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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEAR
FACULDADE DE MEDICINA
DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FARMACOLOGIA
IRI SANDRO PAMPOLHA LIMA
ALTERAES NEUROQUMICAS, COMPORTAMENTAIS E
HISTOLGICAS PROMOVIDAS PELA COCANA ISOLADAMENTE
E EM ASSOCIAO COM IMIPRAMINA, TOPIRAMATO E
PENTOXIFILINA EM RATOS
FORTALEZA-CE
2009
2
IRI SANDRO PAMPOLHA LIMA
ALTERAES NEUROQUMICAS, COMPORTAMENTAIS E
HISTOLGICAS PROMOVIDAS PELA COCANA ISOLADAMENTE
E EM ASSOCIAO COM IMIPRAMINA, TOPIRAMATO E
PENTOXIFILINA EM RATOS
IRI SANDRO PAMPOLHA LIMA
Tese de doutorado submetida
Coordenao do Programa de Ps-
Graduao em Farmacologia do
Departamento de Fisiologia e Farmacologia
da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Cear, como requisito parcial
para obteno do ttulo de Doutor em
Farmacologia.
Orientadora: Profa. Dra. Glauce Socorro
Barros Vianna
Fortaleza-CE
2009
3
L698a Lima, Iri Sandro Pampolha
Alteraes neuroqumicas, comportamentais e histolgicas
promovidas pela cocana isoladamente e em associao com imipramina,
topiramato e pentoxifilina em ratos / Iri Sandro Pampolha Lima.
Fortaleza-Ce, 2009.
162 f. : il.
Orientadora: Profa. Dra. Glauce Socorro Barros Vianna
Tese (Doutorado) Universidade Federal do Cear. Faculdade
de Medicina. Programa de Ps-Graduao em Farmacologia.
1. Cocana 2. Imipramina 3. Pentoxifilina 4. Memria I. Vianna, Glauce Socorro Barros (Orient.) II. Ttulo.
CDD: 616.8647
4
IRI SANDRO PAMPOLHA LIMA
ALTERAES NEUROQUMICAS, COMPORTAMENTAIS E
HISTOLGICAS PROMOVIDAS PELA COCANA ISOLADAMENTE E EM
ASSOCIAO COM IMIPRAMINA, TOPIRAMATO E PENTOXIFILINA
EM RATOS.
Tese de doutorado submetida Coordenao do
Programa de Ps-Graduao em Farmacologia do
Departamento de Fisiologia e Farmacologia da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do
Cear, como requisito parcial para obteno do ttulo
de Doutor em Farmacologia.
Aprovada em: 12/02/2009
5
A Deus por trilhar de maneira to especial a minha vida colocando nela somente pessoas especiais
Aos meus amados pais, Irimatines e Ftima, incentivadores e amigos de todas as horas.
Aos meus irmos, Alan e Wallace pela presena e apoio constantes.
minha esposa rica, pelo apoio e incentivo em todos os momentos
minha filha Laura, por ser uma
inesgotvel fonte de inspirao
6
Agradecimentos
Profa. Glauce Socorro Barros Viana, pela orientao, pacincia e
incentivo para a realizao deste trabalho.
Aos funcionrios e bolsistas da Faculdade de Medicina de Juazeiro
do Norte FMJ, que em muito contriburam para a realizao deste
trabalho;
Ao Amigo Hlio, pelos conselhos e ajuda em todos os momentos.
Ao amigo da ps-graduao Ccero pelos incentivos e discusses
constantes.
Aos amigos da Ps-graduao Marta Fonteles, Cla Sousa, Danielle
Macedo, Lissiana Magna e todos os demais componentes o
laboratrio de neurofarmacologia pela colaborao em muitos
momentos.
Aos Profs. do curso de ps-graduao em Farmacologia, pelos
conhecimentos transmitidos e constante disponibilidade.
Professora Geanne Cunha pela valiosa contribuio e orientao.
Ao Prof. Newton Silva Santos pela colaborao na realizao de
procedimentos experimentais.
Vilani Bastos, pela colaborao em todos os momentos.
A todos os bolsistas pelo companheirismo e dedicao na execuo
dos experimentos.
Aos funcionrios do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da
Universidade Federal do Cear pelo apoio e cooperao.
7
Polcia Federal de Fortaleza, em especial Dra. Graa, pelo apoio
incondicional e pela realizao das anlises necessrias.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(CNPq), pelo suporte financeiro.
8
NDICE
Lista de Tabelas
Lista de Figuras
Lista de Abreviaturas
Resumo
Abstract
1. INTRODUO 19
1.1 Drogas de Abuso 19
1.2 Cocana 22
1.2.1 Histrico 22
1.2.2 Formas de Cocana 28
1.2.3 Vias de Exposio 29
1.2.4 Biotransformao da Cocana 31
1.3 Cocana e Neurotransmisso 32
1.3.1 Dopamina 32
1.3.2 Distribuio dos Neurnios Dopaminrgicos 33
1.3.3 Papel da Dopamina no Comportamento 34
1.3.4 O Transportador de Dopamina 35
1.3.5 Efeito da Cocana no Sistema Dopaminrgico 37
1.3.6 Circuitos Enceflicos e Drogas de Abuso 39
1.4 Topiramato 45
1.4.1 Consideraes Gerais 45
1.5 Imipramina 47
1.5.1 Consideraes Gerais 47
1.6 Pentoxifilina 49
1.6.1 Consideraes Gerais 49
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS 53
2.1 Justificativa 53
2.2 Objetivos Geral e Especficos 54
9
3. MATERIAIS E MTODOS 57
3.1 Animais 57
3.2 Drogas 58
3.2.1 Preparo das Drogas 58
3.2.2 Determinao do Grau de Pureza da Cocana 58
3.3 Tratamento dos Grupos Experimentais 59
3.4 Estudos Comportamentais 60
3.4.1 Teste da Atividade Locomotora 60
3.4.2 Teste da Esquiva Passiva 61
3.4.3 Teste de Labirinto Aqutico 62
3.4.4 Teste de Labirinto em Cruz Elevada 62
3.4.5 Teste do Nado Forado 63
3.5 Dissecao das reas Cerebrais 64
3.6 Determinao de Monoaminas e Metablitos com HPLC 65
3.7 Culturas de Clulas Mesenceflicas de Rato 68
3.8 Ensaio de Neurotoxicidade teste do MTT 68
3.9 Determinao do fluxo sanguneo cerebral atravs de cintilografia 69
3.10 Dosagem de Nitrito/Nitrato 69
3.11 Estudo Histopatolgico 70
3.12 Anlise Estatstica 71
4. RESULTADOS 73
4.1 Teste de Atividade Locomotora Espontnea 73
4.2 Teste da Esquiva Passiva 77
4.3 Teste de Labirinto Aqutico 82
4.4 Teste de Labirinto em Cruz Elevada 86
4.5 Teste do Nado Forado 89
10
4.6 Efeitos da Administrao repetida de Cocana, Imipramina e a
Combinao Destes Sobre as Concentraes de DA, DOPAC, 5-HT
E 5-HIAA em CE de Ratos.
91
4.7 Efeitos da Administrao repetida de Cocana, Topiramato e a
Combinao Destes Sobre as Concentraes de DA, DOPAC e NE
em CE de Ratos.
94
4.8. Efeitos promovidos pela cocana em clulas mesenceflicas de
ratos expostas 6-OHDA 10M determinados pelo teste do MTT
98
4.9. Efeitos da administrao repetida de cocana, topiramato e a
combinao destes sobre o fluxo sanguneo cerebral em ratos.
100
4.10. Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em
associao com imipramina e topiramato sobre a formao de nitrito
em crebro de ratos.
102
4.11. Anlise histolgica de crebro de animais tratados com cocana,
imipramina e a associao destas drogas.
104
5. DISCUSSO 110
6. CONCLUSES 130
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 134
11
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com imipramina no teste de esquiva passiva,
em ratos. 79
Tabela 2- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com topiramato no teste de esquiva passiva,
em ratos. 80
Tabela 3- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com pentoxifilina no teste de esquiva passiva,
em ratos. 81
Tabela 4- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com imipramina no teste labirinto aqutico,
em ratos. 83
Tabela 5- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com topiramato no teste de labirinto
aqutico, em ratos. 84
Tabela 6- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com pentoxifilina no teste de labirinto
aqutico, em ratos. 85
Tabela 7- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com imipramina no teste de labirinto
em cruz elevada, em ratos. 87
Tabela 8- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com topiramato no teste de labirinto em
cruz elevada, em ratos. 88
Tabela 9- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com imipramina sobre os nveis de dopamina
e seus metablitos (ng/g de tecido) em estriado de ratos. 92
Tabela 10- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e em associao com imipramina sobre os nveis de
5-HT e seu metablito (ng/g de tecido) em estriado de ratos. 93
12
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Foto das folhas da espcie Erythroxylon coca 22
Figura 2- Representao da estrutura da cocana 23
Figura 3- Vias dopaminrgicas em crebro de ratos 34
Figura 4- Aes da cocana sobre o processo de recaptao de
dopamina
37
Figura 5- Sistema dopaminrgico mesocorticolmbico 39
Figura 6-
Figura 7-
Figura 8-
Figura 9-
Estrutura qumica do topiramato
Estrutura qumica da imipramina
Estrutura qumica da pentoxifilina
Cromatografia da cocana em comparao com padro da
Polcia Federal
45
48
50
59
Figura 10- Aparelho de HPLC com deteco de fluorescncia e
eletroqumica
66
Figura 11- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre a atividade locomotora
espontnea em ratos.
74
Figura 12- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com topiramato sobre a atividade locomotora
espontnea em ratos.
75
Figura 13- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com pentoxifilina sobre a atividade
locomotora espontnea em ratos.
76
Figura 14- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre o tempo de
imobilidade no teste de nado forado.
90
Figura 15- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com topiramato sobre os nveis de dopamina
em corpo estriado de rato.
95
Figura 16- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com topiramato sobre os nveis de DOPAC
em corpo estriado de rato
96
13
Figura 17- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com topiramato sobre os nveis de
noradrenalina em corpo estriado de rato
97
Figura 18- Efeito da cocana em clulas mesenceflicas de ratos
expostas 6-OHDA.
99
Figura 19- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com topiramato sobre o fluxo sanguineo
cerebral em ratos
101
Figura 20- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina e topiramato sobre a
formao de nitrito em crebro de ratos.
