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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE QUÍMICA E BIOLOGIA
BACHARELADO/LICENCIATURA EM QUÍMICA
LUDMILA HOLZ AMORIM DE SENA
BIOSSORÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS DE CHÁ EM SACCHAROMYCES CEREVISIAE
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
CURITIBA 2017
LUDMILA HOLZ AMORIM DE SENA
BIOSSORÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS DE CHÁ EM SACCHAROMYCES CEREVISIAE
Trabalho de conclusão de Curso, apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso Superior de Bacharelado e Licenciatura em Química Tecnológica com Ênfase Ambiental, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Campus Curitiba, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel e Licenciada em Química Orientador: Prof. Dr. Charles Windson Isidoro Haminiuk
CURITIBA 2017
Esta Folha de Aprovação assinada encontra-se na Coordenação do Curso.
LUDMILA HOLZ AMORIM DE SENA
BIOSSORÇÃO DE COMPOSTOS FENÓLICOS DE CHÁ EM
SACCHAROMYCES CEREVISIAE
Trabalho de Conclusão de Curso aprovado como requisito parcial à obtenção do
grau de BACHAREL EM QUÍMICA pelo Departamento Acadêmico de Química e
Biologia (DAQBI) do Câmpus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná – UTFPR, pela seguinte banca examinadora:
Membro 1 – Profa. Dra. Giselle Maria Maciel Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Membro 2 – Profa. Dra. Marlene Soares Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Orientador – Prof. Dr. Charles Windson Isidoro Haminiuk
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Coordenador de Curso – Prof. Dr. Luiz Marcos de Lira Faria
Curitiba, 29 de junho de 2017.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família pelo amor e carinho em todos esses anos de
graduação e por me apoiarem em todos os aspectos.
À minha namorada, Aline Calisto, pelo amor, pela paciência, pela
compreensão e pelo apoio nos momentos mais difíceis.
Ao meu orientador Professor Dr. Charles Windson Isidoro Haminiuk,
pela orientação, pelo auxilio no desenvolvimento deste trabalho e até pelos puxões
de orelha necessários para meu crescimento pessoal e profissional.
À Professora Drª. Giselle Maria Maciel, pelo auxilio durante os
experimentos pertinentes a este trabalho.
À Professora Drª. Marlene Soares, por ter aceitado participar da banca
da defesa deste trabalho.
Aos demais professores do Laboratório de Biotecnologia, pelos anos
de convivência e pela participação no meu desenvolvimento profissional.
À Desirée Rodriguez, pela amizade, carinho, paciência e por
compreender todas as faltas em eventos, devido à faculdade.
À Luciana Westphal, pela amizade, pelos longos anos de
companheirismo e dedicação a esta graduação e por todos os momentos
compartilhados.
Aos demais amigos e colegas, que compartilharam tantos momentos
durante essa graduação.
Ao Departamento de Química e Biologia da UTFPR pela oportunidade
de concluir este curso.
A todos que de alguma forma contribuíram para o desenvolvimento
deste trabalho.
RESUMO
SENA, Ludmila H. A. de. Biossorção de compostos fenólicos de chá em
Saccharomyces cerevisiae. 2017. TCC – Bacharelado/Licenciatura em Química
Técnológica com Ênfase Ambiental, Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Curitiba – PR
Os chás são a segunda bebida mais consumida no mundo, perdendo apenas para a
água. Tradicionalmente, eles são preparados através da infusão de folhas de
Camellia sinensis e suas versões mais populares são a verde, a preta e a oolong.
Eles são considerados uma importante fonte de antioxidantes, incluindo os
polifenóis, sendo seus compostos bioativos bastante estudados por conta de seu
potencial agente benéfico. Seu consumo tem sido associado à redução da incidência
de câncer e doenças cardiovasculares e evidências científicas apontam benefícios
para a saúde do consumo de chá verde, havendo também indícios sobre o chá
preto, indicando que as catequinas presentes na sua composição possuem função
antioxidante, anticarcinogênica, antimicrobiana, antiviral, antiinflamatória e
propriedades antidiabéticas. O presente trabalho teve por objetivo investigar o
potencial do uso de Saccharomyces cerevisiae como biossorvente para recuperar
compostos fenólicos de amostras de chá branco. As isotermas de adsorção obtidas
demonstraram que o processo ocorre em monocamada sendo a interação dos
compostos fenólicos ocorrida por quimiossorção. Os principais grupos funcionais
envolvidos foram os grupamentos amino/hidroxi e amida, fazendo parte também as
vibrações de carbonos de dupla ligação. Através da MEV pode-se perceber que a
estrutura nas leveduras não se altera com a biossorção, mantendo seu formato oval
e granular.
Palavras-chave: Compostos bioativos, Camellia sinensis, Catequinas, Adsorção,
Levedura
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Processos de obtenção dos diferentes tipos de chá (branco, verde, olong e preto).
