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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA FERNANDO DIÓRIO ALVES DOS SANTOS LAZER URBANO E ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO E PANORAMA SOBRE OS PARQUES NA CIDADE DE SÃO PAULO. São Paulo 2011

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

FERNANDO DIÓRIO ALVES DOS SANTOS

LAZER URBANO E ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO E

PANORAMA SOBRE OS PARQUES NA CIDADE DE SÃO PAULO.

São Paulo 2011

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FERNANDO DIÓRIO ALVES DOS SANTOS

LAZER URBANO E ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTUDO E

PANORAMA SOBRE OS PARQUES NA CIDADE DE SÃO PAULO.

Trabalho de Graduação Individual apresentado ao Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Geógrafo.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Mendes Antas Júnior.

São Paulo 2011

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Aos meus pais, Carmem e Germano (in memoriam), e meu irmão, Guilherme.

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AGRADECIMENTOS

Sou grato por ter tido ao longo da minha graduação a companhia de muitas

pessoas que vieram somar àquelas que tanto amo. Citá-las será um exercício de

resgate dessas grandes experiências.

Agradeço aos amigos que compuseram a Comissão Editorial da Revista

Paisagens no período de 2007 a 2010, primeiro projeto que me dediquei e que abriu

as portas para muitos outros nesta Faculdade.

Aos amigos do Grupo de Estudos Geograficidade Paulistana, Pedro,

Alexandre, Henrique, Carlos, Rogério, Douglas, Ramon, Márcio e Melanie, onde

juntos aproveitamos as oportunidades de realizar a tríade ensino, pesquisa e

extensão.

À Profa. Dra. Vanderli Custódio, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB/USP),

amiga e orientadora nos projetos de organização do Fundo Ernani Silva Bruno e de

minha Iniciação Científica. Com ela pude vivenciar e compreender o dia-a-dia da

Universidade e de uma vida de dedicação acadêmica.

Aos professores do Departamento de Geografia, especialmente aqueles que

estiveram presentes nos projetos e grupos de estudo pelo qual passei: Prof. Dr.

Heinz Dieter Heidemann, Profa. Dra. Léa Francesconi, Profa. Dra. Valéria de

Marcos, Profa. Dra. Glória da Anunciação Alves, Prof. Dr. Élvio Rodrigues Martins e

Profa. Dra. Isabel Alvarez.

À Florípedes Piné Garcia, técnica do Laboratório de Geografia Urbana

(LABUR), por receber, apoiar e acreditar em nossos estudos e atividades.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Ricardo Mendes Antas Jr., pela confiança nesta

pesquisa. A segurança e o conhecimento transmitidos foram fundamentais para o

desenvolvimento e conclusão desta empreitada.

À minha mãe, Carmem, por não desistir diante do inesperado. É, sem dúvida,

um grande exemplo de força e amor.

Ao meu irmão, Guilherme, por me proteger e mostrar o quão podemos ser

honestos. Estaremos juntos, sempre.

Por fim, à Tatiana, com quem desde 2009 divido alegrias, inquietações,

planos e sonhos. Estamos só começando...

A todos, muito obrigado!

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De que vale a tua vida, se, em meio à lida, não achas tempo para te deteres e te pores a contemplar, Tempo de sob a ramada te deitares e, como as vacas e as ovelhas, longas horas ficares a fitar, Tempo para à luz do dia poderes enxergar rios cheios de estrelas, com um céu a cintilar, Tempo de teus olhos volveres para uma beleza a despontar e apreciares como há pés que sabem dançar, Tempo de esperares uma boca terminar o riso que uns olhos começaram a esboçar, Afinal, que pobre vida é essa tua, se, sempre em meio à lida, não achas tempo para te deteres e te pores a contemplar.

William Henry Davies

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RESUMO

Este trabalho busca sistematizar os resultados da pesquisa focada em compreender

os específicos espaços para a realização do lazer que são os parques urbanos

públicos da cidade de São Paulo, em sua recente política de ampliação de unidades.

Procurou-se apreender a constituição e o sentido do lazer como fração espaço-

temporal intrínseca ao modo de produção capitalista; a origem e transformação de

um de seus componentes espaciais, o parque urbano, enquanto objeto técnico

pensado e construído para atender as necessidades e os interesses da

administração pública, iniciativa privada e a população na cidade; e, por fim, elaborar

um panorama da atual gestão destes espaços, o Programa 100 Parques para São

Paulo da Prefeitura do Município de São Paulo.

Palavras-chave: lazer; parque urbano; Programa 100 Parques.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 – Estação da Luz; em primeiro plano, obras de reforma no Jardim da

Luz (c.1902) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

Ilustração 2 – Avenida Paulista (1902) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34

Ilustração 3 – Vista da Várzea do Carmo, a partir da encosta do Pátio do Colégio; à

esq., igreja e mosteiro de São Bento (c.1862) . . . . . . . . . . . . . . . . 35

Ilustração 4 – Clube de Regatas do Tietê (c. 1905) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

Ilustração 5 – Praça da Sé, c. 1928; o palacete Santa Helena, ao fundo,

desapareceria em 1971, com a construção do Metrô . . . . . . . . . . . 37

Ilustração 6 – Retificação do Rio Tietê (1939) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

Ilustração 7 – Viaduto do Chá, sobre o Vale do Anhangabaú, déc. 60 . . . . . . . . . . 41

Ilustração 8 – Município de São Paulo: subprefeituras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Ilustração 9 – Município de São Paulo: distritos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

Ilustração 10 – Área Urbanizada, segundo períodos de expansão. Região

Metropolitana de São Paulo: 1881-2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

Ilustração 11 – Mancha Urbana, Região Metropolitana: 2002 . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

Ilustração 12 – Pesquisa Datafolha. O parque é próximo a quê? . . . . . . . . . . . . . . 68

Ilustração 13 – Pesquisa Datafolha. Meio de transporte utilizado até o parque . . . 68

Ilustração 14 – Pesquisa Datafolha. Freqüência média dos usuários . . . . . . . . . . . 69

Ilustração 15 – Pesquisa Datafolha. Com quem freqüenta os parques . . . . . . . . . . 69

Ilustração 16 – Pesquisa Datafolha. Principais atividades realizadas no parque . . 70

Ilustração 17 – Pesquisa Datafolha. Conhecimento de outros parques da cidade . 71

Ilustração 18 – Pesquisa Datafolha. Função dos Conselhos Gestores . . . . . . . . . . 72

Ilustração 19 – Pesquisa Datafolha. Avaliação ótima/boa dos equipamentos e

serviços dos parques . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72

Ilustração 20 – Pesquisa Datafolha. Avaliação da manutenção realizada pela

prefeitura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

Ilustração 21 – Pesquisa Datafolha. Colaborariam na manutenção e atividade do

parque? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Densidade Demográfica do Município de São Paulo: 19872-2010 . . . . 46

Tabela 2 – Parques Municipais. Quadro síntese (jul.2011) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

Tabela 3 – Parques Municipais. Existentes: Zona Centro-Oeste . . . . . . . . . . . . . . 56

Tabela 4 – Parques Municipais. Previstos: Zona Centro-Oeste . . . . . . . . . . . . . . . 58

Tabela 5 – Parques Municipais. Existentes: Zona Leste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58

Tabela 6 – Parques Municipais. Previstos: Zona Leste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

Tabela 7 – Parques Municipais. Existentes: Zona Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

Tabela 8 – Parques Municipais. Previstos: Zona Norte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Tabela 9 – Parques Municipais. Existentes: Zona Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

Tabela 10 – Parques Municipais. Previstos: Zona Sul . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

LISTA DE SIGLAS

CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,

Artístico e Turístico

CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural

e Ambiental da Cidade de São Paulo

DEPAVE – Departamento de Parques e Áreas Verdes

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo

SEMPLA – Secretaria Municipal de Planejamento de São Paulo

SVMA – Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente

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SUMÁRIO

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

Capítulo I

Acerca da compreensão sobre o lazer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

Capítulo II

A componente espacial na realização do lazer: o parque urbano público . . . . . . . . 23

Capítulo III

Parques urbanos no município de São Paulo: um panorama atual . . . . . . . . . . . . . 45

Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83

Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

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INTRODUÇÃO

O respeito às múltiplas formas de ver a cidade e o urbano, dialogar e

perceber quais delas estão mais próximas ou não de minhas reflexões e, sobretudo,

procurar entender estas diferenças, procurou ser o norte deste trabalho.

Ao estudar a cidade de São Paulo, ou mesmo falar sobre ela, os primeiros

aspectos que nos chamam a atenção estão comumente ligados ao seu perfil urbano.

Local privilegiado de serviços e comércio, de predomínio do concreto e do asfalto,

de largas avenidas e grandes congestionamentos, de suntuosas edificações, entre

outros, dificilmente é lembrada por seu sistema de áreas públicas. A partir desta

generalização destaca-se, com objetivos analíticos, um objeto de interesse

específico: o parque urbano público.

Os parques urbanos municipais são uma dentre as tantas faces que podemos

apreender sobre a cidade. No processo de pesquisa, nos moveram e instigaram,

prometendo ser promissores. E, de fato, nossa relação com os parques vem

mudando, agora mais ampla e capaz de melhor olhar e perceber oportunidades de

intervenção ou sugestões junto aos programas de atividades, gestores públicos ou

seus próprios usuários.

No primeiro capítulo buscaremos sintetizar uma leitura sobre a definição de

lazer. Recorrendo a um resgate histórico, entender suas interpretações e modelos

explicativos, sua constituição e importância para, em nosso caso, a sociedade

urbano-industrial capitalista – a apreensão do tempo de lazer pelos proprietários dos

meios de produção, pelos administradores públicos e pela população. Atender uma

de nossas preocupações, a compreensão satisfatória do que é, de fato, o lazer e ter

condições para mais tarde refletir se as práticas que podemos identificar em parques

urbanos, na sua totalidade, estão relacionadas ao lazer.

No segundo capítulo, procurar compreender a formação dos parques urbanos

no Brasil, especificamente em São Paulo a partir de seus diferentes momentos de

modernização – sociedades agrário-exportadora, urbano-industrial e, atualmente, a

metrópole terciária. Para isso, também passar pela procura de definição,

transformações nos entendimentos de suas funções e usos e sua relação com os

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fragmentos do ambiente verde da cidade, identificando (e criticando) as formas com

que tem se apresentado ao longo da evolução urbana do município.

Por fim, no terceiro capítulo, traçar um panorama atual destes equipamentos

técnicos em São Paulo, revelando como o exercício do lazer tem se dado nestes

espaços. Compreendendo a estrutura da administração pública ligada aos parques e

áreas verdes, mais os instrumentos que propõem leis e normatizam o

desenvolvimento da cidade, apresentar o Programa 100 Parques para São Paulo,

diretriz do atual incremento no número de parques do município. Esperamos, neste

momento, reunir subsídios para entender as características, propostas e intenções

deste programa.

Enquanto objeto de estudo, o Programa nos permitirá refletir sobre as

condições dos parques recém implantados, seus equipamentos e seus usos, sua

abrangência e eficiência, bem como os parques anteriores a ele, além da reflexão

sobre a concepção de parques públicos urbanos adotada pela Prefeitura de São

Paulo. Garantirá, como anunciado em 2007 pela publicação da própria Prefeitura

(PMSP, 2007:5) sobre seus parques municipais, “visitar a nossa história, a nossa

geografia, a nossa diversidade cultural de um modo ao mesmo tempo agradável e

enriquecedor”.

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CAPÍTULO I

ACERCA DA COMPREENSÃO SOBRE O LAZER

“(...) Na nossa sociedade onde o lazer é a regra, o ócio torna-se uma espécie de desvio.”

Michel Foucault

Com o objetivo de superar o discurso comum que trata o tempo de lazer de

maneira indiferente e polissêmica, como sinônimo de diversão, entretenimento,

hobby, férias, final de semana, tempo livre, ócio, repouso, desocupação, entre

outros, procuraremos aqui sistematizar a leitura de obras que permitam um salto

qualitativo para uma compreensão mais precisa de um fenômeno já consolidado, um

direito social garantido por lei que é valorizado pela população nas discussões sobre

qualidade de vida, saúde, inserção social e cidadania.

Partindo de Marcellino (2008a, p. 7), notamos que não há um consenso entre

os estudiosos do lazer sobre o momento em que se possa com clareza identificar

seu surgimento, ou quando ele passa a ser um fragmento do cotidiano definido e

distinto de outros com qualidades e características distintas daquela dedicada ao

exercício lúdico.

Combatendo desde já a concepção mais comum de lazer como negação ao

trabalho, duas interpretações são comuns, tendo como ponto principal de discussão

a divisão do tempo social (tempo de trabalho, tempo de descanso e tempo livre).

Segundo Gomes (2005, p. 33-34), a primeira considera que tendo o homem sempre

trabalhado, deveria também dispor de momentos de “não-trabalho” destinados ao

repouso e divertimento. Assim, em um período em que esses momentos não eram

considerados como frações específicas de tempo na dinâmica social, poderíamos

entender que o trabalho e o lúdico se entrelaçavam havendo, tão somente,

pequenas diferenciações ao longo dos tempos1. De outro modo, a segunda

1 “[...] Um homem não tem uma personalidade em seu lar e uma outra, completamente diversa, em

seu trabalho, ele é um único e mesmo homem. Projeta suas preocupações pessoais, suas frustrações, seus temores sobre seu posto de trabalho e, reciprocamente, de seu posto de trabalho sobre seu lar” (ZWEIG, 1952, p.97 apud FRIEDMANN, 1983, p. 156).

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interpretação entende que somente com o estabelecimento das modernas

sociedades urbano-industriais é que o lazer ganha características próprias, em

conformidade com o sistema econômico e o modo de produção vigente, onde o

tempo poderia ser medido e controlado, apropriado, adjetivado e estudado.

Não há, a rigor, um caráter de rejeição entre as duas correntes, mas sim enfoques diferentes. A primeira aborda a necessidade de lazer, sempre presente, e a segunda se detém nas características que essa necessidade assume na sociedade moderna. Assim, o lazer sempre existiu, variando apenas os conceitos sobre o que era e quais os seus significados (MARCELLINO, 2008a, p. 13).

Metodologicamente, optamos por entender o lazer a partir de autores como

Sant‟Anna e Antas Jr., que de maneira mais enfática o consideram a partir da

consolidação dos processos de industrialização e urbanização das cidades. Não

descartamos, no entanto, as contribuições daqueles que, mesmo estudando o tempo

de lazer em sociedades predominantemente urbano-industriais, não partiram de

preocupações teóricas, e sim privilegiaram a produção de um conceito operacional.

Com esta premissa, o que, então, tratamos como lazer? Por que ele atraiu as

atenções de proprietários dos meios de produção e administradores públicos? Qual

seria, afinal, sua importância social?

Começamos com o entendimento de lazer proposto por Antas Jr. (1995) onde

o autor caracteriza o conceito como um:

[...] fenômeno constituído a partir da divisão do trabalho, e da divisão social do tempo cotidiano na sociedade capitalista, que separa e torna homogêneo o tempo livre para que o homem exerça e usufrua de sua qualidade lúdica, que antes era mesclado com as atividades econômicas e obrigações sociais (ANTAS JR., 1995, p. 23).

Para entender estas divisões, do trabalho e do tempo social cotidiano, é

necessário reconhecer que certos processos orientaram para esta lógica, como o

fortalecimento do sistema econômico e modo de produção adotados – com reflexo

no processo de urbanização do território – e o avanço técnico no sistema produtivo –

revolução industrial. É com este binômio, urbanização-industrialização, que a

ambição de se produzir cada vez mais e gerar mais capital ampliou a jornada de

trabalho, esta, por sua vez, “desestimulante, fragmentada e repetitiva”, produzindo

um espaço específico, “um ambiente urbano massacrante: filas, transportes

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coletivos lentos, condições de moradia (da casa à infraestrutura) pouco favoráveis”

(ANTAS JR., 1995, p. 14).

O tempo liberado, compreendido como “tempo livre” não ocupado com

atividades realizadas por necessidade – de maneira mais ampla, as obrigações das

esferas do trabalho, familiar ou social –, conteria, então, entre outros, o tempo de

lazer – que passaria a ser visto como uma solução a estas pressões, libertário,

promotor do descanso, divertimento ou desenvolvimento individual.

Genericamente, pode-se afirmar que o lazer é um conceito delineado historicamente, a partir das lutas das classes trabalhadoras por melhores condições de vida e diminuição da jornada de trabalho (...), bem como das constantes inovações tecnológicas que gradativamente passam da mais-valia absoluta para a mais-valia relativa o cerne fundamental da acumulação, liberando os trabalhadores de extensas jornadas. Nestas reduzidas horas os trabalhadores passaram também a produzir muito mais, e o lazer tem papel importante neste processo. (ANTAS JR., 1995, p. 84)

O que temos, sob a luz das lutas trabalhistas pela diminuição das horas de

trabalho e o constante progresso tecnológico, é o lazer enquanto uma “concessão e

criação do próprio modo de produção capitalista”2, transformado num momento

“ilustre do consumo, da reposição de energias e de resistência à fadiga” (ANTAS

JR., 1995, p. 85), refletindo em um número cada vez maior de operários com tempo

livre morando nas cidades.

Analisando outros autores, temos em Sant‟anna (1994, p. 18) uma leitura

semelhante, onde se reafirma que o tempo livre, bem como o lazer, seria produzido

historicamente junto às tensões e contradições frutos do desenvolvimento do

sistema capitalista de produção – para a autora, tensões e contradições que

ambicionam tornar todo o tempo de vida do homem em tempo de trabalho, ao

mesmo tempo em que nutrem os movimentos operários reivindicatórios em favor da

redução e regulamentação da jornada de trabalho e aumento do tempo livre.

Sob outro modelo explicativo, focado no ato em si e não em sua constituição,

primeiro na interpretação de Marcellino (2008a; 2008b), podemos entender o lazer

como a cultura vivenciada (praticada ou fruída) no tempo disponível das obrigações

2 “O lazer, neste sentido, está inserido de forma tão complexa na reprodução do sistema capitalista,

que põe em cheque a afirmação de alguns teóricos que argumentam ser este o momento em que homens e mulheres têm plena liberdade de escolha e decisão sobre sua própria conduta no cotidiano” (ANTAS JR., 1995, p. 91).

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sociais, que possui como principais traços definidores o caráter desinteressado e a

busca pela satisfação pessoal e social – cultura entendida como um conjunto de

valores, crenças, hábitos, gestos, linguagens e normas que caracterizam a forma de

existência de um grupo (PADILHA, 2008a, p. 34). Para Gomes (2005, p. 30), onde o

lazer é uma prática social enraizada no lúdico, passível de pressão e interferência,

sem caráter de obrigação produtiva:

Marcellino (1987) enfatiza que o lazer pode ser compreendido a partir da combinação dos aspectos tempo e atitude. A atitude diz respeito à relação estabelecida entre o sujeito e a experiência vivida, fruto de uma escolha pessoal e prazerosa. O tempo refere-se ao tempo disponível, obtido pelo indivíduo após se desvencilhar não apenas das obrigações profissionais, mas também das obrigações familiares, sociais e religiosas, ou seja, o tempo da não-obrigatoriedade. Nesse ponto, o autor também se aproxima de Dumazedier (2005, p. 28).

Apresentado por Gomes, Joffre Dumazedier (1915-2002), sociólogo francês pioneiro nos estudos sobre o lazer e a sociedade e referência nos escritos da Sociologia do Lazer3, cunhou os primeiros estudos, programas e práticas adotados pelos industriais e comerciários no Brasil. Para ele:

O lazer é um conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais (DUMAZEDIER, 2001, p. 34).

