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UNIVERSIDADE DE SAO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA LUCAS JUNQUEIRA VILLELA Descoberta de novos supercondutores dopados com Nb dos sistemas Ni-B e Zr-V-Ge LORENA 2013

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UNIVERSIDADE DE SAO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

LUCAS JUNQUEIRA VILLELA

Descoberta de novos supercondutores dopados com Nb dos sistemas Ni-B

e Zr-V-Ge

LORENA

2013

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

LUCAS JUNQUEIRA VILLELA

Descoberta de novos supercondutores dopados com Nb dos sistemas Ni-B

e Zr-V-Ge

Trabalho apresentado ao programa de

orientação de monografias (TCC) do curso de

Engenharia Química da Escola de Engenharia

de Lorena – Universidade de São Paulo, como

requisito parcial das atividades de Graduação,

sob a supervisão do Departamento de

Engenharia Química e orientação do Professor

Doutor Antonio Jefferson da Silva Machado.

LORENA

2013

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LUCAS JUNQUEIRA VILLELA

Descoberta de novos supercondutores dopados com

Nb dos sistemas Ni-B e Zr-V-Ge

EEL-USP, Lorena-SP, 2013

Orientador: Prof. Dr. Antonio Jefferson da Silva Machado. Monografia – Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Química

Supercondutores, temperatura crítica, Ni-B, Zr-V-Ge

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Dedicatória

Aos meus pais Guy Junqueira Villela e Ana Cristina Junqueira Villela, meu irmão

Samuel Junqueira Villela, agradeço pelo apoio e dedicação na concretização de

mais essa etapa.

A minha namorada Eliana Acedo Pinto Alves da Cruz que mesmo em minhas

fraquezas se manteve forte e me incentivou a atingir o objetivo desejado, foi

fundamental para a conclusão do trabalho.

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Agradecimentos

Agradeço aos meus pais, por todo apoio e dedicação durante todo o tempo.

Ao professor Antonio Jefferson da Silva Machado pelo admirável profissionalismo

e jamais ter medido esforços para ajudar seus alunos.

A todos que, de alguma forma, colaboraram para a realização deste trabalho,

especialmente ao meu amigo Lucas Eduardo Corrêa, o meu sincero

agradecimento.

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Resumo

Lucas, J. V., Descoberta de novos supercondutores dopados com Nb dos

sistemas Ni-B e Zr-V-Ge. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia

Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo,

Lorena, 2013.

Supercondutores são materiais que quando resfriados a uma

determinada temperatura, chamada de Tc (Temperatura crítica de transição

supercondutora), que depende de cada material, tem a capacidade de conduzir

eletricidade sem resistência elétrica. Neste contexto os materiais supercondutores

se apresentam como uma solução para o transporte de energia elétrica sem

perda. Além disto, abaixo de Tc estes materiais são diamagnéticos perfeitos cuja

aplicação tecnológica é na área de levitação magnética, como por exemplo, em

trens magneticamente levitáveis que podem solucionar o transporte em grandes

distâncias em alta velocidade. A teoria convencional, chamada de teoria BCS,

estabelece que a existência de materiais magnéticos numa liga inviabilizaria o

aparecimento de supercondutividade nesta classe de materiais. Neste trabalho,

será apresentado um estudo sistemático da dopagem de Nb em ligas do sistema

binário Ni-B que sugerem um material supercondutor que pode atingir valores de

Tc até cerca de 8,0 K. Assim, este trabalho tem tanto interesse básico e/ou

fundamental pela existência de supercondutividade numa liga rica em Ni, que é

um ferromagnético com temperatura de Curie de 627 K, e ao mesmo tempo

interesse tecnológico para aplicações como sensores de alta performance em

particular para análise de ondas cerebrais.

Palavras-chave: Supercondutores, temperatura crítica, Ni-B, Zr-V-Ge

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Abstract

Lucas, J. V., Discovery of new superconducting Nb-doped systems Ni-B and

Zr-V-Ge. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Química) – Escola

de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2013.

Superconductors are materials which when cooled to a certain

temperature, named Tc (superconducting critical temperature), which depends on

each material has the ability to conduct electricity with no electrical resistance. In

this context the superconducting materials are presented as a solution to transport

electricity without loss. Furthermore below Tc these materials are perfect

diamagnetic whose technological application is in the field of magnetic levitation,

for example, trains magnetically levitates which can solve the large transport

distances at high speeds. Conventional theory, called the BCS theory, states that

the existence of magnetic materials in an alloy would remove the appearance of

superconductivity in this class of materials. In this paper, we presented a

systematic study of the doping of Nb alloys in the binary Ni-B suggesting a

superconducting material that can reach values of Tc up to about 8.0 K. This work

has both primary interest and / or by the existence of superconductivity critical in

rich Ni alloy, which is a ferromagnetic Curie temperature of 627 K, while

technological interest for applications such as sensors, particularly for high

performance wave brain analysis.

Keywords: Superconductors, critical temperature, Ni-B, Zr-V-Ge

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Lista de Ilustrações

Figura 1 - Resistência elétrica em função da temperatura para uma amostra de

mercúrio (Hg).

