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Movimento Ano II n.º 12 Valença, abril de 2006 Página 7 [email protected] As capas das primeiras onze edições do Valença em Questão. em destaque, no centro, o número 1. Gildo

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A publicação Valença em Questão comemora um ano nesse mês de abril. O presente é uma edição especial e um dia repleto de

atividades.

Ano II n.º 12 Valença, abril de 2006

Um ano depois...

Movimento

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As capas das primeiras onze edições do

Valença em Questão. em destaque, no centro, o número 1.

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Conversa afiada com João Pedro Stedile

Página 7

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Valença em Questão abril de 2006 3

ExpedienteEdição, Reportagens, Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Vitor Monteiro de Castro. Mat: 2003.1.02178-12.

Essa publicação, do Movimento Valença em Questão, foi

um Projeto Experimental de Monografia da Faculdade de

Comunicação Social - Jornalismo, da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Colaboraram nesta Edição: Breno Slade, Bebeto,

Faber Paganoto Araújo, Gustavo Fort, João Roberto

Ripper, Juninho (MCF), Letícia Serafim, Maringoni, Rafael

Monteiro, Rodrigo Nonato de Jesus, Sadraque Santos.

Tiragem: 2.000 exemplares

Impressão: Gráfica Rio Florense

Os textos publicados podem ser reproduzidos se citado a

fonte e autoria do material. O Valença em Questão

é uma publicação mensal sem fins lucrativos, distribuída

gratuitamente.

Painel do LeitorEnvie críticas, matérias, sugestões,

comentários, eventos, reclamações, etc., para o correio eletrônico

[email protected], ou por carta para Rua Francisco Di Biasi, 26, Torres Homem, Valença-RJ, CEP 27.600-000.

Para Anunciar ou ColaborarEntrar em contato pelo correio eletrônico

[email protected], com Assunto “Anúncio” ou “Colaborar”, ou ligar

para o telefone (21) 8187-7533.

Em questão...

editorialESSA EDIÇÃO É muito especial. Há exato um ano, era distribuída em Valença e primeira edição do Valença em Questão. Nesta caminhada, a publicação amadureceu. Preocupada com o excesso de informações, e de um jornalismo orientado pelo signo da velocidade e da renovação incessante de notícias, de forma descontextualizada, buscamos mudar esse processo, através de informação qualificada, historicamente contextualizada dentro do município, do país e do mundo, sempre procurando mostrar aos valencianos o potencial da cidade e de seus moradores.

Em 12 edições t ivemos algum reconhecimento, principalmente em encontros informais nas ruas de Valença, onde descobrimos que muitos lêem, e melhor, gostam do que lêem. É com esse contato que pretendemos cada vez mais alcançar uma participação ativa da população para discutir pautas do jornal e ampliar a discussão acerca dos problemas encontrados, sempre buscando ter uma posição crítica e propositiva. Em comemoração a este primeiro aniversário, lançamos o projeto Oficina de Jornalismo, para estudantes que se interessem pelo tema para formar novos comunicadores na cidade, tornando cada vez mais o Valença me Questão em uma publicação que atenda aos interesses da população.

Onde encontrar o VQ

BANCA DO JARDIM DE CIMA

REVISTARIA VAMOS LER

ROGEGUT’STOTAL LOCADORA

FUNDAÇÃO DOM ANDRÉ ARCOVERDE

PASSE LIVRE: ESTE DIREITO É NOSSO!!!Em outubro de 2005, o Prefeito de Valença, Fernando Pereira

Graça, assinou decreto que cancelava as carteirinhas de ônibus para estudantes das periferias de Valença. O objetivo de retirar esse direito do alunado é justificado para evitar que alunos deixem de estudar em escolas e colégios de seus bairros de origem. Seria preciso então que todos os bairros tivessem colégios, algo que não acontece em nossa cidade.

O Grêmio Estudantil Professora Maria Lúcia Machado Pinheiro, do Colégio Estadual José Fonseca, foi comunicado do que estava para acontecer já no ano letivo de 2006 e se articulou para montar um abaixo assinado unindo, assim, as escolas do centro da cidade, como o próprio José Fonseca, e os Colégios Estaduais Benjamim Guimarães, Theodorico Fonseca, Instituto de Educação Deputado Luiz Pinto e Padre Sebastião.