103
Figura 21- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre a viabilidade celular
105
Figura 22- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre a viabilidade celular
106
Figura 23- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre a viabilidade celular
107
Figura 24- Efeitos da administrao repetida de cocana isoladamente e
em associao com imipramina sobre a viabilidade celular
108
14
LISTA DE ABREVIATURAS
l Microlitro
5-HIAA cido-5-hidroxiindolactico
5-HT Serotonina
6-OHDA 6-hidroxidopamina
ALE Atividade locomotora espontnea
ANOVA Anlise de varincia
ATV rea tegmentar ventral
CE Corpo estriado
Coc Cocana
DA Dopamina
DOPA Diidroxifenilalanina
DAT Dopamine transporter - Protena transportadora de
dopamina
DOPAC cido diidroxifenilactico
EDTA cido etilenodiaminotetractico
EPM Erro padro da mdia
HPLC Cromatografia lquida de alta performance
HVA cido homovanlico
Imi Imipramina
mg miligrama
mL mililitro
MTT 3[4,5-dimetiltiazol-2-il]-2,5-difeniltetrazolium brometo
NAc Ncleo acumbente
NA Noradrenalina
NEBA Nmero de entradas nos braos abertos
NEBF Nmero de entradas nos braos fechados
NC Nmero de cruzamentos
15
NMDA N-metil-D-aspartato
NO xido Ntrico
NOS NO sintase
Pent Pentoxifilina
SNC Sistema nervoso central
TP Tempo de permanncia
TPBA Tempo de permanncia nos braos abertos
TPBF Tempo de permanncia nos braos fechados
TPM Topiramato
i.p. Intraperitoneal
v.o. Via oral
16
RESUMO
A cocana reconhecida por produzir marcantes alteraes sobre o humor e comportamento
humanos. Este trabalho teve como objetivo estudar as alteraes neuroqumicas,
comportamentais e histopatolgicas promovidos pela administrao repetida (7 dias) de
cocana isoladamente ou em associao com imipramina, um antidepressivo tricclico,
topiramato, um antiepilptico, e pentoxifilina, um vasodilatador, em ratos. Ratos Wistar
machos (200-250 g) foram tratados diariamente com cocana isoladamente (Coc, 10 e 20
mg/kg, i.p.) ou em associao com imipramina (Imi, 12.5 ou 25 mg/kg, v.o.), topiramato
(TPM, 50mg/kg, v.o.), pentoxifilina (Pent, 50mg/kg, i.p.) durante 7 dias. Cocana causou um
aumento significativo da atividade locomotora, e sua combinao com Imipramina,
topiramato e pentoxifilina bloqueou os efeitos promovidos pela cocana. No teste de esquiva
passiva, a cocana reduziu a memria de curto e de longo prazo enquanto que a imipramina
reverteu parcialmente os efeitos da cocana. Pentoxifilina bloqueou completamente os efeitos
da cocana. No labirinto aqutico, a cocana aumentou o tempo para encontrar a plataforma,
efeito revertido totalmente pela imipramina e pentoxifilina e parcialmente pelo topiramato.
No teste de labirinto em cruz elevada, cocana e imipramina diminuram o numero de
entradas e o tempo de permanncia nos braos abertos. A combinao das duas drogas
reverteu parcialmente estes efeitos. No teste de nado forado, cocana e imipramina
diminuram significativamente o tempo de imobilidade do animal. Cocana promoveu
aumento dos nveis de dopamina (DA) e diminuio de HVA em corpo estriado, efeitos estes
bloqueados por imipramina e topiramato. Cocana tambm aumentou Noradrenalina (NA),
efeito bloqueado pelo topiramato. Contudo, cocana no alterou os nveis de serotonina (5-
HT). Imipramina aumentou os nveis de 5-HT. A exposio de cultura primria de clulas
mesenceflicas de ratos a cocana reduziu a morte celular causada pela 6-OHDA (10M).
Cocana diminuiu o fluxo sanguneo cerebral e este efeito foi completamente revertido pelo
topiramato. Cocana aumentou os nveis de nitrito no crebro dos animais e este efeito foi
bloqueado pela imipramina e topiramato. Nos estudos histolgicos, cocana promoveu um
dano significativo no crtex e giro denteado do hipocampo, efeito revertido pela imipramina.
Estes resultados so de grande importncia, especialmente em relao a atenuao do
prejuzo cognitivo, a reduo do fluxo sanguneo cerebral, a formao de nitrito e a morte
celular induzidos pela cocana.
Palavras-chave: Cocana, imipramina, pentoxifilina, memria.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&
17
ABSTRACT
Cocaine is known to produce marked alterations in behavior and mood in humans. This work
was designed to study the interference of the combination of imipramine, a tricyclic
antidepressant, topiramate, a antiepileptic drug, and pentoxifylline, a drug with
hemorheologic properties with cocaine on behavioral, neurochemical and histological
alterations. Male Wistar rats (200 g) were treated daily with cocaine alone (Coc, 10 and 20
mg/kg, i.p.) or in association with imipramine (Imi, 12.5 or 25 mg/kg, p.o.), topiramate
(TPM, 50mg/kg, p.o.), pentoxifylline (Pent, 50mg/kg, i.p.) for 7 days. Cocaine caused
increases in rats locomotor activity, and its combination with Imipramine, topiramate and
pentoxifylline completely blocked cacaine effects. In the passive avoidance test, cocaine
impaired short-term and long-term memory and imipramine partly reversed this effect.
Topiramate didn't promote alterations and pentoxifylline completely blocked cocaine effects.
In the water maze test, cocaine increased the time to find the platform and this effect was
completely reversed by imipramine and pentoxifylline. Topiramate partly reversed the
cocaine effect in the spatial memory. In the elevated plus maze test, cocaine and imipramine
decreased the number of entrances in the open arms and the time spent in the open arms. The
combination of the two drugs partially reversed these effects. In the forced swimming test,
both cocaine and imipramine decreased the animals immobility time. Cocaine also
increasing dopamine (DA) and decreasing HVA levels in CE, effects blocked by imipramine
and topiramate. Cocaine also increasing Noradrenaline (NA) levels, effect blocked by
topiramate. Imipramine alone increasing 5-HT levels. Ours results show that the exposition to
cocaine in primary rat mesencephalic cell culture before 6-OHDA reduce significantly the
cell death caused by a 6-OHDA (10M). Cocaine significantly decreased cerebral blood flow
and this effect was completely reversed by topiramate. Cocaine significantly increased the
nitrite levels in the brains rat and this effect was completely reversed by imipramine and
topiramate. In the histological studies, cocaine significantly damaged the cortex and DG
region of the hippocampus, reducing neuronal cell counts and this effect was completely
reversed by imipramine. Its results is an important point, especially those related to the
attenuation of cocaine-induced cognitive impairments, cerebral blood flow, nitrite formation
and cell death.
Keywords: Cocaine, imipramine, pentoxifylline, memory.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&http://www.ncbi.nlm.nih.gov/sites/?term=pentoxifylline&
18
18
1. INTRODUO
_________________________________________________________________
19
1. INTRODUO
1.1. Drogas de Abuso
O termo droga teve origem na palavra droog (holands antigo) que
significa folha seca. Atualmente a medicina define droga como sendo qualquer
substncia que capaz de modificar funes dos organismos vivos, resultando
em mudanas fisiolgicas ou de comportamento (Leite et al., 1999).
Dependendo da ao que as drogas apresentam no SNC, podem ser
divididas em trs grupos. Um grupo formado por aquelas drogas que diminuem
a atividade cerebral, ou seja, deprimem o seu funcionamento, o que significa
dizer que a pessoa que faz uso desse tipo de droga fica "desligada", "devagar",
desinteressada pelas coisas. Em um segundo grupo esto aquelas que atuam
aumentando a atividade do crebro, ou seja, estimulam o seu funcionamento
fazendo com que, a pessoa que se utiliza dessas drogas, fique "ligada", "eltrica",
sem sono. H um terceiro grupo, constitudo por aquelas drogas que agem
modificando mais qualitativamente que quantitativamente a atividade do crebro.
O crebro passa a funcionar de forma anormal e a sua atividade fica perturbada
(Beedle et al., 1997).
As drogas de abuso representam um problema significativo nos Estados
Unidos, com uma estimativa de 22,5 milhes de pessoas com idade superior a 12
anos (9,4% da populao) classificadas como j tendo usado estas drogas
(Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA).
National survey on drug use and health, 2004).
O uso continuo de substancias ilcitas continua sendo um problema a ser
resolvido na sociedade. Em muitos casos, o uso casual de substancias gera uma
desordem no uso destas, como por exemplo, o abuso (o uso desregrado com
conseqente prejuzo para o usurio) e a dependncia (vcio, o uso compulsivo de
uma substancia a despeito de problemas significativos decorrentes de seu uso)
20
[American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders, Fourth Edition, (DSM-IV). In:Washington, DC, 1994].
Importantes pesquisas tm sido desenvolvidas na tentativa de padronizar
tratamentos medicamentosos para a dependncia e abuso a drogas ilcitas.
Aproximaes farmacoterapeuticas efetivas para manter a abstinncia em adictos
esto disponveis, particularmente para reduzir o desejo e a busca pela droga em
usurios de nicotina, lcool e herona. Contudo, cerca de 60% dos dependentes
em lcool, opiides e cocana que receberam tratamento para dependncia
tiveram recada em at um ano. Assim, mais pesquisas so essenciais para
aumentar a eficcia destes tratamentos e oferecer novas opes para estes
pacientes. O desenvolvimento de novos agentes farmacolgicos para o
tratamento da dependncia aumentaria bastante as opes atualmente
disponveis, principalmente no caso de medicamentos que reduzam a abstinncia
e o desejo e previnam as possveis recadas (Bubar et al., 2006).
O principal componente lesivo destas drogas o estado de dependncia
que estas promovem nos usurios. Em estudos cientficos, a dependncia fsica
definida como um estado adaptativo que se manifesta por intensos distrbios
fisiolgicos quando a administrao da droga suspensa, enquanto que a
dependncia psquica caracterizada como uma condio na qual a droga produz
uma sensao de satisfao que leva a uma necessidade peridica ou contnua de
administrao da droga para produzir prazer (Dupont et al., 1997).
As drogas de abuso so causadoras de muitos problemas comuns para
vrias sociedades do mundo. Antigos textos religiosos mostram que, em todas as
pocas e lugares, os seres humanos deliberadamente usaram substncias capazes
de modificar o funcionamento do sistema nervoso, induzindo sensaes corporais
e estados psicolgicos alterados. Essas drogas tm grande poder destrutivo no
apenas para o indivduo, mas tambm para sua famlia e a sociedade. Dentre as
drogas de abuso hoje disponveis, temos a cocana e o etanol como os agentes
mais utilizados, sendo estas drogas alvos de inmeros estudos. Progressos
21
substanciais tm sido realizados na elucidao das aes moleculares e celulares
da cocana e do etanol, entretanto, os stios e mecanismos que participam nos
seus efeitos no esto bem elucidados (Leite et al., 1999).
