Upload
bruno-diogenes
View
6
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Ética e educação Educação Vera Werneck
Citation preview
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao
Vera Rudge Werneck *
Resumo
O artigo visa refletir sobre a questo da avaliao especialmente no campo da moral.
Analisa ento a relao entre a tica e a educao. Para tal fim, procura mostrar que nem
sempre a definio etimolgica coincide com a definio real de um termo. Assim acontece
com os termos moral e tica. Na sequncia, analisa questes ligadas moralidade
humana: relativismo e relatividade; normalidade e frequncia; preconceito e moralismo;
erro lgico e erro moral. Prope as noes de pessoa e de personalidade como
referenciais de avaliao do ato moral. Fundamentando-se teoricamente na Teoria dos
Valores especialmente no pensar de Max Scheller e de Yvan Gobry conclui pela necessidade
de reflexo sobre esses temas junto ao educando para que ele possa encontrar um
fundamento mais slido para o comportamento moral no seu processo de educao.
Palavras-chave: Avaliao. Moral. Educao.
Thoughts on the Evaluaton of the Relationship Between Ethics and Education
Abstract
The article aims to reflect on the questions of evaluation especially in the field of
morality. In that regard, the author seeks to prove that the etymological definition of a
term is not always in line with the actual definition thereof. This is what happens to the
terms moral and ethics. The article goes on to address matters connected to human
morality: relativism and relativity; normality and frequency; prejudice and moralism;
logical errors and moral errors. The author proposes the concepts of person and
personality as points of reference in the assessment of moral acts. Having its
theoretical basis on the Theory of Values, especially on the ideas of Max Scheller and
Yvan Gobry, the article goes on to conclude that said matters need to be discussed with
* Doutora em Filosofia, Universidade Gama Filho-UGF; Mestre em Filosofia, Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro-PUC/RJ; Professora Titular, Universidade Catlica de Petrpolis-UCP). E-mail: [email protected].
2 Vera Rudge Werneck
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
the individuals receiving education, so that a more solid fundament for moral behavior
within the education process can be achieved.
Keywords: Evaluation. Moral. Education.
Una Reflexin sobre la evaluacin de la Relacin entre la tica y la Educacin
Resumen
El artculo tiene por objeto reflexionar sobre la evaluacin, especialmente en el campo
de la moral. Analiza la relacin entre la tica y la Educacin. Con tal objetivo busca
mostrar que no siempre la definicin etimolgica coincide con la definicin real de un
vocablo. Lo que ocurre con los trminos moral y tica. Tambin se analizan
cuestiones sobre la moralidad humana: relativismo y relatividad; normalidad y
frecuencia; prejuicio y moralismo; error lgico y error moral. Propone las nociones de
persona y personalidad como referencias de evaluacin del acto moral.
Fundamentndose tericamente en la Teora de los Valores, especialmente en el
pensamiento de Max Scheller y de Yvan Gobry, concluye que es necesario reflexionar
sobre esos temas junto al educando para que pueda encontrar un fundamento ms
slido para el comportamiento moral en su proceso de educacin.
Palabras clave: Evaluacin. Moral. Educacin.
Uma reflexo sobre a relao tica e educao
H questes que insistentemente se repetem demonstrando assim a sua importncia
e atualidade. Uma delas a questo da importncia da avaliao, da tica na educao.
A educao tem como objetivo o aprimoramento integral do homem especialmente
do que o caracteriza fundamentalmente: a exigncia do comportamento tico, do
relacionamento social marcado pelos valores morais.
Impe-se assim a necessidade de avaliar a ao humana em todas as reas de sua
atuao especialmente na educao para que se perceba com mais preciso de que
modo est ela promovendo a atitude tica diante da vida.
A constante busca de aperfeioamento moral no processo da educao reforada
com a fala de Pedro Goergen quando mostra que,
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao 3
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
Hoje, esta preocupao espraia-se por todas as reas do saber incluindo a comunicao, a gentica, a biologia, a medicina etc. Podemos dizer que a preocupao tica tornou-se universal e est presente em todos os mbitos da vida humana (GOERGEN, 2005, p. 983).
A grande dificuldade parece, no entanto, concentrar-se na compreenso dos termos
moral e tica. Do significado desses termos vai decorrer o papel que vo desempenhar
no processo da educao.
Sendo o objetivo do artigo, refletir sobre os significados de avaliao, de tica e de
educao, parece prudente iniciar pela prpria noo de definio.
No Dicionrio de Filosofia de Nicola Abbagnano encontra-se: definio:
Declarao da essncia ou mais precisamente: 1 declarao da essncia substancial, 2 declarao da essncia nominal, 3 declarao da essncia significado (ABBAGNANO, 2000, p. 235).
