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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTO DE NEGCIOS TURSTICOS
FRANCINEUMA GOMES ALVES
CIO E LAZER DOS RESIDENTES DO BAIRRO BENFICA/FORTALEZA-CE
FORTALEZA CEAR
2017
1
FRANCINEUMA GOMES ALVES
CIO E LAZER DOS RESIDENTES DO BAIRRO BENFICA /FORTALEZA-CE
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos do Centro de Estudos Sociais Aplicados, da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Gesto de Negcios Tursticos. rea de Concentrao: Gesto de Negcios Tursticos.
Orientador: Prof. Dr. Francisco Agileu de Lima Gadelha
FORTALEZA CEAR
2017
2
3
FRANCINEUMA GOMES ALVES
O CIO E LAZER DOS RESIDENTES DO BAIRRO BENFICA /FORTALEZA-
CEAR
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos do Centro de Estudos Sociais Aplicados, da Universidade Estadual do Cear, como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Gesto de Negcios Tursticos. rea de Concentrao: Gesto de Negcios Tursticos.
Aprovada em: 11 de outubro de 2017.
BANCA EXAMINADORA
4
Ao meu pai Francisco Pedro Neto (in
memria).
5
AGRADECIMENTOS
Ao Criador do Universo que inspira sempre na luta incansvel de busca de
conhecimentos e da fora de vontade que me d pelo eterno crescimento pessoal e
espiritual;
famlia, que sempre acreditou em mim pelo desafio de alcanar nvel mais alto de
qualificao aps longo tempo de carreira profissional;
Ao orientador, Dr. Francisco Agileu de Lima Gadelha pela amizade e estmulo,
orientaes de leitura, observao e determinao.
professora Dra. Luzia Neide Coriolano, agradecimento especial, pois foi uma
grande colaboradora para concluso da minha dissertao e que nunca hesitou em
dar orientao, apoio necessrio e fundamental realizao do trabalho;
Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Estado do Cear, em nome do
Presidente Zezinho Albuquerque, pelo incentivo e estmulo aos servidores da casa
para o nosso aperfeioamento profissional e pela oportunidade de realizar este
mestrado;
Ao meu diretor Luiz Edson Correia Sales e Maria Tereza Holanda Machado pela
compreenso.
Aos colaboradores do Laboratrio da Assembleia Legislativa do Cear,
compreensivos na observncia das atividades laborais colaborando para que eu
tenha um bom desempenho para alcanar este ttulo;
amiga e colega de trabalho, Edinira Borges que incentivou para prosseguir na
conquista de realizar o mestrado;
amiga e colega de mestrado, Aline Rodrigues que se disps algumas vezes como
parceira no trabalho de campo e ajudou na elaborao dos grficos da minha
dissertao;
Aos colegas da turma XI MPGNT, pelo convvio e apoio nos trabalhos de equipe e
nas comemoraes nos finais das disciplinas.
A todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao desta dissertao
e para conquista dos sonhos, o agradecimento especial.
6
cio a forma mais elevada de atividade
humana: proporciona enlevo,
encantamento e toca o esprito.
(Luzia Neide Coriolano)
7
RESUMO
Esta dissertao trata do cio, lazer e turismo do Bairro Benfica de Fortaleza.
Estuda-se oferta de lazer e vivncia do cio na busca da preservao, pelos
moradores, de costumes e tradies. A pesquisa exige compreenso das categorias
cio e lazer, apontando a distino do cio experienciado, em tempos passados, e a
prtica do lazer de forma massificada e programada: lazer e turismo so realizados
para elevar o bem-estar dos visitantes e dos visitados. O objeto proposto deve-se
diversidade de lazeres no bairro, que agrega cultura acadmica, desporto, boemia e
musicalidade, h dcadas, com encontros nos finais de semana, em atividades
culturais variadas. O estudo contribui para abordagem da problemtica, bem como,
na elucidao dos seguintes questionamentos: como ocorrem as prticas de lazer e
vivncia do cio de residentes do bairro Benfica, em conexo com a oferta turstica
cultural de Fortaleza? O lazer possui potencial para atrair os turistas da cidade?
Qual a repercusso dos atrativos culturais para a implementao do turismo cultural
em Fortaleza? Em resposta aos questionamentos, elaboram-se os objetivos, em
especial, identificam-se os equipamentos tursticos culturais, conhecem-se lazeres e
cio de residentes e compreende-se a importncia da promoo do pr-carnaval, no
Benfica, para moradores e turistas de Fortaleza. Optou-se pela metodologia
etnogrfica, como observador participante, orientado pelos pilares de base terica e
pelas pesquisas institucional e de campo. Incorporando Fortaleza, desde a de areia
ou cidade descala, de Otaclio de Azevedo, at a metrpole. Achados da pesquisa
apontam que o Benfica continua bairro residencial, onde o lazer se mantm pela
tradio bomia e do entretenimento, reprimido o cio, devido a fatores negativos da
insegurana e violncia contempornea. O Benfica um bairro cultural, tradicional
que se destaca pelos valores, cultura autntica pela manuteno dos costumes.
Embora o turismo seja o lazer moderno que instiga as pessoas viagem, o cio
resiste e realidade no Benfica da Fortaleza moderna. O turismo acatado e o
Estado deve colaborar com melhoria de infraestrutura urbana.
Palavras-chave: cio. Lazer. Turismo. Cidade. Tempo. Espao e Cultura.
8
ABSTRACT
This dissertation aims to investigate the leisure and recreation of the residents of the
Benfica neighborhood of Fortaleza. We study the offer of leisure and the experience
of recreation in Benfica, over time, seeking to evidence the preservation, on the part
of the residents, of customs and traditions of the past. The research of the theme
requires the understanding of the categories leisure and recreation, pointing to the
distinction of leisure experienced in times past and the practice of leisure in a mass
and programmed way, leisure and tourism are carried out to raise the well-being of
the people who visit and of those who are visited. The interest in the theme is
justified by the importance of cultural changes observed throughout the history of the
neighborhood, the desire to know the idyll experienced by the residents of
Gentilndia. The proposed object is due to the diversity of leisures evidenced in the
neighborhood, place that adds culture academic, sport, bohemia and the musicality
that have been held for decades on weekend cultural activities. The study contributes
to address the problematic in question, as well as to elucidate the following
questions: how do leisure practices and the leisure experience of residents of the
Benfica neighborhood in connection with Fortaleza's cultural tourism offer? Does
leisure in the Benfica neighborhood have the potential to attract tourists in the city?
What is the repercussion of the cultural attractions of Benfica for the implementation
of cultural tourism in Fortaleza? As a response to such questions, the objectives are
elaborated, in particular, to identify the existing cultural tourism equipment, to know
the leisure activities used and the idleness practiced by the residents and to
understand the importance of the pre-carnival promotion in Benfica for the residents
and tourists of Fortaleza. Ethnographic methodology was chosen as a participant
observer, guided by theoretical-based pillars and institutional and field research.
Incorporating the city of Fortaleza from the sand or barefoot city of Otaclio de
Azevedo to the touristified metropolis. The research findings indicate that Benfica
continues to be a residential neighborhood where leisure is maintained by the
bohemian tradition and entertainment, and leisure is repressed due to negative
factors arising from contemporary insecurity and violence.
Keywords: Leisure. Recreation. Tourism. City. Time. Space and Culture.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa de Fortaleza com destaque para os bairros e Secretarias
Regionais ................................................................................................ 36
Figura 2 Vista area da Avenida Beira Mar de Fortaleza .................................. 40
Figura 3 Pirata Bar em Fortaleza ......................................................................... 41
Figura 4 Pirata Bar ............................................................................................... 42
Figura 5 Centro Drago do Mar de Arte e Cultura ............................................. 43
Figura 6 Mapa dos espaos do Centro Drago do Mar de Arte e Cultura ....... 44
Figura 7 Vista do Centro de Arte e Cultura Drago do Mar .............................. 45
Figura 8 Bares no entorno do Drago ................................................................ 47
Figura 9 Ponte dos Ingleses ................................................................................ 48
Figura 10 Pr do Sol com msica na Ponte dos Ingleses ................................ 49
Figura 11 Vista de barracas da Praia do Futuro ................................................ 49
Figura 12 Fachada Crocobeach Praia do Futuro ............................................ 50
Figura 13 Interior da Barraca Crocobeach ......................................................... 51
Figura 14 Barraca Chico do Caranguejo ............................................................ 52
Figura 15 Barraca Itaparika Praia do Futuro ................................................... 52
Figura 16 Jardim Japons Jusaku Fujita ........................................................... 53
Figura 17 Corredor do Mercado Central de Fortaleza ....................................... 54
Figura 18 Fachada interna do Theatro Jos de Alencar ................................... 55
Figura 19 Teatro Jos de Alencar Homenagem aos artistas cearenses:
Gerao de Ouro ................................................................................. 57
Figura 20 Antiga Igreja da S em 1795 ............................................................... 58
Figura 21 Catedral Metropolitana de Fortaleza na atualidade .......................... 59
Figura 22 Restaurante portugus Joo do Bacalhau na Varjota ..................... 61
Figura 23 Restaurante Quintal da Varjota .......................................................... 62
Figura 24 Restaurante Colher ............................................................................. 63
Figura 25 Mapa dos bairros de Fortaleza ........................................................... 69
Figura 26 Mapa de localizao do Benfica ......................................................... 79
Figura 27 Reitoria da UFC .................................................................................... 83
Figura 28 Boemia do Bairro: Buraco da Lulu .................................................... 86
Figura 29 Praa da Gentilndia ........................................................................... 87
Figura 30 Quadra de Esporte - Praa da Gentilndia ........................................ 88
10
Figura 31 Bar do Chaguinha no Benfica ............................................................ 90
Figura 32 Estdio Presidente Vargas ................................................................. 96
Figura 33 Interagindo com residentes, cineasta, artistas, professores
universitrios ........................................................................................ 105
Figura 34 Restaurante Zodac ........................................................................... 105
Figura 35 Restaurante Espao Zodac ............................................................. 106
Figura 36 Praa da Gentilndia lazer dos residentes ...................................... 112
Figura 37 Carnaval com msicos do prprio bairro ....................................... 114
Figura 38 Integrao e interagindo entre folies e artistas ............................ 115
Figura 39 Praa Joo Gentil: desfile de bonecos no carnaval 2017 .............. 117
Figura 40 Porta estandarte do bloco Garotos do Benfica .............................. 119
Figura 41 Bloco Garotos do Benfica ................................................................ 121
11
LISTA DE GRFICOS Grfico 1 Estimativa da populao de Fortaleza 2013-2016 .......................... 37
Grfico 2 O cio do bairro Benfica ................................................................... 107
Grfico 3 Representaes Culturais do bairro Benfica .................................. 110
Grfico 4 Impactos negativos no bairro Benfica ............................................. 116
Grfico 5 Os blocos carnavalescos do bairro Benfica. .................................. 122
Grfico 6 Opes de lazer no Benfica .............................................................. 124
Grfico 7 Perfil de moradia dos frequentadores do Benfica .......................... 126
Grfico 8 Tempo de moradia dos residentes ................................................... 126
Grfico 9 Os frequentadores ex-moradores do bairro .................................... 127
Grfico 10 A contribuio do tempo de residncia para a efervescncia
cultural do bairro .............................................................................. 128
Grfico 11 Representaes culturais e sociais do Benfica ............................ 129
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRASEL-CE Associao Brasileira de Bares e Restaurantes do Cear
AIDS Acquired Immunodeficiency Syndrome
CAF Banco de Desenvolvimento da Amrica Latina
CDMAC Centro Drago do Mar de Arte e Cultura
Cena Centro de Artes Cnicas do Cear Padaria Espiritual
EUA Estados Unidos da Amrica
HSJ Hospital So Jos
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IFCE Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Cear
IPHAN Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
PC do B Partido Comunista do Brasil
PT Partido dos Trabalhadores
Secult Secretaria de Cultura do Cear
SIDA Sndrome da Imunodeficincia Adquirida
TJA Theatro Jos de Alencar
UFC Universidade Federal do Cear
13
SUMRIO
1 INTRODUO .................................................................................................. 14
2 OPO METODOLGICA .............................................................................. 20
2.1 PILARES TERICOS DA DISSERTAO ...................................................... 22
2.2 PASSOS DA PESQUISA .................................................................................. 32
3 FORTALEZA: CIDADE TURSTICA ACONCHEGANTE ................................. 34
3.1 FORTALEZA DESCALA DE OTACLIO DE AZEVEDO .............................. 63
3.2 BAIRROS DE FORTALEZA E LAZER .............................................................. 67
4 BAIRRO BENFICA E LAZER DOS MORADORES ......................................... 78
4.1 COMO AS PESSOAS DO BAIRRO FAZEM CIO E LAZER ........................... 97
4.2 AS MANIFESTAES CULTURAIS DO BAIRRO BENFICA ......................... 108
4.3 PR-CARNAVAL, LAZER ESPECIAL ............................................................ 114
5 CONSIDERAES FINAIS............................................................................ 130
REFERNCIAS .............................................................................................. 135
APNDICES ................................................................................................... 146
APNDICE A FORMULRIO PESQUISA DE CAMPO ............................... 147
14
1 INTRODUO
Esta dissertao trata de cio, lazer e turismo do Bairro Benfica, nas
proximidades do centro de Fortaleza.