Ampliando sua definição, “possui relações sutis e profundas com todos os

grandes problemas oriundos do trabalho, da família e da política que, sob sua

influência, passam a ser tratados em novos termos” (DUMAZEDIER, 2001, p. 20). É

entendido como momento de liberação e prazer, com as funções de descanso

(liberação da fadiga, reparação das deteriorações físicas e nervosas), divertimento,

recreação e entretenimento (“fator de equilíbrio, um meio de suportar as disciplinas e

as coerções necessárias à vida social”) e desenvolvimento (da personalidade, maior

participação social livre, prática de uma cultura desinteressada do corpo, da

3 Campo de estudos nascido no séc. XX para “conhecer e controlar os usos do tempo livre nos países

industrializados” (dirigir e discipliná-lo), a partir da crescente regulamentação e redução da jornada de trabalho. Torna-se questão fundamental para a administração das cidades ao dar conta da “produção e expansão de um saber sobre a natureza desses usos, seus pontos de incidência nas cidades, os rumos que tomam, a intensidade com que emergem na realidade e nela subsistem” (SANT‟ANNA, 1994, p. 45).

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sensibilidade e da razão, formação prática e técnica, integração e aprendizagem

voluntárias) (DUMAZEDIER, 2001, p. 32-34).

Isto posto, podemos começar a entender como o lazer, ao longo do tempo,

despertou as atenções dos proprietários dos meios de produção – não só deles, mas

também da administração pública em suas relações com a sociedade e o capital.

Como um fenômeno passível de ser apreendido e estudado, o lazer pôde

“contribuir na construção e legitimação de valores que justificavam a ótica do

trabalho e a ética capitalista” (ANTAS JR., 1995, p. 14). Ao ser institucionalizado,

superada sua realização descompromissada, constituiu-se como ferramenta

disciplinadora e educadora da sociedade, com ação, sobretudo, preventiva sobre os

indivíduos e o sistema produtivo.

As preocupações com o lazer no Brasil surgem no final do século XIX, nos

discursos de médicos e sanitaristas envolvidos com a organização urbano-industrial.

Segundo Sant‟Anna (1994, p. 9-11), quando do interesse das instituições privadas e

setores da administração paulistana em conhecer os usos do tempo livre, há, de

maneira concomitante, o objetivo de produzir técnicas, parâmetros e instrumentais

suficientes para organizar e administrar estes usos em espaços específicos, que

consigam, também, implementar “valores e normas à organização de esferas e

interesses sociais do mundo do trabalho, da política e da economia” – ser um tempo

e um uso útil economicamente e interessante para os padrões morais instituídos,

“salvo da indolência, da lentidão, da inferioridade social e do tédio”. Tempo e uso

específicos para uma dada ordem social, transformando, na leitura de Medeiros

(1975, p. 4-5), o lazer em força social positiva.

[...] criava-se o lazer como regra de certos prazeres e atividades como verdades inerentes ao nosso tempo: fazer ginástica, usar o tempo livre com atividades físicas e esportivas, cultuar a descontração e um certo tipo de corpo, saudável e produtivo, passaram a fazer parte dos padrões de normalidade estabelecidos socialmente (SANT‟ANNA, 1994, p. 11).

O lazer assumiu funções organizacionais, terapêuticas e corretoras de

excessos e desequilíbrios, além daquelas meramente lúdicas, oriundas dos conflitos

da cidade. Acreditando que pela via do lazer seria possível obter orientações e

critérios para auto-regular-se e auto-ajustar-se (SANT‟ANNA, 1994, p. 96-97),

empresas particulares e a administração pública propuseram planos, programas e

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estudos. Parte fundamental neste debate é o trabalho desenvolvido pelo Serviço

Social do Comércio (SESC), criado pelo decreto-lei n. 9.853, de 13 de setembro de

1946, proposto e mantido pelo empresariado comercial brasileiro, objetivando4, via

ações assistencialistas nos campos da saúde, educação e lazer, “contribuir para a

melhoria do padrão de vida do comerciário e de sua família e cooperar para o

aperfeiçoamento moral e cívico da coletividade através de uma ação educativa”

(Dep. Nacional do SESC, 1984 apud SANT‟ANNA, 1994, p. 28).

Sant‟Anna (1988)5, dialogando com Foucault (1987)6, defende que as

intervenções institucionais têm como objetivo transformar os usos do tempo livre em

práticas úteis e disciplinadas, forjando o conceito de lazer contraposto ao ócio,

atentando para o lazer transformado em instrumento de poder promotor de uma

“relação de docilidade-utilidade, fabricando corpos exercitados, dóceis, aumentando

suas forças [...] e disseminando essas mesmas forças” (primeiro em termos

econômicos de utilidade, e depois em termos políticos de obediência) (ANTAS JR.,

1995, p. 21-22).

Procurando compreender o que é tido como ócio, resgatamos o discurso do

lazer como um conjunto de atitudes, valores e normas socialmente desejáveis. “O

ócio aparece como uma força negativa que vem do exterior para prejudicar o homem

e roubar a sua tranqüilidade e felicidade” (SANT‟ANNA, 1994, p. 52) – o lazer se

incumbiria, então, de combater o ócio. De modo implícito, o ócio foi produzido como

uma anomalia social, sinônimo de inutilidade, improdutividade, preguiça,

imoralidade, vadiagem ou tédio, carente de soluções, que possibilitaria, numa

sociedade urbano-industrial, a construção de novos espaços e equipamentos em

detrimento daqueles onde as atividades e práticas “sobrepunham-se às regras de

higiene e de conduta moral que as autoridades civis e religiosas esforçavam-se para

implantar nas cidades”. (SANT‟ANNA, 1994, p. 25).

Inerente ao homem, a necessidade do descanso passou a ser reconhecida e

aceita pelos proprietários dos meios de produção quando percebido que,

descansado, sua produtividade era maior. Ademais, o trabalhador se mostrava hostil

4 Seus estudos (Centro de Estudos do Lazer) são desenvolvidos a partir dos pressupostos teóricos da

Sociologia do Lazer, especificamente do sociólogo francês já mencionado, Joffre Dumazedier, consultor especial contratado pelo então Diretor Regional do SESC, Renato Requixa. (SANT‟ANNA, 1994, p. 48-49). 5 SANT‟ANNA, Denise Bernuzzi de. O Prazer Justificado: Lazer em São Paulo (1969-1979).

Dissertação de Mestrado, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. P. 70-74. 6 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis: S.N., 1987.

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quando este momento de tempo livre lhe era negado, o que poderia levar a crer –

sob a luz dos proprietários – que o lazer, parte deste tempo livre, seria uma bênção

ao sistema social, uma atividade que poderia “salvar o homem daquela tendência

que visa a destruí-lo ou tragá-lo num movimento enlouquecido do ócio e dos vícios”

(SANT‟ANNA, 1994, p. 52). Ainda conforme Sant‟Anna (1994, p. 19), outras

questões estariam em pauta, como o “desenvolvimento da indústria do lazer, o

crescimento da produção e do consumo em massa de brinquedos, equipamentos

esportivos, atividades e eventos lúdicos mais modernos”7 para este tempo livre.

Em todas essas abordagens – romântica, moralista, compensatória, ou utilitarista – pode-se depreender uma visão „funcionalista‟ do lazer, altamente conservadora, que busca a „paz social‟, a manutenção da „ordem‟, instrumentalizando o lazer como fator que ajuda [...] a suportar a disciplina e as imposições obrigatórias da vida social, pela ocupação do tempo livre em atividades equilibradas socialmente aceitas e moralmente corretas (MARCELLINO, 2005 apud MARCELLINO, 2008a, p. 22).

Com isso, podemos dizer que o lazer atraiu as atenções dos proprietários dos

meios de produção e da administração pública porque pôde ser trabalhado como um

exercício do poder, na produção e acúmulo de teorias e saberes sobre o homem, o

espaço urbano e o tempo livre – cada qual, proprietários e administração pública,

com diferentes capacidades de intervenção ou influência; o alcance da iniciativa

privada é muito mais restrito quando comparado à pública. Com o modelo de lazer

ideal a buscar, pautado no descanso, diversão e desenvolvimento, estabeleciam-se

regras e verdades inerentes, revelando a produção de uma “vontade que se

autogovernasse durante o tempo livre e que extraísse prazer dessa disciplina

almejada” (SANT‟ANNA, 1994, p. 104).

Assim, com um melhor entendimento sobre o que compreendemos sobre

lazer, mais os argumentos que justificam sua proximidade aos proprietários dos

meios de produção e da administração pública, qual seria, então, a importância

social do lazer8?

7 Estes argumentos, mais a fadiga física e mental causada pela intensificação da jornada de trabalho,

insatisfação diante das perspectivas de realização pessoal e a pressão incessante pelo ato do consumo, levam Antas Jr. (1995, p. 86) a afirmar que a estruturação do lazer é atualmente um fenômeno imprescindível e inalienável do sistema capitalista. 8 Segundo Bartalini (1999, p. 4), o lazer passou a ser importante a partir do momento que “despertou

o temor do ócio conduzir ao vício, com os subseqüentes efeitos indesejáveis para o mundo do trabalho e possivelmente comprometedores da estabilidade social”.

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Com o avanço e sofisticação da divisão técnica do trabalho (fragmentação de

atividades e profissões) e a diminuição da importância do trabalho humano para a

geração de valor na forma mercadoria, o tempo livre, hoje, “é o momento em que o

trabalhador assalariado deixa de ser indivíduo para ser um homem realizado9”

(ANTAS JR., 1995, p. 107). É o momento onde “tudo aquilo de que se viram

privados no trabalho – iniciativa, responsabilidade, realização –, os trabalhadores

buscam reconquistar no lazer10” (FRIEDMANN, 1983, p. 158). Além disso, como

visto, é o momento de descanso, livre das forças opressoras, ainda que apropriado

pelo desenvolvimento de um forte mercado para o lazer e utilizado como instrumento

para normatizar a mão-de-obra e garantir a manutenção da produção.

Em outros termos, existe diariamente, para aqueles que estão inseridos no processo produtivo, um momento livre da disciplina imposta pela atividade do labor e das obrigações sociais (família, lar, necessidades básicas), mas o conteúdo deste é dado, por um lado, pelos desejos, capacidades intelectuais, culturais e econômicas de cada indivíduo e, por outro, pelas possibilidades que são oferecidas pela sociedade segundo as necessidades do modo de produção. Tal conteúdo tem um direcionamento funcional ao sistema capitalista através da produção social do espaço urbano, que reproduz estas relações sociais específicas, garantindo a continuidade e sobrevivência do próprio sistema (ANTAS JR., 1995, p. 91).

De acordo com Sant‟Anna (1994, p. 85), o conforto e o trabalho predominante

gerados pela sociedade industrial desconsideram tanto as necessidades quanto as

especificidades físicas de cada trabalhador. Com seu desenvolvimento11, deixa de

ser relevante o porte físico de alto rendimento quando se adotam máquinas

hidráulicas para manipular grandes cargas, por exemplo. Nesta separação cotidiana

do homem com seu próprio corpo no tempo de trabalho exalta-se, como forma de

compensação no tempo livre, sua exibição – “promoção de um prazer, que é o de

decifrar e disciplinarizar o próprio corpo durante a diversão” (p. 104). Trata-se, então,

da realização pessoal expressada no “fiscalizá-lo, torneá-lo, exercitá-lo, corrigi-lo e

9 “Esta potencialidade que ainda apresenta o tempo livre, contudo, gera frustração, na medida em que

as possibilidades de lazer são escassas e/ou pouco espontâneas” (ANTAS JR., 1995, p. 107). 10

“Um dos comentários mais freqüentes dos trabalhadores a respeito de seus passatempos é que eles lhes proporcionam alguma coisa para amar e alguma coisa na qual se sentem livres, livres sobretudo para escolher o que farão, bem como o lugar e o momento em que se aplicarão a ela” (FRIEDMANN, 1983, p. 159). 11

Vale ressaltar, apenas, que no Brasil a relação entre o homem e seu corpo era valorizada durante o governo militar para além do tempo de trabalho, pois era preciso tornar o trabalhador sempre mais saudável e mais produtivo, ou seja, “gerar saúde pelo lazer e para o trabalho”, “virilizar a sociedade, dotando-a, pela prática esportiva, de disposição para trabalhar” (SANT‟ANNA, 1994, p. 83-84).

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adestrá-lo durante a prática do lazer”, no “rigor dietético, ético e estético”, ao “evitar

a postura de espectador nos esportes e iniciar um treinamento disciplinado”, que

busca um corpo produtivo e bem disposto – mesmo que não mais importante à

produção (p. 104-105). Apontado na década de 1980, percebemos o

amadurecimento desta tendência nos anos 1990 e 2000: aumento no número de

academias de ginástica e musculação, criação de estabelecimentos especializados

em atividades físicas alternativas (aparelhos inovadores, técnicas diferenciadas,

esportes não difundidos na cultura brasileira), produção e difusão de mídias

impressa e visual dedicadas a planos de alimentação e exercícios, entre outros.

Embora esse corpo não correspondesse ao da maioria dos brasileiros (mesmo porque muitos não teriam condições econômicas e nem tempo para adquiri-lo), sua imagem passou, cada vez mais, a caracterizar a „beleza verdadeira‟ e a „saúde inabalável‟, referenciando, assim, inúmeros corpos e ideais. E já que a aquisição desse corpo articulado à verdade dependia em muito da disciplina na ginástica e do consumo de determinados produtos médicos e de beleza, a tendência foi reconhecer nestes elementos o fundamento do verdadeiro lazer (SANT‟ANNA, 1994, p. 82).

As imagens da beleza verdadeira e do verdadeiro lazer foram produzidas e

apropriadas pelo mercado, levando à especialização de uma indústria de

mercadorias específicas e ao incremento no consumo para os lazeres12 “onde estão

incluídos desde eletrodomésticos como rádio, televisão, videogames até um

vestuário específico para o exercício de vários esportes e hobbies” (ANTAS JR., p.

90). Para Medeiros (1975, p. 105-106), podemos avaliar o peso do lazer como força

econômica ao atentar para “o total de gastos com diversões e passatempos ou para

o número de indivíduos empregados em decorrência da expansão do lazer e da

produção em série dos artigos nele consumidos”. Ademais, no desenvolvimento

deste processo, aumenta-se também o número daqueles que “ganham a vida na

manufatura, distribuição, venda e propaganda de bolas, raquetes, bicicletas, discos,

revistas, violões, filmes, etc.”.

Medeiros (1975, p. 144), ainda, registra que com a manipulação e o uso de

modernas técnicas, os meios de comunicação em massa induzem a multidão a

12

“A observação da prática do lazer na sociedade contemporânea é marcada por fortes componentes de produtividade. Valoriza-se a performance, o produto e não o processo de vivência que lhe dá origem; estimula-se a prática compulsória de atividades denotadas de moda ou status” (MARCELLINO, 2008a, p. 7).

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consumir “filmes de cinema, revistas, jornais, partidas desportivas, peças teatrais,

viagens e concursos de beleza do mesmo modo [...] com que consome as

mercadorias oferecidas à venda nas lojas”, não sabendo mais gozar da diversão,

transformada em negócio. Negócio este que hoje, como atenta Marcelino, Barbosa e

Mariano (2008b, p. 136), é construído sob a alcunha de entretenimento, não aquele

que “deveria ser um dos componentes do lazer, ligado, basicamente, aos valores do

divertimento”, mas sim entretenimento como “lazer mercadoria”.

Antas Jr. (2007, p. 91; p. 95), ao realizar uma reflexão sobre o consumo em

nosso país – destacando o poder de interferência dos meios de comunicação em

massa – aponta que em 2004, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de

Domicílios (PNAD-IBGE), dos 27 estados da federação, 14 têm, no total de seus

domicílios, mais televisores do que geladeiras – quatro estados do Norte, oito do

Nordeste, um do Sudeste (MG) e o Distrito Federal: dentre o total de domicílios

particulares permanentes, 90,3% possui televisão e 87,3% possui geladeira13.

Traçamos, com isso, um panorama onde o televisor, irradiador do mass-media, é

convertido num bem de necessidade primária, fundamental no curso de acumulação

capitalista. Desde a década de 1970, setores como a publicidade e o marketing, com

novas estratégias, exercem especial influência sobre as práticas de consumo e

comportamento social, “à medida que os objetos técnicos difusores da informação

penetram em números cada vez maiores de domicílios” – a “ação onipresente e

dinâmica da publicidade”, alertada por Friedmann (1983, p. 157).

A sedução pelas imagens de um mundo perfeito – onde somos todos consumidores de produtos modernos – desde a fralda descartável e cotonetes da Johnson & Johnson, passando pelos achocolatados e margarinas da Nestlé e Anderson Clayton, até os automóveis de luxo da GM e Ford – veio substituir de modo irreversível um modelo de progresso material calcado nos próprios recursos e numa cultura específica como a brasileira, que, por exemplo, já reciclava seus materiais sucessivas vezes, antes mesmo que isso fosse uma demanda dos movimentos ambientalistas no „mundo desenvolvido‟ (ANTAS JR., 2007, p. 95).

Para mostrar que o lazer não é algo exclusivo aos trabalhadores, havendo o

lazer para as crianças, jovens, adultos e idosos, e novamente mostrando que o lazer

não seria a negação do trabalho, recorremos a Sant‟Anna (1994, p. 37-38), que

13

Atualizando os dados para o último PNAD divulgado pelo IBGE, em 2009 temos 95,7% dos domicílios com televisores e 93,4% com geladeiras, mantendo a tendência destacada.

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resgata o argumento de que com a divisão do tempo social, o lúdico, o prazer e a

contemplação foram expropriados do tempo de trabalho e esperados, idealizados,

em um tempo futuro – final do expediente, finais de semana ou período de férias.

Associa-se o prazer com a idéia de liberdade, uma recompensa, um prêmio pelo

esforço do trabalho remunerado. Exemplifica os limites dessa associação, difundida

socialmente, quando trata da dona de casa que cuida dos filhos, preservando o lar

durante os sete dias da semana em um trabalho não reconhecido como tal, não

remunerado. Com o erro de se atrelar o direito ao lazer com o dever de trabalhar, e

vice-versa, “há uma tendência social em não admitir o lazer como sendo um direito

seu, quando então ela poderia deixar as prendas domésticas para se dedicar às

diversões, à cultura e ao descanso”.

Expandindo sua interpretação, podemos perceber que vulgarmente não se

admite o lazer de maneira igualitária aos indivíduos. Aqueles que não trabalham,

quando não consomem seu tempo em busca de novos trabalhos e com as

obrigações familiares e sociais, podem fruir do lazer; a criança ou o jovem, depois de

suas horas de estudo e obrigações para a manutenção da vida, pode realizar lazer;

idosos, liberados de suas necessidades e obrigações sociais, realizariam o lazer.

Do mesmo modo, ampliando o debate:

[...] é preciso ter presente que a prática das atividades de lazer não é fruída da mesma forma pelos diferentes segmentos da sociedade. Sempre tendo como pano de fundo as condições socioeconômicas, podemos verificar a existência de um todo inibidor para o seu desenvolvimento, constituído de barreiras interclasses sociais (econômicas, sociais, de instrução), e intraclasses sociais (faixa etária, gênero, violência, acesso a equipamentos, estereótipos e outras) (MARCELLINO, 2008a, p. 8).

O que temos, novamente, é a difusão do lazer mercadoria, do entretenimento

comercial. Fruem do lazer os que podem adquiri-lo, restando, aos demais, não

vinculados ao tempo livre do trabalho remunerado, o ócio, a falta do que fazer e o

vício.

Por fim, tendo levantado questões, vale salientar que a intenção de

instrumentalizar o tempo de lazer contém tanto elementos que buscam a reprodução

da estrutura social vigente como, também, valores questionadores dessa lógica, ou

seja, constitui-se potencialmente como um tempo privilegiado para a realização de

novas premissas que podem contribuir para mudanças morais e culturais – realizar

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sua denúncia e o anúncio de uma sociedade diferenciada, “pela vivência de valores

diferentes dos dominantes” (MARCELLINO, 2008a, p. 12).

