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Edição Verão 2012: na capa, Vindima em Bento Gonçalves.
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Beto
Albuquerque
Turismo:
É época de vindima,a temporada de colheita da uva
na Serra Gaúcha, episódio que
se configura, a cada ano que passa,
em uma alternativa de turismo e
entretenimento nas férias de verão.
Cambará do Sul Gastronomia: Empório São João Para beber: Esporte: Vinhos e cervas
artesanais
Arena e Beira-RioEntrevista:
ANO 02
EDIÇÃO 05
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TRENDLINE[MAG] . ANO[02]
Fotos Samuel Ramos
38
44
50
52
56
58
TURISMO / GO THERE
QG DO ESTILO / STYLE
IMIGRAÇÃO ITALIANA / SÉRIE PARTE IV
CULTURA / CULT
IMPEDIMENTO / FÚTBOL
TELEFONE VERMELHO / CRT
A cura para os problemas do ego
Estação Brasil
O cardápio colonial
Temporada de grandes shows
A Copa do Mundo é nossa (das construtoras)
Quem foi que mordeu a maçã?
34
38
54
PARA BEBER / BOOZE
SAÚDE / GOOD LIVING
Vinhos e cervejas artesanais
QUE FOME / FOOD
Comida para atiçar a memória
Correr atrás do peso ideal realmenteemagrece?
24
2416
ENTREVISTA / SPOTLIGHT
Beto Albuquerque e as estradas da Serra
22 MÍDIA / MEDIA TALKING
Publicidade em tempos de crise
Desunião europeia20 MERCADO / MARKET ANATOMY
30
CAPA / FEATURED
Turismo na colheita da uva
08
30
Atendimento telefônico: 54 3242 5793 | 54 9188 3815
Para anunciar: [email protected]
Opiniões e sugestões de pauta: [email protected]
Endereço postal:
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e Iuri Müller (Impedimento.org)
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Greici Audibert
- Cultura
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Caroline Boito Maurmann
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COMERCIAL:
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Trimestral
Próxima edição: Março 2012
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CAROS LEITORES QUEM FAZNessa edição novamente
colocamos o pé na estrada para
quebrar o lugar comum e trazer
mais um tema que é uma tendência
ascendente: o turismo na Serra
Gaúcha não se resume ao inverno.
Para muitas pessoas essa
constatação é uma surpresa, visto
que estão acostumadas a só
relacionar a região com roteiros
oferecidos durante a estação mais fria. Ledo engano.
Ano passado, nesta mesma época, trouxemos uma matéria de capa
sobre o turismo de aventura na região. Rafting, rapel e outras atividades
ao ar livre que são impensáveis durante o inverno - a não ser que você
tenha se criado no Alasca. Desta feita elaboramos mais uma matéria
especial sobre outro roteiro que está ganhando força na região: o turismo
durante a vindima, a época de colheita da uva. Falamos com enólogos,
viticultores e profissionais do trade turístico que trabalham duro durante o
ano todo para que tenhamos, durante o verão, a possibilidade de
acompanhar de perto o clima festivo da safra. Essas atividades não se
tornam apenas alternativas complementares ao tradicional veraneio no
litoral, mas mostram que é possível curtir a Serra na época mais quente.
Com essa edição, nos despedimos de 2011, que foi um ano de afirmação
para nós da Trendline. Para 2012, o ano em que o mondo irá acabar,
esperamos seguir juntos com vocês leitores, quebrando clichês e
descobrindo mais lugares legais que possamos visitar, antes, claro, que o
Sol se apague ou que sejamos abduzidos.
Samuel Ramos, editor, vidente e profeta (Mil Reais a consulta).
Onde encontrarOnde encontrar
www.tlmag.com.br
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ENTREVISTA / SPOTLIGHT
Por Samuel Ramos*Jornalista, editor da Trendline [mag][email protected]
As muitas reclamações que foram dirigidas ao governo estadualesse ano, vinculadas às péssimas condições das estradas daSerra Gaúcha, tiveram um endereço: Beto Albuquerque, Secretáriode Infraestrutura do Estado. Assim, fomos procurar o homem paraouvir dele o que tinha a dizer sobre a situação.
Beto Albuquerque: «Iremosrecuperar as vias da Serra»
A cobrança em cima de Beto Albuquerque foi intensa
no final do inverno 2011. Imprensa e contribuintes
fizeram coro para reclamar - com absoluta razão - da
condição de descaso que pairava sobre importantes
vias de tráfego da região, em especial as RSC’s 324,
470, 453 e 122.
Foi procurando respostas para esse fato que
contatamos a Secretaria de Infraestrutura do RS para
entrevistar o homem que responde pela pasta. Fomos
atendidos pelo próprio Secretário, Beto Albuquerque,
horas antes dele viajar para Brasília, onde buscava
recursos para tocar novas obras viárias para o Estado.
Nossa conversa com ele ocorreu assim:
Beto Albuquerque A cobrança por parte da imprensa
é absolutamente normal, eu encaro esse fato
naturalmente, pois vivemos em um Estado
Democrático. Porém, nesse episódio, que ocorreu
com as rodovias da Serra, mais intensamente entre
agosto e setembro, a imprensa não contou a história
toda.
Todas as rodovias da Serra foram incluídas, no
Governo Olívio, na minha gestão, dentro de um
contrato de manutenção, com recursos do Banco
Mundial, garantidos ainda naquela época. Esses
contratos foram prorrogados no Governo Rigotto e
venceram na metade de 2009.
[mag] A imprensa e as comunidades locais caíram de
pau em você, Secretário. Nós mesmos, aqui da
Trendline [mag], também nos manifestamos de
maneira bem forte quanto a má condição das estradas.
O que, afinal, houve para que chegássemos nessa
situação de abandono?
E o Governo Yeda, desde julho de 2009, impedido por
restrições jurídicas de renovar esse contrato, não
realizou um novo processo para garantir a manutenção
dessas estradas. Como consequência, não houve
restauro, drenagem ou reparos por dois anos
seguidos. Como são rodovias de tráfego intenso,
sevindo inclusive como rota para cargas pesadas que
fogem do pagamento de pedágio na BR 116 e BR 386,
é fácil perceber como as estradas atingiram esse ponto
de degradação. Some a isso, o fato de termos tido 50
dias de chuva na região, o que inviabilizou até mesmo o
trabalho emergencial de recapeamento, e a
consequência foi a ruína de toda a malha viária da
região. Esse é o histórico, e ele se repete em outras
regiões: ao todo, estimo que herdamos cerca de 800
km de problemas, incluindo esses 240 km na Serra.
[mag] E daqui para diante, como o Governo pretende
atacar esse problema?
[mag] A sinalização é um grande problema na RS 122.
À noite quase não se enxerga a marcação da pista.
BA Já temos o projeto elaborado e a licitação aprovada
para recuperar essas quatro estradas: RSC 324, RSC
470, RSC 453 e RSC 122. Esse processo é sempre
demorado, e explica porque só conseguimos liberar
esse projeto depois de dez meses de governo. Já
temos, garantidos, R$ 52 milhões para trabalhar
nessas quatro rodovias. Inicialmente teríamos R$ 44
milhões, mas conseguimos agregar drenagem,
sinalização e restauro, aumentando o valor disponível.
BA E esse é um trecho com pedágio. Há um sistema de
cobrança diferente, comunitário, mas ainda assim é um
pedágio.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]16
TRENDLINE[MAG] . NO[05] 17
«No quesito trechos duplicados, temos apenas 140 km. Nossa meta é duplicar mais 200 km até 2014."
O RS possui cerca de 12.500 km de malha viária estadual. Desses, apenas 7,3 mil km são pavimentados.
Precisamos melhorar muito na gestão das estradas.
Para nós, que pensamos na infraestrutura com o olhar
de planejamento, é um grande desafio.
Desses 800 km que mencionei antes, temos
sinalização ruim, buracos, restaurações mal feitas -
que não chegam a durar um ano.
BA Nosso projeto é fazer uma restauração completa
dessas rodovias, com expectativa de durabilidade,
evitando esse tipo de paliativo que só desperdiça
recursos. Por isso mesmo exigimos que a licitada
fizesse a drenagem, uma operação importante, porque
de nada adianta recapear sem obliterar os trechos em
que ocorre o acúmulo de água. É preciso corrigir
desníveis e fazer canaletas. O que vinha ocorrendo é
que a empresa contratada para fazer os reparos dava
uma espécie de «lambida» no asfalto, e depois pintava.
Porém, sem o escoamento da água, de nada adianta,
na primeira chuva mais forte o buraco aparece de novo.
[mag] Creio que esse é um tópico importante: a
qualidade das restaurações. Vimos muito, na RSC 470
e na RSC 324, o pessoal cobrindo os buracos, mas
depois da primeira chuva eles reapareciam. Ainda
maiores. Dinheiro posto fora.
Iremos fazer drenagem, restauro - com fresagem -,
tratamento de base e sinalização. É um trabalho mais
alongado e completo.
Essas rodovias da Serra, que já mencionamos,
também foram colocadas dentro de um programa de
recuperação, chamado Crema (Contrato de
Restauração e Manutenção de Rodovias), que irá
angariar cerca de R$ 450 milhões junto ao Banco
Mundial, e prevê a revitalização de mais de 1.600 km da
malha viária estadual. Com isso, depois de
restauradas, garantiremos cinco anos de manutenção
contratados para essas estradas.
BA Não. Será feita uma nova licitação, em que a
vencedora será obrigada a drenar, restaurar e sinalizar,
termos que hoje não são cobrados da atual prestadora.
Nossa intenção é restaurar e manter.
Porém, como a assinatura deste contrato com o Banco
Mundial deve ocorrer até maio de 2012, não tínhamos
mais como esperar e já iniciamos o trabalho de
restauração em alguns pontos.
[mag] Essa manutenção será prestada pela mesma
empresa que faz os reparos hoje?
FOTO SAMUEL RAMOS
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]18
[mag] Esse trabalho já é visível em alguns pontos.
Existe um trecho crítico, na entrada de Veranópolis (no
sentido Bento - Nova Prata), que foi totalmente
recapeado. E era um trecho muito ruim, abandonado
durante muitos anos, resultando em um asfalto que
dividia retalhos com buracos e desníveis.
