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 X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                            p.1         O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto     Resumo A pesquisa objetiva identificar o nível de alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil analisando a relação das mulheres das classes populares com a leitura e a escrita. Compreender a função social da leitura e da escrita, reconhecendo as respectivas habilidades, relacionando com o nível de escolaridade, idade e ocupação profissional das mesmas. Contribuir na tarefa de dar visibilidade aos sujeitos dos programas de inclusão social, em especial às mulheres, como subsídio à elaboração de políticas públicas contextualizadas. A pesquisa é considerada básica, qualitativa, descritiva e de levantamento. A caracterização dos sujeitos se deu através de um questionário, e as habilidades de leitura e escrita foram avaliadas através de um teste. Constatouse que ler e escrever são competências que podem ser desenvolvidas em diversos níveis e em diferentes práticas sociais. O grau de estudo interfere no desempenho no teste de alfabetismo, mas não altera as possibilidades de ocupação de postos de trabalho mais qualificados, nem na distinção da renda. Para a maioria, frequentar a biblioteca, retirar livros, utilizar o computador está diretamente ligado ao vínculo e a inserção possibilitada com o Programa Mulheres Mil no IFF  Câmpus Santo Augusto/RS.  Palavraschave: Mulheres.Classes Populares. Políticas Públicas           

X Anped Sulxanpedsul.faed.udesc.br/arq_pdf/355-0.pdf · iniciativas e propor outros rumos para a educação de adultos. Extintos pelo Golpe Militar, e ... os protagonistas da

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    O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto    

 

Resumo A  pesquisa  objetiva  identificar  o  nível  de  alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil analisando a relação das mulheres das classes populares com a leitura e a  escrita.  Compreender  a  função  social  da  leitura  e  da escrita,  reconhecendo  as  respectivas  habilidades, relacionando com o nível de escolaridade, idade e ocupação profissional  das  mesmas.  Contribuir  na  tarefa  de  dar visibilidade  aos  sujeitos  dos programas  de  inclusão  social, em  especial  às mulheres,  como  subsídio  à  elaboração  de políticas  públicas  contextualizadas.  A  pesquisa  é considerada  básica,  qualitativa,  descritiva  e  de levantamento. A caracterização dos sujeitos se deu através de  um  questionário,  e  as  habilidades  de  leitura  e  escrita foram avaliadas através de um teste. Constatou‐se que ler e escrever  são  competências  que  podem  ser  desenvolvidas em diversos níveis e em diferentes práticas sociais. O grau de  estudo  interfere  no  desempenho  no  teste  de alfabetismo, mas não altera as possibilidades de ocupação de postos de  trabalho mais qualificados, nem na distinção da  renda.  Para  a maioria,  frequentar  a  biblioteca,  retirar livros,  utilizar  o  computador  está  diretamente  ligado  ao vínculo e a inserção possibilitada com o Programa Mulheres Mil no IFF – Câmpus Santo Augusto/RS.  Palavras‐chave: Mulheres.Classes Populares. Políticas Públicas  

       

 

 

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1 Introdução 

           A pesquisa tem como objetivo geral identificar o nível de alfabetismo funcional das 

alunas do Programa Mulheres Mil com o  intuito de analisar a  relação das mulheres das 

classes populares com a leitura e a escrita. E como objetivos específicos: compreender a 

função social da leitura e da escrita para as mulheres das classes populares e reconhecer 

respectivas  habilidades,  relacionando  com  o  nível  de  escolaridade,  idade  e  ocupação 

profissional. 

A pesquisa é  considerada básica.   No que  se  refere  à  abordagem do problema, 

classifica‐se como qualitativa. Do ponto de vista de seus objetivos, podemos considerar 

uma pesquisa descritiva. E da perspectiva dos procedimentos técnicos classifica‐se como 

pesquisa  de  levantamento.  Foi  aplicado  um  questionário  para  a  caracterização  dos 

sujeitos da pesquisa, seguido de um teste para avaliar as habilidades de leitura e escrita. 

Justifica‐se  na  premência  de  contribuirmos  com  a  tarefa  de  dar  visibilidade  aos 

sujeitos  dos  programas  de  inclusão  social,  jovens  e  adultos,  em  especial  às mulheres, 

como subsídio à elaboração de políticas públicas contextualizadas. 

          Em  um  primeiro  momento,  apresentamos  o  processo  de  constituição  da 

abordagem  do  tema  da  pesquisa  desde  a  perspectiva  dos  aspectos  históricos  da 

escolarização de  jovens e adultos no Brasil em diálogo com Moll  (1999), Paludo  (2001), 

Freire  (1979),  Freire  e  Nogueira  (1993),  Frei  Betto  (2000).  Seguimos  com  a 

contextualização do Programa Mulheres Mil e detalhamento da  coleta de dados nesse 

campo de investigação. Concluímos com a descrição e análise dos dados, em diálogo com 

os autores Soares (2005), Fonseca (2004) e Britto (2005). 

  

2 O Processo de Constituição Deste Olhar 

 

 2.1 A escolarização de jovens e adultos no Brasil 

    A história da educação de jovens e adultos, desde a colonização do Brasil, é 

marcada pela  seletividade de quem deve  e pode  aprender. A  leitura  e  a  escrita  foram 

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monopólio dos  jesuítas e da aristocracia masculina, enquanto mulheres, negros,  índios e 

pobres ficaram à margem do processo de escolarização.  