A capital cearense tem como stio urbano a plancie litornea, com
influncias do serto semirido que domina o Estado. Assim, o clima quente
subsumido com temperatura mdia de 26 28 C, atrativo ao turismo de sol e
mar. Atributos tropicais privilegiam o turismo de sol e praia, o ano inteiro, dando-
lhes guas do mar com temperaturas ideais para o banho (SILVA, 2002).
Os lugares mostram-se cada vez mais competitivos. Nesse contexto,
Fortaleza apresenta, em cada bairro e de forma nica, atrativos que envolvem os
segmentos sol e mar, cultural, ambiental, gastronmico e religioso. Cada regio
expressa peculiaridades culturais, a prpria cultura urbana, paisagens, clima e
tradies diversas. Embora as cidades apresentem traos semelhantes, no so
homogneas. Ao experienci-las, os turistas se deparam com detalhes histricos,
econmicos e culturais, bem como patrimnios arquitetnicos prprios da histria
do lugar (SILVA, 2003).
Fortaleza conserva memria da realidade sertaneja, em meio ao extenso
litoral, com praias de beleza singular. Construda e reconstruda modernamente,
preserva hbitos e tradies do interior, que se misturam ao ritmo urbano da
moderna metrpole. Assim, o serto chega ao litoral, com a fuso de culturas, novos
hbitos so criados e passam a integrar o cotidiano da populao (CORIOLANO,
2012).
A cidade do passado, associada seca dos retirantes, d lugar
metrpole do turismo sol e praia, divulgada com nova imagem que repercute nas
demais cidades martimas do Estado do Cear (DANTAS, 2002).
Cidade indutora do turismo em vrios segmentos. O turismo sol e mar
predomina, tendo em vista a combinao de elementos que incluem a paisagem
natural e o clima tropical apropriado ao lazer na regio litornea. O segmento
interage com outros, de aventura, nutico, cultural, de negcios, esportes, tendo
Fortaleza oferta turstica diversificada.
Polo receptor do turismo, Fortaleza exibe lugares estruturados prtica
do lazer e turismo, atraindo visitantes dos pases. O complexo espao para vivncia
do trabalho e lazer, formalidade e informalidade, apresenta a realidade dos que
15
brincam, dos que trabalham e dos empreendedores que lucram com a atividade.
Tais vivncias reproduzem formas de conflitos em lugares tursticos da metrpole
(CORIOLANO, 2012).
O litoral se expande pelo turismo, alm do lazer e cio alterando o
territrio e o espao simblico da cidade. A metrpole destaca-se, no cenrio
nacional, devido ao marketing da mdia, com apelos direcionados imagem de sol,
praia, festas e humor (CORIOLANO, 2012).
A metrpole rene extenso patrimnio cultural disponvel em bairros
tradicionais, como o Benfica, em lugar de destaque na construo da histria da
cidade, desde aldeia at a produo da metrpole. Estuda-se a oferta de lazer e
vivncia do cio, no Benfica, evidenciando-se como o costume preservado, pelos
moradores, com identificao de costumes e tradies de tempos passados.
Atrativos culturais, desde manifestaes s feiras, livre e de produtos
regionais, gastronomia, centros esportivos, restaurante vegetariano, o que expressa
riqueza de atributos culturais para estmulo e desenvolvimento do turismo cultural de
Fortaleza.
A dissertao exige compreenso de categorias cio, lazer e turismo com
distino de cio experienciado, em tempos passados, e prtica do lazer de forma
massificada e programada. O lazer importante campo de atuao para o
desenvolvimento do turismo, agrega valor ao lugar e eleva o grau de competitividade
dos lugares e empreendimentos tursticos.
O lazer propicia entretenimento, descanso e recuperao de energias
gastas pelo trabalho, enquanto o cio, alm disso, representa satisfao pessoal,
est no mbito do liberatrio, do gratuito, condiciona modos de vida, associa-se ao
prazer da experincia.
O interesse pelo tema justifica-se pela importncia das mudanas
culturais observadas ao longo da histria do bairro, instigando o desejo de conhecer
o cio vivenciado pelos residentes da Gentilndia, no contexto do modo de vida dos
residentes que trabalham e dos que no trabalham, bem como o lazer dos
residentes e visitantes.
A escolha deve-se diversidade de lazeres do bairro, que agrega nmero
diversificado de estudantes, secundarista e universitrio, desportistas, bomios e
artistas da musicalidade que, h dcadas, se encontram nos finais de semana, em
atividades culturais variadas, inclusive em grupos carnavalescos no pr-carnaval.
16
As cidades do Ciclo do Gado, tambm chamado Civilizao do Couro,
so beneficiadas, no perodo em que o gado se transforma em importante fator da
economia colonial, como produtor de alimentos (carne e leite, principalmente) para
populaes, com predomnio de fazendas e povoados, que funcionam como fator de
interiorizao nacional, consagrando o ciclo produtivo. O comrcio do couro destaca-
se, no incio da colonizao, quando se d a formao de Fortaleza, do serto para
o litoral. Tanto que as famlias originrias de Fortaleza so interioranas, troncos da
cidade vieram do serto e sua formao socioespacial tem esta conotao histrica:
A capital cearense pode ser considerada uma cidade de migrantes, pois mais da metade de sua populao provm do interior do Estado. [...] o serto cearense esvaziou-se e sua capital passou pelo processo de inchamento urbano, chamado por alguns de macrocefalia
1, embora
mantendo a relao dos migrantes com seus territrios de origem (CORIOLANO, 2006, p.50-51).
Nesse sentido, infere-se da obra do poeta e pintor cearense Otaclio de
Azevedo (1896-1978) que as informaes para a compreenso de Fortaleza,
sobretudo passam pela natureza literria e potica.
Salienta as memrias dos aspectos urbanos e sociais que tm se
desdobrado, ao longo do tempo, em Fortaleza de Nossa Senhora da Assuno. A
cultura vem do serto e encontra, na cidade, espao para crescimento. Deixa o
povoado que chama de linda cidade descala, [...], diferente do atual.
Fortaleza era pobre e a metfora andar descala refere-se cidade no
consolidada, asfaltada, calada, como as pessoas que perambulam na cidade,
simples, que arrastam sandlias. Moa pobre, mas vaidosa, refere-se Fortaleza
que d os primeiros passos no comrcio internacional, vendendo renda de almofada
para a francesa, aponta sonhos da futura cidade de calada de pedra desigual e
spera quando, s posteriormente, que Fortaleza d arranque e se transforma,
Metrpole, ocupa o lugar de capital e copia o modelo francs, passa pelo processo
de transformao em Fortaleza Belle poque, ao imitar Paris.
Considera a necessidade de novas adaptaes, passa por significativas
mudanas polticas, sociais, econmicas e culturais fazendo-se capital Fortaleza,
adaptada ao modelo francs. O historiador da arquitetura urbanstica do Cear,
Liberal de Castro, observa as construes de trs boulevards, que Herbster inclui na
planta da cidade, imitao das reformas do Baro de Haussmann, em Paris, em
1 Crescimento desmesurado da Capital em detrimento dos demais municpios do estado.
17
meados do sculo XIX, projeto em que estabelece o sistema de grandes avenidas.
No modelo de Herbster do-se tentativas que contribuem para remodelo da capital,
embelezando-a e racionalizando-a.
Na Praa da Gentilndia, principalmente nos finais de semana, se
aglomeram residentes e visitantes, mesas postas na praa e bares oferecem
bebidas e tira-gostos.
