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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO LETRAMENTO DIGITAL NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE João Pessoa/PB 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA E ENSINO

LETRAMENTO DIGITAL NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DO CURSO

DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

João Pessoa/PB

2015

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CYNTHIA MARIA RODRIGUES LINS RIBEIRO

LETRAMENTO DIGITAL NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DO CURSO

DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Linguística e Ensino da

Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Linguística.

Orientadora: Profa. Dra. Marianne Cavalcante

João Pessoa/PB

2015

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CYNTHIA MARIA RODRIGUES LINS RIBEIRO

LETRAMENTO DIGITAL NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES DO CURSO

DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA NA MODALIDADE A DISTÂNCIA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Linguística e Ensino da

Universidade Federal da Paraíba – UFPB, como

requisito parcial para obtenção do título de

Mestre em Linguística.

_________________________________________

Profa. Dra. Marianne Cavalcante (PPGLE/UFPB)

Orientadora

_________________________________________

Profa. Dra. Evangelina Faria (PPGLE/UFPB)

Examinadora Interna

_________________________________________

Profa. Dra. Isabelle Delgado (UFPB)

Examinadora Externa

João Pessoa/PB

2015

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Aos meus pais, por estarem

sempre presentes em minha vida e me mostrarem

o melhor caminho a seguir.

Ao meu grande amor, Julio Ribeiro, meu amigo,

companheiro. Quem me incentiva, acredita nos meus sonhos

e suporta tantas ausências.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por conceder-me o dom da vida e, consequentemente, permitir-me trilhar mais essa

jornada.

Aos meus pais, Juarez e Maria José, pelo amor incondicional que me presenteiam todos os

dias, amo vocês.

A Julio Ribeiro, meu marido, pelo apoio, por fazer parte de minha vida e ter acreditado em mim

em todos os momentos. Obrigada por camimhar junto comigo em busca dos nossos sonhos,

amo você.

À minha orientadora, Profa. Marianne Cavalcante, por aceitar ser minha orientadora, pelo

apoio, ensinamentos e sugestões.

A minha Banca de Qualificação, Profa. Evangelina Faria e Isabelle Delgado, pelas valiosas

considerações.

Aos meus colegas do mestrado, em especial, Dreza, Fred, Paulinha e Alê, que compartilharam

comigo as indas e vindas a João Pessoa, entre risos, desafios e angústias.

Aos educandos do curso de Geografia EAD/UFPE que se dispuseram a contribuir com minha

pesquisa.

Às Coordenadoras da UAB/UFPE e Conecte/UFPE, respectivamente, Profa. Cacilda Andrade

e Profa. Patricia Smith pelo apoio.

A minha segunda família, a equipe UAB/Conecte/UFPE, pelo carinho, incentivo e

companheirismo.

À Secretária do Programa, Vera Lima, pela dedicação.

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O objetivo do conhecimento não é

descobrir o segredo do mundo em uma

palavra mestre e/ou numa ação concreta,

é dialogar com o mistério do mundo.

Não perder a ludicidade, o prazer,

a alegria de penetrar no conhecido em busca

de respostas parciais...

Morin

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RESUMO

Esta pesquisa, situada no cenário da educação a distância, com foco no letramento digital,

buscou compreender as dificuldades específicas que estudantes do curso de Licenciatura em

Geografia na modalidade a distância da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE –

apresentam inicialmente no que diz respeito ao processo de letramento digital. O objetivo geral

da pesquisa foi investigar e compreender as práticas envolvendo letramento digital no contexto

de estudantes ingressos no curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância. Para

dar suporte a essa discussão foi utilizada a concepção de letramento digital amplo (SOUZA,

2007). Na mesma direção, para fundamentar a análise, além dessa concepção, foram utilizados

aportes teóricos com base na teoria do letramento digital (SELBER, 2004; XAVIER, 2002;

BUZATO, 2006, 2012; COSCARELLI, 2011; BRAGA, 2013) e de educação a distância

(MORAN, 2002; PRETTI, 2009; MILL, 2011). A linha de pesquisa foi de base quanti-

qualitativa, com análise do questionário e da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual de

Aprendizagem. A análise e a discussão dos resultados mostraram que dificuldades encontradas

com a familiarização com o ambiente virtual de aprendizagem aconteçam pelo fato de que,

apesar de estarmos inseridos no ciberespaço, em contato com práticas de letramento digital,

ainda somos frutos de uma educação tradicional -, evidenciamos que quando exigidos a lidar

com o processo de ensino e aprendizagem em um espaço virtual, que demanda autonomia,

interação, criticidade e criatividade, os educandos mostraram dificuldades ou passividade frente

às ferramentas disponíveis no ambiente virtual. Outro ponto observado é o caráter processual

do letramento digital, pois novas práticas vão se constituindo à medida que o educando se

familiariza com o ambiente virtual. Os resultados obtidos na pesquisa serviram de base para a

construção de uma oficina de intervenção com o objetivo de criar um espaço onde pudéssemos

refletir e trabalhar as necessidades dos educandos em relação ao ambiente virtual de

aprendizagem utilizado no curso em questão.

Palavras–chave: Ambiente Virtual de Aprendizagem; Educação a distância; Letramento

digital.

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ABSTRACT

This research is situated in the scenario of distance education and has as its focus on digital

literacy; it aimed at understanding the specific difficulties of students of the degree course in

Geography in the modality the distance of the Universidade Federal de Pernambuco – UFPE –

initially present with regard to the process of digital literacy. The overall objective of the

research was to investigate and understand the practices involving digital literacy in the context

of student tickets at the Degree Course in Geography at distance. To support this discussion, it

was used the conception of broad digital literacy (SOUZA, 2007). In the same direction, to

support the analysis beyond this conception, theoretical contributions based were used in the

theory of digital literacy (SELBER, 2004; XAVIER, 2002; BUZATO, 2006, 2012;

COSCARELLI, 2011; BRAGA, 2013) and distance education (MORAN, 2002; PRETTI, 2009;

MILL, 2011). The line of research was based on quanti-qualitative, with the analysis of the

questionnaire and discipline Introduction to Virtual Learning Environment. The analysis and

discussion of the results showed that the difficulties encountered with the familiarity with the

virtual learning environment happen by the fact that while we were inserted in cyberspace, in

contact with digital literacy practices are still the fruits of a traditional education - we evidenced

that when required to deal with the process of teaching and learning in a virtual space, which

demand autonomy, interaction, criticality and creativity, the students showed difficulties or

passivity forward to the tools available in the virtual environment. Another point to be observed

is the processual nature of digital literacy, because new practices constitute themselves as the

learner familiarizes oneself with the virtual environment.

Keywords: Virtual learning environment; Distance education; Digital literacy

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo demonstrativo da parceria do Sistema Universidade Aberta 47

do Brasil

Figura 2 – Interface da página inicial dos cursos de graduação da UAB/UFPE 54

Figura 3 – Opções do menu de recursos do Moodle 55

Figura 4 – Opções de atividades do Moodle 56

Figura 5 – Componentes curriculares do 1º período do curso de Geografia a

distância 60

Figura 6 – Organização da disciplina por módulos 61

Figura 7 – Como o módulo é estruturado 62

Figura 8 – Processos de cadastramento dos educandos no Moodle 85

Figura 9 – Demonstração da página de alteração de senha do Moodle 86

Figura 10 – Apresentação das disciplinas do 1º período do curso de Geografia EAD 88

Figura 11 – Intarface inicial da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual 91

Figura 12 – Roteiro para apresentação dos educandos 95

Figura 13 – Atividade de apresentação das atividades 97

Figura 14 – Descrição da ferramenta arquivo 98

Figura 15 – Fórum de notícias 99

Figura 16 – Fórum de Discussão 100

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LISTA DE TABELA

Tabela 1 – Demonstrativo do crescimento de matrículas em cursos de graduação a

Distância em Instituições Públicas de Ensino Superior entre 2002 -2012. 43

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Resumo adaptado do modelo de Multiletramentos Digitais sugerido por 29

Selber (2004).

Quadro 2 – Conteúdos da Disciplina Introdução ao Ambiente Virtual 90

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Idade dos participantes 65

Gráfico 2 – Sexo dos participantes 66

Gráfico 3 – Possibilidade do curso de Geografia EAD ser a primeira graduação 66

Gráfico 4 – Atuação como professor 67

Gráfico 5 – Frequência do uso do computador 67

Gráfico 6 – Equipamento tecnológico mais utilizado 68

Gráfico 7 – Ambiente de acesso a internet 69

Gráfico 8 – Frequência de acesso a internet 70

Gráfico 9 – Possui E-mail 70

Gráfico 10 – Tempo que possui e-mail 71

Gráfico 11 – Possui conta em site de relacionamento 72

Gráfico 12 – Possui Site pessoal 72

Gráfico 13 – Possui Blog 73

Gráfico 14 – Trabalhos utilizando buscadores da internet 74

Gráfico 15 – Realização de pesquisas na internet 75

Gráfico 16 – Realização de algum curso a distância 76

Gráfico 17 – Consideração sobre o ambiente virtual de aprendizagem 77

Gráfico 18 – Dificuldade com o AVA 78

Gráfico 19 – Desconhecimento dos recursos do AVA 79

Gráfico 20 – Leitura dos textos no AVA 80

Gráfico 21 – Participação nos fóruns 81

Gráfico 22 – Intervenção nos fóruns 82

Gráfico 23 – Participação nos chats 82

Gráfico 24 – Dificuldade para postar atividades 83

Gráfico 25 - Prática docente futura 84

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABED – Associação Brasileira de Educação a Distância

ANDIFES – Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições de Ensino Superior

AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CEAD – Coordenação de Educação a Distância

CEDERJ – Centro de Educação a Distância do Rio de Janeiro

COVEST – Comissão de Vestibular da Universidade Federal de Pernambuco

EAD – Educação a Distância

IFPE – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IPES – Instituição Pública de Ensino Superior

LDBEN – Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

MOODLE – Modular Object Oriented Dynamic Learning Environment

PPC – Projeto Pedagógico do Curso

SEED – Secretaria de Educação a Distância

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SESC – Serviço Social do Comércio

TIC – Tecnologia da Informação e Comunicação

UAB – Universidade Aberta do Brasil

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

UNAR – Universidade do AR

UNIREDE – Associação Universidade em Rede

UNIVASF – Universidade Federal do Vale do São Francisco

UPE – Universidade de Pernambuco

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 14

2. CONEXÕES ACERCA DO LETRAMENTO DIGITAL 18

2.1 Histórico do Letramento no Brasil 18

2.2 A relação entre Letramento e Alfabetização 21

2.3 Do Letramento ao Letramento Digital 22

2.4 Letramento digital na perspectiva do educando EAD 27

3. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA 31

3.1 Considerações sobre Educação Distância no Brasil 31

3.2 Rememorando a EAD no Brasil: da correspondência ao digital 33

3.3 A EAD na era digital 37

3.4 Cursos de Graduação na modalidade EAD em Instituições Públicas 41

3.4.1 Oferta de cursos de graduação a distância no âmbito da

Universidade Aberta do Brasil - UAB 44

3.4.2 A EAD na UFPE 48

4. CONTEXTO DA PESQUISA 51

4.1 Caminho metodológico 51

4.2 Lócus da pesquisa: O MOODLE 53

4.2.1 O curso de Licenciatura em Geografia EAD da UFPE 57

4.2.2 Disciplina Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem 59

4.3 Participantes da pesquisa 62

5. OS DADOS E SUAS ANÁLISES 64

5.1 O questionário em evidência 64

5.1.1 Primeira parte do questionário: perfil dos participantes 64

5.1.2 Segunda parte do questionário: práticas no ambiente virtual

de aprendizagem 76

5. 2 Observações e análises 85

5.2.1 Observações realizadas durante a inserção dos educandos no Moodle 85

5.2.2 A disciplina objeto da pesquisa 88

5.3 A intervenção – Oficina – Letramento Digital: o uso do ambiente virtual

Moodle 93

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5.3.1 Análise da oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente

virtual Moodle 94

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 104

APÊNDICE A 109

APÊNDICE B 110

APÊNDICE C 111

ANEXO 115

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1. INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das diversas tecnologias no século XX, principalmente as que

concernem às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), trouxeram em seu bojo

mudanças indeléveis não apenas nas relações sociais, mas também no que diz respeito às novas

formas de linguagens, reconfigurando os gêneros textuais e o modo de ler e escrever em

ambientes que surgem no “ciberespaço”.

Essas mudanças, marcadas pela “cibercultura1”, promovem uma participação ativa dos

indivíduos e criam novas possibilidades de socialização, interação e aprendizagem. No entanto,

também impõem uma nova relação com o saber, com os novos códigos e linguagens que surgem

nesse meio e que culturalmente vão se estabelecendo. Nesse novo cenário, sentidos vão se

ressignificando, exigindo novos saberes e competências e pondo em xeque concepções de

ensino cristalizados pelas instituições educacionais, como reconhece Levy (1999, p.174):

Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar

consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona

profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas

educacionais tradicionais e, sobretudo, os papéis de professor e aluno.

Diante desse contexto, é necessário que as instituições educacionais compreendam as

transformações trazidas pelas TIC não como um apêndice, mas sim como uma necessidade de

domínio, tanto pelo educador como pelo educando, principalmente no tocante às novas

linguagens que emergem desse contexto, para que o transitar por essas tecnologias não seja

meramente mecânico, desprovido de reflexão crítica sobre seus usos sociais.

Ampliando as questões suscitadas por Levy (1999), debruçamo-nos sobre o que

preconiza a UNESCO (2009), quando enfatiza que, para viver, aprender e trabalhar em uma

sociedade cada vez mais complexa, rica em informação e baseada em conhecimento, os alunos

e professores devem usar a tecnologia de forma efetiva, pois em um ambiente educacional

qualificado, a tecnologia pode permitir que os alunos e professores se tornem usuários

qualificados das tecnologias da informação; pessoas que buscam, analisam e avaliam a

informação; solucionadores de problemas e tomadores de decisões; usuários criativos e efetivos

de ferramentas de produtividade; comunicadores, colaboradores, editores e produtores;

cidadãos informados, responsáveis e que oferecem contribuições.

1 Lévy (1999) conceitua Cibercultura como sendo uma cultura contemporânea estruturada através da TICs.

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A partir dessa perspectiva tem se expandido o conceito de letramento digital, com o

objetivo de abranger uma série de letramentos, “originados tanto dos aspectos tecnológicos,

como do cenário social” (WARSCHAUER, 2006, p.64), pois é necessário que as pessoas

desenvolvam competências que permitam lidar com as práticas de leitura e escrita mediadas

pelas novas tecnologias, indo além das ferramentas, desenvolvendo novas formas de pensar,

agir e aplicar conhecimento frente às diferentes práticas de linguagens existentes no

ciberespaço.

Essas discussões acerca do letramento digital ampliam-se ainda mais quando se trata de

educandos de cursos de licenciatura na modalidade a distância, visto que, como essa

modalidade de ensino tem crescido muito no Brasil com a promulgação da Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDBEN de 20 de dezembro de 1996, que passa a reconhecer a

Educação a Distância como uma modalidade. Tais estudantes se deparam com novas formas de

organização do processo de ensino e aprendizagem, e passam a fazer uso das novas linguagens

disponíveis no ambiente virtual de aprendizagem (AVA). Além do mais, em breve, serão

futuros professores, agentes propulsores de transformação no fazer pedagógico da escola e terão

a responsabilidade de “criação de estratégias para que seus alunos alcancem não apenas o uso

das ferramentas, mas apliquem-nas de forma construtiva e diferenciada” (BEHAR; RIBEIRO,

2013, p.214).

Sendo assim, o grande fator motivador de nossa investigação é que, atuando na

Coordenação da Educação a Distância da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, junto

aos cursos de graduação na modalidade a distância, ofertados no âmbito da Universidade Aberta

do Brasil – UAB2, resolvemos buscar compreender as dificuldades específicas, que estudantes

de cursos de licenciatura dessa modalidade apresentam inicialmente no que diz respeito ao

processo de letramento digital, seja fazendo uso das ferramentas disponíveis no ambiente virtual

de aprendizagem, como pelo seu uso, muitas vezes, mecânico e sem nenhuma reflexão crítica

acerca dos aspectos sociais, culturais e históricos.

O fato da atuação junto aos estudantes e professores de cursos ofertados na modalidade

de Educação a Distância (EAD) permitiram outro olhar sobre a importância das práticas de

Letramento Digital no processo de ensino e aprendizagem, tanto no que diz respeito ao AVA

como na formação de professores. Às vezes, recebemos ligações e mensagens que sempre se

2 Universidade Aberta do Brasil é definida pelo MEC como um sistema integrado por universidades públicas que

oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação

universitária, por meio do uso da metodologia da educação a distância.(Disponível:

http://uab.capes.gov.br/index.php?//Acesso em: 27 de dez. 2014)

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transformam em pauta de reuniões e nos inquietam sobre como educandos que apesar de, na

sua grande maioria, serem detentores de produtos tecnológicos, como celulares, computadores,

videogames e usuários de rede sociais, entre outros, sintam dificuldade frente ao uso das

diferentes linguagens quando são imersos nesse processo de ensino e aprendizagem no AVA,

pois trata-se de funções diferentes em universo distinto do habitual.

Acreditamos que dificuldades encontradas com a familiarização com o ambiente virtual

de aprendizagem aconteçam pelo fato de que, apesar de estarmos inseridos no ciberespaço,

fazendo uso de produtos tecnológicos e usando ferramentas de interações, ainda somos frutos

de uma educação tradicional, como assinala Levy (1992, p.5):

Há cinco mil anos a educação se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita

do aluno e, há quatro séculos, em um uso moderado de impressão. Uma verdadeira

integração da informática (como do audiovisual) supõe, portanto o abandono de um

hábito antropológico, mais que milenar.

Ou seja, apesar de estarmos inseridos em uma sociedade marcada pela cibercultura,

somos frutos de uma escola em que exigia passividade, o que contrasta com as novas exigências

da sociedade contemporânea (BUCKINGHAM, 2010). Precisamos, ainda, nos adaptar a um

novo cenário educacional, que é o caso dos cursos ofertados na modalidade a distância, marcado

pelas diferentes linguagens e que exige do educando, entre outras coisas, autonomia, capacidade

de avaliar as informações com criticidade, como também, saber fazer uso competente das

ferramentas que estão disponíveis na web.

Sendo assim, pretendemos promover um trabalho sobre letramento digital, não apenas

enfatizando o uso adequado de ferramentas, mas pensando também como um processo em que

as diferentes linguagens e recursos que permeiam o contexto digital possam ser discutidos e

construídos criticamente e significativamente à luz da concepção de letramento digital ampla,

isto é, como o conjunto de competências necessárias para que um indivíduo entenda e use a

informação de maneira crítica e estratégica, em múltiplos formatos, vinda de variadas fontes e

mediada pelas TIC (SOUZA, 2007).

Para a efetivação dessa pesquisa, utilizamos como objeto de investigação, educandos do

primeiro período da primeira turma do curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a

distância da UFPE, iniciada no primeiro semestre de 2015. Mesmo com as particularidades do

cenário de pesquisa, não tomaremos esse curso como principal foco desse trabalho, mesmo que

esse elemento permeie todo o processo; o norte de nossa pesquisa se concentra nas questões

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relativas às práticas de letramento digital de educandos ingressos em cursos de graduação na

modalidade a distância.

Diante desse panorama, nosso objetivo geral é investigar e compreender as práticas

envolvendo letramento digital no contexto de estudantes ingressos no curso de Licenciatura em

Geografia na modalidade a distância.

Por entendermos a importância do letramento digital em cursos ofertados na modalidade

a distância, que requer competências com o meio digital, temos como objetivos específicos:

conhecer o perfil do estudante ingressante no curso de licenciatura em geografia; identificar as

principais dificuldades com letramento digital no início do curso e seus respectivos níveis de

saberes na interação e uso do ambiente virtual de aprendizagem; compreender como a disciplina

Introdução ao Ambiente Virtual se organiza para familiarizar os educandos com o ambiente

virtual Moodle; por fim, propor oficina sobre letramento digital, após a identificação das

principais dificuldades analisadas no início do curso.

Em função dos objetivos expostos, as questões de pesquisas que nos propomos

responder são: Qual o perfil do educando ingressante no curso de Licenciatura em Geografia?

Quais as principais práticas de letramento digital os estudantes tiveram contato antes de

ingressar no curso de Geografia? Quais os motivos das dificuldades encontradas no AVA? Qual

impacto das oficinas sobre letramento digital no processo de interação do educando com o

AVA?

No que se refere à estrutura da dissertação, está dividida em 6 (seis) capítulos. No

capítulo 1, Conexões Acerca do Letramento Digital, abordamos o histórico das primeiras

menções acerca de letramento no Brasil e sua diferença de alfabetização, chegando-se ao

conceito de letramento digital.

No tocante ao segundo capítulo, contextualiza-se o tema Educação a Distância a partir

de conceitos, aparato legal, trajetória no Brasil, assim como a EAD no âmbito da Universidade

Aberta do Brasil.

No terceiro capítulo, dedicado ao Contexto de Pesquisa, descrevemos todo percurso

metodológico para situar o leitor no nosso universo de investigação.

Já no quarto capítulo será possível acompanhar a discussão e análise dos dados e as

reflexões iniciais, que resultaram no projeto de intervenção, descrito no capítulo 5.

Por último, apresentamos as reflexões finais, resultado das análises e do projeto de

intervenção.

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2. CONEXÕES ACERCA DO LETRAMENTO DIGITAL

Atualmente, ouvimos falar muito sobre letramento, mas, afinal, o que é letramento? Por

que esse termo é sempre associado à alfabetização? Qual o motivo de pesquisadores das áreas

de educação e linguística se interessarem tanto pelo tema? Por que hoje fala-se também em

letramento digital?

Para responder a essas perguntas e compreendermos melhor o tema desta dissertação,

apresentaremos neste capítulo discussões de pesquisadores sobre letramento a fim de,

posteriormente, buscarmos entender o mesmo tema dentro da perspectiva digital e seus

desdobramentos na EAD.

2.1 Histórico do Letramento no Brasil

Neste item, observaremos como historicamente o termo letramento passou a ser utilizado

no cenário educacional brasileiro para se referir às práticas sociais de escrita, cujas reflexões se

fazem importantes para nos ajudar a compreender o letramento digital.

Tradicionalmente, “pensava-se que a língua escrita era meramente um código que

materializava a fala” (OLIVEIRA, 2004, p. 6). A partir desta concepção, práticas educacionais

se materializavam, deixavam de lado as funções sociais da leitura e escrita. Entretanto, com o

passar do tempo percebeu-se que a língua exercia mais funções do que se imaginava; assim,

iniciavam-se reflexões acerca das práticas de letramento. Esse contexto, gerou uma “tomada de

consciência que se deu, principalmente entre os linguistas, de que havia alguma coisa além de

alfabetização, que era mais ampla, e até determinante desta” (TFOUNI, 2010, p. 32). Ou seja,

falar apenas em alfabetização, enquanto ensino do código, sem relacionar às práticas

educacionais no que se refere ao ensino de leitura e escrita dentro de um cenário social de uso

da língua, já não era suficiente.

