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UIVERSIDADE CÂDIDO MEDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SESUDIREITO PROCESSUAL CIVIL O PROCESSO DO TRABALHO EFOQUE EM RELAÇÃO AO ISTITUTO DA ITERVEÇAO DE TERCEIROS Por: Gabriela Pessoa de Souza Orientador Prof. Dr. Jean Alves Rio de Janeiro 2009

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U�IVERSIDADE C�DIDO ME�DES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

DIREITO PROCESSUAL CIVIL �O PROCESSO DO TRABALHO

E�FOQUE EM RELAÇÃO AO I�STITUTO DA I�TERVE�ÇAO DE TERCEIROS

Por: Gabriela Pessoa de Souza

Orientador

Prof. Dr. Jean Alves

Rio de Janeiro

2009

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U�IVERSIDADE C�DIDO ME�DES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SE�SU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

DIREITO PROCESSUAL CIVIL �O PROCESSO DO TRABALHO

E�FOQUE EM RELAÇAO AO I�STIUTO DA I�TERVE�ÇAO DE TERCEIROS

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Processual Civil

Por: Gabriela Pessoa de Souza

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3

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar,

replicou o rei. A autoridade repousa sobre a razão. Se

ordenares a teu povo que ele se lance ao mar, terão todos

revolução. Eu tenho o direito de exigir obediência porque

minhas ordens são razoáveis.”

Saint-Exupery

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À querida e pequena Luise, minha filha,

grande alegria e fonte de inspiração e motivação

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5

RESUMO

O presente trabalho acadêmico visa realizar um estudo acerca da aplicação do Código de

Processo Civil no Processo do Trabalho, em especial quanto ao tema “Intervenção de

Terceiros”, ou seja, quanto à possibilidade de ingresso nos autos de quem não é parte,

no âmbito da Justiça do Trabalho, tendo em vista a ampliação de competência instituída

pela Emenda Constitucional nº 45/2004. Trata-se de tema que sempre causou polêmica,

pois a maioria das modalidades do instituto em questão, ou não eram aplicadas na seara

trabalhista, ou eram aplicadas com ressalvas, tendo em vista que o cabimento das

mesmas sempre foi objeto de grande cizânia na doutrina e na jurisprudência. Com a

ampliação significativa da competência material da Justiça do Trabalho, que passou a

julgar as ações oriundas da relação de trabalho lato sensu, e não apenas às decorrentes

de relação de emprego, como ocorria antes da mudança na Carta Política, o instituto da

intervenção de terceiros na Justiça do Trabalho passou a ser mais amplamente utilizado

e, consequentemente, o Código de Processo Civil passou a ser ainda mais manejado de

forma subsidiária, já que não há disposição na Consolidação das Leis do Trabalho

acerca do tema. Para um melhor desenvolvimento do tema proposto será necessário

analisar e interpretar os diversos institutos acerca da matéria, bem como publicações,

julgados e dispositivos legais que abordam a problemática.

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METODOLOGIA

Para o desenvolvimento do tema proposto foi utilizado, como método, o da

pesquisa exploratória. Por meio de análise de material bibliográfico acerca do tema,

desenvolveu-se um estudo sobre a aplicação do Código de Processo Civil no âmbito da

justiça laboral, em especial em relação ao tema “Intervenção de Terceiros”.

Foi necessário analisar e interpretar os diversos institutos acerca da

matéria, bem como publicações, julgados e dispositivos legais que abordam a

problemática.

A coleta de dados foi realizada em sites especializados, bem como em

acervo bibliográfico próprio e nas bibliotecas da Escola de Magistratura do Estado do

Rio de Janeiro – EMERJ, do Tribunal Regional Federal – 2ª Região e da Justiça Federal

de 1ª Instância – Seção Judiciária do Estado do Rio de Janeiro.

As aulas ministradas ao longo do Curso de Pós-graduação - em especial na

disciplina Processo Civil no Processo do Trabalho, ministrada pela Professor Luciano

Viveiros – muito ajudaram a desenvolver o tema proposto.

A análise, leitura e interpretação do material bibliográfico utilizado na

pesquisa permitiram ser possível responder às questões norteadoras.

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SUMÁRIO

I�TRODUÇÃO

08

CAPÍTULO I

A aplicação do Processo Civil no Processo do Trabalho

11

CAPITULO II

Principais modalidades da intervenção de terceiros à luz do Código de

Processo Civil

15

CAPÍTULO III

O instituto da intervenção de terceiros na seara trabalhista

31

CO�CLUSÁO

59

BIBLIOGRAFIA CO�SULTADA

61

�DICE

63

FOLHA DE AVALIAÇÃO 64

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I�TRODUÇÃO

A presente monografia visa realizar um estudo acerca da aplicação do

Direito Processual Civil no Processo Trabalhista, em especial no tocante ao tema

Intervenção de Terceiros.

A legislação instrumental trabalhista é modesta, sendo que a própria

Consolidação das Leis do Trabalho estatui expressamente, através do artigo 769, que,

nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito

processual do trabalho, exceto, por óbvio, naquilo que for incompatível.

O Código de Processo Civil é fonte formal do Direito Processual do

Trabalho, sendo por diversas vezes manejado pelo profissional do direito que opera na

seara trabalhista. Temas como impedimento e suspeição; prazos; formação, suspensão e

extinção do processo; procedimentos; modalidades de resposta do réu; exceções;

declarações incidentes; confissão; prova; intervenção de terceiros; argüição de falsidade,

uniformização de jurisprudência, entre outros, não são disciplinados de forma plena na

Consolidação das Leis do Trabalho, sendo, portanto, o Código de Processo Civil fonte

principal quando o assunto precisa ser tratado na seara trabalhista.

No presente trabalho, o enfoque da aplicação subsidiária do Código de

Processo Civil ao Processo Trabalhista será em relação ao instituto da Intervenção de

Terceiros, ou seja, quanto à possibilidade de ingresso nos autos de quem não é parte, no

âmbito da Justiça do Trabalho. O tema mostra-se atual diante da ampliação de

competência da Justiça Laboral, instituída pela Reforma do Judiciário.

Com a ampliação significativa da competência material da Justiça do

Trabalho, que passou a julgar as ações oriundas da relação de trabalho lato sensu, e não

apenas as decorrentes de relação de emprego, como ocorria antes da mudança na Carta

Política, o operador do direito terá um desafio maior ao deparar-se com o tema, pois

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deverá discernir qual a relação jurídica base em questão e, assim, aplicar o instrumental

processual adequado ao caso concreto.

Destarte, para um adequado desenvolvimento do tópico, serão apontadas

questões de Direito Processual Civil e Direito Processual do Trabalho e, como não

poderia deixar de ser, sempre à luz do Direito Constitucional vigente, pois, dificilmente,

algum tema do direito pátrio, ao ser abordado, não se refira à Lei Maior, norteadora,

como o próprio nome sugere, de toda a legislação. Tanto e assim, que este tema se

tornou mais rico, justamente com as inovações trazidas pelo Poder Constituinte

Derivado, através da Emenda Constitucional n. 45/2004.

No primeiro capítulo, será feita uma introdução em relação à aplicação do

Processo Civil na Justiça do Trabalho. Será abordado, ainda, o grau de autonomia do

processo trabalhista em relação ao Direito Processual Civil, destacando-se as

divergências doutrinárias consubstanciadas nas teorias monista e dualista.

No segundo capitulo, realiza-se um estudo acerca das principais

modalidades de intervenção de terceiros, à luz do Código de Processo Civil, que, como

já exposto acima, é aplicado subsidiariamente às normas trabalhistas, conforme

disposição expressa do artigo 769, da Consolidação das Leis do Trabalho.

O terceiro capítulo aborda o instituto da Intervenção de Terceiros na seara

trabalhista com abordagem comparativa do tema antes da Reforma do Judiciário e após

a Emenda Constitucional 45/2004. Assim, serão apresentadas as modalidades de

Intervenção de Terceiros que eram aplicadas em um contexto de competência restrita ao

julgamento das relações de emprego stricto sensu e, também, o mesmo instituto diante

da ampliação da competência, sempre recorrendo ao Código de Processo Civil.

Serão feitas, também, análises de votos proferidos pelo Tribunal Superior do

Trabalho, que trazem discussões riquíssimas acerca do assunto.

Por último, são apresentadas as considerações finais sobre o estudo

realizado.

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CAPÍTULO I

A APLICAÇÃO DO PROCESSO CIVIL

�O PROCESSO DO TRABALHO

A influência do Processo Civil no Direito Processual do Trabalho é enorme.

Diante de tamanha influência, há quem entenda que o processo do trabalho não teria

autonomia perante o direito processual comum.

Em relação à questão, ainda existem divergências na doutrina, nascendo

duas teorias: monista e dualista.

A teoria monista prega que o Direito Processual é um só. O Direito

Processual do Trabalho não seria regido por leis próprias ou estruturado de modo

específico. Muitos autores, que se filiam a esta teoria, entendem que o Direito

Processual do Trabalho ainda não conseguiu se separar do Direito Processual.1

Para a teoria monista, minoritária, o direito processual é unitário, formado

por normas que não diferem substancialmente a ponto de justificar a divisão e

autonomia do direito processual do trabalho, do direito processual civil e do direito

processual penal.

Neste contexto, para a teoria monista, o processo do trabalho não seria

regido por leis e estruturas próprias que justificassem a sua autonomia em relação ao

processo civil, constituindo-se o direito instrumental laboral em simples desdobramento

do direito processual civil.2

Já a teoria dualista, significativamente majoritária, sustenta a autonomia do

direito processual do trabalho perante o direito processual comum. Para os que

defendem esta teoria, o direito instrumental do trabalho possui regulamentação própria

na CLT – Consolidação das Leis do Trabalho – sendo inclusive, dotados de princípios e

peculiaridades que o diferenciam, substancialmente, do processo civil.

1 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 21 ed. São Paulo: Editora Atlas. p. 52. 2 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4ª ed. São Paulo: Editora Método. p.28.

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Ainda em relação à teoria dualista, vale transcrever os ensinamentos do

Professor Renato Saraiva, in Curso de Direito Processual do Trabalho3:

“Em última análise, embora seja verdade que a legislação instrumental trabalhista ainda é modesta, carecendo de um Código de Processo do Trabalho, definindo mais detalhadamente os contornos do processo laboral, não há dúvida que o Direito Processual do Trabalho é autônomo em relação ao processo civil, uma vez que possui matéria legislativa específica regulamentada no Consolidação das Leis do Trabalho, sendo dotado de institutos, princípios e peculiaridades próprios, além de independência didática e jurisdicional.”

Assim, diante do acima exposto, pode-se concluir que o Direito Processual

do Trabalho, embora seja visto, majoritariamente, como uma ciência autônoma, é certo

que o Código de Processo Civil é fonte de grande importância na seara processual

trabalhista, sendo que o artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho4 faz menção

expressa que, em caso de lacuna da norma instrumental trabalhista, aplicar-se-á,

subsidiariamente, as regras de processo civil.

Feitas as considerações acima, note-se que vários princípios processuais

trabalhistas, quando são explanados nos livros de doutrina sobre o tema, referem-se ao

Código de Processo Civil, em uma clara alusão que a Consolidação das Leis do

Trabalho, ou é omissa em relação ao assunto, ou não exaure o tema.

Pois bem.

O princípio inquisitório ou inquisitivo, que confere ao Magistrado o dever

de impulsionar o processo na busca da solução do litígio posto em Juízo é citado nos

artigos 852-D e 878, ambos da Consolidação das Leis do Trabalho. Embora a legislação

processual trabalhista traga exemplos do principio em exame, é certo que os artigos

1305 e 2626 do Código de Processo Civil são recorridos para complementar o tema.

Outro exemplo seria o do princípio da identidade física do juiz, aplicável ao

processo do trabalho, é traduzido nos expressos termos do artigo 132 do Código de

Processo Civil que dispõe no sentido de que o juiz, titular ou substituto, que concluir a

3 SARAIVA, Renato. Op. cit. p. 29. 4 Artigo 769 da CLT – “�os casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título”. 5 Artigo 130 CPC – “Caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias”.

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audiência julgará a lide, salvo se estiver convocado, licenciado, afastado por qualquer

motivo, promovido ou aposentado, casos em que passará os autos ao seu sucessor.

Nesta linha de raciocínio, tem-se, também, o princípio da imediatidade ou

imediação, segundo o qual se permite um contato direto do juiz com as partes,

testemunhas, peritos, terceiros, a fim de firmar o seu convencimento, na busca da

verdade real. O processo do trabalho aplica amplamente este princípio e ele encontra-se

expresso no artigo 820 da Consolidação das Leis do Trabalho. Porém, é no Código de

Processo Civil que este princípio impera, conforme orientam os artigos 3427, 4408 e

446, inciso II.9

Há, também, o consagrado princípio do contraditório e da ampla defesa,

expresso na Constituição da República, no artigo 5º, inciso LV, e, portanto, elevado ao

status de direito fundamental. Note-se que não disposição expressa na Consolidação das

Leis do Trabalho sobre este principio que, por óbvio, é amplamente manejado na seara

processual trabalhista. Este princípio, entretanto, é trazido no Código de Processo Civil,

no artigo 125, inciso I.10

O princípio da boa-fé e lealdade processual, da mesma forma aplicado no

Processo Trabalhista, encontra-se previsto, todavia, no Código de Processo Civil. O

artigo 14, II do Código de Processo Civil, por exemplo, é expresso no sentido de que

são deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo

proceder com lealdade e boa-fé, devendo agir com probidade. Outros dispositivos do

Código de Processo Civil estampam tal princípio como, por exemplo os artigos que

tratam da litigância de má-fe, quais sejam, 16 a 18; o artigo que fala da prática de ato

simulado pelas partes, o 129; o dispositivo que trata dos embargos de declaração

protelatórios, 538; o artigo 593 que disciplina acerca da fraude à execução e, finalmente,

o artigo 600, que trata de ato atentatório à dignidade da justiça.

6 Artigo 262 CPC – “O processo civil começa por iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.” 7 - Art. 342 do CPC – “O Juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da causa”. 8 - Art. 440 do CPC – “O Juiz pode, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse à decisão da causa.” 9 - Art. 446 II do CPC– “Compete ao juiz em especial: (...) II – proceder direta e pessoalmente à colheita das provas.”

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Quanto ao princípio da eventualidade, registre-se que, a despeito de ser

amplamente utilizado na seara processual trabalhista, a Consolidação das Leis do

Trabalho é omissa em relação ao tema. Entretanto, mais uma vez o Código de Processo

Civil socorre o operador do direito através do artigo 30011 que contempla o princípio em

exame.