Como parte de engajamento para vivenciar o bairro e as experincias
culturais, participou-se de ensaios das bandas de pr-carnaval, interagindo com
residentes, artistas, professores, cineasta, patrimnio imaterial do Benfica.
Integrao e interao entre residentes e visitantes, apaixonados pelo bairro que
frequentam no cotidiano. Moradores, Sandra Benevides Pedrosa, apreciadora da
boemia, Deputado Ded Teixeira, cineasta Pedro Carlos lvares, entre outros.
Benfica lcus de representaes polticas, do PC do B, PT, com manifestaes
polticas, bandeiraos no entorno da Reitoria da UFC, e representaes culturais,
Museu de Arte Moderna da UFC, Teatro Chico Ansio, Conservatrio de Msica
Alberto Nepomuceno e Rdio Universitria.
O bairro conta com estabelecimentos gastronmicos frequentados pelos
professores da Universidade, alunos e residentes, restaurante Culinria da Van
com cardpio regional e msica ao vivo, Bar do Chaguinha, inaugurado em 1956,
um dos tradicionais do Benfica e dos mais antigos de Fortaleza. A banda
carnavalesca de residentes faz a festa organizada pelos moradores, anima o
carnaval.
Encontro cultural com violo, caf e cerveja, residentes participam de
happy hour, em bares, aos sbados e domingos tarde, com cadeiras na calada,
registrados pela pesquisadora.
Restaurante Zodiac, clientela sofisticada de gosto extico, local para
eventos particulares, aberto ou privado. Mostra criatividade e cuidado com a viso
do espao caracterizado tpico astrolgico. Opo de residentes e admiradores das
noites do Benfica.
Eventos personalizados programados com antecipao, para gosto de
quem os aprecia. Nas teras-feiras e finais de semana no restaurante Zodac.
Proprietrios de empreendimentos e residentes idealizaram a marca astrolgica pela
afinidade com o tema. Nem todos os bairros so de turismo, mas h os que atraem
turistas. Benfica, embora no se transformem, em funo de residente e no do
18
turismo, diferente da Aldeota que expulsa o residente para dar lugar ao turista. As
famlias saem da orla para outro lugar, por se instalarem ali hotis, pousadas,
restaurantes, lugares de lazer, o que no acontece no Benfica.
O Benfica atrai o turista no pr-carnaval, no carnaval, nas festas juninas,
em eventos comemorativos, esportivos, culturais, shows, para quem o que vale o
lazer, a vida, a convivncia.
A cidade avana na implementao do turismo, na orla e bairros, dando
suporte preservao da cultura dos bairros, com festas populares com participao
de comunidades, promovendo entretenimento de residentes, com destaque para a
vivncia do cio.
Na abordagem da problemtica, apontam-se os seguintes
questionamentos: Como ocorrem as prticas de lazer e vivncia do cio dos
residentes e visitantes do Benfica, em conexo com a oferta turstica cultural de
Fortaleza? O lazer tem potencial para atrair turistas da cidade? Qual a repercusso
dos atrativos culturais do Benfica para implementao do turismo cultural em
Fortaleza?
Para viabilizao de questionamentos elaboram-se objetivos: Geral:
analise do fenmeno cio e lazer dos residentes e visitantes do Bairro Benfica, em
conexo com a oferta turstica cultural de Fortaleza/CE. Especficos: identificao de
equipamentos tursticos culturais; Conhecimento de lazeres de residentes e
visitantes; Compreenso da importncia de promoo do pr-carnaval, como lazer
dos residentes e turistas de Fortaleza.
A dissertao se compe de cinco partes. Na primeira, introduo com
proposta da dissertao, justificativa, problema, questionamentos e objetivos. A
segunda apresenta a opo metodolgica a etnogrfica, na condio de observao
participante, com forte integrao com pesquisados, compartilhando, sobretudo, a
realidade como as pessoas envolvidas veem.
Em seguida, aborda-se a metrpole Fortaleza, cidade aconchegante que
abriga uma sociedade marcante na histria e espaos, transformados ao longo do
tempo. Na quarta parte, investiga-se o Benfica e como as pessoas vivenciam o cio
e o lazer, buscando conectar o bairro com a oferta turstica cultural de Fortaleza/CE.
Fortaleza experimenta forte crescimento vertical, torna-se Fortaleza das
artes, na construo de espaos de riqueza e opulncia e de pobreza, frente aos
desmandos da civilizao moderna que, s vezes, torna a cidade barbrie. Cidades
19
se inventam e se reinventam, com significados e ressignificaes dadas pelos
habitantes. A cidade da infncia sobrevive em cada um, e, muitas vezes, j no
reconhece. Na quinta, concluso dos estudos.
20
2 OPO METODOLGICA
A Opo pelo mtodo etnogrfico, que Creswell (1998) apresenta como
interpretao do grupo ou sistema cultural (ou social), pelo exame dos padres de
comportamento observvel, costume e modos de vida.
O mtodo aplicado em variedade de settings sociais permite observaes
diretas das atividades do grupo, entendimento de comunicao e interao entre
pessoas, com oportunidades de entrevistas informais (MOUSTAKAS, 1994). A
pesquisa etnogrfica definida por Brewer (2000) como:
Estudo de povos em cenrios naturais ou campos, por mtodos de coleta de dados que captam seus significados sociais e atividades habituais, envolvendo a participao direta do pesquisador no local, se no tambm nas atividades, para coletar os dados de uma maneira sistemtica, mas sem que o significado lhes seja imposto externamente. (BREWER, 2000, p.6).
O pesquisador etnogrfico entende que a apreenso da cultura exige
tcnicas, observao-participante por meio da interao da sociedade com padres
culturais em ambientes. Por meio de entrevista, mapeamento e construo de
grficos, realizou-se a anlise da interao cultural do Benfica, estudo de registros
histricos (BELL, 2008, p.22).
Na observao participante, os examinadores se colocam no lugar dos
pesquisados, compartilhando as mesmas experincias, para melhor entendimento
por que agem como agem e para enxergar as coisas como as pessoas envolvidas
enxergam (DENSCOMBE, 1998, p.69). Para isso, o tempo relevante tendo em
vista que o acompanhamento dos trabalhos tem datas pr-fixadas para concluso.
A aceitao do pesquisador, no meio onde se faz a pesquisa, realiza-se a
coleta de dados no ambiente, durante certo perodo de tempo da pesquisa.
[...] a etnografia propriamente dita s comea a existir a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua prpria pesquisa, e que esse trabalho de observao direta parte integrante da pesquisa. (LAPLANTINE, 2012, p.75).
Segundo Laplantine (2012), no final do sculo XIX, os pesquisadores
missionrios e administradores conheciam profundamente as populaes no meio
onde viviam. Codrington, em 1891, publica obra sobre os melansios; Spencer e
Gillen, em 1899, fazem observaes sobre aborgenes australianos e Junod, 1898,
escreve o livro A vida de uma tribo sul-africana.
21
Fundadores da etnografia, Franz Boas e Malinowski, pesquisadores
pioneiros, defendem a etnografia, desde o final do sculo XIX, e ensinam o mtodo
etnogrfico:
No campo, ensina Boas, tudo deve ser anotado: desde os materiais constitutivos das casas at as notas das melodias cantadas pelos esquims, e isso detalhadamente, no detalhe do detalhe. Tudo deve ser objeto da descrio mais meticulosa, da retranscrio mais fiel das diferentes verses de um mito, ou diversos ingredientes entrando na composio de um alimento. (LAPLANTINE, 2012, p.77).
Boas e colaboradores mostram que o costume s tem significao se
relacionado ao contexto particular, no qual se insere, avalia-se que, para
compreender o lugar particular do costume, h que se ter a certeza da procedncia
do investigador para saber-se a legitimidade do mtodo (LAPLANTINE, 2012, p.79).
Malinowski afirma que, para a comunidade ser entendida na totalidade,
precisa ser observada em momentos certos. Nessa teoria, o ser humano sente
necessidade de apresentar a cultura e como so satisfeitas as necessidades e a
maneira de realiz-las. Cada comunidade tem um modo de vida, costume, valores,
nas instituies sociais, econmicas, polticas, jurdicas e educativas, apresentam-se
solues coletivas, ordenadas, cada uma sua maneira e permitem atender as
necessidades, como ensina Laplantine (2012).
Malinowski, segundo Laplantine (2012), ensina a olhar de forma
etnogrfica. O mtodo etnogrfico exige engajamento no grupo a ser investigado
para mostrar a conduo do estudo, com permisso para observao e participao
no lugar. O pesquisador busca interao com ambientes comuns, para discernir
padres de comportamento da populao pesquisada, pelas entrevistas, observao
participante e aplicao de formulrios.
O trabalho de campo exige bases em informaes preliminares, seja
pelas observaes, informaes secundrias precedentes, para descrio, anlise e
interpretao do grupo, com o Bairro Benfica.
O destaque da observao participante leva ao processo construdo
duplamente, ou seja, pelo pesquisador e pelos atores sociais envolvidos,
moradores do bairro, comerciantes, instituies e frequentadores. O mtodo exige
interao e envolvimento do pesquisador com as pessoas e requer participao
ativa na rea pesquisada.
22
Procura reviver nele prprio os sentimentos dos outros, fazendo da observao participante uma participao psicolgica do pesquisador, que deve compreender e compartilhar os sentimentos destes ltimos interiorizando suas reaes emotivas. (LAPLANTINE, 2012, p.82).
A opo pelo mtodo etnogrfico, para melhor compreenso do bairro,
por meio de observaes diretas e de pesquisa. O trabalho de campo rene dados
de informaes, observaes, materiais teis s anlises. Seguido do procedimento
de interpretao do cio e lazer de residentes.
A pesquisa direta, com obteno de dados primrios com residentes,
alm de visitantes, com aplicao de formulrios com perguntas de mltipla escolha
a fim de atender os objetivos propostos na pesquisa. As entrevistas com moradores
foram esclarecedoras. Os dados coletados, tabulados e analisados deram contedo
e fundamentao a achados levando concluso da pesquisa.
2.1 PILARES TERICOS DA DISSERTAO
Para elaborao da dissertao utilizam-se categorias: cio, lazer,
turismo, tempo, espao cidade, cultura. Os autores que trabalham as categorias,
Gomes (2004); De Masi (2001); Dumazedier (1972, 1979), Coriolano e Vasconcelos
(2014); Coriolano (2014); Max-Neef (2012, 2005); Aquino (2007); Santos (2000,
2002); Souza (2011) foram basilares.