Sob a luz da realização pessoal, qualidade de vida, saúde, inserção social e

cidadania, concluímos, em acordo com Marcellino (2002 apud SAMPAIO, 2008, p.

140), que “não se pode depositar toda a expectativa de mudanças cristalizadas ao

longo da história em uma única espera da vida”, no caso, o lazer, mas seria

fundamental que ele fizesse parte “dessas oportunidades de reverter o jogo,

proporcionando uma reorganização simbólica por meio de um processo de

educação para e pelo Lazer”.

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CAPÍTULO II

A COMPONENTE ESPACIAL NA REALIZAÇÃO DO LAZER: O PARQUE URBANO PÚBLICO

“Uma abordagem geográfica busca sempre partir ou chegar às materialidades que compõem o espaço

para explicar os processos atinentes à sociedade.” Ricardo Mendes Antas Jr.

Buscamos no capítulo anterior entender o lazer enquanto uma fração espaço-

temporal intrínseca ao modo de produção capitalista, onde os indivíduos podem, ou

não, atuar de acordo com seus interesses. Procuraremos aqui, então, avançar na

compreensão desta componente espacial, destacadamente a produção dos espaços

de lazer e o parque urbano público.

Tendo o lazer se tornado um problema na sociedade industrial – a

instrumentalização do lazer; a produção do ócio e suas conseqüências ao mundo do

trabalho –, um sistema de objetos foi pensado para introduzir novas práticas –

condicionar o movimento da sociedade ao mesmo tempo em que se possibilitassem

ações funcionais para o sistema produtivo.

Seria pertinente, já neste momento, lembrar:

O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, entre sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como quadro único no qual a história se dá. Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações, e, de outro lado o sistema de ações leva a criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra sua dinâmica e se transforma (SANTOS, 2008, p. 106).

Destacado por Antas Jr. (1995, p.108), o lazer e os espaços públicos

correspondentes comporiam uma parte do sistema de regulação social. Baseando-

se em Santos, o autor nos orienta a entender que em conjunto com os sistemas de

ações deliberadas, os espaços públicos de lazer como parte das estruturas de

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enquadramento agem sobre “a mente dos indivíduos, induzindo a comportamentos

passivos e retardando a possibilidade de ação” (SANTOS, 1994, p. 111 apud

ANTAS JR., 1995, p. 54)1.

Espaços públicos de um meio urbano opressor, por vezes representam as

poucas oportunidades de recreação, contemplação e sociabilização em áreas livres

e abertas na cidade2. Somados o crescimento demográfico, a expansão da mancha

urbana, a intensificação da divisão técnica e territorial do trabalho, entre outros,

entendemos que conjunturas sistêmicas tornaram a produção destes objetos

técnicos uma necessidade geoestratégica.

O surgimento de espaços de lazer decorre assim de uma necessidade presente nos indivíduos de se desligarem do local da produção ou da moradia para usufruir do tempo livre. Atualmente o local de residência (a casa e o bairro) proporcionam cada vez menos oportunidades de lazer, devido ao adensamento populacional, degradação social e ambiental das periferias e a intensificação das formas de lazer passivas onde destacam-se a televisão, jogos eletrônicos (videogames) etc. (ANTAS JR., 1995, p. 86-87).

Macedo e Sakata (2003) e Schreiber (1997) começam nos auxiliando quanto

às primeiras imagens que temos quando pensamos em parques urbanos. As

principais construções mentais são aquelas que relacionam os parques a um

“bucólico e extenso relvado cortado por sinuoso e insinuante lago, transposto por

uma romântica ponte, plantado com chorões debruçados sobre águas e emoldurado

por bosques frondosos” (2003, p.13), ou um “grande gramado envolvido por arranha-

céus, como os de Nova York, imagem emblemática do Central Park” (2003, p.13). O

caráter bucólico tem especial destaque no senso comum. Ambos entendem o

parque como uma construção da era industrial, um espaço livre público composto de

vegetação e projetado para o lazer das massas urbanas, sobretudo inscrito em um

contexto de retorno ao campo, com “uma natureza idealizada, que se contrapõe à

percepção da cidade, ainda que o parque se encontre inserido no meio urbano”

(1997, p. 22).

1 SANTOS, Milton. Técnica, Espaço, Tempo: globalização e meio técnico-científico informacional. São

Paulo: Hucitec, 1994. 2 A princípio, a realização do lazer se dá pela existência de tempo livre e pela possibilidade de realizá-

lo, sem a exigência de um lugar específico. Os espaços, em suas variadas funções são transformados quando um indivíduo ou um grupo os ocupam com atividades lúdicas ou culturais. No entanto, há ressalvas quanto a esta apropriação, considerando a liberdade para que a criatividade, imaginação e descontração existam: uma sala de estar pode ser tornar um espaço de lazer por algumas horas, mas não sabemos se o único cômodo em um barraco também o pode.

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Em um sentido mais estrito, o bucólico configura-se como forma literária que evoca um passado idealizado, um olhar retrospectivo, um tom idílico e um futuro restaurador, enquanto libertador de condições sociais vigentes, sempre se definindo a partir de um contraste, principalmente com o presente. [...] Procura-se assim eliminar antagonismos vitais até não mais existirem adversidades, de tal modo que as imagens escolhidas componham um universo adulcorado (SCHREIBER, 1997, p. 21-22).

Objeto técnico, portanto, encontra freqüentemente na literatura a definição

elaborada por Rosa Grena Kliass: “Os parques urbanos são espaços públicos com

dimensões significativas e predominância de elementos naturais, principalmente

cobertura vegetal, destinados à recreação” (KLIASS, 1993, p. 19). Para a arquiteta e

urbanista, o parque responde às necessidades dos novos ritmos artificiais e às

demandas sociais de equipamentos de recreação e lazer – rarefeitos na expansão

urbana da cidade industrial –, ao mesmo tempo em que atende à criação de

espaços amenizadores das estruturas urbanas. É um “[...] fato urbano de relativa

autonomia, interagindo com o seu entorno e apresentando em seu bojo condições

de absorver a dinâmica da estrutura urbana e dos hábitos de sua população” (p. 31).

O prefácio da obra de Macedo e Sakata (2003), escrito por Kliass, assim se

inicia:

O Parque Urbano é um produto da cidade da era industrial. Nasceu, a partir do século XIX, da necessidade de dotar as cidades de espaços adequados para atender a uma nova demanda social: o lazer, o tempo do ócio e para contrapor-se ao ambiente urbano (KLIASS. In: MACEDO; SAKATA, 2003, p. 8).

O que esta definição não resolve é a grande diversidade de tipos de parques

urbanos que podem existir – ou, em outras palavras, o que de fato poderia ser

entendido como parque urbano: qual dimensão seria significativa? Uma quadra, um

quarteirão ou mais que isso? Qualquer elemento natural, independentemente de sua

origem, espécie ou porte, nativo ou remanejado, seria suficiente? De quais

atividades recreativas estamos tratando? Somente uma quadra de futebol ou um

complexo multi-esportivo bem assessorado?

Albuquerque (2006, p. 105-106), ao analisar algumas definições, que por ora

dão mais ênfase à questão ambiental, à recreação ou os aspectos sociais, aponta

que os parques urbanos possuem grandes diferenças entre si, em aspectos como

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dimensão, forma, função ou conteúdo. No esforço de sua definição, confundem-se

os parques com outras tipologias urbanas, visto que os espaços livres públicos

contêm, foram ou transformaram-se em jardins, praças, passeios públicos, entre

outros.

Apesar das incertezas, é sabido que os parques urbanos são verdadeiras

ilhas verdes estruturadoras da paisagem, onde a vegetação é fator positivo para a

saúde dos cidadãos e do meio ambiente. Com uma dimensão de salubridade,

higiene e ação cívica, permitem, por vezes, a apreensão de elementos naturais

característicos do meio físico original no sítio urbano: matas, córregos, brejos,

encostas, afloramentos rochosos, etc. (KAWAI, 2007); melhorias microclimáticas,

como o conforto térmico; proteção do solo ao impacto das chuvas, seqüestro de

carbono e retenção de partículas sólidas emitidas por veículos; conservação do

patrimônio genético, preservando fauna e flora (GARCIA, 2010, p. 13); aumento de

áreas permeáveis para maior infiltração das águas pluviais e conseqüente redução

do escoamento superficial; “redução do nível de ruído externo, apresentando

paisagem e ambiente favorável e estimulando a prática da leitura, de atividades

físicas e esportivas” (GÜNTER, 2006, p. 256-258); espaço privilegiado para

atividades associadas à educação ambiental 3.

Glezer e Mantovani (2009), em síntese, nos fornecem um bom panorama,

com pelo menos seis funções dos parques urbanos:

Pelas óticas diferenciadas os parques urbanos são espaços de preservação ecológica de flora e da fauna nativas; áreas privilegiadas para estudos científicos de preservação e de transformação/recuperação do meio ambiente; espaços de educação informal sobre conhecimentos científicos e meio ambiente; espaços de lazer e contemplação, hoje em dia muito valorizados pelos moradores do entorno; espaços de atuação de grupos sociais locais para o exercício da cidadania e indução para questões de sustentabilidade, e, melhoria de condições ambientais do espaço do parque propriamente dito e de seu entorno (GLEZER; MANTOVANI, 2009, p. 10)

Historicamente, dentre os autores reunidos parece ser consensual admitir que

o embrião do parque urbano nasceu na Inglaterra do século XVIII, especificamente

3 Importante não perder de vista a heterogeneidade dos parques urbanos. Sabendo de suas

diferenças, aspectos ambientais ou sociais se darão com maior ou menor intensidade de acordo com as características específicas de cada espaço. Um parque, necessariamente, não contém de maneira simultânea todas as funções aqui mencionadas.

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nos espaços verdes de grandes construções: “[...] uma adaptação para o uso público

dos requintados espaços, a céu aberto, em torno dos palácios e das mansões

senhoriais, que serviam para o deleite dos seus proprietários e convidados”

(LARUCCIA, 2004, p. 64)4.

A adaptação do jardim paisagístico privado ao parque público urbano, bem

como a impressão de caráter social a estas áreas verdes (quando de sua

transformação para prover e restaurar a saúde física e psíquica dos trabalhadores

envoltos em um centro urbano deteriorado que dificultava as condições de vida da

população) marcou o pioneirismo inglês (BARTALINI, 1999, p. 6). Com seu

desenvolvimento pleno no século seguinte, acaba por romper com a lógica

arquitetônica barroca5 para atender seu novo público.

A Inglaterra, no século XIX, onde em primeiro lugar se deu a revolução industrial, também foi pioneira na readaptação dos jardins em parques públicos. Os espaços urbanos usados pelas classes abastadas para encontrar-se e exibir-se passa a ser usado pela grande massa trabalhadora (LARUCCIA, 2004, p.64).

Com um novo modelo de linguagem, “[...] informal de linhas curvas, modelado

de relevo em colinas macias, rios e lagos, extensos gramados e grupos de árvores,

tudo sugerindo, por meio de seu arranjo, as formas da natureza” (KLIASS, 1993, p.

20), as áreas verdes e espaços livres foram, assim, introduzidos no planejamento

urbano decorrente do crescimento acelerado das cidades industriais. A partir de

suas condições precárias, fundamentava o discurso de que “se as cidades eram

infectadas, cumpria saneá-las de modo que os trabalhadores nelas residentes se

tornassem melhores e mais satisfeitos, o que resultaria, por fim, em maiores lucros”

(BARTALINI, 1996, p. 1107).

Bartalini (1999, p. 7) nos mostra que será na Inglaterra, especificamente em

Manchester, o local onde primeiro foram testados os parques com equipamentos

esportivos. Projetados por Joshua Major, quatro parques foram elaborados em

4 No entanto, mesmo antes dos jardins se tornarem públicos, já havia o hábito de parte da população

urbana desfrutar de espaços arborizados ou ajardinados. “Já no século XVII, durante o absolutismo na Inglaterra, a História registra a permissão de acesso público ao Hyde Park, em Londres, que era de propriedade da Coroa. Há também notícias da abertura ocasional de parques reais para a comemoração pública de eventos importantes em meados do século XVIII” (BARTALINI, 1996, p. 1106). 5 Estilo que subordinava tanto os elementos construídos como os elementos naturais, a partir de uma

linguagem geométrica rígida.

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meados da década de 1840, com a proposta – “ao mesmo tempo inovadora e

econômica” – de conservar a vegetação já existente, minimizar os movimentos de

terra e delimitar diversos espaços para os exercícios físicos e os jogos, sempre

cercados por massas vegetais.

“Transpondo o canal e o oceano”, podemos encontrar em Kliass (1993) um

breve panorama mundial:

Entre as décadas de 1850 e 1860, a inserção dos parques nas estruturas urbanas ganha corpo na Europa, com ênfase maior na França, especificamente por ocasião do plano de reformulação do centro de Paris, idealizado pelo barão Georges-Eugène Hausmann, prefeito do Sena no período de Napoleão III. Já nas Américas ressalta-se a instauração do Movimento de Parques Americanos, liderado pelo arquiteto-paisagista Frederick Law Olmsted, que vai dotar de parques um número significativo de cidades americanas (KLIASS, 1993, p. 19).

Em Paris, na segunda metade do século XIX, o processo de urbanização da

cidade (a “Paris de Haussmann”) estabeleceu um sistema de parques urbanos –

uma trama de áreas verdes –, com tipologia diversificada para cada projeto.

Revelador de uma íntima união entre os parques e a cidade, estas áreas verdes de

diferentes escalas estavam sempre ligadas por grandes avenidas. Os parques

periféricos, os parques intra-urbanos, os square, os jardins e as promenades, as

praças arborizadas e os grupos de árvores nas calçadas foram elaborados, em

certos casos, a partir das florestas que haviam pertencido à Coroa, implantados e

administrados, a partir de então, por uma nova estrutura administrativa, o Service

des Promenades et Plantations (KLIASS, 1993, p. 22; BARTALINI, 1999, p. 7).

Concomitante ao processo europeu tem-se nos Estados Unidos, na década

de 1860, o que veio a ser conhecido como o Movimento dos Parques Americanos,

cuja figura mais representativa foi Frederick Law Olmsted. Os parques, para ele,

deveriam estar relacionados entre si, preferencialmente por canais estreitos e

informais próprios ou, caso contrário, por parkways formais. Olmsted teve grande

influência no desenho das cidades americanas com a inserção de parques na

estrutura urbana ao utilizar seu potencial paisagístico. Em Boston, por exemplo,

estabeleceu-se um sistema de áreas verdes integradas por avenidas-parques,

preservando vales e beiras de rios, em um conceito que se opõem àquele que tem o

parque como objeto isolado, algo que se completa em si mesmo para amenizar as

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precárias condições ambientais da cidade (KLIASS, 1993, p. 22; BARTALINI, 1996,

p. 1108).

Com o que Kliass apresentou enquanto “a evolução do modelo” (KLIASS,

1993, p. 23-24), entendemos que após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) as

concepções dos parques urbanos ganharam efetivas transformações. Na Alemanha,

Áustria, Holanda e Estados Unidos florescem modelos de urbanização

fundamentados em ideologia socializante, valorizando os parques urbanos segundo

uma nova tendência que dava especial destaque às artes e à arquitetura6. Depois da

Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Inglaterra, França e Estados Unidos, a partir

das experiências das cidades novas, introduziram uma nova concepção urbanística

referenciada nos conceitos do arquiteto-urbanista Le Corbusier e da “Carta de

Atenas”7. Por fim, a partir da década de 1970 a crescente importância das questões

ambientais, além da preservação dos patrimônios culturais e paisagísticos em todo o

mundo, contribuiu para “revigorar as propostas de valorização das áreas verdes nos

centros urbanos e de conservação dos seus espaços naturais” (p. 24).

A opção pelo resgate da evolução do parque urbano na Inglaterra, França e

Estados Unidos não seria, então, gratuita. Sua evolução é importante para melhor

compreender a produção destes objetos técnicos no Brasil. Neste intento, destacam-

se as interpretações realizadas por Macedo e Sakata (2003, p. 24) e Bartalini (1999,

p. 7-8). Para eles, nos séculos XIX e XX, as cidades brasileiras expandiram-se de

maneira não-contínua, mantendo grandes áreas sem construção. Estes vazios

urbanos, áreas livres no interior do tecido urbano, geralmente várzeas dos rios,

descampados, praias, encostas ou matas, possibilitavam à população diversos

espaços para a realização do lazer – desde os banhos nas várzeas do Rio

Tamanduateí, em São Paulo, aos praticados nas margens dos rios que cortam

Recife; passeios, jogos de bola e piqueniques em diferentes lugares. Antecessores,

portanto, das áreas de lazer urbano formais, garantiram, até o momento de sua

escassez, que a produção de áreas específicas para o lazer imediato e cotidiano da

população não fosse tida como uma necessidade social.

Sugerem, sob o aspecto formal, que não há em nosso país “uma escola de

arquitetura paisagística”, o que faz do projetista do espaço livre um profissional

6 Valoriza-se, neste momento, o estilo Art Déco: linhas geométricas inspiradas nas antigas culturas,

sobretudo, da Grécia e Egito. 7 Manifesto urbanístico fruto do IV Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos

Históricos (Grécia, 1933), redigido por arquitetos e urbanistas, dentre eles Le Corbusier.

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autodidata, com grande liberdade projetual, geralmente originário de “escolas de

arquitetura, agronomia ou engenharia florestal, que lhe dão uma base ora mais

projetual (nas escolas de arquitetura), ora mais técnica (nas demais escolas),

entretanto nunca completa” (MACEDO; SAKATA, 2003, p. 47).

Em todas as cidades de porte do país, novos projetos são executados, a maioria deles desenvolvida de um modo bem simples, muitos constituindo apenas adaptações modestas de áreas antes abandonadas. Velhas chácaras, restos de capoeira, margens de riachos e antigos parques particulares são adaptados para uso coletivo, privilegiando-se, na maioria dos casos, os resultados formais imediatos e o baixo custo (MACEDO; SAKATA, 2003, p. 48).

O primeiro caso brasileiro de espaço especificamente preparado para o uso

público, enquanto área verde autônoma nascida urbana e sujeita à sua lógica,

executado entre 1779 e 1783, foi o Passeio Público, no Rio de Janeiro.

Apresentando extenso terreno cercado, arborizado e ajardinado, com a exposição

de esculturas, presença de pequenos lagos, equipamentos de conforto aos

visitantes – bancos, mesas, quiosques e restaurantes –, múltiplos caminhos

internos, exemplares da fauna local, entre outros, veio tornar sinônimos Passeio e

Jardim públicos (BARTALINI, 1999, p. 5).

São Paulo, nas primeiras décadas do século XIX, mantinha suas referências

de sociedade urbana pautadas às cidades do Rio de Janeiro e Salvador. A essa

época, ainda num período escravocrata onde a cidade burguesa pouco se insinuava,

não se exercia o domínio pleno sobre a natureza original e hábitos e relações

ligadas à esfera agrária eram mantidos. A ação pública a favor dos jardins e áreas

verdes em geral começou a ocorrer de modo mais efetivo, tão somente, a partir de

1870, décadas depois das iniciativas inglesas e alguns anos após o início do

movimento americano, com a emergência da cidade de São Paulo no cenário

político-econômico nacional. O que se almejava, segundo Burgos (2003, p. 55), com

as transformações no espaço urbano da cidade, incluindo aí os espaços públicos,

era “alcançar a imagem de modernidade inspirada nas cidades européias [...]

destruindo as referências da cidade erguida sobre o povoado de taipa de pilão”.

De fato, desde o século XIX, os modelos urbanísticos europeus, notadamente franceses, inspiraram a elite paulistana, cujos interesses se materializavam na cidade de diversas formas, passando pelos mecanismos da posse da terra e pelos modos de

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conceber e gerir os usos dos espaços públicos e privados (BURGOS, 2003, p. 71).

