TJSP - Manutenção de Nome No SERASA- Indenização

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  • 7/25/2019 TJSP - Manuteno de Nome No SERASA- Indenizao

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    PODER JUDICIRIOTRIBUNAL DE JUSTIA DO ESTADO DE SO PAULO

    12 CMARA DE DIREITO PRIVADO

    Registro: 2015.0000177677

    ACRDO

    Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelao n0008552-50.2007.8.26.0505, da Comarca de Ribeiro Pires, em que apelanteADMILSON ALVES CRUZ (JUSTIA GRATUITA), apelado ITAUCARDADMINISTRADORA DE CARTES DE CRDITO (BANCO ITUCARD S/A).

    ACORDAM, em sesso permanente e virtual da 12 Cmara de DireitoPrivado do Tribunal de Justia de So Paulo, proferir a seguinte deciso:Deram

    provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto da relatora, que integra

    este acrdo.

    O julgamento teve a participao dos Desembargadores JACOB VALENTE(Presidente sem voto), JOS REYNALDO E CERQUEIRA LEITE.

    So Paulo, 19 de maro de 2015.

    Mrcia CardosoRelatora

    Assinatura Eletrnica

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 2

    Apelao Cvel (com reviso) n 0008552-50.2007.8.26.0505

    Comarca: Ribeiro Pires (3 Vara Judicial)Processo n505.01.2007.008552-2

    Apelante: Admilson Alves Cruz (Justia Gratuita)

    Apelado: Itaucard Administradora de Cartes de Crdito

    Juiz: Isabel Cardoso da Cunha Lopes Enei

    Voto n 1613

    Contrato Bancrio Carto de crdito Ao deindenizao por danos morais Manuteno indevida donome do consumidor junto aos cadastros dos rgos deproteo ao crdito mesmo aps o pagamento da dvidaCompete ao credor a retirada da inscrio, em prazorazovel, aps o pagamento da dvida pelo devedor Danosmorais configurados e devidos in re ipsa Valorindenizatrio fixado em R$ 5.000,00, em observncia aoscritrios da razoabilidade e proporcionalidade Correomonetria devida a partir da data da publicao desteacrdo (Smula n 362 do STJ) e acrescido de juros demora a partir da citao (art. 405 do Cdigo Civil) R queresponde integralmente pelas verbas de sucumbncia(Smula n 326 do STJ). Recurso provido

    Cuida-se de Apelao Cvel objetivando areforma da respeitvel sentena (fls. 88/89) que julgou improcedente a

    ao de indenizao por danos morais movida por Admilson Alves Cruzem face de Itaucard Administradora de Cartes de Crdito, condenandoo autor a arcar com o pagamento de custas, despesas processuais ehonorrios advocatcios, arbitrados, por equidade, em R$ 1.000,00,observado, contudo, o disposto no artigo 12 da Lei n 1.060/50.

    Inconformado, apela o autor (fls. 97/105)

    requerendo a total procedncia de seus pedidos.

    Sustenta que: a) Props a demanda

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 3

    reparatria em virtude da manuteno indevida de seu nome em rgosde proteo ao crdito, por seis meses aps ter quitado integralmente advida com a apelada. Porm, o douto julgador entendeu pelainexistncia do dano moral alegado, devido a novo apontamento porcredor diverso daquele que consta nos autos; b) O supostoapontamento no fora comprovado, pois da resposta do ofcio enviadoao SERASA consta apenas os dados cadastrais do apelante, inexistequalquer informao sobre nova restrio cadastral; c) Danos moraisocorreram. No obstante a liquidao da dvida e o comunicado apelada, esta se manteve inerte e o seu nome permaneceu inscrito noscadastros de inadimplentes, vindo a ser excludo somente aps a

    propositura da presente ao; d) A manuteno dos dados,injustificadamente, por longo tempo, se mostra desarrazoada, injusta, ecausa leso, bem assim, o prejuzo moral presumido e deve serindenizado.

    Em contrarrazes (fls. 108/115), a

    administradora r pede que seja negado provimento ao recurso emantida, em sua ntegra, a respeitvel sentena.

    Recurso tempestivo e isento de preparo, ante agratuidade de justia concedida ao apelante (fls. 22).

    o relatrio.

    O recurso comporta provimento.

    Narra o autor na inicial que, no ano de 2006atrasou o pagamento das faturas do seu carto de crdito Itaucard n5184916379557352, e mediante acordo parcelou a dvida no valor de R$

    278,95, em 05 parcelas de R$ 55,79, sendo a primeira a ser paga em15.12.2006 com trmino em 15.04.2007. Aduz que embora quitado o

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 4

    dbito em maio de 2007, a administradora r no promoveu a exclusodos seus dados dos rgos de proteo ao crdito, tanto que em outubrode 2007, mais de seis meses depois, seu nome ainda continuavanegativado. Tudo a lhe causar srios transtornos, aborrecimentos,angustia e humilhao, razo pela qual pretende ser indenizado.

