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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO (EA) PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL (PDGS) MESTRADO MULTIDISCIPLINAR PROFISSIONAL EM DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL REBECA RIBAS BULHOSA CONSELHOS GESTORES E A LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS: O CASO DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE (CONJUVE) Salvador - BA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO (EA)

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO E GESTÃO SOCIAL (PDGS) MESTRADO MULTIDISCIPLINAR PROFISSIONAL EM DESENVOLVIMENTO E

GESTÃO SOCIAL

REBECA RIBAS BULHOSA

CONSELHOS GESTORES E A LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS: O CASO DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE (CONJUVE)

Salvador - BA 2015

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REBECA RIBAS BULHOSA

CONSELHOS GESTORES E A LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS: O CASO DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE (CONJUVE)

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Multidisciplinar e Profissional em Desenvolvimento e Gestão Social do Programa de Desenvolvimento e Gestão Social da Universidade Federal da Bahia como requisito para a obtenção do grau de Mestra em Desenvolvimento e Gestão Social. Orientadora: Prof.ª Dra. Rosana de Freitas Boullosa

Salvador, BA 2015

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Escola de Administração - UFBA

B933 Bulhosa, Rebeca Ribas.

Conselhos gestores e a lógica de formação de grupos: o caso do

Conselho Nacional de Juventude (CONJUVE) / Rebeca Ribas Bulhosa. –

2015.

89 f.

Orientadora: Profa. Dra. Rosana de Freitas Boullosa.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de

Administração, Salvador, 2015.

1. Conselho Nacional de Juventude (Brasil) – Avaliação - Estudo de

casos. 2. Controle social – Participação do cidadão. 3. Políticas públicas –

Brasil – Participação do cidadão. 4. Jovens – Atividades políticas. 5.

Politicas sociais – Brasil. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de

Administração. II. Título.

CDD 361.61

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REBECA RIBAS BULHOSA

CONSELHOS GESTORES E A LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS: O CASO DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE (CONJUVE)

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestra em Desenvolvimento e Gestão Social, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte

banca examinadora:

Banca Examinadora Prof.ª Dr.ª Rosana de Freitas Boullosa (orientadora) Doutora em Políticas Públicas (Università IUAV di Venezia/Itália) Universidade Federal da Bahia (UFBA) Prof.ª Dr.ª Claudiani Waiandt Doutora em Administração (Universidade Federal da Bahia – UFBA) Universidade Federal da Bahia (UFBA) Prof. Dr. Edgilson Tavares de Araújo Doutor em Serviço Social (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC-SP) Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB)

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AGRADECIMENTOS

Esse trabalho é a prova do desafio que é conciliar ser mãe, profissional, mulher,

estudante, sem tréguas, mas sempre com a perspectiva de quem acredita que cada

dimensão dessa precisa ser vivida (na essência) e todas guardam surpresas e

aprendizados pela frente. Dedico essa conquista a todos os obstáculos que se

colocaram ao longo do percurso (por que, não?) e a todos as pessoas que fizeram

com que esse sonho se tornasse realidade:

À minha orientadora, Rosana Boullosa, pela persistência, pela solidariedade, por

nunca ter desistido de mim e por todo aprendizado que foi construirmos juntas cada

palavra e reflexões registradas neste trabalho;

Às/aos companheiras/os do Conselho Nacional de Juventude, com os quais pude

compartilhar cinco anos de intensos aprendizados e pela generosidade com que

compartilharam conteúdos e reflexões tão valiosas para este estudo;

Às/aos amigas/os queridas/os, que tanto torceram e fizeram acreditar que era

possível (mesmo quando já não parecia mais ser), especialmente Andreia Neri,

Cínthia Sento Sé, Vitória Moraes, Luciana Pinto, Renata Matos, Cissa Bezerra,

Isabel Angelim, Soraia Brito e João Neto. Essa comemoração é nossa!

Ao companheiro de todas as horas, Edu Chaves, com chuva ou sol, perto ou longe,

ter você ao meu lado me deu forças pra não perder o rumo;

À minha família, pela presença e o apoio incondicional, sem os quais eu não

conseguiria chegar a lugar algum;

À minha filha, Maria, que me inspira a ser sempre uma pessoa melhor;

E, finalmente, a todas as pessoas que vivem a utopia de fazer do mundo um lugar

melhor, mais justo e humano para todas/os.

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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo estudar a formação de grupos políticos que

acontecem no âmbito dos conselhos gestores. Para isso pretende analisar o

desenho formal dos processos eleitorais do Conselho Nacional de Juventude

(Conjuve) e as composições que deles se resultam. O estudo analisou documentos

e marcos legais do Conselho, assim como realizou observação da Assembleia

Eleitoral e aplicou instrumento, buscando identificar a percepção dos conselheiros

acerca dos grupos por eles formados. Tudo foi complementado com dados da

vivência da pesquisadora, enquanto conselheira nacional de juventude. Entre os

achados desse estudo está o reconhecimento da existência dos grupos pelos

conselheiros e sua classificação de acordo com o que os identifica. A análise do

desenho dos processos eleitorais do Conjuve permitiu a percepção de que não é ele

o fator determinante para a formação dos grupos, embora seja um disparador inicial

na medida em que convoca determinados atores e não outros. Por fim, o estudo

levantou questões sobre as possibilidades de influência dos grupos na ação do

Conselho.

Palavras-chave: conselhos nacionais de políticas públicas, juventude, participação,

agrupamentos políticos.

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ABSTRACT

This work aims to study the formation of political groups inside management councils.

It will analyze the formal design of elections of the National Youth Council (Conjuve)

and the compositions that result, as well as legal documents and milestones of the

Council, making note of the Electoral Assembly and applied instruments, seeking to

identify the perception of directors about the groups they formed. Everything was

supplemented with data from the experience of the researcher, while national youth

counselor. Among the findings of this study is the recognition of the existence of the

groups by the counselors and their classification according to what identifies them.

The analysis of the design of the electoral process of the Conjuve showed that it is

not the determining factor for the formation of groups, but an initial trigger, because it

calls for certain players and not others. Finally, the study raised questions about the

possibilities of influence of these groups in the Council's actions.

Keywords: national councils of public policy, youth, participation, political groupings.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 Conselhos gestores e projeção para 2012

Tabela 02 Número de cadeiras do Conselho Nacional de Juventude por

categoria Tabela 03 Número de cadeiras por segmento da categoria Movimentos,

Associações ou Organizações da Juventude de atuação nacional do Conselho Nacional de Juventude

Tabela 04 Número de cadeiras por segmento da categoria Entidades de

Apoio às Políticas de Juventude do Conselho Nacional de Juventude

Tabela 05 Critérios para habilitação e participação na Assembleia Eleitoral

do Conselho Nacional de Juventude Tabela 06 Classificação das entidades no processo eleitoral do Conselho

Nacional de Juventude Tabela 07 Tempo de permanência no Conselho Nacional de Juventude Tabela 08 Número de organizações com as quais os membros do Conselho

Nacional de Juventude possuem afinidade

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LISTA DE SIGLAS

AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida

ANPG Associação Nacional de Pós-Graduandos

CAD Comissão de Articulação e Diálogo com a Sociedade

CNJ Conselho Nacional de Juventude

Conjuve Conselho Nacional de Juventude

Contag Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ONGs Organizações não governamentais

SNAS Secretaria Nacional de Articulação Social

SNJ Secretaria Nacional de Juventude

UBES União Brasileira de Estudantes Secundaristas

UNE União Nacional dos Estudantes

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

1.1. Os objetivos geral e específicos

1.2. Aspectos metodológicos

1.2.1. Materiais e instrumentos de pesquisa

1.2.2. A posição da pesquisadora

1.3. A estrutura do trabalho

2. OS CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL

2.1. Trajetórias e valores dos conselhos gestores

2.2. Desenhos e formatos dos conselhos gestores atuais

2.3. Conselhos gestores: valores e desafios

2.4. Um conselho para o segmento de juventude

3. A EXPERIÊNCIA DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE: DESENHOS

FORMAIS, PRÁTICAS E VALORES DOS ATORES

3.1. Contexto de construção do Conselho Nacional de Juventude

3.2. Marcos legais e normativos do Conselho Nacional de Juventude – da teoria às

práticas

3.3. Renovação da composição do Conselho Nacional de Juventude

3.3.1. Momentos preparatórios e inscrições

3.3.2. Habilitação e o papel fundamental da Comissão Eleitoral

3.3.3. Assembleia eleitoral

3.3.4. Resultados das eleições e impactos posteriores

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4. LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS DE ATORES

4.1. Atores e grupos do Conselho Nacional de Juventude: origens, valores

compartilhados e desafios

4.2. Permanência e movimentos dos atores no Conselho Nacional de Juventude

4.3. Mapeando as percepções dos conselheiros sobre os grupos

4.3.1 Percepção das afinidades

4.3.2 Lógicas de configuração dos grupos

4.3.2.1 Lógica do segmento de origem

4.3.2.2. Lógica das tematizações

4.3.2.3. Lógica dos partidos políticos

4.4. Decorrências da prática de formação de grupos

5. CONCLUSÕES

REFERÊNCIAS

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1 INTRODUÇÃO

Desde que foram institucionalizados no Brasil, a partir do texto constitucional de

1988, o conselhos1 de direitos (também chamados conselhos de políticas públicas

ou gestores) passaram a ser reconhecidos como um importante mecanismo de

partilha do poder de decisão e de controle social das ações e políticas públicas

(RODRIGUES, 2007).

Para Almeida e Tatagiba (2012), independentemente das concepções partidárias ou

da sua postura democrática, nenhum gestor público pode, atualmente,

desconsiderar o papel dos conselhos nos processos que envolvem formulação,

execução, acompanhamento e avaliação das políticas, mesmo que o poder destes

sobre as decisões seja razoavelmente limitado. Isso porque, para além das

condicionalidades constitucionais que impõem a sua existência, segundo as autoras,

“apesar de todas as resistências e contramarchas, o projeto participativo se impôs

como princípio na sociedade brasileira”, o que também justifica a multiplicação

dessas instituições participativas2 no país (ALMEIDA; TATAGIBA, 2012, p. 73).

Os números comprovam a afirmação das autoras. A pesquisa do Instituto Brasileiro

de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o perfil das administrações públicas

municipais já apontava, em 2001, a existência de conselhos das áreas de saúde,

assistência social e criança e adolescente em mais de 90% dos municípios

brasileiros. Em uma recente pesquisa, Boullosa, Neto e Itã (2014) contabilizaram

mais de 46 mil conselhos atuando na esfera municipal, em 22 diferentes setores das

políticas públicas. Um estudo de Tatagiba registra que os conselhos de alimentação

escolar, assistência social, criança e adolescente, educação, saúde, meio ambiente,

idoso e segurança alimentar já são uma realidade em todas as cidades brasileiras

(ALMEIDA; TATAGIBA, 2012). 1 Os conselhos são órgãos permanentes, integrados à estrutura do Poder Executivo, em âmbito

municipal, estadual ou federal, que se configuram como uma instância de participação e interlocução da sociedade com o Estado. Dependendo da função que assumem (deliberativa, fiscalizadora, normativa ou consultiva), os conselhos têm o papel de formular, monitorar e avaliar as políticas públicas com foco na área de atuação do órgão ao qual estão vinculados, podendo ser voltado para segmentos (juventude, criança e adolescente), setores das políticas (educação, saúde, etc.) e de programas (como Fundeb). (RODRIGUES, 2007) 2 Além dos conselhos, as autoras também citam os orçamentos participativos e fóruns.

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Na esfera estadual, o número de conselhos chega a 541 (ALMEIDA; TATAGIBA,

2012). No nível federal, funcionam 35 conselhos, de acordo com os dados do site3

da Secretaria Nacional de Articulação Social (SNAS) da Secretaria-Geral da

Presidência da República.

O crescimento quantitativo dos conselhos no Brasil demonstra o nível de

investimento depositado no potencial desses espaços e justifica porque eles

passaram a ser alvo de reflexão e debate por diversos setores (Estado, sociedade,

universidades), que têm produzido uma série de avaliações sobre a sua atuação,

tanto do ponto de vista dos avanços, como dos desafios que estão colocados.

Almeida e Tatagiba (2012) afirmam que esse debate não deve mais considerar estas

experiências como algo recente, mas como uma caminhada onde já é possível

apontar resultados, impactos e identificar suas fragilidades, tendo em vista uma

discussão mais profunda em torno do fortalecimento da democracia no Brasil.

Os estudos atuais guardam em comum o pressuposto de que a legitimidade

democrática, nas sociedades contemporâneas, não pode ser conquistada apenas

pelo voto, reafirmando a importância dos espaços de participação (ALMEIDA;

TATAGIBA, 2012). Por outro lado, os autores também consideram que a simples

ocupação dessas instâncias pela sociedade civil não é suficiente para assegurar a

redistribuição do poder e a democratização dos processos de definição acerca das

políticas. “Há que se qualificar essa participação e apurar os elementos constitutivos

de uma efetiva reformulação nos mecanismos de decisão” (LÜCHMANN, p. 2, 2002).

O autor lembra que os fatores que impedem a concretização de uma participação

mais qualificada nesses espaços são complexos e envolvem “questões de natureza

política, econômica, social e cultural, e que dizem respeito a uma sociedade

estruturalmente assentada sob os pilares do clientelismo, do autoritarismo e das

desigualdades sociais” (LÜCHMANN, p. 2, 2002).

Lascoumes e Le Galés (2012) trazem à tona a importância do estudo dos

instrumentos da ação pública4. Os autores consideram instrumento da ação pública

“um dispositivo ao mesmo tempo técnico e social que organiza relações sociais

específicas entre o poder público e seus destinatários em função das

3 http://www.secretariageral.gov.br/participacao-social/conselhos-nacionais/conselhos-e-comissoes-

2014.pdf. Acessado em 22 de setembro de 2014. 4 Lascoumes e Le Galés (2012) entendem a ação pública como um espaço sociopolítico, construído

por finalidades, conteúdos, projetos de ator, técnicas e instrumentos.

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representações e das significações das quais é portador” (LASCOUMES; LE

GALÉS, 2012, p. 21).

No passado recente, a análise dos instrumentos era considerada algo secundário no

campo de estudo das políticas públicas e só recentemente tem surgido novas teorias

em que este objeto é enfatizado. Isso devido ao desenvolvimento de uma maior

complexidade do modelo de gestão atual e o avanço da instrumentalização. As

novas teorias têm buscado uma compreensão menos tecnocrática, mas ainda

carecem de análises mais profundas e novas abordagens (AMORIM e BOULLOSA,

2013).

Power (1999) aponta a importância desse foco de estudo, afirmando que os

instrumentos podem ser reveladores do comportamento dos atores (LASCOUMES;

LE GALÉS, 2012.) e também das políticas públicas, como indicam Amorim e

Boullosa (2013). Para Lascoumes e Le Galés (2012), os instrumentos são

indissociáveis dos agentes que programam seus usos. Não são mecanismos

neutros, mas carregados de significados e representações.

Segundo os autores, os instrumentos podem ser legislativos e reguladores,

econômicos e fiscais, convencionais e de incentivo, informativos e de comunicação.

Seja de que ordem forem, ao reconfigurar as arenas políticas às quais se vinculam,

interferem na maneira como os atores se comportam, tendo em vista que alteram a

sua capacidade de atuar e podem produzir “efeitos específicos para além dos

esperados, a partir de suas dinâmicas próprias, como inércia, uma representação

específica da questão ou induzir a uma determinada problematização”

(LASCOUMES; LE GALÉS, 2012, p. 23).

Por esse motivo, é que se torna importante o estudo dos problemas colocados pela

escolha e pelo uso dos instrumentos na ação pública. “Trata-se não somente de

compreender as razões que levam a se reter certo instrumento muito mais que

outro, mas de considerar igualmente os efeitos produzidos por essas escolhas”

(LASCOUMES; LE GALÉS, 2012, p. 20). Os critérios para esta escolha, de acordo

com Amorim e Boullosa (2013), podem ser os mais diversos, desde a efetividade,

seu grau de implementação, de coercitividade e visibilidade, a perpetuação do

poder, entre outros. “Não é uma decisão técnica, mas política, cujos impactos

podem ser medidos por meio das relações de poder e das redes sociais criadas a

partir dele” (AMORIM; BOULLOSA, 2013).

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Nesse sentido, o tipo de instrumento utilizado, suas propriedades e as justificativas

para essas escolhas parecem ser mais reveladoras do que seus motivos explícitos

ou posteriores racionalizações discursivas. Por esse motivo, Amorim e Boullosa

retomam a afirmação de Lascoumes e Le Galés, de que os instrumentos possuem

uma dimensão explícita e uma implícita, citando-os:

“A teoria explícita refere-se às premissas e verdades que são enunciadas como explicação do instrumento, em documentos oficiais, por exemplo. Por outro lado, as verdades e premissas que orientam a prática do instrumento constituem sua teoria implícita, e é através desta que ele governa as relações sociais. (LASCOUMES, LE GALÈS, 2007)”. (AMORIM; BOULLOSA, p. 65)

Tendo em vista o exposto, esse trabalho pretende retomar o desenho dos métodos

de ocupação dos espaços de poder do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve)5,

emergindo questões implícitas ligadas à utilização desse instrumento. Pretende-se

estudar especialmente a formação dos grupos, presente no modus operandis de

diversos conselhos gestores, a partir da experiência do Conselho Nacional de

Juventude, analisando a trajetória da sua composição e como ela tem se

concretizado dentro dos processos eleitorais. Esse percurso é atravessado pela

dinâmica das forças políticas que integram o Conselho. Estas forças transcendem as

cadeiras formalmente constituídas e têm influenciado no resultado da atuação do

Conjuve, sobretudo nos momentos de definição das suas representações e nas

deliberações.

Tanto Lüchmann [2002] como Almeida e Tatagiba (2012) concordam que o poder de

decisão dos conselhos depende, dentro outros fatores, das disputas internas entre

os segmentos e atores que os compõem e destas na interação com o seu entorno. E

é sobre esse tema que pretende se debruçar o presente estudo. Entendendo que o

grau de sucesso dos conselhos está atrelado à correlação de forças derivada da sua

composição e “sob determinadas oportunidades e/ou constrangimentos político-

institucionais” (ALMEIDA; TATAGIBA, 2012, p. 73).

5 Instância criada no âmbito da Secretaria-Geral da Presidência da República, que tem o objetivo de

monitorar e contribuir com a formulação da política nacional de juventude. É formada por organizações, redes e movimentos juvenis e entidades de apoio (organizações não governamentais que atuam com jovens).

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1.1 Os objetivos geral e específicos

O objetivo geral deste trabalho foi apontar reflexões que permitam ajudar a

aprimorar os processos de deliberação do Conselho Nacional de Juventude, a

ampliação de sua capacidade de controle público e seu fortalecimento enquanto

espaço democrático, transparente e autônomo.