Por estarem as escolas em período de eleição do grêmio estudantil, foram representadas pelo presidente geral do grêmio do Colégio José Fonseca, o aluno Rodrigo Nonato de Jesus, que entregou o abaixo-assinado à Câmara de Vereadores, no dia 10 de abril de 2006, com 3.189 assinaturas. Além dele, estiveram presentes no momento da entrega a direção dos Colégios José Fonseca e Benjamin Guimarães,

professores e representantes da Frente Popular por Políticas Públicas para as Juventudes.

Na Câmara a palavra foi dada ao presidente do Grêmio, quando leu a pauta do abaixo-assinado e mostrou aos vereadores o posicionamento dos alunos diante do Decreto assinado pelo ex-prefeito. Após a exposição dos fatos, os vereadores se pronunciaram, com apoio às reivindicações dos alunos por 8 dos 10 vereadores da Casa, ou seja, a favor do passe livre para os alunos. Na oportunidade foi marcada, para o dia 17 de abril, audiência pública com o atual prefeito, pautada no passe livre para os estudantes.

Já tendo uma população tão sofrida, será que também o valenciano perdeu o direito de escolher a escola que quer cursar, em virtude de ter perdido o passe livre nos ônibus? Será que todo o prejuízo da nossa cidade se resume no gasto com os transportes dos alunos? As nossas autoridades fazem com o povo o que querem e ainda esperam que todos fiquem calados?!

Os alunos e os pais da periferia e também do centro da cidade só pedem um pouco de respeito ao povo valenciano e também que a sociedade faça uma reflexão na hora de escolher nossos governantes, que na hora de pedir os votos usam da democracia, mas na hora de usá-la em prol da população, mostram claramente que neste país o poder não é do povo.

Rodrigo Nonato de Jesus, presidente do Grêmio Estudantil do Colégio Estadual José Fonseca

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CAMINHANDO PELA PAZ

CONSCIÊNCIA SOCIAL

UM ANO DEPOIS da chacina que vitimou 30 pessoas em Nova Iguaçu e Queimados, moradores, familiares e amigos das vítimas realizaram manifestação contra a violência, com caminhada pelas ruas de Nova Iguaçu.

Após a caminhada, no Colégio Douglas Brasil (nome dado em homenagem a um dos jovens mortos na chacina de 31 de março de 2005), algumas pessoas falaram sobre a importância da manifestação e proposições de ações que venham beneficiar o combate à violência. Destaque para a fala de Luciene Silva, mãe de uma das crianças assassinadas.

O MOVIMENTO CERTEZA de Futuro está realizando atividades em bairros periféricos de Valença. Já estiveram no Chica Cobra (Santa Cecília) e Vadinho Fonseca, apresentando rap com o grupo Conseqüentes e todo tipo de música com Jorge Carreira. Além da parte musical, os membros do MCF dialogam com a comunidade sobre o papel da população na transformação social e política de Valença. A idéia é construir, junto com a comunidade, propostas de melhoria da qualidade de vida desses espaços, plantando a semente de estímulo em organizações como associações de moradores e grêmios estudantis.

NO DIA 17 de abril completou 10 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás (PA). Naquele dia, três mil Sem Terra ocuparam a rodovia PA-150 e estavam em caminhada em direção a Marabá para exigir a desapropriação da Fazenda Macaxeira. Eles foram cercados por duas tropas de militares, que abriram fogo para cumprir a ordem do governador do Pará na época, Almir Gabriel (PSDB), de desobstruir a pista a qualquer custo. Os policiais saíram dos quartéis de Parauapebas e Marabá sem identificação na farda e no armamento e avisaram os médicos e ambulâncias para ficarem de plantão.

O ato de violência deixou oficialmente 19 trabalhadores mortos. Outros três morreram depois em conseqüência das seqüelas. O dia 17 de abril foi instituído pela conferência da Via Campesina Internacional como Dia Mundial de Luta Camponesa, em homenagem aos mártires de Eldorado dos Carajás. Em todo mundo acontecem manifestações nesta data. Na mesma época, por iniciativa da ex-senadora Marina Silva, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou um decreto reconhecendo 17 de abril como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária.

