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10 UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG Instituto de Ciências da Natureza Curso de Geografia Bacharelado Aline Rozenthal de Souza Cruz Políticas habitacionais e planejamento no Brasil Alfenas - MG 2013 1.Introdução Pretende-se fazer aqui, uma leitura da metrópole brasileira do início do século XXI, destacando a relação entre desigualdade social, segregação territorial e meio

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG · onde a vigência de legislação de proteção e ausência de ... desigualdade entre as classes e também a ... Criam-se na metrópole múltiplos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS - MG

Instituto de Ciências da Natureza

Curso de Geografia – Bacharelado

Aline Rozenthal de Souza Cruz

Políticas habitacionais e planejamento no Brasil

Alfenas - MG

2013

1.Introdução

Pretende-se fazer aqui, uma leitura da metrópole brasileira do início do século

XXI, destacando a relação entre desigualdade social, segregação territorial e meio

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ambiente, tendo como pano de fundo a formação da própria sociedade marcada,

inexoravelmente, pelo desenvolvimento do atraso (MARICATO, 2003:151).

O processo de produção do espaço vem apresentando novas dinâmicas, muitas

delas promovidas pela atual reestruturação do capitalismo, na qual as metrópoles se

expandem territorialmente, assumem hegemonia maior e se hierarquizam globalmente.

Essa realidade coloca novas questões sobre o processo de urbanização, sobre a relação

entre o urbano e o regional e, principalmente, sobre como enfrentar o desafio de se

buscar caminhos que permitam conduzir a uma gestão democrática das cidades.

A relação mercado e exclusão social se mostra mais evidente nas regiões

metropolitanas, sobremaneira nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário ou públicas,

onde a vigência de legislação de proteção e ausência de fiscalização define a

desvalorização (MARICATO, 2003:154).

No Brasil, um dos principais instrumentos de consolidação do planejamento é

através das operações urbanas que nada mais são que um “conjunto integrado de

intervenções e medidas a ser coordenado pelo Poder Público, com a participação de

recursos da iniciativa privada” (DIÁRIO OFICIAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO,

1991 apud. SOUZA, 2011: 275).

Porém, a experiência mostra o quanto esse instrumento pode ser útil ao capital

imobiliário, pois conforme Lúcio Kowarick (1993) afirmou, pela acumulação e a

especulação andarem juntas, a localização da classe trabalhadora passou a seguir os

fluxos dos interesses imobiliários, tendo só tardiamente o poder público se munido de

instrumentos legais para tentar ordenar o uso e a ocupação do solo. Entretanto, muitas

vezes os investimentos públicos vieram colocar-se a serviço da dinâmica da

valorização-especulação do sistema imobiliário-construtor.

Esse trabalho, tomando como estudo de caso a criação do Parque Linear do Tietê

e seus desdobramentos, buscou compreender o chamado problema habitacional, causa e

efeito de muitos impasses, tanto na metrópole paulistana como em muitas outras cidades

brasileiras.

O parque Linear é uma medida “compensatória” em virtude dos danos

ambientais causados pela ampliação da Marginal Tietê. No local onde se instalará o

referido Parque está localizada a Várzea do Rio Tietê, onde residem aproximadamente

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3.900 famílias ameaçadas de despejo e desinformadas com relação ao destino de suas

casas.

O acesso à moradia legal e à cidade exige a superação de obstáculos, sendo mais

exatamente, “a relação entre terra (urbanizada), financiamento, subsídios, Estado e

mercado”. Para Ermínia Maricato (2003), “esse será o grande desafio da política urbana

nas primeiras décadas do século XXI, ao lado do saneamento e do transporte de massa”.

(MARICATO, 2003:163).

Apesar de as políticas urbanas e o planejamento no Brasil reconhecerem a

problemática habitacional existente, sempre privilegiaram medidas de embelezamento

urbanístico e a criação de infraestruturas que favorecessem a atuação do capital

imobiliário, bem como privilegiasse uma minoria. O direito constitucional do acesso à

moradia para todo cidadão, acaba tornando-se uma falácia, pois a lei vigente não é

cumprida como deveria.

Desta forma, cabe analisar os impactos que os problemas sociais, a carência de

infraestruturas, a densificação de áreas periféricas e inadequadasa ocupação, a

segregação socioespacial ea degradação ambiental e de vida causam no espaço urbano

para assim propor soluções.

A partir do aprofundamento da reflexão em torno desses problemas na cidade e,

considerando a lógica da produção do espaço urbano, a pesquisa aqui apresentada

pretende averiguar as possibilidades das políticas públicas urbanas mudarem seu curso,

voltando-se definitivamente para a promoção da melhoria da qualidade ambiental e de

vida da população.

1. OBJETIVOS

a. Objetivo geral:

O presente trabalho tem como objetivo analisar as políticas urbanas e de

habitação no país, discutindo a dualidade existente entre o planejamento urbano e as

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questões de moradia. E, para isso, tomaram-se como estudo de caso as recentes

intervenções urbanas ocorridas na Região Metropolitana de São Paulo,

principalmente o Parque Linear do Tietê.

b. Objetivos específicos:

Debater se o Parque Linear é uma medida compensatória eficaz à ampliação da

Marginal Tietê;

Analisar historicamente a Zona Leste de São Paulo;

Questionar projetos que visem somente à sustentabilidade urbana;

Discutir políticas públicas de urbanização que priorizem a condição do homem

(social) e do ambiente, e não apenas os interesses econômicos;

Apresentar propostas para uma reforma nas políticas urbanas brasileiras que

viabilizem a solução dos problemas de uso e ocupação do solo e habitação.

2. JUSTIFICATIVA

O governo brasileiro ao longo dos anos não formulou diretrizes que impedissem

que o adensamento urbano ocorresse de forma caótica. A aprovação de projetos de

ampliação de vias com grandes áreas impermeabilizadas, não levaram em consideração

o impacto desses empreendimentos na macrodrenagem, provocando a sobrecarga do

sistema hídrico. Assim, frequentemente, há necessidade de serem feitas canalizações,

pontes, e medidas compensatórias como o Parque Linear, a fim de comportar os

aumentos de vazão.

Diante da problemática encontrada na área de estudo buscou-se uma visão mais

imparcial e acadêmica da questão, um parecer que consiga conciliar as propostas do

Estado com as necessidades dos moradores. Acreditando, que assim, esses problemas

possam ser mais bem geridos pela administração pública, a presente pesquisa propôs-

sea gerar conhecimentos para aplicação prática, que pudessem ser aproveitados e

discutidos posteriormente.

Nos últimos anos temos assistido a uma mudança de visão do poder público,

através de novas formas de gestão, preocupadas com o discurso ambientalista, mas que

ainda não conseguem solucionar ou amenizar a problemática social, uma vez que a

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segregação socioespacial permanece. O trabalho apresenta, desta maneira, relevância

tanto para as questões teórico-metodológicas nas áreas de Geografia Urbana e

Planejamento Urbano, quanto práticas, uma vez que se analisando o Parque Linear

Várzeas do Tietê e as comunidades atingidas pela sua criação, poder-se-á dar melhor

suporte aos interesses políticos, sociais e ambientais que se evidenciam na área.

Porém, antagonicamente, formas de planejamento do passado, marcadas por

uma visão desenvolvimentista, de caráter rodoviarista, continuam sendo usadas como

no caso da ampliação da Marginal Tietê em São Paulo. O discurso ambientalista do

governo então, se trata muito mais de uma tentativa pouco eficiente para legitimar uma

operação do que propriamente uma obra de real preocupação ambiental. Daí, a

importância de se discutir essas mudanças atualmente.

Portanto, se espera que as informações levantadas através desse estudo de caso,

associadas aos demais dados obtidos, possam contribuir efetivamente para uma melhor

gestão das áreas circundantes do Parque e desta forma, melhorar a qualidade de vida

não só da comunidade local, mas também de muitos habitantes da Região Metropolitana

de São Paulo.

3. Metodologia

A pesquisa apresenta uma abordagem qualitativa focada no Método Dialético,

tendo como embasamento teórico a Geografia Crítica, que considera a cidade como

produto e condição das relações sociais. Assim, o problema habitacional será fruto da

desigualdade entre as classes e também a sua causa.

O projeto (a pesquisa envolve) é um estudo de caso, caracterizado pelo estudo de

um único objeto, no caso o Parque Linear e as comunidades atingidas (parece que são

dois objetos?) devido a sua criação. Entretanto, os conhecimentos já disponíveis sobre o

assunto são insuficientes para a explicação do fenômeno, levando à necessidade de se

discutir a problemática contextualizada atualmente.

O método de abordagem desse trabalho baseia-se na proposta de Henri Lefebvre,

quem acredita que,

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[...] o uso (o valor do uso) dos lugares, dos monumentos, das diferenças,

escapa às exigências da troca, do valor de troca. É um grande jogo que se está

realizando sob os nossos olhos, com episódios diversos cujo sentido nem

sempre aparece. A satisfação de necessidades elementares não consegue

matar a insatisfação dos desejos fundamentais (ou do desejo fundamental).