Os objetivos específicos foram metodologicamente definidos como passos de

pesquisa, por acreditarmos que, desta forma, estaria mais condizentes com um

processo de pesquisa social aplicada como foi este caso. Foram eles:

(a) Problematizar conselhos gestores como instrumentos de políticas públicas, a fim

de reconhecer seus principais valores

(b) Reconstruir o contexto político e institucional de criação do Conjuve

(c) Reconstruir os processos eleitorais do Conjuve, com foco nos grupos de atores

(d) Elaborar matriz analítica para identificar as estruturas que ajudam a modelar os

grupos

(e) Refletir sobre a formação de grupos nos processos eleitorais

1.2 Aspectos metodológicos

Esta pesquisa possui natureza de estudo de caso. Segundo Gil (2001), nos estudos

de caso, um fenômeno ou situação é estudada em profundidade, ajudando a trazer

um pouco de luz tanto para o caso estudado, quanto para outros casos que possam

ter qualquer similaridade fenomenológica com aquele assumido como objeto. Mas o

foco é sempre o caso escolhido. E o caso aqui escolhido foram os processos

eleitorais do Conselho Nacional de Juventude, no Brasil.

Pelo ineditismo do objeto construído, com pouco material bibliográfico específico

disponível, este estudo de caso adquiriu um forte caráter descritivo. Tal caráter,

todavia, não se realizou destituído de observação e interpretação, pois o fenômeno

estudado se constituía muito mais como um conjunto de práticas, rotinas e

comportamento não explicitados em documentos. Houve, portanto, a intenção de

compreender, classificar e explicar, mas não houve a tentativa de construção de um

modelo teórico explicativo, não só pelas especificidades do caso, mas, sobretudo,

pelos limites planejados para este estudo. Contudo, espera-se ajudar na construção

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de uma compreensão mais ampliada sobre o fenômeno das eleições em conselhos,

pois acredita-se que deste trabalho podem nascer futuras pesquisas comparativas,

desta ou de outros autores.

1.2.1 Materiais e instrumentos de pesquisa

Os materiais e instrumentos de pesquisa foram construídos a partir dos objetivos

específicos definidos. No que concerne o primeiro objetivo, de problematizar

conselhos gestores como instrumentos de políticas públicas, a fim de reconhecer

seus principais valores, os materiais utilizados foram basicamente as referências

bibliográficas mais críticas sobre conselhos gestores, além de pesquisas que

mostravam um pouco o dimensionamento deste instrumento no Brasil.

No que concerne o segundo objetivo, de reconstruir o contexto político e institucional

de criação do Conjuve, foram utilizadas referências bibliográficas institucionais e de

especialistas no tema das políticas públicas de juventude.

Para o alcance do terceiro objetivo, o de reconstruir os processos eleitorais do

Conjuve, com foco nos grupos de atores, o estudo tomou como ponto de partida a

primeira gestão do Conselho, que tomou posse em 2006, percorrendo todos os

processos eleitorais da sociedade civil até a sua última composição iniciada em

2014. Este movimento de pesquisa se deu em duas etapas.

A primeira etapa efetuou o levantamento de todas as entidades da sociedade civil

que já foram membros do Conjuve (material de pesquisa), identificando o tempo de

permanência de cada uma neste espaço, a partir de análise documental

(instrumento de pesquisa).

O segundo momento incluiu uma revisão de todos os documentos oficiais que

regulamentaram os processos eleitorais (material de pesquisa). O tipo de análise

documental realizado sobre estes materiais foi voltado para a reconstrução do

desenho utilizado nos processos eleitorais, destacando as alterações que foram

realizadas a cada eleição.

Para a construção da matriz analítica, foi criado um instrumento de leitura perceptiva

sobre os grupos existentes no Conjuve. O objetivo deste instrumento (Anexo 01) foi

entrevistar o respondente sobre a sua leitura de eventuais grupos presentes no

Conselho. Formalmente, este instrumento pode ser enquadrado como uma

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entrevista semiestruturada ou semiaberta, pois continha estrutura somente na

orientação da pergunta. Todavia, o instrumento utilizado continha um forte

componente de ludicidade, pois o tipo de resposta exigida era graficada (desenho

livre de representação aberta dos diferentes agrupamentos de atores percebidos

pelo respondente). O instrumento foi aplicado durante a última reunião ordinária da

gestão que se deu entre 2012 e 2014, e, de modo geral, foi bem compreendido e

respondido pelos entrevistados.

Foram distribuídos vinte formulários, sendo retornados dez respondidos. Não foi

possível contabilizar o tempo de preenchimento, pois este foi feito durante o

desenvolvimento da reunião. Alguns conselheiros entregaram ainda durante a

reunião e outros entregaram apenas ao final do seu primeiro turno.

A análise tentou inicialmente observar elementos de proximidade entre as

organizações que estavam agrupadas, tentando identificar grupos mais facilmente

reconhecidos dentro do Conselho. Num segundo momento, avaliou as organizações

que estavam fora dos conjuntos e, por fim, as relações de afinidade que cada

conselheiro sinalizou nos conjuntos.

1.2.2 A posição da pesquisadora

A análise leva em conta as observações e a posição da autora do estudo. Atuando

em organizações sociais ligadas às questões juvenis, a pesquisadora tem

acompanhado a agenda em torno das políticas públicas de juventude desde o início

do debate no Brasil, nos anos 90. Em 2010, começa a integrar o Conselho Nacional

de Juventude, como representante de uma entidade de apoio, assumindo a

coordenação da Comissão de Acompanhamento de Políticas e Programas e,

posteriormente, ocupando a Vice-presidência no último ano da sua participação em

2014.

Essa trajetória pessoal permitiu o aporte de informações que não estão

documentadas e entremeou conteúdo nas reflexões que são colocadas nesse

estudo. Como coordenadora de comissão e vice-presidente, presente em instâncias

de peso político, a autora pode acompanhar de perto o percurso e momentos de

decisões significativas na história do Conselho, assim como vivenciou situações de

debate, tensionamento e articulação entre os grupos que o compõe.

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Ao iniciar o estudo, não havia mais o vínculo formal da autora com o Conselho,

contudo as relações construídas com a instituição e seus membros individualmente

possibilitaram um ambiente de confiança necessário para a investigação do tema

aqui colocado.

1.3 A estrutura do trabalho

Este trabalho está estruturado em cinco capítulos. O primeiro, introdutório, que

aborda o contexto e objeto de pesquisa escolhido para estudo, além de informar o

método de pesquisa. O segundo que conta, de forma breve, a história do surgimento

dos conselhos gestores no Brasil, seus valores e os principais desafios que estão

atualmente colocados. O terceiro retoma o contexto de criação do Conselho

Nacional de Juventude e também descreve e analisa o processo eleitoral em todas

as gestões do Conselho. O quarto capítulo fala da origem dos atores que hoje

compõem o Conjuve, valores e desafios em torno dessa convivência dentro do

Conselho e traz os resultados da análise das percepções dos conselheiros sobre a

formação de grupos políticos. Por fim, o último capítulo traz algumas reflexões que

emergiram a partir do percurso realizado, registra lacunas e levanta possibilidades

de novos temas para estudo no futuro.

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19

2 OS CONSELHOS GESTORES DE POLÍTICAS PÚBLICAS NO

BRASIL

A construção da democracia brasileira é marcada por séculos de dominação de uma

política oligárquica e autoritária. Opinar sobre questões públicas era privilégio de

poucos e a participação popular algo quase utópico e conquistado a custa de muita

luta. As marcas dessa história ainda hoje se fazem presentes na cultura política

nacional.

A década de 60, no período da Ditadura Militar, talvez tenha sido a mais marcante,

pois coloca a militância política na clandestinidade e derruba os direitos políticos. Há

um controle excessivo do Estado, criminalização e tortura de quem se colocava em

defesa dos direitos humanos e políticos. Contraditoriamente, é também nesse

mesmo momento e nos anos 70, que se originam muitas das organizações que se

destacam entre os movimentos sociais6 atuais.

Autores como Teixeira (2002) e Cruz (2005) afirmam que foi, nessa década, o início

do processo de redemocratização na sociedade brasileira, impulsionado por

estudantes, intelectuais, artistas, operários que se articularam em torno de questões

políticas e institucionais do regime vigente, como a anistia, o fim da censura à

imprensa, o pluripartidarismo e a extinção da tortura de presos políticos (TEIXEIRA,

2002).

Mas é somente nos anos 80 que o esgotamento do regime repressor e o

aquecimento dos movimentos começam a provocar a abertura política, que culmina

com as mobilizações pelas eleições diretas para a Presidência da República e para

a inclusão e universalização de direitos na Constituição. É nesse cenário que

começa a se configurar a sociedade civil organizada, como a entendemos hoje,

6 Por movimentos sociais, utiliza-se o conceito abordado por Santos, Serafim e Pontual (2008), que

afirma que são “um conjunto de organizações, formais ou não, que apresentam para o Estado ou para outros segmentos da sociedade civil uma série de reivindicações que consideram como seus ‘direitos’, a partir da Constituição Federal ou outras leis infraconstitucionais” (SANTOS; SERAFIM; PONTUAL, 2008, p. 2). Os autores citam como exemplos atuais os camponeses, ambientalistas, movimentos de afirmação étnica, de gênero, de luta por moradia e de luta por saúde.

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conceituada por Teixeira como “uma rede de associações autônomas, com

interesses comuns, que devem exercer o controle sobre o Estado, utilizando-se para

isso de meios não só institucionais, como não convencionais” (TEIXEIRA, 2002, p.

42).

A atuação se dá, contudo, com um modelo distinto do que era promovido por

partidos políticos, sindicatos e entidades religiosas. Até este período, as lutas dos

movimentos sociais “se articulavam com um panorama de busca de mudanças

político-sociais, de ordem estrutural, com um projeto político implícito” (GOHN, 1995,

p. 205). Este projeto de caráter mais socialista fora abandonado por conta de

mudanças no cenário internacional, que provocaram descrença nos ideais de

transformação e conflitos dentro dos movimentos.

Nas manifestações de rua, na organização de agrupamentos sociais, nas eleições, na organização dos trabalhadores urbanos e rurais, na organização e luta das mulheres contra a discriminação e pela conquista de direitos, dos negros, dos estudantes, enfim, do empresariado, dos políticos, nas mais variadas formas de manifestações. O processo de abertura abriu espaço para uma diversidade de interesses e de projetos colocados na arena social e política (RODRIGUES, 2007, p. 72-73)

Segundo Cruz (2005), havia também uma crise fiscal e no modelo de gestão pública

que não respondia às demandas sociais. “Com a crise do Estado, o desprestígio e a

burocratização do sistema partidário, o agravamento dos conflitos sociais e a

crescente conscientização de vários segmentos sociais, desenvolvem-se novas

alternativas de participação” (TEIXEIRA, 2002, p. 28), abrindo caminho para a

redemocratização.

Fruto desse processo, a Constituição de 1988 institucionaliza mecanismos de

participação e representação popular. O texto constitucional toma a democracia

participativa como um paradigma e estabelece novas regras norteadoras das

relações dos cidadãos com o poder público (direito de consulta, informação,

participação em planos e conselhos), bem como inclui mecanismos característicos

da democracia direta, como referendo, plebiscito e iniciativa popular legislativa, e

espaços de diálogo e controle, como as audiências públicas, as conferências, os

orçamentos participativos e os conselhos. (RODRIGUES, 2007; TEIXEIRA, 2002;

BENEVIDES, 1991). Os conselhos já existiam antes da promulgação da

Constituição, contudo, ainda como experiências mais pontuais de algumas gestões

municipais, como no setor da saúde (GOHN, 1990). Com a Constituição, eles são

incorporados na administração pública em todos os entes federativos.

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21

Este capítulo buscará compreender o contexto de políticas públicas no qual os

conselhos, de uma forma geral, e o Conselho Nacional da Juventude foram criados,

caracterizado por uma forte difusão desse instrumento. Para isto, buscará

problematizar a ideia de conselho gestor, revendo pontos importantes da sua

criação, por terem marcado os formatos finais construídos e atualmente

implementados. Em seguida, apresentará uma breve discussão sobre os valores

implicados em tal instrumento, para finalmente introduzir o contexto político de

surgimento do Conselho Nacional de Juventude - o Conjuve.

2.1 Trajetórias e valores dos conselhos gestores

O texto constitucional assegura o exercício dos direitos sociais e individuais e

contempla uma revisão no modelo de gestão pública, fortalecendo a Federação e

propondo a descentralização político-administrativa, tida na época como uma

estratégia inovadora, que promoveria efeitos positivos tanto do ponto de vista

administrativo, como democrático (CRUZ, 2005). Assim, ela incorpora como valores

a descentralização e a democracia em contraposição à centralização e ao

autoritarismo muito praticados até então (GUIMARÃES, 2005).

A Constituição, por si só, não intensificou o controle social, apenas instituiu

dispositivos formais para que ele acontecesse. Se ela não pode ser considerada

uma ruptura da ordem anterior, ao menos significou um marco no que se refere a

uma mudança institucional, resultado de uma transformação que já se processava

na sociedade. Por esse motivo, provavelmente, os mecanismos criados não foram

imediatamente assimilados, sendo apropriados, ocupados e ampliados mais

significativamente apenas nos anos 2000, ao ponto em que Carvalho sugere que o

país estivesse vivendo uma certa febre conselhista (CARVALHO, 1998).

A década posterior à promulgação da Constituição se caracteriza por um interesse

crescente por temas como o combate à corrupção, violência e degradação do meio

ambiente. É nesse período que as ONGs se popularizam, tendo um aumento

quantitativo significativo7. Também avança uma disputa em torno dos direitos de

grupos de perfis específicos, como mulheres, negros, homossexuais, pessoas com

7 Dados do IPEA – Instituto de Pesquisa Avançada – demonstram que o número de instituições

privadas sem fins lucrativos no Brasil cresceu 157% no período entre 1996 e 2002 (Ferreira, 2005).

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deficiência, crianças e adolescentes e um bom número de grupos culturais distintos,

minorias étnicas e demais setores da sociedade que se encontravam em situação de

vulnerabilidade e que não se reconheciam nos representantes eleitos.

Havia, nesse momento, uma grande insatisfação em relação à política partidária,

agravada com recorrentes casos de corrupção noticiados e com a incapacidade de

mediação dos partidos, que eram tidos, no geral, apenas como representações das

elites, com pouco diálogo com as massas (GUIMARÃES, 2005). Esse, talvez, seja

um dos motivos pelos quais, somente nos anos 2000, se começa a observar uma

maior interlocução da sociedade civil com o Estado, não apenas para exercer uma

função política de controle das ações públicas, mas também para incidir no que está

sendo formulado. Esta mudança se reflete na ampliação da ocupação das esferas

públicas8 e também na constituição “de outros espaços de diálogo não-

institucionalizados, como os fóruns de debate, nos quais as organizações da

sociedade civil discutem assuntos políticos e sociais” (CRUZ, 2005, p. 25).

Nesse mesmo período, percebe-se também a criação de órgãos específicos dentro

da máquina pública, destinados a gerir as ações no campo da interlocução com a

sociedade civil organizada e os espaços participativos, como a Secretaria Nacional

de Articulação Social (SNAS), no âmbito do Governo Federal (TEIXEIRA; SOUZA;

LIMA, 2012).

De lá para cá, muitos conselhos foram criados, em praticamente todos os setores de

políticas públicas. Em recente artigo, Boullosa e outros (2013) estimam em mais de

43 mil o número de conselhos municipais em todos os setores de políticas públicas,

a partir de cálculos realizados com dados primários produzidos pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses dados foram produzidos no

contexto de uma pesquisa sobre administração municipal, a MUNIC, que vem sendo

realizada desde 2001. O foco da MUNIC não são os conselhos gestores, mas estes,

quase sempre, são investigados, ainda que de forma pouco sistemática. Desde

2001, somente os anos 2003, 2007 e 2010 não contemplaram a temática dos

conselhos dos conselhos gestores municipais.

8 Espaços mistos, institucionalizados, de diálogo entre a sociedade civil e o Estado a exemplo dos

conselhos. (TEIXEIRA, 2002). Guimarães (2005) lembra a leitura de Habermas, que afirma ser este o lugar onde os segmentos “podem problematizar em público uma condição de desigualdade na esfera privada” (SANTOS, 2001, p. 52 apud GUIMARÃES, 2005, p. 46).

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Ao todo, de modo descontinuado, foram estudados por Boullosa vinte setores, de

2001 a 2012, período da pesquisa, como mostra a Tabela 01. Os dados foram

projetados para 2012, e, em casos pontuais, corrigidos a partir de pesquisas mais

específicas, como foi o caso do setor da Assistência Social.

Tabela 01: Conselhos gestores e projeção para 2012

Conselho

municipal por setores

2001 2002 2004 2005 2006 2008 2009 2011 2012 Projeção

2012

1

Política Urbana ou Desenvolvi-mento urbano

234 - - 731 - 1066 981 - 1.231 1.231

2 Assistência Social 5178 - - 5497 - - 5527 - 5527 5.527

3 Educação 4072 - - - 3 760 - 4 403 4 718 - 5.026

4 Saúde 5426 - - - - - 5 417 5 553 - 5565

5 Meio Ambiente 1615 - 2039 - - 2649 3 124 - 3 545 3 545

6 Esporte - - - - - - 623 - - 712

7 Habitação 628 - 779 979 - 1708 2 373 3 240 - 3.996

8 Cultura 734 - - 1169 - - 1 372 - 1798 1798

9 Transporte 270 - - - - 328 328 - 357 357

10 Segurança Pública

334 - - - 445 - 579 - 642 642

11 Saneamento - - - - - - 195 1 198

12 Segurança Alimentar e Nutricional

- - - - - - - - 1 531 1 531

13 Direitos Humanos - - - - - - 79 123 - 167

14 Igualdade Racial - - - - - - 148 196 - 206

15 Direito da Criança e Adolescente

4406 4592 4592 - 4 622 - 5 084 5446 - 5565

16 Direito da Mulher - - - - - - 594 872 - 1.147

17 Direito do Idoso - - - - - - 1 974 2868 - 3.762

18 Direito LGBTT - - - - - - 4 12 - 12

19 Direito da Juventude

- - - - - - 303 - - 316

20 Direitos da Pessoa com Deficiência

- - - - - - 490 791 - 1091

21 Trabalho 1886 - - - - - - - - 2154

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24

22 Turismo 1226 - - - - - - - - 1400

23 Orçamento 271 - - - - - - - - 310

24

Promoção do desenvolvimento social e econômico

924 - - - - - - - - 1055

25

Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio

- 734 879 927

Total 43.164

Fonte: BOULLOSA e outros. A partir de dados das MUNIC-IBGE, 2001-2012.

Dentre os setores de políticas públicas, alguns foram pioneiros em instituir este

instrumento de gestão pública, como foram os casos da saúde, da assistência social

e da educação (em alguma medida, também por força da condição imposta para

implementação das políticas). Outros foram incorporando aos poucos tal novidade,

como habitação e desenvolvimento urbano. Houve setores que foram se construindo

mais ou menos durante o mesmo período em que o instrumento se difundia

horizontalmente. Foi o que ocorreu com os conselhos da igualdade racial,

diversidade sexual e juventude, este último, tema central deste trabalho.