Leituras de textos sobre alfabetização na década de 80 servem bem para ilustrar essa

tomada de consciência descrita pela referida autora, pois revelam preocupações sobre os índices

de analfabetismo e repetência no Brasil, bem como a necessidade de compreender o motivo

pelo qual tantos indivíduos, mesmo tendo acesso à escola, tendo aprendido a ler e escrever, não

conseguiam compreender o que liam, nem usar a leitura e a escrita em atividades rotineiras, ou

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seja, analfabetos funcionais3. E, sendo assim, esses já não davam conta das exigências da época,

cada vez mais centrada na linguagem escrita.

Uma das primeiras referências ao termo letramento no Brasil encontramos na obra “No

mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, de Kato, publicada em 1986. A referida

autora acreditava que a linguagem culta estava intimamente ligada ao grau de letramento do

indivíduo.

No entanto, apesar de Kato (1986) citar o termo, não encontramos em seu livro uma

definição para ele. A primeira definição está na obra “Adultos não alfabetizados”, da

pesquisadora Tfouni, publicado em 1988. Nela, a autora, além de definir o novo termo, também

faz a distinção entre alfabetização e letramento. Para ela, a alfabetização ocupa-se da aquisição

da escrita por um indivíduo, já o letramento focaliza os aspectos sócio-históricos da aquisição

de um sistema escrito por uma sociedade.

Nesse momento, segundo Soares (2002, p.15), o “termo letramento ganhou estatuto de

termo técnico no léxico dos campos da Educação e da Ciências Linguísticas”, sendo

estabelecido um marco a partir do qual inúmeras pesquisas envolvendo o tema surgiram, tanto

para tentar responder as inquietações que se manifestaram acerca do tema, por seu caráter

complexo, como por esse termo estar vinculado ao conceito de alfabetização.

Pesquisas em torno desse conceito passaram, então, a serem empreendidas na tentativa

de esclarecer as diferenças entre as práticas sociais da escrita e os aspectos sobre alfabetização,

bem como entender os impactos sociais do uso da língua escrita. Assim, entre 1995 e 1998,

foram publicados dois livros sobre letramento pelas pesquisadoras Kleiman e Soares,

respectivamente. Ambos foram cruciais para propagação das pesquisas em torno do tema e

continuam sendo base para muitas reflexões teóricas e metodológicas.

As pesquisas publicadas na obra organizada por Kleiman (1995), intitulada “Os

Significados do Letramento”, seguiram uma perspectiva sociocultural das práticas de

letramento. Essa foi a primeira vez que o termo apareceu, no Brasil, como título de um livro.

Nele, a autora afirma que, em determinados contextos, as crianças são letradas, antes mesmo

de serem alfabetizadas e define letramento como “um conjunto de práticas sociais que usam a

escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos” (KLEIMAN,

1995, p.19).

3Analfabetismo funcional é o termo que se refere ao tipo de instrução em que a pessoa sabe ler e escrever, mas é

incapaz de interpretar o que lê e de usar a leitura e escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o analfabeto funcional

não consegue extrair sentido das palavras, nem colocar ideias no papel por meio do sistema de escrita. (

MENEZES; SANTOS, 2002).

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A concepção abordada por essa autora trouxe à tona reflexões importantes em torno das

práticas envolvendo a escrita, como a de considerar que, apesar de um indivíduo não dominar

as técnicas de ler e escrever, ele pode ser considerado letrado. Assim, podemos considerar o

letramento como construções sócio-históricas, acessadas em momentos adequados, em

situações comunicativas específicas e com objetivos determinados, por um indivíduo, mas com

metas comuns.

Para melhor explicarmos essa ideia, podemos recorrer ao filme “Narradores de Javé”,

cujos personagens, mesmo não sendo alfabetizados, possuem conhecimento da função da

escrita e criam situações para lidar com a falta do domínio do sistema alfabético, como no caso

da divisa de terras, em que realizam as divisas cantadas, ou quando resolvem escrever sua

história por meio de um documento científico: um dossiê, com o objetivo de transformar a

cidade em patrimônio histórico a ser preservado. Como podemos ver, apesar de os personagens

não saberem ler e escrever, tinham consciência da importância social da escrita, bem como do

seu uso.

No tocante ao livro “Letramento: um tema em três gêneros”, publicado em 1998, fruto de

estudos da professora Magda Soares, consiste em uma obra introdutória ao tema, que se tornou

uma referência obrigatória para professores e pesquisadores interessados sobre o assunto, pois

suscita reflexões sobre a necessidade de repensar o processo de alfabetização, reconhecendo

que o letramento é um fenômeno social. Assim, essa obra valoriza o impacto qualitativo que o

conjunto de práticas sociais representa para o indivíduo, extrapolando a dimensão técnica do

processo de ler e escrever.

Como já mencionado anteriormente, podemos destacar que o conceito de letramento

emergiu no cenário brasileiro diante das novas exigências que a língua escrita impôs à vida

moderna. Nesse contexto, apenas codificar e decifrar a língua já não era suficiente para

indivíduos exercerem plenamente sua cidadania. Era necessário ir além do código,

reconfigurando conceitos e compreendendo a escrita enquanto uso social e histórico.

Atualmente, espera-se que o indivíduo, além de dominar o código alfabético, reconheça

a função social da escrita e tenha disponibilidade para aprender novas formas de interação e

reconfiguração da escrita, refletindo as mudanças sociais e tecnológicas, principalmente as que

se expandem com a disseminação da internet.

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21

2.2. A relação entre Letramento e Alfabetização

A relação entre letramento e alfabetização tem sido fonte de muitos debates, pois são dois

fenômenos distintos, com presença de elementos próprios, mas que precisam ser

compreendidos como um conjunto, em que cada fenômeno tem sua especificidade, mas estão

interligados.

No que tange à alfabetização, percebemos que é um processo complexo, permeado por

práticas específicas, que são mobilizadas pelo sujeito para aquisição da escrita. Já o termo

letramento refere-se ao fato de que não basta o sujeito dominar as habilidades de ler e escrever,

mas é preciso também interagir com as práticas de escrita circulantes na sociedade.

Dentre as possíveis definições sobre essa relação, aquela que nos parece mais condizente

com o que iniciamos afirmando, justamente porque detalha bem os dois processos, é a que

destaca Buzato (2006, p.5) esclarecendo que,

A diferença entre letramento e alfabetização reside justamente na noção de prática

social. [...] A alfabetização, portanto, pressupõe o ensino/aprendizagem de símbolos,

códigos, regras e técnicas associados à escrita e ao suporte impresso, mas não garante

o uso efetivo dessas regras, códigos e técnicas para diferentes finalidades sociais. [...]

O letramento, ou mais precisamente, os letramentos são práticas sociais e culturais

que têm sentidos específicos e finalidades especificas dentro de um grupo social,

ajudam a manter a coesão e a identidade do grupo, são aprendidos em eventos

coletivos, em diferentes contextos sócio-culturais.

Na diferença que o referido autor estabelece entre letramento e alfabetização, notamos

que o primeiro termo é bem mais amplo: refere-se às diferentes práticas sociais envolvendo a

escrita. Assim, um indivíduo letrado é aquele que consegue acionar diferentes modelos

comunicativos correspondente a situações específicas, ou seja, que compreende a

intencionalidade do gênero textual. Já a alfabetização é entendida pelo autor como as práticas

que se concretizam a partir de um ensino sistemático, mediado por um especialista, com o

intuito de fazer o sujeito aprender as regras de funcionamento de uso do código alfabético e

ortográfico. Contudo, apenas essas habilidades não são suficientes para garantirem o uso efetivo

da escrita, pois as práticas envolvendo a escrita só têm sentido quando concebidas dentro de um

contexto real de uso da língua.

Braga (2013, p.13) aponta que, “na área dos estudos da linguagem, o conceito de

alfabetização foi ressignificado pelo conceito de letramento”. Antes, tínhamos uma

preocupação exacerbada, durante o processo de alfabetização, de ensinar apenas o código, com

textos padrões, descontextualizados dos usos sociais, porém próprios para esse fim. Entretanto,

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a concepção que se tinha sobre alfabetização já não dava conta das exigências que a sociedade,

cada vez mais centrada na escrita, demandava. Com o impacto dos estudos sobre letramento,

percebeu-se que era necessário os indivíduos, em processo de alfabetização, interagirem com

práticas letradas, pois, além de conhecer e dominar as normas da escrita, era preciso também

saber lidar com os gêneros discursivos circulantes na sociedade, que trazem consigo marcas da

heterogeneidade de diversas culturas, situadas em vários contextos. Quando fazemos isso,

ampliamos a compreensão sobre a escrita e entendemos as transformações que as novas

tecnologias trazem a leitura e escrita, atendendo às “exigências que o mundo contemporâneo

apresenta à escola” (ROJO, 2009, p. 108).

Da mesma forma que foi preciso reconsiderar as práticas de alfabetização, dentro de um

contexto mais amplo, para atender às exigências sociais em torno da escrita, deparamo-nos

novamente com novas exigências, agora trazidas pelos desenvolvimentos das Tecnologias da

Informação e Comunicação (TIC). Atualmente, além de saber ler, escrever e de participar dos

eventos de letramentos, precisamos “estar familiarizados com o uso do computador e com as

práticas sociais que são mediadas por essa máquina” (BRAGA; RICARTE, p.37, 2005). Nesse

contexto, já não é possível falar apenas de letramento, mas sim de letramentos ou letramento

digital, como afirma Buzato (2006).

Nessa configuração, também falamos sobre a relaç

ão entre alfabetização e letramento, no entanto, em outro contexto, o digital, pois também é

necessário nos alfabetizarmos digitalmente para sabermos utilizar as ferramentas e recursos

TIC, porém dentro de um contexto maior, o do letramento digital.

2.3 Do Letramento ao Letramento Digital

Letramento pode ser entendido como um termo que se tornou necessário em uma

sociedade marcada pelas práticas da escrita, em que já não basta saber apenas ler e escrever,

mas é necessário também fazer uso efetivo da escrita. Desse entendimento sugiram várias

definições sobre o termo, como já abordado nas seções anteriores, que são imprescindíveis para

compreendermos as práticas de letramento dentro do contexto digital.

Para Tfouni (2010, p.32), “letramento [...] é um processo, cuja natureza é sócio-histórica”.

Processo, na medida em que a escrita acontece dentro de um contexto social amplo, permeado por

diversas instituições de letramento e acompanhado pelas constantes transformações da sociedade. E

sócio-histórica, porque reflete saberes construídos no coletivo e mudanças que ocorrem de acordo com

o momento histórico em que indivíduos e sociedade se encontram.

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Essa definição nos ajuda a perceber as mudanças ocasionadas com a disseminação das

TIC. Rompemos inúmeras barreiras que limitavam nossa possibilidade de interação; no entanto,

tivemos que aprender novas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita, diferentes das

consolidadas socialmente. Nesse contexto, surgiram novos suportes textuais, novas linguagens,

gêneros foram reconfigurados e, consequentemente, surgiram novas práticas de letramento.

Essas novas práticas passaram, então, a ser uma exigência social e não apenas um modismo,

uma vez que necessitamos aprendê-las para não ficarmos excluídos do mercado do trabalho e

de atividades do cotidiano, como sacar dinheiro no banco, pagar contas, realizar a declaração

do imposto de renda, fazer pesquisas, entre outros.

Nesse cenário, “letrar [...] certamente pressupõe ir muito além das letras e das práticas

tradicionais de letramento” (BRAGA, 2013, p.46). Já não é possível pensar apenas em

letramento, pois as diversas práticas de escrita que emergem com as TIC são construídas em

contextos diferentes daquele aos quais estávamos acostumados, criando novas condições de

produção, novas formas de disponibilizar o discurso e novos modos de interagir.

Corroborando com essa afirmação, Saito e Souza (2011, p.118) destacam que as TIC

trazem novas possibilidades “ao ressignificarem os gêneros discursivos circulantes em

sociedade, propiciam novas práticas de leitura e escrita: emergem novas formas de letramento”.

Essas transformações dinâmicas, vivenciadas a partir do uso das TIC, fazem surgir assim outro

tipo de letramento, o letramento digital. Nesse novo cenário, o indivíduo que utiliza e manuseia

significativamente textos impressos diversificados, ou seja, que faz uso das práticas de

letramento tradicionais, pode não saber lidar com os mesmos em contextos digitais, pois esse

cenário demanda novas aprendizagens.

Essas discussões acerca desse novo tipo de letramento iniciaram-se no Brasil na década

de 1990, com a popularização dos computadores e da internet, que trouxeram inúmeras

mudanças nas práticas sociais, uma vez que nos vimos diante de transformações nos diversos

campos dos saberes.

No que se refere ao campo da Linguística, surgem vários estudos no Brasil buscando

compreender as novas práticas de letramento. Alguns pesquisadores, entre outros, enfocam o

letramento digital à luz de gêneros digitais (COSCARELLI, 2011), outros partem da

hipertextualidade (XAVIER, 2002), e há ainda os que o abordam a partir da perspectiva do

letramento como prática social (BUZATO, 2006, 2012). No entanto, as pesquisas desses

autores, na sua grande maioria, convergem, por repensarem as relações entre oralidade e escrita,

tomando como base o continuum entre essas duas modalidades, a partir dos gêneros textuais

que surgem com as novas tecnologias e geram novas possibilidades de combinações dos

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diferentes modos de representação da linguagem, que não se limitam à instrumentalização, visto

que dizem respeito às práticas sociais de leitura e escrita.

Buscando compreender melhor o tema, debruçamo-nos sobre as pesquisas de Souza

(2007), que chama nossa atenção sobre a complexidade de se definir o termo letramento digital,

pois se trata de um termo para o qual encontramos variações recorrentes, como letramento

eletrônico, letramento tecnológico, competência tecnológica, entre outros. Além dessa

indefinição, a literatura disponível sobre o termo divaga entre aspectos técnicos e significados

cognitivos, psicológicos ou sociológicos. Com o intuito de compreender melhor essas diferentes

concepções, essa autora traz à baila dois tipos de definições: as restritas e as amplas.

Para a referida autora, as definições restritas não levam em consideração o contexto

sociocultural, histórico e político que envolvem o processo de letramento digital. Para ilustrar

melhor essas definições, ela exemplifica com conceitos de alguns grupos e associação que vêm

desenvolvendo investigações acerca do tema. Entre eles, destacaremos a de Ward e Karet

(1997), que focalizam apenas o conteúdo, listando os que consideram para que um indivíduo

seja letrado, são eles: saber enviar e receber e-mails; navegar na internet, usar o código simples

de html; usar comunicação síncrona disponível na internet.

As características destacadas pelos autores, como sendo as práticas que denominam um

indivíduo como letrado digitalmente, demonstram apenas a preocupação com os aspectos

técnicos. A visão restrita considera, portanto, o letramento digital apenas como um produto da

aquisição da habilidade técnica, reduzindo esse processo a uma mera utilização da máquina e

deixando de lado aspectos de interatividade e construção sócio-históric das práticas de leitura e

escrita que se constituíram no ambiente digital.

Já as definições amplas, de acordo com Souza (2007), concebem o termo como conjunto

de competências necessárias para que um indivíduo entenda e use a informação de maneira

crítica e estratégica, em formatos múltiplos, vinda de várias fontes e apresentada por meio do

computador. Ou seja, o letrado digital, na visão mais ampla, não precisa ser um expert em

computadores, mas precisa conhecer sua funcionalidade e ser capaz de lidar com as informações

que emergem desse contexto.

Valendo-se de várias observações realizadas sobre letramento digital, Selber (2004)

também reforça essa visão ampla, apesar de não utilizar esse termo. Assinalando que muitos

programas que tratam sobre o tema deixam a desejar por enfatizarem apenas os aspectos

técnicos das TIC, como se o letramento digital fosse algo neutro. Para esse pesquisador, o

conhecimento técnico é necessário, mas devemos expandir as formas de pensar sobre o uso que

fazemos das TIC, pois é preciso compreender a interação entre pessoas inseridas em contextos

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sociais complexos, capazes de veicular produções textuais hipermediáticas das mais diversas

por meio dessa tecnologia.

Amparada por essas considerações, nesta pesquisa, iremos focar na visão ampla, pois

acreditamos que as práticas de letramento digital não se reduzem a um conjunto de aspectos

técnicos, pois implicam também saber lidar de maneira crítica e criativa com as novas formas

de linguagens construídas e validadas socialmente que surgem desse cenário digital.

Partindo de uma visão ampliada sobre o tema, Coscarelli e Ribeiro (2011, p.9) definem

letramento digital como sendo a “ampliação do leque de possibilidades de contato com a escrita

também em ambiente digital (tanto para ler quanto para escrever)”. As interfaces desenvolvidas

nesse novo cenário trazem em seu bojo novas formas de texto escrito, diferentes daqueles aos

quais estávamos acostumados, permeados pela utilização de sons, imagens, palavras e recursos

gráficos. A maneira de construirmos sentido também muda, pois permite que o usuário seja

mais livre na interação com o texto. Essas possibilidades não se restringem a ler e escrever

enquanto atividades acadêmicas, como é o caso que iremos explorar nesta pesquisa, mas

também as atividades corriqueiras do dia a dia, como utilizar as interfaces de um celular, ou de

um terminal bancário.

Acerca do tema, Xavier (2002) enfatiza algumas implicações que o novo contexto digital

impõe à sociedade, mostrando que precisamos assumir uma nova postura diante dos processos

de ler e escrever:

O letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas

tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir

mudanças nos modos de ler e escrever os códigos de sinais verbais e não verbais,

como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas nos

livros, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também

digital. (XAVIER, 2002, p.2)

Essas mudanças comentadas pelo autor supracitado, em que a convergência de mídias

traz a possibilidade de textos escritos dialogarem com outras interfaces, novas formas de

interação surgem, distintas das consolidadas nas práticas tradicionais de letramento, uma vez

que o leitor, nessa nova realidade, realiza seu próprio caminho na construção de sentido do

texto, na medida em que não precisa seguir a linearidade habitual de interação, como no texto

impresso. Ele também pode acessar outros links ao mesmo tempo em que lê, buscando outras

definições ou novas informações, que não precisam ser necessariamente textos escritos, mas

podem ser vídeos, áudios, imagens, gráficos, animações, entre outros.

Buzato (2006, p.9) enfatiza também o aspecto social, descrevendo o letramento digital

como “fruto de uma ação social coletiva que gera apropriação, amalgamento e síntese entre

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gêneros, linguagem e tecnologia até então vistas como coisas separadas”. Para entender essa

dimensão social atribuída por esse pesquisador, pensemos que são práticas que foram

construídas no coletivo, historicamente consolidadas e nas quais adentramos, mesmo sem

querer, como realizando a declaração de imposto de renda, atividade que atualmente só é

possível via internet. Assim, essas práticas tanto modificam os contextos nas quais são

introduzidas como são modificadas pelo contexto. Nessa apreensão, não existe uma polarização

entre o letramento tradicional e o letramento digital, mas sim um entrelaçamento entre gênero,

linguagem e tecnologia, em que novos gêneros são criados ou ressignificados, atendendo às

especificidades desse meio, como é o caso dos e-mails, que são uma adaptação da carta ao

contexto digital.

Ao pensar em como nos apropriar dessa definição, indo além dos aspectos meramente

técnicos e observando também as novas possibilidades de interação e uso das práticas letradas

mediadas pelo computador, devemos levar em consideração o fato de que:

O que se espera do cidadão, do professor e do aluno não é simplesmente que domine

um conjunto de símbolo, regras e habilidades aos usos das TICs, mas que “pratique”

as TICs socialmente, isto é, que domine os diferentes gêneros digitais que estão sendo

construídos sócio-historicamente nas diversas esferas das atividades, em que as TICs

são utilizadas para comunicação. Em outras palavras, espera-se que esses atores

sociais estejam familiarizados com essa nova linguagem, não apenas na sua dimensão

de representação, ou de tecnologias de comunicação, mas na sua dimensão de uso

(BUZATO, 2006, p.7).

A perspectiva delineada pelo pesquisador nos indica que é necessário haver a

compreensão de que as práticas de letramento digital envolvem várias dimensões; no entanto,

a dimensão técnica só adquirem sentido e função quando incorporadas aos usos sociais. Assim,

tais dimensões devem ser combinadas para que possamos nos apropriar dessas práticas digitais,

e, sobretudo, para que possamos lidar de maneira crítica com as diversas linguagens que

emergem e se modificam continuamente em virtude dos diferentes contextos em que estão

relacionados.

Tomando por base essas reflexões, consideramos, então, o letramento digital como um

conjunto de habilidades e informações necessárias por um indivíduo para interagir de maneira

ativa e crítica com as múltiplas linguagens construídas socialmente nos meios eletrônicos.

Transpondo o tema para o universo dos cursos EAD, supomos que, para o educando

interagir de maneira crítica com o Ambiente Virtual de Aprendizagem - AVA e suas interfaces,

é necessário que disponha não apenas de conhecimentos funcionais sobre as Tecnologias da

Informação e Comunicação, mas que desenvolva também habilidades em que os aspectos

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funcionais estejam dentro de uma perspectiva maior, a de uso social, viabilizando uma nova

cultura, a do letramento digital.

2.4 Letramento digital na perspectiva do educando EAD

A partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN –

de 20 de dezembro de 1996, que passou a reconhecer a Educação a Distância como uma

modalidade de ensino, houve um aumento considerável de cursos baseados nessa modalidade

de ensino. Contudo, observamos que essa disseminação também foi influenciada pelo

desenvolvimento das TIC, que ocasionaram mudanças nas práticas de EAD, uma vez que, além

de minimizarem questões relacionadas ao tempo e ao espaço, aproximando educando e

educador, permitiram que fossem criadas novas possibilidades para o processo de ensino e

aprendizagem realizado a distância por meio de ambientes virtuais de aprendizagem.

No entanto, tais espaços trouxeram consigo novas exigências, pois temos educandos que,

na sua grande maioria, já fazem uso da TIC - uma vez que estão presentes em quase todas as

dinâmicas da sociedade -, mas precisam aprender a lidar com as mudanças na forma de ler e

escrever que surgiram nesse contexto digital. Sobre esse cenário acadêmico, Braga (2013, p.19)

lembra que:

Temos alunos que embora familiarizados com alguns usos cotidianos da TICs, não

sabem explorar de forma crítica esses recursos ou usá-los para a construção de

conhecimento acadêmico, norteados por normas de discursos e de gêneros que eles

ainda não dominam.

Essa reflexão permite perceber que as mudanças que ocorrem hoje com a EAD, cujas

possibilidades através do AVA permitem práticas mais dinâmicas, impõem novas condições,

que são as de lidar com as novas práticas de letramento. Em outras palavras, traz como uma

das condições para uma aprendizagem significativa a necessidade do educando se familiarizar

com as diferentes linguagens, construídas a partir do uso social em que as TIC são utilizadas

para comunicação.