Sadraque Santos

10 ANOS DO MASSACRE

OS CURSOS DO Sebrae são o r i e n t a d o s para abertura e administração

de pequenos negóc i o s , conforme a

necessidade e interesse do empreendedor. Os temas são independentes, mas estão interligados garantindo um aprendizado contínuo.

Pela internet, o Sebrae oferece cursos gratuitos, com tempo de duração de 30 dias. Ao final do estudo os concluintes recebem, em sua casa, o certificado de participação.

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As inscrições devem ser feitas pelo endereço www.sebrae.com.br.

Para maiores informações, entre em contato com o Balcão Sebrae de Valença, na Avenida Nilo Peçanha, em frente ao Banco Bradesco.

CURSOS GRATUITOS

João Roberto Ripper

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22 DE ABRIL de 2005. Comemoramos a capacidade do Brasil em se manter como colônia há 505 anos, onde poucos são donos de quase tudo e tudo é arranjado para que estes poucos continuem sendo os ditadores das regras. Neocolônia? Acho que não, mesmo porque não rompemos com a “antiga”. Nunca demos nosso verdadeiro grito de independência do capital e política estrangeiros. A grande mídia nacional é um exímio exemplo disto, atendendo sempre aos interesses dos latifundiários, das multinacionais e dos que buscam retirar de cena todos aqueles que ameaçam a submissão de nosso país, estados e municípios aos objetivos da oligarquia nacional e internacional.

Mas no mesmo dia, um passo começava a ser dado para a busca de uma mudança de consciência da juventude valenciana: a publicação Valença em Questão era distribuída na cidade, com uma tiragem inicial de 500 exemplares.

Ao longo destes doze meses, além do aumento da tiragem para 2 mil, o amadurecimento dos membros do Movimento Valença em Questão e da publicação foram exponenciais. O que era inicialmente somente um projeto experimental de monografia, foi se consolidando entre a sociedade como um meio de informação e formação sem vínculos partidários ou de interesses pessoais, mas que busca unicamente veicular os fatos, positivos ou negativos, e contribuir para o desenvolvimento do senso crítico da população.

Estamos aí para somar, esclarecer e também aprender. Talvez sejamos nós do Valença em Questão os maiores beneficiados com nossa publicação, pois aprendemos muito sobre nossa terra, gente, política, cultura, solidariedade, carinho, amizade, e procurarmos dividir ao máximo essa experiência com vocês leitores, nossos grandes incentivadores para continuidade desse projeto.

E o que mais nos engrandece é a participação do público neste

processo de construção de uma nova menta l idade e destru ição do paradigma de manipulação da mídia. A desmistificação da lógica do consumo, como dito no editorial da edição número 11, é necessária para abrir novos espaços de discussão sobre assuntos que interessam direta e indiretamente à população valenciana. Continuaremos nossa missão de plantar esta semente do senso crítico dentro de cada um de nós e de novos leitores.

Parabéns ao Vitor pela iniciativa e dedicação ao Valença em Questão ao longo deste ano, e agradeço e parabenizo vocês - leitores, anunciantes e colaboradores - por estarem conosco nestes meses e nos próximos, acreditando no nosso trabalho. Parabéns a todos nós e vamos em frente!

Bebeto, estudante de Engenharia de Produção da PUC-Rio

e membro do Movimento Valença em Questã[email protected]

Parabéns ao leitorHá um ano, no dia 22 de abril de 2005, a publicação Valneça em Questão era distribuída pela

primeira vez nas ruas da cidade. Um ano depois e doze edições, o VQ se mostra mais maduro, mas principalmente consciente de que seus objetivos ainda não foram alcançados e que para isso, é

preciso cada vez mais a participação popular na sua confecção

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Prática jornalística

DEMONSTRAR QUE AS pessoas, quando desejam, conseguem alterar sua realidade. Essa é uma das principais propostas do Movimento Valença em Questão, e da publicação homônima. Neste mês de abril, comemorando um ano de veiculação em Valença, a publicação lança o projeto Oficina de Jornalismo, em parceria com as Escolas, Colégios e Associações de Moradores.

O projeto visa aproximar jovens e adultos da prática da atividade jornalística, apresentando técnicas básicas de redação, prática de escrita e leitura de textos, despertando talentos nesta área e estimulando o hábito de praticá-las. O produto final das Oficinas será a publicação de uma seleção de matérias produzidas no Valença em Questão pelos participantes , que capacitados, serão incentivados a se tornarem colaboradores regulares do jornal.

