Valkirya Viking

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    Brathair4 (1), 2004: 52-69ISSN 1519-9053

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    Guerreiras de inn:As Valkyrjor na Mitologia Viking

    Prof. Dr. Johnni LangerDepartamento de Histria/ UNC

    [email protected]

    ResumoO presente artigo examina as origens, morfologias e significados do mito das valkyrjor na

    Escandinvia Medieval. Como concluso, observamos a relao intrnseca entre os smbolosreligiosos e a ideologia social, refletindo padres de legitimao da ordem poltica.

    Palavras-Chave: Mitologia germnica e escandinava, Arte, Religio Viking.

    AbstractThe present article examines the origins, morphologies and meanings of the myth of the

    valkyrjor in Medieval Scandinavia. As conclusion, we observe the intrinsic relation between thereligious symbols and the social ideology, reflecting standards of legitimation of the politic order.

    Keywords: Scandinavian and Germanic mythology, Art, Viking religion.

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    (...) a figura da Valquria: ela matadora de homens em sua qualidade de mensageira de Odin, bemverdade, e de executante de suas sentenas mas , aomesmo tempo, uma sedutora: no h quem resista aseus encantos propriamente mgicos.

    Rgis Boyer,Mulheres viris, 1997b.

    No resgate e popularizao da mitologia nrdica, poucas narrativas fascinam tantocomo a do mito das valkyrjor (singular - valkyrja: valquria). Celebradas pela msicawagneriana, pela literatura, cinema e at mesmo pelas histrias em quadrinhos, asguerreiras de innocupam um lugar especial em nosso imaginrio sobre a cultura dosVikings. Mas at que ponto essa nossa contempornea, construda pela arte oitocentista,corresponde ao que os escandinavos imaginaram originalmente? Qual o papel dasvalkyrjor para a religio e a sociedade nrdica?

    Nossa principal hiptese a de que o mito das valkyrjor esteve vinculado a certosfatores sociais relacionados com a aristrocracia e a realeza - com finalidades de

    legitimao dos poderes polticos e sociais destas mesmas classes. A metodologia queadotamos no presente artigo so as teorizaes do historiador francs Rgis Boyer.Influenciado pelo mitlogo Georges Dumzil, Boyer aplica a teoria da tripartio socialdos povos de origem Indo-Europia especificamente para os estudos de religioescandinava. A concepo csmica de mundo, os rituais e as divindades seriamconcebidos em termos de ordem social. Para Rgis Boyer os mitos e os cultos nrdicosforam construdos gradativamente, passando por acrscimos sucessivos (BOYER, 1981:10). Essa concepo diacrnica tambm ser adotada por ns, bem como as atuaispesquisas que demonstram as influncias culturais estrangeiras no processo de formaoreligiosa dos Vikings (DUBOIS, 1999; DAVIDSON, 1988, 1994)(1).

    A sociedade nrdica estava originalmente dividida em duas grandes categorias, ados homens livres (karls) e a dos escravos (thrll). A maior parte da populao livre eraconstituda de fazendeiros (bndi, pl. bndr), que tambm dedicavam-se ao comrcio, anavegao e a guerra. A aristocracia hereditria (jarl) constitua o pequeno grupo quemantinha seus privilgios nas comunidades, especialmente nas assemblias gerais (things)e nos vnculos com a corte real (hir). Toda a poltica e o suporte militar era definido pelochefe local (lendrmar, membro da aristocracia), mas a autoridade absoluta era centradano rei (konungr), que tambm exercia o papel de principal sacerdote pblico. A grandemaioria da populao livre era adepta dos cultos ao deus rr e aos vanes (entidadesrelacionadas fertilidade, especialmente Freyr e Freyja). A aristocracia e a realezaperpetuavam especialmente os rituais ao deus principal do panteo germano-escandinavo,

    inn(Odin, fria), na qual o mito da valkyrjor estava intimamente relacionado.A palavra original do Nrdico antigo, Valkyrja, significa a que escolhe os mortos(BOYER, 1997a: 164). Entidades sobrenaturais relacionadas diretamente commarcialidade, a sua associao com o destino dos guerreiros mortos na batalha remete auma tradio mtica muito anterior aos Vikings, vinculada aos antigos germanos. Naliteratura anglo-sax do sculo VIII surge o termo wlcyrge(a que escolhe os mortos)(2). Hilda Davidson e Rgis Boyer apontam trs e Brian Branston quatro fases nasimagens das valkyrjor, mas todas possuindo aspectos relacionados batalhas, ou seja, deentidades femininas ligadas a conflitos. (3)

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    A origem do mito: as valkyrjor como entidades monstruosas

    A primeira dessas imagens corresponde representao mais antiga do mito, talvezherdada diretamente dos antigos Germanos. Nela, as valkyrjor corresponderiam a seresgrotescos, sanguinrios, sobrenaturais, sedentos de sangue, promotores de carnificina em

    batalhas e mortandades. Verdadeiros augrios de luta e morte; elas s vezes aparecempara os homens em sonhos (DAVIDSON, 2004:54). A mais importante fonte para essadescrio um poema tardio islands,Darraarlj(A cano da lana), integrante de

    Nijals Sagado sculo XIII. Numa viso de sonho que teria ocorrido antes da batalha deClontarf em Dublin (1014), um estranho grupo de 12 mulheres foi visto tecendo umamacabra tapearia feita de cabeas e entranhas de homens. O poema composto de 12estrofes e 88 versos:

    A urdidura feita de entranhas humanas;Cabeas humanas so usadas como pesos;As varas do tear so lanas encharcadas de sangue;As hastes so firmes,E flechas so as lanadeiras.Com espadas ns teceremosA teia da batalha. (2estrofe, NJLS SAGA 157)

    horrvel agoraolhar para o redor,uma nuvem vermelha de sangueEscurece o cu.O firmamento est manchadocom o sangue dos homens,e as valkyrjorcantam sua cano. (10estrofe, NJLS SAGA 157).

