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ISITUTO A VEZ DO MESTRE UIVERSIDADE CÂDIDO MEDES PÓS GRADUAÇAO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL ALARGAMETO DA EXTESÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA DAIELLE LIS DA SILVA Rio de Janeiro

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I�SITUTO A VEZ DO MESTRE

U�IVERSIDADE C�DIDO ME�DES

PÓS GRADUAÇAO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

ALARGAME�TO DA EXTE�SÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA

DA�IELLE LI�S DA SILVA

Rio de Janeiro

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Mar., 2010

DANIELLE LINS DA SILVA

ALARGAME�TO DA EXTE�SÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA.

Monografia apresentada ao Curso de Pós Graduação em Direito do

Instituto A Vez do Mestre da Universidade Cândido Mendes, campus

Centro, como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em

Direito Processual Civil.

Orientador: Profº Jean Alves

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INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

CIP – Brasil, catalogação-na-fonte

SILVA, Danielle Lins.ALARGAMENTO DA EXTENSÃO DA COISA JULGADA. (Universidade Cândido Mendes/Instituto a Vez do Mestre). Rio de Janeiro: IAVM, 2010.

48 p.; 21 x 29, 7 cm. 1. A Coisa Julgada 2. Limites Subjetivos e Objetivos da Coisa Julgada 3. Alargamento da extensão dos limites objetivos da coisa Julgada 4.Conclusão. 5.Bibliografia

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Dedico esta monografia a meus pais e irmão, pela paciência e

apoio diário. E acima de tudo agradeço a Deus pela luz que irradia

mostrando sempre uma luz no fim do túnel. Agradeço com apreço e

admiração ao corpo docente que se empenharam em nossa boa

formação ao longo do presente curso, pois, sem o apoio deles seria

impossível seguir adiante.

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“Sobretudo, sejam sempre capazes de sentir, profundamente, qualquer

injustiça praticada contra qualquer pessoa em qualquer parte do

mundo. Essa é a qualidade mais linda de um revolucionário.”

(Ernesto Guevara)

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SUMÁRIO

ALARGME�TO DA EXTE�SÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA

I�TRODUÇÃO............................................................................................................p.11

CAPÍTULO I – A COISA JULGADA ....................................................................... p.13

I.a) Sentença................................................................................................................. p.13

I.b) Natureza Jurídica da sentença sujeita a Recurso................................................... p.14

I.c)Coisa Julgada Formal.............................................................................................p.16

I.d)Coisa Julgada Material...........................................................................................p.16

I.e)Justificação da Autoridade da Coisa Julgada.........................................................p.17

I.f)Fundamentos de Ordem Política.............................................................................p.17

I.g)Fundamentos de Natureza Jurídica........................................................................p.18

I.h)Teoria da Presunção da verdade.............................................................................p.18

I.i)Teoria da Ficção da verdade...................................................................................p.18

I.j)Teoria da Força legal, substancial da sentença.......................................................p.19

I.l) Teoria da extinção da Obrigação Jurisdicional......................................................p.19

I.m)Teoria da Vontade do Estado................................................................................p.20

I.n)Teoria de Carnelutti...............................................................................................p.21

I.o)Teoria de Liebman.................................................................................................p.21

I.p)Coisa Julgada no Direito Brasileiro.......................................................................p.23

I.q)Sentenças que produzem coisa julgada versus Decisões que não produzem coisa

Julgada..........................................................................................................................p.24

I.r)Preclusão e Coisa Julgada......................................................................................p.27

CAPÍTULO II - LIMITES SUBJETIVOS E OBJETIVOS DA COISA JULGADA..p.30

II.a)Limites Objetivos...................................................................................................p.30

II.b)Limites Subjetivos.................................................................................................p.32

II.c)Extensão subjetiva dos efeitos da sentença............................................................p.33

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CAPÍTULO III – ALARGAMENTO DA EXTENSÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA

COISA JULGADA..................................................................................................p.37

CAPÍTULO IV – CONCLUSÃO................................................................................p.46

CAPÍTULO V - BIBLIOGRAFIA..............................................................................p.49

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I�TRODUÇÃO

A presente pesquisa monográfica apresenta como tema de estudo, o alargamento da

extensão da coisa julgada em nosso ordenamento jurídico. Não é pacífica a idéia acerca da

possibilidade de alargar a extensão que atinge a coisa julgada em nosso ordenamento jurídico,

fato que obriga a uma análise mais aprofundada do tema.

A pesquisa foi estruturada em três capítulos, dispostos da seguinte maneira:

Inicialmente, apresenta-se de forma clara e minuciosa o que seria o instituto da coisa

julgada, com sua respectiva importância e reflexos em nosso ordenamento jurídico. Neste

destacamos as teorias que orientam o respectivo instituto, bem como, evidenciamos as decisões

que produzem e as que não produzem a coisa julgada. Em suma, neste capítulo fica evidente sua

concepção, o tipo de segurança jurídica que estabelece, bem como, os diferentes efeitos que surte

na esfera processual.

No segundo capítulo nos aprofundamos nos limites e efeitos que a coisa julgada gera no

sistema processual brasileiro, ou seja, neste capítulo entendemos separadamente os limites

subjetivos, bem como, os objetivos da coisa julgada. Justamente com tal perspectiva se torna

compreensível estabelecer a segurança jurídica proveniente da coisa julgada. E também se faz

possível compreender a abrangência e flexibilidade do respectivo instituto nas sentenças com

trânsito julgado.

No terceiro capítulo, entramos no cerne da discussão que abrange o tema da presente

pesquisa, qual seja, a possibilidade de alargar a extensão da coisa julgada em nosso ordenamento

jurídico, justamente para viabilizar um desafogamento do Poder Judiciário no que tange, o

julgamento de ações idênticas.

Em suma, alargar o limite objetivo da coisa julgada de maneira a utilizar a sentença de

um determinado processo, em outros idênticos a ele, viabilizando que dessa forma milhares de

processos iguais sejam julgados de forma célere, justa e economicamente viável. Nesse sentido,

elencamos algumas experiências processuais que são norteadas pelo mesmo horizonte, tais como:

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julgamento de ações repetitivas e repercussão geral. Aproveitamos o ensejo para destacar a

proposta de reforma do código de processo civil que toca efetivamente na possibilidade de

julgamento de ações semelhantes através de uma sentença já transitada em julgado.

Por último observamos, de maneira conclusiva todo o conteúdo apresentado, enfocando a

urgência em termos uma norma jurídica que de maneira definitiva trate e assegure uma decisão

apaziguadora acerca do tema.

Concluímos e finalizamos a presente pesquisa almejando que a mesma desperte o

interesse para essa lacuna ainda presente em nosso ordenamento jurídico e dentro da análise feita,

possa ajudar a desbravar caminhos de calmarias no mar jurídico. E colaborando principalmente,

para que o equilíbrio entre o que é certo e justo permaneça fincado na balança que o Direito

representa.

No entanto, este não pode perder do horizonte a necessidade de satisfazer com celeridade

a expectativa de paz nutrida por todo aquele que é acometido de injustiça. Nesse sentido é

inconteste que um melhor aproveitamento da coisa julgada pode ser uma saída para que a utopia

de uma justiça que não falha, seja abrilhantada com a possibilidade de também não tardar, o que

sem dúvida é um ideal de justiça que norteia o horizonte de todo aquele que vislumbra a

perspectiva de um mundo melhor.

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ALARGAME�TO DA EXTE�SÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA

I - A COISA JULGADA

I.a) SE�TE�ÇA

Para entender o instituto da coisa julgada primeiramente se faz necessário compreender o

que é sentença. De acordo com o art. 162 do CPC, os atos do juiz podem consistir em sentenças,

decisões interlocutórias e despachos. Antes da lei 11232/2005, o §1º desse artigo definia sentença

como o ato pelo qual o juiz finaliza o processo, decidindo ou não o mérito da causa. Dessa forma

o Código de Processo Civil tornou bastante simples a identificação do recurso apropriado para

impugnar uma sentença, qual seja o recurso cabível era o de apelação.

Diante das mudanças provocadas pela lei 11232/2005, sentença passou a ser “o ato do juiz

que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 (...)” (art.162, §1º). Em razão das

situações do art. 267, “extingue-se o processo sem resolução de mérito”, ao passo que as do art.

269 levam à “resolução de mérito”, ainda que possam não conduzir à extinção do processo.1

Com a sua publicação, a sentença se torna irretratável: a sentença não poderá ser

modificada ou revogada pelo mesmo órgão jurisdicional que a proferiu. Mas a sentença pode ser

impugnada pela parte vencida, sob fundamento de vício de procedimento ou de ser errada ou

injusta. Num sistema judiciário em que se consagra o duplo grau de jurisdição a impugnação se

dará por meio de recurso, que consiste no pedido de reexame da causa pelo órgão jurisdicional

hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão.

Assim é em nosso ordenamento jurídico, em que das sentenças dos juízes de primeiro

grau se concede a parte vencida recurso para os órgãos jurisdicionais de segundo grau. Cabendo

destacar que as decisões destes também são impugnáveis por outros recursos.