Fonte: adaptado de SANTANA-RIOS et al. (2001) ......................................................................... 9
Figura 2: Estrutura principal dos flavonoides contendo os anéis A, B e C. .............................. 11
Figura 3: Estrutura química básica das moléculas de flavonoides. Fonte: MARÇO e POPPI
(2008). .................................................................................................................................................. 11
Figura 4: Moléculas de a) Ácido hidroxicinâmico e b) Ácido hidrobenzóico ............................. 12
Figura 5: Estruturas de catequinas presentes em chás. Fonte: adaptado de MATSUBARA e
RODRIGUEZ-AMAYA (2006). .......................................................................................................... 13
Figura 6: Estruta da quitina presente na parede celular da levedura. Fonte: MENDES,
DILARRI e PELEGRINI (2015) ......................................................................................................... 16
Figura 7: Levedura seca após autoclavagem. ............................................................................... 19
Figura 8: Diluições de chá branco adsorvidos em levedura. ....................................................... 21
Figura 9: Determinação de CFT a partir do método de Folin-Ciocalteu. ................................... 22
Figura 10: Curva de calibração do Ácido Gálico. .......................................................................... 24
Figura 11: Gráfico do modelo de isoterma de Langmuir para o chá branco ............................. 27
Figura 12: Gráfico do modelo de isoterma de Temkin para o chá branco ................................ 27
Figura 13: Gráfico do modelo de isoterma de Freundlich para o chá branco ........................... 28
Figura 14: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
água ...................................................................................................................................................... 29
Figura 15: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
chá branco na concentração 1:20.................................................................................................... 29
Figura 16: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
chá branco na concentração 1:25.................................................................................................... 30
Figura 17: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
chá branco na concentração 1:30.................................................................................................... 30
Figura 18: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
chá branco na concentração 1:35.................................................................................................... 31
Figura 19: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de
chá branco na concentração 1:40.................................................................................................... 31
Figura 20: Espectros de infravermelho da Saccharomyces cerevisiae antes e após o
processo de biossorção do chá branco .......................................................................................... 32
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Concentração de Compostos Fenólicos Totais e Flavonóides expressos em
equivalente de ácido gálico e catequina, respectivamente, nos chás verde, branco e preto. 11
Tabela 2: Volumes de ácido gálico utilizados nas diluições da curva de calibração ............... 20
Tabela 3: Modelos de isotermas ...................................................................................................... 21
Tabela 4: Concentração de compostos fenólicos totais presentes nas amostras de chá antes
e após a adsorção. ............................................................................................................................. 25
Tabela 5: Parâmetros das isotermas de Langmuir, Freundlich e Temkin para biossorção de
compostos fenólicos de chá branco em Saccharomyces cerevisiae. ........................................ 26
LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
A - constante de ligação de equilíbrio B – constante de Temkin Ce – concentração de equilíbrio CFT – Compostos Fenólicos Totais E – energia livre de adsorção
Ɛ – potencial Polanyi
IR - Infravermelho KF – constante de Freundlich KL – constante de Langmuir MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura MIR-ATR - Análise de Espectroscopia de Infravermelho Médio com Reflectância Total Atenuada n – constante da intensidade de adsorção q0 – capacidade máxima de adsorção
qe – capacidade de adsorção em equilíbrio R – constante universal dos gases R2 – coeficiente de correlação RL – fator de separação ou parâmetro de equilíbrio T - temperatura
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 6
2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................................... 7
3 OBJETIVOS .................................................................................................................................. 8
3.1 Objetivo Geral ......................................................................................................................... 8
3.2 Objetivos específicos ............................................................................................................ 8
3.3 Chá ............................................................................................................................................. 9
3.4 Compostos Fenólicos ......................................................................................................... 10
3.4.1 Catequinas ......................................................................................................................... 12
3.5 Antioxidantes ........................................................................................................................ 13
3.6 Saccharomyces cerevisiae ................................................................................................ 14
3.7 Biossorção ............................................................................................................................. 15
3.8 Isotermas de adsorção ....................................................................................................... 16
4 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................................ 19
4.1 Preparo das amostras de chá e levedura Saccharomyces cerevisiae .................. 19
4.1.1 Infusão de chá ................................................................................................................... 19
4.1.2 Preparo do biossorvente. ............................................................................................... 19
4.2 Curva de calibração ............................................................................................................. 20
4.3 Biossorção ............................................................................................................................. 20
4.4 Determinação de compostos fenólicos totais .............................................................. 21
4.5 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................................. 22
4.6 Análise de Espectroscopia de Infravermelho Médio com Reflectância Total
Atenuada (MIR–ATR) ....................................................................................................................... 23
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................... 24
6.1 Curva de Calibração do Ácido Gálico. ............................................................................ 24
6.2 Compostos Fenólicos totais (CFT) .................................................................................. 24
6.3 Isotermas ................................................................................................................................ 25
6.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................................. 28
6.5 Espectroscopia de Infravermelho da Biomassa de Levedura.................................. 32
7 CONCLUSÃO ............................................................................................................................. 34
8 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................................................... 35
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 36
6
1 INTRODUÇÃO
Chá é uma das bebidas mais consumidas no mundo, perdendo apenas
para a água. Em suas formas branca, verde e preta é considerado uma importante
fonte de antioxidantes, como os compostos fenólicos. Seu uso tem sido associado à
redução da incidência de câncer e problemas cardiovasculares, tendo seus
compostos bioativos sido alvos de um grande número de estudos (JILANI et al.,
2015).
Os compostos antioxidantes são substâncias capazes de eliminar os
radicais livres e as espécies reativas de oxigênio, estruturas responsáveis pelo
envelhecimento dos organismos vivos e também pela diminuição da vida útil de
alimentos e matérias primas. Eles são associados a efeitos benéficos à saúde, por
seu potencial anticarcionogênico, antimicrobiano, antiviral, anti-inflamatório e
antidiabético (JILANI et al., 2015).
A indústria utiliza grande quantidade desses compostos tanto em
produtos alimentícios, quanto farmacêuticos ou cosméticos, e sua grande maioria é
obtida por vias sintéticas. Porém, estudos apontam que antioxidantes sintéticos,
como butil-hidroxi-anisol (BHA) e butil-hidroxi-tolueno (BHT) são responsáveis por
um aumento na incidência de câncer após um longo período de uso, bem como o
aumento do peso do fígado e proliferação do retículo endoplasmático (NOVAES et
al.,2013; ZHANG et al., 2012).
Uma boa maneira de reter os compostos fenólicos, responsáveis pela
ação antioxidante, presentes nos chás é a biossorção em leveduras do tipo
Saccharomyces cerevisiae. Sua utilização já é bem consolidada para a remoção de
contaminantes têxteis em água e o presente estudo tem por objetivo estudar a
adsorção dos compostos bioativos de chá branco por essas leveduras.
