49

Figura II.11 – Impacto do Carro no Desenho da Cidade ........................................................ 51

Figura II.12 – Estacionamento ............................................................................................... 52

Figura II.13 – Exemplos de Estacionamento Indevido ............................................................ 53

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5

Figura II.14 – Bloqueio Visual Devido ao Tráfego Automóvel ................................................. 54

Figura II.15 – Impacto da Circulação Automóvel .................................................................... 54

Figura II.16 – Zonas de Interacção entre Diferentes Actividades e Utilizadores ...................... 55

Figura II.17 – Alterações de Pavimento consoante Função e Utilizador ................................. 56

Figura II.18 – Exemplos Práticos do Trabalho de Hans Monderman ...................................... 57

Figura II.19 – Vários Exemplos da Aplicação de Saibro em Espaços Públicos ....................... 66

Figura II.20 – A Vocação da Relva para Actividades de Lazer ............................................... 66

Figura II.21 – A Casca de Pinheiro Proporciona um Carácter Descontraído e Natural ............ 67

Figura II.22 – A Gravilha Pode Ser Usada com Vários Propósitos ......................................... 68

Figura II.23 – Esta Solução pode Adquirir Diversas Estereotomias e Padrões ....................... 69

Figura II.24 – A Calçada pode ser Feita em Várias Dimensões e Estereotomias.................... 70

Figura II.25 – Paralelepípedos com Várias Estereotomias e Materiais ................................... 71

Figura II.26 – A Calçada Portuguesa ..................................................................................... 72

Figura II.27 – O Lajedo Pode Adoptar Várias Dimensões, Estereotomias e Acabamentos ..... 73

Figura II.28 – O Tabuado pode Ter Várias Dimensões e Estereotomias ................................ 74

Figura II.29 – Os Pavimentos Cerâmicos podem ter Várias Formas e Dimensões ................. 75

Figura II.30 – As Lajetas de Betão têm um Grande Leque de Formas e Cores ...................... 76

Figura II.31 – As Placas Alveolares para Relva e Gravilha podem tornar-se Invisíveis ........... 76

Figura II.32 – Betuminoso já não se Restringe à cor Negra ................................................... 77

Figura II.33 – Pavimento de Borracha está Associado a Actividades de Recreio e Lazer ....... 78

Figura II.34 – O Betão é uma Solução muito Adaptável às Situações .................................... 79

Figura II.35 – O Passeio pode ser Definido de Várias Formas ............................................... 81

Figura II.36 – O Lancil tem Largura Variável e pode Assumir Diferentes Caracteres .............. 82

Figura II.37 – Os Desníveis podem ser Vencidos por Rampas ou Escadas ........................... 83

Figura II.38 – É Importante ter em Conta a Acessibilidade Total dos Espaços ....................... 84

Figura II.39 – Passadeiras ..................................................................................................... 84

Figura II.40 – Frades de Diferentes Formas e Materiais ......................................................... 85

Figura II.41 – Pilaretes podem Cumprir Várias Funções ........................................................ 86

Figura II.42 – Barreiras Podem ser Fixas ou Móveis .............................................................. 87

Figura II.43 – Os Canais de Drenagem têm Diferentes Papéis no Espaço ............................. 88

Figura II.44 – Sumidouros e Grelhas de Drenagem ............................................................... 88

Figura II.45 – Tampas de Registo .......................................................................................... 89

Figura II.46 – Caldeiras de Árvores ....................................................................................... 90

Figura III.1 – Planta Geral ................................................................................................... 102

Figura III.2 – Planta de Localização dos Três Casos de Estudo ........................................... 104

Figura III.3 – Rua da Vitória ................................................................................................. 106

Figura III.4 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) da Rua da Vitória ........................... 107

Figura III.5 – Largo Adelino Amaro da Costa ....................................................................... 113

Figura III.6 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) do Largo Adelino Amaro da Costa .. 114

Figura III.7 – Evolução da Calçada do Marquês de Tancos ................................................. 120

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6

Figura III.8 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) da Calçada do Marquês de Tancos 121

Figura III.9 – O simbolismo da calçada portuguesa.............................................................. 128

Figura III.10 – Informação visual e táctil do cruzamento ....................................................... 128

Figura III.11 – Informação de um percurso a seguir ............................................................. 128

Figura III.12 – Estereotomia detalhada potencia o descanso ............................................... 130

Figura III.13 – “Shared Space” de Hans Monderman ........................................................... 130

Figura III.14 – Espaço partilhado ......................................................................................... 131

Figura III.15 – Espaço de Estada e Escadas ....................................................................... 131

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela II.1 – Avaliação das Actividades................................................................................. 59

Tabela II.2 – Tipologias de Pavimento ................................................................................... 64

Tabela II.3 – Parâmetros para Avaliação das Tipologias de Pavimento ................................. 65

Tabela II.4 – Avaliação das Tipologias de Pavimento ............................................................ 80

Tabela II.5 – Avaliação dos Elementos Urbanos .................................................................... 91

Tabela II.6 – Adequação do Pavimento Urbano ao Uso ......................................................... 97

Tabela III.1 – Ficha de avaliação da adequação do pavimento ao uso ................................. 105

Tabela III.2 – Ficha de Avaliação da Rua da Vitória ............................................................. 108

Tabela III.3 – Ficha de avaliação do Largo Adelino Amaro da Costa .................................... 115

Tabela III.4 – Ficha de Avaliação da Calçada do Marquês de Tancos.................................. 122

Tabela III.5 – Identificação do Carácter a Potenciar na Rua da Vitória ................................. 128

Tabela III.6 – Identificação do Carácter a Potenciar no Largo Adelino Amaro da Costa ....... 130

Tabela III.7 – Identificação do Carácter a Potenciar na Calçada do Marquês de Tancos ...... 131

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7

INTRODUÇÃO

O objecto deste estudo é o pavimento urbano, nas suas diversas formas e tipologias, e o papel

que este desempenha na rede de espaço público da cidade.

A escolha do tema teve como base o trabalho desenvolvido no âmbito da cadeira de Projecto

Final, onde se explorou uma forte componente de desenho urbano. O projecto desenvolvido

consistiu na criação de um percurso pedonal assistido de ligação entre a Baixa e o Castelo de S.

Jorge em que o chão surge como elemento unificador e simbólico, podendo apresentar uma

linguagem comum aos vários troços que compõem este eixo, mas ao mesmo tempo desempenhar

diferentes papéis no desenho urbano e favorecer o desempenho de diferentes funções e

actividades. As diversas formas e tipologias que surgem ao longo deste percurso tornam-se

visivelmente parte de um todo, potenciado pelo carácter do pavimento. Torna-se importante na

medida em que pretende servir como fundamento para algumas opções que foram tomadas ao

longo do projecto desenvolvido e que pode mesmo servir de base para apoio às opções de

projecto em outros posteriores.

A problemática que está em causa na presente dissertação é a do papel que o pavimento

desempenha na rede de espaços públicos da cidade. Para tal começa-se por definir e enquadrar

os conceitos essenciais para o correcto entendimento do âmbito em que se insere este trabalho,

neste caso são: o Espaço Público, o Pavimento e as Actividades Urbanas.

O chamado espaço público é definido através de três conceitos principais: público, urbano e

aberto, que permitem apurar o papel que desempenham na cidade. Desta clarificação faz também

parte a listagem das diferentes tipologias de espaço público que existem, desde as mais

tradicionais (rua e praça) até aos espaços emergentes (parques temáticos, centros comerciais) de

forma a perceber a abrangência deste conceito, no entanto, posteriormente, serão desenvolvidas

apenas as tipologias tradicionais.

Quanto ao pavimento este é definido como a base que suporta directamente o tráfego e transmite

as respectivas solicitações à infra-estrutura e ao terreno. Na explicação do conceito de pavimento

cabem ainda os diferentes caracteres que este tem e pode potenciar no espaço onde se insere:

visual, simbólico, orientador, operacional e organizativo e um breve enquadramento histórico com

especial ênfase para a tipologia da Calçada Portuguesa uma vez que é o pavimento com maior

utilização no centro histórico de Lisboa e por todo o país.

A descrição dos diversos tipos de actividades apoia-se predominantemente na pesquisa

desenvolvida por Gehl, no seu livro Life Between Buildings. As actividades pedonais podem ser

sistematizadas de várias formas, sendo que podem ser realizadas por necessidade ou por opção,

podem ser sociais ou isoladas ou, quanto à participação no espaço, podem ainda ser passivas ou

activas.

É de facto no “mundo” pedonal que a noção de rua como espaço social se verifica, existindo uma

relação simbiótica entre movimento e transacção interpessoal, e onde o território de circulação e o

Page 12: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

8

território social são quase totalmente coincidentes. O mesmo não acontece quando o movimento é

baseado no automóvel passando a ser apenas pura circulação, o que provoca a segregação do

espaço público em território de circulação (viária) e território de socialização.

O objectivo central desta dissertação é a necessidade de entender o papel que o pavimento

desempenha no espaço público da cidade, enquanto chão de muitas e variadas actividades

urbanas. São objectivos específicos deste trabalho:

1. Perceber qual o carácter integrador que o pavimento pode desempenhar na rede de espaços

públicos e de que forma o seu papel é influenciado pela tipologia e características desse

espaço;

2. Desenvolver a problemática relativa às actividades urbanas e à forma como são influenciadas

pela tipologia ou conjugação de tipologias de pavimentos, tanto em termos estéticos como

funcionais;

3. Estabelecer padrões de conforto, resistência e outros que permitam aferir a adequação do

pavimento às diferentes exigências impostas pelos utilizadores no vasto leque de actividades

que podem surgir no espaço público;

4. Estruturar um método de avaliação com critérios e parâmetros que permitam a correcta

análise de qualquer tipologia de espaço público e a eficiência dos pavimentos na resposta à

realidade contemporânea;

5. Experimentar a aplicação a uma prática projectual com a utilização da ficha de avaliação como

ferramenta de análise e com a elaboração de um conjunto de premissas para uma correcta

intervenção.

Quanto à metodologia e organização do trabalho, a parte teórica foi realizada com base,

principalmente, em investigação bibliográfica, relacionando diversos temas e autores de forma a

poder tirar as ilações desejadas. A definição de conceitos foi sempre apoiada em referências que

foram sendo correctamente identificadas. O método baseou-se ainda na observação, registo e no

estudo de casos, incluindo a produção de fichas tipo de análise de espaços, actividades e

performance dos pavimentos. O trabalho organiza-se em três capítulos que são compostos por

várias partes.

– No primeiro capítulo procede-se à definição e enquadramento dos conceitos de espaço público

e pavimento de forma a poder delimitar o contexto em que se insere o tema.

– O segundo capítulo consiste na sistematização das diferentes actividades, pedonais e viárias, e

das tipologias de pavimento mais comuns nos espaços públicos, permitindo ainda neste

capítulo concluir sobre a adequação do pavimento ao uso a que se destina.

– O terceiro e último capítulo do desenvolvimento trata-se da aplicação da teoria a três casos de

estudo integrados no Centro Histórico de Lisboa, em que é realizado um breve enquadramento

da zona de estudo seguido de uma análise baseada numa ficha de avaliação que integra os

diversos pontos descritos nas duas partes anteriores. No final desta parte é ainda esboçada

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uma pequena proposta que visa definir premissas de intervenção tendo em conta as diferentes

características dos espaços analisados e o carácter que se quer evidenciar.

Quanto ao Estado da Arte, algumas obras tiveram um papel mais importante nesta pesquisa e

investigação, reunindo informação actual e pertinente para os objectivos formulados seguindo a

organização da tese, são elas:

1. CARMONA, Matthew – Public Places, Urban Spaces: the dimensions of Urban Design.1

Este livro tem como tema central a necessidade de basear o desenho urbano na criação

de lugares para as pessoas, ou, «making places for people». Esta é a ideia central que se

retirou do livro e que serve de base para a correcta explicitação do conceito de espaço público

e dos valores que este deve representar. A segunda parte consiste na identificação das várias

dimensões do espaço público (morfológica, perceptiva, social, visual, funcional e temporal)

que se sobrepõem constantemente na cidade onde foi possível perceber as diferentes

valências do espaço público.

2. BRANDÃO, Pedro – A Identidade dos Lugares e a sua Representação Colectiva.2

O objectivo deste livro é sensibilizar projectistas e outros para «os factores imateriais e de

valor mais intangível das qualidades do espaço urbano». Desde questões de identidade até

referências simbólicas e comunicativas, este livro elabora uma sistematização destes valores

tendo em conta os diferentes espaços públicos da cidade e a forma como estas características

potenciam ou não a apropriação por parte de quem os utiliza. É também matéria do livro, a

listagem das tipologias de espaço público com especial destaque para as novas tipologias,

emergentes de «novos factos urbanos» aos quais é necessário dar resposta e integrar da

forma mais conveniente.

3. REMESAR, Antoni [et al.] – Do Projecto ao Objecto: Manual de Boas Práticas de Mobiliário

Urbano em Centros Históricos.3

O pavimento é considerado nesta obra parte integrante do mobiliário urbano que é

definido como «todos os objectos ou equipamentos de pequena escala, instalados ou

apoiados no espaço público que permitem um uso, prestam um serviço ou apoiam uma

actividade». A sua relevância para a presente dissertação incide principalmente na evolução

histórica que apresenta dos diversos elementos de mobiliário urbano, incluindo o pavimento.

Descreve-se também a importância do mobiliário urbano na sua integração com o espaço e

detalham-se os seus vários elementos, entre os quais o pavimento, em que são apresentadas

várias características que este deve ter de forma a corresponder correctamente às exigências

dos diferentes usos. É ainda composto por um guia de avaliação do projecto de espaço

1 Matthew CARMONA – Public Places, Urban Spaces: the dimensions of Urban Design, Architectural Press. Oxford; Boston, 2003

2 Pedro BRANDÃO – A Identidade dos Lugares e a sua Representação Colectiva. Lisboa: CESUR, DGOTDU, 2008

3 Antoni REMESAR [et al.] – Do Projecto ao Objecto: Manual de Boas Práticas de Mobiliário Urbano em Centros Históricos. 2ªedição. Lisboa: Centro Português de Design, 2005

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10

público que apresenta vários parâmetros úteis para a parte de análise e avaliação dos

diferentes casos de estudo constantes do terceiro capítulo.

4. CULLEN, Gordon – Paisagem Urbana. 3ª Edição.4

Tal como o nome indica este livro pretende analisar a cidade de uma forma visual, como

sequência de imagens em que cada elemento contribui com as suas características para o

todo que é o espaço integrado na cidade. O pavimento não é excepção e este livro permite

listar os diferentes contributos que podem ser dados por este elemento ao espaço público,

tendo em conta os diferentes caracteres que pode assumir. Assim Cullen identifica a influência

que a forma e dimensão das tipologias de espaço público têm no ambiente urbano

principalmente na forma como os utilizadores o percepcionam, sendo que esta sensação é

também alterada pela forma como o pavimento é tratado.

5. GEHL, Jan – Life Between Buildings: Using Public Space.5

Esta obra na sua globalidade aborda, tal como o título enuncia, a utilização do espaço

público urbano, descriminando-as na sua relação com o próprio espaço e o meio envolvente.

Introduz o tema de planeamento urbano, na sua evolução ao longo da história, descrevendo

as várias ideologias que se foram sucedendo nos vários estilos até ao funcionalismo. Este livro

torna-se a principal fonte para o segundo capítulo da presente dissertação uma vez que Gehl

procede à descrição e classificação das diversas actividades pedonais como também as

relaciona com o espaço onde são realizadas e os vários elementos que o compõem.

6. HEGGER, Manfred [et al.] – Construction Materials Manual.6

Este manual descreve os diversos materiais necessários para a construção, apresentando

as características e propriedades mais significativas e as diversas formas de aplicação desses

materiais, assim como as suas qualidades estéticas e a influência que estes têm no espaço

onde são aplicados, obviamente clarificando também as várias opções de pavimento. É

composto ainda por uma parte de casos de estudo, que permitem perceber o efeito dos

diferentes materiais de construção quando aplicados e as suas diferentes combinações.

Juntamente com outra bibliografia do género foi útil na descrição e desenvolvimento das

diversas tipologias de pavimento urbano constante no segundo capítulo.

Este trabalho foi desenvolvido tendo em conta, como já referi, o projecto desenvolvido na zona do

Centro Histórico de Lisboa e, como tal, esta análise e investigação apresenta-se com algumas

restrições quanto ao seu âmbito e alcance. Desta forma a tese limita-se a explorar mais

aprofundadamente:

– Os tipos de pavimentação tradicionais;

– As tipologias de espaços públicos mais comuns como ruas e praças;

– E as actividades urbanas básicas onde todas as outras se inserem.

4 Gordon CULLEN – Paisagem Urbana. 3ª Edição. Lisboa: Edições 70, Lda., 2006

5 Jan GEHL – Life between Buildings: Using Public Space. 3ªedição. Copenhaga: Arkitektens Forlag, 1996

6 Manfred HEGGER [et al.] – Construction Materials Manual. Basel: Birkhauser, 2006

Page 15: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

11

CAPÍTULO I. CONCEITOS BASE E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

1. O ESPAÇO PÚBLICO

«O espaço público é o local onde as pessoas se encontram, onde se sentam, onde conversam. É

onde se fazem as manifestações e as procissões, as grandes festas e os funerais, é onde se

expressam colectivamente as grandes alegrias e as grandes dores. Vendo bem, o espaço público

é a essência da cidade e é através dele que ela é representada»7.

Muitas vezes os espaços públicos tornam-se acessíveis não só pelas suas qualidades

arquitectónicas e formais, mas também pela sua capacidade em articular momentos e visibilidades

perceptíveis pelo utilizador8.

1.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO

«El espacio público es antes que nada una determinación político-jurídica, pero también un

producto de uso social. Es decir, hay “espacios públicos” inaccesibles o prohibidos y otros, que no

son jurídicamente públicos, de uso colectivo intenso»9.

A definição de espaço público apresentada por Borja, e reiterada por muitos autores, permite

clarificar que a noção de público «não é uma qualidade intrínseca a um espaço, mas sim uma

construção social e política» tal como diz Alexandra Castro (2002).

Figura I.1 – Espaço Social

a. Praça do Comércio, Lisboa – A relação entre a periferia e o centro é interrompida pelo trânsito automóvel e

raramente as actividades transbordam para o centro da praça, estabelecendo-se apenas ao longo dos

edifícios, nas arcadas | FNI

b. Centro Comercial Vasco da Gama – Espaço semi-privado de uso colectivo cada vez mais intenso | Website

Flickr, 2008

7 Manuel SALGADO – “Espaços Públicos”, Gestão Urbana, Lisboa: Parque EXPO 98, SA, 2002, p. 90

8 Alexandra CASTRO – “Espaços Públicos, Coexistência Social e Civilidade: Contributos para uma Reflexão

sobre os Espaços Públicos Urbanos”, CIDADES. Comunidades e Territórios, nº5. Lisboa: CET-ISCTE, 2002, pp.53 a 67

9 Jordi BORJA e Zaida MUIXÍ – El Espacio Público: Ciudad y Ciudadanía. Barcelona: Electa, 2003, p.70

Page 16: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

12

CARÁCTER DO ESPAÇO PÚBLICO

Torna-se difícil definir o conceito de espaço público sem referir a actividade desenvolvida nesse

espaço físico, esta sim, responsável pelo seu carácter público, uma vez que «the physical public

realm is understood here to mean the spaces and settings (...) that support or facilitate public life

and social interaction» (Carmona, 2003:109). Portanto, para um espaço ter carácter público,

independentemente de ser propriedade pública ou privada, «deve ser sempre um bem de

utilização livre, de acordo com um padrão de uso socialmente aceite» (Brandão, 2008:8). Segundo

Matias Ferreira a noção de sociabilidade, ou seja, a capacidade de exercício pleno de direitos e

deveres principalmente nas cidades, é uma exigência política e cultural relativa à qualidade de

vida urbana10

.

A publicidade de um espaço não se baseia apenas na sua natureza jurídica uma vez que a

decisão de o catalogar como público ou privado é quase sempre tomada por acção política,

descurando a opinião daqueles que realmente utilizam esse espaço (Ferreira, 2002a).

Francesco Indovina reforça esta conclusão afirmando que o espaço público «representa a

condição para que se possa realizar a vida urbana, trata-se de uma espécie de “condição geral”

para a existência própria da cidade»11

.

Figura I.2 – Vida Urbana

a. Veneza, Itália | Gehl – Novos Espaços Urbanos

b. Atlanta, E.U.A | Gehl – Novos Espaços Urbanos

Esclarecida a noção de “publicidade” de um espaço, introduz-se o seu carácter urbano, o seu

papel na cidade, reforçando a ideia já adquirida da importância que tem no meio urbano. O espaço

público é o «elemento ordenador del urbanismo, sea cual sea la escala del proyecto urbano. (...)

Ha de ser un espacio ordenador del barrio, articulador de la ciudad, estructurador de la región

urbana” (Borja e Muixí, 2003:68). Só através de espaços com carácter público é que se consegue

organizar um território capaz de sustentar diversos usos e funções (Borja e Muixí, 2003), uma vez

que, como Carmona evidencia, «the public space network accommodates the overlapping realms

10 Vítor Matias FERREIRA – “Urbanidade e Cidadania”, Gestão Urbana, Lisboa: Parque EXPO 98, SA, 2002a, pp. 70 a 75

11 Francesco INDOVINA – “O Espaço Público: Tópicos sobre a Mudança”, CIDADES. Comunidades e Territórios, nº5. Lisboa: CET-ISCTE, 2002, p.119

Page 17: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

13

of “movement space” and “social” space (i.e. outdoor space for people to engage in economic,

social and cultural transaction)» (Carmona, 2003:67).

Fica claro, deste modo, que o espaço público da cidade é também o suporte físico das redes de

serviços e sistemas de transporte e comunicação, uma vez que é aí que estas se materializam

(Remesar, 2005), e que a cidade deve ser entendida como um sistema e não como «um simples

somatório de um vasto conjunto de infra-estruturas, equipamentos e elementos naturais e

artificiais, destinados a prestar serviços e a satisfazer as necessidades da comunidade»12

.

Segundo o mesmo autor, é necessário visualizar os espaços públicos urbanos como “estruturas

contínuas” de forma a geri-los globalmente, criando uma estrutura coesa onde interessa integrar

diferentes funções de um modo organizado e coerente.

Figura I.3 – Rede de Espaços Públicos – Estrutura Contínua

A paisagem urbana surge como uma sucessão contínua de surpresas ou revelações súbitas, este é o conceito

de Visão Serial de Cullen | Cullen – Paisagem Urbana

O espaço público tem ainda outro carácter que o define, é ser um espaço aberto e como tal

desenvolver relações não só com o contexto imediato mas também com a envolvência mais

abrangente e a cidade em geral.13

Por ser ordenado em função do seu uso e percepção social,

contempla «tudo aquilo que o constitui desde o tratamento do solo à envolvente arquitectónica,

mobiliário e equipamento urbano até à arborização urbana» (Remesar, 2005: 22).

12 Pedro BRANDÃO [et. al.] – O Chão da Cidade – Guia de Avaliação do Design de Espaço Público. Lisboa: Centro Português de Design, 2002, p.24

13 Nuno PESTANA – Espaço público urbano. Um ensaio sobre o “Vazio”, Prova Final de licenciatura em Arquitectura, Coimbra, 2001

Page 18: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

14

Figura I.4 – Abertura e Acessibilidade, Relações de Espaços Públicos

Campidoglio, Roma, Itália – Espaço “ovalado” por um pavimento com um padrão que se expande a partir da

estátua localizada ao centro, para a envolvente imediata e também para a distante, contemplando a cidade | FNI

1.2. ENQUADRAMENTO DO TEMA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

«The city was not a goal in itself, but a tool formed by use». (Gehl, 1996:43)

CIDADE TRADICIONAL

As cidades tradicionais têm como característica principal a sua evolução progressiva e lenta que

possibilitava uma adaptação contínua às necessidades e funções da cidade. Deste tipo de

processos surgiram espaços públicos que ainda hoje oferecem condições ideais para a vida

urbana. Trata-se de um padrão de vida urbana em que todos os usos da cidade estão em

equilíbrio, uma vez que todos são peões e tudo se processa a pé (Gehl, 2002).

Figura I.5 – Veneza, «Cidade Tradicional»

Veneza é a cidade mais referenciada quando se quer exemplificar a Cidade Tradiocional actualmente | FNI

CIDADE CONTEMPORÂNEA

É no fim do séc. XIX, com a súbita evolução industrial e tecnológica, que o espaço público urbano

começa a ser palco de conflitos e incompatibilizações entre os seus usos fundamentais, encontro,

troca e circulação, com o aparecimento de novos padrões de tráfego, comércio e comunicação

que rapidamente interromperam séculos de tradição.

Page 19: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

15

As pessoas adquiriram maior mobilidade com os eléctricos e bicicletas, fazendo expandir

significativamente as cidades, mas foi a introdução do automóvel que mudou drasticamente os

padrões de transporte, originando conflitos nas cidades já que não coexiste pacificamente com as

outras actividades essenciais.

Figura I.6 – Conflitos de Uso no Espaço Público

a. Riad, Arábia Saudita e Nápoles, Itália – Invasão do espaço pedonal pelo automóvel | Gehl – Novos Espaços

Urbanos

b. A desertificação do espaço público pela escala desadequada ao peão | Gehl – Novos Espaços Urbanos

Quanto ao uso comercial, Gehl acrescenta que este foi ocupando gradualmente espaços cada vez

mais fechados, passando de feiras e mercados de rua para lojas situadas ao longo de ruas e

praças, lojas essas que foram crescendo em superfície até serem grandes centros comerciais

fechados ou afastados das cidades. Neste processo, já característico da cidade moderna, a vida

“pública” dos locais de comércio torna-se estritamente controlada e todas as actividades e

interacções que aí se processem são reguladas por medidas de segurança, pondo em causa o

carácter realmente público e acessível destas actividades.

Foi o Movimento Moderno que alterou o funcionamento da cidade tradicional, através da

substituição do espaço urbano baseado em ruas e praças por um espaço urbano neutro, apoiado

em referências icónicas como eram os edifícios pontuais, isolados e altos, e a rede rodoviária que

os interligava, de circulação quase exclusivamente automóvel14

.

Na visão de Gehl os padrões de comunicação e encontro foram abalados com o aparecimento de

novos meios de comunicação e electrónica que vieram alargar o leque de informação disponível e

cada vez mais acessível potenciando o contacto indirecto entre pessoas. Aliado à possibilidade de

comunicar à distância, o aumento da mobilidade individual, proporcionada pelo automóvel e por

outros tipos de meios de transporte de longa distância, originou novas oportunidades de

conhecimento. Muitas vezes conhecem-se pessoas no outro lado do mundo mas nem por isso o

nosso vizinho do lado (Gehl, 2002).

A revolução informacional veio de facto alterar os sistemas urbanos através da introdução de

novas formas de relacionamento entre cidades. «A maior facilidade de comunicação e a

velocidade na transmissão da informação, praticamente instantânea, substituíram muitas

14 Ana Muller LOPES – Percepção e Forma do Espaço Público Urbano – Relatório do trabalho de fim de curso de Arquitectura Paisagista. Lisboa, 2005

Page 20: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

16

deslocações e (...), aparentemente, as grandes concentrações de população não pareciam mais

necessárias»15

.

Figura I.7 – Novas Formas de Comunicação Secundarizam Proximidade Física

FNI

Na tentativa de melhorar as relações sociais e de vizinhança, os espaços públicos na cidade

contemporânea foram convertidos em elementos especializados com espaços segregados e

monofuncionais, como se de equipamentos se tratassem, fazendo com que se perdessem as suas

funções essenciais, garantir continuidade e sentido ao conjunto da cidade e ordenar as relações

entre os seus diversos elementos (Borja e Muixí, 2003). Esqueceu-se que uma das características

mais importantes para que exista vida social na cidade é precisamente «a imprevisibilidade e

casualidade dos encontros» (Indovina, 2002:119).

O resultado é uma cidade compartimentada e segregada que, embora tenha perdido a sua vida

urbana e contribuído para a exclusão social, não parece insegura. De facto, a segurança tem um

papel crucial na utilização dos espaços e, uma vez que a agorafobia (medo dos espaços abertos)

tende a igualar segurança com privatização, esta é aparentemente bem conseguida através da

segregação e clausura. É assim a «cidade genérica»16

, formada por peças dispersas no território,

em que a única actividade urbana são os movimentos necessários, preferencialmente de

automóvel e onde a interacção social é praticamente inexistente (Borja e Muixí, 2003).

