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Chaveiro de sucesso garante. o ladrao e sempre mais rapido que eu

Zaga Chaveiro

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Já reparou que a chave reserva, seja do carro ou da casa, aquela chave que substitui a maldita chave que você esqueceu ou perdeu, está sempre dentro do próprio carro ou da própria casa? É a Lei de Murphy, amigo: “se alguma coisa pior ainda pode acontecer, ela vai acontecer...” Ainda bem que nesses casos de chaves perdidas sempre tem o Zaga.

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Chaveiro de sucesso

garante. o ladrao e

sempre mais rapido que eu

Chaveiro de sucesso

garante. o ladrao e

sempre mais rapido que eu

Já reparou que a chave reserva, seja do carro ou da casa, aquela chave que substitui a maldita chave que você esqueceu ou perdeu, está sempre dentro do próprio carro ou da própria

casa? É a Lei de Murphy, amigo: “se alguma coisa pior ainda pode acontecer, ela vai acontecer...”

Ainda bem que nesses casos de chaves perdidas sempre tem o Zaga. Conhece o Zaga? Zaga é Luiz Gonzaga da Sil-va, 50 anos, casado com Cássia Bussulo, pai de Pamella Andressa, filho de Aristides Candido da Silva, 95 anos. Ele é um chaveiro cheio de filosofias da vida e que tem a chave do sucesso para salvar esquecedores ou perdedo-res de chaves. De carros ou de casas.

Se bem que nesses casos de perdas de chaves de carros, sempre aparece um engraçadinho dizendo: “Chame o la-drão que ele abre o carro na hora...”. Verdade verdadeira, comprovada por Zaga. “Eu concordo com isso, o ladrão é sempre mais rápido que o chaveiro. Isso porque o ladrão quer abrir e abre de qualquer jeito, não importa o estrago que vai causar. Já o chaveiro tem que abrir sem estragar. Tem que abrir para o cliente sorrir satisfeito”, diz.

Há 23 anos mexendo com chaves e fechaduras nem era bem isso o que Zaga esperava da vida. “Na verdade eu era pedreiro e empreiteiro de obras. Gostava de jogar fute-bol. Um dia levei uma traulitada no joelho e saí do campo direto para o hospital. Fui operado, fiquei 45 dias parado. Se fosse um profissional da bola eu teria que ficar mais de seis meses de molho. Só que eu tinha uma filha para cuidar e não podia parar. Pior é que já não dava mais para ser pedreiro.”

Por sorte ele deu de cara com um amigo que era chavei-ro. “Por que você não encara?”, perguntou o amigo. Ele en-carou. Antes pediu um cadeado e duas chaves para treinar.

Foi para casa, ficou fuçando, tentando, conseguiu. Não só abriu o cadeado como também fez as duas chaves. Eufóri-co procurou o amigo e pediu para aprender mais. Foi indo, foi indo, aprendendo, até que chegou a propor sociedade para o amigo, abrindo uma outra loja. O amigo foi honesto e disse: “Melhor você abrir a loja sozinho e ir tocando. Se precisar eu corro e ajudo.” E assim foi.

Teimoso, aplicado, dedicado, com uma só bala na mão, ou seria chaveiro ou passaria fome com a família, Zaga aprendeu logo o ofício. E foi tocando a vida na sua loja na Avenida Flávio Pires de Camargo, 1046, em Caetetu-ba, ali um pouco adiante do Saito. E se deu bem. Isso já faz 23 anos. Zaga é um dos mais requisitados chaveiros da cidade. Domina a sua região, fazendo chaves, abrindo carros e abrindo casas cujos proprietários são desligados o bastante para trancar tudo e jogar a chave fora, distrai-damente, ou esquecer onde colocou a maldita chave.