Figura 2 - Representação esquemática da célula unitária do composto ZrVGe que

cristaliza no protótipo UGeTe. As esferas azuis escuras representam os átomos

de V, as vermelhas representam os átomos de Ge e as verdes representam os

átomos de Zr.

Figura 3 – Comparação entre os difratogramas experimental e simulado para a

amostra de composição nominal Ni3.8Nb0.2B3, revelando que os picos da fase

majoritária estão relacionados com a fase Ni3B (linha vermelha).

Figura 1- Diagrama de fases Ni-B.

Figura 5 - Magnetização em função da temperatura para a amostra Ni3.8Nb0.2B3.

Uma clara transição supercondutora é observada na temperatura de 6.0 K.

Figura 6 – Comparação entre os difratogramas simulado e experimental,

revelando que os picos da fase majoritária pertencem à fase de composição Ni2B.

Figura 7 – R vs T para a amostra de composição Ni1.9Nb0.1B, revelando uma

transição supercondutora com temperatura crítica de onset de 4,3 K.

Figura 8 – R vs T para a amostra de composição nominal Ni3.8Nb0.2B3 o qual foi

indexado majoritariamente como Ni3B. A transição supercondutora em 6,0 K é

bastante clara mas o volume supercondutor está bem abaixo do limite percolativo

consistente com a medida de M vs T.

Figura 2– Difratograma simulado e experimental para a amostra de composição

nominal Zr0.9Nb0.1VGe no estado bruto de fusão. Os resultados mostram o

excelente acordo entre os dois resultados.

Figura 10 - Magnetização em função da temperatura para a amostra

Zr0.9Nb0.1VGe. Uma clara transição supercondutora é observada na temperatura

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de 5.8 K. O inserto mostra o comportamento da magnetização com o campo

magnético aplicado mostrando um material supercondutor tipo II.

Figura 11 - Resistência em função da temperatura para a amostra apresentada na

figura 9. O comportamento resistivo mostra uma transição nas proximidades de

5.8 K. Esta transição é consistente com a transição observada na figura 10.

Figura 12 – Diagrama de fases separando o estado supercondutor do estado

normal para a amostra da figura 11. O ajuste em vermelho obedece a relação

quadrática sugerida pela teoria BCS.

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Siglas

Ni – Níquel

B – Boro

Nb – Nióbio

Tc– Temperatura Crítica supercondutora

Zr - Zircônio

V – Vanádio

Ge - Germânio

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Sumário

Resumo............................................................................................................................................ 4

Abstract ............................................................................................................................................ 5

Lista de Ilustrações .......................................................................................................................... 6

Siglas ............................................................................................................................................... 8

1 Introdução ................................................................................................................................... 10

1.1 Justificativa ............................................................................................................................ 10

1.2 Objetivos ............................................................................................................................... 11

1.3 Objetivos específicos ............................................................................................................ 11

2 Revisão Bibliográfica ................................................................................................................. 12

2.1 Supercondutividade .............................................................................................................. 12

2.2 Teoria BCS ............................................................................................................................ 17

3 Aplicações dos supercondutores ................................................................................................ 18

3.1 Trem MAGLEV ...................................................................................................................... 18

4 Mercado de supercondutores ..................................................................................................... 19

5 Procedimentos Experimentais .................................................................................................... 20

5.1 – Sistema pseudo ternário Ni-Nb-B. ..................................................................................... 20

5.2 – Sistema Zr-Nb-V-Ge .......................................................................................................... 21

6 Resultados e discussões ............................................................................................................ 23

6.1 – Sistema Ni-Nb-B ................................................................................................................ 23

6.2 – Sistema Zr-Nb-V-Ge .......................................................................................................... 29

7 Conclusões ................................................................................................................................. 33

8 Referências Bibliográficas .......................................................................................................... 34

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1 Introdução

1.1 Justificativa

Os materiais supercondutores têm aplicações importantes em

tecnologias modernas no século XXI. Dentre as aplicações importantes de um

material supercondutor estão à construção de magnetos para geração de altos

campos magnéticos Estes magnetos são especialmente aplicados em

aceleradores de partículas, equipamento para imageamento magnético utilizando

ressonância magnética nuclear, com aplicações na área de diagnóstico médico e

análise química especialmente em laboratórios de química fina. Para altos

campos magnéticos, magnetos híbridos podem atingir campos magnéticos tão

altos quanto 25,0 T (teslas) operando em corrente contínua, enquanto pela

técnica de pulsos campos de 150,0 T podem ser facilmente atingidos. Neste

sentido, os supercondutores encontram um mercado significativo girando hoje em

torno de 8bilhões de dólares americanos. Sendo que no ano de 2010, metade

deste valor foi aplicado no acelerador de partículas do CERN (Conseil Européen

pour la Recherche Nucléaire). Na fabricação de magnetos para diagnóstico

médico no último ano foram investidos cerca de 1 bilhão de dólares americanos.

O restante é aplicado em equipamentos de pesquisa e para levitação magnética.