A adio gerada pela cocana continua sendo um grande problema de
sade publica, sendo uma condio clinica crnica onde pode ocorrer
deteriorao fisiolgica, social e psiquitrica do usurio. O mecanismo de ao
da cocana envolve a inibio de transportadores neuronais de monoaminas em
algumas estruturas cerebrais e primariamente no sistema de recaptao de
dopamina localizado nos neurnios mesolimbicos. A cocana rapidamente
incrementa a neurotransmisso dopaminrgica e promove alteraes adaptativas
em circuitos cerebrais envolvidos com reforo, recompensa, sensibilizao e o
elevado poder viciante desta droga (Maurice et al., 2002).
A cocana reconhecida por produzir alteraes marcantes no
comportamento humano, e sua administrao repetida aumenta a probabilidade
de abuso, levando ao desenvolvimento do vicio. Mudanas na plasticidade
sinptica nos neurnios dopaminrgicos na rea tegumentar ventral podem
contribuir para este evento (Liu et al., 2005). Este aumento na plasticidade
sinptica na rea tegumentar ventral pode ser importante para a formao da
memria associada droga.
Embora no existam tratamentos farmacolgicos aprovados para a
dependncia promovida pela cocana, algumas drogas tm sido testadas com
alguns resultados promissores (Sofuoglu e Kosten, 2005). A cocana parece
estimular a neurotransmisso dopaminrgica atravs do bloqueio da recaptao
de dopamina. Contudo, evidencias sugerem que, em situaes de uso crnico, os
terminais nervosos podem ter seus estoques de dopamina depletados. A depleo
de dopamina tem sido associada com a disforia que se desenvolve durante a
retirada de cocana e o subseqente desejo por mais droga. Assim, alteraes na
neurotransmisso dopaminrgica podem ser responsveis pelo padro
compulsivo de uso da droga. Com altas doses e uso regular, outros sistemas de
22
neurotransmissores tais como serotoninrgico podem provavelmente direta ou
indiretamente mediar toxicidade no sistema nervoso central (Agarwal, 2005).
1.2. Cocana
1.2.1. Histrico
A cocana uma substncia naturalmente encontrada em dezenas de
espcies vegetais do gnero Erythroxylum (figura 1), sendo a Erythroxylum coca
e a Erythroxylum novogranatense as mais utilizadas no cultivo para a produo
da droga.
Figura 1 Folhas da planta Erythroxylon coca
(Fonte: www.cenpre.furg.br/cocaina/fotos.htm)
O hbito de mascar as folhas de coca pelos indgenas da regio dos Andes
data de longo tempo. Com a chegada dos conquistadores espanhis, esta forma
de uso foi estimulada, pois o consumo da droga facilitava a explorao do
trabalho escravo. Levada para a Europa pelos espanhis, durante os sculos XVI
e XVII, difundiu-se o uso das folhas de coca na terapia sob as mais diversas
http://www.cenpre.furg.br/cocaina/fotos.htm
23
aplicaes: os males do estmago, ulceraes de pele, doenas venreas e dores
de cabea, musculares e de dente (Gold, 1993, Escohotado, 1993).
A cocana (figura 2), principal alcalide ativo existente nas folhas da
Erythroxylum coca, foi isolada em 1860 por Niemann, que constatou seu gosto
amargo e o efeito peculiar que produzia na lngua, tornando-a dormente e quase
insensvel. Por volta de 1880, a cocana estava disponvel comercialmente,
sendo, logo, incorporada a diversas beberagens, entre essas, o famoso Vin
Mariani, que era conhecido como o vinho dos atletas. Rapidamente relatos
enfatizavam os poderes miraculosos da droga, bem como sua capacidade de
eliminar a fadiga (Gold, 1993).
Figura 2 - Representao da estrutura da cocana
Fonte: ZARZUELA, J. L. Qumica Legal. In: TOCHETTO, D. Tratado de
Percias Criminalsticas. Porto Alegre: Ed. Sagra-DC Luzzatto, 1995, cap.8,
p.164-169.
Em 1884, Sigmund Freud fez o primeiro estudo pormenorizado dos
efeitos fisiolgicos da cocana e no livro Ueber Coca sugeriu cinco possveis
aplicaes da substncia: aumentar a capacidade fsica, em doenas do aparelho
digestivo, no controle da morfinomania, como estimulante sexual e anestsico
local. Na mesma poca, Carl Koller introduziu a cocana na anestesia local da
crnea, e Hall, na odontologia. A anestesia espinhal verdadeira foi obtida por
24
Augusto Bier, em 1898, ao injetar a substncia em animais, em um assistente e
nele mesmo (Musto, 1992).
Nos Estados Unidos, por volta de 1885, a cocana foi adicionada
juntamente com a cafena em um remdio popular considerado como o
prottipo da Coca-Cola, com indicaes de uso contra dor de cabea e como
estimulante. Em 1892, Asa G. Chandler fundou a Coca-Cola Company e colocou
a bebida no mercado como um tnico para pessoas debilitadas. At meados deste
sculo (1903-06), esta bebida continha aproximadamente 60mg de cocana em
230 mL. A partir da sua extrao, a cocana passou a ser empregada em vrios
produtos. Nesta poca, nos Estados Unidos, extratos de coca eram relatados
como sendo a cura do alcoolismo e morfinismo, sendo que esses preparados
pavimentaram o caminho para a cocana em sua forma pura a partir de 1880. A
cocana foi distribuda na Europa, pelo laboratrio Merck, a especialistas para
realizarem experimentos com a droga. Nesta poca, Sigmund Freud dedicou-se
ao estudo da cocana. A euforia social relacionada cocana comeou a se
dissipar a partir da ltima dcada do sculo passado. Relatos detalhando a
dependncia cocana, comportamento psictico induzido, convulses e mortes
causadas pelo consumo, gradativamente se acumularam na literatura. Freud, em
1887, publicava Fissura e medo da cocana, descrevendo os sintomas paranicos,
as alucinaes e deteriorao fsica e mental associada ao consumo repetido
(Musto, 1992).
Nas dcadas que se seguiram introduo da cocana nos Estados
Unidos, ela podia ser obtida em dois nveis diferentes: industrializado ou mdico
e por meio do comrcio da droga pura nas ruas. At a ltima dcada do sculo
XIX no existia, naquele pas, legislao sobre os atos mdicos ou medicamentos
em nvel nacional. Mesmo as profisses mdicas estavam se organizando naquela
poca, de forma que no existia controle sobre a propaganda da cocana ou sobre
os produtos que continham a substncia. Leis passaram a ser decretadas para
coibir o acesso fcil substncia acarretando um fortalecimento gradativo do
25
mercado ilcito de cocana, fazendo com que a droga ilcita ficasse muito mais
acessvel.
A partir de 1900, surgiram vrios medicamentos e bebidas base de
cocana ou de folhas de coca que permaneceram no mercado at 1914, quando foi
editado o Harrison Narcotic Act, que tornou ilegal o uso e a venda de cocana
nos Estados Unidos da Amrica. Em 1924, a Associao Americana de Medicina
realizou um estudo que atribuiu a morte de 26 pacientes utilizao da cocana
como anestsico, o que restringiu o seu uso na clnica. O pblico, em resposta a
estas informaes, passava a pressionar as autoridades para tomada de uma
posio contra a droga. A viso social da cocana transformou-se em 30 anos (a
partir de 1884); de um tnico anunciado sem efeitos colaterais para a droga com
restries mais severas da histria atual; porm, no incio do sculo XX, a droga
continuava a ser permitida para propsitos mdicos. O perodo seguinte foi
caracterizado pela extino quase total do consumo da droga. Os anos a partir de
1920 foram caracterizados pelo consumo de derivados opiceos e Cannabis,
como ocorria no perodo imediatamente anterior cocana. No incio da dcada
de 30, a cocana deixava de ser um problema social pela diminuio do uso. De
1914 a 1970, o consumo da droga, devido s suas propriedades eufricas, ficou
restrito a alguns segmentos da sociedade. A partir dos anos 70, com as restries
impostas comercializao das anfetaminas, voltou o uso generalizado de
cocana nos Estados Unidos da Amrica, e no incio da dcada de 80, com a
introduo do crack, o consumo aumentou de forma alarmante (Gold, 1993).
muito difcil explicar a o aumento da utilizao de cocana nos Estados
Unidos a partir do incio da dcada de 70. Esse ressurgimento implicou, tambm,
no quadro de consumo de cocana que pode ser observado desde a ltima dcada
no Brasil. Um grande nmero de fatores, porm, convergiram para a mudana no
hbito de consumo de drogas na populao dos Estados Unidos; o primeiro deles
refere-se a uma populao que nasceu e cresceu consumindo drogas. O consumo
de maconha e alucingenos durante a dcada de 60 por um grande nmero de
26
jovens norte-americanos resultou na ausncia do temor das restries legais, bem
como das conseqncias mdicas do assim chamado consumo light de drogas
(Kendall, 1991).
Infelizmente, a cocana, at o incio da dcada de 80, ressurgiu envolta
por uma reputao de ser incapaz de promover dependncia, de ser segura em
relao s conseqncias mdicas e sociais e de ao ultracurta: a droga perfeita
para interao social. Tornou-se, em princpio, a droga dos ricos e famosos;
msicos cantavam suas virtudes, filmes mostravam o uso da cocana como
glamouroso, isento de riscos (Weiss, 1994). No Brasil, considerado o maior
corredor de trfico da droga do mundo, a cocana trazia uma srie de problemas
que atingia as mesmas propores nos pases industrializados; o mascar das
folhas de coca acarreta dependncia semelhante causada pela nicotina, sendo
associada ao empobrecimento das funes mentais. Alm do bem conhecido
estado de anarquia e corrupo pblica nos quais os pases produtores se
encontravam, o imenso crescimento da produo, atividade das mais lucrativas,
vinha causando consequncias sociais e ambientais incalculveis (Negrete,
1992). Nenhuma outra plantao conhecida causa nveis similares de eroso,
principalmente por seu cultivo junto s encostas andinas (Kendall, 1991). Uma
respeitvel parcela da populao dos pases produtores encontra-se envolvida em
atividades relacionadas ao trfico (Negrete, 1992).
No Brasil, a cocana era livremente comercializada j no incio do
sculo, integrante de remdios ou em sua forma pura. Esta situao permaneceu
at 1921, quando as leis comearam a restringir o seu consumo. Em 1962, no
primeiro levantamento brasileiro sobre internaes motivadas por consumo de
drogas, observou-se que apenas quatro casos eram motivados pelo consumo da
cocana, enquanto neste mesmo ano 8.462 internaes foram motivadas por
lcool. Com o crescimento do consumo observado na ltima dcada, em 1992
houve 866 internaes em hospitais psiquitricos por intoxicao aguda ou
dependncia da droga. Em populaes especificas, como as crianas de rua de
27
grandes cidades, a cocana proporcionalmente muito mais consumida (relatos
em 46,5% destas crianas na cidade de So Paulo). Com o surgimento do crack
no estado de So Paulo durante esta dcada, porm, o consumo e as
conseqncias tm crescido vertiginosamente (Leite et al., 1999).