Pode-se denominar real a definio que busca a essncia substancial ou seja, a
que busca apreender o que a coisa e como etimolgica, a que se atm ao histrico
do termo. As palavras constituem-se historicamente para expressar os seus
significados. Acontece, no entanto, que embora, em geral, a definio etimolgica
expresse o mesmo que a definio real, nem sempre, h uma coincidncia entre elas.
Muitas vezes h uma discordncia entre as duas modalidades de definio o que leva
confuso dificultando o conhecimento.
Entende-se por avaliao a verificao do valor de algo para satisfazer algum anseio
humano. Avaliar buscar saber em que medida o objeto em foco corresponde
necessidade do sujeito, se bom para ele, ou se embora sob a aparncia de valor , na
verdade, um contravalor, algo que lhe pernicioso e prejudicial.
Para uma possvel avaliao da relao entre tica e educao parece necessrio,
antes de mais nada, esclarecer o entendimento que aqui se tem desses dois termos.
Como j foi visto, nem sempre a definio nominal de um termo coincide com a sua
definio real. Esse fato pode ser observado nas definies dos termos moral e tica.
Segundo Danilo Marcondes,
Etimologicamente, a palavra tica origina-se do termo grego eths que significa o conjunto de costumes, hbitos e valores de uma determinada sociedade ou cultura. Os romanos o traduziram para o termo latino Mrs., moris (que mantm o significado de eths), dos quais provem moralis, que deu origem palavra moral em portugus (MARCONDES, 2009, p. 9).
4 Vera Rudge Werneck
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
A identificao da moral com os mores, com os usos, hbitos, costumes de
determinado grupo social em determinada poca histrica traz a grande dificuldade de
retirar da moral a fora da obrigatoriedade. Quem no segue um uso, um costume no
se sente culpado nem passvel de punio pela sociedade. Entende-se apenas como um
pioneiro, como um inovador.
A definio real de moral e de tica vai, ao contrrio da etimolgica ou nominal,
ultrapassar os usos e costumes e fundamentar-se nos valores universais do bem, do
respeito e da justia.
De um ponto de vista mais formal pode-se entender o princpio da moralidade
como a exigncia universal de fazer o bem e evitar o mal, ou seja, de no fazer ao
prximo o que no se quer que faam a si prprio. Embora, em ltima instncia,
significando o mesmo que moral, numa concepo mais atual, pode-se entender a tica
como a reflexo filosfica sobre os princpios da moral de modo a adequ-los s diversas
situaes e poder assim, estabelecer as leis e os cdigos.
Percebe-se, ento, uma incompatibilidade entre a definio etimolgica e a
definio real em se tratando dos termos tica e moral.
Embora os dois termos etimologicamente tenham mais ou menos a mesma
compreenso, a definio real vai exigir a noo de dever, de obrigatoriedade que
no pode fundamentar-se apenas na imposio de alguns, da sociedade, do momento
histrico ou mesmo da opo religiosa.
Especialmente o jovem com o seu natural desejo de inovao, de mudana, de
renovao tentado a no aceitar regras e convenes fundamentadas apenas na
sociedade e na tradio e entend-las como mutveis e transitrias.
A moral no pode ento, significar o mesmo que mores, usos e costumes, que
no condenam os que se recusam a segui-los.
fcil mostrar ao educando que a infrao lei da moral leva culpa. Ao contrrio,
o desrespeito aos mores no faz com que o sujeito sinta-se culpado. Ocorre, no
entanto, que com frequncia, a sociedade pune com mais rigor quem desrespeita seus
mores do que aquele que descumpre as exigncias da moral.
Torna-se, pois, de grande valia na reflexo sobre a moralidade humana, a distino entre
mores e moral como um meio de maior fundamentao do comportamento humano.
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao 5
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
Entre as inmeras definies de moral mostra Gobry que,
A moral tem seu plano horizontal, que Brgson chamava a moral fechada, e que aquela dos mandamentos catalogados; mas ela tem seu plano vertical, que Brgson chamava a moral aberta, e que a elevao perspectiva do valor absoluto. Segundo o plano ao qual o homem se situa, sua moral animada por duas mentalidades profundamente diferentes. No plano horizontal, a moral da obedincia, na qual a vontade se dobra a normas rgidas e tenta conformar-se a um nmero definido de regras impostas a todos, no plano vertical, a moral do ideal na qual o fervor tenta atingir normas imprecisas e perfeitas que exigem da vontade um esforo incessante (GOBRY, p. 137).
recorrente a afirmao de que a lei moral varia conforme o lugar e o tempo, a definio
de moral como conjunto de deveres correspondentes s correntes filosficas dominantes.