De igual maneira, o princípio da preclusão. Não obstante aplicado ao

processo do trabalho e consagrado em alguns dispositivos da Consolidação das Leis do

Trabalho, é certo que o artigo 473 do Código de Processo Civil descreve o referido

princípio ao estatuir que é defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já

decididas, a cujo respeito se operou a preclusão.

Já o princípio da impugnação especificada, consagra que não se admite

defesa por negação geral. Em outras palavras, ao impugnar os pedidos elencados na

peça inaugural, o réu deverá contestar cada parcela individualmente. A defesa por

negativa geral não produz qualquer efeito jurídico, seria como se não houvesse a

contestação. Tal princípio é previsto no artigo 302 do Código de Processo Civil12, de

aplicação subsidiária ao processo do trabalho.

Ressalve-se, ainda em relação ao princípio anterior, que o princípio da

impugnação especificada não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao

órgão do Ministério Público.

Outro princípio de extrema importância ao processo é o da non reformatio

in pejus. Da mesma forma, extremamente manejado no processo do trabalho, mas

10 - Art. 125 – I do CPC – “O Juiz dirigirá o processo conforme as disposição deste Código, competindo-lhe: I – assegurar às partes igualdade de tratamento.” 11 - Art. 300 CPC - “Compete ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razoes de fato e de direito, com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir”. 12 Art. 302.” Cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial. Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo:

I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão;

II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato;

III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto.

Parágrafo único. Esta regra, quanto ao ônus da impugnação especificada dos fatos, não se aplica ao advogado dativo, ao curador especial e ao órgão do Ministério Público.”

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disciplinado no Código de Processo Civil. A sentença pode ser impugnada total ou

parcialmente, de acordo com o artigo 50513 do Código de Processo Civil, devolvendo o

recurso ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada, segundo comando do artigo

51514 do mesmo Código, que consagra a máxima do tantum devolutum quantum

appellatum. Assim, se a sentença for objeto de recurso por uma das partes, o julgamento

pelo tribunal não pode agravar a condenação que não foi objeto do recurso, sob pena de

violação ao princípio em questão.

Por outro giro, o artigo 51215 do Código de Processo Civil, aplicado

subsidiariamente ao processo do trabalho, esclarece que o julgamento proferido pelo

tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

Por todo o exposto, a parte da sentença que não foi objeto do recurso transitou em

julgado, sendo irreformável pelo tribunal, sob pena de se violar o princípio da non

reformatio in pejus.

Pelo exposto neste capítulo, conclui-se que apesar das divergências na

doutrina quanto ao grau de autonomia do Direito Processual do Trabalho em relação ao

Direito Processual Comum, ninguém nega a grande influência do segundo em relação ao

primeiro.

13 Art. 505 - A sentença pode ser impugnada no todo ou em parte.

14 Art. 515 – A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.

§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.

§ 3o �os casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

§ 4o Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência, sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação.

15 Art. 512. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a sentença ou a decisão recorrida no que tiver sido objeto de recurso.

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CAPÍTULO II

PRI�CIPAIS MODALIDADES DE I�TERVE�ÇÃO DE

TERCEIROS À LUZ DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

CO�CEITO

A intervenção de terceiros é um fenômeno no qual há um ingresso no

processo de quem não é parte, um conceito, portanto, no qual se chega por negação.

Inicialmente, a relação jurídica processual instaura-se, a princípio, entre aqueles que

figuram na petição inicial como sendo autor e réu. Entretanto, tal relação pode

produzir efeitos na esfera jurídica de interesses de pessoas estranhas à relação

processual, que intervirão no processo, de diversas formas.

Desta forma há, no ordenamento jurídico, diversas modalidades de

intervenção de terceiros, tendo em vista que diferentes serão os efeitos que o processo

pode produzir em alguém que não é parte.

No Direito Processual, podemos diferenciar dois conceitos distintos de

parte: parte da demanda e a parte no processo. Em regra, quando se está diante de

uma intervenção de terceiros, este se tornará parte no processo, mas nada impede que

este terceiro venha a se tornar parte de uma outra demanda, como ocorre no caso da

denunciação da lide, ou mesmo parte da própria demanda, no caso do chamamento ao

processo. 16

O Código de Processo Civil enumera quatro tipos de intervenção de

terceiros no capitulo dedicado à matéria, trazendo nos artigos 56 a 80 as seguintes

figuras: oposição, nomeação à autoria, denunciação de lide e chamamento ao

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processo. Entretanto, o próprio Código citado reconhece as figuras da assistência e do

recurso de terceiro prejudicado como sendo espécies de intervenção de terceiros

quando, no artigo 280, dispõe expressamente que no procedimento sumário não são

admissíveis nem a ação declaratória incidental e nem a intervenção de terceiros,

excepcionando, para este último caso, justamente, as duas figuras. Destarte, podemos

afirmar que o Código de Processo Civil reconhece diretamente quatro tipos de

intervenção de terceiros (oposição, nomeação à autoria, denunciação de lide e

chamamento ao processo) e, indiretamente, mas não deixando dúvidas sequer, mais

dois tipos (assistência e do recurso de terceiro prejudicado), através do já citado artigo

280.

Na literatura especifica sobre o tema, doutrinadores como os Professores

Luiz Fux, Vicente Greco Filho e Athos Gusmão Carneiro defendem que as

modalidades de intervenção de terceiros podem ser divididas em dois grupos:

intervenções voluntárias ou espontâneas, quando, como o próprio nome diz, a

intervenção ocorre por ato de vontade, como na assistência, oposição e recurso de

terceiro prejudicado; há também as intervenções forçadas ou coactas, nas quais o

ingresso do terceiro é requerido por uma das partes originárias, sendo assim, trata-se

de um ingresso forçado e ocorre na nomeação à autoria, na denunciação da lide e no

chamamento ao processo.17

Das três modalidades de intervenção forçada, a denunciação à lide pode

ser provocada por ambas as partes, enquanto que o réu poderá provocar qualquer das

três modalidades. Mas, como não poderia deixar de ser, as intervenções forçadas são

provocadas pelas partes e nunca de ofício pelo juiz.

POSSIBILIADE DE MODIFICAÇAO DE COMPETÊ�CIA

A intervenção de terceiros pode vir a ocasionar o deslocamento da

competência. Isso porque a pessoa física, ou mesmo jurídica, que ingressa no

16 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 7 ed. Rio de Janeiro: Editora Lumem Juris, 2002, p. 121. 17 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 162.

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processo para defender interesses próprios ou de uma das partes primitivas da lide

pode provocar a modificação da competência. A título de exemplo, a intervenção da

União em processos nos quais originariamente seriam julgados na Justiça Estadual,

fará com que tais processos venham a ser julgados na Justiça Federal, por força do

comando contido no artigo 109, I da Constituição da República de 1988.

O assunto não é inédito nos Tribunais. As seguintes ementas de acórdãos

demonstram casos em que a competência foi deslocada tendo em vista a intervenção

de terceiros. No primeiro caso, com a intervenção da Caixa Econômica Federal, na

condição de assistente, a competência foi deslocada para a Justiça Federal e, no

segundo exemplo, tem-se situação similar tendo sido avocada a Lei 9.469/97, que

teria criado nova espécie de intervenção de terceiros, senão vejamos:

COMPETÊNCIA. AÇÃO ORDINÁRIA TENDO POR OBJETO CONTRATO DE FINANCIAMENTO REGIDO PELO SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. PEDIDO DE ASSISTÊNCIA FORMULADO PELA "CAIXA ECONÔMICA FEDERAL". Intervindo a Caixa Econômica Federal no feito como assistente, após o julgamento de primeiro grau da Justiça estadual, a competência desloca-se para a Justiça Federal. Precedente invocado: CC nº 27.007-RJ. Conflito conhecido, declarada competente a Justiça Federal.

(BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência 35941. Relator Ministro CASTRO FILHO. DJ: 18/08/2003)

PROCESSO CIVIL - AGRAVO DE INSTRUMENTO - FUNDO DE GARANTIA DO TEMPO DE SERVIÇO - FGTS - EXPURGOS INFLACIONÁRIOS - INTERVENÇÃO DA UNIÃO NA CONDIÇÃO DE ASSISTENTE DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL (LEI N. 9.469/97). 1. A Lei n. 9.469/97 criou nova espécie de intervenção de terceiro no processo, ao estabelecer, no parágrafo único do art. 5º, que "as pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes." 2. Essa nova modalidade de intervenção tem sido admitida e tratada como assistência neste Tribunal (AgRegAC nº 1999.01.00.091663-1/MG, DJ de 15.12.2000) e, até mesmo, no Supremo Tribunal Federal

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(RE nº 226.855-7/RS, despacho publicado in DJ de 31.03.2000, rel. Min. Moreira Alves). 3. Agravo improvido.

(BRASIL. Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Agravo de Instrumento 200001000911403. Quinta Turma. Relator Desembargador Federal ANTONIO EZEQUIEL. DJ: 20/04/2001)

Sendo assim, é plenamente possível que a intervenção de terceiros venha

provocar o deslocamento da competência.

MODALIDADES E PO�TOS POLÊMICOS

Assistência

Como já dito acima, embora a assistência tenha a natureza jurídica de

intervenção de terceiros, na divisão do Código de Processo Civil encontra-se fora do

capítulo dedicado ao tema. No entanto, se qualquer dúvida pairasse acerca da sua

natureza, esta foi esclarecida pela Lei 10.444/2002, que deu nova redação ao artigo 280

do mesmo Código. Isso porque, ao vedar a intervenção de terceiros no processo

sumário, faz referência expressa que a assistência está excepcionada da regra.

A assistência é uma intervenção voluntária, através da qual um terceiro

(assistente), ingressa na relação processual com o objetivo de auxiliar uma das partes

(assistido). O assistente tem interesse jurídico no resultado favorável do processo para

uma das partes e, assim, passará a ser sujeito do processo, não chegando, contudo, a se

tornar parte.

É de suma importância destacar que o interesse do assistente deve ser

jurídico, e não meramente econômico. A matéria é, inclusive, objeto do verbete número

82 da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, na qual dispõe que a

intervenção assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o interesse

jurídico. Sobre o assunto, destaque-se os ensinamentos do Professor Francisco Antonio

de Oliveira, ao comentar a referida Súmula:

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“A Súmula, ao exigir para a assistência a presença de interesse jurídico e não o meramente econômico, repete o que preceitua o artigo 50 do CPC.

Do interesse de fato – Suponha-se que “A” é credor de “B” de certa importância prestes a vencer-se, e, sabedor de que “B” não terá numerário nem bens para honrar o pagamento da dívida, tem interesse de fato em que “B” seja o vencedor na ação que move contra “C” para reivindicar bem imóvel. Se derrotado “B”, as suas chances de receber o crédito seriam remotas. Os reflexos são meramente econômicos.

Do interesse jurídico – Aqui, existe sempre um direito que o assistente quer proteger com a vitória do assistido. Entre o seu direito e o do assistido existe uma relação de conexão ou de dependência. (...) Suponha-se que “A” é fiador de “B” em imóvel alugado por “C”. “B” entregou o imóvel por meio de acordo com “C”, nada mais lhe devendo. Todavia, “C” move ação contra “B”, com base no antigo contrato em que “A” figura como fiador. O interesse de “A” como assistente é o de ver declarada a inexistência da obrigação principal e com ela, em conseqüência, a fiança, que é acessória.” 18

O doutrinador Cassio Scarpinella Bueno também faz alusão ao assunto

citando José Frederico Marques:

Deve, necessariamente, ser analisado do ponto de vista jurídico. Daí a razão pela qual José Frederico Marques busca a definição deste interesse no direito português, que define o instituto no artigo 335 do Código de Processo Civil: “para que haja interesse jurídico capaz de legitimar a intervenção, basta que o assistente seja titular de uma relação jurídica cuja consistência prática ou econômica depende da pretensão do assistido” 19

Superada a questão acima, é necessário esclarecer que a assistência pode ser

simples e litisconsorcial. O assistente simples age sempre de acordo com a vontade do

assistido e nunca contra ela. Já o assistente litisconsorcial, não há maiores dúvidas na

doutrina e na jurisprudência quanto à possibilidade deste praticar atos que contrariam a

vontade manifestada do assistido, tudo porque o seu agir processual aproxima-se de um

verdadeiro litisconsorte.

18 OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Comentários à Súmula do TST. 7. ed. Ver., atual. e ampl - São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 175. 19 BUENO, Cassio Scarpinella. Partes e Terceiros no Processo Civil Brasileiro. 2ª ed – São Paulo: Saraiva. p. 165.

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Apesar do que dispõe o artigo 54 do Código de Processo Civil20, a doutrina

diverge se o assistente litisconsorcial assumiria a posição de autor, como acorre com o

litisconsorte. Para o renomado processualista Alexandre Freitas Câmara, o assistente

qualificado não adquire a posição de autor, não podendo, assim, formular pedido em seu

favor, e, também, não adquire o status de réu, não podendo vir a ser condenado em favor

do autor. Sendo assim, o assistente mantém-se como pessoa estranha à demanda.21

No entanto, ainda segundo os ensinamentos do Mestre Alexandre Câmara, o

assistente, ao tornar-se parte no processo, pode exercer as mesmas faculdades que são

outorgadas aos litisconsortes. A título de exemplo, o assistente e assistido disporão de

prazo em dobro, desde que tenham advogados distintos, nos termos do artigo 191 do

Código de Processo Civil. Nesta linha de raciocínio, a participação do assistente será

necessária para que determinados atos, como a suspensão do processo, a transação e a

desistência da ação, tenham eficácia. O assistente não assume a posição de litisconsorte,

mas tem o mesmo tratamento formal que este.

Diante do exposto acima, torna-se simples a compreensão no sentido de que

a regra contida no parágrafo único do artigo 52 é aplicável apenas ao assistente simples.

Isso porque o citado dispositivo afirma que, sendo revel o assistido, o assistente será

considerado o seu “gestor de negócios”. Ora, o assistente qualificado, como visto, é

tratado como se fosse um litisconsorte e, a ele se aplica o disposto no artigo 320, I do

Código de Processo Civil que determina que, havendo pluralidade de réus e um deles

contestar a ação, não se produzirá os efeitos da revelia sobre o réu que não contestou.

Outro ponto muito discutido quanto à assistência, e, por isto, necessário

esclarecer no presente trabalho, é quanto ao alcance da regra contido no artigo 55 do

Código de Processo Civil. O dispositivo traz a regra no sentido de que, transitada em

julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em processo

posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que: I – pelo estado em

que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de

20 Art. 54 do CPC – Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. 21 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 165.