A cocana apresenta um elevado potencial para abuso e continua sendo
um importante problema de sade publica, com 2,3 milhes de usurios apenas
nos Estados Unidos (United States Substance Abuse and Mental Health Services
Administration. Office of Applied Studies. 2001). Apesar dos esforos contnuos,
ainda no temos a disponibilidade de tratamentos farmacolgicos eficientes para
a dependncia a cocana (Sofuoglu et al, 2006). Muitos estudos, contudo, tem
mostrado uma relao entre os resultados dos tratamentos e uma variedade de
variveis demogrficas e relacionadas ao uso da droga (Sofuoglu et al, 2006).
O uso de substancias de abuso como a cocana apresenta um elevado
custo dentro das desordens neuropsiquitricas. Na ltima dcada, muito
progresso foi feito em relao ao entendimento dos efeitos das drogas de abuso
sobre o crebro. O vcio a drogas de abuso agora considerado uma doena do
sistema nervosa central, pois o abuso de drogas afeta varias funes cerebrais.
Prejuzos neurolgicos observados em usurios de drogas podem refletir
disfunes neurolgicas e neurotoxicidade induzidas pela droga de abuso (Cunha
et al., 2008).
Os efeitos da cocana sobre o processo cognitivo tm sido estudados em
vrios trabalhos recentes. Muitos estudos na literatura demonstram que a
exposio repetida cocana ou anfetamina promove funo deficiente do crtex
prefrontal, crtex orbital e amgdala (Roesch et al. 2007; Schoenbaum et al.
2004). Alem disso, a administrao repetida de psicoestimulantes tem promovido
dficits de ateno e reduo na capacidade de aprendizado (Dalley et al. 2005;
Jentsch et al. 2002), processos estes que dependem de um crtex prefrontal
intacto e funcional. No obstante, poucos estudos tem relacionado a exposio a
28
psicoestimulantes com o aprendizado e a memria relacionados com o
hipocampo.
1.2.2. Formas de cocana
A cocana o nico anestsico local que ocorre naturalmente, estando
presente nas folhas da Erythroxylum coca na proporo de 0,5 a 1,0%. um ster
do cido benzico e da ecgonina (derivado da tropina) (Musto, 1992).
A Erythroxylum coca a mais antiga das cocas cultivadas, sendo
encontrada ainda em um estado semi-selvagem nos Andes peruanos e bolivianos.
Sua cultura data de vrios milnios e responsvel pela maior parte do
suprimento mundial de cocana. O processo de extrao da cocana para consumo
ilcito iniciado colocando-se as folhas e solventes orgnicos (querosene,
gasolina) em recipientes (tanques); aps um perodo de macerao, o extrato
orgnico separado das folhas e evaporado. O resduo obtido, denominado pasta
de coca, contm cocana juntamente com outros alcalides e leos essenciais. A
droga pode ser obtida, tambm, por meio da secagem das folhas, digesto com
cido sulfrico e posterior extrao, aps precipitao com bicarbonato de sdio.
Este produto pode conter sulfato de cocana (40-85%), alm da cocana na forma
de base.
A pasta de coca ento tratada com cido clordrico (HCl) para
formao de cloridrato de cocana, que corresponde a forma usual de trfico.
raro, contudo, encontr-la na forma pura, sendo normalmente diluda com a
adio de produtos que procuram mimetizar sua ao farmacolgica, cor ou
sabor. So utilizados para esta finalidade outros anestsicos locais (lidocana),
cafena, efedrina, feniciclina, quinina, estricnina, manitol, sacarose, herona, talco
e outros.
O cloridrato de cocana apresenta-se na forma de p ou grnulos brancos,
insolveis em ter e solveis em gua, etanol e clorofrmio, apresentando ponto
29
de fuso a 196C. A partir do cloridrato possvel obter cocana na forma de
base, que voltil e quimicamente mais estvel. Essa transformao pode ser
obtida pela adio de solues alcalinas (bicarbonato) ao cloridrato, extrao
com ter dietlico e posterior evaporao do solvente orgnico pelo aquecimento.
O produto obtido dessa maneira a cocana na forma de base livre, mas o
aquecimento propicia a ocorrncia de exploses devido s caractersticas do ter
(Musto, 1992).
1.2.3. Vias de exposio
A cocana pode ser utilizada por aplicao direta nas mucosas ou atravs
das vias oral, respiratria (aspirada ou fumada) ou intravenosa. As vias de
exposio mais utilizadas ocorrem por meio do sistema respiratrio pela
aspirao e absoro intranasal do cloridrato de cocana ou pela inalao e
absoro pulmonar da fumaa proveniente do ato de fumar a cocana na forma
Crack. A cocana pode ser consumida por vrias vias e em uma grande variedade
de doses (Jones, 1987). O uso intravaginal j foi reportado (Collins et al., 1994).
A droga tambm pode ser aplicada por via retal (Schrank 1993). A cocana
apresenta ao equipotente quando fumada ou administrada endovenosamente
em termos de pico plasmtico (Fischman, 1988). Alm disso, a cocana fumada
(incluindo o crack) no apresenta os riscos de infeco nem carrega o estigma
(Johanson e Fischman, 1989).
A cintica de absoro intranasal de extrema importncia clnica, pelo
fato da droga ser muito utilizada por esta via. Aps utilizao pela via intranasal,
o pico mximo de concentrao plasmtica observado entre 30 a 120 minutos
aps o uso. Essa variao ocorre pelo fato de a cocana produzir diferentes graus
de vasoconstrio, ocorrncia de biotransformao no prprio local de
administrao (mucosa nasal), diferenas interindividuais de velocidade de
30
hidrlise ou diferenas na prtica da tcnica de aspirao que leva deglutio
parcial da droga.
Quando a cocana utilizada na forma fumada (pasta, crack ou merla), sua
velocidade de absoro pode ser comparada a da via endovenosa, levando alguns
minutos para a droga atingir a circulao sistmica e o crebro. A absoro nesta
via ocorre nos alvolos pulmonares, sendo facilitada pela extensa superfcie
pulmonar e pelo tamanho das partculas produzidas na volatilizao do crack. O
aparecimento dos efeitos desejados depende da quantidade da droga liberada na
corrente sangnea, a qual est diretamente relacionada com a eficincia do ato
de fumar. O pico mximo de concentrao plasmtica obtido com 6 a 8 minutos
aps a tragada (Musto, 1992).
A injeo de cocana utilizada mais comumente por dependentes em
relao aos usurios ocasionais. Quando administrada na forma injetvel, at um
grama da droga adicionado, em cada ocasio, em uma colher. Adiciona-se
ento gua, sendo a mistura resultante colocada em uma seringa e injetada. A
euforia acontece imediatamente. O uso intravenoso de cocana produz o pico de
high (aumento da fora, energia e sensao de autoconfiana) 10 a 15 minutos
aps a injeo, com durao de cerca de 30 a 45 minutos. Efeitos intensos podem
ocorrer com doses muito menores do que aquelas administradas oralmente
(Rowbotham e Lowenstein, 1990). A morte sbita pode ocorrer rapidamente
como resultado de um colapso cardiorrespiratrio.
A administrao intranasal uma via comum de utilizao da droga. A
cocana quando preparada para inalao colocada em uma superfcie
translcida, como um espelho, onde ela finamente cortada com uma lmina de
barbear e organizada em filas. Uma fila de cocana consiste em aproximadamente
20 a 30 mg (Commissaris, 1989; Cox et al., 1983). Seguindo a inalao, h uma
rpida passagem da cocana para corrente sangunea atravs da mucosa nasal rica
em capilares, e os nveis sanguneos aumentam rapidamente (em 30 segundos a 2
minutos), com pico de 15 minutos a 1 hora aps a inalao. (Higgins et al., 1990;
31
Weiss et al., 1994). Efeitos no humor so evidentes em 15 a 30 minutos aps a
administrao intranasal, e os efeitos cardiovasculares, incluindo elevao da
presso arterial, aparecem em 15 a 20 minutos. Estes efeitos geralmente
desaparecem em 45 a 60 minutos, embora os metablitos da cocana ainda
estejam presentes na circulao por 4 a 6 horas aps a administrao (Weiss et
al., 1994).
A cocana pode ser fumada tanto na forma de pasta de coca como de
crack, forma mais freqentemente usada. O contedo de cocana na fumaa
inalada rapidamente absorvido e a concentrao sangunea aumenta
rapidamente. Efeitos subjetivos como euforia e bem-estar geral ocorrem logo no
incio do uso. Com o uso prolongado, porm, ocorre uma menor sensao de
euforia, acompanhada de ansiedade, hostilidade e extrema depresso. No caso do
crack, h uma intensa euforia inicial acompanhada por severa depresso, agitao
e desejo por cocana, 10 minutos aps o uso (Leite et al., 1999).
O cloridrato de cocana pode ser aplicado topicamente (nica via lcita de
administrao) como anestsico. Por causa de sua insuficiente absoro cutnea,
no ocorrem efeitos psicotrpicos nesta via de administrao (Brown, 1989;
Ritchie e Greene, 1990).
1.2.4. BIOTRANSFORMAO DA COCANA
A cocana convertida extensamente a produtos de biotransformao no
organismo por meio de processos enzimticos e qumicos, sendo pouco excretada
na urina na sua forma inalterada. Os principais produtos de biotransformao so
a benzoilecgonina e, em menor proporo, a ecgonina, a norcocana e a
benzoilnorcocana (Leite, 1999).
A benzoilecgonina corresponde a 29-45% da excreo urinria. Para sua
formao, a cocana sofre hidrlise espontnea (pH dependente) do grupo ster
carboxlico. O ster metil ecgonina, maior produto de biotransformao depois da
32
benzoilecgonina, resulta da hidrlise espontnea e degradao enzimtica por
ao das colinesterases plasmticas e hepticas. A hidrlise enzimtica da
benzoilecgonina e a espontnea do ster metil ecgonina resultam no
aparecimento da ecgonina, que pode contribuir com 1 a 8% da excreo urinria
de cocana. Outro produto de biotransformao a norcocana, que ocorre apenas
em pequena frao (2 a 6%), mas que farmacologicamente ativa.
