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XIV Encontro Nacional da ABET – 2015 – Campinas
GT 14 – Dinâmica demográfica e mercado de trabalho
Wage-labor nexus e ocupação sob impacto das mudanças demográficas e da
financeirização da economia: uma análise prospectiva do caso brasileiro
Miguel Bruno (ENCE-IBGE e FCE-UERJ)
Ricardo Caffe (UFBA)
2
WAGE-LABOR NEXUS E OCUPAÇÃO SOB IMPACTO DAS MUDANÇAS
DEMOGRÁFICAS E DA FINANCEIRIZAÇÃO
Resumo
A wage-labor nexus (WLN) é a componente mais subordinada na arquitetura institucional que
reproduz o atual regime de crescimento e acumulação de capital no Brasil. Como as economias
capitalistas se desenvolvem sobre a base de sociedades salariais, é apenas quando a WLN ocupa
uma posição hierarquicamente superior, validando os compromissos sociais em torno da
relação capital-trabalho assalariado, que os níveis de vida podem alcançar os mais elevados
padrões. Essa foi uma das principais lições do modo de desenvolvimento fordista, no pós-
segunda guerra. Mas sob os atuais regimes de crescimento econômico, tanto a WLN quanto os
Estados Nacionais, apresentam-se subordinados aos interesses imediatos da acumulação
rentista-patrimonial, convertendo o trabalho em variável dos ajustamentos macroeconômicos,
tal como descrito pelos estudos sobre a financeirização das economias atuais. O artigo propõe
uma análise preliminar das transformações contemporâneas da WLN brasileira sob os impactos
da financeirização da economia e das mudanças demográficas em curso. Fundamenta-se nos
pressupostos teóricos e metodológicos das macroanálises regulacionistas, focando os efeitos de
interação entre as dinâmicas macroeconômica e demográfica e procurando detectar suas
principais tendências sobre a ocupação. Entre os resultados, destaca-se a vigência de um
processo rápido de desestruturação da WLN brasileira, notadamente nas atividades industriais,
com aprofundamento do grau de flexibilidade quantitativa e salarial, além de perda de qualidade
dos postos de trabalho. Mantida essa configuração da WLN e as estruturas institucionais básicas
da financeirização da economia, o Brasil será incapaz de aproveitar os benefícios potenciais da
transição demográfica.
Palavras-chave: wage-labor nexus, formas institucionais, regime de acumulação,
financeirização, transição demográfica.
3
1. Introdução
A aplicação do conceito de wage-labor nexus ou rapport salarial, proposto pelas
macroanálises regulacionistas permite elucidar não apenas os fatores determinantes da
ocupação e suas categorias, objeto da Economia do Trabalho. A análise da WLN também é
capaz de mostrar que, a depender de sua configuração institucional, os determinantes da
formação do salário direto e indireto vão impactar decisivamente a dinâmica macroeconômica.
A sustentabilidade de um regime de crescimento econômico não depende apenas dos estímulos
de políticas públicas ou de política fiscal e monetária. Questão que se torna ainda mais
complexa quando as relações salariais estão sujeitas às pressões do mercado financeiro e aos
interesses da acumulação rentista-patrimonial. Num contexto de mudança na estrutura etária
trazida pela transição demográfica brasileira, novos desafios surgem para uma análise
consistente das transformações do mercado de trabalho brasileiro. Essas transformações não
têm consequência apenas para o universo das relações salariais e o “mundo do trabalho”; seus
impactos podem afetar negativamente a viabilidade macroeconômica do regime de acumulação
vigente no Brasil, bloqueando o processo de desenvolvimento socioeconômico brasileiro.
Esse artigo propõe uma análise preliminar dos efeitos de interação das dinâmicas
demográfica e macroeconômica, partindo do conceito regulacionista de wage-labor nexus. A
seção 2 descreve o marco teórico-metodológico. A seção 3 trata dos principais fatos estilizados
da evolução econômica recente, notadamente, da transição demográfica e da financeirização da
economia. Na seção 4, busca-se iniciar a análise dos efeitos de interação, sem pretender
abranger todas as suas implicações, pois se trata de início de pesquisa a ser prosseguido em
novos estudos. A seção 5 traz a análise diretamente para seu objeto principal, a configuração
atual da WLN brasileira. Destaca os fatores de determinação do salário direto, da participação
dos salários no produto total (wage share) e busca precisar seu grau de flexibilidade quantitativa
e salarial. O artigo é concluído com a seção 6 que busca sintetizar esquematicamente os
principais resultados.
2. Marco teórico-metodológico
As macroanálises regulacionistas1 caracterizam-se por seu enfoque institucionalista e
histórico das economias contemporâneas. Cinco grandes áreas da regulação macroeconômica,
denominadas de formas institucionais (FI), são definidas por seus efeitos determinantes sobre
os padrões de crescimento econômico e acumulação de capital: a wage-labor nexus (WLN) ou
1 Referem-se à Teoria francesa da Regulação.
4
rapport salarial, a forma de inserção internacional, o regime monetário-financeiro, as formas
da concorrência e as relações Estado-economia. Aplicada no plano global, a noção de regulação
busca expressar o conjunto de instituições e formas organizacionais capazes de proporcionar
coerência macroeconômica e coesão social ao conjunto da economia como condição necessária
de sua reprodução sistêmica.
Ao longo da história ou entre diferentes economias nacionais num mesmo período, as
FIs se combinam numa certa hierarquia e complementaridade, determinando as particularidades
do modo de regulação. O resultado macroeconômico observado em termos de performance do
crescimento, da geração de emprego e renda, dos perfis distributivos e da composição setorial
do produto configura o regime de acumulação ou de crescimento. O presente estudo foca a
WLN por sua importância para as economias capitalistas, estruturadas sobre a base de
sociedades salariais. Conforme Boyer (1986), a WLN explicita as configurações existentes entre
os diversos tipos de organização do processo de trabalho e os sistemas de remuneração vigentes.
Ao determinar o modo de vida assalariado, ela condiciona a evolução da demanda agregada e
o ritmo de crescimento econômico.
2.1 A WLN como sistema de relações salariais
A WLN pode ser definida como uma determinada configuração institucionalizada dos
vínculos entre capital e trabalho assalariado, em suas duas dimensões fundamentais: como
relação de distribuição primária da renda (a divisão salário-lucro) e como relação de
produção (as formas organizacionai do processo de trabalho). E desde que o trabalho
assalariado é a principal relação social de produção e apropriação nas economias capitalistas,
as formas de organização da produção e os sistemas de remuneração que lhes são associados
tornam-se cruciais para explicar a direção e a velocidade da mudança técnica, assim como o
grau de equidade na distribuição da renda (BOYER, 2002).