Moll  (1999)  faz  referência  às  medidas  vinculadas  ao  Pacto  Colonial  que 

objetivavam a manutenção do monopólio comercial luso:  

 [...]  alvará  de  20  de março  de  1720,  proibindo  o  despacho  de  livros  e papéis para o Brasil, e aviso de 18 de junho de 1800 ao capitão‐general de Minas, repreendendo a Câmara de Tamanduás por ter instituído uma aula de primeiras letras. (MOLL, 1999, p. 15).  

O advento da  república alimentou a  ilusão de que o povo passaria a constituir a 

nação  como  cidadão de direitos  civis, políticos e  sociais. Mas, na  realidade, os pobres, 

negros, mulheres e  índios foram vistos como empecilhos à modernização do país, como 

irracionais  e  atrasados.  Conforme  Paludo  (2001,  p.  33),  os  segregados  do  projeto  de 

modernidade  brasileiro  eram:  “[...]  indivíduos  e  grupos  explorados  economicamente, 

desvalorizados e discriminados culturalmente e dominados politicamente”.  

Segundo  Moll  (1999),  nesta  perspectiva  organizaram‐se  movimentos 

“higienistas”  como  a  Liga  Brasileira  Contra  o  Analfabetismo  que mobilizou militares, 

católicos,  cidadãos  comuns  no  combate  ao  analfabetismo;  e  ações  governamentais,  a 

partir da Constituição de 1934, que giraram em torno de campanhas de “erradicação do 

analfabetismo”. 

Freire considera esta concepção de analfabetismo como ingênua e astuta: 

 A  concepção  na  melhor  das  hipóteses,  ingênua  do  analfabetismo  o encara  ora  como  uma  “erva  daninha”  –  daí  a  expressão  corrente: “erradicação  do  analfabetismo”  –  ora,  como  uma  “enfermidade”  que passa  de  um  a  outro,  quase  por  contágio,  ora  como  uma  “chaga” deprimente a  ser “curada” e cujos  índices, estampados nas estatísticas de organismos  internacionais, dizem mal dos níveis de  “civilização” de certas  sociedades. Mais ainda, o analfabetismo aparece  também, nesta visão  ingênua  ou  astuta,  como  a manifestação  da  “incapacidade”  do povo, de sua “pouca inteligência”, de sua “proverbial preguiça.” (FREIRE, 1979, p. 13 grifos do autor).  

Nas décadas de 50 e 60 cerca de 50% da população acima dos quinze anos de idade 

permanecia analfabeta, não tanto pela inacessibilidade à escola, mas principalmente pela 

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incompatibilidade entre o  saber  instituído  como  legítimo e  as expectativas das  classes 

populares.  

Não  causa  estranheza,  portanto,  que  a movimentação  em  torno  de  uma  nova 

educação teve sua gestação paralela à escola, no seio da organização da sociedade civil.  

O Movimento de Educação de Base (MEB) foi criado pela Confederação Nacional 

dos Bispos no Brasil  (CNBB), em parceria  com o Ministério da Educação e Cultura que 

organizou as escolas radiofônicas. 

O Movimento de Cultura Popular (MCP) – nascido da vontade política de Miguel 

Arraes – prefeito da cidade de Recife ‐ em parceria com um grupo de líderes operários, de 

artistas e  intelectuais, dentre eles Paulo Freire.  Inspirado no modelo  francês, Peuple et 

Cultural, mas constituído com o perfil radicalmente nordestino e brasileiro.  Inscreveu‐se 

entre quem pensava a prática educativa‐política e a ação político‐educativa como práticas 

desocultadoras, buscando a consciência crítica das classes populares.  

Organizou‐se por projetos, sendo um deles o Projeto de Educação de Adultos que 

contemplava  os  Centros  de  Cultura  –  amplos  espaços  como  bibliotecas  populares, 

teatros, salões esportivos e recreativos ‐ que abrigavam os Círculos de Cultura – embrião 

das primeiras práticas de alfabetização numa visão freireana. 

Outro projeto foi o Teatro Popular organizado através de circo ambulante em que 

eram apresentadas peças de teatro, sessões de cinema e após a exibição, os educadores 

–  jovens  universitários  (União Nacional  dos  Estudantes  – UNE),  artistas,  intelectuais  e 

líderes operários – promoviam um debate com o público sobre os  temas abordados. O 

objetivo  era  a  preservação  das  tradições  da  cultura  popular,  das  festas  do  povo,  dos 

enredos de suas tramas, de suas figuras lendárias, da singeleza de sua religiosidade.  

Com  a  parceria  entre  o MCP  e  o  Serviço  de  Extensão  Cultural  da Universidade 

Federal  de  Pernambuco,  foi  possível  a  realização  da  experiência  de  alfabetização  de 

adultos  em  Angicos  no  Rio  Grande  do  Norte;  dos  cursos  de  realidade  brasileira  para 

grupos de educação popular dos quais se destacaram a equipe da CEPLAR (Campanha de 

Educação Popular da Paraíba na Paraíba) dos cursos de extensão para jovens e também a 

Rádio  da  Universidade.  Não  foi  possível  a  implementação  do  Plano  Nacional  de 

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Alfabetização  (PNA)  idealizado  em  parceria  com  o MEC,  como  pretensão  do  governo 

João Goulart em alfabetizar cinco milhões de brasileiros até  1965, através do “Método 

Paulo Freire”. 

Essas mobilizações coletivas contribuíram, significativamente, na redução da taxa 

de analfabetismo: de 50,6% para 39,7%.  Além da alteração das estatísticas e da tentativa 

de  reinventar  a  educação,  a  preocupação  central  era  a  (trans)  formação  dos  sujeitos 

envolvidos no processo de ensinar‐e‐aprender: 

 Esses grupos tinham seus movimentos, eles tinham suas pelejas e faziam suas  experiências  em  educação.  Aí  é  preciso  não  esquecer  uma  coisa: educação  popular  e  mudança  social  andam  juntas.  Essa  educação renovada transforma não apenas os métodos de educar. Transforma as pessoas  que  são  educadas  em  uma  sociedade  em  transformação. (FREIRE; NOGUEIRA, 1993, p. 62). 