    Podemos perceber no poema as valkyrjor como tecels do destino dos homens,sendo comparveis as nornir (nornas). Um destino terrvel, sangrento. Verdadeirasagentes da morte, escolhendo quais guerreiros tombaro no campo de batalha, trazendomuito sangue e dor, cujo smbolo principal a lana, o maior atributo do deus inn.Algumas hipteses foram criadas para tentar explicar essa representao to terrvel domito original. Donahue acreditava que na Antiguidade, quando Celtas e Germanosestavam em contato prximo, havia uma crena coletiva em sangrentos espritos de guerrafemininos (DAVIDSON, 2004: 55). Na mitologia cltica existia uma deusa denominada

    Morrigu (corvo), representada sob a forma deste pssaro e que excitava os guerreirospara as batalhas (MARKALE, 1999: 181). O corvo tambm um dos animais associados

    ao deus inn e as valkyrjor. Outra hiptese relacionadas s sacerdotisas dos antigoscultos para divindades da guerra entre os germanos. Como a maioria desses cultos erammuito violentos, contando algumas vezes com sacrifcios humanos aps os conflitos, omito de seres femininos sangrentos poderia ser uma lembrana desse aspecto religioso:

    como era sempre decidido em sorteio quais prisioneiros seriam mortos, a idia de que odeus escolhia suas vtimas, por meio da intermediao das sacerdotisas, devia ser muitofamiliar, fora a bvia suposio de que alguns eram escolhidos para morrer em guerra(DAVIDSON, 2004: 51).

    E o prprio sacrifcio era efetuado pelas sacerdotisas, seja com um corte nagarganta, seja pelo espetamento com lanas, enforcamentos e queimas (DAVIDSON,1988, 58-68; 2001: 97; 2004: 45).

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    Fig. 1: A cavalgada das valkyrjas, de Karl Engel, 1680. Referncia: COTTERELL,1998: 212. Nesta impressionante tela, observamos a imagem das valkyrjas como seressanguinrios e bestiais, correspondendo ao sentido mais antigo do mito. Noconseguimos maiores informaes sobre a tela, mas a data problemtica: o estilono parece ser setecentista; alguns animais so semelhantes ao Pterodctilo, animalpr-histrico somente estudado a partir de meados do sculo XIX. Baseados nestasobservaes, acreditamos que a data original desta tela de final do sculo XIX parao incio do XX.

    Nas fontes anglo-saxnicas do sculo VIII ao XIV, as Wlcyrge aparecem comosinnimos de entidades malficas da mitologia clssica ou mesmo bruxas. Nosmanuscritos Corpus Christi(sc. VIII) eMs. Cotton(sc. X), elas so associadas com asernias (as Frias dos romanos). Na obra De Laude Virginitatis (sc. VIII) do bispoAldhem, a palavra wlcyrge utilizada como sinnimo para Veneris, enquanto que emoutro manuscrito o sinnimo so as grgonas (4). Outro bispo ingls, Wulfstan (Sermo

    Lupi, sc. X), incluiu as welcrygenuma lista de praticantes do mal, juntamente com asbruxas e pecadores. O poema Cleaness (sc. XIV) tambm as compara com as bruxas(ELLIS, 1968: captulo III; DAVIDSON, 2004: 51-53; BRANSTON, 1968: 333-334).Mesmo que sejam descontados os bvios filtros destas fontes crists, percebemos que aassociao das valkyrjas como entidades malficas e sanguinrias provm de umatradio muito mais antiga, da Inglaterra paganista anglo-saxnica.

    Ainda no mundo germnico da Antiguidade Tardia, aparecem algumas referncias aseres femininos sobrenaturais atrelados com as guerras. Em poemas anglo-saxes, essaspersonagens esto relacionadas com encantamentos para proteger guerreiros em batalhas.Do mesmo modo, no famoso encantamento alemo de Merseburg (sculo IX), elas sochamadas de Idisi (5), e relacionam-se com a capacidade de paralisar homens nomomento das lutas:

    Uma vez que as Idisi pousaram aqui,resolveram aqui e l;Algumas prender grilhes;

    algumas obstruir o grupo na guerra,algumas afrouxar os vnculos do bravo.Salte para adiante dos grilhes! Escape dos grilhes! (MERSEBURG I)

    Trata-se de um encantamento para abrir correntes, ou seja, tanto desfazer outrosencantamentos como para obter poder sobre os inimigos. Em muitos encantamentosanglo-saxes do mesmo perodo, existem referncias a lanas mgicas atiradas pormulheres poderosas, infringindo dor aos guerreiros, interpretado por Hilda Davidsoncomo sobrevivncia de antigos encantamentos para batalhas (2004: 53). Ainda nestesmesmos tipos de fontes, surge o termo sigewf (mulheres da vitria), associando essesseres s abelhas (DAVIDSON, 1988: 96). Um animal voador e que possu ferro, uma

    imagem simblica muito prxima das valkyrjor e suas lanas. Desde a Idade do Bronze arepresentao da lana um atributo do deus da guerra no mundo germano-escandinavo

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    (BOYER, 1981: 66), elemento essencial de inn e claramente vinculado com suasatendentes femininas. Interpretado geralmente como smbolo flico, axial e solar(CHEVALIER & GHEERBRANT, 2002: 535), essa arma geralmente aparece nasepopias e sagas nas mos de heris, deuses e reis. A associao das lanas com asvalkyrjor no somente as torna mais masculinizadas, como tambm autoriza a sua

    identificao com os rituais de morte do deus inn.