7
2 JUSTIFICATIVA
Atualmente, há uma preocupação crescente com a saúde e com uma
alimentação mais saudável. O estresse oxidativo tem sido apontado como fonte de
uma série de doenças degenerativas, como câncer, esclerose múltipla e mal de
Parkinson. Estudos revelam que uma dieta rica em compostos fenólicos pode
retardar esse processo, diminuindo os efeitos da idade e as doenças a ela ligadas.
As folhas de chá, provenientes da Camellia sinensis, são grandes
fontes desses biocompostos, em especial o chá branco. Por seu processo de
obtenção menos fermentativo, suas propriedades são mantidas, sendo consumido
de forma mais natural.
As leveduras por sua vez são bastante utilizadas na indústria
alimentícia. Desse modo, elas se mostram bastante seguras para serem utilizadas
na recuperação dessas substâncias. Seu mecanismo de biossorção já é conhecido
para contaminantes têxteis em água e por esse motivo há a possibilidade de uso
para fenólicos.
Por esse motivo, a biossorção de compostos fenólicos de chá em
levedura Sacharomyces cerevisiae é o objetivo deste estudo. Através das isotermas
pode ser comprovada sua viabilidade.
8
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Avaliar o uso da levedura Sacharomyces cerevisiae como biossorvente
na remoção de compostos fenólicos dos chás branco.
3.2 Objetivos específicos
Realizar a modificação térmica da levedura.
Bissorver compostos fenólicos a partir das folhas de chá.
Avaliar a eficiência da levedura Sacharomyces cerevisiae na biossorção dos
compostos fenólicos presentes no chá.
Construir isotermas de adsorção do processo de biossorção em levedura dos
compostos fenólicos de chá.
Analisar a modificação estrutural das amostras do microrganismo através da
Microscopia Eletrônica de Varredura.
Avaliar a alteração das estruturas envolvidas na biossorção através de
análises infravermelho.
9
4 REFERENCIAL TEÓRICO
3.3 Chá
Chá é uma das bebidas mais consumidas no mundo. Ele é proveniente
da infusão em água quente das folhas de Camellia sinensis e dependendo do
quanto suas folhas são secas (Figura 1) são obtidos três tipos: verde, oolong, ou
semifermentado, e preto (WEISBURGER, 1997). Eles se diferenciam basicamente
pelo grau de oxidação de seus compostos fenólicos. O chá verde origina-se de
várias partes da planta, podendo ter diversos tipos. Para o chá preto, as folhas
passam por processos de oxidação, chamados também de fermentativos. E o
oolong consiste em um tipo intermediário submetido à fermentação mais branda
(MATSUBARA e RODRIGUEZ-AMAYA, 2006). O chá branco e o amarelo possuem
processo de fabricação semelhante ao verde, sendo não fermentados. O que os
diferencia é a fase de colheita das folhas, que é mais inicial e prioriza brotos e folhas
pequenas e para o chá amarelo as folhas são abafadas em recipiente fechado,
caracterizando sua coloração (ZIELINSKI, 2015).
Figura 1: Processos de obtenção dos diferentes tipos de chá (branco, verde, olong e preto). Fonte: adaptado de SANTANA-RIOS et al. (2001)
10
Sua história iniciou-se a pelo menos 2700 AC, na China. De lá, a
tradição passou para o Japão por volta do século VI. Era uma bebida da nobreza e
se popularizou apenas há 700 anos. Mais tarde, foi introduzido na Indonésia e
colônias holandesas, chegando à Inglaterra em meados do século XVII, tendo os
ingleses desempenhado uma importante papel na popularização da bebida no
mundo (WEISBURGER, 1997).
O chá é consumido por centenas de milhões de pessoas no mundo
todo. Por tradição, as pessoas no Oriente preferem chá verde ou chá oolong. Em
grande parte do resto do mundo, o chá preto é a bebida habitual. No Reino Unido,
na Irlanda, e no Canadá, o chá preto é tomado com leite e muitas vezes açúcar. Na
maioria dos outros países, o chá preto é consumido doce ou com limão, e o chá
verde é normalmente bebido puro (WEISBURGER, 1997).
Diferentes compostos químicos podem ser encontrados nos chás.
Dentre eles estão polissacarídeos, compostos aromáticos, vitaminas, lipídios,
aminoácidos, minerais, alcaloides e compostos fenólicos, como ácidos fenólicos e
flavonoides (ZIELINSKI, 2015). O consumo de chás, pela presença de compostos
fenólicos, principalmente catequinas, em sua composição, tem aparecido como um
agente benéfico para diversas enfermidades, por suas propriedades antioxidantes,
anticarcinogênicas, antivirais, antimicrobianas, anti-inflamatórias e antidiabéticas
(JILANI et al., 2015).
3.4 Compostos Fenólicos
Compostos fenólicos são substâncias altamente presentes na
natureza, tendo sido detectados mais de 8000 em plantas. Eles podem ser
encontrados em vegetais, frutas e também em produtos industrializados. Esses
compostos agem como antioxidantes, pois são capazes de inibir a oxidação de
diversas moléculas dos alimentos, mantendo suas propriedades. Isso se deve não
somente pela capacidade de doar elétrons, mas também pela presença de radicais
intermediários estáveis (SILVA et al., 2010).
Nos chás, sua presença depende principalmente do nível de oxidação
a que a folha foi submetida. A Tabela 1 apresenta os teores de compostos fenólicos
e flavonoides presentes em alguns tipos.
11
Tabela 1: Concentração de Compostos Fenólicos Totais e Flavonóides expressos em equivalente de ácido gálico e catequina, respectivamente, nos chás verde, branco e preto.
