Upload
perisson-andrade-advogados
View
214
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Manutenção do plano de saúde empresarial mesmo após aposentadoria. Cliente Perisson Andrade Advogados.
Citation preview
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 1
SE N T E N Ç A
Processo nº: 1011577-95.2013.8.26.0100Classe - Assunto Procedimento O rdinário - Planos de SaúdeRequerente: W A L T E R V I C A L V IRequerido: Fundação Saúde I taú
Justiça Gratuita
Juiz de Direito: Dr. Guilherme Madei ra Dezem
Vistos.
Trata-se de ação de obrigação de fazer com pedido de tutela antecipada ajuizada
por W A L T E R V I C A L DI em face de F UND A Ç Ã O SA ÚD E I T A Ú em que o autor sustenta, em
síntese, ser beneficiário de plano de saúde, oriundo de vínculo empregatício junto ao Banco Itaú.
Alega ter sido beneficiado com determinada modalidade de cobertura até a
manutenção do vínculo empregatício, contudo, após a aposentadoria, revelado o interesse na
continuidade, os valores cobrados foram substancialmente majorados, mesmo com o cumprimento
de todos os requisitos exigidos pela lei 9.656/98, o que o obrigou a optar por modalidade com
cobertura inferior. Pretende com esta ação ser beneficiado, juntamente com seus dependentes, com
a modalidade anterior, nos mesmos moldes de cobertura e preço, inclusive em caráter
antecipatório, invocando a proteção constitucional e da legislação consumerista.
O pedido de antecipação dos efeitos da tutela foi deferido às fls. 73. Com Agravo
de Instrumento (fls. 188/203).
Citada, a ré contestou o pedido. Aduziu fundamentalmente que existe um plano
especifico para empregados aposentados com condições de reajuste; que não existia qualquer
ilegalidade no seu proceder, dizendo haver interpretação equivocada do autor acerca das
disposições da lei 9.656/98, com respaldo em resoluções da ANS, devendo prevalecer a boa-fé e o
equilíbrio contratuais. Rechaçou a inversão do ônus probatório e pugnou pela improcedência do
pedido.
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 317
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 2
Houve réplica (fls. 214/223).
Intimados a especificar provas, as partes revelaram o interesse na produção da
documental (fls. 272/274 e 278/315).
Vieram documentos.
É o relatório.
Fundamento e Decido.
Conheço do pedido nesta fase. Faço-o com supedâneo no artigo 330, inciso I, do
Código de Processo Civil, sendo desnecessária a produção de outras provas, sobretudo em
audiência. Assim, indefiro a produção das provas requeridas pelas partes, uma vez que
prescindíveis ao deslinde do feito, nos termos do artigo 130 do CPC.
Restringe-se o objeto dessa lide ao direito de o autor se manter vinculado à apólice
de seguro saúde em grupo, da qual era beneficiário em função de vínculo empregatício
estabelecido com a empregadora estipulante.
Em agosto de 2006, teve dissolvido o contrato de trabalho por aposentadoria
voluntária sem justa causa, o que o reconduziu à situação de aposentado. A situação fática ora
descrita é tida como incontroversa.
Parte-se de manifesta relação de consumo travada entre as partes, assumindo a ré,
porque prestadora de serviço, a posição de fornecedora e o autor, destinatário final deles, a de
consumidor. Isso, por consequência, faz militar em favor deste todos os princípios norteadores do
Código de Proteção ao Consumidor, protegendo-o, assim, de cláusulas contratuais abusivas
impostas pelo fornecedor e que venham a acarretar o desequilíbrio contratual, notadamente
aquelas que "estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor
em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade " (artigo 51, IV).
À luz de tal premissa e considerando as peculiaridades do caso é possível concluir
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 318
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 3
pela abusividade do ato praticado pela ré, pelo que o pedido é procedente.