2.2 Desenhos e formatos dos conselhos gestores atuais

À medida que se avança a ocupação dos conselhos e outros espaços institucionais

de debate também se intensifica uma demanda pelo seu aperfeiçoamento, assim

como pelo reconhecimento formal dos espaços instituídos e isto é o que tem

marcado a década atual9. Entre a intensificação da mobilização para participação em

conselhos e o que concretamente tem se conseguido avançar em relação à

qualificação das políticas públicas e, mais ainda, ao próprio aperfeiçoamento da

democracia, há questões e reflexões que merecem atenção.

Em 2014, por exemplo, foi publicado pela Secretaria Geral da Presidência da

República, o Decreto nº 8.243 de 23 de maio de 2014, que institui a Política e o

9 Cortês (2002, apud Guimarães, 2005) explica que os conselhos brasileiros guardam semelhanças

aos fóruns institucionalizados verificados na Inglaterra, Itália, Estados Unidos e Canadá. A diferença aqui seria na maior proporção do envolvimento dos atores, na diversidade das áreas e na multiplicação desses espaços pelo país.

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Sistema Nacional de Participação Social. O Decreto, que acabou sustado pelo Poder

Legislativo, tinha como objetivo “fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias

democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal

e a sociedade civil”. Ele também cria o Comitê Governamental de Participação

Social, reconhece e orienta diretrizes para mecanismos e instâncias de participação

social10. Em 2015, o Decreto foi levado à aprovação na Câmara Federal, por meio

do Projeto de Lei 8048/2014, que está ainda em tramitação.

O desenho institucional é um fator que ajuda a construir um processo de

sustentabilidade do círculo virtuoso no funcionamento do conselho (LÜCHMANN,

2012). Por isto, é importante compreender o formato atual dos conselhos gestores,

que podem variar “de acordo com o contexto de institucionalização, a forma de

organização social, a definição do papel e dos objetivos do colegiado e a delimitação

das competências e atribuições do conselho (GOHN, 1990)” (TEIXEIRA; SOUZA;

LIMA, 2012, p. 51)

Para começar, existem quatro diferentes e não excludentes funções11:

• Deliberativa: quando o conselho assume o papel de decidir sobre a implantação

de políticas e/ou a administração de recursos relativos à sua área de atuação;

• Consultiva: quando o conselho assume o papel apenas de estudar e indicar

ações ou políticas sobre sua área de atuação;

• Fiscalizadora: quando o conselho assume o papel de fiscalizar a implementação

e o funcionamento de políticas e/ou a administração de recursos relativos à sua

área de atuação;

• Normativa: quando o conselho cria normas e diretrizes relativas à sua área de

atuação.

Segundo Boullosa e outros (2009), a função deliberativa é, sem dúvida, a mais

defendida pela literatura em relação às demais funções – sobretudo à função

normativa, por permitir que o conselho tome decisões e obrigue a prefeitura (poder

10

De acordo com o decreto, são instâncias ou mecanismos de participação: conselhos de políticas públicas, comissão de políticas públicas, conferência nacional, ouvidoria pública federal, mesa de diálogo, fórum interconselhos, audiência pública, consulta pública e ambiente virtual de participação social (Disponível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Decreto/D8243.htm em 03 de abril de 2015). 11

Classificação adotada pela Pesquisa de Informações Básicas Municipais (MUNIC) do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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executivo) a executá-las. Já a função normativa é a que menos aparece nos

conselhos gestores dos municípios brasileiros. O exercício desta função se daria

quase que exclusivamente para a regulamentação das normas de ingressos de

outras organizações no próprio conselho.

Os conselhos são quase sempre estruturados pela tríade presidência, mesa de

conselheiros e câmaras temáticas (ou grupos de estudo), além de uma secretaria

executiva que não necessariamente varia de acordo com a eleição das mesas

(BOULLOSA e outros, 2012; 2014). Muitos autores defendem que, para um bom

funcionamento, o número de conselheiros deveria estar em torno de oito a 16 pares,

no caso de conselhos paritários (GOMES, 2009). Em relação à quantidade de

reuniões dos conselhos, não há um consenso sobre este ponto, mas é indicado que

suas reuniões ordinárias sejam realizadas com uma regularidade mensal ou

bimensais. Os temas mais específicos são tratados em reuniões extraordinárias,

quase sempre com pauta única.

Os autores ressaltam que, segundo a literatura, os conselheiros deveriam receber

capacitação específica para o exercício adequado de suas funções. Tal exercício

poderia ser remunerado ou não. Há autores que defendem o pagamento (jeton) dos

conselheiros por sua participação nas reuniões ordinárias e extraordinárias dos

conselhos, enquanto que outros defendem que este trabalho seja voluntário e não

remunerado.

Um outro contorno do desenho dos conselhos gestores, segundo a literatura e as

normas setoriais, seria a vinculação a um fundo, considerada como exercício

máximo da função deliberativa. Isto poderia significar a possibilidade do conselho

gerir um fundo orçamentário setorial correspondente em sua escala de ação

(municipal, no caso deste estudo), podendo destinar até 0,5% do seu total à sua

própria manutenção. Bressan (2004) explica a importância desejada para os fundos

setoriais de políticas públicas:

O Fundo passa a ser um instrumento permanente, articulador e estratégico para a gestão da política. Um dos avanços que ainda precisamos realizar está na forma de lidar com essa ideia de Fundo porque tem sido disseminada apenas uma visão meramente contábil. É importante que haja uma estruturação contábil específica, mas os conselheiros não podem ter apenas essa visão contábil. O Fundo retrata como está a política, o que é prioritário ou não, se está sendo concretizado o que foi proposto no Plano ou não. Caso contrário, o Plano se torna apenas uma formalidade a ser cumprida porque a lei exige. (BRESSAN, 2004 apud BOULLOSA e outros, 2012).

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2.3 Conselhos gestores: valores e desafios

Dos primeiros passos dados no sentido da criação dos conselhos gestores pré-

constituição até a sua institucionalização e avanço em todos os níveis federativos, já

é possível afirmar que há um longo percurso trilhado por essas experiências. Nesse

cenário, existem diversos autores que, para além das reconhecidas críticas,

defendem os conselhos como um espaço importante de participação. Boullosa

(2014) explica que a defesa se coloca sob dois argumentos: o primeiro, de que os

conselhos seriam fruto de uma demanda social emergente durante o período da

redemocratização; e o segundo, de que ele traria benefícios também para a

qualidade da administração pública.

Hajer e Wagenaar (2003 apud CUNHA, 2009), por exemplo, afirmam que esses

espaços têm contribuído para a inclusão de novos atores e temas na agenda

pública, propiciando uma relação de cooperação entre o governo e a sociedade e

modificando a natureza e o processo de formulação das políticas. Para Hajer (2003

apud CUNHA, 2009), estas novas relações têm gerado não somente a identificação

de soluções para os problemas ou a legitimidade nas deliberações, mas também a

provocação de reflexões e de confiança entre os atores.

Avritzer (2000) considera que essa aproximação e o estreitamento do diálogo da

sociedade com seus representantes, que acontecem no âmbito dos conselhos, têm

gerado um comportamento mais responsivo dos agentes públicos, que se veem

obrigados a prestar contas dos seus atos, fazer consultas ou mesmo atender ao que

é deliberado. Avritzer (2000) acrescenta que, à medida que a população participa,

vai se construindo também uma cultura cívica na sociedade, que passa a ficar mais

atenta aos acontecimentos políticos, econômicos, sociais etc.

Embora esses autores considerem os conselhos gestores um importante avanço

político (ALMEIDA; TATAGIBA, 2012), também levantam muitos desafios por eles

enfrentados para o cumprimento do seu papel.

O primeiro deles tem a ver com a sua composição. Para Guimarães (2005), faltam

critérios claros para a escolha dos conselheiros, o que compromete a

representatividade nesses espaços. Teixeira, Souza e Lima (2012) falam sobre a

existência de monopólios associativos, ou seja, grupos de organizações que detêm

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o acesso a informações e um nível de especialização profissional que ocupariam os

conselhos gestores, numa relação de desequilíbrio com os demais atores, limitando

o espaço de participação. Como consequência, os conselhos muitas vezes não

operam como um porta-voz de demandas e pautas sociais, já que se encontra

distanciado de quem é mais afetado pela política em questão, mas como um

agenciador de interesses de grupos específicos.

Esse cenário coloca para os conselhos gestores um outro desafio pontuado por

Lüchmann [2002] relacionado ao estabelecimento de princípios que orientem os

mecanismos de decisão na direção dos interesses sociais coletivos e não

particularistas. Um deles, para Bulhosa (2013), seria o da igualdade de participação,

refletido num espaço de escuta aberto para que sejam explicitados os diferentes

pontos de vista. A autora, citando referências trazidas por Cunha (2009), traz à tona

um debate em torno das condições que cada indivíduo ou organização possui e que

lhe possibilitem de fato uma participação igualitária. Essas condições não têm a ver

apenas com questões mais objetivas (como recursos financeiros, escolarização etc),

mas também com uma dimensão relacionada com a sua subjetividade e identidade.

Nesse contexto, se insere o debate em torno da questão da diversidade dentro dos

conselhos gestores e até que ponto eles oferecem ambiência para que esse valor

seja posto em prática. Para além da abertura de cadeiras para membros de

diferentes origens e movimentos, fica a questão se de fato a lógica de

funcionamento dos conselhos atuais promove a escuta e a inclusão de

representantes tradicionalmente excluídos (TEIXEIRA; LIMA; SOUZA, 2012).

2.4 Um conselho para o segmento de juventude

A partir deste contexto de políticas públicas, no qual o instrumento conselho gestor

conseguia reunir parte das qualidades e anseios de participação política da

sociedade civil, uma janela política para a tematização da juventude começa a ser

construída.

No Brasil, até um período relativamente recente, quase inexistiam políticas públicas

que contemplassem os jovens, que eram inseridos em políticas sociais destinadas a

todas as demais faixas etárias, geralmente com caráter assistencialista e

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enfatizando a resolução de problemas, como violência, drogas, AIDS e gravidez na

adolescência (SPOSITO, 2003).

A percepção sobre a necessidade de uma política pública diferenciada só começou

a surgir na década de 80, provocada pela mobilização em torno dos direitos da

criança e do adolescente, que gerou a inclusão do art. 227 da Constituição Federal,

regulamentado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Esse debate, segundo Oliveira (2013), começa a chamar mais a atenção no início

dos anos 2000, com a constatação de que o segmento juvenil já representava,

nessa época, 21% da população brasileira, de acordo com o IBGE (2000), com uma

forte tendência ao crescimento. Esse fenômeno ficou conhecido como “onda jovem”

e mobilizou a preocupação de diversos atores (organismos internacionais,

organizações sociais, educadores, governo, entre outros), tendo em vista a condição

social que esse grupo possuía no período. O público juvenil era o mais excluído do

mercado de trabalho, com baixo nível de escolarização e vítima de diferentes formas

de violência.

A juventude então entra na agenda pública e passa a ser alvo de debates e

pesquisas, tendo como focos prioritários a investigação em torno da sua identidade

(no sentido do mapeamento das suas demandas) e a formulação de políticas

públicas que dessem conta dos desafios que estavam colocados.

Neste contexto, um campo de políticas públicas começa a se estruturar, no âmbito

dos setores de direitos, construindo uma matriz muito própria de valores. Em tal

matriz, encontram-se desde os valores que subjazem à discussão dos direitos

humanos, aos que estão relacionados e respaldados por instrumentos concretos de

políticas públicas (a exemplo dos conselhos gestores), até chegar aos valores que

vão se tornando identitários no processo de construção e que são próprios de cada

setor.

Na juventude, esta matriz foi sendo composta pela igualdade de direitos, pelo

respeito à diversidade, pela valorização da participação, da autonomia e da escuta

dos jovens, pela importância da representação decisória nos processos de políticas

públicas e pela construção de espaços de representação próprios que fossem

pautados pelos valores ali gestados.

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Este processo de construção estava de alguma forma em consonância com os

valores incorporados pelo instrumento dos conselhos gestores. O formato estava

disponível, ganhando força quantitativa e qualitativa. Por outro lado, um conjunto de

organizações que vinham atuando no debate em torno das políticas públicas

É nesse cenário que a ideia do Conselho Nacional de Juventude começa a se

desenvolver.

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3 A EXPERIÊNCIA DO CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE:

DESENHOS FORMAIS, PRÁTICAS E VALORES DOS ATORES

Neste capítulo será retomado o contexto de criação do Conselho Nacional de

Juventude e aspectos formais do seu funcionamento. Também será descrito o

percurso das composições em todas as gestões do Conselho, com o objetivo de

explicitar qual o desenho do instrumento no sentido da ocupação dos espaços de

poder e decisão e como ele tem funcionado na prática.

3.1 Contexto de construção do Conselho Nacional de Juventude

O surgimento do Conselho Nacional de Juventude está ligado à construção das

políticas públicas de juventude no Brasil. A definição institucional do governo

brasileiro entende a juventude como uma etapa do ciclo da vida, compreendida dos

15 aos 29 anos, e que é marcada pelo desenvolvimento da sua independência e

autonomia. Toda a formulação da Política Nacional de Juventude no Brasil em

execução, hoje, tem origem na ideia de que os jovens são um segmento identitário

singular, com características próprias e que demandam respostas específicas e

adequadas do Estado12.

A juventude entra na agenda institucional do poder público, em 2003, a partir da

formação da Comissão Especial de Políticas de Juventude da Câmara Federal, que

se debruçou sobre o tema e promoveu uma série de debates públicos que

resultaram num relatório indicando a elaboração de marcos legais específicos e

sugestões para a política nacional, incluindo a criação de um conselho nacional.

12

O sentido mais comum do conceito de juventude é pontuado por León, que a define como um período, onde se encerram transformações físicas e acontecem mudanças psicológicas e sociais, que caracterizam a saída de uma condição de criança e a entrada na fase adulta. Esta noção, entretanto, é socialmente e historicamente variável em relação aos seus conteúdos, duração e do significado a ela atribuído (LÉON, 2005).

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32

No âmbito do Executivo, a Política Nacional de Juventude foi instituída, por meio da

Medida Provisória 23813, assinada pelo Presidente da República em 1º de fevereiro

de 2005. Através deste ato, foram criados os três primeiros instrumentos: o

Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), a Secretaria Nacional de Juventude

(SNJ)14 e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), destinado

especificamente ao segmento juvenil. A referida medida provisória foi regulamentada

posteriormente pela lei Nº 11.129, de 30 de junho de 200515, que fortalece a sua

institucionalidade.

Em 2011, os jovens são incluídos como um programa temático específico no Plano

Plurianual de 2012-2015. Na prática, isso muda pouco em termos de investimentos

no público juvenil e também em relação à possibilidade de incidência e

monitoramento da política, mas demarca uma necessidade de atenção a este

segmento perante o conjunto dos ministérios e secretarias e de diálogo entre eles.

Em consequência, em 2013, institui-se o Comitê Interministerial da Política de

Juventude16, órgão permanente para gestão e monitoramento das políticas públicas

de juventude do Governo Federal, que, dentre outras funções, tem o papel de

elaborar e regulamentar o Estatuto Nacional de Juventude e o Sistema Nacional de

Juventude.

No campo dos marcos legais específicos, em 2010, foi aprovado o Projeto de

Emenda Constitucional nº 65, que insere a juventude como público prioritário na

Carta Magna. Em 2013, o Estatuto Nacional de Juventude (Lei 12.852/2013 de 05

de agosto de 2013)17 é aprovado no Senado e na Câmara dos Deputados. O

Estatuto define quem são os jovens para efeito das políticas públicas e garante um

conjunto de direitos, que devem ser contemplados independentemente de quem

ocupe a gestão pública.

A primeira parte do Estatuto trata dos princípios e diretrizes para as políticas

públicas de juventude e os direitos dos jovens. A segunda institui o Sistema Nacional

13

Acessível através do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Mpv/238.htm 14

A SNJ é um órgão ligado à Secretaria-Geral da Presidência da República, que tem o objetivo de articular as políticas direcionadas à população jovem. Dentro do Governo Federal constitui-se como a referência da população jovem e cumpre o papel de integrar programas e ações. 15

Acessível através do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11129.htm 16

O comitê foi criado pelo decreto nº 8.074, de 14 de agosto de 2013, disponível através do link http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Decreto/D8074.htm 17

Disponível através do link: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12852.htm

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33

de Juventude, atualmente em discussão, indicando um desenho mínimo que deve

ser regulamentado posteriormente, assim como dispõe sobre os conselhos de

juventude. Nesse sentido, no que se refere à regulamentação do Conjuve, no geral,

o conteúdo do Estatuto apenas reafirma o que já estava em outros marcos legais e

dá algumas indicações para os conselhos estaduais e municipais, sem avançar em

nenhuma proposição.

Em relação ao Sistema, o Estatuto avança ao apresentar condições mínimas para

estados e municípios implementarem as políticas de juventude. Dentro disso, o

Estatuto indica a elaboração de planos, a realização de conferências em conjunto

com conselhos de juventude e o desenvolvimento de programas específicos para

juventude.

Em paralelo a todo esse processo, foram sendo abertos espaços institucionais de

diálogo sobre as políticas de juventude como audiências públicas, comitês,

comissões, grupos de trabalho, tanto no legislativo, como no executivo, para além da

própria Secretaria Nacional de Juventude.

As conferências de juventude tiveram início a partir de 2008. A primeira edição

mobilizou cerca de 400.000 participantes e definiu 22 prioridades para a política

nacional de juventude. Com o lema “Levante sua bandeira”, o encontro deu

visibilidade e fortaleceu grandes temas para as políticas de juventude, que foram

incorporados na agenda de atuação do Conselho. Três anos depois, a 2ª

Conferência amplia o número de participantes para 500.000 e resulta na elaboração

de 26 propostas para os cinco eixos de discussão: 1) Desenvolvimento integral; 2)

Direito ao Território; 3) Direito à experimentação e à qualidade de vida; 4) Direito à

diversidade e à vida segura e 5) Direito à participação. Com isso, o evento dá um

passo adiante em relação ao anterior, pois dá indicativos para a construção do Plano

Nacional de Juventude.

Dentre os espaços criados, o Conselho Nacional de Juventude é o mais expressivo,

por ser uma instância de referência na interlocução com o Estado, de forma mais

contínua e estável em termos de estrutura e funcionamento. É por esse motivo

também que essa arena foi escolhida para este estudo.

Os conselhos de juventude são uma experiência bem recente no Brasil. Embora

alguns tenham sido implantados ainda no final da década de 1990, foi somente após

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a criação do Conselho Nacional de Juventude, da Secretaria Nacional de Juventude

e de programas específicos para a juventude que o processo foi alavancado. Sua

importância está relacionada à construção de um canal de comunicação (direto ou

indireto) entre a juventude e seus anseios e os responsáveis pela elaboração e

execução das políticas públicas a eles voltadas.