1 Marinoni, Luiz Guilherme, Arenhart, Sérgio Cruz – Processo de Conhecimento 7. ed. Ver. E atual – São Paulo: Editora Revista dos Tribuanais, 2008. (Curso Processual Civil; v. 2) – pg. 410

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Cumpre esclarecer que a sentença atende a determinados requisitos que lhes são

essenciais, conforme determina o art. 458 do CPC:

a) O relatório – onde o juiz demonstra que conhece o processo que vai julgar (controle do

magistrado);

b) o fundamento - através do qual o juiz deve demonstrar a razão de sua decisão, possibilitando o

controle do magistrado (evitando arbítrio jurisdicional),2 bem como, a compreensão, tanto do

recorrente quanto do órgão de segundo grau de jurisdição, sobre o motivo que levou o juiz a

decidir de tal maneira;

c) O dispositivo – neste a decisão efetivamente deferida fica isolada e se torna imutável, através

da cobertura pela chamada coisa julgada material.

Cumpre esclarecer que todos esses requisitos são essenciais à sentença a ausência de

qualquer um deles implica na nulidade da decisão.

I.b) �ATUREZA JURÍDICA DA SE�TE�ÇA SUJEITA A RECURSO

Enquanto recorrível, ou enquanto sujeita a recurso por haver sido interposto, a sentença

ainda não é firme, pois que poderá ser reformada.

Na verdade, quem a proferiu foi o juiz, um magistrado, órgão do Estado e por boca de

quem a lei fala. Será, pois, um ato judicial, um ato do magistrado, pelo qual este tende a traduzir

a vontade da lei aplicada à espécie. Mas à vontade da lei somente pode ser uma única, se da

sentença pende recurso e outro juiz, ou o mesmo juiz, tomando conhecimento do recurso, vier

reformá-la evidentemente que aquilo que aparentava ser a vontade da lei, expressa na sentença

reformada, deixou de ser sua vontade para outra aparecer.

2 Marinoni, Luiz Guilherme, Arenhart, Sérgio Cruz – Processo de Conhecimento 7. ed. Ver. E atual – São Paulo: Editora Revista dos Tribuanais, 2008. (Curso Processual Civil; v. 2) – pg.411

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Exatamente porque a lei tem uma vontade e este á a que irá prevalecer, a da sentença

reformada não o era, não passando esta de uma manifestação do magistrado assim somente pelo

esgotamento dos prazos para recursos, excluída possibilidade de uma nova formulação, é que a

sentença, de simples ato do magistrado, passará a ser reconhecida pela ordem jurídica como a

emanação da vontade da lei.3

Mero ato do magistrado, enquanto dela pendem recursos, traduz-se a sentença num ato

que pode chegar a ser sentença, pela preclusão dos prazos para recursos ou pela sua confirmação

no juízo ad quem. Daí a conclusão de que a sentença sujeita a recurso constitui um ato que

exprime uma mera situação jurídica, isto é, uma circunstancia que, acrescida a outras

circunstancias, que poderão ocorrer, poderá conduzir a determinado ou determinados efeitos

jurídicos.

Em suma, a sentença sujeita a recurso constitui simples situação jurídica, ou seja,

possibilidade se sentença. Enquanto sujeita a recurso é, pois suscetível de reforma a sentença, em

princípio não produz os seus efeitos regulares, principais ou secundários. Enquanto sujeita a

recurso a sentença, não se atingiu ainda a finalidade do processo, que é a composição da lide,

assim o Estado não satisfez nem ultimou a prestação jurisdicional que lhe foi delegada.

Entretanto, chegará um momento em que não mais são admissíveis quaisquer recursos, ou

porque não foram utilizados nos respectivos prazos ou porque não caibam ou não hajam mais

recursos a serem interpostos. não será mais possível, portanto qualquer reexame da sentença.

Não mais suscetível de reforma por meio de recursos, a sentença transita em julgado,

tornando-se firme, isto é, imutável dentro processo. A sentença, como ato processual, adquiriu

imutabilidade. E aí se tem o que se chama COISA JULGADA FORMAL, que consiste no

fenômeno da imutabilidade da sentença pela preclusão dos prazos para recurso.

3 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.10

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I.c)COISA JULGADA FORMAL

A coisa julgada formal consiste no fenômeno da imutabilidade da sentença pela preclusão

dos prazos para recursos. Dá-se porque a sentença não poderá ser reformada por meio de

recursos, seja porque dela não caibam mais recursos, seja porque estes não foram interpostos no

prazo, ou porque do recurso se desistiu ou do interposto se renunciou. E porque os recursos são

atos de impugnação da sentença no processo em que ela foi proferida, a coisa julgada formal

implica na imutabilidade da sentença como ato processual, dentro do processo.4

Imutável o ato, dentro do processo, esgota-se a função jurisdicional. O Estado tem por

cumprida a sua obrigação jurisdicional. Por outras palavras, o Estado, pelo seu órgão, faz a

entrega da prestação jurisdicional, a que estava obrigado.

I.d)A COISA JULGADA MATERIAL

A obrigação jurisdicional do Estado consiste em compor a lide, traduzindo na sentença a

vontade da lei aplicável à espécie. Verificando-se a coisa julgada formal, cumprida está aquela

obrigação. Têm-se, portanto a coisa julgada – diziam os romanos – é a decisão da autoridade

judiciária pondo fim ao litígio com a condenação ou a absolvição do réu.

Da coisa julgada forma resulta a imutabilidade da sentença, no mesmo processo em que

foi proferida, porque a sentença se tornou ou é inimpugnável. Por isso também se diz que a coisa

julgada formal é a inimpugnabilidade da sentença no processo em que foi proferida. Dá-se a

máxima preclusão: não é mais possível a reforma da sentença no processo em que foi proferida.

Mas a essa qualidade da sentença se acrescenta uma outra, que lhe dá autoridade além do

processo em que foi proferida. O comando emergente da sentença se reflete fora do processo em

que foi proferida, pela imutabilidade dos seus efeitos. A vontade da lei, que se contém no

comando emergente da sentença e que corresponde à expressão da vontade do Estado de regular

4 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.43

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concreta e definitivamente o caso decidido, tornou-se indiscutível, imutável, no mesmo ou em

outro processo.

O comando emergente da sentença, tornado imutável, adquire autoridade de coisa

julgada. Dessa forma a relação de direito material decidida, entre as mesmas partes, não poderá

ser novamente examinada e decidida, no mesmo processo ou em outro processo, pelo mesmo ou

outro juiz ou tribunal. Assim, fala-se em coisa julgada material, ou substancial, como autoridade

da coisa julgada. A coisa julgada tem força de lei e por isso tem força obrigatória, não só entre as

partes como em relação a todos os juizes que deverão respeitá-la.

I.e)JUSTIFICAÇÃO DA AUTORIDADE DA COISA JULGADA

Todas as sentenças definitivas, uma vez que se verifique a coisa julgada, adquirem a

autoridade de coisa julgada, inclusive as sentenças injustas, que apesar de assim o serem, não

deixam de fazer coisa julgada. Como é possível justificar isto? Existem duas ordens de

fundamento doutrinário, sendo uma de ordem política e outra de ordem jurídica.

I.f)FU�DAME�TO DE ORDEM POLÍTICA.

A verdadeira finalidade do processo, como instrumento destino à composição da lide, é

fazer justiça, pela atuação da vontade da lei ao caso concreto. Para combater a possibilidade de

injustiças, as sentenças são impugnáveis pro via de recursos, que permitem o reexame do litígio e

reforma da decisão. A procura pela justiça, no entanto, tem limite, não pode ser infinita. 5

Tal limite é em cumprimento a uma exigência de ordem pública, qual seja, garantir a

estabilidade dos direitos, que de fato não existiriam se não houvesse um termo além do qual a

sentença se tornasse imutável. Dessa forma jamais se chagaria á certeza do direito e à segurança

no gozo dos bens da vida.

5 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.46

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Há, portanto, motivos de ordem prática, de exigência social, que impõe que a partir de

dado momento a sentença se torne imutável, adquirindo autoridade de coisa julgada. E aí se tem o

fundamento político da coisa julgada.

I.g)FU�DAME�TO DE �ATUREZA JURÍDICA

Como não há um pensamento pacífico acerca do fundamento jurídico da autoridade da

coisa julgada, haja vista ser um tema bastante controverso. Se faz necessário analisar com

brevidade algumas das teorias a respeito, sendo estas:

I.h)TEORIA DA PRESU�ÇAO DA VERDADE

Fundada em texto de Ulpiano e guiada pela filosofia escolástica, juristas da Idade Média

fundamentavam a autoridade da coisa julgada na presunção da verdade contida na sentença. Para

a escolástica a finalidade do processo é a busca da verdade e que para a sentença ser justa ela tem

que observar bem os fatos, justamente para que a conclusão acerca de tal análise seja justa.

No entanto, diante da existência de sentenças injustas a escolástica explicava que estas

existem em função da inobservância ou má observação dos fatos, ou seja, estes não são bem

conhecidos ou apreciados, fatos que geram uma conclusão injusta (sentença injusta). Em função

disso deduziam aqueles juristas que nem sempre a sentença reproduz a verdade. Diziam que a

sentença tão somente é a presunção da verdade e não esta propriamente dita.6

I.i)TEORIA DA FICÇÃO DA VERDADE

Elaborada por Savigny, adotando como consideração também o fato das sentenças

injustas serem resultantes de erro de fato ou de direito e ainda assim fazerem coisa julgada.