[mag] Estamos aqui falando de problemas atuais e
passados, com relação às vias de tráfego. Mas é
preciso olhar para frente. O Brasil coloca, hoje, 1
milhão de novos veículos nas ruas a cada três meses.
Em Caxias e em Porto Alegre, as perimetrais que foram
feitas nos últimos anos já nasceram esgotadas.
BA O que foi feito até hoje, no mês de novembro de
2011, ainda é emergencial. Mesmo o recapeamento de
um trecho longo e abandonado, como era esse, ainda
não está dentro daquilo que queremos. O padrão do
que estamos nos propondo a executar é de não repetir
a simples cobertura dos buracos. Mesmo nas ações
emergenciais, iremos exigir mais durabilidade nos
reparos.
Quando a mídia nos cobrou uma solução definitiva,
durante o período de intensas chuvas, era impossível
realizar algo. Então, hoje, com uma condição de clima
mais favorável, é possível que consigamos realizar
esses reparos com a qualidade que desejamos -
sempre frisando que eles ainda são emergenciais - e
também dão a tônica sobre como serão os trabalhos
definitivos.
BA Infelizmente a velocidade com que a frota está
crescendo não pode ser alcançada pela construção de
novas vias. Essa é a dura realidade. Para se planejar e
construir uma estrada você leva de três a quatro anos.
E nesse mesmo período você terá de 30 a 40% a mais
de tráfego. Assim, é como você disse: as estradas
novas já nascem com a capacidade ultrapassada
antes mesmo de serem inauguradas.
O histórico no RS também não ajuda muito. Dos 12,5
mil km de malha estadual, temos apenas 140 km
duplicados. São estradas antigas, traçadas há muitas
décadas, e que receberam um baixo volume de
investimentos. Estamos vistoriando 952 pontes do
Estado, que precisam ser verificadas, pois não foram
construídas para aguentar a capacidade de carga que
os caminhões transportam hoje em dia - algumas
vezes, 50 ou 60 toneladas. Na média, são pontes feitas
para suportar 23 toneladas.Recapeamento de trecho crítico
Veranópolis foi feito com a troca total da camadaasfáltica. Segundo Beto Albuquerque, essas
ainda são ações emergenciais.
na entrada de
O transporte aqui no Brasil, enquanto avanço
tecnológico e comercial, evolui em uma velocidade
muito maior do que a que o sistema de infraestrutura
pode acompanhar. Essa tarefa é também complicada,
pois ao mesmo tempo em que demandas legítimas nos
cobram para melhorar e ampliar as vias, há muitas
cidades que nunca tiveram acesso asfáltico. No RS são
104 municípios que sempre ficaram à margem dos
investimentos. Pretendemos atender também a essas
cidades.
BA Estamos trabalhando para conseguir essa
extensão entre Sapucaia e Portão, fazendo com que o
acesso da Serra para Porto Alegre possa ser feito sem
a BR 116.
[mag] A Rodovia da Serra, projeto que integra o
prolongamento da Rodovia do Parque (BR 448, que
ligará Sapucaia do Sul a Porto Alegre), ajudará nesse
sentido, visto que desobstruirá a BR 116.
FOTO SAMUEL RAMOS
Recentemente sobrevoamos essa área, eu, o
Governador Tarso Genro, e o Ministro dos Transportes
Paulo Sérgio Passos, então ainda não temos estudos
técnicos, mas sim uma avaliação preliminar. Nós
queremos que a nova rodovia seja expandida até a
cidade de Portão, disso não há dúvidas. Trata-se de um
trecho curto, são apenas 17 km, e precisaremos de R$
10 milhões em 2012 para fazer todos os estudos e os
projetos da estrada. Já existe um trecho de estrada de
chão, o que facilita, porém precisaremos também de
uma ponte que cruze o Rio dos Sinos, e essa é a parte
mais cara.
O maior problema reside em Portão, onde hoje existe
um grande aglomerado urbano na área prevista para
fazer a conexão com a BR 448. O investimento para
desalojar essas pessoas dali não é baixo. É um gargalo
visualizável, e não é pequeno. Talvez até tenhamos que
substituir esse ponto indicado para fazer a conexão por
algum outro local menos povoado. De qualquer forma,
a sinalização que recebemos do Ministério foi, até o
momento, muito positiva - o que não significa que já
possamos falar em prazos, visto que essa é uma obra
que não deve ser iniciada em 2012.
[mag] Embora não seja uma agenda da sua pasta, o
Sr. acha que o pedágio entre Caxias e Farroupilha
terminará mesmo em 2013?
BA Esse pedágio tem data marcada para acabar.
Ele termina em 2013, e isso não discute. Qualquer que
seja o desfecho das tratativas daquele trecho, a
cobrança termina no prazo acordado. É uma decisão
do nosso governo.
BA A federalização está indo muito bem. Essa é uma
rodovia que é federal do Porto de Itajaí até André da
Rocha. Apenas no RS ela é estadual. Não queremos
federalizar para fugir do problema, mas para resolver
os graves problemas que ela tem, sobretudo na Serra
das Antas. O Governo Estadual não tem como
trabalhar sozinho nessa empreitada.
Todas essas melhorias que conversamos aqui serão
seguidas de maior atenção, mas também iremos
aumentar a fiscalização, sobretudo no excesso de
peso das cargas - que muito contribuem para a
deterioração das estradas. Muitos motoristas
reclamam das rodovias, mas trafegam com 50, 60 e até
70% de excesso de peso.
Iremos fazer controles, e não serão balanças fixas.
Iremos andar com equipamento móvel e fazer
abordagens para coibir essa atitude. Estamos
investindo R$ 55 milhões nessa tecnologia e iremos
colocá-la em operação no ano que vem.
[mag] E a federalização da RSC 470?
TRENDLINEMAG . NO[05] 19
RSC 324, que liga Bento Gonçalves a Passo Fundo, possui alguns dos trechos mais críticos do Estado.Segundo Beto Albuquerque, ela será duplicada de Passo Fundo a Casca.
FOTO NAURO NIZZOLA / DIVULGAÇÃO
MERCADOS / MARKET ANATOMY
Por Jarbas Gambogi*http://mercadoemquatrodimensoes.blogspot.com/* Diretor de mercado de capitais em diversos bancos de investimentos; Diretor de Finanças Internacionais da FIESP em 1999; atualmente Gestor Independente de Carteiras registrado na CVM.
Assim como tudo que sobe há de descer, longos períodos de crescimento econômico inexoravelmente desembocam em monumentais crises.
A mesma crise, um novo continente
Parece um paradoxo, mas o desenvolvimento
econômico que marcou o mundo nas últimas décadas,
pontuado por uma expansão na concessão de
empréstimos que ultrapassou todos os limites do bom
senso, ainda é o responsável pela crise que assola o
mundo desde 2008.
A novidade, nesse ano, foi que a mesma crise
apresentou um novo epicentro: a Europa.
Mantendo a lógica, em algum momento a crise deverá
atravessar o Oriente Médio e atingir a China, porém o
timing para essa projeção é pouco acurado, pois não
temos como saber quantas balas os chineses ainda
possuem em seu canhão antirrecessão. O que
sabemos é que eles já gastaram uma fração razoável
do arsenal e algumas consequências estão
aparecendo na mídia - sobretudo com as notícias
sobre paralisações de grandes obras.
Um conhecimento rudimentar sobre a psicologia
humana ajuda a compreender o paradoxo acima: o
cérebro tende a pegar tendências passadas e
extrapolar a sua aplicação na linha presente e futura,
como se o mundo real fosse uma mera equação.
Entretanto, o futuro é uma equação multivariável,
impossível de ser compreendida pelo mais genial dos
seres humanos. Mesmo assim, quanto maior for a fase
de crescimento econômico, mais irrealistas serão as
projeções sobre o longo prazo - todas, claro,
ancoradas no passado.
Ato contínuo entre os empreendedores, todos os
grandes projetos empresariais são concebidos a partir
de premissas sobre o futuro.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]20
A matéria de capa da revista acima - propositadamente não identificada -, de maio de 2009,convidava o leitor a «bombar» na bolsa de valores. Por ironia, menos de seis meses depois da publicação,o índice cairia quase 50%.
Por essa razão, mesmo durante as longas fases de
prosperidade, o crescimento é ciclicamente
interrompido por breves recessões, geralmente
provocadas por aumentos substanciais da capacidade
produtiva, que podem decorrer de estimativas por
demais otimistas ou pelos surtos inflacionários.
Há ainda outro fator: em geral, décadas a fio de
crescimento, que podem atravessar gerações,
apagam da memória coletiva as lembranças das
severas recessões pelas quais já passamos. Quem
conviveu com pessoas que passaram pela Grande
Depressão da década de 30 sabe que eles viviam sob a
sombra de uma grande recessão mundial, mesmo
décadas depois de ela ter terminado.
Desde 2008 os líderes europeus vêm negando a
realidade sobre quão frágil é seu sistema bancário que,
a exemplo das instituições norteamericanas,
concedeu enormes somas de créditos a devedores
sem a capacidade de honrar os compromissos
assumidos.
A maioria dos investidores se esqueceu - ou
desconhece - da regra de que os políticos não agem,
apenas reagem, e quase sempre por atalhos que
geram a menor dor (para eles) no curto prazo. As
medidas anunciadas em outubro pelo Conselho
Europeu para socorrer o sistema bancário são meros
remendos.
O processo de desalavancagem dos bancos europeus
terá um longo caminho a percorrer. Na média o índice
de alavancagem do sistema financeiro europeu é o
dobro do norteamericano e a sua redução será
inexorável. Os bancos europeus a reduzirão por meio
do emagrecimento de suas operações ativas, caminho
que resultaria em nova recessão, ou pela captação de
recursos mediante lançamentos de novas ações nos
mercados de capitais. A segunda opção seria a melhor,
todavia os bancos não mais encontrarão investidores
sedentos por novas captações, como antes da crise
em 2008.
Temos pela frente um longo período de baixo
crescimento mundial, com surtos de expansão
intercalados por recessões.