Ao mesmo tempo em que lugar de encontros, convergência das

comunicações e das informações, o urbano se torna aquilo que ele sempre

foi: lugar do desejo, desequilíbrio permanente, sede da dissolução das

normalidades e coações, momento do lúdico e do imprevisível. Este

momento vai até a implosão-explosão das violências latentes sob as terríveis

coações de uma racionalidade que se identifica com o absurdo. Desta

situação nasce a contradição crítica: tendência para a destruição da cidade,

tendência para a intensificação do urbano e da problemática urbana.

(LEFEBVRE, 2006:79)

Nas citações diretas: recuo de 4 cm, sem aspas e espaço simples, corrija todos

Esse estudo dividiu-se em quatro etapas, sendo: a FASE 1, a qual envolveu a

obtenção de dados secundários advindos de levantamento bibliográfico (livros, teses,

artigos de periódicos e material disponível na Internet), bem como aquisição de

fotografias aéreas e mapas digitais para se conseguir um retrato pertinente da realidade

em questão.

Na FASE 2 buscando-se conseguir um retrato detalhado doque será o Parque

Linear Várzeas do Tietê e seu entorno, realizou-se um trabalho de campo. Nele, as

características geomorfológicas e hidrológicas da área ficaram mais bem

compreendidas, assim como os aspectos sociais e políticos, abarcadas por meio de

entrevistas.

Na terceira etapafoi feita a análise dos dados levantados, os quais poderão

subsidiar o planejamento e o uso adequado da região a partir da identificação das áreas

vulneráveis e/ou adequadas à ocupação humana. Refletirão, também, a dinâmica

ocupacional da área, evidenciando a composição de ambientes de maior criticidade. E,

por fim, com a redação final, apresentaram-se os resultados e conclusões conseguidos

nesse estudo.

Todas essas etapas podem ser mais bem compreendidas no fluxograma a seguir:

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FASE 4 – Redação Final

4. Revisão Bibliográfica

a. As metrópoles globais

As cidades globais se constituem espaços estratégicos para a crescente

internacionalização dos fluxos de bens, serviços e informações, dando origem a uma

rede mundial de metrópoles onde são geradas decisões financeiras e mercadológicas

capazes de definir estratégias para os acontecimentos mundiais.

FLUXOGRAMA

FASE 1 – LEVANTAMENTO DE

DADOS BÁSICOS

FASE 2 – TRABALHO DE

CAMPO

FASE 3 – ANÁLISE E

INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

DADOS SECUNDÁRIOS:

- Levantamento bibliográfico;

- Levantamento cartográfico;

- Utilização do Google Earth.

VISITA A ÁREA DE CRIAÇÃO

DO PARQUE:

- Conhecimento da realidade

sociocultural e política;

- Apreciação das características

geomorfológicas e hidrológicas;

- Análise da política urbana no

Brasil;

- Análise da dualidade existente

entre planejamento e política

habitacional;

- Análise final dos prós e contras da

criação do Parque, considerando-se

vários aspectos.

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As metrópoles globais comandam o território pelas multinacionais instaladas

nestas produzirem e coordenarem informações estratégicas, não encontradas tão

facilmente e com a mesma densidade em outros lugares da rede de cidades. Assim, uma

cidade como São Paulo tem seu papel hegemônico subordinado aos interesses das

corporações globais, mas também contribui para implantar práticas e influenciar na

formação socioespacial.

A modernidade incompleta conhecida pelos países em desenvolvimento gera

antagonismos imensos na vida social. Criam-se na metrópole múltiplos lugares

diferenciados: aqueles do interesse hegemônico, junto às redes, com insistentes

processos de modernização, chamados por Milton Santos de espaços luminosos, e os

lugares dos pobres, intensivamente permeando os primeiros, denominados por Santos

de espaços opacos. Ou seja,

“essas novas formas, características do final do século XX,

são descritas por Roberto Schwarz como ‘um aspecto da

impossibilidade crescente para os países atrasados, de se

incorporarem enquanto nações e de modo socialmente coeso

ao progresso do capitalismo” (FIX, 2007:159).

E isso, faz com que o conceito de cidade global ganhe status de mito. Pois,

conforme Mariana Fix afirmou, certas cidades semiperiféricas como São Paulo, que tem

vocação para serem globais, na prática funcionam apenas como facilitadoras da

penetração do capital estrangeiro nas suas várias formas (FIX, 2007: 166). Cria-se,

assim, uma nova paisagem de poder e dinheiro que mobilizam Estado e capital privado

nacional, os quais caminham no sentido de transformar a cidade em uma espécie de

título financeiro (FIX, 2007: 168).

b. Políticas de Planejamento Urbano e Habitacional

O planejamento pode ser definido como: “o processo de escolher um conjunto

de ações consideradas as mais adequadas para conduzir a situação atual na direção dos

objetivos desejados” (SABOYA, 2008).

Assim, se “planejar é sinônimo de conduzir conscientemente, não existirá então

alternativa ao planejamento. Ou planejamos, ou somos escravos da circunstância. Negar

o planejamento é negar a possibilidade de escolher o futuro, é aceita-lo seja ele qual for”

(MATUS, 1976 apud. SOUZA, 2011: 47).

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Desta forma, esse trabalho tem o propósito de analisar as políticas de

planejamento urbano que estão ocorrendo recentemente no município de São Paulo, e,

além disso, alertar para o fato de que os erros do passado continuam a se repetir e,

somente com uma gestão democrática da cidade, o planejamento urbano poderá ser uma

política socialmente justa.

O processo de urbanização como produto da produção industrial, que é pautada

na divisão de classes, tem como característica a existência de desigualdades entre a

população, gerando exclusão social e problemas urbanos, como a especulação

imobiliária e a segregação socioespacial.

Nas cidades capitalistas a ocupação de determinadas áreas se pautará nos seus

aspectos de atração ou repulsão para à população, sendo que as primeiras têm boa

infraestrutura e a segunda não. Entretanto, somente a população com maior poder

aquisitivo é capaz de escolher onde morar, pois as áreas melhor estruturadas estão

atreladas aos altos preços impostos pelo mercado imobiliário. Portanto, as áreas

relegadas ou inadequadas à habitação são ocupadas pelas classes trabalhadoras.

O poder público, sendo um dos principais agentes urbanos, não atua de forma

uniforme ao produzir a cidade. Pois, conforme se pode perceber, a estrutura urbana

apresenta uma heterogeneidade em seus equipamentos, favorecendo a segregação

socioespacial, bem como as políticas sociais, muitas vezes, não promovem melhorias à

população menos abastada. Isso fica evidente nessa colocação de Santos (1994), quem

avalia que: “O poder público, entretanto, não age apenas de forma indireta. Ele também

atua de forma direta na geração de problemas urbanos, ainda que prometendo resolvê-

los” (SANTOS apud COMITRE e ORTIZOGA, 2010:5).

É possível entender a atuação do poder público como fomentador da segregação

socioespacial na cidade pois,

“A produção da cidade segregada, a privatização do espaço

público e a frequente submissão dos governos aos interesses

do grande capital têm levado à ocorrência de graves

problemas socioespaciais, prejudicando sobremaneira os

interesses dos cidadãos e levando-os à perda da qualidade de

vida” (ORTIGOZA, 2009 apud COMITRE e ORTIZOGA,

2010:6).

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Antes das décadas de 1980 e 1990, a inserção social nas relações capitalistas era

difícil e muito trabalhador excluído do mercado imobiliário privado buscou (formas de

ocupações irregulares como os loteamentos clandestinos e) a favela como formas de

moradia.

“Trata-se do “produtivo excluído”, resultado da

industrialização com baixos salários. [...] A produção do

ambiente construído e, em especial o ambiente urbano,

escancara a simbiose entre modernização e desenvolvimento

do atraso. Padrões modernistas detalhados de construção e

ocupação do solo convivem com a gigantesca cidade ilegal

onde a contravenção é regra” (MARICATO, 2003:153).

Com a expansão das periferias urbanas, principalmente a partir dos anos 80,

estas passaram a ter um caráter marcado por imensas regiões onde a pobreza é

homogeneamente disseminada. A segregação ambiental é uma das faces mais

importantes da desigualdade social e parte promotora da mesma. À dificuldade de

acesso aos serviços e infraestrutura urbanos somam-se menos oportunidades.

Segundo Pedro Demo, a caracterização da pobreza a partir de números

obscurece o “cerne político da pobreza”. “Ser pobre não é apenas não ter, mas,

sobretudo ser impedido de ter, o que aponta muito mais para uma questão de ser do que

de ter” (Demo, 1993, p. 2 apud MARICATO, 2003:153).

A tolerância que o Estado tem demonstrado em relação às ocupações ilegais de

terra urbana é extremamente preocupante, pois têm trazido graves consequências as

cidades, como se pode notar quando se analisa a significânciado êxodo ruralbrasileiro,

no qual muitos migrantes se instalaram ilegalmente. “Aparentemente constata-se que é

admitido o direito à ocupação, mas não o direito à cidade” (MARICATO, 2003:157).

A negligênciado Governo em relação à ocupação ilegal de áreas de proteção

ambiental ou públicas, por parte das camadas populares, não significa uma política de

respeito aos carentes de moradia ou aos direitos humanos.