3.2 Marcos legais e normativos do Conselho Nacional de Juventude

– da teoria às práticas

A Lei 11.129 de 30 de junho de 2005, que cria o Conjuve, em seu artigo 9º, define

como suas finalidades: “formular e propor diretrizes da ação governamental voltadas

à promoção de políticas públicas de juventude; fomentar estudos e pesquisas acerca

da realidade socioeconômica juvenil e o intercâmbio entre as organizações juvenis

nacionais e internacionais”. No §1 do mesmo artigo, a Lei também define a sua

composição, sendo 1/3 de representantes do poder público e 2/3 da sociedade civil.

O Decreto 5.490, de 14 de julho de 2005, reconhece o caráter consultivo do

Conselho e dispõe sobre a sua composição e funcionamento. O artigo segundo do

Decreto define quais são as suas competências:

“1) Propor estratégias de acompanhamento e avaliação da política nacional de

juventude;

2) Apoiar a Secretaria Nacional de Juventude na articulação com outros órgãos da

administração pública federal, governos estaduais, municipais e do Distrito Federal;

3) Promover a realização de estudos, debates e pesquisas sobre a realidade da

situação juvenil, com vistas a contribuir na elaboração de propostas de políticas

públicas;

4) Apresentar propostas de políticas públicas e outras iniciativas que visem a

assegurar e ampliar os direitos da juventude;

5) Articular-se com os conselhos estaduais e municipais de juventude e outros

conselhos setoriais, para ampliar a cooperação mútua e o estabelecimento de

estratégias comuns de implementação de políticas públicas de juventude;

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6) Fomentar o intercâmbio entre organizações juvenis nacionais e internacionais.”18

Criado como uma instância intergeracional, o Conselho, de acordo ainda com o

Decreto 5.490, é composto por 60 cadeiras titulares e seus suplentes. Vinte cadeiras

são ocupadas por representantes do poder público19 e, 40, pela sociedade civil, que

assim permanecem durante dois anos de mandato.

Todos os integrantes se organizam em torno do Plenário, dos grupos de trabalho e

comissões. São atribuições do Plenário (Decreto 5.490):

“I - aprovar seu regimento interno;

II - eleger anualmente o Presidente e o Vice-Presidente do CNJ20, por meio de

escolha dentre seus membros, por voto de maioria simples, para cumprirem

mandato de um ano;

III - instituir grupos de trabalho e comissões, de caráter temporário, destinados ao

estudo e à elaboração de propostas sobre temas específicos;

IV - deliberar sobre a perda de mandato dos membros do CNJ referidos nos incisos

II e III do art. 5o;

V - aprovar o calendário de reuniões ordinárias do CNJ;

VI - aprovar anualmente o relatório de atividades do CNJ; e

VII - deliberar e editar resoluções relativas ao exercício das atribuições do CNJ”21.

Quanto aos grupos de trabalho e comissões22, o Decreto não apresenta suas

atribuições, mas afirma que eles têm um tempo de existência pré-determinado e sua

composição definida pelo Plenário, que pode também indicar integrantes de notório

conhecimento na temática que não sejam membros do Conselho. O Regimento

Interno complementa essa regulamentação, delimitando o número de participantes

18

Decreto Número 5.490, de 14 de julho de 2005. Diário Oficial da União. Ano CXLII Número 135. Brasília, 15 de julho de 2005. 19

A representação do poder público contempla a SNJ, os ministérios que desenvolvem programas e ações voltados para a juventude, a Frente Parlamentar de Políticas para a Juventude da Câmara dos Deputados, representantes do Fórum de Gestores Estaduais de Juventude, da União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale) e das associações de Prefeitos. 20

Nos momentos iniciais da sua criação, o Conselho era identificado pela sigla CNJ. 21

Decreto Número 5.490, de 14 de julho de 2005. Diário Oficial da União. Ano CXLII Número 135. Brasília, 15 de julho de 2005. 22

Comissões do Conselho: Comissão de Acompanhamento de Políticas e Programas, Comissão de Acompanhamento ao Parlamento, Comissão de Comunicação, Comissão de Articulação e Diálogo com a Sociedade.

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36

de cada grupo de trabalho para um máximo de um quinto do total de conselheiros e

indicando a figura do coordenador e do relator dos grupos, que podem ser tanto do

poder público, como da sociedade civil.

O artigo 9º do referido Decreto determina também as funções de Presidente e Vice-

presidente do Conselho, cabendo ao primeiro:

“I - convocar e presidir as reuniões do CNJ;

II - solicitar ao CNJ ou aos grupos de trabalho ou às comissões a elaboração de

estudos, informações e posicionamento sobre temas de relevante interesse público;

III - firmar as atas das reuniões do CNJ e

IV - constituir e organizar o funcionamento dos grupos de trabalho e das comissões

e convocar as respectivas reuniões”.

As funções de Presidente ou Vice-presidente somente podem ser exercidas, de

acordo com o Regimento Interno, por conselheiros titulares, que são eleitos pelos

seus pares. No primeiro ano do mandato, o Decreto 5.490 sinaliza que a presidência

é sempre ocupada por uma representação do poder público e, no seguinte, por uma

da sociedade civil.

O papel do Secretário Executivo é definido pelo Regimento Interno, com as

seguintes atribuições:

“I - convocar, por solicitação do Presidente, as reuniões do Plenário do Conselho,

dos Grupos de Trabalho e Comissões;

II - preparar em conjunto com o Presidente e o Vice-presidente a pauta das

reuniões;

III - executar outras competências que lhe sejam atribuídas pelo Presidente assim

como pelo Plenário.

IV - dar ampla publicidade a todos os atos deliberados no Conjuve;

V - adotar ou propor medidas que objetivem o aperfeiçoamento dos serviços afetos

ao Conselho;

VI - decidir ou opinar sobre assuntos de sua competência;

VII - Compor a mesa diretora do Conjuve.”

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37

De acordo com o Regimento Interno, as reuniões ordinárias acontecem quatro vezes

ao ano e, extraordinariamente, a partir da necessidade de convocação. Elas

acontecem, em sua grande maioria, em Brasília, onde também se localiza a sua

estrutura de funcionamento, mas podem ocorrer em outras cidades, dependendo da

agenda que estiver colocada. Existe uma proposta de reuniões itinerantes, com o

intuito de aproximar o Conselho Nacional aos estados e municípios e torná-lo mais

conhecido, mas isso ainda é uma estratégia assistemática e informal.

O Regimento determina o quórum mínimo para instalação dessas reuniões que é de

30 conselheiros titulares, que têm direito à voz e voto. Seus suplentes têm apenas

direito à voz. Além do Presidente, presidem as reuniões o Vice-presidente e o

Secretário Executivo, que é nomeado pela Secretaria Nacional de Juventude.

Em relação às formas de deliberação, o regimento interno determina três

possibilidades para o Plenário: a primeira, através de acordo, por consenso dos

titulares presentes; a segunda, por meio de recomendação, na qual a deliberação

ocorre por maioria absoluta dos conselheiros titulares (trinta e um membros); e a

terceira, por indicação, com maioria simples do Plenário (metade mais um dos

presentes).

Dentre o que está previsto formalmente pelos marcos legais que estruturam o

Conselho e o que, em sua decorrência, se desdobra nas práticas cotidianas, há uma

série de questões e, para algumas, valem destaques.

Inicialmente é importante colocar que os decretos e o Regimento Interno que

definem o desenho e normas de funcionamento do Conselho se remetem a um

período ainda inicial da sua trajetória e, portanto, não abarcam a experiência vivida

pelo Conjuve. Alguns aprimoramentos e dispositivos foram sendo instituídos e

incorporados ao longo das gestões, como uma “tradição”, não sendo ainda

formalizados como parte do seu desenho institucional. Em alguma medida, eles

aparecem nas atas de reuniões e assembleias eleitorais, bem como nos relatórios

elaborados a cada gestão do Conselho, sem, contudo, se transformarem numa

norma.

Um exemplo disso é a mesa diretora ampliada, instância que integra, além do

Presidente, Vice e Secretário Executivo, os coordenadores das comissões e que tem

um papel fundamental na gestão do Conselho. Esse grupo se reúne mensalmente e

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sempre antes de cada reunião ordinária, com objetivo de definir a sua pauta, mas

também de debater e organizar as ações que estejam em execução. Antes, essa

tarefa ficava a cargo apenas da mesa diretora e acabava por ser orientada mais

fortemente pelo governo que possuía sempre duas representações nessa instância

(a do Secretário Executivo e a do Presidente ou Vice).

A necessidade de inclusão dos coordenadores para compor essa instância ampliada

reflete também a uma outra mudança processada a partir do desenvolvimento do

papel das comissões e grupos de trabalho, pensados inicialmente como espaços

mais pontuais. A experiência demonstrou que são esses espaços que efetivamente

concretizam as ações do Conselho, seja no sentido da formulação de documentos,

na realização de eventos e mobilizações, na incidência em relação ao poder

legislativo e órgãos do executivo, entre outras. Por esse motivo, eles deixaram de

ser instâncias pontuais para terem uma regularidade de funcionamento que permita,

tanto um acompanhamento mais sistemático das pautas, como uma ação mais

efetiva e duradora. À exceção apenas de alguns grupos de trabalho estruturados em

função de uma ação.

Além do caráter mais duradouro, também ocorreu uma diferenciação maior entre o

tipo de atuação dos grupos de trabalho e das comissões. Os primeiros teriam uma

agenda mais temática ou uma organização mais voltada para alguma ação

específica e prioritária do Conselho23. Já as comissões assumiram um papel mais

estrutural no desenho do Conjuve e se dividem de acordo com a natureza da ação

que desenvolvem.

A Comissão de Comunicação tem o papel de gerenciar a comunicação institucional,

mas também atua e monitora em torno da agenda do direito à comunicação. A

Comissão de Acompanhamento do Parlamento tem a atribuição de acompanhar e

incidir sobre projetos em tramitação no Congresso Nacional que tenham relação

direta ou indireta com a juventude. A Comissão de Articulação e Diálogo com a

Sociedade (CAD) é responsável por realizar a interlocução do Conjuve com

diferentes atores do campo das políticas de juventude, integrando o Conselho

especialmente com movimentos, grupos, fóruns, entre outros. A Comissão de

Acompanhamento de Políticas e Programas (CAPP), por fim, possui a função de

23

Juventude negra, juventude e meio ambiente, Pacto pela Juventude e Estatuto Nacional da Juventude são alguns exemplos de grupos de trabalho já formados no âmbito do Conjuve.

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39

monitorar as políticas voltadas direta ou indiretamente para a juventude, contribuindo

com o seu aprimoramento.24

Embora tenham tarefas distintas, comissões e grupos de trabalho atuam

conjuntamente, a partir de agendas e prioridades que são definidas em instâncias

coletivas, primeiramente na mesa ampliada e, posteriormente por meio da

aprovação do Plenário. A aprovação do Estatuto Nacional de Juventude, por

exemplo, foi uma pauta que demandou ações de comunicação, uma interlocução

contínua com os parlamentares, a mobilização de atores externos ao Conjuve e

análises e reformulações das distintas versões do projeto de lei que tramitaram,

especialmente, no Senado.

Observando essa configuração do Conselho, do ponto de vista mais prático, é

possível perceber que, apesar do Plenário ter institucionalmente o poder de decisão

sobre o funcionamento e a atuação do Conjuve, os processos de deliberação de fato

acontecem muito antes de uma pauta chegar formalmente a uma reunião para

aprovação. Tem início no momento do planejamento das ações, na formulação de

documentos e outras estratégias que são disparadas na mesa diretora, na mesa

diretora ampliada, nas comissões e grupos de trabalho. Entretanto, como as

representações que ocupam esses espaços são escolhidas no âmbito do Plenário,

ele acaba por ser catalisador das disputas e locus onde os grupos políticos

efetivamente medem forças. Por isso a importância de entender como essa esfera

se compõe e se torna ambiência para a configuração dos agrupamentos.

3.3 Renovação da composição do Conselho Nacional de Juventude

Os quarenta representantes da sociedade civil que fizeram parte da primeira gestão

do Conselho Nacional de Juventude foram integrados a partir da indicação do

Ministro Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, seguindo dois

critérios previstos no Artigo 5, do Decreto 5.490: “a) entidades que atuem na defesa

e promoção dos direitos da juventude; e b) pessoas com notório reconhecimento no

âmbito das políticas públicas de juventude”. Não foram localizados registros que

justifiquem a opção por uma composição inicial sendo indicada pelo governo.

24

Conselho Nacional de Juventude. Balanço 2010-2012. Brasília.

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40

Apenas alguns questionamentos dos próprios membros dessa gestão

documentados em publicações do próprio Conselho (Conjuve, 2007).

A composição do Conselho por meio de processos eleitorais só foi inaugurada na

segunda gestão, em 2008. O método utilizado nesse primeiro momento foi pouco

alterado nas edições posteriores, de forma que a descrição que segue ilustra o que

aconteceu até a última eleição em 2014. Para isso, foram analisados documentos25

relacionados às eleições elaborados pelo próprio Conselho - resoluções internas ou

publicadas no Diário Oficial da União, relatórios e atas - , assim como registros da

experiência da pesquisadora enquanto membro do Conselho e participante de

processos eleitorais e como observadora da última eleição de 2014, já no contexto

de desenvolvimento deste trabalho de dissertação. Serão apresentados desde os

momentos iniciais de mobilização e inscrição, suas regras, alguns dados dos

resultados da primeira à última eleição realizada pelo Conselho.

3.3.1 Momentos preparatórios e inscrições

As eleições do Conjuve têm como ponto de partida a definição de uma Comissão

Eleitoral pelo Plenário do conselho e a sua instituição via publicação de resolução

em Diário Oficial. A comissão é composta por sete membros do Conselho, sendo

três do governo e quatro da sociedade civil, que não concorrem a vagas nas

eleições e tem como objetivo coordenar o processo de escolha dos representantes

da sociedade civil, de acordo com os critérios previstos no Edital de Convocação. A

composição da comissão eleitoral é publicada em Diário Oficial e sua estruturação

se constitui num primeiro momento de disputa interna, tendo em vista o papel que

desempenha em todo o processo, sobretudo na proposição de critérios de

habilitação das entidades e sua aplicação para participarem das eleições.

O segundo passo é a elaboração do Edital de Convocação, cuja minuta é redigida

pela Comissão Eleitoral e apresentada para apreciação e aprovação do Plenário. O

Edital retoma as atribuições do Conselho, orienta os procedimentos para a

inscrição26, define critérios de habilitação das entidades para participarem da

25

Todos os documentos utilizados encontram-se listados nas Referências Bibliográficas. 26

A realização das inscrições envolve o preenchimento de uma ficha que pode ser feito diretamente no site da Secretaria Nacional de Juventude, ou enviada por e-mail; e a entrega de documentos da entidade, que variam de acordo com a categoria na qual ela se enquadre.

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41

Assembleia Eleitoral, categorias e número de vagas e dá alguns indicativos de

regras de funcionamento da Assembleia Eleitoral.

Como não tem ocorrido alterações significativas no edital, a sua aprovação não

costuma ser uma etapa de grande disputa. Salvo por um ponto que geralmente

mobiliza os debates que tem a ver com a distribuição de vagas entre cadeiras e

categorias. É comum que as entidades defendam um desenho que incluam

segmentos que ainda não estão representados, ou que estejam sub-representados

no Conselho, mas também que permitam a incorporação de organizações de sua

rede de articulações. Uma vez que o edital é aprovado, é publicado em Diário

Oficial, na página na Internet e redes sociais do Conselho Nacional de Juventude. A

divulgação da abertura das inscrições para as eleições do Conjuve é um dado que

deve ser considerado no resultado do processo. Como a disseminação dessa

informação restringe-se essencialmente às ferramentas de comunicação virtual que

o Conselho possui e a mobilização feita pelas organizações que o compõem em

suas próprias redes, é possível que isso limite a sua composição às entidades que,

de alguma forma, já estejam na órbita do Conselho. Para apoiar a participação das

entidades também são elaborados pequenos manuais que dão orientações sobre as

inscrições, o edital e a participação na assembleia eleitoral. Inicialmente, as

inscrições eram feitas através de um preenchimento on-line de um formulário e a

entrega ou envio de documentação impressa para o Conselho. No último processo

eleitoral, além das formas anteriores, foi possível também realizar a inscrição

integralmente pela Internet, inclusive a entrega de documentos que poderiam ser

digitalizados.

Vale explicitar que o momento que antecede a inscrição das organizações no

processo eleitoral já se configura, para algumas delas, como um momento de

articulação entre si e com os grupos já existentes no âmbito do Conselho. Não é raro

haver uma mobilização de entidades com o objetivo de garantir a ocupação de um

maior número de cadeiras, que futuramente possibilite, não somente um número

maior de votos na assembleia eleitoral, mas também no Plenário.

Uma vez abertas as inscrições, cada entidade pode se candidatar em apenas uma

categoria e cadeira. As categorias que compõem o Conselho são: Movimentos,

Associações ou Organizações da Juventude de Atuação Nacional, Fóruns e Redes

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da Juventude e Entidades de Apoio às Políticas Públicas de Juventude27. Essas

categorias funcionam como grandes conjuntos que reúnem as cadeiras. Essas

representam os segmentos que compõem o Conselho e são compostas por duas

vagas (titular e suplente).

Não obstante tal regra, nos editais não constam a definição de cada categoria,

apenas os critérios que cada organização deve atender para ser habilitada. Como

essas categorias não estão conceitualmente registradas nos documentos eleitorais,

tal lacuna acaba por abrir brechas para que ocorram debates em torno das

classificações das organizações, especialmente no âmbito da comissão eleitoral,

que é a instância responsável pela reclassificação, caso ela seja necessária.

Analisando os editais, percebe-se que o número total de cadeiras da sociedade civil

nunca foi alterado28, contudo, a sua distribuição apresentou alguma variação a cada

gestão, conforme demonstra a Tabela 02 abaixo.

Tabela 02 – Número de cadeiras do Conselho Nacional de Juventude por categoria

Categoria

Número de cadeiras por biênio eleitoral

2008-2009 2010-2011 2012-2013 2014-2015

Movimentos, associações ou organizações da juventude de

atuação nacional

20 22 24 24

Fóruns e redes da juventude 04 04 04 06

Movimentos, associações ou organizações da juventude de

atuação local

01 01 Categoria extinta

Categoria extinta

Entidades de apoio às políticas públicas de juventude.

15 13 12 10

Fonte: Elaboração própria.

Uma das categorias foi extinta a partir das eleições de 2012, mas não foram

encontrados registros sobre a justificativa para essa exclusão. Chama a atenção a

27

A distinção mais significativa entre as categorias reside no protagonismo juvenil em relação à gestão da organização. Assim, as entidades de apoio seriam instituições coordenadas por adultos, mas que atuam com o segmento juvenil. As organizações que integram as categorias de movimentos e de fóruns e redes seriam geridas por jovens. A categoria Movimentos, Associações ou Organizações da Juventude de atuação local foi extinta a partir de 2012. 28 O número de cadeiras destinadas à sociedade civil é instituído pelo Decreto Nº 5.490, de 14 de julho de 2005, que dispõe sobre a composição do Conselho e não pode ser alterado pelo processo eleitoral.