O gerenciamento do risco será fundamental para a
sobrevivência dos investidores e, por isso mesmo, é
preciso avaliá-los com cuidado. O gerenciamento dos
investimentos, tendo por base as regras número 1 e 2
de Warren Buffet (1. Não perca dinheiro; 2. Releia a
primeira regra) deve ser posta à frente de possíveis
retornos polpudos.
A gestão patrimonial nas fases de grande crescimento
é muito facilitada pelo fato de que os desequilíbrios
ficam mascarados.
Já durante as crises estruturais, esqueletos de toda a
sorte saem dos armários tornando difícil, quase
impossível, a tarefa de traçar cenários de longo prazo.
A única saída é aceitar a convivência com a incerteza –
postura que causa um enorme desconforto na maioria
das pessoas - e aprender a reconhecer os momentos
singulares de pânico entre os investidores, que é
quando surgem as barganhas.
Encurtar horizontes e esquecer a regra máxima de
comprar e segurar também são boas dicas em
momentos como esse.
TRENDLINEMAG . NO[05] 21
Não há resposta fácil para essa pergunta: Como e
quanto investir em tempos de crise?
A questão envolve investimentos que são, muitas
vezes, volumosos, assunto proibido na maior parte das
empresas quando o noticiário é envolvido pela palavra
crise. Porém acredito que antes de focar na resposta a
esse questionamento, devemos nos perguntar
primeiro se a crise realmente existe.
Em tempos de relativa estabilidade financeira no Brasil
(a última recessão de verdade ocorreu há dez anos),
essa pergunta não só é pertinente como indispensável.
Quando a palavra mágica “crise” surge na imprensa,
uma grande parte de empresários e empreendedores
se assustam e se antecipam a um período de
dificuldades, situação que frequentemente faz com
que algumas atitudes de resguardo sejam adotadas de
imediato, quase em pânico, e, por isso mesmo, sem a
devida avaliação do quadro geral. Essas medidas,
caso se mostrem austeras demais, podem gerar
consequências bastante difíceis de se consertar no
médio e longo prazo.
Digamos que a crise seja real, e o céu esteja mesmo
caindo sobre nossas cabeças. Agora sim, devemos
nos perguntar: “Seria esse o momento para investir em
publicidade?”. Uma boa parte dos empresários irá
responder um sonoro NÃO. Outros, porém, entendem
um dos poucos clichês verdadeiros e resolvem seguir
à risca a velha máxima: “Quem não é visto não é
lembrado”.
Claro que investir em mídia durante uma crise não
significa aumentar orçamentos e fazer loucuras.
PAPO DE MÍDIA / COMUNICATE
Por Bruno Rafael da Silva** Publicitário / Planner / Mídia na Guife Multicom.
Os ouvidos ficam mais atentos, os olhos procuram por notícias e os telejornais parecem que pautam suas matérias por um únicoassunto: crise econômica. E então? Vale a pena investir em publicidade em tempos de crise?
Não mesmo! Afinal, estamos em crise, e durante uma
recessão pessoas e empresas diminuem o seu ritmo
de atividades. Contudo, se a sua empresa mantiver o
investimento já previsto para o período, ela terá uma
vantagem muito grande no mercado. Explico.
A recessão fará muita gente buscar abrigo da crise
através da retirada de mídia. Literalmente se
esconderão, abrindo margem para que aqueles que
ousarem se destaquem com maior facilidade. Em
segundo lugar, o consumo poderá ser reduzido, mas
não será extinto. E com maior visibilidade, fica mais
fácil brigar pela porção que ainda movimenta o
mercado.
Aí você me pergunta: a crise chegou com força na
minha empresa, e afetou o meu orçamento de
publicidade. Como manter visibilidade, com menos
recursos? Aqui entram todas as ferramentas possíveis:
e-mail, rede social, assessoria de imprensa, relações
públicas, entre outras. É importante entender que
comunicação não é só publicidade e que sempre
existe alguma coisa que pode ser feita em tempos de
crise, pois o consumidor pode ser obrigado a reduzir
alguma coisa no orçamento, mas faça o possível para
que não seja o seu produto a ser deixado de lado.
Cortar a verba de comunicação (e veja que agora
falamos de comunicação e não apenas publicidade)
não é a solução, pois embora você talvez acredite que
esteja reduzindo custos, a médio e longo prazo poderá
ter perdido muitos clientes pelo caminho. Faça o
possível para manter o investimento planejado e você
vai garantir presença agora e no futuro.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]22
Tente não sumir quando acrise bater na porta
Jornalismo do século passado.
Em 1910, coluna social era algo dispensável.
Em 1920, não existiam press releases.
Em 1930, opinião valia tanto quanto informação.
Em 1940, os jornalistas não precisavam ser neutros.
Em 1950, não existiam regras sobre como uma matériadeveria ser escrita.
Em 2011, ainda se faz jornalismo à moda antiga.
Fica, vamos pisarFica, vamos pisaruvauva
CAPA / FEATURED
Por Samuel Ramos*[email protected]* Jornalista e editor da TL[mag]
Produto turístico que ganha corpo, a vindima gaúcha não pontua apenas a época da colheita da uva. Torna-se, também, alternativa de lazer e diversão.
É inverno na fria região da Serra Gaúcha, local que
se destaca - dentre outros motivos - pela produção
vinífera. Porém, para se chegar ao vinho, é necessário
ter a uva. E uma pergunta se repete, no varejo de
muitas das mais de mil vinícolas que estão instaladas
na área: «Queríamos ver a uva no pé, mas as parreiras
estão secas. Como fazemos?».
Para os enólogos, que trabalham o ano todo
dedicados à produção do vinho, resta explicar
pacientemente que a maturação das uvas ocorre antes
do inverno e que, por isso mesmo, elas já foram
colhidas. Alguns turistas recebem a notícia com
surpresa, outros prometem voltar no verão para, assim,
conhecer os vinhedos.
Esses que resolvem voltar no verão formam - a cada
ano que passa - um grupo cada vez mais numeroso.
Aproveitam, dentre outras coisas, de tarifas mais
atraentes nos hotéis, da transformação paisagística
que as parreiras fazem no terreno acidentado da Serra
e, claro, de tudo que envolve a vindima: gastronomia,
passeios, degustações e atividades em meio à
natureza.
O produto turístico vindima não é novidade para quem
já foi à Europa: na época da colheita da uva, vinícolas
de todo o continente oferecem passeios, banquetes e
provas dos vinhos a todos os interessados. É um
período de muito trabalho para quem faz a colheita,
mas também de grande retorno para quem aposta no
enoturismo.
Na Serra Gaúcha, o produto ainda é novo. Veja o caso
de Bento Gonçalves, cidade que promove o maior
número de ações formais no período: a Vindima está
indo agora para a sua terceira temporada. Muito pouco
se compararmos com outras datas já consagradas da
região, tais como Natal Luz e Festival de Cinema.
Mesmo assim, a Vindima mostra fôlego e potencial
para se consolidar no decorrer das próximas
temporadas como uma boa alternativa para quem
cansou da farofagem na beira da praia. A riqueza e a
magia do momento da colheita da uva, ainda não
totalmente revelada ou descoberta, surpreende
aqueles que participam pela primeira vez.
Descubra, nas próximas páginas, o porquê.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]24
FOTO DIVULGAÇÃO PIZZATO
O rápido período de brotação das parreiras começa a
transformar a paisagem das regiões viníferas da
Serra Gaúcha ainda no começo da primavera:
sai o marrom acinzentado que dá o tom sóbrio do
inverno, entra o colorido das folhas e das uvas.
FOTO SAMUEL RAMOS
FOTO FERNANDO FREY
FOTO DIVULGAÇÃO PIZZATO
Preparando a bagagem
Se você decidir acompanhar o festivo período de
colheita da uva, fique sabendo que o calendário de
atividades é bem amplo, de maneira que fica fácil
encaixar na sua agenda uma visita a Bento Gonçalves
durante a vindima: a abertura oficial do evento ocorre
no meio do mês de janeiro e se estende até meados de
março.
Nesse período as vinícolas do Vale dos Vinhedos, Faria
Lemos, Caminhos de Pedra, Pinto Bandeira, Tuyuty e
Vale das Antas costumam receber os turistas com
provas dos vinhos, passeios e gastronomia (com
exceção das degustações, as atividades costumam
precisar de reserva prévia).
Se o tempo estiver sobrando, também vale a pena
visitar vinícolas de outras cidades da região, tais como
Monte Belo do Sul, e Flores da Cunha, onde a
vindima é festejada junto aos visitantes. Existem, ainda,
festas e feiras temáticas que ocorrem para celebrar a
época: Vindima no Vale dos Vinhedos, Festa da
Colheita (Tuyuty), Festa da Vindima (Monte Belo do
Sul), Festa Nacional do Vinho (Bento Gonçalves), Festa
Nacional da Vindima (Flores da Cunha) - que volta em
2013 - e Festa Nacional da Uva (Caxias do Sul) - a partir
de fevereiro.
Bento Gonçalves também aposta, em 2012, em
atividades diversas, tais como:
- Apresentações cênicas, realizadas pela Fenavinho;- Degustação de uvas na Via del Vino (todos os
sábados);- Minicursos de degustação;- Ciclo de Cinema no Bento em Vindima, com exibição
de 8 filmes + jantar;- Concurso Fotografando a Vindima;- Concurso Prato da Vindima;- Arte no Verão, 2ª Edição, na Casa das Artes;- Exposição de Fotos;- Encontro Turismo - Bento em Pauta, dias 13, 14 e 15
de janeiro;- Jantar sob as estrelas, 2ª Edição, no dia 17 de
fevereiro.
Além das atividades acima, vinícolas, hotéis,
r e s t a u r a n t e s e b a r e s c o n t a m c o m
programações/pacotes especiais, que merecem
atenção.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]26
De janeiro a março, Bento Gonçalves reúne o maiornúmero de atividades relacionadas à Vindima na Serra.