Tipo de fermentação CFT/mg GAE L-1
Flavonoides/mg CAE L-1
Verde 759-4014 431-1768
Branco 423-3080 218-1786
Preto 935-2500 530
Essa classe de compostos é formada por diferentes grupos
benzênicos, tendo por substituintes grupamentos hidroxilas, e pode ser classificada
em flavonoides e não-flavonóides.
Os flavonoides tem sua estrutura formada por 15 átomos de carbono
dispostos em dois anéis benzênicos (A e B) ligados por um grupo pirano (anel C) e
sua representação é C6C3C6 (Figura 1) (MAMEDE e PASTORE, 2004). São
encontrados principalmente na forma de flavonóis, flavonas, flavanonas, catequinas,
antocianinas e isoflavonas tendo como principais fontes café, vinho, maçã e
sobretudo o chá (Figura 2). Sua ação antioxidante se deve aos hidrogênios dos
grupos hidroxila adjacentes, as duplas ligações dos anéis e a dupla ligação das
carbonilas (MAMEDE e PASTORE, 2004).
Figura 2: Estrutura principal dos flavonoides contendo os anéis A, B e C.
Figura 3: Estrutura química básica das moléculas de flavonoides. Fonte: MARÇO e POPPI (2008).
12
Dentre os não-flavonoides, destacam-se os derivados dos ácidos
hidroxicinâmico (Figura 4a) e hidroxibenzóico (Figura 4b) (SILVA et al., 2010). A
atividade antioxidante está relacionada com a presença de grupos –CO2H próximos
ao grupo fenil, bem como a posição das hidroxilas.
Figura 4: Moléculas de a) Ácido hidroxicinâmico e b) Ácido hidrobenzóico
3.4.1 Catequinas
As catequinas especificamente são um conjunto de compostos
fenólicos presentes principalmente nas folhas de chá. São substâncias incolores e
hidrossolúveis que contribuem para a adstringência e amargor do chá verde
(MATSUBARA e RODRIGUEZ-AMAYA, 2006). Suas estruturas principais estão
apresentadas na Figura 5 e suas propriedades antioxidantes podem ser descritas
pela presença dos átomos de hidrogênio dos grupos hidroxila adjacentes,
localizados em diferentes posições do anel, das duplas ligações do anel benzênico e
da dupla ligação da função C=O (SILVA et al., 2010).
Através do processamento das folhas estas sofrem oxidação, o que
contribui para o desenvolvimento da cor e sabor da bebida. Esse processo se dá
pela ação das enzimas presentes nos vacúolos das células, que são liberadas após
as folhas serem trituradas e deixadas expostas ao ar (MATSUBARA e RODRIGUEZ-
AMAYA, 2006).
13
Figura 5: Estruturas de catequinas presentes em chás. Fonte: adaptado de MATSUBARA e RODRIGUEZ-AMAYA (2006).
O conteúdo de catequinas pode variar de acordo com o clima, a safra,
o modo de cultivo ou a idade da folha, mas na maioria dos casos o chá verde possui
maio concentração em detrimento ao chá preto. Isso se deve ao processo de
fermentação ao qual as folhas mais escuras passam, que oxidam suas estruturas,
convertendo as catequinas em dímeros, através das polifenol oxidases (ZIELINSKI,
2015).
Estudos comprovam que a ingestão de altas doses de catequinas
facilita a perda de gordura corporal e auxiliam no gasto energético quando associada
à prática regular de exercícios físicos (LAMARÃO e FIALHO, 2009).
3.5 Antioxidantes
Antioxidantes são substâncias capazes de impedir a formação de
radicais livres (moléculas que possuem um elétron livre capaz de se ligar a outro
elétron de outro átomo, provocando a oxidação) ou impedir a sua propagação. Seu
mecanismo constitui da doação de hidrogênio, tornando a molécula estável e
impedindo ou retardando o efeito da oxidação (ACHKAR et al., 2013).
Antioxidantes fenólicos são capazes de inibir a formação de radicais
livres através do sequestro de radicais e algumas vezes atuam como quelantes de
metais, agindo tanto na iniciação quanto na propagação do processo oxidativo. Os
compostos fenólicos são então eficazes na prevenção da oxidação lipídica. Mesmo
14
assim, poucos são recomendados para uso alimentício, devido ao seu grau de
toxicidade (SOARES, 2002).
O estresse oxidativo pode causar uma série de doenças degenerativas,
como câncer, esclerose múltipla e mal de Parkinson. Estudos revelam que uma dieta
rica em compostos fenólicos pode retardar esse processo, diminuindo os efeitos da
idade e as doenças a ela ligadas (HAMINIUK et al., 2012).
Na indústria de alimentos, os compostos mais utilizados são os butil-
hidroxi-anisol (BHA), butil-hidroxi-tolueno (BHT), tércio-butil-hidroxi-quinona (TBHQ),
tri-hidroxi-butilfenona (THBP) e propilgalato (PG). Porém, estudos toxicológicos
revelaram possíveis efeitos adversos dessas substâncias. O GP pode causar
hiperplasia do estômago, anemia e retardo do crescimento, o THBP pode ter
características mutagênicas e o BHA e o BHT podem provocar tumores em animais.
No Brasil esses compostos tem seu uso controlado e o Ministério da Saúde limita o
BHA e o THBP a 200 mg/kg e o PG e o BHT a 100 mg/kg (SILVA e JORGE, 2011).
3.6 Saccharomyces cerevisiae
As leveduras são microrganismos eucariotos amplamente explorados
pelo homem. A Saccharomyces cerevisiae é uma das mais importantes
industrialmente. Por seu baixo custo, facilidade de manuseio, não patogenicidade,
alta eficiência e seu fácil desenvolvimento à temperatura ambiente, é um dos
biocatalizadores mais comuns, sendo utilizada na produção de diversos alimentos,
como pães e cerveja (MITTER, 2012).