Além disto, aplicações em altos campos magnéticos, são de fundamental

importância para aprisionamento de plasma nas tecnologias de fusão nuclear.

Portanto, estes números deixam claro que o mercado de supercondutores no

novo século é uma atividade efervescente da nova engenharia. Neste sentido,

este trabalho tem como objetivo contribuir para a criação de novos materiais

supercondutores, e ao mesmo tempo, contribuir para novos resultados

experimentais que tragam nova luz para o surgimento de uma nova teoria que

consiga explicar os novos materiais supercondutores. Não é demais lembrar que

esta importante área do conhecimento humano já resultou em cinco prêmios

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Nobel, o que atesta a importância fundamental desta área para toda a nova

tecnologia que se apresenta neste novo século.

1.2 Objetivos

Como dito anteriormente o principal objetivo deste trabalho é

apresentar uma pesquisa exploratória de novas ligas supercondutoras no sistema

binário Ni-B. Pelo fato do níquel ser um material ferromagnético com temperatura

de Curie muito alta, a supercondutividade em ligas de níquel é sempre um

fenômeno surpreendente, pois é antagônico com a teoria BCS que não admite um

estado tripleto num supercondutor. Por este motivo, as ligas apresentadas neste

trabalho trazem contribuições importantes tanto do ponto de vista básico como do

ponto de vista aplicado.

1.3 Objetivos específicos

Entender como a dopagem de Nb em ligas do sistema binário

Ni-B induz supercondutividade em estequiometrias ricas em Ni. Por este motivo,

serão apresentados resultados de difração de raios X, microestrutura,

magnetização, resistividade e calor específico, que permitem avaliar o papel do

Nb na inibição do comportamento magnético e conseqüente condensação do

estado supercondutor. Mostrar a existência de um novo supercondutor não

reportado na literatura com estequiometria ZrVGe com relação 1:1:1 com

protótipo UGeTe.

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2 Revisão Bibliográfica

2.1 Supercondutividade

Um breve histórico da supercondutividade, extraído de A. J. S.

Machado e C. A. M. dos Santos, Revista USP, 92, 157 (2011-2012), é abordada

abaixo.

Os primeiros passos para compreensão da condução elétrica em metais de um modo geral foram dados no final do século XIX, antes, portanto, do nascimento da mecânica quântica iniciada por Max Planck. A idéia de que a ligação metálica era dada por um “gás” de elétrons que mantinham os cátions organizados no material no estado sólido foi construída por Drude, Riecke e Lorentz [1-3]. Este novo conceito levou à explicação razoável da boa condutividade elétrica dos metais à temperatura ambiente. Neste conceito, a densidade de portadores de carga (elétrons) é proporcional à condutividade elétrica do metal dado pela expressão:

*

2

em

ne ,

onde e representa a carga do elétron, τ representa o tempo de

relaxação, ou seja, tempo médio entre as colisões sucessivas, *

em

a massa efetiva do elétron livre e n a densidade de portadores de carga ou elétrons livres. Assim, o comportamento da condutividade de um metal seria ditado pelo comportamento da densidade de elétrons com a temperatura, n(T). A idéia de um “gás” de elétrons também pressupunha a idéia de condensação deste “gás” em baixas temperaturas. Se isto fosse verdadeiro, o metal deveria comportar-se com um perfeito isolante no zero absoluto (0 K). Por este motivo, esta era uma questão aberta no final do século XIX e no começo do século XX, pois não havia disponível técnicas de medição que pudessem acessar temperaturas tão baixas. A liquefação de gases e obtenção de fluídos criogênicos abriria uma enorme possibilidade de pesquisa de propriedades da matéria condensada em baixas temperaturas. Neste contexto, o trabalho pioneiro de Heike Kamerlingh Onnes em 1908 da liquefação do gás hélio, na cidade de Leiden na Holanda, abriu enormes possibilidades de pesquisa experimental em baixa temperatura, porque o gás hélio é liquefeito a 4,2 K. A liquefação do hélio permitiu a Onnes e seus colaboradores à exclusividade das pesquisas da resistividade elétrica de metais

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em temperaturas nunca antes alcançadas, exclusividade esta que perdurou por aproximadamente 15 anos. Os primeiros materiais estudados por este grupo foram ouro e platina. A resistividade elétrica observada nestes materiais não seguiu nenhuma tendência apontada pelas teorias da época, ao invés disto, a resistividade parecia alcançar um valor de saturação em muito baixa temperatura (resistividade residual). Este valor residual da resistividade estava relacionado com a pureza do material analisado, o que levou o grupo de Onnes a trabalhar com metais que pudessem ser purificados com facilidade. Uma escolha óbvia foi o mercúrio, porque este metal podia ser facilmente purificado por processo de destilação, uma vez que ele é líquido a temperatura ambiente. Estes estudos levaram Onnes e seu auxiliar G. Holst a observarem, em 1911, um comportamento completamente não usual para a resistividade elétrica. Eles observaram que o mercúrio apresentava um valor de resistividade elétrica muito abaixo do limite de resolução da instrumentação usada por eles, abaixo da temperatura de 4,2 K. Uma queda abrupta da resistividade podia ser observada como mostra a figura 1. Esta temperatura foi chamada de temperatura crítica, acima da qual o material se comporta como um metal normal e abaixo da qual a resistência elétrica desaparece. A este comportamento foi dado o nome de supracondutividade, mas este nome caiu em desuso sendo rebatizado de supercondutividade [4].