    A idealizao guerreira: servas de inn, condutoras para o paraso

    Foi durante a Era Viking (799-1066 d.C.), que o mito das valkyrjor foi amenizado,transformado em uma representao mais dignificada, herica e nobre.

    O poeta islands Snorri Sturluson resgatou durante o perodo cristo (Edda emProsa, tambm denominada de Edda Jovem, 1220 d.C.), uma das imagens literrias maispopulares dessas criaturas para a mitologia dos tempos Vikings:

    H ainda outras para auxiliar no Valhll, servir a bebida em volta, servir a mesa e oscornos de cerveja (...) dinn as envia para todas as batalhas, onde elas escolhem quem vaimorrer, e as regras sobre a vitria (STURLUSON).

    Um papel duplo. Ao mesmo tempo em que so guerreiras e escolhem o destino dasbatalhas, transportando os homens tombados nos conflitos para o Valhll(Valhala: salodos mortos de inn), neste mesmo local elas atuaro como serventes, semelhantes ataverneiras:

    Ces seraient alors des esprits des morts, privilgis en quelque sorte, qui doivent sechoisir des congnres. Elles traduiraient ainsi, admirablement, les ides centrales attaches dinn, dieu des morts parce que rgentant leur destin, quand bien mme le sien prope luichapperait (BOYER, 1981: 142).

    Essa dupla imagem tambm aparece em outra importante fonte do perodo cristo, aElder Edda (Edda Antiga, tambm chamada de Maior ou Potica), uma compilao depoemas escandinavos escritos no final do sculo X ao XIII (e reunidos em um nicomanuscrito, Codex Regius, de 1300) (HAYWOOD, 2000: 60).

    Fig. 2: Pingente de prata da Sucia, sculo X, Era Viking. GRAHAM-CAMPBELL,

    1997, 109. Uma figura feminina portando uma taa de bebida e com o cabelotranado em forma de n, um dos smbolos odnicos que representa a capacidade deamarrar por mgica seus inimigos ou mesmo representar o destino (rlog).

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    O mais antigo desses poemas, Vlusp (a viso da profetisa), composto emmeados do ano 1000, possui uma estrutura nitidamente paganista (HAYWOOD, 2000:203). Nele, estas criaturas sobrenaturais so representadas como guerreiras portandoescudos. Seis nomes so mencionados: Gunnr (batalha), Hildr (batalha), Gndul

    (que maneja a vareta mgica), Skgul (batalha) e Geriskgul (lobo de batalha)(ELDER EDDA). Praticamente todos esses nomes esto relacionados com a guerra oucom caractersticas que as relacionam com conflitos armados. A associao entre ametamorfose do mito valquiriano na Era Viking com mulheres guerreiras reais muitoatraente para os analistas contemporneos, apesar de ser uma questo ainda aberta amuitos debates (6).

    Outro poema ddico, Grimnsml (os ditos de Grmnir), repete alguns nomes eapresenta outros: Hrist (a abaladora), Mist (a bruma), Skggjld (desgaste commachado de batalha), rr (fora), Hlkk (barulho), Herfjtur (paralisia), Gll(lgrimas de batalha), Geirlul, Randgrr (escudo da paz), Rgrir (paz dosdeuses), Reginleif (patrimnio dos deuses). O interessante que apesar do sentido

    destas denominaes, as valkyrjor so apresentadas como servidoras do deus inn e doseinherjar (singular: einheri, guerreiro que combate sozinho), os campees mortos nasbatalhas. Esse poema deve ter sido elaborado entre os sculos X e XI, visto que SnorriSturluson baseou sua imagem literria no mesmo texto.

    Poucas representaes iconogrficas sobreviventes da Era Viking apresentam asvalkyrjor portando armas, capacetes, lanas, espadas, cotas de malha ou andando a cavalo.Em quase todos os pingentes e esculturas/pinturas em estelas, elas surgem como damasportando longos vestidos, cabelos bem arrumados e na maior parte das vezes,transportando um corno com bebidas. Do mesmo modo, as representaes visuais dedonzelas cisnes foram omitidas, com exceo de um objeto onde uma figura femininalembra um pssaro. Apenas restaram as imagens das valkyrjor como serventes do Valhll(7).

    Fig. 3: Detalhe da Valquria de Tjngvide, ilha de Gotland, Sucia (sculo IX/Xd.C.). Referncia: BOYER, 1997a: XXI. Novamente percebemos algumascaractersticas bsicas da representao das guerreiras de inn no incio da EraViking: cabelos tranados em forma de n; longo vestido; levando um corno debebida para o morto recm chegado ao Valhll.

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    Dentre estas fontes iconogrficas as mais importantes so as estelas funerrias dailha de Gotland (Sucia). Executadas para glorificar os feitos do morto, mas tambmpossua um carter religioso, elas serviam em um primeiro momento como reforo para oscultos solares, dos mortos e os rituais odinistas (BOYER, 1997a: 124). Tambmfuncionaram como instrumentos pedaggicos visuais, mantendo a legitimao do poder

    poltico da classe aristocrtica e da realeza, as principais estruturadoras do odinismo naEscandinvia Medieval (LANGER, 2003c). Com isso, as estelas s representaram umafaceta do mito. Em uma sociedade dominada por uma viso totalmente masculina, arepresentao da jornada de um guerreiro do mundo dos vivos para o mundo dos mortosno podia ser questionada ou abalada. Caso uma valkyrja fosse representada portandoarmas e montando cavalos (a exemplo dos guerreiros das estelas), ela seria um elementocontra a ordem de legitimao dos triunfos da realeza e dos heris. Assim, sua imagemcomo servial refora as representaes de uma grande recompensa para uma vida marcialmasculina, alm de manter a ordem odinista (8).