“A população que aí se instala não compromete apenas os

recursos que são fundamentais a todos os moradores da

cidade, como é o caso dos mananciais de água. Mas ela se

instala sem contar com qualquer serviço público ou obras de

infraestrutura urbana. Em muitos casos, os problemas de

drenagem, obstáculo à instalação de rede de água e esgotos

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torna inviável ou extremamente cara a urbanização futura”

(MARICATO, 2003:158).

A ocupação ilegal é tolerada quando não interfere nos circuitos superiores do

capitalismo. Porém, com o crescimento urbano, o Estado teve dificuldades de suprir a

demanda e foi negligente quanto à ocupação anárquica do solo, marcado pela lógica do

mercado fundiário, especulativo, discriminatório e desigual (MARICATO, 1999 apud

MARICATO, 2003:160).

É inegável que há uma relação direta entre moradia pobre e degradação

ambiental, porémisto não exclui o fato de que a produção imobiliária privada e o

Estado, através da produção do ambiente construído, também causem danos ao meio

ambiente. Todavia, o que vale destacar é que grande parte das áreas urbanas de proteção

ambiental estão ameaçadas pela ocupação com uso habitacional pobre, por absoluta

falta de alternativas, e que as consequências de tal processo atingem toda a cidade.

(MARICATO, 2003:160).

No entanto, é inquestionável que a Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da

Cidade de 2000 modificaram as relações de poder fundiárias e imobiliárias urbanas.

Porém, o verdadeiro nó da questão reside na aplicação desses instrumentos urbanísticos,

que, muitas vezes, não é capaz de reestruturar o quadro da produção habitacional em

áreas ilegais pela falta de alternativas políticas (MARICATO, 2003:162).

“O desenvolvimento urbano includente exige que se atue em

dois eixos: urbanizar e legalizar a cidade informal

conferindo-lhe melhor qualidade e o status de cidadania e

produzir novas moradias para aqueles que, sem outras saídas

e recursos técnicos ou financeiros, invadem terras para morar.

Aparentemente, as ações governamentais começam a

reconhecer o primeiro dos eixos descritos. A própria

legislação recentemente aprovada abre mais caminho nesse

sentido e menos no outro. A consolidação e melhoria da

cidade ilegal e sem urbanização exige o contraponto da

produção de novas moradias, do contrário estaremos

consolidando a dinâmica da “máquina de produzir favelas”

com as políticas públicas correndo sempre atrás do prejuízo”

(MARICATO, 2003:163).

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i. Plano Diretor

Os trabalhos que abordam o urbanismo em São Paulo, no período pós-1940

alegam a não efetividade dos planos, como de fato, somente em 1971 será aprovado

o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado.

“Rolnik (1997) entende a ineficácia da legislação em regular

a produção da cidade como a verdadeira fonte de seu sucesso

político, financeiro e cultural num contexto urbano de

concentração de riqueza e poder. A lei age, segundo a autora,

como delimitadora de fronteiras de poder, conferindo

significados e gerando noções de civilidade e cidadania,

mesmo quando não é capaz de determinar a forma final da

cidade” (FELDMAN, 2005: 25).

O Plano Diretor Estratégico é um instrumento global da política de

desenvolvimento urbano no município de São Paulo e, por isso, determinante para

todos os agentes públicos e privados que neste atuam.

Dentre os principais princípios regidos pelo PDE pode-se destacar: a justiça

social, o direito à Cidade e à moradia digna para todos, a priorização do transporte

coletivo público, a preservação e recuperação do ambiente natural e a participação

da população nos processos de decisão, planejamento e gestão.

Assim, será possível elevar a qualidade de vida da população, particularmente

no que se refere às condições habitacionais, à infraestrutura e aos serviços públicos,

de forma a promover a inclusão social, reduzindo as desigualdades que atingem

diferentes camadas da população e regiões da Cidade.

Do ponto de vista da infraestrutura urbana e das habitações devem-se destacar

importantes passagens e objetivos que estão sendo aparentemente esquecidos ou

deixados de lado pelos administradores da cidade de São Paulo. Dentre eles: a

melhoria da circulação e do transporte urbano, proporcionando deslocamentos intra

e interurbanos que atendam às necessidades da população, reduzindo assim, o tempo

de deslocamento entre habitação e trabalho, e aumentando a acessibilidade e

mobilidade da população de baixa renda. Ou seja, o PDE propõe adequar o sistema

viário, tornando-o mais abrangente e funcional, especialmente nas áreas de

urbanização incompleta.

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Em relação às questões habitacionais o plano dá prioridade à regularização

fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda visando sua

integração, sempre respeitando o interesse público e o meio ambiente, bem como

evitando que esses moradores de baixa renda sejam expulsos das áreas consolidadas

da Cidade, providas de serviços e infraestrutura urbana. E, além disso, o escrito tenta

coibir o surgimento de assentamentos irregulares, implantando um sistema eficaz de

fiscalização.

Nas áreas de intervenção urbana, onde ocorrem as chamadas Operações

Urbanas, o PDE prioriza o atendimento habitacional às famílias de baixa renda, que

venham a ser removidas em função das obras previstas no Programa de

Intervenções, devendo preferencialmente, ser assentadas no perímetro dessas

operações, nas proximidades ou, na impossibilidade destas opções, em outro local a

ser estabelecido com a participação das famílias.

Sem dúvida, os Planos Diretores constituem-se um grande avanço para

efetivação das políticas públicas, entretanto o domínio deste instrumento é frágil,

uma vez que o encadeamento proposta – ação – consequência, não é inteiramente

previsível.

Porém, conforme Villaça já afirmou em seu texto “As ilusões do Plano

Diretor”, estes acabam por tornarem-se “Planos de Gaveta”, pois há um abismo que

separa o discurso da prática da administração municipal e da desigualdade que

caracteriza nossa realidade política e econômica. As ações governamentais acabam

por serem muitas vezes influenciadas pelo capital privado e deixam de lado a

participação da população diretamente envolvida, a qual muitas vezes, pertence a

camadas mais necessitadas da população. Assim, o planejamento urbano no Brasil

representado pelo Plano Diretor está a exigir uma revisão radical, devendo todos os

seus pressupostos ser questionados.

Mas, quando se fala em alterar as atuais limitações do planejamento implica-se,

também, rediscutir modelos urbanísticos que respondam à nossa efetiva realidade e

limitações institucionais, porque aspectos como a preservação da água de

abastecimento e a funcionalidade da cidade dependem da somatória de ações, da

totalidade e não de ações exemplares, porém pontuais (MARTINS, 2003).

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ii. Zoneamento

O zoneamento se mantém como principal instrumento de planejamento em São

Paulo por abranger o conjunto da cidade e dividir o território urbano em zonas, nas

quais se articulam diferentes parâmetros urbanísticos. Essa prática foi incorporada

pela administração municipal a partir da criação do Departamento de Urbanismo, o

qual tem influência marcante de Anhaia de Mello e do urbanismo norte americano da

década de 1920 (FELDMAN, 2005).

Enquanto os princípios do planejamento não ultrapassam o universo das ideias e

representações, se inserindo no universo da história da cidade ideal, o zoneamento

Figura 1 – Mapa contendo as áreas de intervenção Estatal no

município de São Paulo.

Fonte: Portal da Prefeitura de São Paulo

Acessado em:13/03/2012

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remete à história da cidade real, à história de um processo em constante

transformação, que se constrói socialmente, em função de interesses e atores

concretos (FELDMAN, 2005).

Um dos grandes críticos do urbanismo paulistano foi Lodi, quem defendeu a

necessidade de atualização desse modelo urbanístico pautado em um “urbanismo

viário”, que tem como ponto de partida as desapropriações para o alargamento de

ruas. Este, segundo Lodi, advém de uma ideia errônea de progresso, pois apenas os

planos viários nada resolvem, bem como alimentam a especulação imobiliária, na

medida em que a ampliação das possibilidades de uso dos terrenos eleva seus

valores. E, além disso, sempre defendeu a importância do desenvolvimento periférico

(FELDMAN, 2005).

“Portanto, para a solução dos problemas urbanos é preciso

dispor sobre a periferia: sem um trabalho periférico o

melhoramento central tende a submergir. Se no centro ocorre

um excessivo aproveitamento do solo urbano, que se

manifesta em alturas excessivas, na periferia ocorre o

loteamento indiscriminado pela transformação de “terreno

estéril em área urbana”, sem reversão de capital em

benfeitorias. Na periferia, “a riqueza do terrenista se dá pela

simples passagem de propriedade de terreno, comprado a

baixo preço ao atacado, e vendido a valores astronômicos ao

retalho.” Para Lodi (1954:312), em ambos os casos, os gastos

públicos são elevados e a comunidade prejudicada: “O uso

excessivo do solo cria problemas, o loteamento

indiscriminado do terreno cria problemas, todos eles de

solução difícil e onerosíssima, a depauperar as cidades e

enriquecer os particulares, poucos particulares (FELDMAN,

2005: 85).”

Atualmente, o PDE paulistano criou um novo instrumento jurídico de

cunho urbanístico denominado de Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), o

qual permite “ações de regularização fundiária e urbanística junto aos

assentamentos informais e como fomentador da produção de novas unidades

habitacionais destinadas à população de baixa renda” (CALDAS, 2009: 21).