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Figura 3– Resistência elétrica em função da temperatura para uma amostra de mercúrio (Hg). Figura adaptada da referência [4].

Entre 1912 e 1913 foi descoberta a supercondutividade em outros metais como Sn (Tc = 3,8 K) e Pb (com Tc variando entre 6,0 K e 7,2 K) [5,6]. Nos anos de 1928 e 1930 três novos supercondutores elementares foram descobertos pelo grupo de Walter Meissner que são Ta (Tc = 4,4 K), Th (Tc = 1,4 K) e Nb (Tc = 9,2 K), sendo este último o elemento de maior temperatura crítica descoberto até hoje na forma natural [7]. Desde então, muitos outros elementos foram descobertos como elementos supercondutores. Hoje conhecemos cerca de 30 elementos que exibem supercondutividade num intervalo de

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temperatura que pode variar de 4x10-4 K para o Li até 9,2 K para o Nb [8]. Todos estes elementos são supercondutores naturais, ou seja, sem aplicação de pressão por um agente externo. Alguns elementos são supercondutores na forma de filmes finos, como por exemplo, o bismuto que é supercondutor com temperatura crítica próxima de 8 K, mas não exibe supercondutividade na forma natural. A aplicação de uma enorme pressão pode induzir supercondutividade em alguns elementos como, por exemplo, no enxofre cuja temperatura crítica é de 17,3 K a 190 GPa [9]. Estes exemplos podem ser encontrados em livros textos de supercondutividade ou de física do estado sólido como na referência [8]. Os primeiros elementos supercondutores descobertos perdiam sua propriedade supercondutora quando submetidos a campos magnéticos aplicados relativamente fracos. Portanto, uma propriedade crítica para um supercondutor é o campo magnético chamando então de campo magnético crítico (Hc). Outro parâmetro crítico é a chamada densidade de corrente crítica (Jc), acima da qual o material exibe uma mudança de estado, do estado supercondutor para o estado normal (resistivo). Os baixos valores de campo crítico e de corrente crítica para os elementos supercondutores inviabilizaram sua aplicação tecnológica, na fabricação, por exemplo, de bobinas supercondutoras. Entretanto, em 1929 um grupo liderado por Wander Haas descobriu que uma solução sólida entre Bi e ouro (AuBi0,04) tornava-se supercondutora com temperatura crítica de 1,9 K [8]. De certa forma este resultado foi surpreendente porque nem Au e nem Bi exibem supercondutividade como elementos puros. Podemos admitir que este foi o primeiro composto supercondutor descoberto. No mesmo ano o grupo de W. Meissner descobriu que um composto de fórmula CuS exibe supercondutividade com temperatura crítica de 1,1 K [10]. Isso foi outra surpresa, pois este composto é formado pelo S que é um isolante e por Cu que é um excelente condutor. Mais tarde este mesmo grupo viria a descobrir supercondutividade em um grande

número de nitretos e carbetos, em particular o NbC com Tc 10,0 K [8]. Em 1933 Meissner e Ochsenfeld demonstraram que os supercondutores são diamagnéticos perfeitos abaixo da temperatura crítica [5]. Este efeito, hoje conhecido como efeito Messiner-Ochsenfeld, ocorre para campos magnéticos aplicados abaixo de Hc. Mais tarde observou-se que os compostos supercondutores exibiam dois campos críticos Hc1 e Hc2. Para campos aplicados abaixo de Hc1 o material está no estado de diamagnetismo perfeito ou estado Meissner, acima de Hc1 o material exibe coexistência entre estado supercondutor e estado normal. Este estado é chamado de estado misto ou estado de

vórtices (Hc1 H Hc2). Assim, os elementos que exibem um único campo crítico são chamados de supercondutores tipo I e os compostos que exibem dois campos críticos são chamados de supercondutores do tipo II. Em 1953 Bern Matthias descobriu supercondutividade em soluções sólidas de NbN e NbC com máximo de temperatura crítica no valor surpreendente de 17,86 K [11]. No mesmo ano, o grupo de John Hulm descobriu o supercondutor de composição V3Si com temperatura critica de 17,0 K. No ano seguinte nos laboratórios da Bell foi descoberta a liga de composição Nb3Sn com temperatura crítica de 18,0 K.