Actualmente o grande desafio é encontrar resposta para a falta de espaços públicos de qualidade

que sejam eficientes na recuperação da vida social, combatendo esta concepção “especializada”

do espaço público, esta tendência para confundir “arquitectura urbana” com urbanismo, de onde

resultam espaços públicos projectados como edifícios, como “produtos”, esquecendo o seu papel

essencial de articular e ordenar a cidade. Pretende-se assim, quebrar este terrível ciclo vicioso em

que a ausência de vida no espaço público aumenta com a insegurança, a qual, por sua vez, se

agrava pela ausência de pessoas nesses espaços propiciando o desenvolvimento de

comportamentos marginais (Indovina, 2002).

15 Teresa Barata SALGUEIRO – “Cidade, Território de Mudança”, Gestão Urbana, Lisboa: Parque EXPO 98,

SA, 2002, pp. 26 e 27. 16

Rem KOOLHAAS – Delirious New York: a Retroactive Manifesto for Manhattan. New York: Monacelli Press, 1994

Page 21: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

17

«The best to handle the problem of undesirables is to make a place attractive to everyone else. (...)

Good places are largely self-policing»17

.

É no fim do séc. XX que se começa a assistir ao retorno dos espaços públicos à posição central

nos projectos urbanos e que finalmente se compreende a importância deste instrumento na

coesão social e material da cidade (Castro, 2002), restituindo ao tecido urbano a diversidade e

capacidade de articular as diferentes peças e funções que o integram (Borja e Muixí, 2003) e

devolvendo-lhe esta dimensão tão importante de lugar de socialização e encontro.

Esta vontade súbita de renovação urbana, porém, tem provocado por vezes equívocos quanto à

importância que tem a imagem, quanto à segurança e orientação das pessoas na cidade. Os

significados urbanísticos têm sido corroídos pela introdução acrítica e descontextualizada de

materiais, cores e formas. A comunicação dos valores próprios do lugar é absorvida pela

parafernália publicitária e pela rentabilização comercial e, a mobilidade e leitura do espaço estão a

ser condicionadas pela constante presença do automóvel, em movimento ou parado. Assim,

surgem paisagens caóticas tanto nos subúrbios como nas zonas urbanas em renovação e perde-

se a “imagem da cidade”18

.

Não é de um voltar atrás que se necessita, mas sim de uma reinterpretação da cidade do

espaço público, na certeza de que se mantêm as necessidades de outrora às quais acrescem os

problemas urbanos associados a novas relações de “centro/periferia, centralidade/acessibilidade,

intensidade/densidade, identidade/diversidade” que exigem uma forma mais sistémica e integrada

de acção a várias dimensões, cultural, comunicante, estética e ética (Brandão, 2002).

SUSTENTABILIDADE

Contudo, na tentativa de uma visão sistemática a ter em conta no contexto actual, surge o tema da

sustentabilidade que, segundo Brandão, «pressupõe uma visão global e integrada dos

problemas, colocando no mesmo plano as vertentes sociais, económica e ambiental» (Brandão,

2002:43). Desta forma tem-se a percepção de quão vasto é este conceito e a multidireccionalidade

que tem o seu campo de acção, apoiando uma série de princípios para a qualidade do espaço

público como questões ambientais, de identidade, diversidade, adaptabilidade, acessibilidade,

durabilidade, etc. Relativamente à questão ambiental, Brandão considera uma intervenção de

espaço público sustentável se promover a utilização racional e equilibrada dos recursos naturais, o

recurso a fontes energéticas alternativas, a materiais autóctones e não poluentes (Brandão, 2002).

Uma intervenção tendo em vista a valorização da identidade do lugar é sustentável se procurar

dar/devolver ao espaço um carácter que reflicta a sua envolvente, a sua história e função,

tornando-o socialmente mais atractivo. Nas palavras de Remesar, acima de tudo, «a preservação

sustentável do centro histórico das cidades passa necessariamente por manter a estrutura

17 William H. WHYTE – The Essential. New York: Fordham University Press editado por Albert LaFarge, 2000, p.311

18 SEIXAS, Ana [et al.] – Ternos Passeios: um manual para melhor entendimento e fruição dos espaços urbanos públicos. Lisboa: IPAMB e CML, 1997

Page 22: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

18

funcional que os caracterizou: a multifuncionalidade de usos e funções urbanas que fazem com

que os centros históricos tenham sido sempre cidade compacta» (Remesar, 2005:45).

Em situações de abandono progressivo do centro histórico, como a que se pode identificar na

cidade de Lisboa, e na perspectiva de Remesar, a resposta passa também por devolver esta

diversidade de usos e funções, que se tem vindo a perder em prol da excessiva especialização,

proporcionando um espaço de maior interacção e utilização ao longo de todo o dia, contribuindo

também para a sua durabilidade uma vez que, se todos se sentirem como “parte” do espaço

público terão um maior cuidado em preservá-lo (Brandão, 2002).

«In a place that is tidy, people are tidy. In a place that is messy, they make it messier» (Whyte,

2000:305).

Chega-se assim às questões formais e estéticas do espaço público e do seu desenho:

O dia-a-dia é feito de relações casuais e habituais, de diversas actividades rotineiras e de encontro

e tudo isto tem lugar no espaço público da cidade, por isso, é importante favorecê-lo estética,

espacial e formalmente de modo a facilitar essa interacção e o sentimento de pertença ao lugar

sem que ninguém se sinta excluído, proporcionando igual acessibilidade para todos, promovendo

também desta forma a sua sustentabilidade. (Borja e Muixí, 2003)

É unânime a ideia contemporânea de que «os espaços públicos de qualidade podem ajudar as

cidades a criar e manter locais de forte centralidade, qualidade ambiental, competitividade

económica e sentido de cidadania» (Brandão, 2002:17). Compreende-se então a importância de

começar o desenho da cidade pelo desenho do espaço público, concebido de uma forma

«holística e integrada, centrada na identidade, coerência e pregnância da forma urbana

desenhada» (Brandão, 2002:24) para que funcione como matriz inicial de urbanidade, como «chão

da cidade».

1.3. DEFINIÇÃO DE TIPOLOGIAS DO ESPAÇO PÚBLICO EM FUNÇÃO DO SEU USO

Para poder estudar a eficácia do pavimento no espaço público da cidade, a descrição tipológica

que faz sentido apresentar é baseada no modo como esses espaços são utilizados e

percepcionados pelas pessoas. A forma de percepção assenta em dois tempos diferentes, o de

movimento e o de estada (Seixas, 1997) e na sua transposição para a cidade, baseada numa

leitura ao nível do seu traçado, pode-se transformar morfologicamente estes dois momentos

sensoriais em, respectivamente, espaços lineares e espaços não lineares. Os lineares,

simbolizados pela tipologia de rua, são espaços dinâmicos cuja relação entre a largura e

comprimento em planta é, segundo Carmona, igual ou superior a 1 para 3, respectivamente, uma

vez que quando há uma dominância de um dos eixos sobre o outro começa a ser perceptível pelo

utilizador a noção de movimento. Sendo assim, 1 para 3 será também o limite máximo para que o

espaço seja considerado não linear e para que seja visualizado pelo utente como espaço de

estada e encontro, como praça (Carmona, 2003).

Page 23: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

19

Figura I.8 – Relações de Largura e Comprimento de um Espaço Público

a. Ratio 1:3, Leitura como espaço não linear | Carmona – Public Places, Urban Spaces

b. Ratio 1:5, Leitura como espaço linear | Carmona – Public Places, Urban Spaces

ESPAÇOS LINEARES

A função primária dos espaços lineares, independentemente da sua morfologia, é ser o suporte

das movimentações e deslocações de pessoas e veículos, dando acesso a outras áreas, sejam

elas exteriores ou interiores. No entanto, também é importante servir de suporte para a

permanência de pessoas e estacionamento de veículos, na maioria das vezes conjuntamente

(Brandão, 2002).

Estes espaços de circulação, genericamente designados por ruas, representam um conjunto de

espaços lineares e tridimensionais, muitas vezes definidos e limitados nos dois lados ao longo do

eixo. Quanto à forma, pode ser analisada através de qualidades comparativas opostas como

dinâmica/estática, fechada/aberta, curta/comprida, larga/estreita, recta/sinuosa, etc. ou por

considerações sobre escala, proporção, ritmo e relações com outros espaços (Carmona, 2003).

Esta análise formal é a base para a definição das várias subcategorias que derivam desta

categoria de circulação, influenciando e definindo também as diferentes actividades

complementares e formas de apropriação que surgem paralelamente à sua função principal.

«O traçado, a rua, existem como elementos morfológicos nos vários níveis ou escalas da forma

urbana. Desde a rua de peões à travessa, à avenida ou à via rápida, encontra-se uma

correspondência hierárquica dos traçados e a hierarquia das escalas da forma urbana»19

.

Deste modo, como espaços de circulação, podem-se identificar, por ordem hierárquica:

– As estradas existem como ligação entre aglomerados, ao nível regional, nacional ou

internacional e criam muitas vezes situações de exclusividade ao trânsito motorizado, excluindo

qualquer outro tipo de circulação e por conseguinte qualquer outra função, caso das auto-

estradas e vias rápidas.

– As avenidas inserem-se no contexto urbano, normalmente estabelecem as ligações entre

diferentes zonas ou bairros da cidade. Têm a característica de serem bastante largas com

tráfego intenso e rápido, predominantemente automóvel. Os tipos de circulação estão

marcadamente separados e quando as vias automóveis são muito largas recorre-se a

separadores centrais, por vezes arborizados e utilizados para circulação pedonal.

19 José M. Ressano Garcia LAMAS – Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, p.100

Page 24: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

20

– As alamedas surgem da necessidade de integrar vegetação em avenidas, conjugando a

necessidade de circulação expedita com espaços de qualidade para funções de lazer. Tratam-

se portanto de amplas avenidas de circulação viária, com placas centrais largas arborizadas ou

relvadas que permitem a utilização pedonal mais descontraída.

– As ruas são o espaço de circulação da cidade por excelência, tradicionalmente albergando

actividades de encontro e comércio daí resultantes. É a este nível hierárquico que começam a

aparecer soluções de ruas mistas, peão e automóvel, embora a maioria recorra ainda à

segregação. Surgem zonas de estacionamento, permitindo ao utilizador parar e interagir com o

local por onde passa, mesmo sendo a função principal a circulação. Existem ainda as ruas

pedonais de trânsito exclusivo para peões, em que tudo se processa mais lentamente,

propiciando o desenvolvimento de outros usos mais casuais, embora circular seja a principal

actividade.

– As travessas são ruas mais estreitas e curtas que fazem a ligação transversal entre ruas,

encontram-se ao nível do bairro.

– Os becos são ruas ainda mais estreitas, normalmente sombrias, vulgarmente associadas a

troços sem saída;

– A calçada é definida no dicionário da seguinte forma: «rua ou caminho pavimentado com

pedras (e/ou), rua ou ladeira íngreme»20

.

Figura I.9 – Espaços Lineares: Subcategorias

a. Estrada | FNI

b. Alameda – Alameda D. Afonso Henriques, Lisboa | FNI

c. Avenida – Avenida Infante Santo, Lisboa | FNI

d. Rua – Rua Augusta, Lisboa | FNI

e. Travessa – Travessa da Portuguesa, Lisboa | Dias dos Reis, SD

f. Calçada – Calçada da Bica Grande, Lisboa | FNI

g. Beco – Beco dos Apóstolos, Lisboa | FNI

20 Academia das Ciências de Lisboa – Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. Lisboa: Verbo, 2001, pp.629 e 630

Page 25: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

21

ESPAÇOS NÃO LINEARES

«Se a rua é o lugar de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos

acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de

prestígio» (Lamas, 2007:102).

Os espaços não lineares são espaços livres, centrípetos por excelência na cidade tradicional

uma vez que representam o conceito de coração, de vida. Têm uma grande diversidade na forma

e dimensão embora sejam visualmente abarcáveis no seu todo e a maior parte do seu contorno é

delimitado por edifícios (Brandão, 2002). A relação deste vazio com os planos que as envolvem e

contêm, as fachadas e o pavimento, é muito importante na sua definição.

O conjunto de espaços não lineares da malha urbana, genericamente designados por praça,

contém várias subcategorias que se diferenciam precisamente pela sua forma orgânica ou racional

e pela sua dimensão. Muitos destes espaços eram vazios ou alargamentos da estrutura urbana

que foram sendo apropriados como praças, embora nunca sejam realmente praças por não terem

sido desenhados intencionalmente como tal (Lamas, 2007).

Dependendo de algumas das suas características, este grande grupo pode ser fraccionado em

várias subcategorias, com diferentes definições, que por vezes se relacionam com aspectos

históricos e outras com o seu uso.

– A praça funciona como pólo agregador de vivências urbanas, desde sempre desempenhando

um papel muito importante nos aglomerados. Na sua tradição é o espaço por excelência de

implantação de edifícios de uso colectivo, como igrejas e paços do concelho, de edifícios

representativos de estatuto social e económico, como palácios, e são ainda estes pólos que

apresentam o local privilegiado para o comércio e os serviços de prestígio. É lugar não só de

edifícios importantes, como também de símbolos do poder através de elementos escultóricos.

São também os espaços da cidade capazes de albergar as grandes reuniões públicas, sejam

manifestações ou mercados (Seixas, 1997).

– O largo, é um dos espaços não lineares que Lamas descreve como não intencionais, ou seja,

embora reúnam frequentemente funções idênticas às da praça, resultam da reciclagem de um

espaço urbano residual e, portanto, não têm o mesmo simbolismo que as praças. Foram criados

por uma necessidade de desafogo em locais de confluência de ruas, por exemplo, de onde

surgem as mais diversas formas e tamanhos (Seixas, 1997).

«Os largos e praças, além de terem sido espaços públicos com funções importantes na vida local

dos aglomerados medievais, foram também elementos significativos na estrutura e composição

dos seus traçados. Enquanto a praça correspondia a uma área determinada por regras e

condicionantes de ordem funcional e tinha por base um modelo formal, o largo assentava em

objectivos menos definidos e apresentava uma estrutura mais fluida» (Seixas, 1997:39).

– As pracetas, como os largos, são formas irregulares, distinguindo-se dos largos pela sua menor

acessibilidade e permeabilidade, sendo que podem resultar de impasses e situações sem saída

(Brandão, 2002).

Page 26: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

22

– Os terreiros são fáceis de reconhecer uma vez que têm características bastante singulares.

Tratam-se de plataformas regulares bastante extensas e relativamente planas, cujo pavimento

é, como o nome indica, terra ou outro material permeável. Destinados a acolher actividades

populares periódicas como festas, feiras, mercados, podem também acolher outro tipo de

funções na base diária, como por exemplo estacionamento (Brandão, 2002).

Figura I.10 – Espaços Não-Lineares: Subcategorias

a. Praça – Piazza del Campo, Siena | FNI

b. Largo – Largo de S. Miguel, Alfama, Lisboa | Maria João, 2006

c. Praceta – Praceta Miguel Ramalho, Beja | FNI

d. Terreiro – Terreiro do Santuário da Nossa Senhora da Pedra Mua, Cabo Espichel | FNI

As cidades são também compostas por espaços públicos “verdes”, vocacionados

essencialmente para recreio e lazer, desempenham um papel muito importante na cidade, quer

pelo equilíbrio que proporcionam no ciclo hidrológico com a sua permeabilidade, quer pela

preservação de várias espécies, incluindo a nossa, já que são também estes espaços que ajudam

a controlar a temperatura e a qualidade do ar (pulmões da cidade). São espaços livres

constituídos principalmente por estruturas naturais ou ajardinadas que dependendo da sua

dimensão podem ser parques urbanos, jardins públicos ou apenas áreas ajardinadas de

enquadramento.

– Os parques urbanos são de grande dimensão e servem não só bairros como toda a cidade,

abrangem os vários grupos etários uma vez que englobam infraestruturas de recreio e repouso

para todos. Muitas vezes são também programados para usos desportivos (Brandão, 2002).

– Os jardins públicos são normalmente espaços vedados, constituídos por áreas pedonais

intercaladas com grandes extensões de zonas ajardinadas, têm uma dimensão mais moderada

e a sua área de influência é sobretudo ao nível do bairro (Brandão, 2002).

– Quanto às áreas ajardinadas de enquadramento na sua maioria são apenas zonas verdes

ornamentais, sem qualquer uso especificado (Brandão, 2002).

Figura I.11 – Espaços Públicos Verdes: Subcategorias

a. Parque – Parque Florestal de Monsanto, Lisboa | Programa Google Earth

Page 27: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

23

b. Jardim Público – Jardim da Estrela, Lisboa | FNI

c. Área ajardinada de enquadramento – Alcântara Rio, Lisboa | FNI

OUTRAS TIPOLOGIAS

Para além destas categorias mais tradicionais e comuns existem ainda algumas tipologias

funcionais especializadas, no sentido em que são definidas por um uso predominante. Tendo

como base o elenco de tipologias apresentadas por Brandão (2008:9) e sabendo que este é um

tema em constante transformação e actualização, começa-se por identificar os que se seguem.

– Os espaços de contemplação, por exemplo miradouros, estão inseridos na categoria de

“espaços-paisagem”, em que aquilo que os define é a capacidade de se poder apreciar a

paisagem envolvente, pela sua localização privilegiada. Embora não estejam limitados a esta

função, ela é predominante e é a razão pela qual são criados. São usualmente utilizados como

pontos de convívio e encontro.

Figura I.12 – Espaços de Contemplação

a. Miradouro de Stª. Luzia, Lisboa | FNI

b. Jardim do Torel, Lisboa | FNI

c. Miradouro de Stª. Catarina, Lisboa | FNI

– Os espaços de saudade, dentro da categoria que Brandão intitula de “espaços-memória”,

englobam espaços públicos menos convencionais cuja utilização, pela sua total especificidade,

raramente vai para além da que lhes foi destinada, por exemplo os cemitérios, as áreas

arqueológicas e os memoriais.

Figura I.13 – Espaços de Saudade

a. Cemitério de Finisterre | César Portela, 2008

b. Castros no Monte de Santa Tecla em La Guardiã, Galiza | FNI

Page 28: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

24

É importante ter ainda em conta que a crescente complexidade da questão do espaço público e a

necessidade de dar resposta a funções cada vez mais especializadas, provenientes das

tendências actuais, não invalidam a importância que têm os espaços públicos ditos tradicionais,

mas acrescentam novas características e categorias (Brandão, 2008) que não podem ser

ignoradas e marginalizadas. Embora possam criar situações de conflito, estas devem ser

minimizadas.

Ainda dentro destas tipologias funcionais especializadas podem identificar-se outras que derivam

de «novos “factos” urbanos com impacto no espaço público» (Brandão, 2008:10). O aparecimento

do automóvel e outros meios de transporte motorizados, vieram provocar não só necessidades de

adaptação das ruas tradicionais (por exemplo, segregação de usos) como também a criação de

novas tipologias para acompanhar a evolução da deslocação, categorizadas por Brandão como

“espaços-deslocação”, onde se podem identificar:

– Os espaços públicos de transporte que englobam as áreas de espaço público usadas para

servir os transportes colectivos, como as estações, paragens e interfaces. São espaços que

requerem alguns cuidados, principalmente ao nível do pavimento, devido à elevada utilização.

– Os espaços canais em que o uso é exclusivo, como vias-férreas, auto-estradas e passagens

pedonais aéreas.

– Os espaços de estacionamento, em parques ou em silos, são novos espaços públicos cada

vez mais importantes pela interacção peão e automóvel, é nestes locais que os condutores

passam a ser peões e vice-versa. Os parques de estacionamento podem ser segregados ou

podem fazer parte da rua, criando mais interacção mas ao mesmo tempo introduzindo novos

problemas e conflitos com outros usos mais tradicionais.

Figura I.14 – Espaços-Deslocação: Subcategorias

a. Espaços de Transporte | Website Olhares

b. Espaços Canais | Website Olhares

c. Espaços de Estacionamento | FNI

Page 29: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

25

ESPAÇOS EMERGENTES

Outro factor decisivo é a crescente privatização ou o «reequilíbrio dos limites público-privado»

(Brandão, 2008) com os quais muitas funções colectivas passaram a desenvolver-se em espaços

privados ou de gestão privada, retirando ao espaço público um dos seus usos primários e

essenciais, a troca. Surgem assim os “espaços comerciais semi-interiores e semi-exteriores” onde

estão inseridos mercados, centros comerciais, arcadas, quiosques, toldos e etc., que exigem o

cumprimento de regras de conduta mais restritas e discriminatórias por se tratarem de espaços

fechados de gestão privada ao invés de locais totalmente públicos e acessíveis.

Dentro destas tendências actuais Brandão assinala ainda outras que, embora não criem novas

tipologias de espaço público, trazem impactos ao nível da identidade do espaço tradicional. O

motivo parece ser sempre o mesmo, o benefício económico, quer através da criação de

“identidades inventadas” induzidas pelo turismo e pela função lúdica, como através da “estetização

do espaço público” em que muitas vezes a moda e o “design” apagam identidades mais

autênticas. Pedro Brandão aponta ainda a apropriação do espaço público que tem sido feita pela

publicidade, mais uma vez para fins lucrativos ou políticos, tirando partido da imposição

irrecusável que representam estas mensagens.

Mas não será esta uma forma natural de evolução? A publicidade, a homogeneização dos

espaços e as identidades “emprestadas” ou “roubadas”, no futuro farão parte de mais uma etapa

na história do urbanismo. Tal como no romantismo, actualmente atravessa-se uma fase

melancólica e saudosista, na procura do espaço público tradicional.

2. O PAVIMENTO

«Porque o pavimento – base e elemento de ligação de todo o tecido urbano – é um dos factores

essenciais do equipamento dos seus espaços. Do traçado, dos materiais utilizados, da textura, da

cor, do desenho, depende a sua eficácia, estética e psicológica»21

.

2.1. DEFINIÇÃO DO CONCEITO

«É a partir do território e da sua topografia que se desenha ou constrói a cidade. É a topografia e

modelação do terreno, mas são também os revestimentos e pavimentos, os degraus e passeios

empedrados, os lancis, as faixas asfaltadas, os carris dos eléctricos e tantos outros aspectos»

(Lamas, 2007:80).

Para uma definição apurada de pavimento, é importante começar por clarificar as várias

“camadas” que o compõem e os vários papéis que desempenha antes de partir para a sua

materialidade e adequabilidade.

A constituição do pavimento é muito mais complexa do que aquilo que está visível para o

utilizador. O pavimento é definido como a parte da via que suporta directamente o tráfego e

21 Francisco Keil AMARAL e José SANTA-BÁRBARA – Mobiliário dos Espaços Urbanos em Portugal. Mirandela: João Azevedo Editor, 2002, p.76

Page 30: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

26

transmite as respectivas solicitações à infra-estrutura, ao terreno. É constituído por várias

camadas, sendo aquela com que contactamos directamente, a camada de desgaste, que por sua

vez assenta sobre as camadas de fundação, estas com a função, no que toca à implementação de

construções, de distribuir as cargas sobre o solo.

A clarificação do conceito de solo torna-se importante uma vez que a existência e o tipo de

pavimentos dependem da existência e forma do próprio solo. O solo é a verdadeira base de todos

os nossos movimentos e acções, mas também uma grande limitação na medida em que a sua

topografia e constituição condiciona de algum modo o tipo de espaços e usos que podem surgir.

Coberto pelo pavimento, o solo incorpora muitas das infra-estruturas que permitem a existência de

vida urbana e que são essenciais para todo o sistema urbano desde as naturais, como a

hidrologia, às construídas, como a rede de esgotos, água, gás, electricidade. «A dimensão,

complexidade e eficiência deste poderoso e discreto sistema de raízes da cidade nem sempre

são perceptíveis aos cidadãos»22

.

No entanto, apesar das vantagens estéticas e funcionais da incorporação das infra-estruturas no

subsolo, surgem alguns problemas quer pela necessidade de espaço de implantação que por

vezes é insuficiente, quer pela limitação em termos de pavimento que estas representam. Todas

as redes de infraestruturas subterrâneas necessitam de controlo e manutenção, feito

necessariamente através do pavimento. Assim, é conveniente que integre elementos facilmente

removíveis que por vezes representam descontinuidades e pontos de degradação mais rápida do

revestimento (Brandão, 2002). De facto, a camada mais exposta é o pavimento que, por isso

mesmo, desempenha o papel principal de servir como superfície resistente, durável e confortável,

de adaptar as condições naturais do solo à vida urbana e às suas diferentes exigências sem que

se desintegre rapidamente.

O pavimento é composto, no seu todo, por camadas de fundação e de desgaste. A camada de

fundação é constituída usualmente por base e sub-base, funcionando como o elemento resistente

visto que consiste, normalmente, numa camada granular (brita) preparada com um solo de melhor

qualidade que o existente. A camada de desgaste é a superfície em que se estabelece o contacto

directo com o pavimento, a face do chão que nos apoia, que terá de se adaptar às diferentes

funções a que se destina, tendo como principal exigência física a resistência ao desgaste e a

durabilidade.

Ao longo deste trabalho o pavimento será entendido como esta camada de desgaste, «which is

immediately apparent to pedestrian. It is felt beneath the foot, seen at close quarters, from it the

rain splashes and the heat rises to greet the user: its design is therefore of great importance»23

.

É com os “pés” no chão que se estabelece o primeiro, e por vezes único, contacto físico directo

com o espaço, as opções que se tomam e os caminhos que se escolhem estão sempre

relacionados com a forma como os “pés” assentam no pavimento e portanto, a natureza, textura e

22 Lúcia Gonçalves de BRITO – “Um Discreto Sistema de Raízes”, Gestão Urbana, Lisboa: Parque EXPO 98, SA, 2002, p. 283

23 Cliff MOUGHTIN [et al.] – Urban Design: Ornament and Decoration. 1ªEdição. Oxford: Butterworth Architecture, 1995, p.94

Page 31: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

27

dimensão dos seus elementos e materiais desempenham um papel determinante para esta

experiência. Assim, o chão como superfície onde inevitavelmente se “aterra” por acção da

gravidade, é o suporte de toda a vida urbana, e, como tal, são muitas as exigências a que tem de

dar resposta, num variado leque de conjugações, resultando num tecido de vários retalhos, mais

ou menos fluidos, passíveis de serem intuitivamente relacionados com os usos a que se destinam.

Facilmente se percebe que mudanças, por exemplo, no tipo de tráfego podem exigir adaptações

no tipo de pavimento de forma a melhor se adequar aos requisitos impostos, gerando variações

que podem ser aproveitadas para criar padrões decorativos. São oportunidades para ornamentar

resultantes de funções práticas.

Figura I.15 – O Pavimento como Suporte de Diferentes Actividades

Website Olhares

«Os padrões distintos formados por diferentes materiais nascem da sua utilização. Imaginemos os

utentes do pavimento agindo de modo instintivo ou predestinado, e em seguida registemos os

seus movimentos. O resultado seria um “padrão de movimento” em que o uso do pavimento é

traduzido por padrões constituídos por cores ou texturas indicando as diferentes actividades»

(Cullen, 2006:130).

CARÁCTER DO PAVIMENTO

«Successful paving reinforces the character of a place» (Moughtin, 1995:94).

a) Carácter Visual

O carácter visual do pavimento não surge apenas como resultado das questões práticas já

referidas, sendo por vezes tratado mais como uma peça de mobiliário urbano que, embora

cumprindo a sua função, desempenha um papel estético de maior relevância no ambiente criado,

ou seja, é tratado como um elemento estético do espaço urbano. Este papel está muitas vezes

relacionado com a vontade de melhorar o carácter de determinado espaço tornando a sua escala

mais humana e abarcável, potenciando o seu sentido de movimento ou de estada, ou ainda

aumentando a sua utilização e interesse através da introdução de pormenores ornamentais

apelativos por si só.

Page 32: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

28

Figura I.16 – O Pavimento como Elemento Estético

a. Campidoglio, Roma – Padrão regulador da escala do espaço e unificador do conjunto | FNI

b. Calçada portuguesa «mar largo», Vila do Conde – Padrão potenciador do sentido do movimento | FNI

c. Calçada portuguesa, rosa-dos-ventos em frente ao Monumento dos Descobrimentos, Belém – Desenho

ornamental apelativo | FNI

O pavimento pode ainda ser usado como meio de comunicação interagindo com o utilizador

através da transmissão de informação relevante. Esta comunicação passa por vários níveis, desde

diferenciar o tipo de usos a que o espaço se destina no seu sentido global, como a determinar,

numa escala mais aproximada, variações do tipo de uso dentro do mesmo, e, ainda, criar

situações específicas como por exemplo, passadeiras indicativas de zonas com prioridade para

peões, zonas com maior rugosidade, um pequeno desnível indicando um obstáculo, sinaléctica de

informação como nomes de estabelecimentos ou números de policia, ou de orientação, indicando

direcções relevantes.