    Fig. 4: Pingente de prata com 3,5 cm de Kalmegrden, Tiss (Dinamarca). BOYER,2004: 29. Uma das poucas imagens da Era Viking retratando as valkyrjor com

    equipamento militar. A representao difcil de ser analisada, mas podemosperceber deduzir que sejam duas mulheres pelas caractersticas das vestimentas eausncia de barbas (esta uma estrutura tpica da representao masculina nrdica). Aprimeira ao lado de um cavalo, possui o cabelo preso e segura uma lana (a base deseu vestido parecer ser uma representao de cota de malha). A segunda figurafeminina segura um escudo (raiado como nos guerreiros das estelas de Gotland, umaaluso ao smbolo do Sol e ao odinismo) e porta um capacete com entreolhos emforma de serpente (idntico ao elmo recuperado em Vendel).

    A domesticao da guerreira: as valkyrjor como donzelas-cisnes

    Seguindo a sequncia dos poemas da Edda potica, encontramos outras refernciassobre nosso tema, desta vez em fontes mais recentes. A Vlundarkvia (A balada deVlundr, sculo XIII) narra as peripcias de trs filhos do rei da Lapnia. No momentoem que estes caavam ao redor de um lago, observaram trs mulheres que fiavam epossuam aparncia de cisnes. Elas eram valkyrjor e tambm filhas de reis (lrn,senhora da cerveja; Hldgud Svnhvit, branca como cisne; Hrvor lvit, sbia).Acabaram sendo tomadas como esposas por um perodo de sete anos, mas depoisretornaram s suas atividades em batalhas e no mais regressaram. Percebemos que apesarda continuidade na associao das valkyrjor com as trs nornir, tecendo o destino doshomens, surge uma nova imagem. Desta vez, as donzelas so representadas como tendocaractersticas de cisnes e acabam casando, alm de pertencerem diretamente realeza. O

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    simbolismo deste animal vincula-se com a sua cor, branca, manifestao do poder e graada luz (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2002: 257).

    Fig. 5:A Valquria, Peter Arbo, 1869. Referncia: BOYER, 1997a: XXX. Nesta telado famoso pintor noruegus do Oitocentos, percebemos uma influncia direta dapera Lohengrin (Weimar, 1850). Apesar de vrias descries originais dasvalkyrjor portarem cotas de malha como nesta imagem, o capacete fantasioso,influenciado pelo conceito esttico das peras de Wagner. O escudo de metalgenericamente foi associado aos povos brbaros durante o sculo XIX (um errocorrigido somente dcadas depois). Os dois corvos so uma aluso ao carter

    odinista destas guerreiras.

    Apesar da estrutura narrativa deste episdio ser um tema comum nas mitologias deorigem indo-europia (9), a sua insero dentro da trajetria do mito ocorre tardiamentena Era Viking. Segundo alguns pesquisadores, essa transformao foi resultado do longotrabalho de poetas aps muitas geraes (DAVIDSON, 2004: 55). Relacionadosdiretamente com as cortes reais dos escandinavos, muitos poemas foram realizados paradignificar publicamente reis e heris (HAYWOOD, 2000: 176). Com isso as donzelascisnes surgem como integrantes importantes da narrativa herica, elo sobrenatural entre omundo odnico e a realeza. No poema Vlundarkvia elas so filhas de reis e foramtomadas por guerreiros valorosos. Mas no podiam fugir as suas caractersticas bsicas de

    agentes do destino, de tecels da vida dos homens. Aps nove anos as trs donzelas cisnesfogem e retornam a sua condio primordial de valkyrjor (ELDER EDDA). O nmeronove o mais sagrado na religio Viking, associado ao deus inn (principalmente aoperodo em que ele ficou enforcado na rvore Yggdrasill).

    A idealizao de proteo: as valkyrjor como agentes do destino herico

    Seguindo a sequncia tradicional da Edda Maior, encontramos trs poemasrelacionados ao heri Helgi. Na primeira histria (Helgakvia Hjrvardssonar, a baladade Helgi, o filho de Hjrvard, sculo XIII) relata a trajetria do filho do rei Hjrvard e

    Sigrlin, um rapaz de grande tamanho mas sem fala e sem nome. No momento em que seencontrava pastoreando, o jovem prncipe avista um grupo de nove valkyrjor. A mais

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    formosa destas mulheres aproxima-se e denomina o prncipe de Helgi (sagrado), almde presente-lo com uma espada com guarda-mo em forma de drago (10). Com oauxlio desta arma mgica, Helgi venceu vrios obstculos, entre os quais matou umgigante chamado Hati. Seguindo a narrativa, Helgi se torna um grande lder e guerreiro,casando com Svva, tambm filha de rei, que lhe havia presenteado com uma espada. No

    momento em que seu marido participava de batalhas, Svva retornava a sua condio devalkyrja. Ao mesmo tempo em que serve como agente sobrenatural em toda a trama,Svva protege o destino do heri seja ao conferir-lhe o nome, como assistindo aos seusfeitos de guerreiro. Na regio de Sigarsvllir, Helgi ferido mortalmente, falecendo emseguida.

    Fig. 6:As valkyrjas, de Ferdinand Leeke, 1889. Referncia de COTTERELL, 1998:243. A concepo do poder guerreiro e masculino das virgens de inn popularizado aps o sucesso da pera O anel dos Nibelungos (Bayreuth, 1876). Asguerreiras passam a ser associadas no imaginrio popular a fantasiosos capacetescom chifres ou asas laterais, armadura de placas metlicas e lanas. Nesta tela, avalkyrja ruiva possui um elmo com imensas asas, uma associao guia, animalodnico.

