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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CAMPUS SETE LAGOAS CSL BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM BIOSSITEMAS KÍVEA KÁSSIA DE PAIVA E SILVA ATRIBUTOS FUNCIONAIS E TECNOLÓGICOS DAS FIBRAS ALIMENTARES COMO SUBSTITUTOS DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS: UMA REVISÃO Sete Lagoas 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI CSL … · os aspectos tecnológicos e funcionais dos substitutos de gordura em produtos cárneos, com ênfase para as fibras alimentares

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

CAMPUS SETE LAGOAS – CSL

BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM BIOSSITEMAS

KÍVEA KÁSSIA DE PAIVA E SILVA

ATRIBUTOS FUNCIONAIS E TECNOLÓGICOS DAS FIBRAS ALIMENTARES

COMO SUBSTITUTOS DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS: UMA

REVISÃO

Sete Lagoas

2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL REI

CAMPUS SETE LAGOAS – CSL

BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM BIOSSITEMAS

KÍVEA KÁSSIA DE PAIVA E SILVA

ATRIBUTOS FUNCIONAIS E TECNOLÓGICOS DAS FIBRAS ALIMENTARES

COMO SUBSTITUTOS DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS: UMA

REVISÃO

Sete Lagoas

2015

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Bacharelado Interdisciplinar em

Biossistemas da Universidade Federal de São

João Del Rei como requisito parcial para

obtenção do título de bacharel em

Biossistemas.

Orientadora: Ana Karoline Ferreira Ignácio

Câmara

CAMPUS DE SETE LAGOAS

KÍVEA KÁSSIA DE PAIVA E SILVA

ATRIBUTOS FUNCIONAIS E TECNOLÓGICOS DAS FIBRAS ALIMENTARES

COMO SUBSTITUTOS DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS: UMA

REVISÃO

Aprovada em ___/____/____.

_________________________________ _________________________________

Erick Ornellas Neves Juliana Cristina Sampaio Rigueira Ubaldo

_________________________________

Ana Karoline Ferreira Ignácio Câmara

Sete Lagoas - MG

2015

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Bacharelado Interdisciplinar em

Biossistemas da Universidade Federal de São

João Del Rei como requisito parcial para

obtenção do título de bacharel em

Biossistemas.

AGRADECIMENTOS

Agradecer parece algo fácil e banal, contudo se torna muito especial quando o “Muito

Obrigado” vem do coração e é feito com toda a humanidade que nos norteia, por isso:

Agradeço primeiramente a Deus e Nossa Senhora Aparecida por sempre iluminarem

meu caminho, principalmente ao escrever esse trabalho, dando-me serenidade, sabedoria e

discernimento.

Aos meus pais, Carlinhos e Suely, por me ensinarem que a vida é repleta de obstáculos

e que estes são estímulos para seguir adiante em busca de nossos sonhos, sem deixar de lado o

caráter, a esperança e determinação.

A minha irmã, Kyssia, por ser meu modelo de dedicação e perseverança, mostrando-

me que todo esforço e abdicação sempre valem a pena quando se almeja uma conquista.

Ao meu namorado Jhonatan, por ser meu companheiro e amigo, por me fazer sorrir

mesmo nos momentos mais difíceis quando a saudade de casa apertava no peito.

As minhas companheiras de luta, Ana Cláudia, Ana Paula e Thaiane, que durante esses

cinco anos se tornaram minha segunda família, compartilhando comigo essa etapa

maravilhosa que vivemos.

Aos meus professores pela dedicação, empenho e sabedoria, em especial à minha

orientadora Ana Karoline pela confiança, carinho, respeito e por ser um modelo profissional.

Por fim, agradeço a toda à comunidade UFSJ, por fazerem parte da minha história,

transformando o que antes era um sonho, em realidade.

“Sei que meu trabalho é uma

gota no oceano, mas sem ele,

O oceano seria menor.”

(Madre Teresa de Calcutá)

RESUMO

Atualmente, verifica-se uma forte mudança no estilo de vida da população,

principalmente com relação aos hábitos alimentares. Por outro lado, nota-se a partir dessa

mudança, a necessidade e a preocupação da população em ingerir alimentos práticos, mas

com certo apelo à saudabilidade. A indústria cárnea é extremamente competitiva e muito

sensível às demandas e percepções do consumido, por isso, a mesma tem-se proposto a seguir

a tendência dos produtos de fácil preparo mais livres de excesso de sódio, gordura e aditivos.

O objetivo do presente estudo foi reunir informações atualizadas relacionadas com a

elaboração de produtos cárneos com redução de gordura a partir da incorporação de fibras

alimentares, promovendo uma discussão sobre os desafios tecnológicos e benefícios à saúde.

A redução de gordura em produtos cárneos pode ser obtida através da eliminação da gordura

da matéria-prima através da etapa de toalete, da redução do teor de gordura do animal

alterando a composição de sua alimentação e da substituição da gordura nas formulações. Os

substitutos de gordura utilizados nas formulações podem melhorar a qualidade de produtos

cárneos desenvolvidos com redução no teor lipídico e proporcionar maior apelo comercial no

mercado, além de ser uma opção de consumo para uma dieta mais saudável. Dentre vários

substitutos, se destacam as fibras alimentares. Estas possuem importante papel em muitos

processos fisiológicos e na prevenção de várias doenças. Além disso, durante os últimos anos

a mesma obteve maior evidência e destaque ao se considerar sua utilização como ingrediente

funcional, devido aos inúmeros benefícios relatados em investigações científicas e à sua fácil

incorporação nas formulações, constituindo-se em alternativa tecnológica viável na

elaboração de produtos cárneos mais saudáveis com reduzido teor de gordura.

Palavras-chave: substituto de gordura, fibra alimentar, produto cárneo.

ABSTRACT

Currently, there is a strong shift in the population's lifestyle, especially with regard to eating

habits. On the other hand, it is from this change, the need and concerns of the population in

practical ingest food, but with a certain appeal to healthiness. The carnea industry is highly

competitive and sensitive to the demands and perceptions of consumed, therefore, it has been

proposed to follow the trend of the products more easy preparation free of excess sodium, fat

and additives. The aim of this study was to gather updated information related to the

preparation of meat products with reduced fat from the incorporation of dietary fiber,

promoting a discussion on the technological challenges and health benefits. The reduction of

fat in meat products can be obtained by removing the fat feedstock through the toilet step of

reducing the fat content of changing the composition of their diet and fat replacement in

formulations. The fat substitutes used in the formulations can improve the quality of meat

products developed with reduced fat content and provide more commercial appeal in the

market, besides being a consumer option for a healthier diet. Among various substitutes, stand

out the fiber. These play an important role in many physiological processes and in the

prevention of various diseases. Moreover, in recent years the same obtained more evidence

and highlight when considering its use as a functional ingredient due to the numerous benefits

reported in scientific research and its easy incorporation into formulations, constituting a

viable technological alternative in product development healthier meat with reduced fat

content.

Keywords: fat substitute, dietary fiber, meat product.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 Aminoácidos essenciais e Aminoácidos não essenciais..........................................15

Figura 1 Projeção para exportações de carne bovina, suína e de frango em milhões de

toneladas, até 2020....................................................................................................................20

Figura 2 Estrutura química da celulose....................................................................................33

Figura 3 Estrutura química da Lignina....................................................................................34

Figura 4 Estrutura química da Pectina.....................................................................................35

Figura 5 Estrutura química da Inulina.....................................................................................37

Quadro 2 Tipos de fibras, suas finalidades em produtos cárneos e os benefícios à

saúde..........................................................................................................................................43

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Composição nutricional de vários cortes cárneos (por 100g de parte

comestível)................................................................................................................................17

Tabela 2 Definições de fibra dietética no mundo.....................................................................29

Tabela 3 Fibras: tipos, fontes e ações.......................................................................................32

Tabela 4 Amido resistente: tipos, fontes e características........................................................36

Tabela 5 Fontes naturais de alguns componentes da fibra alimentar.......................................38

Tabela 6 Fibra alimentar: propriedades, local de ação, implicações........................................40

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................11

2 OBJETIVO...........................................................................................................................12

3 METODOLOGIA................................................................................................................13

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................................................13

4.1 CARNE: IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL, TECNOLÓGICA E

ECONÔMICA..........................................................................................................................13

4.1. Composição geral da carne e importância nutricional.................................................13

4.1.2 Aspectos tecnológicos das proteínas cárneas...............................................................17

4.1.3 Importância econômica do setor cárneo......................................................................19

4.2 TENDÊNCIAS ATUAIS NO PROCESSAMENTO DE PRODUTOS

CÁRNEOS................................................................................................................................20

4.3 REDUÇÃO DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS.............................................23

4.3.1 As funções da gordura nos produtos cárneos e os desafios da

reformulação............................................................................................................................23

4.3.2 Estratégias para redução de gordura em produtos cárneos......................................24

4.3.3 Substituto de gordura – Classificação..........................................................................26

4.4 FIBRAS ALIMENTARES.................................................................................................28

4.4.1 Definição, conceito e histórico.......................................................................................28

4.4.2 Composição.....................................................................................................................31

4.4.2.1 Celulose.........................................................................................................................33

4.4.2.2 Hemicelulose.................................................................................................................33

4.4.2.3 Lignina..........................................................................................................................34

4.4.2.4 Pectinas.........................................................................................................................34

4.4.2.5 Amido Resistente...........................................................................................................35

4.4.2.6 Inulina...........................................................................................................................36

4.4.3 Fontes alimentares.........................................................................................................37

4.4.4 Benefícios à saúde...........................................................................................................38

4.5 AS FIBRAS ALIMENTARES EM PRODUTOS CÁRNEOS.......................................... 41

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................44

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................45

11

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, verifica-se uma forte mudança no estilo de vida da população,

principalmente com relação aos hábitos alimentares. Segundo Fiorentin (2014), encontram-se

hoje no mercado facilidades na aquisição dos alimentos, como os produtos pré-preparados,

congelados e prontos; o que provoca um menor consumo de alimentos naturais.

