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TRILHAS CAMPESINAS: Integrando vidas e saberes 2014

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TRILHAS CAMPESINAS: Integrando vidas e saberes

Compreender o lugar da escola na Educação do Campo,

é ter claro, que ser humano ela precisa ajudar a formar,

e como pode contribuir com a formação dos novos sujeitos sociais

que se constituem no campo hoje.

Caldart

FORMAÇÃO CONTINUADA EM EXERCÍCIO NA MODALIDADE DA EDUCAÇÃO DO

CAMPO

MODALIDADE: SEMIPRESENCIAL

Duração: ano letivo de 2014

Carga horária: 80 h sendo 40 h no 1º semestre e 40 h no 2º semestre.

Público alvo: Educadores que atuam nas Escolas do Campo

Proponentes: Arlete Tavares Buchardt, José Aldair Pinheiro, Ketheley Leite Freire, Luiz Garcia

Júnior.

Colaboradores: Professores formadores responsáveis pelas Escolas do Campo, sendo Antônio Ramos

de Faria, Ernandes Lopes Cervantes e Kátia de Oliveira Carvalho.

INTRODUÇÃO

As discussões sobre as realidades vivenciadas pelos povos do campo no que concerne à

educação são bastante recentes. Foi na década de 1980 que houve alguns progressos consideráveis

visando o desenvolvimento de uma educação pública de qualidade para os alunos da zona rural. A

partir desse período organizações e movimentos sociais relacionados ao campo e às lutas pela terra

passaram a reivindicar os direitos dos Cidadãos do Campo, em especial o Direito à Educação.

A Constituição Federal do Brasil de 1988, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LDBEN 9394/1996) em seus artigos 23 e 28 garante o direito à educação contemplando a

especificidade contextual dos diversos campos. Temos também alguns Pareceres e Resoluções dos

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Conselhos de Educação, assim como as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas

do Campo que nos dão a clara indicação de que há a preocupação em garantir uma estrutura

organizacional política e curricular própria para os povos do campo. Todavia, Direitos registrados por

escrito não quer dizer que serão cumpridos.

A história tem registrado altos índices de analfabetismo no campo, escolas em péssimas

condições físicas, profissionais sem formação, trabalho pedagógico centrado nas características da

Escola Urbana somente para citar algumas dificuldades. A fim de superar ou amenizar essas

fragilidades é urgente e indispensável superar a dicotomia entre rural e urbano, criar laços que possam

desenvolver ou gerar o sentimento de pertença, de identidade campesina, oferecendo a possibilidade de

defesa das ideias, da cultura e da valorização do campo e de seu entorno.

A Educação do Campo precisa estar vinculada a uma cultura que se produz por meio de

relações mediadas pelo trabalho na terra, entendendo trabalho como produção cultural de existência

humana. (Rocha, Passos e Carvalho)

Ao debater Educação do Campo necessitamos estar cientes de que os sujeitos do campo

possuem história, participam de lutas sociais, sonham, tem nomes e rostos, lembranças, gêneros e

etnias diferenciadas e que os currículos precisam se desenvolver tendo isso como referência. O

currículo não pode deixar ausentes as discussões sobre os direitos humanos, as questões de raça,

gênero, etnia, a produção de sementes, o patenteamento das matrizes tecnológicas e das inovações na

agricultura, a justiça social e a paz. (Silva)

O elemento que transversaliza os currículos nas escolas do campo é a terra e com ela as

relações com o cosmo, a democracia, a resistência e a renovação das lutas e dos espaços físicos, assim

como as questões ambientais, políticas, de poder, ciência, tecnológica, sociais, culturais e econômicas.

(Silva)

Os moradores do campo são pessoas que pensam uma educação que respeite e que parta do seu

contexto sócio-cultural, sabem o que desejam e necessitam enquanto sociedade que querem construir.

Não se submetem aos desmandos da tirania, mas buscam uma educação que se realize no campo, lugar

em que habitam, que respeite sua diversidade, suas vidas e seus saberes.

A fim de contemplar a especificidade da Educação do Campo é essencial que a comunidade

escolar tenha suporte teórico/metodológico voltado para a construção de sua identidade, para a busca

da sustentabilidade, para um trabalho pedagógico contextualizado com o entorno da unidade escolar.