Então, esse se constitui como um avanço nas questões do zoneamento na cidade

de São Paulo.

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iii. Segregação Socioespacial

O processo de urbanização em São Paulo seguiu um padrão periférico de

crescimento urbano, o qual consolidou as periferias, levando grande parte dos

seus moradores à exclusão dos direitos sociais básicos, significando, na prática,

um déficit de cidadania e governabilidade.

Nestas regiões, concentram-se os maiores índices de precariedade

habitacional e urbana:

“A rigor, os processos de segregação socioespacial na cidade

estão estreitamente relacionados com a precarização do

mercado de trabalho e o desemprego, que afetam mais que

proporcionalmente as camadas mais pobres, menos

escolarizadas e que tiveram menos meios de resistir àquilo

que se pode denominar de diáspora da classe trabalhadora.

Este processo, associado à dinâmica especulativa de

valorização do solo urbano e aos sentidos do investimento do

capital imobiliário, incide sobre as condições e opções de

moradia da população, o que, desde os anos 80, leva à

expansão demográfica crescente das periferias em

contraposição como esvaziamento populacional nas áreas

centrais (bem servidas por infraestrutura) e à redistribuição

das camadas mais ricas da população para novas fronteiras de

ocupação delineadas pelos sentidos do investimento do

mercado imobiliário (especialmente o quadrante sudoeste)”

(HUGHES, 2004: 94). Não está na bibliografia

Historicamente segregada, a cidade informal periférica enfrentou a dificuldade

de acesso aos recursos do Estado, apesar da pujança das mobilizações e reivindicações

dos movimentos sociais a partir do final dos anos 70. Os domicílios pertencentes a essa

realidade estão muitas vezes situados em áreas de risco e geralmente apresentam

elevados índices de coabitação.

A segregação socioespacial tornou-se assim, uma marca recorrente na

consolidação das periferias, pois as demandas das classes trabalhadoras, maioria vivente

nessas regiões, nunca estiveram entre as prioridades estatais, sendo relegadas a um

segundo plano. Isso gerou uma estrutura urbana precária, com insuficientes

equipamentos sociais e de infraestrutura, fruto de uma ocupação “desordenada” que

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acaba por comprometer a qualidade de vida, a mobilidade e o acesso da população aos

serviços e ao mercado de trabalho.

Pode-se dizer também que o Estado teve uma controvertida presença na vida dos

moradores das periferias pautada por mecanismos de controle social e repressão.

“Tal reflexão permite contrapor o contrato social que rege as

relações sociais na cidade formal e na cidade informal,

periférica, sugerindo a recorrência de distinções e

diferenciações nas possibilidades de fruição das prerrogativas

do Estado de Direito” (HUGHES, 2004: 95).

Diante disso, o mito do desenvolvimento ganha força, pois reaparecem os

questionamentos sobre a (im)possibilidade da modernidade, uma vez que as dinâmicas

da globalização e do neoliberalismo propiciam a existência de diferentes poderes

sociais.

“Segundo Boaventura de Souza Santos (1998), a crise do

contrato social produziu o fascismo do apartheid social.

Trata-se da segregação social dos excluídos, por meio de uma

cartografia urbana dividida em zonas selvagens e civilizadas

[...] As selvagens são as zonas do Estado de natureza

hobbesiano. As civilizadas são as zonas do contrato social;

vivem sob a constante ameaça das selvagens. Para se

defender, tornam-se castelos neofeudais, enclaves fortificados

que caracterizam as novas formas de segregação urbana. Nas

zonas civilizadas, o Estado age democraticamente, como

protetor, ainda que muitas vezes ineficaz ou não confiável.

Nas selvagens, age fascistamente, como Estado predador,

sem nenhuma veleidade de observância, mesmo aparente, do

Direito (HUGHES, 2004: 95).”

Desta forma, a cidade informal, caracterizada pelas periferias, e a cidade formal

acabam por receberem tratamentos diferenciados quanto à presença de forças policiais e

de segurança pública. Essa controvertida atuação do Estado, associada às crescentes

manifestações de violência, refletem uma grave crise política, pois o próprio aparato

estatal é também “gerador” de violência (OFICINA DE IDÉIAS, 2003 apud HUGHES,

2004).

27

iv. Ecologia e Sustentabilidade Urbanas

A gestão do meio ambiente urbano representa um desafio complexo para as

sociedades contemporâneas, pois deve aliar a preservação dos recursos naturais e

assegurar condições de vida digna a toda população.

Os trabalhos sobre ecologia urbana e meio ambiente urbano se referem aos

elementos biológicos do meio urbano, relacionando-os à problemática da saúde das

pessoas e aos riscos naturais, bem como busca equacionar o problema da gestão ou

administração da cidade quanto aos ordenamentos de uso e de ocupação do solo.

A partir da década de 1980, a questão urbana é integrada à questão social,(???) e

os

“problemas urbanos deixam de ser reconhecidos como

integrantes da questão social e passam a ser explicados como

decorrentes do suposto divórcio entre a cidade e os

imperativos da ordem econômica global, e o saber e a ação

urbanísticos são mobilizados para fazer coincidir a cidade

com o mercado” (RIBEIRO, 2001: 135 apud SILVA, 2002:

3).

Assim, os princípios diretores têm um papel essencial para a implementação das

políticas públicas, especialmente em se tratando de proteção ambiental e ordenamento

do território, pois estes protegem valores e interesses diversos. Entre os princípios que

orientam as políticas públicas no meio ambiente urbano encontram-se, por exemplo, o

princípio da supremacia do interesse público na proteção do meio ambiente urbano

sobre os interesses privados e a garantia do direito a cidades sustentáveis para todos

(fonte?).

A expressão sustentabilidade remete ao conceito de gestão durável dos recursos

ambientais no espaço e no tempo. A adoção de políticas públicas buscando a

sustentabilidade urbana implica, portanto, repensar o modelo de desenvolvimento, das

relações sociais e econômicas na cidade e o direito à cidade sustentável. Trata-se,

portanto, de gestão sustentável do espaço urbano, tendo em vista estratégias de inclusão

social que possibilitem o acesso à terra, à moradia e à infraestrutura urbana para as

presentes e futuras gerações conforme previsto no Estatuto das Cidades.

Os problemas intraurbanos que afetam a sustentabilidade, como a dificuldade de

acesso à terra urbanizada, o déficit de moradias adequadas, a ineficiência dos serviços

28

de saneamento ambiental, a baixa qualidade do transporte público, a poluição ambiental,

o desemprego e a marginalização social, por outro lado, acabam propiciando às cidades

certos sinais positivos de desenvolvimento como um maior dinamismo econômico e

social.

Porém, para que as cidades brasileiras do século XXI possam se tornar

sustentáveis serão necessárias mudanças nos padrões insustentáveis de produção e

consumo que resultam na degradação dos recursos naturais e econômicos do país,

afetando as condições de vida dos habitantes citadinos. Além disso, melhorias no

padrão de uso e ocupação do solo e fortalecimento da capacidade de planejamento e de

gestão democrática da cidade, com efetiva participação da sociedade.

“Não apenas a regulamentação do uso e da ocupação do solo

urbano deve contribuir para a melhoria das condições de vida

da população, mas também a promoção do ordenamento do

território deve buscar que a todos sejam asseguradas a

equidade no acesso aos equipamentos e serviços públicos

bem como aos recursos ambientais, a eficiência na prestação

dos serviços e a qualidade ambiental. Nesse sentido,

destaque-se o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE),

instrumento de ordenamento do território, que deve ser

obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e

atividades públicas e privadas. Esse instrumento estabelece

medidas e padrões de proteção ambiental destinados a

assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do

solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o

desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de

vida da população” (SILVA, 2002: 11).

Por fim, a maior parte da sociedade brasileira já se encontra instalada em

cidades, demonstrando a necessidade da efetivação de políticas públicas em prol do

meio ambiente urbano, e ao lado da ação governamental são as parcerias público-

privadas que devem auxiliar no processo de gestão sustentável das urbes.

c. Impactos ambientais: rios e cidades

A valorização do meio ambiente dentro da esfera das ações sociais é, sem

dúvida, uma variável relevante quando analisamos as mudanças recentes na estruturação

urbana, pois, entre outros fatores, a questão ambiental passa a ser entendida como causa

29

e efeito das decisões que orientam as transformações do tecido urbano. Uma vez que,

“os impactos ambientais promovidos pelas aglomerações urbanas são, ao mesmo tempo,

produto e processo de transformações dinâmicas e recíprocas da natureza e da sociedade

estruturada em classes sociais” (GUERRA, 2011: 21).

Desta forma, se por um lado temos a demanda crescente pela qualidade de vida

urbana associada à proximidade dos espaços verdes, por outro lado temos um aumento

na pressão sobre o consumo do espaço urbano.

Pelo meio ambiente ser social e historicamente construído, através da interação

contínua entre uma sociedade em movimento e um espaço físico que se modifica

permanentemente, este pode ser considerado passivo e ativo, pois ao ser modificado,

torna-se condição para novas mudanças, modificando, assim, a sociedade. (GUERRA,

2011: 23). Assim,

“somente através de pesquisa de acompanhamento

sistemático voltada para a compreensão das estruturas e dos

processos não planejados e de longa duração é que podem ser

explicados os impactos. Para Elias (1997), somente com tais

estudos é possível decidir se os planos de curto prazo com

vistas a remediar os problemas sociais não irão fazer mais

mal que bem no longo prazo” (GUERRA, 2011:24).