Figura I.17 – O Pavimento como Meio de Comunicação

a. Piazza Vitorio Emanuele, Santa Severina, Itália – Pavimento indicando os pontos cardiais e direcção do

vento | FNI

b. Zona Envolvente à Abadia de Santa Maria de Alcobaça – Diferenciação do tipo de uso através da

materialidade do pavimento | Website Gonçalo Byrne

c. Sinalização de corredores de circulação através do tratamento da superfície e desníveis de pavimento | FNI

Page 33: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

29

b) Carácter Simbólico

O carácter simbólico do pavimento tem também como base a comunicação uma vez que serve

para transmitir uma informação mas não como aviso ou indicação. Neste caso a comunicação é

utilizada para simbolizar algum momento na história, relembrar o passado do lugar, ou também

para publicitar uma zona privada adjacente recorrendo por vezes à simples alteração no material

do pavimento. A mensagem simbólica, embora mais abstracta, não impede, no entanto, que a

informação transmitida seja reforçada por texto ou imagens impressas, meios mais directos,

embora neste caso secundários.

Figura I.18 – Pavimento como Símbolo/Ícone

a. Quilómetro Zero na Praça das Portas do Sol, Madrid – Símbolo do centro da rede de estradas espanholas,

e mais abrangente, do centro administrativo do país | FNI

b. Desenhos na Calçada Portuguesa, Aveiro – Símbolos alusivos ao mar, actividade identitária da cidade | FNI

c. Almada Velha – Escadaria ondulante, alusiva ao rio | Pedro Brandão – Chão da Cidade

c) Carácter Orientador

O pavimento desempenha um importante papel enquanto referência para a orientação no espaço,

é através dele que se diferenciam as várias características básicas da cidade como público e

privado, aberto e fechado, movimento e repouso.

«Floorscape patterns can reinforce the line character of a street, emphasising its character as a

“path” by providing a sense of direction with visually dynamic pattern. Alternatively, they can check

the flow of space by emphasising its character as a “place”, or by suggesting a feeling of repose

with a visually static or contained pattern» (Carmona, 2003:160).

O carácter orientador que o pavimento pode e deve ter, leva o transeunte a optimizar

determinadas funções, na medida em que, ao potenciar a tipologia do espaço a que pertence,

suas características e funcionalidades, cria condições para que se proceda com mais convicção e

segurança aquando da sua utilização. Nas praças potencia-se a sentimento existencial de “estar”

e nas ruas a sua essência direccional.

Page 34: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

30

Figura I.19 – Pavimento como Orientador do Uso do Espaço

a. Padrão dinâmico potenciador da circulação, Vila Viçosa | FNI

b. Piazza Giuseppe Tartini, Pirano, Eslovénia – Padrão periférico em grelha estático, permitindo a

compartimentação do espaço, com uma zona de esplanadas. Potenciador do carácter de estada | FNI

d) Carácter Operacional

«The interplay of floor patterns of the pavement which alternate between movement and rest can

be designed as the city’s choreography, bringing qualities of rhythm, scale and harmony to the

urban scene» (Moughtin, 1995:94).

O pavimento é uma superfície, moldada à superfície da terra, onde tudo se representa a duas

dimensões e, portanto, o seu carácter operacional reside essencialmente na adaptação de um

terreno irregular e, muitas vezes impraticável, numa plataforma capaz de suportar a vida urbana.

Para tal este extenso elemento tem a difícil tarefa de vencer desníveis, unir diversos pontos,

segregar funções, acentuar marcos, dar escala aos espaços, suportar diferentes imposições e

etc., tudo isto de modo a proporcionar as melhores condições para que todos possam usufruir dos

espaços com conforto, segurança e satisfação. Todas estas variações fazem do pavimento um

espelho daquilo que se passa a três dimensões sobre ele, representando o ritmo da cidade

(Cullen, 2006).

Page 35: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

31

Figura I.20 – Pavimento Operacional

a. Escadaria permitindo a acessibilidade a uma cota elevada | Website Olhares

b. Freiburg, Alemanha – Os canais de água ao longo do pavimento das ruas separam a área pedonal e a via

do eléctrico a par com a sua função de drenagem | Gehl – Novos Espaços Urbanos

c. Zadar, Croácia – Adaptação da costa, criando um espaço de plataformas que possibilitam contemplação à

escala humana | FNI

d. Pioneer Courthouse Square, Portland – Rampa no meio de uma escadaria, adequando o acesso a

pessoas de mobilidade reduzida, bicicletas, carrinhos de mão, patins, etc. | Gehl – Novos Espaços Urbanos

e. Segregação das funções de circulação e estada | Website Olhares

e) Carácter Organizativo

É importante não esquecer que o pavimento é também um elemento activo, uma vez que não se

limita a dar resposta aos requisitos do espaço, dando como contributo «o seu próprio carácter e

personalidade» (Cullen, 2006:130).

É através do seu material, textura e padrão que sobressai o seu carácter organizativo na medida

em que pode unir ou separar os vários elementos constituintes do espaço, segregar funções e

distanciar a envolvente ou pelo contrário, ser plataforma homogénea e unificadora de um espaço

que de outra forma não teria leitura como tal. Também podem ser considerados parte integrante

deste carácter, o papel “compositivo” e “comunicativo” do desenho do pavimento.

«Entre os diversos factores que contribuem para a unificação e coesão numa cidade, o pavimento

é dos mais importantes» (Cullen, 2006:55).

Page 36: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

32

Figura I.21 – Pavimento Organizativo

a. Rua Augusta, Lisboa – A calçada apresenta dois padrões diferentes definindo áreas da rua com diferentes

funções | Fotografia de Autor, 2008

b. Urban Lounge, St. Gallen, Suiça – Pavimento que pelo seu carácter insólito e homogéneo, unifica o espaço

irregular intersticial entre edificações muito heterogéneas | a+t Magazine, In Common IV

2.2. ENQUADRAMENTO HISTÓRICO

O pavimento surge em primeiro lugar nas vias de circulação por serem sujeitas a esforços maiores

que todos os outros espaços e pela necessidade de se tornarem cada vez mais eficientes.

Segundo J. Paulino Pereira datam da pré-história os vestígios encontrados dos primeiros

pavimentos, consistindo em calçadas muito primitivas constituídas apenas por várias pedras

alinhadas e encostadas para facilitar a deslocação, especialmente em zonas alagáveis ou

lamacentas. Os romanos, para facilitar o domínio sobre os seus vastos territórios, estenderam

calçadas formadas por pesadas lajes de granito justapostas cobrindo todos os centros urbanos e

as ligações entre eles.24

Tal como qualquer inovação, a utilização da superfície pavimentada para cobrir o solo surgiu

relacionada a questões funcionais e foram estas que posteriormente levaram à pavimentação dos

lugares mais importantes e significativos da cidade, os espaços mais nobres, como modo de evitar

os inconvenientes trazidos pelo contacto directo com o solo, como o pó e a lama.

É, no entanto, na cidade burguesa do séc. XVII que começa a surgir a necessidade de adicionar

um valor simbólico aos elementos do espaço público, e a pavimentação adquire dimensões para

além da sua função, nas praças de maior imponência da cidade. Começa a fazer parte do todo,

combinando-se com o desenho da envolvente e enaltecendo as características estéticas do

espaço através da criação de padrões decorativos e ornamentais (Remesar, 2005). Perde o seu

estatuto de elemento neutro e subtil passando a desempenhar um papel activo na atmosfera do

lugar, um papel de representação, surge deste modo o seu carácter visual e simbólico.

De facto, até esta data, apenas os espaços de maior importância das cidades beneficiavam de

pavimentação. Foi por volta do séc. XVII, e mais significativamente no séc. XVIII, que houve uma

grande mudança no modo de vida e, consequentemente, na importância da pavimentação.

Segundo Remesar houve um aumento considerável de tráfego na cidade provocado pelo

24 J. Paulino PEREIRA – “O Pavimento e sua Evolução”. Pedra & Cal, nº19, Lisboa: Geocorpa, Setembro

2003

Page 37: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

33

crescimento da actividade comercial e também pela moda, lançada pela Corte Espanhola, de

passear de coche pela cidade como forma de ostentação (Remesar, 2005). Como consequência,

foi necessária uma reestruturação de todo o sistema de espaços públicos e o pavimento passou a

ser utilizado em extensão por toda a cidade de maneira a proporcionar as condições adequadas

para este tráfego intenso. Não só todas as ruas e espaços da cidade foram sendo pavimentados,

como foi necessário criar diferenciação entre espaço pedonal e espaço de veículos, ou seja, surge

o perfil que actualmente prevalece na rua tipo, passeio e estrada.

Figura I.22 - Proliferação da Calçada em Lisboa

a. Parada do Batalhão de Caçadores 5 – Primeira calçada portuguesa, 1842 | Arquivo Municipal de Lisboa (AML)

– Paulo Guedes

b. Rossio – Origem do tema «mar largo» no padrão de calçada portuguesa | AML – Paulo Guedes

c. Largo de S. Paulo – Calçada que ainda hoje prevalece | AML – FNI

d. Largo do Carmo | AML – FNI

e. Praça dos Restauradores – Compatibilização entre carruagens e peões | AML – FNI

f. Rua em Alfama | AML – Armando Serôdio, 1962

Esta segregação e diferenciação de funções da rua aumentou com o aparecimento do automóvel,

que, pelas suas características, criou uma barreira ainda maior à interacção peão/automóvel e

introduziu novas exigências também ao pavimento. Para além da óbvia adaptação que foi

necessária na pavimentação das ruas existentes, começou a ser necessária a criação de zonas de

estacionamento introduzindo mais uma valência à qual o pavimento teve de dar resposta. Pela lei

do mais forte, o automóvel foi retirando espaço ao peão. Um pouco como se o pavimento tivesse

deixado de ser o elemento horizontal de ligação dos edifícios envolventes para passar a ser uma

superfície de separação.

Page 38: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

34

Figura I.23 – Separação de Trânsitos

Website Olhares

O fenómeno da globalização e da evolução tecnológica introduziu grandes alterações nos modos

de vida, potenciando a vida urbana virtual um pouco em detrimento daquilo que é a essência da

cidade, levando ao aparecimento de uma base de suporte deste tipo de vida bem diferente da que

é o pavimento. São cada vez menos os momentos de encontro e socialização no espaço urbano,

cada vez mais o pavimento funciona apenas na sua condição de suporte da mobilidade e quanto

mais eficiente neste aspecto maior a sua incompatibilidade com outras funções. Este fenómeno de

descaracterização do espaço pela banalização situacional contribuiu também para a perda de

identidade dos lugares, na qual o pavimento desempenhava, por vezes, papel activo. Isto deve-se

ao facto de se recorrer a soluções standard de materiais e tipos, independentemente do sítio ou

extensão onde se insere, levando a uma homogeneização dos espaços por todo o mundo.

Figura I.24 – Descaracterização do Espaço Urbano

Spokane – Centro da Cidade transformado em estacionamento de automóveis | Gehl – Novos Espaços Urbanos

Com a evolução tecnológica os sistemas mecanizados foram conquistando terreno àquele que

outrora era trabalho realizado artesanalmente, a pavimentação do espaço público. Por uma

questão de eficiência, rapidez e economia de custos, estes processos foram substituídos por

outros de execução mecanizada, onde predomina a uniformidade de soluções, sendo poucos os

exemplos que perduram de tipologias tradicionais.

Deste modo é importante dar especial destaque ao caso da Calçada Portuguesa, uma vez que é

uma das tipologias tradicionais que «transcenderam a sua função meramente utilitária arvorando-

se em elementos decorativos originais» (Amaral e Santa-Bárbara, 2002:76) e que, tem um grande

valor patrimonial.

Page 39: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

35

2.3. A CALÇADA PORTUGUESA

A partir do séc. XV a pavimentação torna-se uma imposição legislativa dada a necessidade de

assegurar uma melhoria dos pavimentos das artérias mais concorridas, numa época de crescente

dinamismo das cidades, principalmente de Lisboa por representar o epicentro do próspero

desenvolvimento comercial que se vivia em Portugal.25

«Algumas destas ruas eram de terra ou calcetadas com tijolos frágeis; mantinham-se também

quase sempre sujas, a não ser quando se preparavam festividades religiosas e cortesãs (cobrem-

se então de areia, ramos e flores aromáticas)»26

.

Nesta referência à Lisboa do séc. XVI torna-se claro que Portugal acompanhou a evolução do

resto da Europa onde os luxos da cidade burguesa despoletaram as preocupações com o

pavimento como contributo ao bem-estar, mas ainda apenas em ocasiões especiais e espaços

importantes. Eram poucos, nesta altura, os espaços pavimentados com lajeados de mármore e

granito, normalmente relacionados com igrejas, conventos e palácios, raramente ao nível dos

espaços públicos (Seixas, 1998).

As ruas foram sendo pavimentadas lentamente, com calçada, em pequenos elementos

justapostos da pedra existente na região. No caso de Lisboa predominava o calcário, pouco

adequado uma vez que rapidamente se degradava com o fluxo cada vez maior de carruagens

para o qual os pavimentos não estavam preparados. «Em 1500, D. Manuel aprovaria o orçamento

da pavimentação da Rua Nova dos Mercadores, com pedra do Porto, granito de boa raiz nortenha,

“porque a outra dana-se da maneira que vedes”»27

. No entanto, a maioria das ruas de Lisboa

permaneceram em terra batida por muito tempo, já que este era um processo demorado e feito

consoante a necessidade, sendo prioritárias as zonas mais cruciais.

É no pós terramoto que o pavimento começa a ganhar consistência e extensão em Lisboa e

segundo Giuseppe Gorani «...a pavimentação das ruas que estavam a ser construídas era muito

boa e a cidade obtinha grande vantagem com a destruição das antigas ruelas e casas insalubres,

porque agora se construíram novas ruas, largas, regulares, bem pavimentadas e ladeadas de

passeios»28

.

A pavimentação de praças, ruas, jardins, etc., aliada à construção de uma rede de esgotos

estruturada e à implantação de iluminação pública, veio ao encontro dos requisitos de saúde

pública impostos pelo crescimento desordenado que se estava a instalar.

Foi no séc. XIX que se deu a grande revolução ao nível do pavimento em Portugal com o

aparecimento da que viria a ser reconhecida internacionalmente como Calçada Portuguesa, o

25 Ana CABRERA e Marília NUNES – Olhar o Chão. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1998

26 Maria Eugénia Reis GOMES – Contribuição para o estudo da festa no antigo regime em Lisboa. Lisboa: Instituto Português do Ensino à Distância, 1985, p.13 in Ana SEIXAS [et al.] – Ternos Passeios: um manual para melhor entendimento e fruição dos espaços urbanos públicos. Lisboa: IPAMB e CML, 1997, p. 71.

27 Eduardo Freire de OLIVEIRA – Elementos para a História do Município de Lisboa. Volume I, Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, 1942, p. 190 in BAIRRADA, Eduardo M. – Empedrados Artísticos de Lisboa. Vila da Maia: Gráfica Maiadouro, 1985, p. XXXVII

28 Giuseppe Gorani – Portugal: A corte e o país nos anos 1765 a 1767. Lisboa: Lisóptima, 1989 in Eduardo M. BAIRRADA – Empedrados Artísticos de Lisboa. Vila da Maia: Gráfica Maiadouro, 1985, p. XXXIX

Page 40: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

36

primeiro empedrado em calçada mosaico tão característico e afamado, a mesma que actualmente,

insiste em revestir quase todos os passeios e praças portuguesas.

Segundo Cabrera e Nunes, a ideia para este pavimento resulta do cruzamento entre os padrões

ornamentais dos pequenos empedrados decorativos em calhau rolado, já existentes em espaços

privados e nos vestígios dos painéis de Mosaico Romano usados em espaços interiores de luxo,

postos a descoberto por escavações arqueológicas, nesta época em que prevalecia um profundo

sentido do passado, do reaver das tradições e raízes (Cabrera e Nunes, 1998). É então nesta

base que a Calçada Portuguesa se desenvolve, adaptando-se a uma escala bem diferente da

habitual para este tipo de pavimentos não só funcionais mas também decorativos. Pela primeira

vez esta tipologia encontra uma solução capaz de se expandir por áreas de grandes dimensões

sendo, portanto, ideal para espaço público.

Trata-se de um pavimento composto por pedras mais ou menos regulares, tirando partido dos

diferentes tipos de pedra natural da região, principalmente calcário vidraço azul-escuro ou basalto

e calcário vidraço branco, para criar formas e padrões que, tendo em conta a escala do espaço a

que se destinam, devem ser criados com cuidado para que a legibilidade resultante do conjunto

seja a esperada, mais global ou mais intrincada dependendo da situação.

A primeira aplicação da Calçada Portuguesa artística surge no Castelo de S. Jorge por iniciativa e

desenho do então Governador de Armas do mesmo, o Tenente General Pinheiro Furtado,

recrutando prisioneiros para o executar. Depois desta experiência bem sucedida, a Câmara

Municipal de Lisboa deu o seu apoio e concedeu as verbas necessárias para que se procedesse à

pavimentação de toda a placa central do Rossio. O exemplar mais antigo que ainda persiste

actualmente é a pavimentação do Largo de São Paulo em Lisboa (Cabrera e Nunes, 1998).

«O público acabou por aderir à iniciativa (...) reconhecendo-lhe o sentido utilitário, por comparação

com a generalidade das zonas onde abundava, ora a lama, ora a poeira» (Cabrera e Nunes,

1998:XVII).

A partir do séc. XX, com o advento da circulação viária, os peões foram sendo remetidos para os

passeios e, estes continuaram a ser lentamente calcetados e embelezados com diferentes

padrões desde caravelas, florões, rosetas, ondas, formas geométricas, etc. um pouco por todo o

país (Cabrera e Nunes, 1998). A fama da calçada mosaico à portuguesa atravessou a fronteira e

são vários os exemplos da sua utilização fora do país.

Figura I.25 – Exemplos de Calçada Portuguesa no Estrangeiro

a. Copacabana, Brasil | FNI

b. Macau | FNI

c. Benguela, Angola | FNI

d. Central Park, Nova Iorque – Homenagem a John Lennon | FNI

Page 41: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

37

Com a década de 70 e a vontade de devolver o espaço público aos peões, as áreas calcetadas

voltaram a aumentar e este tipo de pavimento conseguiu sobreviver às sucessivas transformações

dos modos de pensar a cidade, continuando a ser uma técnica muito utilizada por designers e

artistas contemporâneos (Cabrera e Nunes, 1998).

O exemplo mais recente de espaço público construído de raiz com recurso à tradicional Calçada

Portuguesa é o Parque das Nações, realizado aquando da Exposição Mundial Expo’98 onde

encontramos uma grande variedade desta tipologia de pavimentação tão simbólica e decorativa.

Figura I.26 – Calçada Portuguesa no Parque das Nações

a. Rossio dos Olivais – Nova interpretação de «Mar Largo» da autoria de Fernando Conduto | FNI

b. Cais dos Argonautas – «Monstros Marinhos» de Pedro Proença | FNI

c. Alameda dos Oceanos – «Caminho de Água» de Rigo | FNI

d. Cais Português – Conjunto de desenhos abstractos, que convidam o público a seguir, participar ou inventar

jogos a partir dos desenhos labirínticos de Xana | FNI

«É uma nota cívica assinalável o uso destes pavimentos decorativos. Traduz um requinte que

invulgarmente se encontra nos serviços públicos, cuja tendência normal é a rotina, a uniformidade,

quando não o desamor completo. É um barroquismo, se assim se pode designar, que traduz

também o conhecimento longo e aperfeiçoado de um material de pavimento e, por isso, pode

pretender ir mais longe no seu uso» (Amaral e Santa-Bárbara, 2002:76).

Com esta citação de Keil Amaral e Santa-Bárbara entende-se todo o simbolismo e nobreza a que

a Calçada Portuguesa está associada. No entanto, é necessário ponderar bem em que situações

se deve recorrer a este tipo de pavimentação uma vez que tal carácter poderá perder-se quando

utilizado de uma forma desregrada e banalizante. Será que não se está a cair no erro de tentar

nobilitar qualquer espaço público, “à força”, através do uso desta tipologia de pavimento acabando

por se desconsiderar a tão tradicional Calçada Portuguesa?

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39

CAPÍTULO II. ADEQUAÇÃO DO TIPO DE PAVIMENTO AO TIPO DE UTILIZAÇÃO

Esclarecidos os conceitos para o entendimento dos fenómenos urbanos de que o pavimento

também é “palco e argumento”, este capítulo pretende ser um trabalho de pesquisa, análise e

observação de diversos casos de estudo e exemplos, com o intuito de identificar os tipos de

utilização do espaço público em estudo, a pavimentação aí utilizada e a forma como se

relacionam. No final, procura-se sistematizar num quadro comparativo a relação entre o uso do

espaço público e o chão que o suporta.

A descrição dos diversos tipos de actividades apoia-se predominantemente na pesquisa

desenvolvida por Gehl, no seu livro Life Between Buildings.

1. TIPOS DE UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO PÚBLICO

«Apesar de ser um produto, o território comporta-se simultaneamente como condicionante das

práticas sociais subsequentes, as quais se configuram também na sua relação com esse mesmo

espaço que as suporta. Deste modo práticas sociais e espaço são duas realidades em constante

interacção» (Salgueiro, 2002:26).

Para perceber o espaço público e todas as suas componentes físicas, especificamente o

pavimento, é importante perceber as práticas sociais que aí se desenvolvem já que são dois

elementos indissociáveis e bastante condicionantes um do outro. Desta forma para compreender o

papel do pavimento da cidade é preciso enumerar muitas das funções que aí se desenvolvem e às

quais oferece os seus serviços.

1.1. ACTIVIDADES PEDONAIS

Gehl classifica as actividades pedonais no exterior em necessárias, opcionais e sociais

abrangendo a natureza de todas as acções que decorrem no espaço público (Gehl, 1996).

Apresenta-se de seguida a sistematização das actividades pedonais caracterizando-as quanto à

sua natureza funcional, à sociabilização e à participação dos seus intervenientes.

SISTEMATIZAÇÃO

a) Quanto à sua natureza funcional – Necessárias ou Opcionais

As actividades podem ter um carácter necessário que, tal como o nome sugere, acontecem

independentemente do ambiente exterior, sejam quais forem as circunstâncias e condições do

espaço, uma vez que têm inevitavelmente de ser cumpridas. Enquadram-se nesta categoria

essencialmente as actividades relacionadas com a deslocação entre os vários locais

necessariamente frequentados, ou tarefas que têm de ser realizadas, em que o espaço público

não passa do meio de comunicação e ligação entre os objectivos a alcançar (Gehl, 1996).

Podem ainda ter um carácter opcional quando ocorrem apenas se houver o desejo de as realizar,

sem qualquer sentido de obrigação. São especialmente dependentes da qualidade do espaço

público e das condições exteriores. Nesta categoria inserem-se todas as actividades de lazer, nas

Page 44: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

40

quais o espaço não é visto como um local de passagem, mas sim usado conscientemente e pelo

simples prazer de o usar (passear, apanhar ar e sol, estar, sentar, qualquer actividade de lazer).

Desta forma Gehl conclui que, quando as condições exteriores não são favoráveis, apenas

ocorrem as actividades estritamente necessárias e o mais rapidamente possível, sem que se

deixem interferir pelo que se passa na envolvente. Em espaços de qualidade, a frequência com

que estas ocorrem é a mesma embora mais demoradamente, e o movimento aumenta uma vez

que surgem também as actividades opcionais que tendem a aumentar proporcionalmente à

qualidade do espaço. «Place and situation now invite people to stop, sit, eat, play, and so on»

(Gehl, 1996:13).

Figura II.1 – Opcional ou Necessária

FNI | Tim Stern, SD

b) Quanto à socialização – Isoladas ou Sociais

As actividades, sejam elas de carácter necessário ou opcional, podem ser caracterizadas como

isoladas, quando desenvolvidas individualmente e sem qualquer interferência de outras pessoas

que estejam nesse mesmo espaço. Podem ser sociais, quando existe realmente interacção com

os outros utilizadores, ainda que seja apenas por contacto passivo, por exemplo visual. As

actividades passam a ter um carácter social a partir do momento em que o indivíduo toma

consciência dos outros utilizadores desse espaço e vice-versa, e para isso, tal como Gehl

evidencia, é importante a presença de outros no espaço público. Estas são actividades

espontâneas que se podem desenvolver a vários níveis diferentes, entre pessoas presentes no

mesmo espaço físico, conhecidas ou desconhecidas, que se cruzam, cumprimentam ou apenas se

observam.

Naturalmente, quanto melhor for o espaço, maior a probabilidade de se estabelecerem este tipo de

interacções já que, por um lado, existem mais pessoas a utilizá-lo ou cruzá-lo e, por outro,

aumenta também a própria predisposição e abertura das pessoas presentes para conviver,

embora muitas delas tivessem o simples propósito de observar.

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41

Figura II.2 – Interacção ou Isolamento

Website Olhares

c) Quanto à participação – Passivas ou Activas

Uma das actividades mais procuradas, como já referido anteriormente, é a simples necessidade

de observar a vida urbana e o seu movimento em geral e, em particular, observar e ouvir outras

pessoas, ou seja, ter um papel passivo. Carmona denomina a esta forma de participação no

espaço público «people-watching» (Carmona, 2003:166) e enquadra-a na sua dimensão funcional

como uma das necessidades primárias que as pessoas procuram satisfazer nestes locais. Esta

actividade pode manter-se na sua passividade ou transformar-se noutra mais activa, resultante da

vontade espontânea de participar em algo que se esteja a observar.

ACTIVIDADES DE PARTICIPAÇÃO PASSIVA

A forma passiva de estar no espaço público é, de facto, a maioritária e é a geradora de todas as

outras. Uma vez que se escolhe a integração na vida de determinado espaço através de uma

primeira fase de observação e reconhecimento, é importante perceber as condicionantes que

representa para o bom funcionamento desse espaço. Acima de tudo, pode concluir-se que

actividade gera actividade e, para que um espaço urbano possa resultar, é importante que não

esteja segregado dos habituais locais de passagem e fluxo da vida urbana. Espaços isolados e

supostamente seguros, criados sob o pretexto de libertar as pessoas do burburinho e azáfama da

cidade, são precisamente aqueles que se encontram vazios gerando ocupações consideradas

indesejáveis e marginais, o que contraria um dos objectivos com que foram criados, a segurança.

«The places people like most are places where there are lots of other people in a fairly contained

amount of space – in a word, somewhat crowded» (Whyte, 2000:242).

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42

Figura II.3 - Observar ou Participar

Website Olhares | FNI

a) Ver

As actividades tendem a crescer da periferia para o centro dos espaços públicos, uma vez que as

zonas mais procuradas pelas pessoas para estar se localizam ao longo das fachadas ou nos

limites exteriores do espaço onde se encontram. É o chamado efeito de periferia ou «edge

effect», uma questão de controlo e segurança que proporciona um elevado nível de conforto ao

ser humano (Gehl, 1996). A capacidade de poder observar tudo o que se passa à sua volta, sem

que esteja demasiado exposto ou desprotegido, torna-se bastante atractiva. Mantém a distância

necessária e a sua passividade enquanto desejar, salvaguardando a possibilidade de ser

abordado de surpresa e contra a sua vontade. Como tal, se as pessoas vão ficando ao longo da

periferia do espaço, é por aí que começam a desenvolver-se as diversas actividades e interacções

e, em última análise, vão crescendo e acumulando até começarem a transbordar para o centro

num processo gradual, «if the edge fails then the space never becomes lively»29

.

Figura II.4 – Efeito de Periferia

e. Museu de Arte Contemporânea, Barcelona | Website PPS

f. Plaza de Quintana, Santiago – As actividades desenvolvem-se da periferia para o centro | Website PPS

«O conforto, a tranquilidade, o envolvimento do utente no espaço (...), reclamam um espaço que

proporcione a vida colectiva mas também o anonimato, a privacidade e a salvaguarda da

intimidade no “espaço vital” da pessoa» (Brandão, 2008:11).

29 Christopher ALEXANDER – A Pattern Language. New York: Oxford University Press, 1977, p.599

Page 47: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

43

A questão do dimensionamento de um espaço público deve ter em conta o campo de visão

social do utilizador, de maneira a que os limites do espaço correspondam aos limites do campo de

visão já que, como se percebe, quase todas as actividades têm início na observação distante e

geral do ambiente. Segundo T. Hall, a distância máxima de alcance ainda dentro do campo de

visão social é de 100m, pois este é o limite para distinguir e identificar uma pessoa. Dentro deste

alcance é possível estabelecer vários patamares de interacção social. Entre 70m e 100m começa

a ser possível distinguir algumas características do indivíduo e reconhecê-lo, caso seja alguém

próximo, e acima de tudo é possível perceber o que está a acontecer no espaço envolvente. No

entanto, só a cerca de 20 a 25m é que começam a tornar-se nítidas as expressões faciais e

disposição da pessoa, sendo a partir desta fase que Hall considera realmente haver interacção

social.30

Alexander reitera esta afirmação ao dizer que as pessoas se sentem conscientemente

relacionadas umas com as outras em espaços cujo diâmetro não seja mais que a distância que

lhes permite identificar expressões faciais e ouvir ao longe os outros (Alexander, 1977).