Quanto tempo demora para abrir um carro, é a primei-ra pergunta do repórter: “Depende das circunstâncias, se você dá sorte, põe a micha e abre. Difícil são os carros importados. Isso porque o chaveiro tem que ter capricho e não estragar, tem que reaproveitar tudo. Mas também têm muitos carros nacionais que são complicados. Espe-cialmente aqueles que têm chaves pantográficas, que são chaves diferenciadas. Reparou que as chaves normais são dentadas? Pois as pantográficas são, digamos assim, “impressas”, riscadas, tecnologicamente, ficando com uma espécie de caminho de rato no centro.” Claro que deu para entender tudo. Ou não?

“Não, não se cobra mais pelo fato da pessoa chegar “apu-rada”, apavorada com problemas de chaves perdidas. A gente cobra o preço justo. Essa é a minha profissão e eu preciso ter clientes para sempre e não para uma vez só.”

Zaga conta que já está no mesmo local há vinte anos, no mínimo. Enquanto isso, durante a entrevista, surgiu uma

senhora com uma caixinha de madeira nas mãos que ela chamava de cofre. Desesperada contou que tinha perdido a chave. E que todo o seu dinheiro estava dentro do “cofrinho”. E que ela tinha que pagar con-tas. E que era urgente. Zaga parou a entrevista para atender a mulher. Pegou o cofrinho, colocou uma micha, deu uma virada e o cofrinho estava aberto. A mulher ficou surpresa. O repórter também... Ima-ginem o que aquela mulher tinha sofrido para abrir aquele cofrinho. E Zaga abriu em menos de um mi-nuto... A mulher sorriu, estava salva. Seu mundo vol-tou a ficar lindo...

Nesse mesmo momento entrou um senhor japo-nês na loja. O problema dele era uma fechadura de uma perua Volkswagen antiga. Zaga vacilou de novo entre atender o repórter ou o japonês. “Tem dia que o dia inteiro é isso”, diz. E vai atender garantindo que seria rápido. Não foi. Mais de trinta minutos. O repórter esperando, o japonês angustiado... O telefo-ne tocando. Quando sua filha Pamella não está Zaga trabalha sozinho. O telefone insiste. O mundo passa pela rua. Zaga está na calçada aprontando o carro do japonês. O repórter espera.

Ele volta meio sem graça e vai dizendo: “Chaveiro é uma profissão que nunca se aprende totalmente. Porque nunca se sabe o que se vai ter pela frente. Sim, já teve carros que eu não conseguia abrir. Era uma Frontier, caminhonete da Nissan. O dono me pro-curou e pediu que eu abrisse. Falei a verdade: nunca abri um carro desses. O carro estava num mecâni-co. Eles tinham fechado e esquecido a chave dentro. Cheguei, examinei o mecanismo e não entendi nada. Decidi chamar um amigo, parceiro, mais experiente. Ele também nunca tinha aberto. Ficamos fuçando de um lado e de outro com a micha. Sabe o que é micha,

não sabe? É um grampo, um arame, uma serrinha que a gente usa como ferramenta. O ladrão também. Aí eu fiz uma micha nova. Coloquei a micha no carro e ele abriu... Meu colega disse que eu era um sortudo... Eu acho que isso de sorte é coisa do dia a dia da profissão.”

Zaga diz que além de muita sorte o chaveiro precisa ter habilidade, mão firme e sensível. “Precisa ter tato, ouvir bem, sensibilidade. Tudo isso influi.” Orgulhoso mostra uma micha que ele mesmo preparou, diferente, incrementada. “Os ladrões conhecem bem as michas, são especialistas nisso”, sorri. “Sou mais lerdo que o ladrão, porque a gente tem que ir no capricho para não danificar nem o carro nem a fechadura. O ladrão vai na força. Ele não tem tempo a perder, precisa resolver o problema de primeira, vai na marra. Tem ladrão que tem mais habili-dade que o chaveiro. Ele vive disso.”