O conceito de rapport salarial possui estatuto teórico e aplicabilidade principalmente
macroeconômicos. Já a noção de relation salariale (relação salarial) corresponde à projeção da
primeira no plano mais imediato dos atores concernentes2. Portanto, a WLN é um conceito-
síntese, resultado macroeconômico da conjugação de sistemas de relações salariais que
operam a nível setorial ou da empresa individualmente considerada. Esta diferenciação
conceitual é relevante porque cada empresa ou setor possui seu próprio sistema de relações
2 A tradução corrente no Brasil do conceito de rapport salarial por “relação salarial” (relation salariale) justifica-
se porque não existe em língua portuguesa um vocábulo que possa diferenciar essas duas noções. Para se evitar
confusão, optou-se por manter a tradução inglesa wage-labor nexus (WLN) utilizada nos trabalhos regulacionistas.
5
salariais. Mas, este sistema resulta da combinação de regras sociais que derivam da wage-labor
nexus, na qual ele está inscrito, com regras que são específicas da empresa. O Quadro 1 permite
uma comparação entre os conceitos de relação capital-trabalho, wage-labor nexus e relação
salarial, precisando o estatuto teórico e aplicabilidade de cada um.
QUADRO 1 – RELAÇÃO CAPITAL-TRABALHO, WAGE-LABOR NEXUS E RELAÇÃO SALARIAL:
UMA COMPARAÇÃO ENTRE TRÊS NOÇÕES
CONCEITOS DEFINIÇÃO APLICAÇÃO E ESTATUTO
TEÓRICO
Relação capital-trabalho
Define-se pela vinculação
entre capital e trabalho
assalariado, como
pressuposto do processo
capitalista de acumulação
Não especifica,
necessariamente, os
elementos concretos dessa
vinculação
Pode ser aplicado no âmbito
da economia “pura” ou não
Nível de análise pode variar
(firma, setor,
macroeconômico)
Wage-Labor Nexus ou Rapport
Salarial
Define-se pela
complementaridade das
instituições que codificam os
vínculos entre capital e
trabalho assalariado
Forma particular e
institucionalizada da relação
capital-trabalho
Não se aplica no âmbito da
economia “pura”
Nível macroeconômico de
análise
Relation Salariale (relação
salarial)
Define-se na interseção entre
as regras que derivam da
WLN com as regras que são
próprias à empresa, ao ramo
ou ao setor de atividade
Não se aplica no âmbito da
economia “pura”
Nível microeconômico e
setorial
FONTE: Elaboração própria.
Operativamente, cinco componentes básicos podem ser selecionados para uma análise
da WLN: a) organização da produção e do processo de trabalho- incluem as características
das bases técnicas produtivas, os princípios de gestão e os fatores de geração de ganhos de
produtividade; b) qualificação do trabalho – é o principal fator de determinação do salário
direto e expressa o conjunto de habilidades práticas e de conhecimento teóricos exigidos pelo
posto de trabalho; c) modalidades de mobilização e de vínculos dos assalariados às
empresas – inclui as diferentes formas de contratação, subcontratação e de vínculos das
relações de emprego intra e inter-firmas e o mercado de trabalho; d) determinantes dos
salários direto e indireto – expressa as diferentes formas de remuneração direta e indireta
(previdência social e demais benefícios providos à força de trabalho ocupada), incluindo os
mecanismos de indexação dos salários aos ganhos de produtividade e ao custo de vida; e) o
6
modo de vida assalariado – padrões de consumo de bens e serviços públicos ou coletivos e
que respondem pelo estilo e condições de vida dos assalariados.
A análise dessas cinco dimensões conjugadas permite obter-se uma taxonomia da
WLN. Por exemplo, se concorrencial ou flexível ou não-concorrencial ou fortemente
condicionada por mecanismos institucionais que normatizam a relação capital-trabalho de
acordo com princípios do Direito do Trabalho ou como reflexo das reivindicações sindicais e
também das características básicas do regime de acumulação vigente.
2.2 As configurações polares da WLN em dois modelos teóricos
Em função da época histórica ou do espaço geográfico sob análise, a WLN pode
apresentar-se como variantes de duas configurações polares:
a) WLN concorrencial pode ser observada quando o consumo dos trabalhadores
assalariados ainda não se apresenta plenamente inserido na produção capitalista (forma
predominante no século XIX) ou quando a formação dos salários ocorre basicamente por
mecanismos de mercado (regiões ou países onde os trabalhadores e suas associações possuem
fraco poder de barganha e os salários refletem as tensões entre oferta e demanda por força de
trabalho). Num tal contexto, não há divisão ex ante dos ganhos de produtividade, mas
determinação concorrencial dos salários e o nível de contratualização ou de institucionalização
das relações de emprego tende a ser baixo;
b) WLN não-concorrencial pode ser identificada quando os mecanismos de formação
dos salários escapam, pelo menos parcialmente, às influências diretas do mercado de trabalho3.
Neste caso pode-se observar a vigência de um conjunto de regras, convenções e instituições
que respondem pela codificação dos vínculos entre capital e trabalho, estabelecendo, entre
outras implicações, alguma forma de divisão ex ante dos ganhos de produtividade e de
recomposição do poder aquisitivo diante de perdas inflacionárias.
Em termos gerais, o primeiro tipo de WLN caracteriza-se por grande flexibilidade
quantitativa e salarial, contrariamente ao segundo tipo. Todavia, a WLN não concorrencial
mostra-se mais apta a outros níveis ou dimensões de flexibilidade internas à empresa
(polivalência ou multifuncionalidade, remuneração flexível em função do faturamento, mas
3 Como em Keynes, a teoria da regulação não apreende o mercado de trabalho como um “mercado” de fato. Mas
o conceito é utilizado em razão de seu uso corrente na literatura econômica sem que isto signifique que se esteja
apreendendo as relações de emprego como relações puramente mercantis, onde as convenções, regras ou
instituições surgiriam muito mais como fatores de perturbação ou geradores de rigidez.
7
com estabilidade das relações de emprego, etc.)4. Entre esses dois casos teóricos polares, as
economias reais podem engendrar configurações intermédias em função do grau de
informalidade das relações de trabalho, das interdependências dos sistemas técnico-produtivos
com os sistemas de remuneração, dos padrões de presença e intervenção do Estado ou mesmo
de fatores quantitativos que dependem do contingente de força de trabalho disponível face às
necessidades da acumulação de capital5.
Um modelo simples para a formação dos salários, dado pela equação (1), pode
representar esses tipos básicos da wage-labor nexus, em função dos valores dos parâmetros
referentes à produtividade, a indexação ao custo de vida e às influências do nível de emprego:
RW= k.PR + .P +.N (1)
onde RW é o salário médio real; PR é a produtividade do trabalho; P é o nível geral de
preços e N é o nível de emprego. Todas as variáveis em taxas de variação.