São Paulo, aqui, terá um olhar mais demorado. Pautados por Antas Jr. (1995;

2010) e Santos (2009b), buscaremos compreender – nas diferentes estruturas

urbanas da sociedade brasileira, em diferentes momentos de modernização

capitalista – como vão sendo efetivadas as refuncionalizações no espaço,

preocupados, sobretudo, na configuração geográfica do lazer paulistano.

É sabido, então, que a estruturação dos espaços públicos de lazer em São

Paulo desenvolveu-se no decorrer do processo de urbanização e que estes

compõem, junto ao sistema viário, indústrias, escolas, sistemas de

telecomunicações, etc., sistemas técnicos de atuação sobre a sociedade, cada qual

com seu grau específico de interferência na produção social do espaço. Além disso,

os espaços públicos de lazer revelam as peculiaridades de sua estrutura,

fornecendo informações sobre as preferências lúdicas e culturais do uso do tempo

livre pela complexa e estratificada sociedade paulistana.

Os diferentes momentos, ou as diferentes fases de modernização capitalista,

podem assim ser considerados:

A primeira, baseada no comércio, é aquela com a qual a cidade passa do século XIX para o século XX. A segunda é fundada na produção industrial e dura até os anos 60, ao passo que a fase atual, baseada nas anteriores, é a metrópole global, cujas atividades hegemônicas se utilizam da informação como base principal do seu domínio (SANTOS, 2009b, p. 41).

A produção do espaço urbano da cidade de São Paulo, atenta à produção dos

espaços para o lazer na cidade, poderia ser lida com o auxílio de Antas Jr. (2010, p.

158) e Sobrinho e Ribeiro (2008, p. 13-14), por: I) a sociedade agrário-exportadora,

entre o final do século XIX e início do XX, quando a cidade exercia o papel de

fundamental entreposto comercial entre a região cafeeira do interior do estado e os

mercados industrializados do centro do sistema capitalista, com a criação de

parques como locais de cultura e pontos de encontro para a elite paulistana, de

grande inspiração francesa – parques como o Jardim da Luz, Buenos Aires, Tenente

Siqueira Campos (antigo Trianon) e o Ibirapuera; II) a sociedade urbano-industrial,

quando a cidade já alterara sua fisionomia e transformara-se numa metrópole, lugar

estratégico para o desenvolver da indústria nacional com papel privilegiado na

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integração territorial, que orienta a criação de parques a partir de remanescentes de

grandes propriedades privadas da elite – caso de parques como o do Carmo e

Piqueri; III) momento atual, de metrópole terciária com forte concentração dos

serviços financeiros, sede de grandes grupos privados e empresas de consultoria

jurídica, produtora de tecnologia e conhecimento, lócus do controle de grande parte

dos fluxos de capital, informação e mercadorias que passam pelo país, orientando a

produção de novas áreas nas periferias da cidade – maior número e variedade de

parques, agora menores e preservacionistas do verde e da qualidade de vida.

O primeiro momento caracteriza São Paulo com o que podemos chamar de a

“Metrópole do Café” – denominação cunhada por Ernani Silva Bruno (1953). A partir

das três últimas décadas do século XIX, os efeitos da economia cafeeira se

mostraram presentes, inserindo a cidade de maneira mais intensa no processo de

mundialização capitalista em curso. O café, suplantando o açúcar na economia

paulista, trazia consigo novos imperativos sociais, culturais e econômicos, alterando

sensivelmente a vida da Província de São Paulo. Implantam-se vias férreas,

maximizando as condições para o desenvolvimento urbano, sobretudo pelo

incremento das indústrias relativas ao beneficiamento do café e pela ligação com o

porto de Santos (1867), cada vez melhor equipado ("Quatro épocas na história de

São Paulo no século XIX", ESB (48) 1 – 215). Novos objetos, novos meios de

comunicação, possibilitaram contatos mais constantes e menores períodos de

ausência com relação às recentes criações materiais e imateriais das potências

ocidentais.

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Ilustração 1 – Estação da Luz; em primeiro plano, obras de reforma no Jardim da Luz (c.1902). Autor: Marc Ferrez.

Uma das conseqüências urbanísticas mais significativas da expansão da cultura cafeeira em São Paulo foi o fato do fazendeiro de café ter fincado raízes na cidade, situação ligada à própria natureza de sua atividade econômica. O fazendeiro de café, formador da classe dominante da primeira República, tinha que estar presente à fase de comercialização de seu produto – o qual era praticamente a única razão de sua existência de sua unidade produtiva. Ao contrário do „barão do açúcar‟, em cujas terras o setor de subsistência era tão ou mais importante que o setor voltado para a produção do excedente exportável, o cafeicultor não podia ficar fechado em sua fazenda; ele tinha que se empenhar em várias frentes de atividade: aquisição de terras, recrutamento de mão de obra, comercialização nos portos, contatos oficiais, interferência na política financeira e econômica. O fazendeiro de café assumia, portanto, funções de empresário moderno em muitos sentidos. No caso brasileiro, ele era também uma figura ávida por se inserir em um contexto urbano que equiparasse o seu „modus vivendi‟ ao das burguesias européias, modelos de bem-estar para a elite nativa (REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL, 1991 apud ANTAS JR., 1995, p. 56).

A proposta de se erigir uma nova cidade orienta, portanto, estes

empreendedores em São Paulo. Com a riqueza originada do café, a diversificação

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das funções econômicas (surgimento da indústria, concentração dos bancos,

crescimento do comércio) e o vertiginoso crescimento populacional8, reclamou-se

por maior fluidez aos excedentes: o Estado passou a investir na produção objetiva e

técnica de um novo espaço urbano (introdução de melhorias e serviços públicos nas

ruas e largos), com o auxílio de legislação e medidas regulatórias específicas.

Houve, então, o fortalecimento do poder local e a criação de novas práticas

espaciais.

Ilustração 2 – Avenida Paulista (1902). Autor: Guilherme Gaensly.

Para uma cidade repleta de atrativos naturais em áreas livres, como as

várzeas e seus rios, espaços públicos e comunitários vieram compor, também, locais

tomados para o exercício do lúdico, ócio e do entretenimento. Nas cidades-jardins,

representantes explícitas da valorização imobiliária e da lógica sócio-espacial

segregacionista, encontravam-se parques e áreas ajardinadas que serviam de

instrumento para políticas sanitaristas e reformas urbanas, ou seja, para o

embelezamento ansiado pela classe dominante quando, de sua instalação,

8 Segundo Glezer, „a população urbana dobrou em cinco anos: havia 65 mil habitantes, que passaram

a 130 mil em 1895! E em 1900, a cidade contava com 240 mil habitantes – 84,6% de crescimento. Uma explosão demográfica de 269% na década, quase 14% ao ano‟ (2007, p. 169).

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removiam-se cortiços e instalações populares do entorno – encaradas como um

problema a ser enfrentado, uma ocupação insalubre, imoral e perigosa.

Ilustração 3 – Vista da Várzea do Carmo, a partir da encosta do Pátio do Colégio; à esq., igreja e mosteiro de São Bento (c.1862). Autor: Militão Augusto de Azevedo.

Foram criadas, ao longo do tempo, condições favoráveis à industrialização

além daquela atrelada ao café. Naquele momento, primeiras décadas do século XX,

“[...] a metrópole do café já havia sido superada e despontava, por detrás da fumaça

das chaminés das fábricas, a capital industrial” (SANTOS JR., 1991, p. 51).

Os capitais gerados pelo café, o aumento da população, a formação de um mercado interno consumido e a situação geográfica estratégica da capital ao lado da extensa rede ferroviária desenvolvida entre 1867 e 1877 condicionam o desenvolvimento do setor industrial da capital. Esse setor ganha maior fôlego nas duas últimas décadas do século XIX, e a partir de 1875 tem início o período de expansão do espaço urbano para abrigar as novas funções, avançando em direção ao cinturão verde (KLIASS, 1993, p.35).

O segundo período, primeiras décadas do século XX, corresponderia ao

momento histórico onde a importância de São Paulo no cenário econômico nacional

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se ratifica. Com o aumento dos fluxos, unindo e comunicando pessoas, mercadorias

e capitais, contínuo aumento da população urbana e a consolidação do surto de

industrialização em sua capital, supera a então Capital Federal, a cidade do Rio de

Janeiro, como principal pólo de atração da atividade industrial brasileira9. A divisão

social do trabalho torna-se mais complexa e a cooperação capitalista se estreita:

exige-se do Estado e das instituições maior capacidade organizacional, compatível

com a expansão do setor terciário e dos sistemas de crédito, públicos ou privados.

Com um crescimento elevado, refletiu transformações em seu tecido urbano, seja do

ponto de vista de suas dimensões, composição ou distribuição de sua população.

Do início dos anos trinta até meados da década de 1960, o município viu sua população multiplicar seis vezes e sua área urbanizada quadruplicar com a abertura incessante de novos loteamentos, sem que se elaborasse, com a mesma dedicação dispensada ao sistema viário, por exemplo, qualquer plano para áreas verdes de recreação (BARTALINI, 1999, p. 209).

Ilustração 4 – Clube de Regatas do Tietê (c. 1905). Autor: Guilherme Gaensly.

9 “A política de desenvolvimento econômico tinha, como um de seus pilares, o subsídio maciço à

industrialização brasileira, impedindo a livre penetração do capital estrangeiro e estimulando e favorecendo os capitais nacionais” (ANTAS JR., 1995, p. 72).

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Na cidade da década de vinte, com um desenvolvimento urbano intenso e

destoante dos momentos históricos anteriores, mantido o fácil acesso ao centro –

evolução dos bondes elétricos para os ônibus e o aumento de automóveis

particulares –, tornam-se insuficientes as medidas que buscassem a ampliação e

alargamento das ruas. Abriu-se o debate para modificações no sistema de

transporte coletivo de São Paulo, efetivando, por exemplo, a retirada das linhas de

bonde das vias comerciais mais movimentadas10.

Ilustração 5 – Praça da Sé, c. 1928; o palacete Santa Helena, ao fundo, desapareceria em 1971, com a construção do Metrô. Autor: Theodor Preising.

As áreas livres, lócus privilegiado para o usufruto do tempo livre, exercício

lúdico, entretenimento e do ócio, preteridas pelo automóvel perdiam, cada vez mais,

seus espaços. No momento em que a circulação passou a imperar, a importância

10

Em 1927 a Light apresentou à Prefeitura uma proposta de implantação de um sistema metropolitano subterrâneo que contaria com uma estação central na Praça da Sé. Preterida perante a ampliação do sistema viário, voltaria 40 anos depois para de fato ser implantada, com um reduzido debate interno entre os órgãos técnicos encarregados, propiciados pelas condições de repressão ao livre debate e ao questionamento das ações governamentais (SANTOS JR., 1991, p. 89).

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dos parques e demais áreas verdes da cidade perdeu significado, ignorando os

aspectos de higienização e embelezamento que até então os mobilizavam.

É neste momento que os parques sofrem uma diminuição em seu número absoluto, sendo os jardins sumariamente dizimados pela voracidade do sistema viário que, de um momento para outro, teve que garantir o acesso de milhares de pessoas às suas habitações distantes e também à circulação de mercadorias. O Jardim da Luz e Jardim da Aclimação são exceções, tornando-se parques. Este último, em 1939, seria adquirido pelo município, pois fazia parte integrante do „Plano de Avenidas‟ de Prestes Maia, cujo projeto previa mais parques para a cidade. No entanto, as necessidades de circulação sempre prevaleceram na implantação do plano (ANTAS JR., 1995, p. 73).

Antas Jr. (1995, p. 77-78) aponta que aparentemente seria incompreensível

entender o porquê do não reclame da população diante desta diminuição de

espaços públicos de lazer, num momento em que cresce sua importância. Seria

preciso, então, considerar as peculiaridades do processo de expansão urbana em

São Paulo, num modelo de expansão periférica, onde há a disponibilidade de

espaços livres para o lazer ser realizado, explicando, desta forma, a pouca atuação

do Estado neste setor durante a segunda etapa de modernização. Na década de 30,

a cidade contava com sete parques urbanos, em diferentes escalas e situações

urbanísticas, num total de 978.227 m² 11.

Em relação aos parques urbanos, no período de 1930 a 1950, a municipalidade não foi pródiga: a cidade ganhou apenas a complementação do Trianon, com a criação da Praça Alexandre de Gusmão (11.900 m²), após a construção do túnel da Avenida 9 de Julho. Nesses vinte anos foram criados três parques de preservação pelo governo estadual: o Parque do Estado – ao sul, nas cabeceiras do Ipiranga –, o Jaraguá e o Horto Florestal, ao norte, na serra da Cantareira. Essas áreas acresceram, aproximadamente, 13.000.000 m² aos parques já existentes, totalizando agora 13.933.627 m² (KLIASS, 1993, p. 44-45).

Sabendo que a cidade de São Paulo crescera no ângulo interno da

confluência dos rios Pinheiros e Tietê, as várzeas, “milhões de metros quadrados de

terras circunscritas pelos processos da cidade” (SEABRA, 2003, p. 277), entre os

anos de 1920 e 1960 se constituíram como lugar propício para a ocupação do tempo

11

Segundo Kliass, eram eles: Jardim da Luz, Praça da República, Parque do Trianon, Jardim da Aclimação, Praça Buenos Aires, Parque Dom Pedro II e Parque da Água Branca (1993, p. 42).

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livre, de uso intenso e irrestrito: espaços periodicamente inundados, que repeliam a

urbanização e ofereciam, nos momentos de estiagem, áreas livres e verdes ao longo

dos rios para atividades festivas, recreativas e culturais12.

Com o avanço dos trabalhos de retificação dos rios e a abertura das avenidas

marginais, acentua-se o processo de valorização do solo urbano, incentivando o

loteamento das várzeas pelas empresas do setor imobiliário.

Ilustração 6 – Retificação do Rio Tietê (1939). Autor: Benedito Junqueira Duarte.

Como toda obra de produção da cidade (asfalto, iluminação, praças, etc.) a retificação em projeto e a retificação em execução abria enorme perspectiva da valorização das terras. Tanto daquelas beneficiadas imediatamente como eram as várzeas, como das áreas adjacentes, envolvendo até mesmo a cidade como um todo. Trata-se da incorporação de trabalho à terra na forma de valores fixos, fixados no solo, que induzem naturalmente, nas condições de vigência de um mercado de terras, a uma valorização diferencial da terra. Uma valorização que deriva em princípio da aplicação dos elementos envolvidos no processo material de produção (trabalho e capital), os quais aparecem no preço da terra como renda diferencial por tecnologia (SEABRA, 1987, p. 114).

12

“É nesse período que o futebol de várzea se consagra como esporte predileto dos paulistanos e, com a proliferação de campos de futebol, uma parte significativa da população se envolvia com essa prática esportiva, jogando em times organizados ou não, pois as várzeas eram de acesso irrestrito, com uma apropriação coletiva do espaço para o exercício do lúdico, do entretenimento e do ócio” (ANTAS JR., 2010, p. 165-166).

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Com esta mobilidade em crescimento, a metade do século XX já apresentava

na cidade de São Paulo uma área residencial distribuída espacialmente segundo

padrões de renda. A população operária localizava-se, em sua maioria, próxima das

instalações industriais, nas proximidades das vias férreas, nas partes baixas como o

Brás, Mooca e Belenzinho, e os bairros aristocráticos situavam-se dos Campos

Elíseos até o espigão da Avenida Paulista.

A ação do Estado na promoção do lazer, no entanto, não se deu

exclusivamente como forma compensatória da perda das várzeas. São Paulo estava

se inserindo na terceira etapa de modernização, e o tempo livre assumia novas

dimensões – para os indivíduos, o capital e o Estado.

O terceiro período, da década de 1960 aos dias atuais, seria o momento

marcado pelo fim das várzeas como forma privilegiada para o lazer dos paulistanos,

incremento demográfico, acirramento da desigualdade social e a conseqüente

emergência da produção de espaços de lazer públicos em São Paulo. Na fase atual

de modernização, a plena inserção da cidade na globalização trouxe novas

necessidades, onde o lazer foi orientado a contribuir neste processo, desde a

normatização das relações sociais na sociedade às demais exigências do mercado

mundial. Observa-se, enfim, o processo de desindustrialização, o crescimento das

atividades terciárias, o aumento de empregos neste setor e o constante

aperfeiçoamento dos sistemas técnicos da informação e comunicação (meios mais

expressivos da globalização) – um novo sistema de ações, que interagindo com um

sistema de objetos técnicos, produziu uma nova cidade. Para Kliass (1993, p. 49),

“[...] a capital passa então a exercer a função de centro financeiro e administrativo

dessa macrorregião produtiva, com grande expansão de suas atividades terciárias,

de comércio e de serviços”13.

Neste processo observa-se uma configuração do espaço urbano paulistano nitidamente diferenciada dos dois períodos anteriores. Inicialmente marcada como entreposto do comércio internacional,

13

Com 2.198.096 habitantes em 1950, o município de São Paulo atingirá em 1984 a cifra de 9,718.258. Respondendo ao modelo de desenvolvimento de concentração do capital, São Paulo se estrutura para atender ao setor industrial novo, que exige grandes espaços para as suas instalações. Esse setor ocupa as áreas junto às rodovias, principalmente Dutra e Anchieta, dando início, na década de 50, ao processo acelerado de metropolização e estabelecendo relações funcionais com os municípios vizinhos, que passam a integrar com a capital uma única aglomeração” (KLIASS, 1993, p. 49).

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para em seguida ter sua geografia transformada para a fluidez da produção e do consumo, agora assiste-se uma estruturação do território urbano voltado para processar, estocar e enviar a informação, sem no entanto, deixar de exercer as originais funções herdadas pelas divisões do trabalho dos períodos precedentes (ANTAS JR., 1995, p. 28).

Ilustração 7 – Viaduto do Chá, sobre o Vale do Anhangabaú, déc. 60. Autor: Marcel Gautherot.

Seria marcado, também, pelo debate sobre as perspectivas de revitalização

da área central. Baseado no argumento da deterioração do Centro Velho em função

do acúmulo de problemas crônicos e conjunturais, o Estado anuncia uma série de

novas intervenções para os sistemas viário e de transportes, objetivando dispersar

aquela centralidade e ao mesmo tempo atender o deslocamento das atividades

centrais para locais mais distantes. A implantação do Metrô, nas décadas seguintes,

seria responsável por um processo de transformação urbana em grande escala, que

acabaria por reestruturar, de maneira mais ampla, o conjunto dos espaços

existentes na área central – sobretudo suas áreas públicas. Quanto aos seus

parques, segundo Kliass:

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Em 1984, São Paulo contava com 23 áreas que podem ser consideradas parques, das quais cinco são parques estaduais (Parque do Estado, Jaraguá, Horto Florestal, Ecológico do Tietê e Água Branca), duas são praças (Praça Buenos Aires e Praça da República), segundo classificação oficial, e as dezesseis restantes constituem os parques municipais, a saber: Parques da Luz, Siqueira Campos, Aclimação, Ibirapuera, Morumbi, Guarapiranga, Carmo, Anhanguera, Vila dos Remédios, São Domingos, Pirituba, Piqueri, Previdência, Nabuco, Raposo Tavares e Conceição. Essas áreas perfazem um total de 28.658.168 m², com um índice de 2,95 m²/habitante (KLIASS, 1993, p. 56).

As desigualdades nas condições de vida dos paulistanos eram cada vez

maiores, estimuladas, basicamente, pelo contexto econômico e social do país –

políticas estipuladas em governos militares, fundadas no arrocho salarial (reajustes

não equilibrados ou equiparados com as taxas de inflação) dos trabalhadores, que

acabava por provocar a transferência de renda para grupos cada vez menores na

sociedade.