Na Revoluo Industrial, novo conceito de cio se torna evidente, oposto
ao de cio contemplativo grego, impregnado da mentalidade puritana, e passa a pai
de todos os vcios. Desta forma, o trabalho se torna fonte de todas as virtudes, e a
jornada aumenta de maneira descontrolada, gerando desequilbrios psicossomticos
em pessoas, conforme defendem Paul Lafargue e Bertrand Russell (DE MASI,
2001).
Historicamente, a revoluo industrial explora o tempo de trabalho de
forma sem limites, depois, negociaes com trabalhadores para chegar ao limite de
horas semanais. Tudo isso para d lugar ao cio, como espao de criatividade para
se apoderar da capacidade criativa.
De Masi (2001) afirma que a satisfao plena da atividade humana chama
cio criativo, na relao de tempo livre com atividade, criativa e prazerosa. um
tempo de dedicao integral para satisfao de si mesmo.
23
Coriolano e Vasconcelos (2014) afirmam que, na sociedade
contempornea, cio, antes associado improdutividade e desperdcio, nas
atividades laborais, tenta-se resgat-lo e ressignific-lo, na busca do lazer criativo.
Comparando cio, lazer e turismo, cio necessidade humana
fundamental, faz parte da vida de todos, sem distino de classe, raa, cor ou credo,
inveno do ser humano; o lazer inveno da sociedade industrial com a
conquista de tempo livre do trabalho e o turismo decorre do avano do prprio
capitalismo e do processo civilizatrio.
H pessoas que usam frias para viagem e acabam fazendo turismo nas
horas livres. O turismo uma viagem prazerosa, ou seja, lazer dos viajantes, afirma
Coriolano (2014). O lazer remete ao trabalho e a forma de ocupar o tempo livre
para recuperao da fora laboral. As pessoas que trabalham necessitam de tempo
para recuperao das energias dispendidas, para atender a satisfao das
necessidades humanas.
cio, lazer e entretenimento so necessidades bsicas. Coriolano e
Vasconcelos (2014) afirmam que cio a forma mais elevada de atividade humana:
proporciona enlevo ou encantamento, tocando o esprito (CORIOLANO;
VASCONCELOS, 2014, p.4).
cio necessidade humana. Max Neef (2012) trabalha dois tipos de
necessidades: bsica e axiolgica. Necessidade bsica diz respeito ao ser, ao ter,
ao estar e ao fazer. A necessidade de ser suprida, para poder ter, para poder
estar, para poder fazer alguma coisa, para preencher o tempo, para poder ter, ser e
estar. Necessidades axiolgicas so valorativas, fazem parte dos costumes da
sociedade. cio o tempo somente seu, individual, criativo, hora em que se est
criando alguma coisa, pode-se, ento, pensar, orar, viajar na imaginao,
influenciado pela cultura onde se est inserido. Trabalho no necessidade,
possibilidade de satisfao da necessidade. o que se tem que fazer para
realizao da necessidade (MAX-NEEF, 2012).
Coriolano (2014) tem que o lazer criado na sociedade industrial que
tambm cria o turismo ps sociedade industrial. At a Idade Mdia, a sociedade
rural e, naturalmente, se vivia o cio. Com o advento da Idade Moderna, acontece a
revoluo industrial com o trabalho em contraponto ao cio.
Ideias de Dumazedier (1979) analisaram-se pelos estudiosos, Faleiros
(1980) e Gomes (2004). Os pesquisadores definem lazer conjunto de ocupaes,
24
em oposio s necessidades e obrigaes cotidianas, desconsiderando o cio
como uma possibilidade. Souza (2011) acredita que o cio tambm pode ser opo,
ao vivenciar o lazer, momento propcio ao desfrute do ldico e da contemplao.
A categoria Lazer tem origem etimolgica do latim licere que significa ser
permitido, poder, ter o direito. No Brasil, lazer teve significado de ociosidade, tempo
vago, porm pouco usado, visto como fuga e alvio de tenses cotidianas.
Ao pensar lazer, no Brasil, geralmente faz-se associao ao tempo livre,
descanso, prazer, liberdade, recreao, entretenimento, diverso e festa. O lazer
vincula-se s horas vagas do trabalho, ao tempo livre que o indivduo tem para
descanso, diverso e satisfao (SOUZA, 2011). Lazer visto na vida humana, em
oposio ao trabalho produtivo e s cansativas obrigaes rotineiras. Assim,
figurado como possibilidade de fuga e de alvio para tenses do dia a dia. So
concepes criadas ao longo do tempo.
Apenas a partir da dcada de 1970, utilizou-se conceito amplo, discutido
pelos autores. Dumazedier (1973, p.23), em estudos empricos com a sociedade
industrializada, na dcada de 1950, define lazer:
conjunto de ocupaes s quais o indivduo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou ainda para desenvolver sua formao desinteressada, sua participao social voluntria, ou sua livre capacidade criadora, aps livrar-se ou desembaraar-se das obrigaes profissionais, familiares e sociais.
Lazer se define de acordo com pontos de vista, ao olhar de cada autor.
Para Gomes (2004) existe inter-relao entre trabalho e lazer, embora com
caractersticas distintas e dinamismo de fenmenos que integram a mesma dinmica
social.
Requixa (1980) ressalta a liberdade de escolha e o prazer do ser humano
de vivenciar lazer, em oposio s necessidades e obrigaes da vida. Considera
lazer ocupao no obrigatria, de livre escolha do indivduo que o vive, e cujos
valores propiciam condies de recuperao psicossomtica e de desenvolvimento
pessoal e social (REQUIXA, 1980, p. 34). Stefani (1982), em consonncia com
Dumazedier, defende:
So os trs elementos clssicos do lazer, descanso, distrao e desenvolvimento pessoal, alternando um ou outro. disponibilidade de tempo livre para a recuperao do equilbrio para completar-se,
aprimoramento da qualidade de vida e pensar no futuro. (STEFANI, 1982, p.11).
25
Na linha de Dumazedier, Camargo (1986) defende o conceito de lazer
relacionado com atividades gratuitas, prazerosas, voluntrias e liberatrias, inseridas
em interesses culturais, fsicos, manuais, intelectuais, artsticos e associativos, em
tempo livre, adquirido historicamente, sobre a jornada de trabalho que afeta o
crescimento social e profissional do indivduo.
Lazer expresso de conquistas sociais demarca-se no mbito dos direitos
e passa a ser compreendido como atividade gratuita e prazerosa determinado tempo
e espao em que vivenciado, como a expresso de liberdade. Para Bramante
(1998, p.9), o lazer se traduz em:
Dimenso privilegiada da expresso humana dentro de um tempo conquistado, materializada atravs de uma experincia pessoal criativa, de prazer e que no se repete no tempo/espao, cujo eixo principal a ludicidade. Ela enriquecida pelo seu potencial socializador e determinada, predominantemente, por uma grande motivao intrnseca e realizada dentro de um contexto marcado pela percepo de liberdade. feita por amor, pode transcender a existncia e, muitas vezes, chega a aproximar-se de um ato de f.
Dumazedier (1972, 1979) mostra que lazer exercido margem das
obrigaes sociais, em tempo que varia segundo a intensidade de engajamento do
mesmo, em atividades laborais. Submetido a lugar de destaque, com funes de
descanso, desenvolvimento da personalidade e diverso. cio representa algo mais
do que simples categorias: est no mbito do liberatrio, do gratuito, do hedonismo e
do pessoal, fatores no condicionados inteiramente pelo social e sim pelo modo de
vida de cada um, relacionado com prazer da experincia (AQUINO, 2007, p.486).
No Benfica, lazer e cio vivenciam-se pelos moradores e visitantes,
embora o turismo seja lazer moderno que instiga as pessoas viagem, mantm-se a
tradio e costumes. O conceito de turismo para Coriolano e Sampaio (2012) que:
Turismo abstrao, o que o materializa so os lugares e seus recursos e as culturas, transformados em atrativos tursticos. Em essncia, turismo lazer com viagem. Mas nem todo lazer turismo, assim como nem toda viagem turstica (SAMPAIO, 2012, p.32).
Turismo oferecido pela iniciativa privada, primeiro, e poder pblico, para
atender necessidades dos viajantes, incorpora, cada vez mais, grande nmero de
servios destinados melhora do conforto do turista e multiplicao de
oportunidades de lazer, d origem trama de relaes que caracterizam o
funcionamento denominado sistema ou rede (CASTELLS, 2002).
26
Yzigi (1996) define turismo como fenmeno social pelo qual as pessoas
ou grupos se deslocam com finalidades, necessitando de meio geogrfico motivador,
equipamentos tcnicos e culturais. E De la Torre (1992, p.15) diz que:
Turismo um fenmeno social que consiste no deslocamento temporrio de indivduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreao, descanso, cultura ou sade, saem de seu local de residncia habitual para outro, no qual no exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando mltiplas inter-relaes de importncia social, econmica e cultural.
Mendona et al. (2006, p.2) fundamenta-se na definio de turismo da
Organizao Mundial de Turismo, adotada oficialmente pelo Brasil:
Uma atividade econmica representada pelo conjunto de transaes - compra e venda de servios tursticos efetuados entre os agentes econmicos do turismo, gerado pelo deslocamento voluntrio e temporrio de pessoas para fora dos limites da rea ou regio em que tm residncia fixa, por quaisquer motivos, excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local que visita.
O sentido de turismo identifica-se na forma de comportamento de
viajantes. O turista um viajante diferenciando de viajante, pelo deslocamento com
retorno definido. Existem tipos de viajantes e o que os diferencia de turista o
objetivo da viagem, tempo de permanncia no lugar e estado de esprito. Pois a
viagem precisa ser prazerosa, com sentido de descontrao, fora de casa, algo
diferente do lugar em que reside. Santos Filho (2008, p.5) diz que o turismo:
[...] inicia como uma necessidade bsica e vai se transformando historicamente e adquire inmeras bases conceituais, mas sempre mantendo sua espinha dorsal de significao, passando por tempo liberado; tempo de no trabalho; tempo livre; cio; lazer e na forma contempornea como atividade turstica.