A obesidade na população brasileira está se tornando bem mais freqüente do que a

própria desnutrição infantil, sinalizando um processo de transição epidemiológica que deve

ser valorizado no plano da saúde coletiva. As doenças cardiovasculares, que representam a

principal causa de morte e de incapacidade na vida adulta e são responsáveis, no Brasil, por

34% de todas as causas de óbito, estão relacionadas, em grande parte, com a obesidade e com

práticas alimentares e estilos de vida inadequados (BRASIL, 2003).

Por outro lado, nota-se a partir dessa mudança, a necessidade e a preocupação da

população em ingerir alimentos práticos, mas com certo apelo à saudabilidade. Como

exigências comuns dos consumidores na atualidade, podem-se citar produtos com menor

tempo de preparo, com maior vida útil e que possuam apelo saudável (WEISS et al., 2010).

A busca por uma alimentação saudável e de qualidade representa tendência crescente

entre a população nos últimos anos, favorecida pela influência da mídia e pelo maior nível de

conhecimento e exigência dos consumidores. A indústria de alimentos é extremamente

competitiva, além de ser muito sensível às demandas e percepções do consumidor.

Na indústria de produtos cárneos isso não é diferente. A carne é um alimento versátil,

de elevado valor nutricional, sendo considerada uma das principais fontes de proteínas com

alto valor biológico e uma excelente fonte de vitaminas do complexo B e de minerais como o

ferro e o zinco (ARIHARA, 2006). Por outro lado, a indústria cárnea tem sido duramente

criticada pela mídia já que carnes e produtos cárneos estão associados com perfis nutricionais

muitas vezes considerados negativos, incluindo altos níveis de ácidos graxos saturados,

colesterol, sódio e alto teor de gordura e teor calórico, considerados fatores de riscos

associados a casos de doenças, como as cardiovasculares (DECKER & PARK, 2010;

HUBER, 2012).

Organizações de saúde têm recomendado diminuir o consumo diário de gordura e

colesterol como uma forma de prevenção ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

12

Tais recomendações relatam que apenas 30% do total de calorias da dieta sejam provenientes

das gorduras, sendo que o consumo de gorduras saturadas não deve ultrapassar 10% deste

total, e a ingestão de colesterol esteja abaixo de 300 mg por dia (WHO, 2003).

Com o objetivo de seguir esta nova tendência, a indústria cárnea tem procurado

desenvolver produtos que satisfaçam sensorialmente a expectativa dos consumidores e que ao

mesmo tempo, possam ser consumidos sem oferecer riscos à saúde. As mudanças nas

exigências dos consumidores e o aumento da competição global no mercado de alimentos têm

levado as indústrias a adotarem novas tecnologias de processamento e uso de novos

ingredientes (CARRARO, 2012). As fibras alimentares têm sido avaliadas em vários estudos

como substitutos de gordura em alimentos, incluindo os produtos cárneos (BARRETO, 2007;

PETERSSON et al., 2014) .

A presença de fibras nos alimentos normalmente implica na redução do seu conteúdo

calórico e contribui para que se atinja a Ingestão diária recomendada (IDR). A Associação

Dietética Americana recomenda a ingestão de 25 a 30g de fibras por adulto / dia ou 10 a 13g /

1000 Kcal. Na Europa é recomendado o consumo de 20 g / dia / pessoa (BORDERÍAS et al.,

2005).

Dessa forma, a partir dos conceitos acima apresentados e levando-se em consideração

que o desenvolvimento de produtos cárneos funcionais é tema relevante, atual e constante de

várias pesquisas, este trabalho de revisão justifica-se como tema oportuno que busca elucidar

os aspectos tecnológicos e funcionais dos substitutos de gordura em produtos cárneos, com

ênfase para as fibras alimentares.

2 OBJETIVOS

Reunir informações atualizadas relacionadas com a elaboração de produtos cárneos

com redução de gordura a partir da incorporação de fibras alimentares, promovendo uma

discussão sobre os desafios tecnológicos e benefícios à saúde.

13

3 METODOLOGIA

Foi realizada pesquisa bibliográfica, abordando os principais tópicos da elaboração de

produtos cárneos com redução de gordura, utilizando como base de dados o Google

acadêmico, Library Online-SCIELO e o banco de dados da Universidade Estadual de

Campinas. Foram utilizados referenciais teóricos de 1952 a 2015.

4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 CARNE: IMPORTÂNCIA NUTRICIONAL, TECNOLÓGICA E ECONÔMICA

4.1.1 Composição geral da carne e importância nutricional

A partir do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem

Animal (RIISPOA), entende-se por "carne de açougue" “as massas musculares maturadas e

demais tecidos que as acompanham, incluindo ou não a base óssea correspondente,

procedentes de animais abatidos sob inspeção veterinária” (BRASIL, 1952).

De acordo com Forrest et al., (1979), a carne pode ser definida como aqueles tecidos

animais que podem servir como alimento. Todos os produtos processados ou industrializados

que são preparados a partir destes tecidos se incluem nesta definição.

A carne se compõe fundamentalmente de músculo e de quantidades variáveis de tecido

conjuntivo de todos os tipos, assim como uma pequena parte de tecido epitelial e nervoso

(FORREST et al., 1979). A maior porção da carcaça de um animal consiste de músculos, dos

quais, o esquelético é o mais importante, em razão de sua quantidade e seu valor econômico e

é ligado direta ou indiretamente aos ossos (LUCHIARI FILHO, 2000).

O aspecto da carne pode ser determinado pela estrutura das fibras musculares, por sua

espessura, densidade, presença de gordura e distribuição da mesma. A constituição

característica da gordura e seu peculiar depósito em cada animal, bem como os espaços intra

ou intermusculares, influem essencialmente sobre o aspecto da carne. A espécie, raça, nível de

desenvolvimento, idade, sexo, assim como a quantidade de trabalho executado, influencia

diretamente sobre o conteúdo dos músculos em mioglobina, o pigmento de coloração da carne

(GOMIDE et al., 2013).

14

Em termos gerais, as carnes podem ser subdivididas em carnes vermelhas e carnes

brancas. Dentre as primeiras, são mais consumidas no país as de bovinos, suínos, ovinos e

caprinos (PARDI et al., 1995) e dentre as carnes brancas a mais consumida é a carne de

frango.

Do ponto de vista nutricional, a carne é considerada um alimento nobre, dadas as suas

características sensoriais e de biodisponibilidade nutricional (MACEDO, 2003). A partir das

gorduras, proteínas e vitaminas, contribui para a produção de energia, formação de tecidos e

para a regulação dos processos fisiológicos (ORDÓÑEZ et al., 2005).

A carne contém proteínas de alto valor biológico e micronutrientes importantes que

são necessários para manutenção da saúde ao longo da vida, levando em consideração que a

mesma e seus derivados são a principal fonte de proteína da dieta humana. A maioria das

proteínas da carne é proveniente dos tecidos muscular e conjuntivo que a compõe

(DROULEZ et al., 2006). Porções magras de carne crua contêm 19 a 23% de proteína, sendo

que o conteúdo protéico pode variar de acordo com a umidade e gordura do músculo

(MACEDO, 2003). Segundo Olivo & Olivo (2006), 100 g de carne magra fornece

aproximadamente 40% das necessidades diárias de proteína.

Segundo Wu (2009), o teor proteico varia de acordo com o tipo de carne e essas

proteínas se distinguem entre si pelo conteúdo de aminoácidos essenciais que as compõe. Na

síntese de proteínas, observa-se que, dos vinte aminoácidos utilizados, apenas oito não podem

ser produzidos pelo organismo humano, tornando-os essenciais, ou seja, precisam ser

fornecidos pela dieta, como mostra o Quadro 1 .

15

Quadro 1. Aminoácidos essenciais e Aminoácidos não essenciais

Aminoácidos essenciais Aminoácidos não essenciais

Isoleucina Alanina

Leucina Asparagina

Lisina Arginina

Metionina Cisteína

Triptofano Ácido aspártico

Treonina Ácido glutâmico

Valina Prolina

Fenilalanina Histidina

Tirosina

Serina

Glicina

Fonte: Adaptado de WU (2009).

O consumo inadequado de aminoácidos pode levar à desnutrição proteica. O valor

nutricional de cada alimento pode ser determinado pela quantidade e a qualidade dos vários

aminoácidos presentes ou ausentes. Dessa forma, a proteína cárnea distingue-se das demais

por possuir todos os aminoácidos essenciais, ou seja, não possui aminoácido limitante

(PEREIRA & VICENTE, 2013). Além disso, a proteína cárnea possui excelente

digestibilidade. Segundo métodos específicos de avaliação de qualidade de proteína, a carne

possui um valor de 0,9 (escore máximo 1,0) de digestibilidade, enquanto as proteínas de

origem vegetal possuem valores entre 0,5 e 0,7 (WILLIAMS, 2007).

Ainda do ponto de vista nutricional, a carne é constituída de gorduras saturadas e

polinsaturadas, incluindo o ômega-3 (DROULEZ et al., 2006). Fisiologicamente, a gordura é

uma fonte de vitaminas lipossolúveis e ácidos graxos essenciais. Fornecendo 9kcal/g, a

gordura é considerada a maior fonte de energia de uma dieta em comparação com 4 kcal / g

das proteínas e carboidratos (AKOH, 1998). Além das características sensoriais peculiares

que proporcionam às carnes e produtos cárneos textura e sabor, além de contribuir com

propriedades como palatabilidade e flavor às aplicações culinárias (MACEDO, 2003).