1.3. COCANA E NEUROTRANSMISSO
1.3.1. DOPAMINA
- Produo e distribuio no crebro
O aminocido tirosina o precursor dos neurotransmissores aminrgicos
que possuem estrutura qumica denominada de catecol. Estes neurotransmissores
so denominados catecolaminas e compreendem a dopamina, noradrenalina e
adrenalina. Neurnios catecolaminrgicos esto relacionados com a regulao do
movimento, humor, ateno e das funes vicerais. Os neurnios dopaminrgicos
(produtores de dopamina) apresentam a enzima tirosina hidroxilase (TH), um
catalizador da converso de tirosina em DOPA (Diidroxifenilalanina). O DOPA
convertido ento no neurotransmissor dopamina pela dopa descarboxilase.
Quando gerado um potencial de ao (despolarizao da membrana), ocorre a
exocitose do neurotransmissor dopamina para a fenda sinptica. A dopamina atua
ento em receptores pr e ps-sinpticos para promoo de seus efeitos, sendo
recaptada para o neurnio para o trmino do processo sinalizador (Bear, 2001;
Connors 2001).
33
1.3.2 DISTRIBUIO DOS NEURNIOS DOPAMINRGICOS
Os neurnios dopaminrgicos tm origem em trs grupos celulares
localizados no crebro. Estes so classificados em A8, A9 e A10 (Dahlstrom &
Fuxe, 1964, Bjorklund & Lindvall, 1984), correspondendo s regies cerebrais
denominadas campo retrorubral (A8), substncia negra pars compacta (A9) e
rea tegumentar ventral (A10) (Figura 3). Os axnios dos neurnios
dopaminrgicos provenientes destes grupos celulares se estendem para regies do
mesencfalo, formando trs sistemas neuronais:
Sistema nigroestriatal que compreende os neurnios dopaminrgicos
originados no grupo de clulas A9 e que termina na regio denominada
corpo estriado dorsal. Esta regio contem o ncleo caudado e o putamen e
esta envolvida com o aprendizado de movimentos complexos executados
automaticamente sob comando voluntrio.
O segundo circuito, o sistema mesolmbico, originado no grupo A10 e
parte do grupo A9. Estes neurnios terminam no estriado ventral, o qual
inclui o ncleo accumbens e tubrculo olfatrio, o septo, a amgdala central
e o ncleo profundo da formao reticular (Ungerstedt, 1971). O estriado
ventral tem papel no aprendizado e no desempenho de certos
comportamentos de motivao.
O terceiro grupo de neurnios dopaminrgicos se origina nos grupos A9 e
A10 e termina em vrias regies do crtex cerebral que so envolvidas na
ateno e memria curta, formando o sistema mesocortical (Thierry et al.,
1973).
34
Figura 3 Vias dopaminrgicas em crebro de ratos
1.3.3. PAPEL DA DOPAMINA NO COMPORTAMENTO
Inmeras evidncias indicam que a dopamina exerce um importante papel
na motivao e no reforo (Wise 1982; Robbins et al., 1989; Di Chiara 1995). A
ao da dopamina no comportamento depende de trs fatores principais: (1) o
tipo de estmulo que ativa os neurnios dopaminrgicos, (2) a(s) rea(s) cerebral
(is) afetada(s) pela dopamina e (3) o modo de neurotransmisso dopaminrgica
(se fsico-sinptico ou tnico-no-sinptico).
Os neurnios dopaminrgicos so ativados por estmulos encorajadores
para os animais interpretarem ou repetirem certo comportamento (estmulo
motivacional). Estes estmulos convergem dos grupos celulares dopaminrgicos
A8, A9 e A10 para vrias reas cerebrais onde ficam as terminaes dos
neurnios dopaminrgicos. Assim, atravs da ativao destes neurnios, o
35
estmulo motivacional pode influenciar a atividade de vrias partes do crebro
que podem determinar diferentes funes comportamentais. Este mecanismo
pode ser uma das razes do extenso papel da dopamina no comportamento.
1.3.4. O TRANSPORTADOR DE DOPAMINA
A cocana bloqueia a captao de dopamina, 5-hidroxitriptamina (5-HT) e
norepinefrina (NE) no SNC (Figura 4), promovendo um acmulo destes
neurotransmissores na fenda sinptica. Existe uma correlao positiva
significativa entre as potncias da cocana e alguns compostos relacionados, que
bloqueiam a captao de dopamina e suas habilidades como reforadores em
situaes de auto-administrao em macacos rhesus (Ritz et al., 1987), sendo que
correlaes significativas entre os efeitos de reforo e o bloqueio da captao de
NE e 5-HT no foram encontradas. Estes dados sugerem que o bloqueio da
captao de dopamina um passo essencial na mediao dos efeitos de reforo
da cocana. Outro suporte desta hiptese dopaminrgica provm da evidncia de
que o receptor da cocana e o transportador de dopamina so protenas idnticas.
Particularmente, fortes evidncias provm dos experimentos de clonagem.
Outros estudos mostram que vrios inibidores da captao de dopamina, como os
anlogos da cocana de alta afinidade, mazindol e vrios anlogos do GBR12909,
se ligam a um stio comum e interagem competitivamente, o que leva
concluso de que eles se ligam ao transportador de dopamina (Carroll et al.,
1992; Reith et al., 1992). Alm do mais, Grilli et al., (1991), mostraram que a
expresso de stios de ligao da cocana e stios de captao de dopamina
ocorrem ao mesmo tempo durante o desenvolvimento celular in vitro.
Uma outra indicao de que os stios de ligao da cocana e o
transportador de dopamina esto intimamente relacionados o fato de que os
36
stios de ligao da cocana so distribudos no SNC em reas que apresentam
altas concentraes de dopamina em terminais nervosos. Enquanto estes dados
indicam um papel proeminente da dopamina, alguns trabalhos indicam que
interaes significativas entre diferentes sistemas mediadores neuroqumicos,
como o serotonrgico, gabargico e adrenrgico, podem estar envolvidos na
modulao das aes de reforo da cocana e compostos relacionados.
Grandes progressos tambm foram alcanados na elucidao das
caractersticas da estrutura da cocana, que so significativas na ligao ao
transportador de dopamina. As caractersticas estruturais importantes incluem a
configurao levorotatria, um substituinte beta-orientado em C-2 e C-3, e o anel
benznico no carbono C-3 (Ritchie et al., 1990).
Alm das caractersticas estruturais relevantes na ligao da cocana,
vrios laboratrios esto envolvidos na caracterizao da protena transportadora
de dopamina propriamente dita. Estes estudos levaram ao desenvolvimento de
tcnicas que eventualmente resultaram na clonagem e expresso do DNAc do
transportador de dopamina cocana-sensvel (Kilty et al., 1991; Shimada et al.,
1991). Este achado d a oportunidade de elucidar a seqencia molecular que
resulta na captao de dopamina e determinar como este processo perturbado
pela cocana. Finalmente, este conhecimento pode ser til no desenvolvimento de
medicamentos para o tratamento da dependncia pela cocana. Pela alterao do
transportador de dopamina atravs de mutaes stio-direcionadas, possvel
determinar se as mudanas diferentemente alteram a ligao de cocana e
dopamina. O achado de que um resduo de cido asprtico encontrado em uma
regio particular parece ser crucial para ambos, transporte de dopamina e ligao
da cocana, enquanto outras reas so importantes apenas para o transporte de
dopamina, d suporte possibilidade da capacidade do desenvolvimento de
antagonistas da cocana que no interfiram com o transporte normal de dopamina
(Kitayama et al., 1992).
37
Figura 4 Aes da cocana sobre o processo de recaptao de dopamina.
1.3.5. EFEITO DA COCANA NO SISTEMA DOPAMINRGICO
A cocana produz muitos efeitos neuroqumicos, mas seu principal
mecanismo de ao envolve a monoamina dopamina. A cocana produz um
bloqueio na recaptao de dopamina, permitindo que esta fique na fenda
sinptica por um perodo prolongado de tempo. O aumento deste
neurotransmissor em certas reas do crebro, como por exemplo, no ncleo
accumbens, responsvel pelos efeitos de reforo da cocana (figura 4).
A ativao do sistema nervoso simptico tambm ocorre, explicando os
efeitos simpaticomimticos da cocana, os quais incluem: taquicardia, aumento
Vesculas com DA Neurnio pr-
ganglionar
Cocana bloqueia
recaptao de DA
DA
Neurnio ps-
ganglionar Receptores ps-sinpticos
38
da presso arterial sistlica, midrase e outros efeitos simpticos (Ritchie e
Greene, 1990). Mais especificamente, os receptores D1, D2 e D3 podem estar
envolvidos no efeito de reforo no sistema dopaminrgico mesolmbico. A
atividade do receptor D1 foi demonstrada predominantemente em partes
perifricas do Ncleo accumbens, o qual est relacionado com aspectos
motivacionais do vcio promovido pela cocana (Koob et al., 1997). Leshner
(1996), tambm sugeriu que os receptores D1 podem estar envolvidos na
saciedade pela cocana, visto que agonistas D1 suprimem a auto-administrao
em ratos. Os receptores D2 tm tambm importncia nos efeitos de reforo da
cocana. De acordo com Leshner 1996, estes receptores tm um possvel papel
nos comportamentos motores envolvidos no vcio por cocana, considerando que
agonistas D2 induzem um comportamento de procura pela droga. Koob et al.,
1997, sugeriram que isto devido a um aumento na quantidade de receptores D2
no corpo estriado, o qual est envolvido nos comportamentos motores. Os
receptores D3 tambm tm efeitos sobre a habilidade da cocana em produzir
reforo, mas o mecanismo de ao destes receptores ainda precisa ser elucidado
(Koob et al., 1997). Semelhante aos receptores D1, os receptores D3 foram
encontrados no shell do ncleo accumbens, mas no na parte central. (Koob et
al., 1997). Em suma, os receptores D1, D2 e D3 exercem um papel na habilidade
da cocana produzir reforo.
O bloqueio da recaptao de dopamina pode estar relacionado a um
aumento na atividade locomotora com os dias de administrao. Feldman et al.,
(1997) demonstraram que microinjees de cocana no ncleo accumbens
resultavam em aumento na atividade locomotora. Porm, estes pesquisadores
explicaram que o mecanismo pelo qual a cocana produz seus efeitos
comportamentais pode envolver mais do que um simples bloqueio na recaptao
de dopamina.
39
Figura 5 Sistema dopaminrgico mesocorticolmbico
Fonte: Neurocincias Desvendando o sistema nervoso - Bear, Mark F. 2002.