Admitindo-se a moral como varivel, como histrica, vai-se, facilmente chegar ao
relativismo axiolgico que entende serem os valores subjetivos. Desse ponto de vista,
no h como exigir comportamentos ticos j que eles representaro apenas o
consenso ou a imposio autoritria do grupo social dominante.
De outro ngulo, pode-se admitir o princpio da moralidade como universal, estvel
no tempo e no espao, variando apenas as circunstncias em que se aplicam e as suas
especificaes. Em todas as pocas, em todas as situaes histricas, sempre se aceitou
que se devia fazer o bem e evitar o mal, que no seria lcito fazer ao outro o que no se
desejasse que fosse feito a si mesmo. Em nenhuma situao histrica, embora, na prtica
se tivesse feito o mal, teoricamente, defendeu-se como certo que se fizesse o mal.
Ao que parece, as aes morais variam, no no seu princpio, mas na sua prtica.
Conforme as circunstncias e a situao histrica, altera-se o que pode ser considerado
como o bem e assim as condutas moralmente corretas.
Embora aparentemente tal afirmao tambm parea levar ao relativismo,
possvel o estabelecimento de critrios de avaliao da moralidade da conduta.
Buscando-se apoio na Axiologia percebe-se que a primeira conscincia que o
homem tem de si mesmo a de um ser em estado de falta, de carncia, de necessidade
reivindicando algo que o possa satisfazer, complementar. Seu conhecimento no
provem da razo por uma conceituao ou definio lgica mas pelo seu sentir, pela
percepo da prpria incompletude. O preenchimento desse vazio, a complementao
dessa falta feita pelo valor desejado de modo global e difuso como objeto de
6 Vera Rudge Werneck
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
necessidade e que pode ser vivenciado subjetivamente como felicidade. A carncia
humana fundamental pois axiolgica e no ontolgica s podendo ser resolvida pela
apreenso do valor. Ser valor tudo aquilo que de algum modo possa satisfazer alguma
necessidade humana. O que corresponde s suas carncias. H pois um sistema de
carncias s quais corresponde um sistema de valores. carncia de vida e de bem
estar corresponde o valor sade. carncia de conhecimento corresponde o valor
verdade carncia esttica o valor beleza, carncia tica o valor do bem moral enfim,
cada necessidade humana corresponde um valor que a pode satisfazer. No significa
isso afirmar a necessidade do conhecimento intelectual, da definio da conceituao
do que seja o bem moral mas da apreenso do valor moral. Em Max Scheler encontra-se:
O que se acabou de dizer suficiente para mostrar claramente que em se rejeitando uma tica material de fins, isto uma tica que pretendia nos prescrever como bom um contedo qualquer de representao imaginativa ou como boa e realizao de um contedo deste gnero, nos no exclumos de nenhum modo portanto, uma tica material dos valores (SCHELER, 1955, p. 62).
As mudanas constantes nas escalas de valores, a velocidade das conquistas
cientficas a possibilidade de novos pontos de vista para olhar a realidade esto a exigir
referenciais de avaliao bem definidos: o que simplesmente uso, costume e o que
moral ou imoral, o que aprimora ou degrada o ser humano.
No se pode condenar algum simplesmente por no seguir os costumes. O grande
desafio centra-se ento no estabelecimento de critrios, na distino entre o relativismo
moral que situa o sujeito como nico rbitro da ao moral; e a relatividade que,
embora admita a existncia do princpio universal da moralidade, considera os
diferentes pontos de vista.
O ser humano pode ser considerado sob duas instncias; como pessoa e como
personalidade. Como pessoa um ser vivo, com uma animalidade que o faz buscar
os valores vitais, como bem estar fsico, e sade; uma racionalidade que o leva a
procurar o valor verdade, uma vontade livre que exige os valores liberdade e
responsabilidade no agir e uma afetividade que o faz tender para o amor. A pessoa
quer acima de tudo, a sua autoestima, o reconhecimento da sua dignidade. Seria o
respeito o valor que melhor corresponderia s suas necessidades fundamentais.
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao 7
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
Entende-se por respeito o reconhecimento do sagrado direito existncia. Como
uma modalidade da afetividade, o respeito manifesta-se como a atitude do homem
diante do sagrado. o valor que corresponde ao reconhecimento da existncia do
divino. Por participar de algum modo do que divino como bem mostram tanto o relato
da lenda de Prometeu, como a narrao bblica do Gnesis, pode o homem ser
considerado como sagrado. Sendo esse valor instaurado pelos homens em entes
variados como por exemplo, objetos de culto, passam tambm eles a ser considerados
como sagrados e assim, dignos de respeito.