Considera que aquilo que a sentença injusta declara não pode mais deixar de ser reconhecido

como verdade, por todos, inclusive qualquer juiz, no mesmo ou em outro processo. Diz que na

sentença nada mais há do que uma ficção da verdade. Donde a sentença produz uma verdade

6 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.46

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artificial. A autoridade da coisa julgada está nessa verdade artificial, na ficção de verdade

existente na sentença.7

I.j)TEORIA DA FORÇA LEGAL, SUBSTA�CIAL DA SE�TE�ÇA

Elaborada por Pagenstecher, diz que toda sentença, mesmo a meramente declaratória, cria

direito é constitutiva de direito. Afirma que a sentença se assemelha a um parecer de um

jurisconsulto, pois, ambas geram certezas. No entanto, a sentença é composta de um quid a mais

em relação ao parecer.

Tal quid se ajusta à certeza produzida pela sentença e tal fato a torna criadora de direito.

Uma vez proferida uma sentença não é mais o direito anterior que se impõe, a um direito novo,

resultante da certeza jurídica somada ao supramencionado quid. A diferença entre a sentença e o

parecer é justamente a soma da certeza jurídica ao quid que aquela apresenta, diferentemente

deste (composto somente pela certeza). 8

De acordo com essa teoria o fundamento da coisa julgada está no direito novo, por força

de lei criada pela sentença. A sentença pelo seu transito em julgado atribui força de lei ao direito

novo, por ela criada.

I.l)TEORIA DA EXTI�ÇÃO DA OBRIGAÇÃO JURISDICIO�AL

Elaborada pro Ugo Rocco, o conceito de sentença e, pois, de coisa julgada, está preso ao

conceitos de ação e jurisdição. Ação é o direito subjetivo de delegar ao Estado que resolva um

conflito de interesses, fazendo atuar a vontade da lei no fato concreto. È o direito de provocar a

jurisdição. E esta é o poder que o Estado possui de declarar o direito. O direito de ação

corresponde a obrigação jurisdicional.

O Estado sendo provocado pelo interessado (direito de ação) se obriga a prestação

jurisdicional de declarar o direito. A sentença, portanto, é tão somente o ato culminante do

7 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.46 8 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.47

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processo pelo qual o Estado, declarando o direito aplicável ao fato concreto, presta a sua

obrigação jurisdicional, fato que culmina na extinção do direito de ação, que lhe é correlato.

Extintos os direito de ação e a obrigação jurisdicional, a relação de direito material

decidida não pode mais ser novamente discutida e decidida. Não pode ser mais discutida porque

o interessado perde o direito de provocar a jurisdição sobre o objeto da lide; dessa forma também

não pode ser novamente decidida, haja vista que a jurisdição está extinta. Conclui-se daí que a

sentença se torna estável, imutável e produz coisa julgada. Determina a respectiva teoria que o

fundamento da coisa julgada resulta da extinção da obrigação jurisdicional, o que importa,

também, na extinção do direito de ação.

I.m)TEORIA DA VO�TADE DO ESTADO

Determina que a vontade do Estado é o fundamento maior da coisa julgada. Diz que a

sentença é composta em parte de um raciocínio lógico, mas também é composta por um

comando. Por isso diz que a sentença é um ato de inteligência e de vontade.9

Afirma que na parte de raciocínio lógico da sentença não há nenhuma influencia especial

do Estado, nesse aspecto o juiz não raciocina de modo diferente de qualquer outra pessoa de

cultura semelhante que possui. Podendo ter um parecer idêntico ao de qualquer jurisconsulto.

Entretanto, diferentemente tal parecer do juiz é concluído por um comando, uma decisão.

Nessa decisão interfere o Estado, dando-lhe autoridade. Por provir do Estado a conclusão

se transforma num comando ou força obrigatória. É O ESTADO QUE ATRIBUI A SENTENÇA

A FORÇA OBRIGATÓRIA, não encontrável no parecer do jurisconsulto. Ela tem força

obrigatória por nela conter a vontade do Estado. Sentença, no conceito de Chiovenda, consiste na

afirmação ou negação da vontade do Estado, que garante a alguém um bem da vida.

Não só a obrigatoriedade da sentença provém do Estado. Também sua imutabilidade,

indiscutibilidade. A teoria, em síntese, considera como fundamento da autoridade da coisa julga a

9 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.48

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vontade do Estado, que atribui a sentença a qualidade de ato estatal, irrevogável e de força

obrigatória.

I.n)TEORIA DE CAR�ELUTTI

Assim como a anterior esta teoria a autoridade da coisa julgada está no fato de provir do

Estado. Ou seja, a imperatividade da sentença existe por esta ser um ato estatal. E é na

imperatividade do comando da sentença que está a coisa julgada.

A visão de Carnelutti, portanto se faz mais original em relação ao que sustentava

Chiovenda. Este acreditava que a sentença traduz a lei aplicável ao caso concreto. Diz que na

sentença se acha a lei, embora em sentido concreto. Ao ser proferida, esta substitui a lei, ou seja,

o comando da lei, abstrato e de ordem geral, se especializa e se concretiza na sentença. Sendo o

comando desta, autônomo (específico).10

Já Carnelutti, diferentemente, entende que o comando da sentença pressupõe o comando

existente na lei, mas não necessariamente se identifica com este. O comando da sentença,

pressupondo o da lei, não é paralelo ao desta, mas um comando suplementar (não substitui o

comando da lei, apenas complementa).

Ao contrário das demais teorias esta determina que a coisa julgada formal pressupõe a

coisa julgada material. Ou seja, na certeza que a sentença produz está a imperatividade dela, e é

justamente esta imperatividade que constituí a coisa julgada material, a qual, pela preclusão dos

recursos, se transforma em coisa julgada formal.

I.o)TEORIA DE LIEBMA�

Divergindo da maioria da maioria das terias LIEBMAN entende que a coisa julgada é

uma qualidade especial da sentença e não um efeito desta. Afirma que a coisa julgada reforça a

10 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.50

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eficácia da sentença - fundamentado na imutabilidade desta como ato processual (coisa julgada

formal) e na imutabilidade dos seus efeitos (coisa julgada material).11

A sentença é um ato que provém do Estado e por este motivo tem eficácia. Como

sabemos, a eficácia de um ato é sua aptidão de produzir efeitos, portanto, a sentença tem aptidão

de produzir efeitos. No entanto, assim como todo e qualquer ato do Estado, a sentença para ter

eficácia deve está em conformidade com a lei. Caso contrário será ineficaz.

Para que ela seja proferida em observância com o direito, deverá resultar de uma série de

atos formais, em consonância com que é determinado por procedimento regulado pela lei, bem

como, deverá traduzir a vontade existente na lei. Em suma, deverá ser VÁLIDA E JUSTA, ou

melhor, presume-se que a sentença está de acordo com a lei e é plena de eficácia.

No entanto, cumpre destacar que se trata de uma presunção NÃO ABSOLUTA,

considerando que abre espaço para que se prove em contrário, devendo tal prova ser fornecida

pelo interessado na declaração da ilegalidade do ato. Assim uma lei tem validade até que seja

demonstrada, devidamente, que é inconstitucional.

A sentença, portanto, é amparada pelo principio fundamental da presunção da legalidade

dos atos estatais. Sendo eficaz em todos os sentidos até que se demonstre a sua invalidade ou

injustiça, cabendo a quem afirma a ilegalidade, demonstrá-la nas formas e meios pertinentes.

Assim como os demais atos, logo que proferida deveria ter eficácia, no entanto, visando

reduzir ao mínimo possível a possibilidade de decisões equivocadas, o Estado permite o reexame

das decisões por meio de recurso para o mesmo ou outro juiz. Alguns com efeito suspensivo

(suspendem “o momento em que a sentença vai produzir sua eficácia natural”) e outro com efeito

devolutivo.

O fato é que enquanto impugnada ou suscetível de impugnação por meio de recurso de

efeito suspensivo, a sentença não produz qualquer efeito, somente quando precluso tais recursos é

11 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p.51

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que ela passará a produzir o efeito que lhe for próprio, ou seja, somente com a respectiva

preclusão é que a sentença se apresenta com sua eficácia natural, apta a produzir os seus efeitos

normais.

Tal fato evidencia que a eficácia natural da sentença é condicionada à verificação da

justiça e da legalidade da decisão. Ou seja, é produzido não do momento em que é proferida, mas

somente quando se precludem os recursos de efeitos suspensivos.

Ocorre que, enquanto a sentença produz a sua eficácia natural, ainda é suscetível de

reforma. Isso não ocorre, no entanto, com a preclusão de TODOS os recursos. Então a sua

eficácia se reforça, pois a sentença se torna IMUTÁVEL. É quando se configura a coisa julgada

que é uma qualidade especial que reforça a eficácia da sentença.

Do fato de preclusão de todos os recursos de TODOS os recursos, verifica-se a coisa

julgada formal – que implica na imutabilidade da sentença e conseqüentemente a coisa julgada

material – que implica na imutabilidade dos efeitos da sentença.