Visando atender essa demanda o Centro de Formação de Professores CEFAPRO de Sinop, situado a

Av. da Embaúbas nº 1447 através das professoras Arlete Tavares Buchardt, Ketheley Leite Freire,

Márcia Weber e dos professores José Aldair Pinheiro e Luiz Garcia Júnior apresenta a proposta de

Formação Continuada à Distância aos educadores das Escolas do Campo com o intuito de promover

momentos de estudos proporcionando crescimento pessoal e profissional bem como, permitir espaços

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para que os educadores registrem suas ações com o propósito de suscitar boas reflexões sobre o

trabalho do dia a dia em sala de aula, socializando experiências curriculares contextualizadas.

JUSTIFICATIVA

A formação inicial, indispensável ao exercício da função do educador, não atende a toda

demanda formativa do profissional. Ao se defrontar com a prática diária da educação percebe-se que

há lapsos que não foram contemplados pela formação inicial e necessitam ser trabalhados. Isso sem

contar nas transformações sociais que repercutem na escola e requerem também um estudo mais

apurado e centrado naquele ponto em específico a fim de se solucionar ou amenizar as problemáticas

educacionais.

A Formação Continuada vem suprir essa necessidade ao vivenciar o processo de prática

reflexiva sobre a ação diária, buscando alternativas que deem suporte teórico e metodológico ao

profissional. Num constante rever da práxis busca o profissional seu aperfeiçoamento a fim de melhor

atender ao aluno e a seu processo de construção e apreensão de conhecimentos.

É impossível abordar a Formação Continuada nas escolas do Campo sem a devida reflexão

sobre o contexto social, histórico e cultural que permeia a realidade das escolas fixadas nesse espaço.

Historicamente a Educação do Campo surgiu, não das elites, mas das mãos do povo, dos

camponeses e camponesas, dos parceiros, dos líderes populares que buscavam fazer cumprir o direito

do cidadão de ter educação no lugar em que se encontra conforme garante a Constituição, lutando por

permanecer no campo com qualidade de vida e de educação, tendo seus direitos assegurados na teoria

e na prática. Todavia, não se faz Educação do campo sem luta, além de ser difícil inverter uma

“lógica” estabelecida socialmente de que se estuda para sair do campo.

Tendo a Educação do Campo sido relegada ao quase completo esquecimento por décadas,

ainda hoje deixada ao descaso de governantes que poderiam suprir suas necessidades e amenizar suas

dificuldades que vão desde infraestrutura a materiais e equipamentos, o que desejamos ressaltar é o

descaso para com a formação do profissional que atenderá aos alunos do campo. Como esses

profissionais cursam universidades urbanas, com teorias urbanizadas, ao irem para o campo carregam

consigo sua história de vida e construção pessoal e profissional desfocada do contexto campesino.

Somente a partir da década de 1990 é que se percebeu com clareza alguns avanços na Educação

do Campo no que concerne a um currículo contextualizado de acordo com os interesses e atividades do

camponês conforme garante a LDB 9394/96. Este período foi palco de inestimáveis vitórias para a

Educação do Campo. Um dos de maior importância foi a publicação da Resolução 1/2002

CNE/CEE que definiu as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do

Campo, cujo texto prima pelo respeito à diversidade e à identidade do campesinato. Estas vitórias,

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juntamente com a gestão democrática das escolas públicas oportunizaram às Escolas do Campo a

possibilidade de haver em cada unidade a construção de um currículo que contemplasse suas

peculiaridades, um Projeto Político Pedagógico que atendesse suas especificidades culturais e sociais.

Essas conquistas não foram, entretanto, suficientes para que os educadores das Escolas do

Campo passassem a atuar de acordo com o contexto, para que se construísse um currículo que

integrasse o núcleo comum à diversidade cultural de cada região camponesa. A legislação assegura,

mas o profissional não está qualificado para tal, sua formação inicial não atende a essa demanda:

integração curricular dos conhecimentos do núcleo comum com os do campo.

O Governo do estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Educação, em

2007, vendo essa demanda no campo, criou a gerência de Educação do Campo a qual passou a se

preocupar em prover suporte aos educadores dessas escolas a fim de que os mesmos garantissem o

cumprimento dessa legislação no campo e promovesse a integração curricular.

Também os profissionais dos CEFAPROS (Centro de formação e Atualização dos Profissionais

da Educação Básica), responsáveis pela Formação Continuada no Estado, na perspectiva do Projeto

Sala de Educador, passaram a buscar essa integração curricular. Com esse objetivo em mente

promoveu-se a construção coletiva das Orientações curriculares da Educação Básica das Áreas do

Conhecimento e das diversidades Educacionais, entre estas, a da Educação Ambiental e do Campo,

além da sugestão de uma matriz que contemplasse as Ciências Agrárias, sendo Agricultura Familiar,

Agroecologia e Socioeconomia Solidária do ponto de vista da sustentabilidade ambiental, social e

cultural.

Apesar de toda essa documentação legal e pedagógica construída, ainda não se alcançou a

idealizada integração, pois isso é trabalho de vida, de práxis diária em cada escola, advinda da

integração não apenas de todos esses materiais, mas da integração humana entre os educadores que

constituem o corpo de cada escola do Campo. São eles que, saindo de sua prática habitual

descontextualizada do camponês e sua história, sua identidade irão agora buscar atender a essa

necessidade.

Os profissionais do CEFAPRO de Sinop, sentindo a necessidade e a urgência dessa questão, se

reuniram e construíram coletivamente o projeto TRILHAS CAMPESINAS: Integrando vidas e

saberes. Esta ação visa exatamente a isso, oferecer aos educadores das Escolas do Campo uma

possibilidade de integração curricular que respeite a identidade e o contexto campesino.

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OBJETIVO GERAL

Promover a formação continuada dos profissionais das Escolas do Campo, visando o

desenvolvimento de um currículo que integre as Orientações Curriculares das Áreas, as Orientações

Curriculares do Campo e a matriz pedagógica (Agricultura Familiar, Socioeconomia Solidária e

Agroecologia).

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Resgatar os conhecimentos, valores e a identidade do camponês por meio de atividades de

valorização e análise do contexto sócio ambiental e cultural;

Proporcionar aos educadores a construção de planejamentos coletivos;

Articular conhecimentos teóricos e práticos de forma a promover atividades interdisciplinares;

Promover a socialização de práticas pedagógicas contextualizadas fazendo uso do Blog da

formação;

Aprofundar os conhecimentos sobre as Orientações Curriculares das áreas e das Orientações

Curriculares do Campo;

Prover suporte teórico e metodológico para integração das áreas no contexto da comunidade

escolar campesina;

Propiciar análise e observação crítica sobre o espaço geográfico, social e cultural da comunidade,

visando o desenvolvimento de ações sustentáveis;

Planejar ações que contemplem a matriz pedagógica da SEDUC ((Agricultura Familiar,

Socioeconomia Solidária e Agroecologia);

Perceber o espaço, o entorno da comunidade escolar e visualizar quais as possibilidades de

utilização que o mesmo proporciona para a construção de uma trilha ecológica/interpretativa que

contemple atividades físicas, de lazer e pedagógicas;

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento desta formação serão utilizados textos, sites e o blog previamente

selecionados com o objetivo de fornecer suporte teórico no desenvolvimento das atividades de

execução do projeto. A formação ocorrerá à distância. Serão sugeridas atividades que serão postadas

no Blog da formação e os participantes irão interagir e postar suas contribuições no Blog.

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A fim de tornar a ação dos educadores mais prática, dividimos a formação em três caminhadas,

afinal estamos numa trilha, vamos, pois, caminhar. Cada caminhada possui três passos os quais

apresentarão as atividades a serem realizadas e postadas no Blog

“trilhascampesinas.blogspot.com.br”, preparado especialmente para esse fim, socializar as

atividades entre os educadores e entre as unidades escolares participantes.

As unidades escolares que aderirem ao projeto integralmente (todos os educadores,

especialmente os professores e professoras) poderão integrar o estudo do currículo do campo, como

realizar a integração curricular e os estudos sobre a inter/transdisciplinaridade na carga horária do

Projeto Sala de Educador. A carga horária necessária para essas ou outras temáticas equivalentes que

se fizerem necessárias será determinada pela unidade escolar.

