Download pdf - Açucar

Transcript
  • Do Oriente ao Brasil: A Trajetria do AcarSheila Adriana Nogueira de Lima1, Alessandro Csar Jacinto da Silva2, Bruno Celso Vilela Correia3 e

    Marina L'Amour Carvalho4

    ________________1. Primeiro Autor Discente do Curso de Gastronomia e Segurana Alimentar, Universidade Federal Rural Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]. Segundo Autor Professor Adjunto do Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected]. Terceiro Autor Professor Substituto do Departamento de Tecnologia, Universidade Federal Rural Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] 4. Segundo Autor Discente do Curso de Gastronomia e Segurana Alimentar, Universidade Federal Rural Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, S/N, Dois Irmos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail:

    Introduo

    Existem ingredientes que so comuns em nossa mesa, e do qual no nos damos conta de quo revolucionrio foram suas descobertas para a gastronomia e para a histria da humanidade. Ente esses ingredientes est o acar, que mudou hbitos e costumes de toda uma sociedade. Atravs deste trabalho, pretende-se mostrar como a descoberta do acar marcou a histria, e quo importante suas vrias aplicaes para o homem. Procuramos expor a trajetria do acar at chegar a terras brasileiras. Como e por que sofreu esta expanso to impressionante, de cruzar oceanos. Dois livros de suma importncia deram sustentabilidade a esta pesquisa: "Histria da Alimentao no Brasil", de Lus Cmara Cascudo e "Acar", de Gilberto Freire.

    Material e mtodos

    A estrutura do trabalho firmou-se por meio de fontes bibliogrficas O procedimento metodolgico utilizado constitui uma unio interdisciplinar de pressupostos histricos, filosficos e lgico-dedutivos. Dentro desse contexto, sabendo que as novas teorias so sempre incorporaes das antigas que, agindo dentro de um realismo convergente, terminam rompendo com o antigo a partir dele prprio, valorizamos as fontes primrias manuscritas, sem desprezar o conhecimento acumulado pela ultrapassada historiografia luso-brasileira.

    Resultados e discusso O consumo do acar datado desde os povos primitivos. Em regies quentes, estas populaes consumiam o acar nas mais variadas formas. Alm da prpria cana de acar, eles usavam o abacaxi, batata doce, algumas palmeiras, a laranja e a manga. Mas seu consumo era mais in natura do que manufaturados. O mel era muito utilizado, entretanto sua extrao tinha um alto custo. Com a manufatura da cana-de-acar, processo de transformao da planta nos mais variados produtos, o acar transforma-se num elemento importante, e at fundamental, na alimentao do homem.

    Na Europa, principalmente, e nas sub-Europas que a partir do sculo XVI em diante viu florescer uma monocultura jamais vista, tornando grandes extenses coloniais no Oriente, na frica e na Amrica produtoras do acar. Admitindo que a cana de acar seja nativa do Sul do

    Pacfico, observam-se suas migraes da para vrias regies: para Madagascar, por exemplo, para o Sudeste da sia, para a ndia, para China e h at quem suponha ter havido cana de acar na Amrica pr-colombiana, portanto, antes da chegada dos espanhis. As guerras religiosas promovidas pelos cristos contra os mulumanos rabes (evento denominado de Cruzadas)levaram a popularizao do acar em terras europias. Ao lado das especiarias, o paladar do acar no apenas seduziu por suas possibilidades gastronmicas, como tambm pelo fato de suas qualidades enquanto conservante e medicamento. As tentativas de cultivo nos pases da Europa Ocidental no surtiram bons resultados, devido ao clima. A soluo era importar do Oriente. Ao importarem tal riqueza para suas prprias terras, as naes do Velho Mundo que estavam comeando a se estruturar politicamente como reinos absolutistas fizeram com que o acar logo se tornasse importante para suas tradies gastronmicas. Contudo, a dependncia da oferta do produto no mercado e os preos dessa valiosa especiaria restringiam o consumo s classes sociais mais abastadas e, por conseqncia, tornava o acar um produto elitizado. J conhecidos como principais produtores de acar no mundo, os portugueses trouxeram a cana-de-acar para o Brasil. Em virtude do alto valor do acar no mercado internacional e dos conhecimentos adquiridos na produo do Reino e da Ilha da Madeira. Engenhos foram instalados utilizando-se principalmente da mo de obra escrava, no inicio o indgena autctone, depois os africanos. Sem os trabalhos forados do negro nas lavouras de cana-de-acar no existiria em Pernambuco uma cultura do doce, ou ainda uma civilizao do acar. [1] Pernambuco logo se destacou, transformando-se no maior produtor de acar da colnia: fato que atraio a chegada de outros povos como holandeses e judeus da Europa.