 Nessa  época  de  efervescência,  não  faltaram  esforços  para  “abafar”  estas 

iniciativas e propor outros rumos para a educação de adultos. Extintos pelo Golpe Militar, 

e futuramente substituídos então pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL).  

Conforme Moll  (1999),  tanto o MOBRAL  (1967) quanto o  ensino  supletivo  (LDB 

5692/71) objetivaram a formação de mão‐de‐obra para a indústria em desenvolvimento: 

 [...] as ações do Mobral e do próprio ensino supletivo buscavam formas de reprimir “os movimentos de educação que reinventavam ações  junto aos  grupos  populares  como  práticas  de  organização,  mobilização  e conscientização na luta por melhores condições de vida” (Haddad, 1987, p.14).  Circunscritos  a  processos  de  massificação  do  ensino,  de transposição  linear  da  estrutura  da  escola  regular,  de  condensação  de conteúdos,  o  ensino  supletivo  não  atingiu  a massa  populacional  como propalava, bem  como o Mobral, por  suas  impropriedades pedagógicas (inclusive por sua característica de campanha) e intenções políticas reais, não alfabetizou a população jovem e adulta. (MOLL, 1999, p. 17).  

  Durante a ditadura do capital sustentada pelo braço militar, a  ideologia nacional‐

desenvolvimentista propalada pelo  ISEB –  Instituto Superior de Estudos Brasileiros – é 

substituída pela ideologia da segurança nacional, gestada na Escola Superior de Guerra. A 

sucessão de atos  institucionais,  impostos através da força das armas,  interromperam as 

iniciativas e processos de manifestações  coletivas,  censurando, perseguindo,  cassando, 

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exilando, torturando os protagonistas da história política e educacional brasileira. Foram 

vinte e um anos de silenciamento. 

Enquanto  isso,  de  certa  forma,  a  igreja  “assumiu”  algumas  dessas  discussões 

através  do  trabalho  da  pastoral  popular  e  das  comunidades  eclesiais  de  base.  Quem 

desconfiaria que o “ver, julgar e agir” da Igreja estivesse fomentando a organização dos 

populares,  através  das  reflexões  que  suscitava  nas  pessoas?  Tanto  contribuíram  que 

quando a esquerda exilada, volta ao país, há vários movimentos populares organizados 

(FREI BETTO, 2000). 

A partir da “redemocratização” do país na década de 80, a Constituição de 88 – na 

qual a educação passa a  ser direito de  todos – a LDB 9394/96  ‐ que eleva o ensino de 

jovens e adultos à categoria de educação de  jovens e adultos (EJA) – e ainda contando 

com os marcos conceituais internacionais de EJA – Conferência Mundial de Educação para 

Todos em  Jomtien na Tailândia, V Conferência  Internacional de EJA – CONFINTEA  ‐ em 

Hamburgo na Alemanha, Ação de Dackar em Senegal na África, VI CONFINTEA no Brasil ‐ 

as políticas de EJA se revelam como um “campo de ausências”: 

“A ação sistemática, continuada, profícua do Estado brasileiro (em suas diferentes 

instâncias) no campo da educação escolar fundamental de jovens e adultos, de fato, não 

se consolidou.” (MOLL, 1999, p. 17).  

Principalmente,  as  políticas  de  alfabetização  de  adultos  organizadas  como 

campanhas e programas, atreladas a mandatos governamentais, pautados na política do 

voluntariado, e por fim, desconsiderando os processos de aquisição do código da leitura e 

da escrita pelos sujeitos a que se destinam. 

Atualmente,  na  rede  federal,  protagonizamos  um  momento  expansão  das 

políticas públicas de inclusão social de jovens e adultos, pela via da educação, através de 

programas de qualificação profissional.  

 

 

 

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2.2 O programa Mulheres Mil 

O  Programa  Mulheres  Mil,  foi  desenvolvido  no  período  de  2007  a  2011,  em 

colaboração  do  governo  canadense,  almejando  a  formação  educacional,  profissional  e 

cidadã de mulheres desfavorecidas das regiões Norte e Nordeste do Brasil. Objetivando 

que  essas mulheres  evoluíssem  seu  potencial  produtivo, melhorando  as  condições  de 

vida das mesmas juntamente com seus familiares e comunidades. 

Segundo o guia metodológico Mulheres Mil: 

 O  principal  objetivo  do  acesso  é  viabilizar  o  ingresso  e  a  permanência com  êxito  da  população  feminina  brasileira  em  situação  de vulnerabilidade social nas  instituições de educação profissional, visando sua  inclusão educativa e sua promoção social e econômica. Por meio da formação e elevação de escolaridade, pretende‐se dar‐lhes condições de melhorar seu potencial de empregabilidade, a qualidade de suas vidas, de suas famílias e de suas comunidades. (2013, p. 6)   

A  metodologia  Sistema  de  Acesso,  Permanência  e  Êxito  desenvolvido  pelo 

Programa Mulheres Mil é fruto de um amplo processo de construção. Tem sua origem no 

acúmulo e na sistematização de conhecimentos desenvolvidos pelos Community Colleges 

canadenses, em suas experiências de promoção da equidade e nas ações com populações 

desfavorecidas, naquele país ao longo de dez anos. 