A hipótese de preservação da apólice de seguro de saúde em grupo em benefício
de empregado que é demitido ou aposentado encontra regramento nos artigos 30 e 31 da lei
9656/98 (com as alterações introduzidas pela MP 2177/2001). No caso, considerando as premissas
destacadas, a interpretação desses dispositivos favorece a pretensão do autor.
Em princípio, embora a dissolução do contrato de trabalho tenha se operado por
aposentadoria voluntária do empregado sem justa causa, para fins de preservação de sua
vinculação à apólice, deve ser considerada sua condição de aposentado. Isso porque adquiriu
direito à aposentadoria ainda vinculado à empregadora estipulante, valendo-se, portanto, da
condição de beneficiário.
Fixada tal premissa, constata-se o preenchimento, pelo autor, dos requisitos
exigidos para a preservação da sua condição de beneficiário do plano coletivo em questão. Dispõe
o artigo 31, caput, da Lei 9656/98 que "Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam
o inciso I e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, pelo prazo mínimo
de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de
cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o seu pagamento integral". Quanto da dissolução do vínculo empregatício, o autor, na
condição de aposentado para este fim, mantinha tal vínculo há muito mais do que dez anos.
Por último, não tem consistência a interpretação que pretende a ré conferir ao
disposto no citado art. 31 da Lei 9656/98. Evidente que referido preceito, ao garantir a vinculação
do empregado aposentado à operadora que administra plano coletivo estipulado pela empregadora,
"nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de
trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral", teve como escopo assegurar ao beneficiário
a continuidade da assistência médica hospitalar nas condições econômicas então vigentes, apenas
arcando integralmente com tal custo.
Isto certamente se veria frustrado uma vez legitimado à operadora incluir o então
beneficiário em um suposto "grupo de aposentados", ainda que mantidas as condições assistenciais
do plano coletivo então vigente, com significativa alteração dos valores dos prêmios, equiparando-
os ao praticado no mercado para planos individuais. Certamente não é esta a melhor interpretação
a ser dada ao art. 31, da Lei 9656/98, com que, por obvio, deve se harmonizar a Resolução 279 da
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 319
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 4
ANS.
Com efeito, nesse particular, o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e o
Superior Tribunal de Justiça, este em decisão única, sinalizam para uma interpretação ampliativa
do artigo 31 da Lei dos Planos e Seguros de Saúde para compreender também o direito à
manutenção do preço da mensalidade, consoante podemos depreender dos arestos abaixo
colacionados:
Plano de Saúde. Não seria lógico para a ideologia do art. 31, da Lei 9656/98, exigir daquele que trabalhou por mais de trinta anos para a Companhia Hering, em cuja condição contribuiu, por mais de dez anos, para o plano de saúde empresarial, que pagasse taxa maior para continuar desfrutando, na aposentadoria, dos benefícios contratuais similares. Manutenção da sentença que obriga equiparar os preços, sob pena de prejudicar o beneficiário. Não provimento, com observação [comprovação na fase de cumprimento de sentença pela seguradora do valor subsidiado pela COMPANHIA HERING para a ex-empregada, bem como os aumentos praticados no referido plano e que deverão ser pagos pela ex-trabalhadora, aposentada, juntamente com a parte que lhe cabia]. (Relator Ênio Santarelli Zuliani, Apelação nº 0155848-25.2010.8.26.0100, São Paulo, apelante: COMPANHIA HERING e apelada: VALÉRIA DE ALMEIDA STABELINI)
No âmbito do STJ, destaca o eminente ministro Raul Araújo:
Com essas considerações, tem-se que a melhor interpretação a ser dada ao caput do art. 31 da Lei 9.656/98, ainda que com a nova redação dada pela Medida Provisória 1.801/99, é no sentido de que deve ser assegurada ao aposentado a manutenção no plano de saúde coletivo, com as mesmas condições de assistência médica e de valores de contribuição, desde que assuma o pagamento integral desta. Entender em sentido diverso ensejaria o esvaziamento da norma, na medida em que retiraria do aposentado o benefício nela ínsito de ser mantido no plano de saúde coletivo, pois bastaria à operadora do plano de saúde ou seguradora promover forte majoração na prestação do seguro para forçar o segurado a se retirar do grupo. Dessa maneira, o aposentado acabaria migrando para outra operadora que lhe oferecesse plano individual mais favorável e com menor custo.A regra dos arts. 30 e 31 da mencionada Lei teve como objetivo corrigir grave injustiça praticada contra o consumidor contribuinte de plano privado coletivo de saúde, o qual, após anos de contribuição, via-se compelido a
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 320
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 5
contratar novo plano, quando, muitas vezes, já se encontrava idoso, tendo que se submeter, inclusive, a novos prazos de carência e a preços muito elevados. Por isso, essa norma assegura ao beneficiário, em caso de aposentadoria, sua permanência no mesmo plano coletivo de que era parte anteriormente, apenas tendo que pagar integralmente o preço devido à operadora do plano de saúde. Essa é a exegese que mais se adequa à parte final do dispositivo legal que determina seja assumido pelo aposentado o pagamento integral da contribuição, sem mencionar nenhuma alteração no preço. Determinou-se apenas que o montante anteriormente custeado pelo ex-empregador (parcial ou integral) seja arcado, em sua totalidade, pelo próprio aposentado-beneficiário. (STJ, REsp 531370/SP - Ministro RAUL ARAÚJO - T4 - QUARTA TURMA - DJe 06/09/2012).
Daí se concluir, portanto, pela abusividade da conduta adotada pela operadora em
transferir o autor a outro grupo de beneficiários, com livre definição dos prêmios respectivos.
Ante o exposto, A C O L H O o pedido, com resolução do mérito (art. 269, I, do
Código de Processo Civil), confirmando a tutela antecipada outrora concedida, para condenar a ré
a manter em vigor o plano de saúde coletivo Executivo I ao autor e seus dependentes, por prazo
indeterminado, mediante o pagamento do respectivo prêmio, nos exatos termos da fundamentação.
Consequentemente, condeno a ré ao pagamento da dobra prevista no artigo 940 do
Código Civil pelos valores indevidamente pagos a esse título.
Diante da sucumbência, arcará a ré com as custas e despesas processuais,
incluídos os honorários advocatícios, que arbitro em 10% sobre o valor da condenação atualizado,
nos termos do artigo 20, § 3 .º do CPC.
Considere-se o valor atualizado da causa para fins recursais.
Ante a informação de Agravo de Instrumento, comunique-se o E. Tribunal de
Justiça de São Paulo desta decisão.
Transitada em julgado, certifique-se. Nada requerido em 10 (dez) dias após este
ato, arquivem-se; se juntada a memória do débito, com indicação de bens à penhora, bem como
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 321
T RIBUN A L D E JUST I Ç A D O EST A D O D E SÃ O PA U L OCOMARCA DE SÃO PAULOFORO CENTRAL CÍVEL44ª VARA CÍVELPraça João Mendes S/N, . - CentroCEP: 01501-900 - São Paulo - SPTelefone: (11) 2171-6566 - E-mail: [email protected]
1011577-95.2013.8.26.0100 - lauda 6
recolhida a condução do oficial de justiça, expeça-se mandado de penhora, nos moldes do artigo
475-J, do CPC.
P.R.I.
São Paulo, 16 de outubro de 2013.
D O C U M E N T O ASSIN A D O DI G I T A L M E N T E N OS T E R M OS D A L E I 11.419/2006, C O N F O R M E I MPR ESSÃ O À M A R G E M DIR E I T A
Se im
pres
so, p
ara
conf
erên
cia
aces
se o
site
http
s://e
saj.t
jsp.
jus.
br/e
saj,
info
rme
o pr
oces
so 1
0115
77-9
5.20
13.8
.26.
0100
e o
cód
igo
5971
8D.
Este
doc
umen
to fo
i ass
inad
o di
gita
lmen
te p
or G
UIL
HER
ME
MAD
EIR
A D
EZEM
.
fls. 322