Para a efetividade das divisões social e territorial do trabalho, o Estado,

naquilo que Santos (2009b, p. 122) já anunciava – “cada parcela do território urbano

é valorizada (ou desvalorizada) em virtude de um jogo de poder exercido ou

consentido pelo Estado” –, efetivava os critérios para o uso do solo, criando zonas

especiais (industriais, comerciais e residenciais). Com os bairros das elites atraindo

o comércio e os serviços mais sofisticados, o “Centro Velho” passou a ter a maior

concentração de comércio varejista direcionado para as camadas populares da

cidade. Suas ruas eram, praticamente, corredores onde multidões se deslocavam

para ir e vir do trabalho. Nesta lógica, as mercadorias avançavam sobre as calçadas,

com preços menores quando comparados a outros centros comerciais, destinados

aos consumidores de curta permanência nestes espaços entre terminais urbanos. O

Centro passara, cada vez mais, a ser acessível a vários tipos de empresas e

negócios populares.

Como visto, o fortalecimento do binômio urbanização-industrialização na

sociedade capitalista fomentou uma complexa divisão do trabalho e do tempo social,

tornando homogêneo ou específico o tempo de exercício do lúdico. Assim, novos

objetos técnicos foram pensados, estabelecidos e destinados à população, para que

se pudesse, em seu tempo de lazer, atender a estruturas de enquadramento,

intervindo no corpo e mente dos indivíduos. Assim como lazer, o discurso ecológico

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ganha atenção e importância em São Paulo a partir da década de 1970, em

correlação com as mesmas orientações de outras metrópoles globais. As duas

grandes carências urbanas, lazer e áreas verdes, intensificadas pelo processo de

globalização, que além da desigualdade produzia espaços mais desumanos e

áridos, transformou os parques em objetos privilegiados do planejamento urbano no

lazer público e também da população, que identifica e valoriza estes espaços como

primeira opção para a realização do lazer, fundamentada no discurso pela melhoria

das condições ambientais e do padrão de vida urbano. Considerando os momentos

até então vivenciados:

O Jardim da Luz revelava um momento do modernismo europeu ambicionado pelos paulistanos, o Ibirapuera, com o seu nome essencialmente ligado às raízes brasileiras expressa em suas formas outro momento do modernismo brasileiro, a versão nacional do modernismo mundial, que associava modernidade a progresso. Os parques produzidos desde a década de 1970 [...] têm em sua maioria expresso os valores ecológicos, na medida em que estes parques procuram manter o aspecto rústico e selvagem da natureza, buscando assim um „equilíbrio‟ com o meio tecnificado [...] (ANTAS JR., 1995, p. 99).

Podemos considerar, portanto, que o crescimento do número de espaços

públicos para a realização do lazer no meio urbano, especificamente em São Paulo,

neste período, é resultado de três fatores: crescente demanda, escassez na oferta

de áreas livres verdes e as condições precárias de sua população – impossibilidade

de acesso aos lazeres privados, jornadas de trabalho mais extensas (formais ou

não), longos trajetos em um sistema viário urbano caótico e precárias condições de

moradia. Sua emergência, no período técnico-científico-informacional, responde,

então, à necessidade do sistema capitalista se manter e ampliar, fundamentado na

produção de um espaço que garanta a reprodução das relações sociais de

produção.

Considerações realizadas, caminhamos para entender os parques urbanos

como objetos técnicos cada vez mais elaborados. Desde suas curvas de nível

(precisamente medidas, suavizadas a fim de evitar a erosão natural ou destacadas

para inviabilizar o uso de determinadas áreas), espécies vegetais (arbóreas,

rasteiras, frutíferas ou não), aos equipamentos neles instalados (trilhas, por

exemplo, a fim de otimizar o consumo dos espaços), objetivam específicas formas

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de vivência e comportamento, ocupação e fruição de atividades recreativas ou

esportivas, sempre submetidos aos valores estéticos idealizados pelo Estado.

Auxiliados por nossa bibliografia, somos levados a destacar que São Paulo,

com seu perfil altamente urbano e complexo, conhecida como centro de consumo,

espaço de trânsito intenso de pessoas e veículos, raramente é lembrada por suas

áreas verdes e dificilmente possibilita visualizar a pluralidade de perfis que tem

(PMSP, 2007). Uma das maiores e principais metrópoles do sistema, “constitui-se

um excelente laboratório tanto para aprofundar a reflexão sobre o que ela significa

nesta contemporaneidade quanto, também, à luz dessa compreensão, verificar de

que maneira seu futuro se delineia” (SOUZA et.al., 1999, p. 11).

A São Paulo que se quer moderna e eternamente nova procura ocultar o desafio perceptivo de sua constante reconstrução; ao contrário, procura-se documentá-la sempre, nos seus melhores aspectos, mais condizentes com as metáforas do moderno global. São Paulo pretende empolgar pela sua visibilidade e esconder-se como identidade que impõe o reconhecimento das suas múltiplas e díspares imagens (FERRARA, 1999, p. 54).

Antas Jr. (2010, p. 170) nos indica que pensar estratégias para melhor

qualidade de vida de seus habitantes significa, também, reconhecer e estimular suas

potencialidades naturais e culturais de modo integrado, a fim de permitir a fruição do

tempo livre como atividade de emancipação social. Procuraremos, assim, a partir de

um projeto recente, uma nova série de implantações de parques na cidade, apontar

novos paradigmas e verificar, como anunciado, se este viés emancipador poderá de

fato se efetivar.

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CAPÍTULO III

PARQUES URBANOS NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO: UM PANORAMA ATUAL

“Atualmente, com a temática da requalificação dos espaços urbanos,

principalmente das áreas centrais das cidades, com a demanda crescente de espaços de recreação e lazer e com a introdução das dimensões ambiental e

paisagística no planejamento, a temática do Parque Urbano assume papel central no desenvolvimento dos planos e projetos urbanos.”

Rosa Grena Kliass

Partindo das informações produzidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE) e da

Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP), podemos construir um breve panorama

sobre os parques urbanos na cidade de São Paulo.

O município de São Paulo localiza-se na Região Sudeste do Brasil, capital do

Estado de São Paulo. Cidade brasileira mais populosa, fortemente urbanizada,

apresenta 11.324.102 habitantes em uma área calculada de 1.522,99 km² –

densidade demográfica com média aproximada de 7.400 hab/km². Núcleo de uma

bem desenvolvida rede urbana, uma metrópole mundial, divide-se em 31

Subprefeituras e 96 Distritos. Importante centro cultural, financeiro e de serviços,

apresenta fortes disparidades socioeconômicas, expressas em suas diversas

paisagens. Maior centro de produção e maior mercado consumidor, constitui grande

entroncamento rodoviário para as demais regiões do país.

Cortada pelo Rio Tietê, seus principais afluentes são os rios Pinheiros e

Tamanduateí, em um modelado com altitude média em relação ao nível do mar de

760 metros. Sua cobertura vegetal é composta por formações florestais, fragmentos

de Mata Atlântica (em suas diversas fisionomias, como matas de encosta, de

planalto, ciliares e de turfeira) nas áreas mais preservadas (Serra do Mar, Serra da

Cantareira), e formações campestres (campos secos, de várzea, alto-montanos e

brejos), ambos presentes em variados terrenos, particulares ou de áreas livres,

parques e praças e, também, ao longo da arborização viária.

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A metrópole avança sobre remanescentes do Bioma Mata Atlântica que, no Brasil, apesar da devastação acentuada, ainda abriga uma parcela significativa de diversidade biológica, com altíssimos níveis de endemismo e mais de 2300 espécies de vertebrados. Dessas, estima-se que aproximadamente 740 espécies são endêmicas. Para alguns grupos essa unicidade é ainda mais acentuada. Cerca de 80% das 24 espécies de primatas da Mata Atlântica não ocorrem em nenhum outro lugar do planeta. [...] O nível de diversidade e endemismo de plantas do Bioma é ainda mais impressionante. São estimadas 20 mil espécies, das quais cerca de 8 mil são endêmicas. O alto nível de riqueza de espécies e endemismo, associado com a elevada pressão antrópica sobre o bioma, colocam a Mata Atlântica brasileira entre os 5 hotspots mundiais mais ameaçados do planeta

(PMSP, 2008, p. 5).

Como conseqüência de uma forte expansão da ocupação do espaço e a

concentração populacional, aliada às variadas atividades antrópicas no meio urbano,

São Paulo apresenta significativos conflitos de ordem ambiental: impermeabilidade e

contaminação do solo, ocupação irregular nas várzeas, mananciais e encostas,

excessiva produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos, poluição do ar e da

água, poluição sonora e visual, entre outros.

Tabela 1 – Densidade Demográfica do Município de São Paulo: 19872-2010.

Anos População Área Densidade Taxa de

Total em km2 (hab/km

2)

Crescimento

(1)

1872 31.385 - - -

1890 64.934 - - 4,1

1900 239.820 - - 14,0

1920 579.033 - - 4,5

1940 1.326.261 - - 4,2

1950 2.198.096 - - 5,2

1960 3.666.701 - - 5,6

1970 5.924.615 1.509 3.926 4,6

1980 8.493.226 1.509 5.628 3,7

1991 9.646.185 1.509 6.392 1,2

2000 10.434.252 1.509 6.915 0,9

2010 11.253.503 1.509 7.458 0,8 Fonte: IBGE, Censos Demográficos e EMPLASA

Elaboração:SMDU/Dipro (Adaptado)

(1) Taxa de Crescimento Geométrico Anual

OBS: Somente a partir de 1964 o IGC passou a calcular a área do MSP

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Ilustração 8 – Município de São Paulo: subprefeituras.

Ilustração 9 – Município de São Paulo: distritos

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ILUSTRAÇÃO 10 (ANEXO)

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ILUSTRAÇÃO 11 (ANEXO)

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Para Kliass (1993, p.32-33), a efetiva inserção da dimensão ambiental1 no

planejamento e na práxis daqueles que intervêm na cidade poderia garantir o

aproveitamento do potencial paisagístico do sítio urbano (daí, criar melhores

condições para oferecer parques à cidade). Com esta premissa, seriam reservadas

e valorizadas as áreas verdes que pudessem responder a futuras demandas de

parques urbanos públicos. No entanto, a cidade de São Paulo deixou, com a

apropriação inadequada do seu sítio urbano, escapar a ocasião de proceder a essas

reservas (1993, p. 205). Declararam-se irrelevantes, na esfera da qualidade

ambiental e da qualidade de vida, as oportunidades de ganhos no decorrer de sua

ocupação.

Perdida a grande oportunidade do aproveitamento das grandes várzeas do Tietê e Pinheiros, a cidade deverá, no entanto, buscar em sua estrutura e na sua dinâmica de desenvolvimento projetos que a médio e longo prazos, dependendo das necessidades do mercado, das condições econômicas gerais e da estrutura organizacional que para tal fim se monte, possam se transformar em tema urbanístico e paisagístico da maior importância para a qualidade de vida da cidade (KLIASS, 1993, p. 206).

Neste sentido, acrescentando também as potencialidades culturais que

poderiam daí surgir, Antas Jr. (1995, p. 109) reforça a idéia de que pensar

estratégias para melhorar o nível de vida dos habitantes da cidade significaria

melhor adequar suas potencialidades naturais. Somente então, disto compreendido

e tomado como diretriz, parques, reservas naturais (e outros equipamentos, como

centros esportivos, centros culturais, cinemas, teatros, etc.), de modo mais

integrado, poderiam ser melhor direcionados às necessidades de superação dos

indivíduos em seu tempo livre.

Na década de 1970, pelo Departamento de Parques e Jardins (e

posteriormente pelo Departamento de Parques e Áreas Verdes), na tentativa de

valorizar a dimensão ambiental no espaço urbano, a administração pública passou a

privilegiar as composições vegetais. Na compreensão de Bartalini (1999, p. 210),

uma “postura com um viés prático/orçamentário e um viés ecológico difíceis de

isolar”:

1 Toma-se o cuidado de não limitar a esfera ambiental como quadro físico, mas sim como prática

socioespacial “na qual o cidadão – que é reduzido a um montante populacional – é visto, muitas vezes, como um número indesejável ou no mínimo incômodo ao progresso”, alertado por Carlos (1999, p. 82).

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De fato, se daí resultam maior diversidade florística e faunística e benefícios gerais ao meio ambiente, também resultam economias, pois é muito menos dispendioso deixar a natureza se encarregar da evolução de bosques ou matas do que manter jardins e áreas de intenso uso público. Fica-se assim sem saber se este foi um princípio adotado por conveniência ou por convicção ecológica (BARTALINI, 1999, p. 210).

Também nesta década (1970), “se inicia um amplo processo em nível global

orientado para criar as condições para formar uma nova consciência sobre o valor

da natureza e para reorientar a produção de conhecimento” (JACOBI, 2006, p. 310-

311). Para Jacobi, este movimento, chamado Educação Ambiental, enquanto ação

educativa:

[...] representa um importante instrumento de mediação entre a esfera educacional e o campo ambiental, estabelecendo um diálogo com os ‘novos’ problemas gerados pela degradação do meio ambiente e estimulando reflexões, visões de mundo, métodos e práticas que propõem construir novas bases de conhecimento e novos valores (ecológicos) a partir desta geração (2006, p. 310-311).

Seria neste processo, então, de valorização das questões ambientais –

bandeira pela qualidade de vida –, que a administração pública poderia atender, com

qualidade, as demandas de seus munícipes quanto ao oferecimento de espaços

verdes públicos de lazer.

Como apontado por Whately et. al. (2008, p. 74), “um subsídio importante

para a gestão dos parques municipais é o grau de conhecimento dos freqüentadores

sobre estes espaços, não apenas sobre a existência, mas sobre como são geridos e

mantidos”. Não é de conhecimento de grande parte dos habitantes da cidade de São

Paulo, mesmo entre aqueles que fazem uso freqüente dos parques urbanos públicos

municipais, a estrutura administrativa que planeja, desenvolve e mantêm esses

equipamentos – salvaguardo aqueles que participam efetivamente da vida pública

ou que acompanharam, em algum momento, específico ou pontual esforço de sua

divulgação. Desfigurada na imagem do “Governo” ou “Prefeitura”, está a Secretaria

Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), atual responsável pela gestão dos

parques que objetiva planejar, ordenar e coordenar as atividades de defesa do meio

ambiente no Município de São Paulo, ao fazer uso da cooperação técnica e

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científica de órgãos e entidades pró-ambientais, Governo Federal, Estados e

Municípios.

A partir dos resgates feitos por Bartalini (1999), Burgos (2003, p. 91-92) e

Laruccia (2004, p. 110-111), podemos identificar as raízes da atual SVMA no

Departamento de Parques e Jardins, Lei Municipal nº 7.108 de 10 de janeiro de

1968, em substituição à antiga Divisão de Parques, Jardins e Cemitérios, que

integrava o então Departamento de Serviços Municipais da Secretaria de Obras.

Com uma equipe diversificada – arquitetos e engenheiros agrônomos, civis e

agrimensores –, reunia as atribuições de elaborar e implantar de maneira integral os

projetos de paisagismo das áreas verdes municipais, arborização de logradouros

públicos (incentivo à formação de florestas ou reflorestamento) e combate a animais,

insetos nocivos e plantas daninhas.

Com a reestruturação da Secretaria de Serviços e Obras, Lei nº 8.491 em 14

de dezembro de 1976, são estabelecidos quatro departamentos, dentre eles o

Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE), com quatro divisões: Divisão

Técnica de Projetos e Fiscalização; Divisão Técnica de Produção e Execução;

Divisão Técnica de Experimentação, Treinamento e Divulgação; Divisão Técnica de

Manejo e Conservação de Parques.

Pela Lei nº 11.426, de 18 de outubro de 1993, temos a SVMA, estruturada

nos departamentos de Controle de Qualidade Ambiental (DECONT), de Educação

Ambiental (DEAPLA) e de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE)2, este último agora

contando com as Divisões Técnicas de Paisagismo; de Produção de Mudas; de

Desenho de Tecnologia; de Manejo e Conservação de Parques e Recursos

Naturais; de Medicina Veterinária e Biologia da Fauna; do Planetário e Escola

Municipal de Astrofísica. Sobre o DEPAVE, Laruccia (2004, p. 111) destaca:

De 1968, ano da criação do Departamento de Parques e Jardins, a 1993, quando se tornou um departamento da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente – por sinal mais importante em tamanho e em verbas, dentro da nova secretaria –, sua composição e suas funções não se alteraram, essencialmente, apesar das trocas de nome das secretarias a que esteve subordinado, firmando-se como órgão produtor e executor de projetos e administrador de áreas verdes públicas municipais.

2 “Nota-se na nova estrutura a introdução de assuntos que anteriormente não eram contemplados,

ligados ao manejo biofísico, refletindo as preocupações de ordem ambiental que, despontando mundialmente na década de 1970, ganharam notoriedade no Brasil a partir da realização da ECO 92 no Rio de Janeiro” (LARUCCIA, 2004, p. 110-111).

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Em janeiro de 2009, por sua vez, via Lei nº 14.887, reestrutura-se a Secretaria

Municipal do Verde e do Meio Ambiente, admitindo sete departamentos:

Departamento de Controle da Qualidade Ambiental (DECONT); Departamento de

Educação Ambiental e Cultura de Paz - Universidade Aberta do Meio Ambiente e

Cultura de Paz (UMAPAZ); Departamento de Parques e Áreas Verdes (DEPAVE);

Departamento de Planejamento Ambiental (DEPLAN); Departamento de Gestão

Descentralizada (DGD); Departamento de Administração e Finanças (DAF);

Departamento de Participação e Fomento a Políticas Públicas.

Atualmente, os parques urbanos municipais são reunidos em forma de

grupos, por regiões, para facilitar a administração conjunta dos contratos de

manutenção, limpeza e segurança (WHATELY et. al., 2008, p. 20). Associando ao

texto de Kliass (1993, p. 32), onde alerta para a necessidade de se “[...] criar um

órgão administrativo forte para garantir o bom desempenho desse equipamento

urbano de importância vital para a qualidade de vida nas cidades”, destacamos a

presença de um administrador em cada parque – “braço operacional da SVMA nos

parques públicos” (WHATELY et. al., 2008, p. 20) –, que desde 2005 realiza-se

através de processo seletivo para pessoas com formação superior em meio

ambiente.

A gestão dos parques municipais de São Paulo tem se dado, além do

Administrador, pela criação de Conselhos Gestores – grupos de caráter permanente

e deliberativo –, formados por representantes dos usuários, de movimentos,

instituições ou entidades sociais, da subprefeitura correspondente, da Guarda Civil

Metropolitana, indicado pela Secretaria Municipal da Segurança Urbana, e membros

das secretarias do Verde e do Meio Ambiente, da Cultura e dos Esportes, Lazer e

Recreação.

A Lei Municipal nº 13.539, de 20 de março de 2003, dispõe sobre a criação

dos Conselhos Gestores dos Parques Municipais e define as atribuições dos

Conselhos Gestores:

I - participar da elaboração e aprovar o planejamento das atividades desenvolvidas pelos parques municipais; II - propor medidas visando à organização e à manutenção dos parques municipais, à melhoria do sistema de atendimento aos usuários, à defesa dos direitos dos trabalhadores e à consolidação

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de seu papel como centro de lazer e recreação e como unidade de conservação e educação ambiental; III - analisar e opinar sobre pedidos de autorização de uso dos espaços dos parques municipais, inclusive para realização de shows e eventos; IV - fiscalizar e opinar sobre o funcionamento dos parques municipais; V - examinar propostas, denúncias e queixas, encaminhadas por qualquer pessoa ou entidade, e a elas responder; VI - articular as populações do entorno do parque para promover o debate e elaborar propostas sobre as questões ambientais locais; VII - elaborar e aprovar o seu Regimento Interno e normas de funcionamento; VIII - acompanhar o Orçamento Participativo.

Whately et. al. (2008, p. 96; p. 98) afirma que mesmo que sua ação não seja

sentida pela totalidade dos usuários3, onde muitos desconhecem sua existência, há

casos de parques com eleições disputadas. Com a realização de trabalhos de

divulgação dos conselhos, é reforçado o incentivo ao processo participativo e tende-

se a fortalecer a capacidade de organização da comunidade para a gestão coletiva

destes espaços públicos.