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produzir provas suscetíveis de influir na sentença; II – desconhecida a existência de

alegações ou se provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

Sendo assim, questiona-se se a regra atinge somente o assistente simples,

mas também, o assistente litisconsorcial. Para alguns autores, como Greco Filho, o

artigo 55 do Código de Processo Civil é aplicável somente aos casos de assistência

simples. Para outros, como Alexandre Freitas Câmara22 e Cassio Scarpinella Bueno23, a

regra é aplicável aos dois tipos de assistência. Para este último autor, não se pode

olvidar que o assistente litisconsorcial não é parte no sentido formal, sob pena de se

prestigiar mais o adjetivo (litisconsorcial) do que o substantivo (assistente) e, assim, não

poderia para este transitar em julgado o processo sem as exceções previstas nos incisos I

e II do artigo 55 do Código de Processo Civil.

Cola-se, aqui, a lição do que venha a ser “ justiça da decisão” para Cândido

Rangel Dinamarco, citado por Cassio Scarpinella Bueno: “a justiça da decisão recai

sobre a fundamentação da decisão porque é nesta parte da sentença que a relação

jurídica que justifica a intervenção do assistente é considerada e analisada pelo

magistrado”. 24

Cotejando-se a “justiça da decisão” com o artigo 474 do Código Processo

Civil, que trata do trânsito em julgado das decisões, têm-se que este é direcionado às

partes do processo e que a “ justiça da decisão” diz respeito tão-somente aos assistentes.

Oposição

Inicia-se o tema trazendo à baila uma curiosidade: o instituto da oposição

tem sua origem no Direito Germânico, onde prevalecia o “juízo universal” no qual a

decisão de uma determinada lide atingia todos que tivessem notícia desta e não só as

partes. Diferentemente, portanto, do Direito Romano, onde prevalecia o “juízo singular”

onde a decisão beneficiava apenas as partes do processo.

22 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 166. 23 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p. 191 24 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p. 193

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A oposição é espécie de intervenção de terceiros, disciplinada nos artigos 56

a 61 do Código de Processo Civil, no qual o terceiro vem a juízo postular, no todo ou

em parte, o objeto ou direito em litígio, através do ajuizamento de ação autônoma contra

as partes do processo originário, tanto o autor, como o réu.

Neste caso, o terceiro não ingressa no feito para coadjuvar uma das partes

originárias, mas sim para obstar êxito em favor de uma delas, defendendo direito

próprio, que é incompatível com os interesses das partes da ação originária,

apresentando-se a incompatibilidade como pressuposto específico da oposição25

Destaque-se que não é obrigatória a intervenção e, assim, não se

manifestando no curso da ação principal, não lhe acarretará prejuízo quanto ao direito

material, tendo em vista que, ao invés de opor esta modalidade de intervenção de

terceiros, poderá ajuizar ação autônoma, não mais sob a forma de oposição. Em outras

palavras, a sentença proferida na ação principal não fará coisa julgada em relação ao

terceiro que não apresentou oposição.

A oposição pode ser ajuizada desde o momento em que a ação é proposta

até a prolação da sentença, de acordo com o artigo 56 do Código de Processo Civil.

O referido Código previu, ainda, diferentes conseqüências para a oposição

oferecida antes da audiência e para aquela oferecida após a audiência. No primeiro caso,

dispõe o artigo 59 do Estatuto Processual que a oposição será apensada aos autos

principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas julgadas pela mesma

sentença. Na segunda hipótese, iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento

ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia,

sobrestar o andamento do processo, por prazo nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim

de julgá-la conjuntamente com a oposição.

Outro ponto importante a destacar é em relação à citação dos opostos. Sendo

a lei processual civil clara, através do artigo 57, no sentido de se tratar de citação, e não

de mera intimação, é correto o entendimento que este ato deve ser praticado

25 MONTNEGRO FILHO, Misael . Curso de Direito Processual Civil. São Paulo: Atlas, 2002. p.319. apud SARAIVA, Rentao. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4.ed. São Paulo: Editora Método.

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pessoalmente, sendo indiferente que o advogado não tenha poderes expressos para

recebê-la, de acordo com o artigo 36 do Código de Processo Civil. Já em relação à

incidência na espécie do artigo 191 do mesmo Diploma Legal, prevalece na doutrina o

entendimento de que o prazo para defesa não será dobrado uma vez que o artigo 57

exclui a regra genérica do artigo 191 ao dispor que “serão os opostos citados na pessoa

dos seus respectivos advogados para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze)

dais”. 26

Quanto ao litisconsórcio entre os opostos, é necessário fazer a seguinte

consideração: o artigo 56 do Código de Processo Civil, quando define o instituto, dispõe

que quem pretender no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem

autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.

Destarte, conclui-se que, ao se propor a oposição, se formará um litisconsórcio

necessário entre os opostos, ou seja, autor e réu.

Frise-se que, nos termos do artigo 58 do Código de Processo Civil, se um

dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente.

Desta forma é possível concluir que entre os opostos se formará um litisconsórcio

simples e não unitário, tendo em vista que, se assim não fosse, o reconhecimento

jurídico do pedido por um dos litisconsortes não teria aptidão para produzir qualquer

efeito do ponto de vista processual.

�omeação à autoria

Não obstante ter sido considerada pelo legislador como sendo modalidade

de intervenção de terceiros, disciplinada nos artigos 62 a 69 do Código de Processo

Civil, a nomeação à autoria é muito mais um acertamento de legitimidade do pólo

passivo da demanda. Trata-se de uma obrigação imposta ao réu ilegítimo nos casos

previstos expressamente em lei. Assim, aquele que é nomeado à autoria vem a assumir a

qualidade de parte passiva legítima da demanda.

26 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. Cit., p. 210.

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Geralmente, quando uma demanda é oferecida contra um réu ilegítimo, a

conseqüência seria a extinção do processo sem resolução do mérito, de acordo com o

artigo 267, VI do Código de Processo Civil, por ausência de uma das condições da ação,

qual seja, a legitimidade. No entanto, a extinção do processo, muitas vezes, é penosa ao

demandante, que pode vir facilmente a apontar o legitimado passivo errado em casos,

por exemplo, de uma demanda em que a detenção da posse em nome alheio. Sendo

assim, permite-se que o réu, demandado como se tivesse a posse da coisa, quando na

verdade é mero detentor, indique o nome do verdadeiro legitimado passivo e, a este

fenômeno dá-se o nome de nomeação à autoria.

No exemplo acima, vimos que houve confusão acerca do legitimado passivo

envolvendo atos decorrentes de posse, em que foi acionado um mero detentor. Mas,

pode-se trazer à baila exemplo envolvendo a relação mandatário-mandante: “A”

ingressa com ação contra “B”, ultrajando-o de diversas formas na inicial. Caso o

advogado seja citado em uma ação de indenização por danos morais movida por “B”,

deve nomear “A” à autoria, pois agiu como mero mandatário em nome alheio.

Quando citado, o réu, no prazo da defesa, requererá a nomeação à autoria,

nos termos do artigo 64 do Código de Processo Civil, sendo que o Juiz, ao deferir o

pedido, suspenderá o processo e mandará ouvir o autor no prazo de 5 (cinco) dias.

Daí, três passam a ser as opções do autor em relação ao pedido: em primeiro

lugar o autor pode recusar a nomeação, hipótese na qual o processo continuará com o

réu original, que terá o retorno integral do prazo para resposta. Em segundo lugar, o

autor pode permanecer silente, caso em que será presumida a aceitação e, em terceiro

lugar, poderá aceitar expressamente a nomeação, competindo-lhe promover a citação do

novo réu.

Já, quando providenciada a citação do nomeado, este poderá: permanecer

silente, caso em que será presumida a aceitação da nomeação; aceitar expressamente a

nomeação ou, ainda, recusá-la expressamente, caso em que o processo poderá culminar

com a extinção sem resolução de mérito, por ilegitimidade passiva.

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25

Frise-se que, em havendo a dupla concordância, e conseqüentemente

operando-se a alteração do pólo passivo, o nomeado à autoria torna-se réu, o que faz

dele parte no processo e parte na demanda.

Sendo assim, ao réu ilegítimo, é imposto o dever legal de indicar quem é o

legítimo para o processo, sob pena de responsabilização por perdas e danos. Nesta linha

de raciocínio, poder-se-ia dizer que seria possível aplicar pena ao nomeado que recusa a

nomeação, conhecedor de sua legitimidade e que da ensejo a extinção sem resolução do

mérito? A resposta, para a doutrina especializada, é negativa, sendo impossível a

aplicação de pena de litigância de má-fé ao nomeado desleal, simplesmente por não ser

ele parte no feito. Entretanto, nada impede que o autor ajuíze nova ação e, neste novo

processo, por força da extinção gerada pela má-fé, se fixe pena pela deslealdade nesse

novo processo.

Denunciação da lide

A denunciação a lide é espécie obrigatória de intervenção de terceiros

prevista nos artigos 70 a 76 do Código de Processo Civil. Trata-se de uma obrigação

forçada, mediante requerimento de uma das partes da relação jurídica principal, com o

fim de trazer ao processo um terceiro contra o qual tem direito de regresso, caso venha a

ser perdedora na ação principal.

Apesar da denunciação a lide ser mais manejado pelo réu, pois ele é quem se

sujeitará aos efeitos de eventual sentença condenatória, permite a lei processual seja ela

feita por aquele que provocou a tutela jurisdicional.

Tal instituto está intimamente ligado ao princípio da econômica processual,

pois a parte porventura perdedora da demanda poderá, desde logo, acertar a relação

jurídica com seu garante, ressarcindo-se dos prejuízos decorrentes da condenação.

Ocorrendo a denunciação o processo se amplia objetiva e subjetivamente.

Segundo o processualista Alexandre Camara, pode-se definir a denunciação

da lide como uma ação regressiva, “in simultaneus processus”, sendo modalidade de

intervenção forçada, provocada por uma das partes da demanda original, quando esta

pretende exercer contra aquele direito de regresso que decorrerá de eventual

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sucumbência na causa principal27. Desta forma, o direito de regresso é exercido nos

mesmos autos em que foi julgada a demanda principal.

O Código de Processo Civil enumera as hipóteses em que é cabível a

denunciação à lide, nos três incisos do artigo 70. Tais dispositivos, em especial o I e o II

recebem severas críticas da doutrina em relação à sua redação e, diante da importância

do tema, passa-se ao estudo de cada um deles.

O inciso I disciplina que a denunciação da lide é obrigatória ao alienante na

ação em que terceiro reivindica a coisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de

que esta possa exercer o direito que da evicção resulta. A crítica ao dispositivo se dá em

função de que aquele que reivindica a coisa não é terceiro, mas parte da demanda

original e, além do mais, a leitura da norma em comento remete à idéia de que apenas o

réu pode denunciar a lide. O Professor Alexandre Câmara sugere que o texto legal

tivesse redação no sentido que caberia denunciação da lide ao alienante, na ação em que

se controverte sobre o domínio do bem que tenha sido por ele transferido a uma das

partes.28

Quanto ao inciso II, o Código de Processo Civil dispõe que a denunciação

da lide é obrigatória ao proprietário ou a possuidor indireto quando, por força de

obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do

locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada. A

crítica da doutrina recai no fato do dispositivo remeter à idéia de que é aplicável apenas

a casos em que o possuidor direto do bem é o réu.

O terceiro dispositivo do artigo 70 do Código de Processo Civil, mais

comum dentre as hipóteses de denunciação da lide dispõe que esta é obrigatória àquele

que tiver o dever, pela lei ou pelo contrato, de indenizar, em ação regressiva, o prejuízo

do que perder a demanda.

Passa-se, a partir de agora, a uma das mais clássicas questões de direito

processual civil, quanto à obrigatoriedade ou não de denunciar a lide. Para elucidar a

questão, veja os ensinamentos do Professor Cassio Scarpinella Bueno:

27 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 175. 28 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 176.

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“Em que pese a literalidade do texto, a maior parte da doutrina entende que a compulsoriedade do uso deste instituto de intervenção de terceiros só se dá quando a hipótese for de evicção ou, de forma mais ampla, de garantia própria, derivada da transmissão de direitos, diante do comando do artigo 456 do Código Civil, que estabelece a pena de perdimento de eventual direito de regresso caso não haja a notificação do alienante do litígio quando e como determinarem as leis do processo”29

Desta forma, nos casos dos itens I e II, a lei civil não criou condições ou ônus

para o exercício do direito de indenização ou de regresso e, assim, a obrigatoriedade da

denunciação à lide só seria cogitável em casos em que se questiona a respeito da

evicção. Mesmo assim, nos casos em que há a obrigatoriedade, tanto a doutrina, quanto

a jurisprudência questionam acerca das conseqüências para a não-denunciação.

Ainda segundo o Professor Cassio Scarpinella Bueno30, de um lado, há aqueles

que sustentam que a não denunciação acarretará a perda do direito material, decorrente

da evicção, que só poderia ser exercido por intermédio desta modalidade de intervenção

de terceiros, mas, entretanto, por outro lado, há aqueles que defendem que, mesmo sem

a denunciação, é viável a propositura de ação de regresso para cobrar o preço da coisa

alienada, sob pena de locupletamento ilícito.

O Professor Carlos Henrique Bezerra Leite31, acerca do tema dispõe que

“embora a lei diga que é obrigatória, o entendimento doutrinário dominante é no

sentido de que há obrigatoriedade apenas nas hipóteses dos incisos I e II, sendo, por

conseqüência, facultativa na hipótese do inciso III do artigo 70 do CPC”.

Por último, ressalte-se que há vedação expressa desta modalidade de

intervenção de terceiros, tanto nas lides que tratam das relações de consumo, por

proibição expressa no artigo 88 do Código de Defesa do Consumidor, Lei 8.078/90,

quanto no Juizado Especial Cível, através do artigo 10 da Lei 9.099/95.

29 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p.. 243. 30 BUENO, Cassio Scarpinella. Op. cit., p. 245. 31 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTR, 2007. p. 414.

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Chamamento ao processo

O chamamento ao processo é a última das modalidades de intervenção de

terceiros disciplinada no capítulo adequado à matéria, prevista nos artigos 77 a 80 do

Código de Processo Civil. Trata-se de instituto manejado somente pelo réu, através do

qual se traz aos autos os demais coobrigados pela dívida objeto da demanda, sendo uma

faculdade deste e não uma obrigação.