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Estas descobertas abriram a possibilidade de aplicação tecnológica e em 1954 foi construído o primeiro magneto supercondutor com aplicações práticas que produziu campo magnético de 0.71 T. A partir daí muitos grupos de pesquisa deram atenção ao estudo de compostos binários e pseudo-binários visando à descoberta de novos supercondutores. Nas décadas de 1960 e 1970 muitas ligas foram descobertas nos sistemas Nb-Sn, Nb-Zr, Nb-Ga, Nb-Ti, Nb-Al e Nb-Ge [11]. Período onde também foi marcado pelo avanço no desenvolvimento de novas teorias e pela utilização de dispositivos supercondutores em aplicações tecnológicas. Podemos destacar o ano de 1973 que foi marcado pela descoberta da maior temperatura crítica (23,2 K) para a liga de Nb3Ge [11]. Esta alta temperatura crítica reinou soberana até o ano de 1986, quando Alex Muller e Georg Bednorz, nos laboratórios da IBM em Rüschlikon na Suíça, reportaram a surpreendente temperatura crítica de transição supercondutora de ~35 K, em um material não menos surpreendente, que é uma cerâmica anisotrópica de estrutura perovskita contendo lantânio, bário, cobre o oxigênio [12]. Esta descoberta deu origem ao que podemos chamar da era da supercondutividade de alta temperatura crítica ou era dos supercondutores modernos. O impacto desta descoberta foi tão grande que no ano seguinte Bednorz e Muller receberam o prêmio Nobel de física. Podemos dizer que o impacto na área de supercondutividade foi comparável à descoberta do transistor que revolucionou a indústria da microeletrônica. Em 1987 outros grupos de pesquisa, em particular, o grupo do Professor Paul Chu da Universidade de Houston e Maw-Kuen Wu da Universidade do Alabama, fizeram substituições químicas usando átomos de menores raios iônicos tentando produzir uma “pressão” química no sítio ocupado pelo lantânio. Trocando La por Y obtiveram a

cerâmica supercondutora de estequiometria YBa2Cu3O7- (YBaCuO) que atingiu a temperatura crítica de 92 K [13]. Assim, no intervalo de apenas um ano a temperatura crítica supercondutora “saltou” de 23,2 K no Nb3Ge para 92 K na cerâmica de YBaCuO, portanto bem acima da temperatura de ebulição do nitrogênio líquido (77 K). Em 1988, um novo recorde da Tc foi obtido por Allen Hermann e Z.Z. Sheng da Universidade do Arkansas com um composto também anisotrópico no sistema Tl-Ca-Ba-Cu-O com temperatura crítica de 120 K [11]. Em 1993, seguindo a mesma lógica de substituição química, foram sintetizados os primeiros membros da família Hg-Ba-Ca-Cu-O, que à pressão ambiente apresentaram temperaturas críticas de até 135 K [14]. Estes materiais quando submetidos a pressões hidrostáticas atingem temperatura crítica de 160 K [14], a mais alta temperatura crítica supercondutora confirmada até o momento. Esta descoberta é curiosa porque depois de oito décadas da descoberta da supercondutividade no Hg metálico, este elemento volta para o cenário da supercondutividade combinado com outros elementos químicos na forma de óxidos. Analisando a ordem cronológica das descobertas podemos dizer que no período compreendido entre 1930 e 1986, os materiais supercondutores foram dominados por ligas à base de Nb e a partir de 1986 pelos materiais anisotrópicos à base de óxido de cobre ou também chamados de cupratos

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supercondutores. Outro material que merece destaque por ter surpreendido a comunidade científica é o MgB2. Foi reportado em 2001 pelo grupo japonês do Professor J. Akimitsu que MgB2 torna-se supercondutor com temperatura crítica de 39,0 K [15]. Este supercondutor foi apelidado na época como o “gênio escondido no pote”, pois ele já havia sido sintetizado muitas décadas antes, mas nunca medido em baixas temperaturas. Importante notar ainda que este material possui estrutura cristalina hexagonal e, portanto é um material anisotrópico bidimensional.

Recentemente foi reportado supercondutividade em materiais à base de FeAs, chamados de picnitídeos supercondutores, com temperatura crítica que chegam a 50 K. Este resultado, embora com Tc menor que a maioria dos cupratos, é muito importante, pois mostra a existência de supercondutividade em um material relativamente rico em Fe que sempre foi considerado um elemento antagônico para materiais supercondutores devido ao forte ordenamento magnético (ferromagnetismo) com temperatura de Curie de 1043 K. [17]

2.2 Teoria BCS

Essa teoria visa à interpretação microscópica da

supercondutividade e foi proposta em 1957 pelos físicos John Bardeen, Leon N.

Cooper e J. Robert Schrieffer [16], por isso o nome BCS, derivado da primeira

letra de seus sobrenomes. Os pares de elétrons que foram chamados de “pares

de Cooper” se juntam vencendo a repulsão Coulombiana entre partículas de

mesma carga elétrica. Isto é possível pela mediação dos Fônons da rede, que são

o quantum da vibração da rede cristalina. Por este motivo, materiais que são

excelentes condutores de eletricidade, tais como ouro, cobre e platina, não

desenvolvem supercondutividade mesmo no zero Kelvin. Isto ocorre porque estes

materiais, por serem excelentes condutores, possuem poucos Fônons na rede.