Nesse sentido, não basta utilizar os artefatos digitais disponíveis nos ambientes virtuais

para ser considerado um letrado digital: é necessário descobrir suas potencialidades

interacionais e pedagógicas na sua relação com os educadores, com seus pares, com a

informação, com a própria tecnologia e, sobretudo, apropriar-se das linguagens que emergem

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desse contexto, desenvolvendo também competências de leitura e escrita próprias do meio

digital.

Pensando o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem por meio da

modalidade a distância dessa maneira, em que as práticas de letramento digital permeiam a

construção de conhecimento do educando, viabilizando que ele se aproprie de discursos e

desenvolva uma aprendizagem baseada no diálogo com seus pares, educadores, informações,

artefatos culturais e com a própria tecnologia através dos AVA, nos afastamos de uma visão

tecnicista do ensino, que supervaloriza a técnica em detrimento aos aspectos dialógicos, críticos

e reflexivos que devem estar intrínseco em qualquer processo educativo. Assim, aproximamo-

nos de uma concepção de educação libertadora, inspirada em Freire (2001), em que o educando

é protagonista de sua aprendizagem e a sala de aula, no nosso caso, o ambiente virtual, não é

apenas um espaço de informação, mas um espaço de formação.

Dentro dessa perspectiva, encontramos algumas propostas de estruturas conceituais sobre

o letramento digital que discorrem sobre dimensões que os educandos devem desenvolver para

ajudá-los nesse processo de construção de conhecimento no contexto digital, permeado por

novas linguagens e artefatos digitais. No entanto, é necessário esclarecer que essas propostas

não foram elaboradas para o educando EAD, mas que contemplam necessidades de estudantes

que transitam no meio digital.

Gilster (1997), em sua obra “Digital Literacy”, aponta quatro competências básicas para

aquisição do letramento digital, a saber: avaliação crítica do conteúdo, ou seja, a habilidade

para julgar o que encontramos na rede; ler usando o modelo não linear ou hipertextual; aprender

como associar as informações das diferentes fontes, isto é, a construção de conhecimento diante

da internet; e, por fim, habilidades de buscas para lidar com o que ele denomina biblioteca

virtual.

Outro pesquisador que busca categorizar o letramento digital ou os “multiletramentos

digitais” é Selber (2004), cujo desejo a fazer essa categorização é auxiliar os educandos a

aprenderem a explorar as diferentes subjetividades associadas às tecnologias da informação.

Nesse bojo, ele vê processos de letramentos que se complementam, desde a apreensão das

ferramentas até chegar a uma visão crítico-reflexiva, em que educandos deixam de ser meros

usuários para se tornarem produtores de tecnologia. Para cada categoria denominada são

descritas metáforas associadas às TIC, à posição de sujeito e ao objetivo, conforme resume o

quadro a seguir:

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Quadro 1: Resumo adaptado do modelo de Multiletramentos Digitais sugerido por Selber (2004).

Multiletramentos Digitais

Categoria Metáfora

relacionada às

TIC

Posição do sujeito Objetivo

Letramento Digital

Funcional

TIC como

ferramentas

Alunos como

usuários

competentes de

TIC

Uso eficiente das

ferramentas

Letramento Digital

Crítico

TIC enquanto

artefatos culturais

Alunos como

questionadores das

TIC

Informação crítica

Letramento Digital

Retórico

TIC como meio

hipertextual

Alunos como

produtores de

tecnologia.

Prática reflexiva

Fonte:Selber (2004) com adaptações

Nesse sentido, o quadro 1 resume que na perspectiva do letramento digital funcional as

TIC são como uma ferramenta e o educando é um usuário eficiente que deve conseguir atingir

objetivos educacionais por meio da tecnologia; em outras palavras: utiliza as ferramentas para

realizar determinada atividade. Já no letramento digital crítico, as TIC são percebidas como um

artefato cultural, uma construção social e, nesse sentido, o educando precisa ser um

questionador dessa tecnologia, que considera os contextos sociais de uso como inseparáveis das

TIC, refletindo de maneira crítica de como essas práticas alteram as relações que ele mantém

com os textos que lê e produz. E, por fim, o letramento digital retórico, no qual as TIC são

compreendidas como mídia hipertextual e o educando precisa ser um produtor reflexivo, que

tem consciência dos recursos e possibilidades de construção por meio das TIC.

Selber (2004) complementa que nenhuma metáfora é completa e suficiente por si só, mas

coletivamente oferecem subsídios para que os educandos se familiarizem com as práticas

relacionadas às TIC, desempenhando papéis ativos.

A busca por atender às exigências que esse novo cenário dos cursos EAD suscitam, tendo

como sala de aula um ambiente virtual, traz à baila a conexão entre EAD e letramento digital,

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entretanto, e aponta a necessidade do educando se familiarizar com as múltiplas ferramentas,

linguagens e informações expostas nesse meio para construir conhecimento a partir deles, visto

que as competências de leitura e escrita relacionadas aos artefatos digitais permeiam todo o

desenvolvimento do curso.

Dedicaremos o próximo capítulo ao outro fio condutor desta dissertação, Educação a

Distância, assim, discutiremos a modalidade a distância e seus desdobramentos na oferta de

cursos de Graduação em Universidades Públicas.

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3. EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Educação a Distância é uma modalidade de ensino que vem se consolidando na expansão

do Ensino Superior nos últimos anos. Para muitos é sinônimo de democratização do ensino,

para outros, uma educação de segunda classe, como assinala Bordenave (2005).

Para tentar compreender melhor essa modalidade de ensino, seus desafios e

possibilidades, pois trata-se de um dos pilares que sustenta essa pesquisa, teceremos nesse

capítulo algumas considerações sobre conceito, características e possibilidades. Na sequência,

faremos um breve histórico a partir dos avanços tecnológicos que viabilizaram a realização

dessa modalidade no Brasil, como também, a EAD na era digital, ressaltando os desafios e

possibilidades que emergem nesse novo cenário. Por fim, evidenciaremos a trajetória e avanços

na oferta dos cursos de graduação a distância por Instituições Públicas.

3.1 Considerações sobre Educação Distância no Brasil

Em termos gerais, podemos considerar a EAD como “processo de ensino-aprendizagem,

mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados espacial e/ou

temporalmente” (MORAN, 2002, p.1). Nesse sentido, entendemos a EAD como uma

possibilidade a mais de realizar processos de ensino e aprendizagem, mediados por recursos

tecnológicos, em que a lógica temporal e geográfica não é empecilho para realização de um

processo educativo.

Do início até os dias atuais, a EAD sempre foi marcada pelos elementos e meios de

comunicação que marcaram sua época para viabilizar a proposta de educação adotada. A cada

evolução tecnológica que acontecia, recursos mais interativos foram surgindo, criando novas

formas de se fazer EAD.

Na atualidade, presenciamos, concomitantemente à evolução e disseminação das TIC,

avanços promovidos pela legislação brasileira no que diz respeito à EAD. A promulgação da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996,

reconheceu a EAD em todos os níveis e como modalidade de ensino, criando novas perspectivas

para educação formal, especialmente para o Ensino Superior, “deixando de tratá-la como

projeto experimental” (LOBO, 2000). Isso trouxe um grande avanço em termos de formalização

do ensino a distância, pois fez surgirem novas perspectivas para educação formal em todos os

níveis de ensino que, até então, contava apenas com o modelo presencial.

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Segundo Lessa (2011), a partir desse marco estabelecido no Brasil, a EAD surge como

possibilidade de difusão e de democratização de uma educação de qualidade e como uma opção

para a inclusão social e para melhoria quantitativa e qualitativa dos processos educacionais.

Essa autora aponta que, face à limitação do sistema educativo convencional de responder às

demandas pleiteadas pela evolução da sociedade e dos processos de comunicação, a EAD é um

caminho para preencher essas lacunas.

Em outras palavras, diríamos que a EAD busca minimizar as desigualdades de acesso à

educação em um país como o Brasil, em que as Universidades, principalmente as públicas, não

se fazem presentes em todo território. Para isso, a EAD tem como um dos objetivos transcender

a limitação do ensino presencial, promovendo a flexibilização espacial e temporal por ele

impostas. Cria, assim, oportunidade de formação para uma parcela maior da população que, por

vários motivos, não consegue frequentar uma sala de aula nos moldes tradicionais.

Baseadas nas pesquisas de Preti (2009), podemos assinalar algumas características

fundamentais da EAD que vão nos ajudar a compreender como esse processo educacional se

organiza. Inicialmente, destacamos o fato de, na modalidade de educação a distância, educandos

e educadores – separados temporal e espacialmente – interagirem por meio de outros canais que

constroem outros sentidos de tempo e de espaço. Para isso, há uma estrutura organizacional

complexa a serviço do educando cuja aprendizagem se dá de forma independente,

individualizada, autônoma e, ao mesmo tempo, de forma coletiva por meio das interações

sociais.

Essas características indicam que o fundamento básico da EAD é uma educação norteada

por especificidades diferentes da promovida pela modalidade presencial. Nessa perspectiva, a

mediação por meios tecnológicos é essencial à integração do fazer pedagógico. Assim, os

fatores tempo e espaço não são determinantes para realização de um curso, pois a interação por

meio dos recursos comunicacionais e informacionais disponíveis no meio digital permitem que

o processo educativo aconteça em qualquer lugar e em qualquer momento.

Nessa direção, novas mudanças advindas de decretos, leis e portarias têm surgido visando

assegurar processos educativos de qualidade nessa modalidade. Em 10 de dezembro de 2004

foi promulgada a Portaria nº 4.059 que trata, especificamente, dos cursos superiores a distância.

Mas de fato, podemos destacar o Artigo I do Decreto nº 5.622, de 20 de dezembro de 2005,

pois regulamenta o Art. 80 e 81 da LDB de 1996, que versa sobre EAD. Vejamo-lo:

Art. 1º Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como

modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de

ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios tecnologias de informação e

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comunicação, com estudante e professores desenvolvendo atividades educativas em

lugares ou tempos diversos.

Esse Decreto também trata de questões metodológicas, avaliação e gestão, atendendo às

especificidades de EAD. Além disso, enfatiza que, mesmo o curso sendo a distância, são

obrigatórios momentos presenciais para avaliação do estudante, defesa de trabalho de conclusão

de cursos, estágios obrigatórios e atividades relacionadas a laboratório de ensino, dependendo

das exigências o curso. Versa, ainda, sobre os níveis de ensino a serem oferecidos pela EAD,

destacando que os cursos devem ter a mesma duração dos que são ministrados nos moldes

presenciais.

Outro documento importante para EAD são os Referenciais de Qualidade para Educação

Superior a Distância (2007) os quais, apesar de não serem um documento com força de lei,

constituem um norte para atos legais do poder público no que se refere a regular, supervisionar

e avaliar a EAD. Nesse sentido, esses Referenciais têm como meta coibir a precarização da

EAD e garantir qualidade nos processos.

Esses documentos demonstram um avanço na consolidação da EAD através de preceitos

para uma educação mais estruturada. Contudo, também revelam preocupações dos legisladores

em afastar uma imagem comumente associada à EAD: a de que se trata de uma educação de

baixa qualidade.

Sob esses aspectos, podemos considerar, hoje, a Educação a Distância como uma

realidade, sobretudo, no Ensino Superior, em construção, em que vários avanços foram

realizados, mas ainda há um longo caminho para consolidar práticas educativas pautadas na

relação entre o desenvolvimento das TIC e os processos de ensino e aprendizagem que

exploram diversas formas de construção e produção de conhecimento, consolidando, aspectos

quantitativos e qualitativos no fazer EAD.

3.2 Rememorando a EAD no Brasil: da correspondência ao digital

Nos últimos vinte anos, temos presenciado uma difusão significativa de oferta de cursos

na modalidade a distância, cujo desenvolvimento contou com a contribuição da disseminação

das TIC, sobretudo, a internet. Entretanto, pesquisas revelam que, para chegarmos até aqui, um

longo caminho foi percorrido, marcado por várias iniciativas e desencadeado por meio da

correspondência, no final do século XIX.

De acordo com Alves (2009), inexistem registros precisos acerca da criação da EAD no

Brasil. Contudo, acredita-se ser a correspondência a primeira experiência de cursos ofertados

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na modalidade a distância. E uma pista disso é o fato de o Jornal do Brasil, que iniciou suas

atividades em 1891, já registrar, na primeira edição da seção classificados, anúncio oferecendo

profissionalização por correspondência (datilógrafo).

Na história da EAD no Brasil, por meio da correspondência, podemos destacar dois

exemplos pioneiros de iniciativas expressivas: o Instituto Monitor, criado em 1939, e o Instituto

Universal Brasileiro, criado em 1941 - ambos utilizavam os correios para ofertarem os seus

cursos. Ou seja, os Institutos enviavam materiais didáticos (apostila, livros e cartas) e atividades

pelos Correios. Em alguns casos, essas atividades eram acompanhadas de ferramentas

específicas do curso escolhido para que os cursistas colocassem em prática os ensinamentos do

material escrito.

Um levantamento realizado com o apoio do Ministério da Educação (MEC) registra que,

entre as décadas de 1960 a 1980, trinta novas instituições foram criadas com base no

desenvolvimento da educação por correspondência. Essas instituições concentravam-se

principalmente nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro.

Concomitante às práticas de EAD que se desenvolviam por meio da correspondência,

surgiram projetos de EAD que utilizavam como meio comunicacional o rádio. Em 1923, foi

criada a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, liderada por Edgard Roquette Pinto, com a

finalidade de difundir a educação popular. Faria e Salvadori (2010) mencionam que, a princípio,

a rádio funcionou em uma escola superior mantida pelo poder público, mas depois foram

impostas exigências de difícil cumprimento, já que não tinha fins comerciais. Apesar de a

iniciativa ter excelentes resultados, despertou a preocupação para os governantes, visto que

podiam ser transmitidos programas considerados subversivos. Sem saída, Roquette Pinto doou

a Rádio ao Governo Brasileiro, especificamente ao Ministério da Educação e Saúde, em 1936,

passando a ser conhecida na época como “Rádio Ministério de Educação”, hoje chamada de

Rádio MEC.

Assim, podemos considerar Roquette Pinto, no Brasil, como o precursor no uso de

programas de rádio para ações educativas. Ele acreditava na potencialidade da comunicação

oral para educar o povo em um momento do país em que grande parte da população era tomada

como analfabeta.

Outras experiências por meio do rádio também se desenvolveram, dentre as quais Alves

(2009) destaca as seguintes: o Instituto Rádio Técnico Monitor, fundado em 1939, com cursos

no ramo de eletrônica; a Escola Rádio Postal, da Igreja Adventista, que ofertava aos ouvintes

cursos bíblicos; a Universidade do Ar - UNAR, fundada em 1947, fruto da parceria do SENAC

– Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial e do SESC - Serviço Social do Comércio,

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ambos de São Paulo, que ofertavam cursos de formação aos comerciários; as Escolas

Radiofônicas, desenvolvida pela Diocese de Natal, em 1959, dando origem ao Movimento de

Educação de Base, um marco na EAD não formal no Brasil; e o projeto Minerva, criado em

1970 a partir de um convênio entre o Ministério da Educação e fundações da Igreja Católica,

cuja meta era a educação e inclusão dos adultos.

No Brasil, com a inauguração da primeira emissora de televisão em 1950, outros projetos

surgiram visando ao ensino a distância, pois o novo meio tornava possível a articulação de

linguagens totalmente diferentes – imagens, falas, música e escrita –, impulsionando, assim, a

elaboração de práticas mais dinâmicas. Dentre os projetos, desenvolvidos na época, podemos

destacar: o Centro Educativo do Maranhão, em 1967, que decidiu utilizar a TV para resolver

problemas educacionais identificado em alunos da 5ª a 8ª série; a TVE do Ceará que, também

em 1967, desenvolveu um programa televisivo para atender alunos da 5ª e 6ª séries de regiões

mais interioranas, onde as séries terminais do 1º grau4 não existiam; e cursos supletivos, nas

décadas de 1970 a 1980, promovidos por fundações privadas e não governamentais, no modelo

de teleducação, com aulas via satélite, acompanhado de materiais impressos (PRETI, 2009).

Também nesse contexto, foram viabilizados pelo Governo Federal diversos projetos em

parceria com os canais televisivos. Dentre esses projetos, Preti (2009) destaca os seguintes:

cursos em formatos de telenovelas para atender o 1º grau e ao Movimento Brasileiro de

Alfabetização - Mobral; o Projeto Saci, criado em 1973, com a finalidade de estabelecer um

sistema de teleducação por satélite; o Programa Logos, entre 1977 a 1991, com o objetivo de

qualificar professores; o Programa de Valorização do Magistério, criado em 1992, seguindo o

mesmo formato do Logos; a Pós-Graduação Tutorial a distância implantada pela Coordenação

de Aperfeiçoamento de Ensino Superior – Capes, entre 1979 a 1983; Um Salto para o Futuro,

no ar desde 1991, que foi incorporado à TV Escola e suscita debates relacionados à prática

pedagógica.

Com o crescimento do números de cursos EAD por meio de iniciativas públicas e

privadas, e visando-se à consolidação de projetos a partir do uso de meios comunicacionais, são

criadas as primeiras normas sobre essa modalidade, destacando-se a regulamentação disposta

na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 5.629/71, sobre a oferta de cursos

nessa modalidade. Assim, o artigo 25 da referida lei estabelecia que os cursos supletivos

poderiam ser ministrados em classes, ou mediante a utilização de rádios, televisão,

4 Atuamente denominado de Fundamental I e II.

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correspondência e outros meios de comunicação que permitissem alcançar o maior número de

alunos.

Essa Lei representou um avanço, na medida em que reconhecia a correspondência, o rádio

e a televisão como possibilidades de realização de educação formal, diferente de modelos

tradicionais. Todavia, restringira-se apenas para os cursos supletivos.

Concomitante ao desenvolvimento da EAD, novas Tecnologias da Informação e

Comunicação foram surgindo, trazendo novas possibilidades de interação para esse cenário.

Segundo Vidal e Maia (2010), as duas últimas décadas do século XX são marcadas pela

inserção das tecnologias digitais na EAD, que realizaram uma verdadeira revolução no processo

de ensino e aprendizagem. Entretanto, novas exigências são postas ao educando e ao educador,

pois é necessário desenvolver processos de ensino que caminhem na direção de um sujeito mais

autônomo, responsável por construir sua aprendizagem. Já não temos o educador como figura

central do processo de ensino, mas como um facilitador do processo de aprendizagem, que

suscita diálogos e questionamentos, fazendo com que as práticas interativas sejam mais

acentuadas.

Nesse contexto, é criado o Ambiente Virtual de Aprendizagem, em que é possível

congregar vídeos, áudios e materiais escritos em um mesmo espaço, e interagir com os diversos

atores desse processo. As aulas e atividades também podem ser realizadas em momentos

definidos pelo próprio educando, diferentemente dos meios de comunicação, como rádio e

televisão, que têm um horário pré-definido o qual nem sempre corresponde à disponibilidade

de horário do educando.

Sobre esse caminho percorrido pela EAD no Brasil, alguns autores estabelecem

demarcações a partir de gerações. Dentre eles, enfatizaremos a classificação proposta por

Vianney, Torres e Silva (2003), que apontam três gerações dessa modalidade vivenciada no

país: a primeira surgiu com o ensino por correspondência, com ênfase na educação profissional

em áreas técnicas; a segunda foi marcada pelo surgimento dos cursos supletivos, nas décadas

de 1970 e 1980, as aulas aconteciam usualmente por satélite, e os alunos recebiam material

impresso para estudo. Entre os recursos usados para comunicação, destacavam-se o uso de

rádio, televisão, fitas de áudios e fitas de vídeos em momentos isolados; e a terceira geração

que vem se estruturando a partir de uma tecnologia avançada de interação.

A partir desse recorte sobre a trajetória da EAD no Brasil, percebemos que ela foi se

desenvolvendo concomitantemente à evolução das tecnologias que surgiam ao longo do tempo.

Assim, passou pela correspondência, pelo rádio e televisão e, atualmente, vivenciamos a era

digital, que consegue congregar todos esses recursos em um ambiente virtual. Todavia, emtodas

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percebemos a presença de um mesmo objetivo, minimizar as desigualdades sociais, a partir da

democratização do ensino, incluindo os que sempre ficam à margem, seja por questões

financeiras, seja por conta de limite temporal ou espacial.

Atualmente, apesar do avanço das TIC, vários projetos ainda são viabilizados pelo uso da

televisão, do rádio, ou ainda por meio da correspondência. Para comprovar isso, podemos

recorrer aos seguintes exemplos: o Telecurso, fruto da parceria da Fundação Roberto Marinho

com instituições públicas e privadas; a TV Escola, do Ministério da Educação; o próprio

Instituto Universal Brasileiro, criado em 1941, que ainda oferece alguns cursos por meio da

correspondência, como o que identificamos no site do próprio instituto, o Preparatório do

Ensino Médio, que utiliza como material apenas apostilas enviadas pelos Correios e tem como

finalidade preparar o educando para realizar as provas do Supletivo.

Finalmente, é necessário salientar que apesar das práticas de EAD em vigor serem

realizadas, em sua grande maioria, através das TIC, observamos que não existe a substituição

de um recurso por outro, mas uma nova construção advinda das novas possibilidades de atender

à crescente demanda de uma sociedade centrada cada vez mais na informação, a partir da

adoção de tecnologias comunicacionais mais interativas.

3.3 A EAD na era digital

Vimos, na seção anterior, que os cursos a distância sempre dependeram de recursos

tecnológicos comunicacionais para viabilizar a interação dos processos de ensino e

aprendizagem. Inferimos que “faltava, portanto, à EAD, uma maior flexibilidade de

comunicação, limitação que a internet ajudou a separar” (BRAGA; RICARTE, 2005, p.48). Ou

seja, com as novas TIC, sobretudo a internet, um novo impulso foi dado aos cursos a distância,

com a criação de ambientes que transcendem questões espaciais e temporais, trazendo

possibilidades interacionais.

Ao contrário do ensino presencial, que necessita desse contato físico, a EAD propõe,

justamente, a transposição dessa barreira. E isso já se fazia em eras distintas da EAD, quando

informações eram viabilizadas por diferentes meios. Mas foi apenas nesse contexto digital, por

meio das TIC, que se tornou possível congregar vários recursos que minimizaram a distância

entre educandos e educadores. As mensagens, como as trocadas por correspondências que

levavam dias para chegar ao destinatário, chegam em segundos por meio da internet, criando

maneiras para que o educando seja assistido e acompanhado pelo educador. Assim, supera-se a

solidão de outros meios, e passe-se a estar com o outro, mesmo longe, por meio da conexão.

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Almeida (2003) considera que esses avanços trazidos pelas TIC descortinam novas

perspectivas para EAD, entretanto sinaliza que nem sempre caminham em direção de práticas

inovadoras. Para essa autora:

O advento das TIC reavivou as práticas de EaD devido à flexibilidade do tempo,

quebra de barreiras espaciais, emissão e recebimento instantâneo de materiais, o que

permite realizar tantos as práticas tradicionais forma mecanicistas de transmitir

conteúdos, agora digitalizados e hipermediáticos, como explorar o potencial de

interatividade das TIC e desenvolver atividades à distância com base na interação e

na produção de conhecimento. (ALMEIDA, 2003, p.330)

Assim, a autora acredita que as TIC se configuram como uma possibilidade de ampliar o

acesso à Educação via internet, em que a tecnologia pode ser utilizada na mediação do processo

de ensino e aprendizagem, visando a uma aprendizagem ativa, autônoma, construída na

colaboração. Todavia, também chama nossa atenção para o fato de que podem ser utilizadas

para perpetuar práticas antigas em um novo cenário.