Coisa julgada, portanto, consiste na imutabilidade da sentença como ato (coisa julgada formal)

e na imutabilidade dos efeitos que produz. se funda na necessidade social de evitar a perduração

infinita de litígios. Tornando em dado momento a sentença: imutável, definitiva e incontestável.12

I.p)COISA JULGADA �O DIREITO BRASILEIRO

É perceptível que a doutrina de Liebman orientou o legislador brasileiro, pois, ao

conceituar coisa julgada material no Código de Processo Civil, art. 467: “Denomina-se coisa

julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a

recurso ordinário”.

12 Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.p52

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Não é a coisa julgada um efeito da sentença, mas a sua própria eficácia, ou aptidão à

produção dos efeitos que lhe são próprios, e que a torna imutável e indiscutível, quando não mais

sujeita a qualquer recurso, mesmo o extraordinário.

No entanto, apesar do código ter a nítida concepção da supracitada doutrina, não se afasta

das doutrinas que, como Chiovenda, fundamentam a autoridade da coisa julgada na vontade

Estatal de tornar imutável e inconteste a sentença, a partir do momento em que se fazem

preclusos todos os recursos.

A lei brasileira define a coisa julgada da seguinte forma: “Chama-se coisa julgada, ou

caso julgado, a decisão judiciária de que já não caiba recurso”. Efetivamente tal conceito não

conflita com a definição de coisa julgada material, emitida no Código de Processo Civil em seu

art. 467. É ainda a lei que lhe atribui força de lei: “A sentença, que julgar total ou parcialmente a

lide, tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas” (Art. 468 do CPC).

No mesmo sentido, sua força e autoridade nem a própria lei poderá desconhecer ou

contrariar. Haja vista que a Coisa Julgada é imutável e inconteste mesmo em face da própria lei.

Pois, a Constituição preceitua expressamente “a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato

jurídico perfeito e a coisa julgada” (CF/1988, art.5º, XXXVI).

I.q)SE�TE�ÇAS QUE PRODUZEM COISA JULGADA VERSUS DECISÕES QUE �ÃO

PRODUZEM COISA JULGADA

Denomina-se Coisa julgada Material, ou substancial ou autoridade da coisa julgada,

porque tal autoridade possui a imutabilidade e indiscutibilidade da sentença e dos seus efeitos. A

sentença e o seu efeito (que pode ser declaratório, condenatório ou constitutivo) se fazem

imutáveis e conseqüentemente indiscutíveis, no mesmo ou em outro processo. Aquilo que foi

julgado não poderá mais ser objeto de julgamento, no mesmo ou em outro processo.

Tais efeitos são das sentenças de mérito, chamadas definitivas, ou seja, das sentenças que

compõe a lide, acolhendo ou rejeitando a pretensão autoral. Assim produzem e têm autoridade de

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coisa julgada as sentenças de méritos, as sentenças definitivas. Elas ao transitarem em julgado

adquirem força de lei, autoridade de coisa julgada. Conforme determina art. 468 do Código de

Processo Civil:

Art. 468. A sentença, que julgar total ou parcialmente a lide, tem força

de lei nos limites da lide e das questões decididas.

No mesmo código em seu artigo 474, fica determinado que somente as sentenças de

mérito fazem coisa julgada:

Art. 474. Passada em julgado a sentença de mérito, repurtar-se-ão

deduzidas todas as alegações e defesas, que a parte poderia opor assim

ao acolhimento com o á rejeição do pedido.”

Diante do exposto fica evidente que fazem coisa julgada as sentenças que extinguirem o

processo com julgamento do mérito, ocorridas nas hipóteses previstas no art. 269 do referido

código.

No entanto, excetuando-se as sentenças definitivas, ou de mérito, os demais atos (mesmo

denominados como sentença) não produzem coisa julgada.

• Ou seja, as sentenças terminativas que embora põe termo ao processo, não decidem o mérito

deste, transitam elas em julgado, porém não fazem coisa julgada. Pois na prática após a

prolação da sentença onde o mérito não é julgado, decide somente sobre o processo, porém, o

mérito fica imprejulgado e a situação das partes permanece a mesma que se achava antes do

início do processo.

Nesse sentido, nada obsta que a lide seja novamente instaurada e decidida noutro

processo. Salvo se a extinção do processo, sem julgamento do mérito, seja fundamentada em

perempção, de litispendência ou de cosa julgada. Em relação ás sentenças terminativas não há

coisa julgada, após o transito em julgado, ocorre aquilo que a doutrina denomina de “preclusão

pro indicato”.

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• Não produzem coisa julgada as sentenças proferidas em processos de jurisdição voluntária, ou

graciosa. Haja vista que não há lide a ser decidida nesses processos e que a coisa julgada é

característica tão somente de sentenças que resolvem a lide. Portanto a coisa julgada ocorre

somente nas sentenças definitivas proferidas nos processos de jurisdição contenciosa.

• Não produzem coisa julgada as sentenças proferidas em processos cautelares. Englobando

tantos os que objetivam obter medidas preventivas dos que visam medidas preparatórias.

Preventivos-> visam criar condições necessárias a que, posteriormente em um outro processo

(principal) se possa decidir quanto ao mérito de forma eficiente. Preparatórios-> criam

condições necessárias para que se instaure outro processo (prinicipal).

Ocorre que as decisões proferidas nesses processos, além de poderem ser modificadas ou

revogadas (ao desaparecer ou se modifique aos condições que as determinaram) estão

subordinadas à que se proferir no processo principal. Conforme disposto no art. 807 do Código

de Processo Civil.

• No mesmo sentido, não faz coisa julgada as decisões interlocutórias. Tais decisões, quando

não recorridas ou transitadas em julgado, resulta tão somente preclusão, que torna impeditivo

um novo exame no mesmo processo.

• Por fim, também não fazem coisa julgada, os despachos de mero expediente.

Noutro giro, cumpre esclarecer que existe um tipo de sentença que apesar de produzir

coisa julgada pode ser modificada caso haja uma alteração no estado de fato e direito, justamente

por ser referente a uma relação jurídica continuativa. São também conhecidas como sentenças

determinativas ou dispositivas.

Isso porque apesar da lide ter tido o mérito decidido pelo juiz, a relação jurídica existente

entre as partes ainda perdura tem continuidade. Diante disso, se faz necessário destacar que ao

deferir a sentença o juiz considerou o estado de fato e de direito que existia no momento em que

proferiu a decisão, mas que, considerando que a relação jurídica é contínua (se prolonga no

tempo), havendo uma modificação no respectivo estado de fato e de direito, será necessário que o

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juiz (mediante a provocação da parte interessada) reveja e profira nova sentença considerando a

situação atual que rege a relação jurídica ainda existente entre as partes.

Diz-se, portanto que a respectiva sentença dispositiva e determinativa não é

imutável e indiscutível, porque é suscetível de revisão e modificação por intermédio de ação de

revisão. Ou seja, se no desenrolar do tempo a relação jurídica existente, após a prolação da

sentença, for verificado alguma mutação do estado de fato e de direito, será necessário promover

uma adaptação através de nova sentença, um exemplo claro disse é a sentença de ação de

alimentos, que pode ser revista a qualquer momento caso haja alguma mudança conforme

anteriormente já citado (estado de fato e de direito). A nova sentença não desconhecerá ou

contrariará a anterior. Tão somente irá adaptá-la ao estado de fato ou de direito superveniente.

I.r) PRECLUSÃO E COISA JULGADA

Dissemos que a sentença terminativa e as decisões interlocutórias, não fazem coisa

julgada, fazem preclusão, quando transitadas em julgado. No entanto se faz necessário esclarecer

o que seria preclusão.

Preclusão é tão somente a perda de uma faculdade ou direito processual, que por

esgotamento ou não exercício em tempo e momento oportunos, fica praticamente extinto. Nesse

sentido define Couture que é “ação e efeito de extinguir-se o direito de realizar um ato

processual, já seja por proibição da lei, por haver-se deixado passar a oportunidade de verificá-lo,

ou por haver-se deixado passar a oportunidade de verificá-lo ou por haver-se realizado outro com

aquele incompatível”.

Vários motivos determinam a preclusão. De acordo com as causas que a origina a

preclusão pode ser temporal, lógica e consumativa. São estes:

• O esgotamento do prazo no qual o ato deverá ser exercido ou praticado (Temporal);

• Incompatibilidade de ato praticado com aquele que se pretende exercer; (lógica)

• Quando ocorre a existência de ato irrevogável; (consumativa)

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• E por fim, na sentença de extinção do processo, após o trânsito em julgado.(Preclusão pro

iudicato).

Em Sentenças Terminativas entende-se por preclusão pro iudicato que as sentenças

terminativas que transitaram em julgado encerram o processo e nesse sentido se torna impossível

à parte exercer qualquer faculdade processual neste mesmo processo, podendo, no entanto,

renovar em outro processo suas pretensões e defesas. Haja vista que não houve resolução do

mérito.

Por extensão e semelhança é usual dizer que nas sentenças de mérito também ocorre

preclusão com a ocorrência de coisa julgada formal, mas se faz necessário advertir que esta

imediatamente se torna coisa julgada material e seus efeitos se projetam fora do processo. Já a

preclusão tem por característica que seu efeito atinge tão somente o processo em que foi

proferido o ato decisório.

Decisões Interlocutórias não recorridas e, pois, transitadas em julgado, são, a priori

irrevogáveis, tendo, portanto, o efeito preclusivo. Tal efeito impede que sejam suscitadas e

discutidas as questões por ela decididas. No entanto, tal impedimento não impossibilita que em

outro processo, ainda que pelo mesmo juiz, a questão não possa ser novamente decidida, mesmo

que seja atribuído um sentido contrário da decisão anterior.