Este novo mecanismo quântico funciona basicamente da seguinte forma: um

elétron é atraído pelos prótons da rede cristalina sendo, portanto submetido a um

potencial atrativo. O segundo elétron que vem em seguida também vence o

potencial repulsivo do primeiro (preso aos cátions) formando uma nova partícula

cuja carga é duas vezes a carga do elétron simples, que são então chamados de

“pares de Cooper”.

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3 Aplicações dos supercondutores

Como dito anteriormente, têm-se hoje várias aplicações para

os supercondutores em pequena escala e grande escala. Em pequena escala

pode-se destacar seu uso na biomedicina, processamento digital e dispositivo.

Nos dispositivos eletrônicos ainda não se usa em larga escala pelo fato de que

precisa de uma baixíssima temperatura para trabalhar, com exceção aos

dispositivos de imageamento, tanto em campos moderados como em campos

extremamente baixos (mapeamento de ondas cerebrais).

Já em grande escala seu uso já é mais difundido como na

construção de magnetos enrolados que podem atingir 25,0 T operando em modo

contínuo e de até 150,0 T operando no modo pulsado. Outra aplicação é na

fabricação de aparelhos de ressonância magnética, fios supercondutores, o trem

MAGLEV, o LHC (Large Hadron Collider).

3.1 Trem MAGLEV

Bobinas supercondutoras que geram um campo

suficientemente alto para que possa levitar o trem que tem placas de

supercondutores, e levitam devido ao efeito Meissner. Nas laterais do trilho tem

também grandes imãs que atraem o trem que por estar levitando não tenha

resistência alguma apenas com o ar, o que da a ele uma velocidade muito

elevada de cerca de 500 km/h. Em viagens curtas ele é duas vezes mais

econômico que o avião e a duração da viagem é a mesma, além de ser seguro e

silencioso.

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4 Mercado de supercondutores

O mercado de supercondutores vem crescendo cada vez mais

com o aumento das Tc dos materiais o que possibilita seu uso, pois a refrigeração

é o seu maior obstáculo. Por exemplo, para a construção do LHC e CERN foi

investido aproximadamente U$ 8 bilhões de dólares americanos sendo que este

utiliza supercondutores convencionais a base de Nb-Ti.

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5 Procedimentos Experimentais

5.1 Sistema pseudo ternário Ni-Nb-B.

As amostras do sistema binário Ni-B, dopados com Nb, foram

preparadas estequiometricamente nas composições Ni4B3 e Ni2B e pesadas em

uma balança analítica, e foram fundidas em um forno de fusão a arco voltaico.

Neste procedimento, as amostras foram produzidas num forno a arco, que usa um

eletrodo de tungstênio não consumível. Juntamente com a amostra a ser fundida,

uma esponja de Ti é usada para purificar a atmosfera de argônio. Assim, durante

o processo de fusão, o arco é primeiramente aberto sobre a esponja de Ti que foi

levada à fusão. Este procedimento tem como objetivo purificar a atmosfera de

argônio usada neste processo. Após este procedimento o arco é aberto sobre a

amostra que se pretende fundir. Esta fusão foi repetida por quatro vezes para

garantir a homogeneidade do produto final. Após a última fusão as amostras

foram pesadas novamente com o objetivo de verificar a perda de massa, que foi

significativa, pois teve uma grande perda de B devido à sua expansão térmica

durante a fusão.

Com a amostra fundida, uma parte da mesma foi moída em

forma de pó fino para caracterização cristalográfica de difração de raios-X da

marca PANanalytical modelo Empyrean para verificar a estrutura cristalina das

amostras obtidas por este processo. Neste processo a parcela moída foi

pulverizada sobre uma placa de vidro contendo graxa de silicone (amorfa),

conhecido como método de pó com configuração (-2) em um difratômetro com

sistema de aquisição de dados e radiação Cu-Kα com comprimento de onda de

1,540598 Å. . As difrações obtidas foram analisadas geralmente no intervalo de

ângulo entre 10 2 90, que como dito anteriormente, tem como objetivo

verificar a estrutura cristalina de cada amostra obtida. As amostras foram

caracterizadas quanto às suas propriedades elétricas e magnéticas em um

equipamento da Quantum Design conhecido como PPMS, modelo EverCool II. A

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resistividade foi medida pelo método convencional das quatro pontas com

corrente de 0,5 mA. As medidas magnéticas foram feitas no mesmo equipamento

nos regimes Zero Field Cooled (ZFC) e Field Cooled (FC) para verificar a

dependência da magnetização em função da temperatura (M vs T). A

dependência da magnetização com o campo magnético aplicado foi feita numa

temperatura constante (2,0 K). Todas estas medidas foram realizadas no PPMS

onde é acoplado um sistema de amostra vibrante (VSM).

As melhores amostras obtidas pelo processo acima descrito

foram também submetidas a um tratamento térmico na temperatura de 950oC por

cerca de 72 horas. Para tanto, as amostras foram encapsuladas em tubo de

quartzo com uma pressão parcial de argônio ultra-puro.