As leveduras ao serem introduzidas no processo de fabricação das
cervejas catabolizam os açúcares de duas maneiras distintas: via respiratória e via
fermentativa. Pela via respiratória, elas oxidam o açúcar, dando origem a gás
carbônico, água e energia. Ao fim do oxigênio presente no meio, elas fermentam as
moléculas de açúcar, gerando etanol, gás carbônico e energia (STAFUSSA, 2014).
Ao serem descartadas, normalmente são reutilizadas como ração
animal, sendo uma boa fonte de proteína para ruminantes e suínos. Por seu alto
índice de ácido ribonucleico presente nas células (cerca de um terço do total), o uso
dessa biomassa para consumo humano fica comprometido (FERREIRA et al., 2013).
15
Vários estudos investigaram extensivamente o uso da S. cerevisiae
para processos de biossorção exatamente por sua grande disponibilidade devido à
indústria fermentativa. São em sua maioria consideradas mais seguras e por isso
possuem maior aceitação pública quando utilizadas para fins alimentícios (JILANI et
al., 2015). Porém são também bastante utilizadas na biossorção de corantes têxteis
e metais pesados.
3.7 Biossorção
A biossorção é considerada uma alternativa ecológica para o
tratamento de poluentes. É definida como a acumulação de poluentes orgânicos e
inorgânicos através do uso de materiais biológicos. Esses materiais são formados
principalmente de biomassa microbiológica, podendo esta ser viva ou morta.
(MITTER, 2012)
O mecanismo de biossorção pode variar de acordo com as interações
moleculares, sendo força de van der Waals, ligações covalentes ou iônicas as
principais forças envolvidas. (MITTER, 2012) Na adsorção química, também
conhecida como quimiossorção, a energia de ligação é da mesma ordem de
grandeza das ligações químicas. Na adsorção física, ou fisiossorção, as interações
eletrostáticas é que estão presentes. Por esse motivo, a quimiossorção é quase
sempre irreversível. (STAFUSSA, 2014)
Diversos fatores podem afetar a capacidade biossortiva, como o tipo de
biomassa, de adsorbato, o método de preparo da cultura microbiana, temperatura,
pH, entre outros. (MITTER, 2012)
A biossorção é um processo caracterizado por duas fases, sendo a
primeira a adsorção, que não depende de energia e atividade metabólica, e a
segunda a absorção, dependente de energia e metabolismo.(DEL RIO, 2004) A
primeira fase é rápida, podendo ocorrer em questão de minutos, já a segunda, pode
levar algumas horas para ocorrer.
De acordo com a estrutura da parede celular da Saccharomyces
cerevisiae, esse processo pode ser baseado nas ligações de hidrogênio entre a
quitina (Figura 6) e as moléculas das catequinas presentes no chá.
16
Figura 6: Estruta da quitina presente na parede celular da levedura. Fonte: MENDES, DILARRI e PELEGRINI (2015)
Essas ligações de hidrogênio podem ocorrer entre os grupos amino ou
hidroxi e as hidroxilas presentes nas catequinas. Quanto menor o pH, mais sítios
ativos estão disponíveis para a adsorção (MENDES, DILARRI e PELEGRINI, 2015)
3.8 Isotermas de adsorção
Uma isoterma de adsorção é a relação de equilíbrio entre a
concentração de um fluido e a concentração de uma partícula sólida a uma dada
temperatura. A concentração do adsorbato no sólido é dada através da massa
absorvida por unidade de massa do adsorvente. (MCCABE, 1993) Os modelos mais
utilizados são de Langmuir, Freundlich e Temkin.
Langmuir define as forças que causam a adsorção como tipicamente
químicas, baseadas nas forças de valência. Assim, a adsorção é um fenômeno que
ocorre unicamente em uma monocamada da substância sobre a superfície
sólida.(LANGMUIR, 1918) Este modelo é representado pela Equação 1.
(1)
Em que qeq é a quantidade adsorvida por unidade de massa do
adsorvente no equilíbrio, q0 é o limite de saturação do adsorvente, Ceq é a
concentração da fase fluida no equilíbrio, e KL é a constante de Langmuir, que é
17
obtida através da razão entre a constante cinética de adsorção e constante cinética
de dessorção.
A Equação pode ser linearizada, sendo apresentada na forma da
Equação 2.
(2)
O fator de separação, ou parâmetro de equilíbrio, RL é outro fator que
pode ser obtido através da isoterma de Langmuir. Ele é uma constante adimensional
que possibilita prever a compatibilidade da adsorção. Ele se dá através da Equação
3 e possui quatro possibilidadades:
Se 0< RL <1, a adsorção é favorável.
Se RL > 1, a adsorção é desfavorável.
Se RL = 1, a adsorção é linear.
Se RL =0, a adsorção é irreversível.
(3)
Freundlich descreve a adsorção como um processo que ocorre em
multicamadas. Seu modelo normalmente é utilizado para descrever a adsorção em
superfícies heterogêneas.(FREUNDLICH, 1906) Ele define esse modelo através da
Equação 4.
(4)
Onde kF é a constante da capacidade de adsorção do adsorvente e n é
a constante da intensidade de adsorção. Quando 1<n<10, a adsorção é favorável.
Para melhor utilização, a equação da isoterma de Freundlich pode ser
linearizada, sendo apresentada na Equação 5.
(5)
18
O modelo de Temkin contém um fator que leva em conta as interações
adsorvente-adsobato. Como implícito na equação, sua derivação se dá através da
distribuição uniforme das energias de ligação até um valor máximo. (DADA, 2012)
Essa isoterma é descrita pela Equação 6.
(6)
Sendo ela linearizada como mostra a Equação 7.
(7)
Em que B=RT/b, com R sendo a constante universal dos gases, e T
corresponde à temperatura absoluta do calor de adsorção.
