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ISSN 2238-9121
8 a 10 de novembro de 2017 - Santa Maria / RS UFSM - Universidade Federal de Santa Maria
Anais do 4º Congresso Internacional de Direito e Contemporaneidade: mídias e direitos da sociedade em rede http://www.ufsm.br/congressodireito/anais
AA ((IIMM)) PPOOSSSSIIBBIILLIIDDAADDEE DDOO SSOOFFWWAARREE LLIIVVRREE CCOOMMOO
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THE (IM) POSSIBILITY OF SOFWARE FREE AS A DEMOCRATIZATION OF INTELLECTUAL PROPERTY: PERSPECTIVES AND CONFLICTS
Isabel Chrtistine Silva De Gregori 1
Michele Machado Segala Camargo 2
Micheli Capuano Irigaray 3
RESUMO
Considerando o contexto introduzido pelo advento da sociedade da informação e a sua repercussão na esfera de regulação da Propriedade Intectual, o artigo se ateve ao estudo sobre a estrutura protetiva conferida ao software bem como as novas configurações que o mesmo tem assumido, sobretudo a partir do movimento software livre. Nesse sentido, buscou-se analisar as possibilidades e conflitos envolvendo a implementação do software de código aberto, no intuito de responder se a adoção desse modelo poderia representar uma democratização da Propriedade Intelectual. Com efeito, a temática se enquadra perfeitamente ao Grupo de Trabalho Direitos na Sociedade em Rede, na medida em que os softwares consistem em uma tecnologia fundamental para o estabelecimento de uma comunicação em rede. Assim, utilizando-se do método de abordagem dedutivo, aliado ao método de procedimento monográfico e à pesquisa bibliográfica, foi possível verificar que o sistema de código aberto possibilita a construção de redes informacionais, sendo capaz de alicerçar novos domínios da produção e distribuição de tecnologias, viabilizando novos modelos de relações sociais, bem como a democratização da Propriedade Intelectual, mediante a adoção de uma cultura de inclusão. Palavras-chave: Democratização; Propriedade Intelectual; Sociedade da Informação; Software Livre.
ABSTRACT
Considering the context introduced by the advent of the information society and its repercussion in the sphere of regulation of the Intectual Property, the article focused on the study on the protection structure given to the software as well as the new configurations that it has assumed, especially since free software movement. In this sense, we tried to analyze the possibilities and conflicts involving the implementation of open source software, in order to answer if the adoption of this model could represent a democratization of Intellectual Property. In fact, the subject is perfectly in line with the Working Group on Rights in the Network Society, insofar as software is a
1 Doutora em Desenvolvimento Regional. Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito e do Curso de Direito da UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa Propriedade Intelectual na Sociedade Contemporânea, certificado pelo CNPQ. [email protected] 2 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Maria. Bolsista pela CAPES. Pesquisadora no Grupo de Pesquisa Propriedade Intelectual na Sociedade Contemporânea, certificado pelo CNPQ. [email protected] 3 Mestre em Direito pela UFSM. Bacharel em Direito. Especialista em Direito Civil e Direito Constitucional/Ambiental - URCAMP. Advogada. Docente da Rede Pública Estadual. Integrante do GPDS. E-mail: [email protected]
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fundamental technology for the establishment of network communication. Thus, using the method of deductive approach, coupled with the method of monographic procedure and bibliographic research, it was possible to verify that the open source system allows the construction of information networks, being able to support new domains of production and distribution of technologies , enabling new models of social relations, as well as the democratization of Intellectual Property, through the adoption of a culture of inclusion. Key-words: Democratization; Free software; Information Society; Intellectual Property;
INTRODUÇÃO
O advento da sociedade da informação trouxe consigo uma série de questões a
serem enfrentadas, bem como o aparecimento de novos direitos, demandando a edição de
normas capazes de tutelar essas pretensões emergentes. O software é uma das figuras que
exsurgem diante desse contexto, merecendo tutela específica, considerando as
particularidades que envolve.