FO
TO
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Colocando a mão (e o pé) na massa
Realizados os preparativos básicos, é hora de encarar
a vindima. Uma boa maneira de se conectar com o
evento é participar da colheita per se, sendo a Pizzato
Vinhas & Vinhos, do Vale dos Vinhedos, em Bento
Gonçalves, uma das opções mais completas que
encontramos para viver essa experiência.
Lá fomos recebidos por Flávia Pizzato, que junto ao
patriarca da família, Plínio Pizzato, nos falou sobre a
atividade mais procurada na vinícola: o Dia da
Colheita. Realizados nos sábados - mediante reserva
prévia - durante o mês de fevereiro, o Dia da Colheita é
mais que um passeio, é uma celebração à atividade
dos vinicultores: «Trabalhamos com grupos de até 40
pessoas por vez, e todos são recebidos com música
típica e espumante no começo da atividade. Elas
recebem chapéu - que nessa vindima será no estilo
Panamá - e tesoura antes de sairmos. Depois, a bordo
de um pequeno trator ou caminhando vamos até os
vinhedos para, lá, fazer a colheita», explica Flávia.
E a colheita não é para inglês ver, posto que os turistas
colhem variedades nobres, europeias: «Dependendo
da época, claro, o participante pode colher
Chardonnay, Merlot, Tannat, Cabernet Sauvignon ou
Alicante Bouschet. Tudo é feito nos nossos vinhedos, e
as pessoas podem conhecer mais sobre o processo,
sobre os cultivares, enfim, aprendem qual o caminho
que a uva segue antes de ser levada para a feitura do
vinho», revela.
O divertido passeio entre os vinhedos leva cerca de
duas horas, e pode ser feito também por crianças e
adolescentes, que, segundo nos informa o «seu»
Plínio, adoram a brincadeira de colher uva.
Finda a colheita, é hora de colocar a uva na mastela
(uma grande bacia de madeira), onde os mais
empolgados irão realizar a tradicional pisa da uva: os
pés são, obviamente, descalços e limpos para que,
então, a felicidade geral dos turistas seja feita. Alguns
praticamente pulam dentro do recipiente, enquanto
outros dão tímidos passos - a essa altura, já
escorregadios. Em comum, um grande sorriso na hora
de posar para as fotos.
Claro que nem todos encaram a pisa. Os homens de
personalidade mais sisuda, por exemplo, são mais
relutantes, e, conforme nos explica Flávia, preferem
assistir de longe: «Às vezes notamos que a pessoa está
louca para participar, mas fica um pouco acanhada na
hora de entrar na mastela.», brinca.
Depois da pisa, o passeio continua com a visitação
guiada na vinícola, onde o enólogo Flávio Pizzato
explica a todos o processo de elaboração do vinho e
dos espumantes.
A seguir, um saboroso almoço, de predominância
brasileira, é elaborado pela chef Giovana Faccin, e
harmonizado com os vinhos da Pizzato. E o preço?
Mais do que justo. Toda a atividade custa cerca de R$
150 por pessoa.
TRENDLINEMAG . NO[05] 27
FOTO SAMUEL RAMOS
Durante a Vindima os turistas vão para as vinhas e conhecem o trabalho do viticultor através do Dia da Colheita.
Tradição que encanta
Apesar de pouco conhecido no Brasil, o produto
turístico Vindima já é bastante consolidado em países
de forte vocação vinícola, sobretudo na Europa. O
período é celebrado não apenas por refletir todo o
trabalho dos produtores ao longo do ano, mas também
por dar pistas sobre a qualidade do vinho que chegará
ao varejo nos próximos dois ou três anos.
Até chegar à colheita, os enólogos travam uma dura
batalha para acompanhar a maturação das uvas e
também, literalmente, «secar» o tempo, para que não
ocorram chuvas em excesso durante essa época,
crucial para o desenvolvimento de um nível correto de
açúcar e acidez. Bruna Cristófoli, da Cristófoli
Vinhedos e Vinhos Finos, é uma dessas enólogas que
se dividem entre o acompanhar do clima, das vinhas e
do turismo que o período propicia: «Em 2012, teremos
o nosso segundo ano de atividades com turistas.
Vemos como um período para formar novos
consumidores, pois a vindima é um período muito
rico», avalia.
Responsável pela criação do Edredom nos Parreirais,
uma experiência que aposta no romantismo e na
intimidade, Bruna nos conta que a busca pela
valorização da vindima ainda tem um longo caminho:
«Na Alemanha vi muitas coisas interessantes como,
por exemplo, a venda do vinho doce, que está recém-
começando a fermentar. Além disso, eles também
trabalham com feiras de produtos típicos».
A ideia de realizar algo diferente foi a mola propulsora
para Bruna criar, junto com o pessoal da Cristófoli, uma
área junto aos vinhedos da família para que casais
possam se espichar sob um edredom e curtir um fim de
tarde especial, regado a vinhos e guloseimas - tudo
isso com a vista que está aqui embaixo. Estava criado o
Edredom nos Parreirais.
Seja para pisar a uva e se divertir com os amigos, ou
para curtir a dois a paisagem do verão serrano, a
Vindima é uma ótima opção de lazer e turismo para
quem já cansou da farofada em que se transformou o
litoral gaúcho.
Integrar-se a essa tradição torna-se uma obrigação
para aqueles que apreciam ou são entusiastas de uma
boa mesa.
Palavra de Baco!
FOTO LUANDA ROOS
FOTO SAMUEL RAMOS
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]28
Piqueniques também são opções na Cristófoli e na Pizzato.
TRENDLINE[MAG] . DEZ 2010 JAN/FEV 201122
QUE FOME / FOOD IN MY BELLY
Por Redação Trendline [mag][email protected]
Alimentando memórias
Comida que enche a barriga, mas também revive sensações e propõe experiências. Assim é a cozinha do Empório São João, em Nova Prata.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]30
É fim de ano na casa da Vó Necy, matriarca no sentido
mais amplo da palavra: tal como diversas outras nonas
que ainda vivem na Serra Gaúcha, é a mãezona que
coloca todo mundo embaixo da asa e que se encarrega
de juntar uma numerosa família em volta da mesa a
cada data especial. Quem já participou de banquetes
assim sabe que duas coisas são regra: a barulheira de
todo mundo falando ao mesmo tempo sobre assuntos
diferentes e, claro, a pança cheia no fim da refeição.
Pois se você visitar o Empório São João, em Nova
Prata, vai perceber que tudo, ali, tem cara desse tipo
de reunião familiar. Desde o cardápio, onde predomina
um menu colonial em que produtos industrializados
não são desejados, até o próprio ambiente, em que se
exibem fotos das gerações que antecederam Marcelo
Nedeff, Cláudia Briani Antoniolli Lenzi e Paula Briani
Nedeff, os proprietários do espaço.
Todo o conceito do Empório foi concebido para reviver
a atmosfera que circundava os banquetes familiares
dos sócios. «Na nossa família, sempre foi assim: a
comida farta, colonial, e os bons vinhos fizeram parte
de nossa vida, é dessa forma que lembramos dos
melhores momentos de nosso convívio. O prazer na
mesa é uma instituição», explica Marcelo.
E é exatamente o prazer na mesa que marca a
experiência de visitar o Empório São João. Antítese dos
fast foods que marcam a memória gastronômica das
gerações mais novas, a proposta no Empório é de
trabalhar com pratos que ativem memórias
longínquas, de um tempo em que as coisas não eram
industrializadas. «Parece um conceito riponga, é
verdade, mas seguimos a filosofia da Economia do
Amor. Procuramos receitas familiares, artesanais, e
buscamos nossos ingredientes no trabalho de
pessoas que não visem apenas o lucro, mas também
preservem o modo como nossos antepassados
produziam seus alimentos. A Salete, que entrega
nosso pão, é de uma família que panifica desde 1913.
Nossos fornecedores de vinhos também são de
pequenas famílias que fazem isso há pelo menos três
gerações, e isso se repete com outros produtos»,
finaliza Marcelo.
O uso de produtos frescos e coloniais, por sinal, é a
característica mais marcante da cozinha do Empório.
Veja, por exemplo, o caso da Polenta Consa (da foto
acima): é feita na hora, sem usar nada pré-pronto. O
molho de carne é de chorar em polaco e o queijo
colonial é daqueles que provocam uma distensão no
braço, de tanto que espicha quando você está
comendo.
FOTOS SAMUEL RAMOS
TRENDLINEMAG . ANO01NO.01TRENDLINEMAG . ANO01NO.01
A MASSA, FEITA COM O PESTO
CASEIRO DA RECEITA SECRETA DA
DONA DETE, É UM DOS PRATOS
IMPERDÍVEIS DO EMPÓRIO SÃO
JOÃO, EM NOVA PRATA.
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]32
Sensações e memórias
O pré-requisito básico no Empório São João é simples:
a comida deve provocar sensações. Tanto faz se o
prato do dia é a recriação de uma carne de panela, uma
sopa de feijão, um creme de legumes ou uma
sobremesa tão única que sequer tenha um nome
oficial. Há também receitas que foram produzidas por
clientes assíduos, tal como a deliciosa calda de
vergamotas - que acompanha sorvete -, porção que foi
batizada com o nome de sua criadora e incorporada ao
cardápio oficial.
Por falar nisso, o sorvete é presença constante na carta
e é servido em generosas porções que acompanham
diferentes caldas. Ou todas as caldas, como é o caso
do Sorvete de Criança. Inspirado na anarquia caótica
que fazem os pequenos na fila dos buffets, ele
incorpora balas, gomas, pirulito, chocolate granulado
e chantilly. Outra sobremesa que tem, para o pessoal
do Empório, forte carga emocional é o Doce de Café
da Vó Necy. Receita secreta que está na família há 80
anos, mistura o leve amargor do café - através de um
creme - com merengues caseiros e pêssegos.
Com tantos ingredientes distintos, é praticamente
impossível sair do Empório São João sem se
contaminar pela paixão gastronômica que inspirou o
lugar e sem agradecer à Dete e à Vó Necy.
Mesmo que você não as conheça.
Outra das receitas familiares, que é guardada a sete chaves, é o Doce de Café da Vó Necy.Feito com merengue caseiro, creme de café e pêssegos, está na família há mais de 80 anos.