19
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 Preparo das amostras de chá e levedura Saccharomyces cerevisiae
4.1.1 Infusão de chá
Cinco gramas de chá branco comercial da marca Leão fuze foram
imersos em 250 mL de água destilada à 80oC por 3 minutos. Protegidas da luz, as
infusões foram resfriadas à temperatura ambiente e então filtradas para obtenção do
extrato.
4.1.2 Preparo do biossorvente.
Em um erlenmeyer de 500 mL foram adicionados 5 g de fermento
biológico seco da marca Dr. Oetker à 250 mL de água destilada. A mistura foi
autoclavada por 20 minutos à 120ºC. Após isso, ela foi filtrada e seca ao ar,
conforme Figura 7.
Figura 7: Levedura seca após autoclavagem.
20
4.2 Curva de calibração
Foi realizada uma curva analítica de ácido gálico, para fim de
determinação dos Compostos Fenólicos Totais. Para tal, utilizaram-se 100 μL de
cada uma das cinco diluições de ácido gálico, dispostas na Tabela 2, misturadas
com 500 μL de reagente de Folin - Ciocalteu e, após 3 minutos, com 2,0 mL de
solução de carbonato de sódio 15% em balão volumétrico de 10 mL, tendo seu
volume aferido.
Tabela 2: Volumes de ácido gálico utilizados nas diluições da curva de calibração
Balão Volume de solução ácido gálico/μL
Branco 0
B1 100
B2 200
B3 400
B4 600
B5 800
B6 1000
4.3 Biossorção
A partir do extrato bruto, prepararam-se cinco diluições, sendo elas:
1:20, 1:25, 1:30, 1:35 e 1:40. Então, 12,5 mL de cada uma foi adicionado a 50 mg de
levedura seca. As amostras foram agitadas a 140 rpm a 25ºC por 3 horas (tempo
estimado de equilíbrio da adsorção), conforme Figura 8.
21
Figura 8: Diluições de chá branco adsorvidos em levedura.
Após esse tempo as amostras foram centrifugadas e filtradas a vácuo.
As leveduras foram secas ao ar e armazenadas à temperatura ambiente.
Pode-se então determinar as isotermas de adsorção, através dos
modelos (Equações 2, 5 e 7) apresentados na Tabela 3.
Tabela 3: Modelos de isotermas
Isotermas Equação
Langmuir
(2)
Freundlich
(5)
Temkin (7)
Nota: Ceq = concentração de equilíbrio na solução (mg L-1
); qeq = capacidade de sorção em equilíbrio(mg g-1
); q0 =
capacidade de cobertura máxima em monocamada (mg g-1
); KL = constante de Langmuir (L mg-1
); KF = constante
de Freundlich (L g-1
); n = intensidade de adsorção; A = constante de ligação de equilíbrio (L g-1
); B = constante
de Temkin (J mol-1
).
4.4 Determinação de compostos fenólicos totais
Os compostos fenólicos totais foram determinados através do método
de Folin-Ciocalteu de Singleton e Rossi (1965). Ele consiste na reação de
oxirredução entre o ácido gálico e o molibdênio, sendo este reduzido, produzindo a
coloração azul do meio. Desse modo, é considerado um método indireto de
determinação dos compostos fenólicos presentes na amostra.
22
Esse reagente foi adquirido pela Sigma Aldrich® (St. Louis, MO, USA)
e consiste de uma mistura de ácidos fosfotunguístico e fosfomolibídico (coloração
amarelada) em um meio básico. Os fenóis presentes na amostra são oxidados,
resultando na formação de O2-, que reage com os ácidos formando compostos de
coloração azul e que absorvem comprimentos de onda de 765nm.
A reação foi realizada através de 150 μL de cada uma das cinco
diluições da amostra misturadas com 500 μL de reagente de Folin - Ciocalteu e,
após 3 minutos, com 2,0 mL de solução de carbonato de sódio 15% em balão
volumétrico de 10 mL, tendo seu volume aferido, conforme Figura 9.
Figura 9: Determinação de CFT a partir do método de Folin-Ciocalteu.
Após 2 horas no escuro, foi realizada a leitura em espectrofotômetro
UV-VIS BEL PHOTONICS (Mod. UV-M51) em 765 nm. A análise foi feita em
duplicata e os resultados serão apresentados através do equivalente de ácido gálico.
Desse modo, a curva padrão foi construída a partir de diferentes concentrações de
ácido gálico (45 a 460 mg L-1).
4.5 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
Para visualização das estruturas das leveduras (antes e após o
processo de biossorção), fez-se uso da Microscopia eletrônica de varredura. O
equipamento utilizado foi o Microscópio Eletrônico de Varredura – MEV EVO® e as
23
amostras foram adicionadas a suportes de alumínio utilizando fita de carbono
colocada sobre uma película de alumínio, sendo cobertas com uma fina camada de
ouro. A obtenção de imagens foi feita a partir da detecção de elétrons secundários e
o equipamento foi operado em 20 kV.
4.6 Análise de Espectroscopia de Infravermelho Médio com Reflectância
Total Atenuada (MIR–ATR)
A análise de MIR–ATR foi realizada em espectrofotômetro de
infravermelho com transformada de Fourier (VARIAN, 640-IR) e um acessório de
reflectância total atenuada (PIKE, miracle), com cristal de seleneto de zinco com a
finalidade de comprovar a adsorção dos compostos fenólicos presentes no chá
branco. Os espectros foram obtidos na faixa de 4000 a 650 cm-1 e antes das
amostras (levedura antes e após o processo de biossorção) fez-se a leitura do
branco composto por ar, para minimizar sua influência nos espectros.
24
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.1 Curva de Calibração do Ácido Gálico.
Com coeficiente de correlação de 0,99938, a curva de calibração
(Figura 10) resultou na Equação 12.
(12)
Onde, Abs é a absorbância medida para cada uma das amostras e C é
a concentração de fenólicos.
0 100 200 300 400 500
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Ab
so
rbâ
ncia
[Acido galico]/mg,L-1
Figura 10: Curva de calibração do Ácido Gálico.