Excetua-se as questões processuais que o juiz pode conhecer de ofício. Estas, uma

vez repelidas, mesmo após ser operada a preclusão, possibilitam livremente ao juiz, por ocasião

do julgamento da causa, reexaminar as respectivas questões de ofício (sobretudo por provocação

da parte) sejam modificadas.

Proferida a sentença de mérito e tendo ela produzido coisa julgada, fica

caracterizado a preclusão sobre todas as alegações e defesas tendente ao acolhimento ou à

rejeição do pedido e que hajam sido omitidas. Em suma, a coisa julgada da sentença de mérito,

após o transito em julgado a torna imutável e indiscutível, portanto, torna preclusas todas as

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alegações e defesas que a parte poderia ter oposto e não o fez. Conforme determina o art. 474 do

CPC.

Por último cumpre esclarecer que os despachos não produzem preclusão, podendo

o juiz apreciá-los novamente, bem como, reformá-los no curso do processo.

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II -LIMITES OBJETIVOS E SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

II.a)LIMITES OBJETIVOS:

O PROBLEMA

A sentença é composta de três elementos: o relatório, a fundamentação e a

conclusão (ou dispositivo, ou decisão). Nesse sentido surge um questionamento: Qual a parte da

sentença que faz coisa julgada?

Obviamente se tratando o relatório de uma exposição da lide, não se cogita a coisa

julgada para ele, a dúvida se aplica se faz coisa julgada também a fundamentação ou motivação

ou tão somente a parte dispositiva (conclusiva) da sentença. A matéria suscitava controvérsias

doutrinárias com amplas repercussões na prática, de difícil solução, que tomou maior gravidade

no Direito pátrio em função da redação do art. 468 do Código de Processo Civil.

Dispõe o respectivo artigo: “A sentença que julgar total ou parcialmente a lide,

tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas”. Efetivamente a sentença deve se

restringir à lide, se mantendo nos limites desta. A finalidade da jurisdição é justamente fazer uma

composição da lide entre as partes. A lide implica na existência de questões, que são aqueles

pontos, de fato e de direito, em que se controvertem as partes. Justamente por isso o juiz , de

acordo com o art. 128 do Código de Processo Civil, vai decidir a lide nos limites em que esta foi

proposta, sendo a ele proibido conhecer de questões, não suscitadas, a cujo respeito a lei exige a

iniciativa da parte”.13

A sentença justamente por decidir um lide, deverá se ater estritamente ao limites

da lide, tal qual se projetou no processo. A sentença faz coisa julgada e tem força de lei dentro

desses limites. Conforme afirma claramente Carnelutti: “O que se pode dizer do julgado é

somente que é a decisão de uma lide; por isso os limites do julgado são os limites do seu objetivo,

ou seja, os limites que se projetam sobre o julgado da lide; porque e a decisão de uma lide, o

13 Delgado, José Augusto. "Efeitos da Coisa Julgada e os Princípios Constitucionais” p.112

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julgado não pode ser mais que tal decisão; mas aquilo que é, o é para todos, não somente para as

partes”.

Ocorre que ao decidir a lide à sentença normalmente decidirá questões que foram

especificadas pelas partes, objetivando ou o acolhimento ou a rejeição do pedido. Nasce então o

problema de saber se as decisões dessas questões fazem coisa julgada, principalmente dados os

termos do citado art. 468.

Nesse sentido, o que antes era uma matéria controvertida, encontra-se pacificado em

função do art. 469 onde fica claramente especificado que não fazem a coisa julgada: a)os motivos

ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; b) a verdade

dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; c)a apreciação da questão prejudicial,

decidida incidentemente no processo.

Surge daí que a imutabilidade, implícita a coisa julgada, somente atinge a aparte

dispositiva da sentença, na qual se estabeleceu a lei do caso concreto. Todo o restante, ou seja, a

fundamentação e o relatório, não restam imutáveis. No entanto, se faz necessário esclarecer que a

imutabilidade da coisa Julgada protege a declaração judicial apenas enquanto as circunstancias

(fáticas e jurídicas) da causa permanecerem as mesmas, inseridas que estão na causa de pedir da

ação.

Portanto, se a causa de pedir de uma ação com sentença transitado em julgado, ao

passar do tempo é modificada, e sobre a nova condição a parte interessada move nova ação, não

há que se aplicar a coisa julgada (da primeira ação), haja vista que a causa de pedir de ambas as

ações são distintas. Ou seja, sempre que as circunstancias (fáticas ou jurídicas) da causa forem

alteradas de maneira tal a compor nova causa de pedir, surgirá motivo à uma nova ação

totalmente diferente da ação anterior, e, por essa razão, não preocupada com a coisa julga

imposta sobre a primeira decisão.14

14 14 Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart – Processo de conhecimento – 7º edição revista e atualizada – pg.657

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Nesse sentido o art. 471 do Código de Processo Civil retrata, embora com conotação

distinta, que nenhum juiz decidirá novamente as questões já decididas, relativas à mesma lide,

salva: a)se, tratando de relação jurídica continuativa, sobreveio modificação no estado de fato ou

de direito;caso em que poderá parte pedira a revisão do que foi estatuída na sentença; e b)nos

demais casos prescritos em lei.

A sentença espelha os fatos e o direito que serviram como seus fundamentos, de

maneira que, alterados os fatos ou o direito, modificada estará a causa de pedir, e

conseqüentemente a ação. Em suma: a alteração das circunstancias de fato constitui alteração da

causa de pedir, formando outra (nova) ação e abrindo ensejo à outra (nova) ciosa julgada.

Assim, quando são alteradas as circunstancias de fato, será formada outra (nova) coisa

julgada que deverá conviver em harmonia com a coisa julgada respeitante ás circunstâncias

anteriores. Tal fato evidencia que a nova ação, por se pautar em nova causa de pedir, como jamais

foi examinada pela jurisdição será julgada normalmente, sendo mantida, no entanto, a coisa

julgada da primeira ação. É incorreto falar que não se forma coisa julgada em função da

possibilidade de variação da causa de pedir, NÃO HÁ QUE SE FALAR EM OFENSA À COISA

JULGADA.15

II.b)LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

O PROBLEMA

O problema é justamente determinar quais as pessoas alcançadas pela coisa julgada: se

esta atinge apenas as partes na relação processual ou é extensível a terceiros. A regra é que

somente as partes são alcançadas pela autoridade da coisa julgada. Terceiros, que não

participaram da relação processual, no tiveram posição no processo e provavelmente ignoram sua

existência, estão livres do efeito da coisa julgada.

15 Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart – Processo de conhecimento – 7º edição revista e atualizada – pg.657/658

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No entanto, a realidade aponta para outro sentido. Fatalmente as relações humanas não

são isoladas mas, ao contrário, se interpretam. A sentença proferida entre as partes, influi mais ou

menos intensamente nas relações de terceiros. Ou seja, a coisa julgada entre A e B pode imprimir

certa influencia da sua autoridade em relação a terceiro. Tal situação é um fato inconteste, nesse

sentido o conflito e a resolução buscada é justamente encontrar a significação e a intensidade da

repercussão dos efeitos da coisa julgada em relação a terceiro.

Cumpre destacar o chamado princípio fundamental, este surgiu a partir da doutrina

Romana, pela qual as partes se obrigavam a acatar aquilo que fosse decidido, e pois, eram

reciprocamente obrigados à decisão, somente elas eram atingidas pelos efeitos da coisa julgada,

tal doutrina foi consagrada pro vários textos romanos e sua conservação originou o já citado

Princípio fundamental: a coisa julgada atinge somente as partes, não terceiros. Tal princípio se

fundamenta na seguinte lógica, sendo a sentença proferida no processo das partes, para expressar

a resolução da lide existente entre elas, logo esta deve ater-se justamente as partes pertencentes a

ação. Sendo, portanto a sentença, somente lei entre estas.

II.c)EXTE�SÃO SUBJETIVA DOS EFEITOS DA SE�TE�ÇA

O princípio fundamental, no entanto, não consegue afastar a real possibilidade de haver

uma repercussão de maior ou menor intensidade e/ou extensão dos efeitos da sentença a terceiros,

ainda que estes na prática não são sujeitos à mesma. Em suma, não afasta a possibilidade que tais

terceiros possam sentir indiretamente as conseqüências dos efeitos da sentença.

Cabe ressaltar que até os próprios Romanos já conheciam esse dilema e tal situação ao

longo de todos os tempos é ocupação constante da doutrina que tenta a toda forma dar-lhe

solução. A doutrina do direito comum já tinha a concepção de que a extensão da autoridade da

coisa julgada a algumas categorias de terceiros que tivessem algum interesse secundário na

relação jurídica existente.

Nos tempos modernos, diante das concepções insuficientes advindas da idade medieval,

algumas teorias surgiram e foram adotadas justamente com o intuito de identificar qual seria o

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limite da extensão da coisa julgada, advindo de uma sentença. A primeira delas foi estabelecida

por Savigny. Este vislumbrou a extensão da coisa julgada a terceiros em razão de ligações de

representação que estes tivessem com uma das partes e também a terceiros cujo interesse

estivesse representado no processo por uma delas, é a chamada teoria da representação.

