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UNINORTE JURÍDICO Junho 2012 | Nº 003

Uninorte Juridico_#3

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Edição número 3 do Informativo Jurídico, do curso de Direito do Centro Universitário do Norte.Editorial - Diretor da Escola de HumanasSessão: Escreva DireitoOpinião: A nova lei da prisãoVisão Acadêmica: Breves notas sobre os requisitos de admissibilidade dos recursos do Processo CivilVisão Acadêmica: Cotas étnico-raciais: a igualdade que reconhece as diferençasArtigo Científico: A relevância do Princípio da ofensividade para o direito penal modernoAconteceu: Parceria com Sejus; 2° UFC Jurídico; Iniciação científica; Mutirão; Provão OAB;Notas de Jurisprudência

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Abril 2012 | Informativo Jurídico 3

UNINORTEJURÍDICO

Junho 2012 | Nº 003

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Informativo Jurídico | Junho 20122

Estimada Comunidade Acadêmica,

É com grande alegria que me dirijo a vocês, ao final deste primeiro semestre de 2012. O nosso Uninorte Jurídico está cada vez mais robusto. Na primeira edição tivemos o comentário de uma deci-são judicial pelo Prof. Maurílio Maia, e agora, em nossa 3ª edição, já crescemos e, além do usual comentário sobre jurisprudência, te-mos artigos de professores e alunos, e a espetacular coluna “Escreva Direito”, da Profª. Maria Lenir Pinheiro; isto demonstra que esta-mos conseguindo atingir o nosso objetivo, que é oferecer Ensino de Qualidade. Já alcançamos resultados positivos, como a expressiva aprovação no VI Exame da OAB, foram 49 alunos aprovados, nosso melhor resultado até aqui. Para o próximo semestre, teremos um grande desa-fio, pois faremos a prova do ENADE. Estamos confiantes, pois temos um time de qualidade. Parabéns a toda equipe pela dedicação e comprometimento!

Forte Abraço!

Prof. Dr. Antonio Geraldo HarbDiretor da Escola de Ciências Humanas e Sociais.

EDITORIAL

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Junho 2012 | Informativo Jurídico 3

Instigados pelas constantes pérolas extraídas da labuta na seara do Direito e ainda, privilegiando a campanha da simplificação jurídica, divulgada pela Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), abraçada pela corrente ino-vadora dos profissionais do Direito, elucidamos algumas dúvidas, para não arranharmos o vernáculo.

* Anexo, anexa ou em anexo?Anexo é um adjetivo, portanto, ele deve combinar com

o nome ao qual se refere. Assim, “a foto está anexa”, “o documento está anexo”; faz-se a concordância.

EM ANEXO é uma expressão invariável, formada por preposição seguida de adjetivo, considerada por mui-tos gramáticos como incorreta e nem um pouco elegante. Sugere-se que evite seu uso; no entanto, se usá-la, lembre--se que é invariável. Exemplo: “foto em anexo”, docu-ment em anexo”, “folha em anexo”.

* Onde / QuandoA escolha do conetivo correto na indicação de tempo

e lugar não parece ser preocupação de muitos redatores. Exemplo: Estamos no verão, onde costuma fazer calor. Onde indica lugar, mas verão não é lugar, e sim um perío-do de tempo, devendo-se recorrer a um conetivo que ex-presse tempo, como quando: Estamos no verão, quando costuma fazer calor.

* Onde / AondeOnde indica lugar fixo: Onde estás? Aonde indica movi-

mento, deslocamento: Aonde vais? Truque: tente trocar por para onde; se a troca der certo,

o correto será aonde; se não der, será onde: Estou no Rio de Janeiro, onde faz calor. Vou aonde o destino me levar.

* Horas – a forma correta de abreviar• Hora redonda: 8 horas; 9 horas; etc. Ou 8h; 9h; etc. (sem “s” e sem ponto depois de “h”).• Hora quebrada: 8h30min; 9h43min, etc. (sem dar espaços entre os elementos e sem usar ponto depois de “h” e “min”).* VEM “ATRAVÉS” DE SEU ADVOGADO?A palavra através tem apenas um significado: passa-

gem de um lado para outro, atravessar.É muito comum ela ser empregada com outros senti-

dos (errados), como:- Encontrei um emprego através de uma agência (A

frase está errada, pois o através não tem o sentido correto. A frase correta seria: Encontrei um emprego por inter-médio de uma agência)

Exemplo de uso correto da palavra “através”: Consigo enxergar aquela cidade distante através de binóculos ou vejo árvores através da janela.

Assim, não atravesse o advogado; use, em suas peças, vem “por” seu advogado.

Até a próxima edição!

Prof. Maria LenirMestra em Ciências Jurídicas pela UNIVALI

Escreva DIREITO!

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Informativo Jurídico | Junho 20124

Luís Eduardo ValoisAdvogado e professor universitário

Como advogado e como cidadão, recebi com muita satisfação, a notícia da promulgação da chamada “nova lei da prisão. Não poderia, portanto, furtar-me de emitir uma modesta opinião acerca do assunto.

Os arautos da lei e da ordem, mal a lei foi trazida ao co-nhecimento de todos, já começam a bradar histericamente que agora vai ser quase impossível prender alguém. Muito que bem, melhor assim, pois não esqueçam que o homem nasce livre e, em uma sociedade que se proclama civilizada, só deve ser preso quando a Justiça manifestar-se definitiva-mente sobre sua culpabilidade!