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tendência de redução do número de cadeiras na categoria Entidades de Apoio e o

seu crescimento na dos Movimentos de Atuação Nacional e dos Fóruns e Redes.

Em torno dessa diminuição, situa-se uma reflexão se o Conselho seria uma instância

de representação da juventude e, por esse motivo, deveria ser ocupada por

organizações juvenis, ou se ele seria um conselho de políticas públicas de

juventude, e, nesse caso, poderia continuar mantendo o seu caráter intergeracional,

abrigando organizações que não são juvenis, mas atuam sobre as pautas da

juventude.

As mudanças nas cadeiras dentro de cada categoria também são um ponto que

merece ser analisado e que pode ser observado nas Tabelas 03 e 04.

Tabela 03 - Número de cadeiras por segmento da categoria Movimentos, Associações ou

Organizações da Juventude de atuação nacional do Conselho Nacional de Juventude

Segmentos

Número de cadeiras por biênio eleitoral

2008-2009 2010-2011 2012-2013 2014-2015

Artísticas e culturais 01 01 01 01

De esporte e lazer 01 Cadeira

extinta Cadeira extinta

Cadeira extinta

Do campo 02 02 02 02

Estudantis 03 03 03 03

Hip-hop 02 01 01 01

Jovens empresários/as e empreendedores/as.

01 01 01 Cadeira extinta

Jovens feministas 01 02 02 02

Jovens negros e negras 01 02 02 02

Juventude de religião de matriz africana

01 01

Juventude indígena 01 01

Meio ambiente - 01 01 01

Movimento comunitário e de moradia

- 01 01 01

Pela diversidade sexual

(é alterada para Juventude LGBT nas eleições para a

gestão de 2010-2011)

01 01 01 01

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Político-partidário - 02 02 02

Povos e comunidades tradicionais

02 Cadeira extinta

Cadeira extinta

01

Religiosos 02 02 02 02

Trabalhadores/as urbanos/as 03 03 03 03

Total 20 22 24 24

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 04 - Número de cadeiras por segmento da categoria Entidades de Apoio às Políticas de Juventude do Conselho Nacional de Juventude

Segmentos

Número de cadeiras por biênio eleitoral

2008-2009 2010-2011 2012-2013 2014-2015

Comunidades Rurais, Povos e Comunidades Tradicionais

(É alterada para povos e comunidades tradicionais nas eleições para a gestão de 2010-2011)

01 01 01 Cadeira extinta

Cultura 01 01 01 01

Direitos Humanos 01 Cadeira extinta

Cadeira extinta

Cadeira extinta

Educação 01 01 01 01

Esporte e Lazer 01 01 01 01

Gênero e Direitos Sexuais e Reprodutivos

01 Cadeira extinta

Cadeira extinta

Cadeira extinta

Instituições de Pesquisa 01 01 01 Cadeira extinta

Jovens com Deficiência 01 01 01 01

Meio Ambiente 01 Cadeira extinta

Cadeira extinta

Cadeira extinta

Orientação Sexual 01 Cadeira extinta

Cadeira extinta

Cadeira extinta

Participação juvenil 01 01 01

Raça/Etnia 01 01 01 01

Religião de matriz africana 01 Cadeira extinta

Cadeira extinta

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45

Saúde

(É alterada para Saúde, Gênero e Direitos Sexuais e Reprodutivos nas eleições para a gestão de 2010-2011)

01 01 01 01

Segurança Pública

(É alterada para Segurança Pública e Direitos Humanos nas eleições para a gestão de 2010-2011)

01 01 01 01

Tecnologia da Informação/ Comunicação

(É alterada para Mídia, Comunicação e Tecnologia da Informação nas eleições para a gestão de 2010-2011)

01 01 01 01

Trabalho e Renda 01 01 01 01

Total 15 13 12 10

Fonte: Elaboração própria.

De uma maneira geral, a inclusão ou exclusão de cadeiras acontece a partir de uma

avaliação, a cada processo eleitoral, da demanda para cada uma delas na eleição

anterior (é o caso, por exemplo, da cadeira Hip-hop, dos Movimentos e

Organizações Juvenis, que foi reduzida), mas este não é o fator primordial, nem

exclusivo. Para melhor compreender a dinâmica de alteração das cadeiras, é

necessário analisar as alterações que ocorrem dentro de cada categoria

individualmente e também as movimentações de cadeiras que acontecem entre

elas.

Na primeira situação, observando as tabelas acima, percebe-se que é registrado um

volume de alteração de cadeiras maior na categoria das Entidades de Apoio do que

na dos Movimentos, Organizações e Associações Juvenis. Isso por conta de uma

necessidade de reacomodação em função da redução do número de cadeiras

registrada nessa categoria a cada processo eleitoral. Em consequência, algumas

cadeiras foram aglutinadas (é o caso, por exemplo, das cadeiras Direitos Humanos e

Segurança Pública; e Saúde e Gênero e Direitos Sexuais e Reprodutivos). Em

alguns casos, essa fusão de cadeiras provocou um acirramento da disputa pelo

aumento do número de organizações inscritas para a mesma vaga.

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No que tange a categoria dos Movimentos, a exceção da cadeira dos Jovens

Empresários cuja extinção foi gerada a partir de um debate mais conceitual em torno

da necessidade de uma vaga para esse segmento29, as alterações que ocorreram

estão relacionadas com a circulação de cadeiras entre categorias.

Em relação às trocas de cadeiras que aconteceram entre as categorias, as tabelas

acima ilustram três exemplos com as cadeiras de Juventude de Religião de Matriz

Africana, a de Povos e Comunidades Tradicionais e a de Esporte. O debate em

torno dessas mudanças foi pautado, entre outros pontos, por uma reflexão a cerca

da legitimidade de representação nos campos onde esses temas se inserem

(sobretudo os dois primeiros). Seriam dos próprios sujeitos organizados ou de

entidades que a eles dão suporte?

3.3.2 Habilitação e o papel fundamental da Comissão Eleitoral

Encerrado o período30 das inscrições, a Comissão Eleitoral analisa todos os

documentos recebidos de acordo com os critérios previstos no edital, habilitando ou

não as organizações a participarem da Assembleia Eleitoral. A Tabela 05, abaixo,

apresenta uma síntese de todos os critérios previstos nos editais de todos os

processos eleitorais. Os critérios explicitados na tabela estão presentes em todos os

editais, com pequenas diferenças que também estão nela destacadas.

Tabela 05 - Critérios para habilitação e participação na Assembleia Eleitoral do Conselho

Nacional de Juventude

Categoria Critério

Movimentos, associações ou organizações da

juventude de atuação nacional

I. Pelo menos dois anos de funcionamento;

II. Representação em no mínimo sete estados e três macrorregiões (A partir de 2012, há uma flexibilização desse item para a habilitação de entidades que representam os segmentos da juventude indígena ou de religião de matriz africana, que ficam dispensadas dessa exigência. Em 2014, o Edital reduz para cinco, o número de estados para todas as organizações que se inscrevem nesta categoria);

III. Atuação na mobilização, organização, na promoção, na defesa ou na garantia dos direitos com reconhecimento na área

29

As organizações que ocupavam essa cadeira passaram a disputar as vagas de Trabalhadores Urbanos no ano em que a sua cadeira específica foi extinta. 30

O tempo de duração das inscrições vai depender de como a Comissão Eleitoral analisa o volume de inscrições efetuadas. Se houver poucas inscrições, a Comissão pode prorrogar o período. Sendo ele muito extenso, ela pode alterar todo o calendário eleitoral. Tudo o que for reencaminhado é sempre publicado em Diário Oficial.

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e na temática de juventude.

IV. Não é permitida a inscrição de suas associadas, filiadas e componentes;

V. Limite de idade do representante indicado para participar da Assembleia de eleição e para assumir eventual cadeira no Conselho, sendo admitidos apenas jovens entre 15 e 29 anos preferencialmente, ou até 35 anos.

Fóruns e redes da Juventude

I. Pelo menos dois anos de funcionamento;

II. Atuação na mobilização, organização, na promoção, na defesa ou na garantia dos direitos com reconhecimento do impacto/influência nacional na área e na temática de juventude;

III. Limite de idade do representante indicado para participar da Assembleia de eleição e para assumir eventual cadeira no Conselho, sendo admitidos apenas jovens entre 15 e 29 anos preferencialmente, ou até 35 anos.

Movimentos, associações ou organizações da

juventude de atuação local

I. Pelo menos dois anos de funcionamento;

II. Atuação na mobilização, organização, na promoção ou na defesa ou na garantia dos direitos com reconhecimento na área e na temática de juventude.

III. Limite de idade do representante indicado para participar da Assembleia de eleição e para assumir eventual cadeira no Conselho, sendo admitidos apenas jovens entre 15 e 29 anos preferencialmente, ou até 35 anos.

A partir de 2012, essa categoria é extinta.

Entidades de apoio às políticas públicas de

juventude.

I. Pelo menos dois anos de funcionamento;

II. Atuação no atendimento e ou na promoção e ou na defesa e ou na garantia dos direitos e ou no estudo e na pesquisa da juventude com reconhecido impacto/influência nacional;

III. As Instituições Pesquisa devem comprovar ainda: Publicações na área de políticas públicas de juventude; Indicação formal, firmada pelo responsável legal da Instituição de Ensino Superior ou da Instituição de Pesquisa, na forma do seu Estatuto, do representante que participará da Assembleia de Eleição do CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE, citando nome e qualificação. (Com a extinção da cadeira de Instituição de pesquisa, este critério cai em 2014)

III. A inscrição de Entidades de Apoio às Políticas Públicas de caráter geral, nacional ou federativo, não permite a inscrição de suas associadas, filiadas e componentes. (Critério inserido em 2014).

Fonte: Elaboração própria.

Uma conclusão importante, decorrente da leitura atenta da tabela, é que os critérios

se mantiveram praticamente os mesmos, com uma ou outra alteração no sentido de

flexibilizar o acesso (no caso das alterações realizadas na categoria Movimentos,

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associações, organizações juvenis nacionais), ou para torná-lo mais rígido, como foi

a modificação realizada na categoria Entidades de apoio.

Após a avaliação da Comissão Eleitoral, uma primeira lista com as entidades

habilitadas e as não-habilitadas é divulgada com um tempo previsto para que elas

possam apresentar um recurso, caso seja necessário algum questionamento ou a

resposta a alguma pergunta colocada pela Comissão Eleitoral. É comum, nesse

primeiro momento, que a lista das não-habilitadas saia um pouco maior, pois muitas

organizações não conseguem entregar toda a documentação ou, às vezes, as

informações enviadas não são suficientes para a apreciação dos critérios.

Dentro da análise dos critérios, é permitida ainda à Comissão Eleitoral a

reclassificação da organização em relação à categoria e a cadeira indicada desde

que haja a concordância da entidade. Se não houver, o período de recurso é

destinado a isso também e avaliados novamente pela Comissão, que publica no

Diário Oficial uma lista final das organizações que estão habilitadas a participar da

Assembleia de Eleição.

O percentual de entidades que não se habilitam, mesmo após o período de recurso,

situa-se entre 18% e 21% em relação as que se inscrevem. Apenas no último

processo eleitoral esse número subiu para 46%. Isso pode se explicar por um

volume maior de inscrições que ocorreu nesse período31, mas também pode ser

devido a uma atuação diferenciada da Comissão Eleitoral que coordenou o processo

nesse ano.

É importante não perder de vista a dimensão subjetiva da avaliação de cada critério,

já que os integrantes da Comissão Eleitoral também são atores mergulhados no

contexto das disputas, ainda que institucionalmente não haja um comprometimento

por parte da organização a qual cada membro da Comissão se vincula. Um indício

de parcialidade da Comissão são os casos em que uma mesma organização,

submetida aos mesmos critérios em diferentes edições eleitorais, consegue, numa

delas, ser habilitada, e em outra, não32. Ora, se as regras são as mesmas, é

esperado que o mesmo resultado se repita, independente de quem as julga. Na

31

Em relação ao processo eleitoral anterior, houve um aumento de 25% no número de inscrições. 32

O percentual de organizações nesta situação girou em torno de 15% em todos os processos eleitorais. À exceção apenas da terceira edição das eleições, onde 22% das instituições não habilitadas já havia sido habilitada em outra edição.

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prática, nem sempre é o que acontece e um primeiro filtro se processa dos atores

que irão para a Assembleia Eleitoral.

3.3.3 Assembleia eleitoral

Após a publicação da lista das organizações habilitadas, sucedem-se contatos entre

as organizações para apresentação das suas candidaturas, mas também para a

construção de blocos de votação de forma a aumentar as possibilidades de eleição.

Essas negociações continuam e se estendem durante toda a Assembleia.

A Assembleia obedece a regras específicas que são divulgadas com antecedência.

Ela é instalada após o credenciamento de pelo menos 50% das entidades que foram

habilitadas. Cada organização pode participar com apenas um representante, que é

indicado desde o ato da inscrição no processo eleitoral.

Uma vez instalada a Assembleia pelo seu Presidente, realiza-se uma chamada

nominal de todas as organizações presentes, indicando o local onde a votação se

processará. Após a instalação, as organizações ainda dispõem de um período para

que conversem, apresentem suas candidaturas e construam suas alianças. Em boa

medida, uma parte do processo eleitoral já é resolvido nesse momento, quando as

organizações definem seus votos e se articulam, reduzindo o impacto da disputa

durante a votação.

Cada categoria participa de votações separadamente, que acontecem

simultaneamente e separadamente. Dessa forma, as Entidades de Apoio, por

exemplo, votam apenas dentro da sua própria categoria e assim por diante. A

votação corre, primeiro, em torno dos titulares e depois dos suplentes e tudo é

registrado e coordenado pelos membros da Comissão Eleitoral.

As cadeiras que não são preenchidas por falta de inscrições têm suas vagas

redistribuídas de acordo com parâmetros definidos no Edital e submetidas também à

votação durante a Assembleia. Ou seja, caso nenhuma organização se apresente

para a cadeira de jovens negros, por exemplo, as duas vagas (titular e suplente)

serão disponibilizadas para que mais duas organizações que se inscreveram para a

cadeira de juventude partidária e não puderam se inserir no Conselho sejam

contempladas.

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Após a conclusão da votação, as organizações que dividem uma mesma cadeira

negociam a possibilidade de um rodízio entre a titularidade e a suplência. O rodízio

permite que as organizações alternem os dois papéis para que ambas tenham a

possibilidade de ocupar a titularidade da cadeira. Esse dispositivo não está previsto

no Regimento Interno, nem em nenhuma outra regulamentação do Conselho. Ele foi

sendo construído ao longo dos processos eleitorais e, no último, já aparece

formalmente na resolução da Comissão que orienta a realização da Assembleia. O

mesmo não acontece com as cadeiras “cheias”, onde uma única organização ocupa

a titularidade e a suplência, indicando dois representantes para preenchê-la.

Ser titular significa ter direito ao voto e, para algumas organizações que não estão

situadas em Brasília (local onde acontecem as reuniões ordinárias e boa parte das

extraordinárias), ou que tem pouca condição financeira de custear uma viagem,

também representa poder estar presente numa reunião, pois apenas os titulares têm

seus custos cobertos para a participação nas reuniões do Plenário. A escolha pela

titularidade também é feita em função de um desejo de assumir a Presidência ou

Vice-presidência do Conselho, já que suplentes não podem ocupar esses cargos.

Entretanto, os suplentes podem ser coordenadores de comissões e isso lhes inclui

na Mesa Diretora Ampliada, o que permite com que a sua participação nas reuniões

ordinárias e extraordinárias, tenham seus custos cobertos.

3.3.4 Resultados das eleições e impactos posteriores

Ao todo, 325 entidades já se inscreveram para participar das eleições do Conjuve.

Destas, 124 foram eleitas. A Tabela 06, abaixo, traz mais alguns dados quantitativos

desses resultados por gestão.

Tabela 06 – Classificação das entidades no processo eleitoral do Conselho Nacional de

Juventude

Classificação

Gestão

2008-2009 2010-2011 2012-2013 2014-2015

número percentual número percentual número percentual número percentual

Inscritas 104 100% 126 100% 128 100% 160 100%

Habilitadas 85 82% 99 79% 105 82% 87 54%

Não habilitadas 19 18% 27 21% 23 18% 73 46%

Eleitas 55 53% 64 51% 65 51% 58 36%

Fonte: Elaboração própria.

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O número de inscrições permanece razoavelmente estável em todos os biênios,

ficando um pouco menor no início e crescendo 25% na última eleição realizada. Por

conta do aumento do número de inscrições, o percentual de entidades eleitas,

naquele ano, também cai, o que pode significar apenas o aumento da disputa.

Entretanto, é importante demarcar, que, não necessariamente uma entidade se

inscreve com o objetivo de se eleger efetivamente. Algumas delas são mobilizadas

para votar por entidades que têm este foco e outras têm como motivação somente a

participação e contribuição no processo eleitoral.

Dos números acima, também chama a atenção o alto índice de organizações que

não foram habilitadas na última eleição, o que mereceria uma análise mais apurada

tanto do ponto de vista da dinâmica de funcionamento da Comissão Eleitoral, como

em relação ao perfil das entidades que não conseguiram seguir o percurso eleitoral.

O que é importante perceber em cada etapa do processo de eleição é que tudo está

conectado com os espaços de poder que se deseja ocupar e o nível de incidência

que se almeja ter no Conselho. Essas escolhas não são feitas por cada organização

individualmente, ainda que se assuma que seja necessário que ela num

determinado momento precise estabelecer uma posição. Cada definição é

construída coletivamente e impacta não somente na configuração final do Plenário,

mas também no funcionamento de todas as instâncias do Conselho.

O primeiro resultado da eleição da sociedade civil do Plenário é refletido na

composição da Mesa Diretora, formada pelo Presidente, Vice-presidente e

Secretário Executivo, que ocorre em um momento posterior à Assembleia, após a

indicação dos membros do Conselho pelas suas entidades. Tanto a resolução que

cria o Conselho Nacional de Juventude, quanto seu regimento interno, fornecem

poucas orientações sobre esse processo, que ainda carece de regulamentação.

Dos três cargos previstos, dois são ocupados pelo governo: a Secretaria Executiva e

a Presidência ou a Vice, em alternância com a sociedade civil. Ou seja, no ano em

que a sociedade civil assume a Presidência, a Vice é de responsabilidade do

governo. A representação da sociedade civil é a única que é submetida ao processo

eleitoral, onde apenas os membros titulares se envolvem como candidatos ou como

eleitores. Não há regulamentação desse processo eleitoral, que costuma ser

disparado logo após a Assembleia de Eleição do Plenário, com o anúncio das

candidaturas a partir de carta de apresentação e propostas para a gestão. A votação

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ocorre na reunião ordinária que antecede a Posse do novo Plenário, mas as

articulações costumam acontecer bem antes disso. Como no primeiro ano da

gestão, a sociedade civil sempre ocupa a Vice-presidência, o processo tende a ser

um pouco menos disputado, o que não se repete no segundo ano.