Tal teoria teve destaque relevante e dominou por algum tempo. No entanto, na segunda

metade do século passado, diante de muitas críticas que nortearam a idéia de representação não

ter compatibilidade com o conceito do instituto de “representação”, bem como, também porque

deixava de explicar muitas hipóteses acerca da extensão subjetiva da coisa julgada, a Teoria da

Representação caiu por terra. A partir de então uma nova teoria surgiu, valendo-se das

observações de Ihering é a chamada Teoria dos efeitos reflexos da coisa julgada.

A supramencionada Teoria se baseia no seguinte argumento: Todos atos jurídicos

produzem efeitos diretos e indiretos. Diretos são os efeitos queridos e previstos pelo agente e os

indiretos são os não previstos nem queridos pelo agente, porém, inevitáveis.

Exemplificando-a têm a seguinte situação: A e B estabelecem um negócio jurídico de

compra e venda, onde A vende a B um imóvel. Ocorre que A tem credores cuja garantia de

pagamento era justamente o respectivo imóvel objeto do negócio jurídico. Logo, o ato de vender

surte efeito direto e previsto entre os agentes, porém, efeitos indiretos e não previstos a terceiros

(credores), sendo estes também inevitáveis.

A partir desse entendimento que ficou consolidado os juristas Germânicos elaboraram a

Teoria dos efeitos reflexos da coisa julgada. Dessa forma, ficou consolidado na respectiva teoria

que a coisa julgada opera entre as partes, mas também, por efeitos reflexos, em relação a todos

(Teoria de Wach).

No entanto, embora acolhida, algumas e importantes observações foram estabelecidas que

desenvolveram a Teoria de Wach. Tiveram origem outras teorias, das quais destacamos as teorias

de Chiovenda.

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Diz Chiovenda que a sentença existe e vale em relação a todos. Ou seja, se o contrato de

A e B vale entre todos, a sentença oriunda de tal relação jurídica também vale entre todos.

Conseqüentemente também vale entre todos a coisa julgada. No entanto, cumpre destacar que

vale em relação a terceiros, não se aplicará quando for para prejudicar o terceiro. Porém, tal

proibição de prejuízo se atém a somente o prejuízo de Direito, podendo ocorrer, portanto, o

prejuízo de fato.

Para melhor esclarecimento, usando o exemplo citado, fica estabelecido que os credores

permaneceriam com o direito ao crédito (não existência de prejuízo de direito), ou seja, a dívida

que A possui com os credores não deixará de existir. Contudo, a garantia que este havia atribuído

aos credores (imóvel) deixou de existir, atribuindo a estes, portanto, um prejuízo de fato.

Ocorre que, com a realização da revisão doutrinária de forma ampla e profunda, Liebman,

aponta exatamente onde se encontrava o erro central de tais teorias: elas consideravam a coisa

julgada como um efeito da sentença, quando na verdade ela não passa de uma qualidade especial

desta, que a torna imutável.

Liebman faz uma distinção entre a eficácia natural da sentença da autoridade da coisa

julgada. E a partir disso surgem dois princípios: a) a eficácia natural da sentença vale para todos;

B) a autoridade da coisa julgada forma-se e existe somente para as partes.

Portanto, o que tem validade para todos é a eficácia natural da sentença, haja vista que a

coisa julgada vale somente para as partes. Ou seja, terceiros prejudicados pela eficácia da

sentença, podem recorrer contra a mesma, com intuito de demonstrar a injustiça ou ilegalidade

contida nela, fato que não poderia ocorrer caso a coisa julgada também tivesse validade para

todos.

Cabe ressaltar que só poderão recorrer terceiros que tenham algum prejuízo de direito, em

suma, que possui interesse jurídico no conflito, pois, aqueles que tenham tão somente prejuízo de

fato não poderão se opor à sentença.

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Aliás, de acordo com Liebman existem três categorias de terceiros: A)Os terceiros

indiferentes (não sofrem nenhum prejuízo advindo da sentença; B) Os terceiros interessados

praticamente (sofrem prejuízo prático e/ou econômico); e C) Os terceiros juridicamente

interessados (sofrem prejuízo jurídico) ainda nesse grupo C têm-se a categoria cujo interesse

jurídico é igual o das partes e a categoria cujo interesse jurídico é inferior o das partes.

Em nosso ordenamento jurídico fica estabelecido no art. 472 do Código de Processo Civil

que o limite subjetivo da coisa julgada se atém as partes, não atinge a terceiros, nem pra

prejudicá-los e nem pra beneficiá-los. Cabe ressaltar que nas ações de Estado a coisa julgada só

atingirá a terceiros, caso estes tenham sido citados para a ação, em litisconsórcio necessário, caso

contrário não haverá qualquer possibilidade para que estes sejam atingidos por ela.

Em outros termos, fixar os limites subjetivos da coisa julgada significa saber dizer quem é

atingido pela autoridade da coisa julgada material. Desse modo é que os terceiros não podem ser

atingidos pela imutabilidade da sentença, mas podem de forma indireta serem atingidos pelos

seus efeitos.

Nesse sentido esclarecer de forma completa o Ministro Luiz Fux: A situação de conflito

submetida ao judiciário tem os seus protagonistas, e a decisão, a princípio os seus destinatários.

Outrossim, a sentença não vive isolada no mundo jurídico, ressoando possível que uma decisão

reste por atingir a esfera jurídica de pessoas que não participaram do processo.16

Cumpre esclarecer, no entanto, que algumas mudanças têm sido operadas em nosso

ordenamento jurídico no que tange ampliar a extensão da coisa julgada sendo necessário,

portanto, um estudo acerca da matéria.

16 Fux, Luiz, Curso de Direito Processual Civil: processo de conhecimento, processo de execução, processo cautelar. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.492

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III- O ALARGAME�TO DA EXTE�ÇÃO DOS LIMITES OBJETIVOS DA COISA

JULGADA

È fato notório e inconteste o congestionamento existente no Poder Judiciário, uma das

teorias que tencionam provocar uma maior celeridade processual e conseqüente desafogamento

afirma categoricamente que alargar a extensão da coisa julgada, ou seja, modificar o art. 469 do

CPC seria uma alternativa produtiva e viável nesse sentido.

Ocorre que ao obedecer piamente às regras processuais existentes o Poder judiciário não

tem conseguido decidir acerca dos processos que lhe são delegados pela sociedade, em um

número suficiente para que a celeridade destes seja satisfatória.

O que em outras palavras significa dizer que é necessário que ocorram modificações em

nosso sistema processual de maneira a viabilizar melhorias no trabalho do Poder Judiciário,

garantindo, portanto um julgamento eficiente, incluindo o quesito temporal, além obviamente da

qualidade das decisões. Haja vista que além das melhorias no sistema processual, as duas únicas

saídas ou seria a redução do número de feitos ou aumento do número de órgãos do judiciário.

No entanto, trabalhando com tais perspectivas fica evidente que reduzir o número de feitos

implicaria em negar o direito de ação aos indivíduos que acreditam que tiveram seu direito

lesado, em suma, seria repelir a cidadania e a liberdade tal resguardada pela democracia, seria ir

contra a evolução histórica do Direito.17

Noutro giro, aumentar os órgãos do judiciário de fato é algo necessário, no entanto, é de

conhecimento geral que aumentar estes nem sempre significa aumento de produtividade, haja

vista que quanto maior o numero de órgãos decidindo maior também é a dificuldade de

uniformização das jurisprudências, multiplica os recursos regimentais, em suma, o

17 Lima, P. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.74

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funcionamento do tribunal passa a ter maior complexidade. O que atrapalha e agilização do

trabalho realizado por estes.18

Diante do exposto, fica evidente que o aprimoramento e agilização nas decisões dos

feitos, pelo Poder judiciário, serão atingidas através do aperfeiçoamento do processo. Nesse

sentido, entre várias e importante teorias que tem como horizonte atingir tal perfeição, surge uma

teoria que visa alargar os limites objetivos da coisa julgada.

Cumpre destacar primeiramente que na ciência processual não há uma definição acerca de

qual a extensão a ser adotada nos limites objetivos da coisa julgada, se é mínimo, médio ou

amplo. Tal definição não é pacificada nas doutrinas, no entanto, a existência desses três tipos de

extensão está concretizada.

No código de Processo Civil em seu art. 469, têm-se a extensão mínima como diretriz:

Art.469 – Não fazem coisa julgada:

I- Os motivos, ainda que importantes, para determinar o alcance da parte dispositiva da

sentença;

II- A verdade dos fatos, estabelecidas como fundamento da sentença;

III- A apreciação de questão prejudicial decidida incidentemente no processo.

Se faz necessário esclarecer inicialmente que cabe ao legislador definir o alcance da coisa

julgada. Se este aumentar ou diminuir tal alcance em nada vai influir na integralidade do sistema

jurídico, nem tampouco vai descaracterizar o instituto. Cabendo ressaltar, inclusive, que uma

mudança nesse sentido, não implica em qualquer alteração em nossa carta magna.