O sistema canadense é denominado Sistema ARAP (Avaliação e Reconhecimento 

de Aprendizagem Prévia) e consiste, em  linhas gerais, certificar  todas as aprendizagens 

formais  ou  não  formais  e  proporcionar  a  qualificação  nas  áreas  necessárias  à 

complementação da qualificação. Além de prever o reconhecimento de saberes ao longo 

da  vida,  o  modelo  brasileiro  é  inovador  no  sentido  de  que  foram  contemplados 

instrumentos  e  mecanismos  de  acolhimento  de  populações  não  tradicionais,  que 

viabilizassem o acesso à formação profissional e cidadã, com elevação de escolaridade, a 

inserção  produtiva  e  a  mobilidade  no  mundo  do  trabalho,  o  acompanhamento  dos 

egressos e os impactos gerados na família e na comunidade (Guia Metodológico, 2013). 

A avaliação é contínua, proporcionalmente reflexiva, consequentemente, valoriza 

o processo  e o produto de  aprendizagem. A  equipe multidisciplinar que  acompanha o 

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programa observa, analisa e registra os avanços e eventuais dificuldades, acompanhando 

desta forma a evolução de cada aluna. 

No ano de 2012 o programa estendeu‐se aos estados do Sul e o IFF‐ Câmpus Santo 

Augusto/RS  já desenvolveu três edições do curso de qualificação profissional na área da 

produção alimentícia com carga horária de 180 (cento e oitenta) horas. 

  

2.3 Processos de realização da pesquisa 

   Considerando  a  classificação  das  pesquisas,  sistematizado  por  Pereira  (2007), 

quanto à natureza, a presente pesquisa é considerada básica, tem como propósito gerar 

conhecimentos novos e úteis  ao avanço da  ciência. No que  se  refere  à  abordagem do 

problema,  classifica‐se  como  qualitativa,  embora  apresente  uma  representatividade 

numérica  em  relação  ao desempenho  no  teste de  alfabetismo  funcional. Do ponto de 

vista  de  seus  objetivos,  podemos  considerar  uma  pesquisa  descritiva,  em  que  são 

caracterizados os  sujeitos pesquisados  estabelecendo  relações  entre  as  variáveis.  E da 

perspectiva  dos  procedimentos  técnicos  classifica‐se  como  pesquisa  de  levantamento, 

envolvendo a interrogação dos sujeitos cujo comportamento desejou conhecer.  

A população da pesquisa foram as 100 (cem) mulheres, alunas da primeira turma 

do Programa Mulheres Mil. Selecionamos 40 (quarenta) delas para constituir a amostra, 

definida a partir de dois critérios: a  idade e a escolaridade. A partir dos documentos de 

matrícula  foram  identificadas  10 (dez) mulheres de cada grupo etário e  respectivo nível 

de  escolaridade.  A  faixa  etária  obedeceu  então  à  classificação  do  Índice  Nacional  de 

Alfabetismo Funcional ‐ INAF1 ‐ 15 (quinze) a 24 (vinte e quatro) anos2, 25 (vinte e cinco) a 

34 (trinta e quatro) anos, 35 (trinta e cinco) a 49 (quarenta e nove) anos e 50 (cinquenta) 

                                                            1  INAF  O  Instituto  Paulo  Montenegro  e  a  ONG  Ação  Educativa  criaram  e  implementaram  em  2001  o 

Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional – INAF – para avaliar os níveis de alfabetismo funcional dos brasileiros. Tendo como população da pesquisa, todos os brasileiros entre 15 e 64 anos que estejam ou não estudando e como amostra, 2 mil pessoas  representativas da população brasileira,  residentes em zonas urbanas e rurais. A coleta de dados, nos anos ímpares (2001, 2003 e 2005) se referiu às habilidades de  leitura e escrita – ALFABETISMO.  Já nos anos pares  (2002 e  2004)  foram avaliadas as habilidades matemáticas – NUMERAMENTO. 

2 Nesse caso 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, pois a maioridade é um dos critérios para inclusão no programa. 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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a  64  (sessenta  e  quatro)  anos.  Já  o  nível  de  escolaridade  se  refere  a  nenhuma  série, 

primeira  à  quarta  série,  quinta  à  oitava  série  do  Ensino  Fundamental  e  Ensino Médio. 

    Como  critério de  seleção da  amostra os dois elementos  centrais  foram  a 

idade e o nível de escolaridade, porém outras variáveis foram consideradas na análise de 

dados: ocupação, renda e situação do domicílio. 

Consultamos as fichas de matrículas de todas as mulheres que estavam cursando o 

programa Mulheres Mil, e  já encontramos o primeiro  imprevisto: estavam  cursando 95 

mulheres naquele momento e não as 100 (cem) como esperávamos. Separamos as fichas 

de  acordo  com  a  faixa  etária3.  Organizamos  de  acordo  com  o  nível  de  escolaridade: 

nenhuma; 1ª a 4ª série; 5ª a 8ª série e ensino médio. Passamos os dados para planilhas do 

Excel, para que pudéssemos definir a amostra.                                      

Constatamos que no grupo de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos havia apenas 

oito (oito) alunas  inscritas, dessas, 5 (cinco) com escolaridade de 5ª a 8ª série e 3 (três) 

com escolaridade de Ensino Médio. No grupo de 25 (vinte e cinco) a 34 (trinta e quatro) 

anos escolhemos 10 (dez) mulheres. Dessas, uma com escolaridade de 1ª a 4ª série, oito 

com escolaridade de 5ª a 8ª serie, e uma com escolaridade de Ensino Médio. Do grupo 

etário  de  35  (trinta  e  cinco)  a  49  (quarenta  e  nove)  anos  foram  escolhidas  11  (onze) 

mulheres; para compensar a  falta de mulheres no primeiro grupo, sendo então  1  (uma) 

com nenhuma escolaridade, 6  (seis) de  1ª a 4ª  série, 3  (três) de 5ª a 8ª  série e uma de 

ensino médio. Do grupo de 50 (cinquenta) a 64 (sessenta e quatro) anos foram escolhidas 

9 (nove) mulheres, sendo uma com nenhuma escolaridade, 4 (quatro) de 1ª a 4ª série, 3 

(três) de 5ª a 8ª série e uma com escolaridade de Ensino Médio.  