Tecnicamente, a nova lei dá ao magistrado opções va-liosas no sentido de limitar a prisão antes da sentença, a casos de extrema e radical necessidade. O juiz poderá determinar medidas outras, que não a custódia, quan-do a o caso concreto assim indicar. Ao contrário do que pregam os concubinos das prisões provisórias, elas não morreram, apenas foram colocadas no lugar ao qual pertencem dentro do sistema, qual seja, o de exceção e, jamais, regra, como querem alguns.

Porém, de nada adianta a lei adequar-se ao estado demo-crático de direito que nos foi presenteado pela Constitui-ção Cidadã, se os responsáveis por aplicar o direito não se deixarem dominar pelos ideais de justiça e de equidade. É preciso que aqueles que acusam, sejam menos vaidosos e que aqueles que julgam sejam mais corajosos a ponto de contrariar a voz das ruas que, por vezes, enebriada por dis-cursos tão inflamados, quanto irresponsáveis, tende a jul-gar e condenar antecipadamente, esquecendo de garantias conseguidas à custa do sangue, suor e lágrimas de muitos

filhos desta Terra de Santa Cruz.De minha parte, ao longo desses vinte e três anos de

atuação profissional, quinze dos quais dedicados ao ma-gistério superior, tenho procurado passar aos meus alu-nos ensinamentos no sentido de que fazer justiça nem sempre é prender, nem sempre é condenar, ao contrá-rio, fazer justiça (fim maior do direito) é, em síntese, tentar dar à lei uma interpretação adequada aos princí-pios garantistas, sem ter raiva do acusado, sem ver nele um ser menor, irrecuperável e nefasto à sociedade, mas vendo nele um ser humano, sentindo que ali onde ele está, pode estar qualquer pessoa, até mesmo quem o está julgando e, por isso mesmo, a lei deve ser igual para todos, não só formalmente, mas materialmente, por as-sim dizer, efetivamente!

Não há de tardar o dia em que o legislador ordiná-rio, num ato de absoluto destemor e coragem, cuidará de por fim a essa brutalidade que é a prisão antes da sentença condenatória. Ao invés de se preocupar com tamanha perversidade, é mais útil à sociedade que se criem mecanismos para o trâmite rápido do processo, com a prestação jurisdicional breve e consistente. Muito melhor que prender cidadãos infratores antecipadamen-te, é dotar o judiciário de estrutura física e independên-cia financeira, é preparar os juízes, é fazê-los aceitar que nada são além de funcionários públicos e que, como tal, devem servir ao público com eficiência, denodo e res-ponsabilidade, fazê-los entender que o advogado não é estorvo, mas sim, figura independente e que representa a garantia contra a investida do Estado.

A nova lei da prisão

Opinião

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Junho 2012 | Informativo Jurídico 5

Prof. Maurilio Casas MaiaMestre em ciências jurídicas pela UFPB.

O exame recursal é submetido à análise sob dois enfo-ques diferentes. Em primeiro lugar, um recurso deverá passar pelo “juízo da admissibilidade” e, somente após a aprovação nesse primeiro juízo supracitado, terá o seu mé-rito aferido – “juízo de mérito recursal”.

No âmbito do juízo de admissibilidade recursal, fala-se nos seguintes elementos: legitimidade recursal, interesse recursal, inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer, preparo, tempestividade e regularidade formal.

Segundo a doutrina de José Carlos Barbosa Moreira (MOREIRA, 2007, p. 115-116), os pressupostos recursais se dividem em dois grandes grupos: (I) Requisitos de Ad-missibilidade Intrínsecos; (II) Requisitos de Admissibilida-de Extrínsecos.

Os requisitos de admissibilidade intrínsecos são aque-les inerentes ao “direito” de recorrer. Em outras palavras, os requisitos intrínsecos é que definem se o direito de re-correr existe ou não. Eles estão diretamente relacionados às condições da ação (MELLO, 2010, p. 88), possuindo a seguinte divisão tripartite: (I.a) Interesse de agir recursal; (I.b) Legitimidade recursal e; (I.c) Inexistência de fato ex-tintivo ou impeditivo do direito de recorrer.

Noutro giro, os requisitos de admissibilidade extrínsecos se referem ao correto “exercício” do direito de recorrer e, nos termos da lição de Barbosa Moreira, são os seguintes: (II.a) Tempestividade; (II.b) Regularidade Formal e; (II.c) Preparo.

A classificação dos requisitos de admissibilidade dos

recursos não é uniforme na doutrina, sendo também re-levante o estudo da classificação proposta por Seabra Fa-gundes (1946, p. 29), citado por Flávio Cheim Jorge (2009, p. 98). Para Seabra Fagundes os requisitos de admissibi-lidade do recurso devem ser agrupados em: (a) “objeti-vos” (adequação, tempestividade, preparo e motivação) e (b) “subjetivos” (legitimidade e interesse), os primeiros representando as características do recurso interposto e os segundos são elementos atinentes à pessoa do recorrente.

Dessa forma, o julgador deverá analisar, em um primeiro momento, se o direito de recorrer existe e tal análise é feita à luz dos requisitos intrínsecos recursais. Destarte, se pre-sentes os requisitos intrínsecos, o julgador ficará autoriza-do à análise da segunda etapa do juízo de admissibilidade, aquela avaliadora da existência dos requisitos extrínsecos dos recursos, pela qual se sabe se o direito de recorrer foi corretamente exercitado. Existentes tais requisitos, final-mente, o recurso poderá ser conhecido e ter seu mérito avaliado, concretizando-se então a avaliação bifásica do recurso, nos juízos de admissibilidade e mérito.