1.3.6. CIRCUITOS ENCEFLICOS E DROGAS DE ABUSO
O sistema mesolimbico primariamente regulado pela dopamina e
parece ser responsvel pelos efeitos agudos de reforo das drogas de abuso
(Heidbreder et al, 2005; Kreek et al, 2002). Os mediadores neurobiolgicos das
aes psicoestimulantes centrais da cocana parecem ser as catecolaminas
centrais, principalmente o neurotransmissor dopamina. Neurnios
dopaminrgicos da rea tegumentar ventral (ATV) que inervam o crtex lmbico
e frontal so necessrios para as aes agudas de reforo promovidas pela
cocana.
40
As bases celulares para as aes da cocana no sistema dopaminrgico
comearam a ser elucidadas por meio da administrao de ligantes marcados,
White e Wang demonstraram que a dopamina deprime normalmente a atividade
espontnea do ncleo accumbens inervado por neurnios dopaminrgicos da rea
tegumentar ventral, sendo esta ao trs a dez vezes mais potente nesta em
relao ao ncleo accumbens. Embora a ao da dopamina no ncleo accumbens
se d atravs da interao com receptores das famlias D1 e D2, na ATV ocorre
interao predominante com receptores D2-smile.
A cocana atua alterando os sistemas de neurotransmissores endgenos.
Centralmente, a cocana atua na neurotransmisso catecolaminrgica incluindo
tanto as vias noradrenrgicas como dopaminrgicas. A via noradrenrgica parece
ser importante na mediao da ativao dos efeitos inespecficos estimulantes,
incluindo complicaes cardiovasculares e o aparecimento dos sintomas que
aparecem aps a interrupo do uso dos estimulantes (Gawin e Ellinwood, 1988;
Kosten, 1990). Os circuitos dopaminrgicos cerebrais parecem ser importantes na
euforia e nos efeitos de reforo induzidos pelos estimulantes, os quais mantm o
abuso dos estimulantes (Shepherd, 1988).
A via serotonrgica tambm tem um papel no abuso da cocana, embora
isto no tenha sido firmemente estabelecido (Kosten, 1990; Shepherd, 1988). A
via dopaminrgica mesolmbicamesocortical importante para a auto-
administrao da cocana (Wise, 1987).
Os neurnios dopaminrgicos da ATV so clulas que se originam das
vias dopaminrgicas mesolmbicamesocortical e promovem inervao
dopaminrgica para o ncleo accumbens (Oades and Halliday, 1987). As
propriedades de recompensa da cocana podem ser devidas ao bloqueio da
recaptao de dopamina no ncleo accumbens, o que incrementa e prolonga a
liberao sinptica de dopamina (Ritz et al., 1987; Koob and Bloom, 1988).
A cocana incrementa os nveis de dopamina na rea tegmentar ventral
por bloqueio dos transportadores dopaminrgicos pr-sinpticos, bem como
41
bloqueia tambm os transportadores pr-sinpticos de serotonina e noradrenalina
(Kreek et al, 2002; Kalivas et al, 2005). Com a utilizao crnica de cocana,
ocorre um aumento na expresso de receptores opiides , receptores de
dinorfinas e receptores glutamatrgicos, como um possvel meio de regular o
aumento nos nveis de dopamina, enquanto promovem o efeito de reforo da
droga (Kreek et al, 2002; Kalivas et al, 2005).
O mecanismo central de ao da cocana e outros estimulantes com alto
potencial de abuso parece ser a estimulao da via de recompensa dopaminrgica
no crebro (Gawin e Ellinwood, 1988; Goeders e Smith, 1983; Yokel e Wise,
1975). De acordo com Kosten 1990, as seguintes aes ocorrem na sinapse
durante a ao estimulatria: a liberao de catecolaminas dos terminais pr-
sinpticos; o bloqueio da captao da dopamina, NE e 5-HT (principal
mecanismo de inativao dos neurotransmissores) e alteraes na sensibilidade
do receptor com o uso crnico. O uso crnico pode resultar em outros efeitos que
no s os resultantes da disponibilidade aumentada de catecolaminas e 5-HT.
Estes incluem sensibilizao (tolerncia reversa) e tolerncia.
A sensibilizao comportamental pode estar localizada no Ncleo
accumbens, embora outros sistemas neurais possam mediar os efeitos motores
agudos da cocana (Kalivas e Duffy, 1990). Foi demonstrado que a sensibilizao
induzida por cocana pode ser bloqueada pelo haloperidol, um frmaco
antipsictico antagonista dopaminrgico (Weiss et al., 1989), enquanto a
administrao de apomorfina, um agonista do receptor dopaminrgico, previne o
desenvolvimento de uma resposta de sensibilizao anfetamina em
camundongos (Riffee et al., 1987), mas no previne a sensibilizao induzida
pela administrao subcrnica de cocana (Riffee et al., 1988); estes resultados
sugerem que a sensibilizao para estes dois estimulantes pode envolver
diferentes processos.
A tolerncia aos efeitos da cocana pode se desenvolver atravs da
reduo da inibio da recaptao com o uso crnico, diminuindo a liberao dos
42
neurotransmissores, talvez devido depleo no terminal pr-sinptico (embora
este mecanismo no tenha sido confirmado) ou alteraes na sensibilidade do
receptor nos seus stios pr- e ps-sinpticos levando a uma auto inibio
neuronal (Kosten, 1990).
A hiptese dopaminrgica procura explicar as propriedades de reforo da
cocana. Ela prope que a cocana liga-se ao transportador de dopamina e inibe a
recaptao do neurotransmissor. Como resultado, a neurotransmisso
dopaminrgica potencializada na via mesolimbocortical, levando ao reforo de
eventos associados com a ligao da cocana e inibio da entrada de dopamina
em nvel molecular (Kuhar, 1992). Como outras drogas, tais como nicotina e
lcool, tambm ativam a via mesolmbica, isto pode servir como via comum final
para numerosas substncias psicoativas, tanto em seu stio de ao como em
outros locais no SNC (Kuhar et al., 1991).
Existem evidncias substanciais da hiptese dopaminrgica em animais,
mas poucas em humanos. Ritz et al., (1987), reportaram em animais evidncias
de que a inibio do transportador de dopamina o mecanismo primrio
responsvel pelos efeitos de reforo da cocana e o stio receptor, ou stio de ao
onde os eventos resultantes dos efeitos de reforo so iniciados, embora outros
stios no possam ser excludos. Entre as linhas de evidncia disponveis em
humanos para esta explicao, Kuhar et al., 1991, listam as seguintes: 1) estudos
de tomografia emissora de psitrons (TEP), que mostram similaridades no tempo
de curso entre a ocupao do receptor de cocana (transportador de dopamina) e
os efeitos da cocana; 2) a presena de parania e psicose em ambos os usurios
de cocana de forma prolongada ou em altas doses e na esquizofrenia, uma
desordem que envolve a via dopaminrgica lmbica; 3) a ao de estimulantes
indiretos do receptor de dopamina, tais como, metilfenidato ou bromocriptina em
reduzir com sucesso o desejo inicial pela droga, sugerindo que o agente
dopaminrgico pode influenciar o mesmo processo como a cocana (Dackes et
al., 1987; Khantzian et al., 1984); 4) a preferncia mostrada por bloqueadores da
43
captao de dopamina em estudos de escolha feitos com vrias drogas (Chatt et
al., 1987); 5) e a sugesto de que decanoato de flupentixol, um bloqueador do
receptor de dopamina, pode diminuir o desejo pela droga (Giannini et al., 1986;
Gawin et al., 1989). A administrao de drogas bloqueadoras de receptores
dopaminrgicos, tais como clorpromazina ou haloperidol no reduziram a euforia
induzida pela cocana ou auto-administrao, mas reduziram os sintomas
psicticos (Gawin 1986a). O haloperidol tambm falhou na tentativa de atenuar o
rush (sensao de curta durao que ocorre imediatamente aps a administrao
da droga e caracterizada por uma sensao de poder e extremo prazer
comparado a um orgasmo), apenas modestamente influenciando os efeitos
subjetivos da cocana e atenuando o aumento da presso sistlica e diastlica
induzido pela cocana (Shere et al., 1989).
Estes achados sugerem que um bloqueio nos receptores D2 (subtipo de
receptor dopaminrgico do qual o haloperidol antagonista primrio) no afetou
fortemente a euforia causada pela cocana, embora o pr-tratamento com
bloqueadores do receptor dopaminrgico tenham prevenido a euforia pela
anfetamina. Estes resultados sugerem a possibilidade de que mecanismos
dopaminrgicos estejam envolvidos no incio do uso da cocana, mas no em
fenmenos tardios como a dependncia e o desejo. Usando um simples estudo de
TEP, Pearlson et al., 1993 encontraram que a cocana administrada
endovenosamente produziu efeitos subjetivos (auto-limitados, como rush e high)
correspondendo com diminuies regionais no fluxo sanguneo cerebral para
stios ricos em terminais dopaminrgicos, sugerindo o envolvimento do sistema
dopaminrgico na produo destes estados subjetivos.
Enquanto os efeitos da cocana no sistema dopaminrgico neuronal no
crebro so possivelmente mediados pelo bloqueio de curto perodo na
recaptao de dopamina, o uso prolongado resulta na depleo de dopamina
nestes mesmos stios (Volkow et al., 1990). Esta depleo pode resultar na
interrupo da transmisso dopaminrgico, causando disforia e nsia pela droga.
44
No estudo de Volkow et al., 1990, porm, foi demonstrada uma recuperao na
disponibilidade do receptor dopaminrgico ps-sinptico a nveis normais em
usurios de cocana detoxificados depois de um perodo de um ms livre da
droga. Outro estudo tambm examinou a possibilidade de que a exposio
cocana altera o transportador de dopamina e concluiu que a regulao do
transportador de dopamina altamente sensvel aos regimes de uso e intervalos
de retirada da droga (Little et al., 1993).
Vrios aspectos do mecanismo definem as bases das intervenes
farmacolgicas para o tratamento do abuso da cocana. Por exemplo, quando as
vias dopaminrgicas so antagonizadas por neurolpticos, os quais atuam como
bloqueadores dopaminrgicos (Phillips et al., 1983), ou quando estas vias so
destrudas quimicamente ou retiradas cirurgicamente (Bozarth e Wise, 1986;
Roberts et al., 1977), os efeitos comportamentais da cocana so eliminados. As
qualidades eufricas e de reforo da cocana podem tambm ocorrer como um
resultado do efeito da droga no sistema 5-HT, embora os mecanismos envolvidos
no sejam ainda conhecidos. A administrao da cocana aumenta a liberao do
neurotransmissor 5-HT nos stios sinpticos pela inibio da recaptao da 5-HT,
como j descrito anteriormente, da mesma maneira pela qual afeta a dopamina e
NE (Hall et al., 1990), resultando na reduo do turnover de 5-HT. Desta forma,
agentes que modulam a 5-HT tambm influenciam a ao da cocana (Johnson e
Vocci, 1993).