Com relação às comissões, como não há limite para a sua composição, há uma livre

escolha por parte dos membros do Conselho sobre qual se deseja participar, o que

acontece geralmente na primeira reunião ordinária. Cada comissão possui dois

coordenadores, que são escolhidos na mesma reunião entre os integrantes de cada

comissão. Essa definição pode se dar por acordo, consenso ou votação,

dependendo do contexto da disputa. Em algumas circunstâncias de muito embate, já

foi necessário propor o rodízio entre quatro organizações na coordenação da

comissão. O interesse pela coordenação da comissão, além de ser motivado pela

participação na mesa diretora ampliada, também é provocado em contextos

específicos. Em ano de realização de Encontro de Conselhos de Juventude, por

exemplo, a Comissão de Articulação e Diálogos com a Sociedade, que é

organizadora do evento, tende a ser mais procurada. Os grupos de trabalho seguem

igualmente a mesma dinâmica, com a diferença apenas de não ser motivada pela

ocupação da mesa diretora ampliada.

Todo esse percurso eleitoral aqui descrito deveria se constituir no ponto de partida

para a chegada de novas organizações, grupos e, consequentemente, formas de

atuação, pois não há, aparentemente, questões no desenho que apontassem para

algo diferente. Contudo esse modelo é transversalmente afetado por práticas que

acabam por fechar o Conselho em si mesmo, ou melhor dizendo, em torno de

grupos, que, se por um lado, carregam a história do Conjuve, por outro, o torna

pouco permeável a novas construções e experiências.

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4 LÓGICA DE FORMAÇÃO DE GRUPOS DE ATORES

Para compreender a dinâmica das articulações e agrupamentos que acontecem nos

conselhos e outras arenas públicas, este capítulo irá percorrer a experiência do

Conselho Nacional de Juventude, buscando identificar o percurso de chegada dos

atores e os valores construídos nesse momento, assim como os desafios que se

colocaram para o funcionamento do Conselho. O capítulo traz ainda os resultados e

a análise da aplicação do instrumento com os conselheiros nacionais de juventude,

evidenciando suas percepções acerca dos agrupamentos de atores, concluindo com

uma reflexão sobre em que medida essa prática altera a atuação do Conjuve.

A literatura especializada em políticas públicas não vem dedicando suficiente

importância aos processos de formação de grupos entre atores que pertencem a

uma mesma instituição. Há, porém, quatro importantes fontes de produção de

conhecimento sobre a ação dos atores. Em primeiro lugar, uma literatura que

privilegia a assunção dos atores separadamente, seja ele visto como indivíduo, seja

como instituição; em segundo lugar, uma outra parte que foca as redes de atores

(policy network), ora privilegiando estudos sobre o papel das redes, ora sobre a

configuração destas; e uma terceira parte sobre tipificações de atores agrupados em

instituições ou “quase-instituições”, mas que são vistos como uma coletividade

representativa de interesses (movimentos sociais, mass media, opinião pública,

grupos de pressão, grupos de interesse etc.). Uma quarta possibilidade de estudos

pode ser atribuída aos estudos organizacionais sobre atores em ação em

organizações, sobretudo no que concerne à aprendizagem, liderança ou gestão de

pessoas.

Neste trabalho, buscou-se construir um caminho próprio para o estudo dos

agrupamentos de atores, entendendo que nenhum destes caminhos produziria um

conjunto razoável de explicações que pudesse funcionar como base para esforços

de análise de tipo dedutivo. Com isto, optou-se pelo caminho da indução, mesmo

tendo feito uso, em alguns momentos, de pequenas estruturas de análise de teorias

de rede de atores, particularmente no que concerne ao papel que os pequenos

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grupos, que podem ser interpretados como pequenas redes, exercem no contexto

político institucional do Conjuve.

Com isto, o Conjuve, que sempre foi visto como um ator dentro de uma rede,

exercendo diferentes papéis de acordo com a teoria interpretativa do analista, passa

agora a ser visto como um contexto institucional no qual diferentes redes de atores

se articulam e se constroem mutuamente. Neste sentido, vale a pena recordar Bruno

Latour (2011), que insiste em chamar o ator de ator-rede justamente para reforçar

que a existência do ator, e sobretudo a sua ação, se dá somente em rede e,

portanto, em função da sua interação com esta mesma rede. É também por esse

motivo que tal autor prefere utilizar o verbo “performar” invés de “atuar” para

designar a ação do ator.

A leitura apresentada, portanto, é de tipo indutivo, com algum aporte teórico de

estudos de rede de atores de políticas públicas, mas voltada para a individuação de

grupos de atores em uma reunião de atores que constitui o conjunto finito de atores

pertencentes a cada gestão, com o objetivo de problematizar a ação (performances,

se pegarmos Latour) de tais atores a partir de suas próprias percepções sobre a

ação dos demais atores. Esta hipótese de que os atores agem segundo

modelizações de agrupamentos de atores que eles mesmos fazem surgiu a partir da

experiência desta autora no referido conselho, além de estudos de Farias, Peres,

entre outros.

4.1 Atores e grupos do Conselho Nacional de Juventude: origens,

valores compartilhados e desafios

O conjunto de representações que pode ser observado hoje no Conselho Nacional

de Juventude teve sua construção iniciada, antes mesmo da sua criação,

remontando aos primeiros movimentos de discussão e articulação em torno das

políticas públicas de juventude. Atores e grupos que vivenciaram esta experiência

também foram desenvolvendo ou consolidando suas identidades, seus valores e

interesses. Neste processo, uma arena política foi sendo formada simultaneamente

a uma agenda política, ou seja, com um conjunto mais ou menos determinado de

temáticas, problemas e alternativas de solução, ao mesmo tempo em que uma

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arena institucional33 se definia. Como resultado, não só é possível encontrar fortes

aproximações entre as arenas política e institucional em seus momentos de

formação, como também entre as agendas política e institucional, numa relação que

provavelmente diferencia este setor de políticas públicas dos demais.

Uma evidência dessa aproximação é documentada pelo próprio Conselho Nacional

de Juventude no livro Natureza, Composição e Funcionamento, publicado durante a

primeira gestão. Um debate nele registrado retoma e analisa a origem da

composição do Conjuve, afirmando que boa parte dos atores presentes no Conselho

já estava na órbita do debate em torno da construção da agenda das políticas de

juventude que antecedeu a criação dessa arena institucional. Nesse contexto, a

inclusão desses atores entre os membros da primeira gestão do Conselho, parece

uma consequência natural do processo, considerando que a estruturação desse

espaço também fazia parte de uma agenda política de muitos deles.

Helena Abramo, uma das especialistas participantes do debate que gerou a

publicação, cita alguns atores que, na sua opinião, estariam na base da formação do

Conselho. O primeiro deles seria os grupos e movimentos (culturais, comunitários,

identitários), a maioria, vindos de setores populares, como os grupos de hip-hop. O

segundo seria os atores juvenis mais institucionalizados, com uma prática política

mais incorporada, assim como as entidades estudantis e as juventudes partidárias.

O terceiro seria as organizações juvenis com suporte institucional, como as pastorais

da juventude e entidades sindicais. E, por último, as ONGs e as fundações

empresariais que desenvolvem programas destinados aos jovens. Cada um deles

teria um foco e uma agenda específica para qual estavam se dispondo a pautar

(idem). É relevante notar que, ao inaugurar as eleições como método de

composição, o Conselho incorpora esses perfis no desenho das categorias,

provavelmente, porque esses atores permaneceram presentes e atuantes.

Farias (2013), em seu estudo sobre o Conselho Nacional de Juventude, entrevista

alguns de seus membros a respeito da sua participação neste espaço e de como o

percebem. A fala dos conselheiros reconhece o Conjuve como um espaço

democrático, plural e representativo, valores foram colocados como princípios desde

33

Por arena política, compreende-se o espaço sociopolítico de articulação dos atores (LASCOUMES, LE GALÈS, 2012); enquanto que por arena institucional compreende-se um espaço da mesma natureza, porém, delimitado pelas paredes institucionais do Conselho.

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a sua criação. O Conselho, no documento já citado, também apresenta relatos de

afirmação da diversidade da composição do Conselho desde a sua base. Isso

parece se confirmar quando se verifica a multiplicidade de categorias e cadeiras que

compõem o Conjuve. Também se percebe quando, segundo Farias (2013), os

conselheiros se declaram como integrantes de determinado grupo ou movimento.

Farias explica que, ao se referirem ao segmento de origem, significa que o

conselheiro se mantém vinculado à sua base.

Por outro lado, Abramo ressalta que a diversidade dos atores catalizada na

construção do Conjuve dificultou inicialmente a estruturação de uma plataforma

comum que ainda não estava colocada na agenda pública e por isso não foi

incorporada desde o início da trajetória do Conselho (CONSELHO NACIONAL DE

JUVENTUDE, 2007).

Farias (2013) justifica, explicando que essa diversidade de projetos e focos pode ser

por vezes conflitiva e gerar disputa, mas não necessariamente se configura como

algo negativo e, sim, como algo saudável para atuação do Conjuve, como afirmam

os depoimentos de alguns conselheiros.

A autora identifica, contudo, que poucas vezes estas diferenças de fato se

colocaram presentes. Esta falta de divergências é sinalizada, em algumas

entrevistas, como um elemento que fragilizaria o processo democrático (FARIAS,

2013). Abramo igualmente registra a existência de pouco confronto entre os atores,

que poucas vezes se colocam em posições diferentes, que se desdobrem em

disputas ou polêmicas explícitas. Essa percepção não é unânime, pois alguns

conselheiros, de acordo com o relato de Abramo, trazem que o confronto aparece e

que ele é responsável pela qualidade do que é formulado ou produzido no Conjuve.

Há um questionamento se, até que ponto, esta diversidade também não carrega

assimetrias de poder e hierarquia. Farias (2013) fala a respeito de um centramento

político-partidário, que é apontado por alguns conselheiros entrevistados. Os

discursos relatam uma falta de independência da sociedade civil, denunciando uma

possível apropriação indireta de cadeiras com organizações que não representam

interesses da sociedade civil, mas sim do próprio governo. A autora conclui que a

representação dos partidos é um desafio na composição do Conselho, pois percebe,

a partir da opinião dos conselheiros, que muitas vezes há uma sobreposição das

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pautas dos partidos em relação ao que são as demandas da juventude (FARIAS,

2013).

Esse tema abre uma discussão sobre a dinâmica de composição e funcionamento

do Conselho Nacional de Juventude, especialmente no que diz respeito aos seus

processos de decisão e sobre como define a sua agenda. Em que medida os valores

construídos como base da sua criação permanecem nessas práticas? Até que ponto

as mudanças na composição do Conjuve ao longo das suas gestões alteraram a

forma como o Conselho atua hoje? São questões que se colocam para a reflexão.

4.2 Permanência e movimentos dos atores no Conselho Nacional

de Juventude

O Conjuve possui 60 cadeiras (20 governamentais e 40 da sociedade civil) e este

número se manteve inalterado deste a sua criação, em todas as cinco gestões já

vivenciadas até o momento, incluindo a atual34. Desde a sua instituição, 149

organizações da sociedade civil já passaram ou estão no Conselho Nacional de

Juventude.A Tabela 07 mostra que pouco mais da metade dessas organizações

permaneceram por uma única gestão, sendo que 29% destas na primeira gestão,

cuja composição se deu por indicação do Estado. Destas, 32% estão inaugurando

sua entrada neste atual biênio (2014-2015).

Tabela 07 – Tempo de permanência no Conselho Nacional de Juventude

Tempo de permanência Número de organizações Percentual

Uma gestão 78 52%

Duas gestões 29 19%

Três gestões 19 13%

Quatro gestões 15 10%

Cinco gestões 08 5%

Fonte: Elaboração própria.

34

A análise da permanência e movimentação dos atores aqui realizada optou por focar na trajetória das organizações e não na de seus representantes. A decisão se deu por conta da instabilidade das representações. Quer dizer, uma mesma organização pode indicar diferentes representantes durante uma mesma gestão. Por outro lado, o mesmo membro pode integrar o Conselho, representando organizações distintas.

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58

A análise da tabela 07 demonstra que a taxa de permanência vai caindo

gradualmente: 19%, ou seja, 29 organizações estiveram integradas por duas

gestões; 13% (19) por três gestões; 10% (15) por quatro gestões; e 5% (8) por todas

as cinco gestões. Nessa situação se inclui a Associação Nacional de Pós-

Graduandos (ANPG), a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura

(Contag), a Escola de Gente - Comunicação em Inclusão, a Nação Hip-hop Brasil, a

Pastoral da Juventude, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (UBES), a

União dos Escoteiros do Brasil e a União Nacional dos Estudantes (UNE). Se

observássemos essas organizações a partir dos grupos presentes no início do

Conjuve apresentados por Abramo, praticamente todas elas seriam reunidas entre

as organizações juvenis com suporte institucional, à exceção da Escola de Gente,

que estaria entre as entidades de apoio.

A longa permanência dessas entidades acaba por ajudar a produzir pelo menos dois

efeitos na sociabilidade política do Conselho: cria o valor “antiguidade” entre os

atores, pois alguns deles estão lá desde sempre, ou possuem mais experiência do

que outros; por outro lado, possibilita aprofundar as relações entre atores e a criação

de grupos.

4.3 Mapeando as percepções dos conselheiros sobre os grupos

A formação de grupos vem sendo percebida por diferentes estudos sobre o Conjuve

(FARIAS, 2013; PERES, COSTA; SILVA, 2008; FURIATI, 2010). Evidências da sua

existência vêm sendo apontadas por depoimentos de conselheiros coletados pelos

pesquisadores em campo, embora os estudos não tenham exatamente este foco.

Por grupos, compreendem-se as articulações mais estáveis entre atores para todas

ou quase todas as situações e demandas sociopolíticas; enquanto que

agrupamentos funcionais referem-se aos grupos efêmeros que são formados em

decorrência de respostas a demandas ou a situações específicas. Estas estratégias

de atuação por grupos ou agrupamentos se tornam mais visíveis nos momentos de

decisão, sobretudo em relação à escolha de representantes e nos processos

eleitorais, e, por isto, foram objeto de um instrumento de pesquisa de campo

conduzida no âmbito desta pesquisa de dissertação de mestrado profissional.

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59

Esse instrumento, que se encontra no Anexo 01, consiste em um tipo de entrevista

semiaberta cujo objetivo é construir o quadro perceptivo dos conselheiros a respeito

dos possíveis grupos e agrupamentos funcionais. A entrevista semiaberta, embora

focalizada, possui uma estrutura que permite um nível de interação com o

entrevistado, que possibilita que algumas alterações sejam realizadas nas perguntas

e que esclarecimentos sejam fornecidos a ele durante a aplicação do instrumento

(VERGARA, 2009).

O instrumento aplicado consiste em um formulário com uma lista de todas as

organizações membros da gestão que se encerrou em 2014 e um quadro em

branco, no qual o respondente deveria escrever os nomes das organizações (ou os

números correspondentes à ordem da lista), posicionando de acordo com a

proximidade e distância entre elas. Num segundo momento, o conselheiro deveria

circular os grupos que ele identifica no Conselho, formando conjuntos, e depois

grifando as organizações com as quais ele costuma se articular (vide exemplo

abaixo).

Ilustração 01 – Instrumento aplicado com um membro do Conselho Nacional de Juventude

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60

Foram distribuídos 20 formulários durante a última reunião ordinária do Conselho,

que aconteceu dentro do calendário eleitoral, então é possível que esse fator tenha

influenciado, em alguma medida, as respostas.

O instrumento foi apresentado a todos os conselheiros presentes e preenchido por

dez deles (quase metade dos presentes). Como o quórum desta reunião estava

reduzido, houve um limite maior no número de respostas. Não foi possível computar

o tempo necessário para o preenchimento, pois, como ele foi aplicado durante a

reunião, cada conselheiro foi encontrando o seu tempo para respondê-lo. Por esse

motivo, alguns conselheiros devolveram o formulário durante a reunião e outros ao

término do seu primeiro turno.

A aplicação do instrumento revelou de imediato a plena aceitação de suas duas

perguntas, contrariamente ao esperado. Não houve questionamentos sobre a

existência ou não dos grupos, o que já confirma que a cultura de formação de

grupos faz parte da dinâmica de funcionamento do Conselho.

Outro indício nesse sentido é que não houve manifestação de dificuldades para a

realização dos agrupamentos solicitada pelo instrumento, apenas alguns relatos

sobre o tempo necessário para incluir todas as organizações. Pelo contrário, o que

apareceu com certa frequência foi a pergunta se, com a aplicação do instrumento, a

pesquisadora estaria fazendo o “mapa” das eleições. O “mapa” é uma prática

comum nos processos eleitorais e consiste num exercício de visualização dos

grupos, listando quem está na disputa das vagas e quem são seus aliados (ou seja,

com quantos votos cada um conta).

O instrumento utilizado para mapeamento das percepções dos conselheiros sobre

os grupos não solicitava a sua denominação, o que traz algum limite na análise,

tanto no sentido da sua identificação, quando da sua classificação como uma

articulação mais estável ou não. No entanto, a análise pressupôs que os grupos

sinalizados pelos conselheiros, até pela sua frequência nos formulários, teriam um

caráter mais estável e seriam coletivos mais consolidados. Por esse motivo,

trataremos apenas dos grupos e não dos agrupamentos funcionais.

Assim sendo, os resultados serão apresentados reunidos em duas vertentes: 1)

Percepção das afinidades; 2) Lógicas de configuração dos grupos. A percepção das

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afinidades, apesar de ser a última etapa do preenchimento do instrumento, será

abordada primeiro, pois foi percebida como um elemento agregador dos grupos.

354.3.1 Percepção das afinidades

Uma vez delimitados os grupos pelo respondente, o instrumento solicitou que este

destacasse com quais organizações possuía afinidade, no sentido de uma atuação

conjunta. Três conselheiros não responderam a esta pergunta. A Tabela 08, abaixo,

apresenta o número de organizações sinalizadas por cada entrevistado.

Tabela 08 – Número de organizações com as quais os membros do Conselho Nacional de

Juventude possuem afinidade

Entrevistado Número de

organizações

Entrevistado 01 05

Entrevistado 02 08

Entrevistado 03 11

Entrevistado 04 12

Entrevistado 05 22

Entrevistado 06 23

Entrevistado 07 43

Fonte: Elaboração própria.

Com relação ao número de organizações com as quais os sete outros respondentes

possuem afinidade, não foi possível identificar um padrão. A quantidade vai desde

cinco organizações até 43. Esse último número chama a atenção. Considerando que

o formulário listava 66 organizações, deduz-se, neste caso, que o conselheiro

possuía afinidade com quase todo o conjunto de entidades da sociedade civil, o que

não parece ser um dado real.