Devido ao uso restrito adotado em nosso ordenamento jurídico para os limites objetivos

da coisa julgada surgem problemas de toda natureza. Tomemos a título exemplificativo o adotado

pelo jurista Humberto Gomes de Barros, quando citou várias vezes batidas de automóvel. 19

18 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.74

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Digamos que haja uma batida de carro e um dos proprietários move uma ação em face do

outro, com intuito de ter seus danos materiais reparados. Em dada ação o Juízo deverá avaliar

durante a ação se de fato ocorreu a batida, bem como a responsabilidade pelo evento ocorrido e

por último analisará os danos causados pela batida, fixando então o valor da indenização.

Imaginemos que este mesmo autor após transito em julgado em relação aos danos

materiais, mova uma nova ação em função de prejuízos pessoais que tenha sofrido em sua esfera

extrapatrimonial. A priori nessa nova ação o juízo deverá fazer toda a análise feita na anterior, ou

seja, se houve a batida, de quem foi a responsabilidade para depois identificar o prejuízo pessoal

sofrido pelo autor para lhe atribuir uma indenização por danos morais.

Daí surge uma possibilidade, a de o juízo em nova ação, por exemplo, não identificar que

houve o acidente ou que a responsabilidade de fato não foi do Réu, mas do próprio autor. Em

suma, teria um entendimento diverso da coisa julgada configurada na primeira ação movida. O

que demonstra uma falta de harmonização entre os julgamentos sobre o mesmo fato.

Cumpre destacar que a distinção entre os dois julgados pode advir de vários motivos,

entre eles, o rol de provas que fundamentaram a primeira ação não serem apresentadas na

segunda ação, a contratação de um advogada menos diligente e até mesmo o fato de ambas as

ações terem sido julgadas por juízes diferentes.20

A verdade é que tal fato só ocorreria porque o sistema restrito que adotamos sobre a coisa

julgada, só incide sobre a parte dispositiva da sentença. Isso acarreta que todas as questões já

decididas em feitos anteriores sejam novamente julgadas, no entanto, sem qualquer garantia de

que as decisões sejam as mesmas, ou ao menos compatíveis entre si.

19 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.75 20 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.75

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Assim como este muitos vários exemplos ocorrem no dia a dia do Poder Judicário, daí

surge o questionamento, se em nosso ordenamento jurídico ao invés de adotarem limites restritos

a coisa julgada, fosse adotado amplos limites?

A primeira e inconteste vantagem é que todas as decisões do judiciário jamais seria

desperdiçadas. Todas estariam abrangidas pela imutabilidade própria da coisa julgada e com a

garantia de que uma vez já decidido não seria mais discutido outra vez. Tem-se então a primeira

vantagem: não haveria repetição na apreciação de exames, provas, discussões, julgamentos. O

judiciário não examinaria novamente questões já decididas entre as partes.21

Em conseqüência disso surge a segunda e também importante vantagem: Não haveriam

decisões conflitantes sobre uma mesma questão. Pois situações como estas, onde uma decisão

sobre uma questão diverge completamente em relação a uma decisão anterior, provoca de fato

uma desmoralização do Poder Judiciário perante a sociedade, haja vista que se para um jurista já

fica incompreensível essa disparidade, quiçá para os leigos.

Uma terceira e preciosa vantagem seria que, uma segunda ação dificilmente ocorreria,

haja vista que a parte que perdeu a primeira ação só contesta os apontamentos autorais em uma

nova ação, porque sabe que haverá uma rediscussão sobre a questão e que, inclusive nesta,

poderá ter êxito contrariando a vitória obtida pela outra parte na primeira ação. 22

No exemplo anteriormente mencionado, numa segunda ação, considerando a coisa julgada

da primeira, só seria necessário o Juízo identificar tão somente se houve dano extrapatrimonial do

autor e qual seria a gravidade de tal dano, para então aplicar a multa indenizatória ao qual teria

direito.

Outro fato é que, a parte que não saiu vitoriosa na primeira ação, em muitas vezes optaria

pra fazer um acordo extrajudicial, justamente por entender que a impossibilidade de rediscutir a

21 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.75 22 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.76

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questão já atingida pela coisa julgada. E em muitos outros casos tal possibilidade de acordo

também seria muito maior o que inquestionavelmente implicaria em maior celeridade e

desobstrução da justiça.23

A priori identificamos prontamente 4 vantagens ao alargar a extensão dos limites da coisa

julgada, sendo estes: aumento da produtividade, eliminação de decisões conflitantes (maior

credibilidade do Judiciário perante a sociedade), eliminação de lides desnecessárias, bem como,

aumento no número de acordos extrajudiciais.

Todas essas vantagens se atêm, mais precisamente a adequação social do Direito na vida

em sociedade, contudo há também uma vantagem de cunho estritamente científico, qual seja:

observando tudo que se escreveu sobre a coisa julgada em nosso país, a maioria contém

imprecisão terminológica ao confundir o “instituto do aproveitamento útil” com o da coisa

julgada.

Exemplo disso é quando atribuem que uma sentença condenatória de direito penal faz

coisa julgada no direito cível. Na realidade não se trata de coisa julgada, posto que, a coisa

julgada em nosso ordenamento só se aplica ao dispositivo da sentença, esta se refere tão somente

a conclusão da ultima decisão que decide a pena, condenando o Réu a “Y” tempo de prisão.

Portanto, na esfera cível ao ser julgada uma indenização em função do crime cometido,

não será rediscutido questões como o fato da existência do crime, sua autoria, a responsabilidade

do réu, mas não se trata de dizer que a sentença penal faz coisa julgada na cível, mas porque é

utilizado o instituto do aproveitamento útil. 24

O juízo civilista não tem competência para rediscutir tais questões (como ocorrer nas

ações de mesma competência) que foram apreciadas pelo juízo competente. Logo ele faz um

aproveitamento útil da decisão proferida pelo juízo penal e em cima de tal sentença, estabelece

uma indenização de acordo com o sofrimento experimentado pela parte autora (vítima).

23 Lima, Paulo Roberto de Oliveira. Contribuição à Teoria da Coisa Julgada p.80 24 Lima, Paulo Roberto de Oliveira. Contribuição à Teoria da Coisa Julgada p.83

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O instituto do aproveitamento útil, no entanto, é utilizado sob certas condições especiais,

estando estas com previsibilidade legal. Com ele fica determinado que as matérias já discutidas e

resolvidas em antecedentes lógicos não podem sofrer nova apreciação em feitos futuros.25

Determina-se que em ações coletivas o que é decidido na lide faz coisa julgada para a

lide individual (quando em favorecimento ao indivíduo). Mas tal afirmação não é correta. Não se

faz coisa julgada do coletivo para o individual, tão somente um aproveitamento do útil,

considerando que o dispositivo da sentença que decide a ação coletiva não resolve os interesses

individuais.26

Nesse caso o que a lei definiu, por exceção, foi aproveitar, sempre em favorecimento do

indivíduo, as decisões anteriores à sentença coletiva que pudessem ser úteis à tutela individual.

Com a adoção do alargamento da extensão dos limites objetivos da coisa julgada todas

essas informações equivocadas advindas da doutrina, da legislação passariam a ser acertadas,

haja vista que se trataria efetivamente de coisa julgada. Com a nova amplitude a coisa julgada

absorveria também o instituto de aproveitamento do útil.

Um outro benefício conseqüente de tal alargamento é a eliminação da ação declaratória

incidental, pois, esta tem por objetivo fazer incidir a coisa julgada em questões incidentais ou

prejudiciais, haja vista que estas mesmo fazendo parte da fundamentação judicial, por não

comporem a parte dispositiva da sentença não sofreriam a autoridade da coisa julgada.

Com o alargamento da extensão dos limites objetivos da coisa julgada, sem dúvida tais

questões fariam coisa julgada também, haja vista que a fundamentação também seria objeto

desta, pois, todas as questões incidentais decididas pelo juiz seriam abrangida pela coisa julgada.

25 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.76 26 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.76

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Vemos uma gama de indiscutíveis vantagens quando se vislumbra a possibilidade de

alargar a extensão dos limites objetivos da coisa julgada e ao pensar em alguma desvantagem que

reflita em igual importância, de fato esta não aparece com facilidade e concretude.

Surge então um novo questionamento: Por que adotamos restritivamente os limites

objetivos da coisa julgada? Simplesmente foi uma opção, uma escolha feita pelo legislador em

um determinado momento histórico. Opção esta que necessita ser revista diante das mudanças

reais ocorridas ao longo do tempo.27

A realidade hoje da estrutura judiciária é muito distinta da conhecida pelo legislado de

1973. Em todos os aspectos, sobretudo no número de feitos que surgem anualmente. Se faz

necessário adequar a legislação a nova realidade. Diante disso, não há como se opor à alteração

dos atuais limites objetivos da coisa julgada.

Aliás, há os que defendam que a tal alargamento deve ser obtido, mesmo que não haja

qualquer alteração no art. 469 do CPC. Ela defende algumas premissas, a primeira é de que a

coisa julgada deve apanhar o modo de ser da relação jurídica. Desta forma diante de uma mesma

relação jurídica que implica em novos feitos constantes, ao invés de apreciar cada feito

individualmente, a coisa julgada se faria apanharia o modo de ser da relação jurídica, fato que

implicaria numa resolução definitiva para as ações de igual teor decorrente da mesma relação

jurídica.28

Uma segunda premissa contraria a afirmativa de que a sentença só pode incidir sobre fatos

passado. De acordo com tal entendimento, a coisa julgada poderia incidir sobre fatos futuros.