O projeto terá ação continuada propondo a criação de núcleos comunitários de comunicação nas escolas e colégios, através dos grêmios estudantis; e nos bairros, em parceria com as associações de moradores.

Além de estimular a participação da sociedade na confecção da publicação Valença em Questão, tornando-a cada vez mais da cidade e voltada para os interesses da maioria da população, também pretende ampliar o capital cultural e social dos jovens, despertando um olhar crítico diante dos acontecimentos.

As Oficinas acontecerão em pelo menos dois encontros com cada grupo. No primeiro momento serão apresentados conceitos de jornalismo comunitário, técnicas de redação e simulação de situação, onde os participantes produzirão um texto jornalístico. No segundo encontro, uma semana depois, os alunos trarão pautas do cotidiano vivido por eles, serão apresentados os tipos de textos jornalísticos e será realizada uma reunião de pauta, para discutir o que deve ser retraado na próxima edição do Valença em Questão. O primeiro grupo será composto por alunos do Colégio Benjamin Guimarães.

APÓS O GRANDE sucesso do I Festival de Inverno de Valença em julho de 2005, algumas modificações que seriam essenciais para sua consolidação e para que alcançássemos nossos objetivos foram feitas. Muitas delas foram técnicas, mas uma em especial mexeu com a missão do FestIVal e fez com que ele se tornasse um evento diferente dos demais: a participação popular na organização.

Para implementarmos esta nova agenda da participação social na construção de uma festividade com a cara de Valença, em fevereiro apresentamos na Casa Léa Pentagna, em reunião aberta à sociedade, o pré-projeto do FestIVal. Na ocasião acatamos sugestões dos presentes. Neste primeiro encontro, começamos a dar forma ao evento e à criação das comissões para cuidar das diversas atividades, que representa o grande marco da participação popular. O resultado não poderia ser melhor.

As pessoas entenderam a importância do FestIVal para Valença, que em 2006 acontece entre os dias 17 e 23 de julho, e assumiram seus lugares na organização. O objetivo quando lançamos a idéia de um Festival de Inverno em 2005 está sendo alcançado: existir pela demanda da sociedade e não de forma impositiva, de cima para baixo.

Foram criadas as comissões de artes plásticas, danças, teatro, shows, gastronomia, cinema, esportes, debates e promoção, que estão fazendo bonito. Agora, estamos agendando uma reunião com as Secretarias Municipais de Cultura e Turismo, Arquitetura e Urbanismo e com o Prefeito para a apresentação desse projeto coletivo. A captação de parceiros e patrocinadores para a viabilização do projeto também já começou e estamos obtendo grandes resultados, como a parceria com o SESC Rio.

A Rede Jovem Valenciana cumprimenta todos que estão trabalhando nesse projeto maravilhoso e convida a quem deseja participar da organização do FestIVal para entrar em contato conosco pelo correio eletrônico da Rede Jovem Valenciana - [email protected] - ou procurar nosso parceiro Ulysses no Espaço Pró-Arte, no prédio da Casa Gomes.

II FestIVal, diferente...

Breno Slade Faria, estudante de Hotelaria na UNESA e membro do Movimento Valença em Questão

[email protected]

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O Brasil está preparado para uma epidemia?

Faber Paganoto Araújo, geógrafo, professor

do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro

[email protected]

DIAS APÓS DIA, quando abrimos o jornal, temos acesso a todo tipo de informação. Mas você já deve ter percebido que a maior parte das notícias que você lê não é muito agradável. Isso em parte acontece porque, de fato, muita coisa ruim acontece a cada dia. Mas a mídia também colabora no sentido de criar um estado de pânico na sociedade.

A última investida das nossas revistas e jornais tem sido apavorar-nos a todos com o surto da gripe aviária. Será que ela vai chegar ao Brasil? Será que estamos preparados para uma eventual epidemia? As vacinas importadas pelo Ministério da Saúde são suficientes para controlar a doença? Quantos de nós morreremos?