O turismo um fenmeno social que leva a sociedade a constantes
mudanas, gera dinmica da sociedade como consequncia. Acontece em mbitos
nacional e internacional, pelos condicionantes culturais, geogrficos, econmicos e
legais. (BARRETO; BUGUS; FRENKEL, 2013, p.13). Ocasiona impactos na
natureza e na cultura, provoca mudanas espaciais geradas pelas expectativas.
Para o turista, viagem prazeroso, objeto de desejo e de felicidade. A
atividade leva o turista a interagir com a gama de prestadores de servios, direto e
indireto, que possibilitam a realizao de objetivos, dentro ou fora dos equipamentos
tursticos. Os negcios tursticos so desenvolvidos pela cadeia produtiva. O turismo
exige espaos, assim afirma Coriolano (2012, p.12):
27
Os espaos pblicos de lazer e turismo so espaos polticos, construdos, reconstrudos, remodelados, retirados e recolocados, de acordo com interesses diversos. Os conflitos de interesses entre esferas pblicas e privadas e, contraditoriamente, nem sempre as necessidades pblicas so minimamente atendidas. Espaos de lazer so lugares simblicos. Praas, jardins, parques e orla martima carregam histrias tpicas do lugar e expressam caractersticas prprias de determinado grupo social. [...] O turismo exige viagem e desencadeia redes de servios, suas implantaes levam em considerao as vantagens de localizao representadas pela dotao em riquezas naturais (sol, praia, mar, serras, clima) bem como pelo valor do patrimnio cultural e histrico de um pas (arquitetura, museus).
Ter turismo com interrelao com cidade necessrio compreender
conexes articuladas na sociedade moderna para tornar as cidades humanas e
sustentveis do segmento do turismo urbano.
Cidade, para Santos (2000), , ao mesmo tempo, lugar, porque
totalidade, e as partes dispem de movimento combinado, segundo lei do organismo
urbano, com o qual se confunde. Na verdade, h leis que se sucedem, denotando o
tempo que passa, mudando denominaes de espao-tempo que a cidade. por
meio dos dois elementos que se unem a cidade e o urbano. Desse modo,
ultrapassa-se o mistrio das formas, pela escolha da fenomenologia que aproxima e
contextualiza, reconstri cenrios da realidade, busca significados na memria.
Permitem-se perguntas cidade, indaga-se da formao, que a histria
da cidade a da produo continuada, se produz pelo urbano. Diz Lefebvre (2001a,
p.46) que:
Cidade uma mediao ente as mediaes. Contendo a ordem prxima, ela a mantm; sustenta relaes de produo e de propriedade; o local de sua reproduo. Contida na ordem distante, ela se sustenta, encarna-a; projeta-a sobre um terreno (lugar) e sobre um plano, o plano da vida imediata; a cidade inscreve essa ordem, prescreve-a, escreve-a, texto num contexto mais amplo e inapreensvel como tal e no ser para a meditao.
Cidades so lugares em que as pessoas dependem de infraestrutura,
organizao, bens e servios com bom funcionamento, onde possam viver com
dignidade. pensar no modo de viver das pessoas na relao social.
Para Harvey (1980), cidade um produto social, isto , criao da
sociedade. A cidade um modo de viver, pensar, mas tambm sentir. O modo de
vida urbana produz ideias, comportamentos, valores, conhecimentos, formas de
lazer, e tambm uma cultura (CARLOS, 2003, p.26).
Segundo Carlos (2003), ser urbano mais do que um modo de produzir,
tambm um modo de consumir, pensar sentir, enfim, modo de vida que, na cidade
28
tem ritmo acelerado, controlado pelo relgio, pelas mquinas, pelas tecnologias,
pelos celulares, pelas leis e regras, com domnio sobre a vida humana.
H os que preferem morar na cidade; e os que preferem morar longe,
num modo de vida diferente. A vida, na cidade, um modo. Costa (1999) afirma que
o urbano a forma e processo de diferenciao do espao social gerador do modo
de vida especfico.
Os elementos que o constituem geram produo, fluxo, transformao e
do ritmo sociedade. As cidades se fazem a cada momento histricossocial, criam-
se e redefinem-se novos elementos que marcam existncias. Assim, cidade, urbano
e turismo sobrepem-se como resultado da sociedade moderna capitalista. O modo
de vida urbano se define pelo comportamento e atitude dos residentes e turistas, no
contexto do consumo de mercadorias, de produtos e servios apontando o turismo
de negcios e de eventos como principais segmentos.
Os segmentos de turismo se realizam nas cidades, pois so
representaes da cultura da sociedade, turismo cultural, de servios de sade, da
gastronomia, enfim, fenmeno gerado. As comunicaes acontecem pela procura do
consumo e buscam, em lugares e cidades, algo diferente do cotidiano.
H, hoje, o relgio mundial, fruto do progresso tcnico, mas o tempo-
mundo2 abstrato, exceto como relao. H, sem dvida, tempo universal, tempo
desptico, instrumento de medida hegemnico, que comanda o tempo dos outros. O
desptico responsvel pelas temporalidades hierrquicas, conflitantes, mas
convergentes. Nesse sentido, os tempos so globais, mas no h tempo mundial,
posto que o mundo abstrao, afirma Milton Santos (2001).
O espao se globaliza, mas no mundial como um todo, seno como
metfora. Os lugares so mundiais, sem espao mundial. Quem se globaliza mesmo
so as pessoas e lugares, afirma o gegrafo.
O que existe so temporalidades hegemnicas e temporalidades no
hegemnicas ou hegemonizadas. As hegemnicas so o vetor da ao dos agentes
hegemnicos da economia, da poltica e da cultura, da sociedade enfim. Os agentes
sociais no hegemonizados devem contentar-se de tempos mais lentos. Quanto ao
espao, h tambm adaptao nova era, da dizer Santos (2000, p.13) que:
2 Uma categoria cunhada por Milton Santos. Por tempo pode entender a sucesso dos eventos e sua
trama. Por espao entende-se o meio, o lugar material da possibilidade de eventos. E por mundo, a soma, que tambm sntese, de eventos e lugares
29
Atualizar-se sinnimo de adotar os componentes que fazem de uma determinada frao do territrio o lcus de atividades de produo e de troca de alto nvel e por isso consideradas mundiais. Esses lugares so espaos hegemnicos, onde se instalam as foras que regulam a ao em outros lugares (SANTOS, 2000, p. 13).
Franz Boas (1938) explica cultura como "a totalidade das reaes e
atividades mentais e fsicas que caracterizam o comportamento dos indivduos as
que compem um grupo social (BOAS, 1964, p.166).
Malinowski (1944) define cultura como o todo global consistente de
implementos e bens de consumo, de cartas constitucionais para os vrios
agrupamentos sociais, de ideias e ofcios humanos, de crenas e costumes.
(MALINOWSKI, 1962, p.43).
Como vimos, so vrias definies acerca da cultura, e podemos perceber que elas variam como passar do tempo: para Taylor, Linton, Boas e Malinowski cultura o conjunto de ideias; para kroeber e Kluckhohn, Beals e Hoijer cultura abstrao do comportamento; para Keesing e Foster cultura comportamento aprendido Leslie A.White apresenta uma abordagem diferenciada: cultura, segundo ele, deve ser vista no como um mecanismo de controle do comportamento (REZENDE, 2009, p.13).
O elemento fundamental da cultura a constatao da variedade de
modos de vida entre povos e naes. Entre as definies, duas so mais discutidas
e aceitas: cultura so todos os aspectos de uma realidade social; cultura o
conhecimento, ideias e crenas de um povo. (REZENDE, 2009, p.09).
A cultura evolui em organizaes especficas. Assim, resultado
complexo de presses externas, potenciais internos, respostas a eventos crticos e,
provavelmente, em algum grau desconhecido, fatores imprevisveis pelo
conhecimento do ambiente ou dos membros. A maneira de lidar com as questes
tem nico resultado. (SCHEIN, 2007, p.125).
A cultura indica que suposies individuais do lder levam a experincias
compartilhadas que solucionam problemas de sobrevivncia e integrao interna do
grupo. criada pelas experincias, lembra haja lderes que iniciem processos que
apontem crenas, valores e suposies, desde o incio. (SCHEIN, 2007, p.211).
A formao da cultura um processo de criao de pequeno grupo. Na
organizao empresarial tpica, implica etapas: (SCHEIN, 2007, p.212). Ela
representada por meio de centros de cultura, territrio privilegiado da ao: ao
cultural e processo de criao ou organizao das condies necessrias a que
pessoas e grupos inventem os prprios fins no universo da cultura (COELHO, 1997,
30
p.33). O autor explicita a ao cultural de servios, como movimentao cultural que
utiliza formas de propaganda ou relaes pblicas para promoo do consumo de
determinado produto cultural.
Em contraponto, segunda ao cultural de criao faz ponte entre pessoas
e obra de cultura ou arte para que, as pessoas possam retirar o que ir participar do
universo cultural como um todo e se aproximem umas das outras por meio da
inveno de objetivos comuns.
A principal funo atribuda por Teixeira Coelho (1986) ao centro de
cultura permitir liberdade de chegada ao conhecimento e de discuti-lo. Acesso
informao, amplificao da discusso e da anlise, registro e preservao,
construo de informaes novas e disseminao de informaes construdas esto
entre as aes a serem realizadas, no interior de casa de cultura. Pois cultura e
informao, no mundo contemporneo, so faces da mesma moeda. No Brasil, a
criao de centros culturais espelhou-se no modelo da Frana que culmina na
criao do Centre National dArte et de Culture Georges-Pompidou.
A histria de centros de cultura recente, apesar do interesse desde a
dcada de 1960 e se falasse no assunto no governo Mdici, pelo Programa de Ao
Cultural do MEC, de 1973. De acordo com Teixeira Coelho, os primeiros centros de
cultura brasileiros surgem na dcada de1980, em So Paulo. Afirmam Cardoso e
Nogueira (1994) que o impulsionamento criao de inmeros centros de cultura foi
proporcionado no somente pela revelao da modernidade, mas tambm pelo
entendimento de que a cultura feita no cotidiano da existncia humana.
O comportamento humano produzido e a gentica orienta ser
apreendido socialmente, pela vivncia grupal. Assim, possvel inferir ser informado
pelas necessidades material, utilitria e simblica (NEVES, 2003, p.50).
Pelo conceito de cultura, no aspecto antropolgico, conclui Neves (2003),
que a antropologia afasta o modo elitista de cultura, do conjunto de aes
desenvolvidas pelos seres humanos, em busca de sobrevivncia e coloca as
necessidades utilitrias e simblicas que orientam o comportamento humano.