Nesse sentido, o trabalho se propõe a analisar essas transformações que vêm
ocorrendo no campo da Propriedade Intelectual no tocante à proteção do software.
Buscando responder se a utilização do modelo de software de código aberto pode
representar uma democratização da Propriedade Intelectual, pretende-se analisar quais as
possibilidades e conflitos, sobretudo normativos, envolvidos na implementação desse
modelo.
Com efeito, a temática se encontra inserida na proposta do Grupo de Trabalho
Direitos na Sociedade em Rede, na medida em que os softwares consistem em uma
importante tecnologia da informação e comunicação, sem a qual não seria possível se
estabelecer uma comunicação em rede.
Para o desenvolvimento da pesquisa, adota-se o método de abordagem dedutivo, já
que se parte de uma análise sobre a legislação existente no tocante à proteção dos
softwares, para então analisar a particularidade do modelo do software livre. Não
obstante, opta-se pela utilização do método de procedimento monográfico, já que se
atentará para as especificidades do instituto. Paralelamente, se utilizará da pesquisa
bibliográfica, buscando amparo em importantes estudos que se debruçaram sobre o tema.
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1 REFLEXÕES SOBRE A TUTELA DO SOFTWARE NA SOCIEDADE DA
INFORMAÇÃO
O direito de proteção ao software é considerado ainda bastante recente, tendo
surgido a partir do advento de um novo perfil de sociedade, qual seja a sociedade da
informação. Antes de se adentrar na temática central, pertinente se faz a compreensão
sobre aquilo que se tem por sociedade da informação. Para Ascensão4, nessa sociedade
cada um teria um acesso quase que ilimitado à informação, por intermédio dos meios
digitais, sendo mais correto se falar em sociedade da comunicação
Dentre as mensagens que passam a ser comunicadas com maior facilidade com o
advento desse novo perfil de sociedade estão as que se inserem no campo protetivo do
Direito Autoral. Com efeito, esse ramo do Direito passou a sofrer sensíveis mudanças com o
surgimento da sociedade da informação, se vendo obrigado a tutelar direitos que antes não
se encontravam no seu âmbito de alcance, como é o caso do software.
Conforme explica Afonso5, o desenvolvimento tecnológico, especialmente a
evolução da informática, representou o pontapé inicial para se pensar na proteção jurídica
dos programas de computador. Estes, são elencados por Castells6 como um exemplo dentre
as tecnologias da informação que emergiram entre o final dos anos 60 e meados da década
de 70, dando ensejo a uma nova estrutura social denominada sociedade em rede, bem
como a uma nova cultura, conhecida como cultura da virtualidade real.
Ao adentrar para o campo da proteção jurídica, os programas de computador
passaram a ser tutelados pela Propriedade Intelectual, mais precisamente pela esfera do
Direito Autoral, sendo regulados pelo ordenamento jurídico interno a partir da Lei de
Direito Autoral, nº 9.610/98, bem como por uma legislação própria, de nº 9.609/98,
conhecida como Lei de Software.
Conforme explicam Paranaguá e Branco7, comparada à Lei de Direitos Autorais, a
Lei nº 9.609/98 é extremamente sucinta, sendo composta de apenas 16 artigos. Desse
4 ASCENSÃO, José de Oliveira. Estudos sobre Direito da Internet e da Sociedade da Informação. Coimbra, Portugal: Almedina, 2001, p. 72. 5 AFONSO, Otávio. Direito Autoral: conceitos essenciais. Barueri, SP: Manole, 2009, p. 74. 6 CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Trad. Roneide Venancio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999, v. 1, p. 67. 7 PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p. 37.
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modo, seus dispositivos trazem apenas algumas particularidades, sendo aplicáveis todas as
demais disposições previstas na Lei 9.610/98, salvo as que conflitarem com a primeira.