Se k = 0; = 0 e > 0 tem-se uma formação predominantemente concorrencial dos
salários, caracterizando a vigência de uma WLN concorrencial. Neste caso, são as
tensões entre a oferta e a demanda de força de trabalho o principal fator de determinação
dos salários;
Se k > 0; > 0 e = 0 então se trata de uma WLN fundamentalmente não-concorrencial,
pois há indexação dos salários à evolução dos ganhos de produtividade e influência não
significativa das tensões do “mercado de trabalho”.
Mas mesmo que o parâmetro seja estatisticamente maior do que zero, caso em que há
algum grau de indexação dos salários à evolução do índice geral de preços, isto não é suficiente
para eliminar o caráter concorrencial da WLN. É este o caso da WLN na economia brasileira
durante o período de alta inflação, marcado pela generalização dos dispositivos institucionais
de indexação dos salários à evolução do índice geral de preços.
2.3 A dualidade da WLN brasileira
A Figura 1 procura representar esquematicamente os dois eixos básicos da WLN brasileira,
expressando seu caráter dual. A justificativa para incluir o segmento dos trabalhadores
4 Exemplos comuns na literatura regulacionista referem-se aos casos do Japão, Alemanha e Suécia. 5 Portanto, o padrão de mercado de trabalho neoclássico concorrencial seria apenas um caso teórico específico,
não constituindo um “modelo” universalizável, nem em suas supostas virtudes, nem por suas desvantagens
intrínsecas.
8
independentes no eixo informal da WLN decorre da existência de interdependências
macroeconômicas e estruturais entre esses segmentos.
FIGURA 1 – A WAGE-LABOR NEXUS BRASILEIRA E SEUS EIXOS
FONTE: Elaboração própria.
Por exemplo, as análises empíricas mostram que a redução dos empregos e dos salários
das grandes e médias empresas tem lançado uma grande massa de trabalhadores na produção
autônoma de bens e serviços. Em sua grande maioria, os trabalhadores por conta- própria estão
inseridos nas atividades econômicas mais precárias do país – com baixos níveis de
remuneração, qualificação, estabilidade e contribuição à previdência – além de trabalharem em
locais frequentemente sem infraestrutura adequada. Diferentemente dos trabalhadores
assalariados, em geral os trabalhadores independentes estão ocupados nas atividades menos
dinâmicas do país e que necessitam de extensas jornadas de trabalho para gerarem algum
excedente.
3. Fatos estilizados da evolução recente
As mudanças na estrutura etária da população estão entre as principais consequências da
transição demográfica. Esse processo tem elevado rapidamente o número de pessoas em idade
ativa que, atualmente, já atinge a cifra de 70% da população total brasileira. Num primeiro
momento, o maior percentual de pessoas na força de trabalho total disponível pode constituir-
se em um “bônus” ou “dividendo” demográfico, desde que a economia faça a sua parte, no que
concerne ao provimento de postos de trabalho em quantidade e qualidade suficientes para elevar
e sustentar a elevação dos níveis de vida. A queda nas razões de dependência de crianças e de
idosos pode então impulsionar o desenvolvimento socioeconômico se a economia garantir a
geração de renda e a ocupação em níveis compatíveis com a expansão da oferta de trabalho.
Entretanto, estudos recentes (BRUNO, 2011 e 2014) mostraram que a economia brasileira está
TRABALHADORES
ASSALARIADOS
COM CONTRATO
LEGAL
EIXO FORMAL EIXO INFORMAL
TRABALHADORES
ASSALARIADOS
SEM CONTRATO
LEGAL
TRABALHADORES
INDEPENDENTES
(CONTA-PRÓPRIA
OU AUTÔNOMO)
WLN BRASILEIRA
TRABALHADORES
SEM
REMUNERAÇÃO
9
sujeita a um processo particular de financeirização que não permite a aceleração do crescimento
em bases sustentáveis.
3.1 A transição demográfica
A transição demográfica está entre os mais importantes fenômenos estruturais que impactam a
economia e sociedade brasileiras atuais. As mudanças na estrutura etária da população têm
efeitos diretos e indiretos sobre o mercado de trabalho, além de outros impactos não menos
relevante sobre as estruturas de produção e de distribuição da renda e da riqueza.
GRÁFICO 1 – OFERTA POTENCIAL DE FORÇA DE TRABALHO E GERAÇÃO DE EMPREGO:
UMA PERSPECTIVA DE LONGO PRAZO (1950-2014)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE e Marquetti (2003).
O Gráfico 1 mostra a evolução da razão PIA/População total, que expressa a oferta
potencial de força de trabalho disponível à economia brasileira entre os anos 1950 e 2014.
Juntamente com esse indicador, foi plotada a razão nível geral de emprego (N/PIA), que
representa o volume de relações salariais gerados. No nível de emprego foram incluídos os
trabalhadores por conta própria, porque estes últimos guardam uma relação estrutura e
macrodinâmica com o universo das relações de emprego.
Entre 1950 e 1990, a geração de empregos no Brasil acompanhou de forma muito
próxima a expansão da oferta potencial de força de trabalho. Nesse sentido, a economia não
apresentava nenhum problema estrutural para absorver o crescente números de novos
ingressantes na PIA e, posteriormente, na PEA. A razão N/PIA permaneceu oscilando em torno
do crescimento tendencial da razão PIA/População e em muitos subperíodos, permaneceu
acima desta.
-6,0%
-4,0%
-2,0%
0,0%
2,0%
4,0%
6,0%
8,0%
10,0%
12,0%
40,0%
45,0%
50,0%
55,0%
60,0%
65,0%
70,0%
Diferença = PIA/POP - N/PIA
Oferta Potencial de Força de Trabalho: razão PIA/POP
Força de Trabalho Empregada (Empregados assalariados + conta própria): razão N/PIA
10
O fenômeno novo, e preocupante, acontecerá a partir dos anos 1990, quando essas duas
razões se desconectam, abruptamente, entre 1990 e 2001. Subperíodo em que as taxas de
desemprego aberto foram as mais altas do período de vigência do novo padrão de inserção
internacional do Brasil. Em seguida, a razão N/PIA entrará em uma trajetória de expansão,
paralela ao crescimento da PIA, mas sem jamais voltar a intersectá-la ou sequer oscilar próxima
a essa série. Entre 1997 e 2013, as diferenças entre os níveis das duas razões situam-se em torno
de uma média de10,3%, representadas pelas barras no Gráfico 1. O que isso significa? Como
explicar essas novas regularidades? Fatores oriundos da transição demográfica, mas também
das políticas públicas e das baixas taxas de crescimento econômico podem ser mobilizados na
tentativa de se encontrar uma explicação teórica e empiricamente satisfatória. Entre esses
fatores, destacam-se as políticas que concorrem para o prolongamento dos anos de estudo ou
de formação/qualificação do trabalho. Poder-se-ía citar as políticas redistributivas que se
articulam com as primeiras, no sentido em que permitem adiar a entrada precoce no mercado
de trabalho.