Referências:FAGUNDES, M. Seabra. “Dos recursos ordinários em

matéria civil”. Rio de Janeiro: Forense, 1946.JORGE, Flávio Cheim. “Teoria Geral dos Recursos”. 4ª

ed. São Paulo: Editora RT, 2009.MELLO, Rogério Licastro Torres. “Atuação de ofício

em grau recursal”. São Paulo: Saraiva, 2010.MOREIRA, José Carlos Barbosa. “O novo Processo

Civil Brasileiro”. 25ª ed. Rio de Janeiro: editora Forense, 2007.

Breves notas sobre os requisitos de admissibilidade dos recursos no Processo Civil

Visão Acadêmica

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Visão Acadêmica

Cássio Glauber Santos BernardesAluno do 7º Período do Curso de Direito do Uninorte – Laureate

O julgamento da ADPF 186 pelo Supremo Tribunal Federal conferiu constitucionalidade à reserva de vagas por critérios étnico-raciais para o acesso ao ensino superior. A questão que suscitou discussões acirradas entre defensores e opositores está pacificada, pelo menos no âmbito do Judiciário.

Há de se reconhecer a importância das ações afirmativas, não para os abastados de oportunidade, obviamente, mas para os preteridos por um modelo que até então gerava desigualdades irreversíveis. As referidas ações vieram tarde, mas ainda em tempo de começar uma mudança significativa no perfil da população brasileira.

O aumento de vagas no ensino superior é notável. Seria, entretanto, inó-cuo se continuasse a privilegiar apenas “os superiores”. As cotas étnico--raciais, taxadas de racistas pelos críticos, significam o resgate da dignidade de muitos brasileiros marginalizados e sem perspectiva.

A tão conhecida dívida histórica é bem mais atual do que possa imaginar, de fácil percepção no dia a dia. Quem nega a desigualdade racial neste país o faz por um dos motivos: nunca sofreu por ela ou vive em outro Brasil.

Cotas étnico-raciais: a igualdade que reconhece as diferenças

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Artigo Científico

Alinne de Souza MarquesEstudante 8º período do Curso de Direito d Centro Universitário do Norte - UninorteProfessor Orientador: Carlos Alberto

1 - Os limites do ius puniendi valem em relação a todos os momentos: de elaboração da norma, de sua aplicação e execução. Assim existem limites (puramente) “formais” (“nullum crimen nulla poena sine praevia lege”) bem como os “materiais” (intervenção mínima do Direito penal, exclusiva proteção de bens jurídicos, princípio da culpabilidade, da ofensividade etc.).2 - MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009, p. 35.3 - PALAZZO, Francesco C. Valores Constitucionais e direito penal. Trad. Gérson Pereira dos Santos. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 80.4 - GOMES, Luiz Flávio. Princípio da ofensividade no direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 41.

Na doutrina brasileira a função do Direito Penal é a proteção dos bens jurídicos fundamentais, dos bens jurí-dicos mais relevantes. No Estado Democrático de Direito é necessário que a conduta considerada criminosa tenha realmente conteúdo de crime. A Constituição, norma fun-damental do Direito, deve limitar, através do Direito Penal, o poder do Estado de punir o infrator da norma penal, o ius poniendi1. Portanto, o Direto Penal (objetivo) acaba constituindo uma espécie de limite ou barreira para o ius puniendi.

Princípios são os valores fundamentais que inspiram a criação e a manutenção do sistema jurídico. No Direito Pe-nal os princípios tem a função de orientar o legislador or-dinário, no intuito de limitar o poder punitivo estatal me-diante a imposição de garantias aos cidadãos. Da dignidade nascem os demais princípios orientadores e limitadores do Direito Penal, dentre eles o princípio da ofensividade ou da lesividade2.

A infração penal só ocorre quando a conduta tiver ofe-

recido ao menos perigo de lesão ao bem jurídico. Atende a manifesta exigência de delimitação do Direito Penal, tanto em nível legislativo como no âmbito jurisdicional.

De acordo com o clássico ensinamento de Francesco Palazzo:

Em nível legislativo, o princípio da lesividade (ou ofensividade), enquanto dotado de natureza constitucional, deve impedir o legislador de confi-gurar tipos penais que já hajam sido constrídos, “in abstracto”, como fatores indiferentes e preexisten-tes à norma. Do ponto de vista, pois, do valor e dos interesses sociais, já foram consagrados como inofensivos. Em nível jurisdicional-aplicativo, a in-tegral atuação do princípio da lesividade deve com-portar, para o juiz, o dever de excluir a subsistência do crime quando o fato, no mais, em tudo se apre-senta na conformidade do tipo, mas, ainda assim, concretamente é inofensivo ao bem jurídico especí-fico tutelado pela norma.3

A relevância do Princípio da ofensividade para o direito penal moderno

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A punição é uma agressão em sua fase ainda incipiente, embora aparentemente útil do ponto de vista da defesa so-cial, representa ameaça à proteção do indivíduo contra uma atuação demasiadamente intervencionista do Estado.

Luiz Flávio Gomes nos ensina que o princípio do fato não permite que o direito penal se ocupe das intenções e pensamentos das pessoas, do seu modo de viver ou de pensar, das atitudes internas (enquanto não exteriorizada a conduta delitiva).4

A atuação repressiva do Direito Penal pressupõe que haja um efetivo e concreto ataque a um interesse social-mente relevante, isto é, o surgimento de, pelo menos, um real perigo ao bem jurídico.