Os problemas ambientais não atingem igualmente todo o espaço urbano.

Atingem muito mais os espaços físicos de ocupação das classes sociais menos

favorecidas, pois

“a localização geográfica e os processos físico-químicos

possuem influência direta nas formas de ocupação e de

organização do espaço sobre o qual os grupos se confrontam.

O processo político-econômico, com base na racionalidade

determinada pela acumulação de capital, dispõe sobre a

produção de espaço, a valoração da terra urbana e a

apropriação de excedentes econômicos. O conteúdo político

no contexto deste processo diz respeito, sobretudo, mas não

só, ao papel e às estratégias do Estado como sustentáculo da

ordem, regulador e implementador de políticas públicas, e

aos arranjos e rearranjos dos poderes de difícil integração,

identificados nas escalas internacional, nacional e

regional/local (Sachs, 1993)” (GUERRA, 2011:26).

30

Porém, muitas vezes as medidas para controlar os problemas ambientais são

paliativas ou, até mesmo, intensificadoras do problema. Grande parte dos rios urbanos

foi transformada em avenidas marginais, canalizados e ladeados por vias, trazendo

consigo consequências desastrosas, como a poluição de suas águas e as enchentes, as

quais somente ocupam as várzeas que lhe foram roubadas.

Essa condição é agravada ainda pela precariedade do saneamento básico, pela

crescente poluição ambiental, e pela ocupação irregular das margens, que nada mais é

do que resultado do difícil acesso da população de baixa renda às áreas mais centrais

das cidades contribuindo para a expansão da periferia e a invasão de áreas de proteção

de mananciais. Entretanto, muitas vezes, o próprio Poder Público acaba por privilegiar o

uso e ocupação das várzeas, favorecendo a impermeabilização do solo, como se pode

notar historicamente na cidade de São Paulo.

“Esse conceito de canalização de rios e construção de

avenidas de fundo de vale, iniciado com a proposta de um

plano de avenidas, iniciado com a proposta de um plano de

avenidas, apresentada em 1930 por Prestes Maia, se espalhou

e está impregnada, ainda hoje, nas administrações públicas,

agora com a justificativa, contraditória, de controle das

enchentes e circulação de automóveis. Ideias de um

urbanismo rodoviário contrário aos ideais de um urbanismo

humanista, preocupado com a qualidade da estrutura

ambiental urbana. Para este urbanismo rodoviarista, pedestres

e ciclistas não existem; metrô, parques e áreas verdes,

equipamentos sociais e habitação social não são prioritários”

(GORSKI, 2010:68).

Somente com uma visão integrada dos recursos hídricos, boas políticas públicas

para minimizar os impactos da desigualdade intraurbana, causados em grande parte pela

precariedade dos programas de habitação popular e pela deficiente rede de transporte

público, e a disseminação da educação ambiental nas escolas, o Poder Público será

capaz de devolver o sentimento de cidadania aos indivíduos, fazendo com que sejam

mais participativos na comunidade e no processo público.

6. Estudo de Caso

31

a. São Paulo: metrópole global

A Região Metropolitana de São Paulo abrange 39 municípios que totalizam

cerca de 18 milhões de habitantes responsáveis por aproximadamente 20% do PIB

nacional (CARLOS e OLIVEIRA, 2010: 183). Por essa mancha urbana apresentar uma

alta densidade demográfica, sobra pouco espaço para áreas verdes não

impermeabilizadas, que ainda disputam espaço com aproximadamente 5 milhões de

veículos, agravando os problemas socioambientais. (CARLOS e OLIVEIRA, 2010:

208).

Mas, contrariamente ao avanço econômico e poder estratégico vividos em São

Paulo, uma urbe com fortes características de metrópole global, é notória a existência de

uma cidade ilegal, a qual corresponderia a 50% das moradias paulistanas. Ilegal, porque

é produto da transgressão de proprietários loteadores e da contínua ocupação de áreas

públicas como beira de rios e córregos, áreas sempre sujeitas a riscos.

b. As várzeas do Tietê

A partir da década de 1950, São Paulo se coloca como uma das

maiores cidades do mundo e principal metrópole industrial latino-americana,

abrigando por volta de 2,75 milhões de habitantes. A verticalização intensa da

área central e a velocidade de seu desenvolvimento urbano eram motivos de

orgulho dos paulistanos, que então viviam "na cidade que mais cresce no mundo".

Por isso, a estrutura urbana se tornou complexa, principalmente pela pressão do

aumento do número de automóveis nas áreas centrais. Assim, vendo a necessidade de

serem feitas melhorias na malha viária da cidade, o então prefeito Prestes Maia acaba

por definir a opção paulistana pelo rodoviarismo, implantando um anel de avenidas que

envolve o centro histórico e transforma o Parque do Anhangabaú em parte de um

corredor viário. Mas, sem dúvida, a obra mais destacada nessa época, foi a planejada

por Saturnino de Brito, a retificação do percurso urbano rio Tietê, em como a

construção de avenidas expressas em suas margens.

Em 2005, houve o aprofundamento da calha do Tietê, com a promessa do então

governador Geraldo Alckmin (PSDB) de que jamais voltaria a ocorrer enchentes na

Marginal. Porém, até hoje essas são recorrentes, devido em parte pela falta de

32

manutenção e retirada dos produtos de erosão e assoreamento do rio, bem como dos

depósitos de lixo.

E, agora, em pleno século XXI, mais uma vez incentivando o rodoviarismo, a

prefeitura e o governo de São Paulo ampliaram a marginal Tietê para tentar melhorar o

trânsito na cidade. No empreendimento, os dois lados da marginal Tietê ganharam 23

km de pistas, cada um deles com três novas faixas construídas a partir do canteiro

central. Além disso, a obra inclui uma ciclovia ao longo da marginal, o plantio de 83 mil

árvores e a criação de um parque entre São Miguel Paulista e Itaquaquecetuba que terá

75 km de extensão e será, segundo o governo do Estado, o maior parque linear do

mundo.

c. Parque Linear do Tietê

O parque Linear do Tietê é uma medida compensatória ambiental em virtude dos

danos ambientais causados pela ampliação da marginal do Rio Tietê. No local onde se

instalará o referido Parque está localizada a Várzea do Rio Tietê, na qual residem,

aproximadamente, 3.900 famílias ameaçadas de despejo por causa da implantação desse

projeto.

O projeto, já iniciado, se estenderá do bairro da Penha (zona Leste de São Paulo)

até as nascentes do rio, no município de Salesópolis. O governo do Estado já realizou

convênio com 13 municípios do entorno do Parque para implementação da obra e

considera que uma área de 50 a 200 metros a contar das margens do rio deverá ser

desapropriada, elevando ainda mais o número de famílias atingidas.

A referida Várzea compreende várias comunidades que serão atingidas, tais

como: o Jardim Romano, o Jardim Helena, a Chácara Três Meninas e o Jardim

Pantanal, entre outras que residem no local há mais de 30 anos.

7. Resultados e Discussão

a. Zona Leste de São Paulo

O Estado foi o grande responsável pelo “desenvolvimento” da Zona Leste, pois a

partir de meados da década de 1960 foram intensificados os processos migratórios,

33

sendo necessário ampliar a oferta de moradias para aqueles que chegavam à busca de

empregos industriais (SILVA, 2008).

Essa expansão foi norteada, ou seja, de certa forma planejada e direcionada pelo

governo, que permitiu a criação de novos bairros nessa região que apresentava preços

mais baixos dos terrenos e uma considerável distância do centro paulistano, onde

habitavam as elites.

A Zona Leste se formou a partir de vários núcleos espalhados ao longo do antigo

caminho São Paulo - Rio de Janeiro, e foi reforçado ainda pela implantação da ferrovia

Central do Brasil no final do século XIX.

“Essa estruturação revela a posição dos que vivem fora da

cidade, do "lado de lá" da várzea do Carmo e da ferrovia

Santos-Jundiaí, ao longo da qual se implantou um cinturão de

indústrias, definindo uma forte barreira entre a cidade das

elites e a ocupação periférica, ao longo do século XX, por

moradias de trabalhadores em loteamentos irregulares ou

clandestinos, casas autoconstruídas e conjuntos habitacionais

construídos pelo poder público” (ROLNIK e FRÚGOLI,

2001:44). Não está na bibliografia

O eixo Leste-Oeste se consolidou definitivamente como principal estruturador

da Zona Leste de São Paulo a partir de meados da década de 1970 quando foram

concluídas a via Radial Leste e a linha Leste do metrô.

“Essa estruturação em torno de um forte eixo na direção

Leste-Oeste, que liga o centro à periferia próxima e distante,

reflete a história da exclusão territorial que teve lugar na

cidade de São Paulo e que encontra paralelos em todas as

grandes cidades brasileiras” (ROLNIK e FRÚGOLI,

2001:45).