Acima, a sobremesa que enlouquecepequenos e adultos:
Sorvete de Criança. Logo após, asSagradas Bruschettas, companhia
certeira do happy hour.
54 3242 5988
nova prata l rs
rua clemente tarrasconi, 170facebook: cozer restaurante
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TRENDLINE[MAG] . DEZ 2010 JAN/FEV 201122
BEBENDO BEM / BOOZE
Por Samuel [email protected] jornalista que não gosta de enochatos.
Destaques da AvaliaçãoNacional de Vinhos
O que era uma comedida euforia no fim de março, quandoa colheita das uvas animou alguns vitivinicultores, se tornouuma bela amostra do potencial da safra de vinhos 2011.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]34
Na véspera da 19ª Avaliação Nacional de Vinhos, em
um jantar que reuniu a imprensa especializada, o
diretor da Wine Park, Rodrigo Biasi, cunhou a frase
que pontuava o tamanho da expectativa que todos
tínhamos quanto à qualidade dos vinhos que
provaríamos no dia seguinte: «Fazer enologia com uma
safra assim é moleza. Difícil mesmo foi fazer vinho bom
em 2009 e 2010». Declarações como essa, que
destacavam a qualidade da safra 2011 na Serra
Gaúcha, se tornaram notícia velha ainda em março. E
para nós, que acompanhamos o setor, tais declarações
serviram como fermento para que a curiosidade se
transformasse em uma sede implacável pela prova das
amostras que conheceríamos no dia seguinte.
No meu caso, um não expert no assunto, mero
entusiasta no tema, o convite para participar da
Avaliação foi recebido com uma decisão difícil: para
deixar o paladar preparado para a degustação, entendi
ser necessário passar por duas semanas de
abstinência total com vinhos e espumantes. Assim,
quem sabe as minhas poucas papilas gustativas
desenvolvidas teriam o seu funcionamento, digamos,
potencializado. A restrição foi complicada de realizar,
mas realmente se mostrou de grande eficiência na hora
de identificar as particularidades de cada amostra (e
me fez questionar a falta de seriedade com que muitos
«entendidos» se dispõem a ranquear e atribuir notas,
sobretudo aqueles que apregoam degustar mais de
dois ou três mil vinhos no decorrer de um ano).
Com o paladar em dia, foi hora de encarar a maratona
que viria a seguir: acordar às sete da manhã para
degustar as 16 amostras representativas da safra 2011.
Na categoria dos brancos e espumantes, que é
considerada uma especialidade da Serra Gaúcha,
conhecemos belos vinhos. Chamaram minha atenção
as amostras 3, 5 e 7, respectivamente da Aurora
(Riesling Itálico), Goés & Venturini (Chardonnay) e Don
Guerino (Moscato Giallo) - só fomos saber quem eram
os fabricantes no final da avaliação, visto que todo o
processo é feito às cegas.
Nos tintos, meu preferidos, um fato me chamou a
atenção: a presença de dois Tannat’s, com apenas um
Cabernet Sauvignon entre os dezesseis, mostrando
que a uva típica e tradicional do Uruguai está
produzindo bons vinhos no Brasil. Claro que nem
todas as amostras me agradaram, porém gostei muito
da 13, 14 e 16, de Rasip (Cabernet Sauvignon),
Almaúnica (Syrah, ainda melhor que a safra passada) e
Seival (Tannat).
Confira no www.tlmag.com.br a listagem completa.
FOTO GILMAR GOMES
As oito décadas deCândido ValdugaVirou clichê escrever que a história de Fulano se
confunde com a de algum lugar. Pois bem, vamos
aceitar possíveis xingamentos quanto à figura de
linguagem, mas é impossível dissociar a história do
vitivinicultor Cândido Valduga, dos acontecimentos
que marcam a consolidação do Vale dos Vinhedos, em
Bento Gonçalves, como referência em enoturismo. O
«Seu» Cândido Valduga é do tempo em que se levava o
vinho para Bento em carroças. Do tempo em que luz
elétrica era coisa de gente afrescalhada da cidade. Do
tempo em que se fazia a previsão do tempo pela cor do
pôr do sol. E isso nos basta para justificar o clichê
emitido anteriormente.
O jovem cidadão, que esse ano completou 80 anos de
vida - dos quais, mais de 70 dedicados ao vinho -
comenta com muito bom humor a passagem desse
aniversário especial: «Todo mundo me diz que é uma
maravilha fazer 80 anos. Pois eu digo que estão
loucos», brinca o Seu Cândido.
Descendente dos Valduga que chegaram ao Brasil no
longínquo ano de 1875, o Seu Cândido se criou na
Linha Leopoldina, uma das localidades que compõem
o charmoso Vale dos Vinhedos.
A família se estabeleceu no local em 1945, quando o
Seu Cândido tinha apenas 14 anos. «Naquela época
levávamos uma hora e meia para percorrer os seis
quilômetros que nos separam de Bento Gonçalves»,
relembra.
Todo o clã Valduga sempre esteve envolvido com a
produção de vinho, naquela época fazendo o
tradicional vinho colonial, de uva Isabel, que era
fornecido para grandes empresas do segmento (tais
como Cia. Riograndense e, mais tarde, Dreher),
atualmente também se dedicando à produção de
vinhos finos de mesa. «Fomos os pioneiros com alguns
cultivares na região. Tivemos as primeiras mudas de
Cabernet Franc e de Marselan, por exemplo», cita.
Atualmente a sua vinícola, Dom Cândido, possui
vinhedos próprios em Bento Gonçalves e em
Veranópolis.
Testemunha viva da evolução do Vale dos Vinhedos,
Seu Cândido entende que o local deve continuar a
atrair investimentos, e também acredita que a cara
colonial que caracteriza o roteiro deve ser mantida: «O
italiano é um povo que conserva as suas tradições»,
finaliza.
FOTO SAMUEL RAMOS
TRENDLINEMAG . NO[05] 35
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]36
Recomendamos
Pinot Noir Almaúnica 2011
Ao lado das barricas francesas, que ainda estalam de
tão novas, Márcio Brandelli nos apresentou, em
primeira mão, o seu próximo lançamento: um Pinot
Noir jovem, que repousou durante oito meses na
madeira - de primeiro uso -, dando origem a um vinho
macio de boca (poucos taninos), tão agradável que,
apesar de ser tinto, é possível de se encarar até mesmo
em uma noite mais agradável de verão.
Deve ser engarrafado agora no final do ano e estará
disponível no varejo na faixa dos R$ 45.
Moscatel Calza Júnior
Com um equilíbrio praticamente perfeito entre acidez e
açúcar (nem tão doce, nem tão ácido), o espumante
Moscatel do pessoal da Calza Júnior Vinhos é uma
pedida certeira para as festividades de fim de ano.
A grande dificuldade reside em encontrar o
espumante, que é feito em pequenas quantidades. Um
dos locais certeiros para comprar e degustar é o
Empório São João, em Nova Prata, onde o produto é
vendido por módicos R$ 22 a botija - uma verdadeira
pechincha.
Casa Pedrucci Tradicional Brut
Esse foi o espumante que mais agradou a mesa em
que estávamos, durante o jantar de premiação do VII
Concurso Nacional do Espumante, em Garibaldi,
evento que ocorreu em outubro.
Prata da casa, é produzido na própria cidade, pela
Vinícola Pedrucci, sob a supervisão de Gilberto
Pedrucci.
O preço de varejo é de cerca de R$ 45 - o que é um bom
preço para um produto desse quilate.FOTO DIVULGAÇÃO PEDRUCCI
FOTO SAMUEL RAMOS
FOTO SAMUEL RAMOS
vinhos, espumantes e brejas
Pilsen -
Está aí uma cerveja que tinha tudo para dar errado: ela
é feita em São Paulo (e não no RS, melhor em tudo),
tem um nome que parece de banda de bailão e o rótulo
é feio de doer.
Porém, ao abri-la nos deparamos com uma Pilsen de
respeito: o aroma inebria e o sabor, bah, é impossível
manter o copo cheio (vide foto ao lado).
À venda no Doppio Malto (Bento) e no Cozer
Restaurante (Nova Prata).
Karavelle
TRENDLINEMAG . NO[05] 37
Double Stout - Hook Norton Brewery
Se você aprecia o sabor forte e marcante de uma boa
Stout ,que tal provar uma Stout em dose dupla, de cor
tão negra que até parece que você está bebendo um
copo de petróleo?
O achocolatado do aroma combina com o amargor de
café, e é um dos responsáveis por fazer essa cerveja
levar os dois últimos prêmios, na categoria, do World
Beer Awards.
Tem no Doppio Malto (Bento Gonçalves).
Oktoberfest - Heilige + Seasons Craft Brewery
Se você pretende ir até Munique provar a típica cerveja
Oktoberfest de lá, antes de chegar no Aeroporto
Salgado Filho dê uma passada na Seasons, que fica ali
perto, e prove a cerveja estilo Oktoberfest que eles
fizeram com a Heilige, de Santa Cruz do Sul.
De muito sabor e moderado amargor, fará você se
sentir na Baviera antes mesmo de ter saído do chão.
Mas apresse-se: foram feitas menos de 900 garrafas.
Black Mamba - Guenther Sehn
O nome dessa cerveja não poderia ser mais
apropriado: ela possui venenosos 11,2° de graduação
alcoólica e 202 IBUs (!) de amargor, de maneira que ao
inocular uma única long neck na corrente sanguínea já
é possível perceber seu efeito.
Saborosa e cremosa, é, disparada uma das melhores
cervejas que provamos esse ano. É feita, literalmente,
em casa pelo homebrewer Guenther Sehn, de Porto
Alegre - o que torna difícil encontrá-la. Se achar
algumas por aí, compre o estoque!
TURISMO / GO THERE
Texto e fotos de Samuel Ramos*[email protected]* Jornalista, editor da Trendline [mag]
Cambará do Sul,600 mgSe o mundo fosse perfeito, não existiria Imposto de
Renda, IPVA, e nem sertanejo universitário. Melhor
ainda: nesse planeta paradisíaco, o estresse teria
como receita uma viagem até Cambará do Sul, pela
qual o seu plano de saúde ficaria com a conta.