Patrimnio cultural produto da cultura, com dimenses materiais e
simblicas, herdado e transmitido de gerao a gerao. A UNESCO,1982, define:
as obras dos artistas, arquiteto, msicos, escritores e sbios, assim como as
criaes annimas, surgidas da alma popular, e o conjunto de valores que do
sentido vida. (NEVES, 2003, p.51).
31
Elementos da natureza e ambiente natural onde o homem habita e
transforma para sobrevivncia e realizao das necessidades materiais e
simblicas, conhecimento, habilidades, saber fazer humano, necessrio existncia
em toda plenitude, e bens culturais esto inseridos no conceito amplo de patrimnio
cultural. (NEVES,2003, p.51).
Bens culturais so produtos resultantes da ao do ser humano, na
natureza. Artefatos sacros esto presentes nas dimenses materiais e simblicas. O
devoto catlico compra a imagem de Nossa Senhora Aparecida, leva-a para casa e
pe-na em oratrio, materializando assim, sua devoo mais sua crena e fora que
a Santa d, esto no plano do simblico. As imagens sacras so produzidas pelos
artesos, conforme a capacidade tcnica e os elementos naturais que possui levam
em evidncia atributos pertinentes ao Santo, porm projetam elementos do meio ou
caractersticas do bitipo local, da a denominao de popular.
No sculo XXI, o uso da cultura pelo poder pblico e privado se diversifica.
Segundo Ydice (2004), o sculo XXI marca a passagem da cultura-mercadoria para
a cultura-recurso. Mostra que a cultura algo em que se deve investir. A cultura
pressuposta na condio de cidado, de promoo e resgate da identidade coletiva.
quase impossvel encontrar declaraes polticas que no arregimentem a instrumentalizao da arte e da cultura, ora para melhorar as condies sociais [...], ora para estimular o crescimento econmico atravs de projetos de desenvolvimento cultural urbano e proliferao de museus para incrementar o turismo cultural (YDICE, 2004, p.27).
A disseminao dos centros culturais no Brasil, deve-se ao panorama
poltico favorvel criao e permanncia, pelos benefcios fiscais concedidos ao
investimento em cultura e visvel que o crescimento de espaos gera demanda pela
instrumentalizao por parte dos gestores.
A aproximao entre equipamentos culturais, bibliotecas, centros culturais
e museus, tambm observada por Perz-Rioja (1971), ao descrever o contexto no
qual se inserem os espaos na Espanha:
No aspecto fsico ou estrutural, j vimos como as Casas da Cultura so, em princpio, a integrao em um mesmo edifcio de um Arquivo Histrico, uma Biblioteca Pblica e um Coordenador Provincial de Bibliotecas, e s vezes, um Museu ou outras entidades, como centros ou institutos locais de pesquisa, contribuindo para a funcionalidade de tais servios, outra disseminao cultural complementar, mas muito essencial. Para a integrao inicial de colees documentais, bibliogrficas e at museu, os novos e vibrantes ambientes audiovisuais foram recentemente adicionados como um excelente complemento para eles, alm de uma ferramenta educacional poderosa e eficaz. (PEREZ-RIOJA, 1971, p. 51, traduo nossa).
32
O bairro Benfica de Fortaleza tem leque de equipamentos culturais,
contribuio da UFC, como MAUC inaugurado a 25 de junho de 1961, com acervo
que relaciona universalidade e regionalidade, formado de obras populares e
eruditas. Preserva e difunde a cultura artstica, atuando como ponte entre obra de
arte e pblico. Casa Amarela Euslio Oliveira oferece cursos em reas de cinema,
fotografia e animao, forma plateias para a rea de audiovisual, difundindo a
memria do povo. Promove o Cine Cear, terceiro maior festival de cinema do
Brasil, e disponibiliza videoteca a estudantes, professores da Universidade e
populao em geral.
Muitas cidades lanam aes e estratgias para reordenamentos, com
programas de apoio da indstria, melhoria da infraestrutura, tem-se conseguido que
a poltica cultural seja parte integrante das estratgias. Espera-se reduzir os
pressupostos culturais e a estimativa de que cultura, educao e informao so
investimentos do futuro.
2.2 PASSOS DA PESQUISA
A dissertao comea-se pela definio de objeto e depois da anlise, a
opo pelo estudo de cio e lazer no Benfica. Estuda-se a base terica de
conceitos fundantes, fundamentao terica considerando tratar-se de estudo
cientfico, no se trabalha apenas a empiria ou realidade. H dois focos importantes:
realidade e estudo terico, quando se define como pilar terico da dissertao o
conceito de cio, lazer, turismo, cidade, espao, tempo e cultura.
Feita a fundamentao terica, tem-se o caminho da dissertao que a
metodologia etnogrfica, considerando que o objeto do estudo cultural e o bairro
remete a estudos culturais.
A etnografia estuda a cultura, leva compreenso dos fatos, trabalha
diretamente com pessoas, ouvem-se depoimentos, envolvem-se vivncias. Vivenciar
o bairro a fim de que se possa sentir, atuar e observar e poder explicar, com maior
conhecimento de causa, a vivncia da comunidade, em que corre interao do
pesquisador e objeto pesquisado.
O observador se pe no lugar do pesquisado, compartilha experincias,
para melhor entendimento de como e por que age, vivencia como as pessoas agem,
fazendo parte da pesquisa e tendo melhor percepo do Bairro.
33
Concluda a etapa, passa-se base conceitual, entendendo que o Benfica
no se explica por si mesmo: mais que bairro, constitui a prpria cidade de
Fortaleza.
Fez-se necessrio estudo da cidade da Fortaleza, bairros, dinmicas,
organizaes, compreender o Benfica como bairro histrico, com atrativos culturais:
gastronomia, praa de lazer, centros esportivos, restaurante vegetariano, expressa
riqueza de atributos culturais para estimular e ao desenvolvimento do turismo
cultural da cidade. O bairro tem instalado, o centro cultural da UFC, Famlia Gentil
que dominou a rea e deixa o legado do patrimnio.
Na anlise da Metrpole, v-se como acontecem as transformaes de
cidade de areia para metrpole, com fundamento em tericos importantes: Otaclio
de Azevedo mostra a cidade de Fortaleza, durante muito tempo, vila de areia, cheia
de dunas, enquanto, no interior do Estado, devido ao ciclo do couro, cidades
emergiram com fora econmica, Sobral, Acara, Ic, Iguatu, Aracati, e a Fortaleza
moderna, estruturada em espaos e novas centralidades, por Coriolano (2006).
Realizou-se pesquisa direta para obteno de dados primrios, com
residentes e visitantes do bairro, em dias variados e horrios diferentes, com pblico
de 91 entrevistados. Aplicao de formulrio com 9 perguntas de mltipla escolha
para atingimento dos objetivos propostos (Apndice A). Os dados coletados foram
tabulados e analisados dando contedo e fundamentao dissertao. A
pesquisadora comportou-se como observador participante interagindo com
residentes e vivenciando a realidade como as pessoas.
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3 FORTALEZA: CIDADE TURSTICA ACONCHEGANTE
Cidade litornea, Fortaleza tem variedade de atividades, desde passeio
de barco com vista da Av. Beira Mar, caminhada no calado da Beira Mar, mar,
cultura local e restaurantes de gastronomia regional. Coriolano (2006, p.49)
apresenta Fortaleza como a capital do sol, do vento, o serto, da misria, do forr,
do humor, do turista, [...] cidade de gua e sal, como lembra Linhares (1992).
A configurao fsica do territrio, o clima, as formas de relevo, a plancie litornea onde esto Fortaleza e os principais polos receptores de turismo, a costa do Atlntico Sul, com seus 573 km de praia, contribuem de forma fundamental para a elaborao da nova imagem cearense. (CORIOLANO, 2006, p.52).
At o final do sculo XVI, era vila sem importncia, tendo como principal
atividade econmica a pecuria, com destaque das vilas de Aracati, Ic, Sobral,
Crato, Camocim, Acara e Quixeramobim.
Fortaleza, at o final do sculo XVIII, era uma pequena e acanhada vila sem nenhuma expresso econmica, tendo apenas o papel de capital administrativa. Na hierarquia urbana cearense, Fortaleza aparecia com pouca expresso, com menor porte e importncia que as cidades de Aracati, Ic, Sobral, Camocim, Acara e Quixeramobim. Estas cidades desenvolviam atividades ligadas aos setores industrial, comercial e de prestao de servios (COSTA, 2009, p.149).
O mar, at ento, se diz lugar esquecido, no bem visto pela sociedade,
assustador. Entre os fatores de repulso do ambiente litorneo, servios insalubres
instalados prximo faixa de praia, meretrcios pela zona porturia. No entanto,
somente a partir do incio do sculo XX, que Fortaleza identifica-se com o mar, com
prticas martimas de banho de mar e de sol, os residentes frequentam a praia nos
momentos de lazer e por recomendaes mdicas.
Fortaleza mescla de serto molhado pelo mar com marcas de areia por onde passa. Sua brancura atravessa os tempos; a dos armazns de algodo da segunda metade do sculo retrasado, a das dunas brancas descobertas com a transposio do Jacarecanga, quando se expandiu oeste afora pelo Pirambu e Barra do Cear. (SILVA, 2002, p.125).
Chega ao status de capital altura do estado do Cear. Cidade luz,
loira desposada do Sol, entre os eptetos, Fortaleza construiu-se pela fortificao
da qual herdou o nome e nem sempre teve destaque que apresenta hoje. At o
sculo XIX, cidade sem expresso urbana e econmica. A partir da segunda metade
do sculo XX, passa por transformaes, devido ao papel de centro exportador do
algodo produzido no serto (CORIOLANO, 2006, p.56) mostra que:
35
A forma como se estruturou a ocupao do litoral de Fortaleza est inicialmente ligada ao surgimento de suas principais vias de circulao, que durante anos e mais anos desprezaram completamente o litoral quanto aos seus traados. [...] os estabelecimentos mais importantes dos primrdios da cidade foram construdos com desprezo pela fachada martima. Outro fato que pode ser demonstrado para ilustrar esse aspecto a distncia do mar de alguns estabelecimentos tradicionais da cidade, tais como o Palcio do Governo, Mercado e principais praas. (SILVA, 1992, p. 61).
