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EDUCAÇÃO, INCLUSÃO, RECONHECIMENTO E REDISTRIBUIÇÃO NO
ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: UMA ANÁLISE A PARTIR DA TEORIA DE
NANCY FRASER
Luma Doné Miranda8
Felipe Bellido Quarti Cruz9 Andréa Lopes da Costa Vieira10
Eixo Temático: Políticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Pôster
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho fruto da pesquisa realizada na Universidade Federal do Estado do Rio do
Janeiro, “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para a inclusão
no ensino superior (público e privado)” propõe-se a compreender os processos de
redistribuição e reconhecimento produzidos a partir das estratégias de inclusão no ensino
superior. Para tanto, será tomado como elemento teórico central, o conjunto de reflexões de
Nancy Fraser.
Tal proposta é fundamental, viso que a universidade de modo gera, é espaço elitizado.
Contudo, quando observada em suas especificidades, agrega diferentes percepções.
Tomando por exemplo, o caso do acesso observa-se que no caso das universidades
públicas, o argumento do mérito é utilizado como ponto de partida de legitimação tanto
8 Discente de Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Integrante da pesquisa “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para o Ensino Superior (Publico e Privado)”. 9 Discente de Ciência Política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Integrante da pesquisa “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para o Ensino Superior (Publico e Privado)”. 10 Doutora em Sociologia. Professora Adjunta no Departamento de Filosofia e Sociais da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Professora permanente no Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO. Coordenadora do Projeto: “Patrimônio, Identidade e Ações Afirmativas: Apropriação da Narrativa e Reconstrução da Memória como Estratégia Política na Contemporaneidade”, financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq (Edital Universal). Coordenadora do Projeto: “Diagnóstico e Análise de Políticas de Ação Afirmativa orientadas para a inclusão no Ensino Superior (publico e privado) – Financiado pelo MEC/SESU – PET- Conexões de Saberes.
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para a entrada, como para a permanência, por outro lado nas universidades privadas o
ensino é associado ao capital monetário.
Estas características levam à hipótese de que tais instituições, consideradas em suas
particularidades, possuem um foco diferente sobre o ensino.
De fato, alguns trabalhos (CALDERON, 2000; MARTINS, 2002) defendem que grande
parte das universidades privadas, a partir da década de 90, voltou seu ensino para o
mercado de trabalho, em uma estratégia que redimensiona a importância de praticas que
fortaleceriam o ethos acadêmico, como pesquisas e extensão, e ao mesmo tempo,
colocando-se em uma posição antagônica à da universidade pública, que, ao menos
discursivamente, traz como missão a tentativa de expansão de um conhecimento
desvinculado do mercado de trabalho e produção de capital intelectual.
Não é suepreendente, então, que as principais discussões e transformações no ensino
superior brasileiro tenham aparecido como consequência direta das propostas de adoção de
políticas de ação afirmativa que reservam vagas nas universidades públicas e privadas
como as cotas nas universidades públicas e o PROUNI. Estes dois programas visam a
inclusão de negros, índios, estudantes do ensino público e pessoas de baixa renda. Grupos
que até então não possuíam um amplo acesso ao ensino superior. O primeiro passo para
adoção de tais políticas foi dado em Novembro de 2005 com o projeto de lei (nº
3627/2004): "Sistema Especial de Reserva de Vagas”
Neste contexto, a teoria desenvolvida pela autora Nancy Fraser se encaixa perfeitamente
para analisar este tema com base em uma política de redistribuição e reconhecimento.
2. O reconhecimento e a redistribuição de Nancy Fraser nas políticas de ação
afirmativa do ensino superior brasileiro
Nancy Fraser em sua obra “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça na
era pós-socialista” (1997) mostra a relação entre grupos e indivíduos. Sua preocupação é
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com a relação entre o reconhecimento da diferença cultural e a desigualdade social,
diferentemente de outros teóricos da época que se preocupam com a relação entre
reconhecimento das diferenças culturais e liberalismo. A autora assinala que as demandas
por mudanças culturais misturam-se com as de mudanças econômicas e estas demandas
podem ser resolvidas através do que Fraser chama de reconhecimento e redistribuição.
Para a autora as reivindicações com base nas identidades tendem a predominar sobre
prospectos de redistribuição. Além de grupos e indivíduos, a autora aponta para as
identidades e a identidade. A redistribuição, então, seria uma política mais voltada para os
indivíduos, já o reconhecimento seria uma política mais voltada para grupos.
Com base nisto o reconhecimento seria um remédio para o que Nancy Fraser chama de
“injustiça cultural”. Este remédio visa um tipo de mudança cultural ou simbólica, portanto,
as políticas de ação afirmativas podem ser interpretadas como remédios voltados para a
correção de resultados ruins de arranjos sociais. Esses remédios afirmativos tentam
resolver as injustiças culturais e são associados ao que ela chama de “multiculturalismo
dominante”. (FRASER, p.273, 2001). Assim, as políticas de ação afirmativa no ensino
superior brasileiro podem ser interpretadas como sendo remédios afirmativos de
reconhecimento já que possui a finalidade de minar o padrão branco-europeu de classe
média alta da universidade, um arranjo social ruim que não inclui o outro.
As políticas de ação afirmativa no ensino superior brasileiro, também podem ser percebidas
como uma política de redistribuição, já que o saber é um bem e esta política esta voltada na
distribuição desse bem. Neste caso a diferenciação também se realiza por raça e renda.
Adicionado a isso, Fraser, aponta que historicamente esses remédios afirmativos são
associados ao Estado de Bem-Estar liberal (FRASER, P. 272, 2001). Ou seja, tenta acabar
com a má distribuição de recursos, mas deixa intacta a estrutura político-econômica.
3. Conclusão
As políticas que envolvem ação afirmativa no ensino superior brasileiro têm como
finalidade quebrar padrões que ao longo do tempo foram instituídos. Faz-se então
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necessária a redistribuição para corrigir problemas sociais e o reconhecimento de classes
segregadas das universidades. Apesar de se encaixar na discussão de políticas de
afirmação, Nancy Fraser aponta que é necessário ocorrerem transformações mais
profundas nas estruturas da sociedade e nas relações de produção.
No caso brasileiro, pode-se dizer que essas políticas de ação afirmativa tentam distribuir
vagas de maneira mais igualitária entre os indivíduos. Entretanto a universidade ainda não
se transformou em um lugar de acesso universal, e ainda é necessário fazer uso da
meritocracia para garantir o acesso ao ensino superior.
Bibliografia
CALDERÓN, Adolfo Ignácio. Universidades mercantis: a institucionalização do mercado universitário em questão. São Paulo em Perspectiva. Mar 2000, vol.14, no.1, p.61-72. FRASER, Nancy. “Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da Justiça na era pós-socialista”. In: SOUZA, J. (org.). Democracia hoje: novos desafios para a teoria democrática contemporânea. Brasília: Editora UNB, 2001.
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