    O segundo poema,Helgakvia Hundingsbana II (a balada de Helgi, o matador deHundingr), narra que os dois personagens renasceram, Helgi como filho do rei Sigmundre Svva como Sigrn (runa da vitria), filha do rei Hogni (e do mesmo modo umavalkyrja) (11). Alm de continuar sendo amantes, Sigrn conserva seu mpeto de proteger

    o amado. No momento em que Helgi reuniu uma grande esquadra para se dirigir regiode Frekastin, uma enorme tempestade ameaa a esquadra. Nove valkyrjor (entre as quaisSigrn) surgem voando e salvam a expedio. Tambm em outro poema ddico narrandoa narrativa de Helgi como filho de Sigmundr (Helgakvia Hundingsbana I), as donzelasde inn protegem o rei no momento de uma perigosa travessia martima e no transcursode uma batalha. Continuando a narrativa, Helgi morto por seu cunhado. Este ltimo,chamado Dag, havia planejado vingar-se do heri pela morte de seu pai, e com o auxlioda lana Gungnir (entregue pelo prprio deus inn) atinge Helgi mortalmente.Chegando ao Valhll, Helgi tornou-se o chefe dos einherjar. Algum tempo depois, aovisitar o tmulo do amado, Gdrun consegue contat-lo e saber do seu destino comointermedirio odnico. Viveu mais alguns anos, antes de morrer e reencarnar como outra

    valkyrja de nome Kra(cabeleira crespa). O heri renasce como Helgi Haddingiaskati.

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    Nas trs narrativas ddicas sobre este heri, percebemos a importncia da figura dasvalkyrjor como intermedirias entre a realeza, o sobrenatural odnico e o destino doguerreiro no mundo dos mortais. Na realidade, o prprio personagem a metfora dosguerreiros pertencentes aristocracia (jarls) e a realeza (konunga-kyn): Helgi doitincarner la notion dinviolabilit attache au sol, la famille immmoriale, aux grands

    anctres donc. Il est peut-tre aussi en relation avec la notion de royaut sacre dans leNord (BOYER, 1997: 79). Em vez de simples serviais ou donzelas-cisnes quetransformam-se em esposas (como vimos nos poemas ddicos anteriores), na trade deHelgi essas criaturas mticas so apresentadas em uma forma muito mais domstica, masnem por isso menos protetoras: a personagem Sigrn/Svva nomeia o heri; presenteia-ocom um objeto mgico para que o mesmo consiga efetuar sua jornada; assiste-o nasbatalhas; salva-o dos momentos de perigo; torna-se esposa e concebe filhos para ele;realiza os ritos funerrios; renasce como companheira e amante. Na realidade, ela torna-seuma esposa extremamente atuante na vida do heri, a ponto de renascer vrias vezes eam-lo novamente, sem necessariamente transgredir nenhuma ordem social. Voltava a servalkyrja somente quando o marido estava longe de casa.

    Lado a lado com esse aspecto protetor, temos a idia de que o heri (que depoistransformava-se em rei) s conseguiria completar sua jornada pica devido a essainterferncia sobrenatural. As agentes odnicas elegiam seu protegido. Do mesmo modo,podemos perceber essa mesma idia no poema funerrio em louvor ao rei HkonHaraldsson (Hkonarml):

    O rei escutou a fala das valkyrjor,homem nobre, montado em seu cavalho de batalha;elas reunem-se com seus capacetes, em profunda reflexo,segurando seus escudos diante delas (HKONARML).

    Somente os reis podem governar, porque apenas eles seriam os eleitos pelasvalkyrjor, intermedirias diretas do mais poderoso deus do panteo germnico. A melhorforma de reconhecer a autoridade de uma liderana poltica identificar os elementossimblicos e sagrados que autorizem uma classe a perpetuar os seus membros no poder.No poema de Hkor, assim como na histria de Helgi e em outras narrativasescandinavas, o rei apenas cumpriu o papel sagrado de governar a sua comunidade. Comum destino previamente estabelecido: o de ser escolhido e protegido pelas guerreiras deinn. Diferentemente dos cultos a fertilidade (dos deuses vanes, celebratrios da vida nocampo) com o qual rivalizavam e disputavam espao social e religioso - os cultosodnicos celebravam a guerra, a morte e acima de tudo, a autoridade da figura do rei e alegitimidade do poder da classe aristocrtica.

    As valkyrjor como transgressoras: as narrativas de Brynhyldr

    Imortalizada pelas peras de Wagner, Brynhyldr tornou-se a partir do sculo XIXna mais famosa valkyrja de todos os tempos. Os ltimos poemas da Edda Poticanarramalgumas de suas faanhas (como o nome de Sigrdrfa, nevasca de batalha), bem como aVlsunga Saga.

    No desfecho do poema ddico Ffnisml (os ditos de Ffnir), o heri Sigurr(favorecido pela vitria), aps matar o drago Ffnir e comer seu corao, consegueentender a linguagem dos pssaros da floresta. Estes comentam a respeito de uma sala

    existente na montanha Hindarfial, que seria cercada por fogo e ali dormiria uma valkyrja.Ela estaria recebendo um castigo por no ter agido do modo que inn queria.

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    A narrativa prossegue no poema Sigrdrfuml (os ditos de Sigrdrfa). Chegandonesta montanha, Sigurr contempla uma mulher dormindo, totalmente vestida comequipamentos de guerra: cotas de malha bem justas pelo seu corpo e elmo na cabea.Utilizando sua espada mgica (Gramr), o heri rompe a malha do corpo, despertando avalkyrja. Ela contou que se chamava Sigrdrfa e as razes de ter sido encantada: fez

    morrer um rei cuja vitria em batalha havia sido prometida pelo deus inn. Alm doencantamento, deveria contrair matrimnio com um homem que no tivesse nenhumtemor. Em seguida ela descreve a sabedoria das runas, suas utilizaes para a magia epara elaborar encantamentos.