Figura II.5 – Observar, o efeito de periferia

a. Machico, Portugal – Observando a paisagem | Pedro Gomes, 2006

b. Seattle, Occidental Square renovada em 2007 – Pessoas sentadas a observar | Dan Gonsiorowski, SD

b) Ouvir

Introduz-se aqui uma nova forma de percepção do espaço que é também extremamente

importante para o bem-estar do utilizador do espaço, a audição. Torna-se incómodo conversar

numa rua movimentada e com muito ruído de fundo. Segundo Gehl, acima de 60dB (o que

equivale normalmente a uma rua mista) é praticamente impossível conversar, sendo apenas

possível ouvir-se todos os sons que fazem parte da experiência social, a voz de outras pessoas,

os seus passos, música, etc., quando o ruído reduz para 45 a 50dB (Gehl, 1996). Esta questão

relaciona-se também com a necessidade de controlar aquilo que nos rodeia pois o ruído de fundo

faz diminuir a nossa atenção e o nosso estado de alerta.

Assim, ao intervir no espaço público, é necessário ter em conta todos estes factores cruciais para

a sua efectiva utilização. Ao basear a intervenção nestas premissas, dá-se oportunidade ao

transeunte de percepcionar aquilo que se está a passar logo a partir da periferia desse lugar, sem

30 Edward T. HALL – A Dimensão Oculta. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1986

Page 48: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

44

qualquer constrangimento e sem necessidade de se expor. Ao “entrar” realmente no espaço, está

a decidir o seu envolvimento mais ou menos activo nesse acontecimento. Por outro lado, se o

espaço criado tiver menos de 20m de comprimento é necessariamente um espaço de interacção,

um espaço em que se sente a “obrigação” social de estabelecer contacto com o outro, implicando

uma proximidade que se pode apresentar como invasão de privacidade para alguns, tornando-se

uma situação desconfortável e, consequentemente, a evitar.

Assim sendo, as dimensões adequadas estão entre estes dois extremos apresentados,

dependendo do ambiente que se quer criar, do tipo de uso a que se destinam e do local na rede

urbana em que estão inseridos. O utilizador é livre de escolher o seu modo de participação na vida

urbana já que consegue identificar os vários acontecimentos à sua volta e integrar-se naquele que

mais o satisfaz.

«Life between buildings is potentially a self-reinforcing process. When someone begins to do

something, there is a clear tendency for others to join in, either to participate themselves, or just to

experience what others are doing» (Gehl, 1996:75).

Figura II.6 – O Ruído Gerador de Desconforto

FNI

ACTIVIDADES DE PARTICIPAÇÃO ACTIVA

Enquanto muitos satisfazem o seu desejo pelo simples contacto passivo outros preferem um

envolvimento mais activo com o espaço e as pessoas que aí se encontram, através do contacto

directo com amigos, família ou mesmo desconhecidos (Carmona, 2003). Este contacto pode

desenvolver-se de várias formas mas todas elas têm como ponto de partida as actividades básicas

de ver, ouvir, falar, andar, parar e sentar, e havendo condições para que estas se desenvolvam,

existe uma boa base para que outras mais complexas possam despoletar (Gehl, 1996).

«In an urban setting, a pedestrian journey is rarely single purpose: on the way to somewhere else,

we stop to by a newspaper, talk to a friend, enjoy a view or watch the “world go by”» (Carmona,

2003:170).

a) Dialogar

A participação mais activa na vida urbana implica não ficar sozinho, e é através da comunicação,

maioritariamente verbal, que nos expressamos e interagimos. É muito comum observar no espaço

Page 49: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

45

público quer grupos de pessoas a executar determinadas actividades, dialogando entre si, quer

encontros e cruzamentos entre pessoas, conhecidas ou não, em que surge a necessidade de

trocar algumas palavras. Para que tal possa acontecer o espaço tem de garantir as condições

necessárias para ser possível falar e ouvir.

Gehl subdivide o acto de falar em três categorias, o diálogo entre pessoas que percorrem ou estão

no espaço intencionalmente juntas, o diálogo entre pessoas conhecidas ou amigas que se

encontraram casualmente nesse local e o diálogo esporádico entre desconhecidos. Em qualquer

uma das situações é importante que o ruído de fundo seja baixo o suficiente para não causar

desconforto.

No primeiro caso a influência que o meio envolvente pode ter não é de grande relevância já que o

à vontade entre as pessoas é tal que não surgem quaisquer constrangimentos adicionais. Em

relação aos encontros casuais, estes também não sofrem grandes influências na medida em que

as conversas acontecerão nos locais onde ocorrem os cruzamentos.

Quanto à terceira forma de interacção, entre desconhecidos, esta pode surgir em situações onde

os utilizadores estão a realizar qualquer outra actividade em comum, sendo que é a mais rara das

três e a mais exigente em termos de adequação do espaço público. Existem inúmeras medidas

que se podem tomar, essencialmente relacionadas com a forma como os locais de estada estão

organizados, para que esta actividade possa surgir, nomeadamente, através do despoletar de

reacções a um mesmo evento ou objecto comuns aos utilizadores, induzindo um comentário ou

qualquer tipo de conversação.

Figura II.7 – Conversar com o Outro

Website Olhares | Website Olhares FNI

Page 50: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

46

b) Andar

Andar pode parecer apenas uma forma de deslocação, mas muitas vezes é simplesmente um

pretexto para estar no espaço público sem grande compromisso. Os espaços públicos mais

propícios para esta actividade são os anteriormente denominados lineares que evocam o

movimento, tendo como premissas para o seu dimensionamento a necessidade de espaço de

manobra e ao mesmo tempo a criação de interferências que suscitem interesse ao longo do

percurso, que de outra forma serviria apenas de ligação entre dois pontos. Este interesse pode ser

suscitado por actividades colocadas ao longo das fachadas e contornos do espaço ou através da

sinuosidade e contraste entre amplo/estreito de modo a segmentar o percurso evitando que seja

directo e cansativo. No entanto, o movimento pedonal é o mais sensível a interferências e

qualquer exagero nestas pode causar a não utilização desse espaço.

«The fact that is tiring to walk makes pedestrian naturally very conscious of their choices of routes»

(Gehl, 1996:139).

Figura II.8 – Percorrer o Espaço Público

Website Olhares

O acto de caminhar é cansativo e, portanto, o peão tenderá a escolher um percurso que exija o

menor esforço possível sem pôr em causa a sua segurança, de maneira a torná-lo mais fácil e

confortável. Esta é uma exigência importante para o pavimento na medida em que, como já dito

anteriormente, este representa o elemento do espaço público com que se estabelece o contacto

físico directo, o que significa que deve garantir as condições necessárias para que sejam

assegurados os desejos do utilizador, tanto em termos de conforto físico como também visual.

Exigências do pavimento como aderência, continuidade e resistência são fundamentais para este

tipo de utilização e, uma vez que alguns peões requerem condições especiais, como por exemplo

cadeiras de rodas, carrinhos de bebés, invisuais, é necessário que este se possa adequar a todos

Page 51: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

47

estes diferentes “modos” de andar de forma a ser considerado o chão de um espaço realmente

público e acessível a todos.

Quanto ao conforto visual, pode ser garantido, no caso específico desta actividade de caminhar,

com a acentuação de alinhamentos, percursos e direcções através da textura ou combinação de

diferentes elementos constituintes do pavimento, provocando uma sensação de segurança no

percurso escolhido. É importante também dar a oportunidade ao utilizador de perceber

rapidamente qual o caminho mais directo para alcançar o seu objectivo, sem que surjam grandes

obstáculos, mas ao mesmo tempo, não criar um espaço de tal maneira direccionado ao

movimento ou segregado das outras áreas que não se sinta confortável a parar ou desenvolver

outro tipo de actividades se assim o desejar.

No acto de andar pode-se contemplar ainda outros modos de locomoção como andar de patins, de

bicicleta, em skate, etc. que podem surgir no espaço público se houver condições para o

desenvolvimento de tais actividades caso em que o pavimento tem, de facto, especial importância.

c) Parar

Parar pode acontecer por várias razões. Pára-se porque se espera alguém ou alguma coisa, para

olhar, conversar, descansar, etc. Estas paragens, quando acontecem por questões funcionais, são

normalmente breves e nada influenciáveis pela envolvente pois acontecem onde tem de ser, no

local onde as pessoas se cruzam, onde surge um obstáculo ao movimento ou perante algo que

capte a atenção (Gehl, 1996). São paragens casuais, que não estão previstas e, embora sejam

tendencialmente rápidas, podem, eventualmente, dar lugar a outras actividades diferentes e mais

demoradas, por exemplo, encontrar alguém e aproveitar para sentar algures a conversar, observar

um grupo envolvido num evento e decidir participar. «Abrigo, sombra, conveniência e um ambiente

aprazível são as causas mais frequentes da apropriação de espaço, as condições que levam à

ocupação de determinados locais» (Cullen, 2006:25).

Figura II.9 – Parar em Pé ou Encostar

FNI | Website Olhares | Website Olhares FNI

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48

O parar no espaço público tem várias motivações. Quando acontece de uma forma premeditada, é

escolhido conscientemente o local para “encostar”. De facto, encostar é o termo que melhor

reflecte o modo como as pessoas escolhem os locais onde param, como já anteriormente referido,

gostam de ter controlo do espaço e do que nele se passa, sem que possam ser surpreendidas.

Assim, os locais mais procurados para encostar são junto às fachadas envolventes ou qualquer

outro ponto protegido e com uma vista abrangente sobre o espaço, o efeito de periferia.

«If spaces are desolate and empty – without benches, columns, plants, trees, and so forth – and if

the façades lack interesting details – niches, stairs, and so on – it can be very difficult to stop»

(Gehl, 1996:155).

É irónico, mas é de facto em torno dos elementos de separação de funções e espaços que a vida

urbana se forma e aglomera. Consegue-se perceber uma actividade mais intensa em torno desses

elementos, tanto pela questão física de estar apoiado, como também pela sensação de segurança

de estar com a retaguarda protegida e a controlar toda a envolvente.

«Sitting activities in general take place only where the external conditions are favourable, and the

sitting locations are chosen far more carefully than are locations for standing» (Gehl, 1996:157).

d) Sentar

Sentar é uma forma de parar e estar no espaço público que pressupõe já uma estadia mais

prolongada e portanto mais exigente que o simples parar em pé. O efeito de periferia aplica-se

também neste caso e, portanto, há que criar condições para que esta se possa realizar em torno

do espaço público, em zonas consideradas mais protegidas. Segundo Alexander, quando se

projectam locais para sentar, sejam eles bancos, escadarias, muros, etc. deve ter-se em conta,

entre outras questões relacionadas com o clima, a necessidade de ter uma vista desafogada sobre

a actividade pedonal. Se, pelo contrário, a localização escolhida para o posicionamento de bancos

for o centro, mesmo que colocados em abundância, estes serão ignorados, como se não

existissem, inviabilizando o próprio espaço público (Alexander, 1977).

Uma outra questão, assinalada em vários autores, relaciona-se com o tipo de assentos, que se

afirma variarem com os diferentes grupos de utilizadores sendo crianças e jovens a classe menos

exigente a este nível, ao consentirem sentar-se em qualquer desnível que encontram ou até

mesmo directamente no chão. No entanto, para os mais idosos que têm um papel muito

importante na vida do espaço público, sendo os que mais usufruem destes lugares, os assentos

têm de ser adequados, com altura e posicionamento correctos de forma a facilitar o sentar e o

levantar e confortáveis para permanecer durante largos períodos de tempo. No entanto, é

necessário um correcto dimensionamento das várias tipologias, para que em alturas de grande

afluência haja resposta à necessidade e em alturas menos populadas, o espaço não pareça vazio

ao transeunte que passa, ao encontrar uma imensidão de bancos vazios. Encontrará apenas

alguns bancos, eventualmente ocupados, e escadarias, fontes, muros, etc. cuja desocupação

passará despercebida uma vez que não é esta a sua função primária (Gehl, 1996).

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49

É de facto no “mundo” pedonal que a noção de rua como espaço social se verifica, existindo uma

relação simbiótica entre movimento e transacção interpessoal, e onde o território de circulação e o

território social são quase totalmente coincidentes. O mesmo não acontece quando o movimento é

baseado no automóvel passando a ser apenas pura circulação, o que provoca a segregação do

espaço público em território de circulação (viária) e território de socialização. Este último é ainda

coincidente com o de circulação pedonal, embora tal aconteça cada vez com menos frequência

devido ao frenesim do dia-a-dia com uma constante procura de rapidez nas deslocações em

detrimento da interacção com o meio envolvente (Carmona, 2003). Interessa perceber então que

actividades surgem neste espaço viário que tanto tem crescido em importância e em área.

Figura II.10 – Criar Possibilidade de Sentar

Website PPS | Website Olhares | Sérgio Redondo FNI

1.2. ACTIVIDADES VIÁRIAS – O Automóvel

«Com o alargar da expressão territorial das cidades e o aumento geral do poder de compra das

populações, o leque de opções de actividade localizadas num entorno passível de alcance a pé

passou a ser demasiado restritivo na maior parte das situações, com o que a necessidade de

recurso à mobilidade motorizada se banalizou»31

.

As actividades viárias naturalmente não se restringem ao automóvel privado, sendo que englobam

também um vasto leque de transportes viários públicos que vieram contribuir para a melhoria da

mobilidade colectiva. No entanto, o automóvel tem sido o elemento mais conflituoso na cidade, já

que a sua extensa utilização vem penalizando o bom funcionamento dos outros meios de

transporte, incluindo o mais primário, andar a pé. Assim, para esta análise, são as suas

31 José Manuel VIEGAS – “Mobilidade”, Gestão Urbana, Lisboa: Parque EXPO 98, SA, 2002, p. 216

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50

actividades que interessa discriminar e perceber de que forma se pode lidar com a situação

contemporânea em zonas de centro urbano.

Como já foi mencionado na listagem de tipologias de espaço público o automóvel, veio

acrescentar novas tipologias, como são os espaços canais, auto-estradas e vias reservadas, e os

espaços de estacionamento, tanto parques exteriores como silos, mas criou também alterações

consideráveis nas tipologias consideradas tradicionais. Brandão afirma que, «o espaço automóvel

é quase sempre abrasivo da identidade de ruas, praças, vistas, elementos naturais, mas é por

vezes condição de viabilidade» (Brandão, 2008:10).

De facto, as deslocações eram consideradas um processo laborioso e lento, mas, actualmente,

com os transportes motorizados, o único processo fisicamente mais exigente é o de entrar e sair

do veículo, já que o resto do percurso se faz sentado (Cullen, 2006). Deste modo, mais facilmente

são toleradas as grandes distâncias, aumentando a área de alcance individual, o que veio

contribuir para a dispersão urbana já que se perdeu a necessidade de concentrar pessoas,

actividades, bens e serviços.

«As pessoas parecem querer fugir umas das outras, verifica-se uma tendência para abandonar os

pontos nodais em favor de uma ocupação esparsa de todo o território» (Cullen, 2006:61).

CIRCULAÇÃO

O aparecimento destes novos modos de circulação veio adicionar à experiência do espaço público

novas formas de ver, ser cativado e formar imagens mentais do ambiente urbano, vistas a

velocidades diferentes e, portanto, criando diferentes níveis de interacção e atenção. Enquanto a

visão dos peões é acompanhada pela possibilidade de parar e interagir com o ambiente

envolvente, os condutores vêem a vida urbana em velocidade e através de uma janela, estando

simultaneamente concentrados no trânsito, sinalização e outras indicações (Carmona, 2003).

«If the speed of movement is increased, the possibility of discerning details and processing

meaningful social information drops sharply». (Gehl, 1996:71)

Assim se compreende a grande diferença que existe entre uma cidade preparada para a

circulação automóvel e outra dedicada ao peão. A do automóvel requer sinalização maior e em

destaque e toda a envolvente pode ser desprovida de detalhes e pormenores já que estes não

serão distinguidos pelo olhar fugaz dos ocupantes do veículo (Gehl, 1996). Desta forma, é

importante atribuir à envolvente que vai ser observada apenas por condutores e respectivos

passageiros, as características necessárias para que estes a consigam decifrar (Carmona, 2003).

«Penetrando por toda a parte, o automóvel tem-se insinuado nas nossas cidades, travessas,

jardins e praças. A riqueza e variedade do pavimento foi submersa num fluxo automóvel e os

habitantes aventuram-se a sair dos prédios por sua conta e risco...» (Cullen, 2006:123).

Cullen identifica como consequência da invasão das cidades pelo automóvel a pavimentação

indiscriminada e extensiva. A maior parte das vezes, o monótono tapete asfaltado substituiu

aquele que durante anos foi sendo composto por diferentes materiais, texturas, cores e tipologias,

Page 55: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

51

personalizados para os usos a que se destinavam. Estes têm sido «sacrificados pelos imperativos

técnicos do contacto entre o pavimento e o pneu do automóvel» (Cullen, 2006:123).

Quando a deslocação é viária, independentemente do caminho ou do que for visto ao longo dele

(aspecto dificultado pela velocidade a que se desloca), raramente é possível parar

inesperadamente por influência de um qualquer interesse que surja. É um meio de locomoção

entre destinos específicos muito eficiente, mas perde-se toda a imprevisibilidade e liberdade que

existem nas deslocações pedonais a partir de onde, a maioria das vezes, surgem todas as outras

actividades sociais.

O automóvel é ainda e frequentemente um bem necessário para a mobilidade mas torna-se um

elemento agressivo e intrusivo a partir do momento em que “invade” a cidade e a transforma em

seu benefício, prejudicando os outros modos de percorrer e ler a cidade.

Figura II.11 – Impacto do Carro no Desenho da Cidade

Website Olhares | Floriano Morgado | FNI FNI | Website Olhares | Ricardo Costa

PARAGEM E ESTACIONAMENTO

«The farther away from the doors the cars are parked, the more will happen in the area in question,

because slow traffic means lively cities» (Gehl, 1996:79).

Oportunidades para a maioria das formas de interacção e troca social ocorrem assim que o carro

for estacionado, tendo importância exclusiva o destino e não o percurso, a viagem (Carmona,

2003).

Como as cidades foram feitas para pessoas e não para automóveis (ainda nem tudo são

estruturas de “drive-in”) para realizar qualquer outra actividade que não seja a de circular, o

condutor ou passageiro de um veículo motorizado tem de estacionar ou parar e abandonar o

veículo.

Page 56: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

52

Apesar de todos os argumentos ecológicos e ambientais para reduzir a dependência do veículo

privado, o estacionamento é um requisito da vida contemporânea e o grande desafio é conseguir

integrá-lo com sucesso na cena urbana (Carmona, 2003).

A criação de áreas de estacionamento é de facto uma necessidade que tem de ser sempre

contemplada já que o automóvel é, geralmente, apenas um meio de locomoção. Existem vários

tipos de estacionamento, como já referido nas novas tipologias de espaço público. Estas áreas de

estacionamento podem ser cobertas e utilizadas exclusivamente para este propósito ou como

suporte a outra infra-estrutura comercial ou de serviços, ou podem ser integrados noutros tipos de

espaço público, numa forma mais interactiva com a cidade.

Não obstante todo o tipo de situações que possam advir destes novos espaços públicos, o

estacionamento que interessa analisar com mais rigor é aquele que faz parte da rua, aquele que

veio adicionar novas valências e conflitos na estrutura tradicional da cidade.

Figura II.12 – Estacionamento

FNI | FNI | AML

O conforto que o automóvel proporciona nas deslocações, leva a que o estacionamento de eleição

seja aquele que fica mesmo em frente ao local de destino, o mais perto possível. Quer isto dizer

que, para além do espaço necessário para a sua circulação, foram também criadas extensas

faixas laterais, ao longo das ruas com este propósito. Muitas vezes estas zonas de parqueamento

autorizado são evidenciadas com diferentes tipos de pavimentação para que seja facilmente

perceptível a sua diferença de uso. Como Cullen evidencia neste exemplo, e muito comum em

Portugal, «as dificuldades da condução sobre calçada fazem dela uma superfície óbvia para

estacionamento» (Cullen, 2006:131).

Não são, no entanto, estes os casos mais preocupantes, na medida em que, se assim não estiver

previsto, o condutor terá sempre a tendência para estacionar o mais perto possível, mesmo que

em situações de proibição, criando pontos de conflito ainda maiores, uma vez que opta por

estacionar em zonas reservadas a peões, por exemplo, nos passeios já de si bastante diminutos.

A luta é constante, e acabam por surgir pilaretes e estruturas semelhantes, na tentativa de evitar

este tipo de comportamentos, resultando em situações de perigosidade acrescida para o peão já

que o condutor aumenta a sua velocidade de circulação, baseando-se na falsa segurança que

essa separação lhe proporciona.

Page 57: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

53

Figura II.13 – Exemplos de Estacionamento Indevido

Fotografias de Autor, 2008

Muitas vezes o condutor recorre apenas à paragem, ou seja, encosta o automóvel mas

permanece dentro do carro. Esta situação é usual para a realização de pequenas tarefas mais

rápidas, esperar por alguém, ou para simplesmente estar e “usufruir” o espaço público, vista e

movimento, mas servindo-se sempre do automóvel como protecção, como a sua bolha privada na

esfera pública.

1.3. O PEÃO E O AUTOMÓVEL

Chega a ser desagradável percorrer certas zonas da cidade, o que faz com que o único tráfego

pedonal existente seja baseado apenas em actividades necessárias e em condições precárias,

«as pessoas caminham nestes espaços públicos deteriorados porque precisam e não porque

querem»32

.

Aspectos importantes a controlar no que toca à comunhão de utilização pedonal e automóvel são

a poluição, a velocidade e a segurança (interacção física).

POLUIÇÃO

A poluição provocada pelos automóveis não é apenas a mais óbvia, a atmosférica produzida pela

libertação de gases tóxicos muito prejudiciais ao ambiente, mas também passa pela poluição

visual que representam, já que muitas vezes obstruem ângulos, direcções e vistas que foram

determinantes no projecto de uma qualquer praça. Por exemplo, funcionando como barreiras

32 Jan GEHL e Lars GEMZOE – Novos Espaços Urbanos. Barcelona: Editorial Gustavo Gili, 2002, p.14

Page 58: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

54

visuais, estacionados ou em movimento, impedem a tão importante actividade de people-watching

no sossego da periferia do lugar.

Figura II.14 – Bloqueio Visual Devido ao Tráfego Automóvel

FNI

A poluição sonora é também um factor negativo para o desenvolvimento de vida urbana, que o

automóvel veio potenciar. Como já referido, não é agradável estar num espaço público em que o

ruído é tão elevado que se torna impossível conversar e ainda mais difícil distinguir o burburinho

dos outros utilizadores do espaço. Os principais elementos potenciadores deste ruído, para além

do próprio funcionamento do transporte motorizado, são, a velocidade de circulação, pois o ruído

aumenta na proporção directa, e o tipo de pavimento que também tem influência, já que quanto

mais descontínuo maior o incómodo sonoro.

VELOCIDADE

Para evitar que os condutores se sintam confortáveis a circular a grandes velocidades, recorre-se

aos pavimentos descontínuos, como por exemplo a calçada, no entanto, é necessário ter em conta

que neste caso o desconforto sonoro vai aumentar.

Figura II.15 – Impacto da Circulação Automóvel

FNI

A situação ideal, de facto, é dificultar grandes velocidades neste tipo de espaços urbanos mistos

uma vez que, «if the speed of movement is reduced from 60 to 6 kilometres per hour, the number

Page 59: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

55

of people in the streets will appear to be ten times greater, because each person will be within

visual range ten times longer» (Gehl, 1996:79). Segundo Gehl esta é a única razão para que seja

marcadamente mais elevado o nível de actividade nas cidades pedestres. Quando o tráfego é

lento, a simples actividade de circular prolonga-se e a vida nas ruas existe apenas por essa razão.

«As pessoas gostam de ter espaços onde andam a pé, que são seus e onde estejam em

segurança. Isso é muito importante. A maior parte das avenidas – em Lisboa, no Porto – são

verdadeiras selvas, são selvas pela forma como são utilizadas, pela paisagem e gritaria das

mensagens que estão em jogo e pelo conflito permanente entre carros e peões» (Salgado,

2002:99).

É importante que um espaço de uso misto, que é para ser observado e usufruído tanto por peões

como por condutores, seja preparado tendo em conta a atenção mais prolongada e detalhada do

peão (Carmona, 2003) uma vez que, de outra forma não despertará o interesse deste último que o

considerará cansativo. Isto quer dizer que deverá ser pensado tendo em conta que é para ser

observado a uma velocidade baixa, eventualmente potenciando a atenção do próprio condutor que

mais facilmente reduzirá a velocidade a que circula.

INTERACÇÃO FÍSICA

Em espaços de utilização mista, são vários os pontos de cruzamento entre peões e automóveis, e

para que haja um bom funcionamento são aplicadas regras de prioridade. Quando é necessário

criar uma zona de atravessamento pedonal na via de circulação automóvel recorre-se a

marcações no pavimento, nalguns casos com sinalização vertical, são as passadeiras que indicam

prioridade aos peões.

Figura II.16 – Zonas de Interacção entre Diferentes Actividades e Utilizadores

Website Olhares

É necessário ponderar bem a localização das passadeiras que se devem situar na continuidade

dos principais percursos pedonais uma vez que serão aí a zona de atravessamento natural para

os peões, independentemente da sua existência ou não. Como já foi dito, andar é cansativo e

qualquer desvio é evitado, o que significa que este só será realizado em casos extremos. Quando

o tráfego é muito intenso e estas passagens são pouco funcionais, a barreira é demasiado

evidente e, portanto, os peões são forçados a permanecer na periferia ou em ilhas no espaço,

isolados do todo, factor que funciona como inibidor do uso desse espaço (Gehl, 1996).

Page 60: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

56

O pavimento é o maior responsável pelo aviso destas alterações de prioridades quer visualmente,

quer através de mudanças na sua textura, dá o alerta necessário para que o utilizador fique de

sobreaviso que está a entrar em território diferente.

O contrário também acontece, para aceder a garagens e estacionamentos muitas vezes os

automóveis têm de cruzar o espaço pedonal, outras o próprio estacionamento é realizado em

áreas com um carácter de permanência e, mais uma vez, é no pavimento que melhor se

evidenciam estas zonas, através de variações visuais e tácteis para que o peão, embora

mantenha a sua prioridade, possa estar atento ao perigo.

Figura II.17 – Alterações de Pavimento consoante Função e Utilizador

Fotografias de Autor, 2008

Actualmente, e por todas as razões anteriormente apresentadas, compreende-se facilmente que a

segregação de funções em certas áreas da cidade não é a solução, já que estas não foram

preparadas para o automóvel e, portanto, os espaços são diminutos, resultando numa má

adaptação de onde, naturalmente, saem prejudicados os peões por serem o elemento fisicamente

mais fraco.

A segregação resulta numa dispersão e separação de actividades, nada é agradável de realizar

uma vez que cada função tem um lugar específico, sem que haja interacção, segundo Gehl «it

becomes duller to drive, duller to walk, and duller to live along the streets» (Gehl, 1996:111). Tudo

depende da circulação automóvel, da necessidade que esta seja regrada e lenta, tornando-se

compatível com o tráfego pedonal e por conseguinte, com os espaços públicos de permanência e

todas as actividades que aí se geram.

Nos últimos anos tem sido implementado, primeiro na Holanda e depois no resto da Europa, o

conceito de “espaço partilhado” (“shared space”), do engenheiro de tráfego holandês Hans

Monderman, que se baseia na convivência harmoniosa de todos os participantes do espaço

público urbano, recusando a utilização de qualquer tipo de sinalização de trânsito, marcação no

pavimento ou a existência de placas separadoras. A separação fazia-se através do uso de

materiais diferentes, desconstruindo a típica segregação entre a circulação viária e pedonal.

Page 61: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

57

«If you treat drivers like idiots, they act as idiots. Never treat anyone in the public realm as an idiot,

always assume they have intelligence»33

.

Monderman defendia que o focalizar dos motoristas na condução, prestando atenção exclusiva ao

movimento à sua volta e não à sinalização, torna mais seguro o ambiente por onde circulam, isto

é, aumenta a segurança de circulação. A chave do sucesso das suas ideias é a comunicação

visual e a negociação entre os intervenientes baseada no princípio de que a prioridade deve

sempre ser atribuída ao elemento mais vulnerável, total respeito pelo ser humano.