Explica Silva (2006) que, ao voltar-se ao litoral, Fortaleza atrai
investimentos do capital nacional e internacional, com valorizao da zona de praia,
incorporada ao lazer de residentes, onde se desenvolvem atividade de turismo
concentrando a oferta hoteleira, alm de corredores gastronmicos, espaos de
compras e entretenimento.
Localiza-se, no litoral norte do Estado, com rea de 313,8km. Alocada
sobre plancie, possui orla martima com predominncia de praias, dunas e
coqueirais. atrativa dia e noite. Limita-se ao norte pelo oceano Atlntico e Caucaia,
ao sul por Maracana, Pacatuba, Itaitinga e Eusbio, a leste pelo Eusbio, Aquiraz e
oceano Atlntico e a oeste por Caucaia e Maracana (IPECE, 2016). A Figura 1:
cidade de Fortaleza dividida em bairros distribudos nas respectivas Secretarias
Regionais.
36
Figura 1 Mapa de Fortaleza com destaque para os bairros e Secretarias
Regionais
Fonte: .
37
A populao estimada em 2.609.716 habitantes, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE (2016)3. Grfico 1: crescimento da
populao, entre os anos 2013 a 2016.
Grfico 1 Estimativa da populao de Fortaleza 2013-2016
Fonte: IBGE (2016).
Para fazer Fortaleza destino turstico, houve macios investimentos em
infraestrutura urbana e reordenamento do litoral, associados ao marketing
promovido pelo governo que transforma a imagem do Cear, outrora visto como
espao agrrio e arcaico. A partir do final da dcada de 1980, estabeleceram-se
mudanas no foco da economia. Como capital e sede da regio metropolitana,
encabea as transformaes que a levaram a polo receptor do turismo do estado.
De acordo com Paiva (2011, p.73):
A urbanizao de Fortaleza e seu papel destacado em relao rede urbana cearense se efetiva com o advento do processo de industrializao que se instaura no Brasil na primeira metade do sculo XX, no qual a Cidade est articulada como centro regional e se intensifica na segunda metade do sculo XX com o advento primeiramente das polticas industriais da SUDENE e em seguida com o processo recente de industrializao e o advento do turismo.
Estratgias polticas do governo estabelecem rupturas com prticas
arcaicas e clientelistas dos governos anteriores, sobretudo o coronelismo. O
discurso estabelecido criava nova era para o Cear, com prticas modernas e
3 Disponvel em:
. Acesso em: 17 maio 2016.
http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=230440&search=ceara|fortaleza
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incentivos industrializao, agronegcio e turismo. A mudana de paradigma
funciona como importante estratgia na promoo do turismo e atrao de
investimentos. A partir dos anos 1980 e 1990, a poltica do Cear se moderniza com
novo perfil de gesto:
A imagem do Cear como terra dos coronis e da indstria da seca comea a dar lugar a uma imagem de administrao moderna, competente e comprometida com a justia social, exemplo de que a vontade poltica do governo do estado supera as vicissitudes de ordem econmica e social que caracterizam o Estado (BARREIRA, 2002, p.70).
O crescimento acelerado da populao traz implicaes de ordem
econmica e social, exige investimentos em infraestrutura urbana, social e
oportunidades de emprego. (SOUZA, 2009, p.16).
Os bairros mais equipados so aqueles que passam por constantes mudanas quanto aos diversos tipos de uso do solo. Grande parte destes bairros est localizada na parte Leste da cidade, contrastando com os da Oeste que so ocupados, em sua maioria, pela massa trabalhadora. A concentrao demogrfica de Fortaleza est localizada nesta zona Oeste, embora a imagem da cidade conhecida pelos turistas e veiculada pelos meios de comunicao em campanhas promocionais, seja a da zona Leste. (SILVA, 2009, p.111-112).
A oferta turstica do destino Fortaleza compe-se de atrativos naturais e
culturais, paisagem da cultura cearense, e cria nova identidade. O turista busca
praias, sol e mar e passa o dia nas barracas de praia, inclusive na Praia do Futuro
que apresenta infraestrutura e opes de entretenimento.
A vida no espao urbano torna-se mais do que os olhos podem ver, mais do que o ouvido pode perceber. O momento no vivenciado em si mesmo, mas, com os seus arredores, as sequncias de elementos que o constituem, somados com a sensao imediata e com as experincias passadas, constroem a imagem urbana em uma combinao de todos os sentidos. (LYNCH, 1997, apud GARCIA, 2006, p.8).
Assim, as cidades tursticas necessitam de nveis de articulao e
organizao suficientes para manuteno no ranking global do turismo, pois o que
precisam apresentar polticas pblicas e privadas, voltadas ao turismo com bons
servios.
Para isso, a cidade precisa de plano de organizao com oferta do
produto turstico, apresentar comodidade, atraes e infraestrutura e plano de
qualidade turstica sustentvel, sem agresso ao meio ambiente, com oferta de
servios de qualidade, assim diz Akehurst (2001). Dessa forma, a condio de
39
cidade turstica imprescindvel `a gesto continuada da cidade. Conforme S
(2002, p.11 apud GARCIA; OLIVEIRA NETO, 2006, p.9):
Toda cidade tem imagem definida a partir de 3 componentes: identidade, estrutura e significado. [...] A imagem uma caracterstica do produto turstico determinante no processo de deciso de compra do consumidor [...] O cliente compra tambm a imagem e passa a incorpor-la.
Ncleo receptor e porta de entrada do turismo no Cear, Fortaleza
oferece servios de transporte, hospedagem, gastronomia, espao de compra e
entretenimento, lazer, comodidade. Afirma Portuguez (2001, p.80) que:
A competncia turstica de uma localidade vista atualmente a partir de no est somente nos atrativos e potencialidades, mas, sobretudo, na capacidade de seduzir, e principalmente, agradar a clientela, cada dia mais exigente e sedenta de novidades. Fortaleza cidade atrativa, seduz residentes e turistas.
Os meios de hospedagem esto entre os principais servios, na oferta de
produto turstico do lugar, considerando que a permanncia do turista no se
restringe apenas ao pernoite, mas ao lazer, atrativos e desejos de consumo do
imaginrio. A rede hoteleira localiza-se principalmente na rea litornea, com bons
servios e atrativos naturais e culturais.
A cidade aconchegante, com receptivo capacitado, no aeroporto e
oferta de pacotes tursticos dos segmentos: sol e praia a negcios. Cada lugar
possui peculiaridades com diferentes atrativos da cultura local. Muitos que vm
capital destinam-se aos atrativos do Beach Park, considerado um dos parques
aquticos famosos do pas, onde todos se divertem em piscinas para todas as
idades.
Diz Coriolano (2006, p.56) que Fortaleza metamorfoseou-se para receber
visitantes. Os espaos do turismo mostram a parte rica da cidade, enfatizam a
beleza da cidade e o acolhimento dos fortalezenses, atrativos que encantam os
turistas. Figura 2: vista area da Avenida Beira Mar, atrativo turstico frequentado
pelos fortalezenses e turistas.
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Figura 2 Vista area da Avenida Beira Mar de Fortaleza
Fonte: Elaborado pela autora.
A orla martima leste da cidade possui espaos selecionados, lojas
luxuosas, variedade de shoppings centers, restaurantes, cafs, lanchonetes, lugares
aconchegantes com cardpios variados, da cozinha internacional aos sabores
autnticos da cozinha cearense.
Na infraestrutura para o turismo, destaca-se o aeroporto internacional,
com voos regulares e charters nacionais e internacionais, rede hoteleira equipada,
polos gastronmicos, da Varjota e da orla, reas de lazer e eventos, Centro Drago
do Mar de Arte e Cultura e Centro de Eventos do Cear, shoppings, casas de
cmbio, feiras de artesanato, espaos culturais, museus, cinemas, teatros, espaos
para festas e shows.
Gastronomia em destaque pela diversidade de oferta culinria, desde
frutos do mar, tradicional caranguejo nas barracas.
Atrativo turstico representativo: Pirata Bar, empreendimento cultural e
turstico, no bairro bomio da Praia de Iracema, fundado em 1986 pelo portugus
Jlio Trindade. De acordo com Bezerra (2008, p.81), frequentado pelo pblico
tradicional da Praia de Iracema, profissionais liberais, artistas, intelectuais e
polticos, pessoas identificadas com a imagem bomia do bairro. Figura 3: fachada
do Pirata Bar.
41
Figura 3 Pirata Bar em Fortaleza
Fonte: Elaborado pela autora.
Desde 1987, oferece-se forr p de serra s segundas-feiras.
Manifestaes culturais do espao: shows de msica popular brasileira (MPB),
lanamento de livros, exposies de arte, festivais de humor e de msica brega,
lanamento de candidaturas polticas, entre outros. (BEZERRA, 2008). Com o
crescimento e atrao de pblico cada vez maior do Pirata Bar, estabelecimentos
instalaram-se no bairro Praia de Iracema. De acordo com Bezerra (2008, p. 87):
Nesse perodo, se iniciou uma disputa entre o Pirata e uma casa de show que se fixou ao seu lado, que ficou conhecida como guerra dos forrs. Assim, enquanto espao cnico onde os usos definiam novos significados para os espaos antigos l, o grande movimento de pessoas e carros que se dirigiam ao bairro, aliado poluio sonora, ocasionou muitos conflitos entre o proprietrio do Pirata e moradores do bairro, sendo aquele acusado de promover poluio sonora.
42
Figura 4 Pirata Bar
Fonte: .
No ano de 1992, o Pirata Bar abre somente s segundas-feiras, ficando
dia famoso como A Segunda-feira Mais Louca do Mundo. O equipamento
gastronmico e de lazer contribuiu para as transformaes socioespaciais no bairro
Praia de Iracema.
espao de lazer dos fortalezenses e atrativo turstico o Centro Drago
do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). Trata-se de centro cultural que recebe em torno
de 1,5 milho de visitantes ao ano e est entre os mais importantes centros culturais
do Brasil4 (Figura 5).
4 Disponvel em: . Acesso em: 22 jun.
2017.
http://www.dragaodomar.org.br/espacos.php?pg=instituicao
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Figura 5 Centro Drago do Mar de Arte e Cultura
Fonte: Elaborado pela autora.