5.2 Sistema Zr-Nb-V-Ge

Devido a similaridade da estrutura de camadas do composto

ZrVGe, conforme mostra a figura 2, com algumas fases do sistema Ni-B, foi

decidido neste ponto do trabalho explorar a possibilidade de supercondutividade

neste sistema dopado com Nb.

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Figura 4 – Representação esquemática da célula unitária do composto ZrVGe que cristaliza no protótipo UGeTe. As esferas azuis escuras representam os átomos de V, as vermelhas representam os átomos de Ge e as verdes representam os átomos de Zr.

Neste sistema pedaços de Zr, Nb, V e Ge, todos de alta pureza

foram misturados nas razões estequiométricas ZrVGe e Zr0.9Nb0.1VGe e fundidas

num forno a arco voltaico usando o mesmo procedimento explicado acima.

Depois do processo de fusão uma perda de massa da ordem de 3% foi

observada. Estamos atribuindo esta perda ao Ge, que é o elemento com maior

pressão de vapor neste sistema. Assim, a composição, após o processo de fusão,

é de aproximadamente ZrVGe0.97 e Zr0.9Nb0.1VGe0.97.

Todas as amostras deste sistema foram medidas no estado

bruto de fusão, usando as mesmas técnicas de caracterização utilizadas no

sistema Ni-B.

ab

c

PowderCell 2 .0

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6 Resultados e discussões

6.1 Sistema Ni-Nb-B

A figura 3 mostra uma comparação entre o difratograma

simulado da fase de estequiometria Ni3B e o difratograma experimental da

amostra com composição nominal Ni3.8Nb0.2B3. Os picos da fase majoritária

podem ser indexados como pertencentes a fase de estequiometria Ni3B em

equilíbrio com uma fase minoritária de composição Ni2B.

Figura 5– Comparação entre os difratogramas experimental e simulado para a amostra de composição nominal Ni3.8Nb0.2B3, revelando que os picos da fase majoritária estão relacionados com a fase Ni3B (linha vermelha).

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Este resultado surpreendente pode estar relacionado com uma

perda significativa de boro durante a fusão, deslocando o equilíbrio para a região

mais rica em níquel do diagrama de fases binário Ni-B. Podemos verificar essa

perda observando o diagrama de fases Ni-B, mostrado na figura 4.

Figura 6- Diagrama de fases Ni-B

Embora, a fase de interesse não tenha sido obtida, não

encontramos nenhum resultado na literatura que explore as propriedades da fase

Ni3B. Por este motivo esta amostra foi caracterizada por magnetização nos

regimes ZFC e FC conforme descrito no procedimento experimental. A

magnetização em função da temperatura para esta amostra está mostrado na

figura 5, nos regimes ZFC e FC.

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Figura 7 - Magnetização em função da temperatura para a amostra Ni3.8Nb0.2B3. Uma clara transição supercondutora é observada na temperatura de 6,0 K.

Estes resultados mostram uma clara assinatura de transição

supercondutora nas proximidades de 6,0 K. Entretanto, o sinal da magnetização

normalizada pela massa sugere um volume supercondutor menor que 10%.

Para explorar melhor em que região se encontra a

supercondutividade volumétrica neste sistema, uma amostra de composição

Ni1.9Nb0.1B foi preparada nas mesmas condições já discutidas anteriormente. O

resultado de difração de raios X para esta amostra é apresentado na figura 6.

Nesta figura é apresentada novamente uma comparação entre o difratograma

simulado e o difratograma experimental. Fica claro nesta figura que os picos da

fase majoritária estão relacionados com a fase de composição Ni2B, sugerindo

que a fusão feita nesta amostra foi bem sucedida.

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Figura 8– Comparação entre os difratogramas simulado e experimental, revelando que os picos da fase majoritária pertencem à fase de composição Ni2B.

O comportamento resistivo desta amostra em função da

temperatura é mostrado na figura 7. Uma transição supercondutora nas

proximidades de 4,3 K pode ser observada nesta medida.

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Figura 9– R vs T para a amostra de composição Ni1.9Nb0.1B, revelando uma transição supercondutora com temperatura crítica de onset de 4,3 K.

Este resultado sugere fortemente que esta é uma nova fase

supercondutora ainda não reportada na literatura. Embora a supercondutividade

esteja clara neste composto, o volume supercondutor está abaixo do limite

percolativo, indicando que esta amostra não é um supercondutor volumétrico, a

exemplo da amostra mostrada na figura 4. Aliás, a temperatura crítica observada

na figura 5 é totalmente consistente com a temperatura crítica observada pela

medida resistiva (veja figura 8).