Fundamentada pela premissa de preservação das áreas verdes urbanas e a

ampliação dos espaços públicos de lazer4, em janeiro de 2008 a Prefeitura do

Município de São Paulo, via Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, estabeleceu

as diretrizes para o chamado Programa 100 Parques para São Paulo.

Seus objetivos gravitam em torno de uma melhor distribuição destes

equipamentos pela cidade (a princípio 1 parque por subprefeitura e, ao final, pelo

menos 1 por distrito) e a ampliação da área protegida: de 15 milhões de metros

quadrados em 2005 para 50 milhões de metros quadrados em 2012 (números

aproximados). Para isso, realizaram-se estudos de identificação e reserva de

potenciais áreas, destinadas tanto aos parques tradicionais – destacada

biodiversidade com maciços vegetais e fauna local, delimitações para usufruto do

3

“Uma outra ponta deste problema é indicada pelos administradores dos parques, uma vez que muitos dos órgãos governamentais como subprefeituras e secretarias que atuam nos parques não indicam participantes para o Conselho Gestor, ou quando indicam, sua atuação deixa a desejar, não comparecem às reuniões, ficando estas esvaziadas e os cargos do mesmo incompletos e sem condições de atuar. Por outro lado vê-se que alguns Conselhos ganham um novo ânimo quando conseguem efetivar alguma ação em prol do Parque, é o caso do Conselho do Parque da Aclimação que começou uma batalha para impedir a verticalização do entorno do Parque e do Conselho do Parque Severo Gomes que conseguiu impedir que o Córrego Judas, que passa dentro do Parque, fosse canalizado” (WHATELY et. al., 2008, p. 98). 4 Notaremos, mais adiante, que outros interesses estão em jogo, como a retirada de moradias

irregulares em áreas do município, evitar novas ocupações em certos espaços da cidade, reurbanizar áreas de interesses público ou privado, criar espaços para a bandeira política, etc.

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tempo livre e lazer –, os naturais – preservação intensificada, com usos específicos

e restritos – ou os lineares – de formato característico, mais voltados ao saneamento

e recuperação dos fundos de vale, reurbanização e lazer.

A má distribuição e a pouca quantidade de parques no município de São

Paulo é sentida e anunciada pela população. Em maio de 2010, vinculou-se uma

discussão sobre a quantidade de metros quadrados de área verde pública por

habitante, segundo as regiões da cidade: a partir dos dados fornecidos pela

Fundação Seade, teríamos em 2009 0,95 m²/hab. na zona centro-oeste, 1,90

m²/hab. na zona leste, 4,67 m²/hab. na zona norte e 0,71 m²/hab. na zona sul5.

O Município de São Paulo conta, atualmente, com 78 parques urbanos

públicos. A partir dos dados fornecidos pela SVMA (jun. 2011), considerando os

parques implantados pelo Programa 100 Parques, os pré-existentes e aqueles em

projeto ou implantação, temos, por macro-regiões:

Tabela 2 – Parques Municipais. Quadro síntese (jul.2011).

Existentes

Em implantação/projeto e áreas potenciais

Centro-Oeste 21 5

Leste 27 11

Norte 13 4

Sul 17 16

Total: 78 36

Fonte: SVMA (adaptado).

Segunda região com o maior número de parques, a Centro-Oeste abriga o

mais antigo parque do município, o Jardim da Luz (1825), tombado pelo

CONDEPHAAT, CONPRESP e IPHAN, e dois dos menores parques recém criados

na cidade: Zilda Natel (2.386 m²) e Mário Covas (5.396 m²), este localizado numa

das vias de maior destaque em serviços e negócios, a Av. Paulista. Com a maior

abrangência nos anos de implantação, concentra suas unidades nas subprefeituras

do Butantã e Pinheiros. É a menor macro-região em número aproximado de metros

5 A prefeitura, ciente das necessidades, aposta na expansão do número de seus parques urbanos

públicos municipais a partir do Programa 100 Parques sem, no entanto, como apontado pelo urbanista Nabil Bonduki, considerar a diferença entre o aumento da área verde e o aumento exclusivo no número de parques – a opção de se criar novos parques não importando qual o seu tamanho (In: http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/zona-norte-de-sp-tem-quase-sete-vezes-mais-parque-por-habitante-do-que-zona-sul-20100509.html).

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quadrados de área verde. Enquanto parques previstos, possui 5 unidades, mais da

metade na forma de lineares. Repetindo nos demais casos, a SVMA fornece poucas

informações sobre estes equipamentos, dificultando as análises.

Tabela 3 – Parques Municipais. Existentes: Zona Centro-Oeste.

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque Jardim

da Luz 1825 113.400 Sé

Primeiro espaço de lazer da população paulistana;

tombado pelo CONDEPHAAT,

CONPRESP e IPHAN

Parque Tenente Siqueira Campos (Trianon)

1892 48.600 Pinheiros Esculturas de Victor

Brecheret e Francisco Leopoldo Silva

Parque

Aclimação 1934 112.200 Sé

Biblioteca temática de meio ambiente; três esculturas

de Arcângelo Ianelli

Parque

Cemucam 1968 500.000

Único parque que localiza-se fora dos limites da cidade; permuta entre

COHAB, PMSP e CEMUCAM; abriga o

viveiro Harry Blossfeld

Parque Alfredo

Volpi 1971 142.400 Butantã

Projeto paisagístico de Rosa Grena Kliass, Carlos

Welker e Helmut Schlik

Parque

Previdência 1979 91.500 Butantã

Parque Vila dos

Remédios 1979 109.800 Lapa

Parque Raposo

Tavares 1981 195.000 Butantã

Primeiro parque da América do Sul a ser construído

sobre um aterro sanitário

Parque Buenos

Aires 1987 25.000 Sé

Criado como praça (1912) para preservar a vista sobre

o Vale do Anhangabaú; esculturas de Caetano

Fracaroli, Roberto Vivas e outros

Parque Luis

Carlos Prestes 1990 27.100 Butantã

Parque do Povo (Mário Pimenta

Camargo) 1994 112.000 Pinheiros

(continua)

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57

(conclusão)

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque Victor

Civita 2008 13.648 Pinheiros

Antiga área do Incinerador de Pinheiros (Sumidouro); diretrizes e processo de descontaminação em parceria entre Cetesb, SVMA, GTZ (agência alemã de cooperação

técnica) e Editora Abril; parque administrado pelo

Instituto Abril

Parque Linear

Sapé 2009 23.544 Butantã

Parceria SVMA e subprefeitura Butantã

Parque Zilda

Natel 2009 2.386 Lapa

Espaço usado como canteiro de obras para a

Estação Sumaré do Metrô; projeto em parceria com a Confederação Brasileira de

Skate

Parque Cohab

Raposo Tavares 2010 323.980 Butantã

Parque Leopoldina /

Orlando Villas Boas

2010 55.000 Vila

Leopoldina Primeira fase implantada.

Parque Mário

Covas 2010 5.396 Pinheiros

Parque

Benemérito José Brás

2011 22.300

Antiga praça na saída do Metrô que já era usada pela população como espaço de

lazer.

Parque Colina

de São Francisco

49.053 Butantã

Parque Ecológico de

Campo-Cerrado Dr. Alfredo

Usteri

13.090 Preservação e recuperação

de remanescentes de cerrado

Parque Natural

Reserva do Morumbi

71.675 Campo Limpo

Será utilizada pelo Parque Alfredo Volpi para trilhas e

visitas monitoradas

Total: 21 parques; 2.057.072 m² (aprox.)

Fonte: SVMA.

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Tabela 4 – Parques Municipais. Previstos: Zona Centro-Oeste.

Nome Área (m²) Bairro Subprefeitura Observações

Parque Água Podre

Parque Corveta Camaquã

55.720 Vila Morse Butantã Em

implantação

Parque Linear Charque Grande

Parque Linear Córrego Verde

Parque Linear Nascentes do Jaguaré

Fonte: SVMA (adaptado).

A zona Leste, maior macro-região em número de parques e a segunda maior

em área verde (27 parques com 8.500.785 m²), apresenta suas primeiras unidades

a partir de meados da década de 70. É, quando comparada com as demais, a que

mais recebeu a implantação de novos equipamentos pelo Programa 100 Parques.

Contém a maior parte dos parques lineares da cidade, 9 ao total, com mais 3 em

implantação.

Tabela 5 – Parques Municipais. Existentes: Zona Leste.

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque

Esportivo dos Trabalhadores

1975 286.000 Antigo CERET; recebe

oficinas do programa Clube Escola

Parque do

Carmo 1976 1.500.000 Itaquera

Parque Piqueri 1978 97.200 Moóca

Parque Chico

Mendes 1989 61.600

Parque Raul

Seixas 1989 33.000 Itaquera

Parque Santa

Amélia 1992 34.000

Itaim Paulista

Criado inicialmente como praça pública

Parque Lydia

Natalizio Diogo 1996 60.000

Vila Prudente,

Sapopemba

Parque Chácara

das Flores 2002 41.737,54

Parque Linear

Aricanduva 2008 120.000 Aricanduva

Parceria SVMA e Subprefeitura Aricanduva

(continua)

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(conclusão)

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque Linear

Itaim 2008 60.000

Itaim Paulista

Parceria SVMA e Subprefeitura Itaim Paulista

Parque Linear

Rapadura 2008 70.000 Aricanduva

Parceria SVMA e Subprefeitura Aricanduva

Parque

Consciência Negra

2009 130.135 Cidade

Tiradentes

Parque Linear

Água Vermelha 2009 Primeira fase

Parque Vila

Silvia 2009 4.400 Penha

Área total 50.669; implantado 4.400

Parque

Integração/Zilda Arns

2010

Área linear por onde estão aterradas as tubulações da

adutora Rio Claro da Sabesp

Parque Lajeado 2010 36.000 Itaim

Paulista

Parque Linear

Antonio Arnaldo 2010 170.000

Núcleo Jacuí - Projeto Várzea do Tietê; km 23 da

Rodovia Ayrton Senna

Parque Linear

Guaratiba 2010

Parque Ciência 2011 187.000 Cidade

Tiradentes Conj. Habitacional Santa

Etelvina

Parque Águas 2011 76.609 Itaim

Paulista

Parque Linear Mongaguá - Francisco Menegolo

2011 60.000 Ermelino

Matarazzo

Lindeiro ao córrego Mongaguá; 65 moradias

irregulares foram retiradas

Parque Ermelino

Matarazzo 5.181

Ermelino Matarazzo

Parque Linear Ipiranguinha

10.000 Vila

Prudente, Sapopemba

Parceria SVMA e Subprefeitura Vila

Prudente/Sapopemba

Parque Linear Tiquatira

(Werner Eugenio Zalauf)

320.000 Penha

Primeiro parque linear da cidade de São Paulo;

Parceria: SVMA, Subprefeitura da Penha

Parque Natural

Fazenda do Carmo

4.497.800 Itaquera Em implantação; Cinturão

Verde da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica

Parque Natural

Quississana 26.922

Itaim Paulista

Área futuramente utilizada pelo Parque Chácara das

Flores para educação ambiental

Parque Vila do

Rodeio 613.200

Cidade Tiradentes

Total: 27 parques; 8.500.785 m² (aprox.)

Fonte: SVMA.

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Tabela 6 – Parques Municipais. Previstos: Zona Leste.

Nome Área (m²) Bairro Subprefeitura Observações

Parque Central Itaim

Parque City Savoy

Parque Guabirobeira Mombaca

Parque Jardim da Conquista

Parque Jardim Sapopemba/Nilo

Coelho 44.303

Jardim Sapopemba

Vila Prudente, Sapopemba

Em implantação

Parque Linear Cipoaba

122.036 Parque São

Rafael São Mateus

Em implantação

Parque Linear Oratório 32.041 Vila

Prudente Vila Prudente, Sapopemba

Primeira fase; em projeto

Parque Linear Rio Verde

75.039 Vila Corberi Itaquera Em

implantação

Parque Nair Belo

Parque Nebulosas

Parque Primavera/Aterro

Jacuí 40.165 Vila Marieta São Miguel

Primeira fase; em

implantação

Fonte: SVMA (adaptado).

A zona Norte é a macro-região com o menor número de parques urbanos em

São Paulo (13 unidades) e também a que menos conta com parques em projeto ou

implantação (4 unidades). No entanto, é a que possui a maior área verde do

município: 10.450.947 m². Esta variação é dada, exclusivamente, pelo maior parque

hoje existente, o Anhanguera, com 9.500.000 m² – sem ele, teríamos menos de

1.000.000 m², tornando este recorte o menor em área verde.

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Tabela 7 – Parques Municipais. Existentes: Zona Norte.

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque

Anhanguera 1979 9.500.000 Perus

Parque São Domingos

1980 80.000 Pirituba, Jaraguá

Parque Rodrigo

de Gásperi 1982 39.000

Pirituba, Jaraguá

Antigo Parque Pirituba; mudança de nome em

1992

Parque do Trote 1987 187.000 Vila Maria,

Vila Guilherme

Parque Lions Club Tucuruvi

1987 23.700 Santana Biblioteca

Parque Jardim

Felicidade 1990 28.800

Pirituba, Jaraguá

Parque Vila Guilherme

1991 62.000 Vila Maria,

Vila Guilherme

Parque Cidade

Toronto 1992 109.100

Pirituba, Jaraguá

Resultado de Cooperação Técnica entre as

Prefeituras de São Paulo e de Toronto, Canadá

Parque Jacinto

Alberto 2008 40.910

Pirituba, Jaraguá

Sede do projeto Raquetes do Futuro

Parque Linear

do Fogo 2008 30.000

Pirituba, Jaçanã

Parcerias SEHAB, SVMA e Subprefeitura Pirituba

Parque

Pinheirinho d'Água

2009 250.306 Pirituba, Jaraguá

Parque Tenente Brigadeiro Faria

Lima 2009 40.131

Vila Maria, Vila

Guilherme

Originalmente era uma praça

Parque Linear

Canivete 60.000

Freguesia do Ó/Brasilândia

Prevê recuperação do córrego Canivete e de

suas margens, readequações do sistema de esgoto e de iluminação pública, pavimentação de

ruas, construção de passeios, calçadas, plantio de árvores,

estabilização de talude; Programa de

Recuperação de Favelas

Total: 13 parques; 10.450.947 m² (aprox.)

Fonte: SVMA.

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Tabela 8 – Parques Municipais. Previstos: Zona Norte.

Nome Área (m²) Bairro Subprefeitura Observações

Parque Linear Cabuçu de Cima

Parque Linear Bispo 1.145.517 Jardim Peri

Casa Verde, Cachoeirinha

Em implantação

Parque Linear Perus

Parque Senhor do

Vale

Fonte: SVMA.

Por fim, a zona Sul, com 17 parques existentes e 16 em projeto ou

implantação, o maior número previsto para a cidade no Programa 100 Parques.

Junto à zona Centro-Oeste, apresenta baixa área verde concentrada nos parques

urbanos municipais (2.561.160 m²). Abriga um dos parques mais visitados e

lembrados pelos paulistanos, o Parque do Ibirapuera, na subprefeitura de Vila

Mariana, e talvez o mais simbólico para a história brasileira, o Parque da

Independência, no Ipiranga.

Tabela 9 – Parques Municipais. Existentes: Zona Sul.

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque

Ibirapuera 1954 1.584.000

Vila Mariana

Construído para as comemorações do IV Centenário da cidade

Parque

Guarapiranga 1974 152.600 M'Boi Mirim

Projeto elaborado pelo escritório Burle Marx

Parque Nabuco 1980 31.300 Jabaquara

Parque Lina e

Paulo Raia 1981 15.000 Jabaquara

Abriga a Escola Municipal de Educação Artística

Parque

Independência 1989 161.300 Ipiranga

Tombado pelo CONDEPHAAT,

CONPRESP e IPHAN

Parque Santo

Dias 1992 134.000

Campo Limpo

Parque Severo

Gomes 1993 34.900

Santo Amaro

Parque Burle

Marx 1995 138.279

Campo Limpo

Conjunto artístico e paisagístico projetado por

Burle Marx

Parque Linear

Parelheiros 2007 16.000 Parelheiros

(continua)

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(conclusão)

Nome Inauguração Área (m²) Subpref. Observações

Parque Praia do

Sol 2009

Capela do Socorro

Primeira fase implantada; primeira Fase do Parque

Praia São Paulo

Parque da Barragem

2010 88.584 Capela do Socorro

Parque do Cordeiro

2011 34.000 Santo Amaro

Primeira fase em parceria com a Sabesp

Parque

Eucaliptos 15.447

Campo Limpo

Usada anteriormente como chácara e área verde de condomínio do entorno

Parque Jacques

Cousteau 67.397

Capela do Socorro

Parque Linear

São José

Capela do Socorro

Primeira fase

Parque

Modernista 12.710

Vila Mariana

Parque

Shangrilá 75.643

Capela do Socorro

Dentro da APA Bororé-Colônia; faz parte de um conjunto de parques para

proteção da represa Guarapiranga

Total: 17 parques; 2.561.160 m² (aprox.)

Fonte: SVMA.

Tabela 10 – Parques Municipais. Previstos: Zona Sul.

Nome Área (m²) Bairro Subprefeitura Observações

Parque Céu Três

Lagos

Parque Clube do Chuvisco

23.767 Vila

Paulista Santo Amaro

Em implantação

Parque Guanhembu 70.500

Jardim Colonial

Capela do Socorro

Em implantação

Parque Herculano de Freitas

75.490 Jardim

Herculano M'Boi Mirim

Em implantação

Parque Horto do Ipê 108.500

Parque Munhoz

Campo Limpo

Em implantação

Parque Linear Castelo Dutra

60.000 Interlagos Capela do Socorro

Em implantação

Parque Linear Caulim 3.065.604 São José

Capela do Socorro

Em implantação

Parque Linear Cocaia 1.186.503

Jardim Tanay

Capela do Socorro

Em implantação

(continua)

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(conclusão)

Nome Área (m²) Bairro Subprefeitura Observações

Parque Linear Feitiço da Vila

36.650 Jardim Guarujá

Capela do Socorro

Em implantação

Parque Linear Invernada

4.978 Vila

Congonhas Santo Amaro

Em implantação

Parque Linear Ivar Beckman

29.030 Jd. Campo

Limpo Campo Limpo

Em implantação

Parque Linear Pires Caboré

Parque Morumbi Sul

Parque Nove de Julho 537.515 Parque do Castelo,

Interlagos

Capela do Socorro

Em implantação

Parque Paraisópolis

Parque Sete Campos 139.954 Jd. Itacura

Cidade Ademar

Em implantação

Fonte: SVMA (adaptado).

O Programa 100 Parques nasce com base em dois instrumentos municipais:

a Lei Orgânica e o Plano Diretor Estratégico. São eles que, originalmente, defendem

e determinam as premissas hoje anunciadas pelo programa.

Na Lei Orgânica do Município de São Paulo (1990) a determinação para o

município, em cooperação com o Estado e a União, é prover a preservação,

conservação, defesa, recuperação e melhoria do ambiente, bem como promover o

aumento de áreas verdes, sendo os parques municipais – dentre outros espaços,

como a Serra da Cantareira, as represas Billings e Guarapiranga e os rios Tietê e

Pinheiros – espaços especialmente protegidos (art. 180, 185 e 186 do Título V, do

desenvolvimento do município, Capítulo V, do meio ambiente). Ademais, sob a

esfera do lazer, é seu dever apoiar e incentivar, fundamentado pela educação física,

as práticas sócio-culturais relativas ao esporte, a recreação e a expressão corporal,

como formas de educação, promoção social e preservação da saúde física e mental

do cidadão (Art. 230 do Título VI, da atividade social do município, Capítulo V, do

esporte, lazer e recreação).

No caso do Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (Lei

Municipal nº 13.430/02), imprime-se o intento de organizar o crescimento e o

funcionamento da cidade. No que se refere ao verde e meio ambiente, busca criar

um Sistema de Áreas Verdes, auxiliado por uma política (Art. 58), com diretrizes (Art.