Há, assim, uma dívida solidária na qual cabe direito de regresso do devedor

que cumpre a obrigação por inteiro contra os demais devedores, na proporção de suas

quotas-partes. Desta forma, o devedor solidário demandado inicialmente pelo credor

pode chamar ao processo os outros devedores solidários para que seja feito todo o acerto

proporcional entre eles, no mesmo processo, por uma questão de economia processual.

Mister consignar que, apesar do instituto do chamamento ao processo

também estar fundado no direito de regresso, este não se confunde com o instituto da

denunciação da lide. Cotejando-se as duas espécies de intervenção de terceiros, temos

que, em primeiro lugar, o chamamento ao processo é exclusivo do réu, enquanto que a

denunciação da lide é facultada tanto ao ator quanto ao réu; No primeiro, há relação

jurídica existente entre os chamados e o adversário daquele que realiza o chamamento,

enquanto que na denunciação a lide, inexiste relação jurídica entre denunciado e

adversário do denunciante; O chamado ao processo poderia ter sido parte na demanda e,

ainda, como regra, poderia ser admitido nos autos como assistente litisconsorcial,

enquanto o denunciado jamais poderia ter sido parte, mas poderia vir a ser admitido

como assistente simples. Por último, ainda diferenciando os dois institutos, poder-se-ia

dizer que na denunciação da lide o ressarcimento, como regra, é proporcional à quota-

parte do chamado, enquanto que na denunciação da lide, o ressarcimento é integral, nos

limites da responsabilidade regressiva.

O Código de Processo Civil traz elencadas as hipóteses do chamamento ao

processo, em três incisos do artigo 77. A primeira hipótese dispõe que é admissível o

chamamento ao processo do devedor, na ação em que o fiador for réu. Sobre este inciso,

vale destacar que, o fiador, em regra, não é devedor solidário, havendo tal solidariedade

apenas quando o garante tiver renunciado o benefício de ordem. No entanto, caso não

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haja tal renúncia e o fiador quiser alegar o benefício de ordem em um futuro processo

executivo, deve chamar ao processo o devedor principal, pois em caso de não fazê-lo

será impossível ao fiador alegar, na execução, o benefício de ordem. Eis a razão do

inciso I do artigo 77.

A segunda hipótese de chamamento ao processo prevista no inciso II do

mesmo artigo 77 do Código de Processo Civil, dispõe que é admissível o chamamento

ao processo dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles. Trata-se

de caso de co-fiança, sendo apontado como dispositivo supérfluo, pois a hipótese está

prevista no inciso III do mesmo dispositivo.

Já o inciso III disciplina que é admissível o chamamento ao processo de

todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de algum deles, parcial

ou totalmente, a dívida comum. Destaque-se que, não obstante a redação do dispositivo,

alguns doutrinadores, dentre eles o Professor Alexandre Câmara32, defendem que apesar

da letra da lei, não se deve exigir o chamamento de todos os co-devedores para que a

modalidade de intervenção seja admitida. Dentre os motivos, destaque-se o fato do

devedor demandado ter o direito de cobrar dos co-devedores as suas frações, que fará

apenas se quiser, não podendo, assim, impor ao réu que tenha, como litisconsorte,

alguém que não foi originariamente demandado. Por outro lado, não se pode olvidar do

velho princípio, segundo o qual, “quem pode o mais, pode o menos”, e, assim, quem

pode chamar ao processo todos os co-devedores, pode também chamar alguns deles.

Aquele que for chamado ao processo em função de qualquer um dos

permissivos dos incisos I a III do artigo 77 do Código de Processo Civil, receberá o

tratamento de parte no processo, tanto é assim, que ficará sujeito ao regime jurídico de

litisconsorte, em relação ao autor da ação na qual se efetivou o chamamento. O

chamado, assim, ficará sujeito não só aos efeitos da sentença, daí a possibilidade de se

formar contra ele título executivo, mas também da imutabilidade da coisa julgada

material.

32 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 188.

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Recurso de Terceiro Prejudicado

Esta última modalidade de intervenção de terceiros, não se encontra, como

já dito acima, no capítulo do Código de Processo Civil destinado ao tema. O recurso de

terceiro prejudicado é referido por duas vezes no Estatuto Processual Civil, nos artigos

280, I, e 499.

Quanto ao tema, não há dúvidas que pode ser interposto qualquer das

espécies admissíveis de recurso, entretanto, o cerne da questão está em saber quem é o

terceiro que pode recorrer.

Este será aquele que ainda não interveio no processo, ou seja, que ainda não

adquiriu a qualidade de parte. Um assistente, por exemplo, pode vir a recorrer, só que na

qualidade de parte e não na qualidade de terceiro prejudicado. Em outras palavras, pode-

se definir o terceiro legitimado a recorrer, como aquele que poderia ter intervindo no

processo, mas não o fez antes da decisão, pretendendo fazê-lo agora com o fim de atacar

o provimento judicial que lhe acarreta prejuízo.33

Uma parte da doutrina considera que não pode interpor o recurso de terceiro

prejudicado aquele que poderia ter intervindo como opoente, como, por exemplo, o

Professor e Ministro Luiz Fux, em obra citada por Alexandre Câmara34. Em sentido

contrário, admitindo a interposição de recurso por quem poderia ter sido opoente, Greco

Filho e o Professor Alexandre Câmara35 que afirma que “basta lembrar que a oposição

só é possível antes da prolação da sentença, podendo o terceiro, que poderia ter

manifestado oposição, ter interesse em recorrer com o fim de obter a anulação da

sentença proferida, com o que cairia por terra o obstáculo a que a oposição fosse ainda

oferecida, abrindo-se a ele, então, nova oportunidade”.

Por último frise-se que o terceiro que pretende recorrer devera demonstrar

interesse jurídico e o prejuízo que a decisão acarretou à sua esfera de interesses.

33 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 190 34 Fux, Luiz. Intervenção de Terceiros (aspectos do instituto). São Paulo: Saraiva. 1990 , apud CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit, p. 190.

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31

CAPÍTULO III

O I�STITUTO DA I�TERVE�ÇÃO DE TERCEIROS �A

SEARA PROCESSUAL TRABALHISTA

A Intervenção de Terceiros na Justiça do Trabalho antes da Reforma do

Judiciário.

Como já exposto anteriormente, a influência do Direito Processual Civil no

Processo do Trabalho é enorme, sendo o tópico “Intervenção de Terceiros” um grande

exemplo desta influência. Isso porque, toda a disciplina acerca do tema encontra-se

consagrada no Código de Processo Civil.

Para melhor elucidar a questão, é importante dividir a aplicação do instituto

na seara trabalhista em dois momentos: antes e depois da Reforma do Judiciário. Tal

divisão é necessária pois, com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho,

tendo em vista a Emenda Constitucional 45/2004, o instituto da intervenção de terceiros

passou a ser, por conseguinte, bem mais aplicado ao Processo do Trabalho.

Sendo assim, antes de adentrarmos efetivamente ao tópico, apenas para

contextualizar, passa-se a expor o campo de aplicação do Direito do Trabalho antes da

Reforma do Judiciário.

Antes da referida reforma, que se deu através da Emenda Constitucional

45/2004, no clássico livro Instituições de Direito do Trabalho, de Arnaldo Süssekind,

Délio Maranhão, Segadas Vianna e João de Lima Teixeira Filho, assim era definido

campo de atuação da Justiça do Trabalho: “o campo de aplicação da Justiça do

Trabalho se estende, de regra, a todas as formas de atividade econômica em que se

verifique a prestação de trabalho subordinado”36

O Professor Sergio Pinto Martins, na 21ª edição de sua obra Direito

Processual do Trabalho, atualizada em novembro de 2003, e, portanto, antes da Emenda

35 CÂMARA, Alexandre Freitas. Op. cit., p. 190 36 SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. 20 ed. São Paulo: LTR, p. 175.

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Constitucional 45/2004, assim referia-se ao tema acerca da competência da Justiça do

Trabalho:

“A Constituição de 1988 é mais ampla ao estabelecer a competência da Justiça do Trabalho para solucionar controvérsias entre trabalhadores e empregadores, e não mais entre empregados e empregadores. Trabalhador é gênero do qual empregado é espécie, assim como relação de trabalho de trabalho é gênero da qual relação de emprego é espécie. São trabalhadores o funcionário público estatutário e o militar, mas não são empregados, pois não estão adstritos à CLT.

Só existe empregador se houver contrato de trabalho. Não havendo contrato de trabalho, não existe empregador. Assim, na fase pré-contratual não há competência da Justiça do Trabalho para analisar a questão.”37

Mais adiante, o referido Professor trata do tema competência em razão das

pessoas e, através de sua exposição, nos mostra como era restrita tal competência, senão

vejamos:

O artigo 114 da Constituição estabelece competência para dirimir as controvérsias entre trabalhadores e empregadores, que são as pessoas envolvidas diretamente nos pólos ativo e passivo da ação trabalhista. Trata-se de competência em razão das pessoas (ex ratione personae).

A Lei Maior, porém não estipula o conceito de trabalhador, embora a ele faça referência, por exemplo, no caput do artigo 7º e no seu inciso XXXIV, no parágrafo único do mesmo artigo, no artigo 9º, no inciso II do artigo 195 etc.

O parágrafo 2º do artigo 15 da Lei 8.036 (Lei do FGTS) define trabalhador como toda “pessoa física que prestar serviços a empregador, a locador ou tomador de mão-de-obra, excluídos os eventuais, os autônomos e os servidores públicos civis e militares sujeitos a regime jurídico próprio”38

Sendo assim, da leitura dos trechos acima, poder-se-ia dizer que, basicamente,

a Justiça do Trabalho era competente para julgar as lides oriundas da relação de

emprego, ou seja, aquelas que brotam da relação entre empregado e empregador,

consideradas aquelas que preenchem os requisitos caracterizadores desta relação, quais

sejam, trabalho desempenhado por pessoa física, com pessoalidade em relação ao

37 MARTINS, Sergio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 21 ed. São Paulo: Atlas, p. 119.

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empregado, não eventual, oneroso, subordinado e, por último, que os riscos do

empreendimento sejam suportados única e exclusivamente pelo empregador (princípio

da alteridade). Mas, a doutrina e a jurisprudência, antes da Emenda Constitucional

45/2004 já haviam pacificado o entendimento de que as lides que serão abaixo

estudadas também eram da competência da Justiça do Trabalho:

Em primeiro lugar destaque-se as lides referentes à dano moral decorrente

da relação de trabalho.

O Supremo Tribunal Federal, ao apreciar o conflito de competência

6.959.6/1990, entre a Justiça Comum e a Justiça do Trabalho, tendo como relator o

Ministro Sepúlveda Pertence, decidiu que a Justiça Laboral era a competente para

processar e julgar as controvérsias referentes à indenização por dano moral quando

decorrente da relação de trabalho. Em 2005, no mesmo sentido, o Tribunal Superior do

Trabalho, converteu a Orientação Jurisprudencial 327 da SDI-1 na Súmula 39239.

O atual Ministro de Trabalho Guilherme Augusto Caputo Bastos, em sua

obra O Dano Moral na Justiça do Trabalho, destacou a competência da Justiça do

Trabalho para julgar as lides referentes ao dano moral decorrentes da relação de

trabalho, destacando que:

“As relações de trabalho são um campo propício à consecução do dano moral, porque, de um lado figuram os interesses patrimoniais do empregador, que encontra no direito de propriedade o legítimo poder de direção e controle sobre o empregado, que por sua vez submete-se à condição de dependência econômica daquele. Esta situação de subordinação jurídica leva, muitas vezes, à ocorrência da odiosa extrapolação do poder de comando, que acarreta o abuso do direito potestativo do empregador e que pode culminar na violação dos direitos personalíssimos do trabalhador, causando-lhe um dano moral. O instituto do dano moral reforça os objetivos ínsitos do Direito do Trabalho; que é o efetivo ramo do direito que se dedica às relações laborais, mediante aplicação do conjunto de princípio, normas e instituições que visam disciplinar as relações de trabalho, assegurando aos trabalhadores melhores condições sociais.” 40

38 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. fl. 120. 39 “Dano Moral. Competência da Justiça do Trabalho. Nos termos do artigo 114 da CF/1988, a Justiça do Trabalho é competente para dirimir controvérsias referentes à indenização por dano moral, quando decorrente da relação de trabalho”. 40 BASTOS, Guilherme Augusto Caputo. O Dano Moral no Direito do Trabalho. LTR: São Paulo, 2003. p. 90/91.

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Em relação ao dano moral decorrente de acidente de trabalho, antes da

Emenda 45/2004, tais lides eram da competência da Justiça Estadual, já que lá eram

julgadas as controvérsias relativas à acidente de trabalho. Com a Reforma do Judiciário

o tema ganhou novos contornos.

No que concerne às lides referentes à cadastramento de PIS, desde antes da

Reforma do Judiciário, o Tribunal Superior do Trabalho já havia editado a Súmula 300

que dispõe que compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ações ajuizadas por

empregados em face de empregadores relativas ao cadastramento no Programa de

Integração Social. O mesmo ocorre com o seguro desemprego, pois se o empregador

dispensa o empregado e não lhe fornece as guias para recebimento do seguro-

desemprego, este último poderá, nos termos da Súmula 389 do Tribunal Superior do

Trabalho, ajuizar uma ação de obrigação de entrega de coisa certa na Justiça do

Trabalho.

Ainda em relação à competência da Justiça do Trabalho, antes da Reforma

do Judiciário, destaque-se as ações possessórias fundadas na relação de emprego, como

por exemplo, as referentes à habitação fornecidas pelos empregados, como as dispostas

nos parágrafos 3º e 4º do artigo 458 da Consolidação das Leis do Trabalho. Ainda em

relação às ações possessórias, temos que o empregado também poderá ajuizar este tipo

de ação para reaver equipamentos ou instrumentos que tenham ficado retidos com o

empregador.

Por último, é importante ressaltar que a doutrina e a jurisprudência também

já haviam firmado entendimento de que a Justiça do Trabalho é competente para

processar e julgar ações que tenham como causa de pedir matéria alusiva ao meio

ambiente do trabalho. Confira a ementa de acórdão prolatado pelo Supremo Tribunal

Federal, no ano de 1999, portanto, bem antes da já citada Emenda Constitucional, in

verbis:

COMPETÊNCIA - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - CONDIÇÕES DE TRABALHO. Tendo a ação civil pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente do trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho.

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(STF – Recurso Extraordinário 206220. Relator Ministro MARCO AURÉLIO. DJ 17.09.1999)

Diante do exposto, temos que antes da Emenda Constitucional 45/2004, a

Justiça Laboral era competente para processar e julgar, basicamente, as lides referentes à

relação de emprego.