Ou seja, o sentido de utilizar as TIC como meio para práticas inovadoras em EAD recai

sobre como elas se materializam no fazer pedagógico. A esse respeito, Valente (2003) considera

três abordagens realizadas por meio das TIC: a primeira abordagem é “Broadcast”, que consiste

na tecnologia computacional a ser utilizada para entregar a informação ao aluno, da mesma

maneira que ocorre com o uso das tecnologias comunicacionais, como o rádio e a televisão; a

segunda, denominada de “virtualização”, ocorre quando os recursos são utilizados para simular

a sala presencial, ou seja, acontece a virtualização da sala de aula, a partir da qual procura

transferir para o espaço virtual o paradigma do espaço-tempo da sala de aula e da comunicação

bidirecional entre professor e aluno; por fim, a terceira abordagem, nomeada de “estar junto

virtual”, compreendida como aprendizagem assistida pelo computador, explora a

potencialidade interativa das TIC, propiciada pela comunicação multidimensional, que

aproxima os emissores e receptores.

Analisando tais considerações, podemos inferir que na abordagem broadcast não existe

a interação entre educador e educando, e sim a preocupação em disseminar informação, mas,

conforme sabemos, informação não garante construção de conhecimento. Como falta a

interação entre educador e educando, não é possível saber se o educando atribuiu sentido à

informação. No que se refere à “virtualização da sala de aula”, vimos que existe uma

transposição da sala de aula presencial para o espaço virtual, assim, muda-se apenas o espaço,

pois não se levam em conta as possibilidades de inovação da prática pedagógica mediada pelas

TIC. Já a abordagem “estar junto virtual” valoriza e explora o potencial das TIC para o

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desenvolvimento de atividades que permitam a aprendizagem a partir da colaboração, isto é,

permite que o educador, mesmo distante, trilhe com o educando caminhos para que este possa

dar sentido às informações que estão sendo disponibilizadas.

Utilizando das palavras de Peraya (2002, p.49) sobre a utilização de determinada

tecnologia como suporte à EAD, acreditamos que elas “não constituem em si uma revolução

metodológica, mas reconfiguram o campo do possível”. Assim, as TIC são possibilidades, mas

o que vai orientar uma prática pedagógica significativa que utiliza a tecnologia como meio e

não como fim é a intencionalidade pedagógica.

Como forma de viabilizar esse processo educativo no contexto virtual, tirando proveito

dos recursos que as TIC proporcionam, surgem os Ambientes Virtuais de Aprendizagem –

AVA, também conhecidos como Learning Management System (LSM) ou Sistema de

gerenciamento do Aprendizado. Esses ambientes já foram mencionados nas seções anteriores,

contudo acreditamos ser necessário dar-lhes uma ênfase maior, pois é por meio deles que o

curso analisado nesta pesquisa acontece. Silva (2013, p.18) descreve-os como:

Softwares que, disponibilizados na internet, agregam ferramentas para a criação,

tutoria e gestão de atividades que normalmente se apresentam na forma de cursos.

Sendo constituídos a partir de diferentes mídias e linguagens, a intenção é proporciona

não só a disponibilização de conteúdo, mas principalmente plena interatividade e

interação entre pessoas e grupos, viabilizando, por consequência, a construção de

conhecimento.

No contexto atual, reconhecemos que, por meio dos Ambientes Virtuais de

Aprendizagem, além de serem criadas novas possibilidade de se fazer educação a distância,

práticas educativas também podem ser reconfiguradas “por meio de canais que viabilizam a

interação (canais humanos) e/ou interatividade (canais tecnológicos)” (PRETI, 2009, p.45).

Assim, por meio da internet, de programas mais sofisticados, de interfaces mais usuais e a partir

da disponibilização de hipertextos variados, é possível desenvolver processos educacionais

mais interativos, mas, sobretudo, é possível a interação entre os atores desse processo,

utilizando-se vários recursos, o que permite que dificuldades encontradas pelos aspectos

temporais e espaciais sejam minimizadas.

Sobre isso, Silva (2003) aponta que o novo paradigma comunicacional tende a substituir

o da transmissão, usual na comunicação com mídia de massa, ou seja, as ferramentas

disponíveis no AVA permitem que, mesmo distante, sejam estabelecidas comunicações entre

os atores do processo educativo, por meio de chat, fóruns, e-mails, videoconferência e outros,

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proporcionando uma aprendizagem colaborativa, e consequentemente, um distanciamento de

práticas centradas apenas no conteúdo.

Os AVA possuem um conjunto de funcionalidade que, de acordo com Gonzales (2005),

podem assim ser discriminados:

Ferramentas de coordenação - servem de suporte para organização dos cursos e

são utilizadas pelo educador para disponibilizar informações aos educandos sobre

questões metodológicas, estruturar do ambiente e disponibilização de material

pedagógico;

Ferramentas de comunicação – englobam fóruns de discussão, bate-papo, correio

eletrônicos, videoconferência entre os participantes;

Ferramentas de produção ou colaboração – são espaços destinados a publicação

e organização de atividades dos educandos;

Ferramentas de administração – oferece recursos de gerenciamento. Através dele

é possível o educador obter informações sobre a participação do educando no

decorrer do curso, apoiando-o e motivando-o durante o processo de construção e

compartilhamento do conhecimento.

Assim, podemos perceber que Ambientes Digitais de Aprendizagem são espaços virtuais

que congregam vários recursos informacionais e comunicacionais facilitadores para o

desenvolvimento de cursos na modalidade a distância com práticas inovadoras. Por meio deles,

é possível organizar informações, desenvolver interações entre os atores do processo, elaborar

e socializar produções. Mas, acima de tudo, é possível ao educador acompanhar o

desenvolvimento do educando, identificando as dificuldades que ele encontrou no caminho,

ajudando-o a superá-las.

Nesse sentido, podem-se desenvolver atividades assíncronas, ou seja, que não ocorrem

em tempo real, mas são planejadas, orientadas e acompanhadas, como os fóruns, que permitem

que os educandos exponham suas ideias e dúvidas. Como também, podem ser desenvolvidas

atividades síncronas, isto é, atividades em que ocorre a interação simultânea entre os atores

envolvidos no processo, mesmo não estando no mesmo espaço físico, como no chat ou

videoconferência.

Em síntese, acreditamos que o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e

Comunicação foram de extrema relevância para expansão da EAD, pois espaços, como o AVA,

constituídos não apenas de aparatos tecnológicos e informacionais, mas também por interações

possíveis entre os atores desse processo, foram introduzidos nos cursos. No entanto, incorporar

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esses recursos de maneira significativa não é tarefa fácil e, por isso, somos desafiados a revisar

práticas educacionais arraigadas, instituindo novas práticas, ou ressignificando as antigas, de

forma que possam realmente trazer algo novo para EAD, a partir de situações de aprendizagem

mediada pelas TIC, que contemplem o educando como o centro do processo de ensino e

aprendizagem.

3.4 Cursos de Graduação na modalidade EAD em Instituições Públicas

Como vimos nas seções anteriores, o reconhecimento da EAD como modalidade de

educação e o desenvolvimento de tecnologias da informação e comunicação contribuíram para

consolidação de práticas educacionais viabilizadas por meio da modalidade de educação a

distância, que se apresentou como “uma forma alternativa e complementar à educação

presencial” (MILL, 2011, p. 281).

A partir dessa nova reestruturação de oferta de cursos a distância, na década de 1990

acompanhamos uma expansão considerável de inciativas vindas de Instituições de Ensino

Superior, que solicitaram junto ao Ministério da Educação a autorização para oferta de cursos

nessa modalidade, tendo em vista atender à disposição da legislação educacional vigente que

versa no art. 80 da LDB 9.394/96, que “a educação a distância, organizada com abertura e

regimes especiais, será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União”.

Segundo Moran (2002), das solicitações de autorização realizadas ao Ministério da

Educação, 80% foram para cursos de graduação que visavam a formação de professores para

atuar no Ensino Básico, principalmente de Pedagogia e Normal Superior. Esses dados refletem

a busca por atender uma demanda que surgiu com LDB/96, que preconizou que a partir de 2007

somente seriam admitidos professores habilitados em nível superior ou formado em serviço.

Corroborando com essa visão, Pires (2001) aponta fatores que também influenciaram o

crescimento da oferta de cursos de graduação a distância, que vão além de atender demandas

de regulamentação impostas pela LDBEN 9394/96, como buscar suprir a estagnação das

Universidades Públicas na escala de atendimento das demandas sociais de formação

profissional e de educação, resultado das políticas de ajustes econômico e de contenção de

despesas que afetaram o crescimento das Universidades Públicas, ocasionando um déficit

educacional, consequentemente, a ampliação da exclusão do sistema educacional, no ensino

universitário, de uma grande parcela da população que almejava o ensino superior. Para além

desse quadro de exclusão, também existe uma demanda crescente que é resultado do aumento

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do número de educandos concluintes do Ensino Médio que, a cada ano, não conseguem ter

acesso ao Ensino Superior por falta de vagas.

Neste cenário, observamos que a expansão de um sistema de educação superior tornou-

se uma necessidade, assim, a consolidação da EAD surgiu como uma possibilidade a mais de

democratização e interiorização do ensino superior, gratuito e de qualidade, assumindo um

caráter estratégico no sistema educacional, em que o acesso à educação pode acontecer sem

tempo, nem lugar específico.

Como vimos anteriormente, nessa conjuntura os cursos de graduação na modalidade a

distância passam por um processo expansionista desde a década de 1990. Como pioneiro, deste

processo, podemos destacar o curso de Licenciatura Plena em Educação Básica, ofertado no

ano de 1994, antes mesmo de a EAD ser regulamentada pela LDB 9.394/96, pela Universidade

Federal do Mato Grosso, por meio do Núcleo de Educação a Distância. O curso foi destinado

aos professores do Fundamental I, da rede pública do Estado do Mato Grosso. Belloni (2002)

destaca o caráter inovador dessa proposta, pois sua metodologia é baseada em técnicas de

educação a distância, combinado com atividades presenciais e um sistema descentralizado

(polos) de acompanhamento do estudante, utilizando uso diversificados de tecnologias da

informação e comunicação (materiais impressos e audiovisuais; tutoria via fax, telefone e rede

telemática) e sistema de acompanhamento (tutoria) individual e coletivo.

Esse curso pode ser considerado como um marco na oferta de cursos de graduação a

distância e passou a servir de exemplo para outras instituições que vislumbravam o mesmo

caminho.

Contudo, foi Segundo Preti (2009), com a criação de consórcios em 1996 e 2000, que se

iniciou o processo mais intenso de ações concretas na oferta de Ensino Superior, por meio da

união de IPES, comprometidas com a democratização do ensino público de qualidade, por meio

da EAD. Os pioneiros são UniRede – Rede de Educação Superior a Distância, que além de

ofertar cursos de extensão e especialização, desenvolvia o Programa ProDocência, cujo objetivo

era oferecer cursos de licenciaturas aos docentes brasileiros sem graduação; e o CEDERJ-

Centro de Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro, com a finalidade inicial de

capacitar professores a distância em serviço sem nível superior e abrir cursos de licenciatura

para futuros professores fixando-os no interior do estado.

Perante os avanços que foram se consolidando com iniciativas de EAD na oferta de cursos

de graduação, não apenas pelas Instituições Públicas, mas principalmente pelas Instituições

Privadas, o próprio Ministério da Educação passou a investir esforços na criação da

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Universidade Aberta do Brasil – UAB, consolidada em 2006, visando ampliar a oferta de vagas

na educação superior pública.

É interessante sinalizar que, como a UAB faz parte do contexto desta pesquisa, ocupa um

lugar de destaque e, sendo assim, será explorada melhor na seção posterior.

Para se ter uma ideia da expansão dessa modalidade no Brasil nas últimas décadas, no

que diz respeito aos cursos de graduação ofertados por Instituições Públicas, observemos a

tabela a seguir organizada a partir dos dados do censo realizado pelo Instituto Nacional de

Estudos e pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, divulgados em 2013:

Tabela 1: Demonstrativo do crescimento de matrículas em cursos de graduação a Distância em

Instituições Públicas de Ensino Superior entre 2002 -2012.

Fonte: Dados obtidos do Censo do INEP5 2013.

Observa-se pela tabela 1 que os avanços no número de matrículas foram extremamente

expressivos. Entre os anos de 2002 e 2008, o número de alunos matriculados em cursos de

graduação, em instituições públicas cresceu, aproximadamente, 700%, podemos destacar que

esse crescimento foi influenciado pela criação do Sistema UAB. Após esse período, notamos

uma baixa, podemos inferir isso como fruto da não sistematização anual da oferta de cursos

pelo Sistema UAB.

Ao longo destas duas últimas décadas, acompanhamos a consolidação de projetos de

cursos superiores viabilizados pelas Instituições Pública de Ensino Superior, que

desencadearam o crescimento de matrículas nesse nível de ensino na década 2000 e diversificou

5 Dados obtidos do Censo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior//censo_superior_2013.pdf

Acesso em: 13 de jun.2015.

ANO MATRÍCULAS

2002 34.222

2003 39.804

2004 35.989

2005 54.515

2006 42.061

2007 94.209

2008 278.988

2009 172.696

2010 181.602

2011 177.924

2012 181.624

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a forma de se fazer educação, criando novos caminhos para atender à demanda educacional da

sociedade.

Assim, podemos dizer que todo esse movimento acerca dos cursos de graduação a

distância constitui-se em um caminho que demonstra que a EAD pode sim contribuir com o

desenvolvimento de cursos de graduação por meio das instituições públicas, mas é preciso ter

como meta que os aspectos quantitativos não podem ser levados em consideração em

detrimento aos qualitativos, pois o objetivo é democratizar o ensino com qualidade, sem esse

preceito de nada adianta termos um aumento expressivo no censo educacional, pois isso não

traz verdadeiramente mudança a um país com tamanha desigualdade como o Brasil.

Permeado por toda essa discussão, acreditamos que os cursos de graduação em EAD

devem estar pautados em projetos educacionais sólidos, pois o sucesso dos cursos EAD está

associado à maneira como desenvolvemos práticas educacionais que criam oportunidades de

aprendizagens significativas no meio digital.

3.4.1 Oferta de cursos de graduação a distância no âmbito da Universidade Aberta do

Brasil - UAB

Como vimos na seção anterior, a Universidade Aberta do Brasil propiciou a consolidação

de cursos a distância ofertados por Instituições Públicas de Ensino Superior, visando ampliar e

interiorizar a oferta de cursos e programas de educação superior.

No entanto, a ideia de criação de uma Universidade Aberta no Brasil não é algo novo, de

acordo com Barreto (2004) remota à década de 1970, quando naquela época o Ministério da

Educação, a partir do relatório apresentado pelo conselheiro Newton Sucupira, do Conselho

Federal de Educação, após missão realizada na Inglaterra, com a finalidade de conhecer o novo

modelo de educação implantado pela Open University, defendeu a criação de uma universidade

aberta, visto que acreditava que este modelo poderia ampliar as oportunidades de acesso à

educação superior e contribuir para a construção de um processo de educação permanente.

Apesar do projeto não ter se consolidado, Niskier (1999) afirma que esse foi um embrião de

tudo que se tem no país em termos de EAD, inclusive no que diz respeito ao seu reconhecimento

na atual LDB 9.394/96.

Com o reconhecimento da EAD pela legislação vigente, discussões em torno da criação

de uma Universidade Aberta do Brasil passaram a fazer parte de prioridades do Ministério da

Educação. Em 2001, foi cogitada a criação da primeira Universidade Aberta do Brasil e a

Distância no país. Entretanto, naquele momento, um sistema nacional de EAD não foi

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considerado o melhor caminho para o Brasil, pois demandava, de acordo com Franco (2006),

uma organização estrutural e orçamentária que não era possível, “mais vantajoso e produtivo

seria o dual mode system, isto é, cursos na modalidade a distância associados a uma

universidade ou institucional convencional” (PRETI. p.29, 2009).

A partir do desenvolvimento de experiências positivas na oferta de cursos por

universidades públicas e o amadurecimento das discussões, o MEC propôs a criação do Sistema

Universidade Aberta do Brasil, lançado em 2005 e institucionalizado em 8 junho de 2006, pelo

Decreto nº 5.800, que versa no Art. I:

Fica instituído o Sistema da Universidade Aberta do Brasil –UAB, voltada para o

desenvolvimento da modalidade de educação a distância, com a finalidade de

expandir e interiorizar a oferta de cursos e programas de Educação Superior no País,

principalmente no que diz respeito aos cursos de formação de professores para

Educação Básica.

A partir do recorte acima observamos que a prioridade do Sistema UAB é formação de

professores, podemos acompanhar essa premissa em todos os editais que já foram lançados para

proposição de cursos pela coordenação da UAB, desde 2005, cujas exigências é que uma

porcentagem das vagas sejam destinadas a cursos de formação de professores. Outro destaque,

é o de aproximar as universidades aos interiores por meio dos polos de apoio presencial para

suprir uma carência de formação em nível superior de regiões que ficam longe das capitais e

que, mesmo com a expansão universitária, não foi possível atender toda demanda a partir dos

moldes presenciais.

Como meio para concretização da UAB, foi adotado o modelo dual mode, como se havia

especulado em momentos anteriores, em parceria com as Universidades Públicas que já tinham

no seu rol experiências com a modalidade presencial de ensino. Devido a essa escolha os

documentos oficiais tratam a UAB de Sistema Universidade Aberta do Brasil, por ser mais

coerente com a proposta.

Para compor o Sistema UAB, também foram instituídos os polos de apoio presencial, que

se acordo com o Decreto de 5.800/06, Art. 2º, “caracteriza-se como uma unidade operacional

para o desenvolvimento descentralizado de atividades pedagógicas e administrativas relativas

aos cursos ofertados a distância pelas IPES.”.

Os polos passam, então, a serem considerados condicionantes para oferta de cursos, pois

é por meio deles que as universidades conseguem viabilizar a interiorização e expansão da

oferta de cursos a distância no país, atendendo às exigências legais da obrigatoriedade de

momentos presenciais para realização de avaliações de estudantes, defesa de trabalho de

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conclusão de cursos e atividades relacionadas à laboratório, quando for o caso, previsto no

Decreto 5.622/05. Nesses espaços, é possível os educandos terem acesso aos recursos

tecnológicos necessários para realização do curso, e dependendo do desenho pedagógico do

curso, interagir com o tutor presencial, sendo esse, um “mediador, que pode interagir com o

aluno pela presença física” (TOSCHI, 2008, p.35). É interessante enfatizar que o polo de apoio

presencial pode receber cursos de universidades distintas ao mesmo tempo.

A princípio, o Sistema UAB foi gerenciado pela Secretaria de Educação a Distância –

SEED, atualmente extinta, com a promulgação em 24 de abril de 2007, do Plano de

Desenvolvimento da Educação – PDE, que prevê ações de melhoria para educação em todos os

níveis, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e Continuada –

CAPES, foi reestruturada, responsabilizando-se também por induzir e fomentar a formação

inicial e continuada de professores, nesse bojo foram criadas duas diretorias, a saber: Diretoria

de Educação Básica e a Diretoria de Educação a Distância. A partir desse momento, o Sistema

UAB passou a ser gerenciado pela Capes.

Segundo Furlan (2011), a primeira ação voltada para a oferta educacional no âmbito da

Universidade Aberta do Brasil foi a implantação do projeto-piloto do curso de graduação em

Administração em parceria com o Branco Brasil e demais bancos estatais. Esse primeiro projeto

contou com a presença de 18 universidades federais e sete estaduais.

Para dar prosseguimento à oferta de cursos no âmbito da UAB o MEC, por intermédio da

Secretaria de Educação a Distância, lança o 1º edital/2005 (Brasil, 2005) de chamada pública

para seleção de polos municipais de apoio presencial e de cursos superiores de instituições

federais de ensino superior na modalidade educação a distância para o Sistema Universidade

Aberta do Brasil. O processo de implementação por meio desse edital ficou conhecido como

UAB1. No ano seguinte, publica o 2ºedital/2006 (Brasil, 2006), neste abre a possibilidade para

instituições de ensino superior nas esferas federais, estaduais e municipais, a fim de ampliar o

Sistema UAB, essa nova etapa passou a ser denominada de UAB2.

Ambos os editais estavam divididos em duas partes, a primeira era dirigida aos

municípios que tinham o objetivo de serem proponentes de polos municipais de apoio

presencial e a segunda parte era direcionadas para proposições de cursos de graduação e

especialização pelas instituições públicas.

Findado o processo do 1º edital/2005, em dezembro de 2005, resultou na seleção de 292

(duzentos e noventa e dois polos) distribuídos em todos os estados brasileiros e 49 (quarenta e

nove) instituições de ensino superior. No tocante ao 2º edital/2006, o resultado foi divulgado

em 2008, com a seleção de 269 (duzentos e sessenta e nove) polos e 207 (duzentos e sete) novos

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cursos de formação de professores, ofertados por 58 (cinquenta e oito) instituições, sendo 15

(quinze) estaduais e 43 (quarenta e três) federais.

Atualmente, segundo os dados do Sistema de gerenciamento da UAB, fazem parte da

UAB 93 (noventa e três) instituições públicas, entre universidades federais, universidades

estaduais e institutos federais de educação profissional e tecnológica; 652 (seiscentos e

cinquenta e dois) polos de apoio presencial ativos, e são ofertados 703 (setecentos e três) cursos.

No tocante ao estado de Pernambuco fazem parte desse sistema atualmente 22 (vinte e

dois) polos de apoio presencial, 4 (quatro) universidades e 1 (um) instituto, a saber:

Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, que oferta 5 cursos de graduação e 1 (uma)

especialização; Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, que no momento oferta

9 (nove) cursos de graduação; Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF,

com 2 (dois) cursos de graduação e 7 (sete) cursos de especialização; Universidade de

Pernambuco – UPE, que oferta 5 (cinco) cursos de graduação e o Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia de Pernambuco – IFPE, com 2 (duas) graduações, 1 (um) tecnólogo e

1(uma) especialização.

Podemos considerar, no momento atual, o Sistema UAB como uma parceria entre MEC,

por meio da CAPES, Instituições de Ensino Superior, Estados e Municípios, como demonstra

a figura 1.

Figura 1: Modelo demonstrativo da parceria do Sistema Universidade Aberta do Brasil

Fonte: Mill (2012, p.282)

.

Nessa constituição demonstrada pela figura 1, o MEC, por meio da Capes, fomenta e

articula os processos; a Instituição de Ensino Superior propõe, organiza e oferta o curso; e os

Estados e Municípios, garantem a infraestrutura para atender às atividades presenciais no polo

de apoio presencial.