O raciocínio é óbvio: é impossível não desligar a
cabeça depois de se ficar alguns dias contemplando
os campos de cima da Serra, que, entremeados por
pequenas colinas, abrem-se até o litoral através dos
cânions da região, formando paisagens de tirar o
fôlego. E, por isso mesmo, o passeio até Cambará
deveria vir com prescrição médica e despesas pagas,
pois a estadia lá é realmente terapêutica.
Típica cidade do lado mais campeiro da Serra, em
Cambará parece que o tempo não passa. Não se vê lá a
opulência das cidades economicamente mais
desenvolvidas da região. Não mesmo. Se você procura
badalação, mansões e carros do ano, esse
definitivamente não é o seu lugar. A simplicidade é a
norma e, mesmo nos locais de maior conforto, a
demasia é evitada. Menos é mais, e estamos
conversados.
Cambará se tornou conhecida por abrigar uma série de
cânions, formados a partir de acidentes geológicos,
que deixam de queixo caído a quem os visita pela
primeira vez. Aliás, essa é outra característica
terapêutica do local, dessa vez de cunho psiquiátrico.
Está se sentindo importante demais? O ego inflou e o
mundo gira ao redor do seu umbigo? Nada que a
grandiosidade do cânion Fortaleza, o mais belo dos
que visitamos, não coloque tudo no seu devido lugar - e
na devida proporção.
Cambará do Sul é, também, muito conhecida pelas
120 toneladas de mel que produz a cada ano. Além do
mel normal (que eles chamam de mel escuro), há uma
outra variedade, muito famosa, de coloração branca,
que é produzido a partir do néctar de flores nativas -
mais difícil de encontrar. Outra marca do município, é o
frio. A friaca é tanta na região que é impossível
encontrar uma casa que não disponha de fogão a
lenha, aparelho que além de esquentar também serve
para preparar um dos tira-gostos mais tradicionais da
Serra Gaúcha: o pinhão na chapa, delícia que costuma
ser saboreada com o acompanhamento de vinhos.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]38
Cânion Itaimbezinho, uma das belezas de Cambará do Sul
ACOMODAÇÕES DO PARADOR
CASA DA MONTANHA SÃO A
PEDIDA IDEAL PARA SE
INTEGRAR COM A EXUBERANTE
CAMBARÁ DO SUL.
Cambará do Sul costuma receber cerca de 200 mil
turistas por ano, e os dois pontos mais procurados são
os parques Aparados da Serra (onde fica o
Itaimbezinho) e o Parque Nacional da Serra Geral (que
abriga o Fortaleza). Outros cânions também possuem
acesso pela cidade, dentre eles o Churriado e o
Malacara.
Apesar do turismo local ainda não contar com pleno
desenvolvimento - a exemplo do que ocorre em outros
lugares do RS, onde a atividade ainda é encarada
como bico - e carecer de melhor organização e
estrutura, já é possível visitar a cidade e usufruir de
bons serviços, inclusive restaurantes, pousadas e
hotéis.
Um desses locais, que gentilmente nos recebeu, foi o
Parador Casa da Montanha, estabelecimento que faz
parte do grupo que administra em Gramado o Hotel
Casa da Montanha e o Hotel Petit. O Parador é o
primeiro e único hotel do Brasil a oferecer hospedagem
em barracas térmicas. Além de proteger o visitante do
frio típico da Serra Gaúcha, elas deixam o Parador com
uma cara de «acampamento chique»: o serviço e a
gastronomia são de primeira e há climatização e
música ambiente nas barracas. Música que é
totalmente dispensável à noite: dormir com o som do
riacho equivale a um sono de 50 gotas de Rivotril.
Fim de tarde, sob o fogo da lareira, receita relaxante que faz da televisão, ao fundo, objeto de decoração: o Parador não a
conectou com antenas, dispensando o contato mundano. DVD’s estão disponíveis.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]40
FOTO JANAÍNA SILVEIRA
No Parador, o gerente Fabiano Koehler nos explica
que é possível optar pela hospedagem em barracas
luxo ou suítes: «As suítes são maiores e possuem
varanda, hidromassagem e duchas privativas. Na luxo,
há um lavabo e os hóspedem usam a nossa casa de
banho para fazer o asseio pessoal», revela. Inaugurado
em 2002, o Parador hoje conta com 12 acomodações
(nove luxo + três suítes).
O modelo, que conta exclusivamente com barracas,
veio depois que a administração do grupo conheceu
esse tipo de acomodação durante um safári africano:
«Queríamos criar uma atmosfera diferente, e
conseguimos isso com as barracas. Seria muito mais
barato construir chalés, mas com essa proposta
mantemos o charme e valorizamos ainda mais a
paisagem», resume.
A cozinha, comandada por Solange, Edgar e
Rodrigo, oferece a combinação perfeita daquilo que
chamamos lá, durante a estadia, de comida gastro-
campeira (sim, merecemos o açoite por criar um
neologismo tão esdrúxulo): o arroz e o feijão tropeiro
são feitos em panela de ferro, o leite é fresco (o que
rende um arroz doce inigualável), os pães são
caseiros, as hortaliças são cultivadas em horta própria
e há cortes de caça. Tudo muito simples e saboroso,
porém com apresentações requintadas que valorizam
ainda mais os ingredientes típicos da região. Para ficar
perfeito, mesmo, só faltou ter Camargo (café com leite
de vaca tirado na hora).
TRENDLINEMAG . NO[05] 41
O Parador está instalado em meio à natureza, e conta com a trilha sonora de um riacho corrente.
O auge da temporada de turismo em Cambará ocorre
no inverno, quando o frio impera e derruba as
temperaturas, atraindo muitos visitantes de fora do
Estado. Porém, é possível visitar o local durante todo o
ano. De fato, Marcelo Sartori, da Coiote Adventure,
empresa que opera roteiros de turismo (de aventura,
inclusive) na cidade, nos explica que cada época do
ano propicia diferentes experiências: «No inverno a
visualização dos cânions é melhor, mas com o frio se
torna complicado fazer atividades ao ar livre, na água,
por exemplo. Já, no verão a visibilidade varia muito, em
geral não é tão boa, mas é possível curtir mais as trilhas
e rios», elucida.
Nesse quesito, Cambará também oferece uma ampla
gama de possibilidades: há trilhas curtas, para quem já
não dispõe do fôlego de outrora, e passeios longos,
que envolvem muita caminhada. Na Trilha do Rio do
Boi, por exemplo, realizada no Itaimbezinho, a
caminhada envolve 9 km - entre pedras e córregos.
Para finalizar, uma ressalva importante: a estrada para
os cânions não é exatamente uma beleza. Assim, se
você não tiver uma Land Rover (ou similar) trate de
contratar um serviço de transporte, com guias locais
especializados. Vai custar entre R$ 80 e R$ 110 por
pessoa, o que é mais barato do que ter que trocar um
pneu cortado ou um amortecedor, e ainda por cima
ficar travado a 150 km do guincho mais próximo. Isso
em uma área que nem celular pega.
Seu ego anda grande demais?
Visite o cânion Fortaleza e coloque as coisas em seu devido lugar.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]42
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Estação Brasil
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]44
QG DO ESTILO / STYLE
Por Quéli Giuriatti*twitter.com/quelig
*Jornalista e Professora de Moda
O verão é a temporada mais quente da moda brasileira.
Nossa sensualidade, criatividade e bossa nos destacam naturalmente como o país que mais lança tendências de beachwear no mundo.
Também, com uma costa de mais de sete mil quilômetros e tantas praias-paraíso não poderia ser diferente.
Confira algumas das novidades que as melhores marcas nacionais lançaram para esta estação ensolarada e brilhe sob a luz do sol.
FOTOS DIVULGAÇÃO AGÊNCIA FOTOSITE
TRENDLINEMAG . NO[05] 45
Kaftans
Essa peça de origem árabe é uma
aposta dos estilistas brasileiros de
moda praia há algumas estações.
A mania da brasileira de se expor ao
sol e revelar todas as suas curvas
nunca favoreceu muito o kaftan, mas
parece que a peça vai pegar neste
verão.
Ampla, colorida e megaconfortável,
vai cobrir o corpo das mulheres mais
elegantes a caminho da piscina ou
da praia.
Color block
Muitos fashionistas estão cansados
do tal color blocking. Mas as
consumidoras com certeza vão
experimentar essa tendência
internacional pelo litoral brasileiro
neste verão.
Trata-se do uso de peças lisas em
cores intensas e diferentes,
formando “listras” ao longo do
corpo.
Biquínis e maiôs em dois tons
intensos têm tudo para tomar
conta dos balneários daqui.
A vantagem é que qualquer uma
de nós pode montar facilmente um
look color block com itens avulsos,
entre tops e tangas.
Sunga x Bermuda
O eterno dilema dos rapazes:
sunga ou bermuda?
Na dúvida, o conforto prevalece.
Na beira da praia o que importa é
sentir-se bem consigo mesmo.
O modelo quadradinho de sunga
segue como o predileto dos
brasileiros com o corpo em dia, e a
bermuda de comprimento médio
entra como novidade nesta
temporada 2011/2012. Nem tão
curta, nem tão longa, perfeita para
quem opta pela segurança da
tradição.
Moro num país
tropical
Abençoado por Deus, de fato.
E lindas mulheres em cenários
exuberantes estampadas de temas
verdes ficam espetaculares.
Maiôs com folhas de palmeiras,
com textura de penas, com flores
exóticas não vão faltar nas “araras”
das lojas de beachwear – com
direito a trocadilho!
Psicodelia e
romantismo
Como os anos 70 estão na pauta
do dia – ao menos no mundo da
moda – as estampas psicodélicas,
que trazem grafismos espelhados,
prismados ou espiralados, estão
com tudo.
Os florais suaves, que também
representam a década dos hippies,
do transcendental, do espiritual,
ganham igual tratamento e valor.
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A chegada dos imigrantes ao Rio Grande do Sul, proporcionou o contato com as iguarias da culinária italiana. Porém, como fator comum das manifestações culturais, a comida típica aqui chegando sofreu modificações. Foi preciso transformar as receitas e improvisar.