Feitas as considerações acima, passa-se, agora, a expor as modalidades de

intervenção de terceiros e suas aplicações na Justiça do Trabalho, antes da Reforma do

Judiciário.

Em primeiro lugar, frise-se que, com a Reforma do Judiciário e a

conseqüente ampliação da competência da Justiça do Trabalho, todas as modalidades de

intervenção de terceiros que eram manejadas na seara trabalhista antes da referida

Reforma continuam cabíveis nesta Justiça Especializada, de forma que o estudo deste

tópico tem valia para os dias atuais. O que ocorreu com a ampliação da competência foi

o alargamento das possibilidades do terceiro, que não é originariamente parte, intervir

no processo do trabalho.

É necessário consignar que duas são as posições encontradas no direito

processual do trabalho sobre intervenção de terceiros:

A primeira é restritiva, por sustentar que da intervenção de terceiros

formaria um lide paralela entre o terceiro interveniente e a parte, em detrimento do

objeto normal da ação trabalhista, que é a solução da lide entre o trabalhador e o

empregador. Desta forma, para esta corrente, a Justiça do Trabalho seria mesmo

incompetente para apreciar a lide paralela. Já a segunda corrente não é restritiva e

admite, na plenitude, e intervenção de terceiro, por entender que se trata de figura

processual legítima e não pode ser afastada do direito processual do trabalho sem lei que

expressamente o faça.41

41 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva: 2007. p. 435.

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No entanto, depois de apresentadas as duas correntes, deve ser consignado

que a corrente majoritária é, sem dúvida, aquela que dispõe que é cabível a intervenção

de terceiros na Justiça do Trabalho uma vez que o direito processual comum é fonte

subsidiária do processo do trabalho, por disposição expressa do artigo 769 da

Consolidação das Leis do Trabalho. Ademais, diante da inexistência de

incompatibilidade, rejeitá-la implicaria descumprir a lei. A lide denominada paralela na

verdade não o é, mas, sim, uma questão incidental a ser resolvida pela Justiça do

Trabalho.

Passa-se, agora, a destacar as modalidades de intervenção de terceiros que

eram manejadas na Justiça Laboral antes mesmo da Emenda Constitucional 45/2004:

Em primeiro lugar, destaque-se a assistência, que sempre foi amplamente

difundida no âmbito trabalhista. Há, inclusive, conforme já tratado acima, o enunciado

82 da Súmula de Jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho, que dispõe sobre

esta modalidade de intervenção de terceiros ao disciplinar que “A intervenção

assistencial, simples ou adesiva, só é admissível se demonstrado o interesse jurídico e

não meramente econômico”. Trata-se, portanto, de modalidade de intervenção de

terceiro expressamente acolhida pela jurisprudência trabalhista.

A hipótese mais comum de assistência no processo do trabalho é a que

envolve a participação do sindicato, assistindo o empregado em juízo e por isto, a título

de exemplo leia-se a seguinte ementa de acórdão:

NULIDADE. INTIMAÇÃO DO SINDICATO. INEXISTÊNCIA. Tendo em vista o princípio da instrumentalidade das formas, não há nulidade a ser declarada em relação à ausência de intimação dos advogados no escritório particular destes, uma vez que o ato, ainda que imperfeito, alcançou sua finalidade, sem ocasionar prejuízo ao Recorrente, já que a intimação do sindicato atingiu sua finalidade, ainda mais quando a intimação do sindicato como destinatário das notificações visa atender os reclamos da entidade assistente em face das dificuldades e alterações constantes no corpo jurídico, além do que a reclamação e a procuração conferidas aos subscritores do apelo foram realizadas no próprio sindicato, inclusive com seu timbre, sendo que os procuradores foram nomeados pelo simples fato de integrarem o quadro jurídico do sindicato à época da interposição da presente

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ação trabalhista, restando clara a intenção do Reclamante de contar com a assessoria do seu sindicato e não qualquer um de seus assessores jurídicos, em especial. Revista não conhecida. (Recurso de Revista 520782. Tribunal Superior do Trabalho.Segunda Turma. Ministro Relator JOSÉ SIMPLICIANO FERNANDES. DJ 05/09/2003)

Desta forma, não há dúvidas que o instituto da assistência é amplamente

utilizado na Justiça do Trabalho, em especial, através da intervenção dos sindicatos

nesta condição.

Passa-se, agora, à possibilidade de aplicação da modalidade de intervenção de

terceiros denominada oposição, no âmbito da Justiça Laboral:

Pode-se afirmar que sempre foi polêmico o cabimento da oposição no processo

do trabalho, pois há uma forte resistência à sua aceitação. A despeito de tal resistência, o

instituto sempre foi manejado, mesmo antes da Reforma do Judiciário, todavia, com

restrições.

Tais restrições justificam-se, em primeiro lugar, pelo retardamento que o

instituto pode provocar tendo em vista a incompetência da Justiça do Trabalho para

julgar, muitas vezes, a segunda relação processual advinda da oposição. E, conforme já

estudado acima, a intervenção de terceiros objetiva, justamente, impingir maior

efetividade e celeridade aos feitos e não retardá-los.

Com efeito, basta imaginar a situação de uma ação trabalhista de um

empregado em face do seu empregador, na qual se discute a propriedade de determinado

invento ou patente e, um outro empregado da mesma empresa manifesta o pedido de

oposição quanto ao direito controvertido entre os litigantes. Caso o empregador

reconheça a procedência do pedido, a relação jurídica continuaria a ser discutida entre o

reclamante originário, que passou a ser o oposto, e o opoente. Desta forma, passa-se a

ter um litígio entre dois empregados e, neste novo cenário, a Justiça do Trabalho passa a

ser incompetente para julgar a causa.

Neste mesmo exemplo, caso o reclamante originário (empregado) tivesse

reconhecido o pedido, com a oposição, ainda teríamos uma lide entre empregador e

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empregado e, assim, não haveria óbice em que o processo continuasse no âmbito da

Justiça Laboral.

O Professor Sergio Pinto Martins defende a inaplicabilidade da oposição ao

processo do trabalho e traz exemplo parecido com o citado acima para demonstrar que a

oposição pode vir a ocasionar a incompetência da Justiça do Trabalho: desta vez o

reclamante é um empregador que ajuíza uma ação para reaver de um empregado

determinado mostruário, alegando que tal coisa lhe pertence. Um terceiro ingressa no

processo, pretendendo opor-se ao direito controvertido pelo empregador e pelo

empregado, dizendo que, na verdade, é dele o mostruário. Ora, se o reclamante

(empregador) reconhecer a procedência do pedido, haverá a formação de um litígio

entre dois empregados, o que redundaria na incompetência da Justiça do Trabalho.42

Note-se que, antes da Reforma do Judiciário não era possível a oposição em

dissídio coletivo, tendo em vista que a Justiça do Trabalho era incompetente para

decidir a respeito de disputa intersindical. Mais adiante será visto que, com a ampliação

da competência passou a ser possível a Justiça do Trabalho julgar disputa de

representatividade entre sindicatos, razão pela qual passou a se admitir, com algumas

ressalvas, a oposição em dissídio coletivo.

Quanto à nomeação à autoria, pode-se dizer, também, que nos domínios do

processo do trabalho, a doutrina também diverge quanto a sua aplicação.

Sergio Pinto Martins43, em obra já mencionada no presente trabalho

acadêmico, defende a que a nomeação à autoria é inaplicável ao processo do trabalho.

Para este autor “aquele contra quem se ingressou com ação na Justiça do Trabalho,

v.g., o gerente da empresa, não poderá nomear à autoria o verdadeiro empregador. �a

verdade será parte ilegítima no pólo passivo da ação, devendo o processo ser extinto

sem julgamento do mérito (art. 267, VI do CPC), que inclusive pode ser decretado de

ofício pelo julgador (art. 295, II,c/c 301, parágrafo 4º do CPC).”

O autor faz, ainda, crítica ao doutrinador Amauri Mascaro Nascimento por

defender a possibilidade de nomeação à autoria no processo de execução.

42 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 225/226 43 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 227.

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Com efeito, em sua obra Curso de Direito Processual do Trabalho, Amauri

Mascaro Nascimento aduziu que:

A nomeação à autoria é o modo pelo qual aquele que detém coisa em nome alheio suscita a integração, no processo, do proprietário ou possuidor. Penhorados os bens em decorrência de execução trabalhista, cabe nomeação à autoria do proprietário ou possuidor, pelo simples detentor.44

A propósito a tese defendida por Amauri Mascaro Nascimento também foi

criticada pelo Procurador do Trabalho Renato Saraiva in Curso de Direito Processual do

Trabalho45 ao dispor que a nomeação à autoria somente é admitida no processo de

conhecimento, jamais na fase de execução e, além do mais, defende que caberia ao

terceiro defender os seus bens indevidamente penhorados por meio da ação incidental

denominada embargos de terceiro.

Outra crítica à adoção desta modalidade de intervenção de terceiros na seara

trabalhista foi feito pelo jurista Manoel Antonio Teixeira Filho, citado pelo professor

Wagner Giglio, também na obra sobre Direito Processual do Trabalho46. Para ele, a

Justiça do Trabalho não possui competência para apreciar ações reais ou que visem a

obter reparação de prejuízos acarretados a certa coisa, sendo que o processo do trabalho

visa a discussão de direitos trabalhistas e não daqueles derivados da coisa.

Destarte, percebe-se que o uso da nomeação à autoria no processo do

trabalho é polêmico. Na jurisprudência, em pesquisa ao sitio do Tribunal Superior do

Trabalho que permite pesquisa integrada com todos os Tribunais do País, poucos são os

casos em que a ementa cita a denunciação à lide, e, em praticamente todas elas, tal

instituto é rejeitado na Justiça Especializada.

Para encerrar o tema, cola-se a opinião do Juiz do Trabalho da 2ª Região,

Mauro Schiavi, que traz idéia que converge com o princípio da efetividade pois, para

ele, muito embora o instituto deva ser manejado cum grano salis, não se pode olvidar

44 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22 ed. São Paulo: Saraiva: 2007. p. 430 45 SARAIVA, Renato. Op. cit. p. 241. 46 SARAIVA, Renato. Op. cit. p 241.

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que muitas vezes pode vir a beneficiar o reclamante empregado através da indicação de

quem é o verdadeiro legitimado passivo da causa, senão vejamos:

A nosso ver, a nomeação à autoria, embora de difícil ocorrência no processo do trabalho, não é com ele incompatível. O referido instituto pode ser compatibilizado com o processo do trabalho (artigo 769, da CLT), inclusive para beneficiar o próprio reclamante, mesmo sem os contornos dos artigos 62 e 63 do CPC, mas como medida de correção do pólo passivo da ação, sem a necessidade de extinção prematura do processo em razão de ilegitimidade. Muitas vezes, o autor postula verbas trabalhistas em face do reclamado que não é o empregador e este em defesa indica quem é o verdadeiro empregador. Desse modo, uma vez havendo concordância do reclamante ou até se estiver convencido o juiz, este poderá determinar o acertamento do pólo passivo, sem precisar extinguir o processo por ilegitimidade ad causam do demandado. Em hipóteses de terceirização ou contrato de subempreitada, é comum o reclamante postular o vínculo de emprego em face de um determinado empregador e este indicar, em defesa, o verdadeiro empregador.47

Sendo assim, controvertida também é o uso da possibilidade de aplicação da

nomeação à autoria na Justiça do Trabalho.

Em relação ao instituto da denunciação da lide, note-se que antes da Emenda

45/2004 era aplicada, majoritariamente, a Orientação Jurisprudencial 227 da Seção de

Dissídios Individuais I, que apontava a incompatibilidade da denunciação da lide com o

processo do trabalho.

Sergio Pinto Martins48, ao tratar do instituto antes da Reforma do Judiciário,

revelava que, na doutrina, Amauri Mascaro Nascimento, Carlos Coqueijo Costa e

Christóvão Piragibe Tostes Malta admitiam a denunciação da lide em casos em que se

discutia a sucessão de empregadores, podendo o sucedido denunciar à lide o sucessor, se

estiver obrigado pela lei ou pelo contrato a indenizar em ação regressiva o prejuízo

decorrente da perda da demanda. Afirmou, ainda, que José Augusto Rodrigues Pinto,

também entendia, desde então, cabível a denunciação da lide e a recomendava em

homenagem ao princípio da celeridade processual.

47 SHIAVI, Mauro. Aspectos Polêmicos sobre a Intervenção de Terceiros no Processo do Trabalho após a Emenda Constitucional 45/04 e o Cancelamento da OJ 227, da SDI-I do C. TST.

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Já Wagner Giglio e Manoel Antonio Teixeira Filho, segundo os

ensinamentos de Sergio Pinto Martins, entendiam ser inaplicável a denunciação da lide

no processo do trabalho, em especial pelo fato da incompetência da Justiça do Trabalho

para resolver controvérsia entre denunciante e denunciado.49

Apesar da discussão, era pacífico o entendimento segundo o qual dos três

casos de denunciação da lide enumerados no artigo 70 do Código de Processo Civil

somente o inciso III poderia vir a ser aplicado na seara laboral.

Isso porque o inciso I trata do direito de evicção, que não ocorre no processo

do trabalho. Só para lembrar, segundo o dicionário jurídico de Plácido e Silva50 evicção

significa o ato pelo qual vem um terceiro desapossar a pessoa da coisa ou do direito, que

se encontrava em sua posse, embora por justo título, por ter direito a ela. Destarte, não é

assunto atinente à Justiça do Trabalho.

Já o inciso II do mesmo artigo, também não se aplicava à Justiça

Especializada pois trata de hipótese que envolve proprietário, possuidor indireto,

usufrutuário, credor pignoratício, ou seja, situações não atinentes ao processo laboral.

O inciso III, do artigo 70 do Código de Processo Civil, por sua vez, era a

hipótese cabível para aqueles que defendiam a possibilidade de aplicação da

denunciação da lide no processo do trabalho. Tal inciso dispõe que é obrigatória a

denunciação da lide àquele aquele que estiver obrigado pela lei ou pelo contrato, a

indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.

E quais seriam os exemplos de aplicação deste inciso no processo do

trabalho e, ainda, quais seriam as críticas decorrentes de se denunciar a lide?

Há quem admitia a denunciação da lide na hipótese do artigo 455 da CLT51,

em que haveria o direito de regresso do empreiteiro principal em face do

subempreiteiro. Ocorre que tal responsabilidade é subsidiária ou sucessiva e não

solidária, resultante de lei ou da vontade das partes, de acordo com o artigo 265 do

48 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 229/230 49 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 229/230 50 SILVA, De Placido e. Vocabulário Jurídico. 27 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2007. p. 567 51 Art. 455 CLT - Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro. PARAGRAFO ÚNICO. Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva contra o subempreiteiro e a retenção de importâncias a este devidas, para a garantia das obrigações previstas neste artigo.