Figura II.18 – Exemplos Práticos do Trabalho de Hans Monderman

a. Cidade de Kevelaer, Alemanha, Agosto 2006 | website Shared Space

b. Cidades holandesas onde o conceito de “espaço partilhado” foi implementado, 2006 | website Shared Space

33 Frase atribuída a Monderman segundo obituário publicado no jornal Times a 11 de Janeiro de 2008

Page 62: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

58

SÍNTESE

A selecção do tipo de pavimento a usar no espaço público deve orientar-se, principalmente, tendo

em conta os requisitos exigidos pelos seus utilizadores. José Neves, coordenador da

especialização em projecto de construção de pavimentos em meio urbano, do Instituto Superior

Técnico, afirma que para responder às diferentes necessidades que resultam dos múltiplos tipos

de utilização, é necessário que os materiais atendam «ao desempenho estrutural, como a

capacidade de suporte para cargas, e ao desempenho funcional, como a manutenção, conforto,

segurança e eficiência»34

.

Portanto o material assume um papel importante já que, seja artificial ou natural, é ele que permite

conferir ao pavimento as características de que necessita. (Rodrigues, 2006)

A análise anteriormente apresentada às diversas actividades realizadas no espaço público da

cidade permite agora listar e sintetizar as diferentes exigências resultantes para o pavimento que

se apresenta na tabela II.1 das páginas seguintes.

34 Bruno FERNANDES – “Utilizadores ditam as regras”, Arquitecturas: Suplemento Pavimentos, nº14, 2006, p.5.

Page 63: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

59

Tabela II.1 – Avaliação das Actividades

II.1a – Parâmetros de Conforto

Conforto Sensorial Conforto Físico

Activid

ades P

edonais

Ver

- Possibilidade de controlar todo o espaço (Vista desafogada).

- Observar a vida urbana mantendo o anonimato.

- Sensação de segurança.

- Possibilidade de estar em locais abrigados (Protecção).

- Distanciamento.

Ouvir

- Ruído de fundo no máximo 40 dB.

- Para manter a sensação de segurança é necessário ouvir o que se passa na envolvente.

- Para desfrutar o ambiente envolvente é importante a existência de locais para relaxar.

Dialogar

- Ruído de fundo no máximo 45 dB.

- Dependendo do gr\au de proximidade entre as pessoas podem surgir constrangimentos ao longo do diálogo (ex: silêncios desconfortáveis).

- Proximidade suficiente para ouvir e falar sem esforço.

- Em encontros casuais, a envolvente não influencia.

- Para diálogos mais demorados é importante a existência de locais para sentar ou encostar.

Andar

- Facilidade em visualizar o percurso como um contínuo, sem obstáculos.

- Necessidade de focar a atenção em pormenores que criem um ritmo de percurso.

- Largura necessária para manobrar livremente.

- Superfície nivelada, compacta e aderente.

- Possibilidade de circular sem obstáculos e interrupções.

Parar

- Quando necessária, a paragem é realizada mesmo que não seja da forma desejável.

- Quando opcional e consciente, a visibilidade tem um papel importante.

- Quando se trata de uma paragem necessária é pouco influenciável pela envolvente (ex: obstáculo).

- Quando se escolhe parar, é necessário um local onde se possa encostar/descansar.

Sentar

- Possibilidade de controlo e segurança do espaço.

- Vista desafogada.

- Criação de possibilidades de interacção sem quebrar a privacidade.

- Assentos ergonómicos, adaptados às diversas necessidades.

- Utilização de materiais com baixa irradiação/absorção de calor.

Activid

ades V

iárias

Circular

- Com o aumento de velocidade de circulação é importante potenciar o sistema de visão sequencial.

- Visibilidade e legibilidade rápida e fácil da envolvente.

- Reduzir o esforço físico.

- Proporcionar uma superfície contínua para uma maior fluidez na circulação.

- Possibilitar a circulação livre de obstáculos e interrupções.

Estacionar - Garantir segurança através da escolha de espaços com boa visibilidade.

- O mais próximo possível ao ponto de chegada para evitar grandes deslocações a pé.

- Escolha de um local abrigado.

- A sombra é uma premissa importante no Verão.

Parar - Poder permanecer no espaço público

dentro da esfera privada (protecção).

- Boa visibilidade da envolvente.

- No usufruto do espaço escolhe-se um local onde se possa parar. descansadamente sem perturbar a envolvente.

- Na realização de uma tarefa rápida escolhe-se o lugar menos intrusivo mas mais próximo do objectivo.

Page 64: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

60

Tabela II.1 – Avaliação das Actividades (continuação)

II.1b – Parâmetros de Adequabilidade

Espaço Público Linear Espaço Público Não Linear

Activid

ades P

edonais

Ver

- Dificuldade em manter o distanciamento desejado em ruas mais estreitas.

- Possibilidade de observar todo o pulsar da circulação urbana.

- Dimensão máxima deve coincidir com o limite do campo de visão.

- Espaço desafogado, sem obstáculos que impeçam a sua leitura.

- Espaço não isolado do quotidiano da cidade.

Ouvir - Ruas mistas: maior ruído de fundo produzido pela circulação automóvel.

- Através dos elementos integrados nos espaços, podem potenciar-se sons mais ou menos relaxantes (ex: a presença de árvores potencia o chilrear de pássaros).

Dialogar

- Em ruas de fluxo pedonal intenso é difícil manter um diálogo.

- A zona reservada aos peões deve ter largura suficiente para que duas pessoas possam andar livremente, lado a lado.

- Os espaços podem permitir a proximidade e potenciar o despoletar de diálogos casuais.

Andar

- A linearidade destes espaços faz com que sejam propícios à circulação.

- Criação de pontos de interesse que tornem esta actividade atractiva.

- Estes são espaços com um carácter mais acentuado de permanência.

- A circulação nestes espaços existe associada a actividades de lazer (ex: brincar, passear).

Parar

- Paragens normalmente necessárias perante obstáculos, cedências de passagem ou encontros casuais.

- Dependendo do fluxo, são mais ou menos incómodas.

- Paragens opcionais, à espera de algo ou de alguém, para descansar ou conversar.

- Requerem espaços abrigados e em sombra (efeito de periferia).

Sentar - Sempre que seja possível, é importante

providenciar locais de descanso ao longo de um percurso.

- Potenciar a permanência durante longos períodos de tempo.

- Oferecer variedade no tipo e local dos assentos para corresponder às necessidades dos diferentes utilizadores e ocasiões.

Activid

ades V

iárias

Circular - A linearidade destes espaços faz com

que sejam propícios à circulação.

- Perda de interacção com a vida urbana.

- Em muitas situações, a circulação automóvel apoderou-se da periferia destes espaços, criando um elemento de barreira para os peões.

Estacionar

- Neste tipo de espaços, quando permitido, o estacionamento é feito ao longo da via, junto aos passeios.

- Estacionamento inadequado em zonas de proibição (ex: sobre os passeios).

- Praças ou largos como parques de estacionamento autorizado.

- Estacionamento inadequado ao longo da periferia destes espaços.

- Autorização de estacionamento em certas épocas especiais (ex: Terreiro do Paço nas festas populares).

Parar - Perante ruas ou locais relativamente estreitos e sem estacionamento autorizado pode apresentar-se como um obstáculo à circulação quer pedonal quer viária.

Page 65: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

61

Tabela II.1 – Avaliação das Actividades (continuação)

II.1c – Exigências para o Pavimento

Exigências Funcionais Exigências Estéticas

Activid

ades P

edonais

Ver - Evitar desnivelamentos que possam causar quedas.

- Cor/nível de reflectividade da luz adequado para evitar encandeamento.

- Estereotomia que permita uma escala mais humana.

Ouvir

- Evitar a utilização de pavimentos que possam ser ruidosos (ex: calçada para grandes velocidades).

----

Dialogar

- Cor/nível de reflectividade da luz adequado para evitar encandeamento no caso de se pretender estabelecer contacto visual com o ouvinte/orador.

Andar

- Resistência às cargas dependendo do fluxo e tipo de tráfego pedonal.

- Resistência ao desgaste e deslizamento.

- Pendente necessária para o escoamento adequado.

- Utilização de padrões ou elementos que acentuem alinhamentos e direcções.

- Legibilidade imediata do percurso mais acessível.

Parar

- Quando necessária, o pavimento pode ter um papel de aviso, através de textura ou material diferenciado.

- Resistência ao desgaste.

- Utilização de materiais com baixa irradiação de calor.

- Cor/nível de reflectividade da luz adequado para evitar encandeamento.

- O carácter de permanência pode ser potenciado através da utilização de padrões detalhados.

Sentar - Resistência ao desgaste.

- Utilização de materiais com baixa irradiação de calor.

Activid

ades V

iárias

Circular

- Resistência às cargas proporcional ao fluxo e tipo de tráfego.

- Resistência ao desgaste.

- Utilização de pavimentos anti-derrapantes.

- Utilização de soluções que proporcionem uma leitura de continuidade.

- Incorporação de sinalização clara e adequada.

Estacionar

- Resistência aos agentes químicos eventualmente libertados pelos veículos.

- Resistência à carga.

- Utilização de materiais que sugiram/ obriguem à redução da velocidade.

- Sinalização adequada em espaços autorizados.

- Utilização de materiais e texturas visualmente identificáveis para este propósito.

Parar

- Não representa nenhuma exigência adicional para o pavimento quando realizada em locais autorizados ao estacionamento.

- Para as situações de paragens em sítios inadequados pode causar danos em pavimentos destinados a outras funções.

Page 66: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

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2. TIPOS DE PAVIMENTAÇÃO

«A floorscape’s character is substantially determined by the materials used, the way they are used,

and how they interrelate with other materials and landscape features» (Carmona, 2003:159).

A escolha criteriosa de todos os materiais a utilizar no pavimento é de primordial importância, uma

vez que a sua consistência e durabilidade, a par com as características do solo, estabelecem a

base de suporte para todo o território da cidade. No entanto, aspectos como a cor, textura e

tamanho dos diferentes elementos que constituem o pavimento, bem como a relação com outros

elementos do projecto, apresentam também um papel muito relevante.35

2.1. SISTEMATIZAÇÃO

Como forma de melhor entender o vasto leque de soluções de pavimento encontradas, pode-se

agora, sistematizá-los em três grupos elucidativos de algumas das características principais de

cada tipologia: estrutura, composição e agregação.

a) Quanto à Estrutura

Os pavimentos podem ser classificados em rígidos, no caso de serem pouco deformáveis, onde

estão inseridos os pavimentos constituídos por betão, tanto na sua base como no revestimento, ou

flexíveis, englobando principalmente soluções construtivas como os betuminosos e o macadame.

O pavimento flexível é assim definido pela sua estrutura deformável e adaptável, normalmente em

duas camadas, sendo a de base constituída por agregados de diversos tamanhos. Tal como os

pavimentos por elementos, que a seguir se apresentam, necessita de um limite que defina e

reforce o contorno.36

Os pavimentos constituídos por pequenos elementos de pedra e outros materiais, podem ser

rígidos ou flexíveis. No caso de serem aplicados sobre uma base granular são considerados

flexíveis, se a base for constituída por um ligante hidráulico como o cimento, trata-se de um

pavimento rígido.

b) Quanto à Composição

Esta classificação relaciona-se não tanto com a sua estrutura e resistência física, mas mais com a

forma como se percepciona o pavimento. Classificados quanto à composição, os pavimentos

podem ser por elementos, em que várias componentes formam o todo, de que são exemplos as

lajetas pré-fabricadas de betão ou pedra natural, tijolos e mosaicos, ladrilhos, pequenas pedras,

calçada e tábuas (Caro, 1990), ou podem ser considerados monolíticos quando a sua construção

é feita através de materiais que se ligam, transmitindo continuidade, como no caso da betonagem

in situ ou do asfalto formando uma só massa sólida.

35 Carlos Martinez CARO – Arquitectura Urbana: Elementos de Teoria y Diseño. 2ª Edição. Madrid: Bellisco, 1990

36 Michael LITTLEWOOD – Landscape Detailing. Volume 2, Third Edition: Surfaces. Oxford: Architectural Press, 1993

Page 67: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

63

Nos pavimentos constituídos por elementos é visível e clara a descontinuidade provocada por esta

forma de execução, uma vez que os utilizadores facilmente distinguem os diversos elementos que

compõem o todo. A diferença táctil também é de reconhecimento imediato e, dependendo da

actividade que está a ser realizada, torna-se mais ou menos confortável e adequada a sua

utilização.

Em termos de manutenção, é relativamente fácil substituir ou remover elementos danificados pois

pode-se intervir em zonas pontuais, sem danos significativos para os elementos envolventes. É

importante referir também que possibilita a reutilização de peças para outros pavimentos na

medida em que a sua remoção não as danifica. Estes pavimentos, de uma forma geral, precisam

de ser confinados com elementos rígidos que o limitem evitando movimentos laterais e mantendo

a coesão da estrutura (Littlewood, 1993).

Por ser um pavimento composto por vários elementos surgem juntas que necessitam de

enchimento, excepto quando se tratam de elementos de tamanho e forma regulares como as lajes

e blocos pré-fabricados de betão. Pavimentos de tijolos, pedras ou materiais naturais devem levar

um enchimento de argamassa, exceptuando aqueles onde é desejável o crescimento de ervas,

caso em que o enchimento deve ser feito com terra (Littlewood, 1993).

c) Quanto à Agregação

No Manual da Pedra Natural para a Arquitectura é apresentada a divisão em agregados e não

agregados. Os primeiros englobam cubos, lajes, paralelepípedos de pedra e outros materiais

como pavimentos betonados e asfaltados. Dos segundos fazem parte a areia, terra batida,

gravilha, seixos, cascas de pinheiro, relva ou outra solução desta natureza que não utilize

qualquer tipo de ligante nos elementos de matéria-prima natural.

A principal característica dos pavimentos não agregados é serem aplicados sem qualquer tipo de

ligante, potenciando um aspecto mais natural e informal. No entanto, a sua baixa resistência e fácil

degradação fazem com que só se adeqúe a usos pedonais pouco intensos, podendo alguns

materiais ser compactados e nivelados de forma a albergar usos como percursos recreativos.

Outros menos compactáveis, como a gravilha, criam alguma dificuldade na circulação, sendo o

seu uso bastante restrito. Para que a sua estabilidade seja aumentada deve recorrer-se à criação

de limites rígidos, tais como lancis de betão ou pedra e rebordos metálicos ou de madeira, que

contenham os agregados, atrasando a sua dispersão e desaparecimento que levam à constante

necessidade de manutenção e renovação.

Na tabela II.2 apresenta-se para os principais tipos de pavimento os materiais mais utilizados,

tendo em conta as classes a que pertencem, seguindo-se o desenvolvimento da análise individual

que explorará as características de cada tipo de pavimento, tendo sempre presente o objectivo

principal de entender a sua adequação ao tipo de uso.

Page 68: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

64

Tabela II.2 – Tipologias de Pavimento

Tipologias de

Pavimento

Quanto à estrutura Quanto à composição Quanto à agregação

Material Rígido Flexível Por

elementos Monolítico Agregados

Não

agregados

Saibro Solo

seleccionado X X X

Prado/Relva Gramíneas X X X

Casca de Pinheiro

Madeira X X X

Gravilha

Pedra Natural

X X X

Seixos X X X

Calçada X X X

Lajedo X X X

Tabuado Madeira X X X

Ladrilho/Tijoleira Cerâmico X X X

Lajetas de betão Betão X X X

Placas alveolares

Plástico, Metal

X X X

Ligante betuminoso e

brita Betuminosos

X X X

BMB (betume de borracha de

pneu reciclada) X X X

Pavimentos amortecedores

de borracha Borracha X X X

Betão in situ Betão X X X

Page 69: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

65

2.2. CARACTERIZAÇÃO

Com base na tabela II.3, apresentada na página seguinte é possível listar os aspectos mais

importantes a ter em conta na escolha de pavimentos para o espaço público:

– Aspectos funcionais – resistência, aderência, permeabilidade, desgaste, conforto do utilizador e

manutenção;

– Aspectos estéticos – estereotomia, padrão, textura e cor.

Tabela II.3 – Parâmetros para Avaliação das Tipologias de Pavimento

Definição Classificações

Aspecto

s F

uncio

nais

Resistência Capacidade de resistir à carga e aos impactos que tem de suportar, às condições atmosféricas e a agentes químicos.

Baixa, Média, Elevada

Aderência

Capacidade para mobilizar o atrito entre o elemento de contacto do utilizador e o pavimento. Assume maior importância em situações de travagem, aceleração, circulação em curva ou em descida.

Baixa, Média, Elevada

Permeabilidade Capacidade de permitir a passagem de água ou outro líquido.

Sim, Não

Desgaste Consumo e danificação progressiva, provocado pela utilização.

Baixa, Média, Elevada

Conforto Factores que proporcionam comodidade, contribuindo para o bem-estar físico dos utilizadores.

Baixa, Média, Elevada

Manutenção Conjunto de medidas e acções efectuadas com o objectivo de manter em bom estado, aumentando a durabilidade.

Baixa, Média, Elevada

Aspecto

s E

sté

ticos

Estereotomia Estudo pormenorizado das formas dos elementos dos materiais, através da análise das possibilidades de corte, entalhe e disposição.

Nenhuma, Fragmentada, Variada, Alveolar

Padrão Desenho repetido de motivos numa superfície, normalmente, figuras geométricas.

Homogéneo, Variado

Textura Aspecto de uma superfície, qualquer relevo existente ou feito numa superfície com qualquer material, percepcionada pela visão e pelo tacto.

Lisa, Suave, Rugosa, Muito Rugosa

Cor Qualidade percepcionada através da visão, que pode ser natural ou aplicada aos materiais utilizados no pavimento.

Desta forma, à luz destes conceitos, e considerando as tipologias de pavimento apresentadas na

tabela II.2, analisam-se as tipologias e materiais mais utilizados, tendo especial importância a sua

viabilidade, o que é sintetizado no quadro final (tabela II.4).

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66

SAIBRO

Figura II.19 – Vários Exemplos da Aplicação de Saibro em Espaços Públicos

a. Ilha Terceira, Açores – A utilização do saibro num ambiente de Natureza e descontracção | Silveira

b. Zona envolvente do Mosteiro de Alcobaça – Saibro num contexto de centro histórico | Lucina Carvalho, 2008

c. Jardim do Arco do Cego, Lisboa – Saibro num contexto de jardim público | Fotografias de Autor, 2008

Trata-se de um pavimento contínuo, permeável, estruturalmente flexível no caso de não ser

estabilizado com ligantes hidráulicos, constituído por material granular seleccionado e

compactado. Como qualquer pavimento não agregado adequa-se principalmente a usos pedonais

ligeiros e as suas características permitem-lhe uma excelente adaptação à morfologia do terreno.

A percentagem de finos não deve ser elevada uma vez que estes fluidificam em contacto com

água ou quando se encontram num estado muito seco levantam poeira com o vento ou o tráfego.37

PRADO/RELVA

Figura II.20 – A Vocação da Relva para Actividades de Lazer

a. Londres, Inglaterra | João Morgado, 2008

b. Central Park, New York | Website PPS

c. Jardins da Gulbenkian, Lisboa | António Arruda, 2008

37 José Miguel A. I. FERREIRA – Pavimentos em Espaços Públicos Urbanos: Contribuição para a análise e concepção de soluções. (Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Engenharia do Território, Orientada por: Prof. Doutor Eng. José Neves), Lisboa: Instituto Superior Técnico, 2007

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Trata-se de um pavimento contínuo, permeável e estruturalmente flexível uma vez que consiste

apenas em solo semeado ou plantado, sem qualquer suporte rígido. Esta solução é utilizada em

quase todos os espaços verdes uma vez que permite criar um tapete de vegetação.

O relvado pode ser realizado de várias formas: plantado, semeado ou colocado em placas.

Quando é plantado a sua resistência à carga e à secura é superior, no entanto o tempo e custo de

instalação são elevados. Ao semear a relva a instalação é mais rápida e barata e ainda se torna

possível regular composições e densidades diferentes tendo em conta as condições específicas

do local, em contrapartida a sua disponibilidade é atrasada. Se a instalação for feita através de

placas de relva, é possível obter um revestimento quase imediato do solo, no entanto, representa

um custo inicial mais elevado que as soluções anteriores (Brandão, 2002).

O prado é uma variedade mais rústica que pode ter como material diferentes gramíneas

semeadas, não requerendo em geral cuidados de rega frequente, mas com menor amplitude de

utilizações.

CASCA DE PINHEIRO

Figura II.21 – A Casca de Pinheiro Proporciona um Carácter Descontraído e Natural

a. Parque TMB Barcelona | a+t Magazine, In Common IV

b. Utilização de saibro em caminhos naturais | Gary Nafis, SD

c. Millicent, Austrália | FNI

Trata-se apenas de um revestimento de pavimento, uma vez que não é capaz de criar qualquer

estrutura, tornando o seu uso bastante limitado. No entanto é um material confortável e agradável

à vista e ao tacto e uma correcta recolha deste recurso natural faz com que o seu

desenvolvimento seja sustentável.

São de densidade e dureza média, coeficiente de contracção baixo e alguma durabilidade natural

que pode ser aumentada uma vez que é fácil impregnar este material. Necessita de manutenção

regular por ser muito absorvente à água e caso a secção dos elementos não seja adequada,

deformam-se e deterioram-se. Deve ser sempre protegido para que fique resistente a insectos e

apodrecimento. Como uma das fontes mais importantes da humidade é o próprio solo, este

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68

material não deve ser aplicado directamente sobre ele, por isso exige-se a criação de uma

camada de base para isolar.38

Esta solução aplica-se principalmente em parques infantis e caminhos mais naturais e informais,

com uso muito ligeiro.

GRAVILHA

Figura II.22 – A Gravilha Pode Ser Usada com Vários Propósitos

a. Chiswick Park, Londres 2000 – a gravilha como solução permeável de pavimento | Nuevos Espacios Urbanos

de Jacobo Krauel

b. Prag’s Boulevard, Copenhaga 2005 | a+t Magazine, In Common III

c. A gravilha como transposição entre o edifício e o relvado | FNI

d. Marsupial Bridge, Milwaukee 2006 – Zona de pouca utilização, propícia à permanência | a+t Magazine, In

Common III

A gravilha é um revestimento de pavimento composto por pequenas pedras, geralmente com

diâmetro entre 5 e 15mm, que podem ser angulares ou arredondadas. As gravilhas angulares são

normalmente obtidas de restos de pedreiras e as arredondadas têm origem fluvial, ou seja podem

ser encontradas no leito dos rios ou em praias (Zeferino e Martins, 2006: 84). O leque de cores

naturais é muito variado dependendo da rocha de origem dos agregados.

É um material económico, no entanto, torna-se pouco rentável uma vez que requer manutenção e

renovação periódica, aumentando esta necessidade para utilizações intensas. Para que se evite a

total dispersão e desaparecimento dos agregados é necessário criar limites rígidos que o

contenham (Littlewood, 1993).

38 Josep Ma SERRA – ESPAI PUBLIC URBÀ 1. Manual d’Elements Urbans: Mobiliari i microarquitectura. Barcelona: Institut d’Edicions de la Deputació de Barcelona, 2000

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69

SEIXOS

Figura II.23 – Esta Solução pode Adquirir Diversas Estereotomias e Padrões

Ribeira Brava, Madeira | Fotografias de Autor, 2008

Trata-se de um pavimento constituído por elementos e embora possa ser flexível ou rígido, pode

considerar-se estruturalmente rígido já que, actualmente, a sua aplicação é feita preferencialmente

sobre uma camada base estabilizada, composto por inertes de rio ou praia com diâmetro entre 50

e 100 mm ligados por argamassa hidráulica (Ferreira, 2007).

Deve ser limitado por um contorno resistente para que, tal como acontece nos pavimentos

desagregados, se assegure uma melhor coesão do material. A sua composição de seixos

colocados lado a lado faz com que a textura varie com a forma destes inertes, possibilitando a

criação de diferentes texturas mais ou menos irregulares, consoante a necessidade. A textura é

sempre bastante acentuada o que faz com que se torne um pavimento demasiado ruidoso para a

circulação automóvel pesada. Embora seja uma estrutura rígida, é também pouco adequado para

qualquer utilização mais intensa, pois uma das suas fragilidades é o frequente desprendimento

dos seixos que obriga a manutenção periódica.

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70

CALÇADA

Figura II.24 – A Calçada pode ser Feita em Várias Dimensões e Estereotomias

Julia Kan | Pedro Moreira | FNI Avelino Oliveira | Olhares | Fotografia de Autor | Website Olhares

Quanto à estrutura, a calçada é um pavimento que pode ser rígido ou flexível dependendo da

camada de fundação do seu assentamento, no entanto, actualmente recorre-se quase sempre a

uma base de assentamento em betonilha. Os elementos da camada de desgaste são de pedra

natural, usualmente, granito, calcário ou basalto, dependendo da disponibilidade na região e das

exigências impostas.

As suas características físicas dependem também do tipo de pedra utilizado, sendo que, segundo

Hegger (2006):

– O granito é resistente às intempéries, é visto como a pedra mais resistente, pode ser usado

quase sem restrição em trabalhos de construção e não é afectado por poluição aérea. Existe

em várias cores, vermelho, rosa, amarelo, branco, cinzento e azul esverdeado.

– O basalto é normalmente cinzento-escuro ou preto, demonstra uma elevada resistência à

compressão e às intempéries, é muito difícil de trabalhar e é ideal para aplicações no exterior.

No entanto pode tornar-se muito escorregadio com o desgaste.

– O calcário apresenta-se em várias cores, normalmente amarelado, cinzento acastanhado,

vermelho ou branco. Pode ser usado universalmente, embora em zonas de limpeza frequente

não seja aconselhado visto que a resistência a químicos é fraca. A resistência à abrasão é

muito variável dependendo da rocha de origem dos depósitos.

A tipologia de calçada, não só pode ser realizada com diversos tipos de pedra, como também

abrange diversas formas de elementos, sendo que as principais são os paralelepípedos e os

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cubos de dimensões variáveis. A aparência visual destes pavimentos tem um papel muito

importante, seja pela nobreza da pedra que apresenta uma cor e textura resultante de milhares de

anos de processos geológicos, seja pelo vasto leque de efeitos e combinações que possibilita.39

Segundo o Manual da Pedra Natural para Arquitectura a adequação da dimensão dos cubos ou

paralelepípedos, aos tipos de utilização procede-se da seguinte forma:

– Uso exclusivo de peões – 4/5cm ou 5/7cm (Calçada cúbica miudinha e miúda)

– Circulação de veículos ligeiros – 8/10cm (Calçada cúbica meia pedra e paralelepipédica)

– Circulação de veículos pesados – 10/13cm (Calçada cúbica grossa e paralelepipédica)

Portanto, para esta tipologia, quanto maior for a dimensão do elemento, maior a sua resistência às

cargas, mas dependendo sempre da resistência do próprio tipo de pedra.

Das diferentes variantes que existem nesta tipologia, evidenciam-se os dois casos mais comuns

em Portugal:

– Paralelepípedos que têm uma grande resistência à carga, às condições atmosféricas e aos

químicos e baixo nível de desgaste (dependendo da pedra). São normalmente de cor escura,

granito ou basalto e possibilitam a criação de diferentes estereotomias, mais ou menos

adaptáveis à função a que se destinam.

Figura II.25 – Paralelepípedos com Várias Estereotomias e Materiais

a. Ribeira Brava, Madeira | Fotografias de Autor, 2008

b. Brussels, Bélgica | FNI

c. Paralelepípedos com algum desgaste e irregularidade | Rui Moura, 2006

d. Berna, Suiça | Manuel Ribeiro, SD

39 António M. Esteves HENRIQUES [et al.] – Manual da Pedra Natural para a Arquitectura. Lisboa: Direcção Geral de Geologia e Energia, 2006

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– Calçada Portuguesa, pavimento composto por pedras mais ou menos regulares, tirando

partido dos diferentes tipos de pedra natural da região, principalmente calcário vidraço azul-

escuro (basalto) e calcário vidraço branco, para criar formas e padrões que, tendo em conta a

escala do espaço a que se destinam, devem ser criados com cuidado para que a legibilidade

resultante do conjunto seja a esperada, mais global ou mais intrincada dependendo da situação.