6.2 Compostos Fenólicos totais (CFT)
Os compostos fenólicos totais foram determinados a partir do método de
Folin-Ciocalteu e foram utilizados para a construção das isotermas. Na Tabela 4
estão dispostos os valores encontrados de fenólicos totais nas amostras de chá
branco puro e após adsorção.
25
Tabela 4: Concentração de compostos fenólicos totais presentes nas amostras de chá antes e após a adsorção (mg/L).
Diluição Concentração - mg L-1
Porcentagem de adsorção
Controle Adsorção
1:20 103 81 22%
1:25 85 69 18%
1:30 68 59 13%
1:35 60 53 11%
1:40 50 46 13%
Para a determinação dos valores mencionados, fez-se uso da curva de
calibração de ácido gálico, disposta na Equação 12 apresentada anteriormente.
Como se pode perceber, houve uma diminuição da concentração de
compostos fenólicos da amostra controle para a que entrou em contato com a
levedura. Sendo assim, conclui-se que houve adsorção por parte do microrganismo.
A partir das diluições realizadas, pode-se notar que o chá branco
possui em média 2058 mg/L de CFT. Chás menos fermentados possuem
quantidades maiores desses compostos e, segundo Jilani (2015), as folhas de
apresentam entre 800 e 2400 mg/L, o que comprova os valores obtidos.
Jilani (2015) também mostrou que o chá verde (menos oxidado)
apresentou absorções entre 20% e 40%. Isso significa que CFT em concentrações
maiores podem saturar os sítios ativos dos microrganismos, estabilizando a
adsorção.
6.3 Isotermas
Isotermas de adsorção são utilizadas principalmente para descrever a
relação entre a quantidade de soluto adsorvido pelo adsorvato e a concentração de
soluto na solução de equilíbrio. Estas isotermas são úteis para aperfeiçoar o uso de
biossorventes, estimando a quantidade de biossorvente necessária para captar uma
determinada concentração de soluto da solução e prever a distribuição dos locais de
adsorção e as partículas adsorvidas na superfície biossorvente. (MACIEL et al,
2013) Neste trabalho fez-se uso das isotermas de Langmuir, Freundlich e Temkin
para descrever a interação entre os compostos fenólicos presentes no chá branco e
26
a levedura Saccharomyces cerevisiae. As constantes obtidas para cada modelo e os
coeficientes de correlação (R2) estão apresentados na Tabela 5.
Tabela 5: Parâmetros das isotermas de Langmuir, Freundlich e Temkin para biossorção de compostos fenólicos de chá branco em Saccharomyces cerevisiae.
Isotermas Constantes R2
Langmuir q0/mg g-1
2094,80
KL/L mg-1
0,027
RL
0,018
0,990
Freundlich KF/L g-1
76,64
n
1,041
1/n 0,961
0,987
Temkin A//L g-1
2,72
B/J mol-1
175,68
0,965
Nota: q0 = capacidade de cobertura máxima em monocamada (mg∙g-1
); KL = constante de Langmuir (L∙mg-1
); RL
= fator de separação ou parâmetro de equilíbrio; KF = constante de Freundlich (L∙g-1
); n = intensidade de
adsorção; A = constante de ligação de equilíbrio (L∙g-1
); B = constante de Temkin (J∙mol-1
).
O melhor modelo a descrever a adsorção do chá branco em
Saccharomyces cerevisiae foi o da isoterma de Langmuir. Com um coeficiente de
correlação de 0,990 e fator de separação (RL) 0,018, ela se mostrou favorável, pois
para tal os valores de RL devem estar entre 0 e 1. Esse modelo descreve a
biossorção como sendo realizada em monocamada, tendo apenas um número fixo
de locais para ocorrer a ligação das moléculas de adsorvato, sendo estas idênticas e
equivalentes.(VIJAYARAGHAVAN et al, 2006) Ele se baseia no pressuposto de que
a adsorção máxima ocorre quando uma monocamada saturada de moléculas de
soluto está presente na superfície adsorvente, a energia de adsorção é constante e
não há migração de moléculas de adsorbato no plano de superfície (KUMAR, 2010)
Os parâmetros q0 e KL foram obtidos através da representação gráfica de Ce versus
Ce/qe, apresentada na Figura 11.
27
1000 1200 1400 1600 1800 2000 2200
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
(Ce/q
e)/
g.L
-1
Ce/mg.L
-1
Figura 11: Gráfico do modelo de isoterma de Langmuir para o chá branco
A isoterma de Temkin leva em consideração que o calor de adsorção
das moléculas na camada diminui linearmente com a cobertura, devia a interações
entre o adsorvente e o adsorvato e que a adsorção é caracterizada por uma
distribuição uniforme de energias de ligação, até uma energia de ligação máxima.
(KUMAR et al, 2010) Sendo assim, foi possível obter os valores das constantes A
(constante isotérmica de ligação de equilíbrio (L g-1)) e B (constante isotérmica de
Temkin (J mol-1)) a partir do gráfico apresentado na Figura 12.
6,9 7,0 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7
10
12
14
16
18
20
qe/m
g.g
-1
lnCe
Figura 12: Gráfico do modelo de isoterma de Temkin para o chá branco
Freundlich foi o primeiro pesquisador a descrever os processos de
adsorção. Seu modelo se aplica a adsorção em superfícies heterogêneas com
interação entre moléculas adsorvidas e a aplicação da equação de Freundlich
também sugere que a energia de adsorção diminui exponencialmente com o
28
preenchimento dos sítios ativos. A Figura 13 mostra a representação deste modelo e
a partir dela se obtém os parâmetros KF e n.