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Código Civil. Note-se que no dispositivo consolidado não há nada disposto acerca da

solidariedade, e, assim, se admitida a denunciação da lide, duas demandas passariam a

ser admitidas: uma demanda entre empregado e empresa e outra demanda, incidental,

entre duas empresas e, ocorre que esta segunda demanda torna a Justiça do Trabalho

incompetente pois, além de ser entre dois empregadores, se discute na demanda

responsabilidade por perdas e danos, matéria de natureza civil.

Destarte, a melhor exegese do parágrafo único do artigo 455 da CLT seria

no sentido de que o direito de regresso do empreiteiro principal em face do

subempreiteiro deve ser feito mediante ação autônoma e perante a Justiça Estadual.

Uma outra hipótese cogitável do instituto na Justiça do Trabalho, seria o

caso de se permitir a denunciação da lide de antigos proprietários da empresa aos atuais,

ou o contrário, admitir-se que os atuais proprietários da empresa denunciem a lide aos

antigos. Também, para a maioria da doutrina, tal hipótese não deveria prosperar, tendo

em vista que de acordo com o artigo 2º da CLT, o empregador é a empresa e não os

sócios e, conforme dispõe os artigos 10 e 448 da CLT, a mudança na estrutura jurídica

ou na propriedade da empresa não prejudica os direitos dos empregados. Sendo assim,

não propondo na inicial a ação em face dos dois empregadores, o operário propõe a ação

contra aquele que considera o seu efetivo empregador. Com a denunciação da lide, ter-

se-ia demanda paralela, novamente, entre duas empresas.

Também não haveria, para a maior parte da doutrina, que se falar em

denunciação da lide nos casos em que os julgamentos da nova demanda fossem da

competência da Justiça Federal. Pode-se citar como exemplo a denunciação da lide da

empresa em relação à Caixa Econômica Federal quanto aos depósitos de FGTS e, ainda,

em denunciação da lide da empresa em face do Instituto Nacional de Seguro Social, no

tocante ao pagamento de salário-maternidade, que é da incumbência da Autarquia

Previdenciária, nos exatos termos do artigo 71 da Lei 8.213/91.

Outro exemplo de discutível aceitação da denunciação da lide no processo

do trabalho está relacionado ao factum principis, previsto no artigo 486 da Consolidação

das Leis do Trabalho. Ocorre o fato do príncipe quando, por lei ou ato administrativo do

ente público federal, estadual, municipal ou distrital, houver a paralisação das

atividades, temporária ou definitivamente de forma a ocasionar o término do contrato de

trabalho.

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Não obstante a norma prevista no artigo 486 da Consolidação das Leis do

Trabalho referir-se expressamente ao instituto do chamamento à autoria, pela

interpretação lógica do artigo, a figura de intervenção de terceiros que mais se

aproximaria da do que está dito na norma seria a denunciação da lide, para muitos

autores, como, por exemplo Carlos Henrique Bezerra Leite52. No entanto, não é pacífico

na doutrina que seria caso de denunciação, sendo que Renato Saraiva 53, por exemplo,

dispõe que estar-se-ia diante de uma intervenção atípica, fundamentando a sua tese no

sentido de que tal modalidade visa antecipar a ação regressiva nos próprios autos.

Para este último doutrinador, Renato Saraiva, seria possível a denunciação

da lide no caso de uma empregada promover uma ação de danos morais no âmbito da

Justiça do Trabalho em face do seu empregador, por ter sido assediada sexualmente pelo

seu superior hierárquico, gerente da empresa. Neste caso, o empregador poderia

denunciar à lide o seu empregado gerente e a Justiça Laboral teria competência, tendo

em vista que a segunda lide seria entre denunciante (empregador) e o denunciado

(gerente empregado).

Por todo o exposto, a aplicação da denunciação da lide na Justiça do

Trabalho sempre requereu cautela, em especial antes da ampliação da competência desta

Justiça Especializada. Admitir-se a denunciação da lide sem resolver por sentença a

controvérsia, tendo em vista a incompetência da Justiça do Trabalho, seria retomar, em

relação ao tema, ao Código de Processo Civil de 1939, na qual a denunciação de lide

não traduzia um direito de regresso, mas, sim, mera notificação.

Para encerrar a análise da denunciação da lide na seara trabalhista, antes da

Emenda Constitucional 45/004, cola-se, a título de ilustração, exemplos de julgados

consubstanciados na citada Orientação Jurisprudencial 227 da SDI-1:

RECURSO DE REVISTA. I - DENUNCIAÇÃO DA LIDE PELA EMPRESA SUCESSORA À SUCEDIDA - VIOLAÇÃO DO ART. 70, III, DO C.P.C. - NÃO CARACTERIZAÇÃO – INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A decisão que desacolhe pretensão de denunciação à lide formulada pela empresa sucessora em relação à sucedida não afronta o art. 70, III, do C.P.C., mesmo porque a Justiça do Trabalho não tem competência

52 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit. p. 415 53 SARAIVA, Renato. Op. cit. p. 244

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material para apreciar a ação incidental surgida, visto tratar-se de discussão entre dois empregadores e não entre empregado e empregador, consoante preceitua o art. 114 da Constituição da República. Revista não conhecida. II - PLANO VERÃO (URP DE FEVEREIRO/89) VIOLAÇÃO DO ART. 5º, II, DA CF. NÃO CARACTERIZAÇÃO. Não se conhece de revista quanto ao pleito de URP de fevereiro/89 (Plano Verão) por violação do art. 5º, II, da Constituição da República, porque não demonstrada a violação em face do caráter genérico desse mandamento, sendo que apenas podem ser admitidas as violações explícitas ao comando constitucional. Também não se conhece da revista, nessa parte, por dissenso jurisprudencial, ante a falta de comprovação de divergência específica. Óbice do Enunciado nº 126 do TST. Revista não conhecida. (TST – RR 441385, 5ª Turma. Relator Ministro Convocado Guedes de Amorim, DJU 30/03/2001) EMENTA: DENUNCIAÇÃO DA LIDE. NÃO CABIMENTO. REJEIÇÃO. NÃO CONFIGURAÇÃO. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 70 DO CPC E 455 DA CLT. Não há como acolher a denunciação da lide por órgão Jurisdicional da Justiça do Trabalho, por ser incabivel essa modalidade de intervenção de terceiros nos processos de sua competência, seja em função da ausência de previsão legal, seja em decorrência da impossibilidade de solver o conflito de interesses existente entre o denunciante e o denunciado, seja, ainda, em virtude de o denunciante dever propor ação regressiva de forma autônoma, o que se extrai da exegese dos artigos 70 do CPC e 455 da CLT. (TRT-15ª Região. Processo 32.731/97, 5ª Turma. Relator Juiz Luiz Carlos Cândido Martins Sotero da Silva. DOESP 23/02/1999)

Denunciação da lide. Não cabimento no processo do trabalho. Admitida a denunciação da lide, teríamos duas demandas: uma entre empregado e empresa, outra, uma ação incidental entre duas empresas. No entanto, a sentença que julgar a ação terá que decidir a situação entre o denunciante e o denunciado, quanto a responsabilidade por perdas e danos (art. 76 do CPC), sendo a Justiça do Trabalho incompetente para dirimir essa demanda paralela, porque a questão será entre duas empresas e não entre empregado e empregador, além do que irá tratar de matéria de natureza civil, totalmente distinta do contrato de trabalho. De acordo com o CPC de 1973, que adotou a teoria do direito germânico, trata-se a denunciação da lide de verdadeira ação de regresso e não de mera notificação, como era no sistema do CPC de 1939. Admitir a denunciação da lide sem se

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resolver, por sentença, a situação do denunciante e do denunciado, seria retornar ao sistema do CPC de 1939, o que não se pode pensar, em função da inexistência de lei determinando esse procedimento no processo do trabalho e do fato de que seria suprimida e transfigurada a principal novidade no instituto em comentário, que é justamente o exercício da ação de regresso. (TRT-2ª Região. Acórdão 20010401320, 3ª Turma. Relator Juiz Sergio Pinto Martins. DOESP)

Das ementas acima trazidas, extrai-se que a jurisprudência não acatou a

possibilidade de se denunciar a lide na Justiça do Trabalho, sendo aplicado o

entendimento da antiga Orientação Jurisprudencial 227 da SDI-1. Ocorreu, contudo, o

cancelamento da referida Orientação Jurisprudencial em face da ampliação da

competência da Justiça do Trabalho e assim, tal instituto continuará a ser analisado na

segunda parte deste capítulo.

Passa-se ao estudo da figura interventiva denominada chamamento ao

processo, que, como as outras figuras de intervenção de terceiros, tem aplicação restrita

e controvertida no processo do trabalho.

Conforme estudado acima, a finalidade do chamamento ao processo é

favorecer o devedor, que se encontra no pólo passivo da demanda, no sentido de que é

ampliada a demanda para permitir a condenação, também, dos demais devedores que

passarão a constar, caso condenados, no título executivo judicial.

Para os doutrinadores que defendem a sua utilização na seara trabalhista, há

a ressalva, para a maioria, no sentido de que a única hipótese plausível de cabimento do

instituto é a prevista no inciso III do artigo 77 do Código de Processo Civil, uma vez

que os incisos I e II do mencionado dispositivo legal envolvem questões sobre fiador.

Para Amauri Mascaro Nascimento54, o chamamento ao processo, presta-se,

no processo trabalhista, para a integração de todos os devedores solidários, quando o

credor exige, de um ou alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum e traz como

exemplo o pedreiro que demanda contra o empreiteiro secundário, cabendo o

chamamento ao processo do empreiteiro principal.

Já para Sergio Pinto Martins, na 21ª edição do seu livro Direito Processual

do Trabalho, editado antes da emenda Constitucional 45/2004, seria inaplicável o

54 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit. p. 431

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chamamento ao processo, como previsto no CPC, no processo do trabalho.

Fundamentou aduzindo que:

“O inciso III menciona o caso de devedores solidários, o que poderia atrair a aplicação do parágrafo 2º do artigo 2º da CLT (grupo de empresas), do artigo 16 da Lei 6.019/74 ou consórcio de empregadores rurais. Todavia, a Justiça do Trabalho também seria incompetente para resolver a questão surgida entre o chamado ao processo e quem o chamou, pois seria uma questão entre duas empresas. No Direito do Trabalho o grupo de empresas é o empregador único, havendo responsabilidade solidária entre as empresas do grupo (parágrafo 2º do artigo 2º da CLT; parágrafo 2º do artigo 3º da Lei 5.889/730. Assim, proposta a ação contra uma das empresas, ela responde pelo débito trabalhista, ainda que o empregado não tenha trabalhado para essa empresa. De outro lado, se o empregado quisesse propor ação em face das duas empresas, já o teria feito na inicial Exemplo poderia ser o chamamento ao processo de uma sociedade de fato ou um condomínio irregular, para que todos venham a responder pela condenação. Entendo, ao contrário da respeitável orientação de Manoel Antonio Teixeira Filho, que não se pode fazer um temperamento ou adaptação do instituto do chamamento ao processo previsto no CPC para o processo do trabalho, sob pena de termos de fazê-lo também em relação à nomeação à autoria, à oposição e a denunciação da lide, o que desnaturaria os referidos institutos previstos no processo civil. Daí, a dificuldade da adaptação de certos institutos do processo civil no processo do trabalho, que tem condições e circunstâncias, muitas vezes, totalmente distintas. Na verdade, a sentença trabalhista proferida não valerá como título executivo em relação ao chamado e a quem o chamou no processo, pois será preciso que a ação de regresso seja ajuizada na Justiça Comum.”55

Diante do exposto, conclui-se que o processo do trabalho não tem formas próprias de intervenção de terceiros, utilizando-se, portanto, dos modelos do processo civil.

A Intervenção de Terceiros na Justiça do Trabalho após a Reforma do Judiciário.

55 MARTINS, Sergio Pinto. Op. cit. p. 234/235.

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Inicialmente, traça-se um panorama da Justiça do Trabalho depois da

Emenda Constitucional 45/2004. Como é sabido, a Emenda Constitucional 45/2004

ampliou significativamente a competência material da Justiça do Trabalho. Foi dada

nova redação ao artigo 114 da Carta Maior.

A mais importante inovação trazida pela referida Emenda foi, justamente, a

ampliação da competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações

oriundas da relação de trabalho em sentido amplo. Em relação às lides decorrentes da

relação de emprego, espécie do gênero relação de trabalho, a Emenda Constitucional só

reforçou o entendimento de que esta Justiça Especializada seria a competente para julgá-

las.

Quanto ao tema, cola-se os ensinamentos do Dr. Grijalbo Fernandes

Coutinho, Juiz do Trabalho e, à época,Presidente da Associação Nacional dos

Magistrados da Justiça do Trabalho – ANAMATRA: 56

“Havendo relação de trabalho, seja de emprego ou não, os seus contornos serão apreciados pelo juiz do trabalho. Para os demais casos, evidentemente, aplicará a Constituição e a legislação civil comum, considerando que as normas da CLT regulamentam o pacto entre empregado e empregador. Como conseqüência, a Justiça do Trabalho passa a ser o segmento do Poder Judiciário responsável pela análise de todos os conflitos decorrentes da relação de trabalho em sentido amplo. Os trabalhadores autônomos, de um modo geral, bem como os respectivos tomadores de serviço, terão as suas controvérsias conciliadas e julgadas pela Justiça do Trabalho. Corretores, representantes comerciais, representantes de laboratórios, mestres-de-obras, médicos, publicitários, estagiários, contratados pelo poder público por tempo certo ou por tarefa, consultores, contadores, economistas, arquitetos, engenheiros, dentre tantos outros profissionais liberais, ainda que não-empregados, assim como as pessoas que locaram a respectiva mão de obra (contratantes), quando do descumprimento do contrato firmado para a prestação de serviços, podem procurar a Justiça do Trabalho para solucionar os conflitos que tenham origem em tal ajuste, escrito ou verbal. Discussões em torno dos valores combinados e pagos, bem como a execução ou não dos serviços e a sua perfeição, além dos direito de tais trabalhadores, estarão presentes nas atividades do magistrado do trabalho.”

56 COUTINHO, Grijalbo Fernandes. �ova Competência da Justiça do Trabalho.ANAMATRA. p. 133/134, apud SARAIVA, Renato. Op. Cit. p. 69.