    Esse carter de uma grande sabedoria da valkyrja reforado na Vlsunga Saga.Aps beber e ensinar a Sigurr os segredos das runas,Brynhyldr(armadura de batalha)profere vrios conselhos sobre convvio, comportamento, enfim, regras sociais muitosemelhantes s existentes no poema ddicoHvaml, todas de cunho odinista. Apesar deambos jurarem fidelidade, posteriormente Sigurr acabou casando-se com Gurn, filhado rei Gjki. Tambm auxiliou Gunnar (irmo de Gurn), a conquistar o direito decasamento com Brynhyldr, por meio de uma metamorfose mgica (Sigurr se faz passar

    por Gunnar, penetrando a muralha de fogo do palcio). Tempos depois, a valkyrjadescobre toda a trama e instiga o assassinato de Sigurr. Arrependida e em desespero,suicida-se junto pira funerria do heri.

    Em primeiro lugar podemos perceber a atitude de Brynhyldr, desobedecendo o deusinn, como uma tentativa da mulher de se equiparar ao homen. Sendo uma valkyrja, ela um ser incomum. O fogo um smbolo odinista, bem como o segredo das runas. Aopenetrar o crculo de fogo e principalmente, ao retirar com sua espada a cota de malha daguerreira, o heri Sigurr encarna o prottipo do ideal masculino: controlar a mulher esubmet-la ao domnio do lar. Essa dualidade da situao feminina pode ser percebida emuma passagem da Vlsunga Saga, onde Bekkhildr foi descrita como tpica mulherdedicada ao domiclio, enquanto que sua irm Brynhyldr saa sempre de casa para lutarcom elmo e cota de malha. A punio das valkyrjor o casamento. com essa prtica queela deixa de ser uma desafiadora do mundo masculino e torna-se dominada. Em outrapassagem da Vlsunga isso tambm claro, quando Brynhyldr prediz o futuro paraSigurr, afirmando que os dois no ficaro juntos e ela continuar a guerrear.

    Fig. 7: Amalie Friedrich-Materna, Brynhyldr na pera O Anel dos Nibelungos,1876. Referncia: MACK, 1978. A pera popularizou a maioria dos esteretiposrelacionados aos deuses e aos escandinavos em geral. Nesta fotografia, percebemos

    que todo o equipamento militar Viking adaptado uma valkyrja foi concebido demaneira fantasiosa: a lana, o escudo, a cota de malha e o capacete com asaslaterais.

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    Nas outras narrativas que analisamos anteriormente, tambm verificamos que asdonzelas-cisnes foram capturadas e tornaram-se simples mulheres com a uniomatrimonial: Casar-se com um homem , para uma Valquria, pura punio inflingidapor Odin (BOYER, 1997b: 745). Tornando-se apenas reprodutoras da prole real, elas

    deixam de ser uma ameaa ao ideal guerreiro:

    quando as Valqurias consentem em ter um filho, perdem ipso factoseu statuse se tornamsimples mulheres, se assim se pode dizer, servas dos guerreiros-escolhidos do Vlala e mesde prncipes. Como se houvesse incompatibilidade entre a mulher-cisne intocvel ou a virgemcom o elmo na cabea, e a senhora da cerveja (lrun) (BOYER, 1997b: 746).

    Tambm em descries histricas de mulheres guerreiras, como a famosa Hervor,percebemos que elas perdem essas caractersticas marciais com o casamento (12).

    Eplogo: o significado do mito

    At o presente momento pudemos verificar as variaes do mito ao longo daHistria, elaborando o seguinte esquema:

    Evoluo morfolgica do mito das valkyrjasEntidades sanguinrias incentivadoras de carnificinas (Antigidade) Selecionadoras dos mortos nas batalhas (Antigidade Tardia) Selecionadoras dosmortos e receptoras/serviais no Valhll (Perodo das migraes/Incio da EraViking) Guerreiras de inn, donzelas cisnes, esposas/amantes, filhas de reis(Final da Era Viking).

    Esta metamorfose do mito explicvel, no caso da Era Viking, pelo trabalho dospoetas e poetisas, que acabaram dignificando muitos aspectos das narrativas orais. Aexistncia de elementos de sujeio sexual nas imagens mitolgicas de esculturas, assimcomo a transformao de entidades monstruosas em figuras da realeza, se devediretamente a classe dos Jarls. Assim, podemos encontrar o significado do mito em doisnveis, o ideal masculino e a ideologia da realeza.

    O poder dos homens na arte da guerra. Um dos ideais da classe guerreira erasujeitar todas as mulheres da sua comunidade ao seu controle direto. Somente os homenspoderiam efetivamente ter o acesso ao espao da guerra, aos triunfos militares e glriada imortalidade nas batalhas, alcanando a recompensa futura. Mulheres guerreiras

    representavam um obstculo ao seu poder social, bem como ao seu prestgio perante ascomunidades em que viviam. As imagens esculpidas nas estelas representam o maiortestemunho na busca de um controle sexista da arte da guerra, assim como as descriesdo casamento das valkyrjor e a sua consequente perda de elementos marciais.