 

                                                            3  Identificamos uma mulher com mais de 65  (sessenta e cinco) anos,  foi considerada na categoria de 50 

(cinquenta) a 64 (sessenta e quatro). 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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Nível de escolaridade segundo a idade: 18 a 24 anos                    Nível de escolaridade segundo a idade: 25 a 34 anos  

     

Nível de escolaridade e segundo a idade: 35 a 49 anos                 Nível de escolaridade segundo a idade: 50 a 64 anos        

Constituída  a  amostra,  ao  identificarmos  que  algumas  dessas mulheres  haviam 

desistido  do  programa  e  não  havia  outra  com  as  mesmas  características.  Sem 

possibilidade de  substituição, a amostra  foi  reduzida de 40  (quarenta) para 31  (trinta e 

um) sujeitos de pesquisa.            

O  questionário  misto  (perguntas  fechadas  e  abertas)  buscou  informações  a 

respeito dos dados pessoais, culturais e socioeconômicos.   O teste continha quarenta e 

duas  perguntas  com  diferentes  graus  de  dificuldade  ‐  baixo, médio  e  alto  ‐  as  quais 

remetem  ao  nível  de  alfabetismo,  conforme  o  desempenho  do  sujeito  de  pesquisa. 

Apenas os quatro primeiros itens foram lidos, os demais elas mesmo leram e escreveram 

na folha de respostas, que depois fora anexada ao questionário de cada uma.  

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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Definimos  três  níveis  de  desempenho4:  os  de  baixo  desempenho,  que  se 

aproximam do nível  rudimentar, os de médio desempenho, que se aproximam do nível 

básico,  e  os  de  alto  desempenho,  que  se  aproximam  do  nível  pleno  de  alfabetismo 

funcional. Destacamos que as mulheres classificadas como analfabetas, não realizaram o 

teste e autodeclararam‐se analfabetas absolutas. 

 

3 Mulheres das classes populares e alfabetismo funcional       

A  educação  e  a  escolarização  na  infância  marcada  pelo  autoritarismo  e  a 

objetividade do mundo adulto em que se submeteram à obediência, no cumprimento de 

tarefas não  condizentes  com  a  idade, no  silenciamento  frente  à  rigidez das  regras, na 

inexistência de respostas às suas expectativas e curiosidades  infantis e no abandono de 

seus sonhos mais íntimos, foram situações que contribuíram para a condição de pouco ou 

não escolarizadas,  influenciando na ocupação de postos de trabalhos desqualificados ou 

mesmo assumindo, exclusivamente, o trabalho doméstico. 

Analisemos os dados referentes à escolaridade, ocupação profissional e renda. 

  Quadro 1: Nível de escolaridade por idade 

Escolaridade 

Idade  Nenhuma  1ª a 4ª  5ª a 8ª Ensino Médio  Total 

18 a 24                

25 a 34        10  2  12 

35 a 49   1  6  2  1  10 

50 a 64  1  5  3     9 

Total  2  11  15  3  31 

   Fonte: dados da pesquisa  

                                                            4  O  INAF  considera  como  níveis  de  alfabetismo:  Analfabeto  ‐  Corresponde  à  condição  dos  que  não 

conseguem  realizar  tarefas  simples  que  envolvem  decodificação  de  palavras  e  frases;  Rudimentar  ‐ Corresponde à capacidade de localizar informações explícitas em textos curtos, um anúncio ou pequena carta.  Básico  ‐  Corresponde  à  capacidade  de  localizar  informações  em  textos  um  pouco  extensos, podendo  realizar  pequenas  inferências;  Pleno  ‐  Corresponde  à  capacidade  de  ler  textos  longos, orientando‐se  por  subtítulos,  localizando  mais  de  uma  informação,  de  acordo  com  condições estabelecidas,  relacionando  partes  de  um  texto,  comparando  dois  textos,  realizando  inferências  e sínteses. 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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Dos dados referentes à escolaridade é interessante destacar que quinze mulheres, 

cursaram o Ensino Fundamental anos  finais, onze possuem o Ensino Fundamental anos 

iniciais, três cursaram Ensino Médio, e duas nunca foram à escola. 

Na relação  idade e escolaridade é visível que as mulheres com mais escolaridade 

pertencem aos grupos etários de  18 a  24 anos e  25 a 34 anos,  sendo que apenas uma 

concluiu  o  ensino  médio  na  categoria  etária  35  a  49  anos.    As  mulheres  menos 

escolarizadas pertencem à faixa de 35 aos 65 anos. Quanto mais aumenta a idade, diminui 

o nível de escolaridade.  