A grande maioria dos que responderam concentrou as afinidades dentro de um

mesmo grupo e com poucas sinalizações fora dele. Esse padrão reforça a existência

dos grupos e a relação com a afinidade e aponta também para um sentimento de

pertencimento. Por outro lado, ao destacar algum nível de dispersão dessa

afinidade, os conselheiros também sinalizam pontos de interlocução para fora

desses grupos, o que remete a existência de possibilidades de diálogo e mediações

entre os grupos.

35

Todos os formulários preenchidos encontram-se no Anexo 02.

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62

4.3.2 Lógicas de configuração dos grupos

Alguns grupos foram bem frequentes nos diferentes formulários e provavelmente

representam os que estão mais consolidados. O número de grupos variou entre três

e doze. Em alguns casos, os conselheiros configuraram grupos, reunindo apenas

duas entidades. Provavelmente, este conjunto não representaria uma “força política”

dentro do Conselho, mas, em algum nível, demarca uma posição significativa a

ponto de ser reconhecida enquanto um grupo.

Quase metade dos formulários apresentou organizações que não foram agrupadas,

quer dizer, não integram nenhum grupo. Considerando que o instrumento foi

aplicado na última reunião de uma gestão de dois anos, esse dado chama a

atenção, pois traduz uma certa impermeabilidade dos grupos. Quer dizer,

independente do tempo de convivência e da articulação, algumas organizações

seguem de forma independente no Conselho e provavelmente devem ser acionadas

pelos grupos apenas nos momentos de decisão.

Por outro lado, uma mesma entidade apareceu agrupada em diferentes conjuntos.

Isso pode significar que existam distintas percepções dos conselheiros em relação

ao seu posicionamento, ou que ela de fato não estabeleça uma posição muito

explícita ou fixa.

Como o instrumento não indicava um critério para a formação dos grupos, nem

solicitava a explicitação do critério utilizado, os conselheiros tiveram liberdade para

realizá-lo, o que também justifica alguma diversidade desses grupos. Entretanto,

pela intensidade das coincidências, foi possível a identificação, pela pesquisadora,

de alguns critérios aplicados. As lógicas utilizadas foram classificadas em três tipos:

segmento de origem, tematizações e partidos políticos. Não foi realizada nenhuma

análise quantitativa em torno frequência com que essas lógicas aparecem nos

questionários. Mesmo porque, foram percebidos casos em que um mesmo

respondente utilizou lógicas distintas, o que geraria alguma distorção nos números.

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63

4.3.2.1 Lógica do segmento de origem

O segmento de origem se remete à cadeira (como juventude LGBT, jovens negros,

jovens feministas, jovens religiosos) e/ou categoria (fóruns e redes juvenis,

entidades de apoio) que a organização representa no Conselho. No caso da cadeira,

o grupo também coincide com o seu campo de militância.

Alguns grupos são facilmente perceptíveis nos formulários. Isso aconteceu

especialmente com os jovens religiosos, jovens negros e também com as entidades

de apoio.

4.3.2.2 Lógica das tematizações

Outra possibilidade de lógica identificada foi a partir de temas ou agendas de

atuação, como direitos humanos, comunicação, saúde, diversidade sexual, mundo

do trabalho e educação. Esses grupos, embora não se restrinjam a essa dimensão,

também guardam alguma proximidade de relação com as cadeiras ocupadas no

Conselho, sobretudo quando se observa a posição das entidades de apoio, cujas

cadeiras estão configuradas exatamente por temas.

Essa lógica de formação de grupo tem uma característica mais funcional e

transcendem as posições das cadeiras. Uma agenda como a questão da redução da

maioridade penal, por exemplo, pode ser bastante aglutinadora e mobilizar

especialmente organizações de jovens negros, as entidades de apoio de uma forma

geral (por conta do foco neste segmento etário) e o conjunto das representações

juvenis.

4.3.2.3 Lógica dos partidos políticos

A lógica de formação de grupos por partidos políticos está presente, em maior ou

menor grau, em praticamente todos os formulários e com frequência aparece com

blocos bem definidos. Apesar da gestão analisada possuir duas cadeiras de

juventude partidárias36, os grupos que foram estruturados transcendem as

36

Essas cadeiras são ocupadas pela Juventude do Partido dos Trabalhadores, pela Juventude do Partido do Movimento Democrático Brasileiro e pela Juventude Pátria Livre.

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organizações que ocupam essas cadeiras, tanto qualitativamente, quando

quantitativamente.

Diferente das lógicas dos segmentos e das tematizações, em que cada um deles

formou um grupo identitário e de afinidade único. Ou seja, não existem dois grupos

de juventude negra, nem dois grupos de organizações que atuem no campo da

comunicação. No caso da lógica partidária, as organizações partidárias foram

reunidas em blocos separados, na maioria das situações, sem interseções.

Esse dado chama atenção, pois, diferentemente das outras duas lógicas

apresentadas, nas quais a vinculação com o grupo é muito mais explícita, no caso

dos grupos de partidos, essa associação não é tão direta. Como associar que uma

organização de juventude feminista tenha uma veiculação com o partido A ou B, por

exemplo? O fato desses grupos aparecerem tão delineadamente nos formulários é

uma evidência da forte incidência que eles têm dentro do Conselho, a ponto de

serem facilmente reconhecidos.

4.4 Decorrências da prática de formação de grupos

Todas essas possibilidades de lógicas de agrupamento acima listadas não são

institucionalmente formalizadas, nem fixas, mas se constituem como grupos, de

acordo com o conceito aqui utilizado, que se configuram e reconfiguram a depender

do cenário. Em outras palavras, há uma circulação das organizações entre os

grupos não somente a cada mudança de composição do Conjuve, mas dentro de

uma mesma gestão.

Aqui não cabe um juízo de valor em relação a estas práticas, se elas são corretas ou

não, mas cabe levantar hipóteses sobre o que motiva essa formação de grupos, o

que acontece em decorrência disso e como isso influencia a atuação do Conselho.

Não há relatos de conselheiros nacionais em outros estudos sobre o Conjuve acerca

de algum incômodo sobre essa configuração, nem um estranhamento sobre a

existência dos grupos (isso também foi evidenciado pelo presente estudo), dada a

natureza do cenário onde eles ocorrem. Quer dizer, nas entrelinhas, está colocado

que é assim que se atua em espaços dessa natureza. No caso do Conjuve, há um

consenso de que são essas articulações que fazem com que as pautas sejam

aprofundadas e a atuação em torno delas seja fortalecida. Essa dinâmica é

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incorporada inclusive na realização das suas ações, sempre organizadas

coletivamente.

No caso das duas primeiras lógicas – dos grupos por segmentos e por tematizações

– é fácil perceber o quanto a afinidade provoca a aglutinação. Seja por uma tarefa,

por um debate, ações ou agendas próximas, essas organizações espontaneamente

acabam por se associar e atuar conjuntamente, de forma a criar mais condições

para que suas pautas avancem dentro do Conjuve. Nessas duas lógicas, há uma

influência maior do desenho institucional da composição do Conselho enquanto

provocador da formação desses grupos, já que convoca determinados segmentos e

temas através das suas cadeiras.

Os grupos estruturados pela lógica dos partidos tem uma forma de atuação bem

distinta dos demais e, por esse motivo, cabe uma reflexão à parte, começando pelos

fatores de motivação. Não há uma convocação a priori do desenho da composição

do Conjuve para que estes grupos se configurem, porque, como já foi dito, os grupos

identificados transcendem as cadeiras institucionalmente colocadas, que, inclusive

só são incluídas formalmente na terceira gestão do Conselho. Ora, se não foram os

editais de eleição do Conjuve o grande convocador desses atores, qual seria a sua

origem? O presente trabalho não se propôs a responder a essa pergunta, mas é

importante relembrar uma afirmação do Conselho, já mencionada aqui, de que boa

parte dos seus membros atuais remonta a uma trajetória de debate em torno das

políticas públicas anterior à sua criação. Tendo em vista que a reivindicação pela

estruturação do Conselho toma corpo dentro de duas outras arenas político-

institucionais (o parlamento e o governo federal) e que estes são territórios

eminentemente partidários, é possível entender porque tantas organizações com

esse tipo de vinculação tenham sido incorporadas ao Conselho. Contudo, essa a

identificação inicial com o Conselho não é suficiente para explicar a permanência

desses atores, sendo necessário um estudo mais aprofundado sobre este tema.

Para dar início a tal discussão, ocorre compreender que, no dia-a-dia do Conselho,

os grupos partidários não se sobressaem. Isso acontece, geralmente, quando há

uma agenda mais mobilizadora, que tem a ver mais fortemente com a disputa por

um espaço de decisão ou representação, ou quando há uma pauta que gere algum

tipo de conflito de interesse. Um exemplo dessa situação aconteceu durante a

incidência pela aprovação do Estatuto Nacional de Juventude, no qual o tema do

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direito à meia-entrada em eventos culturais gerou um tensionamento dentro do

Conselho. Havia inicialmente duas opiniões em disputa sobre quem deveria ter

acesso a esse direito (se seria restrito aos jovens estudantes ou se seriam incluídos

os jovens de baixa renda) e sobre como este direito seria assegurado (por meio de

uma carteira emitida por entidades estudantis ou através de um documento de

identificação e/ou comprovação de renda). A divergência permaneceu ao longo de

toda a tramitação do Estatuto no Senado, resolvida apenas com a votação final.

Esse exemplo remete a um ponto que talvez seja o que cause mais o incômodo

identificado nos relatos dos conselheiros, que são os conflitos existentes entre as

agendas partidárias e as dos movimentos sociais. Sabe-se que os partidos possuem

agendas próprias, construídas no âmbito dos seus fóruns internos, e que também

são permeáveis às pautas dos movimentos, principalmente quando se fala dos

partidos de esquerda. No entanto, uma agenda não se confunde com a outra. O

problema que aparece nos depoimentos dos conselheiros se coloca quando há

sobreposição de uma agenda sobre a outra, o que, via de regra, acontece

beneficiando os grupos partidários.

Com ônus e bônus, o fato é que a atuação do Conselho Nacional de Juventude tem

sua trajetória marcada pela existência de grupos. Alguns mais duradouros e estáveis

do que outros, com maior ou menor força política, com maior ou menor poder de

aglutinação, mas todos incorporados nas práticas do Conjuve e na sua forma de

atuar. São eles os responsáveis pelo amadurecimento do debate e do que é

formulado como contribuição para a política nacional de juventude, mas também

pela cristalização de determinadas formas de atuar.

No caso dos grupos partidários, cabe uma reflexão final mais especifica. Por um

lado, a vinculação com os partidos tem sido um facilitador na abertura de espaços

de incidência do Conjuve, tanto no âmbito do Executivo quanto do Legislativo. São

as juventudes de partido que melhor entendem a “linguagem” desses atores políticos

e que conseguem algum eco para as vozes e pautas dos conselheiros.

Em outra via, é necessário colocar que os partidos também trazem para dentro do

Conselho uma herança de um modelo de prática política pautado na representação

e em formas mais tradicionais de fazer política, que não necessariamente dialoga,

por exemplo, com novas experiências que vêm com as juventudes que não possuem

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um vínculo institucional forte e que detém uma forma mais autônoma de atuação e

organização.

Um outro tema para pensar seria em que medida a ação dos partidos não estaria

sufocando um papel fundamental do Conselho relacionado ao monitoramento das

políticas de juventude. Considerando que, formalmente ou informalmente, governo e

partidos políticos estão presentes no Conselho, é importante refletir se essa atuação

não acabaria por reprimir agendas que entram em conflito com os seus próprios

interesses. Se isso for verdadeiro, esse sufocamento tenderia a eliminar uma função

precípua dos conselhos de uma forma geral, que é a de exercer um papel de

controle público do que é realizado pelo Estado.

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5 CONCLUSÕES

A escolha do objeto desse estudo teve como ponto de partida a vivência da

pesquisadora como um ator dentro do Conselho Nacional de Juventude e em outras

arenas políticas. O tema da formação dos grupos políticos foi escolhido dentro das

questões que estavam colocadas neste percurso e dentro do que seria percebido

como um dos grandes desafios não somente na sua trajetória, mas também na de

outros atores em outros espaços de participação.

Se por um lado, acompanha-se um crescimento significativo no número de espaços

institucionais de participação, como conselhos, conferências, entre outros, por outro

há um questionamento constante das suas práticas e sobre os limites da sua

efetividade. De uma forma geral, eles ainda trazem práticas políticas muito

tradicionais, inspiradas nos mecanismos de representação e pouco permeáveis a

novas formas de participação, valores e à inclusão de segmentos que não sejam

institucionalizados.

O tema da formação dos grupos foi escolhido pela relevância nesse contexto. Essa

prática tem sido observada não apenas no Conselho Nacional de Juventude, mas

em outros conselhos e arenas políticas, a ponto de ser possível a afirmação de que

ela faça parte da nossa cultura política. Contudo, o assunto tem sido ainda pouco

explorado pela literatura, talvez por ser de difícil acesso. Falar da formação de

grupos é falar diretamente sobre forças políticas e as relações de poder. É também

falar da ocupação de espaços de participação por elites políticas, o que apenas

mantém o que já está posto e não gera inclusão dos segmentos que precisam ter

suas vozes escutadas. É explicitar aspectos informais que permeiam e influenciam

um funcionamento desses espaços.

Em função dessa delicadeza, foram pensadas estratégias que dessem conta do

objeto, mas que também favorecesse a livre expressão dos conselheiros. A proposta

foi, no passo inicial, reconstruir um quadro do desenho institucional do Conselho no

que se refere à sua composição, ou seja, o que deste traçado induz a formação dos

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grupos, buscando apontar, indiretamente, o que poderia ser aperfeiçoado. Essa não

foi uma tarefa fácil, tendo em vista que muito da trajetória do Conjuve não está

documentada. Num segundo momento, a ideia foi captar a percepção dos

conselheiros em tornos dos grupos. Aqui cabe um parêntese sobre a posição da

pesquisadora, que, por um lado, favoreceu a reconstrução do histórico do Conselho

e o registro de percursos que ainda não estão documentados pelo Conjuve. Além

disso, a sua trajetória com os atores, permitiu que eles abrissem um espaço para o

desenvolvimento desse estudo. Contudo, há se levar em conta que essa mesma

proximidade pode ter gerado também alguma reserva no preenchimento do

formulário.

É importante reconhecer que o foco desse estudo se revelou muito pretensioso em

relação às estratégias que foram utilizadas. Após a aplicação do formulário, por

exemplo, teria sido interessante o diálogo com alguns conselheiros no sentido de

explicitar alguns resultados e captar outras possibilidades de leitura dos dados

coletados.

Ainda com esses limites, o estudo revelou achados importantes. Primeiro, em

relação ao reconhecimento da existência dos grupos por parte dos conselheiros. O

assunto é foco de rodas de conversa nos “corredores” do Conselho, mas dificilmente

vem à tona nos momentos em que ele oficialmente está reunido. Talvez porque haja

algum tipo de constrangimento sobre essa forma de atuação. Então, nesse sentido,

um primeiro objetivo desse estudo, de dar visibilidade ao tema, foi cumprido. Cabe

aqui apontar um limite desse estudo em termos teóricos, já que não houve uma

exploração mais densa sobre o tema na literatura.

O olhar sobre o desenho da composição do Conselho e de seus processos

eleitorais, enquanto regra explícita, sugere a sua indução para a formação de

grupos, se considerada a associação das cadeiras ou categorias com a lógica de

agrupamento por segmentos sociais e temas. Entretanto, seria necessária uma

análise comparativa sobre a constelação de grupos ao longo das gestões do

Conselho para fazer essa afirmação com mais segurança.

No sentido de uma regra implícita, a naturalidade com que os conselheiros reagiram

ao instrumento e à tarefa de mapeamento de grupos por ele colocada, indica a

existência de uma cultura relacionada à grupalização, gerando práticas incorporadas

de se enxergar o Conselho por meio de seus grupos e de se atuar através deles. Se

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é verdade que essa forma de atuar é comum em outros conselhos e arenas

políticas, um tema para estudo posteriores seria a comparação desta constelação de

grupos políticos encontrados no Conselho Nacional de Juventude com a de outros

conselhos, mapeando suas origens, modos de funcionamento e implicações.

Um outro aspecto tocado por este trabalho e que merece aprofundamentos futuros é

a identificação (e classificação) dos grupos e as consequências desse modo de

atuação. O formulário aplicado deu pistas para a tipificação dos agrupamentos e o

reconhecimento de como os conselheiros observam os movimentos de articulação e

de exclusão. A reflexão sobre os desdobramentos no âmbito do Conselho foi

construída a partir da revisão dos documentos e bibliográfica, enriquecida com a

vivência da pesquisadora. Nesse contexto, o estudo desconstrói que os grupos

necessariamente sejam um mecanismo pernicioso dentro do Conjuve. Isso vai

depender muito de em qual contexto eles estejam acontecendo e com qual objetivo.

Quando estão a serviço de tarefas ou agendas específicas, são eles que qualificam

e fortalecem algumas pautas e dão mais consistência às ações do Conselho.

Quando o foco está mais restrito à disputa de espaço de poder, aí parece que é

gerado um incômodo, especialmente em relação aos grupos partidários. O presente

estudo apenas abre uma janela para uma questão que precisa ser mais explorada,

que é a presença dos partidos nos espaços de participação social. Nisso levanta

duas possibilidades de temas.

Nos parece óbvia a afirmação de Almeida e Tatagiba (2012) de que os atores

inseridos nos conselhos trazem, para a interlocução com o Estado, demandas das

instituições ou grupos que eles representam. Entretanto, essa associação não é

explícita e direta e entender qual a representação em questão se torna uma tarefa

complexa, pois os atores circulam e representam muitos papéis simultaneamente. O

que se entende hoje por sociedade civil reúne um emaranhado de organizações e

interesses (LUCHMANN, 2012), que se entrelaçam e sobrepõem, e que estão, no

caso do Conselho Nacional de Juventude, representados primordialmente pelas

cadeiras que ocupam, mas carregando muitas outras bandeiras nas entrelinhas da

sua atuação.

Quando esse ator tem um vínculo partidário, essa “identidade” fica ainda mais fluída

e mais difícil de ser diferenciada. Essa distinção é importante porque nos leva a um

segundo tema que precisa ser aprofundado. Se os partidos “extraoficialmente”

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ocupam os conselhos e, sobretudo, os seus espaços de decisão, e se as suas siglas

partidárias coincidem com as que estão na base do governo, há que se pensar até

que ponto não está acontecendo certo “aparelhamento” dos conselhos. Nesse caso,

o Conselho estaria sendo agendado pelos partidos e, consequentemente, pelo

Governo, o que fragiliza muito a sua atuação, principalmente no que se refere à sua

tarefa de monitorar as políticas públicas.