    A conexo com a nobreza dos heris e reis - a ideologia da realeza estruturava-senos cultos odnicos. Nas fontes literrias, as valkyrjor nunca so representadas comosimples camponesas (bndisdttir), filhas de pescadores (fiskrmarsdttir), filhas decomerciantes (kaupmarsdttir) e muito menos escravas (rllkona). Na maioria dasfontes, elas apresentam-se como filhas de reis (konungasdttir). Com isso, o mito legitimao poder real, o poder do konungr(rei) e da classe dos Jarl em geral, em detrimento dasoutras divises sociais. Colabora com a criao de vnculos odinistas com os guerreirosvivos, a exaltar os feitos gloriosos dos heris mortos, a estabelecer uma conexosobrenatural com o poder da classe guerreira e a realeza, a minoria dominante.

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    Em uma sociedade onde a religio no era centralizada, sem organizao de umainstituio central, sem hierarquias sacerdotais e com muitas variaes regionais decultos, o padro mtico em comum (pantees divinos e cosmologias de origemgermnicas) foi utilizado pela classes aristocrticas para fins polticos. O homemescandinavo comum, seja um campons ou um comerciante, estava muito mais

    interessado no culto aos deuses vanes (propiciadores da fertilidade) e as possibilidade deaplicaes religiosas em seu cotidiano: a religio de Tor e dos Vanirs, onde a nfase acontinuidade da famlia e da comunidade, em vez de qualquer imortalidade pessoal nooutro mundo (DAVIDSON, 2004: 183). Com isso, tanto as imagem de valkyrjorgravadas em estelas quanto as narrativas orais destas entidades proferidas em festivaispblicos, cortes palacianas ou por poetas comunitrios, enfatizavam a supremacia doscultos a inn, e em consequncia, atendiam aos anseios de poder dos guerreiros e reis.

    Agradecimentos: historiadora Luciana de Campos (UNESP/FAFI), pelas informaessobre teoria de gnero e histria das mulheres; ao medievalista Joo Lupi (UFSC) pela

    leitura do original e valiosas sugestes.

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    Notas(1) O francs Rgis Boyer limita a utilizao dos chamados mtodos psicolgicos e simbolistas nasinvestigaes religiosas, preferindo a perspectiva diacrnica e social (BOYER, 1981: 10-11). J para ohistoriador norte-americano Thomas DuBois a religiosidade nrdica deve ser pensada em trs eixosprincipais: 1 - comunidades descentralizadas de f; 2 - estruturas locais relacionadas com deidadesespecficas; 2 - Interao com sistemas religiosos de povos vizinhos economica e geograficamenteassociada a eles; 3 - Contribuio para os trabalhos sociais e polticos como um todo (DUBOIS, 1999: 4-5).Essa perspectiva no-unitria, regionalizada e culturalmente influencivel uma das tendncias mais aceitasna atualidade (SRENSEN, 1999; FELL, 2001; BLAIN, 2002). Outra perspectiva muito interessante so aspesquisas da mitloga britnica Hilda Davidson, especialmente as que apontam as influncias e/ousimilitudes entre os simbolismos religiosos dos Celtas e Escandinavos, renovando o mtodo comparativo nahistoriografia religiosa (DAVIDSON, 1988, 1994).

    (2) Outros termos para valkryja encontrados nas fontes so: Walachuri(Antigo Alto Alemo); Valakusj(Forma gtica); Valmeyjar (donzelas de batalha); Skjaldmeyjar (donzelas com escudo); Hjalmmeyjar(donzelas com capacetes); skmeyjar (donzelas do desejo); Svanmeyja (donzelas cisnes); Hvt(branca). WARD, 2002.(3) Hilda Davidson distingue duas formas bsicas da representao das valkyrjas, separadas por umaperspectiva diacrnica: uma mais antiga, sanguinria e terrvel (Antiguidade Tardia), e outra maisdignificada e potica (Era Viking) (DAVIDSON, 1988: 92-97; 2004: 50-55). Por sua vez, o historiadorfrancs Rgis Boyer distingue trs formas bsicas da imagem valquiriana, por um referencial morfolgico esimblico, levando teoria da tripartio dumeziliana: criaturas aladas (elementos areos e celestes);mulheres cisnes (elemento aqutico); servidoras do Valhll (elementos de fertilidade-fecundidade)(BOYER, 1981: 142). O historiador britnico Brian Branston apresenta uma variao da representao domito tambm por uma perspectiva diacrnica, mas muito mais detalhada que a de Hilda Davidson: 1 -Originalmente as valkyrjas eram espritos atormentadores das almas, sem nenhuma relao com inn. 2 -Aps o sculo I d.C., no momento em que inn comea a substituir Tyr como deus da guerra, elas passama ser identificadas como seletoras dos mortos em batalha. 3 - Durante o perodo das migraes, elastransmutam-se em virgens que recepcionam os guerreiros mortos para o Valhll. 4 - Durante a Era Viking,surge outra faceta muito mais aristocrtica e nobre: as donzelas cisnes, difceis de serem conquistadasamorosamente (BRANSTON, 1960: 333-334).