O indivduo por ser pessoa, dotado de dignidade prpria e, por isso, merecedor de
respeito. No se pode, por isso, ferir a sua pessoa, humilh-la, coisifica-la.
Alm de ser uma pessoa tem ainda o indivduo, uma personalidade. Um sistema
de carncias e de valores individualizado prprio de cada um. Pode-se entender por
personalidade o conjunto das caractersticas prprias e das modalidades de
comportamento de um indivduo tomadas integradas e em interao.
Personalidade seria ento, nessa compreenso, um sistema de carncias de valores e,
ao mesmo tempo, um sistema de valores adquiridos, incorporados ao sujeito. O sujeito
no apenas busca os valores mas os instaura na natureza, no outro e em si mesmo. A
personalidade, portanto, no nasce pronta. Ao sistema de carncias prprio de cada um
acrescentam-se os valores adquiridos pelos processos da educao e da instruo.
Pela personalidade diferencia-se o ser humano um do outro definindo suas
caractersticas e peculiaridades. Essas diferenas vo exigir atendimentos especficos e
variados modelos de escalonamento de valores. A justia entendida como dar a cada
um o que lhe for devido pode ser considerada como o valor por excelncia para a
satisfao do que especfico de cada personalidade.
Qualquer avaliao relativa ao ser humano contempla sempre o respeito sua
pessoa e a justia para com as diferentes personalidades.
Os referenciais pessoa e personalidade poderiam servir como critrios de
avaliao da conduta moral.
Sendo o sujeito numa primeira instncia uma pessoa e numa segunda uma
personalidade deveria ser respeitado em ambas as instncias.
8 Vera Rudge Werneck
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
O princpio da moralidade em relao pessoa humana sempre o mesmo: no se
pode prejudic-la no que a caracteriza e lhe essencial: o seu bem estar fsico, a sua
sade, a sua racionalidade, a sua liberdade psicolgica e a sua afetividade. Pode haver
maior diversificao no que diz respeito s diferentes personalidades mas no no que se
refere prpria noo de pessoa humana.
Plato na sua obra Protgoras (1967, p. 321), relatando o mito de Prometeu, mostra
que Zeus para preservar a raa humana da destruio j que dotadas apenas de
inteligncia iriam matar-se uns aos outros com mais requinte e poder, manda Hermes
trazer aos homens o pudor e a justia como princpios ordenadores das cidades e lao de
aproximao entre os homens. Acrescenta ainda que essas duas qualidades deveriam,
diferentemente do conhecimento da tcnica, serem distribudas igualmente por todos os
homens para que todos participassem delas pois as cidades no poderiam subsistir se o
pudor e a justia fossem privilgio de poucos como se d com as demais artes.
Teria sido assim, graas ao pudor entendido como a reconhecimento do sagrado
direito existncia, como respeito prpria pessoa e a do outro e justia como
reconhecimento do direito do outro ao que lhe fosse devido que a humanidade ter-se-ia
perpetuado at nossos dias.
O sujeito ento caracterizado pela moralidade. Como um ser que mais do que a
animalidade tem como marca fundamental a humanidade.
Embora com significados variveis, o termo tica pode ento ser entendido como a
cincia que reflete sobre os princpios da moralidade para o estabelecimento dos
cdigos e das normas de conduta. Seria a reflexo filosfica sobre a moral.
As determinaes da tica no se reduziriam aos mores. No processo da
educao seria necessrio levar o educando a distinguir entre as determinaes da
moral e da tica e os mores muitas vezes impostos pela sociedade. Tambm os
mores, os usos, os hbitos sociais podem ser seguidos, desde que de acordo com os
princpios da moral, para o bom andamento da vida em sociedade.
Como j foi visto, no entanto, os mores no obrigam. O que no segue os usos do
seu grupo social, o que transgride os mores pode ser apenas um pioneiro, algum que
inovou, que criou uma nova moda. So inmeros os exemplos de inovaes que se
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao 9
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
contrapem aos costumes e que nem por isso possam ser considerados como imorais
apesar de toda a resistncia que encontrem nos meios sociais.
Buscando-se entender o processo do conhecimento humano, percebe-se que a
apreenso das idias feita pela razo que depois de t-las apreendido vai compar-las
formulando juzos, raciocnios, desenvolvendo hipteses e teorias que constituem o contedo
do conhecimento intelectual. A apreenso dos valores, no entanto, diferentemente, no
feita pela razo mas pela sensibilidade diante das experincias de valor.