Cumpre ressaltar, inclusive que tal entendimento tem sido adotado em nosso ordenamento

jurídico, como nos casos de sentença de pensão alimentícia, quando o juiz já defere o percentual

que incidirá sobre rendimentos futuros do alimentante.

27 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.76 28 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.76

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Seguindo essa linha de raciocínio, três anos após a sentença o alimentante é demitido e

sobre o seu FGTS a ser sacado 30% será pago ao alimentado, em suma, a sentença de três anos

anteriores refletiu num fato futuro do alimentante. Percebe-se que nesse caso, a coisa julgada

abrange o modo de ser da relação jurídica, não sendo necessário repetir a demanda a cada novo

fato ocorrido. 29

Percebe-se que a mesma justiça que utiliza a coisa julgada no modo de ser da relação

jurídica no exemplo citado, não aplica a coisa julgada desta forma em outras situações onde de

fato implicaria em total desobstrução de feitos no poder judiciário, tal como ocorreria na

aplicação de lides tributárias.

Então o judiciário que se encontra superlotado de processos, sem condições de

jurisdicionar de forma plena, célere e satisfatória, “engole o elefante em matéria de alimentos e se

engasga com o mosquito em matéria tributária”, fazendo a exigência de repetição de feitos

absolutamente iguais, os quais na prática sequer são examinados pelo juiz.

São os litígios que ocorrem entre computadores, onde a inicial, a resposta, a sentença, os

recursos e os acórdãos estão prontos em arquivos e os autos vão se montando sem ninguém

apreciá-lo devidamente (juiz, promotor, advogado ou ministro).30

Para resolver tal impasse gerando a celeridade, a idoneidade e a desobstrução da justiça,

de maneira a atender as expectativas de ordem social que o Direito como ciência deve atender, se

faz necessário ampliar os limites objetivos da coisa julgada, para tanto, basta que além da parte

dispositiva as questões incidentes também sejam atingidas pela coisa julgada.31

Devemos valorizar as decisões do juiz de primeira instancia, evitar decisões antagônicas.

Em suma, se o problema é único, se o fato é único, a relação jurídica subjacente e única e existe

somente multiplicidade de partes. Se faz necessário repetir todos os procedimentos quantas às

29 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.77 30 Lima, P.. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do Norte, 516 04 2001. p.77 31 Lima, Paulo Roberto de Oliveira. Contribuição à Teoria da Coisa Julgada p.85

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vezes para dizer que o processo legal foi atendido e ele deve se satisfazer com a decisão do

Estado?

Obviamente esse engessamento do sistema processual brasileiro gera uma série de

problemas desnecessários ao bom andamento dos feitos. O fato é que a questão da coisa julgada,

tanto no alcance objetivo, como no subjetivo é meramente política que pode conseqüentemente

ser legislada, sobretudo porque atualmente existe uma situação que justifica de maneira

inconteste tal necessidade.

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CO�CLUSÃO

O presente estudo tem a finalidade somente de demonstrar uma entre várias alternativas

existentes para promover a desobstrução do Poder Judiciário. Anualmente milhares de novos

feitos são apresentados ao Estado objetivando a prestação jurisdicional deste. No entanto, por

vários motivos estes levam muito tempo para serem devidamente apreciado.

Isso não ocorre gratuitamente, entre outros fatores temos um número insuficiente de

órgãos do Poder Judiciário, porém, na presente pesquisa nos prendemos a idéia de que o motivo

principal é justamente o fato do sistema processual brasileiro não acompanhar a dinâmica do

Direito, lembrando que esta é uma ciência que deve andar lado a lado com as aspirações sociais,

bem como as constantes mudanças existentes nesta.

Diante de tal diagnóstico, nos atemos a um tema que, de fato pode contribuir com primor

para que, a celeridade e presteza seja rotineira em nosso ordenamento jurídico, no que tange a

resolução da lides. O tema é o alargamento da extensão do limites objetivos da coisa julgada.

Observamos que a coisa julgada é um instituto jurídico subaproveitado pela legislação

brasileira, haja vista que na ciência processual existem três formas de incidência da coisa julgada:

a mínima, a média e a ampla. Tendo nosso legislador adotado no art. 469 do CPC a extensão

mínima.

De fato, em nosso ordenamento jurídico a coisa julgada incide tão somente sobre a parte

dispositiva da sentença; não se atém ao relatório, nem a fundamentação. Em suma, as questões

incidentais não são atingidas pela coisa julgada. Tal situação gera uma série de problemas no

cotidiano do poder judiciário.

Em muitos casos, o que temos na prática é que as decisões deferidas pelos juízos e

tribunais, podem ser rediscutidas, ou seja, se em nossa legislação fosse adotado o alargamento da

extensão dos limites objetivos da coisa julgada, significaria dizer que toda e qualquer decisão

tomada pela poder judiciário teria validade plena, seria atingida pela imutabilidade própria da

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coisa julgada, jamais haveria uma rediscussão acerca de uma questão já anteriormente definida

(sobre mesma relação jurídica).

Outro ponto importante a destacar é que, as tão comuns decisões antagônicas sobre uma

mesma questão, não existiriam mais, fato que implicaria inclusive numa maior credibilidade do

Poder Judiciário, que na prática jamais consegue explicar à sociedade o porquê de tais decisões

contrárias ainda ocorrerem.

Além disso, teríamos a celeridade processual que é objetivo que sempre norteia a ciência

processual, bem como, não haveria a existência de lides desnecessárias. Sem contar que, sem

dúvida, ocorreria maior interesse em realização de acordos extrajudiciais, considerando que uma

parte derrotada em uma primeira ação, saberia que uma segunda ação oriunda da mesma questão

da primeira não seria rediscutida, haja vista que as questões incidentais também estariam sob

coisa julgada.

Diante do rol de vantagens que discutimos na presente pesquisa e considerando que

nenhuma desvantagem concreta surgiu durante a análise de tais apontamentos, percebe-se que o

Poder Judiciário está engessado. Isso porque as mudanças têm ocorrido ao longo das décadas e o

Legislador por incompetência técnico-política não reformulou a legislação, de maneira a

dinamizar a respectiva matéria em nosso sistema processual.

O legislador de 1973 ao estabelecer o art. 469 do CPC utilizou a incidência da coisa

julgada (limites objetivos) com extensão minima, no entanto, a prática e o exercício cotidiano no

Poder Judiciário mostra que tal determinação legal, não responde mais as expectativas sociais

acerca dos feitos (objetos de apreciação do Judiciário). Fato que comprova a urgência de

reformular a matéria atribuindo um alargamento da extensão dos limites objetivos da coisa

julgada.

Diante da inviabilidade de se gerar constantemente órgãos do poder judiciário, da total

impossibilidade de impedir que novos feitos sejam apresentados pela sociedade, pois seria um

grave ataque à democracia e o direito constitucional de ação, cumpre modernizar o sistema

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processual brasileiro. Indubitavelmente, promover tal modificação no instituto da coisa julgada é

uma contribuição significativa e positiva ao nosso ordenamento jurídico.

A possibilidade da coisa julgada incidir sobre o modo de ser da relação jurídica, a

possibilidade da sentença ter validade também para fatos futuros (tal como ocorre nas relação

continuadas), bem como, fazer com que as questões incidentais sejam objeto da coisa julgada, de

fato promoveria uma enxugamento dos feitos no Poder Judiciário e faria com que os juízos

focassem sua atenção em ações que de fato não já tivessem tido a questão discutida

anteriormente. Otimizaria o andamento dos feitos, geraria foco em questões de fato relevantes,

em suma, promoveria uma oxigenação em todo o Poder Judiciário.

No que tange a coisa julgada, nossa legislação urge por mudanças significativas, mas

estas devem ser acompanhadas de cientificidade. De fato o Direito é uma ciência que objetiva e

foca nas questões sociais, mas como ciência, tem que se valer de estudo e metodologia

apropriada. O alargamento da extensão da coisa julgada, além de dinamizar o sistema processual

brasileiro, também colocaria fim a interpretações errôneas da doutrina e legislação, tal como,

quando confundem coisa julgada com o instituto de aproveitamento do útil.

Em suma seria uma valorosa contribuição para que o Direito respondesse

satisfatoriamente a sociedade de um modo geral, todas as questões por ela demandadas. E

conseqüentemente, tornaria o cotidiano do Poder Judiciário mais: homogêneo, organizado, justo e

célere. Fato que, sem dúvida, significa a promoção, de fato, da paz social, que é o cerne, o

horizonte e a razão de existir do Direito.

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V)BIBLIOGRAFIA:

Lima, Paulo Roberto de Oliveira. Alargamento da extensão da coisa julgada - alcance

objetivo e subjetivo. REVISTA CEJ, América do �orte, 516 04 2001.

Lima, Paulo Roberto de Oliveira. Contribuição à Teoria da Coisa Julgada. Fux, Luiz, Curso de Direito Processual Civil: processo de conhecimento, processo de execução, processo cautelar. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2002. Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart – Processo de conhecimento – 7º edição revista e atualizada.

Delgado, José Augusto. "Efeitos da Coisa Julgada e os Princípios Constitucionais”. Santos, Moacyr Amaral – Primeiras Linhas de Direito Processual Civil – Saraiva – 1989-1991.