“Há uns quatro anos aconteceu um caso que me marcou. Chegou alguém na oficina e disse que era preciso abrir um carro que estava no estacionamento do supermerca-do Saito, que fica logo ali abaixo. Eu perguntei que carro era e o sujeito respondeu que era um Santana. Peguei as ferramentas próprias para o Santana e desci. Encontrei um monte de gente ao redor do carro. É que tinha uma criança dentro. E estava um calor danado. A criança já estava sufocando. Quando eu vi, não era um Santana, era um Ômega. E as ferramentas para abrir Ômega não eram as mesmas. Ômega não é fácil de abrir. Um calor infernal, trinta e tantos graus, a criança lá dentro. A mãe desespe-rada: “Moço, pelo amor de Deus abre esse carro...” Não ia dar tempo de mudar as ferramentas. Não pensei duas vezes: peguei um martelo e dei uma pancada no menor vidro do carro, o prejuízo seria menor. O vidro quebrou, abri a porta, tirei a criança... O tal vidro pequeno que eu quebrei era justamente o mais caro... A mãe não sabia o que dizer. Eu pedi desculpas por ter quebrado o vidro.

Ela chorava e balançava a cabeça. Me perguntou: “Quan-to custou o seu serviço?” Eu respondi que aquilo não ti-nha preço. Queria mesmo era saber o preço do vidro. Ela colocou um monte de dinheiro no meu bolso e eu fiquei sem graça, sem saber se ria ou continuava chorando pelo fato de ter salvo a vida de uma criança...”

O bom ou o mal da história é que quando o problema é mais sério, Zaga acaba se infiltrando nele. E nem sempre cobra o que vale o seu serviço...

O outro caso que marcou sua vida foi quando o frentista de um posto de gasolina entrou meio desesperado em sua loja e disse: “Zaga, fechei o carro do cliente com a chave dentro. Estou perdido, me ajude.” Era uma caminhonete L-200. Eu nunca tinha aberto uma dessas. Mas o rapaz estava desesperado. Peguei as ferramentas e fui lá. Quan-do cheguei, abri a mala de ferramentas e ia começar a tra-balhar quando chegou o dono do carro e foi logo gritan-do: “Não quero que ponha a mão em nada para abrir isso aí...” Pensei com meus botões: se eu não puder por a mão em nada, não puder usar ferramenta não vou conseguir abrir o carro. Demorei uns segundos, catei minhas fer-ramentas, coloquei na minha mala, fechei a mala, olhei bem para a cara do dono do carro, olhei bem para o carro e gritei: “Abre-te Sésamo!” Claro que não aconteceu nada e o carro não abriu. Então eu virei para o dono do carro e falei: “Amigo, eu sou apenas um chaveiro. Tentei usar o gênio, mas ele também não conseguiu. Abra o carro o senhor mesmo”. Virei as costas e fui embora...

Quando vê esses filmes cheios de mistérios e de ladrões assaltando grandes bancos ou invadindo recintos inde-vassáveis Zaga dá risada... “Pura fantasia. Imagine um sujeito qualquer, por mais treinado que seja, abrir um sistema daqueles que guardam um banco... Isso não exis-te. A gente perde até para ladrão de carro.”

Todo dia tem coisa nova na vida de Zaga. “Quando ve-

nho pra cá não sei o que vai acontecer. Tem dia que não paro, tem dia que fico sentado sem ter o que fazer. As pessoas geralmente chegam desesperadas porque fecha-ram a casa ou o carro com a chave dentro, coisa comum. Alarme? Ajuda. Inibe. Só que o puxador de carro sabe tudo sobre alarmes. As travas são mais complicadas para abrir. O melhor segredo para um carro é o seguro...”

Rita, sua mulher, ajudava muito até que começou a tra-balhar fora. Ultimamente sua filha Pamella assumiu ser chaveira. “Sabe tudo a menina. Aprendeu vendo o pai fa-zer. Essa menina é muito inteligente. Hoje já faz muita coisa. Já chega perto de mim. Desmonta e monta, tira peça, coloca peça, chega e vai fazendo. E não é só fecha-dura. Têm máquinas de vidro, alarmes, tudo isso.”

Para terminar com chave de outro, o repórter combi-nou com Zaga que a partir de agora fica definido que o trabalho de um chaveiro começa no desespero e termina sempre numa boa risada... ■