59) e ações estratégicas (Art. 60) específicas (ANEXO A). Apresenta, enquanto

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65

conceito básico, que as áreas verdes “constituem o conjunto dos espaços

arborizados e ajardinados, de propriedade pública ou privada, necessários à

manutenção da qualidade ambiental e ao desenvolvimento sustentável do Município”

(Art. 101, § 2º, III). Sobre este Sistema, entende-se que:

Art. 131 – O Sistema de Áreas Verdes do Município é constituído pelo conjunto de espaços significativos ajardinados e arborizados, de propriedade pública ou privada, necessários à manutenção da qualidade ambiental urbana tendo por objetivo a preservação, proteção, recuperação e ampliação desses espaços (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 131).

Destaca-se, no entanto, que tal compreensão, como alerta Whately et. al.,

“não estabelece uma conceituação de sistema estruturado, em partes que compõem

um todo, com funções específicas e diferentes gradações de conservação e

preservação ambiental” (2008, p. 49); neste sentido, pelo Art. 133, São Paulo adota

Áreas Verdes de propriedade pública (reservas naturais, parques públicos, praças,

jardins e logradouros públicos, áreas ajardinadas e arborizadas de equipamentos

públicos, áreas ajardinadas e arborizadas integrantes do sistema viário) e Áreas

Verdes de propriedade particular enquadradas ou a serem enquadradas pelo Poder

Público (áreas com vegetação significativa, de imóveis particulares, chácaras, sítios

e glebas, clubes esportivos sociais, clubes de campo, áreas de reflorestamento)

como parte integrante do Sistema de Áreas Verdes existente ou a ser criada. Deste

modo, “Áreas verdes” constitui-se como um termo genérico, que guarda em si

diversas tipologias de espaços que têm em semelhança a existência de vegetação,

atendendo diferentes finalidades (BARTALINI, 1999, p. 5), independente de uma

análise pormenorizada e estruturada de cada formação que o compõe.

O mesmo acontece no tocante aos esportes, lazer e recreação. O Plano

Diretor Estratégico elabora uma política (Art. 42), com diretrizes (Art. 43) e ações

estratégicas (Art. 44) específicas, a fim de atender o desenvolvimento econômico e

social por via das políticas públicas (ANEXO B).

Vale insistir em uma leitura do Plano Diretor para melhor compreender o

parque linear, objeto técnico privilegiado no Programa 100 Parques. O Plano Diretor

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Estratégico (Lei Municipal nº 13.430/02), nas políticas para recursos hídricos6,

também explicita objetivos, diretrizes e ações estratégicas do Programa de

Recuperação Ambiental de Cursos D’Água e Fundos de Vale (Art. 106 a 108),

procurando realizar mudanças urbanísticas e promover a valorização e a melhoria

da qualidade ambiental na cidade, “com a implantação de parques lineares

contínuos e caminhos verdes a serem incorporados ao Sistema de Áreas Verdes do

Município”.

§ 1º - Parques lineares são intervenções urbanísticas que visam recuperar para os cidadãos a consciência do sítio natural em que vivem, ampliando progressivamente as áreas verdes. § 2º - Os caminhos verdes são intervenções urbanísticas visando interligar os parques da Cidade e os parques lineares a serem implantados mediante requalificação paisagística de logradouros por maior arborização e permeabilidade das calçadas (Art. 106, § 1º e 2º).

O parque linear, assim, define-se como uma intervenção urbana (um objeto

técnico) que acompanha a rede hídrica, buscando sua proteção e recuperação por

via do saneamento e da limpeza, para que se possam oferecer espaços onde a

população tenha contato direto com os cursos d’água perenes e descubra outras

opções para o usufruto do tempo livre nos espaços de lazer e convivência públicos

urbanos, restaurando a lógica ambiental da bacia hidrográfica na São Paulo do

século XIX (NEVES, 2010, p. 8; VENDRAMIN, 2010, p. 10; SOBRINHO e RIBEIRO,

2010, p. 16).

De modo geral, os recursos mobilizados para manter os estudos e realizar a

construção dos parques relacionados a este programa têm origem em seis frentes:

recursos decorrentes de Termos de Compromisso Ambiental (novos exemplares,

obras ou serviços) aplicados diretamente pelos empreendedores em projetos ou em

obras de parques, resultante da negociação a favor da supressão de espécies

arbóreas em empreendimentos privados; recursos do Fundo de Desenvolvimento

Urbano oriundos de compra de potencial construtivo adicional, ou seja, valor pago

por aqueles que quiserem construir acima do coeficiente de aproveitamento do

terreno estabelecido pela legislação; recursos do Fundo Especial do Meio Ambiente

6 Destacado por Whately et. al., este é um exemplo em que a idéia de preservação e manutenção da

qualidade ambiental não se restringe apenas à política para áreas verdes do Plano Diretor Estratégico (2008, p. 44), ampliando sua compreensão.

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e Desenvolvimento Sustentável a partir de leilão de créditos de carbono, revertidos

para parques próximos aos aterros sanitários que exploram os gazes ali produzidos;

recursos orçamentários previstos pelo Tesouro Municipal; cooperação com a

Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Projeto Córrego Limpo,

para a eliminação de lançamentos de esgotos em córregos que permeiam parques

urbanos tradicionais ou lineares); doação de empresas em troca de valorização do

entorno.

Tendo visto a estrutura que coordena e administra os parques urbanos

públicos do município, as bases normativas e o programa atual que orienta a

produção e divulgação destes equipamentos, podemos questionar sobre a relação

qualitativa entre a população e estes objetos técnicos. Whately et. al. (2008, p.66-

80), tomando por base uma pesquisa elaborada pelo Instituto Datafolha, buscou

compreender como os paulistanos avaliavam os parques urbanos públicos de São

Paulo. Realizada entre maio e junho de 2008, quando o município contava com 38

parques em funcionamento, entrevistou 2.683 usuários, em média 70 pessoas por

parque, com aplicação de questionário estruturado para uma abordagem

quantitativa, distribuída ao longo do horário normal de funcionamento. Não havendo,

desde então, novas pesquisas com essa abrangência – a totalidade dos parques em

um dado período –, optamos por considerá-la, visto que se mantiveram as estruturas

e as lógicas do urbano, da cidade e do sistema produtivo.

Apresentada em dois blocos, primeiro considera aspectos como a localização,

freqüência, meio de transporte e objetivos que os usuários mantêm em relação aos

parques e, num segundo momento, leva a cabo o que os usuários pensam e

conhecem sobre os parques urbanos públicos municipais.

A grande maioria dos usuários reside próximo ao parque que freqüenta,

deslocando-se até ele a pé (63%) ou, em menor proporção, de carro, transporte

público ou bicicleta. A freqüência nos parques é semelhante quando comparados os

períodos do dia e um pouco diferenciada quando se ponderam os dias da semana:

ela é maior nos finais de semana do que nos dias úteis, ainda que existam

praticamente 1/3 das pessoas declarando ser indiferentes quanto aos dias que

costumam freqüentar os parques. Dentre os usuários, aproximadamente 1/3 vai a

estes espaços entre uma e duas vezes por semana, e outro terço de três a seis dias,

indo, em grande proporção, sozinhos aos parques. Dentre as atividades procuradas,

destacam-se o “caminhar, correr, andar de bicicleta, ou simplesmente descansar, [...]

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68

participar de shows e tantas outras atividades que os parques de São Paulo

oferecem” (WHATELY et. al., 2008, p.70-71).

Ilustração 12 – Pesquisa Datafolha. O parque é próximo a quê?

Ilustração 13 – Pesquisa Datafolha. Meio de transporte utilizado até o parque.

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Ilustração 14 – Pesquisa Datafolha. Freqüência média dos usuários.

Ilustração 15 – Pesquisa Datafolha. Com quem freqüenta os parques.

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Ilustração 16 – Pesquisa Datafolha. Principais atividades realizadas no parque.

Atividade física para cerca de 68%, como caminhadas (46%), correr e fazer cooper (14%), malhar, fazer ginástica, musculação, aeróbica e/ou alongamento (13%). Outros 9% costumam jogar bola (futebol), 3% andam de bicicleta e/ou skate e 2% jogam vôlei, basquete, tênis ou ping-pong. Lazer ou cultura para cerca de um terço (35%), dividido em: levar as

crianças para brincar (21%), enquanto 4% vão simplesmente para passear e ‘dar uma volta’, mesma parcela dos que vão para conversar e encontrar os amigos e dos que vão para passear e brincar com o cachorro (4% cada). Descanso e relaxamento, que inclui simplesmente passar o tempo,

meditar e refletir, observar a natureza e/ou respirar ar puro é o objetivo de 17% dos usuários dos parques públicos. Atividades promovidas pelo parque são o objetivo de 10% do total

da amostra que costumam freqüentar parques para fazer alguma dessas atividades ou ainda usar computador ou ler (WHATELY et. al., 2008, p. 71).

No segundo bloco de análise, quando questionados sobre conhecerem outros

parques da região, praticamente 2/3 mencionaram algum parque. Em 2008, e

provavelmente se mantendo nos dias atuais, o parque mais conhecido ou citado foi

o Ibirapuera, seguido pelo Villa Lobos, Carmo, Aclimação e Cidade Toronto.

Os dados anteriores apontam [e lembram] um aspecto importante: as pessoas sabem que existem outros parques, mas uma parcela pequena sabe dizer o nome de um outro parque que não aquele onde elas estão. Este dado é reforçado pelo fato de que as pessoas freqüentam, prioritariamente, o parque próximo de sua residência (WHATELY et. al., 2008, p. 74).

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Já apontado, 70% dos usuários não sabem da existência de Conselhos

Gestores nos parques que freqüentam e, quando questionados sobre sua função,

61% não sabem responder; os demais citam atividades de administração e

organização do parque, responsabilidade pela conservação e manutenção,

promoção de melhorias, eventos, atividades e segurança.

Sobre como os usuários avaliam os parques, foi solicitado que ponderassem

sobre sua manutenção em aspectos como espaço, vegetação e jardinagem,

limpeza, segurança, acesso, banheiros, iluminação, atividades de esporte, lazer e

cultura, entre outros. Para medir seu envolvimento com os parques, responderam se

colaborariam de maneira voluntária com a manutenção destes espaços (sim 71%).

Para Whately et. al. (2008, p. 79), este último revela que o voluntariado poderia ser

melhor organizado, através de programas específicos ou pelo incentivo à

participação das esferas já existentes (Conselho Gestor, por exemplo).

Ilustração 17 – Pesquisa Datafolha. Conhecimento de outros parques da cidade.

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Ilustração 18 – Pesquisa Datafolha. Função dos Conselhos Gestores.

Ilustração 19 – Pesquisa Datafolha. Avaliação ótima / boa dos equipamentos e

serviços dos parques (adaptado).

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Ilustração 20 – Pesquisa Datafolha. Avaliação da manutenção realizada pela

prefeitura.

Ilustração 21 – Pesquisa Datafolha. Colaborariam na manutenção e atividade do

parque?

Para nós, um dos aspectos que chama a atenção sempre será a produção do

espaço. Deste universo, temos a produção de espaços públicos de lazer orientada

através das demandas que recebem tratamento específico do poder público a fim de

satisfazer as necessidades latentes, não fugindo, o Programa 100 Parques, desta

lógica. Neste sentido, a ação do Estado em efetivar as possibilidades do uso do

tempo livre para os indivíduos “se realiza segundo os pressupostos do processo de

globalização, no sentido de que ele é seletivo e desequilibrador” (ANTAS JR., 1995,

p. 24), ponderando sobre o fator cultural e a condição social da população das

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diferentes regiões da cidade. Com isso, estes espaços são percebidos, por grupos

sociais diferenciados, sob diversas óticas decorrentes da percepção e do interesse

de cada qual (GLEZER; MANTOVANI, 2009, p. 9). De acordo com o levantamento

feito pelo Sindicato Nacional de Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva –

Sinaenco – em 41 parques no período outubro/dezembro de 2008, constatou-se que

4 dos 5 parques que apresentaram maiores problemas de conservação estão na

zona leste da cidade de São Paulo7.

Percebemos que os diferentes modos de ver, pensar e se apropriar do

espaço proporcionam e viabilizam a reprodução das relações sociais de produção,

ao mesmo tempo em que expressam sócio-espacialmente as desigualdades sócio-

econômicas da nossa sociedade (BURGOS, 2003, p. 43).

No plano do espaço, os interesses e as necessidades dos indivíduos são contraditórios e a ocupação do espaço não se fará sem contradições e, portanto, sem luta; esse processo de apropriação faz aparecer por todos os lados a disparidade, a desigualdade entre ‘ricos’ e ‘pobres’ e, entre estes, a ‘miséria absoluta’ daqueles que moram embaixo das pontes ou nos bancos das praças. A disparidade expressa-se nas construções, na existência e/ou qualidade da infra-estrutura, na roupa e nos rostos (na rudez ou suavidade de traços), revelando a justaposição entre hierarquia social/hierarquia espacial (CARLOS, 1999, p. 83).

Para Kliass (1993, p. 32), desde o início da inserção do parque como fato

urbano, uma das razões levantadas para sua criação foi a valorização imobiliária do

seu entorno. Se no século XX as medidas tomadas pela administração pública

visava garantir áreas verdes para a realização do lazer público, elas acabam se

restringindo ao centro e aos bairros elitizados. No século seguinte, Laruccia (2004,

p. 87) aponta a continuidade destas diferenças: enquanto os habitantes de

Higienópolis viam o estabelecimento da praça Buenos Aires e um mirante sobre o

vale do Pacaembu, e os da Avenida Paulista o Parque Trianon com seu grande

salão de festas, ambos com projetos de paisagismo assinados por Bouvard e Barry

Parker, “nos terrenos baldios às margens do rio Tietê na Luz e no Bom Retiro as

áreas de lazer se arranjavam ao sabor do acaso”. Mesmo quando há a participação

7 A conservação dos parques foi avaliada seguindo oito critérios, dentre os quais quadras, pista de

cooper, acessibilidade e sanitários. O pior parque, de acordo com essa avaliação, é o Raposo Tavares. Os quatro da zona leste citados são: Chico Mendes, Chácara das Flores, Santa Amélia e Raul Seixas. Já a zona sul, ao contrário, apresenta três dos cinco melhor avaliados: Burle Marx, Ibirapuera e Independência (In: http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u493224.shtml).

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da população no processo de criação dos parques, onde as bandeiras defendidas

são a preservação ou o aumento da área verde próxima às suas moradias, melhoria

na qualidade de vida e as novas opções para o exercício do lazer e usufruto do

tempo livre, esta lógica de valorização imobiliária se faz presente. Em casos como o

Parque Jardim Felicidade e Luís Carlos Prestes, “os moradores locais acabam por

incorporar a idéia da valorização de seus imóveis com a construção do parque,

sendo esta a principal motivação da ‘luta’ pela criação dos mesmos” (BURGOS,

2003, p. 97).

O provimento das áreas verdes de recreação pela iniciativa privada, quando

existiu, procurou resultados imediatos e duraram o tempo das conveniências do

capital (BARTALINI, 1996, p. 1109). Como visto, o usufruto do tempo de lazer atrai o

interesse do mercado, seja de maneira direta, com a comercialização de diferentes

produtos, seja de maneira indireta, criando ou mantendo parques de modo a

valorizar seus investimentos imobiliários. São exemplos, no início do séc. XX, o

parque Antarctica; outro, recente, de meados da década de 1990, é Parque Burle

Marx (BURGOS, 2003, p. 97): em negociação com o poder público, os

empreendedores imobiliários que lotearam seu entorno, para valorização dos

imóveis, construíram com seus próprios recursos o atual parque.

Logo no início do século, 1900, foi inaugurado o parque Antarctica de propriedade da Companhia Antarctica Paulista, na Água Branca. Era um parque projetado com o fim específico de proporcionar sombra aos visitantes. Ficava a cerca de 4,5 km do centro da cidade e era servido por linha de bondes da Light, com tarifas reduzidas, de modo a estimular a freqüência ao parque. Afirma Jorge Americano que ali existiram pelo menos dois bares-restaurantes, locais sombreados para piquenique, cancha de bocha, cimentado para patinação, carrinhos de passeio para crianças (puxados por bodes), roda gigante, cavalinhos de pau, teatro de marionetes, competições de corrida a pé e mesmo campo de futebol. Mas o parque teve vida curta pois primeiramente, em 1916, foi alugado pelo Palestra Itália para a realização de jogos de futebol, sendo, posteriormente, comprado pela mesma associação em 1920 (LARUCCIA, 2004, p. 80).

A hierarquização de estratos sociais seria, então, para Carlos (1999, p. 81), a

verdadeira mole humana que no processo de apropriação privada do espaço

produziria uma hierarquia espacial coerente com também uma hierarquia social: “de

um lado, os interesses do Estado e dos empresários (muitas vezes coincidentes); de

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outro, a população”. Com isso, amplia-se o entendimento das formas de intervenção

pela quais esses atores atuam na cidade. A criação de um parque como elemento

estratégico para se evitar a ocupação em uma determinada área, por exemplo,

constitui numa das formas de intervenção da administração municipal no tecido

urbano8.

Ao se produzir um parque na região de mananciais, por exemplo, o Estado disciplinariza a ocupação impedindo com leis mais fortes os loteamentos clandestinos ao mesmo tempo em que abre maiores possibilidades de exercício do lúdico e desenvolvimento sócio-cultural, tendo em vista que a demanda por lazer público (e a baixos custos) numa metrópole como São Paulo é muito alta (ANTAS JR., 1995, p. 8).

Presotto (2004, p. 83) considera que o ideal para os espaços livres públicos

seria encontrar o equilíbrio entre o uso enquanto forma de conservação da paisagem

natural e o uso como áreas de lazer, num debate democrático entre especialistas e a

comunidade. Pensando nestas esferas, da mesma forma como a comunidade não

enxerga os ciclos de nutrientes de uma área natural, por exemplo, os especialistas

não sabem de seus marcos, seus signos, suas relações com o local. Quando

envolvida, a população tende a valorizar o projeto, evitando que se criem, no sentido

de Albuquerque (2006, p. 116-117), simulacros que não correspondam à cultural

local. Sem isso, perceberíamos a distorção das funções previamente estabelecidas:

“os indivíduos passam a modificar esses elementos, a fim de adequá-los ao seus

costumes, suas necessidades” (2006, p. 117). Mesmo tido como democrático, o

debate público entre especialistas e a população em geral precisa ser visto com

cuidado. O discurso dos primeiros é permeado pela cientificidade, que acaba por

8 Em julho de 2009, a Prefeitura informava por seu site uma visita de vistoria realizada pelo Prefeito,

subprefeito e secretário municipal do Verde e Meio Ambiente, a fim de acompanhar e divulgar a implantação do Parque Linear Canivete, na Vila Brasilândia. Com 75 mil m², a área era anteriormente ocupada por cerca de 600 famílias em habitações de risco, em encostas e áreas alagáveis. No momento, alertaram sobre o conceito de parques lineares – poucos utilizados no Brasil, segundo as alegações de cada um e supervalorizando esta iniciativa –, as vantagens da implantação de um novo parque no local – proteção à Serra da Cantareira contra o avanço de novas ocupações irregulares e a criação de novos espaços de lazer, recreação, convivência, cultura e contato com a natureza para a população – e o encaminhamento das antigas famílias a moradias regulares – contra o discurso que sugeriria sua totalidade, uma pequena parcela foi direcionada a unidades do CDHU (69), outras receberam auxílio aluguel até a construção de novas habitações (120) e as demais obtiveram verba indenizatória de ajuda habitacional, o que não garante, obviamente, uma solução definitiva àquelas famílias nem o atendimento das questões que as motivaram a ocupar áreas de risco (In: http://www.jusbrasil.com.br/politica/2744057/prefeito-vistoria-obras-do-parque-linear-canivete-na-vila-brasilandia).