Daí emerge uma preocupação sobre a efetividade dos conselhos, reafirmada ou

questionada por alguns autores aqui nesse estudo. Avançam as pesquisas que têm

sido desenvolvidas no sentido de provocar a reflexão sobre o desenho do

instrumento conselho, enfoque também aqui defendido. No entanto parece

igualmente necessário um olhar mais aprofundado sobre como os atores se

comportam e organizam a sua atuação dentro desses espaços. Isso obviamente

guarda relação com o desenho, mas aponta ainda para outros focos de análise que

são importantes. Um primeiro seria a cultura política que está refletida nesse

contexto. É necessário entender o que da nossa trajetória participativa, numa

democracia relativamente recente, está sendo herdado como modelo de atuação e

quais resultados são produzidos no sentido do controle público que deve ser feito

por esses espaços.

Por fim, um aspecto ulterior que poderia ser relevante seria, considerando a

compreensão de que a formação dos grupos não é movida significativamente por

elementos do desenho formal do Conjuve, mas por mecanismos e regras implícitas,

fica a interrogação se haveria uma necessidade de se mediar o funcionamento dos

grupos através de regras explícitas e se isto representaria, de fato, uma

possibilidade de aprimoramento ao instrumento Conselho. Tal aspecto parece

funcionar como um bom ponto de partida para a construção de objeto consistente de

estudo para uma tese de doutoramento.

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ANEXO 01 INSTRUMENTO 01 - Questionário individual – Sociedade Civil – Gestão 2012-2014 - Data de aplicação:

Este instrumento compõe a pesquisa para elaboração da dissertação necessária à conclusão do Mestrado Multidisciplinar e Profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social, do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Gestão Social da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (EAUFBA), cursado pela aluna Rebeca Ribas. O formulário visa mapear a rede de afinidades e coalizões das entidades da sociedade civil que compõem o Conselho Nacional de Juventude. Sua contribuição será muito importante para este estudo. Caso deseje receber os resultados, informe aqui o seu e-mail: _______________________________________________________________ Agradecemos a sua participação!

Distribua no espaço abaixo as organizações da sociedade civil que compõem o Conjuve, colocando mais próximas, as organizações que você percebe que possuem afinidade ou articulação, e, mais distantes, as que não costumam se agrupar. Para facilitar, pode usar o número ou as siglas.

Depois de distribuí-las, circule agrupando as entidades que você identifica que costumam atuar juntas;

Por fim, grife as organizações com as quais a sua entidade costuma se articular no âmbito do conselho.

ORGANIZAÇÕES- SOCIEDADE CIVIL – CONJUVE – GESTÃO 2012-2014

1. ABGLT - ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

2. ACBANTU - ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO BANTU

3. ÁGERE - COOPERAÇÃO EM ADVOCACY

4. ALIANÇA BÍBLICA UNIVERSITÁRIA DO BRASIL 5. APOINME - ARTICULAÇÃO DOS POVOS E ORGANIZAÇÕES INDIGENAS DO

NE, MG, E ES

6. APV - ASSOCIAÇÃO DE POPULAÇÕES VULNERÁVEIS 7. ARTICULAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS - ABL 8. ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS – ANPG

9. ASSOCIAÇÃO RAÍZES DA TRADIÇÃO 10. CEDAPS - CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE 11. CEMJ - CENTRO DE ESTUDOS E MEMÓRIA DA JUVENTUDE

12. CENTRAL DOS MOVIMENTOS POPULARES – CMP 13. CENTRO DE CULTURA 8 DE MARÇO 14. CGTB - CENTRAL GERAL DOS TRABALHADORES DO BRASIL

15. CMB - CONFEDERAÇÃO DAS MULHERES DO BRASIL 16. COLETIVO NACIONAL DE JUVENTUDE ENEGRECER 17. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO - CBDU

18. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORES 19. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO - CNTE 20. CONGRESSO NACIONAL AFRO-BRASILEIRO

21. CONSELHO NACIONAL DA OAB 22. CONTAG - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA

AGRICULTURA

23. COORDENAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDIGENAS DA AMAZÔNIA BRASILEIRA

24. COORDENAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES NEGRAS – CONEN

25. CTB - CENTRAL DE TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL 26. CUCA DA UNE - INSTITUTO CIRCUITO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA 27. CUT - CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

28. ESCOLA DE GENTE - COMUNICAÇÃO EM INCLUSÃO 29. FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES CRISTÃS DE MOÇOS 30. FEDERAÇÃO DE ORGÃOS PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL EDUCACIONAL - FASE

31. FEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DO BRASIL

32. FORÇA SINDICAL

33. FÓRUM BRASILEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (FBOMS)

34. FÓRUM NACIONAL DE JUVENTUDE NEGRA – FONAJUNE 35. GELEDES INSTITUTO DA MULHER NEGRA

36. INSTITUTO ALIANÇA 37. INSTITUTO DE JUVENTUDE CONTEMPORÃNEA 38. INSTITUTO IMAGEM E CIDADANIA

39. INTERVOZES - COLETIVO BRASIL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL 40. ISER 41. JUNTA DE MOCIDADE DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA – JUMOC

42. JUVENTUDE DO PARTIDO DOS TRABALHADORES 43. JUVENTUDE PÁTRIA LIVRE 44. JUVENTUDE PMDB NACIONAL

45. MONABANTU 46. NAÇÃO HIP HOP BRASIL 47. PASTORAL DA JUVENTUDE - PJ

48. PASTORAL DA JUVENTUDE RURAL 49. POLIS INSTITUTO DE ESTUDOS FORMAÇÃO E ASSESSORIA EM POLÍTICAS

SOCIAIS

50. REDE DE JOVENS DO NORDESTE 51. REDE DE JUVENTUDE PELO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE –

REJUMA

52. REDE ECUMÊNICA DA JUVENTUDE 53. REDE FALE 54. REDE NACIONAL DE ADOLESCENTES E JOVENS VIVENDO COM HIV/AIDS

(RNAJVHA) 55. REDE NACIONAL DE JOVENS COMUNICADORES 56. SERTA - SERVIÇO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA

57. UGT - UNIÃO GERAL DOS TRABALHADORES 58. UNEGRO 59. UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES – UBM

60. UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS – UBES 61. UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA 62. UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL

63. UNIÃO NACIONAL DE ESTUDANTES - UNE 64. UNICAFES 65. UNIVERSIDADE DE JUVENTUDE

66. VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO

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Distribua no espaço abaixo as organizações da sociedade civil que compõem o Conjuve, colocando mais próximas, as organizações que você percebe que possuem afinidade ou articulação, e, mais distantes, as que não costumam se agrupar. Para facilitar, pode usar o número ou as siglas.

Depois de distribuí-las, circule agrupando as entidades que você identifica que costumam atuar juntas;

Por fim, grife as organizações com as quais a sua entidade costuma se articular no âmbito do conselho.

(EXEMPLO)

1 45 23 29

2 46 30

3 47 24 44

4 48 31

5 49 32 41

6 50 42

7 51 25

8 52

9 53 33

10 54 34

11 55 26

12 56 35

13 57

14 58 27

15 59 37

16 60 36

17 61 43

18 62 28

19 63

20 64 38

21 65

22 39 40 66

ORGANIZAÇÕES- SOCIEDADE CIVIL – CONJUVE –GESTÃO 2012-2014

ABGLT - ASSOCIÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS,

TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

ACBANTU - ASSOCIAÇÃO CULTURAL DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO BANTU

ÁGERE - COOPERAÇÃO EM ADVOCACY

ALIANÇA BÍBLICA UNIVERSITÁRIA DO BRASIL

APOINME - ARTICULAÇÃO DOS POVOS E ORGANIZAÇÕES INDIGENAS DO

NE, MG, E ES

APV - ASSOCIAÇÃO DE POPULAÇÕES VULNERÁVEIS

ARTICULAÇÃO BRASILEIRA DE LÉSBICAS - ABL

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUANDOS – ANPG

ASSOCIAÇÃO RAÍZES DA TRADIÇÃO

CEDAPS - CENTRO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE

CEMJ - CENTRO DE ESTUDOS E MEMÓRIA DA JUVENTUDE

CENTRAL DOS MOVIMENTOS POPULARES – CMP

CENTRO DE CULTURA 8 DE MARÇO

CGTB - CENTRAL GERAL DOS TRABALHADORES DO BRASIL

CMB - CONFEDERAÇÃO DAS MULHERES DO BRASIL

COLETIVO NACIONAL DE JUVENTUDE ENEGRECER

CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DO DESPORTO UNIVERSITÁRIO - CBDU

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE MORADORES

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO - CNTE

CONGRESSO NACIONAL AFRO-BRASILEIRO

CONSELHO NACIONAL DA OAB

CONTAG - CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES NA

AGRICULTURA

COORDENAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INDIGENAS DA AMAZÔNIA

BRASILEIRA

COORDENAÇÃO NACIONAL DE ENTIDADES NEGRAS – CONEN

CTB - CENTRAL DE TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO BRASIL

CUCA DA UNE - INSTITUTO CIRCUITO UNIVERSITÁRIO DE CULTURA

CUT - CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES

ESCOLA DE GENTE - COMUNICAÇÃO EM INCLUSÃO

FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES CRISTÃS DE MOÇOS

FEDERAÇÃO DE ORGÃOS PARA ASSISTÊNCIA SOCIAL EDUCACIONAL -

FASE

FEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS NA

AGRICULTURA FAMILIAR DO BRASIL

FORÇA SINDICAL

FÓRUM BRASILEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (FBOMS)

FÓRUM NACIONAL DE JUVENTUDE NEGRA – FONAJUNE

GELEDES INSTITUTO DA MULHER NEGRA

INSTITUTO ALIANÇA

INSTITUTO DE JUVENTUDE CONTEMPORÃNEA

INSTITUTO IMAGEM E CIDADANIA

INTERVOZES - COLETIVO BRASIL DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

ISER

JUNTA DE MOCIDADE DA CONVENÇÃO BATISTA BRASILEIRA – JUMOC

JUVENTUDE DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

JUVENTUDE PÁTRIA LIVRE

JUVENTUDE PMDB NACIONAL

MONABANTU

NAÇÃO HIP HOP BRASIL

PASTORAL DA JUVENTUDE - PJ

PASTORAL DA JUVENTUDE RURAL

POLIS INSTITUTO DE ESTUDOS FORMAÇÃO E ASSESSORIA EM POLÍTICAS

SOCIAIS

REDE DE JOVENS DO NORDESTE

REDE DE JUVENTUDE PELO MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE – REJUMA

REDE ECUMÊNICA DA JUVENTUDE

REDE FALE

REDE NACIONAL DE ADOLESCENTES E JOVENS VIVENDO COM HIV/AIDS (RNAJVHA)

REDE NACIONAL DE JOVENS COMUNICADORES

SERTA - SERVIÇO DE TECNOLOGIA ALTERNATIVA

UGT - UNIÃO GERAL DOS TRABALHADORES

UNEGRO

UNIÃO BRASILEIRA DE MULHERES – UBM

UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS – UBES

UNIÃO DA JUVENTUDE SOCIALISTA

UNIÃO DOS ESCOTEIROS DO BRASIL

UNIÃO NACIONAL DE ESTUDANTES - UNE

UNICAFES

UNIVERSIDADE DE JUVENTUDE

VIRAÇÃO EDUCOMUNICAÇÃO

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ANEXO 02 – INSTRUMENTOS PREENCHIDOS37

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Como não foi solicitada autorização aos respondentes para publicação do questionário preenchido, foram eliminadas todas as informações que possibilitassem a sua identificação.

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______; PEREIRA, I. I. A.; PASCOAL, T. M. Um contraponto para a discussão sobre Conselhos Gestores Municipais a partir da abordagem da instrumentalização das políticas públicas. In: VI ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM GESTÃO SOCIAL, 2012, São Paulo. Anais do VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Gestão Social - Trabalhos completos, 2012. pp. 1-15. v. 1. BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. Câmara dos Deputados. Comissão Especial Destinada a Acompanhar e Estudar Propostas de Políticas Públicas para a Juventude. Relatório preliminar. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2004. BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE. Política nacional de juventude: diretrizes e perspectivas. Brasília, 2006. ______. Natureza, composição e funcionamento. Brasília, 2007. ______. Reflexões sobre a política nacional de juventude: 2003-2010. Brasília, 2011. ______. Regimento interno. Brasília, 2007. ______. Decreto n. 5.490, de 14 de julho de 2005, Dispõe sobre a composição

e funcionamento do Conselho Nacional de Juventude - CNJ, e dá outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília, 15 de julho de 2005. Seção 01,

pp. 01-02.

______. Decreto nº 8.243, de 23 de maio de 2014, que institui a Política e o Sistema Nacional de Participação Social. Diário Oficial da União, Brasília, 26 de maio de 2014. Seção 01, pp. 05-07.

______. Lei 11.129, de 30 de junho de 2005, Institui o Programa Nacional de

Inclusão de Jovens – ProJovem; cria o Conselho Nacional da Juventude – CNJ

e a Secretaria Nacional de Juventude; altera as Leis nos 10.683, de 28 de maio

de 2003, e 10.429, de 24 de abril de 2002; e dá outras providências. Diário

Oficial da União, Brasília, 01 de julho de 2005. Seção 01, pp. 01-02.

______. Lei 12.852/2013, de 05 de agosto de 2013, Institui o Estatuto da

Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das

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políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude -

SINAJUVE. Diário Oficial da União, Brasília, 06 de agosto de 2013. Seção 01,

pp. 01-04.

______. Medida Provisória Nº 238, de 01 de fereveiro de 2005, que Institui, no

âmbito da Secretaria-Geral da Presidência da República, o Programa Nacional

de Inclusão de Jovens - ProJovem, cria o Conselho Nacional de Juventude -

CNJ e cargos em comissão, e dá outras providências. Diário Oficial da União,

Brasília, 02 de fevereiro de 2005. Seção 01, pp. 01-02.

______. Resolução Nº 1/2007, de 08 de outubro de 2007, Dispõe sobre o Edital de Convocação da Assembleia de Eleição dos representantes da Sociedade Civil no CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE para o biênio 2007 a 2009. Diário Oficial da União, Brasília, 08 de outubro de 2007. Seção 01, pp. 2-4.

______. Resolução Nº 1/2009, de 16 de setembro de 2009, Dispõe sobre a Convocação da Assembleia de Eleição dos representantes da Sociedade Civil no CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE para o biênio 2010 / 2011. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de setembro de 2009. Seção 01, pp. 2-4.

______. Resolução Nº 2/2012, de 23 de janeiro de 2012, Dispõe sobre o Edital de Convocação da Assembleia de Eleição de representantes da Sociedade Civil no CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE para o período de 2 (dois) anos. Diário Oficial da União, Brasília, 09 de fevereiro de 2012. Seção 01, pp. 01-03.

______. Resolução Nº 1/2015, de 15 de abril de 2014, Dispõe sobre a criação da Comissão Eleitoral para a eleição da representação da sociedade civil do CONSELHO NACIONAL DE JUVENTUDE para o período de 2 (dois) anos. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de abril de 2014. Seção 01, pp. 73-74. ______. SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE. 1ª Conferência nacional de políticas públicas de juventude: levante sua bandeira. Caderno de resoluções. Brasília, 2008. ______. SECRETARIA-GERAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Guia de políticas públicas de juventude. Brasília, 2006. ______. SECRETARIA NACIONAL DE JUVENTUDE. Políticas públicas de juventude. Brasília, 2012.

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BULHOSA, R. R. A participação nas conferências municipais de juventude baianas. 2013. 60 f. Monografia (Especialização em Democracia Participativa, República e Movimentos Sociais). Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Salvador, 2013. BULHOSA, R. R. Participação. In: KURIKI, F. M. Guia ação política e juventude. Osasco: Aracati – Agência de Mobilização Social, 2014. CARVALHO, M. C. A participação social no Brasil hoje. São Paulo: Instituto Pólis, 1998. CRUZ, G. R. Gestão pública integrada e democratização da sociedade: o Fórum de Desenvolvimento Local de Paraty/RJ. 2005. 272 f. Tese (Doutorado em Sociologia). Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2005. CUNHA, E. S. M. Conferências de políticas públicas e inclusão participativa. Rio de Janeiro: IPEA, 2012. ______. Efetividade deliberativa: estudo comparado de conselhos municipais de assistência social (1997 / 2006). 2009. 376 f. Tese (Doutorado em Ciência Política). Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Belo Horizonte, 2009. FARIA, C.; SILVA, V. P.; LINS, I. L. Conferências de políticas públicas: um sistema integrado de participação e deliberação? In: Revista Brasileira de Ciência Política, nº7. Brasília, janeiro - abril de 2012, pp. 249-284. FARIAS, B. P. M. A dinâmica do Conselho Nacional de Juventude: Conjuve e o campo das políticas públicas educacionais. 2013. 204 f. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação). Universidade de Brasília - UnB. Brasília, 2013. FREITAS, M. V. (Org.). Juventude e adolescência no Brasil: referências conceituais. São Paulo: Ação Educativa, 2005. FURIATI, N. M. A. Juventude e Estado no Brasil: a lógica constitutiva do Conselho Nacional de Juventude no governo Lula. 2010. 356 f. Tese (Doutorado em Sociologia). Universidade de Brasília (UnB). Brasília, 2010.

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GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1991. GOHN, M. G. A transição nas lutas sociais pela cidadania nos anos 90: das lutas populares para as lutas cívicas. In: História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania dos brasileiros. São Paulo: Edições Loyola, 1995. pp. 205-209. ______. Conselhos populares e participação popular. Serviço Social e Sociedade. São Paulo. v. 9, n. 26, pp. 25-47, 1990. GOMES, E. G. M. Conselhos gestores de p : democracia, controle social e instituições. 2003. 113 f. Dissertação. (Mestrado de Administração ública e Governo). Fundação Getúlio Vargas / Escola de Administração de Empresas de São Paulo – FGV/ EAESP, São Paulo, 2003. GUIMARÃES, A. A. M. Democracia possível: espaços institucionais, participação social e cultura política. 2005. 122 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais). Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal, 2006. JÚNIOR, N. S. A participação dos cidadãos no controle da administração pública. São Paulo: Instituto Pólis, 1998. Disponível em: http://polis.org.br/publicacoes/a-participacao-dos-cidadaos-no-controle-da-administracao-publica/. Acesso em: 12 de dezembro de 2015. LASCOUMES, P.; LE GALÈS, P. A ação pública abordada pelos seus instrumentos. Revista Pós Ciências Sociais. Universidade Federal do Maranhão. v. 9, n. 18, jul/dez. 2012. Disponível em: http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/view/1331/1048. Acesso em: 01 de novembro de 2014. LATOUR, B. Networks, Societies, Spheres – Reflections of an Actor-Network Theorist] – Keynote Lecture, Annenberg School of Design, Seminar on Network Theories, February 2010, published in the International Journal of Communication special issue edited by Manuel Castells Vol 5, 2011, pp. 796-810. LÜCHMANN, L. H. H. O desenho institucional dos conselhos gestores. Artigo. [2002]. Disponível em: www.npms.ufsc.br/lpublic/Artigo%204.doc. Acesso em: 12 de dezembro de 2015.

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