Figura II.26 – A Calçada Portuguesa

a. Vila do Conde – Padrão de fluidez e movimento | João Pedro Martins, SD

b. Figueiró dos Vinhos – padrão com três cores, pedras mais irregulares | Eurico Sampaio, 2007

c. Aveiro – Padrão mais contemporâneo | Sandra Marques, 2006

d. Coimbra – Calçada simbólica do Portugal dos Pequenitos | Francisco Tico, 2008

e. Padrão geométrico | Nuno Morais, 2006

f. Rossio, Lisboa – Padrão “Mar Largo” alusivo aos descobrimentos | Bruno Amado, 2006

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LAJEDO

Figura II.27 – O Lajedo Pode Adoptar Várias Dimensões, Estereotomias e Acabamentos

a. Utilização de sobras de pedra e colocação despreocupada dos elementos | Pedro Martins, SD

b. Guimarães – Lajedo com algum desgaste pelo uso, grande durabilidade | Pedro Moreira, SD

c. Porto – Lajedo molhado, torna-se escorregadio com chuva se não levar o acabamento devido | FNI

d. Centro Cultural de Belém, Lisboa – elementos rectangulares de juntas desalinhadas | Sérgio Redondo, SD

e. Lajedo de elementos quadrados regulares e estereotomia alinhada | FNI

f. Stuttgart, Alemanha – elementos quadrados de juntas desalinhadas | Hascher Jehle, SD

O lajedo é composto por placas de pedra natural, podendo esta camada de desgaste ser assente

em material granular ou betão conforme a resistência de que necessita, tal como a calçada. Os

elementos constituintes abrangem uma gama variada de dimensões, normalmente com largura

superior a 150mm e o seu assentamento pode ser feito de diversas formas, originando diferentes

estereotomias, de juntas alinhadas ou quebradas, longitudinais ou transversais, de acordo com o

uso pretendido.

Os tipos de pedra mais utilizados são os mesmos que nas tipologias anteriores, a grande

vantagem reside na maior dimensão das peças, significando um menor número de juntas que se

traduz num possível aumento do conforto na sua utilização por parte de peões e veículos

(Ferreira, 2007).

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TABUADO

Figura II.28 – O Tabuado pode Ter Várias Dimensões e Estereotomias

Nuno Ramos | Fotografia de Autor, 2008 Website Flickr | Krauel – Nuevos Espacios Urbanos| FNI

O tabuado trata-se de um pavimento constituído por réguas de madeira, com dimensões e

acabamentos variáveis. A sua resistência natural a factores climatéricos não é muito favorável

fazendo com que não seja usado extensivamente em pavimentos exteriores.

Segundo entrevista a Natalina Magro, directora de marketing da empresa ICO, os que melhor

funcionam são os pavimentos em madeira maciça, preferencialmente exótica já que estão

naturalmente preparadas para grandes humidades e intempéries, ou recorrer a tratamentos em

madeira como o Pinho Nórdico e a Riga. As réguas de madeira maciça da ICOdeck apresentam

dimensões entre 90 e 145mm de largura e 1500mm ou mais de comprimento, com espessuras de

19 e 21mm e podem ser aplicadas com um acabamento liso ou anti-derrapante.

Existem duas estereotomias principais, o de juntas longitudinais e o de perpendiculares à via,

tendo em conta que, quando são colocadas perpendicularmente à via, a resistência do pavimento

é maior, uma vez que a carga é distribuída por mais peças (Ferreira, 2007).

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PAVIMENTOS CERÂMICOS

Figura II.29 – Os Pavimentos Cerâmicos podem ter Várias Formas e Dimensões

Miguel Oliveira, 2006 | FNI | Vasco C., 2008 | FNI

Este pavimento é constituído por elementos e, tal como os outros pode ser estruturalmente rígido

ou flexível consoante a base é de areia ou argamassa hidráulica. Sendo as peças quase sempre

irregulares, é conveniente assentá-las sobre uma camada de argamassa para que possam ser

corrigidas através das juntas. Devem ser aplicadas sobre uma camada de um cimento colante ou

qualquer outro produto adesivo para poder garantir rigidez e estabilidade (Hegger, 2006).

Os pavimentos cerâmicos podem ser compostos por ladrilhos, mais compactos, e por tijoleira,

caracterizada por ser um material poroso, à semelhança das telhas e tijolos. Podem ter várias

dimensões, sendo que mais comummente se trata de um elemento quadrado, com lado a variar

entre 110 e 300mm. A tijoleira apresenta uma tonalidade que pode ir do ocre ao vermelho vivo.40

Os ladrilhos normalmente são vidrados, podendo ser atribuída qualquer pigmentação neste tipo de

acabamento.

A variante mais adequada para utilização em espaços de grande tráfego é o ladrilho de grés fino

por apresentar uma grande resistência ao desgaste. Estes pavimentos não devem ser polidos,

uma vez que este acabamento não é muito durável e reduz a aderência ao pavimento (Nero,

2000).

40 José Gaspar NERO – Sebenta de Materiais de Construção para Arquitectura. Instituto Superior Técnico,

2000

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LAJETAS DE BETÃO PRÉ-FABRICADAS

Figura II.30 – As Lajetas de Betão têm um Grande Leque de Formas e Cores

A+t Magazine, In Common III | Arq./a nº27 | Joaquim Abreu, 2007 Website Olhares | Website Interpave | Trinco Morais, 2008

Trata-se de um pavimento descontínuo, composto por elementos pré-fabricados de betão que

pode ser rígido ou flexível consoante a base é de argamassa ou areia.

Estes elementos são fabricados num leque cada vez maior de formas, dimensões, cores e

acabamentos, tendo a possibilidade de imitar o aspecto visual de qualquer um dos anteriormente

descritos, melhorando a sua performance em termos de aderência, resistência e regularidade da

superfície, com a grande vantagem de ser muito mais económico.

PLACAS ALVEOLARES

Figura II.31 – As Placas Alveolares para Relva e Gravilha podem tornar-se Invisíveis

Website Paisotec

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Trata-se de um pavimento por elementos, bastante moldável à superfície do terreno, cujo objectivo

é fixar o solo, aumentando a durabilidade e resistência à carga de alguns pavimentos

desagregados, nomeadamente relva e gravilha.

Pode ser constituído por vários materiais e tipos de elementos, sendo as placas alveolares de

politeno reciclado, um dos exemplos desta solução. A sua estrutura alveolar permite o

preenchimento dos vazios com terra possibilitando o crescimento de relva, ou com gravilha,

reforçando a sua estrutura e coesão. A instalação é fácil e o seu custo reduzido, e uma vez

preenchido, dependendo da cor escolhida, pode tornar-se neutro e praticamente invisível

(Paisotec, 2002).

BETUMINOSOS

Figura II.32 – Betuminoso já não se Restringe à cor Negra

a. Prag’s Boulevard, Copenhaga – O betuminoso em espaços pedonais e cicláveis | a+t Magazine, In Common III

b. Aveiro – Solução muito corrente para as ciclovias utilizando a cor para diferenciar | FNI

c. Porto Moniz, Madeira – A utilização de betuminosos em espaços verdes de lazer | FNI

d. A solução mais comum em espaços de circulação automóvel | Website Olhares

Trata-se de um pavimento contínuo e estruturalmente flexível, em que o betume tem a função de

ligante, por se tornar viscoso a altas temperaturas e, ao arrefecer, revelar uma capacidade

extremamente forte de aglutinação. É maioritariamente usado para o revestimento de estradas e

tem um papel muito importante como ligante dos inertes minerais, que constituem cerca de 95%

da massa total, sendo estes os responsáveis pela resistência do pavimento (Hegger, 2006).

O betume pode ser pigmentado na sua camada de superfície, permitindo adicionar cor a este

tapete, que tem como mais marcante a sua cor negra, muito pouco apelativa.

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78

Os limites, se não forem bem acautelados, podem desgastar rapidamente, já que com a

flexibilidade do material e o tráfego mais intenso pode começar a levantar. Outra desvantagem é a

sua baixa resistência aos solventes de petróleo, etc. (Littlewood, 1993)

Já foram desenvolvidas várias técnicas de combinados betuminosos das quais se refere uma,

desenvolvida com sucesso a partir dos anos sessenta nos EUA e introduzida em Portugal a partir

de 1999, que é o Betume Modificado com Borracha (BMB), mistura betuminosa que incorpora

cerca de 20 a 22% de granulado de borracha obtido a partir da reciclagem de pneus usados. Para

além desta grande vantagem ambiental, reutilização dos pneus usados, está provado que estas

misturas são mais resistentes ao envelhecimento e à fadiga dando muito maior durabilidade ao

pavimento, praticamente sem necessidade de acções de manutenção o que compensa o seu

preço mais elevado. Tem também maior resistência à carga, maior aderência e proporciona uma

redução do ruído de circulação.

PAVIMENTOS AMORTECEDORES DE BORRACHA

Figura II.33 – Pavimento de Borracha está Associado a Actividades de Recreio e Lazer

Magda Oliveira | FNI | a+t Magazine, In Common IV a+t Magazine, In Common IV

Trata-se de um pavimento flexível, mais frequentemente constituído por elementos, podendo ser,

no entanto, pavimentado in situ, resultando num pavimento contínuo. Pode ser assente em

qualquer tipo de base, desde que estabilizada e é constituído por granulado de borracha, obtido na

reciclagem de pneus, e por cola de polieruteno. Quando realizado por elementos, não necessita

de juntas dada a sua flexibilidade. Estas características fazem com que seja o material de eleição

para parques infantis e zonas onde se pretende o mesmo tipo de segurança, uma vez que tem

uma óptima capacidade de absorção de impactos verticais e uma boa aderência, minimizando o

risco de lesões. A espessura dos elementos é tanto maior quanto a altura da queda que tem de

proteger, e pode ir desde 30 a 90mm.

Quando é aplicado in situ, é realizada uma primeira camada com as características anteriormente

referidas e sobre essa, é aplicada uma outra onde se incorpora a cor e a protecção contra raios

solares e desgaste, garantindo a eficiência no pavimento. Qualquer uma das soluções apresenta

uma gama de cores bem variada, permitindo também a realização de padrões e combinações

interessantes.

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LAJES DE BETÃO IN SITU

Figura II.34 – O Betão é uma Solução muito Adaptável às Situações

a+t Magazine, In Common III | arq./a nº 27 | a+t Magazine, In Common IV FNI | Website Olhares | FNI

Trata-se de um pavimento contínuo e rígido construído no próprio local. O betão é uma mistura de

cimento, inertes e água. É a pedra feita pelo Homem. Para a aplicação em pavimentos não

necessita de reforço uma vez que trabalha muito bem à compressão. (Hegger, 2006).

Esta solução de pavimentos é bastante moldável ao terreno, no entanto, é necessário prever

juntas de dilatação para a expansão e contracção que sofre com as variações de temperatura.

Existem vários acabamentos que permitem a adaptação a diversas utilizações. Tratando-se de um

material moldável, pois tem uma fase líquida, permite criar soluções mais confortáveis tanto para a

escala pedonal como para a rodoviária (Ferreira, 2007).

No entanto em termos de cores é bastante limitado, uma vez que é muito difícil garantir uma

coloração homogénea e permanente. O seu aspecto visual por vezes torna-se pouco apelativo,

sendo por isso considerado um material pouco nobre (Littlewood, 1993).

«Materials, however, of themselves, have no singular unalterable character. This character of a

landscape depends more upon the use of the materials, how they are arranged and how they

interrelate with other materials and landscape features» (Moughtin, 1995:94).

Em modo de conclusão apresenta-se de seguida uma tabela de avaliação das várias tipologias de

pavimento descritas anteriormente, tendo em conta os aspectos funcionais e estéticos

relacionados com os utilizadores. Ainda nesta tabela é apresentada uma pequena escala, de 0 a

3, que pretende definir intuitivamente qual o grau de adequação de cada tipo de pavimento à

utilização pedonal e rodoviária, em que 0 é inadequado e 3 é perfeitamente adequado.

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Tabela II.4 – Avaliação das Tipologias de Pavimento

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3. TIPOLOGIAS DE ELEMENTOS URBANOS

Identificadas as diversas tipologias mais comuns no espaço público, interessa perceber que outros

elementos constituem o pavimento e o espaço público urbano, quer pela necessidade de

responder a necessidades mais específicas quer pela crescente importância da conjugação de

soluções de pavimento nestes espaços da cidade cada vez mais multifuncionais e integrados.

Sabendo que o pavimento não é composto apenas por uma plataforma simples de uma ou mais

tipologias descritas anteriormente, é importante explicitar a forma como tudo se relaciona, já que

existe todo um conjunto de elementos que concorrem para as diversas necessidades tanto dos

utilizadores, através da estruturação dos espaços, da acessibilidade e da segurança, como da

cidade em si, com as infra-estruturas necessárias para o seu bom funcionamento.

3.1. ELEMENTOS DE ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO PAVIMENTADO

PASSEIO

«O passeio lateral é o espaço de transição entre o interior dos edifícios e a rua. Responde à

necessidade de diferenciar um espaço para os peões, defendido do trânsito automóvel e também

do parqueamento» (Brandão, 2002:87).

Figura II.35 – O Passeio pode ser Definido de Várias Formas

Filomena Pimenta, 2008 | Fernando Carrasqueira, 2007 | Ricardo Costa, SD

Um passeio completo é composto por:

– Lancil, rebordo que garante a sua coesão;

– Margem de protecção que pode ser usada para a implantação de elementos de separação dos

diferentes tipos de trânsito, podem ser árvores, pilaretes, etc.

– Corredor central, dedicado à circulação pedonal;

– Zona de paragem, associada às fachadas uma vez que esta é a zona mais protegida do

passeio e onde se localizam as montras e entradas para os edifícios.

Para que seja possível incentivar a circulação pedonal é necessário providenciar um sistema

contínuo mas diversificado de passeios, que funcione como uma rede que interliga edifícios,

espaços e equipamentos de uma forma cativante (Brandão, 2002).

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Como consta no Decreto-Lei nº163/2006, os passeios devem garantir, entre outros, os seguintes

parâmetros para que possam ser considerados acessíveis por todos:

– A largura livre (espaço dedicado à circulação) dos passeios não deve ser inferior a 1.5m;

– A inclinação máxima dos passeios, no sentido longitudinal é de 5% e no sentido transversal é

de 2%;

– Deve assegurar-se a pendente necessária para que seja garantido o rápido escoamento das

águas e a secagem dos pavimentos, sendo que a inclinação deve estar compreendida entre

0.5% e 2%;

– Os pavimentos dos passeios devem ser compactos e as suas superfícies revestidas de um

material cuja textura proporcione boa aderência, mesmo na presença de humidade ou água;

– Deve proporcionar-se a legibilidade do espaço, através da adopção de elementos e texturas de

pavimento que forneçam, nomeadamente às pessoas com deficiência da visão, a indicação dos

principais percursos de atravessamento.

LANCIL

«Os lancis devem ser colocados de forma a garantir a qualidade construtiva dos passeios, assim

como, para delimitar áreas funcionalmente distintas (estacionamento, circulação)» (Remesar,

2005:58).

Figura II.36 – O Lancil tem Largura Variável e pode Assumir Diferentes Caracteres

FNI | Website Olhares | Fotografia de Autor, 2008

Caso haja necessidade de sobrelevar o passeio em relação à via de circulação automóvel por uma

questão de segurança, é o lancil que tem o papel de rematar este desnível e a sua altura máxima

será de 0.12m de forma a facilitar o rebaixamento para 0.02m sempre que necessário.

Em qualquer situação deve considerar-se uma largura mínima para este elemento de 0.2m.

Quanto a materiais é importante que os lancis tenham uma grande resistência a cargas já que

muitas vezes desempenham o importante papel de contenção de pavimentos desagregados ou

constituídos por elementos.

DESNÍVEIS

Os desníveis podem resultar de condicionantes do terreno ou simplesmente de intenções de

projecto, de qualquer forma deve ser garantido o máximo de segurança e acessibilidade.

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83

Situações como desníveis no piso, alterações de materiais de revestimento, degraus, tampas de

registo, etc. devem ser evitadas ou tratadas adequadamente à diferença de altura que

representam, sendo que até 0.005m não precisam de nenhum tratamento, 0.02m requerem

boleado ou chanfra e acima deste valor devem ser tratadas como rampas (DL nº163/2006).

Figura II.37 – Os Desníveis podem ser Vencidos por Rampas ou Escadas

Arquitectura Ibérica nº9 | a+t Magazine, In Common III | Nuevos Espacios Urbanos

Segundo Brandão, quando o desnível é vencido por meio de escadas estas devem apresentar as

seguintes características:

– Contemplar soluções que permitam vencer o desnível pausadamente, caso seja esse o desejo;

– Os materiais utilizados devem ser anti-derrapantes e resistentes ao desgaste;

– Deve evitar-se a acumulação de água nos degraus através da aplicação de uma ligeira

pendente e instalação de um sistema de drenagem;

– O início e o fim da escada devem ser assinalados através da diferenciação de cor ou textura.

Por outro lado, se o desnível puder ser vencido através de rampas, estas devem ter:

– A menor inclinação possível, sendo ideal que tenha no máximo 6%;

– Patamares intermédios que permitam paragens para descanso;

– Largura mínima deve ser 1.2m.

Nos casos em que é impossível a colocação de rampas que proporcionem acessibilidade total, é

importante recorrer à instalação de dispositivos mecânicos que colmatem esta lacuna (Brandão,

2002)

Os desníveis superiores a 0.5m devem ser protegidos de forma a evitar acidentes. É importante a

utilização de corrimãos em rampas e escadas também por uma questão de segurança e facilidade

de utilização (Brandão, 2002).

RAMPAS DE ACESSO PARA VEÍCULOS E PEÕES

Existem várias situações em que é necessário resolver o desnivelamento entre o pavimento da via

de circulação automóvel e o pavimento do passeio, por vezes para facilitar o percurso pedonal,

outras para melhorar o acesso automóvel. Tal consiste, normalmente, no rebaixamento da altura

do passeio, através da colocação de um elemento, mais frequentemente pré-fabricado, no mesmo

material que o passeio (Serra, 2000).

Page 88: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

84

Em situações de passagens de peões deverá ser rebaixada toda a zona de passeio que lhe fica

adjacente sendo que a rampa terá uma inclinação, no sentido da passagem de peões inferior a

8%, podendo atingir 10% no remate lateral, no sentido do lancil. (DL nº163/2006)

Figura II.38 – É Importante ter em Conta a Acessibilidade Total dos Espaços

Website Olhares | Fotografia de Autor, 2008 | Lucina Carvalho, 2006

Caso a necessidade de rebaixar o passeio seja para facilitar a acessibilidade automóvel, poderá

recorrer-se a inclinações maiores, de modo a reduzir o impacto na zona de circulação pedonal.

Em qualquer das situações é necessário marcar o pavimento, isto é, identificar e delimitar as

superfícies, recorrendo a mudanças de materiais de forma a tornar clara para todos a sua leitura e

visibilidade (Serra, 2000).

PASSADEIRAS

As passadeiras são zonas de prioridade pedonal nas vias de circulação automóvel, permitindo o

seu cruzamento em segurança, por parte dos peões.

Figura II.39 – Passadeiras

Website Olhares | FNI | FNI | FNI

Existem várias soluções para a marcação das passadeiras, no entanto todas elas concorrem para

um único objectivo, serem facilmente visíveis e legíveis tanto pelos condutores, para que possam

abrandar a tempo, como pelos peões, para que as utilizem correctamente. O importante é que

seja reconhecível a sua localização, não só pela visão como também pelo tacto e audição,

recorrendo a materiais, sons e texturas diferentes.

A solução mais habitual é a marcação, a todo o seu comprimento com riscas de cor contrastante,

nomeadamente brancas, pintadas no sentido da circulação viária. A tinta utilizada para este fim

tem de ter características anti-derrapantes e esta textura rapidamente se perde com o desgaste,

criando situações ainda mais perigosas, o que requer uma manutenção elevada (Serra, 2000).

Page 89: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

85

Outra solução possível, mais utilizada em situações de maior perigo, é a criação da passadeira

como uma lomba, toda ela num pavimento diferente e ligeiramente mais elevada, permitindo uma

melhor visibilidade à distância e obrigando os condutores a reduzir significativamente a velocidade

(Brandão, 2002)

3.2. ELEMENTOS DE SEPARAÇÃO

O papel que estes elementos desempenham no espaço público é essencialmente impedir o

acesso de veículos a um espaço destinado a peões, impedir ou dificultar o acesso dos peões a

áreas que lhe são vedadas, ou ainda podem servir como protecção de desníveis ou zonas de

potencial perigo.

Dependendo da maior ou menor necessidade de separação/protecção, os elementos mais

utilizados são os frades, pilaretes e barreiras. Existem ainda outros elementos que, mesmo não

sendo essa a sua função primária, podem ser usados como tal, são exemplos os vasos ou

floreiras. A localização destes elementos nunca deve pôr em causa a circulação dos peões,

mantendo sempre disponível um corredor com a largura regulamentar (Brandão, 2002).

FRADES

Estes são os elementos menos intrusivos dentro desta categoria, quer visualmente quer para os

peões que facilmente os transpõem devido à sua altura reduzida. Por estas razões a sua utilização

mais frequente é na proibição de estacionamento de veículos em áreas pedonais, já que estes não

os conseguem transpor (Serra, 2000).

Ainda segundo Serra, a sua proximidade ao chão e a sua função de proibição fazem com que seja

importante a utilização de materiais resistentes a eventuais agressões, sendo a pedra natural e o

betão os mais indicados. No entanto, é essencial que se pese a vontade de torná-los pouco

intrusivos na paisagem com a necessidade de os destacar para evitar acidentes.

Figura II.40 – Frades de Diferentes Formas e Materiais

Lucina Carvalho, 2007 Adriane, SD | FNI | FNI | Filipe Silva, SD

Page 90: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

86

PILARETES

Elementos de altura adaptável, variando normalmente entre 0.60 e 1.00m, cuja função passa não

só pela proibição de estacionamento em zonas reservadas como também pela delimitação do

espaço de circulação viária (Serra, 2000).

Estes elementos são construídos mais frequentemente em materiais metálicos anticorrosivos, ou

em pedra natural uma vez que se requer boas condições de resistência e durabilidade.

Figura II.41 – Pilaretes podem Cumprir Várias Funções

FNI | FNI | FNI | Website Olhares | FNI

Os problemas mais frequentes surgem ao nível das ancoragens ao pavimento, sendo que, como

os elementos são por norma mais resistentes que o tipo de pavimento, isto provoca uma situação

de cedência por parte deste último, muito facilmente vandalizado. Serra indica a necessidade de

recorrer a dispositivos de ancoragem com grande elasticidade, permitindo o amortecimento de

eventuais impactos que desta forma não serão transmitidos ao pavimento.

Surgiram da necessidade de devolver espaço aos peões, no entanto, é necessário que a sua

colocação não se torne um obstáculo. Para isso é importante que a distância entre elementos

permita a circulação pedonal e que seja garantida a largura mínima de passeio para circular

facilmente.

Desta forma e dependendo da função a desempenhar a distância entre pilaretes deverá obedecer

às seguintes especificações:

– Distância mínima de 1.20m, para permitir a passagem de cadeiras de rodas;

– Para impedir a passagem de um veículo o espaçamento deve ser no máximo de 1.50m;

– Caso seja apenas para impedir o estacionamento podem distar entre si de 2.00 a 3.00m.

Uma outra utilização bastante comum actualmente é, em zonas de acesso condicionado, permitir

a circulação de veículos autorizados (veículos de emergência ou moradores do bairro), através da

utilização de um sistema de pilaretes retrácteis, que entram no pavimento.

BARREIRAS

Neste caso tratam-se de elementos geralmente fixos, rígidos e com uma altura de cerca de 1.00m.

Têm como objectivo a protecção do peão em situações de alteração de usos ou outros perigos,

podendo também servir como estruturação do espaço.

A colocação destes elementos deve ser bem ponderada para que se permita oferecer segurança

ao tráfego pedonal sem, no entanto, quebrar o seu ritmo de circulação através pela demasiada

fragmentação do espaço.

Page 91: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

87

Figura II.42 – Barreiras Podem ser Fixas ou Móveis

Lucina Carvalho, 2006 | FNI | Lucina Carvalho, 2006

Em termos de materiais para estes elementos mais uma vez é necessário prever os impactos

automóveis que possam surgir, assim como as grandes cargas exercidas pelo uso pedonal,

nomeadamente, o encostar ou debruçar sobre estes. Serra identifica a madeira e o metal como os

materiais mais utilizados, sendo o aço inoxidável e o ferro fundido os que menos manutenção

exigem (Serra, 2000). Por uma questão de transparência muitas vezes recorre-se ao vidro ou

semelhantes, nestes casos o importante é ter sempre presente a necessidade de serem

suficientemente visíveis para evitar acidentes, e resistentes caso os haja.

3.3. ELEMENTOS INTEGRADOS NO PAVIMENTO

Os canais de drenagem, sumidouros e tampas de registo são elementos que permitem o contacto

com infraestruturas e elementos subterrâneos.

CANAIS DE DRENAGEM

Os elementos são essenciais para o escoamento das águas pluviais uma vez que se apresenta

como muito perigosa a sua acumulação em espaços de circulação quer seja pedonal ou

automóvel.

Os canais de drenagem são furações lineares protegidas por grelhas, evitando acidentes ou

quedas sem impedirem o escoamento da água. Tanto o canal como a grelha podem assumir

diferentes formas e feitios, dependendo não só de vontades estéticas, relacionadas com as

características do espaço onde se inserem, como também de necessidades técnicas, consoante a

quantidade de água que é necessário escoar.

O canal de recolha é geralmente em betão, metal ou plástico, dependendo da resistência e a

grelha é quase sempre metálica (Serra, 2000).

Page 92: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

88

Figura II.43 – Os Canais de Drenagem têm Diferentes Papéis no Espaço

A+t Magazine, In Common IV | Sérgio Redondo, SD | Manuel Ribeiro, SD | Gehl – Novos Espaços Urbanos

A+t Magazine, In Common IV | FNI | Lucina Carvalho, 2006 | FNI

Os sistemas de recolha de água podem ser localizados no centro da via ou praça, ou nos seus

limites. Dependendo das dimensões da área a escoar pode ser importante dividir o escoamento

por dois canais, permitindo a sua maior eficácia e rapidez. Os canais de recolha estão ligados a

colectores localizados no ponto mais baixo do pavimento.

SUMIDOUROS

Os sumidouros têm a mesma função que os canais de drenagem, escoar as águas pluviais para

evitar a sua acumulação, no entanto, os sumidouros são principalmente utilizados nas vias de

circulação automóvel.

Figura II.44 – Sumidouros e Grelhas de Drenagem

Fotografias de Autor, 2008

São furações colocadas no limite do passeio a fim de aproveitar este desnível para melhorar a sua

eficiência. No caso de serem colocados horizontalmente, são protegidos com uma grelha,

colocada com as frestas no sentido transversal ao da circulação para evitar acidentes. Quando

são colocadas verticalmente, estão integradas no passeio não precisando de nenhuma protecção.

Page 93: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

89

É importante a manutenção regular destes sistemas já que desempenham um papel

preponderante na segurança e conforto dos utilizadores porque facilmente acumulam todo o tipo

de lixo.

TAMPAS DE REGISTO

As tampas de registo são uma constante nos nossos espaços públicos, já que servem várias

redes de infra-estruturas imprescindíveis ao bom funcionamento da cidade. É sob estas tampas

que se encontram por exemplo, as torneiras de água ou gás, as caixas de visita dos esgotos ou

qualquer tipo de armário que não se deseja visível no espaço.

Figura II.45 – Tampas de Registo

Website Olhares | Website Olhares | Website Olhares | Lucina Carvalho, 2007

As dimensões destas tampas variam consoante o serviço a que se destinam. Em termos de

materiais as soluções mais recorrentes, são duas: ou em ferro fundido ou em continuidade com a

mesma solução de revestimento que o pavimento onde estão colocadas. Quanto à forma, o mais

habitual é circular embora seja cada vez mais comum utilizar as formas que melhor se adaptam

aos pavimentos compostos por elementos regulares (Serra, 2000).

É importante que, caso sejam metálicas, apresentem qualquer tipo de acabamento rugoso para

prevenir deslizamentos.

CALDEIRAS DE ÁRVORES

Para cada árvore é necessária uma caldeira de, pelo menos, 1.00m3 de terra onde plantá-la.

Uma interrupção no pavimento com uma secção de pelo menos 1.00m2 é, garantidamente, um

perigo caso não seja protegida, tanto para os utilizadores, que podem ser induzidos em quedas ou

acidentes, como para a própria terra onde é plantada a árvore, já que fica sujeita à constante

pressão exercida pela circulação pedonal, automóvel ou mesmo animal. Assim, é necessária a

colocação de protecção na base da árvore que garanta permeabilidade à água, ajudando tanto no

escoamento como na rega, e ao mesmo tempo proporcione um nivelamento com o pavimento

envolvente para maior segurança dos utilizadores (Remesar, 2005).