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relativizar as tomadas de decisão: a população, por vezes, intimida-se e acaba

acatando, influenciada, as opiniões de quem teoricamente seria mais apto ao

planejamento urbano.

Com isto, para que o parque urbano esteja integrado à paisagem, é preciso que ele seja um lugar para cidade, e não um elemento que não possua uma sincronia com a dinâmica urbana, é necessário que haja uma identificação com o lugar. Os parques urbanos como espaços livres públicos, são de enorme importância para o cotidiano da cidade. São neles que se expressam as diversas atividades que movimentam e caracterizam o urbano. É onde se produzem as memórias, tanto as individuais e históricas, mas principalmente as coletivas, visto que no espaço livre público há a expressão do sentido de coletividade, de integração das relações sociais do dia a dia (ALBUQUERQUE, 2006, p. 117).

No seio da comunidade, por vezes, destacam-se movimentos de ordem

propositiva e reivindicatória, conhecidos como ações comunitárias. Portadores de

interesses e aspirações a partir do conhecimento do vivido, participam de maneira

efetiva no planejamento, organização e avaliação das ações integradas aos órgãos

e instituições locais9 (MARCELLINO, 2008b, p. 17).

Para o autor (MARCELLINO, 2008b, p. 18-19), as ações comunitárias

percorrem um processo de intervenção composto por três fases interligadas, que

compreendem, a primeira, a deflagração da ação sensibilizadora, levantamento de

necessidades e possibilidades de intervenção, escolha de objetivos condutores,

opção pelos instrumentos de intervenção a serem utilizados e a realização de

atividades de impacto; a segunda, pela avaliação dos resultados da ação,

entendidas enquanto respostas aos objetivos previstos e reflexos obtidos em grupos

ou pessoas não previstos inicialmente; e, por fim, a terceira, caracterizada pela

continuidade da ação, em atividades que visam sedimentar, consolidar todo

9 Em 2009, 500 pessoas entre estudantes e moradores próximos ao local se reuniram pela

transformação de uma área não edificada de 23,7 mil m² em parque urbano público. Situado na Rua Augusta com a Rua Caio Prado, região da Consolação, o terreno foi tombado em 2004 pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico (Conpresp) e aceito enquanto espaço de utilidade pública em 2008 pela SVMA. Pertencente a uma incorporadora, faz parte nos planos de construção de três prédios de 38 andares. Após a manifestação, organizada pela Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc), a SVMA alegou que a área faria parte do Programa 100 Parques e que estava em fase de avaliação administrativa pela Secretaria de Negócios Jurídicos. Até hoje não há uma decisão, e audiências públicas vem sido marcadas (sem sucesso) para chegar a um acordo. A proposta, recusada pela população, seria a construção das torres e a doação de uma parcela diminuta do terreno para a construção de um parque (JORNAL DA TARDE, jun.2009, In: http://www.samorcc.org.br/197_protesto.html).

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processo, tendo em vista o alcance de sua autonomia. A ação comunitária seria

entendida, então, como:

um trabalho sócio-educativo que consiste numa intervenção deliberada em determinada comunidade, através de atividades programadas em conjunto com pessoas e instituições locais, objetivando despertar e ampliar sua consciência para os problemas da comunidade, sensibilizá-las para a mobilização e coordenação de lideranças e predispô-las para a ação que vise o encaminhamento de soluções daqueles problemas, ou a tentativa de realização de aspirações relacionadas com a comunidade como um todo (REQUIXA, 1983 apud MARCELLINO, 2008b, p. 18) 10.

Como já dito, o lazer não se caracteriza somente como um tempo e um

espaço de consumo de bens e serviços, na medida em que os indivíduos também

utilizam o tempo livre para o consumo do espaço urbano. O consumo dos lugares de

lazer, urgentes de uma especificidade natural ou uma arquitetura que os singularize,

onde podem se efetivar a recreação, contemplação e sociabilização, permite “uma

desaceleração momentânea do ritmo imposto por uma sociedade urbana,

globalizada pela produção e demanda, e fragmentada na sua operacionalização –

nos indivíduos, através da especialização” (ANTAS JR., 1995, p. 89-90).

Todos estes aspectos, produção, apropriação e consumo dos espaços de

lazer, valorização imobiliária, segregação sócio-espacial e as ações comunitárias,

estão presentes de maneira objetiva ou de modo implícito no Programa 100

Parques.

Percorrendo os diversos elementos que permitem construir um panorama da

atual conformação dos parques urbanos municipais de São Paulo e sua relação com

a população, esperamos ter reunido fundamentos para melhor entender e recorrer a

estes espaços. Permite, se verdadeiro, que novas questões sejam formuladas,

possibilitando avançar na compreensão destes objetos e agir pela produção destes

espaços.

10

REQUIXA, R. Lazer e ação comunitária. São Paulo, SESC, 1973.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Consideramos fundamental, a partir deste ponto, apropriarmos dos resultados

alcançados para melhor apreender e interagir com a cidade. Semelhante a um chef

que procura transcender suas bases e produtos para alcançar os resultados mais

altos, podemos a cada estudo voltar ao nosso objeto e procurar superar os frutos da

relação que originalmente nos moveram1.

Pudemos compreender o lazer enquanto uma fração espaço-temporal

intrínseca ao modo de produção capitalista, onde, em sua dimensão espacial, um

sistema de objetos foi pensado para introduzir práticas que pudessem condicionar o

movimento da sociedade ao mesmo tempo em que possibilitasse ações funcionais

ao próprio sistema produtivo. Os parques urbanos, um, mas não o único local onde o

lazer pode se realizar, frutos desta mesma lógica, são objetos técnicos cada vez

mais elaborados, que objetivam específicas formas de vivência e comportamento,

ocupação e fruição de atividades contemplativas, recreativas ou esportivas, sempre

submetidos aos valores estéticos idealizados. Fisicamente são espaços públicos

com dimensões significativas e a presença predominante de elementos naturais,

dotados ou não de equipamentos específicos para seus variados usos. Atualmente,

na cidade de São Paulo, há a ampliação em números absolutos e de área verde

protegida, respondendo desde 2008 ao Programa 100 Parques, de características e

interesses específicos.

A partir da literatura reunida, fica claro perceber que uma política de lazer não

se sustenta apenas com o estudo e implantação de múltiplas atividades. É

necessário compreender seu sentido para poder, numa política de fato, envolver

processos de redução da jornada de trabalho, reordenação do tempo social,

formação de capital humano especializado, lógicas de apropriação do solo urbano e

requalificação dos sistemas de transporte na cidade. No mesmo sentido, uma

política de ampliação de parques e áreas verdes não é completa apenas com a

criação de pequenos espaços isolados, sem planos, sem atrativos e liberdade para

sua apropriação, divulgação no entorno e respeito às diferenças de seus usuários.

1 “Nós começamos confusos, e terminamos confusos num nível mais elevado.” Velho provérbio citado

por Chalmers, A. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 2010.

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O solo é mercadoria e foi sendo loteado e edificado independente da

manutenção das áreas verdes, importantes para a qualidade de vida (não

mensurável em moeda). Com o tempo, torna-se difícil reservar ou criar novas áreas,

e as que restam são cercadas por avenidas e edifícios. O parque urbano, então,

passa a ser visto como objeto de valorização do espaço e do meio ambiente – os

discursos da excepcionalidade e da qualidade de vida acabam por incrementar o

preço, ainda que sem lastro.

A atual diretriz da Prefeitura, no que diz respeito ao Programa 100 Parques,

revela-se crítica. Seu nome sugere implantar 100 parques, mas na realidade objetiva

implantar o necessário para se ter 100 parques; seu nome é oportunista, com apelo

propagandístico (por que 100, e não 99 ou 101 parques?); o argumento de melhor

distribuição espacial destes equipamentos, pelo menos 1 por subprefeitura, é muito

relativo pois a sua necessidade está associada à área, à ocupação, à população e a

já existência de outras áreas verdes livres; o projeto não é inovador, e sim uma

diretriz da Lei Orgânica do Município e de seu Plano Diretor Estratégico – logo, a

implantação de novos parques é mérito ou não deste programa? Por respeito à Lei,

a ampliação no número de parques e de áreas verdes já não estaria garantido, com

ou sem o Programa 100 Parques?; revela-se enquanto uma proposta com objetivos

claros e simples (aumento quantitativo), que envolvem, no entanto, interesses

complexos e distintos entre governo (bandeira política), área urbana (solo urbano

enquanto mercadoria) e população (qualidade de vida); a lista de parques previstos

é transitória, mantida pelas oportunidades e oportunismos – nos últimos seis meses,

pelo menos 26 parques deixaram de estar nos planos do programa (a maioria nas

zonas Leste e Sul), enquanto 15 novos surgiram; é, substancialmente, um ato de

tentar recolher os fragmentos de uma cidade superedificada que constrói e se

reconstrói a todo momento.

Alguns dos parques existentes na cidade (e outros em projeto) dificilmente

podem ser considerados parques, em função da limitação de sua área em compor

maciços vegetais, revelar antigos elementos naturais do sítio urbano ou abrigar

equipamentos de lazer. Pela falta de consenso entre os administradores da cidade,

técnicos e especialistas, temos na realidade a construção de praças de vizinhança

que recebem a alcunha de parques urbanos. Criar parques é sempre positivo, mas

há problemas em como eles estão sendo atualmente criados: microparques para

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marketing político. Áreas pequenas são as apostas da Prefeitura para atingir a meta

anunciada: 100 Parques até 2012.

Para tornar mais claro, tomemos como exemplo as medidas de um campo de

futebol. Pelos padrões da Federação Internacional de Futebol (FIFA), os jogos

podem se dar em gramados com metragem de 110 x 75 metros, num total de 8.250

m² . Dos parques existentes, são próximos a essa metragem: Zilda Natel (2.386m²),

Vila Silvia (4.400 m²), Ermelino Matarazzo (5.181 m²), Mário Covas (5.396 m²),

Linear Ipiranguinha (10.000 m²), Modernista (12.700 m²), Victor Civita (13.648 m²),

Lina e Paulo Raia (15.000 m²), Eucaliptos (15.447 m²) e Linear Parelheiros (16.000

m²). São exemplos de parques (10 parques, ou seja, 10% do total esperado para

2012) com o equivalente a até 1% da área ocupada pelo Parque do Ibirapuera

(1.584.000 m²) cada um, ou metragem aproximada da Praça da República no centro

da cidade (15.000 m²).

Não é nova a estratégia de construir parques dotando-os de quadras,

brinquedos infantis, trilhas de corrida ou caminhada, áreas gramadas, espécies

arbóreas (nativas ou exóticas) e edificações adaptadas, tão somente, subestimando

ou ignorando atividades de estudo para identificar as carências e aspirações de seus

futuros usuários. A realização de um planejamento específico é substituída por

modelos prontos, padronizados, que pressupõem a satisfação das atividades de

lazer com esses equipamentos mais comuns. Ademais, agregam-se a isso fatores

como a falta de recursos, a necessidade de atendimento rápido às demandas

crescentes por lazer, o interesse eleitoreiro e a insuficiente grade de recursos

humanos (espera-se que haja a superação da exclusividade de arquitetos-

paisagistas, ampliando para as demais áreas do conhecimento).

Discordamos do argumento que pondera sobre a comparação dos projetos e

os usuários, do período conhecido como Belle Époque e os das últimas décadas,

onde os planos atuais tornam-se modestos, valorizando o rústico e o simples em

contrate com a alta elaboração dos primeiros, para um público outro, diverso, agora

em maior quantidade e menos exigente que as elites do Império ou da Primeira

República (no sonho de se construir aqui a Europa Tropical, fundamentada nas

imagens que se tinham de Paris e Londres). Esta comparação nos leva a

desvalorizar estes espaços de hoje, bem como seus usuários. Sabemos que os

projetos eram outros, mas também ponderamos sobre os benefícios e a importância

de sua implantação na atual cidade urbano-industrial. Levar este pensamento a cabo

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significa ratificar e fortalecer os processos de segregação, não apenas espaciais,

mas também sociais.

Dentre as diversas possibilidades de uso, o espaço dos parques urbanos

públicos pode ser utilizado enquanto local para reflexão das práticas ambientais

antrópicas. Com a exploração de conteúdos pedagógicos para a Educação

Ambiental da comunidade, poderíamos atingir a conscientização da população

quanto à degradação e poluição do meio ambiente, encontrando coletivamente

meios para minimizar esses problemas e despertar o interesse por sua conservação.

Atualmente, a urgência de uma arquitetura diferenciada para um dado parque

fundamenta-se no incentivo ao consumo dos lugares. Parques singulares, bem

cuidados e seguros atraem cada vez mais usuários, valorizam seu entorno e atraem

investimentos. São reivindicados, assim, pelas várias esferas da sociedade

(administração pública, organizações privadas e movimentos sociais), cada qual

com seus interesses e necessidades.

O parque urbano necessita ser visto a partir da perspectiva do cidadão, e não

do administrador que constrói obras como símbolo e representação de seu poder

pessoal (distante de um entendimento da cidade como prática socioespacial). É a

população local, futura usuária, que pode esclarecer quais caminhos de projeto

tomar, bem como equipamentos e atividades a serem privilegiadas. Ignorar suas

necessidades e desejos significaria fadar o cidadão a equipamentos

desinteressantes à sua vida e à ausência de estímulos à sociabilidade em espaços

públicos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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http://smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/ http://vivaoparque.wordpress.com/ http://www.ibge.gov.br http://www.jusbrasil.com.br/politica/2744057/prefeito-vistoria-obras-do-parque-linear-canivete-na-vila-brasilandia http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/desenvolvimento_urbano/dados_estatisticos/ http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/ http://www.samorcc.org.br/197_protesto.html http://www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfilMunEstado.php http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u493224.shtml

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ANEXOS

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ANEXO A

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Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Lei nº 13.430, de13 de setembro de 2002

TÍTULO II DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: OBJETIVOS, DIRETRIZES E AÇÕES ESTRATÉGICAS CAPÍTULO III DO MEIO AMBIENTE E DO DESENVOLVIMENTO URBANO SEÇÃO I DA POLÍTICA AMBIENTAL SUBSEÇÃO I DAS ÁREAS VERDES São objetivos da política de áreas verdes: ampliar as áreas verdes, melhorando a relação área verde por habitante no Município; assegurar usos compatíveis com a preservação e proteção ambiental nas áreas integrantes do sistema de áreas verdes do Município (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 58). São diretrizes relativas à política de áreas verdes: o adequado tratamento da vegetação enquanto elemento integrador na composição da paisagem urbana; a gestão compartilhada das áreas verdes públicas significativas; a incorporação das áreas verdes significativas particulares ao Sistema de Áreas Verdes do Município, vinculando-as às ações da municipalidade destinadas a assegurar sua preservação e seu uso; a manutenção e ampliação da arborização de ruas, criando faixas verdes que conectem praças, parques ou áreas verdes; a criação de instrumentos legais destinados a estimular parcerias entre os setores público e privado para implantação e manutenção de áreas verdes e espaços ajardinados ou arborizados; a recuperação de áreas verdes degradadas de importância paisagístico-ambiental; o disciplinamento do uso, nas praças e nos parques municipais, das atividades culturais e esportivas, bem como dos usos de interesse turístico, compatibilizando-os ao caráter essencial desses espaços; a criação de programas para a efetiva implantação das áreas verdes previstas em conjuntos habitacionais e loteamentos (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 59). São ações estratégicas para as áreas verdes: implantar áreas verdes em cabeceiras de drenagem e estabelecer programas de recuperação; implantar o Conselho Gestor dos Parques Municipais; instituir a Taxa de Permeabilidade, de maneira a controlar a impermeabilização; criar interligações entre as áreas verdes para estabelecer interligações de importância ambiental regional; criar programas para a efetiva implantação das áreas verdes previstas em conjuntos habitacionais e loteamentos; implantar programa de arborização nas escolas públicas municipais; utilizar áreas remanescentes de desapropriações para a implantação de Parques e Praças; estabelecer parceria entre os setores público e privado, por meio de incentivos fiscais e tributários, para implantação e manutenção de áreas verdes e espaços ajardinados ou arborizados, atendendo a critérios técnicos de uso e preservação das áreas, estabelecidos pelo Executivo Municipal; elaborar mapa de áreas verdes do Município, identificando em cada distrito as áreas do Sistema de Áreas Verdes (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 60).

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ANEXO B

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Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo. Lei nº 13.430, de13 de setembro de 2002

TÍTULO II DAS POLÍTICAS PÚBLICAS: OBJETIVOS, DIRETRIZES E AÇÕES ESTRATÉGICAS CAPÍTULO I DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL SEÇÃO VII DOS ESPORTES, LAZER E RECREAÇÃO São objetivos no campo de Esportes, Lazer e Recreação: alçar o esporte, o lazer e a recreação à condição de direito dos cidadãos e considerá-lo dever do Estado; manter em funcionamento pleno as áreas livres municipais destinadas ao esporte e ao lazer; oferecer acesso universal e integral às práticas esportivas, promovendo bem-estar e melhoria da qualidade de vida (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 42). São diretrizes do campo de Esportes, Lazer e Recreação: a recuperação dos equipamentos de esportes, adequando-os à realização de grandes eventos e espetáculos esportivos; a garantia do acesso dos portadores de necessidades especiais a todos os equipamentos esportivos municipais; a ampliação e a otimização da capacidade dos equipamentos esportivos municipais, adotando-se como padrão mínimo de atendimento a possibilidade de uso por 10% (dez por cento) da população; a elaboração de diagnósticos, identificando áreas que necessitam de equipamentos visando à ampliação da rede de equipamentos da Administração Direta e Indireta; a implantação de unidades esportivas em regiões mais carentes; a implantação de um sistema regionalizado de administração dos equipamentos; a implantação de programas estruturantes de esporte e lazer voltados ao fortalecimento da noção de cidadania (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 43). São ações estratégicas no campo de Esportes, Lazer e Recreação: assegurar o pleno funcionamento de todos os equipamentos de administração direta, garantindo a manutenção de suas instalações; revitalizar os grandes equipamentos esportivos municipais, a saber, o Autódromo de Interlagos, o Estádio do Pacaembu e o Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa; criar, nas dependências do Autódromo, o Parque do Autódromo e o Museu da Velocidade de Interlagos; promover jogos e torneios que envolvam o conjunto das regiões da Cidade; construir equipamentos de administração direta em regiões carentes de unidades esportivas, com especial atenção aos conjuntos de Habitação de Interesse Social; informatizar as unidades esportivas municipais; elaborar e propor legislação de incentivo às atividades de esporte e lazer, incluindo a possibilidade do estabelecimento de parcerias; atualizar a legislação que rege o Conselho Municipal de Esportes e Lazer e implantar o Fundo Municipal de Esportes e Lazer; revitalizar e assegurar pleno funcionamento dos Centros Desportivos Municipais; promover a integração com Clubes Esportivos Sociais objetivando o fomento do esporte; apoiar, na medida do possível, a administração comunitária dos Clubes Desportivos Municipais, oferecendo apoio de corpo técnico competente que permita auxiliar na fase de construção e manutenção de equipamentos; incentivar a organização de competições amadoras nas diferentes modalidades esportivas, utilizando a rede pública direta e indireta de equipamentos esportivos; implantar o programa de ruas de lazer, com prioridade para a periferia, promovendo atividades de esportes, lazer e cultura; revitalizar e apoiar o pleno funcionamento dos Centros Desportivos Municipais – CDMs e garantir sua administração pela comunidade; transformar em áreas com destinação para esportes e lazer, os terrenos públicos que mantém este uso há no mínimo 5 (cinco) anos (Lei Municipal nº 13.430/02, Art. 44).

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Ilustração 10 – Área Urbanizada, segundo períodos de expansão. Região Metropolitana de São Paulo: 1881-2002.

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Ilustração 11 – Mancha Urbana, Região Metropolitana: 2002