A queda da razão de dependência total (crianças e idosos) tem sido provocada pela
queda da razão de dependência de crianças, enquanto a de idosos segue crescendo. Entretanto,
próximo ao ano de 2020, a razão de dependência total começará a crescer, puxada pelo
envelhecimento da população. Se a economia brasileira não for capaz de reativar suas estruturas
de produção e de demanda, numa trajetória de crescimento econômico sustentado, perderá a
oportunidade demográfica trazida pela queda da razão de dependência e terá de criar novas
condições macrodinâmicas e estruturais para responder aos desafios da redução da oferta de
força de trabalho.
3.2 A financeirização da economia brasileira
A noção de financeirização busca expressar a existência de um ambiente
macroeconômico e estrutural onde a revalorização dos capitais ocorre, de forma predominante
e generalizada, por canais financeiros, reduzindo a alocação diretamente produtiva. A Figura 2
descreve três economias de acordo com os seus respectivos regimes de crescimento e de
acumulação de capital, além de exemplos de países. No eixo esquerdo, encontra-se a taxa de
acumulação de capital fixo produtivo (g), variável-chave para a expansão da ocupação e da
renda, que comanda a dinâmica do crescimento econômico. Este último está representado no
eixo direito (y), enquanto no eixo horizontal, está a taxa de lucro macroeconômico.
11
FIGURA 2 – CURVAS TEÓRICAS DA ACUMULAÇÃO DE CAPITAL EM ECONOMIAS
FINANCEIRIZADAS E NÃO-FINANCEIRIZADAS
Pode-se observar que economias que apresentam taxas elevadas de acumulação e de
crescimento econômico são aquelas cujos regimes de crescimento são não-financeirizados. Em
regimes de crescimento financeirizados, a taxa de acumulação é a mais baixa. No entanto, o
Brasil se encontra numa situação intermediária, em razão dos estímulos à demanda derivados
das políticas distributivas e da elevação da relação salário/câmbio ocorrida no período 2004-
2008. Pode-se então classificar o caso brasileiro como sendo o de uma economia
financeirizada com impulsão estatal, mesmo que no período recente, essa impulsão tenha
sido reduzida em função do ajuste fiscal que se implementa em 2015. Outro fato a ser destacado
é que a financeirização no Brasil está baseada no endividamento público interno, enquanto em
países desenvolvidos com baixas taxas de juros, está baseada no endividamento privado
(empresas e famílias).
O Gráfico 2 exibe a taxa de financeirização (estoque total de ativos financeiros não-
monetários/ativos fixos produtivos) juntamente com a taxa de acumulação de capital fixo
produtivo. É nítido o contraste entre os períodos 1971-1991 e 1992-2013. No primeiro, essas
variáveis estruturais mantiveram-se em níveis muito próximos uma da outra e em correlação
positiva. Mas, no segundo, a desconexão se afirma com a taxa de financeirização crescendo
exponencialmente, enquanto a taxa de acumulação mantém-se muito baixa para um país ainda
em desenvolvimento com graves problemas estruturais e sociais.
The accumulation
rate (g)
The macroeconomic
profit rate (r)
r1 r2 r3
G3 : Non-financialized growth regimes
G2 : Financialized growth regimes
under government stimulus programs
G1 : Financialized growth regimes
gmax1
gmax2
gmax3
The economic
growth rate (y)
ymax3
ymax 2
ymax1
16
gmax= maximum accumulation rate of productive fixed capital
ymax = maximum economic growth rate
• USA pre-crisis of 2008
• Euro zone post-crisis of
2008
• Japan
• United Kingdom
• Island
• Argentine
• Brazil
• USA post-crisis of 2008
• Euro zone pre-crisis of
2008
• Korea
• China
12
GRÁFICO 2 – TAXA MACROECONÔMICA DE FINANCEIRIZAÇÃO E TAXA DE ACUMULAÇÃO
DE CAPITAL (1971-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE, IPEA Data e BCB.
O afastamento entre as duas variáveis não é outra coisa senão expressão do grau de
financeirização da economia brasileira e do modo como as alocações financeiras tornaram-se
muito mais atrativas, comparativamente as alocações em atividades produtivas. Isso implica
consequências negativas sobre a ocupação e a geração de renda, já que os estudos sobre
financeirização são unânimes em constatar que esse processo reduz as taxas de crescimento
econômico, eleva a concentração de renda e de riqueza e exerce pressões multiplicas sobre a
WLN no sentido de flexibilizá-la ainda mais, tanto em termos quantitativos quanto salariais.
4. Impactos macrodinâmicos e estruturais: os efeitos de interação
Entre os principais efeitos de interação das dinâmicas demográfica e macroeconômica
pode ser destacado a geração de emprego fortemente dependente do setor serviços face ao
encolhimento das bases produtivas industriais. Estudos recentes mostraram que a
desindustrialização brasileira é precoce, pois a especialização e a subsequente expansão dos
serviços ocorreu a um nível de renda per capita de cerca de US$ 4.000 constantes 1990, menor
do que o de todos os países pesquisado (ARAÚJO et al. 2012; CARVALHO, L. & KUPFER,
2011). Nos países desenvolvidos, o processo iniciou-se em patamares de renda per capital
situados entre US$ 8.000 a US$ 16.000. O Gráfico 3 mostra a evolução das participações dos
setores de atividade econômica no PIB brasileiro. Com a queda rápida da participação da
indústria no valor adicionado total, as atividades de serviços se expandiram concomitantemente.
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%
35,0%
40,0%
19
71
19
72
19
73
19
74
19
75
19
76
19
77
19
78
19
79
19
80
19
81
19
82
19
83
19
84
19
85
19
86
19
87
19
88
19
89
19
90
19
91
19
92
19
93
19
94
19
95
19
96
19
97
19
98
19
99
20
00
20
01
20
02
20
03
20
04
20
05
20
06
20
07
20
08
20
09
20
10
20
11
20
12
20
13
Taxa de Financeirização = Ativos Financeiros/Ativos Fixos Produtivos
Taxa de Acumulação de Capital Fixo Produtivo = crescimento do estoque de ativos fixos produtivos
13
GRÁFICO 3 – COMPOSIÇÃO SETORIAL DO VALOR ADICIONADO TOTAL (1970-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
O Gráfico 4 é um diagrama de dispersão com ajustes lineares para os subperíodos 1950-
1980 e 1981-2013, relacionando o estoque de capital fixo produtivo, ponderado por suas
respectivas taxas de utilização, com o nível geral de emprego. O primeiro subperíodo foi o de
forte crescimento econômico brasileiro, com uma taxa média de 7,5% a.a e corresponde à fase
de expansão industrial.
GRÁFICO 4 – A OCUPAÇÃO TORNOU-SE MAIS ELÁSTICA AO ESTOQUE DE CAPITAL FIXO
PRODUTIVO: DIAGRAMA DE DISPERSÃO E AJUSTE LINEAR (1950-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE, IPEA Data e Marquetti (2003).