    (4)adeorhabba wlkyrian eagan (ingls arcaico); hae bestie habent gorgoneos (latim): estas bestaspossuem olhos de valkyrjor (grgonas).Narratiuncunlae Anglice conscriptae. (BRANSTON, 1960: 334).(5) Segundo alguns pesquisadores, o termoIdisiseria derivado do nrdico antigoDsir, traduzido por HildaDavidson como deusa (2004: 52), e por Thomas DuBois como espritos femininos da famlia (1999:207). Para o lexiclogo Geir Zoga, dsir o plural de ds, significando irm, donzela, esprito femininoprotetor, deusa (1910). A conexo entre os dois termos inegvel e em ambos percebemos a idia deentidades sobrenaturais femininas muito poderosas e atuantes na vida dos homens.(6) Alguns pesquisadores contemporneos relativizam a questo da existncia de guerreiras entre osVikings. A historiadora norte-americana Carol Clover analisando a obra de Saxo Grammaticus considerouque os nicos casos em que existiram guerreiras nrdicas foram com relao a mulheres solteiras, vivas(ou na morte de parentes homens) ou quando da necessidade de vinganas familiares. Esse papel seriatemporrio e sua durao dependeria do papel da mulher guerreira enquanto filha. Para outra historiadora,Christie Ward, os relatos de Saxo foram influenciados pelo referencial clssico, especialmente as amazonasgregas (WARD, 2002). A relao de guerreiras histricas na Escandinvia Medieval muito grande: Thyra(rainha dinamarquesa, sc. VIII); Hethna, Visna e Vebiorg (guerreiras dinamarquesas da batalha deBrvalla, sc. VIII); Sela (pirata); Alfhild (pirata); Hervor (pirata e guerreira); Thorbjorg (rainha sueca);Freydis Eriksdttir (aventureira e colonizadora); Gunvara (guerreira); Jutta (pirata), entre outras(LOTHENE, 2004). Uma problemtica que surge nessa questo: estas mulheres histricas tiveram o mitodas valkyrjor como fonte de inspirao ou ideal guerreiro? A runestone de Torsker 7, Gstrikland (Sucia)apresenta uma imagem de mulher com armas e em posio de avano (SAWYER: 2003, 233). No tivemosacesso a essa fonte iconogrfica e desconhecemos se uma representao de guerreira ou de uma valkyrja. (7) Relao de imagens originais da Era Viking que retratam valkyrjor:A Broches e pingentes:

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    - Acessrio de toucador em prata (Birka, Sucia. PAGE, 1999: 19). Uma figura feminina segura umcorno de bebida, com os cabelos tranados em forma de n. A estrutura geral da figura e principalmenteo vestido lembram um pssaro (guia? corvo?).

    - Pingente de prata vazada, sculo X (Sucia. GRAHAM-CAMPBELL, 1997, 109). Uma figura demulher com vestido longo transporta um corno de bebida.

    - Pingente de prata com 3,5 cm de Kalmegrden, Tiss (Dinamarca). Duas mulheres equipadas

    militarmente. A primeira est ao lado de um cavalo, portando cota de malha (?), enquanto a outra figuraporta um escudo e um capacete com entrolhos em forma de serpente. BOYER, 2004: 29.B - Estelas pintadas e esculpidas da ilha de Gotland(Sucia.):- Hunninge-Klinte(sc. VIII-IX)- Uma figura feminina segurando um corno com bebida, acima de um co(geralmente interpretado como Garmr, o co do submundo) e defronte a um cavaleiro, possivelmente umguerreiro morto e sendo recepcionado no Valhll.- Tjngvide(sc. VIII-IX). Novamente uma mulher aparece ao lado de um co, portando cornos e defronte aum cavaleiro (inn e seu cavalo com oito ps, Sleipnir). Cabelo tranado em n. No mesmo conjunto,outra mulher oferece corno a um guerreiro a p segurando machado.- Hammar I(sc. VIII). Uma mulher portando archote de fogo, interpretada como uma valkyrja conduzindoum guerreiro no mundo dos mortos (LANGER, 2003c).- Hammar III(sc. VIII-IX). Uma mulher oferece cornos de bebida a um guerreiro a cavalo.- Stenkyrka-Lillbjrs(sc. VIII) Uma mulher segura um grande corno e oferece a um cavaleiro com escudo

    espiralado.- Broa-Halla(sc. VIII-IX). Uma mulher oferece corno de bebida a um cavaleiro.(8) Analisando as estelas da ilha de Gotland, percebe-se que a maioria apresenta claramente duas cenasdistintas: um navio em sua base geralmente interpretado como sendo a passagem da vida para a morte ouo prprio reino dos mortos, e a cena do alto (parte superior) a entrada do guerreiro morto para o Valhll.Nesta ltima, quase sempre foi representado um cavaleiro com armas, ao lado de uma mulher oferecendoum corno de bebida. Assim, temos nitidamente a oposio homem de batalhas X mulher do lar.(9) Entre os buriatas (povo mongol que vivia s margens do lago Baikal na antiga Rssia) encontramos omesmo conto de trs mulheres cisnes que banhavam-se as margens de um lago e so capturadas etransformadas em esposas. Tambm entre os altaicos (sia Central), eslavos, iranianos e turcos essanarrativa encontrada com pequenas variaes morfolgicas (CHEVALIER & GHEERBRANT, 2002:257).(10) Neste momento percebemos uma semelhana muito grande com outras narrativas mitolgicas, como a

    Vlsunga Saga, onde um dos personagens da trama, Sigmundr, adquire uma espada mgica atravs deinn.(11) A narrativa de Helgi, o matador do rei Hundingr e da valkyrjor Sigrn tambm aparece na VlsungaSaga. O relato praticamente o mesmo existente na Edda Potica, com exceo do primeiro encontro deHelgi com o grupo de valkyrjor, que na Vlsunga Sagaocorreu num bosque. Do mesmo modo no existemmenes a outras vidas (reencarnaes) destes personagens.(12) Na sua descrio, Hervor era considerada forte como um garoto. Foi treinada pelo av materno na arteda guerra com escudo e espada, mas tambm costurava e bordava. Quando jovem, assaltou alguns homensque passavam pelos bosques. Participou de piratarias litorneas, unindo-se a Vikings e vestindo-se comohomem alm de adotar o nome masculino de Hervardr - realizando saques e batalhas. Junto a seus irmos,vingou o assassinato do pai. Finalmente, cessou sua vida marcial casando e tendo filhos com um rei. Conf.HERVORS SAGA, 2003.