Imre Lakatos
O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica
Teoria do Conhecimento e Filosofia da Ciência II Prof. Valter A. Bezerra Departamento de Filosofia FFLCH-USP
O desenvolvimento do conhecimento segundo a perspectiva popperiana O processo de solução de problemas por conjecturas e refutações (‘eliminação
de erros’)
P1 TT1 EE TT2 P2 (Situação Teoria Eliminação Teoria Situação problema tentativa de erro tentativa problema
original # 1 # 2 nova
P2 TT3 EE TT4 P3 ...
Mudança científica popperiana
O desenvolvimento da ciência pode ser visto, segundo Kuhn, como um processo cíclico do seguinte tipo: Fase pré-paradigmática
Convergência para o primeiro paradigma (“ciência madura”)
Ciência normal
Crise Ciência extraordinária
Revolução Ciência normal
tempo
Revolução (...)
Ciência extraordinária
Crise Ciência normal
Revolução Ciência extraordinária
Crise
tempo
Que cenário de mudança científica irá propor Lakatos?
Mudança científica kuhniana
Uma breve história do falibilismo segundo Lakatos (seções (2),(2a),(2b))
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
INDUÇÃO
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
VERIFICAÇÃO
(TESTE EMPÍRICO)
Uma breve história do falibilismo segundo Lakatos
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
INDUÇÃO
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA
(TESTE EMPÍRICO)
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
INDUÇÃO
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA
(TESTE EMPÍRICO) A perspectiva empirista clássica tipicamente contempla A + B
Uma breve história do falibilismo segundo Lakatos
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
INDUÇÃO
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA
(TESTE EMPÍRICO) A perspectiva empirista clássica tipicamente contempla A + B
PRINCÍPIOS DA RAZÃO
A perspectiva racionalista contempla B
Os complicadores para uma visão justificacionista
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
INDUÇÃO (probabilística)
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA (probabilística)
(TESTE EMPÍRICO)
Os complicadores para uma visão justificacionista
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
IMPREGNAÇÃO TEÓRICA (cf. Kuhn, Cap. 9) - Crítica à distinção T/O e à tese da existência de uma linguagem observacional neutra
INDUÇÃO (probabilística)
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA (probabilística)
(TESTE EMPÍRICO)
Os complicadores para uma visão falseacionista dogmática
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
IMPREGNAÇÃO TEÓRICA (cf. Kuhn, Cap. 9) - Crítica à distinção T/O e à tese da existência de uma linguagem observacional neutra
INDUÇÃO (probabilística)
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA (probabilística)
(TESTE EMPÍRICO)
CONDIÇÕES CETERIS PARIBUS
Os complicadores para uma visão falseacionista dogmática
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
IMPREGNAÇÃO TEÓRICA (cf. Kuhn, Cap. 9) - Crítica à distinção T/O e à tese da existência de uma linguagem observacional neutra
INDUÇÃO (probabilística)
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA (probabilística)
(TESTE EMPÍRICO)
CONDIÇÕES CETERIS PARIBUS
PROBLEMAS DO FALSEACIONISMO DOGMÁTICO
Os complicadores para uma visão falseacionista dogmática
LEIS E TEORIAS
(Construtos e representações)
(Experiência)
OBSERVAÇÃO
PREDIÇÕES EXPLICAÇÕES
IMPREGNAÇÃO TEÓRICA (cf. Kuhn, Cap. 9) - Crítica à distinção T/O e à tese da existência de uma linguagem observacional neutra
INDUÇÃO (probabilística)
(Leis mais gerais)
(Regularidades empíricas)
(Identificação de padrões)
A B
DEDUÇÃO
CONFIRMAÇÃO INDUTIVA (probabilística)
(TESTE EMPÍRICO)
CONDIÇÕES CETERIS PARIBUS
PROBLEMAS DO FALSEACIONISMO DOGMÁTICO
REVISABILIDADE DA BASE EMPÍRICA
O problema da base empírica – 1 – A base “dogmática”
PRIMEIRA FASE DO POSITIVISMO LÓGICO Definições explícitas Definições operacionais
“Solo da observação”
O problema da base empírica – 2 – Carnap e as sentenças de redução
CARNAP [1936/1937] Sentenças de redução Pares de redução Sentenças de redução bilaterais Cadeias de redução INTERPRETAÇÃO PARCIAL
Q1 (Q2 Q3)
S1 (S2 R1)
S4 (S5 R1)
R1 (R2 Q1)
(Carnap também defendia uma versão do conceito de enunciado protocolar, porém mais empirista e menos relativa do que a concepção de Neurath (ver adiante).)