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
VA-serviços (eixo esquerdo) VA-agropecuária
VA-indústria extrativa mineral VA-indústria de transformação (eixo esquerdo)
VA-indústria da construção VA - outras atividades
Scatterplot: relação u.Kprod e emprego (1950-2013)
12,0 12,5 13,0 13,5 14,0 14,5 15,0 15,5 16,0 16,5
Estoque de capital fixo produtivo em uso (u.Kprod)
16,6
16,8
17,0
17,2
17,4
17,6
17,8
18,0
18,2
18,4
Nív
el g
era
l d
e e
mp
reg
o (
N)
1950
1980
2013
Elasticidade-capital fixo da ocupação
Período 1981-2013 = 0,8322
Elasticidade-capital fixo da ocupação
Período 1950-1980 = 0,3381
14
A elasticidade-capital fixo do emprego de longo prazo apresentou o valor de 0,3381,
revelando-se bem inferior à observada no subperíodo 1981-2013, cujo valor atinge 0,8322. O
aumento dessa elasticidade nesse segundo subperíodo pode ser explicado pela forte expansão
das atividades de serviços que tendem a ser mais intensivas em trabalho, comparativamente às
unidades produtivas industriais. Essa elasticidade mais alta expressa a maior facilidade de
geração de postos de trabalho numa economia onde o setor serviço se expandiu rápida e
precocemente a partir da conjuntura de crise da década de 1980.
4.1 Desindustrialização precoce e “inchaço” do setor serviços
A forte e precoce expansão das atividades terciárias a partir da “década perdida” foi
classificada por CARDOSO (1998) como um processo de “inchaço” do setor serviços já que
não decorria de crescimento normal, esperado como um processo normal quando a economia
começa a entrar no rol dos países desenvolvidos.
GRÁFICO 5 – PRODUTIVIDADE (VALOR ADICIONADO / EMPREGADO) E SALÁRIO MÉDIO
REAL NA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO (2002-2015)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
Mas outro fenômeno macroeconômico a ser destacado refere-se ao comportamento do
salário médio real (RW) e da produtividade do trabalho (PR). Até 2011, o Gráfico 5 mostra um
crescimento paralelo de RW com os ganhos de produtividade (PR). Entretanto, a partir de
meados de 2013, observa-se desconexão entre essas variáveis fundamentais. Apesar da inflexão
na expansão dos salários, a produtividade declina mais rapidamente, o que levará à queda da
taxa média de lucro empresarial, que se pode observar pelo Gráfico 6. Para se compreender
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Produtivdade (VA/pessoal ocupado) Salário médio real
15
porque, basta considerar que a taxa média de lucro (r ) pode ser formulada pela seguinte
expressão:
𝑟 = 𝑃𝑅𝑘 . [1 −𝑅𝑊
𝑃𝑅𝑛], onde PRk, RW e PRn são, respectivamente, a produtividade do
capital, o salário médio real e a produtividade do trabalho.
O crescimento de RW sem o crescimento seja da produtividade do capital e/ou do
trabalho resulta na queda da taxa de lucro (r ). Essa queda da rentabilidade média do capital
fixo produtivo responde pela desaceleração econômica no segundo mandato Dilma e pelas
demais tendência adversas que se observaria desde então, já que no mesmo Gráfico 6, pode-se
constar o declínio da taxa de acumulação de capital fixo produtivo em paralelo com a taxa de
lucro. Uma dessas tendências adversas é precisamente a intensificação das pressões sobre o
trabalho, no sentido da redução dos custos salariais, incluindo a retórica de que a economia
brasileira já estaria em seu nível de pleno emprego, o que explicaria o aumento da inflação.
GRÁFICO 6 – TAXA DE LUCRO EMPRESARIAL E TAXA DE ACUMULAÇÃO: CORRELAÇÃO
POSITIVA COMO BASE DO CRESCIMENTO ECONÔMICO (1991-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
4.2 Baixas taxas de investimento e de crescimento econômico
A baixa taxa de investimento é outra maneira de se expressar o fato de que a taxa de
acumulação de capital é muito reduzida para um país ainda em desenvolvimento. O processo
de financeirização pela renda de juros que caracteriza o Brasil, eleva sobremaneira os custos
das alocações diretamente produtivas dos capitais, de tal modo que a elevação da taxa de
financeirização é acompanhada pelo declínio da taxa de acumulação (Gráfico 7). A exceção
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lore
s: 1
99
1 T
2 =
10
0
Taxa de lucro empresarial Taxa de acumulação de capital fixo produtivo
16
deu-se no subperíodo 2004-2009, quando lucro e acumulação crescem juntos. A explicação
desse fato estilizado conduz a análise a considerar as ações de política pública e de promoção
do investimento no plano interno, e o “boom” de commodities no plano internacional. Ambos
os fatores concorreram para elevar a taxa média de lucro e esta, em consequência, elevou a taxa
de acumulação. A ocupação responde prontamente já que as estruturas produtivas estão
fortemente carregadas por atividades de serviços. Como mostrado mais acima, dada a elevada
elasticidade-capital fixo do emprego nesse subperíodo, com predominância do terciário, não
são necessárias taxas muito elevadas de crescimento econômico para absorver a oferta de força
de trabalho. A economia brasileira reduz rapidamente suas taxas de desemprego, apesar do
crescimento dos salários reais e da permanência de baixas taxa de expansão do produto.
GRÁFICO 7 – A FINANCEIRIZAÇÃO REDUZ A TAXA DE INVESTIMENTO PRODUTIVO (1971-
2009)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
Essas evidências empíricas mostram que o Brasil é um caso particular de regime de
crescimento financeirizado com impulsão estatal, cuja representação teórica encontra-se na
Figura 1, na seção 3.2. O Gráfico 8 mostra a composição do emprego e confirma o predomínio
do terciário na WLN brasileira atual. Pesquisas futuras podem investigar as consequências
macrodinâmicas de uma economia em que as relações salariais se concentram nas atividades
de serviços, enquanto a ocupação industrial declina ou tende a estagnar-se precocemente.
INV/Y = 0,2532-0,6405*x
F2/Y:INV/Y: r = -0,7886; p = 0.0000; r2 = 0,6219
1950
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19521953
19541955
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-2% 0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16% 18%
Taxa de financeirização (def1) = renda financeira/PIB
12%
14%
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22%
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28%
30%
Ta
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de
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FB
CF
/PIB
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2013
17
GRÁFICO 8 – AS RELAÇÕES DE EMPREGO SÃO FORTEMENTE DEPENDENTES DO SETOR
SERVIÇO (2002-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
4.3 Condições macrodinâmicas para aproveitamento da “janela de oportunidade
demográfica”
As condições macrodinâmicas necessárias para o aproveitamento dos efeitos
potencialmente positivos da transição demográfica podem ser avaliadas partindo-se dos dados
do Quadro 2. O crescimento tendencial da oferta potencial de força de trabalho, expresso pela
razão PIA/População precisa ser acompanhado pelo crescimento da ocupação. Caso contrário,
o resultado será o desemprego estrutural e perda dos benefícios trazidos pela queda das razões
de dependência de crianças de idosos.