A maior parte dos veículos de notícias esquece - ou optou por omitir - que a gripe aviária não é coisa nova: a primeira vítima do vírus morreu em 1997, em Hong Kong e só a partir de 2003 novos casos surgiram no Sudeste da Ásia. Desde então o vírus vem sendo transmitido de aves contaminadas para humanos - e nunca de humanos para humanos. Assim, a menos que o vírus sofra uma mutação e possa ser transmitido de outras formas, as chances de uma epidemia mundial são mínimas frente às barreiras sanitárias mantidas nas fronteiras de países do mundo inteiro.

Para nós, brasileiros, a situação é especialmente confortável: nosso território apresenta características menos favoráveis à gripe aviária que os países europeus e asiáticos. O vírus da gripe aviária é muito sensível à radiação solar, o que reduz suas chances de sobrevivência num país tropical. E, se o vírus é transmitido apenas de aves para humanos, é preciso que uma delas venha voando até o Brasil para deflagrar a temida epidemia - já que

transportadas em containeres de importação elas certamente não virão. Informação importante: as aves que migram para o Brasil vêm da América do Norte, onde ainda não há casos da doença. Talvez uma coisa seja lastimável: o Brasil proibiu a importação de aves e derivados de diversos países. Isso inclui plumas, indicando que nosso carnaval será menos luxuoso em 2007.

Não há motivos para pânico, ao contrário, há motivos para comemorar - com todo o respeito às vítimas da gripe. Há três anos, desde que o mundo deixou de comprar frango da China e da Tailândia, o Brasil ocupa a liderança nas exportações mundiais deste produto, tendo exportado no ano passado 2840 toneladas contra as 1903 toneladas exportadas em 2003. E se de janeiro para cá as exportações perderam fôlego, boa notícia para nós, consumidores: o preço do frango no mercado interno foi reduzido na ordem de 10%. E não deixe de comer frango: o vírus morre quando submetido a temperaturas superiores à 60ºC.

Depois de ver coisa boa em notícia ruim, façamos o contrário. Há cerca de dois anos os mesmos jornais que hoje estimam quantos de nós sobreviveremos à gripe aviária comemoravam o sucesso dos carros bicombustíveis - os chamados motores flex. Com mais carros rodando a álcool os níveis de poluição seriam reduzidos nas cidades brasileiras e o país diminuiria a dependência de gasolina,

encurtando a distância rumo à auto-suficiência em petróleo que a Petrobras já começa a festejar.

Mas havia ainda uma outra conseqüência de fácil previsão e que nem os jornais noticiaram, nem o governo evitou: com mais consumidores de álcool, o preço baixo e atrativo começaria a subir descontroladamente, tudo por causa de uma velha conhecida do sistema capitalista - a lei da oferta e procura. Desde o início do ano, álcool e gasolina apresentam preços bastante próximos nas bombas dos postos de combustível de todo o país.

Os altos preços cobrados no Brasil por um combustível de produção barata como o álcool são reflexo de históricas oligarquias que controlam terras, mercados e a política no país. O grande problema é que o vírus do latifúndio, da corrupção e da politicagem resiste a elevadas temperaturas, é transmitido de humano para humano e já migrou para essas bandas há pelo menos cinco séculos. Será que o Brasil está preparado para esta epidemia?

Maringoni/ Agência Carta Maior

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Stedile

Os movimentos de massa dependem dos jovens da cidade

EM BATE-PAPO descontraído, o dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e da Via Campesina, João Pedro Stedile, falou sobre a importância dos jovens no processo de transformação social. Participaram da entrevista Bebeto, Letícia, Rafael e Vitor. Natural de Lagoa Vermelha, no Rio Grande do Sul, Stedile escreve no jornal Brasil de Fato e na revista Caros Amigos.

INÍCIO DA MILITÂNCIA

As pessoas são sempre fruto do seu meio, embora elas transformem também o meio. Eu sou fruto do meio onde me criei, na região de pequenos agricultores e camponeses migrantes da Itália, no Rio Grande do Sul, que produzem, até hoje, uva e trigo.