Conhece-se o valor pela experincia, assim sendo, para a apreenso do valor moral
vo ser necessrias experincias de moralidade, as prticas, as vivncias que permitam
ou levem ao conhecimento da ao moral. Para tal, vo ser necessrias ao sujeito as
capacidades de deliberao, de deciso e de execuo do ato moral.
O educando deve ser capaz de deliberar, ou seja, de ter conhecimento de causa, de
poder medir os prs e os contras ou seja de avaliar a situao. Caso contrrio a ao
ser instintiva, guiada por impulsos, espontnea, mas no propriamente moral. Deve
ainda ser capaz de decidir, de optar livremente, para que pela ao da vontade, pelo seu
livre arbtrio, atinja o nvel da moralidade. Aes fortuitas e no decididas no so
propriamente morais.
Por fim, ainda necessria a execuo: Que no fique apenas nos nveis da
deliberao e da deciso mas que passe para o da ao,e, finalmente, para que chegue
propriamente ao nvel da moralidade.
Percebe-se que com frequncia o jovem confunde a ao moral com as convenes,
com os preconceitos, com representaes sociais com regulamentos. Ou bem que as
regras, as normas se baseiam no princpio universal da moralidade ou deixam de ter
fundamento e assim sendo, no obrigam.
bem comum a confuso entre as noes de normal e de frequente.
Pode-se entender como fundamento do normal, da normalidade, o que est de
acordo com a norma que, por sua vez deve expressar o que deve ser, o que est de
acordo com os princpios da moral. Muitas vezes, no entanto, considera-se o
frequente como normal e chega-se a absurdos como considerar algo como normal
somente porque acontece repetidamente. Ouve-se, sem espanto, afirmaes tais como:
normal ser assaltado em determinada rua, normal criana pequena trabalhando,
10 Vera Rudge Werneck
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
vendendo bala, ou pedindo esmola na rua, entre outras semelhantes. Pergunta-se:
normal? De acordo com as exigncias ticas de respeito e de justia?
So questes que exigem uma maior reflexo sobre a diferena entre usos e
comportamentos ticos.
Tambm o problema do preconceito que se liga diretamente moralidade precisa
ser analisado. O preconceito fundamenta-se no imaginrio que tem sua origem no
inconsciente. As primeiras impresses sobre um objeto oferecem no propriamente um
conhecimento, uma possibilidade de conceituao, mas uma interpretao que vai
permitir apenas uma prconceituao ou seja um conhecimento preconceitual
resultante de uma interpretao imaginria do real. Muitas vezes, as normas de
condutas so estabelecidas, no pelos princpios fundamentais da moral mas pelos
preconceitos resultantes de interpretaes imaginrias sobre o real. Essas normas,
regras, julgamentos levam ao chamado moralismo que se caracteriza pela falta de
fundamentos que as justifiquem.
Quando se justifica uma ao, um posicionamento, um comportamento pelos
contedos da cincia, da filosofia ou da religio no se tem na verdade um preconceito
mas uma conceituao que pode estar correta ou no em relao aos referenciais
tomados. Pode-se errar por distoro, por m compreenso, pouca informao ou
qualquer outra causa, o que no caracteriza o preconceito. Erra-se por preconceito
quando se toma uma posio injustificada ou injustificvel.
A reflexo sobre esses temas pode contribuir para a formao moral do educando,
ajudando-o a avaliar as situaes, a cultura e os saberes em geral conduzindo-o ao seu
aprimoramento seja enquanto pessoa humana seja enquanto personalidade
individualizada e assim a tornar mais eficiente e eficaz o processo da educao.
Referncias
ABBAGNANO, N. Dicionrio de Filosofia. So Paulo: Martins Fontes, 2000.
SCHELER, M. Le Formalisme em thique et Lthique Materiales ds Valeurs. France: Sant Armand (ehei), 1955.
GOBRY, U. De La Valeur. Paris: Vander/Vauwelaerts, 1975.
Uma Reflexo Sobre a Avaliao da Relao tica e Educao 11
Meta: Avaliao | Rio de Janeiro, v. 5, n. 13, p. 1-11, jan./abr. 2013
GOERGEN, P. Educao e valores no mundo comtemporneo. Educao & Sociedade, Campinas, v. 26, n. 92, out. 2005.
MARCONDES, D. Textos bsicos de tica. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
PLATO. Protgoras. Paris: Societ ddition Ls Belles Lettres, 1967.
WERNECK, V. R. Educao e Sensibilidade. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 1996.
Recebido em: 27/06/2011
Aceito para publicao em: 25/03/2013