6,9 7,0 7,1 7,2 7,3 7,4 7,5 7,6 7,7
2,3
2,4
2,5
2,6
2,7
2,8
2,9
3,0
3,1
lnq
e
lnCe
Figura 13: Gráfico do modelo de isoterma de Freundlich para o chá branco
O parâmetro n indica a intensidade de adsorção. Para valores entre 0 e
10, como é o caso, ele demonstra que a adsorção foi favorável. (STAFUSSA, 2014)
6.4 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV)
A partir da técnica de Microscopia eletrônica de varredura foi possível
visualizar a estrutura da levedura após a adsorção de água e das soluções de chá.
As imagens obtidas a 3500 vezes estão apresentadas nas Figuras, 14, 15, 16, 17,
18 e 19.
29
Figura 14: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de água
Figura 15: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de chá branco na concentração 1:20
30
Figura 16: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de chá branco na concentração 1:25
Figura 17: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de chá branco na concentração 1:30
31
Figura 18: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de chá branco na concentração 1:35
Figura 19: Eletromicrografia de varredura da Saccharomyces cerevisiae após adsorção de chá branco na concentração 1:40
O tratamento térmico da levedura proporcionou a inativação de seu
metabolismo sem que houvesse modificações drásticas em sua estrutura. Sendo
assim, seu formato oval e sua parede celular rugosa conferem uma área superficial
propícia para a adsorção ocorrer.
Analisando as imagens, é possível perceber que não houve alteração
na estrutura da levedura, independente da concentração de chá branco adsorvido.
Isso pode ser explicado pela inativação térmica do fermento biológico seco
32
anteriormente ao experimento, indicando pouca ou nenhuma interação biológica
com as amostras.
As interações ocorridas entre as moléculas adsorvidas e a levedura
muito embora sejam perceptíveis por outros métodos, não são visualizadas em
MEV. Isso indica que a adsorção ocorrida não modifica a estrutura do
microrganismo, sendo uma ligação apenas superficial. Desse modo, pode ser
possível uma recuperação desses compostos, haja vista seu potencial uso como
antioxidantes para diversos fins.
6.5 Espectroscopia de Infravermelho da Biomassa de Levedura
Os fungos possuem e sua parede celular diversos tipos de estruturas,
como proteínas, lipídios, quitinas, glicanas e outros polissacarídeos. Estas moléculas
apresentam diversos sítios possíveis para ligação com compostos a serem
adsorvidos. A espectroscopia de infravermelho é uma maneira eficaz de identificar a
presença de grupos funcionais de uma biomassa que podem estar envolvidos no
processo de biossorção. (STAFUSSA, 2014) A Figura 20 apresenta o espectro
infravermelho do microrganismo antes e depois da adsorção. Pode-se perceber uma
diferença de intensidade nos picos antes e após a adsorção. Isso pode explicar o
processo de adsorção envolvendo estes grupos funcionais presentes na amostra de
levedura.
1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
50000
55000
Ab
so
rbâ
ncia
Comprimento de onda/cm-1
levedura + cha
levedura
Figura 20: Espectros de infravermelho da Saccharomyces cerevisiae antes e após o processo de biossorção do chá branco
33
A biomassa de Saccharomyces cerevisiae antes da biosorção
apresenta uma banda larga no comprimento de onda 3285, representando a
deformação axial de grupos amino (N-H) presentes na estrutura e a vibração de
hidroxilas de carboidratos (normalmente detectadas na faixa entre 3200 e 3500 cm-
1). As bandas apresentada em 2925 corresponde à deformação axial de carbonos
primários e secundários alifáticos.(STAFUSSA, 2014) Em 1635 há a detecção da
deformação axial de carbonos do grupo C-N e ao dobramento de aminas primárias.
(MITTER, 2012) Os picos observados no ponto 1537 tem correspondência com o
estiramento das duplas ligações de carbono (C=C) e dobramento de amidas
secundárias. As bandas observadas em 1040 são originadas das ligações σ do anel
aromático. (MITTER, 2012)
O processo de interação das catequinas e a estrutura celular da
levedura fez com que os picos tivessem intensidades diferentes, bem como alterou a
largura das bandas. As pricipais diferenças entre os espectros IR da biomassa após
o contato com o chá branco incluem: (1) estreitamento da banda em 3285 cm-1; (2)
diminuição da intensidade de todos os picos, indicando a interação dos sítios ativos
com a estrutura dos compostos fenólicos.
Os sítios de ligação observados foram identificados como os grupos
funcionais amino/hidroxilas, amidas e carboxilas. Entretanto,as interações podem
ser diferentes de acordo com os extratos adsorvidos, devido sua heterogeneidade e
pelas condições experimentais (temperatura, pH, agitação, entre outros).
34
7 CONCLUSÃO
A levedura Saccharomyces cerevisiae mostrou-se um biossorvente
eficaz na adsorção dos compostos fenólicos das folhas de chá. Utilizando as
isotermas de Langmuir, Freundlich e Temkin, pode-se perceber que a o
processo de biossorção dos compostos fenólicos de chá em levedura ocorre
através de mecanismos de quimiossorção.
Através da microscopia eletrônica, analisaram-se as estruturas do
microrganismo, compreendendo que o processo realizado não as alterou, o que
indica que a adsorção ocorre realmente de maneira superficial em monocamada.
Os grupamentos envolvidos podem ser determinados por análise de
infravermelho, sendo eles os grupos amino e hidroxi, sendo detectadas também
vibrações provenientes das duplas ligações.
Sendo assim, os resultados obtidos no estudo demonstraram que é
possível adsorver os compostos fenólicos provenientes de Camellia sinensis em
Saccharomyces cerevisiae.
35
8 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Com a possibilidade de adsorção dos compostos fenólicos presentes
nas folhas de chá (Camellia sinensis), fica a sugestão para que em trabalhos futuros
se faça o estudo da utilização desses compostos retidos nas moléculas de
leveduraem diversos produtos, como alimentos, bebidas e cosméticos, por exemplo.
36
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