Isso teve uma participação decisiva por parte do poder público, o qual

concentrou investimentos no centro, protegendo o patrimônio imobiliário da população

de maior renda, e priorizando investimentos em sistema viário e transportes na periferia,

onde reside a população trabalhadora.

34

A região aos poucos foi se urbanizando e gradativamente tendo o seu

contingente populacional, marcado principalmente por habitantes de baixa renda,

aumentado.

Mesmo hoje, havendo um forte processo de desindustrialização na capital

paulista, os reflexos desse passado continuam marcando o seu território, principalmente

na Zona Leste.

O mercado imobiliário formal atua pouco nos distritos da Zona Leste mais

distantes do Centro, que apresentam maiores graus de exclusão social. Neles,

“a verticalização ainda é configurada predominantemente

pela implantação de conjuntos habitacionais produzidos pelo

poder público (Cohab e CDHU), cercados por loteamentos

clandestinos com pouca ou nenhuma urbanidade. São os

distritos onde o modelo de exclusão territorial permanece

como forma de estruturação da cidade desigual” (ROLNIK e

FRÚGOLI, 2001:46).

Segundo Raquel Rolnik e Heitor Frúgoli Jr., o processo de desindustrialização

em curso na cidade de São Paulo pode ser considerado relativo, principalmente quando

se analisa o caso da Zona Leste. Nela ocorre, simultaneamente, uma desconcentração e

uma reconversão industrial, com a dispersão de pequenas indústrias, marcadas pela

precarização empregatícia.

O modelo centro-periferia, que durante décadas deu conta das principais

dinâmicas urbanas em curso em São Paulo, continua marcando, de certa forma, as

principais tendências de organização territorial metropolitana, mas hoje diversos

fenômenos podem relativizá-lo, como a auto segregação de grupos sociais com maior

poder aquisitivo, a melhoria urbanística de bairros populares periféricos, acompanhada

de expulsão de parte da população após as melhorias, entre outros.

“Na dinâmica de reestruturação urbana em curso em São

Paulo, há necessidade de se diferenciar os fenômenos que se

observam no quadrante sudoeste, marcados de certa forma

pela hegemonia do setor terciário moderno, e os que

observam na Zona Leste, cujas características já assinaladas –

desconcentração e reconversão industrial, a inscrição

territorial do comércio varejista moderno, verticalização de

35

áreas periféricas – podem apontar, a depender de novos

aprofundamentos, para novas formas de espacialização da

desigualdade na metrópole” (ROLNIK e FRÚGOLI,

2001:56).

b. Jardim Pantanal

Assim como em muitos outros bairros do extremo da Zona Leste paulistana, o

Jardim Pantanal teve iniciado e intensificado o seu processo de ocupação a partir do

início dos anos 80, quando muitos migrantes, sendo a maioria de origem nordestina,

vieram para a metrópole em busca de melhores oportunidades.

Entretanto, esse processo foi marcado pela ilegalidade e falta de

comprometimento do Poder Público, uma vez que pela dificuldade de acesso à terra e

pelas precárias políticas de planejamento habitacional, os trabalhadores, recém-

chegados, não viram alternativas, senão ocupar as várzeas do Rio Tietê.

No início da década de 1990, com a ocupação já consolidada, iniciou-se a

construção das casas de alvenaria, abertura e aterramento de ruas, bem como a criação

de organizações em prol da luta dos moradores por melhores de condições de vida e

moradia.

“A vila foi crescendo e as pessoas foram acostumando com

as frequentes cheias que ocorriam quase todos os anos até

que, em janeiro de 1997, veio à grande enchente que durou

em torno de 18 dias. Com a enchente, a mídia passou a dar

atenção aos acontecimentos na área, onde as águas formavam

um grande lago, do Parque Ecológico do Tietê até

Itaquaquecetuba” (texto fornecido pelo Instituto Alana).

Assim, foi criado o MUP (Movimento Unificado do Pantanal), composto por 32

entidades, e que tinha como objetivo defender a legalização da ocupação na região

através de negociações com o Governo. Diante dos acontecimentos, o governo propôs

remover 5000 famílias do Pantanal, sendo 1200 numa primeira etapa, associado à

limpeza de um trecho de 10 km do rio Tietê. Porém, isso não ocorreu como prometido,

pois em fevereiro de 1998, o então governador Mário Covas cria o decreto de lei 42.780

que remove 5000 famílias do pantanal. Mesmo com toda luta do MUP e dos moradores

36

tentando barrar as remoções, o governo conseguiu remover quase mil famílias para

apartamentos da CDHU no Conjunto Encosta Norte e Fazenda da Junta. Entretanto, até

que as obras nesses conjuntos se concluíssem as famílias foram levadas para

alojamentos provisórios dentro do terreno do Parque Ecológico do Tietê.

O processo de urbanização nas vilas passíveis de legalização prometido pelo

Poder Público foi lento, bem como o parque que seria construído nos locais onde as

casas foram removidas.

Neste mesmo período foram criados o CONSELHO GESTOR DA APA DA

VARZEA DO RIO TIETÊ e o MULP (Movimento de Urbanização e Legalização do

Pantanal da Zona Leste) uma nova organização totalmente desvinculada da política

partidária.

“O MULP tentou se aliar ao DAEE e à CDHU para remover

as famílias restantes e efetivar a construção do parque.

Infelizmente isso não aconteceu e após mais um ano de o

espaço ter sido desocupado houve um processo de re-

ocupação em massa perfazendo um total de 700 famílias só

na região do cotovelo do Pantanal” (texto fornecido pelo

Instituto Alana).

Em 2005, o MULP apresentou propostas de urbanização para o Jardim Pantanal

ao Conselho gestor da APA, que se mostrou favorável ao projeto. Dentre as propostas

estão: a implantação de uma rede coletora de esgoto; a pavimentação e arborização das

ruas; a fiscalização integrada (Defesa Civil, Policia Ambiental e Guarda Civil

Metropolitana) com intuito de coibir as ocupações e despejo de lixo e entulhos na

várzea do Rio Tietê; realizar cursos de conscientização ambiental; e, criar na

comunidade um CCT (Centro de Coletas e Triagem de lixo).

No início de 2010, os Jardins Pantanal e Romano viveram a pior enchente de sua

história, tendo suas ruas alagadas por cerca de dois meses. De acordo com o Instituto

Alana, importante órgão representativo da comunidade do Jardim Pantanal, o qual

defende junto ao poder público que “o fato da área não ser legal, não nos autoriza a

ilegalizar também a existência de milhares de cidadãos brasileiros”, bem como muitos

moradores entrevistados, a abertura de comportas do rio Tietê próximas à área seria a

culpada pela subida e permanência das águas. O Poder Público, diante da necessidade

37

de expulsão de boa parte da população residente na área para construção do Parque

Linear Várzeas do Tietê, teria favorecido propositalmente a ocorrência dessa enchente,

segundo informações fornecidas pelos moradores.

Em uma reportagem, divulgada pelo site Rede Brasil Atual, em janeiro de 2010,

o então prefeito Gilberto Kassab relatou que a antecipação da remoção das famílias foi a

medida encontrada pela prefeitura para solucionar os problemas dos alagamentos na

zona leste de São Paulo. Porém, admitiu, na época, que boa parte da população não

confiou nas promessas do poder público, e ressaltou que “é importante elas aceitarem as

opções de transferência, porque elas terão um local com dignidade para morar com seus

filhos". Fala muito diferente da população que foi ouvida também na mesma

reportagem. Segundo Ronaldo Delfino de Souza, coordenador do Movimento de

Urbanização e Legalização do Pantanal, as autoridades ofereceram bolsa-aluguel, mas

não disseram onde as famílias iriam morar; ofereceram passagem para que as pessoas

retornassem à cidade de origem, mas não uma indenização pelas perdas materiais.

São Paulo é uma cidade mercantilizada, pois entregou seus espaços mais

valorizados à iniciativa privada, e empurrou a população pobre para regiões cada vez

mais afastadas do centro, muitas vezes situadas em áreas de risco. Enquanto as políticas

públicas não garantirem o direito de todos à cidade e continuar a incentivar

indiretamente a ocupação das periferias em troca de voto e apoio político não se

caminhará rumo a um melhor planejamento urbano e habitacional.

c. Parque Ecológico do Tietê

38

Figura 2 - Parque Ecológico do Tietê. Aline R. Souza Cruz, setembro de 2012. Coloque nas outras fotos o autor

Figura 3 - Rodovia Ayrton Senna ladeada pela ciclovia e pista que acompanharão o Parque Linear (foto tirada em setembro de 2012)

39

Figura 4 - Opção de lazer no Parque Ecológico do Tietê (foto tirada em setembro de 2012)

No projeto original de construção do Parque Ecológico do Tietê que data de

1976, priorizou-se o afastamento das vias marginais ao longo do canal retificado do rio.

Elaborado pelo arquiteto Ruy Ohtake, o projeto final previa a ocupação de uma área de

mais de 100 quilômetros na extensão do rio, desde sua nascente até Santana do

Parnaíba.