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Figura 10– R vs T para a amostra de composição nominal Ni3.8Nb0.2B3 o qual foi indexado majoritariamente como Ni3B. A transição supercondutora em 6,0 K é bastante clara mas o volume supercondutor está bem abaixo do limite percolativo consistente com a medida de M

Embora a transição supercondutora ocorra na mesma

temperatura mostrada independentemente pela medida de magnetização, o

volume supercondutor está muito abaixo do limite percolativo (5%) como sugerido

pela figura 5. Em outras palavras, nenhuma das amostras produzidas até este

momento são supercondutores volumétricos. Na tentativa de aumentar o volume

supercondutor, homogeneizando a amostra, fizemos um tratamento térmico na

temperatura de 950oC como discutido anteriormente. Este tratamento foi

escolhido com base no diagrama de fases binário do sistema Ni-B [18]. Após este

tratamento térmico de 72 horas de duração as amostras apresentaram um

comportamento metálico sem nenhum sinal supercondutor. Este resultado sugere

que a supercondutividade pode estar vindo de um composto metaestável ou

estável em alta temperatura. Entretanto, é necessário um trabalho mais

sistemático para elucidar esta questão mas podemos afirmar que existem pelo

menos dois novos compostos supercondutores neste sistema ainda não

reportados na literatura.

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6.2 Sistema Zr-Nb-V-Ge

A fase ternária ZrVGe cristaliza numa estrutura tetragonal

pertencente ao grupo espacial I4/mmm cujo protótipo é UGeTe conforme mostra a

estrutura esquemática da figura 2. É bastante clara a disposição de átomos em

forma de camadas muito similar aos compostos apresentados para o sistema Ni-

Nb-B. Por este motivo uma amostra com a composição Zr0.9Nb0.1VGe foi

preparada por fusão a arco como explicado no capítulo de procedimento

experimental. Após a fusão a amostra teve uma perda de massa em torno de 3%

e o difratograma de uma amostra no estado bruto de fusão é mostrado na figura

9.

Figura 11– Difratograma simulado e experimental para a amostra de composição nominal Zr0.9Nb0.1VGe no estado bruto de fusão. Os resultados mostram o excelente acordo entre os dois resultados.

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Os resultados estão em excelente acordo com a fase desejada

de estequiometria ZrVGe (Figura 2) como fase majoritária. Estes resultados

sugerem que a preparação desta amostra é relativamente simples com poucos

picos de fases adicionais. O comportamento da magnetização em função da

temperatura é mostrado na figura 10. Uma temperatura critica de transição

supercondutora nas proximidades de 5,8 K é bastante clara, revelada pelos dois

regimes ZFC e FC.

Figura 12- Magnetização em função da temperatura para a amostra Zr0.9Nb0.1VGe. Uma clara transição supercondutora é observada na temperatura de 5,8 K. O inserto mostra o comportamento da magnetização com o campo magnético aplicado mostrando um material supercondutor.

O comportamento da magnetização em função do campo

magnético aplicado é mostrado no inserto desta figura. O volume supercondutor

sugerido nesta medida indica um material supercondutor volumétrico. O

comportamento da curva M vs H mostra assinatura clara de um supercondutor

tipo II. Para comprovar o grande volume supercondutor, uma medida da

resistência elétrica em função da temperatura é mostrado na figura 11. Nesta

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figura a transição supercondutora ocorre nas proximidades de 5,8 K, totalmente

consistente com a medida de magnetização mostrado na figura 10.

Figura 13- Resistência em função da temperatura para a amostra apresentada na figura 9. O comportamento resistivo mostra uma transição nas proximidades de 5,8 K. Esta transição é consistente com a transição observada na figura 10.

A largura de transição observada (∆T ~ 2,8 K) está certamente

relacionada com a contaminação da fase minoritária (não identificada neste

trabalho) que certamente é uma fase resistiva neste intervalo de temperatura. O

inserto desta figura mostra o comportamento da resistência elétrica em função da

temperatura com campo magnético aplicado. A transição supercondutora (onset)

persiste até campo aplicado de μoH = 3,0 T, sugerindo que este composto tenha

um campo crítico superior relativamente alto. O campo crítico superior é da ordem

de 6,7 T no zero kelvin, conforme mostra o ajuste experimental com a equação

BCS na figura 12.

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Figura 14– Diagrama de fases separando o estado supercondutor do estado normal para a amostra da figura 11. O ajuste em vermelho obedece a relação quadrática sugerida pela teoria BCS.

Finalmente este trabalho de conclusão de curso mostra

claramente a existência de novos supercondutores nos sistemas Ni-Nb-B e Zr-Nb-

V-Ge. Embora, este trabalho mostre que a supercondutividade no sistema Zr-Nb-

V-Ge seja indiscutível mais trabalhos são necessários com o objetivo de melhorar

a qualidade das amostras obtidas, e ao mesmo tempo, entender o papel de cada

camada de átomo nas propriedades supercondutoras deste novo material.

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7 Conclusões

Este trabalho mostra que as fases exploradas no sistema

pseudo-ternário Ni-Nb-B de estequiometrias Ni3B e Ni2B dopados com Nb são

novos supercondutores que precisam ser investigados por trabalhos mais

sistemáticos, principalmente para esclarecer se estes são supercondutores de

equilíbrio ou são oriundos de fases metaestáveis. Este trabalho também

demonstrou de forma clara e indiscutível que o composto de estequiometria

Zr0.9Nb0.1VGe é um novo material supercondutor com Tc ~ 5.8 K.

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