Page 94: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

90

Figura II.46 – Caldeiras de Árvores

Nuevos Espacios Urbanos | Nuevos Espacios Urbanos | Mobiliario Urbano | Nuevos Espacios Urbanos | a+t Magazine, In Common IV | Mobiliario Urbano

A protecção pode ser feita através de grelhas ou peças maciças que terão 1.00x1.00m no mínimo,

com fendas ou juntas à semelhança dos sumidouros e canais de drenagem, no sentido transversal

ao da circulação, e devem assentar sobre um rebordo resistente que lhes permite ficar afastadas

da terra evitando a compactação. Podem ser de várias formas, até mesmo modulares e

adaptáveis ao crescimento natural da árvore e os materiais mais comuns são ferro fundido ou aço

para as grelhas, betão ou pedra natural para as peças maciças (Serra, 2000).

Serra acrescenta ainda que se forem colocadas caldeiras com grelhas em passeios é necessário

que estes tenham pelo menos 2.60m de largura (caso seja sem grelha terá de ser 3.00m).

Descritos os diversos elementos a organização desta informação na tabela II.5, servirá de

instrumento para a avaliação mais eficiente dos espaços públicos.

Page 95: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

91

Tabela II.5 – Avaliação dos Elementos Urbanos

5A. Parâmetros de Conforto

Passeios

Conforto Sensorial Conforto Físico

Ele

mento

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ração d

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spaço P

avim

enta

do

- Percepção do passeio como um percurso contínuo.

- Fácil entendimento das diferentes zonas que o compõem.

- Existência de pontos de interesse.

- Pavimento regular, compacto e aderente.

- Pendente necessária para o escoamento adequado.

- Largura livre adequada ao fluxo existente.

- Possibilidade de paragem sem conflitos.

Lancis - Visualmente fácil de distinguir como

delimitação.

- Potenciar alinhamentos visuais.

- Material resistente e aderente.

- Altura adequada à utilização.

Desníveis

- Facilmente identificáveis.

- Escada: Realçar o fim/início do degrau e o fim/início da escada através de cor e/ou textura.

- Rampa: adequada a todo o tipo de circulação pedonal.

- Patamares de descanso.

- Pavimento anti-derrapante.

- Existência de corrimãos.

- Pendente necessária para o escoamento adequado.

- Escada: relação entre espelho/cobertor adequada e sempre igual.

- Rampa: inclinação suave.

Rampas de Acesso

- Facilidade em distinguir a função a que se destina.

- Materialidade coerente mas distinta do pavimento.

- Compatibilização do nível do passeio com o da faixa de rodagem.

- Inclinação regulamentada.

- Pavimento regular e aderente.

Passadeiras

- Textura e/ou materiais diferentes para ser fácil de distinguir pelo utilizador mas também, a grandes distâncias, pelo condutor.

- Boa visibilidade da envolvente.

- Localizada nas zonas de maior tráfego pedonal proporcionando continuidade aos percursos.

- Tintas ou materiais com acabamentos anti-derrapantes.

Ele

mento

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ção

Frades - Visualmente fáceis de distinguir.

- Integrados na envolvente.

- Colocação fora do corredor de circulação pedonal.

- Permitir passagem de peões entre elementos. Pilaretes

- Perceptíveis como delimitação.

- Integrados na envolvente.

Barreiras

- Visualmente percepcionadas como elementos intransponíveis.

- Sensação de segurança.

- Pode potenciar a sensação de descontinuidade do percurso.

- Colocação fora do corredor de circulação pedonal.

- Evitar a fragmentação dos espaços.

- Sensação de segurança.

Ele

mento

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gra

dos

Canais de Drenagem

- Dissimulados no pavimento ou potenciando alinhamentos visuais.

- Rápido escoamento.

- Evitar acumulação e transbordo de água ou lixo.

- Grelha anti-derrapante. Sumidouros - Integrados no pavimento ou passeio

(dissimulados no lancil).

Tampas de Registos

- Visualmente intrusivas quando não são dissimuladas no pavimento.

- Evitar desnivelamentos e assentamentos destas tampas.

- Materiais anti-derrapantes.

Caldeiras de Árvores

- Rebordo e/ou protecção facilmente reconhecíveis tanto pelo tacto como visualmente.

- Leitura de conjunto dos elementos.

- Integrada na envolvente.

- Grelha nivelada com o pavimento.

- Colocação fora do corredor de circulação pedonal.

- Materiais anti-derrapantes.

Page 96: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

92

Tabela II.5 – Avaliação dos Elementos Urbanos (Continuação)

5B. Parâmetros de Segurança

Passeios

Elemento Utilizador

Ele

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ração d

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spaço P

avim

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do

- Pavimento com resistência ao desgaste.

- Manutenção adequada.

- Evitar usos inadequados e abusivos. - Ao tratar-se de um pavimento por

elementos, tem de ter um elemento de contenção (lancil).

- Pavimento regular, resistente e anti-derrapante.

- Pendente necessária para o escoamento adequado.

- Manutenção adequada para evitar obstáculos à circulação.

- Elevação do passeio em zonas de maior tráfego viário.

Lancis - Material resistente a tensão e embates.

- Material com resistência ao desgaste.

- Se elevados, a altura não deve exceder os 0.12m.

- Material anti-derrapante.

Desníveis

- Material com resistência ao desgaste.

- Manutenção adequada.

- Prever a possibilidade de utilizações alternativas (ex: patins, skates e bicicletas).

- Para desníveis até 0.02m a aresta tem de ser boleada ou chanfrada.

- Material anti-derrapante.

- Escadas: pendente necessária para o escoamento adequado.

- Rampas: Inclinação máxima de 6% a 8%.

- Existência de corrimãos.

Rampas de Acesso

- Pavimento com maior resistência a cargas e ao desgaste.

- Manutenção adequada.

- Pavimento anti-derrapante.

- Para uso pedonal: Inclinação máxima de 8%.

- Para uso viário: maior que a anterior.

- Tipologia e/ou materiais de pavimento diferentes.

Passadeiras

- Resistência ao desgaste.

- Manutenção muito regular.

- Utilização de tintas ou materiais anti-derrapantes.

- Boa sinalização.

- Criação de uma lomba que obrigue a redução de velocidade por parte dos condutores.

Ele

m.

de S

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ção

Frades - Materiais resistentes a embates.

- Durabilidade.

- Prever a possibilidade de utilizações alternativas (ex: encosto ou assento).

- Facilmente identificáveis.

- Ancoragem adequada ao tipo de pavimento.

- Protecção de situações perigosas. Pilaretes

Barreiras - Materiais resistentes a cargas e

embates.

- Manutenção adequada.

Ele

mento

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dos

Canais de Drenagem

- Manutenção regular.

- Materiais resistentes e duráveis.

- Bom escoamento das águas pluviais.

- Grelha de protecção de materiais anti-derrapantes.

- Posicionamento das fendas no sentido transversal ao movimento.

Sumidouros - Colocação sob ou junto ao passeio.

- Materiais resistentes e duráveis.

Tampas de Registos

- Materiais muito resistentes.

- Utilização regular para evitar deformações permanentes.

- Material anti-derrapante.

- Boa colocação evitando desnivelamentos.

Caldeiras de Árvores

- Grelhas de protecção em materiais resistentes.

- Afastamento entre a grelha e a terra (evita a compactação da terra).

- Escoamento adequado (permite o aproveitamento da água para rega).

- Protecção em material antiderrapante.

- Identificação do obstáculo (se a caldeira estiver a descoberto).

- Grelha nivelada com o pavimento.

Page 97: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

93

Tabela II.5 – Avaliação dos Elementos Urbanos (Continuação)

5C. Parâmetros de Mobilidade

Passeios

Continuidade Adaptabilidade

Ele

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ração d

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do

- Interligação de percursos e espaços (os passeios como uma rede).

- Evitar grandes barreiras e desvios.

- Boa legibilidade.

- Proporcionar fácil orientação ao utilizador.

- Prever a possibilidade de servir diferentes utilizações.

- Responder a necessidades diferentes consoante o tipo de utilizador.

- Possibilidade de alteração/substituição fácil.

Lancis

- Elemento potencialmente direccional e linear.

- Elemento delimitador (interrupção).

- Prever a possibilidade de ser utilizado inadequadamente (ex: automóvel).

- Possibilidade de alteração fácil.

Desníveis

- Leitura integrada no sistema/percurso. - Prever a possibilidade de diferentes utilizações (ex: andar de patins, skate e bicicleta ou mesmo sentar).

- Adaptadas a todos os utilizadores.

Rampas de Acesso

- Elementos de interrupção do passeio.

- Diminuir a extensão ao mínimo para limitar o obstáculo.

- São utilizados para várias funções.

- Adaptadas a todos os utilizadores.

Passadeiras

- Localização criteriosa nas zonas de maior fluxo pedonal proporcionando continuidade aos percursos.

- Elemento de descontinuidade para a circulação viária.

- Prever a utilização por utilizadores com diferentes necessidades e características.

Ele

mento

s d

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ção

Frades - São elementos delimitadores e de

separação.

- Podem surgir como interrupção à circulação.

- Grande fragmentação do espaço quando colocados em demasia.

- Tem um carácter linear e direccional podendo sugerir continuidade pela repetição.

- Prever a possibilidade de utilizações alternativas (ex: encosto ou assento).

- Adaptados às diferentes funções a que se destinam.

Pilaretes

Barreiras

Ele

mento

s I

nte

gra

dos

Canais de Drenagem

- Elementos lineares potencialmente direccionais.

- Adequados às diferentes estações do

ano.

- Adaptados a todos os utilizadores. Sumidouros

- Podem promover a continuidade pelo ritmo e repetição.

Tampas de Registos

- Podem surgir como obstáculos à circulação quando mal posicionadas.

- Podem ser dissimuladas no pavimento.

- Adequar a forma ao tipo de pavimento sem prejudicar a função a que se destinam.

Caldeiras de Árvores

- Pode promover a continuidade pelo ritmo, repetição e noção de conjunto.

- Sem protecção pode surgir como obstáculo.

- Protecções modulares adaptáveis ao crescimento da árvore.

- Adequado aos diferentes utilizadores.

Page 98: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

94

4. RESUMO E QUADRO CONCLUSIVO

Na tabela que se apresenta no fim deste capítulo (Tabela II.6) são avaliadas as diferentes

tipologias de pavimento, apresentando pontos fortes e pontos fracos para as duas grandes classes

de actividades, pedonais e viárias.

Relva, casca de pinheiro, tabuado e borracha são de utilização exclusiva de actividades pedonais

uma vez que são pouco resistentes a grandes cargas que provocam grande desgaste e

degradação. Quanto à borracha, a sua excelente absorção de impactos verticais e o seu leque

variado de cores vivas, permitem a criação de padrões e combinações divertidas que a tornam

ideal para aplicação em parques infantis e outras zonas onde se deseja evidenciar o carácter

lúdico do espaço.

O tabuado apresenta uma fraca resistência às condições climatéricas pelo que, para a sua

utilização em espaços exteriores necessita de tratamentos e constante manutenção. O elevado

desgaste faz com que não seja adequado a zonas de muita intensidade de circulação e por outro

lado as suas tonalidades quentes e textura natural faz com que seja acolhedor, adequado a

actividades de permanência.

O aspecto natural da relva e da casca de pinheiro potencia a criação de um ambiente

descontraído e informal, propício a actividades lúdicas e de lazer, adequados a espaços de

permanência. No entanto a relva, é um tipo de vegetação que exige um elevado teor de humidade

para que se mantenham com qualidade, não estando adaptado às condições ambientais de

Portugal exigindo por isso, níveis de manutenção e água muito elevados, pondo em causa a sua

sustentabilidade. Por estas razões a sua utilização deve ser reduzida a situações pontuais, por

exemplo áreas de desporto, descanso, etc. Para grandes extensões o relvado pode ser substituído

por outro tipo de vegetação constituído por outras gramíneas mais adequadas às condições

biofísicas dos locais de implantação.

Em relação aos outros pavimentos desagregados, o saibro e a gravilha, embora a sua utilização

mais comum seja em actividades pedonais, também podem ser aplicados em actividades viárias,

devido à elevada resistência aos químicos e permeabilidade. No entanto, características

provenientes da sua desagregação tais como, rápido desgaste e elevado ruído, tornam-no pouco

adequado para circulação, sobretudo a grandes velocidades, resultando na aplicação

principalmente em estacionamentos uma vez que são menos exigentes.

Quanto à adequação da gravilha para as utilizações pedonais, o facto de ser muito deformável

com o uso, torna-a não adequada a percursos considerados acessíveis e pouco adequada a

qualquer situação de maior intensidade. No entanto, têm sido desenvolvidas soluções para

melhorar a sua resistência às cargas e a sua coesão e estabilidade. As placas alveolares são um

bom exemplo destas soluções, aliadas usualmente a gravilhas e pavimentos de relva, melhoram

substancialmente a sua adequação à circulação pedonal mais intensa sem penalizar o seu

aspecto estético uma vez que se podem tornar praticamente invisíveis quando preenchidas.

Page 99: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

95

Genericamente os pavimentos desagregados devem ser sempre contidos por elementos rígidos

tais como, lancis ou rebordos, o que também é válido para os pavimentos por elementos, já que

assim se permite uma maior coesão.

Existem ainda outras soluções de pavimentos que se adequam mais a actividades pedonais,

embora suportem já cargas mais elevadas, entre estes estão os pavimentos compostos por seixos

e a calçada.

A sua estrutura de pequenos elementos permite adequação à irregularidade do relevo e

concordância de superfícies. Permite também a criação de diferentes padrões e estereotomias

com elementos de pedra de diversas cores, podem ser visualmente detalhados potenciando um

carácter de permanência ou, através da utilização de padrões lineares, contínuos e ritmados, um

carácter de percurso. Assim estes pavimentos adequam-se a qualquer tipo de utilização pedonal,

embora possam ser um pouco desconfortáveis, pela irregularidade da superfície, para actividades

de circulação mais exigentes como bicicleta, skate, patins ou até mesmo, para pessoas com

dificuldades motoras. Caso não haja manutenção adequada torna-se ainda mais perigoso para a

circulação já que o desprendimento de um elemento pode significar o desprendimento de muitos

em seu redor, provocando um pavimento ainda mais irregular.

A calçada portuguesa tem ainda uma forte conotação simbólica, ligada à própria história do país,

em que os padrões e motivos representam épocas e acontecimentos dos diferentes locais onde

estão inseridos.

A resistência deste tipo de pavimentos realizados com elementos de pedra, varia muito com o tipo

de rocha de onde são retirados. A calçada portuguesa, maioritariamente realizada de pedra

calcária branca, torna-se inadequada para utilizações muito intensas e pesadas, por exemplo

circulação automóvel constante, uma vez que facilmente se desgasta, tornando-se escorregadia e

perigosa.

A melhor solução de pavimentos desta classe para actividades viárias é o paralelepípedo de

basalto ou granito, sendo este último o mais resistente logo, mais adequado para tráfego intenso.

No entanto, e por se tratar de um pavimento descontínuo, não é muito confortável para circular,

tanto pelo elevado número de juntas que faz deste um pavimento irregular, como também pelo

elevado ruído que introduz no espaço directamente proporcional à velocidade de circulação.

Assim, esta solução é utilizada principalmente em zonas de grande actividade pedonal, de forma a

criar condições para potenciar a interacção entre estas duas formas de estar no espaço público. O

condutor é obrigado a circular mais devagar, aumentando por isso a sua atenção à envolvente. No

entanto, perante a utilização incorrecta desta tipologia, ou seja, o abuso na velocidade e

intensidade de tráfego, pode causar danos no pavimento por desprendimento de elementos ou

desgaste excessivo e ainda pode provocar um excessivo ruído de fundo, desagradável para quem

tenta ouvir ou dialogar.

O lajedo é composto por elementos de grande dimensão permitindo a criação de padrões

realizados com base na estereotomia da pedra. Sendo evidente o seu carácter nobre e sendo o

Page 100: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

96

seu custo de instalação bastante elevado, a sua utilização deve ser reservada a locais

importantes, tais como zonas históricas das cidades.

A sua resistência é muito variável com o tipo de pedra, sendo possível proporcionar condições a

qualquer tipo de circulação, ainda melhorado pelo facto de se tratar de um pavimento com menos

juntas, ou seja, mais regular, permitindo um maior conforto na circulação.

Ainda na categoria de pavimentos por elementos existem as lajetas pré-fabricadas em betão,

fabricadas num leque cada vez maior de formas, dimensões, cores e acabamentos, tendo a

possibilidade de imitar o aspecto visual de qualquer um dos anteriormente descritos com a

vantagem de ser muito mais económico, tanto na instalação como na manutenção.

A elevada resistência e aderência juntamente com a sua superfície mais regular, proporcionam um

óptimo conforto para a circulação tanto pedonal como viária, no entanto, não é adequado a

actividades pedonais lúdicas como jogar, correr, andar de skate ou patins já que a sua rigidez não

permite a absorção da queda.

O betão pode também ser aplicado no próprio local, resultando num pavimento rígido e contínuo,

muito resistente a qualquer situação e com um baixo nível de desgaste, potenciando a sua

adequação à circulação. A facilidade de aplicar diversos acabamentos permite a sua adaptação

tanto a actividades pedonais, através do desenho de padrões que o tornem um pouco menos

monótono, como viárias, proporcionando a aderência suficiente. A sua rigidez faz com que seja

menor a absorção do som, provocando algum ruído e menor conforto a grandes velocidades,

como tal recorre-se mais a soluções como os betuminosos que, pela sua flexibilidade e absorção

do som potenciam o aumento do conforto na circulação. Estas soluções têm também elevada

resistência a cargas e condições atmosféricas e uma superfície bastante aderente, no entanto, por

ser flexível, se o tráfego for muito intenso e pesado podem surgir deformações.

Quanto à sua adequação a actividades pedonais, a sua cor negra e a elevada absorção e

radiância de calor faz com que sejam incómodos em alturas de calor. No entanto, têm sido

desenvolvidas soluções que permitem a aplicação de diferentes cores, tornando-se mais apelativo

para actividades pedonais, muito utilizado em ciclovias.

Cada vez mais recomeçam a aparecer pavimentos baseados nos tradicionais. Mesmo que

recorrendo a materiais modernos e a falsas imitações, a decoração do chão volta a ter o seu papel

no ambiente urbano. Tem-se por exemplo o caso flagrante do Rossio em que se decidiu

implementar de novo a sua placa central de calçada com a estereotomia de “Mar Largo”,

devolvendo esse espaço aos peões que outrora havia sido roubado pela circulação viária.

Na Rua Augusta optou-se pela pedonalização da rua recorrendo ao calcetamento da anterior zona

reservada à circulação viária com um motivo decorativo diferente daquele que se verifica nos

passeios dessa mesma rua que permaneceram intactos, mesmo com o lancil. Esta técnica é uma

forma de manter uma leitura do passado da rua e de certa forma, reforçar o alinhamento e a

direccionalidade.

Actualmente a aposta de muitas autarquias é na pavimentação sustentável, soluções que aliem

durabilidade, conforto e segurança, aos baixos custos de implementação e manutenção.

Page 101: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

97

Tabela II.6 – Adequação do Pavimento Urbano ao Uso

Page 102: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

98

Tabela II.6 – Adequação do Pavimento Urbano ao Uso (Continuação)

Page 103: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

99

CAPÍTULO III. EXEMPLO DE APLICAÇÃO: Centro Histórico de Lisboa

Neste capítulo ilustra-se a aplicação da teoria anteriormente desenvolvida como ferramenta de

avaliação no projecto de espaço público, mais especificamente na adequação do pavimento ao

tipo de utilização.

A escolha do local para a aplicação deste método teve por base a necessidade de repensar o

papel actual do Centro Histórico de Lisboa.

1. CONTEXTUALIZAÇÃO

O desenvolvimento deste trabalho surge no âmbito da cadeira de Projecto Final que teve como

enunciado a criação de um percurso pedonal assistido da Baixa Pombalina ao Castelo de S.

Jorge, inserida no contexto da Proposta de Revitalização da Baixa-Chiado41

, apresentada em

Setembro de 2006 por Maria José Nogueira Pinto, na altura vereadora da Câmara Municipal de

Lisboa.

1.1. SITUAÇÃO ACTUAL DA BAIXA-CHIADO

Baseada na avaliação realizada na Proposta de Revitalização da Baixa-Chiado, apresenta-se um

prelúdio da situação actual nesta zona, tendo em conta aspectos comerciais, habitacionais, de

circulação e qualidade ambiental:

a) Quanto ao comércio

A zona da Baixa-Chiado foi o grande centro comercial da capital tendo começado a perder a sua

importância neste domínio a partir dos anos 60, acelerada, posteriormente, com o incêndio do

Chiado em 1988. No entanto, ao longo dos últimos anos tem sido recuperada, especialmente a

zona do Chiado e, na Baixa, a Rua do Ouro e a Rua Augusta.

Muitos estabelecimentos comerciais desta zona estão classificados pelo seu valor histórico e

patrimonial, sendo referências importantes para a cidade.

b) Quanto à habitação

Depois de um prolongado período de declínio da população residente na Baixa-Chiado, mais

intenso do que o verificado no resto da cidade, assiste-se à vontade de regressar a este espaço,

principalmente ao aparecimento de uma procura no mercado de habitação na zona do Chiado

onde tem sido feito um esforço maior de reconstrução e reabilitação de edifícios para este

propósito.

c) Quanto ao tráfego

Como termo de comparação, foi verificado que o volume de tráfego da Baixa é apenas

ligeiramente inferior ao verificado noutros pontos de entrada da cidade que foram desenhados

41 Proposta de revitalização da Baixa-Chiado, Setembro 2006, pp.15 a 18, disponível em: http://www.cm-lisboa.pt/?id_item=12686&id_categoria=11

Page 104: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

100

para este fim. Percebe-se, então que o volume de tráfego é, de facto, muito elevado e que na sua

maioria é apenas de atravessamento, já que não se destina à zona da Baixa/Cais do Sodré.

d) Quanto à qualidade ambiental

Os efeitos deste tráfego tão intenso são graves para a qualidade de vida nesta zona, tanto por

questões de ruído como pela qualidade do ar e limpeza/higiene.

Quanto ao ruído, em torno das vias mais movimentadas (as avenidas marginais e a Rua do Ouro,

da Prata, dos Fanqueiros e da Madalena) e das principais praças (Praça dos Restauradores, do

Rossio, da Figueira, do Comércio e D. Luís I), o limite legal estabelecido é ultrapassado tanto de

dia como de noite, quer para usos mistos, quanto mais para usos sensíveis como habitação.

Quanto à qualidade do ar os valores medidos excedem também os limites legais, tendo origem no

intenso tráfego viário e nas fracas condições de dispersão da zona.

É também o intenso tráfego de atravessamento que origina insalubridade e desconforto para os

trabalhadores e moradores desta área e é considerado pelos comerciantes como uma penalização

à sua actividade. Torna insegura e desagradável a utilização pedonal e, ao mesmo tempo potencia

a degradação da estrutura através da conspurcação das fachadas e das excessivas vibrações.

1.2. PROPOSTA DE REVITALIZAÇÃO DA BAIXA-CHIADO

A proposta de revitalização da Baixa-Chiado, através da criação de um modelo global capaz de

inverter este processo de declínio, pretende garantir o futuro deste que outrora foi o Centro de

Lisboa, potenciando a sua sustentabilidade.

Começa por identificar os factores que têm vindo a contribuir para o declínio desta área, de forma

a poder organizar a estratégia de intervenção que melhor se adeqúe. São estes:

– «A desagregação dos modelos de ocupação do espaço», potenciada pela demora dos

processos de reabilitação de edifícios e gestão da mobilidade;

– «A incipiente renovação do modelo comercial», potenciada pela rigidez de horários de abertura

e tipo de comércio, perdendo na competição directa com os centros comerciais;

– «O efeito depressivo das “deslocalizações”» de diversas actividades e serviços de proximidade,

potenciando a sua inadequação como bairro habitacional;

– «O desaproveitamento dos espaços culturais e de lazer» como pólos atractivos de pessoas e

outras actividades;

– «O “modelo” de gestão do espaço urbano vigente», demasiado burocrático e complicado,

levando ao desinteresse de potenciais investidores.

Identificadas as causas do problema, define os pontos essenciais para a renovação deste centro:

– Potenciar este espaço como «singular e resistente», rico em história e enquadrado numa lógica

certificada de património mundial, garantindo um esforço de reabilitação regrado por uma

coerência global;

– Garantir Lisboa como pólo atractivo do turismo internacional, produzindo fortes efeitos noutras

regiões turísticas do país;

Page 105: Tese de mestrado - Pavimento urbano - Adequação ao uso - Centro Histórico de Lisboa.pdf

101

– Recuperar a «presença de serviços centrais do Estado no centro histórico da cidade»;

– Potenciar a aposta nas «indústrias criativas, centros financeiros e investimento imobiliário»,

podendo assim ter uma participação significativa neste potencial de investimento reconhecido.

Entre os projectos estruturantes que definem esta revitalização, estão:

– O «reforço da mobilidade interna e externa» através da redução do tráfego de

atravessamento e da criação de um eixo viário radial que possibilite a reorganização e criação

de uma rede de circulação pedonal interna. Esta rede permitirá completar a ligação transversal

entre as duas colinas adjacentes (Bairro Alto/Chiado e Castelo) e o vale (Baixa) e criar ligações

verticais que promovam a relação com o Rio Tejo e a zona ribeirinha. É ainda importante a

criação de parques de estacionamento capazes de dar resposta às necessidades acrescidas

pela relocalização de escritórios e habitação.

– A aposta na criação de um «espaço público de excelência» aproveitando a redução do

tráfego automóvel para redesenhar perfis de ruas tendo em conta a melhoria das condições

para o desenvolvimento de actividades pedonais e a sua relação com os espaços de comércio,

serviços e lazer. A repavimentação dos espaços é também uma prioridade, recorrendo a

pavimentos pouco ruidosos para a circulação viária e enquadramentos em lajedo para os

pavimentos em calçada portuguesa, promovendo maior conforto na circulação pedonal.

2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO

Percebidas as razões que levaram à escolha da área de intervenção e da forma como será

realizada a intervenção, é importante proceder à caracterização e identificação da área onde se

inserem os casos de estudo.

Pretende-se estabelecer uma base integrada do conjunto para que mais facilmente se consiga

compreender o papel de cada exemplo em particular.

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102

2.1. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

Figura III.1 – Planta Geral

ZONA 1: COLINA DO CASTELO

A colina de São Jorge, pela sua localização privilegiada no ponto mais alto da cidade, foi o local

eleito para a fundação de Lisboa. Aqui se ergueu o Castelo, bairro existente ainda dentro das

muralhas no topo da colina, núcleo a partir do qual se expandiu progressivamente ao longo da

encosta de uma forma orgânica e irregular «com casas que se multiplicavam em ruelas estreitas e

becos»42

.

Esta ocupação, com um carácter claramente medieval, definiu a malha urbana que se reconhece

actualmente nesta zona. Uma estrutura que se desenvolve em patamares, definidos por eixos

primários concêntricos à muralha do Castelo (actual Costa do Castelo e R. Santo António dos

Milagres) que são ligados entre si por eixos secundários, radiais com grandes declives. Estes

42 José-Augusto FRANÇA – Lisboa: Urbanismo e Arquitectura, 5ª Edição. Lisboa: Livros Horizonte, 2005, p.9

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103

últimos estabeleciam, e estabelecem ainda, a ligação entre a parte alta e baixa da colina, sendo o

principal, o actual eixo do eléctrico (R. de Santo António à Sé, Largo da Sé, R. Augusto Rosa,

Largo de S. Martinho e R. Limoeiro).

Os eixos principais, a par com os largos de maior relevância na colina, desempenhavam o

importante papel de ligação das portas da muralha entre si e de ligação aos centros cívicos e

religiosos, localizados sempre junto a estes espaços estruturantes.

Todas as outras ligações são estabelecidas por ruas estreitas geralmente muito íngremes, em que

muito comummente as travessas e becos se desenvolvem em escada.

Uma outra característica desta malha urbana é a existência de vários espaços de estar

arborizados que vão surgindo ao longo de toda a encosta, com importante função paisagística, por

vezes associados a vistas (miradouros) outras associados a edifícios importantes (adros de

igrejas, palácios, etc.).

Este é um dos poucos núcleos que se mantém ainda com um traçado medieval tendo como

funções predominantes a residencial e a turística.

ZONA 2: BAIXA POMBALINA

Colocada entre a Colina do Castelo e a de São Francisco (Chiado e Bairro Alto), trata-se de um

aterro resultante de assoreamentos sucessivos do vale formado pela foz de duas ribeiras e

reforçado pelos escombros resultantes do terramoto de 1755, que serviram para elevar e nivelar a

Baixa.

É do plano de reconstrução pós-terramoto que surge a Baixa Pombalina, «um conjunto

estruturado segundo uma malha reticulada hierarquizada (pela dimensão variável das vias

públicas) e diversificada (pela mudança de orientação e dimensão dos quarteirões).»43

As ruas

estão divididas em três níveis que se reflectem na largura, as ruas principais, as ruas travessas e

as ruas secundárias. Esta hierarquia resultou da racionalização do dinamismo da malha existente

antes do terramoto e, também da mesma forma, as igrejas foram reconstruídas não no mesmo

local, mas sim integradas nos quarteirões. A inflexão na implantação dos quarteirões mais a sul

resulta da necessidade de resolver a ligação entre as colinas e entre o rio e o interior.