Tambm conhecido que agonistas opiides como morfina e metadona
estimulam a transmisso dopaminrgica no sistema mesolmbico, enquanto
agonistas opiides reduzem na mesma extenso. Desde que buprenorfina (um
agonista parcial - ) suprime a auto-administrao de cocana em macacos
Rhesus na mesma extenso que suprime a auto-administrao dos opiides, pode
existir uma possvel ligao entre o sistema opiide e os sistemas responsveis
pela produo dos efeitos de reforo da cocana em primatas (Johnson e Vocci,
1993).
45
1.4. TOPIRAMATO
1.4.1. CONSIDERAES GERAIS
O topiramato [2,3:4,5-bis-O-(1-metiletilideno)b-Dfrutopiranose
sulfamato] (Figura 6) um composto com um amplo espectro de atividades
antiepilpticas, tanto em modelos experimentais como em estudos clnicos
(Shank e Gardocki, 1994; Wauquier et al, 1996; Bourgeois et al, 1996).
Este agente foi inicialmente sintetizado como um frmaco antidiabtico, e
atuaria inibindo a enzima frutose-1,6-bisfosfatase e assim a gliconeogenese.
Contudo, a inabilidade do topiramato em reduzir os nveis glicmicos em ratos
determinou a interrupo prematura desta linha de pesquisa. A similaridade
estrutural do topiramato com a acetazolamida, a qual tem efeitos
anticonvulsivantes, encorajou pesquisas para testar uma possvel atividade
anticonvulsivante do topiramato. O topiramato hoje classificado como um
potente antiepilptico com intensas propriedades neuroprotetoras (Khan et al.,
2003; Jonhson et al., 2003).
Figura 6 Estrutura qumica do topiramato
(Fonte: Johnson, 2005)
46
Vrias aes farmacolgicas deste composto tm sido identificadas como
fatores que contribuem para sua ao anticonvulsivante, dentre os quais: (a)
bloqueio de canais de Na+ voltagem dependentes, o que reduz a durao e a
freqncia dos potenciais de (Zona e Ciotti, 1997; Delorenzo et al, 2000); (b) um
efeito modulador sobre os receptores GABAA do cido aminobutirico
(GABA) com consequente potencializao do GABA (White et al, 2000) e um
efeito inibidor sobre os receptores ionotrpicos glutamatrgicos NMDA (N-
metil-D-aspartato) e AMPA (Skradski et al, 2000, Hargreaves e Iain, 2007).
Adicionalmente, o topiramato inibe algumas isoenzimas da anidrase
carbnica (Dodgson et al, 2000) e aumenta o metabolismo energtico em ratos
por mecanismos desconhecidos (Richard et al, 2000). O Topiramato tem
demonstrado ainda aes neuroprotetoras em modelos animais de isquemia
cerebral focal (Yang e Li, 2000; Lee et al, 2000). Estas aes oferecem novas
perspectivas para o uso desta droga, mas os mecanismos que levam a estas aes
neuroprotetoras permanecem no elucidados.
Estudos recentes sugerem que mecanismos de reforo similares associados
com o uso de cocana e lcool resultam no aumento da atividade do sistema
dopaminrgico mesolimbico (Soderpalm et al, 2000, Hargreaves e Iain, 2007). O
topiramato uma droga antiepilptica com mltiplos mecanismos de ao, o que
poderia justificar sua possvel utilidade no tratamento de dependentes
(Soderpalm et al, 2000; White et al, 2000; Zhang et al, 2000; Johnson et al,
2005). Tem sido teorizado que estas aes em conjunto podem diminuir a
facilitao dopaminrgica promovida por drogas de abuso (Johnson et al, 2005).
Estudos recentes em relao ao vicio tem focado no papel exercido pelo
glutamato. Enquanto os receptores NMDA tm sido envolvidos com a induo
do vicio, os receptores AMPA podem mediar o estabelecimento do vicio.
(Goosens et al, 2004; Zullino et al, 2005).
47
O topiramato tem sido investigado como um tratamento potencial para
uma variedade de desordens incluindo diabetes mellitus, obesidade, desordens
associadas a ansiedade e desordens impulsivas tais como o vicio e a dependncia
gerados por drogas de abuso (Johnson et al., 2003; Rubio et al., 2004).
Esta ao seria benfica no tratamento do vicio, pois a cocana e outras
drogas de abuso facilitam a atividade dopaminrgica mesolimbica (Soderpalm et
al, 2000). O topiramato poderia assim no s diminuir os efeitos de reforo
promovidos pela cocana, mas tambm contribuir no tratamento da abstinncia
pelo decrscimo da sensibilidade neuronal (Johnson et al, 2005, Cornish et al,
2000).
1.5. IMIPRAMINA
1.5.1. CONSIDERAES GERAIS
Hafliger e Schindler no final da dcada de 1940 sintetizaram uma srie de
mais de 40 compostos derivados iminodibenzil para possveis usos como
antihistamnicos, sedativos, analgsicos e antiparkinsonianos. Um destes
compostos era a imipramina, um composto dibenzazepinico, que diferia
estruturalmente em relao aos demais agentes antipsicticos. Estudos
posteriores em animais foram realizados, e poucos compostos, incluindo a
imipramina, foram selecionados para ensaios teraputicos com base em suas
propriedades sedativas e hipnticas. Durante os estudos clnicos destes agentes,
foi observado que a imipramina, diferentemente das fenotiazinas (Kuhn et al,
1958), foi relativamente ineficaz em reduzir a agitao e inquietude nos pacientes
psicticos, porm teve uma ao marcante em pacientes depressivos. Desde
ento, evidencias acumuladas demonstram sua eficcia no tratamento da
depresso maior (Potter et al., 1998; Thase e Nolen, 2000).
mk:@MSITStore:C:/Documents%20and%20Settings/User/My%20Documents/livros/GOODMAN%20&%20GILMAN'S%20THE%20PHARMACOLOGICAL%20BASIS%20OF%20THERAPEUTICS%20-%2011th%20Ed.%20(2006)%20by%20kaball.chm::/online.statref.com/document/documentbodycontent.aspxdocid178fxid75sessionid5ac56d~1.htm#a134068mk:@MSITStore:C:/Documents%20and%20Settings/User/My%20Documents/livros/GOODMAN%20&%20GILMAN'S%20THE%20PHARMACOLOGICAL%20BASIS%20OF%20THERAPEUTICS%20-%2011th%20Ed.%20(2006)%20by%20kaball.chm::/online.statref.com/document/documentbodycontent.aspxdocid178fxid75sessionid5ac56d~1.htm#a124420
48
Antidepressivos tricclicos com uma cadeia lateral terciria (incluindo
amitriptilina, doxepina, e imipramina) promovem bloqueio da recaptao de
serotonina e norepinefrina, enquanto que clomipramina relativamente seletiva
para a recaptao de serotonina. Seguindo estes estudos iniciais, mais inibidores
seletivos da recaptao de serotonina foram desenvolvidos no inicio da dcada de
70 (Goodman e Gilman, 2006).
bem estabelecido que a imipramina (Figura 7) e antidepressivos
tricclicos relacionados potencializam a ao de aminas biognicas atravs do
bloqueio de sua inativao fisiolgica, transporte e recaptao, nas terminaes
nervosas (Horn et al., 1971; Barbaccia et al., 1983). Tambm tem sido
demonstrado que a imipramina pode atuar em uma variedade de canais inicos:
canais de clcio tipo-L (Choi et al., 1992), canais de clcio sensveis a potssio,
canais tipo SK/IK (Gavrilova-Ruch et al., 2002); canais de sdio voltagem-
dependentes (Ogata & Narahashi, 1989; Nicholson et al.,2002) e canais de
potssio voltagem-dependentes (Wooltorton e Mathie, 1993; Kuo, 1998;
Teschemacher et al., 1999; Dreixler et al., 2000). Previamente (Cuellar-Quintero
et al., 2001), tem sido reportado que a imipramina promove inibio de correntes
de potssio nos neurnios ganglionares cervicais superiores (SCGs) e que este
efeito pode contribuir para aes intracelulares da imipramina.
Figura7 Estrutura qumica da imipramina
(Fonte: dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/fdaDrugl)
http://dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/fdaDrugXsl.cfm?id=3229&type=display
49
Tem sido proposto ainda que correntes inicas de potssio tem um papel
relevante na modulao da excitabilidade neuronal (Brown & Adams, 1980;
Brown & Higashida, 1988; Marrion, 1997). Alem disso, estudos tem suportado
que a imipramina altera a regulao do fosfatidilinositol 4,5-bifosfato
(Hilgemann & Ball, 1996; Ford et al., 2003; Loussouarn et al., 2003). Em vrios
estudos pr-clinicos recentes, os antidepressivos tricclicos tem sido relacionados
como potenciais novos anestsicos locais, como bloqueadores de canais de sdio,
similarmente aos anestsicos locais.
O conhecimento relacionado s propriedades farmacolgicas dos
antidepressivos permanece incompleto. As aes da imipramina incluem vrios
mecanismos diferentes e adaptaes secundrias em seus mecanismos de ao
relacionados com o bloqueio da recaptao de monoaminas.
Em adio aos seus efeitos inibitrios sobre transportadores
monoaminergicos, imipramina interage tambm com receptores alfa-
adrenrgicos. A presena ou ausncia desta interao parece ser critica para o
aumento da concentrao extracelular de norepinefrina nas em sinapses
neuronais. Os receptores a2 incluem autoreceptores pr-sinpticos que limitam a
atividade neurofisiolgica de neurnios noradrenrgicos ascendentes do locus
ceruleus (Foote e Aston-Jones, 1995).
Outras alteraes adaptativas tm sido observadas em resposta ao
tratamento de longo prazo com antidepressivos tricclicos. Estas incluem
alterao na sensibilidade de receptores muscarnicos da acetilcolina bem como
de receptores do cido gama-aminobutrico (GABAB) e possivelmente receptores
glutamatrgicos N-metil-D-aspartato (NMDA) (Kitamura et al., 1991).