E sofri também muita influência desde a juventude da Igreja Católica, que era quem fazia trabalho com a juventude no meio rural. Esse período coincidiu com o reascenso de massas contra ditadura e com um momento em que tinha muita vontade de estudar. Fui para Porto Alegre e, como era pobre, fui morar numa casa de estudantes da Juventude Universitária Católica. Trabalhava durante o dia e a noite estudava Economia na PUC-RS. Já no segundo ano de curso, fiz concurso e entrei na Secretaria de Agricultura. Trabalhar lá permitiu que eu viajasse pelo estado e conhecesse os problemas dos agricultores.

Essa primeira fase da minha vida foi uma militância meio restringida, porque era ditadura, mas ao mesmo tempo eu aproveitava do local que trabalhava e o fato de ser estudante.

Em 1979 acontece um conflito no Rio Grande do Sul em que os índios Cairangues se organizaram e expulsaram os posseiros, pobres. Então, a Pastoral da Terra me procurou e pediu para eu ir organizar os posseiros, porque eles queriam confrontar os índios. Como a terra era dos índios, fui pra região, comecei a organizar os posseiros expulsos, para mostrá-los que eles tinham direito à terra, mas não essa, que era dos índios. E no Rio Grande tem muita terra. Foi desse trabalho que organizamos a primeira ocupação de terra. Identificamos na região um latifúndio e essas famílias ocuparam. Isso virou um pandemônio, em plena ditadura. E para nossa sorte, nessa ocupação o governo se assustou, não sabia como lidar com o problema. Em dois meses a opinião pública começou a ficar a favor dos ocupantes e eles conquistaram a fazenda.

MOVIMENTOS DE MASSA NO BRASIL

Estamos vivendo tempos difíceis. A mobilização é sempre em ciclos. Há períodos de ascenso, com clima de mobilização ofensiva em que a população organizada vai pra rua lutar pelos seus direitos. Depois, há um momento de impacto de projetos, e aí vem o refluxo. No último, tivemos um período de ascenso de 1979 a 1989. A eleição de 89 foi um embate de projetos, entre o neoliberal e o democrático popular. Com a derrota nas eleições tivemos um refluxo do movimento de massa que vem até hoje. E a simples vitória do governo Lula não foi suficiente pra reanimar os movimentos. Nossa expectativa é que nos próximos anos certamente haverá um reascenso dos movimentos de massa.

PODER JOVEM

Em algum momento vai dar um estalo na população que vai começar a se mobilizar.

Como o neoliberalismo desfacelou as classes, hoje não existe mais o operariado industrial que era referência. Mesmo os camponeses, porque nos misturamos todos. Agora o que explora o camponês não é o latifundiário, mas a grande usina: a Aracruz, a Cargil, a Monsanto. Nossa leitura é de que o próximo reascenso de massas vai depender fundamentalmente da mobilização dos jovens da cidade, porque a juventude saca as coisas mais rápido, tem maior criatividade, perspicácia e está num estágio da vida que quer mudanças.

ValençaA situação econômica de Valença, a

rigor, está em todo o país. O Brasil está parado há 15 anos. Em estudo recente, constatou-se que dos 5.075 municípios brasileiros, 2.680 estão estagnados, indo pra trás. E 1.785 não só estão estagnados como não tem futuro nenhum. Isso nos leva a refletir que não temos problema municipal, nem da força dos conservadores que existem lá. Mas o Brasil vive uma crise de modelo econômico. Passou 400 anos exportando produtos agrícolas para a Europa e sustentando a monarquia. Não deu certo. Conseguiu isso porque explorava trabalho escravo. Veio a crise com a fuga do trabalho escravo. Durante a século XX a burguesia começou a acumular na indústria, e veio o modelo de industrialização dependente. De 1930 a 1980 tivemos um boom de progresso. Esse modelo entrou em falência na década de 80. Agora quem domina o país são os bancos, as transnacionais e 64 empresas que controlam 80% das exportações.

PROJETO POPULAR

O fundamental agora é que os setores organizados percebam que a questão chave é que devemos discutir um outro modelo de desenvolvimento do país. Que não é mais o agronegócio de exportação, não é mais a industrialização. Temos que construir um projeto popular para o Brasil. Temos que reorganizar a economia brasileira em favor das necessidades do povo e não do capital financeiro. O que o

povo precisa? Educação! Então a economia tem que construir universidades, salas de aula, contratar professores, e com o salário desses professores dinamizar a economia. O povo

precisa de casa! Imagine o quanto dinamiza a economia, ter que comprar tijolo, cimento, pagar operário, luz, o vidro. O povo quer terra?! Cria-se assentamentos, que altera a economia do município, que vai produzir feijão, arroz. A economia é ativada por aí.