E  isso  se  reflete  na  ocupação  profissional  e  na  renda  das  mesmas,  como 

demonstramos nos quadros dois e três: 

Quadro 2: Escolaridade por atividade profissional 

Fonte: dados da pesquisa 

 

Quadro 3: Nível de escolaridade e renda própria 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: dados da pesquisa  

Atividade profissional 

Escolaridade Empregada Doméstica  Diarista  Do lar  Agricultora  Outra  Total 

Nenhuma  2           1  3 

1ª a 4ª  2  2  5  1     10 

5ª a 8ª  8  2  2  3     15 

Ensino Médio           2  1  3 

Total  12  4  7  6  2  31 

Renda própria 

Escolaridade  Nenhum  Até 1/2  Até 1  Até 2  Até 3 

Renda não informada  Total 

Nenhuma  1        1        2 

1ª a 4ª  5  2  1     1  2  11 

5ª a 8ª  7  3  2  1     2  15 

Ensino médio  1  2              3 

Total  14  7  3  2  1  4  31 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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Das  trinta  e  uma  mulheres,  sete  declararam‐se  do  lar,  doze  trabalham  como 

empregadas  domésticas,  quatro  como  diaristas,  seis  como  agricultoras,  uma  como 

auxiliar de festas e uma como servente de limpeza.   

Quatorze delas, não tem renda própria: aquelas que se declararam do lar, algumas 

agricultoras  e  as  empregadas  domésticas  que  se  encontram  na  condição  de 

desempregadas. Das dezessete que possuem renda: sete recebem até ½ salário, três até 1 

salário, duas até 2 salários, uma até 3 salários e quatro não informaram a sua renda. 

Constatamos que nesse contexto, de modo geral, o nível de estudo não  interfere 

nas possibilidades de ocupação de postos de trabalho mais qualificados, nem na distinção 

da renda. Já, poderá  interferir no desempenho no teste de alfabetismo. Semelhante ao 

pensamento de Britto (2003, p. 56): 

  efetivamente  existe  uma  correlação  direta  entre  alfabetismo  e oportunidades  sociais,  [...]  isso  não  quer  dizer  que  a  oportunidade profissional  é  consequência  imediata  do  letramento.  A  análise comparativa  do  nível  de  alfabetismo  com  a  classe  socioeconômica,  o grau de instrução e o tipo de atividade profissional demonstram que são essas  circunstâncias  que  contribuem  para  o  letramento,  e  não  ao contrário. [...] a condição de maior ou menor domínio de habilidades de leitura  e  escrita  e  o  exercício  de  atividades  dessa  natureza  é  antes  o resultado da situação social que a possibilidade de maior participação.   

3.1 Níveis de desempenho no teste de alfabetismo funcional 

As  definições  de  analfabetismo,  portanto  de  analfabeto,  são  construções 

históricas,  ligadas  a  períodos  de  tempo  e  de  espaços  específicos,  permeadas  pelas 

concepções de quem as produz. 

O  Instituto  Brasileiro  de  Geografia  e  Estatística  (IBGE)  considera  alfabetizada  a 

pessoa capaz de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no idioma que conhece, e 

como analfabetas funcionais, todas as pessoas com menos de quatro séries de estudos 

concluídas.  

Segundo  a  recomendação  da  UNESCO  é  considerada  alfabetizada  funcional  a 

pessoa  capaz  de  utilizar  a  leitura  e  a  escrita  para  fazer  frente  às  demandas  de  seu 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

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contexto  social  e  de  usar  essas  habilidades  para  continuar  aprendendo  e  se 

desenvolvendo ao longo da vida. (FONSECA, 2004). 

 A avaliação desenvolvida pelo  INAF, e que fundamenta nossa análise, tem como 

pressuposto que saber  ler e escrever não é uma questão pontual de tudo ou nada, mas 

uma competência que pode ser desenvolvida em diversos níveis e nas diversas práticas 

sociais de  letramento,  entendido  como  nos usos mais  comuns da  escrita  no  ambiente 

doméstico, no trabalho, no lazer, na participação cidadã, na educação e na religião.  

 

Quadro 4: Níveis de desempenho no teste de alfabetismo funcional por faixa etária 

Faixa Etária 

Nível de alfabetismo  18 a 24  25 a 34  35 a 49  50 a 64  Total 

Analfabeto        3  2  5 

Baixo Desempenho     1  3  6  10 

Médio Desempenho     4  3  1  8 

Alto Desempenho  1  6  1     8 

Total  1  11  10  9  31     Fonte: dados da pesquisa 

  

Quanto  à  faixa  etária do  total  de  31  (trinta  e  um) mulheres:  11  (onze)  possuem 

idade de 25  (vinte e cinco) a 34  (trinta e quatro) anos e  10  (dez) estão na  faixa dos 35 

(trinta e cinco) a 49 (quarenta e nove) anos; 3 (três) entre 50 (cinquenta) e 64 (sessenta e 

quatro) anos e 9 (nove) entre 18 (dezoito) e 24 (vinte e quatro) anos. 

Analfabeto: De  um  total  de  5  (cinco)  sujeitos,  3  (três)  possuem  idade  entre  35 

(trinta e cinco) a 49 (quarenta e nove) anos, 1 (um) possui idade entre 50 (cinquenta) e 64 

(sessenta e quatro) anos, e outro com mais de 65 (sessenta e cinco) anos.  

Baixo desempenho: De um total de 10 (dez) sujeitos, a maioria possui idade de 50 

(cinquenta) a 64 (sessenta e quatro) anos, seguido de 3 (três) mulheres com idade de 35 

(trinta e cinco) a 49 (quarenta e novo) anos, e a minoria possui idade de 25 (vinte e cinco) 

a 34 (trinta e quatro) anos. 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

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Médio desempenho: De um total de 8 (oito) sujeitos, a maioria possui idade estão 

na faixa etária de 25 (vinte e cinco) a 34 (trinta e quatro) anos, seguido de 3 (três) sujeitos 

na faixa etária de 35 (trinta e cinco) a 49 (quarenta e nove) anos, e a minoria possui idade 

entre 50 (cinquenta) a 64 (sessenta e quatro) anos. 