Os ácidos graxos polinsaturados (AGPI) variam de 11% a 29% do total de ácidos

graxos presentes na carne. Essa variação pode ocorrer devido à espécie, corte cárneo e

também devido ao manejo animal. Animais criados extensivamente a pasto produzem carnes

16

com melhor fonte de gorduras ômega-3 do que animais alimentados por rações a base de

cereais. Entretanto, outros ácidos graxos presentes em altas proporções são os saturados,

como os ácidos graxos palmítico (27%) e esteárico (13%) (WILLIAMS, 2007).

Para Macedo (2003), como os requerimentos diários de ácidos graxos são pequenos,

quase toda a recomendação diária é fornecida pela ingestão de carne através da gordura

intramuscular, mesmo que a gordura externa seja removida. A carne bovina apresenta

diferentes teores de gordura, variando de 5 a 25% do seu peso. Portanto, para um adulto, o

consumo de 200g de carne por dia pode contribuir com 12 a 60% das necessidades diárias de

gordura.

Em menores proporções existem substâncias nitrogenadas não-proteicas (aminoácidos

livres, peptídeos, nucleotídeos, creatina), vitaminas, sais minerais e ácido lático que também

fazem parte da composição nutricional das carnes (ORDÓÑEZ et al., 2005).

Com relação ao teor vitamínico, este também varia de acordo com a espécie, a

genética e idade do animal. A carne vermelha é uma excelente fonte de vitamina B12

biodisponível, proporcionando mais de dois terços das necessidades diárias em 100g e até

25% de IDR de riboflavina, niacina, vitamina B6 e ácido pantotênico. Entretanto, comparada

à carne suína é uma fonte relativamente pobre de tiamina. O fígado é uma excelente fonte de

vitamina A e folato, porém os níveis são baixos nos tecidos magros (WILLIAMS, 2007).

Deste modo, é possível perceber que a composição nutricional das carnes é variável de acordo

com uma série de fatores, conforme citado no texto. A Tabela 1 resume as principais

características de composição de diferentes cortes cárneos.

17

Tabela 1. Composição nutricional de vários cortes cárneos (por 100g de parte comestível)

Corte cárneo cru

(sem cocção)

Energia

(kcal)

Proteína

(g)

Umidade

(%)

Lipídeos

(g)

Gorduras

saturadas

(g)

Niacina

(mg)

Fe

(mg)

Zn

(mg)

Carne, bovina, acém,

moído 137 19,4 72,7 5,9 2,7 4,33 1,8 6,3

Carne, bovina, capa de

contra-filé, c/ gordura 217 19,2 64,8 15,0 6,9 1,55 1,5 3,5

Carne, bovina, contra-

filé, c/ gordura 206 21,2 65,7 12,8 5,6 3,79 1,3 2,8

Frango, coxa, c/ pele 161 17,1 72,9 9,8 3,0 2,04 0,7 2,0

Frango, peito, c/ pele 149 20,8 71,9 6,7 2,2 2,58 0,4 0,6

Frango, sobrecoxa, c/

pele 255 15,5 63,6 20,9 6,5 3,40 0,7 1,3

Porco, lombo 176 22,6 67,7 8,8 3,3 13,83 0,5 0,9

Porco, pernil 186 20,1 67,1 11,1 4,2 5,67 0,9 1,7

Porco, bisteca 164 21,5 67,7 8,0 3,5 2,65 0,5 1,4

Fonte: Adaptado de TACO (2011).

4.1.2 Aspectos tecnológicos das proteínas cárneas

As proteínas podem ser consideradas as principais responsáveis pelas características

funcionais das matérias primas cárneas. Nos produtos cárneos, são requeridas para uma

grande variedade de funções. Além de serem determinantes no rendimento, na qualidade, na

estrutura e nos atributos sensoriais (OLIVO, 2005).

A carne é composta por proteínas miofibrilares, sarcoplasmáticas e insolúveis ou

proteínas do estroma. As primeiras estão presentes de forma mais abundante no músculo,

constituindo aproximadamente 65 a 75% do total, sendo representadas principalmente pela

actina e miosina, além da tropomiosina, troponina, actininas e proteínas C e M. As proteínas

miofibrilares possuem grande influência na funcionalidade do músculo e contribuem de forma

importante nas propriedades das carnes processadas. As sarcoplasmáticas são solúveis em

água e em soluções com baixa força iônica e são representadas por enzimas, mioglobina e

hemoglobina, enquanto que as insolúveis são constituídas pelo colágeno, elastina e reticulina,

18

que exercem a função de recobrimento de fibras e dos feixes musculares (ORDÓNEZ et al.,

2005).

As proteínas cárneas exercem importante papel na qualidade do produto final e

propriedades da carne fresca. As proteínas miofibrilares produzem matrizes em géis

tridimensionais, viscoelásticas através das interações proteína - proteína para ligação de água,

formando membranas fortes e coesivas na superfície dos glóbulos de gordura em sistemas de

emulsões cárneas ou filmes em torno da interface ar/água, dessa forma, estabilizam estruturas

em produtos cominuídos e reestruturados sob ação do calor (POLLONIO, 2013).

A quantidade de água presente na carne também exerce importante papel na qualidade

do produto final já que influencia nas características sensoriais, como textura, suculência e

sabor, além de influenciar no rendimento da carne, a esta propriedade, dá-se o nome de

Capacidade de Retenção de Água (CRA) que é a habilidade da carne de reter a sua própria

água, contida dentro de sua estrutura (OLIVO, 2005).

Segundo ROÇA (2015), a textura dos alimentos é um parâmetro estrutural que possui

os atributos primários: maciez, coesividade, viscosidade e elasticidade; secundários como

gomosidade, mastigabilidade, suculência, fraturabilidade e adesividade; e residuais como

velocidade de quebra, absorção de umidade e sensação de frio na boca. Para o autor, a maciez

é o principal critério para o julgamento da qualidade da carne, sendo considerado o mais

importante parâmetro de textura do produto cárneo.

A maciez pode ser definida como uma combinação da suculência da carne com a

resistência das fibras musculares (SINDELAR et al., 2003) e relaciona-se a diversos fatores,

tais como: espécie, idade, sexo, raça, músculo, processo de abate e de industrialização,

quantidade de tecido conjuntivo e quantidade de gordura intramuscular (marmoreio)

(LAWRIE, 2005).

A cor também é um atributo muito importante do ponto de vista tecnológico e de

aceitação pelo consumidor. As proteínas sarcoplasmáticas são responsáveis pela cor da carne,

sendo os pigmentos formados em sua maior parte por: hemoglobina, que é o pigmento

sangüíneo e a mioglobina, pigmento muscular que constitui 80 a 90% do total de proteínas.

Pode-se encontrar na carne outros pigmentos como catalase e citocromo-enzimas, mas sua

contribuição na cor não é significativa (ROÇA; 2015).

19

4.1.3 Importância econômica do setor cárneo

A indústria de carnes é um dos principais setores de alimentos, sendo a maior do ramo

em termos de geração de empregos e volume de recursos e capitais empregados. Segundo

Brasil (2014), a agropecuária tem papel fundamental no desenvolvimento da economia de um

país. Tendo como função o fornecimento de alimentos a preços acessíveis, a geração de

emprego, renda e mercado consumidor para bens industrializados.

O setor agropecuário no Brasil se destaca devido a algumas vantagens que lhe

fornecem maior competitividade como a sua extensão territorial e clima tropical, ou seja, as

condições naturais fornecem vantagens aos produtos da agropecuária. Sendo que as principais

cadeias produtivas nacionais no setor cárneo são as cadeias de carne bovina, avícola e suína.

A cadeia agroindustrial da carne bovina é muito diversificada e gera empregos diretos

na produção, industrialização e comercialização, e indiretos, como o plantio de grãos,

armazenamento e transporte. Segundo o Plano Mais Pecuária do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2014), a pecuária bovina é um dos setores mais

importantes do agronegócio brasileiro e consequentemente da economia nacional. O Brasil

possui o maior rebanho comercial do mundo, é o maior exportador de carne bovina, segundo

maior produtor de carne (USDA, 2014). As exportações de carne bovina estão crescendo a

cada ano e para um número cada vez maior de mercados. Em 2012 o Brasil exportou para 142

países (BRASIL, 2013). Esse avanço foi possível devido às conquistas obtidas com a defesa

agropecuária, como as zonas livres de febre aftosa. Porém, devido a outras questões sanitárias

e de qualidade do produto o Brasil ainda não consegue acessar mercados mais nobres

(BRASIL, 2014).

O destaque do Brasil no setor cárneo também está diretamente relacionado aos custos

de produção. As tecnologias desenvolvidas a nível nacional deixam os custos de

produção menores do que em outros países, fazendo com que o preço para o consumidor seja

mais competitivos. Exemplo disto é que em 2013 o custo de produção da carne no Brasil era

de US$ 3,00 por quilo, enquanto na Europa o quilo da carne chegava a custar US$ 6,00

(BARETTA, 2013).

Diante deste contexto, o setor cárneo demonstra perspectivas positivas de crescimento.

O departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) lançou em 2014 uma projeção

para o comércio mundial de carnes. Segundo USDA (2014), o setor cárneo irá crescer em

20

torno de 22% até 2023 e o Brasil é apontado como o principal exportador de carne bovina no

período citado.

Em uma análise mundial, no mesmo período, a partir da Figura 1, observa-se que as

exportações de carne bovina, suína e de frango devem aumentar, respectivamente, 2,2

milhões, 1 milhão e 2 milhões de toneladas (USDA, 2014).

Figura 1. Projeção para exportações de carne bovina, suína e de frango em milhões de

toneladas, até 2020

Fonte: USDA (2014).

A partir das informações acima citadas, nota-se que o setor pecuarista está diante de

uma grande oportunidade de crescimento, representada pela expansão do mercado interno e

da demanda externa. Sendo, portanto uma importante fonte econômica tanto a nível nacional

quanto mundial.

4.2 TENDÊNCIAS ATUAIS NO PROCESSAMENTO DE PRODUTOS CÁRNEOS

21

A sociedade moderna tem adquirido hábitos alimentares, no decorrer dos anos, que

afetam de maneira significativa a saúde dos consumidores, podendo contribuir negativamente

para a qualidade de vida das pessoas. Esta mudança possivelmente é decorrente da aceleração

do ritmo urbano e da maior inserção da mulher no mercado de trabalho, o que ocasiona

escassez de tempo para preparar alimentos no domicílio. Deste modo, é cada vez mais

evidente a busca por alimentos que não demandam muito tempo para o preparo e que, muitas

vezes, podem não ser saudáveis, podendo levar a sérios problemas de saúde, tais como

alimentos ricos em gorduras, açúcares e sódio e pobres em vitaminas, sais minerais, proteínas

e fibras (OLIVEIRA et al., 2013).

Dessa forma, o consumidor, preocupado com a saúde, tem cada vez mais buscado uma

dieta saudável que, além de nutrir, promova redução do risco de diversas doenças e a

manutenção do bem-estar físico e mental. Essa preocupação tomou maiores proporções há

aproximadamente 40 anos, com a concepção dos alimentos saudáveis e também dos alimentos

funcionais alimentação (MORAES & COLLA, 2006). Em decorrência desta nova demanda

por produtos de fácil e rápido preparo e que, ao mesmo tempo, possam ser saudáveis, as

comunidades industriais e científicas têm buscado alternativas adaptadas à estas condições da

sociedade atual (OLIVEIRA et al., 2013).

A indústria de carnes, assim como outros setores da área de alimentos, é alvo de

importantes transformações, conseqüência das inovações tecnológicas e das mudanças

exigidas pelos consumidores. Uma das principais tendências que marca a evolução do

consumo de produtos cárneos surge da preocupação dos consumidores com a saúde,

favorecida pelas novas recomendações e orientações nutricionais aconselhadas por diversas

instituições (JIMÉNEZ-COLMENERO, 2006).

A este respeito vem ocorrendo um interesse crescente no desenvolvimento de

alimentos saudáveis (JIMÉNEZ-COLMENERO, 2014), por exemplo, com relação aos

produtos cárneos, as linhas de pesquisa para estratégias de reformulação envolvem

principalmente: redução de sal, aditivos e gordura, buscando novos ingredientes e novas

tecnologias (CARRARO, 2012). Essas estratégias são descritas sucintamente abaixo.

A preocupação com o excesso de sódio na dieta tem levado pesquisadores do mundo

todo a unir esforços no sentido de oferecer alimentos com teor reduzido desse constituinte

(OLIVEIRA et al., 2013). Todavia isso se tornou um grande desafio, uma vez que maior parte

do teor de sódio está presente no produto cárneo na forma de cloreto de sódio (NaCl) e que o

22

mesmo desempenha papeis importantes no alimento, como por exemplo, a ação conservante,

o aumento da capacidade de retenção de água das proteínas, reduzindo as perdas de água

durante a estocagem e o aumento da estabilidade das emulsões cárneas, devido à melhor

incorporação de gordura na massa (NASCIMENTO et al., 2007).

Existem algumas estratégias para reduzir o teor de sódio em produtos cárneos: pela

utilização de sais substitutos como o cloreto de potássio (KCl), cloreto de cálcio (CaCl2) ou

cloreto de magnésio (MgCl2), utilização de ervas e especiarias, elevação de acidez,

realçadores e mascaradores de sabor, cobertura com cristais de NaCl ou modificação da forma

física desses cristais (POLLONIO, 2012).

Com relação à redução de aditivos, tem-se primeiramente a preocupação com a

redução do nitrito de sódio. O uso deste preocupa a comunidade científica mundial, pois, é

fator de riscos toxicológicos à saúde humana, dependendo da quantidade ingerida e

susceptibilidade do organismo. Nitritos combinam-se com a hemoglobina, transformando-a

em metamioglobina, reduzindo a eficiência no transporte de oxigênio (LIRA et al, 2003).

Além disso, podem formar substâncias carcinogênicas como as nitrosaminas sob certas

condições de pH e temperatura (JAKSZYN & GONZALEZ, 2006).

Por ultimo, observam-se em muitos estudos, estratégias para redução de gordura e

redução dos teores de colesterol. Weiss et al. (2010) em sua revisão, apresentam novos

ingredientes e abordagens de tratamento para criar produtos cárneos de qualidade e a preços

acessíveis, utilizando para isso substitutos de gordura, como óleos vegetais, e assim redução

de colesterol.

Além disso, alterações nos perfis de ácidos graxos da carne e produtos cárneos

podem ser obtidas através da alimentação de animais com dietas ricas em ácidos graxos

polinsaturados (PUFAs), como a suplementação de rações com óleo de peixe e óleo de

linhaça (LU et al., 2008) ou, pela incorporação destes óleos como ingredientes no

processamento dos produtos cárneos (ANSORENA & ASTIASÁRAN, 2004).

O uso de fibras como substitutos de gordura em produtos cárneos têm sido tema

frequente em vários estudos (BARRETTO, 2007; HUBER, 2012; FIORENTIN, 2014). No

Brasil, a grande procura pela utilização de fibras em produtos cárneos é devido a sua alta

capacidade de retenção de água e consequente possibilidade de redução de custo, além dos

apelos comerciais que os itens mais saudáveis podem ter no contexto atual de consumo. A

23

incorporação de água e fibras em equilíbrio na formulação pode auxiliar na obtenção de

produtos mais viáveis financeiramente (BARRETTO, 2007).

4.3 REDUÇÃO DE GORDURA EM PRODUTOS CÁRNEOS

4.3.1 As funções da gordura nos produtos cárneos e os desafios da reformulação

A gordura é um dos constituintes dos alimentos mais estudados, pois o seu consumo

em excesso tem grande associação com a incidência de doenças cardiovasculares, obesidade e

certos tipos de câncer (HUBER, 2012). Contudo, desenvolver produtos cárneos com baixos

teores de gordura tem sido um enorme desafio para as indústrias e comunidades científicas,

visto que a gordura contribui com uma série de atributos sensoriais, os quais o consumidor

não dispensa.

A gordura contribui para o sabor, cremosidade, aparência, maciez, suculência e

sensação de saciedade após as refeições. Além disso, tem papel fundamental nas emulsões, na

estabilização de espumas, na transferência de calor e ainda carrega compostos aromáticos e

pigmentos (PINHEIRO & PENNA, 2004).

Ainda segundo Pinheiro & Penna (2004), podem-se dividir as funções da gordura

levando em consideração dois aspectos: o nutricional e o fisiológico. Fisiologicamente, as

gorduras têm três funções básicas nos alimentos: agem como fonte de ácidos graxos

essenciais (ácidos linolênico e linoléico); atuam no transporte de vitaminas lipossolúveis (A,

D, E e K); e se constituem em importante fonte de energia. Do ponto de vista nutricional,

apenas as duas primeiras funções podem ser consideradas como essenciais, uma vez que

outros nutrientes, como carboidratos e proteínas podem agir como fontes de energia

(ADITIVOS & INGREDIENTES, 2008; HUBER, 2012).

A elaboração de produtos cárneos com redução no teor de gordura necessita da

utilização de produtos que possuam atributos lipídicos, como sabor, aparência, suculência,

maciez, entre outros, mas que tenham valor energético reduzido. Desta forma, podem ser

empregados estabilizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos com propriedades

específicas. A elaboração destes produtos é difícil e nem sempre uma expressiva redução no

valor energético é alcançada devido à manutenção dos atributos sensoriais (MONTEIRO,

2006).

24

Para Roller & Jones, (1996), as funções físicas e químicas da gordura podem formar

um único grupo, pois a natureza química das gorduras contribui para a determinação de suas

propriedades físicas. Por isso, o uso ou não, da gordura em produtos alimentícios pode

apresentar algumas implicações práticas que podem ser notadas em duas etapas distintas, no

processamento e no pós-processamento. No primeiro, variações do teor lipídico acarretam

mudanças de viscosidade, cristalização, aeração e instabilidade ao calor. Com relação ao pós-

processamento, notam-se alterações físicas como migração e separação de gordura; químicas,

como rancidez ou oxidação e microbiológicas, como alterações de atividade de água e risco à

segurança alimentar.

Segundo Aditivos & ingredientes (2008), a redução de gordura em produtos

alimentícios deve levar em consideração o seu papel determinante para as propriedades

químicas, físicas e sensoriais do alimento bem como de suas características de processamento.

Em produtos cárneos isso não é diferente, a gordura é essencial ao sabor e textura,

portanto a sua redução pode afetar a aceitabilidade do produto (NASSU et al., 2002). Apesar

dos desafios da reformulação, a tentativa de reduzir o teor de calorias é reportada por vários

autores, como a substituição de gordura por carne magra e a utilização de fibras como fibra de

trigo, cevada (BASTOS, 2009; HUBER, 2012; PETERSSON et al., 2014), proteínas do soro

do leite, de gomas como guar, carragena (ÁLVAREZ & BARBUT ,2013; SPADA, 2013;

SIMÕES et al., 2014), ou seja, muitos estudos estão sendo feitos afim de elaborar produtos

com apelo de saudabilidade, melhorando assim a qualidade dos alimentos e

consequentemente a qualidade de vida da população.

4.3.2 Estratégias para redução de gordura em produtos cárneos

A redução de gordura em produtos cárneos pode ser obtida através da eliminação da

gordura da matéria-prima através da etapa de toalete, da redução do teor de gordura do animal

alterando a composição de sua alimentação e da substituição da gordura nas formulações

(CARRARO, 2012).

A alteração do perfil de ácidos graxos pode ser obtida através da alimentação do

animal e de práticas adotadas durante o crescimento do animal como estratégia de imunização

e utilização de hormônios de crescimento (JIMÉNEZ-COLMENERO, 2001) ou pela

25

incorporação de óleos vegetais ricos em ácidos graxos polinsaturados como ingredientes no

processamento dos produtos cárneos (ANSORENA & ASTIASÁRAN, 2004).

Entretanto, outros autores como Carraro (2012), afirma que, em produtos cárneos

emulsionados, é extremamente difícil a redução de gordura, pois as mudanças em termos de

aparência, sabor e textura são extremas.

Em relação a estratégias adotadas para redução de gordura em produtos cárneos

observa-se que muitos estudos têm sido realizados com este propósito. Como exemplo, pode-

se citar o trabalho desenvolvido por Huber (2012), que em sua tese desenvolveu hambúrguer e

empanado de frango com adição de fibras vegetais (aveia, bambu, batata, ervilha, maçã e

trigo) como substitutos totais de gordura. A formulação contendo 0,4% de fibra de bambu,

1,6% de fibra de trigo e 1,6% de fibra de ervilha apresentou maiores percentuais de fibra

alimentar total, melhor estabilidade à oxidação e bons resultados nas avaliações sensoriais e

microbiológicas, podendo ainda receber na rotulagem o termo “light”.

Marques (2007) estudou a redução de gordura em hambúrguer bovino a partir da

substituição parcial da mesma por farinha de aveia, a partir de análises físico-químicas e

sensoriais, observou-se que a substituição da gordura por 6,25% de farinha de aveia além de

reduzir os níveis de gordura, foi a mais aceita entre os provadores, ou seja, esse percentual

não afetou sensorialmente o produto.

Ferreira (2006) avaliou as características físico-químicas e sensoriais de linguiça de

carne suína com redução de gordura acrescida de concentrados protéicos do soro (WPC) ou

com concentrado protéico com elevado teor de β-lactoglobulina. Foram realizados sete

tratamentos, um grupo controle contendo 20% de gordura e seis formulações contendo níveis

entre 0,1 e 1% dos concentrados protéicos e 10% de gordura. A partir de análises físico-

químicas e sensoriais, observou-se que todos os tratamentos mantiveram as características

exigidas no padrão de identidade e qualidade e também foram bem aceitas sensorialmente.

Em outro estudo, Álvarez & Barbut (2013) avaliaram os efeitos do nível de gordura

suína (20; 12,5 e 5%), inulina e β-glucana sobre a estabilidade de emulsões cárneas, cor,

características de textura e microestrutura de batter cárneos. Os autores encontraram

resultados positivos quando utilizaram misturas de 3 a 6% inulina e 0,3 a 0,6% de β-glucana,

sugerindo que nestas concentrações as fibras podem compensar as mudanças trazidas pela

redução de gordura e manter várias características de textura do produto, assim como reduzir

as perdas por cocção.

26

Os vários estudos e investigações realizadas demonstram que os substitutos de gordura

não servem somente como uma opção para dieta, mas podem também melhorar a qualidade

de produtos desenvolvidos com redução no teor de gordura e proporcionar o crescimento do

mercado. Alguns substitutos de gordura podem ser incorporados com facilidade em vários

produtos alimentícios como produtos cárneos, bebidas, maioneses e sobremesas, molhos para

saladas e produtos de laticínios (AKOH, 1998).

4.3.3 Substituto de gordura – Classificação

Segundo Huber (2012), inicialmente, o termo substituto de gordura foi usado para

todos os ingredientes, indiferentemente da extensão na qual o ingrediente era capaz de

substituir a gordura e dos princípios que determinam a sua funcionalidade. Todavia, durante

anos, diferentes termos têm sido utilizados para ingredientes desenvolvidos especificamente

para substituição de gorduras em alimentos (AKOH, 1998).

De acordo com Akoh (1998), os termos e definições usados para descrever os

substitutos de gordura variam entre os autores, entretanto são genericamente categorizados em

dois grupos: substitutos de gordura e imitadores (miméticos) de gordura. A diferença prática

entre os substitutos e os miméticos está apenas na capacidade das combinações sintéticas em

substituir a gordura em uma base peso por peso.

Vários termos e definições são utilizados para descrever substitutos de gordura, mas,

de modo geral, segundo Akoh (1998) e Aditivos & Ingredientes (2008) podem ser

classificados em:

Fat replacer (substituto de gordura): é um termo genérico para descrever qualquer

ingrediente que substitua gordura.

Fat substitute (substituto de gordura sintético): é um composto sintético projetado para

substituir gordura em igualdade de peso (weight-by-weight), apresentando uma estrutura

química semelhante à gordura, mas resistente à hidrólise pelas enzimas digestivas.

Fat mimetic (gorduras miméticas): são substâncias que imitam as propriedades sensoriais e

físicas dos triacilgliceróis, mas não podem substituí-los na base grama por grama, ou seja,

necessita de alto conteúdo de água para atingir sua funcionalidade.

Giese (1996) divide os substitutos de gordura nos alimentos em três grupos: baseados

em carboidratos, em proteínas e em lipídios modificados (compostos sintéticos).

27

Os substitutos baseados em proteínas são geralmente derivados de proteínas

encontradas em ovos, leite, soja e outros alimentos (GIESE, 1996; AKOH, 1998). São

produtos com aplicação limitada por não poderem ser utilizados para produtos de panificação

e para frituras, devido às altas temperaturas alcançadas nestes processos. O aquecimento

causa coagulação e desnaturação de algumas proteínas, como albumina e globulina,

resultando em perda de cremosidade e textura que simulam a presença de gorduras

(PINHEIRO & PENNA, 2004; ADITIVOS & INGREDIENTES, 2008). No desenvolvimento

de produtos cárneos com substitutos de gordura baseados em proteínas, observa-se, por

exemplo, trabalhos usando proteína do soro do leite (FERREIRA, 2006; SPADA, 2013;

SIMÕES et al., 2014); proteína texturizada de soja (BOURSCHEID, 2009) e colágeno

(BASTOS, 2009).

Os substitutos ou imitadores de gordura a base de carboidratos são derivados de

cereais, grãos, plantas entre outros. Gomas, amidos e outros ingredientes de carboidratos

propiciam algumas das funções da gordura em alimentos por ligar a água, bem como,

fornecem textura e opacidade (GIESE, 1996).

Os carboidratos e produtos a base de carboidratos tem sido usados para substituir total

ou parcialmente (de 50% a 100%) óleos e gorduras em uma grande variedade de alimentos

(ADITIVOS & INGREDIENTES, 2008). Porém, os carboidratos não fundem, portanto, não

podem ser utilizados em frituras. Devido ao seu alto poder de associação com água, ocorre

aumento da quantidade de água no alimento, seja por aumento da atividade de água ou por

incorporação de água na formulação, e consequente redução da vida de prateleira do produto

(AKOH, 1998). No desenvolvimento de produtos cárneos com substitutos de gordura

baseados em carboidratos, pode-se citar como exemplos trabalhos usando carragena

(PAULINO et al., 2006); pectina e inulina (GALVAN, 2011) e amido resistente (CARRARO,

2012).

Keeton (1994) destaca as fibras alimentares, maltodextrinas e dextrinas como

substitutos de gordura. Mendoza et al. (2001) e Cáceres et al. (2004) citam que várias fibras

alimentares são utilizadas em produtos cárneos não somente pelo efeito benéfico na saúde,

mas também como potencial substituto de gordura.

Os substitutos de gorduras à base de compostos sintéticos são triacilgliceróis com

modificação na configuração para reduzir o conteúdo de calorias, ou que possuem estrutura

química similar aos triacilgliceróis, mas com conteúdo calórico reduzido ou zerado.

28

Emulsificantes são compostos que contêm propriedades hidrofílicas e lipofílicas e incluem

lecitina, mono e diglicerídios, dentre outros. Outro grupo de substitutos de gorduras a base de

gordura são os análogos de lipídios como, por exemplo, a marca comercial Salatrim®. Este

análogo de lipídio comercial é preparado por interesterificação de triacetina, tripropionina, ou

tributirina, ou suas misturas com canola, soja, semente de algodão, ou óleo de girassol

hidrogenado (GIESE, 1996).

4.4 FIBRAS ALIMENTARES

4.4.1 Definição, conceito e histórico.

As fibras alimentares têm ocupado lugar de destaque devido aos resultados divulgados

em vários estudos científicos recentes que revelam a ação benéfica desses nutrientes no

organismo e a relação entre o seu consumo em quantidades adequadas e a prevenção de

doenças (DOSSIÊ: FIBRAS ALIMENTARES, 2008; BROWNLEE, 2014; BRUMMER et al.

2015).

A fibra alimentar tem importante papel em muitos processos fisiológicos e na

prevenção de várias doenças. Além disso, durante os últimos anos a mesma ganhou papel de

destaque ao relacionar sua utilização como ingrediente funcional. Entretanto, ainda existem

muitos aspectos sobre as fibras que permanecem obscuros, como por exemplo uma definição

única, alguns mecanismos de ação e as diferentes funções fisiológicas (RODRÍGUEZ et al.,

2006).

Conceituar ou definir fibra alimentar não é uma tarefa fácil, trata-se de tema

desafiador e contraditório ao mesmo tempo, isso porque, em primeiro lugar, fibra dietética

não pode ser definida como uma única estrutura química ou grupo de compostos relacionados,

pois possui diversas estruturas e composições. Em segundo lugar, a fibra pode ter uma ou

mais funções fisiológicas ou benefícios para a saúde, além disso, nem todas as fibras são

capazes de executar todas as funções. Em terceiro lugar, há controvérsias se as fibras só

exercem funções benéficas dentro de uma matriz alimentar ou se podem oferecer benefícios

na forma isolada. Assim, numerosas definições em todo o mundo têm sido propostas a fim de

discutir e esclarecer algumas dessas várias questões (JONES, 2014). Algumas dessas

definições podem ser observadas na Tabela 2.

29

Tabela 2. Definições de fibra dietética no mundo

Organização Definição

CODEX Alimentarius Comissão de 2009

(conjunto de orientações e normas

internacionais para alimentos e

importações de alimentos).

Polímeros com dez ou mais unidades

monoméricas que não são hidrolisados pelas

enzimas endógenas no intestino delgado.

Health Canada (HC) (2010) (departamento

do governo canadense responsável pela

saúde pública nacional).

Carboidratos de origem vegetal, comestíveis e que

não são digeridos e absorvidos pelo intestino

delgado. Considera a fibra dietética obtida pela

extração de fontes naturais ou produzida

sinteticamente. Incluem oligossacarídeos

resistentes, amidos e maltodextrinas resistentes.

European Food Safety Authority (EFSA)

2009 (Autoridade Europeia para a

Segurança dos Alimentos).

Carboidratos não digeríveis e lignina, que ocorrem

em alimentos e que não são digeríveis no intestino

delgado passando para o intestino grosso. Incluem

polissacarídeos não amiláceos, amido resistente e

oligossacarídeos resistentes.

Instituto de Medicina (IOM) de 2001

(Academia Nacional de Ciências dos

Estados Unidos: fornece pesquisas

baseadas em investigações e análises em

busca de evidências para melhorar a saúde

nacional)

Consistem em carboidratos não digeríveis e

ligninas constituintes das plantas.

• Fibra Funcional é um composto isolado que

confere efeitos fisiológicos benéficos em seres

humanos.

• Fibra total é a soma de Fibra Alimentar e Fibra

Funcional.

NSP (Polissacarídeos não amiláceos) Parede celular vegetal que é resistente à digestão

por enzimas do homem.

Não inclui oligossacarídeos, amidos e

maltodextrinas resistentes.

Fonte: Adaptado de JONES (2014).

30

Segundo Jones (2014), embora as diversas definições de fibra demostrem muitas

semelhanças, existem algumas diferenças importantes. Como por exemplo, a maioria das

definições considera fibra como carboidratos que resistem à digestão e a absorção no intestino

delgado humano. No entanto, a definição de fibras, NSP (polissacarídeos não amiláceos) só

reconhece fibras da parede celular vegetal, e não inclui polímeros sintéticos resistentes ou

polímeros extraídos de material de alimentos crus por meios químicos, físicos ou enzimáticos.

A definição do OIM (Instituto de Medicina dos Estados Unidos) se assemelha com a

definição do CODEX, em que aceita todos os carboidratos resistentes intrínsecos ou extraídos

ou sintetizados. No entanto, segundo o OIM, reserva-se o termo "fibra dietética” somente para

materiais que são intrínsecos e intactos dentro da matriz alimentícia. Os materiais extraídos,

modificados ou sintetizados são definido como "fibra funcional”.

Essas diferenças mostram que à medida que se tem aumentado os conhecimentos

sobre a fibra tanto a nível estrutural como em seus efeitos fisiológicos, tem se dado outras

definições que ampliam o conceito de fibra. A American Association of Cereal Chemists

(2001) define: “a fibra dietética é a parte comestível das plantas ou carboidratos análogos que

são resistentes à digestão e absorção no intestino delgado, com fermentação completa ou

parcial no intestino grosso. A fibra dietética inclui polissacarídeos, oligossacarídeos, lignina e

substâncias associadas de plantas. As fibras dietéticas promovem efeitos fisiológicos

benéficos como laxante, atenua os níveis de colesterol e/ou atenua o nível de glicose no

sangue”.

Para uma definição mais abrangente e completa do conceito de fibra alimentar, deve-

se considerar uma evolução deste conceito com o passar dos anos. Os primeiros relatos

provem de muito tempo atrás, mais especificamente em 400 a.C. (antes de Cristo) quando

Hipócrates descreveu os efeitos laxativos do farelo de trigo, dados estes, segundo Dossiê:

Fibras Alimentares (2008), confirmados por pesquisas científicas em 1930.

No início dos anos 50, cientistas começaram a observar que em populações ou grupos

que não consumiam produtos alimentares industrializados, os casos de constipação intestinal

eram raros ou inexistentes. Durante a década de 70 dois médicos ingleses, Dr. Dennis Parsons

Burkitt (1911-1993) e Dr. Hugh Carey Trowell (1904-1989) relataram que dietas realizadas

por populações africanas nativas, com alta quantidade de fibras proporcionavam índices muito

31

baixos de enfermidades comuns em países ocidentais tais como as doenças gastrointestinais

(DOSSIÊ: FIBRAS ALIMENTARES, 2008).

As propriedades fisiológicas das fibras alimentares determinam sua importância para o

corpo humano e a ingestão diária necessária para uma dieta saudável. Por esta razão, alguns

pesquisadores concordam que a definição de fibra alimentar deve ser baseada em critérios

fisiológicos (CHAMP et al., 2003).

No Brasil, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Resolução

- RDC nº 360, de 23 de dezembro de 2003, fibras alimentares são definidas como qualquer

material comestível de origem vegetal que não seja hidrolisado pelas enzimas endógenas do

trato digestivo humano determinado segundo o método enzimático gravimétrico de 1990 ou

edição mais atual (BRASIL, 2003).

4.4.2 Composição

A passagem das fibras alimentares pelo trato digestivo resulta em diversos efeitos

fisiológicos importantes para a saúde do ser humano. Dentro todos os benefícios do consumo

das fibras, o mais conhecido para quem busca uma dieta equilibrada é o bom funcionamento

do intestino e consequentemente a prevenção de doenças. No entanto, segundo Dossiê: Fibras

Alimentares (2008), nem todas as fibras alimentares atuam da mesma forma, por isso as

mesmas são divididas em duas categorias: as fibras solúveis e as insolúveis.

O termo fibra alimentar solúvel ou insolúvel é uma maneira útil e simples de

classificação das fibras alimentares, tratando-se de suas diferenças fisiológicas. As fibras

solúveis afetam principalmente a absorção de glicose e de gordura, pois muitas delas são

viscosas e formam géis no intestino delgado. As insolúveis têm grande influência na função

intestinal por sua fermentação lenta e incompleta (GRAY, 2006).

A fibra alimentar insolúvel não é digerida no intestino delgado humano, mas pode ser

fermentada por bactérias no intestino grosso. Em geral essas fibras aumentam o bolo fecal no

trato intestinal e ajudam na eliminação do mesmo. Já a fibra alimentar solúvel tem a

finalidade de aumentar a viscosidade do conteúdo intestinal, diminuindo a atividade de certas

enzimas digestivas e influenciando diretamente na taxa de digestão e absorção de nutrientes a

fim de reduzir o colesterol plasmático, a modulação da glicemia pós prandial bem como de

32

regular o apetite. Esta fração de fibra apresenta alta capacidade de retenção de água, formando

géis em solução aquosa (CORDEIRO, 2011).

A Tabela 3 mostra um comparativo entre esses tipos de fibras, suas fontes e seus

principais mecanismos de ação.

Tabela 3. Fibras: tipos, fontes e ações

Classificação Tipos Fontes Ações

Fibra solúvel Pectina, Gomas,

Mucilagem, Beta

glucana,

Hemiceluloses

(algumas)

Frutas, verduras,

Aveia, Cevada,

Leguminosas

(feijão, lentilha,

soja, grão de

bico)

- Retardo na absorção de

glicose;

- Redução no

esvaziamento gástrico

(maior saciedade);

- Diminuição dos níveis

de colesterol sanguíneo;

- Proteção contra o

câncer de intestino.

Fibra insolúvel Lignina, Celulose,

Hemiceluloses

(maioria)

Verduras, Farelo

de trigo, Cereais

integrais (arroz,

pão, torrada)

- Aumento do bolo fecal;

-Estímulo ao bom

funcionamento intestinal

(aceleração do trânsito);

- Prevenção de

constipação intestinal.

Fonte: Dossiê: Fibras Alimentares (2008).

A partir da Tabela 3, pode-se observar que fibras insolúveis incluem principalmente

celulose, hemicelulose e lignina e as fibras solúveis incluem pectinas solúveis, β-glucanas,

gomas e uma grande quantidade de oligossacarídeos não digeríveis, incluindo a inulina. Os

componentes mais importantes das fibras alimentares são brevemente descritos a seguir.

33

4.4.2.1 Celulose

É o polímero mais abundante da natureza e o principal componente estrutural da

parede celular vegetal. Quimicamente é uma estrutura simples formada por mais de dez mil

unidades de glicose unidas por ligações β (1-4) (DOSSIÊ: FIBRAS ALIMENTARES, 2008).

A Figura 2 mostra a estrutura química da celulose. As cadeias de celulose podem facilmente

se colocar paralelamente uma às outras, formando uma estrutura linear estabilizada por

ligações de hidrogênio intermoleculares, formando regiões de ordem cristalina muito alta, o

que provavelmente contribui para a insolubilidade e para a pouca reatividade da celulose

(BOBBIO & BOBBIO, 1992).

Figura 2. Estrutura química da celulose

Fonte: ZAMORA (2005).

A celulose é insolúvel em água fria ou quente e em soluções diluídas com ácido ou

base. Elas são resistentes à degradação por enzimas humanas, permanecendo assim,

praticamente intactas através de todo o trato gastrointestinal, diminuem o tempo de transito no

intestino e aumentam o bolo fecal. Além disso, a celulose tem uma alta capacidade de

absorção de água, por isso pode ser utilizada para aumentar o volume em alimentos (DOSSIÊ:

FIBRAS ALIMENTARES, 2008).

4.4.2.2 Hemicelulose

As estruturas das hemiceluloses são mais complexas e variadas do que a celulose. As

hemiceluloses (pentosanas e hexosanas) são polissacarídeos que contêm outros açúcares além

da glicose, e que são associados à celulose na parede celular das plantas. Elas incluem

moléculas de cadeias lineares e ramificadas, menores que as de celulose, tipicamente

34

contendo de 50-200 unidades de pentoses (xilose e arabinose) e unidades de hexoses (glicose,

galactose, manose, ramnose e ácidos glucurônico e galacturônico) (GRAY, 2006).

As hemiceluloses ligam os filamentos da celulose e formam ligações covalentes com a

lignina (BENNINK, 1998). Estas não são digeridas no intestino grosso, mas são utilizadas por

microorganismos presentes no cólon mais facilmente que a celulose (GRAY, 2006).

4.4.2.3 Lignina

A lignina não é um polissacarídeo, mas um polímero formado da união de álcoois

aromáticos ou fenilpropanos. Ela contribui para a rigidez da parede celular e essa forte ligação

com os tecidos, permite maior resistência ao ataque de microrganismos. Uma das suas

propriedades mais interessantes é a sua capacidade de se ligar com ácidos biliares e colesterol,

atrasando ou diminuindo a sua absorção no intestino delgado (ÁLVAREZ & SÁNCHEZ,

2006). A estrutura química da lignina pode ser observada na Figura 3.

Figura 3. Estrutura química da Lignina

Fonte: MELDAU, (2006).

4.4.2.4 Pectinas

As pectinas são polissacarídeos solúveis em água quente e que formam géis quando

resfriadas Elas estão presentes nas paredes celulares e nos tecidos intracelulares das frutas e

vegetais (TUNGLAND & MEYER, 2002). A estrutura química da pectina pode ser observada

na Figura 4. Nos alimentos são usadas como espessantes, emulsificantes e conservantes

(DOSSIÊ: FIBRAS ALIMENTARES, 2008).

35

Figura 4 Estrutura química da Pectina

Fonte: ZAMORA (2005).

As pectinas em água formam soluções altamente viscosas, mesmo em baixas

concentrações, e em presença de sacarose e ácido em proporções adequadas formam géis

muito estáveis (BOBBIO & BOBBIO, 2003). Elas podem ser extraídas industrialmente de

cascas de frutas cítricas e de bagaço de maçã (IOM, 2002).

Em função da fonte da qual é extraída, a pectina varia consideravelmente em sua

capacidade de formar géis, em função das diferenças de tamanho da cadeia de ácidos

poligalacturônicos e do grau de esterificação de seus grupos carboxílicos (BARRERA et al.,

2002). A proporção entre o número de grupos ácidos esterificados em relação ao número total

dos grupos ácidos define o grau de esterificação (DE) ou grau de metoxilação (DM) de uma

pectina. As pectinas podem ser de alto ou baixo teor de metoxilação (TORREZAN, 1998).

Polpa de maçã e cascas de frutas cítricas dão origem a pectinas de alto grau de

metoxilação que são as mais utilizadas em indústria de alimentos (COELHO, 2008).

4.4.2.5 Amido Resistente

O amido resistente é definido como a soma do amido e seus produtos de degradação

que não são absorvidos no intestino delgado de seres humanos saudáveis (DOSSIÊ: FIBRAS

ALIMENTARES, 2008). Ele pode estar presente em uma grande variedade de alimentos.

Quatro classes de amidos resistentes têm sido descritas na literatura: amido

fisicamente inacessível (RS1); grânulos de amido nativo (RS2); amido retrogradado (RS3); e

amido quimicamente modificado (RS4) (CHAMP et al., 2003). A partir da Tabela 4 podem-se

observar as principais fontes de cada tipo de amido e suas características.

36

Tabela 4. Amido resistente: tipos, fontes e características.

Tipo Amido

Resistente Fonte Característica

RS1

Grãos e sementes

parcialmente

moídas; feijão e

lentilha.

- Possuem paredes celulares espessas

que tornam o amido inacessível às

enzimas.

- Afetado pela mastigação, trituração

e moagem.

RS2 Banana e batata

crua.

- Amido é muito resistente à hidrólise

enzimática.

- Alterado pela gelatinização.

RS3 Batata cozida

- Formado através de cozimento,

autoclavagem e posterior

armazenagem por horas, dias ou

meses (Retrogradação).

- Reduz teor calórico e índice

glicêmico

- Aumenta fibra alimentar em

alimentos processados.

RS4 -

- Quimicamente modificados para

resistir à digestão.

- Grande variedade de estruturas e

não são encontrados na natureza.

Fonte: Adaptado dos textos de Champ (2003); Dossiê: Fibras Alimentares (2008) e Huber (2012).

O conteúdo de amido resistente de um alimento pode ser alterado durante a estocagem,

dependendo da temperatura e da quantidade de água. Este conteúdo também pode ser alterado

durante o preparo do alimento (IOM, 2002).

4.4.2.6 Inulina

A inulina é uma fibra dietética solúvel. Devido a seu comprimento, ao se misturar com

a água em temperatura ambiente, a inulina é capaz de formar um gel (SELGAS et al., 2005).

37

Possui baixo valor calórico, e contribui com a melhora do sabor A estrutura química da

inulina pode ser observada na Figura 5.

Ocorre em quantidades significativas em várias frutas e verduras comestíveis e cereais.

Industrialmente sua extração acontece principalmente da raiz da chicória (BARRETTO,

2007).

A inulina tem sido usada com sucesso em produtos cárneos fermentados, contribuindo

com características sensoriais interessantes a esse tipo de produto (MENDOZA et al., 2001).

Além disso, ela é considerada é um ingrediente prebiótico porque não é digerível e que

seletivamente estimula o crescimento e a atividade de bactérias intestinais que estimulam a

saúde (bifidobactérias) (PAK, 2006).

Figura 5. Estrutura química da Inulina

Fonte: ZAMORA (2005).

4.4.3 Fontes alimentares

Segundo a resolução da ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária), RDC n°

54 de 12 de novembro de 2012, pode-se considerar um produto como “fonte de fibra” se o

mesmo possuir em sua composição no mínimo 3g de fibras por 100g em pratos preparados

conforme o caso ou no mínimo 2,5g de fibras por porção. E para designar um produto como

38

“alto conteúdo de fibra”, este deve possuir no mínimo 6g de fibras em pratos preparados

conforme o caso ou no mínimo 5g de fibra por porção (BRASIL, 2012).

A partir da Tabela 5 podem-se observar as principais fontes naturais de alguns dos

vários componentes das fibras alimentares.

Tabela 5. Fontes naturais de alguns componentes da fibra alimentar

Componente da Fibra Fonte alimentar

Celulose Vegetais, plantas lenhosas, farelos de cereais.

Hemicelulose Grãos de cereais.

Lignina Farelos de cereais, cascas de legumes e arroz, plantas

lenhosa.

Pectina Frutas

Amido Resistente Legumes em grãos, milho, batata, banana verde.

Fonte: Adaptado de Gray (2006).

Segundo Gray (2006), a maior fonte de fibras alimentares e carboidratos não

digeríveis são os alimentos vegetais como os cereais, os legumes, as hortaliças, as frutas e as

sementes.

De acordo com Giuntini & Menezes (2011), fontes tradicionais de fibras alimentares,

como hortaliças e frutas, tinham e ainda têm consumo reduzido no Brasil, e são representados

basicamente por tomate, cebola, alface, repolho, banana e laranja.

Com relação ao teor de fibra que cada alimento contém, para Gray (2006), nenhum

método analítico simples é capaz de medir todos os componentes de fibra nos alimentos. É

necessário utilizar métodos analíticos que quantifiquem os componentes das fibras e ao

mesmo tempo exclui outros componentes alimentares.

4.4.4 Benefícios à saúde

O consumo de fibras ao redor do mundo ainda é muito pequeno, por isso medidas tem

sido adotadas a fim de reverter ou minimizar tal situação. Reconhecer que a fibra desempenha

um papel importante na saúde humana é um grande passo (GRAY, 2006).

39

Segundo Jones (2014), a variedade é um dos conceitos mais importantes para dietas

saudáveis, por exemplo, uma dieta equilibrada incorpora quantidades adequadas de cada

vitamina e evita excessos de qualquer tipo, da mesma forma, uma dieta ideal de fibras deve

incorporar a quantidade e os diferentes tipos de fibras necessários para executar várias

funções benéficas ao corpo humano. Assim, uma dieta variada que utiliza alimentos

enriquecidos com fibra juntamente com alimentos ricos em fibras oferece benefícios, pois ela

garante a inclusão de substâncias associadas que estão presas na matriz da fibra alimentar e

combina diferentes fibras.

Os componentes individuais da fibra possuem efeitos fisiológicos diferentes e, por esta

razão, possuem diferentes potenciais para redução de riscos de enfermidades. Conforme a sua

definição, a fibra alimentar pode fazer parte da categoria de alimentos funcionais, pois

interfere em uma ou mais funções do corpo de maneira positiva (FILISETTI, 2006).

As propriedades físico-químicas da fibra permitem a ocorrência de respostas locais,

como os efeitos no trato gastrintestinal e respostas sistêmicas, por meio de efeitos metabólicos

que poderão estar associadas ao tipo de fibra alimentar ingerida, pois há diferenças quanto à

capacidade de retenção de água, viscosidade, fermentação, adsorção e ligação e volume

conforme demonstra a Tabela 6 (GRAY, 2006).

40

Tabela 6. Fibra alimentar: propriedades, local de ação, implicações

Propriedades Atuação no intestino delgado/grosso Implicações

Retenção de água Aumenta o volume na fase aquosa do

conteúdo intestinal

Retarda a digestão e absorção de

carboidratos e lipídios

Volume Aumenta o volume.

Altera a mistura do conteúdo.

Promove a absorção de

nutrientes no intestino mais

distal.

Viscosidade Retarda a entrada do conteúdo gástrico.

Altera a mistura e difusão.

Associação com redução do

colesterol plasmático e alteração

da resposta glicêmica.

Adsorção e ligação de

compostos

Aumenta excreção de ácidos biliares ou

outros compostos ligados.

Reduz o colesterol plasmático

Dispersão de água Permite penetração de microrganismos na

fase aquosa

Aumenta a decomposição

bacteriana de polissacarídeos

Volume Aumenta a entrada de material fecal no

intestino grosso. Afeta a mistura do

conteúdo.

Fornece substrato para

microbiota, favorece efeito

laxante e diminui a exposição a

produtos tóxicos.

Adsorção e ligação Aumenta a quantidade de compostos,

como ácidos biliares, presentes no

intestino grosso.

Aumenta excreção desses

compostos.

Oportunidade de modificação da

microbiota de componentes

Fermentação Aumento da microbiota.

Adaptação da microbiota aos substratos

polissacarídeos.

Aumenta a massa bacteriana e

os produtos de metabolismo

(CO2, H2, CH4, AGCC*).

Legenda: *CO2- gás carbônico, H2- gás hidrogênio, CH4- gás metano, AGCC – Ácidos graxos de cadeia curta.

Fonte: GIUNTINI & MENEZES (2011)

Na membrana plasmática, os solutos se ligam em uma camada de água, com a ingestão

de fibras solúveis, essa camada aumenta, aumentando assim a fixação de glicose e sais

biliares. Estes sais biliares se ligam aos resíduos fenólicos e urânicos formando uma matriz de

polissacarídeos, que podem alterar a absorção de gordura, podendo diminuir o índice de

colesterol (ÁLVAREZ & SÁNCHEZ, 2006).

Duas propriedades físicas da fibra, viscosidade e poder de fermentação, produzem

respostas fisiológicas benéficas no organismo (DIKEMAN & FAHEY, 2006). A viscosidade

41

das fibras pode retardar o esvaziamento gástrico, promovendo melhor digestão e aumentando

a saciedade (SLAVIN & GREEN, 2007); no intestino delgado, pode dificultar a ação das

enzimas hidrolíticas, retardando a digestão e permitindo uma absorção mais lenta de

nutrientes (FAO/WHO, 1998). A absorção de nutrientes é afetada pelo tempo e área de

contato entre esses nutrientes e o epitélio, que, por sua vez, são influenciados pelo tempo de

trânsito intestinal; a diminuição desse tempo e o aumento do volume fecal permitem também

menor contato de substâncias tóxicas com a mucosa, em função da velocidade e da diluição

(DIKEMAN & FAHEY, 2006).

Em relação à propriedade de fermentação, pode-se afirmar que está muito relacionada

com a solubilidade de cada fibra. A fibra dietética atinge o intestino grosso na forma

inalterada e neste local as bactérias do cólon e numerosas enzimas com atividade metabólica

elevada, podem digerir em maior ou menor grau, dependendo da estrutura, a fibra. Esta

digestão ocorre sob condições anaeróbicas, dessa forma, tem-se a fermentação, produzindo

metabólitos que são capazes de estimular o crescimento de microrganismos, como as

Bifidobactérias e os Lactobacilos, que desempenham efeito probiótico, beneficiando assim a

saúde do cólon (ÁLVAREZ & SÁNCHEZ, 2006).

Fontes de fibras rapidamente fermentadas fornecem substratos para a produção de

ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) pela microbiota no intestino grosso, enquanto aquelas

fermentadas lentamente ou de forma incompleta melhoraram a saúde intestinal através da

promoção de defecação, reduzindo o tempo de trânsito, e aumentando o peso das fezes

(DIKEMAN & FAHEY, 2006).

4.5 AS FIBRAS ALIMENTARES EM PRODUTOS CÁRNEOS

A carne e seus derivados são fontes importantes de proteínas, vitaminas e sais

minerais. Alguns destes nutrientes possuem pouca ou quase nenhuma biodisponibilidade em

outros alimentos (ARIHARA, 2006).

No entanto, segundo Victorino (2008) a carne e produtos cárneos contêm gorduras,

ácidos graxos saturados, colesterol e sódio, cujo consumo em excesso podem prejudicar a

saúde, em determinadas condições dietéticas. Alguns consumidores associam o consumo de

carne e produtos cárneos a uma imagem negativa, devido ao alto conteúdo de gordura que

42

pode estar relacionado com o desenvolvimento de câncer de colo retal, problemas

cardiovasculares, hipertensão e obesidade (VALSTA et al, 2005).

Sob a tendência mundial de consumo de alimentos mais saudáveis, muitas indústrias

de alimentos reconheceram a necessidade de adaptar produtos tradicionais e/ou desenvolver

novos produtos (VICTORINO, 2008).

Cyrino & Barretto (2006) relatam algumas razões para utilizar fibras em produtos

cárneos: benefício à saúde, baixo valor calórico, substituição parcial da gordura, excelente

capacidade de retenção de água, odor neutro, melhora o fatiamento de produtos cárneos e

propriedades funcionais reconhecidas.

A aplicação destas fibras como potenciais substitutos de gordura em produtos cárneos,

é avaliada em diversos estudos. Victorino (2008) verificou que a adição de fibra de trigo

(Vitacel® WF200) e de fibra de aveia (Vitacel® HF 600) em produtos cárneos em até 5%

promoveu a estabilidade de emulsão e a capacidade de retenção de água. Observou também

aumento significativo da luminosidade, da intensidade de amarelo e das propriedades de

dureza e mastigabilidade das amostras.

Em outro estudo Borderías e Sánchez-Alonso (2007) avaliaram o efeito tecnológico

das fibras de trigo Vitacel®, como ingrediente em produto cárneo reestruturado de peixe, em

níveis de 3 e 6% de adição. Os autores concluíram que a adição de fibras aumentou a

capacidade de retenção de água e influenciou as propriedades de cor e textura dos produtos,

sendo que as amostras com 3% de fibra foram as mais bem aceitas pelo painel sensorial.

Galvan et al. (2011) avaliaram a aceitação sensorial de linguiça tipo toscana com

reduzido teor de gordura acrescida de pectina e inulina em 4 tratamentos (3 e 6% de pectina e

0,3 e 0,6% de inulina). Ao realizar análises físico-químicas, verificou-se que as quatro

formulações desenvolvidas atenderam quanto aos aspectos microbiológicos e físico-químicos,

apresentando teor médio de gordura de 12%, sendo 38% menor do que o teor médio das

amostras comerciais analisadas e 60% abaixo do limite estabelecido pela legislação.

Sensorialmente, as formulações mais aceitas foram as que possuíam 0,3% de pectina e 0,6%

de inulina.

Fiorentin (2014) desenvolveu empanado de frango reestruturado acrescido de fibra da

casca de aveia (níveis de 3; 4,5 e 6 %), a fim de avaliar as características tecnológicas da fibra

insolúvel, caracterizar o produto e avalia-lo sensorialmente. A autora concluiu em seu estudo

que é possível elaborar formulações de produtos reestruturados de acordo com o padrão de

43

identidade e qualidade com boa aceitação sensorial e oferecendo para os consumidores um

produto mais saudável e fonte de fibras alimentares.

As fibras vegetais são aplicáveis para adição em produtos cárneos e o seu emprego

tem sido estudado em formulações de produtos cozidos para aumento do rendimento de

cozimento e melhoria da textura. Vários tipos de fibras têm sido avaliados individualmente ou

combinados com outros ingredientes em formulações de produtos cárneos com gordura

reduzida, em produtos reestruturados e emulsionados (WEISS et al., 2010). No Quadro 2

pode-se observar alguns dos principais tipos de fibras avaliados em estudos.

Quadro 2. Tipos de fibras, suas finalidades em produtos cárneos e os benefícios à saúde

Fibra Produto cárneo Características no

produto cárneo

Benefício à saúde

Farelo de centeio Almôndega Ganho de valor

nutricional.

Redução do crescimento de

tumores em animais de

laboratório.

Aveia Linguiças e

mortadelas

Aumento dos valores de

rendimento de cozimento,

retenção de gordura e

retenção de água e maior

estabilidade

microbiológica.

Reduz o risco de doenças

coronárias, derrame cerebral.

Raiz da Chicória

(Inulina)

Linguiças

fermentadas

Melhorias na textura

(mais macia e suave),

maior elasticidade e

adesividade muito similar

às linguiças

convencionais.

Não é digerível e que

seletivamente estimula o

crescimento e a atividade de

bactérias intestinais que

estimulam a saúde

(bifidobactérias).

Fibra de ervilha Carne bovina

moída

Capacidade de reter altas

quantidades de gordura e

água

Prevenção de câncer de

cólon.

Fibra de trigo Mortadela Capacidade de ligação

com água e gordura

Prevenção da hipertensão.

Fonte: adaptado do texto de Huber (2012).

44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das discussões abordadas nesta revisão, pode-se verificar que ao consumir

produtos cárneos reformulados com acréscimo de fibras e redução de gordura, ingere-se um

maior teor de fibras ajudando na prevenção de várias enfermidades, além de conferir

benefícios à saúde e contribuir para a redução da obesidade.

Observou-se que se podem utilizar vários tipos de fibras de acordo com o tipo de

produto cárneo que se deseja produzir, como por exemplo, em produtos fermentados pode-se

acrescentar inulina a fim de se obter um produto com maior CRA e com características

prebióticas. Para produtos cárneos emulsionados tem-se utilizado muitos farelos e farinhas de

cereais, como o trigo e a soja. Estas fibras aumentam a CRA e influenciam na textura do

produto.

Dessa forma, é possível notar que a inserção de fibras em produtos cárneos é algo

muito interessante para a indústria cárnea, mas deve ser feito com muita cautela e depois de

muitas pesquisas e estudos, pois sua incorporação nos produtos levam à alterações

tecnológicas e sensoriais que precisam atender as legislações e serem aceitas pelos

consumidores.

45

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