Este conjunto urbano é ainda enquadrado por duas praças a norte, o Rossio e a Praça da

Figueira, e uma a sul, a Praça do Comércio, todas elas regulares e de dimensões diferentes.

A sua forte identidade reforça a leitura «como Lisboa pensada, programada e edificada» (França,

2005:38), contrapondo-se com evidência à forma natural de implantação nas colinas. De facto,

esta oposição é clara, principalmente com a colina do Castelo já que a diferença de nível é maior

provocando uma clara barreira, em que a R. da Madalena faz a transição. Já com a colina do

Chiado a transição é mais suave, quer pelo declive menos acentuado, quer pela forma como o

próprio plano definiu esta adaptação ao prolongar-se por esta encosta.

43 DGEMN – Baixa Pombalina/Baixa de Lisboa, disponível em: http://www.monumentos.pt

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104

A função preponderante desta área continua a ser a comercial, seguida dos serviços, sendo a

função habitacional actualmente muito reduzida, com um elevado índice de áreas desocupadas.

A fácil transição entre colinas, zona ribeirinha e Baixa é muito importante para a vitalidade desta

área e para a melhoria das condições de vida dos residentes das colinas.

Escolheram-se três casos de estudo, um em cada zona identificada e um na transição entre as

duas, com o intuito de perceber como se relacionam.

2.2. ENQUADRAMENTO DOS CASOS DE ESTUDO

A escolha destes três casos de estudo baseou-se na necessidade de avaliar diferentes tipologias

representativas do centro histórico de Lisboa, tipologias estas que pudessem, de alguma forma,

desempenhar um papel determinante na revitalização da Baixa-Chiado, partilhando de uma leitura

coerente e integrada de toda esta intervenção sem no entanto perderem a identidade que lhes é

própria, quer seja pela tipologia que representam, quer seja pelo local e envolvente que as define.

Para proceder a uma intervenção é necessário analisar cada uma das situações de forma a

identificar os problemas e condicionantes para, posteriormente, poder formular soluções

adequadas.

Assim, os casos de estudo escolhidos para esta análise e proposta são:

– 1º Caso de estudo – Rua da Vitória

– 2º Caso de estudo – Largo Adelino Amaro da Costa

– 3º Caso de estudo – Calçada Marquês de Tancos

Figura III.2 – Planta de Localização dos Três Casos de Estudo

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105

2.3. AVALIAÇÃO DOS CASOS DE ESTUDO – METODOLOGIA DESENVOLVIDA

A avaliação da situação actual dos três casos de estudo inicia-se com a definição e

enquadramento histórico do lugar, seguida da aplicação da metodologia desenvolvida ao longo

dos dois primeiros capítulos deste trabalho. Esta metodologia, organizada sob a forma de ficha de

avaliação pretende servir como ferramenta de apoio ao trabalho de campo.

Tabela III.1 – Ficha de avaliação da adequação do pavimento ao uso

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106

1º CASO DE ESTUDO – RUA DA VITÓRIA

A Rua da Vitória (antiga Travessa da Vitória) é uma das ruas definidas na hierarquia pombalina

como travessas, a sua largura é de cerca de 10m com um ligeiro alargamento no troço em frente à

igreja de S. Nicolau (14m). O seu topónimo, tal como o de quase todas as travessas, deriva da

ermida ali existente antes do terramoto e que, neste caso, foi reconstruída e integrada no 1º

quarteirão oeste.

O plano de reconstrução da Baixa previa já a pavimentação das ruas com calçada e a introdução

inovadora de passeios laterais que incorporassem um sistema de esgotos como contributo para

uma cidade mais salubre (França, 2005). A Rua da Vitória não era excepção.

Figura III.3 – Rua da Vitória

a. Rua da Vitória em frente à igreja de São Nicolau | AML: Benoliel, início do séc. XX

b. Rua da Vitória em frente à igreja de São Nicolau | Fotografia de Autor, 2008

c. Rua da Vitória | AML, Armando Serôdio, 1963

d. Rua da Vitória | Inês Costa, 2006

Com o aparecimento de novas formas de circulação e o aumento considerável do seu tráfego, a

parte central da rua começou a ser ocupada, principalmente por carroças e carruagens, tornando-

se mais difícil a actividade pedonal. No entanto, é com o advento do automóvel que este espaço

deixa de ser partilhado e que o peão se vê forçado a circular apenas na zona do passeio, vendo-

se obrigado a quebrar o seu percurso a cada cruzamento para dar prioridade ao automóvel.

Actualmente percebeu-se a necessidade de valorizar a Baixa de Lisboa, devolvendo-a ao peão, e,

a par com muitas outras ruas, esta passou a ser pedonal, interrompida apenas por 3 ruas de

tráfego intenso.

Uma das características que diferencia esta das outras ruas transversais é a sua centralidade na

malha urbana. A Oeste está limitada pelo edifício dos Armazéns do Chiado, embora de certa

forma mantenha a continuidade uma vez que a saída da estação do metropolitano Baixa-Chiado

está no seu alinhamento. Esta estação de metro é importante, não só por ser uma das estações

com maior utilização como também pela ligação que estabelece com a colina do Chiado/Bairro

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107

Alto, já que a outra saída se situa no Largo do Chiado, o fluxo diário de pessoas que aqui chegam

é muito intenso. A Este a rua é limitada por um quarteirão contínuo de edifícios, situados ao longo

da Rua dos Fanqueiros, funcionando como muro de contenção da Rua da Madalena que já se

estabelece a uma cota muito superior neste alinhamento.

Figura III.4 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) da Rua da Vitória

Esta rua, ao nível do piso térreo, é maioritariamente comercial, não fugindo à regra desta zona.

Quanto aos restantes pisos, muitos estão a ser usados como serviços e uma grande parte estão

devolutos, havendo apenas uma ou outra fracção habitada.

Ao todo esta rua é composta por 8 cruzamentos, 4 com ruas principais e 4 com ruas secundárias

alternadamente, e surgem diversos tipos de cruzamento, em passeio contínuo e com semáforo e

passadeira. Os cruzamentos originam troços de rua, por vezes com tratamento distinto ou apenas

segmentados pela intersecção, importante será então identificar quais as características de cada

parte, apresentadas na ficha de avaliação que se segue.

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108

Tabela III.2 – Ficha de Avaliação da Rua da Vitória

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Quanto ao tipo de actividades existentes na R. da Vitória:

– Maioritariamente circulação pedonal por ser um eixo de ligação e distribuição na Baixa;

– As paragens são quase sempre de curta duração;

– Poucos locais apropriados para sentar;

– A rua é constantemente interrompida por cruzamentos de circulação viária.

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111

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A Rua da Vitória, apesar de se tratar de uma rua pedonal, é predominantemente um espaço de

passagem, quer pelo facto de pertencer ao eixo dominante de ligação à colina do Chiado/Bairro

Alto (através da estação de metro Baixa/Chiado), quer pelo carácter actual da Baixa como ponto

de passagem e interface entre vários meios de transporte.

2º CASO DE ESTUDO – LARGO ADELINO AMARO DA COSTA

Pode dizer-se que o Largo Adelino Amaro da Costa, tal como se apresentou na definição desta

tipologia, surge como espaço de desafogo neste local de confluência de ruas. No entanto, este

largo foi antes do terramoto uma praça (Praça da Bela Vista e, mais tarde, Terreiro do Ximenes)

tendo sido reduzido a largo quando da divisão da propriedade aí existente em vários lotes (Largo

do Conde de São Vicente, Largo de Caldas e actualmente Largo Adelino Amaro da Costa).

Figura III.5 – Largo Adelino Amaro da Costa

e. Vista geral do Largo Adelino Amaro da Costa de 1944 | Arquivo Municipal de Lisboa: Horácio Novais, 1944

f. Vista geral do Largo Adelino Amaro da Costa actual | Fotografia de Autor, 2006

Localizado na zona de fronteira entre a malha ortogonal da baixa pombalina e a malha irregular

característica da colina do castelo, pode funcionar como chave para um bom relacionamento entre

as duas áreas, pode vir a ser a costura das duas malhas. Actualmente a sua utilização é quase

exclusivamente automóvel, quer por estar adjacente à R. da Madalena, que faz parte da malha

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114

pombalina mas está já adaptada à morfologia do terreno da colina, quer pela distribuição que faz

para as outras três ruas também de tráfego automóvel livre.

Figura III.6 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) do Largo Adelino Amaro da Costa

O Largo Adelino Amaro da Costa, apesar de servir apenas de estacionamento, é contido por

vários edifícios de diferentes usos mais ou menos relacionados com o exterior. Deste modo, a

Oeste o largo é limitado pela R. da Madalena, ou caso se considere o largo até à fachada dos

edifícios, são as funções comerciais que definem o seu contorno, tal como a Sul. Os pisos

superiores destinam-se a habitação e terciário. A Este existe apenas uma entrada para a sede do

CDS e a Norte situa-se a entrada para um hospital particular.

O Largo Adelino Amaro da Costa actualmente funciona como ponto de convergência/distribuição

de várias ruas, descritas e avaliadas na ficha que se segue.

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Tabela III.3 – Ficha de avaliação do Largo Adelino Amaro da Costa

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Quanto às actividades pedonais no largo Adelino Amaro da Costa:

– A circulação pedonal é escassa, no entanto é feita livremente, mesmo pelas vias automóveis;

– São muito poucas as paragens realizadas neste espaço e reduzem-se às necessárias;

– Quanto a locais para sentar, são inexistentes.

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Em relação às actividades viárias:

– São predominantes neste espaço;

– O tráfego é mais rápido e intenso na R. da Madalena;

– A circulação no largo é principalmente de distribuição para a colina do Castelo;

– O largo está repleto de automóveis estacionados que ocupam todo o espaço possível, incluindo

os passeios reservados aos peões.

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Quanto à placa central, dedicada exclusivamente a circulação e estacionamento de veículos, é

composta por calçada grossa de basalto ladeada por passeios sobrelevados em calçada miúda de

calcário branco, que envolvem os edifícios. Tem ainda uma placa no mesmo material que separa a

R. da Madalena criando o prolongamento do passeio pedonal, embora muito obstruído por

automóveis e mobiliário.

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3º CASO DE ESTUDO – CALÇADA DO MARQUÊS DE TANCOS

A Calçada do Marquês de Tancos é uma rua íngreme e pavimentada com calçada. Entre as várias

épocas registadas em fotografia é facilmente perceptível que não sofreu grandes alterações, e

mesmo ao nível do pavimento parece ter mantido as mesmas características desde a sua

pavimentação em calçada, sendo a alteração mais significativa, o alargamento do passeio embora

continue a ser muito escasso.

Figura III.7 – Evolução da Calçada do Marquês de Tancos

a. | Benoliel, 1912

b. | Eduardo Portugal, 1945

c. | Eduardo Portugal, 1945

d. | Fotografia de Autor, 2007

e. | Fotografia de Autor, 2008

f. | Fotografia de Autor, 2007

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Como característica da malha irregular e espontânea que se identificou anteriormente, esta rua é

um eixo secundário e radial que estabelece a ligação entre dois eixos principais concêntricos à

muralha do Castelo. O seu declive é acentuado, cerca de 17% de inclinação de forma a vencer o

desnível entre estes dois patamares (cerca de 18m).

A Calçada do Marquês de Tancos tem como ponto de partida (sentido Noroeste/Sudeste) o Largo

de S. Cristóvão, no seu cruzamento com o Largo da Atafona e a R. da Achada, e termina quando

alcança a Costa do Castelo.

Figura III.8 – Esquema dos Usos Actuais (Piso Térreo) da Calçada do Marquês de Tancos

Têm frente para esta rua, dois edifícios de habitação contíguos ao palácio Marquês de Tancos,

onde se sediou a EGEAC (Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural), e do outro

lado o grande edifício, antigo Mercado abastecedor do Chão do Loureiro, actualmente

desactivado. Neste edifício funciona apenas no seu terraço, acessível pela cota superior desta rua

e através de umas escadas, um quiosque/bar tirando partido da localização privilegiada com uma

vista desafogada sobre Lisboa. Também nesta cota superior da rua, aproveitando o alargamento

da calçada, que embora com algum declive permite a implantação de uma pequena esplanada,

situa-se um restaurante/bar.

Quanto ao trânsito automóvel é de sentido único, e procede-se de Noroeste para Sudeste (sentido

da subida), tem um corredor lateral de estacionamento permitido, no entanto, quase sempre se

estaciona também no lado oposto da rua, em locais de proibição.

De uma forma geral o perfil desta calçada é composto por uma faixa central com cerca de 6m de

largura, a Nordeste um passeio em rampa com uma largura de 2m e a Sudoeste um de 1.5m em

escadas rampeadas para facilitar a subida, acompanhado pela fachada do antigo Mercado.

Surgem duas excepções a este perfil, no início e fim da rua, com alargamentos que permitem a

criação de situações diferentes como será indicado de seguida.

Analisar os diferentes momentos da calçada é importante agora que já se construiu a sua imagem

global. Segue-se então a ficha de avaliação onde consta a análise dos vários momentos que

compõem este espaço público.

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122

Tabela III.4 – Ficha de Avaliação da Calçada do Marquês de Tancos

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123

As actividades pedonais na Calçada Marquês de Tancos:

– A circulação pedonal faz-se principalmente ao centro da via, em comunhão com o automóvel;

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124

– Parar faz-se principalmente por obrigação. No topo da rua, sentar e parar é potenciado pelo

alargamento arborizado com vista desafogada sobre Lisboa com esplanada.

Quanto às actividades viárias:

– A circulação é feita com alguma dificuldade uma vez que a inclinação é elevada o que potencia

um ambiente poluído e ruidoso, no entanto também faz com que o tráfego seja mais lento

permitindo a convivência mais pacífica com o peão;

– O estacionamento é feito nos dois lados da rua, mesmo em zonas de proibição.

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A Calçada Marquês de Tancos, tal como já foi referido, apresenta diferentes perfis consoante as

necessidades de adaptação à morfologia do terreno:

Na análise deste caso de estudo é visível a inadequação do tipo de pavimento a algumas

situações, ou a utilização indevida dos diversos pavimentos existentes.

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127

3. REFLEXÃO SOBRE UMA PROPOSTA DE REPAVIMENTAÇÃO

Integrado no plano geral da revitalização da Baixa/Chiado, pretende-se agora ilustrar que tipo de

intervenção pode ser realizada ao nível do pavimento para responder às premissas e

necessidades actuais destas zonas.

3.1. RUA DA VITÓRIA

TIPOS DE UTILIZAÇÃO A POTENCIAR

A sua centralidade na malha, juntamente com a importância que poderá vir a ter na relação entre

colinas, faz com que tenha potencial para se afirmar através de uma identidade própria, uma

linguagem que se destaque das outras ruas transversais desta malha. Um pouco à semelhança do

que foi feito para o importante eixo que representa a R. Augusta nas ruas primárias, contudo sem

pôr em causa a sua leitura.

Desta forma, é importante diferenciar esta rua das restantes, permitindo que demonstre o seu

lugar na malha sem descurar a sua funcionalidade primária e a adequação aos utilizadores a que

se destina. Pretende-se servir as seguintes actividades:

– Como eixo principal de ligação entre colinas a necessidade de servir adequadamente as

actividades de circulação pedonal impõe-se como objectivo principal para o seu pavimento;

– O predomínio das actividades comerciais desta rua e de toda a baixa devem ter em conta os

seus clientes mais habituais, turistas e transeuntes e, devem poder assegurar os bens

necessários para garantir o bem-estar e conforto de futuros moradores;

PROPOSTA DE PAVIMENTO

Para uma melhor adequação à utilização a que se destina este eixo, apresentam-se agora as

diversas características necessárias para a pavimentação da Rua da Vitória, baseadas na

metodologia apresentada ao longo do trabalho.

É importante definir o papel que o pavimento deve assumir na definição do espaço público, ou

seja, a sua maior ou menor imposição e definição. Desta forma apresenta-se o tipo de carácter

pretendido e as características que concorrem para esse carácter:

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128

Tabela III.5 – Identificação do Carácter a Potenciar na Rua da Vitória

Carácter Aspectos físicos Aspectos visuais

1 Simbólico ► Embora possa não apresentar

todas as condições para uma circulação confortável a

Calçada Portuguesa deve ser integrada nesta solução de pavimento.

► Pela nobreza do material que é a pedra, esta solução deve

ser integrada com o lajedo que representa uma solução de maior conforto na

circulação e mais resistente.

► A Rua da Vitória, como parte integrante da Baixa

Pombalina, deve integrar na sua identidade este ícone do país que é a Calçada

Portuguesa.

► A localização e importância

desta rua obrigam a utilização de materiais nobres.

Figura III.9 – O simbolismo da calçada portuguesa

Fotografia de autor, 2007

2 Visual – Comunicativo

► Identificar os cruzamentos através de mudanças na

textura do pavimento.

► Potenciar a redução de

velocidade.

► Garantir materiais que

mantenham as suas características (durabilidade).

► Identificar os cruzamentos

através de cores ou diferentes disposições no pavimento.

► Identificar as zonas de estar ou dedicadas a actividades

comerciais com outro tipo ou disposição de pavimento.

► Alertar para os perigos mantendo sempre a

continuidade da rua.

Figura III.10 – Informação visual e táctil do cruzamento

Sérgio Redondo, 2006

3 Orientador

► Garantir uma materialidade

que possibilite um andar confortável sem irregularidades e obstáculos.

► Esta direccionalidade pode ser conseguida através de

necessidades funcionais, tais como a que se vê na fotografia, com canais de

drenagem.

► Como eixo de ligação que

pretende ser, é importante potenciar um percurso, direccionando o utilizador.

► Como rua pedonal e comercial esta

direccionalidade deve ser associada a um padrão estimulante e atractivo que

crie uma cadência no movimento.

Figura III.11 – Informação de um percurso a seguir

Sérgio Redondo, 2007

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129

3.2. LARGO ADELINO AMARO DA COSTA

TIPOS DE UTILIZAÇÃO A POTENCIAR

Como zona de costura das duas malhas, a pombalina e a medieval, é importante que consiga

resolver o conflito que daí advém. Conjugar uma malha ortogonal e imposta com uma malha

orgânica e espontânea não é tarefa fácil, mas este é, de facto, um dos pontos onde a transição se

processa.

Em termos de usos a transição também é visível, mesmo ao nível do piso térreo, em que se passa

de uma situação totalmente de comércio e restauração para uma situação mista, pois a fachada

adjacente à R. da Madalena continua a ser dedicada ao comércio, mas as outras misturam já

outro tipo de funções.

Interessa perceber, então, que papel deverá ter este largo e que actividades devem ser

potenciadas já que actualmente se destina apenas a estacionamento, perdendo todo o sentido de

espaço de desafogo que deveria ser.

– Actividades de encontro, descanso e lazer que possam simbolizar a confluência de ruas, a

bolsa de respiração, tal como parece ser ao olhar para uma planta;

– Como ponto de distribuição é importante que potencie a leitura fácil do próprio espaço e da rede

que lhe está adjacente, criando a hipótese de poder circular sem criar conflitos;

– Para poder estabelecer a costura entre as malhas é importante que a R. da Madalena passe a

ser parte integrante deste largo em vez de ser apenas marginal, potenciando a interacção

visual entre peão e automóvel.

PROPOSTA DE PAVIMENTO

São muitos os problemas actuais deste Largo todos derivados da utilização de um suposto espaço

de desafogo, como parque de estacionamento desregrado e abusivo.

Para que possa funcionar é necessário tomar medidas que impeçam este tipo de situações e que

potenciem o seu carácter de repouso e respiração.

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130

Tabela III.6 – Identificação do Carácter a Potenciar no Largo Adelino Amaro da Costa

Carácter Aspectos físicos Aspectos visuais

1 Visual – Estético ► Como espaço de desafogo

pretende-se criar zonas de descanso e encontro

recorrendo a tipologias de pavimento resistentes e que mantenham as suas

qualidades ao longo do tempo.

► O pavimento deve ser base

para o desenvolvimento de diversas actividades, incluindo a circulação viária de uma

forma integrada e participativa.

► Potenciar o carácter de

estada do lugar através de padrões ou estereotomias detalhadas.

► Evitar grandes extensões de calçada de calcário

branco ou outro material de cor clara, incómodos para a visão.

► Garantir a leitura rápida de todo o espaço e permitir

visualizar alinhamentos e percursos a seguir.

Figura III.12 – Estereotomia detalhada potencia o descanso

FNI

2 Organizativo

► Se é impossível evitar a

utilização do automóvel então torna-se importante integrá-lo

evitando a excessiva fragmentação dos espaços.

► Recorrer a soluções de pavimento que moderem a sua velocidade.

► A base para um espaço partilhado é a definição de

regras através do pavimento.

► É importante potenciar o contacto visual entre os diversos utilizadores.

► Integrar as várias actividades como forma de

relacionar as duas malhas evitando o conflito.

Figura III.13 – “Shared Space” de Hans Monderman

FNI

3.3. CALÇADA DO MARQUÊS DE TANCOS

TIPOS DE UTILIZAÇÃO A POTENCIAR

A Calçada do Marquês de Tancos pertence, como consta na análise realizada anteriormente, a um

bairro histórico de malha medieval e serve de ligação entre dois patamares da colina. Como tal, a

sua elevada inclinação e reduzida largura introduzem alguns constrangimentos tanto ao nível do

pavimento como de actividades possíveis de realizar.

Toda a encosta do Castelo, embora apresentando alguma degradação, tem um carácter bastante

residencial, embora esta rua, actualmente, não tenha muita habitação. Assim, as actividades a

potenciar nesta calçada, representativa daquilo que se passa um pouco por toda a colina são:

– A circulação, pedonal e viária, tem uma importância elevada nesta tipologia já que a sua

função primária é ser elemento de ligação. No entanto, a circulação viária deste núcleo deve ser

reservada a moradores e outros veículos autorizados uma vez que não deve ser utilizada como

zona de passagem;

– Para apoio à habitação é importante contemplar serviços e comércio adequado a esta escala,

sendo que existe actualmente uma mercearia no início da rua e um ou outro café já na cota da

Costa do Castelo;

– Por ser o bairro histórico de Lisboa onde se localiza o Castelo de S. Jorge, o turismo tem

também forte presença ao longo destas ruas e a existência de pequenos espaços de descanso,

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131

tal como o que se vê no topo da calçada e muito por todo o lado nesta encosta, é crucial para o

passeio e descoberta.

PROPOSTA DE PAVIMENTO

Foram já identificados muitos dos problemas que surgem tanto da inadequação do pavimento ao

tipo de funções como da utilização indevida do tipo de pavimentos.

Identificam-se as características e papel preponderante do pavimento neste espaço:

Tabela III.7 – Identificação do Carácter a Potenciar na Calçada do Marquês de Tancos

Carácter Aspectos físicos Aspectos visuais

2 Organizativo ► Torna-se importante integrar

os diferentes utilizadores evitando a fragmentação da

largura da rua que é, já de si, bastante reduzida.

► A velocidade nesta rua é sempre reduzida e não existem cruzamentos, logo, a

integração entre as várias formas de circular é fácil.

► O passeio torna-se desnecessário.

► Um pavimento uniforme,

sem interrupções, faz com que a rua pareça mais larga.

► A utilização de uma diferente orientação dos

elementos de pavimento é suficiente para definir os diferentes espaços.

Figura III.14 – Espaço partilhado

FNI

3 Operacional ► A elevada inclinação cria

algumas dificuldades acrescidas na circulação,

nomeadamente de deslizamento e cansaço.

► Mesmo utilizando materiais e acabamentos anti-derrapantes, é mais cómodo

vencer o desnível através de escadas.

► O pavimento tem também o papel de criar zonas de exclusividade, neste caso, o

pequeno alargamento no topo da rua que permite a criação de uma zona de descanso.

► É característico da colina a existência de pequenas

zonas de estada calcetadas e arborizadas, que funcionam como bolsas de

respiração. Aqui esse carácter é potenciado pela vista desafogada que

oferece depois de um percurso relativamente fechado.

Figura III.15 – Espaço de Estada e Escadas

Olhares, 2007

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133

CAPÍTULO IV. CONCLUSÕES FINAIS

Na necessidade de apurar o papel do pavimento no espaço público urbano definem-se vários

conceitos e noções, cuja clarificação é crucial para o seu entendimento. Desde a definição da

complexa rede urbana que é o espaço público, na sua sempre crescente variedade de tipologias e

formas que se relacionam entre si, até à definição da materialidade dos diversos elementos que

estruturam cada espaço, estende-se um fio condutor que pretende interligar questões de carácter

mais geral com outras mais específicas.

A importância desta leitura integrada reflecte-se também na forma como o pavimento enquanto

chão da vida urbana integra funcionalidades a vários níveis, desde a escala nacional, através da

representação icónica de um país (Calçada Portuguesa), até à escala do lugar, reflectida na sua

capacidade de resolver pequenos obstáculos, passando pela escala da cidade, no modo como

pode potenciar a união de espaços ou edifícios que de outra forma estariam dispersos na malha

urbana.

O leque de soluções de pavimento urbano estende-se muito além do que foi abordado ao longo do

desenvolvimento deste estudo, no entanto os exemplos analisados são suficientes para perceber

a forma como diferentes necessidades exigem diferentes respostas e portanto surgem diferentes

materiais e soluções. Pode-se desta forma concluir, a partir dos resultados da sistematização,

observação e metodologia proposta, que:

- A relação entre chão e uso existe e é recíproca, ou seja, as actividades que se deseja que

aconteçam num determinado espaço condicionam a escolha de pavimentos para esse espaço e

ao mesmo tempo, o pavimento existente em determinado espaço condiciona a sua utilização, que

acaba por se adaptar ao pavimento ou mesmo moldá-lo para uma melhor adequação.

- É oportuna a proposta de uma ferramenta de projecto. A proposta de diversas tipologias de

pavimento, classificadas e avaliadas tendo em conta os aspectos funcionais e estéticos mais

importantes para o seu desempenho, facilita a posterior relação entre pavimentos e actividades.

Uma listagem de pontos fortes e fracos de cada tipologia de pavimento para as actividades

pedonais e para as viárias, torna possível perceber as vantagens e desvantagens na utilização de

determinada pavimentação, uma base de consulta eficaz como ferramenta de projecto.

- As metodologias propostas para avaliação de espaço público, permitem experimentar uma

base analítica que defina a forma como o pavimento corresponde ao tipo de utilização que suporta

e que, em ultima análise, permita concluir sobre a necessidade ou não de reabilitar/revitalizar o

pavimento ou mesmo o espaço onde este se integra.

Do ponto de vista das aplicações, para a realização de uma intervenção, o conjunto de avaliação e

propostas elaborado poderia ter pertinência no contexto do Plano de Revitalização pois chegou-se

à conclusão que é importante perceber qual o tipo de espaço, ambiente e actividade que estão em

causa. O pavimento pode participar, mais ou menos activamente na função integradora e

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134

significante do espaço, de forma a evidenciar/clarificar ou esconder/disfarçar limites, valores e

outras características do próprio espaço, assegurando a leitura da sua continuidade e integração

de diversidades, dentro de um padrão unitário numa dada área urbana. Desta forma, numa

intervenção, é importante definir o carácter que se pretende para o pavimento definindo as linhas

gerais de intervenção e as restrições que estas possam apresentar. O importante é ter sempre

presente a adequação física e estética ao tipo de utilização que existe ou se pretende despoletar.

Esta tese foi realizada no âmbito específico do Centro Histórico de Lisboa o que significa que o

trabalho se enquadra no contexto português, com todas as restrições que isso implica em termos

de tipos de pavimentos e forma de os aplicar.

Actualmente, com o fenómeno da globalização as cidades vão-se confundindo e homogeneizando

e os centros históricos continuam a ser muito tradicionais. Deste modo, seria interessante alargar

o campo de análise a outros tipos de pavimento menos comuns, outros mais recentes, ou mesmo

tentar desenvolver raciocínios que possam levar a novas soluções de pavimento, mas a

metodologia que foi posta em prática neste trabalho restringiu-se à apresentação de linhas gerais

que pretendem ser a base para uma correcta intervenção. Como linha orientadora para futuras

investigações poderia ser importante desenvolver uma metodologia de projecto de pavimento,

mais abrangente, compatibilizando as opções aqui sugeridas com outras, mais adequadas a

zonas urbanas mais recentes e/ou periféricas, mas para a qual o pavimento também desempenha

um importante papel de identificação e suporte do uso, unidade e diversidade de significados.

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135

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