Alto desempenho: De um total de 8 (oito) sujeitos, a maioria possui idade entre 25 

(vinte e cinco) e 34 (trinta e quatro) anos, seguidos das faixas etárias de 18 (dezoito) a 24 

(vinte e quatro) anos e 35 (trinta e cinco) a 49 (quarenta e nove) anos, cada uma destas 

com apenas 1 (um) sujeito.  

O  melhor  desempenho  no  teste  entre  as  mulheres  das  faixas  etárias  de  18 

(dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos e 25 (vinte e cinco) a 34 (trinta e quatro) anos está 

mais  relacionado  ao  maior  grau  de  escolaridade,  das  mesmas,  do  que  à  idade 

propriamente dita. 

 

                    Quadro 5: Níveis de desempenho no teste de alfabetismo funcional por escolaridade 

Escolaridade 

Nível de alfabetismo  Nenhuma  1ª a 4ª  5ª a 8ª  Médio  Total 

Analfabeto   2  3        5 

Baixo Desemp.     7  3     10 

Médio Desemp.     1  7     8 

Alto Desemp.        5  3  8 

Total  2  11  15  3  31 

        Fonte: dados da pesquisa 

 

A relação do grau de escolaridade com o nível de desempenho no teste revela que 

quanto mais alto o grau de instrução, maior é o desempenho no teste. 

Entre as 5 (cinco) analfabetas: duas não têm escolaridade e três cursaram de 1ª à 4ª 

série.  

No baixo desempenho: entre as 10 (dez) mulheres, sete cursaram de 1ª à 4ª série e 

três cursaram de 5ª a 8ª série. 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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Na categoria de médio desempenho: das 8 (oito) mulheres, apenas uma cursou de 

1ª à 4ª série e sete cursaram de 5ª a 8ª série. 

Já no alto desempenho: das 8  (oito) mulheres, cinco cursaram de 5ª a 8ª série e 

três cursaram o Ensino Médio.  

Importante  considerar  que  todas  as  mulheres  que  cursaram  o  Ensino  Médio, 

obtiveram o alto desempenho no teste. Porém, concordamos com Soares (2003, p. 99) 

quando  afirma  “entretanto,  é  necessário  analisar  o  avesso  dos  dados”  e 

problematizamos:  que  elementos  permitem  uma mulher  que  cursou,  apenas,  os  anos 

iniciais do Ensino Fundamental a obter um médio desempenho o  teste? E ainda, o que 

distingue as  15  (quinze) mulheres que  cursaram de 5ª a 8ª  série a obter  resultados  tão 

distintos:  3  (três)  baixo  desempenho,  7  (sete)  médio  desempenho  e  5  (cinco)  alto 

desempenho? 

Soares (2003) aponta algumas hipóteses em que é preciso considerar: 

○ a  possibilidade  da  ocorrência  de  um  retorno  ou  reversão  a  níveis  de  habilidades 

inferiores àqueles atingidos por via do processo de escolarização, em decorrência 

de pouco ou nenhum uso da leitura e da escrita fora da escola; 

○ que  um  período  longo  de  tempo  pode  estar  interposto  entre  a  época  em  que 

ocorreu  a  escolarização  e  o momento  da  avaliação  das  habilidades  de  leitura  e 

escrita; 

○ um possível distanciamento entre o  letramento escolar  ‐ as habilidades de  leitura e 

de  escrita  desenvolvidos  na  e  pela  escola  ‐  o  letramento  social‐  as  habilidades 

demandadas pelas práticas de letramento que circulam na sociedade. 

 

  Acrescentamos,  ainda,  a  premência  de  considerar  as  experiências  individuais 

cotidianas de  letramento, desde a participação social, ocupação profissional, hábitos de 

leitura como elementos que transgridam o determinismo do grau de escolaridade. 

 

 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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Quadro 6: Níveis de desempenho no teste de alfabetismo funcional por hábitos de leitura 

 

      Fonte: dados da pesquisa 

 

Apesar de situarem‐se no baixo desempenho, oito dos dez sujeitos disseram que 

gostam de ler, e apenas dois disseram que não gostam de ler. 

A maioria dos  sujeitos  (sete) que obtiveram médio desempenho gosta de  ler e 

apenas um não gosta de ler. 

Todos os sujeitos que obtiveram alto desempenho gostam de ler. 

 Fica evidente, que o hábito de leitura influencia nas habilidades de alfabetismo: do 

total de mulheres, 26 (vinte e seis) afirmam que não tem o costume de  ler ou consultar 

livros na biblioteca.  

Porém,  13  (treze)  retiram  livros de  vez  em quando,  12  (doze)  sempre  e 6  (seis) 

nunca.   

   

Quadro 7: Níveis de desempenho no teste de alfabetismo funcional por uso do computador 

                            Utiliza o PC 

Nível de alfabetismo  Sim  Não  Total 

Analfabeto  4  1  5 

Baixo Desempenho  7  3  10 

Médio Desempenho  8     8 

Alto Desempenho  8     8 

Total  27  4  31 

    Fonte: dados da pesquisa 

  

                    Gosta de ler 

Nível de alfabetismo  Sim  Não  Total 

Baixo Desemp.  8  2  10 

Médio Desemp.  7  1  8 

Alto Desemp.  8     8 

Total  23  3  26 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

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   Analisando  os  dados  da  perspectiva  do  uso do  computador,  observamos  que  a 

maioria utiliza, ou seja, 27 (vinte e sete) mulheres, e apenas 4 (quatro) mulheres afirmam 

não utilizar o mesmo. 