MEC

Estado e Município

Universidades

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Podemos dizer que todo esse movimento feito até aqui, assume que a EAD, desenvolvida

no âmbito da UAB, consiste em um projeto significativo promovido pelo Ministério da

Educação para democratização e interiorização do ensino superior público no país, até pouco

tempo, tínhamos experiências isoladas nas Instituições Públicas. Com o advento desse sistema,

o governo federal passa a se responsabilizar pelos cursos de graduação e, consequentemente,

surgem novos parâmetros para se estabelecer práticas de qualidade na educação a distância

como um todo.

3.4.2 A EAD na UFPE

A Universidade Federal de Pernambuco que se caracteriza por atuar na modalidade

presencial, desde a graduação até a pós-graduação, a partir da década de 1990, passou também

a vislumbrar o ensino a distância como meio para criar estratégias próprias para o uso da internet

como mediador do processo educacional.

Assim, surgiu a proposta do projeto Virtus, criado no de 1996, derivado do experimento

LibVirtus, entretanto, formalizado como projeto de pesquisa pelo Pleno do Departamento de

Ciência da Informação, no mês de Abril de 1997, cujo objetivo era pesquisar e produzir

plataformas para, por meio da internet, favorecer o acesso dos alunos dos cursos na modalidade

presencial aos conteúdos e atividades de disciplinas regulares, bem como a oferta de programas

exclusivamente a distância, em várias áreas (LUCENA, 2014).

Podemos afirmar que o Virtus foi uma experiência bem sucedida, de acordo com

Nascimento (2012) ocorreu a aplicação das ferramentas da interatividade digital em 23

disciplinas da graduação dos cursos de Comunicação Social, Design e Biblioteconomia e em

uma disciplina do mestrado em Informática. Como também, as ferramentas foram aplicadas na

montagem do site do curso de reciclagem destinado aos auditores fiscais da Escola de

Administração Fazendária (ESAF), em Brasília.

Entretanto, observamos que práticas em torno da EAD só foram consolidadas na UFPE e

percebidas como uma possibilidade de expansão e interiorização do Ensino Superior após a

instituição de cursos de graduação no âmbito da Universidade Aberta do Brasil.

Esse processo iniciou-se com a adesão ao Edital de Seleção do Sistema Universidade

Aberta do Brasil – UAB nº 01/2005/SEED/MEC, que resultou na aprovação da primeira oferta

de um curso de graduação na modalidade a distância na UFPE, o de Licenciatura em Letras –

Língua Portuguesa.

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Durante esse processo, foi instituído, em 2006 a Coordenação de Educação a Distância –

CEAD, vinculada ao Gabinete do Reitor, com o objetivo de ser um espaço em que se promove

reflexão, articulação, formulação e desenvolvimento de ações em EAD, além da própria

articulação e coordenação da política de EAD na UFPE, que localiza no Sistema UAB os seus

cursos de extensão, graduação e pós-graduação.

Em 2010, observamos uma ampliação dos cursos, fruto da adesão ao segundo Edital

lançado pelo Sistema UAB em 2006, que derivou a reoferta do curso de Licenciatura em Letras

– Língua Portuguesa e ampliação para oferta dos cursos de Licenciatura em Letras – Língua

Espanhola e Matemática; como também o curso de Especialização em Didático-Pedagógica

para Educação em Enfermagem.

Posteriormente, a UFPE também ofereceu no âmbito da UAB os cursos de Especialização

em Política e Gestão Educacional em Rede e Ensino de Ciências e os cursos de extensão em

Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça, Gênero e Diversidades na Escola e Educação

em Direitos Humanos, cursos já concluídos.

Atualmente são ofertados os cursos de Bacharelado em Ciências Contábeis, iniciado no

segundo semestre de 2013, o de Licenciatura em Geografia, iniciado no primeiro semestre de

2015 e, os três cursos de licenciatura referenciado anteriormente, Letras – Língua Portuguesa,

Letras – Língua Espanhola e Matemática; e a especialização, Didático – Pedagógica para

Educação em Enfermagem. A entrada nos cursos de graduação acontece, exclusivamente, por

meio do vestibular, já para os cursos de especialização o processo seletivo fica a cargo da

coordenação dos cursos, mas geralmente é mediante a análise curricular e uma carta de

intenção.

Os referidos cursos são realizados nos seguintes polos de apoio presencial: Afrânio,

Carpina, Garanhuns, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes, Limoeiro, Maragogi/AL, Olinda,

Palmares, Pesqueira, Petrolina, Recife, Santa Cruz do Capibaribe, Salgueiro, Surubim, Tabira

e Trindade. Os cursos ofertados nos polos localizados na região metropolitana do Recife

justificam-se por atender à parcela da comunidade que, mesmo morando próximo aos grandes

Centros Universitários do Estado, não têm condições de realizarem um curso presencial devido

questões temporais.

Com a consolidação dos cursos a distância na UFPE, acompanhamos um reordenamento

pela Universidade no que se refere ao modo de perceber a EAD. Assim, tem crescido as

discussões em torno da importância de desenvolvimento de tecnologias e estratégias para a

ampliação da oferta de vagas e cursos de graduação por meio da Educação a Distância.

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Uma das ações resultantes desse reordenamento do papel estratégico do ensino a distância

na instituição foi reconfigurar a Coordenação de Educação a Distância. Para isso, a CEAD foi

extinta e em Abril de 2014, foi criada a Coordenação da Conecte – Inovação Educacional, que

é o setor que trata de Inovação Educacional na UFPE, de caráter interdisciplinar, com a

finalidade de propor tecnologias, metodologias de ensino e produtos multimidiáticos para a

inovação com qualidade na Educação Superior. Também foi instituída uma Coordenação para

tratar especificamente dos cursos no âmbito da UAB, que desenvolve a articulação, interação e

efetivação de iniciativas que estimulam a parceria dos três níveis governamentais (federal,

estadual, municipal) com a UFPE e entre as universidades públicas e demais organizações

interessadas.

Para garantir a implantação das ofertas de cursos UAB, existe uma equipe multidisciplinar

na Coordenação UAB/UFPE, articulada com a Coordenação do Conecte, com o intuito de

apoiar e dar suporte às unidades acadêmicas na promoção de cursos em EAD. A equipe

multidisciplinar é composta por Coordenação Pedagógica; Coordenação Tecnológica;

Coordenação Financeira; Coordenação de Comunicação e Elaboração de Material Didático e

pessoal de apoio administrativo.

Nesse capítulo, tratamos de questões da Educação a Distância, contemplando

inicialmente discussões em torno da EAD, particularidades e desdobramentos nas ofertas dos

cursos de graduação a distância. A seguir, apresentaremos os caminhos metodológicos deste

estudo, descrevendo o corpus que utilizaremos para realização das análises da pesquisa.

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4. CONTEXTO DA PESQUISA

Neste capítulo apresentaremos os procedimentos metodológico de nossa pesquisa. Relato

suas características para, em seguida, apresentar o locus da pesquisa, destacando a plataforma

Moodle, o curso de Geografia, fazendo um recorte mais detalhado na disciplina Introdução ao

Ambiente Virtual de Aprendizagem e, por fim, os participantes da pesquisa.

4.1 Caminho metodológico

Esta pesquisa tem como pressuposto a abordagem quanti-qualitativa. Segundo as

pesquisadoras Bruggemann e Parpinelli (2008), essa combinação permite que o objeto de

estudo seja analisado nos seus diferentes aspectos, ou seja, é possível ter uma visão mais

holística. Desse modo, optamos por esse tipo de abordagem para facilitar nossa compreensão

em torno das práticas de letramento(s) digital (is) desenvolvidas com os estudantes ingressos

no curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância, levando em consideração o

perfil dos educandos e suas dificuldades no processo de familiarização com o ambiente virtual

de aprendizagem.

Quanto aos procedimentos, é uma pesquisa-ação, “que procura unir a pesquisa à ação ou

prática, isto é, desenvolver o conhecimento e a compreensão como parte da prática” (ENGEL,

2000, p. 182). Assim, por meio desse tipo de procedimento, foi possível investigar e intervir

sobre nossa própria prática, buscando minimizar as dificuldades encontradas pelos estudantes

no que se refere ao letramento digital.

Neste trabalho procuramos identificar as necessidades iniciais que os estudantes têm no

início do curso com em relação à configuração da modalidade a distância. Para efeito de

entender esse processo, além de observar o momento de primeiro acesso ao AVA pelos

estudantes, escolhemos também conhecer o perfil deles e observar a disciplina Introdução ao

Ambiente Virtual, pois ela se configura como uma disciplina que permite que o educando

familiarize-se com essa nova linguagem digital que permeia os cursos EAD. Dessa maneira,

percebemos que a melhor forma para obtenção dos dados seria por meio de observações e

aplicação de questionário (apêndice C).

Em relação às observações, foram realizadas na primeira turma do curso de Licenciatura

em Geografia na modalidade a distância da UFPE, que aconteceram durante o início do

primeiro semestre de 2015 e se materializaram em duas partes: a primeira aconteceu no período

de matrícula e inserção dos educandos no Moodle, no período de 05/03/15 a 16/03/15, momento

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esse que temos o primeiro contato com os estudantes; já a segunda sucedeu-se a partir de

observações na disciplina Introdução ao Ambiente Virtual, entre os dias 23/03/15 a 30/04/15,

esse momento compreendeu aos quatro primeiros módulos da disciplina.

No primeiro momento, as observações foram realizadas com participação ativa da

pesquisadora, já que se tratava do seu ambiente diário de trabalho; para isso, foi necessário estar

o tempo todo atenta e aberta para uma escuta sensível das dificuldades que iam surgindo durante

o seu horário de atividades na coordenação pedagógica da UAB/UFPE.

Em relação ao segundo momento, o acesso ao Moodle, para observações na disciplina

Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem, era realizado três vezes na semana e sempre

à noite, pois não havia atividades síncronas programadas que exigissem acompanhamento em

tempo real. Nesses momentos, que duravam em torno de uma hora, observávamos a dinâmica

das aulas, disposição e tipo do material ofertado, atividades, fóruns e interação.

No que diz respeito aos registros das observações, foram realizadas por meio de

anotações de dados que acreditávamos serem importantes para compor o corpus da pesquisa,

como também print screen das telas que poderiam ilustrar as observações. Durante esse

processo, procuramos permanecer atentos à maneira como a disciplina Introdução ao Ambiente

Virtual estava organizada tendo em vista familiarizar o educando com a linguagem e

ferramentas próprias do Moodle para atender às necessidades iniciais dos educandos quanto às

práticas de letramento digitais. É importante destacar que as observações na plataforma Moodle

foram realizadas pela pesquisadora a partir da permissão de acesso concedida pela

Coordenadora UAB/UFPE (apêndice A).

Adicionalmente, aplicamos também um questionário estruturado (apêndice C) aos

educandos (apêndice C), com 25 (vinte e cinco) questões fechadas, que foram divididas em 2

(duas) partes, a saber: o perfil do estudante do curso de Geografia, principalmente em relação

às práticas de letramentos digitais que já tinham contato antes de realizarem o curso, como

também identificar os conhecimentos e dificuldades em relação ao Moodle. Para essa realização

utilizamos a ferramenta do Google Docs., que permite a construção de formulários, textos,

planilhas e apresentações. Após elaboração do questionário, inserimos em sua primeira página

o Termo de Livre Consentimento (apêndice B). Assim feito, encaminhamos o link do

questionário via e-mail para os educandos e, caso concordassem, deveriam assinalar no ícone

concordo que, ao ser selecionado, dava acesso aos demais itens do questionário.

É oportuno ressaltar que tanto nas observações realizadas no Moodle, como na construção

do questionário Google Docs, observou-se o aporte teórico que baliza a presente pesquisa.

Assim, a análise dos dados obtidos foi realizada à luz da concepção de letramento digital ampla,

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considerando que a utilização das tecnologias da comunicação e informação devem ser

aprendidas e utilizadas dentro de um contexto mais amplo, que inclui não apenas ter

conhecimento funcional, mas, sobretudo, aprender de maneira crítica um novo tipo de discurso

que emerge do contexto digital (SOUZA, 2007).

Após análise das observações e dos dados obtidos a partir do questionário fomentamos a

intervenção, que se concretizou na oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente virtual

Moodle. Para alcançar tal objetivo, propomos, no mês de maio, uma oficina nos polos de apoio

presencial (Tabira, Pesqueira e Surubim), onde são realizados os encontros presenciais

obrigatórios do curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância, com duração de

três horas. Para mobilização dos participantes, encaminhamos e-mail a todos os respondentes

do questionário convidando-os para oficina.

A escolha de uma oficina como projeto de intervenção se deu pelo fato de ser uma

metodologia de trabalho que prevê a formação coletiva através de um espaço facilitador, em

que podemos vivenciar teoria e prática. Essa oficina teve como objetivo criar um espaço onde

pudéssemos refletir e trbalhar as necessidades dos educandos observados na pesquisa em

relação ao AVA.

4.2 Lócus da pesquisa: O MOODLE

A título de contextualizar o ambiente virtual de aprendizagem utilizado nos cursos da

UAB/UFPE, apresentaremos o Moodle (Modular Object Oriented Dynamic Learning

Environment).

O projeto Moodle surgiu, de acordo com o criador Dougiamas (2006), pela sua convicção

no potencial das possibilidades da educação mediada pela internet, tendo como preceito a ideia

uma plataforma que fosse fácil de usar. Assim, o Moodle é uma plataforma com a finalidade de

desenvolver processos de ensino e aprendizagem baseada em software livre, a primeira versão

foi lançada em 20 de agosto de 2002. Segundo Silva (2011), o criador do Moodle trabalha com

uma perspectiva dinâmica da aprendizagem, em que a epistemologia socioconstrutivista e as

ações colaborativas ocupam lugar de destaque.

A UAB/UFPE, tendo em vista as orientações do Ministério da Educação para padronizar

o AVA a ser utilizado em seus cursos, faz uso do Moodle deste a inserção do primeiro curso a

distância, em 2008. Braga (2013) afirma que a escolha pela plataforma Moodle tende a ser a

preferida, pelo fato de oferecer um conjunto maior de ferramentas e apresentar uma interação

mais amigável com os diferentes endereços da internet.

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A figura 2 a seguir ilustra como é a interface da página inicial dos cursos de graduação

da UAB/UFPE.

Figura 2 – Interface da página inicial dos cursos de graduação da UAB/UFPE.

Fonte: Print screen da página inicial do Moodle da UAB/UFPE

A versão utilizada do Moodle pela UAB/UFPE é a 2.6, que apresenta diversos recursos e

atividades para estruturar o curso. Para compreendermos melhor as ferramentas de recursos e

atividades utilizadas, bem como a diferença entre ambos, debruçaremo-nos nas explicações de

Silva (2011). Para o autor, recursos são as principais ferramentas para disponibilização dos

materiais de estudo, como podemos ver na figura 3 a seguir:

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Figura 3 - Opções do menu de recursos do Moodle.

Fonte: print screen da página do Moodle da UAB/UFPE

A figura 3 exemplifica os recursos do Moodle. Dos listados na figura, os mais utilizados

nos cursos ofertados por meio do Moodle da UAB/UFPE são: arquivo, que permite o envio e a

disponibilização do arquivo no AVA; livro, que possibilita a construção de páginas interligadas

- o conteúdo pode aparecer de forma contínua ou em forma de capítulo, podendo agregar

diferentes mídias; URL, que disponibiliza links de acesso a endereço na internet; Página, que

viabiliza a construção de páginas web por meio do uso de textos, figuras, filmes, sons e etc.;

Pasta, recurso destinado a reunir e organizar arquivos enviados ao curso; e Rótulo, com este

recurso é possível criar uma melhor organização do conteúdo.

No que diz respeito às atividades, Silva (2011, p. 83) “aponta como o grande dinamizador

da aprendizagem no Moodle”, ou seja, são ferramentas que permitem criar espaços de interação

e interatividade. A figura 4 retrata a página do Moodle com as opções de atividades.

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Figura 4: Opções de atividades do Moodle.

Fonte: Print screen da página do Moodle da UAB/UFPE

A partir da figura 4, podemos destacar as ferramentas de atividades mais usuais no

Moodle observado: Chat, também conhecida como bate-papo, permite a interação online e

simultânea (síncrona) entre os participantes do curso; Escolha possibilita a construção de

atividades por meio de formulários com perguntas e respostas; Fórum, possibilita a criação de

atividades de discussão assíncrona; Glossário, destinado à criação de dicionários de termos

relacionados ao conteúdo desenvolvido no curso; Lição, propicia que sejam trabalhadas

perguntas e respostas intercaladas com apresentações de arquivos de diferentes formatos;

Pesquisa de avaliação, permite o feedback das atividades realizadas pelos participantes do

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curso; Questionários, viabiliza uma grande variedade de exercícios e avaliações online, a partir

de questões objetivas e dissertativas; Tarefa, esta atividade possibilita que sejam realizadas

tarefa diretamente no AVA (texto on-line) ou por meio do envio de arquivos; e Wiki, que

viabiliza que vários participantes construam textos coletivamente.

Durante as observações também presenciamos a utilização da videoconferência, que é

uma ferramenta síncrona que permite o contato visual e sonoro entre pessoas em lugares

distintos, como também, do GeoGebra que consiste em um software de matemática. Entretanto,

tratam-se de ferramentas que não são nativas do Moodle, mas de uma possibilidade que a

plataforma permite para implementar outras ferramentas através de um plug-in.

Através do que foi mostrado nesta seção, percebemos que o Moodle é permeado por várias

possibilidades de recursos e atividades que são disponibilizadas para o desenho do curso; no

entanto, demanda novas habilidades e competências, uma vez que o processo de ensino e

aprendizagem passa a ser mediado por tecnologias da informação e comunicação, permeadas

por linguagens próprias que foram construídas ou ressignificadas para o meio digital.

No caminhar da UFPE com cursos a distância, a utilização do Moodle tem tido um

crescimento bastante significativo, principalmente no que diz respeito à demanda pela abertura

de salas no ambiente para apoio à disciplinas dos cursos presenciais.

Para garantir a implantação dos cursos, levando em conta as especificidades do ensino a

distância e do ambiente virtual Moodle é realizado com as equipes dos cursos, composta por

coordenador de curso, coordenador de tutoria, professores, tutores e secretários, curso de

formação, que se baseia em oficinas de ambientação ao Ambiente Virtual de Aprendizagem

ministrada pela Coordenação Tecnológica da UAB/UFPE. Como também é promovido pela

Conecte/UFPE cursos de extensão visando a formação da equipe que já atua nos cursos e quer

se aperfeiçoar, ou para indivíduos que têm interesse em trabalhar com cursos EAD. No tocante

à ambientação ao Moodle pelos educandos, alguns cursos, especialmente os de licenciatura,

ofertam a disciplina de Introdução ao Ambiente Virtual, como veremos na próxima seção

quando descreveremos o curso de Geografia.

4.2.1 O curso de Licenciatura em Geografia EAD da UFPE

A oferta do curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância, pelo

Departamento de Ciências Geográficas é resultado da proposição do curso realizado por esse

Departamento junto à Coordenação UAB/UFPE em atendimento à chamada do edital UAB Nº

02/2013 para apresentação de propostas de oferta/reoferta/expansão de cursos, tendo como

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58

finalidade participar da democratização e interiorização do ensino superior, mediante a oferta

de formação inicial para professores.

Apesar do resultado do referido edital ter sido divulgado no final de 2013, a primeira

oferta do curso iniciou-se apenas em março de 2015, por meio de vestibular. Nessa primeira

oferta ingressaram 54 educandos, distribuídos da seguinte maneira nos polos de apoio

presencial: 14 educandos em Pesqueira, 25 em Surubim e 15 em Tabira. Ao final do semestre

de 2015.1, identificamos 47 estudantes regularmente matriculados em todo o curso de

Geografia.

Os três polos de apoio presencial citados ficam localizados no interior de PE, e como

mencionado no capítulo anterior, é o local onde acontecem os encontros presenciais previstos

por lei aos cursos a distância.

No tocante ao Projeto Político Pedagógico – PPC (2013) do curso tem como objetivo

colocar no mercado de trabalho profissional docente para atuar no ensino fundamental e médio,

com conhecimento geográfico necessário e capaz de pesquisar e dominar as dimensões política,

social, econômica, cultural e psicológica no processo ensino-aprendizagem em consonância

com a realidade atual. Portanto, o seu perfil deve ser de um educador capaz de aplicar o

conhecimento geográfico à realidade vivenciada pelo aluno.

Visando adequar o curso ao meio virtual numa perspectiva de comunidade virtual, o PPC

(2013) baseia-se nos pressupostos construtivista e sociointeracionista, considerando a interação

como elemento fundamental no processo de ensino e aprendizagem, que pressupõe trocas

dialógicas e bidirecionais entre professores, tutores e alunos. Nesse processo, preconiza que a

ambiência comunicacional, própria dos cursos EAD, deve romper com a lógica unidirecional

da mídia de massa e dos sistemas tradicionais de ensino para evitar a subutilização das

tecnologias digitais de comunicação no ciberespaço. Assim, as práticas de EAD devem

enfatizar a produtividade e integração de modo a promover a articulação de saberes

intermultidisciplinarmente, perpassando todos os sujeitos envolvidos, da concepção à

execução.

O curso, como os demais da instituição, é ofertado no ambiente virtual de aprendizagem,

Moodle, que oferece várias ferramentas e cada curso faz uso daquelas que melhor lhe convêm,

assim, destacamos as seguintes preconizadas pelo PPC (2013) do curso de Geografia: chat,

fórum, glossário, pesquisa de avaliação, questionário e lição. No entanto, os educadores,

responsáveis pelas disciplinas têm autonomia para implementar outras ferramentas que

acreditem serem necessárias para o desenvolvimento da sua prática pedagógica.

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59

No que se refere à organização do curso, apresenta um total de 3.020 horas, distribuídos

em oito semestres, com o máximo de catorze semestres para integralização, estrutura-se da

mesma maneira do presencial, envolvendo os professores, quando possível, das mesmas

disciplinas pertencentes ao quadro da UFPE. A única diferença, em relação à grade de

disciplinas do presencial é a inserção da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual, pois como

se trata de um curso a distância, os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a

Distância (2007, p.10) aponta para a necessidade de

Um módulo introdutório que leve ao domínio de conhecimentos e habilidades básicos,

referente à tecnologia utilizada e/ou ao conteúdo programático do curso, prevendo

atividades de acolhimento do estudante, assegurando a todos um ponto de partida

comum.

Nesse cenário que se desenha o curso de Geografia a distância, essa disciplina é de

extrema relevância, pois como o educando é o ator principal do processo de ensino e

aprendizagem e como sinaliza os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância

(2007, p. 10) “frequentemente a metodologia da educação a distância representa uma

novidade”, o módulo de introdução fornece meios para os educandos familiarizam-se com a

nova sala de aula, o ambiente virtual, que tem recursos e linguagens próprias do meio digital.

Para melhor visualização da disciplina, pois acreditamos que é através dela que as práticas

de letramento digital do curso em tela são consolidadas inicialmente, será descrita a seguir a

forma como é estruturada.