Os dados constantes dessa tabela foram produzidor a partir de uma decomposição
algebricamente simples do PIB per capita, como segue:
𝑃𝐼𝐵𝑝𝑐 =𝑃𝐼𝐵
𝑃𝑂𝑃=
𝑃𝐼𝐴
𝑃𝑂𝑃
𝑁
𝑃𝐼𝐴
𝑌
𝐾
𝐾
𝑁
Em que PIBpc é o PIB per capita; PIA é a população em idade ativa; N é o nível geral de
emprego; Y é o PIB e K é o estoque total de capital fixo produtivo disponível na economia
brasileira. Esta última variável corresponde ao volume de máquinas, equipamentos, instalações
e infraestruturas. A geração de emprego, ou mais amplamente, a ocupação é fortemente
dependente da variável K, já que os postos de trabalho são gerados por K e suas características
tecnológicas vão determinar os requisitos de qualificação e de formação da força de trabalho
necessária para a ativação das bases técnicas produtivas. Aplicando-se logaritmos naturais,
chega-se a uma formulação em taxas de crescimento cujos dados constam do Quadro 2:
2,37 2,38 2,44 2,50 2,43 2,45 2,45 2,49 2,29 2,07 2,12 2,05
15,19 15,21 15,23 15,16 14,96 14,58 14,59 14,09 14,29 14,37 13,94 13,87
7,64 7,55 7,32 7,25 7,19 7,22 7,28 7,37 7,53 7,66 7,85 7,67
74,20 74,04 74,31 74,45 74,79 75,11 75,12 75,52 75,34 75,36 75,58 75,90
0,59 0,82 0,70 0,65 0,63 0,63 0,55 0,53 0,55 0,53 0,51 0,51
0%
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Indústria de Transformação Ind extrativa + prod e distrib eletric, gás e água
Construção Serviços
Outras atividades
18
𝑃𝐼𝐵𝑝𝑐 = (𝑃𝐼𝐴
𝑃𝑂𝑃)
+ (
��
𝑃𝐼𝐴) + (
��
𝐾) + (
��
𝑁)
QUADRO 2 – CONDIÇÕES MACRODINÂMICAS DE APROVEITAMENTO DA JANELA DE
OPORTUNIDADE DEMOGRÁFICA POR REGIME DE CRESCIMENTO ECONÔMICO (1951-2012)
No subperíodo 2004-2012, a economia brasileira ensaiou uma trajetória que, se mantida,
poderia realizar o primeiro dividendo demográfico. Mas, a realização do segundo dividendo
continuava comprometida, já que o aumento da intensidade do capital permanecia muito baixo,
reflexo de suas baixas taxas de investimento produtivo.
5. Uma WLN concorrencial, flexível e em processo de desestruturação
A WLN é considerada central na definição das relações entre salário e emprego, na
medida em que cada princípio de divisão do trabalho induz um certo tipo de mudança técnica
e então de evolução da produtividade (Boyer, 1998, p.21). Essa forma institucional fundamental
surge, simultaneamente, como uma relação de produção e de distribuição, cuja
institucionalidade encontra-se fortemente dependente de fatores sócio-técnicos e
organizacionais (bases técnicas produtivas e práticas de gestão) e da dinâmica
macroeconômica. É também condicionada pelas oscilações de curto e médio prazos do mercado
de trabalho e pelos embates recorrentes entre capital e trabalho assalariado quanto à partilha do
excedente econômico.
5.1 Determinantes da wage share (parcela salarial): fatores reais de impacto
A wage share pode ser decomposta em suas variáveis determinantes tanto em termos reais, ou
a preços constantes de um ano-base, quanto em termos nominais ou em valores correntes.
Considerando-se a seguinte simbologia para a variáveis em questão:
PIB real = Y; massa salarial real = W; ws = Wage Share = 𝑊
𝑌; N = nível geral de emprego;
RW = real wage ou salário médio real. Como 𝑊 = 𝑅𝑊 . 𝑁, também podemos expressar a ws
em função do nível geral de emprego (N) e do salário médio real.
Oferta potencial
de força de
trabalho
Geração efetiva de
emprego por parte da
economia
Produtividade
do trabalho
Produtividade
do capital
Intensidade
do capital
profit-led growth (1951-1962) 4,3% -0,3% 0,4% 4,2% -2,5% 7,0%
profit-led growth com elevada concentração de renda (1966-1980) 5,8% 0,3% 0,5% 4,9% -0,8% 5,8%
regime de crise ou de contração (1984-1993) 1,1% 0,5% 0,0% 0,6% -0,5% 1,1%
finance-blocked growth ( 1995-2003) 0,7% 0,6% -0,9% 0,9% 0,7% 0,2%
finance-led growth via impulsão estatal ( 2004-2012) 2,9% 0,6% 0,8% 1,4% 1,0% 0,3%
2º dividendo demográfico1º dividendo demográfico
PIB per capitaTipos de regimes de crescimento e de acumulação de capital com
seus períodos de vigência
19
𝑤𝑠 = 𝑊
𝑌= 𝑅𝑊 .
𝑁
𝑌
Aplicando logaritmos neperianos aos dois lados da equação, obtém-se os terminantes da taxa
de crescimento da wage share (ws):
𝑤𝑠° = 𝑅𝑊° + 𝑁° − 𝑌°
Na equação acima, Y° indica a taxa de crescimento econômico. Os resultados dessa
decomposição da wage share encontram-se na Tabela 1, em que se pode constatar que a
recuperação desta deve-se ao aumento do salário médio real acima dos ganhos de produtividade.