Analfabeto: 4 (quatro) sujeitos utilizam o computador e apenas 1 (um) sujeito não 

utiliza. 

Baixo desempenho: 7 (sete) sujeitos utilizam o computador e 3 (três) não utilizam. 

Médio desempenho: Neste nível todos os sujeitos utilizam o computador, ou em 

casa ou na escola. 

Alto desempenho: Quanto a utilização do computador todos os sujeitos disseram 

que utilizam. 

Para  a maioria,  assim  como  frequentar  a biblioteca para  retirar  livros, o  uso do 

computador  está  relacionado  ao  vínculo  e  a  inserção    no  Programa Mulheres Mil  na 

instituição de ensino.  

 

   

4 Considerações finais 

 Propomo‐nos,  inicialmente,  dar  visibilidade  aos  sujeitos  dos  programas  de 

inclusão social, em especial às mulheres das classes populares, fomentando o debate da 

premência  de  políticas  públicas  de  complementação  de  escolaridade  adequadas  às 

condições socioeconômicas e culturais das mesmas.  

Ao  nos  pautarmos  nessa  intencionalidade,  contribuímos  com  as  seguintes 

considerações a respeito do alfabetismo funcional de mulheres das classes populares: 

ler  e  escrever  não  são  uma  questão  pontual  de  tudo  ou  nada, mas  uma 

competência que pode ser desenvolvida em diversos níveis e nas diversas 

práticas sociais; 

o nível de estudo não  interfere nas possibilidades de ocupação de postos 

de  trabalho mais qualificados, nem na distinção da  renda. Já,  interfere no 

desempenho no teste de alfabetismo; 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

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a relação entre o grau de escolaridade e o nível de desempenho no teste, 

revela que quanto mais alto o grau de instrução, maior é o desempenho no 

teste; 

porém, as experiências  individuais cotidianas, desde a participação  social, 

ocupação profissional, hábitos de leitura são elementos que transgridam o 

determinismo do grau de escolaridade; 

para a maioria, frequentar a biblioteca, retirar livros, utilizar o computador 

está diretamente  ligado ao vínculo com o Programa Mulheres Mil no IFF – 

Câmpus Santo Augusto/RS. 

 

Nesse contexto das mulheres das classes populares, considerando os aspectos 

histórico e cultural, as políticas de  inclusão social pela via da educação são necessárias. 

Assim como implementá‐las é prudente acompanhar e avaliar considerando de fato quem 

são essas mulheres e quais relações estabelecem com a leitura e a escrita.  

Talvez para enfrentar as dificuldades de alfabetização dessas mulheres, as lições 

da prática,  é que  tivemos que  justamente nesse  trabalho  inicial dar um passo  atrás,  e 

retirar a culpa pelo fracasso escolar de cima dos ombros delas e de suas condições não 

ideais como aluna. Por acreditarmos, que a educação ao longo de toda a vida é mais que 

um direito, é desdobramento de uma cidadania ativa e uma condição para a participação 

na sociedade contemporânea. O reconhecimento ao direito de aprender durante toda a 

vida é mais que uma necessidade; é o direito do direito à educação. 

 

 

 

 

 

 

 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.20 

 

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5 Referências 

BRITTO, Luiz Percival Leme. Sociedade de cultura escrita, alfabetismo e participação. In: RIBEIRO, Vera Masagão. (Org.) Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF 2001. São Paulo: Global, 2003. p. 47 –63.  

FONSECA, Maria da Conceição F. R. (Coord.) 4º Indicador Nacional do Alfabetismo Funcional: um diagnóstico para a inclusão social pela educação  [Avaliação das habilidades matemáticas] Instituto Paulo Montenegro, Ação Educativa, São Paulo, 2004. Disponível em <http: www.acaoeducativa.org> Acesso em abril 2014.  FREI BETTO. Desafios da Educação Popular: as esferas sociais e os novos paradigmas da Educação Popular. CEPIS, 2000.  FREIRE, Paulo. Ação Cultural para a Liberdade e Outros Escritos. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.  ______; NOGUEIRA, Adriano. Que Fazer: teoria e prática em educação popular. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 1993.  GUIA METOLÓGICO Mulheres Mil <http://www.ifgoiano.edu.br/wp‐content/uploads/2012/12/08.01.13_Guia‐metodologico‐mulheres‐mil.pdf> Acesso em Março 2014.  

INAF Brasil 2011/2012. Indicador de Alfabetismo Funcional principais resultados. Ação Educativa e Instituto Paulo Montenegro. Disponível em <http://www.ipm.org.br/download/informe_resultados_inaf2011_versao%20final_12072012b.pdf> Acesso em março/ 2014.  MOLL, Jaqueline. Dos campos de ausência e dos espaços de silêncio: elementos para compreender o ensino fundamental de jovens e adultos no Brasil. Revista Espaço Pedagógico. Passo Fundo, v.6 n.2 p. 13‐25 dez/1999.   PALUDO, Conceição. Educação Popular em Busca de Alternativas: uma leitura desde o campo democrático popular. Porto Alegre: Tomo Editorial; Camp, 2001.  PEREIRA, José Matias. Manual de metodologia da pesquisa científica. São Paulo: Atlas, 2007.  

SOARES, Magda B. Letramento e Escolarização. In: RIBEIRO, Vera Masagão (Org.) Letramento no Brasil: reflexões a partir do INAF. São Paulo: Global, 2003. p. 89‐113.   

 

 

 

O alfabetismo funcional das alunas do Programa Mulheres Mil do IFF ‐ Câmpus Santo Augusto  Marileia Gollo de Moraes 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.21 

 

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