    Dentro desse caldeiro cultural que se tornou o Brasil, com a miscigenao de europeus, africanos e indgenas, a gastronomia brasileira ganhou caractersticas nicas.

  • Segundo Cascudo, o acar foi saboreado pelos amerabas e africanos, pela primeira vez no Brasil. As guloseimas indgenas e africanas no foram determinadas pelo acar, o mel era a base. As formulas instintivas do pecin sucre, do aucarado, dos caldos doces, com sabores tpicos indiscutveis pertencem aos brasilienses, e no nato dos negros. [2] O acar foi um dos produtos que mais movimentou e expandiu horizontes da Histria da Humanidade. Alm de revolues no paladar e de uso medicinal, o acar foi um grande agente de enormes mudanas estruturais e sociolgicas. Freyre afirma que sendo assim, o acar de cana como um complexo sociocultural total, deixando de ser tema de estudo apenas ecolgico ou somente econmico, para alcanar aspectos alguns sutis da convivncia humana. Aspectos que vm sendo afetados pelo impacto, convivncia humana, do doce, da doaria, da confeitaria, do xarope, do remdio, da aguardente, do rum, do licor, sob formas de menos significao estritamente econmica do que a expresso psicolgica ou fisiolgica a fisiologia do paladar a esttica ou ldica ou teraputica ou mesmo baquica ou dionisiaca. Que essas outras formas de expresso, embora possam apresentar ligaes estreitas com interesses econmicos dentro de economias capitalistas ou neo-capitalistas, tendem a se fazer sentir revelia desses interesses e com manifestaes de uma dinmica antes complexamente psico-sociocultural que apenas econmica.[1] De especiaria passou a artigo de luxo, requisitado e usado como ttulo de nobreza para quem podia compr-lo. Mais tarde se tornou indispensvel nas despensas, o seu comrcio e disseminao definiram novas estruturas sociais, novos pases, novas misturas raciais. Significou poder, hierarquia, trouxe riquezas inestimveis. Mas tambm trouxe pobreza, escravido, opresso e estruturas polticas, econmicas e sociais que at hoje prevalecem de alguma forma no nosso convvio. Segundo Pestana, as sociedades buscam solucionar os problemas que vo se impondo, enquanto o caminho encontrado para superar os obstculos determina o rumo do desenvolvimento social, econmico e cultural.[3] O ouro branco permitiu criar uma memria gastronmica atravs de receitas que no se perderam no tempo, e que identificam regies, sendo uma marca cultural forte. Quintas cita que a lembrana a matria viva da cultura. O esquecimento faz parte do desapego tradio.[4] Resgatar a histria do acar contar a histria do mundo.

    Agradecimentos Agradecemos a Deus por tudo e aos autores que contriburam com seus estudos no referido trabalho.

    Referncias [1] FREYRE, Gilberto. Acar: uma sociologia do doce, com receitas de bolos e doces do nordeste do Brasil. 5 ed. So Paulo: Cia. das Letras, 2007:21-50.

    [2] CASCUDO, Luis Cmara. Historia da alimentao no Brasil. 3 ed. So Paulo: Global, 2004:476-478.

    [3] PESTANA, Fabio Ramos. No tempo das especiarias. 2 ed. So Paulo: Contexto, 2004:10-20.

    [4] QUINTAS, Ftima. A civilizao do acar. Sebrae,Fundao Gilberto Freire.Recife:2007:208p.