O problema da base empírica – 3 – Popper e os enunciados básicos Hipóteses falseadoras
POPPER Enunciados básicos Convencionalismo da base empírica Metáfora da palafita sobre o pântano
O problema da base empírica – 4 – Neurath e os enunciados protocolares
Agora, os enunciados protocolares...
...são tornados tão relativos quanto os demais enunciados da ciência. O campo organizador passa a ser a coerência do sistema.
O problema da base empírica – 4 – Neurath e a ciência unificada
A interdisciplinaridade científica pela perspectiva da ciência unificada
A historiografia da filosofia de Lakatos
Nota bene: Convém ter alguma cautela em relação às descrições sucintas (às vezes telegráficas) que Lakatos faz de certos autores e vertentes da história da filosofia. Trata-se de reconstruções que podem conter lá seus vieses:
• Kant, Hegel (p. 126);
• Whewell, Poincaré, Milhaud, LeRoy (pp. 127-128);
• Duehm (p. 128);
• Neurath (p. 138);
• Leibniz, Mill, Keynes (pp. 150-151).
As cinco decisões convencionalistas do falseacionismo metodológico
O convencionalismo do falseacionismo metodológico estende-se a:
• base empírica (enunciados básicos) (“primeira decisão”, p. 129);
• enunciados básicos aceitos, uma subclasse especial do corpo de enunciados básicos (“segunda decisão”, p. 129);
• conhecimento de fundo não-problemático (item não numerado por Lakatos, p. 129);
• regras e critérios metodológicos – incluindo uma formulação mais flexível do critério de falseabilidade e, portanto, da demarcação (“terceira decisão”, pp. 131-133);
• condições ceteris paribus (“quarta decisão”, pp. 133-135);
• arbitragem de conflito entre a teoria em foco e outras teorias bem corroboradas do pano de fundo (“quinta decisão”, p. 136).
Porém é importante notar que o convencionalismo do falseacionismo metodológico não se estende às próprias teorias científicas.
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
Após ter distinguido o “falseacionismo dogmático” (pp. 115ss) do “falseacionismo metodológico” (pp. 125ss), Lakatos ainda distingue (p. 138-141 e ss) o “falseacionismo metodológico ingênuo” do “falseacionismo metodológico sofisticado”.
O f.m.i. defende as teses (1) e (2) da p. 140 (resp. de que o teste é um confronto unicamente entre teoria e experiência, e de que o único resultado interessante desse confronto é o falseamento conclusivo da teoria) mas Lakatos argumenta que elas são desmentidas pela história da ciência (teses 1’ e 2’).
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
Lakatos, “O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica”, pp. 148-149
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
O falseamento é pensado por Lakatos como envolvendo não “uma teoria em confronto com a experiência”, mas sim sempre duas teorias e a “base empírica” (pp. 146, 159) – note-se como um processo de triangulação desse tipo já fora antecipado por Kuhn em A estrutura das revoluções científicas (Cap. 7, p. 108, e Cap. 11, pp. 186-187 – paginação da ed. de 1998).
Outro lado dessa moeda é a existência de uma complementaridade entre falseamento (de T) e confirmação (de uma rival ou predecessora T’) (cf. Lakatos, pp. 141-142, 146-147).
Ressalte-se a importância do pluralismo teórico nessa dinâmica (pp. 148-149).
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
O papel das hipóteses ad hoc se vê bem mais complexo no modelo de Lakatos do que anteriormente (p. 152, especialmente notas 135 e 136; antes, cf. também pp. 121-122 – o episódio “inventado mas verossímil” do astrônomo, e pp. 127-128).
Originalmente, qual era o problema com as hipóteses ad hoc?
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
O “estratagema convencionalista” — “Proteção” do falseamento
(ad hoc)
T1 E1
T1 E1
EXP E1
T*1 E1
Do falseacionismo metodológico sofisticado à metodologia dos programas de pesquisa
(ad hoc)
(ad hoc)
(ad hoc)
e assim por diante...
T*1 E1 E2
EXP E2
T**1 E1
E2 E3
EXP E3
Um programa de pesquisa, segundo Lakatos Cinturão de hipóteses auxiliares Núcleo
T1 T2 T3
“Falseacionismo metodológico sofisticado” e a metodologia dos programas de pesquisa
Um programa de pesquisa progressivo, segundo Lakatos
Cinturão de hipóteses auxiliares Núcleo
T1 T2 T3 Conteúdo emp. excedente Conteúdo emp. excedente Conteúdo empírico
Conteúdo empírico
excedente corroborado
Metodologia dos programas de pesquisa