TABELA 1 – DETERMINANTES DA WAGE SHARE: FATORES REAIS DE IMPACTO (1995-2013)
5.2 Determinantes da wage share: fatores nominais de impacto
Pode-se analisar a evolução da parcela salarial no produto total da economia,
considerando-se seus determinantes em termos nominais. Desse modo,
𝑤𝑠 =𝑤 . 𝑁
𝑌𝑛
Onde, w = salário médio nominal. Sabendo-se que 𝑅𝑊 = 𝑤
𝑝𝑤, em que pw é o IPCA utilizado
como deflator dos salários, também podemos escrever a expressão anterior da ws como:
𝑊𝑠 =
𝑤𝑝𝑤 . 𝑁
𝑌𝑛𝑝𝑦
py é o deflator implícito do PIB. Aplicando logaritmos neperianos aos dois lados da equação,
chega-se a seguinte expressão
𝑊𝑠° = 𝑤° − 𝑝𝑤° + 𝑁° − (𝑌𝑛° − 𝑝𝑦°)
Ano Ws=W/Y dW drw dPRn (rw - prn)
1995 36,38
1996 37,69 3,59 7,43 3,71 3,72
1997 37,27 -1,09 0,60 1,71 -1,11
1998 38,02 2,00 1,34 -0,65 1,99
1999 36,90 -2,95 -7,11 -4,28 -2,83
2000 36,92 0,05 2,12 2,07 0,05
2001 36,74 -0,47 -1,28 -0,81 -0,47
2002 35,69 -2,86 -3,74 -0,90 -2,84
2003 36,55 2,42 1,94 -0,48 2,41
2004 35,70 -2,34 -0,31 2,08 -2,39
2005 36,68 2,74 4,10 1,32 2,78
2006 38,15 4,01 5,54 1,47 4,07
2007 38,87 1,89 6,26 4,29 1,97
2008 39,81 2,41 4,43 1,98 2,45
2009 41,53 4,34 2,94 -1,34 4,28
2010 41,81 0,66 7,42 6,71 0,71
2011 42,68 2,09 4,12 1,99 2,13
2012 45,28 6,07 5,00 -1,01 6,01
2013 45,14 -0,29 1,28 1,58 -0,30
20
Mas, nessa expressão (Yn° - py°) é o mesmo que Y° (taxa de variação real do PIB). Finalmente,
chagamos a uma formulação que explicita como o salário nominal, a inflação, o nível de
emprego e o crescimento econômico impactam a evolução da parcela salarial no produto. Os
resultados dessa decomposição da wage share em sua evolução nominal ou a preços correntes
encontram-se na Tabela 2. O crescimento do salários nominais acima da inflação, juntamente
com a expansão da ocupação, responde pelo crescimento da wage share, notadamente a partir
de 2005.
𝑊𝑠° = 𝑤° − 𝑝𝑤° + 𝑁° − 𝑌°
TABELA 2 – DETERMINANTES DA WAGE SHARE: FATORES NOMINAIS DE IMPACTO (1995-
2013)
Os resultados expressos pelas duas tabelas são complementados pelo Gráfico 9.
Destaque-se que como a wage share é matematicamente idêntica a razão entre salário médio
real e produtividade do trabalho, não é possível aumentar a participação dos salários no PIB –
tão necessário ao desenvolvimento socioeconômico brasileiro - se estes não crescerem acima
dos ganhos de produtividade. Isso significa que o problema que se afirma no período recente
da economia brasileira não deve ser imputado ao aumento real dos salários, mas sim aos baixos
ganhos de produtividade.
Outra característica da WLN brasileira é revelada pelos próximos diagramas de
dispersão com as respectivas estimações das elasticidades envolvidas. No Gráfico 10, pode ser
constada a forte dependência da geração de emprego em relação ao nível de atividade. Para
Ano Ws=W/Y dWs dwnom dPw dN dY
1995 36,38
1996 37,69 3,59 17,71 9,56 -1,50 2,15
1997 37,27 -1,09 5,85 5,22 1,64 3,38
1998 38,02 2,00 3,01 1,65 0,69 0,04
1999 36,90 -2,95 1,20 8,94 4,73 0,25
2000 36,92 0,05 8,22 5,97 2,19 4,31
2001 36,74 -0,47 6,30 7,67 2,14 1,31
2002 35,69 -2,86 8,32 12,53 3,59 2,66
2003 36,55 2,42 11,42 9,30 1,63 1,15
2004 35,70 -2,34 7,27 7,60 3,56 5,71
2005 36,68 2,74 10,02 5,69 1,82 3,16
2006 38,15 4,01 8,86 3,14 2,45 3,96
2007 38,87 1,89 11,00 4,46 1,73 6,09
2008 39,81 2,41 10,59 5,90 3,13 5,17
2009 41,53 4,34 7,38 4,31 1,02 -0,33
2010 41,81 0,66 13,77 5,91 0,77 7,53
2011 42,68 2,09 10,89 6,50 0,73 2,73
2012 45,28 6,07 11,13 5,84 1,66 0,63
2013 45,14 -0,29 7,26 5,91 0,69 2,28
21
cada 1% de crescimento econômico, o emprego expande, em média, 0,62%. A formalização
das relações salariais é também muito sensível ao PIB, como se pode observar no Gráfico 11,
em que os empregados com carteira crescem com o maior nível de atividade enquanto declina
o contingente dos sem carteira.
GRÁFICO 9 – SALÁRIO MÉDIO REAL, PRODUTIVIDADE E WAGE SHARE – TOTAL DA
ECONOMIA BRASILEIRA (1995-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
GRÁFICO 10 - O NÍVEL GERAL DE OCUPAÇÃO É MUITO DEPENDENTE DO CRESCIMENTO
ECONÔMICO (2002-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
36,4%
37,7%37,3%
38,0%
36,9% 36,9% 36,7%
35,7%
36,6%
35,7%
36,7%
38,2%
38,9%
39,8%
41,5%41,8%
42,7%
45,3% 45,1%
30,0%
32,0%
34,0%
36,0%
38,0%
40,0%
42,0%
44,0%
46,0%
48,0%
80
90
100
110
120
130
140
150
160
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013W
age
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Pro
du
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dad
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sal
ário
mé
dio
re
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nd
ice
do
s va
lore
s: 1
99
5 =
10
0
Wage share Salário médio real Produtividade do trabalho
PIB e nív el de ocupação no Brasil: dispersão e ajuste linear (2002-2013)
Nível de ocupação = 1,38938335 + 0,618700907*PIB
r² = 0,8992; r = 0,9482, p = 00,0000;
2002 T2
2002 T3
2002 T42003 T1
2003 T2
2003 T3
2003 T4
2004 T1
2004 T2
2004 T3
2004 T4
2005 T1
2005 T2
2005 T3
2005 T4
2006 T1
2006 T2
2006 T32006 T4
2007 T1
2007 T2
2007 T3
2007 T4
2008 T1
2008 T2
2008 T3
2008 T4
2009 T1
2009 T2
2009 T3
2009 T4 2010 T1
2010 T2
2010 T3
2010 T42011 T1
2011 T2
2011 T3
2011 T4
2012 T1
2012 T2
2012 T3
2012 T4 2013 T1
2013 T2
13,55 13,60 13,65 13,70 13,75 13,80 13,85 13,90 13,95
Ln (PIB)
9,74
9,76
9,78
9,80
9,82
9,84
9,86
9,88
9,90
9,92
9,94
9,96
9,98
10,00
Ln
(N
íve
l de
ocu
pa
ção
)
22
No Gráfico 12, pode-se observar o que acontece com os rendimentos médios reais
dessas dos segmentos que compõem a WLN brasileira. Os segmentos sem carteira e conta
própria mostram-se muito sensíveis à dinâmica econômica. Como esperado, a maior rigidez é
observada no segmento com carteira assinada, já que, nesse caso, os salários são fixados
contratualmente e não se alteram significativamente com o crescimento econômico
(elasticidade PIB = 0,39).