1.6. PENTOXIFILINA
1.6.1. CONSIDERAES GERAIS
mk:@MSITStore:C:/Documents%20and%20Settings/User/My%20Documents/livros/GOODMAN%20&%20GILMAN'S%20THE%20PHARMACOLOGICAL%20BASIS%20OF%20THERAPEUTICS%20-%2011th%20Ed.%20(2006)%20by%20kaball.chm::/online.statref.com/document/documentbodycontent.aspxdocid178fxid75sessionid5ac56d~1.htm#a106724mk:@MSITStore:C:/Documents%20and%20Settings/User/My%20Documents/livros/GOODMAN%20&%20GILMAN'S%20THE%20PHARMACOLOGICAL%20BASIS%20OF%20THERAPEUTICS%20-%2011th%20Ed.%20(2006)%20by%20kaball.chm::/online.statref.com/document/documentbodycontent.aspxdocid178fxid75sessionid5ac56d~1.htm#a112426
50
A pentoxifilina, 3,7-dimetil-1(5-oxo-hexil) (Figura 8) xantina, uma
droga que apresenta aes hemodinamicas e indicada para o tratamento da
claudicao intermitente (Ward et al, 1987; Samlaska et al, 1994; Moher et al,
2000), atuando como inibidor da fosfodiesterase tipo 5. O estudo da
fosfodiesterase foi iniciado com o trabalho de Henry Hyde Salter em 1886. Um
asmtico que observou que quando ingeria caf com o estomago vazio, passava a
apresentar uma respirao mais fcil, sendo este efeito atribudo a uma
propriedade broncodilatadora da cafena.
Figura 8 Estrutura qumica da pentoxifilina
(Fonte: dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/fdaDrugl)
Embora o mecanismo de ao ainda fosse desconhecido, estudos
demonstraram que a cafena era um inibidor no-seletivo e fraco da
fosfodiesterase. Subsequentemente, anlogos da cafena, incluindo a teofilina,
foram introduzidos com sucesso no tratamento de doenas respiratrias.
Trabalhos realizados por Earl Sutherland e Ted Rall e publicados em 1958,
identificaram inicialmente um nucleotdio estvel ao calor, o monofosfato de
adenosina cclico (cAMP) em extratos de fgado como um segundo mensageiro e
sugeriram que este poderia mediar muitos efeitos celulares de neurotransmissores
e hormnios. A descoberta do cAMP foi seguida de 5 anos at a identificao do
http://dailymed.nlm.nih.gov/dailymed/fdaDrugXsl.cfm?id=3229&type=display
51
segundo mensageiro intracelular, a guanosina monofosfato cclica (cGMP), em
urina de ratos (Ashman et al., 1963).
No mesmo estudo, inibidores de fosfodiesterase foram identificados e a
fosfodiesterase foi relacionada com a inativao do cAMP. Foi demonstrado
tambm que a cafena inibia a atividade desta enzima, provendo um mecanismo
plausvel para suas diversas atividades (Sutherland, 1958).
Com o advento da biologia molecular, o numero de isoformas de
fosfodiesterase identificadas aumentou bastante e somente em 1995 sua
nomenclatura foi padronizada (Beavo, 1995). Hoje, 11 grupos de isoenzimas
foram identificadas, incluindo a recentemente caracterizada PDE4A11 (Wallace
et al., 2005). A atividade da enzima fosfodiesterase tem sido identificada em
varias clulas no corpo, o que tem levantado muitas possibilidades para o
aumento de alvos teraputicos seletivos (Lugnier, 2005).
A pentoxifilina um inibidor da enzima fosfodiesterase, responsvel pela
destruio de cAMP. considerado um frmaco que promove aumento no
movimento de espermatozides (Tesarik et al., 1992b; Yovich et al., 1990) e
inibidor da formao de espcies reativas de oxignio (Gavella et al., 1991;
Yovich, 1993). tambm indicada para o tratamento da claudicao
intermitente, embora a eficcia clinica da droga para esta indicao permanea
controversa. Tem sido sugerido tambm que a pentoxifilina pode ser utilizada em
doenas que afetam o fluxo sanguneo para a retina, tais como retinopatia
diabtica (Sonkin et al, 1993; Schmetterer et al, 1996) ou degenerao macular
(Kruger et al, 1998). O efeito teraputico da pentoxifilina nestas condies pode
ser relacionada com um aumento do fluxo sanguneo capilar tanto por uma
alterao na deformilibilidade de eritrcitos e leuccitos bem como por um efeito
vasodilatador direto. A pentoxifilina tambm tem demonstrado ainda ser benfica
em desordens imunologicamente mediadas, como por exemplo, dermatite de
contato, hansenase, artrite reumatoide, cncer e malria (Graninger et al., 1991;
Huizinga et al., 1996; Sampaio et al., 1998).
http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1575939&tool=pmcentrez#bib38http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1575939&tool=pmcentrez#bib40http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=1575939&tool=pmcentrez#bib63
52
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
_________________________________________________________________
53
2. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS
2.1. JUSTIFICATIVA
O uso de drogas de abuso representa hoje um problema
significativo em vrios pases, incluindo o Brasil. Em muitos casos, o uso casual
destas substancias leva a dependncia fsica e psicolgica, com inmeras
conseqncias para o usurio, tanto em aspectos scias de convvio como no
desenvolvimento de alteraes patolgicas.
Importantes pesquisas tm sido desenvolvidas na tentativa de padronizar
tratamentos medicamentosos para a dependncia e abuso a drogas ilcitas, mas
para alguns agentes abusivos os tratamentos disponveis so escassos e pouco
eficientes. Alguns destes tratamentos reduzem apenas o desejo pela droga, mas
no diminuem suas toxicidades. Assim, mais pesquisas so essenciais para
aumentar a eficcia destes tratamentos e oferecer novas opes para estes
pacientes. No caso especifico de usurios de cocana, no temos ainda um
tratamento farmacolgico padronizado totalmente eficiente em reverter os
aspectos ligados ao desejo de consumir a droga e as suas toxicidades.
A busca por um tratamento eficiente para a dependncia e as toxicidades
geradas pela cocana nos levou a selecionar trs drogas para o nosso estudo.
Escolhemos a imipramina por ser um antidepressivo j associado ao tratamento
de usurios de drogas ilcitas. O topiramato foi selecionado por seus resultados
promissores no tratamento da dependncia ao lcool e a pentoxifilina por suas
possveis propriedades neuroprotetoras.
Deste modo, investigamos os efeitos promovidos pela imipramina,
topiramato e pentoxifilina sobre as alteraes neuroqumicas, comportamentais e
histolgicas promovidas pela cocana.
54
2.2. OBJETIVOS
GERAL
Estudar as possveis alteraes neuroqumicas, comportamentais e
histopatolgicas promovidos pela administrao repetida (7 dias) de cocana
isoladamente ou em associao com imipramina, topiramato e pentoxifilina em
ratos.
ESPECFICOS
- Determinar possveis alteraes na atividade locomotora espontnea
promovidas pela cocana isoladamente e em associao com imipramina,
topiramato e pentoxifilina;
- Observar as aes promovidas pela cocana isoladamente e em
associao com imipramina, topiramato e pentoxifilina no teste de labirinto em
cruz elevada com o intuito de se determinar atividades ansiolticas e ou
ansiognicas;
- Avaliar as aes da cocana isoladamente e em associao com
imipramina no teste de nado forado;
- Avaliar as aes promovidas pela cocana isoladamente e em
associao com imipramina, topiramato e pentoxifilina no teste de labirinto
aqutico objetivando determinar possveis alteraes no processo de aquisio da
memria espacial;
55
- Determinar possveis alteraes no teste de esquiva passiva promovidas
pela cocana isoladamente e em associao com imipramina, topiramato e
pentoxifilina com o intuito de se determinar possveis alteraes sobre o processo
de formao e consolidao de memria;
- Avaliar as aes da cocana isoladamente e em associao com
imipramina e topiramato sobre os nveis de dopamina (DA), 5- hidroxitriptamina
(5-HT) e seus metablitos: cido 3, 4 dihidroxifenilactico (DOPAC), cido
homovanlico (HVA) e cido 5- hidroxiindol- 3 actico (5-HIAA) em corpo
estriado de ratos aps um perodo de retirada de 24 h usando a tcnica de
cromatografia lquida de alta performance (HPLC) com deteco eletroqumica;
- Verificar as aes da cocana isoladamente e em associao com
imipramina e topiramato sobre os nveis de nitrito em crebro de ratos;
- Determinar o percentual de clulas dopaminrgicas viveis, em cultura
primria de clulas mesenceflicas de fetos in vitro de rato na presena e na
ausncia de 6-OHDA e os efeitos da cocana sobre estes percentuais.
- Analisar possveis alteraes histopatolgicas promovidas pela cocana
isoladamente e em associao com imipramina sobre cortes cerebrais de crtex e
hipocampo de ratos, visando observar possveis leses microscpicas promovidas
pelo uso destas drogas.
56
3. MATERIAIS E MTODOS
_________________________________________________________________
57
3. MATERIAIS E MTODOS
3.1. ANIMAIS
Foram utilizados ratos machos Wistar (200-250g) provenientes do
biotrio do Departamento de Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal
do Cear. Os animais foram mantidos em temperaturas controladas de 22 2 oC
com ciclo claro/escuro de 12 horas e com uma dieta padro e gua ad libitum. Os
grupos variaram de 12 a 22 animais.
Durante todos os experimentos, os animais foram mantidos em
gaiolas com no mximo 6 animais, em condies ambientais semelhantes, com
ciclos de alternncia claro/escuro de 12 horas, recebendo rao padro tipo
purina e gua ad libitum. Os experimentos foram realizados de acordo com o
guia de cuidados e usos de animais de laboratrio do Departamento de sade e
servios humanos dos Estados Unidos da Amrica (EUA).
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3.2. DROGAS
3.2.1. PREPARO DAS DROGAS
Cocana (cloridrato de cocana, fornecido pela Polcia Federal do Cear,
Fortaleza, Brasil) foi dissolvida em gua bidestilada, obtendo-se a concentrao
de 20 mg/mL para ser administrada na dose 20 mg/kg. Imipramina (obtida do
laboratrio Cristalia Farma, Brasil) foi dissolvida em gua bidestilada, obtendo-
se a concentrao de 12,5 e 25 mg/mL para ser administrada na dose 12,5 e 25
mg/kg. Topiramato (obtido do laboratrio Janssen-Cilag, Brasil) foi dissolvido
em gua bidestilada, obtendo-se a concentrao de 50 mg/mL para ser
administrada na dose 50 mg/kg. Pentoxifilina (obtida do laboratrio Aventis
Pharma, Brasil) ampolas foi utilizada na dose de 50mg/kg.
3. 2.2. DETERMINAO DO GRAU DE PUREZA DA COCANA
Para determinao do grau de pureza, foram realizadas anlises fsico-
qumicas no Laboratrio de Percia da Polcia Federal. Entre os testes realizados,
foram determinados o ponto de fuso e o comportamento da substncia em
cromatografia, sempre comparando os resultados com os valores de um padro
da Polcia Federal.
Com relao ao ponto de fuso, um parmetro que nos permite estimar o
grau de pureza da cocana na amostra, o valor encontrado para a amostra
utilizada nos experimentos assinalados nesta tese foi de 140oC em relao ao
padro da policia federal que registrou um valor de 180oC. Essa proximidade de
valores significa que a amostra apresenta um r