“No caso do Tietê, onde ele passa pela cidade de São Paulo

foi um engano emparedá-lo com avenidas e edificações,

porque suas margens são a várzea natural do rio. Além disso,

com o aumento das águas devido à impermeabilização

progressiva do solo urbano, as obras de aprofundamento do

Tietê, além de se tornarem a cada dia mais complexas,

assumem, em médio prazo, um custo financeiro superior ao

do alargamento do seu leito e afastamento das avenidas

marginais”.

(Fonte: www.ecotiete.org.br)

Assim, hoje tentamos (procura-se) aplicar um projeto urbanístico previsto há 36

anos para tentar corrigir erros que continuam a se processar no entorno do rio Tietê, a

principal marca paisagística da cidade de São Paulo. O Parque Ecológico foi implantado

apenas (até o momento?) em Tamboré e em Engenheiro Goulart, uma região

hodiernamente cortada pela Rodovia Ayrton Senna, um acesso importante para o

Aeroporto de Cumbica.

40

Em agosto de 2011, foi lançado o projeto do “Jardim Metropolitano”, pelo então

Governador do estado de São Paulo Geraldo Alckmin. O projeto paisagístico é também

do Arquiteto Ruy Ohtake e se instalará na área do PET (Parque Ecológico do Tietê),

desta maneira integrando o Projeto Parque Várzeas do Tietê encabeçado pelo DAEE

(Departamento de Águas e Energia Elétrica), que também administra o PET.

O Jardim Metropolitano totalizará uma área de 350 mil m², sendo 15 km de

extensão e 50 metros de largura em cada margem da pista Ayrton Senna, às margens do

Rio Tietê. O objetivo do governo com o desenvolvimento dessa obra é destacar a beleza

natural da região e promover o desenvolvimento ambiental sustentável.

No site www.ecotiete.org.br foi desenvolvido um interessante trabalho. Um

mapa da cidade de São Paulo de 1943 foi sobreposto a uma imagem de satélite de 2007

na mesma escala, para se comparar os traçados do antigo leito do rio Tietê no PET.

41

d. Análise crítica do projeto em execução

O aumento populacional ocasionou um crescimento “desordenado” das cidades

em relação à efetividade do Estado, destacando-se o surgimento das ocupações de

origem ilegal, conhecidas popularmente como favelas e loteamentos clandestinos, os

quais se alastraram rapidamente pela capital paulista provocando graves problemas

ambientais, sem que o poder público realiza-se medidas eficazes para conter esse

avanço.

Assim, as ocupações ilegais são fruto de um desenvolvimento socialmente

desigual, ou seja, o que ocorre em São Paulo é o mito do desenvolvimento, um

progresso mascarado por obras de embelezamento urbano que propiciam a valorização

imobiliária e o aumento do preço da terra, e tem como consequência a segregação

socioespacial, característica de uma metrópole global na semiperiferia do capitalismo,

marcada por uma política a favor da atuação do grande capital nacional e transnacional.

Diante de ocupações ilegais o saneamento básico, o planejamento espacial e o

fornecimento adequado de luz e água ficam comprometidos, deficientes. Cria-se, nasce

organicamente, uma cidade a parte, marginalizada, esquecida pelos órgãos públicos até

que seus interesses caminhem de encontro a essa realidade. Desta maneira, fica

facilitada a degradação ambiental causando baixa qualidade de vida, e dificultada a

reorganização espacial e a recuperação e/ou preservação das áreas de várzea.

De acordo com a lei (qual?), o rio Tietê deveria ter pelo menos 50 metros de

margens preservadas de cada lado. Porém, o Estado, de certa forma, incentivando a

especulação imobiliária, direcionou o uso e a ocupação do solo urbano, implantando o

sistema viário em áreas de várzea, além de grandes construções como o aeroporto de

Cumbica e o campo de treinamento do Corinthians. Uma decisão contraditória, pois, ao

mesmo tempo em que, acusa os moradores do Jardim Pantanal como culpados por

morarem em áreas de risco, aceita a construção de muitas empresas privadas e do

sistema viário sendo erguidos na várzea.

As várzeas, por serem áreas de risco potencial, devem ter seus moradores

removidos e alojados em lugares adequados, porém em certos espaços (por quê?), como

alguns loteamentos clandestinos, a legalização seria a melhor solução política, social e

ambiental para (a população nessas) essas áreas, uma vez que se legalizando o

42

saneamento básico e o ordenamento espacial, a atuação do Estado seria facilitada, o que

diminuiria futuros gastos econômicos com a revalorização desses espaços, bem como

com saúde pública.

Muitas pessoas residentes nas favelas não possuem renda suficiente para bancar

os custos elevados dos impostos advindos com a legalização, o que acarreta a mudança

desses para um barraco em outra comunidade. É tocante a incapacidade dessas pessoas

de se inserirem na sociedade e a “exclusão” que sofrem dentro do modo capitalista de

vida. Porém, creio que somente através de subsídios voltados para as questões

habitacionais ou por meio de uma cobrança de impostos proporcional à renda o Estado

possibilitará a inserção dessa parcela da população.

Porém, o que fazer para impedir que a cidade continue se expandindo

horizontalmente e novas áreas ambientalmente frágeis e impróprias para ocupação

sofram degradação?

“Segundo Villaça (1999:13), “o simples registro de

transformações espaciais não é suficiente para caracterizar a

estruturação ou a reestruturação [do espaço]”. Ou seja, não

basta identificar as transformações físicas que ocorrem nas

principais aglomerações urbanas brasileiras para denominá-la

de reestruturação do espaço urbano, tratando-as como

evidências das mudanças no modo de produção capitalista.

Também é necessário verificar mudanças estruturais na vida

social que justifiquem uma transformação na racionalidade

envolvida nos processos de consumo de espaço” (OJIMA,

2007: 25).

Assim, a expansão de áreas urbanas se torna uma disputa por qualidade de vida,

refletindo numa mudança na esfera da reprodução social, conforme se pode notar na

recente importância dada a questão ambiental enquanto valor universal. Desta maneira,

os aspectos ambientais passaram a ser entendidos como causa e efeito das decisões no

âmbito urbano. “Ou seja, se por um lado temos a demanda crescente pela qualidade de

vida urbana associada à proximidade dos artefatos ambientais, por outro lado temos um

aumento na pressão sobre o consumo do espaço urbano” (OJIMA, 2007: 26).

Sendo o espaço urbano socialmente produzido, fruto de relações dialéticas entre

espaço e sociedade, só será possível entendermos as mudanças dos valores e

43

ressignificações que a sociedade brasileira contemporânea atravessa analisando-se esta

dentro do contexto da globalização, a qual numa escala macro apresenta uma tendência

à homogeneização social entre os espaços, enquanto numa escala micro uma crescente

fragmentação (OJIMA, 2007).

“As corporações na economia global, incluindo aqui o

mercado imobiliário, parecem já ter identificado a

necessidade de incorporar a representação social do espaço

enquanto parte indissociável da sua estratégia. Hoje, o

mercado não mais lança seus produtos e empreendimentos

sem antes realizar uma ampla pesquisa de opinião e de

viabilidade, pois dessa maneira conseguem antecipar os

interesses e preferências do consumo para assim melhor

adequar seus produtos ao mercado. Portanto, imaginar que a

ação social e a vida cotidiana têm peso pouco importante na

reprodução social do espaço e que esse espaço (o urbano) não

se constitui em si mesmo enquanto um objeto significativo de

estudo é limitar a análise da sociedade contemporânea a

apenas uma parte de uma realidade” (OJIMA, 2007: 37).

Assim, o modelo de desenvolvimento urbano brasileiro segue um padrão

periférico, caracterizado pela segregação socioespacial das camadas populares. Neste

sentido, a organização do espaço urbano explicita um quadro analítico marcado pelo

avanço do modo de produção capitalista, no qual a população de baixa renda é

“obrigada” pelo baixo valor dos lotes e em decorrência da ausência de infraestrutura

básica (água, esgoto, etc.) a ir morar distante do centro. Desta maneira, somente o

Estado é capaz de articular a manutenção e/ou mudança deste processo, “uma vez que

este padrão periférico passa a ser entendido como uma expressão necessária para a

expansão do capitalismo” (OJIMA, 2007: 46).

“O avanço e atualização dos estudos urbanos deveriam,

assim, reconhecer que, face aos novos conteúdos da

urbanização, antigas referências teórico-conceituais que

pautaram o paradigma desenvolvimentista, como as reunidas

na dicotomia atrasado-moderno ou rural-urbano, precisam ser

urgentemente superadas. (...) A complexidade e a incerteza

delineiam os contornos de uma nova e latente vivência do

urbano, a ser experimentada e refletida” (RIBEIRO, 2000

apud OJIMA, 2007: 47).

44

Além disso, nota-se em São Paulo atualmente, um processo de desconcentração

populacional associado a uma reestruturação intrametropolitana, os quais alteram os

parâmetros para o entendimento da metrópole enquanto unidade de análise. Arrefecem-

se as taxas de crescimento das áreas centrais, tornando o crescimento das áreas de

entorno a principal, responsáveis pela manutenção das taxas de crescimento total nas

Regiões Metropolitanas.