O software é compreendido como o programa de computador, ou escrito destinado
a processamento de dados, abrangendo todo o conjunto de instruções para o
processamento, produção, interpretação e transferência de textos, manuais, codificações,
dentre outros.8
Em que pese carregue consigo um caráter inegavelmente utilitário, a Lei de
Software confere a ele o mesmo regime de proteção das obras literárias, com algumas
ressalvas, sobretudo no que tange aos direitos morais de autor, que não são extensíveis aos
programas de computador, com exceção do direito de reivindicar a paternidade do
respectivo programa e de opor-se a alterações não-autorizadas.9
Esse enfrentamento jurídico conferido aos programas de computador é alvo de
algumas críticas, especialmente porque, até então, era consenso por parte da comunidade
acadêmica que as obras protegidas pelo Direito Autoral possuiriam um valor puramente
estético, enquanto que as protegidas pela Propriedade Industrial estariam revestidas de
um caráter utilitário.
Nesse sentido, Paranaguá e Branco10 estão entre os autores que defendem que um
programa de computador se assemelha muito mais a uma invenção, que mesmo sem
despertar comoção (típica das obras intelectuais), pode resolver um problema técnico, do
que a uma obra literária ou artística. Essa concepção se mostra ainda mais acertada
quando se verifica que o programa de computador, em que pese tenha o registro opcional,
tal qual as demais obras intelectuais, pode ser registrado junto ao Instituto Nacional da
Propriedade Industrial – INPI, e não junto à Biblioteca Nacional, como as demais.
Em que pese exista essa dissonância no que tange à equiparação jurídica proposta
pela legislação entre os programas de computador e as obras literárias, fato é que eles são
tutelados enquanto bens incorpóreos, de modo que o que se pretende proteger não é o
8 WACHOVICZ, Marcos. Software: Desenvolvimento e modalidades de comercialização do software livre e do software proprietário. 2014. Disponível em: < http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/software-desenvolvimento-e-modalidades-de-comercializa%C3%A7%C3%A3o-do-software-livre-e-do-software > Acesso em: 31 jul. 2017, p. 02. 9 BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em: 01 ago. 2017. 10 PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p. 36.
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suporte físico, mas sim o conhecimento e a linguagem nele depositado. O suporte físico,
conhecido como hardware, embora também possa ser compreendido como uma tecnologia
da informação, não é protegido pelo Direito Autoral.
Os softwares podem ser classificados de acordo com a sua funcionalidade e com o
tipo de recursos que disponibilizam ao usuário. Desse modo, apenas exemplificativamente,
pode-se falar em software de rede, que permite que os computadores se conectem entre
si, por meio de recursos de telecomunicações; software aplicativo, geralmente destinado
às atividades empresariais, que constitui-se de um conjunto de instruções que possibilitam
que os comandos dados pelo usuário para o cumprimento de tarefas específicas ou para a
resolução de problemas possam ser realizados; software de automação de escritórios,
também conhecidos como office, que correspondem a editores de texto, planilhas
eletrônicas, dentre outros; software utilitário, que pode desempenhar funções de
antivírus, de compactação de dados armazenados, por exemplo; software de comunicação,
ou browsers, que permitem o acesso à internet, fornecendo uma interface gráfica do
conteúdo de informações; dentre outras possibilidades. 11
Quando se trabalha com o aspecto da disponibilização dos softwares, conforme
explica Wachowicz12, ela pode se dar de diferentes formas, dando ensejo a distintas
modalidades de software. Dentre estas, as que se encontram em maior evidência é a
modalidade do software proprietário ou licenciado e a do software livre. De acordo com a
conceituação de Magalhães e Adolfo13, o software proprietário possui um código-fonte
fechado, limitando o acesso ao usuário, além de normalmente pertencer a uma única
empresa, que cobra pelo direito de propriedade intelectual, não permitindo que o usuário
abra ou divulgue esse código. O software proprietário, assim, consiste em um programa de
11 WACHOVICZ, Marcos. Software: Desenvolvimento e modalidades de comercialização do software livre e do software proprietário. 2014. Disponível em: < http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/software-desenvolvimento-e-modalidades-de-comercializa%C3%A7%C3%A3o-do-software-livre-e-do-software > Acesso em: 31 jul. 2017, p. 16-18. 12 WACHOVICZ, Marcos. Software: Desenvolvimento e modalidades de comercialização do software livre e do software proprietário. 2014. Disponível em: < http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/software-desenvolvimento-e-modalidades-de-comercializa%C3%A7%C3%A3o-do-software-livre-e-do-software > Acesso em: 31 jul. 2017, p. 19-22. 13 MAGALHÃES, Caroline Porto; ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva. A utilização de software livre como políticas públicas. In: ADOLFO, Luiz Gonzaga Silva (Org.). Direitos Fundamentais na Sociedade da Informação. Florianópolis: UFSC/GEDAI, 2012. Disponível em: < http://www.gedai.com.br/sites/default/files/publicacoes/direitosfundamentaisnasociedadedainformacao-1_com_capa.pdf> Acesso em: 06 ago. 2017, p. 198.
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computador que pode ser utilizado de acordo com um termo de cessão de direitos de uso,
sendo por isso considerado um software licenciado. 14
Como se observa, a característica fundamental do software proprietário ou
licenciado gira em torno do direito de exclusividade do autor do respetivo programa, que
pode disponibilizá-lo, ou não, de acordo com sua conveniência. Uma vez que opte pela
disponibilização do programa ao público, essa se perfectibilizará por meio de uma licença,
que conterá de maneira detalhada quais usos estão sendo autorizados pelo autor. Na
realidade, essa licença consiste em um negócio jurídico, que, via de regra, pressupõe uma
contraprestação econômica.
A exploração econômica de uma obra intelectual, incluindo aqui o programa de
computador, é uma questão que gera inúmeros debates no espeço acadêmico. Conforme
pontua Pereira Filho15, “historicamente, o Direito Autoral foi criado para garantir ao autor
o direito de exploração econômica de sua obra, a liberdade de expressão e o exercício do
direito individual de propriedade.”
De acordo com a Lei de Direitos Autorais, estes gozam de proteção patrimonial por
até setenta anos, a contar de 1º de janeiro do ano subsequente ao de falecimento do
autor16. Já no caso dos softwares, a proteção é um pouco reduzida, sendo eles
resguardados pelo prazo de cinquenta anos, contados a partir de 1º de janeiro do ano
subsequente ao da sua publicação ou, na ausência de publicação, a contar da sua criação.17
Durante a vigência dos respectivos prazos de proteção, estão os autores autorizados
a usufruir de suas criações de maneira exclusiva, podendo licenciá-las da forma que
melhor lhes aprouver. Como se observa, esses prazos protetivos se mostram extremamente
14 WACHOVICZ, Marcos. Software: Desenvolvimento e modalidades de comercialização do software livre e do software proprietário. 2014. Disponível em: <http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/software-desenvolvimento-e-modalidades-de-comercializa%C3%A7%C3%A3o-do-software-livre-e-do-software > Acesso em: 31 jul. 2017, p. 19. 15 PEREIRA FILHO, Alexandre Azis; AMARAL, Oseias; MENEGUETTI, Naila Fernanda Sbsczk Pereira. A função social do Direito Autoral e o acesso ao conhecimento. In: Revista Eletrônica do Curso de Direito, v. 9, nº. 1, UFSM, 2014. Disponível em: < https://periodicos.ufsm.br/revistadireito/article/view/10564/pdf> Acesso em: 03 ago. 2017, p. 02. 16 BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 20 fev. 1998. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9610.htm> Acesso em: 01 ago. 2017. 17 BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em: 01 ago. 2017.
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longos, conferindo um verdadeiro monopólio aos autores. No caso dos softwares, o prazo
de cinquenta anos se mostra ainda mais desarrazoado, na medida em que é de
conhecimento geral que um programa de computador costuma ter sua aplicabilidade por
um período muito curto, vindo rapidamente a ser considerado defasado, dada a enorme
velocidade com que as tecnologias se reinventam.
Dentro dessa perspectiva de monopólio conferido ao autor, pertinente se faz a
reflexão traçada por Ascensão18, no sentido de que a sociedade da informação traria ínsito
o seu contrário. Assim, se questiona o autor se a sociedade da informação não seria, por
outro lado, a sociedade da monopolização da informação.
Considerando essa realidade, Paranaguá e Branco19 destacam que, com o advento
da internet e o avanço acelerado da tecnologia, foi possível atenuar o recrudescimento das
leis autorais, de modo que cada vez mais se tem pensado em mecanismos e projetos de
licenças públicas e criações colaborativas, trazendo como principal resultado o aumento do
domínio público e, consequentemente, a possibilidade de uso de obras alheias,
independentemente de autorização expressa dos titulares de seus direitos autorais.
Nesta senda, tendo por premissa esses ideais em prol de criações colaborativas é
que foi criada a segunda modalidade de software anteriormente mencionada, qual seja, a
do software livre, que se contrapõe à noção de software proprietário, da mesma forma
que vai de encontro ao conceito de monopólio. Essa modalidade foi criada com base no
movimento software livre, idealizado por Richard Stallman, na década de 80.20
Atentando para os benefícios desse movimento, no ano de 2003, o Brasil instituiu o
Comitê Técnico para implementação do software livre no âmbito do Governo Eletrônico
Brasileiro. Desde a sua implementação, o Comitê tem observado que a adoção de uma
política de software livre tem garantido melhor competitividade, apropriação do
conhecimento e um efeito difusor para a sociedade.21
18 ASCENSÃO, José de Oliveira. Estudos sobre Direito da Internet e da Sociedade da Informação. Coimbra, Portugal: Almedina, 2001, p. 170. 19 PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais. Rio de Janeiro: FGV, 2009, p. 110. 20 WACHOVICZ, Marcos. Software: Desenvolvimento e modalidades de comercialização do software livre e do software proprietário. 2014. Disponível em: < http://www.gedai.com.br/?q=pt-br/content/software-desenvolvimento-e-modalidades-de-comercializa%C3%A7%C3%A3o-do-software-livre-e-do-software > Acesso em: 31 jul. 2017, p. 26) 21 BRASIL. Portal de Software Livre. Disponível em: <http://www.softwarelivre.gov.br/noticias/comite-de-implementacao-do-software-livre-no-governo-federal-reune-70-instituicoes/> Acesso em: 27 ago. 2017.
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Seguindo essa ótica, a política do software livre representa ser extremamente
favorável, tanto para a sociedade como um todo, que acaba tendo o acesso facilitado ao
conhecimento, como para o próprio autor, que pode receber novas contribuições para
melhorar ainda mais o funcionamento do seu programa.
2 PERSPECTIVAS PARA DEMOCRATIZAÇÃO DA PROPRIEDADE
INTELECTUAL DO SOFTWARE LIVRE
O acesso tornou-se um modo de vida, uma nova forma nas relações sociais,
observando-se que comunicação e comunidade tem uma raiz comum de compartilhamento,
sendo assim, antropólogos afirmam que as comunicações não podem ser dissociadas da
comunidade e da cultura, a vida cultural reflete-se em uma experiência compartilhada,
permeando por questões de acesso e inclusão.22
Refletir sobre o papel da democracia nessa nova ordem social, significa refletir
sobre o movimento do software livre que avançou nas últimas décadas, defendendo um
compartilhamento aberto de informações em um novo espaço-tempo, que possibilite aos
usuários a liberdade de cooperar uns com os outros.
A democracia nesta era digital permeia por incertezas, porém, deve pautar-se na
busca de um processo que satisfaça a exigência de todos os membros de uma comunidade,
sob critérios de uma participação efetiva, de igualdade e de inclusão. Na observação de
Volkmer23 para que a democracia seja considerada plena, é preciso que esteja baseada em
condições primordiais, como as relacionadas ao Estado de Direito, à economia de mercado
e à sociedade civil.
A nova era digital está diminuindo as fronteiras entre países, a informação já está
em qualquer lugar, quase que instantaneamente, e podendo ser acessada por qualquer um,
porém, um dos desafios da democracia nessa era digital, baseia-se na busca de
22 RIFKIN, Jeremy. A era do acesso: a transição de mercados convencionais para networks e o nascimento de uma nova economia. Trad. Maria Lúcia G. L. Rosa. São Paulo: Makron Books, 2001, p. 113. 23 VOLKMER, André. Liberdade na Era Digital: série pensamentos liberais, volume XV. A democracia na era digital. Institutos de Estudos Empresariais, Porto Alegre: IEE, 2011, p. 95.
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oportunidades iguais e efetivas de aprender sobre as políticas alternativas pertinentes a
essa nova ordem, e suas prováveis consequências.24
Pela utilização da internet surge a possiblidade de uma plataforma de comunicação
distribuída, de acesso aos bens de informação na qual múltiplos agentes produzem e
distribuem tecnologia, resultando também em conflitos, quanto à liberdade e controle,
tanto no âmbito jurídico como econômico, no cenário da propriedade intelectual.25
Na década de 80, o crescente interesse pela microinformática gerou uma intensa
disputa pela hegemonia no mercado de computadores pessoais, com destaque para IBM,
que tornou-se líder nesse mercado quanto a fabricação de máquinas, preferindo pagar
licença para Microsolt. Convencionando-se assim um regime de “software proprietário”
para o fornecimento de sua matriz geradora (código-fonte) como forma de controle do
funcionamento dos softwares adquiridos. Em oposição a esse sistema surgiu o movimento
lançado por Richard Stallman em 1985, como forma de resistência a tendência de
monopólio por parte das grande corporações que dominavam o mercado, buscando um
caráter moral sobre a produção, na busca por um sistema livre das licenças restritivas.26
Nesse contexto a utilização dos softwares livres de códigos abertos, representa uma
nova perspectiva na organização da comunidade brasileira, com base em um malha de rede
e em um processo dinâmico de compartilhamento de informações, possibilitando
estabelecer contatos, produzir, transformar e disseminar conhecimento.27
Esse enfrentamento de novas perspectivas quanto à utilização do software livre de
código aberto, estabelece pontos de contato entre as esferas técnico-informática,
cultural, artística e política, de uma virada cultural e cibernética, observada por Stallman
como uma nova proposta de produção e utilização de programas de computador, capazes
24 VOLKMER, André. Liberdade na Era Digital: série pensamentos liberais, volume XV. A democracia na era digital. Institutos de Estudos Empresariais, Porto Alegre: IEE, 2011, p. 98- 100. 25 SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 96. 26 SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 103. 27 MURILLO, Luis Felipe Rosado. Tecnologia, política e cultura na comunidade brasileira de software livre e de código aberto. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 76.
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de impulsionar uma nova economia colaborativa, amparada nas liberdades de executar,
estudar o funcionamento do software, redistribuir e até mesmo de implementar
aperfeiçoamentos, gerando benefícios a toda comunidade.28
Como processo de democratização, Stallman29 defende os benefícios de sua
utilização nas escolas, por representarem formas de promover economia, assim como
promover aos usuários a liberdade de copiar e redistribuir o software, possibilitando uma
atuação cidadã em uma sociedade digital livre, auxiliando a sociedade como um todo a
escapar do domínio das megacorporações.
A liberdade do Software Livre refere-se: a liberdade de executar o programa, para
qualquer propósito (liberdade nº0); a liberdade de estudar como o programa funciona e
adaptá-lo para as suas necessidades (liberdade nº1); a liberdade de redistribuir cópias de
modo que você possa ajudar ao seu próximo (liberdade nº2); e a liberdade de aperfeiçoar o
programa, e liberar os seus aperfeiçoamentos, de modo que toda a comunidade se
beneficie deles (liberdade nº3).30
Assim a Associação Software Livre. Org., organizadora do FISL (Fórum Internacional
Software Livre), defende que o software livre já é uma política pública no Brasil, não
podendo ser ignorado pelo governo federal, autarquias e empresas, destacando-se como
conquistas o desenvolvimento dos softwares Gabinete Digital; Direto e Expresso Livre,
respectivamente pela PROCERGS e pelo SERPRO, exemplos que devem ser seguidos e
estimulados.31
Nesse contexto reflete-se sobre a democratização do software livre, abordando-se
também seu potencial como um mecanismo de segurança para o usuário, evitando-se fatos
como o do escândalo NSA divulgado por Edward Snowden, o qual veio demonstrar que pelo
28 MURILLO, Luis Felipe Rosado. Tecnologia, política e cultura na comunidade brasileira de software livre e de código aberto. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 77. 29 STALLMAN, Richard. Por que escolas devem usar exclusivamente software livre. O Sistema Operacional GNU. Disponível em: <https://www.gnu.org/education/edu-schools.pt-br.html>.Acesso em: 15 ago. 2017. 30
MURILLO, Luis Felipe Rosado. Tecnologia, política e cultura na comunidade brasileira de software livre e de código aberto. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 76. 31 Associação Software Livre.Org. A importância do Software Livre e os governos. Disponível em: https://www.sul21.com.br/jornal/a-importancia-do-software-livre-e-os-governos/. Acesso em: 15 ago. 2017.
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fato de não termos o controlo sobre o software em si, ao aceitarmos algo que esteja em
desacordo com as quatro liberdades essenciais, o programador/entidade/empresa que
detêm o software proprietário, é que controlam a nossa computação, e não o contrário.32
O Software Livre como perspectiva para uma democratização da Propriedade
Intelectual, busca de um processo de liberdade digital, enfrentando o desafio do ao regime
de propriedade intelectual.
Nessa dualidade do software o fator determinante para seu acesso vincula-se a
licença de usou a uma concessão do produtor do software para que outra pessoa faça uso
de uma cópia em forma binária, tratando-se assim do código- fonte, como uma
propriedade criativa obtida através de um trabalho imaterial de estruturação algorítmica
elaborada pelo programador.33
O código-fonte determina a proteção do software denominado “proprietário”,
sendo que as cópias binárias representam os bens comoditizáveis – mercadorias adquiridas
através de contratos de uso, representados pela caixinha de CDs que o consumidor compra
para fazer a instalação em seu computador, salientando que essa aquisição é apenas do
direito de uso, pois o consumidor nunca será dono do “software proprietário” – o qual
continua de propriedade de seus autores.34
A comoditização do software em cópias binárias – através das licenças de uso- e sua
proteção através do direito autoral foram mecanismos utilizados pela indústria do software
proprietário, para garantir espaço nesse mercado e afastar qualquer concorrência com
capacidade criativa. Nesse contexto emergiram iniciativas para elevar os temas de
propriedade intelectual para dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC),
32 COSTA, Luis da. A importância do Sofware Livre no mundo de hoje. Pplware.Disponível em: <https://pplware.sapo.pt/informacao/a-importancia-do-software-livre-no-mundo-de-hoje/>. Acesso em: 15 ago. 2017. 33 SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 101-102. 34
SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 102-103.
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estabelecendo mudanças significativas no desenvolvimento tecnológico e a Propriedade
Intelectual, para aceitação de regras hegemônicas.35
Assim, o acordo TRIPS representou uma iniciativa de ampliação da proteção à
propriedade intelectual no mesmo sentido do aumento das exportações e remessas de
royalties por conta da produção de software, permitindo tanto a proteção autoral,
conforme disposto no artigo 10, como os processos de patenteamento, desde que seja novo
inventivo e passível de aplicação industrial de acordo com artigo 27, configurando-se em
questões que ensejaram debates e críticas, tanto pela caracterização da apropriação de
ideias, como pelo fato de constituírem monopolização de métodos de resolução de
problemas, como observa Solagna e Moraes.36 No Brasil a Lei 9.609 de 199837, dispõe sobre
a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, assim como de sua
comercialização no país, garantindo a proteção aos direitos de autor e do registro,
vinculando os usuários desses programas ao contrato de licença de uso.
Na busca de democratização da propriedade intelectual, novas perspectivas
avançam, como novos caminhos e estratégias, como o modelo apresentado pelo Software
livre, que na observação de Solagna e Moraes38 direciona-se para acordos de cooperação
patentária, abarcando empresas do lado proprietário com outras identificadas no campo do
software livre, podendo viabilizar-se na construção de redes informacionais como
plataforma de mediação e infraestrutura básica para alicerçar novos domínios da produção
e distribuição de tecnologias.
35
SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 107. 36
SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 109. 37 BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº. 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de computador, sua comercialização no País, e dá outras providências. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 25 fev. 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>. Acesso em: 01 ago. 2017. 38
SOLAGNA, Fabrício. MORAES, Bruno Bunilha. Patentes de software e propriedade intelectual como estratégia de monopólio. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 111.
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Guerrini39 alerta para o fato das legislações que regulam as relações de propriedade
intelectual, estarem restringindo o desenvolvimento das TIC (Tecnologias da Informação e
Comunicação), com a prevalência dos interesses daqueles que se beneficiaram da
produção industrial de informação e cultura.
Sob novas perspectivas as novas tecnologias da informação podem proporcionar
novas relações de propriedade intelectual, visto que as TIC permitem um tráfico de
informações muito mais dinâmico, de um espaço – tempo de mediação pública do
desenvolvimento tecnológico, inserido em um modelo de regulação da propriedade
intelectual, que favoreça o setor da indústria cultural, através da disponibilização pública
de conteúdos e de suporte informacionais de cooperação e livre troca na produção de
informações, conhecimento e cultura.40
Assim, refletir sob os aspectos de uma democratização da propriedade intelectual,
de compartilhamento, significa um enfrentamento à manutenção de monopólios de áreas
do conhecimento, amparadas tanto no nível jurídico como em instrumentalizações
técnicas.
CONCLUSÃO
As reflexões sobre a tutela do software livre, na sociedade da informação,
destacam-se pela necessidade de novos parâmetros para se pensar a proteção jurídica dos
programas de computador.
Em uma análise das leis 9.609/98 e 9.610/98, na esfera da Propriedade Intelectual,
Wachowicz evidencia o conflito entre software proprietário ou licenciado e o software
livre de código aberto. Esse conflito gira em torno do direito de exclusividade do autor
quanto a licença de uso do respectivo programa - software proprietário -, que pode ser
39 GUERRINI, Daniel. Política, propriedade intelectual e tecnologias. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 121. 40
GUERRINI, Daniel. Política, propriedade intelectual e tecnologias. In: LEAL, Ondina Fachel. HENNMANN, Rebeca. SOUZA, Vergara de (Orgs.) Do regime de propriedade intelectual: estuados antropológicos. Porto Alegre: Tomo editorial, 2010, p. 129.
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disponibilizado de acordo com sua conveniência, caracterizando um negócio jurídico sob as
regras e imposições de uma contraprestação econômica.
Por essa perspectiva econômica, a sociedade da informação vincula-se ao modelo
de monopólio quanto à exploração e acesso da informação ou ainda de uma comoditização
do software proprietário em cópias binárias através das licenças de uso. Em oposição a
essa perspectiva e como forma de possibilitar uma democratização da Propriedade
Intelectual surge um sistema de código aberto, denominado de software livre, o qual
possibilita uma nova forma nas relações sociais de comunicação e compartilhamento de
informações, culturas e inclusão, viabilizando-se assim, uma construção de redes
informacionais.
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