Os italianos, que deixaram a Itália entre o fim do século
XIX e começo do XX, não vieram ao Brasil passar férias.
A principal motivação dessas pessoas era fugir da má
condição sócioeconômica que viviam em seu país de
origem e, assim, é natural esperar que eles não
chegassem aqui carregados de finas iguarias ou de
grandes pretensões culinárias - padrão alimentar que
estava acessível somente à elite da Itália.
O Brasil era para os imigrantes um enorme ponto de
interrogação, e aqueles que chegavam precisavam
conhecer e adaptar os ingredientes locais às suas
dietas. Esse foi um processo longo, que evoluiu com o
passar dos anos. Saiba que aquilo que identificamos,
hoje, como cozinha típica italiana era, na época, muito
diferente.
Muitos dos pratos atualmente citados como clássicos
da milenar cultura gastronômica italiana, datam, na
verdade, desse período imigratório. Foi nessa época
que a Itália viveu uma ampla modificação de seus
costumes alimentares, representados, sobretudo, pela
introdução da farinha e pela feitura das massas (a
famosa Pizza Napolitana só surgiria em 1892).
Para os recém-chegados, a presença de quintais, a
essa altura já agriculturáveis, permitiu o cultivo de
milho, feijão, batata e verduras. A familiaridade com o
milho foi fundamental para que polentas e broas se
tornassem, rapidamente, totalmente integradas ao
consumo diário.
Por sinal, uma curiosidade histórica: o expressivo
consumo de fubá, fez com que a polenta fosse vista
como um indicativo de identidade dos italianos. Porém,
isso acabou se transformando em uma identificação
negativa e «gringo polenteiro» se tornou uma
expressão caluniosa, utilizada para se referir de
maneira pejorativa aos italianos.
Por Ângela Pomatti *[email protected]*Mestre em História das Sociedades Ibero-Americanas - PUC-RS.
ESPECIAL / A IMIGRAÇÃO, PARTE 4
22 TRENDLINE[MAG] . ANO[02]50
A chegada dos imigrantes ao Rio Grande do Sul, proporcionou o contato com as iguarias da culinária italiana. Porém, como fator comum das manifestações culturais, a comida típica aqui chegando sofreu modificações. Foi preciso transformar as receitas e improvisar.
Mangia che te fa bene
Aqueles que tinham melhores condições criavam
animais. Devido à inexistência de refrigeração, a carne
bovina não era muito utilizada, sendo os embutidos à
base de porco os de maior consumo. Linguiças, copas
e salames eram confeccionados seguindo os
costumes das mais variadas regiões italianas, tanto
que ainda hoje são parte importante da dieta local.
O pão foi outro elemento que teve suma importância na
alimentação dos imigrantes italianos. À época
inexistiam padarias (elas só surgiram após a fixação
dos colonos no meio urbano), e a panificação era feita
em casa. Via de regra, se produzia o pão negro de
cevada, que, junto com o milho, embutidos de carne de
porco, legumes e verdura formavam o «feijão com
arroz» do colono.
Os italianos também adicionaram à mesa do brasileiro
rúcula e alcachofra, provocando uma mudança
substancial nos hábitos alimentares da sociedade. Em
troca, anexaram alimentos da região, tais como pinhão
e batata-doce, nos seus cardápios.
Hoje integrados à culinária local italiana, o pinhão e
a batata-doce foram incorporações «brasileiras» ao
cardápio dos imigrantes.
FOTO DIVULGAÇÃO
La carta dei vini
Se a alcunha «polenteiro» servia para comprar briga
com os italianos, dentre os seus costumes alimentares
nada enunciava de maneira mais positiva a identidade
imigrante do que o seu vinho.
Na Europa, a bebida era associada a importantes
propriedades nutritivas, e ocupava um papel
fundamental na vida de todos os italianos, fossem
abastados nobres ou simples camponeses. Essa
situação sofreu mudanças, na época da grande
emigração (década de 1880), período em que o
consumo de vinho passou a se tornar um privilégio de
classes nobres, devido à pobreza que assolava as
regiões agrícolas do interior da Itália.
No Brasil, os imigrantes italianos procuravam fazer do
vinho uma amostra particular da própria qualidade
enquanto povo, mesmo que fosse a bebida
reconhecida como uma regalia destinada a poucos.
Era com muito orgulho que eles propagavam o hábito
de ingerir a bebida, e com muita vaidade explicitavam a
qualidade do vinho procedente da mãe-pátria.
Foi dessa maneira que o vinho se tornou
acompanhamento obrigatório dos dois tipos de
cardápio que mais marcavam a vida dos colonos: um,
de frequência diária, composto por polenta, salame,
carne de porco, radicci; outro, de caráter social,
servido sobretudo em domingos e dias de festa:
macarronada, agnolini (também conhecido por
capeletti), carne de gado e frango.
O encontro da cozinha italiana e brasileira se deu,
portanto, através de trocas que se efetuavam em vários
níveis e em um processo lento e não linear.
A culinária que conhecemos hoje relacionada aos
italianos do Estado nos leva à ideia de mesa farta, tão
presente no nosso imaginário. Essa não era,
necessariamente, a regra, mas é possível que esse
pensamento tenha se propagado entre os imigrantes
como um contraponto à pobreza que assolava a Itália
na ocasião em que a abandonaram.
Esse fato é muito festejado, sobretudo pelos milhares
de turistas que todos os anos visitam a região em
busca de verdadeiros banquetes.
Na Serra Gaúcha, já no inicio do século XX, diversas
cidades apresentaram as galeterias, hotéis e pensões
cujos donos eram italianos, e que tinham como pratos
principais o galeto assado (geralmente temperado
com sálvia), a massa com molho vermelho de miúdos
de frango, a sopa de agnolini, o pão, a polenta, o
radicci com toucinho e as uvas ou frutas em calda
(pêssego, figo ou abacaxi). Tudo isso, claro, regado a
vinho.
Esses pratos se configuraram como um dos mais
tradicionais da culinária típica italiana presente no Rio
Grande do Sul, e por terem vindo do cardápio festivo
das famílias, geralmente sinalizam uma mesa farta,
formando o que se pode chamar de patrimônio
gastronômico da Serra Gaúcha.
TRENDLINEMAG . NO[05] 51
A mesa farta da Serra Gaúcha:
galeto, massas, saladas e vinho.
Resistir é inútil.
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CENA CULTURAL / CULT
Por Greici Audibert** Repórter de Cultura do Grupo RSCOM e coordenadora de Mídias Sociais do Portal Leouve
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]52
Primeira patrona do Século 21
A Feira do Livro de Porto Alegre teve este ano a sua
quarta mulher como patrona. Depois de seis vezes
indicada, a escritora Jane Tutikian foi agraciada nesta
57ª edição do evento, no ano em que lembramos os 47
anos de morte de Cecília Meireles, a primeira mulher a ter
um livro reconhecido pela Academia Brasileira de Letras.
Até 1989, só homens haviam figurado na lista de
patronos da Feira. Maria Dinorah do Prado foi a primeira,
seguida de Lya Luft (1996) e Patrícia Bins (1998).
Por falar no assunto, nos meses de outubro e novembro
tivemos também as já tradicionais feiras do Livro na
região. Caxias do Sul, Veranópolis, Garibaldi e
Farroupilha seguiram a tendência e realizaram as
mostras ao ar livre, garantindo movimento cultural
intenso no lugar certo: próximo da comunidade.
Bento, Capital da Cultura?
Bento Gonçalves anunciou a sua candidatura a Capital
da Cultura – título que pertenceu a Caxias do Sul em
2008. Se depender da evolução da cidade nessa área, a
conquista pode ser uma realidade.
Só nos últimos três meses, a Capital do Vinho recebeu
importantes nomes durante o IB&T Bass Festival, a
Semana da Música, o Congresso Brasileiro de Poesia e o
Bento em Dança. Sem contar o projeto Gravaêh – que
lança, em 2012, uma coletânea das bandas locais -, a
inauguração do cinema público, a criação do Bento Film
Commission e seus ciclos de cinema, a 1ª Mostra de
Teatro Estudantil e a passagem de novas vertentes da
música trentina através do Live Brasile. Vale destacar
também que a Secretaria Municipal de Cultura acaba de
angariar uma verba de R$ 2,3 milhões para a construção
de um complexo cultural, que abrigará a nova sede da
Biblioteca Pública.
Porto Alegre Show
De 1º de novembro até 16 de dezembro, Porto Alegre terá 35 shows. Entre os que já passaram, destaque para as
apresentações de Ringo Starr, Bee Gees, Pearl Jam, Chico Buarque e Tãn-Tango. Em dezembro, vêm aí Ben
Harper (3/12), Nei Lisboa (3 e 4/12), Jon Anderson (ex-Yes) (9/12), Matanza (11/12), Canções aos Pares, com
Luiz Carlos Borges e Liliana Herrero (15/12) e Show Noite do Rei, com Rafael Malenotti (16/12).
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EM FORMA / GOOD LIVING
Por Maria Cristina Frazon Telles*[email protected]* Personal Trainer, Pós Grad. em Fisiologia do Exercício – UGF/RJ
Pode parecer pegadinha, mas a verdade é que você não precisa se tornar uma maratonista para conseguir um corpo legal.
Quando correr nãoemagrece.
Os aeróbicos ajudam, não há dúvida. Através deles
você pode deixar o seu corpo mais enxuto, até mesmo
a barriguinha de chopp dos homens pode se reduzir,
mas apostar só na corrida não fará nenhum milagre.
Além de caminhar e correr por aí, sempre tomando o
devido cuidado na escolha de um calçado adequado -
que, sobretudo, absorva o impacto sobre joelhos e
tornozelos - é fundamental rever hábitos alimentares.
Quem nunca ouviu o maldoso comentário «deixa
disso, Fulano. Caminhar engorda!»? Pois é, frases
assim se devem ao fato de que entra ano e sai ano, e
nossos amigos em questão dão inúmeras voltas nos
pontos estratégicos da cidade - ou na esteira da
academia - sem, contudo, atingir o objetivo de perder a
«bagagem extra».