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Tema controvertido em relação ao assunto é se a competência material da

Justiça do Trabalho, com a Reforma do Judiciário, abarcaria as relações de consumo.

Para Renato Saraiva, caso o litígio entre o fornecedor e o consumidor envolva relação de

consumo, ou seja, a discussão gire em torno do Código de Defesa do Consumidor, a

Justiça do Trabalho não terá competência para julgar a demanda. No entanto, para o

referido doutrinador, se o litígio entre o prestador de serviços e o consumidor traduzir

uma relação laboral existente entre ambos, a competência será da Justiça do Trabalho, e

cita o exemplo do não recebimento pelo fornecedor pessoa física do numerário

contratado para a prestação dos respectivos serviços.57

O tema não é tão simples assim, e a discussão tornou-se acirrada após a

Emenda Constitucional 45/2004. Para se ter uma idéia, o Ministro do Tribunal Superior

do Trabalho João Oreste Dalazen defende que uma relação contratual pode ter por

objeto a prestação de serviços e, assim, caracterizar também, inequivocamente uma

relação de trabalho em sentido amplo e, aí será competente a Justiça Trabalhista, caso a

lide não envolva a aplicação do Código de Defesa do Consumidor.58

Já o Juiz do Trabalho Otávio Calvet defende um posicionamento distinto ao

tratar do tema. Para ele, numa relação de trabalho, nunca pode aparecer como tomador

do serviço o usuário final, o cliente consumidor, mas sempre alguém que, utilizando do

labor adquirido pela relação de trabalho, realiza sua função social perante os usuários

finais. Para ilustrar a sua tese, cita como exemplo o caso de um paciente que utiliza os

serviços do dentista dentro de uma clínica especializada. Em relação ao paciente, há

verdadeira relação de consumo com a clínica, que o realiza mediante um dos seus

trabalhadores, no caso, o dentista. Já entre o dentista e a clínica, sim, poder-se-ia fixar a

existência de relação de trabalho, mesmo que o primeiro seja autônomo ou eventual.59

Outro tema que sofreu mudanças com a Emenda Constitucional 45/2004 foi

em relação à Justiça competente para julgar indenização por danos decorrentes de

acidente de trabalho. O Supremo Tribunal Federal firmou o seguinte entendimento,

publicado no Informativo 394, de 29/06/2005, in verbis:

57 SARAIVA, Renato. Op. cit., p. 73. 58 Apud SARAIVA, Renato. Op. cit., p. 73. 59 Apud SARAIVA, Renato. Op. cit., p. 74/75.

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Indenização por Danos Decorrentes de Acidente do Trabalho: Competência As ações de indenização propostas por empregado contra empregador, fundadas em acidente do trabalho, são da competência da justiça do trabalho. Com base nesse entendimento, que altera a jurisprudência consolidada pelo Supremo no sentido de que a competência para julgamento dessa matéria seria da justiça comum estadual, por força do disposto no art. 109, I, da CF, o Plenário, em Conflito de Competência suscitado pelo TST - Tribunal Superior do Trabalho em face do extinto Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, conheceu da ação e determinou a remessa do feito à Corte suscitante. Entendeu-se que não se pode extrair do referido dispositivo a norma de competência relativa às ações propostas por empregado contra empregador em que se pretenda o ressarcimento por danos decorrentes de acidente de trabalho. Esclareceu-se que, nos termos da segunda parte do inciso I do art. 109 da CF, excluem-se, da regra geral contida na primeira parte - que define a competência dos juízes federais em razão da pessoa que integra a lide - as causas de acidente do trabalho em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas, na condição de autora, ré, assistente ou oponente (CF: "Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;"). Afirmou-se que referidas causas consistem nas ações acidentárias propostas pelo segurado contra o INSS, nas quais se discute controvérsia acerca de benefício previdenciário, e que passaram a ser da competência da justiça comum pelo critério residual de distribuição de competência (Enunciado da Súmula 501 do STF). Não se encaixariam, portanto, em nenhuma das partes do mencionado dispositivo as ações reparadoras de danos oriundos de acidente do trabalho, quando ajuizadas pelo empregado contra o seu empregador, e não contra o INSS, em razão de não existir, nesse caso, interesse da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal, exceto na hipótese de uma delas ser empregadora. Concluiu-se, destarte, ressaltando ser o acidente de trabalho fato inerente à relação empregatícia, que a competência para julgamento dessas ações há de ser da justiça do trabalho, a qual cabe conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, e outras controvérsias decorrentes daquela relação. Asseverou-se que tal entendimento veio a ser aclarado com a nova redação dada ao art. 114 da CF, pela EC 45/2004, especialmente com a inclusão do inciso VI ("Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:... VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação

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de trabalho;"). Acrescentou-se, ainda, que o direito à indenização em caso de acidente de trabalho, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa, está enumerado no art. 7º da CF como autêntico direito trabalhista, cuja tutela, deve ser, por isso, da justiça especial. Fixou-se, como marco temporal da competência da justiça laboral, a edição da EC 45/2004, por razões de política judiciária. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que estabelecia o termo inicial dessa competência a partir da redação original do art. 114 da CF. CC 7204/MG, rel. Min. Carlos Britto, 29.6.2005. (CC-7204). (grifo nosso).

Desta forma, conclui-se que a Emenda Constitucional 45/2004 também

refletiu nas ações que versam sobre responsabilidade civil decorrente de acidente de

trabalho.

Antes de encerrar este tópico, é necessário analisar outra questão acerca da

competência da Justiça do Trabalho que tem gerado maior cizânia na doutrina e na

jurisprudência, após a Reforma do Judiciário. Trata-se da competência criminal da

Justiça do Trabalho.

O Procurador Regional do Trabalho, Carlos Henrique Bezerra Leite destaca

três correntes acerca do tema:60 A primeira que entende que a Justiça Especializada do

Trabalho teria competência criminal. O renomado jurista cita o trabalho de Marcelo José

Ferlin D’ambroso que se filia a tal corrente ao defender que não vê na nova redação do

artigo 114 da Constituição da República, justificativa que autorize o fracionamento da

jurisdição. Afirma que, ao pensar de outra forma, corre-se o risco de permanência do

atual status quo, em que o juízo trabalhista reconhece uma fraude, por exemplo, e o

juízo penal a descaracteriza, quando a matéria chega a ser judicializada.61

A segundo corrente, oposta à primeira é contra a possibilidade da Justiça do

Trabalho decidir lide criminal. Carlos Henrique Bezerra Leite cita vários argumentos

defendidos por esta corrente, entre os quais destacamos: 1) corre-se o risco de

descaracterizar a jurisdição trabalhista ampliando demasiadamente o rol de suas

competências; 2) o legislador de 2004 retirou da PEC convertida na Emenda

Constitucional 45 o inciso que previa a competência para crimes contra a organização

60 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. Cit. p. 192/194. 61 D’AMBROSO, Marcelo José Ferlin. Competência Criminal da Justiça do Trabalho e legitimidade do Ministério Público do Trabalho em matéria penal: elementos para reflexão. Jus �avegandi.

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do trabalho; 3) não há atribuição expressa de competência criminal no artigo 114 da

Constituição da República.

Por último, Bezerra Leite cita a terceira corrente, à qual o mesmo se filia,

que admite a competência da Justiça do Trabalho em matéria criminal se o legislador

ordinário, ao regulamentar o inciso IX do artigo 114 da Constituição da República

disponha neste sentido.62

Diante do exposto, embora a primeira corrente insista na idéia de que a

Justiça do Trabalho possui competência criminal, diante da Reforma do Judiciário, o

certo é que predomina o entendimento que a Justiça Laboral não possui competência

para julgar crimes e, muito menos, que o Ministério Público do Trabalho é o Órgão

responsável pela promoção da ação penal.

Depois desta breve exposição acerca da ampliação da competência da

Justiça do Trabalho, passemos à influência de tais mudanças no tema intervenções de

terceiros nesta Justiça Especializada.

Para introduzir a discussão deste tópico, cola-se ementa de acórdão do

Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, que traz visão geral da intervenção de

terceiros na Justiça do Trabalho após a Emenda Constitucional 45/2004:

INTERVENÇÃO DE TERCEIROS - PROCESSO TRABALHISTA - LIDE ENTRE EMPREGADO E EMPREGADOR - O cancelamento da OJ 227, da SDI-1, do TST, não faz presumir, por si só, que o instituto da intervenção de terceiros (seja a denunciação da lide, seja o chamamento ao processo) passaria a ter aplicação ampla e irrestrita no sistema processual trabalhista. A aplicação é contida e restringe-se aos litígios expressamente mencionados nos incisos do art. 114 da CF/88, não se encontrando ali os que envolvam interesses de empregador. Esses continuarão litigando, se for o caso, em juízo e foro próprios, no exercício do direito de regresso, sob as regras do direito comum.

(TRT – 3ª Região. – RO - 01205-2005-041-03-00-4. Juiz Relator ANEMAR PEREIRA AMARAL. DJ.29/03/2006)

62 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit. p. 192/194.

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Com efeito, com a ampliação da competência da Justiça do Trabalho o

instituto da intervenção de terceiros passou a ser mais amplamente manejado na medida

da ampliação da sua competência, mas, sem dúvida, não se pode dizer que a sua

aplicação é irrestrita.

Em primeiro lugar, destaque-se a assistência, que sempre foi amplamente

difundida na seara trabalhista e, após a Emenda Constitucional 45/2004, passou a ser

ainda mais.

Apesar de amplamente admitida no Processo do Trabalho, não se tem

muitas hipóteses de ocorrência, sendo os mais comuns de empresa que ingressa como

assistente de outra empresa do grupo econômico, até porque, conforme dispõe o artigo

2º da Consolidação das Leis do Trabalho, a responsabilidade das empresas integrantes

do grupo econômico é solidária, bem como o exemplo o empregador que ingressa como

assistente em ação coletiva ajuizada por sindicato.

À propósito, a participação do sindicato, assistindo o empregado em juízo

como assistente, continua sendo bastante utilizada. A respeito da assistência no processo

do trabalho colhe-se o seguinte julgado, com a ressalva que, no caso, tem-se o

empregado assistindo o sindicato, senão vejamos:

SINDICATO. SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. LITISCONSÓRCIO. AGRAVO DE PETIÇÃO. INTERESSES COLETIVOS. AÇÃO DE CUMPRIMENTO. COISA JULGADA. EFEITOS. O ART. 8º III DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE 88 AO PREVER EXPRESSAMENTE QUE CABE AO SINDICATO A DEFESA DOS INTERESSES INDIVIDUAIS DA CATEGORIA EM QUESTÕES JUDICIAIS OU ADMINISTRATIVAS, AMPLIOU A LEGITIMIDADE DOS SINDICATOS QUANTO AO ASPECTO SUBJETIVO, DERROGANDO, PELA INCOMPATIBILIDADE, OS ARTIGOS 513, 195 § 2º E 872, PARÁGRAFO ÚNICO, DA CLT E 3º DAS LEIS N. 6.708/79 E N. 7.238/84 NA PARTE EM QUE RESTRINGIAM A REPRESENTAÇÃO E A SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL DOS SINDICATOS APENAS AOS ASSOCIADOS QUANTO À DEFESA DOS DIREITOS INDIVIDUAIS. AS DECISÕES PROFERIDAS NESSAS AÇÕES POSSUEM EFEITOS ERGA OMNES OU ULTRA PARTES, SENDO PERFEITAMENTE LEGÍTIMA A ADMISSÃO DOS RECLAMANTES COMO ASSISTENTES LITISCONSORCIAIS DO SINDICATO, COM ESCOPO DE PROMOVER A EXECUÇÃO DEFINITIVA DE SEUS CRÉDITOS ATRAVÉS DE CARTA DE SENTENÇA OU OUTRO MECANISMO ACEITO PELO SISTEMA, IMPONDO-SE A IMPROCEDÊNCIA DO APELO (grifo nosso).

(TRT 1ª Região. Desembargadora Federal MARIA JOSÉ AGUIAR TEIXEIRA OLIVEIRA. DJ.25/08/2005)

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Já em relação à oposição, conforme tratado acima, temos que o instituto

sempre foi polêmico na seara trabalhista e de aplicação bastante restrita.

Com a Reforma do Judiciário, a Justiça do Trabalho passou a julgar disputa

de representatividade entre sindicatos, razão pela alguns doutrinadores passaram a

admitir, com ressalvas, a oposição em dissídio coletivo. Sobre o tema, destaque-se a

análise feita pelo Juiz do Trabalho da 2ª Região, Mauro Schiavi63.

Em primeiro lugar, o Magistrado cita os ensinamentos de Amauri Mascaro

Nascimento que defende que "A forma processual de ingresso de sindicato em dissídio

coletivo para avocar a sua legitimidade em detrimento do sindicato que figura na

relação jurídica processual é a oposição”. Não é prevista pela legislação processual

trabalhista. Todavia, diante da subsidiariedade do Direito Processual Comum, nada

impede que seja admitida no dissídio coletivo porque não há restrições legais nem é

incompatível com o mesmo, como forma de intervenção de terceiro no processo

judicial"64.

No mesmo sentido, da possibilidade de oposição no processo coletivo do

trabalho, ainda segundo os ensinamentos do Juiz Mauro Schiavi, são os ensinamentos

de Ives Gandra Martins Filho65 que assim dispõe:

“Entendemos que, das 4 formas elencadas pelo Código de Processo Civil (Livro I, Capítulo VI) como de intervenção de terceiros no processo (oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo), a única aproveitável como instituto no Processo Coletivo do Trabalho seria a da oposição, com a devida adequação à natureza especial do processo coletivo, de forma a garantir que um terceiro possa vir a integrar uma lide já constituída, contestando o direito de uma das partes estar em juízo.

63 Juiz do Trabalho na 2ª Região. Mestrando em Direito do Trabalho pela PUC/SP. Professor Universitário. Texto: ASPECTOS POLÊMICOS SOBRE A INTERVENÇÃO DE TERCEIROS NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/04 E O CANCELAMENTO DA OJ 227, DA SDI-I, DO C. TST. 64 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Problemas Atuais do Direito e do Processo do Trabalho. Revista LTr 55-8, Editora LTr, São Paulo, 1991, p. 415. 65 MARTINS FILHO, Ives Gandra. Processo Coletivo do Trabalho, 3ª Edição, São Paulo, LTR, 2003, págs. 118/119.

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54

Nesse caso, caberia ao Tribunal, antes de apreciar o mérito da ação coletiva, decidir sobre a oposição existente, declarando qual dos dois sindicatos em litígio possui a legitimidade ativa para figurar no dissídio coletivo como representante da categoria. O TST, em matéria de conflito de representação, tem decidido, em caráter incidental, com decisão válida apenas para o processo em curso, no sentido da legitimidade do sindicato mais antigo, se o conflito suscitado perante a Justiça Comum ainda não tiver sido dirimido”.