MOBILIZAÇÃO

Até o mês de setembro queremos organizar no maior número de municípios, assembléias populares, para discutir os problemas. Cada município, incluindo Valença, faz a sua e na semana de 1º a 7 de setembro vamos fazer uma assembléia estadual e depois faremos uma assembléia nacional. Com isso vamos construindo uma rede de movimentos sociais. E essa rede só vai funcionar se a juventude tomar a frente. Porque é ela que inicia todos os processos de mudança no mundo.

Arquivo MST

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8 abril de 2006 Valença em Questão

qualéaboaqualéaboaqualéaboaqualéaboaqualéabPortuguês

ADEUS, LENIN! (ALEMANHA, 2003). Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a Sra. Kerner passa mal, entra em coma e fica desacordada durante os dias que marcaram o triunfo do regime capitalista. Quando ela desperta, em meados de 1990, sua cidade, Berlim Oriental, está sensivelmente modificada. Seu filho Alexander, temendo que a excitação causada pelas drásticas mudanças possa lhe prejudicar a saúde, decide esconder-lhe os acontecimentos.

Enquanto a Sra. Kerner permanece acamada, Alex não tem muitos problemas, mas quando ela deseja assistir à televisão ele precisa contar com a ajuda de um amigo diretor de vídeos.

Guerra Fria

NENHUM MOTIVO EXPLICA A GUERRA. O segundo álbum do AfroReggae, com a colaboração dos consagrados p r o d u t o r e s Liminha e Chico Neves (Lenine e O Rappa), além dos ex-Titãs Arnaldo Antunes e Nando Reis, e participação do franco-espanhol Mano Chao. São 10 faixas com o melhor do reggae e do soul, incluindo os destaques “Mais uma Chance”, “Coisa de Negão” e “Haiti”.

AfroReggae

LÍNGUA PORTUGUESA - MENSAL, R$ 7,90. A revista Língua busca identificar e colocar em discussão os aspectos mais relevantes da língua e da fala brasileira. A idéia é mostrar, com cuidado editorial e visual, que a língua é um universo instigante e seu conhecimento pode ser um caminho rico para entender questões da ordem do dia.

www.soudeatitude.org.br

BEIJO DA MORTE. CARLOS HEITOR CONY E ANNA LEE. Segundo lugar na categoria Reportagem e Biografia do Prêmio Jabuti 2004. Um homem obcecado pelo mistério das três mortes - teriam sido eles, os líderes da Frente Ampla, assassinados por uma conspiração política internacional? Para o Repórter, protagonista deste livro, é preciso desvendar a sucessão de casos obscuros da história. Em que circunstâncias morreram Juscelino Kubitschek , João Goulart e Carlos Lacerda. Como as mortes ocorreriam num espaço de tempo tão curto, quando os militares estavam no poder e os três políticos poderiam aglutinar as forças da oposição? O Beijo da Morte é uma mistura de reportagem, depoimento e ficção - um livro em que a experiência real dos autores se funde com a trajetória do personagem inventado.

O repórter deste romance-reportagem precisa esclarecer o mistério das três mortes - que de forma mais ou menos intensa, desde o final dos anos 70 e até hoje, sempre foram um enigma para os jornalistas que assinam a obra.

Relato jovem

A REDE SOU de Atitude foi fundada por grupos de adolescentes e jovens de 20 estados brasileiros e do Distrito Federal. A proposta é observar e relatar a realidade da infância e juventude em suas regiões. Assumem, ainda, a responsabilidade de mobilizar outras crianças, adolescentes e jovens para que participem da rede e do monitoramento.

O portal serve para crianças, adolescentes e jovens divulgarem idéias e informações, trocarem experiências e realizarem ações conjuntas.

CENTRAL DA PERIFERIA. UM SÁBADO POR MÊS. GLOBO. As zonas periféricas do país são o foco do programa, que mensalmente vai apresentar na tela um pouco da arte, da cultura e do engajamento social das populações destas regiões. O ponto de partida é um programa de auditório ao ar livre pilotado por Regina Casé.

A voz da periferia

Mistério