O princípio da ofensividade considera inconstitucio-nais todos os chamados “delitos de perigo abstrato”5, pois, segundo ele, não há crime sem comprovada lesão ou perigo de lesão a um bem jurídico. Não se confunde com o princípio da exclusiva proteção do bem jurídico, segundo o qual o direito não pode defender valores me-ramente morais, éticos ou religiosos, mas tão somente os bens fundamentais para a convivência e o desenvol-vimento social. Na ofensividade, somente se considera a existência de uma infração penal quando houver efetiva lesão ou real perigo de lesão ao bem jurídico. No primei-ro, não há limitação quanto aos interesses que podem ser tutelados pelo Direito Penal; no segundo, só se considera existente o delito quando o interesse já selecionado sofrer

um ataque ou perigo efetivo, real e concreto.A doutrina moderna refuta o reconhecimento do perigo

abstrato, em razão da adoção, pela Constituição Federal, do princípio da lesividade, comando que pode ser extraído, implicitamente, do artigo 98, I6, do aludido diploma. Esse dispositivo trata dos juizados especiais e determina a sua competência para as infrações penais de menor potencial ofensivo, deixando evidente a exigência de ofensividade da conduta, para que essa seja considerada fato típico.7

A função principal da ofensividade é a de limitar a pre-tensão punitiva estatal, de maneira que não pode haver proibição penal sem um conteúdo ofensivo a bens jurí-dicos.8

O legislador deve se abster de formular descrições in-capazes de lesar ou, pelo menos, colocar em real perigo o interesse tutelado pela norma. Caso isto ocorra, o tipo deverá ser excluído do ordenamento jurídico por incom-patibilidade vertical com o Texto Constitucional.

Guilherme Nucci preceitua que o princípio da ofensi-vidade não deve ser analisado como existência autônoma, distinto do princípio da intervenção mínima. Em home-nagem a ultima ratio9, deixa-se ao Direito Penal o âmbito da tipificação das condutas mais sérias, efetivamente lesi-vas a interesses relevantes. Punir pensamentos, por exem-plo, seria o ápice da intervenção de privacidade do in-divíduo, atacando a intervenção mínima. O Estado deve respeitar a esfera íntima do cidadão. Se o fizer, haveria

5 - Crimes de perigo são aqueles que se consumam, tão somente, com a mera possibilidade de dano. Por conseguinte, o perigo pode ser dividido em concreto, quando precisa ser comprovado, e abstrato, originário de uma presunção trazida pela lei em um determinado caso concreto, diante de um comportamento positivo ou negativo.6 - Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau.7 - GOMES, Luiz Flávio. A Constituição Federal e os crimes de Perigo Abstrato. 15 Fev 2007. Disponível em: http://www.lfg.com.br/artigo/20070214091633277_a-constituicao-federal-e-os-crimes-de-perigo-abstrato.html. Acesso em: 26 Mai 2012.8 - CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 13 ed., v. 1, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 24. 9 - O Direito Penal é a proteção subsidiária de bens jurídicos essenciais à tranqüilidade social, porém como ultima ratio, ou seja, como última opção de controle, tendo em vista o fracasso dos outros meios formais de controle social em relação à proteção dos bens da vida relevantes.10 - NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 85.

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respeito à intervenção mínima e, como consequência, ao princípio da ofensividade. Em outras palavras, não é todo bem jurídico protegido que merece proteção do Direito Penal. Existem outros ramos do direito para isso, visto que podemos encontrar situações ofensivas a determina-dos bens, mas inofensivas em matéria penal.10

Toda norma penal em cujo teor não se vislumbrar um bem jurídico claramente definido e dotado de um mínimo de rele-vância social, será considerada nula e materialmente incons-titucional. Em vista disso, somente restará justificada a inter-venção do Direito Penal quando houver um ataque capaz de colocar em concreto o efetivo perigo de um bem jurídico.

Delineando-se em termos precisos, a noção de um bem jurídico poderá exercer papel fundamental como mecanismo garantidor e limitador dos abusos repressivos do Poder do Estado. Sem afetar o bem jurídico, não existe infração penal.

Subsiste a possibilidade de tipificação dos crimes de perigo abstrato em nosso ordenamento jurídico, como legítima estra-tégia de defesa do bem jurídico contra agressões em seu estágio

ainda incipiente, reprimindo-se a conduta, antes que ela venha a produzir um perigo concreto ou um dano efetivo.

Trata-se de cautela reveladora de zelo do Estado em proteger adequadamente certos interesses. Eventuais ex-cessos podem, no entanto, ser corrigidos pela aplicação do princípio da proporcionalidade. Assim, a ofensivida-de ou lesividade deve estar presente no contexto do tipo penal incriminador, para validá-lo, legitimá-lo, sob pena de se esgotar o Direito Penal em situações inócuas e sem propósito, especialmente quando se contrasta a conduta praticada com o tipo de sanção para ela prevista como regra, ou seja, a pena privativa de liberdade. Assim, o Di-reito Penal só pode atuar quando a conduta do agente ofender um bem jurídico, não sendo suficiente que essa se mostre apenas como imoral ou inadequada. Respalda-do no princípio da ofensividade ou lesividade, a aplicação da legislação penal só se aplica quando da efetiva ofensa a um bem jurídico tutelado, sob pena de estar se ultrapas-sando os limites do ius puniendi do estado.

10 - NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 85.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 13 ed., v. 1, São Paulo: Saraiva, 2009.

MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

NOTAS

1. GOMES, Luiz Flávio. Limites do “ius puniendi” e bases principiológicas do garantismo penal. 10 Abr 2007. Disponível em: http://www.lfg.blog.br. Acesso em 26 Mai 2012.2. MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2009, p. 35.3. PALAZZO, Francesco C. Valores Constitucionais e direito penal. Trad. Gérson Pereira dos Santos. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 80.4. GOMES, Luiz Flávio. Princípio da ofensividade no direito penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 41.5. GOMES, Luiz Flávio. A Constituição Federal e os crimes de perigo abstrato. 15 Fev de 2007. Disponível em: http://www.lfg.com.br/artigo/20070214091633277_a-constituicao-federal-e-os-crimes-de-perigo-abstrato.html. Acesso em: 27 Mai 2012.6. BRASIL. Constituição ( 1988 ). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988, Art. 98, I.7. GOMES, Luiz Flávio. A Constituição Federal e os crimes de Perigo Abstrato. 15 Fev 2007. Disponível em: http://www.lfg.com.br/artigo/20070214091633277_a-constituicao-federal-e-os-crimes-de-perigo-abstrato.html. Acesso em: 26 Mai 2012.8. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal – Parte Geral. 13 ed., v. 1, São Paulo: Saraiva, 2009, p. 24. 9. ROBALDO, José Carlos de Oliveira. Direito Penal como ultima ratio. 08 Abr 2009. Disponível em http://www.lfg.com.br. Acesso em: 27 Mai 2012.10. NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p. 85.

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Informativo Jurídico | Junho 201210

O Centro Universitário do Norte/Laureate e a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Amazonas (Sejus) estão trabalhan-do para fechar parceria envolvendo a comunidade acadêmica e setores vinculados à Secretaria Municipal,

tais como as Unidades Prisionais e os PROCON`s.

Na manhã do dia 21/5,o secretá-rio da Sejus, Márcio Rys Meirelles, reuniu-se com a coordenadora do curso de Direito da Uninorte, Mark-lea Ferst, a diretora da Escola de Ad-

ministração Penitenciária (Esap) da Sejus, Sheryde Karoline Lima, e o diretor da Escola de Ciências Huma-nas e Sociais da Uninorte, Geraldo Harb, com o propósito de trabalhar a parceria em prol da sociedade e da comunidade acadêmica.

Aconteceu

Parceria à vista: SEJUS e UNN

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Junho 2012 | Informativo Jurídico 11

Aconteceu

O UNN realizou o “II UFC Jurídico”, termo adotado carinhosamente pelos alunos para designar a rodada de debates entre profes-sores e acadêmicos, coordenado pela prof. Evelynn Flores. O debate versou sobre o po-lêmico tema do aborto de anencéfalos.

No dia 10/06 aconteceu a primeira reunião para início dos gru-pos de pesquisa. O professor dr. Erivaldo Cavalcanti esteve a frente dos trabalhos que prometem a revelação de novos talen-tos jurídicos na comunidade acadêmica.

Em 5/5/2012, o UNN realizou um grande simulado na sede de sua Pós-graduação, voltado à preparação dos seus acadêmicos de direito que se submeteriam ao VII Exame de Ordem da OAB. O Intuito do trabalho é simular as condições às quais os alunos são submetidos e, dessa forma, facilitar sua aprovação.

Professores do Centro Universitário do Norte comparecem ao local de provas do VII Exame de Ordem da OAB com o fim de prestigiar os alunos submetidos ao exame nacional unificado.

No dia 25/5/2012, as áreas de Direito, Saúde e Assistência Social do Centro Uni-versitário do Norte, na sede de Associação Jesus Gonçalves (Colônia Antônio Aleixo), realizou mais mil atendimentos durante a execução do Projeto Justiça Itinerante, sob a coordenação do Núcleo de Práticas Jurídi-cas do UniNorte. Foram mobilizados 8 pro-fessores, quatro advogados e mais de 98 alunos, dentre os cursos de Direito, Serviço Social, Psicologia, Enfermagem e Estética e Cosmética.

Durante o mutirão, realizou-se, além do atendimento jurídico, palestras sobre edu-cação no trânsito, primeiro emprego, alei-tamento materno e serviços como aferição de pressão, corte de cabelo, modelagem de sobrancelha e outros.

Apoiaram ainda o trabalho, o Corpo de Bombeiros, Instrans e as Polícias Civis e Militares.

“II UFC Jurídico” Iniciação científica no UNN

UNN realiza provão simulado da OAB

UNN ao lado dos alunos no VII Exame de Ordem da OAB

Mutirão Social do UNN atende mais de mil pessoas

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Informativo Jurídico | Junho 201212

IMPROBIDADE ADMINIS-TRATIVA. DEFESA PRÉVIA. NULIDADE.

A falta de notificação do acusado para apresentar defesa prévia nas ações submetidas ao rito da Lei de Improbi-dade Administrativa (art. 17, § 7º, da Lei n. 8.429/1992) é causa de nulidade relativa do feito, devendo ser alegada em momento oportuno e devidamente comprovado o prejuízo à parte. Com esse entendimento, a Turma negou provimento ao recurso, mantida a condenação do recorrente. Preceden-tes citados: REsp 1116932-SP, DJe

14/10/2009, e REsp 1.034.511-CE, DJe 22/9/2009. (STJ, EDcl no REsp 1.194.009-SP, Rel. Min. Arnaldo Es-teves Lima, 1ª Turma, julgados em 17/5/2012).

ATO DE IMPROBIDADE. PREFEITO. AQUISIÇÃO DE CA-MINHÃO. VEÍCULO GRAVADO.

Comete ato de improbidade admi-nistrativa prefeita municipal que au-toriza a compra de um caminhão de carga, sem examinar a existência de gravames que impossibilitam a sua transferência para o município. In

casu, o veículo encontrava-se alienado fiduciariamente a uma financeira e pe-nhorado pelo Banco do Brasil. Portan-to, mostra-se evidenciado o dano ao patrimônio público e a culpa na atua-ção negligente da gestora pública, pois constitui seu dever legal a garantia e a proteção do patrimônio público, asse-gurando o efetivo e adequado cumpri-mento das obrigações do fornecedor contratado com relação à entrega do objeto, antes de liberar o pagamento devido. (STJ, REsp 1.151.884-SC, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, julgado em 15/5/2012).

DIREITO CONSTITUCIONAL EADMINISTRATIVO

Notas de Jurisprudência

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Junho 2012 | Informativo Jurídico 13

RECURSO REPETITIVO. NO-TIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL. CARTÓRIO DE COMARCA DI-VERSA.

A Seção, ao apreciar o REsp sub-metido ao regime do art. 543-C do CPC e Res. n. 8/2008-STJ, firmou o entendimento de que é válida a noti-ficação extrajudicial realizada por via

postal, com aviso de recebimento, no endereço do devedor, ainda que o título tenha sido apresentado em cartório de títulos e documentos situ-ado em comarca diversa do domicílio daquele. Precedentes citados: REsp 1.283.834-BA, DJe 9/3/2012, e REsp 1.237.699-SC, DJe 18/5/2011. (STJ, 2ª Seção, REsp 1.184.570-MG, Rel.

Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 9/5/2012).

PETIÇÃO ELETRÔNICA. ADVOGADO PÚBLICO. NOME QUE NÃO CONSTA NO CER-TIFICADO DIGITAL.

Em preliminar, a Turma entendeu ser possível o conhecimento de peti-

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ção eletrônica encaminhada por advo-gado representante ex lege de pessoa jurídica de direito público, mesmo que não seja o titular do certificado digital utilizado para assinar a transmissão eletrônica do documento. Para o Min. Relator, o certificado digital gera uma presunção técnica de autoria (auten-ticidade), de identificação única entre o titular desse certificado e o arquivo de dados que ele subscrevera. Tal fato possibilita o conhecimento do recur-so ou petição assinada por represen-tante processual que decorra da pró-pria lei (como é o caso dos advogados públicos), mesmo que conste, no documento assinado digitalmente, o nome de outro procurador. No méri-to, o recurso especial não foi conheci-do, pois o tribunal de origem decidiu a questão com base em legislação local, o que atrai o óbice da Súm. n. 280/STF. (STJ, Informativo n. 498, 2ª Tur-ma, AgRg no REsp 1.304.123-AM, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 22/5/2012.).

HC. EXECUÇÃO DE DÉBITO ALIMENTAR. PRISÃO CIVIL. NATUREZA DAS VERBAS.

Apenas o inadimplemento de ver-bas de caráter alimentar autoriza a execução nos termos do rito previsto no art. 733 do CPC. A verba destina-da à ex-esposa para manutenção de sítio – que não constitui sua mora-

dia – até a efetivação da partilha dos bens comuns do casal não tem natu-reza jurídica de alimentos. Logo é in-suficiente para embasar o decreto de prisão civil por dívida alimentar. Na espécie, tal verba foi estabelecida com o objetivo de impedir que a ex-espo-sa, responsável pela administração do bem comum do casal até a partilha, retirasse da sua pensão alimentícia, destinada, única e exclusivamente, a sua subsistência, o valor necessário ao custeio de outras despesas, no caso, a manutenção de bem imóvel de res-ponsabilidade de ambos os litigantes. (Informativo 498/STJ, 3ª Turma, HC 232.405-RJ, Rel. Min. Massami Uye-da, julgado em 22/5/2012).

DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CDC. DEFEITO NA PRESTA-ÇÃO DE SERVIÇO.

A Turma, ao rever orientação do-minante desta Corte, assentou que é incabível a denunciação da lide nas ações indenizatórias decorrentes da relação de consumo seja no caso de responsabilidade pelo fato do pro-duto, seja no caso de responsabili-dade pelo fato do serviço (arts. 12 a 17 do CDC). Asseverou o Min. Re-lator que, segundo melhor exegese do enunciado normativo do art. 88 do CDC, a vedação ao direito de de-nunciação da lide não se restringiria exclusivamente à responsabilidade

do comerciante pelo fato do produ-to (art. 13 do CDC), mas a todo e qualquer responsável (real, aparen-te ou presumido) que indenize os prejuízos sofridos pelo consumidor. Segundo afirmou, a proibição do direito de regresso na mesma ação objetiva evitar a procrastinação do feito, tendo em vista a dedução no processo de uma nova causa de pe-dir, com fundamento distinto da formulada pelo consumidor, qual seja, a discussão da responsabilidade subjetiva. Destacou-se, ainda, que a única hipótese na qual se admite a in-tervenção de terceiro nas ações que versem sobre relação de consumo é o caso de chamamento ao processo do segurador – nos contratos de se-guro celebrado pelos fornecedores para garantir a sua responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço (art. 101, II, do CDC). Com base nesse entendimento, a Turma negou provimento ao recurso especial para manter a exclusão de empresa pres-tadora de serviço da ação em que se pleiteia compensação por danos morais em razão de instalação inde-vida de linhas telefônicas em nome do autor e posterior inscrição de seu nome em cadastro de devedores de inadimplentes. (Informativo 498/STJ, 3ª Turma, REsp 1.165.279-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseveri-no, julgado em 22/5/2012)

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INTERROGATÓRIO. VIDEO-CONFERÊNCIA.

A Turma reafirmou que o interro-gatório do acusado realizado por vide-oconferência antes da regulamentação do procedimento por lei federal (Lei n. 11.900/2009) consubstancia nulidade absoluta, pois viola o princípio consti-tucional do devido processo legal, por restringir a defesa do acusado sem fun-damentação legal idônea. In casu, tanto o interrogatório quanto a instrução cri-minal se valeram do expediente de te-leaudiência. Além disso, à época de sua realização (15/6/2007), não havia lei federal que respaldasse o ato, existindo, tão somente a Lei n. 11.819/2005-SP, posteriormente declarada inconstitucio-nal pelo STF. Assim, consignou-se que a realização do interrogatório judicial por meio de videoconferência, antes da vi-gência da Lei n. 11.900/2009, constitui causa de nulidade absoluta, pois, como dito, opõe-se nitidamente ao interesse público na preservação do devido pro-cesso legal. Precedentes citados do STF: AI 820.070-SP, DJe 1º/2/2011; do STJ: RHC 26.190-SP, DJe 1º/8/2011; HC 193.025-SP, DJe 21/9/2011, e HC

179.922-SP, DJe 11/5/2011. (Informa-tivo 498/STJ, 5ª Turma, HC 193.904-SP, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador convocado do TJ-RJ), julgado em 22/5/2012).

DEFENSOR. INTIMAÇÃO PESSOAL. AUSÊNCIA.

Na espécie, a paciente foi condenada à pena de nove anos e quatro meses de reclusão em regime inicial fechado, além do pagamento de 120 dias-multa no va-lor mínimo legal, pela prática do delito descrito no art. 12, caput, c/c art. 18, IV, e art. 14 da Lei n. 6.368/1976. Em grau de apelação, essa condenação foi reduzida a oito anos e quitação de 120 dias-multa mínimos. Pretende-se, agora, no habeas corpus, entre outros temas, a nulidade do julgamento da apelação por falta de intimação pessoal do defensor da paciente, visto que isso ocasionou a falta de interposição de recurso contra o acór-dão proferido. Neste Superior Tribunal, é pacífico o entendimento de que a au-sência de intimação pessoal do defensor público ou dativo acerca da data apraza-da para o julgamento do apelo é causa de nulidade absoluta, por cerceamento de

defesa, a teor do disposto no art. 370 do CPP e na Lei n. 1.060/1950. Entretanto, a intimação pessoal a que se refere o art. 370 do CPP somente é exigível quando se tratar de defensor público ou dativo. In casu, cuidou-se de defensor consti-tuído, pois a paciente nomeou advoga-dos para promover a sua defesa. Além disso, segundo informações prestadas pelo tribunal a quo, os patronos foram devidamente intimados da inclusão do apelo em pauta de julgamento (em que constou, de forma correta, o número do processo, o nome da apelante e de seus advogados), por meio de publicação do respectivo decisório no órgão oficial de imprensa. Dessa forma, consignou-se que a falta de intimação pessoal do ad-vogado nomeado pela própria paciente acerca da data do julgamento do recur-so não consubstancia nulidade proces-sual, não havendo, portanto, que falar em mitigação do exercício do direito de ampla defesa. Precedentes citados: HC 72.531-SP, DJ 285/2007; HC 213.818-SP, DJe 28/2/2012, e HC 98.562-SP, DJe 3/11/2009. (Informativo 498/STJ, 5ª Turma, HC 187.757-SP, Rel. Min. Gil-son Dipp, julgado em 22/5/2012)

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ISENÇÃO. PIS. COFINS. TRANSPORTE DE MERCADO-RIAS.

O transporte interno de mercado-rias entre o estabelecimento produtor e o porto ou aeroporto alfandegado, ainda que posteriormente exporta-

das, não configura transporte inter-nacional de cargas de molde a afastar a regra de isenção do PIS e da Cofins prevista no art. 14 da MP n. 2.158-35/2001. (STJ, REsp 1.251.162-MG, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, jul-gado em 8/5/2012).

Goodyear pagará horas extras a empregado que gastava trinta mi-nutos com higienização.

Um ajudante de produção que trabalhava na fabricação de pneus, manuseando óleo, graxa e pó preto, receberá como horas extras os 30 mi-nutos que gastava, após o término da jornada, para tomar banho e remover

os solventes. A decisão foi da Terceira Turma do Tribunal Superior do Tra-balho, que condenou a Goodyear do Brasil Produtos de Borracha Ltda. a pagar as horas extras, observados os termos da Súmula nº 366 do TST. Nos 23 anos em que trabalhou na empresa, sua tarefa consistia em la-var e cortar bandas de rodagem para

a fabricação de pneus. Na lavagem, eram utilizados solventes químicos como óleo, graxa e querosene, alta-mente inflamáveis, que impregnavam o corpo e a roupa. Ao fim da jornada, os operários tinham de tomar banho com adstringentes para remover os solventes, processo que levava em média 30 minutos. Ao ser demitido,

TRIBUTÁRIO

TRABALHO

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Notas de Jurisprudência

ajuizou ação trabalhista pedindo o pagamento desse período como hora extra.O pedido foi indeferido em pri-meiro grau e no Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP). A sentença considerou que não ficou evidente a obrigatoriedade do banho: segundo testemunhas, alguns empregados da produção não o rea-lizavam na empresa. Para o TRT, no tempo gasto com a higienização o empregado não estava à disposição do empregador conforme definido pelo artigo 4º da CLT, pois o banho ocorria depois do registro de saída. Ao examinar recurso de revista do trabalhador para o TST, o relator, ministro Maurício Godinho Delgado, observou que o Tribunal já firmou entendimento, na Súmula 366, de que se configura como tempo à dis-posição da empresa aquele gasto pelo empregado com a troca de uniforme, lanche e higiene pessoal, e que não serão descontadas nem computadas como horas extras as variações de até cinco minutos no horário no registro de ponto, observado o limite má-ximo de dez diários. Ultrapassando esse limite, considera-se como extra o total que exceder a jornada normal.(Lourdes Cortes/CF) (TST, Proces-so: RR-220500-02.2007.5.15.0007, Disponível em:< http://www.t s t . j u s . b r / n o t i c i a s / - / a s s e t _publisher/89Dk/content/turma-ne-

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ga-validade-a-homologacao-de-res-cisao-em-comissao-de-conciliacao--previa?redirect=http%3A%2F%2 F w w w . t s t . j u s .br%2Fnoticias%3Fp_p_id%3D101_I N S T A N C E _ 8 9 D k % 2 6 p _ p _l i f e c y c l e % 3 D 0 % 2 6 p _ p _s t a t e % 3 D n o r m a l % 2 6 p _ p _m o d e % 3 D v i e w % 2 6 p _ p _ c o l _i d % 3 D c o l u m n - 2 % 2 6 p _ p _c o l _ c o u n t % 3 D 2 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _advancedSearch%3Dfalse%26_101_I N S T A N C E _ 8 9 D k _k e y w o r d s % 3 D % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _d e l t a % 3 D 1 0 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _c u r % 3 D 2 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _andOperator%3Dtrue>, Acesso em: 10. Jun. 2012).

Turma nega validade a homolo-gação de rescisão em comissão de conciliação prévia.

A Primeira Turma do Tribunal Su-perior do Trabalho negou provimento a agravo interposto pela Máquinas Pi-ratininga S. A. e manteve decisão que considerou desvirtuada uma transação realizada perante Comissão de Conci-liação Prévia e a condenou ao paga-mento de salários do período de esta-bilidade pré-aposentadoria. O relator do agravo, juiz convocado José Pedro de Camargo, observou que, embora o

TST entenda que os acordos firmados nas comissões tenham eficácia libera-tória geral quando não há ressalvas, esse entendimento não se aplica no caso de desvirtuamento. “A comissão de conciliação prévia tem a função de compor litígios de forma extrajudicial, não podendo atuar como mera ho-mologadora da rescisão contratual”, afirmou o relator. No caso, segundo o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região (SP), não havia nenhuma con-trovérsia a ser submetida à comissão, e as parcelas rescisórias sequer tinham sido pagas. “Neste quadro específico, é inconciliável a existência simultânea de ressalva seguida de renúncia, o que desnaturou a quitação”. O trabalhador foi admitido em 1994 e demitido sem justa causa em 2006, quando faltavam menos de 18 meses para sua aposenta-doria. O termo de rescisão do contra-to não foi homologado no sindicato, como determina o artigo 477, pará-grafo 1º, da CLT. Dias depois, porém, foi firmado acordo perante a comissão de conciliação prévia pelo qual o tra-balhador receberia R$ 7. 720, relativos a diversas verbas rescisórias, como fé-rias e 13º proporcionais e aviso prévio. No campo de ressalvas, registrou-se o direito de o empregado pleitear a ga-rantia do empregado em vias de apo-sentadoria, mas, também, sua renúncia à estabilidade. Ao negar validade ao termo firmado na comissão, o TRT--SP assinalou que o salário possui na-

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tureza alimentar e, por isso, a garantia pré-aposentadoria é irrenunciável. No caso, não havia nenhuma comprova-ção de que o trabalhador tivesse ob-tido novo emprego à época da renún-cia, formalizada antes do recebimento das verbas rescisórias – demonstran-do que ele dependia economicamente do empregador. Ao recorrer ao TST, a empresa alegou que o trabalhador deu total quitação ao contrato de trabalho e renunciou à estabilidade. Afirmou que há previsão na comissão de con-ciliação prévia para o pedido de resci-são, desde que assistido pela entidade sindical, e que o empregado não apre-sentou os documentos relativos ao tempo de serviço no prazo estipulado pela convenção coletiva para assegu-rar a estabilidade. Para a Piratininga, “não houve nenhum vício de vonta-de” no acordo.

Ao examinar o recurso, o relator observou que o Regional invalidou a transação por entender que a empre-sa se utilizou da comissão de concilia-ção prévia “como órgão meramente homologador”, em manifesto desvir-tuamento da Lei nº 9.958/2000, que criou as comissões. Essa circunstân-cia inviabiliza, segundo ele, a apli-cação do entendimento vigente no TST, no sentido da eficácia liberató-ria geral do termo de conciliação fir-mado na comissão. Além de manter a invalidade do acordo, a Turma tam-bém rejeitou a pretensão da empresa

de compensar os valores da indeni-zação pelo período de estabilidade com os valores pagos no acordo. “O Regional é enfático ao consignar que nada foi quitado a título de estabili-dade pré-aposentadoria”, afirmou. “Decidir de forma contrária, a fim de acolher as alegações da empresa, pressupõe o revolvimento de matéria fático-probatória, procedimento ve-dado pela Súmula nº 126 do TST”, concluiu o relator. ((Carmem Fei-jó) (TST, Processo: AIRR-162740-80.2006.5.02.0011, disponível em: < http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/turma-nega--validade-a-homologacao-de-rescisao--em-comissao-de-conciliacao_previa?redirect=http%3A%2F%2Fwww.tst.jus.br%2Fnoticias%3Fp_p_id%3D101_INSTANCE_ 89Dk%26p_p_l i f e c y c l e % 3 D 0 % 2 6 p _ p _s t a t e % 3 D n o r m a l % 2 6 p _ p _m o d e % 3 D v i e w % 2 6 p _ p _ c o l _i d % 3 D c o l u m n - 2 % 2 6 p _ p _c o l _ c o u n t % 3 D 2 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _advancedSearch%3Dfalse%26_101_I N S T A N C E _ 8 9 D k _k e y w o r d s % 3 D % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _d e l t a % 3 D 1 0 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _c u r % 3 D 2 % 2 6 _ 1 0 1 _I N S T A N C E _ 8 9 D k _andOperator%3Dtrue>, Acesso em: 10 jun. 2012).

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