Converge com tal entendimento a opinião de Sérgio Pinto Martins66 no

sentido que “Cabe oposição em dissídio coletivo, o opoente deverá fazer seu pedido, atendendo aos requisitos do art. 282. A oposição é distribuída por dependência, devendo os opostos serem citados pessoalmente ou por seus advogados para contestar a ação na audiência que for designada”.

Ainda nesta linha de raciocínio, ou seja, da possibilidade de haver oposição

no dissídio coletivo tem-se o seguinte acórdão:

É cabível a oposição no dissídio coletivo, já que existe conflito entre entidades sindicais que se julgam detentoras da legitimidade para representar os mesmos trabalhadores, cabendo à Justiça do Trabalho decidir sobre a legitimidade ad causam, por força do inciso III do art.114 da CF. (TRT 15ª Região. Dissídio Coletivo de Natureza Econômica e Jurídica 01699-2004-000-15-00-5. Juiz Relator FLAVIO ALLEGRETTI DE CAMPOS COOPER)

No entanto, não obstante as abalizadas opiniões acima transcritas, o Juiz

Mauro Schiavi, após citá-las, defende que no estágio atual da competência da Justiça do

Trabalho, não caberia mais a oposição em dissídio coletivo, pois se houver

controvérsias sobre a representação da categoria, deve o sindicato opoente postular ação

declaratória junto à Justiça do Trabalho, no primeiro grau de jurisdição, e pretender a

suspensão do dissídio coletivo enquanto tramitar a ação declaratória, por meio de

medida cautelar, podendo o relator do dissídio coletivo, se entender cabível suspender o

processo até a decisão da ação declaratório, nos termos do artigo 265 do Código de

Processo Civil.

O Magistrado considera, também, que com a competência da Justiça do

Trabalho dada pela EC 45/04, já não é mais possível a oposição em dissídio coletivo,

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pois os Tribunais Regionais do Trabalho não poderiam julgar, originariamente, ações

sobre representação sindical, já que tal competência é do primeiro grau de jurisdição.

Além disso, o sindicato oponente não poderia ingressar no dissídio coletivo sem a

anuência dos outros sindicatos, pois o parágrafo 2o, do artigo 114, da CF exige o

“comum acordo” para instauração do dissídio coletivo de natureza jurídica.

Desta forma, percebe-se que a aplicação do instituto da oposição no

processo coletivo do trabalho é controvertida. Os operadores do direito deverão sempre

cotejar os benefícios que o instituto poderá trazer ao processo do trabalho com os

princípios que o regem.

Quanto à nomeação à autoria, conforme já adiantado acima, pode-se dizer

que nos domínios do processo do trabalho, a doutrina sempre divergiu quanto a sua

aplicação. Muitos são os autores que não aceitam este tipo de modalidade de

intervenção de terceiros na seara laboral e, os que aceitam, fazem as suas ressalvas de

acordo com o que foi estudado na primeira parte deste capítulo.

No livro Curso de Direito Processual do Trabalho, de Carlos Henrique

Bezerra Leite67, é citado exemplo dado por Aguinaldo Locatelli68, quanto à

possibilidade de aplicação da nomeação à autoria tendo em vista a Emenda

Constitucional 45/2004: trata-se de caso de ação de indenização ajuizada pelo

empregador em face do empregado, sob a alegação de danos causados por dolo ou culpa

a veículo que se encontra na posse do empregado. Com fulcro no artigo 63 do Código

de Processo Civil, o empregado poderia aduzir que praticou o ato por ordem ou em

cumprimento de instruções do seu superior hierárquico, o qual poderá ser até o

administrador do empregador, que presta serviços na condição de autônomo.

Em relação ao instituto da denunciação da lide, antes da Emenda 45/2004

era aplicada, majoritariamente, a Orientação Jurisprudencial 227 da Seção de Dissídios

Individuais I, que dispunha acerca da incompatibilidade da denunciação da lide com o

processo do trabalho.

66 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho, 26ª Edição, São Paulo, Atlas, 2006, p. 213. 67 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op.cit. p. 413. 68 LOCATELLI, Aguinaldo. “Aplicação da intervenção de terceiros nas causas submetidas à jurisdição trabalhista à luz da Emenda Constitucional n. 45/2004”

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Entretanto, no final do ano de 2005, o Tribunal Superior do Trabalho

cancelou a referida Orientação Jurisprudencial, deixando de impor óbice expressa a tal

aplicação. No entanto, não obstante o cancelamento, a denunciação da lide não vem

sendo aplicada de forma irrestrita. Basta conferir a seguinte ementa de acórdão do

Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região:

DENUNCIAÇÃO À LIDE - Malgrado o cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da Egrégia SBDI-1 do Colendo TST, tal fato, de per si, não implica na plena e automática aplicação do instituto da denunciação à lide na seara trabalhista. O Colendo TST, mesmo após a Emenda Constitucional n. 45 de 31.12.2004, vem se manifestando no sentido da inaplicabilidade no processo do trabalho do artigo 70, III, do CPC, porquanto não detém esta Especializada competência para julgar a controvérsia entre a denunciante e a denunciada. O cancelamento da OJ n. 227/SBDI-1 do Colendo TST só tem relevância nas lides trazidas para a órbita de competência da Justiça do Trabalho e que não envolvam relação empregatícia.

(TRT-3ª Região. RO 00448 - Relator Juiz JULIO BERNARDO DO CARMO. Quarta Turma. DJ. 13/05/2006)

Interessante, também, trazer à baila ementa de acórdão do Tribunal Regional

do Trabalho da 23ª Região que, também, não obstante ter sido julgado após a Emenda

45/2004, da mesma forma afasta esta modalidade de intervenção de terceiros. In casu, a

denunciação da lide foi negada não só porque a relação entre a reclamada e a União não

diz respeito ao contrato de trabalho, razão pela qual deve ser dirimida na Justiça Comum

(esfera federal) e, ainda, a lide se encontrava em fase de execução, confira:

DENUNCIAÇÃO DA LIDE NA FASE DE EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. Diante da Emenda Constitucional nº 45/2004, que ampliou a competência para a solução dos conflitos relativos a toda relação de trabalho ou dela decorrentes, passou a ser possível, em tese, a intervenção de terceiros no processo do trabalho. O próprio Tribunal Superior do Trabalho entendeu por bem cancelar a Orientação Jurisprudencial SDI-1 nº 227, para adaptar a jurisprudência daquela corte à nova realidade desta Justiça Especializada. Todavia, não há como acolher o requerimento de denunciação da lide formulado pela Executada, em sede de execução, uma vez que os trâmites previstos nos artigos 70 e seguintes do Código de Processo

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Civil, aplicados subsidiariamente (art. 769 da CLT), são totalmente incompatíveis com essa fase processual. Ademais, a relação entre a Reclamada e a União não diz respeito ao contrato de trabalho, razão pela qual deve ser dirimida na Justiça Comum. Agravo de Petição ao qual se nega provimento. (TRT – 23ª Região.Relator Desembargador LUIZ ALCÂ�TARA. AP - 00258-2004-002-23-01. DJ 30/11/2007)

Desta forma, conclui-se que, mesmo após o cancelamento da OJ 227 da

SBDI-1, a aplicação do instituto da denunciação da lide no processo do trabalho vem

sendo aplicado cum grano salis.

Quanto à possibilidade de manejo desta modalidade de intervenção de

terceiros, posicionou-se o Ministro Lélio Bentes Corrêa, do Tribunal Superior do

Trabalho, no agravo de instrumento 780130/2001.8, conforme citado por Bezerra Leite

em sua Obra Curso de Direito Processual do Trabalho:69

“Um exemplo deste tipo situação, no âmbito trabalhista, foi submetido recentemente à Primeira Turma do TST por meio de um agravo de instrumento. Em face da possibilidade de condenação ao pagamento de verbas trabalhistas, a MRS Logística S/A resolveu denunciar à lide a Rede Ferroviária Federal. A relação jurídica entre ambas decorreu de contrato em que a MRS sucedeu a RFFSA na exploração de linhas ferroviárias. Diante da reclamação trabalhista contra a MRS promovida por um empregado, contratado originariamente pela RFFSA, a empresa sucessora decidiu trazer a Rede Ferroviária ao processo por meio da denunciação da lide. A possibilidade, contudo, foi negada pela primeira instância e, posterioemente, pelo TRT-1ª Região, que entendeu que a ocorrência da sucessão trabalhista inviabilizou a utilização do instrumento processual, também considerado incompatível pela OJ 227 da SDI-1 do TST. O Ministro Lélio Bentes Corrêa – relator da questão na Primeira Turma do TST – observou que o entendimento da OJ 227 foi consolidado à época da redação original do artigo 114 da Constituição. Após a promulgação da EC n. 45, o dispositivo ampliou a prerrogativa dos magistrados trabalhistas para o exame de todas as ações oriundas da relação de trabalho. “Não há dúvida de que o litígio entre as empresas na definição da responsabilidade pelos créditos do empregado configura inapelavelmente conflito oriundo da relação de trabalho inserindo-se, assim, na competência da Justiça do Trabalho”, afirmou o Ministro Lélio Bentes ao admitir o exame da denunciação à lide, o que revelaria a incompatibilidade da OJ 227.”

69 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Op. cit. p. 415.

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Ante os excertos acima, pode-se afirmar que caberá ao Magistrado

Trabalhista, em consonância com os princípios informadores que são próprios deste

ramo do direito, deferir ou não a denunciação da lide no processo do trabalho. É

necessário, desta forma, avaliar se a intervenção trará benefícios aos litigantes e se será

instrumento necessário à efetividade e celeridade do processo, o que só será possível

diante da análise do caso concreto, pois, cada processo traz peculiaridades que o

diferencia dos outros.

Passa-se, por último ao estudo da figura interventiva denominada

chamamento ao processo, e seu aplicabilidade à seara trabalhista após a Emenda

Constitucional 45/2004.

Frise-se que, como as outras figuras de intervenção de terceiros, esta

também sempre teve aplicação restrita e controvertida no processo do trabalho.

Entretanto, com a ampliação da sua competência, o manejo de tal instituto também foi

ampliado.

É de grande valia para o reclamante, pois, com o chamamento ao processo,

poderá haver o ingresso de outro réu que irá garantir, juntamente com o outro devedor o

crédito do reclamante. Em outras palavras, tal situação amolda-se ao princípio da

proteção aos créditos do trabalhador que, com o chamamento ao processo, terá maior

garantia de recebimento dos valores.

Com efeito, as hipóteses mais comuns do chamamento no processo do

trabalho relacionam-se, justamente a questões que envolvem alargamento das

possibilidades de recebimento do crédito pelo reclamante, como o chamamento de

sócio quando a empresa esta insolvente, ou mesmo de empresa do mesmo grupo

econômico da reclamada.

Por último, é importante citar, também, a hipótese de empresa prestadora,

quando se postulam verbas trabalhistas em face da tomadora de serviços em hipótese

de terceirização, conforme previsto verbete n. 331 da Súmula de Jurisprudência do

Tribunal Superior do Trabalho.70

70 CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. LEGALIDADE (mantida)

- Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003

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CO�CLUSÃO

Diante de todo o exposto, resta clara a influência do Direito Processual Civil

no Processo Trabalhista.

Como viso, o Código de Processo Civil é fonte formal do Direito Processual

do Trabalho. A legislação instrumental trabalhista é modesta, sendo que a própria

Consolidação das Leis do Trabalho dispõe, expressamente, que, nos casos omissos, o

direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho,

exceto, por óbvio, naquilo que for incompatível.

Dos diversos princípios analisados, aplicados ao Processo do Trabalho,

dúvidas não pairam acerca da importância do Direito Processual Civil no âmbito

trabalhista.

No trabalho acima apresentado, o enfoque da aplicação subsidiária do

Código de Processo Civil ao Processo Trabalhista foi em relação ao instituto da

Intervenção de Terceiros, tendo sido especificadas as diversas modalidades com os seus

pontos polêmicos.

Com a ampliação significativa da competência material da Justiça do

Trabalho, que passou a julgar as ações oriundas da relação de trabalho lato sensu, e não

apenas as decorrentes de relação de emprego, como ocorria antes da mudança na Carta

Política, a possibilidade de um terceiro que não é parte integrar a lide foi ampliada,

I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03.01.1974). II - A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta,não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37, II, da CF/1988). III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta. IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993).

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razão pela qual o instituto passou a ser mais amplamente utilizado e, portanto, maior

influencia passou a ter o Código de Processo Civil no Direito Processual do Trabalho.

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BIBLIOGRAFIA CO�SULTADA

BUENO, Cássio Scarpinella Bueno. Partes e Terceiros no Processo Civil Brasileiro. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

CÂMARA, Alexandre Freitas Câmara. Lições de Direito Processual Civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2002.

DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: Editora LTR, 2007.

DIDIER JR. Fredie. Aspectos Polêmicos e Atuais sobre os Terceiros no Processo Civil e Assuntos Afins. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2004.

DINAMARCO, Cândido Rangel. Intervenção de Terceiros. 4ª ed. São Paulo: Editora Melhoramentos, 2006.

DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9ª ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2008.

LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTR, 2007.

LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Editora Método, 2007.

MARTINS, Sergio Pinto Martins. Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Editora Atlas, 2004.

________________ Direito Processual do Trabalho, 26ª Edição, São Paulo, Atlas, 2006.

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 22. ed. São Paulo: Saraiva: 2007.

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OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Comentários às Súmulas do TST. 7. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007.

SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Editora Método, 2007.

SOUZA, José Franklin de. Intervenção de Terceiros e Coisa Julgada. São Paulo: Editora J. H. Mizuno, 2007.

SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: Editora LTR, 2002.

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�DICE

FOLHA DE ROSTO 2

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

I�TRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

A aplicação do Processo Civil no Processo do Trabalho 11

CAPITULO II

Principais modalidades da intervenção de terceiros

à luz do Código de Processo Civil 15

CAPÍTULO III

O instituto da intervenção de terceiros

na seara trabalhista 31

CO�CLUSÃO 59

BIBLIOGRAFIA CO�SULTADA 61

�DICE 63

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

�ome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre – Universidade Cândido Mendes

Título da Monografia: Direto Processual Civil no Processo do Trabalho – Enfoque

em relação ao instituto da Intervenção de Terceiros.

Autor: Gabriela Pessoa de Souza

Data da entrega: 08/08/2009

Avaliado por: Conceito: