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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA LOUISE NAKAGAWA Estudo dos efeitos na qualidade do ar e na saúde humana do funcionamento de usinas termoelétricas em regiões intensamente urbanizadas: o caso da UTE Piratininga – SP Santo André 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENERGIA

LOUISE NAKAGAWA

Estudo dos efeitos na qualidade do ar e na saúde humana do

funcionamento de usinas termoelétricas em regiões intensamente

urbanizadas: o caso da UTE Piratininga – SP

Santo André 2009

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LOUISE NAKAGAWA

Estudo dos efeitos na qualidade do ar e na saúde humana do

funcionamento de usinas termoelétricas em regiões intensamente

urbanizadas: o caso da UTE Piratininga – SP

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade Federal do ABC para a obtenção do título de Mestre em Energia. Área de concentração: Ambiente e Sociedade Orientador: Prof. Dr. Francisco de Assis Comarú Co-orientador: Prof. Dr. Federico Bernardino Morante Trigoso

Santo André

2009

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Aos meus queridos pais Jô e Mario, ao meu

irmão Gutão, à minha alma gêmea Anoel e a

todos aqueles que sofrem ou sofreram um dia

com a poluição.

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AGRADECIMENTOS Aos meus queridos orientadores, Prof. Dr. Francisco de Assis Comarú e Prof. Dr.

Federico Bernardino Morante Trigoso, não somente pela orientação, mas por toda a

paciência, apoio, compreensão e confiança. Também pelo conhecimento, por ajudar

no meu crescimento tanto como pesquisadora quanto ser humano e, pela

oportunidade de desenvolver tal pesquisa.

Aos colaboradores da UFABC, Profa. Dra. Olga Sato e Prof. Dr. Valdecir Marvulle,

pelas importantíssimas recomendações, por toda a atenção, disponibilidade e apoio

neste trabalho.

Ao Marcio Zancheta, Edson Escames, Reinaldo Santiago e Sérgio Sartori da EMAE,

por toda receptividade nas visitas à UTE Piratininga, disponibilidade das informações

e dados de geração. Além da importantíssima colaboração e apoio. Também à

Patrícia Ceresa e Marcos Hungria, da Petrobras, pelo apoio a atenção.

Ao Carlos Lacava e João Carlos Mucciacito da CETESB, pelo apoio e

disponibilidade.

À Dra. Regina Faustino, da Associação Congregação Santa Catarina, e aos

funcionários das UBS Vila Aparecida e Mar Paulista, pela atenção, disponibilidade

dos dados de saúde, colaboração e pelo belíssimo trabalho que desempenham junto

à comunidade local.

Ao Marcos Drumond e Maria Cristina Haddad, do CEINFO, pelas valiosíssimas e

fundamentais recomendações de saúde. Também pela atenção, disponibilidade dos

dados de saúde e preciosa colaboração nesta pesquisa.

À Elaine Giannotti, quem cedeu os dados de saúde do Hospital Geral de Pedreira,

por toda atenção, disponibilidade e colaboração.

Aos Profs. Drs. da UFABC, Arilson da Silva Favareto, Sinclair Mallet Guy Guerra e

Cláudio Luis de Camargo Penteado, por todo o conhecimento, apoio e pela parceria

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no desenvolvimento de outros trabalhos. Além de proporcionar o meu

amadurecimento como pesquisadora.

À UFABC, pela oportunidade de desenvolver esta pesquisa de mestrado e pelo

financiamento da bolsa.

Aos amigos das antigas, Vanessa, Viviane e Itamar, cujo apoio e encorajamento

foram imprescindíveis para o meu ingresso no mestrado.

Aos novos amigos da UFABC da Pós-Graduação em Energia, Física e

Nanociências, especialmente ao GoodFellas e à Diretoria, por toda a cumplicidade,

apoio e compreensão.

Aos meus queridos irmãos da UFABC, Ceará e Gustavo, por todo o apoio,

encorajamento, cumplicidade e colaboração nos momentos mais difíceis da

pesquisa.

Em especial à minha preciosa família, sem os quais eu não estaria onde estou, por

toda a educação, força e apoio nos piores e melhores momentos da vida. Por todos

os conselhos que me guiaram e que guiarão sempre. Por toda cumplicidade, amor e

carinho.

E finalmente, ao Anoel, minha alma gêmea encontrada nesta vida. Meu lado

generoso, racional, sábio e paciente, cujos conselhos, apoio, compreensão e

cumplicidade me trouxeram até aqui e, cujo amor não viveria sem.

Agradeço a todos, de coração.

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"So do all who live to see such times, but that is not for them to decide. All we have

to decide is what to do with the time that is given to us”.

(Gandalf em “The Lord of the Rings – The Fellowship of the Ring”)

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RESUMO

NAKAGAWA, L. Estudo dos efeitos na qualidade do ar e na saúde humana do funcionamento de usinas termoelétricas em regiões intensamente urbanizadas: o caso da UTE Piratininga – SP. 2009. 127 f. Dissertação (Mestrado) – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do ABC, Santo André, 2009. A poluição atmosférica, há tempos, tem sido um preocupante problema de saúde pública em diversos países no mundo, especialmente em grandes centros urbanos. O processo de desenvolvimento implica na industrialização e no consumo, principalmente de energia elétrica. Dessa maneira, o investimento cada vez maior na geração de eletricidade, tornou-se de interesse mundial. No Brasil, a maior parte dessa geração vem das hidrelétricas, complementadas pelas termoelétricas, que emitem consideráveis quantidades de poluentes para a atmosfera. No entanto, não se pode esquecer da emissão veicular, que nos grandes centros urbanos, tem demonstrado sérias e fortes associações aos problemas de saúde. No presente trabalho, foram estudados os efeitos que o funcionamento da UTE Piratininga, na geração de energia elétrica, exerce sobre a qualidade do ar da região e na saúde da população do entorno. Para isso foi estudada a relação entre os dados de qualidade do ar, através dos relatórios e histórico de dados da CETESB, e os dados de saúde relacionados às doenças do aparelho respiratório da população próxima, ocorridos nos períodos em que a usina gerou grande quantidade de energia e naquele no qual não houve funcionamento. Sobre os dados de qualidade do ar, foi possível conhecer o comportamento dos poluentes no período analisado. Além disso, verificar que os padrões estabelecidos pelos órgãos ambientais, são ultrapassados em grande parte do tempo na RMSP, a níveis alarmantes. Esse fato é influenciado principalmente pela crescente frota veicular. Através de cálculos estatísticos, constatou-se que os piores períodos para o aumento de problemas respiratórios ocorrem nos meses mais frios e secos. Em comparação com o funcionamento da UTE Piratininga, foram observados indícios de associação entre a paralisação na geração de energia da mesma e a diminuição do número de inalações, mostrando a influência que a usina tem sobre a saúde da população do entorno. Também foi possível verificar que, baseados nos Planos Decenais de Expansão de Energia, o investimento nesse tipo de empreendimento continuará nos próximos 10 anos, indicando a possibilidade de problemas futuros relacionados à qualidade do ar e na saúde, caso nenhuma medida de controle, monitoramento ou fiscalização seja estabelecida e implementada.

Palavras-chave: Termoelétricas, Geração de Energia, Qualidade do Ar, Saúde Pública, Urbanização, Políticas Públicas

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ABSTRACT

NAKAGAWA, L. The study of the effects of thermoelectric power plants´ operation on air quality and human health in heavily urbanized regions: the case of Piratininga´s Thermoelectric Power Plant – SP 2009. 126 f. Dissertação (Mestrado) – Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do ABC, Santo André, 2009. Air pollution, long has been a serious public health problem in several countries in the world, especially in large urban centers. The process of development involves industrialization and consumption, especially of electricity. Thus, investing in electricity generation became a worldwide interest. In Brazil, most of that comes from hydroelectric power generation, supplemented by thermoelectric power plants, which emit significant quantities of pollutants into the atmosphere. However, we can not forget the vehicular emission, which, in large urban centers, has demonstrated strong associations to serious health problems. In this work, the concern was studying the effects which the operation of Piratininga´s Thermoelectric Power Plant, in electricity generation, has on the region's air quality and health of the surrounding population. For this, it was studied the relation between air quality data, through the CETESB reports and history, and health data related to respiratory system diseases of the surrounding population, occurred during the periods which the plant has generated a great deal of energy and during periods with no activity. Concerning air quality data, it was possible to know the behavior of pollutants in the analyzed period. Also, to verify that the standards set by environmental agencies are exceeded most of the time, in the metropolitan region of São Paulo, to alarming levels. This is influenced mainly by the growing vehicular fleet. Through statistical calculations, it found that breathing problems increase during the coldest and driest months of the year. Compared with the operation of the Piratininga´s Thermoelectric Power Plant, there were evidence of association between the paralysis in the generation of energy and reduction of the number of inhalations, showing the influence that the plant has on the health of the surrounding population. It was also observed that, based on ten-year energy plans, investment in this type of enterprise will continue in the next 10 years, indicating the possibility of future problems related to air quality and health, if no measure of control, monitoring or supervision is established and implemented. Keywords: Thermoelectric Power Plant, Power Generation, Air Quality, Public Health, Urbanization, Public Policy

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Vista aérea da UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian ...................... 8

Figura 2 – UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian em 2004 .............................. 9

Figura 3 – Sistema Interligado Nacional ................................................................... 19

Figura 4 – Índice geral de classificacao de qualidade do ar ...................................... 33

Figura 5 – Esquema das instalações da UTE Piratininga na fase 1 .......................... 55

Figura 6 – UTE Piratininga ........................................................................................ 65

Figura 7 – UTE Fernando Gasparian ao fundo .......................................................... 65

Figura 8 – Gerador ativo desde 1954 ........................................................................ 65

Figura 9 – Caldeira a óleo combustivel ...................................................................... 65

Figura 10 – Vista aérea da localização das duas UBS e do Hospital Geral de

Pedreira em relação à UTE Piratininga ................................................. 99

Figura 11 – UBS Mar Paulista ................................................................................. 100

Figura 12 – UBS Vila Aparecida .............................................................................. 100

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Matriz de energia elétrica no Brasil em 2007 ............................................... 3

Gráfico 2 – Oferta interna de energia no Brasil em 2007 ............................................... 4

Gráfico 3 – Efeitos na saúde da geração de energia em TWh ....................................... 8

Gráfico 4 – Geração anual de energia elétrica da UTE Piratininga de 1998 a 2007 .... 10

Gráfico 5 – Matriz com oferta de energia elétrica no Brasil em 2007 ........................... 17

Gráfico 6 – Matriz energética mundial em 2006 ........................................................... 17

Gráfico 7 – Evolução da participação dos tipos de fonte de energia de maio de 2008

a dezembro de 2017.... .............................................................................. 24

Gráfico 8 – Participação das fontes de energia na geração termoelétrica em maio de

2008 e dezembro de 2017 ......................................................................... 24

Gráfico 9 – Distribuição do parque instalado por subsistema em maio de 2008 e

dezembro de 2017 ..................................................................................... 25

Gráfico 10 – Óbitos ocorridos no município de Sao Paulo e no Brasil de janeiro a

novembro de 2008 .................................................................................. 44

Gráfico 11 – Internacoes ocorridas no município de Sao Paulo e no Brasil de janeiro

a novembro de 2008 ............................................................................... 44

Gráfico 12 – Geracao anual de energia elétrica da UTE Piratininga e combustíveis

consumidos ............................................................................................. 66

Gráfico 13 – Geração mensal de energia elétrica da UTE Piratininga (1999 - 2000) ... 67

Gráfico 14 – Médias históricas mensais de CO na estação Congonhas de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 70

Gráfico 15 – Distribuição total de CO na estação Congonhas de 1999 a 2007............ 71

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Gráfico 16 – Número de medições de CO realizadas na estação Congonhas de

1999 a 2007 ............................................................................................ 71

Gráfico 17 – 1ª e 2ª horas máximas para CO nas estações Congonhas e Santo

Amaro ..................................................................................................... 72

Gráfico 18 – Médias históricas mensais de MP na estação Santo Amaro de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 73

Gráfico 19 – Número de medições de MP realizadas na estação Santo Amaro de

1999 a 2007 ............................................................................................ 74

Gráfico 20 – Distribuição total de MP na estação Santo Amaro de 1999 a 2007 ......... 74

Gráfico 21 – Distribuição média mensal de MP na estação Santo Amaro de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 75

Gráfico 22 – Distribuição média anual de MP na estação Santo Amaro de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 76

Gráfico 23 – Médias anuais de PI (MP) nas estações Congonhas, Santo Amaro e

Diadema.................................................................................................. 76

Gráfico 24 – Médias anuais de PTS (MP) na estação Santo Amaro ............................ 77

Gráfico 25 – Médias históricas mensais de NOx na estação Congonhas de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 78

Gráfico 26 – Número de medições de NOx realizadas na estação Congonhas de

1999 a 2007 ............................................................................................ 78

Gráfico 27 – Distribuição total de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007 .......... 79

Gráfico 28 – Distribuição média mensal de NOx na estação Congonhas de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 80

Gráfico 29 – Distribuição média anual de NOx na estação Congonhas de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 80

Gráfico 30 – Médias anuais de NO2 na estação Congonhas ....................................... 80

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Gráfico 31 – Médias históricas mensais de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007 . 82

Gráfico 32 – Distribuição total de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007 ................. 83

Gráfico 33 – Número de medições de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007 ......... 83

Gráfico 34 – Distribuição média mensal de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007 . 84

Gráfico 35 – 1ª e 2ª horas máximas para O3 nas estações Congonhas, Santo Amaro

e Diadema............................................................................................... 85

Gráfico 36 – Médias históricas mensais de SO2 na estação Congonhas de 1999 a

2007 ........................................................................................................ 86

Gráfico 37 – Distribuição total de SO2 na estação Congonhas de 1999 a 2007 .......... 86

Gráfico 38 – Número de medições de SO2 na estação Congonhas de 1999 a 2007 ... 87

Gráfico 39 – Médias anuais de SO2 na estação Congonhas ........................................ 87

Gráfico 40 – Geração mensal de energia da UTE Piratininga com uso exclusivo de

óleo combustível (1999), ambos (2001) e uso exclusivo de gás natural

(2005) ..................................................................................................... 89

Gráfico 41 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação

Congonhas em agosto de 2007 .............................................................. 91

Gráfico 42 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação

Congonhas em julho de 2001 ................................................................. 91

Gráfico 43 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação

Congonhas em agosto de 1999 .............................................................. 92

Gráfico 44 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação

Congonhas em fevereiro de 2005 ........................................................... 92

Gráfico 45 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de MP na estação

Congonhas, Diadema e Santo Amaro em julho de 2001 ....................... 93

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Gráfico 46 – Médias diárias com ultrapassagens do padrão de MP na estação Santo

Amaro em agosto de 1999 ...................................................................... 94

Gráfico 47 – Médias diárias de O3 na estação Diadema em outubro de 2001 ............. 95

Gráfico 48 – Médias diárias de O3 na estação Santo Amaro em dezembro de 2007 ... 95

Gráfico 49 – Número de óbitos por doenças do aparelho respiratório nos distritos de

Pedreira e Cidade Ademar de 1998 a 2007 ............................................ 97

Gráfico 50 – Casos de IRA em crianças menores de 2 anos nas UBS Vila Aparecida

e Mar Paulista de 2002 a 2007 ............................................................. 102

Gráfico 51 – Geração de energia da UTE Piratininga (MWh) e os casos de IRA em

crianças menores de 2 anos nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista

de 2002 a 2007 ..................................................................................... 102

Gráfico 52 – Casos de hospitalizações por pneumonia em crianças menores de 5

anos nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista de 2002 a 2007 ............. 103

Gráfico 53 – Número de inalações do Hospital Geral de Pedreira de 2000 a 2007 ... 104

Gráfico 54 – Casos de internações por doenças do aparelho respiratório no Hospital

Geral de Pedreira de 2000 a 2007 ........................................................ 105

Gráfico 55 – Número de inalações nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista de 2002

a 2007 ................................................................................................... 106

Gráfico 56 – Correlação gráfica entre os dados de inalações das UBS Vila

Aparecida e Mar Paulista e da geração de energia elétrica da UTE

Piratininga de janeiro de 2003 a dezembro de 2006 ............................. 106

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados de oferta, geração, importação, consumo e capacidade instalada

de energia elétrica do Brasil (2006 - 2007) ................................................ 16

Tabela 2 – Matriz de energia elétrica do Brasil em fevereiro de 2009 .......................... 20

Tabela 3 – Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (MW).................. 26

Tabela 4 – Padrões internacionais de qualidade do ar................................................. 31

Tabela 5 – Padrões de qualidade do ar (Resolução CONAMA nº 003/90) .................. 31

Tabela 6 – Critérios para episódios agudos de poluição do ar ..................................... 32

Tabela 7 – Emissões atmosféricas de termoelétricas (1.000 MW), por combustível ... 38

Tabela 8 – Emissões atmosféricas de diferentes fontes de energia ............................ 38

Tabela 9 – Licenciamento ambiental de usinas termoelétricas .................................... 40

Tabela 10 – Simulacoes com as taxas de emissões dos poluentes atmosféricos

provindos do funcionamento da UTE Piratininga nas fases 1 e 2 ........... 57

Tabela 11 – Simulacoes através de modelos matematicos com as concentrações

máximas dos poluentes ao nível do solo no período de 1995 a 1999

das fases 1 e 2 da UTE Piratininga ......................................................... 59

Tabela 12 – Simulacoes através de modelos matematicos com as concentrações

máximas dos poluentes ao nível do solo na estação Congonhas no

período de 1995 a 1999 nas fases 1 e 2 da UTE Piratininga .................. 59

Tabela 13 – Óbitos por doenças respiratórias no município de São Paulo e Distritos

de Pedreira e Cidade Ademar (por 10 mil habitantes, 1998) .................. 62

Tabela 14 – Aumento nas inalações e óbitos da população da área de influência por

doenças do aparelho respiratório devido os aumentos na concentração

de poluentes atmosféricos de 1998 a 2000 ............................................... 63

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Tabela 15 – Dados anuais de geração de energia elétrica da UTE Piratininga

Licenciamento ambiental de usinas termoelétricas ................................. 66

Tabela 16 – Geração mensal de energia elétrica da UTE Piratininga (MWh) .............. 67

Tabela 17 – Dados de medição do Laboratório Químico da EMAE na face leste da

chaminé .................................................................................................. 69

Tabela 18 – Comparação entre médias das inalações, considerando o número de

inalações dentro da população total de Pedreira nas 2 UBS ocorridas

entre 2003 e 2007, desvio padrão e probabilidade de erro. ..................... 108

Tabela 19 – Comparação entre médias de geração de energia elétrica (MWh) da

UTE Piratininga entre 2001 e 2007, desvio padrão e probabilidade de

erro ........................................................................................................ 109

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LISTA DE SIGLAS

AIH Autorizações de Internação Hospitalar ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica BNH Banco Nacional de Habitação CEINFO Coordenação de Epidemiologia e Informação CETESB Companhia Ambiental do Estado de São Paulo COMGÀS Companhia de Gás de São Paulo CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente CPRN Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e de Proteção e

Recursos Naturais DAIA Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental DATASUS Banco de Dados do Sistema Único de Saúde DNA Ácido Desoxirribonucléico EIA Estudo de Impacto Ambiental EMAE Empresa Metropolitana de Águas e Energia EPA Environmental Protection Agency FSP Faculdade de Saúde Pública GASBOL Gasoduto da Bolívia GCE Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica GE General Electric Comparation GEE Gases de Efeito Estufa GT Grupo de Trabalho IEA Internacional Energy Agency IEE Instituto de Eletrotécnica e Energia IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change

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IPEN Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares IRA Infecção Respiratória Aguda LI Licença de Instalação LO Licença de Operação LP Licença Prévia MMA Ministério do Meio Ambiente MME Ministério de Minas e Energia OMS Organização Mundial da Saúde PDE Plano Decenal de Expansão de Energia POLI Escola Politécnica PPT Programa Prioritário de Termelétricas PROAIM Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade

no Município de São Paulo PROCONVE Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos

Automotores PROMOT Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e

Veículos Similares PRONAR Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar RAP Relatório Ambiental Preliminar RMSP Região Metropolitana de São Paulo SEADE Sistema Estadual de Análise de Dados SIA Sistema de Informações Ambulatoriais SIM Sistema de Informação sobre Mortalidade SIN Sistema Interligado Nacional SMA Secretaria do Meio Ambiente SMS Segurança, Meio Ambiente e Saúde SUS Sistema Único de Saúde TCACA Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta Ambiental

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UBS Unidade Básica de Saúde USEPA United States Environmental Protection Agency USP Universidade de São Paulo UTE Usina Termoelétrica VIGIAR Vigilância em Saúde Ambiental

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SUMÁRIO

1. DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................... 1

1.1. Introdução ............................................................................................................. 1

1.2. Motivação e justificativa. ........................................................................................ 3

1.3. Objetivos ............................................................................................................. 11

1.4. Metodologia ......................................................................................................... 11

1.4.1. Tipo de estudo .................................................................................................. 11

1.4.2. Pesquisa bilbliográfica ...................................................................................... 11

1.4.3. Período e local de estudo ................................................................................. 12

1.4.4. Obtenção dos dados da UTE Piratininga ......................................................... 12

1.4.5. Obtenção dos dados da UTE Fernando Gasparian ......................................... 13

1.4.6. Obtenção dos dados de qualidade do ar da CETESB...................................... 13

1.4.7. Obtenção dos dados de morbi-mortalidade da Coordenação de Epidemiologia e Informação (CEINFO), Hospital Geral de Pedreira e UBS .... 14

1.4.8. Análise e cruzamento dos dados...................................................................... 15

2. PANORAMA DO SETOR ELÉTRICO NACIONAL ................................................ 16

2.1. Introdução ........................................................................................................... 16

2.2. Sistema Interligado Nacional (SIN)...................................................................... 18

2.2.1. A importância da complementação termoelétrica. ............................................ 20

2.3. O PPT e a crise no setor elétrico em 2001 .......................................................... 22

2.4. Cenário futuro: o Plano Decenal de Expansão de Energia ................................. 23

3. POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ................................................................................. 27

3.1. Introdução ........................................................................................................... 27

3.2. Legislação ambiental. .......................................................................................... 28

3.2.1. Padrões e critérios de qualidade do ar. ............................................................ 29

3.2.2. Monitoramento e controle dos poluentes atmosféricos. ................................... 33

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3.3. Aspectos sazonais da poluição do ar .................................................................. 35

3.4. Emissão de poluentes atmosféricos de usinas termoelétricas e seus impactos no meio ambiente e na saúde ............................................................................ 35

3.5. Licenciamento ambiental de usinas termoelétricas ............................................. 39

3.6. Aspectos epidemiológicos em relação à poluição atmosférica: a importância das doenças respiratórias .................................................................................. 40

3.7. Efeitos dos poluentes atmosféricos na saúde e no meio ambiente ..................... 45

4. CONTEXTO DA UTE PIRATININGA ..................................................................... 48

4.1. Região sul do município de São Paulo: problemas ambientais e urbanos .......... 48

4.2. Estudo de caso: UTE Piratininga. ........................................................................ 51

4.2.1. Histórico e importância do empreendimento .................................................... 51

4.2.2. Descrição da UTE Piratininga. ......................................................................... 54

4.3. EIA da UTE Piratininga ........................................................................................ 57

4.3.1. Avaliação do EIA sobre os impactos na qualidade do ar.................................. 58

4.3.2. Medidas mitigadoras propostas pelo EIA ......................................................... 60

4.3.3. Avaliação do EIA sobre os impactos na saúde da população .......................... 62

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 65

5.1. Introdução ........................................................................................................... 65

5.2. Geração de energia elétrica da UTE Piratininga. ................................................ 66

5.3. Análise dos dados de qualidade do ar e a relação com a geração de energia elétrica da UTE Piratininga ................................................................................. 68

5.3.1. Medição de CO................................................................................................. 70

5.3.2. Medição de MP................................................................................................. 73

5.3.3. Medição de NOx ............................................................................................... 77

5.3.4. Medição de O3 .................................................................................................. 82

5.3.5. Medição de SO2 ............................................................................................... 85

5.3.6. Análise dos dados de geração de energia elétrica da UTE Piratininga e a qualidade do ar separados por períodos ......................................................... 88

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5.4. Relação da geração de energia elétrica da UTE Piratininga e os problemas de saúde ................................................................................................................. 97

5.5. Discussões .........................................................................................................109

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 117

6.1. Conclusões .........................................................................................................117

6.2. Contribuições e recomendações. .......................................................................119

6.3. Possíveis temas de pesquisa para trabalhos futuros .........................................121

REFERÊNCIAS .........................................................................................................122

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CAPÍTULO 1 – DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

1.1. Introdução

Os fluxos de matéria e energia sempre estiveram presentes nas atividades

humanas. Entretanto, após a Revolução Industrial, particularmente durante o

século XX, com o crescimento populacional e urbanização, a corrida pelo

crescimento econômico e desenvolvimento aumentou. Isso forçou cada vez

mais a extração de recursos naturais, elevando os níveis de poluição e

acarretando impactos diversos, tornando-se um forte motivo de preocupação,

principalmente com relação à saúde humana.

Com a introdução da máquina a vapor durante a Revolução Industrial e mais

tarde a eletricidade, ocorreu maior necessidade de gerar cada vez mais energia

para sustentar os processos industriais e permitir o alcance do

desenvolvimento. Dessa forma, é possível afirmar que o setor energético

produz impactos socioambientais em toda a sua cadeia, desde a captura de

recursos naturais para os processos de produção, até os usos finais por

diversos tipos de consumidores.

Tanto a geração como o uso de energia vem ganhando cada vez mais

importância no cenário mundial. Esse tema tornou-se de interesse global, de

modo que todos arcam (não da mesma forma) com o ônus dos subprodutos do

desenvolvimento, entre os quais está a poluição. Esta que passou a ter enorme

destaque nas últimas décadas; protagonista de sérios e preocupantes

problemas de saúde pública em todo o mundo.

Um dos elementos que mais tem sofrido a ação antropogênica é o ar. Desde a

Roma antiga já eram feitos os primeiros registros de reclamações referentes à

contaminação atmosférica (FERLING, 2008). No ano 60 A.C. o filósofo Sêneca

relatou que sentia alterações em sua disposição física quando saía de Roma,

cujo mau cheiro dos vapores pestilentos e fuligem eram emitidos pelas

chaminés (FERNÍCOLA, 2002). Muitos anos se passaram desde essa época

até nossos dias. No entanto, essa afirmação continua como um indício do

efeito da poluição sobre o meio ambiente e saúde humana.

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Desde a primeira metade do século XX a poluição do ar tem se tornado um

grave problema nos grandes centros urbanos, motivado pela presença cada

vez maior dos veículos automotores, somado à atividade das indústrias como

fontes poluidoras. Desse modo, episódios de poluição excessiva causaram o

aumento no número de mortes em algumas cidades da Europa e dos Estados

Unidos.

Um exemplo clássico e com maior gravidade ocorreu em Londres durante o

inverno de 1952, quando uma inversão térmica impediu a dispersão de

poluentes gerados pelas indústrias e por aquecedores domiciliares que

utilizavam carvão como combustível. Uma nuvem composta principalmente por

material particulado e enxofre permaneceu estacionada sobre a cidade por três

dias, elevando o número de óbitos para 4 mil em relação à média de óbitos em

períodos semelhantes (BRAGA et al, 2002; VIGIAR, 2006; FREITAS, 2000).

Além desse grave acontecimento, também são conhecidos os episódios do

Vale do Meuse, na Bélgica em 1930 e Donora, nos EUA em 1948, que vieram

chamar a atenção para a ação nociva da poluição atmosférica sobre o aparelho

respiratório. No Vale do Meuse, as emissões provenientes de indústrias

siderúrgicas e fundições, associadas à péssima dispersão atmosférica,

resultaram no aumento da concentração de enxofre e material particulado na

atmosfera, tendo como conseqüência, a morte de pessoas, principalmente

idosos. Já Donora sediava indústrias de zinco, cádmio, chumbo e ácido

sulfúrico. A região vizinha ainda contava com usinas de aço e coque, uma

fábrica de vidro, termoelétricas e um centro ferroviário. A poluição dessas

indústrias pesadas somada à inversão térmica resultou, ao final de cinco dias,

em mortes e milhares de doentes (HOGAN, 2007). Esses acidentes,

relacionados ao intenso aumento da poluição atmosférica resultou em um

número de mortes superior ao esperado (BRAGA et al, 2002; FREITAS, 2000).

Hoje, sabemos que a maioria dos países passa por grandes problemas de

poluição do ar. A China é um deles, onde existe uma nuvem escura de poluição

que cobre, praticamente de modo permanente, parte do país. E ainda, seus

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vizinhos, atingindo dimensões inigualáveis, chegando até a América do Norte

(LUCOTTE, 2007).

A partir dos três casos clássicos citados, ocorridos no século passado, foram

realizados diversos estudos epidemiológicos e experimentais que identificaram

os principais poluentes e suas repercussões sobre a saúde. Baseados em

achados decorrentes, vários países estabeleceram assim, padrões de

qualidade do ar que limitassem os valores máximos tolerados a partir dos

quais, a população exposta sofreria danos na saúde. Entretanto, vale ressaltar

que o padrão de qualidade do ar adotado hoje, não contempla todos os

poluentes atmosféricos e sim, os principais. Além disso, alguns estudos

chamam a atenção para os níveis de segurança de concentração de poluentes

para a saúde humana, questionando esses padrões.

1.2. Motivação e justificativa

No Brasil, a maior parte do seu parque gerador de energia elétrica está

constituído por usinas hidrelétricas, como mostra o gráfico 1, de modo que

mais de 77% da geração vem da energia hidráulica.

Gráfico 1 - Matriz de energia elétrica no Brasil em 2007.

Fonte: BEN (2008)

Nesse mesmo contexto, é importante destacar que diferente da matriz de

energia elétrica brasileira, a oferta interna de energia tem como principal fonte

o petróleo e seus derivados com mais de 37%, como mostra o gráfico 2.

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Gráfico 2 - Oferta interna de energia no Brasil em 2007.

Fonte: BEN (2008)

Apesar do processo de geração de energia nas hidrelétricas não implicar na

poluição do ar, a inundação das áreas de mata e floresta acarreta no

apodrecimento da madeira, emitindo os Gases de Efeito Estufa (GEE) para a

atmosfera (ROSA et al, 2004). Sem falar no deslocamento forçado da

população ribeirinha para outras áreas.

Mesmo o Brasil sendo privilegiado em relação aos recursos hídricos, alguns

autores afirmam que a curto e médio prazo, esses chegarão ao limite máximo

de exploração, podendo a geração térmica ganhar maior participação na matriz

energética brasileira. A maior capacidade de geração hídrica está na região

Norte do Brasil. Entretanto, sua geografia é desfavorável por ser planície.

Sendo assim, o reservatório de uma usina hidrelétrica teria extensão muito

grande, causando impactos no ecossistema local e a desocupação da área

pela população que vive próxima desse tipo de empreendimento.

Dessa forma, a expansão futura do parque gerador brasileiro, e paulista em

especial (devido à quantidade de indústrias e por ser o maior consumidor de

energia elétrica), poderão ter forte componente termoelétrica, o que poderá

imputar pesados ônus sócio-ambientais às populações residentes próximas a

esses empreendimentos (CARRA, 2003).

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Dentro desse contexto, algumas termoelétricas, como a Usina Termoelétrica de

Piratininga (UTE Piratininga), localizada no Distrito de Pedreira, Zona Sul do

município de São Paulo, foram ampliadas e repotenciadas. E outras, como a

Usina Termoelétrica Fernando Gasparian (UTE Fernando Gasparian),

construídas, no intuito de consumir o gás natural vindo da Bolívia. Além disso,

um dos principais objetivos propostos com esses investimentos era o de

complementar a geração hidrelétrica, que há tempos mostra-se como uma

fonte não segura de energia, pois depende integralmente da sazonalidade.

Essa complementação também teria o propósito de evitar possíveis blackouts e

para atender a demanda de energia elétrica, principalmente por estarem

localizadas próximas aos grandes centros urbanos, onde o consumo é maior.

Nesse sentido, as termoelétricas no geral passaram a desempenhar um papel

importante na geração de energia elétrica. Contudo, para que tal fato ocorra,

essas usinas têm de queimar grandes quantidades de combustível fóssil, como

o óleo combustível ou o gás natural para gerar energia. E é na queima desses

combustíveis que ocorrem as emissões de poluentes para a atmosfera, que em

determinadas concentrações, podem causar graves problemas de saúde na

população.

O aumento das emissões de poluentes atmosféricos provindos do

funcionamento de termoelétricas passou a ser objeto de maior preocupação

com a crise no setor elétrico em 2001, pois com a escassez de água nas

hidrelétricas houve o risco de algumas regiões, como a Região Sudeste, ficar

sem energia elétrica. Isso resultaria no aumento da geração das usinas

termoelétricas, consequentemente, podendo aumentar a emissão de poluentes

lançados na atmosfera.

Antes disso, no ano de 2000, o Ministério de Minas e Energia (MME) criou o

Programa Prioritário de Termelétricas (PPT), no intuito de construir novas

usinas termoelétricas a gás e repotenciar aquelas já existentes, para

compensar a geração insuficiente das hidrelétricas, aumentando a geração de

energia elétrica. Essa medida foi incentivada pela expansão do consumo do

gás natural boliviano. Desse modo, com o início de operação do Gasoduto da

Bolívia (GASBOL), foram amplamente divulgadas na imprensa as perspectivas

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do aumento da participação do gás natural na matriz energética nacional de

2,5% para 12% até 2010 (LUCON, 2003).

A penetração do gás boliviano deveria ocorrer principalmente no Estado de

São Paulo, onde o nível de industrialização justificaria seu avanço e, com o

incentivo do governo, haveria a substituição do óleo combustível para gás

natural; uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente e de custo mais

baixo.

Em usinas termoelétricas que utilizam gás natural, os principais poluentes

atmosféricos são: monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx),

hidrocarbonetos (HC), óxidos de enxofre (SOx), dióxido de carbono (CO2) e

material particulado (MP). É a presença de algumas dessas substâncias que

forma os oxidantes fotoquímicos e a chuva ácida, provocando alterações

ambientais e mudanças climáticas globais.

O problema do aquecimento global e das emissões de GEE, entre eles o CO2,

dióxido de enxofre (SO2) e os NOx, que são lançados na atmosfera pelas

termoelétricas a gás natural como subproduto do seu funcionamento, por si só

já justificariam pesquisas científicas sobre a escolha dessa fonte de geração de

energia.

A emissão de gases poluentes de termoelétricas depende de vários fatores,

como o combustível utilizado, a configuração, localização e porte da planta, o

regime de operação e o fator de capacidade. Em usinas termoelétricas

modernas que operam com turbinas a gás em ciclo combinado utilizando gás

natural, a atenção é voltada para a emissão de NOx, que na presença de luz,

reage com os HC formando ozônio (O3), altamente danoso à saúde (NEGRI,

2002).

No município de São Paulo, entre 1992 e 1994, as hospitalizações diárias

infantis por sintomas respiratórios e por pneumonias foram acrescidas em 5 e

8% respectivamente, para o aumento dos níveis de O3 (GOUVEIA &

FLETCHER, 2000).

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A regulamentação da emissão de poluentes gerados por fontes estacionárias

ocorre em grande parte nas fases do licenciamento ambiental dessas. No

entanto, ainda existem lacunas relativas ao monitoramento ambiental do

entorno dos complexos industriais do país. Falta o fornecimento de séries

históricas e informações, tais como: a composição dos poluentes e a

quantificação das emissões, dificultando enormemente o monitoramento e a

avaliação dos impactos causados pelas fontes estacionárias (PUC, 2002 apud

PIRES, 2005).

Devido às discussões sobre a questão energética mundial e preocupação com

a peculiaridade da matriz energética nacional, complementada pela geração

termoelétrica, questiona-se a inserção desses empreendimentos especialmente

em regiões intensamente urbanizadas.

Atualmente no Estado de São Paulo, a emissão por veículos automotores

corresponde a 90% do total de poluentes lançados na atmosfera, sendo o

restante proveniente das fontes estacionárias (CETESB, 2007). Portanto, a

emissão veicular contribui, em sua maior parte, com a poluição do ar,

agravando ainda mais o problema ambiental e de saúde pública.

Nos processos térmicos de geração de energia, com exceção da nuclear,

podemos observar que existe a emissão de poluentes para a atmosfera e,

consequentemente a ocorrência de doenças e mortes relacionadas às essas

emissões. Com o uso do gás natural em usinas termoelétricas, esses valores

diminuem se comparados à queima de óleo combustível. No entanto, o

lançamento de poluentes atmosféricos prossegue, interferindo na qualidade do

ar e na saúde da população.

O gráfico 3 mostra a relação entre o número de mortes (A) e doenças (B)

resultante da poluição atmosférica, segundo a Organização Mundial de Saúde

(OMS) por TWh para cada fonte de geração de energia e a emissão de CO2

equivalente em gramas por KWh para cada fonte de geração de energia, entre

os anos de 1990 e 2000.

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Gráfico 3 - Efeitos na saúde da geração de energia em TWh.

Fonte: IAEA (2001) apud MARKANDYA & WILKINSON (2007)

Desse modo, a UTE Piratininga foi escolhida para o estudo de caso nesta

pesquisa por ser uma termoelétrica inserida na Região Metropolitana de São

Paulo (RMSP), região intensamente urbanizada. Está localizada na Zona Sul

do município de São Paulo, junto ao canal Pinheiros e à barragem de Pedreira,

próxima à Represa Billings, na Avenida Nossa Senhora do Sabará, nº 5.312,

como mostra a figura 1.

Figura 1 - Vista aérea da UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian.

Fonte: www.maps.google.com.br (adaptado)

Com o crescimento da industrialização na região de São Paulo, aumentou o

consumo de energia elétrica que evidenciou a necessidade de ampliação do

parque energético. Em decorrência do período hidrologicamente desfavorável,

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ocorrido no início da década de 1950, houve o racionamento de energia

elétrica, quando notou-se a necessidade de adotar a termoeletricidade como

parte do sistema gerador. Assim, foi construída a UTE Piratininga, que entrou

em operação em 1954, com seus dois primeiros geradores e potência inicial de

200 MW. Na década seguinte, essa potência foi ampliada com mais dois

conjuntos de turbinas de 136 MW cada, para 472 MW.

Desde 2000, a usina vem utilizando o gás natural como combustível,

aproveitando suas vantagens econômicas e ambientais. Com a criação do

PPT, através da Resolução nº 142/00 da Agência Nacional de Energia Elétrica

(ANEEL), a Petrobrás foi autorizada a implantar a central termoelétrica

denominada primeiramente de Usina Nova Piratininga, posteriormente como

UTE Fernando Gasparian. Em janeiro de 2001 foi instituído o consórcio entre a

Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE) e Petrobrás para que

ambas executassem a implantação de 4 turbinas a gás natural com potência

instalada de 372 MW. Após a implantação do ciclo combinado nas unidades 3

e 4, hoje, a potência total instalada do Complexo Termoelétrico Piratininga é de

692 MW (EIA, 2002). A figura 2 mostra as instalações da usina em 2004, com a

construção das unidades da UTE Fernando Gasparian à direita.

Figura 2 - UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian em 2004.

Fonte: Acervo da EMAE

Ainda em 2001, a UTE Piratininga teve um papel importante durante a crise no

setor elétrico, quando operou em situação emergencial, utilizando óleo

combustível e gás natural para a geração de energia elétrica. Isso pode ter

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ocasionado o aumento da emissão de poluentes para a atmosfera e afetado a

saúde e bem-estar da população local. O gráfico 4 mostra o aumento da

geração da termoelétrica durante o período citado acima.

Geração anual de energia elétrica da UTE Piratininga (MWh)

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 4 - Geração anual de energia elétrica da UTE Piratininga de 1998 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

Considerando todos os elementos apontados até aqui, este trabalho visa

investigar em que medida o funcionamento da UTE Piratininga pode interferir

na qualidade do ar e na saúde da população do entorno.

É provável que alguma interferência na qualidade do ar e na saúde da

população ocorra, considerando-se o grau de toxicidade para o ser humano

dos poluentes emitidos por usinas termoelétricas. Diante disso, existe a

necessidade de investigar o potencial poluidor desses empreendimentos,

principalmente em regiões intensamente urbanizadas.

Particularmente, no tocante ao licenciamento ambiental, nota-se que há um

papel central dos órgãos e agências governamentais na aprovação,

monitoramento e fiscalização de termoelétricas. Políticas públicas que visem

garantir a saúde e o bem-estar da população do entorno desses

empreendimentos são consideradas aqui, um pressuposto fundamental.

Além das conseqüências locais, após os relatórios sobre mudanças climáticas

publicadas pelo Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) em 2007,

ficou mais evidente a necessidade de restringir ao máximo as emissões

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provenientes do uso de combustíveis fósseis. Além disso, desenvolver e

estimular o uso de fontes renováveis de energia como a solar e a eólica, por

exemplo.

1.3. Objetivos

Este trabalho tem como objetivo geral analisar a relação entre o funcionamento

da UTE Piratininga, a qualidade do ar e a saúde da população do entorno. Os

objetivos específicos estabelecidos para a realização desta pesquisa são:

Levantar e analisar os períodos nos quais a UTE Piratininga funcionou de

1998 até 2007;

Levantar e analisar os dados de geração de energia elétrica e quantidades

de óleo combustível e gás natural consumidos;

Identificar os poluentes atmosféricos emitidos pela usina no período

analisado;

Levantar e correlacionar os dados de qualidade do ar com a geração de

energia elétrica da UTE Piratininga dos últimos anos;

Levantar e correlacionar os dados de saúde relacionados às doenças

respiratórias da população do entorno da usina, registrados durante o

período de análise e os dados de geração de energia elétrica da UTE

Piratininga.

1.4. Metodologia

1.4.1. Tipo de estudo

Este é um estudo de série temporal, caracterizado por analisar grupos de

indivíduos e dados de instituições em certa região geográfica.

1.4.2. Pesquisa bibliográfica

Para esta pesquisa, foram utilizados livros, artigos científicos, dissertações e

teses, relatórios técnicos, legislações e sites que abordam temas como

geração de energia elétrica provinda de termoelétricas, poluição atmosférica,

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impactos ambientais e problemas de saúde relacionados à qualidade do ar e

legislação ambiental. A pesquisa bibliográfica foi realizada durante

praticamente todo o período de elaboração deste trabalho, iniciada no segundo

semestre de 2007, sendo finalizada em meados do mês de junho de 2009.

Como critério de seleção de material bibliográfico foram pesquisados bancos

de dados de periódicos da Elsevier, Cadernos, Revistas e Jornais de Saúde

Pública e Energia com as palavras-chave: termoelétrica, saúde pública,

qualidade do ar, impactos, doenças respiratórias, RMSP, poluentes

atmosféricos. Também foi pesquisado o banco de teses e dissertações de

instituições de pesquisa como a Faculdade de Saúde Pública (FSP), Instituto

de Eletrotécnica e Energia (IEE), Instituto de Pesquisas Energéticas e

Nucleares (IPEN) e Escola Politécnica (POLI) da Universidade de São Paulo

(USP). Além de outras instituições do governo como a ANEEL, do Conselho

Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), da Companhia Ambiental do Estado

de São Paulo (CETESB), do Programa de Aprimoramento das Informações de

Mortalidade no Município de São Paulo (PROAIM), entre outras.

1.4.3. Período e local de estudo

O estudo foi realizado utilizando dados referentes a janeiro de 1999 até

dezembro de 2007. Para fins de limitação do local estudado, foi escolhido o

Distrito de Pedreira, Zona Sul do município de São Paulo, pertencente à

Subprefeitura de Cidade Ademar. A área total administrada pela Subprefeitura

é de 30,7 km², com população total de 359.296 habitantes, divididos

aproximadamente em: Pedreira com 120 mil habitantes e Cidade Ademar com

200 mil habitantes (PMSP, 2009).

1.4.4. Obtenção dos dados da UTE Piratininga

Este estudo parte da coleta dos dados de geração de energia elétrica das

quatro unidades da UTE Piratininga, do consumo de óleo combustível e de gás

natural para essa geração. Da mesma forma, do conhecimento do

funcionamento, estrutura e operação da usina. Além da averiguação dos

poluentes atmosféricos emitidos pelo empreendimento, também é importante

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avaliar as informações contidas no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de

Modernização e Ampliação da UTE Piratininga. Também foram realizados

alguns registros fotográficos.

1.4.5. Obtenção dos dados da UTE Fernando Gasparian

Os dados de geração de energia elétrica não puderam ser fornecidos para esta

pesquisa conforme estratégia adotada pela empresa Petrobrás. De qualquer

forma, segundo o Departamento de Segurança, Meio ambiente e Saúde (SMS)

da empresa, não houve geração significativa de energia elétrica no período

analisado. Apesar de ter iniciado suas atividades em 2005, a usina gerou para

fins comerciais somente em 2007, e mesmo assim, pouca quantidade de

energia elétrica. Durante o período anterior, passava por testes e outros ajustes

recomendados pelas empresas envolvidas no processo de instalação.

1.4.6. Obtenção dos dados de qualidade do ar da CETESB

Para este trabalho de pesquisa foram utilizadas as medições de poluentes

atmosféricos presentes nos relatórios anuais e as medições diárias, realizadas

hora a hora pela rede de estações telemétricas da CETESB.

Os poluentes analisados neste estudo foram: material particulado (MP), ozônio

(O3), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de carbono (CO) e óxidos de

nitrogênio (NOx). Esses poluentes foram escolhidos por estarem disponíveis

tanto no histórico de dados quanto nos Relatórios Anuais de Qualidade do Ar

da CETESB.

Cabe salientar que diversos estudos indicam que o aumento na morbidade está

relacionado ao aumento do nível desses poluentes na atmosfera. Portanto,

esses poluentes são medidos obedecendo a Resolução CONAMA nº 003/90,

cujos critérios incluem o tempo de amostragem, os padrões primários e

secundários, o método de medição e os níveis de poluição do ar.

Como foi dito anteriormente, a concentração dos poluentes atmosféricos é

calculada diariamente a cada hora pela rede de telemetria da CETESB. No

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entanto, em muitos dias não se obteve esse número de medições por invalidez

dos dados. Para se obter a média diária de cada estação medidora, foi

calculada a média das horas válidas no dia.

Por não haver uma rede medidora da CETESB no local do empreendimento,

foram considerados, neste trabalho, os dados de qualidade do ar das três

estações mais próximas: Diadema, à aproximadamente 7 km de distância da

usina, Santo Amaro, à aproximadamente 8 km de distância da usina e

Congonhas, aproximadamente 12 km de distância da usina.

1.4.7. Obtenção dos dados de morbi-mortalidade da Coordenação de Epidemiologia e Informação (CEINFO), Hospital Geral de Pedreira e UBS

Segundo Freitas (2000), a maior parte dos estudos de morbidade e poluição do

ar são efetuados com dados de internações ou visitas de emergência às redes

de saúde. Neste trabalho, procurou-se estudar as eventuais relações entre o

funcionamento da UTE Piratininga com os casos de doenças do aparelho

respiratório da população do entorno. Essa limitação foi determinada pelo fato

dessas doenças terem grande correlação com a baixa qualidade do ar, que nos

grandes centros urbanos, é comum e, por afetar praticamente grupos de todas

as faixas etárias.

Dentre os dados de saúde coletados e analisados estão o total de Autorizações

de Internação Hospitalar (AIH) por doenças respiratórias, inalações pelo

Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA), os casos de Infecções

Respiratórias Agudas (IRA) e pneumonia nas duas Unidades Básicas de Saúde

(UBS) mais próximas da usina e no Hospital Geral de Pedreira, por também

estar localizado próximo do empreendimento estudado e por atender

principalmente a população local. Além disso, foi utilizado o número de

internações por doenças respiratórias. Conforme a escolha estabelecida neste

trabalho, para manipular os dados de saúde, não foram separadas as faixas

etárias dos atendimentos do Hospital, e sim, somente os casos de IRA e

pneumonia das UBS, sendo consideradas crianças menores de 2 anos para

IRA e menores de 5 anos para pneumonia.

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Diversos poluentes atmosféricos estão associados ao aumento no número de

mortes em outros estudos realizados. Nesses, são analisados os óbitos totais

ou por causas específicas, como as doenças do aparelho respiratório, causa

abordada neste trabalho. Portanto, parte dos dados de morbidade e

mortalidade foram cedidos pelo CEINFO, da Secretaria Municipal de Saúde de

São Paulo, e outra parte pelo Hospital Geral de Pedreira. Para fins

comparativos e estatísticos, alguns dados foram coletados através dos Dados

do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

1.4.8. Análise e cruzamento dos dados

Após coleta dos dados foram realizadas análises dos mesmos, buscando

estudar as possíveis relações entre o funcionamento da UTE Piratininga, a

emissão de poluentes interferentes na qualidade do ar e os casos de doenças

do aparelho respiratório da população do entorno. Para isso foram realizados

cálculos estatísticos utilizando a ferramenta MATLAB, no intuito de analisar os

dados de qualidade do ar do período estudado, transformando-os em gráficos

para melhor interpretação dos resultados. Também foram realizados outros

cálculos estatísticos utilizando as ferramentas SPSS e MINITAB, com o

objetivo de corroborar e tentar quantificar a relação entre as variáveis

estudadas.

Foram estudados os períodos nos quais houve o funcionamento da usina

somente a óleo combustível, somente a gás natural, com os dois combustíveis

e com o seu não funcionamento. Também foram escolhidos os meses com

maior geração de energia e com menor geração de energia, buscando

considerar a variável sazonalidade: verão e inverno. Desse modo, os dados de

qualidade do ar e de morbi-mortalidade foram comparados aos períodos acima

citados, buscando verificar uma possível relação entre essas variáveis.

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CAPÍTULO 2 – PANORAMA DO SETOR ELÉTRICO NACIONAL

2.1. Introdução

A geração de energia elétrica no Brasil caracteriza-se de forma diferente do

resto do mundo em relação à dependência de combustíveis fósseis. Estando

em uma situação privilegiada, a geração de energia elétrica no país baseia-se,

sobretudo, nos potenciais hidráulicos existentes.

Em 2007 a geração de energia elétrica no Brasil atingiu 444,6 TWh, 6%

superior ao ano anterior. A geração hidráulica ainda é a principal, apresentando

crescimento de 7% se comparada com 2006. A geração das instituições

públicas a partir de termoelétricas apresentou um decréscimo de 8,8%, com

redução expressiva na geração a partir da energia nuclear (-10,2%) e do gás

natural (-18,6%) (BEN, 2008). A tabela 1 mostra a oferta interna, geração,

importação líquida, consumo e capacidade instalada de energia elétrica do

Brasil de 2006 e 2007.

Tabela 1 - Dados de oferta, geração, importação, consumo e capacidade instalada de energia

elétrica do Brasil (2006 - 2007).

Fonte: BEN (2008)

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No gráfico 5 está ilustrada a estrutura da oferta interna de energia elétrica no

Brasil em 2007, destacando a geração hidráulica, sendo responsável por

74,3% da geração total.

Gráfico 5 - Matriz com oferta de energia elétrica no Brasil em 2007.

Fonte: BEN (2008)

Em comparação ao gráfico 5, está o gráfico 6 que mostra a estrutura de oferta

de eletricidade no mundo em 2006, conforme informações da International

Energy Agency (IEA). Pode-se observar que o Brasil apresenta uma matriz de

geração de origem predominantemente renovável, com aproximadamente 73%

da oferta sendo atendida por geração interna hidráulica. Além das importações,

que essencialmente também são de origem renovável, é possível afirmar que

mais de 80% da eletricidade no Brasil é originada de fontes renováveis. No

entanto, na média mundial, as fontes renováveis correspondem a apenas

18,3% da geração de eletricidade, como mostra o gráfico 6.

Gráfico 6 - Matriz energética mundial em 2006.

Fonte: BEN (2008)

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2.2. O Sistema Interligado Nacional (SIN)

A atual estrutura do setor elétrico começou a ser implantada com a criação da

Eletrobrás e do MME ocorridas no início da década de 1960. Até então não

existia um planejamento nacional coeso e abrangente, sendo realizado de

forma regionalizada. As usinas eram construídas sem uma ampla análise de

bacia hidrográfica e os sistemas de transmissão eram simplistas, ligando fontes

geradoras aos centros de consumo (BARDELIN, 2004).

Mais recentemente, o novo marco regulatório do setor elétrico brasileiro foi

definido pela Lei nº 10.848/2004, que estabelece regras claras, estáveis e

transparentes, possibilitando efetiva garantia do suprimento para o mercado e a

expansão permanente das atividades intrínsecas do setor (geração,

transmissão e distribuição). Tal fato ainda permitiu o vínculo entre a segurança

e a busca por uma justa remuneração para os investimentos, assim como a

universalização do acesso e do uso dos serviços, inclusive da modicidade

tarifária em um horizonte de curto, médio e longo prazo (ONS, 2009).

O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um

sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas

hidrelétricas e com múltiplos proprietários. Possui tamanho e características

que permitem considerá-lo único em âmbito mundial (ONS, 2009).

O SIN é formado pelas empresas das Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste,

Nordeste e parte da Região Norte. Apenas 3,4% da capacidade de produção

de eletricidade do país encontra-se fora desse eixo, em pequenos sistemas

isolados localizados principalmente na Região Amazônica. Está dividido em

quatro grandes subsistemas, já citados anteriormente, interligados através das

principais linhas de transmissão de energia do país, como mostra a figura 3.

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Figura 3 - Sistema interligado Nacional.

Fonte: ONS (2009)

O Brasil possui 1.673 empreendimentos em operação, com 108.437 MW de

potência instalada. O planejamento de operação do sistema hidrotérmico

brasileiro está fortemente relacionado à sua parcela hidrelétrica devido

principalmente, ao elevado percentual gerado por esta fonte de energia

(ZAMBON, 2008).

As termoelétricas convencionais correspondem à segunda principal fonte de

energia no país, representando 15,08% da capacidade instalada. No entanto,

devido ao custo dos combustíveis fósseis e a poluição gerada pela queima dos

mesmos, as termoelétricas são acionadas de forma complementar ao sistema

hidrelétrico. Em 2007 as usinas térmicas convencionais atenderam em média

4,3% da geração e a nuclear 2,8%. O combustível que mais tem sido utilizado

é o gás natural, que já se consolidou como uma alternativa importante na

expansão da capacidade de geração de energia elétrica no Brasil (ZAMBON,

2008). Dessa forma, a tabela 2 mostra a matriz de energia elétrica brasileira.

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Tabela 2 - Matriz de energia elétrica do Brasil em fevereiro de 2009.

EMPREENDIMENTOS EM OPERAÇÃO

TIPO CAPACIDADE INSTALADA TOTAL

N.° de Usinas (kW) % N.° de Usinas (kW) %

Hidro 771 77.567.965 69,79 771 77.567.965 69,79

Gás Natural 89 10.598.502 9,54

120 11.842.985 10,66 Processo 31 1.244.483 1,12

Petróleo Óleo Diesel 759 3.647.355 3,28

7279 4.912.549 4,42 Óleo Residual 20 1.265.194 1,14

Biomassa

Bagaço de Cana 263 3.605.918 3,24

321 4.786.955 4,31

Licor Negro 13 848.638 0,76

Madeira 31 260.317 0,23

Biogás 8 41.874 0,04

Casca de Arroz 6 30.208 0,03

Nuclear 2 2.007.000 1,81 2 2.007.000 1,81 Carvão Mineral Carvão Mineral 8 1.455.104 1,31 8 1.455.104 1,31

Eólica 31 405.480 0,36 31 405.480 0,36

Importação

Paraguai 5.650.000 5,46

8.170.000 7,35 Argentina 2.250.000 2,17

Venezuela 200.000 0,19

Uruguai 70.000 0,07

TOTAL 2.032 111.148.038 100 2.032 111.148.038 100

Fonte: ANEEL (2009) (atualizada em 16/02/2009) 2.2.1. A importância da complementação termoelétrica

No Brasil, a geração de energia elétrica é feita em sua maior parte em usinas

hidrelétricas. A geração termoelétrica é geralmente restrita a regiões onde o

aproveitamento hidráulico não é acessível, ou que dispõem de grandes

reservas de combustíveis, como o carvão no sul do país.

As usinas termoelétricas aproveitam a energia térmica de um combustível para

a geração de energia elétrica através do ciclo termodinâmico. Assim, usinas

convencionais operam com o vapor obtido em caldeiras a partir da queima de

combustíveis convencionais, como carvão, óleo combustível e gás natural entre

outros. Do ponto de vista ambiental, usinas a gás natural são bem menos

impactantes, pois geram menos poluentes.

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Quanto à geração de energia em usinas termoelétricas em ciclo combinado,

existe a flexibilidade de operação, pois podem operar em regime de base1 com

o ciclo combinado completo, ou em ponta de carga2 em ciclo simples,

funcionando apenas com as turbinas a gás, aproveitando a característica de

partida rápida das turbinas.

A geração termoelétrica tem sido uma atraente alternativa para contribuir com o

aumento da oferta de energia elétrica. Pois é menos intensiva em capital e traz

questões menos complexas, se comparada às obras hidrelétricas, que

envolvem desapropriações, reassentamentos, controle de cheias entre outras.

No entanto, vale destacar que, apesar do potencial do modelo hidrotérmico

escolhido para a geração de energia elétrica, não se pode mais depender

somente dessas fontes. Tem-se falado cada vez mais na diversificação da

matriz energética nacional, buscando principalmente fontes renováveis de

energia que independam da sazonalidade.

Como foi citado anteriormente, as usinas termoelétricas operam em regime de

complementação às hidrelétricas, tendo importante papel na racionalização da

geração de energia, pois sua operação pode ser utilizada como meio de

regularização dos reservatórios de água e compensação da sazonalidade.

A tecnologia de construção e de operação de usinas termoelétricas a óleo

combustível e gás natural é amplamente conhecida e disponível. Esses

empreendimentos podem ser construídos nos centros consumidores de carga,

ocupando áreas bastante modestas quando comparadas com usinas

hidrelétricas, dispensando grandes investimentos em linhas de transmissão.

Entretanto, questiona-se aqui a presença desses empreendimentos nos

grandes centros urbanos, onde existe o problema do adensamento

populacional, da poluição, entre outros, que por si só, já resultariam em uma

baixa qualidade de vida da população.

1 Funcionamento contínuo em todo o período. 2 Funcionamento somente nos horários de pico.

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2.3. O PPT e a crise no setor elétrico em 2001

Em 1999, o plano decenal de expansão previa o risco de racionamento de

energia elétrica, principalmente em 2000. Contudo, como as chuvas neste

período foram mais favoráveis que no ano seguinte e a expansão prevista não

ocorreu, o racionamento veio a acontecer no ano de 2001 (BARDELIN, 2004).

Pensando nessa questão, entre outras, foi criado o PPT pelo Decreto Federal

nº 3.371, de 24 de fevereiro de 2000, com o objetivo de aumentar o

abastecimento de energia elétrica no país (MME, 2000). De acordo com o

projeto inicial seriam construídas 53 usinas termoelétricas até 2003, com

capacidade de produzir cerca de 20.000 MW (BARDELIN, 2004).

Os principais fatores que impulsionaram a formulação do PPT foram a

escassez de chuvas, responsável pelo abastecimento dos reservatórios das

usinas hidrelétricas e o aumento do consumo de energia pelo setor industrial

após a implantação do Plano Real. Outra característica do PPT seria a

promessa de garantia de suprimento do gás natural boliviano pelo prazo de até

20 anos, de acordo com as regras estabelecidas pelo MME (Decreto Federal nº

3.371 art. 2º) (ROMERO, 2004).

A principal causa do racionamento de energia elétrica, apontada pelo governo

federal na época, foram os baixos níveis nos reservatórios das usinas

hidrelétricas em conseqüência da falta de chuva nos anos de 2000 e 2001.

(BARDELIN, 2004). Já alguns autores afirmam que a crise ocorreu pela falta de

planejamento e rigor por parte do governo em relação às empresas

privatizadas que não fizeram os investimentos necessários no setor. Além

disso, também houve o crescimento no consumo de energia elétrica. Com isso,

o racionamento tornou-se uma alternativa para a contenção do consumo, fato

ocorrido no país em 2001.

Com o iminente déficit na geração de energia elétrica, o governo federal

admitiu a existência da crise de abastecimento de energia em março de 2001,

sendo que em maio do mesmo ano, o MME chegou a admitir que seria

necessário haver interrupções temporárias e regionais no fornecimento de

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energia elétrica. A ANEEL em conjunto com a secretaria nacional de energia

apresentou um projeto que previa multa de ultrapassagem da meta de

economia com valor 15 vezes superior ao da tarifa, ficando 3 vezes maior em

caso de reincidência (JABUR, 2001 apud BARDELIN, 2004).

Sendo assim, em 15 de maio de 2001, através da Medida Provisória nº 2.147,

foi constituída a Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica (GCE), com a

finalidade de administrar a crise de abastecimento de energia elétrica que

existia no país e evitar interrupções intempestivas ou imprevistas do

suprimento de energia elétrica (GCE, 2001).

Com a recuperação dos reservatórios das hidrelétricas das Regiões Nordeste,

Sudeste e Centro-Oeste, a CGE decidiu pelo término do racionamento

conforme a Resolução nº 117 de 19 de fevereiro de 2002 (GCE, 2002).

2.4. Cenário futuro: o Plano Decenal de Expansão de Energia

Através do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) – 2008/2017 é

possível constatar que haverá forte incentivo e investimento em usinas

hidrelétricas nos próximos 10 anos. Em virtude de ser uma fonte de energia

dita renovável e pelo fato do Brasil ser privilegiado em relação aos recursos

hídricos, muitos autores afirmam que seu potencial ainda não atingiu um ótimo

de aproveitamento. Desse modo, 26 empreendimentos hidrelétricos, com

capacidade instalada de 5.400 MW, tiveram previsão de ser concluídos até o

final de 2008 e mais 47 em 2009, com capacidade de 7.000 MW (EPE, 2008).

No entanto, até 2017 haverá redução da participação hidrelétrica na matriz

energética e o incremento do óleo combustível na geração de energia. Isso

pode ser em função do potencial de exploração de petróleo na camada do pré-

sal, que promete aumentar a produção de combustíveis fósseis proporcionando

maior independência do Brasil em relação aos mesmos do ponto de vista das

importações. O gráfico 7 ilustra o cenário de evolução da participação das

fontes de energia de 2008 até 2017.

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Gráfico 7 - Evolução da participação dos tipos de fonte de energia de maio de 2008 a

dezembro de 2017.

Fonte: EPE (2008)

A partir do gráfico 7, nota-se que a participação hidrelétrica passará de 85,9%

para 75,9% até dezembro de 2017, mostrando mais uma vez a redução da

participação dessa fonte na matriz energética nacional.

Com a expansão do gás natural de 5,8% para 9,3% de 1990 a 2007, diminui-se

significativamente a emissão de poluentes atmosféricos com a substituição do

óleo combustível, principalmente em regiões com grande ocupação urbana.

Entretanto, mesmo com o aumento da oferta e demanda de gás natural nos

últimos anos, a indústria desse combustível enfrenta um período transitório de

oferta limitada, pois passou a ser insuficiente, principalmente com o aumento

do uso industrial e veicular (EPE, 2008). O gráfico 8 mostra a participação das

fontes na geração termoelétrica de 2008 até 2017.

Gráfico 8 - Participação das fontes de energia na geração termoelétrica em maio de 2008 e

dezembro de 2017.

Fonte: EPE (2008)

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Através do gráfico 8 é importante destacar que até 2017, haverá o aumento da

oferta de óleo combustível de 6,2% para 23,8%. Além da redução do gás

natural de 48,6% para 32,7%, provavelmente pela baixa disponibilidade do

mesmo nos últimos anos. Segundo EPE (2008), atualmente estão em operação

9 usinas termoelétricas a óleo combustível com potência instalada de 1.022,3

MW. Ainda estão sendo construídas ou contratadas mais 40 usinas com

capacidade instalada de 7.500 MW. Essas termoelétricas vão continuar

operando em regime de complementação hidrotérmica. De qualquer forma,

com a operação das hidrelétricas do Madeira, Tapajós e Belo Monte, até 2017

haverá o incremento de energia elétrica no sistema, como ilustra o gráfico 9.

Gráfico 9 - Distribuição do parque instalado por subsistema em maio de 2008 e dezembro de

2017.

Fonte: EPE (2008)

De acordo com a revista Análise e Energia (2008), com a construção de mais

hidrelétricas, o Brasil planeja entregar mais de 4 GW de energia nova até 2018.

Porém, toda a atenção está voltada para as usinas de Santo Antônio e Jirau,

que serão construídas no Rio Madeira com potência instalada de 6.450 MW e a

usina Belo Monte, que será construída no rio Xingu com capacidade de 11 mil

MW. Especialistas afirmam que a força combinada dessas usinas pode afastar

futuros riscos de racionamento de energia elétrica.

Através da tabela 3, pode-se verificar que em 2008 a geração de energia

elétrica passa de aproximadamente 100 GW para quase 154 GW em 2017,

com o objetivo de atender o mercado projetado no período, mostrando a

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evolução da capacidade instalada por fonte de geração de energia (EPE,

2008).

Tabela 3 - Evolução da capacidade instalada por fonte de geração (MW).

FONTE 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 Hidrelétrica (*) 84.374 86.504 89.592 91.480 92.495 95.370 98.231 103.628 110.970 117.506 Nuclear 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 3.357 3.357 3.357 3.357

Óleo (**) 1.984 3.807 5.713 7.153 7.397 10.463 10.463 10.463 10.463 10.463

Gás Natural 8.237 8.237 8.453 8.948 10.527 12.204 12.204 12.204 12.204 12.204 Carvão 1.415 1.415 1.765 2.465 2.815 3.175 3.175 3.175 3.175 3.175

F. Alternativa (***) 1.256 2.682 5.420 5.479 5.479 5.593 5.593 5.913 6.233 6.233

Gás de Processo e Vapor 469 959 959 959 959 959 959 959 959 959

TOTAL 99.742 105.611 113.909 118.491 121.679 129.771 133.982 139.699 147.361 153.897 * Inclui PCH ** Óleo combustível e óleo diesel *** Biomassa e eólica

Fonte: EPE (2008), adaptado

Ao analisar a tabela 3, pode-se verificar que a geração hidrelétrica aumentará

em mais de 33 mil MW, devido os investimentos nessa fonte de geração e

finalização da construção das usinas do Rio Madeira e Xingu. Já a geração

termoelétrica a óleo aumentará em quase 9 mil MW e a gás natural em quase 4

mil MW. Nota-se que o crescimento do uso de óleo combustível será superior 2

vezes mais que o de gás natural. Esse fato pode ser em decorrência da falta de

abastecimento do mesmo, sendo desviado principalmente para a indústria e

veículos. Outra fonte que estará em ascensão são as fontes renováveis, que

englobam biomassa e eólica. Essas fontes terão um aumento de quase 5 mil

MW, mostrando certa preocupação dos órgãos governamentais com questões

ambientais e esforço para a promoção da diversificação da matriz energética

brasileira.

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CAPÍTULO 3 – POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

3.1. Introdução

Segundo Sewell (1978) citado por Santos (2004), a poluição do ar é definida

como toda presença de material estranho na atmosfera, ou seja, tudo que

possa ser vaporizado ou transformado em pequenas partículas, de modo que

possa flutuar no ar. Sendo assim, o ar é considerado normal quando mais de

99,99% do seu volume é composto de apenas quatro moléculas gasosas:

nitrogênio (aproximadamente 78,09%), oxigênio (20,94%), argônio (0,95%) e

dióxido de carbono (0,03%). Dessa maneira, a presença de partículas no ar,

implicando em risco, dano ou moléstia grave para as pessoas e bens de

qualquer natureza, caracteriza a poluição atmosférica. Considerando a

dinâmica do planeta, pode-se dizer que esse fato sempre existiu. Contudo,

ganhou maior importância a partir da Revolução Industrial com o uso de

combustíveis fósseis como fonte de energia (VIGIAR, 2006).

A exposição humana à poluição atmosférica está associada a fatores diversos

fatores que vão desde a emissão provinda da queima de combustíveis fósseis

até o tabagismo. Essa exposição também é uma conseqüência do crescimento

demográfico observado no último século, que concentrou grandes contingentes

populacionais e indústrias nos grandes centros urbanos.

Através dos relatórios de monitoramento da qualidade do ar nas principais

cidades do Brasil, pode-se considerar que os níveis atuais de poluição

atmosférica são moderados. No entanto, a preocupação com seus possíveis

efeitos sobre a saúde humana persiste. Nos últimos anos, um número

importante de estudos realizados em diversas cidades tem demonstrado que,

mesmo dentro dos padrões considerados seguros, aos incrementos nos níveis

de poluição atmosférica estão associados efeitos nocivos sobre a saúde

(VIGIAR, 2006).

Os primeiros estudos correlacionando doenças respiratórias com poluição do ar

apareceram na década de 1950. Esses estudos e outros posteriores

concentraram-se principalmente nas regiões metropolitanas com problemas

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críticos de poluição atmosférica, agravadas por condições meteorológicas

favoráveis à concentração de poluentes (SOBRAL, 1988).

Os problemas ambientais e de saúde relacionados à poluição do ar têm sido

foco de discussões interdisciplinares em várias instituições de pesquisa e de

serviço, motivando a criação e implementação de programas de monitoramento

ambiental e de vigilância em saúde relacionada à qualidade do ar em diversos

países do mundo.

3.2. Legislação ambiental

A partir de 1940 começaram a ser realizados esforços no sentido de controlar a

qualidade do ar nos EUA, mas só a partir da década de 1950, atos

regulamentares foram editados tanto nos EUA quanto na Europa. Em 1970, a

Environmental Protection Agency (EPA) foi encarregada de estabelecer

critérios de qualidade do ar para os poluentes considerados danosos à saúde

(FREITAS, 2000).

No Brasil, a primeira regulamentação ambiental de âmbito nacional foi

estabelecida em 1976. Sua atualização foi dada pela Resolução CONAMA nº

003/90, que teve como base as recomendações da EPA e da OMS.

Com a Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, foram criadas

condições para que o setor ambiental estabelecesse diretrizes de controle da

poluição atmosférica. Essas diretrizes foram segmentadas no controle das

emissões e no monitoramento da qualidade do ar, ambos regulamentados pelo

CONAMA, sob a forma das Resoluções CONAMA nº 018/86, nº 005/89 e

003/90 (VIGIAR, 2006).

Ainda no intuito de estabelecer estratégias para controle, preservação e

recuperação da qualidade do ar, conforme previsto na Lei Federal nº 6.938/81,

foi instituído o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar (PRONAR)

pela Resolução CONAMA nº 005/89, dando definições e diretrizes para

prevenção e gerenciamento.

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Em 1999, a partir do projeto de fortalecimento da Vigilância Epidemiológica, em

nível nacional, foram criadas as condições para o desenvolvimento da

Vigilância em Saúde Ambiental. Assim, em 2001 foi criada a Vigilância em

Saúde Ambiental relacionada a Qualidade do Ar (VIGIAR).

Anteriormente, a Resolução CONAMA nº 003/90 já era utilizada na avaliação

da qualidade do ar nos diferentes municípios. Através dessa norma foram

estabelecidos os padrões de qualidade do ar, métodos de amostragem e

análise dos poluentes atmosféricos e níveis de qualidade referentes a um

Plano de Emergência para Episódios Críticos de Poluição do Ar. Esse plano foi

criado visando providências dos governos estaduais e municipais, com o

objetivo de prevenir grave e iminente risco à saúde pública. A mesma

Resolução estabeleceu também que, “enquanto cada Estado não definir as

áreas de Classe I, II e III mencionadas no item 2, sub-item 2.3, da Resolução

CONAMA nº 005/89, serão adotados os padrões primários de qualidade do ar

estabelecidos nessa Resolução”, e que “o monitoramento da qualidade do ar é

atribuição dos Estados”. No Estado de São Paulo esse trabalho de

monitoramento é exercido pela Secretaria do Meio Ambiente (SMA) e CETESB

(MMA, 1990).

Em princípio, nenhum empreendimento deve lançar poluentes atmosféricos de

modo a provocar ultrapassagens dos padrões de qualidade do ar no seu

entorno. Sendo assim, o ideal é buscar modelos que assegurem que a emissão

de certo poluente não provoque concentrações maiores que 50% do padrão,

considerando as piores condições de dispersão atmosférica. Essa é uma boa

medida para se obter um razoável grau de segurança de que o

empreendimento não seja o responsável pela má qualidade do ar. Se houver

comprovada existência de outras fontes significativas de poluição atmosférica

na região, é possível, inclusive, aumentar essa faixa de segurança para não

comprometer a qualidade do ar na área de influência do empreendimento.

3.2.1. Padrões e critérios de qualidade do ar

O nível de poluição atmosférica é medido pela concentração de substâncias

poluentes presentes no ar. A concentração dos poluentes pode ser classificada

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como primária e secundária. Os padrões primários são aqueles cujas

concentrações, se ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Além

disso, podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração

de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo.

Já os padrões secundários de qualidade do ar são as concentrações de

poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso

sobre o bem-estar da população. Deve causar o mínimo dano à fauna e à flora,

aos materiais e ao meio ambiente de maneira geral. Podem ser entendidos

como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta

de longo prazo (CETESB, 2007).

Quando se determina a concentração de um poluente na atmosfera, mede-se o

grau de exposição dos receptores (seres humanos, por exemplo) a tais

substâncias, considerando os processos físicos e químicos. Como regra geral,

o grupo de poluentes que servem como indicadores de qualidade do ar, em

razão da sua maior freqüência de ocorrência e dos efeitos adversos que

causam no meio são: poeira em suspensão, dióxidos de nitrogênio e de

enxofre, monóxido de carbono e ozônio (LUCON, 2003).

Os principais motivos do monitoramente da qualidade do ar são fornecer dados

para ativar ações de emergência durante períodos de estagnação atmosférica,

quando os níveis de poluentes podem representar risco à saúde pública.

Também, avaliar a qualidade do ar em relação aos limites estabelecidos para

proteger a saúde, promovendo o bem-estar das pessoas. E além desses,

acompanhar as tendências e mudanças na qualidade do ar devido as

alterações nas emissões dos poluentes (LUCON, 2003). Em suma, os padrões

de qualidade do ar definem legalmente o limite máximo para a concentração de

um poluente na atmosfera garantindo a saúde e bem-estar da população.

A tabela 4 mostra os padrões internacionais de qualidade do ar segundo EPA e

Banco Mundial para os principais poluentes atmosféricos destacados abaixo.

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Tabela 4 - Padrões internacionais de qualidade do ar

Poluente Concentração (mg/m³) Período Entidade

MP10 150 (máx)* 24h EPA 50 (ma)** ano EPA

MP2,5 65 (máx) 24h EPA 15 (ma) ano EPA

SO2 365 (máx) 24h EPA 80 (ma) ano EPA

125 (máx) 24h Banco Mundial

NO2 100 (ma) ano EPA 200 (máx) 1h Banco Mundial

O3 235 (0,12 ppm) máx 1h EPA 157 (0,08 ppm) máx 8h EPA

120 (máx) 8h Banco Mundial

CO 40.000 (35 ppm) máx 1h EPA 10.000 (9 ppm) máx 8h EPA, Banco Mundial

* Máxima ** Média aritmética

Fonte: CETESB (2002) apud LUCON (2003), adaptado

No Brasil, em 1990, o CONAMA adotou como padrão de qualidade do ar os

valores mostrados na tabela 5.

Tabela 5 - Padrão de qualidade do ar (Resolução CONAMA nº 003/90).

POLUENTE TEMPO DE AMOSTRAGEM

PADRÃO PRIMÁRIO µm³

PADRÃO SECUNDÁRIO µm³

Partículas totais em suspensão

24h* 240 150

MGA** 80 60

Partículas inaláveis 24h* 15 150

MAA*** 50 50

Dióxido de nitrogênio 1h 320 190

MAA*** 100 100

Dióxido de enxofre 24h* 365 100

MAA*** 80 40

Ozônio 1h* 160 160

Monóxido de carbono

1h* 40000 40000

35 ppm 35 ppm

8h* 10000 10000

9 ppm 9 ppm * Não deve ser excedido mais de uma vez no ano

** Média geométrica anual

*** Média aritmética anual

Fonte: CETESB (2007)

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No Estado de São Paulo, a CETESB divulga os dados de qualidade do ar hora

a hora e diariamente. Para simplificar a informação, um índice de qualidade do

ar é utilizado desde 1981, tendo como parâmetros dióxido de enxofre (SO2),

partículas totais em suspensão (PTS), partículas inaláveis (PI), fumaça,

monóxido de carbono (CO), ozônio (O3) e dióxido de nitrogênio (NO2). Para

cada poluente medido é calculado um índice, sendo divulgado o mais elevado.

Depois de calculado o valor do índice, o ar recebe uma qualificação.

Cabe salientar que existe um padrão de qualidade do ar, no qual os valores

máximos dos poluentes não podem ser ultrapassados, indicando critérios para

episódios agudos de poluição do ar conforme as concentrações dos poluentes

na atmosfera, como mostra a tabela 6, segundo a Resolução CONAMA nº

003/90.

Tabela 6 - Critérios para episódios agudos de poluição do ar.

PARÂMETROS ATENÇÃO ALERTA EMERGÊNCIA

Ozônio (µm³) - 1h 400 800 1000

Partículas totais em suspensão (µm³) - 24h 375 625 875

Partículas inaláveis (µm³) - 24h 250 420 500

SO2 x PTS (µm³/µm³) - 24h 65000 261000 393000

Dióxido de enxofre (µm³) - 24h 800 1600 2100

Monóxido de carbono (ppm) - 8h 15 30 40

Dióxido de nitrogênio (µm³) - 1h 1130 2260 3000

Fonte: CETESB (2007)

Para efeito de divulgação, foi incorporada uma cor que representa cada

classificação de qualidade do ar. Para essa classificação é utilizado o índice

mais elevado dos poluentes medidos em cada estação. A figura 4 mostra a

relação entre índice, qualidade do ar e efeitos à saúde.

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Figura 4 - Índice geral de classificação de qualidade do ar.

Fonte: CETESB (2007)

3.2.2. Monitoramento e controle dos poluentes atmosféricos

A baixa qualidade do ar na RMSP é decorrente das emissões atmosféricas de

cerca de 2.000 indústrias e da frota de aproximadamente 8,4 milhões de

veículos automotores, composta por 7,0 milhões de veículos do ciclo Otto, 460

mil veículos a diesel e 1.020 mil motos, representando cerca de 1/5 do total

nacional. De acordo com as estimativas de 2007, essas fontes são

responsáveis pela emissão de 1,5 milhão de t/ano de CO, 365 mil t/ano de HC,

339 mil t/ano de NOx, 29,5 mil t/ano de MP total e 8,2 mil t/ano de SOx

(CETESB, 2007).

É importante o acompanhamento da evolução das emissões veiculares, uma

vez que o cenário sofre constantes mudanças como a alteração do perfil da

frota (álcool, gasolina e flex), composição dos combustíveis, fatores de emissão

dos veículos novos entre outros. Desse modo, a CETESB criou programas que

visam o controle da emissão de poluentes atmosféricos das fontes móveis

como o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores

(PROCONVE) e o Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e

Veículos Similares (PROMOT), sem falar no rodízio de veículos de passeio e

mais recentemente, dos veículos pesados como caminhões, diminuindo a

emissão e concentração de poluentes atmosféricos no RMSP.

Já o controle e fiscalização das emissões atmosféricas industriais têm como

objetivo atingir os padrões de qualidade do ar. Controlar a emissão de

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poluentes industriais na atmosfera requer, dentre outras medidas, a realização

de análises periódicas e implementação de medidas preventivas.

Em São Paulo vigora a Lei Estadual nº 977/76, regulamentada pelo Decreto nº

8.468/76. Esse Decreto dispõe sobre a prevenção e o controle da poluição e

estabelece as atribuições da CETESB, os padrões de qualidade ambiental, os

padrões de emissão de poluentes, o sistema de licenciamento de fontes de

poluição e as sanções aplicáveis às infrações cometidas.

No caso dos NOx, que não possuem um padrão de emissão para a fonte, são

exigidos, conforme o Art. 41 e Parágrafo único do referido Decreto, “sistemas

de controle de poluição do ar baseados na melhor tecnologia prática disponível

para cada caso, cuja adoção será feita pela análise e aprovação da CETESB

de plano de controle apresentado por meio do responsável pela fonte de

poluição, que especificará as medidas a serem adotadas e a redução almejada

para a emissão” (SMA, 1976).

Ainda sobre o Decreto, o Art. 42 e inciso I, “determina que fontes novas de

poluição de ar, que pretendam instalar-se ou funcionar, quanto à localização

serão obrigadas a comprovar que as emissões provenientes da instalação ou

funcionamento não acarretarão, para a Região ou Sub-Região tida como

saturada, aumento nos níveis dos poluentes que as caracterizem como tal”

(SMA, 1976).

No Estado de São Paulo, toda a operação industrial deve obter licença de

instalação e funcionamento junto à CETESB. O sistema de licenciamento é

estabelecido pelo regulamento da Lei nº 977/76 e exige uma série de

informações sobre o empreendimento, principalmente o processo produtivo, as

características das fontes de poluição, o entorno da instalação e restrições

ambientais específicas. Após obter a licença de instalação e funcionamento, a

CETESB vistoria o empreendimento e verifica se as informações fornecidas

são verídicas e se foram cumpridas as determinações técnicas exigidas. Caso

isso não aconteça, cabe uma advertência e posteriormente, multa (LUCON,

2003).

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O controle ambiental em São Paulo adota procedimentos fiscalizadores

baseados nas emissões de cada empreendimento, que devem respeitar os

padrões legais, que por sua vez são baseados em legislação internacional. No

entanto, a adoção de padrões de emissão estrangeiros não reflete a realidade

das fontes locais. Na verdade, é uma solução paliativa, que deve ser refinada

por dados de campo e outras formas de pesquisa adequadas às condições

reais brasileiras.

3.3. Aspectos sazonais da poluição do ar

As altas concentrações de poluentes primários (emitidos diretamente pelas

fontes) ocorrem principalmente entre os meses de maio a setembro

(outono/inverno), devido a maior ocorrência de inversões térmicas, alta

porcentagem de calmaria, ventos fracos e baixos índices pluviométricos. Com

relação aos poluentes secundários (formados na atmosfera através da reação

química entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera),

especialmente o O3, ocorrem com maior freqüência entre setembro e março

(primavera/verão), meses mais quentes e com maior incidência de radiação

solar. Entretanto, o maior número de ocorrências de O3 é registrado na

transição entre os períodos seco e chuvoso na Região Sudeste. Estudos

mostraram que a maior freqüência do elemento não ocorre necessariamente

nos meses mais quentes (janeiro e fevereiro), provavelmente em função do

aumento da nebulosidade que reduz a quantidade de radiação solar incidente

no período da tarde e, consequentemente, diminui a formação do mesmo na

baixa atmosfera (CETESB, 2007).

3.4. Emissão de poluentes atmosféricos de usinas termoelétricas e seus impactos no meio ambiente e na saúde

Em uma análise mais detalhada, verifica-se que usinas termoelétricas

provocam uma série de impactos ambientais. Desde a fase do projeto,

implantação, operação, até a desativação da planta. Em geral, os impactos

mais significativos, relacionados às emissões atmosféricas, ocorrem durante a

fase de operação.

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Os efeitos das emissões atmosféricas são diversos, atuando de forma local,

regional e global. Os impactos locais são limitados ao entorno das fontes

emissoras. Já os impactos regionais compreendem um raio bem maior, de

centenas de quilômetros. Os impactos globais afetam todo o planeta, um

exemplo é o efeito estufa e aquecimento global.

A emissão de poluentes para a atmosfera pode ser considerada uma das

principais ações impactantes resultante do funcionamento de usinas

termoelétricas, pois consiste na emissão de material particulado e gases

provindos do processo de combustão, cuja quantidade e composição variam

conforme a tecnologia e o combustível utilizado. Os principais poluentes

emitidos desses empreendimentos são MP, SOx, COx, NOx e compostos

orgânicos voláteis.

O MP é considerado qualquer substância (exceto água pura) existente na

forma líquida ou sólida na atmosfera com dimensões microscópicas porém,

maiores que as dimensões moleculares. Assim, essas partículas classificam-se

em finas (diâmetro menor que 2,5 µm) e grossas (diâmetro maior que 2,5 µm).

As partículas com diâmetro menor que 10 µm (PM10) são as que mais causam

efeitos adversos à saúde humana, pois tendem a se depositar nas regiões

traquio-bronquial e pulmonar.

A quantidade de SOx emitida ocorre em função da qualidade do combustível

utilizado e da tecnologia de controle de emissão. O principal produto da

combustão do enxofre é o dióxido de enxofre (SO2), tóxico aos seres humanos,

pois causa problemas no trato respiratório, podendo levar à morte em

concentração de 500 ppm (WAGENER, 1999 apud MEDEIROS, 2003).

Dependendo da quantidade emitida e de alguns fatores meteorológicos, o SO2

pode reagir com vapor d’água formando ácido sulfúrico (H2SO4) e chuva ácida.

Em relação a emissão de carbono, pode-se dizer que a maior parte do mesmo,

contida nos combustíveis fósseis, é emitida sob a forma de dióxido de carbono

(CO2). A combustão incompleta resulta na formação de monóxido de carbono

(CO) e compostos orgânicos. Apesar do CO ser um gás tóxico aos seres

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humanos e contribuir com a poluição local, suas concentrações no ambiente,

provindas de fontes estacionárias, são consideradas baixas.

Os NOx podem causar impactos diretos e indiretos no meio ambiente. Os

efeitos diretos estão associados a sua transformação na atmosfera para

dióxido de nitrogênio (NO2), podendo ocasionar danos à saúde humana. Já os

efeitos indiretos estão relacionados à formação do ozônio (O3) e outros

oxidantes fotoquímicos, com a participação dos compostos orgânicos voláteis.

Na geração termoelétrica a gás, não ocorrem emissões significativas de óxidos

de enxofre e material particulado, e sim de óxidos de nitrogênio. A formação

desses praticamente não depende da composição química do combustível,

mas do processo de combustão que ocorre no interior das turbinas e caldeiras,

sendo necessária alta temperatura. Depois de emitidos, os óxidos de nitrogênio

reagem com outros compostos presentes na atmosfera, originando poluentes

secundários: os oxidantes fotoquímicos, destacando o ozônio, o peroxiacetil

nitrato e o dióxido de nitrogênio. Esses compostos são gerados a partir de

hidrocarbonetos e monóxido de nitrogênio na presença de luz solar

(MEDEIROS, 2003).

Segundo CETESB (1997) citada por LUCON (2003), a presença de oxidantes

fotoquímicos na atmosfera tem sido associada à redução da capacidade

pulmonar e ao agravamento de doenças respiratórias, como a asma. Estudos

em animais mostraram que o O3 causa envelhecimento precoce, danos na

estrutura pulmonar e diminuição da capacidade de resistir a doenças

respiratórias. Esses efeitos não poupam nem as pessoas saudáveis. Já os NOx

são capazes de penetrar no sistema respiratório, podendo gerar nitrosaminas,

algumas das quais podem ser carcinogênicas.

A tabela 7 mostra as emissões de poluentes atmosféricos como SO2, NOx, CO2

e MP do funcionamento de usinas termoelétricas que utilizam como

combustível óleo combustível e gás natural.

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Tabela 7 - Emissões atmosféricas de termoelétricas (1.000 MW), por combustível.

COMBUSTÍVEL QUANTIDADE (ton) EMISSÕES ATMOSFÉRICAS ANUAIS SO2 (ton) NOx (ton) CO2 (ton) MP (ton)

Óleo combustível (3%S) 2.000.000 40.000 30.000 5.700.000 5.400 Gás natural 2.000.000 20 15.000 4.400.000 150

Fonte: VEIGA (2001) adaptado

A queima de combustíveis fósseis traz sérios problemas ao meio ambiente,

devido a poluição atmosférica causada pela emissão de MP e pela chuva ácida

provocada principalmente pela emissão de NOx e SOx. Ao contrário das fontes

renováveis, que emitem quantidades bem menores de poluentes atmosféricos,

como mostra tabela 8.

Tabela 8 - Emissões atmosféricas das diferentes fontes de geração de energia.

EMISSÃO TERMOELÉTRICA HIDRELÉTRICA EÓLICA SOLAR CARVÃO ÓLEO GÁS

GEE (kg CO2) 316 261 278 1,27 1,69 29,00 NOx (g) 513 575 464 10,40 8,60 0,36 SOx (g) 1.210 2.690 66 1,80 9,10 0,09

Fonte: GÓRALCZYK (2003) adaptado

No processo de geração de energia elétrica com gás natural, a combustão é o

principal responsável pela emissão de poluentes. Quando as turbinas operam

com baixa potência, ocorre maior emissão de hidrocarbonetos e CO. Contudo a

emissão de fumaça e NOx é insignificante. Do contrário, quando a potência

chega ao máximo, a emissão de HC e CO diminui. No entanto, a emissão de

NOx e fumaça é muito alta. Desse modo, a concentração da maioria dos

poluentes de interesse nos gases de escape das turbinas a gás pode estar

relacionada à temperatura e ao tempo de permanência dos gases na câmara

de combustão (LORA, 2004 apud GUENA, 2007).

Dependendo do combustível utilizado, mudam as características dos poluentes

atmosféricos. Dessa forma, em usinas termoelétricas a óleo, as principais

emissões são o CO, NOx, HC não queimados ou queimados parcialmente, SOx

e MP. Essas emissões estão relacionadas à qualidade do combustível,

operação do motor e organização da combustão (HINRICHS & KLEINBACH,

2003). Todos esses poluentes são nocivos às plantas e animais que vivem em

áreas próximas as usinas, afetando ainda a saúde da população local.

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3.5. Licenciamento ambiental de usinas termoelétricas

As obras relativas à implantação de unidades industriais e usinas de geração

de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária acima de 10 MW,

são atividades consideradas potencialmente impactantes ao meio ambiente,

conforme Resolução CONAMA nº 001/86, reiterada pela Resolução CONAMA

nº 237/97 (MMA, 1997).

A licença ambiental é insubstituível e imprescindível para a instalação e

operação de qualquer atividade real ou potencialmente poluidora, sem prejuízo

de outras licenças legalmente exigíveis, expedidas por outros órgãos federais,

estaduais ou municipais.

A expedição da licença representa o compromisso firmado entre empreendedor

e Poder Público. De um lado, o responsável pelo empreendimento se

compromete a implantar e operar sua atividade segundo as condições da

licença; de outro, o órgão licenciador garante que, durante o prazo de vigência

da licença, desde que obedecidas as condições nela expressas, nenhuma

outra exigência de controle ambiental será imposta ao licenciado. Observa-se

porém, que não há direito adquirido de poluir e se ajustes forem necessários, o

Poder Público poderá e deverá fazê-los para proteger a saúde pública e o meio

ambiente, ainda que tais medidas impliquem na possibilidade do empreendedor

vir a discutir eventuais indenizações (EIA, 2002).

Sendo assim, para o licenciamento de usinas termoelétricas, as Resoluções

CONAMA nº 001/86 e nº 006/87 ressaltam o disposto no Artigo 5º dessa última

norma, que assim se apresenta: “no caso de usinas termelétricas a Licença

Prévia (LP) deverá ser requerida no início do estudo de viabilidade da usina; a

Licença de Instalação (LI) deverá ser obtida antes da efetiva implantação do

empreendimento e a Licença de Operação (LO), depois dos testes realizados e

antes da efetiva colocação da usina em geração comercial de energia” (MMA,

1986; 1987).

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Segundo o Anexo da Resolução CONAMA nº 006/87, os documentos

necessários para o licenciamento ambiental de usinas termoelétricas estão

listados na tabela 9.

Tabela 9 - Licenciamento ambiental de usinas termoelétricas

TIPOS DE LICENÇA USINAS TERMOELÉTRICAS

Licença Prévia (LP)

Requerimento de Licença Prévia

Cópia de Publicação do pedido de LP

Portaria MME autorizando o Estudo da Viabilidade Alvará de pesquisa ou lavra do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), quando couber Manifestação da Prefeitura

RIMA (sintético e integral)

Licença de Instalação (LI)

Requerimento de Licença de Instalação

Cópia da publicação da concessão da LP

Cópia da publicação do pedido de LI Relatório de Viabilidade aprovado pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) Projeto Básico Ambiental

Licença de Operação (LO)

Requerimento de Licença de Operação

Cópia da publicação de concessão da LI

Cópia da publicação do pedido de LO

Portaria do DNAEE de aprovação do Projeto Básico

Portaria do MME autorizando a implantação do empreendimento

Fonte: MMA (1987)

3.6. Aspectos epidemiológicos em relação à poluição atmosférica: a importância das doenças respiratórias

Depois dos três episódios ocorridos no Vale do Meuse, Donora e Londres, as

autoridades foram alertadas para as graves conseqüências causadas por

períodos agudos de poluição atmosférica.

Anderson (1967) citado por Coelho (2007), sistematizou os principais

problemas relacionados à epidemiologia da poluição do ar, entre os quais a

importância dos fatores meteorológicos. Destacou que as condições

meteorológicas afetam a interpretação dos dados de poluição e podem

aumentar a duração da exposição aos poluentes ao impedir sua dispersão.

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Destacou também que não existe consenso sobre quais poluentes prejudicam

de fato a saúde humana e precisam, portanto, ser medidos e acompanhados.

Além disso, não se conhece ainda a natureza exata e mecanismos pelos quais

os agentes poluidores lesam a saúde. E que as áreas mais poluídas tendem a

ser aquelas onde vive a população mais carente, demonstrando claramente a

questão da justiça ambiental3.

Alguns autores distinguem três tipos de reação dos seres humanos aos

poluentes. Os efeitos agudos em pessoas sadias, exemplificados pelas

reações a episódios agudos de smog ou a aumentos súbitos dos níveis de

poluição. A exacerbação de doenças preexistentes em indivíduos vulneráveis,

que expostos à poluição, podem agravar os sintomas ou até mesmo provocar a

morte. E os fenômenos de hipersensibilidade de origem imunológica, que

apesar de não suficientemente esclarecidos, podem ser particularmente

relevantes na medida em que causem danos reversíveis ou problemas crônicos

(COELHO, 2007).

A poluição atmosférica causa efeitos no aparelho respiratório que não podem

ser desprezados. Segundo o documento State of the Air: 2001, elaborado pela

American Lung Association, citado por Gomes (2002), a cada ano nos EUA,

para 75 mortes causadas pela poluição do ar, existem 265 internações por

asma, 240 internações por outras doenças respiratórias, 3.500 visitas ao

serviço de urgência, 180.000 exacerbações de asma, 930.000 dias com

restrições a atividades e 2.000.000 de dias com sintomas respiratórios agudos.

Segundo o Banco Mundial (1998) citado por Lucon (2003), o Brasil sofre uma

série de problemas que afetam a saúde humana, que reduzem a qualidade de

vida, aumentam os custos de produção e causam danos ecológicos a longo

3 Segundo Morato et al (2005), Justiça Ambiental é um conjunto de princípios que asseguram

que nenhum grupo de pessoas, seja ético, racial ou de classe, arque desproporcionalmente

com conseqüências ambientais negativas. Portanto, Injustiça Ambiental é o mecanismo pelo

qual sociedades desiguais destinam a maior carga dos danos ambientais a grupos sociais de

baixa renda, grupos raciais discriminados, populações marginalizadas e mais vulneráveis

(HERCULANO, 2002).

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prazo. A poluição do ar por partículas finas, SOx e NOx, O3, CO e aldeídos tem

origem nos processos de combustão e emissões de compostos voláteis no

setor de transporte e nas fontes estacionárias. Dentre os principais danos ao

ser humano podem ser citadas as doenças respiratórias e a mortalidade

prematura. Tais problemas são altamente específicos a certos locais afetando

milhões de residentes de grandes centros urbanos e outras cidades com

grandes poluidores industriais. A poluição concentrada em determinadas

fontes, como as estacionárias, em geral é mais fácil controlar que a proveniente

de fontes difusas.

Dentre os estudos que referem-se às internações hospitalares, destaca-se um

efetuado por Pope (1989) citado por Freitas (2000), que realizou um

experimento em Utah, nos Estados Unidos. Nesse lugar havia uma fábrica que

era a maior responsável pelos altos níveis de MP na atmosfera. Quando a

fábrica funcionava, os níveis dobravam. Então, Pope estudou as médias

mensais de internações usando dois cenários, um com a fábrica em

funcionamento e o outro sem o funcionamento da mesma. Sendo assim,

durante os meses em que os níveis de MP excederam os 150 µg/m³, as médias

de admissões de crianças triplicaram. Nos meses em que o MP apresentou

médias superiores ou iguais a 50 µg/m³, houve o aumento de 89% das

internações de crianças e 47% de adultos. Nos meses de inverno, de 1985 a

1989, Pope encontrou o dobro ou até mesmo o triplo de internações de

crianças quando a fábrica estava funcionando.

Um estudo de série temporal realizado por Gouveia (2000) citado por Correia

(2001) para investigar a associação entre poluição atmosférica e mortalidade

em São Paulo, utilizou dados de 1991 a 1993, mostrando que a associação

entre poluição do ar e mortalidade para todas as causas e todas as idades é

muito menor que a associação entre poluição do ar e mortalidade por causas

específicas e grupos etários específicos. Os resultados foram que para cada

aumento de 100 µg/m³ na concentração de 24 horas de MP, o aumento do

número total de mortes por todas as causas é de 1,10%, enquanto que para

mortes por doenças respiratórias em idosos é de 17%.

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Segundo pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo (FMUSP), já é possível concluir que em cidades como São Paulo, a

expectativa de vida é em média, um ano e meio menor do que em cidades do

interior. Além disso, foi relatado que para cada aumento de 100 µg/m³ na

concentração de 24 horas do MP, houve o aumento de 8,17 mortes de adultos

por dia, representando aumento de 13% na mortalidade diária. Já para as

crianças, o estudo revelou associação significativa somente com os NOx

(CORREIA, 2001). Segundo Carra (2003), o crescente acúmulo de poluentes

nos grandes centros urbanos é responsável por aumentos de 12 a 20% nas

internações por doenças.

Embora os veículos automotores sejam de longe os maiores responsáveis pela

poluição nos grandes centros urbanos, em especial na cidade de São Paulo, a

indústria paulista responde por 15% de todo o SO2 e 10% das partículas

inaláveis (MATTOS, 2001 apud CARRA, 2003). No Brasil, vários estudos têm

sido realizados, principalmente em São Paulo. Esses estudos permitiram

afirmar que a poluição no município é um grave problema de saúde pública.

Como forma de mostrar a relevância das doenças respiratórias no Brasil e na

cidade de São Paulo foram elaborados os gráficos 7 e 8 através de dados do

DATASUS. É possível verificar que de janeiro a novembro de 2008, os óbitos

por doenças do aparelho respiratório atingiram cerca de 18% tanto no Brasil

como no município de São Paulo. A primeira maior causa de óbito destacada é

por doenças do aparelho circulatório, seguida pelas doenças do aparelho

respiratório em ambos, como mostra o gráfico 10.

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Gráfico 10 - Óbitos ocorridos no município de São Paulo e no Brasil de janeiro a novembro de

2008.

Fonte: Elaboração própria com dados do DATASUS

Já os casos de internações por doenças do aparelho respiratório no Brasil

atingiram cerca de 15%, enquanto em São Paulo 11%, do total de internações.

Desse modo, pode-se observar que esse tipo de doença é a primeira maior

causa destacada de internação no Brasil. Em São Paulo, passa a ser a

segunda maior causa, pois perde somente para as doenças do aparelho

circulatório, como mostra o gráfico 11.

Gráfico 11 - Internações ocorridas no município de São Paulo e no Brasil de janeiro a

novembro de 2008.

Fonte: Elaboração própria com dados do DATASUS

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3.7. Efeitos dos poluentes atmosféricos na saúde e no meio ambiente

A poluição do ar representa um grande problema de saúde pública. O rápido

avanço tecnológico do mundo moderno trouxe consigo um aumento na

quantidade e na variedade de poluentes emitidos para a atmosfera,

prejudicando de maneira muito séria a qualidade de vida no planeta. Ao tratar

da poluição atmosférica não se pode deixar de referir a influência do clima, já

que existe uma correlação importante entre este e a poluição. As inversões

térmicas, por exemplo, estão associadas a níveis mais elevados de partículas

totais em suspensão (PTS), NO2 e SO2. Já as temperaturas diurnas elevadas,

os ventos de baixa velocidade e o céu limpo aumentam os níveis dos

precursores voláteis do O3. (GOMES, 2002).

Além da exposição direta, por inalação das partículas contaminantes do ar, e

exposição indireta, por inalação de substâncias existentes na água ou em

superfícies, a penetração dos poluentes no organismo pode também ser feita

via cutânea ou digestiva. Os efeitos da poluição atmosférica sobre a saúde

podem ser sentidos sobre a pele e mucosas, sistemas respiratório,

cardiovascular, digestivo e sistema nervoso central, causando diversos tipos de

afecções desde os mais variados quadros respiratórios até hipertensão arterial.

A exposição aos poluentes pode ser de forma crônica ou aguda (GOMES,

2002). Para entender a importância e influência da poluição atmosférica na

saúde humana e interferência no meio ambiente, é necessário conhecer os

efeitos que a mesma causa.

Dentre o MP estão as partículas inaláveis (PI) e as partículas totais em

suspensão (PTS), que variam de 0,1 a 10 µm de diâmetro. Partículas maiores

que 10 µm são filtradas pelo nariz e nasofaringe, onde ficam depositadas,

podendo ser vistas na expectoração ou saliva. Já as partículas menores que 10

µm (MP10) ficam retidas nas vias aéreas superiores e podem ser depositadas

na árvore traqueobrônquica. As partículas menores que 2,5 µm (MP2,5)

depositam-se nos brônquios terminais e alvéolos (CASTRO et al, 2003).

Segundo Braga et al (2002), o MP atinge as vias aéreas inferiores por ser uma

partícula inalável e não por sua composição química. É capaz de transportar

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gases até as porções mais distais das vias, onde são realizadas as trocas

gasosas no pulmão.

O SO2 é um gás amarelado, com odor característico de enxofre; é

extremamente irritante quando em contato com superfícies úmidas, pois se

transforma em ácido sulfúrico (H2SO4). É um poluente produzido pela queima

de combustíveis fósseis em escapamentos de veículos automotores e

subproduto dos processos industriais. Sua intoxicação pode causar irritação da

mucosa respiratória desde a nasofaringe e a orofaringe até os alvéolos,

levando à inflamação, hemorragia e até mesmo necrose (CASTRO et al, 2003).

Segundo Freitas et al (2000), o SO2 é freqüentemente associado a mortes

totais e internações por doenças cardiovasculares.

O CO é um gás tóxico, inodoro e incolor, proveniente da combustão de

diversos processos industriais, do escapamento de veículos automotores e do

cigarro. Sua intoxicação aguda pode ser fatal, pois sua toxicidade se deve em

parte à sua afinidade pelo grupo heme da hemoglobina e mioglobina. Quando

absorvido pelo sangue, forma a carboxihemoglobina, que por sua vez interfere

na diminuição da oxihemoglobina, reduzindo o transporte de O2 até os tecidos,

favorecendo a hipoxemia em pessoas expostas. Também é associado ao

aumento na mortalidade por infarto cardíaco agudo em idosos (CASTRO et al,

2003).

Os NOx constituem uma série de sete compostos, dos quais três são

importantes na atmosfera: o óxido nitroso (N2O), um gás incolor e o mais

abundante dos compostos atmosféricos; o monóxido de nitrogênio (NO), um

gás tóxico incolor que reage espontaneamente com o O2 e muito fortemente

com o O3, formando o NO2, um gás avermelhado altamente tóxico

(DUCHIADE, 1992). Vale salientar que o NO é um gás formado nos processos

de combustão de caldeiras e motores a combustão interna, aumentando sua

produção com a elevação da temperatura e participando ativamente das

reações atmosféricas que causam o smog fotoquímico (DUCHIADE, 1992).

Quando inalados, os NOx atingem as porções mais periféricas do pulmão

devido a sua baixa solubilidade. Sua toxidade tem relação com o fato de ser

um agente oxidante (ESTEVES et al, 2007).

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O O3 se forma na atmosfera a partir da reação do oxigênio molecular (O2) com

o oxigênio atômico (O-), produzido pelo NO2 que sofre reação fotoquímica. A

combinação com o O2 produz o O3; pouco solúvel em água atingindo os

alvéolos pulmonares com maior facilidade. Os níveis de O3 aumentam pela

manhã, atingindo seu pico durante a tarde e caindo à noite. As fontes de

emissão são as mesmas do NO2, sendo os veículos automotores e indústrias

(CASTRO et al, 2003). O O3 é uma variedade alotrópica do O2, apresentando-

se sob a forma de um gás azul pálido, de forte odor picante característico.

Também se origina das descargas elétricas na atmosfera e de reações

fotoquímicas onde entram os HC e NOx (DUCHIADE, 1992). Assim como o MP,

o O3 é capaz de provocar lesões nas células das porções mais distais das vias

aéreas; também é um potente oxidante e bactericida. Em seres humanos, as

respostas pulmonares à sua exposição foram tosse, dor retroesternal à

inspiração e diminuição da capacidade ventilatória forçada (ESTEVES et al,

2007).

Crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios prévios são os que

mais sofrem com a elevação dos níveis de poluição do ar. Entretanto, apesar

dos notáveis avanços obtidos nas últimas décadas na busca por um ambiente

com ar mais limpo, especialmente nos países desenvolvidos, os atuais níveis

de poluição continuam sendo danosos à saúde, principalmente nos países em

desenvolvimento, e particularmente nas grandes aglomerações urbanas.

Através de estudos epidemiológicos realizados em centros urbanos, e de

cruzamento das medidas de qualidade do ar da CETESB com os dados de

saúde do município de São Paulo, dos últimos 20 anos, chegou-se a conclusão

de que as concentrações de poluentes dos grandes centros urbanos provocam

afecções agudas e crônicas no trato respiratório, mesmo com as

concentrações abaixo dos padrões de qualidade do ar estabelecidos pela

CETESB. Também foi concluído que a poluição do ar em São Paulo induz a

mutação no Ácido Desoxirribonucléico (DNA), favorecendo o surgimento de

tumores pulmonares na população humana e nos animais. E ainda, nos

períodos de inversão térmica, ocorre o aumento da morbidade e mortalidade

por doenças respiratórias e cardiovasculares (ESTEVES et al, 2007).

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CAPÍTULO 4 – CONTEXTO DA UTE PIRATININGA

4.1. Região sul do município de São Paulo: problemas ambientais e urbanos

A RMSP possui uma área de 8.051km² com uma população de cerca de 20

milhões de habitantes, distribuída de maneira desigual em uma área

urbanizada de 1.747km². Ocupa cerca de 0,1% do território brasileiro e é o

terceiro maior conglomerado urbano do mundo, responsável por 1/6 do PIB

nacional (JACOBI, 2006). Está situada no Planalto Atlântico, em um

compartimento rebaixado, cujo relevo de colinas varia entre 650 e 1.200 m de

altitude. Sua condição geográfica acidentada e a proximidade com o Oceano

Atlântico influenciam fortemente o padrão de circulação atmosférica.

A origem histórica da segregação nas cidades ocidentais teve início na

Revolução Industrial, quando a urbanização cresceu. Dessa forma, trabalho e

residência se separaram no espaço físico. A burguesia e operariado passaram

a morar em locais distintos no espaço intra-urbano. Nas cidades brasileiras, o

modelo tradicional, com os pobres morando na periferia, acentuou-se no século

XX (TASCHNER, 2001).

Segundo Kowarick (1994) citado por Macedo (2005), as mudanças no regime

de propriedade foram fundamentais na definição do crescimento urbano e em

sua legalização no final de 1800. Nesse período foram definidos os bairros de

elite, bem como as periferias da capital. Estabeleceu-se a geografia social da

cidade, com os ricos concentrados no eixo sudoeste e os pobres distribuídos

fora do perímetro urbano, principalmente às margens do rio Tamanduateí, em

áreas alagáveis e menos salubres como Mooca, Brás, Belém entre outros.

Assim como os loteamentos residenciais para a classe alta recebiam incentivos

e financiamento, as atividades poluentes das indústrias eram confinadas às

zonas periféricas, onde as habitações econômicas eram construídas sem

restrições por loteadores e proprietários de terras. Esse padrão de crescimento

chegou até a década de 1970, com a incapacidade do Poder Público de

resolver o problema de moradia.

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Com a crescente industrialização do período pós-guerra, também cresceram os

problemas urbanos do município de São Paulo. O governo da época, incapaz

de resolver os problemas de habitação para as populações carentes, favoreceu

a expansão das periferias, onde as moradias auto-construídas em lotes sem

escritura ou infra-estrutura básica aumentavam em ritmo acelerado

(KOWARICK, 1994 apud MACEDO, 2005).

Segundo Grostein (2001), na cidade de São Paulo, 19,8% da população mora

em favelas, a beira de córregos, encostas, margens de avenidas e sob

viadutos. No início da década de 1970, esse índice era de apenas 1%. Isso

confirma a redução de acesso à moradia para as populações mais pobres.

Dessa forma, a urbanização resultou no agravamento de práticas ambientais

predatórias, gerando diversos impactos no solo, água e ar, que afetam o

conjunto urbano, em especial, as áreas ocupadas pela população de baixa

renda, com perdas e deseconomias significativas para o funcionamento

adequado do conjunto metropolitano.

Após os anos 1980, a crise econômica se agravou. A classe média

empobreceu e a classe trabalhadora, que desde a década de 1930 era

empregada na indústria e construção civil, começou a migrar para o trabalho

informal na década de 1990. As desigualdades sociais se acentuaram ainda

mais com impactos sobre o uso e ocupação do solo, assim como nos

transportes e nas questões ambientais urbanas. Nesse meio tempo, a classe

trabalhadora foi empurrada para mais longe, em direção às regiões sul e leste

(OLIVEIRA, 1996 apud MACEDO, 2005).

A periferização da população metropolitana acentuou-se nos anos 90. Com

isso, a população mais pobre foi empurrada para as regiões cada vez mais

distantes. Além disso, o processo de desconcentração industrial, para regiões

com mão de obra mais barata e com menos impostos, continuou. Atrelam-se a

isso, fatores como a migração de retorno e a fuga das classes médias para

condomínios fechados nas cidades vizinhas (TASCHNER, 2001).

Para Jacobi (2006), as periferias caracterizam-se por concentrar bolsões de

pobreza, abrigando a maior parte da população de baixa renda. Essa situação

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é agravada pelos intensos conflitos com relação ao uso e ocupação do solo,

que reflete no aumento de favelas e loteamentos clandestinos. Isso contribui

para o agravamento de algumas condições de vulnerabilidade social, pois é na

região periférica que se encontram alguns dos piores indicadores de segurança

pública, por exemplo, além de altas taxas de mortalidade por causas externas.

Essa urbanização precária acaba gerando impactos ambientais, como a

poluição das águas, principalmente em áreas de mananciais. As áreas

periféricas da RMSP, incluindo as áreas de proteção aos mananciais,

apresentam um acréscimo populacional que excede 5% ao ano, muito superior

ao valor médio de crescimento da metrópole, estimado em torno de 1,4% ao

ano (JACOBI, 2006).

A RMSP também se defronta com problemas específicos de poluição do ar,

devido a combinação de fatores topográficos, climáticos e do excesso de

veículos automotores, inclusive veículos em mau estado de conservação, o que

agrava ainda mais a baixa qualidade do ar. As condições atmosféricas

particulares dessa região criam o fenômeno de inversão térmica no inverno,

que piora os problemas de poluição do ar e seus impactos na saúde da

população, particularmente com o aumento de doenças pulmonares.

Os padrões limites aceitáveis de qualidade do ar, freqüentemente, são

ultrapassados nessas regiões. Esse fato, inicialmente, estava associado à

produção industrial, que agora reduziu significativamente seu impacto, dando

espaço para a poluição produzida por veículos automotores, responsáveis por

90% dos gases poluentes e partículas emitidas na atmosfera. A qualidade do ar

piora a cada dia com o aumento do número de automóveis em circulação, com

as más condições de regulagem dos motores e com os crescentes

congestionamentos.

Esses problemas levantados vêm sobretudo do processo de crescimento da

cidade, caracterizado pelo desordenado processo de periferização. Com a

expulsão da população de baixa renda para as zonas periféricas, acentua-se a

degradação ambiental em virtude do impacto da expansão desordenada e pela

falta de infra-estrutura adequada. Na periferia estão os piores indicadores

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socioeconômicos. Lá se concentram as maiores taxas de crescimento e as

maiores proporções de jovens, a maior porcentagem de não brancos e de

migrantes oriundos do Nordeste (BÓGUS & PASTERNAK, 2004).

De acordo com Comarú (2009), também é importante destacar que o município

de São Paulo tem sofrido um esvaziamento das áreas centrais para a periferia.

Desse modo, como grande parte da população trabalha, estuda ou pratica

outras atividades na parte central da cidade, é necessário um grande

deslocamento dessa população. Isso implica em mais transporte, impactando

na qualidade do ar.

4.2. Estudo de caso: UTE Piratininga

Como foi dito anteriormente, a UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian

estão localizadas na Zona Sul do município de São Paulo, junto ao canal

Pinheiros e à barragem de Pedreira, à Avenida Nossa Senhora do Sabará, nº

5.312, no Distrito de Pedreira, pertencente à Subprefeitura de Cidade Ademar.

A propriedade de 915.267,81 m² de área é da EMAE. Nesse terreno localizam-

se as instalações da UTE Piratininga e as unidades da UTE Fernando

Gasparian.

4.2.1. Histórico e importância do empreendimento

A UTE Piratininga foi construída na década de 1950 com um projeto inicial que

previa a utilização do carvão mineral como combustível. Passou a operar em

1954, possuindo importante papel energético para a RMSP. A configuração

inicial da usina compreendia duas unidades denominadas unidades 1 e 2 (2 x

100 MW) que entraram em operação em 1954. Em 1960 foi iniciada a operação

de outras duas unidades, denominadas unidades 3 e 4 (2 x 136 MW) (EIA,

2002; ROMERO, 2004; ZANCHETA, 2005; EMAE, 2007).

Devido às dificuldades operacionais para seu funcionamento, o projeto foi

adaptado para o uso de óleo combustível com alto teor de enxofre tipo 1A,

sendo substituído em 1986 por óleo combustível com baixo teor de enxofre 1B,

conforme recomendações da CETESB (EIA, 2002; ROMERO, 2004;

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ZANCHETA, 2005). De 1973 até 1980, a usina operou apenas para atender

pontas de carga do Sistema Interligado Nacional (SIN) gerando pouca energia.

A partir de 1980 até 1985, foi colocada em regime de reserva fria4, funcionando

apenas para atendimento de emergências. Isso acarretou na deterioração dos

equipamentos da usina, afetando seu desempenho. Ainda em 1985, com a

baixa disponibilidade de água nas hidrelétricas, a UTE Piratininga foi solicitada

a operar em regime de base. E a partir de 1987, voltou a operar apenas com

duas unidades em carga mínima, em função da regularização dos volumes de

água nos reservatórios para a geração hidrelétrica (EIA, 2002; ZANCHETA,

2005).

Em 1989, a Eletropaulo realizou estudos para apontar soluções para a

extensão da vida útil e aumento da confiabilidade operacional da usina. Esses

estudos resultaram na substituição de componentes, adaptação para queima

de gás natural e modernização dos sistemas de supervisão e controle. No

início de 1998, com a cisão da Eletropaulo, a EMAE tornou-se responsável

pelas atividades de geração de energia elétrica e controle de cheias do canal

Pinheiros, iniciando um processo de adoção de medidas corretivas nas suas

atividades perante a CETESB e SMA.

No final de 1998, a EMAE submeteu à CETESB o Termo de Compromisso de

Ajustamento de Conduta Ambiental (TCACA), com a obrigação de substituir os

queimadores das unidades geradoras da UTE Piratininga para a melhoria da

combustão, visando a redução de fumaça preta por períodos superiores a 15

minutos na partida das unidades (EIA, 2002). Segundo o EIA (2002), entre

1998 e 2000 a UTE Piratininga foi alvo de várias reclamações de moradores da

região sobre a emissão de fumaça preta, que resultou na aplicação de autos de

inspeção e de infração, seguidos de multa. Esses episódios decorreram da

necessidade da usina operar em regime de base, visando suprir as deficiências

das usinas hidrelétricas. Com isso, a comunidade passou a questionar os

problemas ambientais através de reclamações e denúncias nos órgãos

ambientais. Sendo assim, em 1999 a EMAE protocolou na CETESB um termo

substitutivo ao TCACA. Nesse termo, além de reiterar as medidas corretivas

relativas às emissões para a atmosfera, propôs a utilização do gás natural

4 Baixa geração.

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como combustível alternativo para as unidades 1 a 4 visando o ganho

ambiental. Nessa ocasião a EMAE assinava o contrato com a Companhia de

Gás de São Paulo (COMGÁS) para recebimento de 550.000 m³ / dia de gás

natural (EIA, 2002).

Em 2000 a EMAE entrou no Departamento de Avaliação de Impacto Ambiental

(DAIA), da SMA e CETESB com um pedido de dispensa de licenciamento

ambiental da modernização da usina que consistia na:

Substituição de três caldeiras a óleo por um conjunto de quatro turbinas

a gás com a manutenção da geração de 472 MW da usina;

Substituição dos 472 MW instalados nas caldeiras a vapor por 372 MW

que seriam gerados pelas turbinas a gás;

Manutenção da configuração existente da unidade 1 com a garantia de

produção de vapor para a geração de 100 MW e queima de gás natural

na caldeira desta unidade em substituição ao óleo combustível.

Com essas alterações, haveria a redução das emissões e concentrações de

todos os poluentes em relação à configuração existente.

Ainda segundo o EIA (2002), em 2001 a SMA informou que as alterações

previstas na usina foram dispensadas de licenciamento prévio (LP). No

entanto, estavam sujeitas à obtenção de licença de instalação (LI), que mais

tarde foi expedida, e de operação (LO), que contava com algumas condições

dadas pela Coordenadoria de Licenciamento Ambiental e de Proteção e

Recursos Naturais (CPRN) e pelo DAIA. Essas condições eram:

Apresentação do plano de gerenciamento de riscos para as fases de

transição e futura da usina;

Instalação de instrumentos de registros operacionais para a garantia de

geração total de energia de no máximo 472 MW;

Apresentação de um plano de monitoramento das emissões

atmosféricas com amostragens das chaminés;

Envio de relatórios semestrais à SMA.

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De acordo com o Departamento de Gestão Ambiental da EMAE, todas essas

condições estão sendo cumpridas pela empresa. As duas últimas, somente

quando a usina está em operação.

No mesmo ano, a EMAE solicitou licença através de um Relatório Ambiental

Preliminar (RAP), para a instalação de 4 caldeiras de recuperação de calor

para operar em ciclo combinado com as 4 turbinas a gás da UTE Fernando

Gasparian, já licenciadas. Ficou então, aprovada a instalação dessas caldeiras

e 4 chaminés, sem queima adicional de combustível com ampliação da

potência em 220 MW, aumentando a capacidade instalada de 472 para 692

MW.

4.2.2. Descrição da UTE Piratininga

Desde o projeto inicial até sua modernização, a descrição da UTE Piratininga

pode ser feita basicamente em 2 fases, segundo o EIA de modernização e

ampliação da usina.

A fase 1 corresponde às instalações originais da usina em operação, com

capacidade de geração instalada de 472 MW. As instalações são constituídas

por 4 turbinas a vapor, uma caldeira convertida para queimar gás, três

caldeiras com queima a óleo combustível, sistemas de resfriamento de vapor

com captação no canal Pinheiros e represa Billings e demais instalações. Na

fase 1, as unidades 1 e 2 são compostas de turbinas instaladas em 1954,

fabricadas pela General Electric Co (GE) e pelas caldeiras. Já as unidades 3 e

4 são compostas por turbinas instaladas em 1960, também fabricadas pela GE.

Em 2001 essas caldeiras foram convertidas para utilizar gás natural. As

mesmas são compostas por fornalha, tubulão de vapor, superaquecedor,

queimadores e aquecedor de ar. Entre os elementos auxiliares, destacam-se

os ventiladores forçados e induzidos, que suprem o ar necessário à combustão

e executam a tiragem dos gases da fornalha para a atmosfera através da

chaminé. Os geradores das unidades 1 e 2 têm capacidade máxima garantida

de 100 MW. Nas unidades 3 e 4, os geradores têm capacidade máxima

garantida de 136 MW (EIA, 2002).

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A figura 5 mostra as instalações referentes a fase 1 da UTE Piratininga, com

potência instalada de 472 MW.

Figura 5 - Esquema das instalações da UTE Piratininga na fase 1.

Fonte: CETESB (2007)

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A fase 2 corresponde a uma parte da modernização da usina. Consistiu na

substituição da tecnologia de produção de energia elétrica, que caracteriza a

instalação de 4 turbinas a gás e 4 caldeiras de recuperação visando melhor

aproveitamento de energia disponibilizada pelo gás natural. Essa fase

representa o fechamento parcial do ciclo combinado da usina, permitindo o

aumento de sua capacidade instalada para 692 MW. Também é caracterizada

pela operação da turbina a vapor acionada pela caldeira existente na fase 1 e

das 4 turbinas a gás operando em ciclo combinado com as turbinas a vapor. O

acionamento das 2 turbinas a vapor da fase 1 será realizado pelas caldeiras de

recuperação da fase 2. Nessa fase, a usina opera com 4 turbinas a gás cujo

conceito básico de funcionamento consiste na conjugação do ciclo Rankine,

com o ciclo básico de operação da turbina a gás, definido pela compressão,

aquecimento, e expansão do gás natural, denominado ciclo Brayton. A potência

elétrica gerada na configuração de um ciclo combinado da UTE Piratininga e

UTE Fernando Gasparian é de 186 MW nas duas turbinas a gás e de 110 MW

na turbina a vapor, totalizando uma potência elétrica de 296 MW, na

configuração de ciclo combinado. Considerando-se que nessa fase há a

geração de energia elétrica por 4 turbinas a vapor (100 MW), a geração elétrica

é de 692 MW (EIA, 2002).

Como parte da modernização das UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian,

estava prevista a fase 3, na qual seriam instaladas 3 turbinas a gás em ciclo

combinado com 3 caldeiras de recuperação, cuja potência estimada total a ser

gerada na ampliação seria de 505,6 MW. Com essa configuração, o ciclo

combinado por duas turbinas GT11N2 (Alstom) e uma caldeira de recuperação

geraria 189 MW nas turbinas a gás e 100 MW na turbina a vapor, e o ciclo

combinado por uma turbina PG7241 (GE) e uma caldeira de recuperação que

deveria gerar 146,6 MW na turbina a gás e 70 MW na turbina a vapor.

Considerando que com o início da operação da fase 3 haveria geração de

energia elétrica por 7 turbinas a gás (4 da fase 2, mais 3 turbinas instaladas na

fase 3) operando em ciclo combinado com 4 turbinas a vapor remanescentes

da fase 1, foi estimado que a geração final total da UTE Piratininga e UTE

Fernando Gasparian seria de 1097,6 MW (EIA, 2002). No entanto, de acordo

com o Departamento de Gestão Ambiental da EMAE, a fase 3 não tem

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previsão para ser implantada. A principal causa, segundo o Departamento, é a

falta de abastecimento de gás natural, que inviabiliza a instalação do resto do

processo de modernização da usina.

4.3. EIA da UTE Piratininga

Segundo o EIA (2002), os principais poluentes emitidos pela UTE Piratininga

são: óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de enxofre (SO2), monóxido de

carbono (CO), material particulado (MP) e compostos orgânicos voláteis que

correspondem a compostos orgânicos totais menos metano, e hidrocarbonetos

(HC), que equivalem aos compostos orgânicos totais.

Na elaboração do EIA da usina, a empresa contratada pela EMAE realizou

simulações matemáticas utilizando as taxas de emissões de operação nominal

máxima, calculadas através de fatores de emissões obtidos no Compilation AP-

42 da United States Environmental Protection Agency (USEPA). A partir dessas

simulações, foram elaboradas as tabelas a seguir. A tabela 10 mostra as taxas

de emissão (g/s) para os seguintes poluentes.

Tabela 10 - Simulações com as taxas de emissão dos poluentes atmosféricos provindos do funcionamento da UTE Piratininga nas fases 1 e 2.

POLUENTE EM POTÊNCIA

MÁXIMA DE OPERAÇÃO (MW) EMISSÃO TOTAL NA FASE 1 (g/s)

EMISSÃO TOTAL NA FASE 2 (g/s)

MP 33,58 6,92 SO2 408,58 0,38 NOx 191,78 77,43 CO 27,97 18,94

Compostos Orgânicos Voláteis 5,7 4,08

Fonte: Elaboração própria com os dados do EIA (2002)

Através dos cálculos expostos pelo EIA, é possível verificar que as taxas dos

poluentes atmosféricos emitidos pela UTE Piratininga diminuem

significativamente da fase 1 para a fase 2, com exceção dos compostos

orgânicos voláteis, o qual não varia muito de uma fase para a outra. A

diminuição desses valores pode estar atribuída à troca do óleo combustível

pelo gás natural, à modernização das instalações e ao fechamento do ciclo

combinado.

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4.3.1. Avaliação do EIA sobre os impactos na qualidade do ar

De acordo com o EIA da UTE Piratininga, durante a operação da usina, a

qualidade do ar da região do entorno pode ser alterada devido a emissão de

poluentes provenientes da combustão do gás natural nas turbinas. Os impactos

decorrentes dessas emissões dependem das condições meteorológicas,

topografia e da intensidade das mesmas, pois influem diretamente na

dispersão dos poluentes na atmosfera.

Os principais poluentes atmosféricos avaliados pelo EIA de Modernização e

Ampliação da UTE Piratininga foram: MP, SO2, NOx, CO, compostos orgânicos

voláteis e HC. Para a avaliação dos impactos decorrentes das emissões

geradas pelo funcionamento da usina, a empresa contratada pela EMAE

realizou simulações através de modelos matemáticos de dispersão de

poluentes na atmosfera, considerando o pior cenário. A partir da modelagem

matemática foram estimadas as máximas concentrações ao nível do solo para

os principais poluentes na área de influência do empreendimento (sendo

considerada de influência direta, um raio de 8 km da usina). Além disso, foram

estimadas as concentrações ao nível do solo para os mesmos poluentes em

locais denominados, pelo EIA, de receptores discretos, como a estação da

CETESB em Congonhas.

Analisando as informações trazidas no EIA, cabe ressaltar que essas

simulações contaram somente com o uso do gás natural como combustível,

sem levar em consideração o uso do óleo, uma vez que em situações

emergenciais e com autorização dos órgãos ambientais, a UTE Piratininga, na

falta do gás, poderia utilizar o óleo combustível para a geração de energia

elétrica.

Os resultados das simulações mostradas no EIA estão na tabela 11, onde é

possível observar as concentrações máximas dos poluentes ao nível do solo

nas duas fases do empreendimento e o padrão de qualidade do ar no período

de 1995 a 1999.

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Tabela 11 - Simulações através de modelos matemáticos com as concentrações máximas dos poluentes ao nível do solo no período de 1995 a 1999 das fases 1 e 2 da UTE Piratininga.

POLUENTE EXPOSIÇÃO FASE 1 FASE 2

PADRÃO (µg/m³)

1º > RESULTADO

(µg/m³)

2º > RESULTADO

(µg/m³)

1º > RESULTADO

(µg/m³)

2º > RESULTADO

(µg/m³)

MP 24h 43,94 38,68 4,67 4,23 150

anual 3,83 3,22 0,35 0,33 50

SO2 24h 531,99 469,18 0,27 0,24 365

anual 46,18 39,05 0,02 0,02 80

NOx 1h 753,58 747,16 308,86 306,3 320

anual 18,1 15,22 7,44 6,49 100

CO 1h 130,3 130,01 66,84 66,34 40.000 8h 85,56 79,16 45,3 28,79 10.000

Compostos Orgânicos Voláteis 3h 24,49 19,68 9,15 7,05 160

Fonte: Elaboração própria com os dados do EIA (2002)

Através da tabela 11, pode-se observar a diminuição dos poluentes

atmosféricos emitidos pela UTE Piratininga entre a fase 1 e 2, principalmente

de MP, SO2, CO e compostos orgânicos voláteis. É interessante destacar os

níveis de NOx em 1 hora, que na fase 1 ultrapassam significativamente os

padrões de qualidade do ar. Da fase 1 para a fase 2, esses níveis baixam. No

entanto, os valores medidos para o poluente chegam bem próximos do limite

estabelecido pela legislação.

A tabela 12 mostra a concentração máxima dos poluentes ao nível do solo na

estação Congonhas, considerada como ponto discreto, no período de 1995 a

1999 nas duas fases do empreendimento: Tabela 12 - Simulações através de modelos matemáticos com as concentrações máximas dos poluentes ao nível do solo na estação Congonhas no período de 1995 a 1999 nas fases 1 e 2

da UTE Piratininga.

POLUENTE EXPOSIÇÃO ESTAÇÃO CONGONHAS PADRÃO (µg/m³) FASE 1 FASE 2

MP 24h 6,15 1,03 150 anual 0,29 0,05 50

SO2 24h 74,54 0,06 365 anual 3,49 0,002 80

NOx 1h 199,98 117,16 320

anual 1,35 0,81 100

CO 1h 35,11 21,58 40.000 8h 9,57 5,92 10.000

Compostos Orgânicos Voláteis 3h 3,41 2,16 160

Fonte: Elaboração própria com os dados do EIA (2002)

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As tabelas 11 e 12 mostram a diminuição dos níveis de poluentes atmosféricos

da fase 1 para a fase 2, ou seja, com o ciclo combinado, houve um ganho

ambiental em relação à emissão de poluentes da usina. Contudo, vale salientar

que as simulações realizadas utilizando os dados de qualidade do ar da

estação Congonhas, não mostra fielmente a realidade local da dispersão de

poluentes provindos da termoelétrica, por Congonhas estar em uma região

afastada do empreendimento. Isso pode ter influenciado nos baixos valores dos

poluentes.

De acordo com o EIA, o funcionamento da UTE Piratininga gera emissões

atmosféricas. Desse modo, a alteração na qualidade do ar é um impacto de

ocorrência certa. No entanto, as avaliações realizadas pela empresa contratada

pela EMAE, que elaborou o EIA, indicam que após a modernização das

instalações, substituição do óleo combustível pelo gás natural e melhoria da

tecnologia no processo de combustão, haveria uma redução significativa no

impacto gerado pelas emissões atmosféricas sobre a qualidade do ar, como foi

mostrado nas tabelas 10, 11 e 12 (EIA, 2002).

É importante destacar que em muitos países, tem-se investido em novas

tecnologias que reduzam a emissão de poluentes atmosféricos provindos de

usinas termoelétricas. Esses países estão desenvolvendo combustíveis mais

limpos que impactam menos o meio ambiente, melhorando a eficiência

energética dos empreendimentos, investindo em técnicas de conservação de

energia, tecnologia de combustão limpa entre outras.

4.3.2. Medidas mitigadoras propostas pelo EIA

Foram propostas, no EIA da UTE Piratininga, algumas medidas mitigadoras,

principalmente em relação ao controle e monitoramento da emissão de

poluentes atmosféricos. O EIA propôs o monitoramento da velocidade dos

ventos nos arredores do empreendimento e previsão meteorológica com

indicação em painel e sistemas de alarmes, pois considerando o inverno como

período crítico para a dispersão de poluentes, a qualidade do ar poderia ser

comprometida. Desse modo, em períodos mais críticos para a dispersão de

poluentes, poderia ser programada a redução de carga de operação da usina

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nos horários fora de pico de consumo de energia elétrica. Além disso, foi

proposto o adensamento de áreas verdes no entorno do empreendimento,

incluindo espécies bioindicadoras sensíveis aos poluentes emitidos pela usina,

como contribuição ao consumo de CO2 presente no ambiente (EIA, 2002).

Entre as medidas mitigadoras, também foi proposto pelo EIA (2002) a adoção

de programas de monitoramento da qualidade do ar citados abaixo:

Programa de monitoramento contínuo das fontes emissoras: o

empreendedor propõe-se a monitorar os poluentes com maior

significância ambiental no processo de operação de usinas térmicas a

gás natural e instalar medidores na saída das chaminés para registrar as

emissões de NOx e CO (esse monitoramento será contínuo e com

indicação em painel, com sistema de alarmes que permitam a adoção de

medidas imediatas caso os valores medidos ultrapassem os padrões de

emissão pré-estabelecidos).

Programa de monitoramento periódico das fontes emissoras: o

empreendedor propõe-se a monitorar os NOx, CO, SO2, MP e

compostos orgânicos voláteis. Esse monitoramento será efetuado nos

períodos e com freqüência estabelecidos pela CETESB. Para isso, será

utilizada a metodologia estabelecida pelo órgão ambiental. Além disso,

será construída a plataforma e realizada a furação das chaminés, de

acordo com as normas da CETESB.

Programa de monitoramento da qualidade do ar: o empreendedor

propõe-se a instalar uma estação de monitoramento da qualidade do ar

na área do empreendimento, que será operada pela CETESB, no intuito

de medir e analisar os níveis de qualidade do ar na região.

É importante destacar que, segundo o Departamento de Gestão Ambiental da

EMAE, o monitoramento contínuo e periódico já é realizado pela equipe do

laboratório químico da EMAE. Já em relação ao monitoramento da qualidade

do ar está em tramitação um convênio com a CETESB para a instalação e

operação de uma estação de monitoramento dentro da usina.

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4.3.3. Avaliação do EIA sobre os impactos na saúde da população

Para a avaliação dos impactos na saúde da população o EIA da UTE

Piratininga utilizou indicadores de morbidade e mortalidade, além dos dados

das emissões dos poluentes. Através dessa avaliação, o EIA chegou à

conclusão de que os poluentes: NOx, SO2, CO, MP e O3, tiveram associação

com um ou mais indicadores de saúde. Desse modo, o diagnóstico da saúde

ambiental, realizado pelo EIA, mostrou que esses poluentes são responsáveis

pelo aumento nas internações hospitalares e óbitos de crianças menores de 5

anos e de idosos maiores de 60 anos por doenças respiratórias (EIA, 2002).

Ainda segundo o EIA, a comparação entre as taxas de mortalidade no

município de São Paulo e nos distritos estudados: Pedreira e Cidade Ademar,

pode ser ilustrada na tabela 13, que mostra os óbitos por doenças respiratórias,

geral e infantil, com as respectivas populações e taxas de mortalidade no ano

de 1998.

Tabela 13 - Óbitos por doenças respiratórias no município de São Paulo e Distritos de Pedreira

e Cidade Ademar (por 10 mil habitantes, 1998).

TAXA MORTALIDADE (10 mil hab.), 1998 ÁREAS POPULAÇÃO D. RESPIRATÓRIA GERAL INFANTIL

Município de São Paulo 9.917.817 6,5 6,8 17,9 Cidade Ademar 234.640 5,4 6,4 19,5

Pedreira 119.118 2,4 4,2 15,5

Fonte: Elaboração própria com os dados do EIA (2002)

Ao observar a tabela 13, pode-se verificar que a taxa de mortalidade geral por

doenças do aparelho respiratório em Cidade Ademar e no município de São

Paulo estão bem próximas. Além disso, cabe destacar que em Cidade Ademar,

a taxa de mortalidade infantil está acima da média em relação ao município

pela mesma causa.

Para os estudos de morbi-mortalidade, conforme mostra o EIA, foram utilizados

os dados de internações hospitalares levantados através dos relatórios de

autorizações de internações hospitalares (AIH) do Sistema Único de Saúde

(SUS), selecionando apenas os hospitais localizados na área de influência das

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emissões atmosféricas da UTE Piratininga (Hospital Regional Sul, Hospital

Municipal Arthur Ribeiro de Saboya, Hospital Geral do Grajaú, Hospital Escola

Wladmir Arruda, Hospital Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro, Hospital

Geral de Pedreira, Hospital Municipal Fernando Mauro Pires Rocha e Hospital

Sagrado Coração de Jesus). Já os dados de mortalidade foram fornecidos pelo

Programa de Aprimoramento em Informações de Mortalidade da Prefeitura

Municipal de São Paulo (PROAIM), para os anos de 1998 a 2000.

Através de modelagem estatística e aplicativo computacional, utilizando os

dados de morbi-mortalidade, de condições meteorológicas junto ao Instituto de

Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) e de qualidade do ar junto

a CETESB, a avaliação realizada pelo EIA mostra a susceptibilidade de

crianças e idosos aos poluentes atmosféricos ao observar a tabela 14.

Percebe-se que os mesmos apresentam associação com as internações

respiratórias, principalmente nas crianças menores de 5 anos. Já em relação

aos óbitos, dos poluentes estudados, apenas MP e CO estiveram

estatisticamente associados à mortalidade respiratória de idosos (EIA, 2002).

Tabela 14 - Aumento percentual nas internações e óbitos da população da área de influência

por doenças do aparelho respiratório devido os aumentos na concentração de poluentes atmosféricos de 1998 a 2000.

INTERNAÇÕES D. RESPIRATÓRIAS

AUMENTO PERCENTUAL (Ic 95%) MP SO2 CO NO2 O3

≤ 5 anos 9,1 6,9 4,9 6,5 3,4 ≥ 60 anos - 8,1 - 11,5 7,6 ÓBITOS D.

RESPIRATÓRIAS AUMENTO PERCENTUAL (Ic 95%)

MP SO2 CO NO2 O3 ≤ 5 anos - - - - -

≥ 60 anos 9,8 - 7,5 - -

Fonte: Elaboração própria com os dados do EIA (2002)

De acordo com o EIA da UTE Piratininga, as internações por doenças

respiratórias caracterizaram um indicador adequado, pois foi afetado por todos

os poluentes. A partir das avaliações feitas pelo EIA, foi possível observar que

para as duas faixas etárias analisadas, foram evidenciados efeitos associados

ao aumento de diversos poluentes. Em relação à mortalidade, já era esperado

encontrar resultados menos expressivos, pois o óbito, por ser um evento de

freqüência mais rara, pode ser uma variável menos sensível. No entanto, os

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efeitos encontrados para todos os poluentes em crianças não teve uma

resposta estatisticamente significativa. Quanto aos óbitos de idosos, a análise

do EIA identificou uma relação entre as doenças respiratórias, MP e CO (EIA,

2002).

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CAPÍTULO 5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. Introdução

Com as visitas técnicas realizadas à UTE Piratininga foi possível conhecer as

instalações da mesma, registrar algumas imagens e compreender seu

funcionamento, tanto o processo de produção de energia elétrica como a

estrutura organizativa. As figuras 6, 7, 8 e 9 mostram as instalações da UTE

Piratininga e UTE Fernando Gasparian.

Figura 6 - UTE Piratininga. Figura 7 - UTE Fernando Gasparian ao fundo.

(Foto: Louise Nakagawa, 18/04/2008) (Foto: Louise Nakagawa, 18/04/2008)

Figura 8 - Gerador ativo desde 1954. Figura 9 - Caldeira a óleo combustível.

(Foto: Louise Nakagawa, 18/04/2008) (Foto: Louise Nakagawa, 18/04/2008)

Essas visitas permitiram a coleta dos dados necessários à pesquisa, como a

geração de energia elétrica e o consumo de óleo combustível e gás natural.

Como resultado dessas coletas foram elaborados planilhas e gráficos.

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5.2. Geração de energia elétrica da UTE Piratininga

A tabela 15 mostra os dados de geração da UTE Piratininga, no qual a geração

de energia elétrica e consumo de combustíveis estão somados ao trabalho das

4 unidades da usina.

Tabela 15 - Dados anuais de geração de energia elétrica da UTE Piratininga.

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Geração (MWh) 399.896 1.508.929 1.751.465 1.917.372 921.697 284.359 160.691 185.327 128.562 0

Óleo Combustível Consumido (ton) 132.856 415.556 421.941 337.990 45.774 7.253 0 0 5164,4 0

Gás Natural Consumido (m³) 0 0 94.032,9 229.821,2 298.696,3 108.336,8 61.785 63.495,1 44.879,9 3,2

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

Através da tabela 15 foi elaborado o gráfico 12 que mostra a geração de

energia e consumo dos combustíveis nos anos de 1998 até 2007.

Geração anual de energia elétrica da UTE Piratininga (MWh)

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Geração (M Wh)

Óleo Combust ível Consumido (ton)

Gás Natural Consumido (m3)

Gráfico 12 - Geração anual de energia elétrica da UTE Piratininga e combustíveis consumidos.

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

Nesse gráfico é possível verificar o aumento significativo na geração de energia

elétrica a partir do ano de 1999 até 2001, diminuindo nos anos seguintes.

Também pode-se observar o consumo dos combustíveis nesse período, no

qual o óleo combustível diminuiu a partir de 2001, tendo seu consumo zerado

em 2004. A diminuição do uso de óleo se deu principalmente pelo fato do

mesmo ser mais caro que o gás natural, por emitir maior quantidade de

poluentes atmosféricos e pelo início de operação do GASBOL, que abasteceria

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o Estado de São Paulo. O gás natural, que passou a ser utilizado em 2000,

atingiu seu pico no ano de 2002 e passou a decair nos anos seguintes,

praticamente zerando em 2007, quando a UTE Piratininga não gerou energia

elétrica. Essa paralisação na geração foi em decorrência das cheias dos

reservatórios das hidrelétricas, sendo suficiente para atender a demanda de

energia elétrica.

Com isso, observou-se a necessidade de analisar melhor o intervalo de tempo,

mês a mês entre 1999 e 2002, destacando os períodos nos quais a usina gerou

mais energia elétrica, como podemos ver na tabela 16.

Tabela 16 - Geração mensal de energia elétrica da UTE Piratininga (MWh).

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 1999 79.375 101.125 100.243 90.097 132.532 126.138 134.439 144.179 149.501 138.842 147.572 168.886 2000 173.081 162.196 151.182 62.286 112.632 177.633 182.365 36.715 142.498 121.924 144.464 139.617

2001 144.814 114.140 140.463 149.562 148.461 138.344 144.511 202.064 201.726 214.950 191.772 126.565

2002 117.846 83.087 86.688 75.592 76.066 40.535 72.604 77.747 80.659 90.637 48.990 71.837

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

Através da tabela 16 foi elaborado o gráfico 13, que mostra a geração mensal

de energia elétrica no intervalo de 1999 a 2002, destacando seus picos e

quedas, para posteriormente serem comparados aos dados de qualidade do ar

e de saúde.

Geração mensal de energia elétrica da UTE Piratininga de 1999 - 2002 (MWh)

0

50.000

100.000

150.000

200.000

250.000

J/99 M M J S N J/00 M M J S N J/01 M M J S N J/02 M M J S N

Gráfico 13 - Geração mensal de energia elétrica da UTE Piratininga (1999 - 2000).

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

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Através desse gráfico, nota-se que a geração de energia elétrica foi crescente

durante todo o ano de 1999, apresentando duas fortes quedas em abril e

agosto de 2000. De acordo com o Departamento de Gestão Ambiental da

EMAE, normalmente o aumento da geração está associado à demanda no SIN.

A queda ocorrida em abril pode ser por causa da grande oferta de energia

hídrica e, em agosto, provavelmente pelas limitações da troca térmica no Canal

Pinheiros, por conta da pouca disponibilidade (estiagem) e baixa

movimentação da água (impedimento do bombeamento).

No ano de 2001, a geração de energia elétrica atinge seu pico máximo de

agosto a novembro, decaindo nos outros meses e mantendo-se relativamente

estável em 2002. Esse período de forte geração coincide com a crise no setor

elétrico em 2001. Com a cheia dos reservatórios de água e fim da crise, a

geração da UTE Piratininga diminui acentuadamente a partir de 2002.

5.3. Análise dos dados de qualidade do ar e a relação com geração de energia elétrica da UTE Piratininga

A fim de estudar as relações entre a geração de energia elétrica e a qualidade

do ar, foram coletados os dados do laboratório químico da EMAE que realiza

algumas medições dos poluentes emitidos no funcionamento da usina como

CO, SO2 e NOx. Essas medições são realizadas no 1º, 3º e 5º andares das

chaminés, nas faces leste e oeste das mesmas nas unidades 1 e 2, e unidades

3 e 4. Essas medições são feitas por um único aparelho: Telegan Gas

Monitoring – Tempest 100 (série TP20387) que emite um relatório constando

os valores de O2 (%), CO (ppm), NOx (ppm), SO2 (ppm), temperatura, umidade

e pressão.

Para esta pesquisa foram coletados somente os dados da unidade 2, no 3º

andar e em ambas as faces da chaminé, devido a maior freqüência nas

medições nessa unidade e andar. Entretanto, as medições não obedecem uma

periodicidade nem um padrão de geração de energia, ou seja, a medição pode

acontecer quando a usina está gerando 19 MW (menor valor registrado) ou 100

MW (maior valor registrado). Isso pode ser observado na tabela 17.

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Tabela 17 - Dados de medição do Laboratório Químico da EMAE na face leste da chaminé.

1999 LESTE

14/jan

(100MW) 20/jan

(100MW) 4/fev

(60 MW) 12/fev

(78 MW) 24/fev (70

MW) 18/mar

(20 MW) 28/jul (50

MW) 13/ago

(40 MW) 30/ago

(40 MW) 14/set (40

MW) 20/out (58

MW) CO (ppm) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 CO2 (%) 13,65 13,76 10,84 10,09 13,7 5,84 9,11 9,11 7,52 8,83 11,65 SO2 (ppm) 473 518 344 325 430 194 301 301 235 264 350 NOX (ppm) 480 507 383 327 389 185 283 238 245 332 384

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

É possível verificar que os valores de NOx e SO2 diminuem à medida que a

geração de energia elétrica também diminui e aumentam com o crescimento da

geração. Além disso, nota-se os altos níveis na medição desses dois

poluentes, estando acima dos padrões estabelecidos pela legislação ambiental

(para NOx em 1 hora, 320 µg/m³ e para SO2 em 24 horas, 365 µg/m³).

Entretanto, mesmo com esses dados não é possível correlacioná-los com a

qualidade do ar, uma vez que, quando esses poluentes entram em contato com

a atmosfera, mudam suas características. Dessa forma, além de analisar os

relatórios anuais de qualidade do ar, optou-se também em aprofundar a

pesquisa utilizando o histórico de dados diários da CETESB dos poluentes

estudados.

Para essa análise foi utilizada a ferramenta MATLAB e com isso foi possível

elaborar os gráficos nos quais foram calculadas as médias mensais históricas

de cada poluente, considerando todas as medições realizadas de janeiro de

1999 a dezembro de 2007, com o objetivo de verificar o comportamento desses

poluentes nas 3 estações da CETESB citadas no EIA do empreendimento:

Congonhas, Santo Amaro e Diadema. Da mesma forma, foram elaborados

outros gráficos nos quais foram calculadas as médias anuais e mensais dos

poluentes com o objetivo de comparar os resultados com os limites

estabelecidos pela legislação ambiental. Além disso, também foram elaborados

gráficos com o número total de medições realizadas pela CETESB, bem como

todos os valores medidos de cada poluente no período analisado. Neste estudo

específico não foi utilizado o ano de 1998, devido os dados de geração da UTE

Piratininga estarem agregados em anos, dificultando sua interpretação.

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5.3.1. Medição de CO

Após análise dos gráficos notou-se que os níveis de CO aumentam nos meses

mais frios, de maio a agosto. Isso pode ser explicado pela baixa temperatura,

pouco vento e baixa umidade, caracterizando um ambiente pouco favorável à

dispersão de poluentes atmosféricos. O gráfico 14 mostra as médias históricas

mensais de CO no período de 1999 a 2007 na estação Congonhas.

Gráfico 14 - Médias históricas mensais de CO na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Através do gráfico 15, pode-se observar todas as medições realizadas na

estação Congonhas. Também vale destacar o aumento de CO nos meses mais

frios. É possível verificar que de todas as medições realizadas, em momento

algum houve ultrapassagem do padrão limite de 1 hora para CO (35 ppm).

Outra informação importante a respeito desse gráfico é que a concentração de

CO na estação Congonhas diminui com o passar dos anos.

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Gráfico 15 - Distribuição total de CO na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Nesta pesquisa os desvios padrão podem ser explicados pela baixa quantidade

de medições realizadas em alguns períodos ou pela grande variação entre os

valores dessas medições. Pode-se observar tal fato ao analisar o gráfico 16.

Gráfico 16 - Número de medições de CO realizadas na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No caso do CO, nota-se que o número de medições, de maneira geral,

manteve-se constante durante todo o período, entre 700 e 600 medições.

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Portanto, o alto desvio padrão deve ser em decorrência da variação dos

valores medidos.

Através da análise dos relatórios da CETESB, foi elaborado o gráfico com a 1ª

e 2ª maior hora média registrada desde 1998 até 2007. Com isso, verificou-se

que as medições para CO ocorreram somente nas estações Congonhas e

Santo Amaro, como mostra o gráfico 17.

Gráfico 17 - 1ª e 2ª horas máximas para CO nas estações Congonhas e Santo Amaro.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

O padrão limite para CO, segundo o relatório de qualidade do ar da CETESB,

não foi ultrapassado em nenhum momento. Isso pode ter relação com a

melhoria do processo de combustão, na manutenção e modernização das

instalações de fontes fixas como a UTE Piratininga. A termoelétrica passou por

reformas em suas instalações e substituição do óleo combustível por gás

natural, no intuito de melhorar seu rendimento e eficiência, além do ganho

ambiental, no qual a emissão de poluentes passa a ser menor.

Quanto às fontes móveis, é importante salientar a melhoria na tecnologia dos

combustíveis utilizados em veículos automotores como, diesel e gasolina. Vale

lembrar também que devido ao aumento de veículos híbridos (tipo flex), o

etanol tem sido mais utilizado, diminuindo a emissão de CO para a atmosfera.

Outro fator importante é o rodízio de veículos no centro expandido da cidade de

São Paulo, que busca contribuir para a diminuição da emissão de poluentes

atmosféricos, melhorando a qualidade do ar nas regiões mais centrais.

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5.3.2. Medição de MP

Para os dados de MP foi elaborado o gráfico 18, que mostra as médias

históricas mensais de 1999 a 2007 na estação Santo Amaro para o poluente

estudado.

Gráfico 18 - Médias históricas mensais de MP na estação Santo Amaro de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Através do gráfico 18, é possível verificar que a maior concentração de MP

ocorre nos meses mais frios, de maio a agosto, devido a baixa dispersão de

poluentes atmosféricos. A queda na concentração do poluente no mês de julho,

não necessariamente significa a redução da emissão em todos os anos, uma

vez que foram calculadas suas médias.

Observando o gráfico 19, pode-se constatar que houve uma grande queda no

número de medições de MP no inverno de 1999, explicando o vale entre os

meses de junho e agosto no gráfico 18. Da mesma forma, vale destacar o

desvio padrão ocorrido nesse mesmo período, mostrando o déficit no número

de medições entre os anos de 1999 e 2000, como ilustra o gráfico 19.

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Gráfico 19 - Número de medições de MP realizadas na estação Santo Amaro de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Além do baixo número de medições, é importante observar a dispersão das

mesmas. Ao analisar o gráfico 20, pode-se notar a grande variação entre os

valores de MP na estação Santo Amaro, principalmente nos meses de inverno,

o que pode ter influenciado nos desvios padrão.

Gráfico 20 - Distribuição total de MP na estação Santo Amaro de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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Observando o gráfico 20, percebe-se que o limite diário estabelecido pela

CETESB de 150 µg/m³ é ultrapassado em muitos momentos no período

analisado. Esse fato é de suma importância para a verificação de que o

problema da alta concentração desse tipo de poluente tem efeito direto na

qualidade do ar da região.

Ao analisar o gráfico 21, verifica-se que as concentrações de MP nos meses de

inverno são maiores que nos outros meses. Comparando esse fato à geração

de energia elétrica da UTE Piratininga, percebe-se que os dados contrariam a

expectativa de que no ano de 2001 houvesse picos de emissão de MP, pois

nesse período, a concentração do poluente foi menor que em anos como 2003

e 2006. Contudo, é possível notar que em 2007, ano em que a usina não

funcionou, a concentração do poluente foi menor que nos outros anos

estudados.

Gráfico 21 - Distribuição média mensal de MP na estação Santo Amaro de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No intuito de aprofundar a análise da concentração do MP, foi elaborado o

gráfico 22, que mostra a distribuição média anual do poluente na estação Santo

Amaro. Através desse gráfico é possível observar que a média anual de 50

µg/m³ não é ultrapassada no período analisado.

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Gráfico 22 - Distribuição média anual de MP na estação Santo Amaro de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

De acordo com a CETESB, pode-se considerar Partículas Inaláveis (PI) e

Partículas Totais em Suspensão (PTS) como MP. A média anual para PI é de

50 µg/m³, como mostra o gráfico 23. Para a elaboração deste gráfico e do

gráfico 24, foram utilizadas as médias anuais dos relatórios de qualidade do ar

da CETESB.

Gráfico 23 - Médias anuais de PI (MP) nas estações Congonhas, Santo Amaro e Diadema.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Nota-se que a média para PI é ultrapassado nos 3 pontos de monitoramento,

principalmente na estação Congonhas. Também vale salientar que houve um

pico na concentração desse poluente nas estações Congonhas no intervalo de

2000 a 2002 e de Diadema em 2001, ou seja, mesmo período no qual a UTE

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Piratininga gerou mais energia. Isso seria um indício de que a geração de

energia elétrica da usina pode estar relacionada à baixa qualidade do ar

naquele período e região.

Para PTS, a média anual é de 80 µg/m³. Para esse poluente, a medição é

realizada somente na estação Santo Amaro, como mostra o gráfico 24.

Gráfico 24 - Médias anuais de PTS (MP) na estação Santo Amaro.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No gráfico 24, pode-se observar que houve 2 ultrapassagens da média,

destacando o ano de 2000; mesmo período no qual a geração de energia na

UTE Piratininga também foi grande. Mais uma vez, existe um indício de que a

baixa qualidade do ar nesse período poderia estar relacionada ao

funcionamento da usina.

Através da análise dos gráficos anteriores, percebeu-se que as médias

calculadas, tanto nesta pesquisa como nos relatórios de qualidade do ar da

CETESB, acabam mascarando os resultados reais e as ultrapassagens dos

padrões limites e das médias anuais estabelecidas pela legislação ambiental.

5.3.3. Medição de NOx

Os maiores índices de NOx são registrados nos meses mais frios, mostrando a

dificuldade de dispersão dos poluentes devido às temperaturas e umidade

baixas e calmaria dos ventos. O gráfico 25 ilustra as médias históricas mensais

de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007.

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Gráfico 25 - Médias históricas mensais de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Através do gráfico 25, observa-se em alguns períodos, grandes desvios

padrão. Esses desvios podem ser explicados pelas lacunas existentes nas

medições realizadas na estação. Como mostra o gráfico 26, de 1999 a 2001,

não foram medidas as concentrações de NOx. O mesmo ocorreu de 2005 para

2006. Isso acabou prejudicando as médias calculadas no período, resultando

em desvios padrão maiores.

Gráfico 26 - Número de medições de NOx realizadas na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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O mesmo pode ser observado no gráfico 27, no qual as lacunas nas medições

de NOx são evidentes. Salientando ainda, a influência da grande variação dos

valores no desvio padrão.

Gráfico 27 - Distribuição total de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Analisando o gráfico 27, é de suma importância destacar as ultrapassagens do

padrão limite de 1 hora para NO2 (320 µg/m³). Nota-se que essas

ultrapassagens ocorrem em grande parte das medições realizadas e que

alguns dos valores atingidos são 3 vezes maiores que o limite estabelecido

pela CETESB, mostrando a gravidade que a concentração desse poluente

pode trazer para a saúde da população residente em Congonhas.

Através do gráfico 28 verifica-se altas concentrações de NOx, principalmente

nos meses de inverno. Em comparação à geração de energia elétrica da UTE

Piratininga, pode-se observar que o funcionamento da usina não interferiu

significativamente na qualidade do ar da região de Congonhas. No entanto,

vale lembrar que em decorrência da insuficiência de dados da CETESB e pela

ausência de uma estação medidora próxima à usina, não foi possível afirmar

com certeza tal fato.

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Gráfico 28 - Distribuição média mensal de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No intuito de aprofundar a análise do gráfico 28, foi elaborado o gráfico 29, que

mostra a distribuição média anual de NOx na mesma estação estudada.

Gráfico 29 - Distribuição média anual de NOx na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Ao analisar o gráfico 29 é possível notar que a média anual estabelecida pela

CETESB de 100 µg/m³ é ultrapassada em todo o período analisado e quando

há medição do poluente. Ainda vale destacar que essas ultrapassagens

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atingem valores bem acima da média, alertando mais uma vez, para uma maior

preocupação e atenção dos órgãos responsáveis para que medidas sejam

tomadas.

Na atual legislação brasileira existe uma média anual e um padrão limite

horário somente para NO2 (100 µg/m³ e 320 µg/m³ respectivamente).

Infelizmente, não há ainda uma média e nem um limite para a emissão de NOx.

Está em discussão em Grupos de Trabalho (GT) no Ministério do Meio

Ambiente (MMA), a questão sobre os padrões de qualidade do ar,

principalmente relacionados à emissão de NOx de fontes fixas. Segundo o

Processo nº 02000.000921/2002-78, do 2º GT Emissão de Poluentes

Atmosféricos por Fontes Fixas, de 11 de novembro de 2008, Art. 3 – II, sobre

as definições referentes aos poluentes que não possuem característica química

definida: “NOx: refere-se à soma das concentrações de monóxido de nitrogênio

(NO) e dióxido de nitrogênio (NO2), sendo expresso como NO2”. Portanto,

conforme o artigo apresentado, considerou-se neste trabalho como limite para

NOx, a concentração limite para 1hora de 320 µg/m³ (MMA, 2008).

No estudo dos relatórios da CETESB, foi possível verificar que a medição para

NO2 ocorreu somente na estação Congonhas, como mostra o gráfico 30. Na

elaboração deste gráfico, foram utilizadas as médias anuais dos relatórios de

qualidade do ar da CETESB.

Gráfico 30 - Médias anuais de NO2 na estação Congonhas.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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Analisando o gráfico 30, pode-se observar que os níveis de NO2 não foram

ultrapassados na estação Congonhas, e que a mesma sofreu uma interrupção

em sua medição no ano de 2000, período importante nesta pesquisa, devido o

aumento da geração de energia elétrica da UTE Piratininga.

Da mesma maneira que ocorreu com a análise de MP, o mesmo vale para o

NOx, pois analisando os gráficos anteriores, verifica-se mais uma vez que as

médias mascaram os valores reais, dando a falsa impressão de que os limites

estabelecidos não são ultrapassados e que a concentração desses poluentes

na atmosfera não representa problema para a população.

5.3.4. Medição de O3 Ao contrário dos outros poluentes, nos meses mais frios a concentração de O3

diminui e nos meses mais quentes, de setembro a abril, quando a temperatura

e a incidência solar são mais altas, essa concentração aumenta. Isso pode ser

verificado no gráfico 31, que mostra a média histórica mensal de O3 na estação

Diadema de 1999 a 2007.

Gráfico 31 - Médias históricas mensais de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Os altos desvios padrão do gráfico 31 podem ser explicados pela grande

variação entre os valores do poluente medido (entre 0 e mais de 300 µg/m³),

como mostra o gráfico 32.

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Gráfico 32 - Distribuição total de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Analisando o gráfico 32, nota-se que o limite para 1 hora de O3 (160 µg/m³) foi

ultrapassado em alguns momentos no período analisado. Essas

ultrapassagens atingiram mais que o dobro do estabelecido pela CETESB.

Ainda cabe salientar que o limite previsto na legislação para a média anual é

inexistente. Mesmo com os valores acima dos padrões, existem déficits no

número de medições realizadas na estação Diadema em 2005 e 2007, como

mostra o gráfico 33.

Gráfico 33 - Número de medições de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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Através do gráfico 34 é possível verificar que a concentração média de O3 teve

uma maior distribuição. Em praticamente todo o período essa concentração

ocorreu de maneira contínua, tanto nos meses mais frios como nos meses

mais quentes, com exceção dos invernos de 2001 e 2005.

Gráfico 34 - Distribuição média mensal de O3 na estação Diadema de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Analisando o gráfico 34, também não é evidente a interferência que a UTE

Piratininga exerce sobre a qualidade do ar na estação Diadema. Entretanto, é

possível verificar que no final de 2000 e início de 2001, a concentração média

de O3 na estação foi a maior dentre os outros anos.

Ao analisar os relatórios de qualidade do ar da CETESB, foram utilizadas a 1ª e

2ª maior hora média dos anos estudados. O gráfico 35 mostra as médias

anuais nas 3 estações.

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Gráfico 35 - 1ª e 2ª horas máximas para O3 nas estações Congonhas, Santo Amaro e

Diadema.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Através do gráfico 35, pode-se notar que o nível limite de O3 foi ultrapassado

em todo o período nas estações Santo Amaro e Diadema, sendo que em

Congonhas esse nível diminuiu de 1998 para 1999, tendo sua medição

interrompida nos anos seguintes. Segundo técnicos da CETESB, essa

interrupção ocorreu devido a pouca significância em termos de ultrapassagem

da qualidade do ar. No entanto, nos dois anos que antecederam esse fato, os

limites foram ultrapassados. Em Santo Amaro, ao contrário, a medição teve

início a partir de 2002, prejudicando a interpretação dos dados e o estudo da

relação com o funcionamento da UTE Piratininga.

5.3.5. Medição de SO2

Para a medição de SO2, observa-se que sua concentração é maior nos meses

mais frios. Contudo, as médias históricas mensais desse poluente não se

mostram tão acentuadas como acontece com os outros poluentes estudados.

O gráfico 36 mostra as médias históricas mensais de SO2 na estação

Congonhas e o alto desvio padrão nos últimos 6 meses do período analisado.

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Gráfico 36 - Médias históricas mensais de SO2 na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Como é possível verificar através do gráfico 36, de agosto a dezembro, os altos

desvios padrão ocorrem devido a grande variação dos valores da medição de

SO2. Isso pode ser observado no gráfico 37, onde essa variação ocorre entre 0

e mais de 270 µg/m³.

Gráfico 37 - Distribuição total de SO2 na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

A partir do gráfico 38, nota-se o déficit no número de medições realizadas na

estação Congonhas. Em decorrência desse problema, o desvio padrão torna-

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se alto, mostrando mais uma vez, a dificuldade encontrada para a realização

desse tipo de estudo, pois a interpretação dos dados passa a não ser tão

consistente quanto deveria ser.

Gráfico 38 - Número de medições de SO2 na estação Congonhas de 1999 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Já a média anual para SO2 é de 80 µg/m³. Para esse poluente, a medição é

realizada somente na estação Congonhas, como mostra o gráfico 39.

Gráfico 39 - Médias anuais de SO2 na estação Congonhas.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No gráfico de medição de SO2, verifica-se que não houve em momento algum

a ultrapassagem do padrão de qualidade do ar para tal poluente (365 µg/m³). A

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presença do SO2 manteve-se discreta, sem picos significativos e bem abaixo

do limite estabelecido pelos órgãos ambientais. Isso pode ser devido à

diminuição do uso de combustíveis com alto teor de enxofre e substituição por

outros tipos como o gás natural (fontes fixas e veículos automotores) e etanol

(veículos automotores).

5.3.6. Análise dos dados de geração de energia elétrica da UTE Piratininga e de qualidade do ar separados por períodos

Para fins comparativos, escolheu-se estudar os períodos nos quais a UTE

Piratininga consumiu somente óleo combustível e gás natural separadamente.

Como foi visto anteriormente, os anos em que a usina funcionou somente a

óleo referem-se a 1998 e 1999. Infelizmente os dados de geração mensais de

1998 não puderam ser cedidos pela EMAE devido alguns problemas na

substituição de funcionários e na atualização do banco de dados de geração da

empresa.

Sendo assim, foi escolhido o ano de 1999, quando a usina funcionou a óleo

combustível; 2005, quando a usina utilizou somente gás natural; 2001, quando

utilizou os dois combustíveis; e 2007, período no qual não houve geração de

energia. Dessa maneira, foi elaborado o gráfico 40, no intuito de ilustrar como

foi a geração de energia elétrica nesses períodos.

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Gráfico 40 - Geração mensal de energia da UTE Piratininga com uso exclusivo de óleo

combustível (1999), ambos (2001) e uso exclusivo de gás natural (2005).

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

Através do gráfico 40 nota-se que a geração de energia elétrica em 1999 foi

crescente. Nesse período a UTE Piratininga utilizou somente óleo combustível

para a geração de energia. Em 2001, quando a UTE Piratininga utilizou tanto o

óleo combustível quanto o gás natural, a geração de energia atingiu seu pico,

ultrapassando os 200.000 MWh. Essa geração acentuada ocorreu devido a

crise no setor elétrico. Para amenizar esse problema o governo criou o

racionamento de energia elétrica, que teve seu fim em 2002, mostrando o

decréscimo na geração a partir de dezembro de 2001. Nesse período, há

indícios (como a grande geração de energia e o uso de ambos os

combustíveis) de que a qualidade do ar possa ter sofrido uma influência maior

dos poluentes atmosféricos emitidos pela UTE Piratininga.

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90

O gráfico 40 também mostra que em 2005, quando a UTE Piratininga utilizou

somente gás natural (desde 2004), pode-se observar que a geração de energia

teve uma queda significativa, não ultrapassando os 25.000 MWh. Isso porque

as hidrelétricas estavam gerando o suficiente para atender a demanda de

energia elétrica, não sendo necessário o funcionamento intenso das

termoelétricas. Vale destacar ainda, que nesse período houve uma forte queda

na geração em fevereiro, provavelmente pela oferta demasiada de energia

hídrica no sistema. E outra em maio, que segundo o Departamento de Gestão

Ambiental, ocorreu devido à necessidade forçada de manutenção da usina em

decorrência do baixo investimento anterior na manutenção dos equipamentos.

Em 2007 a UTE Piratininga não gerou energia elétrica e conforme o

Departamento de Gestão Ambiental destacou, isso ocorreu devido dois fatores:

primeiro pela falta de disponibilidade de gás natural, que teve forte demanda

principalmente no setor industrial e no uso veicular. Além disso, provavelmente

a oferta de energia hídrica era o suficiente para atender a demanda.

Para tentar comparar o funcionamento da UTE Piratininga e a qualidade do ar

nos anos destacados anteriormente, foram elaborados gráficos com as médias

diárias de alguns meses. Para isso, foram escolhidos aqueles nos quais a UTE

Piratininga gerou mais energia e no que gerou menos energia. Também foi

escolhido um mês referente ao inverno, no intuito de mostrar o efeito da

sazonalidade sobre a dispersão dos poluentes atmosféricos, uma vez que nos

meses mais frios a qualidade do ar em geral piora, aumentando os problemas

respiratórios da população. A partir desses dados foram elaborados os gráficos

41, 42, 43 e 44 com as médias diárias para a medição de NOx na estação

Congonhas. Nesses gráficos estão ilustradas as ultrapassagens do limite diário

máximo estabelecido pela CETESB de 320 µg/m³. Cabe lembrar que para o

valor diário de NOx foram somados os valores de NO e NO2, conforme o 2º GT

Emissão de Poluentes Atmosféricos por Fontes Fixas (MMA, 2008).

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91

Gráfico 41 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação Congonhas em

agosto de 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

No gráfico 41, é possível verificar que ocorreram 14 ultrapassagens do limite

diário para NOx somente no mês de agosto de 2007. Esse ano foi considerado

o pior dentre os escolhidos, por ter 20 ultrapassagens nos três meses

analisados. As outras 6 ultrapassagens ocorreram em dezembro de 2007.

O segundo pior ano foi 2001, com 19 ultrapassagens do limite estabelecido nos

três meses analisados, sendo 14 ultrapassagens somente em julho, mês no

qual ocorreu maior pico de NOx, e 5 ultrapassagens em outubro, como mostra

o gráfico 42.

Gráfico 42 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação Congonhas em

julho de 2001.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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92

O terceiro pior ano foi 1999, no qual ocorreram 17 ultrapassagens do limite

diário para NOx, sendo 5 ultrapassagens em agosto e 2 em janeiro, como

ilustra o gráfico 43.

Gráfico 43 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação Congonhas em

agosto de 1999.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

E por fim, o gráfico 44 mostra o ano de 2005, quando ocorreram 6

ultrapassagens no mês de fevereiro, contrariamente aos outros anos

analisados, nos quais as maiores ultrapassagens se deram nos meses de

inverno como julho e agosto.

Gráfico 44 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de NOx na estação Congonhas em

fevereiro de 2005.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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93

Após essa análise em relação à emissão de NOx, observa-se que a pior

ultrapassagem ocorreu em 2001. Esse foi o mesmo ano no qual a UTE

Piratininga gerou maior quantidade de energia elétrica, tanto a gás natural

como a óleo combustível. Os episódios registrados em 2007, período no qual a

usina não gerou energia, são também de extrema importância, pois indicam

que nesse período a usina não exerceu qualquer influência sobre a qualidade

do ar. O fato de 2007 ter sido considerado o ano com maior número de

ultrapassagens, mesmo sem a geração de energia elétrica, pode ser explicado

pelo aumento da frota veicular na RMSP que de 2002 a 2007 cresceu cerca de

24,8%. Somente o crescimento do número de automóveis no mesmo período

foi de 21,3%, segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de

Dados (SEADE) (SEADE, 2009). Além disso, também existe a influência das

aeronaves que trafegam pelo aeroporto de Congonhas. A queima de

combustível dessas aeronaves pode ter resultado no aumento de NOx na

região do aeroporto.

Em relação ao MP, ocorreram ultrapassagens do limite estabelecido em 2001 e

1999, somente nos meses de inverno. O maior pico de emissão desse poluente

foi de 218,71 µg/m³, na estação Congonhas em julho de 2001. A partir do

gráfico 45 é possível verificar as ultrapassagens nas 3 estações estudadas.

Gráfico 45 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de MP na estação Congonhas,

Diadema e Santo Amaro em julho de 2001.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

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94

O gráfico 45 mostra o mês de julho como o pior dentre os meses analisados,

com 3 ultrapassagens do limite diário para MP na estação Congonhas, 1

ultrapassagem na estação Diadema e Santo Amaro, caracterizando que os

piores casos de emissão de MP ocorreram em meses de inverno, quando a

dispersão de poluentes é mais baixa.

O segundo pior ano foi 1999, mas somente na estação Santo Amaro houve 1

ultrapassagem de MP, como mostra o gráfico 46. Nos outros anos analisados

não ocorreram ultrapassagens do limite diário, indicando uma eventual

melhoria na qualidade do ar, pelo menos em relação a esse poluente e nas 3

estações analisadas.

Gráfico 46 - Médias diárias com ultrapassagens do padrão de MP na estação Santo Amaro em

agosto de 1999.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Através dos gráficos 47 e 48, pode-se notar que na estação Diadema em

outubro de 2001, os níveis de O3 não chegaram nem próximo do limite

estabelecido. Já em dezembro de 2007 na estação Santo Amaro, o nível do

poluente não é medido em todo o período. No entanto, chega bem próximo do

limite estabelecido pela CETESB ao final do mês.

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Gráfico 47 - Médias diárias de O3 na estação Diadema em outubro de 2001.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Gráfico 48 - Médias diárias de O3 na estação Santo Amaro em dezembro de 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da CETESB

Na análise de qualidade do ar através dos relatórios anuais da CETESB, foi

possível observar as ultrapassagens de O3 em todos os anos de medição.

Contudo, na análise das médias diárias não foi verificada nenhuma

ultrapassagem. Esse evento pode ser explicado pelo fato do padrão

estabelecido para O3 em 1 hora ser de 160 µg/m³ e, de não existir ainda um

padrão para a média anual para esse poluente. Outro fator importante é que as

médias acabam mascarando os resultados reais, não expressando de maneira

efetiva a concentração do poluente na atmosfera.

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96

Como foi mostrado anteriormente, os piores períodos de emissão de NOx e MP

ocorreram no ano de 2001. Apesar da interferência da enorme frota veicular da

RMSP e, mesmo a UTE Piratininga não estando tão próxima dos pontos de

monitoramento analisados, a baixa qualidade do ar em 2001 pode estar

relacionada também ao funcionamento da usina para a geração de energia

elétrica. É importante destacar novamente que foi nesse período que a

termoelétrica teve seu pico de geração. Além disso, a mesma consumiu tanto

óleo combustível quanto gás natural, o que pode ter influenciado na qualidade

do ar da região. Também cabe salientar que a maior parte das ultrapassagens

dos limites padrões ocorreu no inverno, quando a dispersão dos poluentes é

mais baixa.

Dentre os gráficos elaborados e analisados sobre a qualidade do ar nos

períodos destacados em Congonhas, Diadema e Santo Amaro, foi possível

verificar que as quantidades de CO e SO2 foram muito baixas se comparada

aos limites estabelecidos, por isso, pouco significativas. Todavia, a quantidade

de NOx na atmosfera foi alta nos meses mais frios como julho e agosto, com

exceção de fevereiro de 2005. O mesmo ocorreu com as concentrações de

MP, que nos meses de inverno, ultrapassaram os limites diários de qualidade

do ar, segundo a CETESB.

Após análise dos gráficos e comparação entre os anos estudados, verificou-se

que em 2001, período no qual ocorreu o pico de geração de energia, foram

registrados os piores índices de qualidade do ar para MP em número de

ultrapassagens. Já em relação ao NOx, têm-se como o pior ano 2007 em

número de ultrapassagens. Porém, em 2001, ocorreu o maior pico registrado

de concentração de NOx, como mostrou o gráfico 40, sendo de 726,26 µg/m³. E

para o O3, o pior ano foi 2007, período no qual não houve o funcionamento da

UTE Piratininga.

Através desses resultados, pode-se considerar que se comparados os dados

de qualidade do ar utilizando as médias anuais e as médias diárias, são mais

confiáveis os valores diários. Pois essas médias traduzem com maiores

detalhes e confiabilidade a situação atmosférica do local monitorado. Mesmo

apesar da distância, é possível perceber alguma influência.

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97

5.4. Relação da geração de energia elétrica da UTE Piratininga e os

problemas de saúde

Após tentativas de encontrar alguma relação entre a geração de energia

elétrica da UTE Piratininga e a qualidade do ar, foram inseridas as variáveis de

saúde, no intuito de analisar os dados da EMAE e dos órgãos responsáveis.

Inicialmente para esta pesquisa, foram coletados os dados de mortalidade pelo

Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Programa de

Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo

(PROAIM), relacionados às doenças respiratórias do distrito de Cidade Ademar

e Pedreira, onde está localizada a UTE Piratininga, desde 1998 até 2007.

Através dos dados do PROAIM foi elaborado o gráfico 49, que mostra o

número de óbitos por doenças respiratórias dos dois distritos, Cidade Ademar,

que está próximo da usina e, Pedreira, onde está localizada a UTE Piratininga,

no período analisado.

Número de óbitos por doenças doenças do aparelho respiratório nos distritos de Pedreira e Cidade Ademar (1998-2007) (PROAIM)

0

20

40

60

80

100

120

140

160

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Cidade AdemarPedreira

Gráfico 49 - Número de óbitos por doenças do aparelho respiratório nos distritos de Pedreira e

Cidade Ademar de 1998 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados do PROAIM

A partir desse gráfico é possível observar que há um aumento na mortalidade

relacionada às doenças respiratórias nos dois distritos. No distrito de Cidade

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98

Ademar há um aumento significativo que inicia-se a partir de 2002, atingindo

seu pico em 2005. De acordo com os dados do SEADE (2009), de 1998 a 2007

a população de Cidade Ademar teve uma taxa de crescimento de 1,02. Já no

distrito de Pedreira, esse aumento ocorre a partir de 2001, decaindo em 2005 e

voltando a aumentar em 2006 e 2007. No período de 1998 a 2007, a taxa de

crescimento da população foi de 1,28. Com isso, percebe-se que o crescimento

da população influenciou no aumento do número de óbitos por doenças

respiratórias em ambos os distritos. Contudo, ao calcular a taxa de óbitos no

mesmo período, percebe-se que enquanto o crescimento da população em

Cidade Ademar é de 1,02, a taxa de óbitos por doenças do aparelho

respiratório é de 1,15. Em Pedreira a taxa de crescimento é de 1,28, enquanto

a taxa de óbitos de 2,36. Desse modo, é possível observar que a taxa de

mortalidade pela causa estudada no distrito de Pedreira foi superior ao

aumento da população no período analisado.

Sabe-se que é difícil correlacionar os dados de mortalidade aos problemas

respiratórios, uma vez que na população estudada, existem os casos de

fumantes, alcoólatras, migrantes de outras regiões que já possuíam alguma

doença respiratória prévia, entre outras diversas variáveis de confusão. Mas

vale salientar que esses períodos em que ocorreram os episódios de mortes

podem estar relacionados ao funcionamento da usina, pois a mesma utilizou,

exclusivamente até 1999, o óleo combustível. Por ser mais poluente e tóxico

que o gás natural, sua emissão ao longo dos anos pode ter acentuado os

casos de mortalidade no período destacado no gráfico 49. Além disso, a taxa

de mortalidade por doenças respiratórias mostrou-se maior que a taxa de

crescimento populacional do distrito, indicando que mesmo com o aumento da

população, ainda sim o número de mortes foi maior. Isso pode ter sido

agravado pelo funcionamento emergencial da UTE Piratininga na época da

crise no setor elétrico.

De qualquer maneira, é importante observar que esse aumento no número de

óbitos ocorreu após a crise no setor elétrico de 2001. Portanto, se considerado

que essas pessoas falecidas por problemas respiratórios, foram expostas aos

poluentes anteriormente descritos, vindo a falecer nos anos seguintes, talvez

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fosse possível sugerir que essa exposição pudesse ter sido agravada pela

emissão dos poluentes da UTE Piratininga, além das demais fontes na RMSP.

Em decorrência dessas dificuldades metodológicas e devido os problemas

surgidos pela limitação dos dados fornecidos pela CETESB, viu-se a

necessidade de enfatizar a coleta dos dados de saúde junto às UBS próximas

à usina, para buscar verificar se é possível correlacionar os problemas de

doenças respiratórias e a geração de energia do empreendimento.

Sendo assim, foram realizadas algumas visitas as 2 UBS do entorno,

localizadas no distrito de Pedreira: UBS Vila Aparecida, com população adstrita

de 17.617 pessoas, e a UBS Mar Paulista, com população adstrita de 12.949

pessoas. Além das UBS pesquisadas também foram coletados dados do

Hospital Geral de Pedreira. Os 3 órgãos de saúde e a UTE Piratininga podem

ser visualizados na figura 10:

Figura 10 - Vista aérea da localização das 2 UBS e do Hospital Geral de Pedreira em relação à

UTE Piratininga. (A) UTE Piratininga; (B) Hospital Geral de Pedreira; (C) UBS Vila Aparecida;

(D) UBS Mar Paulista.

Fonte: www.maps.google.com.br (adaptado)

As figuras 11 e 12 mostram as UBS visitadas e utilizadas para a coleta dos

dados de saúde da população do entorno.

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Figura 11 - UBS Mar Paulista. Figura 12 - UBS Vila Aparecida.

(Foto: Louise Nakagawa, 10/10/2008) (Foto: Louise Nakagawa, 10/10/2008)

No diálogo com a enfermeira chefe e uma das médicas da UBS Vila Aparecida,

foi comentado que é difícil quantificar os problemas de saúde da população do

entorno relacionados à emissão de poluentes da UTE Piratininga. No entanto, a

médica comentou que o índice de hospitalizações por pneumonia nas crianças

menores de 5 anos naquela UBS no mês de outubro de 2008, foi acima da

média do município de São Paulo. Esse pode ser um indício do problema na

qualidade no ar da região, uma vez que a UTE Piratininga é a única usina

termoelétrica presente dentro da RMSP. Um estudo realizado por Braga et al

(1999), mostrou forte associação entre poluição atmosférica e visitas a

hospitais por problemas respiratórios em crianças e adolescentes menores de

13 anos.

A periferia por si só já possui diversos problemas que interferem na qualidade

de vida e bem-estar da população local, como a precariedade do saneamento

básico, pouca infra-estrutura, falta de segurança e transporte de qualidade.

Essas condições, somadas ao funcionamento de um empreendimento do porte

da UTE Piratininga e UTE Fernando Gasparian, acabam resultando em uma

maior exposição da população a fatores de risco à saúde.

Também foi salientado pela enfermeira que utilizando os dados de morbidade

das doenças respiratórias, é difícil identificar aquelas que estão diretamente

relacionadas à poluição atmosférica, principalmente na população adulta. Pois,

como descrito anteriormente, muitos sofrem influência do fumo, da poluição

externa, ou alcoolismo, por exemplo. Já as crianças menores de 5 anos estão

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menos expostas a esse tipo de interferência, sendo consideradas mais “puras”

do ponto de vista clínico.

Sendo assim, foram coletados os dados de saúde das 2 UBS para serem

relacionados ao funcionamento da UTE Piratininga de 1998 a 2007. Entretanto,

a UBS Vila Aparecida foi inaugurada no segundo semestre de 2001 e a UBS

Mar Paulista no início de 2003. Portanto, não existem dados de saúde do

período que antecede essas inaugurações.

Para os casos de morbi-mortalidade das UBS foram coletados os dados

listados abaixo:

Óbitos de menores de 28 dias por Infecção Respiratória Aguda (IRA);

Óbitos de 28 dias a 11 meses por IRA;

Óbitos de menores de 1 ano por IRA;

Crianças menores de 2 anos com IRA;

Hospitalização de menores de 5 anos por pneumonia.

Depois de analisados os dados de saúde, foi possível verificar que felizmente

não houve nenhum óbito relacionado à IRA em nenhuma das UBS

pesquisadas. Através desses dados, é possível afirmar que os óbitos de

crianças menores de 1 ano podem ter outras causas que não a respiratória,

principalmente por essas terem ainda a saúde muito frágil. No entanto, de

acordo com Lin et al (2004), existe uma associação entre o aumento no

percentual de mortes de recém nascidos e o aumento na concentração de MP

e SO2 na atmosfera.

A partir dos dados coletados foram elaborados planilhas e gráficos com os

dados de morbidade de crianças menores de 2 anos e menores de 5 anos. Os

gráficos 50 e 51, mostram o número de crianças menores de 2 anos com IRA e

a relação com o funcionamento da UTE Piratininga.

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Casos de IRA em crianças menores de 2 anos nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista (2002-2007)

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 50 - Casos de IRA em crianças menores de 2 anos nas UBS Vila Aparecida e Mar

Paulista de 2002 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da UBS

No gráfico 50, observou-se que o número de casos de IRA em crianças

menores de 2 anos diminui acentuadamente a partir de 2002. Contudo, é de

suma importância destacar que no ano de 2001, na UBS Vila Aparecida, houve

mais de 300 casos de crianças menores de 2 anos com IRA em apenas 4

meses de funcionamento. Portanto, questiona-se quanto foi esse número nos 8

primeiros meses do ano. Logo, há fortes indícios de que os casos de crianças

com IRA em 2001, na UBS Vila Aparecida, foram superiores ao ano de 2002.

Gráfico 51 - Geração de energia da UTE Piratininga (MWh) e os casos de IRA em crianças

menores de 2 anos nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista de 2002 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da UBS

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O gráfico 51 mostra que de 2002 a 2006 o número de casos de IRA,

registrados nas 2 UBS pesquisadas, diminuiu acentuadamente, da mesma

forma que a geração de energia elétrica da UTE Piratininga. Já o gráfico 52

traz os casos de hospitalizações de menores de 5 anos por pneumonia nas 2

UBS.

Casos de hospitalizações por pneumonia em crianças menores de 5 anos nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista (2002-2007)

0

5

10

15

20

25

30

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 52 - Casos de hospitalizações por pneumonia em crianças menores de 5 anos nas

UBS Vila Aparecida e Mar Paulista de 2002 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados da UBS

Através do gráfico 52 é possível observar um aumento no número de

hospitalizações de crianças menores de 5 anos por pneumonia em 2003,

provavelmente porque nesse ano foi inaugurada a UBS Mar Paulista,

aumentando assim, o número de atendidos. Esses casos diminuem em 2004,

aumentam em 2005, diminuem em 2006 e voltam a aumentar a partir de 2007.

Em 2003, a geração de energia elétrica da UTE Piratininga diminui

acentuadamente, mostrando pouca ou nenhuma implicação nos aumentos nas

hospitalizações, uma vez que a usina nem chegou a gerar energia em 2007.

Assim como foram tratados os dados de geração de energia e qualidade do ar,

houve alguns ajustes em relação aos dados de saúde. Para isso, foi realizada

uma visita à Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, onde foi possível

conversar com as pessoas responsáveis pelo CEINFO, um centro de

armazenamento de dados e informações de saúde da população de São Paulo.

A partir disso, foi recomendada a coleta de dados de inalações das 2 UBS

estudadas no período analisado. Contudo, como foi descrito anteriormente, as

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UBS foram inauguradas após 2001. Desse modo, não seria possível comparar

o pico de geração de energia da UTE Piratininga e as inalações naquele ano.

Para conseguir comparar esses dados foram coletados os números de

inalações através do Sistema de Informação Ambulatorial (SIA) e os números

de Autorizações de Internação Hospitalar (AIH) de algumas doenças do

aparelho respiratório do Hospital Geral de Pedreira de 1998 a 2007. Entretanto,

conseguiu-se apenas os dados a partir de 2000, devido problemas na limitação

do acesso aos mesmos, pois o sistema onde estão registrados passou por

mudanças e atualizações.

O gráfico 53 mostra o número de inalações e o gráfico 54 mostra as

internações por doenças do aparelho respiratório no Hospital Geral de Pedreira

de 2000 a 2007.

Número de inalações no Hospital Geral de Pedreira (2000-2007)

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

45000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 53 - Número de inalações do Hospital Geral de Pedreira de 2000 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados do Hospital Geral de Pedreira

Ao observar o gráfico 53 é possível verificar que existem dois períodos nos

quais houve um aumento no número de inalações no Hospital Geral de

Pedreira, em 2001/2002 e em 2004/2005. No primeiro período, observa-se que

foi o mesmo no qual a UTE Piratininga gerou mais energia. No entanto, o

mesmo não pode ser associado ao segundo período, pois nesse intervalo de

tempo, além da usina funcionar somente a gás natural, a geração de energia

foi significativamente mais baixa, se comparada aos outros períodos.

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Internações por doenças do aparelho respiratório no Hospital Geral de Pedreira (2000-2007)

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 54 - Casos de internações por doenças do aparelho respiratório no Hospital Geral de

Pedreira de 2000 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados do Hospital Geral de Pedreira

Ao analisar o gráfico 54, nota-se que o número de internações diminui em

2001, justamente o período no qual a UTE Piratininga gerou mais energia.

Esses casos voltam a aumentar em 2002, atingindo seu pico em 2005.

Graficamente, é difícil relacionar as internações à geração de energia da usina.

Dessa maneira, para poder quantificar o grau dessa relação, serão analisados

estatisticamente os dados.

Através do gráfico 55, pode-se observar que o número de inalações nas 2 UBS

estudadas aumenta de 2002 para 2004 (ano em que atinge seu pico), diminui

em 2005 e volta a aumentar em 2006, decaindo em 2007. Se comparados

esses dados aos do Hospital Geral de Pedreira, é possível verificar que os

picos diferenciam-se entre si, pois nas UBS a maior quantidade de casos

ocorre em 2004 e no Hospital em 2005. Ainda que a mesma população seja

atendida pelos órgãos de saúde, os dados não se comportam de maneira

semelhante devido o Hospital tratar dos problemas mais graves, enquanto as

UBS tratam dos casos com menor grau de gravidade.

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106

Número de inalações nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista (2002-2007)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Gráfico 55 - Número de inalações nas UBS Vila Aparecida e Mar Paulista de 2002 a 2007.

Fonte: Elaboração própria com os dados do CEINFO

Para visualizar melhor a relação entre os dados estudados, foi realizado o

cruzamento dos dados de geração de energia e de inalações das duas UBS e

com isso elaborou-se o gráfico 56. Para isso foi escolhido o período de janeiro

de 2003 a dezembro de 2006, pois nesse intervalo de tempo está melhor

expressa a relação entre as variáveis estudadas.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

Jan_

03

Mar

_03

Mai

_03

Jul_

03

Set_

03

Nov

_03

Jan_

04

Mar

_04

Mai

_04

Jul_

04

Set_

04

Nov

_04

Jan_

05

Mar

_05

Mai

_05

Jul_

05

Set_

05

Nov

_05

Jan_

06

Mar

_06

Mai

_06

Jul_

06

Set_

06

Nov

_06

Inal

açõe

s

0

100

200

300

400

500

600

700

MW

/50

Nº Inalações

Geração (MWh / 50)

Gráfico 56 - Correlação gráfica entre os dados de inalações e de geração de energia elétrica da

UTE Piratininga de janeiro de 2003 a dezembro de 2006.

Fonte: Elaboração própria com os dados do CEINFO e EMAE

Graficamente, é possível verificar que em alguns períodos existe uma

proximidade de correlação entre a geração de energia e os casos de inalações

da população local, pois em alguns períodos, pode-se perceber que a linha

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rosa (inalações) comporta-se de forma semelhante à azul (geração). Contudo,

em outros períodos verifica-se um distanciamento entre ambas.

Com o intuito de aprofundar nas análises foram realizados alguns cálculos

estatísticos utilizando as ferramentas SPSS e MINITAB. Dessa maneira,

utilizou-se o teste t-Student pareado, no qual foram analisados o número

mensal de inalações, casos de crianças menores de 2 anos com IRA e

hospitalizações de crianças menores de 5 anos por pneumonia das UBS Vila

Aparecida e Mar Paulista. Também foi utilizado o número mensal de inalações

e de internações por pneumonia, crise asmática e insuficiência respiratória

aguda em crianças e adultos e, doença pulmonar obstrutiva crônica somente

nos adultos do Hospital Geral de Pedreira.

Segundo alguns autores da área médica, no estudo de relação entre doenças

do aparelho respiratório e qualidade do ar de certa região, é importante analisar

os casos ocorridos nos meses mais secos e frios do ano, pois nesses períodos

o número de pessoas com problemas respiratórios aumenta significativamente.

Dessa maneira foram escolhidos os meses de maio a outubro de todos os

anos, para realizar os cálculos estatísticos.

Os testes foram realizados sobre dois aspectos: comparando os casos de

problemas respiratórios registrados nos meses frios, levando em consideração

o crescimento populacional do distrito, com o período no qual a UTE Piratininga

não gerou energia, ou seja, 2007. Da mesma forma, esse teste foi realizado

considerando o ano de 2001, quando a usina teve o seu pico de geração. Ao

final do estudo percebeu-se que os dados de saúde provindos do Hospital não

apresentaram correlação com a geração de energia. No entanto, os dados de

inalações das duas UBS próximas mostraram forte correlação com o

funcionamento da usina.

A partir dos resultados, pode-se afirmar que o número de inalações médio

entre o número de inalações e a população total do distrito (levando em

consideração a taxa de crescimento no período analisado), para os meses

secos, foi significativamente maior em 2003, 2004, 2005 e 2006 que em 2007.

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Vale lembrar que a diminuição desses casos pode também estar relacionada a

melhoria dos atendimentos realizados pelos órgãos de saúde.

A tabela 18 mostra as médias comparativas nos meses secos entre o ano de

2007 e os outros anos, o desvio padrão e a probabilidade de erro (p).

Tabela 18 - Comparação entre médias das inalações, considerando o número de inalações

dentro da população total de Pedreira nas 2 UBS ocorridas entre 2003 e 2007, desvio padrão e probabilidade de erro.

PERÍODO MÉDIA (nº inalações / população total)

DESVIO PADRÃO p

2007 0,00200054 0,000439478 0,021 2003 0,00290896 0,000536440 2007 0,00200054 0,000439478 0,001 2004 0,00374788 0,000439872 2007 0,00200054 0,000439478 0,079 2005 0,00286976 0,000586891 2007 0,00200054 0,000439478 0,087 2006 0,00314837 0,001148080

Fonte: Elaboração própria com os dados do CEINFO e EMAE

Através da tabela 18, verificou-se que os valores encontrados nos anos de

2003 e 2004 foram significativos do ponto de vista estatístico, com p < 0,05, ou

seja, o percentual de erro é menor que 5%. Em 2005 e 2006 também pode-se

considerar os valores significativos se levado em conta que p < 0,10

(percentual de erro menor que 10%). Desse modo, constata-se que o número

de inalações no ano de 2007 foi menor que nos anos anteriores, indicando que

a paralisação do funcionamento da UTE Piratininga, pode ter influenciado na

diminuição dos casos de problemas respiratórios na população do seu entorno.

O mesmo não pôde ser aplicado com os dados do Hospital Geral de Pedreira,

pois estes, correspondentes ao período seco, não foram disponibilizados.

Considerando a geração de energia da usina em 2001 como o ano de pico,

foram comparados a este os anos seguintes, com o intuito de verificar

estatisticamente tanto a geração como o número de internações do Hospital

Geral de Pedreira. A tabela 19 ilustra as médias comparativas nos meses

secos entre a geração de energia da UTE Piratininga de 2001 e dos outros

anos, o desvio padrão e a probabilidade de erro (p).

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Tabela 19 - Comparação entre médias de geração de energia elétrica (MWh) da UTE Piratininga entre 2001 e 2007, desvio padrão e probabilidade de erro.

PERÍODO MÉDIA (MWh) DESVIO PADRÃO p

2001 175009,30 34699,57097 0 2002 73041,33 17063,30100 2001 175009,30 34699,57097 0 2003 20851,33 8602,73888 2001 175009,30 34699,57097 0 2004 14734,67 2680,06139 2001 175009,30 34699,57097 0 2005 16783,50 5434,49592 2001 175009,30 34699,57097 0 2006 10685,83 6662,97857

Fonte: Elaboração própria com os dados da EMAE

A partir da tabela 19, constata-se que a geração de energia elétrica da UTE

Piratininga em 2001 foi, do ponto de vista estatístico, significativamente maior

que nos anos seguintes. Isso pode ser afirmado com 100% de confiabilidade.

O mesmo teste foi aplicado utilizando os dados de saúde do Hospital Geral de

Pedreira, no intuito de comparar estes com o pico de geração de energia da

UTE Piratininga. Entretanto, não foi encontrada nenhuma correlação

significativa. Pelo fato dos dados de inalações das UBS terem mostrado

significância em relação ao não funcionamento da usina, ocorrido em 2007,

talvez isso também ocorresse em 2001, quando houve o pico de geração de

energia. Contudo, no ano de 2001, as UBS ainda não estavam atendendo

plenamente a população. Portanto, não foi possível realizar os testes de

correlação.

Cabe destacar que o Hospital Geral de Pedreira foi escolhido para este estudo

por estar localizado próximo à usina. Portanto, partiu-se do princípio de que a

população atendida seria a da própria região. No entanto, faltaram alguns

dados de saúde relativos ao ano de 2007, impossibilitando a comparação dos

dados do mesmo em relação ao não funcionamento da UTE Piratininga.

5.5. Discussões

Através desta pesquisa, constatou-se que o licenciamento ambiental é um

instrumento de suma importância para garantir o monitoramento, controle e

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fiscalização de empreendimentos como a UTE Piratininga. No Estado de São

Paulo, a SMA, DAIA e CETESB desempenham papéis fundamentais na

preservação e zelo pelo meio ambiente. A própria população, em geral aquela

mais organizada em ONG’s e associações, acaba exercendo um papel

fiscalizador, pressionando e cobrando do Poder Público para tomada de

medidas nesse sentido. Se São Paulo, que é considerado um Estado rico e

com razoável grau de organização institucional, existem evidências de certas

fragilidades e frouxidão na atuação dos órgãos ambientais, que se dirá de

outras regiões do país que possuem condições ainda mais desfavoráveis?

Um dos maiores problemas identificados refere-se aos dados de qualidade do

ar da região onde está localizada a UTE Piratininga. A partir desta pesquisa,

observou-se algumas lacunas relacionadas ao monitoramento e controle

ambiental da emissão e concentração de poluentes atmosféricos. Controlar a

emissão veicular é uma tarefa bem mais complexa e difícil que monitorar fontes

fixas, como é o caso da usina. A CETESB como órgão fiscalizador ambiental

do Estado de São Paulo, poderia buscar a ampliação da sua rede de

telemetria, aumentando os pontos de monitoramento, especialmente das fontes

fixas. Dessa maneira, também seria possível calibrar e validar as simulações e

modelos computacionais elaborados nos EIA.

É de suma importância destacar que não existe uma estação de

monitoramento de qualidade do ar próxima da usina. Analisando o EIA de

Modernização e Ampliação da UTE Piratininga, notou-se que a CETESB exige

do empreendedor a instalação de uma estação de monitoramento no entorno

do empreendimento. Entretanto, até o momento nenhuma medida foi tomada

no sentido de estabelecer um prazo para essa instalação. Esse é um problema

que não pode ser deixado de lado ou esquecido. Os próprios órgãos

ambientais poderiam vincular esse tipo de exigência à LI, não liberando a LO

sem que essas exigências fossem efetivamente contempladas.

Devido à limitação de dados de qualidade do ar, por não existir um ponto de

monitoramento próximo da usina, foram utilizados os dados das 3 estações

medidoras menos distantes do empreendimento, sendo a mais próxima

distante mais de 7 km. Além disso, essas estações sofrem, obviamente, uma

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grande influência de muitas outras fontes de poluição, principalmente das

fontes móveis. No caso, por exemplo, da estação Congonhas, sua localização

na Avenida dos Bandeirantes influencia muito nos dados coletados em função

da proximidade da via de intenso tráfego e da operação do aeroporto de

Congonhas.

Também vale destacar que algumas estações de monitoramento da CETESB

não possuíam uma medição contínua ou em algumas situações, os dados

gerados eram considerados como não significativos devido a problemas na

medição, segundo os técnicos da companhia. Isso prejudicou a confiabilidade

dos dados de qualidade do ar coletados, dificultando a interpretação e análise

dos poluentes medidos. A partir do estudo dos relatórios anuais e histórico de

dados da CETESB, notou-se que nem todos os pontos de monitoramento

utilizados nesta pesquisa realizaram a medição simultânea dos poluentes

analisados. Se as 3 estações medissem os mesmos poluentes em um período

contínuo, a análise teria sido mais completa e consistente.

Assim, percebeu-se que dentro de alguns dos condicionantes limitantes da

pesquisa como, o tempo de realização, acesso aos dados necessários,

qualidade e adequabilidade dos dados acessados, e metodologia adotada, não

seria possível responder de maneira absolutamente conclusiva a algumas

indagações iniciais da pesquisa, por exemplo, sobre um exato grau de

correlação entre o funcionamento da UTE Piratininga e a poluição ar no

entorno. Mesmo utilizando os pontos de monitoramento citados pelo EIA da

usina, vale destacar que esses sofrem fortemente a influência das emissões

veiculares. Portanto, para um estudo futuro, é de suma importância estabelecer

metodologias mais efetivas que realizem o monitoramento utilizando

instrumentos adequados de medição em pontos estratégicos e

simultaneamente. Além disso, também é importante conhecer a dinâmica da

dispersão de poluentes atmosféricos da região. Com a utilização desses

instrumentos e métodos, outra pesquisa poderia ser realizada.

Analisando as informações trazidas pelo EIA da UTE Piratininga, verificou-se

que foram realizadas somente simulações, utilizando modelos matemáticos, da

dispersão dos poluentes emitidos pela usina. Após a conclusão da fase 2, não

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foi realizado nenhum estudo ou medição posterior, sobre a quantidade efetiva

de poluentes emitidos pela usina e sua influência na atmosfera. Segundo o

próprio EIA, de 1998 a 2000, a termoelétrica foi alvo de reclamações da

população local, devido à quantidade de fumaça preta emitida pelas chaminés

durante seu funcionamento. Com isso, a EMAE foi multada, mostrando naquele

episódio, o cumprimento do dever dos órgãos fiscalizadores de São Paulo. No

entanto, algumas propostas mitigadoras em relação aos impactos na qualidade

do ar, feitas pelo empreendedor no EIA, ainda não foram plenamente

satisfeitas. Também não se conhece os prazos estabelecidos pelos órgãos

ambientais, para que essas medidas sejam tomadas.

Apesar das fragilidades e limitações destacadas anteriormente, cabe ressaltar

que a modernização da UTE Piratininga trouxe ganhos ambientais com o

fechamento do ciclo combinado e a substituição do óleo combustível pelo gás

natural. Provavelmente por esse motivo, os órgãos ambientais aprovaram sua

ampliação condicionada a exigências que estão sendo ou ainda serão

cumpridas. A implantação da fase 3 na termoelétrica ainda é incerta, visto as

incertezas sobre o fornecimento de gás natural, que acabou por interromper o

resto da ampliação e modernização da usina.

Em relação aos padrões de qualidade do ar, é importante destacar que a

legislação ambiental brasileira adotou praticamente os mesmos padrões

internacionais. Contudo, a dinâmica climática do Brasil é diferente de outros

países. Desse modo, a partir de tantos estudos epidemiológicos já realizados,

provando a associação da poluição atmosférica com diversos tipos de doenças,

essa legislação deveria ser reformulada e atualizada, com o intuito de atender

as peculiaridades de um país de clima tropical. Se comparados os padrões

limites de qualidade do ar atuais dos órgãos ambientais, e os valores

recomendados pela OMS, verifica-se que existe uma enorme discrepância

entre os mesmos, criando uma forte indagação sobre: até que ponto esses

padrões estão realmente zelando pela saúde e bem-estar da população? Cabe

destacar também, a falta de uma regulamentação que trate dos padrões de

NOx e O3, por exemplo. Através desta pesquisa, verificou-se que a legislação

ambiental que se tem hoje, trata somente dos padrões limites para NO2. Alguns

GT do MMA têm feito o esforço de tentar implementar valores limites nas

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Resoluções do CONAMA. Porém, esses trabalhos ainda estão em fase de

discussão. Já para o O3, o problema levantado é a falta de padrões para as

médias anuais, já que na legislação ambiental, existe somente o padrão

máximo para 1 hora.

Analisando os gráficos com as medições dos poluentes elaborados neste

trabalho, observou-se que muitas vezes os padrões máximos de qualidade do

ar foram ultrapassados, tanto nas médias anuais como nas médias diárias.

Infelizmente, não foi possível, através desta pesquisa, comprovar de forma

explícita e para todos os períodos de analise, a correlação entre o

funcionamento da UTE Piratininga com a qualidade do ar e os problemas de

saúde da população. No entanto, pode-se afirmar que essas ultrapassagens

dos padrões máximos são significativas e que isso deveria ser um grande

motivo de preocupação para os órgãos ambientais e de saúde. Mesmo com a

influência relativamente menor das fontes fixas, como é o caso da UTE

Piratininga, ainda sim existe a enorme emissão veicular, responsável por 90%

do total, segundo a CETESB. Com o crescimento da frota de veículos

automotores a cada dia, a tendência é aumentar essas ultrapassagens dos

padrões estabelecidos, tanto em número como nas concentrações. Isso é um

problema que deve ser enfrentado pelo Estado com apoio da sociedade como

um todo.

Apesar de existir uma diversidade de trabalhos sobre a associação de certos

poluentes atmosféricos e algumas doenças respiratórias, muito ainda tem de

ser estudado, no sentido de analisar o impacto que os empreendimentos

energéticos têm sobre a saúde da população do seu entorno em ambientes

tropicais e intensamente urbanizados. Com o discurso de que uma nova crise

energética está por vir nos próximos 2 anos no país, vale a pena para um

futuro bem próximo, ampliar o investimento no monitoramento, controle,

fiscalização e na produção de conhecimentos sobre os efeitos desses

empreendimentos.

Além de questões problemáticas como as mudanças climáticas globais, há

outras questões sérias a serem levadas em consideração. Os recursos hídricos

disponíveis nas Regiões Sul e Sudeste, onde se concentra a maior parte dos

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consumidores, já foram explorados praticamente no seu limite. Sendo assim,

boa parte dos rios que ainda têm potencial hídrico para a geração elétrica estão

na Região Amazônica, distante dos grandes centros consumidores, o que

implica elevados custos nas linhas de transmissão. Sem falar no relevo

desfavorável à construção de hidrelétricas, devido à baixa declividade daquela

região que dificulta a queda d’água na geração elétrica. A necessidade de

maior complementação termoelétrica num futuro próximo é reflexo da redução

de investimentos em projetos hidrelétricos de grande porte. Dessa maneira, o

Brasil diante de um problema de seca, para atender à demanda e evitar novos

riscos de apagões, terá que contar com a geração termoelétrica, pelo menos

até que grandes usinas como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte comecem a

operar em 2013/2016. Isso poderá contribuir com o aumento das emissões de

poluentes para a atmosfera. Por outro lado, em muitos países, especialmente

os desenvolvidos, têm-se investido em novas tecnologias que reduzam ou

abatam as emissões de poluentes atmosféricos provindos do funcionamento de

usinas termoelétricas, desde a melhoria no processo de combustão, até a

qualidade do combustível utilizado.

É importante lembrar que, através do PDE – 2008/2017 haverá um forte

investimento em termoelétricas nos próximos 10 anos, principalmente a óleo

combustível. Dessa forma, eleva-se a preocupação se o funcionamento dessas

usinas imputará em ônus para as populações locais. É indiscutível a

importância da energia elétrica para a sociedade contemporânea. No entanto,

se o investimento na geração de energia elétrica é grande, vale ressaltar que

no mínimo um investimento proporcional deve ser feito em relação ao

monitoramento, fiscalização e controle da qualidade do ar, bem como nos

setores ligados à saúde pública e vigilância. De qualquer modo, o Brasil

sempre esteve em condição privilegiada em relação ao resto do mundo, pois a

matriz energética nacional é considerada limpa e renovável. Se nos próximos

anos realmente ocorrer maior investimento em termoelétricas, a matriz sofrerá

mudanças, passando a ter um parque de geração proveniente

predominantemente de fonte não renovável.

Salienta-se mais uma vez que o funcionamento de usinas termoelétricas, que

utilizam combustíveis fósseis, resulta na emissão de GEE. A presença desses

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gases na atmosfera influencia diretamente nas mudanças climáticas globais.

Isso tem sido exaustivamente discutido por diversas agências e governos

internacionais, onde tem-se buscado maneiras de mitigar tal problema.

Portanto, é necessário lembrar a importância e o peso das decisões que serão

tomadas daqui para frente no sentido de escolha e opção feitas pelos países

para a geração de energia.

Em relação aos dados de saúde, verificou-se que há indícios de que o

funcionamento da UTE Piratininga interfere na saúde da população do entorno.

Isso foi mostrado na diminuição do número de inalações das UBS próximas no

período em que a usina não teve funcionamento, mesmo com o crescimento da

população do distrito de Pedreira. Diversos estudos mostram que a poluição do

ar constitui um grave problema de saúde pública que cresce a cada dia,

demandando políticas públicas de controle da emissão de poluentes para a

atmosfera. Muito pouco tem sido feito no sentido de melhorar significativamente

esse quadro. Ainda prevalece, entre grande parte dos governantes e gestores

públicos, a concepção de priorizar o investimento em grandes projetos de

desenvolvimento econômico ao invés de outros setores como saúde e meio

ambiente. Vale destacar a dificuldade em coletar alguns dados de saúde, que

para esta pesquisa, foram imprescindíveis. De qualquer modo, foi possível

realizar algumas comparações e correlações estatísticas, utilizando os dados

de geração de energia elétrica e o número inalações das 2 UBS estudadas.

Neste trabalho, encontrou-se primeiramente, certa dificuldade burocrática em

obter os dados de saúde sem o aval de um Comitê de Ética, pois pelo fato da

Universidade Federal do ABC ser uma instituição implementada recentemente,

ainda não foi possível a criação de um Comitê de Ética. Além disso, em alguns

meses dentro do período estudado, não foram feitos os registros de saúde do

Hospital Geral de Pedreira. Isso prejudicou a análise estatística da pesquisa,

impedindo a comparação entre os dados de geração da usina e aqueles

relacionados aos problemas respiratórios da população. Desse modo, é

importante salientar que tanto os órgãos de saúde (hospitais e UBS), quanto os

responsáveis pelas informações e controle epidemiológico, devem ter maior

preocupação em criar um banco de dados mais consistente e abrangente, até

mesmo para facilitar o acesso aos mesmos. Por outro lado, vale destacar que

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outros trabalhos, no sentido de relacionar dados climáticos e problemas de

saúde, estão sendo desenvolvidos, como do Instituto Nacional de Meteorologia

(INMET). Esse órgão está desenvolvendo uma ferramenta capaz de prever,

com até uma semana de antecedência, o número de internações provocadas

pela influência do clima. Trata-se de um projeto que visa nortear as autoridades

públicas em criar estratégias de prevenção e atendimento, especialmente de

problemas respiratórios e cardíacos, além de óbitos.

Apesar das considerações levantadas neste trabalho, mostrando os indícios e

a influência do funcionamento de uma usina termoelétrica, inserida em uma

região intensamente urbanizada, na qualidade do ar e na saúde da população,

também é necessário discutir a importância da geração de energia elétrica. A

energia elétrica tem uma função primordial na sociedade contemporânea. As

cidades e toda a civilização estariam em cheque sem o uso deste bem, pois a

eletricidade viabiliza atividades essenciais à vida humana que vão desde o

bombeamento de água no sistema de saneamento básico até o funcionamento

de um aparelho de hemodiálise (é óbvio que aqui foram exemplificadas

atividades essenciais; sabe-se, todavia, que há perdas e desperdícios que

poderiam ser evitados no âmbito do consumo). No entanto, o zelo pela saúde

humana e preservação ambiental, coloca-se como prioridade nos dias de hoje.

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CAPÍTULO 6 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

6.1. Conclusões

Por meio desta pesquisa foi possível constatar as dificuldades técnicas e

metodológicas envolvidas em estudos que buscam correlacionar o

funcionamento de uma usina termoelétrica com a qualidade do ar e os

problemas de saúde da população do entorno, principalmente em uma região

como a RMSP. As variáveis de confusão, neste tipo de estudo, são muitas e a

limitação e fragilidade dos dados cedidos pelos órgãos ambientais e de saúde

não permitiram uma análise e interpretação mais consistente dos mesmos para

corroborar a hipótese levantada. De qualquer maneira, foram encontrados

dados relevantes e de suma importância para formulação de políticas públicas

dos setores energético, ambiental, urbano e de saúde.

A partir da análise dos dados de geração de energia elétrica da UTE

Piratininga, do EIA de Modernização e Ampliação da usina, dos dados de

qualidade do ar dos relatórios anuais e do histórico de dados da CETESB e,

dos dados de saúde, concluiu-se que:

Para correlacionar com maior grau de confiabilidade o funcionamento da

UTE Piratininga com a qualidade do ar e a saúde da população, o ideal

é que tivesse sido realizado o monitoramento da emissão de poluentes

atmosféricos mais próximo do empreendimento. Visto que as estações

de medição estudadas estavam distantes da usina, houve grande e

talvez maior dificuldade em quantificar exatamente o efeito da emissão

desses poluentes atmosféricos;

A recomendação feita pela CETESB, para a implantação de uma

estação de monitoramento da qualidade do ar na área do

empreendimento, ainda não foi cumprida. Com a instalação dessa

estação, haverá um melhor registro e maior capacidade de atuação

tanto dos responsáveis pelo empreendimento, como dos órgãos

ambientais no controle dos poluentes atmosféricos emitidos pela UTE

Piratininga;

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118

Os dados fornecidos pela CETESB são limitados e possuem

fragilidades. A interrupção da medição dos poluentes ou a invalidação

de alguns dados, dificultou enormemente a confiabilidade desses para

análise e comparação entre as 3 estações de monitoramento estudadas

e o funcionamento da UTE Piratininga;

Os padrões máximos de qualidade do ar das 3 estações de

monitoramento estudadas foram ultrapassados em muitos momentos no

período analisado. Isso é considerado um fato grave, pois essas

ultrapassagens atingem valores bem acima dos limites estabelecidos.

Mesmo que a influência de fontes fixas seja pequena em relação aos

veículos automotores, esses valores são preocupantes pela sua

freqüência e concentração na atmosfera;

A própria legislação ambiental abre brechas para o descumprimento dos

padrões de qualidade do ar. No caso da emissão de NOx, não existe

ainda um limite estabelecido. O mesmo acontece com o O3, pois esse

poluente possui somente o valor limite para a concentração de 1 hora.

Não existe o padrão máximo para a média diária, nem mesmo o anual;

O licenciamento ambiental é um dos instrumentos essenciais para

garantir o monitoramento, controle e fiscalização de diferentes tipos de

empreendimento, pelos órgãos ambientais. No entanto, é necessário

maior rigor na avaliação desses licenciamentos e principalmente, na

fiscalização do cumprimento das metas e recomendações estabelecidas

através da renovação da LO;

É de suma importância uma análise rigorosa do EIA de

empreendimentos, particularmente aqueles com fins energéticos cujo

local de instalação está inserido em áreas urbanas. Um detalhe

importante que deve ser considerado é que muitas vezes as

informações contidas nesses documentos são provenientes de

simulações que utilizam modelos matemáticos e computacionais que

não necessariamente traduzem o comportamento real das variáveis;

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Existem associações entre os poluentes emitidos por usinas

termoelétricas e o aumento de doenças respiratórias na população,

principalmente entre crianças e idosos. Os estudos realizados neste

trabalho, mostram que o número de atendimentos de inalações no

sistema de saúde do entorno diminuiu com o não funcionamento da

usina. Ao contrário, em outros períodos em que a UTE Piratininga gerou

maior quantidade de energia elétrica, não foi possível realizar essa

correlação devido à ausência de alguns dados de saúde;

Da mesma maneira que ocorreu com os dados de qualidade do ar,

também houve limitação dos dados de saúde, dificultando o maior

aprofundamento dos resultados da pesquisa;

Nos próximo 10 anos, haverá forte investimento em usinas

termoelétricas, principalmente a óleo combustível. Esse fato poderá

imputar em ônus para as populações que vivem próximas desses

empreendimentos. A preocupação e investimento na geração de energia

elétrica, para atender a demanda, devem ser proporcionais à

preocupação e investimento nos setores de saúde pública e meio

ambiente.

6.2. Contribuições e recomendações

O desenvolvimento deste trabalho resulta em algumas contribuições e

recomendações elaboradas a partir das dificuldades encontradas durante a

pesquisa, no intuito de levantar questões importantes na construção de

políticas públicas nas esferas do planejamento energético, urbano, ambiental e

de saúde, em âmbito regional e nacional.

Através desta pesquisa, foi possível verificar o grau de responsabilidade dos

órgãos ambientais municipais, estaduais e federais na formulação de uma

legislação ambiental coerente que trate de todas as questões relacionadas à

qualidade do ar nas cidades brasileiras, principalmente naquelas onde o

adensamento urbano é grande. Para isso, deveria haver mais formas de

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trabalho conjunto e parcerias entre os órgãos de pesquisa e o Estado, na

elaboração de políticas públicas que atendam os problemas aqui levantados.

Também vale destacar o papel dos órgãos ambientais no tocante ao rigor com

que devem ser analisados os EIA de grandes empreendimentos,

especialmente para fins de geração de energia. Destaca-se ainda, a

importância da severidade no monitoramento, controle e fiscalização do

cumprimento das exigências feitas pelos órgãos responsáveis.

É muito importante salientar a relevância do monitoramento da qualidade do ar

de empreendimentos energéticos como a UTE Piratininga. Para isso, reforça-

se aqui a proposta de instalar estações medidoras de qualidade do ar no

entorno desses empreendimentos, principalmente aqueles localizados

próximos dos grandes centros urbanos, onde a poluição do ar é maior, para

garantir o monitoramento e controle dos poluentes emitidos pelos mesmos.

Além disso, a instalação dessa rede telemétrica deve ser adequadamente

localizada para validar os modelos numéricos de simulação utilizados na

elaboração dos EIA/RIMA.

Destaca-se aqui, o valor das informações prestadas neste trabalho para que o

planejamento energético seja proposto e implementado da forma mais

apropriada possível. Se por um lado ficou claro, durante a crise no setor

elétrico de 2001, que o país não pode depender exclusivamente de uma única

fonte de energia, por outro, para o investimento em termoelétricas,

especialmente a óleo combustível, deve ser levado em conta os efeitos e

impactos socioambientais e sanitários nas populações próximas. Nesse

sentido, os estudos desenvolvidos pela Empresa de Pesquisa Energética

(EPE) devem satisfazer essas questões.

Mesmo que a UTE Piratininga não existisse, este trabalho chama a atenção

para as emissões de poluentes causadas pela enorme frota veicular da RMSP,

que aumenta cada vez mais e em ritmo acelerado. Para amenizar esse

problema são necessários programas mais eficazes que realmente colaborem

não somente por meio de inovação e tecnologia, mas principalmente com a

redução da circulação de veículos automotores. A concentração de alguns

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poluentes atmosféricos como NOx, MP e O3, tem aumentado com o passar dos

anos, atingindo níveis muito preocupantes, resultando em diversos problemas

ambientais e, principalmente causando sérios casos de doenças e óbitos

evitáveis.

A partir das questões abordadas, também cabe ressaltar a importância do

planejamento urbano articulado com a gestão e monitoramento ambiental com

foco preventivo para as conseqüências dos impactos da poluição atmosférica

na saúde humana, principalmente nas periferias, que abrigam a maior parcela

da população de baixa renda da metrópole. Assim, faz-se necessária a

continuidade de pesquisas com esta temática, com o objetivo de aprofundar

análises no âmbito das políticas públicas que abranjam questões como o

planejamento energético, urbano, ambiental e de saúde.

6.3. Possíveis temas de pesquisas para trabalhos futuros

Como possíveis temas de pesquisas para a elaboração de trabalhos futuros

propõem-se:

A utilização de instrumental adequado para a realização de medições

dos poluentes atmosféricos emitidos pela UTE Piratininga ou de outros

empreendimentos, com o intuito de quantificar essas emissões para uma

possível comparação com os padrões de qualidade do ar estabelecidos

pelos órgãos ambientais;

A análise do EIA de empreendimentos energéticos, com o intuito de

comparar as informações, metas, propostas de medidas mitigadoras

contidas no documento, com o que realmente foi e está sendo realizado

após a implantação e operação;

O estudo dos impactos na água utilizada para o resfriamento das

turbinas da UTE Piratininga e de outras usinas termoelétricas, uma vez

que esses empreendimentos se instalam próximo de corpos d´água,

com o objetivo de explorar esse recurso natural.

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