4.2.2 Disciplina Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem

A proposta da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem realizada nos

cursos de geografia tem como objetivo conceituar e apresentar modelos de Educação a

Distância, como também apresentar o Moodle e suas ferramentas. Traz os seguintes objetivos

como pressupostos: compreender os diferentes modelos de EAD; conhecer a legislação sobre

EAD; conhecer a plataforma Moodle e suas ferramentas; discutir sobre a didática do professor

na modalidade EAD.

Trata-se de uma disciplina obrigatória da grade curricular do curso de Geografia, ofertada

no primeiro período, com carga horária de 30 horas, conforme podemos ver na figura a seguir.

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60

Figura 5 - Componentes curriculares do 1º período do curso de Geografia a distância

Fonte: Print screen da página do Sistema de Informações e gestão Acadêmica/UFPE

De acordo com a figura 5 e o PPC (2013) do curso, a disciplina Introdução ao Ambiente

Virtual de Aprendizagem tem como ementa a educação a distância – conceitos básicos; internet

– recursos midiáticos, navegação e interação; ambiente virtual de aprendizagem- ferramentas e

projeto de curso – reflexão. A partir dessa ementa, é possível entender que a disciplina tem o

propósito de orientar o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao uso das Tecnologias de

Informação e Comunicação utilizadas no ambiente virtual de aprendizagem do curso para além

dos aspectos instrumentais, mas como práticas educativas mediatizadas.

No que se refere às aulas da disciplina, estas são organizadas em dez módulos, todos

realizados a distância; entretanto, o último não é obrigatório, trata-se apenas de um módulo para

as férias, com a finalidade de apresentar aos educandos um texto sobre como dinamizar a sala

de aula contemporânea. A figura 6 extraída do ambiente virtual de aprendizagem apresenta a

organização por módulos.

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61

Figura 6 - Organização da disciplina por módulos

Fonte: Print screen da página do Moodle da UAB/UFPE

Como é possível ver na figura 6, a duração do módulo é de aproximadamente uma

semana. Cada módulo combina leituras e atividades realizadas com as ferramentas de vídeos,

fóruns de discussões e Webconferência no Moodle. Destes, o fórum é a ferramenta mais

utilizada e sempre mediado pelo professor. Essa organização do módulo pode ser mais bem

compreendida a partir da figura 7.

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62

Figura 7: Como o módulo é estruturado

Fonte: Print screen da página do Moodle da UAB/UFPE

A partir da imagem 7 é possível visualizar que o módulo é organizado tendo em vista

agregar atividades e recursos do Moodle que possibilitem leituras, colaboração e interação entre

os educandos. Essa sistematização é observada em toda a organização da disciplina.

A seguir, descreveremos os sujeitos pesquisa.

4.3 Participantes da pesquisa

Participaram desta pesquisa 24 educandos matriculados regularmente no curso de

Licenciatura em Geografia na modalidade a distância da primeira oferta do curso, iniciada em

2015.1, dos polos de apoio presencial de Pesqueira, Surubim e Tabira.

Quanto à seleção dos participantes, foi encaminhado o questionário do Google Docs aos

54 educandos que realizaram a matrícula no curso após aprovação no vestibular 2015.1. Destes

54 educandos matriculados identificamos que 7 desistiram do curso na primeira semana, por

motivos ainda desconhecidos, reduzindo esse universo para 47 educandos. Destes, 24

encaminharam o questionário devidamente preenchido, com o Termo de Livre Consentimento

assinado.

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63

Dos 24 sujeitos que aceitaram participar da pesquisa, 5 são do polo de Pesqueira, 14 do

polo de Surubim e 5 do polo Tabira. É interessante ressaltar que nem todos os participantes

moram nas cidades onde são localizados os polos, pois existem estudantes que são oriundos de

cidades circunvizinhas.

Dando seguimento, dedicaremos o capítulo seguinte à discussão dos dados obtidos por

meio das observações e aplicação do questionário, como também, a descrição do projeto de

intervenção, Oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente virtual Moodle, fruto das reflexões

realizadas no decorrer da pesquisa.

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5. OS DADOS E SUAS ANÁLISES

Este capítulo destina-se à análise dos dados que compõem o corpus desta pesquisa

gerados a partir da aplicação do questionário e das observações realizadas durante o processo

de inserção dos educandos no Moodle, como também na disciplina Introdução ao Ambiente

Virtual de Aprendizagem. Por fim, descreveremos o fruto dessas reflexões, a oficina de

intervenção.

5.1 O questionário em evidência

Nesta seção promovemos a descrição, análise e discussão dos dados da pesquisa com o

questionário. Com o objetivo de melhor organizar os dados obtidos dividiremos essa análise

em dois eixos temáticos, o primeiro com o perfil dos participantes e o segundo tomará como

base dados do ambiente virtual de aprendizagem, plataforma Moodle.

5.1.1 Primeira parte do questionário: perfil dos participantes

Nesta seção apresentamos os dados relativos ao perfil dos participantes da pesquisa,

educandos ingressos no curso de Geografia na modalidade a distância.

Participaram deste estudo 24 (vinte e quatro) educandos regularmente matriculados no

curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância da Universidade Federal de

Pernambuco.

É interessante esclarecer que realizamos o levantamento do perfil dos educandos por

acreditar na importância de se conhecer a singularidade dos participantes, principalmente no

que diz respeito à ações de letramento digital que são vivenciadas no dia a dia.

O gráfico 1 demonstra que 10 (42%) dos respondentes apresentam idade acima de 29

anos, 7 (29%) entre e 21 e 28 anos, 7 (29%) menos de 21 anos. A média da faixa etária dos

educandos participantes da pesquisa, ingressos no curso de Geografia EAD, é alta se comparada

ao educandos ingressos em cursos na modalidade presencial, que a maioria6 (73,7%) está na

faixa de 18 a 24 anos. Entretanto, se comparada a faixa etária dos estudantes de cursos a

distância revela-se uma turma distinta do perfil atribuído, que de acordo com a Associação

6 Dados obtidos da pesquisa realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino

Superior – ANDIFES. Disponível em: http://www.andifes.org.br/?s=relat%C3%B3rio+de+2012. Acesso em: 20

de jun. 2015.

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Brasileira de Educação a Distância - ABED7 (2013), a predominância na idade é acima dos 30

anos.

Gráfico 1 - Idade dos participantes

Fonte: Acervo da pesquisa

Com base no gráfico 2 podemos afirmar que quanto ao gênero o grupo divide-se em 14

(58%) mulheres que corresponde a mais da metade do grupo e 10 (42%) homens. Prevalecendo

o número maior de mulheres historicamente observado nas turmas de licenciatura.

7 Dados obtidos do Censo EAD realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED). Disponível

em: http://www.abed.org.br/censoead2013/censo_EAD_2013. Acesso em: 20 de jun.2015.

29%

29%

12%

17%

13%

Idade

Menos de 21 anos

De 21 a 28 anos

De 29 a 35 anos

De 36 a 42 anos

Mais de 42 anos

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Gráfico 2 - Sexo dos participantes

Fonte: Acervo da pesquisa

No que diz respeito ao curso de Geografia, o gráfico 3 demonstra que para 17 (71%)

educandos do grupo pesquisado trata-se da primeira graduação, enquanto para 7 (29%), o curso

de geografia refere-se a segunda graduação. Esses dados demonstram que se faz necessário um

atendimento mais acolhedor a esses educandos, pois como se trata da primeira graduação da

maioria dos participantes, eles sentem as mudanças na sua vida estudantil, que demanda mais

autonomia para estudar. Esse fato se amplia ainda mais quando falamos de um curso superior

a distância, pois é necessário também adaptar-se a novas situações de aprendizagem mediadas

pelo uso das tecnologias da informação e comunicação.

Gráfico 3 – Possibilidade do curso de Geografia EAD ser a primeira graduação

Fonte: Acervo da pesquisa

58%

42%

Sexo

Feminino

Masculino

71%

29%

O curso de Geografia na modalidade a distância é sua primeira

graduação?

Sim

Não

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Em relação ao questionamento sobre se o educando já atua como professor, de acordo

com o gráfico 4 observamos que mais da metade ainda não atua como professor; assim, 17

(71%) educandos ainda não são professores e apenas 7 (29%) educandos já atuam como

professor.

Gráfico 4 – Atuação como professor

Fonte: Acervo da pesquisa

O gráfico 5 indica que os 24 educandos, ou seja, 100% dos participantes, fazem uso de

computador frequentemente. Assim, podemos considerar que o computador atualmente faz

parte da vida destes educandos.

Gráfico 5 – Frequência do uso do computador

Fonte – Acervo da pesquisa

Sim

29%

Não

71%

Você atua como professor ?

Sim

Não

Sim

100%

Não

0%

Você usa o computador com frequência?

Sim

Não

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Quando perguntados sobre o equipamento tecnológico, o gráfico 6 demonstra que o mais

utilizado pelos participantes é o notebook. Nesse item, 11 (46%) educandos assinalaram que

fazem uso do desktop. Entre os demais, 6 (25%) educandos destacaram o celular; 3 (13%) o

tablete; 2 (8%) o desktop e 2 (8%) escolheram outros. Acreditamos que essa escolha por

notebooks revela que os educandos preferem um dispositivo que reúna praticidade de um objeto

portátil, com recursos que permitem redigir textos com formatações mais sofisticadas, além de

armazenar um número maior de arquivos.

Gráfico 6 – Equipamento tecnológico mais utilizado

Fonte: Acervo da pesquisa

Analisando o gráfico 7 constatamos que dentre a maioria dos participantes o acesso a

internet é realizado em casa, esse dado demonstra que para quase todos os participantes o acesso

ao Moodle não deve ser considerado um obstáculo. Assim, dos 24 participantes, 17 acessam a

internet em casa, o que representa 71% do total. Dentre os demais, 4 acessam em casa ou no

trabalho, num percentual de 17%, 2 no trabalho, num percentual de 4% e apenas 1, num

percentual de 2%, utiliza o polo de apoio presencial para acessar a internet.

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Gráfico 7 - Ambiente de acesso a internet

Fonte: Acervo da pesquisa

No tocante à frequência de acesso a internet o gráfico 8 revela que 92% dos respondentes,

ou seja, 22 dos educandos, acessam a internet diariamente; apenas 8%, o que equivalem a 2

participantes, acessam semanalmente. O que chama nossa atenção nesses dados apresentados

não é o caso da maioria afirmar que acessa a internet frequentemente, mas o fato de dois

educandos matriculados em um curso na modalidade a distância não acessarem o ambiente

diariamente, desde que, obrigatoriamente, estão tão expostos às atividades online que são

disponibilizadas no Moodle, com prazos exequíveis de poucos dias. Esse fato, além de

comprometer o desenvolvimento das atividades propostas faz com que o educando acumule

leituras e não interaja com constância nos fóruns e chats propostos por educadores, momentos

esses tão importantes para a construção de uma aprendizagem significativa.

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Gráfico 8 – Frequência de acesso a internet

Fonte: Acervo da pesquisa

Quando perguntados se possuíam e-mail pessoal, com base no gráfico 9 identificamos

que 24 (100%) participantes têm e-mail. É interessante assinalar que possuir e-mail é um pré-

requisito para o cadastro do educando no ambiente virtual de aprendizagem, Moodle.

Gráfico 9 – Possui e-mail

Fonte: Acervo da pesquisa

24

Possui e-mail pessoal ?

Sim Não

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No que se refere ao tempo em que os participantes têm e-mail, conforme o gráfico 10

podemos considerar 8 (33%) têm há mais de 5 anos, 7 (29%) há menos de 5 anos, 6 (25%)

menos de 1 ano e 3 (13%) há menos de 6 meses. Fazendo uma relação deste último dado com

nossas observações in loco, identificamos alguns educandos criaram um endereço de e-mail

pela necessidade para cadastro no ambiente virtual de aprendizagem.

Gráfico 10 – Tempo que possui e-mail

Fonte: Acervo da pesquisa

De acordo com o gráfico 11, quando questionados se possuíam conta em algum site de

relacionamento, 87% dos respondentes afirmaram positivamente, já 13% não participam. Nesse

contexto, podemos inferir que a maioria dos educandos utiliza as redes sociais, essa participação

revela que os participantes da pesquisa interagem com diversas pessoas, em diferentes espaços

por meio dos recursos de comunicação assíncrona e síncrona, como também são familiarizados

com espaços em que circulam textos multimoldais, ou seja, textos constituídos por diferentes

linguagens, como assinala Serafim (2014).

13%

25%

29%

33%

Em caso positivo, a quanto tempo?

Menos de 6 (seis)meses.

Menos de 1 (um)ano.

Menos de 5 (cinco)anos.

Mais de 5 (cinco)anos.

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Gráfico 11 – Possui conta em site de relacionamento

Fonte: Acervo da pesquisa

Em relação ao gráfico 12, quando perguntados se possuíam site pessoal, todos

responderam negativamente, ou seja, 100%. Esse tipo de resposta é bem aceitável em relação a

possuir site, pois se trata de um espaço que demanda um alto nível de letramento digital.

Gráfico 12 – Site pessoal

Fonte: Acervo pessoal

87%

13%

Possui conta em algum site de relacionamento (Facebook, Twitter,

Instagram, Google +, MySpace, Badoo,entre outros )?

Sim

Não

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De acordo com o demonstrado no gráfico 13, apenas 1 (4%) participante respondeu

positivamente sobre possuir blog, o que revela, mesmo que timidamente, que entre os

participantes, para um a cultura digital é algo já consolidada. O blog é um excelente meio para

publicar textos, imagens, vídeos e interagir, ou seja, vivenciar as práticas de letramento digital.

Essa experiência pode servir de incentivo para construção de um blog educativo para turma,

pois além de várias ações de troca de informações é um incentivo para desenvolver a escrita de

materiais sobre assunto do curso de Geografia.

Gráfico 13 - Possui blog

Fonte: Acervo pessoal

No tocante ao questionamento sobre se costumam fazer pesquisas de trabalho utilizando

buscadores da internet, o gráfico 14 indica que 87% dos respondentes têm o hábito de realizar

buscas na internet, enquanto 13% afirmam que não. Essa afirmativa da maioria dos

participantes demonstra que a internet é uma aliada para realização de pesquisas.

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Gráfico 14 – Trabalhos utilizando buscadores da internet

Fonte: Acervo da pesquisa

Complementando a questão anterior que resultou no gráfico 15, perguntamos aos

participantes como utilizam a internet para pesquisa. Conforme o gráfico 15, 14 (58%)

responderam que usam vários sites e procuram escolher as melhores opções, 6 (25%) usam sites

famosos, pois consideram mais confiáveis, 3 (13%) usam sites acadêmicos e 1 (4%) afirmou

usar vários sites, mas não comparar as informações. A partir dos dados, é notável que a maioria

procura sites para realizar pesquisas pela confiabilidade, revelando serem críticos, pois

comparam e buscam informações em mais de uma fonte, o que é muito bom, pois quando

utilizamos dessa maneira, a internet torna-se uma grande aliada em nossas pesquisas, atráves

dos diversos conteúdos em diversos gêneros. Por outro lado, alguns, justamente por essa

diversidade de informações, creditam confiabilidade nos conteúdos encontrados sem perpassar

por uma análise mais detalhada do texto, correndo o risco de cometer equívocos, com subsídios

incorretos.

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Gráfico 15 – Realização de pesquisas na internet

Fonte: Acervo da pesquisa

Ao fim desta primeiro parte, podemos inferir, a partir dos dados obtidos, que é uma turma

bem diversificada. O uso da tecnologia, de alguma maneira, já faz parte da vida destes

educandos. Entretanto, para a maioria dos educandos, esta é a primeira graduação; assim,

mesmo os educandos que podemos considerar como nativos digitais, isto é, que nasceram e

cresceram com as tecnologias digitais (BEHAR; RIBEIRO, 2013), precisam se adaptar a uma

nova fase do processo educacional, como também a uma nova modalidade de ensino, bem

diferente do modelo tradicional, realizado em um ambiente virtual de aprendizagem, com

linguagens e ferramentas próprias do mundo digital.

Depreendemos também, que os educandos, em sua maioria, interagem com alguma

prática de letramento digital. Em relação a essas práticas, podemos inferir que as mais

recorrentes são enviar e receber e-mails, consultar e pesquisar na rede e acessar sites de

relacionamento. Destacamos que apenas um educando consegue articular os recursos das TIC

tirando proveito para sujeitar práticas de letramento digital a partir do uso do blog.

Retomando ao que foi proposto no início dessa seção, após conhecer o perfil do

participante da pesquisa, deteremo-nos a segunda parte do questionário: práticas no ambiente

virtual de aprendizagem.

0%4%

58%

25%

13%

Como você realiza suas pesquisas na internet?

Uso o primeiro site que acesso.

Uso vários sites, mas não comparo asinformações entre um e outro.

Uso vários sites e procuro escolher asmelhores opções.

Uso sites famosos, pois consideromais confiáveis.

Uso sites acadêmicos, pois oconsidero mais confiáveis.

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5.1.2 Segunda parte do questionário: práticas no ambiente virtual de aprendizagem

Feitas as ressalvas iniciais sobre o perfil dos particpantes, deteremo-nos em analisar a

segunda parte do questionário, com o objetivo de identificar as principais dificuldades acerca

do letramento digital no início do curso encontradas pelos educandos e seus respectivos níveis

de saberes na interação e uso do Moodle.

Dentre as perguntas sobre o Moodle, questionamos se já haviam realizados algum cursos

a distância. O gráfico 16 mostra que 19 (79%) dos participantes nunca realizaram um curso a

distância, 3 (13%) já realizaram, entretanto, não foi através do Moodle, e 2 (8%) responderam

positivamente e que por meio do Moodle. Esses dados nos fazem analisar que a maior parte

desconhece a configuração de um curso realizado na modalidade a distância, o qual requer

habilidades específicas, que demandam além de conhecimentos funcionais sobre o uso das

tecnologias da informação e comunicação, aprender a lidar criticamente com a nova linguagem

que emerge neste contexto digital.

Gráfico 16 – Realização de algum curso a distância

Fonte: Acervo da pesquisa

Em relação ao questionamento sobre se os respondentes da pesquisa consideram o

Ambiente Virtual de Aprendizagem fácil ou difícil, o gráfico 17 revelou que entre eles 17 (71%)

apontam que se trata de um ambiente de fácil uso, em contrapartida, 7 (29%) afirmam que é um

ambiente difícil de se navegar. Essa informação sobre considerar o Moodle um ambiente difícil

por uma parcela dos respondentes é bem compreensível, pois a pesquisa foi realizada com

13%

8%

79%

Você já realizou algum curso a distância?

Sim, mas não por meio do Moodle.

Sim, através do Moodle.

Nunca realizei um curso a distância.

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educandos do primeiro período, que ainda estão familiarizando-se com o novo espaço.

Entretanto, é necessário que se realize um trabalho que minimize essas dificuldades no início

do curso, desenvolvendo estratégias que possa auxiliar esse educando a compreender o Moodle

como um espaço digital que vai além de meras ferramentas, mas que possibilita, sobretudo,

compartilhar ações. Esse acolhimento no início do curso, além de permitir que o educando sinta-

se familiarizado com o ambiente virtual, minimiza a possibilidade de evasão, pois pesquisa

realizada por Bittencourt e Mercado (2014) demonstra as dificuldades do educando com

habilidade para usar as TIC no início do curso, sendo um dos motivos das causas de evasão em

cursos na modalidade a distância.

Gráfico 17 – Consideração sobre o ambiente virtual de aprendizagem

Fonte: Acervo da pesquisa

Quando questionados sobre qual a maior dificuldade encontrada no Moodle, conforme

gráfico 17, 14 (58%) dos participantes relataram alguma dificuldade, ou seja, mesmo alguns

dos que consideram o Moodle fácil de usar, apresentam alguma objeção em relação ao

ambiente. Dentre eles, 6 (25%) relatam ter dificuldade em relação às ferramentas, 4 (17%) em

relação a identificar os materiais disponibilizados pelo professor, 3 (12%) em participar chat 1

(4%) em interagir nos fóruns. Ademais, 10 (42%) relataram que não têm dificuldades em

utilizar o ambiente.

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78

Gráfico 18 – Dificuldade com o AVA

Fonte: Acervo da pesquisa

No tocante aos dados do gráfico 19, 12 (50%) respondentes afirmaram que desconhecem

muitos dos recursos disponíveis no Moodle, e outros 12 (50%) informaram negativamente.

Como se trata de um dos ambientes virtuais de aprendizagem que mais disponibiliza recursos

é aceitável que os educandos não reconheçam todos os recursos que são disponibilizados de

acordo com a metodologia adotada pelo educador.

25%

4%

12%

17%

42%

Qual sua maior dificuldade no AVA?

Utilizar as ferramentas disponíveis.

Interagir por meio dos fóruns.

Utilizar os chats.

Identificar os materiaisdisponibilizados pelo professor.

Não tenho dificuldade de utilizar oAmbiente Virtual de Aprendizagem.

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79

Gráfico 19 – Desconhecimento dos recursos do AVA

Fonte: Acervo da pesquisa

Em relação ao gráfico 20, quando perguntados se as leituras dos textos disponibilizados

pelo professor eram sempre realizadas no próprio ambiente, 10 respondentes (42%) afirmaram

positivamente, ou seja, a leitura na tela para esses participantes “tornou-se órgão de visão”

(WEISSBERG, 2001, p. 122), é algo que já foi introjetado pela cultura digital devida o contato

com as TIC; em maior parte, 11 responderam (46%) que às vezes, enquanto 3 (12%)

responderam negativamente. Desses últimos dados podemos inferir duas questões. A primeira

é relacionada ao hipertexto, ou seja, para alguns a leitura em tela ainda é algo transitório, que

não foi consolidado completamente ou apesar de lidar com as tecnologias, ainda conservam

restrições. A outra questão tem a ver com o fato dos recursos das TIC, sobretudo acesso a

internet, nem sempre estar disponível a todos os educandos. Em visitas aos polos de apoio

presencial e conversas informais com os educandos podemos constatar o quanto a internet é

precária em algumas cidades de Pernambuco.

50%50%

0%

Desconhece muitos dos recursos disponíveis no AVA?

Sim

Não

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80

Gráfico 20 – Leitura dos textos no AVA

Fonte: Acervo da pesquisa

O Gráfico 21 mostra um dado relevante acerca do recurso do fórum. Ao serem

questionados sobre participação no fórum, 11 participantes (46%) afirmaram que sim, 12 (50%)

às vezes, e apenas 1 (4%) respondeu negativamente. Apesar de esse ser o recurso assíncrono

mais utilizado no curso em questão, que propicia a discussão entre os atores envolvidos nos

processos educativos e troca de saberes construído na singularidade, além de possibilitar que

possíveis dúvidas sejam dirimidas e conceitos sejam construídos e reconstruídos, observamos

a falta de constância no envolvimento dos educandos, inclusive, fato observado in loco. Essa

contextualização nos serve para compreender a falta de envolvimento de alguns educandos em

muitas das atividades propostas.