GRÁFICO 11 - FORMALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SALARIAIS AUMENTA COM O
CRESCIMENTO ECONÔMICO (2002-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
GRÁFICO 12 – SENSIBILIDADE DOS RENDIMENTOS MÉDIOS REAIS AO CRESCIMENTO
ECONÔMICO (2002-2013)
FONTE: Elaboração própria com base nos dados do IBGE.
PIB e nív el de ocupação por categoria no Brasil: dispersão múltipla e ajuste linear (2002
-2013)
Com carteira assinada
Sem carteira assinada
Conta própria
Empregados com carteira assinada = -6,8901 + 1,1655*PIB
Empregados sem carteira assinada = 12,222 - 0,2841*PIB
Trabalhadores por conta própria = 3,7961 + 0,324*PIB
13,55 13,60 13,65 13,70 13,75 13,80 13,85 13,90 13,95 14,00 14,05
Ln (PIB)
8,0
8,2
8,4
8,6
8,8
9,0
9,2
9,4
9,6
Ln
( N
íve
l d
e o
cu
pa
çã
o p
or
ca
teg
oria
s)
2002
2011
20092005
2013
PIB e rendimento médio real por categoria da ocupação no Brasil: dispersão múltipla e ajuste
linear (2002-2013)
rendimento médio real dos empregados com carteira assinada
rendimento médio real dos empregados sem carteira assinada
rendimento médio real dos trabalhadores por conta própria
carteira assinada = 3,0815+0,3915*PIB
sem carteira assinada = -6,7162+1,071*PIB
conta própria = -3,4837+0,8516*PIB
13,55 13,60 13,65 13,70 13,75 13,80 13,85 13,90 13,95 14,00 14,05
Ln (PIB)
7,80
7,90
8,00
8,10
8,20
8,30
8,40
8,50
8,60
8,70
8,80
Ln
(re
nd
ime
nto
mé
dio
re
al p
or
cate
go
ria
da
ocu
pa
ção
)
200220022002
2009
2011
2013
23
Uma estimação econométrica da relação teórica para os dois casos polares, equação 2
da seção 2, para o período 2002-2015, revela que a WLN brasileira é predominantemente
concorrencial ou flexível. Os coeficientes relativos à indexação aos ganhos de produtividade
(PR) e à evolução do custo de vida (P) não foram estatisticamente significativos. Apenas o
coeficiente relativo ao nível geral de emprego (N), com um valor de 0,92, mostrou-se
estatisticamente significativo. Trata-se de elevada sensibilidade dos salários reais às oscilações
do mercado de trabalho, corroborando a existência de uma formação concorrencial dos salários.
Os testes econométricos encontram-se no anexo.
QUADRO 3 – UMA DETERMINAÇÃO PREDOMINANTEMENTE CONCORRENCIAL DOS
SALÁRIOS REAIS
Salário médio real (RW) Produtividade do trabalho (PR)
Inflação (P) Nível geral de emprego (N)
Coeficiente estimado n.s. n.s. 0,918854 Nota: n.s. = não estatisticamente significativo.
6. Considerações finais
Para fins de síntese do que foi exposto, a Figura 3 procura representar a WLN brasileira
sob três forças principais de transformação. Esses condicionamentos vão afetar tanto a
formação dos salários diretos quanto dos salários indiretos (previdência, assistência social,
saúde e educação providos pelo setor público), através de mudanças institucionais no sentido
de aprofundar ainda mais seu grau de flexibilidade quantitativa e salarial.
FIGURA 3 – TRÊS FORÇAS IMPULSIONAM AS TRANSFORMAÇÕES CONTEMPORÂNEAS DA
WAGE-LABOR NEXUS BRASILEIRA
Transição demográfica
Financeirização da economia
Intensificação da concorrência internacional
Wage-Labor Nexus como sistema de
relações salariais
Mudanças na estrutura etária da população1. Elevação da PIA2. Envelhecimento
• Desindustrialização• Expansão precoce do setor serviços• Crescimento lento e instável• Perda de autonomia do Estado
• Pressão por maior flexibilização das relações de emprego
• Contenção salarial• Desemprego estrutural
• Redução rápida do emprego industrial e “inchaço” do setor serviços• Estagnação do salário real• Baixa qualidade dos postos de trabalho• Queda dos ganhos de produtividade• Redução do salário indireto e demais benefícios sociais
24
Conforme destaca Boyer (2004), a viabilidade de regimes de crescimento subordinados
à revalorização financeira depende de forma crucial da configuração da WLN. Para que tais
regimes possam proporcionar trajetórias relativamente estáveis de crescimento do produto e da
renda, a WLN não pode ser concorrencial ou flexível. Muita concorrência no mercado de
trabalho destrói a coerência macroeconômica do regime de acumulação, porque a volatilidade
da demanda agregada resultante, torna os rendimentos do trabalho extremamente voláteis e
mais sensíveis aos ciclos inerentes a esse tipo de regime. Por isso, um dos subprodutos dos
regimes subordinados às finanças e à acumulação rentista-patrimonial é o aumento do grau de
vulnerabilidade financeira das famílias. Nesse regime, a rápida redução do emprego industrial
eleva o grau de precarização das relações salariais e expande precocemente as atividades de
serviço, o que não permite a economia gerar ganhos de produtividade necessários para uma
melhora sustentada das condições de vida da população e, mais especificamente, para a
população sujeita às relações de emprego subjacentes.
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ANEXO
-.02
-.01
.00
.01
.02
-.08
-.04
.00
.04
.08
02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15
Residual Actual Fitted
0
4
8
12
16
20
-0.015 -0.010 -0.005 0.000 0.005 0.010 0.015
Series: ResidualsSample 2002M02 2015M04Observations 159
Mean 5.72e-05Median 0.000640Maximum 0.016620Minimum -0.015526Std. Dev. 0.005315Skewness -0.285577Kurtosis 3.571526
Jarque-Bera 4.325191Probability 0.115026
Dependent Variable: D(RW)
Method: Least Squares
Date: 08/13/15 Time: 23:09
Sample (adjusted): 2002M02 2015M04
Included observations: 159 after adjustments
Variable Coefficient Std. Error t-Statistic Prob.
D(PR) -0.018529 0.028398 -0.652486 0.5151
D(P) -0.051808 0.073409 -0.705748 0.4814
D(N) 0.918854 0.026620 34.51739 0.0000
D1 0.019925 0.006319 3.153295 0.0019
D2 0.003601 0.001208 2.981156 0.0033
R-squared 0.886995 Mean dependent var 0.001894
Adjusted R-squared 0.884059 S.D. dependent var 0.015811
S.E. of regression 0.005384 Akaike info criterion -7.579939
Sum squared resid 0.004464 Schwarz criterion -7.483432
Log likelihood 607.6051 Hannan-Quinn criter. -7.540748
Durbin-Watson stat 2.229166