O centro cultural leva o nome do abolicionista Francisco Jos do
Nascimento, tambm conhecido como Chico da Matilde, o Drago do Mar. O Centro
abriga Memorial da cultura Cearense, com exposio permanente sobre a cultura do
vaqueiro; Museu de Arte Contempornea, espao de exposies temporrias;
Multigaleria; Planetrio Rubens de Azevedo; cinema; anfiteatro, auditrio e praa
verde.
O empreendimento majestoso vai de uma rua a outra, ocupa rea de 30
mil m, dos quais 14,5 mil m de rea construda, entre a Avenida Presidente Castelo
Branco (Leste-Oeste) ao sul; Avenida Pessoa Anta, ao norte; Rua Boris, a oeste; e
Avenida Almirante Jaceguai, a leste. Os espaos so organizados por setores:
vermelho, verde e laranja, conforme Figura 6.
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Figura 6 Mapa dos espaos do Centro Drago do Mar de Arte e Cultura
Fonte: .
A construo se fez em quatro anos, com a concluso no segundo
mandato do ento governador5, passando a funcionar em carter experimental em
1998. De arquitetura arrojada, o Centro Drago do Mar obra dos arquitetos
cearenses Delberg Ponce de Leon e Fausto Nilo. Inaugurado em 28 de abril de
1999, na antiga rea porturia da Praia de Iracema. No entorno, bares, restaurantes,
lojas de artesanato, teatros e centros culturais.
5 Tasso Jereissati.
45
O equipamento arquitetado em escala monumental ocupa quatro quadras.
Trata-se de megaequipamento do projeto oficial do Estado, smbolo grandioso do
rompimento com o passado arcaico de relaes clientelistas, era de luzes,
conforme Teixeira (1995), pauta-se no desenvolvimento econmico do Cear. Figura
7: dimenses do centro cultural.
Figura 7 Vista do Centro de Arte e Cultura Drago do Mar
Fonte: .
Construdo em rea bomia, no bairro Praia de Iracema, h dcadas,
passa pela requalificao. que h polmica em torno da construo. Para Sousa:
O Drago do Mar, nascido da ao vanguardista de uma elite poltica, prope-se a continuar o rompimento com o passado na rea de poltica cultural, ao mesmo tempo que nas reas do turismo e do urbanismo. Da mesma forma, estaria pondo em prtica essa lgica em outras reas da ao governamental, como a administrao pblica e a economia. (SOUSA, 2000, p.123).
Aspecto criticado foi a demolio de quatro edificaes para construo
da passarela que liga as partes alta e baixa do terreno. Ponto negativo levantado o
fato de o centro no se integrar paisagem do entorno, composta de prdios
antigos, Casa Boris, Alfndega, edifcios da Rua Drago do Mar. (GONDIM, 2007,
46
p.173). Para sanar crticas negativas construo, Fausto Nilo, em entrevista
Gondim (2007, p.174), esclarece que
No foram derrubados sobrados histricos [...]. Eram edifcios descaracterizados em sua quase totalidade, com estruturas de concreto em lugar das antigas, teto de amianto, janelas panormicas, lajes de concreto, e que s conservavam do original as paredes limtrofes dos vizinhos que a eles estavam justapostas. Quem conhece as tcnicas construtivas daquele perodo sabe que, retirados estes elementos, no resta absoluta e radicalmente nada do prdio original. Portanto, os prdios histricos j no estavam l quando chegamos.
Ainda sobre crticas, Gondim (2010) alerta no apenas sobre as
dimenses destoantes com as construes do entorno, mas tambm de uso dos
edifcios.
O superdimensionamento do edifcio, cuja escala se choca com a dos antigos armazns e galpes vizinhos. Ainda que o centro cultural tenha efetivamente catalisado a recuperao das fachadas desses edifcios, estes foram ocupados principalmente por bares, restaurantes e casas de shows: o aumento dos aluguis expulsou usos menos lucrativos, como teatros, produtoras e galerias de arte (GONDIM, 2010, online).
A rea do entorno ocupada pelos casares que, no incio do sculo XX,
abrigavam empresas de exportao e importao. As fachadas so restauradas pelo
projeto Cores da Cidade, parceria entre o governo do estado, Tintas Ypiranga e
Fundao Roberto Marinho. De acordo com Costa (2005, p.53)
No caso de Fortaleza, a Secretaria de Cultura do Estado indicou a interveno em uma rea que abrangia quase todo o centro histrico. Porm, a Fundao Roberto Marinho decidiu priorizar os galpes da praia de Iracema de maneira a aproveitar o impacto do Centro Drago do Mar sobre a rea. Um total de 56 imveis, entre sobrados e armazns tpicos de regies porturias, participaram da primeira etapa do programa. Seus limites eram as avenidas Pessoa Anta, Almirante Jaceguai, Jos Avelino e a rua Boris, no entorno do Centro Drago do Mar de Arte e Cultura. necessrio fazer uma crtica seleo dos imveis para o Programa Cores da Cidade, quando se ignorou edifcios de grande valor histrico, arquitetnico e cultural localizados a poucos metros do Centro Drago do Mar como a igreja e o Seminrio da Praia, Teatro So Jos, etc.
Prdios recuperados, no entorno, incorporam-se ao Centro Cultural, e
ocupados pelos bares, casas de show, restaurantes que movimentam a noite
fortalezense, reunindo residentes e turistas. Figura 8: restaurantes em casares
centenrios em estilo neoclssico.
47
Figura 8 Bares no entorno do Drago
Fonte: Elaborado pela autora.
Atrativo histrico e cultural a Ponte dos Ingleses, construda, na dcada
de 1920, pela firma inglesa, da a designao Ponte dos Ingleses (Figura 9). um
carto postal. Desempenhou a funo de porto martimo at 1938, quando da
construo do Porto do Mucuripe. At 1940 a ponte foi utilizada para o fluxo de
cargas. A partir da, ocupa lugar de destaque no lazer de bomios, namorados,
artistas e jovens, ao entardecer para apreciao do pr do sol.
48
Figura 9 Ponte dos Ingleses
Fonte: Elaborado pela autora.
Em 1990, interditada, diante do avanado grau de deteriorao da
estrutura. Reformada em 1994, conta com pequena galeria e observatrio marinho
da Universidade Federal do Cear (UFC). O reordenamento como a primeira etapa
de um projeto urbano que culminaria com a inaugurao, em 1999, do Centro
Drago do Mar de Arte e Cultura locado em rea de 30 000m do interior do bairro.
(LIMA, 2007, p.1).
A reforma da nova Ponte dos Ingleses agrega funo relacionada nova
imagem criada de Fortaleza: de espao turstico. Atrativo a contemplao do pr
do sol, que, a partir de junho de 2017, conta com show musical. Trata-se de projeto
idealizado pela prefeitura municipal, para o ltimo domingo do ms, que atrai
visitantes e moradores, inspirado no modelo estabelecido em Joo Pessoa PB
(Praia do Jacar), e em cidades brasileiras.
As polticas pblicas do atratividade praia de Iracema, valoriza a
msica clssica, pelo pianista e saxofone, tocada na Ponte dos ingleses, no pr do
sol, paisagem mais bela da cidade (Figura 10).
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Figura 10 Pr do Sol com msica na Ponte dos Ingleses
Fonte: Elaborado pela autora.
Da Praia de Iracema, direo leste da orla, encontra-se a praia do Futuro
que se destaca como espao preferido do lazer e banho do fortalezense e turista. A
praia do Futuro ocupa oito dos 25 quilmetros da orla, abriga barracas (Figura 11),
algumas estruturadas com piscina, sauna, gastronomia regional.
Figura 11 Vista de barracas da Praia do Futuro
Fonte: Elaborado pela autora.
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lugar de preferncia de banhistas, com 8 km da orla martima, com
areias claras e fofas, dunas e ondas fortes. Veem-se beleza e limpeza da praia,
mantida pela prefeitura.
Destacam-se as barracas que se distribuem ao longo do calado,
conhecidas, o complexo Crocobeach, com infraestrutura e servios: piscina, sauna,
loja de convenincia, banco 24 horas, salo de beleza, entre espaos, para a
comodidade do frequentador. O menu de caractersticas regionais de frutos do mar ,
com diversificado cardpio, principalmente caranguejo temperado com produtos da
regio. Tradicionalmente, as quintas-feiras, oferecido show de humor e forr para
animao, passando de meia-noite. Figura 12: fachada da barraca Crocobeach com
vitrine da loja.
Figura 12 Fachada Crocobeach Praia do Futuro
Fonte: Elaborado pela autora.
No calado, observa-se gerao de emprego indireto e ocupao da
comunidade, multiplicador de negcios, at flanelinha com celular. A barraca
mostra, no interior, (Figura 13), piscina onde crianas e adultos se divertem durante
todo o dia. Para isso, como medida de controle e investimento, exigi-se pulseirinha.
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Figura 13 Interior da Barraca Crocobeach
Fonte: Elaborado pela autora.
Instalado cerca de 15 anos, na Praia do Futuro, o complexo conta com
duzentos funcionrios, quinta-feira noite, demanda aproximadamente 120 mil
turistas por ms, na alta estao, oferece, alm de infraestrutura, salo de beleza,
sala de massagem, cybercaf, piscina (com bar molhado para adultos e toboguas
para criana), sorveteria (DIRIO DO NORDESTE, 2012; FREIRE, 2015).
Barracas abrem noite e oferecem, alm do cardpio saboroso, shows
de humor, Chico do Caranguejo, com a conhecida Quinta do Caranguejo, famoso
atrativo a residentes e turistas.
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Figura 14 Barraca Chico do Caranguejo
Fonte: Elaborado pela autora.
A Itaparika da famlia Aguiar Ramos surge, na dcada de 1980, e conta
com mais 300 mesas distribudas em ambientes: salo central, quiosque e
barraquinha de fibra, 200 coqueiros transplantados, parque aqutico destinado,
exclusivamente, ao pblico infantil.
Figura 15 Barraca Itaparika Praia do Futuro
Fonte: Elaborado pela autora.
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Na Beira Mar, h atrativo extico, Jardim Japons Jusaku Fujita,
inaugurado em 2011, obra da Prefeitura de Fortaleza, para homenagear o
centenrio da imigrao japonesa no Brasil. A obra atrasou e no foi inaugurada no
ano do centenrio, 2008, somente trs anos depois.
Figura 16 Jardim Japons Jusaku Fujita
Fonte: Elaborado pela autora.
O nome do equipamento homenagem ao primeiro imigrante japons a
fixar residncia no Cear, em 1923, confor