Além disso, muitas pessoas se sentem mais à vontade
para devorar um pratão de batata frita depois de fazer
uma leve corrida. É como se justificassem para si
mesmos «Hoje corri meia hora, agora já posso repor as
energias», ignorando a matemática básica em
questão: se você perde 200 calorias no aeróbico, não
adianta ingerir 500 calorias logo após o treino. A conta
segue sem fechar.
Diminuir a gordura corporal não traz apenas benefícios
estéticos, é uma opção que promove saúde. Implantar
uma rotina regrada, com exercícios e alimentação
balanceada, é algo que toma tempo, mas também se
paga em tempo e qualidade de vida.
PersonalTrainer MusculaçãoPilates
Ginástica
Bike Indoor
Rua Pinheiro Machado, 770Galeria da SOAL, Veranópolis-RS
Fone: (54) 3441-7237
A temperatura da época e o horário de verão
acabam contribuindo para um fenômeno que se repete
todos os anos: como que saindo da hibernação, várias
pessoas aproveitam a luz do dia até mais tarde para
fazer corridas nas ruas e parques das nossas cidades.
Para todas elas, uma convicção: quanto mais
passadas se der, mais peso se perderá. Será verdade?
Aparentemente, sim. Como é característico dos
exercícios aeróbicos, a corrida promove uma
acelerada queima de calorias, e, daí, é natural esperar
que as medidas se reduzam após alguns dias de
dedicação a essa atividade. Porém, essa é uma meia
verdade.
O que nem todo mundo sabe é que após alguns dias
de atividade cardiovascular intensa o corpo humano
acaba se adaptando aos estímulos recebidos, e a
perda de peso, que no início ocorria facilmente, se
estabiliza conforme o organismo incorpora a rotina de
atividades físicas. Sabe aquela gordurinha extra, que
sobrou depois das corridas? Pois é, ela simplesmente
não some, mesmo que o ritmo de exercícios aeróbicos
seja mantido.
Eliminar os quilos extras é uma das principais
motivações que fazem com que as pessoas pratiquem
alguma modalidade esportiva. Contudo, o ponteiro da
balança, símbolo de angústia para uma legião de
gordinhos e gordinhas, não vai a pique só com um
programa de exercícios aeróbicos.
cuidados para sua saúde e bem-estar
IMPEDIMENTO / FUERADEJUEGO
por Luis Felipe dos Santos *www.impedimento.org* Jornalista e editor do Impedimento
Arena ou Beira-Rio?Mais que um simplesGre-Nal
A polêmica das obras paradas do Beira-Rio, com a
possibilidade da Arena gremista levantar e ser o
estádio gaúcho da Copa, serviu para duas conclusões:
A Arena do Grêmio e a reforma do Beira-Rio são
projetos de empreiteiras, OAS e Andrade Gutierrez,
que usarão os clubes para fazer negócios com risco
baixo, graças aos investimentos do governo e aos
empréstimos com juros suaves do BNDES. É bem mais
complexo do que um Gre-Nal.
As grandes corporações sabem o quanto vincular-se a
uma marca forte gera de bons negócios. E foi isso que
fizeram OAS e Andrade Gutierrez quando atrelaram
seus projetos com à construção dos estádios da Copa
– os mesmos que depois vão virar cases mundiais de
engenharia, arquitetura e marketing, com a visibilidade
garantida de uma Copa do Mundo.
Nesse sentido, é absolutamente normal que as
empreiteiras lutem, nos bastidores, para tentar
assegurar a Copa do Mundo nos seus domínios.
A Andrade Gutierrez conseguiu um grande trunfo ao
convencer o Inter que tinha a melhor proposta, com o
trabalho do então executivo-chefe do Inter Aod Cunha.
Com a eleição da Arena como campo de treino para o
Mundial, a OAS conseguiu de cara um empréstimo de
R$ 30 milhões ainda no ano passado do BNDES – se a
Arena for garantida na Copa, o governo federal vira
sócio do empreendimento. Nada mais justo, portanto,
que a empreiteira faça um trabalho árduo para garantir
esse posto.
O anúncio da Andrade Gutierrez que precisa de
parceiros para garantir o financiamento da obra dá
uma demonstração clara: o governo federal ainda não
entrou na jogada. Ainda não é sócio. Ainda não botou
grana, e está reticente quanto a isso.
Qual é a razão? Jerome Valcke, secretário-geral da
Fifa, confirmou que a Copa será no Beira-Rio.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]56
FOTO DIVULGAÇÃO
a) O Inter perdeu muito tempo na ilusão de levantar
um estádio com recursos próprios;
b) O quanto o torcedor gaúcho médio levanta
bandeiras que não lhe pertencem em prol do seu
time.
O processo de início da construção de um
empreendimento tão grande é muito complexo, e a
OAS cumpriu todos os passos dentro da sua
complexidade. A AG ainda tem que mostrar como
conseguir associados para pleitear o empréstimo do
BNDES a fim de tocar a reforma do estádio colorado.
Talvez tenha que tirar do próprio bolso os R$ 280
milhões previstos para a construção.
Não descarto a hipótese do governo federal
pressionar a Fifa pela entrada da Arena do Grêmio na
Copa. Não apenas pelo andamento das obras, mas
pelas garantias financeiras que a empreiteira tem em
relação às da AG.
Seja como for, o processo ainda está longe de
terminar, e não acontecerá sem traumas, pois a briga
política nos bastidores promete.
A saída de Porto Alegre da Copa das Confederações
motivou uma nota otimista do Inter, dizendo que o
clube ganhou um ano a mais para fazer tudo. Então,
onde está a dificuldade do BNDES em liberar o
dinheiro, e da AG em conseguir os incentivos fiscais?
É possível que o governo federal tenha um bom
indicativo que o Beira-Rio não está garantido na Copa
de 2014. Ou então, a situação financeira das duas
empreiteiras é bastante diversa. Segundo os balanços
patrimoniais das duas empresas, divulgados nos sites
oficiais, a Andrade Gutierrez teve em 2010 um lucro
muito superior ao da OAS (R$ 1,1 bi contra R$ 50
milhões).
A OAS, porém, leva uma vantagem de três anos de
assinatura do contrato sobre a AG, o que lhe deu
tempo para aparar todas as arestas do processo –
desde a negociação do Olímpico com o Grêmio até a
joint-venture com a Karagounis Participações,
aprovada pelo CADE só em fevereiro deste ano.
TRENDLINEMAG . NO[05] 57
ARTE HYPE STUDIOARTE DIVULGAÇÃO GRÊMIO ARENA
TELEFONE VERMELHO / CRT
Por Marcos Beck Bohn** Jornalista, com Mestrado em Comunicação Transnacional e Mídia Global pelo Goldsmiths College, em Londres.
Passados já alguns meses do falecimento de Steve Jobs, talvez seja possível olhar para o seu legado com mais parcimônia e menos sentimentalismo.
O inferno de Jobs
Agradável estímulo aos sentidos, massificada
experiência individual, os aparelhos popularizados por
Steve Jobs, finado presidente da Apple, nos dão o que
não precisávamos. Fruto tentador, pecado original
cometido outra vez, colhemos todos a maçã mordida
de antemão.
Logomarca tão genial quanto os produtos que
estampa, surgiu, segundo fontes oficiais, a partir
daquela maçã que caiu na cabeça de Newton. É na
mordida, no entanto, que está o toque divino – e, ao
mesmo tempo, mundano.
Veja-se o trocadilho no slogan inicial da companhia,
em inglês, entre byte (unidade computacional) e bite
(morder): Byte into an Apple.
O perfeito e simples design da estilizada maçã elimina
a rugosidade da dentada. Através da maciez de
contornos infantis, desaparece a desastrosa
lembrança de uma única e primordial mordida
proibida. Mas, ao mesmo tempo, é mantida e recriada
a tentação libertadora.
Invertida crença contemporânea que, ao custo de
alguns dólares, abre-nos os portões de um paraíso
digital. E também do inferno de não mais poder sair de
lá.
É claro que Jobs não está sozinho na responsabilidade
pelos incríveis e recentes avanços. Mas, no que tange
ao indivíduo, é a ele que cabe a parte mais significativa
desse latifúndio de mudanças.
Além de criar aparatos intuitivos, efetivamente portáteis
e que se tornam – de imediato – indispensáveis, ele
ainda os fez bonitinhos. É quase inevitável um afeto
carinhoso pelos produtos da Apple. Mesmo por
aqueles que não possuímos.
Quais os efeitos dessas fofas maquininhas no âmago
do indivíduo e da sociedade? Imersos e absortos na
magia de iPods, iPhones e iPads, envoltos numa
nuvem de instantânea e ininterrupta conectividade,
esquecemos de levantar os olhos para (tentar) ver
aonde estamos indo.
Até o momento, o resultado é o perecimento de uma
indústria e a dificuldade de outras em se adaptar a uma
audiência menos passiva e mais centrada em si
mesma. Em relação a isso, foi curioso observar, nos
primeiros dias após a morte de Jobs, os louvores
dedicados a ele nos meios de comunicação
tradicionais.
Essa nova forma de consumir mídia, catalisada pela
Apple, tem sido uma notória dor de cabeça para a
indústria da informação e do entretenimento. Talvez
percebendo o que alguns estudiosos da comunicação
chamam de self mass mediation (que poderia ser
traduzido como “mediação de massa de si mesmo”, ou
“do eu”), muito espaço tem sido aberto na grande
mídia noticiosa para a manifestação e interferência
direta do público. À primeira vista, com resultados
satisfatórios, mas isso é uma ilusão.
Há uma relação hierárquica necessária e inevitável
entre o público e um órgão que se coloca no papel de
provedor de notícias. Tentar eliminar essa
característica, diluindo a responsabilidade pelo que é
publicado e levado ao ar, é atacar a natureza do próprio
negócio da comunicação.
Diante de uma mídia confusa e de um mercado
consumidor ávido por estímulos sensoriais,
seguiremos ainda, por algum tempo, todos talvez um
pouco desorientados, mas focados em nossos
aparelhinhos, comungando nas tentações de um
pecado original de fábrica, gostosa maçã que
compramos mordida.
TRENDLINE[MAG] . ANO[02]58
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