A formação necessita de um coordenador/orientador de estudos in loco e de um colaborador na

área de tecnologia. Para tal cada unidade escolar participante escolherá um educador(a), ou dois, que

tenham disponibilidade para realizar essas funções. Estes profissionais terão a responsabilidade de:

- organizar os encontros coletivos na unidade escolar para realização das atividades propostas

na formação;

- orientar e auxiliar quanto à utilização e postagem das atividades no Blog;

- articular a comunicação entre as unidades escolares e os proponentes da formação.

RESULTADOS ESPERADOS:

Promover novos olhares para o currículo da Educação do Campo, repensando sua metodologia,

buscando possibilidades curriculares contextualizadas com as experiências vividas pela comunidade

escolar campesina, visando a integração das áreas do conhecimento, das temáticas pedagógicas e das

políticas públicas do Estado de Mato Grosso para a Educação do Campo

AVALIAÇÃO

A avaliação se efetivará mediante a realização das atividades propostas e mediante a análise das

reflexões propostas registradas no Blog da formação.

Utiliza-se muito atualmente da avaliação intitulada “diagnóstica, processual e contínua”. A fim

de que se efetive tal processo avaliativo é importante diagnosticar as dificuldades, os avanços, quais

aspectos necessitam de intervenção a fim de ser aperfeiçoado. Dessa forma, a cada atividade,

estaremos analisando os problemas e as vitórias alcançadas pela formação. Isso se dará mediante a

análise das atividades, mediante a participação e interação no blog com os educadores de outras

unidades escolares.

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CERTIFICAÇÃO

Terá direito à certificação de 80 horas os participantes que completarem 75% das atividades

propostas referentes aos três módulos/caminhadas.

Caso a escola tenha feito a opção para que parte da carga horária do Trilhas fosse realizada no

espaço do Projeto Sala de Educador, terá essa carga horária que havia sido determinada pela unidade

escolar reduzida das 80 horas, ficando o certificado do Projeto Trilhas Campesinas com menos horas.

O profissional escolhido para organizar os estudos receberá certificação de 20h como

articulador dos estudos, assim como o colaborador na área tecnológica.

RECURSOS FINANCEIROS

Certificação

Diárias para acompanhamento nos municípios e nas unidades escolares de Cláudia, Colíder,

Nova Ubiratã, Sorriso (Boa Esperança) e Itanhangá.

ARTE: Ketheley Leite Freire

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agricultura Orgânica: negócio sustentável. SEBRAE.

CORTEZ, Baltazar Campos. Os professores do campo e a sua formação na perspectiva dos sujeitos da

pesquisa

Programa de Desenvolvimento Ecosustentável Escolar e Comunitário. Apostila orientadora para

educadores. Fundação Gaia - Secretaria Municipal de Educação de Viamão, Secretaria Municipal de

Educação e Desporto de POA Pró - Reitoria de Extensão - UFRGS

BERBEL, Neusi Aparecida Navas. A problematização e a aprendizagem baseada em problemas:

diferentes termos ou diferentes caminhos?

SANTOS, Júlio César Furtado dos. O papel do professor na promoção da aprendizagem significativa.

Orientações Curriculares de Educação Ambiental- SEDUC – MT, 2010.

Orientações Curriculares para a Educação Básica nas Escolas do Campo - SEDUC – MT, 2010.

ALTIERI, Miguel Ángel. Agroecologia: princípios e estratégias para a agricultura sustentável na

América Latina do século XXI

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MARCATTO, Celso. Agricultura Sustentável: Conceitos e Princípios

Brasil. Conselho Nacional de Educação\ Câmara de Educação Básica. Diretrizes Operacionais para a

Educação Básica nas Escolas do Campo. Resolução nº 1 de 03 de abril de 2002.

Texto Base: Educação do Campo. ROCHA, Eliene Novaes, PASSOS, Joana Célia dos e CARVALHO,

Raquel Alves de. Disponível em www.forumeja.org.br. Acessado em 15/04/2013 por Arlete Tavares

Buchardt.

NÓVOA, António. Professores: Imagens do futuro presente. EDUCA Instituto de Educação.

Universidade de Lisboa. Lisboa | Portugal, 2009.

DECRETO Nº 7.352, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2010. DOU 05.11.2010. Dispõe sobre a política de

educação do campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA.

SILVA, Maria do Socorro. Reflexões sobre currículo e Educação do Campo.