“Deste modo, temos a consolidação de uma rede urbana onde

as interações intermunicipais decorrentes se fortalecem como

fruto de fluxos econômicos, populacionais e redes de

articulação política cada vez mais complexas. Assim, os

municípios “periféricos” se tornam, cada vez mais, parte de

uma forma de organização espacial metropolitana integrada

onde sua importância relativa se torna cada vez maior”

(BAENINGER, 2004 apud OJIMA, 2007: 48).

Surge assim, o conceito de Cidades Região, as quais segundo Scott et al. (2001),

constituem-se

“nódulos de expressão de uma nova ordem social, econômica

e política, mostrando que ao contrário de uma dissolução da

importância regional decorrente da diluição do tempo-espaço

propiciado pela globalização, as formas espaciais regionais se

tornam cada vez mais centrais à vida moderna. Neste

contexto, seria preciso identificar até onde vão os limites da

cidade, não no seu sentido estrito, enquanto expansão

contínua da mancha urbana, mas até onde a cidade (a

metrópole) faz sentido enquanto unidade de análise e que

pode ser apreendida em termos de centro, periferia ou região”

(OJIMA, 2007: 48).

A metrópole possui uma localidade polarizadora, mas que não sobrevive sem se

considerar a sua conjuntura regional.

“Surge a imagem de uma cidade polinucleada sem

necessariamente apresentar continuidade física da mancha

urbana, uma forma esparsa e fragmentada ao longo de

extensões do território cada vez mais amplas, mas ao mesmo

tempo cada vez mais integradas. Tendência que reflete

45

parcialmente a conjugação das esferas da reprodução da

sociedade em termos de uma desarticulação crescente entre

as formas de reprodução do capital e reprodução social”

(OJIMA, 2007: 49).

Com os novos contextos na expressão política, os arranjos intergovernamentais

se tornam mais importantes para as esferas local e regional. “E, como consequência, as

Regiões Metropolitanas ressurgem dentro da discussão da gestão regional e propiciam

uma nova correlação de forças no interior do jogo político” (OJIMA, 2007: 57).

Principalmente, em se tratando das questões ambientais, a gestão integrada é

imprescindível, pois os limites político-administrativos são diferentes dos ambientais.

O Brasil apresenta uma grande complexidade intra-urbana, que vai muito além

daquelas relacionadas ao paradigma da periferização.

“O processo de globalização trás consigo a

generalização dos modelos e padrões de consumo

distanciados dos contextos locais transformando o espaço e

evidenciando novas formas urbanas. Segundo Lefebvre

(1999:18), é a gestação de uma sociedade urbana, uma

urbanização completa, onde o tecido urbano se prolifera

explodindo a grande cidade e dando lugar a “duvidosas

excrescências: subúrbios, conjuntos residenciais ou

complexos industriais, pequenos aglomerados satélites pouco

diferentes de burgos urbanizados”. Enfim, atravessamos um

momento de transição onde o meio ambiente aparece no

centro da discussão e a segurança na vida social passa a ser

guardada dentro de uma “caixa preta”” (Giddens, 1991;

Lefebvre, 1999 apud OJIMA, 2007: 86).

É natural que o aumento populacional urbano leve à expansão urbana, porém o

verdadeiro desafio das áreas urbanas no século XXI, não é apenas a pressão dos

números, mas como as formas urbanas se moldam sob as tensões desse crescimento. Ou

seja, duas cidades podem apresentar taxas de crescimento semelhantes no mesmo

período, entretanto configurações distintas, pois a forma urbana varia de acordo com o

sítio em que ela se instala, desafiando um futuro sustentável para as mesmas.

Pag. 99

46

A maior problemática envolvendo a dispersão urbana está relacionada às

questões ambientais, como o uso intensivo de automóveis, que acabam por gerar sérios

impactos sociais e econômicos. Mas, certamente, o problema mais grave envolvendo a

dispersão urbana seja a redução de áreas verdes, não só pela ocupação de população

pobre em conjuntos habitacionais (loteamentos e favelas), como também por

condomínios fechados com baixa densidade ocupacional.

Somente aplicando-se as regras conforme previstas no Plano Diretor e contando

com a efetiva participação da população diretamente envolvida, as políticas públicas

serão capazes de melhorar os aspectos urbanísticos como uso e ocupação do solo e

saneamento básico, favorecendo e viabilizando a reintegração do rio Tietê à cidade

como um espaço de lazer e transporte fluvial. E, não ao contrário como o Governo de

São Paulo vem tentando fazer. Primeiro desassorear e aprofundar as calhas do rio para

depois se preocupar com as questões básicas de moradia e saúde pública que dificultam

e inviabilizam a execução da primeira.

No projeto do Parque Linear Várzeas do Tietê estão sendo valorizados aspectos

meramente cosméticos, não havendo uma preocupação real em resgatar as condições

hidrológicas e bióticas do rio, pelo contrário, ao realizar obras como a ampliação da

marginal Tietê, não investir em tratamento de esgoto e despoluição de córregos

afluentes, o poder público cria um descompasso entre planejamento urbano e políticas

habitacionais, os quais devem caminhar lado a lado a fim de se buscar soluções mais

definitivas para o problema apresentado, diferentemente do que vem sendo

empreendido até agora, medidas meramente paliativas, mascaradas e plásticas, que

acabam por incentivar a especulação imobiliária, como já se pode ouvir nos carros de

som do entorno do Parque Ecológico do Tietê que anunciam o financiamento de

imóveis de frente para o verde, porém apenas mascarando a gravidade da degradação

ocorrente no rio Tietê.

A verdade é que o problema ambiental persiste, ele apenas está sendo mascarado

pela obra. Impulsionada por interesses econômicos de valorização imobiliária, essa área,

ao longo dos anos mudará o seu uso e ocupação, bem como o perfil de seus habitantes.

Estamos assistindo a um processo lento não de real preocupação ambiental, mas sim, de

criação de um novo espaço economicamente viável na zona leste de São Paulo, uma

região até então relegada pelo poder público.

47

Concluindo, o planejamento de abrangência regional aponta para a necessidade

de uma hierarquia: primeiramente o Município de São Paulo, em seguida a aglomeração

formada em seu entorno contendo Guarulhos, Santo André, São Caetano, São Bernardo,

entre outros para que as questões socioambientais possam ser mais bem solucionadas.

8. Considerações finais

No mundo de hoje, o desenvolvimento de modelos sustentáveis de urbanização,

que priorizem o tênue equilíbrio entre o lado social, o econômico e a preservação e

conservação do meio ambiente, é de fundamental importância para que consigamos

construir cidades mais inclusivas.

Para tanto, o principal meio existente para implementação desse modelo de

urbanização são as políticas públicas. Estas devem funcionar articulando-se os estados e

municípios com a iniciativa privada, porém sempre contando com a real participação da

população diretamente envolvida. Os Planos Diretores se constituem como o

instrumento mais importante e relevante dessas políticas. Entretanto, o domínio deste

instrumento é frágil, uma vez que o encadeamento: proposta – ação – consequência, não

é inteiramente previsível nem unívoco. Ao promover ou qualificar uma determinada

área, se investe nela parte dos recursos, os quais estarão menos presentes nas demais

áreas.

Alterar as atuais limitações do planejamento implica, também, rediscutir

modelos urbanísticos, construir práticas que respondam à nossa efetiva realidade, às

nossas limitações institucionais. Deve-se buscar melhor eficiência e funcionalidade do

conjunto, porque aspectos como a preservação da água de abastecimento e a

funcionalidade da cidade dependem da somatória de ações, da totalidade e não de ações

exemplares, porém pontuais (MARTINS, 2003).

Dentre as prioridades das ações públicas deve-se destacar a regularização

fundiária dos assentamentos de população de baixa, políticas de saneamento ambiental

(coleta, reaproveitamento, reciclagem e destinação seletiva de resíduos sólidos e

líquidos), e maiores investimentos em transporte público, os quais proporcionam uma

mobilidade urbana sustentável.

48

A principal questão ambiental urbana é hoje, em São Paulo, antes de tudo, um

problema de moradia e de carência ou insuficiência de política habitacional. A cidade de

São Paulo concentra seu investimento público na região ocupada pelos setores de mais

alta renda e mais valorizada (MARTINS, 2003).

Para a população excluída, a inserção é prioritária, portanto, a questão urbana

tende a se mostrar mais como uma disputa por espaço social do que como um debate

puramente urbanístico. Assim, à medida que os grupos excluídos redefinem a noção de

cidade conforme suas efetivas necessidades espera-se que os movimentos populares

urbanos construam essa redefinição no sentido de ressaltar que a cidade tem papéis e

funções diferentes para cada grupo. Remete-se assim a questão urbana para mais do que

uma disputa pela forma e qualidade do espaço ou uma relação reivindicatória com o

Estado (mais serviços, mais equipamentos), mas para uma verdadeira disputa na

sociedade, onde a construção do orçamento municipal pode assumir um caráter muito

mais amplo (MARTINS, 2003).

É inconsistente pensar em qualidade ambiental sem associá-la a

desenvolvimento social. Sem investimento e prioridade ao desenvolvimento social, será,

no mínimo, impossível atingir um desenvolvimento econômico que assegure condições

ambientais básicas. Somente com uma gestão participativa e democrática das cidades

será possível se planejar adequadamente uma cidade mais justa e acessível para todos.

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