Quanto a esse aspecto, acreditamos ser importante que os educadores envolvidos no curso

incentivem essa participação pelos educandos, encorajando-os a expor suas ideias e, sobretudo,

explicando a importância do fórum na construção de uma aprendizagem colaborativa, pois

muitas vezes o educando não percebe qual o sentido de participar de um fórum, precisando ser

orientado sobre o valor desse recurso no seu desenvolvimento educacional.

42%

12%

46%

Lê os textos disponibilizados pelo professor sempre no próprio AVA

?

Sim

Não

Àsvezes

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81

Gráfico 21 – Participação nos Fóruns

Fonte: Acervo da pesquisa

Complementado as informações resultantes do gráfico 21, questionamos se os

participantes realizavam intervenções na mensagem dos outros participantes com comentários

e questionamentos. A partir do gráfico 22, observamos que a interação, elemento constitutivo

desse recurso, ainda não está consolidado entre os participantes. Assim, dos participantes, 3

(12%) informaram que dialogam a partir dos comentários dos outros, 10 (42%) às vezes e 11

(46%) não interagem a partir da mensagem do outro. Valendo-nos do que assinala Moran

(2003), que enxerga na colaboração, na troca e no compartilhamento de saberes possibilitadas

pela convivência virtual uma chance de aprendermos juntos, acreditamos que por ser o fórum

a ferramenta de interação mais utilizada no curso, observação realizada in loco, há troca de

ideias constantes e crítica através do olhar do outro sobre determinado assunto é essencial para

organização do pensamento.

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82

Gráfico 22 – Intervenção nos fóruns

Fonte: Acervo da pesquisa

No que diz respeito ao chat, item tratado no gráfico 23, diante do que foi observado,

inclusive in loco, podemos considerar que as dificuldades encontradas foram, sobretudo, pelo

fato de se tratar de uma atividade síncrona; assim, o horário viabilizado pelo educador nem

sempre condiz com a disponibilidade do educando. Dessa maneira, dos participantes, 10 (42%)

afirmaram que participam ativamente dos chats propostos, 8 (33%) às vezes e 6 (25%) não

participam.

Gráfico 23 – Participação nos chats

Fonte: Acervo da pesquisa

12%

46%

42%

No fórum você faz intervenção na mensagem dos outros

participantes com comentários e questionamentos?

Sim

Não

Àsvezes

42%

25%

33%

Participa ativamente dos chats no AVA?

Sim

Não

Às vezes

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83

Em relação ao gráfico 24, 14 (62%) dos respondentes indicam que não têm dificuldades

para postar atividades escrita no Moodle. Em contrapartida, 5 (21%) afirmam que às vezes e 4

(17%) que sim. Ou seja, apesar de se trata de uma atividade corriqueira solicitada pelos

educadores, ainda constitui-se como uma barreira para alguns dos participantes. Podemos

considerar que a interface da plataforma precisa ser mais bem explorada, para dirimir entraves

que acontecem no decorrer do curso e muitas vezes impossibilita a postagem de atividades no

prazo estipulado.

Gráfico 24 – Dificuldade para postar atividades

Fonte: Acervo da pesquisa

Por último, quando questionados sobre se na sua prática futura como docente pretendem

incluir o computador/internet como um recurso tecnológico em suas aulas, o gráfico 25 revela

que quase 100% dos participantes afirmam que utilizarão esses recursos. Essa indicação mostra

que a possibilidade de se trabalhar em sala de aula com computador/internet é uma ideia

formada pelos participantes, a grande questão que se impõe nesse contexto é a formação que

esse futuro educador está tendo para repensar a sala de aula a partir dessa cultura digital.

Acreditamos que, se sua passagem em um curso mediado por TIC for conduzida tendo em vista

a utilização desses recursos verdadeiramente como uma possibilidade pedagógica na

construção do conhecimento, provocarão um impacto positivo, pois saberão lidar criticamente

com as práticas de letramento digital que emergem nas escolas no cenário atual.

17%

62%

21%

Tem dificuldade para postar atividades escritas no AVA?

Sim

Não

Às vezes

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Gráfico 25 – Prática docente futura

Fonte: Acervo da pesquisa

Através do que analisamos, tendo como premissa a ideia do Moodle enquanto um meio

para se desenvolver uma aprendizagem dialógica, é possível tecer algumas considerações

relevantes acerca das práticas de letramento digital observadas nos educandos que iniciaram o

curso de Geografia a distância na UFPE.

Ao analisarmos, especificamente, os dados relacionados ao Moodle, percebemos que

mais da metade dos educandos revelou em algum momento alguma dificuldade em relação ao

ambiente de caráter funcional, como postagem de atividades, desconhecimentos das

ferramentas e acesso ao material didático.

Ainda sobre o Moodle, às questões relacionadas ao desenvolvimento de atividades

realizadas por meio do fórum, sendo essa a ferramenta de interação mais utilizada durante

nossas observações, deixam a desejar, foi possível notar que é necessário uma participação mais

efetiva dos educandos nas proposições dessas atividades, para que exista de fato uma

aprendizagem colaborativa. Assim, faz-se necessário que a importância dessa atividade seja

pauta de reflexão junto aos educandos, para que compreendam não apenas enquanto letramento

digital funcional (SELBER, 2004), isto é, uma ação técnica, mas, sobretudo, no seu aspecto

interacional, ou seja, como forma de ação social, que permite a construção coletiva de

conhecimento, que se dá a partir das trocas de experiências, das comparações dos processos de

pensamentos e das reelaborações de conceitos a partir do diálogo com o outro no meio digital.

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85

Outro aspecto observado, é a falta de conhecimento das ferramentas do moodle, não que

esta deva ser o nosso principal objetivo, mas ter conhecimento da interface que utilizará no

curso é imprescindível para articularmos uma maior reflexão sobre o potencial das TIC no

processo educativo. Acreditamos que a necessidade por essa reflexão se expande ainda mais

por estarmos falando de um curso de formação de professor, que em breve terão os papeis

invertidos e estarão como agente propulsores de transformação, sendo assim, faz-se necessário

compreender que nossa relação com a tecnologia não é apenas de consumidores, também

podemos usá-la para criar e ressignificar práticas educativas.

5. 2 Observações e análises

5.2.1 Observações realizadas durante a inserção dos educandos no Moodle

A primeira parte das observações aconteceu no início de março de 2015, quando foram

realizadas as matrículas dos candidatos aprovados no vestibular 2015.1 para o curso de

Licenciatura em Geografia. Este primeiro momento justifica-se pelo fato de ser quando

presenciamos as primeiras dificuldades relacionadas às práticas de letramento digital dos

educandos.

Para compreender melhor esse contexto, começaremos pelo processo de como esses

dados chegam à UAB para serem inseridos no Moodle.

Figura 8: Processos de cadastramento dos educandos no Moodle.

Fonte: Acervo da pesquisa

A figura representa o processo inicial de matrícula e inserção dos educandos no Moodle.

A COVEST, comissão responsável pela organização do vestibular, após o resultado final do

processo seletivo, encaminha a lista contendo os dados pessoais de todos os candidatos

aprovados no vestibular. A Coordenação do Corpo Discente/UFPE, de posse desses dados,

COVESTCOORDENAÇÃO

DO CORPO DISCENTE DA

UFPE

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA DA UAB/UFPE

COORDENAÇÃO TECNOLÓGICA DA UAB/UFPE

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86

organiza as matrículas dos educandos no primeiro período do curso. Depois da efetivação da

matrícula por esse setor é enviado à Coordenação Pedagógica da UAB a lista com as

informações necessárias para inserção dos educandos no Moodle. Antes dessa ação, a

Coordenação Pedagógica faz uma análise dos dados e entra em contato com todos os

matriculados no primeiro período por meio de e-mail explicando como acontecerá o primeiro

acesso ao ambiente virtual.

Concomitante ao e-mail repassado aos calouros, essa coordenação também remete uma

lista com cpf, nome e endereço de e-mail à Coordenação Tecnológica da UAB para inserir esses

dados no Moodle. Após inserção, automaticamente o sistema envia uma mensagem para o e-

mail disponibilizado pelo educando no período de matrícula informando que o primeiro acesso

será com o CPF (Cadastro de Pessoa Física) como login e senha. Realizado esse passo, o sistema

redireciona o usuário para alteração da senha, porém para este processo é necessário respeitar

a política de senha informada pelo sistema, como é possível visualizar na figura abaixo:

Figura 9: Demonstração da página de alteração de senha do Moodle

Fonte: Print screen da tela de alteração de senha do Moodle

Neste período, presenciamos as primeiras dificuldades em relação ao ambiente virtual de

aprendizagem. Como vemos na figura 9, com a intenção de utilizar senhas seguras os

administradores deste ambiente seguem a regra padrão do Moodle, assim, misturam números,

caracteres especiais, letras maiúsculas e minúsculas. Entretanto, essa configuração instituída

causa dificuldade de interpretação no momento da alteração de senha em muitos dos usuários,

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gerando inúmeras trocas de e-mails e telefonemas dos educandos com o objetivo da equipe da

coordenação pedagógica ou tecnológica auxilia-los na construção da nova senha.

A partir desse recorte, percebemos que mesmo os educandos que demonstravam uma

adaptação maior com as TIC, cuja probabilidade de sentir dificuldade era menor, tiveram

problemas para alterarem suas senhas. O que podemos inferir é que apesar de serem comandos

usuais utilizados no meio digital, a barreira encontrada não se tratava apenas de empecilho

tecnológico, mas sim de compreensão textual do que era instruído na política para construção

de senha.

Outra dificuldade observada nesta fase foi que 6 (seis) educandos forneceram o endereço

de e-mails que já estavam sendo utilizados por outro usuário no Moodle, dessa maneira a equipe

tecnológica ficava impossibilitada de fazer o cadastro desses, uma vez que de acordo Cônsolo

(2009, p.1) “o e-mail cadastrado não pode ser repetido, assim a lógica é que cada usuário tenha

apenas um cadastro no Moodle”.

Após detectar esse problema, a equipe pedagógica entrou em contato com esses

educandos, tanto por meio de e-mail, como por telefone, quando necessário por falta de resposta

a mensagem encaminhada, para identificar se realmente essas pessoas estavam usando e-mails

de terceiros ou tinha acontecido algum erro na hora de exportar o arquivo com os dados para o

Moodle.

Nesses contatos foram possíveis perceber que o uso das TIC ainda é algo distante para

alguns educandos que se matriculam em curso EAD, assim descartamos a possibilidade de erro

na exportação de arquivo e identificamos que realmente os 6 (seis) educandos que foram

contatados informaram a utilização do mesmo endereço de e-mail de familiares ou amigos

também aprovados no vestibular 2015.1 para o curso de Geografia. Desses, 4 (quatro) alegaram

não ter endereço de e-mail e 2 (dois) informaram que tinham apenas para acessar o Facebook8,

mas nunca utilizaram como correio eletrônico. Ou seja, para esses dois o e-mail era apenas uma

necessidade para realizar login em uma rede social.

Essas observações iniciais tiveram como objetivo ilustrar as primeiras dificuldades

relacionadas às práticas de letramento digital no Moodle, pois mostram que conhecimentos

elementares do mundo digital, como a utilização de um correio eletrônico, ainda é inacessível

para alguns. Durante esse processo outro ponto que chamou nossa atenção foi a dificuldade dos

educandos em compreender uma linguagem de construção de senha, bem usual com a

disseminação do uso das TIC. Entretanto, essas observações não se constitui como um elemento

8 Facebook é uma rede social, amplamente difundida, para realização de chats, postagens de fotos, vídeos e manter

contato com amigos. (VIDIGAL; OLIVEIRA, 2012).

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a ser priorizado na oficina de intervenção, pois assim que identificamos essas dificuldades

entramos em contato com os educandos e auxiliamos explicando todo o processo de construção

de senha, seja por meio de contato telefônico ou e-mail. A construção do endereço eletrônico

também foi realizada com a ajuda do tutor presencial.

5.2.2 A disciplina objeto da pesquisa

Tendo em vista a importância das ações de acolhimento dos educando e a familiarização

com as práticas de letramento digital exigidas para realização de atividades no ambiente virtual

de aprendizagem, exigidas desde a inserção dos educandos no Moodle, acreditamos ser

pertinente compreender como a disciplina de Introdução ao Ambiente virtual é vivenciada.

A princípio destacamos que a disciplina Introdução ao Ambiente Virtual inicia-se

concomitantemente às demais, isto é, na organização do curso não foi pensado em um período

de ambientação para os educandos, calouros, que em sua grande maioria, desconhecem o

ambiente virtual de aprendizagem. Na figura 10 podemos observar essa organização:

Figura 10 – Apresentação das disciplinas do 1º período do curso de Geografia EAD

Fonte: Acervo da pesquisa

Na figura 10 é possível visualizar que todas as disciplinas iniciaram no mesmo dia; não

houve um momento de familiarização promovido pela disciplina em questão, com o propósito

de orientar o desenvolvimento de habilidades relacionadas ao uso das tecnologias da

informação e comunicação que compõem o Moodle e que são comuns às demais disciplinas.

A partir da configuração citada acima, podemos inferir que falta o momento de

acolhimento destes novos estudantes no espaço virtual, pois para muitos trata-se de de uma

novidade e sendo assim, é necessário assegurar a todos um ponto de partida comum como

preconiza os Referenciais de Qualidade para Educação Superior a Distância (2007) em relação

ao domínio de conhecimentos e habilidades básicas referentes ao uso da tecnologia.

Disciplinas do 1º período

Início das disciplinas

23/03/2015

Fundamentação da Geologia

Fundamentos da Educação

LIBRASIntrodução ao

ambiente virtualIntrodução a

ciência geográfica

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Acreditamos que esse momento inicial de familiarizaçao seja imprescindível para

minimizar dificuldades que possam surgir neste processo educacional. Vejamos a mensagem

de um educando retirado de um fórum quase um mês após iniciada as aulas:

_____________

Dificulades em acessar o ambiente

Por M.S.L.M – sexta, 17 Abr 2015, 10:45

Bom dia a todos.

Se possível algum colega que pode me orientar neste ambiente.

Atenciosamente, M.S.L.M

_____________

Esse excerto ilustra bem a importância dessa ambientação, pois é de um educando que

mesmo sabendo postar tópico no fórum, demonstra dificuldade com a intarface do Moodle,

pedindo ajuda aos colegas. Assim, acreditamos que mesmo sendo educandos matriculados em

cursos superiores, que já dominam diversas formas de leitura e escrita, o ambiente virtual

demanda novas formas de ler, escrever e interagir que precisam ser aprendidas e discutidas

tendo em vista a construção de um caminho favorável para o desenvolvimento de uma

aprendizagem significativa, como também para evitar que estudantes que demonstrem

dificuldades com a tecnologia se evadam do curso.

Em nossas observações, também chamou nossa atenção a maneira como a sequência

dos conteúdos são vivenciados na disciplina. Como mostra o quadro 2.

Quadro 2 – Conteúdos da Disciplina Introdução ao Ambiente Virtual

Conteúdos vivenciados na disciplina Introdução ao Ambiente Virtual de Aprendizagem

Módulo Conteúdo

23/03 a 02/04/2015 Conceitos de Educação a Distância

06/04 a 10/04/2015 Modalidades de ensino

13/04 a 17/04/2015 Ferramentas do Moodle

20/04 a 30/04/2015 EAD no Brasil

11/05 a 15/05/2015 Práticas pedagógicas em EAD

19/05 a 24/05/2015 O papel do tutor

26/05 a 31/05/2015 Avaliação em EAD

01/06 a 10/06/2015 Legislação de EAD

11/06 a 19/06/2015 Revisão Fonte: Arquivo da pesquisa elaborado a partir dos conteúdos disponíveis na página da disciplina no Moodle

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Assim, os dois primeiros módulos não tratam de explorar o ambiente virtual de

aprendizagem, mas sim, trabalhar conceitos sobre Educação a Distância, não que esses

conteúdos não sejam importantes, entretanto, consideramos que inicialmente seja necessário

oferecer aos educandos atividades que visem explorar o ambiente virtual de aprendizagem,

suas ferramentas, sobretudo, recursos comunicacionais, configurações de perfil, como

visualizar os demais participantes, enviar mensagens, envio de atividades, e disposição de

material didático, pois se trata de ações requeridas desde o primeiro dia de aula.

No decorrer de nossas observações identificamos que conteúdos que explicam

como usar o ambiente foram disponibilizados apenas no terceiro módulo, como mostra a figura

11.

Figura 11: Interface inicial da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual

Fonte: Print screen da tela do Moodle da UAB/UFPE

Conforme podemos constatar na figura 11, as atividades propostas para conhecer o

Moodle foram por meio de vídeos e fóruns. O primeiro vídeo tratou de conceituar a plataforma

Moodle, no segundo foi explorado exemplos de plataformas, diferentes tipos de utilizadores,

como fazer registro/login, editar perfil de utilizador, acesso às disciplinas do curso os recursos,

personalização da intarface Moodle, e por último, o terceiro vídeo, mostrou como navegar na

disciplina enquanto professor. Na verdade, os vídeos, apesar de interessantes, exploram a

perspectiva de uso enquanto perfil de professor da disciplina.

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Durante os quatro primeiros módulos que nos propomos a observar, identificamos que

mais de 40% da turma não participou dos fóruns propostos. Também não identificamos

nenhuma mensagem encaminhada aos educandos estimulando ou ressaltando a necessidade

dessa interação.

Compreendemos que essa interação possibilitada pelo fórum é de extrema relevância para

manutenção do interesse do educando, principalmente em se tratando da disciplina em tela, pois

trata-se de um momento de aprendizagem em que a experiência suscitada permeia as demais

atividades ao longo do curso.

No decorrer das observações vimos que são disponibilizados vários textos por meio das

ferramentas e recursos do ambiente, o educador por sua vez, propõe atividades que visam

explorar as questões de letramento digital, entretanto, falta a esse processo despertar no

educando a importância da realização dessa ação, ou seja, fica uma lacuna em como se realizar

essa atividade, como se apropriar dos fundamentos pedagógicos dessa modalidade e do

conhecimento do ambiente virtual de aprendizagem. As atividades são lançadas como se o

educando já tivesse introjetado o uso da ferramenta, já dominasse as formas de leitura e escrita

próprias do ambiente virtual. Fazendo uma relação dessas proposições de atividades com o que

os educandos responderam no questionário, percebemos que ainda existe algumas necessidades

dos educandos em torno do ambiente virtual de aprendizagem que precisam ser revistas para

que eles façam uso das práticas de letramento digital. O desconhecimento de algumas

ferramentas, em relação aos aspectos funcionais e crítico, como também, a importância de

reconhecer que as ferramentas de interatividade só fazem sentido quando fazemos uso para

estabelecer interação entres os atores do processo educativo.

A partir desse contexto e sabendo da importância dessa disciplina introdutória para que

o educando possa se apropriar de forma intensa das possibilidades disponíveis no ambiente

virtual de aprendizagem, nossas observações apontam algumas reflexões sobre a forma que é

conduzida a disciplina em tela, pois acreditamos que ela faça parte de um contexto maior, que

influencia também a forma como os educandos interagem nas demais disciplinas do curso.

Assim, destacamos que falta no primeiro período do curso um momento de familiarização

do Moodle pelos educandos através da disciplina Introdução ao Ambiente Virtual, já que

acreditamos que o objetivo maior dessa disciplina seja acolher o educando que inicia em um

curso a distância, criando situações que os oportunize apropriar-se crítica e criativamente das

ferramentas do Moodle, em uma ação que seja possível compreender o uso das diversas

linguagens que são propostas pelas TIC como meio para auxiliar no processo de construção de

conhecimento. Dessa forma, registramos que a construção de sentido acerca da importância na

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participação nas atividades propostas pelos educandos, bem como as dificuldades encontradas

com algumas ferramentas poderiam ter sido minimizadas se existissem atividades iniciais que

além de apresentar o ambiente virtual, possibilitasse reflexão-ação das ferramentas utilizadas,

ou seja, letramento digital crítico (SELBER, 2004) que compreende os contextos de usos como

aspecto inseparável da TIC.

Outro ponto destacado é em relação ao educador, pois este, muitas vezes, já tem

incorporado a relação com o ambiente virtual de aprendizagem e não percebe que o educando

também precisa desenvolver competências específicas para lidar com o processo de ensino e

aprendizagem no mundo digital; assim, ignora atividades que permitem aos educandos

conhecerem criticamente os recursos desse espaço.

Esses educandos, muitas vezes, têm pouco contato com práticas de letramento digital,

deparam-se com questões desconhecidas, como, por exemplo, utilizar recursos de

interatividade, em que os desafios que se apresentam não são apenas de uso da ferramenta, mas

sobretudo, questões de interação.

Ademais, entendemos que o ambiente virtual de aprendizagem é muito rico, porém,

quando não buscamos formas de familiarizarmos os educandos com as recursos disponíveis,

refletindo sobre suas possibilidades, isso repercute no processo de ensino e aprendizagem

mediada pela TIC de forma desfavorável, principalmente quando de se trata de educandos que

vêm, na sua grande maioria de um ensino presencial e/ou quando as práticas de letramento

digital ainda são pouco recorrentes no cotidiano deles.

Por fim, acreditamos que esses preceitos em torno da importância dessa disciplina

introdutória se justifica pelo fato de acreditarmos que quando vivenciada de maneira

significativa, visa tanto minimizar dificuldades para realizar atividades propostas por todas

disciplinas, como despertar no estudante a compreensão do ambiente virtual como espaço que

vai além da mera ferramenta, mas sobretudo, como espaço rico em potencialidade pedagógica.

A partir dessas reflexões e da análise dos dados realizados a partir da aplicação do

questionário descrito na seção anterior, fomentamos o projeto de intervenção, que se

materializou na oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente virtual Moodle-, com o objetivo

de criar um espaço onde pudéssemos refletir e trabalhar as necessidades dos educandos em

relação ao ambiente virtual de aprendizagem. O relato dessa oficina será apresentado no

capítulo seguinte e se constitui como fruto do resultado de nossa pesquisa.

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5.3 A intervenção – Oficina – Letramento Digital: o uso do ambiente virtual Moodle

Como fruto do pressuposto de uma pesquisa-ação, desenvolvemos um projeto de

intervenção com o objetivo de criar um espaço onde pudéssemos refletir e trabalhar as

necessidades dos educandos observadas na pesquisa em relação ao ambiente virtual de

aprendizagem, que vão além do manuseio técnico, mas que visa, sobretudo, despertar a reflexão

sobre os aspectos pedagógicos, colaborativo e construtor do ambiente virtual de aprendizagem.

Assim, essa proposta se configurou com a oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente

virtual Moodle.

Para alcançar tal objetivo, propomos, no mês de maio, uma oficina nos polos de apoio

presencial (Tabira, Pesqueira e Surubim), onde são realizados os encontros presenciais

obrigatórios do curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância.

Para mobilização dos participantes, encaminhamos e-mail convidando os 24 (vinte e

quatro) educandos respondentes da pesquisa, apesar da confirmação de 19 (dezenove)

participantes, realizaram a oficina apenas 8 (oito) educandos do polo Surubim. A oficina teve

três horas de duração e foi realizada no laboratório de informática do polo, que possui

computadores conectados à rede, e conta também com um projetor do tipo datashow.