    Pois bem.

    Extrai-se dos autos que a r incluiu o nome doautor em cadastro de inadimplentes em 11.03.2007, dizendo-se credorada importncia de R$ 139,20, vencida em 26.03.2006 (fls. 16). Aludidadvida mediante acordo entre as partes foi, de fato, paga com atraso,conforme declarado pelo autor: (...) o ltimo pagamento efetuado emmaio de 2007 (...)(fls. 03).

    Desse modo, ainda que a incluso do apelante

    nos rgos de proteo ao crdito tenha ocorrido durante o perodo deinadimplncia, a manuteno da informao negativa aps o pagamentoda dvida apresenta-se como conduta ilcita e geradora daresponsabilizao civil da credora.

    Observe-se que, apesar de quitada a dvida emmaio de 2007, inclusive com declarao de anuncia da prpria

    administradora r (fls.19), em 15/10/2007, o nome do autor aindaconstava dos cadastros do SCPC (fls. 18).

    Conforme reiterado entendimentojurisprudencial, compete ao credor a retirada da inscrio aps opagamento da dvida. E tal retirada deve ser realizada em prazo razovel,assim considerado o prazo de 5 dias, contados da formal cincia, pelo

    credor, do pagamento, por analogia ao previsto no artigo 43, 3 doCdigo de Defesa do Consumidor.

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 5

    Assim, tendo o autor adimplido sua dvidaperante a r, a manuteno de seu nome em cadastros de restrio decrdito em razo do dbito apontado fez-se ilegal. Desta feita, no tendoa apelada agido com a devida diligncia, no pode ser eximida daresponsabilidade civil.

    Se o autor comprovou que houve a quitao dodbito impugnado, resulta evidente que a manuteno de seu nome no

    cadastro de devedores inadimplentes de rgo de proteo ao crdito,por indicao da r foi injusta, sendo inquestionvel que sofreu sriosconstrangimentos, ao se ver envolvido na triste situao narrada.

    Ora, compreensvel que o apelante, nomomento em que foi surpreendido por negativa de crdito, sofreu

    profunda vergonha, reao psquica causadora de sofrimento, posto que

    apta a ferir sua dignidade e, dor que configura dano moral indenizvel,que no necessita de demonstrao, na medida em que se trata defenmeno que afeta qualquer pessoa com um mnimo de preocupao eapreo por sua honra e dignidade.

    Ressalte-se, por oportuno, a inaplicabilidade, incasu, da Smula n 385 do STJ, posto que o documento a fls. 56 em

    nada comprova a preexistncia de apontamentos a afastar a configuraodo dano moral.

    No que tange a fixao ao valor do dano moral,deve-se observar que seu arbitramento levar em conta as funesressarcitria e punitiva da indenizao, bem como a repercusso do danoe a possibilidade econmica do ofensor, no podendo o dano moralrepresentar procedimento de enriquecimento para aquele que se pretende

    indenizar.

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 6

    Nesse sentido, esclarece Caio Mrio da SilvaPereira (Responsabilidade Civil 5 edio Forense p. 317), que sedeve levar em considerao a punio ao infrator pelo fato de haverofendido um bem jurdico da vtima, e colocar em mos do ofendidouma soma que no opretium doloris,porm um meio de lhe oferecer aoportunidade de conseguir uma satisfao de qualquer espcie,amenizando a amargura da ofensa. Deve, ainda, o arbitramento ser feitode forma moderada e equitativa, no tendo o objetivo de provocar o

    enriquecimento de uns ou a runa de outros.

    Observados esses critrios, considerando-se asituao descrita nos autos e os dissabores relatados, a indenizao deveser fixada em R$ 5.000,00 (cinco mil reais).

    Conforme a Smula 362 do C. STJ, o valor ora

    arbitrado a ttulo de danos morais ser corrigido monetariamente acontar da data da publicao deste acrdo e acrescido de juros de moraa partir da citao, de acordo com o disposto no artigo 405 do CdigoCivil.

    Sucumbente, responde a r pelas verbas desucumbncia. Fica anotado, ainda, que em se tratando de ao que versasobre indenizao por dano moral, a condenao em montante inferior

    ao postulado na inicial no implica em sucumbncia recproca (Smulan 326 do STJ).

    Ante o exposto,d-se provimento ao recursoa fim de condenar a r ao pagamento de indenizao por danos moraisno valor ora arbitrado de R$ 5.000,00, que dever ser corrigido a contar

    da data da publicao deste acrdo e acrescido de juros de mora a partirda citao. Tendo a apelada sucumbido dever arcar com a integralidade

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    Apelao n 0008552-50.2007.8.26.0505 - Voto n 1613 7

    das custas judiciais, despesas processuais e honorrios advocatciosfixados em 15% do valor total da condenao.

    MRCIA CARDOSO

    Relatora