Em relação aos conteúdos, foram divididos em dois momentos; no primeiro exploramos

e refletimos sobre os aspectos funcionais das ferramentas do Moodle, relacionando aos usos

sociais e ao pressuposto de uma educação dialógica utilizando o próprio espaço do curso de

geografia no Moodle; já no segundo momento, exploramos melhor a ferramenta de atividade

fórum. Os conteúdos foram selecionados com base na análise das respostas dos educandos ao

questionário, como também nas observações realizadas na disciplina Introdução ao Ambiente

Virtual de Aprendizagem.

Ao que se refere aos objetivos específicos da oficina, delineamos os seguintes pontos:

apresentar os aspectos funcionais das ferramentas da Plataforma Moodle mais usuais no curso

de Geografia; dialogar sobre o contexto de uso social e educacional dessas ferramentas; refletir

e explorar as atividades realizadas no fórum.

A metodologia utilizada mesclou momentos expositivos com atividades práticas no

laboratório. O processo de avaliação dos educandos na oficina foi fundamentado na interação

e realização das atividades propostas.

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94

5.3.1 Análise da oficina - Letramento Digital: o uso do ambiente virtual Moodle

Iniciamos a atividade explicando que a oficina era parte de uma pesquisa de mestrado

sobre letramento digital, fazendo uma breve explanação acerca do que se tratava a dissertação.

Em seguida, apresentamos o programa da oficina e objetivos.

Iniciamos a oficina, pedindo que se apresentassem e fizessem um breve relato de sua

experiência com a plataforma Moodle, baseado no roteiro que representamos na figura 12

mostrado no datashow.

Figura 12 -Roteiro para apresentação dos educandos

Fonte: Acervo da pesquisa

Essa apresentação tinha dois propósitos, conhecer o grupo e introduzir os educandos na

primeira atividade com o Moodle. Após apresentação oral, falamos da importância de se

conhecer um pouco de cada educando. Neste momento, direcionamos o questionamento ao

meio digital, perguntando se todos já tinham preenchido o perfil no Moodle, pois da mesma

forma que sentimos a necessidade de conhecer o grupo quando estamos desenvolvendo uma

atividade presencial, no ambiente virtual não é diferente, ao contrário, essa necessidade

aumenta.

Dando seguimento, fizemos a leitura e reflexão de um texto9 breve, que tratava sobre a

importância da foto e do perfil para a EAD de Ferraz (2014). Nas discussões suscitadas pelo

texto, chamou a atenção o fato de os educandos defenderem a importância desse perfil com

foto, como forma de nos sentimos mais humanos no meio virtual. Em seguida, disponibilizamos

9 O anexo 01 corresponde ao texto de Ferraz (2014) utilizado na oficina para auxiliar na reflexão sobre a

importância do perfil em cursos EAD. Disponível em: http://redemoodle.blogspot.com.br/2014/10/a-importancia-

da-foto-e-do-perfil-para.html. Acesso em: 24 abr.105

Nome

Fale um pouco

sobre você

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um tutorial em vídeo10 e os participantes realizaram essa ação em seus próprios perfis no

Moodle. Observamos que essa iniciativa apresentou-se exitosa, pois entre os participantes

nenhum ainda tinha realizado uma breve descrição em seu perfil, uns alegaram não conhecer o

recurso e outros que não achavam importante. Quanto a utilização da tecnologia, mesmo com

o tutorial, foi preciso auxiliar dois educandos que sentiram dificuldades para encontrar o

recurso.

Nesta atividade, além de ter trabalhado questões funcionais, refletimos sobre a

importância dessa ação para a interação entre os participantes. Assim, por simples que seja a

ação realizada no ambiente virtual, existe um contexto de uso que deve ser refletido, caso

contrário as ferramentas de interatividade passam a ser compreendidas como mero objeto

tecnológico.

Dando sequência, apresentamos as ferramentas mais utilizadas na interface do Moodle de

forma a criar possibilidades para ambientação com a plataforma, pois muitos dos educandos

informaram na pesquisa desconhecer muitos dos recursos disponíveis e dificuldades para

acessar o material disponibilizado pelo educador, como vídeos e textos em pdf, ou seja, alguns

desconhecem a interface de operação do ambiente. Tal atividade serviu também, para despertar

a criticidade dos educandos em relação às TIC apresentadas, uma vez que acreditamos que não

basta compreendê-las como ação técnica, é necessário, acima de tudo, entendê-las enquanto

contextos de uso social e educacional que existe por trás de cada uma.

Nossa sugestão foi que, ao ser apresentada a ferramenta, fizéssemos a leitura

compartilhada da descrição de cada recurso, como também solicitamos que os educandos

acessassem a página do curso de Geografia no Moodle e pudessem acompanhar e vivenciar as

informações apresentadas no guia.

Assim, iniciamos esta etapa conversando sobre a importância de se conhecer as

ferramentas pedagógicas disponíveis em um ambiente virtual e o conceito de letramento digital

proposto por Buzato (2006), que assinala como um conjunto de conhecimentos que permite às

pessoas participarem de práticas letradas mediadas por computador e outros dispositivos

eletrônicos do mundo contemporâneo.

A partir desse conceito, tentamos explicar que as práticas letradas são práticas sociais de

leitura e escrita mediada pela tecnologia da informação e comunicação, assim, é preciso

entender as ferramentas do Moodle não apenas no que se refere ao manuseio técnico, mas,

10 O vídeo disponibilizado foi produzido por Rodrigo Fernandes Gonzales e encontra-se disponível em: <

http://redemoodle.blogspot.com.br/2014/10/a-importancia-da-foto-e-do-perfil-para.html>. Acesso em: 25 abr.

2015.

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96

sobretudo, como recursos que servem para mediar a construção de conhecimentos a partir do

envolvimento nas atividades de leitura e escrita colaborativa propostas nesse ambiente e

possível a partir dessas ferramentas. A partir dessa introdução, iniciamos a apresentação e

diálogo sobre cada ferramenta. As apresentações são ilustradas nas figuras 13 e 14.

Figura 13 – Atividade de apresentação das atividades

Fonte: 11Print screen da tela do Moodle da UAB/UFPE

11 Ativdade organizada pela Coordenação Tecnológica da UAB/UFPE tendo como organizador Gabriel

Vasconcelos ( 2014).

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Figura 14: Descrição da ferramenta arquivo

Fonte: Atividade disponibilizada no Moodle da UAB/UFPE organizada pela Coordenação Tecnológica da

UAB/UFPE tendo como organizador Gabriel Vasconcelos (2014).

À medida que as ferramentas eram apresentadas, conversávamos também sobre a

perspectiva pedagógica e questionávamos se já conheciam e se algum educador do curso de

Geografia tinha utilizado, caso a resposta fosse positiva, o educando pesquisava em sua página

no Moodle para identificar a ferramenta e facilitar a compreensão. Nesse processo, observamos

que alguns educandos apresentaram dificuldades básicas, como acessar o fórum, encontrar os

arquivos, acessar a lista de discussão, o que foi sendo superado com a ajuda solidária dos outros

participantes mais familiarizado com o ambiente.

Neste contexto, foi possível perceber o quanto utilizar o ambiente virtual é difícil para

alguns, entretanto, mesmo com dificuldades, sentiram-se motivados para aprender sobre as

ferramentas. Essa colaboração entre eles durante a oficina, principalmente, buscando ajudar o

colega que apresentava algumas dificuldades no Moodle foi enfatizada, com o intuito de mostrar

que essa colaboração criada no momento presencial pode ser transposta para interação também

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para no ambiente virtual, pois as ferramentas de interatividade do ambiente só fazem sentido

quando utilizadas, sobretudo, com o propósito de mediar a construção de conhecimento.

Essa apresentação nos levou ao próximo tópico, em que discutimos de maneira mais

aprofundada e prática a ferramenta de atividade fórum, pois apesar de trata-se do recurso mais

utilizado em todo curso, os dados obtidos na pesquisa mostram que não é explorada o seu

potencial colaborativo.

A proposta inicial foi comparar dois fóruns, um de aviso e outro de discussão, pois era

importante fazê-los compreender o nível de interatividade exigido pela atividade. Nesse

momento, fizemos vários questionamentos como: Qual a diferença entre os dois fóruns? O

usuário interage nos dois fóruns da mesma forma? O primeiro texto disponibilizado necessita

de interação? E o segundo? Por quê? O que podemos concluir das trocas de mensagem no fórum

2? Nas figuras abaixo é possível visualizar as duas imagens de fóruns utilizadas na atividade.

Figura 15 – Fórum de notícias

Fonte: Print screen da tela do Moodle da UAB/UFPE

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Figura 16 – Fórum de discussão

Fonte: Print screen da tela do Moodle da UAB/UFPE

Com essa atividade nosso desejo foi apresentar as formas que os fóruns são

disponibilizados no curso, revelando o nível de interatividade que precisamos ter quando se

trata de um fórum de discussão e mostrando que caso não ocorra interação entre os participantes

por meio dessa ferramenta de interação mais usual no curso, ficamos privados de trocar ideias

sobre o curso, textos e experiências, tendo em vista que a maioria dos educandos encontra-se

apenas na realização das avaliações, pois é o único momento presencial do curso.

As colocações dos educandos no momento da comparação dos fóruns foram bem

interessantes, mas o entendimento inicial acerca do fórum de discussão era de um espaço para

responder aos questionamentos lançados pelo educador, pois “vale nota”; a possibilidade de

experimentar a interação com os pares por meio do recurso não acontece, ademais, afirmaram

que não costumam ler o que os outros postam. Através de inferência na fala deles durante o

diálogo sobre o assunto tentamos desconstruir esse conceito inicial sobre o fórum de discussão,

conversando sobre a importância dessa ferramenta na construção de uma aprendizagem

colaborativa.

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Durante o diálogo surgiu o assunto da escrita no ambiente virtual, questionaram se tinha

problema “fazer abreviação”, então conversamos sobre a situação comunicacional do texto e

sobre o internetês, que cabe quando a situação é informal. Esse momento, apesar de não estar

na pauta foi bem interessante, pois revelou o interesse dos educandos em compreender melhor

questões relacionadas à escrita no meio virtual, como também perceber que estão despertando

para o uso mais crítico da TIC. Entre os participantes, uma educanda, que já exercia a profissão

de professora, trouxe exemplos da escrita de alunos que ilustraram bem essa linguagem do meio

digital, como “kkk”, “vc”, “ksa”.

Após conversa sobre escrita no ambiente virtual, finalizamos a oficina a solicitando que

falassem impressões sobre a relevância da oficina e agradecendo a participação. Aqui se

apresentou uma das estratégias possíveis de ser realizada no início do curso para familiarizar

os educandos com o ambiente virtual de aprendizagem.

A realização da oficina, tomando como parâmetro o objetivo proposto, mostrou que os

participantes procuram se familiarizar com o ambiente virtual de aprendizagem, superando suas

limitações em termos de uso das ferramentas. Também foi possível identificar que o interesse,

inicialmente, pela oficina era apenas o de aprender a usar as ferramentas, por isso, tentamos

evidenciar, em todo processo, a necessidade e possibilidade de relacionar as ferramentas com

o uso social e educacional.

Pensar nessa intervenção, como uma oficina, por exemplo, possibilitou a construção de

caminhos individuais mais autônomos; também permitiu o educando adentrar no ambiente

virtual de aprendizagem sem medo de explorar as ferramentas, de maneira mais tranquila, pois

não se tratava de uma atividade “valendo nota”.

.

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101

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta dissertação situamos o Letramento Digital como o uso social de práticas de leitura

e escrita realizadas por meio de recursos tecnológicos no mundo virtual. A partir da trajetória

teórica foi possível destacar alguns elementos constituintes desse processo, relacionando não

apenas enquanto uso instrumental do recurso tecnológico, mas, sobretudo, como uso crítico e

criativo.

Diante desse cenário e a partir das reflexões em torno dos dados obtidos nessa pesquisa

caminhamos para confirmação de nossa hipótese inicial - acreditamos que dificuldades

encontradas com a familiarização com o ambiente virtual de aprendizagem aconteçam pelo fato

de que, apesar de estarmos inseridos no ciberespaço, fazendo uso de produtos tecnológicos e

usando ferramentas de interações, ainda somos frutos de uma educação tradicional -,

evidenciamos que quando exigidos a lidar com o processo de ensino e aprendizagem em um

espaço virtual, que demanda autonomia, interação, criticidade e criatividade, mesmo os

educandos que já tinham contato práticas de letramento digitais, mostraram dificuldades ou

passividade frente às ferramentas disponíveis no ambiente virtual. Também observamos no

projeto de intervenção nas falas dos educandos indícios dessa hipótese, quando questionados

sobre a interação no ambiente; muitos reduzem essa ação a responder o questionamento feito

pelo educador como forma de obter uma nota, como se o processo educacional estivesse

reduzido a um momento estanque.

Entretanto, outro ponto que não foi considerado inicialmente na construção de nossa

hipótese, mas que pela pesquisa desenvolvida devemos levar em consideração, é o caráter

processual do letramento digital, pois novas práticas vão se constituindo à medida que o

educando se familiariza com o ambiente virtual de aprendizagem, ou seja, quando apresentados

a novas situações no contexto digital, novas aprendizagens são demandadas.

Nesse olhar, identificamos que a maioria dos educandos, em maior ou menor grau, já

possuíam contato com práticas de letramento digital antes de realizarem o curso de Geografia.

Observamos que as principais dificuldades com letramento digital no início do curso e

seus respectivos níveis de saberes na interação e uso do ambiente virtual de aprendizagem -

evidenciamos uma carência existente entre os educandos por um momento inicial de

familiarização com o ambiente virtual de aprendizagem, não apenas instrumental, mas acima

de tudo, o uso crítico dessas ferramentas, para que realmente essas sirvam para mediar o

processo de construção de conhecimento.

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Adentrando – compreendemos como a disciplina Introdução ao Ambiente Virtual se

organiza para familiarizar os educandos com o ambiente virtual Moodle – acreditamos que a

forma como a disciplina é implantada vem se configurando de maneira parcial na formação dos

educando no fomento à apropriação das ferramentas do Moodle como estruturantes do processo

de ensino e aprendizagem.

Após considerações acima, propomos a oficina sobre letramento digital, após a

identificação das principais dificuldades analisadas no início do curso – ao refletir sobre essa

ação que configurou-se como projeto de intervenção, observamos que surtiu efeito na medida

que trabalhou dificuldades pontuais dos educandos em relação ao ambiente virtual de

aprendizagem, provocando-os a refletir além dos aspectos meramente técnico.

Apesar do bom êxito na realização da oficina, acreditamos que ela poderia ser melhor

aproveitada pelos educandos se fosse ofertada na primeira semana do curso. Assim, nossas

reflexões apontam para necessidade de rever a forma como a disciplina se organiza tendo em

vista propor um momento inicial de familiarização com o ambiente virtual de aprendizagem,

em que sejam enfatizados não aspectos meramente instrumentais, mas, sobretudo, reflexão

crítica de uso, para que os educandos compreendam que a relação com a tecnologia não é apenas

de consumidores, mas que também podemos usá-la para criar, interagir e aprender.

Diante dessas colocações, acreditamos que, apesar de não ser possível transpor essas

pesquisa na íntegra para outro contexto, pois trata da singularidade de uma turma específica,

ela aponta caminhos que poderão ser refletidos e adaptados para outra realidade em que o

processo de ensino e aprendizagem também sejam desenvolvidos em ambientes virtuais de

aprendizagem que demandam práticas de letramento digitais.

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108

APÊNDICE A - SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE

PESQUISA CIENTÍFICA

CARTA DE ANUÊNCIA À Coordenadora da Universidade Aberta do Brasil – UAB/UFPE Professora Dra. Cacilda Andrade Assunto: Solicitação de autorização para realização de Pesquisa Científica Prezada Coordenadora,

Tendo em vista o interesse de desenvolvimento da pesquisa científica na Universidade Aberta do Brasil na Universidade Federal de Pernambuco, especificamente, no Curso de Geografia e como aluna regular do mestrado em Linguagem e Ensino da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profa. Dra, Marianne Cavalcante, solicitamos o consentimento desta coordenação para que tal pesquisa seja realizada.

Nosso objetivo de pesquisa é investigar e compreender as práticas envolvendo Letramento Digital no contexto de estudantes ingressos no curso de Licenciatura em Geografia na modalidade a distância da UFPE.

A pesquisa será realizada por meio de observação, aplicação de questionário, oficina nos polos de apoio presencial e outras técnicas de estudos complementares que se fizerem necessárias para concretização da pesquisa

Contamos com a sua importante contribuição e anuência para o desenvolvimento do trabalho científico.

Atenciosamente,

Cynthia Maria R. Lins Ribeiro Mestranda do Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino / UFPB

De acordo,

Profa. Dra. Cacilda Andrade

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APÊNDICE B – TERMO DE CONSETIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Autorizo a pesquisadora Cynthia Maria Rodrigues Lins Ribeiro, mestranda em

Linguística do Programa de Pós-Graduação em Linguística e Ensino da Universidade

Federal da Paraíba – UFPB, cujo projeto de pesquisa é denominado “Letramento

Digital na formação de estudantes do curso de Licenciatura em Geografia na

modalidade a distância da Universidade Federal de Pernambuco”, sob orientação da

Professora Doutora Marianne Cavalcanti, a utilizar parcial ou totalmente, os dados

levantados do questionário informativo, respeitando as normas de anonimato.

Afirmo que minha participação é voluntária e que nenhum tipo de coação foi

usado para obter minha participação.

Para quaisquer esclarecimentos, segue contato da pesquisadora: e-mail –

[email protected].

João Pessoa, maio de 2015

Seu nome completo *

Aceita participar da presente pesquisa? *

Sim, eu aceito participar da pesquisa.

Não, eu não aceito participar da pesquisa.

Continuar

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APÊNDICE C - QUESTIONÁRIO GOOGLE DOCS

Questionário

Este questionário tem a finalidade de traçar o perfil dos graduandos em Geografia, modalidade

a distância em relação às suas práticas de Letramento Digital.

Agradecemos sua colaboração.

Responda as seguintes questões:

QUANTO AOS SEUS DADOS PESSOAIS

1) Idade:

( ) Menos de 21

( ) De 21 a 28

( ) De 29 a 35

( ) De 36 a 42

( ) Mais de 42

2) Sexo:

( ) Feminino

( ) Masculino

3) O curso de Geografia na modalidade a distância é sua primeira graduação?

( ) Sim

( ) Não

4) Você já atua como professor (a)?

( ) Sim

( ) Não

QUANTO ÀS SUAS PRÁTICAS DE LETRAMENTO DIGITAL

5) Você usa o computador com frequência?

( ) Sim

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( ) Não

6) Qual equipamento tecnológico você mais utiliza?

( ) Tablet

( ) Desktop

( )Celular

( ) Notebook

( ) Outros

7) Você acessa a internet em que ambiente?

( ) Casa

( ) Trabalho

( ) Casa e trabalho

( ) Polo de Apoio Presencial

( ) Lan house

( ) Em casa de familiares ou amigos

( ) Em locais públicos, por wi-fi

( ) Outros

8) Você acessa a internet:

( ) Diariamente

( ) Semanalmente

( ) Mensalmente

( ) Esporadicamente

9) Possui e-mail pessoal?

( ) Sim

( ) Não

10) Em caso positivo, a quanto tempo?

( ) Menos de 6 (seis) meses

( ) Menos de 1 (um) ano

( ) Menos de 5 (cinco) anos

( ) Mais de 5 (cinco) anos

11) Possui conta em algum site de relacionamento (Facebook, Twitter, Instagram,

Google +, MySpace, Badoo, )?

( ) Sim

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( ) Não

12) Possui site pessoal?

( ) Sim

( ) Não

13) Possui blog?

( ) Sim

( ) Não

14) Costuma fazer pesquisas de trabalhos utilizando buscadores da internet?

( ) Sim

( ) Não

15) Como você realiza suas pesquisas na internet?

( ) Uso o primeiro site que acesso

( ) Uso vários sites, mas não comparo as informações entre um e outro

( ) Uso vários sites e procuro escolher as melhores opções

( ) Uso sites famosos, pois considero mais confiáveis

( ) Uso sites acadêmicos, pois o considero mais confiáveis

QUANTO À SUA EXPERIÊNCIA COM O AMBIENTE VIRTUAL DE

APRENDIZAGEM – AVA.

16) Você já realizou algum curso a distância?

( ) Sim, mas não por meio do Moodle

( ) Sim, Através do Moodle

( ) Nunca realizei um curso a distância

17) Você considera o Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA:

( ) Um ambiente de fácil uso

( ) Difícil para navegar

18) Qual sua maior dificuldade no AVA?

( ) Utilizar as ferramentas disponíveis

( ) Interagir por meio dos fóruns

( ) Utilizar os chats

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( ) Identificar os materiais disponibilizados pelo professor

( ) Não tenho dificuldade de utilizar o Ambiente Virtual de Aprendizagem

19) Desconhece muitos dos recursos disponíveis no AVA?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

20) Lê os textos disponibilizados pelo professor sempre no próprio AVA ?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

21) Participa sempre dos fóruns propostos no AVA?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

22) No fórum você faz intervenção na mensagem dos outros participantes com

comentários e questionamentos?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

23) Participa ativamente dos chats no AVA?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

24) Tem dificuldades para postar atividades escritas no AVA?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

Quanto à sua prática como educador ou futuro educador.

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25) Na sua prática docente futura, pretende incluir o computador/internet como um

recurso tecnológico em suas aulas?

( ) Sim

( ) Não

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ANEXO 1- TEXTO DE RITZ UTILIZADO NA OFICINA

A importância da foto e do perfil para a EAD

Ritze Ferraz

A foto e a atualização do perfil são essenciais para a interação do grupo de estudos do curso.

Pode-se saber um pouco mais de cada um e fomentar o crescimento do sentimento de "turma".

Quando se recebe uma mensagem, sabe-se que está ligada àquele rosto com identidade própria,

pensamentos próprios e experiências múltiplas.

Há de se ressaltar também o sentimento de pertencimento que implicará na colaboração e a

cooperação entre os participantes.

A foto e a atualização do perfil constroem a imagem do grupo, da unidade.

Por detrás das palavras postadas através da tecnologia em "bites e bytes", há a essência

HUMANA compartilhada.

Fotos e perfis preenchidos dão a completeza da IDENTIDADE DO GRUPO (pertencimento

decorrente) que aqui se faz!

As fotos nos aproximam e nos dão a sensação efetiva de grupo.

O perfil poderá ser acessado pelo tutor durante o curso, para conhecer um pouco sobre o aluno

e servir como instrumento auxiliar para promoção de participação.

Exemplo: Caso o aluno já atue na EAD, pode ser estimulado a trazer um conceito sobre o tema

ou trazer uma pequena bibliografia sobre um estudioso da área.

Caso o cursista goste de cinema, pode ser convidado a trazer um trecho de filme ou de um curta

para ilustrar um conteúdo.

Observaram a importância do perfil do aluno?

Vamos treinar,

Abraços,

Ritze.